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1
UMA “DOSE” DE ÁLCOOL NA MACROECONOMIA BRASILEIRA.
Luiz César de Oliveira
Resumo: O presente artigo tem por objetivo avaliar o impacto no Balanço de
Pagamentos do Brasil, frente às projeções otimistas das exportações de álcool
combustível brasileiro e o conseqüente aumento na sua produção e geração de renda.
Desta forma, apresenta-se o conceito de Balanço de Pagamentos e suas subdivisões,
como ponto principal para uma avaliação dos dados numéricos e do momento oportuno
em que vivemos. Esta avaliação nos faz questionar até que ponto a sociedade brasileira
é beneficiada, considerando um aumento substancial na produção e na exportação de
álcool combustível. Enfrentamos uma necessidade mundial de buscar alternativas ao
combustível fóssil, mais especificamente o petróleo, o controle da poluição, a busca de
fontes renováveis etc., incentivando cada vez mais nossa produção de álcool e a busca
por novas tecnologias produtivas e de consumo, como em veículos automotores, por
exemplo. Imbuído desta perspectiva, o país se prepara para movimentos intensos de
crescimento na produção e nas exportações do álcool combustível, para todo o Mundo.
Este cenário econômico, sendo viabilizado, em termos de parcerias globais, com atração
de capitais produtivos, terá fortes influências nas transações correntes brasileiras e mais,
pode caracterizar-se não só como um momento econômico, mas como um período de
crescimento sustentado. Muitas são as análises sobre o tema aqui proposto, por isso, no
espaço deste artigo, abordo as projeções desta expansão neste setor produtor e
exportador e suas influências no Balanço de Pagamentos Brasileiro e o conseqüente
incremento substancial do PIB e da renda.
Palavras Chave: Balanço de Pagamentos, transações correntes, álcool combustível,
etanol, renda.
ABSTRACT: The present article aims to evaluate the impact in the Balance of Brazil
Payments, face to the optimistic projections of the alcohol Brazilian fuel e the
following increasing in its productions and the generation of income. This way, it is
introduced the concept of Payments Balance e its subdivisions, as the main point to a
numerical data evaluation and of the right time we are living on. This evaluation make
us ask up to the extend the Brazilian society is benefited, taking into account the
substantial increasing in the production and exportation of alcohol fuel. We face a
worldwide necessity to seek alternatives to the fossil fuel, more precisely the petrol, the
pollution control the for renewable sources etc., stimulating more and more our
alcohol production and the seek for new productive and consuming technologies, as in
automobiles, for example. From this perspective, the country prepares itself for intense
movements of growing in the production and exportation of alcohol fuel, for the whole
world. This economic scenario, being available, in terms of global partnership,
attracting productive capitals, will have significant influences in the actual Brazilian
transactions and more, it can characterizes not only as an economical moment, but a
period of sustainable growing. Many are the analysis about the theme here proposed,
because of this, in the space of this article, I approach this expansion projections in the
productive an exporting sector and its influences in the Brazilian Payments Balance
and the consequently substantial growth of PIB and income.
2
Introdução
Ao analisarmos a produção do álcool combustível, derivado da cana-de-açúcar,
no Brasil, principalmente visando ao momento mundial de busca para novas fontes
alternativas de combustíveis renováveis, devido à escassez do petróleo e à
conscientização ao meio ambiente, concluímos que cada vez mais se concentram
esforços e investimentos para o aumento da produtividade e também a busca de novos
mercados e parceiros do mundo globalizado. Nesta atividade, o conceito de crescimento
econômico está latente: aumento contínuo do produto em termos global e per capita, ao
longo do tempo, ou seja, mudanças de caráter quantitativas dos níveis do produto.
Após alertas mundiais sobre o risco das reservas petrolíferas chegarem ao fim, o
álcool combustível, que sempre fora considerado subproduto do açúcar, passou a
desempenhar papel estratégico na economia brasileira e, diante do sucesso da iniciativa,
deixou de ser encarado apenas como resposta a uma crise temporária.
Esta opção pelo álcool combustível, derivado da cana-de-açúcar, ganhou força e
foi motivada por questões relativas ao desempenho interno das tradicionais commodities
e também pelo cenário macroeconômico mundial de preços e de uma demanda por
álcool derivado de produto não contemplado na cesta básica de alimentos. O marco dos
especialistas na área é o ano 2000, quando teve início a chamada fase de transição, com
a expansão da área cultivada de cana, a abertura do mercado mundial e a saída do
governo do comando das exportações de álcool. Aliado à demanda mundial, o Brasil
entrou na era dos carros bicombustíveis e fomentou ainda mais a produção e demanda
do álcool. O apelo ao consumo do combustível renovável e menos poluente foi outro
fator que também estimulou a expansão deste nicho de mercado.
Para o superintendente da Alcopar, José Adriano, a cana é a bola da vez não
somente no Brasil, mas no agronegócio mundial. Ele afirma que o “combustível oriundo
da biomassa tem excelente potencial de crescimento, a demanda por açúcar só cresce e
o mundo planta cana [...]. O Brasil sai na frente porque tem tecnologia” (2007). Ótimas
perspectivas para o país em termos de crescimento econômico e de valores positivos no
balanço de pagamentos, mais especificamente nas transações correntes.
