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SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS FUNÇÕES POLINOMIAIS DE 1º, 2º E 3º GRAUS NO ENSINO MÉDIO. Eixo Temático 5 I ENOPEM Daniel Felipe Neves Martins 1 Raphael Martins Gomes 2 Resumo O presente texto apresenta uma alternativa para o estudo de máximos e mínimos de funções polinomiais elementares no 1º ano do Ensino Médio, sem a abordagem tradicional por derivada vista como um limite. É apresentado aos alunos a definição de polinômio derivado definido num corpo K[x], de função polinômio derivado e uma breve demonstração de que a imagem da raiz do polinômio derivado corresponde a um ponto de máximo ou mínimo, tomando a função quadrática por ponto de partida. A metodologia aplicada foi a Inquiry Based Learning a fim de contemplar a competência específica 3 e a habilidade EM13MAT302 da BNCC do Ensino Médio. A pesquisa, iniciada em agosto do corrente ano está em curso por conta da pandemia de COVID-19 que modificou o calendário escolar diminuindo a quantidade e o tempo das aulas síncronas. Os resultados e comunicações dos mesmos serão apresentados futuramente, analisando possíveis ganhos pedagógicos no processo de ensino e aprendizagem da aplicação da temática via tecnologias digitais. Palavras-chave: Funções do 1º e 2º graus, Polinômio Derivado, Máximos e Mínimos, Tecnologia. 1. Introdução A construção desta comunicação foi estimulada pelas palavras do professor Nilson José Machado, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, quando no site Imaginário Puro 3 , afirmou através de uma entrevista que, as ideias iniciais do cálculo podem ser trazidas para o Ensino Médio através de um estudo mais amplo das funções elementares, estudadas neste período de escolaridade da Educação Básica. O que foi pensado imediatamente, é se havia alguma maneira de não abordarmos o conceito de limites e a definição de função derivada como um limite, no Ensino Médio. Nossa intenção sempre esteve voltada para buscar uma definição matemática que não permitisse perder a riqueza do estudo das aplicações das funções que trata o cálculo diferencial, como por exemplo, o estudo de máximos e mínimos locais de uma função polinomial. Buscávamos 1 Professor do Colégio Pedro II, Campus São Cristóvão III. [email protected] 2 Aluno da Pós Graduação em Educação Matemática, Colégio Pedro II. [email protected] 3 Veja a entrevista em https://imaginariopuro.wordpress.com/2015/10/28/calculo-no-ensino-medio-ja-passou-da- hora/

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SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS

FUNÇÕES POLINOMIAIS DE 1º, 2º E 3º GRAUS NO ENSINO MÉDIO.

Eixo Temático 5 – I ENOPEM

Daniel Felipe Neves Martins 1

Raphael Martins Gomes2

Resumo

O presente texto apresenta uma alternativa para o estudo de máximos e mínimos de funções

polinomiais elementares no 1º ano do Ensino Médio, sem a abordagem tradicional por derivada vista

como um limite. É apresentado aos alunos a definição de polinômio derivado definido num corpo

K[x], de função polinômio derivado e uma breve demonstração de que a imagem da raiz do polinômio

derivado corresponde a um ponto de máximo ou mínimo, tomando a função quadrática por ponto de

partida. A metodologia aplicada foi a Inquiry Based Learning a fim de contemplar a competência

específica 3 e a habilidade EM13MAT302 da BNCC do Ensino Médio. A pesquisa, iniciada em

agosto do corrente ano está em curso por conta da pandemia de COVID-19 que modificou o

calendário escolar diminuindo a quantidade e o tempo das aulas síncronas. Os resultados e

comunicações dos mesmos serão apresentados futuramente, analisando possíveis ganhos pedagógicos

no processo de ensino e aprendizagem da aplicação da temática via tecnologias digitais.

Palavras-chave: Funções do 1º e 2º graus, Polinômio Derivado, Máximos e Mínimos, Tecnologia.

1. Introdução

A construção desta comunicação foi estimulada pelas palavras do professor Nilson

José Machado, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, quando no

site Imaginário Puro3, afirmou através de uma entrevista que, as ideias iniciais do cálculo

podem ser trazidas para o Ensino Médio através de um estudo mais amplo das funções

elementares, estudadas neste período de escolaridade da Educação Básica.

