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DECISO

DECISO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO MUNICIPAL. ALEGADA DESNECESSIDADE DE REGULAMENTAO DE LEI PARA O RECEBIMENTO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. NECESSIDADE DE ANLISE PRVIA DE LEGISLAO LOCAL APLICADA NA ESPCIE: IMPOSSIBILIDADE. AUSNCIA DE JULGAMENTO DA VALIDADE DE LEI OU ATO DO GOVERNO LOCAL CONTESTADO EM FACE DA CONSTITUIO. INCIDNCIA DAS SMULAS 280 E 284 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.

Relatrio

1. Agravo de instrumento contra deciso que no admitiu recurso extraordinrio, interposto com base no art. 102, inc. III, alneas a e c, da Constituio da Repblica.

2. O Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul julgou apelao em ao ordinria, nos termos seguintes:

APELAO CVEL. SINDICATO DOS SERVIDORES DO MUNICPIO DE UBIRETAMA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E DE PERICULOSIDADE. LEI MUNICIPAL N. 110/98 QUE PREV A NECESSIDADE DE REGULAMENTAO (PARGRAFO NICO DO ART. 86). LAUDO PERICIAL QUE CONCLUIU PELA INSALUBRIDADE DA ATIVIDADE. INSUFICINCIA PARA O DEFERIMENTO DA GRATIFICAO. - O administrador pblico est adstrito ao princpio da legalidade. O Municpio tem competncia para legislar sobre assuntos locais, fulcro na Constituio Federal, art. 30, inciso I. - Na hiptese, porque no regulamentado o art. 86 da Lei municipal n. 110/1998 (Regime Jurdico nico dos Servidores Municipais), que instituiu a percepo do adicional de insalubridade, no se reconhece o pagamento respectivo. Jurisprudncia da Corte. - A existncia de laudo pericial afirmando a presena de agentes insalutferos, bem como de periculosidade na atividade empreendida por parte dos autores, no supre a falta de norma regulamentadora. A concesso do adicional de insalubridade segue as normas estabelecidas pela legislao municipal, no sendo aplicvel a legislao celetista nas relaes estatutrias (fl. 189).

3. A deciso agravada teve como fundamento para a inadmissibilidade do recurso extraordinrio a incidncia das Smulas 280 e 284 do Supremo Tribunal Federal.

4. O Agravante argumenta que:

no se discute norma infraconstitucional, mas sim, discute-se a aplicao do princpio da legalidade em relao ao adicional de insalubridade, base de clculo de adicional de insalubridade, honorrios advocatcios e afronta aos dispositivos constitucionais elencados no extraordinrio.Atente-se que no se discute direito local, mas sim, a aplicabilidade do princpio da legalidade e como o mesmo deve ser aplicado ao caso concreto, para orientar os operadores do direito (fl. 6).

No recurso extraordinrio, alega que o Tribunal a quo teria contrariado os arts. 1, inc. III, 7, inc. XXII, e 39, 3, da Constituio.

Apreciada a matria trazida na espcie, DECIDO.

5. Razo jurdica no assiste ao Agravante.

Registre-se, por oportuno, o que consignado pela Desembargadora Relatora em seu voto condutor:

Do cotejo da legislao municipal verifica-se que a Lei Municipal n. 110, de 20 de maio de 1998 Regime Jurdico nico dos Servidores Municipais - previu que os servidores que executam atividades insalubres ou perigosas fazem jus a um adicional sobre o padro referencial do quadro de servidores do Municpio, asseverando que a definio destas atividades dar-se-ia por lei prpria (pargrafo nico do art. 86): DOS ADICIONAIS DE PENOSIDADE, INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. Art. 86 os servidores que executam atividades penosas ou insalubres ou perigosas fazem jus a um adicional incidente sobre o Padro Referencial do quadro de servidores do Municpio. Pargrafo nico As atividades penosas, insalubres ou perigosas sero definidas em Lei prpria.Ocorre que o Apelante no comprovou que o pargrafo nico do art. 86 do referido Estatuto dos Servidores Municipais tenha sido regulamentado. Pelo contrrio, assevera que a ausncia de lei regulamentadora no lhes obstaculiza a percepo do postulado adicional.O simples fato de o Regime Jurdico nico dos Servidores Municipais prever a possibilidade de percepo de adicional de insalubridade/periculosidade no autoriza o pagamento respectivo, uma vez que a referida Lei Municipal determinou que lei prpria definisse quais as atividades insalubres ou perigosas que renderiam direito ao adicional.Repiso que a relao entre a parte autora representada pelo Sindicato e o Municpio no contratual, mas estatutria, razo pela qual se impe a vontade do Estado, que estabelece por lei o regime jurdico de seus servidores. (...)Em suma, em que pese haja laudo pericial judicial (fls. 108/122) afirmando que parte dos autores labuta em condies que ensejam o pagamento do adicional de insalubridade, bem como do adicional de periculosidade, o deferimento do pagamento do benefcio pela Administrao Municipal violaria o Princpio da Legalidade, pois ausente autorizao legislativa municipal para tanto, sendo inaplicveis as disposies da CLT, dado o vnculo estatutrio que une os servidores ao ente pblico.Assim, a meu sentir, a r. sentena ao julgar improcedente a pretenso posta na inicial respeita a legislao municipal vigente poca, que mera norma programtica, carente de regulamentao (fls. 187-187 v.).

Conforme se verifica, o julgado recorrido teve como fundamento para o indeferimento do pedido de percepo do adicional de insalubridade a ausncia de regulamentao de norma local.

Portanto, o reexame do acrdo impugnado demandaria a anlise prvia da legislao local aplicada na espcie (Lei municipal 110/98). Assim, a alegada contrariedade Constituio da Repblica, se tivesse ocorrido, seria indireta, o que no viabiliza o processamento do recurso extraordinrio. Incide o bice da Smula 280 do Supremo Tribunal.

Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PBLICO MUNICIPAL. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. AUSNCIA DE PREQUESTIONAMENTO (SMULAS 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL). LEI MUNICIPAL N. 6.066/84. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. SMULA 280 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO (AI 666.686-AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 8.5.2009 grifei).

6. Inadmissvel tambm o recurso extraordinrio pela alnea c do inc. III do art. 102 da Constituio da Repblica, pois o Tribunal de origem no julgou vlida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituio da Repblica. Incide na espcie a Smula 284 do Supremo Tribunal Federal.

Nesse sentido:

Recurso extraordinrio. - Inocorrncia da hiptese prevista na alnea c do inciso III do artigo 102 da Constituio Federal. Falta de fundamentao, por isso mesmo, a esse respeito. Aplicao da Smula 284 (RE 148.355, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJ 5.3.1993).

A deciso agravada, embasada nos dados constantes do acrdo recorrido, est em harmonia com a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, razo pela qual nada h a prover quanto s alegaes da Agravante.

7. Pelo exposto, nego seguimento a este agravo (art. 557, caput, do Cdigo de Processo Civil e art. 21, 1, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Braslia, 16 de junho de 2010.

Ministra CRMEN LCIARelatora