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Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de Literaturas Românicas Estratégias por Correspondência Uma leitura da obra de Feliciana de Milão Anexo Pedro António Freire Santos de Sena-Lino Doutoramento no Ramo de Estudos de Literatura e de Cultura Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa 2012

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Departamento de Literaturas Românicas

Estratégias por Correspondência

Uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Anexo

Pedro António Freire Santos de Sena-Lino

Doutoramento no Ramo de

Estudos de Literatura e de Cultura

Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa

2012

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2 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Departamento de Literaturas Românicas

Estratégias por Correspondência

Uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Anexo

Pedro António Freire Santos de Sena-Lino

Tese orientada pela

Professora Doutora Vanda Anastácio,

especialmente elaborada para a obtenção do grau de doutor em

Estudos de Literatura e de Cultura

Estudos de Literatura e Cultura de Expressão Portuguesa

2012

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3 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Í NDI CE Apresentação ................................................................................................................ 6

A Edição .................................................................................................................. 6

O aparato crítico .................................................................................................. 8

Critérios .............................................................................................................. 9

Relação Total de Testemunhos .................................................................................... 16 Descrição Codicológica .............................................................................................. 17 I. Cartas de Feliciana de Milão ............................................................................. 28

1. Sequência de Cartas de «Influência das Estrelas»......................................... 28

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 28

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 28

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 31

Correspondência com Influência das Estrelas – texto fixado .................................. 32

1.1. Carta da Senhora D. Inês Antónia escrita a D. Feliciana, convidando-a para umas Sortes de Palácio............................................................................... 32

1.2. Papel que ia com esta carta .................................................................... 33

1.3. Primeira reposta ..................................................................................... 34

1.4. Segunda carta para Dona Feliciana......................................................... 35

1.5. Segunda Reposta.................................................................................... 36

1.6. Carta terceira para D. Feliciana .............................................................. 37

1.7. Reposta de D. Feliciana ......................................................................... 38

1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha .................................... 40

2. Carta da Devolução e Resposta de D. Maria das Saudades .......................... 42

2.A. Carta da Devolução ...................................................................................... 42

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 42

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 44

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 45

Carta da Devolução – texto fixado ......................................................................... 50

2.B. Resposta de D. Maria das Saudades ............................................................. 53

a) Identificação de Testemunhos.................................................................... 53

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 54

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 56

Resposta de D. Maria das Saudades – texto fixado ................................................. 59

3. Carta das Veias ............................................................................................ 62

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 62

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4 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 63

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 64

Carta das Veias – texto fixado ................................................................................ 66

4. As Cartas de Aranha ..................................................................................... 69

4.A. «Estive para principiar» (Carta Primeira) .................................................... 69

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 69

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 69

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 70

Primeira Carta de Aranha – Texto fixado .......................................................... 71

4.B. «Tem tão obtusos os órgãos do cérebro» (Carta Segunda) ............................ 73

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 73

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 73

Segunda Carta de Aranha - texto fixado ........................................................... 74

5. Carta de Pedro de Quadros e Resposta de Feliciana de Milão ...................... 78

5.A. Carta de Pedro de Quadros .......................................................................... 78

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 78

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 78

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 79

Carta de Pedro de Quadros a D. Feliciana de Milão – texto fixado ................... 82

5.B. Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros .................................... 85

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 85

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 85

Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros – texto fixado ................... 86

6. Carta da Deposição ...................................................................................... 92

a) Identificação dos Testemunhos .................................................................. 92

b) Relação de Testemunhos ........................................................................... 94

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos ............................ 96

Carta da Deposição – texto fixado ....................................................................... 101

7. Carta Suposta e Carta da Refutação ........................................................... 105

7.A. Carta Suposta ............................................................................................. 105

a) Identificação dos Testemunhos ................................................................ 105

b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 106

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 107

Carta Suposta – texto fixado ................................................................................ 109

7.B. Carta da Refutação ..................................................................................... 114

a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 114

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5 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 114

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 116

Carta da Refutação – texto fixado ........................................................................ 118

8. Carta de Respostas Amorosas ..................................................................... 122

a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 122

b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 123

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 124

Carta Respostas Amorosas – texto fixado ........................................................ 127

9. Correspondência com o Duque de Cadaval ................................................ 150

a) Identificação Testemunhos ...................................................................... 150

Carta Nº1......................................................................................................... 151

Carta Nº2 Resposta do Duque para D. Feliciana .............................................. 152

Carta Nº3 Carta do Duque para D. Feliciana .................................................... 153

Carta Nº 4........................................................................................................ 154

Carta Nº 5........................................................................................................ 155

Carta Nº6......................................................................................................... 156

II. Outros textos de Feliciana de Milão ................................................................. 157 1. “Licença da Censura” ................................................................................. 157

a) Identificação dos Testemunhos ................................................................ 157

b) Relação de Testemunhos ......................................................................... 158

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos .......................... 159

«Licença da Censura» - texto fixado ................................................................ 161

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6 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Apresentação

A edição crítica das cartas de Feliciana de Milão apresenta-se nas páginas

seguintes. A sua ordenação é cronológica, feita a partir de uma cronologia deduzida de

acordo com os dados disponíveis1. Na Descrição de Testemunhos, poderão ser

encontradas, esquematicamente, informações sobre as versões de cada uma das Cartas e

as relações que estas estabelecem entre si, bem como a sua descrição codicológica.

Também se incluem a relação de testemunhos para cada carta e os resultados da

collatio. Uma nota particular quanto à edição da Carta Respostas Amorosas: esta é

seguida, no presente volume, por uma versão que contém as perguntas com outras

respostas em verso.

Inclui-se ainda a transcrição do único testemunho conservado das Cartas de

Feliciana ao Duque de Cadaval e respostas deste. Sublinhe-se ainda que os testemunhos

da Correspondência de Feliciana ao Duque de Cadaval se encontram em mau estado;

disponibilizados apenas em microfilme pelos serviços da BNF, não nos foi possível

consultar o original. Assim, muitos passos do texto correspondem a leituras

conjecturais.

Depois das Cartas, edita-se aqui o texto das Licenças da Censura, publicado no

volume dos Inigmas de Soror Juana Inés de la Cruz.

Os Textos de autoria duvidosa ou apócrifos foram colocados no Apêndice, com

excepção da Carta Suposta, já que Feliciana lhe respondeu directamente, como fez com

as cartas de Pedro de Quadros.

A Edição

Foi efectuada uma pesquisa da tradição nos principais arquivos de Bibliotecas

nacionais e europeias, que se revelou extensa, dado muitos dos testemunhos

manuscritos das Cartas de Feliciana de Milão terem sido transcritos por copistas sem

indicação de autoria, nem por vezes, sequer de temática.

Procedeu-se depois à transcrição de todos os testemunhos, na grande maioria

manuscritos. Como indicámos na Relação Geral de Testemunhos, encontraram-se

1 Veja-se a dissertação, Introdução, subcapítulo ii.

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7 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

algumas versões impressas totais e parciais – tendo sido apenas estas últimas

desconsideradas (já que se tratam de citações ou transcrições parcelares, efectuadas nos

séculos XIX e XX, retiradas de cópias de versões manuscritas conservadas2). As versões

impressas, como indicado, correspondiam, na sua maioria, a cópias de versões

manuscritas. Foi efectuada, em seguida, uma colação a todos estes testemunhos. Os

possíveis autógrafos foram sujeitos à mesma operação, tal como os alógrafos.

Não havendo uma edição impressa da totalidade das cartas, mas sim uma

quantidade apreciável de manuscritos, a selecção do texto-base seguiu a teoria do

melhor manuscrito de Joseph Bédier3. Sublinhe-se ainda que a utilização do método de

Lachmann não nos pareceu o mais ajustado para a edição em causa, já que as muitas

reproduções e complexas relações estabelecidas entre os testemunhos tornariam muito

difícil a reconstituição de uma versão próxima do original. Porém, e apenas como o

objectivo de procurar representar graficamente as «detalhadas relações estabelecidas

entre as várias versões4», optámos por apresentar, após a relação de testemunhos, uma

representação gráfica da relação entre testemunhos, esclarecedor da tradição

conservada. A presença de «erros intencionais5», devidos aos copistas, validou esta

opção. Reforcem-se as reservas6 em relação a esta representação que, perante o tipo de

documentos que constituem o corpus (e tendo em conta as formas de reprodução destas

cartas), se pode revelar incompleto. Assim sendo, procurámos suprir estas limitações

através da explicação da relação existente entre os testemunhos, versão a versão, e do

estabelecimento de famílias entre as várias versões.

Nos casos das Cartas de Aranha, bem como na Carta de Pedro de Quadros e

respectiva Resposta, procedeu-se a uma única apresentação quer de representação

gráfica da relação entre os testemunhos, quer da sua justificação, aí justificada.

Quanto à emmendatio, partilhamos a concepção expressa por James Thorpe7

sobre a “impropriedade” de intervenção do editor no texto-base (mesmo tendo em conta

um corpus de correspondência, com as suas características específicas de reprodução).

2 Foram porém indicadas na relação de testemunhos prévia a cada Carta. 3 cf. Le Lai de l’ombre, publié par Joseph Bédier, Fribourg, Imprimerie et Librairie de L’oeuvre de Saint-Paul, 1890 4 James Thorpe, Principles of Textual Criticism, San Marino, California, The Huntington Library, 1972, pg. 113 5 James Thorpe, op. cit., pgs. 112 6 cf. James Thorpe, op. cit., pgs. 114-115; Miguel Ángel Pérez Priego, Introducción General a la Edición del Texto Literario, Madrid, Universidad Nacional de Educación a Distancia, 2001, pgs. 21-30 7 James Thorpe, op. cit., pgs. 189-191

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8 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Assim sendo, limitámo-nos à emmendatio do texto-base de forma rara e esporádica,

sempre indicada em nota de rodapé, e apenas nos casos em que esta apresentava: a)

lições decorrentes de erros evidentes do copista, sobretudo devido a discurso interior,

difracção, haplografia, ou homoioteleuton; b) quando o texto-base apresentava uma

lição sustentada por um único testemunho, revelando o conjunto ou a maioria das outras

versões, um lição mais clara ou contextual. A grande quantidade de versões disponíveis

das cartas impôs-nos a fixação dos referidos critérios. Dada quer a extensão do corpus,

quer a variedade de de testemunhos, foi nossa opção dar conta das variantes no aparato,

e não num texto global, prévio à edição.

Procurámos encontrar definições de todas as ocorrências vocabulares a partir do

Dicionário mais completo e adequado, próximo da época de escrita de Feliciana de

Milão, o Vocabulário de Raphaël Bluteau8; um dos factores para esta escolha foi,

precisamente, a presença do vocabulário do jogo de cartas, fulcral para a compreensão

da obra da religiosa de Odivelas. Na ausência de entradas para algumas ocorrências, as

referências foram pesquisadas no Dicionário de Moraes e Silva9. Do mesmo modo, no

tocante às citações (bastante frequentes) procurámos identificá-las10, e corrigimos o

original servindo-nos de textos fixados, ou na sua ausência, das primeiras versões

impressas das obras. Todas estas referências estão marcadas em nota.

O aparato crítico

Foi estabelecido um aparato crítico, que pode ser encontrado no final de cada

carta, identificado e organizado numericamente, com indicação da versão a que

correspondem (enunciada pela sigla, de acordo com o Quadro de Relação de

Testemunhos, constante da "Apresentação").

8 Raphaël Bluteau, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatómico, arquitectónico, bélico, botânico, brasílico, cómico, crítico, químico, dogmático, dialéctico, dendrológico, ecclesiástico, etimológico, económico, florífero, forense, frutífero... autorizado com exemplos dos melhores escritores portugueses, e latinos, pelo padre D. Raphael Bluteau, Coimbra, no Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728, 10 vols. 9 António Moraes Silva, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Confluência, 10ª Edição, 10 vols.,1949, 10 Quanto à Carta Respostas Amorosas, não nos foi possível identificar todas as citações efectuadas por Feliciana. Muitas delas estão transcritas de forma pouco legível, corrigidas pelos copistas, ou copiadas com erros visíveis (como é o caso do verso de Ariosto, que não tem uma lição legível). Reforce-se que muitas vezes estas citações são retiradas de manuscritos, por sua vez cópias de outros, e em muitos casos de poemas que são falsamente atribuídos aos seus autores. Por outro lado, quer Nieves Baranda, quer Bouza Álvarez têm destacado a existência de livros de citações utilizados pelos autores, como já referido anteriormente.

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9 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Em segundo lugar, embora representado previamente a este aparato crítico,

estabeleceu-se um conjunto de Notas, organizado alfabeticamente, onde se procurou

registar:

1) a indicação das ocorrências em que a junção de palavras contribui

para a criação de ambiguidades de sentido (“culpado” que pode

designar “culpa do” ou “culpado”), e onde, por este motivo,

mantivemos a ocorrência original.

2) a justificação das emendas que tivermos efectuado.

3) os problemas do suporte, como manchas, tinta repassada, entre outros.

4) em casos muito pontuais, algumas notas sobre os manuscritos das

versões secundárias que aclarem passos menos claros no texto-base.

5) a correcção de citações através de textos fixados criticamente, ou, na

sua ausência, das suas primeiras edições.

6) notas vocabulares e histórico-literárias; nos casos em que se revelou

necessário, apresentamos também referências e contextos das citações

efectuadas por Feliciana.

Critérios

Tendo em consideração a variedade linguística dos textos aqui apresentados, e a

difícil leitura provocada pelo estado de alguns dos testemunhos, procedemos, não sem

reservas, a algumas operações de actualização do texto-base, que identificaremos

seguidamente. Dados os diversos factores que contribuiem para a especificidade

linguística do século XVII, o estabelecimento de critérios de actualização demasiado

conservadores pareceu-nos desservir o propósito de divulgação e compreensão do texto.

Note-se, porém, que as intervenções efectuadas surgem apenas no texto-base, e

não nas variantes. Esta nossa opção prende-se, sobretudo, com a numerosa e diversa

informação que, no nosso entender, se perderia com a actualização das variantes, a

saber: compreensão de erros de cópia que esclarecem a escolha das versões apógrafas a

partir das quais foram executados alguns testemunhos, e até, as relações que se

estabelecem entre elas; a compreensão, não apenas em termos de sintaxe, mas sobretudo

de sentido, de algumas variantes intencionais; e, entre muitos outros aspectos, a directa

e preciosa informação relativa a passos menos claros no texto. Um exemplo

representativo que sustenta as nossas afirmações é o do passo – incompreendido por

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10 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

catorze dos dezasseis copistas dos testemunhos sobreviventes da Carta da Devolução -

«bruxuleie muito devagar»; as variantes desta lição oscilam entre a representação de um

espaço em branco, a «por chulo, debuxe», «burlece», «burlente, bulla», «burxelie».

Como se depreende, a normalização das variantes não permitiria claramente identificar

as relações de transmissão entre os testemunhos.

Identificamos em seguida as operações de actualização efectuadas no texto-base.

Vogais

1. Representação dos hiatos

Como nota Paul Teyssier11, os hiatos (realização de «duas vogais contíguas»)

encontravam-se já resolvidos nos finais do século XV, embora as grafias prosseguissem

algumas representações «arcaicas»). Assim, normalizámos a representação das vogais

nasais, quando pré-consonânticas, e não em fim de palavra, seguidas de m e n, a saber:

«segũda» para «segunda», «vẽsellas» por «vencê-las». Quando em posição final,

representámo-la segundo o uso actual: «bõ» para «bom» (muito pouco frequentes);

«hũa», «hua» ou «huma» para «uma»12. Quanto às vogais orais (quer pré quer pós-

tónicas), normalizámos a sua representação («molher» para «mulher»), colocando a

semivogal i segundo a regra actual nas realizações dos hiatos finais –eo e -ea («correo»

para «correio», «Idea» ou «Idéa» para «ideia»), muitas vezes em substituição da

semivogal y («alheyo» por «alheio»). Sublinhe-se que alguns testemunhos apresentam

ainda claramente a grafia de alguns hiatos, como «a a-acçaõ» ou «bruxulee». Quanto ao

caso particular dos ditongos, algumas especificações:

1.1. Ditongos orais. Não são infrequentes as representações do hiato, como nos

casos «mao», ou a já referida «idea». É referido por alguns estudos

gramaticais da época que a sua pronunciação já deveria ser fechada13, pelo

que normalizámos as suas ocorrências: ae para ai («maes» para «mais»,

«sinaes» para «sinais»); ao para au («mao» para «mau», ou «augouro» por

11 Paul Teyssier, História da Língua Portuguesa, Lisboa, Sá da Costa, 1984, pgs. 40-45 12 Note-se que, quer Ivo Castro (Curso de História da Língua Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1993), quer Paul Teyssier defendem que «permanecerão ainda na língua algumas sequências de vogais em hiato que serão eliminadas posteriormente: ũa (escrito em geral hũa), feminino de um passará a uma.» (Paul Teyssier, op. cit., pg. 45). Mesmo com estas ressalvas quanto a estas realizações, decidimos pela normalização destas ocorrências como o fizemos pelas já referidas, critério aliás utilizado por outros editores para textos da mesma época (Margarida Vieira Mendes, por exemplo, mantém a grafia ũa dado o copy-text do texto impresso das Rimas – Rouen, Maurry, 1646 – o manter como opção tipográfica). 13 cf. Paul Teyssier, op. cit., pgs. 57-58, citando D. Luís Caetano de Lima e Luís António Verney.

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11 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

«agoiro») ou «ão» («devocao», «devoçao», «devoçam» para «devoção14»).

No caso das sequências vocálicas que representam ditongos novos a partir do

século XIV-XV (oe, ee, eo), são frequentes grafias alternantes ou

arcaizantes: «meo» por «meu», «cruees» (ou mesmo «crueles», interessante

uso de castelhanismo para resolver a indeterminação vocálica) por «cruéis».

Teyssier nota igualmente que os hiatos eo e ea «serão suprimidos pelo

aparecimento de um iode, donde –eio, -eia15». Porém, no caso das

terminações de palavras terminadas em –eo (como “Ceo”, “receo” ou

“Deos”), manteve-se a grafia; sublinhem-se a este propósito as reservas que

Paul Teyssier levanta quanto a e e o em posição final átona («não há, nos

séculos XVI e XVII, nenhum testemunho de gramático ou ortógrafo que

indique para as vogais escritas –e e –o outra realização fonética que não

[e ] e [o ]16»).

1.2. Ditongos Nasais. Estes reflectem as sequências ã-o, ã-e, õ-e, como apontam Paul

Teyssier e Celso Cunha17. Nos casos dos dois primeiros ditongos, as grafias

presentes nos testemunhos já muito frequentemente se aproximam da grafia

actual («maõ» por «mão», embora seja frequente no plural a realização «maons»

por «mãos», ou «may» por «mãe»), no tocante ao ditongo õ-e é muito frequente

encontrarmos uma irresolução ou hesitação gráfica: «ocasioens» por «ocasiões»,

«acçoens» por «acções». Regularizámos todos estes casos de acordo com a

norma actual.

1.3. Uma nota ainda para o fenómeno de monotongação de ou, processo que muitos

linguistas reconhecem ter-se manifestado já no século XVII18; assim,

representamos «poco» por «pouco», seguindo a norma actual; a excepção da

terminação –eo já foi referida. Note-se que se manteve a grafia da terceira pessoa

do plural do presente do indicativo («tem»), já que se trata de um traço de

pronúncia que se mantém até ao século XVIII.

2. Foram actualizadas as grafias das seguintes representações sempre que

correspondem a sons vocálicos: y com valor de i («may» por «mãe»; «muy» por

14 Note-se que a muito frequente representação «aõ» no corpus dá já indicação da realização deste hiato. 15 Paul Teyssier, op. cit., pg. 45. 16 cf. Paul Teyssier, op. cit., pgs. 57 17 Celso Cunha, «Valor das grafias –eu e –eo do século XIII ao século XVI, in Estudos Portugueses. Homenagem a Luciana Stegagno Picchio, Lisboa, Difel, 1990, pg. 913-927. 18 Paul Teyssier, op. cit., pg. 52; Ivo Castro, op. cit., pgs. 249-259

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12 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

«mui», «freyra» por «freira»); nos raros casos de y com valor de e, como marca

de castelhanismo, muitas vezes haplográfico devido a citações próximas em

castelhano, como «sofrer y calar»); j para i («ajnda» por «ainda»; «jmfundiraõ»

por «infundiram».

3. Manteve-se o uso de apóstrofes, quer em caso de elisão, quer em caso de

contracção de vogais.

Consoantes

4. Quanto à representação das sibilantes predorsodental surda /s/ (como em

«posso» e «poço») ou da predorsodental sonora /z/ («cozer» e «coser»), objecto

de discussão dos gramáticos no final do século XVI19, pelas numerosas grafias

com ç e ss («paçado», «fasso», «reçucitar» ou «reçussitar»), seguiu-se a norma

actual. Normalizou-se a representação do grafema ç segundo a norma actual.

5. Regularização da representação das fricativas de acordo com a norma actual, nas

ocorrências: das palatais surdas x, z, ch ou s («feichar» por «fechar»); das

velares, mesmo do grupo –oct para –oi («nocte» para «noite); das alveolares

(«dosse» por «doce»); da palatal sonora, de acordo com as regras actuais

(«Magestade» por «Majestade»); da labiodental sonora f («esphera» por

«esfera»).

6. Quanto às oclusivas velares, foram alteradas as grafias segundo a norma actual

(«nunqua» por «nunca», «Archivo» por «Arquivo»).

7. Regularização da representação de z intervocálico por s, segundo a norma actual

(«dezejo» por «desejo», «azas» por «asas»).

8. Normalização das grafias etimológicas e pseudo-etimológicas (frequentemente

através do uso dos grupos ph, th, ch para as palavras de origem grega):

«triumphaes» por «triunfais» ou «Achilles» por «Aquiles». Outras

representações de usos não reflectidos na pronúncia do Português foram

igualmente normalizadas: «sancta» por «santa» e «sciencia» por «ciência».

9. Foram actualizadas as grafias das seguintes representações sempre que

correspondem a sons consonânticos: de i por j («iogo» por «jogo»); de v por u

(«uinha» por «vinha»).

10. No que diz respeito às oscilações ortográficas e polimorfismo:

19 cf. Paul Teyssier, op. cit., pg. 50, citando a Ortographia de Pero de Magalhães de Gândavo de 1574.

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13 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

- manutenção de ocorrências que correspondem a realizações alternantes como

«quasi» ou «quase» ou «noute» e «noite», ou «tromento» ou «tormento»,

«preguntas» ou «perguntas», «despois» ou «depois», «disbarate» e «disparate»;

contribuiu para justificar o facto de se encontrarem registadas as duas formas no

Vocabulário de Bluteau.

- manutenção das formas «rezão» por «razão», «assi» e «assim», que correspondem

a traços de pronúncia da época.

- do mesmo modo, manutenção da grafia das formas «mi» e «mim», ou «necedade»

por «necessidade», que segundo afirmou Margarida Vieira Mendes, pode «corresponder

a uma influência castelhana, típica nas realizações20» de Feliciana.

- Ainda sobre este ponto, uma referência à frequente presença de castelhanismos (e

de lusismos) na linguagem destes textos. Como exemplos: «coronista» (por «cronista»),

«despois», «reposta», «em fim», «em quanto», «por ventura», «hade» (representação da

preposição «de» conectada ao verbo haver, eliminando-se assim o uso de hífen).

Reforce-se que em textos onde a presença de citações castelhanas é mais frequente,

como a Carta Respostas Amorosas, este tipo de realizações são-no também –

testemunho quer da língua literária da época, quer do que Teyssier defende ser um

«lusismo do castelhano de Portugal»21. Ainda sobre este ponto, sublinhemos que não

efectuámos quaisquer alterações aos textos em castelhano, pelos mesmos motivos

apontados, e sobretudo por se tratar apenas de citações.

11. Eliminação de consoantes dobradas (<cc>, <ll>, <mm>, <tt>, entre outras) em

posição medial («callar» por «calar», «occasiaõ por «ocasião», «immensidade»

por «imensidade», «desattenção» por «desatenção»); reforce-se a já referida

regularização do uso de <ss> segundo a norma actual.

12. Actualização, de acordo com a norma actual dos grupos em posição média como

«Assumpção» (para «Assunção»).

13. Por não ter valor fonético, normalizámos o uso de h («he» e «hé» por «é»,

«orizonte» por «horizonte»).

14. Manteve-se a oscilação entre v e b («varalha» por «baralha»), por corresponder a

um uso corrente na época, em muitas regiões.

20 cf. Margarida Vieira Mendes, ibidem, pgs. 32-34. 21 Paul Teyssier, op. cit., pg. 37.

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14 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Morfologia

15. Quanto a alterações morfológicas: separação de palavras segundo a norma actual

(«écousa»); quando esta se mostrou redutora de vários sentidos do texto,

colocámo-lo em nota («culpado», que pode designar «culpa do» ou «culpado»);

normalização das interjeições («o» para «oh»), excepto em casos indicadores de

pronúncia popular («Arrelá»);

16. Foram desenvolvidas as abreviaturas, com excepção de formas de tratamento

como Vossa Mercê («Vossa Merçê», «Vossa Mercê». «V. Mce.») para «V.M.»,

bem como de «V. Exª» ou «V.Exçia.» para «V. E.», e de «Vª Sia.» ou «V.Sria»

para «V.S.».

17. Regularização do uso dos acentos, e da utilização do hífen como separação de

enclíses e mesóclises, ou traço de união. Note-se ainda que foram também

efectuadas as substituições de / representando parêntesis, ou de = representando

um travessão.

18. Foram colocadas em itálico de expressões latinas, ou citações noutros idiomas,

frequentemente marcados nos manuscritos a sublinhado e/ ou com espaçamento

alargado entre caracteres.

19. Correcção de lapsos evidentes.

Foram efectuadas mínimas alterações à pontuação, nos casos em que o cotejo nos

revelou incidências de pontuação que indicavam fim de frase, ou marcação de orações

ou enumerações (sobretudo na Correspondência com Influência das Estrelas). Estas

operações foram maioritariamente de adição (de vírgulas e pontos finais), com quatro

excepções pontuais de eliminação, quando o texto-base apresentava vírgulas entre

sujeito e predicado). Procurámos respeitar as pausas do discurso (tendo em conta a

«disposição sintagmática numérica própria22» de Feliciana de Milão), respeitar a

individualidade do estilo (que se faz vincar através de numerosas opções semânticas e

sintáticas), e manter as possíveis «indicações para a leitura em voz alta23», procurando

22 Cf. Margarida Vieira Mendes, op. cit., ibidem. 23 Cf. Vanda Anastácio, Visões de Glória (Uma Introdução à Poesia de Pêro de Andrade Caminha), Lisboa, FCG/ JNICT, 1998, vol. II, pg. CXXXIV.

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15 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

não introduzir leituras forçadas – como, aliás, tem sido efectuado por vários editores de

textos da época24.

24 Cf. Margarida Vieira Mendes, op. cit., ibidem; Francisco Topa, op. cit., ibidem; Maria de Lurdes Correia Fernandes (ed.), Carta de Guia de Casados, pgs. 43-46. Permita-se-nos a este propósito sublinhar a afirmação de Walter Greg sobre a actualização da pontuação: «Just as the language of an Elizabethan author is better represented by his own spelling than by ours, so the flow of his thought is often more easily indicated by the loosely rethorical punctuation of his own day than by our more logical system» (cit. por James Thorpe, op. cit., pg. 135).

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16 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Relação Total de Testemunhos Apresentamos em seguida a listagem de todos os testemunhos encontrados das

obras de Feliciana de Milão; no lado esquerdo indicamos a designação do testemunho, a

partir de sigla relativa ao Fundo ou Biblioteca em que se encontra, seguido de um

numeral. Os testemunhos encontram-se ordenados da seguinte forma: Manuscritos,

Fundos Próprios, Códices, Impressos.

Do lado direito, em “Cota”, poderá encontrar-se a referência bibliográfica a que

“Testemunho” se refere. No início de cada carta, em “Relação de Testemunhos”,

poderão também ser encontradas as restantes indicações bibliográficas de cada

testemunho.

Testemunho Cota

ACL1 Mss. 383 Azul ANTT1 Misc. Mss. 1073 ANTT2 Misc. Mss. 2073 ANTT3 MF. 1369 [Ms. Livraria 1071]

BA1 Cod. 49-III-52 BA2 Cod. 49-III-62 BA3 Cod. 51-II-40 BA4 Cod. 51-XII-27

BGUC1 Mss. 325 BGUC2 Mss. 359 BGUC3 Mss. 398 BGUC4 Mss. 555 BGUC5 Mss. 602 BGUC6 Mss. 1553 BGUC7 Mss. 3254 BGUC8 Misc. Mss. 146

BL1 Add. Mss. 15194 BL2 Add. Mss. 15201 BL3 Add. Mss. 20844

BNF1 Mss. Port. 28 BNP1 Mss. 35, 11º BNP2 Mss. 72, 1º BNP3 Mss. 249, 26º BNP4 PBA 69 BNP5 PBA 129 BNP6 Cod. 127 BNP7 Cod. 349 BNP8 Cod. 510

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17 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BNP9 Cod. 589 BNP10 Cod. 3229 BNP11 Cod. 3273 BNP12 Cod. 8594 BNP13 Cod. 8609 BNP14 Cod. 8611 BNP15 Cod. 9611 BNP16 Cod. 12932 BNP17 Cod. 13305 BNP18 BR. 6186 BNP19 L. 40435 P. BNP20 L. 53339 P. BNP21 MF. 1483 BPE1 CV 1_9 BPE2 CV 1_13 BPE3 CXII 1_1 BPE4 CXII 2_21 BPE5 CXIV 1_7 BPE6 CXXX 1_17 BPE7 CXXX 1_18

BPMP1 Mss. 127 BPMP2 Mss. 841 BSG1 Mss. Port. 651

Descrição Codicológica

ACL

ACL1 [Ms. 383 Azul]

4º, 205 x 154 mm., «inumeradas + 284 fls. de texto numeradas a tinta + 1 fl. em branco

numeradas a tinta.

[Proza. Obras varias] / [por diversos autores] .− [S.l., s.d.] .− 1 fl. em branco inumerado

+ 1 fl. [rosto do 1º ms.]

CÓDICE [Cópias]. Encadernação em inteira de pele manchada, com motivos a ouro na

lombada. O título figura no rótulo. Faltam os fls. 285, 286 e 287. Ex-libris do Marquês

de Angeja25.»

25 Catálogo de Manuscritos da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa – Série Azul, Lisboa, Academia das Ciências, pg. 141

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18 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

ANTT

ANTT 1 [Miscelânea Manuscrita 1073]

4º, 200 x 154 mm, encadernação pasta de papel forrada a carneira, com reforço a

pergaminho; capa e lombada em couro em mau estado (surge numeração no verso da

contracapa, fol. «294», o que pode indicar surpressão de fols. ou reproveitamento de

uma capa anterior); 271 fols. (fols. 263 a 271 em branco); copista único («Mendonça»,

indicado no Índice na pag. 1), século XVII. Volume em mau estado.

