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TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS - …pos.estacio.webaula.com.br/Cursos/POS592/docs/Aula_01.pdf · 2016-10-21 · entre o fator erigido em critério de discrímen e

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TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 1

Aula 1: Bases da Teoria do Negócio Jurídico ................................................................................. 3

Introdução ............................................................................................................................. 3

Conteúdo ................................................................................................................................ 4

Constituições ...................................................................................................................... 4

Constituições ...................................................................................................................... 4

Código Civil de 1916 .......................................................................................................... 5

Justiça Social ...................................................................................................................... 6

Princípio da isonomia ....................................................................................................... 7

Constituição Federal de 1988 .......................................................................................... 8

Apelação Cível .................................................................................................................... 9

Relação do consumo ...................................................................................................... 10

Recurso Especial nº 1.194.627-RS ................................................................................. 11

Qualidade intrínseca ....................................................................................................... 11

Declaração ........................................................................................................................ 13

Papel da Jurisprudência ................................................................................................. 13

Ordenamento jurídico .................................................................................................... 14

Princípio da autonomia .................................................................................................. 14

Autonomia privada .......................................................................................................... 15

Teoria da imprevisão ...................................................................................................... 15

Princípio da conservação ............................................................................................... 16

Contratos ........................................................................................................................... 16

Direito privado .................................................................................................................. 17

Informativo nº 492 do STJ ............................................................................................. 17

Recurso Especial nº 1.321.655-MG ............................................................................... 18

STJ – Superior Tribunal de Justiça............................................................................... 18

Recurso Especial nº 1.132.943-PE ................................................................................. 19

Cláusulas ........................................................................................................................... 19

Distrato .............................................................................................................................. 19

Modelo individualista-liberal ......................................................................................... 20

Conclusão ......................................................................................................................... 20

Atividade proposta .......................................................................................................... 20

Referências........................................................................................................................... 21

Exercícios de fixação ......................................................................................................... 22

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 2

Notas ........................................................................................................................................... 26

Chaves de resposta ..................................................................................................................... 26

Aula 1 ..................................................................................................................................... 26

Exercícios de fixação ....................................................................................................... 26

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 3

Introdução

É possível afirmar que, na sociedade atual, o contrato se corporifica como o

maior negócio jurídico, e, desta forma, a apreensão de sua base principio lógica

se torna um verdadeiro diferencial aos operadores do direito.

O atual Direito Civil vem incorporando o fenômeno de constitucionalização aos

seus institutos, modificando os critérios de interpretação e aplicação do negócio

jurídico. Assim, o Código Civil de 2002 já não é mais concebido como um

diploma patrimonialista e individualista, mas, sim, social.

Para tanto, a materialização dos princípios constitucionais às relações privadas,

antes submissas ao império da autonomia privada sem limites e do seu

correlato pacta sunt servanda, tornou-se uma realidade a partir do respeito aos

valores da isonomia, da dignidade da pessoa humana, da solidariedade, dentre

outros.

Objetivo:

1. Analisar o negócio jurídico à luz do direito civil-constitucional por meio da

aplicação da isonomia e da dignidade humana às relações contratuais;

2. Analisar os novos contornos jurídicos do princípio da autonomia privada e do

pacta sunt servanda nas relações contratuais.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 4

Conteúdo

Constituições

Atualmente, o ordenamento jurídico civilista encontra-se influenciado pela

Constituição Federal, acarretando verdadeira transformação paradigmática em

sua interpretação.

Como resultado, a doutrina e a jurisprudência pátrias desenvolveram as bases e

premissas metodológicas do direito civil-constitucional, entendido, pois,

como uma nova técnica hermenêutica, que busca aplicar os princípios e

direitos fundamentais às relações privadas.

É possível constatar, como seu objetivo precípuo, a unificação do direito a partir

do desiderato constitucional, consubstanciado nos valores da isonomia, da

dignidade da pessoa humana, da solidariedade, dentre outros.

Sob a égide do direito civil-constitucional, a doutrina vem transformando as

bases conceituais dos institutos que compõem a teoria do negócio jurídico,

sendo a interpretação e aplicação contratuais aquelas que mais sofreram

modificações.

Assim, a imutabilidade contratual vem comportando verdadeira intromissão

estatal, que tende a evitar o enriquecimento sem causa e a desproporção

negocial, acarretando a nulidade das cláusulas consideradas abusivas.

Constituições

Atualmente, o ordenamento jurídico civilista encontra-se influenciado pela

Constituição Federal, acarretando verdadeira transformação paradigmática em

sua interpretação.

Como resultado, a doutrina e a jurisprudência pátrias desenvolveram as bases e

premissas metodológicas do direito civil-constitucional, entendido, pois,

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 5

como uma nova técnica hermenêutica, que busca aplicar os princípios e

direitos fundamentais às relações privadas.

É possível constatar, como seu objetivo precípuo, a unificação do direito a partir

do desiderato constitucional, consubstanciado nos valores da isonomia, da

dignidade da pessoa humana, da solidariedade, dentre outros.

