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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PEDRO IVO GONÇALVES MAGALHÃES A VALIDAÇÃO DE PROCESSOS COMO GARANTIA DE CONFORMIDADE DOS PRODUTOS NA INDÚSTRIA DE DISPOSITIVOS MÉDICOS JUIZ DE FORA 2010

Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

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Page 1: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

PEDRO IVO GONÇALVES MAGALHÃES

A VALIDAÇÃO DE PROCESSOS COMO GARANTIA DE CONFORMIDADE DOS

PRODUTOS NA INDÚSTRIA DE DISPOSITIVOS MÉDICOS

JUIZ DE FORA

2010

Page 2: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

PEDRO IVO GONÇALVES MAGALHÃES

A VALIDAÇÃO DE PROCESSOS COMO GARANTIA DE CONFORMIDADE DOS

PRODUTOS NA INDÚSTRIA DE DISPOSITIVOS MÉDICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a

Faculdade de Engenharia da Universidade

Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial

para a obtenção do título de Engenheiro de

Produção.

Orientador: M.Sc., Jane Azevedo da Silva

Co-Orientador: M.Sc., Thaís Cristina Pereira Ferraz

JUIZ DE FORA

2010

Page 3: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

PEDRO IVO GONÇALVES MAGALHÃES

A VALIDAÇÃO DE PROCESSOS COMO GARANTIA DE CONFORMIDADE DOS

PRODUTOS NA INDÚSTRIA DE DISPOSITIVOS MÉDICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a

Faculdade de Engenharia da Universidade

Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial

para a obtenção do título de Engenheiro de

Produção.

Aprovada em 09 de Novembro de 2010.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

M.Sc., Jane Azevedo da Silva

Universidade Federal de Juiz de Fora

___________________________________________________

M.Sc., Thais Cristina Pereira Ferraz

Universidade Federal de Juiz de Fora

___________________________________________________

M.Sc., Roberto Malheiros Moreira Filho

Universidade Federal de Juiz de Fora

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer por este trabalho primeiro a Deus, que torna todas as coisas

possíveis, aos meus familiares, que fizeram que a minha formação nesse curso fosse possível

e sempre me deram força em todos os momentos, além de terem me ensinado a sempre lutar

por aquilo que eu quero. Agradeço também à minha namorada, pelo apoio e compreensão

incondicionais. Por fim, gostaria de agradecer aos meus amigos, pois a alegria que me

proporcionaram no dia a dia fez dessa jornada algo mais simples.

Page 5: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

RESUMO

Atualmente, as empresas que atuam no ramo de produção de dispositivos médicos são

reguladas pela legislação dos países aos quais seus produtos são destinados. A FDA (Food

and Drug Administration) nos Estados Unidos e a ANVISA, no Brasil, regulam o comércio

deste tipo de produto. Uma das exigências destes órgãos reguladores é garantir a integridade

dos usuários dos produtos. Dessa forma, ambas exigem que as empresas validem os processos

cujos produtos não serão 100% inspecionados. Assim, a validação de processos surge como

uma ferramenta importante com a finalidade de garantir que um processo produz produtos

dentro das especificações, evitando a necessidade de inspeção total e, dessa forma, reduzindo

custos, atendendo a regulamentações e, conseqüentemente aumentando a satisfação dos

clientes. A validação de processos utiliza de diversas ferramentas analíticas e estatísticas tais

como DOE (Design of Experiments), MSA (Measurement System Analysis), Capabilidade de

Processo, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é

apresentar a metodologia de realização de uma validação de processos, apresentando, para

isso, um estudo de caso da validação de um processo numa empresa pertencente à indústria de

dispositivos médicos.

Palavras-chave: Validação de processos. Ferramentas estatísticas da qualidade. Dispositivos

médicos.

Page 6: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

ABSTRACT

Currently, companies that operate in the medical devices production business are regulated by

the law of the countries to which their products are intended. FDA (Food and Drug

Administration) in the United States and ANVISA, in Brazil, regulate trade in this kind of

product. One of the requirements of regulatory bodies is to ensure the integrity of the users of

the products. This way, both demand for companies to validate the processes whose products

will not be 100% inspected. Therefore, the process validation emerges as an important tool in

order to ensure that a process produces products within specifications, avoiding the need for

total inspection and, thus, reducing costs, meeting the regulations, thus, increasing customer

satisfaction. Process validation uses several statistical and analytical tools such as DOE

(Design of Experiments), MSA (Measurement System Analysis), Process Capability, FMEA

(Failure Mode and Effect Analysis), among others. The aim of this paper is to present the

methodology for conducting a validation process, featuring, for this, a case study of a process

validation in a company belonging to the medical device industry.

Keywords: Process Validation. Quality Statistical Tools. Medical Devices.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma de Decisão de Validação ................................................................. 19

Figura 2 - Planejamento Fatorial Completo de 2 níveis ....................................................... 26

Figura 3 - Vício de um sistema de medição ......................................................................... 29

Figura 4 - Precisão de um sistema de medição ..................................................................... 29

Figura 5 - Exatidão de um sistema de medição .................................................................... 30

Figura 6 - Ciclo de Vida de Validação .................................................................................. 37

Figura 7 - Fluxograma do Processo de Moldagem ............................................................... 38

Figura 8 - Etapa de Alimentação da Máquina ...................................................................... 39

Figura 9 - Etapa de Carregamento da Resina ....................................................................... 39

Figura 10 - Etapa de Derretimento ....................................................................................... 40

Figura 11 - Etapa de Injeção ................................................................................................. 40

Figura 12 - Etapa de Resfriamento/Recalque ........................................................................ 41

Figura 13 - Etapa de Abertura do Molde/Extração ............................................................... 41

Figura 14 - Resultado MSA Conicidade 1 ............................................................................ 50

Figura 15 - Resultado MSA Conicidade 2 ............................................................................ 51

Figura 16 - Resultado MSA Diâmetro Interno ...................................................................... 51

Figura 17 - Resultado Tempo de Recalque ........................................................................... 55

Figura 18 - Corridas do DOE exploratório 1 ........................................................................ 58

Figura 19 - Análise do Resultado para média do DOE Conicidade .................................... 60

Figura 20 - Análise do Resultado para desvio padrão do DOE Conicidade ......................... 60

Figura 21 - Análise do Resultado para média do DOE Diâmetro Interno ............................ 61

Figura 22 - Análise do Resultado para desvio padrão do DOE Diâmetro Interno ............... 62

Figura 23 - Análise do Resultado do DOE Visual ................................................................ 63

Figura 24 - Análise do Resultado do DOE Vazamento ........................................................ 63

Figura 25 - Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Vazamento ...................... 64

Figura 26 - Análise do Resultado do DOE Rebarba ............................................................. 65

Figura 27 - Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Vazamento ...................... 65

Figura 28 - Corridas DOE Otimização ................................................................................. 66

Figura 29 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Otimização para

Conicidade ............................................................................................................................ 67

Figura 30 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Otimização para Diâmetro

Interno ................................................................................................................................... 68

Page 8: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

Figura 31 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Otimização para Visual .... 69

Figura 32 Cálculo Tamanho da Amostra OQ ...................................................................... 73

Figura 33 Cálculo do OEE ................................................................................................... 76

Page 9: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Exemplos de processos a serem verificados e validados ...................................... 19

Quadro 2 - Descrição das Técnicas de Planejamento e Análise de Experimentos ................. 25

Quadro 3 - Escala de FMEA ................................................................................................... 32

Quadro 4 - Verificações necessárias da fase de IQ ................................................................. 43

Quadro 5 - Resultados da etapa de IQ .................................................................................... 46

Quadro 6 - Tipos de defeitos e suas descrições ...................................................................... 47

Quadro 7 - Testes da Etapa de Benchmarking ....................................................................... 53

Quadro 8 - Categorias de Risco para FMEA ......................................................................... 71

Quadro 9 - Modos de Falha com NPR maior que 64 ............................................................ 71

Quadro 10 - Definição das Corridas de OQ .......................................................................... 73

Quadro 11 - Exemplos de Plano de Controle ........................................................................ 75

Quadro 12 - Corridas de PQ .................................................................................................. 75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exemplo de Tabela Cruzada .................................................................................. 30

Tabela 2 – Verificação de Utilidades da Etapa de IQ ............................................................. 44

Tabela 3 – CTQ avaliadas no processo ................................................................................... 48

Tabela 4 – Critérios de Aceitação do MSA para cada tipo de CTQ ....................................... 49

Tabela 5 – Resultado pressão de recalque .............................................................................. 54

Tabela 6 – Resultado Tempo de Recalque ............................................................................. 54

Tabela 7 – Valores obtidos empiricamente para as CTQ ....................................................... 55

Tabela 8 – Dados para o cálculo da amostra .......................................................................... 58

Tabela 9 – Dados Variáveis DOE exploratório 1 ................................................................... 58

Tabela 10 – Dados Atributo DOE exploratório 1 .................................................................. 59

Tabela 11 – Dados variáveis obtidos DOE de otimização ..................................................... 66

Tabela 12 – Dados atributo obtidos DOE de otimização ....................................................... 67

Tabela 13 – Piores casos para os parâmetros CTQ Conicidade ............................................. 68

Tabela 14 – Piores casos para os parâmetros CTQ Diâmetro Inter ........................................ 69

Tabela 15 – Piores casos para os parâmetros CTQ Visual ..................................................... 69

Tabela 16 – Corrida de Verificação DOE otimização ............................................................ 70

Tabela 17 – Parâmetros a serem desafiados no OQ ............................................................... 70

Tabela 18 – Resultados do OQ .............................................................................................. 74

Tabela 19 – Resultados de PQ ................................................................................................ 76

Tabela 20 – Cálculo do OEE .................................................................................................. 77

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

AIAG – Automotive Industry Action Group

ANOVA – Analysis of Variance (Análise de Variância)

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CP – Capacidade do Processo

CPK – Capacidade Real do Processo

CTQ – Critical to Quality (Crítica para a Qualidade)

DI – Diâmetro Interno

DOE – Design of Experiments (Planejamento de Experimentos)

FDA – Food and Drug Administration

FMEA – Failure Mode and Effect Analysis (Análise do Modo e Efeito de Falha)

GHTF – Global Harmonization Task Force

IQ – Installation Qualification (Qualificação da Instalação)

KPIV – Key Process Input Variables (Variáveis Chave de Entrada do Processo)

LTPD – Lot Tolerance Percent Defective (Tolerância por Lote do Percentual de Defeituosos)

MP – Manutenção Preventiva

MSA – Measurement System Analysis (Análise do Sistema de Medição)

MSR – Método da Superfície de Resposta

NPR – Número de Priorização de Risco

NQA – Nível de Qualidade Aceitável

OEE – Overall Equipment Efficiency (Eficiência Global do Equipamento)

OQ – Operation Qualification (Qualificação da Operação)

PQ – Performance Qualification (Qualificação do Desempenho)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 14

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................ 14

1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 15

1.3 ESCOPO DO TRABALHO ............................................................................................. 15

1.4 FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES .................................................................................. 16

1.5 ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS ................................................................................ 16

1.6 DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA ............................................................................... 16

1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................................... 17

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................... 19

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 19

2.2 ETAPAS DA VALIDAÇÃO DE PROCESSOS .............................................................. 22

2.3 APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS ANALÍTICAS E ESTATÍSTICAS NA

VALIDAÇÃO .......................................................................................................................... 24

3. DESENVOLVIMENTO .............................................................................................................. 36

3.1 DESCRIÇÃO DO PROTOCOLO DE PESQUISA .......................................................... 36

3.2 DESCRIÇÃO DA UNIDADE DE ANÁLISE.................................................................. 37

4. RESULTADOS ............................................................................................................................. 38

4.1 RESULTADOS ALCANÇADOS .................................................................................... 38

4.1.1 UMA VISÃO GERAL DA METODOLOGIA DE VALIDAÇÃO DE PROCESSOS DA BECTON

DICKINSON ............................................................................................................................................ 38

4.1.2 O PROCESSO DE MOLDAGEM DE COMPONENTES ESTUDADO...................................................... 39

4.1.3 PLANEJAMENTO DA VALIDAÇÃO.................................................................................................. 42

4.1.4 IQ .............................................................................................................................................. 43

4.1.5 DESENVOLVIMENTO DE PROCESSO ............................................................................................. 47

4.1.6 OQ ............................................................................................................................................. 73

4.1.7 PQ ............................................................................................................................................. 75

4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................ 78

Page 13: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 80

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 81

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Atualmente, as empresas que atuam no ramo da produção de dispositivos médicos

são altamente reguladas pela legislação dos países aos quais sua produção se destina. Órgãos

como o FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos, a ANVISA no Brasil,

entre outros, exigem uma série de requisitos regulatórios a serem atendidos para que uma

empresa possa atuar no setor.

Um dos principais requisitos exigidos por estes órgãos diz respeito à validação de

processos. Segundo o FDA (2005), a validação de processos significa estabelecer, por meio

de evidências objetivas, que um processo, consistentemente, produz um resultado ou produto

que atende às suas especificações pré-determinadas.

Pelo fato dos produtos normalmente produzidos pela indústria em questão terem a

capacidade de colocar em risco a vida de seus usuários caso apresentem algum defeito, a FDA

exige que todos os processos de uma empresa pertencente ao ramo sejam validados, caso seus

produtos não sejam 100 % inspecionados. Como a inspeção 100% em todo um mix de

produtos seria inviável para a grande maioria das empresas, a validação é a solução adotada

para que estas se encontrem em conformidade com os requisitos regulatórios (HOJO, 2004).

Para validar um processo, isto é, para provar que ele irá consistentemente produzir

um resultado que atinja aos pré-requisitos determinados, é necessário conhecer funcionamento

do processo em questão, bem como garantir que as saídas do processo serão medidas

corretamente e seus riscos identificados e mitigados. Assim, durante a validação de processos,

normalmente são utilizadas diversas ferramentas estatísticas (MSA – Measurement System

Analysis, Análise de Capabilidade, DOE – Design of Experiments, etc.) e analíticas (Exemplo:

FMEA – Failure Mode and Effect Analysis).

Dessa forma, este trabalho mostra como funciona a metodologia de validação numa

empresa de grande porte da área de dispositivos médicos, bem como sua relação com várias

ferramentas analíticas e estatísticas utilizadas durante a sua execução.

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1.2 JUSTIFICATIVA

A validação de processos, apesar de ser uma metodologia requerida pelos órgãos

regulatórios citados anteriormente, é capaz de levar ao entendimento e controle de um

processo produtivo, aprimorando a qualidade dos produtos, reduzindo custos e os riscos de o

cliente utilizar um produto não conforme. Assim, é importante divulgar métodos de realização

da validação, bem como a forma como diversas ferramentas estatísticas e analíticas podem ser

utilizados no seu desenvolvimento, de forma que, não somente as empresas que atuam no

ramo de produtos médicos, mas também quaisquer outras cujos resultados de seus produtos

possam oferecer riscos ao consumidor.

