DocumentU1

CRC

Caderno de Referncia de Contedo

1. INTRODUO

Prezado aluno, agora iniciamos o nosso estudo sobre o futebol.

Este Caderno de Referncia de Contedo (CRC) foi elaborado no sentido de facilitar a compreenso crtica e o domnio dos mais variados aspectos que envolvem o futebol, especialmente aqueles que influenciam, direta ou indiretamente, sua prtica dentro do ambiente escolar durante a Educao Bsica.

Dificilmente conseguiremos tratar o futebol unicamente como modalidade esportiva. Tal constatao poder ser compro-vada por meio do acesso s seis unidades organizadas.

Na Unidade 1, intitulada Origem e Histria do Futebol, preo-cupamo-nos em mostrar o possvel caminho (ou os possveis cami-nhos) que o futebol percorreu a partir de alguns potenciais jogos precursores na Antiguidade e Idade Mdia, at o advento do deno-minado "futebol moderno" na Inglaterra no sculo 19.

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Centro Universitrio Claretiano

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No Brasil, optamos em contar sua histria a partir do momento em que o futebol moderno chegou trazido pelas mos do "lendrio" Charles Miller, em 1894. Enfatizamos sua prtica elitista e racista nas primeiras dcadas do sculo 20, bem como os processos de populari-zao e profissionalizao do futebol em nosso Pas.

Na Unidade 2, intitulada Futebol, Cultura e Sociedade, trata-mos o futebol como fenmeno moderno, paixo nacional e mani-festao esportiva e cultural com suas influncias e implicaes na vida pblica e poltica do pas.

Na Unidade 3, buscamos apresentar toda a estrutura do Jogo de Futebol, desde sua proposta como simples modalidade esportiva, at sua caracterizao como um jogo extremamente complexo sustenta-do por unidades estruturais e funcionais, regras e elementos tcnicos.

Na Unidade 4, abordaremos O Futebol na Escola. A nossa preocupao esteve centrada nos possveis contedos a serem tra-balhados nas aulas de Educao Fsica, no prprio ensino do jogo, em alguns princpios pedaggicos e na organizao das aulas. Ob-jetivamos, por meio dos contedos dessa unidade, auxili-lo em suas primeiras experincias com o ensino do futebol.

Diante da complexidade do jogo de futebol, preciso "dividi-lo" em unidades menores para que os nossos alunos tenham condies de passar por experincias que permitam seu aprendizado. Assim, na Unidade 5, apresentamos algumas Metodologias de Ensino do Fute-bol, cuja compreenso poder possibilitar o desenvolvimento ade-quado do jogo.

Para finalizar, na Unidade 6, intitulada Trabalhando o Fute-bol por Meio de Temas, destacaremos o futebol feminino, o papel das torcidas organizadas e suas relaes com a violncia no fute-bol. Esses temas, bem como os demais contedos desenvolvidos nas demais unidades, demonstram o "tamanho" do futebol e suas possibilidades no universo escolar.

Esperamos que aproveite o que preparamos para voc.

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2. ORIENTAES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA

Abordagem Geral da DisciplinaProf. Ms. Flvio Ismael da Silva Oliveira

Neste tpico, apresentamos uma viso geral do que ser estudado nesta disciplina. Aqui, voc entrar em contato com os assuntos principais deste contedo de forma breve e geral e ter a oportunidade de aprofundar essas questes no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento bsico necessrio a partir do qual voc possa cons-truir um referencial terico com base slida cientfica e cultural para que, no futuro exerccio de sua profisso, voc a exera com competncia cognitiva, tica e responsabilidade social. Vamos co-mear nossa aventura pela apresentao das ideias e dos princ-pios bsicos que fundamentam esta disciplina.

Apresentamos, a seguir, um apanhado geral do que ser traba-lhado na disciplina Futebol. Todo o contedo elaborado para seu de-senvolvimento est dividido em seis unidades e organizado de forma que possa facilitar sua compreenso e, consequentemente, sua fu-tura interveno, com base na responsabilidade e tica profissionais.

Antes da descrio do contedo a ser abordado, assumimos que o futebol apresenta caractersticas nicas que pode diferenci-la das demais modalidades esportivas que compem o quadro de disci-plinas desse Curso de Licenciatura em Educao Fsica. Pretendemos que, ao final dessa apresentao, voc tenha ideia de possveis razes que tornam o futebol uma disciplina diferente e extremamente ne-cessria para a formao do professor de Educao Fsica no Brasil.

Para que uma determinada disciplina ocupe uma posio pri-vilegiada diante das demais, evidente que ela tenha uma histria que a justifique como tal. Diferentemente das principais modalida-des, h fortes indcios de que o futebol produto da evoluo de vrios jogos, em vrios momentos histricos.

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exatamente essa evoluo iniciada, provavelmente, a par-tir da prtica de alguns jogos com bola na Antiguidade, passando pela sua institucionalizao na Inglaterra em meados do sculo 18 e culminando em sua profissionalizao no Brasil na dcada de 1930, que est destacada na primeira Unidade.

O tsutchu na China, o kemari no Japo, o epyskiros Grcia, o harpastum em Roma, o ludus pilae na Inglaterra (Idade Mdia), o calcio em Florena e o soule na Frana contm, cada um sua maneira e cada um em seu tempo histrico, elementos que sus-tentam as coincidncias com o jogo, transformando-o at alcanar o esporte nos moldes que foi praticado na Inglaterra a partir do sculo 18. Todos esses jogos apresentam significados social e cul-tural que, tal como o futebol, reforam sua importncia nos con-textos citados.

Assim, a Unidade 1 tem como objetivo possibilitar o acesso histria do futebol por meio da compreenso das condies hist-ricas determinantes para sua trajetria.

Apesar de ser forte essa argumentao da evoluo do fu-tebol baseada em todos esses jogos, h correntes que defendem que os ingleses so os inventores do futebol, pois foram eles que regulamentaram o jogo.

Independentemente da vertente a ser assumida, o futebol, em meados do sculo 18 e incio do sculo 19, cruzou os muros das escolas da Inglaterra e, posteriormente, "caram na graa" dos ingleses.

Trazido com a estrutura de esporte moderno pelas mos de Charles Miller, em 1894, o futebol no demorou muito para ser adorado pelo brasileiro. No incio do sculo 20, sua prtica era pre-dominantemente elitizada e racista. Com o crescente interesse da populao pela prtica do futebol e pela intensificao dos inte-resses de profissionalizao, esse quadro comeou a ser alterado e passamos a observar o processo de democratizao do esporte mais presente.


O advento do esporte moderno, caracterizado pela sua "mas-sificao" e o processo de democratizao que o futebol passou, certamente justificam o quadro de "paixo nacional" e "fenmeno social". Seu componente ldico, sua representao da maneira de ser do brasileiro, o clima, a facilidade com que pode ser realizado, o fato de ser praticado predominantemente pelos ps, so outras possveis razes que o justificam como tal. Assim, os objetivos dessa unidade esto direcionados importncia do futebol para a sociedade vigente, possibilitando momentos de reflexo sobre os conhecimentos do futebol.

O fato de ser considerado manifestao cultural fez o fute-bol ser facilmente utilizado como instrumento de grupos e classes sociais. Como consequncia da utilizao da "fora" do futebol, em determinados momentos histricos e poltico do Brasil, esse passou a ser tachado como "pio do povo brasileiro". Toda mo-vimentao em torno, por exemplo, da Copa do Mundo de 1970, sempre foi bastante utilizada no sentido de ilustrar que o governo se preocupou em utilizar o evento para desviar a ateno da po-pulao do momento difcil que o Brasil passava devido ditadura militar. O que mais importava naquele momento grande massa era a participao da seleo no evento.

Como j destacado, a evoluo histrica e os processos de democratizao, profissionalizao e modernizao do esporte fa-cilitaram muito a forma com que o futebol passou a ser vivenciado em nosso pas, transformando-o em uma das nossas principais re-ferncias.

Deixando um pouco de lado questes sociais e culturais, fo-caremos, de agora em diante, a estrutura do jogo. Que jogo esse? Como poderamos nos apropriar dele no sentido de caracteriz-lo e utiliz-lo da melhor forma possvel?

Para muitos, o futebol um jogo praticado com os ps por duas equipes, cujo objetivo fazer mais gols que a equipe adver-sria. Diante da complexidade da sua estrutura, tal caracterizao

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configura-se como simplista. Com isso, necessitamos incluir em sua explicao a ideia de duas equipes que "medem" foras, pela cooperao e oposio, durante a disputa do objeto de jogo que a bola, dentro de determinado espao em respeito aos demais jogadores e s regras especficas do jogo.

Para que essa disputa pela bola e as relaes estabelecidas de oposio/cooperao, como tambm os espaos do jogo sejam preenchidos adequadamente, e as situaes de ataque e defesa da equipe sejam equilibradas, consideramos importante a utiliza-o adequada e consciente dos elementos tcnicos (o que fazer?) e dos elementos tticos (como e quando fazer?).

Os elementos tcnicos do jogo esto relacionados s tarefas motoras associadas, por exemplo, ao passe, conduo e contro-le de bola, chute, cabeceio etc. Por sua vez, comportamento tti-co est relacionado realizao de tarefas especficas no sentido de potencializar as prprias aes de jogo e dificultar as aes da equipe adversria. Para isso, ser necessrio o aprofundamento das unidades estruturantes e funcionais dos jogos desportivos co-letivos propostos por Claude Bayer.

As unidades estruturantes referem-se s estruturas invarian-tes comuns a todos os jogos coletivos bola, espao, alvo, parcei-ros, adversrios e regras. Todas as modalidades coletivas apresen-tam tais invariantes. J as unidades funcionais definem campos de aes dos jogadores dependendo da posse da bola quando mi-nha equipe est de posse da bola, atacamos; quando minha equi-pe est sem a posse da bola, defendemos. Para o sucesso em cada uma dessas situaes, h aes especficas.

Somente pela sua compreenso e adequada utilizao do jogo, esse poder ser ensinado. Nesse contexto, o conhecimento das regras do jogo imprescindvel. Essas tm como funes pro-teger os jogadores, "proteger" o jogo e permitir que o mesmo seja praticado em qualquer lugar do mundo. Alm disso, seu controle permite adequao do jogo em minijogos e jogos adaptados no


sentido de atender s necessidades especficas que, certamente, surgem em nossas aulas.

Apesar da proposta de "proteo do jogo", enfrentamos um problema considervel hoje relacionado obedincia s regras. Com a modernizao, o envolvimento da televiso e a movimenta-o cada vez maior de dinheiro no esporte, os participantes desse sistema perceberam que a transgresso s regras so permitidas e valem a pena. Como podemos ento defender, perante um sis-tema de recompensa considervel, que o fair play desejado no contexto de esporte espetculo?