Sob a égide do direito civil-constitucional, a doutrina vem transformando as

bases conceituais dos institutos que compõem a teoria do negócio jurídico,

sendo a interpretação e aplicação contratuais aquelas que mais sofreram

modificações.

Assim, a imutabilidade contratual vem comportando verdadeira intromissão

estatal, que tende a evitar o enriquecimento sem causa e a desproporção

negocial, acarretando a nulidade das cláusulas consideradas abusivas.

Código Civil de 1916

É importante destacar que o Código Civil de 1916 era considerado um

sistema jurídico individualista e patrimonialista, não se preocupando com

direitos sociais, nem, tampouco, com os direitos de personalidade.

A própria origem do direito civil perpassa pelos direitos de propriedade,

consagrados pela ideologia burguesa de acumulação de riquezas e

disciplinamento detalhado do dever-ser.

Dessa maneira, o direito civil moderno, inaugurado com o Código Napoleônico

de 1804, retoma a noção romana ao fenômeno jurídico, atribuindo força plena

à vontade e à impessoalidade do vínculo. Na presente perspectiva, o indivíduo é

concebido como sujeito de direito e detentor de liberdade volitiva para poder

gozar dos institutos da propriedade e do contrato.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 6

O autor italiano De Cupis criticou tal concepção, observando a configuração de

interesses relacionados ao indivíduo, que são suscetíveis de proteção jurídica,

e, de fato, são mais merecedores de tutela que os bens econômicos.

Ao inverter a visão clássica da sociedade civil, o autor desloca a

pessoa humana para o centro do universo jurídico.

Com isso, foi constituída a unidade conceitual de situações jurídicas subjetivas

acerca dos direitos de personalidade, em um momento de total ausência do

direito privado em matéria de proteção dos direitos relacionados ao indivíduo,

ainda como consequência do caráter patrimonial do ordenamento jurídico.

Justiça Social

O Código Civil de 2002, a partir de uma leitura constitucionalizada do

ordenamento jurídico, apresenta mecanismos que visam atenuar o princípio da

autonomia privada por meio da incorporação da justiça social distributiva

aos negócios jurídicos.

Dessa forma, o presente diploma foi alçado a uma posição de norma regulatória

geral das relações privadas, não excluindo a legislação específica

(microssistemas que visam a proteção da parte hipossuficiente, como o Código

de Defesa do Consumidor), nem a aplicabilidade da interpretação constitucional

às situações que disciplina.

Assim, por meio da técnica hermenêutica denominada diálogo das fontes,

busca-se a harmonização entre as diversas normas do sistema jurídico nacional.

Dentro da presente concepção social da obrigação, esta passa a ser

entendida como um processo de cooperação contínuo e efetivo entre credor e

devedor, segundo a doutrina alemã, na tentativa de mitigar a subordinação do

devedor ao credor ao redirecionar-se o olhar para o adimplemento mais

satisfatório ao credor e menos oneroso ao devedor. Importante destacar que a

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 7

responsabilidade do devedor restringe-se ao seu patrimônio, nos moldes do

Artigo 391 do CC.

A fim de ilustrar o fato de que a responsabilidade do devedor restringe-se

ao seu próprio patrimônio, cabível citar decisão prolatada no Recurso

Especial nº 1.130.742-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em

1º/10/2013.

Para a Quarta Turma do STJ, não cabe prisão civil do inventariante em razão do

descumprimento do dever do espólio de prestar alimentos, uma vez que a

restrição da liberdade constitui sanção de natureza personalíssima, não

podendo recair sobre terceiro, estranho ao dever de alimentar. Como é sabido,

a prisão civil somente pode ser imposta ao devedor de alimentos, nos moldes

do Art. 528, parágrafo 3º, do CPC/15.

Ainda consta da decisão a possibilidade que tem o próprio herdeiro em requerer

ao juízo, durante o processamento do inventário, a antecipação de recursos

para a sua subsistência, podendo o magistrado conferir eventual adiantamento

de quinhão necessário à sua mantença, dando, assim, efetividade ao direito

material da parte pelos meios processuais cabíveis, sem que se ofenda, para

tanto, um dos direitos fundamentais do ser humano: a liberdade.

O inventariante é considerado um terceiro estranho na relação entre exequente

e executado, configurando constrangimento ilegal à possibilidade de prisão. O

referido é apenas um auxiliar do juízo, nos moldes do Artigo 139 do CC, não

podendo ser civilmente preso pelo descumprimento de seus deveres, mas, sim,

destituído por um dos motivos do Artigo 995 do CC.

Princípio da isonomia

Dentre os princípios constitucionais aplicáveis ao direito civil, destaca-se o

princípio da isonomia.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 8

Por isonomia, entende-se que todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, conforme Artigo 5º da Constituição Federal.

Na tentativa de apreender seus parâmetros, que, uma vez violados, geram

ofensa à igualdade, Bandeira de Melo enumera: primeiro, o elemento tomado

como fator de desigualação; segundo, a correlação lógica abstrata existente

entre o fator erigido em critério de discrímen e a disparidade estabelecida no

tratamento jurídico diversificado; e, por último, a consonância desta correlação

lógica com os interesses absorvidos no sistema constitucional e destarte

juridicizados.