Por ser exigida pelos órgãos citados anteriormente, a validação de processos é uma

ferramenta muito importante na empresa em estudo, que tem como objetivo validar todos os

seus processos cujos produtos não são 100 % inspecionados.

Além disso, o tema é interessante dentro da engenharia de produção, pois está

intimamente ligado à gestão e melhoria de processos, através das principais ferramentas

apresentadas no estudo.

1.3 ESCOPO DO TRABALHO

O presente trabalho aborda a metodologia de validação de processos utilizada na

Becton Dickinson, empresa multinacional, líder do ramo de dispositivos médicos, bem como

as principais ferramentas que auxiliam esta metodologia a garantir que o processo atingirá os

patamares pretendidos pelos requisitos regulatórios.

Para tanto, as principais referências utilizadas no estudo estão ligadas á

regulamentação existente sobre o tema (principalmente em relação ao FDA), aos manuais de

referência que guiam as empresas na condução de uma validação, aos artigos que buscam

relacionar a validação às ferramentas de qualidade e, por fim, às fontes que descrevem a

utilização das ferramentas em estudo.

Através de um estudo de caso tomando como exemplo a validação do processo de

moldagem de um componente plástico, pretende-se responder à seguinte questão: A

metodologia de validação utilizada na Becton Dickinson, através de suas ferramentas

analíticas e estatísticas, é capaz de garantir que um processo, consistentemente, produz um

produto que atende às suas especificações?

Page 16: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

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Este trabalho não pretende se aprofundar em termos das ferramentas apresentadas,

apenas demonstrar sua utilização integrada à metodologia de validação e os resultados obtidos

em sua aplicação.

1.4 FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES

Hipótese formulada:

A metodologia de validação de processos, fornece evidências

objetivas de que um processo produz, consistentemente, um produto

que atende aos seus requisitos.

1.5 ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS

Objetivo Geral:

Apresentar a metodologia de realização de validação de processos na empresa

anteriormente citada tendo como base um o estudo de caso de uma validação

realizada recentemente na empresa,

Objetivos específicos:

Demonstrar que a metodologia utilizada na empresa, em conjunto com suas

ferramentas, é capaz de atingir os resultados esperados pelos órgãos

regulatórios;

Demonstrar que a validação de processos pode ser utilizada para entender e

controlar o processo, aumentando seu nível de qualidade e;

Mostrar alguns benefícios alcançados com a aplicação das diversas

ferramentas apresentadas

1.6 DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA

A Natureza desta pesquisa pode ser considerada aplicada, visto que o estudo tem

interesse prático e os seus resultados podem ser utilizados ao seu término. Seus objetivos se

encaixam na categoria descritiva, já que busca descrever a utilização de uma metodologia já

existente. A abordagem do trabalho é qualitativa, uma vez que, apesar de demonstrar o

Page 17: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

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funcionamento de ferramentas estatísticas relacionadas ao tema, o foco do trabalho é o estudo

da aplicação da metodologia em si. Dentro desta abordagem, a técnica de pesquisa é o estudo

de caso. (MIGUEL, 2010).

O estudo de caso é um dos tipos de pesquisa qualitativa que tem sempre um forte

cunho descritivo, caracterizado pelo fato de que o pesquisador não pretende interferir sobre a

situação, mas sim proporcionar o conhecimento tal qual essa situação lhe surge. Com isso

pode. Com isso pode utilizar vários instrumentos e estratégias, implicando que o estudo de

caso não precisa ser unicamente descritivo (MIGUEL, 2010). Portanto, é uma técnica de

pesquisa que envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, neste caso,

uma validação de processos realizada na Becton Dickinson, de forma que se permita seu

amplo e profundo conhecimento, que é um dos objetivos deste trabalho.

O principal procedimento de coleta de dados aplicada no estudo será a coleta de

dados de arquivos, a partir dos protocolos, relatórios e registros obtidos na validação citada

anteriormente.

O trabalho foi desenvolvido na empresa Becton Dickinson, multinacional que atua

no ramo de dispositivos médicos. A empresa foi escolhida devido à facilidade de acesso às

informações, já que o autor pratica a atividade de estágio nessa.

A partir da revisão de literatura do capítulo 2, o autor apresentará o procedimento de

validação utilizado na empresa, utilizando para isso o exemplo de uma validação do processo

de moldagem de um componente plástico. Este processo foi selecionado por apresentar uma

validação completa, com as 3 etapas que normalmente a compõem, utilizando também todas

as ferramentas apresentadas na revisão bibliográfica. Portanto, será verificado, através do

estudo de caso, se a metodologia de validação utilizada na empresa em estudo, é capaz de

provar a hipótese levantada no item 1.4.

1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho será formado por cinco principais capítulos: Introdução, Revisão

Bibliográfica, Desenvolvimento, Resultado e Conclusão. A Introdução aborda a

contextualização inicial do tema, os objetivos do trabalho, as hipóteses levantadas, a

metodologia de pesquisa, a estrutura do trabalho e o seu cronograma.

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A Revisão Bibliográfica aborda o estado da arte sobre o tema selecionado, buscando

mostrar todo o referencial teórico pesquisado sobre o tema e a relação que pode ser construída

entre as diversas fontes encontradas.

O Desenvolvimento apresenta o plano de pesquisa e a definição das unidades de

análise.

O Resultado versará sobre os principais resultados obtidos e a análise em si que foi

realizada a partir dos relatórios e registros da validação que será utilizada. Esta análise

englobará a forma como as ferramentas foram aplicadas durante a validação.

A Conclusão, por sua vez, evidenciará o que se pode concluir a partir do

desenvolvimento e do resultado do trabalho e se a hipótese levantada pôde ser comprovada ou

refutada.

Page 19: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

19

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO

O Food and Drug Administration (2005), órgão regulatório que regulariza a venda de

diversos tipos de produtos nos Estados Unidos, desde alimentos a dispositivos médicos, diz

em seu capítulo sobre dispositivos médicos que:

Onde os resultados de um processo não possam ser totalmente verificados por inspeção

subseqüente e testes, o processo deve ser validado com alto grau de confiança e aprovado de

acordo com procedimentos estabelecidos. As atividades e resultados da validação, incluindo os

dados e assinaturas do pessoal aprovando a validação e, onde apropriado o equipamento

validado, devem ser documentados.

O FDA ainda define validação como sendo o estabelecimento, por meio de

evidências objetivas, que um processo, consistentemente, produz um resultado ou produto que

atende às suas especificações pré-determinadas.

Dessa forma, segundo Dixon (2006), a validação de processos é um requisito para

grande parte das indústrias altamente regulamentadas, como por exemplo, as indústrias

aeroespacial e de dispositivos médicos. Organizações como a FDA e a ANVISA (no Brasil),

exigem, para o caso das indústrias de dispositivos médicos, entre outras, que processos sejam

validados como um requisito regulatório.

Em 2004, o GHTF (Global Harmonization Task Force), um grupo de voluntários

formado por representantes de agências reguladoras de dispositivos médicos e empresas do

ramo, lançou, liderados por Taisuke Hojo, o Process Validation Guidance, com o objetivo de

prover um guia sobre a maneira como a validação deveria ser conduzida, quais etapas ela

deveria conter e quais ferramentas ela poderia utilizar em cada uma das etapas. Assim,

segundo Hojo (2004), antes de se validar um processo é necessário definir se ele precisa ser

validado ou se é vantajoso validá-lo.

Para isso, ele sugere que se utilize um fluxograma como o demonstrado na Figura 1.

Page 20: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

20

Figura 1 Fluxograma de Decisão de Validação

Fonte: HOJO, 2004. (Adaptado)

Portanto, segundo o autor, inicialmente, o fabricante deve analisar primeiro se os

resultados de um processo podem ser completamente verificados, ou seja, podem ser

avaliados para saber se atendem aos seus requisitos. Caso a resposta seja positiva, deve-se

avaliar se os custos dessa verificação são efetivos, a ponto de que seja melhor verificar o

processo a validá-lo. Caso qualquer uma das respostas seja negativa, têm-se duas opções:

redefinir/redesenhar o processo, de forma que seja possível verificar seus resultados a um

custo relativamente baixo ou então validar o processo.

Hojo (2004) ainda cita uma lista de exemplo de processos da indústria de

dispositivos médicos que devem ser validados e outros cuja verificação seria possível. Alguns

exemplos dessa lista podem ser vistos no Quadro 1.

Exemplos de processos que devem ser

validados

Exemplos de processos cuja verificação 100%

seria uma melhor opção

Processos de Esterilização Processos de corte manual

Processos de Embalagem

Processos de Tratamento térmico Processos de Inspeção visual

Processo de Moldagem

Quadro 1 Exemplos de processos a serem verificados e validados

Fonte: HOJO, 2004. (Adaptado)

Page 21: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

21

Uma validação deve começar, segundo Hojo (2004), a partir da definição da equipe

de validação. Esta equipe deverá ser multidisciplinar, e, se possível, deverá contar pelo com

membros das áreas de:

Garantia da Qualidade;

Engenharia; e

Operações.

Após a definição da equipe, o próximo passo que deve ser seguido é o planejamento

da validação. Este planejamento deve conter, segundo Hojo (2004), pelo menos os seguintes

tópicos:

Planejar a abordagem e definir os requisitos;

Identificar os processos;

Especificar os parâmetros e as saídas desejadas;

Selecionar métodos e ferramentas para a validação;

Criar os protocolos de validação.

Segundo Dixon (2006), independente da forma como uma validação está planejada,

um protocolo deverá ser escrito para cada etapa detalhando os testes que serão executados e

os seus critérios de aceitação, que deverão ser baseados nas especificações do produto. Os

testes então serão realizados e um relatório será elaborado a partir dos seus resultados. Caso

os critérios de aceitação não sejam atingidos, pode ser necessário alterar o processo de alguma

maneira até que eles sejam atingidos.

Para Hojo (2004), protocolos detalhados para realizar a validação são essenciais para

garantir que o processo está sendo validado adequadamente. Um protocolo de validação,

segundo o autor, deve conter pelo menos os seguintes tópicos:

Identificação e descrição do processo;

Identificação dos dispositivos que serão produzidos no processo;

Critérios mensuráveis para avaliar o sucesso da validação;

Turnos, operadores e o equipamento a ser usado na validação;

Identificação das utilidades para o equipamento do processo;

Page 22: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

22

Especificações do produto, materiais e componentes;

Parâmetros dos processos que serão monitorados;

Características do produto que serão monitoradas;

Métodos Estatísticos para coletar e analisar os dados.

2.2 ETAPAS DA VALIDAÇÃO DE PROCESSOS

A validação, de acordo com Dixon (2006), na indústria de dispositivos médicos

normalmente é divida em três fases: Installation Qualfication (Qualificação da Instalação ou

IQ), Operational Qualification (Qualificação da Operação ou OQ) e Performance

Qualification (Qualificação do Desempenho ou PQ).

2.2.1 IQ (Installation Qualification – Qualificação da Instalação)

A Qualificação da Instalação, para Dixon (2006), visa estabelecer que todos os

aspectos da instalação de um equipamento dentro de um processo estão de acordo com as

especificações do fabricante. Para Hojo (2004), o IQ verifica simplesmente se o processo está

corretamente instalado. Algumas considerações que o autor considera importante são:

Condições de instalação (utilidades, funcionalidades, etc.);

Sistema de suporte (calibração, manutenção preventiva, programação de

limpeza);

Características de segurança;

Documentação do fornecedor do equipamento (desenhos, manuais);

Peças de reposição;

Condições ambientais necessárias (temperatura, umidade, etc.)

2.2.2. OQ (Operation Qualification – Qualificação da Operação)

Segundo Dixon (2006), a Qualificação da Operação visa demonstrar que o

equipamento pode operar sob condições normais, principalmente nos extremos da janela de

operação de suas variáveis de entrada. Para Hojo (2004), nesta fase os parâmetros de operação

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devem ser desafiados para garantir que eles resultaram num produto que atenderá todos os

seus requisitos sob qualquer condição antecipada de operação, ou seja, é um teste de pior

caso. Alguns itens que devem ser considerados para o autor:

Limites de controle do processo (tempo, temperatura, pressão, velocidade da

linha, etc.);

Especificações de matéria prima;

Procedimentos de operação do processo;

Requisitos de manuseio do material;

Treinamento;

Estabilidade e capabilidade do processo no curto prazo;

Modos de falhas potenciais;

Condições de pior caso;

Utilização de técnicas estatísticas para estabelecer os parâmetros chave e

otimizar o processo.

2.2.3. PQ (Performance Qualification – Qualificação do Desempenho)

Para Dixon (2006), a Qualificação do Desempenho visa garantir que o processo

produz produtos dentro da especificação quando em condições normais de operação. Segundo

Hojo (2004), durante o PQ, desafios ao processo devem simular condições que serão

encontradas durante a operação real do processo. Os desafios devem ser repetidos tantas vezes

quantos forem necessários para garantir que os resultados são significativos e consistentes.

Independente da etapa da validação, Hojo (2004) afirma que o protocolo deve conter:

O que será verificado/medido;

Como será verificado/medido;

Quantos serão verificados/medidos (ou seja, a significância estatística);

Determinar quando verificar/medir;

Definir os critérios de aceitação;

Definir a documentação requerida.

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Saber exatamente os requisitos do produto e os parâmetros chave pode ser necessário

para definir o que será verificado. Para definir quantos deverão ser medidos, pode ser

necessário utilizar algum método estatístico (HOJO, 2004).

2.3 APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS ANALÍTICAS E ESTATÍSTICAS NA

VALIDAÇÃO

De acordo com Hojo (2004), a validação de processos requer que um processo seja

estabelecido de forma que consiga atender aos seus requisitos e que testes sejam feitos para

que isso seja demonstrado. O desenvolvimento e a otimização de processos podem levar

diretamente à validação do mesmo. Para Dixon (2006), como a validação, conforme citado

anteriormente, visa garantir que um processo produz consistentemente produtos dentro da

especificação, é fundamental conhecer o processo e os efeitos de seus parâmetros nas

características críticas para a qualidade. As especificações do produto e do processo precisam

ser conhecidas antes que um equipamento seja validado, já que tais informações deverão fazer

parte do protocolo de validação. Somente então um equipamento poderá ser testado de forma

a garantir que ele é capaz de operar consistentemente dentro destas especificações.

Para Weese (1998), aplicar técnicas apropriadas estatísticas e de gestão em cada uma

das etapas de validação pode contribuir na obtenção de resultados mais confiáveis. Ainda,

segundo o autor, as tarefas mais críticas na preparação de uma validação de processo são: a

definição de quais processos validar, identificar os principais parâmetros que influenciam no

processo e garantir que a medida das saídas do processo possui repetibilidade e

reprodutibilidade.

Hojo (2004) cita uma série de ferramentas analíticas e estatísticas que podem ser

utilizadas durante a validação de processos, entre elas:

Design of Experiments (Planejamento de Experimentos ou DOE);

Measurement Systems Analysis (Análise do Sistema de Medição ou MSA);

Failure Modes and Effects Analysis (Análise do Modo e Efeito de Falha ou

FMEA).