O que foi pensado imediatamente, é se havia alguma maneira de não abordarmos o

conceito de limites e a definição de função derivada como um limite, no Ensino Médio. Nossa

intenção sempre esteve voltada para buscar uma definição matemática que não permitisse

perder a riqueza do estudo das aplicações das funções que trata o cálculo diferencial, como

por exemplo, o estudo de máximos e mínimos locais de uma função polinomial. Buscávamos

1 Professor do Colégio Pedro II, Campus São Cristóvão III. [email protected] 2 Aluno da Pós Graduação em Educação Matemática, Colégio Pedro II. [email protected] 3 Veja a entrevista em https://imaginariopuro.wordpress.com/2015/10/28/calculo-no-ensino-medio-ja-passou-da-

hora/

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uma linguagem que não estivesse atrelada à geometria (no sentido de movimentação de retas

e pontos no plano), que não se apoiasse no fato de uma linha reta servir de aproximação à

uma linha que não necessariamente é reta, uma linguagem que não fosse da análise real e que

esta linguagem emergisse da álgebra. Estas condições foram intencionais, a fim de que

pudéssemos dar continuidade ao que já vinha sendo trabalhado com os alunos: o

reconhecimento do que caracteriza as funções polinomiais do primeiro e segundo graus, o

estudo das variações das imagens das funções a partir da analise gráfica e de valores

organizados em tabelas, uma melhor compreensão do comportamento destas funções

elementares através do uso de recursos computacionais que um software pode oferecer e por

fim, mas não menos importante, a possibilidade de realizarmos uma grande variedade de

problemas de aplicações do conceito de função de maneira diferente da tradicional, que em

geral é recheada de fórmulas decoradas pelos alunos.

Assim, a fim de concentrarmos nossos esforços nas aplicações, lançamos mão do

conceito de polinômio derivado e consequentemente da função polinômio derivado de uma

dada função polinomial do tipo 𝑓(𝑥) = 𝑎0𝑥0 + 𝑎1𝑥1 + 𝑎2𝑥2 + ⋯ + 𝑎𝑛𝑥𝑛 + ⋯, onde os

coeficientes de cada parcela e a variável x são números reais. Tais definições vêm da álgebra,

mais especificamente do estudo dos anéis dos polinômios sobre um corpo K[x]. Estas

definições aliadas à tecnologia digital, como o uso do software livre GeoGebra, e a uma

metodologia específica, o Inquiry Based Learning (IBL), nos permitem trabalhar uma série de

aplicações em diversas áreas do conhecimento matemático ou de outras áreas do

conhecimento, de maneira simples e investigativa, como sugere Brasil (2017). Assim, verbos

evocados ainda em Brasil (2017) como raciocinar, representar, argumentar e comunicar estão

presentes em todas as etapas desta pesquisa.

2. Fundamentação Teórica

Todas as atividades foram pensadas a partir da definição de materiais manipuláveis

encontrada em Lorenzato (2006) e também do conceito de materiais manipuláveis virtuais

apresentado por Santos e Escher (2019) que afirmam que “a tecnologia proporciona a

visualização e experimentação de conceitos matemáticos simultaneamente. Com isso, o

estudante consegue estabelecer e validar as suas conjecturas”.

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Gonçalves (1979) contribui para o embasamento teórico-matemático que sustenta a

espinha dorsal do texto, assim como as propostas de atividades que são sugestões de como

trabalhar a modelagem de problemas que recaem em funções polinomiais simples e de como

interpretá-los fazendo uso das definições de polinômio derivado e da função polinomial

derivada. Machado (2008) e Molon e Figueiredo (2015) dialogam com esta temática

contribuindo com exemplos possíveis de atividades para sala de aula que não antecipam o que

é tradicionalmente feito nos cursos de cálculo em nível universitário. Ambos autores mostram

que o uso das tecnologias digitais aplicadas a problemas cujos modelos são funções

polinomiais em contextos diversos é uma excelente ferramenta pedagógica, indo ao encontro

do sugere Brasil (2017): construir e interpretar modelos e resolver problemas em diversos

contextos, analisando os resultados obtidos e adequando soluções auxiliam o aluno construir

argumentações consistentes.

3. Aspectos metodológicos

As propostas descritas como atividades no decorrer do presente texto são algumas

sugestões de como trabalhar a modelagem de problemas que recaem em funções polinomiais

simples e de como interpretá-los fazendo uso das definições de polinômio derivado 𝑝′(𝑥) e

da função polinômio derivado 𝑓’(𝑥).

Inicialmente, procuramos fazer a relação entre os estudos analíticos das funções

polinomiais do primeiro e do segundo graus já abordadas previamente, com aquelas funções

que modelam efetivamente os problemas propostos. A questão reside, mais especificamente,

na compreensão da necessidade de partição do maior domínio de definição de uma função já

estudada pelo aluno para então partirmos para a resolução do problema proposto levando em

consideração sobre qual domínio, a função que modela o problema está definida. Saber

determinar o domínio da função e fazer um estudo mais geral e cuidadoso do gráfico obtido

em classe, entendendo que o uso dos recursos computacionais é uma ferramenta de apoio ao

processo de ensino e de aprendizagem, é de suma importância tanto por parte dos alunos

quanto dos professores. Já a análise da função polinomial derivada de uma dada função 𝑓(𝑥)

entra como elemento de auxílio que permite encontrar soluções de uma maneira alternativa

para uma determinada classe de problemas, além de possibilitar discutir se houve ou não,

ganhos reais em relação a aquisição e consolidação de conhecimentos matemáticos em

problemas que envolvem, por exemplo, taxas de variação, estudo da variação do sinal da

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função ou problemas que buscam valores do domínio que conduzem a valores máximos ou

mínimos num dado intervalo.

As quatro primeiras atividades foram divididas em dois momentos. No primeiro

momento buscamos incentivar a modelagem dos problemas, assim como o uso de softwares

que permitem explorá-los mais, como interpretar os dados e analisar valores encontrados a

partir da construção de gráficos. O segundo momento tem por objetivo entender como o

polinômio derivado se relaciona com a função original e com conceitos previamente

estudados pelos alunos. O simples uso de uma tabela permite relacionar a taxa de variação das

imagens de uma função polinomial do 1º grau com a função polinômio derivado constante. A

mesma possibilidade de estabelecimento de relação se dá com as funções polinomiais do 2º

grau, onde os alunos percebem que, o que caracteriza este tipo de função é a taxa de variação

se dar em função de uma função afim; e que a taxa de variação da taxa de variação é

constante. São resultados muito poderosos para a compreensão do comportamento de funções

polinomiais de grau maior que dois e mesmo para o traçado de seus gráficos a partir do

conhecimento dos gráficos de funções polinomiais derivadas associadas a elas.

A quinta atividade leva o debate para as funções polinomiais do 3º grau, cujos estudos

em sala de aula possuem um espaço diminuto no Ensino Médio brasileiro, nos arriscando

dizer, inexistente, como sugere Machado (2015). A análise gráfica da função polinomial do

3º grau e da função polinômio derivado atrelado a ela é vista como um recurso rico por

permitir compreender a variação no comportamento da função, além de permitir encontrar

pontos de máximo e/ou mínimos locais a partir da observação conjunta ente 𝑓(𝑥) e 𝑓′(𝑥) ,

que definiremos mais adiante.

Mas, como abordar esta questão nas salas de aula? A metodologia escolhida é a

Inquiry Based Learning (IBL). Trata-se de um modelo de ensino-aprendizagem onde a

resolução de problemas de maneira colaborativa é sempre a atividade disparadora, isto é, o

‘start’ para os primeiros passos na construção de conceitos através de descobertas. O aluno é o

centro do processo de aprendizagem e através de incentivos constantes à não memorização de

fatos, fórmulas ou decorebas de macetes, se vê sempre em atuação. Através da metodologia

IBL o conhecimento do aluno se constrói e se consolida através da leitura, da interpretação, da

exploração, da experimentação, da testagem, da checagem e da discussão em grupo antes de

Page 5: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

uma tomada de decisão. Os alunos são encorajados a buscar diferentes formas de encarar um

problema e as respostas não são entregues ou facilitadas pelo professor, que na figura de

mediador do processo, auxilia o aluno na exploração do material que recebeu. Além disso, o

professor deve procurar fomentar discussões, propiciar condições para que os alunos

formulem questões e principalmente valorizar a divisão de ideias com seus pares em

pequenos grupos de trabalho.

Muito utilizada desde a segunda metade do século XIX como metodologia ativa

própria das Ciências Naturais, o IBL é adequado às atividades que requerem investigação,

estabelecimento de conjecturas oriundas de observações, da formulação de hipóteses, das

trocas de ideias entre os agentes resolvedores de um dado problema, da especulação sobre a

veracidade dos fatos e, sobretudo da possibilidade de generalização de resultados. Este último

aspecto caracteriza bastante o ofício de um matemático e no universo da educação básica

permite que o aluno ‘faça matemática’. Este “fazer matemática” em sala de aula permite

compreender melhor os processos de construção do conhecimento pelos alunos que têm na

figura do professor, um fio condutor.

Trazer esta metodologia para o estudo das funções polinomiais elementares no Ensino

Médio e das funções polinômios derivados sob a ótica da álgebra e da tecnologia, permite

ampliar o raciocínio lógico-dedutivo dos alunos e o convida aos primeiros exercícios de

categorização de comportamentos de determinadas classes de funções, sem perceber que está

fazendo uma tarefa complexa a partir do ato de investigar e explorar. A observação de

comportamentos regulares, a exploração do tópico estudado por si mesmos e a

estabelecimento de conexões do que está aprendendo com outros assuntos já estudados

permitem a construção do pensamento crítico dos alunos e o aumento de suas capacidades

argumentativas.

4. O polinômio derivado e um resultado importante

Vamos apresentar quatro definições e um resultado que servirão de base para a

compreensão e resolução de todas as atividades.

Page 6: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

Definição 1:

Seja K um corpo qualquer. Chamamos de um polinômio sobre o corpo K em uma

indeterminada x, uma expressão formal 𝑝(𝑥) = 𝑎0 + 𝑎1 𝑥1 + 𝑎2 𝑥

2 + 𝑎3 𝑥3 + ⋯ + 𝑎𝑚 𝑥

𝑚

onde 𝑎𝑖 ∈ 𝐾, ∀ 𝑖 ∈ 𝐼𝑁 𝑒 ∃ 𝑛 ∈ 𝐼𝑁 𝑡𝑎𝑙 𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑗 = 0 ∀𝑗 ≥ 𝑛. Denota-se por K[x] o conjunto

de todos os polinômios sobre o corpo K, em uma indeterminada x.

Definição 2:

Seja o polinômio de coeficientes reais 𝑝(𝑥) = 𝑎0 + 𝑎1 𝑥1 + 𝑎2 𝑥

2 + 𝑎3 𝑥3 + ⋯ +

𝑎𝑚 𝑥𝑚 sobre o corpo IR[x]. Chama-se polinômio derivado sobre IR[x] ao polinômio

𝑝′(𝑥) = 𝑎1 + 2𝑎2𝑥 + 3𝑎3𝑥2 + ⋯ + 𝑘𝑎𝑘𝑥𝑘−1 + ⋯ + 𝑛𝑎𝑛𝑥𝑛−1 que abreviado pode ser

escrito por 𝑝′(𝑥) = ∑ 𝑘. 𝑎𝑘𝑛𝑘=1 . 𝑥 𝑘−1. Em particular, se o polinômio p(x) é o polinômio

constante ou o polinômio nulo, o polinômio derivado também é nulo.

Definição 3:

Define-se polinômio derivado de ordem n de um determinado polinômio sobre um

corpo K[x], o polinômio 𝑝(𝑛)(𝑥) 𝑡𝑎𝑙 𝑞𝑢𝑒 𝑝(0)(𝑥) = 𝑝(𝑥) 𝑒 𝑝(𝑛+1)(𝑥) = [𝑝(𝑛)(𝑥)]′ .

Definição 4:

Seja um polinômio derivado 𝑝′(𝑥) definido sobre um corpo K[x]. Chamaremos de

função polinômio derivado a função cuja lei de formação corresponde à expressão algébrica

de 𝑝′(𝑥) . Assim, a notação usada de agora adiante para função polinômio derivado de uma

função polinomial 𝑓(𝑥) real de variável real é dada por 𝑓′(𝑥).

Resultado importante:

Seja 𝑓’(𝑥) a função polinômio derivado da função quadrática cuja lei de formação é

𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥2 + 𝑏𝑥 + 𝑐. Se 𝛼 a raíz de 𝑓′(𝑥) então 𝑓(𝛼) = −𝑏2+4.𝑎.𝑐

4𝑎 .

