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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
FAMÍLIA: DESAFIO PERMANENTE NA ATUAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL
Por: Clícia Santos Carvalho
Orientador
Profª. Fabiane Muniz
Niterói
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
FAMÍLIA: DESAFIO PERMANENTE NA ATUAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Terapia de
Família Por: Clícia Santos Carvalho
3
AGRADECIMENTOS
.... Agradeço a minha orientadora pela
generosidade em orientar ao longo da
pesquisa monográfica, aos colegas do
curso de Terapia de Família que
enriqueceram meu crescimento
intelectual, aos colegas de trabalho
pelo incentivo, especialmente Emiliano
que foi um ponto de apoio na
realização do meu trabalho.
4
DEDICATÓRIA
..... Dedico a minha mãe Nair Santos que
sempre esteve ao meu lado na realização
de todos meus sonhos e objetivos.
5
RESUMO
O interesse pelo tema abordado nesse trabalho monográfico tem como
base a minha experiência como Assistente Social da Universidade Federal
Fluminense, atuando na Divisão de Saúde Ocupacional, atendendo Servidores
da Instituição. Considerando também o Curso de Terapia de Família que nos
levou a refletir sobre a importância da família no trabalho do Assistente Social,
pois sabemos que a profissão é conhecida principalmente por lidar com a
problemática familiar. Não podemos esquecer que o tema família não se
esgota, ainda mais com os diversos arranjos familiares, que já fazem parte do
nosso cotidiano do século XXI.
O primeiro capítulo faz um levantamento histórico sobre a trajetória do
serviço social, provando que a família sempre esteve presente no seu trabalho,
O segundo capítulo descreve trajetória do Serviço Social brasileiro, que
a princípio tinha o seu trabalho voltado às famílias que encontravam-se em
condições de risco, no decorrer do tempo rompeu com essa prática.
Aproveitamos para fazer uma retrospectiva sobre as transformações
permanentes da família nas últimas décadas. Mostramos também a
necessidade do profissional estar bem preparado para lidar com diversos
conflitos familiares.
O terceiro capítulo discorre sobre o programa do acompanhamento ao
servidor periciado, onde mostramos a atuação dos Assistentes Sociais com os
servidores da instituição, mostrando que a família desses também é foco da
ação do Serviço Social.
Mediante a pesquisa realizada ressalto a um novo olhar para uma
formação diferente de uma instituição familiar e como ela é responsável pelo
comportamento do homem na sociedade e na vida profissional. Essas
mudanças confrontam-se a novos conhecimentos e saberes que cada vez
mais estarão aparecendo de maneira cifrada nos diversos âmbitos sociais.
6
METODOLOGIA
O Presente Trabalho Monográfico foi realizado com leitura de livros,
pesquisas em bibliotecas, jornais, revistas, conversas informais com
profissionais da Divisão de Saúde Ocupacional do setor público onde atuo.
A pesquisa tornou-se satisfatória, pois promoveu estudos paralelos no
entendimento da instituição familiar, sua importância na sociedade e na
formação do profissional de Serviço Social. Pois se sabe que só através de
cursos específicos e preparatórios direcionados a família, que será possível o
profissional do Serviço Social estará preparado para atender os diversos
conflitos que fazem parte do cotidiano familiar,
Durante a coleta de dados para produção do trabalho monográfico, foi
cedido pela Divisão de Saúde Ocupacional da Universidade Federal
Fluminense as informações e formulários, dissertações de Mestrado e
Doutorado utilizados na inspiração na pesquisa desenvolvida e escrita para
esse Trabalho Monográfico.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - História do Serviço Social 10
CAPÍTULO II - Encontro e Reencontro do Serviço Social
E a Família 24
CAPÍTULO III – A Atuação das Assistentes Sociais no Programa de
Acompanhamento do Servidor Periciado 37
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA CITADA 48
ÍNDICE 51
FOLHA DE AVALIAÇÃO 53
8
INTRODUÇÃO
O surgimento crescente de diferentes arranjos familiares, o
aparecimento de novas teorias explicativas do relacionamento do humano,
somente promove novos conceitos em relação à formação do núcleo familiar
com um modelo diferente do contexto tradicional.
As mudanças que surgem no século XXI transformam em grande escala
e inverte os valores da sociedade, que está sendo modificada em vários
âmbitos institucionais, na esperança de serem compreendidas e descritas
como espaço para interação e Carvalho reafirma essas mudanças:
“A família volta a ser pesquisada e refletida, nas
contínuas mudanças que se processam, como um
microcosmo da sociedade global. Ainda mais interessante
é perceber o destaque que ela vem ganhando como
indutora de relações de relações mais horizontais, valor
democrático esperada da vida pública.” (CARVALHO,
2008, p.272)
Sendo assim, o presente trabalho tem como proposta realizar um estudo
sobre atuação dos Assistentes Sociais junto à família, comprovando a hipótese
de que o trabalho do Serviço Social sempre esteve atrelado à família.
Mostrando-se também a necessidade dos profissionais desta área, capacitar-
se devidamente para que possa entender melhor os conflitos familiares dentro
do âmbito social.
Precisa-se entender que a família está passando por grandes
transformações e que muitas vezes delegam terceiros para atribuições de
origem familiar para educação de costumes e valores dos membros. Durante
anos verificamos que a entidade familiar é a primeira célula da sociedade e
precisa-se de um olhar muito especial para a aceitação dessas mudanças
contextuais.
Por fim, concluí-se que o Assistente Social possui um grande
importância no atendimento das famílias do século XXI que torna-se evidente
as mudanças e transformações sociais. A formação continuada possibilitará
9
embasamentos de novos conhecimentos teóricos e práticos com a finalidade
de preparar e como lidar com as diversas problemáticas referentes à família.
Pois se sabe que só através de cursos específicos e preparatórios
direcionados a família, que será possível que o profissional do Serviço Social
estará preparado para atender os diversos conflitos que fazem parte do
cotidiano familiar, como Souza ressalta:
“(...) a família tem um significado único para cada pessoa,
e é a partir dele que, como profissionais, nós nos
posicionamos diante da família como objeto de estudo,
reflexão e atuação profissional.” (SOUZA, 1985, p:20)
10
CAPÍTULO I
HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL
“A aprendizagem inclui a articulação entre o
conhecimento e o saber.” (PORTELLA, 2006, p:83)
A Trajetória do Serviço Social
A história do Serviço Social, mostrando-se numa trajetória
sempre vinculada a caridade, e esta quase sempre estava direcionada as
famílias extremamente pobres, ou seja, miseráveis. Não resta dúvida que o
Serviço Social tem a sua origem na caridade, mas como passar do tempo
formou a sua própria identidade, principalmente a partir do século XX,
firmando-se como profissão reconhecida pela sociedade. É importante
observar essa trajetória do Serviço Social como ressalta Vieira:
“...foi permeável as influências de idéias, costumes e
tradições dos diversos momentos históricos, pois o
agir social do homem depende do crê e do que
pensa, o seja, das motivações dos seus atos.”
(VIEIRA, 1980, p.27).
1.1 - Origem da Assistência
Na antiguidade, as famílias eram responsáveis pela assistência
aos seus, que também estavam incluídos os velhos abandonado e os
pobres.
Nesta época a sociedade passava por uma transição
assistencialista, que viabilizava o cuidar e zelar pelos desfavorecidos, como
explica Vieira nesta questão:
11
“A miséria, a doença, as enfermidades, as catástrofes
são castigos de deuses, pelas faltas da própria pessoa
ou de seus pais. Os fortes e bons são bem sucedidos na
vida; os pecadores, castigados com pobreza ou doença”.
(VIEIRA, 1980, p.27)”.
Com isso, essas sociedades antigas não, ainda, uma cultura de
ajudar os mais necessitados, pois, “a idéia de prevenção ou de reabilitação era
quase desconhecida, apesar de nos escritos de Aristóteles haver uma
referência sobre a necessidade de ajudar os pobres dando-lhes o material
necessário para que se tornem artesãos”. (VIEIRA, 1980, p.27).
Contudo em algumas sociedades em determinadas épocas já
praticavam algum tipo de assistência mútua, tais como: entre os judeus
desterrados na Babilônia, e, mais tarde em Roma, entre os escravos libertos.