Análise de Capabilidade.

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25

2.3.1 DOE (Design of Experiments - Planejamento de Experimentos)

Caracterizar um processo significa definir a relação entre os parâmetros do processo

(variáveis de entrada) e as saídas mensuráveis do processo (variáveis de saída). De acordo

com Weese (1998), a abordagem mais eficiente para se caracterizar um processo e identificar

quais parâmetros que o influenciam é através da aplicação do planejamento de experimentos

(Design of Experiments – DOE). Um DOE fornece informações sobre o efeito de cada

parâmetro do processo ou das interações entre os parâmetros nos resultados obtidos no

processo.

Para Montgomery (2003), as técnicas de planejamento e análise de experimentos são

utilizadas para melhorar as características de qualidade dos produtos e processos de produção.

Com o objetivo de aumentar a qualidade, a produtividade o desempenho do produto e os

custos das operações, as empresas realizam experimentos a fim de encontrar os parâmetros

ótimos que regulam seus processos de fabricação.

Um experimento planejado é um teste, ou série de testes, no qual são feitas mudanças

propositais nas variáveis de entrada de um processo, de modo a podermos observar e

identificar mudanças correspondentes na resposta. O processo pode ser visualizado como uma

combinação de máquinas, métodos e pessoas, que transforma um material de entrada em um

produto.

Para Hojo (2004), DOE é um termo geral que engloba análise de variância

(ANOVA), estudos de superfície de resposta e experimentos fatoriais. Em geral, o DOE

propõe descobrir o efeito de um parâmetro controlado de um processo em uma das suas

saídas, podendo dizer, assim, que um experimento planejado é um teste, ou série de testes, no

qual são feitas mudanças propositais nas variáveis de entrada de um processo, de modo que

possa ser observado e identificadas mudanças correspondentes na resposta.

Segundo Paiva (2008, p. 24), para realização de um experimento deve-se considerar

três estratégias que podem ser adotadas de forma individual ou combinadas. São elas:

a.Réplicas: consistem na repetição de um mesmo teste várias vezes, em unidades

experimentais diferentes, criando-se uma variação para a variável de resposta que

pode ser utilizada para se avaliar a significância estatística do incremento

experimental;

b. Aleatorização: ao se aleatorizar um experimento, aumenta-se sua validade, porque

aumenta a chance dos efeitos desconhecidos serem distribuídos através dos níveis e

fatores;

c. Blocagem: quando não for possível manter a homogeneidade das condições

experimentais, deve-se empregar a blocagem. Essa técnica permite avaliar se a falta de

homogeneidade interfere nos resultados. Um bloco consiste de uma parte do

experimento completo que se presume ser mais uniforme do que o todo.

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26

Galdamez (2004) confirma a afirmação acima, dizendo que diversas técnicas podem

ser aplicadas em planejamento de experimentos, a seguir (Quadro 2):

Ferramenta Característica

Planejamento Fatorial Utilizada quando todas as combinações dos níveis dos fatores de controle

são realizadas.

Planejamento Fatorial 2k Técnica com dois níveis e 2 é o número de combinações de k fatores.

Planejamento Fatorial fracionado

2k-p

Utilizado quando há vários fatores de controle e não é viável

economicamente para as empresas realizar todas as combinações dos

experimentos.

Metodologia de superfície de

resposta

Response surface methodology (MSR) é um conjunto de técnicas de

planejamento e análise de experimentos, usadas na modelagem

matemática de respostas. Ou seja, procura-se identificar o relacionamento

que existe entre os parâmetros, representados por variáveis quantitativas,

como tempo, velocidade, pressão, temperatura, etc., e as respostas do

sistema analisado.

Planejamento Fatorial com pontos

centrais

Esse método consiste em adicionar um ponto de experimentação no nível

intermediário aos níveis investigados para os k fatores de controle.

Análise de Variância Análise de Analysis of variance (ANOVA), é uma ferramenta que permite

estudar se há diferenças significativas entre as respostas experimentais.

Gráficos Os gráficos de efeitos principais ilustram a variação média das respostas

em função da mudança no nível de um fator, mantendo os outros fatores

constantes.

Os gráficos de efeitos de interação descrevem a variação média de um

fator em função dos níveis de outros fatores.

O gráfico de probabilidade normal é utilizado nas situações em que não é

possível repetir um experimento e é importante obter uma estimativa

independente do erro experimental para julgar a importância dos efeitos

principais e de interação.

Quadro 2 Descrição das Técnicas de Planejamento e Análise de Experimentos

Fonte: GALDAMEZ, 2004 (Adaptado).

Segundo Nocera (2007), um DOE pode ser aplicado em três tipos de problemas:

exploração, otimização e teste de robustez. Para o autor, o primeiro é utilizado a fim de se

descobrir os fatores que mais influenciam as saídas e que amplitude de operação deve ser

investigada. O segundo é utilizado para definir quais as combinações de importantes fatores

resultarão em condições ótimas de operação. Já o último tem como objetivo determinar o

quão sensível é determinado produto a uma pequena variação no fator de entrada.

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27

Nocera (2007) afirma que em um DOE são realizadas várias corridas, variando os

parâmetros de entrada, para que seja possível analisar qual o efeito da combinação de vários

fatores na saída do processo ou produto. Para o autor, através de análise de regressão é

possível estimar o que acontecerá com a saída ao variar as entradas. A análise também pode

ser feita através do desenvolvimento de uma equação gerada pelo estudo, como, por exemplo:

γ= β1X1 + β2X2 + … + βkXk + ε, onde:

γ : superfície de resposta;

βk : o efeito do k-ésimo fator;

Xk : k-ésimo fator.

De acordo com Nocera (2007), existem muitos modelos para se realizar um DOE,

sendo que um desses é conhecido como planejamento fatorial completo de 2 (dois) níveis.

Segundo o autor, planejamentos deste tipo são utilizados quando se tem de 2 a 4 fatores.

Neste tipo de planejamento, todas as variáveis são testadas em dois níveis (alto e baixo),

sendo possíveis todas as combinações, conforme a Figura 3.

Figura 2 Planejamento Fatorial Completo de 2 níveis

Fonte: MONTGOMERY, 2003 (Adaptado).

Dessa forma e de acordo com os requisitos de uma validação de processos, fica evidente a

importância de se conhecer o processo a ser validado. Conforme Weese (1998, p. 16),

Planejamento de Experimentos, (...), Análises de Variância, (...), estão sendo utilizados por um

número crescente de fabricantes de produtos médicos para aumentar a qualidade, reduzir custos

e aumentar a confiança nos resultados. Quando você aplica estas técnicas nos seus processos,

também pode obter validações de processo confiáveis.

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Coleman & Montgomery (1993) propõem as seguintes etapas para o

desenvolvimento de um Planejamento de Experimentos na Indústria:

Caracterização do problema e definição dos objetivos do experimento;

Escolha dos fatores de influência que devam variar, os seus intervalos sobre os

quais esses fatores vão variar e os níveis específicos nos quais cada corrida será

feita;

Seleção das variáveis resposta devendo se certificar de que essas variáveis

realmente vão fornecer informações úteis sobre o processo em estudo;

Determinação de um modelo de planejamento de experimento, sendo que

escolha desse modelo leva em consideração o tamanho da amostra (número de

replicações), seleção de uma ordem adequada de rodadas para as tentativas

experimentais, lembrando também se a formação de blocos ou outras restrições

no que se refere a aleatorização estão envolvidas, A determinação do modelo é

dependente das condições de operação do processo, custos, disponibilidades, etc;

Condução do experimento, sendo extremamente importante monitorar o

processo para que não haja erros e que tudo ocorra de acordo com o planejado.

Observações e críticas, do início ao fim do experimento, são vitais para que os

objetivos sejam alcançados;

Análise dos dados por meio de ferramentas analíticas e estatísticas (descritivas

e inferenciais) que poderão ser aplicadas utilizando-se pacotes estatísticos

disponíveis no mercado;

Conclusões e recomendações baseando-se nos resultados dos itens anteriores.

2.3.2 MSA (Measurement System Analysis - Análise do Sistema de Medição)

Para Nocera (2007), é imprescindível antes de começar a validação de um processo,

que todo o sistema de medição (métodos, pessoas e instrumentos) tenha sido qualificado a

partir de um estudo criterioso de MSA. Todas as características críticas do produto a ser

produzido pelo processo em questão devem ser inspecionáveis e deve haver um estudo de

MSA para cada característica.

Segundo o Manual de Referência do Automotive Industry Action Group – AIAG

(2002), dados medidos são usados mais freqüentemente e de maneiras cada vez mais

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diferentes do que já foram antes. Em muitos casos, uma decisão sobre um processo é tomada

baseada em dados que foram medidos. O benefício de se tomar uma decisão baseada em

dados é determinado, em grande parte, pela qualidade dos dados. Assim, para assegurar que o

benefício obtido de dados que foram medidos é grande o suficiente para garantir o custo de

obtê-los, a devida atenção deve ser dada à qualidade dos dados.

Para o AIAG (2002), assim como qualquer processo, um sistema de medição é

afetado por fontes de variação aleatórias e sistemáticas e essas, por sua vez, são devidas às

causas comuns e especiais, respectivamente. Para controlar a variação de um sistema de

medição, deve-se: 1) Identificar as causas potenciais de variação; 2) Eliminar, quando

possível, ou monitorar estas fontes.

Segundo Balestrassi (2002), se o erro de medição for independente do valor

verdadeiro da grandeza, pela lei de soma de variâncias, pode-se escrever:

σ²total = σ²processo + σ²medição, onde:

σ²total: variância total observada ao se realizarem medidas da característica em

questão;

σ²processo: variância dos valores verdadeiros da característica;

σ²medição: variância inerente da medição (erro de medição).

O erro inerente à medição, por sua vez, decompõe-se em duas parcelas, da seguinte

maneira (BALESTRASSI, 2002):

σ²medição = σ²repe + σ²repro

Para entender o significado das variâncias σ²repe e σ²repro, é necessário conhecer os

conceitos de repetitividade e reprodutibilidade (BALESTRASSI, 2002). A repetibilidade é o

nível de concordância entre resultados de medições sucessivas de uma mesma peça sob as

mesmas condições de medição. Reprodutibilidade é o grau de concordância entre os

resultados das medições de uma mesma peça efetuadas sob condições variadas de medição,

variando, por exemplo (mais comum), o operador.

Outros conceitos importantes de se entender ao se realizar um MSA são, segundo

Nocera (2007): vício, precisão e exatidão. Segundo Balestrassi (2007), o vício ou erro

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sistemático de um instrumento de medição estima a diferença existente entre o valor real da

característica medida e a média da distribuição dos resultados fornecidos pelo aparelho. Já a

precisão de um instrumento de medição quantifica a proximidade entre medidas individuais

da característica de interesse geradas pelo aparelho. Por fim, a exatidão de um instrumento de

medição quantifica a proximidade existente entre o valor real da característica medida e os

resultados fornecidos pelo aparelho, estando intimamente relacionada ao vício ou tendência

do instrumento de medição. As Figuras 4, 5 e 6, adaptadas de Nocera (2007), ilustram estes

conceitos.

Figura 3 Vício de um sistema de medição

Fonte: NOCERA, 2007 (Adaptado).

Figura 4 Precisão de um sistema de medição

Fonte: NOCERA, 2007 (Adaptado).

Page 31: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

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Figura 5 Exatidão de um sistema de medição

Fonte: NOCERA, 2007 (Adaptado).

Para sistemas de medição nos quais a característica medida é do tipo atributo, o AIAG

(2002) cita que um método que pode ser utilizado na análise é o método da análise por Teste

de Hipótese através de Tabelas Cruzadas. O objetivo das tabelas cruzadas é determinar o grau

de concordância entre os operadores e também a capacidade do sistema de diferenciar peças

boas de peças ruins. Uma tabela cruzada entre dois operadores, A e B, por exemplo, tem a

seguinte forma (Tabela 1):

Tabela 1 - Exemplo de Tabela Cruzada

Fonte: AIAG, 2002 (Adaptado).

A partir das tabelas cruzadas, segundo o AIAG (2002), é calculado um índice

nomeado de kappa. Este índice mede a concordância entre as avaliações de dois operadores

quando estes estão medindo os mesmos objetos. O valor do Kappa é dado por:

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Kappa = (po – pe)/(1- pe), onde:

po: soma das proporções observadas nas células diagonais.

pe: soma das proporções esperadas nas células diagonais.

De acordo com o AIAG (2002), a tabela cruzada também deve ser construída para

avaliar a concordância de cada avaliador com o valor de referência de cada peça e o valor do

kappa calculado. A partir daí pode-se então calcular a eficiência do sistema de medição, que é

o número de decisões corretas dividido pelo total de oportunidades de decisão. Por fim pode-

se julgar o tamanho da estatística kappa utilizando o erro padrão para construir uma estatística

t. Dessa maneira, os valores encontrados são comparados com valores pré-estabelecidos e o

sistema de medição pode ser classificado em aceitável, marginal e inaceitável.

2.3.3 FMEA (Failure Mode and Effect Analysis - Análise do Modo e Efeito de Falha)

Segundo Vincent e Honeck (2004), FMEA é um método sistemático utilizado para

identificar e prevenir falhas em produtos e processos antes delas ocorrerem. O foco do FMEA

é prevenir defeitos, melhorar a segurança e aumentar o grau de satisfação dos clientes. Para os

autores, em geral a elaboração de um FMEA passa pelas seguintes etapas:

a. Escolha da equipe.

b. Revisão do processo.

c. Brainstorming.

d. Construção da planilha de FMEA.

e. Priorizar as etapas, definir critérios para classificar os itens severidade,

ocorrência e detecção.

f. Investigar e avaliar as informações disponíveis.

g. Desenvolver ações corretivas e designar pessoas para cada uma delas.

h. Finalizar e documentar as ações corretivas.

Uma planilha de FMEA geralmente tem os seguintes Itens (VINCENT e HONECK,

2004):

Etapa do Processo;

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Modo de Falha Potencial: A maneira como a etapa do processo pode vir a

falhar;

Efeito de Falha Potencial: O efeito que a falha na etapa do processo causa;

Causa Potencial: A causa que pode gerar a falha;

Controles Atuais: os controles que são mantidos atualmente para detectar a

falha.

A partir da definição destes itens para cada etapa do processo é definido um valor de

severidade, para o efeito da falha, de ocorrência, para a causa da falha e de detecção, para o

controle atual. A escala para classificar estes três itens deve ser definida anteriormente pela

equipe. De acordo com Vincent e Honeck (2004), geralmente as equipes adotam uma escala

que vai de 0 a 10 conforme o Quadro 3 :

Escala Severidade Ocorrência Detecção

10 Perigosamente alta Muito alta: Falha quase inevitável. Absolutamente Incerta

1 Nenhuma Remota: Falha é improvável Quase certa

Quadro 3 Escala de FMEA

Fonte: VINCENT e HONECK, 2004 (Adaptado).

