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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
LOGÍSTICA DO TRIGO NO BRASIL
Da Origem do Trigo até o Consumidor Final
LUIZ FABIANO FANGUEIRO
K212399
ORIENTADOR
Prof. JORGE TADEU VIEIRA LOURENÇO
RIO DE JANEIRO
2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
LOGÍSTICA DO TRIGO NO BRASIL
Da Origem do Trigo até o Consumidor Final
Monografia apresentada ao Curso de Gestão de Varejo - Universidade Cândido Mendes - Instituto A Vez do Mestre como requisito à obtenção do Título de Pós-Graduação em Gestão de Varejo.
Orientador: Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço
RIO DE JANEIRO
2010
3
DEDICATÓRIA
Dedico à Monografia a minha irmã, que tanto colaborou para a confecção desse trabalho e a minha filha que tenho muito amor e orgulho.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela sabedoria alcançada na realização desta Monografia. Agradeço por minha família, meus amigos e meu Orientador. Agradeço em especial a minha mãe, meu pai, minha irmã, namorada e filha pelo amor, cumplicidade e companheirismo me incentivando na realização deste trabalho acadêmico.
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RESUMO
Este trabalho teve como objetivo mostrar como o trigo é importante na
cadeia de alimentos, desde a sua produção, transformação e comercialização.
Buscou-se também discutir vários aspectos importantes que impactam
diretamente na logística do trigo no Brasil, tais como: o aumento da área de
plantio, o incentivo de crédito aos produtores nacionais, investimento em pesquisa
e tecnologia, melhoria no transporte da safra etc. Foi abordado também o porquê
de tanta dependência dos produtores internacionais já que possuímos uma região
adequada ao plantio com grande extensão territorial. Através desse trabalho
monográfico foi possível construir um roteiro para o melhor entendimento de toda
essa logística de maneira clara e objetiva, pegando como exemplo uma grande
empresa industrializadora de trigo, enfatizando a importância que a logística tem
hoje no mercado mundial, seus principais pontos a serem gerenciados, desde a
origem até a chegada ao consumido final deste cereal tão nobre e importante na
dieta de milhões de brasileiros que surgiu na região da Mesopotâmia, onde suas
primeiras sementes são datadas de 6700 a. C.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................07
1 - O TRIGO
1.1 - O que é este Cereal.................................................................................09
1.2 - A Origem do Trigo....................................................................................12
2 - O TRIGO NO MUNDO
2.1 - Principais Países Produtores e Consumidores.......................................14
2.2 - Logística do Trigo no Mundo....................................................................17
3 - O TRIGO NO BRASIL
3.1 - Histórico do Trigo no Brasil......................................................................19
3.2 – A Indústria do Trigo no Brasil..................................................................21
3.3 - Dependência Internacional......................................................................27
3.4 - Logística da Indústria Moageira no Brasil................................................29
3.4.1 - Cadeia de Suprimentos
3.4.2 - Atividades Logísticas
CONCLUSÃO........................................................................................................36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................39
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INTRODUÇÃO
Como podemos observar ao longo do tempo, cada vez mais as empresas
precisam gerenciar da melhor forma seus recursos produtivos. Nesse ambiente
de acirrada competição e uma busca cada vez maior de novos mercados nesse
mundo globalizado, fez com que as atividades logísticas se tornassem cada vez
mais importantes neste cenário mundial, podendo contribuir em muito para a
elevação da competitividade de uma empresa. Seja por seu gerenciamento
integrado, como também pelo nível de qualidade de seus serviços que serão
ofertados aos seus clientes, conseqüentemente terão valiosos ganhos na
composição dos custos totais por ser bem gerenciado.
O conceito de logística integrada despontou na década de oitenta e vem
evoluindo constantemente, impulsionada pela revolução da tecnologia da
informação e pelas constantes exigências do mercado no desempenho dos
serviços de distribuição.
Em conseqüência disso, este estudo tem como objetivo mostrar como é
desenvolvida a atividade logística do trigo no Brasil, mais especificamente em
uma empresa industrializadora de trigo e mostrar também como o trigo é
importante na cadeia de alimentos, ou seja, sua produção, transformação,
armazenagem e comercialização, gerando um impacto direto na cesta básica.
Passamos por toda a dinâmica do processo produtivo desenvolvido, desde a
chegada da matéria prima, que é o trigo, até a sua transformação nos produtos
finais: biscoitos, massas alimentícias, pães e bolos que irão finalmente chegar aos
consumidores finais que são os atacadistas e varejistas e estes revenderão aos
seus clientes. Este trabalho acadêmico buscou seguir um cronograma com várias
etapas desenvolvidas nos referidos capítulos, buscando uma ordem de
8
entendimento conforme podemos observar a seguir: no primeiro capítulo foi
abordado o surgimento desse cereal bem como sua composição e importância.
No segundo capítulo foi estudado como funciona a logística desse cereal pelo
mundo, citando como exemplo os países com maior potencial de produção e
consumo, as suas regiões produtoras e o período de colheita em cada um deles.
Referente logística internacional foi ressaltada a importância das atividades de
suprimento, de apoio a manufatura e distribuição. Finalmente, o terceiro capítulo e
de maior relevância deste trabalho acadêmico, teve como finalidade mostrar a
chegada do trigo ao Brasil, o início e crescimento do nosso parque industrial neste
segmento, as regiões produtoras e o porquê de ainda dependermos tanto da
produção internacional. Para entendermos toda essa logística nacional, foi
utilizada como exemplo uma empresa moageira de trigo situada no Rio de
Janeiro, exemplificando como funciona a sua cadeia de suprimentos e as demais
atividades logísticas, como seu fluxo de material, de informações, escoamento da
produção, expedição dos pedidos e os canais de distribuição.
Espera-se que a realização deste trabalho venha a contribuir para o melhor
entendimento desse cereal tão nobre que é o trigo, como também as suas
atividades logísticas no mundo e principalmente no Brasil.
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1 - O TRIGO
1.1 - O que é este Cereal?
O trigo é o cereal mais nobre dentre todos os cereais. Ele é conhecido
assim, devido a sua extraordinária capacidade em dar origem a vários derivados
que ocupam uma posição importante em nossa cadeia alimentar como: massas
alimentícias, massas de panificação, biscoitos, bolos e vários outros produtos.
O trigo divide-se em duas formas básicas: botânica e comercial.
A botânica define o trigo segundo suas características biológicas onde é
mundialmente padronizada.
A comercial varia de país para país devido aos seus hábitos, cultura e
necessidade de consumo.
O trigo é classificado em quatro grandes grupos: trigos extra-duros, duros,
semi-duros e trigos moles. A finalidade desses grupos é para se definir a melhor
utilização a qual o trigo se submete e as demais características, como teor de
proteína e peso específico, indicam a qualidade do cereal. Classificação:
Trigo extra-duro: massas alimentícias.
Trigo duro: massas alimentícias e panificação
Trigo semi-duro: panificação e biscoitos fermentados.
Trigo mole: biscoitos, doces e bolos.
Os componentes que formam o grão de trigo são:
Pericarpo: É a casca do grão, na porcentagem de participação no peso do grão
varia de 14 a 18% tendo como principais componentes a celulose, as cinzas e as
proteínas.
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Gérmen: É o embrião do grão, sua porcentagem de participação no peso do grão
varia de 2 a 3% tendo como principais componentes, as proteínas, os lipídios,
açúcares e enzimas.
Endosperma: É o corpo que contém a semente do grão, responsável por 80 a
83% de peso do grão, contém amido e proteínas.
Aleurona: É o farelo do grão, responsável por 6 a 8% do peso do grão. Contém
vitaminas - niacina, riboflavina e tiamina, proteína, lipídios, açúcares e enzimas.
Depois de feita a moagem (trituração) do grão do trigo, é produzida a
farinha de trigo. Na moagem do trigo para a obtenção da farinha de trigo é feita a
remoção do gérmen e do farelo, ou seja, cerca de 20% do grão, sobrando um
rendimento de 83% equivalente ao endosperma. Mas o trigo possui uma camada
de aleurona, que tem proteína de baixo valor nutritivo e deve ser retirada do
restante de endosperma no processo de moagem. Para a remoção total do
aleurona, torna-se necessário retirar também parte do endosperma, essa fração
corresponde a 11% do grão. Portanto uma farinha considerada como padrão é
aquela que apresenta 72% de extração, ou seja, onde 72% do trigo proveniente
do endosperma é aproveitável.
A qualidade da farinha é a capacidade desta em produzir uniformemente
um produto final atrativo com custo competitivo, após condições impostas pelos
manufatores do produto final. 1
Fonte 1: EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Composição e Classificação do Trigo, p.p. 15/16
11
Segmentação do mercado de farinha de trigo:
Uso doméstico: 11,7%
Uso para panificação industrial, artesanal, semi-industrial e padarias: 54,2%
Massas alimentícias: 18,5%
Biscoitos: 15,6%
Fases de Processo de Moagem: recepção do trigo→pré-limpeza→ ensilagem→
1ª limpeza→umidificação e descanso→2ª limpeza→processo de moagem→
passagem de trituração - farelo → passagem de redução - farelo fino
→ passagem de compressão – remoída 2
Fonte 2: CRUZEIRO DO SUL, Moinhos, Segmentação do Mercado Nacional de Trigo, Material Didático, 2009, p.p. 18/19
12
1.2 - A ORIGEM DO TRIGO
Foi no Oriente Médio que o homem, pela primeira vez, começou a
desenvolver a agricultura e a criação dos animais. Quando se fala de agricultura,
estamos falando de diversos cereais. Há cerca de 10 mil anos eles já eram
plantados nessa região que se estende do Egito até o Iraque, batizada pelos
historiadores de Crescente Fértil, de lá esses cereais se espalharam para o
mundo.
Segundo os historiadores, as sementes de trigo já encontradas datam de
6700 a. C e foram plantadas pelos povos que habitavam a antiga Mesopotâmia.
Os grãos eram misturados com peixes, castanhas, frutas e água, numa espécie
de papa levada ao fogo. Os egípcios tiravam proveito de processo de
fermentação do trigo e com isso, por volta de 4.000 a. C através da sua
inventividade, descobriram o método de fabricação do pão. Além de servir a
população, os pães e biscoitos egípcios eram oferecidos como oferendas aos
deuses e utilizados em rituais mágicos, às vezes, eram moldados como formas
humanas e de animais. Mais tarde a receita da massa se espalhou pelos povos
vizinhos, tornando o pão, o alimento símbolo das civilizações mediterrâneas.
Tanta história levou ao nascimento das padarias na Europa e a expansão do
cultivo do trigo para zonas mais frias, onde a planta se a climatizava melhor, como
a Polônia e a Rússia. Por onde se espalhou o trigo se tornou vitorioso. Com o
tempo e o desenvolvimento de novas tecnologias, com a rotação de culturas e a
criação dos moinhos de vento, houve um aumento da produtividade. No século
XV a planta foi levada na bagagem dos grandes navegadores que chegaram a
América.
Linha do Tempo:
1º) O Trigo começou a ser cultivado 10.000 a.C em uma região conhecida como
Crescente Fértil - hoje engloba as regiões do Kuwait, Iraque, Sérvia e Egito -
estendendo-se pelo Mar Mediterrâneo. Foi quando nasceu a agricultura;
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2º) Naquela época, os grãos de trigo eram degustados pelos povos antigos numa
espécie de papa, em que eram misturados com peixes, castanhas, frutas e água;
3º) Por volta de 4.000 a.C, os egípcios observaram o processo de fermentação
de uma massa feita de farinha de trigo e assim nasceu o verdadeiro pão;
4º) A demanda de pães no Egito naquela época já era enorme, pois eles
abasteciam a população, serviam de oferenda para os mortos e os Deuses;
5º) Os primeiros biscoitos também apareceram no Egito, com receitas a base de
trigo, água e mel. Os confeiteiros moldavam figuras de seres humanos e animais
para oferecer a divindade;
6º) Estima-se que no século IX, os árabes tenham levado o macarrão - que teria
origem chinesa - para a Itália;
7º) No século XVI, em Nápoles, Itália, os cozinheiros começaram a incluir
verduras e queijos em um disco redondo de massa, mais tarde dando origem a
famosa pizza;
8º) No século XV, os biscoitos foram extremamente úteis durante as navegações.
Além de fornecer carboidratos aos navegantes, tinham outra vantagem, não
pereciam durante as viagens;
9º) Podemos dizer que a verdadeira confeitaria surgiu no século XV, na baixa
Idade Média, quando os europeus passaram a usar o açúcar nas primeiras
receitas de bolos com cobertura de glacê;
10º) O macarrão instantâneo foi criado no Japão em 1958. O empresário
Momofuko Ando criou o produto ao observar pessoas famintas em uma fila para
pegar sopa.
Fonte: CRUZEIRO DO SUL, Moinhos, A Origem do Trigo, Material Didático, 2009, p.p. 10
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2 - O TRIGO NO MUNDO
2.1- PRINCIPAIS PAÍSES PRODUTORES E CONSUMIDORES
Originalmente, as grandes regiões produtoras de trigo estavam nas zonas
de clima temperado e de chuvas moderadas, como Rússia, EUA, países da
Europa Ocidental, Canadá, Austrália e Argentina. Mas, devido à relação de
produtores e mais recentemente, às pesquisas científicas, a cultura passou a
ocupar áreas cada vez maiores e mais produtivas. Uma marca importante nessa
história foi o trabalho desenvolvido no México em 1960, reconhecido com o
prêmio Nobel da Paz, outorgado a um dos seus idealizadores, o Cientista Norman
Borlang, considerado o pai da Revolução Verde. O trabalho permitiu o
desenvolvimento de cultivares de trigo no México, na Índia, na China e no
Paquistão, além de países africanos, e influenciou profundamente na produção
brasileira.
Hoje, a produção mundial é da ordem de 650 milhões de toneladas/ano. O
Brasil produz seis milhões de toneladas, mas não atende ao nosso consumo
interno, que gira em torno de dez milhões de toneladas.
Atualmente a cultura do trigo ocorre amplamente em todo mundo, em
diversas geografias e clima. A época do plantio e colheita se difere para cada
hemisfério, podendo ter trigo de primavera e inverno. A seguir, podemos observar
na tabela a época de cultura e semeadura de trigo no mundo:
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Países Primavera Inverno Colheita
EUA Março/Maio Agosto/Outubro Julho/Setembro
Canadá Abril/Maio Agosto/Setembro Julho/Setembro
Rússia Março/Junho Agosto/Setembro Julho/Setembro
Argentina _____ Maio/ Agosto Novembro/Janeiro
Austrália _____ Maio/Julho Novembro/Janeiro
Índia _____ Outubro/Dezembro Abril/Maio
Brasil _____ Março/Julho Setembro/Janeiro
Europa Central _____ Setembro/Dezembro Agosto/Setembro
Historicamente a produção do cereal no mundo tem como destino principal,
o consumo humano e o preparo de ração animal.
A produção mundial de trigo apresenta tendência para a estabilidade, se
comparando as últimas safras. A safra 2008/2009 atingiu 684,4milhões de
toneladas, o que representa um aumento de 12% sobre a média das últimas
quatro safras - desde a 2004/2005. Esse aumento da produção é justificado pelo
aumento das áreas plantadas em todos os países, como é o exemplo do Brasil,
que dobrou a produção de safra 2007/2008 para 2008/2009.
Atualmente, os principais países produtores de trigo são: China (17% do
total), Índia (12%), Estados Unidos (10%), Rússia (9%), Austrália (37%),
Paquistão (3%), Turquia (2%), Kazaquistão (2%) e Argentina (1%). Contudo,
ser um grande produtor não significa necessariamente ser um grande exportador.
Os principais exportadores são: EUA (27% do total), Canadá (17%) Austrália
(16%), União Européia (16%), Argentina (11%), Kazaquistão (4%) e outros
países que juntos totalizam 9%. Se for considerada como bloco, a União
Européia é a maior produtora de trigo do mundo, com uma produção estimada em
152 milhões de toneladas/ano.
16
No ranking dos principais consumidores podemos observar que a União
Européia é a líder consumista com aproximadamente 127,5 milhões de
toneladas, portanto auto-suficiente, já que produz em média 152 milhões de
toneladas/ano. A seguir temos a China com 102,5 milhões de toneladas
consumidas, em terceiro a Índia com 70,3 milhões de toneladas, em quarto a
Rússia com 41,2 milhões de toneladas, em quinto os EUA com 34 milhões de
toneladas. O Brasil é um grande importador, pois só produz em torno de 6
milhões de toneladas, das 10 milhões de toneladas consumidas por ano.
No que se refere ao uso per capito de trigo, temos a Bulgária como a líder
de consumo com um total de 279 kg por pessoa, seguida pela Austrália (142kg),
Arábia Saudita (123kg), França (109kg), EUA (86kg), China (67kg) e finalmente
o Brasil com 57 kg por pessoa.
Fonte: CRUZEIRO DO SUL, Moinhos, Produtores e Consumidores Mundiais, Material Didático, 2009, p.p. 33/35
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2.2 - LOGÍSTICA DO TRIGO NO MUNDO
Cada vez mais as empresas precisam gerenciar da melhor forma seus
recursos produtivos. Num ambiente de acirrada competição e de inserção no
mercado global, as atividades logísticas podem contribuir muito para a elevação
da competitividade de uma empresa, a partir do seu gerenciamento integrado, em
função de influência que exercem na definição do nível de serviço fornecido ao
cliente e por serem significativas na composição dos custos totais. O conceito de
logística integrada despontou no começo da década de oitenta e evoluiu
rapidamente nos quinze anos que se seguiram, impulsionada principalmente pela
evolução da tecnologia de informação e pelas exigências crescentes de
desempenho em serviços de distribuição.
A logística da Indústria de trigo, como também em qualquer indústria afim,
é abrangida de três funções básicas: as atividades de estoque, armazenagem e
transporte. Essas atividades contribuem significativamente para a definição do
nível de serviço oferecido ao cliente, e também, para a formação dos custos totais
de produção. Dessa forma, o gerenciamento logístico visa a garantir excelência
no atendimento às necessidades do cliente, como também reduzir os custos
logísticos.
A complexidade de gerenciamento de um sistema logístico empresarial
varia de empresa para empresa, dependendo da estrutura organizacional, do
entendimento sobre que atividades constituem a logística e da importância das
atividades individuas para as operações. Atualmente muitos autores identificam
as atividades logísticas através de três categorias: atividades de suprimento,
atividades de apoio a manufatura e atividades de distribuição. Vejamos como
exemplo a indústria moageira de trigo, da seguinte forma:
ATIVIDADES DE SUPRIMENTO: esta área abrange a compra e a organização
da movimentação de entrada de matéria-prima, neste caso o trigo em grãos,
comprado dos fornecedores internacionais ou nacionais, embalagens para
embalar o trigo processado, ganhando marca própria que chegará até o
consumidor final. O termo suprimento é utilizado para incluir todos os tipos de
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compra. Ele engloba a disponibilidade de sortimento de materiais onde e quando
necessários, engloba também as operações de entrada, tanto no recebimento de
matéria-prima e materiais para embalar o trigo, quanto nas operações de
separação do trigo para moagem.
ATIVIDADES DE APOIO A MANUFATURA: esta área concentra-se no
gerenciamento de estoque e processo à medida que este flui entre as fases de
fabricação. A principal responsabilidade logística na manufatura é participar da
formulação de uma programação-mestre de produção e providenciar a
disponibilidade em tempo hábil de materiais componentes e estoque em
processo. Portanto, a preocupação maior é de não ‘está em como a produção
ocorre’, mas em ‘o que é fabricado e quando e onde os produtos são fabricados’.
As incertezas contornadas pela distribuição física, decorrentes da natureza
aleatória dos pedidos de clientes e pela demanda industrial irregular, não estão
presentes na maioria das operações de produção.
ATIVIDADES DE DISTRIBUIÇÃO: esta área trata da movimentação de produtos
acabados para entrega aos clientes. A disponibilidade do produto é parte vital do
trabalho de marketing de cada participante do canal. É pelo processo de
distribuição física que o tempo e o espaço do serviço ao cliente se tornam parte
integrante de marketing. Assim a distribuição física vincula um canal de
marketing a seus clientes. Todos os sistemas de distribuição físicos têm uma
característica comum, e com o fornecimento de produtos derivados do trigo não é
diferente, de vincular fabricantes, atacadistas e varejistas em canais de marketing
que fornecem a disponibilidade de produtos como aspecto integrante de todo o
processo de marketing de distribuição.
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3 - O TRIGO NO BRASIL
3.1- O HISTÓRICO DO TRIGO NO BRASIL
Os primeiros colonizadores trouxeram o trigo para o Brasil já no séc. XVI,
no entanto, a planta custou a se adaptar ao nosso clima.
Ele já era conhecido desde a chegada dos colonizadores portugueses,
que, como bens europeus, procuraram introduzir o cultivo nas terras recém
descobertas. Tanto assim que há relatos de que a planta havia sido trazida na
bagagem do navio de Martin Afonso de Souza e desembarcada na capitania de
São Vicente em 1534. Mas nem a teimosia, nem a reconhecida perícia dos
agricultores brasileiros conseguiram vencer o clima quente, e o trigo precisou
esperar muito tempo até freqüentar as melhores mesas com fartura. Deve ter feito
muita falta, pois os historiadores acumularam cartas de colonizadores lamentando
a falta do grão, e reclamando dos pães preparados com a farinha de mandioca,
essa sim, comum aqui naquela época e bastante usada pelos indígenas.
Embora tenha sido levado para o Sul, onde se aclimatou um pouco melhor,
o trigo, ainda sim, foi um estranho no país, ainda mais quando no séc. XVIII as
plantações foram atacadas por ferrugem, uma doença causada por fungos.
Depois de quase sumir do mapa, ele voltou a fazer parte do cardápio com os
primeiros imigrantes alemães que se estabeleceram naquela região. Com a
chegada dos italianos, no início do séc. XX, aí sim a panificação se expandiu e o
produto passou a ser essencial na mesa do brasileiro.
A partir de 1940, a cultura começou a se expandir comercialmente no Rio
Grande do Sul e no Paraná, mas continuou não sendo uma planta de fácil
adaptação. Tanto que, desde aquela época, tem passado diversos altos e baixos,
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diferentemente da Argentina, onde as condições de solo e clima permitem aos
produtores obterem boas colheitas com custos mais baixos. Mesmo assim por
meio de pesquisas com as sementes, conseguiu-se aumentar a área plantada e o
rendimento. Porém nunca o suficiente para atender o consumo de toda a
população, que hoje não pode viver sem pão de trigo.
21
3.2 - A INDÚSTRIA DO TRIGO NO BRASIL
Na indústria de moagem, as lideranças começaram a se organizar
regionalmente, segundo dois enfoques distintos. Na região sul, única produtora de
trigo em meados do século passado, havia um grande número de pequenos
moinhos espalhados pelo interior dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e posteriormente Paraná. Na Região Sudeste havia moinhos
especificamente no Rio e São Paulo, moinhos maiores, que tinham a sua
localização para as grandes áreas de consumo. Nesse contexto, nem sempre os
interesses dos moinhos das áreas de consumo coincidiam com os da zona de
produção.
A intervenção do Estado na comercialização e industrialização do trigo no
Brasil, praticamente transformou os moinhos em facioneiros do Estado. Em 1949,
foi proibida a importação de farinhas, em 1952, a importação de trigo passou a ser
monopólio do Estado, em 1962 tornou-se o único comprador de trigo nacional. O
governo distribuiu o trigo aos moinhos através de um regime de cotas, estabelecia
os tipos de farinhas a serem fabricadas e os respectivos preços de venda. Em
1938, foi criado o Serviço de Fiscalização do Comércio de Farinhas, de
inexpressiva atuação e que foi substituindo em 05/01/1944, pelo famigerado SET-
Serviço de Expansão do Trigo, que se notabilizou por distribuir cotas de trigo e
dispor sobre venda de farinhas segundo critérios altamente discutíveis. Em uma
reação moralizadora, foi editado o Decretou-Lei nº 210/67 que, alinhando-se a
reorganizada compra estatal, administrada pelo Banco do Brasil, na COTRIN, o
Departamento de Comercialização do Trigo, estabeleceu regras que incentivaram
a produção nacional, asseguram o abastecimento, reestruturaram a moagem e
controlaram o dispêndio de divisas. Tais regras duraram 23 anos, até que, em
novembro de 1990, com o da Lei nº 8096 foram liberados a comercialização e
industrialização do trigo, eximindo o Estado da tutela sobre o setor.
Lentamente as lideranças do setor de trigo foram se organizando e se
fazendo ouvir, foram criados um Sindicato e uma Associação. A necessidade de
um contato contínuo com o Governo Federal levou os Sindicatos/Associações
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regionais a montar, em 1986, em Brasília, o Escritório de Representação da
Indústria do Trigo. Em 17/06/91, foi criada a ABITRIGO, Sociedade Civil sem fins
lucrativos, com sede no Rio de Janeiro com o intuito de substituir os interesses
regionais para um maior posicionamento nacional nas negociações e discussões
sobre o mercado triticultor no Brasil. Fazem parte dessa Sociedade de âmbito
nacional as seguintes Associações: Associação Rio-grandense de Indústria de
Trigo; Associação das Indústrias de Trigo dos Estados do Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso do Sul; Associação Paulista da
Indústria de Trigo; Associação dos Moageiros de Trigo do Paraná; Associação
dos Moinhos de Trigo do Norte e Nordeste do Brasil e a Associação da Indústria
de Trigo do Ceará.
A Contribuição de cada Associação foi estabelecida no preparo das cotas
de trigo anteriormente distribuídas pelo governo para os Estados/Regiões, em
respectivamente, 9, 4, 28, 26, 8, 21 e 4%.
Em 15/04/04 através de uma Assembléia Extraordinária, foi alterado o
Estatuto, retirando-se da Associação os Sindicatos/Associações regionais e
ingressando com novos associados, 46 novos moinhos.
Em 22/07/04 através de outra Assembléia Geral Extraordinária, ficou
decidida a mudança da Sede da Entidade do Rio de Janeiro para São Paulo.
Na década de 1960 foi criado o COTRIN, órgão responsável pela compra e
distribuição dos grãos de trigo para os moinhos. O COTRIN impôs a
reorganização das cooperativas, surgiram normas de seletividade para o crédito
oficial para o plantio de trigo, incentivando a produtividade, apoiou a melhoria da
qualidade do grão, tornou-se o órgão de extensão da tecnologia, estimulou a
pesquisa arrecadando recursos específicos e divulgou o lançamento de novos
cultivares. A partir de política proposta pelo Decreto 4749/59, mas
incompletamente implantada, e do sucesso do trabalho do COTRIN, em 1962 e
ainda sob a aspiração moralizadora dos governos revolucionários de 1964 em
diante, foram criadas condições para a edição do Decreto Lei nº 210, de
27/02/1967 e a respectiva regulamentadora portaria nº 137 de 07/03/1967. Estava
decretado o monopólio estatal da compra e venda de trigo em grão, entregue aos
23
moinhos sob o regime de quotas proporcionais às capacidades instaladas dos
moinhos de cada zona de consumo.
O principal efeito sobre os moinhos de trigo foi que, após a revisão na
capacidade instalada em todos os moinhos, em 1967, o valor foi considerado fixo,
sendo a base para o rateio das quotas dentro de cada zona de consumo.
Desestimulou-se a capacidade ociosa do parque moageiro, revitalizando a
indústria. Tratava-se de um regime cartorial, que impossibilitou a implantação de
novos moinhos. Estes eram tão regulados pelo Estado que se consideravam de
certo modo facioneiros. Recebiam matéria-prima, elaboraram os tipos permitidos
de farinha e vendiam os produtos e subprodutos a preços tabelados. Com
mercado cativo, mas sem liberdade comercial, cuidavam de reduzir os custos via
modernização das instalações, de conseguir atualização nos preços, face à
implantação e de aumentar as quotas, diante do aumento de consumo de cada
zona.
O País era abastecido do Sul para o Norte com trigo nacional e do Norte
para o Sul com o importado. Do ponto de vista macro-econômico, reduziam-se os
custos de distribuição e a compra do importado, pelo governo, em grandes lotes,
resultava em economia de divisas. Todo o trigo nacional era escoado, qualquer
que fosse a sua qualidade, o que na implantação da cultura foi muito importante.
A política de preço de venda de trigo pelo governo consistia em lançar
todos os custos-compra do nacional e do importado, armazenagem, transporte,
inclusive até o silo de moinho, despesas financeiras etc., em uma conta ‘trigo
única’, para encontrar-se o preço médio de custo a ser cobrada dos moinhos,
como conseqüência o preço era igual para todo o País, a conta ‘trigo’ não dava
prejuízo e o preço do trigo nacional podia ser subsidiado, e o foi por muito tempo.
Entre 1982 e 1986 os preços passaram a ser fixados em dólar, foi o grande
salto para a triticultura brasileira, que naquele momento, já contava com um
pacote tecnológico adequado.
Com a nova regra de preços corrigidos pelo dólar, com respostas seguras
nas pesquisas, com anúncio em momentos mais adequados a produção
deslanchou.
24
Na década de 80 os altos preços pagos ao triticultor nacional, quando
comparado com os dos importados, citados, combinados com um enorme
prejuízo da ‘conta trigo’, impuseram uma mudança na política de apoio
governamental. Surgiu o conceito de ‘subsídio ao consumo de trigo’, na verdade
uma demonstração da incapacidade de o governo controlar a inflação. O preço
pago pelo governo deixou de ser indexado ao dólar, com isso a produção caiu.
No final do mandato de Fernando Henrique Cardoso, a política mudou
novamente e os estímulos internos e no mercado internacional fizeram com que
a produção voltasse ao patamar das seis milhões de toneladas.
A cadeia de trigo é basicamente formada por produção, insumos, moinhos,
transformação/distribuição e consumo.
A indústria moageira faz parte do principal elo de fornecimento de
alimentos para a população brasileira.
A indústria moageira de trigo no Brasil é relativamente antiga, contudo, só
se desenvolveu após a Lei 946 de 03/12/1949, que isentou de impostos por cinco
anos a importação de máquinas, desde que não houvesse similar nacional. Como
parte dos moinhos recebia quotas de trigo proporcionalmente à capacidade de
produção, rapidamente ocorreu a expansão do número de plantas no parque
moageira nacional.
A seguir, como é dividida a cadeia de trigo no Brasil:
- Setor Primário
- Setor Industrial
- Comercialização
25
SETOR PRIMÁRIO:
INSUMOS PRODUÇÃO ARMAZENAMENTO
Sementes Preparação da Terra Armazenagem
Fertilizantes Semeadura Classificação
Agroquímicos Desenvolvimento da Lavoura Conservação
Máquinas Colheita
Serviços Agrários
SETOR INDÚSTRIAL:
INDÚSTRIA DE MOAGEM INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA
Separação magnética Farinha Fracionada
Limpeza Pão
Moagem e Peneiração Biscoitos
Incorporação de Aditivos Massas frescas e secas
Empacotamento Cereais
. Farinha de Trigo
. Farinha Integral
. Pré-misturas
. Subprodutos
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COMERCIALIZAÇÃO:
MERCADO INTERNO → Distribuição
→ Consumo
EXPORTAÇÃO → Transporte
→ Distribuição
O custo da lavoura brasileira de trigo direto dividi-se em: implantação da
lavoura (89% do total), frete (3%), colheita (5%) e comercialização (3%).
Fonte: ABITRIGO – Associação Brasileira da Indústria do Trigo, Anuário do Trigo, 2009, p.p. 45/46
27
3.3 - DEPENDÊNCIA INTERNACIONAL
Importante produto na cesta básica nacional, o trigo tem a particularidade
de as importações terem sido, ao longo do tempo, cerca de três a quatro vezes
superiores às produções nacionais.
O Brasil encontra-se hoje no cenário econômico como um dos principais
países importadores de trigo. Quadro este bastante preocupante, pois sua
demanda gira em torno de 10 milhões de toneladas de grãos/ano, sendo que
destas, de 4 a 7,5 milhões são supridas pela importação, o que nos torna
dependentes do mercado externo. Mas nem sempre foi assim, pois o Brasil
atingiu sua auto-suficiência na produção de trigo na safra de 2003. Apenas em
2003 a produção nacional quase se igualou ao volume importado, ambos em seis
milhões de toneladas. O motivo é que, o trigo importado é de melhor qualidade e
produzido a um custo menor, o que motivou as panificadoras brasileiras a preferir
o produto importado ou a utilizar misturas de farinhas de trigo nacional e
importada. A Argentina é o grande país exportador de trigo para o Brasil, além de
ser competitiva nessa lavoura, conta com as vantagens tarifárias possibilitadas
pelo MERCOSUL. Também o Canadá, EUA exportam trigo para o Brasil.
A grande região produtora de trigo brasileiro é a região sul que, devido ao
bom rendimento da safra 2003, teve comprometido seu sistema de
armazenagem. No Paraná, algumas cooperativas tiveram que erguer barricadas
nas laterais dos silos para colocar o trigo até o teto, num procedimento que, além
de comprometer a infra-estrutura da construção, pode ter provocado maior
incidência de pragas e doenças, por impedir a aeração adequada dos grãos.
O Brasil viu-se forçado a exportar, em 2003, 53 mil toneladas de trigo na
época da safra, por falta de capacidade de estocagem, tendo que, na entressafra,
importar o produto, para suprir a demanda interna.
Na fase de plantio até a pré-colheita, os problemas que mais afetam o trigo
são o excesso de umidade relativa no ar nos meses de setembro e outubro, a
ocorrência de geadas na fase de espingamento e de chuvas na colheita,
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ocasionando perdas com índices que variam de 10% a 32% da safra produzida.
Em 2000, no Paraná, principal Estado produtor, as perdas foram de 50,69%, o
que em número absolutos correspondem a 7/9 mil toneladas perdidas.
Assim, como o trigo argentino ganha maior competitividade devido aos
baixos custos da lavoura e a isenção de taxas, o Brasil poderia, pelo menos ser
auto-suficiente na produção de trigo, que na safra passada, segundo dados da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), atingiu 6 milhões de toneladas
das 10,8 milhões que são consumidas. Entre 2006 e 2009, o Governo brasileiro
lançou uma série de medidas visando o incentivo do plantio de trigo no país,
como o aumento do preço mínimo e redução de alguns impostos sobre a
comercialização. Espera-se que parte do resultado já ocorra na próxima safra a
ser implementada em 2010. Enfim, é neste ponto que se percebe o impasse no
desenvolvimento da cadeia produtiva de trigo e que há graves problemas. Ainda
falta uma política que proteja a cultura do trigo e permita que ela se desenvolva
de maneira sustentável, o que dificilmente ocorrerá enquanto não se mudar o
pensamento de que a plantação do cereal é apenas uma rotação de cultura e é
mais fácil e barato importar do que produzi-lo.
Diante deste quadro cabe a nossa cadeia produtiva, em todos os seus
setores, tornar este produto competitivo frente aos demais países produtores,
especialmente os do MERCOSUL. Para isso, o governo deverá incentivar os
produtores com crédito para o plantio e para adquirirem novos maquinários,
fazendo uma campanha no país incentivando o consumo do trigo nacional e
principalmente investir em pesquisas para melhorar a qualidade do grão. Com
essas iniciativas, teremos a esperança de que o nosso país retome a condição de
auto-suficiência em relação à produção de trigo.
29
3.4 - LOGÍSTICA DA INDÚSTRIA MOAGEIRA NO BRASIL
3.4.1 - CADEIA DE SUPRIMENTOS
A indústria pesquisada atua no mercado do Rio de Janeiro há 55 anos,
comprovando dessa forma que possui uma imagem forte e sólida no seu setor.
Com a finalidade de atingir os objetivos pré-estabelecidos, destaca-se a
importância de fazer a descrição de cadeia de suprimentos, apresentada a seguir
na figura 1:
Figura1 - Cadeia de Suprimentos do Moinho
Produtoresde Trigo
Corretoras
Leilões
Moinho RepresentanteComercial Cliente
Fornecedoresde Embalagens
Fornecedoresde Aditivos
Fluxo de Informações
Fluxo de Materiais
Legenda:
Fonte: CRUZEIRO DO SUL, Moinhos, Cadeia de Suprimentos. Material Didático, 2009, p.p. 25
A compra de trigo nacional ou importado é realizada por dois dos
proprietários do moinho, diretamente de produtores rurais, corretoras ou leilões. É
30
realizado o acompanhamento dos preços de commodities pelos pregões
eletrônicos para então efetuar a aquisição da matéria-prima. Já a aquisição dos
aditivos necessários para a produção da farinha de trigo, tais como: ácido
ascórbico, peróxidos de benzaina, ferro e enzimas, que são substâncias utilizadas
na composição do produto proporcionando maior maciez, crescimento e força na
panificação, é realizado pelo técnico do departamento de qualidade, que é
responsável por controlar o estoque de aditivo. Quanto às embalagens, as
mesmas são compradas pelo auxiliar do Gerente Industrial, pois esse é
responsável pelo controle diário das planilhas eletrônicas de toda a produção,
possuindo o controle de entrada e saída de embalagens.
Já os representantes comerciais - vendedores - têm a função de vender o
produto em indústrias, padarias, supermercados e distribuidoras, considerados
como os principais clientes do Moinho.
A maior parte desses clientes se localiza no Rio de Janeiro sendo
constituídos por indústrias de massas e biscoitos.
A cadeia de suprimento do Moinho apresenta-se de maneira estruturada e
de acordo com as atividades desenvolvidas pelo mesmo, uma vez que demonstra
um perfeito fluxo, tanto de informações quanto de materiais. Com a finalidade de
controlar a gestão de compras, bem como a gestão de estoques de materiais, a
empresa trabalha com planilhas eletrônicas, que atuam como indicadores do
processo produtivo. As planilhas referentes ao estoque de trigo, tanto do nacional
quanto do importado, são controlados diariamente, e a cada mês faz-se o
fechamento dessas planilhas, e posteriormente através dos resultados obtidos
realiza-se então, a compra de trigo. Verificou-se que o ciclo de suprimentos ocorre
de maneira simples, ao passo que o Moinho produz de acordo com a demanda,
conseqüentemente efetua as compras dos insumos necessários a fabricação do
produto conforme os estoques mínimos possuindo uma quantidade distinta de
cada insumo.
No ciclo de manufatura, observou-se que o sistema de produção utilizado
pelo mesmo é o contínuo, pois apresenta uma seqüência linear para a produção
de farinha, sendo esse um produto padronizado. Um fator importante observado
31
no sistema produtivo refere-se ao período de fluxo, uma vez que, o tempo de
descanso do trigo nacional e do importado, isto é, o período necessário para
absorver água é distinto. Foi possível verificar que a capacidade produtiva do
Moinho subdivide-se em moer o trigo e produzir a farinha, sendo moídas
diariamente 150 toneladas de grãos de trigo, ao passo que 76% desse valor são
transformados em farinha, chamada capacidade de extração. Quanto à
capacidade de recepção de grãos de trigo, a empresa é capaz de receber 1200
toneladas por dia, e a capacidade de envase varia de acordo com o peso do
produto, ao passo que são envasados 720 pacotes por hora de farinha doméstica
de 5K e 4200 pacotes por hora da doméstica de 1k, já a farinha destinada a
panificação é envasada por hora, 180 sacos de farinha com pré-mistura de 25kg.
A previsão de demanda é realizada pelos volumes totais de produção de cada
produto do mês anterior, bem como se avalia fatores como variações de preços,
abertura de mercado para trigo importado, entre outros fatores. O estoque mínimo
de matéria-prima gira em torno de 1000 toneladas, e o estoque de segurança,
2000 toneladas. De produto acabado a empresa possui em média 900 toneladas,
em estoque. A mesma forma acontece com as embalagens, sendo que cada
marca possui um número mínimo em estoque, ou seja, 80.000 unidades para 1 kg
e 5 kg, pois a demanda desse produto é consideravelmente maior que os demais.
Já os aditivos são adquiridos a cada 30 dias, ao passo que varia a quantidade de
aquisição de cada um, pois o consumo dos mesmos é de acordo com o tipo de
farinha produzida. Na figura 2 é demonstrado o fluxo de informações e de
materiais entre as áreas de vendas, suprimentos e produção da empresa. O fluxo
de informação acontece da seguinte forma: os clientes efetuam os pedidos
através dos representantes comerciais de cada área, posteriormente esses
pedidos são cadastrados no sistema e repassados a produção. É a partir do PCP
são obtidas informações relevantes como: suprimentos necessários a fabricação
dos pedidos, bem como a falta desses contatar os fornecedores de insumos para
a aquisição e controlar os estoques. Feito isso, inicia-se o processo de fabricação.
32
Figura 2 - Gerenciamento do Fluxo de Informações e Materiais do Moinho
Cliente Final
RepresentanteComercial
Moinho
Cadastro dos Pedidos
PCP Suprimentos Fornecedores
Produção EstoqueProduto Acabado
Legenda:
Fluxo de InformaçãoFluxo de Materiais
Fonte: CRUZEIRO DO SUL, Moinhos, Gerenciamento de Informações e Materiais. Material Didático, 2009, p.p. 27
Já o fluxo de materiais tem início quando os fornecedores efetuam a
entrega da matéria-prima e dos insumos, permanecendo armazenados no
estoque aguardando a solicitação da produção. Quando solicitados transformam-
se em produtos acabados e são entregues aos clientes ou permanecem no
estoque por um período máximo de quinze dias. Quanto ao processo de
armazenagem do produto final, o mesmo é armazenado em silos até 48 horas,
então é repassado ao setor de empacotamento. Após o empacotamento,
permanece no estoque de produtos acabados por no máximo 15 dias, e
posteriormente o produto é encaminhado ao setor de expedição, sendo
33
carregados nos caminhões os pedidos de cada região, uma vez que cada região
possui uma rota.
Nessa indústria moageira o gerenciamento do fluxo de informações e de
materiais acontece de forma integrada, onde os processos envolvidos desde o
fornecimento de matéria-prima até a fabricação do produto acabado encontram-se
inter-relacionados, possibilitando que a empresa reduza os custos e atenda as
necessidades de cada cliente.
Com relação às atividades de distribuição, a empresa mantém um
relacionamento muito próximo aos clientes, buscando sempre atendê-los de
forma séria e responsável. A indústria possui um SAC – Serviço de Atendimento
ao Consumidor - que possibilita informar aos clientes por telefone a posição de
seus pedidos. Os prazos de entrega são normalmente de 48h. Portanto, efetua
um serviço de qualidade através de caminhões das transportadoras terceirizadas,
cujos escritórios encontram-se no pátio de carregamento do Moinho. Daí são
processados os pedidos dos clientes, emitidas as notas fiscais, carregados os
caminhões para posteriores entregas aos clientes.
34
3.4.2 - ATIVIDADES LOGÍSTICAS
Para realizar suas compras, a empresa mantém várias alternativas de
fornecedores, em geral selecionados em função de qualidade, preço e prazo de
pagamento e também pela necessidade de alto volume de grãos que necessita
para manter sua produção operando. O suprimento de trigo é feito via marítima,
sendo o trigo em grão adquirido principalmente do Canadá, EUA e Argentina,
este, sendo o principal país exportador de trigo para o Brasil.
A negociação é feita pelo encarregado de suprimentos que, antes de
adquirir o trigo em grãos, recebe amostras dos fornecedores que são analisadas
no laboratório do Moinho, para realização de moagem experimental e verificação
de vários teores relativos à unidade, resíduos minerais, proteínas, glúten, alfa
amilase e também para a classificação dos grãos. Verificados os critérios de
qualidade e preço do grão, as negociações de entrega e prazo de pagamento
seguem para o fechamento da compra do trigo em grão.
O Moinho também mantém estoques de matéria-prima (trigo em grão) e de
produto semi-acabado (farinha intermediária) em silos. O método de controle de
estoques utilizado na empresa e PEPS (primeiro que entra é o primeiro que sai).
O ressuprimento de trigo ocorre uma vez por mês podendo ser alterado
dependendo da demanda.
As atividades de armazenagem ocorrem verticalmente em cada piso, onde
são mantidos silos que guardam o produto após cada etapa do processamento e
que vão passando para os pisos inferiores, à medida que se cumpram as
atividades e os tempos em cada ciclo. O Moinho dispõe de seis silos distribuídos
em seus pavimentos, garantindo uma capacidade de armazenagem de 15.000
toneladas. Para outros insumos e materiais de expedientes e de manutenção, a
empresa dispõe de almoxarifados que recebem itens conforme a família a que
pertencem.
O Moinho atende o mercado geográfico do Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas, parte do Nordeste. Os segmentos de mercado atendidos são: atacadistas,
varejistas, distribuidores, indústrias, supermercados, padarias, lanchonetes, etc.
35
A distribuição física é feita basicamente pelo modal rodoviário. A empresa
optou por utilizar transportadoras terceirizadas que possuem caminhões e
carretas que são contratados por estas. Podendo negociar com seus clientes
tanto fretes do tipo CIF (a empresa paga o frete) ou FOB (o cliente paga o frete).
O tempo de entrega varia conforme a distância, mas o tempo médio de entrega
para o Rio de Janeiro é de dois dias. Para a distribuição física, a empresa busca
considerar uma carga, podendo atender vários clientes, a partir de uma rota
traçada para cada viagem. Antes do carregamento a equipe de expedição realiza
uma rigorosa vistoria no veículo a ser carregado e também ocorre a pesagem
deste. Durante o carregamento ocorre também um acompanhamento rigoroso até
que a encomenda seja armazenada corretamente, nas condições necessárias.
Finalmente a carga é coberta, o caminhão é novamente pesado e segue o seu
destino de entrega.
Toda a transmissão de informações entre os setores para atendimento do
ciclo de pedido ao cliente é realizada via Internet. O recebimento dos pedidos é
feito via fax, e-mail ou através do contato direto com os vendedores. Os pedidos
passam por uma análise financeira e fiscal, em seguida são lançados no sistema,
depois conferidos e liberados para o faturamento.
Quanto aos resíduos industriais do processo, eles formam o que a
empresa chama de varredura (palhas e farinha) e que são reunidos e apanhados
freqüentemente, indo formar ração animal.
Observando-se a importância das atividades logísticas para o Moinho de
Trigo, estas são realizadas de forma integrada, por serem planejadas pelos
responsáveis com base nas demandas dos setores de produção, finanças e
marketing.
36
CONCLUSÃO
A partir de 1990, após a privatização do mercado, aumentou-se a
importância da qualidade industrial para a comercialização do trigo em grãos. Os
moinhos que vendem os seus produtos ‘farinhas’ num mercado concorrido e
extremamente exigente quanto à qualidade, passaram a adotar vários critérios
para estabelecer a qualidade e o preço ao adquirirem sua matéria-prima (trigo),
fazendo com que a ‘tipificação’ passasse a ser apenas um dos critérios a ser
utilizado e não mais o único, como ocorria anteriormente. Os novos parâmetros
de qualidade levam em conta as diversas classes de trigo, cujas farinhas são
utilizadas na indústria de panificação, de bolos, de biscoitos e para a fabricação
de massas alimentícias.
Outro ponto importante abordado, que motivou inclusive o título desse
trabalho monográfico foi a ‘Logística’, que antes era considerada uma atividade
operacional sem grande importância para as empresas, ganhou um novo
enfoque, se tornando uma atividade importantíssima no planejamento e
gerenciamento nos fluxos de materiais, de informações e de recursos de uma
organização, como a forma de levar a competitividade de uma empresa em seu
mercado. Os principais objetivos do gerenciamento logístico é aumentar o nível
de serviços prestados ao cliente e reduzir os custos relativos às atividades de
processamento e distribuição em uma empresa. A complexidade do
gerenciamento de um sistema logístico empresarial varia de empresa para
empresa, dependendo da estrutura organizacional, do entendimento sobre que
atividades constituem a logística e, da importância das atividades individuais para
as operações. Vários autores identificam as atividades logísticas através de três
categorias: atividades de suprimento, atividades de apoio a manufatura e
37
atividades de distribuição. A novidade que a logística traz resulta do conceito de
gerenciamento coordenado das atividades relacionadas, em vez da prática
histórica de gerenciá-las separadamente, e o conceito de que a logística adiciona
valor aos produtos ou serviços que são essenciais para as vendas e para a
satisfação dos clientes.
A logística atualmente representa uma redefinição, ou por estruturas
organizacionais formais ou conceitualmente na visão dos gestores, das atividades
de movimentar-estocar que historicamente têm estado sob o controle do
marketing e parte sob o controle da produção. As mais importantes funções
logísticas são as atividades de estoque, armazenagem e transporte, que
contribuem significativamente para a definição do nível do serviço ao cliente e
também para a formação de custos totais de produção. Ao longo do trabalho
buscou-se exemplificar todo o histórico do trigo no Brasil e no mundo, desde sua
origem, passando pelos principais produtores mundiais, sua chegada ao Brasil,
como surgiu o parque industrial brasileiro moageiro de trigo, a grande
dependência ainda do trigo internacional pelo mercado brasileiro e finalmente
chegando à explicação de como funciona a logística do trigo no Brasil, pegando
como exemplo uma indústria moageira situada no Rio de Janeiro e a partir daí
buscou-se a realização deste estudo proporcionando uma observação da prática
logística de uma empresa manufatureira de significativa amplitude no mercado
nacional.
Nas empresas manufatureiras, as atividades logísticas são desenvolvidas
em maior proporção. Por essa razão, o gerenciamento logístico neste tipo de
empreendimento se torna ainda mais necessário para a sustentabilidade das
empresas no mercado.
O presente estudo teve como objetivo diagnosticar como são gerenciadas
as atividades logísticas em uma empresa industrializadora de trigo, a partir da
dinâmica da realização dessas atividades em função do processo produtivo
desenvolvido.
Neste contexto, se confirma a grande importância que as atividades
logísticas exercem para a produção, o fornecimento e a entrega dos produtos da
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empresa-alvo. Pela freqüência em que ocorrem estas operações na maioria das
empresas, não só a moageira de trigo, a logística pode ser também entendida
como um conjunto de atividades funcionais que é repetido muitas vezes ao longo
do canal de suprimentos através de qual a matéria-prima é convertida em
produtos acabados e o valor é adicionado aos olhos dos consumidores.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Disponível em: www.cnpt.embrapa.br.> Acesso em novembro 2009.
BRUM, A. L., Muller, P.K, A Realidade da Cadeia do Trigo no Brasil: O elo
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(Organizadores), Logística Empresarial: A Perspectiva Brasileira. São Paulo:
Prentice Hall, 2003.
LOROSA, Marcos Antônio, AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma
Monografia: passo a passo... siga o mapa da mina. 7ª. Ed. Rio de Janeiro: Wak,
2008.