Atividade 1 Uma caixa d’água possui capacidade de 400L e está completamente cheia. Um

furo faz com que a água escoe a uma vazão de 500mL por dia. Sabendo que não há entrada

de líquido na caixa d’água, em quantos dias toda a água da caixa será escoada?

Page 7: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

Em seu primeiro momento, a atividade 1 nos dá diversas possibilidades de como

explorar conceitos das funções polinomiais do 1º grau com restrições no domínio. A

determinação da lei de formação da função, a interpretação de seus coeficientes, a análise do

seu domínio quando este for diferente do maior domínio de definição da função afim, o

crescimento e o decrescimento das imagens e o comportamento geral do traço da função no

plano vão ao encontro do que se espera no estudo das funções elementares no Ensino Médio.

Além disso, é uma boa oportunidade para explorar o uso de ferramentas digitais, como

o Excel. A partir dele é possível mostrar como o software pode ser um facilitador na

construção de tabelas, sem a necessidade de realizar todos os cálculos. A imagem a seguir é

um exemplo de como se pode construir a tabela de valores, destacando-se o uso da ferramenta

“Inserir Função”.

O uso do Geogebra em complemento ao que foi explorado através do Excel ajuda o

aluno compreender o problema a partir da linguagem gráfica. Queremos analisar se os alunos

irão se atentar ao fato do gráfico não estar definido para todo 𝑥 ∈ ℝ e sim apenas para o

intervalo real 0 ≤ 𝑥 ≤ 800, lembrando que os valores de x representam o tempo em que o

volume de água escoou. Sendo assim, além de apresentar o recurso digital, o professor pode

chamar atenção para a diferença entre os gráficos da função em um contexto geral e no

contexto específico do problema.

Estudo da taxa de variação da função:

∆𝑦

∆𝑥=

150 − 350

500 − 100=

−200

400= −0,5

Uma interpretação para este resultado é que

o volume de água na caixa d’água diminui

(−) a uma taxa de meio litro por dia (0,5).

Figura 1 – Exemplo de tabela criada no Excel para

modelar o problema

Page 8: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

O segundo momento da atividade se inicia quando o professor pede ao aluno para

escrever a função polinômio derivado 𝑓′(𝑥) = −0,5 e relacionar a lei de formação

encontrada com a taxa de variação da função.

A ideia é que o professor auxilie o aluno através de questionamentos concluir que: (1)

A função polinômio derivado é uma função constante de imagens negativas, logo a função

original é estritamente decrescente. Esta conclusão é válida para 𝐷 = ℝ ou 𝐷 = [0,800] e (2)

A função polinômio derivado não possui raiz, portanto a função original não possui um valor

máximo ou mínimo num dado intervalo ]a,b[.

A segunda atividade relaciona um problema de geometria em que a determinação da

área de uma figura se dá em função de um determinado comprimento. A atividade tem um

primeiro momento puramente manual e experimental. Esta atividade é para ser realizada em

grupo de quatro alunos a fim de que possam explorar, propor uma explicação, buscar uma

resposta e refletir sobre o valor encontrado por cada grupo. A apresentação deve ser feita por

um relator.

Figura 2 – Gráfico da função 𝑦 = 400 − 0,5𝑥 para

domínio real.

Figura 3 – Gráfico da função 𝑦 = 400 − 0,5𝑥

para domínio [0,800].

Figura 4 – Gráfico da função polinômio derivado.

Page 9: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

Atividade 2 Você recebeu uma folha quadrada de lado 80 cm. A partir dessa folha, retire

um quadrado de cada um de seus cantos. Todos eles devem ser congruentes entre si. Repare

que a figura resultante é um dodecágono côncavo em forma de cruz. Qual é sua área?

Pergunta-se:

a) Qual é a área total da folha original?

b) A área do dodecágono que o seu grupo encontrou é a mesma que os outros grupos

encontraram? Por quê?

Os questionamentos acima têm o objetivo de debater a relação de dependência entre a

área da “cruz” obtida e o lado dos quadrados retirados. É esperado que os alunos percebam

que as áreas obtidas vão depender da medida do comprimento dos lados dos quadrados que

foram retirados dos cantos da folha original, fornecendo assim resultados diferentes.

c) Considere a medida dos lados dos quadrados retirados como x. Qual é a área total dos

quadrados?

d) Escreva uma expressão que forneça a medida da área da figura resultante em função

deste lado de medida x. Explique como o grupo chegou a esta resposta.

A partir da folha quadrada cuja área é 6400 cm², quatro quadrados de área x² foram

retirados de seus cantos. Logo, sua área em função da medida x é dada por 𝐴(𝑥) = 6400 −

4𝑥². Outra maneira de determinar a lei de formação da função é dividir a nova figura em

quatro retângulos de dimensões (80 − 2x) e x e um quadrado de lado (80 − 2x). Portanto, a

área é dada por A(x) = 4 ∙ x ∙ (20 − 2x) + (20 − 2x)2 = 6400 − 4x².

Por outro lado, os itens c e d buscam usar as conclusões obtidas nos itens anteriores

para modelar o problema através de uma função cuja lei de formação é um polinômio do 2º

grau na variável x. Também é importante valorizar os caminhos diferentes que os alunos

podem utilizar para responder o item d.

Figura 5 – Construção do dodecágono em forma de cruz da atividade 2.

Page 10: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

No item e, a seguir, os alunos precisarão discutir qual o domínio de validade desta função.

Ainda que o lado do quadrado da folha original meça 80 cm, espera-se que o aluno perceba

que a medida x do lado do quadrado retirado não pode ser 40 cm ou mais, pois se assim for

não será formada a “cruz”. O valor de x também deve ser um número estritamente positivo,

visto que se x for igual a 0, continuaremos com a folha original e mais uma vez a “cruz” não

será formada.

e) Quais são as possíveis medidas dos lados de cada quadrado retirado, ou seja, quais são

os possíveis valores de x? Justifique.

Nos itens f e g, o uso do Excel permite analisar de maneira empírica o crescimento

ou o decrescimento da área da “cruz”, de acordo com as possíveis escolhas para os valores

que x pode assumir no domínio de definição da função. Caso a construção de planilhas no

Excel já tenha sido trabalhada em um momento anterior, é interessante desafiar os estudantes

a montar a fórmula que facilita a construção da tabela, além de debater como ela se relaciona

com a função obtida no item d. Construindo uma tabela no Excel podemos analisar o que

acontece com a área da figura, conforme aumentamos os valores de x.

Variação da área em função da variação de x

𝒙 𝑨(𝒙)

0 6400

1 6396

2 6384

10 6000

20 4800

30 2800

35 1500

40 0

Função “Inserir Função”

A(x)=6400-4x² =6400-4*(B4)^2

Figura 6 – Algumas variações da cruz obtida na atividade 2 e o porquê de x ser diferente de 0 e 40.

𝑥 = 0 𝑥 = 10 𝑥 = 25 𝑥 = 35 𝑥 = 40

Quadro 2 – Área em função do

Quadro I – Função Quadrática no Excel

Quadro II – Função Quadrática no Excel

Fonte: os autores

Fonte: os autores

Page 11: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

f) Relate a relação entre o valor de entrada x e a área do dodecágono.

g) Utilizando o GeoGebra, construa o gráfico da função polinomial 𝐴(𝑥) = 6400 – 4𝑥².

h) Podemos dizer que o gráfico construído representa a situação-problema que estamos

trabalhando? Em caso de resposta negativa, construa o gráfico da função que modela o

problema.

Os itens g e h propõem, mais uma vez, estabelecer a diferença entre o gráfico da função

quadrática de domínio real cuja lei de formação é 𝐴(𝑥) = 6400 − 4𝑥² e o gráfico da função

com a mesma lei de formação, porém para o domínio ]0,40[.

i) Determine a função polinômio derivado de 𝐴(𝑥) = 6400 − 4𝑥². R: 𝐴′(𝑥) = −8𝑥

j) Utilizando o GeoGebra, construa sobre um mesmo eixo de coordenadas cartesianas os

gráficos de 𝐴(𝑥) e 𝐴′(𝑥).

k) Analisando os dois gráficos, você percebeu alguma relação entre o gráfico da função

polinômio derivado 𝐴’(𝑥) e o gráfico da função original 𝐴(𝑥)?

Figura 7 – Gráfico da função 𝐴(𝑥) = 6400 − 4𝑥²

para domínio real.

Figura 8 – Gráfico da função 𝐴(𝑥) = 6400 − 4𝑥²

para domínio ]0,40[.

Figura 9 – Gráfico das funções 𝐴(𝑥) = 6400 − 4𝑥² e 𝐴’(𝑥) = −8𝑥².