A partir da classificação de cada modo de falha para as três características, é

calculado, segundo Vincent e Honeck (2004), o NPR (Número de Priorização de Risco).

Geralmente o NPR é calculado multiplicando-se os valores de severidade, ocorrência e

detecção. A equipe compara o NPR de cada modo de falha com um valor pré-estabelecido e,

caso o NPR seja maior que este valor, ações devem ser tomadas para mitigar o risco. Estas

ações, segundo os autores, podem ter como objetivo diminuir a severidade o grau de

ocorrência ou aumentar a probabilidade de detecção da falha. Assim, a ação deve garantir que

o NPR seja reduzido até um valor menor do que o valor pré-definido pela equipe.

2.3.4 Análise de Capabilidade

Segundo Montgomery (2003), a fim de controlar a qualidade de um processo, é

necessário obter informações sobre a sua capacidade quando este operar sob controle

estatístico. O autor cita o gráfico de tolerância e o histograma como ferramentas úteis para

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estimar a capacidade. Porém, uma outra maneira de expressar a capacidade (capabilidade) do

processo é através de um índice, Cp , como a seguir:

Cp = (LSE – LIE)/ 6*σ , onde:

LSE: Limite Superior de Especificação;

LIE: Limite Inferior de Especificação;

σ: Desvio padrão do processo.

Dessa forma, enquanto o numerador é a largura das especificações, o denominador é

chamado de largura do processo (MONTGOMERY, 2003). Geralmente, um índice de

capabilidade maior que 1 garante que muito poucas peças defeituosas ou não-conformes serão

produzidas. Um índice igual a 1 significa mais unidades defeituosas serão produzidas e um

índice menor que 1 refere-se a um processo onde muitas unidades não-conformes serão

produzidas.

De acordo com Montgomery (2003), a definição da capacidade considera que o

processo esteja centralizado na dimensão nominal. Caso o processo esteja fora do centro, sua

capacidade real será menor do que a indicada pelo Cp. Assim, usualmente, pensa-se na Cp

como a capacidade potencial do processo, caso ele esteja centralizado. A capacidade real do

processo é geralmente definida como Cpk:

Cpk=Mínimo [(LSE-μ/3* σ), (μ-LIE/3* σ)], onde:

μ: Média do processo.

Assim, caso o processo esteja centralizado, o Cp será igual ao Cpk, caso contrário o Cp

será maior que o Cpk.

Conforme demonstrado durante toda a revisão bibliográfica, por meio da validação

de processos, pode-se obter um conhecimento aprofundado de cada processo. Apesar de

muitos fabricantes de dispositivos médicos verem a validação como um fardo a ser carregado

pelo setor, os requisitos exigidos pelos órgãos reguladores a respeito da validação de processo,

quando auxiliados por ferramentas estatísticas e analíticas adequadas, podem ser tomados

como uma oportunidade para aumentar o conhecimento dos processos, garantir que o

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processo esteja sendo operado em condições ótimas, aumentando assim a qualidade e

conseqüentemente, reduzindo custos (DIXON, 2006).

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3. DESENVOLVIMENTO

3.1 DESCRIÇÃO DO PROTOCOLO DE PESQUISA

A pesquisa foi realizada com base no método, Estudo de Caso. Embora o autor já

estivesse familiarizado com a metodologia de Validação de Processos utilizada na empresa

em estudo, foi necessário a realização de uma coleta de dados sobre esse método, a partir do

procedimento padrão de validação de processos, o guia de validação de processos utilizado

como treinamento em todas as plantas da empresa em questão, denominado toolkit, demais

procedimentos padrão de apoio à realização da validação de processos relacionados a técnicas

estatísticas, a saber:

Procedimento de realização de MSA;

Procedimento de realização de FMEA;

Procedimento de realização de Estudo de Engenharia (DOE);

Procedimento de técnicas estatísticas de amostragem.

Além disso, o fluxograma de validação divulgado no toolkit também foi estudado.

De forma a trazer os procedimentos e as técnicas estatísticas e analíticas à realidade

do que é atualmente realizado na empresa, foram selecionados alguns pacotes de validação

para estudo. Por pacote de validação deve-se entender o conjunto de protocolo e relatórios

produzidos durante a validação de um processo, englobando todas as suas etapas, além de

todos os dados obtidos durante o estudo. Foram selecionados três pacotes de validação,

sugeridos pelo líder de validação da planta, cargo este responsável por coordenar e gerenciar o

andamento de todas as validações que ocorrem na planta. Os três pacotes foram sugeridos

pelo fato de serem de validações relativamente recentes, de processos de moldagem de

componentes e nas quais foram realizadas as três etapas da validação (IQ, OQ e PQ). Além

disso, foi informado também que as três validações sugeridas tinham sido realizadas por

pessoas com certa experiência na realização da metodologia, de forma que o protocolo estaria

bem escrito e a validação teria sido realizada de maneira eficaz.

Definidos os pacotes de validação, partiu-se ao estudo dos mesmos. Além dos

pacotes, foram estudados também os protocolos e relatórios dos MSA e Estudos de

Engenharia (DOE), relacionados às validações em questão. Embora relacionados, estes

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pacotes costumam ser arquivados separados da validação, uma vez que podem ser utilizados

por mais de uma validação.

A partir deste estudo, pôde-se definir qual o pacote de validação seria estudado. O

pacote selecionado foi aquele considerado mais completo, onde o Estudo de Engenharia foi

melhor desenhado e cujo o próprio estudo pudesse ser considerado mais rico.

Definida a validação foco do estudo, foi feita uma coleta e análise de dados

minuciosa nos arquivos da mesma. Algumas análises de dados foram estudadas em

comparação com seus dados, de forma a garantir que os resultados descritos nos relatórios de

validação eram condizentes com os dados obtidos durante o estudo. A partir desta última

análise, por fim, pôde-se desenvolver o presente trabalho.

3.2 DESCRIÇÃO DA UNIDADE DE ANÁLISE

As unidades de análise do estudo foram os pacotes de validação do processo de

moldagem de um componente de um dos produtos produzidos pela Becton Dickinson, na

cidade de Juiz de Fora; os protocolos e relatórios de realização dos MSA e o Estudo de

Engenharia, relacionados à validação do processo em questão. Os pacotes de validação

incluem os protocolos e relatórios das etapas da validação (IQ, OQ e PQ), os dados obtidos

durante o estudo e o FMEA de processo relacionado. Os protocolos descrevem como um

MSA ou Estudo de Engenharia deveriam ser realizados e os relatórios descrevem a forma

como foram realizados na prática.

As unidades de análise referem-se a uma validação realizada no período de maio a

agosto de 2009.

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4. RESULTADOS

4.1 RESULTADOS ALCANÇADOS

4.1.1 Uma Visão Geral da Metodologia de Validação de Processos da Becton Dickinson

A realização de uma validação de processos na empresa estudada segue uma

metodologia própria, que é conhecida como o ―Ciclo de Vida‖ da Validação. Esse ciclo de

vida, apresentado nos toolkits de validação e utilizado como base para a elaboração dos

procedimentos que guiam a validação em cada planta, pode ser visualizado na Figura 6.

.

Figura 6 Ciclo de Vida de Validação

Fonte: Autor.

Dentre as etapas apresentadas neste fluxograma, este estudo não abordará apenas as

duas primeiras (Controle de Mudança e Controle de Projeto), pelo fato de estas etapas serem

fases burocráticas, durante as quais não é realizado nenhum estudo do processo em si. A etapa

de controle de mudanças é realizada a partir de qualquer mudança que possa impactar os

processos. Durante esta etapa, é preenchido um formulário pelo autor da mudança, relatando a

mudança e seus impactos. Após este preenchimento, é realizada uma reunião com os

envolvidos na mudança, a pessoa responsável pelos controles de mudança da planta, além do

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líder de validação. Nessa reunião será definida a necessidade de realização ou não de uma

validação.

A etapa de controle de projeto está relacionada ao desenvolvimento de novos

produtos, porém, a validação estudada se refere a produtos já existentes, portanto, a etapa

também não será abordada.

As demais etapas serão apresentadas nos tópicos seguintes, a partir da descrição da

maneira como foram executadas na validação foco deste estudo.

4.1.2 O Processo de Moldagem de Componentes Estudado

Antes de explicar os passos da validação realizada, faz-se necessária uma breve

explicação do funcionamento do processo que foi validado. Um fluxograma do processo pode

ser visualizado na Figura 7.

Figura 7 Fluxograma do Processo de Moldagem

Fonte: Autor.

O processo de injeção de plásticos é considerado um processo de transformação.

Alguns cuidados com a matéria-prima e o molde devem ser tomados antes de iniciar o

processo. O molde de injeção consiste de várias partes móveis e caminhos por onde o plástico

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40

irá passar até chegar a uma cavidade no formato da peça desejada. Durante a manutenção,

montagem e instalação do molde, alguns cuidados devem ser tomados para não afetar de

alguma forma o processo de injeção. Cuidados como: correta montagem das partes móveis,

instalação dos pinos (de acordo com o calibre desejado), lubrificação das partes móveis,

medição e registro das características críticas para a qualidade, verificação de danos no molde

entre outros.

Após a instalação do molde, é realizado o ajuste do processo, onde o operador deve

ajustar a janela de operação da máquina, de acordo com seus procedimentos. Após este ajuste,

é feita a alimentação da máquina com a resina apropriada (Figura 8).

Figura 8 Etapa de Alimentação da Máquina

Fonte: Autor.

O processo de injeção inicia-se com o carregamento da resina no canhão de

plastificação. A resina termoplástica que está no funil irá entrar no canhão à medida que a

rosca iniciar o seu movimento. A rosca irá carregar o material para frente e irá se deslocar

para trás. Ao redor do sistema de alimentação da entrada da resina existe um sistema de

refrigeração (Figura 9).

Figura 9 Etapa de Carregamento da Resina

Fonte: Autor.

Page 41: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

41

Na passagem da resina pelo canhão é realizada a etapa de derretimento ou

plastificação da resina plástica. Esta plastificação acontece quando é gerado calor na resina.

Três são as fontes de calor na resina plástica: o aquecimento das resistências ao redor do

cilindro, velocidade de rotação da rosca e contra-pressão ou força aplicada na rosca para

evitar o movimento de recuo da mesma (Figura 10). Quando bem dimensionados estes

parâmetros, o processo torna-se mais rápido e eficaz.

Figura 10 Etapa de Derretimento

Fonte: Autor.

Agora a resina plástica fundida encontra-se na frente da rosca. Com movimento

rápido, no seu sentido axial, a rosca move-se para frente injetando certa quantidade de

plástico para dentro do molde. Este processo só é possível porque na frente da rosca de

injeção existe uma válvula que comanda a passagem do plástico dependendo do movimento

desta rosca. A resina irá passar pelo bico de injeção da máquina injetora, pelos canais do

molde (podem ser canais quentes ou frios, isto depende do tipo de resina), passar pelo ponto

de injeção e finalmente alcançar a cavidade onde é formada a peça (Figura 11).

Figura 11 Etapa de Injeção

Fonte: Autor.

Após a injeção, com uma pressão controlada, começa a fase de recalque, cuja função

é manter as características dimensionais do produto e desta forma minimizar o impacto da

contração da peça. Inicia-se também nesta fase o processo de resfriamento da peça. O molde

Page 42: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

42

de injeção é refrigerado (no caso estudado com água) para acelerar o ―congelamento‖ da peça

(Figura 12).

Figura 12 Etapa de Resfriamento/Recalque

Fonte: Autor.

Com a peça completamente ―congelada‖ é realizado o processo de extração. O molde

irá abrir e com o auxílio de pinos as peças serão extraídas da cavidade (Figura 13). Por fim, as

peças irão cair em bandejas apropriadas.

Figura 13 Etapa de Abertura do Molde/Extração

Fonte: Autor.

4.1.3 Planejamento da Validação

Conforme o toolkit de Validação de Processos da BD, na etapa de Planejamento da

Validação serão definidos a estratégia e o cronograma da validação. As principais entradas

que auxiliarão nesta etapa serão o Desenvolvimento de Processo e os Requisitos do Produto.

A partir da definição da estratégia, será elaborado o protocolo de validação. Este

protocolo pode ter duas formas: O ―Tudo-em-um‖ e os protocolos múltiplos. O ―Tudo-em-

um‖ engloba todas as etapas de validação que serão realizadas (IQ, OQ e PQ). Para elaborar

este protocolo, o desenvolvimento de processo (e seu respectivo DOE) deve ter sido realizado

previamente. Já no caso de múltiplos protocolos, é escrito um protocolo para cada etapa da

validação. Neste caso, o desenvolvimento de processos deve ser realizado antes da criação do

Page 43: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

43

protocolo de OQ. No caso do processo estudado, optou-se pela utilização de protocolos

múltiplos, de forma que o IQ pudesse ser realizado em paralelo ao desenvolvimento de

processo, reduzindo assim o tempo de realização da validação.

A definição da estratégia de validação é uma das partes mais importantes no

planejamento de validação. A partir de dados como especificações de produto, fluxograma do

processo, análise de risco preliminar, MSA, critérios de aceitação, estudos de engenharia,

critérios de inspeções e testes, etc., deve-se responder as seguintes perguntas:

Por que o processo precisa ser validado?

Por que as características críticas para a qualidade são relevantes ao escopo

da validação?

Qual a relação entre os riscos-chave do processo e os controles a eles

associados?

Qual a ciência ou tecnologia por trás do produto e/ou processo?

Como a funcionalidade do equipamento será verificada durante a etapa de

Qualificação da Instalação?

Como a janela de processo foi determinada e qual a relação entre as variáveis

chaves de entrada e as características críticas para a qualidade?

Qual a relação entre a criticidade das características críticas para a qualidade,

a amostragem e os critérios de aceitação?

Qual o pensamento por trás do número e tamanho das corridas?

Como para esta validação foram escritos múltiplos protocolos, a estratégia da

validação não será definida neste ponto do trabalho, mas sim nos tópicos relativos a cada

etapa da validação, onde será explicado o que estava definido no protocolo, bem como aquilo

que foi feito e seus devidos resultados.

4.1.4 IQ

Segundo o procedimento de validação da empresa, a fase de IQ deve estabelecer,

através de evidências objetivas, que todos os aspectos chaves do processo, do equipamento e

sistemas auxiliares estão atendendo as especificações e recomendações do fornecedor. Deve-

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44

se, ainda, evidenciar a correta instalação dos equipamentos de produção, medição e suporte.

Além disso, o toolkit de validação diz que o IQ deve responder às seguintes perguntas:

1. O equipamento está instalado de acordo com as exigências do fabricante e da

planta?

2. O equipamento funciona como planejado, incluindo operações seguras?

3. Existem sistemas de suporte no local para manter o estado validado?

Para responder a cada uma das questões acima, devem ser realizadas as seguintes

verificações, quando apropriadas, do Quadro 4:

Questão 1 Questão 2 Questão 3

-Utilidadades : Qualquer serviço

fornecido com o equipamento

(Eletricidade, ar—comprimido,

água, vácuo, etc.)

