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TRABALHO CONCRETO E ABSTRATO Alessandro de Melo

Trabalho Concreto e Abstrato

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TRABALHO CONCRETO E ABSTRATO

Alessandro de Melo

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O CAPITAL

A forma relativa do valorFormação do equivalenteOutra característica do equivalente é a relação dialética dos trabalhos concretos do tecelão e do alfaiate.“É, portanto, uma segunda propriedade da forma equivalente, trabalho concreto torna-se forma de manifestação de seu contrário, trabalho humano abstrato.” (p.67)Outra característica do equivalente é a relação dialética entre trabalhos privados e o trabalho social“torna-se o trabalho privado a forma do seu contrário, trabalho em forma diretamente social” (p.67)

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O CAPITAL

O processo de produzir mais-valia“Durante o processo de trabalho, o trabalho se transmuta de ação em ser, de movimento em produto concreto. Ao fim de uma hora, a ação de fiar está representada em determinada quantidade de fio; uma determinada quantidade de trabalho, uma hora de trabalho se incorpora ao algodão.” (p. 223)

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O CAPITAL

VI Capital constante e capital variávelIsso significa que só há trabalho na produção, em que o trabalhador transfere valor e, ao mesmo tempo, conserva-o pela manutenção da sua atividade (“trabalho útil particular” concreto). O mesmo vale para os meios de produção. Junta-se esse trabalho concreto (tecer, fiar, por ex.) aos meios de produção que, por sua vez, ganha vida no processo de produzir novos valores-de-uso. “ganha vida” mantém seu valor.Trabalho concreto – gera valor-de-usoTrabalho abstrato- gera valor

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O CAPITAL

VI Capital constante e capital variável

O trabalho abstrato, por sua vez, gera valor, pois independe da especificidade concreta em que se apresenta. “Acrescenta valor, portanto, com o seu trabalho, não por ser trabalho de fiação ou de marcenaria, mas apenas por ser trabalho abstrato social. Acrescenta determinada magnitude de valor, não por possuir seu trabalho conteúdo útil particular, mas porque dura um tempo determinado.” (p.236)

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O CAPITAL

Valor de uso – a materialidade da mercadoria, sua configuração física que lhe empresta uma determinada utilidade. É inerente ao valor de uso a qualidade do trabalho nele dispensado, já que sua utilidade é produto de um trabalho específico, que Marx chama “trabalho útil” ou trabalho concreto. A realização do valor de uso se dá no consumo das mercadorias.

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O CAPITAL

Trabalho concreto – Este é caracterizado pelo trabalho gerador de valor de uso; um trabalho que é o dispêndio de energia bio-psico-física na produção de determinado produto ou mercadoria.

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O CAPITAL

“Sob esse ponto de vista será sempre associado a seu efeito útil” (idem, p.63). Ontologicamente, o trabalho concreto é o que define o homem, seja em qual sociedade se considerar, pois é ele a ação humana sobre a natureza para a geração de uma utilidade. Na sociedade capitalista, no entanto, o trabalho concreto é subsumido pelo trabalho abstrato no processo da troca.

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O CAPITAL

A análise do conjunto destes conceitos, na verdade, é a base da compreensão da sociedade capitalista. Tendo a mercadoria como sua aparência, o que Marx busca é compreender a sua essência, que é encontrada na produção. Na sociedade capitalista, em que impera a produção de esvaziamento ontológico do homem, pelo esvaziamento do trabalho concreto. Para realizar a troca é preciso que o capital desconsidere a infinidade de valores de uso, de trabalhos concretos, e reduza o trabalho e, logo, as relações sociais, a mera quantidade, ao valor de troca, algo muito bem trabalhado no Manifesto Comunista, de 1848.

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Introdução à Crítica da Economia Política – 1857

Eternização das relações de produção históricas. Produção e distribuição em geral. Propriedade.Por conseguinte, quando falamos de produção nos referimos, sempre, à produção de uma etapa determinada do desenvolvimento social: da produção de indivíduos que vivem em sociedade [...] Mas todas as épocas da produção têm certos caracteres comuns, certas determinações comuns. A produção em geral é uma abstração , mas uma abstração racional, na medida em que, ao sublinhar e precisar bem os traços comuns, nos evita a repetição [...] Alguns de ditos caracteres pertencem a todas as épocas, outras são comuns a algumas destas somente [...] portanto, é preciso distinguir as determinações que valem para a produção em geral, a fim de que a unidade – que surge do fato de que o sujeito, a humanidade, e o objeto, a natureza, são idênticos – não faça esquecer a diferença essencial [...] Por exemplo, não é possível a produção sem um instrumento de produção, ainda que dito instrumento somente fosse a mão. Não é possível uma produção sem trabalho pretérito, acumulado, ainda que dito trabalho somente fosse a habilidade que o exercício repetido desenvolveu e fixou na mão do selvagem. Entre outras coisas, também o capital é um instrumento de produção, também é trabalho passado, objetivado. (p.57-58)[critica J.S.Mill, por tratar a produção em geral, em suas condições gerais, não específico e concreto]

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Rosemary Dore. Gramsci, o Estado e a escola

O caso da categoria trabalho desenvolvida por A. Smith é um caso citado por Marx. Este autor não leva em conta os trabalhos concretos, mas uma abstração “trabalho”, que, por sua vez, existe concretamente em várias formas diferenciadas. E, por sua vez, é a existência destas formas diferenciadas de trabalho que possibilita a abstração realizada pelo autor.

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Gilberto Alves – Repensando a questão da qualificação profissional

A questão primordial que se coloca para os trabalhadores de nosso tempo não é a de requalificação profissional, pois historicamente superada, mas, sim, a do acesso ao conhecimento que lhes permita compreender a sociedade capitalista e seu movimento. Seria esse conhecimento que lhes facultaria o entendimento do próprio fazer pela apreensão de suas funções no todo social; que lhes asseguraria a possibilidade de superar as limitações dos conhecimentos básicos de que dispõem no dia a dia, tanto os científicos quanto os humanísticos, em decorrência do caráter especializado, portanto abstrato, que assumiram. Em resumo, os trabalhadores vêem-se limitados na época contemporânea não pela especialização profissional, mas, sim, pela falta do domínio teórico que lhes permita apreender a totalidade em pensamento.

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BRAVERMAN

• “O princípio subjacente e que inspira todas essas investigações do trabalho é o que encara os seres humanos em termos de máquina [...] O ser humano é considerado nesse caso como um mecanismo articulado por dobradiças, juntas e mancais de esfera etc.” (p.156)

• “[...] pessoas de uma classe são postas em movimento por pessoas de outra classe.” (p.157)

• - esse controle da gerência dissolve o trabalho concreto em movimentos gerais, o que nos remete, segundo o autor, ao “trabalho abstrato” de Marx. Tal estratégia está na mente do capitalista ao organizar a produção.

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A POLÊMICA ENTRE TRABALHO CONCRETO E ABSTRATO NAS

DISCUSSÕES DE FRIGOTTO E TUMOLO

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TUMOLO 2005

Tendo em vista que o trabalho concreto é o substrato do valor de uso e o trabalho abstrato é a substância do valor, eles também estabelecem uma relação de contradição. Num primeiro exercício analítico percebe-se que o trabalho concreto (valor de uso) está subsumido pelo trabalho abstrato (valor), em razão de que o capitalismo é uma sociedade essencialmente mercantil, cujo objetivo não é a produção de valores de uso para a satisfação das necessidades humanas, do estômago à fantasia. Mais do que isto, trata-se de uma relação na qual a afirmação do trabalho abstrato é a negação do trabalho concreto e vice-versa. (P.242)

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TUMOLO 2005

O método de exposição percorrido até o capítulo IV foi o de partir da riqueza, penetrar no estudo da mercadoria e do dinheiro como meio circulante e chegar, ainda que embrionariamente, ao dinheiro como capital, ou seja, o itinerário que vai da riqueza ao capital e, portanto, do valor de uso – passando pelo valor de troca – ao valor, e, deste, à mais-valia – mesmo que apenas anunciada sem ter sido, ainda, explicada –, ou, se se quiser, o caminho vai do trabalho concreto ao trabalho abstrato. Marx busca dar concreticidade à sua análise, quer dizer, todas as categorias utilizadas são categorias que buscam apreender o fenômeno do capital e, por esta razão, elas só têm validade explicativa numa forma social determinada, a capitalista. (p. 245)

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TUMOLO 2005

Na primeira parte do capítulo V, ao contrário, o autor tece um percurso oposto. Ele começa discorrendo sobre a utilização da força de trabalho que, para cumprir sua finalidade para o capitalista – produzir valor e, por conseguinte, mais-valor –, deve produzir, antes de tudo, valores de uso. Tendo em vista que a produção de valores de uso não muda sua natureza geral por se realizar para o capitalista, “o processo de trabalho deve ser considerado de início independentemente de qualquer forma social determinada” (Marx, 1983, p. 149; grifos meus). O caminho percorrido, expresso logo no início do capítulo, é o que vai do capital à riqueza, ou da força de trabalho, que pressupõe a produção do valor, ao valor de uso, qual seja, do trabalho abstrato ao trabalho concreto e, deste, ao trabalho em geral, considerado um elemento mediador da relação metabólica entre o ser humano e a natureza, independentemente de qualquer forma social determinada. (p.245-246)

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Tumolo 2005

Mais que apontar a relação de determinação entre as três categorias de trabalho no capitalismo, procurei evidenciar, neste texto, a relação de contradição entre o trabalho concreto, como criador do valor de uso para satisfação das necessidades humanas, e o trabalho produtivo de capital, cuja análise conduziu à conclusão segundo a qual, na forma social do capital, a dimensão de positividade do trabalho constitui-se pela dimensão de sua negatividade, seu estatuto de ser criador da vida humana constrói-se por meio de sua condição de ser produtor da morte humana. (p.255-256)

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TUMOLO 2005

Enquanto os seres humanos produzirem suas vidas sob a égide do capital e de seu modo de produção, o capitalismo, a pergunta persiste: O trabalho poderia ser princípio educativo de uma concepção de educação que pretenda a emancipação humana? Ou então, ao contrário, o princípio educativo não deveria ser, dentro da compreensão aqui arrolada, a crítica radical do trabalho, que implicaria a crítica radical do capital e do capitalismo? (p.256)

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FRIGOTTO 2009Da leitura que faço do trabalho como princípio educativo em Marx, ele não está ligado diretamente a método pedagógico nem à escola, mas a um processo de socialização e de internalização de caráter e personalidade solidários, fundamental no processo de superação do sistema do capital e da ideologia das sociedades de classe que cindem o gênero humano. Não se trata de uma solidariedade psicologizante ou moralizante. Ao contrário, ela se fundamenta no fato de que todo ser humano, como ser da natureza, tem o imperativo de, pelo trabalho, buscar os meios de sua reprodução – primeiramente biológica, e na base desse imperativo da necessidade criar e dilatar o mundo efetivamente livre. Socializar ou educar-se de que o trabalho que produz valores de uso é tarefa de todos, é uma perspectiva constituinte da sociedade sem classes. (p.189)

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FRIGOTTO 2009

Por ser o trabalho (mediação de primeira ordem) o que possibilita que o ser humano produza-se e reproduza-se, e por isso, na metáfora de Marx, antediluviano, e não o trabalho escravo, servil e o trabalho alienado sob o capital (mediações de segunda ordem), a internalização, desde a infância, do princípio do trabalho produtor de valores de uso é fundamental. [...] É dessa perspectiva que Marx entende, na minha leitura, a união de trabalho e ensino desde a infância e, ao mesmo tempo, a luta contra a exploração do trabalho infantil. (p.189)

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FRIGOTTO 2009

A conclusão de Tumolo sobre a impossibilidade de considerar o trabalho como princípio educativo sob o capitalismo decorre não só por não trabalhar neste texto o caráter contraditório das relações sociais, mas de uma inversão histórica: o capital se torna a categoria antediluviana. Tomado o trabalho como processo que cria e recria o ser humano, ele não é redutível às formas históricas, sob as sociedades de classe que cindem o gênero humano, ao trabalho escravo, servil e capitalista. Por isso, até mesmo o trabalho escravo não é pura negatividade. Este parece ser um dos sentidos da dialética do senhor e do escravo. Do mesmo modo, não é estranho em Marx reconhecer o caráter civilizatório da revolução burguesa, no plano do pensamento e no plano das relações de produção. (p.190)

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TUMOLO 2011

Como se pode perceber claramente, seja pela retomada de alguns aspectos abordados em meu artigo, seja principalmente pela leitura dele, toda minha análise trata o trabalho na forma social do capital como unidade contraditória entre negatividade e positividade, vale dizer, como a mais pura expressão da contradição, porque meu objetivo era apreender o trabalho como contradição, fundado em O Capital, de Marx, que, obviamente, também compreendia o trabalho como contradição. Ademais, se, em minha análise, estou considerando o trabalho como trabalho produtivo de capital, este pressupõe, necessariamente, o trabalho concreto ou útil, produtor de valores de uso, que expressa a dimensão de positividade do trabalho, o que comprova que é totalmente descabida a afirmação de Frigotto de que não considerei a dimensão de positividade do trabalho, já que é impossível a existência do trabalho produtivo de capital sem que haja trabalho útil. (p.466)