53
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” RECURSOS AUTOR ALAN ANTUNES DA COSTA ORIENTADOR PROF. JEAN ALVES RIO DE JANEIRO 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

RECURSOS

AUTOR

ALAN ANTUNES DA COSTA

ORIENTADOR

PROF. JEAN ALVES

RIO DE JANEIRO 2015 DOCUMENTO P

ROTEGIDO P

ELA LE

I DE D

IREITO A

UTORAL

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

RECURSOS Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual civil. Por: Alan Antunes da Costa.

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

3

DEDICATÓRIA A Deus, por estar sempre comigo e por ter

proporcionado minha família.

À minha avó, Maria Soares da Costa, in

memorian.

Aos meus pais Alcilene e Gelson e minha

irmã, Aline estarem sempre presentes na

minha vida e por serem influenciadores do

meu desenvolvimento psicológico e

profissional. Dedico não só meu TCC, mas

sim tudo o que vivi e o que viverei daqui pra

frente. Muito obrigado Senhor por essa

família maravilhosa.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

4

RESUMO

Há um descontentamento natural de todo ser humano em face de um ato que não esteja de acordo com seus pensamentos e de atos ou posicionamentos diante de determinada situação. Em matéria judicial não poderia ser diferente, afinal o direito rege relações sociais. Diante de tais inconformismos, surge o instituto do recurso judicial, muito embora caiba salientar que nem toda via de impugnação judicial configura hipóteses de recursos e nem toda reapreciação da questão deve dar-se por órgão distinto daquele que proferiu a decisão atacada, porquanto alguns recursos provocam decisões dentro do próprio órgão que proferiu o julgado. O recurso é um dos remédios utilizados para impugnar decisões judiciais, ou seja, o ato que através do qual se pode pedir o reexame da questão decidida. Portanto, recurso é um remédio processual destinado, no entender do recorrente, a corrigir um desvio jurídico. Ferramenta, portanto, de correção em sentido amplo. A nota característica dos recursos é o fato de serem exercitáveis na mesma relação jurídica, sem que se instaure um novo processo. Também pode ser considerado o instrumento processual voluntariamente utilizado pelo legitimado que sofreu prejuízo decorrente da decisão judicial, para obter a sua reforma, a sua invalidação, o seu esclarecimento ou a sua integração, com a expressa solicitação de que nova decisão seja proferida, podendo ou não substituir o procedimento hostilizado

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

5

METODOLOGIA

O estudo aqui proposto foi levado a efeito a partir do método da

pesquisa bibliográfica, em que se buscou o conhecimento em diversos tipos de

publicações, como livros e artigos em jornais, revistas e outros periódicos

especializados, além de publicações oficiais da legislação e da jurisprudência.

Por outro lado, a pesquisa deve ser empreendida também através do

método dogmático positivista, porque o que se pretendeu foi apenas identificar as

diversas formas em que se apresenta o fenômeno-tema na realidade brasileira e

o tratamento conferido a cada uma delas pelo ordenamento jurídico nacional, sob

o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro e com fundamento

exclusivo na dogmática desenvolvida pelos estudiosos que já se debruçaram

sobre o tema anteriormente.

Trata-se, ainda, de uma pesquisa aplicada, porque visa produzir

conhecimento para aplicação prática, mas também qualitativa, porque procurou

entender a realidade a partir da interpretação e qualificação dos fenômenos

estudados; e descritiva, porque visa a obtenção de um resultado puramente

descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do tema.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8

CAPÍTULO I

TEORIA GERAL DOS RECURSOS..................................................................... 10

1.1 – CONCEITO.................................................................................................. 10

1.2 – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE................................................ 11

1.3 – EFEITOS.......................................................................................................16

1.4 – GENERALIDADES.......................................................................................19

CAPÍTULO II

DOS RECURSOS EM ESPÉCIE.......................................................................... 20

2.1 – APELAÇÃO..................................................................................................20

2.2 – RECURSO ADESIVO...................................................................................25

2.3 – AGRAVO......................................................................................................27

2.4 – EMBARGOS INFRINGENTES.....................................................................30

2.5 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO................................................................32

CAPÍTULO III

RECURSOS AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA......................................................................................................... 34

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

7

3.1 – RECURSO ORDINÁRIO...............................................................................34

3.2 – DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO E DO RECURSO

ESPECIAL.............................................................................................................35

3.3 – DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO E SEU CABIMENTO.......................35

3.4 – DO RECURSO ESPECIAL E SEU CABIMENTO.......................................38

3.5 – PROCEDIMENTO DOS RECURSOS ESPECIAL E

EXTRAORDINÁRIO..............................................................................................41

CONCLUSÃO...................................................................................................... 46

BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 48

ANEXOS.............................................................................................................. 50

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um estudo e análise sobre a possibilidade de

reexame de uma decisão prolatada pelo poder judiciário que nada mais é que a

possibilidade de empregar a parte litigante todos os meios legalmente possíveis

de defender seu direito, suas hipóteses e consequências. Nesse contexto, o

trabalho dedica-se a evidenciar as origens e motivações que levaram a parte uma

indignação com a decisão prolatada pelo judiciário; dedica-se, ainda, a identificar

todas as possíveis hipóteses em que podem se evidenciar em diversos

procedimentos, os recursos cabíveis e qual das partes têm ou não interesse na

reforma da sentença ou acórdão. Adicionalmente, o presente estudo apresenta

os procedimentos que devem ser adotados para a propositura de recursos em

tribunais superiores, eis que existem diferentes regras e um verdadeiro

afunilamento em seu cabimento, tema polêmico e controvertido. A recorribilidade

das decisões ou acórdãos produz diversos reflexos jurídicos para as partes,

especialmente econômicos, que tiveram de ser examinados separadamente.

O estudo do tema e das questões analisadas em torno do mesmo

justifica-se pelo fato de que a protocolização de um recurso pode significar

anulação ou cancelamento da conclusão de um processo. A interposição de um

recurso ocorre geralmente quando há uma lesão a direito ou um inconformismo

com o entendimento e interpretação do magistrado. Dependendo do

procedimento e grau de jurisdição no qual está em trâmite o processo judicial é de

se respeitar um prazo, efeitos e juízos de admissibilidade específico.

Contudo, as regras e procedimentos adotados para os recursos são

corriqueiramente desrespeitadas e sua inobservância geram certas

conseqüências. Portando, neste estudo analisou-se detalhadamente as causas de

não conhecimento, provimento e admissibilidade dos recursos, bem como o

resultado jurídico de cada uma delas para ambas as partes.

Visando um trabalho objetivo, cujo estudo seja bem delineado e

especificado, a presente monografia dedica-se, especificamente, às questões

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

9

relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta

para o esclarecimento e entendimento das formas e procedimentos de cada

recurso, seja em qual instância for. A pesquisa se dedica a assuntos atuais

fazendo, também, retrospectivas históricas.

Foram estudadas na pesquisa as diversas hipóteses de

admissibilidade, seus pressupostos, cabimento e interposição de recursos de

iniciativa da parte ou das partes, em diversos graus de jurisdição, bem como seus

procedimentos, prazos, efeitos e conseqüências no mundo jurídico.

Por fim, foi explanado que o cabimento dos recursos para os tribunais

superiores tem maior complexidade, havendo, portanto, além do regramento

comum a todos os recursos, um juízo de admissibilidade extremamente restrito

onde o recorrente deve demonstrar especificamente um prequestionamento e

uma repercussão de tal monta que faça jus a apreciação da causa pelos

colegiados de ponta do judiciário nacional.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

10

CAPÍTULO I

TEORIA GERAL DOS RECURSOS

1.1 – CONCEITO

A palavra recurso provém do latim recursus, que traz a idéia de voltar

atrás. Diante de uma decisão que não agrada, pretende-se uma nova análise da

matéria, ou seja, percorrer um novo caminho no judiciário, geralmente em outra

instância dita superior. Assim, recurso é o ato pelo qual a parte demonstra seu

inconformismo com uma decisão proferida nos autos, postulando sua reforma ou

modificação. Tem a finalidade de outorgar maior certeza quanto a decisão

emanada do judiciário e evitar erros, gerando maior força de pacificação social ao

processo.

Como nos ensina Humberto Theodoro Junior (JUNIOR, 2007, p. 636):

...recurso em direito processual tem uma acepção técnica e restrita, podendo ser definido como o meio ou remédio impugnativo apto para provocar, dentro da relação processual ainda em curso, o reexame da decisão judicial, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior, visando a obter-lhe a reforma, invalidação, esclarecimento ou integração.

Há um descontentamento natural de todo ser humano em face de um

ato que não esteja de acordo com seus pensamentos e de atos ou

posicionamentos diante de determinada situação. Em matéria judicial não poderia

ser diferente, afinal o direito rege relações sociais. Diante de tais inconformismos,

surge o instituto do recurso judicial, muito embora caiba salientar que nem toda

via de impugnação judicial configura hipóteses de recursos e nem toda

reapreciação da questão deve dar-se por órgão distinto daquele que proferiu a

decisão atacada, porquanto alguns recursos provocam decisões dentro do próprio

órgão que proferiu o julgado.

São recorríveis todos os atos do juiz que caracterizem decisões

interlocutórias ou sentenças e admissíveis os recursos de apelação, agravo,

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

11

embargos infringentes, de declaração, recurso ordinário, especial, extraordinário e

embargos de divergência em recurso especial e extraordinário (CPC, art.496).