-Ambiente: Condições específicas

do local (Qualidade do ar,

umidade)

-Ajuste do equipamento: Operação

correta

-Segurança: Operação segura

(Portas de Segurança, aterramento,

etc.)

-Requerimentos de operação do

equipamento, amplitude pretendida

de uso (velocidade, alimentação)

-Atividades de manutenção

preventiva (MP) programadas no

sistema

-Instrumentos de medição

calibrados e programados no

sistema

-Operadores treinados nas

atividades de calibração, MP, etc

-Lista de peças de reposição

definidas e incluídas no sistema

-Localização dos desenhos dos

equipamentos definida

Quadro 4 Verificações necessárias da fase de IQ

Fonte: Autor

Assim, seguindo o toolkit e o procedimento de validação, no protocolo de IQ da

validação estudada foi definida a estratégia de qualificação. Esta estratégia foi devidamente

dividida em sete passos: Instalação, Manutenção, Calibração, Segurança, Documentação,

Funcionamento do Equipamento e Treinamento.

Para verificar o passo de Instalação, o Engenheiro responsável pela manutenção do

processo deveria verificar se a máquina estava corretamente instalada, e se as utilidades

necessárias para o bom funcionamento da mesma se encontravam nos valores adequados. As

utilidades e os valores definidos podem ser visualizados na Tabela 2.

Page 45: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

45

Tabela 2 – Verificação de Utilidades da Etapa de IQ

Utilidade Unidade Necessidade Tolerância

Ar-comprimido Bar 6 +/- 2

Tubulação ar comprimido Polegadas Min ¾‖ Max 1‖

Tensão Volts 440 +/- 10%

# Fases N/A 3 N/A

Frequência nominal Hz 60 +/- 2

Temperatura da água no molde °C 13 +/- 3

Pressão da água Bar 5 +/- 3

Fonte: Autor

Para fazer a verificação da Manutenção deveria ser feita uma verificação para

conferir se as atividades de manutenção preventiva para o equipamento estavam incorporadas

no sistema de gerenciamento das manutenções. Além disso, a equipe responsável pela

manutenção do equipamento deveria criar uma lista de peças de reposição, verificando

também a quantidade existente de cada uma dessas peças.

Na etapa de Calibração, deveria ser confirmada a calibração e existência de um

plano de calibração para todos os equipamentos utilizados para monitorar o processo e os

produtos. Além disso, para todos estes equipamentos, deveria ser averiguada sua presença no

sistema de controle de calibração. Para o processo estudado, os equipamentos que deveriam

ser verificados eram:

Dois microscópios;

Um Projetor de Perfil;

Um Sistema de medidas por vídeo (chamado de Tridimensional);

Duas balanças.

Para a verificação de Segurança, o protocolo demandava a realização de uma

inspeção de segurança para o equipamento, de forma a se evitar acidentes e danos aos

associados. Essa avaliação deveria realizada através de um formulário apropriado, a partir do

qual o engenheiro ou técnico de segurança verifica se a máquina possui condições seguras de

operação e funcionamento.

Na parte de Documentação, deveria ser realizada uma verificação de toda a

documentação que afeta de alguma forma o processo de injeção de plástico do componente

considerado. Os documentos que deveriam ser verificados eram:

Page 46: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

46

Especificações de matérias-primas;

Especificações e desenhos do produto;

Desenhos do equipamento e suas peças;

Manual do fabricante;

Procedimento de Calibração;

Procedimento de Manutenção;

Procedimento de Recebimento de Materiais;

Procedimentos de Treinamento dos associados envolvidos com o processo

(Operação, Calibração e Manutenção).

Para verificar o Funcionamento do Equipamento, seriam realizados dois testes. No

primeiro, uma corrida de aceitação seria realizada a vazio (sem produtos), durante duas horas,

para simular o funcionamento do equipamento durante a produção. Os seguintes pontos

deveriam ser observados durante esta corrida: vazamentos, barulhos não esperados, desgastes

excessivos de peças, funcionamento adequado das partes móveis, avarias, funcionamento

adequado das principais funções da máquina e verificação do sistema de lubrificação do

equipamento. Já no segundo, o equipamento seria avaliado quanto a paradas de emergência e

queda e recuperação de energia, para confirmar que após estas ocorrências o equipamento

continua se comportando da mesma maneira, conforme indicado no manual do fabricante.

Por fim, na etapa de treinamento foi exigido que todos os envolvidos no processo de

moldagem (operadores, inspetores de qualidade e time de manutenção) estivessem treinados

nos respectivos procedimentos. Uma cópia do certificado de seus treinamentos deveria ser

anexada ao relatório de IQ.

Com o protocolo aprovado, o IQ foi realizado e os resultados obtidos podem ser

verificados no Quadro 5.

Etapa Sub-etapa Resultado Passa/Falha

Instalação Verificação da Instalação

Instalação correta do

equipamento

Passa

Utilidades Utilidades dentro dos limites

tolerados

Passa

Page 47: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

47

Manutenção Atividades de MP Existentes e Incorporadas ao

sistema de MP

Passa

Lista de peças de reposição Criada. Número de peças

disponíveis verificado

Passa

Calibração Sistema de Calibração Planos de Calibração

incorporados aos sistema

Passa

Calibração dos equipamentos Equipamentos Calibrados Passa

Segurança Verificação de Segurança Verificação realizada/

Formulário preenchido.

Passa

Documentação Verificação da Documentação Documentos existentes Passa

Funcionamento do

Equipamento

Corrida de verificação Equipamento operando sem

vazamentos, barulhos não

esperados, desgastes excessivos

de peças e avarias.

Funcionamento adequado das

partes móveis, funcionamento

adequado das principais funções

da máquina e sistema de

lubrificação do equipamento

funcionando conforme o

esperado

Passa

Parada de Emergência/ Queda

e Recuperação de Energia

Equipamento funcionando

normalmente após estas

ocorrências, conforme passado

pelo fabricante.

Passa

Treinamento Operações Treinamento realizado/existente

Inspeção de Qualidade Treinamento realizado/existente

Manutenção Treinamento realizado/existente

Quadro 5 Resultados da etapa de IQ

Fonte: Autor

Assim, de acordo com a estratégia do protocolo de IQ, a etapa de qualificação da

instalação foi concluída com sucesso, sendo possível então passar para a próxima etapa (OQ).

4.1.5 Desenvolvimento de Processo

Antes de iniciar a fase de Qualificação da Operação, é necessário que o processo

tenha sido bem desenvolvido, possua uma janela parâmetros de funcionamento definida, seus

sistemas de medição tenham sido avaliados e uma análise de risco preliminar seja realizada.

Page 48: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

48

Isso porque durante as etapas de OQ e PQ esses parâmetros, os riscos e os sistemas de

medição serão desafiados.

Assim, durante a validação estudada, paralelamente à etapa de planejamento e de IQ,

foram realizados os testes necessários para o desenvolvimento do processo. Nos tópicos

abaixo serão demonstrados os testes que foram realizados, bem como os seus resultados.

4.1.5.1 MSA

A análise do sistema de medição foi realizada para todas as características críticas

para a qualidade (CTQ) que devem ser medidas após o processo pelos inspetores de

qualidade. Cada CTQ é classificado como Maior, Funcional A, Funcional B e Menor, de

acordo com a sua criticidade. A descrição de cada tipo pode ser vista no Quadro 6.

Tipo de defeito Descrição

Maior Características que tenham defeitos que trazem riscos ao paciente ou que devam possuir segurança

aos cuidados da saúde. Ou que tenham defeitos que comprometam a identificação ou esterilidade

do produto

Funcional A Uma característica que resulte de uma alta probabilidade (ex: 80%) de falha no produto, mas não

trazem perigo ao paciente ou que devam possuir segurança aos cuidados da saúde. É um defeito

que é quase certo que chame a atenção do consumidor e resulte em rejeição, improvisação ou

substituição. Que tenham um defeito que por si só causará rejeição ou descarte do produto durante

os processos de fabricação seguintes.

Funcional B Uma característica que tenha um defeito, além do MAIOR e FUNCIONAL A que pode impactar

na função do produto, especialmente em combinação com outros defeitos ou circunstâncias.

Menor Uma característica que tenha um defeito que não afete o uso do produto na sua proposta de uso. O

defeito pode não ser reparado rapidamente pelo cliente mas se identificado pode causar

insatisfação em relação a qualidade do produto.

Quadro 6 Tipos de defeitos e suas descrições

Fonte: Autor

A classificação da CTQ definirá o Nível de Qualidade Aceitável (NQA) do produto,

ou seja, a porcentagem máxima de produtos com determinado defeito para o processo

estudado. Por sua vez, o NQA é diretamente relacionado ao tamanho das amostras utilizadas

para que se possa avaliar o processo. Cada uma das CTQ avaliadas neste processo, seus

métodos de inspeção, o tipo de dado obtido, bem como sua classificação e seu respectivo

NQA estão definidas na Tabela 3.

Page 49: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

49

Tabela 3 – CTQ avaliadas no processo

CTQ Método de

Inspeção

Classificação do

dado

Classificação do

defeito

NQA

Conicidade Calibre Atributo Funcional A 0,65%

Diâmetro Interno Calibre Atributo Funcional B 1,5%

Rebarba Interna Lupa Atributo Funcional A 0,65%

Rebarba Externa Lupa Atributo Funcional B 1,5%

Peça incompleta Visual Atributo Funcional B 1,5%

Cor fora do

especificado

Visual Atributo Maior 0,1%

Matéria estranha Visual Atributo Funcional A, B ou

menor

De acordo com a

classificação

Vazamento Visual Atributo Funcional A 0,65%

Fonte: Autor.

Apesar de parecer estranho que as CTQ Conicidade e Diâmetro Interno sejam do tipo

atributo, na verdade não é feita a medida da característica. Apenas é utilizado um calibre do

tipo ―passa/não passa‖, que define se as características estão dentro do especificado, porém

sem definir exatamente o valor. Para a validação estudada, foram realizados quatro estudos de

MSA, agrupando CTQs similares, da seguinte forma:

MSA 1: Inspeção Visual (Peça incompleta, Cor fora do especificado e

Matéria Estranha);

MSA 2: Análise de Rebarba dos Componentes Moldados (Rebarba Interna e

Externa);

MSA 3: Teste de Vazamento;

MSA 4: Diâmetro Interno e Conicidade.

Pelo fato de que o teste feito foi o mesmo para todas as características (já que todas

são do tipo atributo) e todos os testes foram aprovados, será apresentado o procedimento e os

resultados apenas de um teste, que será o número 4, diâmetro interno e conicidade.

Na empresa estudada, no caso de CTQ do tipo atributo cujo teste seja do tipo não-

destrutivo, o MSA consiste de uma análise de concordância de dados atributos (Attribute

Agreement Analysis) que é realizado pelo software Minitab®. Neste teste, certo número de

operadores (pelo menos 2), testam um certo número de peças, sendo que, parte dela é boa e a

outra, ruim. Cada operador testa cada peça pelo menos 2 vezes. Em seguida os dados são

Page 50: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

50

analisados pelo programa que fornece, para cada operador, o intervalo de confiança da

concordância entre as diferentes medidas de cada operador (Within Appraisers) e o intervalo

de confiança da concordância do operador com o padrão correto de cada peça. Para que o

MSA seja aprovado, os limites inferiores dos intervalos de confiança dos dois indicadores

para todos os operadores devem atingir um valor mínimo definido de acordo com a criticidade

do CTQ avaliado, conforme a Tabela 4.

Tabela 4 – Critérios de Aceitação do MSA para cada tipo de CTQ

Classificação da CTQ Critério de Aceitação

Maior Limite inferior do Intervalo de Confiança = 99%

Funcional A Limite inferior do Intervalo de Confiança = 95%

Funcional B Limite inferior do Intervalo de Confiança = 95%

Menor Limite inferior do Intervalo de Confiança = 90%

Fonte: Autor.

Para o teste realizado, de acordo com a tabela e a classificação das CTQ, foi definido

que o critério de aceitação do MSA seria que todos os operadores atingissem um limite

inferior do IC de 95% para as duas concordâncias avaliadas e para ambas as características

(Conicidade e Diâmetro Interno). Foram selecionados 17 inspetores da qualidade para

participar do MSA. O número de amostras foi definido como o mínimo possível para que os

inspetores conseguissem atingir o critério de aceitação definido, ou seja 60 peças. Com menos

peças, o limite inferior do intervalo de confiança nunca atingiria o valor de 95%.

Foi definido que dessas 60 peças, 30 seriam boas e 30 ruins. As peças foram

numeradas para que houvesse um controle da concordância. Os operadores deveriam medir

cada peça duas vezes, retirando-as aleatoriamente para que fosse possível avaliar a

concordância do operador consigo mesmo (Within Appraisers). Aqueles operadores que não

conseguissem atingir o critério de aceitação deveriam ser treinados novamente no

procedimento de inspeção e, em seguida, realizarem novamente o MSA.

Todos os testes foram devidamente realizados e os resultados para o CTQ conicidade

podem ser encontrados na Figura 14.

Page 51: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

51

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95,0% C I

Percent

Date of study: Agosto de 2009

Reported by: Rafaela Dias

Name of product: MSA CONICIDADE

Assessment Agreement

Within Appraisers Appraiser vs Standard

Figura 14 Resultado MSA Conicidade 1

Fonte: Autor

Conforme a figura, apenas 1 operador não atingiu o critério de aceitação. Conforme

definido anteriormente, este operador foi treinado novamente no procedimento de inspeção da

característica avaliada. A partir disso, realizou novamente o teste, cujo resultado está

demonstrado na Figura 15.

Page 52: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

52

JorgeVeloso

100

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95,0% C I

Percent

Date of study: Agosto de 2009

Reported by: Rafaela Dias

Name of product: MSA CONICIDADE

Assessment Agreement

Within Appraisers Appraiser vs Standard

Figura 15 Resultado MSA Conicidade 2

Fonte: Autor

De acordo com este resultado o MSA para esta característica foi aprovado.

Para a característica Diâmetro Interno, os resultados foram os seguintes (Figura 16):

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95,0% C I

Percent

Date of study: Agosto de 2009

Reported by: Rafaela Dias

Name of product: MSA DIAMETRO INTERNO - CANHÃO SCALP

Misc:

Assessment Agreement

Within Appraisers Appraiser vs Standard

Figura 16 Resultado MSA Diâmetro Interno

Fonte: Autor

Page 53: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

53

Pelos resultados acima, pode-se ver que o MSA para esta CTQ também foi aprovado.

Os MSA realizados para as demais características obtiveram resultados semelhantes,

por isso, pode-se dizer que todos os sistemas de medição do processo estudado foram

aprovados em suas análises.

4.1.5.2 Estudo de Engenharia (DOE)

Uma vez que todos os sistemas de medição foram aprovados, pôde-se então seguir

para a próxima fase do desenvolvimento de processo, que é o estudo de engenharia, que

deveria definir a janela de operação adequada para o processo, através da análise por um DOE.

Na empresa estudada, este tipo de estudo é separado em duas partes. A primeira, o

desenvolvimento de processo – benchmarking envolve um estudo que é feito sem rigor

estatístico, com o objetivo de definir os limites dos parâmetros que serão testados na segunda

etapa, que envolve um DOE exploratório e, se for o caso, um DOE de otimização.

Durante a etapa de benchmarking, em geral, são realizados testes nos quais um ou

mais parâmetros do processo são variados enquanto os demais permanecem constantes. Os

testes que deveriam ser realizados bem como as variáveis chave de entrada do processo

(KPIV ou Key Process Input Variables) são definidos no Quadro 7.

Teste Objetivo KPIVs relacionadas

Estabelecer o Ponto de

Transferência

Determina o ponto de transferência

da injeção para recalque

(normalmente, em torno de 25% do

preenchimento da peça). Este

ponto será determinado

considerando a posição da rosca

para garantir a quantidade de

material plástico durante o

preenchimento.

Ponto de transferência

Estudo da viscosidade da matéria-

prima

Determina a janela operacional

para a temperatura de fusão e

identifica a temperatura nominal de

operação.

Temperatura do Bico/

Temperatura do Manifold /

Velocidade de Injeção

Page 54: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

54

Estudo da pressão de recalque Utilizando os parâmetros definidos

no estudo de viscosidade, o intuito

deste teste é definir a janela de

operação para a pressão de

recalque. Desta forma, diminui-se

a pressão de recalque e realiza o

teste até as peças ficarem

incompletas e aumenta-se a

pressão até as peças apresentarem

pequenas rebarbas (flash). A partir

destes resultados, é possível definir

uma janela de operação para a

pressão de recalque.

Pressão de recalque

Estudo para determinar o tempo de

recalque

Este teste identifica qual é o ponto

ideal de ―congelamento‖ do ponto

de injeção, ou seja, o ponto onde a

pressão de recalque não está mais

afetando a formação da cavidade.

Tal fato pode ser constatado

quando o peso das peças torna-se

constante. Assim, este teste

determina a mínimo tempo de

recalque que deverá ser utilizada

para otimizar o ciclo de produção.

Tempo de recalque

Estudo para otimizar o ciclo de

produção

O objetivo deste teste é determinar

o menor tempo de resfriamento

necessário para manter a

integridade e funcionalidade do

molde.

Tempo de resfriamento

Quadro 7 Testes da Etapa de Benchmarking

Fonte: Autor.

Todos os testes são empíricos e não é o objetivo desse estudo avaliá-los. Dessa forma,

será demonstrada a metodologia e funcionamento de dois dos testes realizados bem como seus

resultados.

O primeiro teste que será explicado é o Estudo para determinar a pressão de

recalque. Este estudo é conduzido da seguinte forma: utilizando o perfil de temperatura

definido no estudo de viscosidade, deve-se reduzir a pressão até que as peças comecem a

apresentar pequenas falhas. Em seguida, deve-se aumentar a pressão até que as peças

Page 55: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

55

apresentem pequenas rebarbas e problemas de injeção. Amostras devem ser coletadas para

cada mudança de pressão e uma análise visual deve ser feita pelo operador. O resultado deste

teste está demonstrado na Tabela 5:

Tabela 5 – Resultado pressão de recalque

Pressão de recalque Análise Visual

180 Não OK

190 OK

200 OK

250 OK

300 OK

350 OK

400 OK

450 OK

500 OK

510 OK

520 OK

530 OK

540 OK

550 OK

560 Não OK

Fonte: Autor.

Como na pressão de 180 bar, o material não completava e, na pressão de 560 as

peças começaram a ficar aderidas ao molde, definiu-se os valores máximo e mínimo que

seriam utilizados no DOE exploratório como 180 bar e 560 bar, respectivamente.

O segundo teste cujo funcionamento será demonstrado aqui é o Estudo para

determinar o tempo de recalque, no qual o tempo de recalque é variado e para cada tempo

estabelecido, o peso de todas as peças desse ciclo de injeção é medido. Este peso serve para

que se possa definir se há peças incompletas. Os resultados do teste podem ser vistos na

Tabela 6 e na Figura 17.

Tabela 6 – Resultado Tempo de Recalque

Amostra Tempo de Recalque Peso (g)

1 0,0 20,1192

2 0,2 20,2004

3 0,4 20,3657

Page 56: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

56

4 0,6 20,5015

5 0,8 20,6384

6 1,0 20,7136

7 1,2 20,7688

8 1,4 20,8149

Fonte: Autor.

GATE FREEZE

18,0000

18,5000

19,0000

19,5000

20,0000

20,5000

21,0000

21,5000

22,0000

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4

Tempo de Recalque

Peso

(g

)

Figura 17 Resultado Tempo de Recalque

Fonte: Autor

De acordo com o relatório de benchmarking, como a partir do tempo de 0,4 s o peso

do ciclo pouco se alterou, os valores mínimos e máximos para o KPIV a serem testados no

DOE exploratório foram 0,4 e 1,4 s, respectivamente.

Para os demais testes, seguiram-se procedimentos semelhantes e os valores mínimo e

máximo para todos os KPIVs podem ser visualizados abaixo (Tabela 7)

Tabela 7 – Valores obtidos empiricamente para as CTQ

Parâmetro Mínimo Máximo

Tempo de Recalque 0,4 1,4

Pressão de Recalque 190 550

Temperatura do bico 215 245

Velocidade de Injeção 60 130

Temperatura do Manifold 230 260

Tempo de resfriamento 4 8

Fonte: Autor.

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57

Além desses valores, foi definido empiricamente e de acordo com o conhecimento do

time de validação sobre processos de moldagem que o parâmetro Ponto de Transferência de

injeção deveria permanecer constante em todo o processo com o valor de 15cm³.

Após a definição dos valores a serem testados no DOE exploratório, partiu-se para a

execução do mesmo. Todos os CTQ definidos na Tabela 3 deveriam ser testados quando à

variação dos parâmetros definidos, porém, as CTQ Conicidade e Diâmetro Interno, nesse

estudo, seriam avaliadas como variáveis, ou seja seus valores seriam medidos. Isso ocorreu

devido ao fato de que a empresa possui um sistema de medidas por vídeo (chamado de

Tridimensional), que é um equipamento muito preciso, que geralmente é utilizado em estudos

de DOE, que requerem uma análise mais precisa. O equipamento não é utilizado na produção

ou nos testes de validação pelo fato de que sua utilização é lenta, o que inviabilizaria o

processo de inspeção para o ritmo de produção executado.

Alguns pressupostos foram definidos antes da determinação dos testes. Ficou

definido que as respostas que deveriam ser analisadas pelo DOE em cada corrida seriam a

média e o desvio padrão para os dados contínuos e o limite superior do intervalo de confiança

do percentual de defeituosos para os dados do tipo atributo. Além disso, para o cálculo das

amostras para dados contínuos, deveriam ser utilizadas as seguintes fórmulas:

, onde:

Zc = Z(α/2): Z crítico é igual a 1.96 p/ α = 0,05 ;

S: Desvio padrão histórico de uma amostra. Será usado o maior desvio

padrão das medições das CTQ realizadas previamente.

Precisão: É a precisão que você quer detectar (será 10% do valor do limite

inferior de especificação do CTQ que possuir maior desvio padrão).

Já para os dados do tipo atributo, a fórmula deveria ser a seguinte:

, onde:

Zc = Z(α/2): Z crítico é igual a 1.96 p/ α = 0,05 ;

p: É uma estimativa da proporção que se deseja estimar;

2

22

Pr

*

ecisão

ZSn C

2

22

Pr

*1

ecisão

Zppn C

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58

Precisão: É a precisão que você quer detectar (será 10% do LTPD - Lot

Tolerance Percent Defective do CTQ).

O experimento a ser realizado foi definido como um experimento exploratório

fatorial fracionado, com três pontos centrais, para identificar as KPIV estatisticamente

relevantes, os efeitos sobre as CTQ do processo e a interação existente entre elas. As

características do experimento foram:

6 fatores;

2 níveis;

Resolução III;

3 pontos centrais;

Sem réplica;

1 bloco;

11 corridas no total;

Não aleatório.

A ocorrência de o experimento ser não-aleatório foi definida pelo fato de que o

molde demora um tempo considerável para aquecer, assim o experimento deveria iniciar com

as temperaturas mais baixas, incrementando-as em seguida. A utilização de 3 pontos centrais

se deve à necessidade de se verificar a presença de curvatura, o que poderia influenciar na

escolha do tipo de experimento de otimização, se fosse o caso. Por fim, foi definido que, caso

a curvatura fosse significativa, deveria ser utilizado o modelo de superfície de resposta com

um planejamento composto central com dois níveis. Porém, caso o número de variáveis que

fossem consideradas estatisticamente significativas inviabilizassem o uso deste método,

devido ao número de corridas exigidas, deveria ser usado o experimento fatorial com

resolução III com dois níveis.

A partir das definições acima, obteve-se as seguintes corridas (Figura 18):

Page 59: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

59

Figura 18 Corridas do DOE exploratório 1

Fonte: Autor

Após a definição das corridas, foram definidos os tamanhos das amostras a serem

coletadas no estudo. Utilizando as fórmulas definidas acima e a partir dos parâmetros abaixo

(Tabela 8), pôde-se chegar aos tamanhos.

Tabela 8 – Dados para o cálculo da amostra

Dados contínuos Dados variáveis

Maior desvio (S) 0,03168 P (pior caso) 0,0065 (NQA 0,65%)

Z (α/2) 1,96 Z(α/2) 1,96

Precisão 0,455 Precisão 0,00065 (10% de 0,065)

Fonte: Autor.

Dessa forma, o tamanho da amostra calculado para os dados variáveis foi de 3,84

peças, aproximadamente e para os dados atributos, 379,18, aproximadamente. Porém, como o

molde possui 72 cavidades e cada ciclo de injeção produz este número de peças, decidiu-se

por utilizar o próximo múltiplo de 72 do valor definido. Assim, para os dados variáveis

seriam coletados 72 peças e para os atributos, 432.

Com todos os parâmetros do experimento definidos, o mesmo foi realizado. Para a

coleta e análise dos dados, os CTQ Rebarba Interna e Externa foram coletados e analisados

em conjunto assim como os CTQ Matéria Estranha e Peça Incompleta, agrupados sob o nome

de defeitos Visuais. Assim, os dados obtidos nas 11 corridas estão descritos nas tabelas abaixo

(Tabela 9 e Tabela 10)

Tabela 9 – Dados Variáveis DOE exploratório 1

Corrida Média Conicidade Desvio Conicidade Média diâmetro interno Desvio diâmetro interno

1 4,29 0,01 1,95 0,04

2 4,30 0,01 1,96 0,03

3 4,30 0,01 1,96 0,04

4 4,30 0,02 1,96 0,04

Page 60: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

60

5 4,29 0,01 1,96 0,03

6 4,30 0,02 1,97 0,03

7 4,30 0,01 1,97 0,03

8 4,30 0,01 1,97 0,03

9 4,29 0,01 1,97 0,03

10 4,30 0,01 1,97 0,03

11 4,30 0,01 1,97 0,03

Fonte: Autor.

Tabela 10 – Dados Atributo DOE exploratório 1

Corrida Vazamento Rebarba Visual

1 0,00% 0,69% 0,00%

2 0,00% 0,00% 0,00%

3 0,00% 1,39% 0,00%

4 0,00% 0,00% 0,00%

5 0,00% 1,16% 0,00%

6 1,39% 0,00% 0,00%

7 0,00% 0,46% 0,00%

8 0,00% 6,02% 20,14%

9 0,00% 0,69% 0,00%

10 0,00% 1,16% 0,46%

11 0,00% 1,16% 0,00%

Fonte: Autor.

A partir dos dados obtidos, foi feita a análise do experimento, utilizando o Minitab®.

Os resultados dessas análises foram separados para cada CTQ. Para a CTQ Conicidade, têm-

se os seguintes resultados, para a média e desvio padrão, respectivamente (Figura 19 e Figura

20):

Page 61: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

61

E

F

AF

A

B

C

D

43210

Te

rm

Standardized Effect

4,303

A Pressão de recalque

B Temperatura do bico

C Tempo de recalque

D Tempo de resfriamento

E V elocidade de injeção

F Temperatura do manifold

Factor Name

Pareto Chart of the Standardized Effects(response is Diâmetro 4.29mm - encaixe com o plug, Alpha = 0,05)

Figura 19 Análise do Resultado para média do DOE Conicidade

Fonte: Minitab 14®

F

D

AF

B

E

A

C

543210

Te

rm

Standardized Effect

4,303

A Pressão de recalque

B Temperatura do bico

C Tempo de recalque

D Tempo de resfriamento

E V elocidade de injeção

F Temperatura do manifold

Factor Name

Pareto Chart of the Standardized Effects(response is desvio diâmetro encaixe com plug, Alpha = 0,05)

Figura 20 Análise do Resultado para desvio padrão do DOE Conicidade

Fonte: Minitab 14®

De acordo com os gráficos acima, nenhuma KPIV é estatisticamente significativa

para a média da CTQ conicidade. Porém, para o desvio padrão, o KPIV Tempo de Recalque é

significativo. O desvio foi considerado porque, apesar da média ter ficadx o dentro do

especificado, algumas medidas estavam fora. Assim, será possível reduzir a variabilidade do

processo atuando na variável de entrada especificada. Porém, como, de acordo com o

benchmarking, a janela dessa KPIV já estava praticamente fechada, a equipe decidiu por

alterar a pressão de recalque, pois os dois parâmetros atuam em conjunto e, apesar de não ter

Page 62: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

62

sido considerada estatisticamente significativa, tem um grande impacto, de acordo com a

Figura 19.

Desta forma, para o DOE de otimização foi definido que seria testada uma nova

janela para a variável pressão de recalque para verificar se o impacto do desvio será reduzido.

A nova janela a ser testada seria de 190 a 500. Isso porque, de acordo com dados obtidos no

benchmarking, para uma pressão de 500 bar, a média está em torno de 4.297 e o desvio em

torno de 0.015. Desta forma o valor máximo do diâmetro seria em torno de 4.312, valor bem

próximo do limite superior de especificação. Assim, a nova janela definida para pressão de

recalque pode resolver o problema de peças acima do especificado. Para o valor mínimo, o

problema também seria resolvido uma vez que este valor ficaria em torno de 4.282, valor

acima do limite inferior de especificação.

Também foi definido que no DOE de otimização seria testada a janela de tempo de

recalque de 0.4 a 1.4 por ser a mais significativa. Como explicado, esta janela não seria

alterada por já ser suficientemente pequena.

