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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DOCENTE UNIVERSITÁRIO: SUA FORMAÇÃO E PREPARAÇÃO JANE KARLA ALVES LEITE ORIENTADOR: PROFESSOR DR. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO BRASÍLIA MAIO – 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - avm.edu.br · para o exercício dessa profissão. A de se pontuar que a docência no ensino superior exige não apenas um domínio de conhecimentos a

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DOCENTE UNIVERSITÁRIO:

SUA FORMAÇÃO E PREPARAÇÃO

JANE KARLA ALVES LEITE

ORIENTADOR:

PROFESSOR DR. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO

BRASÍLIA

MAIO – 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DOCENTE UNIVERSITÁRIO:

SUA FORMAÇÃO E PREPARAÇÃO

JANE KARLA ALVES LEITE

Monografia apresentada à universidade Cândido

Mendes, como requisito parcial para a obtenção

do grau de Especialização em Docência do

Ensino Superior.

BRASÍLIA

MAIO – 2009

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me dar forças para concluir

mais uma etapa de estudo em minha vida e minha

família.

4

DEDICATÓRIA

A minha família, pelo apoio e incentivo diário e em

especial meu filho Pedro.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................6

CAPÍTULO I

DOCÊNCIA..........................................................................................................8

CAPÍTULO II

POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA O ENSINO SUPERIOR................16

CAPÍTULO III

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO ......................................19

CAPÍTULO IV

COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICA DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO..........28

CONCLUSÃO....................................................................................................33

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................36

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INTRODUÇÃO

Este trabalho foi planejado como meio de reflexão sobre o docente no

ensino superior, onde apenas parte dos professores é formalmente preparada

para o exercício dessa profissão. A de se pontuar

que a docência no ensino superior exige não apenas um domínio de

conhecimentos a serem transmitidos por um professor. Formar professores

para este novo milênio tem sido um desafio para a educação em diversos

países, sobretudo naqueles em desenvolvimento, como é o caso brasileiro.

Refletir sobre a docência na educação superior exige que se destaquem tanto

os retrocessos e impasses quanto possibilidades de avanço que a área vive.

O exercício docente no ensino superior exige competências

específicas que não se restringem a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de

mestre ou doutor, ou ainda, apenas o exercício de uma profissão. Exige tudo

isso além de outras competências próprias. Muitos profissionais chegam

praticamente á exercer essa profissão por acaso. A falta de preparo intelectual,

metodológico, pedagógico e emocional faz com que muitos docentes,

potencialmente competentes, acabam desistindo, diante das diversas

manifestações da adversidade. A formação universitária precisa ser

aperfeiçoada e aprimorada.

Muitos intelectuais, geralmente ligados ao mundo pedagógico, se

esforçam há muitos anos para desvendar os segredos das competências

necessárias para ensinar, questionando e criticando a situação presente e

tentando aprimorá-la. Trata-se de ensino em geral, porém, muitos professores

universitários poderiam encontrar, nessas pesquisas, uma grande fonte de

inspiração para a sua prática docente.

Por outro lado, temos também ao nosso dispor um patrimônio

intelectual de 24 séculos de idade: as experiências e os escritos dos pioneiros,

os professores ambulantes e os fundadores das primeiras escolas de nível

superior do mundo ocidental, no ambiente cultural e intelectual da antiga

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Sociedade Ateniense, onde, paradoxalmente, não existia nenhuma infra-

estrutura educacional.

O objetivo desse estudo é refletir sobre a formação pedagógica do

docente do ensino superior, onde é fundamental apresentar o que significa a

palavra docência no sentido etimológico, salientando a conscientização de seu

papel na sociedade.

Será abordado sobre as políticas públicas voltadas para a formação do

professor de ensino superior, refletindo sobre a competência pedagógica.

É necessário pensar na responsabilidade sócio-política da

universidade com clareza e a articulação entre educar, produzir conhecimento,

pesquisa e formação do professor.

Por fim será necessário refletir sobre a competência pedagógica do

professor universitário.

Partindo dessa premissa é impontante pontuar que hoje

questão fundamental da universidade é, portanto, explicitar sua função

política, seu papel social neste momento histórico. Precisa escolher

caminhos e alternativas para elaboração de novos paradigmas sociais,

no desenvolvimento de novos valores, por sua capacidade de produção e

veiculação de conhecimentos e informações, e isto só vai ocorrer se a

formação docente do professor universitário buscar relação maior entre

produtividade cientifica e a eficácia docente.

Educar nessa sociedade significa muito mais do que instruir, mas

formar o homem para que possa enfrentar os desafios da sociedade de

forma crítica, consciente, melhor dizendo, de forma humana.

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CAPÍTULO I

A DOCÊNCIA

No sentido etimológico, docência tem suas raízes no latim docere,

significa ensinar, instruir, mostrar, indicar, dar a entender.

No sentido formal, docência é o trabalho dos professores. Na realidade,

estes desempenham um conjunto de funções que ultrapassam as tarefas de

ministrar aulas. As funções formativas convencionais como: ter um bom

conhecimento sobre a disciplina, sobre como explicá-la, foram tornando-se

mais complexas com o tempo e com o surgimento de novas condições de

trabalho.

A docência no Ensino Superior deve ser capaz de garantir um

aprendizado agradável e eficiente. Muitos ainda pensam que basta o domínio

do conteúdo para lecionar qualquer disciplina, ignorando a necessidade de um

sistemático processo de formação pedagógica.

A docência exige que sejam postos em prática vários conhecimentos e

várias competências e habilidades que requisitam uma preparação específica.

A profissionalização docente refere à forma de como lidar com os alunos a fim

de que, realmente, aprendam o que se propõe ensinar-lhe. Mas há de se

ressaltar a ampliação do campo de ação do pedagógico como resultado da

complexidade da própria educação. Ser educador vai além de ser professor.

Além do “como fazer” é preciso saber “por que fazer”, “para que” e “para quem

fazer”, formar determinado tipo de profissional, para qual sociedade. Da mesma

forma, o educador deve ser preocupar com a autêntica aprendizagem do aluno.

Na busca de entender a docência superior e o papel dos docentes, é

necessário, como afirma Zabalza (2004), levar em consideração as

transformações pelas quais o cenário universitário está passando, em razão

das mudanças do mundo contemporâneo. Entre as mais significativas, notam-

se: de um bem cultural, a universidade passou a ser um bem econômico, de

um lugar reservado a poucos, tornou-se um lugar para o maior número possível

9

de pessoas, de um bem direcionado ao aprimoramento de indivíduos, tornou-

se um bem cujo beneficiário é o conjunto de sociedade, e ainda transformou-se

em mais um recurso do desenvolvimento social e econômico dos países,

submetendo-se às mesmas leis políticas e econômicas, faz parte das

dinâmicas sociais e está sujeita aos mesmos processos e as mesmas

incertezas do âmbito político, econômico ou cultural que afetam todas as

instituições sociais.

É necessário fazer uma reflexão e olhar sob um outro prisma o

exercício da docência no ensino superior. A universidade deve dar lugar à

aprendizagem docente de forma diferenciada. E nesse processo, deve buscar

qualificar e formar professores para esse nível de ensino.

Vários estudos recentes voltados à docência no ensino superior

salientam que: (Isaia e Bolzan, 2004, 2005, 2006; Araújo, 2006; Pimenta e &

Anastácio 2002, Mizukami 2006).

“enfatizam a inexistência de uma preparação ou formação

especifica para atuação neste nível, possibilitando-nos indicar como

consensual a necessidade da organização de lugares formativos

voltados à atuação neste nível de ensino, possibilitando a reflexão

sobre o ensinar e o aprender específicos à ação docente

universitária, colaborando assim, para o desenvolvimento da

profissionalidade na docência superior uma vez que este exercício

“exige competências específicas, que não se restringe a ter um

diploma de bacharel, ou de mestre ou de doutor, ou ainda, apenas o

exercício de uma profissão”. (Araújo, 2006, p. 38).

É necessário que se tenha clareza que o exercício da docência

superior implica o domínio de conhecimentos nas diferentes áreas de atuação

profissional, bem como o domínio da didática que venha contemplar o conjunto

de convenções acadêmicas, a normatização do conhecimento científico,

através da definição da rotina das aulas, procedimentos metodológicos,

organização do plano de curso, listagem dos conteúdos, tipos de avaliações e

outras ações que venha contemplar sua formação docente. Segundo Bolzan e

Isaia (2006):

10

“é necessário que os professores, além de considerarem

seus domínios específicos da docência, invistam na dimensão

pedagógica da docência, considerando que esta envolve

atividades e valores traduzidos em: a) sensibilidade frente ao

aluno; b) valorização dos saberes da experiência; c) ênfase

nas relações interpessoais; d) aprendizagem compartilhada; e)

indissociabilidade teoria/prática; f) o ensinar focado a partir do

processo de aprender ao aluno, tudo isso voltado para o

desenvolvimento do aluno como pessoa e profissional”, (Isaia,

2006, página 7).

É a partir dos anos 80 e, de forma mais intensiva nos anos 90 que as

produções brasileiras começam a destacar preocupações mais marcantes com

o fazer educativo do professorado e a sua formação. Entretanto a maioria dos

estudos que retratam a profissão do professorado ressalta apenas a prática

dos docentes que atuam na educação básica, não fazendo maiores referências

à prática de professores universitários. Os estudos que destacam a formação

de professores universitários vem ocorrendo há cerca de duas décadas. As

pesquisas que abordam sobre este tema analisam a personalidade docente,

exploram o processo de construção da identidade do professor, seu percurso

pessoal e profissional numa linha mais crítica, atribuindo sentido e significado

às ações e as práticas dos professores durante o exercício profissional.

A importância deste trabalho vem mostrar que desde os anos 90, o

professor universitário, sofre uma marcante pressão para se qualificar na área

educacional, principalmente nos aspectos metodológicos e didáticos, pois é

marcante a presença no magistério superior, principalmente nos cursos de

bacharelado, de profissionais que exercem a docência sem a formação na área

educativa. Alguns docentes apresentam experiência profissional na área em

que atua e outros nem mesmo possuem essa experiência, pois são

professores que ingressaram no magistério superior, logo após conclusão de

cursos de especialização e/ou Stritu Sensu.

A própria estrutura organizativa dos quadros funcionais da

universidade incentiva os professores a se preocuparem mais com a formação

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específica de sua área de formação inicial, pois os níveis de acesso funcional à

carreira docente são galgados pelos estágios de pós-graduação atingidos. Nos

cursos de mestrado e doutorado o professor é incentivado, sobretudo a

privilegiar a pesquisa, as atividades de ensino e extensão, funções que

também fazem parte da docência, são pouco ou quase nada explorada. Isto

reforça a tendência do docente assumir o perfil de um pesquisador

especializado, causando uma série de deficiência teórico-metodológica no

percurso do ensino propriamente dito, isto é, no desenvolvimento da docência.

Para Masseto (2000) apenas recentemente começa-se a perceber que

assim como para fazer pesquisa é necessário o desenvolvimento de

competências específicas, o exercício do magistério superior, também exige

competências e saberes próprios.

A docência é uma atividade complexa que exige a construção e

integração de fatores que transgridem as estreitas relações mantidas no interior

propriamente da aula. Com formação específica para o ensino, os professores

terão oportunidade de ter contato com teorias educacionais que lhes permitirão:

compreender as relações concretas vividas no contexto educacional global e

no processo de ensinar e aprender, fazer intervenções exercitando o repensar

e o recriar da sua ação, da sua tarefa de educar e preparar para o mundo do

trabalho.

Atualmente os cursos de pós-graduação se dividem em especialização,

mestrado e doutorado. O título de especialista é dado após o cumprimento de

uma carga horária mínima de 360 horas de aula, a entrega e apresentação de

uma monografia. Já ao mestre, além das aulas, são necessários seminários e a

apresentação de uma dissertação com defesa para uma banca examinadora.

Para o doutor, há um aumento da carga horária e dos seminários, com a

entrega e defesa de uma tese, que deve ter caráter inédito para uma banca de

exame formada por doutores. Normalmente é cobrado o conhecimento de uma

ou duas línguas estrangeiras. Não existe pré-requisito, "apriori", a pessoa pode

ser doutora sem ter o mestrado, mas o comum é fazer o mestrado e depois o

doutorado.

12

A especialização ou pós-graduação "Latu-Sensu" tem duração

variando de 6 meses a um ano e meio, o mestrado ou pós-graduação "Stritu-

Sensu", de 2 a 4 anos e o doutorado, aproximadamente de 4 a 7 anos. É

comum o aluno terminar a graduação e iniciar logo em seguida a pós-

graduação, sem ter exercido a profissão, logo tendo uma grande bagagem

acadêmica e teórica, mas pouca experiência.

O problema é que este aluno quando conclui o mestrado, acaba se

transformando em professor universitário, sem nunca ter trabalhado no seu

ramo, e ainda sendo a pós-graduação muito mais voltada para a realização de

pesquisa que para o magistério.

Os estabelecimentos de ensino superior dão preferência à contratação

de docentes com pelo menos o mestrado, uma vez que os cursos são

avaliados pelo número de mestres e doutores. Assim temos um profissional

sem nunca exercer a profissão e também não preparado para o magistério.

Porém trata-se, sem dúvida, de jovens brilhantes, com ótima base de

conhecimento e pouca experiência prática. Ás vezes, um professor sem pós-

graduação pode ensinar muito mais do que outro que o mestre ou doutor. Não

existe necessidade desta discriminação, pois o próprio mercado de trabalho, a

vida prática do dia a dia do exercício da profissão já atualiza e prepara o

professor para a sala de aula. A carreira docente exige grande dedicação e

idealismo.

Parar qualquer profissão há a necessidade de um aprendizado, o qual

pode ser formal, institucional, ou informal. O profissional que durante o seu

período de formação educacional, tiver “aprendido a aprender” (Demo, 1993)

não será nunca descartado por sua obsolescência, atualizando-se sempre.

Ministrar aulas envolve o domínio de técnicas específicas e um tipo de

competência profissional, a pedagógica, que deve ser aprendida e

desenvolvida como qualquer outra competência e não simplesmente ser

considerada como um “dom”.

A necessidade de um profissional completo, não tão especializado em

uma única vertente de sua profissão, é sentida não só no campo do magistério,

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como em todas as áreas de atuação humana, frente às novas premissas que

emergem nesta época em que a tecnologia e os meios de comunicação

mudam as necessidades sociais com uma rapidez nunca antes igualada.

A docência universitária requisita uma série de atividades antes e

depois de uma aula. Exige planejamento com objetivos estabelecidos, com

estratégias de ação. Exige um professor orientador de atividades, estimulador

do desenvolvimento do aluno, de sua aprendizagem individual e em grupo,

realizando um trabalho em equipe de forma cooperativa, através do diálogo, de

situações problematizadoras, investigadoras. Exige um professor que utilize a

dinâmica de grupo, estratégias participativas, técnicas que coloquem o aluno

em contato direto com a realidade para explorá-la e melhor conhecê-la; que

valorize leituras significativas e discussões inteligentes; que vivencie práticas

articuladas e teorias.

Ter domínio do conteúdo específico é condição básica do ensino, mas

não é suficiente. A forma como o professor seleciona o conteúdo, a maneira de

organizá-los ao nível do aluno, a seleção de estratégias capazes de conduzir o

aluno à aquisição da aprendizagem, de forma crítica e reflexiva, ultrapassam o

domínio dos conteúdos específicos de sua especialidade.

Muitos professores acreditam que ensinar se aprende na prática, com

a experiência e que a formação pedagógica, ou seja, que os conhecimentos

apropriados para o encaminhamento do processo ensino-aprendizagem são

desnecessários. Basta transmitir conteúdos. Entretanto, a questão básica do

ensino não é explicar bem o conteúdo, mas como encaminhar o ensino a fim

de que seja integrado em um conjunto significativo de conhecimentos, de

habilidades e de atitudes, por parte do aluno. O que ele aprende vai muito além

da aquisição de informações. Forma-se determinado tipo de homem: ingênuo

ou crítico.

A Formação pedagógica do docente vai além do simples, "saber dar

aula", abrangendo aspectos do planejamento de ensino visto como um todo.

Formar professores universitários implica compreender a importância do papel

da docência, propiciando uma profundidade científico - pedagógica que os

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capacite a enfrentar questões fundamentais da universidade como instituição

social, uma prática social que reflete as idéias de formação, reflexão, crítica.

Os profissionais formados no ensino superior precisam aprender a

desempenhar sua atividade profissional de forma contextualizada, crítica, e em

equipe, que envolva profissionais de sua área e de outras, desenvolvendo sua

capacidade de iniciativa, seu espírito democrático.

A partir de então, é possível questionar: em razão dessas

transformações, como fica o exercício da docência? Os professores

apresentam condições formativas para enfrentar as novas demandas que a

sociedade impõe à universidade? Esta última, por sua vez, em termos de

organização estrutural, de recursos humanos e financeiros está preparada para

enfrentar as demandas? Como considerar de forma crítica os desafios à

Docência Superior: pressupostos a considerar integrada as peculiaridades e as

necessidades oriundas das instituições e dos professores que nela labutam?

Como coordenar as políticas da educação superior e os mecanismos de

controle interno e externo, vinculados principalmente às políticas de

financiamento? O que é prioritário para o docente em decorrência de tais

políticas? A produção pode se compor como acadêmico-científica e também

como pedagógica? Qual o novo conceito de formação que está sendo gerado?

O professor está consciente de que sua função como formador é apenas uma

das dimensões de uma formação que se constitui como permanente? Quanto a

sua própria formação, ela é vista por ele como um processo? Por que tantos

docentes confundem formação com aquela oferecida, Stritu-sensu, nos bancos

acadêmicos, seja na graduação seja na pós-graduação? Como fica a relação

entre conhecimento específico e pedagógico? Essas são questões que

precisam estar presentes quando se discute a realidade da docência. Contudo

os docentes esbarram-se na falta de iniciativas institucionais para auxiliá-los e

no próprio desconhecimento de que formação docente é um processo

complexo que necessita da construção de estratégias sistematicamente

organizadas, que envolve esforços pessoais e institucionais corretamente

desenvolvidos. Neste sentido Zabalba (2004) entende que o rompimento da

cultura individualista pelas instituições de ensino superior é o primeiro passo

15

para a construção efetiva do desenvolvimento profissional docente e,

conseqüentemente, da formação de cada professor.

No entanto, não se pode esquecer de que a docência integra tanto o

saber e o saber-fazer próprios a uma profissão específica quanto o modo de

ajudar o aluno a construí-los, considerando sua dimensão formativa. Com tais

reflexões, não se nega à importância da pesquisa e da extensão, mas se

direciona a discussão para o aspecto mais problemático da atividade

acadêmica: a consciência da docência. Para tanto, é necessário que os

professores tenham domínio em sua área de conhecimento, em como seus

alunos aprendem e em como eles podem ser auxiliado nesse processo.

16

CAPÍTULO II

POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA O

ENSINO SUPERIOR

É válido mencionar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

9.394/96 é omissa em relação à formação pedagógica do professor

universitário. Num acompanhamento detalhado dos diversos momentos de

discussão da LDB (Saviani, 1998, p. 144).

“é possível observar-se que na proposta inicial do então

senador Darcy Ribeiro, a preocupação com a formação

pedagógica dos professores universitários era contemplada:

Art. 74 – a preparação para o exercício do magistério superior

se faz, em nível de pós graduação, em programas de

mestrado e doutorado, acompanhados da respectiva formação

didático-pedagógica inclusive de modo a capacitar o uso das

modernas tecnologias do ensino.”

No entanto, num processo de enxugamento do texto da LDB além

das pressões feitas por diversos setores da sociedade cujos interesses podem

ser contrariados com a exigência de maior capacitação docente, omitiu-se do

texto final a necessidade de formação pedagógica do professor universitário,

configurando-se o texto afinal como segue:

Art. 66 – A preparação para o exercício do magistério superior

far-se-á em nível de pós graduação, prioritariamente em

programas de mestrado e doutorado.

Assim não se encontra amparo na legislação maior, à formação

pedagógica dos professores universitários fica a cargo dos regimentos de cada

instituição responsável pelo oferecimento de cursos de pós-graduação

refletindo, e ao mesmo tempo regulamentando, a crença na necessidade de

que esta formação seja oferecida. Segundo Saviani; 1998,sob o aspecto da

gestão, registre-se a exigência de que 70% das vagas dos órgão colegiados

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das instituições públicas de nível superior sejam ocupadas por

professores. É importante ressaltar que na LDB, existem outros artigos

voltados para a educação superior, mais nenhum aborda de maneira clara e

concisa a questão da formação pedagógica para a docência voltada

estritamente para o ensino superior:

Capítulo IV

“Da Educação Superior”(...)

Art. 52: II – um terço do corpo docente, pelo menos, com

titulação acadêmica de mestrado ou doutorado. (...)

Título VI

"Dos profissionais da Educação" (...) Art. 65 – A formação

docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de

ensino de, no mínimo, trezentas horas. (Art. 67) (...)

Parágrafo único: A experiência docente é pré-requisito para o

exercício profissional de quaisquer outras funções de

magistério, nos termos das normas de cada sistema de

ensino.

Analisando as informações, a formação do professor universitário em

geral, é possível notar que, na verdade, não tratam desta formação, apenas

delimitam alguns espaços onde ela pode ocorrer, espaços que, pelo fato de

serem de níveis de pós-graduação (stricto e/ou lato sensu) não significam que

darão conta de abordar temas pertinentes às práticas educativas. Pelo

contrário, quando se fala em especialização, mestrado e/ou doutorado –

mesmo os demais níveis de formação acadêmica acima destes, a tendência é

especializar-se cada vez mais sobre determinado aspecto.

Segundo a Lei nº 5.540/68, em seu Parágrafo 2º da Alínea b do artigo

32, cita: "Serão considerados, em caráter preferencial, para o ingresso e a

promoção na carreira docente do magistério superior os títulos universitários e

o teor científico dos trabalhos dos candidatos.”.

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Não há, portanto nenhuma referência, à formação didática pedagógica

com pré-requisito para o ingresso e promoção na carreira docente do

magistério superior. De que adianta um professor que apenas se preocupa com

o ato de ensinar, transmitindo seus conhecimentos e experiências, sem

diagnosticar de fato o estar, ou não, o seu aluno aprendendo? Existe "ensino"

onde não há aprendizagem?

Daí a preocupação de levar a reflexão ao docente universitário sobre

sua prática profissional enquanto professor. Para que ensinar, porque ensinar e

para quem ensinar, são questões básicas que se respondidas, levam

imediatamente a outras perguntas necessárias: como se aprende, enquanto se

aprende e de que forma melhor se aprende? A universidade é o local que

privilegia, antes de tudo, a transmissão do saber. Seus docentes, por

conseqüência, devem dominar esse mesmo saber para transmiti-la a seus

alunos, segundo os critérios estabelecidos pelas normas curriculares vigentes.

A participação em Simpósios, Congressos, Cursos, Palestras, possibilita não

só a atualização, como também cria condições e estimula a produção científica

do próprio professor, que deveria estar naturalmente interessado em sua

educação permanente. O docente universitário deve criar no aluno o gosto pelo

aprender e incitar a busca de conhecimentos novos e novos caminhos para

antigos saberes. Relacionar teoria e prática é fator de garantia de competência

para exercício do magistério universitário. Tornar, portanto, a aprendizagem

para aquele que aprende é condição essencial e indispensável para a

efetivação da própria aprendizagem. O professor que consegue aliar seu

conhecimento teórico à prática profissional atualizada, com certeza estará

prestando um melhor serviço a seus alunos.

A Formação pedagógica do docente de 3º grau vai além do simples,

"saber dar aula", abrangendo aspectos do planejamento de ensino visto como

um todo. Formar professores universitários implica compreender a importância

do papel da docência, propiciando uma profundidade científico - pedagógica

que os capacite a enfrentar questões fundamentais da universidade como

instituição social, uma prática social que reflete as idéias de formação, reflexão,

crítica.

19

CAPÍTULO III

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

Nos tempos atuais, a sociedade cobra cada vez mais aqueles que

escolheram a profissão de ensinar. Agora, mais do que nunca o público em

geral e os jovens em particular voltam-se de forma consciente e questionadora

sobre o papel das instituições de ensino superior. Isto ocorre porque se

considera real a interferência positiva do potencial da educação superior para

interferir nos problemas sociais da atualidade.

Para entender o papel da universidade é necessário compreender a

importância da atuação do professor universitário e isto só se faz levantando

questões relativas à sua formação, realizada em instituições de ensino

superior. Como a licenciatura está sendo concebida? Como os diferentes

cursos concebem a formação pedagógica do futuro professor? Quais as

relações que o curso possibilita estabelecer entre o conteúdo específico e a

parte pedagógica? Como é feita, se o é, a articulação entre teoria-prática em

tais cursos?

Como é, enfim, o ensino que as instituições superiores estão

preparando os futuros profissionais do ensino? Como se configuram a prática

pedagógica dos que formam professores? Esses questionamentos são

necessários para que os docentes do ensino superior possam atender ao apelo

da Unesco, em Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI,

de 1998, e tenham clareza da real missão da educação superior como:

● “educar e formar pessoas altamente qualificadas, cidadãs e cidadãos

responsáveis (...) incluindo capacitações profissionais (...) mediante cursos que

se adaptem constantemente às necessidades presentes e futuras da

sociedade”;

● “prover oportunidades para a aprendizagem permanente”;

● “implementar a pesquisa em todas as disciplinas (...) a interdisciplinaridade”;

20

● “reforçar os vínculos entre a educação superior e o mundo do trabalho e os

outros setores da sociedade”;

● “novo paradigma de educação superior que tenha seu

interesse centrado no estudante (...) o que exigirá a reforma de

currículos, utilização de novos e apropriados métodos que permitem ir

além do domínio cognitivo das disciplinas”;

● “novos métodos pedagógicos precisam estar associados a novos métodos

avaliativos”;

● “criar ambientes de aprendizagem, que vão desde os

serviços de educação a distância até as instituições e sistemas de educação

superior totalmente virtuais”.

Neste contexto a Unesco vem confirmar a necessidade de se

debater sobre a competência pedagógica e docência universitária.

Para Wanderley (1992):

“Em linhas gerais, pode-se dizer que os mesmos

mecanismos de alienação presentes na prática educativa dos

professores de 1º e 2º Graus, estão presentes no ensino

superior ao qual os professores são submetidos em seus

cursos de formação: verbalismo, formalismo, congelamento do

real, compartimentalização do saber, crime de lesa-

curiosidade, competição, busca de avaliação como medida do

saber adquirido.” (p. 40-41).

Quando se fala em formação de professores, nunca pensamos em

docência superior, pois achamos que os professores universitários já possuem

uma boa gama de conhecimentos e que não nos cabe questionar sua

formação. No entanto as maiores críticas dirigidas aos cursos superiores diz

respeito à didática dos professores.

A formação do docente universitário tem se concentrado na sua

crescente especialização dentro de uma área do saber. Isto leva a um

questionamento acerca da relação entre a crescente especialização oferecida

21

pelos cursos de pós-graduação e a melhoria da qualidade docente dos

professores universitários.

De acordo com Marcelo Garcia (1999),

“...em diversas investigações, a correlação encontrada entre

a produção científica dos professores e a avaliação que seus

alunos fazem deles tem sido muito baixa. Isto prova que as

relações entre produtividade científica e eficácia docente são

escassas, ou essencialmente independentes uma da

outra.” (p. 30).

A baixa integração entre ensino e pesquisa é decorrente da forma

como está estruturado o campo acadêmico no interior das universidades e das

complexas relações que se mantém com as diferentes áreas do conhecimento.

Sabe-se que as universidades privilegiam as atividades de pesquisa,

em função dos recursos públicos e privados que este tipo de atividade

proporciona, e pelo status acadêmico que confere às instituições onde estas se

realizam. É nas atividades de pesquisa que surge o ingresso e a promoção na

carreira docente, o prestígio conferido aos docentes surge através das bem

sucedidas pesquisas. Nas universidades públicas, a atual recompensa

financeira, instituída em nome da melhoria do ensino – a gratificação de

estímulo a docência avalia as atividades de ensino pela quantidade de aulas

dadas, conferindo até cerca de 80% de pontos à atuação docente no

magistério, sendo que os demais pontos podem ser completados com

atividades de pesquisa, extensão e administração.

Para Lucíola Licínio (2001):

“Neste contexto não é examinada a qualidade do

ensino ministrado, resultando daí, provavelmente, maior

envolvimento dos docentes com as atividades de ensino, em

termos de aumento de encargos didáticos, pela compensação

financeira dele resultante, sem que isto represente de fato

melhoria na qualidade de ensino.” (p. 20-21)

22

É de se esperar que o trabalho dos docentes com a pesquisa se

traduza na sala de aula em cursos mais atualizados, aproximando os alunos do

campo da produção do conhecimento. No entanto, o que se tem observado é

que esta relação não ocorre, em muitos casos, da maneira esperada ou

desejada. Muitos docentes consideram suas atividades de ensino

desconectadas das atividades de pesquisa, ministrando na graduação cursos

que não revelam uma marca concreta de seus trabalhos na área da pesquisa.

Outro ponto crucial é que grande parte dos bons pesquisadores das

universidades dedica-se muito mais aos cursos de pós-graduação do que aos

cursos de graduação. Além, disso, muitos pesquisadores, que trabalham na

graduação, não conseguem estabelecer uma relação adequada entre seu

campo de investigação e as disciplinas que lecionam, deixando de lado

importantes tópicos dos programas destes cursos, para centralizarem seu

trabalho em torno apenas de sua temática de pesquisa, o que também traz

sérios prejuízos para estes cursos.

“A formação de professores supõe um enfoque multidimensional. Nela

o científico, o político e o afetivo devem estar intimamente articulados entre si e

com o pedagógico” (Candau, 2001, p.48). Não se pode mais aceitar a

mentalidade do educador nato (aquele que nasceu para ser professor), nem

simplesmente uma visão meramente instrumental de caráter técnico em que o

professor utiliza técnicas de ensino sem a reflexão sobre seus possíveis

efeitos. Daí que é fundamental, conforme Candau (2001), fortalecer a base

científica e filosófica do ensino.

A autonomia e a responsabilidade de um profissional dependem de

uma grande capacidade de refletir sobre sua ação. Essa capacidade está

centrada no desenvolvimento permanente, em função de experiência, da

competência e dos saberes profissionais. A trilogia ação-reflexão-ação é o

instrumento mais poderoso que se pode proporcionar à prática de um

professor.

O professor universitário deve compreender a sua prática e modificar

aquilo que é necessário para construir uma atividade docente inovadora e de

23

qualidade, como por exemplo, buscar concepções flexíveis de saber que

permitam conceber o cotidiano em sala de aula como um ambiente a se tornar

agradável para ambos (professor e aluno). O profissional precisa ter

competência para ser autônomo na produção de conhecimentos e acessível

para coletivizá-los em grupos. Saber criar seus projetos, vender suas idéias,

ser perspicaz, ativo e envolvente.

Atualmente as instituições de ensino superior estão repensando a

formação oferecida aos futuros professores universitários e mesmo

àqueles que já exercem suas funções. Numa outra dimensão os professores de

universidades possuem outras tarefas que não se reduzem somente a ensino e

pesquisa. Muitas outras atividades fazem parte do trabalho do professor

universitário: Orientação (tutoria), avaliação, comunicação de suas

investigações, organização de eventos, participação na seleção de outros

professores e participação na gestão acadêmica tomando decisões sobre

currículos, políticas de pesquisa e financiamento, não apenas no seu âmbito

dos sistemas públicos estaduais, do sistema nacional de educação e das

instituições científicas de fomento, de políticas de pesquisa, de ensino e de

avaliação são aspectos que fazem parte das tarefas do professor universitário

porém que, de maneira geral, não são contempladas no processo de sua

formação.

Do ponto de vista legal, a formação inicial do professor universitário,

ou aquele que antecede o ingresso do profissional na carreira acadêmica, deve

ocorrer em nível de pós-graduação, preferencialmente em programas de

mestrado e doutorado, sendo entendida, nesse contexto, como “preparação”

para o exercício do magistério superior. Nesse sentido, ainda, o título de

notório saber supre a exigência do título acadêmico. Embora importante, a

existência desse dispositivo que assegura uma “preparação” mínima para o

exercício da docência superior não tem garantido, em termos práticos, a

formação necessária para tal tarefa.

Os programas de pós-graduação, em especial os Stricto-Sensu,

embora possam explicitar nos seus objetivos a preparação para docência,

24

notadamente articulam-se na formação de pesquisadores para áreas

específicas. Tanto é assim que no conjunto das atividades oferecidas os

estudos sobre a prática e o próprio exercício da docência ocupam espaço

muito limitado.

Para Nunes (2003):

“Como se observa não há de forma evidente, nenhuma

legislação que faça referência à formação didático-pedagógica

como pré-requisito para a formação, ingresso e promoção na

carreira docente do magistério superior.” (p. 27)

Há alguns anos, quando terminada a graduação o profissional estaria

apto para atuar na sua área para o resto da vida. Hoje a realidade é diferente,

principalmente para o profissional que trabalha como docente. Este profissional

deve ter consciência de que sua formação é permanente, e é integrada no seu

cotidiano dentro no ambiente escolar.

Muitos são os desafios que os profissionais docentes enfrentam, mas

manter-se atualizado e buscar desenvolver práticas pedagógicas eficientes,

são os principais.

A universidade ocupa um papel essencial, mas não o único, para a

formação do professor. Com o advento da sociedade do conhecimento, as

universidades necessitam se reconfigurar repensando prioritariamente a

formação do docente do ensino superior. De acordo com Libâneo (1998), a

ação educativa é um processo natural da sociedade, sendo que as instituições

de ensino se apropriavam desta tarefa, de forma sistêmica e intencional”.

Essas questões, as reformas e mudanças que ocorreram na educação

nos últimos anos, provocam uma reflexão sobre a formação do professor, pois

embora alguns possuam experiências significativas em sua área de atuação,

ou tenham um cabedal de embasamento teórico, predominam no geral, o

despreparo e até um desconhecimento científico do que seja um processo de

ensino-aprendizagem. O docente além de desempenhar um papel político e

social, seu foco deve ser no processo de ensino-aprendizagem, e para lidar

com a diversidade de indivíduos que constituem o cenário universitário, o

25

docente deverá possuir domínio específico em sua área de atuação, no

pedagógico e no desenvolvimento das habilidades essenciais para o exercício

docente, portanto, o docente superior é acima de tudo um profissional da

educação.

Para Pimenta (2002):

“... no atual panorama nacional e internacional, há uma

preocupação com o crescente número de profissionais não

qualificados para a docência universitária o que estaria

apontando para uma preocupação com os resultados do

ensino da graduação. Considera-se também o paradoxo da

sociedade globalizada, que se caracteriza pela perca da

empregabilidade, na qual a profissão universitária está em

crescimento.” (p. 93)

Em geral o ponto mais carente do professor universitário em relação

ao profissionalismo está diretamente ligado à docência. Seja porque nunca

tiveram oportunidade de entrar em contato com essa área, ou seja porque

vêem-na como algo supérfluo ou desnecessário para sua atividade de ensino.

Pimenta (2002) acrescenta ainda que:

“Geralmente os professores ingressam em departamentos

que atuam em cursos aprovados, em que já estão

estabelecidas as disciplinas que ministrarão. Aí recebem

ementas prontas, planejadas individualmente (...) os

resultados obtidos não são objetos de estudo (...) não recebem

qualquer orientação sobre processo de planejamento (...).

Como se percebe, a questão da docência na universidade

ultrapassam os processos de sala de aula, pondo em

discussão as finalidades do ensino da graduação.” (p.124)

A realidade é que os professores quando passam a atuar na

docência do ensino superior, no entanto, fazem-no sem qualquer habilitação

para ensinar. Nota-se que nos cursos de licenciatura e pós-graduação em

docência do ensino superior, encontra-se um índice muito baixo de disciplinas

que enfoquem os processos educacionais específicos: métodos e

26

metodologias, avaliação, planejamento, o projeto político pedagógico, as novas

tecnologias, entre outros.

Para afirmar o exposto acima, ao analisar as grades curriculares dos

cursos de pós-graduação em docência do ensino superior, em sua maioria,

encontra-se somente uma disciplina que aborde especificamente a prática

pedagógica, a didática, na qual é oferecida em apenas um módulo de

aproximadamente 45 minutos.

Alguns profissionais percebem esta deficiência e buscam uma outra

formação: mestrado ou doutorado, que exigem através da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a CAPES, a participação em

atividades pedagógicas, cursando disciplinas na área ou realizando estágios

monitorados.

Os cursos oferecidos aos docentes precisam contemplar todas as

questões relativas ao magistério.

Acrescido ainda, da busca de uma formação continuada pelo

professor que poderá construir sua prática também de forma autodidata,

partindo da troca de experiência com outros professores e da busca de novas

informações sistematizadas pelo curso que elegeu.

Observa-se, que além da formação, o desempenho docente é

acrescido de características inatas do sujeito, ou seja, vocação para o

magistério, sensibilidade, liderança, bom desempenho com as relações

interpessoais, entre outros.

Com isso, constituem-se nas universidades diversos tipos de

identidades docentes: docentes experientes no campo de trabalho que podem

dominar teoricamente os conteúdos, mas que não sabem ensinar, docentes

que sabem ensinar os conteúdos teóricos, mas que nunca os vivenciaram; e ,

ainda um grupo seleto que possui todos esses atributos: teoria, prática e

didática entre outros perfis.

É importante ressaltar de acordo com Veiga (1992):

27

“(...) o papel da pesquisa é relevante na formação dos

profissionais da educação, de certa forma, pode garantir a

iniciação do futuro professor como investigador. A investigação

permite organizar as atividades de pesquisa e as respectivas

experiências de ensino, de modo a levantar questões

concretas, necessárias à compreensão dos elementos

constitutivos do fazer pedagógico e da estrutura relacional que

acontece na sala de aula. É na confluência da prática e da

teoria que muitos caminhos poderão ser delineados.” (p. 39)

A questão pedagógica da formação do educador em qualquer nível

fica prejudicada pela questão antropológica não resolvida em seu contexto

produtivo e histórico.

Vale questionar quem é o professor universitário? É um intelectual que

vai desempenhar atividades de docência e ser professor em diferentes

situações, em diferentes ambientes, em escolas públicas e privadas. Pode ser

um cientista, um pesquisador ou um técnico. O professor é um intelectual que

precisa assumir-se como um intelectual produtivo.

28

CAPÍTULO IV

COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICA DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

O exercício de qualquer profissão exige capacitação própria e

específica. O exercício docente no ensino superior exigem competências

específicas, que não se restringem a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de

mestre ou doutor, ou, ainda, apenas o exercício de uma profissão. Exige isso

tudo, além de outras competências próprias, tais como:

● o professor precisa ser crítico reflexivo, pesquisador, criativo, inovador,

questionador, articulador, interdisciplinar e saber praticar efetivamente as

teorias que propõe a seus alunos;

● precisa saber elaborar projetos criativos e ter habilidades para defendê-los;

● deve aliar o ensino à pesquisa;

● a metodologia e sua opção metodológica devem vir baseada em uma

abordagem com tendência progressista;

● ser autônomo na produção de conhecimentos;

● conciliar o técnico com o ético;

● preparar o aluno para ser pesquisador por excelência;

● ser inovador;

● desenvolver habilidades humanas e profissionais;

● busca permanente de formação continuada.

Fala-se muito nas competências que deve ter o professor. Fala-se

também no ensino por competências. Entretanto, o que é competência? Como

definir as competências que os professores precisam ter? Com base em

Perrenoud (1999) “é uma capacidade de agir eficazmente em um determinado

tipo de situação, apoiada em conhecimentos mais sem limitar-se a eles.

29

Segundo esse autor para enfrentar situações diversas é necessário:

conhecimento, experiência e formação.”

Ainda segundo Perrenoud (1999), em relação a competências:

“A construção de competências, pois, é inseparável da

formação de esquema de mobilização dos conhecimentos com

discernimento, em tempo real, ao serviço de uma ação eficaz.

Ora, os esquemas de mobilização de diversos recursos

cognitivos em uma situação de ação complexa desenvolvem-

se e estabilizam-se ao sabor da prática. No ser humano, com

efeito os esquemas não podem ser programados, por uma

intervenção externa. Não existe, a não ser nas novelas de

ficção científica, nenhum “transplante de esquemas”. O sujeito

não pode tampouco construí-los por simples interiorização de

um conhecimento procedimental. Os esquemas constroem-se

ao sabor de um treinamento, de experiências renovadas, ao

mesmo tempo redundantes e estruturantes, treinamento esse

tanto mais eficaz quando associado a uma postura reflexiva.”

(p.10).

O papel do professor como apenas repassador de informações

atualizadas está no seu limite, uma vez que diariamente estamos sujeitos a ser

surpreendidos com informações novas de que dispõem nossos alunos, as

quais nem sempre temos oportunidade de ver nos inúmeros sites existentes na

Internet.

Um professor inovador é aquele que esta sempre buscando uma forma

nova de trabalhar os conteúdos aos alunos. Quando o professor está refletindo

ele tem a oportunidade de melhorar o que está sendo feito, rever

acontecimentos.

Um docente inovador é aquele que busca o diálogo, a formação

continuada, o aprimoramento e atualização de sua metodologia, tendo como

foco principal à aprendizagem do aluno como detentor de algum saber.

30

No âmbito do conhecimento, o ensino superior percebe a necessidade

de se abrir para o diálogo com outras fontes de produção de conhecimento e

de pesquisa e os professores já se reconhecem como os únicos detentores do

saber a ser transmitido, mas como um dos parceiros a quem compete

compartilhar seus conhecimentos com outros e mesmo aprender com outros,

inclusive com seus próprios alunos. É um novo mundo, uma nova atitude, uma

nova perspectiva na relação entre o professor e o aluno no ensino superior.

As carreiras profissionais também estão se revisando com base nas

novas exigências que lhe são feitas, em razão de toda essa mudança que

vivemos atualmente: formação continuada dos profissionais, bem como novas

capacitações, por exemplo, adaptabilidade ao novo, criatividade, autonomia,

comunicação, iniciativa, cooperação.

Necessita-se de profissionais intercambiáveis que combinem

imaginação e ação; com capacitação para buscar novas informações, saber

trabalhar com elas, intercomomunicar-se nacional e internacionalmente por

meio dos recursos mais modernos da informática; com capacidade para

produzir conhecimento e tecnologia próprios que os coloquem, ao mesmo

tempo em alguns setores, numa posição não-dependência em relação a outros

países; preparados para desempenhar suas profissões de forma

contextualizada e em equipe com profissionais não só de sua área mas

também de outras.

A universidade é uma instituição educativa que produz conhecimento,

estimula a formação crítica, a pesquisa, a problematização das questões

relacionadas ao contexto social na qual estamos inseridos e a preparação para

o mercado de trabalho.

De acordo com Morin (2000):

“... a universidade conserva, memoriza, integra e

ritualiza uma herança cultural de saberes, idéias e valores, que

acaba por ter um efeito regenerador, porque a universidade de

incumbe de reexaminá-la, atualizá-la e transmiti-la. Sendo,

assim destaco a necessidade do desenvolvimento de algumas

31

competências fundamentais para o exercício da prática

pedagógica: a liderança, a ação interpessoal para a eficácia

da prática, gestão participativa com a instituição e seus alunos,

contribuir para a qualidade da universidade, autonomia e ser

um eterno aprendiz.” (p. 71)

A necessidade de refletir sobre as relações interpessoais, sobretudo

em espaços educacionais, justifica-se pelos inúmeros conflitos que têm

marcado este início de século, os quais têm motivado discussões no campo da

ética e da moral, indicando a necessidade de se repensar o humano nas mais

diversas esferas sociais.

A liderança é outro fator fundamental para a competência do docente,

conforme Fernandes (1998, p. 128) relata a capacidade do indivíduo de

influenciar outras pessoas, fazendo com que os mesmos se empenhem

voluntariamente na busca do aluno alcance de determinados objetivos.

A liderança é conquistada pelo próprio líder quando este procura usar

suas habilidades pessoais: perspicácia e atenção para conhecer o outro;

capacidade de ouvir; facilidade de se expressar; de comunicar-se, ser sensível

com a comunidade educativa onde exerce sua docência.