Interessante discussão acerca da aplicação do princípio da isonomia às relações

privadas envolve a taxa de juros cobrada pelas instituições financeiras,

pois existe verdadeira disparidade estabelecida no tratamento jurídico

concebido aos bancos em relação aos particulares.

No atual cenário jurídico, vem prevalecendo o entendimento trazido pela

Súmula nº 596, de 15/12/1976, do STF: “As disposições do Decreto

22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos

cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que

integram o sistema financeiro nacional”.

Constituição Federal de 1988

É de se perceber que a referida súmula foi concebida antes da Constituição

Federal de 1988, o que corrobora o entendimento por sua não incidência às

relações contratuais.

A Constituição da República é clara ao elencar, dentre os seus valores

fundamentais, a isonomia, sendo oportuno questionar a razão que exclui das

limitações da Lei de Usura as instituições bancárias.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 9

Assim, se um particular quiser emprestar um determinado valor a outro sujeito

por meio de contrato de mútuo feneratício, nos moldes do Artigo 591 do

CC, deverá respeitar a limitação imposta pelo Artigo 1º da Lei de Usura

(Decreto nº 22.626/33), mas o mesmo não se aplica aos bancos, que, desta

maneira, podem fixar a taxa de juros compensatórios que bem lhes

aprouverem. Importante esclarecer a existência de divergência jurisprudencial a

esse respeito, e a tendência majoritária pela continuidade de aplicação da

Súmula nº 596 do STF.

Apelação Cível

Segundo a Apelação Cível nº 195.023.114, Rel. Darci Waccholz, 1º Grupo

Cível do TARGS, a Súmula nº 596 não pode ser aplicada segundo seus

fundamentos, pois feriu o princípio da isonomia ao reconhecer privilégio

desproporcional em favor das instituições financeiras ao estabelecer, sem uma

relevante razão, diferenças entre as pessoas, além de a referida súmula

encontrar-se desatualizada.

Porém, a aplicabilidade da Súmula nº 596 constitui entendimento majoritário na

jurisprudência brasileira, como consta do seguinte julgado do STJ:

Outra discussão que envolve a mesma matéria se relaciona ao fato de que fere

a isonomia o comportamento dos bancos, ao remunerarem, de forma

desproporcional, as atividades que realiza.

Porque, ao depositar em poupança, o sujeito é remunerado com uma taxa

baixa e, ao contratar um financiamento com o mesmo banco, o sujeito é

obrigado a desembolsar uma taxa exorbitante? A Súmula nº 297 do STJ

determina: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições

financeiras”.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 10

Assim, no mesmo tribunal, apresentam-se decisões antagônicas, já que não se

estabelece um limite às atividades realizadas pelas instituições financeiras, mas

seus clientes gozam, em tese, do conjunto protetivo disciplinado pelo CDC.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO

BANCÁRIO. AFASTAMENTO DA LIMITAÇÃO DOS JUROS

REMUNERATÓRIOS EM 12% AO ANO. INAPLICABILIDADE, NO CASO,

DA LEI DE USURA. INCIDÊNCIA DA LEI Nº 4.595 /64 E DA SÚMULA

596/STF. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Nos termos da pacífica

jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, os juros remuneratórios

cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a limitação imposta pelo

Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), a teor do disposto na Súmula 596/STF,

de forma que a abusividade da pactuação dos juros remuneratórios deve ser

cabalmente demonstrada em cada caso, com a comprovação do desequilíbrio

contratual ou de lucros excessivos, sendo insuficiente o só fato de a estipulação

ultrapassar 12% ao ano ou de haver estabilidade inflacionária no período. 2.

Agravo regimental improvido. (grifos nossos).

Relação do consumo

Segundo o STJ

No que diz respeito à relação de consumo, segundo o próprio STJ, configura

hipótese de violação do Artigo 51, II e IV, do CDC, as cláusulas contratuais que

estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o

consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé

ou a equidade.

Artigo 51

Nesse contexto, cabe ressaltar o disposto no Artigo 51, §1º, III, do CDC, que

presume ser exagerada a vantagem que “se mostra excessivamente onerosa

para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o

interesse das partes e outras circunstâncias peculiares do caso”. Como

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 11

resultado, devem ser tais cláusulas declaradas nulas de pleno direito, uma vez

que violam o ordenamento jurídico civil-constitucional.

Recurso Especial nº 1.194.627-RS

Já no Recurso Especial nº 1.194.627-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em

1º/12/2011, a turma julgadora entendeu pela aplicação do Código de Defesa do

Consumidor à relação contratual de mútuo estabelecida pelas partes com a

instituição financeira para compra de ações da Copesul.

Nesse contexto, o que se ventilava na ação não era a redução da taxa de juros

compensatórios, mas, sim, a declaração de nulidade da cláusula de eleição de

foro contratualmente pactuada.

Para o Min. Relator, o simples fato de os recorrentes, pessoas físicas, terem

utilizado o financiamento obtido junto à instituição financeira para investimento

em ações não desnatura a relação de consumo estabelecida entre as partes.