«Obras Varias»

ANTT2 [Miscelânea Manuscrita 2073]

4º, 230 x 160 mm, encadernação do século XX (pasta de papel e tecido), copista único,

com correcções pela própria mão, século XVIII (As Cartas de Feliciana surgem

numeradas pelo copista.

«Collecçaõ de varias Cartas Moraes, Politicas, Discretas, Jocozas, e Jocoserias.

Compostas por differentes Authores Portuguezes. Tomo 1º e 2º», reclames na folha de

rosto (ANTT sec. XIX e sec. XX).

II + 474 fols. + II, Índice na fol. 1

ANTT3 [Mf 1369, Manuscrito da Livraria Nº 1071]

4º, 220 x 145 mm, encadernação em couro e pasta de papel, capa e lombada em couro

com letras a ouro, vários copistas, sec. XVII, II + 608 pgs. + II, Índice em fol. 603-608.

«Vários manuscritos, T. II»

BA

BA1 [Cod. 49-III-52]

208 mm x 145 mm, sem encadernação original, nova lombada em carneira com

moldura dourada [255 mm x 185], não colada ao miolo, copista único, século XVII

«Obras varias poeticas. 1º Titulo: Desengano à vida humana, e ponderação feita a uma

Casa de Ossos. Com 292 fols26.»

BA2 [Cod. 49-III-62] 26 Apud catalogo Mss Ajuda, Centro Estudos Historicos Ultramarinos, Lisboa, 1966, 2 vols

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19 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

205 mm x 145 mm, lombada em pele e pasta de papel, lombada a ouro «Miscel.

Poetic.». copista único, século XVIII

«Tomo 8º Collecção Poetica de varias obras, em diversos metros que vagam

manuscritas de differentes Autores adquiridas, postas na ordem em que vão neste

volume, e nelle assim escritas, por António Correia Vianna. Lisboa 1783. Com 238

pgs27» numeradas. Reclame na 1ª página

BA3 [Cod. 51-II-40]

205 mm x 145 mm, lombada em couro e ouro [«Collec. Prozáic»], encadernação em

couro e pasta de papel, III + 432 pags. numeradas + III. Reclame na 1ª página

Miscelânea, Índice nas últimas páginas, s/ título

BA4 [Cod. 51-XII-27]

165 mm x 225 mm, encadernação a couro e pasta de papel, lombada a ouro «Vida e

Morte de D. Affonso 6º de Portugal», V + 199 pags. + III numeradas

Diversas notas manuscritas na contracapa, entre as quais uma do punho de Manuel

Bernardes Branco: «Este livro é um amontado de mentiras e de infames falsidades!

Causam Nojo! A. A. M. Bernandes Branco »

BGUC28

BGUC1 [Ms. 325]

205 x 145 mm, I + 182 pgs + IV, Encadernação em pergaminho, vários copistas, letra

do século XVII

«Papeis Varios»

BGUC2 [Ms. 359]

«203 x 150 mm. 321 fols. numeradas mais 4 fols. de guarda, mais 1 fl. de rosto, mais 6

fols. inumerados com um índice, mais 1 fl. inumerada e inaproveitada», «Volume

cartonado», Vários copistas, século. XVII

27 Apud Catálogo de Manuscritos da Ajuda, Centro Estudos Historicos Ultramarinos, Lisboa, 1966, 2 vols. 28 Citações referentes aos manuscritos da BGUC, cf. Catálogo de Manuscritos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra, BGUC, 1935-1945

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20 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

«Versos & Coriosidades colhidas de Diferentes Authores».

BGUC3 [Ms. 398].

«Volume medindo 225 x 155 mm. Encadernação inteira de carneira com 4 nervos na

lombada. Lê-se, entre o 1º e o 2º nervos: Obras Poeticas. 296 fols. inums, mais 3 fols. de

guarda», vários copistas, século XVII

BGUC4 [Ms. 555]

«Volume medindo 309x210 mm. Encadernação inteira de carneira, com 5 nervos na

lombada; 4 fols. de guarda; 534 fols. numeradas mas nem todas aproveitadas; seguem-

se 44 fols. em branco; no final, vem um índice alfabético de todas as composições.»

«Colecção de Varias Poesias em Português e Castelhano»

BGUC5 [Ms. 602].

233 x 220 mm. Encadernação em pergaminho, 314 fols. + I. fols. apensos, numeração e

encadernação em pergaminho, posterior. Vários copistas e várias mãos, originais e

cópias.

«Papeis Politicos. T. 1º» Indicação em índice, fol. 1 (parcial): Conde da Hericeira.

BGUC6 [Ms. 1553]

«Volume, medindo 206 x 155 mm. Encadernação inteira de carneira, 1 fol. de guarda, 2

fols. inumerados, 275 fols., mais 2 fols. de guarda.»

«Papeis Varios»

BGUC7 [Ms. 3254]

205 x 150 mm, II + 200 fols. + XXII. Encadernação em pergaminho, vários copistas,

século XVIII»

«Papeis Varios»

BGUC8 [Misc. Mss. 146]

205 x 145 mm, I + 182 pgs, encadernação em pergaminho, vários copistas, letra do

século XVII

«Miscellanea»

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21 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BL

BL1 [Ms Add 15194]

340 mm x 241 mm, 372 fol., encadernação em couro, copista único, século XVIII-XIX

«Papeis Politicos», Tomo II

fol 1: ‘Da Livra. do Dezor. Mathias Pinheiro Preztemte. da do Dezor. João Tavares de

Abreu» , Índice no final

«Parte de uma «colecção de cópias de papeis politicos portuguezes, tocantes aos séculos

17º e 18º, com o título de Papeis Politicos; em 9 tomos, cada um dos quaes tem um

índice no fim. Estes codices faziam parte da livraria do Desembargador Mathias

Pinheiro, e depois entraram na do Desembargador João Tavares de Abreu. Foram

comprados no leilão do espólio do poeta Southey29.»

BL2 [Ms Add.15201]

340 mm x 240 mm, II+383 fol.+II, encadernação em couro, copista único, século XVIII

Índice no final

«Papeis Politicos, Tomo IX»

«Parte de uma «colecção de cópias de papeis politicos portuguezes, tocantes aos

séculoulos 17º e 18º, com o título de Papeis Politicos; em 9 tomos, cada um dos quaes

tem um índice no fim. Estes codices faziam parte da livraria do Desembargador Mathias

Pinheiro, e depois entraram na do Desembargador João Tavares de Abreu. Foram

comprados no leilão do espólio do poeta Southey30.»

BL3 [Ms Add. 20844]

212 mm x 152 mm, 177 fol., encadernado em pele, copista único, século. XVII

«Cópias de vários papéis relativos a negócios de estado e em especial às negociações

diplomáticas de Portugal com as cortes de Inglaterra e de França. Um vol. in-fº de 373

fol. século XVII31. »

29 Visconde de Figanière, Catalogo dos Manuscriptos Portuguezes existentes no Museu Britannico (…), Lisboa, Imprensa Nacional, 1853, pg. 293 30 Visconde de Figanière, Catalogo dos Manuscriptos Portuguezes existentes no Museu Britannico (…), Lisboa, Imprensa Nacional, 1853, pg. 293 31 Conde de Tovar, Catálogo dos manuscritos portugueses ou relativos a Portugal existentes no Museu Britânico, Lisboa, Academia das Ciências, 1932, pg. 51

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22 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BNF

BNF1 [Ms Portugais, Nº 28]32

340 x 240 mm., 381 páginas, encadernação em pergaminho, séculos. XVII-XVIII

BNP

BNP: Fontes Manuscritas

BNP1 [Mss 35, Nº11]

210 mm x 105 mm, caderno, 3 f f/v., reclame nas páginas de rosto (fol. 1 com dois

reclames, selo BNP século XVIII, selo BNP século. XX em todas), copista único,

século XVII. Marca de água fols. interiores, século XVII

BNP2 [Mss. 72, 1º]

210 mm x 105 mm, caderno, I + 17 pags. + I, vários copistas, correcções a várias mãos,

século. XVII (interior), século. XIX (capa manuscrita). Volume compósito com várias

numerações e indícios de páginas arrancadas a outros cod., reclame (Selo BNP século.

XX) em todas as pags (f/v), capa manuscrita. Marca de água fols. interiores, século

XVII

«Cartas várias de D. Feliciana de Milão, religiosa do Convento de Odivelas a uma sua

amiga.»

BNP3 [Mss 249. 26º]

212 mm x 157 mm, caderno, I + 9 pgs. + I, letra do século XVII com traços de

emulação século XVI, Copista único, cópia limpa

«Respostas de D. Felicianna Maria de Milão, Religiosa no Mosteyro de Odivellas. A

umas perguntas amantes»

BNP4 [Colecção Pombalina, Nº 69]

32 Os serviços da BNF não nos autorizaram a consulta do Códice, apenas do Microfilme. As indicações do volume que apontamos são retiradas do catálogo online disponível em www.bnf.fr

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23 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

4º, 212 x 157 mm, II + 226 fol. + XI com índice encadernado em pergaminho, capa e

lombada em couro, copista único, século XVIII, correcções a outra mão, tinta repassada,

falhas frequentes no suporte

«Epistolas familiares, ou cartas missivas escritas por varios auctores. Parte I – No Anno

1726»

BNP5 [Colecção Pombalina, Nº 129]

224 mm x 155 mm, Lombada em couro, encadernação em cartão, II + 268 fols. + IV

numeradas, Índice na folha de rosto, copista único, letra do século XVII

«Papeis Varios»

BNP6 [Cod. 127]

4º, 211 x 153 mm , 4º, I + 270 fol + III, encadernação em couro

«Colecçam de escriptos sebastianistas em prosa e verso. Titulo «Ilha Encoberta»

lombada do volume – Letras do século. XVII e XVIII. Tem índice em fol. solta. Há

n’este vol. muitas paginas da letra de Manuel Caetano de Sousa33»

BNP7 [Cod. 349]

4º, 211 x 153 mm , 4º, I + 133 fol + III, encadernação em pergaminho, copista único

“Fastigimnia”.

BNP 8 [Cod. 510]

4º, 210 x 151 mm; II + 239 fols + II (f. 62 suprimida), encadernação em pasta de papel e

cabedal, copista único.

Na lombada: «Memoria de Sucessos. Memorial de Notícias»

Folha de rosto: «Archivo e Novalario de varias coriosidades, manuscriptas, em proza,

de varios auctores. Em Lisboa, 26 de Agosto de 696 annos. He de Manuel de Almeida.»

BNP 9 [Cod. 589]

4º de 93 fols., encadernado em couro, vários copistas, séculos. XVII-XVIII (XIX?),

correcções a várias mãos. Mau estado

33 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896

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24 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Miscellanea. «Colleção de curiosidades historicas e litterarias, prosa e verso, dos século

XVII e XVIII; enigmas, agudezas, anedoctas, desenhos, etc. (…) Falta a fl. numerada,

8t.34»

BNP10 [Cod. 3229]

210 mm x 160 mm, II + 66 fols. numeradas + 4 fols. branco, lombada em couro,

encadernação em cartão, copista único, século XVIII

Inigmas. Oferecidos à la discreta inteligência de la soberana Assemblêa de la casa del

prazer por su mas rendida, y aficionada Soror Joana Ignes de la Cruz Decima Musa.

Lisboa. En la oficina del mas reverente impressor de la magestuosa veneracion a costa

de un licito intertenimiento. 1695. Contodas las facultades, que puede tener un

rendimiento, que no llega a tocar la necedad de licenciozo»

«Inigmas «Do Pe. António Ribeiro35»

BNP11 [Cod. 3273]

212 mm x 159 mm, II + 54 fols. numeradas + 3 fols. acr., lombada em couro,

encadernação em cartão (posterior), vários copistas, acrescentos e notas a várias mãos

«Sonetos Italianos», na lombada em couro, encadernação em cartão

«Sonetos de Castela e suas Respostas», na folha de rosto

Volume compósito, com originais e cópias

BNP12 [Cod. 8594]

205 mm x 150 mm, I + 181 pgs + I, lombada em couro, encadernação em cartão, copista

único, assinatura na última folha de guarda, «António José Saldanha»

«Flores poeticas lidas e tiradas de varios poetas insignes (…)».

BNP13 [Cod. 8609]

204 x 151 mm, I +198 fols. numerados, lombada em couro, encadernação em cartão,

letra do século XVII, vários copistas

«Miscellanea litteraria. Assumptos galantes e burlescos, freiraticos, etc. Prosa e Versos.

Comprado a Carlos Ferreira Borges, em 190336.» Índice no verso da folha de guarda.

34 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896 35 José António Moniz, Descrição Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896

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25 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BNP14 [Cod. 8611]

224 mm x 155 mm. Lombada em couro, encadernação em cartão, II + 261 fols + IV

numeradas, Índice na folha de rosto, vários copistas, acrescentos e correcções a outras

mãos, letra do século XVII (possivelmente também XVIII)

«Papeis Varios, manuscriptos 8»

BNP15 [Cod. 9611]

240 x 180 mm, Encadernação em pergaminho, volume compósito, conteúdo com

dimensões e suportes variados, vários copistas, acrescentos a várias mãos, século XVII-

XVIII.

Miscelânea com 20 expoentes, sem numeração total (só intra-exponencial).

BNP16 [Cod. 12932]

208 mm x 151 mm, I+178 f.+I, encadernado em pergaminho, copista único, capa e

lombada em couro, vários copistas, século XVII

(“escrito por D. Francisco Mascarenhas, 1 Conde Coculim”).

BNP17 [Códice Nº 13305]

212 mm x 152 mm, 177 f., encadernado em pele com ferros gravadas a ouro na

lombada, copista único, século XVII

Rótulo: "Obras varias.T. VIII", 21 cm., antigo possuidor Marquês de Sá da Bandeira

(1795-1876), copista único

BNP, Fontes Impressas

BNP 18 [BR. 6186]

210 mm x 151 mm, II + 699 pags + II, papel, cosido à mão

Anti-catastrophe. História verdadeira da vida e dos succesos d’El-Rey D. Affonso 6º de

Portugal e Algarves. Escripta em Lingoa Hespanhola por um Official das tropas de

Portugal, que o acompanhou na sua fortuna e na sua desgraça. Tradusida em

Portuguez o mais fielmente que possivel foi. Porto, Typ. Rua Formosa, 1845, pg. 696-

698 36 José António Moniz, Descrição de Manuscriptos, Lisboa, BNP, 1896

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26 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BNP19 [L. 40435 P.]

Alberto Pimentel, O Capote do Snr. Braz, Porto/ Braga, Livraria Internacional de E.

Chardron, 1877

BNP20 [L. 53339 P.]

202 mm x 150 mm, papel, cosido à mão, 3 vols.

Camilo Castelo Branco, A Caveira da Martyr: Romance Histórico, Lisboa, s.n., 1884

BNP21 [MF 1483]

210mm, papel, cosido à mão37, 312 pgs.

A.C. Borges de Figueiredo, O Mosteiro de Odivellas – Casos de Reis e Memórias de

Freiras, Lisboa, Livraria Ferreira, 1889

BPE

BPE1 [CV 1_9]

210 mm x 151 mm. Encadernação em carneira, V + 200 fols + V numeradas, letra do

séculos XVII-XVIII

BPE2 [CV 1_13]

210 mm x 151 mm. Encadernação em carneira, 495 pags. numeradas, copista único,

letra do séc. XVII

in Obras varias curiozas manuscriptas – Primeiro Tomo, e he de Prozas, anno de 1716

BPE3 [CXII 1_1]

212 mm x 151 mm. Encadernação em pasta de papel, 275 pags. numeradas, vários

copistas, letra do século XVII. Tinta repassada.

BPE4 [CXII 2_21]

300 mm x 157 mm. Encadernação em carneira, IV + 65 fols., Índice (incompleto, na

última página), vários copistas, acrescentos a outras mãos, letra do século XVII

37 O livro encontra-se em mau estado e é apenas consultável em microfilme. As informações do volume são as constantes do catálogo da BNP.

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27 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BPE5 [CXIV 1_7]

224 mm x 155 mm. Encadernação em pergaminho, II + 414 fols. numeradas, copista

único, letra do século XVII (possivelmente também século XVIII)

BPE6 [CXXX 1_17]

210 mm x 152 mm. Encadernação em carneira, III + 415 pags. + XV numeradas, vários

copistas, acrescentos a outras mãos, letra do século XVII. Tinta repassada.

BPE7 [CXXX 1_18]

200 mm. x 153 mm. Encadernação em carneira, 266 fols., letra do século XVII

(possivelmente também XVIII)

BPMP

BPMP1

341 mm x 242 mm, II+323 fol.+IV, encadernação em pergaminho, vários copistas,

século XVIII.

Miscelânea

BPMP2

340 mm x 240 mm, II+383 fol., encadernação em pergaminho (volume compósito

encadernado posteriormente?), copista único, século XVIII, vários copistas, anotações a

várias mãos

BSG

BSG1 [BSG, Ms. Portugais, 651]

206 x155 mm. Encadernação em carneira, 1 fol. de guarda, 125 fols., a. i. in 4º, 192

«Vida e Morte de D. Afonso VI (…) Anno de 1774»

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28 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

I. Cartas de Feliciana de Milão

1. Sequência de Cartas de «Influência das Estrelas»

Esta Correspondência é composta de diversas partes, que apresentaremos em

seguida com a numeração utilizada para as designar :

1.1. Carta de Inês Antónia de Távora escrita a Feliciana, convidando-a para umas

Sortes de Palácio, incipit «Minha Senhora uma Religiosa».

1.2. «Papel que hia com esta carta», incipit «De lugar não maes alto»

1.3. Resposta de D. Feliciana Maria, incipit «Pois a mim me parece»

1.4. Segunda carta para D. Feliciana, incipit «Minha Senhora delira»

1.5. Resposta de D. Feliciana, incipit «Como podia eu buscala»

1.6. Carta para D. Feliciana, incipit «Ah Senhora D. Feliciana, que vai V.M.

passando o tromento de perceguida».

1.7. Resposta de D. Feliciana, incipit «Esta Senhora Lucrecia»

1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha, incipit «Minha Senhora uma

Freira não sei donde»

a) Identificação dos Testemunhos

[ANTT2] ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, fol. 327 v.-336

[BGUC5] BGUC 602, fol. 602, fol. 23-24

[BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 8 v.

[BNP4] BNP Pombalina 69, fol. 158

b) Relação de Testemunhos

Texto Base

Cartas Nºs 1.3 e 1.5: [BGUC5] BGUC 602, fol. 602, fol 23-24

Cartas Nºs 1.1, 1.2, 1.4, 1.6, 1.8: [ANTT2] ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, fol.

327 v.-336

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29 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Versões Secundárias

[BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 8 v.

[BNP4] BNP Pombalina 69, f. 158

Trata-se de uma versão incompleta, possivelmente um rascunho autógrafo,

contendo apenas duas das sete cartas desta Correspondência. Nas restantes cinco cartas

que a completam, foi utilizado como texto-base o alógrafo que se apresenta como o

melhor manuscrito na ausência de BGUC5, como detalharemos em seguida: [ANTT2]

ANTT Miscelânea Manuscrita 2073, f. 327v.-336. Assim sendo, o texto-base para as

cartas 1.3 e 1.5 desta Correspondência com Influência das Estrelas é o estabelecido a

partir do testemunho BGUC5; quanto às cartas 1.1, 1.2, 1.4, 1.6, 1.7, o texto-base é o de

ANTT2.

Reforce-se que em relação ao testemunho parcial BGUC5, este se encontra

muito rasurado, oferecendo dificuldades de leitura. A presença de vários passos

ilegíveis, sobretudo na carta 1.5, marcadas pelos sinais † e <†>, deve-se sobretudo a

rasuras em curso que confirmam a sua natureza de rascunho. O que se prova pelo

confronto com outras versões, uma vez que os passos marcados com a referida

sinalização em BGUC5 não se encontram preenchidos de forma diferente nos outros

testemunhos.

Dado o exposto, foi necessária maior intervenção em termos de pontuação, na

colocação de vírgulas e de pontos finais; no original, as primeiras são frequentemente

omissas, e o fim de período por vezes marcado com recurso a uma maiúscula (como

exemplo: «emque me tinha a duvida e o dia Mas em qual»).

No tocante à versão ANTT2, esta acompanha BGUC5, mas alguns erros

separativos que ocorrem em relação a BGUC5 revelam contaminação por outra versão

(vejam-se as lições «Ursa», «desprovirme», para além de omissões). Quando varia em

relação a BGUC5, é acompanhada por BNP2. Daqui pode concluir-se que dependem de

um testemunho comum, e é possível que o copista de BNP2 tenha tido conhecimento de

ANTT2.

Quanto à versão BNP2, apresenta em relação a ANTT2 os seguintes erros

separativos:

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30 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

- apresenta supressões (sobretudo nas cartas desta correspondência, Nºs 1.2, 1.3, 1.5) –

como «inculca», «provar (a candura)».

- correcções e emendas;

- não compreende alguns passos do texto (Carta 1.3: propõe a lição «Ursa» por «vossa»

ou «horror»; «desprovir-me» por «espavorir-me»);

- indica contaminação por outra versão (apontada na representação gráfica como versão

w).

- na Carta 1.2 (Papel) contém supressões e leituras irróneas, o que pode naturalmente

dever-se ao facto de o suporte ser um papel, que corria de mão em mão, como o título

indica.

Trata-se de um testemunho com mais apógrafos do que BGUC5, como o acrescento

em entrelinha superior «na obrigação», entre outros dados, confirma.

Quanto à versão BNP4, esta apresenta regularmente lições que se constituem como

erros separativos, a saber:

- supressões: na Carta 1.6, omite «remato minha Senhora com dizer, foi carta de

jogar»); oferece más leituras frequentes, que se devem também ao mau estado do

suporte. Por estes dois motivos indicámos z. Depende de BGUC5, por leitura de passos

que BNP2 e ANTT2 não conseguem esclarecer.

Uma nota final para o facto de, apesar de ser um conjunto de cartas e não um

texto único, os resultados do cotejo carta a carta apontarem sempre para as mesmas

conclusões. O que indica a manutenção deste conjunto e a sua transmissão desde o

estabelecimento do original – de que BGUC5 é rascunho provável.

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31 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

O’ (BGUC5)

x y w ANTT2 z BNP2 BNP4

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32 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Correspondência com Influência das Estrelas – texto fixado

1.1. Carta da Senhora D. Inês Antónia escrita a D. Feliciana, convidando-a para

umas Sortes de Palácio

Minha Senhora, uma Religiosa, que sonhou desvanecimentos com um és, não és de

memória, recorda com um esfregar de olhos de quererá, ou não quererá V.M. dar-lhe

ajuda de custo para uma Sortea que não terá1 partilhas na fé, quando as consinta no

ganho. E porque lisonjeie mais a V.M. com as notícias, que com a companhia, me

manda dizer-lhe2, que as Sortes se previnem em3 CorteRealb, por mandado da

Sereníssima Senhora Infante4, e se depositam na mão de D. Maria de Noronha, para que

juntos os cabedais das aventureiras da fortuna nesta Palestrac da Sorte, se dêem os

prémioss a quem se contentar de aceitá-los por acaso5. Esta é a notícia para que V.M.

possa encaminhar a tenção6,d , quando queira suprir-lhe as faltas que7 leva. São de tostão

as Sortes, e de subido8 preço9 a fortuna com que nasci para obedecer a V.M. como

cativa sua.

Soror Influência das Estrelas [fol. 328 v.]

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33 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

1.2. Papel que ia com esta carta

De lugar não mais alto que dos abismos, nem para10 mais baixo assento, que as

Estrelas, sobe a11 ser resplendor um pensamento, que havia baixado a ser fúria, não com

voos de Ícaro desvanecido, sim com12 sagacidade de Dédalo remontado; porque não

precipita a elevação13 quem para o14 sublime leva bem azadae a inculca15f que busca.

Senhora D. Feliciana Maria, desprezaria a16 fortuna17 vendo-se18 tão sem nenhuma

quem a chama, que nem19 para esperar a Sorte se vê com cabedais, e neste Nada de

esperanças, sirva para o Todo20 da fé de prémio a tenção, quando para a tenção não

poder haver prémio; mas porque se não falte ao comum do estilo, acrescente a Senhora

D. Feliciana os cabedais no preço de uma sorte, e deixemos pobre de vozes o Mote, de

quem a meio dizer suspira21

Nada – Tudo. [fol. 329]

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34 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

1.3. Primeira reposta

Pois a mi me parece minha Senhora que ainda não despertou essa Religiosa do

sonho de que fui eu22 o agouro pelo mal acordados que vejo na sua fantasia os

desvanecimentos com as dúvidas quando para justificá-los e vencê-las lhe sobrara um

abrir de olhos, V.M. lhe diga por fazer-me favor que hartog vingada23 fico da sua

curiosidade no mal que lhe24 logra por que ainda que eu quisera pôr-me mui de

Odivelas, não sobera falar crespo, que se o liso lhe serve aqui me tem para servi-la tão

prezada de que mede lugar em Palácio ao seu lado, que ainda conhecendo de

examinação esta Carta que como de Guia, se me inculca, deponho o perigo do Crédito

pelo Crédito da Companhia, e posto que acho pouca e fraca cousa o meu discurso para

encher e atar os distantíssimos termos deste nada a esse25 tudo tais brios me infundiram

as suas ordens que desprezando o Risco, Nada temo aspiro a tudo, e assim o direi a D.

Maria de Noronha para que veja de que sorte26 deve premiar esta ousadia e será mui de

propósito por que nas divinas disposições não há acasos e quando se perca o prezoh

lograrei27 a vaidade de que se conheça o valor que devo a influência das estrelas apesar

do horror28 com que intentaram espavorir-me29 as fúrias e os abismos, natural ou

afectada30 defensa31 desses celestes e mágicos encantos e V.M. por quem † me †32

soaram as vozes do oráculo deve oferecer-lhe † como vítimas cujos33 fumos sobem aos

seos pés o *provar34 a candura e a fineza dum afecto que se † sacrifica às suas aras e se

sujeita as suas disposições.

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35 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

1.4. Segunda carta para Dona Feliciana

Minha Senhora. Delira com as porfias, quem não acerta no caminho das

experiências. A primeira que fiz para pôr esse papel nas mãos de V.M., foi tão mal

sucedida, como todas as que intenta a minha fortuna, fazendo que se transformem em

azares no fruto, as que foram esperanças na cultura35; porém como a fé se não sujeita

aos acidentes de uma Roda instável, quiçá que entre36 um voltar37 de precipícios38 a páre

em39 altura em que encontre a V.M. a temeridade de quem a busca, para que lhe dê

ajuda de custo neste pouco de possuir40, e nada de dizer. Em a primeira [fol. 330 v.]

Carta dizia já a V.M., que se se ofendesse da Companhia, não deixaria de agradar-se41

do lugar, em que se previnem as sortes em Corte Real, determinadas por mandado da

Sereníssima Senhora Infante, e juntas na mão de D. Maria de Noronha, onde V.M. pôde

remeter o que determinar nesta petição de uma Religiosa minha Companheira, que o

será sempre na obrigação42 de confessar-se, como eu, muito de V.M.,

Soror Influência das Estrelas

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36 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

1.5. Segunda Reposta

Como podia eu podia eu buscá-la a V.M., minha Senhora43, se ignorava o lugar em

que a44 acharia? A Via Láctea que é o conhecido Caminho das Estrelas fica mui

desviado da minha esfera, e quem me trouxe a sua Carta de V.M. deu tão má conta do

caduceoi e dos Talaresj que não soube declarar por onde lhe chegaria a reposta, que logo

fiz e a todas luzes inútil, se V.M. com este seu o favor não viera a ilustrar-me segundo o

conhecimento tirando-me das trevas em que me tinha a dúvida e o dia. Mas em qual

melhor que no dos martelos me soaria uma memória de V.M. Serão minha Senhora,

duas as sortes, e muitas as obrigações que me tem as seus pés de V.M. – se lhe dever45

a fortuna de ocupar-me em seu serviço.46

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37 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

1.6. Carta terceira para D. Feliciana

Ah Senhora D. Feliciana, que vai V.M. passando o tromento de perseguida, em

vingança de desconhecer-me! Não me siga pela Via Láctea, que estrada47 de Santiago é

só para as Peregrinas; nem me chame pelo caduceo, que a estas48 varinhas de Condão

nunca devi49 a sabedoria, e se vi nelas as asas para que me voassem as esperanças,

foram de serpentes; Talares de um correio fundido em Deos, bem me podiam guiar

fortunas a um pensamento, que teve50 ser em V.M.; mas V.M. manda-me descobrir por

Espias, que umas me são inimigas, outras51 nunca me foram afeiçoadas; [fol. 332] e não

quero aparecer em outrem, quando52 desapareço em V.M. Faça minha Senhora

Conselho de Estado nas suas memórias, e se há Secretário fiel para memória, lá me

achará secreta no meu estado, sendo a mesma, que V.M. chamou algum dia para o

mesmo, com que neste dia me foge53. De Guia não foi a minha Carta porque não trouxe

a de V.M. às minhas mãos. De exame, não podia ser, por que no dia em que os Deuses

competirãok Ciências54, perdeu-se o mais afoito. Carta de tocar, ni porpienso, pois essa

memória de V.M. está tão de olvido para mim. Carta de conta, muito menos, porque não

tinha muita conta meter-me eu em algarismos com V.M. De crença não foi a Carta, pois

está V.M. inda agora duvidando-me. Com que a excluímos carta de favor; e fugindo de

que seja de excomunhão [fol. 332 v.], remato minha Senhora com dizer, foi carta de

jogar55, e vendo eu, que a desatenção de V.M. me respondia.

Es figura, y no es ganancia,

y assi la descartan56 todosl.

me resolvo a meter na baralha57 dos desenganos, tão nada para as presunções, como

para os rendimentos tudo.

Fiel Cativa de V.M. S. g. Cda.

