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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO Prof. José de Souza HerdyUNIGRANRIO DAIANE DA SILVA GUERRA SUSAN OLIVEIRA TRINDADE USO DE ESTRANGEIRISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA: ESTUDO SOBRE PUBLICIDADE E LEIS RIO DE JANEIRO 2015

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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO “Prof. José de Souza Herdy”

UNIGRANRIO

DAIANE DA SILVA GUERRA

SUSAN OLIVEIRA TRINDADE

USO DE ESTRANGEIRISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA:

ESTUDO SOBRE PUBLICIDADE E LEIS

RIO DE JANEIRO

2015

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DAIANE DA SILVA GUERRA

SUSAN OLIVEIRA TRINDADE

USO DE ESTRANGEIRISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA:

ESTUDO SOBRE PUBLICIDADE E LEIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade do Grande Rio “Prof. José de

Souza Herdy” como parte dos requisitos básicos

na obtenção do grau de Licenciatura Plena em

Letras Português e Inglês.

Orientador:

Prof. Dr. Márcio Luiz Correa Vilaça

RIO DE JANEIRO

2015

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DAIANE DA SILVA GUERRA

SUSAN OLIVEIRA TRINDADE

USO DE ESTRANGEIRISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA:

ESTUDO SOBRE PUBLICIDADE E LEIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade do Grande Rio “Prof. José de

Souza Herdy” como parte dos requisitos

básicos na obtenção do grau de Licenciatura

Plena em Letras Português e Inglês.

Área de concentração:

Linguística e Língua Portuguesa.

Aprovadas em________________de_________________de____________.

Banca Examinadora:

__________________________________

Prof. Dr. Márcio Luiz Correa Vilaça

Universidade do Grande Rio

_____________________________________

Prof. Lilia Aparecida Costa Gonçalves

Universidade do Grande Rio

4

RESUMO

O presente trabalho visa refletir o uso de estrangeirismos na língua portuguesa falada no

Brasil, assim como também, o uso desses termos na publicidade brasileira e algumas das leis

de uso dos mesmos. Inicialmente, através do estudo de iniciação da linguagem/ língua e suas

diferentes definições e origens, as variações linguísticas, os estudos do léxico: lexicologia e

lexicografia e a formação do léxico. Posteriormente, com as definições e características de

estrangeirismos, diferenciação de empréstimo, possíveis origens, e ainda, críticas ao uso na

língua portuguesa falada no Brasil. Por último, tem-se o estudo dos estrangeirismos na

prática, como estão usados na publicidade brasileira e as respectivas leis. O assunto abordado

é extenso em fatores históricos e humanos, por esta razão, este trabalho dará ênfase apenas ao

uso de estrangeirismos na língua portuguesa falada no Brasil: leis publicitárias, porém, sem

intenção de esgotá-lo. Mostrando assim parte da modificação do léxico brasileiro, tendo como

objeto de estudo a própria língua que convivemos frequentemente e que conheceremos um

pouco mais através deste trabalho.

Palavras-chave: Uso de Estrangeirismos – Língua Portuguesa – Publicidade - Leis

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ABSTRACT

The essay aims to a deep thought about the use of foreign words in Portuguese, initially

through the initiation study of language, its different definitions and origins, its linguistics

variations, the study of lexicon: lexicology, lexicography and lexicon formation. After, with

the definitions and characteristics of foreign words, differentiation of loanwords, its possible

origins, and still, critics to its practical use at Portuguese spoken in Brazil. Finally, the study

of foreign words applied on a daily basis in Brazilian publicity, and its respective laws. The

subject approached is extensive on historical and human factors, therefore, this paper will give

emphasis only to the use of foreign words at the Portuguese spoken in Brazil: publicity laws,

yet, without any intention of exhausting it. Pointing part of the modification of Brazilian

lexicon, using the language we all live with and the language we will discover a little more as

an object of study.

Keywords: Use of foreign words - Portuguese - Advertising - Laws

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................7

2 LINGUAGEM E LÍNGUA.................................................................................................10

2.1 ORIGENS E DEFINIÇÕES................................................................................................10

2.2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA.............................................................................................14

2.3 LEXICOLOGIA E LEXICOGRAFIA................................................................................16

2.4 A FORMAÇÃO DO LÉXICO............................................................................................18

3 ESTRANGEIRISMOS........................................................................................................20

3.1DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS............................................................................21

3.2 ESTRANGEIRISMO E EMPRÉSTIMO...........................................................................23

3.3 ORIGENS...........................................................................................................................26

3.4 CRÍTICAS AO USO DE ESTRANGEIRISMOS..............................................................27

4 ESTRANGEIRISMO NA PRÁTICA PUBLICITÁRIA .................................................30

4.1 ESTRANGEIRISMOS NA PUBLICIDADE....................................................................33

4.2 LEIS DE USO DE ESTRANGEIRISMOS NA PUBLICIDADE

BRASILEIRA...........................................................................................................................35

4.2.1 LEI N° 5033/09................................................................................................................36

4.2.2 LEI N° 156/2009..............................................................................................................37

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................44

ANEXOS..................................................................................................................................46

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa estuda o uso de estrangeirismos na língua portuguesa

falada no Brasil, na publicidade e duas leis que determinam quando devem ser usados esses

termos na publicidade brasileira.

Nosso idioma carrega a herança de vários outros que foram de suma importância para a

formação das palavras e significados. Esses inúmeros empréstimos fazem parte da língua

portuguesa desde sua formação até seu atual desenvolvimento. (WEG, 2009)

O emprego de estrangeirismos se tornou ainda mais frequente na língua portuguesa

falada no Brasil. A língua brasileira vem sofrendo inúmeras mudanças ao longo do tempo,

devido à globalização e interação entre nações. Essas mudanças estão cada vez mais visíveis,

aumentando o léxico pelo contato de diferentes culturas, assim a língua segue em evolução.

Os Estados Unidos da América é o país historicamente conhecido como uma das

maiores potências econômicas e, consequentemente, a língua inglesa falada neste país vem

cumprindo o papel de mundial. (FARACO, 2001)

O avanço tecnológico facilitou a comunicação entre povos em massa, provocando

assim, o maior uso do idioma estrangeiro. O uso de estrangeirismos se tornou e tem se

tornado essencial em diversas áreas para que haja compreensão e comunicação, fazendo com

que as culturas do mundo inteiro se encontrem e se misturem. Contudo, para que haja

entendimento e esses termos não interfiram no significado, devem ser empregados de forma

que não prejudiquem a compreensão, tornando assim, seu uso uma expressão de

enriquecimento e cultura. (FILHO, 2000)

A publicidade tem alcance nacional e internacional, é muito influente na atual sociedade

em que vivemos, por isso foram criadas leis na publicidade brasileira que especificam o uso

de estrangeirismos, com a intenção de igualdade de compreensão para todos os falantes do

português brasileiro que residem nos estados onde essas leis foram propostas.

Este trabalho tem como objetivos: refletir o modo como os estrangeirismos estão sendo

usados e criticados, compreender as leis que determinam o uso desses termos na publicidade

brasileira e entender como a globalização e o avanço tecnológico interferem juntamente com

a publicidade das mídias na evolução da língua portuguesa falada no Brasil.

O presente trabalho de pesquisa pode contribuir com a reflexão do uso de

estrangeirismos através da análise pratica do uso, como têm aparecido e como estão sendo

colocados em diversas situações na mídia e em diversos lugares do Brasil.

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Com base no estudo do uso de estrangeirismos na língua português, este trabalho

possibilitará ao leitor o maior entendimento do uso e da evolução natural da língua, pois

pretende trabalhar com as questões da formação do léxico estrangeiro na língua portuguesa,

conseguindo, assim, transpor como esses termos emprestados de outros idiomas passaram a

ser parte da língua e o que a globalização, através das novas tecnologias, tem provocado na

língua portuguesa falada no Brasil. Esclarecendo, assim, a importância de conceitos básicos

da importante equação linguística de comunicação humana.

Para este saber científico, partimos de conceitos de gramáticos, linguistas, dicionários

especializados, gramáticas, jornais científicos, mídias, propagandas, leis na íntegra e livros

especializados e específicos.

O interesse sobre o assunto (leis acerca de estrangeirismos na publicidade brasileira)

surgiu através da vivência e das observações feitas pela dupla em suas próprias rotinas.

Percebemos a importância de compreender o surgimento, as origens, as características, os

estudos e as perspectivas futuras desses léxicos tão usados no passado, no presente e que

certamente continuarão sendo usados cada vez mais por questões globais.

A oportunidade de desenvolver conhecimento acerca da língua/linguagem, origens,

definições, variações, estudos e formação também faz parte dessa interessante pesquisa que

nos entusiasmou do início ao fim e que certamente não se esgota neste trabalho de pesquisa.

O assunto abordado nesse trabalho envolve incessante pesquisa, análise e entendimento

do próprio uso de nosso idioma e a adaptação que este sofre acerca de estrangeirismos dentro

da publicidade e as leis de uso. A partir do momento em que estamos tratando de um sistema

organizado, vivo, suas variações dentro do mesmo circuito, suas influências e suas mudanças.

A linguagem é viva e se modifica por si só com o passar do tempo, o que indica que a

pesquisa abordada nesse trabalho só trabalha uma pequena parte da compreensão das

variações da língua portuguesa falada no Brasil.

Apesar disso, a presente pesquisa conceitua diferentes definições acerca da linguagem/

língua; diferenciações, origens, estudos e definições de linguistas e gramáticos, formação de

palavras, variação linguística, lexicologia, lexicografia, formação do léxico, definições e

características dos estrangeirismos, diferenciação entre estrangeirismo e empréstimo, origens,

críticas de uso, até que por fim, chegaremos aos estrangeirismos na prática publicitária, duas

leis de uso, que são: Lei 5033/09 do Rio de Janeiro e a Lei 156/2009 do Rio Grande do Sul e

suas respectivas justificativas.

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Tem-se então o cronograma de estudos que serão vistos durante o presente trabalho de

pesquisa:

Os tópicos abordados no primeiro capítulo têm como essência trazer conhecimento a

respeito da formação de palavras. Como a linguagem foi evoluindo, através da formação dos

léxicos, até se tornar uma língua. Toda língua falada evolui através de variantes, dessa forma,

a língua passa por constante variação e continua seguindo rumo a evolução de seus falantes,

se adaptando da melhor maneira possível a realidade da sociedade a que pertence.

No segundo capítulo, vamos entender o que são estrangeirismos, suas definições e

características através de conceitos de gramáticos e estudiosos nas áreas de linguagem.

Veremos um pouco mais sobre essa influência de palavras de outros idiomas na língua

portuguesa, a diferenciação que existe entre empréstimo e estrangeirismo, as formas de

estrangeirismos de acordo com suas origens e, por fim, as críticas do uso de estrangeirismos

em nosso idioma.

Já no terceiro capítulo veremos os estrangeirismos na prática brasileira, onde estão

sendo aplicados e seus devidos exemplos reais e atuais, (anexos, jornais, televisão e

propagandas) assim como também, os estrangeirismos na publicidade e as duas leis acerca do

uso, que são: Lei 5033/09do Rio de Janeiro e a Lei 156/2009 do Rio Grande do Sul.

Iniciaremos nosso trabalho acadêmico com a percepção de que ainda há muita

divergência quando o assunto é o emprego de estrangeirismos na língua portuguesa em

diversas áreas, quanto mais na publicidade que tem alcance internacional e que influencia até

a fala das pessoas. (FARACO, 2001)

10

2 LINGUAGEM E LÍNGUA

O presente capítulo visa esclarecer a importância dos conceitos básicos da linguística

como comunicação humana. Visando entender melhor o tema abordado, partimos de

conceitos, dicionários, gramáticas e livros especializados.

Nessa nova era de globalização e de contatos com novas mídias, se faz necessário

compreender como os falantes ou qualquer comunicador chegaram e chegam ao processo de

comunicação dos seres humanos, pois o uso de palavras não foi a primeira forma de

linguagem utilizada pelo ser humano para se comunicar.

Antes mesmo da formação de palavras, os povos antigos usavam gestos e movimentos

para passar ideias e serem compreendidos. Essa linguagem foi evoluindo, através da formação

dos léxicos, até se tornar uma língua. Toda língua falada evolui através de variantes, dessa

forma, a língua passa por constante variação e continua seguindo rumo a evolução de seus

falantes, se adaptando da melhor maneira possível a realidade da sociedade a que pertence.

Pretende-se com esse capítulo conceituar as diferentes definições acerca da linguagem e

língua; diferenciar as origens e definições de linguistas e gramáticos sobre o tema e expor o

resultado dos estudos sobre a formação de palavras, variação linguística,

lexicologia,lexicografia, até que por final, chegaremos a formação do léxico.

Os tópicos abordados nesse primeiro capítulo têm como essência trazer conhecimento a

respeito da linguagem e língua, para que se possa compreender o sistema evolutivo que

resulta das variações linguísticas e, posteriormente, em estrangeirismos. O resultado da

evolução da língua portuguesa falada no Brasil, cada dia mais globalizada, que segue em

constante mudança de seus falantes.

2.1 ORIGENS E DEFINIÇÕES

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano já sentia a necessidade de se

comunicar, mesmo quando ainda não existiam palavras formadas. A emissão de sons

vocálicos demonstrava a maneira como viam o mundo, assim como suas expressões

demonstravam suas sensações e sentimentos. Desta forma, a língua/linguagem não é

consequência de longos anos de pesquisa, mas sim, algo que o homem nasce tendo como

instinto e habilidade racional; o que o diferencia claramente dos outros seres vivos. A partir

do momento em que a língua passou a ser desenvolvida - com expressões sonoras que

representassem elementos - foram formados nomes que tinham a simples missão de nomear

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objetos e seres, iniciando, consequentemente, a associação dos significados lexicais das

palavras à unidade física referida. (MURRIE, 1995)

As palavras carregam um conhecimento histórico vasto, passaram por diversos

processos de transição, adaptações e mudanças. A língua é um produto cultural e um

instrumento de manifestação da mesma, que se modifica conforme as necessidades e

condições de seus falantes. Fazendo o uso da linguagem, que é essencialmente humano, o

homem é capaz de interagir, exercer atividade sobre o outro, sobre si mesmo e sobre o mundo.

(MURRIE, 1995)

É através da linguagem que consegue-se comunicar, entender e ser compreendido, tanto

na escrita quanto na fala, consequentemente, a língua é mais do que essencial para a relação

entre seres humanos. Mas afinal, qual é a diferença entre linguagem e língua? Embora as

pessoas se refiram a esses dois termos com a mesma definição, existem aspectos diferentes

fundamentais para cada um deles segundo a linguística, pois se trata de um processo amplo

que é a comunicação humana.

Segundo Ernani Terra (2008), linguagem é a expressão do pensamento e instrumento de

comunicação, já língua é o conjunto de códigos pelo qual se estabelece a comunicação entre

um emissor e um receptor, a língua é abstrata e só se concretiza com a fala. Entende-se que

mesmo que os dois termos (linguagem, língua) estejam interligados no mesmo sistema de

comunicação, cada um tem um papel diferente dentro do idioma português, um pode depender

ou não da emissão de som e o outro necessita unicamente da fala, sem cujo ato se torna

inexistente e depende exclusivamente do aparelho fonador, que é o conjunto de órgãos

adaptados ao ato da fala (pulmões, brônquios, traqueia, laringe, faringe, boca e fossas nasais).

(TERRA, 2008)

Já Charaudeau (2008) apresenta a linguagem como um caminho simétrico de

comunicação que o receptor deve percorrer no sentido inverso ao da fala para encontrar a

intencionalidade do emissor. Assim, ele apresenta que a linguagem é “um objeto

transparente”, ou seja, “ato da linguagem se esgota em si mesmo”, quando por exemplo

“dizemos „fecha a porta‟, não queremos dizer nada além de „fecha a porta‟.

(CHARAUDEAU, 2008, p. 16). O que foi dito pelo emissor basta para ser entendido pelo

receptor, que escutará as palavras e entenderá o sentido, ou seja, a linguagem também

depende da língua, que é transmitida através da fala.

Bechara (2009) define linguagem e língua de uma maneira mais fracionada, em vários

níveis e planos que podem ou não se complementar, sendo dependentes ou autônomos.

Primeiramente, o gramático Bechara (2009) define Linguagem basicamente como: “qualquer

12

sistema de signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e

comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência. ” (BECHARA, 2009, p. 28)

A partir da ideia de que a linguagem é a expressão de ideias e sentimentos vindos da

consciência, Bechara (2009) ainda define de maneira mais específica a linguagem. Afinal, o

que é preciso para se obter linguagem? Bechara (2009) fragmenta linguagem em cinco

dimensões universais: “criatividade (ou enérgeia), materialidade, semanticidade, alteridade e

historicidade.” (BECHARA, 2009, p. 16, 17).

Ou seja, criatividade porque é a partir da forma de cultura que se manifesta uma

atividade livre e criadora, algo que vai além do que foi aprendido; materialidade porque a

linguagem depende dos órgãos de fonação e da atividade condicionada fisiológica e

psiquicamente e a produção de signos fonéticos articulados, que são os fonemas, grafemas

etc. que estabelecem diferentes significados, enquanto o ouvinte deve receber, captar e

compreender o conteúdo configurado pelo falante mediante aos signos fonéticos articulados.

Essa dimensão para Bechara (2009, p. 16): “é o nível biológico da linguagem”;

semanticidade, porque cada forma corresponde a um conteúdo significativo, na linguagem

tudo tem significado, tudo é semântico; alteridade, porque o significar é originariamente e

sempre um “ser com outros”, a natureza da linguagem depende de mais de uma pessoa,

falantes e ouvintes, que para o autor são cofalantes e coouvintes; e por último a historicidade,

pois a linguagem se apresenta sempre em forma de tradição linguística de uma comunidade

histórica. Não existe língua desacompanhada de sua referência histórica: língua portuguesa

(Portugal), língua francesa (França), língua inglesa (Inglaterra) etc. (BECHARA, 2009).

Bechara (2009) divide linguagem em três planos autônomos: linguagem universal (ou

do falar em geral), que é a que todos os homens adultos e normais falam; linguagem histórica

(ou da língua concreta) que é a que a que ocorre mediante a uma língua já concreta, como por

exemplo, a língua portuguesa; ea linguagem individual, já que o indivíduo fala por si em

determinadoidioma e situação. Ou seja, ele classifica e diferencia a linguagem de maneira a

selecionar a que deve usar todos os dias em ocasiões casuais, a que se fala (o próprio idioma

concretizado) e a linguagem de cada pessoa, pois cada indivíduo é único em sua forma de

agir, pensar e falar em diversas ocasiões que podem ocorrer em diversas circunstâncias.

(BECHARA, 2009)

Já em outro momento, em seu livro Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade?

Bechara (2006) divide língua em quatro tipos: 1.língua culta/padrão que é a escrita; 2. Língua

familiar/coloquial que é especialmente oral e espontânea entre pessoas escolarizadas que não

mantém coerência e fixidez de formas gramaticais; 3. Língua funcional, que é a que se

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delimita dentro da língua histórica e se caracteriza por ser um corpus homogêneo e uniforme;

4. Língua histórica, que é um conjunto constituído historicamente. (BECHARA, 2006, p.

71,72)

Agora, para Rocha Lima (2013) linguagem, num sentido mais amplo, pode ser

entendida como qualquer processo de comunicação, como mímica (libras e até mesmo gestos

usados por estrangeiros que não sabem o idioma); semáforo (sistema de sinais por cores, que

dão avisos de ações e até mesmo direção, no caso de aeroportos e costas); mensagens por

bandeiras, espelhos ao sol etc. (LIMA, 2013)

O gramático Lima (2013) faz questão de diferenciar a visão da linguística quanto ao

assunto em sua obra - já que existem diferentes estudos sobre a linguagem, e a respeito disso

Lima (2013) ressalta que a linguística só apresenta interesse por “aquele tipo de linguagem

que se exterioriza pela palavra humana, fruto de uma atividade mental superior e criadora.”

(LIMA, 2013, p. 35). Ou seja, para a linguística, a linguagem depende completamente da

mente humana para ser desenvolvida, construída e aplicada, de maneira criativa e inovadora,

dentro do meio existente, acrescentando à sociedade mais formas de comunicação. Lima

(2013, p. 35, 36) ainda apresenta que:

(...) há dois tipos de expressão linguística: a falada e a escrita (...) na comunicação escrita, os sons da fala passam a ser evocados apenas

mentalmente por meio de símbolos gráficos (...) é preciso partir da fala para

se examinar a escrita (LIMA, 2013, p.35,36).

Conclui-se que apesar de todas as diferentes definições apresentadas por diferentes

linguistas e gramáticos, a linguagem resulta de toda forma de comunicação em que haja

compreensão do que está sendo transmitido e que mesmo com as diferenças entre escrita,

gestos, sinais e fala, a língua acontece do contato entre seres humanos e que cada indivíduo

carrega consigo sua própria forma de se expressar, comunicar e falar, de acordo com as

diferentes ocasiões que podem ocorrer ao longo de sua vida. (BECHARA, 2009).

Mas como esse processo começou? Por que houve a necessidade de surgirem as

primeiras palavras? De que maneira se iniciou o processo de necessidade de comunicação e

de formação de significados para objetos e pessoas?

Vejamos a seguir os diferentes conceitos apresentados por linguistas e gramáticos que

resultam de pesquisas feitas por especialistas e estudiosos da evolução da língua portuguesa

falada no Brasil.

14

2.2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Sabendo que cada indivíduo produz de maneira diferente através da linguagem a forma

como vê o mundo e em diferentes ocasiões, o que é chamado de linguagem individual por

Bechara (2009). Entende-se então que pessoas que vivem em lugares diferentes, em tempos

diferentes e em meios sociais diferentes têm uma linguagem característica formada de acordo

com o convívio social, estudo e localidade. A linguagem individual é facilmente diferenciada

e reconhecida por se tratar da linguagem única de um indivíduo e suas características pessoais

expressas do pensamento para a fala. (BECHARA, 2009).

Para Lima (2013), cabem vários aspectos dentro da coesão de uma mesma língua, dessa

forma, cabem várias variações dentro do mesmo instrumento de comunicação, que é a língua,

e ainda segundo Lima (2013), esses aspectos influenciam mutuamente e não são determinados

apenas pela situação cultural ou psicológica dos que usam dela, senão também pela ação de

fatores geográficos e sociais. (LIMA, 2013).

A língua é um sistema vivo e com isso está em constante mudança. Os falantes de uma

determinada língua, de acordo com o meio social, cultural, histórico e econômico, acabam

criando novas formas de se expressar, fazendo arranjos de palavras, criando novas e aderindo

palavras de outros estados e países. Isso é a variedade linguística, na qual há diferentes formas

de se expressar em um mesmo idioma. (MOLLICA, 2010)

Mollica (2010) apresenta a utilização da variação linguística em seu estudo

sociolinguístico e define o termo em seu simples conceito que: “A variação linguística

constitui fenômeno universal e pressupõe a existência de formas linguísticas alternativas

denominadas variantes.” (MOLLICA, 2010, p. 11).

O que quer dizer que as variações linguísticas acontecem no mundo inteiro, a todo

momento e sabe-se que há variantes surgindo a qualquer instante. Mollica (2010) também se

preocupa em evidenciar como a variação é concebida e relata:

Uma variável é concebida como dependente no sentido que o emprego das variantes não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores (ou

variáveis independentes) de natureza social e estrutural. Assim, as variáveis

independentes ou grupos de fatores podem ser de natureza interna ou externa à língua e podem exercer pressão sobre os usos, aumentando ou diminuindo

sua frequência de ocorrência. (MOLLICA, 2010, p.11).

15

O convívio social é o maior fator que influencia a variação linguística, por questões

sociais e estruturais, e esse fator também influencia no esquecimento da variação, pois pode

cair em desuso. (MOLLICA, 2010)

Já Taralo (2010) faz uma descrição das variações de forma diferenciada, comparando o

assunto a uma partida de futebol ou a um jogo. Segundo o autor, não existe “caos linguístico”

sem variantes. Essas variações podem ir e voltar do passado e ele demonstra os resultados da

análise sincrônica. Taralo (2010, p.88) define as variantes como:

Várias maneiras de se dizer a mesma coisa, com o mesmo valor de verdade.

Conjunto de formas linguísticas que compõem uma variável; podem ser:

padrão, não padrão, conservadora, inovadora, estigmatizada e de prestígio. (TARALO, 2010, p.88).

O que indica que as variações linguísticas são variações dentro da mesma língua, ou

seja, podem ser influenciadas por fatores externos, como por exemplo, outros idiomas. Dessa

forma, as variantes de uma comunidade de fala estão sempre em relação de concorrência:

padrão vs. não-padrão; conservadoras vs. inovadoras; de prestígio vs. estigmatizadas. Assim, a

variante considerada padrão é, ao mesmo tempo, conservadora e que tem prestígio na

comunidade. As variantes inovadoras são, quase sempre, não-padrão e estigmatizadas.

(TARALO, 2010)

Para Fiorin (2013), a variação linguística é fato observado nos diferentes subsistemas da

língua. A variação fonética/fonológica de vogais, por exemplo, quando se pronuncia uma

vogal diferente da escrita, mais aberta ou fechada, como nas palavras “menino”, “preciso” e

“peludo”, a vogal [e], [i] (mais fechadas) podem ser pronunciadas como a vogal [é] (mais

aberta). (FIORIN, 2013)

A pronúncia dessas diferentes vogais é então uma variável, então, pode-se dizer que em

português “é indiferente dizer pr[u]dução ou pr[ó]dução”. (FIORIN, 2013, p. 114). Trata-se

da mesma palavra falada um pouco diferente, o significado permanece intacto e idêntico nas

diferentes formas de dizer a mesma palavra, esse aspecto é facilmente observado em sotaques

de diferentes lugares do Brasil. (FIORIN, 2013)

Todavia, como se pode ter certeza das variações linguísticas recorrentes durante a

história de um país? Que ciência identifica essas novas palavras e evoluções? Como esses

novos termos passam a fazer parte dos dicionários?

Existem sim ciências que estudam vocabulário e variações do léxico. Vejamos a seguir quais

são e suas respectivas definições por gramáticos e linguístas, para compreender melhor o

16

sistema de mudança da língua portuguesa falada no Brasil, processo que envolve

especificamente novas palavras estrangeiras em nosso vocabulário.

2.3 LEXICOLOGIA E LEXICOGRAFIA

Tanto há séculos atrás quanto agora, palavras são compartilhadas, modificadas e

adaptadas para facilitar o entendimento e para suprir, em alguns casos, a falta de tradução.

Todo esse processo linguístico natural é estudado e analisado. O estudo dos lexemas, das

variedades e relações com os significados de uma língua é chamado de lexicologia, e mais:

“Entende-se por lexema a unidade linguística dotada de significado léxico, isto é, aquele

significado que aponta para o que se apreende do mundo extralinguístico mediante a

linguagem.” (BECHARA, 2009, p.39)

O que chama-se lexema é toda unidade linguística com significado léxico, aquele

significado que se pode imaginar o significado. A tarefa da lexicologia é o estudo dos lexemas

que tem significado, como por exemplo, segundo Bechara (2009, p. 39): “em amor, amante,

amar, amavelmente o significado léxico écomum a todas as palavras da série.” (BECHARA,

2009, p 39).

Esse estudo também é definido de outra maneira pelos linguistas, já que Bechara é um

gramático, temos então a visão de Gil (2009), que define Lexicologia como uma disciplina da

linguística que visa estudar as palavras da língua, tendo o “ponto de vista da sua origem

(etimologia), formação (morfologia), relações combinatórias (sintaxe), significado dos sons

(fonologia) e principalmente, do sentido (semântica)”. (GIL, 2009, p. 80,81). O que quer dizer

que, ainda segundo Gil (2009), o estudo dos lexemas tem em sua base a importância, ou seja,

a definição varia de acordo com a etimologia, morfologia, sintaxe, fonologia e semântica, o

que para o gramático Bechara não deixa de ser importante, porém não é visado dessa maneira.

Podemos observar que existe uma diferença na definição, visto que estamos tratando de

um estudo linguístico discutido também por um gramático. Gil define lexicologia em

diferentes campos, como etimologia, morfologia, sintaxe, fonologia e semântica. Mesmo que

todos estejam interligados dentro da mesma língua e do mesmo sistema e Bechara define

através das variações existentes entre significante e significado, o que veremos abaixo.

O estudo dos lexemas não se aprende apenas ao simples significado de toda e qualquer

unidade linguística, há várias áreas diferentes dentro do estudo e Bechara (2009) divide a

lexicologia em quatro disciplinas subsidiarias, que são: lexicologia da expressão; lexicologia

17

do conteúdo; semasiologia; onomasiologia. Vejamos então a seguir suas respectivas

definições segundo Bechara (BECHARA, 2009, p. 39,40):

a) lexicologia da expressão: estudo das relações entre os vários significantes

léxicos enquanto tais, por exemplo, amar <--> amante, falar <--> falante ao

lado de saltar <-> saltador.b) lexicologia do conteúdo: estudo das relações entre os significados léxicos enquanto tais: salário, ordenado, provento,

honorário, soldo, mesada; ou sair x chegar, etc. (sinônimos, antônimos).c)

semasiologia: estudo da relação entre os dois planos partindo da expressão para o conteúdo: o significante hóspede com os significados de „aquele que

dá a hospedagem‟ e„aquele que recebe a hospedagem‟; nora „esposa de filho

em relação aos pais dele‟, e nora „aparelho para tirar água de poço, cisterna‟. Tradicionalmente é este estudo que se reconhece em geral como a disciplina

semântica ou semântica lexical. d) onomasiologia: estudo da relação dos

dois planos, partindo do conteúdo: para o significado „dinheiro‟ há os

significantes prata, massa, erva, caraminguá, arame, mango (quase todos populares ou familiares). (BECHARA, 2009, p. 39,40)

Entende-se que lexicologia não é apenas um estudo que envolve os lexemas, léxicos,

significantes e significados da mesma maneira, pois cada um tem sua função e seu lugar

determinante na atividade da língua portuguesa. Bechara (2009) leva em consideração a

diferença entre significante e significado, que segundo ele se diferenciam porque o plano da

expressão é o significante e o plano do conteúdo é o significado. (BECHARA, 2009) Em

outras palavras, significante é a forma como o significado é expressado e significado é o

conteúdo bruto em si, onde se quer chegar através do significante.

David Crystal (2000) também define lexicologia, contudo, o autor define lexicologia de

imediato diferenciando de lexicografia: “Lexicologia se refere ao estudo global do

vocabulário de uma língua (incluindo sua história); distintamente de lexicografia, que é a arte

e a ciência da confecção de dicionários.” (CRYSTAL, 2000, p. 156)

Pode-se perceber que ele faz questão de imediatamente diferenciar lexicologia de

lexicografia para que não haja confusão de significado entre os dois termos. Apesar de já ter

definido lexicografia distintamente de lexicologia, o autor ainda esclarece mais pontos a

serem refletidos a respeito de lexicografia. (CRYSTAL, 2000)

Para David Crystal (2000) “lexicografia pode ser considerada um ramo da “lexicologia

aplicada”. (CRYSTAL, 2000, p. 156) Ou seja, após de diferenciar lexicografia de lexicologia

o autor também mostra um ponto em comum, já que de certa forma uma ciência completa a

outra. Ainda de acordo com Crystal (2000), a pessoa que se interessa por vocabulário é

raramente chamada de “lexicologista”, normalmente essa pessoa é chamada de semanticista.

(CRYSTAL, 2000)

18

Os dicionários brasileiros já registram termos como “smartphone” e “tablet”, sem

adaptações para o português, diferentemente do que ocorre com tecnologias mais antigas,

como televisão (que vem de “télévision”, em francês, e “television” em inglês) e computador

(“computer” em inglês). 1

A partir dessa reportagem da Folha de São Paulo: “Fábrica de Palavras”, pode-se

perceber como o conceito de nova palavra estrangeira mudou com o passar dos anos.

Antigamente tentava-se encontrar algum relativo na língua portuguesa para nomear as novas

tecnologias que estavam chegando, o que hoje em dia não acontece, o nome vai para o

dicionário da maneira que chega ao Brasil, no seu idioma, sem alterações.

O lexicógrafo ou dicionarista seleciona as palavras, ou seja, faz toda reflexão da forma

que a palavra foi formada, lembrando que palavras que tem tradução não podiam fazer parte

do nosso dicionário.Modismos não entram e por isso, o uso da palavra deve ter entre 5 e 10

anos para que esta possa ser incluída, que é o tempo de se analisar e ter certeza que a palavra

se consolidou e não caiu no desuso.

Com isso tem-se que o trabalho desse profissional é de extrema importância para o

registro de novas palavras e termos da língua portuguesa, assim como para a formação de

dicionários que devem estar sempre atualizados deacordo com os léxicos que vão surgindo

naturalmente e se mantêm na língua de forma permanente, não apenas como modismos.2

Vejamos a seguir como se formam esses novos termos na língua portuguesa falada no Brasil.

2.4 A FORMAÇÃO DO LÉXICO

A formação do léxico se deu pela necessidade de comunicação dos seres humanos e

tornou possível a elaboração das primeiras palavras até então formar um sistema, chamado de

língua, como já foi dito anteriormente no início deste capítulo. (MURRIE, 1995)

Em seu sentido mais geral, léxico é sinônimo de vocabulário, ou seja, o vocabulário da língua

portuguesa inicialmente se deu pela necessidade de comunicação e, posteriormente pela

necessidade de aprimoramento de termos e materiais já existentes ou novos. (CRYSTAL,

2000)

1 Fonte: Folha de São Paulo. Fábrica de Palavras. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tec/130370-

fabrica-de-palavras.shtml#_=_

2 Fonte: Folha de São Paulo. Saiba como um termo vira verbete de dicionário. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2008/12/483628-saiba-como-um-termo-vira-verbete-de-dicionario.shtml

19

Contudo, esse complexo processo de formação de palavras e sentidos deve ser estudado

com cuidado.Gil (2009, p. 80,81) relata como se inicia o processo de formação do léxico:

À medida que conhece seres e objetos, o homem tem a necessidade de

categorizá-los e nomeá-los, construindo para isso um sistema classificatório; o léxico. Acumula, então, signos lexicais e desenvolve modelos categoriais

de geração de novas palavras para ampliar seu repertório e designar novos

aspectos da realidade dos quais se apropria.” (GIL, 2009, p. 80, 81).

Foi através desse sistema classificatório que o ser humano deu início à língua, tendo em

mente sempre os léxicos formados essencialmente em sua forma mais básica, que foram

evoluindo até chegarmos onde estamos e que seguem evoluindo para cada dia mais usar

estrangeirismos.

Engana-se aquele que pensa que nos dias atuais esse processo está mais lento, a

linguagem/língua está em constante evolução e por isso Gil (2009) ainda explica que o

conjunto de unidades lexicais de uma língua espelha a experiência humana acumulada e

traços das práticas sociais e culturais.

Com todo o processo tecnológico, científico e de globalização que estamos passando, a

língua portuguesa ganhou novos léxicos e signos lexicais, ou seja, novas palavras em seu

vocabulário e novos termos que podem ser materializados. (GIL, 2009)

Com o decorrer de todos os estudos linguísticos o termo palavra ficou ambíguo, mesmo

que tão dito por nossos gramáticos, já que uma palavra pode representar vários signos ou um

signo pode representar diversas palavras. Assim, os signos lexicais têm valor de designação

do mundo dos seres vivos. (TURAZZA, 2001)

Para entender melhor uma língua e suas variantes, é preciso conhecer sua estrutura,

mesmo que em sua forma mais básica, de léxicos e lexemas ou, até mesmo de forma mais

completa, observando também todos os fatores externos, como o encontro com outros idiomas

– o que indica também o contato com diferentes culturas, afinal língua também é sinônimo de

cultura. (TURAZZA, 2001)

Tem-se nesse capítulo que é através da linguagem e sempre foi através da linguagem

que o ser humano se comunica, mesmo nos tempos mais remotos, a racionalidade já tornava

possível que houvesse compreensão de um emissor para um receptor, mesmo que ainda não

houvesse uma língua concretizada. A língua/linguagem surgiu através do instinto e da

habilidade racional do ser humano que tem a necessidade de se comunicar. Esse processo se

iniciou com a emissão de sons vocábulos, que demonstravam como o ser humano via o

mundo, da mesma forma que as expressões demonstravam sensações e sentimentos, o que

diferencia o ser humano de outros seres vivos. Ou seja, a formação da língua/linguagem teve

20

sua iniciação da associação dos significados lexicais das palavras à unidade física referida.

Fazendo uso da língua, o ser humano nomeia seres e objetos, interage e exerce atividade sobre

o outro, sobre si mesmo e sobre o mundo. A língua/linguagem é um produto cultural e um

instrumento de manifestação de cultura que se modifica de acordo com a necessidade e

condições sociais, históricas e geográficas de seus falantes, dessa forma, o contato com outros

idiomas e culturas acaba modificando a língua portuguesa falada no Brasil com cada vez mais

palavras estrangeiras em seu novo vocabulário, ou seja, léxico. (MURRIE, 1995). Vimos que

existem ciências especializadas no estudo e seleção desses novos léxicos: lexicologia e

lexicografia, e o que o léxico pode ser chamado de vocabulário (CRYSTAL, 2000)

O tempo fez com que a linguagem evoluísse e se tornasse a língua concreta, através da

significação de palavras que foram mudadas e adaptadas durante os anos por seus próprios

falantes, se adaptando ainda melhor a cada realidade de cada época. O que vemos hoje é nada

mais que o resultado de uma sociedade globalizada, que tende a cada vez mais ter contato

direto com outras culturas e absorver de certa forma a cultura de outro país, que possui outro

idioma, na forma de palavras. (TERRA, 2008)

Existem várias maneiras de se dizer a mesma coisa, com o mesmo valor de verdade,

porém as ideias criativas e novas são as que tornam a língua muito mais interessante e um

objeto de muito mais prestígio. (TARALO, 2010)

Vejamos a seguir como esses novos léxicos estão sendo definidos na língua portuguesa

falada no Brasil por linguistas e gramáticos, suas características, diferenciações, origens e

também, como estão sendo vistos por especialistas das áreas de linguagem e língua

portuguesa brasileira.

21

3 ESTRANGEIRISMOS

Nesse segundo capítulo vamos entender o que são estrangeirismos, suas definições e

características através de conceitos de autores e estudiosos nas áreas de linguagem.

Aprenderemos um pouco mais sobre essa influência de palavras de outros idiomas na língua

portuguesa, a diferenciação que existe entre empréstimo e estrangeirismo, as formas de

estrangeirismos de acordo com suas origens e, por fim, as críticas do uso de estrangeirismos

em nosso idioma.

No primeiro capítulo entendemos um pouco do que é língua, linguagem, como surgiu e

como vem evoluindo. Pudemos perceber que a língua é construída também de acordo com a

cultura do país, estado, região, e com a globalização. A língua está a todo tempo sofrendo

influências também de outras culturas. Com isso, a nossa língua ganha novas palavras vindas

de outros idiomas que são somadas ao léxico da Língua Portuguesa; essas novas palavras são

chamadas de estrangeirismos- ou empréstimos.

Esse capítulo conceitua as diferentes definições acerca de estrangeirismos - e

empréstimos, diferencia as classificações de gramáticos e linguistas sobre o tema, expondo os

resultados dos estudos sobre a formação dessas novas palavras, assim como, as críticas de uso

na Língua Portuguesa falada no Brasil.

3.1 DEFINIÇÕES E CARACTERÍSTICAS

Os estrangeirismos surgiram do convívio cultural entre os povos, que com o passar dos

anos dividiram várias questões linguísticas, culturais e sociais. Segundo Filho, essas palavras

e expressões imigrantes seguem rumo ao progresso e são indispensáveis na área tecnológica.

A língua falada é viva e, por isso, muitos desses termos são esquecidos e acabam não

passando de modismos. Contudo, outros permanecem e são até símbolo de elegância.

(FILHO, 2000). Mas afinal, o que são estrangeirismos?

Estrangeirismo é o uso de termos ou expressões tomadas por empréstimos

de outras línguas. Este pode ter várias origens como: anglicismos (inglês), latinismos (latim), arabismos (árabe), galicismos (francês), grecismos

(grego), castelhaníssimos (espanhol) e italianismos(italiano) ” (WEG, 2011,

p. 26).

22

Através desse conceito entende-se que estrangeirismo é termo ou palavra vinda de

outro país e que passa a fazer parte do nosso idioma. Esses empréstimos são aplicados na

língua pelos próprios falantes do idioma e passam a ser parte do sistema.

Um conceito mais amplo do que é estrangeirismo através de que “estrangeirismo é uma

forma de empréstimo, é a utilização de elementos de outras línguas na "nossa nacional". No

caso brasileiro, seria o uso de palavras e expressões, do inglês, francês, espanhol... no

português” (FARACO, 2001, p. 94). A diferença entre os dois termos para o autor é que

empréstimo se refere a uma das formas de empréstimo, quando se pega uma palavra de outro

idioma e se usa no português, o que para o autor seria um “novo estrangeirismo”, já

estrangeirismo seria aquela palavra que já está inserida na língua portuguesa falada no

Brasil, palavra que já faz parte do nosso vocabulário cotidiano e não é uma mais novidade

que ainda deva ser analisada ou questionada em questões de significado.

Tal processo de novos empréstimos e ainda mais novos estrangeirismos é

consequência da evolução da sociedade. A globalização tornou ainda mais intenso o uso de

palavras estrangeiras em idiomas ao redor do mundo inteiro, contudo, a maior potência

econômica é a que tem maior influência externa, é a que mais interage culturalmente e

diretamente. Os Estados Unidos da America é o país mundialmente e historicamente

conhecido como uma das maiores potências econômicas, o que faz com que o idioma desse

país cumpra o papel de mundial. (FARACO, 2001)

No português, muitos desses termos passaram por aportuguesamento e se tornaram

parte integrante do idioma. Porém, não é um assunto tão simples a ser tratado, afinal, sempre

gera divergência e debates entre puristas, linguistas, gramáticos e curiosos (FARACO,

2001). O uso de estrangeirismos vem gerando debates a anos, a questão do uso ou não uso

dessas palavras novas (que fazem parte do processo de formação de palavras por

neologismo), da mesma forma que acorrem debates sobre o distanciamento da língua falada

à norma culta, os estrangeirismos são vistos como fonte de enriquecimento, mesmo que

aportuguesados.

O aportuguesamento pode mexer com a estrutura escrita e fonológica da palavra,

modificando sua forma escrita e entonação fonética, transformando tal palavra em uma

palavra basicamente nova em um idioma diferente.

O desenvolvimento que a língua segue livremente através de milhares de anos de

aplicação de seus falantes, incluindo não apenas a transformação da palavra em si, como

também a escrita e a entonação não tem devido controle, pois estamos tratando de um

23

sistema vivo e que continuamente é alterado e adaptado por seus atuais falantes, que

modificam utilizando vários recursos e vícios de linguagem, para Câmara Jr, (2009, p. 106):

Adaptação fonológica e morfológica dos estrangeirismos lexicais ao

português. Exs. Bife (ing. beef), confeti (it. confetti). O aportuguesamento

integral atinge também a grafia, como em "bife", mas mesmo com a grafia estrangeira pode dar-se o aportuguesamento fonológico pela mudança de

leitura. (CÂMARA JR, 2009, p. 106).

A palavra não deixa de ser um estrangeirismo mesmo que aportuguesada, tendo sua

grafia e fonética alteradas, porque o radical continua basicamente o mesmo.Para Ieda Maria

Alves (2007, p.72), em sua obra Neologismo: Criação Lexical,estrangeirismo é:

o elemento estrangeiro, empregado em outro elemento linguístico, é sentido como externo ao vernáculo dessa língua. É então denominado

estrangeirismo, ou seja, ainda não faz parte do acervo lexical do idioma.

(ALVES, 2007, p. 72)

Já para Antônio Geraldo da Cunha (2003), que em sua obra Os estrangeirismos da

língua portuguesa: Vocabulário histórico-etimológico, define que: “palavra estrangeira é

aquela palavra que, embora usada por alguns dos nossos escritores e (...) na linguagem da

imprensa, ainda não foi completamente adaptada ao nosso idioma". (CUNHA, 2003, p. 6).

Entende-se então que, para Cunha (2003), palavras estrangeiras são aquelas que são

usadas por algumas pessoas e são ainda mais usadas na imprensa, e são chamadas assim

porque ainda não foram completamente adaptadas ao nosso idioma.

Bechara (2009) define de outra forma, pois o processo se inicia quando a palavras ainda

é definida como estrangeira. Depois é que a palavra é pega como um empréstimo e

posteriormente a isso se torna parte da língua como um estrangeirismo. Bechara (2009) define

estrangeirismo como o emprego de palavras, expressões e construções alheias ao idioma que a

ele chegam por empréstimos tomados de outra língua. (BECHARA, 2009)

Para Cunha (2003) o estrangeirismo só ocorre quando a palavra é perfeitamente

adaptada a língua que entrou. A palavra não pertencia ao léxico original e passa a fazer parte

do léxico, se tornando assim, parte da língua, vejamos a definição de Cunha (2003):

“Consideramos então, que estrangeirismo é aquela palavra que proveio de uma língua

estrangeira (palavra esta que não pertence ao nosso léxico) e que foi introduzida em português

e nele perfeitamente adaptada”. (CUNHA, 2003, p. 5)

24

Podemos observar que estrangeirismos são palavras emprestadas de outros idiomas, ou

seja, palavras que foram “pescadas” de outras culturas. (CÂMARA JR, 2009). Entretanto,

também temos o termo empréstimo em nossa língua e que,para alguns autores, se diferencia

de estrangeirismo.Vejamos melhor a seguir as diferenças entre estes dois termos de acordo

com os gramáticos e linguistas que definiram diferentes conceitos.

3.2 - ESTRANGEIRISMOS E EMPRÉSTIMOS

Há diferentes definições para estrangeirismo como pudemos perceber ao longo de nosso

estudo, alguns autores diferenciam suas definições não apenas no ponto de vista na tentativa

de esclarecer o que são essas palavras estrangeiras em nosso idioma, de onde vem, porque

usamos, como entram, como passam a fazer parte da nossa língua, quando deixam de ser

parte, quando são apenas modismos etc.

Para Câmara Jr. (1999), em seu Dicionário de Linguística e Gramática referente à

Língua Portuguesa, estrangeirismos são palavras emprestadas de outros idiomas que se

integraram na língua nacional, “... revelando-se estrangeiros nos fonemas, na flexão e até na

grafia, ou os vocábulos nacionais empregados com a significação dos vocábulos estrangeiros

de forma semelhante”. (CÂMARA JR., 1999, p. 111)

Entende-se então que para Câmara Jr (1999) os estrangeirismos são palavras de outros

idiomas que são emprestadas e que se integram a nossa língua, estas palavras emprestadas

podem manter sua forma estrangeira de pronuncia, flexão e escrita ou podem ser adaptadas

com o uso de vocábulos nacionais semelhantes. O que indica que Câmara (2009) não

diferencia estrangeirismo de empréstimos, já que considera estrangeirismo uma palavra

estrangeira emprestada que pode ou não necessariamente se adaptar para fazer parte da nossa

língua.

Bechara (2009) tem uma visão mais abrangente de diferentes concepções a respeito dos

conceitos de estrangeirismos, palavras estrangeiras e empréstimos. O autor diferencia ainda

pontos culturais e históricos quando o assunto é empréstimo dentro da formação de palavras

da língua portuguesa. Segundo Bechara (2009, p. 351):

Empréstimos são palavras e elementos gramaticais (prefixos, preposições, ordem de palavras) tomados (empréstimos) ou traduzidos (calcos

linguísticos) ou de outra comunidade linguística dentro da mesma língua

histórica (regionalismos, nomenclaturas técnicas e gírias) ou de outras línguas estrangeiras – inclusive grego e latim –, que são incorporados ao

léxico da língua comum e exemplar.Temos por definição de empréstimo

25

linguístico quando um sistema “A” utiliza e acaba por integrar uma unidade

ou um traço linguístico que existia antes num sistema linguístico “B” e que

“A” não possua. A unidade ou o traço tomado como empréstimo são eles próprios chamados empréstimos. (BECHARA, 2009, p. 351)

Percebe-se que Bechara (2009) fala dos empréstimos, que são palavras ou elementos

gramaticais traduzidos (e também são conhecidos como calcos linguísticos), tomados de outra

comunidade dentro da mesma língua de origem ou de outras línguas.

