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i www.rffadvogados.pt Praça Marquês de Pombal, 16 – 5º (Recepção)/6º 1250-163 Lisboa • Portugal T: +351 215 915 220 • F: +351 215 915 244 [email protected] TAX & BUSINESS A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte [email protected]. *** Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um email com “Remover” para o endereço email [email protected]. 01 JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE CONTAS (2º. TRIMESTRE DE 2014) Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013 International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013 Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013 IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique Pretende-se, com a presente Informação, apresentar uma síntese trimestral dos principais Acórdãos proferidos pelo Tribunal de Contas, à semelhança do que fazemos em relação às decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia e às decisões arbitrais, proferidas pelo Centro de Arbitragem Administrativa. Mantêm-se, assim, as informações periódicas também em matérias de Finanças Públicas, Direito Financeiro e de Orçamental e Contabilidade Pública. Esta Informação é relativa ao 2.ºtrimestre de 2014, brevemente será divulgada a Informação referente à jurisprudência relativa ao 3.º trimestre de 2014.

tribunal de contas 2ºt VF - rffadvogados.com · periódicas também em matérias de Finanças Públicas, ... qual o seu âmbito e que estava ... é o facto de o objecto do contrato

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TAX & BUSINESS

A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a

informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para

qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso

concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em

parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais

sobre este assunto contacte [email protected].

***

Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º

7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso

pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes,

por favor envie um email com “Remover” para o endereço email

[email protected].

01

J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E C O N T A S ( 2 º . T R I M E S T R E D E 2 0 1 4 )

Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014

Legal 500 – Band 1 Tax “Portuguese Law Firm” 2013

International Tax Review –"Best European Newcomer" (shortlisted) 2013

Chambers & Partners – Band 1 “RFF Leading Individual “ 2013

Who´s Who Legal – “RFF Corporate Tax Adviser of the Year” 2013

IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique

Pretende-se, com a presente Informação,

apresentar uma síntese trimestral dos

principais Acórdãos proferidos pelo

Tribunal de Contas, à semelhança do que

fazemos em relação às decisões do

Tribunal de Justiça da União Europeia e às

decisões arbitrais, proferidas pelo Centro

de Arbitragem Administrativa.

Mantêm-se, assim, as informações

periódicas também em matérias de

Finanças Públicas, Direito Financeiro e de

Orçamental e Contabilidade Pública.

Esta Informação é relativa ao 2.ºtrimestre

de 2014, brevemente será divulgada a

Informação referente à jurisprudência

relativa ao 3.º trimestre de 2014.

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02

Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão: 11/2014 – 1ªa Secção em Subsecção

Data:Data:Data:Data: 1 de Abril de 2014

(Processo n.º 1297/2013)(Processo n.º 1297/2013)(Processo n.º 1297/2013)(Processo n.º 1297/2013)

FactosFactosFactosFactos

O Município de Aveiro enviou ao Tribunal de Contas a deliberação da Câmara Municipal de

Aveiro de 25 de Julho de 2013, que autorizou a renovação do contrato celebrado com a

Gertal em 31 de Outubro de 2012, para realização de despesa com vista a assegurar o

fornecimento de refeições nos jardins de infância e escolas do 1.º Ciclo, no ano lectivo de

2013/2014.

Foi remetida uma deliberação da Câmara Municipal de Aveiro, de 6 de Novembro de 2013

que reduziu o valor da despesa anteriormente referida.

Foi então, remetida uma segunda rectificação, através de deliberação datada de 4 de

Dezembro de 2013, esta referindo a inscrição orçamental da despesa e o número de

compromisso, bem como uma autorização de encargos para 2014.

O Município não apresentou declaração de fundos disponíveis para a despesa referente ao

acto em apreço.

Em Dezembro de 2013, o Município de Aveiro tinha fundos disponíveis negativos, assim

como uma divida bancária.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

A questão que aqui importa resolver, pelo Tribunal de Contas, é a inexistência de fundos

disponíveis pelo Município.

De acordo com a legislação aplicável, o que se pretende, na parte respeitante à não

assunção de compromissos que excedam os fundos disponíveis, é tão só que se limite a

despesa, no sentido de qualquer entidade abrangida pela lei em causa só poder assumir

um compromisso se se concluir, previamente, que esta tem fundos disponíveis, sendo que

se tal não acontecer, essa entidade não pode validamente assumir um compromisso. Há,

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portanto, uma imposição por parte do legislador, no sentido em que as entidades sujeitas

ao regime dos compromissos e dos pagamentos em atraso, se encontram impedidas de

assumir compromissos que excedam os fundos disponíveis, tendo-o feito de forma

peremptória e inequívoca.