Somente se afastaria a figura do destinatário final daquele que contrai mútuo

com instituição financeira caso ele se dedicasse à atividade financeira, valendo-

se da quantia obtida para reemprestá-la, cobrando juros de terceiros.

Portanto, deve-se afastar a validade da cláusula de eleição, prevalecendo o foro

do domicílio do consumidor para processamento e julgamento da demanda em

que se discute a validade do contrato de financiamento.

Qualidade intrínseca

Dentre os princípios constitucionais aplicáveis ao direito civil, destaca-se o

Princípio da Dignidade Humana. Segundo Sarlet, dignidade da pessoa humana

pode ser entendida como:

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 12

Qualidade

A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o faz merecedor do

mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,

implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais

que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante

e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas

para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e

corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com

os demais seres humanos.

Relações privadas

Aplicar a dignidade da pessoa humana às relações privadas é tarefa recorrente

no atual ordenamento jurídico por meio da jurisprudência. No Recurso

Especial nº 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em

24/9/2013, o STJ decidiu ser incabível a exigência de caução para atendimento

médico-hospitalar emergencial. Dessa forma, o Tribunal Superior vem

materializando o valor jurídico-constitucional da dignidade aos contratos de

prestação de serviços médicos, afastando a constituição de garantia para

tratamento emergencial, mesmo que a mencionada caução tenha sido pactuada

entre as partes ou seus familiares.

Atenção

O Superior Tribunal de Justiça, antes da vigência da Lei nº

12.653/2012, já havia se manifestado no sentido de que é dever

do estabelecimento hospitalar, sob pena de responsabilização

cível e criminal, da sociedade empresária e prepostos, prestar o

pronto atendimento. Com a superveniente vigência da Lei nº

12.653/2012, que veda a exigência de caução e de prévio

preenchimento de formulário administrativo para a prestação de

atendimento médico-hospitalar premente, a solução para o caso

é expressamente conferida por norma de caráter cogente.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 13

Negócios jurídicos

Também constitui aplicação da dignidade humana aos negócios jurídicos, a

determinação de que o Estado, em todas as suas esferas de poder, deve

assegurar às crianças e aos adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à

vida e à saúde, fornecendo gratuitamente o tratamento médico cuja família não

tem condições de custear. Assim, há responsabilidade solidária, estabelecida

nos Artigos 196 e 227 da Constituição Federal e Artigo 11, §2º, do ECA,

podendo o autor da ação exigir, em conjunto ou separadamente, o

cumprimento da obrigação por qualquer dos entes públicos,

independentemente da regionalização e hierarquização do serviço público de

saúde.

Declaração

De outra sorte, nos Embargos de Declaração no Agravo nº 1.023.858-RJ,

Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/12/2008, o STJ afastou a interpretação

civil-constitucional ao possibilitar a penhora do único bem de família do fiador,

nos moldes do Artigo 3º, VII, da Lei nº 8.009/1990.

O Min. Relator destacou que a orientação divergente de Tribunal

estadual não tem o condão de afastar o entendimento predominante

nos Tribunais Superiores no sentido de ser penhorável o imóvel

familiar do fiador em contrato de locação.

Papel da Jurisprudência

Em conclusão, foi possível perceber o papel da jurisprudência diante da

interpretação e aplicação dos princípios constitucionais às relações contratuais,

com destaque para a isonomia e a dignidade da pessoa humana.

Assim, por meio da análise de casos concretos, foi constatada a tendência ao

dirigismo contratual por parte do Estado, mas sem esvaziar por completo a

autonomia privada, inerente aos negócios jurídicos modernos.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 14

Ordenamento jurídico

Como analisado anteriormente, o ordenamento jurídico civilista estrutura-se no

Estado Democrático de Direito, inaugurado com a Constituição Federal de

1988, a partir de uma nova leitura acerca dos negócios jurídicos que disciplina.

A visão tradicional de que o contrato fazia lei entre as partes (pacta sunt

servanda) resta superada, permitindo-se, desta forma, uma maior intromissão

estatal na autonomia das vontades, o chamado dirigismo contratual.

Tal dirigismo é a faculdade outorgada por lei ao magistrado para que este

reveja o contrato e estabeleça condições para sua execução, fazendo com que

cláusulas sejam impostas em substituição da declaração volitiva do contratante.

Porém, isso não deve levar ao esvaziamento total do princípio da autonomia

privada, mas, sim, à sua mitigação diante da aplicação da boa-fé objetiva e da

função social aos negócios jurídicos, princípios corolários de uma leitura

constitucionalizada do fenômeno privado.

Dessa maneira, a função social do contrato não tem a aptidão de afastar a

autonomia privada, tal como determinado no Enunciado 23 da I Jornada de

Direito Civil do CJF/STJ: “a função social do contrato, prevista no Artigo 421

do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas

atenua ou reduz o alcance deste princípio quando presentes interesses

metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana”.

