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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR PÚBLICO DENTRO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS Por: Ohana Lôbo Freire Orientador Prof. Mario Luiz Trindade Rocha Rio de Janeiro 2015

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO …CAPÍTULO II - As consequências da Terceirização 19 2.1 Das Consequências da Terceirização nas 21 Atividades Internas

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR PÚBLICO DENTRO DAS

UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS

Por: Ohana Lôbo Freire

Orientador

Prof. Mario Luiz Trindade Rocha

Rio de Janeiro

2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR PÚBLICO DENTRO DAS

UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Pública

Por: Ohana Lôbo Freire

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AGRADECIMENTOS

a Deus, aos pais, ao marido, aos

familiares e amigos.

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RESUMO

O trabalho exposto busca, em síntese, estudar de forma aprofundada se

o advento da terceirização prejudica, de fato, a prestação de serviços para com

a sociedade por parte das Universidades Federais de Ensino no Brasil. Para

tanto, procurou-se abordar diversos tópicos, para que servissem como base

para tal questão.

Estudos iniciais apontam que há muita controversa a respeito da

terceirização do setor público nas universidades federais brasileiras. Mas já é de

comum acordo que há impactos nas atividades-fim destas universidades e tais

impactos dividem-se em positivos e negativos, tanto para as universidades

quanto para a sociedade. Para as universidades, a vantagem evidente, em

termos de custos, é de não precisar dar estabilidade no emprego e outras

vantagens inerentes a um servidor. E, talvez, a maior desvantagem seja para a

sociedade, porque, em alguns casos, há uma queda considerável na qualidade

dos serviços prestados, visto que a organização passa a ficar nas mãos da

empresa contratada. Entretanto, estas são apenas algumas hipóteses, pois,

estudando a questão de maneira aprofundada, é possível identificar diversos

outros impactos.

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METODOLOGIA

O estudo terá por base resoluções recentes sobre os regulamentos da

terceirização, exemplos práticos que busquem comprovar vantagens e

desvantagens da terceirização, artigos acadêmicos e livros que discorram

sobre a terceirização dentro das universidades federais e acervos da internet e

impressos em geral que busquem exemplificar e fundamentar os estudos

apresentados. A fundamentação teórica terá por base 3 principais obras que

abordam diversos ícones relativos à terceirização: A Terceirização no Brasil

(2012), de Indalécio Gomes Neto e Rider Nogueira de Brito; A Terceirização na

Administração Pública (2014), de Carolina Zancaner Zockun e Terceirização de

Serviços Pela Administração Pública (2014), de Diogo Palau Flores dos

Santos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - A Terceirização

1.1 Conceitos Essenciais 11 1.2 Surgimento da Prática da Terceirização 13 No Brasil

1.3 A Terceirização na Administração Pública 15 CAPÍTULO II - As consequências da Terceirização 19

2.1 Das Consequências da Terceirização nas 21 Atividades Internas e Permanentes

CAPÍTULO III – Outras Formas de Terceirização 26 CAPÍTULO IV – A Terceirização nos Regulamentos e Leis 4.1 Da Constituição de 1988 31 4.2 Das Outras Legislações 33 CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

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INTRODUÇÃO

O tema desta monografia é A Terceirização no Setor Público Brasileiro

e a questão central deste trabalho objetiva esclarecer a seguinte questão: A

Terceirização no Setor Público Dentro das Universidades Federais Brasileiras

Traz Impactos na Qualidade da Prestação dos Serviços?

O tema escolhido é de fundamental importância nos tempos atuais pois

o motivo principal da sua elaboração é devido, principalmente, ao auge que este

assunto se encontra. A terceirização tem se propagado em alta velocidade,

gerando, nos últimos anos, diversas regulamentações e regras para essa prática.

No entanto, ainda assim, este assunto é motivo de muitas discordâncias, pontos

desencontrados, deixando-nos muitas vezes na dúvida se esta prática gera ou

não algum tipo de benefício ou prejuízo, bem como quem é atingido de forma

benéfica ou não pela terceirização dentro do serviço público. Atualmente, tem-se

diversas resoluções, livros, matérias que discutem sobre o tema desde o ínicio

até os dias atuais, mostrando a história e justificando a situação vivida hoje em

relação a terceirização. Vislumbrando todos esses ícones, este tema foi escolhido

no objetivo de poder ser estudado de forma mais aprofundada, exposto mais

claramente e ao mesmo tempo objetivamente para buscar responder os

apontamentos principais elencados no espaço dos objetivos gerais, específicos e

secundários. Além disto, o trabalho também visa agregar valor e novos

esclarecimentos quanto a este assunto tão debatido atualmente.

Se tornam, assim, objetivos desta pesquisa, identificar se a prática da

terceirização no setor público dentro das universidades federais do Brasil traz

algum tipo de impacto, seja ele positivo ou negativo, na prestação de serviços das

universidades para com a sociedade; identificar quais são os principais impactos

causados nas atividades-fim das universidades públicas federais do Brasil devido

à terceirização; identificar os tipos de terceirização disponíveis no Setor Público

atualmente e identificar as recentes mudanças nos regulamentos da terceirização

nas universidades federais do Brasil.

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O primeiro capítulo deste trabalho faz uma abordagem intensa sobre o

conceito da terceirização. Uma forma teórica de definir este fenômeno, trazendo

conceitos essenciais, um lado histórico que procura mostrar como surgiu esta

prática no Brasil e mais adiante, como esta prática apareceu e passou a ser

praticada dentro da própria Administração Pública.

O segundo capítulo abre portas para uma reflexão sobre as

consequências desta prática nos resultados finais para com a sociedade. Este

capítulo traz explicações sobre o que se considera ser uma atividade interna e

permanente da Administração, bem como os resultados ou consequências

advindas das atividades terceirizadas.

Os dois capítulos finais fazem menção a outras possíveis formas de

terceirização, que é de bastante valia para o aprofundamento no tema

escolhido e busca resumir a terceirização prevista em regulamentos a leis,

como na própria Constituição de 1988, legislações infraconstitucionais,

Enunciado 256 e sua súmula complementar 331 (ambos do TST), Instrução

Normativa MPOG-2/2008 e Lei de Responsabilidade Fiscal.

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CAPÍTULO I

A TERCEIRIZAÇÃO

1.1 – Conceitos Essenciais

Inicialmente, de uma forma teórica, a terceirização é vista como um

instituto decorrente da Ciência da Administração. Este instituto tem como

principais objetivos reduzir os custos e especializar as atividades de uma

organização, ainda que seja ela pública ou privada.

Normalmente, as atividades-meio são as atividades principais a serem

terceirizadas, porém, também há casos nos quais as próprias atividades-fim

também são objetos de terceirização, denominadas, neste caso, downstream.