No caso em apreço, o Município de Aveiro, relativamente à deliberação, através da qual

pretende renovar o contrato celebrado com a Gertal, para fornecimento de refeições para

jardins de infância e escolas do primeiro ciclo, para o ano lectivo 2013/2014, como já

mencionado nos factos, apresentou declaração de compromisso mas não foi apresentada

declaração de fundos disponíveis para tal despesa. Para justificar esta omissão, o

Município admitiu que não dispunha, à data da deliberação, de fundos suficientes para

efectuar um compromisso. O Município foi, claramente, contra o disposto na lei que regula

esta questão.

Num segundo momento, após ter sido confrontado com a exigência legal da existência de

fundos disponíveis para assegurar a despesa que não possuía, o Município veio alegar que

não é exigível a prestação de compromisso quando estão em causa receitas consignadas.

O legislador foi bem explícito quando disse que “os compromissos não podem ultrapassar

os fundos disponíveis”. Esta não é uma norma geral que comporta excepções, não sendo

por isso possível interpretar tal norma como excluindo da sua abrangência uma despesa

que tenha como contrapartida receitas expressamente consignadas.

A excepção invocada pelo Município não tem assim qualquer suporte legal, não podendo,

por isso ser aceite como argumentação válida.

O Município de Aveiro sabia, desde que a lei foi publicada, qual o seu âmbito e que estava

vinculado ao seu cumprimento. Nomeadamente, não podia assumir compromissos

financeiros se não tiver disponível previamente fundos para tal. Ao assumir compromissos,

o Município cria expectativas nos eventuais destinatários, e não pode fazê-lo, para

posteriormente numa espécie de “venire contra factum proprium” invocar um estado de

necessidade, que não se verifica, para não cumprir a lei.

Em síntese, sob pena da respectiva nulidade, nenhum compromisso pode ser aplicado sem

que tenham sido cumpridas as seguintes condições: i. verificada a conformidade legal e a

regularidade financeira da despesa, nos termos da lei; ii. Registado no sistema informático

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de apoio à execução orçamental; iii. Emitido um número de compromisso válido e

sequencial que é reflectido na ordem de compra, nota de encomenda ou documento

equivalente.

De tudo o que foi dito, pode concluir-se que houve violação directa de normas financeiras,

bem como nulidade da informação de compromisso junta pelo Município de Aveiro.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Pelos fundamentos supra expostos, acordam os Juízes do Tribunal de Contas, em recusar

o visto à deliberação da Câmara Municipal de Aveiro e respectivas rectificações.

***

Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão: 12/2014 – 1ª Secção em Subsecção

Data:Data:Data:Data: 6 de Maio de 2014

(Processo n.º 133/2014)(Processo n.º 133/2014)(Processo n.º 133/2014)(Processo n.º 133/2014)

FactosFactosFactosFactos

O Instituto de Emprego e Formação Profissional, IP, remeteu, para fiscalização prévia, um

aditamento ao contrato para fornecimento de serviços de alimentação, antes celebrado

com a Solnave – Restaurantes e Alimentação, S.A., datado de 18 de Fevereiro de 2014. O

aditamento tem por objecto introduzir alterações na redacção das cláusulas segunda e

sétima do contrato original.

O contrato original foi celebrado a 13 de Dezembro de 2012, prevendo o fornecimento de

refeições para o período de 1 de Janeiro de 2013 a 31 de Dezembro de 2013. Este contrato

inicial foi modificado por um primeiro aditamento, em 16 de Janeiro de 2013, sendo alvo de

um segundo aditamento em 19 de Fevereiro de 2013, mantendo o valor total do anterior,

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mas introduzindo alterações na cláusula sétima, em matéria de classificações orçamentais

e de números de compromisso.

Como fundamentação dos presentes aditamentos, o IEPF, recorreu-se do regime dos

Serviços a Mais, que nos diz que estes são aqueles cuja quantidade não estava prevista no

contrato original e que tenha sido necessária à prestação de serviços objecto do contrato

na sequência de uma circunstância imprevista. No processo, o IEPF, descreveu e

fundamentou os motivos que levaram a que, excepcionalmente, se optasse pelo regime de

Serviços a Mais.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

A questão que cumpre neste âmbito apreciar é a seguinte: a de saber se a formação e

celebração do aditamento, que visa assegurar a prestação do serviço de refeições para

além do período de vigência do contrato inicial, são conformes à lei.