Essa confirmação desta prática social, Vieira relata o tipo de
assistência que se dava na cultura deste povo naquela época:
“De maneira geral, os governos não intervinham,
salvo nos períodos de calamidade pública.” Por exemplo,
no Egito, durante os anos de fome, José distribuiu, em
nome de Faraó, alimentos armazenados nos anos de
abundância. Por ocasião de grandes festejos, quando o
soberano queria mostrar seu poder e magnificência,
repartiam-se esmolas com fartura” (VIEIRA, 1980, p.29)
1.2 - Época da Cristandade
O Cristianismo foi responsável pela transformação dos conceitos de
caridade que permeia a nossa sociedade. Vieira intensifica esse conceito
vivenciado no início deste pensamento que este povo pregava nos sermões
durante os rituais das assembléias religiosas:
“Se pobre ou doente não constitui castigo de Deus, mas
conseqüência da imprevidência individual ou das
12
circunstâncias; a pobreza e a doença são consideradas
como provação, da qual se poderiam haurir grandes
merecimentos. Ajudar o pobre recebê-lo, é meritório, pois
ele representa a própria pessoa do Salvador. A caridade
constituía, assim, para quem a dispensava, um meio de
alcançar méritos para ávida eterna era ma virtude.”
(VIEIRA, 1980, p.30).
Nos séculos XIII e XIV, surgiram congregações religiosas dedicadas
especialmente à assistência social, auxílios materiais, visitação domiciliar.
Desta maneira, a Igreja monopolizou os encargos da beneficência, sendo
estes confiados a sacerdotes.
A reforma protestante quebrará o monopólio das Igrejas sobre as
sociedades. A partir deste momento a pobreza deixa de ser encarada como
provação, e sim como conseqüência das condições sociais, cabendo a
sociedade o dever de amparar os miseráveis que passam a ter direito à
assistência, daí surgindo uma nova concepção de caridade.
Aproveitando-se da reforma protestantes vários governos confiscaram
os bens da Igreja e das ordens religiosas, gerando desordem e anarquia no de
assistência durante longos anos.
Essas mudanças proporcionaram divisões de pensamentos e ações do
ambiente social da época, contribuindo assim para novos comportamentos
religiosos, como expõe Vieira neste relato:
“Diante dessa situação, os princípios e as regras que a
Igreja e agora o Estado haviam ditado até aquele momento
exigiam uma sistematização, para atuar eficientemente
neste novo contexto social. Esta sistematização
encontravam-se nas obras de váriosores filósofos,
humanistas, homens de letras ou na atuação de alguns
legisladores e pessoas envolvidas com assistência. Entre
estes destaca-se, para melhor compreensão do Serviço
Social, Juan Luis Vives e São Vicente de Paula. No livro
de Vives De Subvencione Pauperum (Da assistência aos
13
Pobres) em 1526 foi considerado o primeiro tratado teórico
do Serviço Social”. (VIEIRA, 1980, p.30).
Por outro lado, considera-se que São Vicente de Paula foi o responsável
pela sistematização da caridade na prática.
1.3 - Serviço Social como profissão
É no século XIX que surgem as primeiras tentativas de organizar a
assistência. Neste século o processo da industrialização será consolidado,
implicando diretamente na organização econômica e familiar, modificando-as
completamente.
Vieira relata que neste novo cenário a sociedade começa a ter um novo
comportamento desta mudança econômica:
“A mão–de-obra não é apenas masculina, mas também
feminina e até infantil. A política econômica é baseada
no laissez-faire, procurando lucros cada vez maiores, fixa
salários abaixo do nível de subsistência; famílias inteiras
vão para as fábricas e as minas em busca de
sobrevivência. Surge, então, uma nova classe de pobres:
os assalariados que não ganham o suficiente para viver”
(VIEIRA 1980; 40-41).
Dessa maneira, as cidades tiveram um crescimento desordenado,
desencadeando ambientes considerados insalubres. Este novo contexto
histórico demandará a urgência da organização da assistência social, que
ficará a cargo tanto das entidades privadas como das religiosas. Destaca-se
entre estas, Sociedade de Organização da Caridade,em 1869, em Londres, em
1877 nos Estados Unidos, o seu surgimento tem a finalidade de coordenar o
trabalho das obras particulares, de maneira evitar duplicidade e resolver rápida
e economicamente os casos. Outro elemento a ser considerado nessa
instituição é que nas suas investigações já utilizavam mão-de-obra
remunerada. Devido a estes fatos, as instituições tiveram necessidade de
14
aperfeiçoar o treinamento dos seus agentes, independentes de serem
remunerados ou não.
Foi em 1893, em Londres, a Sociedade de Organização da Caridade
ofereceu o primeiro curso de formação de Visitadores Sociais, o sucesso
desse curso desencadeou novos cursos.
Conforme argumentação Martinelli (1994), no final do século XIX que
aumenta demanda da qualificação dos profissionais das Sociedades de
Organização da Caridade, tanto da européia como da norte-americana, uma
vez que seu número de agentes crescera muito, tornando-se imperioso
capacitá-los para o enfrentamento da nova “questão social”, sensivelmente
agravada pelo novo regime capitalista e por uma esclerosada ordem social
burguesa. Por esses fatos, os agentes que trabalhavam com a assistência não
poderiam mais nortear as suas ações apenas por sentimentos de caridade,
mas por bases científicas e profissionais. Também contribuindo para esta
perspectiva não podemos deixar de citar o avanço das ciências sociais:
sociologia, psicologia social e a economia. Logo, o Serviço Social do século
XX é caracterizado pela constante busca de princípios, conceitos filosóficos,
que pudessem ser utilizados nos processos e técnicas nas múltiplas situações
que os profissionais lidavam.
Segundo dados de Vieira, neste contexto, a necessidade de treinar
melhor os profissionais da assistência levou a criação de várias escolas de
assistência social: 1918, em Paris; em 1920, a primeira na Bélgica; em 1925, a
primeira na América Latina, em Santiago do Chile e, em 1936 e 1937, no
Brasil, as Escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro. (Vieira, 1970).
Para entender melhor a trajetória do Serviço Social no Brasil, a análise
será pautada na tese de Martinelli, que não poderia deixar de ser mencionado,
pois relata as duas vertentes que nortearam por muito tempo o Serviço Social
brasileiro que é a européia e a norte - americana. (MARTINELLI, 1970, p:102-
103)
Para vertente dos Estados Unidos, a “questão social” era vista de forma
bastante reducionista, como manifestação de problemas individuais, passíveis
de controle através de uma prática social cada vez mais nitidamente concebida
15
como uma atividade reformadora do caráter. Assim, nos Estados Unidos
enfatizou-se muito a busca de conhecimentos científicos, especialmente no
contexto da Psicologia, da Psicanálise, da Medicina e até mesmo do Direito. A
ênfase na abordagem individual e apreensão do Serviço Social como atividade
reformadora do caráter demandava segurança na utilização de teorias,
conhecimentos e conceitos produzidos naquelas áreas.
Já a vertente Européia é caracterizada pelo pensamento conservador,
que sofre forte influência de Auguste Comte, Fréderic Le Play e Emile
Durkheim, associado ao forte vínculo com a Igreja Católica, cuja doutrina era
baseada no humanismo, mas acentuamente conservadora. Se a encíclica
Rerum Novarum de 1891 do papa Leão XIII, tratando das relações capital-
trabalho, deixava entrever um colorido conservador, exortando os
trabalhadores a observar a prudência e a ética - cristão, à de 1931, do Papa
Pio XI, assumia e reproduzia a visão do mundo dominante na época.
Martinelli relata que a denominada Quadragésimo Anno e tematizando a
organização profissional e a estrutura da empresa debruçaram-se sobre a
questão da “restauração e aperfeiçoamento da ordem social”, buscando
oferecer soluções para o “equilíbrio nas relações entre patrões e empregados”,
de forma a torná-las capazes de “implantar um clima de justiça social”.
(MARTINELLI, 1970)
Os países latinos americanos, na sua maioria, inicialmente foram
influenciados pela vertente Européia, inclusive o Brasil. Este fato deve-se por
esses países terem sidos colonizados pela Espanha e Portugal, países
tradicionalmente católicos.
Iniciação da assistência no Brasil
Para Ottoni a assistência no Brasil da colonização até a Nova República,
especialmente na primeira década, foi pautada em diversos tipos de ajuda nos
quais, os paises católicos influenciaram em grande escala nesta visão de
assistencialista da sociedade daquela época. (OTTONI,1980)
Ajuda da família: A sociedade era formada por famílias patriarcais, que eram
organizadas nas casas-grande do engenho, fazendas e nos sobrados das
16
cidades. Estas famílias eram compostas por pai e filhos, avós, tios, filhos
casados, parentes solteiros ou sem meios de subsistência.
