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HERCULANO THIAGO BATISTA SANTANA COSTA NETO JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO MEDIDA ALTERNATIVA DE PENA DO USUÁRIO DE DROGAS

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HERCULANO THIAGO BATISTA SANTANA COSTA NETO

JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO MEDIDA ALTERNATIVA DE PENA DO USUÁRIO DE DROGAS

PALMAS-TO2017

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HERCULANO THIAGO BATISTA SANTANA COSTA NETO

JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO MEDIDA ALTERNATIVA DE PENA DO USUÁRIO DE DROGAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito da disciplina Trabalho de Curso em Direito II (TCD II), do Curso de Direito do Centro Universitário Luterano de Palmas- CEULP-ULBRA.

Orientador: Prof. Paulo Fernando Mourão Veras

PALMAS –TO2017

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HERCULANO THIAGO BATISTA SANTANA COSTA NETO

JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO MEDIDA ALTERNATIVA DE PENA DO USUÁRIO DE DROGAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito da disciplina Trabalho de Curso em Direito II (TCD II), do Curso de Direito do Centro Universitário Luterano de Palmas- CEULP-ULBRA.

Orientador: Prof. Paulo Fernando Mourão Veras

Aprovado em ____________________ de 2017.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________Prof.ª Paulo Fernando Mourão Veras(Orientador)

Centro Universitário Luterano de Palmas

__________________________________________Prof. (Convidado)

Centro Universitário Luterano de Palmas

___________________________________________Prof. (Indicado)

Centro Universitário Luterano de Palmas

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DEDICATÓRIA

A todos que me ajudaram para que fosse possível a construção deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus Pai, por me proporcionar saúde e forças para superar os obstáculos

da vida.

Aos meus Pais, que formaram meu caráter, zelaram pela minha educação.

Aos meus irmãos (em especial a J. Costa por sempre me apoiar, sendo uma grande

amiga e que agora está prestes a ser mãe, você sempre foi e sempre será uma inspiração.

Aos meus amigos (Járede Wilvi e Fernando R. Veloso), por compartilhar momentos

únicos na carreira acadêmica e fora dela.

A minha parceira e melhor amiga (Bianca Peixoto Matos), por estar sempre ao meu

lado mesmo estando longe, me motivando e mostrando que não há limites quando se objetiva

algo.

O professor M.e Paulo Fernando Mourão Veras, pelo apoio, dedicação, paciência e

orientação em todas as etapas deste trabalho.

Aos meus professores da Universidade Luterana de Palmas, por me capacitarem para

atuação no mundo jurídico.

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O futuro pertence àqueles que se preparam hoje para ele.

Malcolm X

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RESUMO

O presente trabalho propõe esclarecer sobre a Justiça Restaurativa, que consiste em um modelo de resolução de conflitos, aplicando esse modelo de justiça como medida alternativa do usuário de drogas, baseado no diálogo entre as partes envolvendo usuário de drogas, visando a reparação de danos dos conflitos oriundo desse delito, o tratamento do usuário utilizando a política de redução de danos, evitando a reincidência e proporcionando ao usuário melhor amparo jurídico. O trabalho buscou analisar o conceito de drogas, usuário, o contexto histórico das drogas, a ineficácia dos crimes previsto no artigo 28 da lei nº 11.343/2006, apresentando como objetivo primordial a possibilidade da aplicação da Justiça Restaurativa nos juizados especiais para tratamento do usuário de drogas com redução de danos na saúde pública.

Palavras-chave: Usuário de drogas. Justiça Restaurativa. Redução de danos.

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ABSTRACT

This paper proposes to clarify about Restorative Justice, which consists of a criminal justice model delimited in a non-punitive paradigm, applying this model of justice as an alternative measure of drug users, based on the dialogue between the drug user parties, aiming at the repair of damages of the conflicts resulting from this crime, the treatment of the user using the harm reduction policy, avoiding recidivism and providing the user with better legal protection. The study sought to analyze the concept of drugs, users, the historical context of drugs, the ineffectiveness of crimes provided for in article 28 of Law 11,343 / 2006, presenting as a primary objective the possibility of applying Restorative Justice in special courts for user treatment harm reduction in public health.

Keywords: Drug user. Restorative Justice. Reduction of damages.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Pessoas ou entidades envolvidas direta ou indiretamente com a ação.....................55

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CAPS-AD Centro de Atenção Psicossocial – CAPS Álcool e Drogas

CEPEMA Central de Penas e Medidas Alternativas 

CID 10 Código Internacional de Doenças 10ª Revisão

CUE61 Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961

DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

FUNAD Fundo Nacional Antidrogas

JIFE Junta Nacional e Fiscalização de Entorpecentes

OICE Organismo de Supervisão das Nações Unidas

OMS Organização Mundial da Saúde

ONU Organização Das Nações Unidas

SENAD Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas

SNC Sistema Nervoso Central

UNDOC Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes

UNESCOO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................11

1 CONCEITO DE DROGAS.............................................................................................13

1.1 Classificação das drogas..................................................................................................16

1.2 Evolução histórica das drogas........................................................................................22

1.3 Evolução das drogas no Brasil........................................................................................28

2 DO USUÁRIO DE DROGAS.........................................................................................33

2.1 O Usuário na Lei 11.343/06.............................................................................................35

2.2 Natureza juridica do artigo 28 da Lei 11.343/06...........................................................37

2.3 A Ineficácia das penas previstas para os usários de drogas........................................39

3 JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO MEDIDA ALTERNATIVA PARA

USUÁRIOS DE DROGAS..............................................................................................44

3.1 O Método restaurativo na Lei 11.343/06 para o tratamento de usuário de drogas...48

3.2 Tratamento com redução de danos na saúde pública..................................................51

3.3 A Possibilidade da aplicação da justiça restaurativa nos juizados especiais.............53

3.4 Justiça restaurativa no estado do Tocantins.................................................................55

CONCLUSÃO..................................................................................................................59

ANEXOS...........................................................................................................................61

REFERÊNCIAS...............................................................................................................67

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como temática: A justiça restaurativa como medida

alternativa de pena do usuário de drogas, e traz o conceito de drogas, suas especificações,

evolução histórica no Brasil e no mundo, repercussão social dessa problemática, com enfoque

na possibilidade de aplicação desse modelo de justiça para o usuário.

Reflexões e, principalmente, ações pontuais de combate às drogas são relativamente

atuais, mas a presença dos entorpecentes, data de séculos atrás; travando uma luta com o

homem que vai da sedução encantadora à destruição completa, geralmente, em todos os casos

e desde que a droga, enquanto substância maléfica, entrou no mundo.

Nessa direção, verificou-se que o presente estudo é e sempre será um assunto de

relevância social e necessitará do máximo de ações comprometidas, em primeiro lugar, do

Estado, e depois da Sociedade Civil como um todo; refletindo, discutindo e propondo

programas, projetos e intervenções onde for possível, para que aos poucos, em uma ação e em

outra, se possa iniciar um processo de tratamento da sociedade através da justiça restaurativa;

uma vez que, do modo como as drogas já se espalharam, associado ao estilo de vida que a

maioria das pessoas leva hoje, é um caso de saúde, ou melhor, de doença que precisa ser

tratada e curada.

Na parte técnica do trabalho, a partir das pesquisas bibliográficas em artigos impressos

e virtuais, revistas e livros correspondentes à temática, nesse estudo abordado, foi possível

elaborar e desenvolver essa produção acadêmica.

Dentro dessa pesquisa, estabeleceu-se alguns objetivos a fim de satisfazer as

considerações em torno da temática proposta. Como objetivo geral, tem-se: Expor a temática:

A justiça restaurativa como medida alternativa de pena do usuário de drogas. E como

objetivos específicos: Apresentar o conceito de drogas; trazer suas especificações, demonstrar

sua evolução histórica no Brasil e no mundo e apresentar a repercussão social dessa

problemática, com enfoque na aplicabilidade do modelo de justiça restaurativa para resolução

de conflitos envolvendo usuário de drogas. A partir dos quais, baseou-se os capítulos

correspondentes a essa produção textual.

O presente trabalho será realizado em 3 (três) capítulos, e buscará inicialmente

apresentar o conceito de drogas, classificando em naturais, semissintética e sintética e

explorar o histórico e evolução das drogas.

No segundo capítulo trabalharam-se o conceito do usuário de drogas na lei nº

11.343/2006, bem como a natureza jurídica do artigo 28 (vinte e oito) da referida lei e a

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ineficácia das penas prevista nesse artigo. Apresentando fundamentos jurídicos sobre a

temática.

No capítulo final, o trabalho propõe apresentar a justiça restaurativa como medida

alternativa para usuários de drogas, utilizando o método restaurativo para tratamento dos

usuários de drogas através da política de redução de danos. Neste capítulo também será

analisada a possibilidade da aplicação da Justiça Restaurativa nos Juizados Especiais,

destacando o modelo de Justiça Restaurativa na recuperação do usuário com intuito de

promover a política pública na atuação do delito evitando a reincidência desse indivíduo.

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1 CONCEITO DE DROGAS

Presente no mundo há séculos, as drogas têm se materializado de diversas formas,

acompanhando a raiz controversa de sua palavra. De origem Holandesa, em tese, deriva do

termo droogevuteque quer dizer folha seca. No português do Brasil, esse termo de acordo com

o dicionário Aurélio significa “dro.gasf (fr drogue) designação comum a todas as substâncias

ou ingredientes aplicados em tinturaria, química ou farmácia” (FERREIRA, 2000, p.754),

essa denominação nada mais é do que o esqueleto de toda uma estrutura que incorpora todos

os aspectos pertinentes e pouco distintos sobre drogas.

Para Gately:A palavra droga em Francês, drogue, em Italiano, droga, em Inglês, drug, em Alemão, Droge, em Espanhol droga tem sua origem controversa, sendo talvez proveniente da palavra Holandesa droogevutetonéis secos substantivos drogue produtos secos, drogas. (GATELY, 2001, p.1085).

Com a extensão magnífica da palavra droga que é amplamente acusado pela doutrina,

Rodrigues, traz uma definição que abrange significativamente as lacunas deixadas pelo termo,

ele afirma que:Em um significado amplo droga é um fenômeno contra cultural que significa qualquer substância não admitida pela coletividade, cuja concepção esconde um jogo de interesses e conotações subjetivas, morais, políticas etc. As frases a droga mata, droga, violência e sexo, os drogados são doente etc. denotam essa ideia excessivamente ampla. Ao revés, em sentindo estrito, o conceito de droga pode apresentar-se de acordo com a perspectiva popular, médico-científica ou farmacológica, substâncias que ou não têm aplicação médica ou a têm, mas é utilizada indevidamente e a jurídica só seriam drogas o que a lei determina. Ainda dentro do conceito jurídico, poderia se falar de um conceito jurídico-administrativo, jurídico-penal etc. (RODRIGUES, 1993, p.25).

Diante de uma variação de definição agregada ao conceito que foi descrito acima, a

Organização Mundial de Saúde (1995), define as drogas como “qualquer substância natural

ou sintética que, uma vez introduzida no organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas

funções”, e ainda denomina claramente que “o termo droga presta-se a várias interpretações,

mas para o senso comum é uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo, que pode

modificar funções orgânicas, as sensações, o humor e o comportamento”. (ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DA SAÚDE, 1995).

Como foi colocado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a droga pode

modificar funções no organismo daqueles que fizerem uso desse conteúdo, por esse motivo o

mesmo instituto se posiciona de uma forma negativa, ao alertar que “a intoxicação química

por substâncias psicoativas como uma doença” e classifica a “compulsão por drogas como

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transtornos mentais e comportamentais” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1995),

a organização deixa claro que o uso de medicamentos resulta em comportamentos contrários

ao que é considerado normal.

Há diversas espécies que estão relacionadas no mesmo patamar ao que é definido

como drogas, um exemplo comum que se fará entender esta distinção é a comparação alocada

por Aranzadi entre a expressão tóxico e veneno:

[...] a palavra tóxico, que etimologicamente equivale a veneno, tem sua noção relacionada estreitamente com os efeitos que provoca afetando seriamente a saúde de um organismo vivo, depois de absorvido. Tanto a expressão tóxico como veneno podem ser consideradas análogas a droga ou medicamento, com a diferença de que se a substância modifica um estado patológico melhorando-o, será medicamento, se piora o estado da saúde, será veneno. (ARANZADI, 1993, p.32).

Desta maneira cada espécie é classificada de forma diversa, porém dentro de um

mesmo parâmetro podendo ser equivalentes, mas tendo um resultado apartado e reservado a

cada agente, como diz Tarso Araújo (2012, p.14), “nenhuma substância é boa ou má em si. O

uso dela é que ditará suas consequências”.

Na mesma linha da afirmação feita por Tarso Araújo, algumas drogas que têm a sua

denominação diferenciada, talvez até mesmo com igual finalidade, semelhante composição,

como é o caso de remédios farmacêuticos e maconha, crack, cafeína e o álcool (SENAD,

2002). Essas diversidades de espécies e suas respectivas consequências podem ser notadas

quanto ao uso da maconha, aproveitada pelos índios que utilizam alguns benefícios contidos

neste agente como planta medicinal; se utiliza da substância extraída da folha da maconha e

outras ervas alucinógenas, tanto para curas de doenças, ferimentos e dores. (GOODMAN &

GILMAR, 2007).

Os efeitos e objetivos citados acima, também podem ser encontrados em um chá

chamado de Santo Daime. É produzido por determinadas aldeias indígenas para fazer parte de

um ritual cultural onde em exato momento é usada à toxina para que possa realizar um

encontro espiritual com entes falecidos, seres abençoados, superiores, tido com deuses para

eles; esses costumes são vistos com um olhar positivo deste conteúdo, mesmo apresentando

efeitos reversos aos organismos que ingerem o chá. (ANVISA, 2002).

Outro conceito designado a este agente é o que determina droga como as utilizadas por

farmacêuticos para a confecção de medicamentos que terá sua função determinada pela

matéria prima que foi composta para que daí se possa determinar como e em qual distúrbio

funcional celular ele irá agir proporcionando uma possível solução, isso quer dizer que se o

remédio foi elaborado a base de maconha, ele agirá em órgãos que essas substâncias agem;

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um exemplo de medicamento que tem sua composição extraída pela folha da maconha é o

Sative, medicamento indicado para pessoas que sofrem de dores. (LARINI, 1993).

Perante essa comparação, pode ser notada que há distintos alvos que são alcançados

decorrentes do emprego de drogas dentro do sistema operacional vivo, ainda que sua origem,

sua essência seja a mesma. Essa distinção confirma o que foi supracitado visto que se a sua

aplicação for para um fim benéfico realizará como tal e tendo como maléfico prevalecerá o

que a negatividade deste agente. Uma acepção pertinente à apreciação de drogas que traz uma

descrição mais técnica, onde não poderia deixar de citar é a feita por Marcos Passagli (2011):

As drogas são substâncias químicas naturais ou sintéticas que, após administração, interferem no funcionamento dos organismos vivos, podendo-se considerar seu efeito num órgão alvo ou no organismo de forma integral. (PASSAGLI, 2011, p.51).

Com o uso destas drogas que tem como objetivo fim, atingir órgãos e passivelmente

danificá-los ou apenas os confundir, desestruturar comandos que são designados a esses

organismos desde logo na sua formação, esses órgãos são comandados por um conjunto de

funções, que trabalham de forma sincronizada, organizada e ao menos em um bom estado de

funcionamento, necessariamente nesta ordem, para que essas peças essenciais possam fazer

com que esta máquina funcione corretamente. (OGA, 1996).

Essas substâncias atingem os principais órgãos, que sem o seu correto funcionamento

pode resultar em uma desconfiguração corporal, Passagli (2011, p. 225) dispõe essas drogas

como “psicoativas ou psicotrópicas” e ainda descrimina “atuam no SNC (sistema nervoso

central), modificando o humor a consciência, os pensamentos e os sentimentos”. O ilustre

doutrinador afirma que há uma disfunção no sistema corporal daquele ser vivo que fizer uso

dessa substância. (PASSAGLI, 2011).

Por um motivo significativo, que seja a finalidade e os efeitos causados pelo uso da

droga, que veio a necessidade de uma determinação para regulamentar a utilização destes

agentes, como foi abordada anteriormente que não só aponta prejuízos, mas também mostra

benefícios, que surgiu após uma evolução legislativa, que será explanado posteriormente, a

Lei 11. 343 de 2006. (ARRUDA 2007).

Há uma necessidade de que se esclareça, o que a lei elenca como droga é o que

estabelece o texto do parágrafo único do artigo 1º da lei, “as substâncias ou os produtos

capazes de causas dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas

atualizados periodicamente pelo Poder Executivo da União.” (VADEMECUM, 2016,

p.1863).

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Como existe uma variedade de substâncias com funções semelhantes e várias formas

de utilização, são designados órgãos competentes para citar, apontar, classificar, distinguir e

decidir se determinado elemento deverá ter seu uso impedido ou permitir que ele seja

utilizado, com suas respectivas restrições, se houver, e desta forma passar por procedimentos

legais para regularizar e publicar essas decisões.

