6
ARTIGO ORIGINAL Rev. Psiq. Clín. 28 (6):313317, 2001 Abordagem cognitivo-comportamental do transtorno de pânico Lígia Montenegro Ito 1 Recebido: 12/11/2001/Aceito: 12/11/2001 RESUMO Diversos estudos clínicos demonstram a eficácia da terapia cognitivo comportamental (TCC) no tratamento do transtorno de pânico. A TCC consiste em ensinar ao paciente procedimentos terapêuticos que visam a redução dos sintomas físicos da ansiedade (relaxamento e treino de respiração), da esquiva fóbica (terapia de exposição aos estímulos desencadeantes dos ataques de pânico) e a modificação dos pensamentos disfuncionais (reestruturação cognitiva). O tempo de duração é curto e a autoaplicação, entre as consultas, das técnicas aprendidas é essencial para o sucesso do tratamento e para a manutenção da melhora clínica a longo prazo. O presente trabalho descreve as principais etapas da TCC do transtorno de pânico e alguns fatores que podem dificultar e facilitar a resposta terapêutica. Unitermos: Terapia cognitivocomportamental; Ansiedade; Pânico; Tratamento. ABSTRACT Cognitivebehavioral therapy for panic disorder The efficacy of cognitive behavioural therapy (CBT) for panic disorder has been demonstrated in many clinical studies. CBT consists of teaching patients therapeutic procedures to reduce physical symptoms of anxiety (relaxation and breathing retraining), phobic avoidance (exposure to panic evoking stimulus) and the modification of dysfunctional thoughts (cognitive restructuring). It is a shortterm therapy and the self administration of the techniques in between sessions is essential for its success and maintenance of clinical gains in the long run. The present article describes the main steps of CBT in panic disorder, stressing factors which may hinder and facilitate treatment outcome. Keywords: Cognitive behavioural therapy; Anxiety; Panic; Treatment. O modelo cognitivocomportamental do transtorno de pânico (TP) procura integrar as abordagens biológica e sociopsicológica em seus procedimentos terapêuticos (Barlow, 1988). O ataque de pânico, elemento central desse transtorno, é considerado uma reação de alerta do organismo, que pode ocorrer em situações externas, percebidas pelo indivíduo como ameaçadoras, ou sem causa aparente, por influência de fatores biológicos. Possuir história pessoal ou familiar de algum transtorno ansioso e submeterse a um período de estresse são fatores que contribuem para o aumento da ansiedade geral e que facilitam o desencadeamento do primeiro ataque. Com a repetição, esses ataques ficam condicionados a desencadeantes externos (locais ou situações) ou internos (pensamentos ou sensações corporais), que avaliados negativamente pelo indivíduo representam sinal de perigo iminente, de morte, de estar enlouquecendo ou perdendo o controle. Essas sensações levam a um aumento da ansiedade subjetiva, dos sintomas físicos e das antecipações catastróficas, e a pessoa tornase apreensiva, em vigia

Terapia cognitivo-comportamental no transtorno de pânico

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Terapia cognitivo-comportamental no transtorno de pânico.

Citation preview

  • 05/04/2015 Ito,L.M.Rev.Psiq.Cln.2862001

    http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n6/artigos/art313.htm 1/6

    ARTIGOORIGINAL

    Rev.Psiq.Cln.28(6):313317,2001

    Abordagem cognitivo-comportamental do transtorno depnico

    LgiaMontenegroIto1

    Recebido:12/11/2001/Aceito:12/11/2001

    RESUMO

    Diversos estudos clnicos demonstram a eficcia da terapia cognitivocomportamental (TCC) no tratamento do transtorno de pnico. A TCCconsiste em ensinar ao paciente procedimentos teraputicos que visam areduo dos sintomas fsicos da ansiedade (relaxamento e treino derespirao), da esquiva fbica (terapia de exposio aos estmulosdesencadeantes dos ataques de pnico) e a modificao dos pensamentosdisfuncionais (reestruturao cognitiva). O tempo de durao curto e aautoaplicao,entreasconsultas,dastcnicasaprendidasessencialparaosucesso do tratamento e para a manuteno da melhora clnica a longoprazo. O presente trabalho descreve as principais etapas da TCC dotranstorno de pnico e alguns fatores que podem dificultar e facilitar arespostateraputica.