Hoje a necessidade do educador ser um líder é importante, pois será

um guia, um estimulador de mudanças, um orientador na busca de valores. O

líder educador é um articulador de relações interpessoais, pois seu trabalho o

coloca em cena direto com a ação pedagógica.

A ação interpessoal para a eficácia da prática pedagógica é baseada

na visão do sucesso da aprendizagem, neste momento o docente deve criar

um espaço de troca de informações sobre sua experiência e a de seus alunos,

buscando mediações onde os discentes construam seus conhecimentos.

Almeida (2001), nos fala das habilidades de relacionamento interpessoal, “o

olhar atento, o ouvir ativo e o falar autêntico”, que podem ser desenvolvidos

pelo professor, ao mesmo tempo em que os alunos também as desenvolvem.

32

Segundo Antunes (2004), o educador deve organizar-se buscando

quatro aprendizagens essenciais, as quais serão como uma bússola segura ao

longo da vida. Essas aprendizagens seriam:

· Aprender a conhecer – isto é adquirir as competências para a

compreensão, incluindo o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento;

· Aprender a fazer – enfatiza a questão da formação profissional e o

preparo para o mundo do trabalho;

· Aprender a viver juntos, a viver com os outros – é essencial que os

professores tenham coragem de desvestir a escola de sua fisionomia de

quartel e deixar de ser um disfarçado campo de competições para aos poucos,

ir se transformando em um verdadeiro centro de descoberta do outro e também

um espaço estimulador de projetos solidários e cooperativos, identificados pela

busca de objetivos comuns;

· Aprender a ser – significa que todo o ser humano deve ser preparado

inteiramente – espírito e corpo, inteligência e sensibilidade, sentido estético e

responsabilidade pessoal, ética e espiritualidade – para elaborar pensamentos

autônomos e críticos e também para formular os próprios juízos de valores, de

modo a poder decidir, por si mesmo, como agir em diferentes circunstâncias da

vida. (p. 13-15).

33

CONCLUSÃO

No fim desse estudo, lembro que o propósito é refletir sobre a

formação acadêmica do docente no ensino superior, e que a educação do

século XXI exige que os educadores sejam multifuncionais, não apenas

educadores, mas psicólogos, pedagogos, filósofos, sociólogos, e muito

mais. O mundo atual reivindica de toda população, sem exceção, uma

educação de caráter abrangente, geral, crítica e reflexiva. Além

disso, uma educação revestida da capacidade de analisar, pensar

estrategicamente, planejar e também, responder de forma criativa, com

ética e responsabilidade.

O professor universitário precisa receber uma formação

pedagógico-científica para que possa conduzir sua prática educativa de

forma crítica, refletindo sobre os possíveis efeitos de sua atuação

profissional tanto do aluno como para a sociedade. Refletir sobre que

cidadão quer formar.

A busca da qualidade no ensino superior tem ampliado, até porque

a exigência para contratar um profissional desde porte é muito grande

e necessária. No entanto, como argumentar, a titulação, em si, não é

necessariamente sinônimo de capacitação pedagógica para a docência.

Nesse sentido, a formação pedagógica do professor universitário

constitui-se num processo de extrema importância, pois é através dela

que o docente, ou futuro docente, se qualifica para o exercício do

magistério.

Dessa maneira, a valorização do ensino e da formação pedagógica do

professor universitário demandaria, em primeiro lugar, a alteração do

modo como às questões pedagógicas são entendidas e tratadas na

universidade, superando a crença de que para ser bom professor basta

conhecer profundamente e conseguir transmitir com clareza determinado

34

conteúdo, ou, no caso mais específico do ensino superior, ser um bom

pesquisador.

O curso superior no Brasil deve repensar em ter em seu quadro

docente tanto professores com formação acadêmica, mestrado e doutorado,

como também com formação profissional prática, que exerçam a profissão no

mercado de trabalho, abrangendo assim, tanto a parte teórica e básica como

também a parte prática.

As universidades devem ser um lugar de transmissão de

conhecimentos, feito pelos professores, e também deve ser um local onde

possa criar-se novos conhecimentos, realizados através de seus

pesquisadores. Deve ficar bem claro que professor e pesquisador são

profissões diferentes. Nem sempre o bom pesquisador é um bom professor.

Exercer a docência implica em possuir conhecimento e saber transmiti-lo,

procurando sempre aliar teoria com a prática. É importante que a universidade

possa debater a questão da formação dos profissionais da educação,

buscando pontuar as contradições e os conflitos que ocorrem no processo

educativo, portanto alguns pontos necessitam de reflexão e de mudanças,

dentre eles pode-se destacar: definição de uma política séria de formação para

professores de ensino superior; a docência deve ser prioritária nos cursos de

licenciatura onde o professor deve dominar o conteúdo técnico, científico e

pedagógico. É importante ressaltar que não deve haver separação entre ensino

e pesquisa o que deve ocorrer é que deve se associar o ensino a pesquisa,

pois o ensino busca a transmissão de e a assimilação dos conhecimentos que

já estão acumulados, já a pesquisa visa conhecer a realidade que necessita de

um estudo mais aprofundado. O importante é que as universidades devem

investir mais na formação do professor e na sua atualização, pois, com certeza

pode ser um fator determinante na melhoria da qualidade da educação.

É necessário pontuar que a integração ensino-pesquisa na

universidade, representa um grande problema, que necessita ser visto sob um

novo prisma, pois se realmente há interesse em melhorar a graduação será

preciso que o ensino seja colocado como prioridade. Em relação à formação de

35

professores deve ser levado em consideração as diversas formas de se pensar

a relação entre ensino e pesquisa, é importante perceber que formar professor-

pesquisador não é a forma mais eficaz de se qualificar um profissional

competente no campo da docência. Diante do cenário no qual encontra-se a

formação do professor do ensino superior, é necessário a priorização de

políticas e instrumento de aferição de qualidade de ensino que leve em conta a

formação docente do profissional que atua no ensino superior, pois observa-se

que os mecanismos reguladores do ensino superior brasileiro, não

contemplam, de forma eficiente, a formação do professor . As universidades

tem que assumir a formação do professor como tarefa, como uma de suas

tarefas centrais.

Docentes de educação superior devem estar preocupados sobretudo

em ensinar seus estudantes a aprender e a tomar iniciativas, ao invés de

serem unicamente fontes de conhecimento. Devem ser tomadas providências

adequadas para pesquisar, atualizar e melhorar as habilidades pedagógicas,

por meio de programas aprimorando o desenvolvimento pessoal.

36

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