Soror Influência das Estrelas

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38 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

1.7. Reposta de D. Feliciana

Esta Senhora Lucrécia (que a quem encobre o seu nome, posso eu dar58 o que me

parecer) [fol. 332 v.] no es sino como se toma.m Que importa, que V.M. lhe chame ao

seu favor, meu tromento, se eu o estimo tão diferentemente, que ainda quisera mais

apertado o trato? Se V.M. se pôs tanto ao longe, como podia divizá-la? Busquei-a pela

mesma via59, porque V.M. quis dar a entender, que me buscava60: se foi estratagema

militar tomar o nome dos enimigos, eu não soube a contrassenha, nem costumo a61

duvidar o que me dizem pessoas tão nobres como as Estrelas; e se62 os sábios as

dominam, quem como aquelas duas, a que V.M. chama sentinelas, poderia dar-me razão

de V.M.? Mas se é destreza desmentir as Espias, e V.M. intentou63 lograr o pequeno

triunfo de embaraçar-me, e confundir-me os discursos, eu lho dou de barato, seja V.M.

quem quer que for ou quem não quer que fosse64; que a mim me basta que seja uma

discreta que me [fol. 333 v.] fala, e uma entendida que me ouve. Engane-me V.M. que

lhe preste, que estimarei que lhe aproveite, e aqui me achará V.M. da parte de sua

cautela, sem fazer nenhuma diligência por conhecê-la, que é amável a vida, e dizem que

tem pena de morte a quem se descobre a Visão Beatífica. E se esta conformidade

parecer grosseria65, perdoe-me66 V.M., que não sei com quem falo; porque o obséquio

de ignorá-la, me há de dever67 V.M. até que mais não possa, ainda que me lembra de

certo encontro68, que se me faz69 sorte, e me deixou de gloriosa memória, imprimindo

nela uma figura celeste, que provavelmente se compôs dessas Estrelas da sua esfera de

V.M., mas como isto são fantasias, que não fazem fé, nem seguram a Esperança,

perderá V.M. o feitio aos seus milagres, se aceitando os meus votos me não sinalar o

Templo em que devo [fol. 334] oferecer-lhos; por que tornai70 lá, que não é minha, é

jogo de meninas71. Vamos ao dar72 cartas.

Senhora, beijo-lhe a mão a V.M., e com boa mão começo, porque não

passassem73 de oito estas, que V.M. reparte, com que livro de arrenegada, e subo-a a

parceira, com cujas leis me conformo74, seguindo seu ditame de V.M., bem que por

diversas razões creio, que nem de Guia75, nem de Exame foi a carta, visto que me não

constituiu Peregrina, nem me achou destra. Nem de Tocar pareceo, porque lhe

antecedeo o ruído76, e77 o feitiço, antecipando à fama o que determinava o pacto. De

conta, menos, bem que de companhia, porque logrando a aprovação, mentiu o contrato.

De crença78, em nenhum caso podia com um fingimento à flor do rosto, que também

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39 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

tem cara a79 Escritura; os rifães80, a81desdisse no82 que me negou; e se o fazer parecer83

uma cousa tão perdida, como eu lhe podia dar forças de Excomunhão? Como84 nas

cartas de [fol. 334 v.] V.M. não cabem censuras, lhe não serve o título; nem o de jogar

se acomoda a uma carta com que nenhuma outra faz vaza, e só nisto diferimos

totalmente, por que em nenhum modo consinto que V.M. se vá à baralha com tanto

jogo. E85 se é preciso que aquela Carta fosse mais que de nomes para a minha confiança,

mandadeira para a minha obediência, de Éditos86 para o desafio, de pago87 para

satisfazer-me, de Alforria para despedir-me, de Encomenda para enriquecer-me; Só de

Marear a conheço, tanto pelo que tem de Astrolábio, como por que mostrando-me o

Norte que sigo88, me ensinou o porto89, e me advertiu o perigo. Prosiga-lhe V.M., se

quiser, a metáfora, que nesse Oceano bem há por onde correr, que eu não90 tenho tenção

de passar das colunas de Hércules, por que me não acho com forças para mais trabalhos,

nem dobrar aquele fatal cabo, a cuja vista os mais expertos Pilotos dão em calma; até

[fol. 335] que V.M. me diga para que pode prestar: De Esperança, y de cuidado poca

vela, y mucho remo? Acabo forçado, e bone voglie me ofereço a V.M. para servi-la em

todas as caravanas91 que quiser.

Feliciana92.

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40 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

1.8. Carta de D. Feliciana para D. Maria de Noronha

Minha Senhora uma Freira não sei donde, da parte de não sei quem, me manda a

V.M., e eu lhe perdoo o que me engana, pelo que me facilita. Diz-me, que na mão de

V.M. se depositam93 os preços de umas sortes, que por ordem da Senhora Infante se

determinam e creio que deve prometer em algum conflito de94 vaidade amparar95 uma

confiança orfã, porque escolheo a minha para dar-lhe parte nas suas Letras, e nas suas

Armas, e como são as de Portugal, me animo a adargarn delas, e contrastar a fortuna,

apesar de tantas experiências. No Mote me entalou o seu Engenho com um Nada Tudo,

e o meu como é tudo Nada, vendo-se nestes apertos, se me foi por esses ares. V.M. o

patrocine, e me desculpe com a Influência das Estrelas, que me põem a seus pés, e

desde96 que nasci me sujeitou às suas obediências. D. Violante beija as mãos a V.M., e

diz, que se não dou os ouvidos aos gritos de quem intenta desconfiá-la97, se intenta

introduzir na partilha do seu favor.

Mote

Por Influência das Estrelas

Nada temo, aspiro a Tudo. [fol. 335 v.]

a «Sortes: Tirar o bilhete das sortes. (…) Nas que hoje se permittem para algum bem publico, se mete uma certa quantia de dinheyro, com hum mote a arbitrio da pessoa, & se o bilhete, que se tira, vem negro, se ganha mais, ou menos, segundo o numero, que se confronta com o do livro das sortes.» cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol VI, pg. 771-773. b Corte-Real: Paço que servia de residência a alguns membros da família real. Começou por ser o Palácio de residência de D. Afonso VI, depois de D. Pedro. Situava-se nas traseiras do Paço da Ribeira, situado perto do actual Terreiro do Paço (cf. Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, D. Afonso VI, Lisboa, Círculo de Leitores, 2002, pgs. 71-102). c «Palestra: Deriva-se do Grego Pali, que quer dizer Luta. (…) Usamos no Portuguez do vocabulo Palestra, quando queremos significar geralmente o lugar, em que se exercita alguma arte liberal, ou tambem alguma virtude.» Cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. VI, pg. 198-199. d Bluteau aponta vários significados para tenção: «vontade, intento»; «parecer»; «tenção nas Tarjas, ou Escudos dos Principes, ou Particulares. É o escudo ou desenho, que cada um tem, para emprender cousas altas»; «o significado symbolico de hua cousa» (op. cit., vol. VIII , pgs. 92-93). Note-se que pode ser utilizada como um aumentativo de «tença» («renda» ou «esperar socorro», idem, ibidem). e «Asada»: No contexto, «azada», com asas. Não encontrámos no Dicionário de Bluteau o vocábulo, mas pode deduzir-se o seu significado; a variante «azeda» não cabimento contextual. Pode igualmente tratar-se de um erro de cópia de duas versões, que é possível determinar sempre que detemos informação do testemunho BGUC5. f «Inculca: deriva-se do verbo Latino Inculcare, que he repetir muytas vezes o mesmo. Fazer inculca de alguem he representar o prestimo delle, para este, ou a quelle efeito. (…) A inculca do seu conselho. (…)

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41 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Deitar inculcas, para saber alguma cousa. (…) Deitãose inculcas para saber da sua vida, das suas acçoens.» cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. IV, pg. 99 g «Harto»: «O que é forte, robusto, farto, grosso. Muito, assaz, bastante». (Cf. Antonio Houaiss, Dicionario Electronico Houaiss de Literatura Portuguesa, versão 3.0, S. Paulo, Editora Objectiva, 2009. O contexto é «bastante vingada», «fartamente vingada». Emenda do texto-base a partir da lição «harto vingada» [BNP2, BNP4, ANTT2]. h Manteve-se a grafia original, por poder significar «preço» ou «prezo» . i Trata-se dos atributos da figura mitológica de Mercúrio, assim definidos por Bluteau: «Caducêo de Mercurio. Assim se chamava a vara, que Mercurio recebeo de Apollo, em troco da lyra de sette cordas. Ornàrão os Egypcios esta vara com duas serpentes, das quaes uma era macho, & outra femea, & que enroscadas vinhão a bejarse pela parte superior, formando huma especie de arco; & à figura das serpentes foram acrescentados os Talares. Segundo os Mythologicos, fundase este mysterioso ornato, em que achando Mercurio duas cobras, que brigavão entre si rijamente, lançára entre ellas a sua vara, que apartou a briga, & dalli em diante foy tomada por symbolo da paz, & da concordia. Por isso derivão alguns esta palavra Caduceo do Verbo Latino, Cadere, que val o mesmo, que cahir, porque segundo a Fabula tinha virtude para dar fim a todo o genero de contendas. E por esta razão os Feciaes, ou Arautos, que os Romanos mandavão para annunciar pazes, levavão o Caduceo, em final de que havião de cahir as maquinas bellicas, & com ellas as violências da guerra; & estes taes erão chamados Caduceatores. (…)». Cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. II, pg. 33-34 j Assim define Bluteau as asas de Mercúrio: «Talares de Mercurio. As Azas, que (segundo os Poetas), pegava Mercurio aos calcanhares, para dar mais depressa as embayxadas das fabulosas Deidades.» Raphael Bluteau, op. cit., vol. VIII, pg. 20 Erro que indica provável mudança de folio na versão que BNP4 reproduz. k Manteve-se a grafia original já que a frase pode designar um evento no passado, no futuro ou hipotético. l Sublinhado no original. Tratar-se-á de uma citação, que não nos foi possível identificar, bem como a seguinte nesta carta «poca vela y mucho remo». m Citação não identificada. n «Adargar-se: Cobrirse com adarga para se reparar dos golpes do inimigo.» Raphael Bluteau, op. cit., vol. I, pg 120. 1 tem BNP2; 2 dizer BNP4; 3 com BNP4; 4 Infanta BNP4; 5 alcar BNP4; 6 atenção BNP2, BNP4; 7 hua BNP4; 8 subito BNP2; 9 preso BNP4; 10 omite ANTT2; 11 *so *beaser BNP4; 12 como BNP4; 13 achenação BNP4; 14 se BNP4; 15 omite BNP2, incuria BNP4; 16 omite desprezaria a BNP2; 17 ainda BNP2; 18 que BNP2 ; 19 <n>em BNP2; 20 lodo BNP4; 21 suspiras BNP4; 22 eu fui BNP2, BNP4, ANTT2; 23 *ar o *vingada BGUC5; 24 se lhe BNP2, BNP4, ANTT2; 25 a esse BNP2, e esse BNP4, ANTT2; 26 omite BNP2; 27 lagrimas BNP4 ; 28 Ursa BNP2, ANTT2 vossa BNP4; 29 desprovirme BNP2, ANTT2, despavorirme BNP4; 30 afeitada ANTT2; 31 diferença BNP4; 32 me BNP4, ANTT2; 33 de cujos BNP2, BNP4, ANTT2; 34 omite BNP2, BNP4, ANTT2; 35 costura BNP4; 36[↑entre] BGUC5; 37 voltear BNP2, BNP4; 38 precipios BNP4; 39 aparecom BNP4; 40 *depressuir BNP4; 41 agradarse BNP2; 42 [↑ na obrigação] BNP2; 43 minha senhora, buscala a VM, BNP2; 44 se BNP4, [↑a] ANTT2; 45 omite se lhe dever BNP4; 46 Ve. BNP2, Ve. Feliciana ANTT2; 47 a estrada BNP4; 48 estas BNP4; 49 deue BNP4; 50 deve BNP4; 51 e outras BNP4; 52 quando quando BNP4; 53 fogue BNP4; 54 com Ciências BNP2; 55 omite remato minha Senhora com dizer, foy carta de jogar, BNP4; 56 destartan BNP4; 57 na talha BNP4; 58 cuidar BNP2; 59 teis BNP4; 60 descaua BNP4; 61 omite BNP2; 62 se só BNP2 ; 63 intenta BNP2, BNP4; 64 faça BNP4; 65 grosseira BNP2, grossaria BNP4; 66 perdoe BNP4; 67 ver BNP4; 68 omite ANTT2; 69 fez BNP4;70 tornais BNP4; 71 mininos BNP4 ; 72 dar das BNP4; 73 *paressem BNP4 ; 74 conforme BNP4; 75 dia BNP4; 76 olvido BNP4; 77 omite BNP4; 78 lesensa BNP4; 79 de BNP4; 80 omite os rifães BNP2; 81 que BNP2; 82 o BNP4; 83 aparecer BNP2; 84 *com BNP4; 85 omite E BNP4; 86 devitos BNP4; 87 paga BNP4 ; 88 digo BNP4 ; 89 perto BNP2 ; 90 omite BNP4 ; 91 *Oraccanas BNP4 ; 92 omite BNP4; 93 sogeitão BNP4; 94 e vaidade BNP4; 95 comparar BNP4; 96 das de BNP4; 97 desconfialha BNP4

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42 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

2. Carta da Devolução e Resposta de D. Maria das Saudades

2.A. Carta da Devolução

a) Identificação dos Testemunhos

[ACL1] ACL Mss 383 azul, fol. 276-277

«Carta que D. Feliciana Maria de Milão Religiosa em o Convento de Odivelas

escreveo a Maria das Saudades Religiosa em o Convento de Via Longa na ocasião em

que deixada a primeira, com a segunda se entretinha El-Rei Dom Afonso 6º»

[ANTT2] ANTT, Misc. Mss 2073, fol. 313

«Carta 9ª de D. Feliciana Maria de Milão, Religiosa do Convento de Odivelas, a

D. Maria das Saudades, que desejava ver Cartas suas»

[BGUC1] BGUC Cod 325, pg. 93-98

«Feliciana a Maria das Saudades e resposta»

[BGUC3] BGUC Cod 398, fol. 283 v.-284

«Carta de D. Feliciana freira de Odivelas para D. Maria das Saudades, freira em

Via Longa, que desejava ver-lhe as suas cartas»

[BGUC4] BGUC Cod 555, fol. 411-412

«Carta de D. Feliciana Freira em Odivelas para D. Maria das Saudades Freira em

Via Longa a qual desejava muito ver as suas cartas»

[BL2] British Library Mss Add 15201, f. 271-271 v.

«Carta para Dona Maria das Saudades»

[BNP2] Cod. Mss 72, 1º, fol. 15

«Carta de D. Feliciana para D. Maria das Saudades que desejava ver Cartas suas

e não tinha por discreta. »

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43 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

[BNP8] Cod. 510, f. 14-15

«Carta de D. Feliciana Religiosa em Odivelas, a Maria das Saudades, Religiosa

em Via Longa»

[BNP12] Cod. 8594, fol. 165-165 v.

«Carta, que D. Feliciana mandou a D. Maria das Saudades, freira de Via Longa,

que ao presente se entretinha com S. Majestade; e dizendo, que D. Feliciana não era

discreta. Ela se despicou no seguinte modo»

[BNP16] Cod. 12932, fol. 63

«Carta que mandou uma Freira a um seu Amante»

[BPE1] BPE CV 1-9, fol. 124

[Sem título, versão incompleta]

[BPE3] BPE CXII 1_1, fl.195

«Carta que mandou Dona Feliciana a Dona Maria das Saudades freira de Vila

Longa que ao presente se entretinha com S. Majestade e dizendo Dona Feliciana não era

discreta ela se despicou do seguinte Modo»

[BPE4] BPE CXII 2_21, fol. 30

«Carta de D. Feliciana Maria de Milão a D. Maria das Saudades; que desejava

ver Cartas suas»

[BPE5] BPE CXIV 1_7, fl.407-407v.

«Carta de Dona Feliciana de Milão a D. Maria das Saudades»

[BPE6] BPE CXXX 1_17, fl.309

«Carta de D. Feliciana Maria de Milão a D. Maria das Saudades; que desejava

ver uma Carta sua»

[BPMP2] Ms. 841, f. 236 v.

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44 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

«Carta de D. Feliciana Maria de Milão, para D. Maria das Saudades, que

desejava ver Cartas suas. »

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[ACL1] ACL Mss 383 azul, fol. 276-277

Versões Secundárias

[ANTT2] ANTT, Misc. Mss 2073, fol. 313 [BGUC1] BGUC Cod 325, pg. 93-98 [BGUC3] BGUC Cod 398, fol. 283 v.-284 [BGUC4] BGUC Cod 555, fol. 411-412 [BL2] British Library Mss Add 15201, f. 271-271 v. [BNP2] Cod. Mss 72, 1º, fol. 15 [BNP8] Cod. 510, f. 14-15 [BNP12] Cod. 8594, fol. 165-165 v. [BNP16] Cod. 12932, fol. 63 [BPE3] BPE CXII 1_1, fl.195 [BPE4] BPE CXII 2_21, fol. 30 [BPE5] BPE CXIV 1_7, fl.407-407v. [BPE6] BPE CXXX 1_17, fl.309 [BPMP2] Ms. 841, f. 236 v. Versões Incompletas [BPE1] BPE CV 1-9, fol. 124 – Só consta a partir de «bastar para V.M. conhecer». Tudo indica que foi suprimida do fólio. Versões não consideradas [H.G. 20889 P.] Cópia de ACL1, in A.C. Borges de Figueiredo, O Mosteiro de Odivellas. Casos de Reis e Memorias de Freiras, Lisboa, Livraria Ferreira, 1889, pgs. 236-23838

38 Após cotejo, verificou-se ser cópia de ACL1, sem variantes.

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45 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos [O]

x

α ACL1 δ

u y β θ BPE3 s t BGUC1

BNP8 ANTT2 β’ BPE5 θ’ BNP12 BPE6 BL2 z

BNP2 BGUC3 BGUC4 BPMP2 BPE4

BNP16

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46 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Tendo em conta que da presente carta se conservam 16 testemunhos, o processo de

cotejo e selecção inclui um número maior de dados, que passaremos a detalhar. É

possível depreender-se a existência de um número considerável de versões perdidas, que

procurámos representar na representação gráfica da relação entre os testemunhos, a

partir da análise seguinte - apesar da impossibilidade de conhcer a tradição na sua

totalidade, tendo em conta o tipo de documentos em causa.

Considerámos como erros separativos:

- omissão de «metendo»

- o hipérbato «aborrecida» por «mais generosa»

- as três variantes: «forrarme» contra «tornarme» e contra «tirarme»; nesta última

incluímos a lição única «tirar»

- as três variantes da fórmula de despedida da carta: 1) omissão; 2) a sua inclusão

«Captiva de V.M. porque quem nos conhece nos compre»; e o hipérbato «porque

quem nos conhece nos compre. Captiva de V.M.» (note-se que algumas versões

incluem acrescentos após a fórmula). Queremos porém notar que a inclusão da

despedida é, de entre as variantes separativas, aquela que nos oferece mais reservas,

pois a sua inclusão depende de factores externos, como o espaço disponível no

suporte, e conhecimento do copista do emissor e receptor da carta em causa (o que

poderia levar à dispensa da sua reprodução), bem como a indicação feita

previamente no título da carta, o que poderia levar o copista a dispensar a despedida.

Simultaneamente, será duvidoso que esta não seja reproduzida, já que é parte

necessariamente integrante do género carta. Porém, em toda a correspondência de

Feliciana, sobretudo na troca de cartas com Influência das Estrelas, vemos que os

rascunhos (como o testemunho BGUC5) dispensam as despedidas, bem como as

assinaturas, e que mesmo em outros testemunhos há frequentes omissões destas.

Assim sendo, este factor poderia indicar que esta família de testemunhos poderia

aproximar-se da reprodução de um rascunho. Tendo todas estas questões presentes,

decidimos ter em conta a fórmula da despedida como um dos loci critici, e

procurando sempre mais de uma variante que justificasse ligações antígrafas.

Por seu turno, não foram considerados dois passos da carta que, aparentemente,

poderiam ser consideradas como erros separativos:

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47 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

- «embora, que eu passo; e passo a dizer». Há versões que operam uma omissão da

segunda oração citada; outras omitem e modificam («posso dizer»); outros ainda

acrescentam «passo se, e passo a dizer». Sendo casos únicos que ligam versões distantes

entre si, deve provavelmente tratar-se de um caso de contaminação (ocorre com

frequência noutras versões); ou, por poder surgir como uma ditografia (que não é, já que

se explora a repetição da palavra pelo seu duplo significado, uso típico do estilo de

Feliciana), o que poderia levar alguns copistas a considerar um erro ditográfico da

versão antígrafa, levando à sua não transcrição.

- «bruxulee». Nenhum dos testemunhos oferece uma leitura clara da passagem. Como

apontámos nas notas à presente carta, neste passo, o sentido mais próximo que

poderemos encontrar é o que Bluteau aponta: «Bruxolear – termo de jogador, bruxulear

as cartas (he ir descobrindo as cartas pouco a pouco)». O conhecimento do vocábulo

poderia não ser do conhecimento de alguns copistas, pelo que nos parece claro que a

versão perdida v o terá copiado de forma mais clara, já que os testemunhos que dela

originam são os que mais se aproximam da hipótese possível apontada. As outras

versões, incluindo o texto-base, propõem leituras alternativas («por chulo, debuxe»;

«debuxe», «burlente, bulla»); ou inclusivamente colocam espaços em branco (BNP2 e

12). Note-se ainda que própria sintaxe do verbo poderia causar dúvidas ao copista dada

a variedade de ocorrências nos vários testemunhos: «bruxelice», «bruxulee». Por nos

parecer a solução mais correcta, corrigimos o texto-base com esta lição.

Assim sendo, com as variantes conjuntivas acima enunciadas, foi possível

definir uma família, δ, de que descenderiam as versões perdidas s, t, z e as versões dela

decorrentes desenhadas na Representação gráfica da relação entre os testemunhos

(BGUC1, BL2, BNP12, BPMP2, BPE4).

Uma segunda família, α, seria marcada sobretudo pelas diferenças em relação à

família δ, a saber:

- não omissão de «metendo»

- a lição «aborrecida» por «mais generosa»

- «tornarme» contra «tirarme». BPE3 seria uma excepção única neste caso, já que

oferece a lição «forrarme», o que indica que essa lição estaria no original. É possível

considerar que as restantes famílias reproduzissem uma lição diferente de «forrar» já

que o passo em causa oferece depois um vocábulo semelhante: «torno a dizer sem

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48 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

forrarme do jogo, nem forrarme com ele». O que poderia levar alguns copistas a

alterarem o seu sentido por poderem considerá-lo haplográfico. Veja-se na edição as

notas histórico-culturais onde o sentido deste passo está explicitado.

- a inclusão da despedida, já referida anteriormente.

A versão BPE3, por incluir a maior parte dos traços distintivos de α, mas ainda

se aproximar em alguns passos da família δ, constituir-se-ia como descendente de [O],

mas separadamente.

Não nos parece possível operar uma divisão de dois apógrafos após o original

dadas as semelhanças entre BPE3, δ, α bem como as suas relações com testemunhos

claramente colocados na família δ, ou seja, há suficientes erros separativos para uma

primeira divisão apógrafa98.

A família δ, cujos traços estabelecemos já acima, mas a que acrescentaríamos a

lição «por mais».

Note-se o grau de semelhança crescente, tendo nas versões BMPM2 e BPE4

semelhanças muito grandes (esta só apresenta, em relação a BPMP2, dois erros

conjuntivos). Desta família, com o comportamento mais semelhante, apenas BNP12

apresenta ligações com BPE3 e ACL1, o que implica a sua contaminação.

BGUC1 apresenta lição diferente de δ, propondo «tornarme» ao invés da da sua

família, «forrarme». Contaminação ou erro de cópia?

BPE6 e BNP12 propõem em conjunto várias variantes que deveriam estar já em

s, «vale o mesmo»; «figura vista»; o acrescento de «nunca» (comum a BPE6, BNP12,

BPE5); o acrescento de «saiba» (BPE6, BNP12, BGUC1). Neste último caso, é possível

que tivesse sido colocado em δ, já que BGUC1 o reproduz, mas não t e as suas

descendentes, talvez as tendo corrigido provavelmente por contacto com outra versão.

A família α, donde descenderiam BNP8, ANTT2, BNP2 e BPE3, e, com os

apógrafos mais distantes a partir de testemunhos perdidos u, y, β, θ, seria então

justificada pela lição «tornarme» (que θ tornaria «tornarme»); pela lição «aborrecida»;

pela presença da despedida. Algumas inclusões únicas quer em BNP8, quer em ANTT2,

quer de BNP2, justificariam a existência de versões antígrafas de que estas

descendessem. As versões ANTT2, BNP8, BNP2, BNP16 (com destaque para esta

última) apresentam variantes únicas, acrescentos e omissões, o que prova a existência de

vários apógrafos prévios, bem como de contaminação. No caso da versão BNP16, a que

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49 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

mais conta com variantes únicas, acrescentos e omissões, há mais semelhanças nas

variantes substantivas com as famílias ACL1 e v, mas igualmente algumas semelhanças

com BNP2, o que prova o seu grau de contaminação. Foi por isso colocada sem

ascendência na representação gráfica da relação entre os testemunhos.

Uma nota para a subfamília θ, com origem em α, mas opondo-se à família δ por

apresentar diferentes erros separativos. A versão θ partilha a lição «tirarme», a inclusão

da assinatura, a variante «aborrecida», e outras como «ou prosseguindoa» por «mas»

(com ANTT2, BPE3, ACL1, BNP12, BNP2, BNP8, BGUC4, BGUC3), a omissão de

«passo a dizer» (com BNP8, BL2, BGUC1, BGUC4). As versões dela descendentes são

porém férteis em erros conjuntivos.

Assim, teremos de considerar a versão ACL1 como mais próxima do original,

mesmo sendo necessária a emmendatio, como já referido e igualmente marcado na

edição, nos passos «sendo tão certo», «por chulo, bruxuleie muito devagar», «se ante».

Refira-se apenas como nota lateral o facto de este códice ser coevo da carta; um dado

relativo per si, já que a versão em que se baseou poderia estar distante do original.

98 cf. Miguel Ángel Pérez Priego, Introducción General a la Edición del Texto Literario, Madrid, Universidad Nacional de Educación a Distancia, 2001, pgs. 91-92. Veja-se caso semelhante na edição de Laberinto da Fortuna, de Juan de Mena, estabelecido por Martin Kerkhof (Madrid, Castalia, 1995), e o que a este propósito refere Miguel Ángel P. Priego, op. cit., pgs. 95 e lâminas XVIII-XIX.

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50 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta da Devolução – texto fixado

Carta que D. Feliciana Maria de Milão religiosa em o Convento de Odivelas escreveo a

Maria das Saudades Religiosa em o Convento de Via Longa na ocasião em que deixada

a primeira, com a segunda se entretinha El Rei Dom Afonso 6º

Assim! V.M. deseja1 ver as minhas Cartas, pois porque mo não disse2 até agora3,

que4 ainda que essa5 curiosidade pareça trapaça6, quem joga limpo não esconde o jogo,

e mais sendo o ponto tão seguro7 que me não hão-de picar, mas que8 se descartem9 [fol.

276 v.] dele: à falta de praceira me estava10 eu11 metendo na baralha, porém já que V.M.

apetece os encontros, não estranhará12 os azares13, sendoa14 tão certo o perigo de perder-

se15 com às, e dois, o que se ganhou com quinas16: mas17 deixando18 uma tafulariab19

que é aborrecida nos ossos, por outra mais generosa20, digo senhora minha, que hei-de

ganhar a mão ainda que V.M. me empate as vazas, porque consiste o21 meu maior

interesse na resposta, e se22 apesar da cortesia23 quiser negar-me o capricho24 negue-ma

muito25 embora, que eu passo, e passo a dizer26 a V.M. que se quiser saber de mim o

que27 perguntou por chuloc, bruxuleie28d muito devagar esta tão triste figura29 contanto

que me tenha segredo, se ante os30 pése desta sota31 achar as armas de um Conde, que

guardado32 vale mais33 que um Rei seco e ouça as partes ao34 todo, que de força há-de

sair mais parecida, de mi propria [fol. 277] mano35, mi persona mismaf: Assim36,

seguindo a metáfora, ou37 perseguindo-a, declaro que a idade38 é pique, o parecer39

barranco40, o discurso geral, e se nem com isto me explico, torno41 a dizer sem forrar-

me do jogo, nem aforrar-me42 com ele, que no xadrez sou a Dama, nos dados a43 sorte,

nas44 cartas a espadilha. E se com todas estas qualidades45 me convida para a mesa eis-

me aqui já no46 bofete, ou me escolha ao tabuleiro47, ou me desafie48 a tento, e se49

quando estiver senhora do bolo não bastar para que V.M.50 conheça51 que despois que

me entendo, não52 fui desconfiada mais que dos médicos os53 dias passados, bastará a

Misericórdia de54 Deos que me deixou com vida e livre deles para servir a V.M.

Odivelas55.

Cativa de V.M. por quem nos conhece nos compre.