Aps a compreenso da proposta do jogo, especificamos as formas que esse poder ser praticado. De acordo com Damo (2005), a aplicao do futebol respeita quatro matrizes futebols-ticas a espetacularizada, a comunitria, a bricolada e a escolar.

A espetacularizada caracterizada pelas aes instituciona-lizadas das federaes e confederaes na organizao do jogo; pela diviso social do trabalho, na qual se determina quem joga, quem assiste e quem dirige o espetculo; pela excelncia perfor-mtica a qual exige preparao especfica em qualquer rea de atuao esportiva jogadores, tcnicos, mdicos etc.

A matriz comunitria, por sua vez, tem uma organizao em menor escala que a matriz espetacularizada, porm mais voltada ao lazer. A matriz bricolada desenvolvida pela prtica informal por meio de adaptaes s regras, nmero de jogadores, tamanho das metas e dos espaos. Para ilustrarmos tais situaes, recorre-mos lembrana dos famosos jogos populares de rua com bola rebatida, gol a gol, entre outros.

Sabemos que a escola configura-se como um espao nico e legtimo, repleto de possibilidades, cujos contedos a serem trabalhados so inmeros e variados, na qual se deve priorizar o patrimnio ldico do aluno na criao de vivncia e obstculos. Assim, nesse "espao" prioriza-se a matriz bricolada.

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A matriz escolar, para finalizar, configura-se como o nosso prin-cipal foco: de responsabilidade de profissionais licenciados sob orientao e superviso de instituies de ensino pblicas e privadas.

A Unidade 3 permitir a compreenso do jogo enquanto mo-dalidade esportiva, bem como sua estrutura em toda sua amplitu-de, o que poder garantir o sucesso na sua utilizao.

J a Unidade 4 comportar a compreenso da relao fute-bol/escola e aquisio de competncias, significados e possibilida-des pedaggicas.

Finalmente, adentramos os "muros" da escola. Durante mui-to tempo defendeu-se que a criana j nascia sabendo jogar fu-tebol. Os no privilegiados no teriam como aprender a jogar tal como seus dolos.

No entendimento de Joo Batista Freire (2003), possvel, sim, ensinar, e ensinar bem a todos os alunos e fazer com que es-ses reconheam e gostem do futebol. O cuidado deve estar centra-do nas tarefas de iniciao, especializao e competio esportiva. O primeiro, sim, deve ser procurado e estimulado. Porm, o segun-do, dependendo, por exemplo, da idade e do nvel de experincia, deve ser evitado, alm da no exigncia de execuo de gestos mecanizados, sem nenhum sentido ao executante.

As competies tambm devem se configurar como estra-tgias que merecem certo cuidado. Essas no podem ser um fim em si mesmo e devem ser aproveitadas na construo de valores e no de afastamento da prtica esportiva. Princpios pedaggicos e utilizao de estratgias de formao de equipes mistas tambm so destacados na unidade.

Sendo o jogo um contedo privilegiado, o seu ensino deve estar centrado em unidades que permitam a compreenso, apren-dizagem e participao adequadas.

A partir da Unidade 5, temos a oportunidade de analisar algu-mas das principais metodologias de ensino do futebol. Seu contedo


contempla as metodologias analtico-sinttica, global-funcional, mis-ta, conceito recreativo de jogo, situacionais e fenmeno-estrutural.

Durante muitos anos e ainda nos dias atuais, as metodolo-gias denominadas de tradicionais analtico-sinttica e global-fun-cional predominam entre as propostas de ensino das modalida-des esportivas coletivas.

A primeira, tambm denominada de parcial, defende a ideia de que o jogador aprende a jogar aps automatizar os gestos mo-tores relacionados execuo dos elementos tcnicos da modali-dade. A segunda, tambm denominada de global, defende a pro-posta de que somente se aprende a jogar "jogando". Enquanto a metodologia parcial apoia-se em sries de exerccios isolados, a global se apoia em jogos e minijogos adaptados.

Com a inteno de minimizar os problemas de ambas as meto-dologias, assumiu-se o mtodo misto que se configura pela utilizao, simultnea, das propostas parcial e global. Geralmente na primei-ra parte da aula, o aluno realiza exerccios separados e, na segunda parte, eles jogam. O jogo final normalmente utilizado para avaliar a aprendizagem dos fundamentos desenvolvidos na primeira parte.

As demais metodologias destacadas no texto assumem a ne-cessidade de se evitar a proposta das metodologias tradicionais. O conceito recreativo do jogo, a partir da diviso do jogo em unida-des menores, prope srie de jogos, por meio de pequenos jogos em direo ao grande jogo.

Nas metodologias situacionais, no se prev a realizao de atividades que visam o aprimoramento de elementos tcnicos iso-lados e busca-se atender duas ordens de problemas comuns aos jogos coletivos seleo da resposta adequada situao e reali-zao da resposta motora.

Para a aprendizagem do jogo, torna-se necessria a criao de situaes que aprimorem as relaes que se estabelecem no jogo eu-bola, eu-bola-alvo, eu-bola-alvo-adversrio, eu-bola-al-

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vo-adversrio-parceiros etc. A metodologia fenmeno-estrutural, que respeita a proposta das metodologias situacionais, tem como ideia principal o conceito de transfer, que representa os elemen-tos comuns em todas as modalidades esportivas coletivas (inva-riantes e princpios operacionais comuns).

Apesar de acreditarmos que as propostas mais atuais seriam mais interessantes para o ensino das modalidades, sugerimos que voc, aluno EaD, analise muito bem cada uma delas e, se possvel, aplique-as quando j estiver atuando como professor de Educao Fsica.

Chegamos, enfim, ltima unidade da disciplina Futebol. Opta-mos em fechar os contedos com a proposta de utilizarmos o futebol para o desenvolvimento de temas relacionados proposta coeducati-va. Por meio do futebol, discutimos questes relacionadas s diferen-as de gneros, violncia e ao futebol feminino, alm de disponibili-zarmos vrios exemplos para o desenvolvimento de atividades.

Esses temas foram selecionados para que voc pudesse ter ideais relacionadas a outros temas voltados, por exemplo, sade e a outras disciplinas escolares, tais como matemtica e geografia.

Prezado aluno! A modalidade EaD exige, no somente dos pro-fessores responsveis pelas disciplinas, como, tambm, dos alunos dos cursos, uma postura alicerada pelo compromisso, autonomia e responsabilidade. Sendo assim, acreditamos que atingimos os nossos objetivos. Cabe a voc agora continuar seu processo de formao.

Aproveite esse momento e bons estudos.

Glossrio de Conceitos

O Glossrio de Conceitos permite a voc uma consulta r-pida e precisa das definies conceituais, possibilitando-lhe um bom domnio dos termos tcnico-cientficos utilizados na rea de conhecimento dos temas tratados na disciplina Futebol. Veja, a se-guir, a definio dos principais conceitos desta disciplina:


1) Amadorismo marrom: a partir do final da dcada de 1920 e incio da dcada de 1930, configurou-se, no Bra-sil, a prtica do amadorismo marrom no contexto dos esportes. Nesse perodo, alguns esportistas, na condio de amadores, passaram a receber para defenderem de-terminadas equipes ou para no trocarem de equipes, alm dos famosos "bichos", de acordo com os resulta-dos dos jogos. Isso ocorrer mesmo diante de uma prti-ca amadora, pois, at ento, o futebol no era profissio-nalizado. A expresso "amadorismo marrom" surgiu em referncia imprensa marrom, que fundamentou suas aes especialmente em casos sensacionalistas e ilegais.

2) Conceito recreativo de jogo: proposta por Dietrich et al. (1984), essa metodologia estruturada nas "ideias sim-plificadas do jogo" e prope que os jogos desportivos coletivos devem ser divididos em unidades menores que respeitem estruturas do grande jogo. Por meio das s-ries de jogos, e no srie de exerccios, como defendido pela metodologia analtico-sinttica, o "grande jogo" construdo passo a passo. A partir das sries de peque-nos jogos, aprende-se o grande jogo.

3) Conhecimento ttico: comportamento relacionado s aes desempenhadas pelo jogador ou pela equipe, du-rante uma partida de futebol, por meio do respeito aos princpios tticos do jogo, s aes relacionadas coo-perao e oposio, defesa e ao ataque; aos papeis a serem desempenhados durante o jogo, quando da posse ou no da bola, s unidades estruturais e funcionais, s funes relacionadas s posies ocupadas e s funes a serem desempenhadas em campo.

4) Elementos tticos: elementos que do sustentabilidade ao comportamento ttico. Esto relacionados aos prin-cpios tticos do jogo. Elementos tcnicos: elementos relacionados aos fundamentos bsicos do jogo ou de de-terminada modalidade. No caso do futebol, referem-se ao passe, conduo, domnio, controle, cabeceio, drible, chute, lanamento, cruzamento, arremesso lateral e os gestos motores relacionados defesa do goleiro.

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5) Esporte: prtica convencionalmente regrada, caracte-rizada pela disputa direta ou indireta entre oponentes em busca de objetivos comuns, apoiadas ou no em re-laes de cooperao e oposio, podendo ou no ser acompanhada pelo pblico, mdia especializada e inves-tidores sob a chancela de associaes, federaes e con-federaes representativas.

6) Gnero: categoria classificatria, que permite distinguir homens e mulheres, meninos e meninas em suas carac-tersticas biolgicas, culturais e sociais.

7) Jogo de futebol: dentre as inmeras definies do jogo de futebol desenvolvidas nesta disciplina, assumimos, neste momento, a seguinte caracterizao: o futebol pode ser entendido como um jogo institucionalmente convencionado, praticado predominantemente com os ps, cujo objetivo fazer mais gols que a equipe adver-sria. caracterizado por situaes com complexidade, ordem e frequncia no previstas, que exige, a todo o momento, adaptao, tomada de deciso e respostas imediatas em decorrncia das situaes de cooperao e oposio que se estabelecem na disputa pelo objeto do jogo, que a bola.

8) Jogos populares: no contexto desta disciplina, jogos po-pulares fazem referncias aos jogos de rua relacionados prtica do futebol. Referimo-nos aos jogos que, por meio de adaptaes do espao de jogo, nmero de jo-gadores, adaptaes das regras, alimentaram, e ainda alimentam, o imaginrio dos praticantes. So exemplos de jogos populares no contexto do futebol a "rebatida", a "pelada", o "gol a gol" e o "trs dentro e trs fora".

9) Metodologia analtico-sinttica: denominada, tambm, de metodologia parcial, ela defende que o ensino das modalidades esportivas devem estar centrado no apri-moramento da execuo dos fundamentos do jogo. Para que o jogador aprenda a jogar determinada modalidade esportiva coletiva, necessrio que aprimore a execu-o dos elementos tcnicos. A preocupao est na au-tomatizao do gesto motor especfico da modalidade.


