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Terça-feira, 26 de Dezembro de 2017

Terça-feira, 26 de Dezembro de 2017 - Exército Brasileiro ... de 26 Dez...Em 30 de março, o delegado Davi Ferreira da Rocha morreu em um acidente de trânsito quando se deslocava

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Terça-feira, 26 de Dezembro de 2017

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Investigação comprometidaCHICO PRADO TIAGO DANTAS [email protected] Falta de delegados ameaça apurações e prejudica até mesmo registro de ocorrências

Uma em cada duas cidades não tem delegado de polícia, mostra levantamento feito pelo GLOBO em 11

estados que reúnem mais de três mil municípios. Há casos em que moradores têm de percorrer até 100

quilômetros para ir a uma delegacia. -SÃO PAULO- Levantamento feito pelo GLOBO junto a sindicatos de

delegados de polícia no Brasil mostra a precariedade do sistema de investigação criminal, especialmente no

interior. A pesquisa obteve informações de 11 estados, que concentram 3.171 municípios. E, apenas neste

universo, há 1.684 municípios - ou seja, mais da metade - que estão sem delegados, de acordo com as entidades

de classe. Há ainda outras 2.399 cidades, de 16 estados, cujas associações não responderam aos

questionamentos da reportagem.

Em alguns casos, especialmente nas áreas rurais, moradores chegam a andar mais de 100 quilômetros

para conseguir registrar um boletim de ocorrência, tirar o RG ou mudar a documentação do carro. Sem pessoal

suficiente para investigar, crimes ficam sem solução e inquéritos se acumulam. A falta de policiais também traz

uma série de problemas para os próprios delegados, que são obrigados a acumular mais de um posto, sem

receber mais para isso, e a percorrer centenas de quilômetros para acompanhar ocorrências.

Os governos estaduais argumentam que algumas dessas cidades estão sem responsável pela Polícia Civil

porque são muito pequenas. Afirmam que tentam organizar a distribuição dos profissionais de acordo com as

regiões. Em pelo menos dois estados, Pernambuco e São Paulo, delegados relataram que a falta de investigação

nas cidades pequenas levou grupos criminosos a apostarem em roubos a caixas eletrônicos.

Minas Gerais é o estado com mais cidades sem delegado, entre as que responderam. Dos 853 municípios

mineiros, 607 não têm delegado, de acordo com o sindicato da categoria. Ao contrário de outros estados, que

possuem institutos responsáveis pela emissão do RG e de documentos de veículos, em Minas o documento é

impresso na delegacia. Quando não encontra um delegado, o morador precisa ir a outra cidade. DELEGADO

"TENTA" APURAR EM 5 CIDADES Responsável por três cidades a cerca de 310 quilômetros de Belo Horizonte, o

DESTAQUES

O GLOBO - RJ Investigação comprometidaFOLHA DE S. PAULO - SP PF diz que há indícios de que Maia recebia caixa 3O ESTADO DE S. PAULO -SP

Soltura de presos acentua divisão dentro do Supremo

VALOR ECONÔMICO -SP Governo quer saber se Embraer chegou a negociar controleCORREIO BRAZILIENSE - DF Previdência, eleição e Maluf agitam semana

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delegado Henrique Franco fica a maior parte do tempo em Pirapora, onde está a delegacia regional, a cerca de

uma hora de viagem dos outros dois municípios que atende.

- É uma área de grande extensão territorial, com muita zona rural. Tenho que me dedicar ao plantão em

Pirapora e chego a ficar só uma semana, por mês, em Várzea da Palma - diz Franco, que ilustra a situação: - Meu

chefe cuida de São Romão e precisa pegar rodovia, estrada de terra e até balsa. De duas a três horas de viagem,

dependendo do dia.

A Polícia Civil de Minas Gerais informou que não divulga o efetivo por questões de segurança e que "realiza

de forma técnica realocações em seu quadro de pessoal, tendo sempre o objetivo de melhor atender as demandas

necessárias e a população". Recentemente, foram contratados investigadores, peritos e legistas. Segundo a

polícia, nenhum município de está "sem o devido atendimento".

O delegado Murilo Gonçalves, de 31 anos, está há 4 anos na Polícia Civil de Goiás e já pensa em deixar a

corporação. Há dois meses, Gonçalves tenta investigar os crimes cometidos em cinco cidades do estado. Lotado

em Jussara, a 230 quilômetros de Goiânia, ele também é responsável por Fazenda Nova, Novo Brasil, Santa Fé e

Britânia - essa última ele não conseguiu visitar nos últimos dois meses.

- Faz dois meses que assumi essas cidades e ainda não consegui visitar Britânia, que fica a uns 100

quilômetros de Jussara, não sobrou tempo. Não tem nem motorista, na maioria das vezes eu vou dirigindo. Já

pensei em largar tudo e prestar concurso pra outra carreira, mas falta tempo até pra estudar - diz.

Dos 246 municípios de Goiás, 162 não têm delegados e o déficit atual, segundo a assessoria da Polícia

Civil, é de 193 profissionais. A presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil de Goiás, Silvana Nunes

Ferreira, atesta o desânimo da categoria e afirma que o índice de desistência da profissão gira em torno de 25%. A

Secretaria de Segurança Pública de Goiás não respondeu.

No Ceará, o delegado Carlos Eduardo Silva de Assis, titular da delegacia de Jaguaribe, tem se deslocado

tanto entre uma cidade e outra que a reportagem não conseguiu localizá-lo no posto policial na tarde de 14 de

dezembro. Assis atende mais sete municípios. Por telefone, a secretária da delegacia de Jaguaribe informou que,

naquele dia, o delegado estava em oitivas desde às 8h e só terminaria o trabalho do dia às 22h.

- Tem que ficar de uma cidade pra outra, 50 quilômetros aqui, 40 quilômetros ali - diz Assis.

O delegado Josel Dantas, diretor da Associação dos Delegados de Polícia do Ceará, diz que não há

delegados em 86 municípios dos 184 do estado.

- Isso aí prejudica o atendimento porque a população deixa de registrar ocorrência. Quando o crime

acontece, o delegado chega bem depois ao local e tem dificuldade até para encontrar testemunhas para ouvir

depoimento.

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), anunciou em novembro último a convocação de 476

inspetores e 201 escrivães, todos aprovados no último concurso realizado em 2015. ESTADO CONTESTA

SINDICATO Em nota, a Secretária da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará afirmou que "é incorreta a

informação de que um delegado chegue a responder por oito delegacias" e informou um número menor de

cidades sem distritos policiais. A pasta disse que "nas 62 cidades que não possuem unidades fixas da Polícia Civil,

as demandas são atendidas por delegacias regionais e municipais próximas".

Em São Paulo, a necessidade de se deslocar por estradas para atender ocorrências resultou em grave

acidente. Em 30 de março, o delegado Davi Ferreira da Rocha morreu em um acidente de trânsito quando se

deslocava para atender um plantão entre São José do Rio Preto e Fernandópolis, cidades distantes 116

quilômetros. Sem motorista, ele mesmo dirigia a viatura que bateu na traseira de um caminhão.

- O delegado fica 24 horas de sobreaviso, desrespeitando todas as normas internacionais de trabalho. O

governo tem que ser cobrado por situações como essa - diz Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindicato dos

Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que "todas as cidades contam com delegados

que respondem pelas unidades policiais". Ainda segundo o governo paulista, fazer um delegado cuidar de mais de

um município não traz "prejuízos às atividades de polícia judiciária".

O presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil, Rodolfo Laterza, projeta um déficit de

delegados de aproximadamente 6 mil profissionais em todo o país. Ele cita o Piauí, onde 160 delegados precisam

dar conta do trabalho de 224 cidades.

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No Rio, os 92 municípios estão cobertos por 593 delegados. O presidente do Sindicato dos Delegados de

Polícia do estado, Rafael Sarnelli Lopes, diz que "essa (falta de delegados) não é o maior problema" do estado,

marcado pelos altos índices de violência.

AÇÃO TIRA 109 MIL ARMAS DE FÓRUNS

Em apenas um mês, 109 mil armas de fogo foram retiradas dos fóruns de todo o país, a partir de um

convênio entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Exército. O acervo se acumulava há anos nas

dependências do Judiciário, mesmo quando o processo envolvendo o artefato já tinha se encerrado. Esperava-se

que parte das peças guardadas pudesse ser doada para as forças de segurança pública, porém menos de 0,1%

têm condições de reforçar o arsenal das policiais. Em números absolutos, somente cerca de 100 armas do total

recolhido poderá ser objeto de doação às forças de segurança - possibilidade aberta, por decreto, há

aproximadamente um ano.

A parceria entre CNJ e Exército se deu após vários assaltos a fóruns de justiça com o objetivo de roubar

armas. Em junho, criminosos levaram 391 peças - entre revólveres, pistolas, submetralhadoras e um fuzil - do

Fórum de Diadema, município da Grande São Paulo

Fuga para o Planalto - MÍRIAM LEITÃOMÍRIAM LEITÃO O grande risco com o Lula não é o radicalismo. Ele nunca foi radical, tanto que, como disse em entrevista na

última semana: "Esse mercado injusto que nunca me agradeceu com o tanto que ganhou." Deveria também ter

cobrado gratidão das empresas em geral, porque nos 13 anos do governo petista os benefícios para o capital

foram de 3% do PIB para 4,5% ao ano, um aumento, ao PIB de 2015, de R$ 90 bilhões.

Na entrevista, em que convidou um grupo de jornalistas para um café da manhã, o ex-presidente disse: "Eu

não tenho cara de radical, nem o radicalismo fica bem em mim." De fato. Não é esse o problema. O risco Lula é

institucional. Já condenado em primeira instância, réu em mais 5 processos, denunciado em outros, sua estratégia

é a fuga para o Planalto, único local onde poderá escapar de todas as ações, todas as investigações, onde terá

autoridade sobre a Polícia Federal, e poderá minar o poder do Ministério Público. O Brasil se transformará num

país em que a impunidade será coroada se o réu chegar à Presidência da República.

Ele tem usado a candidatura como defesa nas ações a que responde na Justiça. Provavelmente calcula que

quanto maiores forem suas intenções de voto mais inatingível ficará, mais poderá usar a versão de que é um

perseguido político.

Contudo, a Justiça terá que decidir diante das provas e dos autos e agora a palavra está com o TRF-4.

Mesmo na hipótese de ser absolvido, há outros processos contra ele. Lula se define como uma pessoa "mais

conhecida que uma nota de R$ 10", e tenta usar essa notoriedade para se blindar. Vai se aproveitar do tempo

jurídico e das muitas possibilidades recursais em seu favor. "Se eles cometerem a barbaridade jurídica de me

condenar tenho 'n' recursos para fazer, e vou continuar viajando."

A Justiça Eleitoral tem aceitado, inexplicavelmente inerte, à campanha presidencial antes da hora. Também

nada faz contra a descarada campanha de Jair Bolsonaro. Isso cria a distorção de punir quem cumpre a lei, e

favorecer quem a ofende. "O mundo é dos espertos", disse recentemente o técnico Renato Gaúcho, do Grêmio, ao

ser apanhado espionando adversários com drones. A tese do técnico tem se confirmado porque as intenções de

voto colocam Lula e Bolsonaro nos primeiros lugares. Pelo visto, bobo é quem cumpre a lei eleitoral.

Ao dar os primeiros toques do que seria seu programa, ele, de novo, recorre à demagogia. "Por que o povo

pobre tem que pagar mais imposto de renda do que o povo rico. Por que o rentismo não paga imposto de renda

sobre o que ele ganha? Por que a gente não pode começar a pensar em uma política tributária em que as pessoas

mais humildes paguem menos e os mais aquinhoados paguem mais? Por que não se coloca em prática a questão

do imposto sobre as grandes fortunas? Parece radicalidade, mas não é." Faltou uma pergunta: por que em 13

anos, quatro meses e 11 dias de governo, o PT não teve tempo de fazer o que ele propõe? Fez o oposto. As

deduções de imposto para os grandes grupos e setores empresariais, as transferências através de empréstimo

subsidiado, a elevação da dívida pública para aumentar em meio trilhão a capacidade de o BNDES dar crédito

barato para grandes empresas, como JBS, grupo X, Odebrecht e outros, foram as grandes marcas dos governos

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petistas na economia. O programa econômico executado por ele e sua sucessora foi regressivo. Gastou-se mais

dinheiro público com os muito ricos.

Lula prepara os truques com os quais vai responder às suas incoerências. Culpou o PT pela foto que tirou

com Maluf. "Quando Haddad foi candidato a prefeito em 2012 eu estava com câncer, inchado e foram me tirar de

casa para uma fotografia com Maluf."

Ele se comporta como se o país tivesse amnésia coletiva. Propôs mudar tudo através de uma Constituinte,

acusando a "elite"de ter feito uma nova Constituição desde 1988. O PT governou em quase metade desse tempo.

Critica a atual gestão da Petrobras como se não tivesse acontecido nas gestões petistas o maior escândalo de

corrupção da história do país.

Há todos os disfarces e truques de sempre, a demagogia costumeira, mas estes não são os maiores riscos,

e sim um fato de que ele tem contas a acertar com a Justiça e tenta, como defesa, a fuga para a Presidência da

República.

2018 melhor, mas turbulentoMARCELLO CORRÊA [email protected] A economia terminará 2017 melhor do que se esperava. Em janeiro, analistas previam que o Produto Interno

Bruto (PIB) cresceria só 0,5% este ano. Agora, segundo pesquisa do Banco Central, projetam alta de quase 1% e

inflação mais baixa - as previsões para o IPCA despencaram de 4,8% para menos de 3%. Com a retomada mais

forte do emprego e do consumo, melhoraram também as expectativas para 2018 e já há estudos que indicam

expansão acima de 3% no ano. Mas quem será o próximo governo? Essa é a dúvida que, para economistas, dará

o tom da economia e lançará desafios no ano que vem.

Analistas têm observado que o Brasil viveu três momentos em 2017. Empolgado pela aprovação da emenda

que estabelece um teto para os gastos públicos, o mercado esperava que o presidente Michel Temer tivesse força

para aprovar mais reformas, principalmente a da Previdência. A delação da JBS, em maio, no entanto, foi um

divisor de águas, e parte dos economistas previu que os desdobramentos sobre a economia seriam mais graves.

Nos últimos meses de 2017, já era comum ouvir a tese de que a economia se descolou da política. Agora, a visão

é a de que a influência de Brasília nos mercados aumente.

Um tempero para essa análise é a expectativa sobre o que acontecerá com a candidatura do expresidente

Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas de intenção de voto e condenado em primeira instância no âmbito da

Operação Lava-Jato. Seu caso será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no dia 24 de

janeiro. A Lei da Ficha Limpa prevê que, se ele for condenado em segunda instância, ficará inelegível. Portanto, as

apostas do mercado agora se dividem entre um cenário com Lula e outro sem ele.

- Em caso de uma eleição com o Lula, ele é o homem a ser batido e toda o esforço político vai ser para

aglutinar forças para derrotá-lo. Será praticamente dado que ele estará no segundo turno, e todos os outros

estariam disputando uma vaga - avalia Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. - Considerando

que o Lula é contra as reformas, toda vez que aparecer alguém (nas pesquisas) também não reformista, o

mercado ficará mais estressado. Sem o Lula, vai ser mais pulverizado, todo mundo vai achar que tem chance, mas

talvez o mercado opere com a possibilidade de dois candidatos não-reformistas para o segundo turno. REFORMA

DA PREVIDÊNCIA NO FOCO DAS ATENÇÕES O destino da reforma da Previdência é um dos principais

indicadores observados pelo mercado porque a medida é considerada fundamental para equilibrar as contas

públicas no longo prazo. Um país em desequilíbrio fiscal tende a ter dificuldade para pagar seus credores. A

indefinição sobre a reforma é a principal preocupação das agências de risco, que se reuniram na última semana

com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para atualizar a avaliação sobre o Brasil.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, resume: saber se teremos ou não reforma em 2019

dependerá de quem ganhar. Para Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de

Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), está claro que o celebrado descolamento entre economia e

política deve terminar no ano que vem. O especialista observa que, apesar das incertezas, o indicador de risco-

país (medido pelos credit default swaps, CDS, espécie de seguro para os investidores) recuou neste ano. Uma

tendência que pode ser revertida:

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- A partir de 2018, esse descolamento (da política e da economia) termina. Ainda que os fatores econômicos

sejam importantes, o fator político vai dominar a formação do risco país. Vamos viver um ambiente de muita

volatilidade. E o risco-país pode até ter viés de alta, dependendo das pesquisas eleitorais.

Em agosto, o governo anunciou que o rombo nas contas públicas previsto para este ano seria R$ 20 bilhões

maior que o previsto anteriormente: déficit de R$ 159 bilhões. Para 2018, a expectativa é que o país fique no

vermelho, também em R$ 159 bilhões. Ou seja, o ajuste fiscal foi a decepção de 2017 e será o maior desafio do

país nos anos seguintes, alerta Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do banco Goldman Sachs.

- No curto prazo, não houve ajuste fiscal. Essa parte continua a ser um problema enorme, que vai deixar

uma herança complicada para o próximo governo - acrescenta o economista do Goldman. INFLAÇÃO PUXOU

MELHORIA GERAL Boa parte do desempenho acima das expectativas em 2017 se deu por causa da inflação. A

safra recorde fez os preços de alimentos despencarem. Responsável, em média, por um quarto do orçamento

familiar, esse grupo de produtos recuava 2,4% até novembro, último dado disponível. Os alimentos consumidos

em casa devem ter queda ainda mais intensa, na faixa dos 4%, nas contas de Leal, do ABC Brasil.

- Tem nome e sobrenome o "culpado" dessa surpresa com a economia em 2017: alimentação em domicílio.

O clima foi bom para as safras este ano, e a própria recessão fez o consumidor restringir consumo, o que

favoreceu a queda de preços - resume Leal. - O nosso cenário otimista era de uma inflação próxima a 3,5%,

considerando uma alta de 3% da alimentação, que já seria o menor número desde 2007. A gente vai fechar com

queda próxima de 4%. Só essa diferença é mais de um ponto e meio percentual na inflação. Duvido que tivesse

alguém prevendo deflação para o ano.

Os preços mais baixos desencadearam um efeito em cadeia positivo, puxado pelo aumento do poder de

compra do brasileiro, o que turbinou o consumo. Descontada a inflação, o volume de dinheiro no bolso dos

trabalhadores cresceu em cerca de R$ 7 bilhões em relação ao ano passado. Esse montante se somou aos R$ 44

bilhões liberados das contas inativas do FGTS. Com mais gente comprando, o emprego, principalmente o informal,

também se beneficiou: o número de desempregados, que chegou a 14 milhões, está hoje em 12 milhões. Ainda

alto, mas com tendência melhor do que no passado.

- A inflação baixa sustentou os salários reais e o mercado de trabalho se recuperou mais cedo do que o

esperado. O poder de compra das famílias aumentou. Isso claramente explica um pouco o dinamismo do consumo

- avalia Ramos, do Goldman Sachs.

Já as previsões para os juros, que giravam acima de 10% ao ano, não se confirmaram: o país encerra o ano

com a menor Taxa Selic da história, de 7% ao ano.

"O mundo espera que o Brasil apresente soluções para o meio ambiente"RENATO GRANDELLE [email protected] A área ambiental exige o engajamento da população e do setor privado. Você não vai resolver todos os

problemas sentado em um gabinete Mantendo o atual modelo econômico, não haverá recursos naturais para

todos, o que acentuará a desigualdade social

Em sua mensagem de Natal, o Papa Francisco fez um alerta sobre o agravamento dos conflitos no mundo.

Destacou a tensão sobre Jerusalém, a crise na Venezuela e um modelo de desenvolvimento que chamou de

ultrapassado. "Sopram ventos de guerra", afirmou o pontífice. Como foi firmada a parceria entre Brasil e China?

Quando eu era ministra do Meio Ambiente, durante a Conferência do Clima de Paris, o Brasil fez um acordo

bilateral com a China. Queríamos desenvolver projetos nas área de recursos naturais, biodiversidade e mudanças

climáticas. Agora, eles mantêm um grande projeto de reflorestamento, o que é fundamental para reduzir a emissão

de gases de efeito estufa no mundo. Falaremos, a partir de janeiro, sobre temas como a recuperação de áreas

verdes e o uso do solo, porque nossa produção de alimentos desperta interesse. Esta parceria é parte de um

rearranjo político global.

A senhora deixou o governo federal e se tornou representante das Nações Unidas, um organismo

multilateral. Está satisfeita com a forma como as discussões ambientais ocorrem no mundo?

É interessante perceber que, até hoje, vivemos a herança da Rio 92. Na década de 1990, tivemos uma série

de conferências que ofereciam um projeto humanista para o século XXI. Começou em 1992, quando falamos de

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sustentabilidade. Nos anos seguintes, tivemos encontros especificamente para discutir os direitos humanos, as

questões de gênero, os assentamentos urbanos. E o clima e o desenvolvimento sustentável aos poucos tornaram-

se uma questão global. O futuro nunca foi tão incerto, e a nova geração consegue usar as tecnologias para se

remodelar a cada dia, mas não escapamos da crise ecológica. Mantendo o atual modelo econômico, não haverá

recursos naturais para todos, o que acentuará a desigualdade social. Hoje, um terço da comida produzida no

mundo é desperdiçada. Precisamos reduzir esta taxa, proteger as florestas, restaurar áreas degradadas.

E qual é o papel do Brasil?

Temos um papel muito importante na agenda internacional. O mundo espera que o Brasil apresente

soluções para o meio ambiente. Hoje, usamos menos de 10% de nosso território para produzir alimentos.

Podemos diminuir este espaço e, consequentemente, o desmatamento. Com a vegetação, absorvermos gases de

efeito estufa. É o modelo ideal. E uma forma de reduzirmos riscos cada vez mais frequentes. A crise hídrica

ocorrida entre 2014 e 2016 em São Paulo foi a maior em 54 anos. Nenhum modelo matemático previa isso. É um

exemplo do período de como o meio ambiente nos empurra para um cenário de vulnerabilidade e incerteza, que

está entrando na política. Trabalhei 32 anos no governo, dei minha contribuição. Os acertos são de todos e os

erros são meus, mas acho que a sociedade deve se posicionar.

E como isso pode ser feito?

Enfrentando a criminalidade, que se manifesta de várias formas, como o desmatamento, o tráfico e a

informalidade. Não devemos falar sobre jeitinho brasileiro. Em vez disso, precisamos dar oportunidades para os

produtores rurais, porque em suas terras há mais de 100 milhões de hectares de vegetação nativa que deve ser

preservada. Devemos consultar os indígenas sobre o que fazer em seus territórios. Aceitar que vivemos em um

país assimétrico, com diferentes históricos e formas de ocupação. Não vamos resolver os problemas do Cerrado

paulista na mesma hora que as falhas na Mata Atlântica em Pernambuco. Nós temos a maior reserva de recursos

naturais do planeta. Para usá-la, é necessário enfrentar problemas estruturais. Por exemplo, a Lei de Recursos

Sólidos demorou 21 anos para ser aprovada no Congresso, e ainda não temos todos os mecanismos para

implementá-la - é uma miopia, porque deixamos de desenvolver indústrias, gerar empregos e conter o impacto

ambiental nas atividades econômicas. Além do governo, a área ambiental exige o engajamento da população e do

setor privado. Você não vai resolver todos os problemas sentado num gabinete. Os órgãos ambientais não dão

conta de todas as demandas.

A senhora pode dar um exemplo?

Sim, nós temos unidades de conservação na Amazônia do tamanho de países. Quantos funcionários do

governo são necessários para monitorar o parque? Nem um batalhão do Exército daria conta. Precisamos de

cogestores, e isso implica mudar a lei, negociar e captar dinheiro para criar uma nova economia. Só que as

pessoas não querem isso. Aí vão para a Europa e elogiam as hidrovias. Poderíamos fazer algo parecido aqui.

Mas, em vez disso, ficamos com trauma de colonizados.

Quais foram suas maiores frustrações à frente do ministério?

Uma delas é o fato de que a pasta tem quatro sistemas nacionais - para meio ambiente, recursos hídricos,

florestas e unidades de conservação - que não conversam entre si. É uma esquizofrenia institucional, e o ministro

fica desesperado tentando juntar todo mundo. Para fazer a concessão de parques, precisa mudar a lei, e não dá

para jogar isso no Congresso, que tem um forte teor anti-ambiental. É difícil conseguir consensos, porque é

preciso credibilidade, e isso você perde em um estalar de dedos. A segunda frustração é a distância que existe

entre o que você quer e o que o sistema permite fazer. Às vezes, para implementar um projeto, precisamos de

acordos com outros ministérios, e isso não se restringe a assinar um memorando. Um órgão acaba não

aproveitando os dados que são disponibilizados pelos outros: informações estratégicas como os locais de conflito

de terra ou vulnerabilidade hídrica.

E suas principais conquistas?

Sem dúvida, o Acordo de Paris (em 2015). Até porque foi o Brasil que pediu o início das negociações, quatro

anos antes. Tenho muito orgulho das metas que assumimos para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, das

ações que tomamos internacionalmente para manter os princípios da Rio 92. E também me orgulho do Cadastro

Ambiental Rural (CAR). Assim, nós entendemos as várias questões do país, vimos que discutir a Amazônia não é

o mesmo que falar sobre um agricultor em Santa Catarina. Abrimos discussões que mantiveram áreas de

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preservação permanente. Havia uma bancada que queria destruir as dunas no Nordeste para construir hotéis. Foi

um aprendizado enorme sobre negociação política, para o bem e para o mal. Eu me lembro das angústias, de

pessoas que entravam no meu gabinete acertando um trabalho e, na saída, metendo o pau para aparecer na

mídia.

Sua vida pública no Brasil acabou?

Completamente. Vou seguir trabalhando com relações internacionais. No Brasil, não tenho ambição política

nem para ser síndica.

E a senhora avalia a atual gestão ambiental, diante de polêmicas como a tentativa de reduzir unidades de

conservação e isentar petrolíferas de impostos?

Eu me dou muito bem com o (ministro do Meio Ambiente) Sarney (Filho). Quando você senta naquela

cadeira do ministério, você tem que reaprender tudo o que você acha que sabe. Mas percebo sinais que indicam

desprestígio na área ambiental, a partir do momento em que posições de confiança, como a direção da Agência

Nacional de Águas, são entregues a barganhas políticas. Talvez o meio ambiente seja visto como "criador de

casos". Criamos parques com regularização fundiária na Amazônia, e agora o Congresso quer "descriar". O

decreto que extinguiria a Reserva Nacional de Cobre também foi um sinal de fragilidade para o meio ambiente,

mas o ministério resiste.

EUA começam retaliação na ONU negociando cortes no orçamento -WASHINGTON- Enquanto Israel recebeu da Guatemala o primeiro passo em consonância com a decisão

dos EUA de levarem sua embaixada para Jerusalém, os americanos começaram a concretizar sua retaliação à

ONU, que tem a questão israelense como um dos principais pontos de atrito. A missão americana na entidade

anunciou ontem que o orçamento básico para o biênio 2018/2019 será reduzido em mais de US$ 285 milhões,

revelando uma negociação na qual seu país provavelmente cortará altos gastos. Os EUA são os maiores

contribuintes para as finanças da ONU, fornecendo 22% do montante.

A Assembleia Geral aprovou um orçamento de 5,3 bilhões de dólares para o ano fiscal 20182019, pouco

abaixo dos 5,4 bilhões solicitados pelo secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres. A embaixadora

americana na ONU, Nikki Haley, declarou em um comunicado que a "ineficiência e gastos excessivos" da

organização eram "bem conhecidos".

"Esta redução histórica de custos - juntamente com muitos outros movimentos para tornar a ONU mais

eficiente e responsável - é um grande passo na direção certa", acrescentou Haley, sem precisar quais áreas terão

cortes e qual será a economia pelos EUA.

CONTATOS DIPLOMÁTICOS Após uma dura derrota na ONU, quando 128 países condenaram a decisão

de transferir a embaixada, os EUA endureceram o discurso: Haley prometeu "anotar os nomes" dos países que

criticaram a decisão do governo de Donald Trump e garantiu que haveria retaliações financeiras, assim como o

presidente prometera. Trump também deixara a Unesco por divergências sobre patrimônios históricos e culturais

disputados entre israelenses e palestinos.

Dos 193 países que compõem a Assembleia, vários aliados de Washington votaram contra a iniciativa dos

EUA, incluindo a França e o Reino Unido. A análise geral foi de que a decisão de Trump obscureceu a paz no

Oriente Médio e provocou ainda mais tensões com os palestinos. Somente sete países votaram junto a EUA e

Israel: Guatemala, Honduras, Togo, Micronésia, Nauru, Palau e as Ilhas Marshall.

Ontem, a Guatemala foi o primeiro país a seguir os passos de Trump: o presidente Jimmy Morales anunciou

ontem que irá transferir sua embaixada em Israel para Jerusalém. A manobra é entendida como uma forma de o

pequeno país da América Central consolidar seu apoio aos EUA. Morales anunciou uma conversa com o primeiro-

ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a quem prometeu a transferência da sede diplomática guatemalteca,

hoje alocada em Tel Aviv.

"Dei instruções à chanceler (Sandra Jovel) para que inicie a respectiva coordenação", escreveu Morales no

Facebook.

Morales indicou, ainda, que falou com o primeiro-ministro sobre "as excelentes relações entre as duas

nações desde que a Guatemala apoiou a criação do Estado de Israel". A Guatemala participou da criação do

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Estado de Israel em 1947, primeiro como um dos 11 membros da Comissão Especial para a Palestina e, em

seguida, ao votar a favor do estabelecimento de Israel na ONU.

Netanyahu classificou a decisão como "importante", prevendo que "outros países reconhecerão Jerusalém e

anunciarão a transferência de suas embaixadas (...) É apenas o começo".

Os palestinos consideraram a iniciativa um "ato odioso" e hostil, "que vai de encontro aos sentimentos dos

líderes das igrejas em Jerusalém" e da recente resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações

Unidas (ONU), segundo um comunicado divulgado ontem pelo ministério das Relações Exteriores palestino.

Segundo a vice-ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Hotovely, o país está em contato com ao

menos dez nações, algumas da Europa, para abordar o tema da transferência.

Reação ao indulto - MERVAL PEREIRAMERVAL PEREIRA A revolta dos procuradores de Curitiba com a ampliação do indulto de Natal concedido pelo presidente

Michel Temer mostra bem o que entendem estar por trás dela: a tentativa de influir no andamento das

investigações da Lava- Jato e de outras operações que desvendam atos de corrupção. A medida é vista como um

compromisso governamental de livrar da cadeia os condenados, neutralizando uma das mais importantes armas

da investigação, a delação premiada. Além da reação retórica, que tem atingido tons muito acima do normal,

especialmente por parte dos procuradores de Curitiba, caberia ação de inconstitucionalidade junto ao Supremo

Tribunal Federal (STF), ou pode acontecer de juízes de execução penal, caso a caso, deixar de aplicá-la se

entenderem que é inconstitucional.

Alguns advogados consideram que é uma argumentação provável. A maioria consultada considera possível,

porém difícil. Existem casos de juízes negarem indulto por falta de reparação do dano decorrente de corrupção.

Como a lei para progressão da pena exige a reparação, a mesma lógica poderia ser aplicada ao indulto. Não é

argumento incontroverso.

Com a perspectiva de receber o indulto depois de cumprir apenas 1/5 da pena, quem vai fazer delação,

pergunta o procurador-chefe da Lava-Jato, Deltan Dallagnol. Ele ressalta que, na "colaboração premiada", o réu

entrega informações e provas sobre crimes e criminosos, assim como devolve o dinheiro desviado, em troca de

uma diminuição da pena. Essas informações e provas são usadas para expandir as apurações e maximizar a

responsabilização de criminosos e o ressarcimento aos cofres públicos. O réu só faz um acordo quando corre o

risco de ser condenado a penas sérias, ressalta Dallagnol, sem se incomodar com a acusação de que a Lava-Jato

se utiliza das prisões prolongadas para conseguir delações.

No ano passado, o indulto previa que só poderiam ser beneficiados os sentenciados a no máximo 12 anos,

que tivessem cumprido um quarto da pena, se não reincidentes. Agora, o tempo de cumprimento cai para um

quinto, independentemente do total da punição estabelecida na condenação.

A ampliação do indulto seria uma medida entre tantas que tentam aprovar, em diversas esferas de poder,

para esvaziar a Lava-Jato. Antevendo essa possibilidade, a força-tarefa de Curitiba havia solicitado ao Conselho

Nacional de Política Penitenciária e Criminal que fossem feitas mudanças no indulto de Natal, para que os

condenados por crime de corrupção não fossem beneficiados.

O presidente não aceitou as ponderações de órgãos consultores e, segundo o ministro Torquato Jardim

(Justiça), tomou uma "decisão política" de ampliar os efeitos do indulto. O presidente, disse o ministro, "(.),

entendeu que era o momento político adequado para se mudar a visão, ter uma visão mais liberal da questão do

indulto no direito penal".

O juiz Sergio Moro está também em campanha para que outra medida não venha a ser tomada, desta vez

pelo STF: a interdição da prisão depois de uma condenação em segunda instância. Seria outro golpe mortal nas

investigações, também na linha de reduzir o estímulo às delações premiadas.

Sem a ameaça de prisão em condenação de segunda instância, o réu poderia continuar tentando alargar o

tempo dos recursos, como acontecia antes da decisão do Supremo que está prestes a ser revogada. O julgamento

que permitiu a antecipação da prisão, antes do trânsito em julgado, terminou com o placar de 6 a 5, mas o ministro

Gilmar Mendes já anunciou que reverá a posição quando o assunto voltar a julgamento.

Continuação da Resenha Diária de 26 Dez 2017 - Página 9 / 55

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Mesmo que o ministro Alexandre de Moraes confirme o voto a favor dado por seu antecessor, Teori

Zavascki, como se comprometeu na sabatina do Senado, o resultado será invertido.

O empresário Marcelo Odebrecht, por exemplo, só se decidiu a fazer a delação premiada depois que o STF

tomou tal decisão. Para Dallagnol, "a grande verdade é que grandes líderes partidários estão na mesma berlinda e

que as investigações estão em expansão e que o que ele (Temer) está conseguindo é uma saída para todo

mundo." De acordo com a Lava-Jato, 37 corruptos condenados por Sergio Moro poderão ser beneficiados pelo

indulto de Temer.

A afirmação do ministro da Justiça de que a ampliação do indulto foi "uma decisão política" de Temer, que

considerou esta ser a hora apropriada para uma visão mais "liberal" desse poder concedido ao presidente da

República, mostra bem como Temer encara o combate à corrupção no país. O que mais indica que essa decisão é

benefício inestimável aos futuros condenados por corrupção é que ela está tendo o apoio de amplos grupos

políticos, dentro e fora de sua base aliada, demonstrando que as ações da Lava Jato não têm objetivo partidário

específico, como são acusadas.

Os pontos-chave

1

Indulto concedido por Temer é visto pela Lava-Jato como medida para enfraquecer operação

2

Na delação, réu tem benefícios, como a redução da pena aplicada

3

Afirmação do ministro da Justiça de que indulto foi "decisão política" mostra como Temer vê o comabte à

corrupção no país

Expulsão de embaixador em marcha lentaMANOEL VENTURA [email protected] -BRASÍLIA- Três dias após a Assembleia Constituinte da Venezuela declarar o embaixador brasileiro em

Caracas, Ruy Pereira, persona non grata - o que significa que o diplomata será expulso -, o Brasil ainda aguarda o

comunicado oficial para também expulsar o encarregado de negócios venezuelano no país. Pereira está no Brasil,

onde pretendia passar as festas de fim de ano. Por sua vez, o Canadá, cujo embaixador também teve a retirada

ordenada pelo chavismo, já aplicou a reciprocidade.

- Ainda não recebemos (o comunicado) - disse ao GLOBO o ministro das Relações Exteriores, Aloysio

Nunes Ferreira.

Pereira foi declarado persona non grata pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC) chavista no último

sábado. Em nota divulgada no mesmo dia, o Itamaraty disse que "tomou conhecimento" da expulsão do diplomata

brasileiro e que "caso confirmada, essa decisão demonstra, uma vez mais, o caráter autoritário da administração

de Nicolás Maduro e sua falta de disposição para qualquer tipo de diálogo". "O Brasil aplicará as medidas de

reciprocidade correspondentes", continua o texto.

DEZENAS DE PRESOS POLÍTICOS LIBERTADOS Já que Maduro retirou seu embaixador após o

impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, como parte do congelamento das relações, o resposta do Brasil

seria expulsar o atual encarregado de negócios da Venezuela. Além disso, o Itamaraty não tem nenhuma previsão

de enviar outro embaixador brasileiro a Caracas.

A informação de que o diplomata brasileiro será expulso foi dada pela presidente da Constituinte da

Venezuela, a ex-chanceler Delcy Rodríguez. Ela confirmou, ainda, a declaração de persona non grata do

encarregado de negócios da Embaixada do Canadá, Craib Kowalik.

- No âmbito da competência da Assembleia Constituinte, decidimos declarar como persona non grata o

embaixador do Brasil até que se restitua o fio constitucional que o governo de fato rompeu neste país-irmão -

afirmou Delcy, acusando Brasil e Canadá de "permanente e grosseira intromissão nos assuntos internos da

Venezuela" e questionando a legitimidade do governo de Michel Temer.

Na semana anterior, ambos os países questionaram a recente decisão adotada pela Constituinte de

dissolver dois governos municipais - Grande Caracas e Alto Apure - por motivos aparentemente políticos. Tanto o

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Itamaraty quanto vários países latino-americanos vêm endurecendo a postura crítica com a Venezuela, isolando-a

diplomaticamente em instâncias como OEA e Mercosul.

O embaixador brasileiro retornara a Caracas em julho depois de permanecer nove meses no Brasil pela

tensão política entre os dois países. O diplomata havia sido chamado ao Brasil para consultas em setembro do

ano passado, após o governo de Maduro congelar vínculos no rastro de duras críticas feitas ao processo de

impeachment de Dilma. Diante do recrudescimento da crise política no país vizinho, o Itamaraty julgou que seria

importante manter um representante com o status máximo em Caracas.

O Canadá, por sua vez, afirmou ontem que o embaixador venezuelano "já não é bem-vindo", declarando-o

persona non grata em represália à expulsão de Caracas do encarregado de negócios canadense. O embaixador já

havia sido retirado pelo governo do presidente Nicolás Maduro em protesto pelas sanções canadenses contra

funcionários venezuelanos envolvidos em atos de corrupção e violações dos direitos humanos - na sexta-feira,

Ottawa decidiu, entre outras medidas, proibir a presença em seu território de 52 funcionários de Venezuela, Rússia

e Sudão do Sul por corrupção ou violações dos direitos humanos.

A expulsão de Craig Kowalik é "típica do regime de Maduro, que tem minado todos os esforços para

restaurar a democracia e ajudar o povo venezuelano", denunciou a ministra canadense das Relações Exteriores,

Chrystia Freeland.

- Os canadenses não ficarão à margem enquanto o governo da Venezuela despoja seu povo dos direitos

fundamentais democráticos e humanos, e lhes nega acesso à assistência humanitária básica - destacou ela.

Ontem, a Venezuela libertou mais oito opositores, elevando a 44 o número de ativistas por recomendação

da Assembleia Constituinte como parte de um gesto natalino de boa vontade antes de novos diálogos políticos

com a oposição, na República Dominicana.

- É importante destacar que isto representa apenas 16% dos presos políticos - ressalvou à AFP Alfredo

Romero, diretor da ONG de direitos humanos Foro Penal.

(Com redação e agências internacionais)

'Nenhuma dúvida sobre a troca de votos por indulto'JANAÍNA FIGUEIREDO [email protected] -BUENOS AIRES- Analistas e jornalistas peruanos estavam em estado de choque ontem, tentando assimilar

o indulto concedido pelo presidente Pedro Pablo Kuczynski (PPK) ao ex-chefe de Estado Alberto Fujimori. Um dos

impactados pela notícia foi Angel Paez, chefe da equipe de investigações do jornal "La República" e autor de

várias reportagens sobre os crimes cometidos pelo ex-presidente. Em entrevista ao GLOBO, Paez assegurou que

o presidente trocou sua permanência pela liberdade de Fujimori e corre novos riscos pelo gesto.

O senhor esperava este indulto?

Não, foi uma surpresa. Apesar dos indícios dos últimos dias (sobre negociações entre PPK e um dos filhos

de Fujimori), pensei que não era verdade. Não achei que seria resultado de um acordo político clandestino entre o

presidente e o filho de Fujimori, Kenji Fujimori. Há seis meses ele começou um processo de aproximação ao

presidente e distanciou-se do resto da bancada fujimorista.

Não existem dúvidas sobre o acordo entre ambos para livrar o presidente do impeachment e libertar

Fujimori?

Não, nenhuma. Foi confirmado por vários congressistas. Houve uma troca de votos por indulto. Foi

confirmado até mesmo que Fujimori ligou da prisão para modificar votos da bancada fujimorista e conseguir as dez

abstenções que salvaram Kuczynski.

Qual será o custo desta decisão para Kuczynski?

Será alto. Os que estavam contra seu impeachment diziam que o presidente devia ter a oportunidade de

defender-se. Ele também dizia que não tinha negociado um acordo com Kenji Fujimori. Seu porta-voz no

Parlamento, Juan Sheput, disse depois da votação que não existia nenhum pacto para indultar Fujimori. Mas isso

é mentira, e por isso ele pode enfrentar um novo processo de impeachment. Ele trocou sua permanência no

governo pela liberdade de Fujimori. Vários de seus congressistas estão deixando a bancada governista.

Continuação da Resenha Diária de 26 Dez 2017 - Página 11 / 55

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Alto preço pela salvaçãoBRENO SALVADOR [email protected] "Quero agradecer em nome da família Fujimori (...) Estamos eternamente gratos a você, presidente. Deus o

ilumine" Kenji Fujimori Deputado e filho do ex-presidente "Ficará a ideia de que sua libertação foi uma mera

negociação política em troca da permanência no poder" José Miguel Vivanco Diretor para as Américas da Human

Rights Watch

-RIO E LIMA- Divididos politicamente e recuperandose de um processo-relâmpago de impeachment contra o

presidente Pedro Pablo Kuczynski (PPK), que acabou fracassando na última hora, os peruanos viram se

concretizar o que muitos temiam como o preço a ser pago pela sobrevivência política do chefe de Estado: a

liberdade do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000). A concessão de um indulto humanitário por PPK ao ex-

líder, que cumpria 25 anos de prisão por crimes de corrupção e contra a Humanidade, foi recebida com protestos

contra o "atropelo à Justiça" e gerou mais dores de cabeça ao governo, com novas renúncias num Executivo já

fragilizado. Tudo justamente por seu rival ex-mandatário, uma figura que ainda hoje polariza a sociedade peruana

e dá cara e nome ao mais famoso movimento político de seu país.

A notícia caiu como uma bomba: em plena noite da véspera de Natal, PPK anunciou o indulto humanitário

por razões de saúde a oito pessoas, dentre elas Fujimori - que, aos 79 anos, sofre com problemas de saúde e é

frequentemente internado por hemorragias, hipertensão e decorrências de um câncer na língua. Dentre as razões

citadas por uma junta médica penitenciária que examinou Fujimori no dia 17, um indulto seria justificado pelo

tumor, a fibrilação auricular, as crises hipertensivas, a cardiopatia e o hipotireoidismo. No dia 23, Fujimori havia

sido levado para uma clínica após sofrer arritmia cardíaca e queda na pressão arterial. "As condições carcerárias

representam um sério risco para sua vida, saúde e integridade", avaliou a junta.

Para os fujimoristas, foi um presente de Natal: no dia 24, muitos apoiadores do ex-presidente saíram às ruas

de Lima com gritos de ordem a seu favor.

"Gostaria de agradecer em nome da família Fujimori o presidente Pedro Pablo Kuczynski pelo nobre e

magnânimo gesto de conceder ao meu pai Alberto Fujimori um indulto humanitário", pronunciou-se no Twitter o

deputado Kenji Fujimori, filho do ex-presidente e tido por analistas como artífice da salvação de PPK na semana

passada.

Manifestações contrárias marcaram a atípica véspera de Natal - com confrontos entre a polícia e mais de

200 jovens que tentaram marchar até o Palácio do Governo com fotos de algumas das vítimas da repressão sob

Fujimori. Diante de uma grande marcha convocada em Lima contra a decisão do presidente e ruas ocupadas no

centro da capital ontem, o governo fechou todos os acessos à Praça de Armas, principal espaço público da capital

e onde está a sede do Executivo federal.

DESERÇÕES EM GABINETE E BASE PARLAMENTAR As especulações de um indulto vinham tomando o

país desde o rápido avanço do processo de impeachment contra PPK por causa de um escândalo de acusações

de subornos milionários pela empreiteira brasileira Odebrecht. O afastamento acabou frustrado na hora da votação

graças à facção da bancada mais radical do fujimorismo, liderada por Kenji. Rachado com os partidários de sua

irmã, a líder opositora e ex-candidata presidencial Keiko Fujimori (que perdeu para PPK em 2016, por estreita

margem), um grupo de dez deputados do partido Força Popular decidiu se abster do voto - fazendo com que a

maioria necessária para suspender o presidente não fosse alcançada. Isto aumentou ainda mais os rumores de

que o ex-presidente teria negociado com o governo a concessão, já que deputados disseram ter recebido a

informação do pedido de indulto durante os debates sobre destituição no Congresso.

"Hoje é um grande dia para a minha família e para o fujimorismo. Finalmente, meu pai está livre. Esse será

um Natal de esperança e felicidade", limitou-se sobre o tema Keiko, presidente da Força Popular e impulsora de

uma ala mais moderada do movimento político de direita que leva o sobrenome do pai. Ontem, vários dos

fujimoristas rompidos com Keiko visitaram o ex-presidente na clínica onde está internado e de onde sairá em

liberdade quando receber alta médica.

PPK afirmara em várias ocasiões que não concederia indulto a Fujimori - apesar de ter sinalizado com uma

análise de um eventual pedido de indulto, durante o segundo turno das eleições de 2016, num aparente gesto para

atrair mais simpatizantes do ex-mandatário. Agora, analistas veem que o perdão estremeceu seu Gabinete,

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mesmo tendo acalmado a porção majoritária do Congresso.

- É evidente que houve uma troca da salvação do impeachment pelo indulto - avaliou à AFP o analista Mirko

Lauer. - Estamos avançando a uma nova era de instabilidade.

O diretor de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Roger Rodríguez Santander, renunciou em protesto,

assim como já é dado como certo que o faça o ministro da Cultura, o ator Salvador del Solar. Em nota, Santander

acusou ainda o exmandatário de "manipular a realidade" com alegações de crises de saúde: "Os feitos execráveis

que justificaram sua justa sentença condenatória por violação de direitos humanos determinam que tal indulto

careça de justificação jurídica."

E, já em minoria num Congresso cuja força principal é o fujimorismo, PPK ainda perdeu dois de seus 18

deputados (o Parlamento tem 130). Alberto de Belaunde anunciou ontem sua renúncia em protesto pela decisão,

enquanto Carlos Basombrío declarou dias antes sua saída da bancada governista por causa das implicações de

PPK com o caso Odebrecht. Críticas também vieram de membros de outros partidos no Congresso.

"PPK consuma um ato de felonia: usa o clima natalino para pagar um favor político (...) e abrindo caminho

para a impunidade para crimes de corrupção e lesa-Humanidade", atacou em nota o deputado Marco Arana, da

Frente Ampla.

APELO À CORTE INTERAMERICANA Fujimori é a figura política mais conhecida do Peru, e a mais

polêmica: apesar de manter base popular e parlamentar conservadora muito forte, é considerado por quase todo o

espectro político um ditador pelo estilo autoritário de governo, a dissolução do Congresso no "autogolpe" em 1992

e as sucessivas violações a direitos humanos em zonas rurais onde o governo combatia a guerrilha de esquerda

Sendero Luminoso. Esterilizações forçadas, sequestros, desaparecimentos forçados e execuções se tornaram

frequentes em seu período de governo, sob supervisão sua e de seu chefe de Inteligência, Vladimiro Montesinos.

Famílias de 25 mortos pelos "esquadrões da morte" do Exército no governo Fujimori ficaram inconformados

com a concessão do indulto. Representantes legais querem anular a decisão presidencial apelando à Corte

Interamericana de Direitos Humanos, avaliando que PPK extrapola suas faculdades constitucionais. Relator

especial da corte, Edison Lanza acenou com a possibilidade, afirmando que "não se aprende mais na América".

- Não é possível dar indulto a estes crimes - afirmou o advogado das vítimas, Carlos Rivera.

A sensação geral foi de atropelo à Justiça. Diretor para as Américas da Human Rights Watch, José Miguel

Vivanco afirmou que PPK "deixa de reafirmar que, em um estado de Direito, não há tratamento especial para

ninguém". Segundo ele, "ficará a ideia de que a libertação foi uma mera negociação política" em troca de sua

salvação política.

- Estamos muito indignados, a sensação é basicamente de traição. Mal havia acontecido a bomba da

implicação (de PPK) com a Odebrecht e a possibilidade de destituição, e em plena véspera de Natal nos

surpreende com uma facada pelas costas libertando o maior vilão da história política do Peru - protestou ao

GLOBO a especialista em relações internacionais Vanina Montalvo, que integrou uma frente de peruanos

antifujimoristas no Rio durante as eleições de 2016. - Não permitiremos um novo assassinato da democracia. Não

é possível que, 20 anos depois, as vítimas de Fujimori ainda tenham que implorar por justiça. Não iremos deixar o

Peru passar essa vergonha diante do mundo todo.

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PF diz que há indícios de que Maia recebia caixa 3REYNALDO TUROLLO JR. Advogado de defesa diz que presidente da Câmara já prestou depoimento; ele não quis comentar o teor

DE BRASÍLIA

Em relatório de um dos inquéritos que investigam o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a

Polícia Federal apontou indícios de que suas campanhas receberam dinheiro de empresas a mando da

Odebrecht, prática chamada pelos investigadores de "caixa três".

Desde que vieram a público as delações de donos e executivos da empreiteira, em abril, apontava-se a

Cervejaria Petrópolis, que fabrica a Itaipava, como a principal parceira da Odebrecht no caixa três.

Segundo a Odebrecht, a cervejaria doou nas eleições de 2008,2010,2012 e 2014 cerca de R$ 120 milhões a

diversos políticos a pedido da empreiteira -e usou ainda outras duas empresas com as quais mantinha negócios.

Agora, as investigações têm buscado os beneficiários, que não foram devidamente identificados nas delações.

No seu relatório, a PF destacou ter localizado na prestação de contas da campanha de Maia de 2014 uma

doação de R$ 200 mil da empresa Praiamar Indústria Comércio e Distribuição, ligada à Cervejaria Petrópolis. A

Praiamar doou ao diretório nacional do DEM, que repassou a Maia.

Também em relação a 2014, a PF anotou haver doações da Cervejaria Petrópolis ao diretório nacional do

DEM, no valor de R$ 6,1 milhões.

Já em 2010, segundo a polícia, a campanha de Maia à Câmara recebeu R$ 389 mil do diretório estadual do

DEM fluminense. O diretório, por sua vez, havia recebido R$20 mil da Praiamar e R$ 80 mil da Leyroz Caxias

Indústria Comércio e Logística, outra empresa ligada à Cervejaria Petrópolis.

Até aquele ano, o sistema da Justiça Eleitoral não permitia verificar a fonte original de recursos que

chegassem às campanhas por meio de diretórios partidários. A PF observou que ê "certo de que existe a

possibilidade de [os valores repassados a Maia pelo diretório] terem sido originados das referidas empresas

parceiras da Odebrecht [Praiamar e Leyroz]".

Investigado no mesmo inquérito, o pai do presidente da Câmara, o vereador do Rio Cesar Maia (DEM),

também recebeu doação de R$ 50 mil da Cervejaria Petrópolis. O repasse foi via diretório nacional do DEM em

2014, quando ele disputou uma vaga no Senado e perdeu.

O relatório da PF ê de 28 de junho e se tornou acessível no inquérito no final de novembro.

TRIANGULAÇÃO

Em depoimento à PF em julho, o dono da Cervejaria Petrópolis, Walter Faria, disse que estreitou relações

com a Odebrecht após a empreiteira construir suas fábricas. Em 2010, segundo Faria, o então executivo da

Odebrecht Benedicto Júnior, o BJ, lhe perguntou se ele poderia fazer doações eleitorais.

Segundo Faria, "BJ lhe explicou que [a empreiteira] não desejava figurar como a maior doadora para

políticos". O empresário disse que, apesar de ter topado, também não queria aparecer como grande doador. Foi

então que o dono da Praiamar e da Leyroz, Roberto Fontes Lopes, "grande distribuidor do Grupo Petrópolis", lhe

disse que gostaria de doar a políticos.