As análises e conseqüentes conclusões podem ser muitas e variadas, por isso
optamos por discutir, neste momento, apenas as projeções otimistas do setor
3
sucroalcooleiro brasileiro de aumento de produção e produtividade, bem como novas
parcerias comerciais no mundo globalizado e, desta forma, ampliação significativa da
exportação do álcool combustível. O álcool combustível brasileiro, derivado da cana-de-
açúcar, com custo médio de US$ 22/barril, é competitivo com a gasolina derivada do
petróleo, existindo possibilidades favoráveis do aumento desta competitividade nos
próximos anos, quando o preço do combustível fóssil já supera US$ 60/barril e tende a
crescer ainda mais, visto sua escassez aumentar a cada período.
1. Balanço de Pagamentos: conceito e objetivo
Em uma economia aberta há duas formas de interações econômicas básicas com
o resto do mundo: 1 – compra e venda de bens e serviços e 2 – compra e venda de
ativos, principalmente ativos financeiros. Na primeira forma encontram-se as
exportações e as importações de bens físicos (computadores, máquinas industriais,
automóveis, etc.), de serviços (transporte, turismo, etc.) e rendas ou pagamentos por
serviços relacionados a fatores de produção (juros e dividendos). Na segunda forma
podemos encontrar a compra ou venda de títulos, através de financiamentos e
empréstimos, a compra ou venda de ações e o investimento direto em empresas
nacionais ou imóveis.
Em cada uma dessas atividades há a transação financeira, em que os estrangeiros
ou os agentes econômicos nacionais precisam obter a moeda nacional ou então uma
moeda estrangeira com poder de troca internacional. Tem-se, então, a criação do
mercado de câmbio, hoje considerado o maior mercado financeiro do mundo, com
volume de negociações bem acima de um trilhão de dólares por dia. O dólar americano
é hoje a moeda mais utilizada nas transações entre países, sendo mundialmente aceita.
Desta maneira, quando acontecem mudanças na oferta e na demanda da moeda nacional
no mercado de câmbio, podemos afirmar que o Balanço de Pagamentos terá seu
resultado afetado, gerando superávits ou déficits, pois o mesmo registra todas as
transações entre países.
4
Segundo Curado1 o “Balanço de Pagamentos é o registro contábil de todas as
transações econômicas de um país com o resto do mundo”. Para ele, sua estrutura básica
compõe: Balança Comercial, Balança de Serviços, Transferências Unilaterais, Saldo em
Transações Correntes, Movimento de Capitais Autônomos, Erros e Omissões, Saldo do
Balanço de Pagamentos e Movimento de Capitais Compensatórios.
Este registro contábil envolve as transações de bens e serviços, bem como
transações de capitais físicos e financeiros. Desta forma, registra-se tanto o comércio de
mercadorias (exportações e importações), os serviços (pagamentos de juros, royalties,
remessa de lucros, turismo, pagamentos de fretes etc.), como o movimento de capitais
(investimentos diretos estrangeiros, empréstimos e financiamentos, capitais
especulativos etc.). Podemos ter como exemplo a tabela abaixo, que demonstra os dados
reais brasileiros, em um determinado período de tempo:
Resultado em Conta Corrente do Balanço de Pagamentos (US$ milhões)
2005, 2006, Jan-Mar/2006 e Jan-Mar/2007
Fonte – BACEN - Banco Central do Brasil
As transações com o exterior normalmente são realizadas com vários países e,
portanto, com várias moedas, o que dificultaria o registro no Balanço de Pagamentos.
1 Definição dada em slide durante a disciplina Macroeconomia do Minter em Desenvolvimento Econômico UFPR – FECILCAM, maio de 2007.
5
Para facilitar os registros e seus controles, os países, como o Brasil, buscam a
homogeneização através de uma única moeda de aceitação internacional. Hoje, a moeda
mundialmente aceita é o dólar americano, que serve como base para o registro dos
dados e, assim, se uma transação é efetuada em uma divisa diferente, esta é convertida
em dólar para ser lançada no Balanço de Pagamentos.
No presente trabalho estamos avaliando o déficit ou o superávit em conta
corrente, ou seja, no Balanço de Transações correntes. Um déficit em conta corrente
significa que o país absorveu poupanças externas no valor equivalente, em princípio, a
esse excedente de importações sobre as exportações de mercadorias e serviços. Esse
ingresso líquido de recursos é que permitiu ao país investir internamente, em termos
reais, mais do que lhe era possível se não fosse esse déficit. De outro lado, um superávit
quer dizer que o país investiu liquidamente no exterior, durante o período, quantia
equivalente de recursos.
Resumidamente, o déficit em conta corrente é a maneira que os países em
desenvolvimento têm de captar poupança externa para manter seu nível interno de
crescimento, cenário vivido pelo Brasil, na maior parte dos anos, desde 1979. Até 1993,
o principal vilão era o pagamento dos juros da dívida externa, influenciando o saldo de
serviços e rendas. Entre 1995 e 2000 a Balança Comercial, que sempre teve uma
tendência superavitária, também passa a apresentar déficits, em função da política de
abertura comercial, iniciada com o governo Collor, e da valorização da moeda nacional,
o Real. A partir de 2001, acompanhando a tendência mundial de expansão econômica,
liderada por China e EUA, a Balança Comercial brasileira volta a apresentar superávit,
cobrindo inclusive os déficits da conta de Serviços e Rendas e apresentando superávit
em conta corrente, fundamentada no crescimento das exportações.
Reforçando esta análise, Curado2 aponta que
Os sucessivos e crescentes déficits em Transações Correntes têm
como efeito gerar a necessidade de atrair capital estrangeiro,
sobretudo num regime de bandas cambiais, no qual o Banco Central
diariamente era obrigado a garantir a banda cambial estabelecida. O
Real contou, pelo menos até 1997, com um contexto de significativa
liquidez do mercado financeiro internacional e, dado o sucesso inicial
do Plano, com um cenário positivo para atração de capital produtivo.
2 Definição dada em slide durante a disciplina Macroeconomia do Minter em Desenvolvimento Econômico UFPR – FECILCAM, maio de 2007.
6
Para exemplificar o fechamento do balanço de transações correntes, no qual se
deve somar os saldos do balanço comercial, do balanço de serviços e das transferências
unilaterais, vamos utilizar os dados referentes ao Brasil no ano de 2006, obtidos no
Banco Central do Brasil - BACEN:
Descritivo Saldos (US$ milhões)
Balanço Comercial (FOB) 46.115
Balanço de Serviços e Rendas - 37.145
Transferências Unilaterais Correntes (liq.) 4.306
Balanço de Transações Correntes 13.276
No caso acima, o superávit de US$ 13.276 milhões no saldo do Balanço de
Transações Correntes significa que o Brasil vendeu mais ao exterior do que comprou.
Ao inverso, um déficit neste saldo significaria que o país comprou mais bens e serviços
do exterior do que vendeu, no período considerado.
Uma vez apurados e contabilizados os dados no Balanço de Pagamentos, tem-se
o retrato do país e o governo pode desencadear ajustes monetários ou fiscais visando à
estabilidade e o desenvolvimento econômicos. Fundos e aplicadores internacionais
também se baseiam nestas informações para projetarem os níveis de investimento no
país. Resultados positivos ou negativos do BP geram reflexos diretos no PIB e na Renda
Nacional do país, pois o nível de atividade produtiva está atrelado às exportações e
importações em uma economia aberta.
Vale a pena ressaltar que a partir de janeiro de 2001, o Banco Central do Brasil
passou a divulgar o Balanço de Pagamentos de acordo com a metodologia contida na
quinta edição do Manual de Balanço de Pagamentos do Fundo Monetário
Internacional, para efeito de uma análise completa do BP, cujos detalhes técnicos
sobre esta alteração podem ser consultados no site do BACEN.
7
2. Dados e Projeções sobre a produção e a exportação do álcool combustível
A demanda mundial por açúcar e álcool combustível consolida novo ciclo da
cultura de cana-de-açúcar no país, cuja produção nos remete ao primeiro lugar mundial.
No Paraná, segundo produtor nacional de cana-de-açúcar, canaviais já empurram o gado
e limitam o crescimento da área de grãos.
Com a perspectiva de novos e mais tranqüilos ganhos, a soja já não reina
absoluta entre as opções do agronegócio com maior potencial econômico e de interesse
comercial. O novo ciclo da cana-de-açúcar, que se consolida com a incorporação de
novas áreas e o aumento da demanda interna e externa por açúcar e álcool combustível,
seduz o produtor rural e muda a paisagem no campo.
A opção pela cana-de-açúcar ganhou força e foi motivada por questões relativas
ao desempenho interno das tradicionais commodities e também pelo cenário
macroeconômico de preços e demanda do açúcar e do álcool combustível. O marco dos
especialistas é o ano 2000, quando teve início a chamada fase de transição, com a
expansão da área, a abertura do mercado mundial e a saída do governo do comando das
exportações de álcool, embora se tenha iniciado a trabalhar com o álcool combustível, já
em 1931, conforme ordem cronológica a seguir:3
1931 – o álcool começa a ser misturado na gasolina brasileira (5%)
1973 – primeira grande crise do petróleo, causada pela guerra do Yom Kippur,
quando Síria e Egito atacaram Israel. A OPEP decidiu cortar a exportação de petróleo,
para os EUA e a Europa, que apoiavam Israel. O preço do óleo disparou.
1975 – criação do Proálcool, programa do governo brasileiro que incentivava a
produção do álcool combustível. O objetivo era diminuir a dependência do petróleo.
1979 – segunda grande crise do petróleo, durante a revolução iraniana. O Barril
chegou a ser negociado a US$ 40, contra media anterior de US$ 12.
1979 – criação do primeiro carro movido totalmente a álcool no Brasil, pela Fiat
(Fiat 147). Meta de produção de 1,5 bilhão de litros do Proálcool é alcançada um ano
antes do prazo.
3 Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/0,,IIF1261-5600,00.html.
8
1986 – começa a fase de estagnação do Proálcool. Preço do petróleo no mercado
internacional volta ao seu patamar normal e usinas brasileiras amargam prejuízos. Além
disso, o governo suspende os incentivos.
1999 – fim da intervenção do governo na política sucroalcooleira (até 98, os
preços eram controlados).
2003 – lançamento do primeiro carro Flex, pela Volks (gol). Hoje, os
bicombustíveis representam 49,5% do total de automóveis vendidos por mês, segundo a
Anfavea.
2005 – entra em vigor o protocolo de Kyoto, que favorece o uso do álcool como
combustível alternativo a gasolina. Governos de países como Japão e Alemanha
começam a dotar políticas públicas de incentivo ao consumo do álcool.
Desde então, o álcool, que sempre fora considerado subproduto do açúcar,
passou a desempenhar papel estratégico na economia brasileira e, diante do sucesso da
iniciativa, deixou de ser encarado apenas como resposta a uma crise temporária, mas
como solução permanente, uma vez que há um alerta no mundo para o risco das
reservas petrolíferas, lembrando que estas não seriam eternas.
Aliado à demanda mundial, o país entrou na era dos carros bicombustíveis e
fomentou ainda mais a produção e demanda do álcool. O apelo ao consumo do
combustível renovável e menos poluente foi outro fator que também estimulou a
expansão da cana.
No plano globalizado, o Brasil disputa a liderança do mercado de álcool
combustível com os EUA, que faz o álcool do milho. Destacamos dois pontos positivos
a favor do Brasil, neste caso, pois já existe uma pressão mundial, inclusive de órgãos
das Nações Unidas, para que se delimite a produção de biocombustíveis derivados de
alimentos, visando não haver falta e, considerando isto, toda a expansão mundial
tenderia para o etanol da cana-de-açúcar. Como exemplo de potencial mercado para o
Brasil, destacamos a declaração recente do presidente George W. Bush dos EUA (apud
MANSO, 2007, p.32), durante visita recente ao Brasil, reafirmando o compromisso
americano em reduzir o consumo de combustíveis fósseis em 20% até 2017,
significando que, nos próximos anos, somente no mercado dos EUA, a demanda por
etanol pode atingir 132 bilhões de litros por ano. Esta produção é mais de três vezes a
atual produção mundial de álcool combustível, estimada em 40 bilhões de litros por ano.
9
Reforçando a primeira vantagem brasileira, citamos o governo da China, que
determinou uma moratória na produção de etanol de milho por preocupações de que a
demanda pelo álcool combustível esteja elevando rapidamente os custos do milho e dos
grãos, segundo reportagem publicada em 12/06/2007, pelo diário britânico The Times.4
O Brasil é de longe o país com maiores condições de aumentar sua produção,
contando com área suficiente para multiplicar as plantações de cana e também possui
tecnologia e experiências suficientes para se destacar como o produtor mais eficiente,
com um custo de produção de US$ 0,22 por litro de álcool, ante US$ 0,30 dos EUA e
US$ 0,53 da União Européia.5 Para melhor visualização dos apresentados por Manso
(2007), vejamos o gráfico abaixo:
Gráfico 1 – Custo de produção, em US$, por litro de álcool
A produção nacional de cana na safra 2006/07 atingiu 471 milhões de toneladas,
para uma área de 6,1 milhões de hectares, sendo prevista uma safra recorde até 2014,
em torno de 700 milhões de toneladas. Uma variação de 9,2% e 5,5%, respectivamente.
Já o Paraná registra um crescimento maior, de 22% em produção e 6,5% em área.
Considerando esta mesma estimativa para a produção de álcool no Brasil, ou
seja, 5,5% em média anual, teremos um salto de cerca de 18 bilhões de litros, em
4 Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/mat/2007/06/12/296113867.asp 5 MANSO, U. A. A corrida estrangeira pelo álcool, 2007, p. 32.
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
Brasil EUA União Européia
Cana
Milho
Trigo / Beterraba
10
2005/06, para mais de 30 bilhões de litros, no período 2014/15, conforme demonstrado
no gráfico abaixo:
Gráfico 2 - Projeção de produção de álcool no Brasil entre as safras 2005/06 e 2015/16
No Paraná, segundo maior produtor nacional, a área destinada aos canaviais
cresce no mesmo ritmo da soja, ou até mais, se considerado o avanço em regiões
específicas, como Norte e Noroeste. Os técnicos da agricultura defendem que a cana
não está invadindo a área de soja, mas admitem que já limita o crescimento dos grãos.
Nos últimos 5 anos, a soja cresceu 18% - de 3,3 milhões em 2002 para 3,8 milhões de
hectares em 2006 - e a cana 23%.
A Secretaria de Estado da Agricultura do Paraná ressalta, no entanto, que o
grande crescimento da cana significa pouco diante do tamanho da área destinada à soja,
que é quase oito vezes maior. Analisa ainda que o produtor continua plantando milho e
soja, por exemplo, mas já admite arrendar parte da propriedade para o cultivo de cana e
ter, desta forma, uma alternativa paralela de negócio. Na comparação com números
absolutos e estaduais, a cana ocupa uma área no estado equivalente a 13% da soja. O
estado é o segundo produtor nacional, com 7,5% da produção, atrás de São Paulo (40%)
e à frente de Alagoas (5,5%). O Paraná também é o segundo em produção de açúcar e
álcool. No último ano/safra foram 2,17 milhões de toneladas de açúcar, uma variação
superior há 100% no período de 10 anos, quando foram produzidas 973,7 toneladas. Já
o volume total de álcool na safra passada foi de 1,32 bilhões de litros. No ano passado,
o estado paranaense embarcou 1,51 milhão de toneladas de açúcar e 269,6 milhões de
litros de álcool.
11
Outro aspecto importante a ser levado em consideração na hora de mudança de
cultura é a rentabilidade: enquanto a soja tem um faturamento bruto de R$ 1.300, para
um custo de R$ 500 a R$ 600 por hectare, a cana rende, em média, R$ 3.000 por
hectare, para uma despesa de R$ 1.800, em linhas genéricas. Somente em São Paulo,
maior produtor de cana do País, a safra deverá chegar a 296 milhões de toneladas
Especialistas alegam que a demanda por etanol elevará a safra da cana-de-
açúcar em 12,7% em 2007 em relação ao ano anterior. A colheita do produto deverá
somar 513 milhões de toneladas, numa área de 6,7 milhões de hectares (8,9% maior do
que a área da safra anterior), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Somente em São Paulo, maior produtor de cana do País, a safra deverá chegar a
296 milhões de toneladas, com aumento de 11% ante o ano passado.
Analisando os aspectos econômicos em função da globalização, há um bom
momento da cana, pois o investimento feito nos últimos anos tem base numa
perspectiva futura de crescimento da demanda mundial. A cana deixou de ser sinônimo
de açúcar e álcool para se transformar num produto para fins industriais diversificados
como, por exemplo, a geração de energia a partir do bagaço e a demanda internacional
pelo álcool combustível.
Reforçando ainda mais esta tendência mundial de crescimento, o Ministro da
Agricultura, Sr. Reinhold Stephanes, afirmou que a meta do Brasil para os próximos dez
anos é aumentar a área plantada de cana-de-açúcar destinada à produção de álcool
combustível de 3 milhões de hectares para 9 milhões de hectares. Segundo ele, o Brasil
já está negociando com o Japão um acordo para fornecimento de álcool combustível, e
reforça: "No futuro, provavelmente a União Européia se interesse em importar o nosso
etanol." 6
Diante dos fatos apresentados visualizamos que, realmente, trata-se de um novo
ciclo da cana-de-açúcar, com novos objetivos e metas, se comparado com o início da
colonização brasileira em seu primeiro ciclo da cana-de-açúcar, agora com influências
positivas e significativas na Balança Comercial brasileira e na formação de renda
produtiva.
6 FOLHA DE SÃO PAULO ON LINE. Entrevista – 17/05/07. <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u117272.shtml> Acesso em: 21/05/2007
12
3. O álcool combustível como fato gerador de produto e renda
A influência do álcool no balanço de pagamentos brasileiro tem início com
intensidade em 1973, quando o cenário econômico mudou e o mundo se viu ante o risco
de desabastecimento energético. Foi com o primeiro choque do petróleo que o interesse
mundial por fontes alternativas e renováveis de energia se elevou consideravelmente.
Esta crise globalizada elevou os gastos do Brasil com importação de petróleo de US$
600 milhões em 1973 para US$ 2,5 bilhões em 1974. O impacto provocou um déficit
na balança comercial de US$ 4,7 bilhões, segundo dados históricos do BACEN,
resultado que influiu fortemente na dívida externa brasileira e na escalada da inflação,
que saltou de 15,5% em 1973 para 34,5% em 1974.
Naquele momento cresce a preocupação governamental em preservar as
principais metas de desenvolvimento nacional, conter a inflação, manter o crescimento
acelerado e conservar o equilíbrio do balanço de pagamentos, condições até então
vigentes e viáveis. Busca-se, então, a utilização de fontes não convencionais e
alternativas de energia, visando restabelecer o equilíbrio entre as contas nacionais, pois
a dependência do petróleo era total.
A partir daí, o álcool, que sempre fora considerado subproduto do açúcar, passou
a desempenhar papel estratégico na economia brasileira e, diante do sucesso da
iniciativa, deixou de ser encarado apenas como resposta a uma crise temporária, mas
como solução permanente, ao risco de alta de preços internacionais, afetando
significativamente as reservas e aumentando o valor das importações e, também para o
risco das reservas petrolíferas, lembrando ainda, já a partir deste momento que não
seriam eternas. O meio ambiente ainda não era uma preocupação mundial, vindo a se
tornar, como podemos constatar nos dias de hoje.
Desde esta época, o Brasil já tinha um setor açucareiro desenvolvido, terras
propícias à cultura, clima adequado, muita mão-de-obra disponível no campo e
experiência na fabricação de álcool industrial, do qual já era grande produtor-
exportador. Faltava investimento e infra-estrutura para o aumento da produção, o que
seria providenciado apenas após a crise internacional do petróleo, pelo Governo e pela
iniciativa privada.
13
Com esta importante mudança na matriz energética brasileira, centrando
esforços na utilização do álcool combustível, alguns resultados imediatos foram obtidos:
1 - nos centros urbanos eliminou-se o chumbo na gasolina e a redução das emissões do
monóxido de carbono; 2 - A limitação da dependência do petróleo através da
substituição da gasolina pelo álcool, ajudando a equilibrar as contas nacionais; e 3 -
expansão de bens de capital, redução de disparidades regionais de renda e geração de
empregos.
Tivemos altos e baixos na produção do álcool em revezamento com a produção
do açúcar, ora por motivo de oscilações cambiais, pois o açúcar é produto de exportação
e ora por falta de investimentos e ações governamentais para impulsionar a troca da
matriz energética. Não existia, ainda, a consciência ambiental e econômica que esta
mudança traria para o Brasil, relegando para uma simples alternativa tupiniquim de
economia na hora de abastecer o carro.
Hoje, as perspectivas são melhores para o Brasil, considerando o belo momento
macroeconômico internacional que estamos vivendo, com superávit na balança
comercial, com altas reservas internacionais totalizando mais de US$ 100 bilhões, com
risco país baixíssimo e o mundo clamando por combustível ecologicamente correto.
Porém, ao considerarmos o passado recente, podemos observar semelhanças nos
desafios a serem enfrentados como risco de fim das reservas petrolíferas, dependência
do petróleo como matriz energética em todo o mundo, preços altos do barril de petróleo
e, ainda, no Brasil, falta de infra-estrutura logística para a exportação do álcool.
Do ponto de vista do Balanço de Pagamentos, estamos atraindo investimentos
diretos e significativos neste segmento, através de multinacionais, fundos de
investimento e consórcios de empresários, que investiram mais de US$ 2 bilhões
diretamente no setor sucroalcooleiro desde 2000, segundo dados do BACEN. A
prioridade tem sido os grandes negócios e empreendimentos, visando o lucro, mas
também estar no caminho econômico e ecologicamente correto.
No Brasil, historicamente o agronegócio contribui positivamente para o Balanço
de Pagamentos e mesmo enfrentando problemas de infra-estrutura e o enfraquecimento
do dólar, contribui para o bom momento da economia do país. Com a globalização e um
mundo em crescimento com milhões de pessoas para serem alimentadas - e agora
também mais conscientes do ponto de vista ecológico, buscando o álcool como
14
combustível alternativo, sem contar a ajuda do clima - voltam-se as apostas a uma maior
participação do agronegócio nas exportações brasileiras.
Nos últimos anos, com a crescente busca pelo álcool combustível, no país e no
resto do mundo, o setor sucroalcooleiro despontou como um dos mais promissores do
agronegócio brasileiro. Internamente temos a crescente expansão dos carros FLEX, que
utilizam a tecnologia bicombustível, representando mais de 50% da frota de veículos
leves e recentemente com anúncio de caminhões movidos a álcool. Nas exportações, o
Etanol do Brasil vem batendo sucessivos recordes, evoluindo em média 8% ao ano e no
ano de 2006 conquistou a marca de US$ 7,8 bilhões, sendo responsável por cerca de
16% das divisas geradas pelo agronegócio brasileiro.
Considerando somente esta alteração neste cenário, a um ritmo crescente de 8%
ao ano nas exportações do etanol, pode-se estimar que este setor será o responsável, em
10 anos, por algo em torno de US$ 17 bilhões em exportações ao ano e o restante da
produção sendo utilizada no mercado interno, o que já representaria um incremento nas
exportações da ordem de mais US$ 10 bilhões.
Em outro cenário possível e mais otimista, o mercado dos EUA e do resto do
mundo abririam suas portas ao álcool brasileiro, consolidando para os americanos a
substituição da gasolina em 20% e, nos outros países, pelo menos 5% de substituição.
Toda esta alteração seria gerada devido à criação de uma nova matriz energética
mundial e o Brasil seria privilegiado, pois além de alta produtividade e tecnologia,
utiliza a cana, que não é produto alimentício e, desta forma, não sofreria restrições à
produção, devido ao medo de falta de alimentos e/ou conseqüentes altas de preços.
Também teríamos contratos justificando a triplicação de área plantada da cana,
conforme estimativas do Ministro da Agricultura do Brasil, nos levando a uma produção
fantástica de álcool combustível.
Neste cenário extremamente favorável ao Brasil, consolida-se a expansão do PIB
e conseqüente geração de renda, atrai-se o investimento internacional, o que leva a um
aumento na conta de capital e, internamente, amplia-se a oferta de empregos diretos e
indiretos, hoje estimados em mais de 1 milhão de trabalhadores. A balança comercial
tenderia a um superávit extraordinário, pois neste cenário passaríamos a exportar cerca
de 20 vezes mais do que é exportado hoje, gerando, desta forma, mais de US$ 150
bilhões positivos para a Balança Comercial.
15
Exportamos hoje cerca de 800 milhões de litros de etanol, gerando em torno de
US$ 8 bilhões, podendo chegar a 16.000 milhões de litros exportados em 10 anos e,
portanto, suportar nossa Balança Comercial. Com uma produção estimada em mais de
35.000 milhões de litros de álcool também o mercado interno estaria abastecido,
anulando assim projeções mais pessimistas.
Estas projeções já começam a se mostrar viáveis, quando, por exemplo, a
Petrobras, empresa estatal responsável pelo combustível no país, incluiu em seu
planejamento estratégico garantir mercado para a exportação de 3,5 bilhões de litros do
"combustível verde", ecologicamente correto, para o mercado japonês, onde será
obrigatória a mistura de 3% do etanol com a gasolina comum.
Mais uma vez teríamos um incremento na contas nacionais, porém, agora, com
valor muito superior ao cenário anterior e de monta significativa nas transações
correntes, viabilizando, assim, sobra de divisas e uma grande geração de renda,
conforme dados reais de 1994 a 2006 e simulação para 2016, expostos no gráfico a
seguir:
Fonte: www.ipeadata.gov.br
O mercado externo continua sendo fator de dinamismo, com destaque para os
países emergentes como o Brasil, sendo que em todos os cenários aqui apresentados,
ainda devemos considerar a grande demanda mundial por produtos agrícolas e a
valorização acima da média para os preços dos produtos agrícolas em todo o mundo,
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que, no caso do Brasil, vêm colaborando em muito para resultados positivos na Balança
Comercial. Exportamos soja, carne, laranja, açúcar, álcool entre outros produtos
agrícolas que, embora com a valorização cambial atual, ainda suportam boa parte de
nosso comércio internacional.
Confirmando esta tendência, buscamos explicação a uma pergunta pertinente: e
como explicar os resultados positivos da balança comercial brasileira, mesmo com as
crescentes desvalorizações cambiais, desde 2002, onde temos interferência relativa nos
preços e um impulso às importações?
Para Nakabashi et al (2007) a resposta está fundamentada em uma maior
valorização contínua e expressiva das commodities frente à valorização da taxa de
câmbio desde 2002, exemplificados nos gráficos que se seguem e, considerando que o
Brasil manteve sua participação quantitativa, compensando alguns produtos, o resultado
não se tornou negativo na balança comercial e tende a ser aumentado, conforme dados
já expostos e gráficos a seguir:
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Não podemos deixar de destacar, também, que, para a concretização de qualquer
um dos cenários apresentados, os investimentos em infra-estrutura e parques produtivos
são necessários. Já existem grandes projetos de investimentos no setor sucroalcooleiro,
tanto por parte do governo brasileiro como pela iniciativa privada, incluindo aí os
investidores internacionais.
O programa mais ambicioso da Petrobras, empresa estatal, vislumbra a
possibilidade de construir 40 destilarias nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Maranhão, Bahia e Pernambuco. No caso da
iniciativa privada, “da lista das dez maiores empresas do setor de açúcar e álcool no
Brasil, quatro já possuem participação de capital estrangeiro: Cosan, Bonfim, LDC
Bionergia e Guarani.”7
Esta possibilidade de investimentos em todas as regiões do país tem gerado
preocupação também no Governo Federal, através da Petrobrás, com a distribuição e
transporte do álcool combustível, principalmente até os portos nacionais, visando sua
exportação, hoje precária, como no passado.
Em 2009, a Petrobras pretende entregar dois alcooldutos, um que interligará
Goiás ao terminal de São Sebastião (SP) e outro que levará álcool de Mato Grosso ao
porto de Paranaguá (PR). Os alcooldutos têm capacidade de 4 milhões a 6 milhões de
7 MANSO, U. A. A corrida estrangeira pelo álcool, 2007, p. 32.
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metros cúbicos cada. Não obstante, um terceiro projeto deve ser pensado, pois o
Nordeste brasileiro é um potencial produtor, conforme as próprias projeções da
Petrobrás.
Conclusão
Uma projeção de exportação de etanol torna-se bastante complicada, pois
depende muito de vários fatores, como preço do barril de petróleo, controlado pela
oferta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo - OPEP, e da escolha de uma
matriz energética alternativa, por vários países do mundo. Existe, ainda, uma série de
incertezas que podem influenciar tais projeções como crescimento econômico abaixo do
previsto, protecionismo dos países desenvolvidos, falta de investimento em infra-
estrutura e atrasos na tecnologia e defesa agrícola.
Mas, ousamos projetar, considerando o momento econômico atual, pois o mundo
aumenta sua consciência ambiental e busca o combustível ecologicamente correto.
Assim, “o combustível verde”, que não compromete a produção de alimentos, se revela
um grande filão de mercado.
Teremos duas frentes econômicas para organizar, divididas em mercado interno
e externo, com alterações significativas na produção, geração de renda e sobras de
reservas internacionais, desde que respeitando e respondendo a seguinte questão de
ordem fundamental para o sucesso deste novo desafio brasileiro: como trabalhar este
processo de mudanças, sem prejuízos à sociedade brasileira, e gerar desenvolvimento
sustentável?
No mercado interno, além do aumento da produção e da produtividade, através
da inovação e da tecnologia, podemos trabalhar o capital humano que estará envolvido
na atividade sucroalcooleira; hoje cerca de 1 milhão de trabalhadores, concentrando
forças na qualidade de vida e contribuindo para o crescimento e desenvolvimento
econômico sustentável nas seguintes formas:
a) melhoria de toda a força de trabalho, dotando-a de conhecimentos e
especializando-a;
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b) criação de uma liderança intelectual apta a preencher os cargos que se abrem
na própria empresa;
c) criação do tipo de treinamento e educação que elimine o analfabetismo e
habilite a força do trabalho e, ao mesmo tempo, qualifique-a para as
atividades ditas “modernas”; e
d) melhorar a distribuição de renda.
Por outro lado, considerando o mundo globalizado, há a questão do meio
ambiente. Trata-se de um tema antigo, mas que, ultimamente, dado ao número crescente
de catástrofes mundiais, atribuídas ao problema do aquecimento global, está em
evidência. É possível afirmar que, cada vez mais, esta questão se agrava. Em
decorrência disso, como já citado, um dos motivos incentivadores à produção do álcool
combustível, são as ações ambientalistas e a consciência global em obter um
combustível com fonte renovável e muito menos poluente.
O desenvolvimento sustentável significa o uso racional dos recursos disponíveis
hoje, de modo a garantir o retorno econômico e social de sua aplicação no dia de
amanhã e, mais importante, sem prejudicar a qualidade de vida das populações futuras.
No Brasil, podemos observar esta preocupação já na Constituição Federativa, no
seu artigo 225, capítulo VI, do meio ambiente, que dispõe:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações. (1988, p. 124)
Este artigo constitucional demonstra a preocupação do legislador brasileiro com
a preservação do meio ambiente, visando não só a economia do presente como do futuro
e, observa-se que o mundo também sinaliza nesta mesma direção. Os Biocombustíveis
devem se expandir no mundo por pressões dos consumidores, devido ao aquecimento
global e, também por interesse de governos na formulação de políticas públicas
ecologicamente corretas.
Com a globalização da economia, há certas mudanças que podem se refletir nos
ambientes urbanos e rurais. Assim, o que interessa, em termos de decisão, pública ou
privada, política e econômica, é aquilo que acontece no nível global e que possa
influenciar na sustentabilidade do desenvolvimento econômico e social.
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As crescentes exigências a que as empresas e governos devem atender, no
tocante à produtividade e à competitividade, assim como os maiores níveis de exposição
externa que as economias enfrentam, são desafios dos quais elas dificilmente podem se
livrar. Assim, é necessária a criação de um ambiente favorável à inovação, implantação
de novas tecnologias, novas formas de administração, novos planos de custos e muita
qualidade dos recursos humanos.
Vale mencionar Furtado, quando este observa que
O processo de integração econômica dos próximos decênios, se por um lado
exigirá a ruptura de formas arcaicas de aproveitamento de recursos em certas regiões, por outro requererá uma visão de conjunto do aproveitamento de
recursos e fatores no país. (2000, p.252)
E completar observando que um melhor aproveitamento dos recursos e fatores
limitados, no país e no mundo, frente à nova consciência global de desenvolvimento
sustentável, otimizará as necessidades sempre ilimitadas.
Saindo para o mercado externo, afirmamos que o Brasil é o país que tem as
melhores condições para expandir a produção de biocombustíveis e exportá-los, sem
comprometer ou afetar os preços dos produtos alimentícios e rações, pois utiliza a cana
como sua matéria-prima e não o milho ou beterraba, como outros produtores mundiais.
Possuímos a maior área possível de cultivo ainda presente no mundo, estimada
em 130 milhões de hectares não utilizados no cerrado, bem como 170 milhões de
hectares de pastagens, podendo ser convertidas em áreas cultiváveis. Com o aumento na
produção de cana, podemos produzir mais etanol e exportá-lo.
A Renda Nacional real (Y) seria aumentada, considerando a fórmula Y = C + I +
G + (X-M), tanto pelo aumento de investimentos agregados (I), internos e externos,
como nos gastos do governo (G) em infra-estrutura e, também no fato das exportações
gerarem superávit frente às importações de bens e serviços (X-M), conforme
demonstrado no decorrer deste trabalho. Não se esquecendo do aumento no consumo
agregado (C) devido a um aumento na Renda Nacional, através da melhor remuneração
dos salários, juros, aluguéis e lucros, pagos às famílias.
Desta forma, concluo que o Brasil ocupa posição privilegiada no cenário
mundial do agronegócio, com reais chances de se tornar o maior fornecedor de álcool
combustível para o mundo. Possui tecnologia e produtividade que lhe garantem
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produção de ponta e competitiva com qualquer outro produtor mundial de etanol. Com
excesso de otimismo, podemos dizer que o Brasil pode se transformar em uma espécie
de OPEP do álcool combustível. Esta visão parece ser geral, pois, conforme afirmam os
analistas:
o Brasil tem potencial para se tornar uma Arábia Saudita verde. Os
sauditas faturam US$ 154 bilhões por ano com petróleo. Ninguém
arrisca quanto o Brasil ganharia exportando álcool. Mas poderíamos ir
até mais longe porque, além de matéria-prima, dominamos a
tecnologia da principal energia alternativa das próximas décadas.
Receberíamos um volume de investimento sem comparação em nossa
história, gerando fortunas empresariais e empregos em massa. Seria
uma chance de dar um salto de desenvolvimento. (CLEMENTE et al,
2007)
E esta posição privilegiada, ao se concretizar em valores correntes, para a
ampliação da Renda Nacional real, do PIB e do Superávit da Balança Comercial, poderá
possibilitar ao país uma tranqüilidade ainda maior que a hoje vivida, em razão da
estabilidade econômica, desde a implantação do Real e o controle da inflação,
potencializando inclusive reservas internacionais para investimentos e incentivos a
outras áreas produtivas do país. Não podemos perder o “Bonde” econômico...
REFERÊNCIAS
ADRIANO, José. “Cana avança no pasto e limita expansão da soja no Paraná”. Instituto
Humanitas Unisinos. Notícias. Disponível em:
<http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe
&id=5332P>. Acesso em 08/03/2007.
CHINA ordena moratória de etanol contra alta dos alimentos, diz 'The Times'. O Globo
OnLine, 12/06/2007. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/economia/mat/2007/06/12/296113867.asp> Acesso em:
19/06/2007.
CLEMENTE, Isabel; MANSUR, Alexandre; LEAL, Renata. Os oito passos para o
Brasil virar uma potência. Revista Época. Disponível em:
<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG77580-8056-472-2,00.html>.
Acesso em: 26/06/2007.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. EQUIPE
ATLAS. São Paulo: ATLAS, 1988.
DE ALTERNATIVO a vedete: a trajetória do álcool no Brasil. GI negócios. Disponível
em: < http://g1.globo.com/Noticias/0,,IIF1261-5600,00.html> Acesso em: 24/06/2007.
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FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. 27 ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional: Publifolha, 2000.
MANSO, U. A. A corrida estrangeira pelo álcool. Anuário Exame - Agronegócio
2007/2008, São Paulo, Abril, junho 2007, p. 32-34.
NAKABASHI, Luciano & cruz, Marcio V.da. & SCATOLIN, Fábio Dória. Efeitos do
Câmbio e Juros sobre as exportações da indústria brasileira. Texto 03/2007. Disponível em: < http://www.economia.ufpr.br/publica/textos/textos.htm> Acesso em:
23/06/2007
STEPHANES, Reinhold. Entrevista. Seção Artigos. FOLHA DE SÃO PAULO ON
LINE, 17/05/2007. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u117272.shtml> Acesso em: 21/05/2007