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DIREITO PENAL VI
Denis Pigozzi
Bibliografia
GONÇALVES, Vitor Rios. Direito penal esquematizado. Saraiva.
DAMÁSIO DE JESUS. Vol. 3 e 4. Saraiva.
CAPEZ, Ferando. Vol. 3.
MASSON, Cleber. Editora Método.
STEFAN, André.
BITENCOURT
10/08/2011
Título IX
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
Este título é composto por 3 crimes:
a. Incitação ao crime, art. 286 CP
b. Apologia de crime ou criminoso, art. 287 CP
c. Quadrilha ou bando, art. 288 CP
É pacífico!!!!!
QUADRILHA OU BANDO:
- “iter criminis” (cogitação, atos preparatórios, atos executórios, consumação)
- atos executórios: determina se tentativa, desistência voluntária,
arrependimento eficaz.
- atos preparatórios: em regra não são puníveis pelo Direito Penal. Exceção:
quadrilha ou bando, mas necessita a prova de vínculo permanente e estável. É
crime autônomo.
- exaurimento: somente para fixação da pena.
- Se não há vínculo permanente e estável = art. 29 (concurso de agentes).
- Sempre que quadrilha ou bando comete crime: concurso material: art. 288 CP c.c.
art. 171 (por exemplo).
2
Lembrando...
- crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa.
- crime próprio: exigem sujeito ativo especial ou qualificado.
Pode ser: puro ou impuro.
- crime material: exige resultado naturalístico para sua consumação.
(há lesão ao bem jurídico tutelado).
- crime formal: não exige, para sua consumação, resultado naturalístico.
- crime de atividade: crime exaurido; que se contentam com atividade humana
descrita no tipo, havendo ou não resultado naturalístico.
- crime de mera conduta: delitos que não comportariam ocorrência de resultado
naturalístico, contentando-se em punir a conduta do agente.
- crime de forma livre: pode ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente.
- crime de forma vinculada: são cometidos por fórmula expressamente prevista
no tipo penal.
- crime comissivo: o verbo implica ação do agente.
- crime omissivo: cometidos por uma abstenção.
- crime omissivo impróprio / comissivo por omissão: agente tem o dever jurídico de
evitar o resultado (art. 13, §2º CP).
- crime omissivo por comissão: cometidos por abstenção, mas praticados por ação
de alguém ) ex. alguém impede (força) outrem de socorrer ferido.
- crime permanente: cuja consumação se prolonga no tempo.
- crime instantâneo: cuja consumação se dá com uma única conduta que não
produz resultado que se prolonga no tempo.
- criem de dano: se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado.
- crime de perigo comum abstrato: coloca número indeterminado de pessoas
em perigo, que é presumido pela lei.
- crime plurissubjetivo: delito que somente pode ser cometido por vários sujeitos.
- crime unissubsistente: admite sua prática por meio de um único ato.
- crime plurissubsistente: delito cuja ação é composta por vários atos, permitindo
seu fracionamento.
- crime vago: são aqueles que não possuem sujeito passivo determinado, contra a
coletividade.
3
Quadrilha ou Bando
Art. 288 CP
Quadrilha ou bando
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer
crimes:
Pena - reclusão, de um a três anos. (Vide Lei 8.072, de 25.7.1990)
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.
Objetividade jurídica: é a paz pública.
Antes de tudo, a quadrilha é um crime de perigo, pois basta a associação, ou seja, a
formação da quadrilha já é crime. Trata-se de crime autônomo em relação aos
outros crimes praticados pela quadrilha (concurso material). Se consuma com a
mera associação (deve-se provar, o que é difícil na prática).
Sujeito passivo: COLETIVIDADE.
Vale lembrar que crime vago é aquele que possui como sujeito passivo um ente
que carece de personalidade jurídica, como por exemplo, a sociedade, a
coletividade.
Atenção: não confundir crime vago com crime falho, pois este é sinônimo de
tentativa perfeita, ou seja, o agente esgotou toda fase executória do crime que não
se consuma por circunstância alheias à vontade do agente. Por fim, não confundir
crime vago com quase crime, pois este é sinônimo de crime impossível.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, lembrando que se trata de crime
plurissubjetivo, Precisa-se de, pelo menos, 4 pessoas para formar a quadrilha
(rixa = 3 pessoas, tráfico de drogas = 2 pessoas).
Considera-se menores para atingir o número de 4? Sim, pois a lei só fala em
pessoas. Assim, pode-se contar menores e até inimputáveis, porém os menores
respondem por ato infracional de quadrilha ou bando.
OBS:
- pode-se ter uma quadrilha somente de menores (ato infracional).
- não é necessário identificar todos os elementos, apenas ter certeza de que
havia, no mínimo, 4 pessoas. Por exemplo, no caso de 3 pessoas fugirem e ocorrer
a prisão de apenas 1 pessoa. Quanto maior a quadrilha, mais complexa é a
identificação de seus elementos (caso do PCC).
OBS2:
- além do número de pessoas, há uma segunda característica da quadrilha ou
bando: o vínculo associativo deve ter caráter permanente e organização.
4
- cuidado! O vínculo associativo para quadrilha ou bando é para cometer
CRIMES ou DELITOS. Portanto, não há quadrilha para cometer contravenção penal.
Lembrando....
Infração penal é gênero com 2 espécies: (i) crime ou delito, (ii) contravenção penal.
- Há diferença entre quadrilha e bando? NÃO, pois atualmente são expressões
sinônimas. Quando da elaboração do CP (1940), o Brasil era um país
essencialmente rural e assim, considerava-se que o bando praticava crimes na zona
rural e a quadrilha cometia delitos na zona urbana.
- Todos os crimes praticados pela quadrilha devem ter participação de todos os
membros? NÃO, pois até mesmo uma única pessoa pode praticar o fato, importando
que todos tenham acordo, decidido. Pouco importa quantos vão executar o crime.
Todos responderão em concurso material. Portanto, é obrigatório o art. 69 CP.
Concurso material
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido.