10) Metodologia global-funcional: denominada, tambm, de "metodologia global", ela defende que o jogador so-mente aprende a jogar praticando. Para isso, h esque-matizao de jogos e minijogos que atendam a estrutura da modalidade de interesse.

11) Metodologias situacionais: metodologias de ensino das modalidades esportivas coletivas baseadas na aborda-gem ttica do jogo. O objetivo dessas metodologias ensinar, por meio da oferta de experincias situacionais, o jogo desportivo. Nesse tipo de abordagem, no h aplicao de elementos tcnicos isolados das modalida-des, tal como acontece na metodologia analtico-sintti-ca. A metodologia fenmeno-estrutural de Claude Bayer (1992) um exemplo de metodologia situacional.

12) Princpios tticos: princpios cujo reconhecimento susten-ta atitudes tticas durante o jogo, mantendo equilbrio nas aes de cooperao e o equilbrio nas aes de oposio. Eles podem ser divididos em princpios tticos gerais, ope-racionais e fundamentais. Os gerais esto relacionados s interaes espaciais e numricas presentes nas relaes de oposio e cooperao buscar a superioridade, evitar a igualdade e no permitir a inferioridade numrica. Os princpios operacionais esto relacionados aos contedos atitudinais tanto na defesa quanto no ataque. Os funda-mentais esto relacionados criao do desequilbrio nas aes ofensivas e defensivas do adversrio.

Esquemas de Conceitos-chave

Para que voc tenha uma viso geral dos conceitos mais impor-tantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave da disciplina. O mais aconselhvel que voc mesmo faa o seu esquema de conceitos-chave ou at mesmo o seu mapa men-tal. Esse exerccio uma forma de voc construir o seu conhecimento, ressignificando as informaes a partir de suas prprias percepes.

importante ressaltar que o propsito desse Esquema dos Conceitos-chave representar, de maneira grfica, as relaes entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-

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plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar voc na or-denao e na sequenciao hierarquizada dos contedos de ensino.

Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organizao das ideias e dos princpios em esque-mas e mapas mentais, o indivduo pode construir o seu conhecimen-to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedaggicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.

Aplicado a diversas reas do ensino e da aprendizagem esco-lar (tais como planejamentos de currculo, sistemas e pesquisas em Educao), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilao de novos conceitos e de pro-posies na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e infor-maes so aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem.

Tem-se de destacar que "aprendizagem" no significa, ape-nas, realizar acrscimos na estrutura cognitiva do aluno; preci-so, sobretudo, estabelecer modificaes para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, importante con-siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Alm disso, as novas ideias e os novos concei-tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas j existentes estruturas cog-nitivas, outros sero tambm relembrados.

Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que voc o principal agente da construo do prprio conhecimento, por meio de sua predisposio afetiva e de suas motivaes internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-cimento sistematizado em contedo curricular, ou seja, estabele-cendo uma relao entre aquilo que voc acabou de conhecer com o que j fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponvel em: . Acesso em: 11 mar. 2010).


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EVOLUOHISTRICA

POPULARIZAO ESPORTE PROFISSIONALIZAO

JOGOMODERNO

MATRIZESFUTEBOLSTICASESPETACULARIZADACOMUNITRIA BRICOLADA

ESCOLAR

CULTURAESOCIEDADECAPACIDADES

METODOLOGIAS

JOGO

COEDUCAO

HABILIDADESHISTRIA

FUTEBOL

Figura 1 Esquema de Conceitos-chave da disciplina Futebol.

Como pode observar, esse Esquema oferece a voc, como dissemos anteriormente, uma viso geral dos conceitos mais im-portantes deste estudo. Ao segui-lo, ser possvel transitar entre os principais conceitos desta disciplina e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Ao seguir o nosso mapa dos contedos e princpios, voc poder acessar um caminho que facilitar, caso seja esse seu interesse, seu proces-so de aprendizagem. Para exemplificar, a partir da popularizao, esportivizao e profissionalizao, que configuraram a evoluo histrica do futebol, emergiu o jogo em sua estrutura atual.

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O Esquema dos Conceitos-chave mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar queles disponveis no ambien-te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como queles relacionados s atividades didtico-pedaggicas realiza-das presencialmente no polo. Lembre-se de que voc, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia na construo de seu prprio co-nhecimento.

Questes Autoavaliativas

No final de cada unidade, voc encontrar algumas questes autoavaliativas sobre os contedos ali tratados, as quais podem ser de mltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.

Responder, discutir e comentar essas questes, bem como re-lacion-las com a prtica do ensino de Educao Fsica pode ser uma forma de voc avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-soluo de questes pertinentes ao assunto tratado, voc estar se preparando para a avaliao final, que ser dissertativa. Alm disso, essa uma maneira privilegiada de voc testar seus conhecimentos e adquirir uma formao slida para a sua prtica profissional.

As questes de mltipla escolha so as que tm como respos-ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questes abertas objetivas as que se referem aos contedos matemticos ou queles que exigem uma resposta determinada, inalterada. J as questes abertas dissertativas obtm por res-posta uma interpretao pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, no h nada relacionado a elas no item Gabarito. Voc pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.

Bibliografia Bsica

fundamental que voc use a Bibliografia Bsica em seus es-tudos, mas no se prenda s a ela. Consulte, tambm, as bibliogra-fias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orientaes para o estudo da unidade.


Figuras (ilustraes, quadros...)

Neste material instrucional, as ilustraes fazem parte inte-grante dos contedos, ou seja, elas no so meramente ilustra-tivas, pois esquematizam e resumem contedos explicitados no texto. No deixe de observar a relao dessas figuras com os con-tedos da disciplina, pois relacionar aquilo que est no campo vi-sual com o conceitual faz parte de uma boa formao intelectual.

Dicas (motivacionais)

O estudo desta disciplina convida voc a olhar, de forma mais apurada, a Educao como processo de emancipao do ser humano. importante que voc se atente s explicaes tericas, prticas e cientficas que esto presentes nos meios de comunica-o, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que voc observa, per-mite-se descobrir algo que ainda no se conhece, aprendendo a ver e a notar o que no havia sido percebido antes. Observar , portanto, uma capacidade que nos impele maturidade.

Voc, como aluno do curso de Licenciatura em Educao Fsica na modalidade EaD, necessita de uma formao conceitual slida e consistente. Para isso, voc contar com a ajuda do tutor a distncia, do tutor presencial e, sobretudo, da interao com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.

importante, ainda, que voc anote as suas reflexes em seu caderno ou no Bloco de Anotaes, pois, no futuro, elas pode-ro ser utilizadas na elaborao de sua monografia ou de produ-es cientficas.

Leia os livros da bibliografia indicada, para que voc amplie seus horizontes tericos. Coteje-os com o material didtico, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista s videoaulas.

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No final de cada unidade, voc encontrar algumas questes autoavaliativas, que so importantes para a sua anlise sobre os contedos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formao. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos sero importantes para o seu amadure-cimento intelectual.

Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distncia participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

Caso precise de auxlio sobre algum assunto relacionado a esta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estar pronto para ajudar voc.

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Origem e Histria do Futebol

1. OBJETIVOS

Possibilitar o acesso histria do futebol, desde a prtica de alguns jogos que o antecederam at sua institucionali-zao na Inglaterra.

Acessar o contexto brasileiro, possibilitando a compreen-so das condies histricas que determinaram sua tra-jetria.

Oferecer condies necessrias para compreender a his-tria do futebol de forma crtica e contextualizada.

Favorecer a reflexo pedaggica frente aos contedos histricos e a atualidade do futebol.

2. CONTEDOS

Os possveis jogos precursores do futebol em seus primei-ros tempos.

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A histria do futebol moderno na Inglaterra e no Brasil. O elitismo e o racismo no incio da prtica do futebol mo-

derno no Brasil. O processo de popularizao e profissionalizao do fute-

bol moderno no Brasil.

3. ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE

Antes de iniciar o estudo desta unidade, importante que voc leia as orientaes a seguir:

1) Para que aproveite todo o contedo preparado para voc nesta unidade, entendemos que seja necessrio assumir certos cuidados. Por ser um material especialmente sus-tentado em fatos histricos, importante que seja feita uma leitura cuidadosa do texto elaborado e das obras citadas, bem como o acesso a outras informaes rela-cionadas ao tema e que permitam a comprovao ou mesmo uma reestruturao do contedo desenvolvido.

2) Para facilitar a sua leitura, a compreenso dos aspec-tos histricos e a cronologia dos fatos, sugerimos que se mantenha atento s possveis lacunas de tempo e sequncia de fatos sobre a histria do futebol.

3) Para que compreenda a evoluo histrica do futebol a partir da prtica de jogos com bola at sua institucio-nalizao, torna-se necessrio atentar-se s possveis influncias exercidas por seus precursores, os quais no se restringem ao jogo praticado na Inglaterra a partir do incio do sculo 19.

4. INTRODUO UNIDADE

Ol, aluno EaD do Claretiano! Iniciaremos agora a disciplina Futebol. A partir desse momento, voc ir se deparar com uma das manifestaes mais populares e apaixonantes do mundo. A carac-terizao de Bruni (1994, p. 7) nos ajudar nessa compreenso.

35 Origem e Histria do Futebol

Sua definio estrita, como esporte que utiliza uma bola jogada com os ps, mal deixa entrever o universo de significaes simb-licas, psquicas, sociais, culturais, histricas, polticas e econmicas inesgotveis que envolvem multides, encontradas no pblico em geral, nas torcidas organizadas, nos jogadores e equipes tcnicas e burocrticas, concentradas em torno de um espetculo que empol-ga sociedades, naes, pases [...], mobilizando milhes de dlares e conquistando a adeso cada vez maior de pessoas de todas as camadas sociais.

Pelas colocaes de Bruni, falamos do futebol no apenas como uma modalidade esportiva formal, regida por um conjunto de regras, mas uma prtica social que possibilita sua compreenso como uma construo histrica que se organizou e se modernizou a partir da segunda metade do sculo 19 at os dias atuais. Tal definio expressa uma pequena parcela do universo do futebol. O autor nem sequer faz referncia a sua significao na esfera es-colar ou "simples" prtica na condio de lazer.

Iniciaremos este curso considerando os primeiros jogos e suas influncias na evoluo do futebol, tal qual o conhecemos hoje. Partiremos da China, passaremos pelo Japo, Grcia, Itlia, Frana e, finalmente, pela Inglaterra. Os acessos a algumas dessas prticas e a essa remota histria sero realizados por meio dos textos de Aquino (2002) e Normando (2004).

O futebol no Brasil ser abordado com o referencial da influ-ncia inglesa e no privilgio de sua prtica pela elite paulistana e carioca. Verificaremos, tambm, que antes de se transformar na manifestao esportiva mais presente na cultura do povo brasilei-ro, o racismo esteve presente em sua prtica.