D. Feliciana Maria de Milão56

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51 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

a Emenda do texto-base a partir de ANTT2, BNP2, BNP8, BNP12, BNP16, BPMP1, BPE4, BPE5, BGUC1, BGUC1, BGUC3, BGUC4. Deve porém considerar-se lógica a leitura do texto-base, «tendo», mas a construção «sendo» reforça o uso condicional que se pretende nesta afirmação. b «Tafularia: Viciosa inclinação ao Jogo» (cf. Raphaël Bluteau, op. cit., vol. VIII, pg. 16). c «Chulo: Aquelle, que diz graças, mas com frase baixa, ou com alguma velhacaria.» (cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. I, pg. 233 d Este passo, como é visível na edição, foi de difícil leitura por todos os copistas. Não tendo, nos vários testemunhos, uma versão clara, alterámos o texto-base para «bruxuleie muito devagar». É muito provável que a versão perdida x tivesse grafado <chulo, bruxulee mt. devagar>, e a desinência verbal, apensa ao <e> da vogal temática do verbo, criando a sequência <ee>, por sua vez junto de «mt.», criasse o busilis (veja-se a relação de testemunhos). Bluteau define Bruxulear como «termo de jogar, bruxulear as cartas (he ir descobrindo as cartas pouco a pouco).» (cf. op. cit., Vol. 1, pg. 321). O significado da frase será assim ir compreendendo a figura (e o seu poder) ao mesmo tempo que se carteia. Assim sendo, propomos a lição apontada. e Emenda do texto-base a partir da lição «se ante os pés desta sota» (ANTT2, BPE3, BPE6, BNP12, BNP16, BNP5, BNP8, BL2, BGUC3). A emenda é efectuada tendo igualmente em conta a presença de lições fragmentárias da apresentada [veja-se nota 30]: «se antes os pés», «se os pés». f Alusão a Gal, 6, 11: «Vede com que letras grandes eu vos escrevo, de próprio punho.» No contexto de S. Paulo, serve como epílogo à carta, querendo sublinhar as afirmações com que encerra a carta. Mas contém um outro significado: já que as suas cartas eram por ele ditadas, S. Paulo acrescentava no final algumas letras da sua própria mão (cf. A Bíblia de Jerusalém, S. Paulo, Paulinas, 1985, pg. 2195). Feliciana parece apropriar-se desse duplo significado. É provável igualmente que, pelo facto de se encontrar em Castelhano, a citação também refira um outro texto, poético ou teatral (como é uso de Feliciana), que não nos foi possível identificar. 1 e V.M. deseja ANTT2, BNP8, e V.M. desejava BNP16, BNP2, minha Senhora e V.M. desejava BGUC3, V.M. desejava BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, BGUC4, desejava V.M. BPE5; 2 dizia BNP2; 3 omite até agora BNP8; 4 porque ainda BPE3, porque suposto BNP12; 5 era curiosidade BNP16, BNP2, BGUC3, esta curiosidade BPMP2, BPE4, BL, BGUC1, a curiosidade BPE5, que curiosidade BGUC4; 6 parecia trapaça BNP16, BGUC4, BGUC3; parecia trapasia BNP2; seja trapaça BPMP2, BPE4, e pareça trapaça BNP8, BL, BGUC1; 7 ponto de ganhar e tão seguro BPE3, BNP12, e mais aposto segura BNP16; 8 inda que ANTT, ainda que BNP2, em que BNP16, por mais BPE6, BPMP2, BPE4, BGUC1, e ainda que BGUC3; 9 descarte ANTT, BPE3, BNP12, BNP16, BNP2, BPMP2, BNP8, BPE4, BGUC4, BGUC3; 10 À falta de parceira estava BPE6, BPMP2, BPE4, BL, BGUC1, BGUC4, que a falta de prazeira me estava metendo BNP16; 11 estava eu já metendo na baralha ANTT, BPE3, BNP12, BNP2, BPMP, BNP8, BPE5, BGUC3, estava eu já na baralha BPE6, BPMP2, BPE4, BL, BGUC1, metendo na baralha BNP16, estava eu já metendo me BGUC4; 12 estranhe BPE6, BNP12; 13 estranhe os azares BPE6, BNP12. estranhará as desgraças nos azares BNP16; 14 tendo ACL1, se do BPE6, vendo BPE3; 15 perder BNP16; 16 as quinas ANTT2, BPE3, BNP12, BNP16, BNP8, BPE5, BGUC4, BGUC3; 17 omite mas BGUC1; 18 já deixando BPE3, BNP12; 19 deixando tafularias BGUC4; 20 que é aborrecida nos ossos, por outra maes perigosa: ANTT, que é cousa aborrecida nos jogos por outra mais generosa BGUC4, por outra mais generosa porque aquela é aborrecida nos ossos, BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1 que é aborrecida nos nossos tempos por outra mais generosa; BNP16; 21 omite o BNP12; 22 e que se BPE4; 23 cortezania BGUC4; 24 omite o capricho ANTT, BPE3, BNP12; ao capricho BGUC3; 25 negue embora ANTT, BPE3, BNP12, BNP16, BNP2, BNP8, BPE5, BGUC4, BGUC3; 26 eu posso dizer se quiser BNP16, que eu passo a dizer BNP8, BL2, BGUC1, BGUC4; 27 que me perguntou BNP16, o que pergunta, ANTT2; 28 por chulo, debuxe ACL1, bruxee lá ANTT2, *burlece BPE6, bruxelee BPE3, BNP2, BNP8, □ BNP12, □ que devagar lho direi BNP 2, burlente, bulla BPMP2, BPE4, buxolo BPE5, burle-se BL2, burxelie BGUC1, debuxe BGUC4, bruxehice; 29 omite esta tão triste figura BNP8, esta figura triste, ANTT, BPE3, BNP2, estâa afigura vista BPE6, esta figura vista BNP16, esta figura BPMP2, BPE4, BGUC1; 30 aos pés ACL1,

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52 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BNP2, antes os pés BPE4, BGUC1, se entre os pés BGUC4; 31 letra BPE4, sesta BGUC3; 32 guardo BGUC3; 33 vale o mesmo BPE6, BNP12; 34 seco, a parte, no de todo BGUC3; 35 omite mano BGUC4; 36 Mas assim BPE6, BNP12; 37 e prosseguindo-a BPE6, BNP16, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1; 38 declaro a Ideia BNP16; 39 e parecer ANTT2; 40 branco BPE5; 41 e se nem com isto me explico, V.M. BNP2, e se com isto me não explico BPE5, e se nem com isto me exguicho BGUC3; 42 sem tornar-me do jogo, nem forrar-me ANTT2, BPE3, BNP8, tirar-me do jogo nem forrar-me BNP16, BNP2, BGUC1, BGUC4, BGUC3, tirar do jogo nem forrar-me BPE5, sem forrar-me do jogo nem aforrar-me BPE6; 43 omite a BPE6, BNP12, BPMP2, BPE4, BGUC1; 44 e nas BPE6, BNP12, BNP16, BNP2, BPMP2, BL2, BGUC3; 45 se com estas qualidades todas BGUC4; 46 aqui ao bofete BPE6, BNP12, BGUC1; 47 omite para a mesa, eis-me aqui já no bofete BGUC3; aqui ao taboleiro BPMP2, BPE4; 48 escolhão ao tabuleiro, ou me desafiem BPE6, BPE3, BNP12, BNP16, BNP2, BNP8, BL2; 49 e quando ANTT, BPE6, BPE3, BNP12, BNP16, BNP2, BPMP2, BPE4, BPE5, BL2, BGUC1, BGUC4, BGUC3; 50 para V.M. ANTT, BPE3, BNP16, para a V.M. BPE6, BNP12, BPMP2, para BNP2; 51 conhecer ANTT, BPE3, BNP16, BNP2, BPMP2, BNP8, BPE5, BPE1, BGUC4, entender BGUC3, convencer, BPE4, convencer, saiba BPE6, BNP16, BGUC1, convencer, faça o que lhe pedir a vontade BL2; 52 nunca BPE6, BNP12; 53 estes dias ANTT2, BPE6, BPE3, BNP12, BPMP2, BNP8, BPE4, BPE5, BGUC1, a semana passada BGUC4, que os dias passados dos médicos BGUC3; 54 passados, e quanto isto não bastar, bastará a Misericórdia de ANTT2, passados, mas bastou a Misericórdia BPE6, BNP12, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, passados, muitas grasas seião dadas a BPE3; 55 Odivelas, 4ª feira ANTT2, Odivelas 5ª feira BPE1, BL2; 56 omite Odivellas. Captiva de V.M. por quem nos conhece nos compre. D. Felleciana Mª de Millão BPE6, BNP12, BPMP2, BPE4; V.M., e quem nos conhece nos compre. Odivelas, Captiva de V.M. D. Feliciana. Vale. BPE3; e quem nos conhece nos compre. Odivelas, Captiva de V.M. D. Feliciana Maria de Millão. Vale. BNP2; V.M. porque quem nos conhece nos compre.Quinta feira Odivelas Sim Senhor dela parte, Soror Fullana de estoutra parte. BNP16

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53 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

2.B. Resposta de D. Maria das Saudades

a) Identificação de Testemunhos

[ACL1] ACL Mss. 383 azul, fol. 278

«Resposta de D. Maria das Saudades»

[ANTT2] ANTT, Misc. Mss. 2073, fol. 314-316

«Carta 10ª de D. Maria das Saudades, freira de Via Longa»

[BGUC1] BGUC Mss. 325, pg. 93-98

«Reposta de D. Maria das Saudades»

[BGUC3] BGUC Mss. 398, fol. 284-285

«D. Maria das Saudades para D. Feliciana»

[BGUC4] BGUC Mss. 555, fol. 412-413

«Carta VI § VI de D. Maria das Saudades em Resposta. Ambas amorosas e picadas

um falando com El Rei D. Pedro, e outra com o Conde de Alva Ve»

[BL2] British Library Mss Add 15201, f. 272-273

«Resposta de Dona Maria para Dona Feliciana»

[BNP2] Cod. Mss. 72, 1º, fol. 15 v.

«Reposta da Antecedente»

[BNP8] Cod. 510, f. 15-16

«Reposta de Maria das Saudades a Carta assima»

[BNP12] Cod. 8594, fol. 165 v.-166

«Resposta de D. Maria das Saudades»

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54 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

[BNP16] Cod. 12932, fol. 63v.-64

«Resposta que mandou o Amante pela mesma frase a sua Freira»

[BPE1] BPE CV 1-9, fol. 124-125

«Reposta. »

[BPE3] BPE CXII_1_1, fl.196-197 v.

«Resposta de D. Maria das Saudades»

[BPE4] BPE CXII, 2-21, fol. 30-30v.

«Resposta de D. Maria das Saudades para D. Feliciana de Milão»

[BPE5] BPE CXIV_1_7, fl.408-409

«Resposta de D. Maria das Saudades para D. Feliciana de Milão»

[BPE6] BPE CXXX_1_17, fl.310-310v.

«Resposta de D. Maria das Saudades para D. Feliciana»

[BPMP2] Mss. 841, f. 237-237 v.

«Resposta de D. Maria das Saudades para D. Feliciana»

b) Relação de Testemunhos

Texto-Base

[BPE3] BPE CXII_1_1, fl.196-197 v.

Versões Secundárias

[ACL1] ACL Mss. 383 azul, fol. 278

[ANTT2] ANTT, Misc. Mss. 2073, fol. 314-316

[BGUC1] BGUC Mss. 325, pg. 93-98

[BGUC3] BGUC Mss. 398, fol. 284-285

[BGUC4] BGUC Mss. 555, fol. 412-413

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55 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

[BL2] British Library Mss Add 15201, f. 272-273

[BNP2] Cod. Mss. 72, 1º, fol. 15 v.

[BNP8] Cod. 510, f. 15-16

[BNP12] Cod. 8594, fol. 165 v.-166

[BNP16] Cod. 12932, fol. 63v.-64

[BPE1] BPE CV 1-9, fol. 124-125

[BPE4] BPE CXII, 2-21, fol. 30-30v.

[BPE5] BPE CXIV_1_7, fl.408-409

[BPE6] BPE CXXX_1_17, fl.310-310v.

[BPMP2] Mss. 841, f. 237-237 v.

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56 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

x

α BPE3 δ

u y β θ ACL1 s t BGUC1

BNP8 ANTT2 β’ BPE5 θ’ BNP12 BPE6 BL2 z

BNP2 BGUC3 BGUC4 BPMP2 BPE4

BNP16

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57 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Contrariamente às outras edições das cartas de Feliciana de Milão, não se regista

nesta Carta tão grande frequência de erros conjuntivos, embora se reproduzam duas

famílias com traços distintivos claros como na edição da carta precedente (2A). E,

contrariamente ao que poderia esperar-se do cotejo dessa Carta, a Carta da Devolução,

ambas têm como texto-base uma versão diferente. Tratando-se de cartas, este facto pode

ser explicável pela sua origem em diferentes emissores, e por isso, sendo igualmente

testemunho das suas formas de circulação.

Foram tidas em causa os seguintes loci critici:

- a oposição entre as lições «erros da cara» e «acertos da cara»

- a oposição entre as lições «condigam» e «consigam»

- a omissão (ou acrescento) de «tenha paciência»

- «entabolar-se» por «encaixar-se»

- «que sempre trouxe» e «a cara descoberta», e respectivas omissões ou acrescentos

As famílias δ e η distinguem-se fundamentalmente por erros separativos em

relação às ocorrências acima apontadas.

Quanto à família de δ, esta distingue-se entre si sobretudo pelas seguintes

variantes:

- «acertos» por «erros»

- «ornemos»/ «armemos» ou sua omissão

- «risco» por «receio»

- «cabedais» ou sua omissão

Como tem sido frequente neste trabalho, considerámos um erro conjuntivo a

fórmula de despedida da carta, já que, por insuficiência de espaço no suporte, um

copista poderia ter-se visto forçado a omiti-la.

Deve reforçar-se que as famílias se constituem, porém, com quase total

similitude como na edição da Carta da Devolução.

Note-se que BNP16 apresenta diversos acrescentos (veja-se nº 77 do aparato

crítico), sem equivalentes noutros testemunhos (sobretudo a despedida), como também

já ocorria na Carta 2ª, embora nesta Carta sejam mais frequentes. São descontextuais, e

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58 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

não se tratam, como acontece noutras cartas, de citações ou até de repetições devidas a

mudanças de fólio.

Dado o nível de variação registada entre as várias versões (representadas no final

da representação gráfica da relação entre os testemunhos), é de admitir que possam

ainda descender de outras versões entretanto perdidas.

Interviémos no texto duas vezes: aquando do salto do mesmo ao mesmo em

«acertos da cara» por «erros da cara»; e aquando da omissão de «eu» em «eu me faço

eleger», como se contextualiza em nota.

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59 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Resposta de D. Maria das Saudades – texto fixado Reposta de D. Maria das Saudades para D. Feliciana de Milão

Ui1 minha senhora é culpa do2 meu desejo o que foi capricho da minha

curiosidade? [fol. 196 v.] se V.M. está mui3 liberal de retratar-se será de rico feitio, o

que possa oferecer-me4, e se o papel5 não é6 lâmina, quer debuxar-se, temo que os erros

da pena não se conformem7 com os acertosa da8 cara. Envistamos o9 jogo, e livremo-nos

de cartas corridas, porque se10 demasiadamente11 empeçaremb12, olhe V.M. que há de

tornar-se13 a baralha, e não serve14 mão acima, de15 quem já anda tanto anda16 costa

abaixo; Passemos17 aos Dados, aonde18 o acerto da fortuna não respeita merecimento19

da pessoa, que muitas vezes fica com azares20 de perdida, quem imaginou tivesse21 as

Senas de ganhada. Ora nesta mesma mesa as Tábulas22, já que temos entre mãos23 os

dados, e não demos de mão a tafularia24, não lhec25 chega a V.M. casa aonde26 entre?

tenha paciência a sua tábula27, para28 tornar ao princípio de encaixar-se29; e veja minha30

Senhora que senão tratar de cobrir-se, tarde lhe31 chegará o ganhar-se32. Vâd de xadrez

que com tal praceira não há quem se tenha. Não33 me atemoriza o pouco que sei, mas

desconfia-me34 o muito35 que V.M. sabe36, mas Dios diante37. [fol. 197] Não pode V.M.

negare que esse jogo tem a desgraça de algumas vezes entrar38 na figura de Dama, o que

antes39 teve a serventia de pião; e livrando-a V.M. de pião, e confessando40 a Dama

como41 não ouve um mate42 a este Rei, quando essa43 Dama pertendia44 dar45 a todos

Xeque. Pois ele não morreo afogado, que isso só se suspeita46 de El Rei D. Sebastião.

Cheguemos a Espadilha47 e eu48f me faço sem49 eleger50, de ouros, que até os interesses

de si larga quem por interesses se não perde; A senhora51 basta que V.M. queria dar52 o

codilho, ora contente-se com reposta, e saiba que o53 jogo de homem hei-de54 ganhar,

porque por homens não me55 costumo perder56. Vamos aos centos, olhe57 parseira não

se descarte de58 Rei59, sendo60 que os Reis com V.M.61 bem se descartam, e se na mão

me ficou62 um seco63, na64 de V.M. foi verde, na65 desgraça de ficar picada66, eu lhe não

empato as vazas a V.M.67; nem tenho tenção de lhe furtar os tentos que sempre trouxe a

cara descoberta, quem não teve que encobrir no procedimento [fol. 197 v.] da pessoa.

Basta de desenfado68 e69 não me tira70 dele o71 risco72 de perder, senão o73 escrúpulo74

de ganhar75, pois não quero dar conta a Deos de viver com fazenda alheia quando me

não falta que gastar de cabedais76 próprios; sinto que V.M. minha senhora77 estivesse

desconfiada, e se foi78 dos Médicos parece-me que vive sempre morrendo79; logre V.M.

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60 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

tudo o que deseja, mas não se meta em desejar, o que a fortuna lhe não quis80 premitir.

Deos guarde a V.M. muitos anos. Vila Longa81 Vale.

De V.M. muito serva

Dona Maria das Saudades

a Correcção da versão base, por salto do mesmo ao mesmo, de «erros» por «acertos», de acordo com a lição de BPE4, BPE6, BNP2, BNP12, BNP16, BL2, BGUC1, BGUC3, BPMP2. b «Empeçar: o mesmo que embicar» («tropeçar (…), cahir»). Cf. Bluteau, op. cit., Vol III, pgs. 43, 59. c Nota à direita com letra do copista: «esta felisiana foi engeitada». d Manteve-se a grafia de «Vâ» por poder significar «Vá» ou «Vã» (de «vangloriar-se»). e Tinta repassada, leitura difícil no texto-base. Leitura conjectural e de acordo com todas as restantes versões. f Emenda do texto-base de acordo com ACL1, ANTT2, BPE3, BPE6, BNP5, BNP8, BNP12, BNP16, BL2, BGUC1, BGUC4. 1 Ay BNP16, BPE1, Eu BNP8, Hoje BPE5; 2 culpado BNP2; 3 tão ANTT2, BPE6, ACL1, BNP12, BNP2, BPMP2, BNP8, BPE4, BL2, BGUC1, BGUC4, BGUC3; omite BNP2, BPE5, BPE1; 4 será só de rico feitio o que me oferece queria oferecerme ACL1, será de rico feitio, o que posso oferecer BNP8; 5 se em papel ANTT2, e se em papel BPE6, ACL1, BNP2, BGUC4, BGUC3, e se o p□ BNP12, é esse papel BNP8, esse em papel BPE1, BGUC1, omite BPE4; 6 em lâmina ANTT2, BPE6, ACL1, BNP2, BPMP2, em lâminas BNP2;7 não conformem ANTT2, BPE6, ACL1, BPMP2, BNP8 BPE4, BGUC1, não condigam BNP2, BNP2, BPE1, não confirmem BL2, BGUC3; 8 os erros ANTT2, BPE2, BNP12; 9 ao ACL1, BPMP2;10 omite porque se BPE1; 11 tão demasiadamente BNP2; 12 passarem BGUC4; 13 tornar BNP16, BNP2; 14 mais BPE1, ir BGUC4; 15 omite BNP16, a quem ACL1; 16 anda tanto costas BPE6, BPE1, anda já tanto de costa ACL1, anda já tanto costa BPE5, já anda tanto BNP12, BNP2, BNP8, BL2, já tanto anda BPMP2, BPE4, BGUC1, BGUC4, BGUC3; 17 Passemo-nos BNP12; 18 dados, ou BGUC3, dados donde BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, BGUC4, onde ACL1, BNP12, BNP8, BPE5; 19 o merecimento ANTT2, BPMP2, BGUC4, os merecimentos BPE6, ACL1, BNP12, BNP16, BNP2, BPE1, BL2, BGUC1, ao merecimento BNP8, BPE4, BPE5, BGUC3; 20 azar BNP16, BPE1, os azares ACL1, BNP2, BNP8, BPE5, BL2, BGUC4, BGUC3; 21 que tivesse ANTT2; 22 Inda assim armemos nesta menza as tabulas BNP16, Ora nesta menza as Tabolas ANTT2, Ora nesta meza ornemos as Tabolas BPE6, Ora nesta mesma meza armemos as tabolas ACL1, BPE5, BPE1, BL2, Ora nesta mesa armemos BNP2, BPMP2, BGUC1, BGUC4, BGUC3, Ora nesta mesa avoemos BPE4; 23 as mãos ANTT2, BNP12, BNP8, BGUC3; 24 esta fularia ACL1; 25 omite lhe BNP2, BNP8, não chegue BNP16; 26 onde ACL1, BNP12, BPE5, BL2, BGUC4, donde BNP16, BPMP2, BPE4, BPE1, BGUC1, em que BGUC3; 27 tenha a sua tabola BPE1, BGUC1, meta a sua tabola BGUC4; 28 tabola? Paciência BPE1; 29 encaixar BNP8, entabolar-se BNP12; 30 V.M. minha BPE5; 31 omite lhe ANTT2, BPE6, BNP12, BPMP2, BPE4, BGUC1, BGUC4, BGUC3, não BL2; 32 encaixar-se BNP8, ganhar BPE4; 33 Mas não BPE5; 34 sei, desconfia-me sim ACL1, BPE5, senão me atemoriza BGUC4, mas ademira-me BGUC3, sei mas desconfio do BPE6, sei mas desconfio muito BPMP2, BGUC1; 35 muito de ver BGUC1; 36 V.M. de tudo sabe ANTT2, BPMP2, BNP8, BPE4, BPE5, BL2, BGUC1, BGUC4, BGUC3, de tudo V.M. sabe BNP16, BNP2, BPE1; 37 Dios delante ANTT2, ACL1, BPMP2, BPE4, BPE5, BPE1, BL2, BGUC1, BGUC4, BGUC3, Dios adelante BNP16, BNP2, BNP8; 38 jogo tem algumas vezes na serventia a desgraça de entrar BNP8; 39 primeiro ANTT2, BPE6, BNP16, BPMP2, BPE4, BPE1, BL2, BGUC1, BGUC4, BGUC3; 40 confessando-a por Dama ANTT2, BPE6, ACL1, BNP2, BPMP2, BPE4, BPE5, BL2, BGUC1, BGUC3, confiando-a por Dama BPE1, BGUC4; 41 pião e confiando-a por Dama e livrando-a de pião, como BNP16, pião, e confessando-a per Dama BNP2;42 há mate BNP16, quiser um mate BPMP2; 43 esta BNP8, BGUC3, era BPE4; 44 presume ANTT2, BPE6, ACL1, BNP12, BNP16, BNP2, BPE5, BPE1, BL2, BGUC1, BGUC4, presuma BPMP2, BPE4, BGUC3, presumia BNP8; 45 de dar ANTT2, BNP12, BNP16, BL2, BGUC3; 46 suspeitou BPE5, conta BPE6, prezume BNP16, BPE1, BGUC4;47 Sebastião: mudemos os dados, e cheguemos com tanta notícia a cartear-nos, e seja pois já que somos dois de espadilha BNP16, Sebastião. Chegue a Espadilha ANTT2, BPE1, Chegou a Espadilha BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, Chegámos a Espadilha

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61 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BPE5, Chega a Espadilha BGUC3, e vi a Espadilha BGUC4; 48 omite BPE2, Espadilha, que pois sabe de todos os jogos, em todo entre, eu BPE5, se ela perde ouros BGUC3; 49 já BNP2; 50 sem ela perde ouros BGUC3; 51 ah Senhora ANTT2, ACL1, BNP12, BPMP2, BNP8, BPE4, BL2, BGUC1, Ah minha senhora BGUC3, Assim minha senhora BNP2; 52 levar-me de codilho BNP16; 53 ao jogo ANTT2, ACL1, BNP12, BNP2, BNP8, BPE5, neste jogo BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, BGUC4, BGUC3, a este BNP16, BPE154 hei-de sempre ganhar BNP8; 55 me não BPE6, BNP16, BNP2, BPMP2, BPE4, BPE1, BL2, BGUC1, BGUC4, BGUC3; 56 nunca perder BPE1; 57 e olhe ACL1, BNP12, BNP2, BPMP2, BNP8, BPE4, BPE5, BPE1; 58 como que se descarta não seja de BL2, como se descarta não seja de ANTT2, BPE6, BNP16, BNP2, BPMP2, BNP8, BPE4, BPE5, BPE1, BGUC1, BGUC4, BGUC3; 59 Reis ANTT2, BPE6, ACL1, BNP12, BNP2, BPMP2, BNP8, BPE4, BL2, BGUC1, BGUC3; 60 omite sendo BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, BGUC4; 61 com V.M. os Reis ACL1; 62 ficou BNP8, me fica BNP16, BGUC4, como V.M., quer me fica BPE1; 63 Rey seco BPE4, BGUC3; 64 para V.M. BPE6, ACL1, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1; 65 verde, por isso encontrou a disgraça BPE5; 66 disgraça de se ver picada BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, disgraça pois com elle me livrei do capote que V.M. me queria dar, que muito bem sabe aonde arde o peito em incendios não podiam os ombros necessitar de cobertura ainda que tenha alguns tremores, não são estes de frio, mas como vejo a V.M. picada BNP16; 67 a V.M. as vasas ANTT, BPE6, BNP2, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1, BGUC4;68 os tentos, basta de desenfado BPE1;69 saiba minha senhora que ACL1;70 me retira ANTT2, O, que me não retira BNP16, BNP2;71 não lhe quero empatar as vasas, nem tão pouco tenho tenção de lhe furtar os tentos; eu lhe deixo as suas com uma das minhas, e baste de desenfado, que me não retira dele o risco BNP16;72 receio BPE6, ACL1, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1;73 Basta de jogo, que faço escrúpulo de ganhar-lhe, e não é da nova profição jogar, para aljibeira e se he para vir, basta o passado e venhão occaziões em que lhe obedeça, Deos guarde a V.M. para grandes emprezas. Via Longa Irmã de V.M. mas não em armas; D. Maria das Saudades BGUC3;74 nos merecimentos da pessoa, mas o escrupulo BPE1;75 lhe ganhar BGUC4; 76 dos próprios BPE6, BPMP2, BPE4, BL2, BGUC1; 77 omite minha senhora ANTT2, ACL1, BNP16, BNP2, BPE5, BPE1, sinto minha freira BNP12, muito que V.M. estivesse desconfiada dos Medicos, parece que vive V.M. sempre morrendo e nunca mais acaba, ora viva Vossa Mercê até que morra, logre Vossa Merce sempre tudo o que dezejar, mas nãm se metta em dezejar o que a fortuna o que a fortuna77 lhe não permitir quer porque nem sempre os lirios florecem quando rebentam os engraçados rozais, que se estes entre os espinhos se geram he para os tentarem mais ouzadia, para que o olfato de alivio as maus o que houver de molestia entre as picadas que pa. se sentirem estas so se devem julgar os longes que agrauam e o amor que se emfada, quando as potências se divertem, e eu pella nãm divertir de sem bons intentos me virino arogar a Deos Nosso Senhor que se alembre de mim para me esquecer de Vossa Merce aquem o Ceo me guarde liure, e defenda Sim Senhora Lisboa hoje Domingo que he dia Santo na quinta do Retiro. Seu muito e mais obrigado Amante cá para outro Lado &a BNP16; 78 omite e se foi ANTT2, BNP2, BNP8, BNP16, BPE1; 79 medicos, bem me parece o quanto sempre vive morrendo BPE5, medicos, logo parece, que esteve V.M. sempre morrendo, BPE1; 80 quiser BPE5; 81 Guarde Deos a V.M. D. Maria das Saudades BGUC4, Guarde Deos a V.M. BPMP2, BPE4, Vialonga, 6ª feira, Senhora D. Feliciana Maria de Milão, C. de V.M. de Dona Maria das Saudades BPE1, Deos guarde a V.M. Via Longa Maria das Saudades ANTT2, BPE6, BNP12, BNP8, BPE5. Deos guarde a V.M. Via Longa Captiva de V.M. Maria das Saudades BNP12, BL2

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62 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

3. Carta das Veias

a) Identificação dos Testemunhos

[ANTT2] ANTT Misc. Mss. 2073, fol. 316 v.-320

«Carta de D. Feliciana, estando sangrada a um amante seu, que a desprezava.»

[BNP14] BNP Cod. 8611, fols. 4-6

«Carta de D. Feliciana de Milão»

[BNP16] BNP Cod 12932, fol. 56-56v.

«Carta que D. Feliciana Maria de Milão escreveo a um seu Amante repreendendo a

sua pouca, e mal correspondência»

[BNP17] BNP Cod. 13305, fols. 196-197

«Carta de D. Feliciana de Milão»

[BL2] British Library, Added Ms 15201, [Nº 23], f. 288-290 v.

«Carta de Dona Feliciana Maria de Milão a um amante que se retirava da sua

correspondência havendo-se ela sangrado por essa causa»

[BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 11

«Carta de D. Feliciana escreveo a um seu amante»

[BNP3] BNP Mss 249, 26, fol. 9-9r.

«Carta da mesma Autora estando sangrada a um Amante seu que a desprezava»

[H.G. 24935//5 P.] Rocha Martins, A Freira de D. Afonso VI, Lisboa, ed. autor, s/d,

pgs. 44-49

[sem título]

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63 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

b) Relação de Testemunhos

Texto Base

[ANTT2] ANTT Misc. Mss. 2073, fol. 316 v.-320

Versões Primárias

[BNP14] BNP Cod. 8611, fols. 4-6

[BNP17] BNP Cod. 13305, fols. 196-197

Versões Secundárias

[BNP16] BNP Cod 12932, fol. 56-56v.

[BL2] British Library, Added Ms 15201, [Nº 23], f. 288-290 v.

[BNP2] BNP Mss 72, 1º, fol. 11

[BNP3] BNP Mss 249, 26, fol. 9-9r.

Versões não consideradas

[H.G. 24935//5 P.] in Rocha Martins, A Freira de D. Afonso VI, Lisboa, ed. autor, s/d, pgs. 44-4939

39 Rocha Martins não indica a fonte, e reproduz apenas parte da Carta.

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64 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

w O’

BNP2 x y BNP14 ANTT2 BNP17

BNP16 BL2 BNP3

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65 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Para a escolha do texto-base foram tidas em conta os seguintes loci critici:

- acrescentos (e omissões) na primeira frase

- «afigura» por «figurar» BL2, por «assegura» BNP2, ANTT2, BNP16

- acrescentos em castelhano, como este: «que siempre se arriesga quien en los males se

no desengana» BNP16

- mesmo BNP2, amor com BNP16, *co *meu BL2

BNP2 e BNP16 são bastante próximas entre si, constituindo uma família

(descendentes de w) a partir dos erros conjuntivos referidos acima; porém, BNP16

inclui citações de poemas que não são comprovadas por nenhuma versão, embora com

alguma coerência, já que, na Correspondência de Feliciana de Milão, as frequentes

ocorrências de castelhanismos indicam citações, ou a referida língua literária

convencional de que fala Castro1. Por ambas apresentarem variantes que revelam má

leitura, bem como excisões e acrescentos, não podem ser consideradas o melhor

manuscrito.

O testemunho BL2, por seu turno, apresenta algumas soluções únicas, e o

aportuguesamento de algumas ocorrências castelhanas; o códice2 em que se encontra

revela uma cópia posterior pelo menos 50 a 70 anos das restantes, o que relativa e

lateralmente justificaria algumas destas intervenções.

A versão BNP3 apresenta erros separativos, com registo de supressões únicas;

alguns dentre estes, bem como algumas mínimas intervenções gramaticais, revelam ser

uma cópia de BNP14, ANTT2, BNP17.

Por seu turno, BNP14, ANTT2, BNP17 apresentam grandes semelhanças entre si,

com erros separativos de que é exemplo a diferenciação final da despedida.

BNP3 parece cópia corrompida de BNP14, porque apresenta erros conjuntivos

únicos, como acrescentos não acompanhados por outras versões.

Por tudo isto, BNP2 apresenta-se como o melhor manuscrito, reforçado pelas lições

de ANTT2 e BNP17.

Uma nota final para as duas intervenções efectuadas na pontuação, em passos em

que o texto-base, colocando um ponto final, não inicia por maiúscula: «não esquece. e

que foi o meu sangue»; «rigor. e que estou aqui».

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66 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta das Veias – texto fixado Carta de D. Feliciana, estando sangrada a um amante seu, que a desprezava.

Las venas com poca sangre3, los ojos con mucha noche4a, o coração sem alentos5, o

sofrimento sem brios, desmaiada a confiança, a esperança perdida, o pensamento

covarde, a imaginação confusa6, o desejo temeroso, o respeito perdido, colérica a razão,

tíbia a vontade, temerária7 [fol. 4 v.] a diligência, temeroso8 o discurso, sem pulsos a

vida, e sem vida9 a respiração; e descomposta finalmente toda a República da alma, o

busco a V.M., para acabar às mãos de meu amor, ou ressuscitar às mãos de minha

finezab, e falando para calar-me digo, Senhor meu, que10 me não atrevo com os

engodos11 da minha idea12, que apelarc13 de14 tantas sem razoẽs de V.M.15, nem afigura16

esperanças. Assi quero antes17 os garrotes de um desengano, que o apetite de uma

dúvida e não lhe pareça a V.M. desesperação esta de minha temeridade, que antes é

efeito de meu amor, que discrédito de meu cuidado. Porque será lástima grande que

acabe a poucos o18 tempo19 uma saudade que não pode render-se20 aos muitos21 de um

pezar. Muitas vezes22 busca23 a V.M. o meu afecto, e em nenhuma delas deixou de

tornar agravod o que foi diligência,24 e eu [fol. 5] sempre porfiosa por ver25 o ódio de

V.M.26, quando não conseguisse o meu27 intento. E chegou a tanto a minha desgraça,

que o fez a V.M.28 grosseiro sobre esquecido: sofra V.M. a palavra pois29 sofro o efeito,

e nem isto me desviou, nem o escândalo me divertiu. Grande é logo o querer30 que31

profia contra o desprezo. Para crédito da minha Razão sairam estas Rezoẽse 32, e creia

V.M.33 que serão as últimas que o cansem; porque 34 em toda eu não há sentido que

tenha forças para tornar-se35 a baldarf36. Lembro-lhe a V.M. que lhe não lembro, e que

me não esquece37. E38 que foi o meu sangue uma das testemunhas do meu pesar; e que

será a minha morte a maior acusação de seu rigor. E que estou aqui padecendo39 as

tiranias de meu cuidado40, e que de tudo é V.M. ocasião. E veja V.M.41 que sou eu a que

lhe fala assim42 e que se me não dá de43 que este papel se haja de ler no pelourinhof44

como os outros [fol. 5 v.] que até essa infâmia teve45 V.M.46 agora de mais a mais;

porque todo o Mundo47 sabe o48 que lhe quis49, e não pode duvidar do que lhe quero, e a

troco de que a V.M. o condene quero que me censure. Saiba o Mundo meu dano, por

que se desengane50 em51 meu engano: nos doentes é mais veemente a pena, e mais

arriscada. Todas estas rezões me valham52 com V.M. e53 quando para ver-me54 ache

inconvenientes, para responder-me não cuide embaraços55, que me corro por Deos, de

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67 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

que quando fala assim uma mulher lhe não responda um barbado. Perdoe V.M. que

agora o fui eu que há muito tempo que o não parecia. E aguardo em56 letras de V.M. a57

minha vida, ou meu descanso, que apesar de los hados58 enojosos tambien59 pera los

tristes hubo60 muerteg61. e contento-me com que duas Regras de V.M.62 me façam

desculpa para tornar a ele; mas se V.M. se enfada63, [fol. 6] como cuido, destes

desatinos não me responda, que eu me calo, para que os desenganos, os agravos, as

ingratidões, e os desprezos64 me façam muda, quando me não consigam enimiga; que só

V.M. tem poderes65 para o que nenhuma outra pessoa teve alentos. Acabaram-se os

meos a Deos aDeos66 destruição do meu gosto67 ou gosto de minha fineza68. †

1 Ivo Castro – “Lampadário de Palavras”, in Edição de Texto. II Congresso Virtual do Departamento de Línguas Românicas, pg. 13 2 veja-se descrição codicológica das fontes.

a «Las venas con poca sangre los ojos com mucha noche»

Cf. Luis de Góngora, “Romance de Angélica e Medoro”, in Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2011, pg. 156-165 b «Fineza: Acção, com que se mostra o grande amor, que se tem a alguem.» (Raphael Bluteau, op. cit., vol.IV, pg. 125) c Manteve-se a lição do texto-base, por Lectio difficilior. Porém, as duas hipóteses são possíveis «apesar» ou «apellar», sobretudo pela semelhança grafológica entre <ss> e <ll> em algumas das versões. d «Aggravo: Injúria sem razão, offensa», in: Raphael Bluteau, op. cit., vol.I, pg. 168 e «Rezões: Prova, argumento, com que se prova alguma suposição» in Raphael Bluteau, op. cit., vol.V, pg. 125. Manteve-se a grafia, de acordo com o já expresso nos “Critérios”, reforçada pelo registo por Bluteau das duas formas, também presentes no texto «Razão saíram estas Rezões», com significados não coincidentes. f Baldar: «Frustrar. Fazer inútil. Baldar o trabalho.» Raphael Bluteau, op. cit., vol.IV, pg. 222, e Supplemento, pg. 20. Nota ainda Bluteau que é uma palavra do vocabulário dos jogos de cartas. Aliás, note-se com esta referência um auto-intertexto com a carta de D. Maria das Saudades e a carta a Pedro de Quadros. g Feliciana joga com um duplo significado: o do monumento que representa o poder real, e um Largo em Lisboa onde se a leitura e escrita de cartas era efectuada publicamente:«Em Lisboa era no Largo do Pelourinho Velho, muito perto da Ribeira das Naus, onde estavam situadas as escrivaninhas dos escritores de cartas e ali podiam dirigir-se aqueles que quisessem uma carta, fosse do género que fosse.» (Fernando Bouza Álvarez, “Cultura Escrita e história do Livro”, op. cit., pg. 86; Idem, Comunicación…, op. cit., pgs. 70-73; Diogo Ramada Curto, «Língua e Memória», in.: Joaquim Romero de Magalhães, coord. – História de Portugal III, No alvorecer da modernidade (1480-1620), Lisboa, Círculo de Leitores, pg. 357-373. g «Que, a pesar de los Hados enojosos, También para los tristes hubo muerte.» cf. Luís de Camões, «Écloga Primeira», in Obras completas, Vol. II. Géneros líricos maiores. 2.ª ed. Lisboa, Sá da Costa, 1955, págs. 18-20, Introdução e notas de Hernâni Cidade Feliciana não citará directamente Camões, mas, como é habitual na sua obra, Villa Mediana; neste caso, cita as duas Décimas que Villa Mediana escreveu a partir dos dois versos finais. Um dos testemunhos (BNP2) utiliza «cuidados enojosos», alteração de substantivo efectuada pelo poeta castelhano (cf. Juan Manuel Rozas, “Para la fama de un verso de Camoens en España», Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, acessível em http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/para-la-fama-de-un-verso-de-camoens-en-espana/html/3820c856-a0fa-11e1-b1fb-00163ebf5e63_2.html), último acesso em 30 de Setembro de 2012. Assim se explicam as várias variantes que apresentam outros versos em Castelhano.

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68 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

3 As vejas com pouco sangue, BL2; 4 Os olhos com mujta noyte, BL2; 5 alento BNP2; 6 omite a imaginação confusa, o desejo amoroso, o respeito perdido BNP2, BNP16; 7 timida BNP2, BNP16; 8 temerario BNP2, BNP16; 9 sem alivio BNP2, BNP16, BL2; 10 quê BNP3, Senhor meu, BNP16; 11 enganos BNP2, BNP16, BL2; 12 omite que me não atrevo com os enganos da minha Idea, que BNP3;13 apesar BNP2, BNP14, ANTT2, BL2;14 a BNP2, BNP16; 15 omite de VM BNP2, BNP16; 16 figurar BL2, assegura BNP2, ANTT2, BNP16; 17 omite antes BL2; 18 omite o BL2; 19 (o tempo) BNP17; 20 render BNP2; 21 meritos BNP2, BL2; 22 annos BNP2; 23 buscou BNP2, BNP3, BNP16; 24 que siempre se arriesga quien en los males se no desengana BNP16; 25 vencer BNP2, BNP16; 26 omite BNP16; 27 mesmo BNP2, amor com BNP16, *co *meu BL2; 28 omite BNP2, BNP16; 29 que eu BNP16, pois eu BL2; 30 meu querer BL2; 31 de quem BNP14; 32 de amor dignas BNP16; 33 omite BNP16; 34 que BL2; 35 tornarme BL2; 36 baldar; que Amor donde no ay acceptacion es fuersa, que a alma opprima, sendo que tambem merecia ser ouvida, quien se offeresia piedoza pera os carinhos seria sem rasam opporse Amor a tantos respeitos. BNP16; 37 esqueço BNP2; 38 a BNP2; 39 padescendo BL2; 40 no seu descuido BNP16; 41 omite BNP2, BNP16; 42 a VM BL2; 43 omite BNP2, BNP14, BNP3, BL2; 44 Pelourenho BL2; 45 tem BNP2; 46 omite V.M. BNP2, BNP16; 47 omite o Mundo BNP16; 48 omite o BL2; 49 quero BL2; 50 dezengana BL2; 51 o BL2; 52 Manteve-se a grafia original por poder indicar Presente ou Futuro. 53 omite BL2; 54 quererme BNP2; 55 em embaraços BL2; 56 com suas BNP2; 57 ou ANTT2, BL2; 58 cuidados enojosos BNP2, de *coehados BNP16; 59 tambien a uezes aquello que es para mal buelue el cielo para bien BNP16; 60 vuo BNP3; 61 omite BNP16; 62 omite BNP2, BNP16; 63 enfade BL2; 64 desprezos ora BNP2, BNP3; 65 omite quando me não consigão enemiga; que sô V.M. tem poderes BNP3; 66 omite ANTT2, BNP17; 67 desprezo da minha vida &:a Sua que ainda existe morta no Amor e muito viva em seu querer BNP16; 68 omite ou gosto de minha fineza BNP16

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69 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

4. As Cartas de Aranha

4.A. «Estive para principiar» (Carta Primeira)

a) Identificação dos Testemunhos

[ANTT2] ANTT, Misc Mss 2073, f. 320v–323

«Carta 13 de Dona Feliciana a uma Freira, procurando-lhe umas cartas suas que um

amante de ambas tinha em seu poder»

[BNP4] BNP, PBA 69, f.164 v.-166 v

«Carta de Dona Feliciana a uma Freira procurando-lhe umas cartas suas que um

amante de ambas tinha em seu poder»

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[ANTT2] ANTT, Misc Mss 2073, f. 320v–323

Versão Secundária

[BNP4] BNP, PBA 69, f.164 v.-166 v

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70 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

O’

y

ANTT2 x

BNP4

Quer a representação gráfica da relação entre os testemunhos, quer a justificação do

texto-base são comuns para as duas Cartas de Aranha, já que contém as mesmas

versões e as conclusões do cotejo de ambas apontam para as mesmas conclusões.

Na presença de apenas dois testemunhos, a selecção entre ambos revelou-se clara, já

que BNP4 apresenta acrescentos, muitos deles com má leitura, o que se depreende de

decorrerem de versão anterior (x) que se apresentava em mau estado, quer no suporte,

quer caligráfico. São exemplos:

- «Santa Bula» (carta 1ª)

- «porque a sua pouca discripção achou da nossa sociedade todo» (carta 1ª)

- «de *Thasiphon no inferno da» (carta 2ª)

Concorre ainda para a selecção de ANTT2 como texto-base o facto deste apresentar

algumas lições de BNP4, indicando que teve conhecimento desta versão. É o caso que

anotamos no aparato como nota 14, em que o Texto-base também tem a redacção de

BNP4, mas repete-a depois, corrigindo, sem ter rasurado a redacção anterior.

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71 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Primeira Carta de Aranha – Texto fixado

Carta de Dona Feliciana a uma Freira, procurando-lhe umas cartas suas que um

amante de ambas tinha em seu poder

Estive para principiar esta Carta, pedindo perdão1 da minha confiança, se a

notícia que tenho da benevolência de V.M. não fizera parecer hipócrita esta minha

diligência. Quanto mais que o motivo que me leva a aparecer perante V.M. facilita todo

aquele receio, que ou2 nasceo do seu respeito, ou causou a minha humildade; e se tenho

a meu favor tão qualificadas rezões, quero principiar a minha causa, em que V.M.

tambem é parte.

É o caso, que o Senhor Fulano3 Aranha parecendo-lhe, que era injúria do seu

amor não se comunicar4 em muitas partes, e que era desdouro da sua galhardia [fol.

321] não corresponder a muitas Freiras, assim se determinou à comunicação, como se

resolveo nas correspondências5 sem advertir que se a bárbara gentilidade rendeo cultos

ao Amor, e o venerou por Deos dos seus alvedrios, nem por isso lhe confessaram aquele

atributo de Imensidade, que só é próprio do Verdadeiro Deos e não conhecendo, que as

repartições da Vontade são diminuições no6 amor; porém como esta Lei se não

estabeleceo com as que ele aprende, já lhe desculpo a ignorância, se não presumir que

sabe, ainda depois de tão grande erro. Não é cousa de cuidado! Freira de Inverno, Freira

de Primavera, Freira de Verão (admiro-me não acabar as Estações do Ano e ter outra de

Outonada). V.M. minha Senhora deve ser da qualidade fresca e por isso a7 tem tanto a

mão no Estio: [fol. 321 v.] eu como sou assistida8 no Inverno, parece que me acha a

compleição cálida9. A terceira presumo ser temperada, se a pertende na Primavera. Tal

repartição de tempos amorosos, não ouvi que fizesse Salomão com toda a sua Ciência.

Nova casta de amor temporal! Mas ahsima como o Diabo o tentou pelo caminho de

Poeta, imaginou, que isto era a Fábula10 das três graças. Eu lhe não acho alguma se

V.M. lha achar diga-mo, que da 3a. não faço caso, porque a sua pouca discrição não

achou da nossa Sociedade11. Todo o intento, a meu ver, deste Fidalgo ao moderno, foi

enganar-nos, fazendo o seu gosto depravado12 gosto, que vive de enganos13. Depois de

nove meses de assistência, /que tudo vai pela medida Poética/ soube que ele tratava a

V.M. em o convento de Santa Clara à Senhora Fulana14, e [fol. 322] formando-lhe eu

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72 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

culpa da ofensa, para o sentenciar afinal, culpou-se muito mais na resposta; não é muito

porque as Aranhas nunca fiarãob tão delgado como as Minervas.

Disse-me que V.M. era a ofendida, e que eu sempre ficava bem. Porém como o

destino me conduz a amar a V.M., tive por maior a ofensa de V.M. que a minha e para

vingar uma, e outra, lhe entreguei o seu Retrato, que me tinha dado por prenda do seu

amor de partilhas; que homem tão fementido, nem pintado era bem que se visse.

Despedi-o com as últimas palavras, ainda que os seus termos mereciam pouca cortesia.

Levou-me as minhas cartas e deixou-me as suas, parece que se quer fazer homem, e

senhor do bolo; porém eu lhe levei o intento de codilho, por mais que ele foi atento para

me fazer reposta, já que me não podia ganhar. Lembrou-me o que V.M. fez [fol. 322 v.]

em semelhante ocasião às cartas deste Adónis, que no fogo de uma alampadac teve

desafogo a sua ofensa, e reduziu a cinzas aquelas adulações aleivosas, aqueles

mentirosos carinhos, e aquelas Letras de pouco valor. Quis imitar15 a V.M. em tão

flamante demonstração16 a minha vontade, para que servissem aquelas folhas de

Faróis17, com que atinasse advertidamentte o desengano, e conhecesse por

documentos18 da experiência, que das flores nunca libarãod as Aranhas mais que

Veneno. Adverti com tudo, que19 andava mais acertada em remeter a V.M. esses

procuradores de sua ofensa, ou testemunhas daquele engano, para que a vingasse no

mesmo castigo, com cláusula, de que20 ao mesmo portador entregue V.M. as minhas

Cartas, que este Fidalgo levou, que será mais fácil [fol. 323] de entregá-las a V.M. por

lhe fazer esse obséquio; e já que somos no mal participantes sejamo-lo também no bem.

Seja agora entre nós ambas a correspondência que da minha prometo tão apertados os

vínculos e as uniões tão extremosas que fiquem indissolúveis para a posteridade. E se

no meu pouco préstimo V.M. descobrir algum, não me roube a glória que me dará o

podê-la servir. Esta carta não saia da sua mão de V.M., que não quero ande

peregrinando censuras, e diligenciando-me calúnias, pois nem todos julgam os meus

papéis com o agrado com que alguns os olham.

De V.M. mais afeiçoada.

Feliciana.

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73 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

4.B. «Tem tão obtusos os órgãos do cérebro» (Carta Segunda)

a) Identificação dos Testemunhos

[ANTT2] ANTT, Misc 2073, fol. 323v. – 327 v.

Teve resposta, e dela resultou motivo para lhe escrever esta segunda

[BNP4] BNP PBA 69, f. 166 v. – f. 170

Reposta de D. Feliciana

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[ANTT2] ANTT, Misc 2073, fol. 323v. – 327 v.

Versão Secundária

BNP4] BNP PBA 69, f. 166 v. – f. 170

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74 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Segunda Carta de Aranha - texto fixado

Teve resposta, e dela resultou motivo para lhe escrever esta segunda

Senhora tão obtusos tem V.M.21 os orgãos do cérebro, e tão confusa a harmonia

dos conceitos que não soube perceber a alma das minhas rezões? Assim havia de ser,

que os néscios sempre julgam como discorrem, por isso é tão confiada a ignorância.

Nunca eu presumi tanto da minha discrição, como depois que V.M. avaliou em pouco a

minha Carta; porque desdouro do meu entendimento seria deixar-se compreender do seu

juízo; que não é para contraste de entendimentos quem não sabe prezar o valor deles,

nem conhecer o fino de seus quilates, donde se sabe o grande22 desacerto de V.M. em

querer entremeter-see a23 fazer anatomia da minha carta; e se lhe nega a estimação,

queixe-se do ditame da sua inteligência, e consulte em seu fastio algum oráculo, e seja

Camões para [fol. 324] que lhe responda em um dos seus cantos: Quem não sabe Arte24,

não-na estimaf. Em fim, que o seu juízo de V.M. (se é que tem algum) é tão gótico,

como o seu nome. E assim devia ser25, porque se os nomes se puseram para significação

dos sujeitos26, não podia haver nome, que mais se ajustasse a esse rico feitio, a esse país

de Flandres, e a essa elegância de neve27.

Ora dado caso que aquela carta não fosse minha, quem lhe disse, que não tinha

resposta? (Deve de ser isto, porque as suas são como senão foram, ou porque as minhas

Cartas não pode dar cabalmente resposta.) E até28 agora não aprendeu, que a todas as

Cartas, ainda que sejam de menos porte, se respondem? Porém estas políticas que29 de

todos usadas, são de V.M. muito pouco conhecidas. Tão pouco sabe V.M. que ignora

aquilo que sabem os mais rústicos? Perdoe Deos a quem a meteu entre gente! [fol. 324

v.] Nessa destituição30 ficará sempre aos montes. Em um convento em que todas as

Religiosas são discretas, e corteses, consentirem por companheira a mesma Ignorância,

e a mesma descortesia, é lastima! Mas quando não foi feliz a necessidade? Se a dilação

que V.M. fez em escrever-me, foi solicitar quem lhe notasse a carta, era bem escusada

esta diligência, pois não sendo nenhuma das de V.M. bem entendida, certo tinha o ser

bem notada; e esta de nota assaz o qualifica por alheia; porque se V.M. a fizera, não

*havia de gastar tanto tempo para dizer parvoíces; que na casa cheia Valeg.31

Dizer V.M. que o Senhor Aranha a não ofendeu, porque obrava com seu

beneplácito, é desculpa tão ridícula como sóih32. Por que permitir uma Dama, que o seu

amante tenha outro Ídolo com quem reparta as adorações, é mais argumento da

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75 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

necessidade [fol. 325] que crédito das finezas; porque as Damas não só se agravam de

que a outra se ofereçam rendimentos, mas que se trate com cortesias. Donde disse um

discreto, que por tal lhe será a V.M. incógnito.

Que dana la cortezia

Si estâ de por medio amor.

Com tudo verosímil é, que V.M. concorresse com seu beneplácito; porque sendo

tantos os seus defeitos, senão aceitara toda a condição, veria33 nesta Aranha muito

perigosos os agrados, se é que os podia ter de outro sujeito, quem se sacrificava às

minhas prendas. Em dizer V.M. que eu competia com Sara, mais me abona do que me

desdoura; porque como a sua fermosura foi empenho da Natureza, e a minha crédito do

Ceo, por ser tão grande a semelhança, fica muito adequada a comparação: e assim se

V.M. nesta rezão me ofendeu, foi só em admitir igual beleza [fol. 325 v.] à minha,

sendo ela tão singular no Mundo; mas não me ofendeo no Apelido, louvo-lhe a

equiparação, pois que, como Sara, no fim dos nove meses daquela correspondência saía

a luz com outro siso. Que a mim me busquem como Buraco de Santiagoi, não duvido,

porque se a estes vão os Romeiros, a mim me buscam os que são nas prendas mais

peregrinos; e ser forçoso buscarem-me em morte, ou em vida, é condição que me

acredita, porque buscam a minha beleza em Vida aqueles a quem a concedem os meus

favores, e em morte os que parecem os meus desprezos. E serem nove os meses que

V.M. confessa lhe concedeo para me falar, tem particular mistério, porque nisso mostra

que como ele tinha a minha formosura por Ídolo das suas adorações, fez aquela Novena,

assistindo todo o tempo dela em perpétuas confissões da sua vontade, se bem com elas

nunca conseguiu o pôr-se na minha graça; e essas assistências que teve minhas

conseguiu a sua importunação e não as dispensou meu agrado. Aqui verá V.M. agora,

que querendo a sua ignorância desacreditar as minhas prendas, vim eu a conseguir

nestas mesmas semelhanças os mais relevantes elogios, porque tanto é maior o número

dos pertendentes, quanto é mais agigantado o meu merecimento. Também não duvido,

que serei companheira34 da emulação, eu era a que com mais fúria atormentava a V.M.,

e veio V.M. a proferir esta sociedade pela boca da experiência. Para que aceitasse o seu

retrato eram nesta Aranha por instantes os rogos, recusava o meu gosto esta oferta,

porque não queria cousa sua, nem por sombras [fol. 326 v.], que não sou Freira como as

mais; mas como havia de aceitar o retrato, quem abominava o original? Vendo-me

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76 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

ultimamente importunada de tantos rogos, lho aceitei mais por compadecida, e cortês,

que por amante, como dirá uma Religiosa, que o guardava, porque eu o não queria ver,

por me dizerem que se parecia com um lacaio do Bispo; e como nesta Casa o

conservava a violência, lhe fiz dele entrega com umas luvas, e um regalito que me

mandou quando veio dessa terra, e o melhor argumento de que se cansava o meu gosto

desta correspondência foi, despedi-lo de uma grade donde me veio buscar, assistindo eu

a meu Primoj, depois de o ter desenganado, e falado com os Fidalgos que vieram as

festas, dizendo que desocupasse o Lugar, porque queria que viesse para [fol. 327] ele D.

João de la Cueva, e outro Fidalgo, que teve a fortuna de merecer à primeira vista35 as

minhas correspondências, só para que ele tivesse mais públicos os desenganos.

Tenho respondido à sua carta de V.M.; se lhe parecer comunicá-la com os

amigos, e amigas para a inteligência, não os ocupe na resposta, por que não quero gastar

tão mal o tempo lendo as cartas de V.M., por ser a comunicação dos néscios a maior

pena dos entendidos, e não quero que me suceda o que sucedeo já a um discreto, que

perguntando-se-lhe em que gastara uma tarde que tinha perdido na comunicação de um

néscio, respondeu, que toda ela estivera tirando palhas de uma albarda. Não aplico o

conto por ter em V.M. acomodação tão fácil, como própria. Já que usou mal de minha

cortesia, chore a sua desgraça; e advirta que em mim as dilações são rezão36 de estado.

De V.M. a mais invejada

Feliciana.

a Manteve-se a grafia por poder significar «assim» e «ah, sim». Há outro registo da ocorrência no exórdio da Carta da Devolução. b Manteve-se a grafia por poder significar Presente ou Futuro. c Manteve-se a grafia, já que Bluteau regista «alampada» (cf. op. cit., pg. 154, vol. III) e «lampada» (cf. pg.30, vol. V). Cf. “Critérios”. d Manteve-se a grafia por poder significar Presente ou Futuro. e Manteve-se a grafia, já que Bluteau regista «entremeterse» (cf. op. cit., pg. 206, vol. I), e «intrometer» cf. op. cit., pg. 179, vol. IV). Cf. “Critérios”. f Feliciana cita Os Lusíadas, de Luís de Camões (Canto V, Estrofe 97, versos 7-8). g No original: «Vª». A abreviatura designa commumente «Vale». Tratar-se-á de parte de uma citação popular e, por isso, facilmente identificável à época, que não foi totalmente grafada no original por esse motivo; ou de um passo menos claro que o copista não conseguiu aclarar. Esta referência valida a ligação que se estabelece entre os dois testemunhos, já que a versão secundária não apresenta também uma lição mais completa do passo. De todo o modo, inclinamo-nos para a primeira conclusão, já que este tipo de ocorrências é frequente em cópias efectuadas a partir de copiadores: num rascunho ou numa cópia limpa de uma carta enviada, são frequentes estas omissões (veja-se ocorrência semelhante na Correspondência com Influência das Estrelas, Nº1 deste Anexo).

h Alterou-se a grafia para «sói» (no sentido de «sói dizer-se»). i Provável referência (irónica) intertextual ao poema de Tomás de Noronha «A uma freira, por quem perguntavam romeiros» (cf. BNP, Cod. 589, fol. 11).

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77 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

j Refere-se ao Conde de Vale de Reis, Nuno de Mendonça (1612-1692). 1 perda BNP4; 2 oh BNP4; 3 F. BNP4; 4 comonicão BNP4; 5 comuinicencias BNP4; 6 do BNP4; 7 o BNP4; 8 avestida BNP4; 9 cahida BNP4; 10 Santa Bulla BNP4; 11 porque a sua pouca discripção achou da nossa sociedade todo BNP4;12 defraudado BNP4; 13 em ganhar-vos BNP4; 14 F.; BNP4; 15 *esnitar BNP4; 16 desmontração BNP4; 17 aquelles Fachos de faroés BNP4; 18 conhece por documentos BNP4; 19 omite que BNP4; 20 clausula, desse ao mesmo portador BNP4; 21 omite V.M. BNP4; 22 omite grande BNP4; 23 omite entremeter-se a BNP4; 24 Quem não sabe da Arte, não a estima ANTT2; 25 devia ser para BNP4; 26 objectos BNP4; 27 omite de neve BNP4; 28 Em thé BNP4; 29 bem que BNP4; 30 *restituição BNP4; 31 cheião BNP4; 32 sua BNP4; 33 viveria BNP4; 34 de *Thasiphon no inferno da BNP4; 35 às primeiras vistas BNP4; 36 rezoens de estado BNP4 a Jogada no jogo do Hombre.

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78 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

5. Carta de Pedro de Quadros e Resposta de Feliciana de Milão

5.A. Carta de Pedro de Quadros

a) Identificação dos Testemunhos

[ANTT1] ANTT Misc Mss 1073, fol. 28-30

«Carta de Pedro de Quadros a D. Feliciana de Milão»

[BNP2] BNP, Mss 72, 1º, fol. 12-13

«Carta de Pedro de Quadros, escrita na metáfora de jogos, a Dona Feliciana Maria

de Milão, Religiosa do Mosteiro de Odivelas»

[BPE2] BPE CV 1_13, pg. 200-214

«Carta de Pedro de Quadros para D. Feliciana Freira de Odivelas pela metáfora dos

jogos de Cartas»

[BPE5] BPE, Cod. CXIV_1_7, fl.409 v.-412

«Carta de Pedro de Quadros à Senhora D. Feliciana Maria de Milão»

[BPE7] BPE, Cod. CXXX_1_18, fl.320-320v.

«Carta de Pedro de Quadros, escrita na metáfora dos jogos a D. Feliciana Maria de

Milão, Religiosa do Mosteiro de Odivelas»

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[ANTT1] ANTT Misc Mss 1073, fol. 28-30

Versões Secundárias

[BNP2] BNP, Mss 72, 1º, fol. 12-13

[BPE2] BPE CV 1_13, pg. 200-214

[BPE5] BPE, Cod. CXIV_1_7, fl.409 v.-412

[BPE7] BPE, Cod. CXXX_1_18, fl.320-320v.

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79 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

β α

x ANTT1 k θ

BNP2 BPE7 BPE5 y

BPE2

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80 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Tendo em conta a relação entre a Carta de Pedro de Quadros e a Resposta, e pelo

facto de terem ambas os mesmos testemunhos manuscritos, e após coincidências entre

os resultados da collatio, apresentamos uma única representação gráfica da relação entre

os testemunhos, bem como da explicação da relação estabelecida entre os vários

testemunhos.

Foram identificadas os seguintes loci critici:

a) Carta de Pedro de Quadros

- todas as referências a vocabulário de jogo, já que boa parte das versões manifesta

dificuldade em compreendê-las, bem como as copia erradamente; é o caso de

ocorrências como «encaixar/ encaixas», «xeque/ xoque», «descartar»/ «descartes»,

«tentos»/ «tentar»;

- hipérbatos como «mais superior no jogo», «sortes e azares»;

- a omissão de «tivera a quem pedir ajuda» e de «capote», bem como do nome do

«amigo».

b) Resposta de D. Feliciana de Milão a Pedro de Quadros

- o hipérbato inicial «o que vem a ser isto»/ «o que vem isto a ser»

- «uma dama bela»/ «uma dama bala»

- «trunfo»/ «triunfo»

- «masso e mona»/ «masso e mano»/ «masso e mono»

- «tropelias»/ «treplicas»

- o hipérbato «não páro nem topo»/ «nem topo nem páro»

- «vontade»/ «Universidade»/ «dignidade»

- a omissão de «e por isto valham» (que indica desconhecimento do jogo de cartas,

já que se refere às «figuras»)

- «tento»/ «testamento»

- «prosas»/ rosas»

- a oração «prazo lhe poderá mais grinaldas»/ «capelas», seguida de omissão.

- a omissão de «desconfiada do meu cabedal» ou a sua inclusão.

Foram consideradas duas famílias em relação a erros conjuntivos para as duas

cartas:

- a família das descendentes de β, BNP2 e BPE7. São muito próximas entre si. Quer

BNP2, quer BPE7, porém, oferecem más leituras quando se trata de vocabulário de jogo

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81 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

– aspecto essencial para a compreensão da carta. Têm como semelhanças a omissão do

nome do «amigo» e de «tivera a quem pedir ajuda», o hipérbato «mais superior no

jogo» - isto no caso da Carta de Pedro de Quadros. Quanto à Resposta de Feliciana, têm

dificuldade em compreender a maioria do vocabulário e referências eruditas, para além

do jogo.

- a família das descendentes de α, composta pelas restantes versões (ANTT1, BPE5,

BPE2), que se distinguem por apresentar lições diferentes das apontadas para a família

β. Destas se destaca BPE5, com omissões frequentes («a terça», «e as paneladas

horror», «tornemos ao jogo», entre outros), que indicam que o copista (ou a versão de

que copiou) não compreendeu o vocabulário do jogo de cartas que estrutura a carta.

BNP2 varia muito pouco sozinha, e quando ANTT1 ou BPE5 contém lições

próximas desta, fazem-no sempre com BPE7. A versão BPE5 varia em demasia

sozinha, mas não tanto como BPE2. Esta versão apresenta não só omissões mas

sobretudo numerosos e extensos acrescentos. O nível de variação de BPE2 implica uma

versão ascendente, ou pelo menos duas. Destacam-se várias omissões como «se com

todos os meus cinco sentidos»; e acrescentos frequentes como «reconheço ser o mais

subido», que desvirtua a argumentação assente no jogo de cartas.

ANTT1 varia pouco, tal como BPE7, mas apresenta melhores lições («Couro», a

identificação de «meu amigo Rui Dias de Castro» em vez da lição «meu amigo F.»), no

caso da carta de Pedro de Quadros.

Conclui-se que a melhor versão seja ANTT1, que nunca varia sozinha, apresentando

lições acompanhadas sempre pelas outras versões, bem como compreende o vocabulário

da carta.

De todo o modo, não deve descartar-se em absoluto a possibilidade de estarmos

perante duas redacções da mesma Carta; reforce-se que se trata de uma hipótese para a

qual não dispomos de suficientes dados na collatio.

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82 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta de Pedro de Quadros a D. Feliciana de Milão – texto fixado

Saiu1 o trunfo2 de3 cartas, mas eu não quero jogar com esta carta4 o trunfo por

que me aborrece um jogoa, donde os Ases roubam5, e noves entram6; o jogo da primeira

tinha eu por mais acertado, por ser esta a primeira carta que jogo; mas temo envidar o

resto, e achar-me com um frouxo7; os Piques é jogo divertido; mas eu temo jogá-los

com quem sabe fazê-los; as pintas bem se podem jogar, mas isto de enxadrezb8 não se

pode9 sofrer; melhor10 julgo a garatuza11, se as pendangasc me não deram12 enfado, e as

peneladas13 horror14; o ganaperde fora mais lícito; se não sentira igualmente ficar15 eu

de fora, que ver outros16 de dentro: nas tábolas reais temo as falhas17, e não me18

acomodo com os baratos, com que a minha inclinação é Tábula que não joga nestes

extremos; para o Xadres não sou discreto, nem [fol. 28 v.] posso ser aplicado19, porque

seguir Damas é de namorados; contender com Reis, uso de ministros; lidar com cavalos

costume20 de picadores; jogar com Piões ofício de Rapazes, esperar um choque21 é de

pacientes; e querer dar mate, só de presumidos, e eu nada disto sou22: jogos de mãos, eu

os não entendo; e com tudo determino por hoje as mãos em um jogo o mais cómodo

para dois, porque não estou23 tão renegado, que jogue com24 três, nem me tenho por tão

homem que busque o de quatro, para o quinto baralhara eu de boa vontade as cartas, se

com todos os meus 5 sentidos me atrevera a fazer25 esta, ou tivera a quem pedir ajuda,

mas isto de partir bolos é para meninos26: e ajudá-los a ganhar27 para gulosos. Nos

dados me não meto, por que temo igualmente os azares, e as sortes28, para fincar um

dado sou mui modesto, e para o dissimular29 de V.M. mui30 escrupuloza; de cartas há

de ser o jogo, e se nele vir V.M. que eu perco, por carta de mais, servir-me-á de

desculpa o conhecer-se, que em mim é tanto o de mais, como o de menos. Meu amigo

Rui Dias de Castro31 divertia a V.M. com [fol. 29] o jogo de32 suas graciosidades; e

suposto me falta a graciosidade33 para os jogos determino jogar, ainda que não consiga

divertir, e quando perca o crédito34, ganharei as lições que serão todas, as que V.M. me

quiser dar de Prima, pois o é em tudo a sua suficiência35. Vá pois de centos minha

Senhora36 já que V.M. é mão e costuma ganhar em tudo levante as cartas; porque so ás

pode levantar quem tão discretos37 ás sabe fazer; descartou-se38 V.M.; e eu trocara pelo

seu descarte as minhas compras; por que em V.M. é melhor39 o desprezado, que40 em

mim o escolhido, de todas as cartas deixa V.M. somente41 as minhas, que mal podiam42

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83 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

escapar de deixadas, sendo tão néscias; eu as tomo e me descarto, botando43 fora 344

cartas brancas, em que vai a fortuna do jogo, por que neste me há de45 sair a sorte em

branco: diga pois V.M. com que me ganha de ponto46, que é certo será47 o mais subido,

pois quem sabe subir de ponto em tudo48, terá no jogo o mais superior: 40 justos diz

V.M. que tem com eles me ganha e em tão ajustada quarentena mal posso eu49 escusar-

me à disciplina e de jejuar a fortuna ganha V.M. minha Senhora 50. São de Carta51 real, e

valem oito [fol. 29 v.] e tudo val; por que dá V.M. valor a tudo52. Jogue V.M., senão

tem mais que dizer: catorze de Reis, notável cousa, Rei sei eu que no seu jogo nunca

pode53 fazer 13 de frades, e faz V.M. sendo freira 14 de Reis? Por isso V.M. ganha em

tudo, por que em tudo sabe ganhar. 22 tem V.M.54 e um 3a, Imperial 2555: a terça do

juízo de V.M. por Imperial podia essa ser, e que V.M. ma deixasse podia eu desejar para

com ela constituir uma capela, que seria de Couro56), com que triunfasse minha

ignorância da maior suficiência; porém mal poderei eu ter, o que V.M. não pode deixar;

e não deixando V.M. de ser tão entendida, mal poderei eu ter opinião de pouco

ignorante, mas que V.M. me não deixe, nem possa deixar-me a 3a do seu juízo por

inteiro ao menos depois de satisfeitos os Legados de seu capricho me poderá deixar o

remanescente em morgado, ou capela, que seria a maior no Templo da Discrição, aonde

a minha insuficiência pudesse estar sepultada; porém afectar, o que se não pode

conseguir é delírio do juízo, e absurdo da expectação. Tornemos ao jogo57, tem V.M.

vinte, e cinco, e 3 jogadas 28 [fol. 30]; pica V.M., e58 que muito se uma grande agudeza

sempre pica; mas advirta59, que não jogamos a chegar, por que não chega a minha

fortuna a tanta galantaria; centos60 corridos jogamos, e corrido fica o meu desatento, não

é de se ver perdidoso, mas de presistir picado: vai sem idas61, e venidas porque neste

jogo são muito62 ocasionadas, e mais com V.M. que costuma jogar com muita flor; ora

dê-me V.M. mão, pois só63, quando ma der poderei ganhar, não levo figura em uma

dúzia de cartas, mas que figuras hão-de fazer cartas de dúzias: vou roubar a varalha, por

ver se posso meter nela a minha confiança64. Fará V.M. n’esta mão tudo o que quiser,

porque não tenho65 na mão cousa66 com que o impedir; jogo pois, e digo, um: não

cousa, que contar mais que destrezas67; com que V.M. ganha, e magistérios, com que

joga; isto contarei sempre, e não acabarei de contar nunca; porque o cabedal desses

conceitos passa de conta de68d contos, faltam letras ao algarismo para numerar os

acertos desse talento, conte V.M. o que tem, que so V.M. pode ser coronista de suas

prendas69, e fiel relatora70 de suas graças. Repica V.M., e eu me dou por picado, e

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84 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

picado71 do seu juízo não tenho carta, [fol. 30 v.] com que entre, com72 que V.M. me

dá73 um capote? Eu o tomo, que embuçado n’ele me não vejam envergonhado os que

neste jogo de cartas me examinarem perdido; Se V.M. quiser que eu continue o jogo,

dê-me partido conveniente, que bem me pode dar vazas empatadas, e ganhadas, pois

mais empata a sua descrição, e ás74 ganha o seu juízo sempre. Eu meto o meu na

varalha75, e confesso foi para mim o jogo de esgrima, em que V.M. com a sua destreza

me não deixou entrar em talho, e me sacudiu tais revezes, que me convém assentar a

espada, rendendo-a aos pés de V.M., como vencido, confessando que são desiguais as

minhas armas, e que ás76 não posso medir com quem tão destramente as sabe jogar. Dê-

me V.M. de barato (pois ganhou tudo no jogo) o perdão de meu atrevimento assim

como me havia dado a confiança do partido77. Deos guarde a V.M78.

Finis

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85 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

5.B. Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros

a) Identificação dos Testemunhos

[ANTT1] ANTT Misc Mss 1073, fol. 28-30

«Resposta de D. Feliciana de Milão»

[BNP2] BNP, Mss 72, 1º, fol. 13v.-14v.

«Reposta de D. Feliciana»

[BPE2] BPE CV 1_13, pg. 214-228

«Carta de D. Feliciana Freira de Odivelas em resposta da carta acima seguindo

também a metáfora dos jogos»

[BPE5] BPE, Cod. CXIV_1_7, fl.412 v.-414v.

«Resposta de D. Feliciana Maria de Milão»

[BPE7] BPE, Cod. CXXX_1_18, fl. 320-323

«Resposta de D. Feliciana Maria de Milão»

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[ANTT1] ANTT Misc Mss 1073, fol. 28-30

Versões Secundárias

[BNP2] BNP, Mss 72, 1º, fol. 13v.-14v.

[BPE2] BPE CV 1_13, pg. 214-228

[BPE5] BPE, Cod. CXIV_1_7, fl.412 v.-414v.

[BPE7] BPE, Cod. CXXX_1_18, fl. 320-323

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86 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Resposta de Feliciana de Milão a Pedro de Quadros – texto fixado

E que vem isto a ser79? Sondar-me a capacidade, ou tentar-me a tafularia? Se o

primeiro por que causa? Se o segundo a que efeito? De que lhe serve a V.M., que eu

perca nas cartas escritas, o que ganhar nas pintadas; ou quem lhe disse, porque era

uma80 Dama bala81 pode fazer peça a outra82, e se este é o seu intento de V.M.83 vá-se

atentoe com os tiros que não somos todos84 de bom85 calibre, e há de ser-lhe necessária

mais pólvora; por quem para mim é preciso o cartuxof, se para ele foi bastante o

Brenardo e ja se vê, que grande diferença há nas Regras86, mas porque dizem ser87 uma

das da cortesia88 aceitar o jogo, a quem oferece, eis-me89 na mesa, o90 faça V.M. embora

platilhosg da minha confiança. Estou da91 opinião de V.M. em não querer nada de

trunfo92, que nisto de não querer nos conformaremos sempre; não por que os ases

roubem, que93 o furtar94 é acção vil mas porque nunca consenti que se me fizesse95 três

[fol. 31 v.] val; posto que lá tem este jogo, o que quer que é de nobreza, e descrição96 em

dar mais valia as cartas de maior conta, com a primeira se não mostre V.M. tão bizarro,

já97 que98 se não mostrou assim com99 a primeira nem esta carta100 o é, que noutras101

sei eu102, que V.M. fez de maço, e mona103h, mas também a não admito, ainda sendo104

de ás, e dois, porque não pode ser bom jogo, onde se ganha105 por frouxo, os piques

reprovo em todo o caso; porque em qualquer me quebrariam106 o encantamento, e as

pintas nos não serviam de nenhum modo; quando107 o seu108 juízo de V.M. não pode

parar, nem o meu subir, por remontado um, outro109 por fraco. De110 Garatuzas nos livre

Deos, que é grande111 baixeza fazer manilha, do que outros fazem descarte; o ganaperde

tem agouro no apelido, e demais outras112 cousas, que me cansam, o quando113 às

tábolas reais me atrevera114, porque também115 se ganha116 a fugir, tem V.M. com elas

esse azar117, com que o barato sai caro. Ao xadrez me não aplico sendo divertimento de

infiéis, porque sempre me118 enfadou119 ver damas, que foram piões e piões, que

querem120 ser Damas andando de casa em casa: Jogos de mãos (respondo pela ordem121

das propostas [fol. 32]) são tropelias122, com que se esquiva o uso da rezão, que se123

talvez embaraçam a vista não ocupam124 o discurso; e ao dar espadilha125 me nega

sempre o meu capricho, porque não farei terço126, nem ao Sacristão de São Domingos,

que fala de mistérios, e quarto127 menos, porque não sigo faróis alheios, e quinto128

quando muito nos preceitos do Decálogo: dados são vedados, e129 dados só a obreiros

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87 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

e130 não admitem as minhas asas semelhantes hóstias; além de que não páro, nem topo a

nada131, e no que lhe132 podiam agradar133 a V.M., que é o passa dez, lhe ficam melhor

os centos134: vá pois de centos, e sentar-me ei135 para jogá-los136 na cadeira de prima,

que a sua vontade137 de V.M. me faz mercê138; e honra: levanto139 as cartas, e subo às de

V.M.140 nas azas da fama, ao cume da maior estimação; vejo às que me tocam, mas não

o141 descarto nem compro, porque estou contente com elas e não quero trocar, porque142

este jogo lhe esqueceo a V.M. na sua; pareceo-lhe a V.M. sem dúvida mais seguro143 o

frade do Carmo, que o recoveiro; porém isto não é do Evangelho do dia; tornemos144

aos centos; e digo que se lhe deixara cartas, sempre seriam as menos, porque jugasse

V.M. só com145 as suas. Pouco [fol. 32 v.] ponto146 são 40, mas para justos não são

poucos neste tempo: em fim tudo são figuras, valha-me147 embora148 esta quarentena

com tanto, que a outra se faça149 só na trafaria, que há muito que me desobriguei, e não

me atrevo com mais dias dizimados150; basta esta hora minguada, em que a sua151

ociosidade de V.M. quis jogar com o meu juízo à choca por lhe não suceder152 bem

jogar com a outra a petisca, como se eu ainda153 neste cadozi, em que me tem a fortuna e

o tempo154, não trouxera a minha vaidade nas peças155; muito me diverti do nosso jogo,

em que ficamos: Lembre-me Deos em bem; na quarta e melhor foi que156 na terça, que

havendo157 fazer conta de Reis poderia entender158 com o nosso159 Pedro Fernandes

Monteiro: que diz V.M.? Conto vinte e dous160, alvíssaras, passei o termo crítico; mas

parece, que ainda me não seguram, pois V.M. me manda fazer testamento161, y sin mas,

ni mas, le vino al pensamento herdarme162, porque me vio una ves: essos son

milagros163 de Baziliscosj, pues tan amigos quedamos, que me pide glorias, a minha164

quer V.M .com esta facilidade, e165 para fazer capela sacrifique166 V.M. a menos custo,

pois lhe dão o167 campo livre [fol. 33], que deidad a un, que sin templo, es Galateak:

obrigar-me168 a que deixe é contra a consciência, e tudo lhe deixarei a V.M. se não essa

esperança169; com que só serão seus pensamentos os legados em este170 caso, e em

nenhum171 consentirei, que V.M. se canse com os resíduos, quando172 para matar

desejos173 tem V.M.174 mais a mão a sua Dona Maria Prinalta, tão cantada175 nos versos,

e tão descantada176 nas prosas177, que lhe dará mais capelas178, que uma manhã de São

João em prémio sequer d’aquele discretíssimo mandato179, que V.M. lhe fez os dias

passados180, em que até o devoto soneto fez o181 papel do Santo Sudário, incitando a

lástima com as feridas abertas, visto que eu lhe não hei-de pagar o das exéquias, porque

já mais compro obras póstumas182. Ao caso183, não pico, mas toda via184, passei o

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88 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

barranco, isto185 me basta para não perder dobrado, que é o que temia mais186, se V.M.

nas doze cartas187, que supôs a sua fantasia, que por isso haviam ser as melhores, não

achou, que contar, que188 dirá desta; eu as baralho, e as deixo com licença de V.M.:

em189 lugar do capote, que V.M. supõem lhe darei um gibão190 daqueles, que corta a

fama, aos que põem mui de gala191, e não [fol. 33 v.] lhe digo a V.M., que prossiga, ou

suspenda o jogo, porque sou desconfiada do meu cabedal; V.M.192 fará, o que o seu

coração lhe ditar, que é sempre o mais seguro conselheiro, mas aquiete-se com a

esgrima, porque se é causa193 instrumental da destreza, desvios, e reparos estão194 em

uma Dama, como em sua casa, e de destro a destro já V.M.195 sabe quem vence, e pois

só quer de barato perdões196, perdão de Deos que197 não tenho a Verónica de São

Carlos, posto que tenho cousas suas. Deos guarde a V.M198. Vale

Finis.

a Jogada no jogo do Hombre. b Manteve-se a grafia pelo jogo semântico que inclui «xadrez», «enxadrez(ar)» e «encaixar». c Feliciana refere diverso vocabulário do jogo de cartas, sobretudo do Hombre (veja-se a este propósito o Cap. II da presente Dissertação). Do citado nesta carta, destaquemos: «Envidar: no jogo de primeira & em muitos outros he parar hum tanto antes de ter tomado cartas & se diz revidar despois de se terem visto.» (cf. Raphäel Bluteau, op. cit., vol. III, pg. 162). «Garatuza: Jogo de duas até quatro pessoas, de nove cartas, em que ganha quem faz cinquenta. Para ganhar se hão de seguir, e quando não se seguem com as pendengas de outo, & nove ouros, se acommodão ao que quer o jogador. Dar garatuza. Fazer todas as vazas, com cartas seguidas. He quando o jogador, que he de mão, se descarta com nove cartas, que se seguem em sua ordem, & os mais jogadores se ficão com as suas cartas na mão, sem nenhuma delas servir no jogo.» (cf. Raphäel Bluteau, op. cit., vol. III, pg. 30). «Pendanga: Carta que no jogo da garatuza se acomoda ao que querem (…). Pendangas são nove, e oito ouros, a que se dá o valor, que cada hum quer. Vulgarmente se diz de hu homem que usa de hua cousa continuamente, e para usos diversos, que he a sua pendanga.» (cf. Raphäel Bluteau, op. cit., vol. VI, pg. 387). «Paneladas: Aquilo que uma panela pode conter. (…) Grande quantidade de panelas. (…) Acumulação de mucosidades nos brônquios e na laringe. Barulho, ruíd que produz o ar quando passa por essas mucosidades» (cf. António de Moraes Silva, op. cit., vol. VII, pg. 730). Ainda a este propósito, manteve-se a grafia «val» (sem ocorrências quer em Bluteau quer em Moraes) mas que pode designar «vale» (ponto de jogo) ou «valete». d Emendou-se o texto-base a partir de BPE5. e Manteve-se a grafia original por poder significar «atento» ou «a tento». f Manteve-se a grafia pelo provável jogo semântico entre «Cartuxo» (relativo à Ordem da Cartuxa) ou «Cartucho» (que se liga semântica e metaforicamente à referência à «bala»). g «Platilhos da minha confiança». Sem ocorrências nos Dicionários pesquisados. Tratar-se-à de uma metáfora cujo elemento é o “prato”, continuando a metáfora das “paneladas”, querendo talvez significar que o seu correspondente está a fazer um festim à custa da sua confiança. h De maço e mona: «Maço no jogo da primeira são sete, seis, e Ás do mesmo metal; se tem mais um cinco, chama-se Maço e Mona». in Raphael Bluteau, op. cit., Tomo V, pg. 236 i «Cadoz, Cadòz. Buraco, no jogo da pela, onde cahindo a pela não póde tornar a sahir (…). Para a pela há briga, e há Cadoz. (…). Lenitivo da dor. (…) De hum feito, que está na mão do Desembargador, ou Ministro tardo em despachar, costumamos dizer, caiu o feito no cadoz.» (cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. II, pg. 33)

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89 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

j Considerámos relevante a citação da ocorrência de Basilisco no Vocabulário de Bluteau: «Fabuloso Rey das Serpentes. Derivase o seu nome do Grego Basileus, que vai o mesmo que Rey, & a razão de se dâr a este Rey ficticio este magestoso nome foi, porque dizem, que tem três como cristas na cabeça, cingidas de um circulo branco, a modo de coroa (…). Finalmente todo o aninal, cuja exalação em cavernas, poços, ou outros semelhantes lugares, foi causa da morte de alguns homens, como tem sucedido em Alemanha, França, & c. he geralmente tido por Basilisco. No Minho, entre as Freguezias de barcellos, a que chamão S. Salvador do Campo, segundo a tradição dos naturaes, foi Mosteiro de Freiras, que todas morrerão de ver hum Basilisco (…). A maior das peças de artilharia, com balas de 160 libras.» (cf. Raphael Bluteau, op. cit., vol. II, pgs. 59-60). Trata-se claramente de uma citação, que não nos foi possível identificar. k Citação da «Fabula de Polifemo y Galatea», de Luis de Góngora (Cf. Luis de Góngora, Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2012, pg. 246. Tradução de José Bento). Corrigido o texto-base a partir de BPE5. 1 Minha Senhora sahio BNP2, BPE7; 2 triunfo ANTT1; 3 das cartas BPE5, BPE2; 4 mas eu com esta não quero jogar o trumpho BPE2; 5 onde os azes roubão onde os azes roubão BPE2; 6 e os oitos e noves entrão BNP2, BPE7; 7 frecho BPE2; 8 encaixas BNP2, xadrez BPE5, encaixes BPE7, enxadrez BPE2; 9 podem BNP2, BPE7; 10 por melhor BPE2; 11 gavatura BNP2, garatura ANTT1, BPE5; 12 devão BPE5; 13 panelladas BNP2, BPE7; 14 omite e as penelladas horror BPE5; 15 ver-me de fora, que outros BPE5; 16 os outros BNP2, BPE7; 17 faltas BPE5; 18 e não me ANTT1, BPE5, BPE2; 19 ser a elle aplicado BPE2; 20 oficio ANTT1; 21 xaque BNP2, BPE7; 22 tudo me falta, nada disto sou BNP2, BPE7, omite e eu nada disto sou BPE2; 23 sou BPE5; 24 joguem três BPE2; 25 cartas, pois para fazer esta teria a quem pedir ajuda BPE2; 26 esta, mas isto de partir bolos, he para mininos BNP2, BPE7; 27 e ajudar a ganhá-los BNP2, BPE5, BPE7, BPE2; 28 temo igualmente as sortes, e os azares BNP2, BPE7; 29 o estimulo de VM BNP2, BPE7; 30 muito escrupulozo BNP2, BPE7, muito escrupuloza BPE2; 31 Ruy Dias BPE5, F. divertio BNP2, BPE7; 32 das BNP2, BPE5, BPE7, BPE2; 33 graça para o jogo BPE2; 34 quando procuro credito BNP2, BPE7; 35 ciência BNP2, BPE7; 36 Srª D. Feliciana e BNP2, BPE7; 37 discretamente as sabe BNP2, BPE7¸as sabem BPE2; 38 descarte-se BNP2, BPE7; 39 melhor em V.M. BNP2, BPE7; 40 do que BNP2, BPE7; 41 só BPE5; 42 podia BPE2; 43 lançando BPE5, deitando BPE2; 44 quatro BNP2, BPE7; 45 hade de BPE5; 46 fortuna do jogo, pois a sorte já a suponho me sairá em branco; diga pois V.M. o seu ponto, suposto ser que de em tudo me ganha de ponto, pois reconheço ser o mais subido; quarenta justos BPE2; 47 terá BNP2, BPE7; 48 pois sabe subir de ponto em tudo quem BPE5; 49 omite BPE5, BPE2; 50 omite minha Senhora BPE; 551 Quarta BNP2, BPE5, BPE7, BPE2; 52 porque a tudo V.M. dá valor. Jogue senão BPE2; 53 jogo não pode nunca fazer BNP2, BPE7, jogo não pode fazer BPE5, nunca pode fazer treze de frades e V.M. sendo freira faz quatorze de Reis; não poderá VM perder, pois em tudo sabe ganhar; BPE2; 54 omite V.M. BPE2; 55 omite vinte e cinco; a terça BPE5; 56 e como desta só V.M. fassa conta, não fazendo caso da de seu juizo, como mais soberana estimar a ma deixasse para com elle fazer hua capella com que triunfasse minha esperança ou minha incapacidade da minha insuficiência, sendo por V.M. dexada ainda com seos desperdícios podia conseguir os maiores intereces, ou ao menos depois de pagos os legados de seu capricho (que lhe não faltará com quem repartir o remascente de que institui da capella, pudesse eu sepultar a minha ignorancia, pois nas aras do seu talento sacrifiquo como victimas todos os meos sentidos; e tornando ao jogo BPE2; 57 omite Tornemos ao jogo BPE5; 58 mas BPE5; 59 advirta V.M. BNP2, BPE7; 60 Tantas BNP2, tentos BPE7; 61 riscos BNP2; 62 omite BNP2, BPE7; 63 de-me V.M. a mão, que só quando ma der BPE5; 64 posso matar a minha confiança nella BNP2, posso nella meter a minha confiança BPE5; 65 há BPE5, omite ANTT1; 66 omite BPE5; 67 destrezas; Digo destrezas, com BNP2, BPE7; 68 conto dos contos BPE5, de conta da contos BNP2, de conto dos contos ANTT1; 69 presistir picado, em quanto V.M., me não der mão bem sei que não poderei ganhar, e quando a receber tãobem poderá fazer o que quiser, pois me tem nella para lhe obedecer, por que em tudo sempre soube ter mão: não importa continuar que em tudo sempre soube ter mão: não importa continuar, que cada vez me vejo mais perdido; não tenho nada, digo um; pois não tenho que contar mais que seos conceitos, e perrogativas, que como são sem conto, só V.M. pode ter que contar, pois só pode ser cronista de suas prendas; BPE2; 70 relatora BNP2, BPE7; 71 repicado BPE5; 72 porque BPE5; 73 sem falta BNP2, BPE7; 74 Mantivemos a grafia por poder significar «as» ou «ás». 75 capote, eu o tomo para cobrir-me de emvergonhado, não por me ver perdido, mas por mal descartado; se quer que continue o jogo, de me partido, e sejão as vazas ganhadas, pois o seu talento mas empata; eu me meta na baralha e dou fim as cartas, nem posso animar a jogar a

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90 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

espada, pois me deixará vencida a sua destreza; rendo-a aos pés de V.M, confessando-me BPE2; 76 Cf. Nota 75; 77 assim como me deu a confiança de intenta-lo, Deos guarde a V.M., de Outubro 20 de 1672. Fim BPE2; 78 como quero. Lisboa 20 de Outubro de 1672. O seu mais fiel escravo de V.M. Pedro de Quadros BNP2, BPE7; 79 a ser isto BNP2, BPE7; 80 que por que fez a hua BNP2, BPE7; a V.M. que porque hera huma BPE5, que por que era BPE5; 81 bela BPE5, BPE2; 82 a outra pêla BNP2, BPE7, a outra BPE2; 83 omite de V.M. BPE2; 84 todas BPE2; 85 hum BNP2, BPE7; 86 há grande diferença nestas regras BNP2, BPE7, differença BPE2; 87 sem ANTT1; 88 pois dizem que é uma das de cortezia BNP2, BPE7; 89 eis me aqui BNP2, BPE7; 90 omite ANTT1, BPE5, aqui BNP2, BPE7; 91 da sua BNP2, BPE7, na BPE5; 92 nada do trunfo BNP2, BPE5, BPE2; 93 e BNP2; omite BPE7; pois BPE2; 94 furto BPE2; 95 fizessem BNP2, BPE7, BPE2; 96 omite e descrição BPE2; 97 omite já BNP2, BPE7, BPE2; 98 quando BNP2, BPE7; 99 mostrou tão bizarro na primeira BNP2, BPE7; assim com a Prima BPE5, BPE7; 100 omite carta BNP2, BPE7;101 que de outras BNP2, BPE7; que em outras BPE5; porque noutras BPE2; 102 sei eu em que V.M. BNP2, BPE7; sei, que o V.M. fez BPE2; 103 maco e mono ANTT1, masso e mano BPE5, BPE2; 104 ainda que seja BNP2, BPE7; 105 o que se ganha por froxo BNP2, BPE7; aonde se ganhou por froxo BPE5; 106 perdem qualquer me quebraria BNP2; porque em qualquer se me quebraria BPE5; 107 de nenhum modo nos servem, quando BNP2, BPE7; nunca servião de nenhum modo, quando BPE2; 108 omite BPE2; 109 e outro BNP2, BPE5, BPE7;110 omite por remontado hum, e outro por fraco BPE2; 111 omite grande BNP2, BPE7; 112 de outras BNP2, BPE7; 113 quando BNP2, e quando BPE5, BPE2; e quanto BPE7; 114 acomodara BNP2, BPE7; 115 como nelas tão bem BPE2; 116 se jogão BNP2, BPE7; 117 esse azar com ellas BPE2; 118 omite me BNP2, BPE7; 119 por ser divertimento de infieis, que sempre me enfadarão Damas BPE5; 120 queriam BPE5; 121 pela mesma ordem ANTT1, BPE5, BPE2; 122 treplicas BPE5; 123 omite se BPE2; 124 se não ocupam BNP2, ocupão BPE5, o ocupam BPE2; 125 o dar espadilha BNP2; e ao da topadilha ANTT1, e toda Espadilha BPE5; o da Espadilha BPE7;126 três BPE5; 127 de mistério. Quanto BNP2; misterios, e quatro BPE5, de mistério. Quarto BPE7; 128 omite quinto BPE5, BPE2; 129 e se BNP2, e só só BPE7; 130 que BPE5; 131 de que nem tópo nem páro a nada BNP2; do que nem topo, nem paro a nada BPE5; do que nem paro nem topo a nada BPE2; 132 omite BPE5; 133 contentar BNP2, BPE7; 134 no passados lhe devem agradar mais os centos, BNP2; o *patadés lhe ficam melhor os contos ANTT1; passadez, lhe ficam melhor os centos BPE5; passadês lhe devem agradar mais os centos BPE7; passa des lhe ficam melhor os centos BPE2; 135 e BNP2; 136 julgá-los ANTT1; 137 de que a sua Universidade BNP2, de que uma vontade BPE5, de que a sua Universidade BPE7, de que a sua dignidade BPE2; 138 omite mercê e BPE5, BPE2; 139 e levantando BPE5, levantando BPE2; 140 cartas, as suas de V.M. BNP2, cartas subo as mãos de V.M. BPE5, cartas, as suas de V.M. BPE7, cartas; subo as de V.M. BPE2; 141 me BNP2, BPE5, BPE7, BPE2; 142 omite BNP2, BPE2; que BPE5, BPE2; 143 sem duvida que lhe pareceo mais seguro para fialas ao Frade que ao recoveiro BNP2, pareseo-lhe a V.M. mais seguro o frade do Carmo que o recoveiro sem duvida BPE5; sem duvida que lhe mais seguro para fialas ao Frade que ao recoveiro BPE7; pareceo-lhe a V.M. mais seguro o frade do Carmo, do que o recoveiro sem duvida BPE2; 144 torno-me BNP2, BPE7; 145 porque jogasse so com as suas BNP2; porque jogasse porque V.M. se joga-se com as suas BPE5, jugade V.M. só com as suas BPE2; 146 poucos pontos BNP2, BPE5, BPE7; 147 figuras, e por isto valhão BNP2, BPE7; 148 seja embora BPE7; 149 fassão na trafaria BNP2, fação na trafaria BPE7; 150 e não quero mais dias dizimados; bastame esta hora dizimada BNP2, BPE7; 151 omite sua BPE2; 152 por que lhe sucedo mal, jogando com outro á Petisca BNP2, BPE7; 153 omite ainda BPE2; 154 omite em que me tem a Fortuna e o tempo BPE5; 155 pelles BNP2, pelas BPE5, BPE7, BPE2; 156 fora na terça BNP2, BPE7, foi que na terça BPE2; 157 havendo de BNP2, BPE5, BPE7, BPE2; 158 estender BPE5, BPE2; 159 com nosco BNP2, BPE7; como o nosso BPE2; 160 Monteiro. Em resolução, ponto vinte e dois BNP2, BPE7; Monteiro. Que dis V.M. vinte e dous, BPE2; 161 tento BPE5; 162 pensamiento a vuestra Merce heradarme; so BNP2, pensamiento a vuestra Merce heradarme só BPE7; 163 essos si que son milagros BNP2, BPE7; 164 a minha terça querelhe BNP2, a minha terça quer BPE7; 165 omite e BNP2, BPE5, BPE7; 166 fazer uma capela? Sacrifique V.M. BNP2, BPE7; fazer capela, sacrifique V.M. BPE5; fazer capela sacra fica V.M. BPE2; 167 pois tem esse BNP2, BPE7; 168 Deydad aunque sin Templo es Galatèa). Veja que obrigar-me BNP2, BPE7; Deydad sin Templo es Galatea: obrigar-me BPE5; Deidad que sin templo es Gallatea: obrigar-me BPE2; 169 tudo eu deixarei a V.M. senão esperanças BNP2; tudo eu lhe deixarei a V.M. senão essa esperança BPE5; tudo eu deixarei a V.M. senão esperança BPE7; tudo eu lhe eu deixarei eu a V.M. senão essa esperança BPE2;170 com o que serão os seus pensamentos os legados neste BNP2, com que se seráo seus pensamentos os legados e neste BPE5, com que o que só serão os seus pensamentos os Legados nesse BPE7; 171 com que nenhum consentirei BNP2; em nenhum consentirei BPE5; e em nenhum consentireis BPE2; 172 residuos por minha conta, BNP2, BPE7; 173 dezejos de capelanias BNP2,

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91 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

BPE7; 174 omite V.M. BPE2; 175 decantada BPE2; 176 discantada BPE2; 177 rosas BNP2; 178 que à face do Prazo lhe porá mais grinaldas BNP2, que à face do Prazo lhe porá mais grinalda BPE7; 179 discretissimo Sermão do Mandado BNP2, BPE7; 180 omite os dias passados BPE5; 181 omite o BNP2, BPE7, BPE2; 182 omite visto que eu lhe não heyde pagar ó das exequias, porque já mais compro obras posthumas BNP2, BPE7; 183 Santo caso BNP2; 184 pequei, por mais que V.M. diga, mas todavia BNP2, piquei , por mais que V.M. diga, mas todavia BPE7, pico, mas já todavia BPE2; 185 e isso BNP2, BPE2, e isto BPE5; 186 perco que mais temia; e BNP2; que era o que mais temia; e BPE7; 187 V.M, não achou que contar em doze cartas, BNP2, BPE7; 188 e por isso deviam de ser as melhores), que diria das outras, ou que dirá BNP2, BPE7; 189 e em BNP2, BPE7; 190 de capote com que V.M. quer disfarçar modestamente o seu juizo, lhe darei um gabão BNP2, BPE7;191 os que nesta mais de gela BNP2, veste mui de gala BPE7; aqueles que põem mais de gala BPE2; 192 digo que suspenda, ou prossiga o jogo; V.M. BNP2, BPE7; 193 cousa BPE5, BPE2; 194 conselheiro só lhe advirto que se aquiete com a Esgrima, porque se desvios, e reparos são cousa instrumental de destreza, estão BNP2, BPE7; 195 com o que de destro, para V.M. BNP2, BPE7; 196 e se só quer perdoar de barato, perdão BNP2, e se sí quer perdões de barato, perdão BPE7; 197 que eu BNP2, BPE7; 198 omite Deos guarde a V.M. BPE5; em dia seguinte ao em que me derão a sua carta de V.M., na era dos Terremotos. A mesma a quem V.M. escreveo, que para el siglo que corre es prometo que no es poco. BNP2; em dia seguinte ao em que me derão a sua carta de V.M., na era dos Terremotos. A mesma a quem V.M. escreveo, que para el siglo que corre se prometo que no es poco. BPE7, na era dos Terremotos no dia seguinte ao em que me derão a sua carta. Vale BPE2 a Emendou-se o texto-base a partir da lição «tem» de BA4, ANTT1, ANTT2, BGUC5, BGUC8, BL1, BNP1, BNP16, BNP4, BNP8, BPE2, BNP18.

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92 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

6. Carta da Deposição

a) Identificação dos Testemunhos

Versões Manuscritas

[ACL1] ACL Ms. 383 Azul, fol. 280-282

«Carta em que uma Dama assistente na Corte manda novas dela a outra que vive

distante»

[ANTT1] ANTT, Misc. Mss. 1073, fol. 34-35 v.

«Carta que se mandou a um amigo»

[ANTT2] ANTT, Misc. Mss. 2073, fol. 316-318

«Carta 11 Em que D. Feliciana dá novas da Corte a uma Amiga.»

[ANTT3] ANTT Mf. 1369 [Ms. Livraria 1071], fol. 38-44

«Carta de D. Feliciana para D. Maria das Saudades escrita em 10 de Janeiro de 1668»

[BA4] BA, Cod. 51-XII-27, pgs. 178-182

[sem título]

[BGUC5] BGUC 602, fol. 50-50 v.

[sem título]

[BGUC8] BGUC Misc. Ms. 146, fols. 241-245

[sem título]

[BL1] BL, Add. Ms. 15194, fol. 191 v.-192

«Carta de D. Feliciana para D. Maria das Saudades escrita em 10 de Janeiro de 1668»

[BNP1] BNP, Mss, 35, 11º, fol. 1-3v.

«Carta de D. Feliciana a uma amiga quando a Rainha se separou de El Rei D. Afonso»

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93 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

[BNP2A] BNP, Mss 72, 1º, fol 8-8v.

«Carta de D. Feliciana Maria de Milão Religiosa do Mosteiro de Odivelas, em que dá

novas da corte a D. Maria das Saudades Freira no Mosteiro de Via Longa, que lhas lhe

mandou pedir»

[BNP2B] BNP, Mss 72, 1º, fol 1-21

«Copia de uma carta que escrivio Dona Feliciana Religioza del Combento de Odivelas a

una Amiga suya - hecha en Marzo de 1668»

[BNP4] BNP, PBA 69, fol. 194-196

«Carta de D. Feliciana dando novas da corte a uma Amiga»

[BNP8] BNP, Cod. 510, fol. 82 v.

«Carta de D. Feliciana a uma amiga sua, dando-lhe novas da Corte no Ano de 1668»

[BNP16] BNP, Cod. 12932, fol. 54-54 v.

«Carta Política que um Amigo mandou a Outro estando ausente da corte de Lisboa»

[BPE2] BPE, CV 1-13, pgs. 228-235

«Carta de D. Feliciana Freira de Odivelas para uma amiga contando-lhe como a Rainha

foi para a Esperança e descasada de El-rei D. Afonso casou com El-rei D. Pedro II de

Portugal»

[BSG1] BSG, Mss Portugais 651, fol. 121-124

[sem título]

Versões Impressas2

[BNP18] BR. 6186. Anti-catastrophe. História verdadeira da vida e dos succesos d’El-

Rey D. Affonso 6º de Portugal e Algarves. Escripta em Lingoa Hespanhola por um

1 Em BNP2 encontram-se duas versões da Carta da Deposição. Para conveniência numerámos o manuscrito que se encontra em Português como BNP2A, e o presente manuscrito que se encontra em Castelhano como BNP2B. 2 Há vários testemunhos de versões impressas, mas nenhuma apresenta a totalidade da carta, com excepção da apontada.

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94 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Official das tropas de Portugal, que o acompanhou na sua fortuna e na sua desgraça.

Tradusida em Portuguez o mais fielmente que possivel foi. Porto, Typ. Rua Formosa,

1845, pg. 696-698

b) Relação de Testemunhos

Texto Base

[BNP2A] BNP Mss 72, 1º, fol 8-8v.

Versões Secundárias Manuscritas

[ACL1] ACL Ms. 383 Azul, fol. 280-282

[ANTT1] ANTT, Misc. Mss. 1073, fol. 34-35 v.

[ANTT2] ANTT, Misc. Mss. 2073, fol. 316-318

[ANTT3] ANTT Mf. 1369 [Ms. Livraria Nº 1071], fol. 38-44

[BA4] BA, Cod. 51-XII-27, pgs. 178-182

[BGUC5] BGUC 602, fol. 50-50 v.

[BGUC8] BGUC Misc. Ms. 146, fols. 241-245

[BL1] BL, Add. Ms. 15194, fol. 191 v.-192

[BNP1] BNP, Mss, 35, 11º, fol. 1-3v.

[BNP16] BNP, Cod. 12932, fol. 54-54 v.

[BNP2A] BNP, Mss 72, 1º, fol 8-8v.

[BNP2B] BNP, Mss 72, 1º, fol 1-23

[BNP4] BNP, PBA 69, fol. 194-196

[BNP8] BNP, Cod. 510, fol. 82 v.

[BPE2] BPE, CV 1-13, pgs. 228-235

[BSG1] BSG, Mss Portugais 651, fol. 121-124

Versões Secundárias Impressas4

3 Em BNP2 encontram-se duas versões da Carta da Deposição. Para conveniência numerámos o manuscrito que se encontra em Português como BNP2A, e o presente manuscrito que se encontra em Castelhano como BNP2B.

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95 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

[BNP18] BR. 6186. Anti-catastrophe. História verdadeira da vida e dos succesos d’El-

Rey D. Affonso 6º de Portugal e Algarves. Escripta em Lingoa Hespanhola por um

Official das tropas de Portugal, que o acompanhou na sua fortuna e na sua desgraça.

Tradusida em Portuguez o mais fielmente que possivel foi. Porto, Typ. Rua Formosa,

1845, pg. 696-698

4 Há vários testemunhos de versões impressas, mas nenhuma apresenta a totalidade da carta, com excepção da apontada.

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96 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

k

k ’

BPE2 BNP2B

w

y

BNP1 ANTT1 y’

BNP16

[ O]

z θ

σ β BNP2A

BNP8

ANTT2 α ’ BL1 ACL1 ANTT3

BSG1 BGUC8 BNP18

BA4

α BGUC2

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97 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Trata-se da carta de que dispomos de maior número de testemunhos. A sua

intensa circulação pode deduzir-se pela quantidade de testemunhos (que permitem

deduzir a existência de muitos outros à época), mas também da sua dispersão geográfica

(na medida em que isso pode ser, com as muito sublinhadas reservas, parcialmente

identificável através da actual situação geográfica dos códices); sublinhe-se ainda que se

trata da carta que teve uma mais larga continuidade de reprodução, ou seja, daquela que

foi tendo, desde a sua produção até ao momento presente, uma transmissão sucessiva ao

longo do tempo (veja-se a “Descrição Codicológica” em relação a estes testemunhos; ou

seja, há reproduções manuscritas desde o século XVII até meados do século XVIII, bem

como um significativo número de testemunhos impressos posteriores).

Reforce-se o que já afirmámos na “Apresentação”, quanto às nossas reservas

quanto à representação gráfica das relações entre os testemunhos. Decidimos levar a

cabo algumas intervenções no texto-base, já que as relações que se estabelecem entre os

testemunhos são, neste caso, menos lineares e sistemáticas, o que parece ser clara

indicação de intensa reprodução, por um lado, e de diversos tipos de contaminação;

neste caso, sobretudo de uma contaminação motivada, no que definimos como variantes

de sobrevivência. Queremos com isto reafirmar os consabidos limites que uma

representação estemática oferece, reforçada aqui pela presença de testemunhos

contaminados44. Porém, por outro lado, a maior dificuldade de encontrar num «melhor

manuscrito» as características de coerência de sentido e de uniformidade e integridade

que procurava Bédier45. Cremos que fica assim clara a necessidade de intervenção no

texto-base, bem como o processo utilizado, ou seja, o recurso às versões da tradição

mais próximas da versão-base para iluminar passos contaminados ou menos claros que

aquela possa apresentar.

Para a determinação do texto-base, procurou-se definir duas famíliass (θ e z) a

partir dos seguintes erros46:

44 James Thorpe, op. cit., pgs. 116-119. 45 Idem, ibidem, pgs. 114-115. 46 Estas variantes apresentam duas ou mesmo três lições diferentes nas versões indicadas. Reforce-se que correspondem a passos importantes no texto, em que Feliciana de Milão sugere a sua opinião (veja-se Dissertação, Cap. III).

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98 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

- «se lhe tinha assegurado com tantos arcos triunfais» contra «se lhe tinha segurado

com tantos arcos triunfais». A lição «assegurado» permite e inclui a lição

«segurado», para além de alargar o seu significado semântico, permitindo um «jogar

de vocábulo» característico de Feliciana de Milão.

- «em forma de Cortes portáteis os tribunais», opondo-se a «em forma de Cortes os

tribunais», «em forma de Cortes cortes», ou ainda «em forma de Cortes» (omitindo

«Tribunais»). O passo é muito relevante para descrever a situação insólita de parte

dos constituintes das Cortes, que se deslocaram ao Palácio no momento do golpe de

D. Pedro II (veja-se Dissertação, Cap. III).

- «o primeiro deste cargo» opondo-se a «o primeiro deste ofício». O passo refere-se

ao Vigário do Cabido da Sé. Não é de somenos sublinhar que «ofício» significa um

cargo religioso, e que também indica profissão, procurando Feliciana ironizá-lo. A

escolha semântica torna-se ainda mais relevante quando se tem em conta de que foi

o Vigário do Cabido e não o Bispo a subscrever a decisão da anulação do

matrimónio entre D. Afonso e D. Maria Francisca.

- «ventagem», opondo-se a «aplauso», opondo-se a «louvor».

É assim possível distinguir a família θ da família z, sendo os descendentes de θ os

mais próximos do original. Daqui foi escolhido o texto-base [BNP2A], que apresenta

erros conjuntivos mínimos em relação a BGUC8, BNP 18, BSG1, BA4. A este

propósito, o cotejo revelou semelhanças praticamente totais entre estas versões da

Carta, que se encontram apensas à Anti-Catástrofe, o que indica um processo de

circulação diferente dos outros manuscritos. Referimo-nos às versões BGUC8, BNP18,

BSG1, BA4 – aliás, as mais próximas do texto-base. Este facto poderá comprovar a

selecção do texto-base [BNP2, BNP 72, 1º]; e, até, indicar claramente que os autores da

Anti-Catástrofe e da Epítome faziam parte do inner circle da rede de correspondência de

Feliciana. Este testemunho está indicado na sua descrição na BNP como sendo

proveniente do Mosteiro de Odivelas, e que aparenta poder ser um copiador, ou mais

certamente cópia efectuada a partir de um copiador. A semelhança entre as versões

BGUC8, BNP18, BSG1, e esta, poderá então indicar que as quatro versões partilham

um antecedente comum, muito provavelmente emitido em Odivelas.

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99 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Uma nota ainda para algumas variantes que constituem um caso particular na sub-

família δ47 onde pode encontrar-se a versão BGUC5. Algumas destas variantes podem

constituir-se como variantes de substituição, como procurámos demonstrar na

Dissertação48. São variantes intencionais, já que a omissão de determinadas palavras

implica uma leitura diversa da narração, e por conseguinte, da opinião da narradora.

Destaquemos, entre muitas ocorrências: a substituição de «concerto» por «contrato» (o

que significiaria uma admissão de aceitação da solução da deposição), a omissão de

«aqui» referindo-se às notícias que chegam ao Mosteiro, ou do «tirar doutrina» das

«novidades». São, na maioria dos casos, lições que retiram peso argumentativo à

narração, ou alteram a intenção da carta.

As versões seguintes apresentam outros erros separativos em relação às restantes,

nomeadamente:

- Versão BNP16

Descontextualiza remetente e destinatário («carta de um amigo a outro»; inicia «meu

amigo». Apresenta acrescentos espúrios, únicos («cá de longe», bem como a

despedida).

- Versão BPE2

Trocas frequentes, algumas resultantes de hipérbatos («mandarvoshei»; «Príncipe») ,

desacompanhadas ou apenas com um testemunho.

- Versão BNP1

Rasuras frequentes (omite «amiga»; «é só»). O que indica que ou o copista não deteria,

muito possivelmente, uma versão em bom estado, ou então alterou passos do

manuscrito, a saber: “cortes portáteis” (omite «portateis»; oferece a lição

«triumphantes», descontextualizante). É assim possível serem consideradas como

variantes intencionais.

- Versão BNP2

Em Castelhano e com alguns cortes (sobretudo na primeira página da carta).

- Versão BNP8

Encontra-se incompleta. Reforce-se que o códice onde se encontra esta versão não foi

cortado.

47 Já igualmente referidas na Dissertação, Conclusão. 48 Veja-se Dissertação, cap. II.

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100 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Uma referência final ao facto de, apesar das dezassete versões desta Carta, e

apesar do número de erros separativos, as variantes substantivas não serem tão

abundantes como seria expectável, em termos de acrescentos e supressões, como

encontramos noutras cartas de larga circulação, como na Carta da Devolução, o que

muito provavelmente indica uma reprodução motivada e controlada pela emissora.

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101 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta da Deposição – texto fixado

Carta de D. Feliciana Maria de Milão Religiosa do Mosteiro de Odivelas, em

que dá novas da corte a Dona Maria das Saudades, Freira no Mosteiro de Via Longa,

que lhas lhe mandou pedir

Estou pelo concerto1, amiga2, vá de novas, mandai-me3 as dessa terra escrever-

vos4 hei as desta; ainda que chegam aqui5 tão desfiguradas as da corte6, que nem as de

maior peso tem7a feitio para se apresentarem diante do vosso acatamento8. Eu

primeiramente que9 também sou um retalho10 do mundo, e11 começo pelo que me fica

mais perto12, ando com muita13 má saúde mas em quanto ando não ouso14 a queixar-me

por que15 não16 é grande o mal que me deixa dar passos em vosso serviço. O tempo

também17 vai terrível porque desprezando-seb de18 veranico se passou de repente19 a

invernoso20, e não é21 aguardá-loc, quando até aos Reis derruba22. Não faltam por cá23

novidades de que colher doutrina24 que é so25 o que se colhe destas novidades26; e foi a

primeira entrar27 a Rainha na Esperança aonde28 cuido que lhe falou a alma de Francisco

Nunesd, aquele surgião que tudo soube senão calar29 o que entendia30, quando todos os

que entendiam31, calavam; e32 certo que nos tem edificado o escrúpulo estrangeiro, por

que só em um33 Reino34 cristianíssimo se acharia quem não aceitaria35 o36 ser Rainha

sem37 todos os sacramentos. Escreveo uma carta a seu marido, dando-se por38 mal

servida deste nome39, e despedindo-se do que se lhe havia assegurado40,41 com tantos

arcos triunfais42; e vendo S. Majestade que se acabava sem43 esta Senhora a sua casa

intentou tomá-la por44 aposentadoria pondo-lhe um45 Rei à porta. Porém como a46

Senhora Madama Maria estava ali47 como umas Páscoas, escusou-se ao48 trabalho e fez-

se guardar como preceito da igreja. Acudiu logo o Senhor Infante49 a compor50 o

negócio e fê-lo51 como para si; e o vigário geral andou como vigário52, e foi o primeiro

daquele ofício53 que teve jurisdição nos54 direitos reais55.

Foram juntos a Palácio em forma de Cortese portáteis56 os tribunais (que nesta

era tudo anda57) e fizeram que Sua Majestade renunciasse o benefício, por que era

simples, e devia ser curado, e Sua Alteza se colou58f logo nele por que tem59 per si os

cabidos e se havia posto60 para esta festa de vinte e quatrog. Andaram muito bem os61

Portugueses nesta eleição62, dando por votos o Império, por que não tendo Sua

Majestade motu proprio, deviam fazer63 um Rei de potência, que lhes guardasse

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102 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

justiça64. Também ouvi que como65 mau jogador de66 Homem, se queria67 El Rei fazer

depois de haver passado68 mas como69 havia de fora quem julgasse as mãos, e o Infante

se achava70 com matadoresh71, não lho consentiam72, nem eu73 louvo a quem lhe deo tal

conselho, por que não74 deve ninguém defender75 o pião alheo76, e mais77 quando em

Lisboa78 não são tão fáceis79 os milagres como em Santarémi e [fol. 8 v.] lhe podem

aparecer aquelas almas que dizem ser80 umas más pessoas81.

Tambem me contaram que mandaram82 Sua Majestade para a Batalha, e jurarei83

que saiu esta resolução do Conselho da Guerra84, aonde85 costumam despachar para

ela86 aos que tem87 por incapazes da peleja. Quanto a mim, querem-no88 livrar do

olhado, e cercam-no89 de azevichesj por lhe90 meterem91 as figas nos olhos; e como

todos seus bens foram móveis, se ficou o paço92 a93 portas fechadas; porque logo que

confessou sua Inocência, o veneram94 como Relíquia, e o95 guardam96 em custódia97; e

foi o primeiro homem que se condenou98 por não ter parte no pecado original.

Aqui andam cartas da Rainha99, em que pede lhe apressem a sentença de

Divórcio100; e sendo esta a melhor jóia desta coroa, sem dúvida passará101 com ela ao

Senhor Infante, que começa a governar com inveja de Numa102 e de Trajano, esperamos

que vivendo os anos de Nestor103, nos livre de Sebastianistas104, que será a maior

ventagemk105.

Deos no livre106 e guarde e a vós de uma gazeta destas107. Odivelas, 29 de

Novembro de 1667108.

Muito vossa de coração, F.109

a Emendou-se o texto-base a partir da lição «tem» de BA4, ANTT1, ANTT2, BGUC5, BGUC8, BL1, BNP1, BNP16, BNP4, BNP8, BPE2, BNP18. b Emendou-se o texto-base a partir da lição «desprezando-se» de BNP1, ANTT2, ANTT1, BNP16, BNP2B, BNP8, BPE2, BSG1, BNP18. c Manteve-se a grafia por poder significar «aguardar» ou «a guardar». d Francisco Nunes foi, com António da Mata, um dos dois médicos a quem a Rainha D. Maria Francisca, à época recém-chegada e casada, pediu um parecer sobre o Rei, movida por Cadaval, Gouveia e Odemira; os dois médicos afirmaram que o Rei era «mentecapto e impotente». António da Mata conseguiu fugir, mas Francisco Nunes foi morto (cf. Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, op. cit., pg. 98). e Mancha de tinta no suporte. f A versão BNP8, incompleta, termina aqui. g A Casa dos Vinte e Quatro era um órgão deliberativo dos municípios, que recebe esse nome por pretender representar (e ter jurisdição sobre) todos os ofícios, com dois representantes de cada. Veja-se a este propósito José Mattoso (dir.), História de Portugal, op. cit., pgs. 282-292. h Feliciana utiliza a “metáfora do jogos de cartas”, neste caso do Hombre, como já fizera na Carta da Devolução e na Resposta a Pedro de Quadros. Os Matadores são as cartas mais altas no jogo de Hombre: o Ás de Espadas, chamado a Espadilha, que irá desenvolver uma das variantes do próprio jogo; Manilha, composta a partir das cartas mais baixas indicadas acima, ou seja, o 2 preto (isto é, de paus ou de espadas); e o 7 vermelho (copas e ouros); e ainda o Basto, o Ás de paus.

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103 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

i Feliciana refere o milagre de Nossa Senhora da Piedade de Santarém, que teve lugar a 23 de Junho de 1663, segundo a descrição de António de Sousa de Macedo (D. Afonso VI¸ op. cit., pg. 133-134): «No mesmo dia chegou a Lisboa a nova do Milagre de Nossa Senhora da Piedade de Santarém que fez uma Imagem desta Invicação de barro que está naquela Vila a porta que chamão de Leiria. Ajuntando-se na tal Ermida da Senhora algumas pessoas a pedir alcançasse de seu filho encimento ao nosso Exército, e a quietação ao Reino, virão que a Senhora abaixara de modo a cabeça e a Imagem de Cristo morto que tinha nos braços também de barro alevantara a sua em tal proporção que cabendo entre uma e outra a medida de um grão de palmo depois desta maravilha escassamente podia penetrar um dedo. Fez-se autêntico o Milagre, e repetindo depois o povo as orações e clamores, levantou a Imagem do Senhor o braço direito. Cresceu a devoção, e a maravilha: porque tornando a instar a gente, e a dar graças à Senhora, pela mercê que lhe fazia se viu que a Senhora, tirando os olhos da Imagem de seu preciozo filho onde parecia os tinha postos, olhara para o povo com atenção, e logo os tornara a virar para o mesmo lugar a que antes mostrava interessá-los. Sucedeu este milagre à vista de todo o povo que estava na Igreja e do Vigairo Geral da Villa que se achava junto ao Altar conjecturando-se que ou a Virgem pedia ao seu bento filho confirmação dos favores que fazia a Portugal, ou intercedia para que não continuassem os castigos antecedentes.» O milagre descrito, já apenso às conclusões que o colocam como sinal de apoio divino à guerra com Espanha, é satirizado por Feliciana; ao referir «milagre fácil» quer sugerir milagre encomendado. j «Azeviche. Pedra mineral, negra, luzidia, leve & fragil. (…) O perfume do Azeviche afugenta os Demonios, e trazido desata, & desfaz o quebranto, ligaduras, encantamentos, & todas as fantasmas tristes, & melancolicas.» (cf. Raphaël Bluteau, op. cit., vol. I, pg. 694). No contexto da carta, poderá designar o que refere a citação acima, ou seja, que «cercão» o rei de pedras de azeviche, como se estivesse possesso, como se o pretendessem proteger dele mesmo. k Manteve-se a grafia, já que Bluteau apresenta as duas grafias (ventagem e vantaje – cf. op. cit., pgs. 401, tomo VIII, pgs. 360, tomo VIII, respectivamente). 1 Meu amigo estou pello concerto va de novas BNP16, pelo contrato BPE2, BGUC5; 2 omite BNP1; 3 Mande BNP8; 4 mandarvos hey ANTT2, BPE2, BNP4, BGUC5; 5 omite aqui BGUC5, aqui chegam BPE2; 6 as da Corte tão desfiguradas que nem ainda BPE2, omite as da Corte BNP2B, BGUC5; 7 sem BNP2A, BSG1, tem BA4, ANTT1, ANTT2, BGUC5, BGUC8, BL1, BNP1, BNP16, BNP4, BNP8, BPE2, BNP18; 8 omite ainda que chegão aqui tão desfiguradas as da corte, que nem as de maior peso tem feitio para se apresentarem diante do vosso acatamento ACL1; 9 omite que BNP2B; 10 omite um BNP2B, BNP8, BPE2, BNP4, BGUC5, ACL1; 11 omite e BNP1, BPE2; a ANTT1; 12 perto/ ANTT2, cá de longe pelo que me fica mais perto BNP16; 13 muita. BNP1, mui BNP16, BNP8, BSG1, muj BNP2B, muito ANTT2, ANTT1; 14 quero ANTT2; 15 omite por que BPE2; 16 nem BPE2; 17 omite também ANTT2, BNP4, BGUC5; 18 desprezando-se [↑*a] BNP2A, desprezando-se de BNP1, ANTT2, ANTT1, BNP16, BNP2B, BNP8, BPE2, BSG1, BNP18, desrezando-se despertando-se BGUC5, despojando-se ACL1; 19 prezente ANTT1, BNP16, ceguinte ANTT3; 20 invernalho ANTT2, BNP4, Invernaco ANTT1, Invernaço BNP16, Invernasso BPE2, inverno BGUC5, ANTT3, invernado ACL1; 21 ouzo BNP1, há BNP18; 22 derriba ANTT2, BNP1, BNP16, BNP2B, BNP8, BPE2, BNP4, BL1, ANTT3; 23 aqui BNP16, lá ANTT3; 24 doutrinas ANTT1, BNP16, doutrina/ ANTT2; 25 omite ANTT1, BNP16; 26 omite destas nouidades BNP1, omite de que colher doutrina que é só o que se colhe destas novidades BGUC5; 27 enterrar-se ANTT1, entrar-se ANTT2, BNP16, BPE2, BNP4, BL1, ANTT3, BGUC8; 28 onde BNP1, ACL1, e aonde BNP16, donde BNP2B, adonde BGUC5; 29 o callar ANTT2; 30 sabia ANTT1; 31 se entendiam BNP1; 32 omite e BNP1, hé certo BSG1, BA4, é certo BNP18, tam certo BGUC8; 33 nenhum reino ANTT3; 34 Reigno estrangeiro tam Christianissimo BNP16, Reino tão Christianissimo BNP1; 35 não aceitasse BNP1, ANTT2, ANTT1, BNP16, BNP8, BPE2, BSG1, BNP18, BA4, quem aceitasse BGUC5; 36 de BNP1; 37 com BNP2A, BGUC8; 38 por muy BNP1;39 omite deste nome ACL1; 40 segurado BNP2A, BNP1, BNP8, BPE2, BSG1, BL1, ANTT3, BGUC8, omite havia BGUC5; 41 omite e despedindo-se do que se lhe havia segurado ANTT1; 42 BNP1, ACL1; 43 com BPE2, BGUC5, que se lhe acabava sua casa sem esta senhora BNP1, sem esta senhora se lhe acabava a sua casa BNP4; 44 de ANTT1, BNP16; 45 o rei ACL1; 46 a A BNP1; 47 assim BPE2, BGUC8; 48 do BNP1; 49 Principe BPE2; 50 a cumprir BGUC8; 51 fallou BNP16; 52 hum vigario ANTT2, BNP4, omite andou como vigário ACL1; 53 cargoANTT2, BNP4, BL1, ACL1, ANTT3, deste ofício BGUC5; 54 sobre os ACL1; 55 Reys BSG1; 56 omite portateis BNP1, portatil de Contas BNP16, portatil de Cortes ANTT1, de Cortes todos os Tribunaes BPE2, de cortes cortes los tribunales BNP2B, em forma portáteis BNP4; 57 omite era, em tudo nada BNP1, terra ANTT1, BNP2B, BGUC5, hora BPE2; 58 calou BNP8, BGUC8, colocou BSG1. 59 tinha BNP1, BPE2A, teve ANTT2,

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104 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

ANTT1, BNP2B, BSG1, BNP18, BA4; 60 e se poz para ANTT2; 61 Vinte quatro, para este efeito; andaram BGUC5; de vinte e quatro para esta festa e andaram ACL1, Andarão muytos Portuguezes ANTT2, BNP4; 62 occazião ANTT2, BNP2B, BNP1, BNP4, BL1, BGUC5, ACL1, ANTT3; 63 fazer a BNP1; 64 a Justiça ANTT2; 65 omite como ANTT2; 66 do BNP1; 67 se quis BPE2; 68 trepassado BNP1, ter passado ANTT2; 69 omite como ANTT1; 70 achasse ANTT2, BPE2; 71 os matadores BNP1, ANTT1, BNP16, BPE2, BL1, BGUC5, ACL1, ANTT3, BGUC8, BA4;72 consentirão BNP1873 não *lovo BNP174 omite não BPE2; 75 deve defender ninguem ANTT1; 76 opinião alhea ANTT2, BPE2. opiniãm alhea BNP16; 77 menos ANTT1, ANTT2, BNP16, BPE2, BNP5, BL1, ANTT3; 78 de Lisboa ANTT1, BNP16; 79 certos ANTT2, BNP1; 80 dizem são BNP1, ANTT2, BPE2. dizem sam de BNP16, que são ACL1; 81 pessas BSG1, BGUC8, BA4; 82 a S. BNP1, ANTT2, ANTT1, BNP2B, BPE2; 83 omite e BNP1, eu julgara BNP1; 84 por cer parte para BNP1; 85 donde BNP1; 86 omite para ella BNP1; 87 são BNP1, ANTT2, BPE2, BNP4; 88 querem BNP1, me parece que o querem ANTT2, querem livrar-lhe de mal olhado/ queren librarle de mal de ojos BNP16, BNP2B; 89 imchello BNP1; 90 por lhe não por lhe não BNP1; lhe não ANTT1, ANTT2, BNP16, BPE2, BSG1, BNP18, BA4; aqui BNP2B; 91 meterem cá ANTT2, BPE2, BL1, ANTT3; 92 no BNP1, como ANTT1, como o BNP16, BNP5, BL1, BGUV5, ACL1, ANTT3; 93 às BNP18, BA4; 94 ovenerarão BNP1, o meterão ANTT1, BNP16; 95 e como tal BNP1; 96 oguardarão BNP1, guardarão ANTT2, BPE2, guardaram ANTT1, BNP16; 97 omite em custodia BNP1, muito bem ANTT1, BNP16, BNP2A, BGUC5; 98 concomdemnou BNP1; 99 /melhor joya desta Coroa. omite em que pede lhe apressem a sentença de Divorcio ANTT2, BPE2; 100 Sentença de nulidade de matrimonio BNP1; 101 passarão della a pessoa do Senhor Infante BNP1, ao Infante ANTT1, por ser boa pessa BNP16, cazara com ela o Senhor Infante ACL1; 102 Numar BNP1; 103 Nestor, com as felicidades de Pompeyo BNP16; 104 Sebastianos BNP1; 105 omite que sera a maior ventagem ANTT2, BNP4, maior louvor BNP1, ANTT1, BNP16, BGUC5, aplauso BL1, ACL1, ANTT3; 106 no lo guarde BA4; 107 e a vós de todo o perigo BNP16; 108 1668 BSG1, † ANTT2, omite ANTT1, BL1, LX Vosso, e nãm de outrem Amigo e Criado BNP16, 10 de Janeiro de 1668 BL1, ANTT3109 Vª Vª, F. BNP1, omite ANTT1, Sempre coração mais obrigado BNP16 a Trata-se de uma alusão a Zaqueu, chefe dos publicanos de Jericó, e que, por ser baixo, subiu a uma figueira para ver Jesus Cristo. (cf. Lc 19, 1-10). Jesus viu-o e mandou-o descer, dizendo que queria ir a sua casa. Para além do nome, a alusão à história de Zaqueu reforça-se com «quando me enxergaste». A maioria dos testemunhos da carta Suposta não compreende a citação, que no Sermão de Vieira é uma segunda imagem amplificadora da metáfora de Eleazar, e que aqui é uma imagem redutora da sabedoria das mulheres, em que uma religiosa (“mana”) mestra pede opinião a uma religiosa mais nova, pequena como Zaqueu. A referência ao poema de Góngora (veja-se nota c), que refere escolas, mestras e “maroteiras”, procura reforçar a alusão.