Diante disso, cabia a família proteger e sustentar os outros, como
explica Ottoni neste trecho:
“A família é o lugar onde todos os membros
necessitados e também muitos agregados encontram
ajuda. Seria falta de caridade ‘enviar parentes e serviçais
pobres e ou/doentes para um asilo, que se destinava
exclusivamente aos que não tinham ninguém para cuidar
deles.” (OTTONI,1980 p:129)
Ajuda mútua: Conhecida como mutirão, na qual um grupo de vizinhos
auxiliava o outro, mas com intuito de ser socorrido na hora que viesse a
precisar de algum tipo de socorro. Ottoni fala:
“Outro tipo de ajuda mútua era encontrada nos
engenhos e fazendas entre os escravos, nos quais o
senhor cedia um pequeno terreno para que cultivassem
para seu uso; os escravos costumavam ajudar-se
mutuamente no preparo da roça, nas safras, etc”,
(OTTONI,1980 p:132)
Deve-se ressaltar a importância das irmandades e confrarias, que no
princípio eram organizações religiosas cuja finalidade era cultuar Deus e um
santo padroeiro, unindo “os irmãos” por um laço espiritual na qual incluía a
fraternidade. Como Ottoni intensifica:
“Cedo, porém, os membros das irmandades
procuraram auxiliar-se mutuamente e instituíram ‘caixas’
de socorros para os ‘irmãos’ necessitados serviços
assistenciais, etc.” (OTTONI,1980 p:133)
Ottoni também chama atenção que:
“...várias irmandades foram criadas por escravos, as
quais, além da função religiosa, culto e instrução,
procuravam também regatá-los e ajudá-los nos primeiros
passos na vida liberta.”(OTTONI,1980 p:133)
17
Ajuda coletiva: Este tipo de ajuda apresentava a mesma característica da que
hoje denominamos de comunitária. A população reunia-se para executar
determinados trabalhos que atendesse as necessidades da comunidade, já
que não era responsabilidade dos governos.
Ajuda aos desamparados: Este tipo de ajuda, conforme o nome, era
destinada as pessoas que não tinham ninguém por si. Esta tinha várias formas,
como:
a) Esmolas dadas nas Igrejas ou nas suas portas, nas praças públicas, nas
ruas, onde os mendigos ficavam pedindo esmolas;
b) Promessas de esmolas feitas por pessoas abastadas, pagas
principalmente nas ocasiões de festas;
c) Recolhimentos para velhos, enfermos, crianças órfãs;
d) Santas Casas de Misericórdia ou Irmandades que tinham como
finalidade exercer caridade onde quer que houvesse dor moral ou física,
aliviando-as. Estas instituições recolhiam velhos desvalidos, enfermos,
crianças abandonadas, educavam mocinhas, dotando-as para casá-las.
Além disso, eram responsáveis pelos hospitais da cidades, cabendo-lhes
também enterrar os mortos nos cemitérios adjuntos de suas igrejas, como
explica Ottoni no relato abaixo:
“ Tanto no século XIX como no início do século XX, a
classe dominante, alienada da realidade, não possuía
nem espírito nem liderança para movimentos de ação
social como os que ocorriam na Europa na mesma
época e às classes dominadas faltava iniciativa para
procurar sair da sua situação”. (OTTONI,1980 p:137)
1.4 - Surgimento do Serviço Social no Brasil
Pode-se dizer que o Serviço Social surge no Brasil concomitantemente
com a industrialização no país. A industrialização do país tem como principal
18
característica a cruel exploração sobre os operários, que incluíam as mulheres
e as crianças.
Carvalho e Iamamoto (2003) ressaltam o inicio desta exploração:
“A jornada normal de trabalho (apesar de diferir por
ramos industriais) é, no início do século, de 14 horas.
Em 1911 será em média de 11 horas e, por volta de
1920, de 10 horas. Até o início da década de 1920, no
entanto, dependerá na maiorias da vezes das
necessidades das empresas. Mulheres e crianças
estarão sujeitas à mesma jornada e ritmo de trabalho,
inclusive noturno, com salários bastante inferiores. O
operário contará para sobreviver apenas com a venda
diária da força de trabalho, sua e de sua mulher e filhos.
Não terá direito a férias, descansos semanal
remunerado, licença para tratamento de saúde ou
qualquer espécie de seguro regulado por lei”.
(CARVALHO e IAMAMOTO 2003, p:129)
Carvalho e Iamamoto explica que essa situação degradante dos
operários os levarão a rebelar-se constantemente contra essa situação de
exploração, levando a avançar na sua organização para defender-se das
injustiças sociais:
“ O desdobramento da questão social e também a questão
da formação da classe operária e de sua entrada no
cenário político, da necessidade de seu reconhecimento
pelo Estado e, portanto, da implementação de políticas
que de alguma forma levem em consideração seus
interesse.” (CARVALHO e IAMAMOTO 2003, p:126)
Nesse contexto marcado pela intensa mobilização do operariado
industrial é que surgirá o Serviço Social e a sua institucionalização como
profissão, será através de iniciativas particulares de grupos e frações de classe
pelo intermédio da Igreja Católica.
19
Silva relata o surgimento Serviço Social na sociedade brasileira e
como isso implica nas decisões do poder público nesta questão da
industrialização:
“O Serviço Social, surgindo diretamente vinculado a
entidades religiosas, se expressa pela base organizativa
e doutrinária da ação social da Igreja e da assistência
pública do Estado, com caráter humanitário e filantrópico,
sendo exercido por representantes de setores das
classes dominantes, principalmente as senhoras
‘caridosas’ da sociedade. Assume, inicialmente, a
postura ideológica da Igreja que via a organização da
sociedade capitalista como natural, devendo atuar sobre
os efeitos extremos da pobreza, com medidas de
redistribuição da riqueza, através da assistência aos
necessitados.” (SILVA,1995 p: 38)
Neste contexto a favor da Igreja, esta tentará reconquistar os seus
privilégios perdidos com a proclamação da República. A partir da década de
30 a Igreja e o Estado uniram-se para resguardar e consolidar a ordem e a
disciplina social conturbada pelas greves e manifestações populares. Como
explica Silva:
“O clero passa a desenvolver o controle direto do
operariado industrial, surgindo a necessidade de
formação técnica especializada para a prática da
assistência requerida pelo movimento católico e como
uma necessidade social que envolve também o Estado e
o empresariado. Surge o Serviço Social como
prolongamento da ação católica, adotando como
pressuposto teórico a linha mais tradicional e ortodoxa do
tomismo, estudando através da Doutrina Social da Igreja,
da Ética, da Lógica etc” (SILVA,1995 p: 36-37)
Indo ao encontro desta perspectiva, Os Centros de Estudos e Ação
Social (CEAS) que tinham como finalidade a formação de seus membros
20
através da doutrina social da Igreja, ao mesmo tempo promovendo e
difundindo-a, e respaldando as ações filantrópicas que eram promovidas pela
classe dominante sob os auspícios da Igreja.
Silva relata o trabalho do CEAS na sociedade fora da filosofia
religiosa:
“Os Centros de Estudos e Ações Sociais passam a
buscar uma formação técnica especializada para o
desempenho da ação social e da difusão da Doutrina
Social da Igreja, permitindo que o Serviço Social surja a
partir do movimento laico, mas também a partir de uma
demanda do Estado, chegando a Constituição de 1934, na
letra a do art.138 do Capítulo dos órgãos da cooperação
nas atividades governamentais, atribuir à União, aos
Estados e aos Municípios a faculdade de assegurar
amparo aos desvalidos criando serviço especializado e
animando os serviços sociais.” (SILVA,1995 p: 39)
Esses centros foram responsáveis pela criação das primeiras Escolas
de Serviço Social no Brasil. Nesse sentido, é fundada a Escola de Serviço
Social de São Paulo, em 1936, sendo considerada a primeira do gênero a
existir no Brasil, tendo como referência o Serviço Social europeu, pois as
nossas escolas tinham um forte respalde da Igreja Católica. Silva explica:
“A formação profissional do assistente social dá-se a
partir da influência européia, através do denominado
Modelo Franco-Belga. Esse modelo fundamentava-se
numa linha de apostolado ‘Servir ao Outro’, tomando por
base o princípio otimista de salvar corpo e alma, por
ambos constituírem-se numa unidade. O Centro das
preocupações era a família, enquanto base da reprodução
material é ideológica da força de trabalho, priorizando uma
ação assistencialista, visando as seqüelas materiais da
exploração capitalista.” (SILVA,1995 p: 39)
Silva argumenta ainda:
21
“O modelo Franco-Belga limitou-se, portanto, a uma
formação essencialmente pessoal e moral, sendo, nesse
período, o Serviço Social assumido como uma vocação, e
a formação moral e doutrinária, enquanto cerne da
formação profissional visou, sobretudo, formar o assistente
social para enfrentar, com objetividade, a realidade social.
A partir de 1945, pós-guerra, amplia-se a influência norte-
americana na América Latina, esta influência repercutirá
também no Serviço Social, que passará a incorporar as
teorias estrutural-funcionalistas e das metodologias da
intervenção norte-americana. Nessa caminhada, o Serviço
Social busca o aperfeiçoamento técnico de seus
instrumentos de intervenção, os campos de sua ação são
ampliados por exigências da própria expansão do
capitalismo industrial e suas conseqüências. Registra-se
nas décadas de 50 e 60 o início de grande impulso da
formação profissional em bases científicas que, através da
tecnificação da profissão, prepara o assistente social como
mão-de-obra capaz de executar programas sociais
viabilizadores de soluções modernizantes, necessários a
efetivação do modelo desenvolvimentista assumido no
Brasil.”( SILVA,1995 p: 42)
Nos meados da década de 60, inicia-se o movimento de renovação ou
reconceituação profissional, que teve sua origem no Cone Sul da América-
latina e espalhou-se pelo resto do continente ao longo de quase uma década.
Silva ainda ressalta que este movimento sofreu forte influência da
Revolução Cubana, comprovando a possibilidade de ruptura como imperalismo
dos Estados Unidos e o desenvolvimento de uma sociedade socialista:
“O movimento de reconceituação do Serviço Social
se dá num quadro específico da história latino-
americana. A revolução cubana origina conturbados
acontecimentos de ordem política no continente, com
22
enorme crise do modelo de desenvolvimento urbano-
industrial dependente e conseqüente crescimento do
inconformismo popular.”
(SILVA,1995 p: 43)
O processo de reconceituação do Serviço Social no Brasil foi pontuado
por diversas vertentes que provocou mudanças na trajetória da profissão,
como argumenta Silva neste trecho:
“Em fins da década de 70 e início de 80, a formação
profissional do assistente social começa a ser
questionado no quadro geral da sociedade brasileira,
com a rearticulação e surgimento de novas forças
políticas, em cujo contexto se destaca o movimento
estudantil. Busca-se, nesse contexto, novas teorias e
novas alternativas de prática, propondo-se um
compromisso com as camadas populares, o que vem
exigindo um novo projeto de formação profissional.”
(SILVA,1995 p: 50)
Diante dessa nova orientação, segundo os argumentos de Costa, a
partir desse contexto:
“A orientação que passou a prevalecer no Serviço Social
foi baseada em uma visão transformadora e crítica da
sociedade, propiciou a percepção da família no interior
da questão mais ampla, contraditória e complexa de
conflitos de classes, sujeitando o entendimento da
realidade social a todas a determinações, condiciona-
mentos e influências decorrentes do novo enfoque.
Dessa maneira, por um tempo a família deixará de ser o
foco principal do Serviço Social”. (Costa, 1994 p: 23)
Por conseguinte IAMAMOTO(2008) relata que a partir da década de 80,
o Serviço Social brasileiro passará nortear suas ações num processo de
ruptura com o passado, tanto de caráter teórico quanto prático-política com o
23
Serviço Social tradicional. Pautando-se na revisão bibliográfica como também
construindo um projeto ético político para a profissão.
Em face dessas mudanças, no capítulo seguinte os argumentos será no
encontro e desencontro e o reencontro do Serviço Social com a família, e a
constante transformação deste primeiro núcleo da sociedade brasileira e uma
breve síntese sobre a terapia familiar sistêmica.
24
CAPÍTULO II
ENCONTRO E REECONTRO DO SERIVIÇO SOCIAL
E A FAMILÍA
A família passa por um momento de perda de
referenciais, pois convive com mudanças e
transformações sociais constantes.” (PORTELLA,
2006, p:91)
O intuito deste capítulo é mostrar que a trajetória do Serviço Social
sempre esteve vinculada à família. Apesar do encontro, desencontro e
reencontro a família nunca deixou de ser alvo do Serviço social, principalmente
no contexto contemporâneo em que as atuais políticas públicas são
direcionadas às famílias. Não podemos deixar de citar a constante
transformação da família, que já fazem parte da nossa sociedade.
2.1 Transformações na Família
Atualmente estamos vivenciando mudanças no paradigma da
considerada família normal, padrão, correta e etc., que era composta
basicamente por pai, mãe e filhos. Melman retrata bem esse modelo de
família:
“A típica família moderna, formada pelo homem provedor
financeiro, pela mãe dona de casa e pelos filhos solteiros
vivendo sobre o mesmo teto, foi também profundamente
marcada pela dicotomia entre os papéis públicos e
privados atribuídos segundo o gênero, instituindo uma
divisão sexual do trabalho. Constituíam-se, dessa
maneira, um mundo feminino centrado na privacidade do
lar, e um mundo masculino voltado para o espaço
25
público, estruturando uma hierarquia que impedia o
exercício da liberdade e da igualdade de forma
equivalente entre os sexos.” (MELMAN, 2006, p.45).
Hoje a nossa sociedade convive com diversos arranjos familiares,
conforme a publicação da Revista Família Brasileira (2007), a família brasileira
encontra-se em permanente processo de transformação, desta forma
acarretando mudanças sociais que, por sua vez, implicam em novos arranjos
familiares presentes no nosso contexto atual.
“Arranjos Familiares, são formas de organização interna
à família, incluindo os papéis e funções familiares,
modos de representar e viver as relações de gênero e de
geração, de autoridade e afeto. Os arranjos familiares
podem ser compreendidos em torno da relação de
parentesco (famílias com ou sem filhos, filhos em
conjunto do casal, filhos de diferentes uniões etc.) e
também em relação à presença dos demais parentes e
agregados (famílias nucleares e famílias com relações
extensas).” (Brasil. Plano Nacional de Convivência
Familiar e Comunitária, 2006).
Essas mudanças ocorrem principalmente nas últimas décadas do século
XX, conforme Gueiros explica essa mudança:
“Sendo incorporado pela Carta Constitucional de 1988,
especialmente aquelas referentes aos seus arranjos (por
exemplo: famílias organizadas em torno de um só dos
pais) e a condição do homem ou da mulher como chefe
de família.” (GUEIROS, 2002, p.110)
Isso significa que a própria Constituição Federal reconhece esses novos
arranjos familiares presentes na nossa sociedade contemporânea.
Essas transformações familiares devem-se também a crescente
inserção das mulheres no mercado de trabalho. Neste aspecto, Sarti enfatiza
que:
26
“A partir da década de 1960, não apenas no Brasil, mas
em escala mundial, difundiu-se a pílula anticoncepcional,
que separou a sexualidade da reprodução e interferiu
decisivamente na sexualidade feminina. Esse fato criou
as condições materiais para que a mulher deixasse de
ter sua vida e sua sexualidade atadas à maternidade
como um ‘destino’, recriou o mundo subjetivo feminino e,
aliado à expansão do feminismo, ampliou as
possibilidades de atuação da mulher no mundo social.”
(SARTI, 2003, p:21).
É inegável que a transformação constante na família deve-se
principalmente ao papel desempenhado pelo movimento feminista, e mais a
crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, no qual vem
consolidando, cada vez, mais as suas carreiras profissionais em todas as
áreas e, claro, contando com uma gama de variedade de contraceptivos e
tecnologias reprodutivas como inseminações artificiais, fertilizações in vitro,
permitindo que a mulher decida o melhor momento para ser mãe.
Conforme a publicação da Revista Veja retratando essa transformação
familiar na sociedade:
“O modelo de mulher enquanto mulher enquanto dona de
casa e rainha do lar, criado na Europa no século XIX, foi
praticamente implodido. A adoção de novos métodos
contraceptivos, em particular a da pílula
anticoncepcional, liberalizou os hábitos sexuais e abriu
espaço para um grande planejamento familiar nos anos
seguintes. A mudança nos costumes e no perfil familiar
foi impulsionada ainda no Brasil pela rápida urbanização
da sociedade brasileira. Foi iniciada uma marcha das
mulheres ao mercado de trabalho que nunca mais deixou
de crescer nas décadas seguintes.” (VEJA 1997. apud
ARAÚJO, 2009, p. 183).