1.1 Classificação das drogas

As sociedades civis e o poder público designaram instituições para administrar

aspectos relacionados ao assunto drogas e efeitos paralelos, sendo alguns o Ministério da

Saúde; Organização Mundial da Saúde (OMS); Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA).

São organizadas convenções, eventos em prol de encontrar soluções para os assuntos

relacionados e correlacionados a drogas, há o envolvimento de vários países e a presença de

cargos relevantes para também desenvolver respostas positivas para as problemáticas tratadas

nestes eventos e sempre buscar atualizar as listas que define as substâncias consideradas

ilícitas em razão da inovação tecnológica que são utilizadas na constante fabricação das

drogas, novas aparições de entorpecentes, soluções e eventualmente colocar pontos que

abrangem possibilidades de permissões e restrições com o uso desses agentes e inclusive

classificar os tipos de agentes nocivos. (ONU, 2017).

A classificação a ser elaborada tem como fonte e base para a distinção das drogas os

dados apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Ministério da Saúde,

Agência Nacional Sanitária (ANVISA), Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas

(SENAD), Fundo Nacional Antidrogas (FUNAD), Escritório das Nações Unidas para Drogas

e Crimes (UNDOC), Junta Nacional e Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), são entidades

competentes na discussão em drogas e assuntos relacionados.

Dentro dessas classificações são apontados elementos que auxiliaram no entendimento

e na percepção do que possa ser um conceito físico do termo droga, esboçando

detalhadamente poderá chegar a uma noção real e materialista do significado de entorpecente.

Nesta ocasião estão previstas na Portaria SVS/MS 344/1998, taxados na lista elaborada pela

Agência Nacional Sanitária, ANVISA-RDC 36, 3 de agosto de 2011, onde estão elencadas as

substâncias entorpecentes. (CARVALHO & MENDONÇA, 2012).

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Baseada em analises e estudos foram nomeadas, destinadas e definidas algumas

“espécies” de entorpecentes que se encaixam em cadeias, agregadas às composições

semelhantes ou pela mesma substância, podendo elas ser naturais, sintéticas e semissintéticas.

Martins (2007) explica que, de acordo com o moderno direito internacional da droga:

A Convenção Única sobre os Estupefacientes de 1961 – doravante designada por CUE61 — destinou-se explicitamente (v. o seu artigo 44.º) a substituir os anteriores instrumentos multilaterais por um único, a reduzir o número de órgãos internacionais, entretanto, criados, a assegurar o controle das matérias-primas dos estupefacientes. Em termos sintéticos, o sistema descreve-se assim: as Partes obrigam-se a limitar, exclusivamente a fins médicos e científicos, a produção, fabrico, exportação, importação, distribuição, comércio e uso dos estupefacientes constantes da lista anexa à Convenção — lista que deve ser atualizada conforme as informações disponíveis sobre a perigosidade das substâncias; as Partes declaram ao organismo de supervisão das Nações Unidas (o OICE) as suas necessidades anuais que, uma vez aprovadas, devem ser tidas em conta pelos países fornecedores, inclusive quanto à necessidade da sua satisfação (18); nas relações de comércio, especialmente internacional, adoptam um conjunto de medidas que impeçam o desvio das substâncias para o mercado ilícito; aplicarão disposições de carácter penal aos comportamentos violadores dos preceitos convencionais. (MARTINS, 2007, p.05).

Existem vários tipos de substâncias proibidas nocivas, na sua maioria são extraídas de

plantas seja do seu caule, folha, frutos e especificamente o cogumelo ele como um todo. E

entre os naturais a mais consumida é a cafeína, seja no café, no capuchino ou em outras

bebidas e alimentos que possa conter; ela tem o poder de modificar a percepção sensorial do

organismo, os órgãos circuntriculares e necessariamente a glândula hipófise. (NICASTRI,

2006).

Em paralelo com a cafeína, a mais conhecida entre os naturais, a maconha que é o

resultado da extração de uma planta da espécie Cannabis Sativa, que pode ser utilizada de

várias formas até chegar ao ponto de consumo, podendo passar por um processo de adubação

onde acontece a sua “desidratação”, ou sendo naturalmente preparada com a secagem

espontânea da folha. (OMS, 2006).

Há outras espécies que fazem parte da mesma composição natural, semelhante à da

maconha e a cafeína, são organicamente extraídas, exemplos dessa classe são:

Ópio – uma resina retirada de uma flor da espécie PAPOULA, seu nome

cientifico é PAPAVER SOMNIFERUM, essa substância atinge o sistema

nervoso central (SNC), tem função analgésica, é atualmente conhecida como

morfina, usada na composição para a fabricação de remédios. (NICASTRI,

2011).

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Cocaína – extraída da folha da coca, nome técnico ERYTHROXYLUM

COCA,do qual existem variedades como a boliviana (huanaco), a colombiana

(novagranatense) ou a peruana (trujilense). A planta possui 0,5% a 1% de

cocaína e pode ser produtiva por períodos de 30 ou 40 anos. (COSTA; SILVA,

2017).

Esta substância possui propriedades estimulantes e é comercializada sob a forma de um pó branco cristalino, inodor, de sabor amargo e insolúvel na água, assumindo os nomes de rua de coca, branca, branquinha, gulosa, júlia, neve ou snow. O pó é conseguido mediante um processo de transformação das folhas da coca em pasta de cocaína e esta em cloridrato. (COSTA; SILVA, 2017, p.44).

A peculiaridade deste pó tem função relevante para moradores e pessoas que se

encontrem em determinados lugares do mundo como a Colômbia, pois ela tem funções

significativas para os nativos e visitantes desses lugares, pois o uso da coca pode ser de várias

maneiras. (COSTA; SILVA, 2017).

Tabaco –um dos agentes mais consumidos no mundo, sua existência é milenar,

antigos faziam o uso para inibir desejos, mascando ou cheirando. Sua extração

é feita através da folha de uma planta, a solanácea.

Planta solanácea, originária da ilha de Tobago, e cujas folhas, diferentemente tratadas, servem para fumar, cheirar ou mascar; fumo. O tabaco é uma planta vigorosa, de folhas grandes, que pode atingir de altura. Originários das Antilhas, levado para a Europa pelos espanhóis e vulgarizado na França pelo embaixador Nicot, cultivou-se o tabaco em quase todos os países, especialmente nos Estados Unidos da América (costa do Atlântico), na Índia, no Brasil, nos Balcãs etc. As folhas de tabaco, depois de colhidas, são postas a secar dentro de galpões submetidas a uma fermentação em massa e transformadas em finos grânulos (rapé), em filamentos cortados (fumo) ou em rolos (tabaco para mascar ou para cigarros de palha). (em vários países, o cultivo, fabricação e venda do tabaco são objeto de monopólio estatal). (FERREIRA, 1999, p.151).

Como foram ilustradas as utilidades da extração desses elementos naturais, pode ser

perceptível à antiguidade, o costume e as diferentes formas de composições, o uso e seu

cultivo que tem presença expressiva por várias partes do mundo.

Ainda dentro do contexto sobre drogas, um conteúdo extenso, amplo para

esclarecimento sobre aspectos relacionados, tendo a influência do tipo, métodos de uso,

associações com outros agentes, desta forma pode ser mostrado ainda mais outra classe dessas

substâncias.

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Existem também as denominadas sintéticas, são aquelas totalmente artificias,

fabricadas em laboratório, onde acontece uma mistura de componentes que passam por

procedimentos específicos, técnicos e determinados para a elaboração dessas drogas.

São elementos produzidos para ter a mesma sensação e reação dos sentidos existentes

no corpo humano, um exemplo abordado por Tarso Araújo (2012, p.16), “a única diferença da

molécula de anfetamina para a de dopamina, importante mensageiro dos neurônios, são dois

átomos de oxigênio a menos em sua estrutura molecular [...]”, o exemplo apontado por Tarso

é um análise material do que é um elemento sintético, ele transmite uma sensação não

existente ao sistema nervoso central que posteriormente passara a ser transmitida para outras

regiões do celebro, desta forma fazendo com que o haja um distúrbio cerebral.

As produções destas drogas apontam este método mais barato, com baixos custos para

a sua elaboração e lucros significativos, pela diversidade de possíveis subsídios que possam

ser inseridos em mistura e isso explica a sua alta produção, sua existência espalhada pelo

mundo.

Atualmente é quase o impossível definir os produtos inseridos na fabricação dessas

drogas sintéticas, pois a criatividade conciliada com a necessidade de alta produção estimula

esse tipo de atitude, presentemente existem algumas drogas que se encaixam nesta

classificação que são anfetamina, ecstasy, benzodiazepínos, metodona, fentanil, quetamina,

efedrina, poppers, LSD (ácido lisérgico), anabolizantes. (ANVISA, 1998).

Há outra classe denominada de semissintéticas, a nomenclatura empregada às drogas

que são produzidas com produtos naturais que passam por um aperfeiçoamento laboratorial,

por meio de procedimentos químicos. Exemplos de drogas semissintéticas são, cocaína, crack,

heroína, merla, cristais de rachile, maconha modificada, morfina e codeína.

Cocaína - tem ação estimulante, é extraído da folha da coca, o resultado dessa

extração da origem a um pó branco com aparência cristalina, é inalado,

cheirado, podendo também ser injetado com o auxílio de cerinhas, sua

sensação de prazer tem curta duração aproximada de 10 a 15 minutos. Seus

efeitos forma estudados por Sigmund Freud, psicanalista, que ingeriu em si

mesmo e em pacientes que posteriormente ficou dependente da droga.

(CESAROTTO, 1989).

Crack – pode ser fabricada a partir da coca, uma reação derivada da cocaína,

até a substância chegar ao estado para se transformar no crack, é feito uma

mistura de outros agentes como a gasolina, querosene, amônia, reagentes

corrosivos. (NOGUEIRA, 2017).

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Merla – é uma droga extremamente perigosa, possui a mesma composição do

crack, porem nesta, as misturas químicas são mais audaciosas, o seu uso é por

curto prazo, pois ela tem um potencial lesivo muito elevado, podendo levar o

usuário a óbito com poucos meses de uso, seu potencial ofensivo no organismo

aumenta quando ingerida juntamente com outras drogas. (NOGUEIRA, 2017).

Heroína – é derivada da morfina, por meio de procedimentos químicos. Pode

causar dificuldade respiratória, até mesmo a paralisação total do pulmão. O seu

uso pode ser feito tanto por meio de seringas. (NOGUEIRA, 2017).

Essas substâncias podem ser divididas em drogas naturais, parcialmente sintéticas e

sintéticas, mas de uma forma geral, são classificadas de acordo com os efeitos farmacológicos

que exercem, ou seja, a forma como atuam sobre o cérebro. (DUARTE; FORMIGONI, 2016).

Perante a amplitude da pluralidade das espécies de drogas, suas classificações

abrangem também sobre a classe das psicotrópicas, essa especificação atinge como o nome

diz “psico” quer dizer mente trópico significa “atração por”. (MARIA, 2013).

As drogas ditas psicotrópicas são as que alteram a forma do indivíduo sentir, pensar e,

às vezes, agir. Podem ser estimulantes, depressoras ou perturbadoras do Sistema Nervoso

Central (SNC). (FRAIZ JUNIOR, 2017).

As substâncias listadas anteriormente também se encaixam no conceito utilizado em

outros grupos de classificação de drogas que podem ser destacadas de uma forma mais técnica

e de acordo com os efeitos colaterais celebrais que afetam o sistema nervoso central.

Baseadas nas ações produzidas pelas drogas no Sistema Nervoso Central (SNC),

diante das mutações geradas pelo consumo dessas substâncias na atividade mental e, ou no

comportamento do organismo consumidor, perante essas reações houve a distinção em três

grupos de drogas, as depressoras, estimulantes e perturbadoras.

Na classe de drogas depressoras engloba distintas substâncias que se revela perante a

forma física, química e biológica, porem esta distinção esta ligadas ao efeito comum no

organismo afetado, a diminuição da atividade global ou de específicos sistemas contidos no

SNC. (NICASTRI, 2006).

O resultado das reações é reduzir a capacidade motora, aumentar o nível de sono, e

diminui a dor. Uma atual exposição destes agentes são os produtos comercializados como o

álcool, uma substância com um alto índice de consumo mundial (10ª revisão CID 10).

O álcool é uma solução produzida pela fermentação de carboidratos vegetais e a

inserção de dez por cento de álcool etílico legítimo, possui propriedades euforizantes e

intoxicantes, fazendo com que ela se torne uma droga psicotrópica. (NICASTRI, 2006).

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Além do álcool há outros produtos que igualmente se adequada ao conceito de drogas

depressoras, como classifica Nicastri (2006):

Barbiturias – são substâncias artificiais incorporadas igualmente aos compostos

aliadas as benzodiazepínicos que são tranquilizantes.

Benzodiazepínicos – possui utilidade medicinal, porém quando não ingerido

corretamente pode provocar alterações no ácido-gama-aminobutírico, o

neurotransmissor primordial do SNC.

Opiodes – neste grupo são incluídas as drogas sintéticas e semissintéticas,

derivadas de organismos naturais que passaram por procedimentos

laboratoriais, opiodes são aquelas produzidas quimicamente, podendo ser total

ou parcialmente.

Solventes e inalantes – as substâncias encontradas neste grupo não há nenhuma

importância clínica, com exceção as utilizadas para a fabricação de anestésicos.

São exemplos de inalantes e solventes, a cola de sapateiro, lança perfume,

acetato de etila, xilol, entre outros.

As drogas que fazem parte do grupo das drogas depressoras possuem diversas formas

de consumo, um consumo rápido e na sua maioria os efeitos produzidos tem pouca duração,

ocasionando o uso frequente e repetitivo. (NICASTRI, 2006).

Existe outro grupo de drogas que acolhe os agentes que tem a capacidade de aumentar

as atividades neurais, trazendo modificações no estado natural do organismo, causando alerta

excessivo, aceleração psíquica e outras reações neuróticas, essas drogas estão determinadas na

classe das estimulantes. (NICASTRI, 2006).

As drogas ditas como estimulantes tem a característica de afetar os neurotransmissores

utilizados pelo cérebro, acarretando no aumento da liberação e mantendo por mais tempo a

atuação da dopamina e a noradrenalina. Atualmente drogas com esse tipo de ação são as

anfetaminas, substâncias sintéticas, ou seja, totalmente produzidas em laboratório, o

fenproporex, dietilpropiona, fetamina, todas essas anfetaminas e seus derivados são

comercializados em farmácias e laboratórios de manipulação. (NICASTRI, 2006).

Além das anfetaminas existe a cocaína, possui estimulantes com efeitos neurais

semelhantes aos da anfetamina, porém além de ter atuação nos mesmos transmissores, a

cocaína vai mais adiante ainda atua na serotonina. Na classe de estimulantes o resultado

corporal é representado por alucinações, agressividade, delírios, irritabilidade, sensação de

perseguição.

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Por todo exposto, há várias composições, classificações variadas de drogas com

efeitos equiparados, porém distintos. Com essa amplitude não se esgota o conteúdo pertinente

para a classificação de drogas. Na sua maioria, as drogas têm o efeito alucinógeno, essa

criação faz o órgão consumidor tenha uma percepção inexistente, o organismo cria falsas

situações, esses efeitos afetam os sentidos corporais, podendo fazer o organismo ver, ouvir ou

sentir na ausência dos estímulos ambientais.

Essas percepções são consideradas como delírios e alucinações e são resultados de

atividades das estruturas cerebrais responsáveis pelas percepções dos organismos. Diante

desses resultados foi criado um terceiro grupo de drogas denominadas como perturbadoras,

essa classe abriga as drogas com efeitos alucinógenos. Os principais efeitos das drogas que

compõe a classe dita como perturbadoras, nesta, estão presentes todas as substâncias que

provocam delírios e alucinações.

Neste contexto está abrigada a maconha, o LSD, esse último tem uma potencialidade

que ganha destaque perante outros alucinógenos, pois se tem uma total distorção e mistura dos

sentidos, os sons passam a ter cores e formas, as cores e formas com contornos alterados, os

minutos se prolongam parecendo ser horas, dias viram meses, o indivíduo perde o

discernimento da realidade.

O rol de substâncias que se encaixam nesta classe ainda engloba o ecstasy, o tabaco, a

cafeína, drogas que provocam reações iguais ou semelhantes às elencadas supra, elas possuem

atuações na atividade mental responsável pelos sentidos corporais, sendo audição, visão e

olfato, onde posteriormente dependendo da intensidade do uso causa também alterações

corporais.

Pela abrangência que as drogas possuem, faz-se, a seguir, explanação da evolução

histórica com as considerações pertinentes a respeito dessas substâncias e sua propagação no

país Brasileiro.

1.2 Evolução histórica das drogas

Há relatos que indicam evidências da existência de substâncias psicoativas na pré-

história, anterior a qualquer tipo de civilização da humanidade, provavelmente encontradas

casualmente por Homo Sapiens entre uma peregrinação e outra. Ao se alimentar basicamente

de mamíferos e vegetais, possibilitou a essa espécie ingerir plantas que possuíam substâncias

alucinógenas que provocava reações de relaxamento e sensações de tranquilidade.

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Posteriormente, foram encontrados indícios de vida humana, que mesmo na forma

solitária ou em sociedade faziam o uso de alucinógenos. Também havia a manifestação dos

efeitos provocados por essas plantas. (FLANDRIN, 1998).