    Unitermos:TerapiacognitivocomportamentalAnsiedadePnicoTratamento.

    ABSTRACT

    Cognitivebehavioraltherapyforpanicdisorder

    Theefficacyofcognitivebehaviouraltherapy(CBT)forpanicdisorderhasbeendemonstratedinmanyclinicalstudies.CBTconsistsofteachingpatientstherapeuticprocedurestoreducephysicalsymptomsofanxiety(relaxationandbreathingretraining),phobicavoidance(exposuretopanicevokingstimulus)andthemodificationofdysfunctionalthoughts(cognitiverestructuring).Itisashorttermtherapyandtheselfadministrationofthetechniquesinbetweensessionsisessentialforitssuccessandmaintenanceofclinicalgainsinthelongrun.ThepresentarticledescribesthemainstepsofCBTinpanicdisorder,stressingfactorswhichmayhinderandfacilitatetreatmentoutcome.

    Keywords:CognitivebehaviouraltherapyAnxietyPanicTreatment.

    Omodelocognitivocomportamentaldo transtornodepnico (TP) procura integrar as abordagensbiolgica esociopsicolgicaemseusprocedimentosteraputicos(Barlow,1988).Oataquedepnico,elementocentraldessetranstorno,consideradoumareaodealertadoorganismo,quepodeocorreremsituaesexternas,percebidaspeloindivduocomoameaadoras,ousemcausaaparente,porinflunciadefatoresbiolgicos.Possuirhistriapessoal ou familiar de algum transtorno ansioso e submeterse a um perodo de estresse so fatores quecontribuemparaoaumentodaansiedadegeraleque facilitamodesencadeamentodoprimeiroataque.Comarepetio, esses ataques ficam condicionados a desencadeantes externos (locais ou situaes) ou internos(pensamentosousensaescorporais),queavaliadosnegativamentepeloindivduorepresentamsinaldeperigoiminente,demorte,deestar enlouquecendoouperdendoocontrole.Essas sensaes levamaumaumentodaansiedadesubjetiva,dossintomasfsicosedasantecipaescatastrficas,eapessoatornaseapreensiva,emvigia

  • 05/04/2015 Ito,L.M.Rev.Psiq.Cln.2862001

    http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n6/artigos/art313.htm 2/6

    constante, antecipando os sinais de que um novo ataque ir acontecer. Pode apresentar comportamentos deesquiva e fobias de situaes emque acha que um ataque ocorrer de lugares de onde fugir ou escapar sejadifcildecondiesemquenopossareceberajudaimediataemcasodenecessidadedesairouficarsozinho.

    A terapia cognitivocomportamental (TCC) do TP composta por um conjunto de procedimentos que soutilizadosdeformaintegradaepodem,parafinsdidticos,sersubdivididosemaquelesqueauxiliamopacientealidarcomossintomasfsicosdaansiedade,comoorelaxamentoeastcnicascognitivas,osquevisamreduoda esquiva fbica, como a terapia de exposio aos estmulos desencadeantes dos ataques de pnico, e amodificaodospensamentosdisfuncionais, comoa reestruturao cognitiva (Craske,Brown eBarlow, 1991LotufoNetoeIto,1997).

    Otratamentobrevequandofocalizaareduodaansiedadegeral,dosataquesdepnicoedaesquivafbica,com durao variando em torno de 20 sesses. Terapeuta e paciente trabalham em colaborao, planejandoestratgiasparalidarcomasdificuldadesenfocadas.Aautoaplicao,entreasconsultas,dastcnicasaprendidasessencialparaosucessodotratamentoeparaamanutenodamelhoraclnicaalongoprazo.Assesses soplanejadas atravs de uma agenda que contm os alvos e as metas a serem alcanados na semana, osprocedimentos apresentados, a reviso de dirios com as respectivas tarefas de casa, os acontecimentosimportantesrelacionadosaotratamentoeoplanejamentodosprximospassos.Tarefasdecasasofundamentaisparaqueopacientepossapraticarosprocedimentosaprendidosemconsultaeverificarograudeseuaprendizadonomanejodaansiedadeedosdesencadeantesdosataquesdepnico.Autilizaodedirioscontendoacoletaacurada e consistente de dados durante todo o programa de tratamento permite identificar problemas edificuldadesnarealizaodosexerccios,adaptarasestratgiasusadaseavaliaroprogressoalcanado.

