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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ANA PAULA SANT´ANNA UM OLHAR SOCIOLÓGICO SOBRE O TRABALHO INFORMAL E PRECÁRIO – O CASO DOS ENTREVISTADORES DE CAMPO EM CURITIBA CURITIBA 2008

UM OLHAR SOCIOLÓGICO SOBRE O TRABALHO INFORMAL … · entrevistadora de campo da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) através de um contrato formal temporário como estagiária. Após

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Page 1: UM OLHAR SOCIOLÓGICO SOBRE O TRABALHO INFORMAL … · entrevistadora de campo da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) através de um contrato formal temporário como estagiária. Após

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ANA PAULA SANT´ANNA

UM OLHAR SOCIOLÓGICO SOBRE O TRABALHO INFORMAL E PRECÁRIO –

O CASO DOS ENTREVISTADORES DE CAMPO EM CURITIBA

CURITIBA

2008

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ANA PAULA SANT´ANNA

UM OLHAR SOCIOLÓGICO SOBRE O TRABALHO INFORMAL E PRECÁRIO –

O CASO DOS ENTREVISTADORES DE CAMPO EM CURITIBA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais, Departamento de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Profª. Drª. Benilde Maria Lenzi Motim

CURITIBA

2008

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Dedico esse trabalho a memória de minha mãe

Luci, que sempre dedicou-me seu afeto e

compreensão incondicionalmente. E ao meu

filho Felipe, cujo sorriso torna a vida mais

simples e bonita!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora e orientadora Dra. Benilde Motim sempre tão disposta a me ensinar e

orientar, e pelo apoio dado nos momentos difíceis pelos quais passei durante o trajeto

monográfico. Também a todos os professores que me guiaram nas surpreendentes Ciências

Sociais!

Ao meu pai Ocivio por ter me possibilitado chegar até aqui e ter me dado o privilégio de

desfrutar de todo seu conhecimento e carinho. Também ao apoio dos meus queridos irmãos

Aurélio, Fernanda, Flavia e, especialmente, Angela, pela atenta revisão deste trabalho.

A dedicação de meu amado Rodrigo, companheiro, amigo e cúmplice que tem estado ao meu

lado neste longo caminho, sempre me ajudando e dando forças para continuar.

A Daniele Ramos por todos estes anos de apoio e incentivo. Também a Rosa e Inês Ribeiro,

Paulo Nedeff e Juliana Carvalho. A todos os entrevistados nesse estudo que dedicaram toda a

sua atenção para ajudar em minha tentativa de compreender um pouquinho sobre o trabalho

que realizam.

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RESUMO

Esse estudo trata da permanência na atividade de entrevistadores de campo, em pesquisa de mercado, mídia e opinião no município de Curitiba, na situação de informalidade e precariedade. Analisando o perfil dos trabalhadores entrevistados que realizam esta atividade por três anos ou mais – de modo a observar como se dá a permanência destes na referida função – percebe-se que a precariedade está instalada tanto na forma de ingresso na atividade, quanto na periodicidade do pagamento e na forma de contratação a que estes se submetem – o que acarreta em uma ausência de proteção social.

Palavras-chave: Entrevistadores de campo, informalidade, precariedade no mercado de trabalho.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 - Relação entre sexo e idade ......................................................................... 18

GRÁFICO 02 - Relação entre tempo de trabalho como entrevistador e sexo ..................... 23

GRÁFICO 03 - Forma de pagamento pelo trabalho de entrevistador de campo ................ 27

GRÁFICO 04 - Periodicidade do pagamento pelo trabalho de entrevistador de campo ..... 28

GRÁFICO 05 - Média de remuneração mensal ................................................................... 28

GRÁFICO 06 - Pré-requisitos exigidos para a contração em institutos/escritórios de

pesquisa ............................................................................................................................... 32

GRÁFICO 07 - Planos de saúde .......................................................................................... 36

GRÁFICO 08 - Relação entre indivíduos que tiram férias e formas de aplicações

financeiras ............................................................................................................................ 47

GRÁFICO 09 - Relação entre os que fazem reserva financeira para tirar férias e formas

de aplicação financeira ........................................................................................................ 48

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - Local onde nasceram e onde vivem atualmente ........................................... 19

TABELA 02 - Sobre outras funções exercidas ou que gostaria de exercer em uma

empresa de pesquisa ............................................................................................................. 25

TABELA 03 - Tem pensando em buscar ou busco outro trabalho ...................................... 30

TABELA 04 - Já ficou sem trabalhar por falta de pesquisa ................................................ 31

TABELA 05 - Sobre a realização de curso profissionalizante na área de pesquisa ............. 32

TABELA 06 - Sobre Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) e

Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado (SBPM) ...................................................... 33

TABELA 07 - Escolaridade e porcentagem por sexo .......................................................... 33

TABELA 08 - Gostaria de voltar a estudar .......................................................................... 34

TABELA 09 - Sobre contribuição para a previdência social ............................................... 35

TABELA 10 - Quadro de trabalhadores dos institutos/escritórios ...................................... 37

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 - Situação conjugal ....................................................................................... 19

QUADRO 02 - Situação do imóvel em que residem ........................................................... 20

QUADRO 03 - Situação econômica comparada com a dos pais ........................................ 20

QUADRO 04 - O que buscam profissionalmente ............................................................... 22

QUADRO 05 - Formas de contrato como entrevistador de campo ..................................... 25

QUADRO 06 - Sobre a forma de contrato que preferem .................................................... 26

QUADRO 07 - Pensa na formalização ................................................................................ 29

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 01

Aproximação com o objeto .......................................................................................... 01

Proposta de análise ....................................................................................................... 03

Metodologia de pesquisa............................................................................................... 03

1 TRABALHO FORMAL E INFORMAL NO CAPITALISMO RECENTE E A

PESQUISA DE MERCADO, MÍDIA E OPINIÃO ........................................................

05 1.1 Contexto histórico da organização do trabalho ................................................... 05

1.1.1 Flexibilização: O fim dos anos dourados ...................................................... 06

1.1.2 Informalidade no mercado de trabalho ......................................................... 08

1.2 A pesquisa de mercado, mídia e opinião .............................................................. 12

1.2.1 Institutos/ escritórios de pesquisa .................................................................. 12

1.2.2 A “profissão” de entrevistador ....................................................................... 15

2 PERFIL DOS ENTREVISTADOSRES DE CAMPO ................................................ 18

2.1 Sócio-Econômico..................................................................................................... 18

2.2 Sobre o trabalho de entrevistador de campo....................................................... 21

2.2.1 Formas de contrato e renda ........................................................................... 25

2.2.2 Permanência e mão-de-obra especializada ................................................... 31

2.3 Escolaridade ........................................................................................................... 33

2.4 Organização Pessoal .............................................................................................. 35

2.5 Sobre os institutos/escritórios de pesquisa ......................................................... 36

3 TRABALHO DOS ENTREVISTADORES DE CAMPO: INFORMAL,

PRECÁRIO E FLEXÍVEL? ............................................................................................ 39

3.1 Quem são os entrevistadores de campo .............................................................. 39

3.2 O trabalho dos entrevistadores ............................................................................ 40

3.2.1 Uma lógica flexível: o informal e o precário ................................................ 42

3.2.2 A permanência na informalidade ................................................................ 45

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3.3 Organização Pessoal .............................................................................................. 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 53

APÊNDICE A .................................................................................................................... 55

APÊNDICE B .................................................................................................................... 59

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1

INTRODUÇÃO

Para descrever o caminho percorrido até a finalização dessa pesquisa é preciso

começar pela minha experiência. Em meu segundo ano de faculdade comecei a trabalhar no

Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), na função de

entrevistadora de campo da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) através de um contrato

formal temporário como estagiária. Após cerca de um ano e meio de estágio, participei de um

processo seletivo, pelo qual continuei a trabalhar na mesma função, com as mesmas

responsabilidades – aumentando apenas a carga horária e, conseqüentemente a remuneração

mensal – todavia, através de Contrato em Regime Especial (CRES), isto é, um contrato

temporário vigente pelo período de dois anos, sendo que permaneci por seis meses nesta

função. No decorrer de minhas “andanças” pelos bairros de Curitiba e municípios da Região

Metropolitana realizando entrevistas a respeito do trabalho dos indivíduos, me deparei com

diversas situações de informalidade e precariedade que chamaram minha atenção.

Após esta experiência, fui convidada a trabalhar em um instituto de pesquisa de

mercado em Curitiba na função de crítica – que analisa os questionários realizados por

entrevistadores de campo para averiguar se houve falhas na aplicação destes e indicar se o

entrevistador deve ou não voltar a contactar a pessoa entrevistada de modo a solucionar

possíveis falhas – e de verificadora – que entra em contato com determinada porcentagem de

entrevistados de uma pesquisa, de acordo com a exigência do cliente, a fim de confirmar a

veracidade das respostas. Neste instituto o contrato de trabalho era verbal, não havia nenhum

documento que declarasse que eu prestava serviços a esta durante o período de quatro meses

em que permaneci nesta atividade.

Aproximação com o objeto

A partir desta vivência, sobretudo de estar em contato, na PME, com indivíduos que,

por falta de opção, trabalham por muitos anos informalmente e desta forma sustentam suas

famílias e ainda conhecendo indivíduos que há anos trabalham em empresas de pesquisa sem

qualquer forma de contrato, passei a refletir sobre o mercado informal de trabalho e a buscar

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literatura a este respeito.

Quando decidi tratar deste tema, na monografia de conclusão de curso, inicialmente

pensei em analisar a situação de um grupo de trabalhadores de uma indústria madeireira da

cidade de Doutor Ulysses no Vale de Ribeira (Região Metropolitana de Curitiba), no entanto,

devido a algumas dificuldades encontradas para o desenvolvimento deste projeto, entre estas

a de deslocamento até o município e tendo como experiência esta mesma situação de trabalho,

então veio a questão: porque não entrevistar os entrevistadores? Deste modo, optei por

estudar a informalidade e a precariedade quanto no processo de trabalho, partindo da análise

do discurso de indivíduos que trabalham como entrevistadores de campo em institutos/

escritórios de pesquisa de mercado, mídia e opinião.

No período em que prestei serviço à empresa de pesquisa, constatei que os indivíduos

que ali trabalham, sobretudo os que realizam a aplicação dos questionários em campo, não

tinham nenhuma forma de vínculo formal com a empresa, sendo que a pagamento pelo

trabalho era calculado através do número de questionários aplicados, ou seja, a remuneração

se dava por produção. Exerci esta atividade como forma de trabalho temporário, ou seja, não

pretendia continuar por muito tempo em situação de informalidade, mas observei que haviam

pessoas que estavam há bastante tempo executando aquela função sob uma forma precária de

contratação.

Deste modo, optei por estudar a situação das pessoas que permanecem por longos

períodos trabalhando sem garantias formais; devido à minha incompreensão deste quadro de

um trabalho que, a priori, seria temporário e precário. Por este motivo o perfil selecionado

para realizar esta pesquisa foi de indivíduos que exercem a função de entrevistador de campo

no município de Curitiba há três anos ou mais.

Após ter delimitado o objeto de estudo, deparei-me com a dificuldade de que há

muitos trabalhos publicados a respeito de empresas informais, assim como de trabalhadores

terceirizados e por conta própria, no entanto, quase não há publicações a respeito de

trabalhadores informais em empresas formais, provavelmente devido à dificuldade de

encontrar e, principalmente, quantificar esses indivíduos.

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Proposta de análise

Tendo como ponto de partida a trajetória das relações de trabalho, a condição do

assalariado e, principalmente, o processo de flexibilização e fragmentação do mercado de

trabalho que se instaura a partir da década de 1970 – o que no Brasil virá a se tornar evidente

na década de 1980 – e que desencadeia na precarização das condições de realização da

atividade e nas relações sociais do trabalhador, busco compreender a situação de trabalho dos

entrevistadores de campo de pesquisa de mercado, mídia e opinião no setor informal e qual o

perfil desses indivíduos, levando em conta a permanência desses trabalhadores na

informalidade e precariedade de um processo imediatista, sem qualquer forma de garantia.

Podemos inicialmente caracterizar a posição social dos indivíduos que trabalham nesta

atividade, como excluídos da rede de proteção social, ou seja, excluídos dos benefícios

decorrentes da formalização como empregado ou até mesmo autônomo, levando a uma

precarização das relações de trabalho. Esta análise busca compreender em que sentido o

trabalho dos entrevistadores de campo é flexível, precário e informal, e como estes percebem

tal fato.

Metodologia de pesquisa

O estudo empírico do presente trabalho foi realizado com indivíduos que trabalham

como entrevistadores de campo em um ou mais institutos/ escritórios de pesquisa na Região

Metropolitana de Curitiba há mais de três anos. O tempo de trabalho dos entrevistados foi

definido de forma a compreender a permanência destes no mercado informal. Também foram

entrevistados responsáveis e supervisor de institutos de pesquisa em Curitiba, sendo que a

entrevista com estes se deu de maneira livre, sem aplicação de questionário, apenas anotou-se

o depoimento dos mesmos. No decorrer deste trabalho será feita referência a estes indivíduos

como informantes A, B e C, letras designadas de acordo com a ordem de realização das

entrevistas, de forma a omitir a fonte.

Foram aplicados 22 questionários1 – formado tanto por questões fechadas como por

1 O modelo do questionário encontra-se no Apêndice A.

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questões abertas – entre os meses de janeiro e outubro de 2008, com indivíduos que se

encaixaram no perfil dessa pesquisa. De acordo com a estimativa produzida,

aproximadamente 500 indivíduos trabalham como entrevistadores de campo, contudo não foi

possível quantificar o percentual de trabalhadores que permanecem há mais de três anos nesta

função. Desta maneira, não é possível definir a proporção da amostra entrevistada. O

questionário foi construído de forma auto-aplicável, sendo que nove dos entrevistados

preencheram as questões e com treze destes as questões foram aplicadas.

Para iniciar o trabalho de campo foram contactadas algumas pessoas conhecidas que

trabalham na área de pesquisa de mercado, mídia e opinião. Através destas obtivemos

indicações de indivíduos que se encaixavam no perfil e por meio destes surgiram novas

indicações de possíveis entrevistados. Buscamos contactar pessoas que trabalhassem em

diferentes empresas, no entanto não foi possível abranger entrevistadores de campo de todas

as empresas de Curitiba.

Após a aplicação dos questionários, os dados coletados foram tabulados2 durante o mês

de outubro de 2008. Alguns dos dados contidos nos questionários não foram tabulados, pois

ao longo do processo de aplicação destes percebemos que algumas questões não

apresentavam relevância para o propósito deste trabalho. Do mesmo modo, as variáveis

selecionadas para cruzamentos e correlações, estão de acordo com as necessidades de

informação da análise.

Para tanto, delimitei o caminho desta pesquisa da seguinte maneira: no capítulo 1 é

realizado um breve traçado do contexto histórico da organização do trabalho e a conceituação

de termos centrais para a presente monografia como flexibilidade e informalidade. Também é

feita uma caracterização da pesquisa de mercado, mídia e opinião, assim como da atuação

dos institutos/ escritórios de pesquisas e dos entrevistadores que prestam serviços a estas. No

capítulo 2 é feita uma exposição dos dados coletados que apresentam relevância para esse

estudo e que serão analisados a partir de teorias sobre o assunto, no capítulo 3.

2 As tabelas com os dados tabulados encontram-se no Apêndice B.

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1 TRABALHO FORMAL E INFORMAL NO CAPITALISMO RECENTE E A

PESQUISA DE MERCADO, MÍDIA E OPINIÃO

1.1 Contexto histórico da organização do trabalho

Até meados do século XVIII, o trabalho assalariado era visto como indigno. Com o

advento do capitalismo produtivo e da Primeira Revolução Industrial, ocorre uma mudança no

status do processo de trabalho, as formas pré-capitalistas de produção progridem para o

capitalismo produtivo e a coerção sobre o trabalhador é internalizada na forma de contrato de

trabalho. Desenvolve-se então, uma ideologia de valorização do trabalho assalariado com a

constituição de um mercado de trabalho.