Para a CTQ Diâmetro Interno, os resultados foram (Figuras 21 e 22):

AF

A

F

D

C

E

B

43210

Te

rm

Standardized Effect

4,303

A Pressão de recalque

B Temperatura do bico

C Tempo de recalque

D Tempo de resfriamento

E V elocidade de injeção

F Temperatura do manifold

Factor Name

Pareto Chart of the Standardized Effects(response is Diâmetro Interno, Alpha = 0,05)

Figura 21 Análise do Resultado para média do DOE Diâmetro Interno

Fonte: Minitab 14®

Page 63: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

63

C

F

A

D

AF

B

E

6543210

Te

rm

Standardized Effect

4,303

A Pressão de recalque

B Temperatura do bico

C Tempo de recalque

D Tempo de resfriamento

E V elocidade de injeção

F Temperatura do manifold

Factor Name

Pareto Chart of the Standardized Effects(response is desvio do diâmetro interno, Alpha = 0,05)

Figura 22 Análise do Resultado para desvio padrão do DOE Diâmetro Interno

Fonte: Minitab 14®

Para a média do DI, pode-se notar que nenhum parâmetro é significativo. Já para o

desvio, o gráfico mostra que os parâmetros Temperatura do bico e Velocidade de Injeção são

significativos. Porém, como nenhuma peça durante o DOE ficou fora da especificação, a

equipe decidiu por não alterar a janela de operação. Apesar de o desvio impactar na

variabilidade dos dados, essa variabilidade não foi suficiente para retirar as peças de dentro do

seu limite de especificação, o que foi considerado aceitável para o processo.

Após a análise dos dados variáveis, passou-se à análise dos dados atributo. A CTQ

Visual encontrou os seguintes resultados (Figura 23):

Page 64: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

64

D

B

E

C

A

F

AF

0,050,040,030,020,010,00

Te

rm

Effect

A Pressão de recalque

B Temperatura do bico

C Tempo de recalque

D Tempo de resfriamento

E V elocidade de injeção

F Temperatura do manifold

Factor Name

Pareto Chart of the Effects(response is Visual, Alpha = 0,05)

Figura 23 Análise do Resultado do DOE Visual

Fonte: Minitab 14®

Ou seja, para essa CTQ, nenhum parâmetro é significativo.

Para a CTQ Vazamento, o resultado foi (Figuras 24 e 25):

Figura 24 Análise do Resultado do DOE Vazamento

Fonte: Minitab 14®

A

E

D

C

B

F

AF

0,00350,00300,00250,00200,00150,00100,00050,0000

Te

rm

Effect

A Pressão de recalque

B Temperatura do bico

C Tempo de recalque

D Tempo de resfriamento

E V elocidade de injeção

F Temperatura do manifold

Factor Name

Pareto Chart of the Effects(response is Vazamento, Alpha = 0,05)

Page 65: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

65

550370190

0,003

0,002

0,001

0,000

245230215 1,40,90,4

864

0,003

0,002

0,001

0,000

1309560 260245230

Pressão de recalque

Me

an

Temperatura do bico Tempo de recalque

Tempo de resfriamento V elocidade de injeção Temperatura do manifold

Corner

Center

Point Type

Main Effects Plot for VazamentoData Means

Figura 25 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Vazamento

Fonte: Minitab 14®

Apesar de nenhum parâmetro ter sido significativo, o time de validação resolveu

testar uma nova janela para velocidade de injeção (de 60 a 110 cm³/s), pois uma corrida

apresentou vazamento, o que é considerada uma característica importante para o processo.

Esse vazamento ocorreu ao lado do ponto de injeção e, de acordo com o conhecimento da

equipe, uma velocidade muito alta pode ter deixado a peça tensionada.

Por fim, para a CTQ Rebarba, os resultados foram (Figura 26 e Figura 27):

Page 66: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

66

C

AF

E

B

F

D

A

121086420

Te

rm

Standardized Effect

4,30

A Pressão de recalque

B Temperatura do bico

C Tempo de recalque

D Tempo de resfriamento

E V elocidade de injeção

F Temperatura do manifold

Factor Name

Pareto Chart of the Standardized Effects(response is Rebarba, Alpha = 0,05)

Figura 26 Análise do Resultado do DOE Rebarba

Fonte: Minitab 14®

550370190

0,020

0,015

0,010

0,005

0,000

245230215 1,40,90,4

864

0,020

0,015

0,010

0,005

0,000

1309560 260245230

Pressão de recalque

Me

an

Temperatura do bico Tempo de recalque

Tempo de resfriamento V elocidade de injeção Temperatura do manifold

Corner

Center

Point Type

Main Effects Plot for RebarbaData Means

Figura 27 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Vazamento

Fonte: Minitab 14®

De acordo com os resultados, todos os parâmetros são significativos. Todavia, optou-

se por não considerar esse CTQ, pois as relações entre os KPIV e a rebarba não estão

consistentes, uma vez que os dados são do tipo atributo e não foi encontrada relação entre os

parâmetros do processo de injeção.

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67

Após a análise dos dados do experimento exploratório, partiu-se para o experimento

de otimização. Foi escolhido por se realizar um experimento fatorial fracionário, com as

seguintes características:

3 fatores;

2 níveis;

Fatorial completo;

3 pontos centrais;

Sem réplicas;

1 bloco;

11 corridas no total.

As corridas a serem executadas foram definidas baseando-se nos resultados do DOE

exploratório e estão demonstradas na Figura 28.

Figura 28 Corridas DOE Otimização

Fonte: Minitab 14®

Os resultados obtidos nas corridas encontram-se nas Tabelas 11 e 12.

Tabela 11 – Dados variáveis obtidos DOE de otimização

Corrida Média diâmetro plug Desvio plug Média diâmetro tubo Desvio tubo

1 4,30 0,02 1,98 0,03

2 4,30 0,01 1,97 0,03

3 4,30 0,01 1,97 0,03

4 4,30 0,02 1,98 0,02

5 4,30 0,01 1,98 0,03

6 4,30 0,02 1,97 0,03

7 4,30 0,02 1,97 0,03

8 4,30 0,02 1,97 0,04

Page 68: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

68

9 4,30 0,02 1,97 0,03

10 4,30 0,01 1,97 0,02

11 4,30 0,02 1,97 0,02

Fonte: Autor.

Tabela 12 – Dados atributo obtidos DOE de otimização

Corrida Vazamento Rebarba (flash) Visual

1 0,00% 0,00% 0,00%

2 0,00% 0,00% 0,00%

3 0,00% 0,00% 0,00%

4 0,00% 0,00% 0,00%

5 0,00% 0,00% 0,00%

6 0,00% 0,00% 0,00%

7 0,00% 0,00% 0,00%

8 0,00% 0,00% 0,00%

9 0,00% 0,00% 0,00%

10 0,00% 0,00% 0,00%

11 0,00% 0,00% 0,00%

Fonte: Autor.

Para os dados acima, foram analisados somente os gráficos de efeitos principais, uma

vez que os parâmetros significativos já tinham sido definidos no DOE de exploração. Para a

CTQ Conicidade¸ segue o gráfico (Figura 29):

500345190

4,3015

4,3010

4,3005

4,3000

1,40,90,4

1108560

4,3015

4,3010

4,3005

4,3000

Pressao de recalque

Me

an

Tempo de recalque

Velocidade injeção

Corner

Center

Point Type

Main Effects Plot for ConicidadeData Means

Figura 29 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Otimização para Conicidade

Fonte: Minitab 14®

Page 69: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

69

Para essa CTQ, foram analisados os limites superior e inferior de especificação. A

peça deveria estar entre 4.29±0.02 mm. Dessa forma, foram definidos os piores casos para

cada parâmetro (Tabela 13).

Tabela 13 – Piores casos para os parâmetros CTQ Conicidade

Parâmetros Limite superior Limite inferior

Pressão de recalque 190 500

Tempo de recalque 1,4 0,4

Velocidade de injeção 110 60

Fonte: Autor.

Para o CTQ Diâmetro Interno, os resultados foram os seguintes (Figura 30):

500345190

1,975

1,974

1,973

1,972

1,971

1,40,90,4

1108560

1,975

1,974

1,973

1,972

1,971

Pressao de recalque

Me

an

Tempo de recalque

Velocidade injeção

Corner

Center

Point Type

Main Effects Plot for Diâmetro InternoData Means

Figura 30 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Otimização para Diâmetro Interno

Fonte: Minitab 14®

Da mesma forma como na CTQ Conicidade, para esta, de acordo com os resultados,

foram definidos os piores casos para cada parâmetro (Tabela 14).

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70

Tabela 14 – Piores casos para os parâmetros CTQ Diâmetro Inter

Parâmetros Limite superior Limite inferior

Pressão de recalque 190 500

Tempo de recalque 1,4 0,4

Velocidade de injeção 110 60

Fonte: Autor.

Para as CTQs do tipo atributo, o resultado encontrado foi o mesmo. Dessa forma,

para ilustrar, segue o gráfico (Figura 30) e a tabela de piores casos (Tabela 15) para o CTQ

Visual.

500345190

0,00060

0,00045

0,00030

0,00015

0,00000

1,40,90,4

1108560

0,00060

0,00045

0,00030

0,00015

0,00000

Pressao de recalque

Me

an

Tempo de recalque

Velocidade injeção

Corner

Center

Point Type

Main Effects Plot for VisualData Means

Figura 31 Análise do Resultado de Efeitos Principais do DOE Otimização para Visual

Fonte: Minitab 14®

Tabela 15 – Piores casos para os parâmetros CTQ Visual

Parâmetros Limite superior

Pressão de recalque 190

Tempo de recalque 0,4

Velocidade de injeção 60

Fonte: Autor.

Para essas CTQ, é analisado somente o limite superior, por se tratar do percentual de

defeituosos.

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71

Executado o DOE, o time de validação optou por realizar uma corrida de verificação

com todos os parâmetros, alinhados nos piores casos de cada CTQ para verificar o real

impacto dos parâmetros nestas características.

As corridas de verificação que deveriam ser realizadas, de acordo com as Tabelas 13,

14 e 15 eram:

Avaliar o CTQ Conicidade na especificação mínima;

Avaliar o CTQ Conicidade na especificação máxima;

Avaliar o CTQ Diâmetro Interno na especificação mínima;

Avaliar o CTQ Diâmetro Interno na especificação máxima;

Avaliar os CTQ do tipo atributo.

Dessa forma, têm-se as corridas e seus parâmetros (Tabela 16)

Tabela 16 – Corrida de Verificação DOE otimização

Parâmetro 01 02 03 04 05

Tempo de Recalque 0,4 1,4 0,4 1,4 0,4

Pressão de Recalque 500 190 190 500 190

Temperatura do cilindro [215 – 245] [215 – 245] [215 – 245] [215 – 245] [215 – 245]

Velocidade de Injeção 60 110 60 110 60

Temperatura do manifold [230 – 260] [230 – 260] [230 – 260] [230 – 260] [230 – 260]

Tempo de resfriamento [4 – 8] [4 – 8] [4 – 8] [4 – 8] [4 – 8]

Fonte: Autor.

As corridas foram realizadas e nenhum problema foi encontrado. Dessa forma,

definiu-se os seguintes parâmetros para o processo, a serem desafiados durante o OQ (Tabela

17):

Tabela 17 – Parâmetros a serem desafiados no OQ

Parâmetro DI mín DI máx Conicidade mín Conicidade e CTQ atributo max

Tempo de Recalque 1,4 0,4 1,4 0,4

Pressão de Recalque 190 500 500 190

Temperatura do cilindro [215 – 245] [215 – 245] [215 – 245] [215 – 245]

Velocidade de Injeção 110 60 110 60

Temperatura do manifold [230 – 260] [230 – 260] [230 – 260] [230 – 260]

Tempo de resfriamento [4 – 8] [4 – 8] [4 – 8] [4 – 8]

Fonte: Autor

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72

4.1.5.3 Análise de Risco (FMEA)

O último estudo que foi realizado durante o Desenvolvimento de Processo foi a sua

análise de risco. Esta análise foi realizada utilizando-se a metodologia FMEA, apresentada no

capítulo 2 do presente trabalho. Para essa análise, cada etapa do processo foi minuciosamente

destrinchada, para que os riscos de cada sub-etapa, por menor que fosse, pudesse ser avaliado.

A avaliação seguiu uma classificação muito similar à apresentada no Quadro 5. Após cada

etapa do processo ter sido avaliada, foi calculado o NPR dessas, multiplicando os índices de

Severidade, Ocorrência e Detecção. Com este valor para cada etapa, na empresa estudada,

dever-se-ia seguir o Quadro 8, para definir a categoria do risco e a ações que deveriam ser

executadas para mitigá-los.

Categoria do

Risco

Limite Inferior

do NPR

Limite Superior

do NPR

Ação de mitigação

Geralmente

Aceitável

1 64 Não é necessária

Alerta 65 124 Opcional

Intolerável 125 100 Deve ser tomada alguma ação para mitigar o

risco e, assim, diminuir seu NPR

Quadro 8 Categorias de Risco para FMEA

Fonte: Autor

Durante a realização do FMEA do processo, foram encontrados apenas dois modos de

falha com NPR maiores que 64. A análise de ambos pode ser visualizada no Quadro 9.

Etapa do

Processo

Modo de Falha

Potencial

Causa Potencial de

Falha

Efeito Potencial

de Falha

Controles

Atuais

NPR

Verificar

condições de

operação

Refrigeração

ineficiente do molde

Elemento Filtrante

saturado

Atraso na

produção/

Retrabalho

Controles

Visuais

72

Resfriar a peça Peça não resfria Excesso de sólidos

na água do chiller

Retrabalho Controles

Visuais

150

Quadro 9 Modos de Falha com NPR maior que 64

Fonte: Autor

Para o primeiro caso apresentado, como uma ação para mitigar o risco não era

obrigatória, mas a equipe não queria deixar de lado o risco, foi sugerido ao time de

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manutenção que programasse uma verificação periódica dos filtros. A sugestão seria avaliada,

porém nenhuma ação tinha sido tomada até o fim da validação.

Já no segundo caso, a equipe deveria tomar alguma medida para reduzir o risco

encontrado. Dessa forma, a equipe decidiu por instalar filtros nas máquinas, em alguns canais

de refrigeração, evitando que sólidos passassem para a água do chiller. Como a possibilidade

de ocorrência diminuiu bastante, o NPR para este modo de falha passou de 150 para 30. Dessa

forma, não havia mais nenhum modo de falha potencial com risco considerável de prejudicar

o processo.

4.1.6 OQ

Finalizada a etapa de Desenvolvimento do Processo, tornou-se possível prosseguir

com a validação. A próxima etapa a ser realizada seria a Qualificação da Operação. De acordo

com o procedimento de validação da empresa, através do OQ deve-se evidenciar que o

processo consegue produzir produtos dentro da especificação em seus piores casos, ou seja, a

janela de parâmetros do processo deve ser desafiada para seus piores casos.

O principal critério para que a fase de OQ seja aprovada, de acordo com o toolkit, é

provar, com confiança, que os requerimentos dos clientes serão atendidos ao longo da janela

de operação. Assim, com base neste critério é que as corridas que serão realizadas no OQ

serão definidas.

Dessa forma, para o processo em questão, foi definido que o objetivo da etapa de OQ

seria desafiar a janela de parâmetros definida na fase de Desenvolvimento de Processo. Os

parâmetros deveriam ser ajustados para a pior condição de cada CTQ e, mesmo assim, os

produtos produzidos deveriam estar dentro das especificações e atender aos critérios de

aceitação do protocolo.

Com esse objetivo formulado, as corridas de OQ puderam ser definidas. A Tabela

17, apresentada no item do presente trabalho relacionado ao DOE, definiu o número de

corridas, bem como a configuração dos parâmetros para cada corrida. Como todos os

parâmetros do processo deveriam ser desafiados nos piores casos para cada CTQ, ficou

definido que seriam 4 corridas de OQ para que os piores casos demonstrados pela Tabela 17

fossem testados.

Uma vez definido o número de corridas, foi necessário definir quantas peças seriam

produzidas em cada corrida e quantas seriam testadas quanto à qualidade de suas CTQ, ou

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seja, o tamanho das amostras. Para o OQ, que deve representar o processo na forma como este

será seguido, todas as CTQ foram consideradas atributos. Para estes casos, na empresa

estudada, o tamanho da amostra é definido através do seguinte critério: deve-se definir a

menor amostra cujo limite superior do intervalo de confiança da proporção de itens

defeituosos seja menor que o NQA da CTQ avaliada, caso não seja encontrada nenhuma peça

defeituosa na amostra. Ou seja, o critério de definição do tamanho da amostra para avaliar

cada CTQ é uma espécie de teste 1-Proportion ao contrário. O critério de aceitação para este

caso deveria ser não encontrar nenhuma peça defeituosa na amostra coletada.

Foi definido pela equipe de validação que a única CTQ que não seria avaliada

durante o OQ seria a Cor Fora do Especificado, pelo fato de que esta característica não é

influenciada pelos parâmetros do processo. Para as demais CTQ, definiu-se a amostra pelo

pior caso, ou seja, de acordo com o NQA mais baixo (0,65%). O cálculo do Minitab para 0

defeitos pode ser visualizado na figura abaixo (Figura 32).

Test and CI for One Proportion 90% Upper

Sample X N Sample p Bound

1 0 354 0,000000 0,006483 Figura 32 Cálculo Tamanho da Amostra OQ

Fonte: Minitab 14®

Dessa forma, as corridas de OQ e suas respectivas amostras definidas podem ser

visualizadas no Quadro 10.

Corrida CTQs desafiadas Tamanho da Amostra

1 Diâmetro Interno Mínimo 354, Aceita 0 Rejeita 1

2 Diâmetro Interno Máximo 354, Aceita 0 Rejeita 1

3 Conicidade Mínimo 354, Aceita 0 Rejeita 1

4 Conicidade e CTQs atributos Máximo 354, Aceita 0 Rejeita 1

Quadro 10 Definição das Corridas de OQ

Fonte: Autor

Portanto, para a etapa de OQ ser aprovada, os produtos das amostras retiradas em

todas as corridas não poderiam apresentar nenhum defeito. O protocolo de OQ ainda frisava

que todas as medidas e testes feitas durante o OQ só poderiam ser realizadas por inspetores de

qualidade cujo MSA tivesse sido previamente aprovado.

As corridas de OQ foram realizadas de acordo com o protocolo. Os resultados podem

ser visualizados na Tabela 18.

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Tabela 18 – Resultados do OQ

Corrida Número de Produtos Defeituosos Passa/Falha

1 0 Passa

2 0 Passa

3 0 Passa

4 0 Passa

Fonte: Autor.

Dessa forma, mesmo desafiando os piores casos do processo para as CTQs avaliadas,

pôde-se perceber que todas as CTQ ficaram abaixo do limite superior do intervalo de

confiança para seu índice de produtos defeituosos, ou seja, podemos afirmar com 90% de

confiança que as CTQ mantêm seus respectivos Níveis de Qualidade Aceitáveis mesmo em

seus piores casos. Conseqüentemente, a etapa de OQ foi aprovada, podendo-se passar para a

etapa final da validação.

4.1.7 PQ

Durante a etapa de PQ, de acordo com o procedimento de validação de processos

avaliado, será evidenciado que o processo consistentemente produzirá produtos aceitáveis

dentro das condições normais de operação. Para o toolkit, o PQ tem como objetivos:

demonstrar o desempenho do processo sob condições normais de operação, introduzir

elementos típicos de variação do processo e elaborar e verificar se o plano de controle do

processo é efetivo. O plano de controle do processo é uma ferramenta utilizada que define o

que o operador do processo deve fazer para cada etapa do processo, quais características deve

verificar e com qual freqüência, além de quais ações se deve tomar caso o mesmo mostre

algum problema ou tendência a sair de controle. Um exemplo de uma sub-etapa para o Plano

de Controle do processo estudado pode ser verificado no Quadro 11.

Page 76: Trabalho de Conclusão de CursoProcesso, FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), entre outras. O objetivo deste trabalho é apresentar a metodologia de realização de uma validação

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Quadro 11 Exemplos de Plano de Controle

Fonte: Autor

As corridas de PQ são definidas a partir da idéia de se conseguir reproduzir as

condições normais nas quais o processo estará operando. Dessa forma, durante as corridas de

PQ, as KPIV devem ser utilizadas nos valores nominais que serão utilizados no processo

diariamente.

Para o processo avaliado, foi definido que seriam realizadas 3 corridas, uma para

cada turno, de forma a demonstrar que o processo tem a mesma performance e o plano de

controle é efetivo independente do turno. De acordo com o protocolo de PQ, operadores,

inspetores da qualidade e outras variações que podem ocorrer na execução normal do

processo estariam sendo avaliadas durante o PQ.

A definição da amostragem a ser avaliada em cada corrida segue a mesma diretriz

utilizada no OQ, para CTQ do tipo atributo. A única diferença é que no PQ essas amostras

serão coletadas da produção normal em intervalos eqüidistantes durante os turnos, enquanto o

OQ somente produz as peças que serão testadas. Destarte, as corridas a serem realizadas

durante o PQ, bem como suas respectivas amostras podem ser vistas no Quadro 12. Todas as

características seriam verificadas na mesma amostra, uma vez que as testes não são

destrutivos.

Corrida Amostragem (CTQ dimensionais, visuais e vazamento)

01 NQA=0,65% - 354 peças – Ac 0 Rej 1

02 NQA=0,65% - 354 peças - Ac 0 Rej 1

03 NQA=0,65% - 354 peças - Ac 0 Rej 1

Quadro 12 Corridas de PQ

Fonte: Autor

Outra característica que é avaliada durante o PQ é o OEE (Eficiência geral do

equipamento ou Overall equipment efficiency), que é calculado da seguinte maneira (Figura

33):

Etapa N.

Processo

Máquina/

Dispositivo/

Ferramenta

Resp. Características Tipo de

Característica

Técnica

de

Avaliação

Valor

Especificado

Amostra Plano de

Reação Produto Processo Tamanho Freqüência

04 Ajustar

parâmetros

de

Inspeção

Injetora Preparador - Velocidade

de Injeção

KPIV Visual 60 a 90 cm/

s

100% A cada 3h. Segregar

produção

do último

período e

proceder

conforme

inspeção

estatística

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Figura 33 Cálculo do OEE

Fonte: Autor

Onde:

TEMPO FUNC: Tempo de funcionamento do equipamento durante as

corridas;

TEMPO TOTAL: Tempo total disponível durante as corridas;

PROD: Produção durante as corridas;

VELOC: Velocidade nominal de produção;

PERDA: Número de peças descartadas pela qualidade;

O valor de OEE que a etapa de PQ deveria atingir foi determinado pelo Gerente de

Produção da área do equipamento validado. Esse valor foi de no mínimo 60%.

Definidas as corridas de PQ, essas foram realizadas, suas amostras coletadas e os

testes executados. Os resultados destas corridas, para a análise das CTQ, de acordo com o

relatório final da validação podem ser visualizados na Tabela 19.

Tabela 19 – Resultados de PQ

Corrida Número de Produtos

Defeituosos –

Conicidade, Diâmetro

Interno

Número de Produtos

Defeituosos –

CTQ Visuais

Número de

Produtos

Defeituosos –

Vazamento

Passa/

Falha

1 0 0 0 Passa

2 0 0 0 Passa

3 0 0 0 Passa

Fonte: Autor.

A análise do OEE, por sua vez, pode ser observada na Tabela 20.

EFICIÊNCIA GERAL DO EQUIPAMENTO

DISPONILIDADE DESEMPENHO QUALIDADE OEE (%)

TEMPO FUNC PROD PROD - PERDA

TEMPO TOTAL VELOC x TEMPO FUNC PRODx = DISP x DESEMP x QUALIDx

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Tabela 20 – Cálculo do OEE

Característica Valor OEE

PROD 315410 84,50%

PERDA 0 peças

VELOC 15552 peças/h

TEMPO TOTAL 24 horas

TEMPO FUNC 19 horas

Fonte: Autor.

Pelos resultados obtidos acima, pode-se concluir que a etapa de PQ pôde ser

aprovada, uma vez que atingiu todos os seus critérios. Com o relatório final aprovado pela

gerência da fábrica, o processo passou a se encontrar em estado validado, estando apto a ser

utilizado durante a produção normal.

4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados analisados no item anterior demonstram que a metodologia de

validação de processos da empresa em estudo é uma maneira robusta de atingir os requisitos

de qualidade exigidos pelos órgãos reguladores, além de poder garantir que o processo

alcançará um certo nível de qualidade e controle antes mesmo de ser colocado em produção

normal.

Pôde-se perceber que a empresa busca de todas as formas ―cercar‖ o processo, de

uma maneira que ele tenha o mesmo desempenho que teve na etapa de PQ em condições

normais. Isso porque, na verdade, não há como o projeto escapar dessas condições. Pelas

atividades desenvolvidas no IQ, tudo leva a crer que todos os sistemas de suporte funcionem.

Ou seja, raramente haverá problemas de quebra de máquinas, uma vez que existem sistemas

de manutenção preventiva e preditiva. Além disso, também, tudo indica que não haverá

problemas quanto a funcionários mal preparados, uma vez que verificou-se o treinamento de

todos os envolvidos, além da verificação dos procedimentos e demais documentos que serão

utilizados no processo. As utilidades também não ocasionarão problemas, uma vez que são

fornecidas de acordo com a especificação do fabricante. Por fim, existe uma grande

probabilidade de que as medições serão exatas, já que todos os instrumentos possuem um

programa de calibração adequado e o MSA garante que o sistema de medição é preciso e

exato.

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O Desenvolvimento de Processos, por sua vez, garante que a janela de operação dos

parâmetros do processo foi bem definida, através do DOE. O FMEA garante que os modos de

falha potenciais de maior risco tenham sido mitigados.

Pelo OQ, pode-se garantir que as janelas definidas no DOE produzem produtos

dentro das especificações em seus piores casos. Por fim, no PQ introduz-se variações normais

do processo e pode-se garantir por ele que essas variações não trarão problemas ao

desempenho do processo.

Portanto, em conjunto, todas as etapas da validação de certa forma ―cercam‖ o

processo, impedindo-o que surjam problemas por quaisquer que sejam as causas.

Vale à pena ressaltar algumas críticas da análise dos resultados obtidos: a primeira

diz respeito ao modo como o DOE foi conduzido, num primeiro momento, durante a fase

exploratória, de maneira correta. Porém, na fase de otimização, a equipe de validação parece

ter optado por uma análise mais simples, utilizando um experimento fatorial ao invés de

ferramentas mais adequadas, como o Método de Superfície de Resposta, apresentado

brevemente no capítulo 2. Além disso, outras decisões durante o experimento também foram

tomadas empiricamente ou através do conhecimento da equipe, não utilizando de técnicas

estatísticas que seriam mais apropriados para o tipo de decisão realizada. Como contra-

análise, vale ressaltar que no OQ as janelas definidas pelo DOE foram desafiadas e nenhum

problema foi encontrado com as CTQ dos componentes produzidos no processo.

A segunda crítica diz respeito ao MSA realizado que, embora tenha avaliado a

repetitividade do sistema, através de comparações entre cada operador consigo mesmo e com

o padrão estabelecido, não avaliou a reprodutividade do sistema, ou seja, as comparações

entre os diversos operadores.

Por fim, vale ressaltar a utilização extensiva de dados do tipo atributo. Mesmo

quando seria possível realizar a medida, como no caso dos CTQ Conicidade e Diâmetro

Interno, os engenheiros do processo optaram pela utilização de calibres, tornando os dados do

tipo atributo. Apesar de se poderem fazer análises estatísticas para este tipo de dado, as

informações fornecidas pela análise de dados do tipo variável são mais ricas, como, por

exemplo, o Cpk do processo, que fornecem informações sobre a variabilidade do processo em

relação às suas especificações, além de informar se o processo está centralizado.

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5. CONCLUSÕES

De acordo com todas as informações detalhadas neste trabalho, além da análise dos

dados, que mostrou que a metodologia de validação de processos utilizada na empresa em

estudo ―cerca‖ o processo contra diversos tipos de problemas, pode-se concluir que a hipótese

formulada no início deste trabalho foi comprovada qualitativamente. Ou seja, a metodologia

de validação de processos fornece evidências objetivas de que um processo produz,

consistentemente, um produto que atende aos seus requisitos.

Além disso, conseguiu-se atingir todos os objetivos pretendidos pelo trabalho. Pôde-

se apresentar detalhadamente, através do estudo de um caso específico, como funciona a

metodologia de validação de processos adotada pela Becton Dickinson. De acordo com os

resultados demonstrados, pôde-se também demonstrar que essa metodologia é capaz de

atingir os resultados esperados pelos órgãos reguladores, que são a principal razão pela qual a

validação é realizada.

Vale ressaltar também que a metodologia apresentada, através do estudo de caso,

serviu para mostrar que a validação, mais do que algo exigido pelos órgãos reguladores, pode

ser utilizada para se entender e controlar de maneira robusta o processo, aumentando sua

qualidade. As diversas ferramentas utilizadas fornecem um conhecimento rico do processo

que pode ser utilizado pela empresa como um meio de aumentar consideravelmente a

qualidade de seus produtos e, assim, conseguir uma vantagem sobre a concorrência.

Apesar dos objetivos terem sido atingidos, as críticas apresentadas, relacionadas a

forma como o DOE e o MSA foram realizadas, além da utilização na maioria das vezes de

dados do tipo atributo, demonstram que o caso estudado poderia ser mais completo

apresentando uma análise mais elaborada. Sugere-se para novos trabalhos, que se busque

explorar estas deficiências, analisando-se uma validação que utilize dados do tipo variável e

na qual os instrumentos DOE e MSA tenham sido utilizados de maneira mais completa.

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6. REFERÊNCIAS

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