Um Espectro Ronda o Terceiro Setor

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Santiago do Chile ; 1999 ; Comunicao ; II Encontro da Rede Latino-Americana e do Caribe ; 182; responsvel pela informao : Rits - Estudos

Santiago do Chile ; 1999 ; Comunicao ; II Encontro da Rede Latino-Americana e do Caribe ; 182; responsvel pela informao : Rits - Estudos UM ESPECTRO RONDA O TERCEIRO SETOR: O ESPECTRO DO MERCADO

Fernando G. Tenrio

Esta Coisa que no uma coisa, essa Coisa invisvel entre seus aparecimentos, no a veremos mais em carne e osso quando ela reaparecer. Esta Coisa olha para ns, no entanto, e v-nos no v-la mesmo quando ela est a. Uma dissimetria espectral interrompe aqui toda especularidade. Ela dissincroniza, faz-nos voltar anacronia. A isto chamaremos efeito de visera: no vemos quem nos olha (Derrida, 1994:22).

INTRODUO

Dois so os objetivos do presente ensaio: a) dar continuidade ao trabalho publicado sob o ttulo Gesto social: uma perspectiva conceitual, no qual fazamos a distino entre os conceitos de gesto estratgica e gesto social e b) ampliar a reflexo, estaria o terceiro setor atuando sob a gide da gesto estratgica? Questo esta percebida atravs de leituras e estudos realizados nos mbito do PEGS Programa de Estudos em Gesto Social que apontam que o determinismo de mercado tende a orientar as aes das organizaes que atuam neste setor.

Uma observao, que devemos ressaltar ainda, quanto aos objetivos aqui pretendidos, que no vamos estudar as especificidades organizacionais do terceiro setor, nomeadamente aquelas que atuam sob a denominao de organizaes no governamentais (ONGs), que so as que mais se tem destacado nos espaos da sociedade civil organizada. A nossa preocupao, enfatizamos, vai ser provocar a reflexo sobre um fenmeno que parece estar submetendo estas e outras formas associativas que atuam sob o guarda-chuva do terceiro setor, aos cnones do mercado.

A inteno de parafrasear o Manifesto comunista de Karl Marx e Friedrich Engels para dar ttulo ao texto, tem a finalidade de assumir que a sua redao tem como referencial conceitual, um pensamento terico crtico que d conta de um tema que, originalmente, foi pautado pela busca da justia social e pelo compromisso com as mudanas sociais determinadas antes pela solidariedade do que pela atuao como agente econmico.

Para tanto, desenvolveremos este ensaio de acordo com a seguinte itemizao: 1. Institucionalizao aonde apontaremos, ainda que de forma resumida, elementos que identifiquem o processo de institucionalizao do terceiro setor; 2. Epistemologia crtica no qual destacaremos contedos conceituais que substanciem uma avaliao no objetificante mas reflexiva do significado do terceiro setor enquanto um dos enclaves da sociedade contempornea.

1. INSTITUCIONALIZAO

O processo de institucionalizao do terceiro setor tem sido implementado, dos anos 70 aos nossos dias, por meio de uma cronologia e valores societrios na promoo de atividades de carter pblico, em alguns momentos originais e em outras compensatrias, atravs da ao de diferentes agentes sociais: associaes profissionais e/ou voluntrias, entidades de classe, fundaes privadas, instituies filantrpicas, movimentos sociais organizados, ONGs e outras organizaes assistenciais ou caritativas da sociedade civil.

Esta classificao est longe de atender ao leque de possibilidades de conformaes das organizaes que compem este setor na medida que ele atua em diferentes frentes e com diferentes metodologias: defesa de minorias; dos sem terra e moradia; desempregados; sade individual ou coletiva; defesa de povos indgenas; preservao urbana e do meio-ambiente; desenvolvimento regional; preservao cultural; alfabetizao; profissionalizao; direitos da cidadania; filantropia empresarial etc. No podemos esquecer que nesta complexidade e heterogeneidade dos agentes do terceiro setor, esto os movimentos populares ou sociais.

Rubens Cesar Fernandes comenta que na discusso sobre a denominao terceiro setor, existem aqueles que advogam que, na realidade, este setor deveria ser o primeiro na medida que a sua antecedncia lgica e histrica prevaleceria sobre o Estado e o capital (Fernandes, 1994: 20). Por sua vez as dicotomias organizaes no-lucrativas versus lucrativas e pblico versus privado, so tambm estimuladoras dessa discusso. No primeiro caso, organizaes no-lucrativas, estariam diretamente arrolados rgos do setor pblico estatal, a burocracia pblica, assim como aquelas organizaes como sindicatos, partidos polticos, fundaes empresariais por exemplo, que desempenham muitas vezes um papel fundamental na sociedade civil, mas que atuam estratgicamente, desenvolvendo suas aes de maneira calculada e utilitarista. No segundo caso, pblico versus privado, a diferenciao pode ser entendida como na disposio a seguir:

AGENTES

FINS

SETOR

privados

para

privados=

mercado

pblicos

para pblicos=

Estado

privados

para

pblicos=

3 setor

pblicos

para

privados=

(corrupo)

Fonte: Fernandes, 1998: 20.

O processo de institucionalizao do terceiro setor tem sido substanciado no s pelo seu tipo de atuao por meio de entes pblicos da sociedade civil organizada mas, tambm, pela sua tentativa de configurao legal. No Brasil tentativas podem ser observadas desde 1916 ano em que foi formulada pela primeira vez uma lei para regular essas entidades sem fins lucrativos (Merege, 1998: 131), passando pela Constituio Federal de 1988, leis estaduais e municipais. A Lei n 9.790 Dispe sobre a qualificao de pessoas jurdicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico (...) OSCIP (D.O.,1999: Seo 1), um exemplo dessa busca de institucionalizao do terceiro setor. A sua importncia est sendo medida, inclusive, pela sua participao no Produto Interno Bruto (PIB) dos pases: diz-se que no caso dos EUA este setor, no perodo 1975-1995, alcanou 12,4% do PIB.

Nos ltimos 10 ou 20 anos, o mundo viu crescer a importncia de um espao social difuso entre o Estado e o mercado. No me refiro aqui economia informal, que muitas vezes no passa de um mercado ilegal e brutalizado. Ao contrrio, o terceiro setor composto da unio de inmeros agrupamentos voluntrios, destinados a conter a misria social e barrar a destruio ecolgica. A maioria desses grupos d grande valor administrao autnoma. No campo prtico, eles avanam no terreno abandonado pelo mercado e pelo Estado em virtude da baixa rentabilidade ou da falta de recursos financeiros (Kurz, 1997:152).

O espao ocupado pelo terceiro setor na sociedade deste final de sculo, frente ao primeiro e ao segundo setores, tem-se pautado de tamanha relevncia que instituies internacionais de controle e fomento creditcio, procuram ou estimulam governos a utilizarem estes agentes sociais como instrumentos de implantao, acompanhamento e avaliao de polticas pblicas. Na Primeira Reunio entre os Chefes de Estado e de Governo da Amrica Latina e Caribe e da Unio Europia, realizada no Rio de Janeiro nos dias 28 e 29 de junho de 1999, os chefes de Estado e Governo adotaram 69 itens como resultado desta reunio, entre eles destacamos o de nmero 21: Ressaltar a importncia da contribuio de novos atores, parceiros e recursos da sociedade civil com o objetivo de consolidar a democracia, o desenvolvimento social e econmico, bem como aprofundar o respeito aos direitos humanos. (...) (JB, 1999: 15).

A importncia deste setor tem despertado tambm a ira daqueles que vm este tipo de agente social como uma provocao ao desequilbrio do sistema na medida que agentes do terceiro setor tem apontado as mazelas da sociedade contempornea por meio de uma dimenso que os diferencia dos demais:

Essa dimenso diz respeito maneira como esses movimentos descobriram uma nova compreenso do conhecimento. (...) Em circunstncias em que os polticos profissionais de todo o espectro poltico fracassaram, essa dimenso fortalece a importncia das organizaes cvicas democrticas no local de trabalho, na comunidade e nas relaes internacionais como um meio atravs do qual o conhecimento prtico socializado, a compreenso terica, escrutinizada e os agentes coletivos da mudana, detendo saber parcial, so forjados (Wainwright, 1998:26-27).

Neste ensaio estamos trabalhando com a concepo que incorpora a segmentao privado versus pblico porm agregando, nas relaes desta dicotomia, a preocupao com o processo e no com os resultado originados nesta relao. Consideramos portanto como organizaes do terceiro setor aqueles agentes no-econmicos e no-estatais que procuram atuar, coletiva e formalmente, para o bem-estar de uma comunidade ou sociedade local, sub-regional ou regional, nacional ou internacional. Ao coletiva-formal que pressupe a democratizao de sua maneira de agir visando a emancipao da pessoa humana enquanto sujeito social, sob o exerccio da cidadania.

Contudo deve-se observar, de imediato, que este tipo de ao pblica no implica, necessariamente, que estes entes privados, porm pblicos, sejam substitutos do Estado ou que devam preencher as suas ausncias. O Estado, principalmente nos pases perifricos ou subdesenvolvidos onde as carncias sociais so o modus vivendi de tais sociedades, tem um papel fundamental na soluo dessas necessidades. Como tal o Estado indispensvel podendo, em alguns casos, atuar focalizadamente atravs das organizaes do terceiro setor.

A onda neoliberal do capitalismo global tem produzido insustentabilidade econmica, poltica e social notadamente nos pases do terceiro mundo. Aloizio Mercadante Oliva em artigo denominado Globalizao e desarmamento financeiro, por exemplo, identifica trs vetores principais de insustentabilidade provocado pelo modelo da liberalizao dos mercados, da desregulamentao da economia e da privatizao:

a) o deslocamento das funes de regulao da economia do Estado para os mercados financeiros (...);

b) o deslocamento dos organismos de representao da cidadania, em especial dos parlamentos, pelas empresas privadas (...); e

c) o descrdito da poltica e de suas instituies e a marginalizao dos cidados dos processos de deciso econmica e social (...) (Oliva, 1999: 02).

A concluso que podemos chegar quanto ao processo de institucionalizao do terceiro setor, que a sua legitimao tem sido aferida pelo desempenho do setor como um dos enclaves centrais e emergentes da sociedade contempornea. Desempenho observado em diferentes contextos culturais, scio-econmicos e polticos. Sociedades ricas e pobres tem utilizado o terceiro setor ora como um catalizador de anseios de determinados segmentos da populao, ora para atender necessidades da sociedade como um todo. Em alguns casos, agentes deste setor, assumem um papel fundamental na conquista de justia social nas vezes em que nem o Estado nem os agentes econmicos tem interesse ou so capazes de promov-la.

2. EPISTEMOLOGIA CRTICA

Os elementos substantivos que apoiam o desenvolvimento deste item encontram-se j estabelecidos no ensaio Gesto social: uma perspectiva conceitual (ver nota de rodap n 2) no qual estabelecemos, a priori, referncias de uma teoria crtica para diferenciar os conceito de gesto estratgica e gesto social. Naquele texto identificvamos as seguintes teses centrais:

1. Teorias crticas tm posio especial como guias para a ao humana, visto que:

a) elas visam produzir esclarecimento entre os agentes que as defendem, isto , capacitando esses agentes a estipular quais so os seus verdadeiros interesses:

b) elas so inerentemente emancipatrias, isto , elas libertam os agentes de um tipo de coero que , pelos menos parcialmente, auto-imposta, a autofrustrao da ao humana consciente.

2. Teorias crticas tem contedo cognitivo, isto , so formas de conhecimento.

3. Terias crticas diferem epistemologicamente das teorias em cincias naturais, de maneira essencial. As teorias em cincias natural so objetificantes; as teorias crticas so reflexivas (Geuss, apud Tenrio, 1998:8).

O que devemos destacar nesta perspectiva epistemolgica, a necessidade da prxis social estar voltada para um conhecimento reflexivo e de uma prxis poltica que questione as estruturas scio-poltico-econmicas existentes. No enfoque tradicional, objetivante, utilitarista, voltado para o xito, o conhecimento antes de tudo um saber dos tcnicos aonde o saber tcito ou aquele originado de dado ambiente scio-econmico, no considerado como tal. Neste caso, o conhecimento, ora transforma-se numa anlise ora numa proposio monolgica, andina a realidade. Portanto esta crtica ao carter secundrio, insignificante da viso tecnocrtica, monolgica, elitista,

... pressupe uma viso do conhecimento como produto social, distribudo, dotado de valor e apropriado sob formas que so potencialmente transformveis; e, por sua vez, implica que as possibilidades de mudana social radical e democrtica dependem consideravelmente da democratizao e socializao da organizao do conhecimento. Isto se aplica sua distribuio tanto no setor estatal quanto ao setor privado, alm de no movimento dos trabalhadores e na prpria esquerda (Wainwright, 1998:29).

Portanto, especificamente, quanto a reflexo que aqui pretendemos provocar, o terceiro setor deve ser estudado e planejado numa perspectiva da emancipao do homem, do cidado, e no sob o enfoque de consumidor, cliente, meta ou alvo a ser atingido. Enfoque que parece estar assentado no fato de os sistemas-governo com suas perspectivas de Estado-mnimo assim como os sistemas-empresa, estabelecendo estratgias de ao social, ora propem parcerias ora deixam por conta do terceiro setor a responsabilidade para atender as deficincias sociais (Tenrio, 1998:19), historicamente no atendidas pelo primeiro e segundo setores.

A maneira de observar a distino entre o conhecimento, e a sua prtica, como produto social antittico daquele que privilegia o saber monolgico, tecnocrtico, elitista, est na identificao dos espaos sociais sob os quais deveriam ser pautadas as aes do terceiro setor, quer seja ele um agente social do tipo associao beneficiente quer uma organizao no-governamental. Estes espaos sociais so, a esfera pblica e sociedade civil, privilegiados para o desenvolvimento de uma cidadania autnoma.

A esfera pblica pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicao de contedos, tomada de posio e opinies; nela os fluxos comunicacionais so filtrados e sintetizados a ponto de se condensarem em opinies pblicas enfeixadas em temas especficos (Habermas, 1997:92), (grifos do autor). O conceito de esfera pblica pressupe igualdade de direitos individuais e discusso, sem violncia, de problemas atravs da autoridade negociada. Portanto a esfera pblica o espao intersubjetivo, comunicativo, no qual as pessoas tematizam suas inquietaes por meio do entendimento mtuo. Entendimento que se manifesta em um ncelo institucional terceiro setor que formado por associaes e organizaes livres, no estatais e no econmicas, as quais ancoram as estruturas de comunicao da esfera pblica nos componentes sociais do mundo da vida na sociedade civil (Habermas, 1997:99).

A sociedade civil compem-se de movimentos, organizaes e associaes, os quais captam os ecos dos problemas sociais que ressoam nas esferas privadas, condensam-nos e os transmitem, a seguir, para a esfera pblica poltica. O ncleo da sociedade civil forma uma espcie de associao que institucionaliza os discursos capazes de solucionar problemas, transformando-os em questes de interesse geral no quadro de esferas pblicas (Habermas, 1997:99).

Os conceitos de esfera pblica e sociedade civil so complementares na medida que a primeira tematiza as inquietaes de pessoas privadas que as tornam pblicas em determinados espaos sociais da segunda. Concretamente as pessoas privadas buscam institucionalizar, atravs do terceiro setor, objetivos que dem legitimidade as suas pretenses. Contudo a sociedade civil, apesar de sua posio assimtrica em relao s possibilidades de interveno e apesar das limitadas capacidades de elaborao, tem a chance de mobilizar um saber alternativo e de preparar tradues prprias (...). O fato de o pblico ser composto de leigos ... no significa necessariamente um obscurecimento das questes essenciais ou das razes que o levam ou que possam contribuir a uma deciso (Habermas, 1997:106).

No entanto, no pode ser atribuda a sociedade civil o papel de elaborador da soluo dos problemas que afligem determinados espaos scio-econmicos e polticos, na medida que no cabe a ela estabelecer, exclusivamente, a condio do seu bem-estar social. Os problemas de dada estrutura social, econmica e poltica so, como j observamos, originados pela ausncia histrica do primeiro setor aliados as indiferenas do segundo. Temas como educao, sade, moradia, emprego, renda etc., tm sido considerados muito mais como disfunes ou patologias sociais, do que como elementos estruturais das sociedades contemporneas, principalmente daquelas do mundo perifrico.

Os dois primeiros setores pblico e privado cresceram, em sociedades subdesenvolvidas, em desarmonia com os anseios de uma sociedade desenvolvida. Mais recentemente com o enfraquecimento do setor pblico, sob a proposta em curso do Estado mnimo, a soluo encontrada foi delegar e/ou descentralizar para o setor pblico no-estatal, a minimizao das mazelas sociais corrodas sob um pensamento nico, o mercado superando a poltica. Corroso que pode ser exemplificada como no caso da expresso capital social capacidade coletiva de mobilizao de populaes em temas de seus interesses que , em si, contraditria na medida que referenciada pelo valor mximo do mercado o capital que tem a ver com fazer dinheiro, mas os bens que fazem dinheiro encerram uma relao particular entre os que tm dinheiro e os que no o tm, de modo que no s o dinheiro feito, como tambm as relaes de propriedade privada que engendram esse processo (...) (Bottomore, 1988:44).

No queremos dizer com isso que cabe ao segundo setor, aos agentes econmicos, resolverem as carncias da sociedade. O setor privado tem como objetivo o lucro, recuperar o capital investido. Produzir bens e servios que atendam, eticamente, as demandas mercantis da sociedade a sua funo, a sua utilidade. Apesar disso, ele tem atuado sob a tica da responsabilidade social, da tambm denominada cidadania empresarial, fato que j vem ocorrendo atravs de alguns empresas que promovem aes filantrpicas, publicam balano social e outras iniciativas de carter social, ecolgicas etc. A despeito da crtica a este setor de que ele atua somente objetivando estratgias de marketing ou de melhoria de sua imagem institucional para vender mais, no Brasil a cidadania empresarial tem atuado atravs de organizaes como o GIFE (Grupo de Institutos, Fundaes e Empresas), ou do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Empresarial.

Segundo dados de pesquisa realizada pelo CEATS-USP (Centro de Estudos em Administrao do Terceiro Setor da Universidade de So Paulo), 56% das empresas em operao no Brasil tem investido em programas e atividades de cunho social ou comunitrio e na promoo de trabalhos voluntrios entre seus funcionrios (Seidel, 1999: 3 4). No entanto, devemos ser cautelosos quanto a perenidade do setor privado em aes voltadas para o social. Quem pode garantir que em poca de crise econmica este setor manteria investimentos corporativos na rea social? Um projeto social seria mantido? Qual o real grau de comprometimento que este setor manteria com agentes sociais do terceiro setor? Portanto, ainda cabe ao primeiro setor, principalmente nos pases subdesenvolvidos, o compromisso com a soluo dos problemas sociais e no apenas desempenhar a funo de intermedirio entre os anseios da sociedade e do Estado.

A tentativa do Estado de delegar e/ou descentralizar questes de natureza social para agentes sociais da sociedade civil corre o risco, sob a atual onda (neo)liberal do determinismo de mercado, de transformar entes pblicos em entes privados, de ao emancipatria em compensatria, descaracterizando-os para o qual foram originalmente criados, atuar sob valores democrticos e de solidariedade humana.

A questo decisiva saber se o terceiro setor tem condies de ser um novo paradigma de reproduo social. Para que isso seja possvel, ele ter de ir alm das simples medidas paliativas ou de urgncia, destinadas somente a fazer curativos leves nas feridas abertas pela mo invisvel do mercado globalizado. Se no houver mais nenhum surto de crescimento econmico, como muitos ainda esperam, o terceiro setor precisar formular sua prpria perspectiva de desenvolvimento para o sculo XXI, em vez de ser um mero sintoma passageiro da crise (Kurz, 1997:153).

Em 1981 Alberto Guerreiro Ramos publicava no Brasil a sua ltima obra: A Nova Cincia das Organizaes: uma reconceituao da riqueza das naes. Neste livro o Professor Guerreiro Ramos j alertava para o fato do ensino e o treinamento oferecidos aos estudantes, no apenas nas escolas de administrao pblica e de administrao de empresas, mas igualmente nos departamentos de cincia social, ainda so baseados nos pressupostos da sociedade centrada no mercado (Guerreiro Ramos, 1981:XI). Desde ento, parece ser, que este fato ainda tem prevalecido. Assim, o risco que se corre sob o pensamento nico o mercado superando o bem comum a semelhana dos setores pblico e privado, transferir-se a epistemolgia gerencial destes setores para a prtica gerencial do terceiro setor, transferncia ingnua na medida que, segundo Guerreiro Ramos, pretender aplicar os conceitos oriundos das cincias naturais vida humana associada, porque a sociedade centrada no mercado, mais de 200 anos depois de seu aparecimento, est mostrando agora suas limitaes e sua influncia desfiguradora da vida humana como um todo (Guerreiro Ramos, 1981:XII).

Em outras palavras, as cincias naturais do Ocidente no se fundamentam numa forma analtica de pensamento, j que se viram apanhadas numa trama de interesses prticos imediatos. (...) No fim de contas, as cincias naturais podem ser perdoadas por sua ingnua objetividade, em razo de sua produtividade. Mas essa tolerncia no pode ter vez no domnio social, onde premissas epistemolgicas errneas passam a ser um fenmeno cripto-poltico quer dizer, uma dimenso normativa disfarada imposta pela configurao de poder estabelecida (Guerreiro Ramos, 1981:02).

A teoria crtica da Escola de Frankfurt por exemplo, denomina o disfarce do conhecimento implementado a partir das cincias naturais, nas questes sociais, como teoria tradicional na qual este tipo de teoria: a) inadequada para analisar ou entender a vida social; b) analisa somente o que v e aceita a ordem social presente, obstruindo qualquer possibilidade de mudana, o que conduz ao quietismo poltico; b) est intimamente relacionada dominao tecnolgica na sociedade tecnocrtica que vivemos, e fator de sua sustentao (Tenrio, 1998:11).

A preocupao em apontar estas diferenas epistemolgicas da compreenso do social cincias sociais versus cincias naturais ou teoria crtica versus teoria tradicional para inferir que o terceiro setor corre o risco de ter o seu desempenho planejado e avaliado, atravs de tecnologias gerenciais fundamentadas no mercado. J ocorre de organizaes no-governamentais participarem de concorrncias pblicas por um lado e de outro, submeterem seus projetos agentes econmicos, correndo o risco de uma proposta de ao social transformar-se em uma metodologia de submisso as possveis estratgias desses tipos de agentes. Estas inferncias podem ser detectadas atravs de ttulos e pargrafos extrados em diferentes peridicos:

[1] Uma Misso Especial. Ministro pede ao banqueiro (...) que monte uma ONG para custear campanha pela privatizao (Paiva, 1998:50).

[2] ONG na era profissional. A ordem buscar a independncia financeira (Avruch, 1998:48).

[3] O terceiro setor atrai executivos. Cresce o nmero de executivos interessados em administrar as chamadas Organizaes No Governamentais (ONGs) e lidar com as questes sociais (Mello, 1998:C-8).

[4] A criao de uma base confivel de clientes.

Essa justificao tem dois componentes um de curto e outro de longo prazo. No segredo que os jovens constituem um dos maiores grupos de consumidores e que o seu tamanho cresce mais rapidamente, influenciando cerca de US$17.000 por domiclio ao ano nas despesas dos consumidores apenas nos Estados Unidos.

(...)

As empresas tambm tm uma segunda razo de longo prazo para investir na juventude, vinculada necessidade de uma fora de trabalho habilitada. Trabalhadores habilitados so necessrios para aumentar a produtitividade e os lucros, mas bons empregos com altas rendas tambm so condio prvia para comprar o que sai das linhas de produo. Fluxos de investimentos em programas eficazes de treinamento ajudam a bombear essa mar de crescimento econmico que ajuda a levantar todos os navios (McCabe, 1998:23-24). (Grifo do autor).

[5] Assim, o setor social sem fins lucrativos aquele em que a administrao mais necessria hoje em dia. ali que a administrao sistemtica, baseada na teoria e guiada por princpios, pode render os maiores resultados em menos tempo. Basta pensar nos enormes problemas com que o mundo defronta pobreza, sade, educao, tenses internacionais que a necessidade de solues administradas se torna clara.

(...)

A Kyocera, empresa japonesa que se tornou lder mundial na criao e desenvolvimento de novos materiais inorgnicos, define resultados como liderana em inovaes. Mas sua maior concorrente mundial, a alem Metallgesellschaft, define resultados principalmente em termos de posio no mercado. Ambas so definies racionais, mas geram estratgias muito diferentes.

O paradigma se aplica no apenas a empreendimentos comerciais (empresas), mas tambm a universidades, igrejas, organizaes humanitrias e governos (Drucker, 1999:52). (Grifo nosso).

Os exemplos quanto aos possveis desvios do terceiro setor no so observados apenas atravs de artigos em peridicos. Livros como Os ltimos combates (Robert Kurz), Pensamento crtico versus pensamento nico (Eduardo H. Tecglen), Compaixo e clculo: uma anlise crtica da cooperao no governamental ao desenvolvimento (David Sogge), apontam na direo desses possveis desvios:

[1] Os economistas, com certeza, afirmaro que o terceiro setor no resistir ao mercado, pois os custos dos investimentos necessrios para as iniciativas autnomas so muitos elevados, e sua produo s seria possvel com meios primitivos (Kurz, 1997:155).

[2] Aprisionados. Nas democracias atuais, cada vez so mais os cidados se sentem aprisionados, empapados em uma espcie de doutrina viscosa que, insensivelmente, envolve qualquer raciocnio rebelde, o inibe, o paraliza e acaba por afog-lo. Esta doutrina o pensamento nico, o nico autorizado por uma invisvel e onipresente polcia da opinio.

(...)

O primeiro princpio do pensamento nico to potente que um marxista distrado no o questionaria: a economia supera a poltica.

(...)

A repetio constante em todos os meios de comunicao deste catecismo por parte de quase todos os polticos, tanto de direita como de esquerda, lhe confere uma carga tal de intimidao que afoga toda tentativa de reflexo livre, e converte em extremadamente difcil a resistncia contra estes novo obscurantismo (Tecglen, 1998:15-17).

[3] A comercializao, a concorrncia e o oportunismo, mais prprios do mundo dos negcios lucrativos, tem-se desenvolvido rapidamente nas organizaes de cooperao no governamental, assim como a inquietao pblica sobre tais tendncias. Etiquetadas pelos economistas de letrgicas e lentas em responder a demanda crescente, as organizaes sem fins lucrativos refutam agora essa acusao ao crescer, multiplicar-se e mover-se agressivamente em novos terrenos e vocaes.

O esprito empresarial est crescendo de forma audaz. Porm tem comeado a calculada lgica do mercado a expulsar a compaixo como princpio organizador? Tem-se tornado essa lgica to poderosa que podemos falar que as organizaes se orientam pelas leis econmicas?

(...)

Finalmente, enfrentam a eroso de alguma das caractersticas essenciais que se supem que representam: o compromisso baseado nos valores, na criatividade e no compromisso enrgico de seus lderes, trabalhadores e bases populares. Tais tendncias podem por em questo a importncia das organizaes de cooperao no governamental, especialmente agora que esto surgindo e ganhando poder alternativos tanto no Sul como no Norte (Sogge, 1998:104-105).

O uso destas citaes teve como objetivo reforar a hiptese de que o terceiro setor, a semelhana do segundo setor, corre o risco de enquadrar-se no espao do mercado sob o pensamento nico, ao invs daquele a ele originalmente destinado, como agente social na sociedade. Isto , de uma referncia singularmente fundada em teorias sociais que referenciam processos democrticos na busca da justia social, da solidariedade, para uma prtica mercantil, assentada em teorias organizacionais que buscam resultados.

Historicamente, o Terceiro Setor tem como pano de fundo a solidariedade e a democratizao de suas relaes. Entretanto, esto tentando repassar a tecnologia do setor privado para o Terceiro Setor.

Isso (...) contraditrio porque a caracterstica central da gesto do setor privado definida e identificada como gesto estratgica. A expresso tem origem militar, ligada a questes de guerra (...). Essa gnese da gesto estratgica j coloca o outro numa situao na qual eu vejo o outro, o alter, como um adversrio (...) (Tenrio, 1999: 40).

A questo epistemolgica que ora se apresenta ao terceiro setor como conciliar teoria e prtica. O suposto fundamental para evitar esta dicotomia aceitar que o conhecimento a ser utilizado pelas organizaes sem fins lucrativos deve ser um produto social, portanto um processo compartilhado de saberes entre aqueles que detm o conhecimento sistematizado, formal, com aqueles que possuem o saber tcito, a vivncia e compreenso do seu cotidiano. A abstrao no deve ser um olhar da teoria sobre si mesma, mas um meio de investigao do concreto, das relaes sociais historicamente determinadas. Sendo assim, exige a socializao do conhecimento, tanto prtico como terico, na busca de um planejamento cooperativo (Wainwright, 1998:133). Conseqentemente, a efetividade do terceiro setor depende de aes orgnicas, comunitrias, aes que conjuguem propostas a partir da interao entre este setor e aqueles grupos sociais aos quais as organizaes pblicas no-governamentais esto orientadas. O terceiro setor deve ser o espao que canaliza, no ambiente da sociedade civil, as demandas originadas nas esferas pblicas e sob uma epistemologia que considere:

1. que todo conhecimento em si uma prtica social, cujo trabalho especfico consiste em dar sentido a outras prticas sociais e contribuir para a transformao destas; 2. que uma sociedade complexa uma configurao de conhecimento, constituda por vrias formas de conhecimento adequadas s vrias prticas sociais; 3. que a verdade de cada uma das formas de conhecimento reside na sua adequao concreta prtica que visa constituir; 4. que, assim sendo, a crtica de uma dada forma de conhecimento implica sempre a crtica da prtica social a que ele se pretende adequar; 5. que tal crtica no se pode confundir com a crtica dessa forma de conhecimento, enquanto prtica social, pois a prtica que se conhece e o conhecimento que se pratica esto sujeitos a determinaes parcialmente diferentes (Santos, 1989: 47).

CONCLUSO

A finalidade, a preocupao deste trabalho tiveram a inteno de promover uma praxis social e poltica sobre a epistemologia que poder referenciar a atuao do terceiro setor, caso ele no se perceba por meio da sua originalidade, isto , atuar sob uma perspectiva solidria e democrtica, na busca da justia social. Esta preocupao est centrada na responsabilidade que se pretende atribuir a este setor. O primeiro setor, na sua nsia de atender aos cnones do Estado-mnimo, procura comprometer a soluo das deficincias sociais s organizaes pblicas sem fins lucrativos. O segundo setor, na sua estratgia de promoo social, cria organizaes assistenciais a semelhana daquelas do terceiro setor mas assentadas em um base mercantil, sob o pensamento nico superando a plis.

A questo que colocamos a partir desta preocupao, que as organizaes do terceiro setor se vejam na contingncia de assumir responsabilidades alm de suas capacidades instaladas e/ou das finalidades para as quais foram criadas. Nos nossos estudos, ainda que preliminares, podemos observar por um lado que a procura de profissionalizao do setor tem, na realidade, objetivado mais a busca de estratgias de sobrevivncia organizacional e/ou de grupos, do que tornar mais efetiva as suas aes enquanto agentes sociais da sociedade. Por outro lado, os profissionais desempregados e/ou aposentados dos primeiros e segundos setores, procurando sobreviver na sociedade de risco dos dias atuais, levam suas tecnologias gerenciais de orientao estratgica, para os espaos destinados a orientao dialgica.

Devemos reconhecer que apesar da onda do pensamento nico, como conseqncia o afastamento do Estado das questes de natureza social, atravs de algumas excees, tanto no primeiro setor, agentes estatais, quanto no segundo setor, os agentes econmicos, tm atuado de maneira positiva na minimizao das carncias sociais. Estudos realizados no mbito do PEGS, do Centro de Estudos do Terceiro Setor (CETS), do Centro de Estudos de tica nas Organizaes (CEPE) e do Programa Gesto Pblica e Cidadania, apontam nesta direo.

Reconhecemos tambm que o terceiro setor j tem, institucionalizado, o seu espao na sociedade contempornea, porm deve atuar sob uma epistemologia diferente daquela do mercado. Enquanto o segundo setor atua atravs do enfoque monolgico, estratgico, no qual suas aes so calculadas e utilitaristas, implementadas atravs da interao de duas ou mais pessoas na qual uma delas tem autoridade formal sobre a(s) outra(s). O terceiro setor deve atuar numa perspectiva dialgica, comunicativa, na qual suas aes devem ser implementadas por meio da intersubjetividade racional dos diferentes sujeitos sociais a partir de esferas pblicas em espaos organizados da sociedade civil, a fim de fortalecer o exerccio da cidadania deliberativa.

O que, como conhecimento gerencial, estaria faltando para evitar que a administrao do terceiro setor tenha uma concepo epistemolgica que agregue, substantivamente, elementos temticos no determinados exclusivamente pelo mercado? Esta ltima questo fica em aberto. O propsito da pergunta estimular pesquisadores do terceiro setor a concentrarem esforos no sentido de promoverem debates interdisciplinares referenciadores de pesquisa, ensino e transferncia de tecnologias que possam contribuir para a efetividade dessas organizaes pblicas sem fins lucrativos enquanto agentes de solidariedade e justia social.

Concluiremos este ensaio a semelhana do que fizemos na sua Introduo, atravs de uma citao, neste caso, citando, j que estamos na Amrica Latina, um texto sobre a mitologia de alguns dos nossos ancestrais, o povo Guaran. Na mitologia Guaran existe a Pora, alma pecadora, espectral, que fica rondando os mortais at que algum reze por ela para que viva em paz na eternidade, fenmeno que no desejaria que ocorresse com o terceiro setor, tornar-se uma Pora do mercado.

Pora

Pora a alma daquelas pessoas pecadoras que esto inultilmente sobre a terra e que no encontram descanso por causa de suas ms aes. Se em um caminho escuro encontras algum todo vestido de branco, isso Pora. Nessas casas grandes e velhas, se escutam rudos, isso Pora. Se pela noite, em teu quarto, ouves caminhar e fazer barulho, isso tambm Pora.

Assim ter que andar Pora, at que encontre uma pessoa caridosa que reze pelas almas dos difuntos. Logo, ento, vai alcanar a paz que necessita (Alcaraz, 1999: 22).

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Professor Adjunto da Escola Brasileira de Administrao Pblica (EBAP) da Fundao Getulio Vargas (FGV) e Coordenador do Programa de Estudos em Gesto Social (PEGS) da EBAP/FGV 22 253 90 Praia de Botafogo Botafogo Rio de Janeiro Brasil. E-mail: [email protected].

Tenrio, Fernando G. Gesto social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administrao Pblica Rio de Janeiro, Fundao Getulio Vargas, 32(5), set./out. 1998, pgs. 7-23.

Os outros setores so: primeiro setor (setor pblico) conjunto das organizaes e propriedades urbanas e rurais pertencentes ao Estado; segundo setor (setor privado) conjunto das empresas particulares e propriedades urbanas e rurais pertencentes a pessoas fsicas ou jurdicas e fora do controle do Estado (Tenrio, 1998: 20).

PEGS linha de pesquisa desenvolvida na Escola Brasileira de Administrao Pblica (EBAP) da Fundao Getulio Vargas (FGV).

Um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo (Reis Filho, 1998: 7).

Este setor tambm conhecido como setor sem fins lucrativos, organizaes da sociedade civil. Aqui, no entanto, trabalharemos com a expresso terceiro setor em contraste com o primeiro e o segundo.

Neste conjunto de organizaes que atuam sob o espao do terceiro setor, destacam-se as organizaes no-governamentais (ONGs). Estudo realizado por Rubem Cesar Fernandes sobre a atuao do terceiro setor na Amrica Latina aponta que as ONGs tornaram-se um fenmeno massivo no continente a partir da dcada de 1970. Cerca de 68% surgiram depois de 1975. Um nmero significativo (17%) data de 1950 a 1960 e os restantes 15% distribuem-se de maneira regular pelas dcadas anteriores (Fernandes, 1994: 69).

Ver tambm LANDIM, Leilah. Para Alm do Mercado e do Estado? Filantropia e Cidadania no Brasil. In: Srie Textos de Pesquisa. Rio de Janeiro: ISER/Ncleo de Pesquisa, 1993.

Estudo compreensivo sobre os movimentos sociais pode ser encontrado em: Doimo, Ana Maria. A vez e a voz do popular: movimentos sociais e participao poltica no Brasil ps-70. Rio de Janeiro: Relume Dumar; ANPOCS, 1995.

Dados os objetivos e espao deste ensaio no descreveremos os distintos institutos legais que procuram regular a emergncia deste setor. Bibliografia sobre esta temtica pode ser encontrada em Oliveira (1997) e Merege (1998).

a seguinte a qualificao das OSCIP no Art. 3 desta Lei: I promoo da assistncia social; II promoo da cultura, defesa e conservao do patrimnio histrico e artstico; III promoo gratuita da educao (...); IV promoo gratuita da sade (...); V promoo da segurana alimentar e nutricional; VI defesa, preservao e conservao do meio ambiente e promoo do desenvolvimento sustentvel; VII promoo do voluntariado; VIII promoo do desenvolvimento econmico e social e combate pobreza; IX experimentao, no lucrativa, de novos modelos scio-produtivos e de sistemas alternativos de produo, comricio, emprego e crdito; X promoo de direitos estabelecidos, construo de novos direitos e assessoria jurdica gratuta de interesse suplementar; XI promoo da tica, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais; XII estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produo e divulgao de informaes e conhecimentos tcnicos e cientficos que digam respeito s atividades mencionadas neste artigo.

. A Declarao do Rio de Janeiro In: Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, JB, Caderno 1, 30.06.1999, pg. 15.

No momento que este texto est sendo desenvolvido (maio/junho de 1999) discute-se, na agenda poltica brasileira, as perspectivas desenvolvimentismo X monetarismo. Acreditamos que esta seja uma discusso acaciana, na medida que a soluo das injustias sociais ainda depende da mo visvel do Estado.

Este artigo foi publicado a partir das concluses do Seminrio Globalizao, Democracia e Sustentabilidade, realizado na Suia (Celiguy) pelo Instituto Ecumnico do Conselho Mundial de Igrejas.

(...) reafirmar o primado dos princpios ticos constitutivos da democracia: igualdade, liberdade, participao, diversidade e solidariedades humanas. Princpios capazes de mover coraes e mentes dos diferentes grupos e setores da sociedade civil (Grzybowski, 1996: 57).

Segundo anlise do Banco Mundial, existem quatro formas bsicas de capital: o natural, constitudo pela dotao de recursos naturais com que conta um pas; o construdo, gerado pelo ser humano que inclui diversas formas de capital: infra-estrutura, bens de capital, financeiro, comercial, etc.; o capital humano, determinado pelos graus de nutrio, sade e educao de sua populao; e o capital social, descobrimento recente das cincias do desenvolvimento (Kliksberg, 1999: 13).

As cincias naturais a semelhana do positivismo clssico, trabalha o fato social de acordo com os seguintes princpios: (a) o mundo social opera de acordo com leis causais; (b) o alicerce da cincia a observao sensorial; (c) a realidade consiste em estruturas e instituies identificveis enquanto dados brutos por um lado, crenas e valores por outro. Estas duas ordens so correlacionadas para fornecer generalizaes e regularidades; (d) o que real so os dados brutos considerados dados objetivos; valores e crenas so realidades subjetivas que s podem ser compreendidas atravs dos dados brutos (Hughes, apud Minayo, 1998:30).

Sobre este mesmo assunto o jornal Folha de So Paulo, publicou artigo no dia 28.11.1998 (Ilustrada), pg. 11, com o saguinte ttulo: Apoio Cobrado ONG pagou R$212,6 mil por declaraes.

Embora mais adiante, Robert Kurz admita que a perspectiva economicista pode ser infundada na medida que o terceiro setor trabalha com baixo custo em bens de capital.

J existe, no Brasil, site ensinando a fazer marketing no terceiro setor.

Maiores informaes consultar: HYPERLINK http://www.fgvsp.br/programas http://www.fgvsp.br/programas

Ver conceito de cidadania deliberativa In: Tenrio, op. cit. 1998:17.

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