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Título: Narrativas de alunos do 1º e 4º ano do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina: um olhar sobre o curso (2014) MARIA DE FÁTIMA DA CUNHA * PRISCIÉLE MAICÁ SILVEIRA * Introdução A presente pesquisa é parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) entregue ao departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL) no ano de 2014, desenvolvido com a orientação da Prof.ª e Dr.ª Maria de Fática da Cunha. Submetemos ao XXIII Encontro Estadual da ANPUH - SP, a fim de contribuirmos para as discussões no campo da História no que diz respeito ao ensino de História. O objetivo deste trabalho é investigar o que os alunos do 1º e 4º ano do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina UEL pensam sobre o mesmo. Em especial, a expectativa com relação ao curso dos alunos do 1º ano, possíveis questionamentos feitos pelo 4º ano ao curso, e a concepção de história das duas séries, ingressantes em 2011 e 2014. Este desenvolvimento se deu basicamente em três etapas: a aplicação de questionários, a análise e por fim a categorização das respostas. Os questionários são diferenciados considerando que os alunos do primeiro ano do curso se inserem em um contexto diferente daqueles que já estão no último ano, por exemplo, no que diz respeito à experiência de estágio obrigatório e/ou de pesquisa e extensão. Assim, esperamos obter, através da análise e categorização das respostas dos alunos, narrativas que apontem como eles pensam questões como: sua escolha pelo curso de História, sua visão sobre o curso antes de entrar na universidade e após o seu ingresso, o que é História, se gostaria de dar aulas de História, para qual “nível” de ensino e porque, o que achou mais difícil no curso até o momento. Para tanto, utilizamos a análise de conteúdo, seguindo as propostas de Bardin (1977) para categorizar as respostas, bem como do conceito de significância histórica (Júlia Castro, 2007), um conceito comum no campo da educação * Universidade Estadual de Londrina (UEL). Doutorado em História Social pela Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP (2002). Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP (campus de Assis) (1993). * Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestranda em História Social na linha de pesquisa História e Ensino da mesma universidade (2016). Graduação no curso de Licenciatura em História, UEL (2014).

Título: Narrativas de alunos do 1º e 4º ano do curso de ...encontro2016.sp.anpuh.org/resources/anais/48/1467772163_ARQUIVO... · na cronologia vista no ensino médio, como se o

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Título: Narrativas de alunos do 1º e 4º ano do curso de Licenciatura em História da

Universidade Estadual de Londrina: um olhar sobre o curso (2014)

MARIA DE FÁTIMA DA CUNHA*

PRISCIÉLE MAICÁ SILVEIRA*

Introdução

A presente pesquisa é parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) entregue ao

departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL) no ano de 2014,

desenvolvido com a orientação da Prof.ª e Dr.ª Maria de Fática da Cunha. Submetemos ao

XXIII Encontro Estadual da ANPUH - SP, a fim de contribuirmos para as discussões no

campo da História no que diz respeito ao ensino de História.

O objetivo deste trabalho é investigar o que os alunos do 1º e 4º ano do curso de

Licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina – UEL pensam sobre o

mesmo. Em especial, a expectativa com relação ao curso dos alunos do 1º ano, possíveis

questionamentos feitos pelo 4º ano ao curso, e a concepção de história das duas séries,

ingressantes em 2011 e 2014. Este desenvolvimento se deu basicamente em três etapas: a

aplicação de questionários, a análise e por fim a categorização das respostas. Os questionários

são diferenciados considerando que os alunos do primeiro ano do curso se inserem em um

contexto diferente daqueles que já estão no último ano, por exemplo, no que diz respeito à

experiência de estágio obrigatório e/ou de pesquisa e extensão.

Assim, esperamos obter, através da análise e categorização das respostas dos alunos,

narrativas que apontem como eles pensam questões como: sua escolha pelo curso de História,

sua visão sobre o curso antes de entrar na universidade e após o seu ingresso, o que é História,

se gostaria de dar aulas de História, para qual “nível” de ensino e porque, o que achou mais

difícil no curso até o momento. Para tanto, utilizamos a análise de conteúdo, seguindo as

propostas de Bardin (1977) para categorizar as respostas, bem como do conceito de

significância histórica (Júlia Castro, 2007), um conceito comum no campo da educação

* Universidade Estadual de Londrina (UEL). Doutorado em História Social pela Universidade Estadual de

Campinas- UNICAMP (2002). Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -

UNESP (campus de Assis) (1993).

* Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestranda em História Social na linha de pesquisa História e Ensino

da mesma universidade (2016). Graduação no curso de Licenciatura em História, UEL (2014).

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histórica, para analisarmos as temáticas, certos valores e conceitos históricos apontados pelos

alunos em suas narrativas.

Tais questões possibilitaram uma análise do tipo de conceito de história que estes

alunos trouxeram para a universidade depois de terminado o ensino médio, o porquê da

escolha do curso que, muitas vezes, decorre desta concepção que não se identifica com a do

curso. Também pretendemos identificar se os alunos têm como meta a docência, ou se

pretendem/ou gostariam de trabalhar exclusivamente como pesquisadores, se fosse possível.

Deste modo, para esta pesquisa alguns conceitos são fundamentais para a compreensão

daquilo que os alunos trazem para a sala de aula, ou no nosso caso, do que eles trazem da

formação em História realizada no ensino médio e também no fundamental, aquilo que Peter

Lee denomina de conhecimentos prévios.

Nesta perspectiva, entendemos que a constituição de qualquer aprendizado que o aluno

faz se estabelece a partir dos conhecimentos prévios que trazem consigo. Desta forma, de

acordo com Lee (2002), a História não seria mais entendida como a “ciência do passado”,

pronta e acabada, onde basta ao aluno receber estes conhecimentos sobre o passado vindos de

uma autoridade como o professor ou o livro didático. Para este autor, é essencial o contato

com o passado a partir das necessidades do presente, possibilitando ao aluno adquirir a

habilidade de compreender o seu cotidiano através destes conhecimentos.

Vemos a necessidade desta pesquisa em vista das várias mudanças que vêm ocorrendo

no âmbito do ensino de História, que colocam a prioridade de se pensar o aluno enquanto

sujeito da produção de conhecimento histórico e, por isso, objeto de investigação principal no

campo da investigação no ensino de História. Nessa perspectiva, deve-se ressaltar a própria

mudança que o curso de História da Universidade Estadual de Londrina fez no ano de 2005,

que pode ser verificado em seu Projeto Político Pedagógico. Nele o curso de licenciatura em

História tem por meta formar profissionais para a educação, para atuar em diferentes níveis e

modalidades de ensino da escolarização regular e em atividades de ensino-aprendizagem,

segundo o princípio da indissociabilidade entre pesquisa e ensino, teoria e prática (UEL, PPH,

I: 2).

A nova matriz curricular do curso, entre outras inovações, amplia a carga horária e

disciplinas de estágio supervisionado, estabelece a reflexão acerca do ensino também nas

chamadas “disciplinas de conteúdo”, através daquelas chamadas “tópicos de ensino de

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História”. Assim, é interessante verificar o que todas essas alterações fizeram na prática com a

formação dos alunos a partir dessas novas preocupações.

Nesse quadro se situam as questões principais que orientam este projeto: Como por

exemplo, quais são os conceitos manifestos pelos graduandos sobre o que é história? Como

esses conceitos foram ensinados e, aprendidos pelos estudantes na escola básica? Há um

descompasso entre aquilo que se começa a aprender com as perspectivas que se tinha antes do

ingresso no curso? Essas são algumas das preocupações que nos movem nesta pesquisa.

Segue abaixo o questionário entregue aos alunos do 1º ano, e em seguida, o

questionário aos alunos do 4º ano do curso de História da UEL:

Questionário para o 1º ano

Perfil do aluno

Data:

Nome:

Idade:

Série e Período (M/N) em que está na graduação:

Colégio, período (M/N) e cidade onde estudou o ensino médio:

Indicar se já cursou ou iniciou outro curso na Universidade:

Questionário

1. Por que escolheu o curso de História?

2. O curso de História é muito diferente do que você imaginava no ensino médio?

3. O que é História para você?

4. Você gostaria de dar aulas de História (ensino fundamental, médio ou superior)? Por quê?

5. Você gostaria de iniciar um trabalho de pesquisa? Em qual área e por quê?

6. Se fosse para lecionar História, qual conteúdo você acharia mais interessante de

trabalhar? Por quê?

7. O que você achou mais difícil até agora no curso de História?

8. Se fosse possível, você preferiria não dar aulas? Por quê?

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Questionário para o 4º ano

Perfil do aluno:

Data:

Nome:

Idade:

Série e Período (M/N) em que está na graduação:

Colégio, período (M/N) e cidade onde estudou o ensino médio:

Indicar se já cursou ou iniciou outro curso na Universidade:

Questionário

1. Por que escolheu o curso de História?

2. O curso de História é muito diferente do que você imaginava no ensino médio?

3. O que é História para você?

4. Gostaria de dar aulas de História para o ensino fundamental, médio ou superior? Por quê?

5. Qual é o tema do seu TCC? Por que escolheu este tema em particular?

6. Se fosse para lecionar História, qual conteúdo você acharia mais interessante de

trabalhar? Por quê?

7. O que você achou mais difícil até agora no curso de História? Fale sobre.

8. Se fosse possível, você preferiria não dar aulas? Por quê?

9. Depois da experiência do estágio você ainda acha que terá alguma(s) dificuldade(s) para

dar aulas? Qual(s)?

10. Você consegue identificar alguma matriz teórica utilizada nas suas aulas durante a prática

do estágio? Qual(s)?

11. Você já leciona? Desde quando? Qual disciplina e para qual série?

12. Indique uma experiência significativa de aprendizagem enquanto aluno do curso de

História (na pesquisa, no ensino ou extensão).

O aluno como sujeito: analisando as falas dos alunos.

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Com o objetivo de investigar a concepção de história dos alunos do 1º e 4º ano do

curso de licenciatura em História da UEL (2014), bem como suas expectativas com relação ao

curso antes de ingressarem, como está sendo sua formação até o momento e qual o resultado

desse período de graduação (para o caso dos alunos do último ano), distribuímos

questionários para os alunos das turmas matutino e noturno, que no momento da aplicação

dos questionários se encontravam no 2º e 8º semestres do curso.

Os questionários foram feitos procurando investigar o perfil dos alunos como idade, de

onde vinham e questões que entendemos de grande importância para os nossos objetivos de

pesquisa. Neste aspecto algumas interrogações eram comuns para os alunos dos dois anos:

concepção de história; interesse em ser professor; o que os motivaram a fazer o curso, entre

outras. Algumas perguntas eram especificas de cada ano: como, por exemplo, sobre a

experiência do estágio para o 4º ano.

Recebemos as respostas de 12 alunos do primeiro ano, sendo nove do matutino e três

do noturno; e 13 alunos do quarto ano, sendo dez do matutino e três do noturno. Um total de

25 questionários para análise.

Dentre os 12 questionários do 1º ano, sete foram de mulheres entre 18 e 25 anos de

idade, enquanto cinco foram de homens entre 18 e 30 anos. Dentre os 13 questionários do 4º

ano, quatro foram de mulheres entre 22 e 29 anos; e nove foram de homens entre 20 e 52

anos. Portanto dos 25 alunos que responderam aos questionários, 11 foram mulheres entre 18

e 29 anos; e 14 foram homens entre 18 e 52 anos.

No que diz respeito à formação no ensino médio desses alunos, obtivemos as seguintes

informações: Apenas cinco alunos do primeiro ano e seis do quarto ano, fizeram o ensino

médio em Londrina, dois alunos não informaram. Dos doze alunos restantes, oito vieram do

Estado de São Paulo (São José do Rio Preto, Jaú, Guarulhos, Marília, Presidente Prudente,

Fernandópolis, Votuporanga e Mairinque), um veio de Cuiabá – MT, outro de Campo Grande

– MS, um de Ibiporã, região metropolitana de Londrina, e um de Apucarana – PR, próximo a

Londrina.

Quanto a ter iniciado ou não, outro curso em Universidade, dos doze alunos do

primeiro ano, cinco já estiveram em alguma graduação: uma aluna dentre eles, indicou o

curso de Serviço Social, e um aluno o curso de Direito, mas nenhum dos dois disse onde e se

concluiu ou não; outro aluno dentre os cinco, disse já ter iniciado o curso de Arquivologia na

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UEL, mas não concluiu; outro ainda mencionou ter feito três meses de Administração na USP

de Ribeirão Preto no ano de 2013; e por fim, uma das graduandas iniciou Arquitetura na

UNIFIL de Londrina, e outro disse apenas já ter iniciado curso em universidade.

Dentre os treze alunos do quarto ano, também foram cinco os que já tiveram

experiência em algum curso universitário: um indicou o curso de Administração incompleto;

outro o de Ciências Sociais, sem mais informações; uma aluna disse ter concluído um curso

superior na UNOPAR de Londrina, mas não especificou qual; outro destes alunos se formou

em Administração também pela UNOPAR (2006-2009), por último, uma aluna indicou Letras

Vernáculas, porém incompleto; e dois, dentre os treze, não responderam essa questão.

Neste trabalho os alunos do primeiro ano foram codificados com a letra “G” que

corresponde a Graduandos, assim, as falas serão mencionadas de “G1” a “G10”. Os alunos do

quarto ano foram codificados com a letra “F” de Formandos, assim, suas falas serão

mencionadas de “F1” a “F13”. Desta forma, nenhum aluno será identificado nominalmente,

respeitando o direito de anonimato para a participação à pesquisa.

Cientes de que esta análise não alcança a totalidade da formação docente desses

estudantes, de suas experiências e aprendizagens no curso, pretendemos aqui trazer reflexões

acerca de sua formação que possam contribuir com o campo do ensino de História.

1) Quanto à escolha do curso

Da análise das 12 respostas da primeira pergunta do questionário (Por que escolheu o

curso de História?) aos alunos do 1º ano, bem como dos 13 questionários do 4º ano, surgiu

uma categoria em comum: “Sempre gostei”. De todos os alunos, nove apontaram que

“sempre” gostaram, foram fascinados, quiseram estudar História, ou tiveram mais afinidade

com a disciplina de História na escola, portanto o interesse esteve presente até o momento da

escolha do curso:

G5 Escolhi História porque sempre gostei e por querer dar aula. (grifos nossos)

F3 Eu sempre gostei de dialogo cultural que a disciplina de história fazia com todos

os temas da sociedade [...]. (grifos nossos).

F5 A escolha do curso veio pelo interesse na história [...]. (grifos nossos).

F6 Sempre gostei de estudar história da escola [...]. (grifos nossos).

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Além do interesse pela História, que os levaram a optar pelo curso, os formandos

mencionaram um interesse pela docência, foram 6 dentre os 13 alunos do 4º ano, que citaram

esse desejo pela licenciatura, o que veio a influenciar na escolha por essa graduação:

F2 Inicialmente, pela carreira docente, especialmente voltada para Ensino Médio e

curso pré-vestibular. (grifos nossos)

F4 Primeiramente pela vontade em ensinar/ser educador. Enfim, um bom

professor. História sempre me interessou, sempre gostei.

2) Quanto ao curso

Analisando a questão de número 2 (O curso de História é muito diferente do que você

imaginava no ensino médio?) identificamos que tanto para os alunos do 4º ano, quanto para

os alunos do 1º ano, o curso de História foi “sim” muito diferente do que pensavam. Doze dos

treze formandos, e dez dos doze graduandos, disseram que sim, a realidade acadêmica é

diferente do que se imaginava no ensino médio.

G11 Sim. Entrei no curso de História pensando que me aprofundaria nos tempos e

na cronologia vista no ensino médio, como se o conteúdo fosse fixo e eu fosse

aprender mais sobre aquilo que eu já tinha visto. Na verdade, vi no curso visões

bem diferentes do que já havia visto. (grifo nosso)

F1 Sim, o que aprendemos na escola é algo muito mais ralo do que a universidade

ensina. Na UEL você aprende uma história muito mais densa junto com conteúdos

muito elaborados. (grifos nossos).

F7 Acho que sim. Sempre imaginei que eu ficaria sabendo de tudo que

aconteceu no mundo, mas não é bem assim [...]. (grifos nossos).

Cabem aqui algumas indagações: o curso é diferente do que se pensava no ensino

médio, mas em que sentido? O que imaginavam que fosse? O que encontraram? Na resposta

de G11 verifica-se uma expectativa de continuidade e aprofundamento da História que foi

vista no ensino médio, porém, se deparou com um estudo diverso e divergente. Isso nos indica

uma mudança na própria concepção de História dos alunos, o que antes se pensava ser um

conteúdo fixo agora passou a ser visto como algo subjetivo e complexo:

G3 Sim. Eu esperava algo mais objetivo, mas descobri que é um curso

extremamente subjetivo, o que o tornou ainda mais interessante. (grifo nosso)

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Para a análise da questão de número 7 (O que você achou mais difícil até agora no

curso de História? Fale sobre), as respostas dos formandos foram as mais diversas. F2 afirma

que o mais difícil foi aprender a interdisciplinaridade, ou seja, “pensar conjuntamente as

diferentes áreas do curso”, nas palavras do aluno:

F2 Pensar conjuntamente as diferentes áreas do curso: na prática, trabalhar

teoria da história, metodologia de pesquisa, metodologia de ensino e as disciplinas

relacionadas a épocas (antiga, medieval, Brasil...) juntos, principalmente no

estágio. (grifos nossos)

Já entre os graduandos, duas categorias surgiram nas respostas quanto àquilo que

acharam mais difícil no curso até o momento: 1) muita leitura e 2) o “desconhecido”. Cinco

dos doze alunos do primeiro ano disseram que o mais difícil foi se adaptar a quantidade de

leitura.

G2 O mais difícil é ter muitas coisas para ler [...]. (grifos nossos)

G7 [...] talvez a maior dificuldade, em especial para os alunos do noturno, é ter

tempo para se dedicar as leituras. (grifos nossos)

G9 [...] você, já no primeiro semestre, se depara com um mar de informações que

nunca nem ouviu falar, mas que, se não aprendidas no começo do curso, acaba te

prejudicando no decorrer dele. (grifos nossos)

G12 A gama de material trabalhado em pouco tempo, a quantidade de trabalhos vai

muito além da possibilidade que nem todos tem de trabalhar o conteúdo. (grifos

nossos)

Atrelado à extensiva leitura a que se referem os alunos, vem o segundo ponto, não se

trata apenas da quantidade, mas da natureza dos textos, aspectos nunca vistos pelos

graduandos até então, essa também foi uma dificuldade. G9, acima, menciona isso quando diz

“um mar de informações que nunca nem ouviu falar”, G4 detalha essa sua dificuldade:

G4 O mais difícil foi me acostumar a ler tantos textos e livros acadêmicos. Sempre

li muito, mas eram livros literários, de ficção, só por diversão e por hobbie. Já na

faculdade, temos de ler livros com uma atenção especial, tentando entender cada

coisa que o autor diz, tentando encaixar em cada período em que aquilo é dito.

Existe uma pressão bem maior [...] (grifos nossos)

Há também outra preocupação: o que na escola é dividido e ensinado

cronologicamente, na universidade é ensinado enquanto processo histórico, quer dizer, em

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cada disciplina estudam-se textos que pesquisam contextos e temas específicos que passeiam

pela cronologia, mas não seguem rigidamente a linha do tempo.

Não cabe aqui julgar a abordagem nas aulas do curso de História da UEL, mas trazer

uma questão à tona: Como os alunos estão se formando em História? Será que estão perdidos

no tempo? Aprendem o que é História, historiografia e historiador, mas perdem a noção do

tempo, ou seja, onde tudo isso se situa? Para G1, essa é a maior dificuldade.