27
Sendo assim a mulher de hoje detém o poder o poder de decisão sobre
a sua vida, deixando para trás o papel da rainha do lar.
Esta constante mudança na família vem refletindo diretamente no novo
desenho familiar, de acordo com os indicadores do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), que aponta o aumento de casamentos
desfeitos e a diminuição do número de filhos, confirmando que o perfil das
famílias mudou, estas ficaram menores nos últimos anos. Os lares brasileiros
que abrigavam 3,6 pessoas, em média, em 1996. Em 2006, esse número caiu
para 3,2 incluindo os novos arranjos familiares ditados pela formação moderna.
(IBGE, 2007)
Essas novas organizações familiares já fazem parte da nossa vida
cotidiana, conforme a análise Kaslow sobre essas novas organizações
familiares, tais como:
“1- Família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos
biológicos;
2- Famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações;
3- Famílias adotivas temporárias (Foster);
4- Famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou
multiculturais;
5- Casais sem filhos;
6- famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe;
7- Casais homossexuais com ou sem crianças;
8- Famílias reconstituídas depois do divórcio;
9- Família formada por um conjunto de várias pessoas
vivendo junto, sem laços legais, mas com forte
compromisso mútuo.” (KASLOW, 2001 apud
FERNANDES, 2004, p.38).
Atualmente, quem é que não tem alguém na família ou uma pessoa
conhecida que não pertença a esses segmentos familiares. Muitos que fazem
parte desses novos arranjos familiares lutam para terem os seus direitos
reconhecidos, como os gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros que através
das Paradas Orgulho GLBT reivindicam respeito pela sua opção. A prova
28
disso é 14ª Parada Orgulho GLBT (gay, lésbicas, bissexuais e transgêneros)
realizada em 01/11/2009 na Praia de Copacabana, chegando quase um milhão
de pessoas. (O GLOBO).
O que chamou atenção nessa passeata é a participação crescente de
famílias consideradas “normais” nesse tipo de evento. Essas mesmas famílias
assistem filmes, novelas e peças de teatro, que abordam relação homoafetiva,
esses relacionamentos hoje já não escandalizam a sociedade como tempos
atrás. Com isso, a novela “ti, ti,ti” exibida atualmente às 19 horas na GLOBO
aborda um relacionamento homossexual.
Consequentemente essas transformações constante da família faz
surgir “novos status familiares aos quais correspondem novos papéis e que
ainda não dispõem de nominação em nossa classificação de parentesco.”
(BILAC, 2003, p.35).
Para Genofre:
“(...) a Constituição Federal de 1988 representou um
marco na evolução do conceito de família, corporificando o
conceito de Lévy-Brul, hoje bastante atual: o traço
dominante da evolução da família é a sua tendência a se
tornar um grupo cada vez menos organizado e
hierarquizado e que cada vez se funda mais na afeição
mútua”. (GENOFRE. 2003, p.100)
A Revista da Família Brasileira (2007) chama atenção para vários tipos
de famílias, vária modelos de famílias, mas de acordo com a revista essas
diversificações não representam o fim da instituição familiar. Ao contrário, é a
instituição mais valorizada do país. Apesar das transformações da família
brasileira, que está menor, aberta e diversificada, ainda é considerada o porto
seguro da atual sociedade brasileira, estando sempre em prontidão, pronta
para cuidar de quem venha dela precisar.
Portanto, segundo Kaloustian, a família continua sendo:
“(...) o espaço indispensável para a garantia da
sobrevivência, de desenvolvimento e de proteção integral
dos filhos e demais membros, independentemente do
29
arranjo familiar ou de forma como esteja estruturada.”
(KALOUSTIAN,1994, p.11)
2.2- Serviço Tradicional e a Família
Pelo que foi citado no capítulo anterior, a iniciação do Serviço Social no
Brasil tinha inicialmente as suas ações voltadas para as famílias. Sendo
considerada:
“(...) a primeira profissão a intervir a partir da perspectiva
do individuo inserido em seu grupo social, sendo a família
o grupo mais imediato.” (FERRARINI, 2004, p.36).
A profissão que nasce sobre a tutela da Igreja e do Estado tem a missão
de harmonizar o contexto conturbado pela industrialização e urbanização do
país, que aprofundou as desigualdades sociais e gerou conflitos sociais.
Quanto a este aspecto Carvalho e Iamamoto descreve bem essa situação:
“Os centros Familiares organizados pelo” CEAS a partir
de convênio com o Departamento de Serviço Social do
Estado, que funcionam a partir de 1940 em bairros
operários e que se deveriam constituir em modelo de
prática de Serviço Social, não fugiram a essa
caracterização. Sua finalidade seria a de “separar as
famílias das classes proletárias, prevenindo sua
desorganização e decadência e procurando elevar seu
nível econômico e cultural por meio de serviços de
assistência e educação.” (CARVALHO E IAMAMOTO,
2003, p:190).
Para Vieira, a família era o principal foco das ações dos assistentes
sociais, seja direta ou indiretamente, conforme sua citação:
“Do ponto de vista de assistência à família passou de
agente a cliente do Serviço Social. Procura-se obter sua
colaboração e dos parentes na ajuda ao individuo. Este
30
não é mais visto isoladamente, mas em conjunto com os
demais da família, pois, não há lógica em ajudar um dos
membros, sem também ajudar os outros. Tanto quanto
possível, os membros não devem ser separados, salvo
se tratar de famílias indignas que não tem capacidade
para cuidar de seus filhos e, neste caso, as crianças
devem ser retiradas. A família pode ser também,
colaboradora do Serviço Social, recebendo, para guarda
e educação, crianças abandonadas ou afastadas do seu
ambiente familiar.” (VIEIRA,1980 p:46-47).
Vieira acrescenta ainda:
“Nesses primeiros anos, ate 1950, o Serviço Social no
Brasil apresentava-se na linha da influência francesa, no
campo médico-social, com o objetivo de ajudar os
pacientes a utilizar convenientemente o tratamento
médico-hospitalar, como o objetivo de ajudar os
pacientes a utilizar convenientemente o tratamento
médico-hospitalar, e de empresa, para a promoção do
bem-estar do operário. Ambos enfocavam também a
família, pois não era possível ajudar um de seus
membros sem ajudar também os demais. O Serviço
Social apresentava, portanto, característica familiar e
paternalista; suas funções consistiam na seleção dos
clientes para obtenção de benefícios materiais,
gratuidade, medicamentos, alimentos auxílios em
espécie ou no encaminhamento a obras sociais que os
poderiam melhor atender.” (VIEIRA, 1980, p:142).
Conforme mencionado no capítulo anterior, após a segunda guerra
mundial o Serviço Social Brasileiro passará pautar-se na orientação
funcionalista do serviço social americano. “Em 1948, e ainda por influência dos
assistentes sociais que estudaram nos Estados Unidos, as Escolas
31
introduziram no seu currículo a Cadeira de Pesquisa e Organização da
Comunidade.” A metodologia norte-americana forneceu a base científica que
há muito tempo o Serviço Social Brasileiro buscava para validar as suas ações.
2.3 Serviço Social após Reconceituação
Conforme mencionado acima, o Serviço Social, brasileiro acompanhou
as mudanças políticas e é na década de 60 que o Serviço Social irá questionar
a sua metodologia juntamente com sua prática.
Com o movimento de Reconceituaçao do Serviço Social na América
Latina, na década de 60, houve uma ruptura do trabalho com famílias.
Conforme Ferrarini explica esse processo:
“O desvendamento da dimensão político ideológica da
pratica profissional levou à superação das concepções
positivista funcionalista e das praticas assistencialistas.
O Serviço Social inicia o processo de interlocução com a
teoria marxista e havia muito trabalho a se fazer, um
mundo inimaginável descortinava-se: o assistente social
perde a ingenuidade vê-se como sujeito político, com
possibilidade de construção de graus de autonomia,
definir os seus interesses de classe e um projeto ético-
politico próprio.“ (FERRARINI, 2004, p.24-25)
Essas novas concepções tiveram uma grande influencia no Serviço
Social, inclusive modificando a sua prática, perante a família, colocando esta
no segundo plano. Diante dessa nova orientação, conforme ressalva de
Costa:
“A orientação que passou a prevalecer, baseada em uma
visão, transformadora e critica da sociedade, propiciou a
percepção da família no interior da questão mais ampla,
contraditória e complexa do conflito de classes,
sujeitando-se o entendimento da realidade social a todas
32
as determinações, condicionamentos e influencias
decorrentes do novo enfoque. No interior desse quadro,
não é difícil perceber que a importância do trabalho com
a família foi bastante relativizada em favor da atuação
junto a comunidades e movimentos sociais. Na verdade,
concentrar, esforços na família passou a ser percebido
como o um desvio de energias e conhecimentos, que
poderiam ser utilizados em setores dotados de maior
capacidade de resposta em termos de transformação
das relações sociais em seu conjunto”. (COSTA, 1994,
p.23).
O novo projeto ético-político dos Assistentes Sociais passam a
contemplar as questões referentes às questões sociais, na qual a família deixa
de ser o foco principal das suas ações, pois o trabalho com família era
identificado com o serviço social tradicional, que era pautado na perspectiva
positivista funcionalista que perde o seu lugar para a perspectiva marxista, que
passa atender os anseios dos assistentes sociais.
Como ressalta Ferrarini nesse trecho:
“A teoria marxista respondeu a diversas questões postas
ao Serviço Social, como o desvendamento das
determinações sociais; os assistentes sociais
aprenderam a fazer análises conjunturais e estruturas,
mas foram desaprendendo a conversar com uma
criança, com uma família. Secundarizou-se a dimensão
técnico-operativa, o desenvolvimento de habilidades
comunicações e relacionais importantes, aliás, cada vez
mais importantes como instrumentos de trabalho.”
(FERRARINI, 2004, p.24).
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, as políticas
públicas atuais estão centralizadas nas famílias, este fato levou o Serviço
Social reecontra-se com as famílias. Estas passam, de novo, fazerem parte
33
das prioridades do Serviço Social, pois atualmente a atenção volta-se à família
como centro mais próximo de apoio ao indivíduo. Segundo Ferrarini:
“A família volta a ser pensada como unidade básica para
a implantação e otimização de serviços de programas
sociais e políticas públicas No cotidiano das instituições,
comunidades, órgão públicos privados e nos mais
diferentes espaços profissionais, às demandas na área
da família surgem com muita força e intensidade e
desencadeiam redefinições importantes no sentido de
potencializar serviços e programas ao transcender o
reducionismo de centrar ações em indivíduos ou
segmentos sociais.” (FERRARINI, 2003, p.37)
Nesta perspectiva, as políticas de assistência social vão introduzir
serviços voltados às famílias, pois é o grupo familiar que possui condições
objetivas e subjetivas para os processos de inclusão social.
De acordo com Guimarães e Almeida:
“(...) a chamada Constituição Cidadã de 1988 introduziu e
legitimou inovações legislativas importantes como o
Estatuto Da Criança e do Adolescente (ECA), o do idoso e
o Sistema Único de Saúde (SUS), que inspiram programas
para adolescentes, programas de saúde, de famílias, para
atendimento a pacientes crônicos, programas de renda
mínima, e muitos outros que, no âmbito legal e social,
materializaram direitos sociais relevantes.”(GUIMARÃES E
ALMEIDA, 2008, p:27)
Essas políticas públicas direcionadas as famílias abriram um leque de
frente de trabalhos para os profissionais do Serviço Social, como ilustra
Ferrarini:
“Retornar à família, mas não somente a ela. Faz-se
necessária a instigante construção de novos
entendimentos que contemplem a complexidade da
família contemporânea e de práticas que integrem e, ao
34
mesmo tempo, superem os momentos históricos da
profissão.” (FERRARINI, 2004, p. 37).
Com isso, percebe-se a extrema necessidade dos profissionais do
Serviço Social capacitar-se devidamente para lidar com as múltiplas realidades
que fazem parte do cotidiano familiar. O curso terapia de família sistêmica
vem ajudando os assistentes sociais compreenderem melhor os problemas
que circundam as famílias.
2.4 - Interlocução do Serviço Social e Terapia Familiar
As citações acima deixam claro que os profissionais do serviço sociais
precisam estar preparados para lidar com as múltiplas realidades que
perpassam o cotidiano familiar. Os cursos de extensão e especialização vêm
ao encontro do serviço social como uma das ferramentas de trabalho para
auxiliá-los a entender melhor a dinâmica familiar, conforme intensifica Ferrarini:
“A Terapia Familiar Sistêmica constitui um campo
fecundo e aberto às diferentes perspectivas teóricas e
áreas profissionais, pelo fato de estar menos submetida
à institucionalização de diretrizes acadêmicas, por ser
interdisciplinar e pela forma corajosa, como a teoria
sistêmica lançou-se à auto-reflexão e redefinições
profundas.” (FERRARINI, 2003, P.35).
É sabido que nas grades curriculares de graduação do Serviço Social
não existe uma disciplina sobre teoria familiar sistêmica, causando um vácuo
na formação dos assistentes sociais, pois Ferrarini coloca:
“No Serviço Social constata-se uma ausência e
interlocução com a teoria sistêmica. Ela permanece
desatualizada no currículo, o que cria um dilema para os
assistentes sociais que se especializam em Terapia
Familiar Sistêmica e encontram dificuldades de articular
conhecimentos teóricos”. (FERRARINI, 2003, p.35)
35
Justamente por esses motivos, os cursos de extensão e especialização
sobre família têm tido grande procura pelos assistentes sociais, que buscam
aprofundar seus conhecimentos sobre a família. Texeira ressalta que os
cursos de instituições voltados especificamente para a:
“(...) formação, o treinamento e assistência nestas
perspectivas teóricas, tem encontrado receptividade, nos
profissionais em geral e uma abertura importante para
sua utilização como um dos métodos possíveis de
intervenção no âmbito familiar.” (Teixeira 1997, p.108).
Teixeira em sua tese de doutorado ressalta que os cursos de extensão e
especialização de terapia de família são administrados por instituições
reconhecidas nacionalmente, portanto instituições sérias:
“Como, por exemplo, só no Rio de Janeiro, existem
aproximadamente, cinco instituições particulares que se
dedicam exclusivamente ao estudo e a prática clínica em
Terapia Familiar Sistêmica, além de algumas
Universidades (UFRJ, PUC-RIO, UERJ; Candido
Mendes) oferecem disciplinas ou mesmos cursos de
extensão e especialização, introduzindo também
profissionais interessados de diferentes áreas
(pedagogia, advocacia, pediatria, etc.) nas idéias
sistêmicas”. (TEIXEIRA, 1997, p:108-109)
Os cursos em questão tem grande procura principalmente dos
profissionais que tem algum envolvimento profissional com a família.
Segundo Ferrarini aponta esse motivo, torna-se imprescindível que o
assistente social esteja bem habilitado:
“(...) para responder com competência teórico-
metodológica, técnico operativo e ético político para
atender a esta nova demanda social e profissional”.
(FERRARINI, 2003, p.37)
36
Pois, sabemos que os profissionais do serviço social trabalham com
questões que envolvem a família, direta ou indiretamente, como veremos no
próximo capítulo.
37
CAPÍTULO III
A ATUAÇÃO DAS ASSISTENTES SOCIAIS NO PROGRAMA DE
ACOMPANHAMENTO DO SERVIDOR PERICIADO
“Durante anos, a escola e a família foram as duas
instituições responsáveis pela educação e formação de
novas gerações.” (PORTELLA, 2006, p:91)
Neste capitulo discorreremos sobre o programa de acompanhamento do
servidor periciado, no qual cabe a incumbência de fazer o acompanhamento o
psicossocial ao servidor periciado. Mas para se ter uma compreensão melhor
desse programa torna-se necessário contextualizar a Divisão de Saúde
Ocupacional, onde o programa funciona, mas para isso torna-se necessário
conhecer a história da Universidade Federal Fluminense (UFF), para que
possamos compreender a atuação dos profissionais do programa.
3.1 Universidade Federal Fluminense
A idéia da criação de uma Universidade para o antigo Estado do Rio de
Janeiro era um desejo antigo no meio intelectual e político do estado. A
primeira proposta concreta da criação da universidade que se tem noticia partiu
da Associação Fluminense de Professores Católicos, em maio de 1946.
Após 14 anos de luta, em 18 de setembro de 1960, em Niterói, foi
criada a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uferj) pela Lei.
3848 Faziam parte dessa nova universidade as faculdades federais de Direito,
Medicina, Farmácia, Odontologia e Veterinária, as escolas estaduais de
Enfermagem, Engenharia, Serviço Social e as faculdades particulares de
Filosofia, Ciências e Letras e a de Ciências Econômica. É importante assinalar,
também, que a Escola de Serviço Social foi criada em 1945 com a finalidade
38
de dar assistência aos integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB),
que retornavam da 2ª guerra mundial, e suas respectivas famílias.
Finalmente em 1965 a Uferj passou a ser denominada Universidade
Federal Fluminense, adotando a sigla UFF. Devemos ressaltar a incorporação
do Hospital Municipal Antônio Pedro, em 1964, hoje Hospital Universitário
Antônio Pedro (HUAP) a nova Universidade, tendo em vista o ensino e a
pesquisa nas áreas de saúde e assistência.
A UFF conta hoje com 94 cursos de graduação (90 presenciais e 4 à
distância), 76 programas de pós-graduação stricto sensu, contando com 29
Unidades Acadêmicas (Institutos, faculdades ou Escolas) e um Colégio
Universitário, incluindo o Hospital Universitário Antônio Pedro. A UFF conta no
seu quadro funcional de 2.494 docentes, 124 médicos residentes e 6.412
servidores técnico-administrativos.
3.2- Contextualizando a Divisão de Saúde Ocupacional
A Divisão de Saúde Ocupacional está vinculada ao Departamento de
desenvolvimento de Recursos Humanos da Universidade Federal Fluminense.
Segundo Emiliano:
“A Constituição Federal de 1988, ao dispor ' a saúde
como direito de todos e dever do estado', estabelece
princípios a serem respeitados pela legislação trabalhista,
que irá fixar, para o regime trabalhista, a obrigatoriedade
da realização dos exames pré-admissional, periódico e
demissional do trabalhador, bem como a criação de
recursos medico - periciais voltados à identificação do
nexo de causalidade entre danos sofridos e ocupação”
(EMILIANO, 2008, p.84).
Seguindo essa expectativa, a Divisão de Saúde Ocupacional foi criada
em 1998, tendo como meta um novo olhar incorporado com novas atuações de
cunho mais abrangente para a promoção de saúde da comunidade
39
universitária, desta maneira não ficando restrito à perícia medica. A Divisão de
Saúde Ocupacional é divida em dois setores que é O Serviço de Saúde e
Segurança do Trabalho e Perícia Oficial em Saúde.
Serviço de Saúde e Segurança do trabalho - Este serviço responde por
várias funções, entre as quais:
Exame admissional e demissional - tanto dos servidores como os
contratados pela instituição.
• Exame periódico de saúde, que tem como objetivo a promoção de
saúde, detecção precoce de doenças nos servidores da instituição.
Proporcionando aos servidores informações sobre o ambiente de
trabalho e os riscos das atividades desenvolvidas, com isso visando à
qualidade de vida do servidor.
Promoção à saúde
• Ações contínuas e campanhas internas com perfil epidemiológico.
Atividades com o programa de controle de tuberculose
Hospitalar/Hospital Antônio Pedro
• Atividades na área de saúde oral;
• Atividades na área de prevenção DST-AIDS.
Vigilância à Saúde
• Prevenção de acidentes de trabalho
• Prevenção e combate e incêndio
40
Perícia Oficial em Saúde – é um ato administrativo que consiste na avaliação
técnica de questões relacionadas à saúde e capacidade laboral realizada na
presença do servidor por médico ou cirurgião-dentista formalmente designado.
O objetivo da perícia oficial em saúde é produzir pareceres para
fundamentar as decisões administrativas dispostas na Lei 8.112 de 11 de
dezembro de 1990 e suas alterações posteriores. Sendo dividido em duas
modalidades:
a) Junta Oficial em Saúde - é a perícia oficial em saúde realizada por três
médicos ou três cirurgiões-dentistas;
b) Perícia Oficial Singular em Saúde - perícia oficial em saúde realizada por
apenas um médico ou um cirurgião-dentista.
A perícia oficial em saúde é imprescindível nos processos relacionados
à licença de saúde, aposentadoria por invalidez, readaptação, nexo de
acidente, doença profissional e doença relacionada ao trabalho, entre outros
previstos na legislação. Cabe ressaltar que a maior demanda do setor são as
licenças por motivo de saúde, como:
• Licença para tratamento de saúde (arts. 202, 203, 204);
• Licença à gestante (art.207);
• Licença por acidente em serviço (arts. 211, e 212).
• Licença para tratamento de doença em pessoa da família (art.83), sobre
isso, não podemos deixar de citar Melmam.
“O adoecimento de um membro na família representa, em
geral, um forte abalo. Para maioria das pessoas a
enfermidade significa uma grande ruptura na trajetória
existencial.” (MElMAN, 2006, p.19-20).
Todos os profissionais da área de saúde e segurança no trabalho
podem contribuir para avaliação pericial com pareceres técnicos específicos de
sua área de atuação, compondo uma equipe multiprofissional, que subsidia a
perícia oficial, na qual o programa de acompanhamento ao servidor periciado
faz parte, pois a filosofia da Divisão de Saúde Ocupacional entende que não
41
pode trabalhar somente o corpo físico do servidor, daí o programa de
acompanhamento do servidor que visa trabalhar o lado psicossocial do
servidor, pois os dois estão intrinsecamente imbricados.
3.3 - Programa de acompanhamento ao Servidor Periciado
Programa de acompanhamento ao servidor periciado foi criado em
1991, com o nome serviço de acompanhamento ao servidor, posteriormente
serviço de acompanhamento ao servidor periciado, tendo em vista a
necessidade de humanizar a divisão de saúde ocupacional, visando focalizar o
problema de saúde do servidor, mas sem separar o contexto familiar, social e
funcional do servidor. Atualmente este setor é formado por três assistentes
sociais e um psicólogo. Acreditamos que a troca entre profissionais diferentes
enriquece o desenvolvimento no programa, como afirma Ferrarini:
“Existe a formulação de alternativas teórico-
metodológicas e técnico operacionais que possibilitam
transitar pelas diversas narrativas, validá-las e reconstituí-
las numa unidade superior, viabilizando a construção de
consensos e de parcerias para ampliação de trabalhos
interinstitucionais e interdisciplinares” (FERRARINI, 2004,
p:41-48).
Além disso, torna-se importante para o serviço social uma constante
interação com outros profissionais, pois Amaro acredita nessa vertente:
“A interdisciplinaridade aparece neste contexto como uma
das possibilidades de instrumentalizar os profissionais a
interagir em equipe de forma mais coerente e eficiente,
conjugando esforços, ampliando o raio de analise e de
ação, face uma realidade sempre pronta a nos desafiar e
a tornar nossa intervenção obsoleta” (AMARO, 1997,
p:35).
42
Partindo dessa perspectiva o programa tem várias atribuições, como:
a) Acompanhar o servidor enquanto periciado - com o objetivo de
identificar fatores e áreas de resistências e conflitos que dificultem o
desempenho funcional e pessoal, ajudando na busca de alternativas
que venham adequar as atividades conforme inspeção médica.
Vale lembrar que o acolhimento responsável ao servidor periciado é uma
das prioridades do programa, pois sabemos que é muito constrangedor para
as pessoas assumirem que estão doentes. Emiliano na sua dissertação utiliza-
se da ideologia da vergonha de Dejours para explicar a vergonha que as
pessoas sentem quando ficam doentes.
“Segundo ele, a vergonha constitui uma ideologia
elaborada coletivamente, assumindo o sentido de defesa
contra a ansiedade de estar num corpo incapacitado,
representando, em relação ao trabalho, como sujeito a
parar de trabalhar. Assim segundo ele, guardam um
conteúdo específico erigido pelo subproletariado, que não
sente a doença em si mesma, mas como uma situação
impeditiva de trabalho. Há, portanto, uma associação
entre a doença e a 'vagabundagem’.” (DEJOURS, 1992
apud Emiliano, 2008, p.80)
b) Fazer a mediação entre o servidor e chefias - nos casos de limitação de
atividades, mudanças de setor e alta experimental quando concedido pela
junta médica. Cabe a esse programa sensibilizar a chefia sobre a problemática
do servidor. De acordo com essa perspectiva, o programa faz o
acompanhamento do servidor no seu processo de reintegração ao seu
ambiente de trabalho, quando necessário.
43
c) Quando necessário realizar visitas domiciliares aos servidores - para
observar melhor os elementos relacionados às suas condições sócio-
econômicas e culturais destes com intuito de subsidiar melhor o parecer da
junta médica. Devemos destacar que cabe ao serviço social intervir, quando
necessário, junto à perícia médica a favor do servidor.
d) Orientar os servidores sobre a licença por motivo de doença - em
pessoa de família (Art.83), frisando bem os direitos e deveres referentes essa
licença. Ainda mais quando se trata de filhos e pais que são pessoas que os
servidores têm um vínculo emocional muito forte. Diante desses problemas, o
servidor deixa de ter condições de atender seus compromissos profissionais,
pois sabemos que nessa hora a família é sagrada.
e) Orientar, informar os familiares sobre os direitos e deveres inerentes ao
servidor periciado - tendo em vista uma ação co-participativa para intervir nos
casos das faltas ao serviço e o comparecimento a DSO. Inclui-se aí contactar a
família para aprofundar o conhecimento da problemática que esteja impedindo o
servidor de desenvolver o seu trabalho devidamente na instituição.
A maior demanda de atendimento da perícia oficial de saúde provém do
Hospital Universitário Antônio Pedro, segundo a estatística da Perícia Oficial de
2007, Neste sentido, os transtornos mentais e comportamentais ocupa o
segundo lugar de atendimento na divisão. Emiliano faz uma observação muito
interessante a respeito do ambiente hospital em sua dissertação:
“Há situações locais peculiares à natureza e às condições
de trabalho. No Hospital Universitário Antônio Pedro, a
situação se agrava por falta de pessoal e de condições
mínimas e riscos de trabalho de alguns setores para
servidores e pacientes. Há um sentimento de abandono
dos servidores em relação às suas questões relacionadas
às más condições físicas e ausências de recursos que
44
dificultam o desenvolvimento das atividades e acarretam
estresses entre eles. A estes, somam-se queixas de
população, que se encontra desassistida” (EMILIANO,
2008, p.75).
Na maioria das vezes esses desgastes emocionais levam os servidores
à depressão, sabemos que essa é considerada a doença do século XXI, como
ressalta Gonçales:
“No último relatório da Organização Mundial de Saúde
(OMS), a depressão se situa em quarto lugar entre as
principais causas de ônus entre todas as doenças, e as
perspectivas são ainda mais sombrias. Se persistir a
incidência da depressão, até 2020 ela estará em segundo
lugar. Em todo mundo, somente a doença isquêmica
cardíaca a suplantará.” (GONÇALES, 2007, p.298)
Sabemos da grande dificuldade de as pessoas de aceitarem a sua
doença, conforme a citação acima imagina então se for uma doença mental,
que continua sendo uma doença ainda muito estigmatizada nos dias atuais,
apesar das pessoas estarem mais esclarecidas sobre as doenças mentais,
Melmam confirma:
“No imaginário social, predomina uma visão de medo e
rechaço a qualquer experiência humana que se afaste
dos padrões de racionalidade e normalidade
hegemônicos.” (MELMAN, 2006, p.23)
Durante os atendimentos percebemos a resistência dos servidores a
assumir que sofre de algum tipo de doença relacionado ao sofrimento mental.
Isso implica na recusa de procurar profissionais ligados à área da saúde
mental. Esta recusa deve-se principalmente ao medo de serem tachados de
malucos. Em suma nas palavras de Melman:
45
“A loucura, ou a doença mental, como esta passou a ser
definida a partir do século XIII, foi praticamente sempre
associada a uma dimensão negativa, estranha,
estrangeira, que nos ameaça, destabiliza. Infelizmente,
nos dias atuais, a loucura deixou de ser considerada uma
experiência trágica, parte integrante da condição humana,
para ser vista somente como negatividade: ilusão,
alteração de comportamento, desvio moral, disfunção no
funcionamento cerebral.” (MELMAN,2006, p.23 – 24)
Neste sentido, não podemos esquecer o papel fundamental da família
nesse momento doloroso para as pessoas, pois a família nesse momento
aparece como campo de mediação imprescindível dos conflitos vivenciados
pelas pessoas que sofrem que sofrem com algum tipo de doença mental.
Sob esse aspecto, a família também precisa de informações e orientações
para lidar melhor com essa nova realidade que implicará em conflitos pessoais
e profissionais tanto para o servidor como para a família. Por sua vez, Melman
afirma:
“Nos últimos anos, conceitos de sobrecarga familiar
(family burden) foi desenvolvido para definir os encargos
econômicos, físicos e emocionais a que os familiares
estão submetidos e o quanto a convivência com um
paciente representa em peso material, subjetivo,
organizado e social.” (MELMAN, 2006, p.79)
Devido a essas problemáticas que norteiam o cotidiano dos profissionais do
serviço social, torna-se imprescindível que esses profissionais estejam
preparados para lidar melhor com os desafios permanentes que permeiam o seu
cotidiano, na qual a família faz parte.
46
CONCLUSÃO
Apesar das constantes mudanças que o serviço social vem
atravessando na sua trajetória, não podemos negar que o trabalho
desenvolvido por essa profissão esteve de alguma forma atrelado à família,
seja direta ou indiretamente, conforme vimos neste trabalho.
Mostramos que a assistência aos mais desvalidos é uma prática muita
antiga, que ao longo dos anos as instituições religiosas e filantrópicas,
pioneiros no trabalho de assistência, ajustaram a pratica de ajuda conforme o
contexto social de cada época.
Mostramos que no Brasil a profissão do serviço social nasce sob os
auspícios da Igreja, que tinha como foco a família. Na década de 60, países
sul-americanos, influenciados pela revolução cubana, rebelaram-se contra a
ideologia norte-americana que permeava as relações sócias do continente. O
serviço social brasileiro também rompe com os modelos importados que
dominava as escolas de serviço social. Na procura da sua identidade (técnico-
cientifico) aproximou-se da ideologia marxista, dessa forma passa ter como
foco principal os conflitos sociais, colocando a família em segundo plano.
A partir da Constituição de 88 que passa a reconhecer a família como o
núcleo central da sociedade, direcionando as políticas públicas as famílias. De
novo a família volta ser o foco do Serviço social.
Ao discorrer sobre o programa de acompanhamento ao servidor
periciado, pudemos mostrar que o trabalho do serviço social não fica restrito
somente ao acompanhamento do servidor periciado, mas também focando
seus familiares. Sendo assim, a família também está presente nosso trabalho,
pois é o nosso principal elo com servidor.
Pode-se concluir que o Serviço Social continua trabalhando com a
família, daí a necessidade de aprofundamos o nosso conhecimento sobre a
família. Nesse sentido, o curso de terapia de familiar veio ao nosso encontro,
nos possibilitando a entender melhor a dinâmica relacionado à família, que
possui vários formatos, conforme mencionado no trabalho. Pode-se afirmar
que o curso nos possibilitou a fazer uma reflexão sobre nossa prática, que
47
envolve múltiplos aspectos, tais como: diálogo, sensibilidade, escuta,
humildade e respeito. Aprendemos principalmente que o modelo de família
varia conforme o contexto social em que se inserem.
Por fim o curso nos ajudou a buscar novas ferramentas profissionais para
lidar melhor com as múltiplas diversidades complexas que rondam o cotidiano
dos profissionais do serviço social.
48
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1995.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL
1.1- Origem da Assistência 10
1.2 - Época da Cristandade 11
1.3 - Serviço Social como profissão 13
1.4 - Surgimento do Serviço Social no Brasil 17
CAPÍTULO II
ENCONTRO E REENCONTRO DO SERVIÇO SOCIAL
E A FAMÍLIA
2.1 - Transformações na Família 24
2.2 - Serviço Tradicional e a Família 29
2.3 - Serviço Social após Reconceituação 31
2.4 - Interlocução do Serviço Social e Terapia Familiar 34
CAPÍTULO III
ENCONTRO E REENCONTRO DO SERVIÇO SOCIAL
E A FAMÍLIA
3.1 - Universidade Federal Fluminense 37
3.2 - Contextualizando a Divisão de Saúde Ocupacional 39
52
3.4- Programa de acompanhamento ao Servidor Periciado 41
CONCLUSÃO 46
BIBLIOGRAFIA CITADA 48
ÍNDICE 51
53
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: