44
UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O Assédio Moral na Administração Pública André Luiz de Lima Fortes Orientadora: Maria Lúcia Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O Assédio Moral na Administração Pública

André Luiz de Lima Fortes

Orientadora: Maria Lúcia

Rio de Janeiro

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

2

UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O Assédio Moral na Administração Pública

Apresentação de monografia ao Instituto

A Vez do Mestre – Universidade Cândido

Mendes, como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Gestão Pública.

Por: André Luiz de Lima Fortes

Page 3: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

3

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares e amigos de profissão

que sempre acreditaram no meu

desenvolvimento profissional.

Page 4: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meu querido e amado

filho Gabriel de Mattos Fortes, que muito

embora com apenas 4 anos de idade,

colaborou para a realização deste curso,

abdicando-se de minha convivência.

Page 5: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

5

RESUMO

Este trabalho acadêmico tem como objetivo explorar e elucidar,

desde o conceito do tema assédio moral na Administração Pública, assim como

suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto

psicológicas, e por fim, a diferença para o assédio sexual.

Ainda será feita uma demonstração do assédio moral nas

empresas privadas, assim como suas peculiaridades, formas e conseqüências.

Page 6: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

6

METODOLOGIA

O estudo deste tema se deu através de pesquisas bibliográficas,

internet, Legislação Constitucional e Infra-Constitucional.

Page 7: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................. 09

CAPÍTULO 1 – ASSÉDIO MORAL

1.1 – Evolução Histórica ......................................................... 10

1.2 – Conceito .......................................................................... 14

1.3 – Caracterização ................................................................ 16

1.4 – Medidas Preventivas ...................................................... 18

1.5 – Princípios Constitucionais ............................................ 19

1.6 – Conseqüências ................................................................20

CAPÍTULO 2 – ASSÉDIO MORAL NA INICIATIVA PRIVADA

2.1 – Conceito .......................................................................... 25

2.2 – Configuração .................................................................. 26

2.3 – Modalidade e Formas .................................................... 27

2.4 – Garantias Legais ............................................................ 27

2.5 – Responsabilidade Civil e Penal .................................... 28

CAPÍTULO 3 – ASSÉDIO MORAL NA ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA

3.1 – Conceito .......................................................................... 29

3.2 – Configuração .................................................................. 30

3.3 – Modalidades ................................................................... 33

3.4 – Garantias Legais ............................................................ 34

3.5 – Responsabilidade Civil, Penal e Administrativa ......... 36

Page 8: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

8

CAPÍTULO 4 – ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL

4.1 – Conceito ....................................................................... 37

4.2 – Diferença ...................................................................... 38

CONCLUSÃO ................................................................................ 39

BIBLIOGRAFIA e WEBGRAFIA ................................................... 40

ÍNDICE ........................................................................................... 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO .............................................................. 44

Page 9: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho acadêmico tem como objetivo elucidar à

temática “assédio moral na administração pública”, demonstrando as

conseqüências trazidas ao assediador (mobber) e assediado, as formas de

assédio moral, a distinção do assédio moral nas esferas pública e privada, a

evolução histórica do assunto, a responsabilização do gestor público, e demais

esclarecimentos acerca do tema.

O surgimento deste tema se deu a partir dos casos vivenciados

diariamente no serviço público e na iniciativa privada. Apesar de poucos anos

como servidor público, aproximadamente três anos, pude observar que, assim

como os trabalhadores da iniciativa privada, também os servidores e/ou

empregados públicos são vítimas de assédio moral, e diante da complexidade

do caso, principalmente devido à falta de conhecimento, muito se confunde

assédio moral com assédio sexual.

Muito embora o tema, de grande relevância, não esteja

explicitamente previsto na Carta Política de 1988, no Código Penal Brasileiro,

assim como nos Estatutos dos Servidores, sejam eles Federal, Estadual e

Municipal, os assediadores são responsabilizados.

Este trabalho monográfico consiste, basicamente, em uma

pesquisa bibliográfica, que objetiva também demonstrar as perturbações

morais e psicológicas que os assediados carregam, às vezes por toda sua vida,

ante sua posição passiva na cadeia dos assediadores.

Page 10: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

10

CAPÍTULO I

ASSÉDIO MORAL

1.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Preambularmente, antes de adentrarmos no tema propriamente

dito, faz-se necessário um entendimento sobre a evolução histórica do assédio

moral na relação de trabalho, tendo em vista que a questão principal é a

desvalorização do trabalho humano.

Desde a pré-história o trabalho humano já representava requisito

essencial para a existência humana, embora naquele tempo não supomos que

não havia pagamento pelo exercício das funções, o trabalho já determinava a

utilidade ou não do homem.

Já na idade antiga, surgiam as primeiras relações de trabalho

semelhantes as que conhecemos hoje. Os povos, agora já estabilizados num

ou mais territórios viviam exclusivamente da agricultura e da criação de alguns

animais, assim sendo, dependia fielmente do clima para desenvolver-se ou

não, o fato é que fenômenos naturais favoreciam alguns territórios e outros

não, ocasionando o enriquecimento dos membros de determinado território e a

miséria dos membros de outros territórios, surgia assim à desigualdade social.

Para não morrerem de fome estes pobres miseráveis aceitavam trabalhar sob o

regime de escravidão nos territórios ricos, estes escravos eram considerados

homens objetos, não eram possuidores de qualquer direito trabalhista.

Com o passar das décadas, este regime de escravidão deu lugar

a servidão, onde o servo não possuía direitos trabalhistas, sua única relação

era trabalhar em troca de proteção política e militar.

Chega então o primeiro grande marco nas conquistas dos direitos

dos trabalhadores na esfera mundial, a Revolução Francesa. Ela disseminou

Page 11: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

11os ideais e impulsionou a materialização dos primeiros institutos jurídicos em

prol dos trabalhadores.

Após a Revolução Francesa, o liberalismo vem propugnar o

princípio da autonomia da vontade e uma de suas decorrências – a liberdade

de contratar - também concretiza a idéia de que o trabalho realizado por uma

pessoa em proveito da outra passou a ser decorrência não mais de relações de

subordinação pessoal, mas de vinculação contratual.

Enfim chega o principal marco nas conquistas dos direitos dos

trabalhadores na esfera mundial, a Revolução Industrial. Trata-se da luta da

classe trabalhadora por melhores condições de trabalho e proteção ao trabalho

do menor e das mulheres, além da transformação do trabalho em emprego, e

tem sua base ideológica focada na idéia de Karl Marx, o maior sociólogo

socialista que o mundo já conheceu.

Em 1802, a Lei de Peel limitou à 12 horas a jornada de trabalho

dos menores nas fábricas – não mais podia haver trabalho noturno. Em 1824

foram reconhecidos os sindicatos na Inglaterra. Proibição do inicio da jornada

de trabalho antes das 6:00 e término após as 21:00. Também foram

implementadas regras sobre higiene e educação do trabalhador.

Anos depois tratados internacionais aceitavam o instituto jurídico

da Encíclica “Rerum Novarum”, onde se traçavam regras para que o direito dos

trabalhadores tivesse a chancela do Estado como forma de combater o abuso

do poder econômico. Feita pela Igreja Católica, ela falava que “não podia

haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital”, procurou estabelecer

regras de convivência entre capital e trabalho, situando a Igreja em posição

relevante no que concerne a preocupações sociais derivadas das relações

trabalhistas.

Do fim do século XIX até o início do século XX, o movimento

Constitucionalismo social tomava grandes proporções, este movimento

desencadeou orientações no sentido de que “os direitos do trabalhador fossem

inseridos nos textos constitucionais”, sendo acatado por algumas

Constituições, como: a Constituição do México de 1917, que já tinha todos os

direitos básicos do trabalhador, o Brasil só adicionou esses direitos, 10 anos

Page 12: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

12depois; a Constituição de Weimar na Alemanha, que prezava os direitos a

descanso, lazer, adicional noturno, maternidade, entre outros; a Carta Del

Lavoro na Itália em 1919; e por fim a Declaração dos direitos do homem, que

também inseriu alguns direitos, tais como férias anuais, descanso e lazer.

O Direito do Trabalho no Brasil, tem por base, primeiro, a

Constituição de 1824, onde são extintas as corporações de ofício, tal como

ocorreu na Europa.

A Lei do Ventre livre em 1871 trouxe a liberdade para os filhos de

escravo. Em seguida, no ano de 1885, a Lei de Saraiva de Colegibe dava

liberdade para os escravos com 60 anos de idade, mas cabe lembrar, primeiro

que era pouco provável um escravo chegar aos 60 anos, depois de apanhar

tanto e trabalhar 18 horas por dia, segundo que ele ainda tinha que esperar

três anos para ser libertado da senzala e terceiro o que ele faria já velho, sem

emprego e sem fundo de garantia nenhum?

Em 1888 a Lei Áurea liberou todos os escravos, instaurava-se o

regime da servidão no Brasil, ironicamente bem atrasado do que o resto do

mundo.

A Constituição de 1981 veio instituir a liberdade de associação,

conquista essencial, porém relativamente pouco visto as necessidades dos

trabalhadores.

Já a Constituição de 1934 beneficiou o trabalhador com vários

direitos: a jornada de 8 horas; isonomia salarial; salário mínimo; repouso

semanal; proteção ao trabalho do menor e da mulher; liberdade sindical; férias

anuais remuneradas.

Em 1937 a nova Constituição unifica o Sindicato, passando a

cobrar o imposto sindical, além de institucionalizar o poder normativo da justiça

do trabalho.

A um passo da atualidade, a Constituição de 1967 e Emenda

Constitucional de 1969 decepcionaram e não traz nenhum outro novo

benefício, embora também não exclua os que já existem, o que já é grande

coisa por se tratar do período da ditadura militar no Brasil.

Page 13: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

13Por fim, a Constituição de 1988, que amplia todos os direitos dos

trabalhadores, tal como cria novos direitos, baseando-se nos ideais de

liberdade, democracia e humanidade.

O Assédio moral não é assunto novo. Na realidade, é um tema

tão antigo que nasceu com o aparecimento das relações de trabalho, cujo

marco foi à primeira revolução industrial, podendo ainda ser verificada todas às

vezes onde houver um superior e um subordinado.

O tema globalizou-se durante a primeira pesquisa internacional

realizada pela organização internacional do trabalho em 1996.

Inexistem diferenças significativas na ação dos assediadores,

quer na esfera privada ou pública. Porém, considerando que na administração

pública não existe uma relação patronal direta e sim uma hierarquia a ser

respeitada, o assédio se torna mais grave.

A relação patronal no serviço público reside no dever do agente

público tratar com respeito, decoro e urbanidade todo e qualquer cidadão. Este

sim é o verdadeiro patrão, que custeia a remuneração do agente público por

meio do pagamento de tributos.

Na relação de trabalho, os agentes públicos estão sujeitos a

hierarquia, constituída principalmente para estabelecer um grau de

responsabilidade e ordem, objetivando que o serviço público alcance seu

objetivo maior, que é o bem comum.

No Brasil, o conhecimento da matéria situou-se a partir do

governo de Fernando Collor, que levou milhares de servidores públicos à

disponibilidade, ato para o qual o critério eleito foi o de banir os indesejáveis, o

que, por si só, reflete em uma absoluta falta de critério, configurando-se aquela

prática como a primeira manifestação em massa do chamado mobbing de

Estado no Brasil.

A reflexão e o debate sobre o tema ainda são recentes no Brasil,

e tem ganhado forças após a divulgação da pesquisa brasileira realizada por

Margarida Barreto, em sua dissertação de mestrado em Psicologia Social

defendida em 22 de maio de 2000, na PUC/SP, sob o título: Uma jornada de

humilhações.

Page 14: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

14

1.2 – CONCEITO

Existem várias definições segundo o enfoque desejado, tais como

o enfoque médico, o psicológico ou o jurídico.

Assédio é o termo utilizado para designar toda conduta que cause

constrangimento psicológico ou físico a pessoa. Dentre suas espécies,

verificamos existir pelo menos dois tipos de assedio que se distinguem pela

natureza: o assédio sexual e o assédio moral, que o presente trabalho apontará

sua diferenciação.

Juridicamente, o assédio moral (mobbing, bullyng, harcèlement

moral, ou ainda, manipulação perversa, terrorismo psicológico) caracteriza-se

por uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a

dignidade psíquica, de forma repetida e prolongada, e que expõe o trabalhador

a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensas à

personalidade, à dignidade ou a integridade psíquica, e que tenha por efeito

excluir a posição do empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de

trabalho, durante sua jornada e no exercício de suas atividades.

Inúmeros são os autores que definem assédio moral, mas

conceituação que melhor define o tema é a da escritora francesa Marie-France

Hirigoyen:1

“Por assédio moral em local de trabalho temos que entender

toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se,

sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, gestos,

escritos que possam trazer dano á personalidade, à

dignidade ou á integridade física ou psíquica de uma

pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente

de trabalho”.( HIRIGOYEN, 2002, pág.67)

1 HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa do cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, p.67.

Page 15: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

15O assédio moral ou agressão psicológica é um fato social que

também ocorre no meio social, familiar, estudantil e, mais, intensamente, no

ambiente de trabalho, abrangendo tanto o setor privado quanto a

Administração Pública e, embora, na atualidade tenha atraído estudos no

campo da Psicologia.

Segundo o sueco Heinz Leymann, psicólogo do trabalho:2

“assédio moral é a deliberada degradação das condições de

trabalho, por meio do estabelecimento de comunicações

anti-éticas (abusivas), que se caracterizam pela repetição

por longo tempo de duração de um comportamento hostil

que um superior ou colega (s) desenvolve (m) contra um

individuo que apresenta, com reação, um quadro de miséria

física, psicológica e social duradoura”. (LEYMANN, 2010)

Esse fenômeno não é privilegio só dos paises em

desenvolvimento, ele está presente no cenário mundial. Atinge homens e

mulheres, altos executivos e trabalhadores braçais, a iniciativa privada e o

setor público.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT),

em diversos paises desenvolvidos, as estatísticas apontam distúrbios mentais

relacionados com as condições de trabalho. É o caso da Finlândia, da

Alemanha, do Reino Unido, da Suécia e dos Estados Unidos, por exemplo.

Conforme conceitos apresentados, conclui-se que o assédio

moral é caracterizado pela permanência e intencionalidade da conduta, não se

confundindo com uma contenda esporádica no ambiente de trabalho. Não

devemos rotular uma pessoa de personalidade exigente, meticulosa – que

exige excelência no trabalho ou um determinado comportamento profissional –

como agressor, porquanto sua conduta insere-se nas prerrogativas de seu

poder diretivo e disciplinar.

2 The Mobbing Encyclopaedia. Internet Resource. Disponível em:<http://www.leymann.se. acesso em 20/08/2010.

Page 16: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

16O diagnóstico para a próxima década é sombrio quando

predominarão depressões, angústias e outros danos psíquicos, relacionados

com as novas políticas de gestão na organização do trabalho, desafiando a

mobilização da sociedade e adoção de medidas concretas, especialmente

visando à preservação e à reversão dessas expectativas.

1.3 – CARACTERIZAÇÃO

Nem sempre a prática do assédio moral é de fácil comprovação,

porquanto, na maioria das vezes, ocorre de forma velada, dissimulada, visando

minar a auto-estima da vítima e desestabilizá-la. Pode camuflar-se numa

“brincadeira” sobre o jeito de ser da vítima ou uma característica pessoal ou

familiar, ou ainda, sob a forma de insinuações humilhantes acerca de situações

compreendidas por todos, mas cuja sutileza torna impossível a defesa do

assediado, sob pena de ser visto como paranóico ou destemperado.

O assédio moral é um fato que vem ocorrendo com bastante

freqüência nas relações de trabalho e serviços, tanto na iniciativa privada

quanto nas instituições públicas, podendo ocorrer também fora da jornada de

trabalho, mas sempre em razão das funções exercidas pelas vitimas.

A revolução tecnológica aliada à globalização, determinou uma

mudança substancial nas relações trabalhistas, impondo aos trabalhadores

uma necessidade permanente de atualizações e uma competitividade

exarcebada. Isso tem gerado pontos positivos, pois estimula o

desenvolvimento profissional do trabalhador, mas também pontos negativos,

uma vez que o estímulo desenfreado de competitividade acaba por provocar

condutas inadequadas, objetivando um lugar de destaque no jogo profissional.

Dentre outros fenômenos caracterizadores da competitividade, o

assédio moral, é sem duvida aquele que desponta com maior constância e, via

de regra, determina as conseqüências mais desastrosas.

O foco da violência no assédio moral não é somente

desestabilizar a vítima em seu ambiente de trabalho como profissional, mas

Page 17: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

17também como ser humano. É muito comum ocorrer ainda alusões negativas

em relação aos dotes físicos da vitima ou ao seu modo de vestir, de falar, de

comer ou de se comportar diante de determinados acontecimentos.

Oportuno destacar que o assédio moral não se caracteriza por

eventuais ofensas levianas ou atitudes levianas isoladas por parte do superior.

Contudo quando falamos em assedio moral, estamos nos referindo a uma

situação muito complexa, caracterizada por um conjunto de ações habituais

que possuem o intento de minar a vitima, descompensando-a, fragilizando-a,

desestabilizando-a e desqualificando-a perante seu ambiente de trabalho e sua

vida pessoal, até que ela não tenha mais forças para lutar e se veja obrigada a

pedir demissão ou motive uma demissão por parte da empresa. No entanto,

também é possível a configuração do assédio moral sem o objetivo de levar a

vitima à demissão, mas pelo simples prazer de manter o assediado submetido

às torturas psicológicas, alimentando o espírito do assediador.

Outro ponto caracterizador do assédio moral é a relação que deve

existir entre o assediador e a vítima. Como regra geral, assediador e vítima

devem estar separados por uma relação de verticalização profissional, ou seja,

superiores e subordinados. Também pode ocorrer por escalonamento

horizontal por aderência, onde é possível a prática de assédio moral por parte

dos próprios colegas de trabalho da vítima.

Não devemos confundir assédio moral com conflito no ambiente

de trabalho, porque se trata de um fenômeno natural das relações profissionais

e sociais. A partir de fatores diversos, muitas situações estressantes e

desagradáveis podem ser produzidas, gerando conseqüências físicas e

psíquicas dos envolvidos, que, via de regra, evita o desenvolvimento de

assédio moral.

Page 18: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

18

1.4 – MEDIDAS PREVENTIVAS

O assédio moral dissemina-se tanto mais, quanto mais

desorganizada e desestruturada for à empresa, ou ainda, quando o

empregador finge não vê-lo, tolera-o ou mesmo o encoraja.

Esse tipo de assédio instala-se, também, quando o diálogo é

impossível e a palavra daquele que é agredido não é ouvida. Daí, a

importância da instituição de um programa de prevenção por parte da empresa,

com a criação de canais de comunicação. Nesse caso, faz-se necessária uma

reflexão da empresa, sobre a forma de organização de trabalho e seus

métodos de gestão pessoal.

A política de recursos humanos da instituição deve pôr em pratica

a conscientização dos empregados, num trabalho que deve envolver todos os

níveis hierárquicos da empresa, conscientizando-os, também sobre a

existência do problema, sua considerável freqüência e a possibilidade dessa

prática ser evitada.

Ainda como política de recursos humanos, recomenda-se a

composição de uma equipe multidisciplinar de representante da empresa,

Comitê Interno de Previsão de Acidentes (CIPA), médico do trabalho,

psicólogo, assistente social, advogado trabalhista, representante do sindicato e

acompanhamento da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), para avaliar os

fatores psicossociais, identificar e determinar problemas, admitir a existência

desses problemas, definir a violência moral, informar e sensibilizar o conjunto

de funcionários acerca dos danos e agravos à saúde, em conseqüência do

assédio moral, informando ao empregador dos custos para a empresa; elaborar

política de relações humanas e éticas nos atos; difundir o resultado das

práticas preventivas para o conjunto de trabalhadores.

Para informar e conscientizar os trabalhadores, é recomendável a

realização de eventos, tais como seminários, palestras, dinâmica de grupo,

etc., em que haja troca de experiências e discussão aberta do problema em

todos os seus aspectos, inclusive a forma como ele se exterioriza, as

responsabilidades envolvidas e os riscos que dele derivam para a saúde, sem

Page 19: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

19esquecer a importância de postura solidária dos colegas, em relação ao

assediado.

Faz-se necessária também a adoção de um código de ética, que

vise o combate de todas as formas de discriminação e assédio moral e sexual.

Outra medida é a difusão do respeito à dignidade e à cidadania, inserida na

política de recursos humanos, que se exige dos empregados.

Ressalte-se, entretanto, que de nada adiantam a conscientização

dos trabalhadores ou o estabelecimento de regras éticas ou disciplinares, se

não forem criados, na instituição, espaços de confiança, para que as vítimas

possam dar vazão às suas queixas.

Esses espaços podem ser representados pelos Ouvidores ou

pelos comitês formados pelas instituições, especialmente indicados para

receberem denúncias sobre intimidações e constrangimentos, garantindo-se

sempre o sigilo das informações, ou ainda, por meio de caixas postais, para

que as vítimas depositem, de forma anônima, suas denúncias.

1.5 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

A prevalência dos direitos humanos foi inserida na Carta Política

de 1988 no artigo 4º, Inciso II, do Título I.