G1 Situar o que é aprendido no tempo. Pois, os professores partem do pressuposto

de que o aluno já sabe todas as datas importantes dos acontecimentos. Mas na

verdade, o Ensino Médio é muitas vezes defasado nessa questão. Eu não acredito

que o aluno deve se prender às datas, mas acho que elas também são importantes e

auxiliam na compreensão do contexto histórico dos acontecimentos. (grifos nossos)

Com relação à questão 12 do Questionário (Indique uma experiência significativa de

aprendizagem enquanto aluno do curso de História - na pesquisa, no ensino ou extensão), um

dos pontos mais importantes depois desse período de graduação, os alunos expuseram

experiências diferentes e todas importantes. Dos treze formandos sete mencionaram a

“pesquisa” como uma experiência significativa de aprendizagem, sendo em iniciação

científica, projeto de pesquisa, nas disciplinas, ou mesmo no Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC).

F4 Algumas experiências foram muito importantes. Projeto de pesquisa: a) estudei

imagens em cemitérios com o professor Alberto, aprendi muito com uma fonte

bastante diferente e muito interessante. Leituras muito boas também; b) e História

Ambiental – projeto que estou desde o início de 2013 com o professor Jozimar, me

levou ajudou a escolher o que pesquisar para o TCC. Projeto de ensino/extensão: O

mais significativo foi no museu – o estágio obrigatório – e agora neste segundo

semestre/2014 irei pesquisar ensino com a professora Maria Renata Durán – Rea e

as novas Tic’s na educação. (grifo do aluno)

3) Quanto à concepção de História

Aqui a análise refere-se à questão de número 3 no Questionário (O que é História para

você?). Considerando que os questionários foram respondidos quando os alunos do 1º ano

estavam no 2º semestre da graduação, pressupõe-se que já possuam uma noção do que é

História academicamente, porquanto já tiveram aulas nas disciplinas Introdução à História e

Antropologia e História segundo a grade curricular do curso, além das discussões nas outras

disciplinas e o decorrer do segundo semestre no qual estão inseridos.

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Sete alunos demonstram ter uma concepção de História ligada ao seu tempo, algo

inserido e estudado em contexto, ou seja, História para eles é o estudo do homem ou da ação

humana no tempo e no espaço e tudo o que nos rodeia.

Podemos perceber aqui dois pontos: primeiro a influência de um historiador

específico, Marc Bloch, que define a História como a ciência que estuda a ação do homem no

tempo.1 E, segundo, olhares sobre a história que enfatizam sua construção a partir do presente.

A categoria que emergiu das respostas foi, não explicitamente, mas o que podemos

caracterizar como História enquanto “ciência”.

G1 Para mim, a História é o estudo do efeito do tempo sobre as pessoas e sobre a

sociedade. É a disciplina que auxilia o homem a compreender e a se situar na

sociedade em que ele vive. (grifos nossos)

G2 História para mim é uma disciplina que levanta questionamentos, discussões e

permite o indivíduo entender o seu passado, além de conhecer temas do pensamento

humano tão importantes na vida do cidadão. (grifos nossos)

G3 Entendo que história é muito mais do que o estudo de acontecimentos, mas de

um contexto, análise do homem e sua ação em seu meio e tempo. (grifos nossos)

G5 História para mim é poder enxergar o outro pelo ponto de vista de sua

mentalidade e contexto. (grifos nossos)

Essas quatro falas demonstram a concepção de História dos alunos do 1º ano que a

definem como um “estudo” sobre as pessoas e a sociedade, uma “disciplina” crítica, uma

“análise” do homem e sua ação, um “olhar” sobre o outro, ou seja, uma ciência que

desenvolve suas pesquisas com seus critérios e especificidades. Nota-se que essa definição de

ciência vem sempre atrelada com o segundo ponto, mencionado acima, que é a influência e

importância do presente de onde surgem os questionamentos e para onde se direcionam as

produções.

Para esses futuros professores, a História tem um papel: “auxiliar” o homem a

“compreender e se situar” na sociedade em que vive (G1), “permitir” que o indivíduo entenda

seu passado e conheça o pensamento humano (G2), tentar “enxergar” o outro a partir de seu

contexto (G5). Dos doze alunos do primeiro ano, sete conceituam História como sendo um

1 Ver BLOCH, Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,

2001.

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“olhar” (interpretação), produzido em seu contexto histórico, sobre o passado e presente, um

olhar investigativo, como uma ciência.

Assim como os alunos do 1º ano, os formandos também definem História como um

“estudo”, com caráter de pesquisa científica e crítica, mas é visível uma concepção mais

esclarecida quanto ao fazer História, ofício do historiador, não somente à matéria ou

disciplina de História.

História, para os alunos do 4º ano do curso de licenciatura da UEL; é um estudo, uma

interpretação ou uma narrativa sobre a ação humana em um espaço e tempo através de uma

fonte disponível. Portanto, elegemos a categoria “narrativas construídas” a partir das respostas

aqui analisadas.

F1 Para mim é o estudo de tudo que envolve o homem, tanto no passado quanto no

presente. (grifo nosso)

F2 Uma interpretação da ação humana no tempo passado e presente. (grifo nosso)

F3 História são narrativas sobre Acontecimentos em um Espaço Tempo. (grifo

nosso)

F4 São narrativas construídas de acordo com a fonte primária em que está a sua

disposição [...]. (grifos nossos)

F6 O estudo do homem em determinado tempo e espaço [...]. (grifos nossos)

Oito dos treze formandos definem ou se aproximam dessa definição de História, como

sendo uma narrativa ou interpretação construída por meio do estudo, ou pesquisa de um

objeto histórico em determinado tempo e espaço. Considerando objeto histórico “tudo que

envolve o homem, tanto no passado quanto no presente” segundo definição de F1, acima.

Quanto às considerações dos alunos em relação à pesquisa, docência e estágio (no caso

dos alunos do 4º ano), o que correspondem às questões de número 4, 6, 8 e 11 (docência),

questão de número 5 (pesquisa), e número 9 e 10 (estágio), a análise não poderia ser

contemplada no presente artigo. Portanto, de modo geral, apresentamos aqui algumas

considerações finais.

Considerações finais

Pensamos que, de uma forma geral, quando falam de suas expectativas do curso, das

dificuldades nas experiências, ou daquelas que ainda podem surgir no futuro como

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profissionais, os alunos se remetem ao que poderíamos considerar certos “medos” como:

dominar o conteúdo, “transmitir” o conhecimento de forma clara, ou como superar o

desinteresse dos alunos. Ou seja, parece permanecer a ideia de um ensino ainda pautado

naquilo que Marco Antonio Moreira qualifica como “conceitos fora de foco”, especialmente

aqueles que percebem o aluno como passivo e que o conhecimento emana de uma autoridade

superior, quando na verdade deveríamos nos preocupar em ensinar o aluno a “aprender a

aprender” como Moreira explica. (MOREIRA, 2000)

Gostaríamos de destacar a narrativa de um graduando do primeiro ano, que descreve

sua experiência enquanto aluno do curso de História, falando sobre o que foi mais

significativo para ele:

G4 [...] Na escola a gente recebe as informações todas mastigadas,

todas recortadas e "prontas". Não gerava uma discussão sobre o tema

nas aulas de História. Não que História seja melhor que outras

matérias, mas uma fórmula de matemática, sempre será a mesma

fórmula. Em História não é assim. Você tem diversos pontos de vistas,

diversos pensamentos e ideias. É PRECISO gerar uma discussão. Mas

isso não ocorria, o conteúdo era passado como se aquele ponto de

vista fosse total verdade. Já na faculdade é totalmente diferente. A

gente discute os temas, discute a forma de pensamento de

determinado historiador devido à sua formação, o porquê dele pensar

assim. Então sim, é muito diferente, mas é um diferente bem melhor.

Não temos uma resposta a tantas questões. Mas, talvez uma possibilidade seja

continuar a procurar um ensino pautado na descoberta e no vínculo estreito entre teoria e

prática, reforçando o trabalho cada vez mais assíduo com as fontes históricas em sala de aula,

e com pesquisa em arquivos. Ao final, podemos afirmar que a nossa experiência, como

também aluna do curso de história da UEL, nos faz pensar o quanto temos que aprender a

ensinar de uma forma também diferente. Contudo, acreditamos estar no caminho certo.

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