Trabalho Denuncia Espontanea - Direito Tributário III

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O presente acrdo trata a respeito da inaplicabilidade do artigo138 do Cdigo Tributrio Nacional, denncia espontnea, uma vez que defendem o pagamento integral da dvida para sua efetivao


Denncia espontnea

Denncia espontnea

Direito Tributrio III

Ementrio: introduo; 1 a denncia espontnea; 2 o parcelamento da dvida no caso de denncia espontnea; concluso; referncias;

Introduo

O presente trabalho tem por escopo a anlise da denncia espontnea, confisso do cometimento de uma infrao tributria pelo contribuinte, suas caractersticas e a defesa do parcelamento do crdito tributrio devido ao Fisco, mediante entendimento doutrinrio e jurisprudencial.

2 A denncia espontnea

A denncia espontnea ocorre quando o sujeito passivo procura o Fisco espontaneamente e confessa o cometimento de uma infrao tributria. Com efeito, somente haver reconhecimento e validade da denncia espontnea quando for de desconhecimento do Fisco a existncia do tributo denunciado. Vejamos:TRIBUTRIO. PROCESSUAL CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAO JURISDICIONAL. NO CONFIGURADA. DENNCIA ESPONTNEA. TRIBUTO SUJEITO A LANAMENTO POR HOMOLOGAO, DECLARADO E NO PAGO. NO CARACTERIZAO. 1. No viola o artigo 535, II, do CPC, nem importa negativa de prestao jurisdicional, o acrdo que, mesmo sem ter examinado individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido, adotou, entretanto, fundamentao suficiente para decidir de modo integral a controvrsia posta. 2. O art. 138 do CTN, que trata da denncia espontnea, no eliminou a figura da multa de mora, a que o Cdigo tambm faz referncia (art. 134, par. nico). pressuposto essencial da denncia espontnea o total desconhecimento do Fisco quanto existncia do tributo denunciado (CTN, art. 138, par. nico). Conseqentemente, no h possibilidade lgica de haver denncia espontnea de crditos tributrios j constitudose, portanto, lquidos, certos e exigveis. 3. Segundo jurisprudncia pacfica do STJ, a apresentao, pelo contribuinte, de Declarao de Dbitos e Crditos Tributrios Federais DCTF (instituda pela IN-SRF 129/86, atualmente regulada pela IN8 SRF 395/2004, editada com base no art. 5 do DL 2.124/84 e art. 16 da Lei 9.779/99) ou de Guia de Informao e Apurao do ICMS GIA, ou de outra declarao dessa natureza, prevista em lei, modo de constituio do crdito tributrio, dispensada, para esse efeito, qualquer outra providncia por parte do Fisco. 4.A falta de recolhimento, no devido prazo, do valor correspondente ao crdito tributrio assim regularmente constitudo acarreta, entre outras conseqncias, as de (a) autorizar a sua inscrio em dvida ativa, (b) fixar o termo a quo do prazo de prescrio para a sua cobrana, (c) inibir a expedio de certido negativa do dbito e (d) afastar a possibilidade de denncia espontnea. 5. Nesse entendimento, a 1 Seo firmou jurisprudncia no sentido de que o recolhimento a destempo, ainda que pelo valor integral, de tributo anteriormente declarado pelo contribuinte, no caracteriza denncia espontnea para os fins do art. 138 do CTN. 6. Recurso especial a que se d provimento. (STJ, Primeira Turma, RESP - RECURSO ESPECIAL 825135, Data da Publicao: 25/05/2006.) (Grifo Nosso)Para incentivo do contribuinte, conforme prescreve no artigo 138 do Cdigo Tributrio Nacional (CTN), na denncia espontnea sua responsabilidade excluda, bem como, se for o caso, a multa de mora:Art. 138. A responsabilidade excluda pela denncia espontnea da infrao, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depsito da importncia arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apurao.Pargrafo nico. No se considera espontnea a denncia apresentada aps o incio de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalizao, relacionados com a infrao.Em relao ao pargrafo nico, cumpre observar que alm da existncia de procedimento formalmente instaurado necessria a efetiva cincia do sujeito passivo para fins de cessao da espontaneidade. Afinal, pode correr processo administrativo por longos anos sem que o contribuinte saiba ao menos de sua existncia.Desta forma, com a denncia espontnea o contribuinte tem sua responsabilidade tributria excluda. Entretanto, caso o cometimento da infrao esteja vinculado ao no recolhimento de um tributo, a denncia dever ser acompanhado do pagamento crdito tributrio devido ou de requerimento de apurao de seu montante.Por sua vez, no tocante s responsabilidades acessrias autnomas, segundo as quais no h vnculo direto com a existncia do fato gerador do tributo, como, por exemplo, escriturao nos termos das previses fiscais e comerciais, o Superior Tribunal de Justia firmou entendimento de que a denncia espontnea no exclui a multa moratria:TRIBUTRIO. MULTA MORATRIA. ART. 138 DO CTN. ENTREGA EM ATRASO DA DECLARAO DE RENDIMENTOS. 1.A denncia espontnea no tem o condo de afastar a multa decorrente do atraso na entrega da declarao de rendimentos, uma vez que os efeitos do artigo 138 do CTN no se estendem s obrigaes acessrias autnomas.Precedentes. 2. Recurso especial no provido. (STJ, Segunda Turma, RESP - RECURSO ESPECIAL 1129202, Data da Publicao: 29/06/2010). (Grifo nosso).No tocante hiptese de lanamento por homologao, a smula 360 do Superior Tribunal de Justia prescreve que o benefcio da denncia espontnea no se aplica aos tributos sujeitos a lanamento por homologao regularmente declarados, mas pagos a destempo.Isso porque, a smula pretendeu abranger casos em que o contribuinte, ciente de que cometeu infrao tributria, teme ser descoberto e, em funo disso, confessa a prtica do ilcito antes do conhecimento do fato gerador pelo Fisco.

3 O parcelamento da dvida no caso de denncia espontnea

H profunda divergncia no mbito doutrinrio e jurisprudencial no tocante aplicao da denncia espontnea em relao aos tributos declarados pelo contribuinte, mas no pagos de imediato, e sim, de forma parcelada.Como pode ser depreendido da anlise do acrdo prolatado nos autos do Recurso Especial n 1.102.577-DF (anexo 1), que trata a respeito da inaplicabilidade do artigo 138 do Cdigo Tributrio Nacional, a denncia espontnea com o parcelamento da dvida deve ser afastada, uma vez que defendido o pagamento integral do crdito tributrio para a sua efetivao. Nesse prisma, o Ministro Franciulli Netto defende que quando ocorre o parcelamento do dbito no podemos ter a denncia espontnea, uma vez que:o cumprimento da obrigao foi desmembrado, e s ser quitada quando satisfeito integralmente o crdito. O parcelamento, pois, no pagamento, e a este no substitui, mesmo porque no h presuno de que, pagas algumas parcelas, as demais igualmente sero adimplidas.A adoo da tese da inaplicabilidade da denncia espontnea caracterizaria m-poltica fiscal, pois igualaria a situao daquele que confessa com o da pessoa que no confessa, acabando por tornar mais atrativa ao contribuinte a escolha de no declarar e torcer para que o Fisco nunca descubra seus ilcitos.Sobre o tema, Ricardo Alexandre afirma:tratar-se de uma infeliz interpretao literal do artigo 138 do CTN, pois acaba por estimular que os infratores que queiram se livrar dos riscos de uma punio, mas no tenham recursos para adimplir integralmente a obrigao, apostem no acaso, torcendo para que a irregularidade no seja descoberta. Afinal, se a confisso no o livra da multa, pode parecer mais interessante esperar. Se o Fisco descobrir o ilcito, o sujeito passivo parcela e paga o tributo e a multa; se no, o passar do tempo e o instituto da decadncia resolvero seu problema (grifo com alteraes) 1ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributrio esquematizado.4. ed. So Paulo: Mtodo, 2010.p. 360.

.Todavia, pelo entendimento de Hugo de Brito Machado em seu livro Curso de Direito Tributrio, quando da interpretao do artigo 138 do CTN, temos a seguinte evoluo jurisprudencial: Os dois argumentos geralmente utilizados pelos que sustentam ser o art. 138 do CNT aplicvel aos casos de denncia espontnea seguida de parcelamento do dbito consistem: o primeiro, na interpretao literal do art. 138 que, por no distinguir o pagamento vista do pagamento em parcelas, abrangeria os dois, certamente aplica-se a ambos; e o segundo, no carter injusto da interpretao restritiva, que termina por favorecer exatamente os que dispem de recursos financeiros, e prejudicar aqueles que se encontram em dificuldades.2MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributrio.32. ed. So Paulo: Malheiros, 2011. p. 167

O referido autor defensor da tese da aplicabilidade da denncia espontnea ao parcelamento, tendo em vista o fato de afirmar que a literalidade do artigo 138 do CTN, na verdade, no diferencia pagamento imediato de pagamento parcelado. Assim, seria possvel o pagamento parcelado.

No obstante, aduz ser injusto igualar a situao daquele que, apesar de no ter dinheiro para adimplir sua obrigao, a confessa, com a daquele que, demonstrando desprezo s regras tributrias, simplesmente deixa de confessar, e aps descoberto, pede parcelamento.Continuando a expor o seu ponto de vista, aps interessantes consideraes a respeito de justia, arremata:Assim, em muitos casos, negar a aplicao do artigo 138 aos que, em vez de pagar, pedem o parcelamento do dbito implica dar a estes o mesmo tratamento que dado aos que preferiram permanecer na situao irregular at que a Fiscalizao, constatando-a, lavrasse o auto de infrao respectivo, formulando a exigncia. E isto, evidentemente, contraria de modo flagrante o princpio da isonomia.3MACHADO, Hugo de Brigo.Curso de direito tributrio.24. ed. So Paulo: Malheiros, 2004. p. 164

Sendo assim, podemos verificar a ocorrncia de lacuna na Lei no que diz respeito ao pagamento da dvida, tendo ainda violao ao Princpio da Isonomia.Ives Gandra da Silva Martins tambm tem opinio com a qual concordamos, fundada no princpio da legalidade, sendo a expresso se for o caso, autorizadora da aplicao da denncia espontnea sem a efetuao do pagamento total da dvida tributria de imediato, desde que haja norma vlida dispondo neste sentido.Para o julgado abaixo, o parcelamento deveria ser considerado pagamento para fins de denncia espontnea, independentemente de lei:EMENTA: TRIBUTRIO DENNCIA ESPONTNEA PARCELAMENTO MULTA MORATRIA AFASTAMENTO PRECEDENTES (ERESP. 193.530/RS). A eg. Primeira Seo do STJ j assentou o entendimento no sentido de que, no havendo procedimento administrativo em curso pelo no recolhimento do tributo e tendo sido deferido o pedido de parcelamento, est configurada a denncia espontnea, que exclui a responsabilidade do contribuinte, tornando inexigvel o pagamento da multa moratria. Ressalva do ponto de vista do relator. Recurso conhecido e provido. (STJ, 2 Turma, REsp n 237.841/CE, Rel. Min. Francisco Peanha Martins, j. 12.03.2002, v.u., DJU 13.05.2002) (grifo nosso).Ante todo o exposto, mesmo no sendo este o atual entendimento do Superior Tribunal de Justia, pensamos ser possvel o parcelamento da dvida nos casos de denncia espontnea, eis que, o pedido para parcelar demonstra que o contribuinte est com a inteno de pagar o que deve, pois se assim no fosse, sequer confessaria espontaneamente para o fisco, que praticou infrao tributria.No o parcelamento, sozinho, que exclui a incidncia de juros e multas. a denncia espontnea, acompanhada do pagamento, imediato ou parcelado. Portanto, o art. 155-A, 1, do Cdigo Tributrio Nacional s afirma o bvio, e em nada contribui para solucionar a questo na medida em que deve ser entendido em conjunto com o art. 138 do mesmo referido diploma, no que se refere ao termo disposio de lei em contrrio, ao qual aquele faz aluso.No que tange discusso sobre a incidncia ou no de multa moratria ao parcelamento, demonstrada no art. 155-A, do CTN, entendemos que a mesma excluda quando configurado o instituto do artigo 138 e tratar-se de benefcio institudo por este. Outrossim, quando parcelado o valor, sobre este no incidir multa moratria sobre o tempo passado, mas nas parcelas sero includos os juros e multas legais, no em carter de punio ao contribuinte que no paga imediatamente a dvida, mas em decorrncia da incidncia legal disposta no Cdigo Tributrio Nacional.

Concluso

Em sntese ao exposto, verifica-se que o artigo 138 do Cdigo Tributrio Nacional ao excluir a responsabilidade do contribuinte, devido confisso do cometimento de infrao tributria, afasta, de antemo, eventual prejuzo que o Fisco sofreria, agindo bem ao permitir o arrependimento pelo sujeito passivo e a proteo da economia brasileira.Da mesma maneira, apesar da divergncia quanto ao tema do parcelamento do crdito tributrio para fins de viabilizao da denncia espontnea, conclui-se que a sua admisso convergente com a atual poltica fiscal, considerando que independente da modalidade de pagamento do crdito tributrio, seja ela parcelada ou integral, o Fisco ser beneficiado com o arrecadamento do tributo e o contribuinte com a regularidade fiscal.

Referncias bibliogrficas

ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributrio esquematizado.4. ed. So Paulo: Mtodo, 2010.MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributrio.32. ed. So Paulo: Malheiros, 2011.