Teorias Da Democracia

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    1/59

    1

    Teorias da Democracia

    Professor Tiago Fernandes (2014)

    1. O que a Democracia? Os clssicos

    (TucdidesPericles Funeral Oration; PlatoThe Republic; AristtelesPolitics)

    O que a democracia? Os clssicos. Democracia: forma como os antigos (antiguidade

    clssica) conceptualizaram aquilo que um regime democrtico e uma democracia.

    A democracia nasceu na Grcia Antiga. caracterizado por um perodo de 200

    anos no perodo da idade de outro e foi aqui que foram feitos os factores contra e a

    favor do regime democrtico. Para alm disso vamos falar das prticas democrticas e

    das instituies democrticas. Outras prticas perderam forma: mtodo do sorteio,

    por exemplo, dando aso ao mtodo do sufrgio. Tambm importante vermos como a

    histria da democracia a histria do regime democrtico. Atenas era a nica

    sociedade democrtica no perodo da antiguidade clssica e depois h aqui ou ali

    lampejos de democracia sobretudo em sociedades perifricas, em pequenas escala,

    que do ponto geopoltico eram pouco importantes. No final da idade mdia

    encontramos algumas tribos germnicas que escolhiam os seus reis por aclamao

    directa (Escandinvia, zonas da Alemanha). H quem diga que muitas das formas

    democrticas do sculo XIX so descendentes destas tribos. A forma de democraciacantonal, local existiu um pouco por toda a Europa e interruptamente. Cidades

    italianas, j no norte, tambm tinham alguns pontos de democracia das tribos.

    De uma forma geral, todas as formas de democracia na Europa tiveram a sua

    base na democracia ateniense. A poca de Pricles, a poca de ouro, a chamada

    poca fundadora da democracia.

    O que que se entendia por democracia na Antiguidade Clssica? (Tucdides, que

    narra a guerra do Peloponeso, com Atenas e Esparta)

    Atenas caracterizada por um poder dado aos juzes, um poder dado pela

    assembleia. Poder que os juzes tinham na justia, controlo da corrupo, dos abusos

    do poder e a existncia de uma cultura poltica e cvica entre os cidados e praticas

    institucionais que se podem designar democrticas.

    Tucdides tenta pela primeira vez sistematizar o regime democrtico. A guerra

    do Peloponeso uma descrio da guerra mas tambm faz algumas reflexes. O que

    que ele considera tpico de um regime democrtico? Para isso ele utiliza o papel de

    Pricles (lder ateniense, grande estadista, lder de Atenas contra Esparta) para falar da

    democracia, faz um discurso pelos soldados que deram a vida pela democracia

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    2/59

    2

    ateniense. Aproveita isto para apelar democracia e sua continuao, atravs do

    discurso emotivo.

    Pricles reflecte: a nossa constituio no imita as leis dos pases vizinhos,

    somos um padro que os outros imitam. A nossa forma de governo favorece a maioria

    em vez da minoria e por isso que chamada uma democracia. Se olharmos s nossasleis elas providenciam justia igual para todos nos seus interesses individuais,

    independentemente de diferenas privadas entre homens. A participao no vida

    publica no deve ser barrada por pobreza ou por classe. A vergonha no ter pobreza

    mas impedir que cidados validos (embora pobres) possam participar nas valncias.

    Esta cultura democrtica tambm se estende vida privada, ou seja, a democracia

    tambm uma prtica comum uns com os outros na sua vida privada. Ele continua: no

    tem inveja uns dos outros.

    Reflexo feita pelo professor: D a ideia de que a democracia um regime raro

    ou de excepo. Diz que um modelo para a humanidade, pois nas circunstncias decrise ou de perodo militar eram as nicas democracias no contexto geopoltico da

    poca. Porque que sobrevivem nas crises? Os regimes no democrticos conseguem

    mobilizar os cidados pela fora e portanto tm uma vantagem pelo menos inicial para

    realizar os objectivos a que se prope; os regimes democrticos no podem fazer isso

    porque a liberdade impede a mobilizao pela fora. Tm de mobilizar os cidados

    pelo exemplo, pelo consentimento. E por isso que so importantes estes discursos de

    excepo, onde mostram o que o melhor, enfatizando as liberdades prprias dos

    regimes democrticos. Aquilo que define uma democracia rule by the many and not

    by the few: governo do povo pelo povo e no governo de uma pequena parte dasociedade. A democracia a forma de regime que presta ateno s maiorias, s

    classes populares, com menos ou mais recursos (toda a gente). O regime democrtico

    um regime que prefere a governao das maiorias em detrimentos das minorias,

    embora as elites (minorias) tentassem sempre arranjar uma forma de se justificar

    perante a maioria. A democracia tem como objectivo a justia igual entre todos,

    embora cada um seja como pessoalmente (mais altos, mais baixos, mais gordos, mais

    magros, mais inteligentes, menos inteligentes).

    Aquilo que caracterstico de uma democracia: independentemente das

    diferenas entre os indivduos, todos so iguais do ponto de vista da justia e do ponto

    de vista poltico, com os mesmos direitos e deveres, mesmo com as suas diferenas

    inatas ou adquiridas. claro que Atenas no funcionava totalmente desta forma, mas

    num grupo especfico funcionava assim e era vista como democracia. O professor

    pensa que Atenas no era um modelo muito prximo como Tucdides afirma. por

    isso que o filsofo Dahl vai falar numa oligarquia, numa aproximao democracia.

    Um regime democrtico pressupe a eliminao de desigualdades de classes e torna

    toda a gente apta para participar nos domnios pblicos (no preciso terem

    exactamente a mesmo igualdade socioeconmica). A desigualdade econmica ou

    outros s so justificadas se no interferirem se todos possam participar de forma

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    3/59

    3

    igual. A participao no fica condicionada por nenhum problema. Em que sentido

    podemos afirmar que as escolhas individuais e pessoais so mais ou menos

    democrticas? Ele d algumas pistas: no tm inveja uns dos outros, ou seja,

    democracia um regime que permite a cada um ter a sua vida, tendo em conta a

    igualdade. H um respeito pelas escolhas individuais de cada um. Outro conceitopresente na democracia : proteco dos mais fracos e tentativa de se abolir a

    pobreza. H uma vontade e uma conscincia de que se numa sociedade h uma parte

    dos cidados que no tm subsistncia mnima, devem ser ajudados pelo outro.

    Democracia:

    1 regime de excepo

    2 regime de igualdade perante a lei

    3 regime de igualdade poltico

    4regime de meritocracia5 regime que pode ter uma cultura poltica nas relaes sociais

    Gnese da ideia de Democracia:

    A gnese desta ideia tem por base o discurso de Pricles Pericles Funeral Oration de

    Tucdides, em que um regime democrtico se caracteriza pelo conjunto de indivduos,

    cada um com as suas diferentes caractersticas (capacidades naturais distintas,

    diferenas socioeconmicas (ricos/pobres) e em que, independentemente destas

    capacidades, todos os indivduos so iguais. Numa democracia o principio fundamental a igualdade perante a lei, a ideia de total igualdade.

    Segundo Pricles, as diferenas entre indivduos no devem barrar o individuo de

    servir o Estado (participao na actividade poltica, cargos polticos_gesto poltica).

    Robert Dahl defende que o principal princpio da democracia a igualdade polticaas

    diferenas a nvel socioeconmico ou de capacidades no podem interferir na

    actividade poltica.

    Outro aspecto a ideia de que a democracia o governo de todos. Uma democracia

    uma forma de governo onde os interesses da maioria se devem sobrepor aosinteresses da minoria, sendo que se entende por maioria os grupos da sociedade com

    menos influncia e menos recursos.

    De acordo com Tucdides, o regime democrtico deve fundar-se na igualdade perante

    a lei e, segundo os atenienses, a forma de um regime democrtico se organizar e dar

    voz s minorias atravs do sorteio (esta era a maneira de abolir as faces politicas),

    evitando-se a oligarquia. A primeira ideia de democracia uma concepo anti-

    partidos, anti faces - democracia ateniense. A ideia que est subjacente a este

    mecanismo o de evitar a cristalizao de faces organizadas na gesto desociedade, evitar a existncia de oligarquias, mas tambm alcanar decises no por

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    4/59

    4

    maioria, mas por consenso e deliberao colectiva. As democracias so regimes que

    tendem para a deliberao colectiva, e neste sentido so superiores, visto que so

    mais racionais.

    Tucdides, na Orao Fnebre de Pricles, diz que a democracia tem no s estas

    caractersticas institucionais e procedimentais, mas tambm um regime onde os

    cidados no se sentem invejosos dos seus vizinhos mas ficam contentes se eles

    prosperam na vida. Afirma tambm que os atenienses elaboram festas colectivas,

    sobressaindo um princpio essencial: deve existir um equilbrio entre a participao

    colectiva e a defesa da privacidade.

    Tucdides diz que h uma dimenso social e cultural da democracia. Existe um

    tipo de comportamento, uma predisposio moral no comportamento dos cidados:

    noo de privacidade (ideia de que h uma dimenso da interaco individual e da

    forma dos cidados se relacionarem uns com os outros que relevante para ademocracia. Esta privacidade proporciona um refrescamento da sua vida poltica e da

    sua vida pessoal enquanto individuo autnomo), confiana generalizada nos membros

    da cidade democrtica.

    Raridade da democracia na histria das sociedades: a democracia a excepoe no

    a regra.

    O que a democr acia? Os clssicos.Diversas formas de viso da democracia

    Viso de Tucdides: (pr-democrtico)(1) Democracia como um conjunto de instituies, onde se utiliza a eleio por sorteio.

    No s um conjunto de regras institucionais mas tambm um conjunto que se pode estender srelaes sociais (cultura, economia e sociedade em geral). um conjunto de instituiesreguladoras de obteno de cargos mas que se podem estender s relaes entre os indivduos.(2) Uma democracia uma sociedade onde se reduzem as desigualdades, sendo um fenmenosocial. Uma democracia tende a gerar cidados mais abertos, mais tolerantes. Este um aspectoimportante (temos aqui duas dimenses importantes): entender a democracia como um sistemade regulao do sistema poltico. Exemplo de Barington Moore: democracia indiana temproblemas porque ainda tem muitas desigualdades, porque a mudana foi a nvel poltico e no a

    nvel social. (3) A ideia de que a democracia pressupe uma igualdade natural entre os homens,logo no h homens superiores a outros.Os tribunais gregos atenienses pela primeira vez criaram a figura do acusador e do

    defensor com o objectivo de resolver disputas. O dilogo entre iguais muito importante porqueestimula o debate e a crtica que est tambm associada a esta emergncia de racionalidade eque transborda at para as actividades culturais e literrias. A filosofia vertida em forma dedilogo.

    Opositores democracia

    Tambm no perodo da Atenas clssica surgem vrias teorias que olham para a democracia deum ponto de vista critico, que apontam os seus problemas.A democracia como prtica social

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    5/59

    5

    (que em Tucdides muito uma prtica cultural) vai ter outro entendimento em Plato e

    Aristteles.

    As democracias podem ser aprofundadas e melhoradas. Democracia como conjunto de

    dinmicas sociais. um processo inacabado, no existem democracias acabadas, mas sim

    democracias em processo de democratizao ou desmocratizao.

    Viso dePlato:O primeiro grande crtico foiPlato:um regime democrtico corre sempre o risco do

    populismo: quando as massas so mobilizadas por oportunistas que procuram cortejar a opiniopblica a todo o custo, acedendo a todos os interesses da opinio pblica, prometendo oimpossvel, tudo para chegar ao poder. Utilizando o apoio das massas chegam ao poder eacabam com a democracia. Plato defende que em todas as democracias h o risco dopopulismo. A ideia que Plato tem daquilo a que ele chama de maioria diferente do que

    acontecia em Atenas, pois, para Plato, a maioria corresponde ao conjunto de pessoas que tem opoder. E esta outra crtica: existe um espirito da satisfao do maior nmero e dos interessesda maioria (maioria funciona enquanto faco). Do regime democrtico vai emergir, comoconsequncia, um regime tirnico, ou seja, num contexto onde as massas mandam, vai haver umrisco de existir um tirano. Para Plato nenhum deles realiza a procura do belo e da verdadeporque isso s existe naqueles que esto treinados para tal, os filsofos. O regime democrtico um regime que nunca vai ser um regime justo porque as massas vo ser sempre cortejadas porlderes populistas que no tm capacidade suficiente para distinguir o que a justia. Portanto,Plato rejeita a igualdade total entre os homens. O seu regime ideal o que chega a acordo como justo, belo e igual e a s os filsofos conseguem chegar.

    Para Plato h duas questes importantes: h um grupo na sociedade que est a mandatoda lei da histria para governar (ou por razo do seu especial conhecimento filosfico ou poruma razo divina). Ideia de que para Plato existe um conhecimento absoluto sobre as coisas:existe a possibilidade de definir o que o justo de forma atemporal. Mas num regimedemocrtico isto no preciso: baseado na conflitualidade de interpretaes destas questes eportanto uma democracia mais um processo baseado numa ideia de igualdade poltica.

    verdade que o risco do populismo sempre um risco e no regime democrtico aindamais grave; problema da qualidade dos governantes. Nas situaes de crise, as democracias somais vulnerveis.

    Plato concorda que existe uma dinmica sociolgica nos processos de democracia e

    democratizao. Considera que a democracia o que emerge da luta das massas contra as

    minorias oligrquicas (baseadas no sangue ou no dinheiro) e de onde as massas saem

    vencedoras. A democracia que resultou em Atenas foi resultado de um longo processo de

    conflito entre classes sociais, nomeadamente ricos contra pobres. Existe assim uma ligeira

    diferena em relao ao entendimento do que o processo de democratizao para Tucdides,

    que enfatizava mais a cultura democrtica, a relao dos cidados com o regime. Plato diz

    que essa ideia de que os cidados todos confiam uns nos outros uma ideia ingnua, pois, na

    prtica, a constante luta de classes que lutam pelos recursos da sociedade. No entanto, para

    Plato, o regime que resulta do conflito de classes um mau regime. Porqu? A massa

    ignorante, no sabedora, no tem tempo para pensar e no est bem informado, logo,governar mal. H tambm um perigo de as massas oprimirem as minorias- ditadura das

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    6/59

    6

    massas. Para Plato a discusso sobre o que melhor para a sociedade e para o bem comum,

    no pode ser feita pelas massas, mas sim por um nmero limitado de pessoas. H uma

    tendncia, quando os regimes polticos so baseados no governo das massas, para o cortejo

    das massas para chegarem ao poder. Para Plato uma democracia, eventualmente

    desembocar naquilo que se chama uma tirania- o poder de um s indivduo sobre toda a

    gente. O individuo subverte as regras da democracia, mobiliza as massas, e depois descarta-se

    delas para ficar com todo o poder para si.

    Em suma:

    (1)

    Inevitabilidade das massas oprimirem as oligarquias

    (2) Inevitabilidade de o poder das massas emergir um lder tirnico

    (3) Inevitabilidade de as massas no se saberem governar a si prprias porque no tm as

    competncias tcnicas e o conhecimento do que verdadeiro

    (4) A procura da verdade e do que justo um processo de debate entre indivduos e isso

    s pode ser desenvolvido num conjunto limitado de indivduos e no numa multido.

    A justia e a verdade existem para alm da doxa (da opinio do momento). No depende das

    diversas correntes polticas, que so circunstanciais, transitrias e que no so reflexo da

    verdade.

    Os que devem governar so aqueles que esto treinados e preparados para chegar verdade,

    ou seja, os filsofos, aqueles que so melhor intelectualmente, e logo, melhor tambm

    moralmente. Governo de uma minoria melhor. No fundo, o governo ideal para Plato era um

    governo de professores universitrios.

    O regime ideal o liderado por uma casta de filsofos, indivduos treinados na arte do

    debate, pensadores, apoiados por uma classe que controla os meios de represso na

    sociedade, uma forte classe militar, coerciva que apoia esses filsofos. Regime centralizado

    numa elite de sbios e uma elite militar, sendo que ambos se apoiam mutuamente. Governo

    de educadores, sendo que a forma melhor para educar a sociedade que esta seja educada

    pelo Estado. Sendo que nem todos tm capacidade para governar, a sociedade deve ser

    dividida em grupos: os filsofos, os que defendem a cidade, e os que produzem, ou seja, os

    que pensam, os que combatem, e os que trabalham. O que temos aqui uma teocracia militar.

    Uma minoria que tem um contacto privilegiado com a verdade e que por isso deve ter direitos

    acima de toda a gente. Antidemocrtico: grupo dos sbios considerado privilegiado esuperior aos outros.

    Plato contra as faces e a diferena de opinies, visto que estas so fontes de erro e de

    diviso. Tucdides pelo contrrio, apoiava o pluralismo de opinies e ideias. Por um lado,

    Plato vem na tradio democrtica grega, que tem na sua raiz o debate e contraste de

    opinies e da critica; por outro lado e contraditoriamente, a sua filosofia poltica defende que

    este debate s pode ser feito pelas minorias, visto que para ele, por definio, os debates no

    funcionam entre as massas. O debate racional, ponderado e crtico, s pode ser feito pelo

    grupo privilegiado.

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    7/59

    7

    Plato antidemocrtico, pois considera a democracia uma m forma de governao. Para

    alm disso, Plato postula que h uma minoria (os filsofos) que deve governar, pois tem uma

    maior capacidade do que as massas.

    Viso deAristteles ( uma terceira abordagem que o intermdio entre as vises de Tucdidese Plato)

    Aristteles concorda com Plato no que diz respeito s crticas elaboradas democracia, masdefende que a soluo de Plato impraticvel ( muito difcil refazer uma sociedade do zero eas sociedades regidas por minorias tm problemas com a defesa) e no necessariamente omelhor, pois qualquer regime pode ser corrompido. Assim, Aristteles prope uma alternativa.Aristteles defende que cada forma de regime poltico tem em si uma forma de aperfeioamentoe que as caractersticas funcionais dos regimes os distinguem:

    Monarquia:governo de um s (Uma monarquia pode degenerar numa tirania se o rei

    no se preocupar com o povo). Tirania:governo de um sorientado para o bem particular Aristocracia:governo de um sorientado para o bem comum (Uma aristocracia pode

    ser corrompida se os poucos s se preocuparem com o prprio interesse).

    Democracia: o regime da maioria orientado para o bem particular (Quando uma

    democracia se preocupa com o bem comum, temos uma timocracia, um regime

    democrtico bom)

    Timocracia:governo de muitosorientado para o bem comum

    No fundo, qualquer regime tem um potencial de corrupo ou aperfeioamento,

    qualquer um deles pode ser bom ou mau, depende da via que seguir. Aristteles mantm ocritrio da quantidade de quem governa e acrescenta o critrio da qualidade: se um, poucos oumuitos, trabalham bem.

    De certa forma, para Aristteles o regime ideal a combinao entre democracia earistocracia: uma minoria a governar os interesses da maioria. Pela primeira vez temos umaviso elitista de democracia. A democracia para sobreviver tem de ter cuidado com opopulismo: tem de limitar de certa maneira a possibilidade de as massas se mexerem muito.Ideia de que o melhor regime um regime misto: uma democracia de tipo elitista, onde secombinam os melhores aspectos da democracia (probabilidade de emergirem novos talentos

    que refrescam/renovam a elite tradicional; a democracia garante a mobilidade social e a

    emergncia de novas vozes polticas; elite embutida de um esprito de proteco em relaoaos que tem menos recursos)e da aristocracia (renovao das elites).

    Assim, Aristteles prope duas medidas:

    A nvel institucional, defende a moderao das instituies em que se deve

    preservar a combinao dos extremos (via mdia onde est a virtude) e

    onde os cargos para as instituies no devem ser todos eleitos por sorteio,

    mas alguns herdados.

    A nvel da sociedade, Aristteles defende que se deve criar um regime poltico

    misto e que do ponto de vista sociolgico tenha uma caracterstica muito

    importante: a existncia da classe mdia. esse grupo que consolida e d

    fora a um melhor regime. A acepo de Aristteles em relao funo da

    classe mdia prende-se com a moderao, o conforto e o mnimo de recursos

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    8/59

    8

    possveis para a sobrevivncia, que vem equilibrar a sociedade. A classe mdia

    um tampo para evitar os excessos das democracias e os excessos das

    aristocracias. Serve para tornar os regimes mais justos e estveis, mas no

    preconiza igualdade socioeconmica. O regime ideal para Aristteles aquele

    que sustentado por uma classe mdia. Um regime justo baseado nas

    caractersticas de uma classe mdia robusta.

    Se em Plato temos uma minoria esclarecida, em Aristteles vemos um regime misto de forma aconseguirmos regras e instituies democrticas e no democrticas, de forma a satisfazerpositivamente a sociedade.

    poca renascentista (renascimento italiano): corporativismo; representao funcional - dar s

    profisses de uma sociedade uma identidade colectiva, dar ao seu grupo a capacidade de se

    governar e conseguir intervir e estar representado na administrao central. A representao

    funcional uma representao por grupos com uma base scio-econmica.

    O que a democr acia? Os clssicos.O fracasso de Atenas.

    Democracia: fracasso de Atenas e renascimento do conceitoA democracia ateniense teve um tempo curto. A democracia j s volta a ter impacto e

    uma realizao plena na segunda metade do sculo XIX. A grande reflexo terica foi feita naAtenas clssica.

    Devemos pensar no fracasso da democracia ateniense em dois nveis:

    fracasso de Atenas em si prpria, em que o colapso de Atenas foi causado por razesgeopolticas e militares que no inerente prpria democracia (democracia num

    contexto de guerra, est enfraquecida por um contexto de guerra); h um elemento interessante que a ideia de que para haver uma sociedade democrtica

    (em Atenas era democracia directa), os indivduos tm de estar libertos das suasactividades quotidianas, tem de se libertar. Para isto acontecer era necessrio queAtenas tivesse uma economia que sustentasse o lazer e a reflexo. E para isto eranecessrio um expansionismo militar que subjugava outras idades, que tinham de pagartributos a Atenas. O facto de Atenas possuir uma economia cada vez mais esclavagista,que em Atenas comea por ser um trabalho ligado a economia domstica, mas queevolutivamente vo ser necessrios escravos para fazer as tarefas como trabalhar nasminas, policiamento das cidades, at as funes bsicas. Esta contradio muito

    importante: para sustentar a democracia preciso uma hegemonia no democrtica. Ademocracia tinha de ser pequena escala porque era directa.

    Foi preciso esperar pela poca moderna e por um novo tipo de economia: tipo de economia queno seja de mo-de-obra intensiva, mas que gere a acumulao de recursos atravs de ganhos deprodutividade, ou seja, uma economia industrial (argumento em parte de Weber e Marx) quepermite pela 1 vez limitar a escassez, podem acumular mais do que aquilo que tinham que lhespermite uma libertao do trabalho.

    Em suma:

    As duas grandes causas estruturais para o colapso da democracia atenienseno seculo 6 A.C.esto ligadas incapacidade de se institucionalizar um regime democrtico na Antiguidade

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    9/59

    9

    Clssica. Todas estas sociedades da Antiguidade Clssica eram sociedades esclavagistas. O

    pblico democrtico era extremamente mnimo. Noa havia ideia de universalidade de

    dignidade humana.

    Existe assim uma limitao estrutural quando se vive em sociedades esclavagistas: uma

    economia baseada em escravos uma economia pouco produtiva e que no possibilitagrandes acumulaes de capital. No permite a inovao, ou seja, limita a produtividade e

    grandes saltos de crescimento e desenvolvimento que eleve os indivduos alm da escassez. A

    sociedade capitalista permite a emancipao porque liberta as sociedades da permanente

    escassez.

    2. O que a Democracia? Os Modernos

    (Benjamin Constant, Tocqueville, John Stuart Mill, Max Weber, Joseph A.

    Schumpeter, Karl Marx e Friedrich Engels)

    No Perodo Moderno, existe um legado que se baseia em dois aspectos: as faces so

    ms para a estabilidade dos regimes e, por outro lado, h um problema nas sociedades

    de grande escala: como cultivar a participao cvica e o interesse dos cidados nos

    assuntos da sociedade?

    A poca moderna caracterizada por sociedades de grande escala e os autores que

    vamos estudar vo tentar resolver como pode a democracia funcionar nestas

    condies.

    A poca moderna introduz uma grande diferena face a poca antiga - tendncia para

    um maior privatismo. A democracia vista como num conjunto de direitos, onde a

    unidade bsica o individuo e no a comunidade.

    Neste sentido h quem argumente que o pensamento grego no tem em conta dois

    elementos que acabam por vir a ser centrais e vm a ser legtimos na prtica

    contempornea. 1) Organizao da sociedade civil, liberdade de opinio, etc. que so

    vistas como benficas. Por exemplo, Tocqueville defende que o pluralismo social, poltico e

    organizacional numa sociedade tem um maior poder democrtico. Porque houve entouma transio? Devemos ter em considerao a noo de que as democracias modernas

    (diferena face s democracias clssicas e o pensamento) so democracias de larga escala,

    ou seja, um ponto que distingue os pensadores modernos e contemporneos e que

    inicialmente tornava a reflexo da gnese da democracia bastante cptica era a ideia de

    que a democracia foi possvel nos gregos porque era uma sociedade muito pequena.

    Assim, no possvel em larga escala onde h heterogeneidade e pluralismo e como

    organizar politicamente a gesto da democracia quando as sociedades tm milhes de

    habitantes? Era possvel que todo o ateniense tivesse a probabilidade de servir uma

    instituio poltica do seu tempo, o que no ocorre numa democracia de larga escala. Esteaspecto introduz um elemento de diferena. Como fazer a transio para uma

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    10/59

    10

    democracia nas condies modernas? Da ter sido dito muito tempo que s possvel em

    sociedades de pequena escala.

    O ponto que distingue a poca clssica da poca moderna tem a ver com dois tipos de

    argumentos.

    Benjamin Constant

    O primeiro introduzido por Benjamim Constant e que diz que a liberdade dos antigos

    uma liberdade comunitria. uma democracia baseada no esprito comunitrio (da

    tribo). Pelo contrrio na poca moderna a concepo de democracia diferente,

    baseada na defesa dos direitos individuais que protegem o indivduo contra o grupo.

    Assim, a grande diferena que enquanto o indivduo na democracia antiga s algum

    quando participa na poltica (seno um incapaz, um idiota) como defendido por

    Aristteles. Pelo contrrio, a concepo moderna de democracia difere o pblico e o

    privado. H a esfera individual (indivduo autnomo e individual) e a esfera pblica

    (debate, interaco, etc.). A democracia moderna uma concepo que nasce do

    reconhecimento que na poca contempornea a unidade central o individuo e no o

    grupo. H grandes crticas porque afirma-se que na poca clssica tinha-se noo dos

    direitos individuais, contudo s na poca moderna que este aspecto ganhou relevncia.

    No fundo uma das inovaes dos modernos em relao aos clssicos para limitar as

    faces que os modernos referem que o lado negativo das faces pode ser mitigada

    se houver recursos para sustentar todos. Se houver capacidade econmica. Constant diz

    que as faces vo ser moderadas porque a poca moderna baseada na troca comercial

    enquanto na poca clssica era a conquista militar o que contribua para a fortedemocracia. A economia no perodo clssico vista no como uma actividade que

    valorizada em si prpria e que serve para acumular riqueza e para enriquecimento

    individual. Mas, a economia vista como uma actividade subsidiria para a estrutura da

    famlia ou da sociedade. A troca econmica serve apenas na medida em que contribuem

    para a solidificao da famlia, ou seja, a economia familiar. A unidade de produo dos

    gregos o oikos (economia da famlia), que envolve escravos, servidores domsticos, etc.

    H uma comunidade familiar com identidade prpria. E a troca comercial de uma

    produo de um agregado vendida num mercado local ou distante tem lucros que leva

    subsistncia da famlia. A troca moderna, baseada na acumulao de riqueza peloindivduo, individualista. Ou seja, a acumulao de riqueza para enriquecimento

    pessoal. H assim um rompimento com o clssico, pois rompe com as estruturas bsicas

    da sociedade. A troca comercial moderna liberta os indivduos das amarras dos grupos.

    Constant diz que isto positivo (seculo XVIII) porque a troca comercial moderna pressupe

    a moderao do instinto guerreiro. Ou seja, se querem ganhar riqueza tem de ter uma

    rede de contactos, logo tem de moderar o instinto de conquista e aquisio por fora das

    armas que se vivia nas sociedades clssicas. Na poca moderna h atravs da criao de

    uma sociedade comercial a substituio do esprito de guerreiro pelo esprito da troca que

    mais pacfico porque se quer manter e diversificar as trocas, logo preciso estabelecerlaos de confiana com indivduos, manter contactos, etc., o que leva moderao e no

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    11/59

    11

    ao roubo do potencial parceiro de troca. Assim, Constant diz que se houver uma difuso

    do comrcio, h uma substituio das paixes por as trocas . O mundo antigo baseado

    em paixes, irracional, onde h uma procura de conquista custa dos outros. O mundo

    moderno baseado no interesse individual em que se tem em conta o futuro a mdio-

    prazo. Assim criam-se sociedades mais pacficas atravs das relaes mais pacficas.

    H uma tendncia para um maior individualismo. A democracia , no tanto uma forma de

    organizao da comunidade, mas um conjunto de princpios que protege os indivduos contra

    abusos externos. Esta poca do individualismo tem um efeito negativo: o excesso de

    privacidade e desinteresse nos assuntos sociais e a criao de faces. Todos os autores

    defendem que impossvel voltar atrs (na revoluo industrial, no capitalismo, no tamanho

    das sociedades). H tambm uma tendncia para o engrandecimento dos estados, com uma

    capacidade de mobilizao militar muito grande. Tornaram-se Estados soberanos que no

    conheciam limites sua expanso. H cada vez menos Estados, mas estes so cada vez

    maiores. A soluo ento fazer difundir o espirito do comrcio, a liberdade comercial e atroca. A poca moderna tambm uma poca de tendncia para a s sociedades

    estabelecerem comrcio umas com as outras. O comrcio era bom porque obriga troca e

    cooperao. O comrcio tem propriedades pacificadoras. O desenvolvimento econmico

    favorece a democracia. A liberalizao econmica por natureza pacfica e cooperante e

    portanto, favorece a longo prazo a emergncia de democracias. Soluo:liberalizar o comrcio

    escala internacional. Crtica: esta nova classe social pode levar a uma nova oligarquia

    industrial, no baseada na posse da terra ou na linhagem aristocrtica, mas baseada no poder

    da indstria e na concentrao industrial.

    As solues preconizadas pelos atenienses durante o perodo democrtico deixam de serexequveis, devido ao aumento da escala das populaes. No era possvel realizar uma

    democracia visto que estas s eram realizveis em pequenas sociedades. Porm, h

    pensadores que procuram dar resposta a esta questo, contrariando a soluo que

    apresentada historicamente, tentando conciliar a democracia com o contexto da poca

    moderna, ou seja, sociedades em grande escala, com diferenciao social e econmica.

    A primeira soluo a de Benjamin Constant: aumento do comrcio.O comrcio algo que,

    ao facilitar a troca, modera os instintos agressivos que as sociedades tm umas em relao s

    outras. O desenvolvimento econmico favorece a democracia e o mecanismo causal cultural:

    o desenvolvimento econmico, ao fazer a difuso do espirito da troca, difunde tambm aprtica da cooperao social, o que favorece a moderao dos comportamentos e a

    agressividade. Ou seja, torna as sociedades mais pacficas, devido cooperao necessria

    entre as sociedades.

    Limitaes: h sociedades que tm nveis de desenvolvimento econmico elevados, e que so

    sociedades militarmente agressivas (Alemanha e Japo at IIGM). Este argumento esquece

    um aspecto importante do processo de desenvolvimento capitalista: a necessidade que muitas

    sociedades tiveram de, no processo de se modernizarem, terem sentido que o Estado tinha de

    ter um papel central nisso. E quando h um reforo do papel do Estado, h a possibilidade de

    um aumento da expanso militar desse prprio Estado. Ou seja, na prtica, apenas o caso daInglaterra se enquadra na teoria de Constant, visto que o desenvolvimento capitalista se d

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    12/59

    12

    atravs da burguesia e dos homens de negcios. Nos outros casos, este desenvolvimento d-se

    atravs do Estado, visto que os privados sozinhos no tinham capacidade para isso.

    Jefferson e James Madison Federalist Papers

    Outro argumento desenvolvido por Jefferson e James Madison a ideia de que numarepblica moderna (democracia) h duas formas de controlar as faces: 1) exactamente

    porque a repblica moderna uma repblica grande, h uma possibilidade elevada de

    apropriao elevada, da haver recursos suficientes para satisfazer todas as faces. Por

    exemplo, os EUA so uma sociedade que tm a possibilidade de expansionismo para oeste

    quase ilimitado. Tm um territrio to vasto que conseguem emigrar e estabelecer novas

    fontes de rendimentos. um argumento que no tanto baseado na ideia da troca dos

    indivduos que os modera como defende Constant e que inibe e dissolve o barbarismo e

    substitui por civilizao (Freud pe em causa); O ponto destes dois teorizadores tem mais

    a ver com a noo de que as faces vo ser contentadas se houver abundncia de

    recursos (argumento imperialista); 2) a primeira vez que h esta ideia de controlar as

    faces que se prende com a questo de que as faces no podem ser eliminadas porque

    o Homem cria faces por diversos motivos (vises do mundo diferentes polticas,

    econmicas, etc.), logo h sempre faces. Jefferson e Madison pem em possibilidade a

    proibio das faces (tal como Plato pensara). Mas, Jefferson diz que existem as

    monarquias europeias e isso no desejvel. Querem construir uma Repblica moderna,

    ou seja, a eliminao das faces no permite a democracia e a repblica. A questo :

    como fazer a democracia com faces (que no vo deixar de existir) e de larga escala? A

    soluo pr as faces umas contras as outras em equilbrio, em que nenhum consegue

    sobrepor-se. A noo de que esto todas em competio e nenhuma muito forte para

    controlar as outras. Isto implica a multiplicao de faces, promovendo o pluralismo que

    torna cada vez mais fraca cada faco. A multiplicao de faces leva impossibilidade

    de uma faco se tornar mais forte do que as outras. Assim todos os grupos acabam por

    se vigiar reciprocamente. Nasce assim a ideia de que as democracias so competitivas e

    que quanto maior diversidade de opinio houver, mais fcil a democratizao . O

    argumento de tipo institucional, ou seja, no s pr as faces umas contras as outras

    a vigiarem-se, mas criar algo institucional que as limite. A diviso de poderes

    transportada na prtica na construo da sociedade democrtica. Assim, as instituies

    so separadas e contribuem para o pluralismo democrtico, no havendo possibilidade deningum abusar o poder, de haver pluralismo e de haver vigilncia. Prejudica-se a

    capacidade de eficincia em prole da democracia porque perigoso capacitar uma s

    instituio de poder. Ou seja, para haver eficincia preciso limitar o poder.

    Este ponto de que existe um pluralismo (deve ser multiplicado, pois quanto maior o

    pluralismo e as fontes de subdiviso de uma sociedade, mais democrtica ser essa

    sociedade democracia pluralista) que a prpria sociedade. Pode haver uma

    multiplicao muito grande de interesses e de grupos, contudo esses grupos podem ser

    muito restritos. Podem ser uma organizao que representa um segmento limitado da

    sociedade. Isto pressupe que a autogovernaro destes grupos igual para todos, mas

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    13/59

    13

    no tem de ser necessariamente assim. O pluralismo poltico no decorre

    automaticamente, tem de haver um processo de organizao. Em democracias onde o

    Governo depende do Parlamento, a possibilidade de maioria eleitoral dar origem a uma

    modificao do sistema muito maior. H uma maior abertura, h democratizao social.

    Numa democracia caracterizada por diviso de poder, o bloqueio de vontades

    hegemnicas muito maior. Por exemplo, nos EUA isso acontece. A adopo de um

    sistema nacional de sade, de educao gratuita tem de ser aprovada por quatro

    instituies, o que torna a aprovao muito difcil, porque as diferentes instituies tm

    diferentes opinies. Ao contrrio, em democracias centralizadas como na Sucia, h uma

    sociedade onde a Monarquia era bastante absolutista e dependia bastante do Parlamento.

    Mas, a Monarquia sueca teve um absolutismo mais centralizado, mas uma vez acontecida

    a democratizao sem alterao para a diviso de poderes, ento as maiorias populares

    que conseguem chegar ao governo, tem em si uma capacidade brutal, pois o Governo o

    rgo legtimo. Os suecos no espao de uma gerao e meia passam de uma sociedade

    arcaica, de antigo regime, com valores absolutistas, para no perodo aps a segunda

    guerra mundial haver uma possibilidade de criao de uma sociedade democrtica. Ou

    seja, o Estado tem um potencial democratizador (ou no). Um dos aspectos decisivos da

    poca moderna a emergncia do Estado (diferenciao quanto sociedade). Existncia

    de um conjunto de instituies cujo objectivo o controlo da sociedade e do territrio. A

    criao de uma administrao pblica moderna com um elemento repressivo (foras

    armadas) e com funcionrios especializados. O emergir do Estado cria problemas s

    teorias da democracia, pois h uma diviso de poder . O problema do Estado: como

    controlar uma instituio que contm um poder enorme? Como controlar? Mas, se

    houver diviso para controlar o Estado, deixa de haver o problema da instituio baseadana coero. Como evitar que os que controlam o Estado, a polcia, etc. tenham poder?

    Como evitar que o Estado moderno que necessrio para regular a vida nas sociedades

    contemporneas? (logo vai chegar cada vez mais s vidas privadas dos cidados); De que

    forma que se limita este aspecto? Se o Estado se torna omnipresente, os cidados no

    precisam de colaborar entre si, porque o Estado faz tudo pelos cidados . Este problema

    vai ser analisado por ngulos diferentes por Tocqueville e Weber.

    Tocqueville

    A associao pode ser uma fonte de progresso numas sociedades e uma fonte dedesgraa noutras sociedades. Ou seja, Tocqueville est a dizer que a arte da associao

    nas sociedades actuais que desenvolvem uma panplia de interesses e organizaes (e

    interaco) pode ser uma fonte de progresso ou de desgraa, consoante a sociedade.

    Ento quais so as condies em que isto acontece? O porqu? Quais as condies

    polticas, sociais, etc., seja benfico em algumas sociedades e noutras no? Tocqueville

    considera que a proliferao no negativa propriamente. Aquilo que diz que no

    suficiente, porque a proliferao comum em todas as sociedades. Por exemplo, no

    seguimento da Revoluo Francesa h uma proliferao das associaes tanto a nvel local

    como nacional. H uma organizao de partidos polticos, de associaes de defesa dademocracia. Assim, Tocqueville diz que as associaes e o associativismo para ser um

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    14/59

    14

    factor de progresso das sociedades, ou seja tem de corresponder arte da associao, o

    associativismo tem de ser ajudado por um determinado tipo de configurao

    institucional. Ou seja, s num determinado tipo de configurao poltica, institucional, etc.

    que ir haver progresso. Porque razo em Frana, o associativismo foi causa de

    destruio? Em primeiro lugar porque aquele que o momento de democratizao da

    sociedade francesa (impulso revolucionrio - primazia da lei, sociedade de direito, onde a

    monarquia controlada pelo Parlamento, etc.) origina um segundo momento onde a

    democratizao posta em causa, em que origina um Estado centralizado e ditatorial que

    decorre do fluxo da revoluo, onde os Jacobinos instituiem o Governo do Terror. Ou

    seja, uma faco elimina todas as outras opinies pela fora e pelo assassinato poltico.

    Basicamente o que se sucede ao perodo do Jacobinismo que h um reverso em que

    quem toma as rdeas do poder poltico so os militares, onde se consolida o poder de

    Napoleo - onde h centralizao da poltica. O reinado de Napoleo o nascer da

    ditadura moderna. H um lado muito forte de expansionismo militar, uma grande

    centralizao do Estado. assim um modelo que ir ser utilizado por outros. Porque

    razo que acontece em Frana? este o puzzle intelectual de Tocqueville. Porque que

    a seguir revoluo se gerou uma dinmica de violncia da sociedade civil? Sendo que

    nos EUA emerge uma sociedade civil moderna, onde os grupos da sociedade civil no

    competem entre si de maneira violenta, o que leva a solues colectivas para solues

    comuns. A seguir Revoluo Americana (1979) onde h tendncia a abrir-se o regime, a

    caminho de uma repblica, etc. Em que em Frana tambm se pe em causa a Monarquia

    e aspira-se uma Repblica, etc. Duas revolues com bases liberais onde em Frana

    resulta numa Guerra Civil e nos EUA no. E porqu? Tocqueville diz que tal como nos

    Federalist Pappers que h uma constituio institucional que distigue os EUA de Frana.Mas, acham que preciso uma diviso de poderes. Tocqueville diz em primeiro lugar que

    no basta haver subdiviso de poderes ( importante porque impede a concentrao do

    extremo poder num governante - problema da monarquia absoluta), mas essa subdiviso

    de poderes tem de ser acompanhada, tem de haver uma possibilidade de a cada nvel

    administrativo de organizao do poder poltico institucional (tanto a nvel local, estadual

    ou nacional), a capacidade de os cidados terem capacidade de organizarem os seus

    poderes. Assim dar-se-ia a criao de um sistema de auto-administrao local, onde cada

    cidade, cada vila, cada comunidade a nvel territorial tem os instrumentos e as instituies

    capazes de gerar participao colectiva nos assuntos comunitrios. importante porquegera uma cultura cvica de participao colectiva. Ou seja, no basta haver uma subdiviso

    de poderes ou a criao de instituies democrticas (como em Frana), mas sim

    necessrio criar instituies de participao at local (as mais importantes) para

    desenvolver uma conscincia civica. Isto importante porque gera hbitos de

    participao colectiva, de debate colectivo e gera tambm o potencial da moderao. Ao

    contrrio da Frana, em que aps revoluo h uma participao massiva sem apoio, ou

    seja, quando uma faco poltica chega ao poder acha que pode redesenhar o poder.

    Assim, no est historicamente habituada a debater com as outras faces. Porque que

    a participao a nvel local importante? Porque a nvel de comunidade local que oscidados tm as suas preocupaes dirias. Ou seja, os cidados no se preocupam em

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    15/59

    15

    abstracto com a economia (crises financeiras) ou a educao, mas sobretudo no que

    afecta a sua vida quotidiano. Ou seja, questes como se a nvel local h estradas decentes,

    escolas adequadas para os filhos, se h acesso a transporte martimo? na medida em que

    estes temas podem ser debatidos colectivamente tal como a questo dos recursos que

    pode ser objectivo de co-deciso que a arte da associao vai ser uma fonte de

    sucesso/progresso e no de instabilidade social. importante porque a organizao a

    nvel local tem dois efeitos: 1) Criao de uma cultura poltica democrtica (uma

    sociedade onde os cidados no esto habituados a associar-se localmente, no h uma

    tradio, ento os cidados no esto preparados para a democracia. Assim institudo o

    regime de liberdade, os cidados no agem em prol de se unirem, mas sim de se imporem

    como em Frana (com a radicalizao jacobina); 2) Essa cultura cvica mais democrtica

    combinada com o associativismo local serve como barreira/tampo entre o cidado e o

    Estado. Quando o cidado se associa a nvel local autonomamente para desenvolver

    iniciativas com tendncia para a difuso de bens colectivos leva inexistncia de

    necessidade de um Estado to forte, isto porque os cidados/comunidades j o

    desenvolvem. O Estado vai encontrar barreiras sua expanso, logo a concentrao de

    poder poltico em governantes centrais vai ser menor. Neste tipo de sociedades, h uma

    forte capacidade cvica local e tambm o desenvolvimento de virtudes republicanas.

    "Geram-se os hbitos do corao". Cada um segue o seu interesse, mas o interesse

    individual (entendido no de forma egosta e limitada, mas sim entendido na necessidade

    de se articular aos restantes interesses privados - no h o interesse de soma 0). O que

    Tocqueville vai dizer, sendo um inovador das modernas Cincias Sociais, que ao contrrio

    dos Federalist Pappers (que observam a questo de forma abstracta em que o que

    interessa subdividir os poderes, onde se vigiam mutuamente, e ao mesmo tempo criarcircunstncias onde h capacidade de prosperidade), mas um argumento histrico.

    Tocqueville muda isso, dizendo que porque razo que de facto que as condies

    histrias da sociedade norte-americana so muito diferentes da sociedade francesa. Os

    EUA no tem um passado feudal, logo so sociedades que j no perodo pr-democrtico

    tinham uma maior tendncia para a participao das sociedades ao contrrio da Frana do

    Antigo Regime em que havia diviso de classes, em que as Monarquias tinham abolido

    autonomias territoriais locais (autonomia das sociedades camponesas), mas tambm

    eliminando o poder de extraco autnoma dos recursos, nomeadamente da Nobreza que

    a tornara dependente da Casa Real, pois dependia de empregos do Estado. No caso norte-americano isto no acontece, pois desde a sua formao so sociedades baseadas no

    princpio auto-democrtico, pois so sociedades crticas da Monarquia Absoluta. Tinham

    uma ideia de religio de Estado extremamente forte, sendo que s havia uma realidade

    religiosa que era a que o Estado propunha. Foi isto que aconteceu aps as Guerras

    Religiosas da Europa, em que algumas sociedades tiveram o anglicanismo, o luteralismo e

    o calvanismo. O ponto importante, que a seguir s Gueras Religiosas, houve uma

    tendncia para tornar uma religio de Estado que era contra os ideais polticos do Estado.

    Os EUA so fundados por um tipo de organizaes da sociedade civil (inicialmente

    religiosas) vo criar bases que aps a transio para a nova democracia, j havia nos EUA atradio de colectividade. O que Tocqueville refere que a possibilidade da democracia se

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    16/59

    16

    consolidar e a sociedade civil contribuir no depende s de existir um perodo de

    democratizao (como ocorre em Frana), pois o que interessa que a democratizao

    poltica acontea num perodo propcio a esse desenvolvimento. Existe tambm um ponto

    importante para terminar a parte de Tocqueville que a ideia de sociedade civil, ou seja,

    basicamente o que Tocqueville est a dizer que enquanto argumento central que a

    sociedade civil importante se uma sociedade civil a nvel local, ou seja, quanto mais

    for a nvel local, mais micro, mais democrtica ser . Em segundo lugar, a sociedade civil

    vista como antagnica com o Estado, em que est onde o Estado no pode estar e vigia o

    Estado. Funciona como barreira expanso do Estado (que no defendido nos

    Federalist Pappers em que a sociedade civil se controla a si prpria). A sociedade civil

    serve como controlo do Estado. Isto porque o terceiro ponto de Tocqueville (depois

    retomado por Weber) em que analisa a importncia do Estado - o Estado enquanto fonte

    de organizao de poder. Tocqueville nota que a democracia tm razes sociais

    imporantes, em que h facilidade em se consolidar nos EUA porque j tinha bases. O que

    Tocqueville diz que h nos EUA a excepo em que existe tambm uma sociedade antes da

    Revoluo muito parecida com as sociedades de Antigo Regime - sobretudo com a Frana,

    em que h uma desiguldade natural dos Homens e que esto divididos em grupos com

    direitos e deveres prprios e no com a igualdade a todos os Homens isto ocorre no Sul

    dos EUA. No Norte dos EUA temos uma sociedade ultra-democrtica e no Sul dos EUA uma

    sociedade democrtica. No Sul dos EUA h a ideia de castas, mas sem os princpios de

    patronalismo como no Norte, isto deve-se a ser uma sociedade muito capitalista.

    Enquanto a Norte dos EUA h uma preocupao em que quanto maior se estiver, maior a

    necessidade de preocupao com os mais pequenos. J no Sul dos EUA h uma utilizao

    dos escravos sem preocupao, pois capitalista. Podemos dizer que os esclavagismo anvel micro pode ser considerado a base do totalitarismo do sculo XX. As condies do

    totalitarismo j est presente no pensamento de Tocqueville e no s a nvel de

    esclavagismo e capitalismo, mas tambm num Estado poderoso. Nas sociedades

    contemporneas tal como a arte de associao que distingue as sociedades, h tambm

    um factor novo que a criao de Estado autnomo com capacidade de poder. Ou seja, h

    governantes que agora tm o apoio de maior parte da populao, como foi o caso de

    Napoleo. Logo, se h uma grande base popular, quando um lder no democrtico

    consegue ter apoio democrtico elevado leva ao aumento do poder do Estado. Isto

    decorre tambm porque a administrao do Estado muito maior quando eliminado opoder dos grupos que faziam a auto-organizao das sociedades e que serviam de barreira

    ao expansionismo do Estado. Em Frana, os monarcas eliminaram barreiras, logo antes da

    revoluo havia uma centralizao do poder do Estado. Quando se d a revoluo h a

    tentiva de alargamento das liberdades, contudo acentua-se a centralizao do Estado

    porque a faco que "vence" consegue o apoio da Sociedade Civil. Assim, h uma

    extremismo da situao anterior, pois antes da Revoluo nunca se tinha alcanado uma

    centralizao do Estado em to elevada escala. O argumento de Tocqueville que as

    grandes revolues so ms e devem ser evitadas, pois so nas revolues onde existe

    uma deposio da ordem anterior atravs da violncia e participao da sociedade civilatravs do movimento revolucionrio.

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    17/59

    17

    Em suma: Para Tocqueville o mecanismo mais importante para assegurar uma sociedade

    democrtica uma cultura politica entre cidados, baseada no desenvolvimentoassociativo com associaes enraizadas em diversas localidades que fomentam a partilhaentre os vrios cidados. Esta dinmica associativa importante porque serve como umaespcie de barreira entre o individuo e o estado, limitando a capacidade soberana do

    Estado.

    Ele cptico quanto ao termo 'democratizao'. Entre a liberdade e a igualdade temossempre que escolher a liberdade. H uma tenso entre liberdade e igualdade,considerando que a igualdade acaba com a liberdade como aconteceu na revoluofrancesa. Em situao de instabilidade, Tocqueville considera que alargar os diretos podeser nocivo para as liberdades.

    Jonh Stuart Mill

    Tem uma ideia diferente de Tocqueville em relao igualdade. Jonh Stuart Mill rejeita

    a ideia de que a igualdade um entrave liberdade. H que dar o voto a todos. Johnintroduz estas concepes importantes: Representao proporcional; Limitao demandatos.

    Outro autor, contemporneo de Tocqueville o John Stuart Mill. O argumento de Mill

    muito interessante comparativamente com Tocqueville.

    Tocqueville diz portanto que existe a necessidade de se combinar interesseracional/prprio com algo sentimental enquanto Mill defende algo ligeiramentediferente, pois o que constitui uma cultura democrtica onde numa sociedade

    democrtica se desenvolve o melhor de cada indivduo. Ou seja, em primeiro lugar huma diferenciao entre democracia e no democracias. Mill diz que uma democraciapor oposio a uma no democracia que a democracia baseada na maximizao dobem individual, pois uma sociedade onde h a defesa da liberdade individual, dosinteresses individuais, ao contrrio de princpios das outras sociedades onde hdesigualdade natural dos Homens. Mas, h sempre uma legitimidade baseada nadistino social, em que os Homens no so todos iguais, h uma desigualdadeintrnseca. Uma democracia nesse sentido aquela sociedade que vai promover umamaior liberdade e tem um potencial para desenvolver o desenvolvimento humano decada cidado. isto que deve ser o objectivo e a cultura democrtica, pois se se baseiana igualdade democrtica, h uma ideia de racionalidade que comum a todos os

    indivduos. Limitar esta questo limitar a democracia. Mill defende a existncia deum pblico racional e esclarecido que defende o interesse colectivo. Sendo quequanto mais democrtica for a sociedade, mais democrticos sero os cidados. Milldefende que se limitarmos muito e inventarmos maneiras de no haver maiorias,estamos a limitar o potencial racional e humano dos cidados na sociedade democrtica.Isto porque a capacidade e desenvolvimento racional de cada um s acontece se houverigualdade e no restrio da mesma. Um indivduo s se torna democrtico e com umacultura democrtica - na ideia da esfera pblica e do debate esclarecido e racional (aocontrrio de Tocqueville que defende a afectividade) - se for a escala nacional e sehouver debate pluralista, ilustrado, racional e que tem em conta a diversidade deopinies. Isto s possvel se consagrarmos na lei princpios igualitrios - que so

    estmulos para o cidado. Esses princpios so, por exemplo, o sufrgio universal.Porque s quando h bases universais que h um desenvolvimento por parte dos

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    18/59

    18

    indivduos proporcionado pelas leis. O princpio das sociedades democrticas de Mill a participao permanente ao contrrio dos argumentos dos Federalist Pappers e deTocqueville que pressupem participao, mas limitada e controlada. Mill diz que no,

    porque concorda com a participao que criam maiorias ilustradas que no pem emcausa o interesse colectivo. Mill diz que a ideia de estarmos espera de ir devagarinho e

    dar liberdades a pouco e pouco para todos se irem habituando no tm sentido, pois oscidados s se habituam liberdade se lha derem. Isto resulta do sufrgio universal e doprincpio da representao proporcional que permite um sistema poltico que temrepresentada todas as opinies. Ao contrrio dos Federalist Pappers e de Tocquevilleaqui o problema central na representao no Estado e nas Instituies de todas ascorrentes de opinio, em que todas as correntes e as diversidades de interesse possamestar representadas nas Instituies. Para Mill tem de haver sempre o princpio deliberdade, para haver racionalidade. Para Mill, a diferena no de que as faces ea sua maneira de conceber as faces na sociedade democrtica no p-las a competirumas com as outras ou separ-las do Estado, mas conceber algo igualitrio.

    John Stuart Mill tem uma posio mais intermdia. Diz que para evitar os representantesfaam uma nova oligarquia: limitao dos mandatos, forma de os representantes manteremuma ligao aos representados tentarem ouvir os representantes. Ele favorvel a um tipo derepresentao proporcional, ou seja, haver um maior pluralismo em termos de corrente deopinio, de linhas de orientao e de pontos de vista no parlamento (Burke omisso). O terceiroponto o sufrgio universal. Uma democracia representativa, mesmo sendo representativa,pressupe sempre um sufrgio universal (ele a favor do sufrgio feminino). Exactamenteporque os representantes so os intrpretes do bem colectivo, eles tem de estar conscientes daopinio de todos. Ideia de que a democracia pressupe uma qualidade especfica do debatepublico, que publico, racional, ilustrado, atento opinio publico e atento s condies.

    Karl Marx

    Para Marx, o mais importante que o conceito-chave de desigualdade ou dito de outra

    maneira, ou melhor o que importante para compreender a poca moderna,

    nomeadamante a sociedade industrial. Marx e Engels dizem que o que vai acontecer que

    o grande fenmeno, o fenmeno central a industrializao, ou seja, a criao de uma

    sociedade capitalista baseada na construo de um conjunto de instituies centralizadas -

    a fbrica moderna, onde existe uma acumulao de operariado. Marx afirma que esta

    sociedade to brutal como a de Antigo Regime porque elimina os antigos grupos -

    nobreza, campesinato, etc. tal como as grandes desigualdades que tinham no estatuto

    poltico, mas criam novas desigualdades to ou mais violentas. A nova sociedade

    caracterizada por uma desigualdade to grande como a do Antigo Regime, porque se

    antes havia a diviso entre a Nobreza, a Burguesia e o Campesinato, agora h uma diviso

    entre os Proletariados e os Burgueses em que neste caso os proletariados perdem a posse

    dos meios de produo. Na sociedade contempornea gera-se ento a criao de uma

    grande massa de operrios que no tm controlo daquilo em que trabalham (fbrica). H

    assim uma alterao da clivagem, mas h diviso. Estas sociedades so tambm baseadas

    na desigualdade como as do Antigo Regime. Apesar de tudo s na poca moderna que

    possvel a emancipao e a igualdade visto que o proletariado que a classe social .Marx diz que o proletariado o grupo na sociedade que contm a racionalidade do

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    19/59

    19

    projecto iluminista (que mais tarde se nota que no verdade). um grupo em

    crescimento e que nada tm a perder a querer demolir o Antigo Regime e lutar pela

    construo de uma nova sociedade com base na igualdade. As classes sociais do passado

    (camponeses) so substitudos pelo proletariado que considerado o grupo que capaz

    de atravs da racionalidade construir a democracia. A diferena entre estas duas classes

    (camponeses e proletariado) que os camponeses no conseguiam iniciar o processo

    democrtico, pois eram parte de uma sociedade muito individualista, enquanto o

    proletariado um grupo racional. O facto de o proletariado estar posto dentro da mesma

    fbrica, faz com que desenvolvam um esprito de comunidade e de procura colectiva, por

    isso que a dinmica capitalista cria as condies para a sua prpria destruio (porque os

    unem na fbrica). verdade que a sociedade moderna caracterizada por uma sociedade

    de desigualdade tal como o Antigo Regime ao contrrio do que Tocqueville. Marx defende

    o contrrio, pois afirma que a sociedade capitalista est condenada e que nociva, pois

    traz ao de cima todos os aspectos negativos da sociedade - aquisio de propriedade

    privada, egosmo, autonomia do indviduo face ao Estado, etc. Assim, Marx defende que

    h acumulao da riqueza num pequeno grupo e no na maioria, em que custa da

    minoria que a minoria chega riqueza. Assim h um servir da classe capitalista. Uma das

    razes que Marx refere porque que se nega classe operria a liberdade de

    organizao? Em que apenas resolvido em algumas sociedades ocidentais do sculo XIX.

    Em nome da liberdade econmica, no h liberdade dos indviduos.

    Tocqueville defende: Conciliao entre igualdade e liberdade; Estado que encoraja a

    liberdade de comrcio; Separao de Igreja-Estado; Direito de Associao. Ento porque

    razo que o grupo maior e fundamental que sustenta o capitalismo no lhe permitidaa liberdade de associao? Em que lhes so negados direitos polticos e sociais. Dentro da

    poltica do liberalismo defende-se que se o proletariado um factor de produo dos

    capitalistas, ento se esse factor tiver a capacidade de se auto-organizar vai impor custos

    de produo que no tm uma lgica comercial e sim poltica. Sendo no capitalismo que

    existe uma sociedade que se baseia a nvel comercial, liberalizao poltica que torna o

    trabalho mais caro, da se negar liberdade de associao ao capital e ao trabalho. A luta

    dos movimentos operrios e as grandes manifestaes de operariado (movimentos

    revolucionrios de 1848), mas os grandes movimentos de organizao comeam a

    constituir-se na dcada de 1860/70.

    A ideia de que a liberdade de associao, expresso, protesto um custo para a

    sociedade, para a ordem poltica vigente. O trabalho de Marx era estudar as condies

    poltico-sociais que levam ao fim desta ordem social - liberalismo - em que h extrema

    desigualdade social. H dois pontos muito importantes: 1) Como que estes grupos

    sociais com menos recursos vo ter capacidade de autoorganizem-se, de conquistarem

    poder poltico, ou seja, a capacidade de um grupo de indviduos na mesma sociedade e

    agirem para a transformar. Que regime poltico esse onde se gera esta emancipao?

    Uma democracia? No seu pensamento mais filosfico considera que num futuro longquoa classe operria vai-se tornar a maioria da populao e vai-se revoltar onde adquire a

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    20/59

    20

    posse dos meios de produo. Basicamente, o que afirma que tal como os camponeses

    que tinham posse da terra, os operrios vo impor a ditadura do proletariado (que no

    tem haver com um regime poltico ditatorial, mas sim um grupo maioritrio que termina a

    opresso e molda as instituies para os seus interesses). Assim, podemos voltar a

    Aristteles em que a democracia um regime de faco. Marx considera que a fase de

    transio para uma sociedade democrtica, uma sociedade de igualdade onde no h

    opresso e h desenvolvimento de potencial humano, etc. Assim, na sociedade futura

    todos os Homens vo ter igualdade, mas para chegarmos a este ponto temos de passar

    pela ditadura do proletariado. As grandes crticas ditadura do proletariado o receio de

    se manter assim com controlo dos mesmos. o exemplo clssico dos regimes que se

    estabeleceram, em que fase do proletariado criou regimes ditatoriais mas que no

    favoreceram o proletariado. A ditadura do proletariado uma ideia clara de ditadura, ou

    seja, um grupo social que se revolta e que toma pela aco colectiva que pressupe

    violncia e controlo das instituies. Portanto, uma revolta popular. A ditadura de

    proletariado de Marx aconteceu no perodo da Comuna de Paris e no conflito do regime

    francs que caiu. O que acontece a formao de um grupo de republicanismo radical em

    que a unidade bsica a criao de comits de cidados organizados pelos republicanos

    radicais e por parte de alguns socialistas ao nvel de bairros, a construo de ligas

    confederativas que so organizaes de gesto de assuntos polticos e de distribuio de

    produtos populao. Assim, a ideia de Marx o forte movimento ditatorial. H um

    crescimento de participao da sociedade que ganha fora e controla as instituies. A

    democracia portanto algo descentralizado e local. Deste ponto de vista, o argumento de

    Marx tambm a favor de um tipo de sociedade civil, mas diferente da contida em

    Tocqueville e autores liberais em que a sociedade civil substitui-se ao Estado tornando-opequeno, enquanto para Marx a sociedade civil um movimento de protesto que

    conquista o aparelho de Estado. No substitui e no existe fora das Instituies, sendo

    algo local inserido numa confederao nacional. Assim, as diversas reas populacionais

    organizam-se em Ligas de Cidades regionais e geram movimentos de eleio para a

    Comuna em Paris. Isto ou no uma democracia? Marx tem outras concepes de

    Democracia, sendo que nos estudos de Inglaterra defendeu o sufrgio universal sendo que

    levava ditadura do proletariado, sendo que o princpio de 1 Homem = 1 Voto d voz

    maioria e determina os governos e a poltica dos mesmos. Assim durante muito tempo foi

    a favor do sufrgio universal. Sendo que nem sempre verdade acreditar que era contraas eleies, pois no se pode confundir o pensamento de Marxista com as ditaduras que

    se criaram com base marxista. O ponto aqui que quando se fala nos poderes dos

    sovietes, algo similar aconteceu na Rssia Comuna de Paris porque houve uma

    organizao da sociedade em comits, mas o que acontece na sociedade russa uma

    alterao do sistema poltico para um sistema centralizado com lderes revolucionrios

    que criam uma ditadura em nome do operariado. Isto no acontece em Frana, que

    mesmo com a Revoluo e com o perodo de criao de organizaes a nvel local

    baseadas num republicanismo radical levam a um regime que surge que a segunda (se

    contarmos com a Sua) democracia europeia, sendo que nenhuma outra sociedadeeuropeia democrtica nascida de uma revoluo. Sem ser a Frana, s os EUA. Os

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    21/59

    21

    restantes pases europeus s surgem democrticos cerca de 40/50 anos depois, aps a

    Guerra Mundial. Para o pensamento marxista, uma democracia vai decorrer de uma

    revoluo social, de um movimento de emancipao daqueles que tm menos recursos -

    classe operria em geral, e isso vai criar um regime permanente de igualdade, liberdade,

    participao com a articulao da participao com representantes eleitos das Ligas que

    esto enraizadas nas localidades. Este o movimento gentico de uma democracia ou de

    um regime potencialmente democrtico. A questo saber como que algumas destas

    circunstncias como o caso russo criaram regimes no-democrticos e outros como a

    Frana criaram regimes democrticos. preciso compreender at que ponto o

    pensamento marxista pode justificar uma situao no-democrtica e democrtica vindas

    das mesmas bases.

    Para Marx, uma democracia no realizvel enquanto houver desigualdades econmicas

    geradas pelo sistema capitalista, que originam grupos com diferentes recursos na sociedade,

    ou seja, faz com que cada individuo tenha diferentes oportunidades de vida. Estasdesigualdades econmicas no sistema capitalista so transmissveis de gerao em gerao.

    Para Marx as instituies puramente polticas, num contexto de desigualdade socioeconmica,

    no vo realizar o seu objectivo democrtico.

    Marx previa que o sistema capitalista ia auto destruir-se visto que era gerador de

    desigualdades, havendo uma ciso cada vez maior entre ricos e pobres, que vai levar a crises

    profundas. A sociedade capitalista vai colapsar e vai haver um perodo de transio e depois

    vamos para a sociedade utpica, o comunismo, onde no h relaes de explorao.

    O que o regime democrtico para Marx:

    - O movimento socialista deve lutar pelas liberdades cvicas inerentes ao regime democrtico-

    alargamento da esfera dos direitos cvicos

    - Conceito de ditadura do proletariado: refere-se a uma fase da luta histrica entre aqueles

    que no tem recursos e as elites, no sentido de controlarem o processo poltico.

    Democratizao como um processo de criao de alianas. muito difcil construir uma aliana

    progressista: uma aliana de assalariados. Aliana entre aqueles que esto vulnerveis ao

    sistema capitalista. Com que isto se constri?

    - A criao, se possvel pela fora (tambm pode ser por via eleitoral), de mecanismos decontrolo pblico sobre a economia e as instituies. Controlo feito atravs da democratizao

    das foras policiais e de segurana: eliminando os exrcitos tradicionais; da socializao dos

    meios de produo: nacionalizao dos pontos centrais de capital; criao de um sistema

    universal e gratuito de educao.

    Tradio Marxista: minha parte

    O argumento de Marx: importncia das classes e de grupos sociais e econmicos diferentes;

    poca moderna como poca de grande transformao social e industrial (pontos semelhantes

    entre Tocqueville e Marx).

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    22/59

    22

    Para Marx, o Estado menos importante como factor de opresso. Para Tocqueville, o Estado

    o principal elemento de opresso. Marx pretende abolir a sociedade capitalista. O efeito

    dissolvente do capitalismo leva a emergncia de um grupo com poderes econmicos fortes na

    sociedade. Ao concentrar mais riqueza leva a que as possibilidades deste grupo em investir e

    comprar seja extremamente desproporcional a outros grupos que querem fazer o mesmo.

    Assim, os outros grupos so obrigados a desistir e a tornar-se assalariados. O sistema

    capitalista alienador porque faz com que os assalariados lutem entre siisto negativo para

    Marx a plena lgica capitalista sem limites. necessrio usas as vantagens do capitalismo

    (criao de grupos ricos) para se fazer a distribuio pelos que so pobres e em pobreza

    extrema.

    No processo de desenvolvimento das sociedades h vencedores e perdedores. Este sistema

    democrtico instvel e vai destruir-se porque violento (ao polarizar uma minoria de ricos e

    uma maioria de pobres). Marx considera que a igualdade condio necessria para a

    liberdade. Ele quer abolir o sistema capitalista e acabar com a extrema pobreza. A sociedade

    ideal a sociedade comunista, onde todos tm a possibilidade de se desenvolver.

    Acepes do texto de Marx e Engles: defesa intransigente do sufrgio universal. Os partidos

    democrticos devem lutar pela igualdade poltica entre todos os cidados. Liberdades cvicas

    para todos. Condies mais humanas nas fbricas.

    O capitalismo gera desigualdades. A distribuio desigual determina a vida futura das pessoas,

    havendo uma tendncia para a passagem de gerao em gerao dessa condio econmica

    h uma reproduo geracional. O sistema capitalista gera estas desigualdades e por isso

    injusto e ao mesmo tempo destri-se a ele mesmo. A soluo democratizar as relaes

    econmicas.

    Para Marx, a democracia ideal ser o fim do sistema capitalista. J se percebeu que isso no vai

    acontecer e por isso a soluo reconstruir o sistema.

    Max Weber

    H a ideia que est contida em Tocqueville que nos permite fazer a transio dos autoresclssicos para autores posteriores: ideia de que a poca moderna caracterizada por um tipo deorganizao que existia de forma residual em pocas anteriores e que se torna central na pocamoderna que o estado moderno(estado potencialmente totalitrio que convm limitar na sua

    capacidade de influenciar a vida quotidiana dos indivduos). A sociedade civil vai actuar comouma barreira. Mas h este elemento de perigo de um estado potencialmente omnipresente e queelimina os corpos sociais e que servem de barreira expanso do estado. Em contextosrevolucionrios como o caso francs, a exploso da sociedade foi negativa e por isso no teveuma condio positiva. Como no tinha fora suficiente para actuar contra o estado (caso daselites radicais), o estado pde voltar a ser o que era e ser central. Este argumento ainda vai seraprofundado por Weber: verdade, o estado tem estas caractersticas mas tem outra ainda maisimportante e que pode fazer ainda pior democracia: o modelo da racionalidade absoluta.Esta ideia de racionalidade que intrnseca ao estado moderno consiste em alocar os recursosdisponveis da melhor forma possvel, desenvolvendo-se uma lgica de custo-benefcio. um

    esforo mais racional de maneira a maximizar a capacidade de interveno, tornar o estadonuma mquina administrativa potente que vai ser prejudicial, puramente baseada em critrios de

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    23/59

    23

    racionalidade que Weber diz ser incompatvel com a democracia, que h concepes dejustia. Por um lado a lgica da democracia (conjunto de conceitos inalienveis e conceitosabstractos), por outro lado uma lgica de racionalidade. Weber diz que a lgica do estadoenquanto organizao choca com a democracia. Weber olha o estado.

    Para Max Weber, o estado fonte de problemas por ele prprio, que introduz uma lgicaautnoma dos interesses sociais.Weber diz que a poca moderna gera um desencantamento doestado e como resistncia a isso, os indivduos e as comunidades tm de ter um sentido para asua vida comunitria. O que ele diz que j no h essa aco tradicional e do costume, mas ascomunidades modernas tm de encontrar sentido para a sua organizao, que vai para alm dalgica de expanso. a polarizao entre opresso burocrtica e reaco opresso que feitoatravs do carisma, composto por movimentos polticos que atravs de um indivduo apela smassas e as mobiliza num sentido poltico. uma era de multides e encerra lideranaspopulistas. O novo sentido a liderana carismtica que mobiliza os indivduos com umobjectivo de comunidade, como por exemplo uma liderana rcica. Este o primeiro argumento

    de uma teoria de elites. preciso criar condies para as lideranas carismticas seremresponsveis. Ele diz que tm de haver sempre lideranas carismticas mas o risco tornar-sepopulista e irresponsveis. Como que vamos tornar lideranas responsveis? Conseguirmotivar as massas com uma responsabilidade, com uma ligao pessoal com os seus apoiantes,mas no se deixa levar apenas pelos sentimentos e pela afectividade naquilo que promete e queconsegue efectivamente realizar, pensando nos seus actos (esprito de responsabilidade/demedida).

    Para Weber isto acontece atravs de partidos liberais de enraizamento popular forte mas quesejam defensores das liberdades. necessrio que haja um partido liberal forte mas que tenha

    lideres responsveis em defender as liberdades. Para Weber atravs de um lder responsvel.Weber diz que isso no suficiente porque j tinham existido, como nos EUA, partidos comfora perante um estado fraco e com capacidade de actuar. Ele afirma que tem de haver umestado forte mas com uma instituio representativa forte, onde os partidos liberaispossam articular debates e polticas em competio com os seus rivais, mas como oparlamento forte e as decises tm de passar por la, todos os partidos vo ter uma tendncia amudar as suas opinies e nesse sentido o parlamento vai ajudar nas lideranas. Pelo contrrio sea burocracia forte e o estado fraco, vai dar azo a uma liderana populista e irresponsvel. Odilema central a legitimidade racional legal e autoridade carismtica, no a substituiode uma pela outra. O parlamento tem de ser forte, mas em situao de estado fraco tambm geralideranas irresponsveis. O estado forte e o parlamento tambm leva a uma tenso permanentemas que resolvida por uma liderana responsvel. A liderana carismtica pode dar origem auma liderana racional legal, porem esta vai ter vrios tipos de problemas com tenses, o quevai originar novamente uma liderana carismtica, como se fosse um ciclo.

    Joseph A. Schumpeter

    Esta ideia de que nas sociedades modernas os regimes polticos e a possibilidade de uma

    democracia decorrer da natureza das elites e menos do comportamento das massas,

    uma ideia que depois tem uma cristalizao do pensamento de Schumpeter. De certa

    maneira h uma continuidade de pensamentos de Weber, mas tambm uma modificao.

    Schumpeter diz que o que distingue a democracia moderna da antiga o que ele designa

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    24/59

    24

    de mtodo democrtico. Uma democracia no caracterizada na poca moderna por um

    ideal de maior participao poltica, etc. Esse o ideal tipo das democracias antigas que

    so baseadas na igualdade poltica e acesso a todos os cidados. Schumpeter diz que no

    possvel de se realizar nas sociedades contemporneas e de larga escala. Refere que na

    sociedade moderna o que caracteriza a democracia uma sociedade que por ser de larga

    escala uma sociedade que gera desigualdade e elites. Ou seja, o que distingue uma

    democracia de uma no-democracia no a inexistncia de elites, isso um mito.

    Schumpeter diz que a populao moderna no est muito preparada para se auto-

    governar, pois o cidado moderno pensa no seu instinto e na sua concretizao imediata.

    Schumpeter claramente um autor conservador e considera que a sociedade democrtica

    de elites bem preparadas.Assim, o que distingue a democracia de uma no-democracia

    se no a inexistncia de elites? O que Schumpeter diz, e sendo uma cristalizao dos

    ensinamentos de Weber, que a democracia um mtodo para a escolha de lderes,

    logo as sociedades democrticas so as que h lderes escolhidos pela sociedade civil para

    se liderar. Assim, a democracia moderna distingue-se pela forma como as elites chegam

    ao poder atravs da competio por apoio da comunidade. No est a dizer que a

    democracia um sistema onde a populao escolhe os lderes, mas sim uma forma como

    as elites se deixam escolher pela populao. Schumpeter diz que um regime de elites

    que competem pelo apoio do povo. Assim, a regra de quem vai ocupar o poder, quem

    ganha eleies ou seja, quem tem maior capacidade de mobilizar apoio eleitoral.

    Schumpeter afirma que deve haversufrgio universal, mas no porque a populao tem

    capacidade de escolha, mas sim porque um mtodo mais pacfico de passagem de poder.

    A democracia um mtodo de escolha de lderes que passa pela regulao peridica epela competio peridica em competio eleitoral.

    Schumpeter diz que as sociedades modernas j existem naquilo que se chama o Regime

    Socialista. Assim, ele aceita que a Burocracia e o Estado so caractersticas do Estado

    Moderno, mas no na ascenso de Weber. Schumpeter diz que como a Burocracia to

    grande como na Inglaterrra, j vive no Socialismo porque h da parte do Estado

    organizaes para regular as desigualdades, sistemas de sade, etc. Ento preciso

    eliminar esse socialismo existente atravs de eleies que no tenham grande influncia

    noutras esferas da actividade humana e fazendo com que uma administrao esteja nasmos de administradores competentes.

    Para Schumpeter, o que existe uma competio das elites pelo poder e entre si e isso

    define a democracia. O ponto essencial que importa referir da obra de Schumpeter que

    para o autor, na caracterizao dos regimes democrticos, a ideia que a democracia

    moderna um mtodo, no sendo nada mais do que isso para a escolha de lderes, num

    determinado regime. Schumpeter defende que a democracia uma competio entre

    elites. O que distingue uma democracia de uma no-democracia o mtodo de escolha

    das elites, em que na democracia so escolhidas pela populao enquanto na no-democracia por princpios como a meritocracia, a hierarquizao, etc. Schumpeter

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    25/59

    25

    escreve durante a 2GM e tem como argumento que pretende descrever a democracia

    pela anlise de um mtodo que especfico na escolha das elites.

    Schumpeter no tem em conta os direitos, mas que devem ser tidos em conta, que

    funcionam como barreiras vontade das maiorias como a liberdade de expresso,

    liberdade de aderir s maiorias, etc. O argumento de Schumpeter no tanto que os

    cidados devem escolher os seus representantes, mas os representantes fazem-se

    escolher, ou seja, o que importante o facto de as elites terem encontrado entre si uma

    forma de resolver as suas diferenas recorrendo a um mecanismo que a escolha eleitoral

    o que pode pressupor, mas no origina necessariamente uma sociedade mais igualitria,

    mais ilustrada, etc. Schumpeter afirma que apenas considera que o povo utilizado como

    forma de desempate das suas divergncias. Qual a limitao desta teorizao e os

    pontos positivos?

    verdade que nas democracias modernas como temos vindo a falar so democracias

    eleitorais, ou seja, as democracias modernas desde o final do sculo XIX pressupem

    aquilo que se pode denominar democratizao atravs de eleies, ou seja, a possibilidade

    de cada vez um maior nmero de indivduos poder escolher os representantes e estar

    cada vez mais activo - em cargos polticos. Schumpeter denomina as caractersticas da

    democracia moderna - Estado que intervm na economia, na sade, que fornece

    condies populao, sendo uma instituio central no processo de democratizao.

    Assim Schumpeter est a descrever a realidade da democracia moderna, ao contrrio de

    como entendida noutros contextos. Em finais do sculo XIX, o sentido da

    democratizao de certa maneira um processo de mobilizao de grupos que estoexcludos da soberania - classe operrias, pobres, trabalhadores, mulheres - e includos

    como cidados activos, sendo que a democratizao do processo eleitoral importante

    porque envolve questes como a liberdade escolha dos seus representantes, justia e

    limpeza do processo eleitoral (segredo de voto), participao activa como candidatos, etc.

    O acto eleitoral pode ser apenas do conhecimento do prprio cidado o que muito

    importante porque enquanto o voto no teve protegido, a escolha dos mais pobres podia

    ser influenciada, sendo que se o direito de voto tiver estabelecido, a escolha pessoal

    aumenta. Onde o segredo de voto est garantido, no h questes alheias para a deciso

    pessoal de cada um.

    Em suma: Schumpeter defende que preciso um civil servisse competente, por razoes de

    eficincia, etc. ao mesmo tempo que preciso um parlamento forte, competitivo, onde emerjampartidos fortes. A democracia est na mo de especialistas da governao que so recrutadosatravs de eleies competitivas. Para Marx as eleies so mecanismos de dar voz aos que notem recursos, para este autor as eleies podem servir como mecanismos de rotinizao daprpria democracia. Uma democracia caracteriza-se pelo facto de as elites competirem entre sipelo apoio popular, um regime democrtico e um regime de elites, mas a democracia tem obenefcio de as elites se fazerem escolher atravs das eleies. um sistema competitivo mas

    no deixa de ser elitista. Schumpeter v isto como um sistema que funciona de cima para baixo,

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    26/59

    26

    que se torna o melhor porque cria elites responsveis e no fixas, e ao mesmo tempo aactividade democrtica est a cargo pelos burocratas.

    3. O que a Democracia? Os Contemporneos

    (Robert Dahl, Philippe Schmitter, Plattner)

    Robert Dahl

    Dahl no tem em conta estes aspectos, considera que tem de ser eleies justas, limpas e

    secretas. O segundo ponto tem a ver com a ideia que j est presente no pensamento de

    Dahl, em que a democracia pressupe um conjunto de direitos no eleitorais, que

    salvaguardam os cidados no Estado moderno. Se verdade que a democracia moderna

    a incluso universal com um sufrgio universal, livre e justo, h tambm um conjunto de

    direitos que no so apenas os do princpio da incluso, mas o princpio da contestao eda liberdade. Ou seja, a possibilidade de haver opinies diferentes ao Governo a qualquer

    altura, em que h actuao entre os perodos eleitorais para determinar e influenciar

    aces do Governo. Para isso necessrio um conjunto de instituies de traos

    institucionais que faam com que a opinio individual tenha um peso e uma possibilidade

    de influenciar a agenda poltica igual. E que princpios so esses? Liberdade de expresso,

    liberdade de informao (mas tambm o princpio de que numa sociedade democrtica

    deve ter fontes alternativas de informao, ou seja, que haja uma panplia de fontes de

    informao com interpretaes e origens variveis), liberdade de associao e h ainda um

    ltimo ponto que a ideia de que deve haver no s uma possibilidade de diferenciao

    de interesses na sociedade civil, mas na arena poltica propriamente dita. A democracia

    realizvel em qualquer comunidade humana, pode ser difcil, mas possvel. O

    argumento de Dahl diferente, em que as democracias modernas so democracias

    eleitorais que tm um lado elitista (governantes/governados), mas qualitativamente

    diferente de outros princpios da organizao da poltica. A igualdade poltica um dos

    princpios clssicos em que h a ideia de que a dignidade entre seres humanos sempre

    a mesma, ou seja, que no h nenhum princpio que justifique que os seres humanos e

    determinadas categorias entre eles os faa diferentes por razes intrnsecas. O princpio

    da democracia pressupe dignidade e igualdade aos indivduos. Assim o ideal

    democrtico em que Dahl diz que raramente acontece, mas que as democracias mais

    fortes defendem que existe igualdade poltica. Ou seja, que as opinies e os interesses de

    cada cidado tem o mesmo peso e devem ser tidos em considerao da mesma maneira

    por parte dos dirigentes polticos. esta a ideia da democracia se bem que na prtica, em

    que Dahl reconhece, verdade em que existem eleies que competem, em que existem

    um conjunto de direitos, etc. O princpio da democracia para Dahl a igualdade poltica,

    em todos os homens e mulheres so iguais politicamente e devem ter a mesma

    capacidade de exprimir os seus interesses e devem ter o mesmo peso na agenda pblica,

    no havendo nenhum grupo superior a outros. H assim um culminar de tradies que

    originam esta ideia moderna que uma o tipo da repblica, o tipo socialista, o tipo doiluminismo em que cria uma sociedade mais racional. O princpio da democracia

  • 7/26/2019 Teorias Da Democracia

    27/59

    27

    filosfico e no institucional, sendo que o princpio da igualdade poltica, da nascem

    as instituies que promovem a democracia. As eleies so importantes porque

    promovem ou restringem ideais que levam igualdade poltica em que todos os indivduos

    tm a mesma dignidade poltica. Isto no pressupe necessariamente que as sociedades

    tm de ser iguais do ponto de vista scio-econmico, que o ideal de Dahl em que as

    sociedades ocidentais capitalistas so desiguais, pois o capitalismo gera desigualdade e

    problemas de coeso comunitria, mas que devem ser eliminadas apenas na medida em

    que afecta a igualdade poltica na arena pblica. Portanto quando se diz que o princpio

    democrtico so as eleies este pensamento est errado, porque a escolha do Governo

    pode violar o princpio da igualdade poltica. Dahl refere que a ideia das eleies

    representa uma escolha verdadeira por parte dos cidados, e que essa escolha uma

    escolha das polticas que os Governos vo desenvolver. Isso pressupe duas coisas

    erradas, na opinio de Dahl: 1) Houve uma escolha antes das eleies dos temas que vo

    ser debatidas e realizadas, em que isto no acontece, em que da agregao de