De acordo com Martins (2007):

Perde-se nos tempos a tradição do consumo de drogas –cada povo e cada cultura vai tendo as suas. Umas vezes, o homem procurou nelas a nutrição física, outras, andou à cata de remédio para as suas doenças, outras ainda, para alimentar sonhos ou alcançar o transcendente, influenciar o humor, buscar a paz ou a excitação, enfim, simplesmente para abstrair do mundo que o cerca e o perturba em dado momento da sua existência. E um certo mistério que rodeava o templo de Eleusis, desde o século iv a. C. até à idade helénica, onde dominava o culto dos deuses Demétrio (com uma papoila a ornar as suas estátuas), Dionísio e Orfeu, foi perdurando numa aura mítica que agora a pouco e pouco se desfaz numa boa parte dos países. No período dos impérios coloniais, as drogas foram usadas predominantemente como moeda de troca, numa indiferença completa pelas consequências do seu uso para fins diferentes dos medicinais ou de medianeiras nos contatos com o transcendente. Detenhamo-nos um pouco nas três principais drogas de origem natural: a planta da cannabis, o arbusto da coca e a papoila do ópio. (MARTINS, 2007, p.02).

Estudiosos a partir de interpretações em cavernas por meio de pinturas, na idade da

pedra, feitas aproximadamente entre 40 e 10 mil anos atrás, relevavam que os homens desde

essa época já usavam plantas alucinógenas para se embriagar. (COLAVITTI, 2007).

Existem evidências comprovando que humanos alimentavam-se dessas plantas,

relatadas por arqueólogos, no período de 800 a. C. Indícios verídicos que nesta época remota

havia a presença de substâncias psicotrópicas. O modo de utilização dessas plantas, na época,

fazia parte de rituais funerários e cultos religiosos. Possuíam vários tipos de aproveitamento

além da importância religiosa; um exemplo, o aproveitamento feito com o caule dessas

plantas era matéria prima na fabricação de tecidos. (TUPPER, 2011).

No período de 2.800 a. C. na China a Cannabis sativa era considerada uma das 5

plantas mais sagradas. Recebeu esse título pelo imperador Shen Nung, escolhida por seu

poder de trazer alegria e prazer, ele acreditava em um valor místico, uma alegria sagrada.

Logo após a droga alcançou uma grande proporção. Gregos e Romanos fabricam misturas de

Cannabis sativa e vinho, ainda absorviam a fumaça produzida através de pedras aquecidas.

(HOMAN, 2004).

Os antigos faziam uso de outras iguarias. Em meados de 7000 a. C. consumiam uma

espécie de vinho, fabricado por chineses, utilizavam ervas, arroz e a saliva para fazer a

fermentação. Fica evidente que o homem já tinha o hábito de consumir drogas antes mesmo à

existência de civilização. Consumiam cerveja deglutindo frutas fermentadas, leveduras que

produziam álcool, substâncias semelhantes as que são encontradas na cerveja. Criadas

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aproximadamente 8000 a. C. na Mesopotâmia. A elaboração da cerveja é uma das criações

mais antigas. (KATZ, 1986).

Com a descoberta e os costumes usar essas substâncias, os povos que às degustavam

começaram a sentir a necessidade de cultivá-las, criando o habito e o intuito de manter

sementes e plantas armazenadas para uso. Acredita-se que este foi o fator primordial no

surgimento da agricultura. (ESCOHOTADO, 1999).

Os primeiros vestígios de cocaína foram encontrados aproximadamente em 2.500 a.C.

nas regiões do Peru e Equador. O uso da cocaína era privilegiado, limitando-se a sua

utilização a elite Inca. (CESAROTTO, 1989).

No México, Guatemala e no Amazonas por volta de 1000 a.C. a 500 depois de Cristo

era possível encontrar vestígios de cogumelos com poderes alucinógenos. Existem conclusões

feitas neste período a partir de desenhos semelhantes a cogumelos, provavelmente elaborados

por Maias na região sul do México que comprovam a existência desses parasitas.

(CARNEIRO, 2005).

A heroína foi descoberta em estudos baseados na composição da morfina realizados

em 1874. É uma substância com um alto teor de periculosidade, seja pelo poder acelerado de

dependência ou por seus efeitos devastadores do organismo consumidor. (LOPES, 2006).

A maconha considerada uma das drogas mais antigas, consumida até mesmo antes de

10 mil anos atrás. No Brasil foi trazida no século XVI junto com escravos africanos, com

quilombos localizados no litoral do país, onde hoje é o Estado da Bahia. Eram consumidas em

rituais de candomblé para fins religiosos e medicinais. (BUGIERMAN, 2002).

Segundo Martins (2007):

É certo que as convenções de 1961 e de 1971, bem como as anteriores (com exceção da de 1936), se interessaram especialmente pelo controlo do mercado lícito de drogas e o seu reflexo na saúde e bem-estar dos indivíduos. Com a Convenção de 1988, o acento tônico é colocado nos efeitos devastadores e crescentes do tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas e o seu reflexo, outrossim, nos fundamentos econômicos, culturais e políticos da sociedade. Ao minar a economia legítima, são também ameaçadas a estabilidade, a segurança e até mesmo a soberania dos Estados. Por isso, a atenção posta no tráfico, como fonte ilícita de ganhos financeiros e de fortunas, bem como nos efeitos de contaminação provocada nas atividades comerciais e econômico-financeiros normais. Por outro lado, dá-se mais um passo no controlo de outras substâncias — precursores, produtos químicos essenciais e solventes — que a experiência revelou serem susceptíveis de desvio para o fabrico ilícito de drogas. Substâncias de uso industrial e comercial corrente — v. g. a efedrina, a acetona, o anidrido acético, o éter etílico, a que se juntaram logo o ácido sulfúrico, o permanganato de potássio, num total de 22 substâncias — cujo circuito interno de produção e distribuição, bem como o seu comércio internacional, vão ficar sujeitos a um certo controlo, de menor peso evidentemente que o das substâncias incluídas nas convenções de 61 e 71, na medida em que o seu uso é ainda mais vulgar. Ambiciona-se especialmente um reforço da cooperação

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internacional, ao mesmo tempo que se visa colmatar lacunas das outras duas convenções. Nesta conformidade, atribui-se especial relevo a aspectos de incriminação de condutas ligadas ao tráfico de estupefacientes, psicotrópicos e precursores, e às atividades de aproveitamento dos ganhos dele derivados, o designado branqueamento de capitais e outros valores obtidos, e a sua consequente apreensão e perda para o Estado. O aludido reforço da cooperação internacional repercute-se em medidas, tais como, a extradição de criminosos, a entreajuda judiciária destinada à preparação das provas e ao julgamento dos arguidos, a transferência dos próprios processos por este tipo de infrações quando necessária ao interesse numa boa administração da justiça, a troca segura e rápida de informação, o emprego de equipes mistas de investigação, o apoio na formação, enfim, o uso da técnica das entregas controladas. Sob um ângulo inovatório, pelo menos para alguns países, cuida-se de obter a colaboração das transportadoras comerciais, de modo a prevenir a prática das infrações nos meios de transporte e mesmo a informar as autoridades sobre as circunstâncias suspeitas de atuação. De modo semelhante, procura-se evitar que os serviços postais sejam utilizados como veículo do tráfico ilícito. (MARTINS, 2007, p.11).

O consumo desses alucinógenos estava firmemente ligado a várias atividades

religiosas e espirituais. As sensações provocadas pelo o uso, ditas como místicas

proporcionavam para os fiéis uma espécie de comunicação supernatural com ancestrais.

As plantas que tinham fins religiosos são denominadas como enteógenos. A palavra

tem composição de duas palavras gregas, entheos e genesthai, diz que “trazer deus para

dentro de si”. Essas plantas tinham essa denominação para diferenciá-las das demais que não

seriam usadas com a mesma finalidade. Dentro do contexto das enteógenos estão os

cogumelos, maconha, a ayahuasca, substâncias naturais. (TUPPER, 2011).

Motivados por essas sensações místicas, classificadas como sagradas para a ideologia

das crenças religiosas, criou-se rituais, reuniões para proporcionar interação entre os adeptos,

as substâncias e sensações serviam de inspiração no desenvolvimento espiritualíssimo.

(TEMPLE, 1991).

Essas substâncias possuíam além do poder alucinógeno de proporcionar prazer, o valor

medicinal. Algumas dessas plantas aliviavam dores musculares, reduzia a temperatura

corporal-febre, problemas renais e estomacais, entre outras alterações no sistema funcional

regular corporal humano. Pessoas com maior conhecimento sobre os benefícios provocados

por essas substâncias tidas como sagradas eram chamadas de xamãs. Xamãs ou curandeiros

possuíam o domínio do processo ritualístico onde eram utilizadas as plantas, conseguiam

separá-las para consumir em casa necessidade. Esses rituais já existiam anteriores a época da

Era cristã, nesses encontros, os consumos destas plantas eram essenciais. A planta

caracterizava o total contato com Deus, disponibilizando a sensação de ter alcançado Deus,

tranquilidade e paz espiritual. (VALDÉS, 1987).

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Os povos indianos e iranianos, precisamente, tinham algo em comum a importância e

o significado dos efeitos da Amanita muscaria, um cogumelo, principal enteógeno da

antiguidade, com a separação desses povos por volta de 4000 a. C. intensificou a migração

das plantas alucinógenas. Na Sibéria também cultivava a Amanita muscaria, costume de

tribos localizadas na região Siberiana. As tribos consumiam o alucinógeno em rituais

religiosos pela urina do Xamã para reduzir os efeitos, pois o cogumelo possui enorme

potencial alucinógeno e consequências fortíssimas no organismo humano. (HIRSCHKIND,

2005).

A cultura religiosa de consumir esse agente psicoativo, ainda é mantida por tribos no

norte da Ásia, especificadamente, as tribos Koryak. Esses povos preserva o valor espiritual

utilizado por ancestrais, acreditando nos seus benefícios místicos e medicinais.

Grupos nômades também encontravam plantas alucinógenas na região da América do

Sul, substâncias como a Ayahuasca, maconha, coca, cacau, tabaco, guaraná, plantas utilizadas

e cultivadas por povos indígenas na região Amazônica, em rituais culturais espirituais.

(MCGOVERN, 2009).

Ainda existem indícios de uso dessas substâncias em tribos amazônicas isoladas. Além

dos costumes nas tribos indígenas há presença de cultos religiosos com o uso de plantas

alucinógenas milenares nas proximidades do México e EUA. (VALDÉS, 1987).

A relação entre os efeitos proporcionados por plantas alucinógenos e cultos religiosos

não se sabe a origem da conexão. A fundação de outras religiões fez com que o uso de plantas

em rituais fosse praticamente extinto, porém o povo Budista e Hinduísta ainda mantém o uso

da maconha, além disso, classificando-a como sagrada aos deuses de cada povo, assim como

seus ancestrais faziam. Existem relatos que Gregos e Romanos consumiam drogas, vinhos e

cervejas, e em decorrência descobriram que com o consumo constante reduzia os efeitos. A

partir de estudos concentrados na composição desses alucinógenos desvincularam a cura de

doenças do poder místico dos Xamãs, dando um grande passo na evolução em estudos de

doenças para encontrar a melhor pharmakón-pode ser veneno e ao mesmo tempo remédio.

(COLAVITTI, 2007).

Por volta de 2 a. C. em Roma o valor social, religioso e medicinal dessas drogas eram

similares, sendo utilizadas tanto na recepção de reuniões como em cultos religiosos.

As cerimônias católicas utilizava-se do vinho como representação do sangue de cristo,

momento em que se comunga pequena quantidade de vinho, iniciando uma conexão com

Deus, mantida a tradição até hoje, mas com a moderação no consumo do vinho. O

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cristianismo praticamente aboliu o uso de drogas em rituais religiosos, considerava-os como

bruxaria. (WASSON, 2008).

A comercialização das drogas ganhou maior expansão após a Revolução Industrial na

Inglaterra, por volta do século XVIII, o que acabou gerando um aumento no consumo e o

surgimento de problemas derivados do consumo excessivo. Neste período foram criadas nos

Estados Unidos da América, legislações que regulava o uso e promovia movimentos para a

prevenção de doenças e alerta sobre o consumo das drogas. (GIGLIOTTI, 2004).

No quesito elaborar leis sobre drogas, aplica-se a característica personalíssima do país

ou da região que possivelmente será afetada. Estudam-se os costumes, culturas, contextos

religiosos, históricos e sociais. Esses pontos são determinantes para uma decisão plausível

perante a ilicitude e a legalidade, a liberação ou proibição no multiuso de drogas. (GATELY,

2001).

Discussões a respeito da proibição das drogas não eram oriundos somente dos efeitos

negativos das substâncias. Esse aspecto proibitivo, em meados da década de 70 começou a

sofrer modificações, embasadas em pensamentos favoráveis a não proibição e sem

penalização. Um país como a Holanda, onde o uso da maconha é legalizado e em

contrapartida o Brasil que é expressamente proibido qualquer envolvimento com essa

substância, com ressalva a poucas tribos indígenas totalmente isoladas do convívio em

sociedade, que abre espaços para movimentos legalistas, como a “marcha para a maconha” e

discussões acerca da sua legalização ou proibição. (FANKHAUSER, 2008).

Martins (2007) explica que:

A tentativa de regulação do mercado internacional de drogas para fins médicos e de investigação, levada a cabo através das convenções internacionais de 1961 e anteriores, e de 1971, obteve resultados satisfatórios quanto ao controlo do mercado lícito desse uso. Já o mesmo não se tem conseguido no que toca ao consumo de diversão ou recreativo, alimentado pelo tráfico ilícito. Pela Convenção de 1988, encetou a comunidade internacional um conjunto de medidas destinadas a combater esse tráfico, ao mesmo tempo que introduziu um sistema de regulação do mercado no que toca a uma lista de substâncias que podem ser desviadas para o fabrico ilícito de outras drogas. Pelo tempo decorrido após a sua entrada em vigor — escassos seis anos —, posto que já seja elevado o número de países que se vincularam, ainda não é possível colher frutos visíveis da sua aplicação, designadamente na luta contra o branqueamento de capitais ou valores provenientes do tráfico de droga, a despeito dos primeiros sinais positivos. Neste domínio, a aprovação de mecanismos legislativos e administrativos não se torna fácil, quer para os países menos desenvolvidos, quer também, pelas resistências internas, nos países industrializados, os grandes produtores dessas substâncias ou aqueles em que concomitantemente estão sediados grandes empórios bancários e financeiros. Não são praticáveis experiências isoladas de um país ou mesmo de uma região, pois para além da conformidade das mesmas com o direito internacional, o seu êxito depende da colaboração e aderência dos países vizinhos ou da mesma região ou, no fim de contas, da comunidade internacional no seu todo. (MARTINS, 2007, p.19).

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De acordo com o quadro representativo em anexo, tem-se relatos das primeiras

aparições das drogas no mundo.

1.3 Evolução das drogas no Brasil

No Brasil, assim como em tantos outros países a presença das drogas é um registro de

tempos remotos. Em todo o mundo, há anos, de um modo ou de outro, se luta contra as

drogas; sendo assim, nesse momento, se fará uma breve contextualização histórica,

pontuando-se períodos em que as principais drogas ilícitas chegaram no Brasil.

Conforme Souza (2014):

No início dos anos 80, o Comando Vermelho já dominava o sistema prisional do Rio de Janeiro. Além disso, quando seus integrantes cumprem suas penas e são liberados, o comando conquista também as ruas e suas idéias se espalham para além das grades. No início dese processo, foram formados grupos para fazer assaltos a bancos. Com o tempo perceberam que há um outro negócio mais lucrativo e menos arriscado do que os constantes assaltos a agências bancárias: o tráfico de drogas. (SOUZA, 2014, p.01).

De acordo com o quadro representativo em anexo, tem-se um resumo do contexto

histórico da trajetória das drogas no Brasil.

Ainda há uma grande discussão mundial envolvendo à aplicabilidade eficaz das

políticas proibitivas ou não proibitivas, tendo posicionamentos distintos, onde cada país

determina a melhor postura para adotar. O Brasil adota a política proibitiva sobre drogas,

porém o país não está livre das drogas e seus efeitos. Podendo ser detectados cultivos da

maconha em Estados mais afastados da região central do país. O plantio está concentrado no

Estado do Maranhão, Pernambuco, Bahia, Pará e Amazonas. (GOODMAN, 2007).

O cultivo da maconha não é o fator soberano na quantidade de drogas encontradas no

Brasil, considera-se o contrabando oriundo do Paraguai, mas esta não é a única droga

traficada para dentro do Brasil, países como a Bolívia, Colômbia e Peru, repassam a maconha

e compostos da derivação desta. Aqui, vale a pena acrescentar o que escreveu Martins (2007):

Provavelmente terão sido os portugueses, através dos escravos africanos idos de Angola para o Brasil, que introduziram a cannabis na América (liamba em Angola, riamba ou marimba no Brasil). Todavia, foi na Jamaica, pela mão dos ingleses, que a sua cultura (com a designação de ganja) se intensificou para a obtenção de fibras. Das Caraíbas para o México foi um salto, onde é rebatizada sob o nome mais vulgarizado – a marijuana. (MARTINS, 2007, p.03).

