Teologia Contemporânea (Leonardo Gonçalves)

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  • 8/18/2019 Teologia Contemporânea (Leonardo Gonçalves)

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    FILOSOFIAS GREGASConhece-te a ti mesmoA verdade não está fora da pessoa, mas dentro de si mesma – Seuidealizador foi Sócrates.O “Ser Necessário e o Absoluto”O objetivo dessa losoa é o ser necessário e absoluto, sendo alosoa suprema e soberana. As ideias são realidades objetivas eeternas, enuanto as coisas sens!veis, isto é percept!veis pelonosso sentido, são meros re"e#os imperfeitos e ef$meros. Seuidealizador foi %latão. A ciência de tudo que existeA natureza é apenas um imenso esfor&o da matéria pura se elevarao ato puro 'pensamento e inteli($ncia). Aponta a realidade comoponto de partida de toda especula&ão losóca. *ivide+se emconecimento teórico, conecimento prático e conecimentopoético. Abran(e a -atureza de *eus 'etaf!sica), do omem'/tica) e do 0stado '%ol!tica). *eus não é criador, mas primeiro e1ltimo motor do universo. 2aracterizou+se pelo realismo,objetividade e método. 0ssa corrente tem como criador Aristóteles.Epicurismo em “Todo bem está no praer”0ssa losoa foi também considerada uma reli(ião. *ivide alosoa em tr$s partes3 4ó(ica, f!sica e ética. 5raduz+se comolosoa ue tem seu estudo do conecimento a partir dasensa&ão. / natural, portanto, ue o critério 1nico e fundamentalda verdade seja a sensa&ão. Sua metaf!sica é estritamentematerialista tendo um conceito da vida como liberdade, paz econtempla&ão sendo ostil ao matrim6nio, fam!lia, atividadep1blica e pol!tica. Assume um materialismo teórico e um ate!smoprático, aja vista ue os 7deuses8 não se importam com nossasa&9es. O criador dessa lina foi o lósofo 0picuro.Estoicismo “!i"endo em harmonia com a naturea”O verdadeiro sábio deve (ozar de imparcialidade absoluta.Se(undo o estoicismo o omem deve suportar os 7prós8 e os7contras8 com a mesma atitude numa espécie de atara#ia prática.

    Sua moral foi considerada o sistema ético mais elevado dopa(anismo. %ara os tais o bem identica+se e#clusivamente comotranuilidade interior para libera&ão das circunst:ncias. O omemestá acima de tudo, ele é um cidadão do ;niverso. Seu pre(adorfoi o lósofo

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    a %rotá(oras – O omem é a medida de todas as coisas ecada coisa é apenas o ue parece a cada um de nós.

    b =ór(ias – *otado de (rande poder de improvisa&ão,tratava de todos os temas sem preocupa&ão. 0ra cético,ne(ava critérios absolutos e armava ue não e#iste nadae, se al(o e#iste, é inapreens!vel ao omem.

    c >épias de 0lis – 5ina prodi(iosa memória econecimento enciclopédico. 2omo cosmopolitanodefendia a i(ualdade entre (re(os e bárbaros e entrearistocratas e escravos.

    d 5ras!maco – *efendia a tese de ue o direito é fundado nafor&a e de ue o justo é o ue benecia o mais forte.

    FILOSOFIAS PATRÍSTICA:*ivide+se em tr$s per!odos3 ?orma&ão, apo(eu e transi&ão.$orma%&o*o princ!pio do século @@ ao 2oncilio de -icéia. Séc. @@+@@@. / oper!odo de lutas mais vivas. ?ora da @(reja, o velo pa(anismorecole contra a nova reli(ião todas as for&as vivas de resist$nciaue ainda le restavam no or(anismo decrépito. O embate dasduas civiliza&9es foi san(uino+lento, prolon(ado e universal. 0moma, onde reli(ião e estado se identicavam, o contraste foipol!tico na =récia foi, sobretudo, losóco. -o seio da @(reja,

    sur(em ao mesmo tempo as primeiras eresias, ue le tentamcontaminar a pureza da fé, com teorias pa(as e judaicas. A todosestes adversários op9e o cristianismo, no campo da a&ão, armeza e o san(ue de seus mártires, na esfera da inteli($ncia, ostrabalos de seus primeiros pensadores. Só destes se interessa aistória da losoa. -o per!odo de forma&ão destacam+se obrasapolo(istas e polemistas com objetivo de difundir doutrinas cristãse combater eresias. Apenas os mestres latinos condenavamualuer amál(ama com a cultura (reco+romana. A maior dasescolas patr!sticas foi a de Ale#andria, na ual se destacaram

    2lemente, %anteno e Or!(enes.

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     Bustino, 2lemente e Or!(enes ocupam um lu(ar especial na istóriado cristianismo e também da losoa, pois são os primeiros atentar uma s!ntese istórica de pensamento (re(o e fé cristã.

     Os Apologistas elevam a voz da razão e da consci$ncia contra a

    arbitrariedade e injusti&a das perse(ui&9es, defendem a nova fécontra a losoa e a supersti&ão pa(a, armadas do poder supremodo 0stado. 4embremos os nomes dos principais3

    a. Clemente Romano '%apa entre CD e EFE) + Guarto bispo deoma de acordo com alista de @rineu.

    b. Inácio de Antioquia 'HI+EDF) + ;m dos primeiros autorescristãos. >á d1vidas uantoa autenticidade das cartasatribu!das a ele.

    c. Barnab 'pseudo+Jarnabé)– Autor desconecido de umaespécie de tratadoteoló(ico ue a i(reja dos primeirosséculos atribuiu a Jarnabé, companeiro de %aulo 'da! onome 70p!stola de Jarnabé8).

    d. Pá!ia" – Jispo de >ierápolis, escreveu a obra 70#posi&9esdos ditos do Senor8, da ual só temos fra(mentos.

    e. #uadrato – disc!pulo dos apóstolos, natural de Atenas,escreveu um discurso aoimperador Adriano na tentativa de

    faz$+lo parar a perse(ui&ão aos cristãos. *eacordo com São Ber6nimo seu pedido foi atendido.

    f. $erma" – %resb!tero romano irmão do %apa %io @.

    (. Policar!o de E"mirna 'KL+EIL) – Jispo de 0smirna, foidisc!pulo de Boão 0van(elistauando jovem. O re(istro deseu mart!rio 'séc. @@) é o mais anti(o e um dos maisconáveisue se conece.

     Apo'eu

    *os Séculos @M ao M apro#imadamente. -este per!odo a patr!sticadesenvolve+se amplamente. Mencido por m o pa(anismo econcedida a paz aos cristãos '0dito de 2onstantino, HEH), a @(rejaconcentra a sua atividade na própria or(aniza&ão interna e nae#posi&ão mais minuciosa das verdades reveladas. As (randeseresias, ue então sur(em, de Ario, %elá(io, -estório e 0utiuesofereceram aos defensores da fé o ensejo de aprofundarem asno&9es losócas de natureza e pessoa, e de estudar a uestão do

    livre arb!trio nas suas rela&9es com a (ra&a. -estas (randes lutasdistin(uiram+se entre os (re(os3 S. Atanásio, S. =re(ório, de

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    -azianzo, S. Jas!lio e S. =re(ório, de -issaN entre os latinos3 S.>ilário, de %oitiers, e S. Ambrósio e sobre todos,o (rande vulto deS. A(ostino, ue, mais do ue nenum outro, apresenta para aistória da losoa particular import:ncia.A(ostino é o padre latino mais importante para toda a istória docristianismo ocidental. -asceu A(ostino em 5a(aste na -u+m!dia,no ano HI. Seu pai, %atr!cio, era pa(ãoN 6nica, sua mãe, cristã. Bovem, e#traviou+se e, enuanto o cora&ão ardente buscava nosv!cios a satisfa&ão de desejos desre(rados, a inteli($ncia seuio+sade luz batia P porta dos maniueus e dos acad$micos em busca daverdade. *urante este per!odo ensinou com louvor a retórica em2arta(o e oma. 2onvertido aos HH anos por S. Ambrósio, voltoupouco depois para a Qfrica. 0m HCI foi nomeado bispo de >ipona,desenvolvendo ainda por HI anos uma atividade prodi(iosa contratodos os erros e eresias de seu tempo. orreu em HF, enuantoos v:ndalos le assediavam a cidade episcopal.

    *a vasta enciclopédia au(ustiniana 'CH obras afora serm9es eep!stolas) P. losoa interessam particularmente os trabalosse(uintes3 Confessiones 'autobio(raa), Contraacadêmicos 'refu+ta&ão do probabilismo cético da Academia). Deimmortalitate ani-mae, De quantitate animae, De liberoarbítrio, De civitate Dei, De Trinitate e Retractationes.

    O bispo de >ipona foi o lósofo de maior enver(adura da épocapatr!stica e uma das inteli($ncias mais profundas de ue se (loriao ($nero umano. Seu ($nio sintético armonizou num corpo dedoutrina os elementos assimiláveis da losoa pa(a e osfra(mentos dos %adres, seus antecessores, eri(indo um vastosistema de metaf!sica cristã, cuja in"u$ncia perdura até aosnossos dias. Sua orienta&ão é acentuadamente plat6nica

    Transi%&o

     5ransi&ão para a losoa escolástica. Séc. M@+M@@@. 0ste per!odo foimarcado pela reelabora%&o da" doutrina" 'á (ormulada" eaus$ncia deformula&9es ori(inais. Malorizava+se a contempla&ão ea busca da perfei&ão espiritual, porisso o ideal de santidade superaem muito as belas+letras e a losoa. *entre asmaiorespersonalidades desse per!odo destaca+se

    a. Bocio 'RF+ID), responsável pela tradu&ão deal(umasobras de Aristóteles. Outros nomes importantes são 4e6nciode Jiz:ncio,

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    b. )á*imoCon(e""or 'c. IRF+LLD),

    c. I"idoro de Se+il,a 'ILF+LHL),

    d. Beda -enerá+el 'LKH+KHI) e

    e.  .o&o/ama"ceno 'ca. LKI+KC). -ovas controvérsiasteoló(icas sur(iram neste per!odo. %araresolv$+las, foramconvocados os se(uintes conc!lios ecum$nicos3

    -a %rimeira 2arta aos 2or!ntios, %aulo avia escrito ue amensa(em cristã 'a pre(a&ão do 2rucicado) era uma loucurapara os ue buscavam sabedoria 'os (re(os, os lósofos) e ue erasabedoria para os ue entravam na e#ist$ncia da fé.

    %ortanto, para %aulo, fé e losoa eram coisas inteiramente eradicalmente diferentes. ;ma era loucura para a outra.

    Al(uns %adres da @(reja mantiveram essa opinião. 5ertuliano, pore#emplo, per(unta3 o ue tem a ver Berusalém e AtenasT

    Outros culpavam a losoa por ser a la predileta do pa(anismoe a mãe de todas as eresias ue já come&avam a sur(ir nocristianismo.

    -ão obstante isso, nos primeiros séculos cristãos as resist$nciasiniciais contra a losoa come&am a cair e al(uns %adres da@(reja come&am a ter uma posi&ão mais favorável e conciliadoraentre fé cristã e losoa.

     @sso será de conseu$ncias e#tremas para a istória da losoa.*esde então o destino da losoa se encontra com o destino docristianismo e o modo de pensar (re(o é inteiramenteredimensionado no orizonte da teolo(ia cristã.

    esmo na modernidade, uando ocorre um processo deseculariza&ão, de dessacraliza&ão e de descristianiza&ão da culturaocidental, o modo de pensar dos lósofos ainda estará fortementecomprometido pelas representa&9es cristãs dos conceitoslosócos.

    2om Bustino, 2lemente e Or!(enes, estamos nos séculos @@ e @@@ daera cristã.

    -o século @@ o (rande empeno dos lósofos e intelectuais ue se

    convertiam P fé cristã era de apresentar, justicar e defender a fécristã diante do 0stado omano. 0ra a ora dos apolo(istas.

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    0les deviam mostrar ue o cristianismo não era absurdo, ue oue os cristãos pre(avam podia estar acima da razão, mas não eraanti+racional.

    A(ostino de >ipona destaca+se como maior lósofo da era

    patr!stica e o maior e#positor da teolo(ia conservadora ocidental.@dealizou sua doutrina a luz da eresia de %elá(io refutando+o elan&ando com isso as bases do calvinismo. (untino )ártir  Bustino foi um dos mais decisivos apolo(istas do cristianismo,tendo escrito apolo(ias a arco Aurélio, o lósofo estóico eimperador.

    ;ma obra importante onde Bustino nos dá uma idéia de suacompreensão da losoa e do cristianismo se encontra no *iálo(o

    com 5rifão.

     5rifão era o nome de um sábio judeu, ue uestionou a buscalosóca de Bustino. -auele tempo, entendia+se ue o essencialda losoa era a ética + a ló(ica e a f!sica era para ajudar o omema pensar e a se situar no universo, mas o mais importante era aética.

    0 a ética era entendida como a ci$ncia da felicidade. O omemlosofa para ser feliz.

    as, a felicidade suprema, como tina ensinado Aristóteles,estaria na teoria, isto é, na contempla&ão, no conecimento daverdade por causa da própria verdade. Assim, a losoa era abusca da verdade e da sabedoria ue daria ao omem a condi&ãode ser feliz.

     Bustino tina feito um itinerário por várias correntes losócas deseu tempo, mas em nenuma ele tina alcan&ado umconecimento da verdade ue pudesse le dar uma verdadeira

    felicidade.

    0ste conecimento Bustino jul(a ter encontrado somente na fécristã. A fé cristã era, para Bustino, a verdadeira losoa, aplenitude da losoa, ou seja, do saber da totalidade, da verdade,ue concede ao omem a felicidade.

     Bustino compreendia o cristianismo como losoa plena, por isso jamais dei#ou o manto de lósofo, mesmo depois de convertido aocristianismo.

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    Além disso, Bustino entendia ue a sabedoria verdadeira, amada eabra&ada pelo lósofo cristão, era o 4o(os de *eus e ue o 4o(osse zera carne em Besus 2risto.

    O 4o(os é a sabedoria eterna de *eus ue ilumina todo o omem

    no conecimento da verdade. %or isso, Bustino dizia ue todoauele ue conece a verdade, ao menos em parte, é cristão.

    %ara Bustino, >eráclito e Sócrates eram cristãos, pois escutaram afala do 4o(osU Os lósofos teriam tido um conecimento parcial do4o(os, mas só a revela&ão cristã oferecia ao omem oconecimento total do 4o(os.

    Plat&o tina dito ue a losoa era como um barco ue o omemtem para atravessar o mar da vida. 0 ue a nave(a&ão do lósofo

    era uma se(unda nave(a&ão, o ue si(nica3 não era umanave(a&ão feita P vela 'primeira), mas uma nave(a&ão feita aremo, com o esfor&o do bra&o do nave(ador. *izia também ue, sefosse dada ao omem ou ao lósofo uma palavra e uma revela&ãodivina, ele não deveria esitar em abra&á+la e se dei#ar (uiar porela. / por isso ue Bustino não esitou em saltar da busca losócado pensamento para a sabedoria da fé e da revela&ão cristã.

     Bustino acreditava também ue a losoa vina não da mitolo(ia,mas de uma sabedoria divina, revelada, ue era anterior a ela

    mesma. %ortanto, ao se fazer cristão, o lósofo estaria nada maisnada menos do ue reconduzindo a losoa P sua própria fonte ouori(em. 0sta atitude de Bustino abriu, então, o camino para osoutros.

    Clemente de Alexandria

    2lemente continuou a idéia do 4o(os como mestre universal daumanidade, Bustino. %ara 2lemente, o 4o(os é uem e#orta oomem para a busca da verdade.

    O 4o(os é o peda(o(o da umanidade, pois a educa e a corri(e. O4o(os é, ainda o mestre ue ensina e ilumina a umanidade.

    Ora, o mesmo 4o(os ue (uiou os judeus no camino da 5ora,tina (uiado os (re(os pelos caminos da losoa. 5oda corrente

    losóca tem al(o de verdadeiro. %or outro lado, nenuma

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    corrente losóca é toda a losoa ou a losoa verdadeira. %ara2lemente, a losoa verdadeira é a fé cristã.

    A passa(em da investi(a&ão losóca para a sabedoria da fé,porém, é um salto. as é um salto necessário para uem busca a

    verdade e a sabedoria. A losoa não é a verdade, nem asabedoria. 0la é serva ue busca verdade e a sabedoria.

    Onde se encontram, porém, a verdade e a sabedoriaT -a revela&ãodivina, diz 2lemente. as, basta ao omem a fé, para ele entrar naposse da verdade plena e da sabedoria universal e totalT -ão, diz2lemente. O crente precisa passar da simples fé para oconecimento '(nosis) da fé.

    -uma época em ue o (nosticismo era o (rande peri(o para o

    cristianismo, pois reduzia a fé ao conecimento, enuanto váriosamaldi&oavam o conecimento por causa desta pretensão do(nosticismo, 2lemente inverteu as coisas3 reconduziu e submeteuo conecimento 'losóco) P fé e postulou ue a fé deveria ce(arP plena transpar$ncia de si mesma como conecimento'teoló(ico).

    as o conecimento da fé não é conecimento meramenteracional e sim conecimento pessoal+m!stico do encontro com*eus.

    2lemente abriu, assim, o projeto da @dade édia3 da ci$ncia Plosoa, da losoa P fé, da fé ao conecimento teoló(ico, doconecimento teoló(ico ao amor, do amor P m!stica da união com*eus.

    Or*'enes

    Or!(enes foi aluno de Am6nio Saccas e cole(a de %lotino emoma.

    *eu or(aniza&ão e vida P escola cateuética de Ale#andria,assimiliando os elementos da %aidéia 'educa&ão (re(a) naforma&ão do cristão, se(undo o pro(rama proposto por 2lemente.

    %rezava as artes liberais 'as K ci$ncias básicas da anti(uidade3 otrivium, ue se referia P lin(ua(em, e o uadrivium, ue se referiaao conecimento matemático da natureza) e via nelas umamaneira de o omem se elevar até P losoa propriamente dita.

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    O modelo a#iomático+dedutivo da (eometria le serviu comopar:metro para construir o conte1do sistemático da doutrina da fécristã.

    -o %erV Arc6n '*os princ!pios), Or!(enes sistematizou a teolo(ia

    pela primeira vez, partindo dos princ!pios da realidade, doconecimento e da fé, e tirando+les as conseu$ncias.

    Or!(enes foi também um (rande ermeneuta dos escritossa(rados dos cristãos, retomando o método ale(órico deinterpreta&ão, já iniciado por ?ilo de Ale#andria. *efendeu ainte(ra&ão entre a investi(a&ão da razão e a obedi$ncia da fé,diante do racionalismo dos pa(ãos 'como 2elso) ou diante dode!smo dos cristãos '5ertuliano, por e#emplo).

    0m sua obra 2ontra 2elso Or!(enes traz P fala a identidade docristianismo3 o cristianismo prop9e a e#cel$ncia da caridade, alionde o (re(o p9e a e#cel$ncia da justi&aN a reden&ão como obrada (ra&a sobrenatural na istória, ali onde o (re(o p9e a inser&ãoracional na ordem natural do universoN a encarna&ão de *eus, suaiman$ncia no mundo terreno e seu amor pelos omens, ali onde o(re(o p9e um *eus transcendente, supra+celeste, impessoal eindiferente, amado por todos como m supremo, mas incapaz elemesmo de amarN a fé de ue a reden&ão alcan&a a carne umanae a matéria cósmica, de ue essas são, na sua ori(em, obras daa&ão criadora de *eus e ue serão, no m, redimidas juntamentecom o esp!rito, ali onde o (re(o recorre ao espiritualismo uereduz e condena a matéria ao não+ser e P fun&ão de ori(em domal. Or!(enes postulou a liberdade e não a necessidade como osentido de todas as coisas no universo e na istória.

    -a concep&ão de Or!(enes a cria&ão é um ato livre de *eus. Acria&ão procede não da necessidade e sim da liberdade de*eus. 5odos os entes criados são contin(entes3 são, uandopoderiam não ser. 7O ser, portanto, não les é al(o de próprio, masuma dádiva de *eus8 '*e %rinc. @@ C, D). O motivo da cria&ão de*eus é sua própria bondade.

     Bunto com a contin($ncia, vem também a temporalidade. 5odos osseres criados são mutáveis. %ara Or!(enes, antes de tudo, naordem da cria&ão, v$m os seres espirituais. A natureza não é outracoisa ue o palco onde se desenrola a istória3 o dramadesencadeado pelas criaturas racionaisWespirituais e suas livresdecis9es.

    O drama cósmico come&a com a livre decisão dos seres racionaisde se voltarem da plenitude do ser '*eus) para o não+ser 'a

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    criatura)N e termina com o endireitamento e o res(ate do universo,(ra&as P encarna&ão do 4o(os divino e P sua obra de reden&ãoistórico+cósmica.

    2om o pensamento de Or!(enes á o princ!pio da liberdade e o

    orizonte da istoricidade, rompendo, assim, como oemanacionismo necessitarista neoplat6nico.

    Or!(enes foi um (rande escritor cristãoN o primeiro a buscarconstruir uma ci$ncia da fé. -este sentido, foi, sem d1vida, um dosmaiores %adres da @(reja.

    0m sua s!ntese, Or!(enes, pulsa toda uma metaf!sica do esp!rito euma ontolo(ia da liberdade.

    0m Or!(enes cada passo da constru&ão da doutrina da fé, opensamento se p9e a sondar também o abismo da liberdade comomomento ori(inário, fundamental e fundador de todo o cosmos edo drama ue o envolve, em seu movimento de ueda e dereer(uimento e reconstitui&ão. %ara Or!(enes a liberdade é omotivo da cria&ão, da ueda, da reden&ão pela encarna&ão do4ó(os, e é também da repristina&ão de todas as coisas.

    Or!(enes não somente deu o aval de uma teolo(ia sistemática e douso da losoa, especialmente da metaf!sica, na constru&ão de tal

    teolo(ia, mas também le(ou aos omens do futuro, os medievais,os aportes fundamentais para uma ermen$utica b!blica baseadanuma interpreta&ão espiritual e m!stica das 4etras Sa(radas.

    2ontudo, como Or!(enes foi um pioneiro e, apesar de buscar seater P 7re(ra da fé8 da tradi&ão apostólica, al(umas vezes tenaresvalado para ensinamentos ue mais tarde se revelaram, P luzdo ma(istério dos conc!lios, como eterodo#os, tornara+se umpensador cristão muito controverso.

    2omo teólo(o, se aventurou a pensar e escrever sobre pontos uenão estavam claros na b!blia, nem na tradi&ão apostólica. uitasdas infer$ncias de Or!(enes tinam, para ele, um valor ipotético.Al(umas delas se revelaram, depois, eterodo#as, mascontinuaram sendo defendidas por ori(enistas obcecados, uedo(matizavam as doutrinas do mestre. -estas correntes, oplatonismo e#tremo e#ercia uma forte in"u$ncia. Os ori(enistasforam mon(es ue viveram no 0(ito, na %alestina e na S!ria, entreos séculos @M e M@.

    Os conc!lios acabaram condenando, dentre outras, as doutrinas dapree#ist$ncia das almas, da reencarna&ão, da não puni&ão eterna

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    dos dem6nios e das almas umanas, a 7apoXatástasis8. Apesar detoda a turbul$ncia em torno dos ori(enistas nos séculos se(uintesP sua morte, Or!(enes (ozou de (rande respeito também por partede outros %adres da @(reja e dos pensadores medievais.

    FILOSOFIAS )E/IE-AL E ESCOL0STICA:A cultura cristã na idade média se desdobra em uatro fases3Apostólica, %atr!stica, onástica e 0scolástica. >avendo uatroper!odos de evolu&ão da losoa medieval3$orma%&o

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    ?altava euil!brio e unidade. >avia vários tipos de escolas como asparouiais, abaciais, catedrais, palatinas e municipais. Ascorrentes desse per!odo são a escolástica dissidente 'inspiradapelo neoplatonismo), a losoa árabe e a losoa ebraica. Apo'eu?ase mais brilante da istória do pensamento cristão, com aescolástica na plenitude de sua for&a. *ividem+se em 0scola?ranciscana, de Santo Alberto e São 5omás e -ova 0scola?ranciscana. 0ntre os lósofos destacam+se Ale#andre de >ales,Joaventura, Alberto a(no, 5omás de Auino e *uns Scoto.+ecadênciaO esplendor sucede um per!odo de rápida decad$ncia com causasde ori(em interna e e#terna. As correntes escolásticas desseper!odo são a de =uilerme Occam ue se opunam ao formalismoe dialetismo de *uns Scoto.Transi%&oAbran(e as correntes losócas do enascimento, considerado om da idade média e in!cio da idade moderna. enovou não só osestudos como os ideais da cultura (reco+romana. 0ntre as losoasantiescolásticas desse enascimento se distin(uem3 umanistas,naturalistas, juristas e céticos. 0ntre as escolásticasencontraremos dominicanos, carmelitas e jesu!tas.A ?ilosoa 0scolástica e seus pontos peculiares

    a. %ropunam+se a ensinar e fundamentar a doutrina da i(rejacomo sistema cient!co devido P 7redescoberta8 dopensamento aristotélico.

    b. 2aracteriza+se pelo silo(ismo, apropriado para e#por eapresentar verdades já encontradas, mas não paradescobertas de novas ideiasN

    c. 5enta mostrar ue não á con"ito entre o saber e a fé. A losoa eteolo(ia. A razão e a revela&ão. / o ponto culminante da losoamedieval e seus representantes são os mais destacadospensadores de todos os tempos.Os ;niversais

     5em em seu maior !cone em Anselmo de 2anterburY ue marca apassa(em da imedia&ão da fé P penetra&ão racional. Sua famaveio através de sua célebre prova ontoló(ica da e#ist$ncia de *euscontida em seu escrito ,roslo'ium

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    -ERTE1TES #2E I1FL2E1CIARA) A TEOLOGIA /O S3C 44

     5eolo(ia é um vocábulo ue encontra sua ori(em na jun&ão de duaspalavras (re(as3 7Theos8, ue si(nica *eus,e 7lo'os8, ue si(nicadiscurso ou razão. 4o(o, a teolo(ia é o estudo de *eus e de suarela&ão com o universo. 0la é também o estudo das doutrinasreli(iosas e das uest9es de divindade. 5oda disserta&ão ou racioc!nio

    sobre *eus, constitui uma teolo(ia.

    O estudo de *eus é da má#ima import:ncia. 2omo disse o reformador Boão 2alvino3 7Guase toda sabedoria ue possu!mos, ou seja, asabedoria verdadeira e sadia, consiste em duas partes3 oconecimento de *eus e de nós mesmos8.

    O omem é irremediavelmente um animal reli(ioso. *esde aanti(uidade, *eus tem sido a principal preocupa&ão do escrut!nioumano. Sócrates, %latão, Aristóteles e todos os pensadores (re(osimportantes formularam teorias teoló(icas especulativas sobre *eus.A e#ist$ncia de *eus para esses omens era al(o totalmente racionale necessário.

    *iferentemente da teodicéia Socrática, %lat6nica ou Aristotélica, ocristianismo apresenta+se como reli(ião revelada. >á pouca

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    necessidade de especula&9es e elucubra&9es metaf!sicas, pois ele jáparte do pressuposto de ue *eus se revelou em sua %alavra, e naplenitude dos tempos nos falou por meio do seu lo Besus, ueandou entre nós pre(ando e fazendo mila(res, sendo crucicado notempo em ue %6ncio %ilatos era (overnador da Budéia. Os apóstolos,encarre(ados por ele de pre(ar a sua mensa(em ao mundo,escreveram sua bio(raa e eventos relacionados ao cristianismo.0sses re(istros documentais come&aram a sur(ir após um breveiato, não maior ue trinta anos. / interessante notar ue uando osprimeiros relatos come&aram a circular, muitas das testemunasoculares dos fatos por eles narrados ainda estavam vivas. Ora, caso anarrativa apresentada por eles fosse considerada fantasiosa oum!tica, não faltariam pessoas para desmascará+los. -o entanto, nosdias apostólicos não ouve al(uém ue pudesse por em d1vida aistoricidade de Besus. -em mesmo o 5almude, em todo o seu zelo judaico, ne(a ue Besus de -azaré tena feito mila(res.

    Ainda se(undo a narrativa b!blica, esse Besus nasceu de uma vir(em,e#atamente como vaticinara o profeta @sa!as cerca de setecentosanos antes do seu nascimento. 0le era da descend$ncia de *avi, eressuscitou ao terceiro dia, avendo aparecido aos seus apóstolos e auma multidão de mais de uinentas pessoas 'E2or!ntios EI.L). Suamorte não foi um evento fortuito, contin(ente – ela foi providencial.Através do seu sacrif!cio, todos nós podemos ce(ar perto de *eus e,confessando as nossas iniZidades, receber o seu imerecido perdão.

    Os dois 1ltimos pará(rafos são um resumo do cristianismo b!blico eortodo#o. %or ortodo#o, entende+se o bojo essencial do cristianismoistórico. 0ssa visão ortodo#a das 0scrituras foi preservada ao lon(odos anos, embora em al(uns per!odos da istória não faltassem(rupos para elaborar uma teolo(ia diferente, apresentando novos eestranos pressupostos sob os uais a J!blia deveria ser interpretada.

    As primeiras controvérsias sur(iram uando o cristianismo ainda erauma reli(ião recente3 %rimeiro os judaizantes, depois os docetistas, noséculo se(undo foram os (nósticos, no século terceiro, Qrio, e nosséculos se(uintes também não faltaram omens controversos cujoe#acerbado intento era comprometer a ortodo#ia. O au(e dacontrovérsia ocorreu na idade média e no in!cio da era modernauando o romanismo, em seu afã de arrecadar fundos para aconstru&ão da bas!lica de São %edro, espoliou o povo europeu sob

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    promessa de livrar as pobres almas do pur(atório, e isso sem falar nacomercializa&ão de !cones, tais como espinos da coroa de 2risto,peda&os da cruz na ual ele morreu, cr:nios 'isso mesmo, plural –cr:nios) de Boão Jatista, e tantas outras invencionices umanas ue o7infal!vel8 %apa e a 7Santa8 @(reja 2atólica omolo(avam semnenuma inibi&ão. 5al era o abandono da J!blia.

    2aso a situa&ão continuasse assim, seria realmente o m daortodo#ia. %orém, nesse mesmo tempo ouveram omensimpulsionados pelo zelo ardoroso da verdade, ue assumiram a tarefade lutar pela manuten&ão da ortodo#ia. ?oi então ue sur(iramnomes como artino 4utero, Boão 2alvino, ?elipe elancton e

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    0mbora não seja poss!vel listar de forma e#austiva os pensadores uee#erceram in"u$ncia no cenário teoló(ico contempor:neo, faz+senecessário mencionar ao menos tr$s deles3 @mmanuel [ant, 2arles*ar\in e [arl ar#.

    O pensamento de @mmanuel [ant é, sem d1vida, o (rande divisor deá(uas da losoa moderna, de modo ue seu nome representa para alosoa o mesmo ue 2opérnico representa para a ci$ncia. Suaforma&ão é um pouco eclética, para não dizer estrana3 come&ou seuestudo dentro do pietismo, sendo depois in"uenciado pelo@luminismo, em especial por Bean+Bacues ousseau e 2ristian ]ol^.;m dos lósofos da sua época, =.0. 4essin(, prop6s ue 7os eventoscontin(entes da istória não podem servir de base para o

    conecimento do mundo transcendente, eterno8. Se(undo essaconcep&ão, e#iste um abismo intranspon!vel entre nós e *eus, e nóssimplesmente não podemos passar para o outro lado e conec$+lo.0le é 5odo+5ranscendente. / nesse conte#to ue [ant aparece. Aprópria idéia de *eus como 75odo+5ranscenente8 ocorre in1merasvezes em sua obra, sendo um dos principais postulados da sualosoa. 0ssa idéia se transformaria no paradi(ma principal da neo+ortodo#ia.

    O nome 2arles *ar\in é comumente associado P teoriaevolucionista. 0mbora já ouvesse muitos modelos evolucionistasantes dele e tenam sur(ido muitos outros depois, é uase imposs!velouvir seu nome sem associá+lo a teoria da evolu&ão das espécies.

    0m ERHE *ar\in partiu para uma via(em ao redor do mundo parafazer observa&9es cient!cas, levando na via(em o livro de 2arles4Yell, ,rinc*pios de /eolo'ia. 0m ERHC ele come&ou a escrever a obraue se tornaria o seu le(ado, concluindo+a em ER. -ão se sabe ao

    certo por ue, mas o fato é ue *ar\in levou EI anos para imprimi+lo./ poss!vel ue a razão da demora resida no temor da indi(na&ão ueseu livro poderia lan&ar. 0m Ori'em das Esp0cies, *ar\in faz apol$mica arma&ão de ue todos nós procedemos de um ancestralcomum e animalesco, não avendo essencialmente nada ue conradi(nidade ao omem. O acaso nos (erou, portanto, não á *eus. 0ssaé a conseZ$ncia ló(ica da sua cosmovisão.

    ?ilo de judeus, [arl ar# nasceu em 5rier, na Alemana, em ERER.?oi, sem d1vida, um ($nio intelectual, obtendo seu doutorado em

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    losoa aos DH anos. 0le foi muito in"uenciado pelas idéias de 4ud\i(?euerbac, o ual dizia ue o omem não foi criado P ima(em de*eus, mas *eus foi criado P ima(em do ser umano. Sua losoalan&ou as bases do Socialismo. O pensamento de ar# é umpensamento voltado para o trabalo. %ara ar#, não é oconecimento espiritual ue transforma a e#ist$ncia e,conseuentemente, a vida social, mas e#atamente o contrário3 coma re"olu%&o, o corpo social transforma também a sua subjetividade.0sse pensamento servirá de base do movimento da 7teolo(ia daliberta&ão8, na se(unda metade do século vinte.

    0mbora seja 1til apontar todos os ascendentes do pensamentoteoló(ico do século vinte, tal tarefa seria muito pesarosa e fu(iria ao

    escopo da nossa pesuisa. 2ertamente á muitas outras vertentesue in"uenciaram o pensamento teoló(ico no século passado econtribu!ram para o abandono da teolo(ia ortodo#a no século vinte.as não foi só o pensamento renascentista, iluminista ouevolucionista ue e#erceu in"u$ncia sobre a teolo(ia do séculopassado3 a intempérie do in!cio do século vinte também contribuiupara as diversas varia&9es ocorridas na teolo(ia contempor:nea. Sóna sua primeira metade, ouve duas (uerras mundiais. 0sse processode (uerras consecutivas contribuiu de certo modo para uma perda deidentidade do omem do século vinte. 0ssa perda de identidade efalta de objetividade resultante do pós+(uerra foi a coluna principal doe#istencialismo. 0m um mundo desor(anizado e desumanizado, a1nica certeza ue o omem tem está relacionada a sua própriae#ist$ncia. *esde então ouve um (rande desenvolvimento da umalosoa centrada no 70u8, e nomes como artin >eide((er e Bean+%aul Sartre (anaram proje&ão mundial. Os pressupostose#istencialistas destes pensadores também tiveram (rande in"u$nciano pensamento teoló(ico contempor:neo.

    0sta obra não é fruto de toda uma vida de esmero teoló(ico e nemtampouco nenum (rande lo(ro acad$mico. 0la é muito simples e atélimitada, oferecendo apenas uma peuena introdu&ão P matéria deteolo(ia contempor:nea. 750O4O=@A 2O-50%O_-0A3 ;ma análisedo desenvolvimento do pensamento teoló(ico no século vinte8,encontra sua justicativa na necessidade de conecermos asmudan&as istóricas ue v$m acontecendo no cenário teoló(icomundial. 0la certamente servirá de (uia no estudo da 5eolo(ia2ontempor:nea, podendo ser utilizada por professores nosseminários.

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    A perspectiva adotada é conservadora, como entendemos sertambém a teolo(ia apostólica, porém, conservadorismo não ésin6nimo de i(nor:ncia ou apatia intelectual. uitas pressuposi&9es

    da teolo(ia contempor:nea nos são 1teis, principalmente no campoda critica te#tual, mas não podemos jamais sacricar as nossascren&as fundamentais no altar do pós+modernismo.

    A pós+modernidade não tem in"uenciado apenas os teólo(os em suamaneira de pensar, mas também os pastores e l!deres das nossasdenomina&9es. A J!blia tem sido abandonada, e uando aparece, épermutada. Gue ao e#aminar as correntes teoló(icas ue serão

    apresentadas nessas pá(inas, nin(uém assuma umaposturaindiferente. -osso desejo é ue ao ler o conte1dopro(ramático dessa disserta&ão, o leitor, seja teólo(o, pastor ou lei(o,possa assumir uma postura de apolo(eta e juntar+se a nós na lutapela manuten&ão da ortodo#ia b!blica, por auela unidadefundamental ue avia em nossos irmãos primitivos.

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    A I1FL251CIA 6A1TIA1A

    A revolu&ão teoló(ica do século passado ue cou conecida pelonome de teolo(ia e#istencialista ou contempor:nea, tem as suasra!zes nas idéias do lósofo @mmanuel [ant. 0mbora já tena sidomencionado na introdu&ão, esse lósofo merece, sem nenumad1vida, um cap!tulo P parte. [ant lo(rou sistematizar a conan&a doomem moderno na capacidade da razão para tratar de tudo o uediz respeito ao mundo material, e sua incapacidade para ocupar+se de

    tudo o ue está além do nosso mundo. Ao fazer isso, [ant não seprojetou apenas sobre o século dezenove, mas também sobre oséculo vinte.

    D.E– 1m no"o con2unto de pressupostos reli'iosos para o homemmoderno.

    O mundo (re(o avia elaborado al(umas normas reli(iosas básicasem torno do parado#o entre a forma e a matéria. -a idade média, oomem do ocidente avia assimilado al(umas dessas idéias,

    reor(anizando+as em torno do conceito de natureza e (ra&a. *e certaforma, a s!ntese de 5omás de Auino era de ori(em pa(ã earistotélica, e privava a (ra&a de seu caráter puramente cristão,fazendo dela um elemento aperfei&oador da superestrutura, ao invésde ser um ato transformador de *eus.

    [ant e sua idéia de autonomia zeram dessa priva&ão da (ra&a maisue uma simples moldura teoló(ica3 pela primeira vez na istória daciviliza&ão ocidental, a natureza foi separada da (ra&a de formaelaborada, conseZente e consciente. -o pensamento do omem

    moderno, a (ra&a foi suplantada pela idéia de emancipa&ãoN oomem tina ue nascer de novo como pessoa completamente livre eaut6noma, emancipada de ualuer pensamento preconizado. *eacordo com essa nova maneira de pensar, até mesmo o conceito denatureza – conservado da s!ntese medieval auiniana – setransformou, passando a ser uma es3era micro-c4smica dentro daqual a personalidade humana podia exercer sua autonomia. Anatureza era a(ora interpretada como um terreno innito ue opensamento matemático aut6nomo devia controlar.

    https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/a-influencia-de-immanuel-kant-na-teologia-contemporanea/https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/a-influencia-de-immanuel-kant-na-teologia-contemporanea/

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    A istória do pensamento e da teolo(ia ocidental desde [ant nosmostra como esses pressupostos reli(iosos, trabalando com idéiastomadas do cristianismo, modelaram uma nova teolo(ia e um novomundo.

    D.D+ A autonomia do homem e sua in5uência no pensamento reli'iosomoderno

    A autonomia preconizada por [ant, isto é, a emancipa&ão de valorese#teriores, produziu uma avalia&ão muito elevada da capacidadeumana, sobretudo da razão umana como autoridade nal e comocrivo para a verdade. A razão, e somente a razão, poderia jul(ar omundo do fen6meno e o mundo do n1mero. %ara [ant, essaautonomia representava a substitui&ão do conceito de revela&ão do

    cristão – ue tem sua e#pressão má#ima em 2risto e na J!blia – pelarazão aut6noma do omem. 0m um sentido ulterior, [ant entroniza arazão como sendo o princ!pio supremo. A verdadeira reli(ião, nalosoa Xantiana, não consiste em conecer o ue *eus tem feitopara a nossa salva&ão, e sim em conecer o ue devemos fazer parace(armos a ser di(nos dela. 0ssa moralidade reli(iosa, se(undo[ant, pode ser alcan&ada sem a necessidade de nenum aprendizadob!blico.

    -ão á muita dist:ncia entre esse pensamento de [ant e o

    pensamento posterior dos teólo(os contempor:neos, tal como emJultmann e sua idéia de desmitolo(iza&ão, nem está lon(e da idéiada razão aut6noma como ju!za da revela&ão na análise racional de%annenber(, ue apresenta os relatos da ressurrei&ão como estandocontaminados de lendas, nem da ne(ativa de 2ullmann de consideraros relatos da cria&ão de =$nesis como istória aut$ntica.

    D.H+ O relati"ismo de +a"id 6ume e sua in5uência na #loso#a7antiana.

    *avid >ume, lósofo escoc$s, avia lan&ado d1vida em uanto Ppossibilidade de al(uém provar al(uma coisa, tanto dentro como forade si mesmo. 2ausa e efeito, *eus como ori(em de todas as coisas, oomem como ser contin(ente, tudo isso era para ele completamenteevasivo. Se(undo ele, não conecemos a coisa em si, mas apenasauele conecimento ue os sentidos nos proporcionam.

    [ant tomou emprestado de >ume o problema do conecimentoproposto por ele e o reformulou, como se isso fosse pudesse resolvero problema epistemoló(ico. [ant criou dois mundos, P saber, o mundodos fen6menos e o mundo dos n1meros, sendo um percebido pela

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    razão e pelos sentidos, e o outro, o mundo de *eus, da imortalidade,da liberdade e das idéias re(uladoras ue a razão não pode e#plicar,mas ue devem ocupar um lu(ar na vida como se fossem objetosreais ao alcance da razão.

    O efeito de tudo isso foi em parte, devastador. [ant, ao colocar *eusem um outro mundo, o aprisionou com um muro P prova de somN seu1nico v!nculo com o mundo dos fen6menos se daria por meio danecessidade ue o omem tem da idéia de *eus para o seu mundoético. 2om isso, [ant não fecou totalmente a porta do nosso mundopara *eus, mas a diminuiu de tal forma ue o *eus soberano, cujasvestes enciam o templo '@sa!as L.E), não pode entrar. *a mesmaforma, uma vez ue o omem não pode perceber as coisas como sãona realidade – tanto no mundo dos fen6menos como no mundo dos

    n1meros – não pode introduzir+se por essa porta para conecer a*eus. 0le cou isolado no mundo dos fen6menos e *eus no mundonumeral.

    D.+ O con#namento de +eus na teolo'ia contempor8nea

    0sse connamento de *eus no mundo dos n1meros é o tema favoritoda teolo(ia contempor:nea. 5al connamento se refor&a com ainsist$ncia crescente do e#istencialismo na liberdade, e reaparece deforma modicada nos primeiros escritos de [arl Jart acerca de *eus

    como 75otalmente Outro8, como 7Auele ue não pode ser e#plicadocomo se e#plica um objeto8. 0le reaparece na divisão neo+ortodo#aentre 6ist4ria e /eschichte, na diferencia&ão de Jultmann entre o Besus istórico e o 2risto Xeri(mático, ou, usando uma lin(ua(emXantiana, entre o Besus fenomenal e o 2risto numenal. 0sseconnamento do mundo espiritual é o fator preponderante dainsist$ncia contempor:nea na 7umanidade8 da J!blia e da deni&ãobartiana de revela&ão como sendo o encontro di"ino-humano, onumeral ue toca o fenomenal, porém, sem entrar nele. 0le também

    produz em oltmann uma teolo(ia da esperan&a, completamentecética uanto a ualuer m escatoló(ico na istória fenomenal,ainda ue capaz de falar de um futuro numenal. -esse !nterim, uasenin(uém se atreve a buscar o Besus istóricoN ele é simplesmenteirrelevante.

    D.I+ As id0ias de*stas presentes na #loso#a da emancipa%&o e suain5uencia na teolo'ia contempor8nea

    O conceito de!sta ue fez parte do processo de "orescimento da

    autonomia não dava nenum lu(ar P interven&ão divina na cria&ãopor meio de al(o sobrenatural e revelador. *a mesma forma, a

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    autonomia do método sobre o te#to b!blico estabeleceu certospressupostos ue o método istórico+cr!tico ainda mantém, como oabandono da doutrina da inspira&ão verbal. 2ome&a+se então a fazerdistin&ão entre a %alavra de *eus e a J!blia, e junto com o

    pressuposto metodoló(ico, ressur(e a idéia de ue á erros na J!bliae ue esta deve ser tratada como ualuer conjunto de documentosdo passado.

    0ssa idéia de umaniza&ão da J!blia veio a ser uma dascaracter!sticas distintivas da cr!tica b!blica, uer seja em sua formamais conservadora 'como se encontra em Oscar 2ullmann e ]olfart%annenber(), ou em suas e#press9es mais radicais 'como em %aul 5illic, Bon obinson e nos teólo(os seculares). 5ambém Jart eJultmman, apesar de todo o seu debate interno, se(uem unidos no

    empre(o dessa metodolo(ia.

    D.L+ 1ma separa%&o radical entre hist4ria e 30

    A divisão entre istória e fé também se tornou mais tarde umpressuposto da teolo(ia contempor:nea. O Besus istórico pareciacada vez mais distante do 2risto da fé. Acerca desse impasse, =.0.4essin( armou ue 7o verdadeiro valor de ualuer reli(ião nãodepende da istória, senão de sua capacidade de transformar a vidaatravés do amor8. Os teólo(os contempor:neos apresentam repetidas

    vezes essa dissocia&ão do Besus istórico e do Besus da fé, armandoue ainda ue a istória escrita do cristianismo não se possa aceitar,o ensino de 2risto pode e deve ser aceito. A istoricidade da J!bliaparece menos importante ue auilo ue ela diz. Jart fará isso aoser inda(ado sobre se a serpente realmente falou no jardim do /dem,dizendo ue isso não tem a menor import:ncia diante do ue aserpente disse. Jultmann fará o mesmo ao rejeitar os relatosevan(élicos como sendo produtos istoricamente duvidosos por umlado, e aceitando+os, por outro lado, por causa da sua compreensão

    e#istencial do 70u8. oltmann o utilizará ao burlar+se da no&ãoclássica de escatolo(ia cumprindo+se na istória, e ao mesmo tempofalará sobre a i(reja orientada para o futuro. 5ambém Bon obinson,ao mesmo tempo em ue rejeita a idéia de céu como sendo um7lu(ar lá em cima8, fala de uma nova dimensão de vida como ser em pro3undidade, e de *eus como o $undamento do ser .

    -ão á duvida de ue @mmanuel [ant teve (rande in"u$ncia sobre opensamento teoló(ico contempor:neo. -a verdade, desde [ant ue aistória do pensamento e da teolo(ia ocidental é a istória de como

    seus pressupostos reli(iosos, associados a muitas idéias cristãs,deram ori(em a um mundo novo. 0mbora sua losoa encarasse com

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    valentia as uest9es pleiteadas por >ume, ele enclausurou os seresumanos no mundo dos fen6menos, não avendo modo da mentefenomenal conecer o numeral. 0ntre tantas obje&9es ue se podefazer a [ant, uma é a mais óbvia3 Se o nosso entendimento acerca de

    *eus não é ao menos ale(órico, como pode o omem conecer a*eusT A losoa de [ant transforma *eus em um ser inco(nosc!vel, eesse pressuposto será um (rande dilema para a teolo(ia dialética de[arl Jat, bem como de outros teólo(os contempor:neos.

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    /IAL3TICA /E 6ARL BART$

     5endo já comentado a in"uencia da losoa Xantiana para a teolo(ia

    do século vinte, passemos a(ora a discorrer sobre a teolo(iacontempor:nea em si.

    0m ECEC, um jovem pastor de uma peuenina i(reja da Su!&aescreveu um comentário tão radical ue certo escritor disse ue [arlJart pe(ou uma carta escrita em (re(o do primeiro século etransformou em uma carta ur(ente para o omem do século vinte.;m teólo(o católico disse ue esse comentário aos omanos foi umarevolu&ão copernicana na teolo(ia protestante ue acabou com opredom!nio do liberalismo teoló(ico. 0le foi, de fato, uma bomba ue

    Jart lan&ou no cenário teoló(ico contempor:neo.

    *iz+se da se(unda versão do comentário aos omanos, totalmenterevisada e publicada em ECDE, ue ela foi ainda mais revolucionáriaue a primeira. %orém, de ualuer forma, ECEC tem sido para muitoso ponto de partida da teolo(ia contempor:nea.

    A in"u$ncia da obra de [arl Jart nessa nova era da teolo(ia éenorme. 0le transformou a teolo(ia do século vinte em teolo'ia dacrise. ?oi ele uem dominou o ambiente teoló(ico, formulou os

    problemas e apresentou as ipóteses de maior relev:ncia, e desdeentão tem estado no centro da teolo(ia moderna. -ão á nenumad1vida de ue o pensamento de Jart dominou o pensamentoteoló(ico do seu tempo. 0le produziu um impacto tão (rande nateolo(ia protestante, ue todo teólo(o do nosso século ue uiserestudar teolo(ia a sério, pode se opor P sua teolo(ia ou acoler suasidéias, mas não pode jamais i(norá+la se uiser conecer a situa&ãoteoló(ica contempor:nea.

    O ue avia nesse comentário do pastor Jart ue sacudiu osalicerces teoló(icos do século vinteT Guais foram os princ!pios ueJart apresentou e ue se converteram no le(ado de uma nova erateoló(icaT >arvie . 2onn, aluno do *r. 2ornelius Man 5il, esbo&aal(uns princ!pios ue emanam do comentário de [arl Jart aosomanos e ue parecem ter desempenado o papel mais in"uente naforma&ão das novas variantes teoló(icas. 0sses princ!pios serãoabordados nos tópicos a se(uir.

    H.E+ A re"olta teol4'ica contra o liberalismo teol4'ico 3oi uma das

    mais not4rias caracter*sticas da teolo'ia barthiana

    https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/a-teologia-dialetica-de-karl-barth-e-a-revolta-contra-o-liberalismo-teologico/https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/a-teologia-dialetica-de-karl-barth-e-a-revolta-contra-o-liberalismo-teologico/

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    Jart avia aprendido teolo(ia aos pés de dois (randes teólo(osliberais, P saber3 >arnacX e >errmann. O Besus do mentor de Jart,>arnacX, não era o lo de *eus 1nico e sobrenatural, mas aencarna&ão do amor e dos ideais umanistas. A J!blia do mentor de

    Jart, >errman, não era a %alavra infal!vel de *eus, e sim um livroe#traordinário, ainda ue ordinário, ceio de erros e ue e#i(ia umacr!tica radical para encontrar a verdade. A medida de toda a verdadeera a e#peri$ncia, o sentimento. A teolo(ia desses dois mestres etambém a de Jart era o @dealismo teoló(ico, caracterizado por umaprofunda veia de pietismo e de preocupa&ão pela prática dae#peri$ncia reli(iosa cristã. 0m ECEC, e com muito mais for&a emECDE, Jart se encarre(ou de repudiar (rande parte desse liberalismoclássico.

    A primeira (uerra mundial e seus orrores acabaram por soterrar oidealismo teoló(ico liberal. A culta Alemana, a liberal @n(laterra e acivilizada ?ran&a lutavam como animais ferozes. -esse !nterim, osmestres liberais de Jart se uniram com outros teólo(os paradeclarar seu apoio P Alemana, o ue demonstrou ue eles erammestres de uma reli(ião atada a uma cultura, e não a *eus. Ocomentário de Jart aos omanos sur(iu então como rep1dio de seusanti(os mestres liberais. O liberalismo fazia de *eus al(o imanente aomundoN Jart se op6s a isso e apresentou *eus como 75otalmente

    Outro8. O subjetivismo do liberalismo do século EC avia colocado oomem no lu(ar de *eusN Jart e#clamou3 7Seja *eus, e não oomemU8. O liberalismo avia e#altado o uso aculturado da reli(iãoNJart condenou a reli(ião como o pecado má#imo. O liberalismoedicou a teolo(ia sobre a base da ética, Jart uis edicar a éticasobre a base da teolo(ia.

    H.D+ O comentário de 9:;9 de

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    real para nós, até ue ela nos fale da nossa situa&ão e#istencial, elanão é %alavra de *eus. 0sse é o conceito bartiano de revela&ão.

    H.H+ A dial0tica de

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    Sem d1vida o (rande tema de Jart, em oposi&ão declarada aoliberalismo, foi a 7innita diferen&a ualitativa8 entre eternidade etempo, céu e terra, *eus e o omem. -ão se pode identicar *euscom nada no mundo, nem seuer com as palavras da 0scritura. *eus

    ce(a ao omem como a tan(ente ue toca o c!rculo, mas narealidade não o toca. *eus fala ao omem como a bomba e#plode naterra. *epois da e#plosão, tudo o ue resta é uma cratera abrasadano terreno, e essa cratera é a i(reja.

    H.I+ O comentário de

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    H.L+ Ob2e%>es ? teolo'ia dial0tica de @arl á, sem d1vida, al(umas cr!ticas ue se pode fazer P obra de Jart.0le mesmo reconeceu al(uns de seus e#cessos e poliu boa parte dosar(umentos ue enfatizou a princ!pio, e até certo ponto, pode+se

    dizer ue elesua"iou al(umas idéias mais incisivas. O ue passo ae#por a(ora, são al(umas cr!ticas ue se podem fazer ao pensamentode Jart.

    0m primeiro lu(ar, ainda ue as idéias de Jart representem umarevolta contra o liberalismo clássico, suas idéias podem ser camadasde no"o liberalismo. Jart não conse(uiu se livrar do ponto de vistacr!tico liberal das 0scrituras. %or causa dos seus pressupostos liberais,Jart não aceita a inerr:ncia da J!blia, ce(ando mesmo a armar

    ue toda a J!blia é um documento umano fal!vel e ue buscar partesinfal!veis nas 0scrituras é 7simples caprico pessoal e desobedi$ncia8.A inerr:ncia das escrituras é uma das diferen&as cruciais entre oliberalismo e o cristianismo ortodo#o, e o posicionamento de Jartnada mais é ue uma op&ão por car em cima do muro.

    Sua idéia de revela&ão, em 1ltima instancia, é puramente subjetiva.%ara Jart, a diferen&a entre a J!blia como meramente um livro e aJ!blia como a %alavra de *eus depende e#clusivamente da rea&ãoumana frente a este livro. 0mbora em uma atitude de revolta contra

    o liberalismo ele tena e#clamado3 7Seja *eus e não o omem8, naprática, dentro da sua teolo(ia dialética, o omem é entronizado nocentro da e#peri$ncia reli(iosa.

    O resultado nal da dialética de Jart é a destrui&ão da verdadeobjetiva. Se toda comunica&ão istórica e toda e#peri$ncia direta com*eus se encai#a em uma concep&ão pa(ã de *eus, como poderemosapro#imar+nos da verdade sobre *eusT 5ambém a sua insist$ncia emdescrever *eus como 75otalmente Outro8 faz de *eus um serindescrit!vel. 2omo *eus não é um objeto no tempo e no espa&o, evisto ue a 7inescrutabilidade e recondidez formam parte da naturezade *eus8, o omem não pode conec$+lo diretamente, arma ele. Auestão é3 se *eus é assim tão indescrit!vel e insondável, de uemaneira o omem pode conec$+loT

    A separa&ão ue Jart faz da 6istorie e da /eschichte. traz P tona aproblemática concernente P istoricidade da obra redentora de 2ristocomo fundamento do cristianismo. 0la ar(umenta na tradi&ão de-ietzce e OverbecX, separando o cristianismo da istória, e ao faz$+

    lo, acaba por solapar a base do cristianismo. / claro ue o propósitode Jart foi tirar do liberalismo o monopólio uanto ao método de

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    interpreta&ão, mas ao faz$+lo, também privou o cristianismo do seulu(ar na istória.

    Ao ue vemos, embora a teolo(ia de Jart tena sido responsável poruma prática reli(iosa em ue os valores evidenciam a reli(iosidade do

    cristão, ele jamais conse(uiu se libertar completamente doliberalismo teoló(ico de seus mestres >errmann e >arnacX. 0lerevoltou+se contra o liberalismo teoló(ico, ar(umentou contra ele,mas não pode livrar+se de seus pressupostos. 5al como [ant, Jartconna *eus ao mundo dos n1meros e apresenta a dialética – ateolo(ia do parado#o – como sendo P 1nica teolo(ia poss!vel. 0lee#clui a razão a priori e dei#a a porta fecada P percep&ão umana.

    Sua teolo(ia é de suma import:ncia para o século vinte e, de fato,

    uase todo o pensamento teoló(ico moderno até a década de setentaenvolverá a perspectiva de Jart. %odemos aceitar seus pressupostosou acirrar+nos contra ele, mas nenum teólo(o de nossa épocapoderá jamais i(norar a teolo(ia dialética de [arl Jart e suain"u$ncia no cenário teoló(ico contempor:neo.

    1EO7ORTO/O4IA

    [arl Jart avia desencadeado uma tremenda revolu&ão com seucomentário aos omanos, e nos anos ue se se(uiram, a revolu&ão seampliou consideravelmente, se avolumando sob a é(ide de um novomovimento teoló(ico denominado 7neo+ortodo#ia8. 0mil Jrunnertalvez tena sido um dos nomes mais conecidos dessa nova escola,depois, é claro, de Jart.

    https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/neo-ortodoxia-analisando-os-pressupostos-teologicos-do-novo-liberalismo/https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/neo-ortodoxia-analisando-os-pressupostos-teologicos-do-novo-liberalismo/

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    Jrunner foi um teólo(o su!&o residente nos 0stados ;nidos uetambém teve participa&ão importante no desenvolvimento dateolo(ia neo+ortodo#a. -ascido em ERRC, estudou em

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    0m um cap!tulo anterior, indicamos al(uns dos pressupostos, bemcomo a metodolo(ia da estrutura teoló(ica neo+ortodo#a. A(ora, cabea nós destacarmos os temas comuns. O esbo&o ue demonstraremosa se(uir está baseado principalmente na obra +o'mática da B're2a, de

    Jart..E+ O tema mais debatido pela neo-ortodoxia 0 o conceito dere"ela%&o

    A revela&ão, se(undo Jart, é uma perpendicular ue vem de cima, eue por isso não pode se comparar com as melores intui&9esumanas. A revela&ão é um evento no ual *eus toma a iniciativa. 5ambém é dito ue a revela&ão não pode comparar+se com a J!blia,pois é superior a ela. A J!blia e suas arma&9es são testemunas, são

    sinais indicadores da revela&ão, mas não é a revela&ão em si. A0scritura não é a %alavra de *eus, e nem as arma&9es da 0scriturasão revela&ão. Se(undo Jart, comparar a J!blia com a %alavra de*eus é objetivar e materializar a revela&ão.

    -esse mesmo terreno, Jrunner deniu a revela&ão como sendo umaocasião de diálo(o em ue *eus se encontra com o omem. -ão sepode dizer ue a revela&ão tena acontecido, P não ser ue ambos osparticipantes do encontro – a saber, *eus e o omem – se encontrem.

    .D+ O cora%&o da re"ela%&o da ,ala"ra de +eus. se'undo a perspecti"a neo-ortodoxa. 0 (esus Cristo

    *e fato, Jart insiste tanto nessa idéia ue ce(a ao ponto de ne(ara e#ist$ncia de ualuer outra revela&ão, P parte de 2risto. %ara ele, aistória da revela&ão e a istória da salva&ão v$m a ser a mesmacoisa. -o 2risto de Jart, *eus revelou ue não ueria dei#ar oomem e#istir em pecado. %or isso, Jart insiste em ue nuncadever!amos mencionar o pecado, a não ser ue a(re(uemosimediatamente ue o pecado foi derrotado, esuecido e vencido por

     Besus. A reconcilia&ão entre *eus e o omem se efetua por meio de2risto. Besus 2risto é o próprio *eus, isto é, é *eus ue se umila asi mesmo. 0m sua liberdade, *eus cruza o abismo aberto e mostraue ele é verdadeiramente Senor.

    -a encarna&ão, *eus se umila a si mesmo. Jart não uer admitira umila&ão do omem Besus. Se(undo ele, dizer ue a umila&ãose refere ao omem é uma mera tautolo(ia. Gue sentido averia emfalar de um omem umiladoT A umila&ão é al(o natural noomem. %orém, dizer ue *eus se umilou a si mesmo, se(undoJart, é entender o verdadeiro si(nicado de Besus 2risto como *eus.

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    0le é o *eus ue se umila, ue se revela, e é também a própriaess$ncia da revela&ão.

    .H+

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    encontro divino+umano, uma confronta&ão e um diálo(o e#istencial.*e acordo com essa premissa, a J!blia não pode ser a %alavra de*eus. 0la se transforma em %alavra de *eus P medida ue *eus falaconosco por meio dela. econece+se nessa premissa a d!vida ue a

    neo+ortodo#ia tem com a escola de losoa e#istencialista.A neo+ortodo#ia conserva a lin(ua(em teoló(ica ortodo#a, porém areinterpreta, e muitas vezes o resultado desta reinterpreta&ão é tãonocivo uanto veneno no leite. As doutrinas do pecado ori(inal, daueda de Adão, da reden&ão, da ressurrei&ão e da se(unda vinda de2risto são camadas de mitos por Jrunner e de sa'a por Jart. Ainterpreta&ão ue a neo+ortodo#ia dá a essas passa(ens é acima detudo e#istencial, uase nunca literal, sob ale(a&ão de ue essasdoutrinas não descrevem eventos na istória, e sim condi&9es

    istóricas sob as uais todos os omens vivem. =$nesis H, pore#emplo, não deve ser tomado como istória literal, sendo apenasuma forma simbólica de e#plicar a realidade do pecado e do or(ulona vida umana. 0sse conceito de teolo(ia não dei#a nenuma portapela ual possa entrar a pre(a&ão da vinda do ?ilo de *eus comoevento a ocorrer na istória, por e#emplo.

    A insist$ncia de Jart em Besus 2risto como o cora&ão da revela&ão étão forte ue o leva a ne(ar a e#ist$ncia de ualuer outra revela&ãode *eus. 0ssa idéia é contrária a J!blia, pois esta arma ue *eus serevela através da sua cria&ão 'Atos E.EK e omanos E.EC+DF). Oconceito bartiano e neo+ortodo#o de revela&ão também é contrário Pdoutrina b!blica da inspira&ão, e acaba por destruir o caráter b!blicode revela&ão can6nica.

    Al(uns acusam Jart de fazer uma interpreta&ão dualista daencarna&ão de 2risto, pois ele parece fazer distin&ão entre as duasnaturezas, repudiando por completo o credo da 2alced6nia. Ora,2risto não nos salvou apenas por meio da sua divindade, mas

    também por meio da sua umanidade. -ós temos paz por meio dosan(ue da cruz '2olossenses E.DF, 0fésios D.EL) e não á nada maisumano ue o san(ue de uma pessoa.

    Ainda ue Jart diz ue nem arma e nem ne(a a teoria da salva&ãouniversal, sua idéia de 7elei&ão universal em 2risto8 parece umaespécie de neo+universalismo. Além disso, seu rep1dio pelasdescri&9es do céu e do inferno parecem um conceito de salva&ão bemdiferente do ue é apresentado nas 0scrituras. O resultado dessapostura 7neo+universalista8 é a destrui&ão da (ravidade da

    incredulidade, e deste modo a neo+ortodo#ia destrói as advert$ncias

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    b!blicas contra a apostasia, bem como o camado ao arrependimentoe P fé.

    %or várias raz9es, muitos teólo(os t$m entendido mal a neo+ortodo#ia. 0ssa corrente teoló(ica pretende, entre outras coisas, ser

    um retorno ao ensino dos reformadores. A razão de ser da neo+ortodo#ia é atacar o otimismo do liberalismo clássico e as corrup&9esda teolo(ia católica romana. / sua inten&ão por em evid$ncia acentralidade absoluta da pessoa de 2risto, a transcend$ncia de *euse a necessidade de revela&ão. -aturalmente, todos esses pontosbásicos estão em armonia com o conceito evan(élico. Apesar disso,como se pode observar, a neo+ortodo#ia se separa da fé cristãistórica não somente em al(umas esferas pouco relevantes, mastambém em seus conceitos básicos. ecomendamos as obras de

    Jart, Jultmann e Jrunner – bem como de outros teólo(os neo+ortodo#os – por sua in"u$ncia e contribui&ão para o cenário teoló(icocontempor:neo, mas a aprecia&ão dessas obras deve ser feita comcautela e com esp!rito cr!tico.

    CRÍTICA /A FOR)A8 /E B2LT)A11

    -o mesmo ano em ue [arl Jart publicou seu comentário aosomanos, apareceram mais dois livros acerca de temasneotestamentários ue anunciavam uma nova mudan&a nos estudoscr!ticos. O livro +ie $orm'eschichte des Erxrn'eliums, de artin*ibelius 'ERRH+ECK), foi o responsável por popularizar o jar(ãoteoló(ico cr*tica 3ormal. Outro livro, +er áhmen der /eschichte (esus 'ECEC), de [arl 4. Scimidt, pretendia ser o (olpe de

    misericórdia dos liberais contra a conabilidade do 0van(elo dearcos. %orém, mais ue a estes dois nomes, a coluna vertebral

    https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/critica-da-forma-o-metodo-investigativo-de-rudolf-bultmann/https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/critica-da-forma-o-metodo-investigativo-de-rudolf-bultmann/

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    dessa nova mudan&a estaria associada a um outro nome3 udolf Jultmann. O livro de Jultmann ue revolucionou a istória dosestudos da J!blia foi 6istor o3 the Snoptic Tradition '>istória datradi&ão dos Sinóticos), escrito em ECDE. A in"u$ncia de Jultmann no

    campo da cr!tica sobrepujou a de *ibelius.O método cr!tico de Jultmann é de fato, importante. Até mesmo osseus cr!ticos, tais como Oscar 2ullmann e Boacim Beremias, ao refutaras conclus9es de Jultmann, usam uma adapta&ão do seu métodocr!tico. Aos poucos, @n(laterra e 0stados ;nidos, bem como outrospa!ses com tradi&ão no estudo da teolo(ia, ainda ue receososuanto P nova matéria ue estava associada principalmente ao nomede Jultmann, acoleram vários pressupostos da cr!tica formal.

    I.E+ O m0todo in"esti'ati"o da cr*tica 3ormalO labor do cr!tico formal é mostrar ue a mensa(em de Besus, talcomo temos nos sinóticos, é em (rande parte esp1ria, tendo sofridoacréscimos por parte da comunidade cristã primitiva. 2om respeito Pconabilidade da J!blia, Jultmann vai mais além, e arma ue aJ!blia não é a %alavra inspirada de *eus em nenum sentido objetivo.%ara ele, a J!blia é o produto de anti(as in"u$ncias istóricas ereli(iosas, e deve ser avaliada como ualuer outra obra literáriareli(iosa anti(a.

    A premissa fundamental da cr!tica formal é ue os evan(elos são oproduto do labor da i(reja primitiva. Os autores dos evan(elosprocuraram unir várias tradi&9es orais independentes e contraditóriasue e#istiam na i(reja antes ue fosse escrito o -ovo 5estamento.0ssas tradi&9es orais também não são di(nas de conan&a,consistindo basicamente de ditos e relatos individuais referentes a Besus e aos seus disc!pulos. A i(reja ajuntou essas tradi&9es e usouem forma de narrativa, inventando lu(ares, tempos e enlaces paraunir as tradi&9es independentes. ?rases como as dos 0van(elos, 7emum barco8, 7imediatamente8, 7no dia se(uinte8, 7em uma via(em8 –são apenas meros recursos literários usados pelos compiladores dos0van(elos para unir todas as narrativas, inclusive istóriasindependentes acerca de Besus. 2omo disse [.4. Simidt, um dospioneiros no campo da cr!tica, nós 7não possu!mos a istória de Besus,temos apenas istórias sobre Besus8.

    O propósito da cr!tica formal é encontrar o 0van(elo por detrás dos0van(elos. Se(undo os seus proponentes, os uatro 0van(elos ue

    dispomos servem apenas como 7matéria prima8 na nossa busca peloverdadeiro 0van(elo, ue teria sido anterior aos uatro 0van(elos

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    can6nicos e diferente dos mesmos, partindo da premissa de ue ai(reja primitiva compilou, editou e or(anizou os livros can6nicos deforma articial, de acordo com seus próprios propósitos apolo(éticose evan(el!sticos. %ara dar aos 0van(elos um detale arm6nico,

    teriam sido acrescentados detales uanto P seZ$ncia, cronolo(ia,lu(ares, etc. Se(undo a cr!tica formal, tais detales não sãoconáveis. A J!blia, tal como a temos oje seria apenas umacompila&ão de lendas e ensinos isolados ue foram ardilosamenteinseridos como sendo parte da istória ori(inal. ila(res, istóriascontrovertidas e profecias cumpridas seriam nada mais ue umatradi&ão proveniente de uma fonte tardia e menos conável.

    %or m, o resultado dessa metodolo(ia é essencialmente anti+sobrenaturalista. %ara Jultmann, o ue temos nos 0van(elos

    can6nicos são apenas res!duos do Besus istórico. -ão á d1vida ue Besus viveu e realizou muitas das obras ue le são atribu!das, masele se mostra e#tremamente cético, principalmente uanto Ppossibilidade do sobrenatural e do camado 7Besus istórico8. 0ledisse3 72reio ue não podemos saber uase nada acerca da vida epersonalidade de Besus, já ue as fontes cristãs primitivas não seinteressam por isso, sendo fra(mentadas e lendárias, e não e#istemoutras fontes acerca de Besus8. / claro ue o comentário de Jultmanné preconceituoso e tendencialista, pois á men&ão da pessoa de

    2risto nos escritos dos %ais apostólicos, ?lávio Bosefo e 5ácito, entreoutros.

    I.D+ Consenso com os crist&os ortodoxos

    Os cristãos ortodo#os aceitam, de forma uase consensual, al(unsdos pontos sustentados pela neo+ortodo#ia, e até mesmo com al(unspressupostos de Jultmann.

    A cr!tica formal nos lembra ue o evan(elo se conservou oralmentedurante pelo menos uma (era&ão, antes de aduirir a forma escritado -ovo 5estamento. 0la também nos recorda ue os 0van(elos nãosão relatos neutros ou imparciais, sendo antes disso um testemunoda fé dos crentes. Além disso, por maiores ue foram os esfor&os deJultmann, ele não conse(uiu demonstrar objetivamente o Besus 7não+sobrenatural8. 5odos os documentos do -ovo 5estamento, nãoimporta a forma em ue a cr!tica formal os selecione, continuamre"etindo o Besus sobrenatural, lo de *eus.

    A cr!tica formal também nos recorda o caráter ocasional dos

    0van(elos. 2ada um deles foi escrito com uma idéia, em umaocasião istórica espec!ca, como por e#emplo, ateus para os

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     judeus, e arcos e 4ucas para os (entios. 2omo tais, e#pressam emprimeiro lu(ar uma preocupa&ão vital com a problemática da época. 0por 1ltimo, a cr!tica formal nos lembra ue os 0van(elos não seinteressavam (randemente por detales (eo(rácos e cronoló(icos,

    como a comunidade cristã ortodo#a avia pensado e praticadoanteriormente.

    I.H+ Ob2e%>es ao m0todo cr*tico de udol3 ávárias obje&9es ue se pode fazer ao criticismo de Jultmann, dentreas uais destacaremos cinco, por considerá+las principais.

    A primeira delas está relacionada com a istória. -ão áembasamento sólido para a teoria da inconabilidade istórica dos0van(elos. Os cr!ticos da tradi&ão de Jultmann ar(umentam ue,por se tratar de uma cr6nica de cont!nuos sucessos, eles não podemser um esuema istoricamente conável sobre a vida de 2risto. Oue eles não levam em conta é ue dentro dos limites de umesuema istórico amplo, cada evan(elista distribuiu seu materialistórico de acordo com seus propósitos. 0les também i(noram ue o-ovo 5estamento, a pesar dos muitos sucessos, narra também al(uns

    fatos embara&osos, como a aus$ncia de sinais de 2risto em sua terranatal 'ateus EH.I+IR) e a sua a(onia no =ets$mani. Além disso, acr!tica de Jultmann é e#a(erada porue e#i(e dos escritores dos0van(elos al(o ue eles não uiseram fazer. 0les eram testemunasoculares, mas não eram istoriadores treinados. %orém, apesar disso,várias vezes eles se mostram cautelosos com os dados istóricos,como no prólo(o de 4ucas '4ucas E.E+).

    A cr!tica formal também é injusta com os escritores dos relatosevan(élicos. 0les reduzem ateus, arcos e 4ucas a meroscompiladores de documentos, e os 0van(elos a relatoscontraditórios. @sso tudo viola injustamente a unidade do relatoevan(élico. Os 0van(elos possuem uma unidade básica detestemunos conáveis de 2risto, e ainda nos apresentam marcosdiferentes da vida de Besus. -a verdade, cada 0van(elo é um marcoistórico de certos aspectos da vida de 2risto, mas a cr!tica formalnão reconece a diversidade de transmissão oral dentro da unidadedos relatos evan(élicos.

    O método cr!tico de Jultmann separa o cristianismo de 2risto. A(rande premissa deste método de estudo é ue a comunidade cristã,

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    e não 2risto, e#erceu o papel mais importante na produ&ão dos0van(elos. A verdade, porém, é ue a mensa(em neotestamentáriaestá centrada na pessoa de 2risto e no ue ele fez 'D2or!ntios .I), enão na comunidade cristã. A i(reja a ual %aulo e seus companeiros

    testemunaram não foi criadora 'D2or!ntios .E+D), mas apenasreceptora da verdade. Sua maior responsabilidade não foi a cria&ãode novas tradi&9es, e sim a preserva&ão e proclama&ão das anti(astradi&9es.

    Se(undo a cr!tica formal, o cristianismo dos apóstolos não passava devers9es falas sobre 2risto e sua mensa(em. *iferente do ue dizemestes cr!ticos, os apóstolos eram uma fonte autorizada de informa&ãocom respeito dos atos e doutrinas de 2risto. 0m Atos .E.DE+DD, estáclaro ue os apóstolos e#erciam um controle estraté(ico da

    mensa(em ocial da i(reja durante os anos de transmissão oral. Suapresen&a tina como nalidade impedir ue sur(issem vers9esdeturpadas do 0van(elo, e não criar uma versão mitoló(ica edeturpada do 0van(elo.

    A cr!tica formal parece esuecer ue o lapso de tempo entre os fatosistóricos e os documentos escritos é m!nimo. Guando Jultmann eoutros cr!ticos da J!blia dizem ue a narrativa evan(élica está repletade fábulas ue se acumularam durante o per!odo entre a tradi&ão orale a palavra escrita, eles esuecem ue o intervalo entre os fatosacontecidos e o re(istro desses fatos é muito peueno. O primeirorelato documental foi feito por arcos e as evid$ncias demonstramue ele foi escrito cerca de vinte e cinco anos após os eventos por elenarrados. O problema em dizer ue o -5 está repleto de materiallendário é ue vinte e cinco anos é muito pouco tempo para se formaruma lenda. Guando as primeiras vers9es evan(élicas come&aram acircular, muitas das testemunas oculares estavam vivas e poderiamfacilmente desmascarar os escritores, caso estes fossem impostores eestivessem inserindo mitos na narrativa. O ue ocorre, porém, é

     justamente o contrário3 os 0van(elos foram recebidos com muitaale(ria e divul(ados pelas i(rejas.

    *e tudo isso, se(ue+se irrefra(avelmente ue a cr!tica da J!blia talcomo aparece em udolf Jultmann, é uma analise preconceituosa dorelato evan(élico, está demasiadamente comprometida com ospressupostos do liberalismo para ue possa ser considerada umaanalise imparcial dos fatos, como os cr!ticos desejam ue seja. as acr!tica formal não foi a 1nica contribui&ão de Jultmann P teolo(iacontempor:nea. Outras idéias dele também permearam o cenário

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    teoló(ico do século vinte, entre as uais está a desmitolo(iza&ão,assunto ue abordaremos com maior amplitude no pró#imo cap!tulo.

    /ES)ITOLOGI9A;O8 /E B2LT)A11

    ;ma das palavras caves para entender a teolo(ia do século vinte é a7desmitolo(iza&ão8. 0ssa palavra cacof6nica é uma terminolo(ia ue

    foi popularizada por Jultmann em um ensaio escrito em ECE,tornando+se a partir da! um jar(ão teoló(ico. O impacto desseconceito na 0uropa foi tremendo, e se por um lado a Alemanaperdeu pouco a pouco o interesse pelos pressupostos dadesmitolo(iza&ão, a idéia recebeu um novo est!mulo uando o Bonobinson discorreu sobre o tema em seu livro 6onest to =od, deECLH.

    -ão é poss!vel sintetizar todo o pensamento de Julmann em uma1nica palavra. -o cap!tulo anterior, apresentamos uma parte muitoimportante da in"u$ncia atual de Jultmann. Apesar disso, a teolo(ia

    https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/desmitologizacao-o-metodo-interpretativo-de-rudolf-bultmann/https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/desmitologizacao-o-metodo-interpretativo-de-rudolf-bultmann/

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    da desmitolo(iza&ão é sem d1vida uma parte important!ssima dateolo(ia contempor:nea e merece destaue entre as idéias ueJultmann ajudou a preconizar, além de ser ainda oje a parte de suaformula&ão teoló(ica mais controversa.

    O ue será ue á de tão controverso e ao mesmo tempo tãoatraente nesse conceito de Jultmann, a ponto de insti(arconsideravelmente os teólo(os dos 0stados ;nidos, 0uropa e da Qsia,e continuar e#ercendo in"u$ncia no pensamento teoló(icocontempor:neo ocidentalT / isso ue estaremos analisando nestecap!tulo.

    L.E+ O pro'rama de desmitolo'ia%&o

    -o centro do pro(rama de desmitolo(iza&ão de Jultmann consta na

    arma&ão de ue no -ovo 5estamento encontram+se duas coisas3

    O 0van(elo cristão, por um lado.

    A cosmo(onia do século primeiro, de !ndole mitoló(ica, de outrolado.

    Sendo assim, o teólo(o contempor:neo precisa separaro 7eri'ma 'translitera&ão da palavra (re(a ue si(nica 7conte1do dapre(a&ão8), de sua envoltura mitoló(ica. O 7eri'ma seria a entrana

    irredut!vel na ual o omem moderno deve crer.

    A idéia de mito, para Jultmann, tem sua ori(em no pensamento pré+cient!co do século primeiro. O propósito do mito seria e#pressar amaneira como o omem v$ a si mesmo, e não apresentar um uadroobjetivo e istórico do mundo. O mito empre(a ima(ens e termostomados deste mundo para transmitir convic&9es acerca do enfoueue o omem tem de si mesmo. -o século primeiro, o judeu entendiao seu mundo como um sistema aberto a *eus e aos poderessobrenaturais. -essa era pré+cient!ca, acreditava+se ue o universotina tr$s n!veis, com o céu acima, a terra no centro e o infernodebai#o da terra. Jultmann insiste ue essa é a visão de mundoencontrada na J!blia.

    0sta inser&ão m!tica, se(undo Jultmann, também foi utilizada paratransformar Besus. A pessoa istórica de Besus, se(undo esseprofessor, se converteu rapidamente em um mito do cristianismoprimitivo, e é por isso ue Jultmann ar(umenta ue o conecimentoistórico de Besus não tem valor para a fé cristã primitiva, pois o

    uadro apresentado pelo -ovo 5estamento é de !ndoleessencialmente m!tica. Os fatos istóricos acerca de Besus se

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    transformaram em uma istória m!tica de um ser divino epree#istente ue se encarnou e e#piou com seu san(ue os pecadosde todos os omens, ressuscitando também dentre os mortos esubindo ao céu e, se(undo se cria, re(ressaria rapidamente para

     jul(ar o mundo e iniciar uma nova era. 0sta istória também foiembelecida com istórias mila(rosas, vozes celestes e triunfos sobredem6nios. Jultmann arma ue toda essa apresenta&ão ue o -ovo 5estamento faz de Besus não passa de mito., isto é, do re"e#o dopensamento pré+cient!co das pessoas do século primeiro, uecriaram esses mitos para entenderem melor a si mesmos. 0ssesmitos, se(undo ele, não tem nenuma validade para o omem doséculo vinte, ue acredita em ospitais, e não em mila(resN empenicilina, e não em ora&9es. %ara transmitir com ecácia oevan(elo ao omem moderno, devemos despojar o -ovo 5estamento dos mitos e encontra o 0van(elo por trás dos0van(elos. / este processo de descobrimento ue Jultmann camade desmitolo(iza&ão.

    O processo de desmitolo(iza&ão, se(undo o próprio Jultmann, nãosi(nica ne(ar a mitolo(ia, e sim interpretá+la e#istencialmente, emfun&ão da compreensão ue o omem tem de sua própria e#ist$ncia.Jultmann busca fazer essa interpreta&ão e#istencialista dos mitosutilizando conceitos do lósofo e#istencialista alemão artin

    >eide((er 'ERRC). Assim, ele arma ue o suposto nascimentovir(inal de 2risto é uma tentativa umana de e#pressar o si(nicadode Besus para a fé. A cruz de 2risto também perde seu si(nicadoe#piatório. 2risto na cruz não está fazendo nenuma substitui&ãovicária3 ela tem si(nicado apenas como s!mbolo de ue o omemassumiu uma nova e#ist$ncia, renunciando toda a se(uran&a materialpor uma vida ue se vive apoiado no transcendente.

    L.D+ Caracter*sticas básicas da mitolo'ia do No"o Testamento

    0m ultima análise, Jultmann diz ue as caracter!sticas básicas damitolo(ia do -ovo 5estamento se concentram em duas cate(oriasde autocompreens&o3 a vida fora da fé e a vida de fé.

     A "ida 3ora da 30

    -esse sentido, os termos conecidos como pecado, carne, temor emorte são apenas e#plica&9es m!ticas da vida fora da fé. 0m termose#istenciais, pode+se dizer ue si(nicam uma vida escrava dasrealidades tan(!veis, vis!veis e ue perecem.

     A "ida de 30

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    A vida de fé, por outro lado, consiste em abandonar completamenteesta adesão Ps realidades tan(!veis. Si(nica ainda a liberta&ão dopróprio passado e a abertura para o futuro de *eus. %ara Jultmann,essa abertura ao futuro de *eus é o 1nico si(nicado real da

    escatolo(ia. A implica&ão desse pensamento é ue o viverescatoló(ico (enu!no é viver em constante renova&ão através dadecisão de obedecer.

    L.H – Ob2e%>es ? doutrina de

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    sobrenaturalista e presume, com base em seus conceitostendenciosos e sem nenuma evid$ncia plaus!vel, ue todos osrelatos conáveis acerca de Besus caram suprimidos ou destru!dosno breve per!odo ue transcorreu entre sua vida terrenal e o in!cio da

    pre(a&ão evan(élica. Seu ceticismo é insustentável. Será ue IF diasé tempo suciente para ue os disc!pulos viessem a esuecer tudo oue ouviram e viramT

    -ão foi só >eid((er ue in"uenciou a teolo(ia de Jultmann. As idéiasde *avid >ume, o cético escoc$s, aviam in"uenciado o mundo e seule(ado se estendia P época de Jultmann. / injusticável a ne(a&ão deJultamann dos relatos sobrenaturais e a classica&ão arbitráriadesses relatos como sendo essencialmente mitoló(icos. 5ambémpodemos perceber várias pressuposi&9es do liberalismo clássico na

    obra de Jultmann, razão pela ual tanto o seu método cr!tico comosua teolo(ia da desmitolo(iza&ão (anaram o apelido de neo-liberalismo. Jultmann é totalmente incoerente ao basear suas idéiasnas 0scrituras, pois o ue ele cama de mito, a J!blia cama 3ato.Seuantropocentrismo pode estar bem de acordo com a losoae#istencialista, mas é totalmente oposto ao caráter teoc$ntrico do-ovo 5estamento.

    O desvendamento das 0scrituras pela desmitolo(iza&ão é erético. Aocontrário do ue Jultmann pretende, não é a desmitolo(iza&ão uedesvendará de modo compreens!vel as 0scrituras para o omemmoderno, e sim o 0sp!rito Santo. Somente ele, se(undo a J!blia, é uepode dissipar as trevas da incredulidade levando o pecador a ver o0van(elo.

    2om seu método interpretativo, Jultmann nos desaa a compreendero omem moderno, uando pre(amos a ele. 0sse enfoue é di(no enecessário, mas não é “desmitolo'iando”  o 0van(elo einterpretando+o e#istencialmente ue nós solucionaremos os

    problemas da umanidade. Ao apresentar a mensa(em cristã aoomem moderno, devemos ter em mente ue por mais moderno ueele seja, ele ainda é omem natural, e portanto 7não podecompreender as coisas ue são do 0sp!rito de *eus, porue leparece loucura8 'E 2or!ntios D.E). 2reio ue esse vers!culo, mais ueualuer outro, pode ser aplicado ao método interpretativo de udolf Jultmann.

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    $EILSGESC$IC$TE8 /E C2LL)A1

    %arte do mundo teoló(ico do século vinte (ira em torno de umapalavra alemã, 6eils'eschichte, ue pode ser traduzida para a l!n(uaportu(uesa como hist4ria da sal"a%&o. A palavra (anou um

    si(nicado mais pleno dentro da teolo(ia ocidental contempor:neaapós os escritos do teólo(o su!&o, perito no -ovo 5estamento, o *r.Oscar 2ullmann. Ainda ue o si(nicado e ori(emde heils'eschichte remonta aos teólo(os alemães do séculodezenove, como B.2.[. von >ofmann e Adolf Sclater, o *r. 2ullmann éa pessoa ue popularizou o termo no século vinte.

    @ntroduzir neste ponto nosso estudo sobre 2ullmann ea 6eils'eschichte é intencional, porue parte da obra de 2ullmann foiescrita de modo a refutar e intera(ir al(umas idéias de doisimportantes teólo(os contempor:neos, cujos pressupostos já foram

    https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/heilsgeschichte-a-escola-teologica-do-dr-oscar-cullmann/https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/heilsgeschichte-a-escola-teologica-do-dr-oscar-cullmann/

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    apresentados, a saber3 Jart e Jultmann. *e [arl Jart,a 6eils'eschichte de 2ullmann tomou muitas idéias básicas para umnovo enfoue da istória. 5ambém foi in"uenciado pela compreensãocristoc$ntrica do bartianismo e pelo conceito denitivo do papel da

    fé na revela&ão divina. *e udolf Jultmann, 2ullmann tomou osmétodos e#e(éticos da cr!tica formal para aplicá+lo em suareconstru&ão da istória do -ovo 5estamento. *evido a essa rela&ãocom os escritos de Jart e Jultmann, é sábio referir+se as idéias deOscar 2ullmann como sendo neo+ortodo#as em sua orienta&ão.

    O mais interessante na obra de 2ullmann é ue, ao mesmo tempo emue 2ullmann manteve al(umas idéias de Jart e Jultmann, ele nãotemeu desassociar+se desses omens. 0le diz ue Jart e Jultmannassimilaram no&9es losócas estranas 7ue corromperam sua

    percep&ão da mensa(em espont:nea do -ovo 5estamento8. Se(undo2ullmann, o impulso de Jultmann, principalmente ao fazer distin&ãoentre os elementos essenciais e acidentais da mensa(em do -ovo 5estamento, é arbitrário e in($nuo. O -ovo 5estamento, se(undo ele,deve ser a cave para a compreensão de si mesmo.

    0sta diferen&a entre 2ullmann e seus contempor:neos pode e#plicarporue muitas de suas idéias t$m sido aceitas aos evan(élicosocidentais, ao passo ue as idéias de Jart t$m sido rejeitadas. Seusescritos são menos dependentes do e#istencialismo e de outrospressupostos losócos, e mais dependentes da e#e(ese b!blica doue a obra de Jart e Jultmann. *iferente desses dois omens, elesubmeteu suas interpreta&9es ao conte#to ue le oferecia a própria0scritura, se opondo fortemente a muitas caracter!sticas radicais dacr!tica formal e da desmitolo(iza&ão. -este mesmo sentido, enfatizoua import:ncia da istória para a compreensão adeuada da J!blia.Ainda ue seu conceito de istória está bastante renido com oevan(élico, sua $nfase na idéia central dahist4ria da sal"a%&o, de ue*eus atua na istória, comun(a muito bem com a teolo(ia ortodo#a.

    Outro ponto importante na teolo(ia do *r. 2ullmann é a $nfasecristoló(ica de seus escritos. ;m dos livros mais inteli(entes de2ullmann é um estudo e#e(ético dos t!tulos de 2risto no -ovo 5estamento. -este livro ele arma ue a teolo(ia cristã primitiva éuase e#clusivamente cristolo(ia.

    K.E+ ,rincipais postulados da escola 6eils'eschichte de teolo'ia

    A 6eils'eschichte 'daui por diante nos referiremos a ela apenaspor hist4ria da sal"a%&o), como escola de interpreta&ão teoló(ica

    insiste principalmente na istória e na revela&ão de *eus na istória.O tempo, para 2ullmann, é al(o no ual *eus atua para realizar a

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    salva&ão do omem em 2risto. A revela&ão e a reden&ão divina estãobaseadas em realidades istóricas bem objetivas, e não em mitoslevantados pela i(reja, como arma Jultmann, porém, ao enfatizar aistória como ve!culo da revela&ão, 2ullmann conseuentemente está

    privando a 0scritura de ser o dado básico da reli(ião cristã. O dadobásico passa a ser a istória santa e a 0scritura passa a ser apenasuma constante desse dado denitivo, e não uma realidade em simesma. 2omo armou =eor(e 0rnest ]ri(t, perito em Anti(o 5estamento da mesma escola, 7a revela&ão se dá em fatos istóricos,não em palavras. *evemos entender o -ovo 5estamenticomotestemuno dos atos reveladores de *eus8.

    A a&ão central na hist4ria da sal"a%&o é a primeira vinda de Besus2risto como Salvador. 5oda a istória e todo o tempo, se(undo

    2ullmann, são um drama mundial e Besus é a (ura principal nestedrama. Os judeus no tempo do -ovo 5estamento a(uardavam a vindado essias+Salvador como o anuncio iminente do m do mundo, ocentro da istória, depois do ual viriam as (lórias da era vindoura. AJ!blia dá testemuno ue Besus é o messias e ue ele deu in!cio aessa nova era.

    @sso implica em uma nova perspectiva escatoló(ica. %ara 2ullmann, aescatolo(ia inclui todos os sucessos salvadores a partir daencarna&ão e concluirá com a se(unda vinda. As b$n&ãos da eravindoura come&aram com a obra e o testem,uno de 2risto, mas suanaliza&ão está reservada para o tempo da se(unda vinda, uando oeino de *eus estará presente de modo pleno, em todo o seu poder e(lória. A i(reja, portanto, apareceu nahist4ria da sal"a%&o na fasenal do plano de reden&ão divino. A batala ue decide a vitória nal já teve seu lu(ar, de modo ue a hist4ria se encontra em um dramacósmico, sendo ela mesma a cave de a&ão na lina estreita daistória b!blica. A razão pela ual 2ullmann não admite ue o0van(elo seja revela&ão é justamente essa3 aceitar o 0van(elo

    seria limitar a a&ão de *eus a essa lina estreita.

    Guanto P revela&ão, 2ullmann arma ue o interprete somenteconece a istória uando se identica com ela. Obviamente ueessa é uma idéia neo+ortodo#a. A istória, uando o interprete aconece, passa a ser revela&ão, e o estudioso participa dessa istóriapela fé. A pesar da forte insist$ncia na istoricidade dos relatosb!blicos, 2ullman e os outros teólo(os da hist4ria da sal"a%&o aindat$m diculdades em considerar o si(nicado da salva&ão como al(oobjetivamente acess!vel, e continua falando da e#peri$ncia reli(iosacomo ponto de apoio da revela&ão.

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    K.D+ O pensamento de Cullman e a ortodoxia teol4'ica

    Apesar da cr!tica ue 2ullmann faz do uso da cr!tica formal por partede Jultmann, em 1ltima análise, o uso ue ele mesmo faz docriticismo faz distin&ão entre a J!blia e a palavra de *eus. 2ullmann

    cama o relato J!blico da cria&