O Brasil é signatário da Convenção Interamericana sobre Direitos

Humanos, mais conhecido como Pacto de San Jose da Costa Rica, que

adentrou o ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto 678/92.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 1º, incisos III e IV,

considera como fundamentos da República Federativa do Brasil, dentre outros,

a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Este, sem

dúvida, é o alicerce sobre o qual se constrói todo o arcabouço jurídico

relacionado à proteção contra o assédio moral.

O art. 5º, inciso X, dispõe que: “são invioláveis a intimidade, a vida

privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização

pelo dano material ou moral decorrente da sua violação”. Assim, caracterizado

Page 20: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

20o processo de assédio moral, como violação da dignidade da pessoa, é

possível, sob os fundamentos deste dispositivo, a propositura de demanda

judicial visando à reparação dos danos morais e materiais oriundos da conduta

do assediador.

Muito embora o art. 5º, inciso V, tenha maior aplicabilidade aos

danos provocados por intermédio da imprensa, também é perfeitamente

aplicado aos casos de assédio moral, ao assegurar o direito de resposta

proporcional ao agravo, além do pagamento de indenização por dano moral,

material ou à imagem. Assim, também é possível a invocação do dispositivo

como forma de assegurar a tutela constitucional do assédio moral.

Alexandre de Moraes assevera que “os direitos à intimidade e à

própria imagem formam a proteção constitucional à vida privada,

salvaguardando um espaço intimo intransponível por intromissões ilícitas

externas”3 (2000,p.135)

O art. 6º da Carta Política de 1988 em seu Capítulo II – Direitos

Sociais, dispõe no artigo 7º os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,

tutelando, entre outros a dispensa arbitrária e sem justa causa no inciso I.

1.5 – CONSEQUÊNCIAS

As ocorrências sobre a gravidade dos danos ocasionados à saúde

da vitima de assédio moral são inúmeras e variadas, alastrando-se mesmo

após interrompido o processo do assediador, também conhecidos como danos

pós-traumáticos. Alberto José de Araujo, do Hospital universitário da UFRJ,

demonstra, de forma precisa, o potencial dos danos gerados á saúde da vítima

de assedio moral:

A saúde física e mental da pessoa é afetada em conjunto com

abatimento moral, o constrangimento que leva a pessoa vitima do assedio

3 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2000, p.135.

Page 21: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

21moral a degradar a sua condição de trabalho e a sua qualidade de vida. Os

sintomas podem acometer diferentes sistemas orgânicos e o trabalhador pode

apresentar distúrbios psicossomáticos, cardíacos, digestivos, respiratórios, etc.

“Os distúrbios são em geral, de longa duração. Mesmo

quando a situação é resolvida, a vitima continua a sofrer,

pois não esquece o desprezo a que foi submetida e isto a

impede de viver de modo pleno. Em geral, a vitima, isolada

e fragilizada, se culpa e por isso se defende mal. Começar a

ficar confusa, já não sabe mais distinguir o que é anormal ou

normal”4. (ARAÚJO, 2010)

Em diversas pesquisas realizadas sobre as conseqüências do

assedio moral no ambiente de trabalho foi relatado considerável numero de

casos de estresse, que acaba por funcionar como um propulsor de outras

doenças relacionadas. Não estamos falando aqui de estresse oriundo da

realização das atividades normais da vida, mas sim sobre o estresse como

conseqüência da submissão da vitima do processo de assedio moral, que

diminui sua tranqüilidade psicológica, que açambarca seus sonhos e ideais,

que fulmina com sua saúde e desconsidera sua dignidade. No projeto de

Relatório de Jan Andersson, da Comissão de Emprego e de Assuntos Sociais

do Parlamento Europeu, datado de 26 de junho de 2001, a alteração nº 4,

apresentada por Anne-Karin Glase, e consolidada na Resolução do Parlamento

Europeu sobre assédio moral no local de trabalho (2.339/2001), evidencia a

natureza desta espécie de estresse, não deixando qualquer duvida acerca de

sua gravidade e da importância de sua avaliação:

4 ARAÚJO, Alberto José de. Assédio Moral: a máscara da pressão oculta no trabalho. Jornal de Segurança nº. 99. Disponível em: http://www.jseg.net/ed99/segurancado trabalho99.htm. Acesso em 20 ago.2010

Page 22: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

22“Considerando que, segundo as constatações da Agencia

Européia para segurança e a Saúde no Trabalho, as

pessoas sujeitas a assedio moral sofrem de um nível de

stress muito mais elevado do que os trabalhadores em geral:

que o assedio constitui um risco potencial para a saúde que

leva as doenças relacionadas com o stress; que os dados

nacionais sobre o assedio moral no trabalho repartidos em

função do sexo não permitem, no entanto, segundo a

Agência, estabelecer um quadro uniforme da situação.”5

(Parlamento Europeu, 2010)

Dessa forma, fica evidenciado que as conseqüências à saúde

física e mental da vitima do processo de assedio moral são alavancadas pelo

estresse.

Se a vítima não rompe a relação de submissão com o agressor e

permanece a mercê deste e integrada ao processo de assedio moral após essa

fase critica, está fadada à destruição, sendo plenamente identificável um fim

trágico para ela, podendo o suicídio ter grandes probabilidade de ser efetivado,

assim como a ocorrência de graves danos psicológicos.ao processo.

Abaixo, encontram-se resumidos os resultados da pesquisa de

Margarida Barreto, como elemento de sua dissertação de Mestrado em

Psicologia Social, pela PUC/SP, defendida brilhantemente em 2000, que

resultou na publicação do livro “Violência, Saúde, Trabalho – Uma Jornada de

Humilhações”. Foram entrevistados 2.072 trabalhadores (1.311 homens e 761

mulheres) vinculados ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas,

Plásticas, Farmacêuticas e Similares de São Paulo, sendo que 42%, 870

trabalhadores (494 mulheres e 376 homens) relataram já ter sido vitimas de

assedio moral no ambiente de trabalho, apresentando as seguintes

ocorrências.6 (BARRETO, 2003, pág.217)

5 O texto integral do Projeto de relatório e da Resolução estão disponíveis no site Parlamento Europeu: http://www.europarl.eu.int. Acesso em 20 ago. 2010 6 BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, Saúde e Trabalho: uma jornada de humilhações. São Paulo: EDUC,2003, p.217.