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Um relatório publicado em 2017 pelo Escritório das Nações Unidas para Drogas e

Crimes (UNODC) indica que o consumo da cocaína pela população brasileira aumentou

aproximadamente 7%, corresponde na época cerca de 900.000 pessoas. (ONU, 2017).

As drogas sintéticas são em grande parte exportadas de países como a Europa,

Holanda Bélgica e Inglaterra, no Brasil não existem registros de confecção destas substâncias.

As anfetaminas são trazidas, maiormente pelo Paraguai, Argentina e Europa. Uma parte

significativa da produção é separada para a fabricação do crack, sendo elaborada nos próprios

pontos de vendas. (KALINA, 2001).

As drogas estão cada vez mais aumentando, como mostra o relatório elaborado pelo

UNODC, publicado no ano de 2013:

A maioria dos países da América Latina e do Caribe têm registrado uma elevação em apreensões de erva de cannabis nos últimos anos. Três países da América Latina (Brasil, Colômbia e Paraguai) apreenderam grandes quantidades de erva de cannabis em 2011.No Brasil, o número de casos de apreensão foi praticamente o mesmo em 2010 e 2011 (885 e 878 casos, respectivamente), mas a quantidade total de cannabis apreendida passou de 155 toneladas em 2010 para 174 toneladas em 2011, o terceiro aumento consecutivo. (FEDOTOV, 2013, p.5).

Pode considerar-se que o Brasil com elevada posse em drogas, que cresce

progressivamente. As drogas mais populares do Brasil são a maconha, cocaína, crack, merla e

a pasta da coca, drogas sintéticas são consumidas por singela parte da população brasileira,

grupos de classe média e alto padrão de vida. (KALINA, 2001).

A repercussão no país gerada pelos efeitos e consequências das drogas envolve

aspectos distintos de forma negativa. O aumento na violência derivado da dependência e

submissão deixada pela droga interliga-se com a sobrecarga na saúde pública, inclusive por

drogas licitas. (CERQUEIRA, 2010).

O uso de armamentos pesados para manutenção do controle do tráfico de entorpecente

ilícitos gera deficiência na segurança pública, elevação nas estatísticas de homicídios de

jovens do sexo masculino, principalmente nas cidades onde se localizam favelas, que acaba

entrando no mundo crime por falta de oportunidade em inserir-se ao cotidiano

contemporâneo, a facilidade em obtenção de conforto temporário, a desigualdade social,

fatores estes que refletem na estrutura social da população brasileira. (PASSAGLI, 2003).

A droga, de forma geral, afeta todas as classes sociais, com distinção apenas em

tipologias para cada grupo social. A maconha, por exemplo, nos anos 50, não era consumida

pela elite brasileira, já que era considerada uma droga da classe baixa ou classe perigosa,

denominada como droga de engraxates. (SUDBRACK, 2000).

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Na década de 60 esse paradigma perdeu foças com o movimento hippe aliado ao

movimento da contracultura; a maconha passou também a ser consumida por jovens

universitários e agentes intelectuais com uma enorme proporção e tenacidade, envolvendo

uma massa que antes não a conhecia. (CRUZ, 2017).

Com a inserção da droga em vários grupos sociais ela tornou-se a mais consumida no

país, perdendo apenas para o tabaco e o álcool. Tal repercussão enfatizou discussões para a

legalização da maconha.

Em meados do final dos anos 70 e início dos 80, a cocaína, a droga com o custo mais

elevado que os demais perdendo o valor, passando a ser mais popularizada, ou seja, anterior à

queda do custo seu uso era quase privado a classe média e alta, após passou a ser

comercializada para grupos inferiores.

Dito tudo isso até o momento vale acrescentar um trecho das reflexões de Martins

(2007):

A informação esclarecida e oportuna que permita prevenir o consumo de drogas, ou, pelo menos o seu uso imoderado, são apontados de todo o lado como o remédio definitivo para superar esta aflição generalizada da humanidade. […]. Na perspectiva de Thomas Jefferson: “The care of human life and happiness, and not their destruction, is the first and only legitimate object of good government”. (Ocuidado da vida humanae a felicidade, e nãosua destruição, éo primeiro e únicoobjeto legítimodo bom governo). Um primeiro indício de mudança expressiva pode vir da administração americana, ao aumentar significativamente o orçamento destinado à prevenção do consumo de droga pela juventude, em comparação com o do “drugenforcement” (repressão às drogas), ao mesmo tempo que parece abandonar a retórica da “warondrugs”(guerra contra as drogas), substituindo-a por uma incidência maior nos aspectos da saúde. (MARTINS, 2007, p.19).

A cocaína era utilizada por injeção ou inspirada; o método injetável era por meios de

seringas, o que gerou sérios problemas na saúde pública do Brasil, com o compartilhamento

de seringas entre os usuários. A transmissão de doenças se alastrou e se destacou a AIDES.

No final da década de 90, manifestaram-se nas periferias e presídios, inúmeros casos

de contaminação da doença; já que esses locais apresentavam (e de certa forma, ainda hoje

apresentam) um consumo de drogas excessivo, descontrolado e de modo generalizado.

Nesse contexto, algumas questões começaram a incomodar a sociedade civil: o

enfoque das sequelas deixadas nos usuários, movimentos contra o uso das drogas e

comprovações dos riscos fez com que houvesse a “redução” da utilização. (WAISELFISL,

2011). O assunto começou a ser visto e mais amplamente discutido; uma vez que sua presença

“silenciosa” e “escondida” agora podia ser vista e ouvida aos brados e forças de aniquilação,

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por todos. Tudo isso, fora os fatores histórico-político-sociais, além de tantas outras questões

porque, como recordou Lima (2011):

As drogas psicotrópicas agem no sistema nervoso central, produzindo alterações de comportamento, humor e cognição. De acordo com a ação destas no organismo do indivíduo, um pesquisador francês, denominado Chaloult, classificou as drogas em três grandes grupos: Drogas estimulantes do sistema nervoso central: Estas substâncias aumentam a atividade cerebral, uma vez que imitam ou cooperam com os neurotransmissores estimulantes do organismo do indivíduo, como a epinefrina e dopamina. Assim, dão sensação de alerta, disposição e resistência, mas que, ao fim de seus efeitos, conferem cansaço, indisposição e depressão, devido à sobrecarga que o organismo se expôs. Algumas delas são:nicotina; cafeína; anfetamina; cocaína; crack; merla. Drogas depressoras do sistema nervoso central: Tais drogas apresentam uma diminuição das atividades cerebrais de seu usuário, deixando-o mais devagar, desligado e alheio; menos sensível aos estímulos externos. Algumas delas são:álcool; inalantes/solventes; soníferos; ansiolíticos; antidepressivos; morfina. Drogas perturbadoras do sistema nervoso central: São aquelas drogas cujos efeitos são relativos à distorção das atividades cerebrais, podendo causar perturbações quanto ao espaço e tempo; distorções nos cinco sentidos e até mesmo alucinações. Grande parte destas substâncias é proveniente de plantas, cujos efeitos foram descobertos por culturas primitivas, associando as experiências vivenciadas a um contato com o divino. Algumas delas são: maconha; haxixe; ecstasy; cogumelo; LSD; medicamentos anticolinérgicos. (LIMA, 2011, p.02-03).

Com relação às drogas, tem-se a possibilidade de sempre se ouvir dizer que na falta de

uma, a outra compensará. Na “ausência” da cocaína, “aprimorou-se” o crack; substância com

composição barata que despreocupou o usuário do contágio da AIDES, pois é fumada e não

injetável. (PASSAGLE, 2003).

O crack possui uma reação rápida, sua ação é instantânea no organismo humano,

provocando dependência na mesma proporção de seus efeitos. O baixo custo da droga e a

inexistência de programas de prevenção na época de manifestação do referido entorpecente,

motivou que a substância se alastrasse pelo país.

No Brasil, aproximadamente nos anos 90, além do crack existia o ecstasy, droga

importada de Amsterdã, vendida em boates, festas e raves, ambientes frequentados por

universitários. Assim como ecstasy e o crack, o Oxi, derivação do termo oxidado, veio para

ampliar o rol de drogas baratas e impuras, com ressalva aos seus ‘estragos’ no organismo que

supera as reações provocadas pelo crack e o ecstasy. (OLSON, 2014).

De acordo com Martins (2007):

Na história, pelo menos do último século, está patente um esforço continuado no sentido de conter a expansão do consumo de drogas para fins não médicos, através de várias iniciativas de tipo legislativo, organizacional e cultural, não parecendo aconselhável, tal como no âmbito interno, quer mudanças bruscas de estratégia, quer as simples mudanças que não tenham por detrás bons fundamentos de natureza científica ou social. Todavia, a aceitação da ineficácia de certas medidas e a acomodação aos maus resultados, será sempre de rejeitar, até pela frustração dos

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mais interessados. De preferência à preparação de novas convenções, advoga-se a rentabilização das existentes, se possível mediante simples instrumentos de interpretação atualizadora. (MARTINS, 2007, p.20).

A presença dessas substâncias maléficas em meio à sociedade deve ser revista e

analisada, estabelecendo-se estratégias no combate e prevenção do domínio dos cidadãos

pelos entorpecentes.

A popularização das drogas está cada dia mais legitimada, seja pelo baixo valor

econômico que muitos conseguem agregar ao produto ou por seus efeitos momentaneamente

“tranquilizantes” ou alucinógenos.

No artigo publicado pela Revista Brasil Escola (2014), encontra-se que:

Pesquisas recentes apontam que os principais motivos que levam um indivíduo a utilizar drogas são: curiosidade, influência de amigos (mais comum), vontade, desejo de fuga (principalmente de problemas familiares), coragem (para tomar uma atitude que sem o uso de tais substâncias não tomaria), dificuldade em enfrentar e/ou aguentar situações difíceis, hábito, dependência (comum), rituais, busca por sensações de prazer, tornar-se calmo, servir de estimulantes, facilidades de acesso e obtenção e etc. (DROGAS, 2014, p.02).

Nessa direção, entende-se que, permanecer na quietude levará o país a ser propulsor da

destruição de seu povo; o próprio Brasil, principalmente, na pessoa dos seus representantes

(pois chega de impor ou trazer responsabilidades pra sociedade civil, ela as tem; sabe disso, e

muitas vezes cumpre mais que o Estado) precisa assumir a causa com a seriedade, a

intervenção, a responsabilidade e o compromisso que a mesma pede, caso contrário,

continuará sendo mais um fator de negligência e mais uma necessidade social urgente, uma

questão de saúde pública que fica aguardando o dia em que uma grande epidemia venha se

alastrar e matar a todos.

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2 DO USUÁRIO DE DROGAS

As substâncias psicoativas descritas no capítulo anterior possuem efeitos positivos

e/ou negativos, onde essas reações são determinadas por cada droga ingerida. As

características que cada substância compõe, possui fator significativo nos resultados

manifestados após o seu consumo. Esses resultados provenientes da droga, em sua maioria,

somente terão eficácia, ou seja, possuir efeito psicoativo a partir do seu consumo, com

variadas possibilidades de ingerir cada substância. Para que haja fato gerador, o consumo

necessariamente terá a atuação de um organismo receptor, em maior parte aproximadamente

unânime, o corpo humano.

O consumidor, ao introduzir a droga, seu organismo processará a composição da

substância ingerida, e esse organismo receptor é classificado como “usuário”. Em um

conceito genérico o termo deriva da palavra “uso”, com conceito de usufruir, utilizar algo;

usuário é o indivíduo que faz uso e/ou gozo de algo que esteja em seu privilégio.

(NOGUEIRA, 2017).

Trazendo esse termo ao contexto psicoativo, usuário é quem de fato: usa, consome,

ingere, injeta, por qualquer meio que seja faça uso da droga, ela dependente ou não da

substância.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o usuário em classificação em que se

aponta um indivíduo: usuário leve, onde o uso é moderado e com pouca frequência; usuário

moderado, aquele que tem o uso regular semanalmente; usuário pesado, o consumo da droga é

frequente e contínuo. (NICASTRI, 2006).

Baseado nesta classificação a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência

e Cultura (UNESCO), paralelamente ponderou quatro tipos de definições para usuário,

considerando interpretações de entidades educacionais, sociais e da saúde pública. Quais

sejam:

Usuário experimental/experimentador, aquele que usa ocasionalmente influenciado por fatores externos, por curiosidade de experimentar uma, outra ou vários tipos de drogas, ficando a experiência em um único consumo; usuário ocasional, este consome em momentos favoráveis, situações oportunas, podendo ser um ou mais tipos de drogas, aqui o uso não tem dependência; usuário funcional/habitual, neste existe a frequência do consumo, porém não existem fatores externos motivadores, ainda não há efetiva dependência, o indivíduo consegue exercer suas funções; usuário dependente/disfuncional, onde há dependência, o consumo é constante, o indivíduo rompe relações sociais, funcionais e até afetivas para viver exclusivamente para o vício. (LIMA, 2013, p.26).

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Considerando que há diversas possibilidades de interpretações dos parâmetros

determinantes para o conceito de usuário, cabe ampliar o conceito de usuários de drogas

seguindo o sistema legislativo penal brasileiro que determina na Lei 11.343/06, em seu artigo

28, caput, “Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para

consumo pessoal, drogas[...]” e parágrafo § 1º, “[...] para consumo pessoal, semeia, cultiva ou

colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz

de causar dependência física ou psíquica.

Neste ponto é importante ressaltar que a interpretação do legislador foi

ponderadamente completa, onde não apenas se ateve aos padrões tradicionais conceituados a

respeito dos aspectos das drogas, mas também ao indivíduo com uma manutenção constante

no consumo de drogas, hábito que leva a dependência. Esta que pode ser física, mental, ou

moral e será determinada pela substância ingerida. Algumas dessas dependências se

manifestarão nos três aspectos e outras em uma ou duas, é variável a necessidade, desde um

simples desejo a uma compulsão descontrolada. Quando a substância chegar ao ponto de ser

um elemento indispensável é considerado uma das definições dadas para a dependência, a

síndrome de abstinência, Goodman & Gilman (2007) explicam:

Essa dependência não é absoluta existindo gradações, e sua intensidade é avaliada pelos comportamentos associados ao uso da droga. Cada droga leva a um tipo de síndrome, umas mais brandas, como o uso do álcool, do crack ou dos opioides como a morfina e a heroína. (GOODMN & GILMAN, 2007, p.11).

Ponderando o conceito feito paralelamente, apontando uma definição semelhante à

dependência, porém com diferenças significativas, nesta, o uso não gera a essencialidade do

consumo, mas há frequência no consumo, mas não necessariamente seja substância

psicoativa.

A avaliação da dependência é baseada à partir de estudos comportamentais dos

indivíduos consumidores e pelos padrões de consumo, não terá essencialidade de vir

acompanhada de tolerância e dependência física, podendo possuir apenas tolerância, que

configura em aprimorar a necessidade de aumentar a dose para intensificar os efeitos pois a

dosagem consumida anteriormente não é mais satisfatória. (KALINA, 2001).

Para que as definições não fujam do contexto e abra espaços para as interpretações

diversas, que possa gerar desacordos e situações conflituosas é instituído entes e fundações,

normas legais e órgãos, todos integrados para esclarecer e definir conceitos e/ou substâncias

que possa causar dependência, prejuízo à saúde e a sociedade.

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2.1 O Usuário na Lei 11.343/06

Os elementos trazidos na redação do artigo 28 é o que determina da diferença entre o

artigo 33, tipifica a inclusão da posse de drogas para consumo pessoal. Diz o artigo 28, in

verbis:

Artigo 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. (BRASIL, 2006).

Conforme conclui a leitura do artigo o fato em um sentido estrito deixou de ser

criminoso, deixando uma descriminalização “formal”, porém não viabilizando a legalização.

Na redação do artigo possui cinco possíveis condutas que determina o agente, adquirir,

guardar, depósito, transportar ou trouxer consigo. As condutas arroladas no artigo ainda não

configuram o consumo pessoal, considerando-se além da quantidade encontrada na posse,

condições do local, contexto social do agente e seus antecedentes.

Sujeitos do crime, a sociedade no polo passivo, e no polo ativo qualquer pessoa, pois o

ato tem natureza comum. Na composição do artigo não foi incluído verbo “usar”, desde modo

quem for pego apenas fazendo uso de drogas estará praticando ato incriminado, ainda sendo

rejeitado no aspecto moral. Nesta conduta não se pune o vício, assim:

A lei não pune as condutas de “usar” drogas ou “fumar” maconha ou outro entorpecente semelhante. As únicas condutas puníveis são “adquirir”, “guardar”, “ter em depósito”, “transportar” e “trazer consigo”. Portanto, somente poderá ser punido o agente se, ao fumar ou consumir a droga, a estiver trazendo consigo, oportunidade em que estará configurada essa última modalidade de conduta típica. Igualmente, não se pode punir o uso pretérito da droga, pois, se esta já foi consumida, ausente se encontra a materialidade necessária à tipificação. (ANDREUCCI, 2013, p.233).

Desta forma busca-se punir quem pratica os atos previstos no artigo 28 (Lei

11.343/2006), não punindo quem apenas consumiu. A Tentativa somente é admitida na

modalidade “adquirir” a substância, no quesito semear só será admitido até o momento do

preparo, não existindo ainda o objetivo pretendido.

Para efeitos desta lei o conceito de droga é determinado por órgão competente,

Agência Nacional de Vigilância Sanitária vinculada ao Ministério da Saúde. O artigo 66 da

Lei 11.343/2006, prevê:

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Artigo 66. Para fins do disposto no parágrafo único do artigo 1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998. (BRASIL, 2006).

O objeto jurídico a ser tutelado é a saúde pública, porquanto equiparado ao meio

social, prioriza-se o bem social e o aspecto individual em posição secundária, pode considerar

que quando protegida a coletividade social, subsidiariamente, ampara o individual. Neste

sentido:

A repressão ao uso e ao tráfico de substâncias entorpecentes, capazes de causar dependência física ou psíquica, não visa ao dano estritamente pessoal, ou seja, ao mal ou males causados ao usuário. Sua punição leva em conta o perigo que elas representam para a saúde pública. (BRASIL, 2015).

A impossibilidade de transação nos casos de maus antecedentes e condutas

reprováveis do agente potencializa a influência do consumo, “a posse de drogas para consumo

pessoal não se trata de infração de menor potencial ofensivo, mas de ínfimo potencial

ofensivo”. (NUCCI, 2010. p.343).

Diante do potencial ofensivo da conduta ser mínima faz jus ao princípio da

insignificância. Submete-se aos ditames processuais dos Juizados Especiais, instituídos pela

Lei n. 9.099/1995. Os crimes praticados previstos no artigo 28 da lei 11.343/2006 tramitarão

em rito especial.

Um entendimento aduz a evolução da Lei 11.343/2006 nos aspectos processuais,

colocado pelo doutrinador Gianpaolo Poggio:

A nova Lei de Drogas rompeu com o sistema das leis anteriores, adotando políticas de redução de riscos, principalmente em relação aos usuários e dependentes, não prevendo medidas privativas de liberdade, mas sim de tratamento e recuperação, além da preocupação com a reinserção social dos indivíduos. (POGGIO, 2008, p.109).

As mudanças trazidas pela lei de drogas, buscando soluções a fim de não privar a

liberdade do usuário, mas colocar a disposição a reflexão e o devido tratamento. Seguindo a

linha adotada pelos juizados especiais não é admissível a prisão em flagrante, significa que o

usuário pego em situação de flagrante, será apenas conduzido aos juizados competentes ou

comprometendo-se a comparecer.

Na lei 11.343/2006 com relação ao artigo 28 não nenhuma previsão de condições para

a prisão ou não em flagrante, ficando o agente imune à flagrância. As consequências dos atos

praticados por usuários ganharam penas mais brandas com a edição da nova lei de drogas, Lei

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11.343/2006. O agente está sujeito a penas alternativas, prestação de serviço à comunidade e

medida educativa de comparecimento a programas educativos ou curso educativo.

A alternância das penas foi criada no intuito de que em alguns casos, fazer com que o

usuário refletisse, repensasse e mudar a conduta praticada, visando sua integridade,

reconhecendo os malefícios que a droga provoca em seu organismo a condição saudável da

saúde. A inocorrência da pena privativa de liberdade tem a ver com as modernas políticas

criminais, as quais se utilizam do cárcere apenas e tão somente para os casos de extrema

necessidade, tornando-se exceção e não regra.

2.2 Natureza jurídica do artigo 28 da Lei 11.343/2006

A abolitio criminis, infração penal sui generis e a mera despenalização, essas são as

três teses, apontadas como principais para a determinação da natureza jurídica do artigo 28, o

Doutrinador Damásio de Jesus, conceitua as abordagens:

1ª) Trata-se de infração sui generis (não pertence ao Direito Penal, mas ao “Direito Judicial Sancionador”). O fato de a Lei não ter punido a conduta com pena privativa de liberdade retirou-lhe por completo o caráter penal. (...) A entrada em vigor da Lei, portanto, acarretou verdadeira abolitio criminis. (...) 2ª) O artigo 28 contém uma infração penal sui generis. Houve “descriminalização formal” (o fato deixou de ser rotulado como “crime”) e despenalização (não se admite a aplicação de pena privativa de liberdade). (...) Não há que se falar, contudo, em “abolitio criminis”, porquanto a conduta ainda pertence ao Direito Penal. (...) 3ª) Cuida-se de crime (nossa posição), do ponto de vista formal e material. (JESUS, 2009, p.39).

Existe um posicionamento que vai a favor da ideia de que a conduta tipificada no

artigo 28 é crime, um corrente menos conquistadora, é basicamente uma quarta posição com

relação a natureza jurídica.

Em relação ao artigo 28 o legislador adotou a natureza da decisão político-criminal

como descriminalizadora da posse de droga para consumo pessoal, porém no sentido técnico

não deixou de ser considerado “crime”, pois continua sendo considerado uma conduta ilícita

(infração penal sui generis)

Neste sentido, preceitua Gomes e Cunha (2010):

A posse de droga para consumo pessoal deixou de ser formalmente “crime”, mas não perdeu seu conteúdo de infração (de ilícito). A conduta descrita no artigo. 28 da nova lei continua sendo ilícita (mas cuida de uma ilicitude inteiramente peculiar). Houve descriminalização “formal”, ou seja, a infração já não pode ser considerada “crime” (do ponto de vista formal). Mas não aconteceu concomitantemente a legalização da droga. De outro lado, também se pode afirmar que o art. 28 retrata mais uma hipótese de despenalização. Descriminalização “formal” e despenalização

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(ao mesmo tempo) são os processos que explicam o novo art. 28 da lei de drogas (houve um processo misto). (GOMES; CUNHA, 2010, p.216).

A descriminalização formal permanece a ilicitude do fato, mas deixa de ser

considerado “crime”, excluindo a figura de crime na ótica da sociedade. Essa

descriminalização não se confunde com a descriminalização substancial, que legaliza a

conduta. As condutas previstas no artigo 28 da Lei 11.343/06 acabou com o caráter criminoso

do consumo pessoal de drogas, passando a ser considerado um ilícito sui generis.

Como ensina Gomes e Cunha:

Não se trata de “crime” nem de “contravenção penal” por que somente foram cominadas penas alternativas, abandonando-se a pena de prisão. De qualquer maneira, o fato não perdeu o caráter de ilícito (recorde-se: a posse de droga não foi legalizada). Constitui um fato ilícito, porém, sui generis. Não se pode por outro lado afirmar que se trata de um ilícito administrativo, porque as sanções cominadas devem ser aplicadas não por uma autoridade administrativa, sim, por um juiz (juiz dos juizados especiais ou da vara especializada). Assim não é “crime” não é “contravenção” e tampouco é um “ilícito administrativo”: é um ilícito sui generis. (GOMES; CUNHA, 2010, p.217).

O legislador brasileiro em 2006 instituiu a descriminalização formal na referida lei,

como uma opção político-criminal com a mínima intervenção do Direito Penal, buscando

tratar o consumo pessoal de drogas com a política de redução de danos (que será apresentada

no próximo capítulo) e não com o punitivismo.

Após a instituição da lei, a conduta descrita no artigo. 28 passou a ser uma infração do

direito judicial sancionador, tanto na fixação da transação penal, quanto for imposta a

sentença final no procedimento sumaríssimo da lei dos juizados. Imputando consequências a

serem impostas ao usuário apenas como medida “medidas” ou “medidas educativas” como

preconiza o artigo 28 e incisos. (GOMES; CUNHA, 2010)

Das consequências previstas no artigo 28, duas, possui natureza puramente educativa

(advertência e encaminhamento à programas educativos), a prestação de serviços à

comunidade possui caráter duplo, educativo e repressivo. A condenação da sentença (no caso

de não ter havido transação penal), tendo a natureza jurídica, não uma condenação que produz

efeito penal, e sim, uma sentença que gera outras consequências características do Direito

Penal sancionador.

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2.3 A Ineficácia das penas previstas para os usuários de drogas

A situação em que se encontram os usuários de drogas já é pública e notória, não

sendo um problema atual, mas fortificado com passar dos anos. Os malefícios oriundos do uso

de substâncias entorpecentes, ou seja, que causa dependência afeta uma população por inteiro.

Pode considerar-se a saúde pública o bem jurídico mais afetado pelos reflexos causados por

dependência química.

Os acordos facultados aos dependentes químicos são visados por eles como uma

permissão ao uso. Vale ressaltar que estes indivíduos na maioria das vezes não mais possuem

capacidade de escolha, uma vez que as normas que preveem penas colocadas à disposição não

viabilizam a imposição de tratamento compulsório.

A compulsão pela continuidade de manter o consumo de substâncias viciantes, não

pode deixar de ser analisado, pois a principal característica das drogas é a dependência, que

está diretamente ligada ao sistema neurotransmissor corporal. O estímulo cerebral provocado

pela droga é praticamente involuntário, a diferença está como ela é introduzida no organismo.

O corpo humano possui quatro entradas principais receptoras, ligadas diretamente a

corrente sanguínea, o único caminho viável para as substâncias chegarem ao cérebro.

Principal via utilizada, intravenosa, nesta as substâncias como cocaína, heroína, anfetaminas

são diluídas e injetadas por seringas, o efeito provocado tem duração em média de 15 a 30

segundos.

O acesso nasal é recepcionado por drogas em pó, aspiradas, possuem efeitos de 3 a 5

minutos, a cocaína e heroína são ingeridas por esta via. Substâncias como tabaco, maconha,

crack e solventes, fumadas ou inaladas a vapor, são recepcionadas pela via respiratória. E por

último, o álcool e a folha da maconha ou coca são ingeridos pelo sistema digestivo. Na via

digestiva as drogas são filtradas pelo fígado antes de cair na corrente sanguínea.

Ao serem recebidas pelo cérebro, às moléculas leva a essência das substâncias a

neurotransmissores, atores que encaixam os efeitos psicoativos nas regiões cerebrais de

prazer, aumentando a dopamina.

Os tratamentos para dependentes químicos devem ser voltados para a recuperação da

saúde mental, com amparo estrutural viável, não se esgota o problema apenas com previsões

de tratamento por meio de leis se o Estado tem políticas públicas falhas e um sistema nacional

de saúde que não suporte a demanda. Governos e sociedades em todo o mundo chegaram à

conclusão que “a prioridade é desintoxicar, tratar e auxiliar os dependentes químicos a

voltarem ao convívio social”. (EM DISCUSSÃO, 2011).

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O Brasil vive com dificuldades em recuperar dependentes viciados em crack, pois a

rede de tratamento é precária e com profissionais pouco qualificados para acolher a enorme

demanda. O processo de “cura” é um conjunto de complexidades.

O coordenador-geral dos Centros de Atendimentos às Famílias da Fazenda da Paz

Célio Luiz Barbosa, afirma, “tratar a dependência química não é apenas curar os efeitos que

as drogas causam no indivíduo, é reorganizar o indivíduo por completo”, na mesma linha de

entendimento, manifesta o coordenador de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do

Ministério da Saúde:O problema é agravado pela efetividade limitada das abordagens de tratamento para dependentes químicos, especialmente de cacaína e crack, discutidas pela comunidade cientifica e pela sociedade. No caso das drogas, o primeiro mal que devemos evitar é proclamar que temos alguma arma melhor do que as outras, vender ilusões. Há décadas, se estudam e se buscam tratamentos eficazes. E, hoje, a eficácia de inúmeras abordagens é muito questionável. (EM DISCUSSÃO, 2011).

O paciente ao abordar diversas necessidades multiplicadas deverá ter o devido

tratamento personalizado com ampla forma de acesso, além de um sistema público de saúde

bem aparelhado e qualificado para amparar os aspectos distintos que intensificam a

dependência.

No processo de reabilitação do dependente, além da manifestação clara da vontade do

paciente, existe a figura da desintoxicação, necessidade de medicamentos, não sendo

suficiente para quem precisa de cuidado integral e dedicação. Tarso Araújo afirma:

Os tratamentos com os melhores resultados costumam ser justamente os que associam diversas abordagens. Muitas clínicas especializadas, públicas ou particulares, combinam o trabalho de médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e religiosos com remédios e rotinas de 12 passos, típicas dos grupos de autoajuda, por exemplo. (...). combinar diferentes técnicas e profissionais. Essa estratégia multidisciplinar costuma ser mais eficiente porque ajuda o viciado a resolver não apenas seu problema com a droga (ou drogas), mas todos os outros que podem ser causa ou consequência desse problema central. (ARAUJO, 2012, p.384).

A desarticulação empregada por uma reforma psiquiátrica é questionada por Médicos

da área, porém nada foi feito para que seja modificado, causando divergências, pois as

comunidades terapêuticas acolhem o maior número de dependentes, em contrapartida essas

instituições não são favorecidas com o apoio Público.

Dentro da área psiquiátrica, médicos contestam o uso de clínicas como o CAPS

(Centro de Atenção Psicossocial), para tratamentos de dependentes químicos. Representantes

da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina se reunirão com a

subcomissão do Senado para debater o assunto. (LAUAR, 2001).

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Os médicos afirmam que a dependência de drogas é uma doença e que não deve ser

tratada no CAPS. A distorção do foco promovido pelo Ministério da Saúde, medida tomada

para tentar resolver o impasse. Segundo o Conselho de Medicina os centros de atenção

psicossocial são impróprios para a atuação dos médicos, pois não possuem estruturas para o

pronto-socorro.

Na falta de profissionais, quase sempre esse tipo de atendimento compete a uma

equipe inferior e despreparada das prevista para o atendimento, em interpretação paralela fere

o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

Uadi Lâmmego Bulos preconiza:

A dignidade da pessoa humana está consagrando um imperativo de justiça social, um valor constitucional supremo. Por isso, o primado consubstancia o espaço de integridade moral do ser humano, independentemente de credo, raça, cor, origem ou status social. O conteúdo de vetor é amplo e pujante, envolvendo valores espirituais (liberdade de ser, pensar e criar etc.) e materiais (renda mínima, saúde, alimentação, lazer, moradia, educação etc.). Seu acatamento representa a vitória contra a tolerância, o preconceito, a exclusão social, a ignorância e a opressão. A dignidade humana reflete, portanto, um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio do homem. Seu conteúdo jurídico interliga-se às liberdades públicas, em sentido amplo, abarcando aspectos individuais, coletivos, políticos e sociais do direito à vida, dos direitos pessoais tradicionais, dos direitos meta individuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos), dos direitos econômicos, dos direitos educacionais, dos direitos culturais etc. (BULOS, 2011, p.502).

Posicionamento contrário ao adotado pelo referido princípio, não viabilizando o valor

individual sobrepor ao coletivo, visando o bem-estar social com repressão a condutas

criminosas relacionadas ao uso de drogas. Na defesa do bem social Alexandre Bizzoto e

Andreia de Brito Rodrigues, segue:

Não bastasse a lesão à saúde pública, outros bens jurídicos – também caros ao Estado – são lesionados, ao menos indiretamente. Não se pode perder de vista, por exemplo, os prejuízos que um dependente causa a qualquer estrutura familiar, por mais solida que seja. (BIZZOTO; RODRIGUES, 2007, p.40-42).

A utilização de hospitais gerais para tratamentos químicos além de não possuir

mecanismos para um tratamento eficaz, o custo para manter um indivíduo com dependência é

muito alto, ainda o risco de contaminação de outras doenças por causa do convívio com

outros pacientes.

Mantendo o acompanhamento dentro de hospitais, em alas destinadas a psiquiatria, o

sucesso da solução do problema fica cada vez distante, geralmente a equipe de apoio

obrigatória é composta por profissionais para atender vários leitos, a qualidade do

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atendimento diminui, mantendo o paciente por mais tempo sob o tratamento e o custo

aumenta.

A pouca participação no assessoramento nas comunidades terapêuticas no Brasil é

reconhecida pela Organização Mundial de Saúde. A quantidade de internações no país o

jornalista Diego Antonelli apresentou uma matéria no jornal Gazeta do Povo, revela:

As internações hospitalares decorrentes do uso de drogas e outras substâncias químicas ultrapassaram pela primeira vez o índice de ocorrências provocadas pelo consumo de álcool no Brasil. Segundo levantamento realizado no banco de dados mantido pelo Ministério da Saúde (DataSus), até novembro de 2012 (último dado disponível) foram registrados 48.722 internamentos causados por drogas, contra 48.506 de alcoolistas. (ANTONELLI, 2013).

O país oferece aproximadamente 32,7 mil leitos, mas deste percentual apenas 11,5 mil

estão em condições de uso de dependentes químicos. O Ministério da Saúde reconhece a

necessidade de mais leitos. (EM DISCUSSÃO, 2011).

O índice do sucesso no tratamento aumenta quando associado ao conjunto que integra

o meio em que o indivíduo convive, apoio familiar acompanhado de medicamento,

manutenção na persistência do convivo social. (TARSO, 2011).

Deixar e manter os cuidados com a fase de recuperação do tratamento pode ocasionar

recaídas, gerando danos maiores. A volta do uso após uma recaída é extremamente

motivadora, relata o doutrinador Vicente Greco Filho “que a dependência é um estimulo ao

crime, seja pela prática de outros crimes para sustentar o vício – quando se trata de pessoa

pobre – ou estimulando-se o tráfico – quando o dependente adquire a droga do traficante”.

(GRECO FILHO, 1995, p.89).

De modo geral a maioria dos usuários utiliza meios ilícitos para sustentar o vício,

conceituado como “crimes de motivação”. Estudos realizados pela Universidade Estadual do

Mato Grosso do Sul, traz a proporção de delitos praticas por usuários, dentre dezessete

processos analisados na Vara Criminal da Comarca de Parnaíba-MS, seis o réu em seu

depoimento confessou que o crime praticado foi para manter o consumo de drogas.

O uso das drogas tem grande influência em índices de criminalidades, o que induz a

criminalização do uso, mantendo a ideia de não punir os índices só iram aumentar. O

constitucionalista Marcelo Novelino, afirma:

Uma das consequências da consagração da dignidade humana no texto constitucional é o reconhecimento de que a pessoa não é simplesmente um reflexo da ordem jurídica, mas, ao contrário, deve constituir o seu objetivo supremo, sendo que na relação entre o indivíduo e o Estado deve haver sempre uma presunção a favor do ser humano e de sua personalidade, vez que o Estado existe para o homem

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e não o homem para o Estado. Portanto, da consagração constitucional da dignidade de pessoa humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil decorrem dois mandamentos distintos: por um lado, surge uma determinação para o Estado envidar todos os esforços necessários e possíveis a fim de promover meios que proporcionem, a todo e qualquer cidadão, o acesso aos valores, a imposição de observância e proteção no sentido de impedir qualquer tipo de violação, seja pelo próprio Estado, seja por terceiros, à dignidade da pessoa humana. (NOVELINO, 2008, p. 206-208).

Nota-se que a solução e problema não devem ter restrições individuais, mas de uma

coletividade que também contribui no auxílio pecuniário garantindo os pagamentos dos

custeios nos tratamentos. Com isso, a previsão legislativa das penas alternativas instituídas

nos incisos do artigo 28 da Lei 11.343/2006 se ateve aplicar medidas reconhecendo que o

tratamento do dependente químico pertence às políticas públicas de saúde e não de restrita

competência penal.

Porém a simples previsão das penas não é suficiente para as soluções dos problemas,

necessita-se da real possibilidade de um tratamento adequado e acolhendo preceitos do

princípio da dignidade da pessoa humana. Uma análise da prevenção eficaz da criminalidade

feita por Flávio Cardoso Pereira:

No âmbito penal, poderíamos, em uma primeira aproximação ao tema, definir a Política Criminal como um conjunto de medidas e critérios de caráter jurídico, social, educativo, econômico, e de índole similar, estabelecidos pelos Poderes Públicos para prevenir e reagir frente ao fenômeno criminal, com a finalidade precípua de manter, no mínimo possível, os limites toleráveis dos índices de criminalidade em uma determinada sociedade. (PEREIRA, 2007, p.95).

Contudo, pode-se dizer que por maioria as medidas alternativas criadas para os

usuários de drogas não possuem eficácia, distante do objetivo proposto por defensores da

nova Lei de drogas, que apoiam as penas taxativas mencionadas no artigo 28.

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3 JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO MEDIDA ALTERNATIVA PARA USUÁRIOS

DE DROGAS

A lei 11.343/06 preconiza em seu artigo 28 as penalidades que configura como

retributivas para o usuário/dependente de substâncias psicoativas. No entanto essas medidas

têm se mostrado pouco eficaz como mencionado no capítulo anterior.

Diante da necessidade de solucionar os conflitos com mais eficácia e celeridade, a

aplicabilidade dos meios alternativos das penalidades se tornam essencial, de modo que

busque restaurar o ser social e que efetivamente os métodos alternativos tenha mais eficácia

na compreensão e solução de conflitos envolvendo usuários.

Entre os métodos de resolução de conflitos alternativos está a justiça restaurativa, que

teve inspiração do autor Braithwaite de uma ideia difundida nas décadas de 60 e 70 nos

Estados Unidos que visava o desenvolvimento de meios para a restituição penal e de

reconciliação com a vítima e sociedade. Desencadeando da ideia da justiça restaurativa,

afirma Benedetti:

A faceta negativa leva a marginalização social e estigmatiza o indivíduo. A positiva, representada pela vergonha reiterativa, soma à reação de desaprovação uma reação de reaceitação deste indivíduo à sociedade e faz com que o infrator sinta-se responsável pelo que fez e queira se reintegrar. A vergonha reiterativa é importante tanto na construção de mecanismos internos de reprovação a partir de experiência de vergonha reiterativa observadas no dia a dia, em uma função marcadamente pedagógica, quanto no encaminhamento de casos em que a consciência por si mesma não é capaz de inibir o crime. (BENEDETTI, 2006, p.505).

O modelo de resolução social defendida pelo autor, expõe um novo olhar para a

problemática da restauração penal, redirecionando a interpretação feita sobre o autor

proporcionando a ele tão somente a punição, mas também a compreensão do resultado do

dano por ele causado.

A construção deste caminho ganha maior atração na década de 90, com o objetivo de

reverter o âmbito dos resultados das penas criminais, onde havia grande incidência de

ineficácia e altos custos, sistema fracassado da justiça tradicional, além do fracasso deste

sistema na responsabilização dos infratores e atenção as necessidades e interesses das vítimas.

(GARCIA, 2017).

Analisando o método da justiça restaurativa de modo literal, conceitua-se em uma

definição de Howard Zehr:

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A justiça restaurativa é um processo através do qual as partes ou pessoas que se viram envolvidas e/ou que possuem um interesse num delito em particular resolvem de maneira coletiva a forma de lidar com as consequências imediatas deste e suas repercussões para o futuro. (ZEHR, 2012, p.49).

Em termos práticos a justiça restaurativa é um método com dois pilares, a vitimologia

e criminologia que permitem que a justiça restaure danos causados às pessoas ou comunidade

e incluindo as partes interessadas participar dos procedimentos.

Os aspectos que envolvem a conceituação da restauração penal vão um pouco mais

além, como afirma Lode Walgrave:

Colocação cara a cara da vítima e da comunidade afetada por um ilícito com os ofensores num processo informal não adversarial e voluntário que se desenvolve em situações de segurança e que normalmente provê o melhor modo de determinação das obrigações restaurativas. (LEAL apud WALGRAVE, 2014, p. 41).

O foco é envolver de forma eficaz os interessados, diretamente e secundariamente

partícipes dando solução ao delito/dano, tendo-o como garantidores e facilitadores deste

programa os profissionais da justiça, buscando reparar os danos causados por meio de acordos

utilizando-se de medidas alternativas eficientes; conciliar, reparar/restituir para não ocorrer a

reincidência.

Neste sentido, excelente definição foi expressada por Adolfo Ceretti:

É o paradigma de uma justiça que compreende a vítima, o imputado e a comunidade na busca de soluções às consequências do conflito gerado pelo fato delituoso, com o fim de promover a reparação do dano, a reconciliação entre as partes e o fortalecimento do sentido de segurança coletiva. (LEAL, apud CERETTI, 2014, p.41).

O envolvimento simétrico das partes interessadas proporciona uma resolução mais

completa, reparando lesões desde o núcleo do problema, o imputado até a garantia de não

repetição; a participação coletiva dos afetados transmitem conforto, pois a manifestação das

pessoas que sofreram danos, gera soluções que alcança o problema diretamente.

Ampliando o campo da interpretação deste método colocando-o de maneira mais

pratica, Marshall (2003) apresenta “a justiça restaurativa é um processo pelo qual todas as

partes que têm interesse em determinada ofensa, jantam-se para resolvê-la coletivamente e

para tratar suas implicações futuras”. (PALLAMOLLA, 2009, p.54.).

Aplicando outra análise, direcionada o conceito restaurativo para as partes e seus fins

esperados, Jaccoud afirma:

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Uma aproximação que privilegia toda a forma de ação, individual ou coletiva, visando corrigir as consequências vivenciadas por ocasiões de uma infração, a resolução de um conflito ou a reconciliação das partes ligadas a um conflito. (JACCOUD, 2005, p.169).

Os autores propõem reflexões que desdobram a conceituação da definição aberta que

versa sobre o método restaurativo, buscando diminuir a injustiça e delitos, não priorizando

apenas um, Braithwaite (2003) reforça, “aspira oferecer direções práticas sobre como nós,

cidadãos democráticos, podemos levar uma boa vida por meio da luta contra a injustiça”.

(PALLAMOLLA, 2009, p.54).

No estudo aos pilares que sustentam a aplicabilidade do método restaurativo, seus

personagens ativos e passivos, esclarece a autora Raffaella Pallamolla:

Enquanto movimento internamente complexo, a justiça restaurativa apenas é capaz de sustentar um conceito aberto, continuamente renovado e desenvolvido com base na experiência. Contudo, frente a sua complexidade, não se pode ignorar suas diferenças internas sob pena de simplificações e equívocos. (PALLAMOLLA, 2009, p.55).

A amplitude das interpretações fixadas a pratica restaurativa proporciona-a o

acompanhamento evolutivo das experiências e com isso sua modificação de acordo com a

mutação dos delitos, imputado, pessoas e sociedade.

O objetivo basilar do movimento restaurativo são os envolvidos, estão presentes em

toda a estrutura do processo restaurador, iniciado pela pratica do delito até sua reparação e a

garantia da não reincidência, portanto, objetos centrais que atuam ativamente dentro do

processo com encontro por meio de um mediador.

A concepção do encontro é o garantidor de todo o processo restaurativo, nele há

oportunidade de manifestação por todos, sem o “desconforto” da formalidade engessada pelo

sistema judiciário convencional, gerando uma perspectiva certa de posicionamentos feitos

com relação ao delito e na tomada de decisões, a respeito Larrauri manifesta:

A justiça precisa ser vivida, e não simplesmente realizada por outros e notificada a nós. Quando alguém simplesmente nos informa que foi feita justiça e que a agora a vítima irá para a casa e o ofensor para a cadeia isso não da sensação de justiça. (...) não é suficiente que haja justiça é preciso vivenciar a justiça. (PALLAMOLLA, apud LARRAURI, 2009 p.56).

É importante para o ofensor reconhecer e ter ciência da sua conduta de forma que

compreenda o sofrimento causado a vítima e a dimensão do delito praticado que somente será

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eficaz por meio de uma aproximação que provoque o diálogo face a face, causando ao

imputado maior conhecimento do dano e transmitindo a todos um processo mais justo.

Na oportunidade de aproximação gerada pelo dialogo, um contato mais sensível,

direciona aos reflexos que posteriores, a restauração, restituição ou retribuição aspectos

visando as perdas das vítimas e o valor do ofensor, desde modo afirma Johnstone e Van Ness:

Para alcançar a reparação, o encontro passa a ser praticamente indispensável. Constitui o momento em que a vítima pode expressar como se sente em relação ao que aconteceu e fazer perguntas ao ofensor sobre o ‘porquê’ se sua atitude, retomando, assim, a confiança e a autonomia perdidas com o trauma do delito. Da mesma forma o encontro passa a ser, para o ofensor, a oportunidade de desculpar-se e concordar com as reparações que deva fazer. (PALLAMOLLA, apud JOHNSTONE; VAN NESS, 2009, p.58).

Assim, a flexibilidade da aplicação da justiça restaurativa não há critérios que sejam

aplicados de forma correta já que o objetivo final é restaurar o dano causado não importando

o meio em que ela seja desenvolvida, pois são casos que podem ser distintos em envolvidos e

danos, para Morris:

Não há uma forma correta de implantar ou desenvolver a justiça restaurativa (...) A essência da justiça restaurativa não é a escolha de uma determinada forma sobre a outra; é, antes disso a adoção de qualquer forma que reflita seus valores restaurativos e que almeje atingir os processos, resultados e os objetivos restaurativos. (MORRIS, 2004, p.442).

Existe a possibilidade de reflexão para o causador de danos nos valores restaurativos,

por meio do diálogo restaurativo se torna mais respeitosa com quem comete um crime em

comparação a punição/pena com a ausência da compreensão das motivações do infrator pela

justiça retributiva, como refere Pallamolla:

A justiça restaurativa não pretende acabar com o punitivismo, e seria absurdo pensar que não haveria pessoas punitivas em processos restaurativos. A justiça restaurativa permite que o punitivismo faça parte do processo, mas impõe, através de seus valores, a condição de que não ultrapasse a punição imposta pela lei, nem viole os direitos humanos. (PALLAMOLLA apud BRAITHWAITE, 2014, p. 61).

No mesmo ano em que a Lei 11.343/06 foi instituída, a Organizações das Nações

Unidas, publica o manual sobre programas da justiça restaurativa, visando como metodologia,

orientando os danos e as necessidades das vítimas. Fazendo com que o usuário compreenda e

reflita, os efeitos de seus atos, para que possa a partir daí, assumir total responsabilidade de

forma significativa não o isentando das sanções penais já estabelecidas pela lei de drogas.

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3.1 O Método restaurativo na Lei 11.343/06 para o tratamento de usuários de drogas

Anteriormente a implantação da Lei 11.343/06 alimentava-se a repressão tanto para

traficante quanto usuário e para distinguir essas duas figuras era uma tarefa difícil, bem como

suas punições eram parecidas, não levavam em consideração o intuito de cada agente, o

traficante visa basicamente o lucro, enquanto o usuário ou dependente buscava satisfazer suas

emoções, vícios, desconsiderando a vulnerabilidade social do usuário.

Com a instituição da nova lei, veio quebrar a ideologia de legislações anteriores, ao

adotar uma política de prevenção do uso indevido das drogas, bem como a reinserção social

do social do usuário, e ainda fiscalizar, conduta e combater as drogas no Brasil. Isso fica

evidenciado no preâmbulo da lei ao instituir o SISNAD – Sistema Nacional de Políticas

Públicas sobre drogas, Duarte e Dalbosco afirma:

O Brasil, seguindo tendência mundial, entendeu que usuários e dependentes não devem ser penalizados pela justiça com a privação de liberdade. Essa abordagem em relação ao porte de drogas para o uso pessoal tem sido apoiada por especialistas que apontam resultados consistentes de estudos, nos quais a atenção ou usuário/dependente deve ser voltada ao oferecimento de oportunidade de reflexão sobre o próprio consumo, em vez de encarceramento. (DUARTE; DALBOSCO, 2011, p.16).

Nesta visão, esse novo sistema de política criminal, trouxe uma outra visão de justiça

aos usuários/dependentes uma vez que o SISNAD, prescreve medidas de prevenção e

reinserção social para o usuário, não deixando de punir o traficante que é o maior foco da lei,

passando a considerar a vulnerabilidade do usuário trazendo uma visão de prevenção,

tratamento e reparação de danos.

A lei 11.343/06, trouxe algumas novidades como novas nomenclaturas, substituindo

“substância entorpecente” para “drogas”, esta última, para ser considerada droga deve constar

em listas oficiais dos órgãos do Ministério de Saúde. Para tipificar a conduta do agente, tanto

para usuário ou para traficante, a substância deve constar em uma dessas listas oficiais, onde

consta no parágrafo único do artigo 1° da lei de drogas.

Ainda sobre as inovações trazidas pela lei drogas, faz jus aos direitos fundamentais da

pessoa relacionada à autonomia e liberdade individuais, reconhecimento de diversidade,

necessidade de abordagem, multidisciplinar ao problema das drogas, a fixação de direitos

voltados à prevenção e controle do uso de drogas, a contratação da necessidade de uma

atuação preventiva voltada a redução de danos e riscos.

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Esses princípios elencados na lei, trouxeram uma maior proteção aos direitos humanos

fundamentais, como destaca Rodrigues:

Há de ser destacado ainda outro fundamental aspecto, que em geral tem passado despercebido dos comentaristas na nova lei, que é a adoção de balizamentos éticos que representam importante avanço principiológico e permeiam toda a formulação da nova legislação, afastando-a da famigerada doutrina de segurança nacional, que era o substrato ético-político adotado pelas legislações anteriores, opção que aproxima a nova lei de drogas do sistema de proteção dos direitos humanos, fundamentos que lastreiam as estratégicas de redução de danos. (RODRIGUES, 2013, p.64).

Diferente das leis penais anteriores da nova lei de drogas que tratava com uma

política-criminal repressiva ao usuário, que previa como forma de pena a privação da

liberdade, foi inserido pelo legislador o dispositivo que disciplina asa atividades de prevenção

ao uso indevido, atenção e reinserção social de usuários de dependentes de drogas.

As penas previstas no artigo 28 vale mencionar que a advertência, prestação de

serviços à comunidade, seguindo a mesma regra do § 3° do artigo 46 do Código Penal, as

medidas educativas, consiste no comparecimento a programas ou cursos de caráter

socioeducativo, no período de tempo que o juiz fixar, de forma obrigatória, podendo ser

fixadas de forma isolada ou cumulativamente.

Essas penas trazidas pela nova lei aos usuários, exige do magistrado uma maior

sensibilidade e responsabilidade na análise da ocorrência sobre drogas. Com as penas

previstas no artigo 28, trouxe um modelo restaurador, integrativo e educativo de justiça,

fazendo mudanças no sistema penal modificando conceitos que estuam no sistema jurídico

anterior, Freitas afirma:

Rompeu-se, pois, com a tradicional justiça penal, e um modelo de justiça penal terapêutica ganhou espaço em nosso ordenamento, embora não tenha havido descriminalização das condutas ligadas ao uso. Os princípios e as regras da novatio legis determinam uma interpretação sistemática em busca do tratamento e ressocialização dos usuários e dependentes. (FREITAS, 2011, p.59).

O novo pensamento permitiu que a justiça restaurativa atuasse no Direito Penal

Brasileiro não admitindo mais a pena restritiva de liberdade tratando de forma mais humana o

usuário, esse modelo de justiça permite a prevenção do uso indevido de drogas, a reinserção

do usuário na sociedade e a redução de danos de forma integrativa e educadora do sistema de

fixação das penas, como ensina Bacellar e Almeida Neto:

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Nasce, no contexto humanista, novos paradigmas sociojurídicos para o enfrentamento das drogas, distinguindo-se o traficante (a quem ainda se reserva atuação punitiva) do usuário (para quem se desenharam políticas de atenção, reinserção e redução das vulnerabilidades). (BACELLAR; ALMEIDA NETO, 2011, p.310).

Esse modelo de justiça requer além da simples aplicabilidade da lei, sendo necessário

a atuação de outras áreas de conhecimento, como a psicologia, saúde, pedagogia, para que

sejam implantados e desenvolvidos no âmbito dos juizados Especiais criminais que possuem

competência para atuar nos casos envolvendo usuários.

Diante da situação “desumana” que envolve o usuário, os aspectos que o norteiam,

algo fragilizado e complexo, é nítida a aplicabilidade da vulnerabilidade, vulnerável é aquele

indivíduo frágil tanto socialmente pela situação em que se encontra, na dependência ou uso

frequente, e juridicamente, pois o tratamento jurídico aplicado não é adequado, de modo que

se evita a efetivação de seus direitos e garantias fundamentais.

Zaffaroni idealiza a vulnerabilidade partindo para uma verificação de que o sistema

penal apresenta uma seletividade na qual a vulnerabilidade requalifica os sujeitos e

reconhecendo na sociedade graus de vulnerabilidade risco que qualifica e determina pessoa

diante do poder punitivo do Estado:

Esta situação de culpabilidade é produzida pelos fatores de vulnerabilidade, que podem ser classificados em dois grandes grupos posição ou estado de vulnerabilidade e o esforço pessoal para a vulnerabilidade. A posição ou estado de vulnerabilidade é predominantemente social (condicionada socialmente) e consiste no grau de risco ou perigo que a pessoa corre só por pertencer a classe, grupo, estado social, minoria, etc, sempre mais ou menos amplo, como também por se encaixar em um estereótipo, devido às características que a pessoa recebeu. O esforço pessoal ou risco em que a pessoa se coloca em razão de um comportamento particular. A realização do injusto é a parte do esforço para a vulnerabilidade, na medida em que o tenha decidido com autonomia. (ZAFFARONI, 1991, p.245-246).

No prisma da vulnerabilidade do usuário, pelo esforço pessoal ou risco em que a

pessoa se coloca em razão de um comportamento, como relata Zaffaroni, tratar esta

vulnerabilidade diante do sistema penal, apenas, sem relativizações, podem gerar

penas/punições não adequadas acarretando sua ineficácia, ampliando a visão Czeresnia:

Ao abrirem espaço para o saber popular, ampliam as possibilidades de construir uma nova visão de saúde, focada nas condições de enfrentamento do sujeito, e não exclusivamente no binômio prevenção doença. Essa visão vai ao encontro do conceito de vulnerabilidade, que prioriza, como estratégia de cuidado, a informação e os recursos que transcendem o campo da saúde para que os usuários de drogas possam agir com autonomia em prol de sua própria saúde: “a mudança para um comportamento protetor na prevenção (...) não é a resultante necessária de

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‘informação + vontade’, mas passa por coerções e recursos de natureza cultural, econômica, política, jurídica e até policial desigualmente distribuídos (...)” (CZERESNIA,2003, p.121).

Considerando isso, deve-se colocar a vulnerabilidade em posição de importância para

evitar a ineficiência, a conceituação de vulnerabilidade favorece a compreensão da estratégia

de redução de danos.

3.2 Tratamento com redução de danos na saúde pública

O uso de drogas não é um problema exclusivo do ordenamento jurídico penal, a sua

identificação constante e alarmante também inclui o sistema de saúde, pois os reflexos do uso

requerem amparo de várias áreas para desenvolver e compreender o tratamento e recuperação

do usuário.

Neste sentido, existe a legalização da atuação dos profissionais da saúde, especifica

saúde mental, pela Lei Federal 10.216/01 instituindo o tratamento de usuários de drogas pela

política de redução de danos, a lei refere-se ao usuário um transtorno mental, incluindo a este

tratamento para reinseri-lo priorizando as estruturas alternativas proporcionadas pelo método

restaurativo.

A saúde pública busca estrategicamente diminuir as consequências provocadas pelo

uso de drogas com o método de redução de danos por intervenções singulares com o objetivo

de substituir o contexto que norteia o usuário, como afirma o Ministério da Saúde:

Uma compreensão bastante ampliada sobre o uso de álcool e outras drogas nas sociedades atuais, buscando diversificar as formas de lidar como o problema. Não se pauta exclusivamente na abstinência e na prescrição de “comportamentos adequados”. (DIMINUIR..., 2010, p.7).

A tática recuperativa apresentada pelo sistema de saúde para reduzir danos e a

reinserção do usuário de drogas tem como metodologia a busca em compreender

integralmente todas as problemáticas práticas “pensar em redução de danos é pensar práticas

de saúde que considerem a singularidade dos sujeitos, que valorizem sua autonomia e que

tracem planos de ação que valorizem sua qualidade de vida”. (VINADÉ, 2009, p.64).

Assim, o mediador representado pelo agente de saúde qualifica-se de elementos

fundamentais para acolher, vinculando-se a confiança para alcançar o início do tratamento,

desbloqueando as barreiras levantas pela vulnerabilidade que é o foco do acolhimento, como

reforça Dias:

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Para não se incorrer no erro de aplicar ações de redução de danos demandadas por determinada população em outra de características culturais e socioeconômicas diferentes, é imprescindível o contato com a população beneficiada e a investigação de suas necessidades, questionando-se em cada contexto qual dano se pretende reduzir, qual é a demanda da população e qual a relação que ela estabelece com a droga e como reduzir os danos sociais decorrentes do uso da droga (DIAS et al., 2003, p.341).

Sendo cogente a atuação dos agentes para a construção do processo aumentando a

confiança e o vínculo, cria-se por meio dos agentes de saúde e a redução de danos

alternativas, que prevê Vinadé:

O tratamento pautado no vínculo;

a existência de uma equipe heterogênea;

a articulação Inter setorial;

e a existência do agente comunitário de Saúde (ACS); (VINADÉ, 2009, p.63-

73).

Deve-se ter uma abordagem ampla, a fim de reduzir danos ficando os mediadores a

faculdade para utilizar um modo de trabalho e não a uma só técnica, munindo-se de diálogo e

autonomia em uma responsabilização mútua, mantendo o agente imparcial durante o processo

de restauração, atuar apenas profissionalmente afastando a possibilidade de comprometer a

confiança e a quebra do vínculo, sustentando o sigilo, a proximidade com a família e o

usuário, excluindo a intimidade, segundo Eduardo Passos:

Observa-se na experiência de gestão da rd que muitos usuários de drogas abandonam ou diminuem o uso de drogas quando experimentam um contexto no qual se sentem acolhidos. Além disso, o uso abusivo pode comprometer a execução de compromissos assumidos coletivamente: seja o trabalho de campo, acessar outros usuários de drogas em situações de vulnerabilidade, participar de uma reunião nos conselhos municipais ou nas assembleias da associação de que faça parte. (PASSOS, 2011, p.160)

Aborda-se durante o processo de atuação pela equipe de saúde um trabalho de ações e

tratamentos que buscam a garantia da assistência, flexibilizando a compreensão de todo o

contexto das ações intersociais, contando o sistema de saúde com uma equipe e grupos

assistenciais que dão suportes em cada necessidade apresentada, a fim de comprometer toda

forma de abrangência.

Na organização estrutural prática existem diversas bases de apoios que podem ser

utilizados na prática restaurativa, adequando-as, equipes de saúde familiar constituídas por

agentes de saúde, centros de atenção psicossocial multiprofissional, composição de 6 (seis)

CAPS contendo especialidades de infância, álcool e drogas; ambulatórios, auxilio psiquiátrico

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e psicológico individual ou coletivo; Hospitais; Pronto-socorro e Unidades de Pronto-socorro

(UPA).

3.3 A possibilidade da aplicação da justiça restaurativa nos juizados especiais

No atual ordenamento jurídico brasileiro não há uma expressa previsão da aplicação

da justiça restaurativa como parte do sistema de justiça, porém a constituição Federal e a Lei

9.099/95, trazem uma visão amplificada dos direitos humanos no sistema penal, mesmo de

forma implícita, como dispõe Fabiano Alves Mendanha:

O que possibilitou a aplicação dos mecanismos de justiça restaurativa, mesmo que implicitamente, às situações previstas em lei em que vigora o princípio da oportunidade. Insere-se aqui os casos de crimes sujeitos a ação penal de iniciativa privada, nos quais a ação é disponível e fica inteiramente a critério do ofendido a iniciativa de requerer a prestação jurisdicional (ao contrário do vigorante princípio da indisponibilidade da ação penal). (MENDANHA, 2016, p.90).

Sob a ordem normativa da lei dos juizados, é possível a aplicabilidade das práticas

restaurativas, tanto na fase de conciliação, atuando aqui o juiz como mediador, quanto na

transação penal buscando a participação para manifestação das partes envolvidas buscando

um acordo em comunhão.

Após a narrativa do termo circunstanciado pela autoridade policial, o usuário será

encaminhado ao Juizado Especial Criminal, onde será colocando “a disposição” destes, os

benefícios das medidas despenalizadoras da transação penal e da suspenção condicional do

processo.

Expresso no artigo 28 da lei de drogas as penas a serem aplicadas aos usuários de

drogas, essas aplicações requerem uma análise mais aprofundada, detalhada e individualizada

com mais atenção por parte do julgador, colocando-se de forma mais flexível sem se

desprender da legalidade para que não ocorra uma aplicação inadequada e a pena se torne

ineficaz.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,

para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou

regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

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§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia,

cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de

substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

As penas previstas no parágrafo 1 do artigo 28 da lei de drogas, requer maior atenção,

tendo em vista seu caráter educativo, a aplicação desta, solicita um conhecimento

multidisciplinar para possibilitar o desenvolvimento de técnicas no tratamento dos usuários

com a abordagem restaurativa.

Os usuários serão processados e julgados pelos Juizados Especiais Criminais nos

termos do artigo 4º e parágrafos da lei de drogas, na forma da lei 9.099/95, e dependendo do

caso, as medidas despenalizadoras da lei de drogas. A lei dos juizados especiais prevê a

possibilidade da composição civil de transação penal e da suspensão condicional do processo,

como manifesta Bacellar:

Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade. A transação penal (art. 76 da LJE) consiste na possibilidade de o promotor de justiça, tendo elementos para promover uma acusação formal contra o usuário (denúncia), propor, antes disso, a aplicação das medidas alternativas, penas restritivas de direito ou multa. Dentre essas medidas propostas, além da tradicional prestação de serviços comunitários, pode estar a de frequentar programas ou cursos educativos. Aceita a proposta, ela é homologada pelo juiz e, quando cumprida, extingue-se a punibilidade. A suspensão condicional do processo (art.89 LJE) também é requerida pelo promotor de justiça por ocasião do oferecimento da denúncia. São estabelecidas algumas condições que, uma vez aceitas pelo autor do fato, permitem que o juiz, ao receber a denúncia, suspenda o processo de dois a quatro anos. Dentre essas condições, além da reparação do dano (salvo impossibilidade de fazê-lo), proibição de frequentar determinados lugares, comparecimento pessoal e obrigatório ao juízo todos os meses e proibição de ausentar-se da comarca sem autorização do juiz, igualmente pode estar a de frequentar programas ou cursos educativos. (BACECLLAR, 2011, p.331).

Para os usuários de drogas, é possível a redução do conflito nos procedimentos

encaminhados pela ótica do modelo restaurativo no âmbito dos juizados especiais de modo

que seja mais benéfico para as partes envolvidas, principalmente ao usuário, admitindo-se

tanto na fase preliminar quando no procedimento contencioso, há ainda a possibilidade da não

aplicação das penas em decorrência da extinção da punibilidade, propiciando a solução do

conflito, apresentado e discutindo propostas de penas alternativas mais adequadas conforme o

caso, utilizando-se do diálogo como ferramenta para uma possível solução.

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3.4 Justiça restaurativa no estado do Tocantins

No âmbito do cabimento do modelo restaurativo nos juizados especiais, e a busca

constante no melhoramento do tratamento com eficácia dos usuários, vale considerar um

projeto que visa esta ferramenta no Estado do Tocantins por meio do Tribunal de Justiça com

foco na Vara Criminal, Juizado da Infância e Juventude, com apoio dos órgãos/entidades da

saúde e órgãos Estatuais e Municipais.

O projeto estabelecia uma forma prática mais clara dos conceitos e estudos que versam

o método da justiça restaurativa, não excluindo a oportunidade da realização da transação

penal, inspirado por outros Estados que já há a utilização do método, inclui a atuação de

órgãos compositores da saúde pública como CAPS-AD e equipe técnica do judiciário,

CEPEMA.

O desenvolvimento do projeto teria como objetivo o tratamento adequado,

beneficiando a prática restaurativa com métodos e atuações especializadas, promovendo a

satisfação mental e segurança física perante a vulnerabilidade do usuário, buscando os

reflexos negativos que aplicação do encarceramento vem provocando.

Na aplicabilidade do projeto, ele prevê as pessoas e as entidades que irão participar:

Quadro 1 - Pessoas ou entidades envolvidas direta ou indiretamente com a ação

Prioridade

(para o

projeto)

AtoresPapel no

Projeto

Expectativas dos Parceiros

envolvidos (produto ou

resultado esperado)

Alta Tribunal de Justiça Executor Recuperação do beneficiário

Alta Juizado da Infância e Juventude Executor Recuperação do beneficiário

Alta Juizados Especiais Cíveis e

Criminais

Executor Recuperação do beneficiário

Alta Vara Cível e Criminal da

Comarca de Palmas

Executor Recuperação do beneficiário

Alta Comunidades Terapêuticas Parceira Reestruturação familiar

Alta Grupos de autoajuda Parceira Reestruturação familiar

Alta Secretaria Estadual de Saúde Parceiro Suporte institucional

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Alta Secretaria de Defesa Social Parceira Suporte institucional

Alta Secretaria Estadual de Assistente

Social

Parceiro Suporte institucional

Alta Secretaria Municipal de Saúde Parceiro Suporte institucional

Alta Secretaria Municipal de

Assistente social

Parceiro Suporte institucional

Alta Centro de apoio psicossocial

álcool e drogas

Parceiro Reinserção social

Alta Conselho Estadual Sobre drogas Parceiro Reinserção social

Alta Beneficiários Público

alvo

Recuperação

Alta Sociedade Beneficiado Suporte social

Fonte: Projeto justiça terapêutica.

A metodologia utilizada no projeto da justiça terapêutica no ordenamento jurídico do

Estado do Tocantins, no processo de avaliação, em primeiro momento seria realizada os

primeiros procedimentos feito pela equipe técnica do judiciário. Conforme dispõe o projeto:

1) Em audiência nos Juizados Especiais Cíveis e Criminais ou nas Varas Cíveis e Criminais,

os beneficiários serão encaminhados à CEPEMA, após imposição da medida alternativa;

2) Os beneficiários da Justiça Terapêutica serão, inicialmente, atendidos pela equipe técnica

da CEPEMA, que terá como função primordial:

a) Propiciar a reflexão sobre o processo judicial em andamento;

b) Informar a sistemática de encaminhamento e atendimento das redes

parceiras;

c) Apresentar ao beneficiário informações sobre o projeto de justiça

terapêutica, com ênfase para o papel da Equipe técnica, com vistas a

estabelecer vínculo entre o beneficiário e os profissionais da Equipe;

d) Motivar os beneficiários para realização da inserção no Projeto e para a

tomada de decisão de ingresso no tratamento;

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e) Realizar o agendamento do atendimento no CAPS-AD e o consequente

encaminhamento;

f) Receber a sugestão de medida do CAPS-AD e realizar relatório com

alternativas viáveis de acompanhamento ao caso, e apresentar ao magistrado

para que atribua a pena/medida cabível à situação;

A equipe técnica tem como objetivo identificar as condições do sujeito, tanto como

socioeconômico, relações familiares, demonstrar os diversos efeitos que a droga causa,

diagnosticar as motivações que levam o sujeito ao consumo da droga, identificando o grau de

comprometimento com a droga, de maneira que possa demonstrar o quanto o uso das drogas

reflete na própria vida do usuário e de seus familiares, de modo que faça com que o usuário

tenha uma reflexão crítica do seu papel na sociedade, na família, no trabalho e com a justiça.

A partir do procedimento feito em primeiro momento pela equipe técnica, será feita

uma análise de forma individual para cada caso, para que posteriormente possa realizar a

inserção no programa para tratamento em instituições de saúde, buscando adequar a

necessidade do usuário possibilitando o incentivo a eficácia para o conflito que as drogas

causam.

O projeto é destinado aos órgãos que estão diretamente ou indiretamente ligados aos

atendimentos e processos envolvendo os usuários:

1 – Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins;

2 – Juizados Especiais Cíveis e Criminais e Varas Cíveis e Criminais da

Comarca de Palmas;

3 – Pessoas que cometem crimes de menor potencial ofensivo, que se

enquadram no art. 28 da Lei nº 11.343/2006;

Partes envolvidas:

Secretaria Estadual de Saúde;

Secretaria de Defesa Social;

Secretaria Estadual de Assistência Social;

Secretaria Estadual de Segurança Pública;

Secretaria Municipal de Saúde;

Secretaria Municipal de Assistência Social;

Comunidades Terapêuticas;

Grupos de autoajuda;

CAPS AD;

Conselho Estadual Sobre drogas

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Sociedade.

Resultados que o projeto pretende alcançar:

Retirar os beneficiários envolvidos com drogas do sistema de encarceramento para o

de tratamento;

Romper o binômio droga-crime, diminuir a reincidência criminal e reduzir a

criminalidade;

Evitar a prisão e oferecer ao beneficiário a possibilidade de receber atendimento

profissional especializado;

Promover o bem-estar físico e mental dos beneficiários usuários de drogas;

Incentivar políticas de saúde;

Sensibilizar e conscientizar a sociedade para o direito de todos à cidadania;

Reduzir o custo social, por ser a atenção à saúde menos cara e mais efetiva que o

simples encarceramento;

Promover a paz social.

A sistemática e a metodologia apresentadas pelo projeto pretendem colocar os

objetivos da justiça restaurativa em pratica, utilizando o ordenamento jurídico e o sistema de

saúde já estruturados para atender os usuários de drogas, mostrando que implantar os métodos

restaurativos traz benefícios, economia e aumentando a não reincidência.

O presente projeto foi elaborado pelos doutores: Ester Maria Cabral, Magda Maria. R.

F. Valadares, Paulo Fernando Mourão Veras, Ruto César Moreira Costa e Tânia Mara A.

Barbosa. Foi apresentado no ano de 2013, analisado pelo Tribunal de Justiça do Estado do

Tocantins, onde até a presente data, não foi efetivado.

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CONCLUSÃO

Superar, mesmo que de modo legal, e é preciso que seja de modo legal, os prejuízos

que a droga causou ao longo dos anos não é uma tarefa fácil. Enquanto já questão de saúde

pública, se une a diversas outras problemáticas mal geridas pela máquina Pública, e o era

somente sério se torna desesperador.

Desesperado, que mais do que alguém "fora de si", é alguém sem esperança alguma,

representa bem o estado de muitos usuários, dos seus familiares, cuidadores ou mais

próximos, quando ainda lhes restam. Se a questão é saúde, não há muita burocracia para falar,

há muita necessidade de atitude a ser tomada; atitude que de fato resolva cada caso.

O presente estudo mostrou, na evolução histórica das drogas, na presença milenar dos

entorpecentes no mundo; e no decorrer dos séculos, que parece ter ocorrido maior

aprimoramento para quem deseja se entorpecer do que para quem deseja permanecer sóbrio

ou se livrar dos vícios. São facilidades diversas que vão desde a facilidade do acesso ao

produto (fornecedores/clientes) até a diversificação de substâncias, tipologias e preços.

De fato, o homem é livre e responsável por suas escolhas, mas vive em uma

contemporaneidade, tão pressionado como nunca parece ter sido; e quem não é dono de si, por

inúmeras razões, fica vulnerável diante das drogas. O que é comum nessa sociedade

acelerada, consumista, individualista, segregadora, irreal, capitalista e altamente artificial.

Nessa direção, considera-se que a droga é tanto um problema gravíssimo de saúde

pública quanto um problema de raiz histórica; ou seja, se se somar a acomodação do Estado

em relação à temática com tendência dos homens de recorrerem as drogas diante dos dramas

da vida, será praticamente impossível superar o quadro de drogadição do país. No entanto, se

houver mudanças de posturas e cobranças por parte da sociedade civil, algum resultado

positivo há de se ver.

Sendo assim, é fato que as drogas ainda são um grave problema para o Brasil e que a

superação desse quadro não parece ser uma realidade próxima; no entanto, propostas, leis e

meios existem nesse país para tornar possível uma ação efetiva contra as drogas e realmente

punitiva contra os traficantes, de modo a efetivar positivamente as intervenções contra essas

substâncias maléficas e tornar exitosas as ações de combate às drogas.

Verifica-se que a Justiça Restaurativa traz em seus fundamentos que vão além dos

preceitos jurídicos, sendo formada por princípios sociológicos de suma importância. Além de

proporcionar modelos diferentes na sua aplicação.

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Constatou-se que um dos modelos proporcionado pela Justiça Restaurativa está a

política de redução de danos, atuando como uma alternativa para o usuário de drogas com

intuito de que esse seja o caminho mais eficaz para tratamento do mesmo, tendo como

objetivo acabar com o uso das drogas no Brasil.

A metodologia apresentada através do projeto de Justiça Terapêutica busca oferecer

um serviço eficiente, célere no tratamento do usuário, por meio dos profissionais devidamente

capacitados no combate contra esse grave caso de saúde pública, evitando a reincidência do

usuário, afastando de conflitos decorrente das drogas.

Em todas as circunstâncias, o Estado deve buscar oferecer um serviço eficiente, com

facilitadores responsáveis e devidamente capacitados, também deve primar pelo respeito e a

observância aos princípios e valores, bem como aos procedimentos adotados dentro da Justiça

Restaurativa, apresentando uma eficiente ferramenta na efetivação das políticas públicas

buscando a paz social.

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ANEXOS

Drogas no mundo

Época Contexto relacionado às drogas: “Breve história das drogas

A longa trajetória das substâncias psicotrópicas com o passar

dos milênios”.

5400 - 5000 A.C. Um jarro de cerâmica descoberto no norte do Irã, com resíduos

de vinho resinado, é considerado a mais antiga evidência da

produção de bebida alcoólica.

4000 A.C. Os chineses são, provavelmente um dos primeiros povos a usar a

maconha. Fibras de cânhamo descobertas no país datam dessa

época.

3500 A.C Os sumérios, na Mesopotâmia, são considerados o primeiro povo

a usar ópio. O nome dado por eles à papoula pode ser traduzido

como "flor do prazer".

3000 A.C. A folha de coca é costumeiramente mastigada na América do Sul.

A coca é tida como um presente dos deuses.

2100 A.C. Médicos sumérios receitam a cerveja para a cura de diversos

males, segundo inscrições em tabuletas de argila.

2000 A.C. Hindus, mesopotâmios e gregos usam o cânhamo como planta

medicinal. Na Índia, a maconha é considerada um presente dos

deuses, uma fonte de prazer e coragem.

100 A.C. Depois de séculos, o cânhamo cai em desuso na China e é

empregado apenas como matéria-prima para a produção de papel.

Século 11 Hassan Bin Sabah funda a Ordem dos Haximxim, uma horda de

guerreiros que recebia, em sua iniciação, uma grande quantidade

de haxixe, a resina da Cannabis.

1492 O navegador Cristóvão Colombo descobre os índios usando

tabaco durante suas viagens ao Caribe.

Século 16 Américo Vespúcio faz na Europa os primeiros relatos sobre o uso

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da coca. Com a conquista das Américas, os espanhóis passam a

taxar as plantações. Durante a expansão marítima para o Oriente,

os portugueses adotam a prática de fumar ópio.

1550 Jean Nicot, embaixador francês em Portugal, envia sementes de

tabaco para Paris.

Século 17 O gim é inventado na Holanda e sua popularização na Inglaterra

no século 18 cria um grave problema social de alcoolismo.

Século 18 O cânhamo volta a ser usado no Ocidente, como planta

medicinal. Alguns médicos passam a usá-lo no tratamento da

asma, tosse e doenças nervosas.

Século 19 Surgem os charutos e cigarros. Até então, o tabaco era fumado

principalmente em cachimbos e aspirado na forma de rapé.

1845 O pesquisador francês Moreau de Tours publica o primeiro

estudo sobre drogas alucinógenas, descrevendo seus efeitos sobre

a percepção humana.

1850-1855 A coca passa a ser usada como uma forma de anestesia em

operações de garganta. A cocaína é extraída da planta pela

primeira vez.

1852 O botânico Richard Spruce identifica o cipó Banisteriopsiscaapi

como a matéria-prima de onde é extraída a ayahuasca.

1874 Com a mistura de morfina e um ácido fraco semelhante ao

vinagre, a heroína é inventada na Inglaterra por C.R.A. Wright.

1874 A prática de fumar ópio é proibida em San Francisco (EUA). A

Sociedade para a Supressão do Comércio do Ópio é fundada na

Inglaterra, e só quatro anos depois as primeiras leis contra o uso

de ópio são adotadas.

1884 O uso anestésico da cocaína é popularizado na Europa. Dois anos

depois, John Pemberton lança nos EUA uma beberagem

contendo xarope de cocaína e cafeína: a Coca-Cola. A cocaína só

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seria retirada da fórmula em 1901.

1896 A mescalina, princípio ativo do peyote, é isolada em laboratório.

1898 A empresa farmacêutica Bayer começa a produção comercial de

heroína, usada contra a tosse.

1905 Cheirar cocaína torna-se popular. Os primeiros casos médicos de

danos nasais por uso de cocaína são relatados em 1910. Em 1942,

o governo dos EUA estima em 5.000 as mortes relacionadas ao

uso abusivo da droga.

1912 A indústria farmacêutica alemã Merck registra o MDMA

(princípio ativo do ecstasy) como redutor de apetite. A

substância, porém, não chega a ser comercializada.

1914 A cocaína é banida dos EUA.

1930 Num movimento que começa nos Estados Unidos, a proibição da

maconha alcança praticamente todos os países do Ocidente.

1943 O químico suíço Albert Hofmann ingere, por acidente, uma dose

de LSD-25, substância que havia descoberto em 1938. Com isso,

ele descobre os efeitos da mais potente droga alucinógena.

1950-1960 Cientistas fazem as primeiras descobertas da relação do fumo

com o câncer do pulmão.

1953 O exército norte-americano realiza testes com ecstasy em

animais. O objetivo era investigar a utilidade do agente em uma

guerra química.

1956 Os EUA banem todo e qualquer uso de heroína.

1965 O LSD é proibido nos EUA. Seus maiores defensores, como os

americanos Timothy Leary e Ken Kesey, começam a ser

perseguidos.

1965 Alexander Shulgin sintetiza o MDMA em seu laboratório. Ao

mastigá-lo, sente "leveza de espírito" e apresenta a droga a

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psicoterapeutas.

Anos 70 O uso da cocaína torna-se popular e passa a ser glamourizado.

Nos anos 80, o preço de 1 Kg de cocaína cai de US$ 55 mil

(1981) para US$ 25 mil (1984), o que contribui para sua

disseminação.

1977 Início da "Era de Ouro" do ecstasy. Terapeutas experimentais

fazem pesquisas em segredo para não chamar a atenção do

governo.

Década de 80 Surge o crack, a cocaína na forma de pedra. A droga, acessível às

camadas mais pobres da população tem um alto poder de

pendência.

1984 A Holanda libera a venda e consumo da maconha em

estabelecimentos específicos – os coffee shops.

1984 O uso recreativo do MDMA ganha as ruas. Um ano depois, a

droga é proibida nos EUA e inserida na categoria dos

psicotrópicos mais perigosos.

2001 Os EUA dão apoio financeiro de mais de US$ 2 bilhões ao

combate ao tráfico e à produção de cocaína na Colômbia.

2003 O governo canadense anuncia que vai vender maconha para

doentes em estado terminal. É a primeira vez que um governo

admite o plantio e comercialização da droga

Fonte: Revista Galileu Especial n. 3, ago. 2003. Disponível em: <http://www.antidrogas.com.br/historia.php>.

Drogas no Brasil

Época Contexto relacionado às drogas.

1921 Surge a primeira lei restritiva na utilização do ópio, morfina,

heroína, cocaína no Brasil, passível de punição para todo tipo de

utilização que não segue recomendações médicas.

1930– 1933 A maconha foi proibida. Ocorreram as primeiras prisões no país

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(no Rio de Janeiro) por uso da droga. Essa proibição se estende até hoje com uma certa variação. Mesmo proibidas, as drogas continuaram a ser consumidas e aumentou a violência em torno do tráfico, com o surgimento de grandes grupos de traficantes, como o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro.

Anos 60 e 70 No presídio de segurança máxima de Ilha Grande, presos

comuns e guerrilheiros urbanos dividiram os mesmos espaços e

trocaram “experiências”.

1975 Anistiados, os guerrilheiros deixaram o presídio, mas os presos

comuns continuaram lá e passaram a usar, no dia-a-dia, as

táticas de organização aprendidas com os companheiros da

guerrilha. Com elas, sobreviveram e dominaram outros grupos

do complexo penitenciário. Organizaram um grupo de

autodefesa, chamado Falange Vermelha, que em pouco tempo

mudaria o nome para Comando Vermelho e se transformaria

num dos maiores grupos do crime organizado no Brasil e no

mundo.

Início dos anos 80 O Comando Vermelho já dominava o sistema prisional do Rio

de Janeiro. Além disso, quando seus integrantes cumprem suas

penas e são liberados, o comando conquista também as ruas e

suas ideias se espalham para além das grades. No início dese

processo, foram formados grupos para fazer assaltos a bancos.

Com o tempo perceberam que há um outro negócio mais

lucrativo e menos arriscado do que os constantes assaltos a

agências bancárias: o tráfico de drogas.

No final dos anos

70 e início dos 80

O aumento do consumo de cocaína na Europa e nos Estados

Unidos fez também elevar a produção e o tráfico nos países

andinos e apareceram as primeiras “empresas narcotraficantes",

como a liderada por Pablo Escobar, que passaram a produzir

cocaína para exportação. É no início dos anos 80 que o Brasil

aparece como rota para o escoamento de cocaína para os EUA e

a Europa.

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2000 os “laços” entre Rio e São Paulo se solidificam quando o CV

faz parceria com o PCC (Primeiro Comando da Capital) , facção

criminosa paulista, e juntos passam a traficar drogas.

2004 o juiz federal Odilon de Oliveira, de Ponta Porã, na fronteira de

Mato Grosso do Sul com o Paraguai, revelou que as Farc se

instalaram no Paraguai, na fronteira com o Brasil e passaram a

treinar traficantes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Deram

cursos de guerrilha e também de sequestros aos bandidos das

duas maiores facções criminosas do Brasil: O PCC e o

Comando Vermelho. “Eles treinam brasileiros lá para agir aqui”

disse o juiz. Segundo ele, as quadrilhas de narcotraficantes

brasileiros são os principais “clientes” na compra da cocaína

produzida pelas Farc. Antes de chegar ao Brasil, a cocaína é

levada para o Paraguai. O pagamento é feito em dólares ou

armas. Ponta Porã é a segunda cidade do país em lavagem de

dinheiro, perdendo só para Foz do Iguaçu (Paraná).

Contexto

Contemporâneo

Os “empresários” da cocaína no Brasil “legalizam” o dinheiro

conseguido com o tráfico de drogas, com a compra de hotéis,

bingos, redes de farmácia, postos de gasolina, bares, lojas de

automóveis, fazendas e gado. Outra forma utilizada por eles e

descoberta pelo governo brasileiro foi a compra de bilhetes

premiados da loteria. Um esquema montado com donos de

lotéricas e funcionários de órgãos públicos funcionava da

seguinte forma: os bilhetes ou jogos premiados eram

“comprados” dos ganhadores, assim o traficante ou político

justificava o dinheiro que tinha dizendo que ganhou na loteria.

Fonte: SOUZA, Fatima. História das Drogas no Brasil. [2014]. Disponível em: <http://pessoas.hsw.uol.com.br/trafico-de-drogas3.htm>.

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REFERÊNCIAS

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______. Portaria n° 344, de 12 de maio de 1998. Regulamento Técnico sobre Substâncias e Medicamentos sujeitos a controle especial. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 01 fev. 1999. (republicada).

ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

ANTONELLI, Diego. Total de internações por uso de drogas supera o de alcoolismo. Jornal Gazeta do Povo, 28 fev. 2013. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1349087&tit=Total-de-internacoes-por-uso-de-drogas-supera-o-de-alcoolismo>. Acesso em: 02 abr. 2017.

ARAÚJO, Tarso. Almanaque das drogas. São Paulo: Leya, 2012. p. 384.

ARRUDA, Samuel Miranda. Drogas: aspectos penais e processuais penais: Lei 11.343/2006. São Paulo: Método, 2007.

AYRES, J. R. et al. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In.: CZERESNIA, D. (Org.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 117-139.

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