    Aprimeiraetapadaterapiaadeavaliaodetodososcomponentesdotranstornodepnico,comoduraoefreqncia,eprincipalmenteosdesencadeantesdoquadro,comofatoresdeestresse,dificuldades interpessoais,pensamentos ansiognicos, sensaes corporais, ansiedade antecipatria, esquiva fbica e ataques de pnicolimitados,os situacionaiseespontneos.Fatorescomopresenadedepressoououtraspatologiasassociadas,necessidadedemedicaoantidepressivaemanejoadequadodetranqilizantesdevemseravaliadosetratadosadequadamente.Problemasdecorrentesdecomplicaesdotranstorno,comoosdeorigemfamiliareconjugal,devem ser identificados e enfocados na fase inicial da terapia. Dificuldades de ordem diversa podem serabordadas rapidamente, mas se requererem maior tempo e ateno devero ser, no momento apropriado,encaminhadasparaumapsicoterapiamaisabrangente.

    Terminadaaavaliao, iniciase a fase de informao aopaciente de todos os aspectos da doena.OmodelocognitivocomportamentaldoTPapresentado,destacandoseopapeldospensamentosedoscomportamentosdisfuncionaisnodesencadeamentodeumataquedepnicoedastcnicasdaterapianamodificaodospadresadquiridosecondicionados.Essasexplicaessorepetidasaolongodotratamento,semprequenecessrio,poisaansiedadepresentenoinciodotratamentopodeprejudicaraatenoeaconcentraodopaciente.

    Naprimeiraetapadaterapia,opacienteinformadosobreahiperventilao,suarelaocomossintomasfsicosdoTPetreinadocomexercciosderelaxamentomuscular(Jacobson,1938)edecontroledarespirao(Craskeet al., 1991) para reduo e alvio da tenso e da ansiedade geral. importante ressaltar que para um bomresultadoteraputicoessesexercciosdevemserpraticadosdiariamente,nasmaisdiversassituaes,at que opacienteestejaaptoautilizlosnassituaesdesencadeantesdeansiedadeoudeataquesdepnico.Emgeral,duas a trs sesses podem ser dedicadas a essa abordagem dos sintomas fsicos da ansiedade, sendo tambmimportantenessafaseestimularopacienteadesenvolveralgumaatividadeesportivacomoformadecombateroestresseeaansiedade.

    A seqncia dos procedimentos a serem utilizados deve respeitar a predominncia de sintomatologia doindivduo.prefervel,noinciodotratamento,forneceraopacienteestratgiasdefcilcompreensoeprontaexecuo,quefacilitemorestabelecimentodasensaodecontroleeautoconfiana.Opacientedeveperceberquemuitosdeseuscomportamentosepensamentosestoimplicadosnaativaoenadesativaodeseusistemadealertaeque,comaterapia,possvelintervirnesseprocesso.Tcnicascognitivasquebloqueiemexpectativasnegativas,comofrasesprontasescritasoumentalizadas,sobreocartertemporrioeinofensivodaansiedadesoteisedegrandeefeitoquandoassociadasaosexercciosderelaxamento.Noentanto,umavezqueumataquedepnicotenhasidodeflagrado,amelhorcondutadeixlopassarsozinho,poisalutacontraomesmoapenasgeramaistensoeprolongaoestadoansioso(Clark,1989Craskeetal.,1991).

    Atcnicadeexposio,queenvolveoconfrontocomosestmulosdesencadeantesdosataquesdepnicoatareduodaansiedade,deveserexecutadainicialmentecomopacienteimaginandosenassituaesansiognicasedescrevendoasdaformamaisrealpossvel.Opaciente,sentadoemumapoltronaerelaxado,devedescreveras

  • 05/04/2015 Ito,L.M.Rev.Psiq.Cln.2862001

    http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n6/artigos/art313.htm 3/6

    sensaesfsicas,ospensamentoscatastrficoseoscomportamentosadotadosnasituaode formadetalhada,comoseestivesseocorrendonaqueleexatomomento.Esseprocedimentodeveevocaromedoeasexpectativasnegativasdopacientee, atravsdoenfrentamento, ajudar a reduzir a freqncia e a intensidadeda ansiedadeantecipatria.Diversas situaes de dificuldade devem ser confrontadas na imaginao at que o desconfortodiminuaequeopacientesintaquepossatoleraraprticadaexposiointeroceptivaedaexposioaovivo.

    Naexposiointeroceptivatentasereproduzirassensaesfsicasquedesencadeiamouacompanhamoataquedepnico.Omodomais fcildeprovoclasatravsdahiperventilaoedeexerccios,comogiraremumacadeira,segurararespiraocomotraxcheiodear,esvaziarotraxecruzarosbraosaoseuredor,contraindoosmsculosparadentro,corrersemsairdolugar,evocandopensamentoscatastrficosduranteosmesmos.Pedese para o paciente praticar um exerccio por alguns segundos, at a ocorrncia de uma sensao fsica (comotontura, taquicardia ou falta de ar) acompanhada de medo, e aguardar at que tal sensao desaparea. Esseexerccio deve ser praticado inicialmente na presena do terapeuta e, depois, como tarefa de casa entre asconsultas. A finalidade desse tipo de exposio treinar o paciente para enfrentar os sintomas, de formacontrolada,paraqueelesesintacapazdelidarcomumacrisedeansiedade,quandoessasocorreremnasdiversassituaes.Essetipodeexposiodemonstrousereficaznareduodosataquesdepnico(Itoetal.,1995Itoetal.,2001).

    Aexposioaovivoessencialnotratamentodomedoedossintomasdeesquivaeconsisteempermaneceremcontatoportempoprolongadocomassituaestemidas,atqueaansiedadediminuademaneirasignificativa,cesseouhabitue.Naaplicaodessatcnica,opacienteconstriumalistacomassituaesdesencadeantesdosataques de pnico, descritas em ordem hierrquica, ou seja, comeando com a que evoca o menor grau deansiedade e enumerandoas at a demaior intensidade, podendo incluir locais fsicos, como supermercados eshopping centers situaes de estresse, como reunies no trabalho conflito em relaes interpessoaispensamentosesensaescorporais.Aautoexposiodeveserestimulada,emboranasprimeirasvezesopacientepossa ser acompanhado por um familiar ou um amigo. O acompanhante, instrudo pelo terapeuta, deve terconhecimentosobreadoenaesobreosprincpiosdotratamento,deveserfirme,mascompreensivo,oferecendosuporteelembrandoaopacienteque,aoconfrontarasituao,omedoirreduzir.

    Durantetodasastarefasdeexposioopacientedevepreencheremseudirioograudeansiedadevividoduranteo confronto com o estmulo temido, e quinze ou vinte minutos aps, a fim de se verificar o processo dehabituao.Tambmdeveconstarnodirio,demaneirasistemtica,aocorrnciadepensamentosassociadosansiedade.Opacientedeve reconhecercomoospensamentoseaconversaconsigoprpriopodem influenciarnegativamentesuasemoes(BeckeEmery,1985)einterferirnoprocessodehabituaodaansiedade.

    Nareestruturaocognitivaoterapeutadefinepensamentosnegativosautomticos(PNAs)eorientaopacienteaidentificloseamonitorlosantesdeumacrisedepnicoedurante.Perguntascomo"Oquevocconversavaconsigomesmonasituao?Oquevocimaginavaquepoderiaacontecer?"podemfacilitaraidentificaodosprocessoscognitivosassociadosansiedade.Astcnicascognitivasdescritasaseguirsoensinadasaopacienteparaseraplicadasnavignciadeansiedadeeduranteassituaesdeexposio.

    PacienteeterapeutaexaminamnasessoosPNAscoletadosnavignciadeansiedadeaolongodeumasemana.Opacienteestimuladoaexploraralternativasparaessespensamentos,questionandosuaveracidade, reduzindo,assim,ocartercatastrficodosmesmos.Exemplosrecentesnavidadopacientepodemseravaliados,como,porexemplo,algumasituaoemqueopacientepreviuumresultadodesagradvelqueposteriormentenoocorreu,ajudandoailustrararigidezdopensamentoansioso.Aseguir,ensinaseaopacienteaanalisarospensamentoscomoumahipteseasertestada,enocomoumfatodefinitivo.Paraisso,devereconhecerosprincipaiserrosdelgicacometidos,comochegaraumaconclusosemevidnciasesemconsiderartodososaspectosdasituaofazerumaprevisocombaseemumnmerolimitadodeeventospassadosconfundirprobabilidadedeocorrnciadeumeventocomcertezadesuaocorrnciaepensaremtermosde tudoounada,negandoasnuances ou asformas intermedirias de acontecimento. A anlise dos erros de lgica auxilia na percepo do carterdisfuncional e irreal dos pensamentos associados ansiedade, que produzem malestar e colaboram namanutenodoquadro.

    Aabordagemdosprocessoscognitivosrelacionadosansiedadetambmincluiadiscussodetalhadadosfatorestemidos,examinandomedidasdeatitudesoucomportamentosquepodemsertomados,quenoforamlevadosemconsiderao anteriormente. Delinear as conseqncias especficas do acontecimento temido facilita aconscientizaodequehalternativasequeasconseqnciassomanejveis,suportveiselimitadasnotempo.Almdisso, devese estudar as situaes sobre as quais o paciente no tem controle ou responsabilidade, efocalizaraquelasemquepodeatuardemaneiramaiseficazeemquehmaischancesdemudana.

  • 05/04/2015 Ito,L.M.Rev.Psiq.Cln.2862001

    http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n6/artigos/art313.htm 4/6

    Notestedehiptese,opacientedeveexaminarseumadeterminadaantecipaoverdadeiraouno,atravsdeumaexperinciaplanejadaemquetenhacondiodesucesso.Oprpriodiriode tarefasdecasapodeconterevidnciasdeque, apesardos sintomasdepnico e ao contrrio de suas expectativas negativas, o paciente capazderealizaratividadesdemaneirasatisfatria.Aautosugestopodesertilparaajudaralidarcommedosecrenasouarealizarumatarefaquedesencadeiaansiedade.Opacientedeveformularfrasesquemelhoramoseuautocontrole quando se prepara para o confronto comuma situao temida, quando se defronta com estresse,quandoestsesentindotomadopelasituao,eapsenfrentarasituaotemida.Opacientedevelembrarquetem controle sobre si prprio, mesmo na vigncia de um ataque de pnico, e que, apesar do desconfortoprovocado pela situao, pode, conversando consigo mesmo, entrar e conseguir permanecer na mesma. oconfrontocomasituaoeaavaliaocorretaerealistadossintomasfsicosedospensamentosassociadosqueproduzemosmelhoresefeitosteraputicos.

    Aparadadopensamentoeastcnicasdefocalizaodaatenotmoobjetivodeaumentarocontrolequeopacientetemsobreseuspensamentoseimagens.Aruminaoansiosapodeserinterrompidacomaimaginaodapalavra"PARE!",oucomavisualizaodeumsinaldetrnsitoacesonovermelho.Apsainterrupo,aatenodeve estar voltada para os detalhes da atividade que est sendo realizada. Devese evitar a distrao compensamentosdequenoseestnasituao,oudequenosenteassensaescorporaisdopnico.O ideal perceberassensaes,lidandocomospensamentoscatastrficosirrealistasqueasacompanham.

    Osmtodosdescritossoaplicadosapartirdomaterialcoletadosemanalmentenosdiriosdopaciente.Aordemde aplicao determinada pelo andamento da terapia, cuja reestruturao cognitiva relacionada com amodificaodecomportamentosdemedoeesquiva(Clark,1989).Seoobjetivoseestendeparaamodificaodascrenasbsicas,adquiridasprecocementenavidadoindivduoequemodulamomododeapessoaperceber,sentirelidarcomomundo,necessriaumaabordagemcognitivadeenfoquemaisamplo.Nessecaso,precisoinvestigar profundamente a histria de vida da pessoa para identificar como suas crenas se formaram e sesolidificaramaolongodotempo.

    Otratamentoconcludoquandoasmetasforematingidas.Algunssintomaspodemaindapersistirnessafase,masessesnodevemcausarprejuzo.Opacienteorientadoadarcontinuidadeaoempregodastcnicasaprendidasealertadosobreapossibilidadederecada.importantequeoterapeutadiscutacomopacientesuasexpectativasem relao manuteno de suamelhora clnica, enfatizando a aprendizagem de controle dos sintomas e ashabilidadesadquiridasaolongodoprocessodeterapia.tiloferecerumfolhetoimpressocontendoospassosprincipaisdo tratamentoe lembretes importantessobreomanejodas tcnicas,paraquepossa serutilizado, senecessrio,narecorrnciadoquadro.Sessesdeseguimentoajudamaesclarecerdvidasdopacienteemrelaostarefasdesempenhadasnopstratamentoeauxiliamnomanejodosaspectosdemaiordificuldade.Paraqueaautoconfianaeaindependnciadopacientesejamestimuladas,assessesdeseguimentodevemserespaadas,inicialmente,emformatoquinzenal,e,apsalgumtempo,mensalmente,ataaltapropriamentedita.

    A terapia cognitivocomportamental do TP produz inmeros benefcios para a grandemaioria dos pacientes,reduzindosignificativamenteossintomasclnicos.Amelhora e os ganhos teraputicos obtidosproduzem, emgeral, aumento da autoconfiana, da assertividade e da autoestima, melhorando a qualidade de vida dessespacientes.Defato,comumorelatodeestabilidadedohumoremdecorrnciadasensaodecontrolesobreossintomasansiososapsaTCC.

    Algunsfatorespodemdificultaraevoluodo tratamento.ATCCteminteraopositivacomantidepressivos,masseusefeitospodemseranuladosnavignciadealtasdosesdebenzodiazepnicoselcool,umavezqueessassubstncias impedem o processo de habituao e a aquisio de aprendizado (Marks, 1987). O paciente quecomparececonsultasoboefeitodetranqilizantesdeveseralertadosobreaimpossibilidadederealizaodaterapia nessas condies. Pacientes com longo tempo de durao da doena compreendem o princpio dotratamento e aprendem a controlar sua ansiedade durante os procedimentos executados na consulta, mas soincapazes de reproduzir tal atitude ao vivo nas situaes temidas. Isso pode ocorrer em funo de inmerasvariveis,como:dependnciadesenvolvidajuntoaosfamiliaresaesquiva terse tornadoumhbitoouaindaacomodaolimitao.EssaseoutraspossibilidadesdevemserenfocadasduranteaterapiaeanalisadascomoumobstculomelhoradoTP.

    Procedimentoscomoaexposiopodemserrigorososerequereremvriastentativasporpartedopacienteataobteno do alvio de sintomas. No raro o paciente despender vrios meses de dedicao intensa paracompletartarefasmaisdifceis.Almdisso,aTCCconsideradaumtipodeterapiadealtademanda,poisexigeaparticipaoativadopacienteatravsdaexecuodetarefasprescritas,comoliodecasaepreenchimentodedirios, que funcionam como coleta de informao sobre o problema e orientam o andamento da terapia. Oterapeutadeveincentivarcadaetapapercorridapelopacienteeaadesostcnicas,enfatizandoaimportnciada

  • 05/04/2015 Ito,L.M.Rev.Psiq.Cln.2862001

    http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n6/artigos/art313.htm 5/6

    aquisiodanovaaprendizagemnoprocessodeenfrentamentodomedo.Oesforosistemticoeodesconfortodecorrentesdaexposiopodemproduzir,inicialmente,aintensificaomomentneadesintomasdeansiedade,quetendeadesapareceraolongodotratamento.Entretanto,talreaoinicialpodeserresponsvelpelarejeioaotratamento,incluindoabandonoenoadeso.Oterapeutadeveanteciparaopacienteessetipodedificuldadeemostrarsedisponvela dar suporte tanto pessoalmente quanto atravs de contatos por telefone, sempre quenecessrio.

    Apsotrminodaterapia,muitospacientesaindaapresentamsintomasresiduaisdeansiedadecomoapreenso,intolerncia e impacincia, que so s vezes interpretados como pressgios de um ataque. Embora tenhamaprendidoaimpediraocorrnciadeumataquedepnico,essespacientessesentemdecepcionadosequeixamsede no ter atingido a "normalidade". O esclarecimento acerca desses sintomas e a discusso sobre o temporequeridoparamaiorestabilidadedohumorpodemofereceralgumatranqilidadeeauxiliarnacompreensodoriscorealdeumarecada.

    Estudos recentes tm se dedicado investigao dos aspectos envolvidos na resposta ao tratamento e aoaperfeioamento das tcnicas cognitivocomportamentais. Os resultados sugerem que a gravidade geral dadoena, envolvendo longa durao, disfuno cognitiva, dficits comportamentais graves, dificuldadesinterpessoais,conjugaisefamiliares,enoapenasumaspectoisolado,podecontribuirparaarespostateraputica,independentementedotipodetratamentoutilizado(Basogluetal.,1988).Acomorbidadecomoutrosquadrospsiquitricos, como alcoolismo, uso de drogas e transtornos de personalidade, tambm tem se mostrado umobstculoaotratamento.Poroutrolado,caractersticascomoresponsabilidadepessoalparamudana,otimismoem relao a abordagens psicoteraputicas, compreenso e aceitao do modelo da TCC podem facilitar arespostaaotratamento.Dequalquerforma,odiagnsticopreciso,aavaliaodetalhadadoproblemaeoexamedecritrioscomoobstculosefacilitadoresdevemserconsideradosnaindicaodeumpacienteparaaTCC.

    Investigaes futuras devem identificar as caractersticas de pacientes com transtorno de pnico que norespondem TCC e determinar como esse tratamento pode ser aprimorado. A aplicao de uma terapia,respeitandose as particularidades de cada caso, em que a escolha da tcnica seja feita de acordo com apredominnciasintomatolgica,poderesultaremmaiorefeitoteraputico.

    ndicedo voltarao

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS

    Barlow, D.H. Anxiety and its Disorders: The Nature and Treatment ofAnxietyandPanic.Guilford,NewYork,1988.

    Barlow, D.H. Craske, M.G. Mastery of your Anxiety and Panic, In:ManualAvailable from theCenter for Stress andAnxietyDisorders.NewYork,1988.

    Basoglu, M. Lax, T. Kasvikis, Y. et al. Predictors of Improvement inObsessiveCompulsiveDisorder.JAnxDis2:299317,1988.

    Beck, A.T. Emery, G. Anxiety Disorders and Phobias: A CognitivePerspective.BasicBooks,NewYork,1985.

    Clark,D.M. ACognitiveApproach to Panic.BehRes Ther 24: 46170,1986.

    Clark,D.M.AnxietyStates:PanicandGeneralizedAnxiety, In:Hawton,K. Salkovskis, P.M. Kirk, J. & Clark, D.M. (eds.):Cognitive BehaviourTherapyforPsychiatricProblemsAPracticalGuide.OxfordUniversityPress,Oxford,UK,pp.5296,1989.

    Craske,MG.Brown,T.A.Barlow,D.H.BehaviouralTreatmentofPanicDisorder:atwoyearfollowup.BehTher22:289304,1991.

  • 05/04/2015 Ito,L.M.Rev.Psiq.Cln.2862001

    http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n6/artigos/art313.htm 6/6

    Ito, L.M. Noshirvani, H. Basoglu, M. Marks, I.M. Does Exposure toInternal Cues Enhance Exposure to External Cues in Agoraphobia withPanic? A Pilot Control Study of SelfExposure. Psych. and Psychosom65:248,1995.

    Ito,L.M.DeArajo,L.A.Tess,V.L.C.DeBarrosNeto,T.Asbahr,F.R.Marks,I.M.SelfExposureTherapyforPanicDisorderWithAgoraphobia.Randomized controlled study of external v. Interoceptive SelfExposure,2001.

    Jacobson, E. Progressive Relaxation. University of Chicago Press,Chicago,1938.

    LotufoNeto,F. Ito,L.M.Transtornode pnico com agorafobia, In: Ito,L.M. (ed.) Terapia cognitivocomportamental para os transtornospsiquitricos.ArtesMdicas,PortoAlegre,1997.

    Marks,I.M.Fears,phobiasandrituals.OxfordUniversityPress,Oxford,1987.

    1Doutora emPsicologia doLIM23 InstitutodePsiquiatriaHCFMUSP.

    Endereoparacorrespondncia:RuaDr.OvdioPiresdeCampos, s/nSoPaulo,SPCEP05403010Fax:(0xx11)30696958

    Email:[email protected]

    ndicedo voltarao

    Revistade PsiquiatriaClnica

    ndice

    .