No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
(questão de prova!)
- A quadrilha é crime autônomo, portanto, há concurso material ou real com os
crimes praticados pela quadrilha (art. 69 CP).
- Lembrar que o concurso material é marcado pela prática de 2 ou mais condutas,
resultando no cometimento de 2 ou mais crimes, idênticos ou não.
- Lembrar que para efeito de aplicação da pena, o CP adotou o sistema do cúmulo
material, em que as penas devem ser somadas.
Classificação1
Crime COMUM, FORMAL, DE FORMA LIVRE, COMISSIVO, (excepcionalmente
omissivo impróprio ou comissivo por omissão), PERMANENTE, DE PERIGO
COMUM ABSTRATO, PLURISSUBJETIVO, PLURISSUBSISTENTE, NÃO ADMITE
TENTATIVA.
1 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado, 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 940.
5
17/8
Elementos objetivos do tipo
Associar: Significa reunião, associação, aliança de no mínimo 4 pessoas.
Lembrar mais uma vez que a associação acima dita é diferente do concurso de
agentes (art. 29 CP), uma vez que neste último não há necessidade da
comprovação do liame subjetivo ser permanente e estável, diferentemente da
“quadrilha ou bando” que tem estas características.
É óbvio que o vínculo permanente não precisa durar a vida inteira. O que importa é a
intenção da permanência.
Exemplo: 5 amigos praticam assalto: neste caso o vínculo é ocasional, traduzindo
mero concurso de agentes, ou seja, estão juntos apenas para aquele crime.
Elemento subjetivo: DOLO.
A finalidade da quadrilha é cometes CRIMES. Devem ser dolosos; não podem ser
contravenções penais, nem crimes culposos.
Cuidado! Existe também o crime de associação para o tráfico de drogas, previsto no
art. 35 da Lei 11.343/06, em que a lei exige de pelo menos 2 ou mais agentes.
A quadrilha não precisa praticar os outros crimes para existir. Basta a intenção de
praticá-los. Em outras palavras, a quadrilha é um crime autônomo, bastando ter a
finalidade de praticar os outros crimes.
Consumação e tentativa
Lembrando.....
A consumação do crime é a fase derradeira do iter criminis (o exaurimento
não faz parte do iter criminis mas é importante para a fixação da pena nos crimes
formais), por sua vez, a consumação do crime é importante por 2 motivos:
(i) de acordo com o art. 111 CP, o início da contagem do prazo
da PRESCRIÇÃO da pretensão punitiva (PPP) se dá a partir
da consumação do crime, ou seja, foi adotada a teoria do
resultado. No entanto, existem exceções a essa regra:
conforme art. 111, IV CP, nos casos dos crimes de bigamia e
nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro
civil, pois nesses casos, a mencionada prescrição começa a
ser contada da data em que o fato se tornou conhecido.
(ii) a consumação também é importante para marcar o FORO
competente de acordo com o art. 69, I CPP.
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Em relação ao momento consumativo do delito “quadrilha ou bando”, podemos dizer
que ocorre no momento da associação para a prática de crimes. Cuidado! Não se
esquecer das seguintes frases:
“Com relação ao iter criminis, a fase da cogitação não é punida pelo direito penal.”
“Em regra, os atos preparatórios não são puníveis pelo Código Penal, exceto que
já constitua crimes autônomos, como por exemplo, o crime de quadrilha ou bando.”
“Na fase da execução do crime é que ocorre, salvo as exceções acima indicadas, a
punição do crime, pelo menos a título de tentativa, desistência voluntária,
arrependimento eficaz.”
A tentativa é possível? NÃO, porque a quadrilha já é um ato preparatório para outros
crimes. Porém o legislador a considerou um crime autônomo, já tipificou um ato
preparatório.
Associar-se traduz conduta de crime permanente, que admite a prisão em flagrante
a qualquer momento, enquanto não cessada a permanência.
Lembrando.... Tentativa:
- Só cabe em crime doloso, SALVO nos casos de CULPA IMPRÓPRIA.
- Só cabe a partir dos atos preparatórios.
- A consumação é evitada por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Lembrando....
Princípios da Ação Penal Privada:
- oportunidade (só inicia se quiser),
- disponibilidade (o querelante pode desistir),
- indivisibilidade (renúncia tácita: extinção da punibilidade),
- intranscendência.
Causa de aumento de pena (art. 288, parágrafo único)
A pena aumenta em dobro quando a quadrilha ou bando for armado. Qualquer arma,
seja própria ou imprópria.
Basta que a quadrilha ou bando armado possua armas a sua disposição, não sendo
necessário seu porte. Além disso, em outra situação, basta que um dos quadrilheiros
esteja armado para a incidência de causa de aumento de pena.
“Delação premiada”
Existe “quadrilha ou bando” para a prática de crimes hediondos e equiparados.
Conforme art. 8, parágrafo único da Lei 8.072/90, existe a possibilidade do delator
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que comunica a autoridade a existência do bando ou quadrilha ter sua pena
diminuída de 1/3 a 2/3.
Por outro lado, a Lei 9.807/99, art. 14 e art. 15, prevê a possibilidade de perdão
judicial ou redução de pena ao delator, desde que preenchidos os requisitos legais
(dentre ele, primariedade).
Título XI – Parte Especial
DOS CRIMES CONTRA A ADMINSITRAÇÃO PÚBLICA
Capítulo I
Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral
Arts. 312/ 327 CP
Inicialmente, ressalta-se que os crimes dos arts. 312/326 do CP são
considerados próprios porque a lei exige uma qualidade especial do sujeito ativo
para praticá-los, no caso, ser funcionário público (= intraneus, palavra latina que
significa funcionário público)
A doutrina classifica esses crimes de “funcionais próprios e impróprios”.
Os crimes funcionais próprios são aqueles em que retirada a qualidade de
funcionário público, o fato se torna atípico (atipicidade absoluta, exemplo, crime de
prevaricação).