Nessa esfera, apresentaremos os motivos e os processos so-ciais que determinaram a popularizao do futebol, bem como sua insero nas classes sociais populares, embora houvesse resistn-cia de grupos economicamente privilegiados, contrrios ao avano do profissionalismo nessa rea.

Assim, de maneira geral, acompanharemos a trajetria do futebol no Brasil, destacando especialmente o perodo que com-

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preende sua chegada em 1894, sua prtica elitista e racista, pas-sando pelo amadorismo marrom (que ser abordado no Tpico 6 desta unidade), at sua profissionalizao em 1933.

No sentido de ampliar seus conhecimentos e a quantidade de informaes a respeito do futebol, sugerimos que no se ate-nha somente a este material. Aprofunde-se nas fontes sugeridas e busque por novas referncias.

Como mensagem, para que realmente possa compreender o "fenmeno futebol", trate-o com cuidado e respeito. Somente dessa forma poder compreend-lo na condio de "esporte das multides" ou "paixo nacional". Talvez, assim, tenha a chance de compreender quem o seu aluno e o que ele procura em suas aulas de Educao Fsica na escola.

5. OS PRIMEIROS TEMPOS

H muitas histrias sobre a origem do futebol. No entanto, as referncias levam-nos no sentido de que o futebol no foi simples-mente inventado, como o basquetebol ou o voleibol, criados para atender a determinadas demandas a partir de prticas esportivas j existentes. O futebol fruto da evoluo histrica de inmeros jogos com bola, praticados por diferentes povos em diferentes pocas, e que, em determinados momentos e condies histricas, como ve-remos mais adiante, foi alvo de um processo de institucionalizao, tornando-se, assim, um dos pilares do esporte moderno.

De forma semelhante ao rgbi, ningum sabe muito bem quando se inicia a histria do futebol. Para Aquino (2002), apesar de referncias feitas por historiadores e arquelogos, os quais registram a prtica de algo parecido com o futebol no Egito e na Babilnia, centros de civiliza-o da Antiguidade, informaes mais precisas apontam que, na China, praticava-se o tsutchu, h aproximadamente 2.300 anos.

Tsutchu, que significa "golpe na bola com os ps", era prati-cado em trs modalidades. A primeira referente participao de


apenas um jogador fazendo malabarismo com a bola. Na segunda, havia o envolvimento de duas equipes com o objetivo de transpor a bola por sobre uma rede, mas os jogadores no podiam deixar a bola tocar o solo no prprio campo. Na terceira, duas equipes tinham como meta passar a bola em alvos parecidos como gols, dispostos nos cantos do campo. De acordo com Aquino (2002), foi criado por Yang-Ts, membro da guarda do imperador Huang-Ti. Tais modalidades seriam utilizadas como treinamento da guarda imperial e, posteriormente, de todos os soldados que se prepara-vam para guerra.

Ainda no Oriente, mas agora no Japo, cerca de 500 ou 600 anos aps a origem do ancestral chins, surgiu o kemari, que de-monstrava aspectos muito mais ritualsticos do que competitivos. No se contavam pontos, de forma que o nico objetivo do jogo era apurar a tcnica de dominar a bola com os ps. Normando (2004) relata que o kemari deveria ser praticado entre rvores no-bres um pinheiro a noroeste, um cer a sudoeste, uma cerejeira a nordeste e um salgueiro a sudeste. Tal como o tsutchu, tinha propsito militar em seu incio, tornando-se, mais adiante, uma prtica dos nobres at chegar s classes populares.

Na Figura 1, h uma ilustrao do kemari. Vejamos a seguir:

Depois de ter passado pela China e pelo Japo, a histria segue at a Gr-cia, no sculo 1 a.C., onde se praticava o epyskiros. Tal prtica era muito popu-lar, mesmo no fazendo parte dos Jogos Olmpicos (AQUINO, 2002). Apesar da referncia, Aquino (2002) e Normando (2004) afirmam que pouca coisa se sabe sobre o epyskiros. O que se sabe que quando a equipe conseguia ultrapassar a linha demarcatria com a bola nas extremidades do campo, de-terminava-se o vencedor (NORMANDO, 2004).

Fonte: Normando (2004, n. p.).Figura 1 O Kemari.

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interessante que, nesse contexto, durante 12 sculos de exis-tncia dos antigos jogos olmpicos, esportes com bola jamais foram includos nos programas oficiais, apesar do enorme interesse dos gre-gos por esse tipo de jogo. O epyskiros compunha um grupo de jogos denominados de "sphairomakhia", que englobava esportes em que a bola era jogada com as mos ou com os ps (AQUINO, 2002).

Viajando no tempo e no espao, estamos, agora, na Itlia, mais especificamente para Roma, praticava-se o harpastum. Ins-pirado no jogo grego, o harpastum era praticado com uma bola de couro parecida com a atual. O couro envolvia uma bexiga de boi cheia de ar e o campo era retangular, dividido por trs linhas divisrias, uma central e duas linhas de meta nas extremidades. Segundo Aquino (2002), a bola deveria ser passada de jogador a jogador at que um deles tivesse condies de arremess-la em di-reo linha de meta adversria. Caso a bola transpusesse a linha de meta, a equipe marcava um ponto.

Para Normando (2004, n. p.): Claramente, a armao do "time" sujeitava-se s qualidades fsicas e tcnicas dos jogadores e, ao que tudo indica, a brutalidade das disputas foi cedendo espao para jogadas viabilizadas a partir de uma unidade coletiva. A bola era pequena e deveria ser lanada detrs das linhas demarcatrias. As equipes desenvolveram uma diversidade de alternativas tticas e tcnicas para ludibriar os ad-versrios nas quais os passes e dribles eram incentivados para o deleite do pblico que aplaudia e gritava com regozijo.

Pela descrio, torna-se interessante destacar que o fato de se assumir uma meta a ser alcanada, a existncia de parceiros e um adversrio a ser "vencido" implica a adoo de tticas de ataque e defesa em um jogo com bola. Essa transformao pode ter traado uma inquestionvel aproximao ttica com o jogo contemporneo, colocando-o como um antecessor direto do futebol de hoje.

Como resultado de suas invases, Roma apropriou-se do epyskiros, criando o harpastum. Logo, o mesmo exrcito roma-no, o qual seguia conquistando terras rumo ao norte da Europa, introduziu o harpastum no continente europeu. Certamente, o


processo evolutivo do futebol teve um avano considervel com o apogeu do Imprio Romano. Os atuais territrios da Frana e da Inglaterra incorporaram essa influncia, ento, em suas culturas (AQUINO, 2002; NORMANDO, 2004).

Entretanto, no que se refere Inglaterra, alguns historiadores divergem: uns acreditam que tenha sido de fato os romanos, durante os quatro sculos de domnio que se seguiram primeira expedio de Jlio Csar, no ano 43 d.C., que deram a conhecer aos bretes as regras do harpastum; outros afirmam que os romanos, ao chegarem Bretanha, j encontraram l um futebol nativo, de origem meio len-dria, meio cvica. Para Normando (2004), tal dvida justificada pelo o que denominou de "orgulho britnico", pois os ingleses acreditam que foram os inventores do esporte contemporneo.

A partir do sculo 12, e durante muito tempo, a brutalidade esteve presente durante os jogos com bola na Inglaterra. Esses fo-ram designados de ludus pilae. Durante as teras-feiras de carnaval (Shrove Tuesdays), aproximadamente 500 pessoas de cada lado dis-putavam uma bola. Para isso, esbofeteavam-se e provocavam uma enorme confuso. O objetivo era ultrapassar a linha de meta adver-sria. Na cidade de Ashbourne, por exemplo, os portes norte e sul eram as metas a serem atingidas. Ao final das disputas, era comum o registro de mortes de alguns participantes (NORMANDO, 2004).

Na Figura 2, h representaes da ludus pilae.

Fonte: Normando (2004, n. p.). Figura 2 Ilustrao do ludus pilae.

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Diante de tanta brutalidade, em 1314, o rei Eduardo II proibiu a prtica do ludus pilae na Inglaterra, argumentando que "estas es-caramuas ao redor de bolas de grande tamanho, de que resultam muitos males, que Deus no permita" (AQUINO, 2002, p. 15). Para Normando (2004), "temia-se que o interesse pelo ludus pilae des-vanecesse o empenho dos homens no arco e flecha ou na esgrima prticas de maior utilidade nos entreveros blicos". As proibies reais foram, ento, reforadas de tempos em tempos, de modo que o futebol na Inglaterra da Idade Mdia no passasse de um jogo severamente combatido pelas autoridades.

Contrariamente ao que aconteceu no mesmo perodo na Ingla-terra, na Itlia, as prticas com bola no sofreram perseguies pelas autoridades. Percebeu-se, na poca, at um estmulo por parte da ala nobre italiana sobre a prtica do que denominaram de "calcio" (NOR-MANDO, 2004). Para se ter uma ideia da importncia do calcio (Figura 3), cuja prtica foi iniciada em Florena, esse termo passou a fazer referncia ao futebol contemporneo praticado no pas. Ainda hoje, no dia de So Joo, padroeiro da cidade de Florena, em 24 de junho, seus habitantes encenam o histrico jogo.

O autor relata que os italianos podem ter sido os primeiros a organizarem um conjunto de regras de um jogo com bola. Nesse, em especfico, havia a participao de 27 jogadores com funes especficas, sendo trs zagueiros fixos, quatro zagueiros avana-dos, cinco que atuavam no meio de campo e quinze na posio que corresponde aos atacantes.

Tal como na Itlia, o futebol encontrou o apoio de nobres, tambm, na Frana. O jogo dos franceses, denominado "soule" ou "choule", foi, provavelmente, outra variante do harpastum romano, sendo praticado tanto pelo homem do povo como pelos nobres. Se-gundo o relato de Aquino (2002), o soule era realizado em dimen-ses preestabelecidas e disputado sem nmero fixo de participan-tes. A meta desse jogo era conseguir passar a bola por entre dois bales. Quem conseguisse marcava um ponto para sua equipe.


Fonte: Normando (2004, n. p.) Figura 3 O calcio.

Menos violento que o futebol dos ingleses, Normando (2004) relata que esse jogo francs quase no encontrou resistncia. Por um lado, sua prtica diferiu da rudeza da disputa anglo-sax, na medida em que privilegiava a habilidade dos dribles em detrimen-to da fora dos chutes. Por outro lado, em consonncia com os ingleses, as partidas podiam envolver at povoados inteiros em contendas que duravam horas, ou mesmo dias.

Normando (2004) relata, tambm, que, do final da Idade Mdia at o incio da Moderna, os colonizadores passaram a des-cortinar a cultura dos povos americanos e, como no podia ser diferente, os jogos com bola tambm fizeram parte dessa cultura, sendo encontrados, pela primeira vez, relatos da utilizao de bo-las confeccionadas com ltex. Contudo, acredita-se que os jogos praticados nas Amricas no contriburam para a consolidao do futebol moderno.

Entendemos que esse um momento apropriado para uma pausa em nossos estudos. Sugerimos esse tempo para que pense em uma estratgia que possibilite a compreenso da evoluo do

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futebol a ser utilizada com seus alunos durante as aulas de Educa-o Fsica na escola.

Seguiremos, como sugesto, a experincia proporcionada pelo Prof. Osmar Moreira de Souza Jnior, realizada com alunos do 9 ano do Ensino Fundamental. Nessa experincia, o referido professor possibilitou uma vivncia em que seus alunos, durante uma aula sobre a histria do futebol, recriassem hipoteticamente esse perodo histrico. Chamou a essa vivncia de "Reinventando a Histria do Futebol".

Vamos, ento, sugesto do Prof. Osmar:

Divida seus alunos em trs grupos e proponha que cada gru-po escreva, da maneira mais criativa possvel, uma histria fictcia para a origem do futebol, associando-a com datas, locais e eventos que marcaram a histria da humanidade. Em seguida, pea para que cada grupo leia sua histria, procurando defend-la como a verso oficial para a origem do futebol.

Para concluir a atividade, apresente aos alunos alguns dados bibliogrficos sobre a origem do futebol. Voc pode enriquecer ainda mais as discusses propondo e promovendo pesquisas so-bre o assunto em livros e pela internet.

Apresentamos, a seguir, uma das histrias criadas por alunos de uma turma de 8 srie do Ensino Fundamental do Colgio An-glo Claretiano de Rio Claro-SP.

Como surgiu o futebol H milhes e milhes de anos atrs, na cidade primata de Gorilpolis, surgiu o primeiro jogo parecido com o futebol atual, o Cocobongo, praticado em rituais em homenagem aos deuses da primavera e da guerra. Podiam participar at 24 gorilas, 12 para cada time, e a bola utilizada era um coco de 23 kg, originrio de uma palmeira j extinta. A meta do jogo era acertar, sem usar as mos, uma argola presa no topo de uma alta torre de pedra (aproximadamente 7 metros de altura) construda por seus ancestrais (obviamente um pouco mais inteligentes que os atuais). Aps anos de glria (e estupidez) a cidade de Gorilpolis caiu em desgraa com seus deuses, que, como punio, afundaram a cidade nas profundezas da Ter-ra. As nicas provas que temos sobre a existncia desta civilizao so runas


gravadas em cavernas no Cairo e, histrias sobre um grande ser primata mais conhecido como Sasquatch ou o Abominvel Homem das Neves.A mais aceita das histrias sobre o surgimento do futebol est nas runas da cidade de Tangamandpio, no Cazaquisto. Aproximadamente no ano de 153 d.C., um Xeique rabe chamado Titica-ca ordenou que seu alto sacerdote crias-se um jogo para diverti-lo antes que a terceira lua cheia surgisse no cu. Com medo de ser decapitado, o alto sacerdote deixou todos os seus afazeres e se dedicou integralmente sua nova funo de criador de jogos para o Xeique. Na segunda lua cheia o jogo j estava pronto e, na mesma noite, Titica-ca ofereceu um grande banquete para seus amigos mais influentes no reino para apreciarem a nova atrao. O jogo se chamava Rola-crnio (a bola utilizada era o crnio de um inimigo derrotado em alguma batalha), e consistia em, como o prprio nome sugere, rolar um crnio de um campo a outro usando os ps at uma grande cai-xa protegida por um tigre. O campo media cerca de 1 km de comprimento e 450 m de largura, sendo dividido ao meio com demarcao de territrio, indicando o campo do adversrio e o campo do Xeique (embora Titica-ca nunca jogasse Rola-crnio), tambm haviam outras duas linhas a aproximadamente 1,5 m da caixa do tigre, de onde o soldado deveria chutar o crnio. Havia dois times de 12 soldados para cada Xeique, e um alto sacerdote que decidia o que era certo ou errado nas disputas. O problema que, como o jogo era disputado sem sapatos ou qualquer outra coisa nos ps, muitas vezes, os soldados eram obrigados a abandonar a partida com seus dedos quebrados pelo impacto com o crnio na hora de chutar, e, tambm, havia um trapaceiro no time de Titica-ca que enchia o crnio de escorpies para que picassem e matassem seus adversrios. Os tigres tambm eram um problema grave, pois muitas vezes os soldados se zangavam uns com os outros e arremessavam seus adversrios s feras famintas. Ento foram feitas algumas mudanas. A bola deixou de ser um crnio e passou a ser feita de couro de papagaio forrada com juba de leo; o soldado que trapaceava, colocando escorpies no crnio, foi expulso e o time passou a ser formado por 11 soldados, que eram obrigados a jogar usando grossas faixas de tecidos nos ps, para que no se machucassem enquanto jogavam. A caixa e o guardio da caixa tambm foram substitudos, a caixa, por dois pilares perpendiculares ao cho com uma barra pouco maior interligando-os no topo e o tigre, por um gil soldado que deveria pegar a bola sempre que o time adversrio chutasse para ele. E assim termina nossa histria de como surgiu o futebol.

(1) So autores do texto os alunos Guilherme, Lucas, Lus Felipe, Renan Q., Renan M. e Vilians da 8 srie A (2006).

Sugesto de atividade: uma sugesto pertinente para a atividade separar os alunos em grupos. Por meio de sorteio de recortes histricos em escala cronolgica, os grupos devero organizar um teatro retratando os momentos que levaram o futebol institucio-nalizao. Cada grupo, orientado por seus tutores, far uma apre-sentao breve das diversas prticas, em diferentes pases.

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Voltando Europa, agora na Idade Moderna, observava-se um relaxamento na oposio ao futebol a partir do sculo 17. Tal-vez, o mais eficiente dos caminhos alternativos que garantiram a sobrevivncia do jogo de bola tenha sido sua esportivizao, isto , sua codificao em regras que tentaram diminuir seu acentuado tom de violncia e de desordem e que viabilizaram sua tolerncia, sobretudo, nas escolas e universidades da Inglaterra do incio do sculo 19.

O carter violento do futebol mudou apenas quando o es-porte chegou s escolas, por volta de 1840. Antes, no perodo de 1810 a 1840, havia inmeras regras. Eton, Harrow, Rugby, Shrews-bury Westminster eram alguns dos colgios ingleses que as pos-suam, cada um com suas regras. O fato de cada colgio possuir suas prprias regras impossibilitou a disputa entre suas respecti-vas equipes. O esporte ento passou a ser obrigatrio nos recreios escolares britnicos, uma vez que, nessa poca, a rainha Vitria, aconselhada pelo pedagogo Thomas Arnold, ps fim proibio. Qual foi a razo dessa trgua? Por que a rainha Vitria decidira que os jovens ingleses poderiam e at deveriam se entregar a esse esporte to primitivo, to brbaro? Arnold recomendava que os esportes fossem utilizados nas escolas, com o fim de canalizar para os campos de competio a energia que, de outra forma, os jovens poderiam desperdiar em prticas condenveis. Segundo esse educador, no eram prticas condenveis apenas o vcio do jogo e o do lcool, mas as ideias polticas de sentido reformista que pode-riam pr em risco o conservadorismo defendido pelos vitorianos.

Com o futebol, os meninos no perderiam tempo conversando nos recreios, trocando ideias; os nobres poderiam ser influenciados pelos plebeus e pela classe mdia em ascenso. Alm disso, o que ha-veria de mais eficaz e menos perigoso do que colocar os jovens para correr atrs de uma bola, brigando por ela durante a hora do recreio?

Na primeira dcada do sculo 19, o futebol e outros esportes j faziam parte da educao regular dos jovens que frequentavam


escolas pblicas, particulares e as universidades. Em cada um de-les, o futebol organizou-se, direcionado institucionalizao, sur-gindo as primeiras leis ou regras escritas, impressas e publicadas.

A grande popularizao do esporte no continente europeu culminou com a necessidade de padronizar regras para disputas entre as naes, abrindo-se, ento, espao para um movimento clubstico, que passou a ser denominado de "associacionismo".

Neste ponto, conclumos o verdadeiro motivo de assumir os ingleses como os inventores do futebol, pois coube aos britni-cos a institucionalizao do jogo, iniciando, assim, a sistematiza-o das primeiras regras em manuais de conduta desportiva, que delimitavam aspectos, como o nmero de jogadores, tamanho de campo e os gestos que seriam ou no permitidos.

Logo, o futebol moderno comeou a ser criado em 1848, quando, na Universidade de Cambridge, uma conferncia reuniu a maioria dos diretores de colgios que praticavam o esporte. Nessa reunio, foi decidida a proibio de usar as mos e os braos (com exceo do goleiro) no jogo. As regras, entretanto, no foram acei-tas por todas as escolas.

Quinze anos mais tarde, em 26 de outubro de 1863, reuni-dos na Taberna Freemason, em Great Queen Street, Londres, onze clubes e escolas criaram as bases para as regras que hoje regem o futebol. Foi fundada a Football Association.

Nessa reunio, foi levantada uma polmica quanto prefern-cia pelo jogo de futebol "limpo", em que seria coibida a violncia e abolido o jogo com as mos, de acordo com as regras de Cambridge, o qual permitia um maior contato e uso das mos, sendo agressi-vo em muitos casos. Como os representantes no chegaram a um consenso, a questo foi colocada em votao, vencendo as regras propostas por Cambridge. Os derrotados, descontentes, abandona-ram o futebol para desenvolverem outro esporte: o rgbi. Da para frente, o futebol e o rgbi passaram a seguir caminhos distintos.

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O primeiro torneio de futebol foi realizado em 1871, numa disputa entre clubes. No ano seguinte, em 30 de novembro de 1872, Inglaterra e Esccia empataram em 0 x 0, no que se considera o primeiro amistoso internacional da histria, como mencionamos anteriormente. O profissionalismo no futebol foi iniciado somente em 1885 e, no ano seguinte, foi criada, na Inglaterra, a International Board, entidade cujo objetivo principal era estabelecer e mudar as regras do futebol.

Na Figura 4, a bola de futebol usada no final do sculo 19.

No incio do sculo 20, o futebol mundial comeou a se organizar. As fede-raes nacionais existiam, mas sem uma organizao internacional capaz de regu-lar as relaes entre um pas e outro no campo futebolstico.

Dessa forma, em 21 de maio de 1904, foi aprovado um esta-tuto que regeria as relaes futebolsticas entre as naes, surgin-do, ento, a FIFA (Federation International Football Association), que, devido a problemas diplomticos, falta de credibilidade de uma entidade recm-criada e ao cenrio iminente de guerra, con-seguiu, somente em 1930, pr em prtica o sonho de organizar um torneio mundial entre selees nacionais, realizado, curiosa-mente, no Uruguai, em virtude do estado catastrfico em que se encontravam os pases europeus ps-guerra.

Nesse ponto, o futebol j havia se espalhado por todos os can-tos do planeta, chegando ao Brasil na ltima dcada do sculo 19, trazido por marinheiros, padres jesutas ou, quem sabe, pelo prprio Charles Miller. Mas esse um assunto que abordaremos mais adiante.

At aqui, apresentamos uma descrio dos principais fatos que compem a histria do futebol. So fatos e conceitos funda-mentais que os alunos devem conhecer. Portanto, cabe a voc, alu-

Figura 4 Bola de futebol do final do sculo 19.


no EaD do Claretiano, transmitir e ensinar aos seus futuros alunos da Educao Bsica essa trajetria do futebol, ao longo da histria.

6. HISTRIA DO FUTEBOL NO BRASIL: PROCESSOS E INTERPRETAES

Apresentaremos, agora, a histria do futebol dentro da histria do esporte moderno originado na Inglaterra no final do sculo 19 e de sua chegada e desenvolvimento no Brasil. Devido falta de registros, muitas informaes se perderam. Por essa razo, em algumas situ-aes, o perodo e as datas so aproximados. No ser apenas uma questo de apontarmos datas e fatos isolados; isso seria uma tarefa relativamente tranquila de ser realizada. O mais interessante enten-dermos o contexto histrico que propiciou as condies para que o futebol se transformasse no esporte mais popular do mundo.

Apesar do consenso em relao chegada do futebol no Bra-sil pelas mos de Charles Miller em 1894, h estudos que relatam que jogos com bola j eram praticados em nosso pas. H menes sobre jogo com bola nos anais de 1746 da Cmara Municipal de So Paulo. De acordo com os registros, tal jogo era proibido, pois causa-va "agrupamentos de vadios e desordeiros" (AQUINO, 2002, p. 24). Que jogo seria esse? At hoje no se sabe. O que no se tem dvida que foram os ingleses, a partir de 1864, tripulantes de navios mer-cantes, os primeiros a jogarem futebol no litoral brasileiro.

H, tambm, informaes de que as primeiras prticas do jogo com bola na provncia de So Paulo se deram em 1872, no Colgio So Lus, em Itu. Nesse colgio, os alunos eram incentiva-dos por um sacerdote a chutarem um balo de couro contra um dos muros do colgio. importante destacar que no foram feitas referncias at o momento a um jogo de futebol e, sim, a um jogo com bola. A primeira meno palavra "futebol" pode ser encon-trada em um trecho do Regulamento do Colgio Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1892 (CARRANO, 2000 apud AQUINO, 2002, p. 25):

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O diretor e o vice-diretor do Ginsio procuraro desenvolver em seus alunos o gosto pelos exerccios de tiro ao alvo, de besta, tiro e flecha, exerccios ginsticos livres, saltos, jogo de volante etc. E faro, todos os domingos, um passeio para fora do centro da cida-de [...]. So permitidos como jogos escolares: a barra, a amarela, o futebol, a peteca, o jogo de bola, o cricket, [...] o croch, corridas, saltos e outros, que, a juzo do diretor, concorram para desenvolver a fora e a destreza dos alunos, sem pr em risco sua sade.

Oficialmente, a entrada do futebol, de acordo com regras do Football Association, como elemento integrante da cultura corporal de movimento do Brasil chega em 1894, quando Char-les William Miller (1874-1953), brasileiro de descendncia inglesa, volta de seus estudos na Inglaterra e traz consigo uma bola de fu-tebol e alguns uniformes para a prtica do jogo, transformando-se no grande incentivador do futebol na capital paulista.

Assim, j no final do sculo 19 e incio do sculo 20, o futebol j acumulava adeptos e praticantes, especialmente os jovens da elite econmica, em So Paulo e no Rio de Janeiro. Em seu incio, o futebol apresentou um carter essencialmente elitista, em que apenas os estudantes dos colgios gr-finos tinham a oportunida-de de participar dos jogos que aconteciam no interior das escolas. Nesse sentido, o futebol fazia parte de uma srie de atividades que eram executadas pelos alunos durante as aulas de atividade fsica.

De acordo com algumas fontes, em 14 de abril de 1895 foi realizada a primeira partida de futebol no Brasil, no campo da Companhia Paulista de Aviao, entre equipes de trabalhadores de indstrias inglesas. J o primeiro clube destinado prtica do futebol foi fundado na cidade de So Paulo, em 1898, e recebeu o nome de Associao Atltica Mackenzie College. Augusto Shaw, professor desse colgio, voltou dos Estados Unidos trazendo uma bola de basquetebol, esporte que pretendia estimular entre os alunos, que preferiram chut-la.

A partir desse perodo, outros clubes foram fundados. Eles se organizaram e formaram a Liga Paulista de Futebol.


Na cidade de Rio Grande (RS) foi fundado, em 14 de julho de 1900, o primeiro clube destinado prtica exclusiva do futebol, chamado Sport Club Rio Grande. Devido a esse fato, essa data pas-sou a ser considerada o "Dia do Futebol".

No Rio de Janeiro, que era a capital federal, o precursor foi Os-car Cox, que tambm estudou na Europa. Cox foi responsvel pela formao da 1 equipe no Rio de Janeiro, em 1901, e pela funda-o do Fluminense Football Club, em 21 de julho de 1902 (AQUINO, 2002). Cox e os demais fundadores do Fluminense eram jovens che-fes de empresas, empregados de alto nvel ou simplesmente filhos de pais ricos, legtimos representantes das elites cariocas.

Ento, no Rio de Janeiro, o primeiro clube fundado com a inteno de ser um clube de futebol foi o Fluminense em 1902, o qual, em 16 de julho de 1903, cobrou ingressos pela primeira vez para que o pblico pudesse assistir a uma partida de futebol. Foram 2500 pessoas que assistiram partida, e 969 que pagaram para v-la. Nesse jogo, at o presidente da repblica da poca, Ro-drigues Alves, estava presente (REIS; ESCHER, 2006).

O futebol, ento, nos primeiros anos do sculo 20, comeou a se propagar no seio da classe rica. Alguns colgios tinham-no como prtica sistemtica em seus espaos para as atividades f-sicas e, assim, em pouco tempo, bons jogadores estavam sendo formados para ingressar nas equipes de futebol dos clubes j con-solidados. No Rio de Janeiro, havia o Paysandu; em So Paulo, o clube Germnia (atualmente denominado Clube Pinheiros), o Club Athletico Paulistano e o So Paulo Athletic Club.

Era muito comum a utilizao de palavras em ingls ao se referirem ao futebol (por exemplo, field, goalkeeper, fullback). Nas arquibancadas, os homens vestiam-se de ternos, chapus e bengalas; as mulheres usavam vestidos longos com mangas at o punho e sombrinhas. No campo, os jogadores utilizavam cales abaixo dos joelhos, camisas de gola; quando cometiam faltas, fala-vam "I am sorry" ("desculpe-me").

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Como as pessoas de classes sociais mais baixas no podiam frequentar os mesmos espaos que pessoas das classes sociais mais abastadas nas arquibancadas, assim, foram criadas as "ge-rais", que eram espaos destinados aos "pobres".

Nesse perodo, o futebol enfrentava a concorrncia de ou-tras prticas esportivas, tais como o ciclismo, o remo, o tiro ao alvo, o crquete e corridas de cavalo.

A Cor do Futebol

Alm de elitista, a prtica do futebol tambm poderia ser classificada como racista. Acreditamos que o racismo, dentro do futebol brasileiro, merece uma ateno especial, no porque o fu-tebol apresente um caso isolado de atitudes racistas ao longo da sua histria, mas porque, durante a formao do Estado brasileiro, a prtica da segregao racial foi uma poltica deliberada de Esta-do. Por isso, o preconceito acentuava-se no futebol, dependendo da cor da pele.

As histrias sobre acontecimentos racistas em nossa socie-dade brasileira e, tambm, em muitas outras partes do mundo so inmeras e lamentveis. No caso do racismo, na sociedade brasi-leira, podemos afirmar que h razes histricas que remontam ao tempo do Brasil Colnia. bvio que no pretendemos, nesta uni-dade, realizar uma discusso ou um estudo que ilustre e explique essa histria em detalhes.

Todavia, ela serve para que ns tenhamos a cincia de que o racismo presente nos fenmenos esportivos modernos, e no caso especfico do futebol, tem suas razes e sua presena no conjunto da histria do povo brasileiro e da formao do Brasil na condio de nao.

Aps a publicao da lei que concedeu a liberdade aos es-cravos em 1888, nenhuma poltica pblica de incluso foi desen-volvida para que possibilitasse aos negros o acesso ao mercado de trabalho assalariado e a uma vida digna.


Os negros foram, deliberadamente, colocados margem da sociedade e obrigados a viver sob as condies mais desumanas. A busca pela afirmao e por espaos dignos de vida tornou-se re-duzida, sendo o futebol uma das poucas oportunidades para que essas pessoas pudessem encontrar um espao dentro da socieda-de brasileira nas primeiras dcadas do sculo 20.

Para demonstrar o racismo e o elitismo que perpetuaram ao longo do estabelecimento do futebol a partir da sua formalizao, Aquino (2002) utiliza, como exemplo, duas passagens envolvendo dois dos nossos principais escritores Lima Barreto e Rui Barbosa.

O primeiro foi responsvel pela criao da "Liga contra o Fu-tebol". Segundo Lima Barreto, o futebol, alm de ser usado como "pio do povo", era prtica racista da burguesia e filho do imperia-lismo ingls.

J Rui Barbosa, antes de uma viagem de navio para Argen-tina, ficou sabendo que o selecionado brasileiro estaria no navio e disse ao Ministro das Relaes Exteriores: "Pois saiba o senhor que, eu, minha famlia e meus auxiliares no viajamos com essa corja de malandros! Futebolista sinnimo de vagabundo, e pode escolher imediatamente, senhor Ministro, ou eles ou eu". A dele-gao ento teve que viajar de trem at Buenos Aires.

O autor tambm faz referncia ao ofcio enviado pela Liga Metropolitana de Sports Atlticos, em maio de 1907, aos clubes associados, comunicando que no registraria amadores que fos-sem "pessoas de cor". Isso fez com que fosse criada a Liga Subur-bana de Football.

Absurdos como "negro sujo" e "crioulo nojento" eram muito ouvido nos campos de futebol no Brasil, nos anos de 1920 e 1930. Hoje, no ouvimos mais tais expresses, pois elas foram substitu-das por outras mais amenas, entretanto, no menos cruis.

Mesmo jogadores negros como Lenidas da Silva e Domin-gos da Guia, que, nos anos de 1930 e 1940, foram os jogadores

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mais bem pagos no futebol da poca, continuaram a ser desvalori-zados intelectualmente. Ambos conseguiram superar o preconcei-to, vencendo toda e qualquer forma de racismo, de maneira que, com seus talentos, adentraram ao mundo da prtica do futebol.

Convm salientar, ainda, que Lenidas e Domingos da Guia foram excees, tendo em vista que muitos jogadores negros su-cumbiram ao racismo presente no futebol da poca. Podemos citar como exemplo o caso do jogador Carlos Alberto, o qual, quando se transferiu do Botafogo para o Fluminense nos anos de 1940, por ser mulato, maquiava-se com p de arroz para embranquecer o rosto, pois o clube carioca era um dos times mais resistentes incluso de pessoas pobres e negras nas competies oficiais de futebol.

Outro exemplo o caso do primeiro grande jogador da his-tria do futebol brasileiro, Arthur Friedenreich, que era filho de alemo com uma negra. Na dcada de 1920, chegava sempre atra-sado aos jogos, pois ficava preso nos vestirios passando goma arbica nos cabelos para alis-los, pois era mulato. Segundo Corra (1985), esse foi o primeiro negro a superar-se no futebol racista da poca. To bom jogador quanto ele foi Fausto, o primeiro negro a ser convocado para uma seleo brasileira. Segundo a FIFA, ele chegou a marcar mais gols que Pel.

Nessa poca, o racismo no futebol brasileiro era to acin-toso que at o presidente da repblica, Epitcio Pessoa, impediu que jogadores negros disputassem o campeonato sul-americano de selees de futebol, que seria realizado na Argentina. Um dos argumentos utilizado pelo presidente era que, em caso de derrota brasileira, os brancos da equipe poderiam culpar os negros e, com isso, provocar ainda mais preconceito racial no Brasil.

A histria mostra-nos, pois, inmeros casos em que jogado-res negros (e somente os negros) foram responsveis por derrotas que ficaram gravadas na memria dos apaixonados por futebol.

Na fatdica derrota da seleo brasileira de futebol na Copa de 1950, realizada no Brasil, a seleo uruguaia venceu por 2 x 1.


Coincidncia ou no, o goleiro Barbosa e os defensores Juvenal e Bigode, todos negros, foram responsabilizados pela derrota. Sobre essa tragdia do futebol brasileiro, o escritor Eduardo Galeano ela-borou uma bela crnica sobre o eterno drama vivido pelo goleiro Barbosa. Diz o escritor (GALEANO, 2004, p. 43):

Na hora de escolher o melhor goleiro do campeonato, os jornalistas do Mundial de 50 votaram, por unanimidade, no brasileiro Moacir Barbosa. Barbosa era tambm, sem dvida, o melhor goleiro de seu pas; pernas com molas, homem sereno e seguro que transmitia con-fiana equipe, e continuou sendo o melhor at que se retirou das canchas, tempos depois, com mais de 40 anos de idade. Em tantos anos de futebol, Barbosa evitou, quem sabe, tantos gols, sem ma-chucar nunca nenhum atacante. Mas, naquela final de 50, o atacan-te uruguaio Ghiggia o tinha surpreendido com um chute certeiro da ponta direita. Barbosa, que estava adiantado, deu um salto para trs, roou a bola e caiu. Quando se levantou, certo de que havia desviado o tiro, encontrou a bola no fundo da rede. E esse foi o gol que esmagou o estdio do Maracan e fez o Uruguai campeo. Pas-saram-se anos e Barbosa nunca foi perdoado. Em 1993, durante as eliminatrias para o mundial dos Estados Unidos, quis dar nimo aos jogadores da seleo brasileira. Foi visit-los na concentrao, mas as autoridades proibiram sua entrada. Naquela poca, vivia de favor na casa de uma cunhada, sem outra renda alm de uma aposentadoria miservel. Barbosa comentou: "no Brasil, a pena maior por um crime de 30 anos. H 43 anos pago por um crime que no cometi".

Segundo Corra (1985), somente aps a vitria na Copa de 1958, disputada na Sucia, os negros no futebol brasileiro foram mais valorizados, mas unicamente pela sua ginga e malandragem dentro de campo jamais por sua capacidade cognitiva, intelectu-al ou por sua inteligncia.

Voc deve estar se perguntando: por que esse racismo todo? Para responder sua questo, vamos tentar encontrar uma hist-ria na prpria histria.

A democratizao do futebol

Vimos que o futebol se origina no contexto do desenvolvi-mento e na ampliao da sociedade capitalista no final do sculo 19. Era uma prtica eminentemente burguesa e, ainda, com certa

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dose de nobreza. As pessoas simples pertencentes classe dos tra-balhadores no participavam oficialmente dessa prtica por razes estruturais e econmicas da referida sociedade e no dispunham de tempo livre para praticar o ento nascente esporte, pois tinham de trabalhar por muitas horas durante o dia.

Podemos concluir que o esporte, no incio de sua histria, funcionava como um diferenciador de classes sociais. Ou seja, pela prtica esportiva amadora, a burguesia da poca mostrava e dei-xava claro para todos a sua crena em sua superioridade social e, tambm, racial. Logo, no foi diferente com o futebol.

O futebol, assim como os demais esportes da poca, era ex-tremamente elitista e excludente. S eram admitidos praticantes de famlias ricas, como os bares do caf, empresrios e altos fun-cionrios das companhias industriais inglesas. O prprio Charles Miller, quando organizou o futebol moderno no Brasil, realizou os primeiros jogos em clubes da elite paulistana.

Apesar da forte oposio em relao democratizao, essa situao foi, aos poucos, alterando-se. Quais fatores podem ter influenciado para a democratizao do futebol? Aquino (2002, p. 32), primeira vista, cita dois:

Os adeptos do esporte breto argumentavam que uma peleja de futebol estimulava o bom funcionamento de todos os rgos, alm do esprito de disciplina e de solidariedade entre os atletas [...]. A prtica do futebol contou com o fato de serem poucas e simples as regras do jogo. Qualquer um, inclusive indivduos dos segmentos pobres e no alfabetizados da sociedade, poderia pratic-lo facil-mente segundo as regras. Bastava dispor de uma bola, de couro ou de pano, para animar um racha. O campo podia ser um terreno baldio, uma vrzea, uma praa ou uma rua.

Para Aquino, a Revolta da Vacina de 1904 tambm influen-ciou a democratizao do futebol. Com intensa participao po-pular, especialmente dos capoeiristas, ela se deu pela imposio da vacina antivarilica s camadas mais baixas da sociedade. No trecho a seguir, h a explicao para esse fato (SANTOS, 1981 apud AQUINO, 2002, p. 33):


Quem venceu esta rebelio de 1904? O futebol. Atribuindo o co-mando da rebelio aos capoeiristas, a polcia matou a capoeira, que reinava absoluta desde o sculo anterior [...] O que restou para aquela gente? A bola, nos terrenos baldios que a remodelao da cidade oferecia [...]

Com o aumento da popularizao do futebol, ele comeou a ser praticado em ruas, praas e terrenos baldios com bolas de meia e de borracha. Com isso, times de "esquina" comearam a surgir. O mais famoso foi o do Corinthians Paulista. O Corinthians ingls, em 1910, em uma excurso pela Amrica do Sul, chegou aqui e goleou todas as equipes que jogaram. Os torcedores das ge-rais vibraram e, um ms depois, um grupo de artesos e pequenos funcionrios fundou o Corinthians Paulista (SANTOS, 1981 apud AQUINO, 2002, p. 39).

Em 1904, tambm por influncia inglesa, fundou-se, no su-brbio industrial da cidade do Rio de Janeiro, o The Bangu Athletic Club. Seus associados eram altos funcionrios de origem inglesa da Companhia Progresso Industrial Ltda., fbrica de tecidos situada no bairro de Bangu. Como no havia, na poca, nmero suficiente de altos funcionrios para que dois times completos fossem formados, operrios da linha de produo interessados em participar do jogo foram convidados. O Bangu tornou-se, desse modo, o primeiro clu-be a permitir o acesso dos operrios a esse esporte, que era privil-gio apenas da burguesia carioca e paulistana (CALDAS, 1990).

A escolha dos operrios-jogadores dava-se, segundo o autor, em funo do desempenho profissional e boa conduta. A partir do convite, o jogador escolhido passava a desempenhar, na fbrica, um trabalho mais leve e, nos dias de treino, tinha autorizao para deixar o trabalho mais cedo.

A partir da, iniciou-se a fase amadora do futebol brasilei-ro, bem como a sua popularizao. Os clubes de fbrica foram os grandes determinantes no incio desse processo. Com isso, o fu-tebol deixou de ser um privilgio apenas da colnia inglesa e das camadas sociais abastadas.

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Em pouco tempo, o exemplo da fbrica de Bangu propagou-se. Sua participao em campeonatos, com o bom desempenho de sua equipe, incentivou a formao de outros times ligados a fbricas, jun-tamente com o Fluminense e Botafogo.

No estado de So Paulo, houve casos parecidos ao do Bangu. Em 1902, na cidade de Sorocaba, interior paulista, o Votorantim Athletic Club foi fundado, tambm, por iniciativa dos altos funcio-nrios e tcnicos ingleses da fbrica. Na capital paulistana no bair-ro da Mooca, a empresa Regoli e Cia. Ltda. tambm tinha seu time de futebol. Em 1909, o empresrio Rodolfo Crespi comprou essa tecelagem, e o clube passou a se chamar Crespi F.C.; na dcada de 1930, foi rebatizado com o nome de Clube Atltico Juventus.

Em pouco tempo, os clubes de fbrica j eram comuns, criando-se, assim, uma tradio de jogos entre eles, em que eram organizados competies e campeonatos. Inicialmente, essas competies eram entre as fbricas e, mais tarde, entre as equipes de origem inglesa.

O gosto e o desenvolvimento dessa prtica foram tamanhos que, nos anos seguintes, os times de fbricas, formados por ope-rrios, tambm se transformaram em clubes de futebol. No incio, obviamente, os empresrios, donos das fbricas, por conta dessa inevitvel associao, foram os primeiros financiadores da organi-zao e da estrutura fsica e material desses clubes.

Entretanto, a incluso de equipes de origem operria nas disputas dos torneios em que os times da elite participavam no era bem-vinda, bem como a presena de jogadores de origem sim-ples nas equipes formadas por jogadores das classes privilegiadas.

Os donos das fbricas, os quais compunham a pequena bur-guesia industrial brasileira da poca, tinham grande interesse em financiar equipes de futebol e, tambm, os clubes ligados aos ope-rrios, uma vez que preservavam uma imagem de ordem e de efi-cincia que os conduziria ao sucesso.


Logo, o prestgio da empresa, se no era totalmente depen-dente da equipe de futebol, podia, em parte, ser favorecido por ela (ANTUNES, 1994). O clube era uma espcie de carto de visitas; ele carregava seu nome e suas cores e, ao mesmo tempo, divulga-va seus produtos. Logo os empresrios perceberam que o futebol praticado pelos operrios poderia funcionar como um grande ve-culo de publicidade (BRUHNS, 2000).

Nessa mesma poca, surgiram jornais especializados e de-dicados aos esportes em So Paulo, por exemplo, havia o Brasil Esportivo e o Sport. Em pouco tempo, a estrutura jornalstica con-taria com reprteres dedicados integralmente aos acontecimentos referentes ao futebol. Nesse perodo, apareceram os jornais es-pecialmente dedicados aos esportes. Em So Paulo, por exemplo, havia Brasil Esportivo, o So Paulo Esportivo e o Sport. Em pouco tempo, a estrutura jornalstica, para noticiar os acontecimentos re-ferentes ao futebol, contaria, inclusive, com um reprter dedicado integralmente a isso.

Com o passar dos anos, apesar da resistncia imposta por alguns clubes, o futebol j no era mais privilgio dos rapazes das famlias ricas. Na dcada de 1920, ocorriam, com frequncia, os jogos entre equipes que tinham em seus quadros jogadores de di-ferentes classes sociais, com imensa presena da classe trabalha-dora como espectadora.

Para ilustrar essa vitria do futebol, Aquino (2002, p. 33) aponta uma passagem do artigo de Joo do Rio, pseudnimo do escritor Paulo Barreto, intitulado "Teremos ns um novo esporte em moda?" de 26 de junho de 1905 no Jornal Gazeta de Notcias: (Joo do Rio, Gazeta de Notcias):

No h dvida. H vinte anos a mocidade carioca no sentia a ne-cessidade urgente de desenvolver os msculos. Os meninos dedi-cavam-se ao 'esporte' de fazer versos maus. Eram todos poetas aos quinze anos [...]. De um nico exerccio se cuidava ento: a capoei-ragem. Mas a arte de revirar rabos-de-raia e pregar cabeadas era exclusiva de uma classe inferior. Depois, a moda trouxe aos poucos o hbito de outras terras o futebol se preparava agora para absor-

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ver todas as atenes. A mocidade fala s de matchs de futebol, de goals, de chutes, em uma algaravia tcnica, de que resultam pala-vras inteiramente novas no nosso vocabulrio.

Em 1923, o Vasco da Gama, com um time formado por ne-gros e pobres trabalhadores, conquistou o Campeonato Carioca. Na poca, isso foi para os times gr-finos os quais tinham em suas fileiras jogadores formados por estudantes e profissionais bem-sucedidos da alta sociedade carioca motivo de humilhao.

Como podemos perceber, no Brasil, os conflitos e interesses antagnicos das classes sociais, prprios da sociedade capitalista, estavam presentes e reproduzidos no processo de popularizao do futebol.

Amadorismo Marrom

Em resposta ascenso do futebol no contexto das fbricas, houve resistncia dos sindicatos dos trabalhadores. Na poca, co-munistas e anarquistas que organizavam a luta sindical no Brasil, especialmente em So Paulo, acreditavam que a prtica do futebol pudesse prejudicar a luta e a organizao dos trabalhadores por melhores condies de trabalho. Segundo os sindicalistas, o tem-po livre dedicado prtica desse jogo iria atrapalhar a mobilizao e a construo de uma conscincia de classe. O futebol era enten-dido como o novo "pio do povo".

O amadorismo garantia, predominantemente, que somente a elite pudesse participar de competies com eficincia e dom-nio do jogo, pois no tinha de trabalhar, tendo mais tempo livre que a classe trabalhadora. A prtica amadora garantia a ausncia dos mais humildes, uma vez que, ao ter de trabalhar para sobrevi-ver, eles no poderiam se dedicar ao futebol como exerccio pro-fissional. Isso, obrigatoriamente, afastava-os dos jogos oficiais e do convvio com a burguesia paulistana e carioca.

Com a inteno de barrar a ascenso dos pobres, a Liga Me-tropolitana baixou uma norma na qual somente seriam registra-


dos atletas capazes de assinar o prprio nome na smula do jogo e que comprovassem estar estudando ou trabalhando. Depois disso, especialmente o time do Vasco da Gama, os dirigentes comearam a dar declaraes de que tal atleta trabalhava em suas casas co-merciais, e os jogadores comearam a receber os famosos bichos:

Chamavam-se esse dinheiro de bicho porque, s vezes, era um ca-chorro, cinco mil ris, outras, um coelho, dez mil ris, outras um peru, vinte mil ris, um galo, cinqenta, uma vaca, cem. No parava a. Havia vacas de uma, de duas pernas, de acordo com o jogo (M-rio Filho, 1964 apud AQUINO, 2002, p. 42).

Com isso, surgiu o amadorismo marrom. Essa expresso inventada por associao imprensa marrom que vive da explora-o de casos ilegais e sensacionalistas. A partir de ento, os joga-dores comearam a receber para jogar. Alm dos bichos, recebiam mveis, materiais de construo, empregos, entre outras coisas.

O fato que pobres e negros, apesar disso, mostravam-se grandes jogadores, de forma que, cada vez mais, as equipes e os clubes da elite tiveram de se render aos seus talentos. No comeo, mascaravam o profissionalismo recebendo salrios como simples empregados do clube ou de uma fbrica, embora, na verdade, a remunerao viesse do vnculo com o time de futebol.

Nesse perodo, podemos denominar a relao dos jogado-res com os clubes de semiprofissionalismo. Nesse contexto, mui-tos dos grandes jogadores do Brasil foram contratados por outras equipes da Amrica Latina e Europa, dentre eles Domingos da Guia e Fausto.

Para Caldas (1990), o semiprofissionalismo s interessava aos clubes, pois, enquanto as arrecadaes nos estdios s aumenta-vam e enriqueciam os clubes, os jogadores permaneciam na mes-ma condio de explorados e sem nenhum direito. Submetiam-se a essa situao na esperana de um dia profissionalizarem-se de verdade. Enquanto isso, os dirigentes, com raras excees, explo-ravam a ignorncia e a subservincia dos jogadores em troca de sa-lrios irrisrios ou de empregos sem nenhuma garantia. Esse foi o

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quadro do futebol brasileiro at incio dos anos 1930: um semipro-fissionalismo de mo nica, no qual somente os clubes ganhavam.

Dessa maneira, racismo, elitismo, conflitos de classes e senti-mento de superioridade marcaram os primeiros tempos do futebol brasileiro, conflito esse que teve o seu pice de manifestao na im-plementao do profissionalismo do futebol no Brasil. Nesse sentido, conservar o futebol amador garantia, no modo de ver da elite, que brancos e negros, pobres e ricos mantivessem sempre uma distncia.

O profissionalismo no futebol brasileiro

No sentido de acabar com a prtica do amadorismo marrom ou semiprofissionalismo, comearam a surgir pessoas que defen-diam a profissionalizao do futebol. Associado a isso, outro fator que favoreceu o processo de profissionalizao do futebol esteve ligado ao crescente xodo de jogadores para o exterior, atrados por altos salrios oferecidos por clubes estrangeiros.

Para se ter uma ideia, em 1931, cerca de 30 jogadores brasi-leiros foram para clubes italianos. A necessidade de manter o joga-dor por contrato tambm favoreceu esse processo, pois muitos jo-gadores abandonavam os seus clubes, a qualquer momento. Nos dois principais centros desportivos do pas Rio de Janeiro e So Paulo no ano de 1933, foram criadas, respectivamente, a Liga Carioca e a Liga Paulista de Futebol, responsveis pela implantao do profissionalismo no Futebol (AQUINO, 2002).

Com a profissionalizao oficial no Brasil em 1933, foram am-pliadas as possibilidades de trabalho de muitos operrios, havendo a possibilidade de organizao e formao de equipes mais compe-titivas e jogadores com boa qualidade tcnica; apesar do profissio-nalismo, jogadores de clubes de fbrica continuavam, entretanto, trabalhando como operrios, treinando aps o expediente.

Todavia, a esse movimento houve muita resistncia, especial-mente dos clubes do Rio de Janeiro e de So Paulo, os quais no viam com bons olhos a mistura de classes sociais na hora do jogo de futebol.


O problema que os clubes do subrbio e das periferias j comeavam a apresentar bons jogadores e a levar grande nmero de pessoas para assistir aos jogos. Foi o caso do Vasco da Gama do Rio de Janeiro.

Nesse sentido, com maior representao social, as disputas entre os clubes tornaram-se mais acirradas e a busca pelos melho-res jogadores tambm. Como nesse momento as camadas mais populares produziam os melhores jogadores, os grandes clubes, se quisessem t-los em seus times, teriam de pag-los e contrat-los.

importante ressaltar que, no contexto dos anos de 1930, o Brasil era governado pelo presidente Getlio Vargas. Assim, para conter o avano poltico da classe trabalhadora e da esquerda, foi proposta uma poltica trabalhista que regulamentava uma srie de profisses, inclusive a de jogador de futebol. Os atletas, finalmen-te, transformaram-se em empregados dos clubes.

Em 1940, trs quartos dos jogadores profissionais j tinham origem social na classe trabalhadora. No entanto, era um profissio-nalismo tutelado pelos dirigentes e presidentes dos clubes.

Os atletas profissionais eram submetidos a uma relao pa-ternalista e de controle sobre seus hbitos de vida, os quais vi-nham de suas razes operrias e humildes. Tais hbitos e cultura, segundo Caldas (2001), eram extremamente repugnados e rejeita-dos pelas classes mdia e alta da sociedade, sem deixar de men-cionar que os salrios no eram altos.

Depois de 1950, apesar da derrota da seleo brasileira de futebol para a seleo uruguaia na Copa do Mundo de Futebol re-alizada no Brasil, esse esporte, definitivamente, entrou para o ce-nrio cultural brasileiro como um grande espetculo de massa. O futebol consolidou-se, tambm, pela presena maior dos meios de comunicao na divulgao e organizao dos eventos.

No Brasil, os jogos, at a poca de 1970, eram transmitidos pela televiso na forma de videoteipe. Isso ajudou a firmar o estilo brasileiro de se jogar futebol com a presena corporal marcante do negro e do mestio.

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Com as conquistas das Copas do Mundo de 1958, na Sucia, e de 1962, no Chile, o estilo brasileiro de futebol ganhou reconhe-cimento internacional, por ser jogado com arte. Definitivamente, com essas duas conquistas, o futebol no Brasil consolidou-se como uma grande mercadoria da indstria cultural.

Atualmente, analisamos que o futebol profissional, como grande produto da lgica capitalista, est vinculado indstria do entretenimento como um produto a ser consumido pelos milhares de pessoas que vo aos estdios ou pelos milhes que assistem aos jogos pela TV.

Durante as transmisses ao vivo dos jogos pela televiso, a publicidade de inmeros produtos aparece a cada minuto. So mercadorias de toda ordem: de lminas de barbear e perfumes at as marcas de bebidas alcolicas.

Desse modo, o jogador profissional

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