HZ833 Trabalho FinalLeandro Landgraf RA: 970997

Em seus primrdios, partir dos anos 40 e se estendendo at a dcada de 90, a rpida urbanizao brasileira e seu desenvolvimento sem o devido planejamento e controle sobre o uso do solo causou diversos e irreversveis impactos ambientais, tais como poluio do ar, contaminao e impermeabilizao do solo, contaminao e esgotamento dos recursos hdricos e devastao dos ambientes naturais (mangues, matas, nascentes, etc). Este padro inicial de urbanizao, que dominou o desenvolvimento das metrpoles brasileiras por 50 anos, possui quatro caractersticas principais: disperso ao invs de concentrado; existe uma separao espacial entre as classes sociais (as classes mais altas no centro e as classes mais baixas na periferia); a maioria dos moradores, sejam eles ricos ou pobres, adquirem a casa prpria os mais ricos, conseguindo emprstimos com subsdio do governo, no precisavam construir as prprias casas, j os mais pobres apelavam para a autoconstruo, que demanda anos para sua concluso e feita sem projetos ou autorizaes estatais; e o sistema de transporte baseado nos veculos automotores, que trafegam e congestionam ruas e avenidas, sendo o uso de nibus para as classes trabalhadoras e automveis para as classes mais abastadas a regra geral (CALDEIRA, 2000). Desde os anos 1980 os processos de urbanizao das cidades brasileiras vm passando por mudanas, caracterizando-se principalmente por um processo de periferizao das metrpoles brasileiras que vem se acentuando, em grande parte pela crise econmica que contribuiu para o aumento da pobreza e resultou numa diminuio das migraes em direo s grandes cidades. O crescimento populacional nos grandes polos, resultado principalmente do acelerado processo migratrio do rural para o urbano e que teve como um de seus resultados o enorme dficit habitacional encontrado nas regies metropolitanas tem cedido lugar ao rpido crescimento dos municpios perifricos, que possuem um menor valor da terra mas tambm maiores nveis de pobreza e carncias sociais, resultando em uma ocupao do espao do tipo concentrao dispersa, pois "ao mesmo tempo em que municpios da periferia apresentam maiores taxas de crescimento populacional, os ncleos metropolitanos tambm apresentam estoque e crescimento populacional elevado, alm de concentrarem a maior parte dos postos de trabalho metropolitanos o que ainda expressa a presso sobre as reas centrais, evidente especialmente pelo drama da mobilidade urbana". (SILVA, 2013). Esta " nova organizao territorial que aparece, ao mesmo tempo, como um efeito e como uma causa do desenvolvimento geral" (BENKO, 1996) corresponde s mudanas no modo de produo e do consumo do espao podem ser relacionadas reestruturao produtiva do capitalismo internacional, a chamada globalizao, representada pelo processo de acumulao flexvel, e em muito facilitada pela informatizao e pela ampliao e modernizao das redes de transporte e de comunicao, o que permitiu ao capitalismo mudar a relao espao e tempo (HARVEY, 1999) e flexibilizar as relaes de trabalho, gerando desempregos, perdas salariais, novas formas de contratao, e uma deteriorao geral das relaes de trabalho, transformando o modo de produo capitalista. Na atualidade, as grandes cidades tm ficado cada vez mais diversas e fragmentadas, e a urbanizao dispersa, que ocupa reas cada vez mais extensas de territrio, acaba prejudicando e comprometendo ainda mais o meio ambiente, sendo um limitador para uma urbanizao sustentvel. A relao entre urbano e meio ambiente se torna assim um dos dilemas ambientais mais evidentes da atualidade, sendo que, por ser o urbano "uma expresso fsica da sociedade moderna que age e interage com a dinmica socioambiental", o prprio modo de vida urbano o maior contribuinte para a intensificao dos processos de degradao que conduzem aos dilemas ambientais (OJIMA, 2006). Diversos so os problemas e mudanas resultantes que so considerados como resultados do processo de disperso urbana. Ojima (2006) lista algumas causas e consequncias do aumento significativo da rea urbana com baixas densidades populacionais e um padro residencial disperso, caractersticas deste processo: "maiores distncias para a cobertura a acesso aos servios pblicos (segurana, educao, sade, etc.); agravamento dos conflitos sociais atravs do aumento da segregao socioespacial; maior consumo de recursos naturais (gua, energia eltrica e combustveis fsseis); aumento da poluio atmosfrica; crescimento da demanda por transporte automotivo individual; congestionamentos e maior consumo do tempo mdio das viagens dirias; maior incidncia de alguns problemas de sade e causas de bito (obesidade, acidentes de trnsito, problemas respiratrios, enfermidades tipicamente rurais, etc.)."Um movimento populacional que se insere dentro da nova organizao territorial causada pela globalizao e que tem expulsado a populao de mais baixa renda das regies centrais em direo periferia, e em muitos casos para reas de proteo ambiental, foi muito bem descrito por Mariana Fix (FIX, 2009). A autora descreve o processo de desapropriao e desocupao de uma regio s margens do Rio Pinheiros, em So Paulo, uma verdadeira gentrificao, com intuito de implantao de empreendimentos imobilirios de alto padro e que mesclam "funes residenciais, de consumo e negcios", em verdadeiros "enclaves fortificados" de luxo "espaos privatizados, fechados e monitorados para residncia, consumo, lazer e trabalho" (CALDEIRA, 2000) cuja justificativa de existncia principal o medo da violncia surgidos partir de uma parceria pblico-privada que expulsou os moradores para a periferia, "para outras favelas, muitas localizadas em regies de proteo ambiental, como as reservas de gua para o abastecimento da cidade". Deste modo: "o urbano contemporneo assume uma estruturao cada vez mais complexa, sobretudo, pela ramificao das redes urbanas, a integrao dos fluxos econmicos, a intensificao dos fluxos de mobilidade populacional e a mudana nos padres de consumo. Assim, uma aglomerao pode assumir distintas formas de se dispersar no espao e, por suposto, essas diferentes formas podem assumir impactos sociais e ambientais diferenciados. (OJIMA, 2006)" Com o intuito de buscar uma melhoria na qualidade de vida, um conceito que envolve aspectos objetivos e subjetivos, dependendo assim da percepo de cada indivduo, mas que contemporaneamente est associada proximidade das reas verdes e "uma relao mais saudvel do ser humano com seu ambiente" (CARMO, 1997), os grupos populacionais com melhores condies de se estabelecerem em locais que apresentam, na percepo destes mesmo grupos, uma melhor qualidade de vida, tm tambm deixado as regies centrais e ocupado regies distantes, resultando em reas com grande heterogeneidade na distribuio de renda, e onde apartamentos e condomnios de luxo so construdos ao lado de enormes favelas (CALDEIRA, 2010). Estes novos empreendimentos trazem uma melhoria na infraestrutura e nas condies da periferia, mas tambm causam o aumento no valor da terra e no preo dos terrenos, o que leva muitos moradores mais pobres a abandonarem as regies perifricas que j ocupavam em direo aos limites da cidade ou para outros municpios da regio metropolitana. A disperso e consequente espalhamento das manchas urbanas, com a mudana das classes mais abastadas para a periferia dos grandes centros, tem resultado em espaos onde os diferentes grupos sociais se encontram prximos, porm separados por muros e tecnologias de segurana, de modo que no se encontram ou interajam em reas comuns (CALDEIRA, 2000). Assim o padro dicotmico tradicional centro-periferia passa aos poucos a ser substitudo por este novo padro de segregao espacial disperso, representado pelos condomnios e loteamentos, padro que inicialmente atendia uma pequena parcela de famlias de alta renda, mas que hoje representa um modelo de consumo buscado por todas as camadas sociais. Outros fatores que so responsveis pela transformao na organizao urbana das grandes cidades so a reverso do crescimento demogrfico e a recesso econmica, a desindustrializao e a expanso do setor tercirio. (CALDEIRA, 2000 e OJIMA, 2006). E devido ao crescimento da pobreza e aumento nos custos, e na falta de recursos, a autoconstruo se torna mais difcil e esta parcela mais carente da populao se v forada a abandonar tambm o sonho da casa prpria e, na falta de alternativas, recorrerem moradia em cortios e favelas. Sem opes habitacionais, seja atravs de polticas pblicas sociais ou do mercado privado, a classe trabalhadora pobre ocupa as reas rejeitadas pelo mercado imobilirio, como beira de crregos e encostas de morros, regies poludas ou reas de proteo ambiental, erguendo moradias precrias e formando novas favelas, ou como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) eufemisticamente as classifica desde o Censo 1991, mas tendo maior nfase no Censo 2010, "aglomerados subnormais":" um conjunto constitudo de, no mnimo, 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria de servios pblicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, at perodo recente, terreno de propriedade alheia (pblica ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A identificao dos aglomerados subnormais deve ser feita com base nos seguintes critrios:a) Ocupao ilegal da terra, ou seja, construo em terrenos de propriedade alheia (pblica ou particular) no momento atual ou em perodo recente (obteno do ttulo de propriedade do terreno h 10 anos ou menos); eb) Possurem pelo menos uma das seguintes caractersticas: urbanizao fora dos padres vigentes - refletido por vias de circulao estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construes no regularizadas por rgos pblicos; ouprecariedade de servios pblicos essenciais.Os aglomerados subnormais podem se enquadrar, observados os critrios de padres de urbanizao e/ou de precariedade de servios pblicos essenciais, nas seguintes categorias: invaso, loteamento irregular ou clandestino, e reas invadidas e loteamentos irregulares e clandestinos regularizados em perodo recente." (IBGE, 2011)Estas moradias precrias, em um ambiente com altos ndices de contaminao e de degradao, ou localizadas em regies sujeitas a enchentes, inundaes e deslizamentos de terra, so carentes das condies bsicas para a vida urbana (abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, destino do lixo e disponibilidade de energia eltrica), como dificuldade de acesso aos servios e infraestrutura (transporte precrio, saneamento deficiente, drenagem inexistente, dificuldade de abastecimento, difcil acesso aos servios de sade, educao e creches, etc) e tm aumentado em ritmo mais acelerado do que a populao das regies metropolitanas, em um movimento de "favelizao" (KOWARICK, 2000). O resultado desta disputa pelo espao perifrico uma extenso das periferias urbanas, com consequente segregao socioespacial urbana e ambiental, que reflete a excluso e a desigualdade social, sendo uma de suas mais importantes evidncias e que, apesar de sua difcil mensurao, "pode ser caracterizada por indicadores como a informalidade, a irregularidade, a ilegalidade, a pobreza, a baixa escolaridade, o oficioso, a raa, o sexo, a origem e, principalmente, a ausncia da cidadania" (MARICATO, 1995); e como nos lembra tambm Maricato (2003), a ilegalidade um dos principais agentes de segregao ambiental, seja no campo ou na cidade, sendo que a legislao urbana se coloca disposio do mercado imobilirio, e a populao mais pobre acaba por ser "banida da condio de cidadania, tanto pela condio econmica quanto pelas restries urbansticas e ambientais" (MARTINS, 2011). Interessante notar que, de acordo com os dados do Censo 2010, a distribuio dos "aglomerados subnormais" no segue um padro homogneo, sendo que o municpio-ncleo das regies metropolitanas concentra, com exceo das regies metropolitanas da Baixada Santista, da Grande Vitria e de Recife, a maior parte dos domiclios carentes e em condies precrias, com destaque para Natal (RN) com 100%, Distrito Federal com 97,7%, Salvador (BA) com 94,9%, Macei (AL) com 94,6%, Manaus (AM) com 94,3%, Fortaleza (CE) com 92,4%, e Campinas (SP) com 92,2% das habitaes em "aglomerados subnormais" de suas respectivas regies metropolitanas; a cidade de So Paulo concentra 59,6%. Outro dado interessante para cada regio metropolitana a proporo de pessoas residentes em "aglomerados subnormais" em relao populao normal: as maiores propores foram encontradas em Belm (PA), 52,5%; Salvador (BA), 25,7%; So Lus (MA), 23,9%; e Recife (PE), 22,4%. A regio metropolitana de So Paulo possui 11% e a de Campinas 5,8%. A tabela abaixo mostra uma comparao dos servios prestados aos domiclios nos "aglomerados subnormais" comparando-os com as reas urbanas regulares dos mesmos municpios:

interessante notar na tabela acima que, conforme esperado, o percentual de acesso aos servios bsicos nos "aglomerados subnormais" sempre menor do que os encontrados nas reas urbanas regulares dos mesmos municpios, apesar de que no caso de abastecimento de gua e coleta de lixo estes percentuais so bem prximos; por outro lado, quando olhamos para o percentual de esgotamento sanitrio, as habitaes em "aglomerados subnormais" apresentam os menores porcentuais e a maior diferena para as reas urbanas regulares, porm estes so mais altos do que aqueles encontrados no municpios sem "aglomerados subnormais". Esta diferena pode ser explicada como um reflexo da desigualdade na rede urbana brasileira, j que a maioria dos "aglomerados subnormais" encontram-se nos municpios mais ricos e bem estruturados, enquanto a maior parte dos municpios sem este tipo de aglomerao urbana esto geralmente em reas mais pobres e com infraestrutura mais precria (IBGE, 2011). A ocupao de reas de proteo ambiental (de acordo com o artigo 2 do Cdigo Florestal so consideradas reas de preservao permanente as florestas e demais formas de vegetao que se localizem: ao longo dos rios ou de qualquer curso d'gua em uma extenso que varia proporcionalmente com a largura do rio; ao redor de lagoas, lagos e reservatrios de gua naturais ou artificiais; em um raio mnimo de 50 metros das nascentes) pela populao mais carente, de maneira precria e irregular, muitas vezes ocorrendo por uma falta de alternativas e locais disponveis, compromete no apenas as condies de vida das pessoas que ali se instalam, com total conivncia e tolerncia por parte do Estado que ao invs de investir em moradias melhores, preferencialmente em reas mais centrais, acaba incentivando a ocupao com pequenas obras de infraestrutura e iluminao pblica mas compromete tambm aqueles recursos que so fundamentais a todos, como os mananciais de gua. E os altos custos para sua remoo aliados aos problemas que dificultam ou inviabilizam uma urbanizao adequada (como problemas de drenagem ou risco de desmoronamentos) acabam por consolidar as ocupaes ilegais nestas reas (MARICATO, 2003). Podemos assim associar a questo ambiental urbana com o problema da falta de moradia, o que ainda mais prejudicado pela inexistncia de uma poltica de acesso habitao de interesse social, evidenciando a relao entre urbanizao e meio ambiente, principalmente quando consideramos que o discurso ambiental vem sendo usado com frequncia "para sustentar prticas e projetos que mais tm acirrado os conflitos sociais e injustias ambientais do que enfrentado adequadamente a questo ambiental" (MARTINS, 2011). Alm de contriburem para uma esttica da paisagem, e de suas funes de recreao, de lazer, cultural e de contemplao, alm da preservao de recursos naturais e da biodiversidade local, as reas de preservao ambiental urbanas ajudam no controle climtico das cidades, participam na melhoria da qualidade do ar, diminuindo os nveis de gs carbnico na atmosfera, diminuem os rudos e a poluio sonora, protegem as bacias hidrogrficas necessrias para o abastecimento de gua das cidades e oferecem protees contra variaes pluviomtricas, evitando secas e enchentes, por apresentarem "baixa amplitude trmica e de umidade, mostrando estabilidade microclimtica" (DACANAL, 2011), pois " Os fragmentos florestais urbanos atuam sobre o clima local, diminuindo temperatura do ar e elevando a umidade absoluta do ar do entorno edificado" (idem), e assim amenizam a temperatura mantendo a umidade do ar em nveis mais altos, melhorando o clima local de modo geral. Principalmente quando consideramos as regies mais afastadas do centro, com caractersticas rurbanas e que tm sido cada vez mais ocupadas devido urbanizao dispersa, pois Dacanal conclui que "as florestas urbanas apresentam elevada inrcia trmica" e que "o aumento da umidade do ar, decorrente dos efeitos da evapotranspirao, contribui para a diminuio da temperatura do ar mxima do dia do entorno edificado, diminuindo, assim, a amplitude trmica diria". Inclusive a autora identificou um percentual mnimo de 20% para que seja observado um aumento na umidade do ar e um arrefecimento nas temperaturas, em qualquer padro de ocupao humana, e para uma temperatura abaixo da mdia e uma umidade absoluta do ar acima da mdia de zonas urbanas a porcentagem deve alcanar de 40% a 50%, recomendando para a cidade de Campinas a "implantao mnima de 20% de reas de florestas urbanas sobre um total urbanizado, com formato regular, distribudas homogeneamente sobre o tecido urbano, em uma distncia igual a duas vezes a largura mnima do menor fragmento".Para que tenhamos um desenvolvimento urbano no excludente e sustentvel, necessria a urbanizao, melhoria e legalizao da cidade informal atravs da produo de moradias, de modo a melhorar qualidade de vida e cidadania para aqueles que muitas vezes, na falta de opes, se veem forados a invadir terras para morar, em contraponto com a urbanizao de favelas e ocupaes, que tem sido a poltica adotada nos municpios brasileiros. Os problemas de degradao do meio ambiente devem ser enfrentados juntamente com o combate pobreza, s desigualdades sociais e excluso. H muito tempo que a expanso da periferia, baseada na autoconstruo ou em grandes conjuntos habitacionais distantes do centro, demonstrou no ser a soluo mais adequada dos pontos de vista social e ambiental. O acesso cidade com todos seus servios e infraestruturas, e uma verdadeira democratizao habitacional, compem os novos paradigmas que deveriam orientar e conciliar a produo e ocupao do espao com a qualidade ambiental, principalmente quando consideramos as reas metropolitanas centrais, que como apresentado vm sendo abandonadas pela populao residencial, e permanecem repletas de imveis subaproveitados e precarizados, sem cumprirem sua funo social. O centro expandido de So Paulo, a maior metrpole brasileira, por exemplo, apesar de ser conhecido pela grande verticalidade e quantidade de edifcios altos, possui pequena densidade populacional mdia (MARTINS, 2011). A utilizao destes imveis como habitao de alta densidade, para melhor aproveitamento, por aqueles que mais necessitam de acesso s reas centrais, deveria ser viabilizada pelo Estado.

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