O dono da cervejaria afirmou que não dava a Lopes o dinheiro para as doações, mas "fornecia "uma

gordura" na negociação dos preços das bebidas que eram distribuídas" pela Praiamar e pela Leyroz.

Em regra, afirmou, o dinheiro saía da Petrópolis a pedido da Odebrecht e depois era "debitado de uma conta

corrente" mantida entre a cervejaria e a empreiteira. Nos acertos, segundo Faria, a cervejaria chegava a

ganhar descontos da Odebrecht na construção de fábricas.

Faria entregou à PF uma tabela que, segundo ele, distingue as doações que foram feitas pela cervejaria

espontaneamente das que foram a pedido da Odebrecht. Entre essas últimas estavam os R$ 6,1 milhões ao DEM

em 2014.

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A PF também ouviu Lopes, dono da Praiamar e da Leyroz. Ele afirmou que quis fazer doações de boa-fê,

para ganhar reconhecimento, e não detalhou as contribuições a Maia.

De julho a novembro a PF tentou ouvir Maia nesse inquérito. Houve um adiamento, a pedido da defesa, mas

mesmo assim Maia não compareceu na data marcada. O depoimento foi remarcado para 3 de outubro. Nesse dia,

porém, chegou à PF uma petição da defesa argumentando que pedira ao relator do caso no STF, Edson Fachin,

para redistribuir o inquérito sob a alegação de que não havia conexão entre essa apuração e a Lava Jato.

A presidente da corte, ministra Cármen Lúcia, decidiu manter o caso com Fachin. A defesa de Maia

recorreu, mas

a decisão foi mantida.

O advogado de Maia, Danilo Bonfim, disse à Folha que o deputado já foi ouvido pela PF. Ele não quis

comentar o teor do depoimento.

OUTRO LADO

Deputado diz que doações respeitaram a lei

DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou, por meio de sua assessoria, que todas as

doações recebidas em suas campanhas respeitaram a legislação e estão registradas na Justiça Eleitoral.

"Maia reitera que confia na Justiça e está à disposição das autoridades, pois tem interesse que tudo seja

esclarecido com a maior brevidade possível", diz a nota.

Sobre os três depoimentos à PF que foram desmarcados, a assessoria do presidente da Câmara afirmou

que o deputado não pôde ir na data estabelecida e apresentou justificativas que foram aceitas. "Não houve

protelação", afirmou.

Sete em cada dez brasileiros são contra as privatizaçõesTAIS HIRATA Oposição da população deve ser entrave a privatizações planejadas para 2018, como a da Eletrobras

DE SÃO PAULO

Sete em cada dez brasileiros se opõem à privatização de estatais, aponta levantamento do Datafolha.

A maioria (67%) da população também vê mais prejuízos que benefícios na venda de companhias

brasileiras para grupos estrangeiros.

A oposição a privatizações predomina em praticamente todos os recortes analisados -por região, sexo,

escolaridade, preferência partidária e aprovação à gestão Temer.

0 único cenário em que a ideia ê aceita pela maioria ê entre aqueles com renda superior a dez salários

mínimos por mês, dos quais 55% se disseram favoráveis.

A aceitação cai conforme diminui a renda familiar mensal. Entre os que ganham até dois salários mínimos,

13% são a favor.

Os moradores do Norte e do Nordeste são os mais resistentes -com taxas de 78% e 76% de reprovação,

respectivamente-, enquanto os do Sudeste são os que melhor aceitam a ideia: são 67% contrários e 25% a favor.

As privatizações sofrem resistência até de eleitores de partidos e políticos em geral favoráveis à venda de

estatais. Entre quem aponta como partido de preferência o PSDB -que historicamente apoiou e promoveu

desestatizações-, 55% se disseram contrários, e 37%, a favor.

Foram ouvidas 2.765 pessoas com margem de erro de dois pontos percentuais.

0 placar ê mais apertado entre os que avaliam como bom ou ótimo o governo de Michel Temer -que tem

promovido uma série de projetos de privatização-, mas a maioria (51%) também se opõe.

Essa resistência ê o principal entrave para as desestatizações que o governo pretende concluir até o fim de

2018, segundo analistas -a Eletrobras ê a maior delas.

A privatização da Petrobras -tema já levantado por ministros e prê-candidatos à Presidência- também ê

fortemente rechaçada pela maior parte da população: 70% se disseram contrários, e 21%, a favor. Os demais não

souberam responder ou se disseram indiferentes.

Pesquisa feita pelo Datafolha em 2015 questionou: "Você ê a favor ou contra a privatização da Petrobras?".

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A época, 24% declararam ser favoráveis e 61%, contrários.

Uma possível participação de capital estrangeiro na Petrobras tem oposição ainda maior: 78% se disseram

contra, e 15%, a favor.

ELEIÇÕES

O tema deverá ganhar destaque nas eleições de 2018.

A continuidade de programas de desinvestimento criados pelo atual governo ê critério central para o apoio

de investidores interessados em negócios de longo prazo no país. Mas a resistência de eleitores ê clara, e não se

restringe a candidatos de esquerda.

Nenhum grupo que hoje votaria nos potenciais candidatos ê majoritariamente favorável à privatizações em

geral nem à venda da Petrobras.

Os menos resistentes são aqueles que declararam voto em Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro

(PSC).

Em dois cenários -um com a participação de Lula (PT) na disputa e outro sem-, o apoio a privatizações varia

de 31% a 36% entre os potenciais eleitores dos dois nomes.

Os que declararam voto no petista são os que mais rechaçam as privatizações. A rejeição foi de 80% para a

venda de estatais em geral e de 7 6% para a venda da Petrobras.

Fraqueza de Trump anima presidenciáveis democratasAARON BLAKE Atuais governadores e senadores relutam para admitir intenção; ex-presidenciável e ex-vice lideram ranking

DO "WASHINGTON POST"

Com a popularidade de Do-nald Trump variando entre 33% e 37% na leva mais recente de pesquisas

(Gallup, CNN, Monmouth e Quinnipi-ac) e só 18% dos entrevistados no levantamento do "Wall Street Journal"

certos de que votarão nele em 2020, a arena para democratas dispostos a disputar a Casa Branca parece grande

e aberta.

A um ano do início extraoficial da corrida presidencial, o "Post" fez um ranking de 15 possíveis candidatos

da oposição, pela ordem de chance de representar o partido

15. Dwayne Johnson, ator

The Rock falou, na última semana, que considera seria-mente a possibilidade de se candidatar. Sim, ele

tende a dizer coisas assim quando promove um filme, e parece ridículo um ex-lutador profissional como candidato

sério (nem se sabe por qual partido). Mas na era Trump não dá para descartar essas coisas. No mínimo, Johnson

ê um comunicador talentoso.

14. Terry McAuliffe, governador da Virgínia

McAuliffe deixa o governo em janeiro bem cotado, e parece interessado na ideia de candidatar-se a um

cargo que, no passado, tentou conquistar para outras pessoas.

No momento, ele sente a repercussão positiva do bom desempenho do partido nas Legislativas da Virgínia

neste ano. A proximidade com os Clinton, porém, faz com que ele não represente o novo.

13. Howard Schultz, ex-CEO da Starbucks

Schultz aperfeiçoou a arte de falar como candidato ao passo que nega a intenção de se envolver em

política: "Acho que o país precisa, sob muitos aspectos, de uma transformação moral, cultural e

econômica". Ou: "Se pensarmos no país hoje, e não estou falando em política, acho que ê preciso ser mais

empático". Ele não está falando de política. Claro.

12. Deval Patrick, ex-governador de Massachusetts

Patrick geralmente dá poucos sinais de que possa se candidatar, embora a equipe do ex-presidente Barack

Obama aparentemente o incentive a isso. Mas ele foi ao Alabama neste mês fazer campanha pelo democrata

Dougjones, o que já indica algo.

11. Oprah Winfrey, apresentadora

Oprah ê uma comunicadora ainda mais hábil que Johnson e alguém de quem ainda mais gente parece

gostar. Ela tem sido evasiva em relação à candidatura, mas dá a impressão de sentir-se tentada.

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Io. Andrew Cuomo, governador de Nova York

Se o debate sobre assédio sexual fez alguns avançarem na lista, Cuomo recuou. Indagado sobre alegações

a respeito de um ex-assessor, ele respondeu que o problema "não ê do governo, ê da sociedade". O noticiário

atual nos mostra que os políticos não deveriam minimizar o tema.

9. Sherrod Brown, senador de OhioDa lista, Sherrod ê quem oferece o conjunto mais completo de política

progressista, populismo, atratividade para a classe operária e ter por trás um Estado indeciso importantíssimo -

coisas que não devem ser desprezadas.

8. Jerry Brown, governador da Califórnia

Prestes a completar 80 anos, Brown ê beneficiado pelo fato de seu Estado, dono do maior contingente de

delegados que escolhem o candidato do partido, ter adiantado sua primária eleitoral para março, quando a disputa

ainda está aberta.

7. Chris Murphy, senador do Connecticut

Indagado se iria se candidatar, Murphy disse: "Não sou candidato a presidente, sou candidato à reeleição ao

Senado". É o que costumam dizer os políticos quando precisam garantir sua reeleição antes de mais nada.

6. Cory Booker, senador de Nova Jersey

Booker afirmou ao site especializado Político que seria irresponsabilidade alguém dizer, faltando tanto

tempo, se vai se candidatar a presidente em 2020. Mas o momento

parece certo para ele.

5. Kamala D. Harris, senadora da Califórnia

Harris, que se destacou na defesa de um sistema de saúde universal, voltou a ganhar atenção ao pedir, na

semana passada, que Trump renunciasse à Presidência. Se a primária democrata ê uma corrida para a esquerda,

a senadora parece determinada a não ser ultrapassada.

4. Kirsten Gillibrand, senadora de Nova York

Gillibrand também pediu a Trump que renunciasse, e em resposta o presidente disse que ela faria "qualquer

coisa" para conseguir doações de campanha -o que muitos interpretaram como sexualmente sugestivo. Seria

difícil imaginar algo que pudesse ajudar mais a catapultar Gillibrand para uma candidatura. Ela já criticou, ainda, o

comportamento dos correligionários Bill Clinton e Al Franken, acusado de assédio.

3. Elizabeth Warren, Senadora de Massachusetts

Se candidata, Warren lideraria a lista. Mas ê difícil que ela tope competir com Bernie Sanders. Além do

mais, ela não tem se esforçado na eleição de outros democratas nem em falar com a mídia.

2. Joe Biden, Ex-vice-presidente

A onda de acusações de assédio sexual voltou a chamar a atenção para o modo como Biden lidou com a

confirmação do juiz Clarence Thomas-quando ele presidia a Comissão do Judiciário no Senado e o juiz era

acusado de agressão sexual. Se o partido continuar a fazer desta uma questão de peso, o nome de Biden sofrerá

escrutínio.

1. Bernie Sanders, senador do Vermont

Sanders, 76, parece se esforçar para superar as falhas que dificultaram sua candidatura em 2016,

sobretudo a falta de familiaridade com a política externa e falta de sintonia com grupos pró-democratas poderosos.

Ele tampouco combate especulações de candidatura. A idade, porém, pesa contra.

Papa cita paz em Jerusalém e pede 2 Estados em mensagem de Natal Pontífice também cita tensão na Coréia do Norte e crise na Venezuela em seu discurso tradicional

DE SÃO PAULO

Em sua mensagem de Natal, nesta segunda-feira (25), o papa Francisco pediu paz em Jerusalém e orações

para "alcançar uma solução que permita a coexistência de dois Estados" para palestinos e israelenses.

"Neste dia de festa, invocamos o Senhor pedindo paz para Jerusalém e para toda a Terra Santa."

"Rezemos para que, entre as partes envolvidas, prevaleça a vontade de retomar o diálogo e, finalmente,

che-gar-se a uma solução negociada, permitindo a coexistência pacífica de dois Estados", declarou.

"Que o Senhor também sustente os esforços de todos aqueles membros da comunidade internacional,

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movidos por boa vontade, que desejam ajudar essa terra martiriza da a encontrar o entendimento, a justiça e a

segurança que espera há tanto tempo", continuou, em uma aparente alusão ao presidente dos EUA, Donald

Trump.

No início do mês, Trump anunciou que reconhecia Jerusalém como capital de Israel e determinou a

transferência da embaixada americana de Tel Aviv para lá.

O anúncio, que reverteu quase sete décadas de política externa americana, foi criticado por líderes mundiais

e causou indignação entre os líderes palestinos, árabes e muçulmanos. Palestinos reivindicam Jerusalém oriental

como a capital de um futuro Estado palestino.

Após a decisão, o papa fez um apelo ao "respeito do sta-tus quo", em conformidade

com as resoluções da ONU, que defende que a situação de Jerusalém só seja definida ao final das

negociações de paz entre os dois povos.

Na mensagem proferida diante de milhares de fiéis na praça São Pedro, no Vaticano, Francisco alertou

contra "os ventos da guerra" e um "modelo de desenvolvimento caduco que segue provocando degradação

humana, social e ambiental".

COREIAS

Ele também pediu que "aumente a confiança mútua" na península Coreana, "pelo bem do mundo todo",

referindo-se às tensões entre a Coréia do Norte e a Coréia.

O pontífice ainda abordou a situação da Venezuela. Pediu um "diálogo sereno" pelo "bem de todo o querido

povo venezuelano." A citação foi feita no dia seguinte à liberação de 36 opositores do governo presos, após

decisão da Assembleia Constituinte da Venezuela.

MISSA DO GALO

Na tradicional Missa do Galo, celebrada à meia-noite de sábado para o domingo, o papa Francisco fez uma

forte defesa dos imigrantes, comparando-os a Maria e José buscando um lugar para ficar em Belém e dizendo que

a fê exige que estrangeiros sejam bem recebidos.

Celebrando o quinto Natal de seu papado, Francisco conduziu a missa solene diante de 10 mil pessoas na

basílica de São Pedro, enquanto muitos outros acompanharam o cerimônia da praça do lado de fora.

O Evangelho lido durante a Missa recontou a história de como Maria e Josê tiveram de viajar de Nazaré

para Belém devido ao censo ordenado pelo imperador romano César Augusto.

"Tantos passos estão escondidos nos passos de José e Maria. Vemos o percurso de famílias inteiras

forçadas a fugir nos nossos dias. Vemos o percurso de milhões de pessoas que não escolhem fugir, mas são

expulsas de sua terra e deixam para trás seus entes queridos", disse o papa na homília.

Mesmo os pastores que, segundo a Bíblia, foram os primeiros a ver o Menino Jesus "foram forçados a viver

às margens da sociedade" e considerados estrangeiros sujos e malcheirosos, disse. "Tudo neles gerava

desconfiança. Eles eram homens e mulheres a serem deixados à distância, a serem temidos."

Usando vestes brancas, o papa Francisco pediu uma "nova imaginação social em que as pessoas não

devem ter medo de que não haja lugar para elas nesta terra".

Francisco, 81, filho de imigrantes italianos e nascido na Argentina, tem feito da defesa de imigrantes um dos

princípios de seu papado, com frequência colocando-se em oposição a líderes políticos.

Em sua homília, ele afirmou: "Nosso documento de cidadania" vem de Deus, tornando o respeito aos

imigrantes uma parte integral de ser cristão.

Embaixada da Guatemala irá para Jerusalém

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Guatemala, Jimmy Morales, anunciou neste domingo (24) ter dado instruções para que a

embaixada do país em Israel seja transferida de Tel Aviv para Jerusalém. O governo afirmou que o processo de

transferência será iniciado nesta terça-feira (26).

Morales afirmou que a decisão foi tomada após uma conversa com o premiê israelense, Binyamin

Netanyahu.

Hoje sob jurisdição de Israel, Jerusalém ê disputada por israelenses e palestinos como sua capital e ê um

ponto crucial das negociações de paz.

A Guatemala foi um dos poucos países que apoiaram a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de

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declarar Jerusalém como a capital de Israel e de transferir para lá sua embaixada.

Em votação na Assembleia Geral da ONU de resolução que condenou a decisão americana, o país centro-

americano foi um dos 9 que votaram contra a medida, enquanto 128 votaram a favor.

Os EUA são uma importante fonte de assistência para a Guatemala, e Trump havia ameaçado cortar a

ajuda financeira a países que votassem a favor da resolução.

Netanyahu agradeceu a Morales pela decisão, dizendo "Deus te abençoe", enquanto os palestinos

declararam que a Guatemala escolheu "o lado errado da história". O presidente boliviano, Evo Morales, criticou a

decisão, dizendo se tratar de uma "zombaria diante da comunidade internacional": "Lamentamos que alguns

governos vendam sua dignidade para o império para não perder as migalhas da Usaid (agência de ajuda dos

EUA)."

O RAPTO DO MENINO JESUS

Uma ativista do grupo feminista radical Femen tentou furtar a estátua do menino Jesus do presépio da praça

São Pedro, no Vaticano, nesta segunda (25), mas foi impedida por um guarda. A mulher pulou a cerca e correu em

direção ao presépio, de tamanho maior que o natural, gritando "Deus é mulher". Ela tinha o mesmo slogan

pintando nas costas.

Um guarda do Vaticano a deteve. 0 incidente ocorreu a duas horas de o papa Francisco proclamar sua

mensagem de Natal a 50 mil pessoas na praça. O site do Femen identificou a ativista como Alisa Vinogradova. É a

segunda vez que o grupo tenta roubar a peça do presépio. A primeira foi em 2014.

Mossul lida com fraturas após expulsar EIDIOGO BERCITO ENVIADO ESPECIAL A Moradores que voltam não sabem lidar com vizinhos que apoiaram a facção nem com parentes de radicais

MOSSUL (IRAQUE)

A história recente do Iraque se reflete nos fios da barba de Abdallah Ahmad Jihad.

Ele não tinha nenhum até junho de 2014, quando militantes da facção terrorista Estado Islâmico invadiram

Sheikh Ali e impuseram uma visão radical do islã à população, proibindo os homens de se barbear. Para

sobreviver, Jihad, 39, deixou sua barba crescer até o peito.

A vila, na região de Mossul, foi retomada pelo Exército há um ano, e ele cortou os pelos, encerrando o ciclo.

"Senti meu rosto mais leve", diz, alisando a bochecha.

Nem todos os problemas do Iraque, no entanto, serão solucionados pelo barbeiro.

Após declarar em 9 de dezembro a derrota do Estado Islâmico, o governo terá que reconstruir um país

abalado por três anos de intensa guerra e retalhado pelo revanchismo e por tensões sociais que ficaram no rastro

da facção terrorista agora em declínio.

Dezenas de milhares de militantes (o número ainda ê incerto) engrossaram as fileiras do Estado Islâmico,

dos quais apenas uma parte morreu na guerra ou cruzou a fronteira.

O governo iraquiano estima haver 20 mil deles ainda no país, e a população se pergunta o que fazer com

quem volta e com as famílias cujos membros aderiram à milícia.

A resposta de Sheikh Ali foi rápida: moradores explodiram as casas onde viviam simpatizantes da facção.

Cinco militantes encontrados em um matagal foram mortos pelos primos. "Decapitaram pessoas no vilarejo. São

nossos inimigos", diz Ahmad.

O cenário ê mais complexo, porém, na urbana Mossul. Havia cerca de 2 milhões de habitantes nessa cidade

quando o EI a conquistou em 2014. Centenas de milhares fugiram, mas já há fluxo de retorno nos últimos meses.

Depois do terror da milícia, a cidade renasceu. A única rua pavimentada pelo EI, batizada de avenida do

Califa, agora se chama avenida Dourada e está abarrotada de veículos, apesar dos ataques esporádicos. O trajeto

entre a capital curda, Erbil, e Mossul toma pouco mais de duas horas, passando por diversos postos de controle

militar, mas o clima da viagem já não ê de horror. Os checkpoints foram apelidados de "oi-tchau", pela rapidez dos

soldados que os guardam.

Moradores como Yunis Ali, 19, voltaram, ainda sem saber quais vizinhos apoiavam o EI nem como lidar com

parentes dos radicais: "Não podem ser punidos pelo que seus filhos e irmãos fizeram".

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Em uma cidade que testemunhou a decapitação de quem se opusesse ao regime, moradores também

tentam entender por que alguns conhecidos foram coniventes.

"O Exército iraquiano vinha havia anos assediando gente nas ruas, detendo pessoas sem justificativa,

então, quando o EI chegou, a princípio nos sentimos seguros", afirma FarisHabash, 35. "Foi só quando passaram

a nos matar que tivemos medo."

Habash vive de uma quitanda no centro da cidade e, enquanto conversa com a reportagem, vende cigarro.

O produto era proibido pelo EI, por ser considerado pecaminoso, e Habash se arriscava

contrabandeando e fumando escondido em casa.

Em uma favela atrás de um cemitério, onde os coveiros eram obrigados a enterrar mais de um corpo em

cada sepultura, a reportagem encontra Abdallah, 29, que perdeu o irmão durante a guerra. Números não oficiais

sugerem que houve entre 9.000 e 11.000 mortos no confronto.

Abdallah teve de deixar sua casa na parte antiga de Mossul, a mais afetada. Quando puder voltar, não

considera a possibilidade de se relacionar com quem colaborou com a milícia. "Por causa deles, só comíamos

trigo misturado com água", diz.

"Nossas relações vão depender do quanto essas pessoas estiveram envolvidas com os terroristas", afirma

Lukman Fathi, 44, diante das ruínas de uma mesquita.

"Para muitos deles, sua honra acabou. Eles vão ser vistos entre nós como pessoas de menos dignidade."

DISPUTA SECTÁRIA

Os ajustes de contas e as tensões sociais terão que ser resolvidos em paralelo à reconstrução física do

Iraque. Só em Mossul, será preciso reerguer 60 mil casas hoje

inabitáveis e reestabelecer os 20 mil pontos comerciais e os edifícios do governo esface-lados durante a

guerra.

Esse processo deve determinar a estabilidade futura do país, segundo Adib Neh-meh, consultor da ONU

para reconstrução no Oriente Médio. "O mais importante agora ê, ao lado da reconstrução, recuperarmos a

confiança dos cidadãos no governo."

Mas o passado ê pouco auspicioso. Após a invasão americana de 2003, o governo iraquiano passou a

privilegiar o setor xiita da população, alienando os sunitas, no poder na ditadura de Saddam Hussein (1979-2003).

Xiitas e sunitas são dois ramos do islã em rivalidade política.

A marginalização dos sunitas ê uma das explicações para o apoio encontrado pelo EI, sunita radical, quando

se espalhou pelo território.

"Vamos ter um período de calma nos próximos meses, até que os problemas políticos voltem à tona, e eles

serão mais importantes do que antes", afirma Nehmeh. "Ê importante existir a sensação de que há justiça para

todos os grupos. Se o governo repetir o que fez em 2003, enfrentará os mesmos problemas."

CRONOLOGIA

Estado Islâmico no Iraque

jun.2014

Estado Islâmico toma a cidade iraquiana de Mossul e declarado seu auto-denominado califado; Tikrit

também é capturada

ago.2014

Militantes atacam a cidade deSinjar, onde vive a minoria étnico-religiosa yazidi, cujas mulheres são

escravizadas

abr.2015

Exército iraquiano retoma Tikrit, um ano depois de sua queda

mai.2015

Estado Islâmico captura a cidade iraquiana de Ramadi

nov.2015

Exército curdo libera a cidade iraquiana Sinjar com o apoio de ataques aéreos da coalizão internacional

dez.2015

Exército iraquiano retoma a cidade de Ramadi

jun.2016

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Iraque vence a batalha por Falluja, derrotando o Estado Islâmico

jul.2016

Ataque suicida deixa ao menos 292 mortos em Bagdá e fere outros 200; Iraque retoma Fallujah

out.2016

Premiê iraquiano Haider al-Abadi anuncia o início da operação para retomar Mossul, principal base da

facção terrorista

jul.2017

Governo iraquiano declara a captura de Mossul, após três anos de presença de militantes

9.dez.2017

Exército do Iraque diz ter liberado todo o território iraquiano em mãos do Estado Islâmico

Indulto presidencial para Alberto Fujimori surpreende peruanosSYLVIA COLOMBO Ex-presidente está preso após ser condenado por corrupção e crimes de direitos humanos

DE BUENOS AIRES

A poucas horas de muitos peruanos se reunirem para celebrar a noite de Natal, às 18h (21h de Brasília),

uma notícia surpreendeu o país. O presidente Pedro Pablo Kuc-zynski, 79, deu o indulto ao ex-mandatário Alberto

Fujimori, 79, condenado em 2009 por 25 anos de prisão por cometer crimes de direitos humanos e por corrupção

em sua gestão (1990-2000).

A notícia tomou muitos de surpresa. Afinal, tanto PPK (como ê conhecido o presidente) como seus ministros

e deputados haviam afirmado, nos últimos dias, que não havería um indulto a Fujimori como moeda de troca pelo

voto de Kenji Fujimori.

O filho do ex-presidente arregimentou outros nove deputados fujimoristas para desobedecerem a orientação

geral do partido Força Popular, comandado por sua irmã e ex-candidata a presidente, Keiko, e se absterem de

votar na quinta (21) pelo afastamento do presidente.

Assim como havia feito com cinco ministros e um primeiro-ministro, o Força Popular, então com maioria no

Congresso, pretendia retirar PPK de sua função alegando "incapacidade moral" depois de terem surgido

denúncias de que o mandatário se beneficiara, por meio de uma de suas empresas, a Westfield, de subornos da

construtora brasileira Odebrecht. Apesar da vitória política, o presidente segue sendo investigado.

A ideia dos fujimoristas era que PPK saísse e seus dois vices fossem pressionados a renunciar, deixando o

poder com o presidente do Congresso, o fujimorista Luis Galar-reta, que teria dez meses para chamar novas

eleições.

FRATRICÍDIO

O tiro saiu pela culatra. Afastado da irmã desde 2016, Kenji Fujimori vinha havia alguns meses negociando

com PPK o indulto ao pai.

O presidente já cogitara trocar a pena por prisão domiciliar, mas sempre encontrava resistência em seu

próprio gabinete e em sua pequena base de apoio. O empresário, afinal, ganhou as eleições do ano passado por

uma diferença de menos de 50 mil votos graças ao apoio da esquerda e da centro-esquerda, que haviam

acreditado em sua promessa de jamais conceder o indulto a Fujimori.

As pressões e os obstáculos que a bancada fujimorista vinham lhe impondo nesses últimos 17 meses,

porém, estavam paralisando sua gestão, até chegar ao extremo de ter ficado por um fio na votação pela moção de

vacância.