Depois de uma cuidada análise do normativo do regime dos Serviços a Mais que regula

esta matéria, constatou-se que a prestação de serviços nele prevista se enquadra na

execução de um contrato em vigor. Todos os pressupostos fixados pela lei de

admissibilidade destes serviços se relacionam com um contrato em execução.

A lei faz depender a qualificação de serviços como sendo “a mais” de qualificações

relativas à própria natureza dos serviços e à sua relação com o objecto do contrato inicial.

No presente caso, o objecto do contrato inicial estava concluído, tinha sido integralmente

executado. A prestação de serviços inicialmente prevista e contratualizada tinha sido

executada por completo, tendo terminado a 31 de Dezembro de 2013. Logo, não podia

prestar-se serviços a mais, de acordo com a legislação aplicável, em execução de um

contrato cujo objecto se tinha esgotado com o fim do período de vigência.

Não é por isso admissível a realização de serviços “a mais” ao abrigo de um contrato já

extinto, e no limite, já inexistente.

Todas as demais figuras jurídicas que teoricamente se poderiam invocar para sustentar

juridicamente a formação e a celebração do instrumento contratual em causa, como por

exemplo a figura da prorrogação do contrato inicial, não se podem aplicar, pela falta de

verificação de pressupostos legalmente fixados, mas principalmente porque a razão

fundamental de impossibilidade de prestação de serviços “a mais”, se verifica sempre, que

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é o facto de o objecto do contrato inicial ter sido já integralmente executado, não sendo

necessária a prestação de quaisquer outros serviços para a respectiva conclusão.

Não colhem pois os argumentos produzidos pelo IEPF.

Assim, o presente instrumento contratual, não se podia acoitar ao contrato anterior, pois

foi o resultado de uma adjudicação directa do IEPF à Solnave, em que nem o regime de

ajuste directo foi respeitado, não se encontrando assim fundamentos de suporte a esta

solução.

A não esquecer, é o facto de nesta matéria ter de se ter igualmente presentes os princípios

gerais da contratação pública. De acordo com esses princípios, há que respeitar a

concorrência, a igualdade e a transparência no acesso aos mercados públicos, o que

implica a observância destes valores em todas as fases da formação e execução dos

contratos.

Com base nos factos e na fundamentação apresentada, conclui o Tribunal de Contas, face

ao objecto do aditamento, e bem assim, tendo em conta que o IEPF é uma entidade

vinculada ao Sistema Nacional de Compras Públicas, certos procedimentos deveriam ter

sido cumpridos, visto que o seu incumprimento gera a nulidade do contrato.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Em face do exposto, decidiram os Juízes do Tribunal de Contas, em recusar o visto ao

aditamento contratual em causa.

***

Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão: 7/2014 – 1ª Secção em Plenário

DaDaDaData:ta:ta:ta: 20 de Maio de 2014

(Recurso Ordinário n.º 09/2013(Recurso Ordinário n.º 09/2013(Recurso Ordinário n.º 09/2013(Recurso Ordinário n.º 09/2013----R)R)R)R)

(Processo de fiscalização prévia n.º 114/2013)

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FactosFactosFactosFactos

Este Recurso tem como fundamento, a recusa de visto ao acordo de colaboração

celebrado, em 5 de Julho de 2012, entre o Município de Guimarães e a Cooperativa Tempo

Livre Fisical – Centro Comunitário de Desporto e Tempos Livres, Cooperativa de Interesse

Público de Responsabilidade Limitada, para vigorar de Setembro de 2012 a 30 de Junto de

2013. O fundamento da recusa do visto adveio da violação dos normativos aplicáveis do

Código dos Contratos Públicos.

Inconformado com o Acórdão proferido pelo Tribunal de Contas em 1ª Secção em

Subsecção, em 13 de Maio de 2013, veio o Município de Guimarães pedir recurso do

mesmo, pedindo a revogação do acórdão recorrido e a concessão do visto ao acordo.

As alegações apresentadas, consistiam no facto de a solução do acórdão recorrido não

parecer passível de concretização nem na concepção do concurso; o acordo cujo visto foi

recusado parecer defender melhor o interesse público do que qualquer outra solução,

tendo o Município de Guimarães, através do acordo, procurado numa solução de parceria

ultrapassar uma situação de natural inexperiência sua na área, em beneficio da maior

competência e experiência da co-contratante, e por fim; que o incumprimento do prazo de

remessa do “acordo de colaboração” para fiscalização prévia tinha sido anteriormente

explicado, através de uma informação técnica dos serviços.

O Procurador-Geral Adjunto, junto do Tribunal de Contas, pronunciou-se no sentido da

improcedência do recurso e da confirmação do acórdão recorrido.

Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

No presente recurso importa, ao Tribunal de Contas, decidir sobre a legalidade e a

qualificação do acordo de colaboração celebrado, sobre o procedimento adoptado para a

sua celebração e sobre o respeito pelas regras de emprego público, e para isso cumpre

analisar os seguintes pontos:

Da co-contratante Cooperativa Tempo Livre Fisical:

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A Cooperativa em apreço é um régie-cooperativa , isto é, é uma cooperativa de interesse

público, em que, para a prossecução dos fins de interesse público em causa, se associam o

Estado ou outras pessoas colectivas de direito público e outros cooperadores. Este tipo de

cooperativas são unidades empresariais externas à Administração Pública.

Nessa medida, a participação do Município de Guimarães na Tempo Livre Fisical, está

sujeita ao regime das participações municipais, que regula o regime jurídico da actividade

empresarial local.

Assim, deve considerar-se que quando o Município de Guimarães contrata com a Tempo

Livre Fisical, está a contratar com um terceiro.

Do conteúdo do acordo de colaboração:

A Tempo Livre Fisical comprometeu-se a contratar os docentes necessários à leccionação

da actividade de ensino de Actividade Fisica e Desportiva aos alunos matriculados nas

escolas básicas do 1º Ciclo dos agrupamentos de escolas do conselho de Guimarães,

durante o ano lectivo de 2012/2013.

Como indicado, na modalidade adoptada, o recrutamento dos docentes em causa é

promovido pela Tempo Livre Fisical e é a mesma que come eles celebra contratos de

trabalho, não existindo por isso qualquer ligação laboral entre professores e município. O

montante da transferência financeira acordada destina-se, na sua totalidade, ao

pagamento dos vencimentos dos professores.

Das actividades de enriquecimento curricular no 1º Ciclo do ensino básico e da

competência e modo para o seu desenvolvimento:

De acordo com a legislação relativa a vínculos laborais de direito público, imperativamente

devem ser os municípios a seleccionar e contratar os docentes.

O Município de Guimarães, no sentido de sustentar a legalidade do acordo e a

desnecessidade de concorrência para o seu estabelecimento, afirmou que elegeu a Tempo

Livre Fisical como sua parceira, com o objectivo de procurar ultrapassar, através desta

solução, um situação de natural inexperiência sua na área, em benefício da maior

competência e experiência da co-contratante, como já referido nos factos. Sucede que,

com base na lei aplicável, a solução encontrada não é legal.

Deste modo, e ao contrário do defendido pelo Município de Guimarães, não lhe era

legalmente possível delegar na cooperativa, enquanto entidade terceira e parceira, a

contratação dos docentes em causa, pagando-lhe os respectivos encargos, nem utilizar os

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docentes que a cooperativa para o efeito contrata de acordo com um regime jurídico

diferente do legalmente previsto.

Da caracterização do protocolo como um contrato de prestação de serviços e da sua

submissão à disciplina do Código dos Contratos Públicos:

O acórdão recorrido considerou que o acordo de colaboração em apreço consubstancia

um contrato administrativo de aquisição onerosa de serviços sujeito ao regime constante

do CCP e, consequentemente, à necessidade de realização prévia de um procedimento

pré-contratual de natureza concursal.

Do incumprimento do regime jurídico de emprego público:

O desrespeito pela lei supra referida, é manifesto, visto que a contratação dos docentes em

causa não seguiu o regime jurídico nela estabelecido.

Do exposto, resulta que o presente acordo de colaboração é ilegal, por operar uma

delegação ou externalização de serviços que não é legalmente possível.

Assim, de acordo com normativo constante do Código Civil, é nulo o negócio jurídico cujo

objecto seja legalmente impossível ou contrário à lei, o que sucedeu no caso em apreço.

São ainda nulas as deliberações dos órgãos do município que determinem ou autorizem a

realização de despesas não permitidas por lei, o que por si acarreta a nulidade do próprio

acordo outorgado na sua sequência.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Em face do Supra exposto, acordaram os Juízes do Tribunal de Contas, em Plenário da 1ª

Secção, em negar provimento ao recurso, mantendo a recusa do visto ao contrato.

***

Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão:Número do Acórdão: 16/2014

Data:Data:Data:Data: 3 de Junho de 2014

(Processo n.º 1015 e 1059/2013)(Processo n.º 1015 e 1059/2013)(Processo n.º 1015 e 1059/2013)(Processo n.º 1015 e 1059/2013)

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FactosFactosFactosFactos

O Município de Cabeceiras de Basto remeteu para o Tribunal de Contas, e para efeitos de

fiscalização prévia dois contratos de financiamento reembolsável destinados a assegurar,

parcialmente, a contrapartida nacional de investimentos, celebrados em 5 de Fevereiro de

2013 entre aquele Município e o Estado, através do Instituto Financeiro para o

Desenvolvimento Regional.

Em 19 de Novembro de 2010, a República Portuguesa celebrou um contrato de

empréstimo-quadro, denominado QREN-EQ, com o Banco Europeu de Investimentos, com

vista ao financiamento da contrapartida nacional de operações aprovadas a co-

financiamento pelo FEDER e pelo Fundo de Coesão.

Foi atribuída ao IFDP a concessão, em nome do Estado, de financiamentos no âmbito do

mencionado QREN-EQ.

O Município de Cabeceiras de Basto candidatou-se a tal financiamento reembolsável,

apresentando o correspondente pedido, que foi aprovado pela Comissão de coordenação e

supervisão, contudo, sob a condição de o valor do financiamento ser compatível com as

obrigações orçamentais a que aquela autarquia se mostra subordinada e, nomeadamente,

a sujeição a limites de endividamento.

Em 18 de Novembro de 2012, a Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto deliberou a

contratação dos financiamentos junto do IFDR e a aprovação das correspondentes

minutas dos contratos. E mediante deliberação daquele órgão executivo municipal tomada

em 28 de Dezembro de 2012, foi autorizada a contratação dos financiamentos

reembolsáveis, a celebrar com o IFDR.

Os referidos empréstimos destinavam-se a financiar a remodelação do Centro Escolar de

Refojos II e do arranjo urbanístico do espaço a sul do Mosteiro de Refojos.

Em 11 de Fevereiro de 2014, a adiantar informações referentes ao incumprimento dos

limites de endividamento, fase de execução física e financeira dos projectos, a Câmara

Municipal, mediante ofício datado de 24 de Fevereiro de 2014, informou que apresentou e

obteve pedido de excepcionamento dos limites de endividamento para os empréstimos em

apreço, e ainda que a execução dos contratos de financiamentos encontra-se concluída,

física e financeiramente.

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Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal

Tendo em conta o presente, erguem-se as questões quanto à gestão financeira municipal e

normação reguladora e, quanto à utilização de empréstimos para acorrer ao pagamento de

despesas sobrevindas a contratos já executados, física e financeiramente.

Quanto à primeira questão, importa saber que em cada ano económico, coincidente com o

ano civil, existe um Orçamento cuja vigência se circunscreve a tal temporalidade

(anualidade), que a execução do Orçamento deverá assegurar que todas as despesas aí

previstas sejam efectivamente cobertas pelas receitas nele inscritas (regra do equilíbrio

orçamental) e, que as receitas advindas dos empréstimos a médio e longo prazo para

aplicação em investimentos devem apenas servir para garantir a cobertura das despesas

geradas por tais investimentos.

Relativamente à segunda questão, de acordo com a interpretação do supra exposto e com

a Lei das Finanças Locais, os empréstimos em causa, pressupõem por um lado, a

afectação de tal financiamento a uma necessidade pública não satisfeita, e, por outro, a

comprovada necessidade de recorrer ao referido crédito.

Reforçando o disposto no normativo da Lei das Finanças Locais, temos os princípios da

anualidade e do equilíbrio inscritos na Lei de Enquadramento Orçamental, conforme

mencionado na primeira questão.

Dos factos e da apreciação feita pelo tribunal, resulta que houve uma clara violação da Lei

das Finanças Locais. Os empréstimos em causa não financiavam, obviamente, o

orçamento dos anos 2009 e 2012, sendo estes os anos em que foram pagas as despesas

decorrentes dos investimentos previstos nos contratos e, também não se destinavam ao

pagamento das despesas resultantes dos investimentos previstos nos contratos em

apreço, porquanto estes já se encontravam pagos e, fisicamente concluídos.

Uma nota importante, apontada pelo Tribunal de Contas, é que sempre importará evitar

que empréstimos a médio e longo prazo viabilizem o suprimento de défices de tesouraria e

que, ao não serem aplicados a despesas relacionadas com os investimentos que

legitimaram a sua contratação, ofendam, os princípios do rigor e da eficiência que

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informam o endividamento autárquico e violem, também os princípios da legalidade e

estabilidade orçamental.

DecisãoDecisãoDecisãoDecisão

Com os fundamentos expostos, decidiram os Juízes do Tribunal de Contas, recusar o visto

prévio aos contratos de financiamento indicados.

***

Lisboa, 12 de Setembro de 2014

Rogério M. Fernandes Ferreira

Olívio Mota Amador

Rita Robalo de Almeida