5

Click here to load reader

Toca-discos novos dão dor de cabeça aos fãs de vinil _ Consumidor _ Gazeta do Povo

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Toca-discos novos dão dor de cabeça aos fãs de vinil _ Consumidor _ Gazeta do Povo

Citation preview

Page 1: Toca-discos novos dão dor de cabeça aos fãs de vinil _ Consumidor _ Gazeta do Povo

Diego Kloss/Arquivo Pessoal

Aparelhos novos costumam ter falhas, como a falta de um contrapeso no braço da agulha.

TENDÊNCIA

Toca-discos novos dão dor decabeça aos fãs de vinilDe cinco anos para cá, a procura por discos de vinil cresceu e, comela, a busca por aparelhos que toquem os “bolachões”, mas osmodelos novos têm frustrado consumidores mais atentos

15/10/2015 22h00 Carolina Pompeo, com Estadão Conteúdo

Fã das bolachas, o professor e tradutor Miguel Nicolau, de Ponta Grossa,decidiu investir em um toca­discos novo. Ele escolheu um modelo demadeira, “cinco em um” – também toca CDs, fitas e rádio e possui entradaUSB. A satisfação com a compra, no entanto, durou pouco, e a experiênciacom a radiola foi desastrosa: recém­instalada, o autofalante direito estourou

Vida e CidadaniaConsumidor

Page 2: Toca-discos novos dão dor de cabeça aos fãs de vinil _ Consumidor _ Gazeta do Povo

Ressarcimento

Claudia Silvano, diretora doProcon Paraná, avalia que aloja que vendeu o toca-discospara Miguel teve umaconduta adequada ao realizara troca do primeiro aparelhodefeituoso. Nesses casos,quem comercializa oufornece não é obrigado asubstituir o produtoimediatamente – de praxe, oconsumidor deve encaminhá-lo para a assistência técnica eaguardar um prazo de até 30dias para que o problemaseja solucionado. Entretanto,ela destaca que na segundatroca, Miguel já teria direitoao ressarcimento do valorinvestido no aparelho. Nocaso dele, a devolução dodinheiro foi negociada porcrédito em outros produtosna loja, mas o consumidornão é obrigado a aceitar aproposta.

Antigos ou novos?

Diante da baixa qualidadedos modelos novos,colecionadores se dividem:alguns preferem garimpar

aparelhos antigos em lojas

nos minutos iniciais da segunda faixa do vinil estreante.

A odisseia com o toca­discos foilonge. O primeiro aparelho foisubstituído por um segundo, queteve de ser trocado por um terceiro.Esse último, acomodado em caixalacrada, tinha o braço da agulhaamassado. Saldo: em pouco menosde duas semanas, R$ 1,4 mildesembolsados, três aparelhosnovos defeituosos, dois discosriscados (o aparelho não sustentavao peso dos discos de 180 gramas) eum braço quebrado.

“O aparelho era feito de madeira,pesado e parecia ser bom. Mas oprato do disco e a agulha eram depéssima qualidade; o braço, deplástico, não tinha contrapeso, omotor não aguentava o tranco dovinil de 180 gramas, o disco pulava ea agulha riscava. Tentei trêsaparelhos, todos apresentaramproblemas, aí desisti, voltei na loja,onde me tornei persona non grata, epedi meu dinheiro de volta. Mas não

teve jeito, fiquei com um crédito para gastar em outros produtos”, conta.

O designer gráfico Diego Kloss, 26anos, é membro do Clube do Vinil deCuritiba e administra o blog “De voltapara o vinil”, no qual costuma fazerresenhas sobre toca­discos eorientar quem quer adquirir um

Page 3: Toca-discos novos dão dor de cabeça aos fãs de vinil _ Consumidor _ Gazeta do Povo

aparelhos antigos em lojasespecializadas enquantooutros optam pordesembolsar um pouco maisem marcas mais tradicionais,como a Technics, Rega ouStanton. “Se você quiser ummodelo antigo, tem queprocurar por um em bomestado de conservação, o quenão é fácil. A manutenção émais trabalhosa, mas nãoimpossível. O problema é queeles costumam ser maiscaros do que os novos. Seescolher um novo, prefiramodelos sem caixasembutidas, toca CDs e fitas. Omelhor é compraramplificador e caixasseparadamente”, orientaDiego.

aparelho e não sabe como escolher.Crítico feroz dos modelos novos comcarinha vintage (“Parecemlancheiras”), Diego garante que oinvestimento não vale a pena.

