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Sesc Verão 2016
Qual o esporte que te move?
Um atleta que vale por cinco
- o pentatlo moderno –
- Exposição -
SESC São José dos Campos
por
– Victor Andrade de Melo –
Rio de Janeiro 2015
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O HERÓI DOS HERÓIS:
O PENTATLO NO MUNDO ANTIGO
Eram considerados quase como deuses. No mínimo, mais do que humanos
normais. Bem mais, até porque dedicavam-se com afinco a aperfeiçoar suas
performances. Na Antiguidade Grega, os atletas eram encarados como uma das mais
completas expressões de que a superação deveria ser uma marca da experiência
humana. Por isso, seus feitos eram inspiradores, e seus nomes ficaram registrados na
história, um pequeno indício da enorme admiração que os cercava em seu tempo.
Ainda que os gregos antigos não tivessem uma palavra específica para definir o
que nos dias de hoje chamamos de esporte, inegavelmente as práticas corporais
ocupavam um importante espaço e desempenhavam um relevante papel naquela
sociedade, articuladas com a política, cultura e economia.
Integravam o cotidiano daqueles homens e mulheres, bem como os momentos
extraordinários, nos quais também se reafirmavam os princípios de um modo de viver.
Ágon, athlos e gymnasion eram termos e conceitos que marcavam esse grande
envolvimento e valorização das atividades físicas.
Devemos ter em conta que a participação de atletas em competições
exponenciava e dramatizava certas sensações e sentimentos valorizados pelos gregos
antigos. Nem todos chegavam a tomar parte em eventos grandiosos, tampouco
dedicaram sua vida para o treinamento, mas a todos os cidadãos, aqueles que eram
livres, especialmente aos mais jovens, era indicada a prática de atividades físicas, uma
faceta central de seu modelo de educação.
Os diversos Jogos que promoviam com frequência eram, portanto, a celebração
maior de sua afeição por desafios, palcos perfeitos para exaltar valores que julgavam
superiores, como a beleza, a agilidade e força, a coragem, a honra, os cuidados com
corpo e, consequentemente, com a mente. Não surpreende que importantes personagens
da história grega tenham marcado sua presença nessas ocasiões. Sabe-se que, entre
muitos outros, Heródoto, Platão e Pitágoras estiveram a desfrutar daqueles dias de festa,
certamente até mesmo torcendo para um ou outro competidor.
Os enfrentamentos e disputas eram por excelência os mecanismos que permitiam
eleger os melhores, aqueles que eram socialmente encarados como agentes motivadores.
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Para tal, dever-se-ia garantir a todos as mesmas condições de participação. Somente se
equiparados na situação inicial, poder-se-ia com justiça e precisão saber, afinal, quem
era o grande representante do esplendor da cultura grega.
Nos dias de hoje, se tornaram mais conhecidos os Jogos Olímpicos, realizados
pela primeira vez em 776 a. C., na cidade de Olímpia. Segundo alguns mitos, os
próprios deuses os teriam criado (de acordo com a narrativa, apontando-se Hércules,
Zeus ou Cronos como o principal responsável). Eram mesmo um dos mais importantes
eventos coletivos promovidos na Hélade.
Outras cidades, contudo, também promoviam suas competições, da mesma
forma animadas e celebradas pelos participantes. Usualmente eram também
homenagens a seus deuses. Os Jogos Píticos de Delfos eram dedicados a Apolo. Já em
Corinto, os Jogos Ístimicos exaltavam Poseidon. E assim, em muitos outros locais, os
eventos esportivos mobilizavam a população e eram aguardados com grande ansiedade,
importantes ocasiões para o fortalecimento de um sentimento de identificação pan-
helênico, isso é, de reconhecimento de coisas em comum que uniam os gregos.
De fato, havia muitas similaridades em todos esses Jogos, entre as quais a
valorização do atleta. As mulheres não eram aceitas como competidoras, a não ser em
provas específicas (como em algumas com cavalos, já que esses eram, de fato,
considerados os competidores), ou nos seus festivais próprios, como os Heraias,
dedicados a Hera, disputados em Olímpia.
Vejamos que, para além da glória e do registro de seus nomes na história, os
atletas também recebiam premiações e benefícios diversos. Na verdade, até mesmo por
isso, a despeito das intenções moralmente elevadas, no decorrer do tempo houve muitos
conflitos ao redor dos resultados, em algumas oportunidades ocorrendo mesmo um
abandono – ainda que momentâneo – dos princípios básicos que tinham norteado a
criação e manutenção dos eventos. Nos seus anos finais de existência, a propósito,
tinham mudado muito de perfil aquelas tão magnânimas e gloriosas competições.
De toda forma, jamais perderam a condição de eleger os mais destacados, o que
inspirou, muitos séculos depois, Pierre de Coubertin, um dos principais artífices dos
Jogos Olímpicos modernos, a estabelecer como um de seus lemas “Citius, Altius,
Fortius” – em tradução livre, “mais rápido, mais alto, mais forte”. Essa expressão
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somente foi introduzida nos Jogos Olímpicos de 1924 (Paris) e não existia no mundo
antigo.
O aspecto heroico, todavia, já naquele tempo existia. A propósito, a ideia de que
o “importante é competir”, outro lema bem conhecido dos Jogos Olímpicos
contemporâneos, não se aplicava aos gregos antigos. Vencer era fundamental, tanto por
ser sinal de que lograra sucesso o esforço dispendido, quanto porque abria portas ao
vitorioso.
As modalidades nas quais se enfrentavam esses candidatos a heróis mudaram no
decorrer do tempo. Em 708 a. C., foi pela primeira vez introduzido nos Jogos Olímpicos
o pentatlo, não esse a que se refere a nossa exposição, mas sim uma prova atlética que
conjugava disputas de salto, corrida, luta e lançamentos de dardo e disco. Algumas
fontes sugerem que se tratou de uma solicitação dos espartanos, que desejavam uma
ocasião em que se exaltasse mais os aspectos guerreiros, a preparação dos combatentes.
O primeiro campeão do pentatlo teria sido, inclusive, um espartano, Lampis, que
chegou a ser homenageado com uma estátua. Outros três vitoriosos conhecidos eram
também originários de Esparta: Philombrotos, Chionis, Eutelidas. Muitos outros heróis
da modalidade foram exaltados por seus feitos. Por sua conquista, Xenofon de Corinto
mereceu uma ode de Píndaro (olímpica número 13), o mesmo que ocorreu com Sogenes
de Egina (nemeíca número 7).
Extrato da ode de Pindaro a Xenofon
“And in Corinth the sweet-breathing Muse blossoms, and also Ares, with the deadly
spears of young men. Highest lord of Olympia, ruling far and wide; for all time, father
Zeus, may you be ungrudging of our words, and ruling this people in safety, grant a
straight course to the fair wind of Xenophon's good fortune. Receive the ordained song
of praise in honor of his garlands, the procession which he leads from the plains of Pisa,
since he has been victorious in both the pentathlon and the foot race; he has attained
what no mortal man has ever attained before”.
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Extrato da ode de Pindaro a Sogenes
“But if a god should also uphold this truth, then under your protection, Heracles, you
who subdued the Giants, Sogenes would dwell happily, fostering a spirit of devotion to
his father, beside the rich and sacred road of his ancestors, since he has his house in
your precincts, flanking him on either hand as he goes, like the yoke-arms of a four-
horse chariot”.
Mas se era tão diferente do nosso atual pentatlo moderno, porque falarmos dessa
prova da antiguidade? Veremos que muitos foram e são os tipos de pentatlo, mas em
todos eles, desde o tempo dos gregos, o intuito é similar: descobrir entre os melhores
quem é o mais completo, aquele que consegue reunir o maior número de habilidades, o
atleta que vale por cinco.
Não surpreenderá saber que, naqueles Jogos da Antiguidade, as provas de
pentatlo eram das mais populares. Todos queriam saber, afinal, quem era o que
conseguia conjugar tantas qualidades. Se o atleta era encarado como uma síntese de
valores importantes para a sociedade grega, cultuados com peculiaridades por todas as
cidades que integravam a Hélade, o pentatleta pode ser considerado a síntese da síntese,
o suprassumo da condição atlética (nesse sentido, da própria forma como se concebia o
povo grego).
Vejamos como Aristóteles, em sua célebre obra “Retórica”, se referiu aos atletas
da modalidade, reforçando a idolatria que os cercava. Para ele:
“A beleza é diferente e acorde com a idade, já que a beleza do jovem é ter o corpo
preparado para as fadigas da corrida e dos esforços, bem como tê-lo
suficientemente agradável ao olhar, como para produzir um disfrute. Por isso, os
mais belos são os pentatletas, porque estão naturalmente preparados para o
esforço e a velocidade”.
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O pentatleta tinha que aliar resistência, força e velocidade, bem como desenvolver
certas características de personalidade. A prova da luta dava um tom especial à
competição por não se tratar de uma disputa em que cada um fazia a sua parte, mas sim
em que havia contato físico direto entre adversários.
As cinco modalidades eram também eivadas de simbolismos, alguns ligados à
preparação para a guerra – um dos elementos que também contribuía para a valorização
da prática de atividades físicas –, outros relacionados aos próprios ditames políticos e
culturais dos gregos.
O lançamento do disco, por exemplo, era encarado como uma referência aos
ideais de democracia, ao movimento circular que deveria inspirar a polis, algo que,
inclusive, se explicitava em alguns espaços valorizados nas cidades gregas, como a
arena, o hipódromo e o teatro. Uma expressão dessa representação é o Discóbolo, a
estátua de Miron produzida em bronze, aproximadamente em 455 a. C., supostamente
para celebrar um pentatleta vitorioso.
A força dessa imagem é tão grande que, ainda que a original tenha se perdido,
diversas cópias sobreviveram, tornando o Discóbolo uma das esculturas mais famosas
de todos os tempos. Salta aos olhos a beleza da bem definida compleição muscular do
atleta, bem como do instante captado, aspectos que reforçam a ideia de movimento, a
impressão de que o lançador está mesmo prestes a concluir a dinâmica circular e atirar o
disco.
Não se sabe exatamente como funcionava a disputa do pentatlo. Sugere-se que já
era comum que muitos atletas disputassem em um mesmo programa corridas e saltos. A
propósito, lembremos que nos dias de hoje não é tão raro que corredores de provas
rápidas (como 100 e 200 metros) também participem como saltadores (em distância e
triplo).
Algumas fontes indicam que a última disputa era a de luta. Outros sugerem que
as provas ocorriam no segundo dia do evento, todas de forma seguida, praticamente sem
intervalos, o que acentuava o esforço físico e o empenho necessário para sagrar-se
vitorioso. Isso era tão claro que, aparentemente, se algum atleta vencesse as três
primeiras provas já era sagrado campeão.
Da mesma forma, haveria um sistema eliminatório, em que eram impedidos de
seguir na competição os que não conseguissem alcançar um certo patamar. Não temos,
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contudo, mais informações precisas sobre a ordem das provas, a pontuação, a apuração
dos resultados.
Alguns autores argumentam ainda algo bem interessante. Como eram
modalidades que não necessitavam de implementos caros, nos saltos, corridas, lutas e
lançamentos participava um maior número de competidores de estratos sociais menos
privilegiados. Certamente, as habilidades físicas dos que trabalham com labores
manuais era um diferencial que os beneficiava nas disputas de pentatlo.
Enfim, o pentatlo do mundo antigo era distinto do pentatlo moderno, mas alguns
de seus princípios permanecem até os dias atuais. Trata-se do desafio dos desafios,
aquele que elege o atleta dos atletas, o competidor que mais reúne habilidades, aquele
que vale por muitos.
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UM ATLETA COMPLETO:
O PENTATLO NOS JOGOS OLÍMPICOS MODERNOS
Em 393 d. C., os Jogos Olímpicos foram proibidos por Teodósio I, imperador de
Roma adepto do cristianismo, por supostamente ser uma manifestação pagã. Isso não
significou a completa extinção de festivais esportivos. Na verdade, os romanos, que no
século II a. C. conquistaram a antiga Grécia, promoveram também muitos eventos
semelhantes, como os Jogos Actium e os Jogos Capitolinos.
Na Roma antiga, se apreciava muito os espetáculos públicos e de massa. Um dos
indícios mais conhecidos desse tempo é o Coliseu, onde eram realizados eventos e
competições diversas, entre as quais da prática gladiatorial, uma das modalidades mais
características do Império Romano, bastante relacionada ao espírito guerreiro que bem o
caracterizava.
O período medieval foi menos fértil no que tange à realização de festivais
esportivos, ainda que eles não tenham deixado de existir. Foi mesmo a partir do século
XVIII, em função de uma nova dinâmica social e econômica, que os jogos voltaram a
ser promovidos com maior frequência, destacando-se os de São Petesburgo, a partir de
1760, e os de Drehberg, desde 1770. Os primeiros tinham maior inspiração nas
competições dos gregos, enquanto os segundos na dos romanos (ainda que se
apresentassem também como Jogos Olímpicos).
No século XIX, definitivamente voltaram a ser organizados eventos em que as
atividades físicas eram a atração principal. No que hoje é a Alemanha, um país que
somente surgiu unificado em 1871, festivais ginásticos inspirados nas propostas de
Friedrich Jahn se tornaram celebrações de um novo método de educação física que tinha
em conta contribuir com o forjar da nova nação. Os Turnenfests foram realizados a
partir de 1860 em Coburg, Berlim e Leipzig.
Já na Grã-Bretanha, onde, na transição dos séculos XVIII e XIX, se
sistematizara o esporte moderno, foram realizados eventos como os Jogos Olímpicos de
Much Wenlock (a partir dos anos 1850) e os Jogos Olímpicos de Shropshire (na década
de 1860). Foram esses festivais que inspiraram o aristocrata francês Pierre de Coubertin
a recriar os Jogos Olímpicos da era moderna.
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A primeira edição foi realizada em Atenas (Grécia), no ano de 1896, depois de
um congresso organizado na França, em 1894, e da criação do Comitê Olímpico
Internacional, em 1895. A grande motivação era o desconforto e descontentamento com
os problemas advindos do crescimento das cidades e das peculiaridades da nova
dinâmica política e econômica. Havia preocupações com o que se pensava ser o declínio
moral da sociedade, num momento em que grassava a sensação de decadência.
Em função desse cenário, bem como do avanço científico e da valorização de
noções de saúde e higiene, houve maior número de iniciativas ligadas as atividades
físicas. Nesse contexto, surgiu uma forte tendência de, desde uma interpretação peculiar
do modelo de corporeidade grega, encará-la como exemplo a ser seguido à busca de
construção da ideia de harmonia.
Pierre de Coubertin considerava os esportes como ferramentas fundamentais
para regenerar a juventude, reduzindo os males do momento. Concebeu o olimpismo
como um humanismo universal. Sua visão estava inspirada no conceito de eurritmia, um
caminho para o alcance de uma beleza espontânea, reflexiva e unificada; uma beleza
também moral. Competidores e público, assim, deveriam ser envolvidos num círculo de
harmonia, devendo os estádios potencializar o alcance desse intuito.
O líder, na verdade, promoveu não uma cópia do que houve na Antiguidade
Clássica, até mesmo porque não se tinha ainda tantos conhecimentos sobre o período,
mas sim uma certa leitura do mundo grego a partir das necessidades de seu tempo. Essa
postura foi mesmo uma estratégia para justificar sua iniciativa de tentar recriar os Jogos
Olímpicos.
Várias foram as “tradições inventadas” que fizeram referência à origem grega do
olimpismo. Algumas são bem explícitas, como a determinação de que os Jogos fossem
organizados de quatro em quatro anos, promovidos por cidades e não nações, bem como
o desejo de que se celebrasse a paz durante sua realização (o que, de fato, não se
observou no século XX, sendo inclusive duas edições adiadas em função das 1ª e 2ª
Grandes Guerras).
A propósito, supostamente também por essa inspiração grega, Coubertin era
contra a participação feminina nos Jogos. O envolvimento de mulheres com o evento é,
portanto, um exemplo de conquista. Mesmo desagradando o fundador, elas praticamente
se impuseram. Se já na edição de Paris (1900) se fizeram timidamente presentes, nos
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Jogos Olímpicos de Londres (2012) todos os comitês nacionais enviaram ao menos uma
representante. Dos quase 11.000 atletas, 4.850 eram mulheres, o maior número da
história.
Até mesmo cerimônias que não existiam no passado, como o revezamento da
tocha olímpica, buscam fazer referência à Grécia. É no “solo sagrado” de Olímpia que
ela é acesa com os raios do sol, daí sendo conduzida até o local da abertura dos Jogos,
quando recebe o fogo a pira que deve permanecer flamejante até o encerramento. Criado
na edição de 1936 (Berlim), o ritual foi uma sugestão de Alexander Philadelphus,
diretor do Museu Arqueológico de Atenas, e uma concepção de Carl Diem, secretário
geral do Comitê Organizador do evento.
O artífice do olimpismo, entre outras coisas que admirava nos gregos antigos,
dedicava grande estima ao pentatlo. Durante muitos anos, empenhou-se em introduzir
uma modalidade nele inspirado no programa olímpico. A ideia de criar esse novo
esporte existia desde a primeira edição de Atenas, mas somente conseguiu ser
concretizada em 1912, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo.
O pentatlo moderno tornou-se a única modalidade especificamente criada para
os Jogos, integrando o evento antes de ter uma organização anterior e externa ao Comitê
Olímpico. Por ser encarada como um dos pilares do olimpismo, uma das suas mais
completas e fidedignas representações, durante décadas foi considerado como um
esporte obrigatório no programa de competições.
O que motivou Coubertin a entabular tantos esforços na conformação do
pentatlo moderno? De um lado, acreditava que seria uma forma de atrair mais militares
para os Jogos Olímpicos. Pensava ser uma estratégia para contribuir com a paz ao
promover encontros entre combatentes que poderiam dirimir seus conflitos de maneira
saudável.
Lembremos que a introdução da modalidade no programa olímpico se deu às
vésperas do início da 1ª Grande Guerra, quando já se faziam perceber no continente
europeu sinais eminentes de tensão. No pentatlo moderno, aliás, sentiram-se impactos
do conflito que ceifou a participação de alguns atletas, na mesma medida em que ajudou
a ratificar sua importância nos Jogos Olímpicos subsequentes (Antuérpia, 1920).
O pentatlo moderno foi também concebido como uma maneira de identificar
aquele que reúne o maior número de habilidades. Para Coubertin, “estava certamente
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destinado a ocupar um espaço protagonista, talvez até mesmo tornando-se o mais
relevante evento nas próximas Olimpíadas. O homem capaz de participar, mesmo que
não se torne vencedor, é o verdadeiro atleta, o completo atleta” (Revista Olímpica, n.
71, 1911).
Vejamos que havia similitudes com as representações que tinha o pentatlo no
mundo antigo. Mas as diferenças eram também flagrantes, a começar pelas modalidades
envolvidas: esgrima, natação, hipismo, tiro e corrida. A motivação que levou Coubertin
a escolher essas práticas é um indício de que o ecletismo marcava suas concepções.
Estava inspirado em uma aventura supostamente ocorrida nas guerras napoleônicas,
quando um soldado teve que cumprir uma arriscada missão. Para alcançar com sucesso
seu intuito, teve que cavalgar, correr quando o cavalo foi abatido, nadar para atravessar
cursos d´água, além de enfrentar o inimigo em duelos de espada e pistola.
Como na Grécia, havia questões simbólicas que cercavam as cinco provas,
relacionadas aos cinco arcos do símbolo olímpico, que por sua vez tinham relação com
os cinco continentes. Mas também nesse aspecto havia distinções de concepção no que
tange ao público e atletas. Se no mundo antigo tratava-se de uma modalidade mais
popular, para Coubertin o pentatlo moderno deveria guardar certo elitismo, dado seu
caráter de educação ideal e as dificuldades que cercam a sua prática.
Seria mesmo uma competição para poucos, somente para os mais bem
preparados, para os que estariam dispostos a sacrifícios para dramatizar o que seria o
símbolo supremo da performance atlética. O atleta deve demonstrar que pode aliar
características físicas (força, resistência, velocidade) com habilidades psicológicas
(concentração, coragem, capacidade de adaptação). Como são muitas as variáveis
envolvidas, trata-se mesmo de um dos mais complexos processos de treinamento e
preparação.
Na primeira vez em que o pentatlo moderno foi inserido no programa olímpico,
os suecos destacaram-se, conquistando as medalhas de ouro, prata e bronze: Gösta
Asbrink, Georg De Laval, Gösta Lilliehöök. Na verdade, foram os únicos que tinham
antes treinado a nova modalidade.
A maior parte dos competidores era mesmo de membros das forças armadas que
já tinham algum envolvimento com outros esportes. A propósito, em quinto lugar se
classificou um certo tenente norte-americano que depois se destacaria como um dos
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grandes e mais polêmicos militares do século XX, notadamente por sua atuação na 2ª
Grande Guerra: George Smith Patton.
Não houve mulheres na prova de 1912. Todavia, houve uma história curiosa.
Helen Preece, atleta britânica de equitação, que mesmo muito jovem já era famosa por
suas conquistas esportivas, manifestou seu desejo de participar da pioneira disputa,
chegando a se preparar para tal em árduos treinamentos.
Seu intuito foi motivo de polêmica entre os dirigentes esportivos, inclusive
merecendo uma intervenção de Coubertin, que mesmo reconhecendo que as normas não
eram claras quanto a tal possibilidade, uma vez mais declarou-se contra a participação
de mulheres nos Jogos Olímpicos. Ainda que observando que elas já tinham conseguido
espaço em outros esportes (como tênis e natação), julgava que não seria adequado
permitir que tomassem parte nas provas do pentatlo moderno.
Ao fim, por motivos que não ficam muito claros, Helen Preece não participou
dos Jogos Olímpicos. Seu nome, contudo, deve ser lembrado como exemplo de
determinação, para que se faça a devida homenagem àquelas pioneiras que, enfrentando
as restrições interpostas pelo mundo masculino, com muita luta abriram caminho para
que outras mulheres pudessem participar plenamente não só das provas do pentatlo
moderno, como também de todas outras modalidades esportivas. Na verdade, de todas
as instâncias sociais, uma reivindicação que ainda segue em curso.
Em muitos países, na sequência dos Jogos de 1912, a nova modalidade foi
adotada por muitas forças armadas, considerada como uma boa estratégia para estimular
e expressar o grau de preparação de seus combatentes. No decorrer do tempo, contudo,
o pentatlo moderno foi se espraiando por outras esferas sociais. Muitos militares
continuaram envolvidos, mas também civis se encantaram e passaram a se dedicar ao
esporte.
É verdade que nem sempre é fácil praticá-lo, pois exige uma boa infraestrutura,
inclusive implementos pouco acessíveis, como espadas, cavalos e pistolas. Ainda assim,
especialmente em países que possuem uma melhor organização esportiva, há uma maior
difusão do esporte, até mesmo com a participação de atletas mais velhos, que
compensam uma certa perda de vitalidade com a experiência em certas habilidades
necessárias.
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Mais ainda, as mulheres conquistaram seu espaço. Quando usualmente já
tomavam parte em muitas competições da modalidade, finalmente foram aceitas no
pentatlo moderno dos Jogos Olímpicos, na edição de 2000 (Sidney). Elas tornaram-se
também estrelas no panteão dos mais completos atletas. Também brilham e inspiram
jovens com suas conquistas que beiram o heroísmo.
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O PENTATLO MODERNO:
A SAGA DOS HERÓIS
Natação, esgrima, tiro, equitação, corrida. Essas sempre foram as modalidades
que integraram o programa das provas de pentatlo moderno. No decorrer do tempo,
houve, todavia, muitas mudanças no formato de competição. Por exemplo, até os Jogos
Olímpicos de 1980 (Moscou), a disputa era realizada em cinco dias. Posteriormente, até
a edição de Barcelona (1992), passaram a ocupar quatro dias. A partir de Atlanta
(1996), tornou-se promovida em apenas um dia. Esse modelo certamente enfatiza a
complexidade e dificuldade do esporte.
Vejamos como será a saga desses superatletas nos Jogos Olímpicos de 2016 (Rio
de Janeiro). Competirão 36 homens e 36 mulheres, selecionados em competições
diversas. Cada país poderá ter até quatro representantes por sexo, sendo que o Brasil já
garantiu pelo menos um de cada por ser a sede do evento. Continentalmente, serão ao
menos 10 da Ásia e da América, dois da África e da Ásia e 16 da Europa. Também se
classificam os campeões da Copa do Mundo (duas vagas) e dos dois mundiais (seis
vagas para cada), bem como os melhores colocados no ranking internacional.
A disputa de esgrima terá duas etapas: uma em que todos se enfrentam, num dia
anterior ao das provas propriamente ditas, e outra em forma de chaves até a sagração de
um campeão. O objetivo é, em combates de espada de um minuto, tocar o oponente. A
segunda fase será realizada depois da prova de 200 metros de natação que abre
oficialmente a competição. Nessa modalidade, o intuito é fazer o menor tempo possível.
A seguir, realizar-se-á a equitação, 12 obstáculos a serem vencidos em uma pista
que possui entre 350 e 450 metros. Os cavalos são fornecidos pela organização e
sorteados entre os atletas. Por fim, os resultados serão considerados na preparação da
prova final, uma corrida de 3.200 metros combinada com o tiro a laser, em pé e sem
apoio, quatro passagens pelo estande.
Isso é, cada uma das três provas iniciais gera pontuações. A diferença de pontos
entre os atletas é transformada em segundos. Na corrida, os competidores vão largando
de acordo com essa classificação, respeitando o tempo que os separa, devendo cumprir
o percurso e o exigido de acertos ou permanência no estande de tiro. Vence quem cruzar
em primeiro a linha de chegada.
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Como se pode perceber, trata-se de uma disputa emocionante, que tem atraído
grande público nos últimos anos, especialmente nos Jogos Olímpicos. No Rio de
Janeiro, em 2016, a prova será realizada no Complexo de Deodoro, na Arena da
Juventude (esgrima), no Centro Aquático de Pentatlo Moderno (natação) e no Estádio
de Deodoro/Arena de Rúgbi e Pentatlo Moderno (hipismo e prova combinada).
Para além do cenário olímpico, depois de décadas sob a responsabilidade do
Comitê Internacional, desde 1948 a modalidade tem sido regulada e organizada
mundialmente pela União Internacional de Pentatlo Moderno. Durante muitos anos,
essa entidade também regeu as competições de biatlo, um esporte de inverno que integra
esqui cross-country e tiro de rifle. Nos dias atuais, essa prática possui uma federação
própria.
De toda forma, a União Internacional de Pentatlo Moderno também dinamiza
outras modalidades combinadas, como o tetratlon moderno (natação, corrida, tiro e
esgrima), o triatlo moderno (tiro, natação e corrida) e o biatlo moderno (natação e
corrida), além do “laser-run” (a prova combinada entre corrida e tiro). A entidade está
também implementando o parapentatlo.
Há federações de pentatlo moderno em mais de 100 países, divididas em seis
confederações continentais. No Brasil, a modalidade durante muitos anos foi dirigida
pela Confederação Brasileira de Desportos Terrestres, mas desde 2001 possui uma
entidade própria, a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno, que conta com
federações do Rio de Janeiro, São Paulo, Rondônia, Paraná, Pernambuco e, em
organização, Mato Grosso e Ceará.
Vale lembrar que existem e existiram outros pentatlos. Na primeira década do
século XX, em competições de atletismo, realizadas dentro ou fora dos Jogos
Olímpicos, houve provas de pentatlo clássico, que reunia salto em distância,
lançamentos do disco e do dardo, corridas de 200 e de 1500 metros.
Houve também o pentatlo feminino, uma das primeiras modalidades combinadas
na qual brilharam as mulheres. Era composto por provas de lançamento de peso, salto
em altura e em distância, corridas de 200 e de 80 metros com barreira. Nos dias de hoje,
ainda existe o pentatlo de pista coberta – corridas de 800 e 60 metros com barreira,
saltos em altura e distância, lançamento de peso –, enquanto nas pistas abertas as
mulheres disputam o heptatlo – corridas de 200, 800 e 100 metros com barreiras, saltos
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em altura e em distância, arremesso de peso e lançamento de dardo, que se tornou uma
prova olímpica a partir dos Jogos Olímpicos de 1984 (Los Angeles).
Lembremos que os homens competem no decatlo, outra prova combinada que
visa eleger o mais completo atleta de atletismo. A disputa existe desde o século XIX e
no programa olímpico desde 1904 (Saint Louis), persistindo até os dias de hoje.
Há também os pentatlos dinamizados pelo Conselho Internacional de Esporte
Militar. Criado em 1948, a ideia surgiu, na verdade, no final da 1ª Guerra Mundial:
reunir membros das forças armadas nacionais para celebrar a paz, a fraternidade e a
amizade. A entidade, além dos esportes praticados de forma generalizada, também
organiza modalidades eminentemente ligadas aos exercícios de combate, entre as quais
três pentatlos específicos.
O pentatlo militar foi criado na década de 1940. A motivação foi pensar uma
modalidade mais adequada às novas habilidades exigidas dos combatentes. O capitão
francês Henri Debrus adaptou um treinamento para combate e deu origem ao esporte,
composto de tiro (velocidade e precisão a 300 metros), corrida (oito quilômetros cross
country), natação (50 metros com quatro obstáculos), lançamento de granadas
(medindo-se distância e precisão) e corrida de 500 metros numa pista com 20
obstáculos. Desde 1988, com pequenas adaptações, é também disputado por mulheres.
O pentatlo naval foi criado com intuitos semelhantes, se aproximar de
habilidades julgadas importantes para os combatentes, sendo adaptado, contudo, aos
esforços dos que integram as forças marítimas. Foi inventado pela Marinha Italiana em
1949, e melhor estruturado, em 1951, pelo capitão Giuseppe Vocaturo. É composto por
corrida em uma pista de obstáculos de 305 metros com 10 obstáculos, natação de
salvamento (em que se simula um resgate) e natação utilitária (125 metros com
obstáculos), prova de habilidades navais (com tarefas típicas do exercício marítimo) e
corrida cross country anfíbio (2.400 metros, realizada com vestimenta e rifle,
intercalada com a realização de atividades militares).
Por fim, existe o pentatlo aeronáutico, que segue os mesmos princípios dos
anteriores. Integram a modalidade uma corrida de orientação com obstáculos, tiro,
natação, basquetebol e esgrima. Além disso, há uma competição de voo. O esporte foi
criado em 1948, pelo oficial francês E. Petit, considerando que essas provas
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desenvolviam algumas habilidades necessárias aos pilotos em suas incursões de
combate.
Muitos pentatlos, com características diversas. Mas observemos bem que os
princípios são os mesmos: treinar e identificar o melhor, aquele que reúne mais
habilidades, o mais completo, o atleta que vale por cinco, o que mais se aproxima dos
tão admirados heróis e deuses.
Passados tantos séculos, no fundo é sempre o modelo que os gregos inventaram
que os pentatletas celebram e perseguem quando estão em competição.
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HERÓIS EM VERDE E AMARELO:
NOSSOS PENTATLETAS
O ano era 1922. Em meio a um momento político bastante turbulento, num
período efervescente em que houve, entre tantas coisas importantes, a Semana de Arte
Moderna, a fundação do Partido Comunista e a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana,
o Brasil se preparava para comemorar o centenário da independência. A capital do país,
o Rio de Janeiro, foi escolhida para sediar as principais festividades, especificamente
uma grande exposição internacional para a qual foram convidados representantes de
todos os países amigos.
Grandes obras foram promovidas na cidade, para acolher as instalações da
exposição, mas também com fins de embelezamento, preparando o Rio de Janeiro para
receber os visitantes e celebrar um futuro que se esperava alvissareiro. O intuito era
demonstrar que o Brasil era um país moderno, ainda que também tenham se
reestabelecido alguns laços com o antigo colonizador, Portugal, com o qual as relações
estavam abaladas desde a proclamação da República (1889).
Integrando o calendário de festividades, várias competições foram organizadas,
entre as quais o 6º Campeonato Sul-Americano de Futebol, os Jogos Esportivos do
Centenário (também conhecidos como Jogos Olímpicos Latino-Americanos) e Jogos
Militares Internacionais.
De fato, membros das forças armadas participaram ativamente não só da sua
competição específica, como também das outras promovidas, atuando como treinadores,
atletas e personagens importantes na organização dos eventos. Foi exatamente nessa
ocasião que pela primeira vez no Brasil foi realizada uma prova de pentatlo moderno.
Desde o ano anterior, o pentatlo clássico já era conhecido e protagonizava
grandes disputas entre clubes que possuíam equipes de atletismo, notadamente do Rio
de Janeiro (onde se destacavam o Flamengo e o Fluminense) e de São Paulo (com
destaque para o Esporte Clube Germânia – atual Pinheiros, e o Paulistano). A propósito,
o decatlo também já era conhecido entre nós.
Nesse mesmo ano de 1921, o Clube de Natação e Regatas, do Rio de Janeiro,
inovou ao organizar uma competição do que chamou de “Pentatlo Nobre”, constituído
por provas de tiro, corrida cross country, natação, remo e luta romana. O intuito
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anunciado era desenvolver “as qualidades básicas, físicas e psíquicas, que constituem o
homem forte e superior” (O Imparcial, 1 de dezembro de 1921).
No início de 1922, começaram a circular pelos jornais notícias sobre o pentatlo
moderno. Segundo um jornalista de O Imparcial (de 2 de abril), a nova modalidade
tinha um “objetivo mais acentuadamente prático, desprezando os cultos acessórios da
beleza e da graça, que entre os antigos constituíam, quiçá, os elementos primordiais da
movimentação esportiva”. O cronista criticava o esporte, por ele considerado como de
“um utilitarismo restrito e exageradamente individual”. Julgava o “pentatlo nobre” mais
adequado do ponto de vista de um atleticismo superior.
De toda forma, em 11 de setembro de 1922, no estádio do Exército da Vila
Militar, foi disputada a primeira competição nacional da modalidade, na ocasião
denominada de “Pentatlo Internacional Militar”. Sagrou-se vitorioso o capitão do
Exército Francisco Pereira da Silva Fonseca, que protagonizou uma disputa acirrada
com o tenente Raul Seidl.
Vagarosamente a modalidade começou a ser mais praticada, especificamente nas
fileiras militares, ainda mais no Exército. Um passo importante se deu em 1936, quando
uma delegação de atletas brasileiros compareceu aos Jogos Olímpicos de Berlim:
Guilherme Catramby Filho (o melhor colocado, 36º lugar entre 42 competidores),
Anisio da Silva Rocha e Rui Pinto Duarte. O país enviou ainda representantes para as
edições de 1948 (Londres), 1952 (Helsinque), 1956 (Melbourne), Roma (1960) e 1964
(Tóquio).
Nesse período, atletas brasileiros participaram de muitas outras competições
internacionais realizadas no Brasil e no exterior, inclusive Campeonatos Mundiais (com
destaque para a edição de 1951, quando a equipe nacional ficou em 3º lugar) e
Campeonatos Sul-americanos, nos quais a delegação brasileira, em muitas ocasiões,
obteve excelentes resultados.
Na edição de 1950, realizada em Buenos Aires, o país conquistou o primeiro
título internacional com a vitória de Eric Tinoco Marques, um dos mais importantes
atletas brasileiros da modalidade e importante personagem do esporte nacional,
futuramente também campeão nos Jogos Pan-Americanos de 1951. Em 1954, com Eric,
e 1956, com Nilo Jaime Ferreira, o Brasil repetiria a conquista sul-americana. Muitos
outros foram os títulos semelhantes.
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Além disso, alguns brasileiros venceram importantes provas em competições de
pentatlo moderno, tais como Acélio Morrot Coelho (esgrima nos Jogos de Londres,
1948), Eduardo Leal de Medeiros (tiro no Mundial de 1951, Suécia), Aloyzio Alves
Borges (esgrima nos Jogos de 1952, Helsinque), Bruno Hermany (natação no Mundial
de 1953, Chile), entre outros.
Muitas competições nacionais e estaduais foram também promovidas, tais como
Campeonatos Brasileiros. De toda forma, a trajetória da modalidade foi marcada por
uma certa alternância, com momentos de maior intensidade e outros em que se reduziu
o número de iniciativas.
Depois de um intervalo, nos anos 1980 o Brasil voltou a participar de
competições internacionais. Nos Jogos Olímpicos, somente tornou a tomar parte em
2004 (Atenas), com dois atletas, Daniel Santos e Samantha Harvey. Essa atleta foi mais
uma das pioneiras que, a partir da década de 1980, começaram a se destacar no pentatlo
moderno, entre as quais as campeãs brasileiras Lílian Cristina Xavier Martins, Carla
Dondeo, Jaqueline Pirichinski, Roberta Doernte Sant’Anna, Clarisse Menezes.
Nos Jogos Olímpicos de 2008 (Pequim), começou a trajetória olímpica de uma
das mais importantes atletas da modalidade no Brasil, Yane Marques. Essa jovem
pernambucana, nascida em Afogados da Ingazeira, tornou-se a única medalhista
olímpica da modalidade originária da América Latina, bronze na edição de Londres
(2012). Não foi sua única grande conquista. Entre outros bons resultados, é longa a sua
lista de vitórias, foi duas vezes ouro nos Jogos Pan-americanos (Rio de Janeiro, 2007 e
Toronto, 2015), conquistando também a prata em Guadalajara (2011).
Bem cedo, Yane já tinha demonstrado talento para o esporte, destacando-se
como nadadora do Clube Náutico de Recife. Em 2003, quando foi criada a Federação
Pernambucana de Pentatlo Moderno, depois de disputar uma prova de biatlon, acabou
selecionada, se interessando e aderindo à modalidade.
Por trás dessas iniciativas, se encontra a ação de Alexandre França, militar do
Exército, primeiro presidente da entidade e técnico de Yane desde então. A princípio, os
treinos foram realizados no Caxangá Golf & Country Club, bem como no Círculo
Militar do Recife.
Nos dias de hoje, a preparação ocorre no Centro de Treinamento de Alto
Rendimento e Formação de Base do Pentatlo Moderno, uma iniciativa realizada a partir
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de uma parceria com o Colégio Salesiano do Recife, na qual tem atuado intensamente o
ex-atleta e atual técnico Michael Cunningham.
O sucesso de Yane se deu relativamente rápido e foi crescente, fruto de suas
habilidades, bem como de seu esforço e dedicação. Mais do que os resultados que
colaboram para que o Brasil se torne mais conhecido e mesmo ascenda nas
classificações de competições, Yane tem dado significativas contribuições para a maior
popularização do pentatlo moderno no país. Seu reconhecimento público faz jus a seu
empenho e conquistas.
Obviamente há muitos desafios para que o pentatlo moderno seja mais praticado,
algo para o qual a Confederação tem procurado contribuir com projetos diversos, como
o PentaJovem. Espera-se, inclusive, que um dos centros de formação seja exatamente o
Complexo de Deodoro, onde serão realizadas as provas dos Jogos Olímpicos do Rio de
Janeiro.
A própria Yane enfrentou muitas dificuldades para dar sequência a sua carreira.
Atualmente tem sido auxiliada por ter sido incorporada como terceiro-sargento do
Exército, bem como por apoios que recebe por ser atleta de alto rendimento (Time
Brasil do Comitê Olímpico Brasileiro).
De toda forma, em boa medida deve-se mesmo a ela o fato de o pentatlo
moderno não ser mais um ilustre desconhecido. Muitos já são os que sabem que nesse
esporte há uma menina que, aparentemente franzina, na verdade é um gigante que nos
faz rememorar os grandes feitos de superatletas dessa modalidade tão complexa, árdua e
completa.
Que seja uma mulher a obter tanto destaque, é uma glória ainda maior, uma ode
à força da mulher brasileira, algo que faz justiça às contribuições que tantas têm dado à
sociedade e à nação brasileira, a suas lutas históricas por maior respeito à diferença e
pelo fim de qualquer tipo de discriminação.
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BIBLIOGRAFIA E FONTES
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SUGESTÕES DE IMAGENS * Imagens sobre Jogos Olímpicos da Antiguidade http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br/2012/08/olimpia-e-os-jogos-olimpicos.html http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/em_olimpia_a_corrupcao_ja_manchava_os_jogos.html http://www.scielo.org.ar/scielo.php?pid=S0328-12052008000100004&script=sci_arttext http://www.efdeportes.com/efd169/jogos-olimpicos-gregos-discussoes-historicas.htm http://www.historia.ufpr.br/monografias/2011/1_sem_2011/camilla_miranda_martins.pdf https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Ol%C3%ADmpicos_da_Antiguidade#/media/File:Boxers_Staatliche_Antikensammlungen_1538.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Ol%C3%ADmpicos_da_Antiguidade#/media/File:AGMA_Sauteur.jpg http://www.perseus.tufts.edu/Olympics/pentathlon.html * Discóbolo Cópia Townley em mármore do Museu Britânico https://pt.wikipedia.org/wiki/Disc%C3%B3bolo#/media/File:SFEC_BritMus_Roman_021-2.jpg Cópia reduzida em bronze da Gliptoteca de Munique https://pt.wikipedia.org/wiki/Disc%C3%B3bolo#/media/File:Greek_statue_discus_thrower_2_century_aC.jpg * Pentatlo moderno em jogos olímpicos https://en.wikipedia.org/wiki/1912_Summer_Olympics#/media/File:1912_fencing_patton_and_mas_latrie.jpg https://en.wikipedia.org/wiki/G%C3%B6sta_Lillieh%C3%B6%C3%B6k
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