UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O PLANEJAMENTO DO ESPAÇO …docs.fct.unesp.br/departamentos/cartografia/eventos/2007_II_SBG/... · cada uma delas (Salvia & Marodin, 1976). A Capitania

II Simpósio Brasileiro de Geomática Presidente Prudente – SP, 24 – 27 de julho de 2007

V Colóquio Brasi leiro de Ciências Geodésicas ISSN 1981-6251, p.740-745

A. Cirolini; F. Wachholz; R. Cassol; W. Pereira Filho

UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O PLANEJAMENTO DO ESPAÇO

LOCAL - MAPAS TEMÁTICOS DO MUNICÍPIO DE IMIGRANTE - RS

ANGÉLICA CIROLINI FLÁVIO WACHHOLZ ROBERTO CASSOL

WATERLOO PEREIRA FILHO

Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Centro de Ciências Naturais e Exatas - CCNE

Departamento de Geociências - GCC Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPG

Centro Internacional de Projetos Ambientais – CIPAM Centro Regional Sul do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – CRS/INPE

{acirolini, fwalemao, rtocassol, waterloopf} @gmail.com

RESUMO - O presente trabalho teve como objetivo delimitar, cartograficamente, a unidade territorial do Município de Imigrante-RS e, com isso, elaborar mapas temáticos como a carta-imagem e o uso da terra do município. Contudo, elaborou-se um relatório técnico visto a genealogia da evolução histórico-geográfica e a criação político-administrativa do Município de Imigrante no cenário estadual, bem como a descrição dos usos da terra e a comparação com dados estatísticos da geografia local e regional fornecidos pelo IBGE. O Município de Imigrante situa-se na porção Centro Oriental do Estado do Rio Grande do Sul, em uma área em que há a predominância de vales com vegetação nativa e atividades rurais ligadas à suinocultura e à avicultura. O trabalho foi desenvolvido em etapas, primeiramente realizou a identificação do acervo de mapas presentes no município a ser trabalhado, levantamento das leis de criação, atualização dos limites municipais e aquisição de imagem de satélite do município, para assim iniciar a construção do banco de dados geográficos georreferenciado, com posterior edição dos mapas e elaboração do relatório final. Com este estudo foi possível sistematizar as informações importantes para a análise dos aspectos físicos, base para o entendimento da ocupação humana e do desempenho das atividades socioeconômicas.

ABSTRACT - The objective of the present work is to delimit, cartographically, the territorial unit of “Imigrante-RS Municipality”, in order to elaborate thematic maps, like an image-chart and the use of the land map for the municipality in study. For that purpose, the present research has a technical description of the historic-geographical genealogic evolution and the politic-administrative creation on a state context, as well as the descriptions of the uses of the land and a comparison with local and regional statistical geography data provided by the IBGE. The Imigrante Municipality places in the Eastern Center portion of the of Rio Grande do Sul State, in an area where valley have their predominance with native vegetation and rural activities in the zone and are strongly linked to pork farming and poultry farming practices. This work has been developed in stages, first, and identification for the different maps existing in the municipality, was made for processing validation. Then, a survey of the creation laws for the update of the municipal limits and finally, the acquisition of a satellite image of the zone, thus to direction the efforts to the construction of a georeference-geographical data base with a later developing of maps and a final report. With this study, it was possible to systemize the important information for further analysis of the physical aspects, witch is the basics to understand the human occupation and the performance of the social-economics activities.


V Colóquio Brasi leiro de Ciências Geodésicas


1 INTRODUÇÃO

Para a compreensão das mais diversas relações entre a sociedade e a natureza, são necessários materiais que abordem e trabalhem o estudo da paisagem local e do espaço vivido. O estudo do espaço local que valorize estes aspectos naturais e humanos torna-se uma ferramenta eficaz para a compreensão da formação deste espaço, neste caso o município, propiciando uma melhor interação com sua realidade e ampliação de seus conhecimentos dentro de um contexto que envolve as características geográficas, históricas e ambientais.

O recorte espacial do Rio Grande do Sul teve início com a criação de quatro povoações - Rio Grande, Porto Alegre, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha, que foram estabelecidas como vilas da Capitania de São Pedro pela Real Resolução, de 27 de abril de 1809 e formalizadas como tais pela Provisão Real, de 7 de outubro do mesmo ano, com a indicação precisa das autoridades a nomear e das freguesias compreendidas em cada uma delas (Salvia & Marodin, 1976). A Capitania de São Pedro em quatro grandes circunscrições representava, na realidade, a criação dos quatro primeiros municípios riograndenses, que iriam se desdobrar com o decorrer do tempo nas diversas comunidades municipais e formariam, em seguida, a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Atualmente, o Estado gaúcho constitui-se de 496 municípios.

No Rio Grande do Sul há uma carência de informações de natureza geográfica georreferenciada em nível municipal, tais como, área e distribuição espacial das ocorrências de florestas, campos, agricultura e superfícies aquáticas, no que diz respeito a características zonais; de conhecimento da quantidade atualizada e classificação das estradas presentes no interior dos municípios; da denominação oficial da rede de drenagem; e da representação pontuais atualizadas com sua respectiva toponímia.

Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo delimitar, cartograficamente, a unidade territorial do Município de Imigrante-RS, definida pela Lei n°. 8.605, de 09 de maio de 1988 e pela Lei nº. 10.754, de 16 de abril de 1996, que cria o Município de Westfalia, com algumas áreas que se emancipam do Município de Imigrante e, com isso, elaborar mapas temáticos como a carta-imagem e o uso da terra do município. Contudo, elaborou-se um relatório técnico visto a genealogia da evolução histórico-geográfica e a criação político-administrativa do Município de Imigrante no cenário estadual, bem como a descrição dos usos da terra e a

comparação com dados estatísticos da geografia local e regional fornecidos pelo IBGE.

Espera-se que os mapas temáticos possam contribuir no planejamento municipal, das quais poderão utilizar órgãos governamentais e não governamentais (ONG’s), forças vivas locais e regionais em suas diversas funções. Além disso, essas documentos cartográficos atualizados poderão auxiliar no processo ensino-aprendizagem nos níveis fundamental e médio do município, visando atender a um dos requesitos das diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs/MEC)

Pela elaboração dos documentos cartográficos, pode-se ter um melhor reconhecimento e atualização do espaço geográfico de Imigrante; desse modo, é possível dar suporte às ações de planejamento municipal, visando a um desenvolvimento sustentável.

2 ÁREA DE ESTUDO

O Município de Imigrante (Código de Unidade Territorial do IBGE nº. 4310363) está disposto espacialmente entre as coordenadas geográficas 51º41’54” a 51º51’37” de longitude oeste do Meridiano de Greenwich e 29°17’38” a 29º23’15” de latitude sul do Equador. Limita-se com os seguintes municípios: ao norte, com Garibaldi e Roca Sales; ao sul, com Teutônia; a leste, com Estrela e a oeste, com Salvador do Sul e Garibaldi. Situado na porção Centro Oriental do Estado do Rio Grande do Sul (Figura 1), abrange uma área de 73 km².

A principal bacia hidrográfica do município de Imigrante é o arroio da Seca, constituinte do rio Taquari. A sede municipal está localizada próximo ao arroio da Seca, dada a área ser plana. No geral, há a predominância de vales, cujas vertentes apresentam áreas agrícolas voltadas para a suinocultura e à avicultura. No entanto, nas áreas adjacentes à rede de drenagem e aos topos de morros a vegetação nativa prevalece.




Figura 1 - Localização de Imigrante no Mundo, na América Latina, no País e no Estado FONTE: Mapa Político–Administrativo de Imigrante, 2006

3 METODOLOGIA

Para a produção de mapas temáticos e do relatório técnico foram considerados o seu estado da arte, no que diz respeito ao desenvolvimento e atualização de mapeamentos. As etapas são:

1) Identificação do acervo de mapas presentes no município a ser trabalhado. Cada município do Rio Grande do Sul apresenta uma realidade diferente no que tange ao seu mapeamento, nesta etapa, será buscado o contexto atual de seus mapas com suas diferentes informações.

2) Levantamento das leis de criação e atualização dos limites municipais. Dada as modificações da espacialidade dos limites dos municípios e o surgimento de novos municípios no Rio Grande do Sul, principalmente, nas últimas décadas, faz-se necessário o conhecimento dos limites de cada município para assim dirimir efeitos relacionados com os custos e de responsabilidade de cada município em cada espaço gaúcho.

3) Aquisição de imagem de satélite do município. A identificação das formas de uso da terra nos municípios será realizada a partir da interpretação automática de imagens de satélite, especificamente do sensor Thematic Mapper do satélite Landsat-5.

4) Construção de um banco de dados geográficos georreferenciado. Todo o processo de mapeamento será realizado a partir da construção de um banco de dados georreferenciado, constituido de mapas base, temáticos. Esta etapa é constituída de sub-etapas, descritas a seguir:

- compilação do mapa base. Este procedimento consiste em transpor informações presentes em cartas topográficas para o banco de dados em formato digital. Nesta etapa são transpostas as informações relativas ao mapa base, tais como: rede viária e rede de drenagem.

- Classificação automática da imagem de satélite com o uso do classificador por máxima verossimilhança (Maxver).




- Reambulação: consiste na visita ao município para aferição das classes de uso da terra realizadas a partir de imagem de satélite; atualização e classificação da rede viária com o uso do GPS (Global Positioning System), oportunidade em que se percorre todas as vias do município; identificação da toponímia do lugar.

- Avaliação dos ajustes necessários quanto ao uso da terra, atualização da rede viária e de drenagem.

5) Edição final dos mapas. Após a construção do banco de dados georrefenciados é elaborado o mapa final, com sua edição constituida de inserção dos dados de toponímia, relacionados a cartografia e de créditos. Nesta etapa, serão construídos os mapas base, de uso da terra e carta imagem.

6) Elaboração do relatório final. O relatório consiste na elaboração de um texto contento informações sobre a evolução histórica do município, dados relativos

a população conforme o IBGE, a metodologia da construção dos mapas, a definição da nomenclatura da rede viária, descrição dos principais resultados relacionados as formas de uso da terra e considerações gerais.

4 RESULTADOS

Pode-se afirmar que planejar significa, antes de tudo, fazer com que o município, cidade, estado, região e/ou país venha a se desenvolver positivamente. Para auxiliar nesse planejamento, o Sistema de Informações Geográficas é um importante recurso, pois esta técnica possibilita registrar e gerenciar, bem como atualizar dados de infra-estrutura, tais como água, luz, esgoto, lixo, eletricidade, entre outros. Para esse planejamento, elaborou-se, a partir das leis de criação e alteração do limite municipal, o Mapa Político-administrativo do Município de Imigrante, representado pela figura 2.

Figura 2 – Mapa Político-Administrativo do Município de Imigrante - RS




Gerardi & Mendes (2001) observam que o uso das técnicas do Sistema de Informações Geográficas (SIGs) pode levar os profissionais que trabalham o espaço urbano e rural a uma leitura mais aproximada da realidade e a uma busca de alternativas para os problemas.

Em relação aos aspectos socioeconômicos utilizou-se dados provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir do censo realizado no ano de 2000, em que a população do município de Imigrante era de 3.850 habitantes distribuídos em 1.235 habitantes no espaço urbano e 2.615 habitantes no espaço rural, inseridos em várias faixas etárias, mas com predomínio da população adulta entre trinta e sessenta anos de idade.

A economia do Município de Imigrante está alicerçada no setor primário, ou seja, na agropecuária, sendo constituída, também, por áreas comerciais e industriais. Destaca-se a criação de frangos, bovinos e suínos, sendo que a avicultura constitui uma das principais atividades econômicas do Município, em torno

de 900.000 cabeças. A economia municipal também é resultante de atividades como o extrativismo e a agricultura.

Por se localizar no rebordo do Planalto Sul Rio-Grandense caracteriza-se por altas altitudes e uma elevada amplitude altimétrica. As áreas mais planas localizadas junto à rede de drenagem apresentam uma maior ocupação humana. Estas características determinam uma diversidade de usos da terra distribuídas de forma desigual, pois enquanto em uma área um uso da terra se destaca, em outra aparece com pouca freqüência. O mapa de uso da terra está representado pela figura 3.

As áreas mais distantes do arroio da Seca e do arroio Daltro Filho, que correspondem a relevo dessecado, apresentam uma maior cobertura florestal. As áreas mais íngrimes, no entanto, encontram-se mais preservadas, nota-se que há a predominância de florestas. Por outro lado, a floresta localizada em áreas com relevo plano, em função da acessibilidade antrópica, é secundária e apresenta uma dimensão menor e fragmentada.

Figura 3 – Mapa do uso da terra do Município de Imigrante - RS




Na área de captação constante ao arroio Daltro filho, o uso da agricultura refere-se ao cultivo do milho, produzido em lavouras geralmente inferiores a 2 hectares. Esta área diferencia-se do Arroio da Seca pela prática mais intensa da avicultura. Geralmente cada proprietário rural desenvolve esta atividade, mas consorciada a outras. Aparece também, neste sentido, a pecuária leiteira. As maiores áreas de campo contínuas, vinculados a criação de gado leiteiro, são encontradas na localidade de Arroio da Seca, pois o relevo é mais plano.

As áreas agrícolas são utilizadas para o cultivo de milho, soja, sorgo e fumo. O destaque no município está para o cultivo do milho, tanto na produção da silagem para o gado, quanto os grãos para alimentação dos animais domésticos.

Com a elaboração dos mapas do Município de Imigrante, torna-se possível analisar tanto as características fisiográficas como as da população. Nos aspectos físicos, ficou evidenciado que a região em que se insere o Município de Imigrante apresenta rede de drenagem fluvial em padrão dendrítico. Com evidente controle estrutural imposto por prováveis fraturas e/ou falhas associadas às rochas vulcânicas do planalto. Possui malha hidrográfica densa, devido ao relevo de natureza típica de rebordo do planalto sul brasileiro. A sede da cidade apresenta uma altitude aproximada de 80 metros, pois situa-se no vale do Arroio da Seca e registra no inverno baixas temperaturas médias, comuns no Estado, bem como alta umidade do ar pela posição no rebordo do planalto em fundo de vale, proporcionando formação de nevoeiro durante os meses de temperatura mais baixas (abril a setembro). No verão, as temperaturas média excedem os 24°C, comum a maioria das regiões de baixas altitudes do Estado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da pesquisa bibliográfica, pela análise dos documentos cartográficos oficiais e pelas observações de campo, pode-se sistematizar as informações importantes para a análise dos aspectos físicos, base para o entendimento da ocupação humana e do desempenho das atividades socioeconômicas.

Em face deste estudo, pode-se inferir, então, que a metodologia empregada, bem como a análise dos dados via IBGE, possibilitou tecer um panorama sócio ambiental do Município de maneira abrangente. Essas informações expostas no presente relatório, poderão ser úteis para a sociedade na implantação de projetos que visem tanto à melhoria da qualidade de vida dos moradores, quanto ao desenvolvimento econômico do Município de Imigrante.

Os mapas político-administrativos, mapa de uso da terra e da imagem de satélite, constituem-se em documentos importantes no processo de ensino-aprendizagem, principalmente, no ensino fundamental; portanto ficam disponíveis à rede escolar e à população do Município. Esses mapas constituem-se em material didático e cultural básico para a população, e também, para que os administradores conheçam apropriadamente as potencialidades do Município e possam, então, realizar os necessários e esperados planejamentos ambiental, econômico e social.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHERINI, Giovani. Município: Teu nome é um sucesso. Porto Alegre: ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – Comissão de Assuntos Municipais, 2001.

DOWBOR, L. Tecnologias do Conhecimento: os desafios da educação. Petrópolis, Rj: Vozes, 2001.

GERARDI, L. H. de. O. & MENDES, I. A. Teoria, técnica, espaços e atividades: temas de geografia contemporânea. Rio Claro: AGETEO, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Manual Técnico de Uso da Terra. Rio de Janeiro: IBGE, n. 7, 1999.

INSTITUTO GAÚCHO DE REFORMA AGRÁRIA – DIVISÃO DE GEOGRAFIA E CARTOGRAFIA. Evolução Administrativa do Rio Grande do Sul – Criação dos Municípios. São Paulo: IBGE, SD.

MARTINELII, M. Mapas da Geografia e Cartografia Temática. São Paulo: Contexto, 2003. 112 p.

ROSS, Jurandyr L. Sanches. Geografia do Brasil. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001.

SÁLVIA, Flávia La & MARODIN, Elisabeth F. Evolução Municipal: Uma Análise Geográfica. Boletim Geográfico do RGS, Porto Alegre, v. 19, n. 17, p. 3-16, jan/dez, 1974.

SARTORI, Maria da Graça Barros. A dinâmica do clima do Rio Grande do Sul: indução empírica e conhecimento científico. Terra Livre, v. 1. n. 20, p.27 - 49, jan/jul, 2003.

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