Princípio da autonomia

Conceitua-se o princípio da autonomia privada como sendo um regramento

básico, de ordem particular – mas influenciado por normas de ordem pública –,

pelo qual, na formação do contrato, além da vontade das partes, entram em

cena outros fatores: psicológicos, políticos, econômicos e sociais.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 15

Trata-se do direito indeclinável de a parte autorregulamentar os seus

interesses, decorrente da dignidade humana, mas que encontra limitações em

normas de ordem pública, particularmente nos princípios sociais contratuais.

Autonomia privada

Contratos de adesão

Com a redução da autonomia privada, o negócio jurídico paritário perdeu

espaço social em detrimento dos contratos de adesão, que passam a

constituir a regra geral.

Extinção dos contratos

Apesar de tal mudança ocorrer, isto não acarreta a extinção dos contratos,

mas, sim, a mudança de sua estrutura e conceituação. O contrato muda a sua

disciplina, as suas funções e a sua própria estrutura segundo o contexto

econômico-social em que está inserido.

Padronização das transações

Assim, para uma parte da doutrina, a liberdade de contratar não mais existe,

uma vez que o contrato foi transformado em norma unilateral imposta pela

empresa que está em situação dominante, a partir de um fenômeno conhecido

como padronização das transações, decorrente de uma economia de

massa.

Teoria da imprevisão

Dirigismo contratual

É possível afirmar que, no campo intervencionista consubstanciado no dirigismo

contratual, situa-se a teoria da imprevisão, nos moldes do Artigo 478 do CC.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 16

Desequilíbrio contratual

Dessa forma, atingindo o plano de desequilíbrio contratual pela ocorrência de

fato imprevisível e/ou extraordinário, o direito deverá ser acionado e a

obrigatoriedade contratual deixada de lado.

Ordenamento jurídico

O relatado desequilíbrio possibilita a revisão ou extinção do contrato em

respeito ao ordenamento jurídico, que não mais tolera a desproporção negocial,

em que um se enriquece de forma desarrazoada em detrimento do

empobrecimento de outrem.

Princípio da conservação

Como decorrência do princípio da conservação do negócio jurídico diante da

necessidade de aplicação da teoria da imprevisão, estabelece o Enunciado

176 da III Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: “Em atenção ao princípio

da conservação dos negócios jurídicos, o Artigo 478 do Código Civil de 2002

deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à

resolução contratual”.

Contratos

No Recurso Especial nº 936741/GO, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, é

possível estabelecer uma digressão entre as várias espécies de contratos

existentes no ordenamento jurídico pátrio. Anteriormente, foi afirmado que a

autonomia privada vem sofrendo atenuações como decorrência do exercício

jurisprudencial, a fim de adequar a estrutura do contrato às exigências

constitucionais.

Porém, diante de contrato de compra e venda de safra futura, não há que

se aplicar a teoria da imprevisão em decorrência da onerosidade excessiva.

Dessa maneira, contratos empresariais não devem ser tratados da mesma

forma que contratos cíveis em geral ou contratos de consumo, pois, nestes,

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 17

admite-se o dirigismo contratual; naqueles, devem prevalecer os princípios da

autonomia da vontade e da força obrigatória dos negócios jurídicos.

Direito privado

Ainda é possível extrair do julgado que Direito Civil e Direito Empresarial, ainda

que ramos do Direito Privado, submetem-se a regras e princípios próprios.

Logo, o fato de o Código Civil ter submetido os contratos cíveis e empresariais

às mesmas regras gerais não significa que estes contratos sejam

essencialmente iguais. A não incidência da teoria da imprevisão, nos moldes do

Artigo 478 do CC, decorre dos seguintes argumentos:

Os contratos em discussão não são de execução continuada ou diferida, mas

contratos de compra e venda de coisa futura, a preço fixo.

Alta do preço da soja não tornou a prestação de uma das partes

excessivamente onerosa, mas apenas reduziu o lucro esperado pelo produtor

rural.

A variação cambial que alterou a cotação da soja não configurou um

acontecimento extraordinário e imprevisível, porque ambas as partes

contratantes conhecem o mercado em que atuam, pois são profissionais do

ramo e sabem que tais flutuações são possíveis.

Informativo nº 492 do STJ

Assim, de acordo com o Informativo nº 492 do STJ, nos contratos aleatórios

de compra e venda de safra futura, as variações de preço, por si só, não

motivam a resolução contratual com base na teoria da imprevisão.

Ocorre que, para a aplicação dessa teoria, é imprescindível que as

circunstâncias que envolveram a formação do contrato de execução diferida

não sejam as mesmas no momento da execução da obrigação, tornando o

contrato extremamente oneroso para uma parte em benefício da outra.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 18

E ainda que as alterações que ensejaram o referido prejuízo resultem de um

fato extraordinário e impossível de ser previsto pelas partes.

Recurso Especial nº 1.321.655-MG

De outra sorte, no Recurso Especial 1.321.655-MG, Rel. Min. Paulo de

Tarso Sanseverino, julgado em 22/10/2013, o STJ mitigou a força obrigatória

do contrato ao estabelecer como abusiva a cláusula penal de contrato de

pacote turístico que estabeleça, para a hipótese de desistência do consumidor,

a perda integral dos valores pagos antecipadamente.

Dessa maneira, não é possível falar em perda total dos valores pagos

antecipadamente por pacote turístico, sob pena de se criar uma situação que,

além de vantajosa para a empresa de turismo (fornecedora de serviços),

mostra-se excessivamente desvantajosa para o consumidor, o que implica

incidência do Artigo 413 do CC, segundo o qual a penalidade deve

obrigatoriamente (e não facultativamente) ser reduzida equitativamente pelo

juiz se o seu montante for manifestamente excessivo.

STJ – Superior Tribunal de Justiça

O STJ tem o entendimento de que, em situação semelhante (nos contratos de

promessa de compra e venda de imóvel), é cabível ao magistrado reduzir o

percentual da cláusula penal com o objetivo de evitar o enriquecimento sem

causa por qualquer uma das partes.

Além disso, no que diz respeito à relação de consumo, evidencia-se, na

hipótese, violação do Artigo 51, II e IV, do CDC, de acordo com o qual são

nulas de pleno direito as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de

produtos e serviços que subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da

quantia já paga, nos casos previstos neste código.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 19

Recurso Especial nº 1.132.943-PE

No mesmo sentido do Recurso Especial nº 1.132.943-PE, Rel. Min. Luis

Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013, que decidiu ser abusiva a cláusula de

distrato (fixada no contexto de compra e venda imobiliária mediante

pagamento em prestações) que estabeleça a possibilidade de a construtora

vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das

parcelas adimplidas pelo consumidor distratante.

Cláusulas

Os Artigos 53 e 51, IV, do CDC coíbem cláusula de decaimento que determine a

retenção de valor integral ou substancial das prestações pagas, por

consubstanciar vantagem exagerada do incorporador.

Nesse contexto, o Artigo 53 dispõe que, nos “contratos de compra e venda de

móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas

alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as

cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do

credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a

retomada do produto alienado”.

Distrato

Além disso, o fato de o distrato pressupor um contrato anterior não implica

desfiguração da sua natureza contratual. Isso porque, nos moldes do Artigo

472 do CC, "o distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato", o que

implica afirmar que o distrato nada mais é que um novo contrato, distinto ao

contrato primitivo.

Dessa forma, como em qualquer outro contrato, um instrumento de distrato

poderá, eventualmente, ser eivado de vícios, os quais, por sua vez, serão

passíveis de revisão em juízo, sobretudo no campo das relações de consumo.

Em outras palavras, as disposições estabelecidas em um instrumento de

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 20

distrato são, como quaisquer outras disposições contratuais, passíveis de

anulação por abusividade.

Modelo individualista-liberal

Em síntese, o princípio da autonomia privada pode ser apreendido como a

possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem suas

relações mútuas dentro de determinados limites, por meio de negócios

jurídicos, enquanto o pacta sunt servanda é concebido como o princípio que

determina a força obrigatória dos contratos.

Importante relembrar que, no modelo individualista-liberal, típico dos códigos

oitocentistas, tais princípios eram tomados como absolutos. No entanto, na

concepção atual do direito civil-constitucional, ocorreu sua relativização com

vistas à melhor proteção da dignidade humana.

Conclusão

Conclui-se, portanto, que, ao surgirem questões práticas acerca da aplicação do

princípio da autonomia privada, da liberdade e da dignidade da pessoa

humana, deve-se privilegiar a liberdade do sujeito em detrimento dos interesses

patrimoniais inerentes ao negócio jurídico, já que prevalece o direito

existencial no sistema jurídico pátrio.

Atividade proposta

Leia sobre um case que aborda o conteúdo discutido nesta aula. Em seguida,

diante do exposto, faça a analise do acórdão e identifique se há ou não

desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, diante da

possibilidade de penhorar o único bem de família do fiador.

“TJRJ - DES. MARIO ASSIS GONCALVES - Julgamento: 09/05/2012 - TERCEIRA

CAMARA CIVEL. Embargos à execução. Fiador. Bem de família. Penhorabilidade.

Constitucionalidade reconhecida pelo STF. O inciso VII do artigo 3º, da Lei

8.009/90 afasta a impenhorabilidade do bem de família na hipótese de

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 21

execução de obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Assim, o imóvel apontado pelo exequente, ainda que seja o único, pode ser

objeto da execução. A constitucionalidade do referido dispositivo legal foi

declarada pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento de Recurso

Extraordinário no qual se reconheceu a existência de repercussão geral. A

matéria é, inclusive, objeto do verbete sumular nº 63 deste Tribunal. Desta

forma, legítima a penhora realizada sobre o bem de propriedade da fiadora. Por

fim cumpre destacar que a fiança é uma obrigação de garantia. Nesse tipo de

obrigação, aquilo a que se obriga o fiador é pagar a obrigação se o devedor

não o fizer. A fiança é outra relação jurídica da qual o devedor não faz parte e

que se estabelece entre o credor e o fiador, são duas relações jurídicas

distintas. Há uma relação jurídica principal que se estabelece entre credor e o

devedor e há outra relação jurídica acessória que se estabelece entre o credor e

o fiador. Da principal o fiador não é parte, assim como da acessória é o devedor

que não é parte. Desta forma, quitado o débito pelo fiador este se sub-roga nos

direitos do locador, podendo executar a dívida em virtude do direito de

regresso. Recurso ao qual se dá provimento”.

Chave de resposta: À luz do direito civil-constitucional, é cabível o

questionamento acerca da constitucionalidade do Artigo 3º, VII, da Lei nº

8.009/90, que possibilita a penhora do único bem de família do fiador.

Importante lembrar que a referida lei encontra fundamento na doutrina do

patrimônio mínimo do devedor, materializando a dignidade da pessoa humana

nas relações contratuais. É de se concluir que tal precedente acaba criando um

ambiente inseguro ao fiador e, por conseguinte, inviabiliza a assunção desta

responsabilidade.

Referências

DE CUPIS, Adriano. Os direitos da personalidade. Campinas: Romana

Jurídica, 2004. p. 121.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 22

MELLO, Celso Antonio Bandeira. Conteúdo jurídico do princípio da

igualdade. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 21.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 3. ed. São Paulo: Método, 2013. p.

539.

Exercícios de fixação

Questão 1

(Magistratura do Trabalho)

A liberdade de contratar, segundo preceito expresso na Lei Civil, será exercida

em razão e nos limites da função social do contrato, porque o Código Civil

vigente traz uma maior preocupação com a dignidade da pessoa humana,

quando visualiza o contrato como instrumento de integração do homem na

sociedade:

a) As duas expressões são falsas

b) A primeira é verdadeira, e a segunda é falsa

c) A primeira é falsa, e a segunda é verdadeira

d) As duas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira

e) As duas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira

Questão 2

De acordo com os princípios que regem a relação contratual, identifique aquele

que não se aplica a presente relação.

a) Princípio da dignidade da pessoa humana

b) Princípio da função social dos contratos

c) Princípio da responsabilidade pessoal do devedor

d) Princípio da boa-fé objetiva

Questão 3

O processo de mitigação dos tradicionais critérios para solucionar o conflito

entre regras, em que se busca a harmonização entre as diversas normas do

ordenamento jurídico ao invés do afastamento de uma delas, é denominado de:

a) Crise dos contratos

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 23

b) Pacta sunt servanda

c) Dirigismo contratual

d) Diálogo das fontes

Questão 4

É possível afirmar que o direito civil-constitucional pode ser considerado como:

a) Uma nova técnica de hermenêutica, em que os princípios constitucionais

deverão ser aplicados às relações privadas.

b) Uma nova técnica de hermenêutica, em que o credor deverá se

submeter ao inadimplemento voluntário do devedor.

c) Uma nova técnica de hermenêutica, em que se reafirma o Código Civil

como diploma patrimonialista e individualista.

d) Uma nova técnica de hermenêutica, em que o devedor deverá se

submeter às cláusulas determinadas pelo credor.

Questão 5

(OAB)

Semprônio realiza contrato de locação com Terêncio, de imóvel residencial

urbano. Para garantir a avença, intercede Esculápio na condição de fiador pelo

período do contrato, renunciando ao benefício de ordem. No curso da avença, o

devedor, por motivos de doença da família, deixa de quitar algumas prestações.

Após o período de dificuldades, credor e devedor ajustam a prorrogação do

contrato, não informando tal situação ao fiador. Diante do exposto, marque a

alternativa correta:

a) O fiador não será responsável, diante da prorrogação do contrato.

b) A fiança não constitui uma das espécies de garantia locatícia.

c) Qualquer modificação no contrato não precisa ser comunicada ao fiador.

d) O único bem de família do fiador poderá ser penhorado, por expressa

força de lei.

Questão 6

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 24

A possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem suas

relações mútuas, dentro de determinados limites, por meio de negócios

jurídicos, constitui um dos princípios fundamentais da relação contratual.

Aponte, dentre as alternativas abaixo, o presente princípio:

a) Princípio da função social dos contratos

b) Princípio da autonomia da vontade

c) Princípio do pacta sunt servanda

d) Princípio da conservação do negócio jurídico

Questão 7

Quanto aos princípios que regem a relação contratual, assinale a resposta

incorreta.

a) Autonomia da vontade é a possibilidade, oferecida e assegurada aos

particulares, de regularem suas relações mútuas, dentro de

determinados limites, por meio de negócios jurídicos.

b) Função social do contrato é um princípio contratual, de ordem pública,

pelo qual o contrato deve ser necessariamente visualizado, interpretado

e estruturado de acordo com o contexto da sociedade.

c) Pelo princípio da boa-fé objetiva, os contratantes estão obrigados a

cumprir suas prestações de forma leal e proba, sob pena de cometerem

abuso de direito, o que acarreta responsabilidade civil.

d) A liberdade de contratar não será exercida em razão e nos limites da

função social do contrato.

Questão 8

(OAB)

Silvana, promitente compradora, celebrou instrumento de promessa de compra

e venda de imóvel no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) com Ivana,

promitente vendedora, através de instrumento público. Durante a vigência do

pacto, Silvana e Ivana decidiram desfazer o negócio e celebraram novo acordo

por meio de instrumento particular, extinguindo o contrato inicial. Qual é o

instituto jurídico pertinente?

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 25

a) Trata-se de distrato, que deverá seguir a mesma forma exigida por lei

para a realização do contrato.

b) Trata-se de distrato, que não precisará seguir a mesma forma exigida

por lei para a realização do contrato.

c) Trata-se de resilição unilateral do contrato.

d) Trata-se de resolução contratual.

Questão 9

José celebrou contrato de compra e venda de safra futura de soja com Antônio,

em que ficou determinado o pagamento por toda a safra de soja do segundo,

mesmo que esta não venha a existir. Quanto à classificação, é possível afirmar

que:

a) O contrato é comutativo, cabendo aplicar a teoria da imprevisão.

b) O contrato é aleatório, cabendo aplicar a teoria da imprevisão.

c) O contrato é comutativo, não cabendo aplicar a teoria da imprevisão.

d) O contrato é aleatório, não cabendo aplicar a teoria da imprevisão.

Questão 10

(Exame da OAB – 2012)

Embora sujeito às constantes mutações e às diferenças de contexto em que é

aplicado, o conceito tradicional de contrato sugere que ele represente o acordo

de vontades estabelecido com a finalidade de produzir efeitos jurídicos.

Tomando por base a teoria geral dos contratos, assinale a afirmativa correta:

a) A celebração de contrato atípico, fora do rol contido na legislação, não é

lícita, pois as partes não dispõem da liberdade de celebrar negócios não

expressamente regulamentados por lei.

b) A atipicidade contratual é possível, mas, de outro lado, há regra

específica prevendo não ser lícita a contratação que tenha por objeto a

herança de pessoa viva, seja por meio de contrato típico ou não.

c) A liberdade de contratar é limitada pela função social do contrato, e os

contratantes deverão guardar, assim na conclusão, como em sua

execução, os princípios da probidade e da boa‐fé subjetiva, princípios

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 26

estes ligados ao voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso

Código Civil.

d) Será obrigatoriamente declarado nulo o contrato de adesão que contiver

cláusulas ambíguas ou contraditórias.

Contrato de mútuo feneratício: No presente empréstimo de bens fungíveis,

permite-se a previsão de juros compensatórios entre os contratantes. Segundo

o Artigo 591 do CC: “Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se

devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a

que se refere o Artigo 406, permitida a capitalização anual”.

Juros compensatórios: Tal espécie de taxa de juros tem a finalidade de

capitalizar o valor nominal que foi emprestado. Para os contratos pactuados

entre pessoas físicas ou jurídicas que não exerçam atividade financeira, sua

base normativa será a Lei de Usura.

Aula 1

Exercícios de fixação

Questão 1 - D

Justificativa: O Código Civil de 2002, a partir de uma leitura constitucionalizada

do ordenamento jurídico, apresenta mecanismos que visam atenuar o princípio

da autonomia privada por meio da incorporação da justiça social distributiva

aos negócios jurídicos, bem como da dignidade da pessoa humana.

Questão 2 - C

Justificativa: Conforme Artigo 391 do CC: “Pelo inadimplemento das obrigações,

respondem todos os bens do devedor”.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 27

Questão 3 - D

Justificativa: Cláudia Lima Marques denomina como diálogo das fontes o

processo de mitigação dos tradicionais critérios hermenêuticos, utilizados para

se determinar qual norma deverá ser aplicada em dado caso concreto.

Questão 4 - A

Justificativa: Atualmente, o ordenamento jurídico civilista encontra-se

influenciado pela Constituição Federal, acarretando verdadeira transformação

paradigmática em sua interpretação. Como resultado, a doutrina e a

jurisprudência pátrias desenvolveram as bases e premissas metodológicas do

direito civil-constitucional, entendido, pois, como uma nova técnica

hermenêutica, que busca aplicar os princípios e direitos fundamentais às

relações privadas.

Questão 5 - D

Justificativa: Conforme Artigo 3º, VII, da Lei nº 8.009/1990.

Questão 6 - B

Justificativa: Em síntese, o princípio da autonomia privada pode ser apreendido

como a possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem

suas relações mútuas, dentro de determinados limites, por meio de negócios

jurídicos.

Questão 7 - D

Justificativa: Conforme Artigo 421 do CC: “A liberdade de contratar será

exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.

Questão 8 - A

Justificativa: Conforme Artigo 472 do CC: “O distrato faz-se pela mesma forma

exigida para o contrato”.

TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 28

Questão 9 - D

Justificativa: Informativo nº 492 do STJ: “Nos contratos aleatórios de compra e

venda de safra futura, as variações de preço, por si só, não motivam a

resolução contratual com base na teoria da imprevisão”.

Questão 10 - B

Justificativa: Conforme Artigo 425 do CC: “É lícito às partes estipular contratos

atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”; e Artigo 426 do

CC: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”.