“Esses modelos novos têm preço edesign convidativos, e a praticidadetambém é atraente, porque já vêmcom o autofalante embutido, algunstêm entrada USB, tocam CDs,possuem retorno automático. Noentanto, não possuem peçasprimordiais, como contrapeso. Arotação do motor é fraca, fazendocom que as faixas sejam tocadas em‘slow’; a qualidade da amplificação ébaixa; e o braço é de plástico, entãoa cápsula acaba fazendo pressãoexcessiva e estragando os discos”,

explica, listando os problemas mais comuns encontrados.

Fique de olhoO colecionador Diego Kloss aponta os problemas mais comuns dosaparelhos novos. “Alguns deles podem ser percebidos por qualquerpessoa, outros, só quem tem ouvido apurado e conhece a mecânica dosmodelos vai perceber.”

Rotação

“O motor desses aparelhos não tem potência e não suporta o peso dosdiscos de 180 gramas produzidos atualmente. Então a rotaçãodesacelera e o som sai ‘esticado’. Isso quando o disco simplesmentenão pula e risca.”

Amplificação

Page 4: Toca-discos novos dão dor de cabeça aos fãs de vinil _ Consumidor _ Gazeta do Povo

Amplificação

“Esses modelos são atraentes porque possuem caixas de somembutidas, então não há necessidade de providenciar uma amplificaçãoexterna. Porém, o volume é baixo, parece o som saído de caixinhas decomputador. É uma praticidade que não compensa.”

Agulha

“Colecionadores usam agulhas com peso entre 1 e 2 gramas, que é opeso que a agulha vai exercer sobre o vinil. Nos modelos novos, asagulhas fazem uma pressão entre 4 e 6 gramas, é excessivo. Com otempo, consome as camadas de som do disco. A primeira, mais fina, é ados agudos. E tem que fazer manutenção, a vida útil da agulha é emmédia 800 horas.”

Braço

“O ideal é que seja feito em alumínio. Os de plástico são muito leves e,como esses aparelhos não possuem contrapeso, a cápsula (quecomporta a agulha) fica mais pesada e pressiona a agulha sobre o vinil.O peso total do aparelho é importante porque influencia na vibração.Quanto mais leve, mais vibra e mais a agulha, que é sensível, sofreinterferências.”

Venda de vinis gera mais receita queserviços como YouTube, Spotify e VEVOSe por um lado, a disponibilidade de músicas digitais retirou cada vezmais espaço do CD no mercado fonográfico, por outro, ela preparou oterreno para o retorno do formato do vinil. Mesmo atendendo a umsegmento bem específico de consumidores, a venda de discos já geramais receita do que serviços que oferecem músicas de graça, comoYouTube, Spotify e VEVO juntos.

De acordo com o relatório divulgado pela RIAA, nos Estados Unidos, a

Page 5: Toca-discos novos dão dor de cabeça aos fãs de vinil _ Consumidor _ Gazeta do Povo

receita de publicidade de serviços on­line de música chegou a US$ 163milhões no primeiro semestre deste ano, enquanto a venda de vinisrendeu US$ 222 milhões.

Apesar de serem, em média, mais caros que os CDs, os discos járepresentam cerca de um terço das vendas em formatos físicos. Só noano passado, a participação no mercado aumentou 52%; bem acima dequalquer outro formato. Já a fatia do mercado de CDs encolheu emquase um terço.

O formato tende a se tornar cada vez mais popular entre os artistas,muitos insatisfeitos com os lucros mais modestos dos serviços destreaming. Do lado dos consumidores, parece haver o prazer pelaexperiência de uso ­ colocar o enorme “bolachão” na vitrola e ouvir osom da agulha oscilando pelas ranhuras do disco ­ ou mesmo pelaaquisição de um produto mais exclusivo. Seja como for, cada vez maispessoas estão voltando a escutar música do jeito mais clássico.