No entanto, foi com o taylorismo – início do século XX – que os processos de trabalho

se organizaram, com maior racionalização da divisão do trabalho, especialização e a

eliminação de tempos ociosos dos trabalhadores. Em 1914, Ford implementa jornadas de

trabalho de oito horas nas linhas de montagem nos Estados Unidos. Com a produção e o

consumo em massa, se constituía uma nova gerência do trabalho, afinal a nova jornada não se

resumia a criar disciplina, mas também a dar ao trabalhador renda e tempo livre para

consumirem a crescente produção. Em 1945, o fordismo se consolida como regime de

trabalho, enquanto ao Estado surge novas obrigações como educação, moradia, seguridade

social e saúde. Esse modo de acumulação fordista foi o ápice da sociedade salarial

estabilizada.

Em 1971, com a grande recessão econômica, o modelo fordista perde sua solidez, pois

sua rigidez se mostra incapaz de suportar as contradições capitalistas. Concomitantemente,

advém a revolução tecnológica, moldada pela lógica e pelos interesses do capitalismo

avançado, criando uma interdependência global, sobretudo econômica. No final do século

XX, o cenário social transforma-se, ocorrendo uma rápida remodelação da base social. A

globalização cria uma nova relação entre economia, Estado e sociedade. Essa reestruturação

permitirá a aceleração das inovações e a especialização dos setores.

Como bem observa Tauile (2001), no Brasil esse processo ocorre tardiamente. Apenas

no final do século XIX e início do XX é que o trabalho assume um caráter de dignidade – o

autor afirma que o capitalismo industrial inicia-se com o advento do “capital cafeeiro”.

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Entretanto, foi na década de 1930, no governo do Presidente Getúlio Vargas, que, através de

lutas políticas, os trabalhadores conquistaram algumas de suas mais importantes

reivindicações, que resultam na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

1.1.1 Flexibilização: O fim dos anos dourados

No final da década de 1960 e início da década de 1970, os países desenvolvidos

entram em uma crise econômica, no chamado “fim dos anos dourados” do capitalismo,

quando o modelo fordista entra em declínio. Segundo Radzinski (2007), a saída para tal crise

foi a reestruturação produtiva e a flexibilização da legislação trabalhista, gerando,

conseqüentemente um aumento no desemprego, a precarização dos postos de trabalho e a

diminuição do poder do Estado frente às Políticas Públicas de Emprego (PPE).

No mercado de trabalho há um aumento do excedente de mão-de-obra e,

conseqüentemente, um enfraquecimento dos sindicatos e instabilidade do mercado. O

desemprego em massa é o que melhor evidencia a crise que ocorre em toda a estrutura social.

Há uma ampliação da precarização que se dá, sobretudo, pela emergência de novos modelos

produtivos e da necessidade de flexibilidade que se cria nas empresas. A insegurança no

emprego pode ser vista como causa direta da vulnerabilidade social (Castel, 2005). A

acumulação flexível que segue essa crise, é caracterizada pelo surgimento de novos setores de

produção, baseados na flexibilidade dos processos de trabalho, do mercado e dos padrões de

consumo que se confronta com a rigidez fordista (Harvey, 1992).

O sistema de acumulação flexível foi necessário para a superação da crise que a

rigidez fordista apresentava, pois permitiu uma rápida inovação dos produtos e uma maior

especialização dos setores, fazendo com que a informação e a comunicação tornem-se

fundamentais, e o conhecimento científico e técnico uma vantagem competitiva, uma arma

vital para a sobrevivência no sistema capitalista.

Nesta sociedade informacional, baseada no conhecimento e nas inovações

tecnológicas, em que a informação surge como matéria-prima do capitalismo globalizado, a

organização do trabalho se vê obrigada a adaptar-se, flexibilizando o processo de trabalho. O

sentimento de medo generalizado, que emerge com o surgimento do desemprego em massa,

permite às empresas intensificarem o trabalho e degradarem suas condições de exercício. O

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Estado mostra-se incapaz de assegurar as condições para a reprodução da força de trabalho.

Surge a necessidade de uma adaptação às diferentes funções, de uma reorganização da

estrutura educacional, das relações sociais familiares, de gênero e das mudanças no sistema de

valores. Na reestruturação dos processos de trabalho, a sua intensificação pode trazer, além de

danos à saúde, também à vida social do trabalhador e a precarização da sociabilidade familiar.

A atual transformação é dupla, pois acontece tanto na organização e no conteúdo da atividade,

quanto na organização do mercado de trabalho; ambos flexibilizam-se.

Essa reestruturação econômica é baseada na flexibilização dos diversos âmbitos da

sociedade, em que todos os indivíduos passam a ser substituíveis. O mundo do trabalho sofre

transformações com o advento de novas tecnologias, novos processos de trabalho, novo perfil

profissional, novos saberes, novos postos de trabalho, múltiplas habilidades, alterando dessa

forma o conteúdo do trabalho também.

O conceito de flexibilização (Holzmann e Piccinini, 2006) define um conjunto de

medidas que visa alterar a regulamentação do mercado de trabalho, com a finalidade de

diminuir o ordenamento, inovar tanto na esfera macroeconômica quanto na esfera

microeconômica, romper com a tradição, e, comumente está associado à idéia de

precarização, entretanto não lhe é inerente ou indissociável.

A forma mais comum de flexibilização do quadro de empregados de uma empresa é

pela terceirização, isto é, pela contratação de pessoas ou empresas que não entram para o

quadro de funcionários da empresa, desta maneira esta não necessita oferecer seguridade

social a esses indivíduos3. Os indivíduos são contratados para exercer determinada tarefa,

assumindo totalmente a responsabilidade por qualquer acontecimento que possa ocorrer.

Dentro dessas formas de contratos há diferentes graus de precarização do trabalho e da vida

desses indivíduos. Ao discorrer sobre a terceirização, Borges e Druck (2002) apontam para as

desvantagens dos contratos flexíveis de trabalho como o despreparo dos trabalhadores, a

dificuldade da empresa assegurar a qualidade de seu serviço, o risco de descontrole do

processo de trabalho, o surgimento de problemas de natureza sindical, entre outros.

Como aponta Sennett (2001), no capitalismo pós-industrial, o mercado de trabalho

passa a caracterizar-se pelo “curto prazo”, em que os sindicatos fortes, o estado-providência e

a estabilidade já não são mais categorias fundantes. Essas características foram substituídas

pela flexibilidade, ou seja, pela fragmentação do tempo, pelo “viver em risco”, pela

3 Quando a terceirização se dá pela contratação de outra empresa para prestar determinado serviço, o contratante se desresponsabiliza pelos empregados. No entanto, quando se contrata pessoas físicas, estas costumam ficar a margem de qualquer rede de proteção social.

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imediatização, pelo descaso à experiência, por uma nova organização do tempo e pela

diminuição dos movimentos reivindicatórios.

Desse modo, “A nova ordem institucional se exime da responsabilidade, tentando

apresentar sua própria indiferença como liberdade para os indivíduos ou grupos de periferia; o

vício da política derivada do novo capitalismo é a indiferença.”(Sennett, 2006, p.150), ou seja,

tanto a empresa quanto o Estado deixam o trabalhador desprotegido, utilizando para isto o

discurso da “liberdade” proporcionada pela lógica flexível do mercado de trabalho.

Sabadini e Nakatani (2002) contextualizam essa nova situação do mercado de trabalho

no cenário brasileiro:

O mercado de trabalho brasileiro está a cada dia mais precário pois a proteção social está diminuindo, essa desestruturação se deu, principalmente, nos anos 90 (começou no governo de Fernando Collor 1989-1992 e se intensificou no governo FHC 1994-2002), quando reduziu-se a capacidade de geração de empregos formais com a implantação de políticas neoliberais.

1.1.2 Informalidade no mercado de trabalho

Os trabalhadores encontram dificuldade de acompanhar as transformações da

revolução informacional, pois, nesse novo paradigma, já não existem papéis fixos,

identificação profissional estável, assim como também não há um amadurecimento das

relações informais entre os trabalhadores, ou seja, a ênfase na flexibilidade altera o

significado do trabalho, destituindo a idéia de “carreira”, tornando o processo de trabalho

fragmentado. O resultado disso é uma desorientação dos sujeitos e uma corrosão de seus

valores, pois esse medo da perda e a falta de confiança acabam por refletir na vida privada dos

indivíduos (Sennett, 2001).

Jacques (2006) discorre a respeito da identidade do trabalhador como um atributo de

valor, é essa identidade que mostrará a vida “adaptada e normal” que o indivíduo leva. No

entanto, com as novas tecnologias, muitas identidades profissionais vinculadas a

determinados postos de trabalho acabam perdendo seu significado, afinal os papéis já não são

mais fixos. Do novo trabalhador se exige que assuma riscos, seja independente de

formalidades e regulamentos, seja esperto e aberto a mudanças – causando assim uma falsa

idéia de liberdade.

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Sabadini e Nakatani (2002) destacam entre as formas mais recorrentes de trabalho

informal as grandes ou pequenas empresas que firmam contratos de sub-contratação ou

terceirização, assim como os já “tradicionalmente informais” representados por proprietários

de pequenos negócios, trabalhadores por conta própria e assalariados sem carteira de trabalho.

No trecho a seguir é possível perceber a precariedade para o assalariado dentro de uma lógica

flexível e informal de trabalho.

A “casualização” da força de trabalho não diz respeito apenas ao emprego de trabalhadores temporários ou subempreiteiros externos; aplica-se também à estrutura interna da empresa. Os empregados podem estar vinculados a contratos de três ou seis meses, freqüentemente renovados ao longo dos anos; com isto, o empregador pode eximir-se de pagar-lhes benefícios como seguro de saúde e pensões. Além disso, os trabalhadores vinculados por contratos de curta duração também podem ser facilmente transferidos de uma tarefa a outra, alterando-se os contratos para adaptá-los à evolução das atividades da empresa. E a empresa pode contrair-se e expandir-se rapidamente, dispensando ou contratando pessoal. (Sennett, 2006, p.50)

Os indivíduos que trabalham mediante contratos informais não têm acesso, através da

empresa a que prestam serviço, aos direitos arduamente conquistados ao longo do século XX

como férias anuais, décimo terceiro salário, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS),

dentre outros. Uma vez que para usufruí-los, é necessário que o indivíduo possua em sua

carteira de trabalho um registro de empregado. Robert Castel (2005) utiliza o conceito de

“individualismo negativo” para definir essa tendência à exclusão do indivíduo, que trabalha

informalmente, de seus benefícios relativos a seguridade social – ao que ele chama de

“indivíduo desfiliado” – que se encontra na “zona de vulnerabilidade”, isto é, quando se

instala esse individualismo negativo na sociedade salarial, torna-se um individualismo de

massa e passa a ser encarnado por aqueles que se encontram vulneráveis. Já Wanderley

Guilherme dos Santos (1998) utiliza o conceito de “cidadania regulada”, em que o indivíduo

irá obter direitos trabalhistas e sociais de acordo com sua posição no mercado de trabalho, em

outras palavras, somente será “cidadão” aquele que possuir “carteira assinada”, pois a

identidade do indivíduo se forma, sobretudo, a partir das relações de trabalho. Neste sentido,

Malaguti (2000), afirma que a informalidade é um “refúgio dos sem-opção”, pois, na maioria

das vezes, encontram-se em situação de precariedade.

O conceito de “setor informal” foi criado na década de 1970 pela Organização

Internacional do Trabalho – OIT , como recurso para a explicação da realidade dos países

subdesenvolvidos (Cacciamali, 2002; Toni, 2006). Em termos operacionais, sua categoria

central é representada pelo trabalhador conta-própria e pelo micro-empreendedor. Já o

conceito de informalidade (Lima e Soares, 2002; Toni, 2006) é utilizado de forma mais ampla,

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10

pois engloba questões distintas: economia informal, mercado informal, trabalho informal e,

inclusive, setor informal. O que essas esferas possuem em comum é o fato de não se

englobarem em regulamentações estatais, tanto em sua organização como em seu

funcionamento – caracterizam-se por um “funcionamento paralelo”. Podemos compreender

que quanto maior a regulamentação mais as empresas fogem desta, em uma tentativa de

maximizar seus lucros, fato esse que geralmente acarreta em uma precarização do contrato e

das condições de trabalho. De acordo com Sennett (2006), este ambiente de instabilidade e

fragmentação dificulta a prosperidade do indivíduo e, pode-se acrescentar aqui, que torna

difícil não apenas prosperar no âmbito relacionado ao emprego, mas em todas as esferas da

vida do trabalhador, como já colocado anteriormente.

Este tipo de inserção (setor informal) deriva da escassez de empregos gerados pelo processo de acumulação capitalista face ao volume e à qualidade da força de trabalho, em especial a sua capacitação, e pode constituir-se, em determinadas situações, uma alternativa à miséria para parcelas da população. É uma forma de trabalho que se estende através de indivíduos que possuem motivações distintas: dificuldades de reemprego ou de ingresso no mercado de trabalho; inativos em famílias com renda familiar baixa; aposentados que auferem pensões insuficientes, ou indivíduos que optaram por essa forma de inserção por não se adaptar ao trabalho subordinado. (Cacciamali, 2002, p.07)

Como dito anteriormente, acontece hoje uma dupla transformação, tanto no conteúdo

da atividade (organização) quanto nas formas de emprego (mercado), e a exigência de

flexibilidade é necessária em ambas as partes. Segundo Castel (2005), essa ampliação da

precarização se dá, sobretudo, devido à emergência de novos modelos produtivos e da

necessidade de flexibilidade que se cria nas empresas. A elevação do desemprego levou as

empresas a utilizarem o medo da perda de emprego para intensificarem o trabalho e degradar

suas condições. A insegurança no trabalho surge como causa direta da vulnerabilidade social.

A precariedade leva a perda das proteções oferecidas pelo Estado Social, ao desfiliar os

trabalhadores que se encontravam integrados dentro da sociedade através do emprego. A

ausência de contrato e de proteção social ao trabalhador faz com este se torne responsável por

sua própria seguridade, porém, como entre os trabalhadores informais predominam os de

baixa renda, estes acabam sendo excluídos das redes de proteção. Castel (2005) traça um

perfil destes trabalhadores: “Os jovens são os mais concernidos e as mulheres, mais do que os

homens. Porém, o fenômeno diz respeito igualmente ao que poderia ser chamado de núcleo

sólido da força de trabalho, os homens de 30 a 49 anos” (p. 515).

Nesse novo cenário, torna-se necessário regulamentar e definir melhorias. Diante desta

crise que se agrava na década de 1990, Hitara e Préteceille (2002) nos apresentam duas

possíveis alternativas. A primeira é a de uma remodelagem do quadro jurídico, do contrato de

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trabalho, limitando, desta forma, a insegurança tanto de rendimento quanto de continuidade,

por meio da inclusão de situações de não-emprego nos contratos. E a outra é a do “emprego

conveniente”, pautado na idéia de “trabalho decente”, na análise do trabalho no futuro e nas

proposições dos movimentos sociais.

Lima e Soares (2002) realizaram um estudo a respeito das possibilidades de

permanência no mercado informal. Partindo da análise de um cluster de roupas no interior de

Pernambuco, observam a dubiedade da posição dos operários que temem pela formalização de

seus contratos de trabalho, pois acreditam que, desta forma, haverá uma redução em seus

ganhos. No entanto, ao mesmo tempo, almejam a segurança a qual esse contrato lhes traria em

relação à seguridade social. De um modo geral, dentre esses trabalhadores a “carteira

assinada” não costuma ser vista como um direito, mas sim como uma ameaça de rebaixamento

de salários. Também nos chama atenção nesse estudo a concepção de que apenas um membro

da família necessita ter “carteira assinada”, possuindo assim garantias de proteção social.

De acordo com dado publicado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

(PNAD), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006/2007, sobre a

“atividade, posição na ocupação e categoria do emprego no trabalho principal 2005 - 2006”,

se considerarmos todas as categorias de trabalho não-agrícolas – conta própria, trabalho

doméstico e empregado – 45,4% dos trabalhadores brasileiros estão no setor informal,

enquanto no Sul do país este número representa 38% dos trabalhadores de atividades não

agrícolas. Já na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo Instituto Paranaense de

Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), sobre a “distribuição percentual da

população ocupada segundo a posição da ocupação na Região Metropolitana de Curitiba –

agosto 2006/ agosto 2008”, os trabalhadores sem carteira assinada (empregados e

trabalhadores domésticos somados aos trabalhadores por conta própria) na Região

Metropolitana de Curitiba somam 35,3%.

Como vimos, a flexibilização leva a uma adaptação do mercado de trabalho, em que o

desemprego em massa permite a degradação dos postos de trabalho e o crescimento do setor

informal e, conseqüentemente, um enfraquecimento sindical e instabilidade do mercado. Nesta

nova configuração os indivíduos passam a ser substituíveis em processos imediatistas de

trabalho e a experiência passa a não ter mais tanto valor. Neste sentido, a flexibilidade está

associada à precarização das condições de trabalho.

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1.2 A Pesquisa de Mercado, Mídia e Opinião

De acordo com teoria dos estudos de administração, Marcos Cobra (1992) caracteriza

quatro fases do mercado. A primeira é a “era da produção”, vigente até os anos de 1600, que

se destaca pela produção para a subsistência. Na segunda metade do século XIX, o autor

evidencia a “era da venda”, caracterizada pela produção em massa. A partir da década de 1950

ele destaca a “era do produto” em que as organizações buscam melhorar a qualidade de seus

produtos, geralmente sem levar em conta as necessidades dos consumidores. E por fim, Cobra

define a “era do marketing”, tendo seu início na década de 1970, em que emerge uma

preocupação com o que o consumidor busca em determinado produto. No entanto, para

atender a necessidade dos clientes, faz-se necessário conhecer quem são estes e quais são seus

desejos de consumo. Para isto, cada vez mais as empresas têm recorrido ao marketing de

modo a conhecer o perfil de seus consumidores. De modo a obter tal resultado, o marketing

faz uso da pesquisa de mercado, mídia e opinião para delimitar o perfil do consumidor do

produto4. No presente trabalho, estudamos o perfil dos indivíduos que prestam serviços a estas

empresas de pesquisa na aplicação dos questionários dos projetos de pesquisa. Ou seja,

estudamos os trabalhadores de um seguimento de importância central para o desenvolvimento

do feroz mercado de consumo capitalista no final do século XX e início do século XXI que,

no que se refere ao próprio trabalho, mantem-se como informais e precários.

1.2.1 Institutos/ escritórios de pesquisa

Ao longo deste trabalho estamos nos referindo a institutos/ escritórios, cabe aqui definir

a diferença entre essas duas formas de empresas de pesquisa. De acordo com informante C, os

escritórios atuam na aplicação de pesquisas de campo, como prestadores de serviço para

grandes empresas de pesquisa/ marketing. O que diferencia os institutos é que estes realizam

outros formatos de pesquisa, que não apenas a de campo, e, em alguns casos, também

4 Estas pesquisas iniciaram-se na década de 1920 nos Estados Unidos. Em 1938 eram feitas as primeiras pesquisas no Brasil. O primeiro instituto brasileiro, o IBOPE, foi estabelecido em 1942, sendo que tal serviço popularizou-se apenas nos anos de 1980, com o advento da “era do marketing”.

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elaboram a metodologia de trabalho, ou seja, participam de todo o processo de uma pesquisa

como veremos a seguir.

O presente estudo busca analisar o perfil dos entrevistadores dos institutos/ escritórios

de pesquisa de mercado, mídia e opinião – que trabalham há três anos ou mais nesta atividade,

como forma de constatar o porquê desta permanência. Faz-se oportuno então traçar um breve

panorama do que significa esse formato de pesquisa e como funcionam os institutos/

escritórios que a realizam.

Segundo Rutter e Abreu (2006), a pesquisa de mercado “fotografa uma realidade, revela

um momento, orienta caminhos para tomadas de decisão, de resumos, definição, correção ou

confirmação estratégica ou tática” (p.7), ou seja, busca o levantamento da opinião do público-

alvo a respeito dos mais diferentes aspectos de determinado produto ou situação para assim o

cliente poder definir determinadas estratégias de seu interesse.

De um modo geral a estrutura de uma pesquisa inicia com a contratação de uma empresa

de pesquisa pelo cliente (indústria, agência de publicidade, empresa de serviços, ou qualquer

companhia ou pessoa que deseja saber o que seu mercado ou público pensa), o qual expõe o

que deseja compreender. Em seguida é desenvolvido um questionário que abrange as questões

a serem resolvidas com a pesquisa e realiza-se um pré-teste de forma a constatar se o

questionário “funciona”, ou seja, alguns questionários são aplicados para que seja possível

perceber se há algum problema e se alterações se fazem necessárias. Após ajustado e aprovado

o questionário, uma equipe de entrevistadores “vai a campo” aplicá-lo com indivíduos que

preencham o perfil desejado – normalmente o cliente estabelece um determinado perfil para

ser entrevistado, de acordo com a intenção de sua pesquisa e do público-alvo para o qual está

voltada, a partir desta informação a empresa responsável pela realização da pesquisa define

onde o “campo” deve ser realizado, por exemplo, no domicílio dos entrevistados, em

empresas ou abordando pessoas na rua.

Para a certificação da realização da pesquisa e o controle na execução do trabalho, um

supervisor ou verificador entra em contato novamente com a pessoa entrevistada e constata se

ela respondeu realmente a entrevista, se possui o perfil desejado e se conferem as respostas

coletadas pelo entrevistador. Todos os questionários preenchidos também passam pela análise

do chamado “crítico”, que observa se houve alguma lacuna no preenchimento deste. No caso

de falha, o crítico comunicará o entrevistador, de modo que este entrará novamente em contato

com o entrevistado, a fim de corrigir o problema constatado. A seguir realiza-se a tabulação

dos dados levantados pelos questionários e faz-se uma análise dos resultados, sendo então

apresentados ao cliente. Desta forma pode-se constatar que, em uma pesquisa de mercado,

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mídia e opinião, os objetivos estabelecidos são confrontados com as informações fornecidas

pela empresa, para então buscar respostas através do levantamento da opinião do público-alvo

a respeito dos mais diferentes aspectos de determinado produto ou serviço, de acordo com as

necessidades do contratante.

Em Curitiba foi levantada a existência de duas empresas que realizam todo este processo

acima descrito, de acordo com dado fornecido por informante C. Enquanto que as demais

empresas que atuam neste município são terceirizadas por outras empresas de pesquisa,

geralmente de outros Estados do país, para realizarem apenas a aplicação dos questionários,

verificação, supervisão e crítica da pesquisa, trabalho este que quando concluído volta para a

empresa contratante que irá tabular e analisar os dados coletados.

Também existe a categoria de “pacoteiro” – que não enquadra-se nas funções exercidas

pelos institutos/ escritórios – definida por pessoa física, contratada informalmente por uma

empresa de pesquisa, também geralmente de outro Estado do país, para realizar um projeto de

pesquisa. De acordo com a dimensão do trabalho, este “pacoteiro” realiza todas as etapas do

processo de pesquisa sozinho, isto é, aplicação, supervisão, verificação e crítica da pesquisa –

o que acaba por comprometer a qualidade do trabalho realizado – ou contrata alguns

entrevistadores para auxiliarem no projeto. A empresa que terceirizou este trabalho necessita

prestar contas ao cliente e como o “pacoteiro” não possui registro no Cadastro Nacional de

Pessoa Jurídica (CNPJ), por caracterizar-se como pessoa física, este compra uma nota fiscal

de algum instituto/ escritório – em um valor entre 12% e 23% do total do projeto – sobre o

aval do contratante, como forma de tornar legal seu trabalho. Não se tem uma estimativa de

indivíduos que trabalham desta maneira, visto que atuam no anonimato e há uma grande

rotatividade de “pacoteiros”, sendo que muitos destes costumam trabalhar como

entrevistadores para institutos/ escritórios e, esporadicamente, realizam projetos desta

maneira.

Há duas modalidades básicas de pesquisa (sendo que essas também podem ser

combinadas). A primeira é a qualitativa, em que costuma-se ter um pequeno número de

respondentes e, usualmente, os dados não são analisados de forma estatística. Os principais

formatos desta modalidade de pesquisa são a formação de grupos, entrevistas em

profundidade, mediação convencional, técnica psicodramática, gravação, roteiro aprofundado

fechado, roteiro perspectivo aberto. A segunda é a quantitativa, em que entrevista-se um

grande número de pessoas e as informações são analisadas estatisticamente, como, por

exemplo, as entrevistas pessoais; entrevistas por telefone; entrevistas por correspondência,

questionário estruturado fechado; questionário semi-estruturado e perguntas abertas, e com

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apresentação de cartões, objetos e material promocional.

As metodologias de pesquisa não serão aprofundadas pois, de acordo com o objetivo

desse trabalho, anteriormente exposto, nos limitaremos a conhecer o perfil dos entrevistadores

de campo que, em sua maioria, atuam na aplicação de questionários de pesquisas quantitativas

pessoais.

Não obtivemos nenhum dado oficial a respeito do número de empresas que atuam nesta

área em Curitiba, porém, na pesquisa de campo realizada foram citados 18 institutos/

escritórios de pesquisa de mercado, mídia e opinião em Curitiba, número este que aproxima-se

do total de empresas de pesquisa deste Município, conforme constatamos através de

entrevistas livres com responsáveis por institutos de pesquisa contactados. Não houve

necessidade de confirmar tal dado de maneira precisa, visto que o presente trabalho não visa

observar a atuação das empresas, mais sim dos indivíduos que prestam serviços à estas como

entrevistadores de campo. Também não foi possível quantificar, dentre as empresas citadas,

quantas caracterizam-se como institutos ou escritórios de pesquisa.

Em Curitiba não há sindicato ou associação patronal desta categoria. A única

organização conhecida voltada para esta classe é a Associação Brasileira de Empresas de

Pesquisa – ABEP, que, segundo dados publicados pela mesma, as empresas filiadas

representam 90% do faturamento do mercado de pesquisa no Brasil.

1.2.2 A “profissão” de entrevistador

O entrevistador de campo a que nos referimos neste trabalho é o indivíduo que presta

serviços a uma ou mais empresas de pesquisa de mercado, mídia e opinião, cuja função

caracteriza-se pela localização de pessoas que encaixem-se no perfil desejado pelo cliente –

esta atividade é realizada pelos entrevistadores na maioria das vezes, porém em algumas

pesquisas há indivíduos incumbidos unicamente desta função, os chamados “recrutadores” – e

aplicação dos questionários de um determinado projeto de pesquisa.

Entre os indivíduos que trabalham na área de pesquisa verificou-se que é comum a

utilização do termo “pesquisador” para referir-se a pessoa que aplica os questionários em

campo. No entanto, optamos pelo termo “entrevistador” ao se referir às pessoas que

desenvolvem esta atividade, pois no nosso entendimento um “pesquisador” aplica os

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questionários, bem como os analisa; contudo as pessoas entrevistadas no presente trabalho

apenas aplicam estes, isto é, apenas entrevistam as pessoas.

Não há dados oficiais sobre o número de entrevistadores de campo que atuam em

Curitiba, mas através das informações coletadas em nosso trabalho de campo chegamos a uma

estimativa de aproximadamente 500 indivíduos trabalhando nesta função. A maioria destes

entrevistadores de campo de institutos/ escritórios de pesquisa de mercado, mídia e opinião

trabalha sem qualquer forma de contrato ou garantia formal5, como veremos no capitulo

seguinte.

No entanto, já existe uma discussão para uma formalização deste posto de trabalho no

debate parlamentar. O Deputado Federal Chico Alencar, do PSOL/RJ, escreveu o Projeto de

Lei 1201/2007 (apensando ao PL 609/2007 de Luiz Sérgio, do PT/RJ), para a regulamentação

do exercício da profissão de pesquisador de mercado, opinião e mídia e pela criação de

Conselhos para estes. Tendo como justificativa para tal projeto de lei assegurar a proteção de

interesse público quanto às pesquisas mercadológicas, inibir a atuação de mão-de-obra

desqualificada, assegurar o direito do registro profissional, criar uma “identidade profissional”

e formalizar as relações trabalhistas. Já aprovado pela Comissão de Trabalho, de

Administração e Serviço Público (CTASP), tal projeto hoje tramita na Comissão de

Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).

Em Curitiba não há sindicato ou associação que atenda a estes trabalhadores. A única

entidade organizativa conhecida é a Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado (SBPM),

entidade voltada para os pesquisadores como pessoas físicas enquanto profissionais da área,

que hoje conta com pouco mais de mil associados em todo o país.

De acordo com informantes A e B, proprietários de um instituto de pesquisa em

Curitiba, até meados dos anos de 1990, o perfil predominante de entrevistadores de campo

eram jovens universitários, que buscavam esta atividade como forma de trabalho temporário.

No entanto, pelo valor relativamente alto pago pelos trabalhos, quem passa a buscar este cargo

são pessoas que visam um trabalho permanente e que, comumente, têm uma menor

escolaridade. Segundo esses, hoje o valor pago pelos trabalhos costuma ser mais baixo de que

o pago na década passada, mas de qualquer modo o valor ainda permanece mais alto do que a

remuneração de muitos trabalhos com carteira assinada para indivíduos com Ensino Médio –

escolaridade que corresponde a da maioria dos entrevistadores de campo segundo estes

informantes – ou seja, o perfil dos entrevistadores de campo está mudando, todavia a forma de

5 Nos outros Estados brasileiros a situação dos entrevistadores de campo não costuma ser diferente da encontrada em Curitiba, segundo informante C.

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contrato não acompanhou esta transformação. Desta maneira, observamos que,

provavelmente, esse campo de trabalho emergiu na lógica precária e informal em que se

encontra.

Ao serem questionados sobre a forma de contrato dos entrevistadores, os informantes A

e B afirmam que a empresa tem interesse em registrar uma equipe-base de entrevistadores,

isto é, criar um grupo fixo de entrevistadores atuando na empresa e em períodos que a

demanda de pesquisas aumente, sejam contratados trabalhadores temporários para suprir esta

necessidade. No entanto, afirmam haver algumas dificuldades nesta prática. Em primeiro

lugar, é necessário pagar um salário-base, mas não sabem ao certo como lidar com isso, pois

há entrevistadores que rendem mais e outros menos na quantidade e qualidade de aplicação de

questionários e também existe períodos em que há mais ou menos pesquisas a serem

realizadas. Atualmente os entrevistadores recebem por produção, os informantes receiam que

um salário fixo possa ser injusto para alguns destes trabalhadores, pois talvez não corresponda

à sua produção. E, em segundo lugar, registrar a todos aumenta o orçamento e, dessa forma, a

empresa deixa de ser competitiva, pois alguns contratantes se preocupam mais com o preço

baixo do que com a qualidade do trabalho. Por este mesmo motivo não trabalham através de

Recibo de Pagamento a Autônomo (RPA), pois o imposto cobrado sobre este é de 20%, o que

aumenta os custos da realização de uma pesquisa.

No entanto, os informantes A e B afirmam que, pela falta de contrato formal, não

conseguem exigir um bom trabalho, não há um comprometimento do entrevistador, nem um

verdadeiro vínculo deste com a empresa. Em alguns casos, quando a empresa cobra pelo

trabalho, há entrevistadores que ameaçam entrar com ação na Justiça do Trabalho. Para esses,

a solução para esse impasse é a formação de profissionais de pesquisa e a regulamentação da

profissão. Segundo eles, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) não

demonstra interesse na regulamentação da profissão, estão mais preocupados com

metodologia e com as grandes empresas do que com a situação dos entrevistadores. Também

acreditam que a informalidade provoca um aumento nos casos de fraudes, como, por exemplo,

a falsificação de questionários ou de alguns dados dos questionários ou omissão de

determinadas informações.

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2 PERFIL DOS ENTREVISTADORES DE CAMPO

2.1 Sócio-Econômico

Para iniciar a exposição do perfil dos entrevistadores de campo – levantado através da

aplicação de questionário com vinte e dois indivíduos que trabalham há três anos ou mais

nesta atividade – traçamos uma breve descrição das características sócio-econômicas destes.

Entre os entrevistados destaca-se o número de mulheres como maioria; os homens

totalizam sete pessoas, enquanto as mulheres somam quinze.

GRÁFICO 01Relação entre sexo e idade

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Confrontando os dados relativos ao sexo e a idade, conforme o Gráfico 01, entre as

pessoas do sexo masculino quatro estão na faixa etária de trinta e um a trinta e cinco anos,

sendo que uma tem entre vinte e seis e trinta anos e duas têm trinta e seis anos ou mais. Já

entre as mulheres, quatro têm trinta e cinco anos ou menos, quatro têm de trinta e seis a

quarenta anos, sete têm quarenta e um anos ou mais. Nenhum dos entrevistados tem menos de

vinte e seis anos de idade.

26 – 30 31 – 35 36 – 40 41 – 45 46 ou mais0

1

2

3

4

5

MF

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TABELA 01Local onde nasceram e onde vivem atualmente

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Como podemos constatar na Tabela 01, a maioria dos entrevistados vive no município

de Curitiba, sendo que sete nasceram na cidade em que moram, quatro imigraram do interior

do Estado do Paraná, enquanto os outros cinco imigraram de municípios dos demais Estados

brasileiros. Os outros seis entrevistados residem na Região Metropolitana de Curitiba, no

entanto nenhum nasceu nas cidades em que habitam. Imigraram de Curitiba quatro destes e os

outros dois de municípios do interior do Estado do Paraná. Destaca-se como a principal

justificativa da mudança de município dos entrevistados questões familiares em geral,

apontada por oito dos quinze indivíduos que não vivem na cidade em que nasceram (questão

1.6 do Apêndice B).

QUADRO 01Situação conjugal

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Conforme o Quadro 01, a maioria dos entrevistados é casado ou vive maritalmente,

seis declaram-se solteiros, dois divorciados e um viúvo. Entre os casados ou que vivem

maritalmente todos os cônjuges exercem atividade remunerada (questão 1.10 no Apêndice B)

sendo que um estava afastado por motivo de saúde no momento da entrevista. Dos treze

cônjuges, quatro também trabalham em institutos/ escritórios de pesquisa, sendo que dois

como entrevistadores de campo, um como supervisor e um como crítico. Outros dois exercem

atividades por conta própria, enquanto os demais trabalham como empregados em diversos

setores.

Onde moram atualmente número de pessoas onde nasceram número de pessoas

Curitiba 16Curitiba 7

Interior do Paraná 4Outros Estados 5

Região Metropolitana 6Curitiba 4

Interior do Paraná 2

Situação conjugal número de pessoascasados/as ou vivendo maritalmente 13solteiros/as que vivem sozinhos/as 3solteiros/as que vivem com parentes 2solteiros/as que vivem com amigos 1divorciados/as ou separados/as que vivem com parentes 2viúvos/as que vivem com parentes 1

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Com relação ao número de dependentes da remuneração de entrevistador de campo6

(questão 1.12 no Apêndice B), dos treze casados um não possui nenhuma pessoa que dependa

de sua renda, um possui um dependente, quatro têm dois dependentes, cinco têm três pessoas

que dependam de sua renda, enquanto dois têm quatro dependentes. Todos os solteiros que

vivem com parentes ou amigos e os viúvos possuem apenas um dependente de sua

remuneração. Enquanto os solteiros que vivem sozinhos um não possui pessoa que dependa,

outro possui um dependente e o terceiro possui cinco pessoas dependentes. Já entre os

divorciados/ separados um possui um dependente, ao passo que o outro possui quatro pessoas

dependentes de sua remuneração.

QUADRO 02Situação do imóvel em que residem

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Quanto à situação do imóvel em que vivem os entrevistados, o Quadro 02 evidencia

que a metade destes possui residência própria e quitada, enquanto mais de um terço vive em

imóvel alugado. Dois entrevistados vivem em residência própria e ainda não quitadas e um

em moradia cedida.

QUADRO 03Situação econômica comparada com a dos pais

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

No Quadro 03, a maioria das pessoas afirma que sua situação econômica, quando

comparada a de seus pais, melhorou. Para seis dos entrevistados a situação financeira é pior

que de seus pais, enquanto que para três é análoga. Dos que declaram ter a mesma situação

financeira, nenhum informa o motivo (questão 1.14.2 do apêndice B). Entre os entrevistados 6 Não necessariamente os dependentes vivem junto com os entrevistados.

situação número de pessoasmelhor 12igual 3pior 6não respondeu 1

situação do imóvel número de pessoasalugado 8próprio quitado 11próprio não quitado 2cedido 1

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que declaram ter melhor situação econômica, predomina o discurso de que seus pais tinham

menor escolaridade e/ ou menor rendimento. Já entre aqueles que se referiram à sua situação

como pior que a dos pais, prevalesse a justificativa de que seus pais tinham casa própria e eles

ainda não têm.

Sobre as atividades remuneradas exercidas anteriormente ao trabalho como

entrevistador de campo, foram citadas diversas funções executadas. Metade das pessoas

relatou apenas uma atividade anterior, enquanto uma afirma que este foi seu primeiro trabalho

(questão 4.2 do Apêndice B).

2.2 Sobre o trabalho de entrevistador de campo

Quando indagados sobre o modo que descrevem seu trabalho do ponto de vista

profissional (questão 5.5 do Apêndice B), houveram diversas respostas. Contudo destaca-se a

afirmação de que o trabalho como entrevistador de campo é gratificante economicamente,

citada por sete dos entrevistados, assim como a declaração de que gostam do trabalho que

realizam, também citada por sete pessoas. Para outros dois este trabalho não acarreta nenhum

valor profissional, como podemos observar no questionário 05 (mulher, 28 anos): “vale como

experiência de vida, profissionalmente não acrescenta nada” e no questionário 13 (homem, 29

anos) “não acarreta valor profissional para outras áreas”. Também foram atribuídos adjetivos

negativos ao trabalho que realizam por dois dos entrevistados, como podemos observar no

questionário 07 (homem, 39 anos), o trabalho é descrito como “desgastante” e no questionário

19 (homem, 33 anos), classificado como “cansativo”. Embora tenham atribuído seu trabalho

negativamente, assim como os demais afirmam gostar do trabalho que realizam como

podemos observar na questão 5.6 no Apêndice B.

Ao serem questionados sobre o que poderia ser diferente na profissão de entrevistador

e/ou no funcionamento dos institutos/ escritórios (questão 5.7 do Apêndice B), as respostas

também foram diversas. Sendo que se destaca a menção ao registro em carteira de trabalho

para os entrevistadores de campo, citado por seis dos entrevistados. Entretanto no

questionário 20 (mulher, 49 anos), afirma-se que poderia “ter registro em carteira de trabalho

sem com isso reduzir o salário”. Três dos entrevistados declararam que a regulamentação da

profissão é a mudança que visam. Ao passo que seis não responderam ou não sabiam o que

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poderia ser diferente.

QUADRO 04O que buscam profissionalmente

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Como podemos observar no Quadro 04, quando perguntados sobre o que buscam

profissionalmente, as respostas foram diversas. Destaca-se referência feita ao aumento da

remuneração, seja através do estudo para aumentar de cargo ou mudar o ramo de atividade, ou

apenas mudar de cargo dentro do instituto/ escritório em que trabalham ou mudar ramo de

atividade para alcançar tal objetivo. Dos entrevistados, três citam a pretensão de terem um

registro em carteira de trabalho, enquanto outros três referem-se à estabilidade, como meta

profissional, para que possam se aposentar.

Em relação ao desejo de permanência na atividade de pesquisa, três pessoas declaram

o anseio de “crescer” dentro dos institutos/ escritórios em que trabalham, isto é, assumir outro

cargo na área de pesquisa. Apenas três dos vinte e dois entrevistados buscam

profissionalmente continuarem no cargo de entrevistador de campo: questionário 04 (mulher,

40 anos) “sempre melhorar dentro da minha função”; questionário 21 (mulher, 39 anos)

Quest. 4.22o que buscam profissionalmente

01 crescer dentro de um instituto02 trabalhar para poder pagar uma faculdade e depois prestar concurso público03 crescer dentro de um instituto04 sempre melhorar dentro da minha função05 ganhar o suficiente para dar conforto ao filho06 estabilidade para se aposentar07 ser registrado ganhando bem ou abrir uma micro empresa08 realização pessoal09 não respondeu10 conhecimento11 aperfeiçoamento12 capacitação como forma de ganhar mais13 realização pessoal14 reconhecimento e valorização15 aumentar de cargo em qualquer área e voltar a estudar16 estudar para terminar graduação e arrumar emprego com carteira assinada17 subir de cargo para ganhar mais18 ter carteira assinada19 arrumar um emprego que ganhe mais20 se aposentar21 trabalhar com o que gosto que é pesquisa e ter segurança para me aposentar22 trabalhar cada vez com mais dedicação e poder aprender com ele

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“trabalhar com o que gosto que é pesquisa e ter segurança para me aposentar”; e questionário

22 (mulher, 41 anos) “trabalhar cada vez com mais dedicação e poder aprender com ele”.

Sobre o sentimento que a atividade de entrevistador de campo gera (questão 4.21 do

Apêndice B), nenhum entrevistado declarou sentir vergonha do trabalho que executa. A

metade das pessoas declararam sentir orgulho de sua atividade sendo que quatro justificaram

este sentimento pelo fato de que com sua renda é possível sustentar-se ou sustentar sua

família. Enquanto dois sentem orgulho pois acham importante o trabalho de entrevistador,

outros dois afirmam que através do trabalho que realizam conseguem melhorar desde

produtos até serviços e dois se sentem realizados com este trabalho, gostam da atividade que

executam. Uma pessoa não justificou porquê sente orgulho de sua função. A outra metade dos

entrevistados afirmam que a atividade que realizam lhes é indiferente. Quanto a justificativa

desta resposta dois declaram que a função que realizam é como qualquer trabalho, outro atesta

que gosta do que faz, mas no entanto isto lhe é indiferente. Tal justificativa não foi dada por

oito dos entrevistados.

De acordo com o perfil selecionado para a realização desta pesquisa, todos os

indivíduos que participaram trabalham há mais de três anos como entrevistadores de campo.

Dos vinte e dois entrevistados, sete trabalham nesta atividade em um período entre três e

cinco anos, enquanto oito estão entre seis e dez anos; cinco entre onze e quinze anos; e dois na

faixa entre dezesseis e vinte anos. No gráfico a seguir podemos visualizar este indicador

relacionado com o sexo.

GRÁFICO 02Relação entre tempo de trabalho como entrevistador e sexo

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

De acordo com o Gráfico 02, entre os homens destacam-se três que estão trabalhando

como entrevistadores de campo de três a cinco anos. Há também dois que atuam entre seis e

3 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 naos0

1

2

3

4

5

6

7

homensmulheres

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dez anos, um de onze a quinze anos e outro na faixa de dezesseis a vinte anos. Já nos

indicadores que referem-se às mulheres, destacam-se as que trabalham nesta função entre seis

a dez anos, em um total de seis das quinze entrevistadas. Entre três e cinco anos há quatro,

assim como na faixa de onze a quinze anos, enquanto que entre dezesseis a vinte anos há uma

mulher.

Quanto ao número de institutos/ escritórios nos quais os entrevistados já trabalharam,

dos que estão entre três e cinco anos nesta atividade, um trabalha desde o início em um

mesmo instituto, outro já trabalhou em outro além do atual, três pessoas trabalharam em duas

empresas, enquanto uma pessoa já trabalhou em três e outra em quatro institutos/ escritórios.

Dos que trabalham de seis a dez anos nesta função, dois passaram por uma empresa além da

atual, assim como dois trabalharam em duas empresas e dois já passaram por três. Uma

pessoa exerceu esta atividade em quatro e outro em seis empresas antes de trabalhar na que

estão atualmente. Em relação aos que trabalham como entrevistadores entre onze e quinze

anos, cada entrevistado prestou serviço para um número diferente de empresas, um sempre

trabalhou na mesma, outro em uma além da atual, outro em duas, assim como um em três e

outro em cinco empresas. Os dois indivíduos que afirmam estarem executando essa função de

dezesseis a vinte anos já passaram por duas empresas além da atual em que trabalham

(questão 4.5 do Apêndice B).

Apenas a entrevistada do questionário 6 (mulher, 47 anos) trabalhava, no momento da

entrevista, para duas empresas de pesquisa – em uma no período matutino e noutra no período

vespertino – sendo que em uma destas exercia tanto a função de entrevistadora como de

crítica, verificadora e auxiliar administrativa (questão 4.6 do Apêndice B).

Dos dezenove entrevistados que respondeu sobre o tempo a que estão trabalhando no

atual instituto/ escritório, mais da metade está a menos de sete meses prestando serviço a

empresa em que estão trabalhando. Há cinco entrevistados que estão entre um e três anos na

mesma empresa, enquanto outro está há dez anos e outro a quatorze anos. A entrevistada que

afirma prestar serviço para duas empresas, está há sete anos em uma e há dez meses em outra.

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TABELA 02

Sobre outras funções exercidas ou que gostaria de exercer em uma empresa de pesquisa

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Dos entrevistadores de campo contactados, a maioria declara já ter exercido outras

funções dentro de um instituto/ escritório de pesquisa, conforme Tabela 02. Entre as quinze

pessoas que fazem esta afirmação, sete em algum momento exerceram tanto a função de

supervisor, como a de crítico e de verificador. Enquanto três executaram a atividade de crítica

apenas, entre os demais entrevistados, um trabalhou como supervisor, um como verificador,

um como crítico e verificador, ao passo que um trabalhou como crítico, verificador e na área

administrativa da empresa e outro nestas três atividades e, ainda, na função de supervisor.

No momento da entrevista todos estavam exercendo a função de entrevistador de

campo e o tempo de trabalho levantado através da questão 4.1 do Apêndice B refere-se ao

período que trabalha como entrevistador, sendo que pode ter realizado esta atividade

concomitante com outra dentro de uma empresa de pesquisa.

2.2.1 Formas de contrato e renda

QUADRO 05Formas de contrato como entrevistador de campo

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

outras funções número de pessoas quais número de pessoas

já exerceu 15

supervisor 1crítico 3

verificador 1crítico e verificador 1

supervisor, crítico e verificador 7crítico, verificador e administrativo 1

supervisor, crítico, verificador e administrativo 1

nunca exerceu 7

sim, qualquer serviço interno 2sim, supervisão 1

não, gosta de trabalhar na rua 1não, gosta do trabalho que realiza 3

formas de contrato número de pessoassomente contrato verbal 16registrada em um, nos demais contrato verbal 3em um RPA, nos demais contrato verbal 2registro em carteira de trabalho 1

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No Quadro 05, a maior parcela das pessoas entrevistadas afirma somente terem

trabalhado como entrevistadores de campo por meio de contrato verbal, ou seja, sem nenhum

contrato certificando o vínculo deste com a empresa, assim como a forma e quantia de

pagamento.

Dos quatro que declaram serem ou já terem sido registrados em institutos/ escritórios

de pesquisa, três afirmam que o registro se deu em uma das empresas a que prestou serviço,

enquanto nas demais o contrato aconteceu apenas de forma verbal. O entrevistado que declara

ter carteira assinada, trabalhou apenas em um instituto durante seu período como entrevistador

de campo7. Na aplicação desta questão perguntamos sobre este registro em carteira e todos

nos informaram que foram ou são registrados pois ocupam ou ocupavam outra função dentro

da empresa (supervisão, verificação, crítica ou administrativo) e juntamente com esta realizam

ou realizavam o trabalho de entrevistador de campo.

Há dois entrevistados que afirmam terem trabalhado em um dos institutos através de

Recibo de Pagamento a Autônomo (RPA), enquanto nos demais trabalharam através de

contrato verbal. Sendo que no questionário 15 (mulher, 37 anos), a entrevistada declara ter

trabalhado através de RPA em Curitiba, no entanto prestando serviço à uma cooperativa de

entrevistadores de São Paulo, de acordo com observação da questão 4.9 do Apêndice B. Ou

seja, não prestou serviço como autônoma para nenhuma empresa de pesquisa de Curitiba.

QUADRO 06Sobre a forma de contrato que preferem

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

A respeito da forma de contrato com que preferem trabalhar, como podemos notar no

Quadro 06, quase a metade declara que o registro em carteira de trabalho caracteriza-se como

a melhor forma de contratação. Já cinco afirmam ser funcionário público estatutário, assim

como cinco dos entrevistados citam o contrato através de Recibo de Pagamento a Autônomo

(RPA). Uma das pessoas declara que qualquer forma de contrato que lhe pague a previdência

social é valida, enquanto apenas uma afirma preferir o trabalho sem contrato formal conforme

7 Conforme questão 4.5 do questionário 11 no Apêndice B.

forma de contrato que prefere número de pessoas carteira assinada (CLT) 10funcionário público (estatutário) 5autônomo (RPA) 5informal (sem contrato) 1qualquer que pague previdência 1

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ocorre com a maioria dos entrevistadores de campo, de acordo com Quadro 05.

Quando questionados sobre a resposta obtida quando alguém lhes pergunta “qual a sua

profissão”, a maioria das pessoas afirma identificar-se como entrevistadores de campo –

dezenove dos vinte e dois entrevistados. Enquanto duas pessoas declaram se apresentar como

trabalhadores informais e uma como trabalhador temporário (questão 4.20 do Apêndice B).

GRAFICO 03Forma de pagamento pelo trabalho de entrevistador de campo

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Considerando as formas de pagamento de todos os institutos/ escritórios do município

de Curitiba em que os entrevistados trabalham ou já trabalharam, expostas no Gráfico 03, a

maioria afirma que sua remuneração sempre correspondeu à soma dos questionários

aplicados, isto é, o entrevistador “vai a campo” aplica o questionário com o individuo que

preencha o perfil desejado, para então esse ser analisado pelo crítico e verificar. Não havendo

problemas que leve à anulação do questionário, o valor estipulado para este será pago ao

entrevistador de acordo com a periodicidade firmada pela empresa.

Todos os que afirmam receber ou já terem recebido sua remuneração por projeto

realizado ou por um determinado valor diário, têm seu pagamento feito por produção, isto é,

quando o entrevistador recebe por um projeto de pesquisa, ele é incumbido de determinada

meta a ser cumprida que corresponda ao seu pagamento, o mesmo acontece àqueles que

recebem pelo trabalho executado no dia. Apenas um entrevistado cita que recebe ou já

recebeu sua remuneração mensalmente, sendo que em outros momentos também teve seu

pagamento feito por questionário ou por valor diário.

14 2

1

1

1

21

por questionáriopor projetopor questionário e por projetopor questionário e valor diáriopor projeto e valor diáriopor questionário, por projeto e valor diáriopor questionário, valor diário e valor mensal

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GRAFICO 04Periodicidade do pagamento pelo trabalho de entrevistador de campo

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Diferentemente das figuras até então apresentadas, no Gráfico 04 utilizamos o número

de citações e não de entrevistados, ou seja, o total de citações corresponde a mais de 100%,

sendo que onze pessoas citaram apenas uma periodicidade, seis pessoas citaram duas, três

pessoas citaram três e uma citou quatro periodicidades diferentes. Destacaram-se os

pagamentos feitos quinzenalmente (doze citações), mensalmente (dez citações) e por projeto

(nove citações).Um entrevistado afirmou não haver periodicidade de pagamento.

GRAFICO 05Média de remuneração mensal

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Como observado anteriormente no Gráfico 04, há diferentes periodicidades no

pagamento aos entrevistadores de campo, no entanto, foi elaborada uma questão para que o

entrevistado fizesse uma média aproximada do valor recebido a cada mês por seu trabalho

com pesquisa, conforme Gráfico 05.

Mais da metade dos entrevistados afirma receber mensalmente um valor entre R$

501,00 e R$ 1.500,00; seis informaram que recebe entre R$ 1.501,00 e R$ 2.500,00 e quatro

receber mais de R$ 2.501,00. Enquanto que dois declararam que recebem até R$ 500,00,

número de citações02468

101214

quinzenalsemanalmensalpor projetodiárionão há periodicidade

número de pessoas02468

101214

Até R$500R$501 a R$1500R$1501 a R$2500mais de R$2500recusa

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sendo um destes, questionário 5 (mulher, 28 anos) no momento da entrevista declarou este

não ser seu principal emprego8. Um dos entrevistados recusou-se a declarar sua renda.

Com relação à diferentes fontes de renda, duas pessoas com rendimento na faixa entre

R$ 501,00 e R$ 1.500,00, possuem outra remuneração, sendo uma referente a aluguel de

imóvel e outra a pensão por falecimento. Na faixa dos que recebem entre R$ 1.501,00 e R$

2.500,00 também há duas pessoas que possuem outra renda sendo para uma auxílio saúde e

outra aluguel de imóvel (questão 1.13 do Apêndice B).

Sobre a ajuda de custo dada aos entrevistadores, para despesas como alimentação e

transporte quando estão em campo (questão 5.3 do Apêndice B), nove informam não receber

nunca qualquer quantia para tal fim. Outros nove entrevistados confirmam que recebem

dinheiro como ajuda de custo, sendo que uma pessoa afirma receber R$ 5,00, três R$ 10,00,

uma R$ 15,00, outra R$ 20,00, enquanto uma explica que este valor varia de acordo com a

pesquisa e outras duas recusam-se a revelar o valor. Há quatro entrevistados que relatam

receber ajuda de custo apenas em alguns projetos, sendo que duas afirmam que quando

recebem esta é no valor de R$ 15,00, outra afirma que o valor varia de acordo com a pesquisa

e a outra não informa tal dado.

QUADRO 07Pensa na formalização

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

8 Somente esta pessoa entrevistada afirma ter outro trabalho além do que entrevistadora de campo, como podemos observar na questão 4.3 do Apêndice B.

Quest formalização Por quê01 não reduz o salário02 não para não ter compromisso, ser independente, ter liberdade03 sim estabilidade04 sim segurança (em caso de doença)05 não sabe que não é possível06 - já está registrado07 sim segurança,mas se reduzir salário melhor não ter08 sim segurança 09 não para não ter compromisso, ser independente, ter liberdade10 não para não ter compromisso, ser independente, ter liberdade11 - já está registrado12 não reduz o salário13 sim para contribuir para a previdência14 não reduz o salário15 sim para se aposentar16 sim segurança 17 sim segurança para se aposentar18 sim ter carteira assinada = estabilidade19 sim segurança 20 sim para ter benefícios21 sim ter segurança com a carteira assinada22 não para não ter compromisso, ser independente, ter liberdade

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Quando questionados sobre a formalização da função que exercem, conforme Quadro

07, a maioria dos entrevistados afirma que gostariam de trabalhar através de contrato formal.

Todos estes apresentam argumentos semelhantes para tal questão, declaram desejar a

formalidade de modo a obter segurança, estabilidade ou poder gozar dos benefícios da

previdência social. Entre os oito entrevistados que afirmam não visarem a formalização de

seus contratos de trabalho, para quatro a contratação formal gera um compromisso, limitando

sua independência e liberdade, enquanto três afirmam que tal forma de contrato irá reduzir o

rendimento e um explica não pensar nesta possibilidade pois acredita que não é possível uma

formalização como entrevistador de campo.

Para oito dos entrevistados uma das empresas já propôs registrá-los como empregados,

enquanto cinco pessoas fizeram tal proposição à alguma das empresas. Do total, três já foram

registrados em carteira de trabalho como entrevistadores de campo em algum momento –

sendo que um declara que isto ocorreu em uma empresa de outra cidade – entre os dezenove

que nunca foram registrados, um declara estar em vias de ser (questões 4.11, 4.12 e 4.13 do

Apêndice B).

TABELA 03Tem pensando em buscar ou buscou outro trabalho

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

De acordo com Tabela 03, a maioria dos entrevistados – dezesseis deles – não pensou

em procurar outra atividade remunerada nos últimos três anos. Entre os seis que cogitaram a

possibilidade de buscar um novo trabalho, três realmente procuraram, ou seja, dezenove não

buscaram nos últimos três anos, sendo que uma pessoa tentou vaga na área de vendas, outra

na administrativa, enquanto uma terceira buscou trabalho em diversas áreas. Quanto a

concursos públicos mais especificamente, um número maior cogitou nos últimos três anos a

possibilidade de recorrer a esta forma de trabalho, oito entrevistados afirmam pensar em tal

opção, no entanto apenas três realmente prestaram algum concurso para cargo público nos

últimos três anos, sendo um para um banco federal, outro para orgão federal ligado a questões

agrícolas e ambientais e outro para o cargo específico de sua formação acadêmica em diversos

órgãos.

Buscar emprego número de pessoas Prestar concurso número de pessoastem pensado 6 tem pensado 8não pensou 16 não pensou 14procurou 3 prestou 3

não procurou 19 não prestou 19

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2.2.2. Permanência e mão-de-obra especializada

Quando questionados se percebem seu trabalho como sendo temporário, dezenove dos

vinte e dois entrevistados afirmam que não (questão 4.23 do apêndice B). A principal

justificativa citada é o fato de nunca ter faltado pesquisas para realizarem e em função do

longo período em que trabalham nesta área. No entanto, uma minoria dos entrevistados

caracteriza seu trabalho como temporário, sendo que dois justificam-se pela ausência de um

contrato formal e um pela sazonalidade na realização das pesquisas. Apenas uma pessoa

afirma ter registro em Carteira de Trabalho no momento da pesquisa.

TABELA 04Já ficou sem trabalhar por falta de pesquisa

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Desde o início da atividade como entrevistador de campo, a maioria dos entrevistados

nunca ficou sem trabalhar por falta de projetos de pesquisa a serem realizados, como podemos

observar na Tabela 04. Contudo para oito, já houve períodos em que não conseguiram realizar

trabalhos de pesquisa. Entre estes, dois declaram terem ficado menos de um mês parados por

falta de trabalho, enquanto para três esse período teve duração de dois meses. Já um

entrevistado afirma ter ficado quatro meses sem exercer a função e outro três anos por falta de

pesquisa ou oportunidade de trabalho na área. Apenas um entrevistado declara que em alguns

momentos não há pesquisas a serem aplicadas, porém recebe um salário pelo trabalho, deste

modo a falta de pesquisa não significa falta de remuneração.

Quanto aos períodos de maior e menor demanda por pesquisas (questão 4.27 do

Apêndice B), treze entrevistados citam o período eleitoral como momento em que aumenta o

número de pesquisas a serem realizadas e seis citam o final de ano. Quanto ao período em que

há menos pesquisas a serem realizadas, a maioria dos entrevistados cita o início de ano.

trabalho número de pessoas tempo que faltou número de pessoasnunca faltou 14 menos de 1 mês 2

faltou 8 2 meses 34 meses 13 anos 1

as vezes, mas ganha fixo 1

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GRÁFICO 06

Pré-requisitos exigidos para a contração em Institutos/Escritórios de pesquisa

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Conforme podemos observar no Gráfico 06, quinze dos vinte e dois entrevistados

afirmam que em nenhum dos institutos/ escritórios em que trabalham ou trabalharam foi

exigido qualquer pré-requisito para a contratação como entrevistadores de campo. Contudo,

entre os demais entrevistados três declararam que em uma das empresas em que trabalham ou

trabalharam foi exigida a conclusão do Ensino Médio (2o. Grau); dois afirmam que em duas

das empresas pelas quais passaram este mesmo pré-requisito foi exigido, sendo que um

desdes indivíduos revela que em uma das empresas, que exigiu a conclusão do Ensino Médio,

também realizou teste psicológico para seu ingresso na atividade; outro entrevistado aponta

como pré-requisito em uma das empresas em que trabalhou ou trabalha a necessidade de ter

experiência na área de pesquisa; enquanto outro afirma que em uma das empresas houve a

necessidade de ser comunicativo, educado e ter vontade de trabalhar na área em questão.

Sobre a maneira de ingresso dos entrevistados na função de entrevistador de campo,

quatorze, dos dezenove que responderam, afirmam que se deu através da indicação de algum

amigo, parente, vizinho ou conhecido (questão 4.4 do Apêndice B).

TABELA 05Sobre a realização de curso profissionalizante na área de pesquisa

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

De acordo com Tabela 05, do total de entrevistados, somente três declararam terem

0

2

4

6

8

10

12

14

16

nenhum pré-requisito

ter 2o. Grau em um dos institutos/escritórios

ter 2o. Grau em dois dos institutos/escritórios

ter 2o. Grau em dois dos institutos/escritórios, sendo que em um foi realizado um teste psicológicoter experiência com pesquisa em um dos institutos/escritóriossaber conversar, ser educado e ter vontade de trabalhar em um dos institutos/escritórios

sobre curso em pesquisa número de pessoas curso

fizeram curso na área de pesquisa 3aperfeiçoamento de análiseaperfeiçoamento de campo

ética em pesquisanão fizeram curso na área de pesquisa 19

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realizado curso profissionalizante voltado para a pesquisa de mercado, mídia e opinião, sendo

estes de aperfeiçoamento de análise, aperfeiçoamento de campo e ética em pesquisa.

Quanto a cursos profissionalizantes em outras áreas (questão 2.9 do Apêndice B),

apenas seis dos vinte e dois entrevistados realizaram, sendo que tais cursos não têm relação

direta com o trabalho de entrevistador de campo: torneiro mecânico; auxiliar de escritório e

marketing; emissão de passagem aérea, vendas (2) e cabeleireiro.

TABELA 06Sobre Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) e Sociedade Brasileira de Pesquisa de

Mercado (SBPM)

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Na Tabela 06, percebemos que, entre os entrevistados, metade desconhece à existência

da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, enquanto cinco conhecem e seis já

ouviram falar, mas desconhecem detalhes com relação a tal organização. Quanto à Sociedade

Brasileira de Pesquisa de Mercado, das pessoas entrevistadas quase a metade desconhece sua

atuação, enquanto nove ouviram falar algo a respeito, no entanto, sem conhecer detalhes;

apenas três a conhecem, todavia nenhum é associado à organização.

2.3 Escolaridade

TABELA 07Escolaridade e porcentagem por sexo

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

escolaridade número de pessoas homens mulheresfundamental incompleto 1 0 1fundamental completo 1 0 1

médio incompleto 1 0 1médio completo 8 3 5

Pós-médio completo 4 1 3Superior incompleto 4 2 2Superior completo 2 1 1

Pós-graduação completa 1 0 1

ABEP SBPMConhece e é associado - 0

Conhece/conhece, mas não é associado 5 3Já ouviu falar 6 9Desconhece 11 10

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Partindo da análise da Tabela 07, oito entrevistados concluíram o Ensino Médio, sendo

que a maioria possui no mínimo o Ensino Médio completo, o que corresponde à totalidade de

homens entrevistados e a doze das quinze mulheres entrevistadas. Entre as pessoas do sexo

feminino que não correspondem a este perfil, uma tem o Ensino Fundamental incompleto,

outra o Ensino Fundamental completo, enquanto outra apenas iniciou o Ensino Médio. Entre

os que realizaram o Ensino Pós-Médio completo há três mulheres e um homem, sendo que

foram citados os cursos de Eletro-Eletrônica, Contabilidade, Processamento de Dados (2),

Edificações e Desenho Industrial.

Os dois homens que afirmam terem o Ensino Superior incompleto, estão o cursando

atualmente9, sendo que um realiza o curso de Administração de Empresas e o outro não

informou o curso que freqüenta. As mulheres com Ensino Superior Incompleto declaram não

freqüentar mais a graduação, sendo que uma cursava Administração de Empresas e outra

Direito. Entre os que concluíram o Ensino Superior, há duas mulheres, uma que cursou

Ciências Sociais – tendo também concluído Pós-Graduação em Sociologia – e outra

Administração de Empresas e um homem que cursou a graduação de Biblioteconomia

(questões 2.3 e 2.6 do Apêndice B). Levando em conta o tempo de estudo de todos os

entrevistados, a média geral é de 12,6 anos (questão 2.5 do Apêndice B).

TABELA 08Gostaria de voltar a estudar

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

De acordo com a Tabela 08, entre os vinte entrevistados, que não estão estudando

atualmente, a maioria gostaria de voltar a estudar, enquanto seis não gostariam. Entre os que

anseiam voltar a estudar, o motivo mais citado é a realização do Ensino Superior. Também é

feito referência à possibilidade de adquirir mais conhecimento; realizar um novo curso do

Ensino Superior, fazer curso do Ensino Superior como forma de mudar de profissão, concluir

o Ensino Médio, concluir Ensino Superior e fazer Pós-Graduação como forma de obter

9 No momento da entrevista apenas estes dois indivíduos afirmaram estar estudando.

gostaria número de pessoas não gostaria número de pessoasadquirir mais conhecimento 2 não tem tempo 3

concluir Ensino Médio 1 não vê necessidade 3fazer curso Superior 5

fazer outro curso superior 2terminar curso superior 1

fazer curso superior para mudar de profissão 2fazer pós-graduação para conseguir emprego melhor 1

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melhor emprego. Já dos que afirmam não ter vontade de voltar a estudar, metade argumenta a

falta de tempo para isto e a outra metade diz não ver a necessidade de voltar a estudar.

