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GUIA DE RELACIONAMENTO COM O TEMA TRABALHO ESCRAVO Heleíze Sena

Trabalho Escravo: Guia de Relacionamento com o Tema

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Este guia é resultado de um trabalho de conclusão de curso, da Universidade da Amazônia 2009

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GUIA DE RELACIONAMENTO COM O TEMA

TRABALHO ESCRAVO

Heleíze Sena

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

Heleíze Roberta Oliveira Sena

PELA MÍDIA IMPRESSA E PELOS JORNALISTAS: o trabalho escravo na pauta do jornalismo social

Ananindeua 2009

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Introdução

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Este Guia de relacionamento com o tema é resultado de uma pesquisa científica oriunda do Trabalho de Conclusão de Curso, da Universidade da Amazônia, denominado Pela mídia impressa e pelos jornalistas: o trabalho escravo na pauta do jornalismo social, cuja proposta foi traçar um perfil da cobertura jornalística sobre a temática nos grandes jornais impressos de Belém e avaliar o nível de conhecimento dos jornalistas sobre o assunto e ainda, saber como eles utilizam a informação sobre a prática análoga a de escravo, para a construção dos seus relatos jornalísticos.

Para alcançar esses objetivos foram utilizados os métodos de análise de conteúdo, por meio da quantificação das notícias publicadas sobre o assunto, e pesquisa de opinião, com aplicação de questionários aos repórteres das quatro redações estudadas: O Liberal, Diário do Pará, Amazônia e Público.

Além de esclarecer aos jornalistas como melhor tratar a temática do trabalho escravo em suas produções, esta iniciativa visa também contribuir com a comunidade acadêmica, imprensa e profissionais ligados a defesa das questões sociais no Brasil, tornando o tema mais acessível e promovendo o debate entre instituições governamenta-is ou não, com vistas ao fim do trabalho escravo no país.

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Sobre a pesquisa

A presente publicação contém esclarecimentos sobre as maiores necessidades dos jornalistas relacionadas à temática do trabalho escravo, baseadas nas respostas dadas durante a aplicação dos questionários aos profissionais. Antes disso, conheça um pouco mais da pesquisa científica:

Metodologia

Para viabilizar a compreensão dos objetivos desta análise dividiu-se a pesquisa de campo em duas partes e adotou-se como procedimentos metodológicos a análise de conteúdo e pesquisa de opinião. Dessa forma, foi feito o clipping de matérias jornalísticas sobre o assunto durante o período de um ano, o de 2008, período no qual foram fiscaliza-das 290 fazendas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com o resgate de 5.016 trabalhadores. Já a segunda etapa compreendeu aplicação de questionário aos repórte-res das redações, para saber o nível de conhecimento deles sobre o assunto.

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Perfil

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Perfil

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Sobre o trabalho escravo História

Dados estatísticos

A origem do trabalho escravo nos leva a crer que a prática é tão antiga quanto o surgimento da própria civilização humana. Segundo Olivieri (2009) “em um determinado momento da pré-história, os homens perceberam que os prisioneiros de guerra - normalmente sacrificados em cultos religiosos - poderiam ser usados para o trabalho ou "domesticados" como os animais”. Mas o uso da mão-de-obra escrava atingiu o seu ápice no século XVIII, em colônias de países como Espanha, Portugal e Holanda.

No Brasil, colônia de Portugal, não foi diferente. Em 1550, com a expansão do tráfico negreiro já era possível perceber que o território brasileiro estava fadado, desde então, à escravidão. Concentrados no Estado da Bahia,os negros eram alvo de castigos bárbaros e cruéis, até que a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 1888 tentou por fim a toda essa situação degradante.

No entanto, exatos 121 anos depois da assinatura da Lei Áurea, o país continua passando pela mesma situação. Observa-se que o trabalho escravo se repete, entretanto, com algumas modificações. Atualmente, o trabalho escravo ou compulsório tem como maior característica a dívida, onde o trabalhador depende financeiramente ao patrão, num processo que quase nunca tem fim. Ou melhor, tem quando há fugas ou resgate dos trabalhadores pelo MTE.

As estatísticas da Organização Internacional do Trabalho - OIT (2005) apontam que cerca de 12,3 milhões de pessoas, em todo o mundo, são vítimas de trabalho escravo. Desses, 9,8 milhões são explorados por agentes privados, inclusive mais de 2,4 milhões da mão-de-obra do trabalho forçado é consequência do tráfico de pessoas. Ainda de acordo com a OIT (2005) no Brasil, da escravidão em seu formato contemporâneo – por dívida – de 1995 a 2003 foram resgata-das 10.726 pessoas espalhadas pelo território nacional. A Organização, também, calcula que cerca de 25 mil trabalhadores brasileiros continuam submetidos a condições análogas à escravi-dão no país, em especial nos Estado do Pará e Mato Grosso.

Já segundo as estatísticas do MTE (2009), o Pará ainda é o Estado da federação que registra o maior número de denúncias de trabalho escravo, encontrado, especialmente, em atividades como a pecuária, extração de carvão e na produção de cana-de-açúcar. Somente em 2008, 290 fazendas foram fiscalizadas pelo MTE, com o resgate de 5.016 trabalhadores, 811 deles somente no Pará.

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Sobre o trabalho escravo

Diferenças entre escravidão antiga x contemporânea

Perfil dos trabalhadores escravos

Aspectos jurídicos

Passados exatos 121 anos da abolição da escravatura, o trabalho escravo permanece no país, mas recebeu ares modernos e ao invés de senzalas, fazendas, e no lugar dos donos de escra-vos, proprietários de terra. A denominação também mudou, e o escravo contemporâneo é conhe-cido hoje como “peão”.

A dívida, além de ser a maneira mais frequente pela qual o trabalhador se mantém escravo, exclui o direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra, como acontecia na época do Brasil Colônia. E essa é a diferença mais marcante entre os dois processos de escravidão. Hoje em dia, o trabalho escravo torna-se uma atividade geradora de lucro, pois o patrão não garante assistência social, psíquica ou à saúde dos trabalhadores, logo não há custo com a manutenção do escravo.

Conheça essas e outras diferenças sobre o trabalho escravo antigo e contemporâneo no quadro de diferenciação entre as duas modalidades na página 15.

As pessoas aliciadas, geralmente, são homens na faixa etária que varia entre 21 a 40 anos, analfabetos ou com baixa escolaridade, e oriundos da zona rural. A seleção orienta-se pela capaci-dade da força física e não pela cor, raça ou credo religioso. Muito deles, na crença de renda fácil e rápida, não tem condições financeiras para se manter ou vivem em alta taxa de miserabilidade. Sem muita opção e por desconhecimento dos direitos trabalhistas, não estabelecem, previamente, com o 'gato' ou com o patrão o tempo de serviço, o vínculo empregatício, as condições de trabalho, entre outros direitos previstos em lei.

Para combater essa violação, um princípio essencial de luta contra trabalho forçado é que essa prática deve ser tratada como crime grave. No Brasil, para tentar diminuir a impunidade e assegurar os direitos trabalhistas, o ato de reduzir alguma pessoa à condição análoga a de escravo está previsto como crime no Código Penal (1998), por meio do Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. O artigo nº 149 do Código Penal assegura pena de dois a oito anos de reclusão, para quem manter trabalhadores em regime de escravidão.

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A seguir, você irá conhecer mais detalhes sobre a prática análoga a de escravidão. Todos os pontos que serão abordados foram demandados pelos jornalistas, durante a aplicação do questionário, e apontam as

principais necessidades dos profissionais na hora de produzir um relato jornalístico relacionado ao tema. Mais do que esclarecer os jornalistas, o

que se busca nessa pesquisa é estimular o respeito e a dignidade aos trabalhadores que se encontram em situação degradante e fomentar a prática do jornalismo como forte instrumento de mudança e canal que

informa sem distinção.

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Tema

O trabalho escravo apresenta-se como uma vertente oposta ao trabalho formal e aplicado de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, na qual entende-se que todo trabalhador deve ter direito a condições dignas de trabalho, instrumentos necessários para desempenhar as atividades, além de alimentação e moradia, se for o caso. Nesta pesquisa, para conceituar o trabalho escravo foi utilizada a definição dada pela OIT (2005), que trata-se de:

“Todo tipo de trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente. Ocorre (...) através de privações severas, como a violência física ou o abuso sexual; restringindo a liberdade das pessoas; detendo seus salários ou seus documentos obrigando-os a ficar no trabalho; ou os retendo por meio de uma dívida fraudulenta da qual eles não podem escapar.”

Dessa forma, para a identificação do trabalho escravo entre as maiores caracterís-ticas estão a escravidão por dívida, causando dependência financeira do empregado em relação ao patrão e a privação da liberdade das pessoas, sob ameaça de sanção ou mesmo violência física e moral.

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Formas de combate

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Resgate dos trabalhadores

O resgate dos trabalhadores ocorre de forma oficial pelas ações do MTE, por meio do Grupo Móvel de Fiscalização. Criado em 1995, com a proposta de acabar com o traba-lho escravo no país, o Grupo Móvel, quando recebe denúncia, é responsável pela elabora-ção de planos de ação para constatar a veracidade dos fatos e fazer o resgate dos trabalha-dores em condições análogas as de escravidão.

O Grupo tem a denominação 'Móvel', pois realiza operações nas cinco regiões do país, visitando fazendas e áreas em potencial para exploração de pessoas, notificando os responsáveis pela ação, aplicando-lhes multa, taxas de indenização e fazendo o seu trabalho-fim, que é o resgate de pessoas, devolvendo a elas o direito à liberdade e aqueles reconhecidos por lei. As operações acontecem em conjunto com a Polícia Federal, Auditoria Fiscal do Trabalho, Ministério Púbico do Trabalho, Ministério Público Federal, delegados, entre outros.

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Fontes governamentais

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Fontes não governamentais

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Antiga e contemporânea: quais as diferenças?

Diferenças entre a antiga e a nova escravidão

Brasil Antiga Escravidão Nova Escravidão

Propriedade do escravo Legal

Custo de aquisição de mão-de-obra

Lucros

Mão-de-obra

Relacionamento

Diferenças étnicas

Manutenção da ordem

Condições de vida

Alto. Por compra. A riqueza de uma pessoa podia ser medida pela quantidade de escravos

Baixos. Havia custos com a manutenção dos escravos.

Demora para repor investimento

Escassa. Dependia de tráficonegreiro, prisão de índios ou

reprodução. Bales afirma que,em 1850, um escravo eravendido por uma quantiaequivalente a R$ 120 mil

Longa duração. A vida inteirado escravo e até de seus

descendentes

Relevantes para a escravização

Ameaças, violênciapsicológica, coerção física,punições exemplares e até

assassinatos

Em geral, em situaçãodegradante

Ilegal

Muito baixo. Não há compra,sim aliciamento. Muitas vezes,gasta-se apenas o transporte

Altos. Se alguém fica doente pode ser mandado embora, sem nenhum

direito. Retornorápido e fácil

Descartável. Um grandecontingente de trabalhadoresdesempregados. Um homemfoi levado por um gato por R$

150,00 em Eldorado dosCarajás, Sul do Pará

Curta duração. Terminado oserviço, não é mais necessário

alimentá-lo

Pouco relevantes. Os escravossão pessoas pobres e miseráveis,

independente da cor da pele

Ameaças, violênciapsicológica, coerção física,punições exemplares e até

assassinatos

Sempre em situaçãodegradante

Fonte: ONG Repórter Brasil (2003)

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Telefones úteis

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Links importantes

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Referências bibliográficas

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Código Penal. In: ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Vademecum da Legislação Pátria – 2. ed. rev., ampl. e atual – São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1998.

CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS. Disponível em: . Acesso em 16 nov 2009

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Quadro Geral das Operações de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo, Brasília, 2009. Disponível em: < http://www.mte.gov.br/fisca_trab/est_resultado_quadro_divulgacao2009.pdf>. Acesso em 27 fev 2009

OLIVIERI, Antônio Carlos. Escravidão Ontem e Hoje – O Trabalho Escravo ainda existe no Brasil. Disponível em < http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1702u64.jhtm>. Acesso em 06 de mar 2009

ONG REPÓRTER BRASIL. Disponível em: <www.reporterbrasil.org.br/conteudo.php?id=4>.Acesso em 15 fev 2009

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Relatório Global, Brasília, 2005. Disponível em:<http://www.ilo.org/public/portugue/region/ampro/brasilia/trabalho_forcado/oit/relatorio/perguntas_respostas.pdf>. Acesso em 27 fev 2009.

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Denis Diderot

“Ter escravos não é nada, mas o que se torna intolerável é ter escravos

chamando-lhes cidadãos.”

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