Os crimes funcionais impróprios são aqueles em que, retirada a qualidade
de funcionário público, ocorre a transformação para outro crime (atipicidade
relativa, exemplo: do crime de peculato, ocorre a migração para o crime de furto ou
de apropriação indébita, dependendo de posse vigiada ou desvigiada).
Lembrando.... no caso de transformação do tipo penal pelo fato do agente
provar não ser funcionário público, há mudança dos fatos. O promotor pode fazer
aditamento (5 dias) e, recusando-se, o juiz aplicará art. 384 CPP (mutatio libelli) que
remete ao art. 28 CPP (encaminhamento ao PGJ).
Funcionário público
Art. 327 CP
Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
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OBS:
PARTÍCIPE: vale o art. 30 CP, ou seja, o partícipe não-funcionário público, responde
como funcionário público, pois a qualificação está expressa no tipo penal. (exemplo
de caso contrário ao descrito: partícipe que ajuda filho a matar ascendente, pois o
tipo do art. 121 indica “alguém”. Nesse caso, não incide a agravante de “ascendente”
para o partícipe).
Art 30 CP: Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.
24/08
Funcionário público para efeitos penais
De acordo com art. 327 CP, funcionário público para efeitos penais é quem embora
transitoriamente ou sem remuneração exerce CARGO, EMPREGO ou FUNÇÃO
PÚBLICA.
Exemplo: mesário de eleição pública, jurado, estagiário, juiz, promotor.
Cargo público = é aquele criado por lei, com número certo, denominação
própria e pago por cofres públicos. Ex: promotor, juiz, delegado de polícia etc.
Emprego público = é aquele contratado pelo Estado para serviços
temporários sob o regime da CLT.
Função pública = é aquela função exercida pelos Poderes Executivo,
Legislativo, Judiciário. Ex. jurado, mesário, etc.
Atenção: “defensor dativo”
São funcionários públicos:
- peritos,
- tradutor judicial (se torna perito).
Não são funcionários públicos:
- curadores e tutores (não exercem função pública),
- inventariante, depositário, administrador judicial.
- defensor dativo (exerce função privada).
Funcionário público por equiparação
Art. 327, §1º CP §1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.
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De acordo com o art. 327, §1º CP, é aquele que exerce cargo, emprego ou função
pública em entidade paraestatal e quem trabalha para empresa prestadora de
serviço contratada ou conveniada para execução de atividade típica da
administração pública.
Paraestatal: envolve as autarquias, fundações públicas, empresas públicas e
sociedade de economia mista. Todo crime (civil e penal) praticado contra sociedade
de economia mista (ex. BB, Petrobrás) será apurado na JUSTIÇA ESTADUAL (súm.
42 STJ).
Exemplo: funcionário do BB de que tem posse comete peculado, pois é funcionário
público por equiparação.
Empresa prestadora de serviço: é a terceirização da atividade estatal nas
diferentes áreas: saúde, limpeza, concessionárias (Ecovias). Logicamente, desde
que exerçam atividade típica da administração pública. (CAI NA PROVA)
Qual é o alcance dessa equiparação?
Para concursos estaduais, seguindo entendimento majoritário da doutrina, a
equiparação restringe-se aos autores de crimes funcionais. Por sua vez, os
funcionários públicos por equiparação NÃO podem ser vítimas dos crimes
praticados contra a administração pública.
Exemplo: Funcionários do BB podem praticar peculato (ação), mas não podem ser
vítimas do crime de desacato previsto no art. 331 CP.
Por outro lado, para concursos federais com suporte em algumas decisões do
STF, a equiparação tem caráter geral, isto é, tais funcionários podem praticar e
sofrer o crime.
Exemplo: funcionário do BB pode praticar o crime de peculato e ser vítima do crime
de desacato.
Causa de aumento de pena
Art. 327, §2º
§2º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo
poder público.
A pena aumenta-se em 1/3 se o autor desses crimes ocupar:
cargo EM COMISSÃO: são cargos de confiança, assim o crime será
mais grave, pois há quebra da confiança.
direção ou função de assessoramento de órgão da administração
direta ou entidade paraestatal.
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Concurso de agentes em crime funcional
O particular responde como funcionário público, ou seja, pratica o crime funcional
desde que ele tenha conhecimento de que está agindo com um funcionário público.
Não se esquecer na regra prevista no art. 30 CP. (“não se comunicam as circunstâncias e
as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”).
(CP adotou a responsabilidade penal subjetiva – deve-se provar dolo ou culpa).
Em suma, para as circunstâncias pessoais se comunicarem é necessário:
- ser ELEMENTAR do crime.
- SABER que o comparsa é funcionário público.
CONCUSSÃO
Art. 316 CP
Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Pena: reclusão, de 2 a 8 anos, e multa.
Excesso de exação
§1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou ,
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Pena:
reclusão de 3 a 8 anos, e multa.
§2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos. Pena: reclusão de 2 a 12 anos, e multa.
Exigir propina em razão da função.
Objetividade jurídica: administração pública, envolvendo a probidade e a
moralidade administrativa.
Sujeito ativo: funcionário público (intraneus) ou terceiro partícipe (extraneus).
Sujeito passivo: coletividade.
Tipo objetivo:
EXIGIR
significa impor como obrigação, um querer coercitivo, envolve coação,
ameaça. Como veremos, na CONCUSSÃO ocorre a exigência ao passo que no
crime de CORRUPÇÃO PASSIVA é verificado a solicitação.
A ameaça, na concussão, realizada pelo funcionário público tem que ser em razão
da função que ele exerce.
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Exemplo: policial (prender, investigar); juiz (condenar); promotor (denunciar,
processar). Se a exigência não tiver ligação com a função pública, será crime de
EXTORSÃO.
Portanto, para que ocorra o crime de concussão, deve-se provar o nexo causal com
a função pública exercida.
Importante: saber diferenciar concussão e extorsão.
A ameaça pode ser:
- direta ou indireta (feita por mensageiro),
- expressa ou implícita (velada),
- fora do exercício da função ou antes de assumi-la (ex. em férias)
Objeto material
Vantagem indevida.