A terceirização nas atividades-meio, também denominadas upstream, permite

que a organização mantenha seu foco nas atividades finais, estas, essenciais

para o bom desempenho e resultado, de uma forma geral, da organização.

Há, ainda, que se esclarecer que, de acordo com a jurisprudência e doutrina,

considera-se atividade-meio aquela referente ao suporte ou apoio necessário

para o processo produtivo, e, atividade-fim aquela relacionada com o objetivo

final da empresa.

Porém, Gomes Neto (2012) afirma que, devido ao dinamismo das

atividades, que mudam na velocidade do tempo e com constantes introduções

de novas técnicas, não existe critério legal que defina os conceitos de

atividade-meio e atividade-fim. Até porque o que hoje pode ser considerado

como uma atividade-fim, logo em seguida pode deixar de ser em decorrência

também das constantes transformações na própria estrutura da organização.

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Logo, o instituto da terceirização tem como essência repassar para

outro ou outros algumas ou até mesmo todas as atividades secundárias da

organização, de forma que ela possa dedicar-se integralmente ao seu objetivo

final.

Em um dos conceitos sobre terceirização, entende-se que “a

terceirização constitui uma das formas de privatização (em sentido amplo) de

que vem se socorrendo a Administração Pública”. Acresce a doutrinadora:

A privatização, em sentido amplo, abrange todas as formas pelas quais

se buscam uma diminuição do tamanho do Estado, podendo abranger a

desregulação (diminuição da intervenção do Estado no domínio econômico), a

desmonopolização de atividades econômicas, a privatização de serviços

públicos (quando a atividade deixa de ser serviço público e volta à iniciativa

privada), a concessão de serviços públicos (dada a empresa privada e não

mais a empresa estatal como vinha ocorrendo) e as contratações de terceiros

(contracting out), em que a Administração Pública celebra ajustes de variados

tipos para buscar a colaboração do setor privado, como os contratos de obras

e prestação de serviços (a titulo de terceirização), os convênios, os contratos

de gestão, os termos de parceria. (DI PIETRO, 2012, p.215)

Ainda em conceitos sobre terceirização, tem-se que este processo

ocorre sempre entre duas empresas, no qual a contratante é denominada

“empresa-mãe” e a contratada é denominada “empresa-terceira”.

De acordo com Zockun (2014), a terceirização pode vir a ser realizada

de duas formas: na primeira, a organização deixa de produzir bens e serviços

relacionados com sua atividade-fim para adquiri-los de outras empresas,

desativando, total ou parcialmente, de possíveis seções que antes

funcionavam dentro da própria organização. A outra forma de terceirização é

baseada na contratação de uma ou mais empresas para realizar dentro da

“empresa-mãe” atividades que antes eram executadas por trabalhadores

contratados diretamente pela organização. Esta forma de terceirização refere-

se tanto a atividade-fim como a atividade-meio e, para este trabalho, esta

segunda forma de terceirização será de mais utilidade de acordo com o

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desenvolvimento teórico do tema abordado, pois é a forma mais utilizada

dentro das universidades federais do Brasil.

A prestação de serviços, por exemplo, pode ocorrer dentro ou fora do

espaço físico da organização. Na terceirização interna, as atividades

terceirizadas são realizadas dentro da organização, utilizando a mão-de-obra

da “empresa-terceira”. Um bom exemplo deste tipo de terceirização ocorre

quando a organização terceiriza os serviços de limpeza e manutenção de seu

espaço físico. Na terceirização externa, a prestação dos serviços ocorre fora

da “empresa-mãe”. Há uma descentralização das atividades e cada uma das

empresas contratadas fará sua parte para o desenvolvimento do processo

produtivo. Como exemplo desta configuração tem-se a terceirização dos

serviços de Contabilidade de uma organização.

A expressão terceirização corresponde a um termo em inglês chamado

de outsourcing que é, nada mais, nada menos, suprir fontes externas, utilizar

transações de mercado em vez da utilização de transcoes internas visando

atingir determinados fins. Conclui-se, então, que, de acordo com Cabral

(2002), a terceirização está muito mais relacionada com a opção que a

organização faz entre o ‘fazer’ e o ‘comprar’. Este tipo de decisão é cada vez

mais recorrente hoje em dia devido a inúmeros aspectos do cenário atual,

tanto para a empresa privada quanto para a gestão pública, esta, foco do

trabalho em questão.

Assim, define-se terceirização como:

[...] a estratégia empresarial que consiste em uma empresa transferir

para outra, e sob o risco desta, a atribuição, parcial ou integral, da produção de uma

mercadoria ou a realização de um serviço, objetivando - isoladamente ou em

conjunto – a especialização, a diminuição de custos, a descentralização da produção

ou a substituição temporária de trabalhadores. (SOBRINHO, 2008, p.78)

É uma forma de conduzir os negócios em que se objetiva definir o que

será mais conveniente à empresa naquele momento para o êxito da

organização como um todo. Portanto, a ideia de terceirização é uma

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constatação de variadas e distintas formas de organização relacionadas a um

aspecto competitivo e dinâmico.

1.2 – Surgimento da Prática da Terceirização No Brasil

O Brasil introduziu a prática da terceirização na década de 1970, por

meio do setor automobilístico. Porém ainda sofreu forte resistência, como toda

mudança, por parte dos sindicatos e administrações de empresas, que eram

adaptadas ao modelo centralizado de organização. Mesmo assim, em 1990, a

terceirização conseguiu alcançar diversos outros setores produtivos.

Zockun (2014) explica que no auge de um intenso processo de

globalização, a economia foi aberta ao exterior de uma forma abrupta e

totalmente dissociada das políticas industriais e agrícolas. E todo este

processo ocorreu num ambiente de retração econômica, durante o governo de

Fernando Collor, o que fez com que a terceirização fosse alavancada pela

necessidade extrema de reestruturação produtiva.

Algumas medidas foram adotadas nesta época com o objetivo de

estimular a competitividade dos produtos brasileiros e, entre estas medidas,

destacam-se, entre outras:

• Incentivo à reestruturação produtiva;

• Privatização de diversas empresas públicas;

• Desregulamentação das relações de trabalho;

• Legislação antitruste e novas leis de proteção ao consumidor;

• Liberalização comercial e as novas regras para investimentos diretos.

Num intenso cenário de crise e desafios econômicos, as empresas

brasileiras montaram estratégias para alcançar ganhos de produtividade e

bons diferenciais competitivos. Algumas reduziram custos demitindo

empregados e precarizando relações de trabalho, enquanto outras, focaram

suas forças em seu produto final, as atividades-meio. E ainda houve empresas

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que combinaram as duas técnicas. E a consequência para os trabalhadores foi

única: agravamento das condições de vida e trabalho.

