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Teorias Criminológicas Aplicadas à Segurança Pública

Teorias Criminológicas Aplicadas à Segurança Pública · Criminologia, Política Criminal e Direito Penal Até o final do século XIX, defendia-se que a dogmática jurídico-penal

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Teorias Criminológicas Aplicadas à Segurança

Pública

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1.Criminologia, Política

Criminal e Direito PenalConceitos e relações

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Criminologia, Política Criminal

e Direito PenalNão são sinônimos, apesar de serem correlatos

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“Se há algo pacificamente reconhecido desde há muito tempo e por todaparte, é que, no estudo da infração criminal se depara com umfenômeno extremamente complexo [...]. Isto faz compreender que, aolongo sobretudo do século XIX [...] o crime se tenha tornado objeto deuma multiplicidade de ciências; antes de tudo, é natural, dadogmática jurídico-penal e suas “disciplinas auxiliares” [...], mastambém da generalidade das ciências sociais e humanas [...] A esteconjunto vastíssimo de disciplinas científicas que compartilham ocrime como objeto, chamou v. Liszt de “enciclopédia das ciênciascriminais”.

Felipe A. F. Vianna

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

▣ Até o final do século XIX, defendia-se que a dogmática jurídico-penal era aúnica ciência que servia à aplicação do direito criminal.

▣ Por conseguinte, era a dogmática jurídica a única ciência que o penalistapodia e devia legitimamente cultivar.

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“... o direito penal é para juristas, exclusivamentepara os juristas. A qualquer indébita intromissãoem nosso Lebensraum, façamos ressoar, em toquede rebate, nossos tambores e clarins!

Nelson Hungria

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

▣ Foi mérito de v. Liszt ter criado, na base das especiais relaçõesintercedentes entre estes muitos pensamentos acerca do crime, o modelotripartido do que chamou “ciência conjunta do direito penal” (GesamteStrafrechtwissenschaft), que compreenderia como ciências autônomas aciência estrita do direito penal, a criminologia e a política criminal.

▣ Sendo a Criminologia, a Política Criminal e o Direito Penal interligados,qual papel cabe a cada um desses saberes?□ A resposta a essa pergunta fica mais clara ao se verificar o conceito de cada um

desses saberes.

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“[Criminologia] é uma ciência empírica e interdisciplinar quese ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima edo controle social do comportamento criminoso, e trata desubministrar uma informação válida, contrastada, sobre agênese, dinâmica e variáveis principais do crime, assim como osprogramas de prevenção e controle social.

Antônio García-Pablosde Molina

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“... [a] Política Criminal tem como objetivo a apresentaçãosistemática e ordenada das estratégias, táticas e meios de sançãosocial para um controle otimizado do crime. Portanto, visaprincipalmente a análise científica das correspondentes reflexõese processos de formação da vontade do legislador, especialmentea renovação do conceito de crime e de sanções [penais e nãopenais].

Günther Kaiser

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“Direito Penal é o conjunto de normas jurídicasque regulam o exercício do poder punitivo doEstado, associando ao delito como pressuposto apena como consequência jurídica.

Edmund Mezger

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

▣ O objeto da Criminologia é bem mais amplo que o do Direito Penal,incluindo:□ Delito (gênese, dinâmica e variáveis);□ Delinquente;□ Vítima;□ Reação social ao delito;□ Controle social do delito.

▣ Enquanto o Direito Penal é ciência do dever-ser (normativa), aCriminologia é ciência do ser (empírica), baseada na análise e investigação darealidade.

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

Modelo Integrado

a) Criminologia → Fornece o substrato empírico do sistema, seufundamento científico

b) Política Criminal → Transforma a experiência criminológicaem opções e estratégia concretas de controle da criminalidade

c) Direito Penal → Converte em proposições jurídicas, gerais eobrigatórias, o saber criminológico esgrimido pela PolíticaCriminal.

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

Criminologia Política Criminal Direito Penal

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

▣ Ex.: grande número de mortes decorrentes de acidente de trânsito nopaís. O que fazer?□ Criminologia: investigará a gênese do possível delito (bebida alcoólica, má

conservação da via, ausência de sinalização adequada, etc.), a pessoa do possíveldelinquente (estava ciente das consequências da bebida alcoólica?), a vítima (asvítimas estão “colaborando” com o delito?), a reação social (como a sociedadeencara o número de mortos?) e os mecanismos de controle social (como asociedade pode reduzir esse número?).▪ Suponhamos que os estudos comprovem que as principais causas do crime são a

ingestão de bebida alcoólica e a má sinalização da via; as vítimas facilitavam oacidente ao tentar ultrapassagens em áreas proibidas; a reação social pedia oaumento da pena do crime de embriaguez ao volante e lesão corporal nacondução de veículo automotor.

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

▣ Ex.: grande número de mortes decorrentes de acidente de trânsito nopaís. O que fazer?□ Política Criminal: com base nas averiguações empíricas feitas pela Criminologia,

poderá propor:▪ Aumento na fiscalização nos pontos das estradas mais críticos, para diminuir o

número de motoristas alcoolizados;▪ Melhoria na sinalização das vias;▪ Campanhas de conscientização para não dirigir após ingestão de álcool e o

respeito à sinalização;▪ Aumento das multas e demais sanções administrativas para os motoristas

embriagados e que ultrapassem em área proibida;▪ Aumento das penas dos crimes correspondentes.

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

▣ Ex.: grande número de mortes decorrentes de acidente de trânsito nopaís. O que fazer?□ Direito Penal: com base nas averiguações empíricas feitas pela Criminologia e nas

propostas realizadas pela Política Criminal poderá:▪ Caso falhem as medidas administrativas, aumentar as penas dos crimes

correspondentes (caráter subsidiário do Direito Penal).

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2.Teorias Criminológicas

Noções Preliminares e Análise

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Criminologia, Política Criminal e Direito Penal

▣ Ex.: grande número de mortes decorrentes de acidente de trânsito nopaís. O que fazer?□ Direito Penal: com base nas averiguações empíricas feitas pela Criminologia e nas

propostas realizadas pela Política Criminal poderá:▪ Caso falhem as medidas administrativas, aumentar as penas dos crimes

correspondentes (caráter subsidiário do Direito Penal).

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“... é só uma teoria? Bem, a gravidadetambém, e eu não vejo você pulandodo alto de um prédio.

Richard Dawkins

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Para entendermos o que é, na filosofia da ciência, uma teoria, devemosprimeiros analisar alguns conceitos introdutórios fundamentais:□ Fato: algo que é demonstravelmente verdadeiro (ex.: a água flui para baixo; as

plantas crescem em direção ao sol, a Terra orbita o Sol, etc.).▪ O ponto inicial de todo estudo, em ciência, é analisar a informação para entender o

que é fato e o que não é, bem como quais os fatos relevantes para a discussão.□ Afirmação: uma declaração que provavelmente é verdadeira, mas não é um fato porque

não foi (ou não pode ser) provada verdadeira (ex.: a maioria dos alunos destemódulo gostam de pizza).▪ Afirmações podem ser erradas, mas fatos são, por definição, verdadeiros.

□ Opiniões: ainda mais fraca que as afirmações, são declarações de algo que se acreditaverdadeiro, mas é subjetiva (depende do ponto de vista do pessoa que a emitiu).▪ Pessoas podem ter opiniões diferentes acerca dos mesmos pontos e as mudar com o

tempo.

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“Teoria” é uma Explicação

Baseada na nossa compreensão atual do mundo

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Uma Teoria Não é Fixa ou Imutável

Ela pode evoluir e melhorar, quando descobrirmos novas coisas sobre o mundo

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Muitas vezes, várias teorias diferentes tentam explicar o mesmo fenômeno,ao que chamamos “teorias concorrentes”.□ Isso costuma ocorrer quando lidamos com fenômenos complexos, cujos dados

quase sempre são incompletos, indisponíveis, conflitantes ou incompreendidos.□ Como julgar o quão “boa” uma teoria é?

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Correspondência com a RealidadeÉ o melhor indicador de força de uma teoria

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ A correspondência com a realidade é aferida de duas formas:□ Suportada por evidências: baseada em fatos que nós sabemos acerca do mundo real.▪ Se uma teoria não se adequa ao que sabemos sobre o mundo, ela não pode ser

correta (ex.: explicar a causa da epilepsia como sendo o ataque demoníaco).□ Fazer predições falseáveis: predições que podem ser testadas e verificadas como

verdadeiras.▪ Uma predição baseada em uma teoria é chamada de hipótese.▪ Ex.: em CNTP, a água ferverá a 100º C.

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Hipóteses: O Maior Teste da Teoria

Uma boa teoria fará predições que consistentemente se provarão corretas. Quantos mais predições corretas,

mais crível ela se torna e mais provavelmente a explicação que oferece é veradeira.

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Se a teoria não fornece hipóteses testáveis, ela não possui nenhuma utilidade,já que em nada ajuda a explicar um fenômeno.

▣ O que acontece se a hipótese se demostrar errada, quando contrastada comas evidências?□ A teoria obviamente é incorreta, pois a explicação por ela dada não reflete o mundo

real.□ A teoria pode ter dois destinos:▪ Mudar e evoluir, para melhor refletir o mundo natural;▪ Caso a mudança não seja possível, ela deve ser abandonada e uma nova teoria deve

ser encontrada.

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Como se vê, a (in)validade de uma hipótese (e, consequentemente, de umateoria), depende das evidências. Mas, como avaliar uma evidência?

▣ Evidências são informações que fornecem a base para um ponto de vista.□ Fatos, resultados de experimentos, observações da natureza, etc.

▣ Uma boa evidência deve ser confiável e válida.

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Evidência confiável:□ Deve ser objetiva e preferencialmente repititível (ou seja, se alguém fizer o mesmo

experimento, chegará ao mesmo resultado).□ Mas se o experimento não for repetível, como julgar sua confiabilidade? Para

isso, você deve avaliar sua autoria e fonte.▪ Autoria: quem diz isso? É uma autoridade ou expert no assunto? É um

jornalista escrevendo para a mídia de massa? É um vizinho, que “ouviu norádio”? Se for de uma autoridade, seus pontos de vista são compartilhados poroutros estudisos?

▪ Fonte: de onde vem a informação? É uma fonte primária (onde a informaçãofoi veiculada pela primeira vez) ou secundária (reutilizam informações dasfontes primárias)?

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Evidência confiável:□ Deve ser objetiva e preferencialmente repititível (ou seja, se alguém fizer o mesmo

experimento, chegará ao mesmo resultado).□ Mas se o experimento não for repetível, como julgar sua confiabilidade? Para

isso, você deve avaliar sua autoria e fonte.▪ Autoria: quem diz isso? É uma autoridade ou expert no assunto? É um

jornalista escrevendo para a mídia de massa? É um vizinho, que “ouviu norádio”? Se for de uma autoridade, seus pontos de vista são compartilhados poroutros estudisos?

▪ Fonte: de onde vem a informação? É uma fonte primária (onde a informaçãofoi veiculada pela primeira vez) ou secundária (reutilizam informações dasfontes primárias e, por isso, são menos confiáveis, pois há a possibilidade dainformação ser mal interpretada, tirada de contexto, adulterada, etc.)

“O problema de citações na internet é quenunca sabemos se elas são verdadeiras”

Abraham Lincoln

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Evidência confiável:□ Exemplo: periódicos acadêmicos com peer review, onde toda a informação

publicada é revista e submetida à crítica de outras autoridades da área.▪ Mesmo tais periódicos não podem garantir 100% de confiabilidade pois

tendem a suportar pontos de vistas já estabelecidos e, assim, ignorarevidências de ideias diferentes.

□ Informações de sites, blogs, jornais e/ou revistas devem ser tratados comcuidado. Indague-se: quais as motivações, interesses e visões do autor?

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Evidência confiável:□ Exemplo: periódicos acadêmicos com peer review, onde toda a informação

publicada é revista e submetida à crítica de outras autoridades da área.▪ Mesmo tais periódicos não podem garantir 100% de confiabilidade pois

tendem a suportar pontos de vistas já estabelecidos e, assim, ignorarevidências de ideias diferentes.

□ Informações de sites, blogs, jornais e/ou revistas devem ser tratados comcuidado. Indague-se: quais as motivações, interesses e visões do autor?

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Evidência confiável:□ Exemplo: periódicos acadêmicos com peer review, onde toda a informação

publicada é revista e submetida à crítica de outras autoridades da área.▪ Mesmo tais periódicos não podem garantir 100% de confiabilidade pois

tendem a suportar pontos de vistas já estabelecidos e, assim, ignorarevidências de ideias diferentes.

□ Informações de sites, blogs, jornais e/ou revistas devem ser tratados comcuidado. Indague-se: quais as motivações, interesses e visões do autor?

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Evidência válida:□ Para avaliar a validade da evidência, devemos valorar a informação e sua análise:

como a evidência foi interpretada?□ Deve ser precisa, relevante e representativa para a hipótese que suporta a teoria.

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ Evidência válida:□ Ex.: “A França é um país chuvoso. Meu primo mora em Paris e disse que lá

chove em 360 dias do ano. Todos os supermercados vendem guarda-chuva. Euvisitei meu primo no ano passado e choveu todo o fim de semana em que eufiquei lá”.▪ Evidência não é precisa: não chove em 360 dias do ano em Paris. A média é de

100 dias no ano.▪ Evidência irrelevante: supermercados vendem sombrinhas independentemente

de quão chuvoso é o local.▪ Evidência não é representativa: o fato de ter chovido 2 dias no ano não

representa o resto do ano.

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

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Teorias Criminológicas: O que é uma “Teoria”

▣ As Teorias Criminológicas (teorias que formulam hipóteses acerca dacriminalidade e da criminalização) pode ser classificadas como:□ Teorias da Dissuassão e da Oportunidade;□ Teorias Biológicas;□ Teorias Psicológicas;□ Teorias da (des)organização social;□ Teorias do Processo Social;□ Teorias do Etiquetamento;□ Teorias do Conflito;□ Teorias Marxistas.

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Preparem-se! A Criminologia Está Chegando!

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Teoria da dissuasão (Explanação)

▣ Por que algumas pessoas cometem atos ilícitos mesmo sabendo quehaverá punição para o seu ato?

▣ E quando pessoas que cometem um crime não são punidas? O que essasituação nos diz acerca da dissuasão? Isso reflete uma falha na dissuasão,falha no sistema de justiça criminal ou outra coisa?

▣ Foi Cesare Bonesana (1738-1794), marquês de Beccaria (mais conhecidocomo Cesare Beccaria), em seu livro “Dos Delitos e das Penas” (1764), quemprimeiro relacionou sanções formais e comportamento desejado.

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Teoria da dissuasão (Explanação)

▣ Cesare Beccaria se opôs à maneira pelas quais as leis eram impostas emseu tempo, defendendo que as leis não deveriam reconhecer posições sociaisou títulos: todos os homens são criados iguais.

▣ Beccaria disse que as leis devem ser precisas e punir igualmente a todos oshomens. Além disso, deve criar uma pena específica para cada crime e osjuízes devem aplicar sentenças idênticas para os mesmos crimes.

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“Para que cada pena não seja uma violência de um oude muitos contra um cidadão privado, deve seressencialmente pública, rápida, necessária, a mínimapossível nas circunstâncias dadas, proporcional aos dosdelitos e ditadas pelas leis.

Cesare Beccaria

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Teoria da dissuasão (Explanação)

▣ Seguindo os postulados da Escola Clássica, a sociedade somente poderiajustificar o castigo do criminoso se ele fosse uma pessoa racional e dotada delivre-arbítrio.

▣ Cada pessoa tem a capacidade de escolher entre certo e errado, entre seguir a leie a conduta criminosa.

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Conduta Criminosa

É uma escolha racional feita por uma pessoa dotada de livre-arbítrio

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Teoria da dissuasão (Explanação)

▣ O homem, defendia, tende ao hedonismo: eles procuram prazer e evitam ador.

▣ Então, o medo da punição restringe a população de comportamentos ilegais(embora prazerosos).

▣ O crime, assim, é causado pela inabilidade das leis (e das punições que elapreveem) em dissuadir os “aspirantes a criminosos” de cometer crimes.

▣ Beccaria apontava três elementos essenciais para que a pena dissuadissefuturos criminosos: certeza, severidade e celeridade.

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Teoria da dissuasão (Explanação)

Características

Certezaa) Probabilidade do ofensor receber a sanção pelos seus atosb) Para a dissuasão funcionar, a certeza da captura, julgamento e

castigo deve ser alta

Severidade a) A “dor” da sanção deve sobrepor o “prazer” do crime

Celeridade a) Tempo decorrido entre o ato e o castigo deve ser curtob) O criminoso deve associar a sanção ao crime; se muito tempo

passar entre ambos, essa conexão é menos provável de ocorrer

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Teoria da dissuasão (Explanação)

▣ Como se vê, para Beccaria, as escolhas entre “bem” e “mal” eram simples ediretas. Contudo, suas quatro premissas centra foram baseadas em presunções:□ Livre-arbítrio: todo homem pode escolher entre agir ou não agir de acordo com

suas vontades;□ Racionalidade: todo homem possui a habilidade de pesar cursos alternativos de

ação e, dependendo do que lhe for mais vantajoso, realizar uma escolha dentre asexistentes;

□ Hedonismo: todo homem é um “escravo” de seus desejos básicos, procurando oprazer e evitando a dor.

□ Sistema de punição baseadas em certeza, severidade e celeridade: necessário paracontrolar a conduta humana, camuflando o hedonismo humano sob o mato dadissuasão.

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Teoria da dissuasão (Avaliação)

▣ Na década de 70, os estudos sobre dissuasão se focaram na certeza eseveridade, analisando a ligação entre o que as pessoas sabiam acerca dacerteza e severidade da punição e seus autorrelatados crimes e desvios(PATERNOSTER, 1978; WALDO; CHIRICOS, 1972).□ Paternoster verificou que a teoria não refletia os dados, mas apontou que as

pesquisas foram mal elaboradas.

▣ Em 2004, Paternoster et al. (2004), corrigindo os erros metodológicos doestudo anterior verificaram:□ Os efeitos da dissuasão operam melhor para aqueles com alta propensão ao crime;

para aquele com baixa propensão, a percepção de riscos e ganhos não é importante;□ Se a pessoa não é inclinada ao crime, o sistema penal é irrelevante.

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Teoria da dissuasão (Avaliação)

▣ Horney e Marshall (1992) realizaram estudos com detentos e apontaramque criminosos tendem a formular suas percepções de probabilidade de punição deacordo com suas experiências passadas (o que é consistente com a teoria).

▣ O que as pesquisas neste ponto revelaram sobre a certeza da sanção?□ Nagin e Pogarsky (2004) demonstraram que a teoria da dissuasão presume que

todos nós calculamos o evento futuro valorando todos os evenetos como bons ouruins. Ela não leva em conta o “desconto de tempo”: quando se vê um evento presente(crime) como altamente prazeroso (hedonismo) e um evento futuro negativo longínquo(castigo), o evento futuro é deliberadamente desvalorado (também KLOCHKO,2006 e 2008).

□ “A certeza da punição pode exibir uma correlação com a frequência do comportamentocriminoso, mas essa correlação é baixa” (D’ALESSIO; STOLZENBERG, 1998).

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Teoria da dissuasão (Avaliação)

▣ E quanto à severidade da pena? O que as pesquisas neste ponto revelaram?□ A falta generalizada de estudos suportando a severidade da sanção como meio de

dissuasão (incluindo-se aí a pena de morte), sugere que, mesmo quando elafunciona, o efeito dissuatório da sanção tem limites (BAILEY, 1998; GLASER;ZIEGLER, 1974; KLECK et al., 1974 e 2005; PRATT et al., 2006; SORENSEN etal., 1999).

□ A maior parte dos estudos disponíveis mostrou pouco suporte aos efeitos dissuatóriosda pena (PRATT; CULLEN, 2005; PRATT et al., 2006).

□ Várias pesquisas demonstram que, embora a pena de morte possa servir comodissuasão para alguns, execuções tendem a fazer os índices de homicício subir,destacando o aumento do número de homicídios pós-execução (BAILEY, 1998;COCHRAN; CHAMLIN; SETH, 1994).

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Teoria da dissuasão (Avaliação)

▣ Afora isso, Matthew Silberman (1976) destaca que a teoria da dissuasãonão pode ser considerada uma teoria, pois emprega fortementeargumentos baseadas em presunções não testadas acerca da naturezahumana e de traços filosóficos acerca do uso da sanção penal paraassegurar uma conduta lícita.

▣ Por fim, Roshier (1989) aponta que a teoria enxerga a obediência comonascendo da sanção formal. Isso é uma visão restrita do comportamentohumano, geralmente ignorando o papel do controle social informal.

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Teoria da dissuasão (Influência)

▣ Hagan (1995) aponta que a ideia de dissuasão foi a principal justificativautilizada para o endurecimento da política criminal estadunidense nodecorrer da década de 1970 até os dias atuais.

▣ Influência no Executivo□ Departamentos de polícia tendem a alocar seus policiais em policiamento

ostensivo, em locais de grande visibilidade, já que o maior número de policiais narua deve aumentar a certeza da prisão.▪ Estudo realizado na década de 1970 em Kansas City, Missouri, falhou em

demonstrar que policiamento ostensivo dissuadi o crime (KELLING et al.,1974).

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Teoria da dissuasão (Influência)

▣ Influência no Legislativo e Judiciário□ Desde a década de 1970, leis de sentenças obrigatórias diminuiram a

discricionaridade do juiz na aplicação da pena.□ Em 1993, Washington se tornou o primeiro estado a formalmente adotar uma

política criminal em que uma pessoa condenada por um terceiro crime grave(felony) enfrentaria prisão perpétua.

□ Em uma década, 24 estados e a União adotaram as “Leis de Três Strikes”.□ Qual o impacto dessas leis no índice de crimes?

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Teoria da dissuasão (Influência)

Leis de 3 Strikes

a) A California foi o estado que mais utilizou o modelo: sua taxa depresos (119,3 por 100.000 hab.) é 18 vezes maior que a média (6,7 por100.000 hab.). Seu índice de crimes graves, entretanto, não caiu além damédia nacional

b) A comparação do índice de crimes entre estados com e sem Leis de3 Strikes falhou em demonstrar declínio significante de crimescometidos por criminosos violentos reincidentes

c) New York, que não possuía Lei de 3 Strikes, experentaram declíniode crime violentos e indexados maior que a California

d) Estudos conduzidos em 188 cidades, de 1980 a 1999, comparoucidades com leis de 3 strikes com aquelas sem, descobrindo quecidades com essas leis experenciou aumento a curto e longo prazo noíndice de homicídios

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Teoria da dissuasão (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ “Scared Straight Program”: expor adolescentes aos “horrores do crime”,

usualmente os colocando dentro da prisão.▪ Estudo conduzido por Finckenauer (1982) demonstrou que: (a) a maior parte

dos participantes eram pessoas de baixo risco e classe média; (b) os jovens queparticiparam do programa posteriormente cometeram 4 vezes mais crimes queum grupo de controle não exposto ao programa.

▪ Praticamente todos os programas nos diversos estados falharam em mostrarefeito dissuatório relevante (JENSEN; ROJEK, 1998).

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Scared Straight Program

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Teoria da dissuasão (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ “Boot Camp”: sentença imposta a réus primários em que eles vão a uma prisão

especial, onde são sujeitos a 3 a 6 meses de treinamento de estilo militar, comprogramas educacionais, vocacionais e de tratamento. Após isso, são libertadossob supervisão.▪ Estudos apontam que os boot camps não possuem efeitos dissuatórios relevantes

(MACKENZIE, 1993; MACKENZIE et al., 2001; PETERS; THOMAS;ZAMBERLAN, 1997).

▪ Os participantes mais jovens podem exibir alguns comportamentos cívicosmais acentuados, mas os acampamentos não parecem atingir seu principalalvo: dissuadir futuros crimes (BOTTCHER; EZELL, 2005).

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Boot Camp

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Teoria da Oportunidade (Explanação)

▣ Certa vez perguntaram a Willy Sutton (famoso ladrão de bancos), porqueele roubava bancos. Sua resposta foi: “Porque é ali que o dinheiro está!”.□ O que essa resposta nos diz sobre os criminosos?

▣ No fim da década de 1970, criminólogos cunharam uma série deconceitos básicos, ideais e dados que foram agrupados no que seconvencionou chamar de Teoria da Oportunidade.

▣ Lawrence Cohen e Marcus Felson (1979) foram quem primeiropropuseram que existe um sem número de pessoas prontas, dispostas ecapazes de cometer crimes predatórios (crimes violentos contra a pessoa oufurtos com a vítima presente).

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a motivação para o crime e o estoque de

infratoresSão constantes na sociedade

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Teoria da Oportunidade (Explanação)

▣ Como explicar, então, por que o crime não é uniformimente distribuídopela sociedade?

▣ Cohen e Felson assumiram que o crime predatório dependia da presençacumulativa de três fatores:□ Ofensor motivado (alguém que precisa de dinheiro, p. ex.);□ Alvo adequado (um pedestre sozinho em uma parte violenta da cidade, uma casa

desocupada, um veículo destrancado, p. ex.), que depende de:▪ Exposição: visibilidade e acessibilidade física do alvo;▪ Tutela: a habilidade ou presença de pessoas ou objetos que possam impedir o

crime de ocorrer;▪ Atratividade: o valor material ou simbólico da pessoa ou propriedade;▪ Proximidade: a distância física entre o alvo e o infrator.

□ Ausência de uma guardião capaz (polícia, os donos da seguranças, etc.).

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Teoria da Oportunidade (Avaliação)

▣ A teoria da oportunidade foi bastante popular entre pesquisadores.

▣ Kennedy e Baron (1983) entrevistaram grupos de jovens deliquentes derua (gangues), e apontaram que a teoria da oportunidade, sozinha, éinsuficiente para explicar a escalada de crimes de rua cometidos por esses jovens.□ Sugeriram os autores que ela deveria ser integrada à teoria da subcultura (que

estudaremos adiante).□ “A escalada da violência se relaciona não só a ofensores motivados, vítimas adequadas e

baixa tutela, mas também a definições subculturais do que é aceitável e tolerável dentrodessas interações […] Comportamento é às vezes guiado pela escolha, às vezes influenciadospor normas e processos culturais e às vezes guiada por atividades rotineiras.”.

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Teoria da Oportunidade (Avaliação)

▣ Roncek e Maier (1991) examiram “áreas vermelhas” (hot spots, comobares, casas de show, boates, etc.).□ Ao examinar as estatísticas, apontaram que todos os tipos de crime eram

significativamente maiores nas áreas em que existiam tais estabelecimentos.

▣ Messner e Blau (1987) investigaram a relação entre o tempo para asatividades de lazer e os índices de criminalidade em grandes áreasmetropolitanas.□ Supuseram os autores que atividades de lazer feitas em casa seriam

negativamente relacionadas ao índice de crimes, enquanto atividades feitas for ade casa seria positivamente relacionada à taxa de criminalidade.

□ As evidências apoiaram essa suposição.

▣ Algumas questões, contudo, continuam em aberto:

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Teoria da Oportunidade (Avaliação)

Considerações

Teoria do Crime ou de

Vitimização?

Vitimologistas ligaram conceitos base da teoria à atividades específicas deautocolocação em riso por parte da vítima

Indicadores de oportunidade medem o que

queremos que eles messam?

Miethe (1987) observou que os indicadores utilizados pela teoria são os mesmosutilizados por outras teorias do crime

Onde estão os estudos sobre

ofensores motivados?

Pouquíssimos estudos estão disponíveis em que a hipótese dos ofensoresmotivados são testadas

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Teoria da Oportunidade (Avaliação)

Considerações

Onde estão testes com os 3

elementos da teoria?

Testes raramente incluem mais de um dos elementos da teoria.Bennett (1991) inclui a adequação do alvo, proximidade ao ofensormotivado e tutela, utilizando amostras de 52 países por 25 anos,apontando que o modelo explica melhor crimes patrimoniais do quecrimes contra a pessoa

Qual o papel do guardião?

A ausência geral de guardiões cria problemas, mas sua ausência podesignificar problemas comunitários maiores. Além disso, a teoria tende aignorar o papel do controle social informal como guardião

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Teoria da Oportunidade (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Hot-spot patrols (“patrulha de área vermelha”): aumento do policiamento em

áreas vermelhas dificulta o surgimento das 3 hipóteses para ocorrência do crime.▪ Hipótese da difusão benéfica do controle do crime: áreas proximas à área vermelha

também experimentaram diminuição da taxa de crime (CLARKE;WEISBURD, 1994; BRAGA et al., 1999; SHERMAN; ROGAN, 1995;WEISBURD; GREEN, 1995).

▪ Hipótese do deslocamento especial: as taxas de crime do local caem porque oscriminosos movem para áreas próximas, onde a presença policial é menor.Essa hipótese não encontrou resultados empíricos palpáveis (BARR; PEASE,1990; ECK, 1993; HESSELING, 1994).

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Teoria Biológica (Explanação)

▣ Alguma vez você cruzou a rua para evitar uma pessoa que, por seus traçosfísicos, parecesse perigosa?

▣ Após ler uma notícia de jornal ou assistir uma matéria na televisão acercade um crime, imaginou a aparência do criminoso?

▣ No século XIX, por influência do positivismo e do determinismo, passou-se a entender que o comportamento criminoso é causado, e não escolhido.□ Positivistas colocavam grande peso na ideia de que apenas nossos cinco sentidos

poderiam prover conhecimento acerca de um fenômeno no mundo físico.□ Eles se valiam do “método científico” para revelar as leis naturais que governavam

os fenômenos físicos e sociais (inclusive o crime).□ Essas leis naturais, diziam os positivistas, eram universalmente aplicáveis.

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Teoria Biológica (Explanação)

▣ Cesare Lombroso (1835-1909) foi um médico italiano que estudou centenasde condenados, utilizando-se da antropometria (ramo da Antropologiabaseado em tirar medidas do corpo para verificar diferenças individuais).

▣ Em 1876, reuniu seus diversos achados sobre doenças do sistema nervoso,o cérebro dos criminosos e suas medidas antropométricas, e publicou seulivro “O Homem Delinquente”.□ Lombroso concluiu que o crime derivava de uma interrupção na evolução, a qual

ele chamou de atavismo (derivada do latim atavus, ancestral).□ O homem atávico, dizia Lombroso, tinha características físicas peculiares, que ele

chamou de estigmas.

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Teoria Biológica (Explanação)

Estigmas(exemplos)

a) Assimetria facial

b) Mandíbula grande

c) Bochechas proeminentes

d) Orelhas grandes

e) Lábios carnudos, inchados ou protuberantes

f) Dentição anormal

g) Queixo longo, pequeno ou reto

h) Braços excessivamente longos

i) Mais dedos (das mãos ou pés) ou mamilos que o normal

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Atavismo

É a causa biológica da criminalidade

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Teoria Biológica (Explanação)

▣ É importante ressaltar que, ao contrário do que comumente afirmado,Lombro não disse que os estigmas causam o crime, simplesmente dizendo queeles são sinais de atavismo presentes nos criminosos.□ Acreditava, contudo, que a criminalidade era herdada, e que o criminoso nato (reo

nato, termo cunhado por Enrico Ferri) poderia ser identificado pelos estigmas.□ Dizia, também, que criminosos específicos (homicídas, estupradores, ladrões,

etc.) poderiam ser diferenciados por estigmas específicos.

▣ Lombroso é conhecido como “Pai da Criminologia”, porque foi o primeiroestudioso a fazer um estudo empírico das causas do crime.

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“... tem-se que concluir que embora os infratores possam não parecerferozes, há quase sempre algo estranho sobre sua aparência. Pode atédizer-se que cada tipo de crime é cometido por homens comcaracterísticas fisionômicas particulares [...] a aparência geral não énem delicada nem agradável. [...] Quase todos os criminosos temorelhas de jarro, cabelos grossos, barbas finas, peitos pronunciados,queixos protuberantes e maçãs do rosto largas.

Cesare Lombroso

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Criminoso Nato

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Teoria Biológica (Avaliação)

▣ Charles Goring (1913) examinou 3.000 condenados e os comparou a umgrupo de cidadãos sem histórico de crime em um período de 12 anos,procurando por correlações estatísticas entre as medidas objetivas deanormalidades físicas e psíquicas e criminalidade.□ Não só ele foi incapaz de distinguir criminosos e não criminosos utilizando-se de tais

indicadores, como também não conseguiu encontrar diferenças significantes entre osdiversos tipos de criminosos, como afirmado por Lombroso.

□ Os criminosos encontrados por Goring eram menores e mais magros que ogrupo de controle.

□ “Nossos resultados em nenhum momento confirmam a evidência [do criminoso nato],nem justificam a alegação dos antropologistas criminais […] Nossa inevitável conclusãodeve ser que não há um tipo físico criminal.”.

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Teoria Biológica (Avaliação)

▣ Influência no Executivo□ Práticas policiais informais refletem tais argumentos:▪ Os policiais que prenderam Rodney King afirmaram, em seu julgamento em

1993, que ele era um “monstro”, devido a sua compleição física avantajada;▪ Policiais frequentemente se utilizam de indicadores físicos para marcar pessoas

como ameaças (corpo avantajado, cor da pele, deformações, etc.).

▣ Influência no Legislativo e Judiciário□ Talvez o maior e mais cruel legado de uma leitura extremista da Teoria Biológica

sejam as leis de esterilização forçada e as práticas eugênicas.

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“Pois se os indignos são ajudados a aumentar, protegendo-os damortalidade que sua indignidade naturalmente implicaria, o efeito é ode produzir, geração após geração, uma maior indignidade [...].Fomentar o ‘bom-para-nada’ às custa do bom é uma crueldadeextrema. É um deliberado armazenamento de misérias para asgerações futuras. Não há maior maldição para a posteridade do que ode legar-lhes uma população crescente de imbecis, desocupados ecriminosos...

Herbert Spencer

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Teoria Biológica (Avaliação)

▣ Influência no Legislativo e Judiciário□ Francis Galton, em 1883, publica seu livro “Investigação sobre as faculdades humanas

e seu desenvolvimento”.▪ Convencido de que era a natureza, não o ambiente, quem determinava as

habilidades humanas, Galton dedicou sua carreira científica à “melhoria” dahumanidade por meio de casamentos seletivos.

▪ Galton criou um termo para designar essa nova ciência: eugenia (bem nascer),que nada mais é do que a ciência que estuda as possibilidades de apurar aespécie humana sob o ângulo genético.

□ As propostas de Galton ficaram conhecidas como “eugenia positiva”. Nos EUA,porém, elas foram modificadas, na direção da chamada “eugenia negativa”:eliminação das futuras gerações de “geneticamente incapazes” – enfermos,racialmente indesejados e pobres –, por meio de proibição marital, esterilizaçãocompulsória, eutanásia passiva e, em última análise, extermínio.

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Eugenia:É a Auto-Direção da Evolução

Humana

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Teoria Biológica (Avaliação)

▣ Influência no Legislativo e Judiciário□ O líder do movimento eugenista dos EUA foi Charles Davenport, que dirigia o

laboratório de biologia do Brooklin Institute of Arts and Science, em Long Island,instalado em Cold Spring Harbor.

□ Em 1909, Davenport criou o Eugenics Record Office para registrar os antecedentesgenéticos dos norte-americanos e pressionar por legislação que permitisse aprevenção obrigatória de “linhagens indesejáveis”.

□ O estado de Indiana foi a primeira jurisdição do mundo a introduzir lei deesterilização coercitiva, logo seguido por vários outros estados.▪ Desde o início, porém, o uso de câmaras de gás estava entre as estratégias

discutidas para eliminação daqueles considerados “indignos de viver”.

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Algums Pessoas Nasceram para Ser um Fardo para o Resto

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Teoria Biológica (Avaliação)

▣ Influência no Legislativo e Judiciário□ O movimento cativou tanto a elite americana da época que, a partir de 1924, leis

que impunham a esterilização compulsória foram promulgadas em 27 Estados americanos,para impedir que determinados grupos tivessem descendentes.▪ O modo de ação preferido da eugenia estadunidense foi a esterilização

compulsória.

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Registrando Pedigrees Humanos

Como o Kansas Desenvolve Famílias mais Aptas: Uma Notável Experiência em

Eugenia

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“Enquanto nós evitamos compromissos, os alemães chamam as coisaspelos devidos nomes. [...] Se Hitler conseguir realizar sua esterilizaçãono atacado, será uma demonstração que levará a eugenia mais longedo que poderiam cem sociedades eugenistas. Se ele fracassar, omovimento retrocederá a tal ponto que nem mesmo cem sociedadeseugenistas jamais poderão ressuscitá-lo. [...] Um dos maioresestadistas e pesquisadores sociais do mundo.

Leon F. Whitney

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Teoria Biológica (Avaliação)

▣ Influência no Legislativo e Judiciário□ “Em vez de esperar para executar descendentes degenerados por crimes, a sociedade deve se

prevenir contra aqueles que são manifestadamente incapazes de procriar sua espécie.”, diz oJustice Oliver Wendell Homes Jr., no caso Buck v. Bell 274 U.S. 200 (1927).

□ Entre 1920 e 1960, perto de 70 mil americanos foram esterilizadoscompulsoriamente.

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Três Gerações de Imbecies é o Suficiente!

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Teoria Psicológica (Explanação)

▣ Você já fez algum inventário de personalidade, como o Inventário Multifásicode Personalidade de Minnesota?

▣ Você consegue pensar em livros ou filmes em que o principal vilão sejaum psicopata? Preferindo ficção ou não-ficção, você provavelmente já se“encontrou” com exemplos de assassinos sem qualquer remorso.

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Psicopatas1º L, E-D: Max Cady (Cabo do Medo), Patrick Bateman (Psicopata

Americano), Jack Torrence (O Iluminado), Jigsaw (Jogos Mortais) e John Doe (Se7en).

2º L, E-D: Alex Forrest (Atração Fatal), Annie Wilkes (Louca Obsessão), Anton Chigurh (Onde os Fracos Não têm Vez), Hannibal Lecter

(Silêncio dos Inocentes) e Nornam Bates (Psicose).

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Teoria Psicológica (Explanação)

▣ O estudo das pessoas que são psicologicamente perturbados mas parecem ser“normais” tem uma longa história, de mais de 100 anos.

▣ O médico francês Philipe Pinel (1745-1826) observou que alguns de seuspacientes cometeram atos impulsivos, se engajaram em episódios violentos emachucavam a eles próprios.□ Ele chamou essa desordem mental de manie san délire (insanidade sem delírio).

▣ Logo após, o médico britânico J. C. Prichard (1786-1848) usou aexpressão “insanidade moral” para descrever pessoas que tinham “umamórbida perversão de sentimentos, afeições, inclinações, temperamento, hábitos,disposições morais e impulsos naturais, sem qualquer desordem notável [...], eparticularmente sem nenhuma ilusão insana ou alucinação” (1837).

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Teoria Psicológica (Explanação)

▣ Na virada para o século XX, o psiquiatra alemão J. L. A. Koch (1841-1908) foi o primeiro a descrever essa condição utilizando o termo“psicopatia”.□ Ele postulou que pessoas com “aberrações emocionais e morais derivadas de fatorescongênitos” sofriam de inferioridade psicopática.

▣ A maior parte dos estudiosos liga a era moderna da psicopatia com apublicação, em 1941, do estudo “A Máscara de Sanidade”, pelo psiquiatraestadunidense Hervey M. Cleckley (1903-1984).□ Como seus predecessores, usou uma lista das características essenciais dos psicopatas:

megalomania, insensibilidade, superficialidade e manipuladores.□ Eles teriam iguais chances de sucesso nos negócios ou no crime, pois são

eloquentes e desapegados emocionalmente.

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Teoria Psicológica (Explanação)

▣ Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) oficialmenteabandonou o termo “psicopatia”, adotando o nome “distúrbio depersonalidade sociopática”, reduzido para “sociopatia”.□ Contudo, ainda é comum se utilizar os dois termos, indistintamente.

▣ O psiquiatra Samuel Guze assim define a sociopatia:

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“[A sociopatia existe] ... Se ao menos duas das cinco seguintesmanifestações estão presentes, somadas a um histórico de problemascom a polícia (exceto infrações de trânsito): histórico de lutasexcessivas [...] delinquência escolar [...] registro de empregos pobre[...] período de vagabundagem ou ser um andarilho [...] Paramulheres, histórico de prostituição pode substituir uma das cincomanifestações.

Samuel Guze

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Teoria Psicológica (Explanação)

▣ As definições clínicas tendem a se centrar no comportamento do sociopata.

▣ Mesmo quando teste objetivos são usados, as definições são arbitrárias e ospesquisadores possuem pouca concordância quanto a elas.

▣ De acordo com Cleckley, a definição de sociopatia é tão vaga que pode seraplicada a qualquer criminoso e até mesmo a outras pessoas (políticos,agentes policiais e/ou militares de elite, administradores universitários,advogados, etc.).

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Três Gerações de Imbecies é o Suficiente!

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Teoria Psicológica (Explanação)

▣ As Teorias Psicológicas da Personalidade tem como hipótese central que osmodos pelos quais as pessoas expressam seus padrões habituais são o segredo para seentender seu comportamento.

▣ Esses padrões habituais podem ser físicos, mentais ou atitudes.

▣ O comportamento criminoso, então, pode ser explicado em razão dos padrõeshabituais distorcidos presentes nos indivíduos portadores de sociopatia.

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Sociopatia

Gera padrões habituais distorcidos que levam ao crime

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Teoria Psicológica (Avaliação)

▣ A ausência de definição precisa da psicopatia torna o conceito praticamenteimprestável para testes.□ Sutherland e Cressey descrevem o termo como uma lata de lixo categorial onde os

psiquiatras colocam tudo que não conseguem diagnosticar (1974).

▣ Mesmo estudos realizados entre detentos falharam em demonstrar uma baseútil para distinção entre “mais psicopatas” e “menos psicopatas” (Cason, 1943 e1946).

▣ No fim da década de 90, estudos clínicos demonstraram que, por razõesainda não totalmente conhecidas, o cérebro dos psicopatas funciona de formadiferente do cérebro de não-sociopata e dos portadores de outras desordenspsicológicas (Raine; Mednick, 1997; Raine et al., 2000).

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Teoria Psicológica (Avaliação)

▣ Estudo realizado em uma “clínica de orientação à criança” (entidade quefornece serviços de diagnóstico e aconselhamento às crianças comdificuldades emocionais e/ou comportamentais) apontou que:□ 1 em 5 das crianças da clínica foram diagnosticadas como psicopatas, em

comparação a 1 em 50 do grupo de controle (Robins, 1966).□ Contudo, não é possível saber se a desordem de personalidade causou o comportamento

criminoso ou se a intervenção da justiça de menores e a internação na clínica foramutilizados como características para classificar as crianças como sociopata.

▣ William McCord e José Sanchez (1983) acompanharam ex-menoresinfratores apreendidos por 25 anos e não encontraram evidências de queaqueles diagnosticados como psicopatas eram mais propensos ao crime que outrosdelinquentes.

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Teoria Psicológica (Avaliação)

Considerações

Falta de consenso sobre o

conceito de sociopatia

A falta de um conceito preciso de sociopatia retira força da teoria, poisnão produz uma hipótese que possa ser testada com segurança

Conceitos com baixo poder de

previsão

Menos de 3% dos mais de 1.000 pacientes mentais que receberam altajulgados como “criminalmente perigosos” voltaram a cometer crimes(Steadman, 1972)

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Teoria Psicológica (Avaliação)

Considerações

Técnicas de Medição

Circulares

O método clínico ou teste utilizado para diagnosticar a doença temnele o próprio sintoma definido como problemático. Como resultado,o diagnóstico tem correlação com comportamentos criminosos jáconhecidos (comportamento passado explicando comportamento futuro)

Tautologia

Os instrumentos de diagnóstico incluem o mesmo comportamentocomo medidas preditivas e de consequência: os sintomas da sociopatiasão sinais de sua existência e vice-versa (psicopata é aquele que age de formapsicopática).

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Teoria Psicológica (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ É comum a existência de inventários de personalidade quando novos detentos

chegam à prisão, nos EUA.▪ Tais testes permitem separar certos detentos do resto da população carcerária, seja

para proteger o novo detento do restante dos presos, ou vice-versa. Servem,ainda, para medir a habilidade do preso em se adaptar à vida na prisão e onível de segurança a que deve ser submetido.

□ No Brasil, sua influência pode ser vista no exame criminológico que pode serrealizado no preso, a fim de verificar a possibilidade de progressão de regime.

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“O exame criminológico é uma espécie do gênero exame da personalidade eparte “do binômio delito-delinquente, numa interação de causa e efeito, tendocomo objetivo a investigação médica, psicológica e social [...] No examecriminológico, a personalidade do criminoso é examinada em relação aocrime em concreto, [...] pretendendo-se com isso explicar a “dinâmicacriminal (diagnóstico criminológico), propondo medidas recuperadoras(assistência crimiátrica) e a avaliação da possibilidade de delinquir(prognóstico criminológico).”.

Julio F. Mirabete

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“[Compõe o examine criminológico] as informações jurídico-penais [...];o exame clínico (saúde individual e eventuais causas mórbidas, relacionadascom o comportamento delinquencial); o exame morfológico (sua constituiçãosomatopsíquica); o exame neurológico (manifestações mórbidas do sistemanervoso); o exame eletrencefalográfico ([...] para a busca [...] da “correlação –certa ou provável – entre alterações funcionais do encéfalo e ocomportamento” do condenado; o exame psicológico (nível mental, traçosbásicos da personalidade e sua agressividade; [...] e o exame social...

Sérgio Pitombo

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Teoria Psicológica (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ Exame Criminológico▪ Súmula Vinculante nº. 26: “Para efeito de progressão de regime [...] o juízo da

execução observará [...] se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos esubjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, arealização de exame criminológico.”.

▪ Súmula 439 do STJ: “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso,desde que em decisão motivada”.

▪ “Embora o exame criminológico tenha deixado de ser obrigatório, com a edição da Lei10.792/2003, que alterou o art. 112 da LEP, este Tribunal tem permitido 'a suautilização para a formação do convencimento do magistrado sobre o direito de promoçãopara regime mais brando' (EP 12 ProgReg-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso,Tribunal Pleno, j. 08/04/2015, DJe 11/06/2015)

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ Há vizinhanças de etnias ou raças identificáveis em sua comunidade? Elassão áreas com maior incidência de crime? Você vê alguma relação entreas qualidades dessas vizinhanças e o crime? Que qualidades são essas?

▣ Em sua vizinhança, você vê prédios com janelas gradeadas, dispositivosde segurança, ruas com lombada e muitas curvas e pequenas áreas verdesem vez de grandes parques ou praças abertas?

▣ Cada uma dessas perguntas (e técnicas anticrime) possuem raiz em umaperspectiva ecológica do crime.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ No início do século XX, Robert Park propôs um paralelo entre asociedade humana e a fauna e flora, o qual refletisse os princípios daecologia (relação entre os organismos e seus ambientes).

▣ Usando a cidade de Chicago (multicultural e racialmente diversificada),Park e outros professores da Universidade de Chicago viram “áreasnaturais” onde pessoas diferentes moravam.□ Robert Burgess, um dos professores que trabalhava com Park, dividiu a cidade em

5 zonas concêntricas, diferenciando-as de acordo com o uso do solo, tipo depopulação e outras características físicas, econômicas e sociais.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

Zona I: Área Comercial

Zona II: Área de Transição (área defavelas, com grande deterioraçãosocial)Zona III: Área da Classe Operária

Zona IV: Área da Classe Média

Zona V: Área da Classe Alta

1

2

3

4

5

5

4

3

2

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ Eventualmente, as partes mais centrais da cidade parariam de funcionar comoum agente de controle social efetivo, exibindo poucas características de vizinhançae pouca coesão social.□ Essas zonas teriam grande concentração de mazelas sociais (crime, pobreza, baixa

escolaridade, doenças, alcoolismo, etc.).□ Parks e Burgess chamaram de o processo pelo qual essas zonas passam de

desorganização social, ou seja, “qualquer distúrbio, interrupção, conflito ou falta deconsenso dentro de um grupo social ou sociedade, que afeta hábitos sociais decomportamento estabelecidos, instituições ou controles sociais de forma a tornarrelativamente impossível o funcionamento harmonioso da sociedade sem que ajustessignificativos sejam feitos” (ELLIOTT, 1967).

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ Clifford Shaw e Henry McKay utilizaram a ecologia social para estudar adistribuição geográfica do crime em Chicago.□ Equiparando desorganização social e controles comunitários fracos, encontraram áreas

geográficas com altos níveis de comportamento criminoso.□ Não eram as pessoas que eram inerentemente más: eram os lugares em que viviam.▪ Uma vez que a taxa de criminalidade do local se estabelecesse como alta, não

importava quem morasse no local: ela se manteria alta.▪ Era como se um “patógeno” do crime tivesse infectado o ar da comunidade e

uma geração de moradores passasse a “tradição” de criminalidade para asgerações sucessivas.

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Não Há Grupos Delinquentes

E sim áreas delinquentes

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ Clifford Shaw e Henry McKay□ Como forma de provar suas teses, coletaram grande quantidade de dados sobre

os crimes em Chicago (ações judiciais, boletins de ocorrência policial, estatísticasde prisões, etc.), os quais eles sobrepuseram no mapa da cidade.

□ A Escola de Chicago (como o grupo ficou conhecido) complementou essesesforços, ressaltando-se os estudos: “Juvenile Delinquency and Urban Areas”(Delinquência Juvenil e Áreas Urbanas, 1930), The Jackroller (O “Trombadinha”,1930) e Brothers in Crime (Irmãos no Crime, 1938), sendo os dois últimos relatosem primeira pessoa de carreiras criminais.

▣ A Escola de Chicago pintou uma crônica de desorganização social.□ Por qualquer ângulo que se olhasse (ações penais, prisões, B.O., etc.), as taxas de

criminalidade caiam à medida em que se afastava da Zona de Transição.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ Oscar Newman (1972) cunhou a noção de espaço defensável, o qualdependeria de quatro elementos:□ Territorialidade: a casa do indivíduo é “sagrada”;□ Vigilância Natural: relação entre a parte física de uma área e a habilidade do

residente em enxergá-la;□ Imagem: a capacidade do design em transmitir sensação de segurança para o

residente e potenciais invasores;□ Meio: outras características que podem influenciar na segurança (proximidade de

um shopping, p. ex.).

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ Davidson (1981) e Greenber e Rohe (1984) também apontavam que odesign de uma área aumenta ou diminui a sensação de controle e responsabilidadedos habitantes.

▣ C. Ray Jeffery, em 1971, escreveu “Crime Prevention through EnvirommentDesign” (Prevenção do Crime através do Design de Ambientes), onde asideias centrais da Escola de Chicago foram repisadas.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Explanação)

▣ Após observações acerca do mal-estar da comunidade e sua desorganização,James Q. Wilson e George Kelling (1982) fizeram duas observaçõescentrais:□ A desordem na comunidade (embriaguez pública, vagabundagem, pessoas suspeitas,

gangues, pichações, etc.) cria um clima de medo;□ Crime e desordem estão geralmente ligados, em uma sequência de desenvolvimento.

▣ A chave, segundo os autores, é entender a importância da janela quebrada:□ Se uma janela em um prédio é deixada quebrada, em breve todas as janelas

estarão quebradas; se um bairro é abandonado, a desordem irá crescer e, comela, o crime.

□ Se os crimes comuns não são severamente punidos, o resultado será o aumentodos crimes graves.

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“Uma janela quebrada não reparada é um sinal que ninguém seimporta, e, assim, para se quebrar mais janelas não custa nada.Prender um único bêbado ou um único vadio que não feriunenhuma pessoa identificável parece injusto, e em certo sentido oé. Mas não fazer nada sobre uma dezena de bêbados ou cemvadios pode destruir uma comunidade inteira.

James Q. Wilson George Kelling

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Hipótese das Janelas Quebradas

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Avaliação)

▣ Três problemas de medição prejudicam a testabilidade das teoriasecológicas.□ Tautologia: se uma área já foi tomada pelo crime, isso por si só é evidência da

falta de controle e desorganização social.□ Falácia Ecológica: inferências inapropriadas do nível individual para o nível

grupal. O que é verdadeiro para o grupo pode não ser para o indivíduo.□ Empreitada dificultosa: Embora estudos em pequena escala (normalmente

abrangendo apenas algumas vizinhanças) pareçam confirmar a teoria, há poucosestudos a nível macro disponíveis.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Avaliação)

▣ Outro problema é a própria confiabilidade das estatísticas, já questionadaspelos criminólogo desde a época em que a teoria se formou (v.g.,ROBISON, 1930).□ Confiar nas estatísticas oficiais é uma má prática, porque a polícia e as Cortes

podem tem um viés favorável ou não à comunidade.▪ Lembrem do filme “Tropa de Elite”, onde policiais movimentavam o cadáver

de um local para o outro, a fim de maquiar as estatísticas de sua área.□ A extensão na qual decisões políticas podem afetar a taxa de crime na comunidade

ainda não é conhecida.▪ Ex.: uma das consequências de aumentar o policiamento em uma comunidade

pode ser o aumento no número de prisões, o que aumentará a taxa criminaloficial.

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Teorias da (Des)Organização Social (Avaliação)

▣ Outro problema é a própria confiabilidade das estatísticas, já questionadaspelos criminólogo desde a época em que a teoria se formou (v.g., Robison,1930).□ Confiar nas estatísticas oficiais é uma má prática, porque a polícia e as Cortes

podem tem um viés favorável ou não à comunidade.▪ Lembrem do filme “Tropa de Elite”, onde policiais movimentavam o cadáver

de um local para o outro, a fim de maquiar as estatísticas de sua área.□ A extensão na qual decisões políticas podem afetar a taxa de crime na

comunidade ainda não é conhecida.▪ Uma das consequências de aumentar o policiamento em uma comunidade

pode ser o aumento no número de prisões, o que aumentará a taxa criminaloficial.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Avaliação)

▣ Testes quanto ao espaço defensável geralmente apontam que variáveisfísicas, sociais e territoriais são relevantes para o crime e a sensação desegurança, mas apenas em níveis reduzidos, não sendo suficientes a gerar,por si só, sensação de segurança e preservação da ordem (TAYLOR;GOTTFREDSON; BROWER, 1984).

▣ A territorialidade foi usada por Gerald Suttles (1968) para estudar as“vizinhanças protegidas”, nichos ecológicos onde os habitantes foramgrupos coesos e se protegem através do esforço de gangues, pactosrestritivos e reputações violentas.□ A reputação da territorialidade, e não necessariamente as qualidades físicas da

vizinhança, provê controle do crime efetivo.

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“Vizinhanças dominadas por espertinhos sãoconsideradas como estando sob proteção dessesespertinhos. Há muito menos roubo, estupros ou furtosnas vizinhas protegidas por espertinhos que mesmo nasáreas mais protegidas da cidade.

Joe Pistone(Donnie Brasco)

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Comunidades Protegidas

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Avaliação)

▣ Wayne Welsh et al. (1999, 2000) investigaram a desorganização social nasescolas na Philadelphia, utilizando de medidores relativos à comunidade,como pobreza, estabilidade residencial e taxa de crimes.□ “A tese de que crianças ‘ruins’ ou bairros ‘ruins’ diretamente importa em violência em

qualquer escola não é suportada pela evidência.” (2000).□ O mesmo resultado foi encontrado em todos os estudos realizados pelos

pesquisadores.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Avaliação)

▣ Ruth Peterson e seus assistentes (2000) estudaram se instituições locaisinfluenciam a taxa de crimes em comunidades pobres em Columbus,Ohio.□ Utilizaram fatores estabilizantes (bibliotecas, parques, áreas de recreação, etc.),

comércio e apenas um fator desestabilizador (bares).□ Apenas áreas de recreação têm influência digna de nota na redução de crimes violentos.□ O impacto da baixa renda e instabilidade residencial na taxa de crimes violentos não é

reduzido por instituições locais.▪ Elas podem ser paliativas, mas são ineficazes em contrabalancear fatores

macroestruturais que geram a privação econômica e o crime subsequente.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Nos EUA, levou à criação de associações locais para aumentar a segurança nos bairros.□ Utilização do conceito de espaços defensáveis na arquitetura das cidades:▪ Alta mobilidade “para” e “na” cidade é associado à alta taxa de crime

(WALKER, 1983);▪ Restringir o tráfego de veículos limitando seu acesso a áreas residenciais ou

controlar o fluxo em áreas comerciais pode reduzir a ocorrência de certosnúmeros de crime (POYNER, 1983).

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Oscar Newman foi convidado, na década de 1990, pela cidade de Dayton, Ohio,

para criar espaços defensáveis em Five Oaks, um bairro decadente.▪ Ele criou uma série “mini-condomínios fechados” (vizinhanças menores

aumentam o sentimento de comunidade e torna crimes anônimos maisdifíceis) de ocorrer.

▪ As mudanças diminuíram o tráfego em 67% e o total de crimes decaiu em 26%(crimes violentos caíram aproximadamente pela metade).

▪ Patricia e Paul Brantingham (1991 e 1993) importaram as ideias de prevençãoao crime através do design de ambientes para o Canadá, onde novos projetosde casas, negócios, escolas, playgrounds e espaços públicos em geral seguemesses princípio em British Columbia.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Influência)

▣ Influência no Executivo□ A hipótese das janelas quebradas levou à adoção do modelo de polícia

comunitária.▪ O modelo tem 5 objetivos:• Reduzir o medo do crime;• Aumentar a satisfação do cidadão com a polícia;• Desenvolver programas que lidem com os problemas da comunidade;• Reduzir a desorganização social por meio do maior controle;• Reduzir o número de crimes através das 4 primeiras metas.

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Programas de Polícia Comunitárias▪ Promovem melhorias na ecologia do bairro (melhorias na fachada, elevação no

orgulho de pertencer à comunidade, o policiamento de rua aumenta asensação de segurança e faz com que mais pessoas saiam às ruas, o queaumenta o nível de vigilância.

▪ As pesquisas indicam que tais programas alcançam bons resultados(BOWERS; HIRSCH, 1987; ECK; SPELMAN, 1987; HAYESLIP, 1989;MOORE; TROJANOWICZ, 1988; SPELMAN; ECK; 1987).

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ As lições sobre o ambiente que podemos criar também se aplicam às prisões.

Dois tipos de facilitadores primários podem contribuir para a segurança dosdetentos e da equipe:▪ Design linear: celas individuais ou dormitórios ao longo de corredores.• Dada a natureza estéril e impessoal desse ambiente, pode levar a altos níveis

de stress físico e psicológico (o ambiente cria semelhanças notáveis comaqueles descritos pelos criminólogo ecológicos);

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Teorias da (Des)Organização Social: Ecologia (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ Dois tipos de facilitadores primários podem contribuir para a segurança dos

detentos e da equipe:▪ Design cubicular (podular): ambientes mais abertos, “independentes”, onde casa

detento reside em um cubículo, sempre supervisionado pela equipe.• Essas instalações apresentam menor taxa de vandalismo e crimes intramuros

(NATIONAL INSTITUTE OF CORRECTIONS, 1983; NELSON, 1988;SIGURDSON, 1985 e 1987; ZUPAN, 1991), além de ser preferida pordetentos e pela equipe (ZUPAN; MENKE, 1988; ZUPAN; STOHR-GILMORE, 1987).

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Teorias da (Des)Organização Social: Anomia (Explanação)

▣ Você já se perguntou por que, na escola, em espaços públicos ou algunseventos, cantamos o Hino Nacional ou se faz juras à bandeira? Por que ospaíses julgam necessários ter uma bandeira e um hino?

▣ Que condições sociais enfrentam tantos os vencedores quanto osperdedores de uma guerra, após seu término? Essas condições tambémsão enfrentadas por uma sociedade próspera que repentinamenteenfrenta uma recessão econômica severa?

▣ Você está à procura da felicidade, de um sonho ou de um estilo de vida?Como se mede a felicidade? Ela é medida por um padrão de consumo oubens materiais?

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Teorias da (Des)Organização Social: Anomia (Explanação)

▣ No começo do século XIX os sociólogos enfrentaram essas questões,explorando a estrutura e as funções de diferentes partes da sociedade.□ Essa abordagem ficou conhecida como Funcionalismo Estrutural (ou Estrutural-

Funcionalismo).

▣ Segundo o Funcionalismo Estrutural, a sociedade consiste em váriasinstituições e grupos que, devido a seu contato recíproco constante, deslocam,movimentam e alteram suas influências mútuas, gerando um sistema socialunificado.□ Qualquer prática ou tradição persiste na sociedade porque é funcional (i. e.,

promove algo benéfico).□ Qualquer prática ou tradição que ameace ou destrua a sociedade é disfuncional.

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Teorias da (Des)Organização Social: Anomia (Explanação)

▣ Emile Durkheim (1858-1917) considerava os elementos estruturais comocentrais a qualquer sociedade e suas mazelas.□ Segundo Durkheim, enquanto a sociedade se move da solidariedade mecânica para

a solidariedade orgânica, relações instáveis se desenvolvem.▪ Solidariedade mecânica: estado primitivo do desenvolvimento social,

caracterizado pelas relações baseadas na família ou tribo e com grandeconsciência coletiva ou modos consensuais de enxergar a sociedade e o mundo.

▪ Solidariedade orgânica: comum em sociedades mais avançadas e industriais,com alto grau de especialização. Há uma razão inversa entre a consciênciacoletiva e o individualismo: um aumenta e o outro diminui.

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Teorias da (Des)Organização Social: Anomia (Explanação)

▣ Emile Durkheim□ Sociedades com altos níveis de solidariedade orgânica têm problemas em

socializar seus membros, em criar uma sensação de “nós”.□ A coesão social exige um agente externo (o Estado), o qual ativamente promove a

devoção ao país (em vez da família ou tribo), por meio de seus símbolos.

▣ Para Durkheim, a ambição desenfreada (individualismo em sua pior faceta)causava o comportamento criminoso, por meio do seguinte processo:□ A consciência coletiva ajuda a governar os membros da sociedade;□ Distúrbios ou transições sociais, até mesmo aquelas que possam parecer benéficas,

podem perturbar o equilíbrio e alterar ou diminuir a habilidade da consciência coletivaem controlar os comportamentos;

□ Distúrbios podem afetar o equilíbrio social e colocar pessoas à deriva: padrões sãoquebrados e as pessoas não têm mais o conforto de “saber seu lugar” na sociedade.

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Teorias da (Des)Organização Social: Anomia (Explanação)

▣ Quando isso acontece, a sociedade não pode, de imediato, encontrar umnovo equilíbrio; leva tempo para que a consciência coletiva consigareclassificar pessoas e coisas.

▣ Nesse espaço de tempo, a ambição desenfreada, livre de qualquer amarracomportamental, se torna a norma, já que os valores e normas antigas sãoirrelevantes.

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“Podemos, pois, resumindo a análise queprecede, dizer que um ato é criminosoquando ofende os estados fortes e definidosda consciência coletiva.

Emile Durkheim

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Teorias da (Des)Organização Social: Anomia (Explanação)

▣ Os distúrbios são problemáticos, sejam eles negativos (depressãoeconômica, perda de uma guerra, catástrofes naturais, etc.), sejampositivos (prosperidade econômica, sucesso na guerra, vitória emcampeonatos, etc.).

▣ Durkheim chamou a condição social resultante de tais distúrbios deanomia: ausência relativa de normas ou confusão de normas e regras.□ A anomia explicaria os crimes ocorridos em épocas de guerra, rápida

industrialização e urbanização.▪ Nessas épocas, a sociedade desenvolve um sentimento de “vazio normativo”, de

ficar à deriva sem regras de conduta, valores costumeiros ou freios inibitórios.▪ Reajustes eventualmente restauram os controles sociais e a moderação; até lá,

entretanto, altos níveis de crimes podem ser esperados.

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

▣ Robert K. Merton (1910-2003) “americanizou” a anomia em 1938,durante a Grande Depressão, acreditando que o “bem” podia causar o“mal”.□ Para Merton, a ambição desenfreada era a principal causa do crime nos EUA:▪ A sociedade americana considera o sucesso econômico um valor quase absoluto;▪ A pressão que resulta dessa busca pelo sucesso econômico pode eliminar as

restrições sociais quanto aos meios empregados para chegar ao fim;▪ A doutrina dos “fins que justificam os meios” se torna um guia para ações quando

a cultura social exalta esse fim e a organização social indubitavelmente limita apossibilidade de acesso aos meios socialmente aprovados.

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A diferença estrutural da sociedade é fonte do

maior índice criminal em classes mais baixas

A estrutura social determina o acesso a oportunidades legítimas, mais disponíveis às classes sociais abastadas

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“... os incentivos para o sucesso são proporcionados pelos valores estabelecidosda cultura e, em segundo lugar, as vias disponíveis para alcançar esteobjetivo são amplamente limitadas pela estrutura de classe para aqueles decomportamento desviante. É a combinação da ênfase cultural e da estruturasocial que produz intensa pressão para o desvio. Neste contexto, Al Caponerepresenta o triunfo da inteligência amoral sobre o “fracasso” moralmenteprescrito, quando os canais de mobilidade vertical são fechados ou estreitadosem uma sociedade que coloca um alto prêmio na afluência econômica eascensão social...

Robert Merton

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

▣ Robert K. Merton.□ Segundo seu esquema de fins-meio, a anomia resulta da pessoa confrontar a

contradição entre fins culturalmente definidas e meios socialmente restritos.▪ O vazio normativo decorre da disjunção ou tensão entre fins e meios.▪ Daí o nome Teoria da Tensão.

□ Merton disse que as pessoas podem reagir a essa “armadilha anômica” de 4formas principais:

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

Considerações

Conformistas Aceitam os fins e os meios e lutam para alcançar o sucesso dentro dasregras e limites impostos

Rebeldes Rejeitam os fins e tentam derrubar a ordem social existente e seusvalores (grupos revolucionários, paramilitares, contracultura, etc.)

Retirantes Abandonam qualquer tentativa de alcançar os fins em favor de umaadaptação desviante (desabrigados, eremitas, viciados em drogas, etc.)

Inovadores Usem meios ilegítimos ou ilegais para alcançar fins socialmente aceitos,porque experimentam limites no acesso a meios legítimos

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

▣ Robert K. Merton.□ Armadilha anômica▪ Para inovadores, o crime é uma “adaptação utilitária” à armadilha anômica;▪ Rebeldes, especialmente os que buscam mudança pela força, também podem

ser uma ameaça aos mecanismos de controle social;▪ Retirantes podem dificultar tais controles, especialmente porque muitas de suas

escolhas de vidas são contrárias à lei (uso de drogas, não proporcionar aeducação formal dos filhos, desobediência, etc.).

▣ No fim da década de 80, as teorias da anomia e da tensão foram revisitadapor vários outros sociólogos, dando origem a diversas novas teorias. Umenfoque interessante foi dado por Robert Agnew.

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

▣ Robert Agnew (1953) criou a Teoria Geral da Tensão (1985 e 1992),redefinindo os fins da juventude americana para incluir aspirações de curtoprazo (popularidade, boas notas, realizações atléticas, etc.).□ Isso ajudou a explicar as condições da tensão experimentada pela classe média e alta,

já que esses fins podem não ser ligados à classe social.□ Para os adultos, a falha em alcançar as metas perseguidas causam tensão que, em

algumas pessoas, leva à raiva, ressentimento e ódio (que podem levar ao crime).

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

▣ Robert Agnew□ Supôs que a injustiça social podia ser a raiz da tensão.▪ A sensação de ser tratado injustamente, e não simplesmente a inabilidade em

alcançar suas metas, é o que cria tensão.□ Enquanto a Teoria da Tensão prega que as pessoas correm em direção a algo

(dinheiro, fama, carros, etc.), a Teoria Geral da Tensão diz que, em alguns casos,pessoas correm de algo (castigos indesejados, punições, maus relacionamentos,etc.).

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“[Pessoas são] pressionadas à delinquênciapelos estados afetivos negativos – maisnotavelmente raiva e emoções correlatas – quefrequentemente resultam de relacionamentosnegativos.

Robert Agnew

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

Considerações

Falha em atingir fins

positivamente valorados

Disjunção entre aspirações e expectativas ou realizações alcançadas edisjunções entre resultados justos e resultados efetivamente obtidos

Retirada de um estímulo

positivamente valorado

Perda atual ou antecipada de algo positivo (morte de um ente querido,suspensão da escola, perda do emprego, etc.)

Apresentação de um estímulo

negativo

Quando se tenta evitar ou escapar de algo negativo, exterminar oualiviar a fonte desse estímulo ou buscar vingança contra essa fonte

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Explanação)

▣ Teoria Geral da Tensão□ Tensões gerais ou antecipadas podem criar predisposição ao crime ou servir como

um evento situacional que instiga um ato delinquente específico.□ Quatro fatores predispõem as pessoas à delinquência, quando elas tentam evitar

problemas criados pelas tensões:▪ Suas estratégias de cópia normativa estão no limite;▪ Tensões crônicas reduzem seu limite de tolerância à adversidade (ficam

incapazes de lidar com níveis crescentes de desconforto);▪ Tensões crônicas recorrentes podem levar a uma atitude hostil;▪ Tensões crônicas aumentam a probabilidade de que as pessoas estarão com

sentimentos negativos em qualquer situação (ou seja, propensos a atos de ódioque focam a culpa nos resultados negativos em outras pessoas).

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Análise)

▣ A anomia de Durkheim raramente é testada.□ Louise Shelly (1981) revisou estudos comparativos de hipóteses entre crime e

modernização. Ela apontou que padrões de crimes primeiramente observadosem países do Europa Ocidental agora ocorriam em países emergentes da Ásia,América Latina e África, muito em razão do desenvolvimento econômico.

▣ As versões modernas da Anomia são mais testadas.□ Robert Agnew e outros (1996) estudaram a insatisfação ou frustração com os

resultados monetários alcançados, em uma amostra de adultos em uma cidade.▪ Exploraram muitos determinantes de tensões, como a importância do sucesso

monetário, posição social, expectativas de sucesso e comparação com o sucessode outros.

▪ O nível da insatisfação monetária deveria prever a entrada no mundo docrime, resultado este atingido pelo experimento.

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Análise)

▣ As versões modernas da Anomia são mais testadas.□ Steven Cernkovich e outros (2000) entrevistaram um grupo de jovens entre 12 e

19 anos vivendo em Ohio em 1982 e posteriormente refizeram esta entrevistaem 1992. Parte da amostra de 1982 vivia em instituições de reabilitação demenores.▪ Eles exploraram tanto a orientação para uma meta de sucesso (“American

Dream”) quanto a satisfação econômica.▪ Embora negros parecerem “comprar” a ideia do “sonho americano”, seus

dados autorreportados de crimes não estavam ligados à materialismo ouaspirações quanto à carreira.

▪ Os autores apontaram que isso pode se dever a vários fatores: níveis mais altosde frustração por caucasianos, a menor expectativa por parte de negros, bemcomo um repertório de “sobrevivência” bem maior por parte deles.

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Análise)

Considerações

Viés de classe

Assumem que o crime é desproporcionalmente mais comum nasclasses sociais mais baixas. Ruth Kornhauser (1978) apontou queembora as teorias predigam que criminosos terão mais aspirações queexpectativas, eles possuem baixas aspirações e expectativas

Não é uma teoria geral do

comportamento criminoso

Não podem explicar os crimes das elites, crimes “não-utilitários” (comovandalismo) ou crimes violentos contra a pessoa

Simplismo O elo entre tensões e crimes pode representar uma simplificação muitogrande de um problema mais complexo

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Análise)

Considerações

Não testadaDevido a problemas de medição, a teoria de Merton continua semtestes. Não é claro se pessoas experimentam anomia ou se ela é umacondição social

Poucos testescom pessoas

adultasA maior parte dos estudos se direciona a jovens

Possivelmente racista, sexista

ou ambos

As teorias tradicionais da anomia focam na criminalidade de minoriasmasculinas. As mulheres seriam imunes à anomia?

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Influência)

▣ Influência no Executivo□ O Attorney General Robert Kennedy, após ler o livro “Delinquência e

Oportunidade”, de Cloward e Ohin (1960), pediu a Ohin que desenvolvesse umprograma de combate à delinquência juvenil.▪ Isso resultou na “Lei de Prevenção e Controle à Delinquência Juvenil”, de 1961, cujo

objetivo era estender oportunidades legítimas a jovens de classe baixa.▪ Após a morte de John Kennedy, o Presidente Lydon Johnson estendeu a lei a

todos os cidadãos pobres, através da “Guerra à Pobreza”.▪ O programa, contudo, fracassou e foi encerrado por Richard Nixon.

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Teorias da (Des)Organização Social: Tensão (Influência)

▣ Influência no Executivo□ O conceito de tensão também pode ajudar no combate à corrupção policial.▪ O desejo de segurança, lei e ordem contrasta com a antipatia pela autoridade

do governo.▪ Isso pode resultar nos policiais caindo em uma armadilha anômica, preso entre

duas metas conflitantes: direito à segurança v. segurança dos direitos.▪ Isso leva à falsos testemunhos, fraudes processuais e mesmo à denunciações

caluniosas, bem como a subornos e favorecimentos diversos.▪ Algumas vezes, administram a “justiça das ruas” (“corretivos”, “baculejos”,

tortura, execuções, humilhações, etc.).

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Você conhece(ia) pessoas que parecem não ter os mesmos valores moraisque a maior parte das pessoas e que parecem sempre estar se rebelandoe/ou indo contra as regras?

▣ Os membros das classes mais pobres possuem valores diferentes queaqueles das classes mais altas? Caso positivo, quais são as implicaçõesteóricas e políticas disso?

▣ A mídia frequentemente retratam certas pessoas ou grupos que sãoinclinadas ao uso de violência. Essas imagens possuem fundamento nosfatos?

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Cultura se refere às crenças e valores da sociedade.

▣ Nem todos em uma sociedade plural suportam todos os valores e crenças,especialmente membros de uma subcultura.

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“[Subculturas] são padrões de valores, normas ecomportamentos que se tornaram tradicionais entre certosgrupos [...] podem ser de muitos tipos, incluindo gruposocupacionais e étnicos, classes sociais, ocupantes de “instituiçõesfechadas” e de várias faixas etárias [...] são importantes quadrosde referência pelos quais cada indivíduo ou grupo vê o mundo eo interpreta.

James F. Short

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ As Teorias da Subcultura Delinquente compartilham a ideia de eu estasubcultura delinquente rejeitam, em maior ou menor escala, os valores culturaisdominantes.□ Ainda assim, os criminólogo frequentemente discordam acerca das origens do

conflito ou da maneira de o resolver.

▣ Hipótese da Formação Reativa□ Albert Cohen (1955) forneceu uma das primeiras explicações teóricas acerca da

subcultura delinquente das classes baixas.

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“[A subcultura delinquente das classes baixas é]um modo de vida que, de alguma forma, se tornatradicional entre certos grupos da sociedade [...] Essesgrupos são gangues juvenis que florescem maisacentuadamente em “bairros delinquentes” de grandescidades...

Albert Cohen

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Hipótese da Formação Reativa□ Gangues, então, são primariamente um fenômeno de homens jovens pobres, nos

quais o status é dependente da refutação das normas culturais tradicionais.□ Não há diferença entre as gangues e um grupo de escoteiros; a diferença é a

cultura que cada um deles endossa.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Hipótese da Formação Reativa□ Cohen sugere que a subcultura delinquente toma os “valores da classe média” e

inverte, em um processo psicológico denominando formação reativa.▪ As condutas do delinquente subcultural são vistas como corretas “pelo estandarte

da subcultural dele justamente porque ela é errada pelas normas da cultura maior”(1955).

▪ As atividades das gangues são não-utilitárias, maliciosas e negativistas, e osdelinquentes têm pouco interesse em lucros ou ganhos pessoais. Seu principalinteresse é o status.

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Subcultura Delinquente

Distorce as normas culturais tradicionais, invertendo-as

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Hipótese da Cultura das Classes Baixas□ Walter Miller (1958) defendia que os jovens de classes baixas não desprezavam os

valores tradicionais da classe média. Em verdade, eles simplesmente seconformam aos comportamentos definidos como aceitáveis pela comunidades deles.

□ A subcultura delinquente, então, não advém de um conflito entre a cultura daclasse média, nem deliberadamente a viola.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Hipótese da Cultura das Classes Baixas□ A subcultura delinquente tem como pontos centrais:▪ Problemas: comportamento violador das leis;▪ Dureza: proezas físicas e ousadia;▪ Esperteza: a habilidade de ser astuto;▪ Entusiasmo: a tendência a procurar risco, perigo, excitações;▪ Destino: a crença em ser sortudo ou azarado;▪ Autonomia: o desejo de ser independente de controles externos.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Hipótese da Cultura das Classes Baixas□ Coletivamente, essas característica ditam as normas de comportamento.□ Membros da classe baixa raramente evitam problemas baseados em um senso de

compromisso à ordem social. Eles o fazem para evitar as possíveis consequênciasnegativas.▪ Embora causar problemas seja fonte de status, fugir de problemas é necessário para

evitar complicações legais.▪ Por isso, certas vezes, eles podem resolver seus conflitos de forma legítima.

□ O apego dos membros a classe baixa a seus pares e normas os impede de moverpara a classe média, a não ser que eles consigam superá-los.▪ Como esses membros executam “trabalhos menores” em sociedades

industriais, são encorajados a afogar as frustrações com álcool, sexo e violência.▪ Crime e delinquência são os custos de uma máquina industrial funcional.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Valores Subterrâneos e delinquência□ Certas pessoas não invertem os valores culturais dominantes e nem são parte de

uma subcultura com valores diferentes, compartilhando dos valores dominantes.Ainda assim, cometem crimes.

□ Gresham Skyes e David Matza (1975) descreveram o processo pelo qualcriminosos de toda sorte são capazes de apoiar os valores culturais prevalecentes e, aomesmo tempo, violar a lei.

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“Valores ou normas aparecem como guiasqualificados para ação, mas limitadas em suaaplicabilidade em termos de tempo, lugar,pessoas e circunstâncias sociais.

Gresham Sykes David Matza

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

▣ Valores Subterrâneos e delinquência□ Eles estudaram os mecanismos que permitem aos delinquentes a aceitar as

normais sociais e, simultaneamente, as violar.□ Para isso, os delinquentes usam várias técnicas de neutralização, como forma de

negar, em termos morais, que um crime ou violação de uma regra tenha acontecido.▪ Delinquentes não possuem, necessariamente, um compromisso com o delito,

nem necessariamente se veem como violadores da lei.▪ Eles, na verdade, justificam seus erros de um jeito que, embora não pareça aceitável

pela sociedade, é válido para eles.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

Considerações

Negação de responsabilidade

Apontam ausência de intenção, sugerindo que foi um “acidente”, quea vítima “estava no caminho” ou que forças fora de seu controle são asculpadas (pais abusivos, educação falida, comunidade indiferente, etc.)

Negação do dano

“Ninguém foi ferido”, crimes sem vítimas (uso de drogas, venda debebidas ou cigarros a menores, p. ex.)

Negativa davítima

Se o dano ocorre, ele foi um ato legítimo de retaliação, “a vítimaprocurou”, transforma a vítima em alguém que mereceu o ato

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Explanação)

Considerações

Condenação dos condenadores

Muda a culpa para a pessoa que faz a acusação, que é tão má quantoele, e ainda é hipócrita (policial é corrupto e abusivo, o professor éincompetente e preguiçoso, o chefe é ganancioso e antiético, etc.)

Apelo à lealdades

maiores

Amigos, parentes e gangues são o suporte. Entre obedecer as regras dasociedade ou a de seus pares, o ofensor escolhe a última. Não rejeitamas normas da sociedade, apenas dão precedências à outras normas.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Avaliação)

▣ As teorias da subcultura delinquente focam em subgrupos da sociedade quesão relativamente desprovidos de poder e economicamente prejudicados.

▣ Seja uma rejeição aos valores da classe média ou adesão a expectativas e normasculturais únicas, essa perspectiva se centra na ideia de que aqueles emposições de poder criminalizam as ações ameaçadoras de certos grupos,especificamente as gangues de jovens de classe baixa.

▣ Elas enxergam como problema central as ameaças sociais resultantes dos valoressubterrâneos de certos grupos.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Avaliação)

▣ Os críticos, a seu turno, questionam se essas suposições estão corretas.“Existe uma cultura das classes baixas?”.

▣ “Famílias de classes baixa e média aparentemente socializam suas crianças demaneira similar” (LEACOCK, 1971; PIVEN; CLOWARD, 1971).

▣ “As teorias da subcultura podem ser mais um reflexo dos estereótipos da classemédia sobre os pobres do que uma descrição empiricamente correta do estilo de vidada classe baixa” (CURRAN; RENZETTI, 1994).

▣ “Membros da classe baixa tipicamente condenam, e não apoiam, a violência, talvezaté mais que aqueles dos estratos sociais mais altos” (ERLANGER, 1974;CURRAN; RENZETTI, 1989).

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Avaliação)

Considerações

Não é claro que grupos pobres de

delinquentes sejam uma

contracultura

Membros gangues ou outros delinquentes não trabalham para criarou manter uma única cultura antissocial

Muita “culpa” na pobreza e

“minorias”

Como regra, tendem a “culpar” a pobreza e o status de minora pelosproblemas, ignorando dois pontos: (a) fatores estruturais quecontribuem para a pobreza e para o crime; (b) as várias classes sociaissão heterogêneas em suas crenças, valores e normas. Os que insistemque a pobreza causa crimes veem a pobreza como algo imoral einferior

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Avaliação)

Considerações

“Teoria de Gangues” ou

“Teoria da Delinquência”?

Jovens praticam crimes que nada tem a ver com gangues, e essasteorias não costumam explicar esses tipos de crime e nem acriminalidade adulta

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Muitos pesquisadores apontam a existência de uma subcultura policial.▪ Eles não só aceitam e respeitam o uso da força por colegas como exigem esses

atos dos demais integrantes (DORSCHNER, 1989; HUNT, 1985).▪ Parte dessa subcultura é sexista e exige uma percepção de “macheza”

(MARTIN, 1980).▪ Gerenciar o estresse também é parte dessa subcultura, e pode ganhar a forma

de ridicularizar ou humilhar suspeitos ou detidos ou usar xingamentos raciaise sociais.

▪ Uma resposta a esse problema é aumentar a percepção da existência dessasubcultura por meio de programas de academia de educação multicultural(ROBERG; KUYKENDALL, 1993).

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Subcultura policial.▪ Contudo, as forças policiais são esmagadoramente caucasianas, nos EUA

(SULLIVAN, 1989; WALKER, 1992). Recrutamento de minorias pode ajudara sensibilizar policiais para uma existência maior de subculturas, mas essaprática ignora a questão da socialização ocupacional:• O trabalho policial evidentemente tem a habilidade de moldar aqueles que

usam o distintivo (BENNET; GREENSTEIN, 1975; ROKEACH, et al., 1977;VAN MAANEN, 1973).

▪ Pesquisas também mostram que policiais de minorias trabalhando compopulações dessas minorias tendem a ser mais agressivos que oficiais caucasianos(ALEX, 1976; KEPHART, 1957; SULLIVAN, 1989).• Esse padrão, entretanto, parece estar mudando (BERG; TRUE; GERTZ,

1984).

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ Acordos de liberdade vigiada (probation ou parole) podem incluir que o vigiado

não tenha contato com certos lugares ou pessoas (no Brasil, art. 319, II e III, doCPP).

□ As prisões contemporâneas contém muitas subculturas, desde gangues étnicas,grupos supremacistas, gangues de motociclitas, grupos religiosos, facçõescriminosas, etc.▪ Essa variedade não só torna a vida do detento difícil (AUSTIN; IRWIN, 2001;

IRWIN, 1980), como também causa problemas para a equipe.

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Teorias da (Des)Organização Social: Subcultura (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ John Irwin (1980) descreveu quatro adaptações e estilos de vidas que os

prisioneiros geralmente adotam:▪ Cumprindo de pena (“doing time”): a prisão é uma pausa temporária em suas

carreiras criminosas;▪ Catadores: tiram vantagem de todas as oportunidades para aumentar seus

recursos;▪ Colonizados: presos que possuem pouco compromisso ao estilo de vida

convencional e se ajustam melhor à vida da prisão do que fora dela (p. ex., opersonagem de Morgan Freeman, Ellis Boyd Redding, no filme “Um sonho deliberdade”);

▪ Criminosos desorganizados: presos que, por sua pouca inteligência ou deficiênciasfísicas ou mentais, não possuem um padrão de comportamento efrequentemente são vítimas de outros presos.

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Teorias do Processo Social (Explanação)

▣ Ninguém nasce criminoso. Em verdade, enquanto crianças, os criminosossão ensinados a serem maus, lições que são melhores aprendidas emcontato com aqueles que endossam práticas ilegais.□ Alguma teoria pode nos dizer onde, quando e em que contexto essa

aprendizagem tem lugar? O que, exatamente, aqueles que cometem crimesaprendem?

▣ Embora todos nós sejamos expostos a ideias, informações e definiçõesque pregam comportamentos ilícitos, por que só alguns cometem crimes?

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Teorias do Processo Social (Explanação)

▣ Processo social é todo padrão repetitivo e identificável de interação entrehumanos em um grupo ou contexto social.

▣ Se ninguém nasce criminoso, o que explica a presença de criminososentre nós?

▣ Talvez todo comportamento social, incluindo o crime, decorra de umprocesso de aprendizagem.□ Enquanto muitos de nós aprendemos a ler, escrever, fazer contas, etc., outros

aprendem o “ABC da delinquência”.

▣ Como o crime é aprendido? Edwin Sutherland (1883-1950) tentouresponder a esta questão no início do século XX.

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Teorias do Processo Social (Explanação)

▣ Sutherland propôs a Teoria da Associação Diferencial para explicar atransmissão da criminalidade.□ De acordo com ele, o comportamento criminoso é aprendido.▪ Para se aprender algo, é necessário contato pessoal próximo entre “professores”

e “alunos”;▪ Os mesmos mecanismos que se aplicam a qualquer aprendizado, se aplicam ao

aprendizado criminal.▪ Para Sutherland, não é possível se aprender algo pela mídia (filmes, jornais,

televisão, etc.). Esses mecanismos não proveem o contexto social necessário àaprendizagem.

▣ O comportamento criminoso acontece quando os motivos, desejos eracionalização dirigem o indivíduo a ver a lei desfavoravelmente.

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“Em algumas sociedades o indivíduo está cercado de pessoas queinvariavelmente definem os códigos legais como regras a seremobservadas, enquanto em outras ele está cercado de pessoas cujasdefinições são favoráveis à violação de códigos legais. Em nossasociedade [...], essas definições geralmente estão misturadas, econsequentemente nós temos um conflito cultural em ralação aoscódigos legais.

Edwin Sutherland

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Teorias do Processo Social (Explanação)

▣ No coração da Teoria de Sutherland, está o princípio da associaçãodiferencial, no qual o excesso de definições favoráveis à violação da lei, emcomparação com definições desfavoráveis, determina a criminalidade da pessoa.

▣ As pessoas se voltam para o crime “...por causa de contatos com padrõescriminosos e também por conta do isolamento de padrões não criminosos.” (1947).

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Comportamento Criminoso é Aprendido

Por associação diferencial: mais contato com criminosos que com não criminosos

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Teorias do Processo Social (Explanação)

▣ As associações diferenciais variam em termos de frequência, duração,prioridade e intensidade.□ Frequência e duração: de quanto em quanto tempo a pessoa tem esse contato e quanto

tempo ele dura.□ Prioridade: na primeira infância a socialização é crítica, pois é nela que

aprendemos a maior parte de nossas definições de “certo” e “errado”. Asassociações que alguém tem por primeiro na vida tem maior prioridade, sendo as maisimportantes;

□ Intensidade: “...não é precisamente definida, mas tem a ver com coisas como o prestígio dafonte do padrão criminoso ou não criminoso e as reações emocionais ligadas à associação”(SUTHERLAND, 1947).

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Teorias do Processo Social (Explanação)

▣ Em suma, a Teoria da Associação Diferencial via o comportamentocriminosos como resultado da força (frequência, duração, prioridade eintensidade) da associação criminosa do indivíduo e o processo cumulativo deaprendizagem.

▣ A metáfora de uma balança em equilíbrio é uma boa metáfora paraentender a teoria.

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Teorias do Processo Social (Explanação)

Definições Favoráveis ao Ilícito

Definições Favoráveis ao Lícito

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Teorias do Processo Social (Explanação)

Definições Favoráveis ao Ilícito

Definições Favoráveis ao Lícito

Comportamento Criminoso

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Teorias do Processo Social (Explanação)

Definições Favoráveis ao Ilícito

Definições Favoráveis ao Lícito

Comportamento Não Criminoso

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Teorias do Processo Social (Avaliação)

▣ A teoria recebeu muita atenção, em sua época, seja de apoiadores, seja decríticos ferrenhos.

▣ Pouco tempo após a morte de Sutherland, os criminólogos dissecaramsua hipótese de associação diferencial, examinando suas limitaçõesconceituais e operacionais.□ Sheldon Glueck (1956) duvidou que pesquisadores algum dia poderiam medir a

razão entre as definições favoráveis e desfavoráveis ao comportamento ilícito.□ O próprio Sutherland, que tentava qualificar sua teoria como uma “razãomatemática”, admitia essa dificuldade (1947).

□ Melvin De Fluer e Richard Quinney (1966) diziam que a teoria era capaz de criarmais hipóteses do poderíamos testadas adequadamente em várias vidas.

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Teorias do Processo Social (Avaliação)

▣ Dentre uma década da morte de Sutherland, estudos empíricos testarama hipótese da associação diferencial.□ Como regra, essas pesquisas suportaram a hipótese, já que jovens com companheiros

delinquentes tendiam a cometer (ou ao menos assim o reportaram) mais crimes queaqueles sem tal contato (GLASER, 1960; REISS; RHODES, 1964; SHORT, 1957,1958, 1960; STANFIELD, 1966; VOSS, 1964).

□ Estudos posteriores sobre uso de drogas (SELLERS; WINFREE, 1990) e sobreprogramas para ajudar presos a adotarem novos estilos de vida com respeito à lei(ANDREWS, 1980; EMPEY; ERICKSON, 1972) também suportaram a hipótesede Sutherland.

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Teorias do Processo Social (Avaliação)

Considerações

Falta de operacionalização

suficiente para testes

As proposições de Sutherland não são testáveis, principalmenteporque ele falhou em operacionalizar conceitos importantes(“definições”, “excessos de definições”, “intensidade”, etc.)

Humanos não respondem

exclusivamente a estímulos sociais

A teoria se baseia em uma supersocializada visão do homem,ignorando motivos individuais

Não é uma teoria generalizadamente

aplicávelNão explica todos os crimes (crimes passionais, p. ex.)

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Executivo□ “O que” fazem, “quem” são e “como” os policiais veem o mundo tem relação com o

processo de associação diferencial.▪ O trabalho atrai certos tipos de candidatos ou molda essas pessoas?• Se o trabalho atrai certos tipos, a sociedade deve se preocupar com testes

psicológicos que afastem aqueles não desejáveis;• Se o trabalho molda essas pessoas, é necessário estudar essa socialização

profissional.▪ Os policiais tendem a ser cínicos, i. e., veem as outras instituições (incluindo o

Ministério Público e Judiciário) com certa desconfiança e até mesmo hostilidade(ANSON; MANN; SHERMAN, 1986; NIEDERHOFFER, 1969; REGOLI,1976).

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Executivo□ A associação diferencial também ajuda a explicar a corrupção policial e o abuso de

autoridade para ganhos pessoais ou de outros.▪ A corrupção policial é frequentemente ligada à pressões advindas de companheiros

desviantes e da necessidade de solidariedade grupal. Policiais que se recusam a“entrar no jogo” sofrem ostracismo ou coisa pior (STODDARD, 1968; WALKER,1992; WESTLEY, 1970).• Comportamento recompensado é comportamento repetido.

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Executivo□ A associação diferencial também ajuda a explicar a corrupção policial e o abuso de

autoridade para ganhos pessoais ou de outros.▪ A corrupção policial é frequentemente ligada à pressões advindas de companheiros

desviantes e da necessidade de solidariedade grupal. Policiais que se recusam a“entrar no jogo” sofrem ostracismo ou coisa pior (STODDARD, 1968; WALKER,1992; WESTLEY, 1970).• Comportamento recompensado é comportamento repetido.

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Executivo□ A associação diferencial também ajuda a explicar a corrupção policial e o abuso de

autoridade para ganhos pessoais ou de outros.▪ A corrupção policial é frequentemente ligada à pressões advindas de companheiros

desviantes e da necessidade de solidariedade grupal. Policiais que se recusam a“entrar no jogo” sofrem ostracismo ou coisa pior (STODDARD, 1968; WALKER,1992; WESTLEY, 1970).• Comportamento recompensado é comportamento repetido.

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Executivo□ A associação diferencial também ajuda a explicar a corrupção policial e o abuso de

autoridade para ganhos pessoais ou de outros.▪ A corrupção policial é frequentemente ligada à pressões advindas de companheiros

desviantes e da necessidade de solidariedade grupal. Policiais que se recusam a“entrar no jogo” sofrem ostracismo ou coisa pior (STODDARD, 1968; WALKER,1992; WESTLEY, 1970).• Comportamento recompensado é comportamento repetido.

Eu posso até te ajudar, aliás, eu vou teajudar! Eu quero te ajudar! Mas agora vocêtem que me ajudar a te ajudar. Quem querrir, tem que fazer rir.

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Judiciário□ A associação diferencial também tem lugar no sistema judicial.▪ Advogados devem aprender a trabalhar com os outros atores processuais (CLYNCH;

NEUBAUER; 1981; EISENSTEIN; JACOBS, 1977).▪ Jurados devem aprender tanto a prática quanto a filosofia de seu papel de juízes dos

fatos (BALCH et al., 1976);▪ Oficiais de probation devem aprender o que os juízes esperam de suas investigações

(ABADINSKY, 2009; MCSHANE; KRAUSE, 1993; ROSENCRANCE, 1987).□ Alguns pesquisadores sugerem que advogados estão sujeitos ao mesmo processo de

aprendizagem social que os criminosos, apenas a “direção” aprendida é diferente(POLLOCK, 2003; WRIGHSTMAN; NIETZEL; FORTUNE, 1994).

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Judiciário□ Advogados e processo de aprendizagem social.▪ Graças a American Bar Association, a educação legal é extremamente uniforme:• Advogados compartilham entendimento comum da lei e sua aplicação para atender

às necessidades de um sistema legal racional;• Advogados podem prever o que a Corte irá fazer;• Juízes tratam os casos de acordo com linhas mestras compartilhadas, como forma

de ganhar respeito na comunidade legal.▪ Nas faculdades, os estudantes aprendem o que é aceitável e o que não é de seus

professores, seus modelos imediatos (GEE; JACKSON, 1977).▪ Estagiários dos Advogados de Acusação se colocam no papel de Advogados,

aprendem que após a decisão de denunciar, não há mais volta e a colocar o trabalho deacusação em um campo positivo (WINFREE et al., 1984; HUBKA, 1975;FELKENES, 1975).

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência no Judiciário□ Juízes passam por um processo de aprendizagem em 5 etapas (ALPERT, 1981):▪ Socialização profissional geral: começa na faculdade;▪ Iniciação: avaliação para a magistratura, onde o iniciante aprende a ser um juiz;▪ Resolução: mudança de mentalidade de advogado para ser um árbitro;▪ Fase de estabilização: a pessoa se acostuma a ser um juiz;▪ Compromisso: a pessoa começa a gostar da atividade judicante, fase esta

marcada pelo companheirismo com outros juízes.▪ A faculdade pouco ensina os aspectos expressivos de ser um juiz; um juiz novo

deve aprender “no trabalho”, com outros juízes (HOLTEN; LAMAR, 1991).

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Teorias do Processo Social (Influência)

▣ Influência na Execução Penal□ Cada oficial de liberdade vigiada requer que os beneficiados sob supervisão evitem

contato com pessoas que possuam antecedentes criminais (ABADINSKY, 2009).□ A habilidade da “sociedade da prisão” em moldar as respostas dos detentos é

reflexo da associação diferencial (CLEMMER, 1940; THOMAS, 1970).□ Programas comunitários de suporte a usuários de drogas também são reflexo da

teria, pois dão ao sujeito a sensação de pertencer a uma comunidade e ensinamdiferentes abordagens para indivíduos em ressocialização, ensinando-os comportamentos eorientação que promovam ajuste social e um novo estilo de vida (YABLONSKY, 1989).▪ Participantes de tais programas apresentam uma taxa menor de reincidência

(LIPTON, 1994; ANDREWS; BONTA, 1998; ANDREWS et al., 1990).

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Você já pensou em como você escapou da adolescência sem ser“etiquetado” como vândalo ou delinquente? A pessoa que coloca essa“etiqueta” é importante?

▣ Seus amigos, família, professores ou outros em posição de autoridade já ochamaram por nomes desagradáveis ou mesmo cruéis? Você internalizouesses nomes ou ignorou tanto a “etiqueta” quanto os “etiquetadores”?

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Símbolos são essenciais a qualquer cultura: é como nós nos comunicamos.□ Palavras não possuem significado intrínseco, apenas o significado que nós as

damos.□ Símbolo é algo que significa alguma coisa. Um símbolo captura o significado

essencial de um conjunto de ideias abstratas, ideologias, crenças, práticas epreocupações.▪ Ex.: injúria (art. 140 do CP) e injúria qualificada (140, §3º, do CP).• Crimes são ruins, mas crimes de ódio são piores: há um simbolismo no alvo dos

últimos.

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Para entender essas contradições aparentes, é importante entender ointeracionismo simbólico, uma perspectiva que explora como indivíduos dotamo mundo de significado (MEAD, 1934; MATSUEDA, 1992).□ Os humanos gradualmente internalizam as expectativas dos grupos nos quais eles estão

inseridos como definições sociais, largamente por reações a recompensas e sanções.▪ Ex.: nós elogiamos pessoas “educadas” e detestamos pessoas “mal educadas”.

Boa e má educação, contudo, são elementos que diferem de sociedade parasociedade (e mesmo de pessoa para pessoa).

□ De posses das definições sociais já internalizadas, pessoas passam a valorar sua condutado ponto de vista do grupo ao qual pertence: elas se veem como um objeto social(QUADRAGNO; ANTONIO, 1975).

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“Ela percebeu que todas suas dúvidas eram oponto de vista de outras pessoas. [...] Você estátrancada num mundo que foi planejado paravocê? Você está se sentindo como uma ferramentasocial sem utilidade?

Green Day

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ O foco não está no comportamento ou em seu autor, mas em como outros –incluindo o sistema penal – veem o comportamento ou o autor.

▣ Nenhum comportamento é inerentemente desviante; o desvio é uma propriedadedada ao comportamento por outros que tem contato com ele (ERICKSON, 1966).

▣ Símbolos tem o poder de galvanizar as ações sociais.□ W. I. Thomas e Florian Znaniecki (1918) observaram que a realidade é menos

importante a nossa definição de uma situação social que nossas crenças subjetivas sobre ele.▪ Não importa tanto os fatos, e sim como nós enxergamos esses fatos.

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Todas as sociedades que transferem ao Estado o “monopólio daviolência legítima” selecionam um número reduzido de pessoas, a quemsubmetem a sua coação visando à imposição de uma pena.

▣ Essa “seleção” penalizante se chama “criminalização” e é resultado dagestão de um conjunto de agências que compõem o sistema penal(ZAFFARONI; ALAGIA; SKOLAR, 2002).□ Criminalização Primária: o ato ou efeito de sancionar uma lei penal, que incrima ou

permite a punição de certas pessoas;□ Criminalização Secundária: ação punitiva exercida sobre pessoas concretas, que

tem lugar quando as agências de criminalização secundária do sistema penal (polícia,juízes, promotores, agentes penitenciários, etc.) detectam uma pessoa a quem seatribui a realização de conduta criminalizada primariamente.

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Green Day

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Green Day

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Como a polícia não possui condições de investigar todos os fatos criminososque efetivamente chegam ao seu conhecimento, ela sempre procederá auma seleção dos casos que efetivamente serão investigados, deixando osdemais à margem do sistema penal, para ingressar na cifra negra.

▣ Quais os fatores que regerão esse processo de seleção criminalizantesecundária, ou seja, quais os processos que ditam quais os autores de fatos típicosserão efetivamente considerados “criminosos”.□ Existe algo que possa explicar por que certas condutas e pessoas são consideradas

criminosas e entram no sistema penal, enquanto outras, que muitas vezes cometeramo mesmo fato, passam à margem de qualquer persecução?

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Green Day

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Green Day

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“... grupos sociais criam o desvio ao fazer as regras cuja infraçãoconstitui desvio, e ao aplicar essas regras a pessoas particulares erotulá-las como outsiders. [...] o desvio não é uma qualidade do atoque a pessoa comete, mas uma consequência da aplicação por outros deregras e sanções a um “infrator”. O desviante é alguém a quem esserótulo foi aplicado com sucesso; o comportamento desviante é aqueleque as pessoas rotulam como tal.

Howard Becker

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“Se o ato é ou não desviante, portanto, depende de como outraspessoas reagem a ele. [...] O simples fato de uma pessoa tercometido uma infração a uma regra não significa que outrosreagirão como se isso tivesse acontecido. Inversamente, o simplesfato de ela não ter violado uma regra não significa que nãopossa ser tratada, em algumas circunstâncias, como se o tivessefeito.

Howard Becker

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O Crime é uma Etiqueta

Em alguns, “gruda” facilmente; em outros, é difícil ser “colada”

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Uso de remédios▣ Não Criminoso

▣ Furto▣ Criminosa

▣ Cleptomania▣ Não Criminosa

A pessoa é pega saindo de uma loja portando um produto pelo qual não pagou. Criminosa ou não criminosa?

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Uso de remédios▣ Não Criminoso

▣ Furto▣ Criminosa

▣ Cleptomania▣ Não Criminosa

A pessoa é pega saindo de uma loja portando um produto pelo qual não pagou. Criminosa ou não criminosa?

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Uso de remédios▣ Não Criminoso

A pessoa é pega saindo de uma loja portando um produto pelo qual não pagou. Criminosa ou não criminosa?

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Teorias do Etiquetamento (Explanação)

▣ Como ocorre o processo de etiquetamento?□ Edward Schur (1971) descreve um processo de 4 etapas:▪ Estereotipagem: faz-se generalizações tendenciosas acerca de um grupo de indivíduos.• Ex.: tratar todos os árabes como terroristas.

▪ Interpretação retrospectiva: processo de olhar o passado para encontrar causas antesnão vistas que expliquem o comportamento indesejável cometido no presente.• Ex.: “agora eu entendo como ele pôde fazer aquilo que fez”.

▪ Negociação entre o etiquetado e aplicadores da etiqueta: quando réu e MinistérioPúblico estão discutindo as acusações, em verdade, eles estão discutindo aprópria etiqueta a ser aplicada no imputado.

▪ Imersão no papel: processo social e psicológico por meio do qual o indivíduoassume o rótulo que lhe foi estipulado.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Pesquisadores estudaram as aplicações de etiquetas por diferentesagências do sistema penal, incluindo a polícia, MP e judiciários, emdetenções, julgamentos e disposições pós-julgamentos.□ Os resultados apontaram que a raça, etnia, gênero e classe social funciona como

facilitador para aplicação da etiqueta.▪ Ex.: um homem negro acusado de atacar uma mulher branca tem um risco

legal maior do que teria se sua vítima fosse outro homem negro (BALDUS;PULASKI; WOODWORTH, 1983; SMITH; VISHER; DAVIDSON, 1984;VITO; KEIL, 1988).

□ A importância da classe social e raça aumenta durante os estágios processuais finais paramenores infratores (MCCARTHY; SMITH, 1986).

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial (“racial profiling”): “Qualquer ação tomada por razões desalvaguarda, segurança ou proteção pública que se funde em estereótipos raciais, decor, etnia, ancestralidade, religião ou lugar de origem em vez de fundada suspeita,para escolher um indivíduo para maior escrutínio ou tratamento diferenciado.”(ONTARIO HUMAN RIGHTS COMMISSION, 2003).□ As alegações de que negros e latinos são desproporcionalmente mais visados que brancos

em inspeções veiculares (“traffic stops”) é amplamente comprovada por uma imensavariedade de pesquisas. A expressão “driving while black” é comumente usada pararetratar esse fenômeno (ZILNEY, 2011).

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ O “Minnesota Statewide Racial Profiling Report”, um estudo acerca do perfil racial

conduzido em 65 jurisdições do estado de Minnesota, em 2003, retratou:▪ Se os policiais tivessem parado motoristas de todas as raças nas mesmas

proporções, aproximadamente 18.800 negros a menos teriam sido parados eaproximadamente 22.500 mais brancos teriam recebido a ordem.

▪ De 43 jurisdições onde houve significância estatísticas nos números colhidos,em 38 delas os motoristas negros foram super-representados.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ “Minnesota Statewide Racial Profiling Report”▪ Em 35 das 37 jurisdições em que foram registradas revistas nos veículos e

ocupantes, negros foram submetidos a mais revistas que brancos.▪ Em 24% das revistas em brancos encontrou-se objetos ilícitos, contra apenas 11% das

revistas realizadas em negros. Em todas as 37 jurisdições onde números de revistasforam coletados, a taxa de descoberta de objetos ilícitos em brancos foi maior que emnegros (COUNCIL ON CRIME AND JUSTICE, 2003).

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ “Final Report To The North Carolina Advocates for Justice Task Force On Racial and

Ethnic Bias”, cobrindo as ordens de parada a veículos de 1º/01/2000 a14/06/2011, chegou a conclusão semelhante:▪ Não obstante os negros comporem apenas 22% da população geral do estado, eles

representam 30% do número total de motoristas parados.▪ Negros são 77% mais sujeitos a serem revistados que brancos, sendo que em revistas

decorrentes ultrapassagem de limite de velocidade a probabilidade sobre para80% e, em casos de avanço de sinal, para 98%.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ “Final Report To The North Carolina Advocates for Justice Task Force On Racial and

Ethnic Bias”▪ A taxa mais alta encontrada diz respeito a revistas pela violação de não usar

cinto de segurança, onde negros possuem uma probabilidade 223% de seremrevistado que brancos!

▪ Quando drogas são encontradas em tais inspeções, 44% dos brancos são detidos,contra 48% dos negros (BAUMGARTNER; EPP, 2012).

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“[A polícia de NY, quando em vigor a “Tolerância Zero”] deteve e revistou narua 45.000 pessoas sob a mera suspeita baseada no vestuário, aparência,comportamento e – acima de qualquer outro indício – cor da pele. Mais de 37.000dessas detenções se revelaram gratuitas e as acusações sobre metade das 8.000restantes foram consideradas nulas e inválidas pelos tribunais, deixando um resíduode apenas 4.000 detenções justificadas: uma em onze [...] perto de 80% dos jovenshomens negros e latinos da cidade foram detidos e revistados pelo menos uma vez [...]A tolerância zero apresenta portanto duas fisionomias diametralmente opostas,segundo se é o alvo (negro) ou o beneficiário (branco)...

Loic Wacquant

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Rio de Janeiro▪ Sílvia Ramos e Leonarda Musumeci (2004) entrevistas com pessoas, bem como

realizaram quatro grupos focais com jovens de distintos segmentos sociais ediferentes regiões da cidade.

▪ Após, aplicou-se um questionário com 79 perguntas a uma amostra de 2.250pessoas, estatisticamente representativa da população carioca na faixa etáriaentre 15 e 65 anos, visando conhecer suas experiências e percepções acerca dasabordagens policiais na cidade, assim como suas visões gerais sobre Polícia,Justiça, segurança pública e discriminação racial e social.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Rio de Janeiro▪ Por fim, realizaram entrevistas abertas com policiais militares de diferentes

batalhões do município – comandantes, oficiais e praças –, com o objetivo decompreender a dinâmica e a lógica das abordagens e blitz, e de captar opiniõesde segmentos da própria PM a respeito dos temas focalizados pela pesquisa.

▪ Mais do que uma orientação deliberadamente discriminatória, o que sepercebe, assim, é a delegação dessas decisões à cultura informal dos agentes.

▪ Um dos entrevistados disse claramente: “A cor, num primeiro momento, pode serimportante para a abordagem.”.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Geová da Silva Barros (2008), buscou identificar, na prática policial, a

existência do componente racial na seleção do indivíduo a ser abordado eaferir a percepção dos policiais quanto ao racismo institucional.

▪ Aplicou questionário para 78 alunos do Curso de Formação de Oficiais (CFO)e 376 do Curso de Formação de Soldados (CFSD), a fim de se aferir a percepção doracismo institucional dos futuros profissionais da Polícia Militar.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ 469 policiais responderam ao questionário e foram realizadas 24 entrevistas,

havendo assim condições de se estabelecer um paralelo entre as percepçõesdos policiais experientes e os que ainda estão nas escolas de formação.

▪ A partir dos Boletins de Ocorrências (BOs) de sete unidades da Polícia Militar, foimontado um banco de dados com 1.538 registros de pessoas que foram consideradassuspeitas ou imputadas em ocorrências policiais.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Exemplos de perguntas feitas nas entrevistas: “O que para você é mais suspeito?”;“Tendo que fazer uma triagem dos veículos a serem abordados, se você estivessetrabalhando no bloqueio, qual a sua prioridade de suspeição para se fazer a triagem pararealizar a abordagem?”; “O que para você é menos suspeito?”.• A situação mais suspeita entre pessoas pretas e brancas, quando na direção

de um veículo, é a preta dirigindo um carro de luxo: 21,7% apontaram que “pretodirigindo carro de luxo” é situação mais suspeita, contra apenas 2,6% de “brancosdirigindo carro de luxo” (BARROS, 2008).

• Não havendo qualquer referência a outras variáveis, pode-se deduzir que acor constitui o “filtro” principal de suspeição.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Entrevistas• Na abordagem de condutores tanto de carro de luxo como popular, os

profissionais tendem a priorizar primeiro os negros, depois os pardos e, porúltimo, os brancos: 77 carros de luxo dirigidos por negros foram parados, contra19 conduzidos por brancos e 33 carros populares dirigidos por negros foram parados,contra 17 dirigidos por brancos.

• O menos suspeito é uma pessoa branca dirigindo um carro de luxo: 17,3% dospoliciais entrevistados entendeu que “branco dirigindo carro de luxo” era asituação menos suspeita em uma blitz, enquanto apenas 5,3 entenderam que“preto dirigindo carro de luxo” era menos suspeito.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Entrevistas• “Fui abordado, mandaram que eu deitasse no chão, tendo outro tratamento o

motorista do carro que foi abordado em seguida.” (Aluno de cor preta).• “Íamos dar aulas de Educação Física, fomos abordados, porém os policiais

interrogaram mais meu amigo por ser negro, estávamos em seu carro.” (Aluno de corbranca).

• “Os policiais abordaram um Vectra e um Fusca. Liberando o primeiro, sem que eles(ocupantes) saíssem do carro; enquanto no segundo todos saíram.” (Aluno de corpreta).

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Entrevistas• Um trio de policiais é informado pela central sobre a existência de uma

pessoa suspeita em determinada rua e, ao chegar na rua, o trio avista doishomens em deslocamento, trajados de forma semelhante, em lados opostos da rua,sendo um branco e outro negro, devendo o trio escolher o primeiro a ser abordado.

• 51,3% abordariam primeiro o negro, contra apenas 8,3% que abordariam o brancoprimeiro; entre os alunos do CFO, 83,1% abordariam primeiro o negro, contra0% que abordariam primeiro o branco (nenhum dos entrevistados abordariaprimeiro o branco!); já nos alunos do CFSD, 67,9% abordariam o negroprimeiro, contra 3,9% que abordariam o branco em primeiro lugar.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Entrevistas• “O cara vai logo ao negro, sempre foi assim, sempre vai ser assim.”, (Soldado).• “De imediato o preto, digo sem medo de errar.” (Soldado).• “O negro, com certeza.” (Capitão).• “Abordaria os dois [...] caso não fosse possível, a tendência seria abordar o negro, por

uma questão cultural.” (Capitão).• “Em primeiro lugar abordaria o negro.” (Capitão).• “Talvez o negro, inconscientemente.” (Tenente).

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Abordagens de iniciativa da própria viatura, registradas em BO.• Em Olinda, das 167 pessoas registradas, 58 foram abordadas a partir da

iniciativa dos componentes da guarnição. Desses, 27 eram pardos, correspondendoa 65,8%; 3 eram brancos (7,3%); e 11 eram pretos (26,8%).

• Segundo o Censo Demográfico (IBGE), os brancos respondiam por 41,12%da população total do município, os pardos por 51,68% e os negros por 5,4%.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

▣ Perfil racial□ Pernambuco▪ Abordagens de iniciativa da própria viatura, registradas em BO.• Isso se repete também nas cidades de Paulista e Recife.• A maioria dos policiais relatou que há uma seleção de prioridade nas abordagens

em virtude da cor e que há policiais negros que também discriminam.• 65,05% dos profissionais têm a percepção de que os pretos são abordados em

primeiro lugar, enquanto 34,95% responderam que não há preferência.

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

Considerações

Deficiências da Teoria

Definições conceituais pobres ou inexistentes e natureza tautológica(as evidências da etiqueta são a presença da etiqueta).

Problemas de pesquisas gerados

pela Teoria

As deficiências teóricas levam à falta de proposições formais(hipóteses) que possam ser testadas

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Teorias do Etiquetamento (Avaliação)

Considerações

Poucas pesquisas Os que testaram a teoria e não encontraram resultados positivosdizem que ela está “morta”

Superestima aimportância da

etiqueta

Muitos jovens membros de gangues tem uma identidade criminosabem estabelecida e não são formalmente etiquetados. Para muitoscriminosos, conseguir uma etiqueta é desejado. Muitas pessoas, apósserem etiquetadas, não voltam a cometer crimes

Falta de forçasmediadoras

A teoria ignora o significado de companhias desviantes em moldar aspossíveis escolhas de vida da pessoa. A etiqueta não desempenha umpapel direto no comportamento criminoso, e sim trazem condiçõesque geralmente levam a pessoa a uma vida de crime

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Teorias do Etiquetamento (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Agentes policiais são figuras centrais nos estágios iniciais de etiquetamento.□ Discricionariedade dos policiais frequentemente determinam se uma pessoa entrará

no sistema de justiça criminal.□ Perfil racial, já estudado.▪ Certos tipos de criminosos despertam diferentes respostas dos policias.

▣ Influência no Judiciário□ Sujeitos processuais exercem papel significativo no processo de etiquetamento.□ Julgamentos formalizam e popularizam estereótipos através do processo criminal.□ As Cortes têm pouco poder em reverter a etiqueta, mesmo que absolva o acusado.

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“...o processo penal, [...] na sociedade moderna de comunicação de massa tende a setornar, por si mesmo, uma sanção talvez mais odiosa que a própria pena tradicional[...] é indubitável que a sanção mais temida na maior parte dos processos penais não épena – quase sempre leve ou não aplicada –, mas a difamação pública do imputado,que tem não só a sua honra irreparavelmente ofendida mas, também, as condições eperspectivas de vida e de trabalho; e se hoje pode-se falar de um valor simbólico eexemplar do direito penal, ele deve ser associado não tanto mais à pena mas,verdadeiramente, ao processo e mais exatamente à acusação e à amplificação operadasem possibilidade de defesa pela imprensa e pela televisão.

Luigi Ferrajoli

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Teorias do Etiquetamento (Influência)

▣ Influência no Judiciário□ Os julgamentos podem ser uma cerimônia de degradação pública: seu propósito é

encerrar o processo de criminalização iniciado pela detenção e denúncia.□ A sentença muda a etiqueta de “acusado” para “condenado”.

▣ Influência na Execução Penal□ Antecedentes criminais diminuem as chances de emprego.□ Alguns estados americanos, como técnica de redução de danos, removeram

impedimentos legais para obtenção de licenças para emprego.▪ NY proíbe a negativa de emprego ou licença em razão de antecedentes criminais, como

regra (exceção no caso de relação direta entre a ofensa e o trabalhoperseguido, como um acusado de tráfico de drogas trabalhando em umafarmácia).

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Teorias do Conflito: Conflitos de Grupos (Explanação)

▣ Você é membro de uma minoria racial ou étnica? O que o termo“minoria” significa? É apenas uma questão numérica ou algo mais?

▣ Você já participou de uma ação social, movimento político ou grevista?Você viu policiais próximo ao local e imaginou o que eles estavampensando ou o que iriam fazer?

▣ Você provavelmente já viu manifestantes na TV, expressando suasopiniões contra alguma autoridade. Você se recorda como e por que vocêreagiu ao que viu?

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Teorias do Conflito: Conflitos de Grupos (Explanação)

▣ As próximas teorias procuram focar nas relações entre “aqueles que têmmuito” e “aqueles que tem pouco”, bem como no que transparece por causadessas disparidades.

▣ Nós podemos expressar essas injustiças em termos “poder”.□ Poder, nesse contexto, pode ser definido a habilidade de um grupo para realizar seus

desejos ou políticas, atingir seus objetivos ou intenções e influenciar o comportamento dosoutros, quer os outros compartilhem as mesmas visões, metas, intenções ou desejos,quer não.

▣ Alguns grupos possuem poder e desejam mantê-lo; outros não têm poder enem desejam tê-lo; já outros desejam poder, o que os leva a contendas comoutros grupos.

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Teorias do Conflito: Conflitos de Grupos (Explanação)

▣ Conflito ocorre quando dois ou mais grupos políticos, sociais ou culturais – cadaum com suas identidades, interesses e metas – competem pelo mesmo espaçofísico, recurso, posição social ou poder na mesma comunidade.

▣ Os criminólogos se interessam nas conexões entre conflito e crime.

▣ Para explicar essas conexões, duas teorias surgiram: a Teoria do Conflito deGrupos e a Teoria da Resistência à Norma.□ Embora ambas partilhem alguns elementos e ideias centrais, elas possuem

diferenças significativas.

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Teorias do Conflito: Conflitos de Grupos (Explanação)

▣ George Vold (1896-1967) focou seus estudos em grupos de interesses e oproblema que eles criavam.□ Vold (1958) via os grupos em si mesmo como fonte de conflitos, já que ali existem várias

pessoas perseguindo as mesma oportunidades, que são limitadas.□ Ele, contudo, incorporou uma visão pluralística em sua teoria:▪ A sociedade consiste de diversos grupos diferentes, alguns com interesses sobrepostos e

compatíveis; entretanto, outros interesses são distintos e incompatíveis.

▣ Os conflitos de grupos ocorrem quando eles procuram expandir ou proteger seusinteresses.

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Teorias do Conflito: Conflitos de Grupos (Explanação)

▣ Vold disse que grupos em posição de autoridade entrelaçam seus interesses com alei, como forma de proteger aquilo que lhes é caro.□ Como aqueles em posição de autoridade baseiam as leis nos seus valores e interesses, a

chance de criminalizar seu comportamento é baixa, mas aumenta para aqueles com valoresconflitantes.

▣ Vold via a legislatura, enquanto arena de compromissos e acomodações,como campo de batalha central.□ Enquanto um grupo quer criminalizar algo que ameace seus interesses, outros

grupos enxergam esses esforços como uma ameaça a seus próprios interesses.

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Teorias do Conflito: Conflitos de Grupos (Explanação)

▣ O crime, para Vold, é o comportamento de grupos de poder reduzido, que nãopossuem influência suficiente para defender seus interesses e necessidades.

▣ Como estão desconectados do processo legislativo, estão mais sujeitos a teremseus comportamentos criminalizados.

▣ Vold reconheceu que sua teoria somente explicava certos tipos de crimes: atoscriminosos individuais que resultavam do conflito entre dois grupos,quando as visões opostas dos membros de cada grupo colidiam.

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Teorias do Conflito: Resistência à Norma (Explanação)

▣ Austin Turk (1934) propôs uma visão diferente acerca das relações entreconflito e crime.

▣ Turk olhou criticamente para o papel da lei em criar conflitos (1969).□ Inicialmente, ele diferenciou entre aqueles que derivam seu poder das instituições

sociais e aqueles que não.□ A lei, disse Turk, é igual a poder: é uma arma nos conflitos sociais.□ Enquanto visões pluralistas e consensualitas, enxergam a lei como uma forma de

resolver disputas, a lei também pode gerar conflitos ou fazer as disputas ainda piores.

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“[A lei é] um conjunto de recursos cujocontrole e mobilização pode, em certasmaneiras [...] levar ao conflito, em vezde levar para longe dele.

Austin Turk

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Teorias do Conflito: Resistência à Norma (Explanação)

▣ Para Turk, o conflito se foca naqueles em posição de poder (autoridades) enaqueles em posições mais fracas e subordinadas.□ Sua teoria descreve:▪ As condições que causam a criminalização de certos comportamentos;▪ As circunstâncias que determinam quem se torna um criminoso;▪ As taxas em que esses dois eventos ocorrem.

□ Aqueles com baixo poder são mais propensos a sentir a “força da lei”, o que éespecialmente verdade quando sua cultura difere daquela das autoridades.

▣ Como a lei consiste em normas culturais escritas e normas decomportamento social, a ordem social nada mais é que uma solução temporáriade conflitos entre vários grupos. As condições que antecedem a volta do conflitosão 3:

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Teorias do Conflito: Resistência à Norma (Explanação)

Condições Antecedentesao Conflito

O grupo no poder (autoridade) exibe grande consenso entre suasnormas sociais e culturais (concordância normativa)

Outro grupo, a resistência, está sujeita às leis das autoridades; esse grupoé tão comprometido com a “santidade” de seu conjunto de normassociais e culturais quanto às autoridades

Cada grupo, autoridades e resistência, exibem concordância normativa comseu próprio conjunto de normas, mas não sobre o mesmo conjunto de normas.

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Autoridade Resistência

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Teorias do Conflito: Resistência à Norma (Explanação)

▣ 3 características da autoridade e da resistência determinam a probabilidadedo conflito:

Probabilidade do Conflito

a) Nível de concordância entre cada grupo e suas normas culturais e decomportamento: quanto maior o nível de concordância, maior aprobabilidade de conflito

b) Nível de organização: quando a resistência é organizada, maior é aprobabilidade de conflito

c) Nível de sofisticação: quanto o maior o nível de sofisticação, maioresas chances de um grupo manipular o outro, diminuindo a probabilidade deconflito

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Teorias do Conflito: Resistência à Norma (Explanação)

▣ Da mesma forma, 3 fatores determinam se o conflito redundará emcriminalização:

Condições de

Criminalização

a) Significado atrelado aos atos da resistência pelas autoridades deaplicação da lei de primeira linha (polícia) e a medida em queautoridades maiores de aplicação da lei (juízes e promotores)compartilham esse significado

b) O poder que as agências de aplicação da lei exercem sobre aresistência

c) Realismo dos Movimentos de Conflito: a criminalização é maisprovável de correr quando um lado não possui realismo nos possíveisresultados

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A Lei Gera Conflitos

Quando a autoridade e resistência exibem alto nível de concordância normativa

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Teorias do Conflito (Avaliação)

▣ Testes da Teoria da Resistência à Norma geralmente se focam naresposta de agentes de aplicação da lei de primeira linha.□ Esses estudos examinam encontros da polícia com os cidadãos, incluindo

ligações de violência doméstica (GREENLEAF; LANZA-KEDUCE, 1994, 1995,2000) e revistas pessoais que terminaram de formas variadas (WEIDNER,TERRILL, 2005).

□ De modo geral, essas pesquisas tendem a suportar as ideias de Turk.

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Teorias do Conflito (Avaliação)

Considerações

Falta de atenção a motivações

individuais

Essa perspectiva do conflito pouco diz sobre o porquê das pessoascometerem crimes. Como as teorias proveem explicações a nívelgrupal (nível macro), elas articulam mais a motivações de grupossociais que as dos criminosos em si (nível micro)

O foco da teoriade Vold é muito

restrito

O próprio Vold confirmou que sua teoria somente poderia explicarcertos tipos de crimes. Sua inutilidade como uma teoria geral docrime é bastante evidente

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Teorias do Conflito (Avaliação)

Considerações

O nível de abstração da

teoria de Turk a torna intestável

Certos conceitos de Turk (“realismo”, “concordância normativa”,“resistência à norma”, etc.) são praticamente impossíveis de seremtestados

Pouca capacidade de guiar políticas

públicas

São teorias muito abstratas e difíceis de traduzir em políticas oupráticas concretas

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Teorias do Conflito (Avaliação)

Considerações

Leis não “causam” comportamentos

Sem a lei, não haveria crimes, mas a presença da lei não cria ou causacrimes

Pouca eficácie em prever eventos

futuros

As condições que explicam os conflitos não nos dizem qual conjuntode circunstâncias produzem o crime e quais não o produzem

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Teorias do Conflito (Influência)

▣ Influência no Executivo□ Disputas entre policiais e administração e entre policiais e população.▪ Nas ocasiões em que policiais a administração não chegam a um entendimento, uma

greve pode surgir. A administração pode criminalizar os policiais envolvidos.Muitas dessas greves se tornaram violentas quando os policiais acreditavamque modos pacíficos tinham se esgotado.• Vold (1958) disse que policiais podiam se sentir desconectados do processo

legislativo e em conflito com as leis existentes (cf., também, AYRES, 1977;BOPP; CHIGNELL; MADDOX, 1977).

▪ Nas interações com o público, há críticas de grupos minoritários acerca do perfil racial.

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Teorias do Conflito (Influência)

▣ Influência no Judiciário□ Cortes podem desempenhar papel central ao julgar disputas entre grupos

conflitantes, caso alguns deles judicialize a questão.▪ Ex.: consumo de drogas, cotas raciais, aborto, pesquisa com células tronco,

vaquejadas, etc.

▣ Influência na Execução Penal□ Facções criminosas criam conflitos em estabelecimentos penais.□ Agentes penitenciários enquanto autoridades e detentos enquanto resistência.□ Agentes penitenciários que não entendem a diversidade cultural ou racial dos detentos.□ Rebeliões e respostas (in)apropriadas das autoridades.

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Você já viu as prisões nacionais? Além da tendência de partilharem damesma raça ou etnia, os detentos também provêm da mesma classesocial.

▣ Você acredita que os governos já violaram as leis? Caso positivo, que leis?Quem determina a culpa ou a inocência? Qual o castigo apropriado paraum governo que viola a lei?

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Um elemento comum a todas essas perguntas é aquilo que a filosofiasociopolítica conhece como Marxismo.

▣ Durante o século XIX, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) descreveram as nações industrializadas como sociedades divididasentre capitalistas (detentores dos meios de produção) e proletariados(trabalhadores, que vendem sua força de trabalho).

▣ Para Marx, o poder derivava da propriedade privada e do controle dos meiosde produção.□ Capitalistas usam o poder para subjugar os trabalhadores, garantindo a consolidação das

riquezas em suas mãos.

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Por conta dessa divisão, a sociedade é caracterizada por uma luta de classesentre capitalistas e proletários.□ Nessa luta, capitalistas mobilizam recursos do governo e da religião para proteger suas

posições de vantagem.

▣ Ao lado dos proletariados e dos capitalistas, existem ainda:□ Lumpemproletariado (ou lumpesinato): camada situada abaixo do proletariado,

formada por frações miseráveis e desprovidas de consciência política e de classe);□ Burguesia: classe média;□ Pequena burguesia: comerciantes abastados e funcionários públicos de alto escalão.

▣ Capitalistas tendem a definir os comportamentos ameaçadores do lumpesinato eproletariado como crimes.

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Um conceito fundamental no pensamento marxista é a falsa consciência.□ A falsa consciência existe quando proletários (e até membros da classe média)

acreditam que há consenso sobre problemas sociais críticos, como o crime e a justiça.□ Forma-se uma visão sistemática deformada do mundo, confundindo a aparência das

coisas com o seu verdadeiro conteúdo.

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Um conceito fundamental no pensamento marxista é a falsa consciência.□ Uma parte crucial da falsa consciência é a noção de todos se beneficiam do

capitalismo e de sua forma política de imposição (a democracia burguesa).▪ Como parte desse “pacote”, os capitalistas promovem doutrinas agradáveis de se

ouvir, como liberdade de imprensa (cujo principal beneficiário é aquele quecontrole a imprensa) e liberdade de expressão (cujo principal beneficiário éaquele que controle a mídia de massa).

▪ No que tais direitos ajudam o operário sem emprego ou sem plano de saúde?□ Marxistas acreditam que a inevitável revolução derrubará o capitalismo e dará

início ao comunismo. Para que isso ocorra, deve-se expor a falsa consciência.

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“... a ideologia é um processo que o chamado pensador realiza com consciência,mas com falsa consciência. As verdadeiras forças motoras que o movem são-lhe desconhecidas [...]. Ele também imagina forças motoras falsas ouaparentes. Pelo fato de se tratar de um processo intelectual, ele descreve oconteúdo e a forma do pensamento como dos seus predecessores: trabalhaapenas com a documentação intelectual que toma sem a olhar de perto comoproveniente do pensamento e sem pesquisar se tem uma origem mais distantee independente do pensamento.

Karl Marx Friedrich Engels

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Marx pouco escreveu sobre crime e criminosos, embora tenha tratado dapena de morte (1853) e da disseminação e impacto da lei penal (1862).

▣ Engles escreveu que o crime era um reflexo das inequidades inerentes aocapitalismo (1845).

▣ Seus seguidores, contudo, escreveram bastante sobre crimes a partir dasideias centrais de Marx e Engles.

▣ Criminólogos marxistas veem o crime como um produto inevitável docapitalismo.

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Segundo pregam, o capitalismo leva a um sistema de classes com riquezasseveramente diferentes entre elas.□ O sistema social resultante do capitalismo é um em que o comportamento do mais

fraco tem chances maiores de ser definido como crime que o comportamento dos poderosos.

▣ Poder e riqueza geram alienação e desmoralização.□ Alienação: sentimento de que exclusão e afastamento da sociedade, especialmente

dos frutos do próprio trabalho;□ Desmoralização: produto da alienação, com o enfraquecimento do espírito, vontade,

produtividade, disciplina e empatia.

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Membros alienados e desmoralizados das classes baixas reagem de modos queos capitalistas veem como desviantes.□ O resultado disso é o crime.

▣ O holandês Willem Bonger (1876-1940) provavelmente foi o primeirocriminólogo marxista.□ Bonger (1916) dizia que o capitalismo promovia egoísmo excessivo, encorajando os

cidadãos a buscarem fins que os beneficiem, sem se preocupar com os outros.□ Aqueles com poder criminalizam apenas a ganância dos pobres, permitindo que eles

próprios persigam seus desejos com impunidade.□ Os pobres cometem crimes devido a uma sensação de injustiça criada pelo

capitalismo. O socialismo é a solução.

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Teorias Marxistas (Explanação)

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Teorias Marxistas (Explanação)

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ “O princípio da insignificância incide quandoo tributo iludido pelo delito de descaminho forde valor inferior a R$ 10.000,00, presentes oprincípio da lesividade, da fragmentariedade,da intervenção mínima e ante o disposto noart. 20 da Lei nº 10.522/02, que dispensa aUnião de executar os créditos fiscais em valorinferior a esse patamar.” (STF, HC100942/PR, Rel. Min. Luiz Fux, DJe06/09/2011)

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ 2. Em 26.03.2012, foi publicada a Portaria nº75 do Ministério da Fazenda, alterando ovalor inscrito no artigo 20 daLei 10.522/2002 para R$ 20.000,00.

▣ 3. Desse modo, se o Fisco dispensa cobrança detributo nesse montante, não há comoconsiderar materialmente típica a conduta doacusado na seara penal...” (TRF/3, ACR7002, Rel. Des. Fed. Élcio Castro, DJe13/08/2012)

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Teorias Marxistas (Explanação)▣ ... não há como se estender as disposições

constantes da Lei n.º 10.684⁄03 ao crime defurto... (STJ, HC 159.609⁄RS, Rel. Min.Laurita Vaz, DJe 28.02.2012)

▣ “Comprovado o pagamento integral dosdébitos oriundos da falta de recolhimento decontribuições sociais, ainda que efetuadoposteriormente ao recebimento da denúncia,extingue-se a punibilidade, nos termos do 9º, §2º, da Lei 10.684/03.” (STJ, HC84798/GO, Rel. Min. Arnaldo EsteveLima, DJe 03/11/2009)

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ No fim da década de 1960, uma corrente criminológica marxista foibastante popular, focando no papel da lei, agentes públicos de aplicação da lei edo governo em subjugar a classe trabalhadora.□ Richard Quinney (1934) é o maior representante dessa corrente.

▣ Segundo Quinney (1973), o crime é melhor entendido como um produto de comoa classe capitalista dominante estabelece seu controle sobre aqueles que ela deveoprimir.□ Quinney clamava pela desmistificação da falsa consciência sobre o crime, uma criação

estatal que permitia a continuidade da opressão: “a lei é tão fora de seu entendimentoque a ele só cabe aceita-la.”.

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“A questão da “lei e ordem” estava também se transformando em umeufemismo racista para suprimir as demandas de negros nos guetosurbanos [...] A aplicação da lei pode ser, ela mesma, uma forma deviolência instantânea. [...] O crime se tornou uma arma política que éusada em vantagem daqueles que controlam o processo de governo.[...] Não pode haver paz sem justiça social, e sem justiça social e sempaz, há o crime.

Richard Quinney

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Teorias Marxistas (Explanação)

▣ Quinney (1980) desmistificou o crime definindo suas várias formas,ligando-as à luta de classes marxista.□ Os crimes podem ser de 2 formas:▪ Crimes da classe operária;▪ Crimes da elite.

▣ Vejamos as características de cada um deles.

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Teorias Marxistas (Explanação)

Crimes da Classe

Operária

a) Crimes de Acomodação → Não desafiam a ordem social, e sim têmlugar nela (ex.: furto, onde o autor toma a propriedade da vítima)

b) Crimes de Resistência → reações da classe operária à exploração pelaelite (ex.: grupos revolucionários que praticam assaltos à banco,sequestro, homicídios, etc.). Eles se veem como presos políticos

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Teorias Marxistas (Explanação)

Crimes da Elite

a) Crimes de Dominação e Repressão → Crimes para proteger seuspróprios interesses, propriedades e lucros (ex.: cartelização, venda deprodutos defeituosos, crimes contra a organização do trabalho, etc.)

b) Crimes de Controle → Quando se valem do aparato estatal paraconter as classes baixas (ex.: usar polícia para conter greves,manifestações e protestos, etc.)

c) Crimes de Governo → atos criminosos pelos quais o governo viola osdireitos fundamentais do cidadão (ex.: operações militares que violama soberania de outras nações, “terrorismo estatal”, financiamento deditaduras, etc.)

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O Crime é Modo de Dominação

Da classe operária pela classe dominante

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Teorias Marxistas (Avaliação)

▣ Os criminólogos marxistas viam as pesquisas criminológicas comoapoiadoras dos interesses do estado (GIBBONS, 1984; NETTLER, 1984, p.ex.).

▣ Adotam técnicas analíticas mais comuns ao jornalismo que às ciênciassociais (FRIDAY, 1977).

▣ Ignoravam evidências contrárias às suas hipóteses.

▣ “...mais uma ideologia do crime que uma teoria do crime” (AKERS, 1979 e1994; INCIARDI, 1980).

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Teorias Marxistas (Avaliação)

Considerações

Leis não “causam” comportamentos Muita ênfase no papel da lei em criar os crimes

Evitam análises quantitativas

Por verem análises quantitativas como uma extensão da“criminologia positivista”, evitam esses estudos em seus escritos

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Teorias Marxistas (Avaliação)

Considerações

Ignoramevidências contrárias

Não levavam em conta evidências contrárias as suas hipóteses ouexplicações alternativas

Impossível de ser totalmente testada

É impossível testar as teorias marxistas em toda a sua extensão, poisdefinições operacionais e conceituais que passem, ao mesmo tempo,pelos filtros científicos e ideológicos são impraticáveis

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Teorias Marxistas (Avaliação)

▣ Influência no Executivo□ Marxistas veem a polícia como os primeiros ofensores quando se trata de crimes de

controle.▪ O policial vê seu trabalho, ao mesmo tempo, como socialmente estigmatizante e

repleto de contradições.• Devem aplicar a lei contra os “lixos” do sistema capitalista, o que leva à

população a ver o trabalho da polícia com desdém e como desagradável (estigma).• Os policiais frequentemente sentem que tem de violar a lei para preservar a

ordem social (buscas sem mandados, revistas sem fundadas suspeitas, torturapara obter confissões, etc.). Essa contradição é sentida pelos policiais, que sesentem abandonados quando as autoridades questionam seu comportamento(SKOLNICK, 1966).

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Teorias Marxistas (Avaliação)

▣ Influência no Judiciário□ Marxistas veem as cortes com suspeitas.▪ Judiciário reflete os valores capitalistas. Os juízes são, predominantemente,

homens ricos, velhos e brancos.▪ Por vezes, os pobres parecem ganhar, mas isso simplesmente ocorrer quando o

julgamento serve como proteção aos capitalistas (CHAMBLISS; SEIDMAN,1982).

▪ Mesmo quando pegos, criminosos das classes sociais altas evitam seremprocessados e presos mais frequentemente que os de classes mais baixas.• Clayton Mosher e Hagan (1994) analisaram padrões de sentenças contra

acusados de tráfico no Canadá, de 1908 a 1953. Os autores apontaram que ospresos de classe média e alta receberam sentenças mais brandas que os declasse baixa.

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Teorias Marxistas (Avaliação)

▣ Influência na Execução Penal□ Na perspectiva marxista, prisões servem para controlar a classe perigosa: o

lumpesinato.□ Além disso, suprem mão de obra barata.□ Crimes dos menos poderosos resultam em prisão; crimes das classes altas resultam em

multas e, quando muito, pouco tempo na prisão.

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3.Encerramento

Breve despedida

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“Se eu vi mais longe, foi por estar sobreombros de gigantes.

Isaac Newton

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Sejam Gigantes

Sobre os ombros dos quais a sociedade do futuro irá se apoiar

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Obrigado!proffelipevianna.wordpress.com