A natureza dessa vantagem tem que ser econômica ou patrimonial, de acordo com a
doutrina e a jurisprudência majoritárias, uma vez que a concussão é decorrente da
extorsão.
Caso a vantagem seja devida, o crime será de abuso de autoridade.
Se a vantagem for sexual, será estupro.
Tipo subjetivo
DOLO, e a vantagem deve ser para si ou para outrem.
E se a exigência for para a própria administração pública?
Responde por EXCESSO DE EXAÇÃO. Ele não pratica concussão porque a
expressão “outrem” exclui a Administração Pública, esta é vítima. No entanto, é
possível a configuração de outros crimes, tais como o de abuso de autoridade (Lei
4.898/65) e também o de excesso de exação (art. 316, §1º, CP).
31/8
Consumação e tentativa
Trata-se de crime formal ou de consumação antecipada ou de evento naturalístico
cortado porque se consuma no momento da exigência. Assim, o momento do
recebimento da vantagem é mero exaurimento. Importância prática: dosimetria da
pena.
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OBS: No momento da entrega do dinheiro não é possível a prisão em flagrante, até
porque não há o enquadramento em nenhuma das hipóteses de flagrante, sendo
possível apenas a decretação de prisão preventiva.
Lembrando......
Diferenças entre as prisões “temporária” (prevista na Lei 7.960/89) e “preventiva”, a
saber:
a) a prisão temporária NUNCA pode ser decretada de ofício; já a prisão preventiva
pode ser decretada de ofício pelo juiz (art. 311CPP);
b) a prisão preventiva pode ser decretada na fase do IP e da ação penal; já a prisão
temporária só pode ser decretada na fase do IP e NUNCA na fase da ação penal;
c) prazo: a prisão temporária tem prazo de 5 dias podendo ser prorrogada por mais
5 dias em caso de extrema gravidade, e de 30 dias prorrogáveis por mais 30 dias,
nas mesmas circunstâncias para crimes hediondos e equiparados; NÃO há prazo
para a duração da prisão preventiva.
Tentativa
É possível quando feita por escrito. Por exemplo: carta que se extravia antes de
chegar ao conhecimento da vítima. A exigência só se aperfeiçoa quando a vítima
toma conhecimento.
Por outro lado, a tentativa NÃO é possível se for praticada verbalmente, pois trata-se
de crime unisubsistente.
PECULATO
Art. 312 CP
Espécies
1. Peculato apropriação
Art. 312, caput, 1ª parte
2. Peculato desvio
Art. 312, caput, 2ª parte
3. Peculato furto
Art. 312, §1º
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4. Peculato mediante erro de outrem (“peculato estelionato”)
Art. 313
5. Peculato eletrônico
Art. 313-A, art. 313-B
Todas essas 5 são modalidade DOLOSAS.
6. Peculato culposo
Art. 312, §2º
CARACTERÍSTICAS COMUNS A TODAS AS ESPÉCIES DE PECULATO
Objetividade jurídica
É a probidade, a moralidade da administração pública.
Sujeito ativo
- Trata-se de crime próprio porque é praticado pelo funcionário público admitindo
ainda a possibilidade do particular cometê-lo em concurso de agentes com o
funcionário público (art. 30 CP).
Sujeito passivo
- é a coletividade para alguns e a administração pública, para outros.
PECULATO CULPOSO
Art. 312, §2º
§2º Se o funcionário concorre culposamente para crime de outrem. Pena: detenção, de 3 m a 1 ano.
Em breves palavras, neste crime a conduta culposa do funcionário público ajudou a
conduta dolosa de terceiro.
Ex. funcionário público esquece janela aberta e meliante entra e roupa PC.
Por sua vez, aqui não se fala em concurso de agentes por não haver
homogeneidade de elemento subjetivo (unidade de designío).
3 modalidades de culpa:
- imprudência (é a culpa de quem AGE),
- negligência (é a culpa de quem se OMITE),
- imperícia (falta de aptidão técnica para exercício de arte ou profissão).
7 elementos do crime culposo:
14
a) conduta voluntária;
- (caso a coação física seja irresistível, temos uma excludente de
tipicidade, exclui a vontade);
- caso a coação moral seja irresistível, exclui a exigibilidade de
conduta diversa e, portanto, a culpabilidade.
- caso a coação moral seja resistível, temos uma circunstância
atenuante genérica do art. 65, III, “c”.
b) resultado involuntário;
c) nexo de causalidade;
d) tipicidade (somente se previsto em lei);
e) previsibilidade objetiva;
f) ausência de previsão, SALVO na culpa consciente;
g) quebra do dever objetivo de cuidado (se manifesta pela imprudência, negligência
ou imperícia);
h) imputação objetiva.
Consumação e tentativa
- Ocorre com a consumação do crime de outrem.
- Atenção: se um terceiro é pego em flagrante quando estava saindo com o bem,
responde por tentativa de furto, enquanto o fato é atípico para o funcionário público
porque não há tentativa de crime culposo.
Reparação do dano
Art. 312, §3º
§3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue
a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
Há 2 regras para peculato CULPOSO:
a) caso a reparação ocorrer até o trânsito em julgado da sentença condenatória,
a punibilidade do réu será extinta;
b) caso a reparação ocorrer depois do aludido trânsito em julgado, a pena será
reduzida pela metade.
Atenção !!!!
A regra da reparação do dano no crime de peculato DOLOSO, segue a regra geral
do art. 16 CP, no caso, o arrependimento posterior.
- antes do recebimento da denúncia ou queixa;
- ato voluntário do agente;
- sem violência ou grave ameaça;
- reparação integral do dano ou restituição da coisa.
15
PECULATO APROPRIAÇÃO
Art. 312, caput, 1ª parte Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular de que tem a posse,
Antes de tudo: só há que se falar no crime de peculato quando o bem móvel estiver
CUSTODEADO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
Ex. policial, durante a “batida”, se apropria de celular de cidadão que estava no
banco do carro.
- Há POSSE do bem.
Tipo objetivo
APROPRIAR-SE: é fazer sua coisa alheia da qual tinha POSSE anterior.
Tem como pressuposto a POSSE FUNCIONAL DA COISA (dinheiro, valor, ou
qualquer outro bem móvel).
Na verdade, há inversão do título sobre a coisa, ou seja, a pessoa tinha a
posse e passa a ter a propriedade (animus rem sibi habendi).
14/8 – PROVA
21/9
Objeto material
Engloba o dinheiro, valor ou outro bem móvel, público ou particular.
Bem imóvel NÃO pode ser objeto de peculato.
Bem móvel é qualquer coisa que pode ser apreendida ou transportada. Ex. navio,
carro, aeronave.
Cuidado! Um chefe de repartição se serve de serviços dos funcionários públicos
subordinados para que prestem serviços a ele, NÃO caracteriza peculato, pois não
há previsão no tipo penal.
A prestação de serviço não é dinheiro, valor ou bem móvel. Trata-se de fato atípico
para peculato, com exceção dos prefeitos que cometem crimes previstos no
Decreto-Lei 201/67 que dispõe sobre a responsabilidade de prefeitos e vereadores e
dá outras providências.
PECULATO MALVERSAÇÃO
O peculato pode ter por objeto bem particular quando este estiver custodiado,
apreendido pela Administração Pública. Ex. carro apreendido.
Questão:
16
A droga apreendida no DP e posteriormente apropriada pelo funcionário público gera
peculato? Art. 33, III, Lei 11.343/06.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Tipo subjetivo
Trata-se de crime doloso e, além disso, a coisa móvel tem que ser revertida em
proveito próprio ou alheio.
OBS: se for em benefício da própria administração pública, NÃO é peculato,
podendo caracterizar o crime de emprego irregular de rendas ou verbas públicas
(art. 315, CP).
Consumação e tentativa
Ocorre a consumação no momento da apropriação que se efetiva quando o agente
começa a agir como se dono fosse do bem (pratica atos de proprietário). É até
possível falar-se em tentativa de peculato apropriação, mas na prática é muito difícil
sua ocorrência.
PECULTATO DESVIO
Art. 312, caput, 2ª parte (...) ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.
Em breves palavras, no peculato-desvio o funcionário público também tem a posse
do objeto material em decorrência do cargo. Na verdade, apresenta as mesmas
características do peculato apropriação, mudando apenas o núcleo-verbo do tipo:
“desviar”.
Tipo objetivo
Significa alterar o destino como, por exemplo, o dinheiro que era destinado à
educação ser desviado para pagar empreiteiro.
Tipo subjetivo
É o dolo de desviar em benefício próprio ou alheio.
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Consumação e tentativa
Ocorre quando a coisa chega no outro destino. A tentativa é possível quando o
desvio não se efetiva por circunstâncias alheias à vontade do agente.
PECULATO DE USO
É a figura de quem se utiliza do bem e depois o devolve. De acordo com a
jurisprudência e doutrina, essa figura do peculato de uso é atípica, em se tratando
de bem infungível, pois o agente não tem o dolo de se apropriar ou de desviar.
Porém não se pode falar em peculato de uso em bens fungíveis, pois nesses casos,
há sempre apropriação ou desvio, como por exemplo, dinheiro.
É crime ou não?
Não é crime se o bem é infungível. No caso de carro público, se discute se é bem
fungível ou infungível (posição prof. Denis e prof. James). Nesse caso, pode-se
enquadrar pela apropriação da gasolina.
Gasolina: há que entenda (MP) que é crime, pois se trata de coisa fungível. Ao
contrário, há quem entenda (Defensoria Pública) que o fato é atípico.
PECULATO FURTO
Art. 312, §1º
§1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor
ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de
facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Quem pratica peculato furto?
É o funcionário público que NÃO tem a posse do bem, portanto, ele subtrai este. Ao
contrário, se o funcionário público tiver a posse do bem, configura-se peculato
apropriação ou desvio.
Elementos objetivos do tipo
Subtrair: significa tirar da esfera de disponibilidade.
Concorrer dolosamente para que seja subtraído: significa facilitar, ajudar a
subtração do outro (terceiro). Exemplo: deixar a porta aberta, fornecer a senha ou
crachá, etc.
Ambos responderão por crime de peculato furto, mesmo que o terceiro seja
particular (art. 30, CP).
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Importante: “elementar” vem de elemento, essência. Na verdade, elementar é todo
componente essencial da figura típica sem a qual esta desaparece ou se transforma
em outra (atipicidade absoluta ou relativa). Geralmente, as elementares estão no
caput do artigo, mas também podem estar inseridas nos parágrafos como, por
exemplo, quando o CP assim dispõe: “aplica-se a mesma pena....”.
Ex. Art. 155, CP - não é elementar.
Art. 312, §1º, CP - é elementar.
Valendo-se da facilidade que lhe proporciona... : se praticar o furto SEM
se valer da facilidade, responde pelo crime de furto do art. 155, CP.
Tipo subjetivo
Crime doloso acrescido de uma finalidade especial (elemento subjetivo específico do
tipo) consistente em que o bem seja revertido em proveito próprio ou alheio.
Consumação e tentativa
Ocorre quando o funcionário público subtrai ou 3º pratique tal conduta. Exige-se que
a posse seja tranquila e vigiada.
Tentativa é possível quando a subtração não se verifica por circunstâncias alheia à
vontade do agente.
PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM
Art. 313
Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de
outrem;
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
É impropriamente conhecido como peculato estelionato (art. 171, CP). Na visão de
grande parte da doutrina, a denominação de peculato estelionato não está correta
porque não estão presentes os requisitos do estelionato. Se o funcionário público se
utilizar uma fraude para enganar alguém, ele cometerá estelionato.
Tipo objetivo
Apropriar-se: neste crime, terceiro errou e após isso o funcionário se
apropria. Hoje os pagamentos são feitos no estabelecimento bancário, dificilmente o
pagamento é feito em órgãos públicos para o funcionário público. Desta forma, o tipo
penal perdeu relevância.
28/9 – correção da prova.
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5/10
PREVARICAÇÃO
Art. 319, CP
Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa
de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
A prevaricação é um crime subsidiário, ou seja, só configura o artigo 319, CP
se não houver sucesso na caracterização da corrupção passiva (art. 317, CP) ou
concussão (art. 316, CP). Segundo expressão de Nelson Hungria, trata-se de
“soldado de reserva”.
Objetividade jurídica
Administração pública.
Sujeito ativo
Funcionário público (crime próprio).
É possível concurso de agentes na prevaricação apenas a título de participação.
Podemos ainda dizer que a prevaricação é um crime de mão própria, pois somente
pode ser
Ambas as condutas omissivas vêm acompanhada de um elemento
normativo do tipo (depende de um juízo de valor do magistrado). No caso, tal
elemento se refere à palavra “indevidamente”.
Na verdade, deve se verificar se houve ou não justa causa para tal
comportamento. Assim, .... só será a conduta sem justo motivo.
Ainda dentro desse tópico, temos a conduta “praticar” aliás, comissiva.. Tal
conduta também vem acompanhada de outro elemento normativo do tipo, no
caso, “contra a lei”.
Objeto Material
É toda a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do agente.
É importante destacar que a maioria dos crimes tem objeto material, salvo
algumas exceções como, por exemplo, ato obsceno (art. 233, CP) e o de falso
testemunho (art. 342, CP).
Vale lembrar que objeto material impróprio diz respeito ao crime impossível ou
quase-crime, que leva à atipicidade do fato.
No caso da prevaricação, o objeto material é o ato de ofício (ato que está
dentro do rol de atribuições do funcionário público).
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Exemplo: fiscal do IBAMA deixa amigos pescarem na época da piracema.
Tipo subjetivo
NÃO pode ser praticado na forma culposa porque não há previsão legal.
Dessa forma, só é punido a título de DOLO, acrescido do elemento subjetivo
específico do tipo, traduzido pela expressão “para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal”.
Exemplo: “A teve dolo de privar a liberdade de B”.
Pode ser tipificado: sequestro + cárcere privado (art. 148, CP)
Pode ser tipificado: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP),
nesse caso, o tipo estabelece um fim específico.
OBS
- “sentimento pessoal” é uma relação de afetividade ou falta de afetividade entre
as pessoas. Exemplos: amizade, ódio, amor, vingança.
- “interesse pessoal” é qualquer vantagem, inclusive a moral,
ressaltando que se a vantagem for econômica, pode ser caracterizado os crimes de
corrupção passiva ou concussão.
Exemplo: um funcionário agiu para obter uma vantagem a terceiro (o interesse pode
ser pessoal, e a vantagem de 3º pessoa).
Consumação
No momento da omissão ou da prática do ato. Basta que o agente queira satisfazer
sentimento ou interesse pessoal, ele não precisa conseguir (crime formal).
Tentativa
NÃO se admite nas condutas omissivas, lembrando que a prevaricação é um
crime omissivo próprio, ou puro. É aquele em que já está definido no CP como tipo
penal autônomo.
É possível a ocorrência de tentativa embora na prática seja difícil de ocorrer,
apenas da conduta COMISSIVA (no caso, “praticar”).
Lembrando...
Os crimes impróprios ou comissivos por omissão (não é o caso em tela) são aqueles
em que há necessidade da presença de uma norma de extensão, no caso o art. 13,
§2º , CP para o perfeito enquadramento da conduta ao tipo penal, uma vez que em
tais hipóteses deste artigo estão mencionados exemplos jurídicos de agir.
Foi adotada a teoria normativa da omissão. Nesse caso, o omitente SEMPRE
responde pelo resultado.
Por sua vez, o crime omissivo impróprio admite TENTATIVA.
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CUIDADO !!!!!!
O superior hierárquico que deixa de punir o inferior hierárquico por, amizade,
piedade etc comete o crime condescendência criminosa do artigo 320, CP.
Condescendência criminosa
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração
no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da
autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA
Art. 319-A
Deixar o Diretor e Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho eletrônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com ambiente externo;
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano.
Foi introduzido no CP pela Lei 11.466/2007.
Objetividade jurídica (objeto jurídico)
Administração pública.
Sujeito ativo
É o diretor da penitenciária ou agente público que lá atue (crime próprio).
OBS
O particular que ingressa com o celular ou pratica outras condutas típicas incorrerá
no crime do art. 349-A. Trata-se de exceção pluralista à teoria monista.
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho
telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em
estabelecimento prisional.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Sujeito passivo
Estado e a coletividade.
Elementos objetivos do tipo
- “deixar de cumprir seu dever vedar”: o agente deixa de fiscalizar, de revistar.
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- “penitenciária”: para a maioria dos autores, tal expressão está no sentido amplo,
ou seja, engloba qualquer estabelecimento penal. (Penitenciária engloba CDP -
Centro de Detenção Provisória).
- “aparelho”: qualquer aparelho que tenha condições de permitir a
comunicação, não precisando ocorrer.
- os acessórios por si só (ex. bateria) não configuram crime.
Lembrando...
- regime fechado = penitenciária de segurança máxima ou média.
- regime semi-aberto = colônia penal rural
- regime aberto = casa do albergado.
Consumação
Não há necessidade de efetiva comunicação do preso, basta que o aparelho tenha
entrado no estabelecimento penal. Assim, a consumação se dá com a OMISSÃO do
agente público.
Tentativa
NÃO é possível por se tratar de crime omissivo próprio.
OBS: Se o funcionário recebe dinheiro, comete o crime de corrupção passiva (art.
317, CP) e não o de prevaricação imprópria, aliás, crime subsidiário.
CORRUPÇÃO PASSIVA
Art. 317
Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa para tal vantagem;
Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
CORRUPÇÃO PASSIVA (art. 317) - solicitar, receber, aceitar.
Funcionário Público (solicitar) – corrupção passiva. Terceiro (pagar) – NÃO comete crime.
CORRUPÇÃO ATIVA (art. 333) - oferecer, prometer
Terceiro (oferecer) – art. 333 Funcionário Público (receber) – art. 317 - ambos cometem crime. Terceiro (oferecer) – comete crime – art. 333 Funcion. Públ. (recusar) = NÃO comete crime.
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- 3 verbos: solicitar, receber, aceitar.
- Resultado naturalístico (modificação que ocorre no mundo dos fatos)
- crime material: tem e é imprescindível
- crime formal: tem resultado naturalístico, mas é prescindível.
- crime de mera conduta: não tem resultado naturalístico.
- Nesse caso: as 3 condutas são crime formal E o exaurimento do crime é causa de
aumento de pena (3ª fase de fixação da pena).
- Antes de tudo, conforme já estudado, no crime de concussão (art. 316, CP), quem
concede a vantagem NÃO pratica crime (não há bilateralidade entre as condutas do
funcionário público e do particular).
- No crime de corrupção passiva ocorre um negócio entre as partes; há um acordo
de vantagens, em que podemos ter 2 crimes: no caso, o de corrupção passiva, art.
317, CP e o de corrupção ativa, art. 333, CP. (pode haver bilateralidade entre as
condutas do funcionário público e do particular).
QUESTÃO
É correto falar que toda vez em que há o crime de corrupção passiva também
haverá o delito de corrupção ativa?
NÃO, pois quando a iniciativa da conduta for do funcionário público
(“solicitar”), somente haverá o crime de corrupção passiva, mesmo que o particular
pague a propina pedida.
Ao contrário, quando a iniciativa da conduta for do particular (“oferecer”,
“prometer vantagem indevida”), podemos ter a prática dos 2 crimes acima citados
desde que o funcionário público receba ao aceite a promessa de tal vantagem.
É lógico que se houver rejeição por parte do funcionário público, apenas
haverá o crime de corrupção ativa do art. 333, CP.
Vale ressaltar que a ocorrência dos dois crimes mencionados, configura
exceção pluralista à teoria monista. Na TEORIA MONISTA, adotada em regra pelo
CP, todos os criminosos, sejam coautores ou partícipes, respondem pelo mesmo
crime; já na teoria pluralista, cada um dos criminosos deve responder por um crime
diferente, como por exemplo, o caso aqui tratado e os crimes dos art. 124 e 126, CP,
cometidos, respectivamente, pela gestante que dá o consentimento e terceiro que
pratica as manobras abortivas. (cai na prova!).
Elementos objetivos do tipo
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- “solicitar”: pedir, NÃO tem ameaça nem exigência.
- “receber”: entrar na posse.
- “aceitar promessa”: concordar com a proposta.
Tal como na concussão, no crime de corrupção passiva, a conduta praticada
pode ser direta ou indireta, e pode ser realizada fora do exercício da função ou antes
de assumi-la, mas em razão dela (vantagem indevida).
Em breves palavras, no crime de corrupção passiva, o funcionário recebe
dinheiro para cumprir ou deixar de cumprir o seu ato funcional.
A doutrina classifica a corrupção passiva em: própria e imprópria:
Corrupção própria: solicita, recebe ou aceita vantagem para praticar ou
deixar de praticar ato desconforme sua atribuição funcional.
Corrupção imprópria: o funcionário público solicita, recebe ou aceita
vantagem para fazer ou deixar de fazer o que é de sua atribuição. Exemplo:
investigador de polícia que recebe dinheiro para procurar carro roubado.
Exceções
- RECOMPENSA: o recebimento de recompensa por parte do funcionário público
não acarreta crime porque tem caráter genérico. Não se confunde com o
oferecimento direto ao funcionário que configura crime de corrupção passiva porque
perde a característica de generalidade da recompensa.
- PRESENTE DE FINAL DE ANO: o recebimento de presente de pequeno valor, a
título de agradecimento por parte do funcionário público NÃO é crime desde que
seja justificado e não ultrapasse o valor de 1 salário-mínimo.
IMPORTANTE
Quando a questão for tributária, fiscal o crime é o do artigo 3º, II da Lei 8.137/90
(crime funcional contra a ordem tributária). Neste dispositivo, a corrupção passiva e
a concussão estão unidas (“exigir” e “solicitar”).
Consumação e tentativa
A corrupção passiva se consuma com a prática com qualquer uma das 3
condutas. Na verdade, trata-se de um crime de ação múltipla ou de conteúdo
variado ou tipo misto alternativo porque a violação de mais de um núcleo-verbo do
tipo, desde que no mesmo contexto fático, implica no cometimento de um só crime.
O crime é formal, nas 3 condutas (solicitar, receber, aceitar) porque o
resultado naturalístico do crime é o que o funcionário vai fazer ou deixar de fazer (é
a contrapartida do funcionário – ação ou omissão) (não é o recebimento da
vantagem). Porém NÃO se exige a OCORRÊNCIA desse resultado para o crime
estar consumado.
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Na verdade, caso ocorra o resultado naturalístico, ou seja, se o funcionário
retardar ou deixar de praticar ato de ofício ou praticar infringindo dever funcional,
temos o exaurimento do crime que, nesse caso, gera causa de aumento da pena
(conforme art. 317, §1º, CP).
Tentativa
É possível, excepcionalmente, se a conduta for escrita (carta) e esta se extraviar
antes de chegar ao destinatário.
Prisão em flagrante
É possível ocorrer prisão em flagrante no momento do recebimento da vantagem
porque se trata de conduta típica (“receber”). Diferentemente da concussão, salvo se
houver reiteração no momento do recebimento.
Elemento subjetivo do tipo
É o DOLO acrescido de uma FINALIDADE ESPECIAL (elemento subjetivo do tipo),
pois a vantagem tem que ser para o próprio funcionário público ou 3ª pessoa.
CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA
Art. 317, §2º
- não tem dinheiro envolvido.
- alguém influente pediu e o funcionário aceitou ou atendeu à influência de outrem.
Na corrupção passiva privilegiada, NÃO SE FALA EM VANTAGEM INDEVIDA (caso
do caput).
05/10
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO GERAL
CRIME DE RESISTÊNCIA
Art. 329, CP
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente
para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
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Ex1. mula que deu dedada em agente da polícia federal que deu voz de prisão por
tráfico. Responde por tráfico, resistência e agravada.
Ex2. 4 policiais tentam prender o meliante que recebe a tiros. Trata-se de 1 crime de
resistência e 4 tentativas de homicídio.
Ex3.meliante foge para escapar de prisão. Não é crime.
Ex4: 3º se opõe à prisão de acusado. 3º comete resistência.
Objetividade jurídica
Protege-se a autoridade, o prestígio da administração pública.
Sujeito ativo
Qualquer pessoa, inclusive funcionário público.
A resistência pode ser praticada por 3ª pessoa, isto é, pode se opor à execução de
ato legal, mesmo que este ato não recai sobre ele. (ex. esposa que se opõe à prisão
do marido).
Sujeito passivo
A vítima é o Estado. O funcionário que sofre a violência ou ameaça também pode
ser vítima, mas é uma vítima secundária (pode atuar como assistente de acusação
para eventual reparação do dano, conforme art. 268/273 do CPP).
Lembrando..... vítima não presta compromisso de dizer a verdade, apenas as
testemunhas (art. 203, CPP).
Tipo objetivo
- “OPOR-SE”: significa querer impedir a realização do ato. As formas de
oposição são a violência e a ameaça (não precisa ser grave, a ameaça – promessa
de um mal sério e realizável).
- resistência passiva NÃO é crime como por exemplo quando a pessoa corre, diz
que não será presa. É a resistência sem violência e sem ameaça. Não caracteriza
nem mesmo crime de desobediência e evasão.
- a violência ou ameaça têm que ser contemporânea ao ato. Se o indivíduo já está
preso e tenta fugir com violência, NÃO é resistência porque o ato já foi praticado.
Nesse sentido, a oposição sempre ocorre ANTES ou no momento do ATO,
NUNCA DEPOIS.
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- Exemplo: 4 policiais vão realizar uma prisão e são recebidos a tiros: temos a
prática de 1 só crime de resistência. A resistência se conta pelo número de atos e
não de funcionários;
- “ATO LEGAL”: o ato tem que ser formal e materialmente legal. Dessa forma,
se o ato for ilegal, não configura crime de resistência. Ex. ordem de busca e
apreensão emitida por delegado. Não é ato legal (busca e apreensão é mandado
judicial).
Tipo subjetivo
Crime DOLOSO, ou seja, há a necessidade de querer impedir a execução do ato.
Consumação (pergunta de prova!)
Ocorre no momento da prática de violência ou ameaça (pode ser leve!).
A pessoa não precisa conseguir impedir o ato, basta opor-se a ele mediante
violência ou ameaça.
Havendo exaurimento (o ato legal não se realiza) estará caracterizada a
qualificadora do §1º.
Portanto, trata-se de crime FORMAL.
Lembrando.....
O exaurimento não faz parte do iter criminis, sendo este composto pelas fases da (i)
cogitação, (ii) atos preparatórios, (iii) atos executórios, (iv) consumação.
O exaurimento do crime tem reflexos na pena de crimes formais, podendo
caracterizar as seguintes situações:
a- aumento da pena base (1ª fase);
b- causa de aumento de pena (art. 317, §1º, CP ; 3ª fase);
c- qualificadora (art. 329, §1º, CP).
Tentativa
É possível. Só não será admitida quando a ameaça é verbal.
§2º
- aplica-se a pena da resistência acrescida do que decorrer da violência.
- Exemplos: - resistência + violência
- resistência + morte (Tribunal do Júri)
- resistência + tentativa de homicídio (4 policiais recebidos com tiro = 1
só crime de resistência cc. 4 tentativas de homicídio).
- Só haverá a soma prevista do art. 329, §2º, quando for VIOLÊNCIA, já a ameaça
está absorvida pelo tipo da resistência.
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- Para a jurisprudência também ficam absorvidos pela resistência: desacato,
desobediência e vias de fato (contravenção penal).
CRIME DE DESOBEDIÊNCIA
Art. 330
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
- Trata-se de crime de menor potencial ofensivo (IMPO) porque a pena máxima em
abstrato não é superior a 2 anos, sendo cabível a TRANSAÇÃO PENAL desde que
preenchidos também o requisitos subjetivos.
- O instituto da transação penal mitigou o princípio da OBRIGATORIEDADE da Ação
Penal Pública.
- Fazendo um comparativo com a transação penal, o sourcis processual ou
suspensão condicional do processo, do art. 89 da Lei 9.099/95 para o autor de crime
cuja pena mínima em abstrato não seja superior a 1 ano e desde que o reu também
preencha os requisitos subjetivos.
- Mitigou o princípio da INDISPONIBILIDADE da Ação Penal Pública.
- Não confundir com sourcis processual com sourcis, pois este é a suspensão da
execução da pena imposta e tem as seguintes espécies: (i) simples; (ii) especial; (iii)
etário; (iv) humanitário.
Objetividade jurídica
- o prestígio e a autoridade da Administração Pública.
Sujeito ativo
Qualquer pessoa.
O funcionário público NÃO pratica desobediência no exercício de suas funções. Ele
pratica prevaricação.
No entanto, assim diz o STF: “funcionário público pratica crime de desobediência
quando ele descumprir ordem judicial da qual é destinatário. Caso contrário, será
crime de prevaricação e não desobediência.
Sujeito passivo
Estado (gestor da Administração Pública).
Exemplo clássico: gerente de banco que se recusa a fazer penhora em conta de
cliente obedecendo ordem judicial.
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Exemplo: MP determina ao delegado a instauração de IP. Delegado se recusa,
praticando crime de prevaricação (MP não é juiz!).
19/10
26/10
9/11
16/11
23/11 – PROVA