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Teoria Geral dos Contratos - Final Garantias contratuais: I. Vícios contratuais: garantias dentro das relações contratuais (vício redibitório e vício do produto ou serviço). a. Vício redibitório: previsto no CC: b. Vício do produto ou serviço: previsto no CDC: pode ser tanto oculto, como aparente. Distinguindo- se do conceito previsto do CC. II. Evicção; Vícios Redibitórios (art. 441 a 446 do CC): 1. Conceito: é um vício oculto (não pode ser aparente. Não é detectado por um simples exame, somente por perícia), que torna a coisa imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminui o valor e que tenha sido adquirida por contrato comutativo ou doação onerosa. Não esqueça que, excepcionalmente, existem doações onerosas (art. 540 do CC – doação modal: com encargo e doação remuneratória: ocorre em agradecimento a um serviço gratuitamente prestado). 2. Ações Edilícias: são ações propostas em caso de vícios redibitórios. São elas: a. Ação Redibitória: é aquela ação proposta para extinguir o contrato, ou seja, objetiva devolver a coisa viciada. Retornar as partes ao status quo ante. b. Ação Estimatória (ação quanti minoris): tem como o objetivo o abatimento do preço. É possível cumular o pedido com perdas e danos, se o alienante sabia da existência do vício, estando, assim, de má-fé. Prazos das ações edilícias: tem natureza híbrida. I. 1ª Corrente (Nelson Neri Junior e Rosa de Andrade Neri): o prazo das ações edilícias é prescricional. II. 2ª Corrente: entende que o prazo das ações edilícias é decadencial. Essa é a corrente majoritária. É adotada pelo Enunciado n. 28 do CJF (as ações edilícias são, predominantemente, desconstitutivas). · 30 dias: bem móvel (prazo decadencial); · 1 ano: bem imóvel (ação predominantemente desconstitutiva: prazo decadencial). Contagem do prazo: é contado da entrega efetiva, ou seja, da tradição. Entretanto, isso pode gerar injustiça. Em razão disso, o CC criou duas exceções. I. Se o adquirente já estava na posse do bem, o prazo será contado da alienação, porém, reduzido à metade. Exemplo: locação de imóvel urbano, feita pelo prazo de 5 anos. No terceiro ano, o locador decide vender o imóvel. É possível, desde que seja dado ao locatário o direito de preferência. Feito isso, o locatário decide exercer tal direito (traditio brevi manu - quem possuía em nome alheio, agora possui em nome próprio). Passados dois meses, surge um vício redibitório. Considerando que o prazo é de 1 ano para ingressar com a ação edilícia, mas o locatário já estava na posse do bem, o prazo é de seis meses, contados da alienação do bem, portanto, está dentro do prazo para tanto. II. Se o vício, por sua natureza, só poder ser descoberto posteriormente (perícia), o prazo será contado da sua ciência, em até o máximo, de 180 dias para bem móvel e um ano para bens imóveis.

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Teoria Geral dos Contratos - Final

Garantias contratuais: I. Vícios contratuais: garantias dentro das relações contratuais (vício redibitório e vício do produto ou

serviço). a. Vício redibitório: previsto no CC: b. Vício do produto ou serviço: previsto no CDC: pode ser tanto oculto, como aparente. Distinguindo-

se do conceito previsto do CC.

II. Evicção;

Vícios Redibitórios (art. 441 a 446 do CC):

1. Conceito: é um vício oculto (não pode ser aparente. Não é detectado por um simples exame, somente por perícia), que torna a coisa imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminui o valor e que tenha sido adquirida por contrato comutativo ou doação onerosa. Não esqueça que, excepcionalmente, existem doações onerosas (art. 540 do CC – doação modal: com encargo e doação remuneratória: ocorre em agradecimento a um serviço gratuitamente prestado).

2. Ações Edilícias: são ações propostas em caso de vícios redibitórios. São elas: a. Ação Redibitória: é aquela ação proposta para extinguir o contrato, ou seja, objetiva devolver a coisa

viciada. Retornar as partes ao status quo ante.

b. Ação Estimatória (ação quanti minoris): tem como o objetivo o abatimento do preço. É possível cumular o pedido com perdas e danos, se o alienante sabia da existência do vício, estando, assim, de má-fé.

Prazos das ações edilícias: tem natureza híbrida.

I. 1ª Corrente (Nelson Neri Junior e Rosa de Andrade Neri): o prazo das ações edilícias é prescricional. II. 2ª Corrente: entende que o prazo das ações edilícias é decadencial. Essa é a corrente majoritária. É adotada

pelo Enunciado n. 28 do CJF (as ações edilícias são, predominantemente, desconstitutivas).

· 30 dias: bem móvel (prazo decadencial); · 1 ano: bem imóvel (ação predominantemente desconstitutiva: prazo decadencial).

Contagem do prazo: é contado da entrega efetiva, ou seja, da tradição. Entretanto, isso pode gerar injustiça. Em razão disso, o CC criou duas exceções.

I. Se o adquirente já estava na posse do bem, o prazo será contado da alienação, porém, reduzido à metade. Exemplo: locação de imóvel urbano, feita pelo prazo de 5 anos. No terceiro ano, o locador decide vender o imóvel. É possível, desde que seja dado ao locatário o direito de preferência. Feito isso, o locatário decide exercer tal direito (traditio brevi manu - quem possuía em nome alheio, agora possui em nome próprio). Passados dois meses, surge um vício redibitório. Considerando que o prazo é de 1 ano para ingressar com a ação edilícia, mas o locatário já estava na posse do bem, o prazo é de seis meses, contados da alienação do bem, portanto, está dentro do prazo para tanto.

II. Se o vício, por sua natureza, só poder ser descoberto posteriormente (perícia), o prazo será contado da sua ciência, em até o máximo, de 180 dias para bem móvel e um ano para bens imóveis.

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3. Cláusula de garantia (art. 446 do CC): é uma cláusula que será inserida no contrato, com o objetivo de aumentar o prazo de garantia do bem, ocorrendo duas garantias: a contratual – cláusula de garantia é a chamada garantia legal (prevista na lei). Não confundir com as relações de consumo. A garantia contratual é somada à legal. Se aparecer um vício redibitório durante a garantia contratual, abre-se um prazo de 30 dias para o vício ser denunciado ao alienante. Se o referido prazo não for respeitado, o restante do prazo da garantia contratual será perdido. Assim, a garantia legal é uma causa impeditiva do prazo decadencial. Vide art. 207 do CC: o prazo decadencial não se perde, não se suspende ou interrompe, salvo previsão legal em contrário (cria uma exceção).

Evicção (art. 447 a 457 do CC):

1. Conceito: é a perda da coisa por força de decisão judicial ou a apreensão administrativa, que tenha sido adquirida em contrato oneroso, ainda que em hasta pública. O STJ alargou o conceito de evicção para apreensão administrativa (compra de carro roubado). O CC/16 proibia a alegação de vício redibitório em caso de compra em hasta pública. Como o CC/02 não tem um artigo compatível entende-se pela possibilidade de tal alegação.

2. Sujeitos da Evicção: 1. Evicto (evencido) - réu: é o indivíduo que perdeu a coisa; 2. Alienante: quem transferiu o bem. 3. Evictor (evencente) - autor: é o indivíduo que ganhou a coisa.

Ø Os prejuízos são cobrados em sede de ação regressiva. A denunciação da lide é obrigatória para os artigos 456

do CC, 70, I do CPC e para o Enunciado 29 do CJF. É facultativa para a jurisprudência do STJ, alegando ser inconstitucional, pois restringe o acesso ao judiciário.

Ø A garantia contra a evicção independe de cláusula expressa, mas as partes podem convencionar o aumento, a diminuição ou a exclusão desta responsabilidade. Com relação à cláusula que aumenta a responsabilidade, esta não pode ser superior ao dobro. Já a cláusula que diminui a responsabilidade não tem margem. Quanto à cláusula que exclui a responsabilidade pela evicção (cláusula nom praestaenda evictione – exclui a responsabilidade pela evicção). Essa cláusula não pode ser inserida em contrato de adesão, pois representa renúncia de direito do aderente (art. 424, CC).

Fórmulas de Washington de Barros Monteiro

1ª Fórmula: omissão de cláusula= a responsabilidade total. Quando não há a cláusula nom praestaenda evictione, tem-se a responsabilidade total (art. 450 do CC): inicia com a restituição integral do preço. Ainda, ocorre a indenização dos frutos, a indenização por despesas do contrato (custo de escritura, registro, tributos), custas judiciais, honorários advocatícios. 2ª Fórmula: cláusula expressa + ciência específica do risco pelo adquirente= isenção total de responsabilidade. 3ª Fórmula: Cláusula expressa + ignorância de um risco específico pelo adquirente ou o adquirente não ter assumido o risco específico= responsabilidade limitada ao preço da coisa.

Ø Deve-se colocar uma cláusula de que o adquirente não assume o risco, limitando-se ao preço da coisa.

Adiantou tal hipótese, pois, na falta dela, acarretaria responsabilidade total.

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Regras de evicção parcial: tabela elaborada pela doutrina para ajudar a explicar o termo “considerável” previsto no CC.

I. Considerável: 99% a 50%. Se a evicção é parcial considerável, pode ser pedida a extinção do contrato mais perdas e danos, ou restituição de parte do preço, corresponde ao valor do desfalque sofrido.

III. Não considerável: 49% a 1%. Nesse caberá, somente, pedido de indenização.

Revisão Judicial do Contrato:

Idade Média – Contractus Qui Habent Tractum Sucessiulim ET Dependentiam de Funro Rebus Sic Stantibus Inteligentur: os contratos de trato sucessivo, que dependem do futuro, devem permanecer como foram criados. Objetiva a manutenção da verdade contratual estabelecida no momento da contratação. O problema advém das mudanças sociais, que influenciam o contrato, principalmente, os de longa duração, que ficam sujeitos a situações que ocorrem no decorrer do tempo. Com o passar do tempo a aludida cláusula foi esquecida, em razão da supervalorização da cláusula Pacta Sunt Servanda, em função do liberalismo, com a Revolução Francesa. Entretanto, essa cláusula pode promover a repressão da parte fraca da relação jurídica. Dessa forma, surge a possibilidade de revisão contratual. Em 1918, na França, nasceu a lei de Faillot, da qual ressurge a ideia de revisão contratual novamente, a qual traz a obrigatoriedade de um fato imprevisto para tal revisão – Teoria da Imprevisão. A possibilidade de revisão contratual vem no CC brasileiro, mediante o art. 317 do CC/02. Vale ressaltar que o CDC, em 1990 já previa tal situação no art. 6º, V, do CDC – Revisão do Contrato de Consumo. Requisitos para a Revisão (art. 317 do CC):

· O contrato deve ser bilateral, oneroso e comutativo, excluindo o contrato aleatório, posição do STJ (REsp. 860277-GO);

· Vide Enunciado n. 440 do CJF: o contrato aleatório pode ser revisto na sua parte comutativa. · O contrato ser execução continuada (trato sucessivo – cumpre de forma gradativa) ou diferida (cumpre no

futuro, de uma única vez), ambos são contratos de execução para o futuro. · O contrato deve possuir prestação desproporcional, que a doutrina chama de lesão objetiva. · Haver o motivo imprevisível. Conforme a jurisprudência, o motivo imprevisível está relacionado à economia.

Para os economistas, não há imprevisão. Esta é uma característica inerente à ciência econômica. Para resolver este problema, apresentou-se o Enunciado n. 17 do CJF, pois, considera a expressão motivo imprevisível inclui o motivo previsível, de resultado imprevisível (variação do dólar). No CDC não se exige o motivo imprevisível, adotando a teoria da Base do Negócio Jurídico.

Extinção do Contrato: I. Extinção normal: é o adimplemento normal da obrigação. II. Extinção por morte: somente se a obrigação for personalíssima. III. Extinção por fatos anteriores à celebração: situações de vícios ou autonomia privada:

a. Invalidade contratual: constantes na parte geral, situações aplicáveis a qualquer negócio jurídico (art.

166 a 167 – nulidade) e artigos 171 e 178 – anulabilidade, e na parte especial do CC/02, constam em várias espécies contratuais.

· Nulo; · Anulável

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b. Cláusula Resolutiva Expressa: é aquela que contém a condição ou termo resolutivo, que vai acarretar a resolução do contrato, caso este ocorra. Exemplo: cláusula constante no seguro-saúde: é um contrato para vida toda, onde, normalmente, insere-se uma cláusula de tolerância do inadimplemento (quantidade de parcelas consecutivas inadimplidas para resolver o contrato).

Vide art. 474 do CC/02: A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial.

c. Cláusula de Arrependimento: não confundi-la com o arrependimento psicológico. O arrependimento jurídico deve estar clausulado no contrato, autorizando a pessoa a se arrepender. ARRAS ou SINAL: é o instituto que está intimamente ligado à possibilidade de arrependimento.

4. Extinção por Fatos Posteriores à Celebração (rescisão contratual):

4.1 Resolução: cabe ação de resolução:

· Inadimplemento Involuntário: sem culpa do devedor, não gerando a responsabilidade civil;

· Inadimplemento Voluntário: ocorre com culpa do devedor, gerando responsabilidade civil e resolução contratual;

· Cláusula Resolutiva Tácita: a condição resolutiva ou termo resolutivo está previsto em lei. Exemplo: execeptio nom adimpleti contractus – exceção do contrato não cumprido – art. 476 do CC/02. Exceptio nom rite adimpleti contractus – exceção do contrato equivocadamente – ninguém é obrigado a cumprir com sua obrigação se a outra parte cumpriu com a sua, de forma errada. Observação: essas duas exceções não podem ser aplicadas, se no contrato existir a cláusula solve et repete – proibida em contrato de adesão, pois representa a renuncia doa aderente, garantida por lei. A cláusula resolutiva tácita depende de interpelação.

· Onerosidade Excessiva (art. 478 do CC): os mesmos requisitos da revisão contratual podem ser usados para extinguir também o contrato.

4.2. Resilição: é a extinção por ato de vontade. Há dois tipos: I. Bilateral: por vontade de ambas as partes. É instrumentalizada por meio do Distrato. O art. 472 do CC:

o distrato se faz pela mesma forma exigida ao contrato;

II. Unilateral: opera-se pela vontade de apenas um das partes. Não é admitida em qualquer contrato. Só é admitida nos casos em que a lei autoriza (art. 473 do CC). Exemplo: contrato de confiança: comodato, mútuo, depósito, mandato.