Tese Instrumentos Psicometricos de Perfil Cognitivo

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  • 7/23/2019 Tese Instrumentos Psicometricos de Perfil Cognitivo

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

    CENTRO DE CINCIAS HUMANAS E NATURAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA

    INDICADORES COGNITIVOS, LINGSTICOS,

    COMPORTAMENTAIS E ACADMICOS DEPR-ESCOLARES PREMATUROS E

    NASCIDOS A TERMO

    CHRISTYNE GOMES TOLEDO DE OLIVEIRA

    Vitria, ES

    2008

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    CHRISTYNE GOMES TOLEDO DE OLIVEIRA

    INDICADORES COGNITIVOS, LINGSTICOS,

    COMPORTAMENTAIS E ACADMICOS DE PR-ESCOLARES PREMATUROS E NASCIDOS A TERMO

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Psicologia da

    Universidade Federal do Esprito Santo,

    como requisito parcial para a obteno do

    grau de Mestre em Psicologia, sob a

    orientao da Professora Doutora Snia

    Regina Fiorim Enumo.

    Universidade Federal do Esprito SantoVitria, ES, agosto de 2008.

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTOVitria, Agosto de 2008.

    Dados Internacionais de Catalogao AACR2.

    BIBLIOTECRIA RESPONSVEL:Estela Maris Teixeira Lopes CRB-12-ES

    Oliveira, Christyne Gomes Toledo de, 1976 -Indicadores cognitivos, lingsticos, comportamentais e acadmicos de pr-

    escolares prematuros e nascidos a termo / Christyne Gomes Toledo deOliveira. - 2008.xxiii, 236f.:Il.;30cm.

    Orientadora: Snia Regina Fiorim EnumoDissertao (mestrado) UFES / Universidade Federal do Esprito Santo,

    Programa de Ps-graduao em Psicologia, 2008.Referncias Bibliogrficas: f. 186-199

    1. Prematuridade 2. Baixo peso ao nascimento 3. Desenvolvimentocognitivo 4. Linguagem 5. Vigilncia do desenvolvimento I. Enumo, SniaRegina Fiorim. II. Universidade Federal do Esprito Santo, Centro de CinciasHumanas e Naturais, PPGP. III. Ttulo.

    CDU: 159.922..72

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    Dedicatria

    A Deus, pois sem Ele nada posso;

    Ao meu marido Marcelo e ao meu filho, Gabriel. Oamor, carinho, as palavras de incentivo,compreenso e pacincia foram essenciais paraconcluir essa tarefa e superar todas as dificuldadesdo caminho;

    Aos meus pais, irmos e cunhados. Obrigada porme incentivarem a acreditar que preciso correratrs de todos os nossos sonhos e por meproporcionar a realizao de vrios deles.

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    Agradecimentos

    Agradeo, em primeiro lugar, a Deus pelo dom da vida e a Nossa Senhora

    Aparecida, pela certeza de ter guiado meu caminho do incio ao fim desse desafio;

    Agradeo, em especial, a minha orientadora, a Professora Doutora Snia

    Regina Fiorim Enumo, pela sabedoria, pelo profissionalismo e por seu exemplo de

    dedicao e contagiante entusiasmo pelo trabalho cientifico. Certamente, sem seu

    conhecimento, sem seu carinho e, sobretudo, compreenso, nada disso seria

    possvel;

    Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Psicologia,

    principalmente a Professora Doutora Kely Maria Pereira de Paula e o Professor

    Doutor Svio Silveira de Queiroz, por suas valiosas contribuies no Exame de

    Qualificao;

    s crianas que fizeram parte deste trabalho e seus pais, que apoiaram e

    acreditaram na proposta da pesquisa;

    direo do Hospital Doutor Drio Silva e direo da Escola Gente Mida,

    que aceitaram o desafio, permitiram o acesso e possibilitaram as condies

    estruturais para a realizao da coleta de dados;

    Agradeo amiga Flvia Almeida Turini por compartilhar comigo seus

    ensinamentos e seu trabalho de doutorado - sem voc teria sido muito mais difcil!

    s queridas bolsistas do projeto de pesquisa do CNPq/Drio e PIBIC/CNPq

    Ariadne Dettmann Alves, Daniele de Souza Garioli e Grace Rangel, o meu: Muito

    obrigada!. Certamente, sem o empenho e a dedicao de vocs, em todos os

    momentos este trabalho no teria sido poss el Esse mrito nosso!

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    Agradeo ao Professor Romildo Rocha de Azevedo Jr., do Centro

    Universitrio de Vila Velha, por sua disponibilidade e competncia em realizar toda a

    anlise estatstica em tempo hbil, alm de sua pacincia e sbias explicaes;

    Agradeo amiga Alessandra Brunoro Motta, que, at mesmo sem saber,

    sempre foi um exemplo de profissional e de sabedoria. - Obrigada pelas preciosas

    palavras nos momentos mais difceis, foi muito bom poder contar com seu apio e

    incentivo!

    Agradeo tambm Senhora Maria Lcia Fajli, secretria do Programa de

    Ps-Graduao em Psicologia da UFES, pelo auxlio e carinho em seu atendimento;

    s agncias de fomento CAPES (bolsa de mestrado) e CNPq (bolsas de

    iniciao cientfica);

    Por fim, muito obrigada a todas as pessoas que, direta e indiretamente,

    contriburam para a realizao deste trabalho.

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    SUMRIO

    RESUMO........................................................................................ 22

    ABSTRACT..................................................................................... 23

    1 INTRODUO................................................................................ 24

    1.1 O nascimento prematuro e com baixo peso: fatores de risco para

    problemas de desenvolvimento infantil........................................... 26

    1.2 O impacto da prematuridade e baixo peso no desenvolvimento

    da criana........................................................................................ 30

    1.3 A avaliao psicolgica de crianas em risco de

    desenvolvimento............................................................................. 39

    1.4 O problema de pesquisa e sua relevncia cientfica e social......... 47

    1.5 Objetivos......................................................................................... 49

    2 MTODO........................................................................................ 50

    2.1 Participantes................................................................................... 51

    2.1.1 Critrios para seleo da amostra.................................................. 52

    2.2 Locais de coleta dos dados............................................................. 53

    2.3 Instrumentos e Materiais................................................................. 56

    2.3.1 Instrumentos para caracterizao da amostra................................ 56

    2.3.2 Instrumento para avaliao do repertrio acadmico..................... 57

    2.3.3 Instrumento para avaliao de problemas de comportamento...... 58

    2.3.4 Instrumentos para avaliao da linguagem................................. 59

    2.3.5 Instrumentos para avaliao de habilidades cognitivas.................. 60

    2.3.5.1 Instrumentos psicomtricos para avaliao de habilidadescognitivas........................................................................................ 60

    2.3.5.2 Instrumentos para avaliao cognitiva assistida............................. 61

    2.3.5.3 Outros equipamentos e materiais................................................... 63

    2.4 Procedimento.................................................................................. 63

    2.5 Processamento e anlise de dados............................................... 66

    2.5.1 Processamento e anlise dos dados relacionados caracterizao da amostra.............................................................. 66

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    2.5.2 Processamento e anlise dos dados das avaliaes acadmica,

    comportamental, do repertrio lingstico e cognitivas

    tradicionais...................................................................................... 67

    2.5.3 Processamento e anlise dos dados da avaliao cognitiva

    assistida.......................................................................................... 69

    2.6 Anlise estatstica descritiva........................................................... 72

    2.7 Anlise estatstica inferencial.......................................................... 72

    2.8 Avaliao tica de riscos e benefcios............................................ 73

    3 RESULTADOS............................................................................... 75

    3.1 Anlise descritiva dos dados da amostra........................................ 75

    3.1.1 Anlise descritiva dos dados do G1 (PT-BP) ................................. 75

    3.1.1.1 Caracterizao das crianas do G1 (PT-BP).................................. 76

    3.1.1.2 Resultados da avaliao psicolgica do G1 (PT-BP)..................... 78

    3.1.1.2.1 Dados da avaliao acadmica do G1 (PT-BP)............................. 78

    3.1.1.2.2 Dados da avaliao sobre problemas de comportamento no G1

    (PT-BP)........................................................................................... 80

    3.1.1.2.3 Dados da avaliao da linguagem do G1 (PT-BP)......................... 83

    3.1.1.2.4 Dados da avaliao cognitiva do G1 (PT-BP)................................ 85

    3.1.1.2.4.1 Dados da avaliao cognitiva psicomtrica do G1 (PT-BP)........... 85

    3.1.1.2.4.2 Dados da avaliao cognitiva assistida do G1 (PT-BP).................. 89

    3.1.2 Anlise descritiva dos dados do G2 (AT)........................................ 97

    3.1.2.1 Caracterizao das crianas do G2 (AT)........................................ 97

    3.1.2.2 Descrio e anlise dos resultados da avaliao psicolgica do

    G2 (AT)........................................................................................... 99

    3.1.2.2.1 Dados da avaliao acadmica do G2 (AT)................................... 99

    3.1.2.2.2 Dados da avaliao sobre problemas de comportamento do G2

    (AT)................................................................................................. 102

    3.1.2.2.3 Dados da avaliao da linguagem do G2 (AT)............................... 104

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    3.1.2.2.4 Dados da avaliao cognitiva do G2 (AT)....................................... 106

    3.1.2.2.4.1 Dados da avaliao cognitiva psicomtrica do G2 (AT)................. 106

    3.1.2.2.4.2 Dados da avaliao cognitiva assistida do G2 (AT)....................... 1083.2 Anlise inferencial dos dados da amostra...................................... 116

    3.2.1 Dados comparativos da avaliao acadmica do G1 (PT-BP) e

    G2 (AT)........................................................................................... 116

    3.2.2 Dados comparativos de G1 (PT-BP) e G2 (AT) quanto a

    problemas de comportamento........................................................ 118

    3.2.3 Dados comparativos da avaliao da linguagem de G1 (PT-BP) eG2 (AT)........................................................................................... 121

    3.2.4 Dados comparativos da avaliao cognitiva de G1 (PT-BP) e G2

    (AT)...... .......................................................................................... 122

    3.2.4.1 Dados comparativos da avaliao cognitiva psicomtrica de G1

    (PT-BP) e G2 (AT).......................................................................... 122

    3.2.4.2 Dados comparativos da avaliao cognitiva assistida do G1 (PT-

    BP) e G2 (AT)................................................................................. 126

    3.2.5 Anlise das correlaes entre os resultados das provas feitas por

    G1 (PT-BP) e G2 (AT)..................................................................... 138

    3.2.6 Cruzamento de dados entre a avaliao psicolgica das crianas

    e as variveis neonatais e psicossociais da amostra..................... 141

    3.3 Resumo geral dos dados obtidos ................................................... 144

    3.4 Estudos de caso............................................................................. 146

    3.4.1 Estudo de caso 1............................................................................ 148

    3.4.2 Estudo de caso 2............................................................................ 150

    3.4.3 Estudo de caso 3....................................................................... 155

    3.4.4 Estudo de caso 4........................................................................... 159

    4 DISCUSSO............................................................................... 1645 REFERNCIAS............................................................................ 186

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    APNDICES.................................................................................. 200

    ANEXOS......................................................................................... 225

    GLOSSRIO................................................................................... 254

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Procedimento geral da pesquisa, com os materiais e os instrumentos

    utilizados em cada etapa........................................................................ 66

    Tabela 2 Caracterizao das crianas do G1(PT-BP) quanto aos indicadores

    biolgicos e psicossociais...................................................................... 77

    Tabela 3 Proporo de acertos das crianas do G1 (PT-BP) nas tarefas da prova

    acadmica (IAR)............................................................................ 79

    Tabela 4 Dados das crianas do G1 (PT-BP) quanto a problemas de

    comportamento pelo CBCL (1 - 5 anos).............................................. 82

    Tabela 5 Dados das crianas do G1 (PT-BP) nas provas de linguagem

    expressiva (LAVE) e receptiva (TVIP)................................................... 84

    Tabela 6 Dados das crianas do G1 (PT-BP) na avaliao cognitiva pela Escala

    de Maturidade Mental Columbia............................................................. 87

    Tabela 7 Dados das crianas do G1 (PT-BP) na avaliao cognitiva pelo Raven

    (MPC)...................................................................................................... 88

    Tabela 8 Dados das crianas do G1 (PT-BP) na prova cognitiva assistida

    (CATM)................................................................................................... 90

    Tabela 9 Proporo mdia das operaes cognitivas do G1 (PT-BP) nas fases

    do CATM.................................................................................................. 91

    Tabela 10 Proporo de comportamentos facilitadores do G1 (PT-BP) nas fases

    sem ajuda (SAJ), manuteno (MAN) e transferncia (TRF) do CATM.. 91

    Tabela 11 Proporo de comportamentos apresentados pelo G1 (PT-BP) nas

    fases sem ajuda (SAJ), manuteno (MAN) e transferncia (TRF) do

    CATM, de acordo com a escala ACFS.................................................... 92

    Tabela 12 Resumo dos resultados da avaliao psicolgica das crianas do

    G1(PT-BP)................................................................................................ 96

    Tabela 13 Caracterizao das crianas do G2 (AT) quanto aos indicadores

    biolgicos e psicossociais........................................................................ 98

    Tabela 14 Proporo de acertos das crianas do G2 (AT) nas tarefas da prova

    acadmica (IAR)...................................................................................... 101Tabela 15 Dados das crianas do G2 (AT) quanto a problemas de comportamento

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    pelo CBCL (1 - 5 anos)............................................... 103

    Tabela 16 Dados das crianas do G2 (AT) nas provas de linguagem expressiva

    (LAVE) e receptiva (TVIP) ....................................................................... 105

    Tabela 17 Dados das crianas do G2 (AT) na avaliao cognitiva pela Escala de

    Maturidade Mental Columbia .................................................................. 107

    Tabela 18 Dados das crianas do G2 (AT) na avaliao cognitiva pelo Raven

    (MPC)....................................................................................................... 108

    Tabela 19 Dados das crianas do G2 (AT) na prova cognitiva assistida (CATM)... 110

    Tabela 20 Proporo mdia das operaes cognitivas do G2 (AT), nas fases do

    CATM...................................................................................................... 111

    Tabela 21 Proporo de comportamentos do G2 (AT), nas fases sem ajuda (SAJ)manuteno (MAN) e transferncia (TRF) do CATM, de acordo com a

    escala ACFS............................................................................................. 112

    Tabela 22 Proporo de comportamentos facilitadores do G2 (AT), nas fases sem

    ajuda (SAJ) manuteno (MAN) e transferncia (TRF) do CATM........... 112

    Tabela 23 Resumo dos resultados da avaliao psicolgica das crianas do G2

    (AT)........................................................................................................... 115

    Tabela 24 Comparao do G1 (PT-BP) e G2 (AT) na prova acadmica (IAR)........ 116Tabela 25 Comparao do G1 (PT-BP) e G2 (AT) quanto a problemas de

    comportamento internalizante e externalizante nas escalas do CBCL (1

    - 5 anos) ....................................... ....................................................... 118

    Tabela 26 Dados de G1 (PT-BP) e G2 (AT) nas escalas das Sndromes

    Comportamentais do CBCL (1 - 5 anos)............................................. 119

    Tabela 27 Comparao de G1 (PT-BP) e G2 (AT) nas escalas orientadas para o

    DSM-IV do CBCL (1 - 5 anos) ............................................................. 120Tabela 28 Comparao de G1 (PT-BP) e G2 (AT) quanto linguagem expressiva

    (LAVE)....................................................................................................... 121

    Tabela 29 Comparao de G1 (PT-BP) e G2 (AT) quanto linguagem receptiva

    (TVIP)........................................................................................................ 122

    Tabela 30 Comparao de G1 (PT-BP) e G2 (AT) na avaliao cognitiva pela

    Escala de Maturidade Mental Columbia................................................... 123

    Tabela 31 Comparao do desempenho cognitivo de G1 (PT-BP) e G2 (AT) no

    Raven (MPC)........................................................................................... 124

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    Tabela 32 Proporo de acertos do G1 (PT-BP) e G2 (AT) em cada srie do

    Raven (MPC)........................................................................................... 124

    Tabela 33 Dados comparativos do G1 (PT-BP) e G2 (AT) da proporo mdia de

    erros/prancha, por categoria, nas trs Sries do Raven

    (MPC)....................................................................................................... 125

    Tabela 34 Comparao de G1 (PT-BP) e G2 (AT) em cada fase no CATM quanto

    aos acertos total e parciais ...................................................................... 127

    Tabela 35 Comparao entre as fases do CATM, para G1 (PT-BP) em relao

    aos acertos totais e parciais.................................................................... 129

    Tabela 36 Comparao entre as fases do CATM, para G2 (AT) em relao aos

    acertos totais e parciais............................................................................ 131

    Tabela 37 Comparao de G1 (PT-BP) e G2 (AT) quanto a operaes cognitivas

    e comportamentos facilitadores do desempenho cognitivo no CATM e

    dos comportamentos da escala ACFS ................................................... 133

    Tabela 38 Comparao das mdias dos nveis de ajuda utilizados pela

    examinadora para G1 (PT-BP) e G2 (AT) durante a fase de assistncia

    do CATM.................................................................................................. 136Tabela 39 Comparao de G1 (PT-BP) e G2 (AT) quanto aos indicadores

    acadmicos, comportamentais, lingsticos e cognitivos........................ 137

    Tabela 40 Correlaes significativas entre os resultados da avaliao psicolgica

    do G1(PT-BP) e G2 (AT) ........................................................................ 140

    Tabela 41 Correlaes significativas entre os resultados da avaliao psicolgica

    e as variveis neonatais e psicossociais da amostra (N=34) .................. 142

    Tabela 42 Dados comparativos entre os resultados nas provas psicolgicas e as

    variveis psicossociais na amostra (N=34).............................................. 143

    Tabela 43 Dados das crianas do G1 (PT-BP) e do G2 (AT) dos estudos de

    caso .......................................................................................................... 147

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Proporo de acertos do G1(PT-BP) e do G2 (AT) em cada item da

    prova acadmica (IAR).......................................................................... 117

    Figura 2 Comparao do perfil de desempenho cognitivo de G1 (PT-BP) e G2

    (AT), no CATM.................................................................................... 132

    Figura 3 Proporo mdia de operaes cognitivas facilitadoras do

    desempenho no CATM de G1 (PT-BP) e G2 (AT)............................... 134

    Figura 4 Proporo de comportamentos facilitadores do desempenho no

    CATM, por G1 (PT-BP) e G2 (AT)........................................................ 134

    Figura 5 Proporo mdia de comportamentos durante a fase MAN do CATM

    pela escala ACFS, por G1 (PT-BP) e G2 (AT)..................................... 135

    Figura 6 T scores nas escalas de Problemas Internalizantes, Problemas

    Externalizantes e Total de Problemas da CBCL (1 - 5 anos) de G1-

    C14....................................................................................................... 149

    Figura 7 T scores nas subescalas de Problemas Internalizantes e Problemas

    Externalizantes da CBCL (1 - 5 anos) de G1-C16............................ 153

    Figura 8 Freqncia de G1-C16 nas escalas da CBCL (1 - 5 anos)orientadas para o DSM-IV..................................................................... 153

    Figura 9 T scores nas escalas de Problemas Internalizantes, Problemas

    Externalizantes e Total de Problemas da CBCL (1 - 5 anos) de G2-

    C10......................................................................................................... 157

    Figura 10 Freqncia de G2-C10 nas escalas da CBCL (1 - 5 anos)

    orientadas para o DSM-IV..................................................................... 158

    Figura 11 T scores nas subescalas de Problemas Internalizantes e ProblemasExternalizantes CBCL (1 - 5 anos) de G2-C13................................. 161

    Figura 12 Freqncia de G2-C13 nas escalas da CBCL (1 - 5 anos)

    orientadas para o DSM-IV..................................................................... 162

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    LISTA DE APNDICES

    APNDICE A Termo de consentimento para a participao em projeto

    de pesquisa.......................................................................... 201

    APNDICE B Carta de Informao e Termo de Participao e

    Consentimento Ps-Informado para pais ou outro

    responsvel legal................................................................. 203

    APNDICE C Tabela C44. ndices de concordncia entre trs juizes

    sobre as operaes cognitivas, em cada fase do CATM,

    para seis crianas ............................................................... 205

    APNDICE D Tabela D45. ndices de concordncia entre trs juizes

    sobre categorias de operaes cognitivas do CATM.......... 206

    APNDICE E Tabela E46. ndices de concordncia entre trs juizes

    sobre os comportamentos de seis crianas em cada fase

    do CATM............................................................................. 207

    APNDICE F Tabela F47. ndices de concordncia entre trs juizes

    sobre as categorias de comportamento de seis crianas

    no CATM.............................................................................. 208APNDICE G Tabela G48. ndices de concordncia entre trs juizes

    sobre os comportamentos afetivos-motivacionais, em cada

    fase do CATM, segundo a escala ACFS.............................. 209

    APNDICE H Tabela H49. ndices de concordncia entre trs juizes

    sobre as categorias do protocolo de comportamento no

    CATM, pela escala ACFS.................................................... 210

    APNDICE I Autorizao do HDDS para realizao da pesquisa............ 211APNDICE J Tabela J50. Freqncia de operaes cognitivas, por fase

    do CATM, pelas crianas do G1(PT-BP)............................. 213

    APNDICE K Tabela K51. Freqncia dos comportamentos facilitadores

    do desempenho nas fases do CATM, por crianas do G1

    (PT-BP)................................................................................ 214

    APNDICE L Tabela L52. Freqncia de comportamentos afetivos-

    motivacionais (ACFS) das crianas do G1 (PT-BP) emcada fase do CATM.............................................................. 215

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    APNDICE M Tabela M53. Freqncia de operaes cognitivas, por fase

    do CATM, pelas crianas do G2 (AT).................................. 216

    APNDICE N Tabela N54. Freqncia dos comportamentos facilitadores

    do desempenho nas fases do CATM, por crianas do G2

    (AT)...................................................................................... 217

    APNDICE O Tabela O55. Freqncia de comportamentos afetivos-

    motivacionais (ACFS) das crianas do G2 (AT) em cada

    fase do CATM...................................................................... 218

    APNDICE P Tabela P56. Correlaes entre dados das avaliaes

    lingsticas, cognitivas, acadmicas e comportamental de

    G1 (PT-BP)........................................................................... 219APNDICE Q Tabela Q57. Correlaes entre dados das avaliaes

    lingsticas, cognitivas, acadmicas e comportamental de

    e G2 (AT).............................................................................. 220

    APNDICE R Tabela R58. Correlaes entre os dados das avaliaes

    lingsticas, cognitivas, acadmica e comportamental e as

    variveis neonatais e psicossociais da

    amostra................................................................................ 221APNDICE S Tabela S59a. Dados comparativos entre os resultados das

    provas psicolgicas e as variveis psicossociais da

    amostra................................................................................ 222

    Tabela S59b. Dados comparativos entre os resultados das

    provas psicolgicas e as variveis psicossociais da

    amostra................................................................................ 223

    Tabela S59c. Dados comparativos entre os resultados dasprovas psicolgicas e as variveis psicossociais da

    amostra................................................................................ 224

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    LISTA DE ANEXOS

    ANEXO A Dados do relatrio do Ncleo de Informao em

    Perinatologia do HDDS........................................................ 226

    ANEXO B Relatrio de alta hospitalar da UTIN do HDDS.................... 228

    ANEXO C Folha de registro de dados e anamnese e evoluo das

    crianas acompanhamento no Servio de Follow-up do

    HDDS................................................................................... 230

    ANEXO D Folha de registro da Anamnese (Carretoni Filho &

    Prebianchi, 1994)................................................................. 231

    ANEXO E Protocolo do Questionrio ABEP - Critrio de

    Classificao Econmica Brasil (ABEP, 2003).................... 232

    ANEXO F Modelo de prancha do teste - Teste de Vocabulrio por

    Imagens Peabody TVIP (Capovilla & Capovilla, 1997)..... 233

    ANEXO G Modelo de uma prancha da escala Columbia (Alves &

    Duarte, 2001)....................................................................... 234ANEXO H Modelo de prancha das Matrizes Progressivas Coloridas

    de Raven (Angelini, Alves, Custdio, Duarte & Duarte,

    1999).................................................................................... 235

    ANEXO I Exemplos de cartes com problemas analgicos do CATM

    original (Tzuriel e Klein, 1990).............................................. 236

    ANEXO J Instrues para aplicao do CATM (Santa Maria, 1999)... 237

    ANEXO K Protocolo de registro de desempenho dos participantes no

    CATM (Santa Maria, 1999).................................................. 242

    ANEXO L Protocolo de avaliao das operaes cognitivas na

    situao de resoluo de problemas analgicos e outras

    tarefas e suas definies (Linhares, Santa Maria &

    Escolano, 2006a)................................................................. 247

    ANEXO M Protocolo de avaliao do comportamento geral da

    criana na situao de avaliao assistida (Santa Maria

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    1999).................................................................................... 251

    ANEXO N Protocolo de registro dos comportamentos avaliados pela

    ACFS (Applications of Cognitive Functions Scale) (Lidz &

    Jensen, 1993, citados por Haywood & Lidz, 2007).............. 252

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    LISTA DE SIGLAS

    ABEP Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa

    ACFS Applications of Cognitive Functions ScaleADM Assessment Data Manager

    ASEBA Achenbach System of Empiracally Based Assessment

    ASS Assistncia

    AT Nascido A termo

    AV Amplitude de variao

    Bayley Bayley Scalesof Infant Development (Bayley-III)

    BORS Behavior Observation Rating ScaleBP Baixo peso ao nascimento

    CATM Childrens Analogical Thinking Modifiability

    CBCL Child Behavior Checklist

    CCEB Critrio de Classificao Econmica Brasil

    CFP Conselho Federal de Psicologia

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    CONEP Comisso Nacional de tica em PesquisaDP Desvio-Padro

    DSM-IV Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (4

    edio)

    ECI Escala de Comportamento Infantil

    ES Estado do Esprito Santo

    F Freqncia

    FACITEC Fundo de Apoio Cincia e Tecnologia do Municpio de Vitria

    HDDS Hospital Dr. Drio Silva

    HOME Observation for Measurement of the Environment

    IAR Avaliao do Repertrio Bsico para Alfabetizao

    IESP/ES Instituto Estadual de Sade Pblica do Esprito Santo

    IG Idade Gestacional

    IM ndice de maturidade mental

    LAVE Lista de Avaliao do Vocabulrio Expressivo de Rescorla

    MAN Manuteno

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    MBP Muito baixo peso

    Md Mediana

    N Quantidade da amostra

    NSE Nvel Scio-econmico

    NV Nascidos vivos

    OMS Organizao Mundial de Sade

    OPAS Organizao Pan-Americana de Sade

    PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica

    PPGP Programa de Ps-Graduao em Psicologia

    PRE Preliminar

    PT Pr-termoRaven-MPC Matrizes Progressivas Coloridas de Raven

    RPI Resultado-padro para idade

    SAJ Sem ajuda

    SE Scio-econmico

    SESA-ES Secretaria de Estado da Sade

    SOPERJ Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro

    SP So PauloSPSS Statistical Package for Social Sciences

    SUS Sistema nico de Sade

    TDAH Transtorno do Dficit de Ateno/Hiperatividade

    TDE Teste de Desempenho Escolar

    TRF Transferncia

    TVIP Teste de Vocabulrio por Imagens Peabody

    UFES Universidade Federal do Esprito SantoUNIFESP Universidade Federal de So Paulo

    UTIN Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

    WPPSI-R Wechsler Preschool and Primary Intelligence Scales

    ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal

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    OLIVEIRA, Christyne Gomes Toledo (2008, agosto). Indicadores cognitivos,

    lingsticos, comportamentais e acadmicos de pr-escolares prematuros e nascidos

    a termo. Dissertao de Mestrado, Programa de Ps-graduao em Psicologia,

    Centro de Cincias Humanas e Naturais da Universidade Federal do Esprito Santo.

    Vitria, ES, 259 p.

    RESUMO

    A prematuridade e o baixo peso ao nascer so fatores de risco para odesenvolvimento e desempenho escolar. Esta pesquisa analisou as relaes entreas condies de nascimento e o desenvolvimento de 34 crianas com 5 anos de

    idade, nascidas em hospital pblico, divididas em dois grupos: 17 crianas pr-termo e com baixo peso (G1-PT-BP), e 17 crianas nascidas a termo e peso 2.500g (G2-AT). As reas de desenvolvimento avaliadas foram: (a) cognitiva provas psicomtricas no-verbais (Escala de Maturidade Mental Columbia eMatrizes Progressivas Coloridas de Raven) e assistidas (Childrens AnalogicalThinking Modifibility - CATM, protocolos de operaes e comportamentosfacilitadores do desempenho cognitivo, e de comportamentos afetivo-motivacionais(Applications of Cognitive Functions Scale-ACFS); (b) lingstica (Teste deVocabulrio por Imagens Peabody - TVIP e Lista de Avaliao do VocabulrioExpressivo - LAVE); (c) acadmica (Instrumento de Avaliao do Repertrio Bsicopara Alfabetizao - IAR); (d) comportamental (Child Behavior Checklis-CBCL).Foram coletados dados neonatais e scio-econmicos. Em todas as provas, G1(PT-BP) teve desempenho pior, exceto no Raven. Ambos os grupos no mostrarammuitas dificuldades nas habilidades bsicas para alfabetizao e tiveramdesempenho cognitivo dentro da mdia (Columbia e Raven); mas, apresentaramatraso na linguagem receptiva (TVIP). Houve diferenas significativas entre osgrupos, com desempenho inferior do G1(PT-BP) nas reas: acadmica, lingsticaexpressiva (LAVE), comportamental e cognitiva (Columbia, e menos operaescognitivas e comportamentos facilitadores no CATM). Houve correlaes entreidade gestacional e desempenho cognitivo (Columbia) e lingstico (LAVE), e entrepeso ao nascimento e operaes cognitivas e comportamentos facilitadores no

    CATM. Os dados confirmam a necessidade de acompanhamento dodesenvolvimento dessas crianas, principalmente nos casos de prematuridade.

    Palavras-chaves: 1) Prematuridade; 2) Baixo peso ao nascimento; 3)Desenvolvimento cognitivo; 4) Linguagem; 5) Vigilncia do desenvolvimento.

    Financiamento:CAPES (bolsa de Mestrado) e CNPq (Proc. n 485564/2006-8)

    rea(s) de conhecimento: 7.07.00.00-1 Psicologia

    Sub-rea(s) de conhecimento: 7.07.10.00-7 Tratamento e Preveno Psicolgica;

    7.07.07.01-4 Desenvolvimento.

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    OLIVEIRA, Christyne Gomes Toledo (2008, august). Cognitive, linguistics, academic

    and behavioral indicators of pr-school premature and full-term neonates children.

    Masters Thesis. Program of Post-Graduate in Psychology, Center of Humanities and

    Natural Sciences, Federal University of the Esprito Santo, 259 p .

    ABSTRACT

    The prematurity and low birth weight are risk factors for the development and schoolperformance. This study evaluated the relationship between the conditions of birthand development of 34 children under 5 years old, born in public hospital, dividedinto 17 children with pre-term and low weight (G1-PT-BP), and 17 children born toterm and weight 2.500g (G2-AT). The areas examined were : (a) cognitive non-verbal psychometric tests (Scale of Mental Maturity Columbia and ColorfulProgressive Matrices of Raven) and assisted tests (Children's Analogical ThinkingModifibility-CATM, facilitator operations and behaviors of cognitive performanceprotocols and affective-motivational behaviors protocol (Applications of CognitiveFunctions Scale-ACFS), (b) language (Peabody Picture Vocabulary Test - PPVT andLanguage Development Survey de Rescola - LDS), (c) academic (Evaluation ofAssessment of Basic code for Literacy-IAR), (d) behavioral (Child Behavior Checklist-CBCL). Neonatal and socio-economic data were collected . In all evidence, the G1

    (PT-BP) performance was worse, except for Raven. Both groups showed nodifficulties in basic skills for literacy and their cognitive performance were within theaverage (Columbia and Raven), but showed delay in receptive language (PPVT).There were significant differences between groups, with lower performance of G1(PT-BP) in the academic, expressive language (LDS), behavioral and cognitive(Columbia, and less cognitive and conduct operations facilitators in CATM) areas.There were correlations between gestational age and cognitive (Columbia) andlinguistic (LDS) performances , and between birth weight and cognitive operationsand conduct facilitators in CATM. The data confirm the need for monitoring thedevelopment of these children, especially in cases of prematurity.

    Keywords: 1) Prematurity, 2) Low birth weight, 3) cognitive development, 4)language, 5) Monitoring of development.

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    1 INTRODUO

    H muito, no campo da Medicina, especificamente nas reas de neo e

    perinatologia, as preocupaes com o nascimento de bebs prematuros e com baixo

    peso deixaram de ser voltadas somente a sobrevivncia nas Unidades de Terapia

    Intensiva Neonatal (UTIN). Nas ltimas dcadas, sobretudo devido ao aumento da

    sobrevivncia de prematuros cada vez menores, o foco da ateno desses

    profissionais tem-se voltado tambm ao prognstico, ou seja, a questes

    relacionadas ao crescimento e desenvolvimento futuro dessas crianas. Dessa

    forma, esses profissionais passaram a acompanhar essas crianas no somente no

    perodo ps-natal imediato, mas durante toda a primeira infncia, nos servios de

    seguimento ou follow-up (Rugolo, 2005; SOPERJ, 1990).

    Na rea da Psicologia, tambm tem aumentado a realizao e o

    desenvolvimento de estudos voltados, sobretudo, avaliao do desenvolvimento

    dessas crianas e ao acompanhamento tanto das crianas quanto de suas famlias

    (Carvalho, Linhares & Martinez, 2001; Martins, Linhares & Martinez, 2005;

    Pedromnico, 2006).

    Nesse contexto, o Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade

    Federal do Esprito Santo tem desenvolvido pesquisas voltadas preveno de

    problemas de desenvolvimento infantil (Enumo, 1997, 2005a, 2005b, 2005c, 2005d;Linhares & Enumo, 2007).

    Um desses estudos1 tem como foco a questo da prematuridade e o baixo

    peso ao nascimento, procurando avaliar o desenvolvimento geral dessas crianas,

    de forma a identificar as possveis reas de atraso e elaborar propostas de

    1CNPq (Proc. 485564/2006-8)- Avaliao e interveno psicolgica com crianas nascidades pr-termo e com baixo peso suas mes e profissionais da UTIN sob coordenao da Professora Dr

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    interveno com as mes e com os profissionais do servio de atendimento

    neonatal, promovendo, assim, o desenvolvimento infantil.

    A presente dissertao de Mestrado faz parte desse projeto, como um estudo

    voltado para verificar se as condies adversas como a prematuridade e o baixo

    peso se relacionam a problemas de desenvolvimento nessas crianas em idade pr-

    escolar. Para isso, nesta pesquisa foi feita uma avaliao psicolgica de crianas de

    5 anos de idade, que freqentavam o programa de Follow-upde um hospital pblico,

    buscando responder as seguintes questes:

    1) As condies de prematuridade e baixo peso se relacionam a problemas de

    desenvolvimento cognitivo, lingstico, comportamental e acadmico em crianas

    aos 5 anos de idade?

    2) H diferenas significativas nesses aspectos do desenvolvimento entre

    crianas com risco neonatal e crianas nascidas a termo?

    3) E quais aspectos se encontram mais prejudicados e quais outros fatores

    estariam influenciando nessas diferenas?

    Nesse sentido, compreender a dinmica exercida entre fatores biolgicos,

    psicolgicos e sociais em crianas nascidas prematuras e com baixo peso aos 5

    anos de idade, avaliando a histria de desenvolvimento, o nvel intelectual e

    indicadores comportamentais, acadmicos e de linguagem dessas crianascomparadas s crianas nascidas a termo, que possam funcionar de modo

    preventivo contra dificuldades escolares, alm de fornecer indicadores para o

    planejamento de atividades que promovam o desenvolvimento infantil comps o

    tema desta pesquisa de Mestrado.

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    1.1. O nascimento prematuro e com baixo peso: fatores de risco para

    problemas de desenvolvimento infantil

    O Ministrio da Sade em parceria com a Organizao Pan-Americana de

    Sade OPAS, refere que a busca de medidas sobre o estado de sade da

    populao uma antiga tradio em Sade Pblica, iniciada a prioricom o registro

    sistemtico de dados de mortalidade e de sobrevivncia. Entretanto, com os

    avanos no controle das doenas infecciosas e a melhor compreenso do conceito

    de sade2 (no somente a ausncia de doena) e de seus determinantes

    populacionais, a anlise da situao sanitria no pas passou a incorporar outras

    dimenses de estado de sade, como medidas de morbidade, incapacidade, acesso

    e qualidade dos servios, condies de vida e aspectos ambientais (Mello Jorge &

    Gotlieb, 2001).

    Atualmente, pode-se obter informaes acerca de indicadores bsicos para a

    sade no Brasil, que incluem dados: (a) demogrficos (grau de urbanizao, taxa de

    crescimento da populao); (b) socioeconmicos (taxa de analfabetismo e de

    desemprego, nvel de escolaridade); (c) mortalidade (taxa de mortalidade infantil,

    mortalidade neonatal precoce, tardia e ps-natal); (d) morbidades e fatores de risco

    (taxa da incidncia de AIDS, tuberculose e dengue, proporo de nascidos vivos por

    idade da me, proporo de nascidos vivos de baixo peso); (e) recursos (proporode profissionais de sade por habitante); e (e) cobertura (nmero de consultas

    mdicas por habitantes). Esses indicadores permitem visualizar a real situao da

    sade no Pas e servem como diretrizes para implantao e aprimoramento dos

    servios prestados populao. (DATASUS, 2007).

    2 A Organizao Mundial de Sade (OMS 1978) conceitua sade como o bem-estar fsico psquico e

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    Dessa forma, observa-se uma tendncia a buscar indicadores de sade, no

    somente nas taxas de sobrevivncia da populao, mas, sobretudo, na qualidade de

    vida, incluindo acompanhamento do desenvolvimento biolgico, social, econmico,

    ambiental e da prpria assistncia prestada populao.

    Dados do Sistema nico de Sade (DATASUS, 2007) informam que a taxa

    estimada de mortalidade infantil no Brasil, em 2005, foi de 21,17/ 1.000 NV,

    representando uma queda de 6% em relao 2004, com uma tendncia de queda

    na taxa de mortalidade neonatal precoce, atribuda aos avanos tecnolgicos nas

    reas de peri e neonatologia, bem como melhoria nas condies de vida e o efeito

    de intervenes pblicas nas reas de sade, saneamento e educao, entre outros

    aspectos. Paralelamente a isso, a proporo de nascidos vivos prematuros e de

    baixo peso aumentou 19,3% entre 2000 e 2004, representando um fator de risco

    importante para o aumento da morbidade infantil. Em 2004, no Esprito Santo, a

    taxa de mortalidade neonatal precoce foi de 7,2, com uma queda de 6,6% entre

    2002 e 2004 (DATASUS, 2007).

    Dessa forma, observa-se, no cenrio brasileiro, que, com o desenvolvimento de

    novas tecnologias e com novos conhecimentos adquiridos na rea de cuidados

    intensivos neonatais, os recm-nascidos esto sobrevivendo com pesos de

    nascimento cada vez mais baixos, especialmente os de muito baixo peso (MBP) (

    1500g). Essa diminuio da mortalidade, segundo a Sociedade de Pediatria do

    Estado do Rio de Janeiro SOPERJ (1990, p.05), tem (...) resultado em um maior

    nmero de sobreviventes normais, mas tambm contribudo para o aumento

    absoluto de crianas com seqelas muitas vezes incapacitantes.

    As dvidas quanto a como crescem e se desenvolvem essas crianas e qual

    sua morbimortalidade motivaram a implantao dos ambulatrios de

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    acompanhamento de recm-nascido de alto risco, desde a dcada de 70 do sculo

    XX (Rugolo, 2005). Esses ambulatrios de acompanhamento, seguimento ou follow-

    up tm como objetivo principal dar continuidade ao tratamento iniciado no perodo

    neonatal at a idade escolar, de forma a avaliar o desenvolvimento dessas crianas,

    para detectar precocemente possveis alteraes. Esses programas, alm de

    oferecer acompanhamento s crianas que passaram por condies adversas no

    nascimento, fornecem tambm assistncias s famlias e atuam de maneira

    interdisciplinar (neurologista, otorrinolaringologista, oftalmologista, psiclogo,

    pediatra, fisioterapeuta, fonoaudilogo e terapeuta ocupacional) (SOPERJ, 1990).

    H vrias condies adversas presentes no nascimento, que podem surgir

    como complicaes neonatais, em crianas nascidas prematuras e baixo peso,

    potencializando os efeitos no desenvolvimento infantil e servindo como indicadores

    de risco. Destacam-se a anoxia (falta de oxignio), comum a 1% dos nascimentos, a

    meningite, a enterocolite necrosante, a doena pulmonar crnica, a septicemia, e a

    ictercia e a hemorragia intracraniana (Bordin, 2005).

    Assim, os bebs que nascem prematuros (PT) e com baixo peso (BP) so mais

    vulnerveis a doenas e complicaes, estando propensos a morrer no primeiro ano

    de vida (75% das mortes neonatais na Amrica Latina), (Shaffer, 2005), ou nos

    primeiros sete anos de vida e a apresentar sinais de danos cerebrais, irritabilidade,hipotonicidade, retardo de linguagem. Alm disso, durante a infncia, tm mais

    chances de apresentarem baixa estatura, dificuldades de aprendizagem, fraca

    concentrao, hiperatividade, problemas de comportamento na escola, alm dessas

    crianas obterem baixos resultados em testes de QI, serem mais tmidas, ansiosas,

    com pouca autoconfiana e menor vnculo com colegas, segundo revises feitas por

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    Linhares, Carvalho, Padovani, Bordin, Martins e Martinez (2004), Moraes (1995) e

    Shaffer (2005).

    Especialmente os bebs PT, com peso abaixo de 1.500g (classificados como

    tendo muito baixo peso - MBP), necessitam ficar em unidades de tratamento

    intensivo neonatal (UTIN), podendo sobreviver na maioria dos casos. Alm disso,

    apresentam risco aumentado de evoluir com falha de crescimento, alm de evoluir

    com obesidade e doenas crnicas na vida adulta, incluindo hipertenso, doena

    coronria e diabetes melitus (Rugolo, 2005).

    Linhares, Chimello, Bordin, Carvalho e Martinez (2005), por exemplo,

    encontraram uma taxa de 85% de sobrevivncia em bebs nascidos, entre os anos

    de 2000 e 2003, em Ribeiro Preto, SP. Entretanto, observaram que crianas PT, na

    idade escolar, apresentaram mais problemas de enurese, medo, tiques, impacincia

    e dificuldades em permanecer na atividade. Alm disso, quanto menor o nvel

    intelectual (avaliado pelo Raven e Desenho da Figura Humana), mais problemas de

    comportamentos (avaliados pela Escala de Comportamento Infantil ECI, adaptada

    por Graminha, 1994) essas crianas apresentavam.

    Assim, segundo Linhares, Carvalho et al., (2004), o nascimento pr-termo e

    com muito baixo peso consiste em um marco de risco biolgico, que opera como

    uma varivel proximal, que se constitui em fator de risco em si mesma. Tambmexpem a criana a uma cadeia de adversidades decorrentes da prpria

    prematuridade, como as enfermidades crnicas (broncodisplasia, sndrome do

    estresse respiratrio, hemorragia intraventricular, retinopatia ou anemia da

    prematuridade, problemas cardiovasculares, dentre outros) e as hospitalizaes

    repetidas e/ ou prolongadas. Portanto, o peso de nascimento e a idade gestacional

    so variveis inter-relacionadas, de forma que possveis desvios para fora da faixa

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    de normalidade resultaro em aumento da morbidade neonatal (Carvalho, Linhares

    & Martinez, 2001).

    1.2 O impacto da prematuridade e baixo peso no desenvolvimento da criana

    O impacto da prematuridade e do baixo peso sobre o desenvolvimento infantil

    tem motivado vrias pesquisas, por estarem geralmente associados a

    comprometimento no crescimento fsico, cognitivo, acadmico e comportamental

    (Linhares, Carvalho, Bordin, Chimello, Martinez & Jorge, 2000). Dessa forma, as

    crianas com risco biolgico neonatal decorrente da prematuridade e baixo peso,

    encontram-se mais vulnerveis para apresentar problemas no curso de seu

    desenvolvimento.

    De acordo com Pedromnico (2006), a linguagem uma das reas do

    desenvolvimento referida como afetada nas crianas PT-BP, sendo decorrente das

    condies clnicas adversas que acompanham essa condio de nascimento, como

    as hemorragias ventriculares. Ao avaliar o vocabulrio expressivo de crianas PT-BP

    pelo programa de seguimento de ex-prematuros no Setor de Psicologia do

    Desenvolvimento da Universidade de So Paulo (UNIFESP), essa autora observou

    que essas crianas produziram significativamente menos palavras do que as

    crianas nascidas a termo (AT) principalmente aos trs anos de idade.

    Estudo realizado por Gama et al., (2001), com o objetivo de investigar o

    impacto da prematuridade sobre o desenvolvimento das aquisies da fala e

    linguagem, avaliou 24 crianas, 12 PT e 12 AT, de 3 a 5 anos de idade de nvel

    scio-econmico baixo. Resultados da avaliao mostraram desempenho inferior na

    linguagem das crianas PT em relao s crianas AT, demonstrando a

    necessidade da avaliao adequada e acompanhamento precoce a uma populao

    em risco para problemas de linguagem

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    De acordo com Ferracini, Capovilla, Dias e Capovilla (2006, p. 126), o

    vocabulrio expressivo corresponde ao lxico que pode ser emitido pela criana, e

    pode ser avaliado pelo nmero de palavras que a criana capaz de pronunciar.

    Estudos feitos por Capovilla e colaboradores apontam que os atrasos de linguagem

    so considerados um dos problemas mais comuns em pr-escolares e apresentam

    correlao positiva com o desempenho ulterior nas habilidades de leitura e escrita,

    estando relacionadas a Transtornos Especficos de Linguagem Expressiva, afasia e

    dislexia (Capovilla, Gtschow & Capovilla, 2004).

    Um estudo realizado por Pereira e Funayama (2004) avaliou e comparou em

    termos de idade cronolgica e corrigida, indicadores da aquisio e desenvolvimento

    da linguagem expressiva e receptiva de 20 crianas com 1 a 15 meses de vida,

    nascidas prematuras. Os autores verificaram que, em relao linguagem

    expressiva, mesmo nas idades corrigidas, houve atraso, tanto no perodo pr-

    lingstico (0 9 meses), como no lingstico (10-15 meses). De acordo com Santa

    Maria-Mengel e Linhares (2007), a avaliao da linguagem expressiva merece

    ateno e cuidado especial, diante de crianas em risco para problemas de

    desenvolvimento, por estar diretamente relacionada comunicao social,

    desempenho cognitivo e aprendizagem escolar.

    O impacto da prematuridade e do baixo peso na aquisio e desenvolvimentoda linguagem, tambm foi estudado por Schirmer, Portuguez e Nunes (2006), que

    avaliaram aspectos do neurodesenvolvimento e do desenvolvimento da linguagem

    em crianas de 3 anos de idade, nascidas prematuras e com baixo peso. Resultados

    mostraram uma associao entre idade gestacional e de aquisio da linguagem,

    bem como atraso no desenvolvimento da linguagem expressiva e receptiva das

    crianas, nessa faixa etria.

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    Bordin, Linhares e Jorge (2001) consideram que a busca de entendimento

    acerca do desenvolvimento cognitivo de crianas com BP tem motivado vrias

    pesquisas, que avaliam o nvel intelectual dessas crianas em diferentes idades.

    Esses autores estudaram o desenvolvimento cognitivo comportamental de crianas

    PT-BP, em idade escolar, que foram comparadas a crianas AT. Concluram que as

    crianas PT-BP so mais propensas a apresentar dificuldades cognitivas,

    comportamentais e de crescimento fsico. Assim, a idade gestacional e o peso ao

    nascimento influenciam o desenvolvimento da criana em termos comportamentais e

    cognitivos, atuando como mediadores dos processos de desenvolvimento.

    Um estudo de reviso da produo de 1980 a 2001, feito por Bhutta, Cleves,

    Casey, Cradock e Anand (2002), com o objetivo de avaliar os efeitos da

    prematuridade e baixo peso no desempenho cognitivo e comportamental de crianas

    em idade escolar tambm concluiu que essas crianas apresentam escores

    reduzidos em testes de desempenho cognitivo, ao mesmo tempo em que

    apresentam uma maior incidncia de Transtorno de Dficit de

    Ateno/Hiperatividade e outras desordens comportamentais.

    Bhn, Katz-Salamon, Smelder, Lagercarantz e Forssberg (2002) examinaram,

    182 crianas suecas, MBP aos cinco anos e meio de idade, comparando-as a um

    grupo controle composto por 125 crianas. Os resultados mostraram que crianasdo grupo experimental apresentaram desempenho mdio nas trs escalas

    Weschsler Preschool and Primary Intelligence Scales Revised (WPPSI-R)

    (Wechsler, 1989), demonstrando a presena de recursos cognitivos, embora o grupo

    controle tenha apresentado desempenho mais satisfatrio.

    Um estudo realizado no Brasil por Meio, Lopes, Morsch, Monteiro, Rocha,

    Borges e Reis (2004), tambm utilizou a escala Wechsler Preschool and Primary

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    Intelligence Scales(WPPSI) para avaliar o desenvolvimento cognitivo na idade pr-

    escolar (4 a 5 anos), de 79 crianas PT e MBP. Identificaram as reas do

    desenvolvimento cognitivo mais afetadas, encontrando maior incidncia de escore

    total abaixo da normalidade. Tambm constataram alteraes especficas do

    desenvolvimento cognitivo, nas reas de coordenao viso-motora, planejamento e

    organizao, formao de conceitos verbais e numricos, pensamento racional e

    associativo, capacidade de sntese, orientao espacial e memria remota.

    Um estudo longitudinal publicado em um artigo do British Medical Journal

    (Richards, Hardy, Kuh & Wadsworth, 2001), realizado por pesquisadores do College

    London, examinou a associao entre o peso no nascimento e habilidade cognitiva e

    desempenho educacional em 3.900 crianas nascidas em 1964, avaliadas aos 8, 11,

    15, 26 e 43 anos de idade. Os resultados mostraram uma associao significativa

    entre peso ao nascimento e desempenho cognitivo ao redor dos 8 anos, durante a

    fase da adolescncia e no incio da fase adulta, independente da camada social.

    Tambm mostrou associao ao desempenho educacional, principalmente aos 26 e

    43 anos de idade, uma vez que as crianas nascidas com maior peso apresentaram

    nessas idades, uma melhor posio profissional.

    Diante desse contexto, Pedromnico (2006) destaca, a importncia de estudos

    longitudinais (follow-up) para verificar as associaes entre condio de nascimentoe prognstico futuro de desenvolvimento. Pois acredita que observar os mesmos

    indivduos, por longos perodos de tempo, permite analisar as consistncias e

    inconsistncias, ao longo do ciclo vital. No entanto, aponta as dificuldades

    encontradas para a realizao desses estudos no cenrio brasileiro, uma vez que,

    alm de caros, so mais suscetveis perda de sujeitos em decorrncia do tempo,

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    levando reduo do tamanho da amostra e conseqentemente a diminuio do

    poder de generalizao dos resultados.

    Entretanto, enquanto o risco biolgico define os principais fatores que

    influenciam os desfechos do desenvolvimento infantil em crianas de pases

    desenvolvidos, no Brasil, a crescente morbidade observada em crianas que

    apresentaram intercorrncias clnicas ao nascimento pode ser resultado da

    associao de fatores biolgicos e sociais (Mancini, Megale, Brando, Melo &

    Sampaio, 2004). Entre esses fatores, os autores destacam o nvel scio-econmico

    (pobreza), aspectos psicoafetivos (estresse), nvel educacional (baixa escolaridade),

    estrutura familiar (pais separados) e ordem de nascimento (primogenitura). Assim,

    mais importante do que o risco isolado, a combinao de adversidades produz

    conseqncias negativas em diferentes reas do desenvolvimento (Sampaio, 2007;

    Sapienza & Pedromnico, 2005).

    Em contrapartida, um ambiente psicossocial adequado pode servir como um

    fator de proteo e neutralizar os efeitos negativos do risco biolgico, desde que os

    recursos positivos presentes no ambiente da criana sejam identificados e ativados

    (Bordin, 2005). Nesse sentido, de acordo com Linhares, Carvalho, Correia,

    Gaspardo e Padovani (2006), alm de se avaliar as condies de sade do beb,

    deve-se avaliar as condies do contexto ambiental que podem influenciar positivaou negativamente a trajetria de se desenvolvimento futuro, ou seja, servindo tanto

    como fatores de risco como de proteo ao desenvolvimento da criana.

    Um estudo longitudinal, feito na Alemanha por Laucht, Esser e Schmidt (2001)

    sobre o desenvolvimento de problemas de comportamento, em crianas aos 2, 4, 6

    e 8 anos de idade com riscos biolgicos (MBP) e psicossociais (responsividade

    materna), verificou que crianas com MBP que cujas mes eram mais responsivas,

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    apresentaram ndices menores de problemas de comportamentos do tipo

    externalizante. As crianas com risco psicossocial apresentaram mais problemas de

    comportamento internalizante e externalizante do que as crianas no expostas a

    risco psicossocial, principalmente na idade escolar.

    O desenvolvimento cognitivo de crianas PT tambm foi avaliado em um

    estudo longitudinal, desenvolvido na Sucia, com 39 crianas aos 4, 9 e 19 anos de

    idade (Tideman, 2000). O estudo mostrou diferena significativa no desempenho

    cognitivo de crianas PT aos 4 anos, em comparao com crianas AT. No entanto,

    essa diferena no se manteve aos 9 e 19 anos, demonstrando que os efeitos das

    variveis biolgicas (prematuridade e baixo peso) exercem maior influencia sobre o

    desenvolvimento cognitivo nas crianas mais novas e tendem a diminuir

    gradativamente ao longo do tempo, principalmente quando a criana est inserida

    em um ambiente psicossocial favorvel.

    No Brasil, estudo realizado por Mancini et al. (2004), avaliou o impacto da

    interao entre nascimento prematuro e nvel scio-econmico familiar no

    desempenho funcional e na independncia em tarefas da rotina diria de 40 crianas

    de 3 anos de idade. Encontraram diferenas significativas entre crianas PT e AT

    com baixo nvel scio-econmico, em dois aspectos de desenvolvimento funcional:

    habilidades de mobilidade e independncia na realizao de tarefas. Contudo, essasdiferenas no ocorreram quando o nvel scio-econmico era alto. Os autores

    concluram que a interao entre fatores biolgicos (PT-BP) e sociais (NSE baixo), e

    no apenas um nico fator de risco, influencia o desempenho funcional aos trs

    anos de idade.

    Um trabalho desenvolvido por Andrade, Santos, Bastos, Pedromnico,

    Almeida-Filho e Barreto (2005) verificou as associaes entre qualidade da

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    estimulao presente no ambiente familiar e o desenvolvimento cognitivo de 350

    crianas, com idade entre 17 e 42 meses. Para a avaliao, foram utilizadas as

    Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil (Bayley, 1993). Um questionrio

    socioeconmico e o Inventrio HOME (Observao Caseira para Medida de

    Inventrio Ambiental) (Caldwell & Bradley, 1984) foram aplicados para a

    caracterizao do ambiente de desenvolvimento das crianas. Andrade et al. (2005),

    encontraram associao positiva e estatisticamente significante entre qualidade de

    estimulao domstica e desenvolvimento cognitivo. Meninas com menos de dois

    anos, que ocupavam os primeiros lugares na ordem de nascimento e viviam em

    famlia com reduzido nmero de crianas menores de cinco anos, usufruam

    melhores qualidades de estimulao domstica. Essa associao se manteve entre

    as crianas cujas mes possuam maior escolaridade, trabalhavam fora, tinham

    entre 21 e 40 anos de idade e conviviam com os companheiros. Os autores

    confirmaram a hiptese de que a qualidade da estimulao domstica, bem como

    das condies materiais e da dinmica familiar, podem ser propcias ao

    desenvolvimento cognitivo da criana.

    Outro estudo utilizando Inventrio HOME mostrou que um ambiente familiar

    intelectualmente estimulante inclui pais afetuosos, engajados verbalmente e

    ansiosos para se envolver com os filhos. Em outras palavras, o envolvimento e afetode, pelo menos, um dos pais, a oferta de brinquedos prprios para a idade e

    oportunidades de estimulaes variadas diariamente e a estimulao de

    comportamentos acadmicos e linguagem so condies que se relacionam com o

    futuro desenvolvimento intelectual da criana (Shaffer, 2005).

    Da mesma forma, estudo realizado por Lordelo et al., (2006), ao investigarem a

    histria familiar e reprodutiva das mes associadas a resultados desenvolvimentais

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    de crianas entre um e quatro anos, atravs das escalas Bayley e do teste WPPSI-

    R, encontraram correlaes positivas entre trabalhar fora e ter mais de 20 anos de

    idade no nascimento do primeiro filho com o desempenho cognitivo de seus filhos.

    Estudo de reviso, feito por Klein e Linhares (2006) sobre prematuridade e

    interao me-criana, identificou diferenas na interao entre dades me-criana

    PT e AT nas fases pr-escolar, escolar e adolescente. Comportamentos interativos

    maternos atuam como variveis moderadoras podendo tanto atenuar quanto agravar

    os efeitos adversos dos fatores de risco no desenvolvimento de crianas. Sendo

    assim, essas variveis devem ser consideradas de modo especial em programas de

    interveno para preveno de riscos para o desenvolvimento de crianas,

    concluem as autoras.

    A questo fundamental, atualmente, no est centrada somente na

    sobrevivncia do beb prematuro, mas tambm no processo de crescimento e

    desenvolvimento dos sobreviventes (Carvalho et al., 2001), ou seja, na relao entre

    os fatores de risco e os de proteo, presentes desde o nascimento da criana.

    Dessa forma, conforme Santa Maria-Mengel e Linhares (2007):

    (...) O estudo sobre crianas em desenvolvimento deve levar em conta muitas

    vezes os fatores de risco psicossocial que no podem ser eliminados, na

    medida em que j tenham ocorrido, mas que podem ter seus efeitos

    negativos neutralizados por aes efetivas de suporte psicossocial parafacilitar o desfecho com sucesso de trajetrias de desenvolvimento. (p. 841).

    Diante desse contexto, relevante, portanto, a anlise tanto dos fatores de

    risco quanto dos mecanismos de proteo, na qual os conceitos de vulnerabilidade e

    resistncia psicolgica (resilincia) tm sido enfatizados. A resilincia o resultado

    da interao entre fatores genticos e ambientais, os quais tambm oscilam em sua

    funo, podendo atuar como proteo em certos momentos e, em outros como

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    fatores de risco. (Linhares, Carvalho et al., 2006, p. 113). J o conceito de

    vulnerabilidade refere-se suscetibilidade ou predisposio para resultados

    negativos (Sapienza & Pedromnico, 2005, p. 210).

    Particularmente, em casos de prematuridade e baixo peso, as pesquisas

    evidenciam que os mecanismos de proteo esto relacionados a fatores como: (a)

    atributos individuais, como sociabilidade, capacidade de se expressar e inteligncia;

    (b) ambiente facilitador equilibrado com laos de afeto bem estabelecidos com pelo

    menos um membro da famlia; e (c) reforador social que proporcionem uma

    sensao de significado e controle sobre a vida (Papalia, Olds & Feldman, 2006).

    Assim, o processo de resilincia se relaciona tanto com a presena de recursos

    pessoais quanto contextuais familiares e sociais (Sapienza & Pedromnico, 2005).

    Deve-se considerar aqui a noo de famlia resiliente, cujo estudo inclui aspectos

    como:

    (...) nfase na resilincia como um processo desenvolvimental e no como um

    fenmeno esttico; importncia da etapa do ciclo vital em que o indivduo ou a

    famlia se encontra quando se deparam com a adversidade; o papel que

    desempenham os fatores de risco e de proteo na determinao da resposta

    do indivduo ou da famlia situao que enfrentam. (Linhares, Carvalho et

    al., 2006, p. 114).

    Dessa forma, pode-se dizer que a prematuridade e baixo peso soconsiderados fatores de risco biolgicos para problemas de desenvolvimento,

    entretanto, para se avaliar os efeitos desses fatores sobre o desenvolvimento de

    uma criana, deve-se levar em considerao aspectos psicolgicos da prpria

    criana e aspectos psicossociais presentes no contexto em que a criana est

    inserida, de forma a analisar como todos estes fatores esto interagindo e

    influenciando (negativa ou positivamente) no desenvolvimento (Linhares, Carvalho,

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    Bordin & Jorge, 1999). De acordo com Papalia et al. (2006), preciso observar o

    desenvolvimento infantil contextualmente, onde a interao das influncias

    biolgicas e ambientais torna a resilincia possvel, mesmo em bebs que nascem

    com complicaes graves.

    Diante desse contexto, destaca-se a importncia da avaliao psicolgica, com

    o objetivo de compreender a inter-relao entre fatores de risco e fatores protetores

    do ambiente social, de forma a possibilitar estabelecer parmetros para programas

    de interveno baseados na identificao e ativao dos fatores protetores contra a

    adversidade em potencial, a fim de neutralizar os riscos e garantir a trajetria

    adaptativa de um grupo de criana considerado vulnervel para problemas de

    desenvolvimento (Bordin et al., 2001)

    1.3. A avaliao psicolgica de crianas em risco de desenvolvimento

    A importncia da avaliao psicolgica de crianas sob risco potencial para

    problemas de desenvolvimento pela condio de prematuridade e baixo peso, assim

    como de sua famlia, com o objetivo de detectar indicadores de problemas para

    revert-los ou minimiz-los, assim como de recursos para ativ-los, tem sido

    abordada por vrios estudos da rea da Psicologia (Andrade et al., 2005; Bordin et

    al, 2001; Bordin, 2005; Carvalho et al., 2001; Klein & Linhares, 2006; Linhares,

    Carvalho et al., 1999; Linhares, Carvalho et al., 2004; Linhares, Martins e Klein,

    2004; Linhares et al., 2005; Linhares, Escolano, Enumo, 2006; Mancini et al, 2004;

    Meio et al., 2004).

    Da mesma forma, que a reviso de literatura nacional na rea de Psicologia e

    Pediatria mostra a relevncia de trabalhos relativos avaliao e interveno

    psicolgica junto a crianas e adolescentes portadores de doenas crnicas,

    especialmente asma doena cardaca congnita paralisia cerebral cncer

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    diabetes, febre reumtica, fibrose cstica, com nfase em aspectos como a adeso

    ao tratamento, estratgias de enfrentamento, manejo de procedimentos invasivos,

    qualidade de vida, apoio ao cuidador, entre outros (Arruda & Zannon, 2002; Costa,

    1999; Motta & Enumo, 2002, 2004a, 2004b, 2005; Pedromnico, 2006; Santos,

    2000).

    Diante disso, verifica-se a que a Psicologia pode contribuir com a Medicina

    Peditrica na produo de conhecimento e elaborao de procedimentos de

    avaliao e interveno precoce que possibilitem neutralizar os efeitos negativos dos

    riscos ameaadores do desenvolvimento do beb nascido prematuramente. Dessa

    forma, cabe ao psiclogo participar de programas de atendimento interdisciplinar o

    mais cedo possvel, com o objetivo de promover o desenvolvimento saudvel e

    adaptativo, garantindo melhor qualidade de vida aos bebs vulnerveis, assim como

    suporte psicossocial a sua famlia. (Linhares, Carvalho et al., 2006, p. 110).

    Moraes (1995) considera duas principais categorias de avaliao do

    desenvolvimento, envolvendo procedimentos de: (a) diagnsticos - identificar e

    descrever a natureza, extenso e severidade da incapacidade de desenvolvimento;

    e (b) de rastreamento identificar de forma rpida e segura as alteraes no

    desenvolvimento das crianas, sendo este o maior desafio, uma vez que, mesmo

    crianas que no apresentam seqelas mais graves podem apresentarcomprometimento de algumas reas de seu desenvolvimento como memria,

    coordenao visomotora e linguagem, podendo acarretar prejuzo no funcionamento

    intelectual e no rendimento escolar (Mio, Lopes & Morsch, 2003).

    De acordo com Duarte e Bordin (2000), grande a quantidade e variedade de

    instrumentos de avaliao de crianas e adolescentes, com diferentes finalidades:

    identificar problemas de sade mental, efetuar o diagnstico psiquitrico do quadro

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    em questo, mensurar o desenvolvimento infantil (em menores de trs anos), a

    inteligncia, a adaptao social, a personalidade e dinmica emocional, entre outras.

    Na avaliao do desenvolvimento e da sade mental, destacam-se a Escala

    de Avaliao do Comportamento Infantil (ECI), de Rutter (Rutter; Tizard: Whitmore,

    1981), adaptada no pas por Graminha (1994, 1998) e o Child Behavior Checklist

    (CBCL) de Achenbach e Edelbrock (1991), na verso brasileira de Bordin, Mari e

    Caieiro (1995), considerado o instrumento mais utilizado mundialmente para

    avaliao da sade mental de crianas de adolescentes, a partir das informaes

    dos pais. O princpio de construo do CBCL foi totalmente emprico, com base em

    anlise fatorial de queixas de sade mental encontradas em pronturios mdicos.

    Na avaliao dos indicadores acadmicos de crianas em idade pr e escolar,

    os testes mais utilizados so o Teste de Desempenho Escolar TDE (Stein, 1994),

    que visa avaliao das habilidades de leitura, escrita e aritmtica a crianas em

    idade escolar; o Instrumento para avaliao do Repertrio Bsico para Alfabetizao

    IAR (Leite, 1984, 1988) que tem como objetivo a avaliao dos pr-requisitos

    bsicos para alfabetizao em crianas em idade pr-escolar; e o Teste

    Metropolitano de Prontido (Hildreth e Griffiths, 1966) que avalia as caractersticas

    desenvolvidas na fase pr-escolar e seu grau de prontido para aprender as tarefas

    a serem desenvolvidas na fase escolar.De acordo com Hbner e Marinotti (2002), a avaliao dos repertrios

    comportamentais e acadmicos das crianas no incio de sua escolarizao tem sido

    muito utilizada no diagnstico diferencial de problemas e transtornos de

    aprendizagem ou na orientao de intervenes e elaborao de procedimentos

    pedaggicos mais eficazes no ensino das habilidades bsicas para o bom

    desempenho escolar.

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    Para avaliao do desempenho cognitivo de crianas muito pequenas, a

    Bayley Scalesof Infant Development (Bayley-III) o instrumento mais utilizado para

    determinar o nvel de desenvolvimento de crianas entre um ms e trs anos e meio

    de idade, segundo Duarte e Bordin (2000). E, para avaliao do desempenho

    cognitivo de crianas com idade entre 6 e 16 anos e 11 meses, o instrumento mais

    utilizado so as Escalas Wechsler WISC-III (Wechsler, 2002), sendo seguido pela

    Escala de Maturidade Intelectual Columbia (Rodrigues & Rocha, 1999) e pelas

    Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (Angelini, Alves, Custdio, Duarte &

    Duarte, 1999), ainda segundo Duarte e Bordin (2000).

    Essas so provas psicomtricas tradicionalmente usadas na avaliao

    psicolgica, que tm sofrido crticas de vrias ordens (vis cultural, problemas

    psicomtricos, fornecer dados estigmatizantes, por exemplo), especialmente quanto

    adequao para pessoas com dificuldades de aprendizagem (Enumo, 2005).

    De acordo com Enumo (2005), a dcada de 70 do sculo XX, com os trabalhos

    de Feuerstein, em Israel, marcou o surgimento de novas formas de avaliao de

    processos cognitivos, insatisfeitos com os mtodos de avaliao tradicionais em

    fornecerem informaes sobre a habilidade para aprender dos estudantes.

    Passaram, ento, a desenvolver uma modalidade de avaliao voltada ao

    fornecimento de informaes que possam ser diretamente aplicadas na prtica poreducadores e psiclogos clnicos e escolares. Originaram-se, assim, procedimentos

    de avaliao denominados avaliao dinmica ou avaliao assistida.

    No final dos anos 90, alguns pesquisadores do pas, seguindo a tendncia

    internacional de flexibilizao da avaliao psicolgica, passaram a desenvolver e

    adaptar provas cognitivas e lingsticas voltadas para a avaliao do potencial de

    aprendizagem de crianas, especialmente daquelas com necessidades educativas

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    especiais, com base na avaliao assistida ou dinmica (Batista, Horino & Nunes,

    2004; Cunha & Enumo, 2003; Dias & Enumo, 2006; Enumo, 2005; Ferriolli, Linhares,

    Loureiro & Marturano, 2001; Gera & Linhares, 2006; Linhares, 1995; Linhares,

    Escolano & Enumo, 2006; Motta, Enumo, Rodrigues & Leite, 2006; Paula & Enumo,

    2007; Santa Maria & Linhares, 1999).

    Desde ento, tal modelo de avaliao tem sido amplamente utilizado junto a

    crianas com necessidades educativas especiais, especialmente quando o objetivo

    da avaliao ultrapassa a simples identificao da presena de dificuldades

    intelectuais, abrangendo tambm aspectos emocionais e a possibilidade de

    dimensionar os recursos potenciais de suas habilidades cognitivas (Ferriolli et al.,

    2001). Tem sido utilizada tambm no pas no contexto hospitalar em crianas ex-

    prematuras (Bordin, 2005; Bordin et al., 2001; Linhares, Carvalho et al., 2004;

    Linhares, Martins et al., 2004), crianas hospitalizadas com cncer (Motta et al.,

    2005), crianas com dificuldade de aprendizagem (Dias & Enumo, 2006), com

    problemas de comunicao (Paula & Enumo, 2007).

    A avaliao assistida, de acordo com Haywood e Tzuriel (2002), a avaliao

    do pensamento, percepo, aprendizado e resoluo de problemas para um ativo

    processo de ensino direcionado modificao do funcionamento cognitivo. ,

    portanto, uma avaliao dinmica e interativa, na qual h a assistncia doexaminador, que fornece suporte instrucional ao examinado durante o processo de

    avaliao, melhorando as condies da situao de avaliao para que a criana

    possa revelar seu desempenho potencial. Nesta abordagem a aprendizagem

    focada naquilo que a criana est quase pronta a aprender, ou seja, a avaliao

    assistida considera mais o potencial de aprendizagem do que as realizaes

    presentes (Linhares, 1995).

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    Para Linhares, Escolano e Enumo (2006), na avaliao assistida, alm de

    ocorrer uma investigao dos produtos da aprendizagem, como na abordagem

    psicomtrica, tambm so investigados os processos cognitivos presentes na

    situao de aprendizagem, ou seja, as estratgias que o indivduo usa para

    aprender e as formas como estas podem ser ampliadas e melhoradas. Entretanto,

    Lidz (1991) aponta que avaliao psicomtrica e a assistida no so excludentes,

    mas complementares: a avaliao psicomtrica informa o nvel de desempenho

    intelectual real da criana no momento da avaliao e em comparao com seus

    pares e a avaliao assistida complementa estas informaes fornecendo

    indicadores do potencial para a aprendizagem.

    Assim, na concepo de Linhares (1998), a avaliao cognitiva no deve

    basear-se em um nico teste, com o intuito de compreender melhor o funcionamento

    cognitivo da criana, mais indicada a combinao de procedimentos de diferentes

    abordagens.

    O mtodo de aplicao da avaliao assistida pode ser clnico ou estruturado.

    No mtodo clnico, as intervenes so menos sistematizadas, com ajudas

    oferecidas mais livremente. No mtodo estruturado, as intervenes, geralmente,

    so organizadas em fases: inicial, sem ajuda; fase de assistncia, com ajuda do

    examinador (em que so oferecidas pistas); fase de manuteno, no h mais ajudado examinador; e uma fase de transferncia, opcional, que visa verificar a

    generalizao da aprendizagem em novas situaes similares (Linhares, 1995;

    Linhares, Escolano e Enumo, 2006). O mtodo estruturado o mais utilizado em

    pesquisas.

    Na fase de assistncia, de acordo com Linhares et al.(2006):

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    (...) as pistas oferecidas pelo examinador para ajudar a criana a resolver a

    tarefa podem consistir em: demonstraes, sugestes, adicionais verbais de

    memria (repeties, autoverbalizaes), adicionais concretos de memria

    (materiais de apoio), fornecimento e indicao de material, tolerncia ao erro,

    permitindo novas oportunidades para correo, tolerncia no tempo de

    execuo, verbalizao antes e durante a soluo, anlises das estratgias

    de soluo, justificativa de respostas, feedback durante a aps a soluo,

    entre outras formas (p.21).

    Assim sendo, na avaliao assistida, o processo de aprendizagem da criana

    se d por meio da internalizao dos resultados de sua interao com adultos,

    quando, no momento da avaliao, os adultos dirigem a ateno criana, regulam

    os nveis de dificuldade da tarefa, fornecendo estratgias para a soluo de

    problemas. (Linhares et al., 2006). Dentro dessa abordagem, os conceitos de

    aprendizagem mediada e zona de desenvolvimento proximal so centrais para se

    entender essa interao entre criana e adulto.

    De acordo com Tzuriel e Haywood (1992), a aprendizagem mediada refere-se

    ao processo interacional no qual os adultos (pais, professores) se interpem entre a

    criana e o mundo e modificam uma srie de estmulos pela influncia da sua

    freqncia, ordem, intensidade e contexto (Dias & Enumo, 2006). Assim a

    mediao ocorre a partir da atitude colaborativa do adulto, estimulando, na criana,

    a produo de conhecimento e aptido.

    A Zona de Desenvolvimento Proximal ZDP conceito elaborado por

    Vygotsky definida como a distncia entre o nvel de desenvolvimento atual,

    representado pela soluo independente de problemas, e o nvel de

    desenvolvimento potencial, representado pela resoluo de problemas com a ajuda

    de um adulto mais habilitado ou com a colaborao de crianas mais experientes

    (Vygotsky 1984) Assim o pensamento da criana embora seja internalizado se

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    desenvolve e opera dentro de um contexto social, e a aprendizagem concebida

    como um fenmeno interpessoal, isto , como um evento social dinmico, que

    depende de duas pessoas, uma melhor informada ou mais habilitada do que a outra

    (Linhares, 1995, p. 23).

    Dias e Enumo (2006), tambm destacaram a importncia da mediao no

    processo de avaliao ao constatarem que as estratgias cognitivas de crianas

    com deficincia e crianas normais em situao de avaliao mediacional foram

    significativamente melhores quando comparadas avaliao tradicional. Assim, a

    avaliao assistida procura atender a demanda de uma compreenso mais holstica

    sobre o desempenho do indivduo em situaes de aprendizagem, permitindo

    considerar explicaes alternativas para um desempenho insuficiente ou inadequado

    antes de considerar que o mesmo possui uma incapacidade de aprender (Paula &

    Enumo, 2007).

    Alm da mediao, a avaliao assistida contempla ainda aspectos no-

    intelectuais, mas que podem influenciar o desempenho dos indivduos: emocionais,

    motivacionais e comportamentais. A anlise das influncias dessas variveis no uso

    do procedimento assistido tem sido abordada em alguns estudos (Enumo, Cunha,

    Dias, Paula, 2002; Ferro, 2007; Linhares, Santa Maria & Escolano, 2006; Paula &

    Enumo, 2007).Considerando a importncia da avaliao psicolgica de crianas em risco para

    o desenvolvimento, tem se considerado mais adequado utilizar um modelo de

    avaliao que permitisse uma interao maior entre a criana e o examinador. Neste

    caso, o carter dinmico da avaliao assistida atenderia a este propsito (Haywood

    & Tzuriel, 2002).

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    Assim, a avaliao dos aspectos comportamentais, emocionais, cognitivos e

    lingsticos dessas crianas, bem como as propostas de interveno com a criana

    e com a famlia, so coerentes com o modelo biopsicossocial em sade, adotado

    pela Organizao Mundial de Sade (OMS, 1978), o qual define a sade como o

    bem-estar fsico, mental e social e no apenas a ausncia de doena.

    Diante dessas consideraes, relevante postular que a atuao do psiclogo

    em Sade e na Pediatria deve ser direcionada ao uso de recursos que propiciem a

    continuidade do desenvolvimento psicolgico da criana.

    1.4 O problema de pesquisa e sua relevncia cientfica e social

    Considerando a prematuridade e o baixo peso ao nascimento como fatores de

    risco para o desenvolvimento geral e a importncia da avaliao psicolgica e da

    interveno precoce nesse contexto, tem-se um problema de pesquisa que pode ser

    classificado, segundo Meltzoff (2001), como de relaes entre eventos: a condio

    de nascimento como a prematuridade e o baixo peso relacionam-se a problemas de

    desenvolvimento cognitivo, acadmico, lingstico e comportamental em crianas

    aos 5 anos de idade em comparao com seus pares?

    De acordo com Linhares et al. (2005), existem no cenrio brasileiro poucos

    estudos com essa populao que focalizem a avaliao psicolgica no conjunto dasdimenses intelectual, emocional e comportamental. Assim, em termos de produo

    acadmica e cientfica, espera-se contribuir para a rea da Psicologia e da Sade,

    por meio de uma proposta de avaliao psicolgica de crianas em risco para o

    desenvolvimento e para a escolarizao, podendo colaborar para as prticas de

    atendimento e interveno psicossocial oferecidas criana e sua famlia.

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    Da mesma forma, espera-se que o estudo da relao entre prematuridade e

    baixo peso e problemas de desenvolvimento, fornea dados relevantes sobre estes

    indicadores de risco que possibilite a elaborao de polticas de sade destinadas

    preveno cada vez mais precoce.

    Pretende-se tambm contribuir para a rea de Avaliao Psicolgica,

    analisando-se a adequao de instrumentos psicomtricos na identificao de

    recursos potenciais nas crianas em risco de desenvolvimento. Alm disso,

    considerando tambm o fato da avaliao assistida ser uma rea de pesquisa

    recente no pas, faz-se relevante promover novas investigaes que se proponham

    discutir significativas questes para a ampliao do campo, como, por exemplo, a

    importncia de suas contribuies tericas para o estudo do desenvolvimento

    cognitivo e a adequao de procedimentos metodolgicos na avaliao precoce de

    crianas em risco de desenvolvimento.

    Nesse sentido, espera-se, atravs da associao entre a avaliao

    psicomtrica tradicional e a avaliao assistida, fornecer dados mais prescritivos

    sobre o desenvolvimento cognitivo da criana que possam funcionar de modo

    preventivo, alm de fornecer indicadores para o planejamento de atividades que

    promovam o desenvolvimento infantil.

    Por fim, considera-se ainda de grande relevncia social estudos que visam aidentificar, descrever e analisar o desenvolvimento infantil, diagnosticando

    precocemente possveis prejuzos e encaminhando de modo mais detalhado a

    servios de atendimento especializados (psicolgico, fonoaudiolgico, fisioterpico e

    pedaggico, por exemplo).

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    1.5 Objetivos

    Pretendeu-se verificar se condies adversas ao nascimento, como a

    prematuridade e o baixo peso, relacionam-se a indicadores do desempenho

    cognitivo, lingstico, comportamental e acadmico de crianas aos 5 anos de idade,

    em comparao com pr-escolares nascidos a termo.

    Detalhando, pretendeu-se:

    1) identificar, descrever e avaliar aspectos do desenvolvimento cognitivo,

    lingstico, comportamental e acadmico de crianas nascidas pr-termo e combaixo peso, aos 5 anos de idade;

    2) verificar se os fatores de risco psicossociais, aliados ou no a fatores de

    risco biolgicos, so variveis que podem influenciar no desenvolvimento infantil;

    3) analisar se h diferenas significativas entre algumas habilidades cognitivas

    (raciocnio geral e analgico-dedutivo), lingsticas (vocabulrio expressivo e

    receptivo) e acadmicas de crianas nascidas pr-termo e com baixo peso e

    crianas nascidas a termo e com peso >2.500g, aos 5 anos de idade;

    4) avaliar se h diferenas entre crianas prematuras e com baixo peso ao

    nascimento, aos 5