Page 12: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

Os questionamentos do item k visam um debate conjunto envolvendo a relação entre a

função polinômio derivado de 1º grau e a função quadrática que o originou. Em um primeiro

momento, os alunos podem não perceber diretamente como eles se relacionam, mas é

interessante que o professor chame atenção para alguns detalhes importantes dos gráficos,

como por exemplo: as coordenadas do ponto onde a função deixa de ser crescente para ser

decrescente (vice-versa), as coordenadas do vértice da parábola, a raiz do polinômio derivado

e o estudo da variação do sinal da função polinômio derivado. É importante que o professor

forneça ao aluno condições de perceber que a imagem da raiz α da função polinômio derivado

em A(x) determinará a ordenada de um ponto de mínimo ou máximo.

Analisados os fatores citados, é o momento de apresentar as conclusões:

Para todo x<0, a função polinômio derivado A’(x) é positiva, enquanto para todo x>0 a

imagem da função polinômio derivado é negativa. A partir daí, concluímos que para

todo x<0 a função A(x) é crescente e para todo x>0 a função A(x) é decrescente.

Como a função A(x) é inicialmente crescente e posteriormente decrescente, podemos

concluir que ela tem um valor máximo.

Por fim, como a raiz da função polinômio derivado é 0, concluímos que o valor

máximo da função é encontrado no cálculo de A(0).

Atividade 3 Na figura a seguir tem-se o quadrado MNPQ inscrito em outro quadrado ABCD.

Considere o lado do quadrado ABCD medindo 8 cm. Qual a menor área que o quadrado

MNPQ pode possuir?

Antes mesmo de propor exercícios a respeito da atividade 3, uma tarefa interessante é

construir a situação descrita no GeoGebra. Usando os recursos de animação do software, o

aluno pode manipular virtualmente este objeto a fim de conjecturar a respeito do crescimento

e decrescimento do valor numérico da área do quadrado MNPQ movimentando o ponto M

sobre o segmento AB.

Figura 10 – Quadrado inscrito em outro quadrado.

Page 13: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

Espera-se que a turma entenda que, em um primeiro momento, ao afastar o vértice M

do ponto A, a área do quadrado diminui até chegar a um valor mínimo quando M se localiza

no ponto médio de AB. A partir desse ponto, conforme afastamos o ponto M, o quadrado

volta a ter sua área ampliada. Espera-se também que o aluno perceba que posicionando M em

determinados pontos de AB, o valor numérico da área do quadrado MNPQ se repete. Por

exemplo:

Vamos estabelecer que essa área seja calculada em função da medida do segmento 𝐴𝑀̅̅̅̅̅.

Portanto, dado 𝐴𝑀 = 𝑥, temos que a medida 𝑀𝐵̅̅ ̅̅̅ = 8 − 𝑥. Além disso, os triângulos AMQ,

BNM, CPN e DQP são congruentes. Na descoberta da lei de formação da função da função

através do Teorema de Pitágoras, temos:

Note que a expressão 𝐿² já determine a área do quadrado MNPQ. Assim, 𝐴(𝑥) = 𝑥2 +

(8 − 𝑥)2 = 2𝑥² − 16𝑥 + 64 e 𝐴’(𝑥) = 4𝑥 − 16 que é uma função estritamente crescente. Sua

raiz é 4, para 𝑥 < 4 as imagens são negativas e para 𝑥 > 4 as imagens são positivas. Sendo

𝑥

8 − 𝑥 𝐿

Sendo L a medida do lado MQ de MNPQ, pelo Teorema de

Pitágoras podemos escrever:

𝐿² = 𝑥² + (8 − 𝑥)²

𝐿 = √𝑥² + (8 − 𝑥)²

Figura 11 – Exemplos de variações do quadrado MNPQ

𝐴𝑀̅̅̅̅̅ = 7 𝑐𝑚 𝐴𝑀̅̅̅̅̅ = 1 𝑐𝑚

Figura 12 – Exemplos de variações do quadrado MNPQ com a mesma área.

Figura 13 – Cálculo da medida do segmento MQ.

Page 14: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

assim, a função original é decrescente para 𝑥 < 4 e crescente para 𝑥 > 4. Logo, ela possui um

valor mínimo igual a 𝐴(4). Conclui-se, portanto, que a área mínima do quadrado MNPQ é

dada por A(x), é tal que 𝐴(4) = 2 ∙ 42 − 16 ∙ 4 + 64 = 32.

Para concluir a atividade, vamos mostrar graficamente os resultados obtidos. A

conjugação do gráfico da função A(x) com a função polinômio derivado A’(x) no mesmo

plano cartesiano auxilia a construção da solução do problema.

Atividade 4 DESAFIO; Sem conhecer o gráfico da função 𝑓(𝑥) = 𝑥³ − 7,5𝑥2 + 18𝑥 − 1,

estabeleça uma estratégia para encontrar, pelo menos, as coordenadas de um ponto comum

entre este gráfico e uma reta tangente a ele que seja paralela ao eixo das abscissas.

Usando o Geogebra como ferramenta de verificação da construção do raciocínio:

Figura 15 – A(x) e A’(x) no mesmo plano cartesiano.

Como 𝑓′(𝑥) = 3𝑥² − 15𝑥 + 18, 𝑥 = 2 e 𝑥 = 3 são as raízes de 𝑓’(𝑥). Assim, para 𝑥 < 2 ou 𝑥 > 3,

𝑓’(𝑥) > 0 e 𝑓(𝑥) é crescente. Para 2 < 𝑥 < 3, 𝑓’(𝑥) < 0 e 𝑓(𝑥) é decrescente. Para encontrar as

coordenadas dos pontos pedidos basta calcular 𝑓(2) = 13 e 𝑓(3) = 25

2. Logo, tangente horizontal

nos pontos (2,13) e (3,25

2).

Figura 16 – y(x) e y’(x) no mesmo plano cartesiano.

Page 15: SOBRE O USO DA FUNÇÃO POLINÔMIO DERIVADO E AS …

5. Conclusões

A intenção desta pesquisa é apresentar ao aluno do Ensino Médio a função polinômio

derivado para, a partir dele, fazer o estudo da variação do sinal das funções polinomiais do 1°

e 2° graus e determinar máximos e mínimos locais. Por conta da pandemia de COVID-19, as

atividades ainda estão em curso, porém o feedback que recebemos até a atividade 2 está sendo

muito positivo. Dados ainda estão sendo coletados, organizados e categorizados.

Apresentar o gráfico de f(x) e f'(x) no mesmo plano através do GeoGebra conjugada à

metodologia IBL já demonstra ganhos positivos no processo de ensino-aprendizagem e vai ao

encontro das propostas contidas nos referenciais teóricos e nas competências específicas na

área de matemática e tecnologias presentes na BNCC. O uso de materiais manipuláveis

virtuais auxilia a apresentação do tema sem a tradicional abordagem por limites.

Futuramente comunicaremos os dados gerais da pesquisa, sobretudo o que envolve a

atividade 4, um desafio para alunos e professores do ensino médio.

6. Bibliografia

BRASIL, Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Ensino Fundamental e Médio,

Brasília, MEC, 2017.

GONÇALVES, G. Introdução à álgebra. Projeto Euclides, Rio de Janeiro, Editora Livros

Técnicos Científicos, p.63, 1979.

MACHADO, N.J. Cálculo diferencial e integral na escola básica: possível e necessário.

São Paulo, USP, 2008. www.nilsonjosemachado.net/sema 20080311.pdf Acesso em 04/09/20.

MACHADO, N.J. Cálculo no Ensino Médio: Já passou da hora. São Paulo, 2015.

www.imagináriopuro.worldpress.com Acessado em 06/09/20

MOLON, J. e FIGUEIREDO, E.S. Cálculo no Ensino Médio: uma abordagem possível e

necessária com auxílio do software GeoGebra. Revista Ciência e Natura, Santa Maria, v.

37 Ed. Especial PROFMAT, p. 156–178, 2015.

NETO, A.A. et al. Números Complexos, Polinômios e Equações algébricas. Coleção

Noções de Matemática, v. 7, Editora Moderna, 1982.

LORENZATO, S. O laboratório de ensino de Matemática e materiais didáticos

manipuláveis. In: Lorenzato, S. Laboratório de Ensino de Matemática e Formação Docente,

Campinas, 2006.

SANTOS, B. O e ESCHER, M.A. O uso do laboratório virtual de pesquisa em Educação

Matemática: uma experiência com geometria no Ensino Médio. PAPMEM, UFJF, 2019.