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A FOTOGRAFIA COMO FONTE NA HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR Marilda Cabreira Leão Luiz. UFGD ([email protected] ) Reinaldo dos Santos. UFGD ([email protected] ) RESUMO: O estudo ora apresentado utiliza-se da fotografia como fonte para recuperação histórica de uma instituição escolar pública na cidade de Dourados – MS, no período de 1968 a 2010. Devido à problemática da ausência de uma cultura de sistematização, organização e tratamento do documento fotográfico nos arquivos escolares para preservação da história da escola, o mesmo tem como objetivo sistematizar a imagens fotográficas das ações da Escola Estadual Rotary Dr. Nelson de Araújo de Dourados – MS em arquivo escolar, para recuperação da sua história e memória. A investigação está sendo realizada com o auxilio da tecnologia para a captura e escaneamento das fotografias das atividades realizadas pela escola. O interesse por essa temática é um desafio que se coloca, uma vez que há poucos estudos preocupados com a história e memória através das imagens. As imagens parecem mudas, mas tem muito a nos dizer, como pontua Burke (2004) que as fotografias mostram aspectos do passado que outras fontes não conseguem revelar, principalmente nos casos em que os documentos textuais são raros e poucos. Imagens fotográficas são registros através dos quais os historiadores podem estabelecer diálogos, indagar e realizar estudos. Além da dedicação à luz das teorias que a literatura propicia sobre o tema, a pesquisa conta com o apoio do documento CONARQ ( Conselho Nacional de Arquivos) que determina as recomendações para digitalização de documentos arquivisticos permanentes. O andamento da pesquisa até o momento se constitui nas leituras bibliográficas, levantamentos e coleta de dados da escola campo da pesquisa, captação, catalogação, atribuição de ementa, seleção, tratamento e digitalização das imagens fotográficas, as quais serão submetidas à análise, para sistematização do relatório final da pesquisa. A apresentação dos dados coletados através de uma amostragem das imagens fotográficas é de fundamental importância pelo valor informacional fixado em seu conteúdo, onde seu valor de evidência varia segundo as circunstâncias diferenciadas de criação do documento. O estudo proposto é desafiador, mas relevante e fundamental na recuperação da história da instituição escolar e, como intervenção fomentar na escola pesquisada, uma cultura de organização nos arquivos escolares do documento fotografia, que se destaca como uma nova fonte de pesquisa a partir do século XIX. Para sistematização do relatório final da pesquisa proposta, será de grande valia para o momento, o olhar de outros pesquisadores da Historia da Educação. Palavras chave: fotografia – instituição - memória

TEXTO PARA SBHE 2 técnicas de produção e reprodução das obras, representada principalmente nas formas da fotografia e principalmente do cinema. Para Benjamin, as novas técnicas

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A FOTOGRAFIA COMO FONTE NA HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Marilda Cabreira Leão Luiz. UFGD ([email protected]) Reinaldo dos Santos. UFGD ([email protected])

RESUMO:

O estudo ora apresentado utiliza-se da fotografia como fonte para recuperação histórica de uma instituição escolar pública na cidade de Dourados – MS, no período de 1968 a 2010. Devido à problemática da ausência de uma cultura de sistematização, organização e tratamento do documento fotográfico nos arquivos escolares para preservação da história da escola, o mesmo tem como objetivo sistematizar a imagens fotográficas das ações da Escola Estadual Rotary Dr. Nelson de Araújo de Dourados – MS em arquivo escolar, para recuperação da sua história e memória. A investigação está sendo realizada com o auxilio da tecnologia para a captura e escaneamento das fotografias das atividades realizadas pela escola. O interesse por essa temática é um desafio que se coloca, uma vez que há poucos estudos preocupados com a história e memória através das imagens. As imagens parecem mudas, mas tem muito a nos dizer, como pontua Burke (2004) que as fotografias mostram aspectos do passado que outras fontes não conseguem revelar, principalmente nos casos em que os documentos textuais são raros e poucos. Imagens fotográficas são registros através dos quais os historiadores podem estabelecer diálogos, indagar e realizar estudos. Além da dedicação à luz das teorias que a literatura propicia sobre o tema, a pesquisa conta com o apoio do documento CONARQ ( Conselho Nacional de Arquivos) que determina as recomendações para digitalização de documentos arquivisticos permanentes. O andamento da pesquisa até o momento se constitui nas leituras bibliográficas, levantamentos e coleta de dados da escola campo da pesquisa, captação, catalogação, atribuição de ementa, seleção, tratamento e digitalização das imagens fotográficas, as quais serão submetidas à análise, para sistematização do relatório final da pesquisa. A apresentação dos dados coletados através de uma amostragem das imagens fotográficas é de fundamental importância pelo valor informacional fixado em seu conteúdo, onde seu valor de evidência varia segundo as circunstâncias diferenciadas de criação do documento. O estudo proposto é desafiador, mas relevante e fundamental na recuperação da história da instituição escolar e, como intervenção fomentar na escola pesquisada, uma cultura de organização nos arquivos escolares do documento fotografia, que se destaca como uma nova fonte de pesquisa a partir do século XIX. Para sistematização do relatório final da pesquisa proposta, será de grande valia para o momento, o olhar de outros pesquisadores da Historia da Educação. Palavras chave: fotografia – instituição - memória

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INTRODUÇÃO

A fotografia surgiu na década de 1830, como resultado da conjugação do

engenho, da técnica e da oportunidade. Ainda no século XIX a distinção entre técnica e

magia não era tão clara quanto hoje.

No século XX, as imagens, mais do que meras formas de recordações passaram a

ser usadas como documentos históricos, fontes de pesquisa para entender determinadas

épocas ou sociedades. Para Burke (2004), as fotografias mostram aspectos do passado

que outras fontes não conseguem revelar, principalmente nos casos em que os

documentos (textos) são raros e poucos. São registros através dos quais os historiadores

podem estabelecer diálogos, indagar e realizar estudos.

Como testemunhos históricos, as imagens podem nos revelar as maneiras de sentir

e pensar de um grupo social, a maneira como a memória coletiva se constrói, criando

laços e unindo membros de uma coletividade. Através delas, é possível perceber como os

homens e mulheres de diferentes épocas se apropriam de seu passado, conjugam-no com

seu presente e apontam saídas para o futuro. Portanto, ao analisar uma fotografia, o

pesquisador deve sempre questionar: Quando? Onde? Quem? Para quem? Para quê?

Como?. A fotografia é uma das fontes mais ricas para a recuperação da história. Assim

como, ou mais, que os textos documentais, ela informa sobre os cenários, personagens e

acontecimentos de uma determinada época. Em razão disso, não pode ser entendida como

mera ilustração para deixar o texto mais chamativo ou agradável para o leitor.

As imagens, de aparências mudas, expressam, comunicam e atribuem significados

representando mais um recurso na busca pela sensibilidade histórica. Cabe ao

pesquisador questionar as imagens para saber em que circunstâncias ela foi produzida e

quais os propósitos para o mesmo, assim como qualquer outra fonte de pesquisa.

No século XX já ficou fortalecida a tese de que, por detrás de uma câmera há

pessoas interessados em pesquisar e divulgar suas intenções sociais e a realidade que as

cerca. Já a partir dos anos 90, com a chegada das imagens digitais, o poder de

manipulação e montagem de fotografias surgiu com mais força ainda. Sobre esse assunto

encontramos em Paiva (2004), quando afirma que a iconografia traz embutida as escolhas

do produtor e todo o contexto no qual foi concebida, mas que constitui um acervo de

possibilidades e por isso tem que ser explorada com muito cuidado.

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A fotografia como fonte de objeto da história, é uma forma de organizar arquivos

escolares, inclusive incentivando uma cultura de organização dos arquivos de imagens

fotográficas.

Ana Maria Mauad (1990) coloca que a fotografia historicamente compõe

juntamente com outros tipos de texto de caráter verbal e não verbal, a textualidade de

uma determinada época, e que pode ser concebida como mensagem que se organiza partir

de dois segmentos: expressão e conteúdo, como afirma a autora “apreciamos fotografias,

as colecionamos, organizamos álbuns fotográficos, onde narrativas engendram

memórias”.

As fotografias são suportes que chamam a atenção por se constituírem em

testemunhos que investem de caráter momentos que se perdem, que se transformam e

muitas vezes, idealizados. Como bem assinala Sontag (1981, p.71), a fotografia se

apresenta como apenas um fragmento, e com o passar do tempo suas amarras se

desprendem. À deriva, vai-se transformando em passado difuso e abstrato, aberto a

qualquer tipo de leitura.

A imagem produzida por Sontag nos chama a atenção sobre o perigo de

navegarmos ao léu, não só com as fotografias, mas com a legislação, com a cultura

escolar, com a iconografia, que com o tempo correm o risco de se desprenderem da sua

real significação e tomarem outros rumos ou não chegarem a lugar nenhum.

Ao mesmo tempo em que se organizam fotografias para um acervo escolar, pode-

se também utilizar de entrevistas com os sujeitos da instituição escolar, como fazia Ana

Maria Mauad (1990), enquanto organizava as fotografias da família, utilizava-se da

entrevista com a avó dela.

Schapochnik (1998, p. 472), diz que os álbuns de família registram o decurso do

tempo sob a forma de séries diversas. Entre os episódios registrados parece incidir uma

dupla temporalidade, uma lembrança. Para o autor o fato é que na maioria das vezes a

fotografia existe e subsiste por sua função familiar que é a de solenizar e eternizar os

grandes momentos da vida familiar e reforçar a integração do grupo, reafirmando o

sentimento que ele tem de si mesmo, onde o papel desempenhado pelo guardião se

assemelha ao de um arquivista, que reúne e atribui uma ordem de pertinência ao acervo,

de curador, que decide quais imagens que deverão passar a condições de objetos.

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O documento iconográfico se apresenta como fragmento do real, cheio de

intenções explícitas ou ocultas, voluntárias ou involuntárias de seus produtores. Cabe ao

pesquisador interpretar os sentidos que os atores sociais quiseram atribuir a seus atos. A

história se desloca do fato para versões sobre o fato.

Segundo Cardoso e Mauad (1997) a história da educação oferece uma diversidade

de fontes para pesquisas, tais como: discursos, documentos escolares, relatos orais,

boletins, fontes iconográficas (fotografias, ilustrações e filmes) e outros.

A fotografia como fonte de pesquisa na reconstrução da história deve trazer

identificação da data, local legendas, historiografia sobre a época, o recurso da história

oral e o levantamento factual, o que a torna um rico material na reconstituição da

memória e da história da educação. Como documento representa um fato concreto e ao

mesmo tempo é possível fazer interpretações, explorando a realidade que revela em si.

Benjamim (1987), fala da aura e da capacidade da fotografia de desauratização. A

fotografia na infinita possibilidade de reprodução nos aproxima ao objeto fotografado

impedindo o movimento de distancia, necessário para a instauração da aura.

Tomando como exemplo a iconografia de uma instituição escolar que

vivenciamos, e que apresentam as caracterizações da época, onde Benjamim (1994, 69)

tem uma explicação: “O termo origem não designa o vir-a-ser daquilo que se origina, e

sim algo que emerge do vir-a-ser e da extinção”.

A análise dos registros fotográficos se pauta na compreensão de uma

documentação examinada especificamente numa técnica própria ao que representa o

instrumento que a produz, ou seja, a câmera fotográfica.

ANDAMENTO DA PESQUISA

No ensaio a obra de arte na época de suas técnicas de reprodução (1936), o

filósofo Walter Benjamim afirma que, com as novas possibilidades de reprodução técnica

desenvolvidas entre os séculos XIX e XX, a obra de arte em relação à fotografia perdeu a

sua “autenticidade” e “autoridade”, que lhe era conferida através de sua duração no

tempo, aliás, autenticidade e duração são qualidades que perdem o sentido diante destas

novas técnicas de produção e reprodução das obras, representada principalmente nas

formas da fotografia e principalmente do cinema.

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Para Benjamin, as novas técnicas de reprodução da arte através da fotografia em

última promove a democratização no campo das novas experiências estéticas do século

XX, um diagnóstico para o indivíduo e a sociedade de seu tempo.

A utilização da fotografia é destacada pelo apontamento e análise crítica dos fatos,

idéias, provas, interpretações, hipóteses e argumentos bem com o as conclusões derivadas

especificamente da escolha do objeto de pesquisa.

A proposta de releitura através da fotografia se volta para sua realidade observada

e sua inserção ou interação na História das Imagens, aplicável à História da Educação e

seu papel analítico nos aspectos da memória e da História. A imagem fotográfica

também passa pela idéia de mensagem, conforme nos pontua Mauad:

A idéia central é apresentar a fotografia como uma mensagem que se elabora através do tempo, tanto como imagem/documento quanto como imagem/documento tanto como testemunho direto quanto como testemunho indireto do passado (1996, p.73)

Segundo a autora textos visuais como fotografias são resultados de expressão e

conteúdos que envolvem autor, o texto propriamente dito e um autor, onde cada um

produz um resultado final, de acordo com o local da produção, e um produtor que

manipula técnicas, que detém saberes específicos, envolvendo também o comportamento

no contexto histórico no qual está inserido, e por fim o que é aceito pela sociedade. As

técnicas, as estéticas, variam de acordo com os objetivos traçados para a imagem final, e

a câmera fotográfica impõe uma exigência de competência mínima por parte do autor,

para manipulação de códigos convencionalizados social e historicamente, para a

produção de uma imagem possível de ser compreendida.

A fotografia pode ser utilizada como fonte histórica ultrapassando seu aspecto

ilustrativo, compondo uma serie de semelhanças e diferenças próprias do conjunto de

imagens que propõe analisar tais como: a criança, a morte, o casamento, etc. Também a

própria fotografia é um recorte espacial que contém outros espaços como: o espaço

geográfico, o espaço dos objetos, o espaço da figuração e o espaço das vivências,

comportamentos e representações sociais conforme Mauad 1990.

Nesse sentido o corpus fotográfico pode ser organizado em função de um tema, tais como: a morte, a criança, o casamento, etc.; ou em função das diferentes agências de produção da imagem que competem nos processos de produção de sentido social, dentre estas a família, o estado, a imprensa, a publicidade, entre outros. Em ambos os casos a análise

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histórica da mensagem fotográfica tem na noção de espaço a sua chave de leitura, posto que, a própria fotografia é um recorte espacial que contem outros espaços que a determinam e estruturam, tais como: o espaço geográfico, o espaço dos objetos (interiores, exteriores e pessoais), o espaço da figuração e o espaço das vivências, comportamentos e representações sociais (MAUAD, 1990)”.p. 7

Vemos dessa forma que a fotografia deve ser concebida como mensagem que se

organiza a partir de dois segmentos: expressão e conteúdo. Expressão envolve escolha de

técnicas que envolvem enquadramento, iluminação, definição da imagem, contraste, cor,

etc. O conteúdo abrange pessoas, objetos, lugares, vivências, que compõem a fotografia.

No século XVII já refletia o aparecimento das imagens e os meados XIX se torna

um marco, onde por volta dos primeiros trinta anos, era considerada fonte para pesquisa

apenas documentos tidos como confiáveis. Onde ocorre a revolução documental na

década de 1960, quando a fotografia ganha espaço na História da Educação, Le Goff

(1992), destaca as massas dormentes, ou seja, é inaugurada a era da documentação da

massa.

Para Mauad (1995), a nova perspectiva documental se viu numa transformação da

ótica tradicional da história, a qual deixou de ser uma historia do individuo, ou de uma

época, mas sintetizou-se nos grandes acontecimentos e nos grandes vultos. Ainda Mauad

( 1995), destaca alguns problemas de natureza técnica da imagem fotográfica como pro

exemplo o próprio ato de fotografar , apreciar e consumir uma fotografia, sem deixar de

lado o conteúdo ou as questões que envolve a constituição da imagem.

Segundo Leite (1998), a fotografia precisa do exercício de identificação que

admite interpretação, dedução e comparação. O que completa Mauad ((1995, 25)), “a

imagem fotográfica compreendida como documento revela aspectos da vida material, de

um determinado tempo, que a mais detalhada descrição verbal não daria conta”.

A imagem fotográfica representa uma realidade que incorpora uma reconstrução e

não uma restituição intervinda numa alteração dessa realidade, conforme pontua Le Goff:

O documento não é inócuo. È, antes de mais nada, o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziu, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio (LE GOFF, 1992, p.547).

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Já Samain (1998, 56), coloca que a imagem visual não é uma simples

representação da “realidade”, e sim um sistema simbólico. Por mais abstrata que seja a

fotografia é sempre imagem de alguma coisa diante dos olhos de quem vê.

A imagem fotográfica pode ser achatada, bidimensional, enfim a materialidade da

imagem, sua textura, seu peso o que nos leva ao paradoxo da imagem buscando

interpretar as suas representações, significados e atitudes, como afirma Bittencourt:

Fotografias apresentam o cenário no qual as atividades diárias, os atores sociais e o contexto sociocultural são articulados e vividos. Existem estudos sobre os detalhes tangíveis representados em fotografias que permitem a elucidação de comunicações não verbais tais como um olhar, um sentimento, um sistema de atitudes, assim como mensagem de expressão corporais, faciais, movimentos e significados de relações espaciais entre pessoas e padrões de comportamento através do tempo. Imagens fotográficas retratam a história visual de uma sociedade, documentam situações, estilos de vida, gestos, atores sociais, e rituais, e aprofundam a compreensão da cultura material, sua iconografia e suas transformações ao longo do tempo, (BTTENCOURT, p. 199).

Os documentos fotográficos, assim como a fonte escrita requer rigor na

metodologia de trabalho e uma crítica externa, enfocando a procedência e a trajetória do

documento. Requer ainda registro exato de sua existência, do seu conteúdo, sua forma,

sua origem, e por fim a analise. O intuito de classificar e inventariar o conteúdo da

imagem fotográfica fica a cargo da análise iconográfica.

Para compreender uma imagem fotográfica é necessário elaborar um mapeamento

com procedimentos teórico-metodológicos. A análise de uma foto exige um rigor no

trabalho interpretativo e uma articulação dos significados que a imagem expressa.

Diante de tais fundamentos, no momento esta pesquisa volta para a recuperação

da memória da Escola Estadual Rotary Nelson de Araújo, localizada na cidade Dourados-

MS, no período de 1968 a 2010, através do documento imagético, onde os objetivos

almejados são: objetivo geral: sistematizar as imagens fotográficas num banco de dados

para preservação da memória imagética da Escola Rotary Dr. Nelson de Araujo,

fomentando na escola uma cultura de organização dos arquivos de imagens fotográficas.

Como objetivos específicos: a) Conceituar imagens fotográficas na luz da literatura; b)

Captar, selecionar, digitalizar, atribuindo função e ementa as imagens fotográficas das

atividades realizadas pela Escola Estadual Rotary Dr. Nelson de Araujo no período de

1968 a 2010; c) Organizar as imagens fotográficas num banco de dados, para

preservação e disponibilização da memória imagética da escola.

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Os Aspectos Metodológicos para este trabalho discorre sobre a contribuição da

fotografia como fonte de pesquisa para a organização de um arquivo escolar. Trata-se de

uma pesquisa qualitativa, tendo como fontes primárias o levantamento e revisão de

literatura sobre o tema. Adota como procedimentos metodológicos a captura e seleção

dos elementos da fotografia – como fonte – que contará com auxilio dos recursos

tecnológicos.

A investigação está sendo feita a partir da captura e escaneamento de fotografias

das ações da escola, desde sua fundação até os dias atuais, utilizando dos recursos

tecnológicos para digitalização das imagens fotográficas e organização das mesmas num

banco de dados. Até o atual momento a pesquisa conta com algumas imagens

fotográficas catalogadas e digitalizadas, onde a imagem nº 01 apresenta a fachada atual

da frente da Escola Estadual Rotary Dr. Nelson de Araújo, reformada em 2005, situada à

Rua Ciro Mello nº 2677, centro na cidade de Dourados – MS, a imagem nº 02 um grupo

de membros integrantes do Rotary Clube Dourados que contribuiu na reforma da escola

em 2005.

Imagem nº 01. Fonte: Acervo digital da direção da escola em julho de 2010.

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Imagem nº 02. Fonte: Jornal Folha de Dourados em 2005.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

O texto apresenta a discussão que alguns autores e pesquisadores fizeram ou

fazem quanto ao uso de imagens fotográficas em pesquisas nas ciências sociais com o

intuito de inserção nas ciências humanas, mostrando que a fotografia é capaz de ferir,

comover ou animar uma pessoa, pois para cada um oferece um tipo de afeto. Segundo

Barthes (1984), a composição do significado da fotografia traz três fatores principais que

são o fotógrafo, o objeto e o observador. O fotógrafo captura as fotos de acordo com seu

ponto de vista, o objeto sofre modificação numa lente, e o observador lança seu ponto de

vista alterando dessa forma mais uma vez a imagem fotográfica.

O historiador hoje se depara com vários gêneros de fontes de pesquisa e suas

especificidades. Tomo como exemplo a fotografia, por ser um instrumento relativamente

novo como fonte de investigação para a história e largamente utilizada em trabalhos

acadêmicos como teses, dissertações ou monografias de fim de curso.

As imagens vêm sendo associadas em pesquisas na Historia da Educação, no

intuito de mostrar que a fotografia se coloca no desafio para a reconstrução de memórias

e histórias. E documento de pesquisa oferece inúmeras possibilidades de reconstrução de

memórias e histórias. Através da imagem fotográfica há uma possibilidade de

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diversificação de fontes capazes de informar sobre o passado e o conhecimento referente

ao contexto social, político e econômico.

A fotografia é uma fonte histórica que depende do historiador fazer sua análise, ou

uma crítica, sem se importar se o registro fotográfico foi feito para documentar ou

representar um estilo de vida. Vemos alguns exemplos de pesquisas citadas por autores

onde é possível destacar os procedimentos metodológicos, as narrativas imagéticas, o

objeto da pesquisa, utilizando da fonte iconográfica onde o pesquisador ou historiador,

deve apresentar uma consciência aberta para a interdisciplinaridade e ao mesmo tempo

assumir atitude de pesquisador-apaixonado.

Fazendo um percurso por alguns textos que trazem como fonte de pesquisa a

fotografia, percebe-se desta forma que a fotografia ao longo de sua história tem

contribuído com sua função de representar uma qualidade nas pesquisas através de

imagens iconográficas na História da Educação, não ficando apenas na representação

técnica.

Exemplo disso temos Míriam Moreira Leite (1993), que a algum tempo utiliza a

fotografia como fonte histórica:

Chegou-se a conclusão que a noção de espaço é a que domina as imagens fotográficas explicitas. Não apenas as duas dimensões em que a imagem representa as três dimensões do que comunica. Mas toda captação da mensagem manifesta se dá através de arranjos espaciais. A fotografia é uma redução, um arranjo cultural e ideológico do espaço geográfico, num determinado instante. (LEITE, 1993, p. 19).

Conclui-se que a cada novo tipo de fotografia que o pesquisador vai transformar

essa imagem fotográfica num objeto de estudo, vê na obrigatoriedade de atualizar os

métodos de análise e atribuir os significados.

No momento o desafio da pesquisa percorre as imagens fotográficas da Escola

Rotary Dr. Nelson de Araújo, com o propósito de fazer uma pequena amostragem, de

algumas imagens já capturadas.

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