O problema é que o Estado Brasileiro é, de acordo com a Constituição,

um Estado Social, o que significa que há inúmeras regras e direitos que

protegem o trabalhador. O fenômeno da terceirização, embora possa de fato

reduzir os custos para a organização, pode também declinar ou fragilizar a

qualidade de vida do trabalhador, fato este, comprovado por estudos

realizados pelo Departamento Intersindical de Estatisticas e Estudos

Socioeconômicos (DIEESE).

Alguns autores já consideram a terceirização como um verdadeiro

retrocesso destas garantias que devem ser garantidas pelo Estado, já que

enfraquece alguns direitos tão almejados pela massa trabalhadora.

1.3– A Terceirização na Administração Pública

Em uma empresa privada é de fácil compreensão entender a razão de se instituir a prática de terceirização. Redução de custos impacta diretamente no

aumento de lucros, o que é o ideal no capitalismo atual. Agora, resta saber os

ganhos da terceirização para a Administração Pública.

Inicialmente, há que se destacar o Decreto-lei 200/67 que, em seu art. 10,

§ 7º, determina:

Art. 10. A execução das atividades da Administração Pública

Federal deverá ser amplamente descentralizada.

(...).

§ 7º. Para melhor desincumbir-se das tarefas de

planejamento, coordenação, supervisão e controle e com o objetivo

de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa,

a Administração procurará desobrigar-se da realização material de

tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução

indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa

privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar

os encargos de execução.

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Nasce, então, com amparo de lei, o instituto da terceirização no Brasil.

Logo depois, em 1970, a lei 5.645 foi editada, fixando diretrizes para a

classificação de cargos do Serviço Civil da União e das autarquias federais.

Porém, embora houvesse previsão para a terceirização das atividades

administrativas, só anos depois é que este instituto, de fato, se iniciou.

Curiosamente, Couto e Silva (2003) esclarece que no Brasil, com a

edição do Decreto 86.215/81, o governo de João Figueiredo privatizou as 20

primeiras empresas que estavam sob controle da União. No governo de José

Sarney mais 18 empresas foram privatizadas. No entanto, foi apenas no

governo de Collor que as privatizações ganharam um significativo impulso. E o

ápice das privatizações deu-se no governo de Fernando Henrique Cardoso,

que introduziu inúmeras reformas a fim de desafogar o Estado de atividades

que poderiam ser realizadas de modo mais eficiente por particulares.

Sobre esta reforma no governo FHC explica-se que:

Entre nós, a ‘reforma gerencial’ tem início no primeiro mandato do

Presidente Fernando Henrique Cardoso com a elaboração do Plano Diretor da

Reforma do Aparelho do Estado (1995), culminando na promulgação de

sucessivas emendas à Constituição, especialmente as da Reforma

Administrativa e Previdenciária, bem como uma série de normas

infraconstitucionais, tendentes a regulamentá-las e a implementar a política do

downsizing: redução e enxugamento da máquina estatal e equilíbrio das contas

públicas.2 No seu segundo mandato, as preocupações voltam-se quase que

exclusivamente para a manutenção dos baixos níveis de inflação, para o

reequilibro do balanço de pagamento e, sobretudo, para o combate ao déficit

público. (FERRAZ, 2007)

Esta ideia de ‘desafogar’ o Estado foi defendida com veemência, de

forma que, assim, o Estado estaria restrito a atividades mínimas. Isto fez com

que a terceirização ganhasse força e passasse a ser utilizada em larga escala

na Gestão Pública.

No âmbito da Administração Pública, o Plano de Reforma do Aparelho

Estatal passou a ser o marco da terceirização no Brasil, pois tirou da alçada da

Administração setores de suma importância para a cidadania e segurança do

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País. Partiu-se do principio de que quanto menor for a atribuição do Estado,

mais eficiente e melhor ele será.

Não esquecendo do conceito constitucional de Estado Social, o Estado

Brasileiro deve cumprir este papel, não podendo se desfazer de atividades que

lhe são inerentes e, para isso, necessita de pessoal qualificado para seu

desempenho. Conclui-se daí que esta tentativa de redução de atividades do

Estado a qualquer custo implica em uma necessidade primordial de

implementação das atividades administrativas e dos serviços públicos previstos

na Constituição de 1988.

Em termos de quantitativos, o Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão (MPOG) indica uma redução do quadro de servidores públicos civis da

União. Em 1991, os servidores ativos somavam 661.996, já em 2012, último

levantamento oficial, constam apenas 586.887. Isso significa que número de

servidores, que deveria ter aumentado por conta do crescimento populacional,

foi reduzido em mais de 75 mil servidores.

A terceirização atingiu proporções tão intensas que fez com que o

Ministério Público do Trabalho entrasse com uma Ação Civil Pública, por

considerar irregular parte destas terceirizações que foram realizadas pela

União. De fato, a Administração Pública tem se utilizado da terceirização de

forma tão ampla que, inevitavelmente, acaba desvirtuando o que foi

determinado pela Constituição de 1988 – a via do concurso público.

Considerando ainda as inúmeras estratégias utilizadas atualmente no

mundo dos negócios e partindo do princípio de que a ideia de terceirização

corresponde à constatação das formas distintas de organização relacionadas

ao aspecto estratégico, uma organização pode encontrar uma integração

vertical e/ou horizontal, em que a vertical corresponde à forma de organização

em que as atividades são unidas sob um aspecto de hierarquia em relação à

sua matriz. Já a integração horizontal diz respeito àquelas contratações feitas

livremente, sem hierarquias.

Portanto, todo este processo decisório que uma organização passa,

referente à questão de terceirizar ou não seus serviços ou produtos, é

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identificado através de um aspecto de integração horizontal, ou simplesmente,

a contratação que é operada no mercado atualmente.

De uma forma geral, não se chega a um consenso absoluto em relação a

qual é, de fato, o conceito de terceirização na Administração Pública. Cada

doutrinador explica de uma forma diferente, além de a terceirização ser, de

fato, um neologismo, proveniente da palavra “terceiro”, entendido como

“intermediário” ou, ainda, “interveniente”.

Netto de Araújo (2010) relembra ainda que “terceirização” não é termo

jurídico e também pode ser considerada como um tipo de privatização, ou uma

contratação, por determinada organização, de serviços ou produtos de

terceiros. E complementa ainda que no direito administrativo e no civil este

termo tem o sentido mais usual de empreitada.

Já Bohnert (2011) explica que o termo “terceirização” indica a

contratação de intermediários para realizar trabalhos secundários ou “de

suporte”, deixando a organização voltada à sua atividade principal. A

organização então concentra-se em sua atividade-fim e transfere suas

atividades-meio.

Bandeira de Mello (2014) resume que terceirização significa,

simplesmente, passar a um particular tarefas que antes eram desempenhadas

pelo Estado. Este repasse acontece mediante diversos instrumentos jurídicos

como, por exemplo, concessão, permissão, delegação, contrato administrativo

de obras, de prestação de serviços, entre outros.

Diante do exposto acima, conclui-se, finalmente, que, não há um conceito

legal de terceirização. Ao analisar os diversos conceitos de diversos

doutrinadores, chega-se a conclusão de que “terceirização” pode ser

considerada como um trepasse do exercício, não de titularidade, de atividades

jurídicas ou materiais, realizadas sob a luz de um regime de direito público,

pessoas físicas ou jurídicas, que estejam habilitadas a desempenhá-las.

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CAPÍTULO II

AS CONSEQUÊNCIAS DA TERCEIRIZAÇÃO

Este capítulo buscará sintetizar as vantagens e desvantagens da prática

do instituto da terceirização dentro das Universidades Federais do Rio de

Janeiro. Elencar possíveis problemas decorrentes deste ato e expor possíveis

soluções de problemas trazidas pela terceirização.

Em um processo decisório há sempre que se considerar que qualquer

passo a ser dado gera impactos. Os aspectos negativos e positivos devem

sempre ser levados em consideração antes que se tome uma decisão, e, para

a Gestão Pública, não é diferente. A decisão de terceirizar pessoal gera,

inevitavelmente, vantagens e desvantagens.

A opção de aplicar a terceirização deve ser criteriosamente estudada,

pois devem-se levar em conta também aspectos que envolvam circunstâncias

atuais, estrutura de mercado e o próprio cenário no qual a Universidade está

inserida. Esta opção deve ser analisada em termos de competitividade, pois,

por exemplo, até mesmo as particularidades dos próprios fornecedores devem

ser analisadas, afim de que não se prejudique o serviço prestado em nome da

Universidade.

Da mesma forma que se deve evitar relações dificultosas entre

contratante e contratado, relações benéficas devem ser enaltecidas na hora de

se decidir entre terceirizar ou não. Ou seja, a relação deve produzir bons

resultados para ambas as partes. Nesse sentido, há, de grande importância, a

questão da reputação, de modo que reputação positiva, sem dúvidas,

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influencia na decisão de formação da aliança ou não. È imprescindível que se

firme um compromisso confiável, definido como um:

[...] contrato no qual as promessas acordadas são garantidas por

mecanismos de incentivo e controle, de tal modo que as partes não

identifiquem motivações econômicas para o rompimento contratual, ou

mais, para a quebra das promessas previamente estabelecidas. (FARINA,

1997, p. 283)

A organização também deve se atentar àqueles casos em que a atividade

Terceirizada é provida por apenas um único fornecedor, pois, mesmo com alto

grau de compromisso entre as partes, há casos em que qualquer problema

pode vir a impossibilitar a atividade e o contratante estará sempre dependente

do fornecedor. Por exemplo, um acidente com o único trabalhador da empresa

fornecedora. Isto impediria a continuidade das tarefas realizadas.

Um aspecto interessante de ser ressaltado é que, em alguns casos, a

decisão de terceirizar, principalmente na etapa final, ou em uma etapa que

produza aquilo que diferencie a organização das demais, pode acarretar

prejuízo em questões de competitividade, tendo em vista que o concorrente

pode vir a contratar o mesmo fornecedor.

Também há casos que, embora não aplicáveis ao ambiente da

Administração Pública, é interessante sintetizar. São aqueles casos em que a

terceirização cria ambiente favorável para o surgimento de um novo

concorrente. Foi o que aconteceu com a empresa Honda, que, de simples

fornecedora da Toyota, passou a ser sua grande concorrente.

Quando uma organização opta por terceirizar, em sua grande maioria, ela

busca a redução de custos e, consequentemente, o aumento dos lucros.

Quando se transfere uma atividade para um fornecedor, o custo, que antes era

fixo, é transformado em variável, ou seja, só é incorrido quando é, de fato,

efetivamente utilizado. Isto é extremamente importante, pois terceirizar nestes

casos pode fazer com que as organizações contratem somente quando se fizer

necessário, o que aumenta as opções em questão de momentos de

investimentos, pois reduzindo margens de lucro, o montante de investimentos

em outras áreas passa a ser limitado.

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Deve-se considerar também que os recursos de uma organização são

limitados e isso pesa na hora de escolher em qual área investir. Quando se

opta por terceirizar, há que se disponibilizarem recursos financeiros para

investimentos em atividades de interesse da organização. Neste passo, a

terceirização pode até ter relação com a atividade-fim, também conhecida por

downstream, paralelo à estratégia da organização.

A terceirização permite um enfoque nas competências essenciais,

aquelas que fazem com que uma organização se diferencie de outra em

relação à concorrência, isso caracterizaria um core bussiness ou core

competence, que é, justamente, traduzido como as competências essenciais

de uma organização. Por isso, mais uma vez, a organização precisa direcionar

seus recursos em atividades que realmente contribuem para um

diferenciamento desta organização em relação a outras.

Há também uma outra vantagem para a organização que decide

terceirizar: normalmente, os fornecedores especializados realizam constantes

investimentos para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de seus processos,

tornando desnecessários que as organizações façam esforços nesta área. Ou

seja, a organização consegue um trabalho especializado e atual sem se

preocupar diretamente com o treinamento destes.

2.1– Das Consequências da Terceirização nas Atividades Internas e Permanentes

Primeiramente, antes de dissertar sobre atividades internas e permanentes e suas consequências decorrentes da terceirização, há que se

explicar as diferenças entre as atividades administrativas, pois para distinguir

atividades terceirizáveis e atividades não terceirizáveis parte-se destas

diferenças essenciais entre cada atividade administrativa.

O enfoque também será para as atividades que envolvam recursos

humanos, pois nas universidades federais do Brasil, a maioria das atividades

terceirizadas relaciona-se com o serviço de limpeza e manutenção, apoio

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administrativo aos servidores, entre outros, ou seja, justamente funções

relacionadas com recursos humanos.

As atividades podem ser classificadas em permanentes, temporárias,

internas e externas. Assim, a questão é saber quais serviços podem ser

contratados por licitação pública. E a primeira baliza da Constituição se

encontra no art. 3, I e II. Este artigo estabelece a necessidade de concurso

público para os cargos e empregos na Administração Pública e afirmam que o

aparato administrativo deve ser preenchido por pessoas cujo vínculo com a

Administração não seja episódico, eventual, transitório e sim, permanente.

E faz todo sentido, pois não há razões de se organizar um concurso

público se o trabalhador só será requisitado para um ou outro serviço de

caráter específico ou, ainda, por um curtíssimo período de tempo.

O princípio do concurso público visa atender um interesse público

primário, não um interesse secundário da Administração. A sociedade é, na

verdade, a grande beneficiária da melhor contratação por parte da

Administração, esta, por sua vez, para sua sobrevivência e atendimento ao

interesse público, necessita de pessoal permanente para o desenvolvimento

de suas atividades.

Além disso, o concurso público faz valer o princípio da isonomia,

assegurando a todos iguais oportunidades de alcançar um cargo/emprego

público e também filtra os mais bem preparados para o exercício de

determinada atividade.

Por outro lado, também não é conveniente que pessoas alheias ao

quadro de integrantes da Administração circulem internamente dentro de uma

repartição pública, pouco importando a função que desempenhe. Então,

quando se admite a terceirização para estas atividades internas e permanentes

permite-se também que pessoas alheias ao quadro de pessoal sejam

comandadas por pessoas estranhas à órbita do direito público.

Os terceirizados de um órgão público possuem relação de dependência

com a empresa contratada pela Administração. Sendo assim, dentro de uma

estrutura hierárquica deste órgão, os terceirizados não se encaixam em

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qualquer lugar, pois se submetem aos comandos da empresa privada

empregadora e não à autoridade dos agentes públicos.

A Instrução Normativa 2/2008 ampara:

Art. 10. É vedado à Administração ou aos seus servidores praticar atos de ingerência na administração da contratada, tais como: I - exercer o poder de mando sobre os empregados da contratada, devendo reportar-se somente aos prepostos ou responsáveis por ela indicados, exceto quando o objeto da contratação prever o atendimento direto, tais como nos serviços de recepção e apoio ao usuário; II - direcionar a contratação de pessoas para trabalhar nas empresas contratadas; III - promover ou aceitar o desvio de funções dos trabalhadores da contratada, mediante a utilização destes em atividades distintas daquelas previstas no objeto da contratação e em relação à função específica para a qual o trabalhador foi contratado; e IV - considerar os trabalhadores da contratada como colaboradores eventuais do próprio órgão ou entidade responsável pela contratação, especialmente para efeito de concessão de diárias e passagens.

Com base no exposto é que os terceirizados precisam obedecer a

comandos externos à Administração Pública, que, no caso, são controles da

empresa que os contratou. Não são submetidos, portanto, a hierarquia

administrativa que ocorre dentro da Administração Pública.

Também há a possibilidade de que a empresa contratada trocar ou revezar o terceirizado todos os dias, no decorrer do contrato. Tal decisão fica a

critério da empresa. Assim, é perfeitamente possível que a cada dia da

semana um novo trabalhador ingresse na repartição pública para executar

alguma atividade a mando da empresa contratada.

É de senso comum que esta prática é, além de indesejável, contrária ao interesse público. Portanto, a exigência de que atividades internas e

permanentes devam ser prestadas por pessoal com vínculo de subordinação

(cargos ou empregos) tem por finalidade justamente a proteção do Estado,

evitando a situação exposta no parágrafo anterior. O Estado deve, então, estar

liberto de intervenções de particularidades em sua estrutura.

O que se busca salientar é que na Administração Pública, a hierarquia

deve sempre ser mantida. Então, admitir a terceirização para aquelas

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atividades que são permanentes e internar é como contrariar um princípio

hierárquico.

Vieira e Furtado (2013) explicam:

A administração deve exigir de seus contratados

que sejam especialistas na prestação do serviço, devendo

observar nessa relação: a) a não subordinação direta do da

empresa à contratante, devendo ser intermediado pela figura

do preposto, a quem cabe determinar pontualmente o

cumprimento das tarefas diárias pelos terceirizados; (...)

Uma questão interessante é: como é possível existir pessoas dentro da

Administração, executando tarefas permanentes e alheias a todo aquele poder

de comando?

E justamente por esta razão o art.37, I e II, da CF não diferencia as

atividades que necessitam de pessoal concursado e as que prescindem deste

mesmo pessoal. Conclui-se que se não houve esta diferenciação é porque a

Constituição procurou generalizar que todas as atividades que compõem o

funcionamento da máquina administrativa pública devem ser realizadas

obrigatoriamente por quem ocupa um cargo ou emprego.

A saber, entende-se por atividade interna aquela inserida no quadro de

atribuições da Administração, ou seja, aquela relacionada à própria existência

do ente publico, no caso, as Universidades Federais do Brasil, aquelas

desenvolvidas pela e para a Administração. Portanto, para este tipo de

atividade, há necessariamente que se observar o que prega o art. 37, I e II, da

CF.

Apreende-se também que os serviços estabelecidos no inciso XXI não

podem ser os mesmos a serem preenchidos por concurso público, visto que

seria impossível a convivência entre estes dois dispositivos. A saber:

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados

mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de

condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam

obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos

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termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica

e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

(CF, 1988)

Assim, os serviços elencados no inciso acima são passíveis de terceirização justamente por não constituírem atividade permanente de interna

de uma Universidade Federal, uma vez que para estas a Administração

necessita contratar pessoal a fim de ocupar seu quadro com recursos

humanos que exercerão as atividades administrativas. Logo, o inciso em

questão não é aplicável a atividades internas e permanentes da Administração

Pública.

É também interessante salientar que estas atividades internas e

permanentes não são serviços. São atividades a serem desempenhadas com

o objetivo de atingir a finalidade para qual a pessoa existe. São,

resumidamente, meros instrumentos para a realização das tarefas públicas.

As atividades internas e permanentes, ainda que não tenham aquela

conexão direta com a finalidade pública a ser realizada, na Administração

Pública, são apenas meios necessários para que o ambiente possa funcionar

adequadamente. Numa Universidade Federal, por exemplo, as atividades de

limpeza, manutenção, motoristas, secretárias, entre outras, são instrumentos

para a execução da finalidade pública daquela Universidade.

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CAPÍTULO III

OUTRAS FORMAS DE TERCEIRIZAÇÃO

A terceirização não ocorre apenas nas situações previstas nos capítulos

anteriores, focadas principalmente no âmbito das Universidades Federais de

ensino do Brasil. Há casos de terceirização previstos em legislação específica

como, por exemplo, as concessionárias e permissionárias de serviços públicos;

serviços de telefonia, entre outros.

As concessionárias de rodovias possuem regulamentação própria no que

se refere à terceirização e com expressa previsão legal que diz que

“atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço

concedido, bem como a implementação de projetos associados”. É um

conceito mais amplo que admite além da terceirização apenas em atividades-

meio, pois é claro que as atividades inerentes, acessórias e complementares,

mencionadas acima, são inseridas em múltiplas atividades.

Conclui-se, assim, que é inadequado, juridicamente falando, exigir que as

concessionárias de rodovias restrinjam as suas modalidades de contratação de

prestação de serviços às atividades- meio.

Na área de telecomunicação também não é diferente. A própria

Constituição autoriza, em seu art. 21, a União “a explorar, diretamente ou

mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de

telecomunicação, nos termos da lei”. Assim, sempre que haja demanda

envolvendo empresas ligadas a esse tipo de atividade há que se considerar

uma legislação específica e que o legislador não restringiu em nenhum

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momento a possibilidade de terceirizar a atividade-meio, podendo ser

terceirizada até mesmo a atividade-fim.

Segue abaixo a súmula nº 331 do TST:

É legal a terceirização de atividade-meio, sob a modalidade de locação permanente de mão-de-obra, inexistindo

fraude na dispensa do empregado da tomadora de serviços e

contratação pela prestadora de serviços, ainda que com salário

inferior ao que percebia na tomadora dos serviços, pois é licito à

empresa reduzir seus custos operacionais por meio da

concentração de esforços em sua atividade-fim, terceirizando as

demais.

Ainda com base na mesma legislação pode haver terceirização de mão-

de-obra e de atividades ou obras. É preciso apenas se atentar para cada

situação e suas peculiaridades. Quando se trata, por exemplo, de empreitadas

não existe nem responsabilidade solidária ou subsidiária do dono da obra.

É necessário que se reflita sobre o mercado de trabalho atual para ver se

vale a pena seguir dogmas ou realidade. Os empregos estão escassos e com

a internacionalização da terceirização pode vir a ficar ainda mais escassos,

principalmente na área de tecnologia avançada. A Índia, por exemplo, pela

qualidade de sua capacidade técnica, já presta, atualmente, inúmeros serviços

para empresas americanas.

Para Neto e Brito (2012), o discurso de que a terceirização visa aumentar

os lucros das empresas não faz sentido. Eles afirmam que uma empresa

cumpre seu papel social quando é lucrativa, porque assim é capaz de

aumentar o número de empregos, ainda que indiretamente, e gerar mais

imposto. É o próprio lucro que faz proliferar uma atividade produtiva e,

consequentemente, a geração de empregos.

Acerca de previsões específicas, seguem abaixo algumas resoluções:

Desempenham atividade lícita as ‘empresas prestadoras de

serviços’ que, mediante contrato de natureza civil com terceiros,

executam serviços a ente público. Tais empresas dirigem,

fiscalizam, controlam e remuneram o trabalho, e assumem os riscos

da atividade econômica. A empresa cliente preocupa-se apenas

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com a efetivação da obra e em nada se confundem com empresa

interposta ou locadoras de mão-de-obra. (Tribunal Superior do

Trabalho, 2º Turma, RR 117176/94, Rel. Min. José Luciano de

Castilho Pereira, DJU 17.05.1996)

A resolução acima encaixa-se perfeitamente ao caso das terceirizações

atuais dentro das Universidades Federais do Brasil. As empresas terceirizadas

são puramente prestadoras de serviços, fornecendo pessoal para atuar em

diversos segmentos das Universidades como, por exemplo, limpeza,

manutenção, recepcionista, entre outros.

Sobre concessão de serviços de telefonia:

A Lei nº 9.742/97 autoriza a concessionária, no ramo

das telecomunicações, nela inserida a telefonia, à terceirização das

atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço

objeto do contrato de concessão, conforme seu art. 94, II. Assim, e

verificando que o contrato de concessão, objeto de análise, não

considera os serviços de call Center – auxílio à lista, reclamações,

pedidos de novos serviços pedidos de novas linhas, denominados

101, 102, 103, 106, 107, 0800, back Office, help desk, como

atividades-fim outorgadas à concessionária, mas meras “utilidades”

ou “comodidades” relacionadas com a prestação do serviço, não há

falar em ilegalidade na sua terceirização. (TRT 12º Região, Ac. 3ª T.

11632/03, 23.10.2003. Publ. DJ/SC 26.11.2003 – p. 180)

Algo interessante a relatar é que no âmbito da Administração Pública a

terceirização dos serviços de saúde tem se proliferado de forma exorbitante.

Os que defendem estes tipos de contratos ou convênios se baseiam na

Constituição, que, em seu art. 197 dispõe que:

São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo

ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,

fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente

ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de

direito privado.

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Há, também, quem defenda que a terceirização dos serviços de saúde só

deve ser admitida em caráter complementar e para isso, se baseiam na

Constituição, art. 196 e Lei 8.080/90, que determinam ser do Estado a

obrigação de prestar diretamente os serviços públicos de saúde, porém, vários

municípios vêm terceirizando seus serviços de saúde.

Já na terceirização pela via das cooperativas de trabalho há a lei 8.949/94,

que acresceu um parágrafo no art. 442 da CLT e definiu que: “Qualquer que

seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo

empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de

serviços daquela”.

Conclui-se que quando uma empresa contrata mão-de-obra por intermédio

da própria cooperativa, não esta em causa uma relação de emprego, assim é o

que prevê o art. 3º da CLT, pois somente a lei enfatiza o fato de que não há

vinculo empregatício entre a cooperativa e seus associados, nem entre estes e

os tomadores de serviços daquela.

Inicialmente, a lei pode até ser boa, mas há distorções como, por exemplo,

a criação das cooperativas de fachada. Já há inclusive ações civis públicas

propostas pelo Ministério Público justamente por desvirtuarem os objetivos das

referidas normas. A cooperativa não pode ser de fachada, mas autêntica, de

tal modo que os cooperadores partilhem seus benefícios.

As cooperativas de trabalho têm sido de grande valia, pois estão isentas

dos encargos sociais e apenas devem contribuir com um certo percentual para

o INSS, assim, seu custo de serviços fica reduzido.

A CLT, em seu art. 442, ampara a contratação de trabalhadores por

intermédio de cooperativa. Porém a extensão deste preceito não restringe sua

atuação a determinadas áreas, pois está havendo, atualmente, uma expansão

sem tamanho destas entidades para toda e qualquer atividade. Isto

compromete diversos princípios gerais da atividade econômica, sobretudo

aquela que versa sobre a valorização do trabalho e a busca de um emprego

pleno.

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Para que o instituto seja válido, de acordo com suas regras, todo resultado obtido pela cooperativa deve ser necessariamente revertido aos

sócios e, se não assim ocorrer, passa a ser um estimulo ao surgimento de uma

grande massa de trabalhadores sem direitos, o que não vai de encontro ao

objetivo social de ser uma sociedade justa e solidaria a todos.

Todo este capítulo trata de pontos muito controversos. São visões

diferentes sobre a ordem econômica num mundo quase que totalmente

globalizado, a valorização do trabalho e prevalência de princípios que regem o

Estado como Estado Social. O objetivo final é alertar para que não se conduza

a uma precarização da mão-de-obra, ou seja, é de extrema importância que os

direitos trabalhistas sejam sempre respeitados.

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CAPÍTULO IV

A TERCEIRIZAÇÃO NOS REGULAMENTOS E LEIS

Inicialmente, este capítulo tratará da forma como o conceito e a prática

da Terceirização são definidos nas leis, primeiramente na Constituição de

1988, na legislação infraconstitucional, nas súmulas e enunciados do Tribunal

Superior do Trabalho, Instruções Normativas e recentes alterações, bem como

a Lei de Responsabilidade Fiscal.

4.1– Da Constituição de 1998

Um ponto importante a ser tocado é que na Constituição de 1988 o termo

Terceirização não é utilizado. Quando há de fato a terceirização, este

acontecimento é tratado por termos técnicos como concessão, permissão e

autorização, o que nada mais é que a própria terceirização em si.

Em relação à instrumentalização, a doutrina admite que determinados

serviços fossem repassados a terceiros por meio de processo licitatório e se

baseia no art. 37, XXI, da CF, que determina:

Art.37. (...); XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados

mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a

todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,

mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente

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permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à

garantia do cumprimento das obrigações; (...).

Para Juruena (1998), a regra é que para as atividades permanentes e que

envolvam atividades típicas do Poder Público, deve ser criado, por lei, um

cargo público e provido por um servidor selecionado mediante aprovação em

concurso público. As demais atividades podem e muitas vezes até devem ser

terceirizadas. Então, basta que cargos públicos, submetidos ao regime

estatutário, sejam reservados a funções típicas do Estado e utilizando a

terceirização para todas as outras funções.

A doutrina também é taxativa em dizer que só é possível a terceirização

para as atividades-meio, não sendo possível realizá-la para as atividades-fim.

Sobre este ponto o STF suscitou a possibilidade da licitude do uso da

terceirização para as atividades-fim. Essa possibilidade só surgiu devido a

base encontrada em uma repercussão geral pelo Plenário Virtual do STF em

processo de recurso extraordinário. Porém, este julgado não é sobre as

relações de terceirização na Administração Pública, tratando-se apenas para a

ordem das empresas privadas.

Para relembrar, a atividade-meio é a atividade desempenhada pela

Administração que não coincide com seus fins principais. Por exemplo,

limpeza, vigilância, etc, atividades que hoje em dia são terceirizadas nas

Universidades Federais do Brasil. Atividades-fim são aquelas para qual a

entidade foi criada, corresponde diretamente ao seu escopo, objeto social.

Atualmente exercidas nas Universidades Federais por servidores vinculados ao

regime estatutário.

Apesar de bem definida esta relação teórica da diferença entre atividade-

meio e atividade-fim, na prática não é tão claramente esta distinção. Nem

sempre é fácil determinar a natureza da atividade. Conclui-se então que,

embora na teoria haja uma consagração entre esta distinção, na prática a

situação enseja dúvidas de toda espécie. Cavalcante (1996) concluiu que a

complexidade do processo produtivo chega a um ponto que algumas vezes fica

impossível diferenciar ações acessórias (atividades-meio) das principais

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(atividades-fim) e isto ocorre em razão da mutação constante das técnicas de

produção.

Para as atividades-fim a doutrina entende pela necessidade de concurso

público. Embora com critério casuístico (atividade-fim e atividade-meio), já é

lícito a terceirização de atividades-meio, sendo que o provimento de cargos e

empregos poderá ser relegado apenas às atividades-fim, ou, mais restritiva,

apenas às situações em que se exijam atos de império por parte da

Administração.

Jurema (1998) defende que a terceirização não prejudica o conceito de

concurso público, pois no cargo ou emprego público, a pessoa que é

selecionada por meio do concurso público é escolhida com igualdade de

oportunidade e impessoalidade no tratamento. Já na terceirização, busca-se

um provimento para a função, para a prestação de um serviço, feito através de

licitação, que é um processo seletivo também impessoal. Ambos buscam

selecionar pessoas pelo sistema do mérito.

A doutrina majoritária não entende como defende Jurema. Para a

maioria, há um núcleo de atividades que não são passiveis de terceirização,

baseados no art. 37, II, da Constituição da República. Logo, eles acreditam

que não há discricionariedade na escolha de via concurso público ou

terceirização, pois a Constituição determina situações que poderão ser

providas apenas por cargo ou emprego.

4.2 – Das outras legislações Inicialmente, há que se falar que o Decreto-lei 200/1967 admite em suas

palavras a terceirização de serviços, conforme art.10, §7º. Com isso conclui-se

até que a terceirização não é algo novo, mas seu uso indiscriminado e

ausência de uma regulamentação específica traz desvios na utilização do

instituto.

A lei 8.666/1993 também prevê, em seu art. 2º, que obras, serviços,

inclusive publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e

locações da Administração Pública, quando contratados com terceiros, serão

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necessariamente precedidos de licitação, ressalvadas hipóteses legalmente

previstas.

Com uma ampla definição de serviços, a lei permitiu terceirizar as

atividades-meio, especialmente relacionadas a conservação (como limpeza),

manutenção e transporte, o que é mais comumente contratadas pelas

Universidades Federais do Brasil e pela própria Administração como um todo.

Ainda na mesma lei, o art. 57, II, permite também a prorrogação de

contratos se serviços de natureza continuada, mais uma vez admitindo que

atividades de caráter perene sejam prestadas por terceirizados.

Ressaltando-se que, evidentemente, tais atividades relacionam-se sempre

com as atividades-meio, já que para as atividades-fim tanto a doutrina quanto a

jurisprudência estabelecem uma necessidade de concurso público para o

preenchimento de cargo ou emprego.

O Decreto 2.271/1997 permite terceirização das atividades materiais

acessórias, instrumentais ou complementares, que são as atividades-meio.

Este Decreto também ainda traz um rol exemplificativo de atividades que,

preferencialmente, deverão ser objeto de terceirização e diferenciou

terceirização de serviços da intermediação de mão de obra, prescrevendo em

seu art. 4º, II e V, que é vedada a inclusão de disposições nos instrumentos

contratuais que permitam a caracterização exclusiva do objeto como

fornecimento de mão de obra e a subordinação dos empregados da contratada

à administração da contratante.

Outro instrumento não menos importante é a Instrução Normativa 2/2008.

Esta regulamentação disciplina a contratação de serviços, sejam eles

continuados ou não e explicita as vedações à terceirização e também distingue

terceirização de serviço de terceirização de mão de obra, além de vedar esta

última, estabelecendo que somente poderá ser admitida a contratação de

prestação de serviços.

Ainda em 1986, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) aprovou o

Enunciado 256. Este enunciado restringiu as hipóteses de terceirização lícita

para os casos de trabalho temporário (Lei 6.019/1974) e serviços de vigilância

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bancária (Lei 7.102/1983). Não houve nada que versasse sobre a possibilidade

de terceirização de serviços pela Administração Pública.

Pouco depois, em 1990, o toyotismo foi adotado como prática de gestão

empresarial e incorporou a terceirização em praticamente todos os setores da

economia privada e no setor público não foi diferente.

Este acontecimento estimulou o TST a cancelar o Enunciado 256 e editar

a Súmula de Jurisprudência 331, que revisou, alterou e ampliou o antigo

Enunciado 256. A súmula estabelece os limites definidos pelo direito do

trabalho no que diz respeito à validade da terceirização de serviços no Brasil.

Ou seja, aqueles vínculos de terceirização estabelecidos fora dos parâmetros

sumulados são inválidos.

Uma característica importante desta súmula é que ela discriminou quatro

grandes grupos de terceirização lícita: trabalho temporário (sendo este a única

hipótese de terceirização temporária, permitida por lei), serviços de vigilância,

serviços de comunicação e limpeza e serviços especializados ligados à

atividade-meio do tomador. Os últimos três casos de terceirização há que se

observar a inexistência de pessoalidade e de subordinação direta do

trabalhador terceirizado com o tomador de serviços.

Em 2000, a Súmula, que antes era omissa quanto à responsabilidade da

Administração Pública na terceirização trabalhista, sofreu nova alteração e

passou a admitir a terceirização lícita para a Administração Pública, porém, a

responsabilizou subsidiariamente, tal qual às empresas privadas, pelos débitos

trabalhistas que decorrem do inadimplemento da contratada perante seus

empregados.

A Ação Declaratória de Constitucionalidade / ADC 16 confirmou a

constitucionalidade do § 1º do art. 71 da Lei 8.666/1993, o que vedou à Justiça

do Trabalho a aplicação de responsabilidade subsidiária à Administração

Pública de forma automática, pelo só fato do inadimplemento dos direitos

trabalhistas, como se extraía do inciso IV da Súmula 331 do TST.

Assim, a doutrina se posicionou no sentido de que para a Administração

Pública vir a ser responsabilizada pelas verbas trabalhistas quando da

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inadimplência da contratada, há a necessidade de comprovar ausência de

fiscalização da Administração Pública.

Por sua vez, a declaração de constitucionalidade do § 1º do art. 71 não

tem a ideia de afastar a responsabilidade do Estado no que tange ao seu dever

de fiscalização do empregador, pois esta atribuição está vinculada à

preservação dos direitos fundamentais do trabalhador.

Ainda por conta do julgamento da ADC 16, o item IV mudou sua redação e

itens V e VI foram inseridos à súmula 331 do TST. Resolveu-se que a

Administração Pública responderá subsidiariamente quando falhar em seu

dever de fiscalização do contrato de terceirização.

Em resumo, embora a responsabilização da Administração Pública não

seja automática, como previsto na redação original da súmula 331 do TST, há

responsabilidade subjetiva, como prevê o art. 37, § 6º, da Constituição de

1988, quando houver omissão na fiscalização contratual e esta omissão causar

dano ao terceirizado. Neste caso, há a culpa presumida da Administração, que,

para se exonerar desta responsabilidade, deverá provar que exerceu de forma

correta a fiscalização do contratado.

Em tempo, existe também a Instrução Normativa MPOG-2/2008. Nela

existem dispositivos inseridos pela Instrução Normativa 6/2013, que buscam

dar cumprimento à efetiva fiscalização por parte da Administração Pública, de

forma que os direitos trabalhistas fossem preservados. Esta instrução

normativa exige que a Administração fiscalize de forma intensa e ainda

autoriza esta a realizar retenção na fatura e pagar diretamente os

trabalhadores em caso de inadimplemento dos encargos trabalhistas, sem

prejuízo de sanções cabíveis.

Assim, a Administração acaba que assume uma postura pró-ativa em

relação aos direitos do trabalhador, pois garante que o terceirizado receba a

contraprestação por seus serviços, o que seria originariamente devida pela

contratada. A própria súmula 331 do TST admite a responsabilidade

subsidiária, não realizada de forma automática, pois há que se averiguar

ausência ou negligencia na fiscalização contratual, além de existência de dano

ao trabalhador, como dito em momento anterior.

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Em 2000 também surgiu a Lei de Responsabilidade Fiscal, que veio para

regulamentar os arts. 163 e 169 da CF. Esta lei regula a execução da política

fiscal do País e também tocou no fenômeno da terceirização sob o aspecto da

despesa com pessoal.

Através de uma boa analisada no art. 18, caput e § 1ª, da LRF, nota-se

que a intenção desta norma é justamente a moralização dos gastos com

pessoal, estabelecendo limites claros e fixos, conforme o ente federativo

correspondente. Como já se sabe, a terceirização (lícita ou ilícita) enseja

gastos públicos, assim, a Administração Pública não pode gastar recursos

públicos para limites além daqueles estabelecidos pela LRF. Criou-se uma

espécie de mecanismo que equipara os ilicitamente terceirizados com os

servidores e empregados públicos, para fins de despesas com pessoal.

Desta forma, foi disciplinado que, para fins de despesas públicas, a

terceirização de mão de obra para a substituição de servidores (terceirização

ilícita) é considerada, pela LRF, como “Outras Despesas de Pessoal”. Isto quer

dizer que somente no caso de terceirização ilícita o valor despendido com esta

contratação é computado dentro dos limites do art. 19 da LRF. Já no caso de

terceirização de serviços (terceirização lícita), esta seria enquadrada nos

“Gastos com Serviços de Terceiros e Encargos”, não sendo computada para

fins de calculo do limite de gastos com pessoal.

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CONCLUSÃO

O trabalho apresentado buscou abrir campo para que as questões

inicialmente elencadas fossem respondidas. O objetivo central deste trabalho

visou relacionar a prática da terceirização com os resultados finais esperados

das Universidades Públicas para com a sociedade brasileira, objetivando

solucionar um possível problema.

Conclui-se, portanto, que a terceirização, atualmente, é regida por

inúmeras leis e normas que buscam sempre complementar uma a outra a fim

de estar sempre regulando e orientando esta prática, que não acontece

apenas dentro de Universidades Federais, mas dentro de diversos órgãos

integrantes da Administração Pública brasileira.

De fato, pode-se notar que em todos estes regulamentos há a

preocupação de que está prática não venha prejudicar o objetivo maior do

Estado de ser um Estado Social e assegurar direitos tanto aos trabalhadores

terceirizados, quanto aos servidores e até mesmo à própria Administração.

Hoje em dia, a prática do instituto da terceirização é vista e praticada

como uma forma de auxílio a tantas e tantas funções que um órgão do Estado

exerce atualmente. Frisando ainda que não é qualquer atividade que pode ser

terceirizada justamente pelo fato de que não se pode fugir dos princípios

constitucionais, bem como não pode haver prejuízos no resultado final, que é a

prestação de um serviço de qualidade, capaz de formar universitários

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competentes e preparados para se tornarem profissionais de excelência,

prontos para atuar em prol da sociedade.

Se seguido de acordo com as leis e normas que o regem, o instituto da

terceirização só tem a somar tanto para o terceirizado que lá exerce suas

funções e de lá ganha seu retorno financeiro, sejam elas limpeza, manutenção,

assessoria, quanto para o servidor que se vê amparado e auxiliado para por

em prática todos os afazeres necessários para o pleno desenvolvimento de

uma instituição de ensino.

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