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1 XXIII Encontro Regional de História ANPUH/SP UNESP/Assis Simpósio Temático n. 18. Escrita da História: suportes, fundamentos, perspectivas Escrita da História e Espaço Museológico* Cecilia Helena de Salles Oliveira Museu Paulista da USP/Pesquisadora CNPq Introdução O objetivo primordial desta comunicação é problematizar os nexos que se constituíram, desde o século XIX, entre os museus de História nacional e a escrita da História. A despeito das inúmeras críticas produzidas, na atualidade, sobre o papel desempenhado pelos museus no âmbito da divulgação de histórias nacionais, que não encontrariam mais fundamentação na historiografia contemporânea e nos conteúdos ensinados nas escolas, até passado recente esses espaços autenticavam interpretações correntes acerca do percurso histórico da sociedade brasileira e se ajustavam às demandas de professores e escolares na direção de “presentificar”, como nomeou Stephan Bann i , aquilo que manuais escolares e obras de divulgação veiculavam. Partindo do lugar importantíssimo ocupado pelo Museu Paulista da USP, o conhecido Museu do Ipiranga, na configuração do imaginário nacional, pretendo abordar de que maneira a decoração do edifício-monumento do Ipiranga, formulada por ocasião das comemorações dos 100 anos de Independência, articulou-se ao movimento de cristalização de um núcleo de protagonistas dos episódios de 1822, cujas ações foram interpretadas como imprescindíveis e heroicas, pois teriam “provocado” acontecimentos e representado perfis políticos sem o que a separação de Portugal não teria sido possível. Particularmente, um desses personagens, Joaquim Gonçalves Ledo, chama a atenção porque, ao contrário de muitos dos retratados no Salão de Honra do Museu e nos espaços da escadaria monumental, sua fisionomia foi reconhecidamente ficcional por aquele que a idealizou Affonso d´Escragnolle Taunay - o que não obstou a produção de sua efígie, tomada desde então como seu retrato definitivo, sistematicamente reproduzido em obras das mais variadas naturezas e intenções. Mais do que este detalhe, porém, sua presença no panteão de próceres da

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XXIII Encontro Regional de História – ANPUH/SP – UNESP/Assis

Simpósio Temático n. 18. Escrita da História: suportes, fundamentos, perspectivas

Escrita da História e Espaço Museológico*

Cecilia Helena de Salles Oliveira – Museu Paulista da USP/Pesquisadora CNPq

Introdução

O objetivo primordial desta comunicação é problematizar os nexos que se

constituíram, desde o século XIX, entre os museus de História nacional e a escrita da

História. A despeito das inúmeras críticas produzidas, na atualidade, sobre o papel

desempenhado pelos museus no âmbito da divulgação de histórias nacionais, que não

encontrariam mais fundamentação na historiografia contemporânea e nos conteúdos

ensinados nas escolas, até passado recente esses espaços autenticavam interpretações

correntes acerca do percurso histórico da sociedade brasileira e se ajustavam às demandas

de professores e escolares na direção de “presentificar”, como nomeou Stephan Banni,

aquilo que manuais escolares e obras de divulgação veiculavam.

Partindo do lugar importantíssimo ocupado pelo Museu Paulista da USP, o conhecido

Museu do Ipiranga, na configuração do imaginário nacional, pretendo abordar de que

maneira a decoração do edifício-monumento do Ipiranga, formulada por ocasião das

comemorações dos 100 anos de Independência, articulou-se ao movimento de cristalização

de um núcleo de protagonistas dos episódios de 1822, cujas ações foram interpretadas como

imprescindíveis e heroicas, pois teriam “provocado” acontecimentos e representado perfis

políticos sem o que a separação de Portugal não teria sido possível.

Particularmente, um desses personagens, Joaquim Gonçalves Ledo, chama a atenção

porque, ao contrário de muitos dos retratados no Salão de Honra do Museu e nos espaços

da escadaria monumental, sua fisionomia foi reconhecidamente ficcional por aquele que a

idealizou – Affonso d´Escragnolle Taunay - o que não obstou a produção de sua efígie,

tomada desde então como seu retrato definitivo, sistematicamente reproduzido em obras

das mais variadas naturezas e intenções.

Mais do que este detalhe, porém, sua presença no panteão de próceres da

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Independência e do Império esta a merecer investigação acurada. O retrato de Ledo inserido

na impactante decoração interna do Monumento do Ipiranga consolidou uma memória

recortada do protagonista e dos episódios e até hoje resiste a questionamentosii.

Simultaneamente, parcela relevante do percurso político que Ledo construiu na primeira

metade do século XIX permanece obscurecida, lembrando-se que foi Taunay um dos mais

importantes responsáveis pela recuperação da imagem positiva com a qual se tornou

conhecido, a partir da década de 1920. Por que na literatura do século XIX a atuação de

Ledo se tornou secundária aos eventos que teriam marcado a fundação do Império? Quais

seriam as significações historiográficas e políticas de sua recuperação no centenário de

1922? Que peso teve a decoração do Museu Paulista nesse processo de construção de uma

escrita da História sobre a Independência e o Império ainda hoje tão enraizada?

1. Ambigüidades

“... N´um retiro voluntário, coberto de desgostos, no leito de dores, se eclipsou a musa do

Conselheiro Joaquim Gonçalves Ledo, nosso sócio efetivo, companheiro do cônego

Januário na Independência, colaborador ardente do Revérbero, procurador de província,

deputado, homem de letras, poeta de uma suavidade anacreôntica.... n´um momento de

despeito entregou às chamas todas as criações de sua musa harmoniosa.... O Conselheiro

Ledo tinha uma bela imaginação como poeta, uma lima diamantina como literato e escritor,

uma cabeça forte como legislador, uma língua de ouro como orador; mas não possuía a

bússola que guia os homens no intrincado labirinto da política: a sua inteligência bifurcava

de improviso todas as questões, alongava as linhas de raciocínio em raios tão longínquos,

que não podia abarcá-los depois e reuni-los; e ficava perplexo entre os dois extremos de

seus raciocínios. Este caráter... o constrangia a não poder abraçar um dos lados e nele

permanecer.... A posteridade não tem culpada injustiça dos contemporâneos....a posteridade

releva sempre os desvios do homem, uma vez que ele lhe consagre uma flor de seu

engenho, um legado de sua riqueza intelectual, ou um fato que lhe sirva de proveito...” iii.

Foi desse modo que Manuel Araújo Porto-Alegre, em nome do Instituto

Histórico, despediu-se, em 1848, de Gonçalves Ledo (1781-1847). Dois parágrafos

inseridos em longo discurso no qual eram lembrados muitos outros sócios falecidos nos

anos de 1845, 1846 e 1847, a exemplo de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada( 1773-1845),

agraciado com nove páginas, de José Ricardo da Costa Aguiar e Andrada(1787-1846),

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relembrado em quatro laudas, e de Januário da Cunha Barbosa (1780-1846). Este último foi

pranteado por Porto-Alegre e, no mesmo número da Revista do Instituto, recebeu elogios e

discursos celebrativos, elaborados por J. F. Sigaud, por Francisco de Paula Meneses,

Joaquim Norberto de Souza e Silva, Joaquim Manuel de Macedo e Antônio Gonçalves

Diasiv.

Porto-Alegre sublinhou que “a vida do Instituto está intimamente ligada

com a vida dos mortos”, era “nutrida das memórias do passado”. Mas, diferentemente dos

demais “homens da Independência” saudados nessa ocasião, para Ledo foram reservadas

observações ambíguas: as qualidades literárias e políticas ressaltadas eram, ao mesmo

tempo, postas sob suspeição, indicando-se ao final que “desvios” de conduta poderiam ser

sublimados, desde que um legado aproveitável tivesse sido deixado para as gerações

futuras.

O perfil construído por Porto-Alegre provoca estranhamento quando

comparado à memória coerente e heroica com a qual a figura de Gonçalves Ledo chegou

até nós por meio das narrativas de vários historiadores, a exemplo de Varnhagen e José

Honório Rodrigues, que realçam sua atuação no movimento de Independênciav. Segundo

José Matoso Maia Forte, que elaborou uma de suas biografias mais detalhadas, a carreira de

Ledo encerrou-se em 1840 quando “estava findo, também seu prestígio político”. Por

ocasião de seu falecimento “...não teve sequer um necrológio! Nem no Senado, nem na

Câmara, nem ainda na Assembleia Provincial foi o seu nome pronunciado. Na imprensa da

época, a mesma indiferença por um dos extremos propugnadores da nossa

Independência!...Apenas o Socialista da Província do Rio de Janeiro consagrou à memória

de Ledo poucas linhas...”vi.

Ao pontuar sua trajetória, Maia Forte mostra que, entre outras atividades

literárias e políticas, Ledo foi eleito deputado pela província do Rio de Janeiro para duas

legislaturas (1826-1829 e 1830-1833), ocupando, entre 1835 e 1840, uma cadeira na

Assembleia legislativa provincial, formada a partir do Ato Adicional de 1834. Teria optado

por um ostracismo voluntário a partir de então, o que seria motivo, segundo o autor, para

que o “esquecimento” recaísse sobre ele. “A justiça serena de história”, porém, teria

“começado a rasgar aquele véu, em 1922...”vii. O biógrafo relegou a plano secundário o

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discurso de Porto-Alegre, veiculado em 1848, e igualmente desconsiderou que a figura de

Ledo fora objeto de atenção de vários cronistas e historiadores durante o século XIX, em

particular, José da Silva Lisboa, João Armitage, Pereira da Silva e Varnhagenviii.

O confronto entre o registro melancólico e irônico feito por Porto-Alegre,

em 1848, e a imagem de Ledo construída, em 1931, por Maia Forte, como “encarnação das

aspirações populares” e “injustiçado” por seus pares, diante das contribuições à

Independência e à construção do Império, conduz a pelo menos duas linhas de

questionamento: a primeira, voltada para a investigação da trajetória de Gonçalves Ledo no

período posterior a seu exílio, encerrado nos fins de 1823, sobre a qual praticamente nada

se conhece; a segunda, dedicada à discussão acerca das articulações entre política,

movimento da história e delineamento da memória. Maia Forte estabelece uma cronologia

na qual o percurso político de Ledo apresentaria três momentos de inflexão: 1822 e a

atuação na Independência e na aclamação da monarquia constitucional, protagonizada por

D. Pedro; 1840 e o auto-isolamento em sua propriedade localizada em Santo Antonio de Sá,

RJ, resultado da “perda de brilho” com a Abdicaçãoix; e a reaparição, ombreando com D.

Pedro e José Bonifácio, por ocasião dos festejos do centenário, em 1922, especialmente

pela intervenção de Taunay seja por meio da decoração interna do Museu Paulista seja

através da obra Grandes vultos da Independência brasileirax.

Poder-se-ia, então, considerar que o engrandecimento da figura de Ledo,

particularmente sua vinculação às “aspirações populares” seria uma das resultantes do

debate que envolveu o mundo intelectual na década de 1920, em torno do caráter da nação

brasileira e das significações da monarquia e da república na construção da nacionalidadexi.

Foi nessa recuperação que seriam consolidados os liames entre a imagem desse político e a

compreensão da Independência como resultante de consenso e anseio da população. Mas,

em qual sentido Maia Forte estaria utilizando as expressões Independência e “aspirações

populares”?

Por outro lado, ao trazer para seu presente essa personagem, recortando

fragmentos de sua trajetória, em particular aquele por intermédio do qual se tornaria

conhecido a partir do século XX – a atuação decisiva nos episódios da separação de

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Portugal -, Maia Forte colocou nas sombras outras interpretações produzidas no século

XIX, das quais os argumentos de Porto-Alegre constituem apenas uma manifestação.

José da Silva Lisboa foi um dos mais importantes protagonistas das lutas

políticas que envolveram a separação de Portugal e aos depois, entre 1827 e 1830, foi

incumbido por D. Pedro I de selecionar e registrar essas experiênciasxii. Uma das questões

centrais proposta por sua obra reside na maneira pela qual reconhece diferentes

interlocutores nos embates em curso – a cabala antibrasílica das cortes lisboetas, os

anarquistas, os republicanos – mas deles retira a iniciativa das ações, colocando-a,

inicialmente, no âmbito restrito da pessoa do rei e depois nas mãos do príncipe e imperador.

Subtraiu o espaço de ação da sociedade e dos agrupamentos políticos, fazendo crer que a

“revolução da Independência”, como denominou o movimento separatista e a fundação de

um Império constitucional na América, foi resultado de sucessão linear de eventos

promovidos pelo Estado monárquico, enraizado desde 1808, mas cujas tradições e

legitimidade remontavam aos primórdios da monarquia portuguesa. Nesse sentido, o eixo

da narrativa concentra-se na figura dos governantes, em particular D. Pedro, comparado a

César, figura carismática que concentrou em torno de si a adesão dos monarquistas

constitucionais – entre os quais estava Ledo – para derrotar os opositores (Cortes lisboetas e

republicanos) e erguer o Império.

Enquanto Lisboa buscava subsídios para aproximar a “revolução da

Independência” na América portuguesa do percurso político europeu, John Armitage, na

História do Brasil que escreveu em 1836, procurou articular a organização da monarquia

constitucional às especificidades da sociedade colonial e da Américaxiii. Nessa narrativa,

porém, a “revolução da Independência” não só encontrara seu desfecho apenas com a

Abdicação como representava o movimento da sociedade e de seus representantes na

direção de construir um governo constitucional, capaz de garantir as liberdades individuais,

o progresso material e a derrota definitiva do passado colonial e absolutista.

Armitage procurou, então, definir o perfil dos protagonistas, realçando as

oposições que antagonizaram brasileiros e portugueses, em um primeiro momento, marcado

pela ação das Cortes em Lisboa, e num segundo passo patriotas e absolutistas. Qualificou

tanto o partido de Ledo quanto o de José Bonifácio como sendo patrióticos muito embora

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divergissem em relação aos fundamentos da monarquia. Bonifácio buscava imprimir uma

dimensão mais legitimista e conservadora ao governo monárquico, enquanto o partido de

Ledo estaria vinculado às aspirações populares, defendendo, em razão disso, o predomínio

do legislativo. Havia entre ambos uma disputa pelo poder mais que uma incompatibilidade

política. Entretanto, em 1822 e 1823, a vitória momentânea foi de José Bonifácio e dos que

defendiam uma monarquia constitucional na qual o imperador não fosse meramente

decorativo. As condições se alteraram durante o primeiro reinado. Os patriotas liberais

eleitos para a Câmara dos deputados, ainda que a princípio timidamente, foram se

organizando e ao longo da primeira legislatura (1826-1829) haviam conquistado força e

segurança para frear o modo autocrático com o qual D. Pedro I governava. Identificando

entre os liberais os que tinham pendores “exaltados”, afeitos à república, e os

“moderados”, como Bernardo Vasconcellos e especialmente Evaristo Veiga, Armitage

procurou valorizar resoluções do parlamento atinentes à construção do Estado e do

governo, bem como ações e debates, também pela imprensa, que promoveram o

envolvimento da sociedade civil em torno da Abdicação. Nessa parte do livro, não se atém

à figura de Ledo, mas localiza-o entre os liberais, entre os que contribuíram para o

enraizamento da monarquia em solo americano.

Interessante notar que Silva Lisboa, Armitage e Porto-Alegre

presenciaram momentos da atuação de Ledo na imprensa carioca e na Câmara. Mas, se

Lisboa e Armitage mantiveram a personagem numa postura de aparente coerência – para

um, defensor da monarquia constitucional e para o negociante inglês defensor da

supremacia do poder legislativo – Porto-Alegre chamou a atenção para a falta de coerência

política, sem explicitar a quais circunstâncias se referia, talvez porque para os participantes

da política nos anos de 1840 fossem conhecidas.

Vinte anos depois de Porto-Alegre, em 1868, Pereira da Silva recuperava

os feitos de Ledo, entre 1821 e 1822, valorizando-os, mas reiterando que foram por ele

mesmo vilipendiados, em razão do modo como se comportou posteriormente no “intrincado

labirinto da política”. Reavivava, assim, reparos feitos por Porto-Alegre:

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“...Posto ornassem a pessoa de Ledo talentos oratórios elevados e variada instrução não

primava pela reputação de seriedade precisa e de conveniente dignidade. Despido do

prestígio indispensável de uma moralidade não contestada, e nem insuspeita, diminuia por

estes motivos do indispensável conceito para angariar partido e subordiná-lo de toda à sua

direção...”xiv.

Pereira da Silva integrou-se a um dos grupos políticos mais importantes e mais

aguerridos do segundo reinado, o do partido conservador, radicado no Rio de Janeiroxv.

Publicou os sete tomos de a História em momento de profundo debate sobre as instituições

monárquicas e o poder moderador, particularmente agudo durante o chamado segundo

qüinqüênio liberalxvi. Retomava o tema da revolução, tratado amplamente por José da Silva

Lisboa (1827/1830), Armitage (1836), Francisco Salles Torres Homem, o Timandro (1849)

e Joaquim José da Rocha (1855)xvii, entre outros políticos, evidenciando, sobretudo, o

quanto estavam imbricadas narrativa histórica e luta política. Deixava claro que havia

graves e interessantes lições a retirar do passado, desde que observadas a distância

adequada e a imparcialidade. Mesmo apresentando-se modestamente, seu desejo era

produzir um relato que fosse feito para durar e principalmente educar.

Ao dedicar-se aos protagonistas, Pereira da Silva construiu uma interpretação na

qual, mesmo reconhecendo méritos à atuação de Ledo, em 1822, sublinhou a fragilidade do

“partido liberal” que pretendia dirigir, em virtude de suas precárias qualidades políticas e

porque como português José Clemente Pereira não poderia fazê-lo. Descrevendo o campo

de forças naquela época, comentou que as atitudes do governo em Lisboa fizeram com que

surgisse um “partido favorável à inteira independência do Brasil”, à frente do qual estariam

Ledo, Januário da Cunha Barbosa, frei Sampaio e especialmente Clemente Pereira. Todos

eram dotados de sentimentos monarquistas, mas, se fosse preciso, abraçariam o “regime

republicano” para garantir seus objetivos de libertar o Brasil da ação das Cortesxviii.

Registrou, em detalhes, o confronto que teria separado o “partido liberal” de José Bonifácio

e seus imãos, sublinhando, todavia, que “agitadores”, como Ledo, sumiram-se nos

“tumultos” que eles próprios haviam organizado, pois, mais que eles, os Andrada possuíam

estima, honradez e instruçãoxix. Faltavam-lhe, a seu ver, qualidades morais e seriedade para

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chefiar um partido, e não se ombreava com Clemente Pereira tampouco com José

Bonifácio. A atuação de “agitador” fora elemento essencial para o desencadeamento da

“revolução”, mas pareciam ser estreitos os limites da carreira política para quem só se

movia pelo desejo de destruir sem dispor de condições para erguer o novo no lugar do

velho.

Da mesma linhagem interpretativa fez parte Joaquim Manuel de Macedo.

Em obra de 1876, mencionou que Ledo possuia brilhante inteligência, prodigiosa memória,

doçura de caráter e era de fácil trato. Muito estimado no Rio de Janeiro, comprometera-se

com “excessos” por ocasião da reunião de eleitores na Praça do Comércio, exercendo,

porém, até fins de 1822, forte influência na política e no movimento de Independência xx.

Em razão, no entanto, de alterações no comportamento político, que o memorialista não

explicitou, Ledo ficara desacreditado e eclipsou-se, morrendo em total isolamento.

Essas versões foram desmentidas por Varnhagen que preparou os manuscritos de

História da Independência do Brasil, entre 1876 e 1878, quando faleceu. Logo no prefácio,

o historiador adverte que novos fatos, apreciações e documentos obrigaram-no a colocar-se

em “oposição” ao Conselheiro Pereira da Silvaxxi. Sua interpretação espelhou-se nos

argumentos de Silva Lisboa, rechaçou a leitura de Armitage e recompôs a figura de Ledo

bem como de vários de seus companheiros de luta, entre 1821 e 1822, a exemplo de

Januário da Cunha Barbosa e Clemente Pereira. Patriotas liberais e monarquistas, apegados

ao Príncipe, foram vítimas das conspirações e perseguições do grupo dos Andrada que

desejava exercer o mando sem limites. Foi D. Pedro que conseguiu agir acima dos partidos

e encaminhar a separação de Portugal e a fundação do Império com maestria. Mas, a seu

lado brilharam Ledo e o grupo maçônico.

A primeira edição da obra de Varnhagen foi patrocinada pelo Instituto Histórico, em

1916, ocasião em que círculos políticos e intelectuais brasileiros se movimentavam e se

enfrentavam em torno da definição dos festejos dos 100 anos de Independência,

destacando-se a atuação de Oliveira Lima, Max Fleiuss, Gustavo Barroso – na organização

do Museu Histórico Nacional – e Affonso Taunay, empossado diretor do Museu Paulista

em 1917, com a missão precípua de preparar o espaço expositivo para as festividades de

1922 em São Paulo.

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2. Cristalizando memórias

“...Fogoso adversário dos Andradas, não menos talentoso talvez, mas muito menos

cultivado, não menos patriota, mas muito menos criterioso, surge Joaquim Gonçalves Ledo,

figura igualmente primacial, em quem o arroubo dos sentimentos, obliterava às vezes o

bom senso. Orador e escritor eloqüente, faltou-lhe o equilíbrio de qualidades para se tornar

um dos dominadores da cena política de seu tempo...”xxii.

Taunay foi uma das principais inspirações da biografia escrita por Maia Forte,

pautando sua interpretação bem como a cronologia que traçou. A despeito das restrições

levantadas ao comportamento político de Ledo, concedeu-lhe lugar especial no elenco de

homens e mulheres que teriam contribuído para o 7 de setembro de 1822. Dentre esses

“libertadores”, dos quais D. Pedro, Da. Leopoldina e José Bonifácio eram expoentes

máximos, Ledo se destacava pela liderança exercida na “agitação popular” que, segundo o

autor, havia precedido e sustentado a declaração de Independência e a aclamação do

primeiro imperador.xxiii.

Por ocasião das comemorações do centenário, Taunay divulgou súmulas biográficas

sobre as personagens escolhidas para compor a galeria de retratos, especialmente preparada

para ornamentar os espaços centrais do prédio do Museu Paulistaxxiv.

Qualificado como “veemente arauto da Independência”, o retrato de Ledo foi

cuidadosamente fixado no salão nobre do Museu, acima da conhecida pintura de Pedro

Américo – “Independência ou morte” – e do lado esquerdo da efígie de D. Pedro,

compondo com José Bonifácio, Clemente Pereira e Padre Feijó o quarteto de “magnos

patriotas”, cuja atuação deveria ser imortalizada, por coadjuvarem o jovem monarca na

organização de uma nova nação na América.

Por seu “pendor ao liberalismo”, pela redação de o Revérbero Constitucional

Fluminense e pelo “ímpeto em precipitar acontecimentos”, como a convocação de

Assembléia constituinte, que resultaram na separação de Portugal, Ledo merecia esse lugar

venerável. Para Taunay e para o círculo de intelectuais brasileiros que o auxiliaram na

difícil tarefa de traçar os elementos visuais da decoração do Museu Paulistaxxv, sua

importância era tal que pouca relevância foi dada ao fato de o retrato ser uma criação

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“presumível” e imaginária. Taunay registrou, em relatórios administrativos e também por

meio de matéria na imprensa paulista da épocaxxvi, sua indignação diante da impossibilidade

de ter em mãos uma gravura ou uma pintura que retratasse, de modo fidedigno, o rosto do

“célebre agitador”. Sua incansável investigação nesse sentido, que mobilizou historiadores

de várias partes do país e representantes diplomáticos brasileiros no exterior, resultou

infrutífera e o fez levantar a hipótese de que, “por capricho” ou algum outro sentimento,

alguém escondia a verdadeira efígie.

Nos traços ficcionais de Oscar Pereira da Silva, Gonçalves Ledo trás o rosto

marcado pelos quarenta e um anos de vida que completou em 1822. Traja roupas escuras,

que lembram os modelos de “fardeta”, usados por Pedro Américo na concepção da

comitiva que acompanhava o Príncipe por ocasião do episódio de 7 de setembroxxvii. A

sobriedade da roupa é quebrada apenas por uma corrente que, supostamente, estaria

prendendo um relógio, escondido no bolsinho do colete. A seu redor alguns livros e um

fundo, em tons pastéis, no qual se misturam móvel, espelho e cortina.

Efígie de Joaquim Gonçalves Ledo. Acervo do Museu Paulista da USP. Foto: José Rosael.

Muito diferente, do ponto de vista da fisionomia, é a escultura representando Ledo

exposta em um dos nichos do Monumento, erguido em honra ao Centenário, construído

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nos anos de 1920, distante, aproximadamente, 500 metros do edifício do Museu Paulista,

no bairro do Ipiranga, na cidade de São Pauloxxviii. A obra em bronze apresenta um homem

jovem, cabisbaixo, pensativo, trajando “fardeta” semelhante a do retrato, mas abotoada e

sem adereços. Nas mãos segura papéis, aludindo, provavelmente, a sua atuação na

imprensa. A inscrição indica apenas o nome e um epíteto: “chefe do movimento de

Independência no Rio de Janeiro”.

Fotografia de segmento do Monumento à Independência. Parque da Independência, Ipiranga, São Paulo.

Retrato e escultura prendem-se à imagem recortada com a qual a figura de Joaquim

Gonçalves Ledo emerge do passado circunscrita ao momento da declaração de

Independência, adquirindo visibilidade e aparência de concretude nessas obras de arte.

Seu nome aparece, nos textos de Taunay, associado a quatro situações todas relacionadas

ao período entre 1821 e 1822. Em primeiro lugar, a imprensa e a difusão de “ideias

liberais”, com “tendências francamente republicanas”, simbolizadas no periódico

Revérbero Constitucional Fluminense, que redigiu em colaboração a Januário da Cunha

Barbosa. Em segundo lugar, a maçonaria e a arregimentação de forças sociais heterogêneas

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em torno da luta contra as Cortes de Lisboa e a favor do fortalecimento da figura do

Príncipe Regente. Em terceiro lugar, o confronto de morte travado, dentro e fora da

maçonaria, entre Ledo e José Bonifácio pela preeminência na política. Finalmente, sua ação

no tocante à movimentação “popular”, à mobilização da sociedade e à “agitação” dos

ânimos em prol da Independência, expressão utilizada com o sentido de separação de

Portugalxxix.

A consagração desse perfil deu-se em 1922, conforme fontes estudadas até o

momento, o que aponta para a reinterpretação de tradições, lançadas no século XIX,

particularmente por meio de obras como a de Varnhagenxxx. De modo paralelo ao

movimento político e historiográfico de definição da data de 7 de setembro como marco da

História do Brasil, também o engrandecimento de alguns dos protagonistas parece ter

atravessado períodos de maior ou menor prestígioxxxi. No caso de Ledo, as celebrações em

1922 sugerem sua revivescência com o apagamento ou esmorecimento das qualificações

pouco elogiosas que contemporâneos seus e alguns dos historiadores do século XIX

registraram, a exemplo de Pereira da Silva.

No caso da decoração interna e permanente do Museu Paulista, buscou-se, por um

lado, fixar por meio de recursos estéticos e visuais a importância daquilo que Ledo parecia

representar: a ousadia e o envolvimento entusiástico por uma causa legítima e por seu

principal mentor, D. Pedro. Ledo era o símbolo do ativista que, pela palavra e pela ação,

como nas circunstâncias da convocação de uma Assembléia Constituinte em junho de 1822,

soubera galvanizar a sociedade e despertá-la para o reconhecimento de seus próprios

interesses. O ativista aparece, porém, como figura de fôlego curto, cuja importância

somente poderia ser inteiramente percebida se inscrita no quadro de atuação dos demais

“patriotas” selecionados: José Bonifácio, experiente e equilibrado, metódico e por isso

mesmo capaz de construir um governo, dando-lhe fundamentação e horizonte; José

Clemente Pereira, o português que se tornou brasileiro e que transformou a câmara

municipal do Rio de Janeiro em órgão de apoio à autoridade de D. Pedro, tornando-se,

posteriormente, ministro e senador; e Padre Feijó, representante dos interesses paulistas e

brasileiros nas Cortes em Lisboa, destacando-se, também, no primeiro reinado e depois

como Regentexxxii. De todos os “patriotas” selecionados são realçados fragmentos de ações

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em prol do Império, ao longo de suas vidas. A única exceção foi Ledo, aprisionado pelo

retrato no salão nobre do Museu e na escultura a céu aberto, aos anos de 1821 e 1822.

Assim sedimentada, a personagem passou a integrar obrigatoriamente todas as versões

posteriores da Independência, de Max Fleiuss a Emília Viotti da Costaxxxiii.

* Este artigo é parte de pesquisa em andamento, financiada pelo CNPq, intitulada “Entre o estrelato e o

esquecimento”. i BANN, Stephan. As invenções da História. São Paulo, UNESP, 1994. ii A decoração foi descrita em detalhe pelo próprio Affonso Taunay no Guia da Seção histórica do Museu

Paulista. São Paulo, Imprensa Oficial, 1937. iii PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo. Elogio histórico geral dos sócios falecidos em 1847. Revista do

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo XI, 1848, vol. Suplementar, p. 168-169. iv SIGAUD, José Francisco. Elogio histórico do secretário perpétuo do Instituto Histórico, cônego Januário da

Cunha Barbosa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo XI, 1848, vol. Suplementar, p.

185-194. Os demais textos compõem a parte final dessa edição, p. 240-340. v VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História da Independência do Brasil. 4a. edição. São Paulo,

Melhoramentos, s/d, p. 85-107 e ss; RODRIGUES, José Honório. Independência: revolução e contra-

revolução. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1975, 5 vols, p. 262-268, do 1o vol; p. 52-57, do 4o.vol. vi FORTE, José Matoso Maia. Ledo. Anais do Segundo Congresso de História Nacional (7-14 de abril de

1931). Boletim do Instituto Histórico. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946, vol. V, p. 91. Sobre o

periódico Socialista da Província do Rio de Janeiro, era editado em Niterói, na década de 1840 e seu redator

foi Manuel Gaspar de Siqueira Rego, que ajudava a produzir também o Correio da Província do Rio de

Janeiro, surgido em 1835, com a organização do governo provincial fluminense, por decisão do Ato

Adicional de 1834. Ver: GALLO, Ivone. O socialista da província do Rio de Janeiro: um olhar sobre o

socialismo do século XIX. Anais do 19o. Encontro Regional da ANPUH. São Paulo, Anpuh, 2008. Disponível

no site www.anpuhsp.gov.br/sp/Ivone 20%Gallo. Ver, também, BANDECCHI, Brasil Ledo: pensamento e

ação nas lutas da Independência. São Paulo, Parma, 1983. vii Idem, ibidem, p. 96. viii LISBOA, José da Silva. História dos principais sucessos do Império do Brasil. Rio de Janeiro, Tipografia

Nacional, 1827/1830, 4 tomos; ARMITAGE, João. História do Brasil. 2a. edição. São Paulo, Edusp/Itatiaia,

1981; SILVA, João Manuel Pereira da. História da fundação do Império brasileiro. 1ª. Edição. Rio de

Janeiro, Garnier, 1864/1868, 7 vols; VARNHAGEN, Francisco Adolfo. Op.cit. ix FORTE, José Matoso Maia, Op.cit., p. 88. x TAUNAY, Affonso d´Escragnolle. Grandes vultos da independência brasileira. São Paulo, Melhoramentos,

1922. xi Sobre o período e o tema, ver, entre outros: LUCA, Tânia Regina de. Revista do Brasil- um diagnóstico

para a nação. São Paulo, Edunesp, 1999; GOMES, Ângela de Castro. História e historiadores. Rio de

Janeiro, FGV, 1996. xii LISBOA, José da Silva. Ob.cit, especialmente o prefácio ao primeiro tomo. Sobre a obra ver: OLIVEIRA,

Cecilia Helena de Salles. Repercussões da revolução: delineamento do Império do Brasil, 1808/1831. In:

GRINBERG, K & SALLES, R (org). O Brasil Imperial, volume 1. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,

2009, 15-40. xiii Sobre a obra de Armitage e suas significações, ver: meu artigo na obra Brasil Imperial, volume 1.

Consultar, também, MARSON, Izabel Andrade. Política, história e método em Joaquim Nabuco: tessituras da

revolução e da escravidão. Uberlância, EDUFU, 2008, especialmente capítulo 1.

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xiv SILVA, João Manuel Pereira da. Op.cit, vol. VII, p. 8. xv TASINAFO, Célio. Introdução. Memórias de meu tempo, pelo conselheiro João Manuel Pereira da Silva.

Brasília, Senado Federal, 2003, p. 13. xvi Sobre o tema, consultar: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. São

Paulo, Difel, 1972, tomo II, 5o. vol.; IGLÉSIAS, Francisco. Vida política, 1848-1868. In: HOLANDA, Sergio

Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. 2a. edição. São Paulo, Difel, 1969, tomo II, 3o. vol, p.9-

112; OLIVEIRA, Cecilia Helena de. Introdução. Zacarias de Góis e Vasconcellos. São Paulo, Editora 34,

2002; ABRÊU, Eide Sandra Azevedo. O evangelho do comércio universal. Tavares Bastos e as tramas da

Liga Progressista e do partido liberal, 1861/1872. São Paulo, Annablume/Fapesp, 2011. xvii Sobre o tema consultar, entre outros: MARSON, Izabel Andrade. Política, método e história em Joaquim

Nabuco. Uberlândia, UFU, 2008, cap. 1; JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. A falsa dialética: Justiniano

José da Rocha. Revista Brasileira de História, vol.2, n.3, 1982, p. 3-17. xviii SILVA, João Manuel Pereira da. Op.cit, vol. V, p. 86-ss. xix Idem, ibidem, vol. VII, p. 7. xx MACEDO, Joaquim Manuel de. Ano biográfico brasileiro. Rio de Janeiro, Tipografia do Instituto Artístico,

1876, 3º.vol, p. 339-341. xxi VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História da Independência do Brasil. 4a. edição. São Paulo,

Melhoramentos, s/d, p.11. xxii TAUNAY, Affonso d´Escragnolle. Do reino ao império. São Paulo, Diário Oficial, 1927, p.82. xxiii TAUNAY, Affonso d´Escragnolle. Grandes vultos da Independência brasileira. São Paulo,

Melhoramentos, 1922. Dados biográficos de Ledo foram reunidos, também, por FLEIUSS, Max. Páginas de

História. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1924, p.53-95 e p.229-245. Reproduz impressões de Taunay,

mas enfatiza a comparação entre o “agitador” e a moderação de José Bonifácio. xxiv Sobre a decoração interna do Museu Paulista da USP, consultar, especialmente: TAUNAY, Affonso

d´Escragnolle. Guia da Secção Histórica do Museu Paulista. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São

Paulo, 1937; Anais do Museu Paulista, vol. 10/11, 2003. Dossiê 110 anos do Museu Paulista, 1893/2003;

OLIVEIRA, Cecilia Helena de Salles. O espetáculo do Ypiranga. Tese de Livre-Docência. São Paulo, Museu

Paulista da USP, 2000. xxv Sobre o assunto, consultar: Araújo, Karina Anhezini de. Um metódico à brasileira. A história da

historiografia de Affonso Taunay, 1911/1939. São Paulo, Edunesp, 2011. Ver, também, artigo da mesma

autora Museu Paulista e trocas intelectuais na escrita da História de Affonso Taunay. Anais do Museu

Paulista, vol.10/11, 2003, p.37-60. xxvi TAUNAY, Affonso d´Escragnolle. Relatórios referentes aos anos de 1921, 1922 e 1923 apresentados ao

Exmo. Sr. Dr. Alarico Silveira, secretário do interior. Separata do tomo XIV da Revista do Museu Paulista.

São Paulo, Oficina do Diário Oficial, 1926. Consultar, especialmente, o artigo A Efígie de J G Ledo. In:

TAUNAY, Affonso d´Escragnolle. Do reino ao império, p. 167-176. O texto foi publicado, originalmente, no

Correio Paulistano, em 1921. xxvii Sobre o painel de Pedro Américo, consultar: OLIVEIRA, Cecilia Helena de Salles & MATTOS, Claudia

Valladão de. O brado do Ipiranga. São Paulo, Edusp, 1999. xxviii Sobre o monumento à Independência e as circunstâncias de sua construção, ver: Da Independência ao

Grito. Um projeto de monumento/histórias de uma casa de pau-a-pique. Cdrom. São Paulo, DPH/Prefeitura

do Município de São Paulo/Museu Paulista da USP, 2007. Curadoria da exposição: Cecilia Helena de Salles

Oliveira, Margarida Davina Andreatta, Ricardo Bogus. Execução: Escritório Julio Abe Wakahara. Cabe

lembrar que o monumento escolhido por meio de concurso público estadual era de autoria de Ettore Ximenes

e recebeu voto favorável de Affonso Taunay, Presidente da Comissão do Centenário da Independência em

São Paulo. xxix É importante destacar que a sinonímia entre Independência e separação de Portugal é apenas uma das

possibilidades históricas de compreensão do vocábulo, pois os protagonistas do processo de construção do

Império, nas primeiras décadas do século XIX, inscreviam a expressão, sobretudo, no âmbito da organização

de governo constitucional e representativo. Sobre o assunto, ver: OLIVEIRA, Cecilia Helena de Salles.

Op.cit, cap.3; NEVES, Lucia Maria Bastos das & NEVES, Guilherme Pereira das. Independência e liberdade

antes do liberalismo no Brasil, 1808/1831. In: CARVALHO, José Murilo, PEREIRA, Miriam Halpern,

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RIBEIRO, Gladys Sabina & VAZ, Maria João (org). Linguagens, e fronteiras do poder. Rio de Janeiro, FVG,

2011, p. 99-116. xxx Diferentemente de outros autores, como Armitage, por exemplo, Varnhagen minimizou a atuação de José

Bonifácio, considerando que os protagonistas principais dos acontecimentos que narrou eram D. Pedro e o

grupo maçônico, composto por “ patriotas liberais”, como Gonçalves Ledo, Clemente Pereira e Januário da

Cunha Barbosa. Eram monarquistas, dispostos a não se submeter ao arbítrio do Andrada, tanto assim que,

quando retornaram do “injusto” exílio, foram reincorporados ao governo, recebendo honrarias e comendas.

Ver: VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Op.cit, caps. VII e VIII. xxxi Sobre a construção política e historiográfica da data de 7 de setembro, consultar: OLIVEIRA, Cecilia

Helena de. 7 de setembro. São Paulo, Lazuli, 2007. xxxii Consultar, especialmente, a obra Grandes vultos da Independência Brasileira e o Guia da Secção de

História do Museu Paulista, já citados. xxxiii FLEIUSS, Max. Ob.cit; COSTA, Emília Viotti da. Introdução ao estudo da emancipação política. In:

MOTA, C.G. (org.) Brasil em perspectiva. 3a. edição. São Paulo, Difel, 1971, p. 64-125.