PPK foi salvo pela divisão da esquerda (dos 20 congressistas da Frente Ampla e do Novo Peru, 10 votaram

pelo afastamento e outros 10 se abstiveram), mas principalmente pela ação de Kenji, que retirou votos fujimoristas

esenciais para que a vacância passasse com votos de dois terços da única câmara.

PPK, então, ficou com uma dívida com o irmão mais novo de Keiko.

Ela foi paga na véspera de Natal.

Fujimori, que havia sido transferido na noite de sábado (23) da penitenciária de Barbadillo, onde estava,

para uma clínica, por causa de um quadro de hipertensão e arritmia, agora não terá mais de voltar para trás das

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grades.

As razões médicas para a liberação de Fujimori também são motivo de controvérsia. Segundo avaliações

feitas durante a gestão de Ollan-ta Humala (2011-16) e do próprio PPK, Fujimori teria sido tratado de um câncer

de língua, do qual já estaria curado. Depois disso, porém, passou a sofrer de uma doença cardíaca.

Segundo a lei peruana, as juntas médicas destacadas pelo Ministério da Justiça para fazer esse tipo de

avaliação devem ser independentes. Porém, a que fez a mais recente, dia 17, e que conclui com a sugestão de

um "indulto humanitário", tinha entre seus integrantes um médico que operou Fujimori.

CONDENAÇÃO

Os crimes pelos quais Fujimori havia sido condenado eram, entre outros, os massacres de civis por

esquadrões da morte comandados por ele e seu homem forte no governo, Vladimiro Montesinos, este também

preso.

Os mais famosos foram os de La Cantuta, onde foram assassinados um professor e nove estudantes, e o de

Bar-rios Altos, onde foram mortas 15 pessoas. Inicialmente, Fujimori havia alegado que os mortos tinham relação

com o Sendero Luminoso. Mas a Justiça concluiu que essa versão não se sustentava.

Fujimori também estava preso pelo sequestro e privação de liberdade do jornalista Gustavo Gorriti (leia texto

ao lado), além de comandar um esquema de corrupção de congressistas junto com Montesinos.

CRIMES NÃO JULGADOS

O indulto concedido por PPK perdoa Fujimori também dos crimes pelos quais ainda estava sendo julgado.

Entre eles, o massacre de Pativilca, em que foram assassinadas seis pessoas, supostamente executado por um

esquadrão sob seu comando, e os casos de mais de 200 mil mulheres esterilizadas sem consentimento em um

programa de "planejamento familiar".

Quanto a esse último, a Procuradoria já tinha provas de que o Ministério da Saúde, na gestão Fujimori, tinha

que cumprir metas de mulheres esterilizadas por mês.

O presidente, na época, defendia seu programa de "planejamento familiar" como forma de reduzir o índice

de pobreza no país.

O indulto de PPK deixa ambos os casos inconclusos.

Decisão afasta simpatizantes de presidente

DE BUENOS AIRES

As reações a favor e contra o indulto começaram a pipocar logo após a concessão do mesmo.

O jornalista Gustavo Gorriti, vítima de perseguição na gestão de Alberto Fujimori, disse à Folha que "nunca

mais PPK [como o presidente Pedro Pablo Kuczynski ê chamado] terá apoio dos que o ajudaram a ganhar essa

eleição apenas para deter o fujimorismo".

Gorriti integrou o grupo de intelectuais, jornalistas e acadêmicos que apoiaram PPK contra Keiko Fujimori

em 2016. Ele assessorou diretamente o então candidato, em seu último debate contra a filha de Fujimori.

"Em alguns casos, um jornalista tem de se despir de sua função em nome de uma causa mais nobre. Essa

causa era impedir a volta do fujimorismo. E justo quem eu ajudei agora nos trai".

Já o acadêmico de Har-vard e especialista em Peru Steve Levitsky, afirmou que a atitude de PPK foi "uma

traição à democracia", enquanto Rosa Maria Palacios, uma das principais jornalistas do país, publicou em suas

redes: "O presidente mentiu. Perdí todo o respeito que tinha por ele. Lamento pelas vítimas que não foram

ouvidas."

Também contra a decisão está José Miguel Vi-vanco, diretor da Human Rights Watch, que declarou que "no

lugar de reafirmar que em um Estado de Direito não cabe tratamento especial a ninguém, ficará para sempre a

ideia de que a liberação de Fujimori foi uma vulgar negociação política em troca da permanência de PPK no

poder".

Houve renúncias de dois deputados do partido governista Peruanos Por el Kambio. PPK anunciou que, nos

próximos dias, haverá mudanças em seu gabinete para incluir outras forças políticas do país.

O deputado Kenji Fujimori, que votou pela permanência de PPK e negociou o indulto do pai, agradeceu "ao

presidente por esse nobre gesto".

Sua irmã, Keiko, também visitou o pai na clínica em que ele está desde sábado na manhã desta segunda

(25). Durante a tardem, uma marcha contra a liberação de Fujimori tomou o centro de Lima. (sc)

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Elite brasileira tem de ter menos espírito de MiamiTHAIS BILENKY ENVIADA ESPECIAL A FLAVIO DINO, 49

SÃO LUÍS (MA)

"Comunista, graças a Deus", Flávio Dino (PC do B) começou a governar o Maranhão com a imagem de um

só santo, são Francisco de Assis, em seu gabinete. Três anos depois, tentará a reeleição com dez santos na

bancada.

De frente para sua mesa, Dino pregou uma tela da Muralha da China ("uma lição de paciência"), ornando

com bustos do comunista Mao Tsê-Tung e do socialista chileno Salvador Allende.

A vista da sacada do Palácio dos Leões, para onde Dino escapa quando precisa es-pairecer, não o deixa

esquecer o desafio que ê governar o Estado mais pobre do país, segundo o IBGE. Seu horizonte ê uma favela

erguida sobre palafitas ao lado do metro quadrado mais caro de São Luís, no forte da ponta de São Francisco.

Em entrevista no dia 13, ele declarou apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a despeito da

prê-candidatura de Manuela D"A-vila, de seu partido.

★

Folha - Maranhão hoje é compatível com o tempo que vive?

Flávio Dino - Eu brinco que esse negócio do Juscelino, de 50 anos em 5, era fácil. Aqui são quatro séculos

em quatro anos. As pessoas terem escola de tijolo, não de palha ou barro, ê uma agenda do século 18. As

pessoas terem acesso a carteira de identidade ê século 19. Ao mesmo tempo, temos uma agenda do século 20 e

21, escola em tempo integral, programa para estudar no exterior. Não tivemos greve, pela política respeitosa com

os servidores. Aqui a gente não debate o Estado mínimo.

Por quê?

Aqui o povo quer serviço público. Se não for o Estado, não ê ninguém.

Como as candidaturas que propõem um enxugamento do Estado vão se sair?

No Nordeste, muito mal. É uma incompatibilidade ontológica, de essência. A reforma da Previdência vai virar

um peso nas costas de quem a defender. E a trabalhista ê pior. Esse neoliberalismo vulgar que às vezes um

Amoêdo [presidenciável do Novo] da vida professa não tem aderência à realidade brasileira.

Há exasperação coma revelação de que o tamanho do Estado possibilitou corrupção.

Mas isso ê puramente ideológico. É verdade que havia infelizmente corrupção na Petrobras, por exemplo,

mas quem estava ao lado? Grandes corporações privadas. Então,

se fosse extinguir o Estado porque ê corrupto, ia extinguir o mercado junto.

A Lava Jato criou distorções?

A Lava Jato criou uma narrativa em que os empresários, que eram o Chapeuzinho Vermelho, bonzinhos,

foram extorquidos pelo Lobo Mau, o Estado. Pelo amor de Deus! Todo mundo sabia o que estava fazendo. A Lava

Jato acertou mais que errou, mas errou nesse ponto fundamental, por incompreensão ou conivência. Não critico

tanto as decisões.

A de Sérgio Moro contra o Lula o senhor critica.

É um escândalo, uma monstruosidade jurídica. O leitor pode dizer: ê porque ele apoia o Lula. Primeiro, o

Lula nunca me apoiou aqui.

Vai apoiar em 2018?

Eu espero. Sou cristão, acredito em coisas boas. Como você vai dizer que ele ê dono de um apartamento

que com-provadamente está no patrimônio de um banco? Aí sim a instrumentalização da Lava Jato atende a

certos interesses

que hoje não estão claros.

Seu irmão Nicolao Dino é próximo do ex-procurador-geral Rodrigo Janot. Como vê a atuação do grupo?

Janot errou. Podia ter evitado o caos político e jurídico em que o Brasil se meteu e ele aderiu. Por quê? Não

sei dizer.

Temer não indicou seu irmão, mas Raquel Dodge para a PGR.

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Tenho a impressão de que

Raquel não vai na direção de ser arquivadora-geral. A indicação de Fernando Segovia na Polícia Federal,

apoiado por Sarney, vinculado politicamente a uma certa posição [ê mais problemática]. É difícil dizer que vai parar

a Lava Jato.

A Lava Jato tem vida longa?

Tem, porque tem os filhi-nhos dela, netinhos. a família ê grande. Virou o principal polo de poder, porque não

tem outro. Após as eleições, a força da Lava Jato tende a diminuir, porque ê uma anomalia ter profissionais não

eleitos com poder de ditar o ritmo do país.

O que mostra a volta de Roseana na disputa ao governo?

Saudosismo do uso da máquina. Estão com síndrome de abstinência de recursos públicos, de luxos. O

grupo empresarial deles ê um sistema de comunicação [Mirante] cujo maior anunciante era o próprio governo do

Estado. Ela pagava ela mesma.

O senhor anuncia na Mirante?

Sim, mas bem menos [de 54% da verba publicitária em

2012, caiu para 19% em 2017].

O sr. quer apoio do Lula, mas seu partido tem candidatura.

Há a compreensão de que, no Maranhão, pelo sarneysismo, precisamos fazer uma aliança ampla. Palanque

aberto. Ainda tem o Ciro Gomes, o PDT ê um aliado nosso.

Lula irá até o fim?

A candidatura dele ê fundamental, imprescindível. Só há eleições livres com ele candidato, não há razão

para não ser, a não ser um processo de Tawfare", perseguição judicial. Pergunte a um cidadão médio: o que você

acha de Sarney ou Collor soltos e Lula preso? Isso pode tisnar, criar uma nódoa na eleição, ê muito grave. Metade

da população tem intenção de votar nele.

Metade?

Claro. Se candidato, ganha. Se a elite brasileira tivesse um pouquinho de espírito nacional, e menos espírito

de Miami, concordaria que Lula ê importante para o país. [Tirá-lo] abre espaço para Bolsonaro, um suicídio

nacional e coletivo.

RAIO-X

Nascimento

Em São Luís (MA), em 1968 (49 anos)

Carreira

Foi juiz federal (1994-2006), deputado federal (2007-2011) e presidente da Embratur (2011-2014), no

governo Dilma. Eleito governador do Maranhão em 2014

Histórico

Foi do PT (1987-1994) e se filiou ao PC do B em 2006

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Soltura de presos acentua divisão dentro do SupremoElisa Clavery Marianna Holanda Bibiana Borba As duas Turmas do Supremo Tribunal Federal (STF) têm entendimentos divergentes sobre a concessão de

habeas corpus. Enquanto a Primeira Turma é favorável, total ou parcialmente, a 16% dos pedidos, a Segunda

decide próréu em 40% dos casos, mostra levantamento feito pelo Estado com base em dados obtidos por meio da

Lei de Acesso à Informação.

A discrepância nos julgamentos finais de habeas corpus - pedidos de liberdade após a prisão ou preventivo

para impedir a detenção - revela uma "roleta-russa", segundo especialistas ouvidos pela reportagem. A

consequência, dizem, é insegurança jurídica e perda de legitimidade da Corte, uma vez que a decisão depende

mais da turma ou do relator do que da própria lei. Advogados de políticos, parte de investigados na Operação Lava

Jato, afirmam que há uma "clara divisão" no Supremo.

Os dados analisados são referentes a julgamentos entre junho de 2015 - mês em que o ministro Edson

Fachin, penúltimo a entrar, passou a integrar a Corte - e outubro deste ano. Na semana passada, antes do

recesso do Judiciário, os ministros expediram uma série de decisões divergentes, como a soltura de investigados

na Lava Jato e a ordem de cumprimento imediato da pena do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP).

Reservadamente, um ex-ministro do STF disse à reportagem que é uma tradição a Segunda Turma

conceder mais habeas corpus do que a Primeira. Para ele, uma das explicações seria que os ministros mais

antigos e, segundo ele, "mais experientes", estão no segundo colegiado, com exceção de Marco Aurélio Mello. Ele

nega que a pressão da opinião pública influencie as decisões, mas diz que há um impulso dos magistrados em

"dar satisfação ao público".

Após o julgamento do mensalão, houve mudança no regimento das Turmas com o objetivo de "desafogar" o

plenário. Os colegiados ganharam maior protagonismo e passaram a julgar ações penais de parlamentares, desde

2014. Processos relacionados ao presidente da República e a seu vice, a presidentes da Câmara e do Senado, a

ministros da Corte e ao procurador-geral são competência do plenário.

Para o professor de Direito da USP e PUC-SP André Ramos Tavares, "as turmas operam de maneira

independente, como se fossem dois tribunais", uma vez que "o modelo permite essa discrepância". "A mudança

brusca, repentina e constante da jurisprudência é motivo de descrédito. A Justiça não tem de ficar amarrada, nem

ser sempre unanimidade, mas o excesso de divergência é mal visto no próprio âmbito jurídico, deslegitima a

Corte." Até ministros do STF reconhecem a disparidade. Gilmar Mendes, da Segunda Turma, em julgamento em

setembro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do qual também é presidente, chamou a Primeira Turma de

"câmara de gás". De volta, ouviu do ministro Herman Benjamin que o segundo colegiado seria, então, o "Jardim do

Éden".

"Não é que se tem uma câmara de gás e um Éden. São dez possibilidades diferentes, de diferentes níveis

de câmara de gás e Éden. As Turmas decidem em um contexto de 'roleta-russa'", afirma Ivar Hartmann, professor

da FGV-RJ e coordenador do Supremo em Números. "Isso traz insegurança jurídica e é um problema de

legitimidade." Políticos. Embora os dados não detalhem quais processos envolvem políticos ou a Lava Jato,

advogados desses casos reclamam da divisão entre as turmas.

"Eles (ministros da Primeira Turma) estão desrespeitando a legislação, tratando como definitiva uma prisão

provisória.

Estão entrando em mérito de acusação, o que não deveria caber às autoridades que julgam prisão

preventiva e muito menos à Suprema Corte", afirma Délio Lins e Silva Júnior, advogado do deputado cassado

Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Roberto Podval, advogado do ex-ministro José Dirceu, diz até prever o posicionamento dos ministros. "A

gente conhece como votam e chega a saber o que pensam, porque o voto é retrato do pensamento de cada um.

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Aí, tenta trabalhar a defesa dentro da filosofia de cada qual." Procurada, a assessoria do STF não comentou as

divergências entre Turmas.

Primeira Turma deixa de julgar 489 pedidos de HCs

l Outro dado levantado pelo Estado mostra que a Primeira Turma avaliou que 489 pedidos de liberdade não

tinham mais razão de serem analisados pela Corte - processos chamados de "prejudicados" -, enquanto a

SegundaTurma teve a mesma decisão| apenas três vezes, de junho de 2015 até outubro deste ano. 0 pedido pode

ser prejudicado, por exemplo, se o réu tivera prisão preventiva convertida em definitiva em outra instância ou ser

libertado. O levantamento revela ainda que 89% das decisões finais sobre habeas corpus foram monocráticas.

Das 16.403 ações julgadas, mais de 14 mil foram por decisão de um ministro.

'Tem de ficar claro: deu para um grupo, vai faltar a outros'Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA Primeira mulher a comandar o Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi diz que o Brasil tem encontro marcado

com a discussão sobre as despesas obrigatórias, como pagamento de aposentadorias e salários do funcionalismo.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ela diz que é preciso ficar claro para a sociedade que dar reajustes a

servidores significa reduzir verbas de políticas que atingiriam a população como um todo em áreas como saúde e

educação.

l Medidas para 2018 não foram aprovadas e a reforma da Previdência foi adiada. Será preciso apertar ainda

mais o cinto?

Seja qual for o governo, por algum tempo o País terá de fazer escolhas difíceis. O excesso de rigidez do

Orçamento, de indexação de despesas obrigatórias e o impacto da tendência demográfica sobre as despesas

estão levando à baixa qualidade na alocação dos recursos públicos.

Isso terá de ser enfrentado.

l Não se tomou medidas para reduzir a rigidez orçamentária?

(A questão) não está sendo endereçada.

O Orçamento de 2018 poderá ser bastante pedagógico.

Temos a discussão do reajuste dos servidores. A postergação poderia reduzir despesas obrigatórias em R$

6 bilhões em 2018. Sem ela, vai ficar um espaço mais restrito para despesas importantes. Estamos falando em

trocar um benefício para um grupo já muito privilegiado por mais recursos para o Fundo Nacional de Assistência

Social, por exemplo.

Teremos menos dinheiro para conservação de estradas que têm excesso de acidentes, com ônus para o

sistema de saúde.

Essa troca tem de ficar mais clara para a sociedade.

l Como a sra. vê a pressão do funcionalismo sobre o governo?

É muito grande, mas não se pode generalizar. Ela vem na defesa de um interesse específico, corporativista.

Não faz bom debate em relação aos interesses da sociedade. Temos ainda milhões de desempregados.

l Como vencer essa batalha?

Mostrando os dados. Me espanta que os partidos que defendem a manutenção dos reajustes são de

esquerda e empunham a bandeira da população carente. Foram defender interesse do grupo mais privilegiado dos

trabalhadores. Isso tem de ficar claro: deu para um grupo, vai faltar para outros.

l A necessidade de ajuste é um discurso no Congresso, mas na hora eles não votam. Por quê?

É um processo de convencimento.

Hoje temos compreensão muito maior de que temos um problema fiscal grave no País do que há um ano e

meio.

No ciclo eleitoral de 2018, a discussão fiscal não faltará.

l Não podem aparecer soluções aventureiras ou até de negação?

Tenho dúvidas se a população aceitará alguém que fale que não há problema. Os Estados não têm dinheiro

para pagar salários, o serviço de saúde está padecendo. Não é só o Rio.

l O que esse cenário aponta?

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No limite, pressupõe que teremos falta de fontes para financiar déficit que não seja investimento.

A Constituição diz que a emissão de dívida do Tesouro não pode ser usada para pagar despesa corrente,

como a Previdência, por exemplo (a chamada regra de ouro). Isso tudo vai tornando muito claro como é inexorável

enfrentarmos essas questões. A Previdência tem déficit indo para R$ 200 bilhões, mas o mais grave é que piora

por uma questão demográfica.

São múltiplas restrições.

Elas não passam só pelas regras. São reais sobre o financiamento do déficit brasileiro.

Temos um encontro marcado com a discussão da rigidez orçamentária e do excesso de despesas

obrigatórias.

l O governo tenta resolver 2018 com devolução de recursos pelo BNDES. Como ficará 2019?

É uma crise contratada. É uma pauta suprapartidária e uma discussão que terá de ser feita.

l Já conseguiram projetar o rombo da regra de ouro em 2019?

É muito similar (ao de 2018).

Vamos esperar o de 2017 para ver se o modelo funcionou bem e mostrarmos o de 2019.

l Há três regras fiscais: a meta, o teto e a regra de ouro. O que ocorre se uma cair?

Descumprindo a regra de ouro, temos de suspender o financiamento de despesas correntes.

Do teto, há vedações constitucionais de despesas. A regra de ouro talvez necessite de aperfeiçoamento.

Seria mais interessante ter acionamentos automáticos do que levar a crime de responsabilidade.

l Como seriam?

Um pouco do que foi feito com o teto. Seria importante a vedação de algum tipo de despesa, financiamento

ou desvinculação de receita. Estamos levando essa discussão para vários atores que têm se interessado.

Mas não existe proposta.

l O teto de gastos já está em xeque.

Ele será sustentável?

A regra do teto é simples e estimula essa discussão alocativa.

Também traz um acionamento automático de medidas caso não seja cumprido: vai vedar novos concursos,

reajustes de salários, crescimento de despesas obrigatórias acima da inflação. Com a expectativa de crescimento

em 2018 e alento do campo das receitas, isso não virá em benefício das despesas, mas do resultado fiscal.

l Há discussão que o teto pode ser revisto. O que acontece?

Acreditamos que essa discussão não se sustenta. O teto é a construção que temos para sinalizarmos aonde

o Brasil vai chegar em termos de endividamento público. A dívida pública deverá crescer por algum tempo até se

estabilizar. Se perdemos essa sinalização, os financiadores começam a cobrar prêmio de risco (valor adicional

para comprar títulos públicos).

E aí, há deterioração natural da economia, do crescimento e da geração de emprego.

QUEM É

Ana Paula Vescovi é mestre em Economia do Setor Público pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre

em Administração Pública pela FGV.

Trabalhou por dez anos na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda e foi secretária

estadual de Fazenda do Espírito Santo na gestão Paulo Hartung (PMDB).

Fazenda veta liberação de socorro de R$ 600 milhões ao Rio Grande do

NorteAdriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA O Ministério da Fazenda descartou socorrer o Rio Grande do Norte por meio de repasse de recursos do

Orçamento, que seriam usados para o pagamento de salários atrasados dos servidores, segundo apurou o

Estadão/Broadcast.

O ministério enviou uma carta ao governador do Estado, Robinson Faria (PSD), comunicando a decisão. A

negativa abriu uma crise com o governo estadual, que tinha conseguido o patrocínio do Palácio do Planalto para a

operação e esperava ver o dinheiro até o fim deste ano.

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Na véspera do Natal, o governador chegou a prometer no Twitter que os salários atrasados dos servidores

seriam pagos nos próximos dias, a partir da edição de uma medida provisória que estava sendo negociada pelo

Mistério do Planejamento para transferir R$ 600 milhões do governo federal.

Mesmo com o aval do Planalto, a operação enfrentava resistência da área econômica, que vê na concessão

de um socorro desse tipo um precedente de alto risco no relacionamento com os Estados. Na carta encaminhada

ao governador, o secretário executivo da Fazenda, Eduardo Guardia, argumentou que parecer do Ministério

Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP-TCU) inviabilizava a operação.

O procurador Júlio Marcelo de Oliveira recomendou na última sexta-feira que a equipe econômica impedisse

a realização da operação diante do risco de descumprimento da Constituição e da Lei de Responsabilidade Fiscal

ao destinar o dinheiro para pagamento de pessoal. O próprio governador deixou claro que os salários dos

servidores seriam pagos com a ajuda federal. "A recomendação serve para esclarecer qualquer possível dúvida

que alguém ainda pudesse ter (sobre a legalidade da transferência) e servir de alerta, sim. Isso é crime de

responsabilidade", disse Oliveira ao Estadão/ Broadcast.

Na carta, Guardia diz que o parecer do MP-TCU é "conclusivo" e que a operação de "natureza voluntária"

afrontaria o princípio da equidade na transferência dos recursos federais entre os Estados. O secretário chegou a

dizer que essa mesma avaliação já tinha sido feita por diversos ministros do TCU durante o julgamento da

consulta feita pelo Ministério do Planejamento à corte de contas em relação a essa questão. Mesmo assim, no

entanto, o plenário do TCU deu aval à operação.

Guardia disse ainda que o governo estuda outras alternativas e que a Fazenda está à disposição para

discutir soluções para o problema fiscal do Rio Grande do Norte. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a decisão

repercutiu negativamente no Estado, que promete retaliar.

O secretário de Tributação do Rio Grande do Norte, André Horta, disse não ter recebido a carta e preferiu

não comentar a decisão. A reportagem não conseguiu contato com o governador até o fechamento desta edição.

O Ministério da Fazenda disse que não iria comentar.

Alerta

"A recomendação serve para esclarecer qualquer possível dúvida que alguém ainda pudesse ter (sobre a

legalidade da transferência) e servir de alerta, sim. Isso é crime de responsabilidade" Júlio Marcelo de Oliveira

PROCURADOR

Recurso para a Olimpíada

Por meio de uma medida provisória publicada em junho de 2016, o governo federal liberou crédito

extraordinário de R$ 2,9 bilhões ao Estado do Rio de Janeiro. O caixa fluminense enfrenta uma grave crise

financeira, que persiste até hoje.

O Estado recebeu tratamento especial do governo de Michel Temer depois que o governador interino,

Francisco Dornelles decretou Estado de calamidade financeira - na época, Dornelles substituía Luiz Fernando

Pezão, que estava afastado para tratar de um câncer.

O governo federal autorizou o socorro com a argumentação de que era necessário assegurar que os jogos

transcorressem com tranquilidade.

Paralisação de policiais no RN é ilegal, diz JustiçaLuiz Vassallo Ricardo Araújo ESPECIAL PARA O ESTADO / NATAL A Justiça considerou ilegal a paralisação de policiais militares e civis no Rio Grande do Norte e determinou a

retomada das atividades. Desde o dia 19, agentes de seguranças reduziram a operação ao mínimo possível em

protesto contra o atraso de salários. Por isso, o comércio tem fechado as portas e os crimes aumentaram na

Grande Natal.

A decisão foi tomada pela desembargadora Judite Nunes, do Tribunal de Justiça potiguar.

As associações que representam praças, cabos, oficiais, bombeiros e policiais civis, porém, ainda não foram

comunicadas oficialmente e o trabalho não foi retomado. A sentença impõe multa de até R$ 30 mil em caso de

descumprimento.

Em nota, o Sindicato dos Policiais Civis manteve o posicionamento de que não há greve, mas um

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Page 29: Terça-feira, 26 de Dezembro de 2017 - Exército Brasileiro ... de 26 Dez...Em 30 de março, o delegado Davi Ferreira da Rocha morreu em um acidente de trânsito quando se deslocava

movimento para cobrar "a garantia do direito básico do trabalhador, que é o salário em dia". A Associação de

Subtenentes, Sargentos Policiais e Bombeiros diz trabalhar de acordo com as condições "estruturais e financeiras"

oferecidas pelo Estado.

Com a paralisação, só 20% dos PMs estão nas ruas.

O Supremo Tribunal Federal decidiu, em abril, que servidores públicos que atuem diretamente na atividade-

fim da segurança pública não têm direito a greve. Um dos mais recentes movimentos do tipo foi em fevereiro, no

Espírito Santo, onde policiais fizeram um motim.

No fim da semana passada, o governo federal enviou 70 agentes da Força Nacional para ajudar o Rio

Grande do Norte. Mas a União não vai repassar os R$ 600 milhões esperados pelo Estado para pagar o salário de

novembro e o 13.º dos servidores.

Desde o dia 18, a média diária de roubo de veículos tem sido de 21 ocorrências - ante 13 por dia em agosto,

último mês com dados disponíveis. Durante a semana, também houve 21 lojas arrombadas e três agências

bancárias explodidas, segundo a Secretaria de Segurança Pública.

Na maioria dos casos, os bandidos usam um carro roubado para derrubar a porta de vidro ou de metal do

estabelecimento.

Os principais alvos são lojas de roupas, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e perfumes.

"Mais uma vez, minha loja foi arrombada. Levaram tudo, todas as mercadorias expostas e as que estavam

no estoque", conta o dono de uma loja de roupa masculina em Igapó, na zona norte da capital, que preferiu não se

identificar. "Os vizinhos ouviram tudo, mas tiveram medo de sair de casa. E cadê a polícia?

Quem a gente chama numa hora dessas? O prejuízo é enorme", acrescentou ele.

Com boatos de arrastão, o comércio fechou mais cedo durante a semana, mesmo no auge das compras de

Natal. A Câmara de Dirigentes Lojistas vai pedir ao Estado ressarcimento de impostos pagos por produtos

roubados. Pela cidade, há fachadas destruídas e até barricadas de caçambas em frente a lojas para evitar ações

criminosas.

Celebrações. A falta de policiamento mudou até o horário da Missa do Galo na Catedral Metropolitana de

Natal, antecipada de meia-noite para às 20 horas anteontem. "Por causa da insegurança, percebemos que os fiéis

buscam missas mais cedo.

Por isso, antecipamos a última missa", explica o pároco da catedral, padre Valdir Cândido.

Em casa, a festa de Natal foi encurtada. "Reuni a família mais cedo e evitamos ficar na calçada

conversando, como de costume. Não temos mais direito de ir e vir. É assustador", diz a aposentada Adaltiva

Morais.

DEM traça plano para candidatura de Maia ao PlanaltoIgor Gadelha / BRASÍLIA O DEM trabalha para lançar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), como candidato ao

Palácio do Planalto em 2018. A legenda investe no discurso de que ele é o único candidato com capacidade de

"reunificar" a política nacional, por ser hoje um dos poucos parlamentares com trânsito no governo Michel Temer e

nos principais partidos de oposição (PT, PCdoB e PDT), que o ajudaram a se eleger para o comando da Casa,

além de manter boa relação com o Judiciário.

O lançamento da pré-candidatura já tem data marcada: 6 de fevereiro, quando está prevista a realização da

convenção nacional do DEM. Ao apresentar Maia, a estratégia da sigla é testar o nome do presidente da Câmara

nas pesquisas eleitorais. O parlamentar fluminense tem dito a aliados que só aceita disputar a Presidência se

atingir pelo menos 10% das intenções de voto.

Em levantamentos recentes, ele aparece com menos de 5%.

"O Rodrigo tem os principais atributos que o legitimam a exercer essa função de candidato do centro:

capacidade de diálogo, equilíbrio e serenidade para tomar decisões. Hoje é um presidente respeitado pelo governo

e pela oposição, mostrando vocação para romper esse clima de intolerância política que agita o País", diz o líder

do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), um dos principais entusiastas de sua candidatura.

Em busca de apoio para se viabilizar como candidato ao Planalto, Maia atua em pelo menos duas frentes.

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Em uma delas, tenta se firmar como líder do Centrão, grupo do qual fazem parte partidos médios, entre eles PP,

PR, PSD, PRB e PTB, e que está sem liderança desde a prisão do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Na outra, investe em uma aproximação com o PMDB de Michel Temer, o qual trabalha por uma candidatura única

da base aliada que defenda o legado econômico de seu governo.

Com os movimentos, Maia tenta afastar essas legendas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin

(PSDB), um dos nomes que buscam se apresentar como o candidato de centro apoiado pelos partidos da atual

base. Além do tucano, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), que se aproximou do presidente da

Câmara nos últimos meses, também se movimenta para ocupar esse espaço de candidato único da base.

Maia, com o apoio oficial desses partidos, teria o maior tempo de televisão, o que o ajudaria a se tornar mais

conhecido pela população. Atualmente exercendo seu quinto mandato consecutivo de deputado, ele teve

desempenho eleitoral reduzido no último pleito, em 2014. Naquele ano, Maia se elegeu deputado com 53.167

votos, ante 198.770, em 2006, seu melhor desempenho nas urnas.

"O Rodrigo, pela condição de presidente da Câmara e características de atuação política dele, converge

muito com partidos de todos os matizes. Ele está construindo, em um processo extremamente delicado, uma

candidatura que pode vir a unir partidos do centro e juntar, mesmo que não coligados, mas com apoio, esquerda,

direita e centro", afirma o deputado Pauderney Avelino (AM), secretáriogeral do DEM.

Planejamento. Segundo Efraim, a candidatura Maia vem sendo planejada estrategicamente.

O primeiro passo, diz, foi fortalecer a bancada da sigla na Câmara, que elegeu 21 deputados em 2014 e

deve dobrar de tamanho até março, segundo estimativa da legenda. "Isso dá capilaridade nos Estados", afirma o

líder. A segunda etapa será o lançamento de 12 pré-candidaturas a governador em 2018 (Bahia, Goiás, Amapá,

Pernambuco, Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e

Rondônia), ante apenas duas em 2014.

"Estamos tentando ocupar espaço de centro, lacuna deixada pelo próprio PSDB, nos conflitos externos,

brigas e disputas internas", afirma Efraim. De acordo com o líder, a pré-candidatura de Maia terá três "pilares": a

agenda econômica, com foco no emprego e empreendedorismo; a social, tendo como "vitrine" a reforma do ensino

médio feita pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, que é do DEM; e a segurança pública, com propostas em

"defesa da vida e da família".

"O Rodrigo tem cumprido papel fundamental para estabilidade econômica e política do Brasil. Tem

articulação política interna, mas também espírito público para interpretar o que o Brasil precisa", diz o deputado

licenciado Rodrigo Garcia (SP), secretário estadual de Habitação de São Paulo e um dos vicepresidentes do DEM.

"O Rodrigo terá um papel fundamental nas eleições de 2018, sendo ele o candidato a presidente ou não", afirma.

Procurado, o presidente da Câmara afirmou que em 2018 tentará se reeleger para o sexto mandato como

deputado e, se tiver sucesso, reeleição para comandar a Casa. No Rio, disse, seu foco será eleger seu pai, o ex-

prefeito César Maia (DEM), para o governo do Estado ou para uma das duas vagas do Senado.

Ele defende candidatura do DEM a presidente e cita o nome do prefeito de Salvador, ACM Neto, e do

senador Ronaldo Caiado (GO) como bons candidatos ao Planalto pela sigla.

"Atributos"

"O Rodrigo tem os principais atributos que o legitimam a exercer essa função de candidato do centro:

capacidade de diálogo, equilíbrio e serenidade para tomar decisões. É respeitado pelo governo e pela oposição."

Efraim Filho (PB) LÍDER DO DEM "Ele (Maia) está construindo, em um processo extremamente delicado, uma

candidatura que pode vir a unir partidos do centro e juntar, mesmo que não coligados, esquerda, direita e centro."

Pauderney Avelino (AM) SECRETÁRIO-GERAL DO DEM

O enfrentamento como solução (Editorial) Desponta claramente no campo da esquerda radical um agitador firmemente disposto a liderar uma

revolução para a conquista do "poder popular", cujo principal desafio "é pensar um programa que não seja o de

conciliação, mas de enfrentamento e que bote o dedo na ferida de problemas estruturais". O candidato a líder

popular- revolucionário, defasado um século no tempo, é Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos

Trabalhadores sem Teto (MTST), um "movimento territorial dos trabalhadores" que luta contra o capitalismo: "No

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capitalismo é assim: muitos trabalham e poucos têm dinheiro. Por isso lutamos contra ele". É o que diz a Cartilha

de Princípios do MTST.

Em entrevista ao jornal Valor, Boulos não consegue disfarçar que considera Luiz Inácio Lula da Silva um

líder decadente e superado, a quem concede, generosamente, o direito de ser candidato na eleição presidencial

do ano que vem "como uma questão democrática", não de "convergência programática, mas de não deixar que o

Judiciário defina o processo eleitoral no tapetão".

É tão forte a fé de Boulos na decadência de Lula que não acredita que o chefão do PT consiga levar o

protesto popular às ruas no caso de ser impedido pela Justiça de candidatar- se à Presidência da República, o que

depende de decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) sobre sentença do juiz Sério Moro, que o

condenou a 9 anos e 6 meses de prisão no caso do triplex do Guarujá.

A razão disso é que "parte da esquerda deixou de fazer o trabalho de base", o que "gera apatia,

perplexidade" e "a longo prazo cria uma fissura profunda entre Brasília e o Brasil, que se traduz no sentimento de

insatisfação com a política e que pode se expressar em algum momento com explosões sociais". E insiste:

"Defendo que a esquerda se apresente em 2018 com projeto de enfrentamento, sem alianças com golpistas".

Boulos não deixa clara a extensão do "enfrentamento" que considera fundamental em sua proposta de

"botar o dedo na ferida", mas a leitura da Cartilha de Princípios do MTST dissipa qualquer dúvida: "A sociedade

em que vivemos é capitalista.

O que isso quer dizer? Quer dizer que as leis, o governo, a justiça foram organizados para beneficiar um

pequeno grupo de gente muito rica, que é a classe capitalista".

Diz mais a Cartilha: "Somos a maioria, mas o poder não está com a gente e sim com os capitalistas.

Construir o poder popular, que é o nosso poder, é a forma de transformar isso. Como? Com muita

organização e luta. Precisamos nos organizar nos bairros, nas ocupações, no trabalho, em todos os lugares.

Levando adiante a ideia de que só precisamos da nossa força para mudar a realidade".

Para ele, a produção de riquezas é responsabilidade do Estado, que se encarregará de distribuir essa

riqueza entre todos, acabando com a pobreza.

Não chega a ser uma ideia original, como ficou comprovado pelas experiências comunistas frustradas ao

longo do século 20 e pelos ensaios populistas fracassados, inclusive no Brasil.

O discurso esquerdista de Guilherme Boulos, adornado por inflexões populistas que a massa popular ouve

sempre acriticamente, explora a falta de informação generalizada impondo de cima para baixo "princípios" que

justificam a submissão do povo ao superior discernimento do comissariado encarregado de decidir o que é bom

para todos.

É exatamente a partir dessa lógica que o dono do MTST afirma na entrevista que o discurso do governo

sobre a necessidade da reforma da Previdência está "mal colocado" porque se baseia na impossibilidade de o

sistema se sustentar no longo prazo e no argumento de que a reforma combate privilégios.

Para Boulos, a solução para todos os problemas brasileiros é "alterar a relação de forças sociais" para que

se possa acabar com este Estado "que funciona como um mecanismo de manutenção das desigualdades".

Como de hábito, a esquerda popular-revolucionária é pródiga em anunciar soluções para problemas sociais.

Como implementá- las com sucesso já provou que não sabe.

Presidência brasileira do Mercosul (Artigo)RUBENS BARBOSA A51.ª edição da reunião de cúpula dos chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados foi realizada

em Brasília na semana passada.

O Mercosul equivale hoje à quinta economia do mundo, com produto interno bruto (PIB) de US$ 2,7 trilhões.

Mais de 10% das exportações brasileiras têm como destino os demais sócios do bloco e 84% delas são

produtos manufaturados.

As trocas comerciais no Mercosul (US$ 38 bilhões - 2016) são hoje 8,5 vezes maiores do que as registradas

no ano da fundação do bloco (US$ 4,5 bilhões - 1991).

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A cúpula de chefes de Estado encerra a presidência pro tempore exercida pelo Brasil durante o segundo

semestre de 2017.

Em vista dos resultados alcançados, pode-se dizer que a reunião presidencial foi uma das mais eficazes e

produtivas dos últimos anos. Nesse período, foram realizadas cerca de 300 reuniões dos órgãos decisórios e

especializados do Mercosul, tratando de temas como comércio, regulamentos técnicos, contratações públicas,

grupo de monitoramento macroeconômico, direitos humanos, justiça, desenvolvimento social, saúde e educação.

Com esse esforço se atualizou a agenda de trabalho do bloco, que voltou a tratar de assuntos relevantes para o

intercâmbio comercial e de questões novas e urgentes.

A cúpula de Brasília consolidou o fortalecimento do Mercosul como instrumento de integração capaz de

produzir resultados concretos em benefício das sociedades da região, com base nos pilares presentes quando da

criação do bloco: integração econômico-comercial, democracia e direitos humanos. O grupo retoma a sua vocação

original de regionalismo aberto e busca tornarse cada vez mais uma plataforma de inserção competitiva de seus

integrantes na economia global. Com isso os presidentes decidiram acabar com a retórica bolivariana e dar

prioridade a uma agenda reformista e pró-mercado.

Sob a coordenação brasileira foram reiniciadas discussões de temas que não foram tratados nos últimos

anos, como serviços, comércio eletrônico, facilitação do comércio, pequenas e médias empresas e o interesse do

consumidor nas matérias de comércio exterior. Foi assinado o acordo de compras governamentais entre os

países- membros. Novos temas foram introduzidos no programa de trabalho do bloco e há disposição de avançar

em setores como questões regulatórias, comércio eletrônico, bens de informática e o desenvolvimento de uma

agenda digital, com a criação de um grupo que deverá apresentar plano de ação sobre esse tema no primeiro

trimestre de 2018. Modernizouse o mecanismo de elaboração e modificação de regulamentos técnicos do

Mercosul, em discussão desde 2010, que permitirá alinhar o bloco aos mais avançados padrões e práticas

internacionais, em benefício dos cidadãos, dos consumidores e das empresas.

Nesse período, foi também adotado um plano de ação para o fortalecimento das áreas comercial e

econômica, cuja execução levou a melhorias efetivas na fluidez do comércio regional, e foram reiterados os

compromissos de evitar restrições ao comércio entre os países, com a diminuição substantiva de 86% dos

entraves ao comércio (de 78 medidas restritivas foram eliminadas 67) entre seus integrantes, fruto de um esforço

de fortalecimento do mercado interno.

O Brasil apresentou projetos para Iniciativas Facilitadoras de Comércio e Protocolo de Coerência

Regulatória, que terão continuidade na presidência pro tempore paraguaia.

Foram aprovados o tratamento do tema de proteção mútua de indicações geográficas, que também terá

sequência na agenda do bloco, e o Acordo sobre Direito Aplicável em Matéria de Contratos Internacionais de

Consumo, que estabelece critérios para definir o direito aplicável a litígios dos consumidores em suas relações de

consumo.

Do ponto de vista político, não menos importante, também houve avanços, como a aplicação da cláusula

democrática à Venezuela, cada vez mais autoritária.

Houve compromisso de continuar na busca de soluções para os temas ainda pendentes, como a decisão de

incorporar plenamente ao regime jurídico do bloco os setores automotivo e do açúcar, e também a tentativa de

corrigir algumas recaídas protecionistas, como a imposição pelo Uruguai de uma sobretaxa às importações que,

na prática, estabelece uma tarifa externa diferenciada contra as regras do Mercosul.

Durante recente encontro na Argentina, os negociadores do Mercosul e da União Europeia não chegaram a

um acordo para que fosse feito um anúncio político a respeito do progresso e da finalização das negociações em

2018. Agora em meados de janeiro os entendimentos técnicos devem prosseguir, já incorporando as decisões de

incluir 90% do intercâmbio comercial dos dois agrupamentos e reduzir o cronograma de desgravação para dez

anos. Os presidentes reafirmaram o empenho do Mercosul na conclusão, no mais breve prazo possível, de um

acordo ambicioso, abrangente e equilibrado, em todas as suas dimensões.

Espera-se que a União Europeia possa melhorar as ofertas de cotas para carne e etanol, de modo a permitir

um rápido avanço nos entendimentos, superando a oposição de alguns membros europeus.

A disposição de celebrar acordos com outros países e blocos foi reafirmada com a disposição de avançar

nas negociações com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta) e nos entendimentos com os países da

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Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), bem como nas negociações com a Índia, o Marrocos e a

Tunísia. Foi destacada, ainda, a perspectiva de lançamento de negociações com o Canadá e a Coreia do Sul.

A partir de 1.º de janeiro de 2018 o Paraguai assume a presidência pro tempore do Mercosul e a tendência é

que será dada continuidade a essa nova agenda apoiada pelo Brasil.

Bloco troca a retórica bolivariana por uma agenda reformista e pró-mercado

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Governo quer saber se Embraer chegou a negociar controleMurillo Camarotto e Daniel Rittner As negociações para uma parceria entre a Boeing e a Embraer chegaram aos ouvidos do governo cerca de

duas semanas antes de a notícia vir a público. A receptividade - positiva em um primeiro momento - gerou certo

desconforto dias depois, diante da possibilidade de que as conversas tivessem tratado de uma eventual venda do

controle acionário da empresa brasileira.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, soube das negociações pelo brigadeiro Nivaldo Rossato,

comandante da Força Aérea Brasileira (FAB). Até aquele momento, a percepção era de que havia sido retomado

um namoro que, segundo ele, já acontece há mais de dez anos entre as duas fabricantes de aeronaves.

Com publicação da notícia pelo "Wall Street Journal", Jungmann e Rossato foram ao gabinete do presidente

Michel Temer e o alertaram sobre a iminência de um "tsunami". O presidente foi rápido em declarar que qualquer

negociação envolvendo o controle acionário da Embraer estava completamente descartada.

"Nosso entendimento é de que tínhamos que ressalvar que a Embraer é uma empresa privatizada, mas que

em 1994, na privatização, ao manter a ação especial, o governo sinalizou que havia interesse nacional", disse o

ministro em entrevista ao Valor.

Os motivos para descartar a venda do controle, segundo o ministro, são tão variados quanto estratégicos.

Jungmann cita, por exemplo, a propriedade da Embraer de todo aparato utilizado no controle do tráfego aéreo no

Brasil. A fabricante de jatos também lidera o processo de fabricação de combustível nuclear, atua no

gerenciamento de fronteiras e lançamento de satélites.

"Por isso tudo, a Embraer é algo que tem relação direta com projeto nacional autônomo. Está no centro de

um cluster de inovação, tecnologia e conhecimento e tem centenas de empresas articuladas a ela. Ela é o

coração. Não bastasse isso, se transferirmos o controle acionário da Embraer, você estará condicionando

decisões estratégicas na área de defesa ao congresso de outro país", argumentou o ministro.

O estatuto da Embraer determina que qualquer negociação envolvendo o controle acionário tem que ser

previamente comunicada ao detentor das ações de classe especial - no caso, o governo. Como as notícias sobre

as intenções da Boeing chegaram à Brasília por meio informal, o governo quer saber agora até que ponto as

conversas evoluíram.

"Se chegou-se a contratar bancos ou escritórios de advocacia, nós deveríamos antes ter sido avisados. Mas

isso será objeto de análise, vamos checar se de fato aconteceu. Supondo que aconteceu, evidentemente não

poderia ter ocorrido", disse o ministro. "O brigadeiro (José Magno) Araújo, membro do conselho, não tem nenhuma

notificação formal. O que chegou é que começou a conversa", afirmou Jungmann.

De acordo com ele, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já solicitou esclarecimentos sobre o fluxo das

informações relacionadas à negociação. "Esperamos que isso não tenha acontecido. Se aconteceu,

evidentemente cruzou-se uma linha vermelha sem que o acionista especial soubesse previamente", reforça o

ministro.

O Valor revelou em setembro uma consulta enviada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao

Tribunal de Contas da União (TCU), sobre a viabilidade de extinção das ações de classe especial, também

conhecidas como "golden shares". Além da Embraer, a Vale e o Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB) contam

com essa categoria de ativo.

O secretário de Produtos de Defesa, Flávio Corrêa Basílio, informou que, apesar da consulta, o governo

jamais cogitou acabar com todas as golden shares da Embraer. Pela proposta de Meirelles, as regras referentes a

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questões de segurança nacional seriam preservadas. "Conversamos com eles na época. [A consulta] era para

algumas áreas específicas, que não diziam respeito à defesa nacional", disse Basílio.

Jungmann fez questão de ressaltar que o governo brasileiro é favorável à parceria entre as duas empresas

e que não vai atuar para influenciar as negociações. O ministro lembra que o setor aeronáutico passa por um

período de transformações e que a Embraer deve estar preparada para as novas facetas desse mercado.

"O movimento que deflagrou essa percepção [de mudanças no setor] foi a associação AirbusBombardier. Ao

mesmo tempo, se tem notícias de que os chineses pretendem explorar esse nicho, associados aos russos. Falase

também nos japoneses, com a Mitsubishi. Diante disso, vemos com bons olhos essa associação. Segue a balsa",

disse Jungmann.

Há, no entanto, clareza no governo de que uma dissociação das área militar e comercial da Embraer seria

impossível, hipótese que chegou a ser cogitada por analistas de mercado. "Há uma simbiose entre essas duas

áreas que as torna indissociáveis", afirma Raul Jungmann.

Ele explica que boa parte das inovações apresentadas pelo setor comercial são iniciadas na área de defesa.

Como os investimentos em defesa não estão sujeitos a normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), é

essa área quem transfere a tecnologia para o setor comercial. "A segregação, por essas razões, não funcionaria",

disse o ministro.

O governo também optou por não manifestar preferência sobre o tipo de parceria que Embraer e Boeing

pretendem fazer. Segundo Jungmann, mantidas as prerrogativas estratégicas da União, o restante é questão

100% empresarial. "Não vamos dizer nada. A única coisa que nos pronunciamos é no que diz respeito aos

interesses nacionais. Fusão? Joint venture? Parceria? Comercialização? Não nos diz respeito."

Apesar de incerteza eleitoral, projeções são positivas até 2019 As eleições presidenciais e o componente de incerteza a elas associado vão trazer volatilidade à economia

no próximo ano, mas a atividade deve reagir independentemente das dúvidas sobre qual será o próximo governo.

A recuperação do mercado de trabalho, com maior geração de vagas formais, e a expansão mais robusta do

crédito criam um ambiente favorável ao consumo, que seguirá liderando a retomada. Na média, as projeções de

27 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta para crescimento de 2,7% em 2018, com

alta de 3% do consumo das famílias.

Mesmo a previsão mais pessimista conta com expansão de 1,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) no ano

que vem - caso da 4E Consultoria, que vê desempenho pífio do investimento, sobretudo por conta das dúvidas

quanto ao resultado eleitoral. Perto da ponta mais otimista, Santander e GO Associados projetam aumento de

3,2% do PIB. Nenhuma das três instituições tem a aprovação da reforma da Previdência em 2018 como premissa

para suas perspectivas.

Para Maurício Molon, economista-chefe do Santander, a manutenção da expectativa dos agentes de que a

medida irá passar no Congresso é mais importante do que a aprovação em si. Como mudar o sistema de

aposentadorias é uma necessidade, a reforma será feita de qualquer modo, seja em 2018 ou somente no próximo

governo, avalia Molon. "Não deve haver um cenário de pânico se não tiver reforma previdenciária em 2018."

Outro fator que explica a visão mais favorável sobre o próximo ano é a avaliação diferente do banco em

relação ao crédito. "O mercado acha que o excesso de alavancagem é um fator impeditivo ao crescimento e não

vemos isso", diz o economista. Para ele, a redução da taxa básica de juros - que será cortada em mais 0,25 ponto

em 2018, para 6,75% ao ano - vai gerar folga relevante no orçamento das famílias e no caixa das empresas, o que

terá efeito positivo sobre o consumo e o investimento.

Luiz Castelli, da GO Associados, prevê alta de 4% no consumo das famílias. Embora espere pequena

aceleração na inflação, para 4%, que vai estabilizar os ganhos reais dos salários, a consultoria vê melhora

substancial no mercado formal, com a criação de 980 mil empregos. O desemprego médio deve cair de 12,8%

neste ano para 12%, nível ainda alto, mas provocado pela entrada de mais pessoas no mercado. "Deve haver

migração de trabalhadores informais e daqueles por conta própria para o mercado formal. Ao mesmo tempo, o

crescimento da economia pode estimular mais pessoas a procurar trabalho", afirma Castelli.

O investimento também deve voltar ao campo positivo, depois de quatro anos de recuo, mas não será o

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principal motor da recuperação, pondera Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria. Em seus cálculos, a Formação

Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e

pesquisa) vai subir 3,7% no próximo ano, taxa considerada baixa pelo economista, uma vez que esse componente

do PIB teve queda perto de 30% desde 2014.

"Uma puxada forte do investimento só viria em 2019, com a condição de que vença um candidato

reformista", diz Jensen. Em 2018, as incertezas provenientes do quadro eleitoral e o elevado nível de capacidade

ociosa impedem protagonismo da formação bruta, aponta o economista, que também vê pouco efeito das

concessões em infraestrutura na FBCF.

Para Castelli, o fortalecimento - e eventual vitória - de uma candidatura populista faria mais estragos na

atividade no fim de 2018, mas não a tempo de prejudicar o PIB do ano. Por esse motivo, o cenário para 2019 é

"binário", diz. "Prevemos PIB de 2,5%, mas a depender das eleições, ele pode ser de 3,5% ou 1,5%."

Do lado positivo, a baixa utilização de recursos na economia permite que o PIB cresça sem grandes

pressões inflacionárias. A estimativa média dos analistas ouvidos conta com alta de 4% do Índice Nacional de

Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2018, nível ainda abaixo de 4,5%, centro da meta perseguida pelo Banco

Central. "A depreciação cambial pouco expressiva, a ausência de pressões de demanda e a alta persistência

inflacionária contribuirão para que a inflação permaneça próxima do centro da meta em 2018", afirma a equipe

econômica do Credit Suisse.

Dada a elevada capacidade ociosa na economia, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, é

provável que preços que dependem da demanda sigam com alta relativamente fraca, como é o caso dos serviços.

"Não seria fora de propósito vermos esse indicador ficar abaixo de 4% no ano que vem", avalia.

Com o balanço de riscos favorável à dinâmica de preços, o Banco Central tem margem de manobra para

fazer mais um corte na taxa Selic. Segundo a estimativa mediana de 26 analistas, o juro básico será reduzido em

mais 0,25 ponto percentual, para 6,75% ao ano, permanecendo nesse patamar até o fim de 2018.

O IPCA perto de 4% ao ano abre espaço para que a Selic siga em patamar baixo ao longo do próximo ano,

diz Vale, da MB, que tem previsão igual à mediana para a taxa básica de juros. O ciclo de afrouxamento monetário

deve se encerrar aí se a reforma previdenciária não avançar em fevereiro, observa ele, cenário que considera o

mais provável.

No setor externo, o mundo também deve ajudar, com farta liquidez internacional, perspectiva de bom

crescimento da economia mundial e pouca aversão ao risco nos emergentes, comenta Castelli, da GO. É pouco

provável um cenário de aumento de inflação e elevação maior dos juros nos Estados Unidos, em sua avaliação.

As exportações devem se manter num patamar alto, em torno de US$ 226 bilhões, com importações de US$ 174

bilhões. "Não teremos surpersafra, mas o desempenho da balança comercial deve ser bom", diz Castelli.

Como fator negativo, o Credit ressalta que a posição fiscal do Brasil seguirá desfavorável ao menos até

2022. Segundo o banco suíço, o déficit primário do setor público em 2018, estimado em 2,2% do PIB, será muito

próximo ao de 2017. O governo vai cumprir o teto de gastos, que limita a alta das despesas públicas à inflação do

ano anterior, mas essa regra dificilmente será respeitada em 2019, "a menos que a nova legislatura no Congresso

aprove cortes expressivos nos gastos obrigatórios já no seu primeiro ano", afirmam os economistas da instituição.

Molon, do Santander, tem perspectiva de lenta melhora das contas públicas nos próximos anos, mas

destaca que reformar a Previdência é insuficiente para que o país volte a gerar superávits primários. "A reforma

tem apenas o objetivo de impedir que o déficit da Previdência aumente", diz. Assim, afirma, o próximo governo

precisa fazer uma reforma mais ambiciosa, que contenha a alta de outros gastos obrigatórios.

EUA deixam expirar isenção tarifária para países em desenvolvimento Sistema Geral de Preferências vence no dia 31; renovação no ano que vem é incerta

Um acordo de comércio americano dos anos 1970 que permite unilateralmente que bilhões de dólares em

produtos de países em desenvolvimento tenham acesso isento de tarifas ao mercado americano deverá expirar

em 31 de dezembro, em vista de crescentes pressões dos partidários de Donald Trump para deixá-lo caducar.

Na semana passada, o Congresso não conseguiu chegar a um consenso sobre a renovação do Sistema

Generalizado de Preferências (SGP), apesar de republicanos e democratas terem dito que o apoiam e que

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tentarão retomá-lo.

Mas críticos do programa, criado para ajudar os países em desenvolvimento a expandir seus setores

exportadores, argumentam que países como a Índia abusaram muito do SGP, ignorando suas regras, e que

governos americanos anteriores foram muito tolerantes com isso.

O Brasil também utiliza o SGP, mas o benefício afeta apenas uma pequena parte das vendas brasileiras.

Em 2016, cerca de US$ 226 milhões em exportações brasileiras entraram nos EUA sem pagar tarifas como parte

do programa.

"Não há isso de em desenvolvimento no que diz respeito à Índia ou à China. Há 600 milhões de pessoas na

classe média na Índia e isso provavelmente representa três ou quatro vezes o tamanho de nossa classe média

[dos EUA]", disse Dan DiMicco, ex-executivo-chefe da siderúrgica Nucor e conselheiro comercial de Trump. "Só

porque existem bolsões de pobreza real - e não há dúvida sobre isso - isso é algo que o governo [indiano] deve

enfrentar, e não o nosso governo".

Mais de 3.500 produtos de 120 países e territórios em desenvolvimento são cobertos pelo acordo comercial,

de acordo com o Serviço de Pesquisas do Congresso, um órgão apartidário. Em 2016, cerca de US$ 19 bilhões

em produtos foram importados pelos EUA mediante isenções tarifárias sob o GSP, e grupos empresariais dizem

que os importadores economizaram mais de US$ 700 milhões.

Mas nacionalistas econômicos aliados do presidente americano, como DiMicco, argumentam que países

como a Índia há décadas não cumprem sua parte no acordo, que prevê a concessão de acesso mútuo a empresas

americanas.

"É uma via unidirecional. Mas não deveria ser uma via unidirecional", disse DiMicco.

"Sob qualquer aspecto, a Índia não deveria gozar desse benefício", escreveu Curtis Ellis, fundador da

American Jobs Alliance, que defende políticas econômicas nacionalistas, em artigo publicado pela Breitbart, site

conservador controlada por Steve Bannon, ex-conselheiro da Casa Branca. "[O México] ignora rotineiramente

direitos de propriedade intelectual americanos e bloqueia importações dos EUA mediante uma combinação de

tarifas elevadas, impostos e burocracia corrupta", diz o texto.

O governo Trump, cujo apoio ao GSP foi morno em comparação com o de governos anteriores, sinalizou

que quer vê-lo reformado.

O escritório do representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, que administra o programa, recusou-se

a comentar, quando solicitado pelo "Financial Times" na sexta-feira, se o governo apoia a renovação do SGP.

Os defensores do acordo comercial dizem que ele beneficia empresas americanas, ao suprir componentes

baratos provenientes predominantemente da China, e que são relativamente pequenos os impactos sobre

empresas concorrentes nos EUA. Os US$ 19 bilhões em bens importados em 2016 representaram uma parte

minúscula dos US$ 2,2 trilhões em bens importados pelos EUA.

O SGP já expirou outras vezes, a mais recente em 2013. As empresas que o utilizam são obrigadas a pagar

tarifas até que ele seja renovado, o que, da última vez, levou quase dois anos.

Agora, a determinação do governo Trump de anular e rever décadas de política comercial americana

adicionou uma nova camada de incertezas, dizem os defensores do acordo comercial.

"Temo que [o SGP] esteja morto no Congresso pelo futuro previsível, lamentavelmente. Não deveria ser

algo controverso, mas infelizmente, como acontece com tanta coisa relativa a comércio nesse governo, [as coisas]

podem acabar sendo mais difíceis do que o necessário ", disse Clark Packard, do RStreet Institute, um think tank

procomércio de Washington.

Republicanos e democratas no Congresso americano dizem defender uma renovação do SGP, mas que não

terão mais tempo para fazê-lo neste ano.

Na semana passada, Kevin Brady, presidente da Comissão de Finanças Públicas da Câmara, culpou os

democratas no Senado por não terem dado sinal verde ao SGP.

Um porta-voz de Ron Wyden, principal democrata na Comissão de Finanças do Senado, que supervisiona

os assuntos comerciais, disse que [a declaração] "não faz sentido" e que foram os republicanos, absorvidos pela

reforma tributária, que não conseguiram avançar na renovação do SGP.

Um porta-voz do senador Orrin Hatch, presidente republicano da Comissão de Finanças, disse que tentará

renovar o GSP "o mais rápido possível" quando o Congresso voltar a se reunir, em janeiro.

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Na sexta-feira, Trump suspendeu alguns dos privilégios assegurados pelo SGP à Ucrânia, acusando o país

de não cumprir suas obrigações, mas restaurou parcialmente o benefício à Argentina.

"O presidente Trump enviou uma mensagem clara segundo a qual os EUA aplicarão rigorosamente critérios

de direito a acesso preferencial ao mercado americano ", disse Lighthizer. "O governo está empenhado em

garantir que outros países cumpram sua parte do acordo em nossas relações comerciais".

Alckmin é o favorito, afirma analista Para cientista político Marcus Melo, Lula não concorrerá e Bolsonaro desidratará na eleição presidencial

Será a disputa do bilhão, que usa robôs na internet, contra R$ 8 milhões. O Bolsonaro está num partido nanico A

renovação vai aumentar nas eleições legislativas, mas talvez elegendo candidatos das mesmas estruturas

Caso se confirmem os prognósticos do cientista político Marcus Melo, professor titular da Universidade

Federal de Pernambuco (UFPE), as eleições de 2018 ocorrerão sem a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio

Lula da Silva (PT) e haverá uma alta taxa de renovação no Legislativo, mas não nos cargos majoritários para

presidente e governadores.

Melo prevê um "processo curioso, meio esquizofrênico" de mudança na classe política que compara à

imagem de um queijo suíço. Caciques poderão ser "varridos do mapa", o PMDB será tóxico, a candidatura de Jair

Bolsonaro definhará por estar longe das preferências do eleitor mediano, e o grande favorito para subir a rampa do

Planalto em 1 de janeiro de 2019 é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Em sua opinião, o tucano só não vence se acontecer falta de coordenação ou algo como se passou na

eleição a prefeito do Rio, com o colapso do centro que permitiu a chegada improvável de um bispo - Marcelo

Crivella (PRB) - e de um "comunista" - Marcelo Freixo (Psol) - ao segundo turno. "Esse cenário carioca, porém, é

improvável na eleição a presidente", diz. Sobre a chance de haver, por exemplo "três cavalos" querendo ocupar a

mesma faixa, Melo afirma que essa possibilidade é reduzida, pois Luciano Huck, João Doria e Aécio Neves são

cartas fora do baralho. Também não acha crível o PMDB lançar um candidato ou mesmo apoiar alguém do núcleo

governista, como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). "Quem cogita a candidatura dele não tem a

menor ideia do que é o perfil do eleitorado brasileiro. É preciso me apontar o sucesso nas urnas de outro

exbanqueiro com muito menos carisma do que o Alckmin - o que é difícil encontrar - e que foi CEO do grupo

J&F, maior empresa implicada na Lava-Jato ao lado da Odebrecht", diz. A seguir, os principais trechos da

entrevista concedida ao Valor:

Valor: Lula conseguirá ser candidato a presidente?

Marcus Melo: Todos os desdobramentos são marcados pelas incertezas, mas as evidências do padrão do

TRF-4 indicam a sustentação da condenação. Haverá judicialização, o caso chegará à Corte Suprema e o STF

terá que se manifestar. Tudo se encaminha para Lula não ser candidato.

Valor: Mas Lula disse que desistirá de concorrer se for condenado.

Melo: Tudo que o Lula está dizendo agora faz parte de sua estratégia de defesa. Não podemos tomar a

declaração pelo valor de face. Há certa ambiguidade nestas situações [de condenação em segunda instância], por

causa de liminares. Há precedentes em eleições anteriores de candidatos que conseguiram participar, sub judice.

Mas o desenlace deve ser o impedimento de se candidatar. Se concorrer, a rejeição dos eleitores o derrubará.

Valor: Com a condenação é provável que venha também a prisão?

Melo: Aí o cenário é mais nebuloso ainda. Mas a prisão interessa menos aos atores envolvidos do que a

condenação. Como solução em futuro não muito distante, pode haver um perdão presidencial. A conciliação é uma

tradição nossa desde 1853 com o Marquês do Paraná [primeiro-ministro do período imperial que reuniu liberais e

conservadores em seu ministério]. A anistia ocorreu em todos os períodos monárquicos e republicanos. É usada

amplamente e está presente nas melhores democracias, pois há casos dessa natureza, em momentos de grande

importância. Gerald Ford anistiou Nixon. Na Revolta da Armada, no fim do regime militar, não me surpreenderia se

acontecesse com Lula. Aliás, quase aconteceu com o [José] Dirceu [o petista recebeu perdão de pena imposta a

ele no julgamento do mensalão, mas continuou preso por condenação na Lava-Jato].

Valor: Qual será a marca das eleições de 2018?

Melo: Haverá uma demanda brutal pela renovação, aumentará a chance de outsiders como não se via há

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décadas, depois dessa exposição pornográfica da corrupção. A escala do que se tem assistido é o equivalente

funcional de uma revolução. Um exgovernador e dois ex-presidentes da Câmara estão na prisão, uma presidente

foi alvo de impeachment, magistrados julgam um ex-presidente de enorme popularidade. Historiadores no futuro

verão essa época como de grande transformação. Por outro lado, nunca se assistiu reação tão grande das forças

que operam no viés pró-incumbente. A começar pelo fundo de campanha de quase R$ 2 bilhões e as regras

aprovadas que favorecem os detentores dos atuais assentos. O PMDB ou o candidato que ele apoiar estará

sentado em mais de R$ 1 bilhão. Mas o saldo líquido será no sentido da renovação. Valor: Quais são os sinais?

Melo: Tenho uma pesquisa, com Lúcio Rennó e Ivan Jucá, que estima o impacto de escândalos de corrupção

sobre as chances de reeleição de deputados federais enter 1994 e 2010. Um escândalo reduz em 18% a

probabilidade de recondução ao mandato. Isso em tempos normais. Com a Lava-Jato será muito grande. Por mais

recursos que um deputado do PMDB possa mobilizar dificilmente ele vai evitar. O PMDB se tornou tóxico. Não

tivemos eleição desde que começou a LavaJato, exceto a municipal, no ano passado, quando o PT perdeu 40%

de suas prefeituras, antes de muita coisa vir à tona, como escândalo da JBS e da Odebrecht. No mensalão e no

escândalo dos sanguessugas, entre 2005 e 2006, 69 deputados foram envolvidos, dos quais só nove foram

eleitos. O impacto de um escândalo de corrupção não é trivial.

Valor: Apesar disso, não teremos uma eleição parecida com a da Itália depois da Operação Mãos Limpas,

que arrasou o sistema partidário e resultou em Silvio Berlusconi.

Melo: Berlusconi é um outlier. Não temos ninguém assim. Era o equivalente a alguém que fosse ao mesmo

tempo dono do Corinthians e da Rede Globo, um dos mais ricos do país. Luciano Huck não é comparável. É uma

estrela de TV, mas não é dono da maior emissora. Alguém com esse cacife não é facilmente encontrável em

outros países. Berlusconi não é da extrema-direita, é mais de centro-direita. Qualquer paralelo com ele é difícil.

Valor: Não há um candidato como ele, mas os partidos brasileiros estão de pé, muito diferente do resultado

na Itália.

Melo: Tem razão. O sistema do pentapartito - os cinco partidos que dominavam - desmoronou e depois foi

reconstruído. No Brasil, infelizmente, o sistema partidário continua de pé. Vai haver renovação, mas não a esse

ponto. Nosso quadro é de hiperfragmentação. Em sete Estados todos os deputados federais são de partidos

diferentes. A terapia - o fim das coligações proporcionais - só começa pra valer em 2020 [a partir de 2018, entra

em vigor também a cláusula de barreira]. Esse sistema já entrou em colapso. Com Dilma, o partido presidencial

tinha apenas 11% das cadeiras da Câmara.

Valor: Apesar da fragmentação, o poder do PMDB continua o mesmo ou maior, agora que está na

Presidência.

Melo: Tem protagonismo, mas o seu DNA é o de partido não presidencial por excelência. Não tem nome

[para eleição ao Planalto], mas tem recursos [políticos]. O PSDB tem nome e alguns recursos. O PT e o PDT não

tem máquina política relevante, somente em alguns entes subnacionais, e algum acesso a recursos partidários. O

"swing voter", aquele eleitor volátil, que votou em Lula e Dilma a partir de 2002, não volta mais para o PT. Não têm

identificação programática com o PT. Aderiram porque o PT produziu ganhos, mobilidade social vertical, inclusão,

isso tudo acabou.

Valor: O primeiro balizador de uma eleição, em regra, é se predomina o desejo de mudança ou de

continuidade em relação ao governo de plantão. A questão da corrupção vai embaralhar essa definição?

Melo: A exposição da corrupção nos últimos anos foi pornográfica, mas não vai ser a questão central.

Porque o nível e abrangência da Lava-Jato produziram uma sensação de corrupção sistêmica. Quanto maior a

exposição, menos a corrupção deixa de ser parâmetro, produz um quadro de cinismo cívico, d que todos são

corruptos. Ainda assim, para a maioria a corrupção será definidora. O PMDB e outros partidos e candidatos

ancorados em igrejas ou instituições que despertam lealdade muito resiliente podem escapar, mas quem não tiver

tem muita chance de ser varrido do mapa. O eleitor poderá deixar de votar no deputado governista que lhe levou

benefícios, ao pensar que a maioria dos recursos o parlamentar botava no bolso e o que sobrava é que ia para a

região.

Valor: Que candidatos terão vantagem?

Melo: O voto nulo vai crescer muito. A taxa de renovação na Câmara em 2014 foi de 43%. Ela vai se elevar,

mas talvez elegendo candidatos dentro das mesmas estruturas. Para os movimentos de renovação, como Agora!

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e Acredito, creio que poderão ter problemas de coordenação, de acesso aos recursos dos partidos por onde

concorrerão.

Valor: Onde haverá renovação de fato?

Melo: Acho difícil que ocorra no nível federal ou nos governos dos Estados porque as barreiras de entrada

nestas eleições majoritárias são altas, as campanhas são caras e quase R$ 2 bilhões estarão nas mãos dos

partidos. Ocorrerá mais nas eleições proporcionais, via celebridades, por exemplo. Será um processo curioso,

mais parecido com um queijo suíço. Algumas estruturas partidárias vão sofrer, mas sobreviver. Alguns caciques

escaparão e outros serão varridos, vai ser uma renovação meio esquizofrênica.

Valor: O que muda sem a candidatura de Lula?

Melo: Será um clima bem diferente, acho que forças pró-governo vão agir no sentido de favorecer a

candidatura Alckmin. Há um mês ficou mais claro. Aécio se enfraqueceu brutalmente. Na convenção, levou uma

vaia, ficou desolado e nem discursou. Isso o neutraliza e fortalece a candidatura do PSDB, pois ele era um legado

tóxico. Alckmin é sem sombra de dúvida o candidato. Vai ter o apoio no segundo turno, no que seja, do PMDB, ao

fim e ao cabo. E isso torna a candidatura muito forte, a despeito de ser uma eleição de renovação. Alckmin é o

establishment há 24 anos em São Paulo e malgrado isso é o que tem maior cacife, recursos do fundo eleitoral e a

máquina de São Paulo.

Valor: Em 1 de janeiro de 2019, teremos Alckmin subindo a rampa do Planalto?

Melo: É o cenário mais provável. Sem Lula, Alckmin tem mais chance ainda e provavelmente polarizaria

com Marina ou Ciro. A polarização Lula x Bolsonaro só ocorreria em caso de colapso do centro, o que não é o

caso, ou um colapso de coordenação, com uma competição predatória da centro-direita, com Alckmin, Huck e

Doria, três cavalos querendo ocupar a mesma faixa, mas isso já está definido. Huck, Doria e Aécio são cartas fora

do baralho. Geraldo Alckmin se fortaleceu com o enfraquecimento de Aécio. Ele se beneficia de todos os fatores

pró-incumbentes. Não sai ileso, mas na elite política é um dos menos afetados pela Lava-Jato.

Valor: Mas a Lava-Jato pode atrapalhá-lo?

Melo: Sim, porque na Lava-Jato você puxa uma pena e sai uma galinha. Pode aparecer o "cisne negro", ou

seja, um evento de baixíssima probabilidade, mas que quando ocorre causa um grande impacto.

Valor: Isso aumentaria a chance de Bolsonaro?

Melo: Há uma hipervalorização da candidatura Bolsonaro. Se houver uma disputa entre a direita e a centro-

direita a eleição estará resolvida antecipadamente. Alckmin teria vantagem. Bolsonaro não tem uma bandeira

social. Para a maioria dos cidadãos brasileiros, que ganham dois salários mínimos, querem uma saúde pública

melhor, metade é miscigenada, ele não tem nada a dizer. Está longe destas demandas. A única bandeira dele é a

segurança, e por isso ele não tem zero percentual nas pesquisas.

Valor: Trump também não foi subestimado nos Estados Unidos?

Melo: De maneira nenhuma Bolsonaro se aproxima dele. É um "insider" por excelência, está há 30 anos na

política. Tem muita vulnerabilidade também, e se puxar uma pena vem uma galinha, assim como todas as

barbaridades que ele falou ao longo do tempo. Ele só teria chance no cenário carioca, algo que a ciência política já

modelou. Os extremos só são viáveis com o colapso do centro, como ocorreu no Rio, na eleição a prefeito do ano

passado, quando se armou uma disputa improvável entre um bispo e um comunista, entre Marcelo Crivella (PRB)

e Marcelo Freixo (Psol). E Crivella foi hábil ao migrar para a centro-direita. Se você tem um candidato de centro,

ele sempre terá apoio à esquerda ou à direita quando chega a escolha binária no segundo turno. O quadro federal

é muito diferente porque o centro está intacto. É o PSDB, a centro-direita, que não entrou em colapso, como o

PMDB no Rio.

Valor: E o PT e a esquerda sem a candidatura Lula, como ficam?

Melo: O candidato de centro-esquerda tradicional é sempre o PT, que se enfraqueceu brutalmente em 2014,

perdeu 17 deputados federais. Isso vai se acentuar e o PT vai ficar como partido médio. Quem ocupa o espaço é o

Ciro Gomes (PDT) que não tem nem de longe o cacife para isso. Uma disputa entre Guilherme Boulos (Psol) e

Bolsonaro seria o equivalente no nível federal ao cenário carioca de Freixo versus Crivella.

Valor: O ano de 2018 representará o nascimento de um novo padrão de competição política, sem um partido

de esquerda?

Melo: Durante algum tempo a simetria vai continuar. O Brasil não é a Guatemala, tampouco a Colômbia,

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onde a disputa é entre a direita e a centro-direita. Há países em que o eleitorado é majoritariamente de centro-

esquerda, como o Uruguai, onde a direita é desabitada. Nas pesquisas em que se mede a autoidentificação do

eleitor, o Brasil é muito equilibrado na distribuição de frequências. Somos mais parecidos com o Chile e a

Argentina, com dois campos claros à esquerda e à direita. A Lava-Jato produziu um Bolsonaro, mas ele não tem

apelo em outras dimensões, não tem o que dizer na área social, no tema racial. O eixo fundamental é a disputa

redistributiva. Alguém que não tenha discurso redistributivo não tem a menor chance. Quem está mais próximo do

eleitor mediano terá política social forte. Não é o caso do Bolsonaro. Ele tem um nicho importante para disputa

proporcional. Não ganha uma eleição a governador, mesmo no Rio. Só se o centro entrasse em colapso. Não

pode caminhar para o centro, depois de 30 anos dizendo o contrário. Quando a campanha começar ele vai

desidratar, desaparecer.

Valor: E terá pouco tempo de TV e recursos do fundo eleitoral.

Melo: Mesmo sem o apoio do PMDB, o PSDB pode ter R$ 1 bilhão do fundo, o partido do Bolsonaro terá R$

8 milhões. Será a disputa do bilhão, que usa robôs na internet, contra R$ 8 milhões. É um partido nanico

[Bolsonaro está colonizando o PEN, que se chamará Patriota]. A mesma coisa vale para o [ex-ministro do

Supremo] Joaquim Barbosa, ainda que o PSB seja maior e ele possa ter uma votação razoável.

Valor: E a candidatura de Henrique Meirelles?

Melo: Há duas coisas que não fazem sentido. Há um certo exagero sobre o potencial do Bolsonaro e outro

exagero sobre o potencial da candidatura de Meirelles. Quem cogita a candidatura dele não tem a menor ideia do

que é o perfil do eleitorado brasileiro. É preciso me apontar o sucesso nas urnas de outro ex-banqueiro com muito

menos carisma do que o Alckmin - o que é difícil encontrar - e que foi CEO do grupo J&F, maior empresa

implicada na Lava-Jato ao lado da Odebrecht. Não tem a menor visibilidade política.

Valor: Nem se a economia melhorar?

Melo: Em hipótese alguma, porque o PSDB pode reivindicar, crivelmente, o crédito pelo sucesso na

estabilização e mesmo que não chegue a personalizar pode dizer que tem a competência para fazer isso, pode ser

herdeiro desse legado. O PSD e o PMDB atraem só meia-dúzia do mercado em São Paulo. Por mais que o efeito

"feel good" favoreça o incumbente, o atual incumbente é figura que não vale para análise política tradicional. Só foi

alguém para solução da crise do impeachment e cujo assessor foi flagrado carregando mala com R$ 500 mil. O

incumbente não existe e se tornou tóxico. Querem transferir a candidatura para o Meirelles, mas não funciona

assim.

Skaf sofre ataque especulativo de tucanos paulistasFernando Taquari e André Guilherme Vieira (Colaborou César Felício) Candidatura de empresário pode ser sacrificada em nome de aliança entre PSDB e PMDB

A pré-candidatura de Paulo Skaf (PMDB), presidente da Fiesp, ao governo de São Paulo entrou na mira de

José Serra e de João Doria, os dois tucanos mais bem posicionados na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes,

conforme o último Datafolha. Tanto o senador quanto o prefeito paulistano acenam aos correligionários com a

possibilidade de atrair o apoio do PMDB em uma composição que garantiria a Skaf a chance de concorrer a uma

vaga no Senado.

Articulado de forma separada, o movimento de Serra e Doria tem como principal objetivo cacifá-los no ninho

tucano em meio a uma disputa interna que ainda envolve o secretário estadual de Desenvolvimento Social,

Floriano Pesaro, e o cientista político Luiz Felipe D Ávila, genro do empresário Abílio Diniz. Diante da falta de um

nome natural à sucessão do governador e presidenciável Geraldo Alckmin, Pesaro e D Ávila reivindicam a

realização de prévias.

Para evitar a contenda na seara tucana, Serra costura com antigos aliados. Tem conversas avançadas

como o PSD, de Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A ideia é repetir a

dobradinha que governou a capital paulista entre 2005 e 2012. Neste cenário, Skaf concorreria ao Senado.

Segundo aliados, Serra conta com a influência do presidente Michel Temer para convencer o empresário a desistir

da eleição estadual em favor de uma ampla aliança com o PSDB.

Já Doria tenta dissuadir Skaf com o argumento de que ambos têm um perfil parecido e não teria sentido ter

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dois candidatos com o mesmo discurso. A exemplo de Serra, o prefeito também aposta que um acordo em nível

nacional com o PMDB em torno da candidatura presidencial de Alckmin poderá repercutir em seu favor na eleição

estadual.

O prefeito paulistano leva em conta declarações do presidente do PMDB, o senador Romero Jucá (RR), que

em conversas reservadas com aliados reconheceu a hipótese de apoiá-lo no Estado desde que haja uma aliança

nacional baseada no compromisso de Alckmin em garantir o apoio do PSDB à reforma da Previdência e à

simplificação tributária, além da defesa, na eleição, do legado do governo Temer.

A estratégia de Serra e Doria ainda esbarra nos sinais dúbios de ambos em relação à sucessão estadual.

No fim de novembro, em entrevista à Rádio Bandeirantes, o prefeito assegurou que poderia concorrer ao governo

paulista, caso isso fortalecesse os planos presidenciais do governador, seu padrinho político. Perguntado sobre

isso na última sexta , Doria respondeu por escrito ao Valor: "Meu foco é a Prefeitura de São Paulo. É 'prefeitar'".

Na semana passada, disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que pretende ficar na prefeitura e concluir seu

mandato.

A declaração foi vista com desconfiança por aliados e adversários de Doria, que enxergam no gesto uma

tentativa do prefeito tucano em evitar um novo desgaste no partido após suas desavenças públicas com o ex-

governador Alberto Goldman.

Já Serra teria comentado a amigos sua preocupação com a repercussão dos documentos apresentados

pela Odebrecht ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que tratam de um esquema de cartel em

obras realizadas em diversas gestões estaduais, inclusive a dele, entre 2007 e 2010. O tucano também busca se

posicionar como rival de Alckmin na disputa no PSDB pela candidatura presidencial.

O maior empecilho para pretensões eleitorais dos dois tucanos, no entanto, tende a ser o desejo de Skaf de

disputar pela terceira vez consecutiva o governo paulista. Por ora, ele ainda tem o endosso do partido para esta

pretensão. A interlocutores, o empresário descartou completamente o Senado e atribuiu a Kassab as

especulações sobre uma eventual aliança no Estado entre PMDB, PSDB e PSD. Mais do que isso, disse que tem

não tem o perfil para o Legislativo . Ele aposta em um confronto com Serra. Em defesa de sua candidatura,

argumenta que tem a menor rejeição entre os favoritos, de acordo com o Datafolha.

No levantamento, o empresário aparece em segundo lugar, com 16% das intenções de voto no cenário com

Serra como candidato. O senador, por sua vez, soma 13%. Já no confronto com Doria, Skaf cai para terceiro, com

13% das preferências, contra 19% do prefeito tucano. Em todos os casos pesquisados, a liderança é do deputado

federal Celso Russomanno (PRB).

"Não tem como Skaf sair para o Senado. Não existe essa opção. Ele não admite. Não tem plano B. Ele será

candidato a governador", afirmou o presidente do PMDB paulistano, José Yunes, ao ressaltar que o empresário

tem aproveitado os fins de semana para percorrer todo o Estado.

A pré-candidatura de Skaf segue de vento em popa. Desde outubro, ele tem sido a principal estrela da

propaganda institucional do Sesi-SP, cuja a peça enaltece seus serviços na área da Educação. A estética e o

linguajar utilizado no comercial, no qual o empresário encena decisões com uma equipe, caminha em passos

firmes e fala de forma assertiva com os olhos fixos na câmera, remete às propagandas eleitorais.

Diante da semelhança, a Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo instaurou no mês passado

procedimento para apurar se Skaf teria utilizado a propaganda do chamado Sistema S (Fiesp, Sesi e Senai) para

expor sua imagem de pré-candidato. Na ocasião, o empresário divulgou nota em que afirmou que toda a

publicidade da Fiesp, SESI-SP e SENAI-SP tem natureza institucional .

"Não existe qualquer conotação partidária associada a essa atividade. A eventual utilização de imagem de

funcionários e dirigentes é uma opção das entidades, sempre aprovada expressamente pelos seus respectivos

conselhos", disse. "Todas essas regras sempre foram cumpridas rigorosamente. Por essas razões, estamos

tranquilos e prontos para prestar quaisquer esclarecimentos que a Procuradoria considerar necessários",

acrescentou Skaf na nota do mês passado.

'É nos tempos ruins que conhecemos os nossos amigos bons'Daniel Rittner

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Relação mudou de patamar, diz embaixador Li Jinzhang, que vê novo ciclo de prosperidade no Brasil

Perto de completar seis anos como embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang foi fiador de uma

aproximação sem precedentes entre os dois países, que conseguiu atravessar até mesmo a forte recessão e o

terremoto político dos últimos anos. "Em tempos de crise, a confiança vale mais do que ouro", ensina, com ar de

sabedoria oriental, o sorridente diplomata, que é uma das principais figuras de sua chancelaria, ex-diretor de

América Latina e ex-vice-ministro de Negócios Estrangeiros.

Após um estreitamento das relações bilaterais durante o governo de Dilma Rousseff, o líder chinês Xi

Jinping já recebeu duas vezes o presidente Michel Temer na China - uma delas em visita de Estado -, deixando

claro que a aposta de Pequim transcende afinidades políticas e que suas empresas estão confiantes na

recuperação da economia brasileira.

Nesta entrevista, Li fala sobre os investimentos chineses, projetos de infraestrutura, o ambiente de negócios

e questões comerciais.

Valor: O Brasil se recupera lentamente de uma grave recessão e a situação política apresenta muitas

incertezas. Por que empresas chinesas estão comprando ativos aqui?

Li Jinzhang: É uma decisão estratégica para muitas empresas chinesas manter uma parceria de longo

prazo. Apesar dos contratempos, o Brasil é um país com vasto mercado, sólido sistema financeiro e estabilidade

política, e apresenta boas tendências de crescimento em médio e longo prazo. Tudo indica que a economia segue

uma trajetória de recuperação gradual e entrará em um novo ciclo de prosperidade. Neste ano, a cooperação

econômica e comercial conheceu um rápido crescimento neste ano, de modo que a China se tornou uma das

principais fontes de investimento estrangeiro no Brasil. É nos tempos ruins que conhecemos os amigos bons. A

parceria sino-brasileira colherá maiores frutos com a solidariedade nos momentos difíceis. Além de ajudar na

recuperação econômica, o mais importante é demonstrar à comunidade internacional nossa confiança no

desenvolvimento do país. Em tempos de crise, a confiança vale mais do que ouro.

Valor: O investimento chinês tem se concentrado, até agora, em ativos existentes. Em 2018, haverá uma

aposta maior em projetos novos?

Li: Antes de tudo, gostaria de salientar que as áreas de cooperação entre os dois países são muito amplas e

os investimentos estão cada vez mais diversificados. Durante sua visita à América Latina em 2014, o presidente Xi

Jinping definiu a infraestrutura como uma das áreas prioritárias da cooperação com a região, o que também deixou

claro o foco e a direção da cooperação sino-brasileira. As empreiteiras chinesas possuem vantagens em

tecnologia, experiência e capital e têm grande interesse na construção de infraestrutura no Brasil. Em 2015,

chegamos a um consenso, com Brasil e Peru, sobre promover a construção da Ferrovia Bioceânica. Empresas

chinesas concluíram, em dois anos, o estudo básico de viabilidade, e estão dispostas a implementar o projeto em

etapas e de forma fatiada. Elas também querem formar consórcios, com base nas regras de mercado, para

participar da construção de ferrovias, como a Fiol, que vão melhorar a logística brasileira. Enfatizo ainda que, com

a aquisição de participações acionárias em empresas de energia e portos, empresas chinesas vão compartilhar

com parceiros brasileiros suas tecnologias e experiências gerenciais, o que aumenta a eficiência e rentabilidade

das empresas. São ações que trazem benefícios para ambos os lados.

Valor: Quais são as principais dificuldades que as empresas chinesas encontram no Brasil? Licenças

ambientais, incertezas do marco regulatório, problemas trabalhistas?

Li: O Brasil tem um robusto mecanismo de mercado e sistema legal completo. Empresas chinesas com

operações no país estão se adaptando ao ambiente de negócios e se empenhando em cumprir a legislação

trabalhista e ambiental. Porém, nada é totalmente perfeito e sempre há margem para melhora. Como qualquer

empresa estrangeira em operação neste país, investidores chineses também enfrentam algumas perplexidades,

como o complexo sistema tributário. Os dois governos estão dialogando para resolver juntos esses problemas. À

medida que empresas chinesas se familiarizam com o mercado brasileiro, o governo brasileiro aprofunda as

reformas e os dois lados promovem facilitações para o investimento, esperamos que os problemas diminuam

gradativamente.

Valor: Alguns meses atrás, foi anunciado o Fundo Brasil-China de Cooperação para Expansão da

Capacidade Produtiva, com capital de US$ 20 bilhões. Quando o primeiro aporte será feito? Já existem alguns

projetos na mira pelo lado chinês?

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Li:O fundo foi lançado em maio deste ano. É um mecanismo financiado e administrado pelos dois governos,

as decisões são tomadas em conjunto para beneficiar ambos os lados. O fundo é destinado sobretudo a projetos

de infraestrutura no território brasileiro. Tratase de um fundo soberano que opera de acordo com os princípios do

mercado e, ao mesmo tempo, confere o papel orientador aos governos, com o objetivo de fomentar um salto

qualitativo da nossa parceria. Os dois lados estão em frequentes consultas para avaliar os benefícios

socioeconômicos, a rentabilidade e outras condições dos projetos inscritos. Estamos trabalhando para definir a

lista dos projetos-chaves para que o fundo exerça sua função o quanto antes.

Valor: Quase um terço das medidas de defesa comercial aplicadas pelo governo brasileiro é contra produtos

chineses. Há uma importante decisão pendente sobre laminados de aço. O senhor acha que o Brasil tem

exagerado nas medidas de defesa comercial contra a China?

Li: Devemos ter uma visão dialética dos contenciosos comerciais entre os dois países. Por um lado,

considerando o volume comercial, é normal isso acontecer. Em 2016, o comércio Brasil-China atingiu US$ 67,6

bilhões. Só de janeiro a setembro deste ano, esse volume ultrapassou US$ 66,5 bilhões, com um aumento de

quase 30% sobre igual período do ano passado. É essencial que os dois lados adotem uma atitude de respeito,

cooperação e benefício recíproco para tratar, de forma adequada, esses litígios e divergências conforme as regras

da OMC e através de diálogos e consultas. Por outro lado, o Brasil sempre tem um enorme superávit no seu

comércio com a China: mais de US$ 23 bilhões em 2016 e acima de US$ 24 bilhões nos três primeiros trimestres

deste ano. Embora não busque um equilíbrio comercial absoluto e esteja disposta a aumentar o acesso ao seu

mercado, a China também espera a colaboração do lado brasileiro para eliminar em conjunto as barreiras

comerciais e promover a liberalização e a facilitação do comércio através de maneiras pró-ativas que tragam

benefícios e resultado proveitoso para os dois lados.

Valor: Terminou, em dezembro de 2016, o período de transição de 15 anos negociado para a entrada da

China na OMC. No entanto, o Brasil ainda não reconhece o status de economia de mercado da China. A China

ainda tem a expectativa de receber esse reconhecimento do Brasil? Ficou frustrada com a posição atual do

governo brasileiro?

Li: Primeiro, precisamos deixar claro o que é "status de economia de mercado". Não há esse conceito nas

regras multilaterais da OMC, tampouco os critérios de definição pela organização. Desde a implementação da

política de reforma e abertura, a China estabeleceu e vem aperfeiçoando a economia socialista de mercado, uma

prática amplamente reconhecida pela comunidade internacional. O 19 Congresso do Partido Comunista da China

propôs acelerar o aprimoramento desse modelo econômico, evidenciando a determinação da China em persistir

nas reformas orientadas pelo mercado. Quer se reconheça ou não o status de economia de mercado da China, é

preciso abolir, do dia 11 de dezembro de 2016 em diante, o cálculo do dumping sobre produtos chineses com base

em preços de terceiros países, conforme as disposições do artigo 15 do Protocolo de Acessão da China. Isso é

claro e incontestável. Portanto, desde que se abandone essa metodologia nas investigações e decisões

antidumping contra a China, considera-se que as obrigações em tratados internacionais são cumpridas, as regras

da OMC são respeitadas e as preocupações fundamentais da China estarão atendidas.

Valor: Hoje o Brasil vende sobretudo produtos agrícolas e minério de ferro à China, e compra produtos

manufaturados. Como tornar esse comércio mais equilibrado?

Li: O equilíbrio do comércio entre a China e o Brasil pode ser analisado sob várias perspectivas. Deixando

de lado o fato de que o valor das exportações brasileiras é muito mais alto que o das importações provenientes da

China, minha opinião sobre sua pergunta é a seguinte: nos últimos anos, o comércio bilateral mantém-se em nível

alto graças às vantagens complementares dos dois países, o que alavancou o crescimento econômico de ambos

os lados. Essa parceria encontra-se em um novo momento histórico, e os dois países estão fazendo esforços para

a transformação e modernização desse comércio. Primeiro, a iniciativa de "Um Cinturão e uma Rota" [a Nova Rota

da Seda] e a cooperação de capacidade produtiva contribuirão para a ampliação e o salto qualitativo das

cooperações econômica e comercial. A China está disposta a coordenar sua estratégia de desenvolvimento com a

parte brasileira, promover a construção da infraestrutura do Brasil e testar novos modelos como o estabelecimento

conjunto de polos industriais e parques de ciência e tecnologia, dando impulso à transformação estrutural da

economia brasileira para subir nas cadeias de produção e de valor. O Brasil também é uma prioridade para a

China na cooperação em capacidade produtiva, sobretudo em áreas como infraestrutura, agricultura, energia,

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telecomunicações e equipamentos maquinários. A China vai incentivar suas indústrias de alta qualidade e

responsabilidade ambiental a investirem no Brasil. Por outro lado, devemos aproveitar a oportunidade criada pela

expansão da abertura chinesa. O relatório do 19o Congresso do Partido Comunista da China prevê políticas de

alto nível para a liberalização e facilitação de comércio e investimento, com melhoras substanciais do acesso ao

mercado. Nos próximos 15 anos, estima-se que a China vai comprar US$ 24 trilhões em mercadorias. Para ajudar

o contato com o mercado internacional, ocorrerá em novembro de 2018 a primeira Feira International de

Importação, em Xangai. Já convidamos o Brasil, com o intuito de ampliar as exportações de produtos de interesse

para a China. Acredito que isso sirva para elevar a parceria bilateral para um novo patamar.

Boeing não quer controle da Embraer, diz Ozires SilvaVirgínia SilveiraPara o Valor, de Orlando O ex-presidente e um dos fundadores da Embraer, Ozires Silva, foi convidado pela direção da fabricante

brasileira para avaliar a proposta de uma potencial combinação de negócios feita pela americana Boeing, iniciativa

classificada por ele como "muito elegante". As negociações tornaramse públicas na semana passada. Sem dar

detalhes das conversas entre as duas empresas, Silva afirmou que a Boeing está disposta a encontrar uma

solução que atenda aos interesses das duas empresas e, ao mesmo tempo, tenha o aval do governo brasileiro e

dos acionistas. O objetivo, segundo ele, é aumentar o poder de competição das duas empresas no mercado

mundial de aviação. Silva lembrou que o processo de privatização da Embraer também enfrentou desafios e

oposição, mas que se não tivesse sido feito, a Embraer não teria sobrevivido. Veja a seguir os principais trechos

da entrevista concedida ao Valor.

Valor: Como o senhor avalia as discussões entre a Embraer e a Boeing sobre uma potencial combinação de

negócios?

Ozires Silva: Embora não tenha nenhum cargo na Embraer, fui chamado pelo presidente Paulo Cesar [de

Souza e Silva] e o presidente do conselho de administração da empresa, Alexandre Gonçalves Silva, para

conversar sobre a proposta feita pela Boeing. Eu li a carta que a empresa enviou à Embraer e considerei a

proposta muito elegante. Apesar de haver uma exploração contrária a esse processo, principalmente por parte do

Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, lembro que o mesmo aconteceu no processo de

privatização da empresa, em 1994, mas se ele não tivesse sido feito a Embraer não teria sobrevivido.

Valor: A Boeing tem interesse em adquirir o controle da Embraer?

Silva: O controle não está em discussão. A ideia é continuar como está. Existe um novo posicionamento no

mercado de aviação mundial e os grandes fabricantes como a Boeing, Airbus, Bombardier e Embraer têm que

responder a isso. A aproximação entre a Boeing e a Embraer também é uma reação natural à compra que a

Airbus fez das operações de jatos regionais da canadense Bombardier. O governo brasileiro não é contra essa

parceria e os acionistas da Embraer estão conversando com as autoridades, que entendem que a empresa

precisa buscar o mercado dela.

Valor: Que tipo de parceria está sendo avaliada entre as duas empresas?

Silva: O que está sendo discutido é a questão mercadológica, que vem mudando bastante e de forma

acelerada. Os custos de operação das aeronaves estão subindo muito e, por outro lado, aviões muito grandes,

como o Airbus A380 não estão atendendo às expectativas do mercado. Os passageiros querem mais frequência

de voos e os modelos na faixa de 250 a 350 lugares têm se mostrado mais lucrativos para essa nova demanda e

devem se tornar o mercado dominante num futuro previsível.

Valor: Quais os benefícios que essa composição traria tanto para a Embraer e como para a Boeing?

Silva: Não se trata de uma composição entre uma empresa grande com uma empresa pequena. As duas

companhias decidiram se unir movidas por interesses diferentes, mas que se somam. A soma é maior que a

diferença entre elas. A Boeing, por exemplo, tem enfrentado problemas com suas equipes técnicas, com vários

colaboradores experientes se aposentando. Ela avalia que seria necessário mais cinco anos para fazer a

reposição tecnológica que ela tinha no passado. A Embraer, por sua vez, possui uma equipe técnica ágil, jovem e

muito competente. Os aviões precisam ser adaptados às novas tecnologias para reduzirem seus custos

operacionais. O inimigo do avião é o peso e os materiais compostos tem se tornado cada vez mais uma opção

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interessante. As empresas podem somar forças e trabalhar nisso juntas.

Valor: A liderança da Embraer no mercado mundial de aviação regional é o principal fator de interesse da

Boeing nessa possível composição?

Silva: Aviação regional é o maior mercado do mundo, mas a lucratividade desse segmento depende de

custos laterais, como infraestrutura aeroportuária e combustíveis. No Brasil as oportunidades são imensas, pois o

país só atende a 100, das suas 5.500 cidades com transporte aéreo. A China é outro mercado gigante e muitas de

suas cidades não tem transporte aéreo porque os aviões que operam no país são muito grandes. A ideia é que as

duas empresas tenham flexibilidade para atender a toda a demanda do mercado. A Boeing, por outro lado,

ajudaria a Embraer a entrar no mercado que ela não está, de aviões de maior porte, na faixa de 250 a 350

passageiros, por exemplo, com uma solução que pode ser desenvolvida em parceria.

China flerta com projetos novos no Brasil Ferrovias, linha de metrô em SP e siderúrgica no Maranhão podem mudar perfil do investimento

A China já tem US$ 117 bilhões em investimentos diretos acumulados no Brasil, segundo o Ministério do

Planejamento, mas concentra quase 45% de tudo isso em apenas três setores: energia, mineração e agronegócio.

Uma das grandes incógnitas em 2018 é se as empresas chinesas deixarão de fazer suas maiores apostas na

compra de ativos existentes e consolidados, como tem acontecido até agora, para fazer avanços em projetos

novos (conhecidos como "greenfield" no jargão do mercado) - principalmente em segmentos da infraestrutura.

A expectativa do governo brasileiro e de especialistas é justamente essa. O Fundo Brasil-China para a

Expansão da Capacidade Produtiva, que foi lançado neste ano e tem até US$ 20 bilhões disponíveis, deve dar

uma mãozinha. No fim de janeiro, autoridades dos dois países se reúnem em Brasília e vão avaliar conjuntamente

oito projetos pré-selecionados para inaugurar o mecanismo de apoio bilateral.

Há cláusula de confidencialidade em torno dos empreendimentos, que precisaram se candidatar

oficialmente a receber os recursos, mas o mercado acredita em pelo menos dois favoritos: a Ferrogrão, ferrovia

que ligará Sinop (MT) a Miritituba (PA), e uma usina siderúrgica no Maranhão, em parceria com a CBSteel.

Ainda em janeiro, espera-se uma definição sobre a entrada das empresas China Railway Capital e da China

Railway First Group na linha 6 do metrô de São Paulo, que foi paralisada com apenas 15% das obras executadas.

Junto com a japonesa Mitsui, os dois grupos chineses negociam uma substituição do consórcio responsável por

construir a linha, que tem à frente três empreiteiras afetadas pela Lava-Jato - Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC.

Outro projeto tido como prioritário é a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que rasga o interior da

Bahia, e a construção do Porto Sul de Ilhéus para escoar a carga transportada sobre os trilhos. Trata-se, conforme

diversas fontes oficiais e da iniciativa privada, do empreendimento logístico de maior interesse da China no Brasil.

A dificuldade tem sido formatar o leilão ainda em 2018.

"Hoje as empresas chinesas buscam não só garantir o suprimento de commodities ou desovar a capacidade

ociosa de suas fábricas em outros países", afirma o secretário de assuntos internacionais do Ministério do

Planejamento, Jorge Arbache, um dos principais interlocutores dos asiáticos no governo brasileiro. "Elas estão

procurando aumento de escala e participação mais ativa em bons negócios, em um saudável processo de

diversificação, deixando de focar apenas em bens e focando também no campo de serviços, inclusive em áreas

com um elevado grau de conhecimento tecnológico."

Em 2017, uma série de negócios de peso foi anunciada pelos chineses: a compra da CPFL Energia pela

State Grid, a aquisição do Terminal de Contêineres de Paranaguá (PR) pela China Merchants Port, a vitória da

State Power Investment Corporation (Spic) no leilão da hidrelétrica de São Simão (antes pertencente à Cemig), as

negociações da HNA para assumir o aeroporto do Galeão (RJ).

Para Arbache, a entrada dos chineses em mais projetos "greenfield" é questão de tempo. "Isso vai

acontecer. É um processo de aprendizagem", diz o secretário, que acha nociva a comparação com americanos,

europeus ou japoneses. "A presença deles no Brasil tem mais de 100 anos, houve tempo de sobra para entender

os sacolejos da macroeconomia, do câmbio. Os chineses começaram a investir em 2009 e 2010."

As eleições presidenciais estão no radar dos asiáticos, que demonstram enorme desconforto com o

crescimento da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo fontes ouvidas pelo Valor em Pequim.

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Ele é tido como "sinofóbico" por causa de uma sequência de declarações recentes prometendo impor freios às

aquisições da China no Brasil.

Independentemente das urnas, o aumento da presença chinesa parece mesmo para valer. "Para os

investidores, de maneira geral, há muitas incertezas sobre as perspectivas eleitorais e o processo de reformas.

Mas os investidores chineses, em particular, são menos suscetíveis a essas flutuações e estão decididas a

fortalecer suas parcerias de longo prazo", afirma o economista Marcelo Allain, ex-secretário do Programa de

Parcerias de Investimentos (PPI) e atualmente sócio-diretor da consultoria BR Infra Group.

De acordo com ele, Brasil e Paquistão saíram do 19 Congresso do Partido Comunista - realizado em

outubro - como apostas da China no mundo emergente. Diante da orientação dada pelo PC, fatores como risco

ambiental e de construção perdem importância. "Quando existe uma diretriz política de Pequim, o peso relativo

que se dá a esses fatores é menor do que em empresas de outros países", observa Allain.

BNDES reformula área de apoio a exportações e foca nos compradoresFrancisco Góes O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está reposicionando a área de apoio a

exportações que passa por mudanças desde o ano passado. A tradicional linha de pré-embarque, que financia a

produção do bem a ser exportado, perdeu força dentro do banco e a exportação de serviços de engenharia está

em compasso de espera depois do envolvimento das empreiteiras na Lava-Jato. Nesse cenário, o foco do BNDES

na exportação passa a ser a concessão de empréstimos para os compradores de aeronaves da Embraer -

operação na qual o banco tem longo histórico - e o financiamento à venda de bens de capital para países da

América Latina.

O apoio à exportação de máquinas e equipamentos para países da região se dá de duas formas. Em uma

das modalidades, o BNDES financia a exportação de bens de capital brasileiros em operações menores, em

termos de valores, correndo o risco político dos países importadores, disse Ricardo Ramos, diretor da área de

exportações do BNDES. Este ano o banco fez mais de 180 operações envolvendo a exportação de bens de capital

como ônibus, caminhões, implementos rodoviários, máquinas e implementos agrícolas e máquinas para a

construção. "São operações pulverizadas [em número] com tíquete baixo", disse Ramos. As transações se

concentram no Peru, Colômbia, Paraguai e Argentina.

Nessas operações, com prazos de até cinco anos, o BNDES financia o comprador do bem de capital no

exterior tendo como garantia uma fiança de banco comercial do país importador. Já o exportador recebe o

pagamento, em reais, no Brasil. "Passamos a assumir o risco político dessas operações", disse Ramos. Significa

que se o país importador eventualmente declarar default, o BNDES pode ter dificuldades de receber o crédito. O

BNDES passou a correr risco político em operações de curto prazo pois o Fundo de Garantia à Exportação (FGE)

enfrenta restrições orçamentárias, disse Ramos.

A outra modalidade de apoio, segundo ele, é o financiamento a "operações estruturadas" para que

exportadores brasileiros de máquinas e equipamentos participem de concorrências de projetos de infraestrutura,

como BRTs, trens e hidrelétricas, em alguns países como Chile, Colômbia e Argentina. O BNDES participa com

exportadores brasileiros, no momento, de uma concorrência para vender bens de capital para um projeto de BRT

em Santiago, no Chile.

Até as grandes empreiteiras serem envolvidas na Lava-Jato, o que levou o BNDES a suspender

desembolsos para uma série de projetos de infraestrutura no exterior, a venda de máquinas e equipamentos era

"puxada" pela exportação de serviços de engenharia. A empreiteira ganhava um obra em um país e levava com

ela fornecedores brasileiros de máquinas e equipamentos. Essa dinâmica se reduziu. Em 2016, o BNDES

anunciou a suspensão de desembolsos para 25 projetos que somavam US$ 7 bilhões. A suspensão ocorreu por

avaliação de risco de crédito e não por irregularidades nos projetos.

Ramos disse que boa parte desses projetos com desembolsos suspensos avança para fechar o "funding"

sem o BNDES, e sem "contenda" judicial. Ele reconheceu que as dificuldades enfrentadas pelas empresas que

exportam serviços de engenharia têm como efeito negativo uma queda nas exportações de bens de capital

brasileiros. "Vamos continuar a apoiar a exportação de serviços de engenharia mais adiante, mas precisa de

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tempo, agora estamos em fase de rearrumação interna, assim como as empresas também estão se

reestruturando", disse o diretor.

Números do BNDES apontam que em 2017 a área de exportações do banco deve desembolsar US$ 800

milhões, sendo que a linha de pré-embarque deve representar apenas cerca de 5% desse total. O restante é a

linha de pós-embarque, que financia a comercialização do bem exportado. Neste segmento, o apoio às aeronaves

da Embraer vai responder pela maior fatia dos desembolsos (ver reportagem abaixo). Depois vêm desembolsos

para serviços de engenharia e para outros bens de capital, excetuando os aviões da Embraer.

A linha de pré-embarque é um produto que perdeu atratividade, em termos de custos, frente às linhas

comerciais como o adiantamento de contrato de câmbio (ACC), uma vez que, desde o ano passado, o BNDES

parou de oferecer pré-embarque em TJLP para grandes empresas. A proximidade da TJLP com a Selic também

tirou o atrativo do pré-embarque para empresas de menor porte que podem se financiar na linha de capital de giro

do BNDES. "Vejo com bons olhos não entrar no pré-embarque, a menos que haja necessidade por uma restrição

cambial, aí poderia se justificar um movimento contracíclico", disse Ramos.

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Previdência, eleição e Maluf agitam semanaBERNARDO BITTAR Especial para o CORREIO Passado o descanso de Natal, o presidente Michel Temer mergulha novamente nas negociações da reforma

da Previdência, cuja votação pela Câmara foi adiada para 19 de fevereiro. Hoje, ele vai se reunir com ministros,

parlamentares e demais aliados para resolver as pendências de 2017 e traçar objetivos para direcionar 2018. Até

sexta-feira, Brasília terá trabalho intenso. Entre os principais arranjos previstos estão a reorganização da base e a

pré-avaliação do quadro eleitoral, baseada, principalmente, nas boas notícias envolvendo a economia. O último dia

útil do ano, aliás, sempre foi decisivo nas finanças públicas: é a data-limite para os ministérios fecharem as contas.

Segundo o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, que estará na capital e tem encontro marcado

com o presidente (veja quadro ao lado), "as conversas sobre a eleição acontecem inevitavelmente, mas, agora, a

prioridade é a Previdência". O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, apareceu na semana passada na

propaganda de tevê de seu partido, o PSD, dando indícios de que a ideia de ser candidato ao Planalto é para

valer. Mas, para analistas da cena politica nacional, se a evolução da economia conseguir criar um nome capaz de

disputar a Presidência em 2018, ele será Michel Temer.

"Existe a possibilidade de Meirelles ser candidato, claro, ele tem vontade e está à altura do cargo. O Michel,

da mesma forma. Mas a questão da sucessão presidencial não é uma coisa prioritária. A nossa preocupação são

os votos da Previdência. Para isso, estamos na correria atrás dos votos, porque ainda falta alguma coisinha aqui e

ali. Mas eu acredito na boa vontade dos parlamentares e sei que vamos conseguir aprovar o projeto", afirmou

Marun.

Outro aliado no Congresso que deve participar das reuniões é o vice-líder do governo na Câmara Beto

Mansur (PRB-SP), que, pelo Instagram, confirmou presença em Brasília nesta semana. Próximo de Temer, ele é

visto como um grande puxador de votos na Casa para a proposta de emenda à Constituição da Previdência, que

precisa de 308 votos para ser aprovada. Além dos temas envolvendo as atividades parlamentares, o deputado

paulista é um grande conselheiro do presidente.

Parlamentares também devem se reunir em torno do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que

pretende decidir sobre a perda de mandato de Paulo Maluf (PP-SP). Maia voltou a defender que o plenário da

Câmara deve decidir sobre o tema, da mesma forma que ocorreu com Aécio Neves (PSDB-MG) no Senado,

conforme já havia afirmado. "Quem pode cassar um mandato é a sociedade representada pelo plenário da

Câmara. Mas a assessoria está vendo. No dia 27 (amanhã) eu decido qual vai ser o encaminhamento: se a mesa

decide ou se a mesa recorre da decisão e pede uma posição, um esclarecimento, do Supremo", disse o presidente

da Câmara.

Pagamentos

Grandes decisões ainda serão tomadas na área financeira, com o aporte de empenhos para a estrutura

governamental que, até a semana passada, havia pago apenas 84,9% do total empenhado - R$ 2,8 trilhões - em

2017. Para o especialista em contas públicas e secretário-geral da ONG Contas Abertas Gil Castelo Branco, "a

correria do fim de ano, sobretudo no Natal e ano-novo, coincide com o momento em que prefeitos e parlamentares

mais pressionam o governo em busca de dinheiro".

"Com a liberação de R$ 5 bilhões anunciada pelo Planalto, há pessoas lançando despesas, com capacidade

de levantar algum dinheiro. Mas é necessário ter prestígio para conseguir esse repasse. O orçamento de 2018 foi

aprovado com certa antecedência, então, não vejo grandes problemas. No mais, teremos atividades comuns,

como aquelas previstas pelo Tesouro Nacional, que divulga os resultados das contas públicas; e pelo Banco

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Central com a publicação do relatório sobre as finanças públicas de novembro", explicou Gil. "O que falta é

aprovar a Previdência e os ajustes fiscais. Isso, sim, vai deixar as contas do ano que vem difíceis", disse.

Fim de ano agitado

Confira os acontecimentos previstos para a última semana útil de 2017 nas áreas Política e Econômica

Hoje

Previdência - Chegada do presidente da República, Michel Temer, a Brasília. Após dias de descanso em

São Paulo com amigos e família, Temer desembarca na capital e deve se reunir com seus principais aliados. O

ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, tem horário marcado para 15h, a fim de começar as

negociações sobre a reforma da Previdência, cuja discussão na Câmara dos Deputados está prevista para 19 de

fevereiro.

Quarta-feira (27)

Paulo Maluf - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidirá se a Casa recorrerá ao Supremo

Tribunal Federal (STF) para que os parlamentares votem a perda de mandato do deputado Paulo Maluf (PP-SP).

Em maio, o parlamentar foi condenado a sete anos, nove meses e 10 dias de prisão em regime fechado por

crimes de lavagem de dinheiro. Ele se entregou à Polícia Federal na última quarta, 20 de dezembro.

Quinta-feira (28)

Finanças públicas - O Banco Central divulga relatório sobre as finanças públicas de novembro. As

informações detalham a real situação das contas do governo federal, de estados e municípios. Além disso,

apontam o tamanho da dívida pública do país.

Sexta-feira (29)

Desemprego - O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados de desemprego da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2017.

Empenhos - Por tratar-se do último dia útil do ano, é o prazo-limite para que os ministérios e demais órgãos

da estrutura pública, como os tribunais e o Congresso Nacional, fechem as contas. Até a semana passada,

apenas 84,9% dos empenhos haviam sido pagos pelo governo federal.

Inflação dentro da meta A opção do Brasil pela responsabilidade fiscal e por uma política monetária de credibilidade colocou a

economia em uma rota de crescimento sustentado. Melhor: com inflação na meta e as menores taxas de juros da

história. Mas, apesar de todos os avanços, ainda há muito por ser feito, avisa o presidente do Banco Central, Ilan

Goldfajn. Para ele, é preciso que o país ataque suas deficiências e faça os ajustes necessários, a começar pela

reforma da Previdência Social.

Na avaliação de Ilan, do ponto de vista inflacionário, o quadro é bastante favorável. "A inflação vai continuar

baixa, caminhando para 4% no ano que vem, e caindo devagarzinho ao longo de 2019 e 2020", diz. Com isso, o

consumo das famílias, que tem sustentando a retomada da atividade, continuará a ser um dos principais

propulsores do Produto Interno Bruto (PIB). "Uma das consequências da queda da inflação é que permite a

redução dos juros", frisa.

A despeito de toda a confiança, o presidente do BC manda um recado direto ao governo e ao Congresso,

sobre a importância de aprovação das reformas para que as boas condições macroeconômicas se mantenham em

2018. "Cabe alertar que cenários benignos não vão ficar para sempre. Por exemplo, o quadro internacional com

juros tão baixos. É necessário continuar trabalhando nas reformas e nos ajustes. E, em particular, na reforma da

Previdência. É importante para o equilíbrio da economia, com consequências favoráveis para a desinflação, a

redução da taxa de juros estrutural e a recuperação sustentável da economia brasileira", avisa.

Ilan lembra que a taxa básica da economia (Selic) caiu pela metade, saindo de 14,25% anuais em 2016 para

7%. Novos cortes devem ocorrer em horizonte próximo. "Se tudo correr de acordo, mesmo que haja mais

incertezas para o ano que vem do que agora, sinalizamos que há uma expectativa de redução moderada,

adicional (dos juros)", em fevereiro. Caso esse movimento se confirme, a Selic atingirá 6,75% ao ano, marcando

novo recorde de baixa. Os especialistas mais otimistas acreditam que os juros podem ir a 6,50% em março.

Atuação firme

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Chegar a esse quadro tão favorável não foi fácil. O presidente do BC resume 2017 em três resultados

importantes: a queda da inflação, seguida da redução dos juros e da recuperação econômica. Nessa ordem. "Não

considero esses três fenômenos pouca coisa. Foi uma recuperação macroeconômica considerável", afirma. Na

visão dele, a principal razão para que tenha ocorrido uma "queda significativa da inflação, como não se via há

anos", foi a mudança de direção na política econômica, adotada em 2016 com o governo de Michel Temer. "Além

de uma atuação firme da política monetária."

Isso porque, ao fim do ano passado, a autoridade monetária decidiu levar o Índice de Preços ao Consumidor

Amplo (IPCA), que estava em 10,7%, para o centro da meta, de 4,5% em 2017. E esperou a convergência das

expectativas em torno de preços menores, antes de começar a reduzir os juros. "Essa postura de política

monetária levou, em parte, a essa queda importante na inflação", assinala.

Outra influência significativa veio dos preços dos alimentos, que despencaram. O índice setorial deve fechar

2017 com queda de 5%. "Só para dar uma ideia, nos últimos oito anos, a média da inflação dos alimentos foi de

8,5%, para cima", destaca Ilan. Em 2016, houve alta de 10%. "Essa mudança, do ano passado para cá, dá uma

diferença de 15%. E contribui para a queda total do IPCA em 2%. De modo que, tirando os alimentos, a inflação

seria de 4,5%, e não de 2,8%."

A visão de continuidade de preços ladeira abaixo fez com que o próprio BC e os especialistas revissem,

para cima, as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e do próximo. A autoridade monetária elevou

de 0,5% para 1% a estimativa de crescimento em 2017 e o mercado fala em 1,1%. Para 2018, a previsão do BC

em relação ao PIB saltou para 2,6%. Entre os especialistas, há quem fale em alta de até 4%. "Hoje, a economia

cresce mais do que o esperado", enfatiza Ilan. E reitera que o risco principal que pode travar a expansão da

atividade no ano que vem é o governo não insistir no ajuste fiscal.

Mais crédito

A Selic nos níveis mais baixos da história, segundo o presidente do BC, permite que o Brasil tenha, hoje,

juros reais em torno de 3% ao ano. "Ainda é alto. Como, aliás, várias de nossas mazelas ainda existem. Só que

nós temos que reconhecer que o ano de 2017 nos trouxe, não só a taxa básica na mínima histórica, mas também

o juro real sem precedentes", frisa. Ele destaca ainda a redução dos juros bancários entre os avanços da atuação

do BC. O volume do crédito para as famílias subiu nos últimos seis meses, e a taxa de empréstimo caiu. "Ainda

tem muito o que cair, mas são problemas estruturais de longa data", justifica."Também atuamos nos produtos mais

caros para o consumidor, como o crédito rotativo do cartão de crédito limitado a 30 dias, cuja taxa caiu pela

metade. Ainda é alta, assim como o juro real. Mas são problemas de décadas", diz Ilan.

A oferta dos empréstimos subiu para pessoas físicas, e pouco para empresas. "Somos a favor de juros mais

baixos para todos", afirma. Na busca dessa redução, o BC iniciou uma "simplificação" dos compulsórios, aquela

parcela de depósitos que os bancos são obrigados a deixar nos cofres da autoridade monetária. Ilan promete

reduzir alíquotas no futuro. "Sabem que há uma exigência de ter um nível elevado de compulsórios, o que

aumenta o custo do crédito no sistema. O que pudermos contribuir para a redução do custo, vamos fazer. Mas de

forma estrutural, pensando na queda ao longo do tempo, e não como medida de política monetária", diz. Segundo

o presidente do BC, várias medidas administrativas já foram adotadas, como a criação de um comitê de

estabilidade financeira, a duplicata eletrônica e o acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF) para o

ressarcimento de poupadores de perdas acumuladas com os planos econômicos, fechando "décadas de

discussão". Os avanços da agenda governamental foram outros pontos a contribuir para a recuperação da

atividade. "Reforma trabalhista e o teto de gastos ajudaram a reerguer a economia, 2017 nos agraciou. Foi um ano

produtivo, tanto em resultados econômicos quanto na agenda legislativa e na agenda normativa do BC. A gente

espera que esses progressos permitam avanços sustentáveis ao longo do tempo", conclui.

Famílias só consomem se governo não esbanjarRODOLFO COSTA As condições para que o consumo das famílias retome um sustentado ciclo de crescimento estão dadas.

Com a inflação no menor nível em duas décadas e os juros no mais baixo patamar da história, o cenário é

favorável para que os consumidores voltem a demandar bens e serviços. Após dois anos de uma das mais duras

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recessões da história do país, eles querem, e, aos poucos, sentem que podem gastar. Sobretudo, pelos sinais de

melhora do mercado de trabalho. Para garantir a sustentabilidade desse período de reaquecimento em 2019, será

necessário que o próximo presidente da República mostre comprometimento com o equilíbrio fiscal.

Motivos não faltam para crer que o consumo avance nos próximos anos. Em 2017, em face do processo de

redução de dívidas das famílias, desaceleração da inflação e queda dos juros, a conjuntura para os gastos é

favorável. Ao ponto de a Rosenberg & Associados projetar alta de 1,2% no consumo das famílias em 2017,

mais do que o Produto Interno Bruto (PIB), que avançará 0,9%. Para 2018, as expectativas da consultoria

apontam para a manutenção do crescimento das despesas dos consumidores, de 2,8%, acima da geração de

riquezas do país, que subirá 2,5%.

Enquanto os especialistas percebem a melhora nos números, as famílias a sentem no bolso. Boa parte dos

gastos que a dona de casa Priscila Trigueiro, 29 anos, e o marido, o analista contábil Carlos Trigueiro, 29,

precisaram segurar ao longo do ano saíram do papel nos últimos três meses. "Trocamos de cama, compramos

celulares novos e conseguimos reformar a cozinha", conta Carlos. Os reflexos chegaram à ceia de Natal. O quilo

do bacalhau, lembra a dona de casa, estava R$ 10 mais barato este ano. O filho do casal, Gabriel, 3, também

percebeu que o Papai Noel foi mais generoso. "No ano passado, ele ganhou uma bicicleta. Este ano, foram cinco

brinquedos diferentes. O nível dos presentes para os familiares melhorou. Deixou de ser só lembrancinha",

comemora Priscila.

A explicação para o aumento dos gastos está ancorada na conjuntura criada pela atual política econômica.

Com as expectativas de inflação acomodadas, os juros caíram e as concessões para consumidores se

recuperaram. Para a economista-chefe da Rosenberg, Thaís Zara, o quadro deve ser mantido em 2019. "Com a

melhora dos mercados de crédito e de trabalho, a perspectiva é muito boa para o consumo das famílias nos

próximos dois anos", avalia.

Puxado por tais condições, o consumo em 2019 subirá 3,5%, mas a perspectiva de alta acima do PIB para

por aí. A previsão de geração de riquezas da Rosenberg para o ano é a mesma das demandas das famílias. "É

uma projeção sujeita a choques, dado o horizonte mais longo", justifica Zara. Não é para menos. Se, por um lado,

a economia deve deslanchar em 2018, por outro, as incertezas em relação à próxima política econômica tornam

mais difíceis a assertividade das projeções. Sobretudo no campo político. "Até 2019, saberemos quem vai ser o

presidente e sua capacidade de fazer reformas", diz.

No caso de a reforma da Previdência ficar para 2019, o próximo governante precisará mostrar aos agentes

econômicos a adoção de medidas necessárias para evitar a interrupção do crescimento. Sem o equilíbrio fiscal, os

impostos tendem a subir e os investidores podem aplicar capital no mercado externo, o que elevaria o dólar em

relação ao real. Os dois fatores provocam pressão sobre a inflação, obrigando o Banco Central (BC) a subir os

juros, o que assusta empresários e inibe investimentos, fundamentais para a geração de empregos. "Ou seja, o

quadro ficaria adverso para o consumo", adverte o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector

Consultores.

"O consumo é uma junção de salário e crédito. Uma candidatura que não transmita comprometimento com

os ajustes pode significar nova alta de juros e do câmbio. E, assim, o consumo vai encolher", alerta Silveira. A

reforma da Previdência, no entanto, não é a única medida que o próximo presidente deverá adotar. "Quem

assumir vai ter que mexer em supersalários e nos benefícios do funcionalismo", avalia. (Colaborou Alessandra

Azevedo)

Relacionamento

Ter um bom relacionamento com os mercados internacionais poderá dar uma sobrevida ao próximo

presidente da República. Portanto, a proposição de medidas austeras é imprescindível para obter apoio e

confiança desses agentes econômicos e evitar a perda do mandato, alerta o economista Fábio Silveira, sócio-

diretor da MacroSector Consultores. "O mercado internacional financia importações e exportações, com efeito

sobre juros e câmbio. É necessário ter uma boa relação com esses agentes. Peitar as regras desse mercado

colocaria o Brasil em risco de terminar como a Grécia ou a Venezuela", adverte.

____

Sem espaço ao populismo

A sustentabilidade do consumo exigirá mais do que o compromisso com o ajuste fiscal. Será igualmente

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importante que o próximo presidente da República evite políticas populistas voltadas para os gastos. Ainda que a

aceleração da demanda não traga a inflação de volta a patamares elevados, uma vez que a capacidade ociosa

ainda é grande, medidas de incentivo às despesas podem ser danosas e elevar os desembolsos acima do nível de

produção atual da economia.

Medidas populistas podem gerar aumento da inflação e queda nas despesas, alerta o chefe da Divisão

Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. "Tende a

fomentar o consumo no curto prazo e comprometer o cenário de inflação no longo prazo. O que pode preservar o

quadro de inflação baixa é a retomada dos investimentos", avalia.

"Historicamente, os governos seguram um pouco os gastos e os estímulos ao consumo no primeiro ano de

mandato. A questão são as medidas a serem adotadas depois", pondera. Bentes reforça que foram os incentivos

aos gastos que levaram o país à recessão. "A crise da qual acabamos de sair foi plantada a partir do incentivo

exagerado ao consumo", lembra.

A corrida eleitoral ainda está longe de definição. Independentemente de quem ganhar, a agenda reformista

será necessária. O que ajuda a acalentar as expectativas de que o populismo possa ficar em segundo plano. Para

o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), é certo que ajustes serão

promovidos. "Talvez não as reformas que o mercado quer. Mas ajustes serão inevitáveis", sustenta.

Oreiro acredita que a homologação da reforma da Previdência ocorrerá somente em 2019. Sob os moldes

de outro texto, e não será a única mudança em relação às propostas levadas pelo presidente Michel Temer ao

Congresso Nacional. "Não será o texto da forma como está. As premissas da reforma da Previdência propostas da

forma atual estão mal fundamentadas. O próprio teto de gastos precisará ser revisto, com talvez alguma mudança

de indexador", avalia.

A necessidade de uma agenda de reformas é mais do que uma questão ideológica e partidária. É a garantia

de que o presidente terá governabilidade e diálogo com os mercados. Evitando, assim, violar a "regra de ouro",

que proíbe a emissão de dívida para pagar despesas correntes, e correr o risco de sofrer impeachment. (RC)

O jeitão do general - BRASÍLIA - DFDENISE ROTHENBURG A mensagem do Comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, foi recebida com um certo alívio

pelos partidos políticos, pois fala no Exército como fator de estabilidade do país e diz que a Força não se afastará

da "trajetória retilínea (...) da hierarquia e da disciplina". Porém, alguns viram uma brecha para movimentos

eleitorais em frases do tipo, "mais do que nunca a coesão de nossa instituição será fator primordial e contribuirá

para que o Brasil supere a crise moral que o assola". A leitura foi a de que o Exército jogará dentro do processo

democrático. Ah, Villas Boas não fala nada a respeito de Jair Bolsonaro que, segundo muitos militares, não está

com essa bola toda na Força.

Ele gostou

O presidente Michel Temer arregala os olhos quando alguns políticos e comentaristas citam que os

deputados deveriam ser eleitos apenas no segundo turno das eleições gerais, junto com a última fase da eleição

presidencial. Isso manteria todo mundo ocupado e comprometido com a campanha nacional e responsável pelo

"time".

Eles, não

Hoje, quando o presidente é eleito no segundo turno, acha que não deve nada ao Congresso. Foi

justamente isso que aconteceu, por exemplo, com Dilma Rousseff, em 2014. Os deputados, entretanto, querem

distância dessa proposta. Se Michel Temer apresentar qualquer movimento desses numa proposta de reforma

política, será por sua conta e risco.

Questão de foro I

Apesar da disposição do ministro Gilmar Mendes em mandar os réus da Lava-Jato para casa, aqueles que

hoje se protegem no mandato eletivo estão firmes no propósito de concorrer no ano que vem. Gleisi Hoffmann, por

exemplo, será candidata a deputada federal no Paraná. Na Bahia, Lúcio Vieira Lima concorrerá pelo PMDB.

Questão de foro II

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A esperança dos enroscados na Lava-Jato é garantir uma vaga no bolo do partido e ter o foro privilegiado

como um escudo para evitar cair nas mãos dos juízes de primeira instância, que hoje são o oposto do que tem

feito Gilmar Mendes. O difícil vai ser fazer campanha nesses tempos em que muitos são xingados nos aeroportos

pelo país afora.

Encolheram o empresário

Quem tinha preocupação com a atuação do empresário Nelson Tanure na Oi pode relaxar. De nove

conselheiros, Tanure terá apenas um.

CURTIDAS

Agora vai/ O ministro das Comunicações, Gilberto Kassab (foto), informou ao Planalto que Michel Temer

terá algo mais para comemorar no final do governo, com o sinal da tevê analógica desligado na maioria das

cidades.

Por falar em Kassab.../ O ministro continua trabalhando para ser candidato a vice numa chapa encabeçada

por José Serra. Significa que Serra também continua de olho na vaga de governador.

É por ali/ O PT vai aproveitar o ato contra o fórum econômico mundial de Davos no dia 23 para arregimentar

público em prol da defesa de Lula no dia seguinte, na mesma cidade e, assim, quem sabe, economizar algum. É

que, no ano eleitoral, não dá para gastar tudo num único evento.

Copo pela metade/ Lojistas dos grandes shoppings de Brasília reclamavam na tarde do dia 24 que o

movimento não foi tão bom quanto no ano passado. Deputados, entretanto, davam outra versão: diziam que a

economia melhorou tanto que muitos brasilienses foram passar o Natal fora.

Congresso ignora eleitoresJuliana Cipriani O Congresso Nacional não tem dado muita atenção ao que pensam os eleitores. Ou, pelo menos, aos mais

de 5 milhões deles que se manifestaram no Portal E-Cidadania, do Senado Federal. Prova disso é que as

propostas com mais sinalização favorável no site - para reduzir o número de parlamentares nas casas legislativas

e acabar com o auxílio-moradia de políticos e magistrados - nem sequer entraram em discussão este ano.

No topo das propostas está a de emenda à Constituição (PEC 106/15) que reduz o número de senadores

em um terço e o de deputados federais em 25%. A matéria, que teve 1,7 milhão de apoiamentos, está parada com

o relator Romero Jucá (PMDB-RR) desde março, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.

Pelo texto de autoria do senador Tião Viana (PT-AC), o número de deputados federais cairia de 513 para

385 e o de senadores, de 81 para 54. O principal ganho seria a redução dos gastos públicos. Só de salário, cada

um dos parlamentares custa aos cofres públicos R$ 33.763 por mês. Eles fazem jus ainda ao cotão parlamentar,

que varia de R$ 30,7 mil a R$ 45,6 mil mensais para reembolso de despesas. Para pagar os funcionários

comissionados do gabinete cada um tem direito a mais R$ 101,9 mil.

Num cálculo simples, se a proposta fosse aprovada, a redução de 155 parlamentares representaria uma

economia de pelo menos R$ 25,7 milhões por mês para os cofres públicos. Em defesa do texto, Viana diz que é

possível exercer as funções típicas do Poder Legislativo com uma estrutura mais enxuta em ambas as casas,

"sem prejuízo da representatividade popular".

A ideia de acabar com o auxílio-moradia para parlamentares e magistrados tem mais de 700 mil adesões,

mas, apesar do apoio, também não foi para frente. Proposta de Emenda à Constituição de autoria do senador

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) aguarda designação de relator na CCJ do Senado. O texto estabelece que os

membros de poder e detentores de mandatos eletivos, ministros e secretários serão remunerados exclusivamente

por subsídio, sendo vedado o acréscimo de qualquer gratificação, abono, prêmio, verba de representação, "bem

como o pagamento de auxílio-moradia ou equivalente".

Auxílio-moradia

Atualmente, além dos salários de R$ 33,7 mil, juízes, desembargadores, deputados e senadores recebem

quase R$ 5 mil para pagar pela moradia. Em alguns casos, mesmo aqueles que têm casa própria fazem juz à

verba, que acaba sendo uma forma de engordar o salário. Na justificativa, Randolfe Rodrigues cita o clamor

popular e diz que a vantagem "nada mais é, nos dias atuais, do que uma espécie de fraude e de ampliação

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irregular dos gastos públicos, bem como de aumento de privilégios daqueles agentes públicos que já têm

remuneração muito acima da dos brasileiros comuns".

Na sequência do ranking de sugestões e propostas com maior adesão está a anistia ao deputado Jair

Bolsonaro (PSC-RJ) no processo que ele sofre no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime de incitação ao

estupro. Ele foi denunciado por dizer que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não merecia ser estuprada por ela

ser "muito feia". Entre as 444,8 mil pessoas que se manifestaram, as posições estão quase empatadas: 223,4 mil

são favoráveis à anistia e 221,4 mil, contrários.

Outro texto com mais engajamento é a proposta de escola sem partido. A maioria dos 410,7 mil que

participaram se posicionou contrária ao projeto, que pretende restringir os assuntos a serem tratados pelos

professores em sala de aula, impedindo que eles promovam suas ideologias particulares, incitem estudantes a

participarem de protestos e denigram os alunos que pensem de forma distinta.

--

R$ 25,7 milhões

É o montante que seria economizado por mês caso o projeto de lei que prevê redução do número de

deputados e senadores fosse aprovado

Divisão de Relações com a Mídia – Transparência com segurança!

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