O autor ainda conclui seu pensamento falando da relação que uma língua tem pela

outra, no caso Bechara chama uma língua de “A” e outra de “B” para exemplificar tal

influência que acontece, ou seja, podemos dizer que o sistema “A” é a língua portuguesa e o

sistema “B” é a língua inglesa, a partir desse entendimento visto na definição de Bechara

(2009), pode-se dizer que a língua portuguesa pega emprestado e passa a usar uma palavra de

origem do sistema “B”, ou seja, inglesa, tal palavra não tinha outro significante na língua

portuguesa e passa a ser usada pela falta desse termo.

Porém Alves (2007) difere a frequência que a palavra é usada para determinar a

adaptação que a mesma tem, o que inclui a consideração dessa palavra no acervo da língua

portuguesa. Para a autora, as definições de estrangeirismo e empréstimo se misturam, pois é

difícil falar de estrangeirismo sem refletir a análise de que uma palavra estrangeira que entra

em nossa língua primeira foi pega emprestada, muitas delas não passam de modismos. Se a

palavra se mantém em uso por muito tempo, pode-se dizer então que já é parte integrante da

língua portuguesa.

Alves (2007) traz critérios fundamentais para a análise ampla do conceito

estrangeirismo, levando em consideração os níveis de aplicabilidade das palavras estrangeiras.

Alves (2007, pag. 79), em sua obra Neologismo - Criação Lexical indica que:

O emprego frequente de um estrangeirismo constitui também um critério

para que essa forma estrangeira seja considerada parte componente do acervo lexical português. Jeans, unidade lexical tão usada

contemporaneamente parece-nos já adaptada à língua portuguesa e

manifesta-se por isso, como um empréstimo ao nosso idioma. (ALVES,

2007. p.79)

O estrangeirismo exemplificado por Alves (2007) foi jeans, esse termo já está a muito

tempo na língua portuguesa.Sabe-se que é uma palavra estrangeira por sua forma de escrita,

sua entonação e pronuncia que é extremamente diferente em vários sentidos de outras

palavras da língua portuguesa. Ainda assim, Alves (2007)no final de sua definição o classifica

26

como empréstimo por se tratar de uma palavra que não foi alterada, nem abrasileirada, apenas

foi pega e aplicada na ausência de um termo correspondente da própria língua.

Bechara (2009) define ainda os estrangeirismos léxicos se repartem em dois grupos de

como são identificados através de seu conhecimento histórico; ou seja, aqueles que conhecem

os fatores históricos que resultaram no uso de um novo termo estrangeiro têm a visão de que

se trata de um empréstimo, pois sabem que a palavra foi tirada de outro idioma, há outros

estrangeirismos que não se parecem tanto com as palavras do vocabulário da língua, mas que

apesar disso não sofrem estranheza, por isso são chamados simplesmente de estrangeirismos.

Vejamos o que diz Bechara (2009, p. 599) a respeito dessas diferenças:

Os que se assimilam de tal maneira à língua que os recebe, que só são

identificados como empréstimos pelas pessoas que lhes conhecem a história (guerra, detalhe, etc. – a esses os alemães chamam Lehnwörter,

“empréstimos”); mas há os que facilmente mostram não ser prata da casa, e

se apresentam na vestimenta estrangeira (maillot, ballet, feedback, footing, etc.) ou se mascaram de vernáculos, como maiô, abajur, tíquete, etc. (são os,

em alemão, Fremdwörter, “estrangeirismos”). O termo empréstimo abarca

estas duas noções e se aplica tanto aos estrangeirismos léxicos quanto aos sintáticos e semânticos. (BECHARA, 2009, p. 599).

Pode-se perceber então que para Bechara (2009) os estrangeirismos de diferem de

empréstimos, pois são considerados empréstimos palavras que se mantém com a mesma

grafia, o que não acorre com os estrangeirismos já que passam pelo processo de

aportuguesamento e não carregam mais em sua forma a identidade cultural total do país que

foram capturados. Tem-se também a especificação de algumas nacionalidades, afinal, ainda

Bechara (2009), as palavras são pegas de outros idiomas, os estrangeirismos ou empréstimos

se originam de um idioma estrangeiro. Veremos a seguir as possibilidades de origem de um

estrangeirismo empregado na língua portuguesa.

3.3 ORIGENS

Em relação a mudança da língua em questões de adaptação da língua, influência da

linguagem e sobretudo as alterações sofridas pelo idioma no conceito estrangeirismos, tem-se

a definição de que as línguas seguem de acordo com as necessidades culturais, mudam para se

adaptar à nova realidade vivida pelos seus falantes.Os estrangeirismos na língua portuguesa

são parte desta, já que a mesma é resultado de outras línguas e culturas, tratando-se assim de

uma língua miscelânea (FILHO, 2000).

27

Trazendo esse ponto de forma mais clara e coesa, ainda segundo Filho (2000), tem-se o

entendimento que a cultura brasileira é formada de diversas culturas, por questões histórico-

sociais, que envolvem influências portuguesas, espanholas, italianas e indígenas, africanas,

tanto em questões culturais quanto na língua falada. A globalização interfere diretamente na

evolução de uma língua, pois palavras são cultura e o contato direto de várias culturas resulta

na miscigenação de palavras entre diversas línguas.

Weg (2009) fala também dos estrangeirismos e suas diversas origens, que podem ser

resultado de vários processos de formação de palavras (sufixação, prefixação etc.) e que

podem descender de várias origens variadas, ou seja, outras diversas línguas. Vejamos a

seguir esta definição segundo Weg (2009, p. 26):

Os estrangeirismos passam por vários processos de formação, e podem ser

de várias origens. Anglicanismos, ou anglicismos: provenientes do inglês (futebol/shopping/happy-hour); Arabismo: proveniente do árabe

(bazar/Beirute); Galicismos oufrancesismos: provenientes do francês

(matinê/toalete); Italianismos: provenientes do italiano (pizza/fogazza/muçarela/mozarela); Germanismo: provenientes do alemão

(chope); Grecismo: proveniente do grego (olímpico); Latinismo:

provenientes do latim (currículo). (WEG, 2009. p.26)

Com essa definição vem a diferenciação e os nomes específicos de origens que ainda

segundo Weg (2009) são apenas algumas das origens, as mais usadas pela língua portuguesa

em sua estruturação e evolução que segue até os dias atuais em constante mutação. (WEG,

2009)

Sabendo disso, Bechara (2009) define que os estrangeirismos de dividem em várias

formas, o que vai depender e vai de acordo com o idioma que pega a palavra estrangeira na

atualidade de globalização que vivemos, os contatos culturais estão abertos e disponíveis em

diversos modos diferentes, a internet é apenas um desses meios de contato cultural. Tem-se

segundo Bechara (2009, p.599) que:

(...)os estrangeirismos interpenetram-se com muita facilidade e rapidez. Para

nós, brasileiros, os estrangeirismos de maior frequência são os francesismos

ou galicismos(de língua francesa), anglicismos(de língua inglesa), espanholismos ou castelhanismos(de língua espanhola), italianismos(de

língua italiana).(BECHARA, 2009, p. 599).

Percebe-se então que Bechara (2009) faz uma pequena lista daslínguas mais influentes

na língua portuguesa. Inicialmente o francês, depois o inglês, seguidos do espanhol e o

italiano. Sabe-se que atualmente por questões tecnológicas e de globalização que esses são os

mais influentes na língua portuguesa, porém em relação a formação da língua portuguesa,

tem-se com mais influentes o latim e o grego. (BECHARA, 2009).

28

O uso de estrangeirismos dentro e fora da formação básica da língua é motivo de debate

entre estudiosos, independendo da origem que estes vêm, são motivo de discussão entre

especialistas, pois o seu uso gera dúvidas do que é correto, levanta ainda a possibilidade de

uma língua rica por ser complexa e pobre por ser simples demais. (WEG, 2009). Vejamos a

seguir os diferentes conceitos sobre o assunto.

3.4 CRÍTICAS AO USO DE ESTRANGEIRISMOS

Há uma guerra de discussões sobre usar ou não usar os estrangeirismos, quando

devemos usá-los, onde ficam mais bem empregados, em que ocasiões são exagero, como

devem ser colocados em uma frase para ser símbolo de conhecimento e até mesmo de

elegância. (FARACO, 2001).

Muito se fala sobre o uso dos estrangeirismos, poisos puristas (assim denominados por

FARACO, 2001) são contra o uso dos estrangeirismos na língua portuguesa, estes acreditam

que a mesma deve se manter pura. Já os linguistas discordam, pois defendem a ideia de que a

língua é viva, já que está em constante mudança os empréstimos linguísticos acontecem de

forma natural e, que da mesma maneira que o mundo avança com toda globalização, a língua

também deve avançar. (WEG, 2009)

O processo natural de evolução da língua que acaba por derivar em empréstimos

linguísticos (também chamados de estrangeirismos) segue no rumo contrário ao que os

puristas extremados insistem em considerar correto para a língua em geral. O contato cultural

entre os povos - que na atualidade está ainda mais intenso por questões de globalização e

tecnologia, certamente resulta em novas palavras vindas de outros idiomas, esse processo não

pode ser controlado e tão menos parado, pois trata-se da aplicação da língua por seus

incontáveis falantes que são ao mesmo tempo alterantes e criadores. (BECHARA, 2009).

Tem-se a denominação exata do debate de acordo com Bechara, (2009, p.743) em:

Os estrangeirismos léxicos que entram no idioma, por um processo natural

de assimilação de cultura ou de contiguidade geográfica, assumem aspecto

de sentimento político-patriótico que, aos olhos dos puristas extremados,

trazem o selo da subserviência e da degradação do país. Esquecem-se de que a língua, como produto social, registra, em tais estrangeirismos, os contatos

de povos. Este tipo de patriotismo linguístico (Leo Spitzer lhe dava

pejorativamente o nome de patriotite) é antigo e revela reflexos de antigas dissensões históricas. (BECHARA, 2009, p. 743)

Ou seja, segundo Bechara (2009) os puristas ignoram que a língua revela reflexos de

dimensões históricas, tal patriotismo linguístico rejeita a realidade de que há séculos atrás a

29

língua portuguesa era falada e modelada conforme a realidade histórica e cultural de seus

falantes, os anos passaram e a língua continuou se adaptando às necessidades dos seus

falantes natos, a linguagem foi mudando de acordo com as novas possibilidades que

apareceram na sociedade dos falantes, tanto em termos culturais geográficos, relacionais com

outros idiomas, extra linguais e Inter linguais.

Nesse ponto, Alves (2007) também concorda com o mesmo pensamento crítico

avaliativo da situação de discursões debatidas e ainda acrescenta que:“A unidade léxica

recebida por empréstimo tende a flexionar-se de acordo com o gênero do idioma doador”.

(ALVES, 2007, pag. 81). Que no caso a palavra flexionada “recordo” se flexionou da palavra

em espanhol recuerdo. Acaba havendo uma certa organização, mesmo que imperceptível, a

maneira como essas palavras são colocadas na língua portuguesa, afinal, em muitos casos se

mantêm os radicais intactos.A unidade léxica recebida por empréstimo tende a flexionar-se de

acordo com o gênero do idioma doador, que no caso acima foi do espanhol.

Há umacerta organização e coerência nos empréstimos linguísticos, esse é um dos

principais fatores que justifica porque a respeito de estrangeirismos a aceitação de puristas

(assim denominados por FARACO, 2001) começou a acontecer, porém os puristas

extremistas ainda mantêm sua opinião intacta quando o assunto é estrangeirismos que já têm

tradução ou correspondente na língua portuguesa, o que faz com que estes puristas

considerem o emprego dessas palavras estrangeiras inadequadas e desnecessárias.

(BECHARA, 2009). Tem-se ainda segundo Bechara (2009, p.744) que:

Os empréstimos lexicais durante muito tempo sofreram as críticas dos

puristas, mas hoje vão sendo aceitos com mais facilidade, exceto aqueles

comprovadamente desnecessários e sem muita repercussão em outros idiomas de cultura do mundo. (BECHARA, 2009. p. 744)

Apesar dos debates sobre o uso de estrangeirismos entre gramáticos e linguistas, para

Faraco (2001) esses empréstimos não ameaçam a integridade da língua portuguesa. A ideia de

purismo se prende a fundamentos que não podem ser considerados, pois a língua portuguesa

teve em sua formação a influência de vários idiomas, estrangeirismos que apesar da mudança

fonética e escrita e adaptação com aportuguesamento, fazem parte da nossa língua e

continuarão sendo usados. (FARACO, 2001)

A língua sofre alterações, mas não perde a estrutura ou identidade; não deixa de ser um

circuito que segue o mesmo padrão linguístico. Quanto a questão de aceitação dos gramáticos

e puristas:

Embora os puristas se recusem a aceitar o fato, a ciência linguística já

demonstrou fartamente que as línguas não se desenvolvem, não progridem,

30

não decaem, não evoluem, nem agem conforme qualquer uma dessas

metáforas, que implicam um ponto final específico e um nível de excelência:

as línguas simplesmente mudam(...) (FARACO, 2001, p. 70).

Através desse conceito, entende-se que para Faraco (2001) a língua muda com o passar

do tempo para se adaptar melhor a atual realidade que se passa naquela sociedade. Uma das

justificativas dos puristas para defender a ideia de que estrangeirismos não são aceitáveis na

língua portuguesa, é a questão da influência extrema de um idioma sobre outro, o que poderia

prejudicar a identidade linguística da língua que sobre a influência em demasia. Porém, em

relação à influência que um idioma tem perante o outro, sabe-se que uma potência econômica

influencia outras potencias menores, a partir deste conhecimento Filho (2000, p. 6) afirma

que:

A maior ou menor presença estrangeira na língua vernácula demonstra o

quanto a cultura de um país é influente para outro. No português, esses

empréstimos nunca ameaçaram sua integridade sistemática, já que a língua é um sistema, ou seja, um conjunto organizado. (FILHO, 2000, p.6)

Para Filho (2000) os empréstimos nunca prejudicaram a identidade cultural de uma

língua, o que quer dizer que uma língua não tem o poder de ameaçar a integridade sistemática

ou o conjunto sistemático que é aquela língua que está fazendo empréstimos de outras línguas.

Alves (2007) esclarece que as pessoas que empregam estrangeirismos que são

facilmente reconhecidos como palavras estrangeiras têm consciência que esta palavra se trata

de estrangeira e que a compreensão da aplicabilidade que essa palavra pode ter pelo emissor

por seus respectivos receptores pode não ser totalmente clara e que é de conhecimento do

emissor não ser interpretado corretamente, por isso em muitos textos a unidade léxica

estrangeira vem acompanhada da própria tradução ou significação equivalente a da língua

vernácula. (ALVES, 2007)

Considera-se que os tópicos abordados nesse segundo capítulo trouxeram conhecimento

a respeito dos estrangeirismos - ou empréstimos, com o intuito de compreender seu processo

de formação, suas definições, origens, críticas ao uso, como são discutidos na língua

portuguesa e a diferenciação que ocorre de alguns estudiosos entre estrangeirismo e

empréstimo. Vimos também que muitos estrangeirismos também passam por

aportuguesamento, carregando não só uma identidade estrangeira, como também a identidade

da nossa própria língua portuguesa falada no Brasil. (FARACO, 2001)

Vejamos agora como estão sendo inseridos os estrangeirismos na língua portuguesa

falada no Brasil de forma prática, tanto na mídia como a televisão, quanto em termos de

diálogo, música e propagandas. Teremos a seguir, também, estrangeirismos na prática

31

publicitária, o artigo 5° da Constituição Brasileira e as leis de uso de estrangeirismos da

publicidade brasileira.

4 ESTRANGEIRISMOS NA PRÁTICA PUBLICITÁRIA

Os estrangeirismos estão cada vez mais presentes na sociedade em diversas áreas por

consequência da globalização. Muitas profissões usam com cada vez mais frequência, porém,

em muitos desses usos, poderia ter sido usada a própria tradução ou equivalente da língua

portuguesa falada no Brasil. Um dos debates mais frequentes é sobre como esses

estrangeirismos estão sendo usados, se são necessários ou não, e como o uso desses

empréstimos tem influenciado a sociedade. (FARACO, 2001)

Já há algum tempo vemos que essas palavras emprestadas estão em toda a sociedade,

através de propagandas, músicas, redes sociais etc. Através dessas áreas os estrangeirismos

estão presentes cada vez mais no nosso idioma. Podemos perceber isso através da seguinte

canção do Zeca Baleiro, frequentemente usada para exemplificar estrangeirismos.

Samba Do Approach

Zeca Baleiro

Venha provar meu brunch Saiba que eu tenho approach

Na hora do lunch

Eu ando de ferryboat... Eu tenho savoir-faire

Meu temperamento é light

Minha casa é hi-tech

Toda hora rola um insight Já fui fã do Jethro Tull

Hoje me amarro no Slash

Minha vida agora é cool Meu passado é que foi trash...

(...)

Fica ligado no link

Que eu vou confessar my love Depois do décimo drink

Só um bom e velho engov

Eu tirei o meu green card E fui prá Miami Beach

Posso não ser pop-star

Mas já sou um noveau-riche... (...)

Eu tenho sex-appeal

Saca só meu background

Veloz como Damon Hill Tenaz como Fittipaldi

Não dispenso um happy end

32

Quero jogar no dream team

De dia um macho man

E de noite, drag queen... Venha provar meu brunch

Saiba que eu tenho approach

Na hora do lunch

Eu ando de ferryboat...(7x) (Letra: Zeca Baleiro, Samba do Approach)

3

Na canção podemos observar o uso de muitas palavras estrangeiras que estão sendo

usadas para substituir em alguns casos palavras que poderiam ter sido colocadas em

português, pois essas palavras têm tradução, (como: lunch, my love, drink) em outros casos

não há um relativo na língua portuguesa, por não haver outras opções foram utilizados

estrangeirismos (como: engov, Slash). (FARACO, 2001)

Outra forma de uso de estrangeirismos que está sendo utilizada na mídia brasileira é a

da novela das 19h da Globo: “I Love Paraisópolis” (ANEXO 1), as palavras “I Love”

poderiam ter sido substituídas por “Eu Amo” da própria língua nativa, porém entendendo

melhor a trama, há um arquiteto brasileiro renomado que vem de Nova York para o Brasil a

fim de realizar seu grande projeto: a reurbanização da favela Paraisópolis.O bordão “I Love

New York” foi transformado em “I Love Paraisópolis”.4

O título da novela de Alcides Nogueira e Mario Teixeira é mais um exemplo de como as

palavras estrangeiras estão sendo usadas no lugar de palavras que têm tradução e, como já foi

citado anteriormente, Filho (2000) ressalta que a influência de um idioma sobre o outro

mostra o quanto este é influente para o país que faz uso de seus termos linguísticos, ou seja,

nesse caso podemos perceber que o inglês prevalece no tema da novela das 19h “I Love

Paraisópolis” e no “Samba do Approach”, lembrando que os estrangeirismos podem vir de

qualquer idioma, não só do inglês, contudo nesses dois casos é o inglês que prevalece como

língua estrangeira. (FILHO, 2000) Percebe-se o ar de “brincadeira” criado por Zeca Baleiro

na canção ao usar diversos estrangeirismos.

Atualmente, para estar atualizado na área da linguagem, para ser considerado um bom

profissional e para estar realmente inserido na sociedade, precisa-se conhecer, entender e

saber como usar esses novos termos que estão crescendo cada vez mais. (FARACO, 2001)

O resultado dessa exigência do mercado de trabalho é o uso de palavras estrangeiras em

situações não tão necessárias. Na publicidade, no jornalismo, na moda e nas áreas

3 Fonte: Letras: Samba do Approach. Zeca Baleiro. Disponível em: http://letras.mus.br/zeca-baleiro/43674/

Acessado em: 30.05.2015. 4 Fonte: ANEXO 1. Biografia de I Love Paraisópolis. Disponível em:

http://www.purepeople.com.br/famosos/lady-marizete_p3178 Acessado em: 30.05.2015.

33

tecnológicas, os estrangeirismos dominam de forma crescente. O uso de outros idiomas cresce

e muito, principalmente o uso do inglês, que é a língua considerada “universal” atualmente.

Vejamos a seguir uma das maiores áreas em que os estrangeirismos estão sendo

aplicados atualmente no mundo inteiro, área que inclusive tem alcance mundial, que se

manifesta em diversas mídias de diferentes maneiras, que vão das visuais até auditivas e é

uma área que de certa forma influencia até as atitudes das pessoas de uma sociedade, o que se

fala, o que se veste, o que se come, o que se consome, o que se deseja, tanto com o consumo

de certos produtos, quanto ao uso de palavras e frases utilizadas nas propagandas do nosso dia

a dia; essa área é chamada de publicidade. (SILVA, 1976)

4.1 ESTRANGEIRISMOS NA PUBLICIDADE

A globalização fez com que houvesse maior proximidade entre os países e maior acesso

a diferentes culturas do mundo todo, além disso, a globalização permitiu a incorporação de

empresas de outros países em nosso país, trazendo juntamente com elas, expressões

estrangeiras. Entretanto, o que preocupa alguns linguistas, é o uso desnecessário e de forma

exagerada desses estrangeirismos, causando uma interpretação errada do verdadeiro sentido

da expressão e, com isso, uma falha na comunicação. Até porque nem todos os falantes

conhecem palavras estrangeiras e ao verem sendo usadas de forma errada ou desnecessária,

acabam levando esses estrangeirismos à frente de forma equivocada. (BECHARA, 2009).

A publicidade tem alcance nacional e internacional e, de certa forma, influencia a

sociedade e seus falantes em questões linguísticas.Temos a definição de que o termo

publicidade é grande meio de comunicação. Poderoso fator de promoção de vendas e relações

públicas. Graças a publicidade é possível alcançar mercados distantes e atuar

simultaneamente em diversas áreas socioeconômicas. (SILVA, 1976)5

Tem-se no ANEXO 2 a propaganda que diz o seguinte: “Enfim o seu personal trainer

vai concordar com o personal stylist.” Tem-se visto com cada vez mais frequência o uso de

estrangeirismos na publicidade brasileira, mas será que todas as pessoas são capazes de

compreender o que se quer transmitir nessa propaganda?6

O meio publicitário é constituído de um grupo de leis, que fazem com que este seja

mais claro o possível, na intenção de prevenir mal-entendidos, pois se trata de uma forma de

5 Fonte: SILVA, Zander Campos da. Dicionário de Marketing e Propaganda. Rio de Janeiro: Pallas, 1976.

6 Fonte: ANEXO 2. Disponível em: http://www.clubedecriacao.com.br/novo/enfim-seu-personal-trainer-vai-

concordar-com-o-seu-personal-stylist/ Acessado em: 30.05.2015.

34

comunicação muito intensa e faz parte do cotidiano de toda sociedade . Há ainda aqueles que

confundem publicidade com propaganda.

Para que não haja dúvidas, temos a definição de que propaganda é a divulgação de

doutrinas baseadas em fatos verdadeiros ou não e divulgação de mensagens por meio de

anúncios com o fim de influenciar o público como consumidor. (SILVA, 1976)7

Entende-se a partir das duas definições que, publicidade é a divulgação em um todo, que

pode ser de diversas áreas comerciais e que propaganda é a forma que a publicidade acontece

ou no que ela está sendo aplicada. Ou seja, a publicidade acontece através da propaganda.

(SILVA, 1976)

No ANEXO 38 temos um exemplo comum de propaganda que faz uso de

estrangeirismos. O Shopping Cidade faz uso dessa propaganda para promover uma nova

coleção de primavera nas lojas em parceria com um salão de beleza. “Dê um up em você”, o

que poderia ter sido traduzido de uma forma livre como: “Dê uma melhorada em você”. O

que provavelmente foi usado para ser maior símbolo de elegância. (FARACO, 2001)

Da mesma forma, observamos o ANEXO 49, quando é dito: “Leve uma vida light”, o

termo “light” poderia ter sido substituído por “leve”, porém, como é um estrangeirismo

utilizado a mais tempo na língua portuguesa e com muito mais frequência que up, espera-se

que seja de conhecimento de todos que a palavra “light” signifique “leve ou magro”, e que

haja compreensão de todo os falantes do português.

Outro caso em que os estrangeirismos são utilizados na publicidade brasileira através da

propaganda é o ANEXO 510

, porém é visível que a propaganda veio de outro país e não foi

traduzida para o português. A questão que levantamos é a seguinte: Será que há entendimento

do que se quer passar na propaganda pelos falantes da língua portuguesa falada no Brasil?

Apesar do ensino da língua estrangeira estar presente nas escolas, será que é o bastante para

que todos os brasileiros possam compreender a propaganda?

Na propaganda do chocolate Kit Kat da Nestlé: Faz bem, tem-se a seguinte frase: “Have

a break, Have a Kit Kat”, o que na tradução livre ficaria como “Dê uma pausa, Coma um Kit

Kat”.

7 Fonte: SILVA, Zander Campos da. Dicionário de Marketing e Propaganda. Rio de Janeiro: Pallas, 1976. 8 Fonte: ANEXO 3: http://www.adonline.com.br/rapidinhas/52095-shopping-cidade-promove-campanha-de-um-

up-em-voce.html Acesso em 30.05.2015. 9 Fonte : ANEXO 4: http://mariarmoa.blogspot.com.br/2015/01/instagram-seja-leve-e-light.html Acesso em:

30.05.2015. 10 Fonte: Anexo 5: http://grandesnomesdapropaganda.com.br/anunciantes/kit-kat-lanca-campanha-interativa-

assinada-pela-jwt-e-mutato/ Acesso em: 30.05.2015.

35

As pessoas que não dominam a língua inglesa vão conseguir entender o que se passa

nessa propaganda? É sobre essa questão de compreensão que Filho (2000) levanta em nosso

tópico 3.4: Crítica ao uso de estrangeirismos, segundo ele, os empréstimos nunca

prejudicaram a identidade cultural de uma língua, porém o que se vê nessa propaganda é que

não houve se quer tradução das palavras mais básicas, o que pode prejudicar sim o

entendimento de quem não compreende outros idiomas.

Vejamos a seguir as leis de uso de estrangeirismos na publicidade brasileira, quais as

justificativas para a criação dessas leis, o que essas leis propõem e que impacto essas leis

causaram na sociedade e na publicidade brasileira.

4.2- LEIS DE USO DE ESTRANGEIRISMOS NA PUBLICIDADE BRASILEIRA

Antes de analisar os leis que proíbem ou traduzem o uso de estrangeirismos na

publicidade, deve-se ter em mente que estes já estariam descartados segundo a Constituição

Brasileira, em seu artigo 5°, tem-se os principais parágrafos que abordam o assunto:

[...]IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e

liberdades fundamentais; LIV – ninguém será privado da liberdade ou de bens sem o devido processo

legal;

LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à

cidadania.11

Segundo o artigo 5° da Constituição Brasileira, seguindo os principais parágrafos que

podem ser relevados quando o assunto é uma ou mais leis que “interferem” na forma de

expressão do cidadão que faz uso de estrangeirismos na publicidade brasileira, tem-se que

manifestar o pensamento é portanto livre, há liberdade de expressão do que se bem

entende,sendo assim, é vedado o anonimato, não podendo haver nenhum tipo de

discriminação que infrinja os direitos humanos e liberdades fundamentais, além disso,

11 Fonte:Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/con1988_05.10.1988/art_5_.shtm> Acesso em: 13 de

novembro de 2014.

36

ninguém será privado da liberdade ou de bens sem o devido processo legal e um mandado de

injunção será concedida sempre a falta de norma.

Com isso, essa lei pune qualquer discriminação à expressão intelectual, artística,

científica ou comunicativa que independe de censura ou licença. A mesma será utilizada para

o exercício de direitos e liberdade constitucionais e dos privilégios que independem da

nacionalidade, da soberania e da cidadania.

O artigo 5° da Constituição Brasileira tem como direitos e garantias fundamentais a

igualdade perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros que residem no Brasil o direito a vida, liberdade, igualdade, segurança e

propriedade.

Tendo em mente o que diz o artigo 5° da Constituição Brasileira, dos Direitos e

Garantias Fundamentais, que envolve os deveres e direitos individuais e coletivos, veremos

agora as leis que moldam o uso de estrangeirismos na publicidade brasileira, começando pela

lei carioca n° 5033/09.

4.2.1 LEI N° 5033/09

Apesar do que diz o artigo 5°da Constituição Brasileira, (artigo que já foi citado

anteriormente) o jornal Folha de São Paulo anunciava que: a publicidade carioca acaba por ter

que seguir a Lei 5033/09, autoria do vereador Sérgio Monteiro (PCdoB), sancionada pelo ex-

prefeito Eduardo Paes, que exige atradução de termos estrangeiros, . A multa para quem

descumprir a lei é de R$5 mil reais, em caso de reincidência, a multa pode dobrar e o infrator

terá o alvará cassado. Fabio Grellet lembra ao jornal Folha de São Paulo: “Nada de “sale‟,

“off” ou “delivery”. As peças publicitárias do Rio de Janeiro só podem usar palavras

estrangeiras se tiverem tradução e em letras do mesmo tamanho”. 12

Vejamos a Lei n° 5033/09 de 19 de Maio de 2009 na íntegra, assunto que causou

polêmica e foi repercutido nos maiores jornais brasileiros:

Art. 1º Torna-se obrigatório que as propagandas expostas em todo o

território municipal, que tenham em seu conteúdo palavras em outros idiomas, possuam tradução.

Parágrafo Único - A tradução a que se refere o art. 1º deve ser do mesmo

tamanho que as palavras em outro idioma expostas na propaganda. Art. 2º O descumprimento do disposto nesta Lei implicará ao infrator:

I - multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) na primeira ocorrência;

12 Fonte: Folha de São Paulo. Lei obriga tradução de palavras estrangeiras em publicidade. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2009/05/569267-lei-obriga-traducao-de-palavras-estrangeiras-em-

publicidade-no-rio.shtml Publicado em: 21/05/2009. Acessado em: 13/10/2014.

37

II - dobrada em caso de reincidência;

III - suspensão do Alvará.

Art. 3º O valor das multas previstas no art. 2º desta Lei deverá ser reajustado anualmente pela variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo

Especial-IPCA-E apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística-IBGE, acumulado no exercício anterior, sendo que, no caso de

extinção desse índice, será adotado outro criado por legislação federal e que reflita a perda do poder aquisitivo da moeda.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

EDUARDO PAES, Prefeito DO RIO de 20.05.2009.13

Refletindo os artigos da lei 5033/09, percebe-se que a lei: só é válida no município do

Rio de Janeiro, obriga a tradução de palavras estrangeiras em letras do mesmo tamanho que as

letras das palavras estrangeiras expostas. A lei é clara quanto aos valores de multa, tem-se que

na primeira ocorrência a multa é de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em caso de reincidência a

multa é dobrada, ou seja, a multa é de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e se ocorre novamente há

a suspensão do Alvará. E ainda, os valores das multas devem ser reajustados anualmente

conforme a variação dos preços ao consumidor.

Essa lei foi criada na intenção de trazer igualdade da compreensão para pessoas que

falam o mesmo idioma e que não tem o mesmo conhecimento linguístico de outros idiomas,

para que não haja incompreensão da mensagem, nem propaganda enganosa. Através desta, o

ex-vereador autor da Lei 5033/09, Sérgio Monteiro, acredita que será possível obter

compreensão para toda a população brasileira, que em fatos reais, é dividida em questões

educacionais.

Então, quando se tem igualdade como prioridade, pode-se trazer a este entendimento o

artigo 5° da Constituição Brasileira para reflexão, juntamente com as críticas abordadas no

segundo capítulo sobre o uso de estrangeirismos na língua portuguesa falada no Brasil, mais

especificamente no tópico 3.4 Críticas ao Uso de Estrangeirismos.

Tem-se a conceituação de Alves (2007) que as pessoas que empregam estrangeirismos

que são facilmente reconhecidos como palavras estrangeiras têm consciência que esta palavra

se trata de uma palavra estrangeira, e que a compreensão do uso dessa palavra pode não ser

totalmente clara e que é de conhecimento do emissor não ser interpretado corretamente, por

isso em muitos textos a unidade léxica estrangeira vem acompanhada da própria tradução ou

significação equivalente a da língua vernácula, o que acaba por igualar a compreensão de

quem lê. (ALVES, 2007)

13 Fonte: Jus Brasil. Legislação: Lei 5033/09. Disponível em:

<http://cm-rio-de-janeiro.jusbrasil.com.br/legislacao/874302/lei-5033-09?ref=topic_feed>

Acesso em: 13 de novembro de 2014.

38

Vejamos a seguir outra lei brasileira que tem semelhante justificativa e corresponde ao

uso de estrangeirismos na publicidade.

4.2.2 LEI N° 156/2009

Não é só no estado do Rio de Janeiro que uma lei foi criada e aprovada para exigir

tradução de termos na publicidade. No Rio Grande do Sul, a Assembleia dos Deputados

também aprovou uma lei que proíbe o uso de estrangeirismos na escrita publicitária sem que

estejam acompanhados de suas devidas traduções. Como anunciava o jornal Folha de São

Paulo:

Os deputados do Rio Grande do Sul aprovaram uma lei para banir o bullying, o spam, o pizzaiolo e qualquer outro vocábulo estrangeiro sem

estar acompanhado tradução nas propagandas e documentos oficiais do Estado. Aprovada por 26 votos a 24, a lei foi proposta pelo deputado Raul

Carrion (PC do B) e institui a obrigatoriedade da do uso de expressões em

português no lugar das estrangeiras "em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da

palavra escrita" no Estado. Ainda caberá ao governador Tarso Genro (PT)

sancionar ou vetar a lei. O principal alvo da regulamentação são estrangeirismos que poderiam ser facilmente substituídos por palavras em

português, como os anúncios que trazem o termo "sale" no lugar de

"liquidação", mas a lei vai além. 14

A Lei 156/2009, de autoria Raul Carrion, pretende tornar compreensíveis os termos que

tenham tradução, já os que não tiverem tradução poderão ser utilizados normalmente.Essa

medida foi tomada para que haja melhor compreensão da informação que se quer passar, para

aqueles que falam o idioma português e não tem conhecimento de outro idioma, dessa forma,

a compreensão é de todos os falantes da língua portuguesa falada no Brasil.

Essa lei segue de acordo com a Lei 5033/09 do Rio de Janeiro que foi citada

anteriormente, pois obriga a tradução dos termos estrangeiros em letras do mesmo tamanho da

mesma forma, porém existem diferenças entre essas leis publicitárias brasileiras.

Vejamos a lei na íntegra a Lei 156/2009 para refletir as diferenças que existem entre a

Lei 5033/09do Rio de Janeiro e a Lei 156/2009 do Rio Grande do Sul:

14 Fonte: Folha de São Paulo. Assembleia gaúcha aprova lei proibindo estrangeirismo na escrita. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2011/04/906578-assembleia-gaucha-aprova-lei-proibindo-

estrangeirismo-na-escrita.shtml Publicado em: 24.04.2011. Acessado em: 30.05.2015.

39

Art. 1º Institui a obrigatoriedade da tradução de expressões ou palavras

estrangeiras para a línguaportuguesa, em todo documento, material

informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da palavra escrita no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, sempre que

houver em nosso idioma palavra ou expressão equivalente.

§ 1º – Nos casos excepcionais, em que não houver na língua portuguesa

palavra ou expressãoequivalente, o significado ou tradução da palavra ou expressão estrangeira deverá estar escrito, com o

mesmo destaque, subseqüentemente a sua utilização no texto.

§ 2º - A tradução a que se refere o caput deste artigo deve ser do mesmo tamanho que as palavrasem outro idioma expostas no documento, material

informativo, propaganda, publicidade ou meio de

comunicação em questão.

Art. 2o Todos os órgãos, instituições, empresas e fundações públicas deverão priorizar na redaçãode seus documentos oficiais, sítios virtuais, materiais de

propaganda e publicidade, ou qualquer outra formade relação institucional

através da palavra escrita, a utilização da língua portuguesa, nos termos desta lei.

Art. 3º Esta Lei poderá ser regulamentada para garantir sua execução e

fiscalização e para definiras sanções administrativas a serem aplicadas àquele, pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que

descumprir qualquer disposição desta lei.

Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Porto Alegre, 03 de agosto de 2009. Deputado(a) Raul Carrion.

15

Podem-se observar vários pontos em comum entre as duas leis de diferentes estados

brasileiros. Em seu site oficial, Raul Carrion explica justificativa e expõe sua opinião acerca

dos estrangeirismos na língua portuguesa falada no Brasil. Carrion (2009) fala que assistimos

atualmente a uma acelerada descaracterização da língua portuguesa, com o uso desnecessário

de estrangeirismos que têm tradução e equivalentes consagrados. (CARRION, 2009)

Os estrangeirismos têm grande importância na comunicação, pois, fazem parte da

língua, contribuíram para a formação da mesma e ainda agem em prol do avanço tecnológico

que envolve a globalização e a unificação de culturas a partir das maiores potencias

econômicas atuais. São empregados de forma formal e informal, em todos os ambientes em

que haja comunicação. Fazem parte da evolução da língua portuguesa, da mesma forma que

contribuíram e contribuem com a sua formação, são também, sinônimos de embelezamento e

cultura, quando são apropriadamente aplicados. (FARACO, 2001)

Esses termos podem ser facilmente substituídos por palavras em português quando há

uma tradução, caso contrário, é possível conseguir um termo equivalente dentro da língua

portuguesa e até mesmo, a criação de um. (FARACO, 2001)

15 Fonte: Site oficial do deputado estadual Raul Carrion: http://www.raulcarrion.com.br/pl156_09.asp

Acessado em: 30.05.2015.

40

Tem-se então neste capítulo os estrangeirismos na prática brasileira, onde estão sendo

aplicados e seus devidos exemplos reais e atuais, assim como também, os estrangeirismos na

publicidade e as duas leis acerca do uso.

Percebe-se que ainda há muita divergência quando o assunto é o emprego de

estrangeirismos na língua portuguesa em diversas áreas, quanto mais na publicidade que tem

alcance internacional e que influencia até a fala das pessoas. (FARACO, 2001)

Pudemos observar as questões que envolvem as Leis brasileiras de uso de

estrangeirismos na publicidade brasileira: Lei 5033/09do Rio de Janeiro e a Lei 156/2009 do

Rio Grande do Sul, na qual pudemos comparar com o artigo 5° da Constituição Brasileira dos

Direitos Humanos, que evidencia a igualdade e a liberdade de expressão. Refletimos todos

esses pontos acerca de exemplos reais e atuais tirados da mídia brasileira que estão em

ANEXOS.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nossa pesquisa refletimos o uso de estrangeirismos na língua portuguesa falada no

Brasil e as duas leis de uso de estrangeirismos na publicidade brasileira.

Este trabalho teve como objetivos: refletir o modo como os estrangeirismos estão sendo

usados e criticados; compreender as leis que determinam a aplicabilidade desses termos na

publicidade brasileira e entender como a globalização e o avanço tecnológico interferem

juntamente com a publicidade na evolução da língua portuguesa falada no Brasil.

Pudemos refletir os objetivos de estudo citados acima, inicialmente, através do estudo

de iniciação da língua e suas diferentes definições conceituadas por diferentes gramáticos e

linguistas, assim como, também, através da demonstração de diferentes conceitos de

estrangeirismos, definições, características, origens, estudos, diferenciações, críticas ao uso

desses termos na língua portuguesa falada no Brasil e, posteriormente, o uso dos

estrangeirismos na publicidade e as duas leis brasileiras de uso: lei 5033/09 e a lei 156/2009.

Com o descobrimento do Brasil pelos portugueses, juntamente com a colonização e a

imigração de povos de outras nações, tem-se inicialmente que os idiomas falados no Brasil

eram os idiomas das tribos indígenas, o que mudou a partir da chegada dos portugueses que

trouxeram a língua portuguesa, língua que posteriormente sofreu influências de idiomas

africanos, indígenas, francês, italiano, alemão, espanhol etc, completando, assim, um idioma

único: a língua portuguesa brasileira. Essa reflexão foi alcançada através de uma longa

pesquisa em gramáticas, livros especializados, artigos, jornais científicos, propagandas,

41

dicionários específicos, leis na íntegra, mídias e em qualquer outra forma em que houvesse a

expressão de um estrangeirismo na língua portuguesa brasileira. Dentre tantas formas

influentes na atual sociedade que vivemos, optamos por escolher a que consideramos mais

abrangente por atuar em diversas mídias, de maneira visual e/ou auditiva; a publicidade.

Apesar do estudo da língua ser extremamente extenso por envolver fatores de evolução

da humanidade, o que corresponde a todo o processo da formação do sistema linguístico,

desde a iniciação da formação da linguagem mais primordial já existente, até passar por

séculos de evolução e chegar ao que temos concreto hoje, que ainda segue em constante

mudança evolutiva causada pelo uso e necessidade de seus próprios falantes. Tentamos

sintetizar ao máximo o conteúdo de pesquisa que correspondesse ao tema deste trabalho de

pesquisa, o que significa que de maneira nenhuma estivemos perto de esgotá-lo.

Primeiramente, de que forma o contato entre diferentes povos interfere na evolução da

língua portuguesa falada no Brasil? A globalização fez com que a cultura brasileira fosse

formada de diversas culturas, por questões histórico-sociais, que envolvem influências

portuguesas, espanholas, italianas e indígenas, africanas, tanto em questões culturais quanto

na língua falada.

O contato entre diferentes povos interfere diretamente na evolução de uma língua, pois

palavras são cultura e o contato direto de várias culturas resulta na miscigenação de palavras

entre diversas línguas. Os estrangeirismos na língua portuguesa são parte desta, já que a

mesma é resultado de outras línguas e culturas, tratando-se assim de uma língua miscelânea

(FILHO, 2000). Com isso, não existe língua desacompanhada de sua referência histórica,

assim como: língua portuguesa (Portugal), língua francesa (França), língua inglesa

(Inglaterra) etc. (BECHARA, 2009)

Tendo em vista que a língua está em constante evolução, dessa forma o conjunto de

unidades lexicais de uma língua espelha a experiência humana acumulada e traços das

práticas sociais e culturais. Com todo o processo tecnológico, científico e de globalização que

estamos passando, a língua portuguesa ganhou novos léxicos e signos lexicais. (GIL, 2009)

Para entender melhor uma língua e suas variantes, é preciso conhecer sua estrutura, mesmo

que em sua forma mais básica, de léxicos e lexemas ou, até mesmo de forma mais completa,

observando também todos os fatores externos, como o encontro com outros idiomas.

(TURAZZA, 2001)

O tempo fez com que a linguagem evoluísse e se tornasse a língua concreta, através da

significação de palavras que foram mudadas e adaptadas durante os anos por seus próprios

falantes, se adaptando ainda melhor a cada realidade de cada época. O que vemos hoje é nada

42

mais que o resultado de uma sociedade globalizada, que tende a cada vez mais ter contato

direto com outras culturas e absorver de certa forma a cultura de outro país, que possui outro

idioma, na forma de palavras. (TERRA, 2008)

Prosseguindo com as reflexões acerca da pesquisa realizada neste trabalho, tem-se a

partir dos objetivos, das análises e comparações a reflexão da seguinte pergunta: Como estão

sendo usados os estrangeirismos na língua portuguesa falada no Brasil? Vemos que essas

palavras emprestadas estão em toda a sociedade, através de propagandas, músicas, redes

sociais, mídias, músicas etc. Atualmente para estar realmente inserido na sociedade, precisa-

se conhecer, entender e saber como usar esses novos termos que estão crescendo cada vez

mais, principalmente nas profissões tecnológicas. O uso de diversos termos emprestados

envolve conhecimento de tecnologias e outros idiomas. O resultado dessa exigência do

mercado de trabalho é o uso de palavras estrangeiras em situações não tão necessárias. Na

publicidade, no jornalismo, na moda e nas áreas tecnológicas, os estrangeirismos dominam de

forma crescente. O uso de outros idiomas cresce e muito, principalmente o uso do inglês, que

é a língua considerada universal atualmente. (FARACO, 2001) Como foi possível observar

nos ANEXOS selecionados e na canção Samba do Approach de Zeca Baleiro, na qual o

compositor brinca com palavras da língua inglesa.

E finalmente, como as leis brasileiras vêem os estrangeirismos na publicidade

brasileira? Refletimos que o uso de estrangeirismos não preocupa apenas gramáticos e

linguístas. O uso desnecessário e de forma errônea desses estrangeirismos, causa interpretação

errada do verdadeiro sentido da expressão e, com isso, uma falha na comunicação. Nem todos

os falantes conhecem palavras estrangeiras. (BECHARA, 2009).

Apesar dos debates sobre o uso de estrangeirismos entre gramáticos e linguistas, para

Faraco (2001) esses empréstimos não ameaçam a integridade da língua portuguesa. A ideia de

purismo se prende a fundamentos que não podem ser considerados, pois a língua portuguesa

teve em sua formação a influência de vários idiomas, estrangeirismos que apesar da mudança

fonética e escrita e adaptação com aportuguesamento, fazem parte da nossa língua e

continuarão sendo usados. (FARACO, 2001)

Para Filho (2000) os empréstimos nunca prejudicaram a identidade cultural de uma

língua, o que quer dizer que uma língua não tem o poder de ameaçar a integridade sistemática

ou o conjunto sistemático que é aquela língua que está fazendo empréstimos de outras línguas.

Já Alves (2007) esclarece que as pessoas que empregam estrangeirismos que são facilmente

reconhecidos como palavras estrangeiras têm consciência que esta palavra se trata de

estrangeira e que a compreensão da aplicabilidade que essa palavra pode ter pelo emissor por

43

seus respectivos receptores pode não ser totalmente clara e que é de conhecimento do emissor

não ser interpretado corretamente, por isso em muitos textos a unidade léxica estrangeira vem

acompanhada da própria tradução ou significação equivalente a da língua vernácula.

(ALVES, 2007)

É simplesmente o que as leis exigem, a tradução ou a equivalência da unidade

estrangeira com letras do mesmo tamanho para que haja compreensão de todos que falam a

língua portuguesa, independente de níveis de conhecimento de outras línguas. As leis vêem os

estrangeirismos como termos que podem ser facilmente não compreendidos por todos os

falantes do português brasileiro.

Este trabalho permitiu refletir parte da evolução da língua quanto ao uso de

estrangeirismos, o modo como estão sendo usados e criticados e como as leis publicitárias

delimitam o uso dos mesmos. Poderíamos ainda ter feito mais análises de uso de

estrangeirismos na prática, como, por exemplo, estrangeirismos que são ao mesmo tempo

falsos cognatos, listas dos estrangeirismos que entraram nos dicionários brasileiros nos

últimos anos, listas com os estrangeirismos que passaram a ser escritos sem itálico segundo a

reforma ortográfica e entre tantos outros, porém nos mantivemos na atual pesquisa, com o

tempo que tivemos e recursos que estavam ao nosso alcance. Aos que pretenderem continuar

essa interessante pesquisa, sejam bem-vindos a formação de um olhar perceptivo que fará

com que vocês se lembrem do tema de sua pesquisa todos os dias, várias vezes ao dia, afinal,

trata-se de um assunto que está em constante uso, discussão e evolução.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Ieda Maria. Neologismo - Criação Lexical. 3 ed. São Paulo: Ática, 2007.

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Fronteira, 2009.

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FILHO, Domício Proença. Academia Brasileira de Letras – ABL. Língua Portuguesa.

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FIORIN, José Luiz (org.). Introdução á Linguística II. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2010.

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WEG, Rosana Morais; JESUS, Virgínia Antunes de. A Língua como Expressão e Criação.

São Paulo: Contexto, 2011.

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ANEXOS

ANEXO 1:

47

ANEXO 2:

48

ANEXO 3:

49

ANEXO 4:

50

ANEXO 5: