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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Linguagem e Suas Implicações na Dificuldade de Aprendizagem Escolar Por: Daniella Fonseca Moreira Orientador Prof.ª Maria Esther de Araújo Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Linguagem e Suas Implicações na Dificuldade de Aprendizagem

Escolar

Por: Daniella Fonseca Moreira

Orientador

Prof.ª Maria Esther de Araújo

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Linguagem e Suas Implicações na Dificuldade de Aprendizagem

Escolar

OBJETIVOS:

Este trabalho atende a complementação didático –

pedagógica de metodologia de pesquisa e a produção

de desenvolvimento de monografia, para o curso de

pós-graduação em psicopedagogia por :

Daniella Fonseca Moreira

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AGRADECIMENTOS

À Professora Maria Esther de Araújo pela orientação e

ao meu marido Eduardo pela digitação e formatação

deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu filho Bruno, razão de toda

a minha vida e a minha mãe Ilma que proporcionou a

realização desta especialização e deste trabalho.

Daniella Fonseca Moreira

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RESUMO

Este trabalho aborda o tema linguagem e suas implicações na dificuldade

de aprendizagem escolar, de uma forma bem didática. Inicialmente mostra o que é a

linguagem e a sua relação com o pensamento bem como as alterações que o atraso

na sua aquisição pode provocar não só em nível momentâneo, mais em termos do

desenvolvimento futuro do escolar. Aborda-se também o aspecto da aprendizagem,

o que é o aprender? Como a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo se

relacionam na visão de Piaget e Vygotsky. Trata de mostrar como se desenvolve

todos os conceitos linguísticos que são aprendidos na escola, e por fim faz uma

grande correlação entre os aspectos da fala, da cognição, da emoção e do social;

mostrando que a linguagem envolve muito mais do que aquilo que pensamos e

falamos. Como resultado conclui-se que é importante investir no desenvolvimento

da linguagem, para evitar o fracasso escolar e possibilitar a criança a expansão de

seus pensamentos.

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METODOLOGIA

A pesquisa destina-se a despertar a atenção de profissionais e pessoas

afins para a deficiência na organização da linguagem como causa de dificuldade de

aprendizagem.

Utilizou-se para elaboração desta pesquisa a revisão de uma vasta leitura

baseada principalmente em autores como Piaget, Vygotsky e Gerber, cujo livro me

inspirou ao tema. Além disso, as experiências vivenciadas no ambiente de trabalho

também foram estimulantes para produção dessa pesquisa.

É grande o número de crianças que apresentam dificuldades de

aprendizagem por terem alterações nas habilidades de linguagem, de diversas

ordens, e dificuldade de expor suas idéias, devido a falha na organização de seus

pensamentos.

A proposta deste trabalho é fazer com que as pessoas e profissionais que

lidam com a criança possam estar sempre valorizando a estimulação, a organização

do pensamento e o desenvolvimento das habilidades cognitivas, possibilitando

assim que a criança ao entrar na vida acadêmica tenha um aprendizado efetivo,

onde seus conhecimentos se ampliem e se transforme, evitando assim a frustração,

a baixa auto-estima e desinteresse que geralmente estão associados ao fracasso

escolar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - LINGUAGEM

1.1 – PENSAMENTO E LINGUAGEM SEGUNDO PIAGET,

VYGOTSKY, LURIA E YUDOVICH

1.2 – ALTERAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM,

MANIFESTAÇÕES E INTERVENÇÕES

CAPÍTULO II - APRENDIZAGEM

2.1 – DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

2.2 – APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO SEGUNDO PIAGET

E VYGOTSKY

CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS

ESCOLARES

3.1 - LINGUAGEM X APRENDIZAGEM ESCOLAR

3.2 – E POR FALAR EM COGNIÇÃO ...

3.3 – CORRELATOS PSICOSSOCIAIS

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho vem nos mostrar como a linguagem interfere no

processo de aprendizagem de crianças em idade escolar.

A dificuldade de aprendizagem é um tema de muito interesse para

profissionais de diversas áreas e como sabemos tem inúmeras razões. Apesar

de serem várias as causas das dificuldades de aprendizagem, nem sempre a

linguagem chama a atenção. Além disso, é comum perceber crianças

apresentando déficits linguísticos de ordem fonética-fonológica, sintática,

semântica e pragmática, com imensa dificuldade em resolver exercícios de

níveis fáceis devido à dificuldade no vocabulário, dificuldade em expor uma

idéia, devido a falha na organização do pensamento.

Na medida em que essas crianças são estimuladas em termos de

linguagem, organização de pensamento e habilidades cognitivas, percebe-se

que suas capacidades de desenvolvimento escolar melhoram e as mesmas

apresentam maior facilidade de aprender conteúdos que não entendiam, ou

seja ocorre uma transformação nos processos cognitivos da criança, que passa

a se sentirem mais seguras e mais confiantes.

A criança com alteração de linguagem mostra grande dificuldade nas

habilidades de leitura, escrita e interpretação dos conteúdos escolares e

carência de cultura. Isto provoca baixa auto-estima e descrença na sua

habilidade de aprender, apresentam manifestações de desinteresse, apatia e

muitas vezes até violência.

O que se dá a criança é a possibilidade desta desenvolver competência

para que estabeleça relação com o mundo que a cerca e a possibilite de

pensar, decidir e ampliar seus conhecimentos.

O trabalho faz uma relação com a linguagem, a cognição, o

pensamento, a dificuldade de aprendizagem e o atraso de linguagem,

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objetivando, despertar a atenção de profissionais e pessoas afins, para a

deficiência na organização da linguagem como causa de dificuldade de

aprendizagem, apesar da existência de inúmeras outras causas.

Pretende-se chamar a atenção para uma maior compreensão da

relevância da identificação, precocemente, da criança com atraso de

linguagem, e que os profissionais possam estar mais atentos quanto às etapas

de aquisição da linguagem tanto verbal quanto não verbal. Como solução para

o problema de dificuldade de aprendizagem, devido a alteração da linguagem,

incentiva-se a estimulação precoce desde bebê, pelos próprios pais,

educadores e creches.

A pesquisa focaliza-se nas crianças em idade escolar, pois a

dificuldade citada começa realmente nesta etapa, embora se proponha a

estimulação nos primeiros anos de vida. O estudo será realizado através de

uma vasta pesquisa bibliográfica com autores que defendem a temática

abordada.

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CAPÍTULO I - LINGUAGEM

Segundo Fernandes, in Goldfeld (1998), linguagem é toda forma usada

para se comunicar. Há vários tipos de linguagem: a linguagem musical, a

linguagem gestual, a linguagem dos animais, dos sinais de trânsito, a

linguagem corporal (humana), as expressões faciais, a linguagem do

pensamento (cognitiva), sócio-cultural, a linguagem escrita e várias outras.

Dentro do conceito de linguagem há o conceito de língua, que não

deve ser confundida. A língua é uma das formas de linguagem, já a linguagem

tem um conceito bem amplo, mas não é um tipo de língua, um exemplo é a

língua oral e a língua de sinais.

Para que exista a linguagem é importante a presença da interação

social, não existe linguagem sem interação social, ela forma nossos

pensamentos, nossas experiências culturais, é através dela que formamos

nossos conteúdos cognitivos. Nossa linguagem tem muita de nossas

experiências e da forma de organização da nossa sociedade.

Antes de ser para a comunicação a linguagem é para a elaboração, antes de ser mensagem, a linguagem é construção do pensamento e antes de ser veículo de sentimentos, idéias, emoções, aspirações, a linguagem é um processo criador em que organizamos e informamos as nossas experiências. (Franchi, 1992, p. 9 – 39 in Silva 2004).

Dependendo da dimensão cultural e política que um ser vive, ele terá

um tipo de linguagem, pois a mesma carrega nossas experiências de vida. Um

exemplo disso é que podemos verificar nas pessoas que tem o hábito de leitura

que as mesmas apresentam uma linguagem rica e de bom vocabulário,

enquanto as que não tem esse hábito, as que são desfavorecidas em termos

educacionais e culturais possuem uma linguagem empobrecida e até mesmo

com muita dificuldade de se comunicar.

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As pessoas analisam muito o falar bem com o aspecto da riqueza, o

que é um preconceito – não é preciso que o indivíduo tenha uma vida

financeira favorável para que tenha boa linguagem, mesmo as pessoas de

baixa renda têm a possibilidade de enriquecer culturalmente e adquirirem um

bom vocabulário e desenvolverem sua cognição.

Existe uma relação importante entre aquisição de linguagem e

aquisição de conhecimento. Quanto mais conhecimento de vida, de mundo que

se tem maior são as aquisições linguísticas.

Segundo Tedesco, in Filho (2005), a linguagem é o ponto de partida

para a simbolização, qualquer interferência em seu caminho poderá

representar uma ameaça para o aprendizado do código gráfico.

Por essa razão que devemos dar uma grande importância aos

aspectos cognitivos da linguagem e correlacioná-los ao ambiente escolar, as

características intrínsecas da criança e sua estrutura social, principalmente

aquelas de grupos populacional menos favorecido, visto que a exclusão não é

só escolar mas, sobretudo social.

Crianças com alteração de linguagem têm grande deficiência nos

aspectos do esquema corporal, localização espacial, temporal, lateralidade,

para isso as crianças durante seus primeiros anos escolares devem ser

estimuladas a desenvolverem tais habilidades que irá ajudá-la na aquisição da

escrita.

Segundo Moyses, in Silva (2004), é preciso situar no processo de

aquisição de leitura e da escrita as diferentes realidades sociais, pois as

condições de domínio e as formas de linguagem são constituídas pelos sujeitos

situados nessas diferentes realidades.

Quem realmente parte da vida crianças das camadas populares, de sua percepção das coisas, dos objetivos, dos fatos, permite que esse percepção sentida, vivida venha para a sala de aula e assuma os riscos de conviver

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com o que não é aceito, não é legítimo pela linguagem das vivências e chega a leitura dessas linguagens. Não constrói outras teorias sobre uma prática que por si, já pressupõe uma posição teórica, não formula exercícios sobre uma realidade de vida, mas simplesmente chega ao próprio papel de medição da linguagem. (Moyses, 1985, p. 11 in Silva, 2004 p. 93).

1.1 – PENSAMENTO E LINGUAGEM SEGUNDO PIAGET,

VYGOTSKY, LURIA E YUDOVICH

Como é essa relação entre o pensamento e a linguagem?

Para o professor e demais profissionais é importante saber como

funciona essa relação entre pensamento e linguagem para que tenha eficácia

na comunicação e transmissão de conteúdos para a criança, principalmente as

que ainda estão em idade pré-escolar, caso contrário poderemos já a partir daí

comprometer o desenvolvimento da criança.

Por isso aborda-se essa relação entre pensamento e linguagem

segundo alguns autores.

Segundo L.S.Vigotsky, (1996), a relação entre a linguagem e o

pensamento passa por várias mudanças. As curvas da linguagem e do

pensamento se encontram muitas vezes, e por algum tempo separam-se

novamente. Afirma que a linguagem (fala) e o pensamento são independentes

nos primeiros anos de vida; o exemplo disso é o balbucio e o choro da criança

e mesmo suas primeiras palavras que são claramente estágios de

desenvolvimento da fala que não tem nenhuma relação com a evolução do

pensamento.

Vygotsky (1996), relata que apesar dessa independência, por volta dos

2 anos de idade essas curvas de linguagem (fala) e pensamento que inicia uma

nova forma de comportamento, passa a estabelecer uma relação de

interdependência.

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Até então percebe-se que a criança tem um vocabulário muito

reduzido, conhece poucas palavras sendo estas aprendidas com outras

pessoas. No momento em que a curva se encontra e uma passa a se

relacionar com a outra, a criança amplia seu vocabulário de forma rápida e aos

saltos, pois a fala começa a servir ao intelecto e os pensamentos começam a

ser verbalizados. Então a criança passa a perguntar muitas coisas e descobre

a função do simbolismo das palavras.

Piaget (1997), quando discursa a respeito da linguagem, este postula

que aparece no indivíduo após uma evolução do desenvolvimento cognitivo.

Além da linguagem não se apresentar como uma capacidade inata, ela

necessita esperar que a cognição se desenvolva para que o indivíduo

manifeste seus sinais de fala.

Em vista da teoria de Piaget é interessante mostrar a pesquisa feita por

Goldfeld, in Faria, (1997), na qual comprova que a inteligência é importante

para o desenvolvimento da linguagem. Goldfeld pegou oitenta crianças

residentes no município do Rio de Janeiro, sendo quarenta delas de nível sócio

econômico baixo. A idade das crianças eram de 5 e 8 anos. Sua intenção era

comparar as crianças e estabelecer relação entre suas cognições e o

desenvolvimento da linguagem.

As crianças foram avaliadas através de provas de conservação e

seriação na forma proposta por Piaget e Sinclair para avaliar o nível de

desenvolvimento do pensamento, e outro teste (“Wedrsler Inteligence Scale for

Children”) para avaliar o nível do desenvolvimento do vocabulário. Os

resultados revelaram uma concentração no grupo sócio-econômico alto, de

crianças conservadoras com um nível de desenvolvimento de vocabulário

acima da média.

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No grupo infantil desfavorecidos socialmente, houve uma concentração

de crianças seriadoras e com nível de desenvolvimento do vocabulário abaixo

da média.

Constatou-se que as crianças que dominavam as estruturas mentais

expressaram-se através de uma linguagem mais evoluída, o que não ocorreu

com as crianças que não dominavam os aspectos cognitivos.

Isso confirma a teoria de Piaget, pois mostrou que a criança à medida

que evolui cognitivamente, obtém condições cada vez melhor de se expressar

através da linguagem quer no nível da semântica, quer no nível da sintaxe.

Para Luria e Yudovich, (1987), a linguagem intervém no

desenvolvimento da criança desde os primeiros meses de vida e o adulto vai

criando novas formas de reflexões, possibilitando o desenvolvimento e o

acúmulo de novos saberes à criança.

A linguagem e a cognição crescem juntas, são interdependentes: a

linguagem serve para compreender melhor o mundo e quando esse eu passa a

compreender melhor o mundo, adquire-se novos instrumentos de apoio para

que se desenvolva a linguagem.

Para Luria e Yudovich, (1987), temos dois fatores que estão

intimamente ligados quando se trata das variações que ocorrem no

desenvolvimento da fala. São eles a variação na organização dos processos

mentais, que está relacionado a maturação, e a variação que depende da

relação que a criança tem do ambiente que a cerca e suas mudanças durante a

vida. São fatores que se ajustam perfeitamente quando falam em

desenvolvimento da linguagem que torna-se impossível separar um do outro.

Enfim a linguagem como está sendo vista produz mudanças na

formação dos processos mentais complexos superiores do homem. A palavra

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dá forma a atividade mental, aperfeiçoa-se e cria novas formas de atenção, de

memória, de imaginação, de pensamento e de ação.

Para finalizar é necessário falar também sobre a fala egocêntrica, pois

ao citar a fala, não podemos esquecer que ela tem duas funções, a de relação

com o meio e a individual funcionando como objeto de pensamento, como já

afirma Luria “a palavra é a célula do pensamento”.

Com essa questão voltamos a confrontar Piaget e Vygotsky.

Para Piaget (1997), todo desenvolvimento se dá de dentro para fora,

por isso temos inicialmente uma fala egocêntrica que se dá pela socialização

insuficiente da fala social e com sua evolução existe uma substituição dessa

fala egocêntrica pela fala social.

Evolução determinada por Piaget

Figura 01 (Goldfeld, 1998, pag. 10)

Vygotsky não admite o que diz Piaget a esse respeito, para ele o

desenvolvimento se dá de fora para dentro, quando o indivíduo começa a

dominar a língua esta apresenta duas funções que são paralelas e não se

confundem, temos: a função social e a função cognitiva. A fala egocêntrica,

serve como amadurecimento que vai levar a fala interior e existe também

nesse percurso o desenvolvimento paralelo da fala socialização.

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Evolução determinada por Vygotsky

Figura 02 (Goldfeld, 1998, pag. 10)

1.2 – ALTERAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM,

MANIFESTAÇÕES E INTERVENÇÕES

Este subcapítulo, tem como foco principal mostrar que existe o atraso

de linguagem e que esse atraso altera o desenvolvimento da mesma e, por

isso, destaca-se aqui a importância da intervenção precoce para que se evite

futuros transtornos.

O período de aquisição para a linguagem é de um a dois anos de

idade. Quando se fala na aquisição, estamos nos referindo tanto a linguagem

verbal quanto não verbal.

Com 1 ano a criança já mostra suas primeiras palavras e antes disso

percebemos tanto o desenvolvimento não verbal, com evolução da sua

capacidade de compreensão.

É preciso estar atento quanto a essas etapas de aquisição, pois grande

parte das crianças só chegam para uma intervenção fonoaudiológica com 3, 4

e até mesmo com 6 anos, o que é um atraso muito grande, pois a mesma

deixou de adquirir muitas coisas durante esse tempo. Isso, de fato, leva a

alterações futuras na própria fala, transformando-se muitas vezes esse atraso

em dislalia (alteração fonética-fonológica da fala) ou em dificuldade de

aprendizagem.

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Para o desenvolvimento da comunicação é importante que a criança

tenha o desejo de se comunicar, tenha algo para comunicar e, além disso, é

necessário um ambiente favorável, estimulador que desperte na criança esse

desejo. É necessário, também, capacidade cognitiva favorável e o mais

importante: pessoas que devem estar receptivas às crianças. É importante

salientar aqui que o que vale não é a quantidade de estimulo e sim a qualidade

do mesmo, criar ambiente favoráveis a estimulação da linguagem; percebemos

que ambientes verbais ricos onde os pais interagem verbalmente com seus

filhos fazem uma grande diferença na competência verbal dessas crianças.

Com toda essa interação positiva, segundo Zorzi, in Filho, (2005), a

criança vai adquirindo formas de manifestar seus conteúdos mentais, assim

como vai desenvolvendo estratégias para compreender os desejos e as

intenções dos outros.

Ainda segundo Zorzi, a linguagem começará a ter uma conduta

simbólica a medida que a criança passa a ter uma maior capacidade de

representações que ocorre entre 18 a 24 meses. Esta fase, revela o início da

formação de uma nova capacidade, conhecida como função simbólica ou

representativa.

A criança desenvolve uma possibilidade de lidar com realidades

ausentes, simbolizando-as de alguma forma. Os brinquedos passam a ser

utilizados para representar situações vividas rotineiramente pela criança, e com

isso desenvolve sua linguagem, sua capacidade de interpretação e desenvolve

habilidades em geral.

Quando se intervém através da estimulação da linguagem com essas

crianças que apresentam um atraso, é importante, segundo Zorzi (2005), levar

em consideração três grandes aspectos ou áreas de desenvolvimento para

avaliarmos: capacidades cognitivas, habilidades sociais e níveis de

comunicação.

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A partir do que fala Zorzi, pode-se perceber que esses três fatores são

de suma importância para o desenvolvimento da linguagem, quando há falha

em uma delas é fato observarmos esses três fatores refletindo na linguagem.

Os fatores importantes para linguagem.

Figura 03 – fonte: Tratado de Fonoaudiologia, Filho, 2005.

Portanto toda intervenção na linguagem tem como função principal

estimular o desenvolvimento comunicativo, social e cognitivo da criança.

Segundo Tedesco, in Filho, (2005), as alterações no desenvolvimento

da linguagem provocam diversas manifestações e, tais manifestações mais

tarde se refletirão na natureza dos problemas de aprendizado.

São elas:

Ü Desorganização dos movimentos do corpo no espaço;

Ü Alterações na freqüência e ritmo dos movimentos corporais;

Ü Dificuldade de identificação das posições e das relações espaciais

traçados entre o próprio corpo e as demais pessoas e objetos;

Ü Dificuldade de orientação e sequência temporal;

LLiinngguuaaggeemm

IInntteerraaççããoo SSoocciiaall CCooggnniiççããoo

CCoommuunniiccaaççããoo PPrréé -- vveerrbbaall

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Ü Dificuldade de percepção e representação não verbal, gestos e

expressões;

Ü Alteração nos processos de simbolização lingüística: diminuição

ou atraso na compreensão; emissão de fala, no tocante ao

vocabulário e / ou estruturação;

Ü Alteração de memória auditiva e / ou visual;

Ü Dificuldade na percepção ou discriminação de estímulos auditivos

relacionados a intensidade e altura tonal.

Ü Dificuldade em análise – síntese auditiva ou visual;

Ü Alteração da percepção figura – fundo auditiva ou visual;

Ü Trocas ou omissão articulatórias.

O maior problema da criança que tem alteração na linguagem, é que

quando vai para escola, a mesma começa a exigir da criança resultados ou

produções de acordo com sua faixa etária e não de acordo com seu

desenvolvimento. Com esse desajuste, a escola acaba por provocar prejuízos

a criança. É importante ressaltar que devemos sim exigir, para que a criança

evolua, mas sempre num nível de resposta que ela consegue dar.

Por isso, quanto mais cedo for identificado um problema de linguagem,

maior será a probabilidade da criança em ter sucesso escolar, possibilitando

sua apropriação sadia das habilidades básicas de ensino.

“a linguagem é um processo intelectual que é básico para o desenvolvimento normal de muitos outros processos intelectuais”. (Cooper, 1982, in Guerra p. 85)

Para finalizar este capítulo, indica-se algumas sugestões de atividades

para a estimulação da fala e da linguagem.

Pode-se fazer uso de dramatizações; fazer com que a criança ouça

uma história e depois pedir para contar; fazer jogos de atividades de

adivinhações tais como falar as características de um objeto e a criança terá

que adivinhar sobre qual objeto se está falando; trabalhar com frases que

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tenham coisas absurdas para que a criança perceba o que tem de errado;

trabalhar opostos, categorias e funções; mostrar os vários significados que uma

palavra pode ter e colocar isso dentro de um contexto.

O importante em todas essas atividades é que devemos sempre

interligar atividades de estimulação ao contexto da criança, para que se torne

mais fácil e mais atrativo, pois não adianta trabalhar com situações em que a

mesma não tenha vivência, seu conhecimento não será efetivo.

Lembre-se que a criança antes de ingressar na escola já percorreu um

longo caminho e já elaborou bastante sua linguagem, o papel da escola ao

receber essa criança continuará a ser de estimulação, ela deverá respeitar o

conhecimento que cada criança possui e proporcionar experiências para que

tenha acesso à norma culta e tenha autonomia em sua fala.

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CAPÍTULO II - APRENDIZAGEM

Segundo Dalas in Rubinstein, (ano 1), aprendizagem é o processo no

qual o sujeito ao interagir com o meio, incorpora as informações que são

oferecidas por este, a partir de suas necessidades e interesses.

Esse mesmo sujeito elabora estas informações através de sua

estrutura psíquica, constituída pelo interjogo do social, da dinâmica do

inconsciente e da dinâmica cognitiva, com isso modifica sua conduta para

aceitar novas propostas e realizar transformações inéditas no âmbito que o

rodeia.

A aprendizagem efetiva gera transformações e modificações de

comportamento, para que isso ocorra, o que aprendemos deve ter sentido para

cada um, se não esse conhecimento aprendido não se torna efetivo.

Estamos sempre aprendendo durante toda a vida e assim a todo

instante modificamos muitos dos nossos comportamentos e atitudes. Todas

informações que temos só são realmente efetivas, quando se tornam sabedoria

para nós.

Para aprender, é preciso usar a cognição e não simplesmente

reproduzir atitudes sem significação, é preciso que se tenha a construção, não

se aprende a partir do que já está pronto, é necessário que a criança participe

do processo de construção para que o conhecimento para ela faça sentido.

Para a aprendizagem escolar é necessário a integração de vários

fatores como o pensar, o falar, o ouvir, o agir, somando isso a fatores

emocionais, fatores externos como as experiências já vivenciadas e os fatores

orgânicos.

O que dizer então sobre a dificuldade de aprendizagem?

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2.1 – DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

A questão da dificuldade de aprendizagem é um tema que vem sendo

objeto de interesse para profissionais de diversas áreas afins, tal interesse vem

crescendo consideravelmente. Segundo Gerber, (1996), existe uma

percentagem bastante alta de crianças em idade escolar, que recebem

atendimento para a dificuldade de aprendizagem e isso vem aumentando cada

vez mais.

A necessidade de identificar, classificar e tratar essas crianças é

bastante interessante para vários profissionais principalmente a fonoaudiologia

e a psicopedagogia.

Existe uma falta de consenso muito grande por meio de profissionais

quanto a definição e a terminologia. A criança que não obtém um bom

resultado na escola é caracterizada por ter: distúrbio, transtornos, déficit,

dificuldade, desordem, problema...

Assim como Guerra (2002), este trabalho opta pelo uso do termo

dificuldade, pois, dificuldade é um termo mais dinâmico, aberto, para a

possibilidade de progresso na aprendizagem, permitindo uma amplitude no

campo da intervenção, possibilitando a transformação de tudo isso em

habilidades escolares.

Grande parte das definições apresentam como principais

características críticas, segundo Gerber (1996):

Ü Desempenho escolar abaixo da média e fatores internos versus

externos;

Ü Disfunção do sistema nervoso central;

Ü Persistência de distúrbio de aprendizagem ao longo da existência;

Ü Déficits escolares relacionados a linguagem.

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É preciso lembrar que crianças com dificuldade de aprendizagem tem

interesse sim, em aprender e é por isso que a intervenção não pode ser

demorada, pois a demora pode fazer com que essas crianças criem uma auto

imagem negativa e perca o interesse que ela ainda tem. Sua dificuldade

também pode atingir a família e o seu meio social.

Hoje, a maior parte das escolas públicas percebe os problemas de

aprendizagem mais tardiamente, do que as escolas particulares, pois a criança

da escola pública geralmente ingressa na mesma com 6 / 7 anos, com isso não

se tem a possibilidade muitas vezes de qualquer tipo de intervenção precoce,

antes do processo de alfabetização. Além disso, essas crianças muitas vezes

apresentam suas habilidades básicas para aprendizagem pouco

desenvolvidas.

Nas escolas particulares ao contrário, vemos cada vez mais crianças

ingressando mais cedo, com 2 anos de idade, isso possibilita a criança um

maior ganho de desenvolvimento de habilidades básicas, que a prontifique para

um bom processo de alfabetização, diminuindo assim suas chances de

dificuldade de aprendizagem.

Essa incidência é maior nas camadas menos favorecidas, somando

também a dificuldade ao acesso escolar e a manutenção da criança na escola

vencida muitas vezes pelo trabalho infantil, isso não quer dizer que tais

dificuldades são resultados de classes sociais.

Enfim, é importante mostrar a criança que ela é capaz e que deve

acreditar na sua capacidade e que juntos (terapeuta, professor, ...) podem

buscar novos caminhos que facilitem o seu desempenho escolar.

Seja qual for a dificuldade, é importante lembrar que a família e a

escola são “peças chaves” para resolução da situação.

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A família poderá rever, refletir e analisar seus processos de relacionamentos interpessoais: a escola e o professor poderão pensar suas práticas e os resultados desse fazer educacional. Sob este ponto de vista, o sujeito que aprende é visto como um todo nessa rede de relações: um ser que é orgânico, intelectual, afetivo e desejante. Gasparian (ano I, p. 26). Para aprender é preciso enfrentar dificuldades, enfrentar o “não saber” defrontar-se com o novo, esforçar-se. Isto gera um aumento de tensão, que pode ser vivida como desagradável e entediante. A mobilização para a aprendizagem acontece a partir de uma relação que envolva afetividade, desejo de troca, confiança e o acreditar na capacidade de desenvolvimento do outro. Marques (2001).

2.2 – APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO SEGUNDO PIAGET

E VYGOTSKY

Em seus estudos Piaget, buscava entender como se passava de um

estado de menor conhecimento para um estado de maior conhecimento; e

como o indivíduo formula seus conhecimentos a partir do mundo que o cerca.

Ele não queria uma visão padronizada como é feito nos testes. Segundo sua

perspectiva o aluno deve ser tratado de acordo com o que ele é, de acordo

com suas capacidades cognitivas visando o desenvolvimento individual de

cada um.

Segundo Piaget in Cunha, (2008), para haver conhecimento e

aprendizagem, é necessário que o sujeito atue para superar o desequilíbrio que

existe entre ele e o objeto. Para Piaget o desenvolvimento antecede a

aprendizagem, e o processo do conhecimento começa com o desequilíbrio.

O primeiro processo é quando o indivíduo age sobre o objeto para

conhecê-lo através de informações que já possuem, embora não seja

suficiente, esse primeiro processo chama-se assimilação.

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O segundo processo chama-se acomodação, existe quando o sujeito

tem seus esquemas cognitivos alterados, o que representa um esforço

adaptativo para superar o desnível, com isso chega-se ao terceiro processo

que é o estado de equilíbrio entre o sujeito e o objeto.

E isso tudo é cíclico, pois o conhecimento adquirido hoje não é

definitivo, esse equilíbrio logo irá sofrer novas assimilações, acomodações,

maior conhecimento, equilíbrio e outros desequilíbrios ....

Existem segundo Piaget in Cunha, (2008), e in Guerra, (2002), formas

diferentes de interagir com o ambiente nas diferentes faixas etárias, o que o

autor determinou de períodos, desenvolvendo assim a teoria do

desenvolvimento cognitivo.

Vale lembrar aqui que não devemos nos deter na idade, pois como

sabemos cada indivíduo é único, uns aprendem com maior facilidade e mais

rápido e outros demoram mais em uma etapa, o que depende também de

inúmeros fatores como: experiência do meio, fatores emocionais e outros.

Portanto o importante é saber que toda a criança vai passar por essas

etapas e saber o que ela poderá realizar em cada uma delas, sem que

tenhamos que nos prender muito a idade.

O primeiro período é o sensório – motor (0 a 24 meses) a principal

característica desse período é a inexistência de representações mentais. O

conhecimento chega através dos órgãos dos sentidos e do ato motor, a criança

leva tudo à boca. É o período de reflexos. Aos nove meses a criança passa a

ter noção de permanência dos objetos, aos 18 meses adquire a capacidade de

pensar através da imagem.

O segundo período chama-se pré-operatório (2 a 6 anos), sua

característica principal é a impossibilidade da criança de utilizar seus

esquemas representativos para realizar operações mentais. Nesse período

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ocorre um maior desenvolvimento da linguagem, a comunicação deixa de ser

fundamentada no indivíduo e passa a se basear no grupo social. A criança ao

longo desse período desenvolve a capacidade de conversar com outras

pessoas, dar suas opiniões, debater, etc.

O terceiro período é o operacional concreto (7 a 12 anos) corresponde

ao período da idade escolar. Temos como principal característica a capacidade

da criança de operar mentalmente com esquemas de ação que até então eram

apenas representados. As operações mentais ainda possuem um caráter

concreto, o concreto é importante para a criança, tudo depende do empírico, do

que ela já tem de experiência em algum momento anterior, permitindo a criança

a representação dos esquemas.

Nesta fase um ensino que valorize apenas a transmissão de conteúdo

pode ser incorreto, pois a criança só vai operacionalizar aquilo que já foi

experimentado, é preciso que antes de tudo o professor ofereça referenciais

concretos, caso contrário a criança irá apenas decorar as informações e repeti-

las, e em pouco tempo, isso não fará mais sentido e nem será lembrado por

ela.

O quarto período é o operatório–formal (12 anos em diante) sua

característica principal é a possibilidade de entender os conceitos abstratos,

operacionalizar mentalmente com lógica, o que possibilita o aumento de

conteúdo e flexibilidade do pensamento.

Na escola esse é o momento em que os conteúdos das matérias

podem finalmente ser apresentados de modo puramente verbal sem a

necessidade do concreto.

Com tudo isso Piaget demonstrou que a educação deve possibilitar o

desenvolvimento cognitivo da criança e com sua teoria ele possibilita ao

educador criar atividades próprias para seus educandos, possibilitando assim a

sua interação com o objetivo a ser conhecido.

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Como já foi dito, tanto para alfabetizar ou ensinar qualquer outra coisa,

é necessário que se observe a evolução das habilidades cognitivas de cada

criança, conclusão que não se chega tendo como base exclusivamente a

idade cronológica de cada um, o que muito hoje tem se visto, principalmente

em escolas municipais é que tudo é estipulado e determinado a partir da idade

da criança e não se verifica se essa criança já tem ou ainda não tem habilidade

cognitiva. Por isso que existe hoje um número enorme de crianças que estão

na 2ª e 3ª série do ensino fundamental que não sabem nem ao menos ler e

muito menos escrever. A escola para essas crianças passar a ser um lugar

onde nada é assimilado, onde o conhecimento não existe, a criança passa

apenas a ser uma mera copiadora de letras que não fazem sentido, e não

dizem nada.

Já para Vygotsky in Castorina, (2005), a aprendizagem e o

desenvolvimento estão inter-relacionados, devido a própria interferência do

adulto na aprendizagem da criança. O aprendizado vai impulsionar o

desenvolvimento.

Quando o autor relata que todo processo vai de fora para dentro ele

quer dizer que vai das interações sociais para as ações internas, psicológicas.

Vygotsky apresenta o conceito de zonas de desenvolvimento. Tem-se

a zona de desenvolvimento proximal, na qual coloca a importância do papel do

professor, que provoca nos alunos avanços que não são possíveis de ocorrer

espontaneamente, o professor vai interferir na zona de desenvolvimento

proximal dos alunos.

A zona de desenvolvimento proximal é a distância que existe entre o

nível de desenvolvimento real da criança, ou seja, aquilo que ela já é capaz de

realizar sozinha, (é o conhecimento já aprendido) e a distância do nível

potencial, aquele que a criança só é capaz de fazer sozinha sob a direção de

um adulto ou uma criança que já seja capaz.

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Segundo Castorina, (2005), a zona de desenvolvimento proximal é um

“espaço” no qual aquilo que uma criança hoje só pode fazer com ajuda de

outro, no futuro poderá fazer sozinha, ou seja, a partir das experiências

vivenciadas com o adulto (daí o papel fundamental desse interventor), a

criança se aproxima cada vez mais de um conhecimento real.

Vygotsky dá muita importância à dimensão social, cultural e histórica

do indivíduo no processo de aprendizagem. Muitos dos nossos processos de

desenvolvimento não ocorreriam se não fosse o convívio social.

Portanto, percebe-se que na visão de Vygotsky desenvolvimento e

aprendizagem são processos inteiramente relacionados que necessita da

cultura para funcionar e é por isso, que o processo de ensino e aprendizagem é

único e envolve quem ensina, quem educa e a relação entre essas pessoas,

daí o aspecto social envolvido.

A postura de Vygotsky in Castorina, (2005), para o ensino escolar é de

que se o aprendizado vai gerar o desenvolvimento, a escola é de extrema

importância na transmissão desse conhecimento e na forma de pensar das

crianças e jovens além disso, a escola, tem um papel fundamental no

desenvolvimento psíquico dos indivíduos que vivem nas sociedades letradas.

Fazendo uma observação entre Piaget e Vygotsky, percebe-se que o

primeiro divide o desenvolvimento em períodos, impondo assim limites ao

aprendizado, pois para ele é necessário que uma certa etapa cognitiva se

desenvolva para haver aprendizagem. Já Vygotsky não divide o

desenvolvimento em períodos, não postulando assim limites a aprendizagem,

para ele esta antecede o desenvolvimento e interage simultaneamente criado

zonas de desenvolvimento através das relações sociais.

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Vygotsky vai mais longe quando defronta com Piaget, para ele

qualquer tipo de desenvolvimento pode ser feito e pode ocorrer em qualquer

momento independente da idade, basta apenas que a criança seja estimulada.

Na verdade, deve-se ver esses dois teóricos como complemento entre

as teorias, pois uma serve para explicar a outra principalmente se analisarmos

o porque da dificuldade da aprendizagem de determinadas crianças. Será que

faltou o contato social, a troca ou será ainda falta de maturidade?

Para Piaget, a criança deve ser deixada livre para interagir com o

objeto para amadurecer. Por outro lado, na visão de Vygotsky, essa criança

nunca aprenderia, pois é necessário o meio cultural e as relações sociais para

seu desenvolvimento.

Enfim, é bem verdade que se pararmos para pensar vamos perceber

através de vários exemplos, principalmente quanto a aquisição de leitura e

escrita, que mesmo a criança possuindo a maturação necessária para isso, o

processo de desenvolvimento não ocorrerá se não houver situação de

aprendizado que o provoque.

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CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS

ESCOLARES

O desenvolvimento dos conceitos e dos significados das palavras no

contexto escolar, são de extrema importância para a criança em idade escolar.

É a partir disso que vamos verificar a facilidade ou a dificuldade da mesma em

adquirir os conteúdos da sala de aula

O desenvolvimento de tais conceitos é feito através do contexto

linguístico geral, a palavra nova deve estar inserida dentro de um contexto que

a criança já tenha adquirido, pois de nada adianta ensinar o conceito de forma

direta.

Segundo Tolstoi in Vigotsky, (1996), quando a criança ouve ou lê uma

palavra que não conhece numa frase na qual o restante seja compreensível e

lê novamente essa palavra em outra frase, começa a ter uma idéia vaga do

novo conceito, logo mais cedo ou mais tarde vai usar essa palavra, e ao fazer

isso tal conceito lhe pertence.

Para que o desenvolvimento dos conceitos ocorra, também é

necessário o desenvolvimento anterior de diversas funções intelectivas como a

atenção deliberada, a memória lógica, a abstração e a capacidade para

comparar e diferenciar.

Quando a criança está em idade escolar, tais funções intelectivas se

colocam em um papel de destaque no processo de desenvolvimento. A

capacidade de atenção que antes era involuntária, agora passa a ser voluntária

e depende cada vez mais do pensamento da criança. A memória que era mais

mecânica transforma-se como já vimos em memória lógica.

Visto que para o desenvolvimento de palavras novas, torna-se

necessário todo um desenvolvimento anterior das funções cognitivas e

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intelectivas. O que se espera da criança ao ingressar na escola é que a mesma

possua domínio do sistema linguístico em sua modalidade oral e, com isso

tenha habilidades linguística – cognitivas adequadas para a aprendizagem de

leitura e escrita. O que vem acontecendo ultimamente é o contrário disso,

existe um número muito grande de crianças com dificuldade de aprendizagem

de leitura e escrita devido a alteração nos processos de aquisição e

desenvolvimento da linguagem oral, comprometendo consideravelmente seu

desempenho na sala de aula.

Em vista disso, existe hoje um crescente número de profissionais que

incluíram em seus serviços a avaliação e o tratamento de problemas de

linguagem que exercem um impacto no desempenho escolar.

A seguir são citados alguns problemas relatados por um fonoaudiólogo

numa escola para crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem.

Gerber (1996)

Ü Dificuldade de seguir instruções orais;

Ü Problema com o processamento e a evocação de informações

decisivas;

Ü Compreensão deficiente de vocabulário e conceitos básicos

empregados na sala de aula;

Ü Dificuldade com repercussão de palavras;

Ü Capacidade deficiente de categorizar em tarefas verbais;

Ü Déficits na capacidade de organizar o pensamento antes da

produção oral sucinta;

Ü Redução na capacidade de abstrair e expressar detalhes em uma

tarefa descritiva;

Ü Capacidade reduzida de fazer interferências simples;

Ü Capacidade reduzida de engajar-se em pensamento flexível;

Ü Prejuízo geral de memória e compreensão auditiva, incluindo

problemas de atenção.

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3.1 - LINGUAGEM X APRENDIZAGEM ESCOLAR

Ainda segundo Gerber déficits de linguagem podem ocasionar

problemas de aprendizagem, sobretudo dificuldades no processamento de

informações lingüisticamente codificadas, gerando assim conhecimentos

empobrecidos que interfere no desenvolvimento e na eficácia do uso de

estratégias de aprendizagem, o que resulta em desatenção, desmotivação e

excessivo esforço para dominar habilidades básicas para a aprendizagem em

sala de aula.

O ciclo do fracasso em distúrbios de aprendizagem relacionados à

linguagem

Figura 04(Gerber, 1996, pag. 257)

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As crianças com problemas de linguagem associados ao desempenho

escolar, apresentam as seguintes características, segundo Sawyer (1985) in

Gerber (1996).

Ü Fluxo de fala espontânea limitado;

Ü Dificuldade para encontrar palavras;

Ü Uso de formas gramaticais “imaturas para a idade”;

Ü Ocasional produção de palavras e frases estranhas à língua;

Ü Dificuldade de desembaraçar os relacionamentos em sentenças

mais complexas;

Ü Problemas em lembrar informações e repetir informações

apresentadas oralmente;

Ü Ortografia fraca;

Ü Decodificação e compreensão de leitura fraca.

Os problemas de linguagem relacionados a distúrbio de aprendizagem

são considerados de graus severos. A manifestação se dá em vários níveis de

linguagem, podendo ser no sistema sintático, morfológico, fonológico,

semântico e/ou pragmático.

É bom salientar aqui, que estamos falando de crianças com inteligência

normal e ausência de outros prejuízos, como problemas neurológicos, tais

crianças apresentam apenas o distúrbio de linguagem.

3.1.1 – DÉFICITS SINTÁTICOS / MORFOLÓGICOS

A morfologia tem haver com competência linguística, envolve a

estrutura interna e a formação das palavras. Já a sintaxe é uma propriedade

que a criança necessita adquirir para poder se comunicar verbalmente o que

permite a ela formar sentenças a partir das regras gramaticais que regem tal

formação.

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Segundo Gerber, os sujeitos com distúrbios de aprendizagem por

problemas de linguagem omitem, invertem e substituem sentenças quando é

solicitado sua repetição, tem dificuldade em corrigir os erros gramaticais em

sentenças apresentadas, necessitam de mais repetições para construir uma

sentença e ainda trocam palavras desconhecidas por outra foneticamente

semelhante.

3.1.2 – DÉFICITS FONOLÓGICOS

De acordo com Zorzi in Marchesan, (1998), a fonologia diz respeito aos

sons ou fonemas de uma língua. É o desenvolvimento fonêmico, ou seja, de

aprendizagem dos sons da fala. A aquisição do sistema fonêmico corresponde,

a um dos componentes do desenvolvimento global da linguagem. Houve

extrema pesquisa da relação entre o componente fonológico da linguagem e

problemas de aprendizagem escolar, com particular ênfase na leitura.

V.A. Mann (1984) in Gerber (1996), enumera algumas das

manifestações de problemas fonológicos da seguinte forma:

Ü Dificuldade com memória de curto prazo para material verbal, com

sequências de números, palavras e até mesmo palavras de

sentenças faladas;

Ü Dificuldade em identificar palavras faladas, parcialmente

mascaradas por ruído;

Ü Dificuldade em recuperar a representação fonética de palavras.

A falta da percepção fonológica torna extremamente difícil a

aprendizagem de correspondências fonemas-grafema para qualquer pessoa e

esse déficit no processamento fonológico acaba por atingir diversas habilidades

cognitivas e linguísticas.

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Portanto, a dificuldade de aprendizagem principalmente a referente a

escrita e leitura, pode resultar de uma interação entre deficiências fonológicas e

semânticas.

3.1.3 – DÉFICITS SEMÂNTICOS

De acordo com Zorzi in Marchesan, (1998), o sistema semântico tem

haver com o significado da palavra com o conteúdo.

Idéias, sentimentos, desejos e emoções são exatamente, o conteúdo

que a linguagem expressa através das relações semânticas ou dos significados

que a palavra possui.

O déficit semântico afeta diretamente a leitura, pois devido ao

empobrecimento do vocabulário e baixo conhecimento, a compreensão torna-

se difícil por parte da criança. A mesma também sente dificuldade na

construção de textos, principalmente na questão de organização de conteúdo

de qualidade e quantidades aceitáveis. A demora na construção do texto,

interfere na organização de suas idéias, na sequenciação de pensamento, para

que ocorra construções coerentes, pois como foi dito seu vocabulário é

limitado, não sabe o significado de muitas palavras com múltiplos sentidos, usa

excessivamente termos como aquela “coisa” e “negócio”.

“o conhecimento de palavras de crianças com distúrbios de aprendizagem é seguidamente restrito, literal e concreto, carecendo da flexibilidade de significados múltiplos, expressões figurativas e nuances sutis.” (D.J. Johnson e Myklebust 1967 in Gerber, pág. 201)

Wiig (1984), in Gerber (1996), observou também que muitos

adolescentes com dificuldade de aprendizagem apresentavam dificuldades

com as palavras polissilábicas, menos familiares, encontradas no material

escolar.

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Em relação a dificuldade na compreensão da leitura, anteriormente

citada, temos além da questão da pobreza de vocabulário a existência, muitas

vezes, de uma codificação mais lenta, e quando há demora na decodificação,

existe de fato uma perda de informação da memória funcional, que é

necessária para construção do significado no processo de compreensão.

“se o significado das palavras, mesmo de palavras corretamente lidas, não surge automaticamente, a medida que a criança as pronuncia, mas aproximadamente um segundo depois, o processo de leitura torna-se lento e a criança pode perder mais facilmente a coerência da frase ou sentença que ela está tentando decifrar”. (j. Kang, 1983 in Gerber, pág. 211)

De acordo com Gerber, as conclusões experimentais sobre a natureza

dos distúrbios de aprendizagem relacionados à linguagem consideradas

plausíveis são:

Ü O processo mais lento das informações verbais interfere na

compreensão da linguagem escrita e oral do escolar;

Ü A compreensão prejudicada resulta na fala de acesso aos

conhecimentos relevantes;

Ü Deficiências na captação de informações verbais pode levar a

representações fonológicas incompletas ou imprecisas;

Ü Uma base de conhecimento semântico empobrecida pode afetar

negativamente o processo de informações verbais;

Ü Pode variar a capacidade de construir ou sustentar representações

internas de informações lingüisticamente codificadas, na ausência

do apoio contextual;

Ü Sensibilidade deficiente para organizar informações verbais,

podendo interferir na compreensão ideal e / ou composições de

passagens extensas e discurso escrito.

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3.2 – E POR FALAR EM COGNIÇÃO ...

A dificuldade de aprendizagem relacionada a linguagem não é um

fenômeno isolado, está relacionado a correlatos lingüísticos, mas também

envolve a cognição e fatores psicossociais.

Como o desenvolvimento da linguagem vem com o início da

simbolização, logo chega-se a conclusão que qualquer interferência em seu

caminho poderá acarretar em alteração na escrita, por isso as mudanças nos

aspectos cognitivos da linguagem têm sido tão valorizadas.

É valido aqui abordar 3 correlatos cognitivos importantes.

São eles: Percepção: temos dois tipos de percepção consideradas

importantes para o escolar: a percepção visual e a percepção auditiva.

Dentro da percepção visual temos algumas habilidades que tem maior

significado para o desenvolvimento da aprendizagem que são: a posição

espacial – a criança com dificuldade na percepção da posição no espaço

apresenta compreensão deficiente de palavras, que designam posição

espacial, dificuldade em perceber o “b” com “d” e o “q” com “p”.

Relação espacial – o distúrbio provoca dificuldade de perceber a

sequência de letras em uma palavra.

Exemplo: prato / parto, reconhecerem seqüências de palavras em uma

frase.

Coordenação viso–motora – a criança com dificuldade neste aspecto

apresenta inabilidade em participar de jogos e esportes, dificuldade para

recortar, colar, modelar e pintar.

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Constância de percepção – o distúrbio provoca dificuldade em

identificar números ou palavras que já conhece ou encontrá-las em um texto

diferente na cor, tamanho ou estilo de impressão.

Figura–fundo – a dificuldade de figura–fundo faz com que exista uma

dificuldade em manter a atenção em determinada atividade, em encontrar

frases numa página, resolver exercícios conhecidos quando disposto em

páginas muitos cheias.

Atenção: resulta na capacidade de concentração para que a criança

tenha maior facilidade de absorção dos conteúdos escolares, não chega aqui

neste caso dos transtornos de déficits de linguagem a dificuldade de atenção

ser associada a uma hiperatividade e / ou impulsividade. Apesar de que a

ineficiência do aprendizado pode acabar levando o indivíduo à distratibilidade e

impulsividade de resposta.

Memória: muitas tarefas escolares envolvem processos de memória

voluntária no aprendizado. A memória neste caso está ligado ao conhecimento

linguístico e ao seu uso na codificação e armazenamento de informações.

Na visão de Gerber, em relação a déficits na memória de indivíduos

com dificuldade de aprendizagem relacionados à linguagem, limitações de

atividade lingüística, estão implicadas em:

Ü Codificação fonética na memória de curta duração;

Ü Acesso mais lento a informação verbalmente codificadas;

Ü Uma ausência de tendência generalizada para complementar

informações visualmente codificadas;

Ü Um relativo empobrecimento da base de conhecimento semântico,

acompanhado de um déficit na ativação de conhecimento

semântico, em estratégias de elaboração para a melhora de

armazenamento e da recuperação de informações de memória

propositais.

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3.3 – CORRELATOS PSICOSSOCIAIS

A criança com dificuldade de aprendizado, principalmente por déficit

comunicativos / linguístico apresenta quase sempre déficits emocionais mais

sérios como passividade, baixa alto-estima, evita situações novas e

desafiadoras, torna-se agressiva, pode apresentar também depressão,

ansiedade, dificuldade em adaptar-se socialmente e distúrbios de

comportamento, podendo até mesmo chegar com isso a diagnósticos

psiquiátricos específicos.

A criança sente-se frustrada por não conseguir corresponder as

expectativas do adulto que vive lhe cobrando.

Tudo isso resgata e perspectiva de que:

“a linguagem, a cognição e a psique são fenômenos que se constituem concomitantemente, ou seja, de que afeto e fala, subjetividade e linguagem, conhecimento e linguagem, vida psíquica e linguagem, cultura e linguagem são elementos indissociáveis” (Silva, 2004 pag.63)

A linguagem engloba não só a fala, mas toda a emoção, a cultura, a

vivência, a inteligência e a aprendizagem de cada indivíduo, não se tem como

falar isoladamente de algo tão complexo e tão importante para os seres

humanos.

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CONCLUSÃO

A partir do que foi relatado neste trabalho, é de se esperar que

principalmente os profissionais da educação estejam conscientes de que existe

uma íntima relação entre a linguagem e o fracasso escolar e que, a partir disso,

sejam agentes para proporcionar o desenvolvimento propício da mesma. Além

disso, profissionais da saúde e pais devem prestar atenção no

desenvolvimento da linguagem de nossas crianças, criando maiores

possibilidades de estimulação.

É preciso entender que as dificuldades em absorver as informações

linguísticas transmitidas na educação podem causar o fracasso escolar e,

também, podem levar ao aumento da taxa de repetência, ao abandono escolar,

ao subemprego e até mesmo a delinquência.

É preciso entender que a falta de linguagem limita o pensamento,

quem tem bom desenvolvimento da linguagem, quem sabe lidar com as

palavras e a relação existente entre elas, tem uma maior capacidade de

pensamento. Quem não sabe usar as palavras adequadamente provavelmente

também não sabe pensar.

É preciso antes de mais nada, entender que a educação tem uma

grande relação com o desenvolvimento da nossa capacidade de usar a

linguagem e que não adianta impor na escola uma demanda verbal elevada, se

não se trabalhar a capacidade linguística do aluno para funcionar de acordo

com o que o processo educacional propõe e a sociedade exige.

Portanto o melhor ensino, é aquele que coloca como destaque a

competência linguística, logo nosso professores devem se preocupar com

essas dificuldades, caso contrário como afirma Claudio de Moura: “nossa

juventude estará mal preparada para a sociedade civilizada se insistirmos em

uma educação que produz uma competência linguística pouco melhor do que a

de meninos-lobo”. Castro, (2009).

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