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JULHO/2018 ESPECIAL ABCFARMA Em busca da sobriedade Terceira idade, muito prazer

Terceira idade, muito prazer - abcfarma.org.brabcfarma.org.br/-lista/Revista-senior-6.pdf · alcoolismo na terceira idade – incluindo a interação com outros medicamentos Quais

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Especial Sênior

Após os 60 anos, aumenta a incidência de doenças crônicas que aceleram

ou se agravam com idade – como diabetes, osteoporose, problemas cardiovasculares, colesterol elevado, entre outros. Entretanto, tudo isso pode piorar se o idoso consumir álcool em excesso. O psiquiatra e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), Dr. Arthur Guerra, explica os riscos do alcoolismo na terceira idade – incluindo a interação com outros medicamentos

Quais são os riscos do alcoolismo na terceira idade, principalmente para homens, as principais vítimas desse distúrbio?

Desencadear ou agravar quadros de depressão, irritabilidade, confusão mental. Além disso, idosos que con-somem bebidas alcoólicas em excesso podem apresentar deficiências nutri-cionais associadas a esse abuso – e isso acaba conduzindo a quadros neuroló-gicos e demenciais. O aumento do ris-co cardiovascular, que já é maior com o avançar da idade, e de outros fatores que também pioram com o alcoolismo, como diabetes e hipertensão arterial, são outras consequências. Alterações hepáticas são frequentes, inclusive com

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possível instalação de cirrose e insufi-ciência hepática. Com relação ao risco de quedas, esse pode ser um transtorno muito grave, dependendo da magnitu-de das lesões decorrentes e capacidade de recuperação do idoso – muitas vezes levando a cirurgias ortopédicas com colocação de próteses.

O avançar da idade interfere na sensibilidade ao álcool?

Nos idosos, percebe-se um aumento na sensibilidade ao álcool, já que o enve-lhecimento pode diminuir a tolerância do corpo para essa substância pela re-dução na capacidade de metabolização hepática e da função renal – além de mudanças na composição corporal,

com maior tendência à desidratação. A ingestão de álcool em idosos pode provocar efeitos mais acentuados comparativamente aos jovens de mes-mo sexo e peso.

Geralmente, os idosos tomam diversos medicamentos. O álcool pode alterar o efeito ou causar algum problema por isso?

Mais de cem medicamentos podem interagir com o álcool – entre eles, fár-macos utilizados para o tratamento de problemas cardíacos, diabetes ou de-pressão. O álcool pode interferir nos efeitos de medicamentos ou vice-versa, ocorrendo redução da eficácia de um remédio ou intensificação de seus efei-tos em outro. Além disso, também po-dem causar efeitos secundários, como náusea, vômito, cefaleia e vertigem. O uso concomitante de álcool com outros depressores do sistema nervo-so central, como tranquilizantes, anti--histamínicos, ansiolíticos, analgésicos e antidepressivos, faz com que certos efeitos sejam exacerbados – como se-dação, sonolência, perda de coordena-ção motora e de memória. Isso expõe o indivíduo idoso a maior risco de que-da, acidentes, intoxicação e até mesmo morte. Mesmo se não forem ingeridos simultaneamente à bebida alcoólica, ainda é possível ocorrer interação, pois alguns remédios demoram para ser

absorvidos ou seus efeitos são prolon-gados.

Os idosos têm mais dificuldade para se livrar do alcoolismo?

Os estudos mostram que os idosos se beneficiam dos tratamentos contra a dependência de álcool do mesmo modo que as pessoas mais jovens. Contudo, a efetividade dos tratamentos tende a ser melhor para aqueles que apresentam menor histórico de uso problemático de álcool. Vale ressaltar que a família é peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo do álcool como em casos em que o problema já está instalado. Não são poucas as vezes em que o tratamen-to se inicia pela família, principalmente porque o usuário de álcool não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz con-sequências negativas ou está desmoti-vado para buscar ajuda. Além disso, a família pode auxiliar na aderência, per-manência, na superação de dificulda-des decorrentes do processo e no esta-belecimento de um novo estilo de vida sem o uso do álcool. Também pode ajudar a equipe multidisciplinar iden-tificando mudanças comportamentais abruptas. Por exemplo: isolamento, irritabilidade, oscilações do humor, prejuízo no desempenho do trabalho. Tudo isso pode ser indicativo de com-plicações ou possíveis recaídas, que muitas vezes podem ser evitadas. Um acompanhamento por profissionais de saúde, específico e dirigido também aos familiares, é essencial para que todos possam compreender a doença e seus desdobramentos. E, posterior-mente, receber orientação adequa-da sobre a melhor forma de ajudar o ente querido a enfrentar a velhice de maneira mais sóbria. q

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A capacidade de amar e de desfrutar da vida sexual não tem – ou não deve ter – limite de

idade. Mas, apesar dos avanços, parte da sociedade ainda insiste em ditar regras de comportamento para o idoso, estabelecendo uma espécie de limite para sua sexualidade. Com isso, coíbe as pessoas mais maduras de ainda buscar relacionamentos amorosos de forma autônoma e destituída de preconceitos e estereótipos. Mas a liberdade de amar sem idade não deve tirar do idoso seu eterno senso de responsabilidade – quando isso falta, há problemas: está aumentando o número de Doenças Sexualmente Transmissíveis na terceira idade. Até onde e como a sexualidade pode chegar no tempo, com prazer e segurança?

Não há dúvida que a mulher sofre mais do que o homem as consequências da visão errônea difundida culturalmente sobre a sexualidade durante o proces-so de envelhecimento – haja vista as dificuldades de algumas mulheres em se definirem como maduras, por não conseguirem ver nada positivo asso-ciado ao envelhecimento, a ponto de se sentirem invisíveis como mulheres. De qualquer forma, a sexualidade ainda é um assunto polêmico no que concerne o envelhecimento, mesmo sendo a faixa etária que mais cresce em todo o mun-do. De acordo com o senso comum, há um “tabu”. Parece proibido discutir a sexualidade no envelhecimento. Com o advento das pílulas contra a disfunção erétil, muitos homens com mais de 60 anos retomaram sua atividade sexual,

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inclusive com mulheres mais jovens. Mas desse “renascimento” resultou um grave problema. Muitos idosos relatam não usar camisinha – por falta de costu-me. Esse fato gera grande preocupação das equipes de saúde, já que o número de doenças sexualmente transmissíveis vem aumentando entre a população idosa. Segundo uma pesquisa feita em 2010 no estado de São Paulo, cobrindo o período de 1980 a 2009, dos 166.003 casos de AIDS notificados no período, 704 tinham 60 anos. Mas a proporção de AIDS em idosos aumentou de 1,9% em 1998 para 5,7% do total de casos notificados em 2015. Nesse ano, 2.508 casos foram notificados em homens com mais de 60 anos. Com base nes-ses números, é necessária a inclusão de discussões sobre sexualidade dos idosos

nas políticas públicas de prevenção à AIDS e outras DSTs. Também é urgente treinar os profissionais de saúde sobre a sexualidade de idosos. Estimular gine-cologistas a solicitar coleta de papani-colau entre idosas. E, principalmente, trabalhar com produção de material informativo específico para idosos – au-mentando a segurança, mas sem refrear a sexualidade nessa faixa etária. Ao con-trário: apesar de ser comum associar-se à maturidade a perda de feminilidade e sexualidade, é a partir dessa fase que a mulher tem a oportunidade de testar sua autoconfiança e de se permitir pra-zeres até então adiados. O envelheci-mento tende a diminuir a vitalidade, a força, a exuberância do corpo, os refle-xos. Mas, como tudo na vida, também gera ganhos próprios, como experiência

e sabedoria. Os casais em qualquer faixa etária devem investir no relacionamen-to, buscando melhorar a comunicação e a qualidade conjugal e sexual. Nunca é tarde para investir na qualidade de vida e na melhoria do relacionamento. Buscar um melhor esclarecimento, in-formações, auxílio médico e terapia de casal ou sexual, vale em qualquer idade.

O fato é que as pessoas idosas têm mais tempo para amar. O direito a uma vida amorosa e sexual na terceira idade relaciona-se à redes-coberta das primeiras formas de amor do ser humano, nas quais prevalecem ternura, contatos físicos, expressão cor-poral e uso dos sentidos. Sexualidade é parte importante da existência humana em qualquer etapa da vida. q

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