Os despachos, atos referentes ao normal andamento do processo não

são recorríveis. Em casos de inversão tumultuária do processo, justamente pela

ausência de observância da ordem legal instituída para o procedimento, com

determinações equivocadas de atos de mero expediente, tem lugar a correição

parcial. Esta não é recurso na correta acepção da palavra, posto não visar a

reforma ou invalidação de alguma decisão, mas apenas trazer de volta os autos a

sua marcha normal.

1.2 – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

Para o recurso ser admitido e processado normalmente deve ele

preencher prévios requisitos legais, nominados como pressupostos subjetivos e

objetivos do recurso. Se ausentes tais requisitos não será o recurso analisado em

seu mérito, ou seja, não será apreciado o pedido de reforma ou invalidade da

decisão proferida, em raciocínio muito semelhante ao feito com as condições de

mérito da ação.

1.2.1 – Pressupostos subjetivos

Levam em consideração a qualidade necessária a pessoa do

recorrente.

1.2.1.1 – Legitimidade

É o pressuposto analisado abstratamente, bastando ao recorrente

afirmar ter sofrido prejuízo jurídico em decorrência da decisão. São legítimos para

recorrer as partes, o Ministério Público, o terceiro interveniente e o terceiro

prejudicado.

De acordo com o art. 499 do CPC, caput “o recurso pode ser interposto

pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público”. Há outros

legitimados, como o chamado amicus curiae outros que porventura venham a

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

12

participar do processo de maneira indireta. Logo, o artigo 499 do CPC não

apresenta rol exaustivo.

A parte vencida mencionada na lei não se refere apenas ao autor ou

réu, mas também ao assistente, ao denunciado, ao chamado e outros, como é o

caso do juiz, na exceção de suspeição.

O terceiro prejudicado é aquele que até então não tinha participado do

processo, passando a fazer parte deste a partir da interposição do recurso. Ele há

de ser juridicamente prejudicado para que seu recurso seja admitido (art. 499, § 1,

do CPC).

No que diz respeito ao Ministério Público, ele tem legitimidade para

recorrer, seja na qualidade de parte, ou como custos legis ou fiscal da lei (art.

499, § 2.°, do CPC). A Súmula 99 do STJ é bem elucidativa a este respeito: “O

ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou

como fiscal da lei, ainda que haja recurso da parte”.

1.2.1.2 – Interesse

O interesse em recorrer está ligado ao conceito de sucumbência.

Sucumbir consiste em não receber da decisão tudo o que dela se esperava.

Para as decisões interlocutórias o interesse em recorrer surge quando

regada ao recorrente uma situação de desvalia no processo.

Já para as sentenças, o autor sucumbe quando não tem o acolhimento

integral de sua pretensão, na forma como deduzida na inicial. O rei, por sua vez,

sucumbe quando o pedido do autor é atendido, mesmo que parcialmente.

É necessário que o interessado na impugnação da decisão possa

almejar alguma utilidade na interposição do recurso, ao esperar do julgamento do

recurso resultado mais vantajoso que o posto na decisão impugnada. Outrossim,

o recurso só será admissível se houver necessidade de sua proposição para que

o objetivo específico seja alcançado. Explicitando de outra forma, o interessado

deve vislumbrar, na veiculação do recurso, alguma utilidade que somente pode

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

13

ser obtida através de via recursal, fazendo-se necessário para tanto que a parte

interessada em recorrer tenha sofrido algum prejuízo jurídico em decorrência da

decisão judicial a ser atacada ou tenha ficado insatisfeita com tal decisão

O recurso do terceiro prejudicado é forma de intervenção de terceiros

em fase recursal, sendo seu interesse caracterizado pela qualidade de assistente

que poderia ter ostentado no processo em primeiro grau. Portanto, seu recurso

visa a vitória de seu assistido e não o amparo a direito próprio.

O interesse do Ministério Público em recorrer está vinculado à sua

função exercida no processo. Por vezes sua intervenção é determinada pela

matéria objeto do processo, cuja relevância do interesse público demanda a

participação da instituição defensora da sociedade. Nestas hipóteses seu

interesse surge pela simples discordância com o teor da decisão proferida. Já nos

casos em que sua intervenção é determinada pela qualidade especial de

hipossuficiência de uma das partes (incapaz), não tem ele interesse em recorret

de decisão que favoreça quem devia defender, vinculada a admissibilidade de seu

recurso a sucumbência do hipossuficiente.

1.2.2 – Pressupostos objetivos

Estão ligados às exigências legais para o conhecimento do recurso.

1.2.2.1 – Tempestividade

Todo nosso sistema processual é baseado em preclusões (sistema

rígido), com perda de faculdades processuais pelo seu não exercício no momento

oportuno.

Portanto, toda decisão tem um prazo legal peremptório para ser

recorrida, sob pena de preclusão, sendo a tempestividade exatamente tal análise.

O prazo comum para recorrer é de quinze dias, com exceção do

agravo (dez dias) e dos embargos de declaração (cinco dias). Sua contagem

inicia-se da leitura da sentença em audiência ou da intimação das partes, quando

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

14

essa não for proferida naquele ato, ou da publicação da súmula do acórdão no

órgão oficial, em decisões proferidas pelo tribunal. No prazo legal a petição de

interposição do recurso estar protocolada em cartório ou segundo a norma de

organização judiciária (CPC, art. 507).

O prazo para interposição pode ser interrompido quando falecer uma

das partes, seu advogado ou ocorrer motivo de força maior, correndo pela

integralidade quando da habilitação de herdeiro ou sucessor.

Suspende-se o prazo recursal nos casos de: superveniência de férias

(art. 179 do CPC), no âmbito dos tribunais superiores; obstáculo criado pela parte

(art. 180) ou pelo juiz; perda de capacidade processual de qualquer das partes ou

do seu procurador. Já a interrupção do prazo recursal ocorre com a proposição de

embargos de declaração.

Ressalta-se que o Ministério Público e a Fazenda Pública têm prazo

recursal dobrado, de acordo com o art. 188 do CPC. Tal prazo se aplica às

autarquias e fundações públicas. Não se aplicando este favor ao prazo das

contrarrazões.

Os defensores públicos detêm prazo dobrado para recorrer e

responder ao recurso, conforme disposição da Lei Complementar n. 80, arts. 44, I,

e 128, I, e da Lei n. 1.060/50, art. 5º, § 5º.

1.2.2.2 – Cabimento

Ao serem previstos pela lei processual, os recursos possuem regime

jurídico próprio que determinam as hipóteses de sua interposição e sobre qual

espécie de decisão determinado recurso é cabível. Analisa-se a previsão de certo

recurso como sendo hábil a atacar determinada decisão judicial ou qualquer vício

que ela apresente.

Para cada decisão deve haver um único recurso apropriado à sua

reforma ou invalidação. É o princípio da unirrecorribilidade das decisões, que

comporta duas aparentes exceções.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

15

A primeira é a interposição conjunta de recurso especial e

extraordinário contra um mesmo acórdão. A outra é a possibilidade de

interposição de ambos ou algum deles juntamente com os embargos infringentes.

São exceções meramente aparentes, já que na realidade não são dois ou mais

recursos cabíveis contra a mesma decisão, mas recursos distintos contra partes

diversas do mesmo julgado.

Se a Lei tem previsão expressa quanto a qual recurso cabível, a parte

que não observar essa disposição cometerá erro grosseiro, gerando o não

conhecimento de sua pretensão à reforma ou invalidade da decisão.

Se, em caso inverso, for a lei omissa, abre-se azo à aplicação do

princípio da fungibilidade, autorizante do recebimento de um recurso por outro,

quando não cometido erro grosseiro e observado o prazo de interposição do

recurso correto.

1.2.2.3 – Preparo

Preparo é o pagamento das despesas de processamento do recurso,

cuja prova de recolhimento deve vir aos autos juntamente com a petição de

interposição.

A lei dispensa o recolhimento no recursos de agravo retido, nos

embargos de declaração e em todos os demais, quando interpostos pelo

Ministério Público, Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, autarquias e

beneficiários da assistência judiciária. O valor do preparo depende de

regulamentação em lei estadual.

O recolhimento do preparo deve ser comprovado no ato de

interposição do recurso, sob pena de deserção.

Deve-se lembrar que a insuficiência do valor do preparo é tratado no §

2º, do art. 511 do CPC, implicando deserção caso o recorrente intimado não o

supra no prazo de cinco dias. Tal intimação pode ser realizada pelo juízo a quo ou

pelo ad quem.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

16

Há possibilidade de mitigação da deserção, com base no art. 519 do

CPC, quando o recorrente provar justo impedimento, como em caso de greve

bancária, enchente ou dúvida escusável do preparo. Embora o referido artigo se

refira à apelação, sua aplicação é de caráter geral.

1.3 – Efeitos

1.3.1 – Efeito devolutivo

Comum a todos dos recursos, o efeito devolutivo é o que atribui ao

juízo recursal o reexame da matéria analisada pelo órgão jurisdicional recorrido,

juízo a quo. Tal reapreciação caracteriza a devolução, expressão que

historicamente é originária da devolução ao imperador ou governante de recurso

à decisão julgada por delegação a juízes ou pretores. O poder de julgar era,

então, devolvido ao soberano.

Deve a parte recorrente, portanto, especificar, nas razões do recurso

que interpõe, o pedido de nova decisão que pretende, permitindo assim ao

tribunal analisar a extensão máxima que poderá dar à sua decisão. O tribunal fica

vinculado ao pedido de nova decisão formulado pelo recorrente.

A profundidade do efeito devolutivo ou sua dimensão vertical, tratada

nos parágrafos do art. 515, refere-se às questões relativas ao fundamento do

pedido ou da defesa, podendo a decisão apreciar todas elas ou se omitir quanto a

algumas delas. Ainda que a parte não tenha alegado nas razões do recurso todos

os fundamentos, é lícito ao tribunal conhecer de todos eles, desde que esteja

adstrito ao pedido de revisão formulado pelo recorrente. Trata-se da aplicação do

princípio da fungibilidade relativo ao fundamento. A profundidade da devolução

das questões abrange as que poderiam ter sido resolvidas na decisão recorrida,

compreendendo: as questões examináveis de ofício; as que, não sendo

examináveis de ofício, deixaram de ser avaliadas, apesar de terem sido

suscitadas, incluindo as acessórias, as incidentais, as de mérito e outros

fundamentos do pedido e da defesa.

1.3.2 – Efeito suspensivo

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

17

O efeito suspensivo de um recurso é aquele que impede a produção

imediata dos efeitos da decisão, sejam eles executivos, declaratórios ou

constitutivos que se pretende impugnar.

Ressalta-se que a simples possibilidade de interposição de recurso

torna a decisão ineficaz até o escoamento do prazo recursal. Portanto, o efeito

suspensivo não é decorrente da interposição de recurso, mas da mera

recorribilidade do ato. Havendo recurso previsto dotado de efeito suspensivo, a

suspensividade é confirmada, estendendo-se até o seu julgamento pelo tribunal.

1.3.3 - Efeito substitutivo

Este efeito faz com que a decisão do juízo ad quem, qualquer que seja

ela, substitua a decisão recorrida. O efeito está previsto no art. 512 do CPC, ao

asseverar que "o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a

decisão recorrida, no que tiver sido objeto de recurso". Desta forma, mesmo que o

tribunal confirme a decisão recorrida sem nada alterar em sua essência, por este

efeito, não mais existirá a decisão recorrida, mas apenas a proferida pelo tribunal.

1.3.4 - Impedimento à preclusão ou ao trânsito em julgado

A interposição de recurso impede a preclusão e o trânsito em julgado e

prolonga a litispendência. Há intensa discussão a respeito do recurso não

conhecido, de maneira que a jurisprudência, algumas vezes acata que todo o

recurso produz efeitos, em outras entende que o intempestivo ou incabível não

impede o trânsito em julgado.

Quando o recurso for conhecido, é pacífico que a data do trânsito em

julgado é a da última decisão. Já se o recurso não for conhecido, apontam-se três

soluções para a data do trânsito em julgado: retroage à interposição do recurso ou

ao fato que impediu o julgamento de mérito; retroage à data do término do prazo

recursal ou à interposição do recurso incabível; sempre retroage à data do trânsito

em julgado da última decisão. Esta última solução é a que está mais concordante

com o princípio da segurança jurídica.

1.3.5 - Efeito translativo

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

18

Este efeito é defendido por Nelson Nery Jr., que conforma como efeito

translativo o que a doutrina majoritária denomina de profundidade do efeito

devolutivo, acrescentando: sempre que o tribunal puder examinar questões fora

dos limites do recurso, estar-se-á frente à manifestação deste efeito.

Destarte, o efeito translativo opera-se mesmo sem expressa

manifestação de vontade do recorrente. Inclui-se como exemplo do efeito

translativo a matéria que compete ao Judiciário conhecer em qualquer tempo ou

grau de jurisdição, quais as questões enumeradas no art. 301 do CPC, com

exceção do seu inc. IX.

O tribunal é autorizado a conhecer os temas de ordem pública, ainda

que não tenham sido ventilados, seja no juízo a quo, seja nas razões de recurso,

e podem ser conhecidos pelo tribunal em qualquer circunstância, bastando que

tenha sido interposto recurso sobre alguma decisão da causa.

1.3.6 - Efeito expansivo

O efeito expansivo, objetivamente considerado, tem nítida vinculação

aos atos processuais e ao tema das nulidades no processo civil. Assim, a

modificação ou mesmo a anulação de uma decisão judicial pode determinar o

desfazimento de outros tantos atos, dependentes do primeiro na seqüência do

procedimento. Enfim, todos os atos judiciais sujeitos ao ato judicial atacado no

recurso, e que tenha sido modificado ou anulado em sua decorrência, podem ter

sua eficácia também cassada ou alterada.

Já em sua forma subjetiva, o efeito expansivo atinge, em alguns casos,

outros sujeitos. É o que ocorre quando o recurso é interposto por um dos

litisconsortes no litisconsórcio unitário, aproveitando a todos, exceto se opostos

são os seus interesses (art. 509 do CPC). Outro caso se dá nos embargos de

declaração interpostos por uma das partes, interrompendo o prazo para recurso a

ambas as partes (art. 538, caput, do CPC).

1.3.7 - Efeito regressivo ou de retratação

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

19

Este efeito autoriza o órgão jurisdicional a quo a revisar a decisão

recorrida, numa forma de retratação. É o que ocorre no agravo de instrumento e

na apelação contra sentença que indefere a petição inicial (art. 296 do CPC).

Também considerado de efeito devolutivo diferido, na medida em que a

devolução do exame da sentença só acontecerá depois do juízo de retratação

negativo do magistrado.

1.3.8 - Efeito interruptivo

O efeito interruptivo ocorre nos embargos de declaração,

interrompendo o prazo para outros recursos e para qualquer das partes (art. 538

do CPC). Todavia, prevê o parágrafo único deste dispositivo sanção à desvirtuada

utilização protelatória desse recurso.

1.4 – Generalidades

Todo recurso após interposto pode contar com a desistência do

recorrente, exercitável a qualquer tempo e independentemente de anuência do

recorrido ou litisconsorte. Sua diferença em relação à tenúncia é que é formulada

nos autos previamente à interposição do recurso.

Ela pode ser expressa, manifestada oralmente ou por escrito nos

autos, ou na tácita, pelo transcurso do prazo para recorrer (CPC, art. 502). Já a

parte que aceitar, tácita ou expressamente a sentença, não poderá dela recorrer

(CPC, art. 503).

Aceitação expressa é feita também por escrito ou oralmente nos autos,

enquanto a tácita decorre da prática de ato incompatível com a vontade de

recorrer, como por exemplo, o cumprimento voluntário da sentença.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

20

CAPÍTULO II

DOS RECURSOS EM ESPÉCIE

2.1 – Apelação

Apelação é o recurso cabível contra as decisões terminativas ou

definitivas (sentenças), as quais põem fim ao processo, exaurindo a jurisdição do

juiz de primeiro grau.

Ensina-nos Humberto Theodoro Junior (JUNIOR, 2007, p. 662):

Apelação, portanto, é o recurso que se interpõe das sentenças dos juízes de primeiro grau de jurisdição para levar a causa ao reexame dos tribunais do segundo grau, visando a obter uma reforma total ou parcial da decisão impugnada, ou mesmo sua invalidação. São apeláveis tanto as sentenças proferidas em procedimentos contenciosos como as de feitos de jurisdição voluntária.

As decisões interlocutórias mistas, consistentes na alteração da

relação jurídica processual, sem extingui-la por completo, não são apeláveis, pois

não põem fim ao processo nem esgotam a jurisdição. São os exemplos do

indeferimento liminar da reconvenção e exclusão de uma das partes da relação

jurídica, por carência de ação reconhecida em saneador, com prosseguimento do

feito com as partes restantes.

É ela um recurso ordinário, de primeiro grau, com a petição de

interposição dirigida ao próprio juiz prolator da sentença recorrida, contendo os

nomes e qualificações das partes, os fundamentos de fato e de direito em que se

funda o pedido de nova decisão. Tem por finalidade principal evitar o trânsito em

julgado da sentença e serve como forma de obtenção da garantia do duplo grau

de jurisdição.

2.1.1 – Efeito devolutivo da apelação

A apelação do interessado pode versar sobre toda a decisão ou

apenas sobre alguns de seus aspectos.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

21

No primeiro caso, o tribunal conhece de toda a matéria objeto da lide,

abordando completamente as questões suscitadas e discutidas no processo,

ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro. Isso não significa ter sido

citrapetita a sentença de primeiro grau.

Ao juiz singular é possível, dentro de seu raciocínio lógico, afastar

pedidos cumulativos pelo indeferimento daquele que é causa em relação aos

demais, que são efeitos. Além disso, pode ele convencer-se por uma das teses de

direito deduzida pela parte, ocasionando a dispensa de análise das restantes. Daí

a fixação de amplos limites à devolutividade da matéria impugnada ao tribunal de

apelação, com a autorização de conhecimento dos demais fundamentos do

pedido ou da defesa, quando o juiz tiver acolhido apenas um deles. Até mesmo

questões anteriores a sentença, ainda não apreciadas, serão submetidas ao

tribunal (CPC art. 516).

As já decididas foram objeto de preclusão, vedada a reapreciação de

ofício pelo tribunal, sem provocação do recorrido via recurso de agravo, com

exceção das matérias de ordem pública (ausência de condições da ação e

pressupostos processuais), as quais devem ser conhecidas a qualquer tempo e

grau de jurisdição, independentemente de provocação das partes.

Se parcial o recurso, encontra-se o tribunal limitado em seu

conhecimento, sob pena de proferir acórdão ultra ou extra petita. Entretanto, para

conhecimento da pretensão específica do recorrente, tem ele ampos poderes

para analisar todas as questões ligadas ao limite estabelecido.

À parte é vedada a inovação fática em fase de apelação, salvo se

deixou de fazê-lo em primeiro grau por motivo de força maior (CPC art. 517).

O parágrafo terceiro do art. 515 faculta ao tribunal o julgamento

imediato do mérito da causa quando da apreciação de recurso de apelação,

mesmo nos casos em que a sentença de primeiro grau limitou-se a extinguir o

processo sem resolução de mérito, desde que a causa verse exclusivamente

sobre questão de direito, ou seja, não julgada a demanda pelo seu mérito.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

22

Se presente essa necessidade, o caminho correto continua a ser o da

anulação da sentença extintiva, com o retorno dos autos ao primeiro grau para

que lá seja produzida a prova e julgada a demanda pelo seu mérito.

2.1.2 – Conhecimento de ofício de matérias não objeto de apelação

A regra geral de que o conteúdo da apelação limita o tribunal ad quem

encontra algumas exceções.

No que tange as questões processuais do art. 301, CPC, a ausência

dos requisitos de admissibilidade do mérito da demanda (condições da ação e

pressupostos processuais) pode ser objeto de conhecimento de ofício pelo juiz, a

qualquer tempo e grau de jurisdição (objeções processuais). Logo, passível de

análise pelo tribunal tais questões, mesmo que não objeto do recurso de

apelação.

Em se tratando de questões de mérito de ordem pública, a decadência

também é passível de reconhecimento de ofício, a qualquer tempo e grau de

jurisdição, independentemente de levantamento da questão na apelação. Isto

porque é ela instituto de direito público, agastado do poder de disponibilidade das

partes, cujo beneficiário não pode dela abrir mão pela renúncia.

Já no que se refere a prescrição, existe aparente contradição entre as

regras do parágrafo 5º do art. 219 do Código de Processo Civil e a do art. 191 do

Código Civil.

Para o direito civil, a prescrição sempre foi entendida como pertencente

ao âmbito privado das partes, cuja argüição deveria ser imposta como um ônus a

parte por ela favorecida. O fato de o credor não possuir mais a sua disposição

tutela jurisdicional, capaz de coagir o devedor ao adimplemento da obrigação, não

afasta a possibilidade da sua satisfação voluntária (conceito de obrigação

natural). Daí porque a lei civil estabelecer a possibilidade de renúncia, expressa

ou tácita, à prescrição, bem como a impossibilidade de se exigir a repetição de

dívida prescrita eventualmente paga.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

23

A norma processual hoje vigente, ao autorizar que a prescrição seja

reconhecida de ofício pelo juízo, sem a imposição de ônus de argüição pelo seu

beneficiário (princípio da eventualidade da contestação), nega a possibilidade da

renúncia tácita no curso do processo.

Entretanto, apesar desta aparente incongruência, a jurisprudência tem

entendido pela aplicabilidade do reconhecimento de ofício da prescrição pelos

juízos de primeiro e segundo grau.

Já na esfera do recurso especial, em se tratando de direito patrimonial,

o STJ firmou entendimento da necessidade de observância de prequestionamento

da matéria na instância inferior, sob pena de não conhecimento, mesmo se

presente a prescrição.

2.1.3 – Efeito suspensivo da apelação

A apelação tem ainda, normalmente, o efeito de suspender a

executividade dos efeitos da decisão (formais e materiais), enquanto não julgado

o recurso.

O artigo 520 excepciona as hipóteses em que a apelação será recebida

somente no efeito devolutivo, possibilitando ao recorrido a instauração de uma

execução provisória enquanto pendente o recurso, mediante a extração de carta

de sentença.

São as sentenças que homologarem a divisão ou demarcação;

condenarem a prestação de alimentos; decidirem processo cautelar; rejeitarem

liminarmente ou julgarem improcedente os embargos opostos à execução;

julgarem procedente o pedido de instituição de arbitragem; e confirmarem a

antecipação dos efeitos da tutela. Esta última hipótese foi incluída para esclarecer

que a apelação não interrompe os efeitos provisórios da tutela antecipada

eventualmente concedida no curso do processo.

2.1.4 – Procedimento

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

24

A petição de apelação é interposta para o próprio juiz prolator da

sentença de primeiro grau. A ele compete fazer o juízo de preenchimento dos

pressupostos recursais, sem prejuízo da reanálise pelo tribunal ad quem. Estando

regular e em ordem o recurso, deverá o juiz declarar os efeitos em que recebe a

apelação e determinar a apresentação de contrarrazões, no prazo de 15 dias

(CPC, art. 518).

O juiz, entretanto, não a receberá sempre que a sentença estiver em

conformidade com a súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo

Tribunal Federal CPC, art. 518 § 1º).

Apresentada a resposta é facultado ao juiz, em cinco dias, o reexame

dos pressupostos recursais (CPC, art. 518 §2º), ante a possibilidade de alteração

do juízo anteriormente formulado pelas alegações trazidas pelo recorrido.

A pena de deserção (falta de preparo) pode ser relevada provando o

apelante justo impedimento, fixando o juiz novo prazo para o recolhimento. Essa

decisão não é recorrível, cabendo ao tribunal analisar a sua correção ou não.

2.1.5 – Do juízo de retratação na apelação

Outrora exclusividade do recurso de agravo, comporta hoje a apelação,

tirada contra decisão que indeferiu a inicial, juízo de retratação, ou seja, a

possibilidade de o juiz reconsiderar o indeferimento e determinar o

prosseguimento normal do feito (CPC, art. 296).

Interposto o recurso, terá o juiz o prazo de quarenta e oito horas para

se retratar. Caso assim não proceda, remeterá os autos ao juízo ad quem, sem a

citação do réu, posto ainda não estar formada a relação jurídica processual.

Críticas têm sido tecidas no que respeita a esta última disposição.

Questiona-se quanto a eventual violação ao contraditório, pela possibilidade de

uma questão processual relevante para o réu ser afastada em recurso de

apelação, do qual ele não fez parte, como, por exemplo, uma inicial indeferida por

manifesta ilegitimidade passiva, cuja sentença é reformada no tribunal. Não há

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

25

prejuízo qualquer ao réu, o qual não se encontra impedido de alegar a

ilegitimidade, em preliminar de contestação, nem o juiz está impedido de acolhê-

la, mesmo porque a relação jurídica não estava formada quando do proferimento

do acórdão e não gera efeitos contra quem dela não fazia parte.

Já o artigo 285-A diz que quando a matéria controvertida for

unicamente de direito e no juízo houver sido proferida sentença de total

improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e

proferida a sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada.

Se o autor apelar dessa decisão, o juiz poderá decidir, no prazo de

cinco dias, se mantém a sentença ou se determina o prosseguimento da ação

(art.285-A §º, CPC).

Caso seja mantida a sentença, o parágrafo segundo do mesmo artigo

determina que seja ordenada a citação do réu para que responda ao recurso.

2.2 – Recurso adesivo

O recurso adesivo tem cabimento na hipótese de sucumbência

recíproca em que uma das partes, até então conformada com a decisão judicial

prolatada, diante do recurso interposto pela parte contrária, opta por também

impugná-la. Ou seja, perante o recurso de uma parte sucumbente, a outra vem a

recorrer também, mas de modo adesivo. Portando, a parte que deixar de recorrer

de sua sucumbência poderá aderir ao eventual recurso interposto pela parte

adversa (CPC, art. 500).

Cumpre observar que o recurso subordinado não é uma espécie de

recurso. Chega-se a conclusão com a simples observação do artigo 496 do

Código de Processo Civil, no qual consta o rol taxativo de recursos cíveis

previstos no ordenamento jurídico brasileiro. Trata-se de um modo de interposição

de recurso. Em regra, não é nada além do recurso que a parte já poderia ter

interposto contra a decisão que agora resolve atacar.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

26

Nas palavras de José Frederico Marques (MARQUES, 2007, p. 221),

seria:

o incidente que surge em caso de sucumbência recíproca, no procedimento recursal instaurado por um dos litigantes, em virtude de exercer também a outra parte, posterior e subordinadamente o direito de recorrer.

Ocorre sucumbência recíproca quando autor e réu são parcialmente

vencedores e vencidos em suas pretensões. Difere da sucumbência parcial no

sentido de que nesta uma das partes consegue apenas parcela do que pleiteava,

sem que a parte contrária também tenha conseguido fração do que se ansiava

conquistar.

Tem por objetivo evitar que o litigante até então conformado com a

tutela jurisdicional, recorra pelo simples receio de que a parte contrária recorra e

tenha sucesso em seu pleito.

O recurso adesivo é dotado de peculiaridades. Seu prazo não é comum

ao do recurso principal. Deve, ao contrário, ser apresentado no tempo dedicado

ao oferecimento de contra-razões, alegações essas que poderão ou não ser

prestadas, sem influir no exame de mérito do recurso adesivo. Não cabe no caso

de reexame necessário. É da essência do recurso adesivo que a parte que

recorra desse modo não espere que o outro litigante venha a se insurgir contra a

decisão. No reexame necessário, essa expectativa não tem qualquer sentido.

O recurso adesivo não pode ser interposto por terceiro prejudicado ou

pelo ministério público quando este estiver na condição de custos legis, já que a

lei faz referência apenas a Autor e Réu.

Ponto interessante é a análise do prazo dado a Fazenda Pública para

recorrer adesivamente. Embora a lei estipule em seu favor prazo em dobro para

recorrer, não estipula prazo certo para o recurso adesivo e remete o recorrente

para o mesmo prazo da resposta ao recurso principal interposto. A melhor

exegese é fixar seu prazo em apenas quinze dias. O legislador deixou claro ser

sua vontade que o recurso adesivo viesse aos autos não em prazo determinado,

como costumeiramente fixa nos demais recursos, mas sim no mesmo prazo das

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

27

contrarrazões. Logo, se este prazo da Fazenda Pública é de quinze dias, não há

como aplicar a regra especial, utilizada apenas quando previsto prazo certo em

lei.

Haverá contra-razões do recurso adesivo. Apesar de ser um recurso

subordinado ao recurso principal, as matérias tratadas em um e outro podem ser

diversas. Dessa forma, em atenção ao contraditório e à ampla defesa, após

conhecer do recurso adesivo, caberá ao juiz abrir prazo para que a outra parte,

recorrente no principal e recorrida no adesivo, apresente contra-razões ao

subordinado.

2.3 – Agravo

Agravo é o recurso cabível contra as decisões interlocutórias semples e

mistas (CPC, art. 522). Pode ser interposto por qualquer parte, Ministério Público

ou terceiro interveniente que acredita estar em posição de desvalia processual,

por força da decisão recorrida, no prazo de dez dias, contados da publicação da

decisão. Sua finalidade principal é evitar a preclusão e tem duas formas, retido e

de instrumento.

2.3.1 – Agravo retido

A forma ordinária de interposição do recurso de agravo é a retida, salvo

quando a decisão agravada for capaz de gerar lesão grave ou de difícil reparação,

bem como nos casos de inadmissão de apelação e nos relativos aos efeitos em

que a apelação é recebida, quando então poder-se-á adotar a forma de

instrumento, sujeita a análise desses requisitos excepcionais ao crivo do relator

do recurso.

Se antes a lei facultava ao interessado a escolha entre as duas formas

previstas para o agravo, hoje impõe ela, como regra geral, a adoção da forma

retida, permanecendo o inconformismo do agravante nos autos para

conhecimento do tribunal, preliminarmente, quando do julgamento de eventual

apelação.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

28

Tem ele sua forma em simples petição juntada ao processo, facultada

a apresentação de razões, no prazo de dez dias da intimação da decisão e sem

preparo, manifestando a parte sua discordância e seu desejo de não vê-la

precluir. Mas seu conhecimento pelo tribunal fica condicionado a expresso pedido

do interessado nas razões ou contrarrazões de apelação.

A presença dos pressupostos recursais não será analisada pelo juiz de

primeiro grau, pois apenas o tribunal pode negar o seu conhecimento, no

momento oportuno. Portanto, meso que intempestivo ou descabido, o agravo

retido deverá permanecer obrigatoriamente nos autos, com anotação na capa dos

autos.

Interposto o agravo retido, poderá o juiz reformar sua decisão, desde

que ouvida a parte contrária no prazo de dez dias como garantia do contraditório.

Ademais, será ele a única forma possível quando interposto contra decisões

proferidas em audiência de instrução e julgamento, sob a forma oral e

imediatamente, devendo constar do termo e com exposição sucinta das razões do

inconformismo e posteriores a sentença, salvo nos casos de inadmissão da

apelação ou relativas aos efeitos em que a apelação é recebida.

2.3.2 – Agravo instrumento

O agravo de instrumento é a forma para que a parte possa obter,

desde logo, o reexame da decisão interlocutória a ele contrária, desde que

presente o risco de lesão grave e de difícil reparação.

É ele, recurso de segundo grau, interposto diretamente perante o

tribunal competente, mediante petição escrita, com exposição de fato e de direito,

as razões do pedido de reforma da decisão e o nome e endereço dos advogados,

constantes do processo, no prazo de dez dias. No prazo do recurso, a petição

será protocolada no tribunal ou postada no correio sob registro com aviso de

recebimento, ou, ainda, interposta por outra forma prevista em lei local.

Além do preenchimento dos pressupostos objetivos e subjetivos

ordinários, é obrigatório que o agravante demonstre ao relator do recurso a

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

29

existência do risco de lesão grave e de difícil reparação, sob pena de conversão

do agravo de instrumento em agravo retido, com envio do recurso ao juiz da

causa.

Tais razões deverão ser instruídas, obrigatoriamente, com cópia da

decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações

outorgadas aos advogados do agravante e agravado e dom outras peças que o

agravante entende úteis. A incorreção formal do agravo, como a falta de peças

obrigatórias ou a não observância do rigor técnico nas razões, é causa de não

conhecimento do recurso.

Nos Estados onde se exige o preparo a petição se fará acompanhar do

comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte de retorno, quando

devidos, conforme tabela que será publicada pelos tribunais.

No prazo de três dias, contado da interposição, deverá a parte

comunicar ao juiz recorrido a interposição, com cópia do recurso e relação dos

documentos de instrução (CPC, art. 526). Tal previsão visa possibilitar ao juiz da

causa o juízo de retratação e a prestação das informações eventualmente

requisitadas pela instância superior. O não cumprimento desse ônus por parte do

agravante importará na inadmissibilidade do agravo de instrumento, desde que

argüido e provado pelo agravado.

Se o juiz comunicar a reforma integral da decisão, o relator considerará

prejudicado o agravo (CPC, art. 529), restando ao agravado interpor seu recurso

caso não se conforme com a reconsideração.

O agravo de instrumento possibilita ao relator do recurso vários

caminhos. Pode ele negar seguimento ao agravo liminarmente nos casos do

artigo 557 do Código de Processo Civil, pode converter o agravo de instrumento

em retido e remeterá os autos ao juiz da causa, salvo se houver risco de lesão

grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e

de decisão sobre os efeitos em que essa foi recebida. Pode ainda, atribuir efeito

suspensivo ao recurso, sustando os efeitos da decisão agravada, ou deverir, total

ou parcialmente, a antecipação de tutela pretendida no recurso, comunicando, em

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

30

ambas as hipóteses, ao juiz de primeiro grau de sua decisão, bem como requisitar

informações ao juiz da causa, as quais deverão ser prestadas no prazo de dez

dias.

O agravo será intimado por publicação no órgão oficial para resposta

no prazo de dez dias, facultada a juntada da documentação que entender

conveniente. Nos locais onde não haja imprensa oficial, o agravado será intimado

na pessoa de seu advogado, por meio de ofício registrado e com aviso de

recebimento.

2.3.3 – Agravo interno regimental

O agravo interno é recurso interposto em face de decisão monocrática

de Relator em recursos no âmbito dos próprios Tribunais. É o também chamado

"agravo regimental", previsto nos regimentos internos dos tribunais estaduais, do

Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.

Este recurso é dirigido ao plenário ou ao órgão fracionário impugnando

decisão do relator imediatamente nos mesmos autos em que a decisão recorrida

foi proferida, sendo desnecessária a formação do instrumento, por já se

encontrarem os autos no tribunal onde deveria ser apreciado o mérito do recurso.

Recurso interposto contra decisão do relator, que tem seu processamento

previsto em regimento interno do tribunal e que prescinde da formação do

instrumento, eis que os autos onde é interposto já se encontram no tribunal onde

será apreciado pela câmara ou turma julgadora, sem necessidade de

deslocamento físico do recurso para outro tribunal. Possui essa denominação por

estar previsto, geralmente, no Regimento Interno do respectivo Tribunal.

2.4 – Embargos Infringentes

Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver

reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado

procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão

restritos à matéria objeto da divergência.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

31

Portanto, constitui um recurso próprio contra acórdão não unânime que

houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado

procedente a ação rescisória. De outra forma dizer-se ia que Embargos

Infringentes são utilizados para atacar acórdão não unânime do tribunal que

reformou a decisão de primeiro grau, em grau de apelação ou que julgou

procedente a ação rescisória, nos termos do art. 530 do CPC.

Além dos pressupostos gerais que são inerentes à propositura de todo

e qualquer recurso, os Embargos Infringentes submetem-se a pressupostos

específicos que lhe são próprios e, sem os quais não pode ser admitido, conforme

se apreende do artigo 530 do Código de Processo Civil: o acórdão proferido em

apelação ou em ação rescisória; a falta de unanimidade desse acórdão; e que,

em caso de apelação, essa tenha reformado a sentença de mérito ou a ação

rescisória tenha sido julgada procedente.

A divergência ensejadora do recurso não precisa dizer respeito apenas

ao mérito do julgamento, podendo versar sobre questões processuais

preliminares do julgamento. Ademais, o dissenso necessário é da parte

dispositiva do acórdão, não comportando embargos infringentes decisão unânime

tomada por cada julgador formada por fundamentos diversos.

No novo julgamento participam cinco julgadores, os três participantes

do primeiro e mais dois, chamados para possibilitar a transformação do voto

minoritário em majoritário. Entretanto, por se tratar de novo julgamento, não ficam

os que participaram do acórdão recorrido vinculados ao conteúdo de seu primeiro

voto, sendo facultada a reformulação do posicionamento anterior.

O juízo quanto à presença dos pressupostos recursais compete ao

relator do acórdão recorrido, não sendo possível de insurgimento o seu juízo

positivo de admissibilidade. Sendo ele inadmitido, caberá agravo, no prazo de

cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso.

Uma vez admitidos os embargos infringentes, procede-se o sorteio do

novo relator, cuja escolhe deve recair, quando possível, em juiz que não haja

participado do julgamento da apelação ou da ação rescisória. Será dada vista ao

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

32

embargado para impugnação no prazo de quinze dias, após os quais serão os

autos remetidos à conclusão do relator e do revisor pelo prazo sucessivo de

quinze dias, seguindo-se o julgamento. Interposto embargos adesivos, observarão

eles o mesmo rito previsto para os embargos principais.

2.5 – Embargos de declaração

Em que pese previstos como espécie de recurso, não visam os

embargos de declaração a reforma ou invalidade da sentença ou acórdão, mas

sim o suprimento de sua eventual omissão, obscuridade ou contradição.

Não existe a possibilidade de oposição de embargos declaratórios da

sentença ou acórdão possuidor de dúvida, sendo essa possibilidade mantida

apenas nos juizados especiais cíveis. A justificativa decorre da natureza subjetiva

e da pouca relevância do termo “dúvida” anteriormente previsto.

A mesma lei unificou os prazos para os embargos declaratórios de

primeiro e segundo grau, hoje fixados em cinco dias, mediante petição escrita

dirigida ao juiz ou relator, com a indicação do ponto obscuro, contraditório ou

omisso, não estando sujeitos a preparo.

A oposição desses embargos interrompe o prazo para interposição de

qualquer outro recurso, retomando-se o prazo na íntegra para ambas as partes

após o seu julgamento.

Os embargos declaratórios de cunho protelatório geram a imposição de

multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa, mediante declaração

fundamentada do juiz ou relator. Em caso de reiteração, a multa é levada até dez

por cento, condicionando a interposição de qualquer outro recurso do depósito

desse valor. Tal disposição pôs fim a celeuma quanto ao cabimento de embargos

de declaração de decisão proferida em primeiros embargos de declaração.

Outra dúvida é quanto ao cabimento de embargos de declaração

contra decisão interlocutória, já que o art.535 menciona apenas sentença ou

acórdão. A melhor jurisprudência orienta-se pela permissão da parte pretender a

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

33

correção ou integração da decisão interlocutória por embargos de declaração,

pois inconcebível o processo comportar o pronunciamento jurisdicional obscuro,

omisso ou contraditório.

Também vem sendo admitida a concessão de natureza infringente aos

embargos de declaração, em casos especiais.

A princípio destinados apenas a corrigir a sentença viciada, e não a

modificá-la, podem os embargos versar sobre omissão de tamanho grau que sua

sanação gerará a modificação de sua parte dispositiva. É o exemplo da ausência

de análise de uma das teses de defesa, como, por exemplo, prescrição, num

processo com sentença de procedência. A sentença citra petita deve ser objeto

de embargos de declaração, a fim de demandar do juiz a análise de todas as

teses de direito levantadas pelo réu e que poderiam levar ao não acolhimento do

pedido do autor. Suponha-se, nesta hipótese, que o juiz constate, em sede de

embargos declaratórios, não só a omissão referida, como também a ocorrência

efetiva da prescrição argüida pelo embargante. A declaração da sentença

obrigatoriamente implicará alteração da decisão, corroborando ao efeito

infringente, pois o recolhimento da prescrição acarretará a alteração da

procedência para a improcedência do pedido.

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

34

CAPÍTULO III

RECURSOS AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Muito embora na maioria das vezes os recursos para os tribunais

superiores sejam matéria pertinente ao direito constitucional, estipula a legislação

processual algumas normas quanto ao cabimento e procedimento desses

recursos, as quais merecem análise restrita.

3.1 – Recurso ordinário

Com a Constituição Federal de 1988 e a criação do Superior Tribunal

de Justiça, alterações ocorreram na divisão de competência para análise dos

recursos ordinários tirados contra denegação de writs em processo de

competência originária dos tribunais. Tem o recurso ordinário eminente finalidade

de garantir o duplo grau de jurisdição nesses processos, diretamente ajuizados

em instâncias superiores. O legislador, buscando regulamentar os recursos

previstos na Constituição, criou a apelação cível contra decisão proferida em

processos existentes entre Estados estrangeiros ou organismos internacionais e

Municípios ou pessoas domiciliadas ou residentes no Brasil.

No STF referido recurso tem cabimento nos mandados de segurança,

habeas data e mandados de injunção decididos em única instância pelos tribunais

superiores, quando denegatória a decisão.

Já no STJ os recursos ordinários tirados contra os mandados de

segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou

dos Estados, Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão e das

causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo

internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliado no País.

Aos recursos ordinários é aplicável a mesma disciplina da apelação,

quanto ao procedimento e pressupostos de admissibilidade. Diante de tal

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

35

previsão, muito embora não previsto no art.500, não pode-se negar o cabimento

de recurso adesivo aos recursos ordinários, similares em cabimento,

procedimento e pressupostos à apelação.

Nas relações de emprego, quando uma das partes deseja rescindir,

sem justa causa, o contrato de trabalho por prazo indeterminado, deverá,

antecipadamente, notificar à outra parte, através do aviso prévio.

O aviso prévio tem por finalidade evitar a surpresa na ruptura do

contrato de trabalho, possibilitando ao empregador o preenchimento do cargo

vago e ao empregado uma nova colocação no mercado de trabalho.

3.2 – Do recurso extraordinário e do recurso especial

Da mesma forma que sucedido com o recurso ordinário, os recursos

especial e extraordinário são regulamentados no Código de Processo Civil.

O legislador adotou o regramento procedimental assemelhado a ambos

os recursos excepcionais, embora cada qual tenha hipóteses de cabimento

distintas, caracterizados que são por objetos de cognição absolutamente distintos.

3.3 – Do recurso extraordinário e seu cabimento

As hipóteses de cabimento do recurso extraordinário estão previstas no

art.102, III da Constituição Federal. Este é cabível quando a decisão recorrida, em

única ou última instância contrariar dispositivo da Constituição federal; declarar a

inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; julgar válida lei ou ato de governo

local contestado em face da Constituição; e julgar válida lei local contestada em

face de lei federal.

Evidencia-se que a função do STF, na análise dos recursos

extraordinários, consiste na uniformização das decisões judiciais que digam

respeito a interpretação da Magna Carta, de modo que fortaleçam a unidade

federativa, que estaria seriamente atingida pelas eventuais divergências de

entendimento de cada Estado-Membro a respeito dos limites e amplitude da

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

36

Constituição Federal, corroborando a chamada racionalização da atividade

jurisdicional.

Tem o recurso extraordinário como certe, portanto, a sua

excepcionalidade dentro do sistema processual, não podendo ser entendido como

forma ordinária de insurgimento contra uma decisão desfavorável. Não tem ele

por objetivo a tutela individual dos litigantes, mas sim a tutela do interesse público

de toda a sociedade na solução final da questão constitucional envolvida. Nunca é

demais lembrar que o sistema processual se contenta com um duplo grau de

jurisdição, submetendo cada decisão proferida a uma reavaliação por órgão

hierarquicamente superior.

Essa excepcionalidade de cabimento, entretanto, vem sendo atingida

por força de a nossa Constituição ser extremamente abrangente e detalhista,

trazendo inúmeras matérias apenas formalmente constitucionais, mais

condizentes e adequadas a legislação ordinária.

Tal situação ampliou e muito o leque de demandas que autorizam o

manejo do recurso extraordinário, quando na maioria das vezes a questão

“constitucional” apreciada em nada atinge o interesse público coletivo já

mencionado.

Com o acúmulo inevitável de demandas junto ao STF, a busca da

racionalização da atividade jurisdicional não vem acontecendo, seja pelo atraso

na solução das questões realmente relevantes para a sociedade, seja pela perda

de tempo e recursos públicos na necessária análise de questões sem nenhuma

relevância pública.

Essa situação faz com que o legislador busque formas legais de

restringir o conhecimento dos recursos extraordinários, relegando a atividade do

STF para os casos em que o interesse público esteja presente.

Essa restrição é obtida com a criação de novos pressupostos de

admissibilidade do recurso extraordinário.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

37

Como todo recurso pertencente ao sistema processual, deve o recurso

extraordinário preencher os pressupostos de admissibilidade ordinários, previstos

para todos os demais recursos.

Sua excepcionalidade, portanto, sempre decorreu da necessidade do

preenchimento de um pressuposto excepcional de admissibilidade, não exigido

nos demais recursos, nominado de prequestionamento. Tais pressupostos são

submetidos a um duplo juízo, tanto pelo tribunal a quo quanto em revisão pelo

próprio STF.

Há prequestionamento implícito quando o tribunal de origem, apesar de

se pronunciar explicitamente sobre a questão federal controvertida, não menciona

explicitamente o texto ou o número do dispositivo legal tido como afrontado.

Exatamente nesse sentido o prequestionamento implícito vem sendo admitido

pelo Superior Tribunal de Justiça. O que importa é a efetiva manifestação judicial.

Não há aqui qualquer problema se alguma questão fora julgada, mesmo que não

seja mencionada a regra de lei a que está sujeita, é óbvio que se trata de matéria

questionada, e isso é o quanto basta.

Questão interessante a respeito do prequestionamento consiste em

saber efetivamente quando o mesmo se considera ocorrido. Sabe-se que uma

vez enfrentado pelo Tribunal a matéria deduzida em juízo pela parte nas suas

razões recursais, o requisito do prequestionamento é preenchido e o recurso

extraordinário deve ser conhecido, desde que satisfeito os demais requisitos

legais.

Igualmente, quando a questão de direito, a despeito de ter sido

levantada pela parte em seu recurso, não for apreciado pelo Tribunal respectivo,

cabe ao recorrente interpor embargos de declaração para sanar a omissão. A

questão ganha polêmica quando mesmo após a interposição dos embargos de

declaração a omissão permanece, cabendo indagar se haveria o

prequestionamento.

O posicionamento do STF, porém, é diferente. Admite o STF o

chamado prequestionamento ficto, que é aquele que se considera ocorrido com a

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

38

simples interposição dos embargos de declaração diante da omissão judicial,

independentemente do êxito desses embargos. Trata-se de interpretação mais

amena do enunciado n. 356 da súmula da jurisprudência do STF. Essa postura do

STF é a mais correta, pois não submete o cidadão ao talante do tribunal recorrido,

que com a sua recalcitrância no suprimento da omissão, simplesmente retiraria do

recorrente o direito a se valer das vias extraordinárias. Inicialmente, a concepção

do STJ é sedutora; impõe-se, contudo, perfilhar a do STF, que se posiciona a

favor do julgamento do mérito do recurso extraordinário, a fim de que o recurso

cumpra seu objetivo e, encarando o problema do juízo de admissibilidade como

uma questão de validade do procedimento, qualquer postura no sentido de

impedir ou dificultar a aplicação da sanção de inadmissibilidade deve receber a

pronta adesão do operador do direito.

Outro requisito de admissibilidade do recurso extraordinário é o prévio

esgotamento dos recursos locais, ou prévio esgotamento das instâncias

ordinárias.Isso quer dizer que o recurso extraordinário dirigido para o Supremo

Tribunal Federal pressupõem necessariamente que seja impugnado um acórdão

contra o qual foram previamente manejados todos os recursos possíveis na

instância inferior.

Esse requisito resulta de interpretação da própria Constituição Federal,

que ao prever as hipóteses de cabimento do recurso extraordinário dispõe que o

mesmo será cabível nas causas decididas em única ou última instância. Assim,

enquanto existir recurso cabível na instância de origem, ainda não se configurou

uma decisão de última instância.

Diante da constatação de que apenas o pressuposto de

prequestionamento não era o suficiente para garantir que o recurso extraordinário

fosse utilizado somente nas hipóteses excepcionais para as quais foi criado, a

Emenda Constitucional nº45/2004 criou mais um pressuposto de admissibilidade

para esse recurso, a chamada “repercussão geral”.

3.4 – Do recurso especial e seu cabimento

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

39

As hipóteses de cabimento do recurso especial estão previstas no art.

105, III, da Constituição Federal.

Tem ele cabimento quando a decisão recorrida, em única ou última

instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos estados, do

Distrito Federal e Territórios contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes

vigência; julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; e

der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Do mesmo moto que o recurso extraordinário, é o recurso especial

forma excepcional de reexame das questões suscitadas na demanda.

Ensina-nos Moacyr Amaral Santos (SANTOS, 2010, p. 192):

É uma impugnação de caráter extraordinário, decorrentes de poderes jurisdicionais especiais que a Constituição Federal confere ao Superior Tribunal de Justiça, para assegurar a autoridade e a unidade na aplicação da legislação federal infraconstitucional, em todo o território nacional.

À semelhança do que acontece na racionalização da atividade

jurisdicional a respeito das questões constitucionais, é finalidade do recurso

especial a uniformização no País da interpretação da legislação federal, a qual

não poderia ser interpretada e aplicada de maneira distinta em cada unidade da

federação.

Mais uma vez evidencia-se não ser o recurso especial integrante da

forma ordinária de revisão das decisões judiciais, extrapolando o interesse das

partes litigantes e tutelando o interesse público da sociedade na uniformização da

interpretação da legislação federal.

Inegável, também, que, um país em que a federação ainda não se

concretizou em sua plenitude, por força da concentração dos poderes econômicos

e legiferantes nas mãos da União e em detrimento dos Estados-Membros, o

recurso especial não tem correspondido à uma excepcionalidade que o

caracteriza. A profusão legislativa da união faz com que este arcabouço jurídico

seja a base das decisões judiciais dos TRFs, abrindo-se azo, na grande maioria

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

40

das demandas, ao manejo do recurso especial, tornando-o quase como uma

espécie de terceiro grau de jurisdição. Isto sem falar na necessidade de o STJ

apreciar infindáveis recursos especiais que trazem como fundamento a mesma

questão de direito já debatida em outras oportunidades, tornando quase inviável

uma prestação jurisdicional mais célere.

Entretanto, essa excepcionalidade é buscada, à semelhança do

recurso extraordinário para as questões constitucionais, pelo pressuposto de

admissibilidade do prequestionamento da questão federal.

Somente restará caracterizado o prequestionamento se debatida a

questão federal na decisão recorrida, tendo sido ela objeto de manifestação

expressa a respeito do recurso especial.

Visando proporcionar ao sistema processual uma forma mais racional

no processamento dos recursos repetitivos já mencionados, foi promulgada a lei

n. 11.672/2008. Existindo nos tribunais de origem, de âmbito estadual ou federal,

vários recursos especiais que versem sobre o mesmo fundamento jurídico em se

tratando de questão de direito, poderá o respectivo presidente selecionar um ou

mais, representativos da controvérsia, para admissão e remessa ao STJ para

apreciação, permanecendo suspensos todos os demais até o pronunciamento

definitivo sobre a questão. Ao determinar a suspensão já na sua origem, evita a

lei, nos tribunais de origem, o dispêndio de tempo e dinheiro com o

processamento, recolhimento de preparo e remessa dos demais recursos

especiais. Já no STJ, a economia e celeridade caracteriza-se pela

desnecessidade de autuação, distribuição e julgamento de recursos

absolutamente idênticos.

Na Hipótese de não adoção do procedimento pelo tribunal de origem,

faculta-se ao relator no STJ, ao identificar que sobre a matéria já existe

jurisprudência dominante ou estar ela afeta ao julgamento colegiado, determinar a

suspensão dos demais recursos nos quais a controvérsia esteja estabelecida, nos

tribunais de segunda instância (§2º do art.543-C do CPC).

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

41

Para proporcionar amplo debate sobre a questão a ser pacificada, pode

o relator solicitar informações aos tribunais de origem e permitir a manifestação

de pessoas, órgãos ou entidades com interesse jurídico na controvérsia.

Após manifestação do Ministério Público e fornecidas cópias aos

demais Ministros, o processo será incluído na pauta na seção ou Corte Especial,

com preferência sobre os demais feitos, salvo os que envolvam réus presos ou

habeas corpus (§§ 5º e 6º do art.543-C do CPC).

Solucionada a questão, abrem-se três caminhos distintos para os

demais recursos especiais suspensos, em aguardo perante os tribunais de

segunda instância. Nos casos em que o acórdão recorrido coincidir com a

orientação do STJ, o recurso especial terá seu seguimento denegado na origem.

Nos casos em que o acórdão recorrido divergir da orientação dada no julgamento

paradigma poderá o tribunal de origem reformular sua posição e negar

seguimento ao recurso especial ou poderá manter o seu entendimento divergente

e analisar a admissibilidade do recurso especial, enviando-o ao STJ se presentes

os demais requisitos.

Parte da doutrina critica o legislador quanto esse aspecto por

possibilitar aos tribunais de origem a manutenção do entendimento divergente e

admissão do recurso, com remessa a instância superior, mesmo após julgamento

de caso paradigma. Retira-se da decisão do STJ a necessária força vinculante,

deixando aos tribunais de origem a simples faculdade de observar ou não o

entendimento esposado na decisão que originou a suspensão dos demais casos

idênticos.

3.5 – Procedimento dos recursos especial e extraordinário

O prazo par interposição é de quinze dias, mediante a aplicação da

regra geral prevista no artigo 508, CPC, contados na forma do artigo 506 do

mesmo diploma, sendo recebidos apenas no efeito devolutivo, possibilitando a

execução provisória do acórdão recorrido.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

42

As petições distintas de interposição serão endereçadas ao presidente

ou vice-presidente do tribunal recorrido, contendo a exposição de fato e de direito,

a demonstração de cabimento e as razões do pedido de reforma. O recorrido será

intimado a apresentar resposta, também em petição distinta.

Se o recurso extraordinário ou especial for interposto de decisão

interlocutória proferida em processo de conhecimento, cautelar ou embargos à

execução, deverá ficar ele retido nos autos, aguardando eventual reiteração da

parte interessada no prazo para a interposição de recurso ou contrarrazões de

decisão final. Muito embora não esclarecido expressamente na lei, a melhor

exegese impõe considerar serem os recursos especial e extraordinário tirados

contra decisão final aqueles nos quais o interessado postulará a apreciação dos

demais já retidos nos autos, devendo o órgão a quo analisar a admissibilidade de

todos eles no mesmo ato. Para evitar dano irreparável gerado pela retenção

destes recursos, admissível tornou-se a postulação de medida cautelar perante os

tribunais superiores visando o imediato conhecimento do recurso retido, isto

desde que caracterizado o periculum in mora.

O juízo de admissibilidade será realizado no prazo de quinze dias, em

decisão fundamentada. Se ambos os recursos forem admitidos, seguirão para o

tribunal de justiça, detentor de prioridade para julgamento.

Se denegada a admissibilidade de algum dos recursos, tem cabimento

o agravo de instrumento, no prazo de dez dias, instruído, obrigatoriamente e sob

pena de não conhecimento, com cópias do acórdão recorrido, da certidão da

respectiva intimação, da petição de interposição do recurso denegada, das

contrarrazões, da decisão agravada da certidão da respectiva intimação e das

procurações outorgadas aos advogados das partes. Essas cópias poderão ser

declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.

A petição de agravo será dirigida a presidência do tribunal de origem,

não dependendo de pagamento de custas e despesas postais. Depois, o

agravado será intimado para resposta em dez dias, podendo instruí-la com peças,

com remessa posterior ao tribunal superior respectivo.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

43

Nesses agravos é facultado ao relator conhecê-lo para dar provimento

imediato ao próprio recurso especial ou extraordinário, se o acórdão recorrido

estiver em confronto com súmula ou jurisprudência dominante do STJ ou STF.

Poderá o relator, ainda, determinar sua conversão nos próprios recursos

extraordinário ou especial, desde que o instrumento se faça acompanhar de todas

as peças necessárias para o julgamento do mérito do recurso denegado.

Em qualquer recurso para os tribunais superiores poderá o relator

negar seguimento àquele manifestamente inadmissível, improcedente e

prejudicado, ou ainda dar ou negar-lhe provimento, conforme esteja ele de acordo

ou em contrário à súmula ou jurisprudência dominante do STF ou tribunal

superior.

De todas as decisões singulares d relator caberá agravo, no prazo de

cinco dias, ao órgão colegiado competente para julgamento do recurso, facultada

a retratação. Provido o agravo ou proferida reconsideração, terá o recurso

seguimento. Mas, quando esse agravo for manifestamente inadmissível ou

infundado, o tribunal respectivo condenará o agravante a pagamento de multa

entre um por cento e dez por cento do valor da sanção a interposição de qualquer

outro recurso. Essa penalidade também é aplicável aos agravos tirados contra os

juízos de inadmissibilidade realizados pelos tribunais inferiores nos recursos

especiais e extraordinários.

O recurso extraordinário só será objeto de julgamento quando o

especial não for provido, pois somente aí surgirá a necessidade de prosseguir a

análise da pretensão do recorrente.

Pode ocorrer que o ministro relator do STJ entenda ser o recurso

extraordinário prejudicial ao recurso especial, caso em que determinará o

sobrestamento do seu andamento e a remessa do extraordinário ao STF. Essa

decisão é irrecorrível mas não vinculativa ao STF, o qual poderá, após análise do

relator, devolver os autos para julgamento pelo Superior Tribunal de Justiça.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

44

Por fim, o artigo 546 cria os embargos de divergência, recurso

assemelhado à uniformização de jurisprudência, destinado a eliminar julgamentos

com interpretações jurídicas diversas dos proferidos por outra turma, seção ou

órgão especial do STJ ou de outra turma ou plenário do Supremo, observando o

disposto nos regimentos internos respectivos.

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

45

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

46

CONCLUSÃO

Através deste estudo, restou nítido que foi defendida a autonomia de

vontade em recorrer observada a lei. Como podemos observar, em nosso

processo histórico, o recurso surgiu para dar ao recorrente uma condição mais

digna com a intervenção de outros órgãos jurisdicionais nas relações processuais,

passando a exercer a função de orientador, fiscalizador e reformador de decisões

ou acórdãos.

O recurso corresponde a uma irresistível tendência humana. Na verdade, é

intuitiva a inconformidade de qualquer pessoa diante do primeiro juízo ou parecer

que lhe é dado. Naturalmente, busca-se uma segunda ou terceira opinião. Na

prática percebe-se que tem como razão os recursos a reação natural do homem

que não se sujeita a um único julgamento, bem como a possibilidade de erro ou

má-fé do julgador.

No decorrer de nosso trabalho, observamos, também, que os recursos

apresentam-se como um ônus processual, porquanto a parte não está obrigada a

recorrer do julgamento que a prejudica. Mas se o vencido não o interpuser,

consolidam-se e se tornam definitivos os efeitos da sucumbência.

Assim, ficou entendido por oportuno, ter explanado neste trabalho as várias

formas e procedimentos dos recursos, bem como suas espécies no que tange a

aplicação em diversos graus de jurisdição, observado que este regramento trás

em seu bojo, elementos que se confrontam, contribuindo para um não

conhecimento ou acolhimento do recurso, casos em que sequer será analisado

seu mérito.

Estes elementos acima delineados estão intrínsecos no relacionamento

entre as partes litigantes. O recurso tem um objeto, que é o pedido de reforma ou

de integração da decisão impugnada. Sua apreciação pelo órgão revisor depende

de pressupostos e condicionamentos definidos na lei processual, cabendo ao

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

47

órgão a que se endereçou o recurso duas ordens de deliberação: o juízo de

admissibilidade e o juízo de mérito.

Assim, certificou-se que através de nosso processo histórico ter o recurso

uma acepção técnica e restrita, podendo ser definido como o meio ou remédio

impugnativo apto para provocar, dentro da relação processual ainda em curso, o

reexame de decisão judicial, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra

hierarquicamente superior.

Há uma preocupação no que concerne a morosidade de um processo

judicial haja vista as inúmeras hipóteses de cabimentos de recursos no trâmite de

uma ação, tanto em decisões interlocutórias como em sentenças e acórdãos. A

tendência recursal caminha para a diminuição de possibilidades de recursos

judiciais. Por esta tendência a redução de recursos trará mais celeridade à

Justiça. A mesma tendência, tanto no Direito Processual Civil como no Penal,

aponta para a simplificação e a diminuição do número de recursos judiciais,

investindo-se em um processo célere e eficaz.

Vale ressaltar, por fim, que o que ocorre é que na prática a morosidade

da Justiça brasileira não está apenas no número excessivo de recursos judiciais e

no formalismo de procedimentos. A duração dos processos depende, na verdade,

de toda a estrutura do judiciário. No judiciário existe carência de pessoal

qualificado, comprometido e falta uma estrutura física que comporte uma justiça

célere.

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

48

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Atualizada até a

Ementa Constitucional nº 68.

BRASIL. Código de Processo Civil (Lei N. 5.869/1973). São Paulo: São Paulo,

2012.

ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro:

Forense, 2010.

DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo J. Carneiro da. Meios de impugnação às

decisões judiciais e processo nos tribunais. Curso de Direito Processual Civil. 5.

ed. Salvador: JusPODIVM , 2008.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual de Processo de

Conhecimento. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 13ª

edição, Rio de Janeiro: Forense, 2006.

MOUZALAS, Rinaldo. Processo Civil. 5. ed. Salvador: JusPODIVM, 2012.

NERY JR., Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6ª edição. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2004.

NUNES, Elpídio Donizetti. Curso didático de direito processual civil. 13. ed. Rio de

Janeiro: Lumen Juris, 2010.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Teoria Geral do Direito Processual Civil e

Processo de Conhecimento. In: Curso de Direito Processual Civil. 38. ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2003.

CÂMARA. Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 14 ed. Rio de

Janeiro: Lúmen Júris, 2007.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

49

DIDIER JR. Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da Cunha. Curso de Direito

Processual Civil. 3 ed. Salvador: Podium, 2007.

MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil. 9 ed. São Paulo:

Saraiva, 1987.

MOREIRA. José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 12

ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. São

Paulo: Saraiva, 2010.

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

50

ANEXOS

Regras para identificação de prazo e efeito dos recursos:

a) Efeitos: Todos são recebidos em seu efeito devolutivo. O efeito suspensivo

deve ser fundamentadamente pedido, salvo os recursos de apelação e

embargos de declaração por já possuírem o duplo efeito.

b) Prazo: Os recursos têm como regra o prazo de 15 (quinze) dias. Somente

o agravo (retido ou de instrumento) tem o prazo de 10 (dez) dias, bem

como os embargos declaratórios e agravo interno regimental devem ser

interpostos no prazo de 5 (cinco) dias.

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

51

ÍNDICE

RESUMO............................................................................................................... 4

METODOLOGIA.................................................................................................... 5

SUMÁRIO.............................................................................................................. 6

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9

CAPÍTULO I

TEORIA GERAL DOS RECURSOS..................................................................... 10

1.1 – CONCEITO.................................................................................................. 10

1.2 – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE................................................ 11

1.2.1 – Pressupostos subjetivos........................................................................ 11

1.2.1.1 – Legitimidade......................................................................................... 11

1.2.1.2 – Interesse............................................................................................... 12

1.2.2 – Pressupostos objetivos.......................................................................... 13

1.2.2.1 – Tempestividade.................................................................................... 13

1.2.2.2 – Cabimento............................................................................................. 14

1.2.2.3 – Preparo.................................................................................................. 15

1.3 – EFEITOS.......................................................................................................16

1.3.1 – Efeito Devolutivo......................................................................................16

1.3.2 – Efeito Suspensivo....................................................................................16

1.3.3 – Efeito Substitutivo...................................................................................17

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

52

1.3.4 – Impedimento a preclusão ou ao trânsito em

julgado..................................................................................................................17

1.3.5 – Efeito translativo......................................................................................17

1.3.6 – Efeito expansivo.......................................................................................18

1.3.7 – Efeito regressivo ou de retratação.........................................................18

1.3.8 – Efeito interruptivo....................................................................................19

1.4 – GENERALIDADES.......................................................................................19

CAPÍTULO II

DOS RECURSOS EM ESPÉCIE.......................................................................... 20

2.1 – APELAÇÃO..................................................................................................20

2.1.1 – Efeito devolutivo da apelação.................................................................20

2.1.2 – Conhecimento de ofício de matéria não objeto de

apelação................................................................................................................22

2.1.3 – Efeito suspensivo da apelação...............................................................23

2.1.4 – Procedimento...........................................................................................23

2.1.5 – Do juízo de retratação na apelação........................................................24

2.2 – RECURSO ADESIVO...................................................................................25

2.3 – AGRAVO......................................................................................................27

2.3.1 – Agravo retido............................................................................................27

2.3.2 – Agravo de instrumento............................................................................28

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE … · 2.2 – RECURSO ADESIVO ... relativas ao direito processual civil brasileiro onde suas regras são fonte direta para o esclarecimento

53

2.3.3 – Agravo interno regimental......................................................................30

2.4 – EMBARGOS INFRINGENTES.....................................................................30

2.5 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO................................................................32

CAPÍTULO III

RECURSOS AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA......................................................................................................... 34

3.1 – RECURSO ORDINÁRIO...............................................................................34

3.2 – DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO E DO RECURSO

ESPECIAL.............................................................................................................35

3.3 – DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO E SEU CABIMENTO.......................35

3.4 – DO RECURSO ESPECIAL E SEU CABIMENTO.......................................38

3.5 – PROCEDIMENTO DOS RECURSOS ESPECIAL E

EXTRAORDINÁRIO..............................................................................................41

CONCLUSÃO...................................................................................................... 46

BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 48

ANEXOS.............................................................................................................. 50