2.4 Organização Pessoal

Do total de entrevistados, dezessete afirmam ter o costume de tirar férias (questão 3.2

do Apêndice B). No entanto, há cinco que não têm este hábito, sendo a principal justificativa

por não tirarem férias a de não sobrar dinheiro para tal fim.

Quanto às formas de aplicação financeira (questão 3.3 do Apêndice B), a maioria

afirmar investir seu dinheiro. A poupança é a forma de investimento que predomina, sendo

que um também possui fundo de renda fixa e outro aplicação em ações. Já os demais, um

aplica seu dinheiro apenas em fundo de renda fixa e outro em título de capitalização.

TABELA 09Sobre contribuição para a Previdência Social

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

A maioria das pessoas entrevistados não contribui para o Sistema de Previdência

Social, como podemos observar na Tabela 09. Destas, cinco afirmam que não contribuem por

falta de metas traçadas em suas vidas, falta de interesse no sistema previdenciário ou ainda

porque não pensou sobre esta questão; enquanto outras cinco declaram não sobrar dinheiro

para este fim. Já dois entrevistados atestam não contribuir pelo fato de não terem registro em

carteira de trabalho e outro porque não confia no sistema de previdência. Entre os nove

entrevistados que afirmam contribuir para a previdência social, oito adotaram plano de

previdência público, enquanto um contribuiu para um privado.

previdência número de pessoas qual/ por quê número de pessoas

contribui 9 pública 8privada 1

não contribui 13

falta meta/ interesse/não pensou nisso 5não sobra dinheiro para isso 5

por não ter registro 2não confia no sistema de previdência 1

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GRÁFICO 07 Planos de saúde

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Quando questionamos os entrevistados a respeito de planos de saúde, de acordo com

exposição do Gráfico 07, a maioria dos entrevistados afirma não possuir um plano de saúde

privado. Entre os que têm, três são dependentes em plano empresarial de algum parente,

enquanto dois são dependentes em plano familiar e um é titular em plano familiar ou

individual.

2.5 Sobre os institutos/ escritórios de pesquisa

Conforme Capítulo 2, dezoito empresas de pesquisa de mercado, mídia e opinião

foram citadas pelos entrevistados, no entanto, a quinze destas houve referência na questão 63

do Apêndice A, que busca conhecer a estrutura os institutos/ escritórios de pesquisa de

Curitiba. A listagem das empresas está organizada por ordem alfabética, pois omitimos os

nomes das mesmas para preservar as fontes.

16

1

2

3

não tem

indiv idual/ f amiliar- titular

indiv idual/ f amiliar- dependenteempresarial – dependente

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TABELA 10Quadro de trabalhadores dos institutos/escritórios

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

De acordo com os dados coletados realizamos uma média do número de supervisores/

coordenadores e entrevistadores e das formas de contratos destes junto aos institutos/

escritórios de pesquisa, conforme Tabela 10. O número de entrevistadores por empresa varia

entre cinco e quarenta e cinco pessoas, no entanto, vale lembrar que a rotatividade de

trabalhadores nesta função é grande e não há registro formal do número de pessoas ocupadas

com entrevistas de campo. Quando contactados institutos de pesquisa, nem mesmo seus

responsáveis sabiam precisar o número destes trabalhadores em sua empresa. De acordo com

depoimento do informante C, destas quinze empresas citadas, três caracterizam-se como

sendo um instituto e as doze demais como escritório.

Apenas uma empresa possui aproximadamente cinco entrevistadores, sendo que neste

há uma pessoa responsável pela supervisão do trabalho. No entanto constam três empresas

com uma média de dez entrevistadores, sendo que uma destas possui um supervisor e duas

possuem dois. Em todas as quatro empresas com cerca de quinze pessoas ocupando esta

função há dois supervisores atuando. Das empresas com uma média de vinte e cinco

entrevistadores, dois possuem um, enquanto uma possui três responsáveis pela supervisão.

Entre as três empresas com cerca de trinta indivíduos que aplicam pesquisa de campo, uma

conta com três supervisores, outra com quatro e a terceira com cinco supervisores. Já na

empresa com aproximadamente quarenta e cinco entrevistadores há sete pessoas exercendo a

função de supervisão.

empresa Supervisores/ Coordenadores EntrevistadoresNo. Forma contrato No. Forma contrato

A 4 verbal 30 verbalB 1 registrado 25 verbalC - - - -D - - - -E 2 registrado 10 verbalF 2 verbal 15 verbalG 2 registrado 10 verbalH 1 verbal 5 verbalI 7 não informado 45 registrado/verbalJ - - - -K 2 registrado 15 verbalL 1 registrado 25 verbalM 2 registrado/ verbal 15 verbalN 3 registrado/ verbal 25 verbalO 1 verbal 10 verbalP 3 registrado/ verbal 30 verbalQ 5 não informado 30 verbalR 2 verbal 15 verbal

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No que diz respeito à forma de contratação dos supervisores/ coordenadores, em cinco

das empresas todos são registrados em carteira de trabalho, enquanto que, em outras cinco,

nenhum possui contrato formal, trabalham apenas através de contrato verbal. Já nas outras três

empresas há tanto supervisores registrados em carteira como tralhando através de contrato

verbal. De duas empresas citadas não obtivemos tal informação.

Com relação à forma de contrato dos entrevistadores, somente em uma empresa há

indivíduos trabalhando nesta função com registro em carteira e outros com contrato verbal

apenas. Nos outros quatorze institutos/ escritórios todos os entrevistadores trabalhavam com

contrato verbal até o momento da coleta de dados.

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3 TRABALHO DOS ENTREVISTADORES DE CAMPO: INFORMAL, PRECÁRIO E FLEXÍVEL?

3.1 Quem são os entrevistadores de campo

De acordo com os indicadores sócio-econômicos levantados, entre os entrevistados

predominam mulheres, sendo que estas se concentram na faixa etária de trinta e seis anos ou

mais, diferentemente dos homens, que, em sua maioria, têm de trinta e um a trinta e cinco

anos. O perfil dos trabalhadores informais traçado por Robert Castel (2005), conforme citação

anterior, encaixa-se de certo modo no que foi constatado com esta pesquisa. De acordo com

este autor, os indivíduos mais atingidos pelo trabalho informal são primeiramente os jovens,

seguido das mulheres, estando também incluídos os homens na faixa etária de trinta a

quarenta e nove anos. Acreditamos que estes jovens citados por Castel não apareçam nesse

trabalho devido ao recorte feito no perfil dos entrevistados, de buscar indivíduos que

trabalhem há mais de três anos na mesma função.

Conforme a pesquisa realizada, a maioria dos entrevistados possui no mínimo o

Ensino Médio completo, assim como vive no município de Curitiba. A situação conjugal

predominante é a de casados ou que vivem maritalmente.

A partir do trabalho de campo, podemos refletir sobre a possibilidade de que, os

indivíduos que afirmam terem melhor situação financeira que de seus pais, isto é, a maioria do

total de entrevistados, permanecem nesta situação de informalidade de modo a obter uma

maior remuneração, o que acarreta na ausência de benefícios sociais. Quanto à situação do

imóvel em que vivem, entre os oito indivíduos que pagam aluguel por sua moradia, três

declaram ter situação financeira pior do que seus pais, sendo que dois afirmam que isto se dá

como reflexo de ainda não terem sua casa própria.

Sobre às atividades remuneradas que os entrevistados exerciam antes de trabalharem

em institutos/ escritórios de pesquisa, foram citadas diversas que não apresentam nenhuma

correlação aparente. Também não há uma aparente relação destes dados quando cruzados com

o tempo de permanência na função de entrevistador de campo.

No que diz respeito ao tempo de permanência das pessoas contactadas, na função de

entrevistadores de campo, a maioria dos homens está entre três e dez anos nesta atividade,

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enquanto que as mulheres encontram-se, predominantemente, na faixa entre três e quinze anos

de permanência na atividade. Ou seja, as mulheres são maioria entre os entrevistados e, em

média, estão mais tempo exercendo a função de entrevistadores de campo.

3.2 O trabalho dos entrevistadores

A primeira vista o trabalho dos entrevistadores pode ser percebido como temporário,

devido ao fato de estarem desprotegidos de qualquer forma de contrato que garanta a

permanência na função ocupada. No entanto de acordo com a Lei nº 6.019, de 03 de janeiro

de 1974, Art. 2º, “trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física a uma empresa, para

atender à necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou à

acréscimo extraordinário de serviços”. Desta forma, não podemos considerar a situação dos

trabalhadores em questão como de trabalho temporário, pois não atende a uma necessidade

transitória, afinal todos os entrevistados estão há três anos ou mais trabalhando em uma

mesma função, o que se confirma nos relatos dos entrevistados, pois a maioria não se vê como

trabalhador temporário. Conforme as entrevistas livres realizadas com os informantes, há

muitos trabalhadores temporários atuando nesta área, contudo, estes não são objeto de

interesse de acordo com o propósito da presente pesquisa, que busca analisar a permanência

de indivíduos por três anos ou mais na função de entrevistador de campo.

Apesar do trabalho dos entrevistados não caracterizar-se como temporário, há uma

sazonalidade nesta atividade, no entanto isto não significa a transitoriedade da atividade, mas

sim a diminuição da procura pelo serviço de pesquisa de mercado, mídia e opinião. Segundo

os informantes A e B, de um modo geral, o período do ano que mais pesquisas costumam

serem realizadas fica entre os meses de setembro e novembro. Em empresas que trabalham

com diversas formas de pesquisa, quando se aproxima do período eleitoral e a demanda por

pesquisas para este segmento aumenta, é comum reduzir o número de pesquisas de mercado a

serem realizadas, pois observa-se que neste período é mantida aproximadamente a mesma

quantia de projetos para se executar. No entanto, para empresas que trabalham

predominantemente com pesquisa eleitoral, este período é o de trabalho mais intenso. Ainda

de acordo com nossos informantes, os períodos em que o número de pesquisas costumam

reduzir são nos meses de janeiro e junho. Todavia, este relato contradiz em parte a fala dos

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entrevistadores de campo que participaram dessa pesquisa, pois no depoimento da maioria

quanto ao período eleitoral, constata-se que aumenta o número de pesquisas a serem

realizadas. Já, do mesmo modo que os informantes A e B, mais de um quarto cita o final de

ano como período de maior demanda por pesquisas, assim como a maioria evidencia o início

de ano como a época do em que há menos projetos a serem realizados.

Na realidade, o “temporário” constatado entre nossos entrevistados, está na

rotatividade da mudança de empresa à que prestam serviços, isto é, nas relações a “curto

prazo” que se estabelecem com as empresas devido ao fato destas não formalizarem o vínculo

de trabalho com seus entrevistadores. Ao serem questionados sobre o tempo de permanência

em cada empresa, a maioria afirmou ficar algum tempo em uma – sendo que mais da metade

está há sete meses ou menos na empresa a que presta serviços no momento da entrevista –

logo prestar serviço à outra, voltando a exercer a função na empresa anterior e assim por

diante. Por este motivo a questão 37a do Apêndice A não foi tabulada, pois nem mesmo os

entrevistados sabiam afirmar a média de permanência em cada instituto/ escritório.

Se considerarmos esta rotatividade e o fato de que a maioria dos entrevistados já

exerceu outra função dentro de uma empresa de pesquisa, geralmente como forma de suprir

uma necessidade temporária do instituto/ escritório, podemos atentar para o fato de que,

muitas vezes, a rotatividade não se dá apenas entre empresas, pois o fato de não haver papéis

muitos definidos dentro destas faz com que a hierarquia no processo de trabalho também não

seja fixa, desde modo, não há aparente estabilidade nos cargos ocupados. Sennett (2001)

evidencia situação semelhante ao citar o discurso de um de seus entrevistados “A falta de

vinculação a longo prazo parece marcar a atitude de Gates para com o trabalho: falou sobre

posicionarmos-nos numa rede de possibilidades em vez de paralisarmos numa tarefa

específica.” (p.94). Nessa lógica flexível em que os trabalhadores estão inseridos, os

indivíduos são substituíveis e a identidade profissional é instável e ainda, é possível observar,

como afirma Sennett (2001), que uma das características da flexibilidade é o descaso à

experiência, isto é, o indivíduo pode executar qualquer função dentro da empresa, mesmo que

não tenha qualificação ou experiência para isto, confirmando assim a suposição de que os

indivíduos experientes também são “descartáveis” dentro desta lógica.

Segundo Borges e Druck (2002), de acordo com citação no Capítulo 1, os contratos

flexíveis acarretam no despreparo dos trabalhadores, da mesma maneira que geram

dificuldades para a empresa de assegurar qualidade, além desta correr o risco do descontrole

no processo de trabalho e de envolver-se em problemas sindicais. O relato dos informantes A

e B, descrito no Capítulo 1, confirma a afirmação desses autores, esses declaram que a falta de

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contrato formal impede muitas vezes a empresa de exigir a execução de um bom trabalho por

parte do entrevistador de campo, pois não há um verdadeiro vínculo deste com a empresa, o

que acarreta em um descomprometimento, aumentando até mesmo os casos de fraudes em

pesquisas; assim como, em alguns casos, há trabalhador que ameaça entrar com ação na

Justiça do Trabalho devido à situações que envolvem a informalidade do vínculo com a

empresa.

3.2.1 Uma lógica flexível: o informal e o precário

Segundo Sennett, “No regime flexível, as dificuldades cristalizam num ato particular,

o ato de correr riscos” (2001, p.115). A partir desta afirmação podemos refletir sobre a

flexibilidade e precariedade do trabalho dos entrevistadores de campo que percebemos ao

longo dessa pesquisa. Partindo da análise da forma de contratação, em que não há garantia

formal de continuidade no trabalho e nem mesmo da remuneração pelo trabalho realizado,

pois não há documento estipulando valor ou data para o pagamento, constata-se que estes

indivíduos permanecem dentro de uma lógica informal no mercado de trabalho.

A precariedade está instalada na forma de pagamento ao passo que vinte e um

entrevistados tiveram seu pagamento realizado exclusivamente por produção – sendo que

todos, em algum momento, receberam apenas por produção – isto é, sem uma remuneração

fixa e sem benefícios de qualquer natureza. O mesmo ocorre na periodicidade de pagamento,

metade dos entrevistados afirma já ter seu pagamento realizado com mais de uma

periodicidade, sendo que nove pessoas recebem ou já receberam ao final dos projetos

realizados – levando em conta que um projeto pode durar dias, semanas ou meses. A

precariedade nesta atividade também foi constatada ao questionar os entrevistados se ficaram

algum período sem trabalhar por falta de pesquisas a serem realizadas, mais de um terço dos

indivíduos afirmou que sim, isto é, no período em que não há trabalho os entrevistados ficam

sem receber pagamento10. Também podemos considerar precária a ausência de ajuda de custo

para transporte e alimentação fornecida durante o período de trabalho, dos vinte e dois

entrevistados, nove nunca recebem valor referente às despesas com transporte e alimentação e

10 Apenas uma das pessoas afirma receber pagamento fixo no instituto/ escritório em que trabalha, de modo que, se não houver projetos de pesquisa a serem executados, esta não fica sem remuneração.

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quatro recebem apenas em alguns projetos de pesquisa.

Lima e Soares (2002) indicam que o trabalho informal possibilita serviços a baixo

custo através da redução dos gastos com a força de trabalho. Confirmando tal proposição, os

informantes A e B, conforme Capítulo 1, relatam que um dos motivos da não formalização

dos entrevistadores de campo nos institutos/ escritórios é o fato de que isto aumentaria o

orçamento dos projetos de pesquisa, de modo que a empresa deixaria de ser competitiva.

Nesse sentido, a informalidade dessa atividade está embutida nas formas precárias de

contratação e pagamento pelas pesquisas realizadas, assim como na forma de ingresso e nos

pré-requisitos exigidos para exercer esta atividade. A maioria dos entrevistados afirma ter

iniciado seu trabalho como entrevistador de campo por meio de indicação de amigo, parente

ou conhecido, o que nos sugere que tal função requer mais contatos do que qualificação, pois

as empresas, de um modo geral, não costumam realizar processo seletivo para a contratação

de seu quadro de entrevistadores.

A ausência de seleção para a contratação de entrevistadores de campo se reflete no

baixo número de mão-de-obra especializada constatado neste trabalho, sendo que apenas três

dos vinte e dois entrevistados realizaram curso profissionalizante da área de pesquisa, e

nenhum dos demais possui qualquer formação de possa ter alguma ligação direta com a

atividade que desenvolvem.

Além do baixo grau de especialização, também podemos constatar o desconhecimento

em relação às organizações ligadas a atividade. A partir dos dados da Tabela 06, podemos

observar que as duas organizações voltadas para a pesquisa de mercado, mídia e opinião não

são amplamente difundidas entre os indivíduos entrevistados que trabalham na área. Ainda a

respeito de organizações sociais e de classe, nenhum dos entrevistados afirma ser filiado a

algum Sindicato ou Associação (questão 3.6 do Apêndice B).

O Projeto de Lei 1201/2007 (Alencar, 2007), anteriormente citado, busca alterar este

quadro de diminuta exigência de pré-requisitos, como podemos observar na proposição do

Artigo 2º:

Art. 2º O exercício das profissões de Pesquisador e de Técnico de Mercado, Opinião e Mídia, em qualquer dos ramos de sua atividade, somente será permitido observadas as seguintes condições:I – comprovação de conclusão do curso de nível médio ou equivalente, no caso de Técnico, com curso de qualificação aprovado pelo Conselho Federal de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia;II – comprovação da conclusão de curso de nível superior com conteúdo curricular específico nas áreas de métodos e técnicas de pesquisa científica e estatística aplicada à pesquisa, bem como de teorias sociais e teorias psicológicas;III – os que até a data da publicação desta lei tenham comprovadamente exercido as

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atividades de Técnico e Pesquisador de Mercado, Opinião e Mídia por mais de dois anos, através de documentação legal ou certificação emitida pela associação que agrega os profissionais do setor, Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado;

Todavia, a válida tentativa da busca pela regulamentação desta atividade, poderá

prejudicar os indivíduos que já exercem esta função, com algumas exceções, os que não

possuem o nível de escolaridade sugerido e, principalmente, os que não têm como comprovar

sua atuação na área devido à falta de contrato formal a que se submeteram por longo período,

visto que questões a esse respeito não constam no projeto em questão.

A maioria dos entrevistados declarou, em algum momento durante a aplicação do

questionário, a insatisfação quanto a forma de contrato a que se submetem, sendo que alguns

citam tal fato ao se referir sobre o que acreditam que poderia ser diferente nesta atividade,

enquanto outros citam ao descreverem o que buscam profissionalmente, alguns ao afirmarem

o desejo da formalização do seu trabalho ou da regulamentação da profissão e outros ao

evidenciarem qual a forma de contrato que acreditam ser a melhor, pois apenas um dos

entrevistados afirmar gostar de trabalhar na informalidade (sem contrato). A partir do discurso

dos entrevistados, é possível perceber o desejo por uma estabilidade proporcionada pela

previdência social. Esta insegurança quanto à forma de contratação e, conseqüentemente, a

permanência na função, está atrelada a idéia de “vulnerabilidade social” (Castel, 2005).

Como apontam Borges e Druck (2002), os contratos flexíveis de trabalho – neste caso,

o trabalho realizado por produção através de acordo verbal – transfere todos os custos

trabalhistas, sociais e responsabilidades de gestão ao trabalhador. Nenhum dos entrevistados

comentou o desejo de mobilizar-se, de modo a buscar alterar a atual situação de trabalho. Esta

falta de mobilização confirma a proposição de Sennett (2001), em que a identidade dos

trabalhadores informais costuma ser fluida, adaptável, ligeira e superficial.

No entanto, todos os entrevistados afirmam gostar do trabalho que realiza e a maioria

sente orgulho da profissão, sendo que a falta de uma formalização não se torna um

impedimento para isto e a concepção apresentada por Santos (1998), exposta anteriormente,

de que a carteira de trabalho é um “passaporte” para a cidadania, ou como expõe Noronha

(2001), sobre os vários simbolismos da carteira de trabalho como uma carteira de identidade,

comprovante de garantia de crédito e, hoje principalmente, símbolo do compromisso moral do

empregador com a legislação do trabalho, não parece aplicar-se à fala dos indivíduos

contatados.

De acordo com dados coletados em campo, uma parcela dos supervisores/

coordenadores das empresas citadas também trabalham em situação informal e precária, no

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entanto não nos aprofundaremos nesta questão de acordo com o proposição da presente

monografia.

3.2.2 A permanência na informalidade

Quanto à permanência na atividade de entrevistador de campo, a maioria dos

entrevistados se contradiz. A partir da constatação em campo, a maioria não pensa ou busca

mudar de atividade, dentre os poucos que têm esta intenção, em nenhum caso o trabalho

visado está ligado à área de pesquisa ou marketing. Contudo, ao afirmarem sobre o que

buscam profissionalmente estes se contradizem, pois a maioria declara não estar satisfeito

com a atividade que executa, no entanto, não foram buscar outras atividades e nem mesmo

pensam em tal possibilidade e apenas três afirmam o desejo de continuar exercendo a

atividade de entrevistador de campo. Se compararmos esta questão com a forma de contrato

que preferem, quatro dos que pensaram em buscar outro trabalho nos últimos três anos vêem a

forma de contrato através de carteira assinada como a melhor, enquanto um prefere o contrato

através de RPA e outro afirma que o concurso público é a melhor forma de vínculo trabalhista.

Já entre os que pensaram em prestar concurso público apenas três vêem esta forma de contrato

como a melhor; três afirmam que o modelo de contrato que preferem é o registro em carteira

de trabalho; para outro é o RPA e um declara ser qualquer forma de contrato que pague a

previdência social. Esta informação também entra em contradição com a afirmação feita por

todos os entrevistados de que gostam do trabalho que realizam, se considerarmos que este

“gostar” está vinculado a uma permanência nessa situação. De qualquer modo, levando em

conta a descrição do trabalho que realizam, muitos afirmam que este é “gratificante

economicamente”, sendo que podemos apontar como um dos principais motivos da

permanência destes indivíduos nesta função.

Aproximadamente um terço dos entrevistados afirma não visar a formalização, a

metade destes afirma que a contratação formal gera um compromisso, limitando sua

independência e liberdade, enquanto mais de um terço destes afirma que a formalização iria

reduzir o rendimento. No entanto, ao responderem sobre a forma de contrato que preferem,

apenas uma pessoa acredita que o trabalho informal (sem contrato) é o melhor formato de

vínculo com uma empresa.

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A respeito desta suposta liberdade, Sennett (2001) afirma que a flexibilidade do

mercado de trabalho passa a idéia de liberdade, mas na verdade criam-se novas formas de

controle, a isto Jacques (2006) chama de “falsa liberdade”. O discurso dos entrevistados

juntamente com o desejo expressado por muitos a respeito do acesso à seguridade social, é

bem descrito por Lima e Soares (2002), como visto no Capítulo 1, ao se referir a um cluster

de fabricação de roupas do interior de Pernambuco:

O assalariamento, para esses(as) trabalhadores(as), é visto de forma dúbia. Ora como uma possível segurança, em termos de acesso a assistência médica e aposentadoria, ora como ameaça de redução de ganhos. Como ganham por produção, temem que o registro possa significar o pagamento de apenas um salário. A troca de 'emprego' é constante, dependendo das ofertas” (p.173).

É comum se ouvir o discurso – não só entre os indivíduos que estão nesta atividade,

mas de trabalhadores informais como um todo – de que a vantagem de trabalhar

informalmente é que a remuneração costuma ser maior que o dos trabalhadores formais,

devido ao fato de não haver tantos descontos relativos a impostos, previdência, entre outros.

Ao consultar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD 2006/ 2007) a este

respeito percebemos que este discurso não se aplica. No ano de 2006, a média de remuneração

mensal do brasileiro com registro em carteira de trabalho era de R$ 868,00. Quando se diz

respeito aos trabalhadores sem registro, a média de rendimento mensal é de R$ 440,00 de

acordo com a PNAD, sendo que o valor médio recebido por aqueles que não possuem carteira

assinada corresponde a quase metade do que recebem os indivíduos registrados. No entanto,

se fizermos uma média da faixa de renda que os indivíduos entrevistados declaram se

enquadrar no presente trabalho, a remuneração é de R$ 1.309,00, ou seja, mais do que o dobro

da média nacional daqueles sem carteira de trabalho assinada, em um valor superior a três

salários mínimos nacionais. Como percebemos no Gráfico 05, no Capítulo 2, mais da metade

dos trabalhadores em questão recebem entre R$ 501,00 e R$ 1.500,00, enquanto cerca de um

quarto dos entrevistados afirma receber entre R$ 1.501,00 e R$ 2.500,00. Levando em conta

que o dado publicado pela PNAD engloba as mais diferentes atividades sem registro em

carteira de trabalho e partindo da constatação de nossa pesquisa de campo, podemos perceber

que o caso dos indivíduos entrevistados não se encaixa no indicador divulgado e confirma o

discurso do senso comum de que a remuneração do trabalho informal é superior a das

atividades com carteira assinada em geral. O que se confirma na questão apresentada aos

entrevistados em que estes descrevem seu trabalho, quando muitos afirmam que este é

gratificante financeiramente. No entanto, vale acrescentar que este maior rendimento é

imediatista, pois no período em que trabalham mais, a remuneração é alta, no entanto, quando

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rendem menos ou diminui a quantidade de trabalho à ser realizado o pagamento também

reduz, sendo que se não trabalharem, independente do motivo, não há remuneração.

Diante desta constatação, podemos pensar a respeito do que leva estes indivíduos a

permanecerem em uma atividade informal e precária – apesar da insatisfação de muitos com

relação à falta de registro em carteira – isto poderia ser explicado parcialmente pelo fato de

considerarem a atividade “gratificante economicamente”. Outros possíveis motivos seriam o

fato de gostarem do trabalho que executam, apesar das contradições nesta citação e as

igualmente precárias opções que encontrariam no mercado de trabalho – neste caso, os baixos

salários dos possíveis empregos formais que se oferecem como alternativas, outros trabalhos

informais, longas jornadas de trabalho em espaços fechados e sem autonomia nos finais de

semana e feriados, por exemplo, entre tantas outras situações que os trabalhadores encontram

ao procurar empregos.

3.3 Organização Pessoal

GRÁFICO 08Relação entre indivíduos que tiram férias e formas de aplicações financeiras

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

No Gráfico 08 analisamos se os indivíduos que costumam tirar férias possuem alguma

forma de aplicação financeira. A maioria daqueles que têm o costume de tirar férias possui

alguma aplicação. Entre os que aplicam, predomina a caderneta de poupança, em um

somatório de oito entre os dezessete indivíduos que tiram férias. Já os outros três têm seu

dinheiro aplicado ou em poupança e fundo de renda fixa, poupança e ações ou apenas em

6

8

1

11

não tem aplicaçãotem poupançatem poupança e f undo de renda f ixatem poupança e açõestem f undo de renda f ixa

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fundo de renda fixa.

GRÁFICO 09Relação entre os que fazem reserva financeira para tirar férias e formas de aplicação financeira

FONTE: Pesquisa de campo. SANT´ANNA, Ana Paula. Um olhar sociológico sobre o trabalho informal e precário – o caso dos entrevistadores de campo em Curitiba.

Dentro do total de pessoas que declaram tirar férias, a maioria afirma fazer uma

reserva financeira para tal fim. Como podemos perceber se compararmos o Gráfico 08 com o

Gráfico 09, o número de indivíduos que têm aplicação financeira entre os que fazem reserva

financeira para tirar férias é maior do que dentro do total daqueles que tiram férias. O

indicador que se refere aos que não têm nenhuma forma de aplicação reduz para menos de um

quarto, enquanto os que têm poupança aumenta para mais da metade do total.

Dentre os cinco que não costumam tirar férias, apenas um possui aplicação financeira,

sendo que esta é feita através de título de capitalização (questão 3.2 e 3.3 do Apêndice B).

Todos aqueles que responderam o motivo pelo qual não possuem nenhuma forma de

aplicação financeira, afirmam que não sobra dinheiro de suas rendas para aplicar.

Metade dos indivíduos que não possui aplicação financeira contribui para a

Previdência Social, o que podemos considerar como uma forma de investimento, pois a

Previdência traz garantias como aposentadoria, auxílio em caso de doença, entre outras. Ou

seja, menos de um quarto dos entrevistados não possui nenhuma forma de investimento.

O mesmo acontece com relação a planos de saúde, pois entre trabalhadores do setor

formal é comum que as empresas facilitem o acesso a planos de saúde privados, pagando

parte desta despesa. Todavia, os entrevistados não possuem este benefício em seu trabalho e

apenas pouco mais de um quarto dos entrevistados são associados a algum plano de saúde

privado. Os demais indivíduos fazem uso de atendimento particular ou público de saúde.

Como bem coloca Sabadini e Nakatani (2002), os indivíduos que estão na informalidade não

3

7

1

1

1

não tem aplicaçãotem poupançatem poupança e fundo de renda fixotem poupança e açõestem fundo de renda fixa

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possuem nenhuma garantia, “ficando à mercê da 'sorte e do acaso'” e somente terão acesso à

previdência social ou a um plano de saúde se sua renda permitir – e vale acrescentar, se o

indivíduo organizar suas finanças de modo que tais despesas sejam possíveis. Da mesma

forma, Lima e Soares (2002) discorrem sobre o assunto ao afirmarem que, na ausência de

contratos e de proteção social ao trabalhador, este é que será responsável por sua seguridade

social, desde que pague por ela.

Considerando que a maioria dos entrevistados possui alguma forma de investimento,

seja este através de aplicação financeira e/ou da Previdência Social, podemos pensar que estes

indivíduos buscam meios de estabilidade e de garantias futuras, já que todos encontram-se em

uma posição desprotegida no mercado de trabalho neste aspecto, pois, em sua maioria, não

têm acesso à seguridade social através das empresas a que prestam serviços.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo consistiu no esforço de apontar, a partir de uma primeira aproximação

com o objeto, quais os elementos que estão implicados e que configuram a precariedade no

trabalho dos entrevistadores de campo de institutos/ escritórios de pesquisa de mercado, mídia

e opinião.

A partir de meados da década de 1970, uma crise econômica quebra a solidez do

modelo fordista de produção – no Brasil tal processo ocorre a partir da década de 1980 –

dando espaço para uma flexibilização do mercado de trabalho, no qual ocorre uma maior

especialização dos setores e a informação transforma-se em matéria-prima do capitalismo.

Este quadro flexível, somado a outros fatores, gera um significativo e crescente aumento do

desemprego, o que permite às empresas degradarem as condições de trabalho. Esta

flexibilidade tem como principal conseqüência a informalização das relações de trabalho, o

que resulta em precariedade também das condições de trabalho. O Estado não se mostra capaz

de assegurar condições de exercido das atividades aos trabalhadores.

Dentro desta nova configuração do mercado de trabalho no capitalismo, o ramo de

pesquisas de mercado, mídia e opinião tem ganhado espaço, devido as novas demandas dos

consumidores. O presente trabalho estudou a situação de trabalho dos indivíduos que prestam

serviço a estas empresas como entrevistadores de campo há três anos ou mais, de modo a

perceber a permanência destes em uma atividade na qual o vínculo com a empresa se dá de

modo informal e precário.

Partindo da análise das entrevistadas realizadas, inferimos que a atividade

desenvolvida por estes indivíduos é flexível, pois não há um vínculo formal entre a empresa e

seus entrevistadores de campo, o que propicia às empresas a oportunidade de diminuir seus

ordenamentos de modo a tornarem-se mais competitivas. A precariedade, constatada a partir

dos relatos dos entrevistados, se dá na forma de contrato dos entrevistadores de campo, que

acarreta na ausência de proteção social, na instabilidade desses indivíduos dentro de uma

mesma empresa e, na possibilidade de atuação em atividades como a de “pacoteiro”; na

periodicidade do pagamento que costuma variar de acordo com o projeto de pesquisa

realizado; na forma de ingresso nos institutos/ escritórios que acontece através de indicações

informais, na maior parte dos casos sem a exigência de pré-requisito ou realização de seleção

de pessoas para ocupar a função, o que acarreta em mão-de-obra não qualificada na maioria

dos casos; a inexistência de mobilização dos trabalhadores enquanto grupo; e diminuição da

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remuneração (ou até mesmo ausência) em períodos de baixa demanda por pesquisas. A

ausência de proteção social conseqüente da falta da formalização do contrato de trabalho faz

com que o trabalhador seja responsável tanto por sua seguridade social como pelos custos

trabalhistas e de gestão. A maioria busca suprir a ausência de proteção social através de

aplicações financeiras e pela contribuição para a previdência social, de modo a assegurar

recursos futuros.

A partir do estudo empírico na situação de trabalho dos entrevistadores de campo,

observamos que a precariedade, suposta a priori, está instalada em diversos âmbitos da

atividade, pois os entrevistados realmente encontravam-se excluídos das redes de proteção

social. No entanto, o discurso destes é contraditório na medida em que todos gostam do

trabalho que realizam, mas muitos não desejam permanecer na atividade – declaram o anseio

de estudar, para conseguir outro emprego ou crescer dentro do instituto/ escritório mudando

assim de cargo ocupado, de modo a obter maior remuneração ou estabilidade, sobretudo,

dando acesso à seguridade social. Ou seja, o desejo de mudança desta condição é

contraditório na fala dos entrevistados, o que nos leva a pensar em que medida o que

classificamos como precário também o é para estes indivíduos.

Esse estudo poderá contribuir para futuros trabalhos na medida em que dados a

respeito do mercado informal de trabalho, sobretudo de trabalhadores informais em empresas

formais, são escassos, visto que não há registros de quantos e quem são esses indivíduos.

Neste sentido, a pesquisa realizada acrescenta dados acerca de um setor ainda não muito bem

delineado do mercado de trabalho.

Contudo, muito ainda pode ser analisado – apesar das dificuldades para quantificar

esses indivíduos e definir um perfil – sobre o objeto aqui analisado. Outras questões

envolvendo a informalidade e precariedade da situação de trabalho dos entrevistadores de

campo podem ser melhor desenvolvidas em estudos futuros. Uma discussão que propomos é a

de um aprofundamento a respeito do último trabalho que esses indivíduos exerceram antes de

prestar serviço como entrevistador de campo, de modo a constatar se este já estava inserido

em uma lógica informal e por qual motivo deixou o trabalho, de modo a perceber sobre a

entrada destes trabalhadores neste setor do mercado de trabalho: estaria ligado ao desemprego,

a idade, a falta de especialização ou a opção desses indivíduos? Outra proposta de estudo

refere-se à percepção destes trabalhadores sobre a precariedade da atividade quanto a forma de

contratação, de pagamentos, entre outras. Pois nesse estudo não se aprofundou na percepção

desses indivíduos em relação a precarização destas condições de trabalho, apesar de em

muitos momentos a maioria afirmar sobre o desejo de mudar de trabalho ou ter registro na

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atividade que exercem. Uma última questão proposta está relacionada à atuação dos

“pacoteiros”: será que a relação fluida entre empresa e entrevistador de campo não acaba por

favorecer a atuação de indivíduos nesta atividade ilegal?

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APÊNDICE A – Questionário aplicado aos entrevistadores de campo

data: ___/___/_____

PERFIL DOS ENTREVISTADORES DE CAMPO DE PESQUISAS DE MERCADO

I. Atualmente você trabalha em algum instituto ou escritório de pesquisa e/ou trabalha como “pacoteiro”? (1) Sim. (a) como entrevistador de campo em instituto/escritório de pesquisa. (b) como entrevistador de campo em instituto/escritório de pesquisa e como “pacoteiro”. (c) como “pacoteiro” (d) em outra função dentro de um instituto/escritório de pesquisa. (encerre o questionário) (2) Não. (encerre o questionário) II. Há quanto tempo você trabalha com pesquisa? (1) mais de 10 anos (2) entre 10 e 7 anos (3) entre 6 e 3 anos (4) menos de 3 anos (encerre o questionário)

DADOS PESSOAIS1. Nome: ___________________________________________________________2 . Idade: ____________3. Telefones: _____________________________________________________ 4. Sexo: (1) Masculino (2) Feminino5. Cor/etnia: (1) branca (2) amarela (3) negra (4) parda (5) indígena (99) NS/NR

6. Situação conjugal: (1) Casado/a ou vivendo maritalmente (2) Solteiro/a: (pule p/ questão 9) (a) vive sozinho (b) vive com parentes (c) vive com amigos

(3) Divorciado/a ou separado/a: (pule p/9)(a) vive sozinho (b) vive com parentes (c) vive com amigos (4) Viúvo/a: (pule p/ questão 9) (a) vive sozinho (b) vive com parentes (c) vive com amigos

FAMÍLIA7. Seu cônjuge ou companheiro/a: (1)Não exerce atividade remunerada (2)Trabalha fora meio período (3)Trabalha fora em período integral

(4)Exerce atividade remunerada trabalhando em casa (5)Está desempregado/a (6)Outro: _________________________________________ (99) NS/NR

8. Caso o cônjuge exerça atividade remunerada, especifique a função/profissão que exerce: __________________________________________________________________________ (99) NS/NR9. Você tem filhos/as? (1) Sim. Quantos/as? ___________ (2) Não

NATURALIDADE e DOMICÍLIO10. Em que município você nasceu? ______________________________________________ UF: ________11. Em que município você mora atualmente? (1) Alm. Tamandaré (2) Araucária (3) Campina Grande. do Sul (4) Campo Largo

(5) Colombo (6) Curitiba (7) Faz. Rio Grande (8) Pinhais (9) Piraquara (10)Quatro Barras (11) S. J. dos Pinhais (12) Outro: _____________12. Em caso de mudança de município, assinale qual foi o motivo? (RM) (1) Dificuldades na lavoura (2) Busca de emprego (3) Questões familiares (4) Casamento (5) Outros: ___________________________ (99) NS/NR 13.Em caso de mudança de município, há quanto tempo reside no atual?_____________________________ 14. Mora em que bairro atualmente?__________________________________________________________

15. Você reside atualmente em: (1)casa (2)apartamento (3)pensão/pensionato (4)outro: _____________ 16. O imóvel (moradia) atual é: (1) alugado (2) próprio quitado (3) próprio não quitado (4) casa dos pais (5) cedido (6) outro: _________________ 17. Quantas pessoas, incluindo você, residem no mesmo domicílio? ________________________________

SITUAÇÃO ECONÔMICA18. Quantas pessoas dependem de sua remuneração?_____________________________________________19.. Comparando à situação econômica que seus pais têm/tinham, você considera que a sua atualmente é: (1) Igual (2) Melhor (3) Pior (99) NS/NR19a. Por quê? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________20. Seu pai ou responsável trabalha/va com_________________________________________ (99) NS/NR21. Sua mãe ou responsável trabalha/va com:_______________________________________ (99) NS/NR22. Atualmente, além da remuneração como entrevistador, você possui alguma outra renda? (1) Sim. (a) Bolsa Família valor: ____________ (b) Auxílio Saúde valor: _______________ (c) Pensão alimentícia valor: ___________ (d) Pensão por falecimento valor: ____________ (d) Aposentadoria valor: ____________ (e) Aluguel valor: _______________

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(f) outros: Qual: ___________________________________ valor: _______________ESCOLARIDADE

23. Qual a sua escolaridade: (1) Sabe ler e escrever, mas nunca estudou (2) Fundamental (1o grau) incompleto (3) Fundamental (1o grau) completo (4) Médio (2o grau) incompleto (5) Médio (2o grau)Completo (6) Pós-médio (técnico) incompleto (7) Pós-médio (técnico) completo (8) Superior incompleto (9) Superior completo (10) Pós-graduação incompleto (11) Pós-graduação completo 23a. Qual curso pós-médio (técnico) realizou? __________________________________________________23b. Qual curso graduação realizou? __________________________________________________________23c. Qual curso pós-graduação realizou? ______________________________________________________23d. Total de anos de estudo? _______________________________________________________________24. Você estuda atualmente? (1) Sim. (2) Não. 24a. Se sim, qual curso e série/período:________________________________________________________24b. Se sim: (1) instituição pública (2) instituição particular24c. Se não, gostaria de voltar a estudar? (1) Sim. Por quê? _____________________________________________________________________ (2) Não. Porquê? ______________________________________________________________________25. Fez ou faz algum curso profissionalizante na área de pesquisa: (1) Sim: (a) Já conclui (b) Estou fazendo (2) Não. 25a. Se sim, qual/is curso e onde fez/faz? _____________________________________________________

25b. Se sim, algum instituto/escritório de pesquisa ofertou ou financiou? (1) Sim. Qual instituto/escritório? ______________________________ (2) Não.

26. Fez ou faz algum curso profissionalizante em outras áreas: (1) Sim: (a) Já conclui (b) Estou fazendo (2) Não. 26a. Se sim, qual/is curso? _________________________________________________________________ 26b. Se sim, em qual instituição? (1) Empresa. Qual? ______________ (2) SENAI (3) SESI (4) Sindicato (5) SENAC (6) Outro ___________________________________________________________________________

ORGANIZAÇÃO PESSOAL 27. Qual seu passatempo nas horas livres? _____________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ 28. Costuma tirar férias? (1) Sim (2) Não. Por quê? __________________________________________ 28a. Se sim, costuma fazer alguma reserva financeira para isso? (1) Sim (2) Não 29. Tem alguma aplicação financeira?

(1) Sim. (a) Poupança (b) Fundo de renda fixa (c) Ações (d) Outras: _______________________ (2) não. Por quê? ______________________________________________________________________

30. Contribui para a previdência? (1) Sim (a) Pública (b) Privada (2) Não. Por quê? ______________________________________________________________________31. Tem plano de saúde?

(1) Sim (a) Individual/familiar – titular (b) Individual/familiar – dependente (c) Empresarial – titular (d) Empresarial – dependente

(2) Não 32. É filiado a algum sindicato e/ou associação? (1) Sim. Qual? ____________________________________________________________ (2) Não.SOBRE O TRABALHO DE ENTREVISTADOR 33. Há quanto tempo trabalha como entrevistador de campo? ______________________________________ 34. Anteriormente trabalhou em outras atividades? Qual/is? ______________________________________

_______________________________________________________________________________________35. Atualmente trabalha com algo além das pesquisas de mercado?

(1) Sim. Com o quê? ______________________________________________________________________ (2) Não. 35a. Se sim, qual de suas atividades você considera como principal? (1) entrevistador (2) outra 36. Como começou a trabalhar como entrevistador de campo? _____________________________________

37. Em quais institutos já trabalhou? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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37a. Qual a média de tempo de permanência em cada instituto? ____________________________________38. Em qual/is trabalha atualmente? __________________________________________________________

38a. Há quanto tempo está nesses? ___________________________________________________________ 39. Já exerceu alguma outra função dentro de algum instituto de pesquisa? (1) Sim. (a) supervisor (b) crítico (c) verificador (d) administrativo (d) outra: ________________ (2) Não. Gostaria de exercer outra função?

(a) Sim. Qual? _________________________________________________________________ (b) Não. Por quê? ______________________________________________________________

40. Em algum destes institutos, foram exigidos pré-requisitos para sua contratação? (1) Sim. Quais:_______________________________________________________________________ (2) Não.41. Qual foi a forma de contrato em todos os lugares em que já trabalhou? (se teve registro em carteira em algum, para qual sindicato contribuiu.) ________________________________________________________ 42. Pensa na formalização (registro em carteira)? (1) Sim. Por quê? ______________________________________________________________________ (2) Não. Por quê? ______________________________________________________________________43. Algum desses institutos já lhe propôs registro? (1) Sim. (a) empregado (b) autônomo (2) Não.44. Você já propôs de ser registrado à algum instituto? (1) Sim (2) Não44a. Você já foi registrado como entrevistador de campo? (1) Sim. (a) foi registrado como empregado (b) foi registrado como autônomo (2) Não. 45. Já lhe aconteceu de ficar temporariamente sem trabalho por falta de pesquisas para fazer? (1) Sim. Por quanto tempo: _____________________________________________________ (2) Não.46. Tem pensado em procurar outro emprego nos últimos 3 anos? (1) Sim. Qual tipo de emprego? __________________________________________________________ (2) Não. 46a. Tem procurado emprego nos últimos 3 anos?

(1) Sim. Qual/is e por qual/is meio/s: ____________________________________________________ (2) Não.

47. Tem pensado em prestar concurso público nos últimos 3 anos? (1) Sim. Para que cargos/órgãos? _________________________________________________________

(2) Não. 47a. Prestou algum concurso público nos últimos 3 anos? (1) Sim. Qual? Foi aprovado? ____________________________________________________________ (2) Não. 48. Na sua opinião, qual a melhor forma de contrato de trabalho: (1) carteira assinada (CLT) (2) funcionário público (estatutário) (3) informal autônomo (RPA) (4) informal (sem contrato) 49. Quando lhe perguntam 'qual é a sua profissião' o que você responde: (1) entrevistador/pesquisador de campo (2) autônomo (3) trabalhador temporário (4) trabalhador informal (3) outros: ______________________________________

49a. Afirmar que trabalha como entrevistador de campo de campo é motivo de: (1) orgulho (2) vergonha (3) indiferente (4) outros: ____________________________________ Justifique sua resposta: __________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________50. O que busca profissionalmente? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________51. Você vê seu trabalho como temporário? (1) Sim. (2) Não. 51a. Justifique: ___________________________________________________________________________52. Sobre a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP: (1) Conhece (2) Já ouviu falar (3) Desconhece53. Sobre a Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado – SBPM? (1) Conhece e é associado (2) Conhece, mas não é associado (3) Já ouviu falar (4) Desconhece

RENDA54. Qual a forma de pagamento do/s instituto/s onde trabalha/ou? (RM) (1) por questionário (2) por projeto (3) valor diário (4) valor mensal (5) outra: _______________55. Qual o periodicidade do pagamento? (RM) (1) semanal (2) quinzenal (3) mensal (4) por projeto (5) outra: ___________________________

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56. Você recebe dinheiro para deslocamento e alimentação? (1) Sim. Qual o valor: _________________________________________________________ (2) Não57. Qual é sua faixa de remuneração mensal aproximada?

(1) Até R$ 500,00 (2) De R$ 501,00 a 1.500,00 (3) De 1.501,00 a 2.500,00 (4) Mais de 2.500,00 58. Como você descreve seu trabalho (do ponto de vista profissional)? _______________________________

_______________________________________________________________________________________59. Você gosta do trabalho que faz? (1) Sim (2) Não. Por quê?____________________________________________________________60. O que você acha que poderia ser diferente nessa profissão ou no funcionamento dos institutos/escritórios?_______________________________________________________________________________________

SAZONALIDADE61. Tem algum período em que há mais pesquisas a serem realizadas dos institutos de pesquisa de mercado/opinião? (1) período eleitoral (2) final de ano (3) outros: _________________________________________62. Há algum período em que quase não tem pesquisas a serem realizadas? (1) início de ano (2) outro: _______________________________________________________

SOBRE OS INSTITUTOS/ESCRITÓRIOS 63. Sobre os institutos/escritórios de pesquisa de Curitiba que você conhece: (1) (a) Nome da empresa: ________________________ (b) No. Aproximado de funcionários no total: _____ (c) No. Aproximado de supervisores: _______________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (d) No. Aproximado de entrevistadores: _____________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (2) (a) Nome da empresa: ________________________ (b) No. Aproximado de funcionários no total: _____ (c) No. Aproximado de supervisores: _______________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (d) No. Aproximado de entrevistadores: _____________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (3) (a) Nome da empresa: ________________________ (b) No. Aproximado de funcionários no total: _____ (c) No. Aproximado de supervisores: _______________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (d) No. Aproximado de entrevistadores: _____________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (4) (a) Nome da empresa: ________________________ (b) No. Aproximado de funcionários no total: _____ (c) No. Aproximado de supervisores: ______________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (d) No. Aproximado de entrevistadores: _____________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (5) (a) Nome da empresa: ________________________ (b) No. Aproximado de funcionários no total: _____ (c) No. Aproximado de supervisores: _______________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ (d) No. Aproximado de entrevistadores: _____________________________________________________ Forma de contratação destes: (a) carteira assinada (b) contrato de autônomo (c) contrato verbal

(d) outro: ________________________________ 64. Observações/ comentários: _____________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________