Page 23: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

23

Queixas/Sintomas/Diagnóstico Mulheres (%) Homens (%)

Irritação 90 70

Dores generalizadas e esporádicas 80 80

Raiva 56 100

Vontade de vingar-se 50 100

Alterações do sono 69,6 63,6

Medo exagerado 100 23

Sensação de piora de dores pré-

existentes

89 32

Manifestações depressivas 60 70

Palpitações, tremores 80 40

Tristeza 100 9,3

Sensação de inutilidade 72 40

Mágoas 100 2,4

Vontade de chorar por tudo 100 -

Sentimento de revolta 17 100

Pensamentos de suicídio 16,2 100

Vergonha dos filhos 10,7 100

Pensamentos confusos 56 36

Indignação 7 100

Aumento da pressão arterial 40 51,6

Desespero/preocupação 70 8,5

Diminuição da libido 60 15

Omissão da humilhação aos

familiares

2,2 90

Cefaléia 40 33,2

Desencadeamento da vontade de

beber

5 63

Enjôos, distúrbios digestivos 40 15

Sensação de que foi enganado e 16,6 42

Page 24: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

24

traído

Sensação de que desvalorizado 11,3 40

Decepção, desânimo 13,6 35

Vontade de ficar só 2,6 48

Insegurança 13,6 30

Sentimento de desamparo 30 5,3

Falta de ar (dispnéia) 10 30

Dores no pescoço 26,3 3,2

Dores constantes 19,2 10

Tonturas 22,3 3,2

Falta de apetite 13,6 2,1

Tentativa de suicídio - 18,3

Dores nos MMlls 14 -

Dores no peito - 9

Além dos danos já mencionados, a vitima de assedio moral ainda

tem como conseqüências:7 (SILVA, 2005, p. 49,53,57 e 65)

a) Danos ao patrimônio – Pela redução de sua capacidade de

trabalho, gerando prejuízo em seu patrimônio, à medida que as agressões

passam a fazer parte de seu cotidiano, repercutindo em sua saúde física e

mental e, consequentemente nas oportunidades de gerar ganhos em razão do

trabalho.

b) Danos às relações interpessoais – Considerando os vários

sintomas clínicos motivados pelo processo de agressão, como preponderância

de repercussões relacionadas à dinâmica comportamental, o assediado acaba

por determinar um afastamento concreto das pessoas que lhes são caras, em

especial no seio familiar. O Processo de mobbing atinge a auto-estima de seu

foco, produzindo uma sensação de inutilidade e frustração, impondo reações

7 SILVA, Jorge Luiz de Oliveira da. Assédio Moral no Ambiente de Trabalho. Editora e Livraria Jurídica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2005, pgs. 49,53,57 e 65.

Page 25: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

25que variam entre a vergonha e a violência, que acabam tendo como foco

secundário a família e o meio social.

c) Danos às empresas – Prejudicando o desenvolvimento dos

negócios e a capacidade de trabalho de seus integrantes.

d) Danos ao Estado – Em virtude das complexas ramificações

danosas da repercussão do fenômeno atingindo de forma sistêmica as bases

organizacionais do Estado, em especial no tocante a importantes pilares, tais

como as ações na área de saúde, trabalho e previdência social.

CAPÍTULO 2

ASSEDIO MORAL NA INICIATIVA PRIVADA

2.1 – Conceito

Existem vários conceitos sobre assédio moral, que sempre se

relacionam com malevolência, abuso de poder e autoritarismo manifestado por

comportamentos, gestos, atos, palavras, enfim tudo que traga danos a

dignidade da pessoa, entretanto o interesse deste trabalho recai sobre o

assedio moral nas organizações.

De acordo com Ferreirav (2006):8

“O assédio moral nas organizações representa condutas

abusivas, humilhantes e constrangedoras, freqüentes e no

exercício das funções dos trabalhadores, manifestadas

através de atitudes comportamentais que possam trazer

danos ao empregado, pondo em perigo o seu emprego ou

degradando o seu ambiente de trabalho.” 8 FERREIRA, D.S. Assédio Moral – relações desumanas nas organizações. 44f. 2006, ed. Exaro, Rio de Janeiro.

Page 26: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

26

Também temos a definição do estudioso alemão Heinz Leymann,

que diz que:

“assédio moral é a deliberada degradação das condições de

trabalho através do estabelecimento de comunicações não

éticas (abusivas) que se caracterizam pela repetição por

longo tempo de duração de um comportamento hostil que

um superior ou colega (s) desenvolve (m) contra um

individuo que apresenta, como reação, um quadro de miséria

física, psicológica e social duradoura”9. (LEYMANN, 1996)

2.2 – CONFIGURAÇÃO

No mundo globalizado, cuja perspectiva é a competição,

caracterizado pela insuficiência de trabalho e mão de obra em demasia,

encontra-se uma facilidade de propagação do assedio moral, pois a política e o

mercado são submetidos por comportamentos desumanos e aéticos,

prevalecendo a arrogância e o interesse individual, o que gera como

conseqüência, ante o binômio superior e subordinado, a pratica corriqueira do

assedio moral.

Segundo alguns autores, o conceito de assédio moral institucional

envolve a cultura de gestão da empresa. Quando a política empresarial

favorece, todos os funcionários que podem estar a mercê do assedio moral.

Acerca deste tipo de gestão, caracterizada perversa, podemos citar; falta de

comunicação; pessoas que são colocadas em situação de rivalidade;

manipulação de pessoas, para que se desestruturem e autodestruam,

diminuição do número de cargos exigindo cada vez mais produtividade; e o fato

9 LEYMANN, Heinz. Mobbing. Lê Seuil, 1996.

Page 27: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

27de não agirem de forma direta e clara. O objetivo das empresas que possuem

gestão perversa é calar as pessoas que denunciam situações de

desigualdades e irregularidades.

2.3 – MODALIDADES E FORMAS

Quanto às modalidades, o assédio moral se classifica em: vertical

ascendente, aquele que parte de um ou mais assalariados ou administrados

em relação ao superior hierárquico; vertical descendente (o mais comum):

aquele que parte do superior hierárquico em relação ao seu subordinado;

horizontal simples ou coletivo, aquele que parte de um ou mais trabalhadores

em relação ao colega de serviço10. (ALKIMIN, 2005)

2.4 – GARANTIAS LEGAIS

Além do amparo previsto na Constituição Federal anteriormente

mencionado, por uma interpretação sistemática, podemos extrair da ordem

jurídico-trabalhista visando à adequação da solução legal para o assédio moral

o artigo 483, e suas alíneas.

No campo da previdência, a luta é para fazer com que o assedio

moral seja reconhecido como doença relacionada ao trabalho. E aí a

importância de emitir a CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho,

descrevendo a patologia como assedio moral.

Recentemente o INSS publicou o Decreto nº 3.048, de 08 de

maio de 1999, que aprova o regulamento da previdência social, e dá outras

providencias – uma relação de transtornos mentais e comportamentais

relacionados ao trabalho.

10 ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego. Curitiba: Juruá, 2005.

Page 28: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

28

2.5 – RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL

No caso de ocorrência de assédio moral partindo do empregador

para o empregado, a responsabilidade daquele é objetiva. Contudo, tratando-

se de preposto do empregador a responsabilidade é subjetiva, pela modalidade

extracontratual (art. 159, Código Civil de 1916, atual artigo 186, Código Civil de

2002).

Os requisitos da responsabilidade civil subjetiva são: a) ato

comissivo ou omissivo; b) dano moral; c) nexo causal; d) culpa em sentido

amplo (dolo) ou restrito (negligência, imprudência ou imperícia).

No que tange a responsabilidade penal, o Código Penal encara o

tema no artigo 216-A, incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de maio de 2001, in

verbis:

‘Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter

vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o

agente de sua condição de superior hierárquico ou

ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou

função.

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Parágrafo único. Vetado

§ 2º - A pena é aumentada em até um terço se a vítima é

menor de 18 (dezoito) anos.

Page 29: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

29

CAPÍTULO 3

ASSÉDIO MORAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3.1 – CONCEITO

Além dos conceitos já mencionados, em resumo, podemos definir

o assédio moral como a exposição dos trabalhadores, sejam eles da iniciativa

privada ou publica, a situações humilhantes e constrangedoras, geralmente

repetitivas e prolongadas, durante o horário de trabalho e no exercício de suas

funções, situações essas que ofendem a sua dignidade ou integridade física.

Destaque-se que em alguns casos, um único ato, pela sua

gravidade, pode também caracteriza-lo.

Muitas repartições públicas tendem a ser ambientes carregados

de situações perversas, com pessoas e grupos que fazem verdadeiros plantões

de assédio moral.11 (BATALHA, 2009, P. 26)

Em inglês, to mob significa: agredir. Esta agressão,

evidentemente, pode-se desdobrar, em física, verbal ou psíquica ou moral. Na

prática, pode-se traduzir a expressão idiomática inglesa em duas palavras:

vergonhosa intimidação. Caracteriza-se o mobbing em um fenômeno de

delinqüência massiva de proporções mundiais que se compõe de três

elementos: a vítima ou o mobizado, o mobber ou assediador e os cúmplices, ou

seja, os colegas.

Neste contexto, o perfil pessoal da vítima é delineado por uma

inteligência, geralmente, um pouco acima da média, uma personalidade

altruísta, ingênua, insatisfeita, honesta e consideradora de valores morais,

apegada ao trabalho e à instituição pública, o tipo de pessoa que não tolera

injustiça com ninguém.

11 BATALHA, Lílian Ramos. Assédio Moral em Face do Servidor Público. 2ª ed. Editora Lúmen Júris. Rio de Janeiro, 2009 p.26

Page 30: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

30

3.2 – CONFIGURAÇÃO

Esta forma de terrorismo, que infelizmente ainda não está

tipificado, mas que já é passível de reparação cível e até com conseqüências

administrativas, expõe o trabalhador em situações constrangedoras e

humilhantes, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou a

integridade física.

A caracterização do mobbing, bullying, harcélement moral ou,

ainda, manipulação perversa, terrorismo psicológico depreende dos próprios

conceitos cujo elemento comum, é a mesma forma de conduta, que ocorre

sempre de forma agressiva e vexatória, constrangendo a vitima e,

consequentemente, trazendo nela sentimentos de humilhação e interiorização,

afetando diretamente a sua auto-estima.

Conforme elencam MONATERI, BONA e OLIVA (2001), o

mobbing pode caracterizar-se de diversas formas, que, a título ilustrativo,

podem ser: a marginalização do sujeito mediante a hostilidade e a não

comunicação; críticas continuas a seus atos; a difamação; a atribuição de

tarefas que inferiorizam e são humilhantes ou, ao contrario, difíceis demais de

cumprir, sobretudo quando propositalmente não acompanhada de instrumentos

adequados; o comprometimento da imagem do sujeito perante seus colegas,

clientes, superiores; transferências continuas de um escritório a outro, etc12.

No serviço público as principais razões para a configuração do

assedio moral são:

a) Falta de preparo de alguns chefes imediatos e pura

perseguição a um determinado indivíduo – Neste caso o assedio moral

tende a ser mais freqüente em razão de uma peculiaridade: o chefe não dispõe

sobre o vínculo funcional do servidor. Não podendo demiti-lo, passa a humilhá-

lo e sobrecarregá-lo de tarefas inócuas.

12 MONATERI, Píer Giuseppe; et al. O mobbing como legal framework: a nova abordagem italiana ao assédio moral no trabalho. RTDC, vol. 2, n.7, p. 122-151, jul/set. 2001.

Page 31: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

31

b) Chefias por indicação – Ocorre em decorrência de laços de

amizade, parentesco (nepotismo) direto ou indireto ou de suas relações

políticas – inclusive as decorrentes de certas ordenações.

c) Cobiça - Em muitos casos a origem da situação está no

dinheiro; promoções, gratificações, Direção e Assessoramento Superior

(D.A.S.s), viagens, vantagens, representações, ajudas de custo, locomoção,

diárias, a tendência a querer abocanhar literalmente de tudo e de todos.

d) Preconceitos enraizados - Pode ainda originar-se em algum

preconceito enraizado, como preconceito contra gordura, de origem racial ou em

razão da orientação sexual.

e) Anonimato em virtude do excesso de contingente – É uma

dos maiores motivos que originam o grande número dos que sofrem por

mobbing na Administração Pública é o exacerbado número de pessoas que

compõe o quadro da administração pública - o que torna o anonimato uma

constante. Assim, para se diferenciar do resto da massa, e poder angariar

funções comissionadas, alguns chefes começam a pisar em seus subalternos.

Não é raro que uma repartição inteira seja oprimida pelo agressor, há casos,

inclusive, de todo um setor colocar o cargo ou função à disposição por não

suportar o assédio por parte de seus chefes. Contudo, raras vezes alguma

atitude é efetivamente tomada. O que torna duvidosa a verdadeira origem da

agressão.

Oportuno destacar ainda as formas específicas mais comuns de

assédio moral no serviço público:

a) Dificultar a Licença Capacitação - A Licença Capacitação,

introduzida em substituição da Licença Prêmio por Assiduidade a cada

qüinqüênio de efetivo exercício, cumprido certos requisitos legais, há que ser

concedida em conformidade com disposto no artigo 87 da Lei 8.112/90 sob

Page 32: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

32pena de abuso de poder digno de Mandado de Segurança, por se tratar de

direito líquido e certo sendo, portanto, ato vinculado.

Caso o servidor preencha todos os requisitos constantes na

regulamentação, ou seja, curso de interesse do administrador, carga-horária

correspondente, e cinco anos de efetivo exercício, a administração terá que

concedê-lo sob pena de se considerar assédio moral, na forma de perseguição.

Do mesmo modo a não regulamentação pelo órgão acerca dos

requisitos necessários a concessão da licença capacitação, de forma clara e

objetiva constitui forma de assédio moral coletivo e abuso de poder por

omissão - cumpre esclarecer que tal omissão geralmente ocorre com vistas a

negar direita a categoria - neste caso, cumpre ao sindicato a tomada das

providências cabíveis.

b) Atrasos em razão de cursos – Ocorre quando o servidor, em

razão de curso de especialização na área de interesse do próprio órgão,

precise chegar um pouco atrasado ou sair um pouco mais cedo.

Nesse caso, vislumbra-se incoerência muito grande e

perseguição, haja vista que o mesmo tem direito a licença para estudos.

c) Perseguição ao servidor estudante – Uma das práticas mais

corriqueiras atualmente, e ocorre quando o servidor estudante do curso de

graduação é perseguido devido ao horário flexível, que lhe é legalmente

concedido. Assim, se o servidor preenche os requisitos, este direito não lhe

pode ser negado.

d) Excesso de poder – Ocorre, quando a autoridade embora

competente para praticar o ato, vai além do permitido e exorbita do uso de suas

faculdades administrativas.

O excesso de poder torna o ato arbitrário nulo e ilícito. Trata-se

de uma das modalidades de abuso de poder que retira a legitimidade da

conduta do administrador público colocando-o na ilegalidade incidindo,

inclusive, no crime de abuso de autoridade quando enquadrado nas previsões

Page 33: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

33penais da lei 4.898/65, que visa preservar as liberdades individuais já

asseguradas na Constituição (art. 5º), ter grade incompatível com o horário do

serviço a que está amparado.

e) Desvio de finalidade – Acontece quando a autoridade,

atuando dentro do limite de suas competências, prática o ato contrário ao

interesse público. É assim, uma violação ideológica, moral da lei.

f) Controle rígido do ponto e assiduidade – É fato publico e

notório que “regularmente” isso não se aplica no ser viço público, porém, para o

assediador é uma das formas de compelir a vítima aos seus caprichos.

3.3 – MODALIDADES

Assim como acontece na iniciativa privada, as modalidades de

assédio moral se classificam em:

a) Forma vertical descendente (a mais comum) – Aquela que

parte do superior hierárquico em relação a seus subordinados e se caracteriza

por relações autoritárias e desumanas, onde predomina os desmandos, a

manipulação do medo e a competitividade.

b) Forma vertical ascendente – É aquela que parte de um ou

mais assalariados ou administrados em relação ao superior hierárquico.

c) Forma horizontal ou transversal – Ocorre entre os próprios

colegas. Esta modalidade divide-se em horizontal simples ou horizontal

simples ou horizontal coletivo.

c.1) Horizontal simples – Parte de um trabalhador em

relação ao colega de serviço. È mais freqüente quando dois empregados

disputam a obtenção de um mesmo cargo, função ou uma promoção.

Page 34: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

34

c.2) Horizontal coletivo – Parte de um ou mais trabalhadores

(uma classe) em relação ao colega de serviço.

Destaque-se nesta modalidade que, servidores públicos

organizados em carreira, se os colegas o assediam moralmente, cabe argüir

assedio moral coletivo contra a classe inteira organizada em carreira.

“Assim, como exemplo, podemos citar casos de funcionários

organizados em carreira que foram assediados (exemplo -

carreiras militares) e depois foram reintegrados, não mais,

na posição em que se encontravam na época do assédio,

mas com todas as promoções que lhe seriam devidas

naquele lapso de tempo, todas concedidas de uma vez.

Compreendidos no quantum debeatur o que perdeu e o que

efetivamente deixou de ganhar (lucros cessantes) por culpa

exclusiva da instituição assediadora”13. (BATALHA, 2007).

3.4 – GARANTIAS LEGAIS

No Estado do Rio de Janeiro, único até agora em editar lei contra

assédio moral em âmbito estadual, a Administração Pública tem como suporte

a Lei nº 3.921, de 23 de agosto de 2002, emitida pela Assembléia Legislativa,

que dispõe sobre a caracterização do assédio nas dependências da

Administração Pública localizadas no Estado prevendo os casos e as

penalidades. 13 Assédio Moral em Face do Servidor Público. Lílian Ramos Batalha.

http://www.direitonet.com.br/textos/x/16/95/1695/DN_assedio_moral_em_face_do_servidor_pu

blico.doc - em 28-01-2007

Page 35: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

35Para efeitos desta lei, considera-se assedio moral todo tipo de

ação, gesto ou palavra que atinja, pela repetição, a auto-estima, a dignidade, a

segurança do servidor público. Fazendo-o duvidar de si e de sua competência,

implicando dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira profissional

ou à estabilidade do vínculo.

A lei também menciona algumas situações em que pode ser

caracterizado o assédio moral, assim com as penalidades a serem aplicadas.

A maior pesquisa implementada no Brasil sobre assédio moral, foi

realizada com 4.718 trabalhadores, e constatou que 33% deste universo

afirmaram ter sido vitimas de assédio moral. A pesquisa revelou, também, que

a maior incidência de assédio se deu na região Sudeste (66%) e na região Sul

(21%).14 (PEIXOTO, 2002, pág. 15-21)

A tipificação de assédio moral aos servidores públicos da União,

das autarquias, e das fundações públicas será regulamentado pelo Projeto de

Lei Federal nº 4.591/2001, ainda em tramitação.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), no uso de suas

atribuições de elaborar normas internacionais atinentes às questões do Direito

do Trabalho, editou, em 2002, um Informe sobre algumas formas de

configuração do assédio moral, elencando várias condutas que se mostraram

mais típicas ou comuns. O rol estabelecia que o assédio moral consistiria em:

a) Medida destinada a excluir uma pessoa de uma atividade

profissional;

b) Ataques persistentes e negativos ao rendimento pessoal ou

profissional sem razão;

c) A manipulação da reputação pessoal ou profissional de uma

pessoa através de rumores e ridicularizarão;

14 PEIXOTO, Evandro. Quando o trabalho é fonte de sofrimento. FENAE/ Agora,

Brasília/DF, fev. 2002, ed. 29, ano 5, nº1, p. 15-21.

Page 36: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

36d) Abuso de poder através do menosprezo persistente do

trabalho da pessoa ou a fixação de objetivos com prazos inatingíveis ou pouco

razoáveis ou a atribuição de tarefas impossíveis;

e) Controle desmedido ou inapropriado do rendimento de uma

pessoa.

As normas editadas pela OIT, tal como o informe acima referido,

que proíbe o assédio moral, e a Convenção 111, que proíbe qualquer tipo de

discriminação, devem ser observados como verdadeiros "sobreprincípios"

dentro do ordenamento jurídico interno, devendo cada membro tomar as

medidas necessárias ao efetivo respeito a esses direitos, concretizando-os

através de medidas preventivas e repressoras.

3.5 – RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL E ADMINISTRATIVA

Tendo em vista que a responsabilidade civil e penal já foi tema

abordado, e que também é aplicável perante a Administração Pública, resta

esclarecer sobra a responsabilidade administrativa na ocorrência de assedio

moral.

Depois de regularmente apurados os fatos e comprovadas as

denuncias, o assediador poderá ser punido com advertência, participação em

curso de aperfeiçoamento profissional, pagamento de multa ou suspensão, e

em caso de reincidência, poderá até ser demitido, devendo o Ministério Público

ser notificado para adotar as medidas pertinentes ao caso, se necessário.

Já, se o assediador for autoridade de mandato eletivo, o processo

também deverá ser encaminhado ao Ministério Público, para as providências

de praxe.

Cumpre ressaltar que, independente as punição prevista na

legislação municipal, o assediado poderá também ajuizar ação indenizatória

por danos morais, visando reparação em dinheiro.

Page 37: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

37É imprescindível que toda e qualquer punição seja acompanhada

da apuração regular da falta disciplinar em razão do próprio princípio da

legalidade estampado no caput do artigo 37 da Constituição Federal. O caráter

discricionário do poder disciplinar não infere que o superior hierárquico puna

arbitrariamente o subordinado sem que haja os procedimentos pertinentes

como: Apuração da falta pelos meios legais compatíveis com a gravidade da

pena a ser imposta, dando-se oportunidade de defesa ao acusado sob pena da

discricionariedade ser entendida como ilegítima e arbitrária pelo Judiciário, por

não seguir o devido processo legal - due process of law (art. 5º LLIV, LV)

restando cabível o Mandado de Segurança contra ato disciplinar (Lei 1533/51,

art. 5º, III).

CAPÍTULO 4

ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL

4.1 – CONCEITO

Enquanto o assédio moral é o “terror psicológico” impingindo ao

trabalhador, “ação estrategicamente desenvolvida para destruir

psicologicamente a vítima e com isso afasta-la do mundo do trabalho”

(GUEDES, Márcia Novaes, in “Mobbing” – Violência Psicológica no Trabalho”,

Revista LTR, 67-2/162/165), considera-se como assédio sexual “o pedido de

favores sexuais pelo superior hierárquico, com promessa de tratamento

diferenciado em caso de aceitação e/ou ameaças, ou atitudes concretas de

represálias no caso de recusa, como a perda de emprego, ou de benefícios15”

(LIPPMAN, 2001, p.122)

15 LIPPMAN, Ernesto. Assédio sexual nas Relações de Trabalho. Ed. LTr, São Paulo, 2001, p. 122).

Page 38: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

38

4.2 – DIFERENÇA

Os dois tipos de assédio constituem abuso de poder.

Apesar de serem crimes distintos, podem ambos ocorrer

direcionados a uma única pessoa ou mais pessoas.

O assédio moral é caracterizado pela vontade do praticante,

também abusando de sua autoridade, com a finalidade de desacreditar seu

subordinado profissional ou socialmente.

Esses dois tipos de crimes são muito difíceis para provar pela

prática ser essencialmente por meio de pressão psicológica, e muitas das

vezes não acontecem perante outras pessoas.

Normalmente o termo assédio moral é confundido com o assédio

sexual. A diferença é que no assédio sexual implica uma conduta para fins

sexuais, através de gestos, palavras, insinuações,ou até mesmo ameaça

verbal ou física com o intuito de obter vantagem sexual.

Page 39: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

39

CONCLUSÃO

O assédio moral, como fenômeno social de tempos antigos, mas

de conhecimento recente, deve ser analisado com cautela, no tocante à sua

caracterização jurídica. É necessário que se comprove a natureza psicológica

do dano causado pelo assédio moral, provocado por uma conduta prolongada

no tempo e que tenha desencadeado uma doença psíquico-emocional,

comprovada por meio de avaliação médica ou psicológica capaz de verificar o

dano e o nexo causal relacionado ao meio ambiente de trabalho.

Alguns países já possuem normatização trabalhista específica,

para coibir o assédio moral no ambiente laboral, o que ainda não se verifica no

Brasil, havendo alguns projetos de lei federal em andamento.

As estatísticas nacionais e mundiais revelam a oportunidade da

discussão sobre a necessidade de se preservar a saúde mental dos

trabalhadores, um dos valores inerentes à própria dignidade da pessoa

humana, princípio sobre o qual se fundamentam os ordenamentos

democráticos modernos.

Portanto, não restam dúvidas de que o assédio moral ofende

diretamente a dignidade da pessoa, agredindo seus direitos, e gerando

conseqüências físicas e morais, intimidade, honra, privacidade, etc.

Page 40: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

40

BIBLIOGRAFIA e WEBGRAFIA

ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de emprego. Curitiba:

Juruá, 2005

ARAÚJO, Alberto José de. Assédio Moral: a máscara da pressão oculta no trabalho. Jornal de Segurança nº. 99. Disponível em: http://www.jseg.net/ed99/segurancado trabalho99.htm. Acesso em 20 ago.2010

BARRETO, Margarida Maria Silveira. Violência, saúde e trabalho: Uma

jornada de humilhações. São Paulo: EDUC,2003.

BATALHA, Lílian Ramos. Assédio Moral em Face do Servidor Público. 2ª ed. Editora Lúmen Júris. Rio de Janeiro, 2009.

Código Civil.

Código Penal Brasileiro.

Constituição Federal de 1988.

Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT.

FERREIRA, D.S. Assédio Moral – relações desumanas nas organizações. 44f. 2006, ed. Exaro, Rio de Janeiro. GUEDES, Márcia Novaes, in “Mobbing” – Violência Psicológica no Trabalho”, Revista LTR, 67-2/162/165) HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa do cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. LEYMANN, Heinz. Mobbing. Lê Seuil, 1996 LIPPMAN, Ernesto. Assédio sexual nas Relações de Trabalho. Ed. LTr, São Paulo, 2001.

Page 41: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

41MONATERI, Píer Giuseppe; et al. O mobbing como legal framework: a nova abordagem italiana ao assédio moral no trabalho. RTDC, vol. 2, n.7, jul/set. 2001. MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2000. PEIXOTO, Evandro. Quando o trabalho é fonte de sofrimento. FENAE/

Agora, Brasília/DF, fev. 2002, ed. 29, ano 5, nº1.

SILVA, Jorge Luiz de Oliveira da. Assédio Moral no Ambiente de Trabalho. Editora e Livraria Jurídica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2005.

ZIMMERMANN, Silvia Maria. Documento da Procuradoria Regional do

Trabalho/12ª Região-SC.

http://www.leymann.se. Acesso em 20 ago. 2010. http://www.europarl.eu.int. Acesso em 20 ago. 2010 http://www.direitonet.com.br/textos/x/16/95/1695/DN_assedio_moral_em_face_

do_servidor_publico.doc - em 20 ago. 2010.

Page 42: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

42

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ....................................................................... 02

AGRADECIMENTO ....................................................................... 03

DECICATÓRIA .............................................................................. 04

RESUMO ....................................................................................... 05

METODOLOGIA ............................................................................ 06

SUMÁRIO ...................................................................................... 07

INTRODUÇÃO ............................................................................... 09

CAPÍTULO 1 – ASSÉDIO MORAL

1.1 – Evolução Histórica ........................................................... 10

1.2 – Conceito ........................................................................... 14

1.3 – Caracterização ................................................................. 16

1.4 – Medidas Preventivas ........................................................ 18

1.5 – Princípios Constitucionais ................................................ 19

1.6 – Conseqüências ................................................................20

CAPÍTULO 2 – ASSÉDIO MORAL NA INICIATIVA PRIVADA

2.1 – Conceito ........................................................................... 25

2.2 – Configuração .................................................................... 26

2.3 – Modalidade e Formas ...................................................... 27

2.4 – Garantias Legais .............................................................. 27

2.5 – Responsabilidade Civil e Penal ........................................ 28

CAPÍTULO 3 – ASSÉDIO MORAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3.1 – Conceito ........................................................................... 29

Page 43: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

43

3.2 – Configuração .................................................................... 30

3.3 – Modalidades ..................................................................... 33

3.4 – Garantias Legais .............................................................. 34

3.5 – Responsabilidade Civil, Penal e Administrativa ............... 36

CAPÍTULO 4 – ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL

4.1 – Conceito ......................................................................... 37

4.2 – Diferença ....................................................................... 38

CONCLUSÃO ................................................................................ 39

BIBLIOGRAFIA e WEBGRAFIA .................................................... 40

ÍNDICE ........................................................................................... 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO ............................................................... 44

Page 44: UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · suas formas de caracterização, as conseqüências, tanto físicas quanto psicológicas, e por fim, a diferença para o

44

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes (AVM)

Título da Monografia: Assédio Moral na Administração

Pública

Autor: André Luiz de Lima Fortes

Data da entrega: 20/08/2010

Avaliado: Conceito: