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Plano Real de Investigação Ana Lúcia Nunes 1 Jorge Fernando & Os Proscritos: um espectáculo com lendas vivas.

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Plano de Investigação Real

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Plano Real de Investigação

Ana Lúcia Nunes 1

Jorge Fernando & Os Proscritos: um espectáculo com lendas vivas.

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No passado dia 22 de Abril, Jorge Fernando levou ao palco do Cinema São Jorge um momento memorável

para a história do fado. Acompanhado por Custódio Castelo (guitarra portuguesa) e Daniel Pinto (viola baixo),

este grande nome do fado fez subir ao palco Filipe Duarte, José Manuel Barreto, José Manuel Rato, António

Manuel Pelarigo e Artur Batalha.

Referindo-se aos cinco “proscritos”, Jorge Fernando afirmou: " são pessoas com valor, verdadeiros

diamantes que por motivos vários não costumam receber a atenção que merecem. Este espectáculo é um acto

de justiça, no qual pretendo prestar homenagem a esta gente que é maravilhosa a cantar e que está no

anonimato, apesar de alguns cantarem há mais de 50 anos”.

O São Jorge recebeu Jorge Fernando & Os Proscritos (Na Terra da Injustiça), um espectáculo

profundamente original, com veteranos das ruas lisboetas, que para além de grandes momentos de fado,

partilharam algumas memórias da sua longa experiência, dando a conhecer ao público o que é a lama fadista.

Momento singular que ficará, certamente, na história do fado!

De facto, o fado tem evoluído bastante nesta última década, Muitas são as vozes que têm saído do país e

mostrado ao mundo o valor da nossa pérola musical. Contudo, tantas outras, continuam “escondidas” por entre

as portas das casas de fado. Partindo precisamente dos cinco “proscritos” homenageados por Jorge Fernando, no

Cinema São Jorge, proponho-me a investigar as suas histórias de vida procurando, sobretudo, identificar os

factores decisivos para estes (e tantos outros) anonimatos.

“Quem são estas pessoas e como vivem?” será o ponto inicial desta investigação. Conhecer as histórias de

vida de cada um (o percurso anterior à entrada no fado; o processo de inculturação no fado, bem como todo o

“caminho” que percorreram como fadistas) será um factor decisivo para a minha história.

O facto de ter crescido neste meio, e conhecer “de perto” cada uma destas pessoas, faz com que o meu

conhecimento empírico seja o mais cimentado. Para além disso, o facto de ter cantado profissionalmente um

ano numa casa de fados, fez com que viesse “enriquecer”, ainda mais, o meu conhecimento. Contudo, ainda há

muito por conhecer.

Jorge Fernando será o informador privilegiado desta investigação, não só pelo facto de ter sido o grande

impulsionador do espectáculo que, pela primeira vez, trouxe estas pessoas ao grande público, mas também pelo

seu percurso profissional no fado. O músico (viola de fado), acompanhou Amália Rodrigues desde 20 anos de

idade, é um dos compositores portugueses mais cantados em Portugal e o maior produtor de fado do país.

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Sendo este o ponto de acesso mais fácil e imediato, até pelo facto de Jorge Fernando ser meu pai, será,

também através do mesmo, que acederei aos restantes informadores “Os proscritos”.

Filipe Duarte canta desde 1958, tendo estreado a sua carreira na casa de fados “O Faia”, no Bairro Alto

em Lisboa. José Manuel Barreto começou a cantar muito cedo nas festas escolares, tendo integrado o elenco da

casa de fados “O Embuçado” na década de 1970. José Manuel Rato canta há cerca de 30 anos, tendo começado a

cantar em Loures. António Pelarigo, natural de Santarém, canta há cerca de 50 anos, e entre os seus êxitos, bem

conhecidos pelo meio fadista, refira-se “Bandeira azul e Branco”, “Taberna do Quinzena” e “O Lenço”. Artur

Batalha venceu uma Grande Noite do Fado, tendo começado a cantar n’O Poeta, em Alfama. Participou no mais

recente álbum de Mariza, “Fado Tradicional”. Êxitos como: "Hoje Morreu um Poeta", "Mundo de Inverno" e

"Cruz" foram alguns dos seus marcos de fadista, pelos quais, ainda hoje, é reconhecido.

É de notar que o facto de existir esta proximidade entre mim e o universo fadista, poderá trazer-me

vantagens reais, nomeadamente no que se refere ao acesso às fontes, uma vês que todas elas me são bastante

próximas.

Por outro lado, se já existe alguma teoria relativa ao fado, à sua história e a alguns fadistas, nada há

escrito que conte a história desta gente que percorreu um caminho longo e, muitas vezes penoso, para que o

fado tenha evoluído até ao que é hoje. Pessoas essas, extremamente reconhecidas na comunidade fadista e

completamente desconhecidas do grande público. Pessoas que hoje, têm correntes de seguidores e que, ainda

assim, não saem das quatro paredes do “pequeno” universo fadista.

Contudo, e não descurando de toda a relevância que a história do fado tem para a compreensão da vida

destas pessoa, é de salientar alguns autores a partir dos quais poderei contextualizar a minha investigação: Pinto

de Carvalho História do Fado (1984) - Estudo prévio de Rui Vieira Nery; Rui Vieira Nery “Para uma história do

Fado”; Alberto Pimentel, A Triste Canção do Sul (1904) - Estudo prévio de Rui Vieira Nery; Luis Moita, O Fado,

Canção de Vencidos (Lisboa, 1937) - Estudo prévio de Rui Vieira Nery; A. Vítor Machado, Ídolos do Fado (Lisboa,

1937) - Estudo prévio de Rui Vieira Nery; Avelino de Sousa, O Fado e os seus Censores (Lisboa, 1912) e outros

escritos - Estudo prévio de Paulo Lima/José Manuel Osório.

Alicerçado a este conjunto de informadores/ fontes, o Museu do Fado, localizado em Lisboa no bairro de

Alfama, será o local privilegiado à aquisição de fontes técnicas (inicialmente).

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Relativamente ao plano temporal, considero que o conhecimento empírico que trago comigo, uma

vantagem. Ainda assim, estimo uma agenda de 6 meses para aceder a cada um dos informadores iniciais, e

acompanhá-los nos seus “fados”. Agenda esta que ficará aberta, uma vez que tenho a noção da possibilidade de

surgirem outros informadores relevantes à elaboração da minha história.

“O fado nasceu um dia…” (José Régio) e com ele nasceram inúmeros fadistas que merecem

reconhecimento!

É, portanto, este o meu projecto, o meu grande intuito: dar a conhecer estas pessoas e o contributo de

cada uma para aquilo que o fado é hoje.