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105 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

7. Carta Suposta e Carta da Refutação

7.A. Carta Suposta

a) Identificação dos Testemunhos [BL3] BL, Add. 20844, fols. 140-143 v. «Carta de soror Feliciana freira de Odivelas com ocasião de um sermão que pregou o

Padre Antonio Vieira»

[BNP2] BNP Mss. 72, 1º, fols. 3-5

«Carta suposta, escrita em nome de D. Feliciana Maria, Religiosa no Mosteiro de

Odivelas, sobre um Sermão do Padre Antonio Vieira, em que o satiriza, escrita a uma

sua amiga»

[BNP4] BNP PBA 69, fols. 59-63

«Carta que uma senhora escreveo a outra contra o Padre Vieira sobre alguns pontos de

um sermão que pregou no dia de anos de Sua Majestade»

[BNP7] BNP Cod. 349, fols. 131-132

«Carta que se disse ser de Dona Feliciana sobre o sermão do Padre António Vieira nos

anos da Princesa»

[BNP8] BNP Cod. 510, fols. 82-83 v.

«Carta suposta, escrita em nome de D. Feliciana Maria, Religiosa no Mosteiro de

Odivelas, sobre um Sermão do Padre Antonio Vieira»

[BNP9] BNP Cod. 589 – F. 4384, fol. 82-83 v.

«Carta satírica de Dona Feliciana contra o Sermão que o Padre António Vieira pregou

em a Capela real pelos anos da Rainha nossa senhora no de 1688»

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106 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[BNP8] BNP Cod. 510, fols. 82-83 v.

Versões Secundárias:

[BL3] BL, Add. 20844, fols. 140-143 v.

[BNP2] BNP Mss. 72, 1º, fols. 3-5

[BNP4] BNP PBA 69, fols. 59-63

[BNP7] BNP Cod. 349, fols. 131-132

[BNP8] BNP Cod. 510, fols. 82-83 v.

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107 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

θ z BNP9

BL3 x y

BNP4 BNP7 BNP2

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108 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Podem estabelecer-se duas famílias, θ e z.

BNP2 e BNP7 pertencem à mesma família, como descendentes de z; variam

frequentemente juntas, apresentam erros conjuntivos em relação aos testemunhos

BNP4, BNP9, BL3 (por sua vez descendentes de θ):

- omissão em «dois assuntos»

- omissão «não entendeo e persuadio»

- omissão «porque lhe falou»

- omissão «nada»

Porém, BNP2 varia frequentemente sozinha, apesar de ser mais contextual (veja-

se a inclusão das datas; ou a referência a Manuel Fernandes). Apresenta algumas

leituras que significam proximidade com BNP4, BNP9, BL3 («após a paz»)

BNP4, BNP9, BL3 pertencem à mesma família, descendentes de θ.

BNP4 varia frequentemente sozinha (listam-se 18 ocorrências) e não

compreende passos do texto. De origem PBA, segue os resultados frequentes no cotejo

das cartas felicianas presentes neste conjunto de manuscritos, que apontam para versões

de cópias frequentes ou más cópias.

BL3 é uma versão muito próxima de BNP4, sendo que igualmente produz

omissões, e parece não perceber certos passos do texto (como as variantes substantivas

das pags 16-18, que se referem aos intervenientes da paz).

Daqui se conclui que BNP9 é a melhor versão, que, como nem sempre ocorre na

edição das cartas de Feliciana de Milão, é também o manuscrito que oferece uma versão

mais clara, e se apresenta como a versão mais uniforme e coerente.

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109 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta Suposta – texto fixado

Carta satírica de D. Feliciana contra o Sermão que o Padre António Vieira

pregou em a Capela real pelos anos da Rainha nossa senhora no ano de 16881

Ora mana, não vai de valha2, que aperteis tanto comigo, que me3 ponhais por4

obedecer-vos em perigo de murmurar-vos. Quando me enxergastes vós5 génio de

Mestre6 Zaqueu7a deste mundo, que8 me mandei preguntar9, que censura pode dar-se ao

Sermão, que me enviastes do Padre António Vieira! Estai10 certa que aquele grande

juízo, sempre fia11 tão delgado, que a sair12 do Portugal tivera estima vantajosa em os

Teares do13 Cambrai; pois já temos conhecido que nos queria ensinar a urdir Cambrai

em14 Portugal. Sempre que prega o entendem poucos, porque para15 poucos ele

entendeo sempre. Aonde porém passou as arrés16 do jogo, e se mostrou inumerável nos

pontos17, é nesta Panegírica História, ou neste Histórico sermão Panegírico que compôs

e não disse, porque dizem que18 se fingiu descomposto pelo não dizer na celebração dos

anos de Sua Majestade19 que Deos guarde dia de 22 de Junho. Papel tão bem20

arrunhadob21, que22 se embasbacou23 em24 ele25 o Padre26 Confessor de Sua Alteza de

maneira (em fim não o culpo, que os Basbaques de ordinário27 nascem dos Fernandesc)

que disse na dedicatória à Rainha Nossa Senhora, que em aqueles ditames28 só tivera

parte a alma daquele grande Orador, que os compusera. Outros dirião29 o próprio,

porque é proprio de más almas terem só parte em maus discursos. E porque os deste

Sermão30 todos me parecem desta Cor, os tomei31 para passar32 algumas destas noutes

enfadonhas; porque se33 o que é mau por qualidade faz parecer pequeno o que é

grande34 por natureza, como nos persuade neste sermão o seu Autor, que melhor meio

para encurtar35 noites36 compridas, que meter-me à37 Lição38 dos maus [fol. 82 v.]

discursos deste Papel39? Porém porque deste troque40 principiemos seus trinques, não

posso deixar de vos dizer41 a maravilha em que se pôs Mariquitad de ouvir dizer a42

Vieira, que os males tinham o43 atributo de abreviar o Longo, e os bens de prolongar o

curto porque sempre diz, que ouviu44 dizer às velhas, não eram os dias grandes de Maio

grandes dias, porque eram dias bons. Ela falou como mulher, que em nada do que diz

tem graça45, e o Padre fala46 como homem, que faz graça de quanto47 diz.

É este o princípio do seu48 Sermão: porque em dar graças, e pedir49 graças cifra

todo o intento daquele grande50 Assunto. Mas eu o desconhecera se51 quando52 o visse

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110 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

agradecido, o não achasse interessado. Porque na sua Escola o dar, traz à garupa o53

pedir: porém com esta diferença, que para dar-se54 pouco, há-de haver muita razão, e

para se pedir55 muito basta pouco fundamento56. Porventura que o Vieira pusesse o olho

a esta mira quando fundou o dar graças a Deos no tema e o pedir graças no Ar: porque

no tema não o fundou. Porém deixado isto à parte, como o Padre no sermão deixa à

parte o Assunto do dia que devia solenizar pela grandeza do Ano em que ele não devia

aparecer, quere-nos exagerar a singularidade grande57 que ele no Ano admira, pela

estranheza dos sucessos que neste Ano se deviam admirar. Neste Ano mandaram o

Elefante58 para França porque era Bestae que entendia, e não falava, e dava que falar aos

que entendiam. Trouxeram o Sangaralhão59 para Lisboa, porque não entendendo o que

fala, dá motivo a que se festeje, o que ele não entende. Neste ano ultimamente publicou

o Padre Vieira este papel, em que enfronha três Discursos em dois Assuntos, ou dois

Assuntos em três discursos60, dos quais o primeiro entendeu, e não61 explicou: no 2º.

explicou o que62 não entendeu; no 3º nem entendeu, nem explicou o que presuadiu63. O

1o. foi Discurso de Elefante, porque lhe [fol. 83] faltou a fala: o 2º Assangaralho, porque

lhe faltou o juízo, o 3º de Padre da Companhia, porque lhe sobejou a ambição. Foi o 1o

Discurso de Elefante64, não só pelo passo de Eleazar65 que trouxe, senão porque quanto

nele66 se entende, nada o Padre explica67. Notai, que se nos faz neste discurso o Vieira

já tanto68 de casa nas proposições da Fé, que se arroja a dizer, que com a guerra não está

Deos seguro nos sacrários, sem dizer de que parte se entende o perigo em que Deos está.

Em a Luta de Jacobf entendeo a proporção daquela Lide, e a desporporção69 da nossa

guerra; porém explica muito mal aquele: dimitte me quia ascendit Aurora dando ao

despontar70 do dia o que devia71 atribuir ao esconder-se o Sol, porque segundo o72

mesmo Vieira prova, a Paz não se efeituou73 porque apareceo a Rainha, senão porque se

escondeo o Rei. Também quando numera as Majestades que concorreram para

efeituarg,74 a nossa Paz se mostra inconsequente, na prova do Quasi palma, quasi Rosa,

& quasi Oliva; por que lhe sobram no texto plantas, e lhe faltam nas Pazes Majestades,

e o Concurso a que as plantas se acham na Escritura não é para ajustar desunidos, senão

para aplaudir ajustados75. A mesma desconformidade76 tem77 os repentes da Paz no

Subito facta est cum Angelo multitudo78, pois para ser formal a alusão79, ou havia de ter

o Anjo os Cuidados de continuar80 a guerra antes da Paz como o Licheh; ou havia de ter

o Liche os cuidados de buscar a Paz após81 na mesma guerra como o Anjo; mas o Anjo

foi só Ministro que publicou sem governar a guerra, e o Liche82 foi ministro da guerra83,

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111 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

e da Paz. E se na guerra o deixou Portugal Anjo, ele no efectuar a Paz fez84 de Portugal

marmanjo. Ultimamente85 é inconsequência86 afrontosa para Portugal, aquela

confrontação de combinar-nos com Holanda, e Catalunha; porque Holanda desobedeceo

rebelde, Catalunha sublevou-se87 mal contente, e Portugal redimiu-se justo. A justiça

deu a Portugal as vitórias; [fol. 83 v.] o interesse sossegou88 a Catalunha, e a maldade

Política conservou Rebelde a Holanda; mas não conheceo o Mundo os Holandeses

vencedores, nem Castela experimenta89 os Catalães sossegados. Vede agora o Padre90

porque há-de trocar alhos por bugalhos, senão para que digamos, que o seu primeiro

Discurso foi bestialmente entendido; porque é entendidamente91 besta como cousa do

Elefante: o 2º Discurso como do92 Sangaralhão93 é dissolutamente bestial, tem suas

palavras pouco juízo, o seu pouco juízo muitas palavras, em que perde o decoro a um

Rei, em quem os defeitos não são culpa, porque são as culpas enfermidade. Lembrai-

vos94 que o Vieira quis dar vida com um Papel ao Senhor Rei D. João o 4º que está na

glória95, depois de morto, e não fez mais que matar a boa opinião que havia de seu juízo.

Com outro Papel agora parece96 intenta matar o Senhor Rei D. Afonso 6º97 que está em

pena98 ainda vivo, e faz tanto, que ressuscita seus aplausos. Porque vejais, que o Vieira

quando fala para dar vida mata-se99; quando fala para matar, vive; e100 quando vive101 é

porque quer enterrar o filho102 porque o103 não mate, e quando se mata, é porque quer104

desenterrar o105 Pai porque106 lhe dê vida; e em tudo nem entende o que fala, nem

pondera107 o que diz: é Sangaralhão108 em tudo se lhe tiramos o degredo, e melhor fora

não lho tirarmos109. Do seu 3º discurso vos não posso dizer muito porque já vos tenho

dito que é do Padre da Companhia e quem não tem o seu espírito desta gente, não pode

falar na sua língua. O Vieira fala com110 espírito dobrado, segundo dizem, queira Deos

que lho mandasse Elias para reforma do governo destes Reinos111. Já vemos, que nos

tolhe o Principe Nosso Senhor para ele só, e os112 seus lograrem tamanha dita. Resta que

o logrem, e não no-lo malogrem, porque não será o primeiro Principe que com eles se

malogrará, Deos não aprove com o efeito o Conselho destes homens, e nos guarde a. S.

A. os anos que seus vassalos desejamos113, livre de tão péssimos114 conselheiros.

a Trata-se de uma alusão a Zaqueu, chefe dos publicanos de Jericó, e que, por ser baixo, subiu a uma figueira para ver Jesus Cristo. (cf. Lc 19, 1-10). Jesus viu-o e mandou-o descer, dizendo que queria ir a sua casa. Para além do nome, a alusão à história de Zaqueu reforça-se com «quando me enxergaste». A maioria dos testemunhos da carta Suposta não compreende a citação, que no Sermão de Vieira é uma segunda imagem amplificadora da metáfora de Eleazar, e que aqui é uma imagem redutora da sabedoria das mulheres, em que uma religiosa (“mana”) mestra pede opinião a uma religiosa mais nova, pequena como Zaqueu. A

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112 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

referência ao poema de Góngora (veja-se nota c), que refere escolas, mestras e “maroteiras”, procura reforçar a alusão. b Manteve-se a grafia de «tão bem», por poder designar «tão bem» ou «também». Já quanto a «arrunhado», Bluteau define-o como «Arrunhar (Termo de çapateiro). Cortar as folas dos sapatos à roda. (…) Metaphor. Estando a cidade com os combates toda Arrunhada & aberta, para poder ser entrada. Lemos, Cercos de Malaca, pag. 10.» in Raphäel Bluteau, op. cit., vol. I, pg. 572. c O confessor de D. Pedro era o Pe. Manuel Fernandes, mas aqui é mais provável que esteja a ser feita uma referência a Roque Monteiro Paim, Presidente da Junta da Inconfidência, filho de Pedro Fernandes Monteiro. d «Mariquita» (e também o início da carta “Ora mana”) são alusões ao poema de Góngora «Hermana Marica» (Cf. Luís de Góngora, Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2011, pgs. 42-47. Selecção, tradução, prólogo e notas de José Bento). e As duas «Bestas» que a carta refere são construções sarcásticas. Assarangalho ou Sangaralhão será uma provável derivação de «Saranga: Adj. Bras., Simplório, toleirão.» (in.: António de Moraes Silva, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Confluência, 10ª Edição, 1949, vol. IX, pg. 918). No caso refere muito provavelmente o próprio Vieira, já que o vocábulo tem origem Brasileira. Quanto ao «Elefante», refere-se com muita probabilidade a Luís de Verjus, Secretário da Rainha, que foi a França obter o breve Papal das mãos do Cardeal a latere Louis de Vendome (cf. Ângela Barreto Xavier e Pedro Cardim, op. cit., pg. 197). f Cf. Gen, 32. As citações provêm deste excerto. g Note-se a repetição nos dois passos da ocorrência “efeituar”, e o significado duplo que pode encerrar: efectuar, como as outras versões apresentam; e ter efeito em algo. h O Marquês de Liche foi embaixador plenipotenciário de Espanha na Corte de Lisboa, e aí negociou a paz. Anteriormente esteve detido na prisão do Castelo de S. Jorge em Lisboa, como prisioneiro de guerra, da qual tentou fugir por várias vezes, uma mascarando-se de mulher (cf. António de Sousa de Macedo, D. Afonso VI, op. cit., pgs. 172-174), outra por barco (idem, ibidem, pgs. 208-209). 1 No canto superior direito, nota pelo copista: «V. no 2º tom. p. 178 outra quando o degradarão.»; 2 volta BNP4; 3 omite BNP4; 4 para BNP4, BNP2; 5 bos BL3, hú BNP4, hum BNP2, hu BNP7; 6 muitos BNP2, BNP7; 7 Saqueo BNP4, Jacques BNP8, BNP9, Xaques BNP2; 8 para que BNP2; 9 perguntar BNP2, BL3; 10 Estou BNP7; 11 foy BNP4; 12 saber BL3; 13 de BNP4, BNP2, BNP7, BL3; 14 de BNP7; 15 omite BL3; 16 Ré BNP4, Leys BNP2, Leis BNP7, rayas BL3; 17 omite nos pontos BNP2;18 omite BNP2; 19 da Senhora Rainha D. Maria Sofia Izabel de Saboya dia 22 de Junho de 1668 BNP2; 20 bem BNP2, tãobem BNP7; 21 alinhado BNP4; 22 que dizem se BNP2; 23 embarcou BNP4, BNP2; 24 com BNP4; 25 nelle BNP2, BNP7; 26 Manoel Fernandes, BNP2; 27 nascem ordinariamente dos Fernandes BNP4; 28 dictames BNP2, BNP7, BL3; 29 dirão BNP4, BNP2, BL3; 30 omite BNP2; 31 tomarey BL3; 32 omite para passar BNP2, BNP7; 33 sey que BNP4, omite se BL3; 34 omite o que he grande BNP2; 35 euitar BNP4, passar BNP2, BNP7; 36 as noites BNP2; 37 na Lição BNP4; 38 omite À Lição BNP2, BNP7; 39 omite deste Papel BNP4; 40 toque BNP2, BL3; 41 de dizer-vos BNP2, BNP7; 42 ao BNP2, BNP7; 43 omite o BNP9, BL3; 44 ouvira BNP2, BNP7; 45 que nada diz que tenha BNP2; 46 fallou BNP2, BNP7, BL3; 47 do que diz BNP2, ao que dis BL3; 48 omite BL3; 49 em pedir BNP2; 50 omite BL3; 51 de BNP4, so BL3; 52 segundo BNP2; 53 ao BNP2; 54 dar BNP2, BNP7; 55 e para pedirse BNP4, pedir BNP2; 56 ha-de haver muito fundamento BNP4; 57 omite grande BNP7; 58 Elegante BNP4; 59 Tangaralhão BNP4, Zangaralheiro BNP2; 60 omite em dous Assumptos, ou dous Assumptos em três discurços BNP2; 61 que não BNP2, BNP7; 62 e não entendeo BL3; 63 nem explicou o que não entendeo, e persuadio: BNP2; 64 omite porque lhe faltou a falla: o 2º Assangaralho, porque lhe faltou o juizo, o 3º de Pe. da Companhia, porque lhe sobejou a ambição. Foi o primeiro Discurso de Elefante BNP2, BNP7; 65 Eleazaro BNP2, Lazaro BL3; 66 que nelle se entende BNP2, porque BNP7; 67 senão porque nelle se entende o Padre, e não se explica BNP2, BNP7; 68 já santo BNP4, já BNP2, cà BNP7; 69 disporção BNP7; 70 despontar BNP9, BNP2; 71 havia de BNP2; 72 ao que BNP2; 73 efeituô BNP4, effectuou BNP2, BNP7, BL3; 74 effectuar BNP2, BNP7; 75 ajuntar dezunidos, senão para aplaudir ajuntados BNP2, ajuntar dezunidos, senão para aplaudir ajustados BNP7; 76 disformidade BNP4, BL3; deformidade BNP2, BNP7; 77 sem BNP4; 78 † BNP2; 79 iluzão BNP4; 80 buscar a paz, como o Liche, BNP2, BNP7; 81 a paz na mesma guerra, BNP2, BNP7, apâs na mesma guerra BL3; 82 omite o Anjo foi só Ministro que publicou sem governar a guerra, e BNP4; omite mas o Anjo foi só Ministro que publicou sem governar a guerra, e o Liche BNP2; mas o Anjo foi só Ministro que publicou sem governar a guerra, e o Liche foi só BNP7; 83 ministro da paz e se na guerra o deixou BL3; 84

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113 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

deichou BNP4, BL3; 85 e ultimamente BL3; 86 consequência BNP4, BNP2, BNP7; 87 sublevantou-se BNP7, subliuou-se BL3; 88 cegou BNP4, BL3; 89 experimentou BNP2, BNP7; 90 omite o Padre BNP4; 91 entendida BNP4; 92 e do BL3; 93 Langaralhão BNP4, Zangaralheiro BNP2; 94 lembre-vos BNP4; 95 no Ceo BNP2, BNP7; 96 parece que BNP4, BL3; 97 omite 6º BNP2, BNP7; 98 impenna BL3; 99 mata BNP2, BNP7; 100 omite BL3; 101 se matta BL3; 102 por querer matar ao filho BNP2, por querer matar o filho BNP7; 103 omite BNP7; 104 para desenterrar BL3; 105 ao BNP2; 106 para que BNP2; 107 entende BNP2, BNP7; 108 hum Zangaralheiro BNP2; 109 tirar BNP2; 110 em BNP4; 111 omite para reforma do governo destes Reynos BNP2; 112 so aos seus BNP4, com os BNP2, BNP7; 113 lhe dezejão BNP4, BL3; lhe dezejamos BNP2, BNP7; 114 maos BNP4, BNP2, BNP7, BL3. a Alusão ao poema de Luis de Góngora, inc. «Hermana Marica» (cf. Luís de Góngora, Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2011, pgs. 42-47).

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114 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

7.B. Carta da Refutação

a) Identificação Testemunhos [BL2] British Library, Mss Add 15201, fol. 274-276 v. (BL1)

«Carta de Dona Feliciana em que desmente haver feito um papel contra um sermão do

Padre Vieira»

[BNP2] BNP, Mss 72, 1º, fol. 6-8 (BNP 1)

«Carta de D. Feliciana Maria de Milão, religiosa no Convento de Odivelas, em que

defende não ser ela quem fez a carta referida, e a refuta»

[BNP7] BNP, Cod. 349, fol. 133-134v. (BNP 2)

«Carta que se diz fez Dona Feliciana em defensa da que lhe atribuiram fizera contra o

sermão do Padre Vieira dos anos da Rainha»

[BNP19] [L. 40435 P.] Alberto Pimentel, O Capote do Snr. Braz, Porto/ Braga, Livraria

Internacional de E. Chardron, 1877

[sem título] [BPE1] BPE, CV 1_9, fol. 125 v.-128 v. (BPE 1) «Cópia de uma carta, que escreveo D. Feliciana Maria de Milão, em que defende, não

ser ela quem criticou um sermão do Padre António Vieira.»

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[BPE1] BPE, CV 1_9, fol. 125 v.-128 v. (BPE 1)

Versão Primária

[BNP2] BNP, Mss 72, 1º, fol. 6-8 (BNP 1)

Versões Secundárias: manuscritas

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115 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

[BNP7] BNP, Cod. 349, fol. 133-134v. (BNP 2)

[BL2] British Library, Mss Add 15201, fol. 274-276 v. (BL1)

Versões Secundárias impressas

[BNP19] [L. 40435 P.] Alberto Pimentel, O Capote do Snr. Braz, Porto/ Braga, Livraria

Internacional de E. Chardron, 18771

1 Após cotejo verificou-se que a versão aqui contida é uma cópia da versão BNP2; porém Pimentel propõe algumas lições diferentes, pelo que a considerámos como outra versão.

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116 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

θ z

BNP9

BL3 x y

BNP4 BNP7 BNP2 BNP19

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117 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Em relação à Carta Suposta (7A), esta Carta apresenta menos loci critici, sendo

sobretudo relevantes os acrescentos (frequentes na versão BL3). Como também ocorrera

na Carta Suposta (7A), as versões BNP2 e BNP7 pertencem à mesma família,

descendentes de z; variam frequentemente juntas, apresentam lições únicas em relação

aos testemunhos BNP4, BNP9, BL3. Vejam-se como exemplos:

- omissão de «do Mundo»

- leitura de «Horóstrato» por «Heróstrato»

- «o nome nunca de Feliciana» por «nunca o nome de Feliciana»

BNP4, BNP9, BL3 pertencem à mesma família, descendentes de θ. Porém, BL3

tem omissões frequentes («privilégio») e lições únicas («e ainda que seja tudo o

mesmo»).

BNP9 oferece a melhor leitura, e as suas lições são justificadas por outros

testemunhos, tendo sido por isso seleccionada como texto-base.

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118 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta da Refutação – texto fixado

Cópia de uma carta, que escreveo D. Feliciana Maria de Milão, em que defende,

não ser ela quem criticou um sermão do Padre António Vieira.

Injurioso obséquio faz ao meu juízo, quem presume obra sua, um insolente

disparatão, que aqui anda, contra o sermão do Padre Antonio Vieira, quando1 na

vulgaridade do estilo, na impropriedade dos termos, e na dissonância2 das palavras, diz

a gritos, que foi ignorante efeito do ódio, e não do3 discurso: e na interpretação dos

textos mostra, que o fez algum Frade dos que lhe deu por inimigo aquele discretíssimo

sermão da Sementeira; por que em nenhum caso podia ser meu em linguagem, mana

Mariquita4a, estimo5, marmanjo, alhos, e bugalhos, e outras vozes6 semelhantes, que

este Autor dos7 disbaratesb, andou tirando das piores bocas do Mundo8, para os enfiar

aqui, como colar de sacamolas.

E se afirma9 do papel assim o desmente de meu, a matéria dele me alheia ainda

com mais forçosas razões10; porque quem entende o [fol. 126] que fala11, não fala o que

não entende, e as mulheres, como12 não sabemos da missa a metade podemos quando

muito chegar às Epístolas, mas nunca aos Evangelhos, e ainda que o Padre António13

Vieira não falara neste Sermão14 pela boca do Espírito Santo, o respeitara a minha

veneração, sem ousar a examiná-lo15 a fantasia, e sendo privilegiado o texto, e o

assunto, seria crime de Lesa Majestade Divina, e humana, censurá-lo, principalmente

depois, que os mais escrupulosos Ministros o veneram, e os16 mais públicos (que

sempre devem ser os mais prudentes17) o aprovam18, e papel, que sem chegar a ser

sermão, foi manifesto, grandes circunstâncias devemos crer concorrem nele para

celebrado19.

Eu não tenho voto entre Doutos, e menos20 entre os Tribunos, mas com a

licença, que me dá a defensa natural, digo, por que saiba o que eu21 digo, e me não

adulterem as palavras22, que o primeiro discurso me pareceu Angélico, o Segundo

Politico, e Cortesão o terceiro, e todos notavelmente engenhosos23, e a meu ver acho,

que o Padre António24 Vieira deve ter grande vaidade [fol. 126 v.] desta nova calúnia,

porque prova, que nem a perseguição da inveja bastou para lhe diminuir a causa dela.

Ora25 sofrão sofrão os Portugueses entre si um entendimento ditozo, e não

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119 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

achanhemos26 os naturais, aquele sujeito, que tanto admiram, e engrandecem os

Estrangeiros. Perdoemos-lhe sequer por filho da terra, pois foi o primeiro, que

atropelado da fortuna se levantou com maiores forças, do que caiu. Acabe de conhecer o

Mundo no juízo do Padre António Vieira a virtude da Lança de Aquiles27, que só ela

sarava o que feria, e venere28 um homem tal, que com as suas advertências pode e soube

curar os golpes de suas agudezas29.

Tambem no retiro, e apartamento30 de suas Majestades, se não devia entormeter

o meu discurso, que são particulares esses, que só os domina31, e definem os sucessos32,

e o tempo, e julgar acções de Principes, posto que é Ofício Divino, não é Ofício de

Freiras. Também tenho por abominável33 ingratidão, este porfiado vexame da

Companhia, por que é lástima, que uns homens34 que tem por ofício criar bons

entendimentos, não tenham privilégio35 para crear boas vontades, e que os mesmos a

quem [fol. 127] eles derão as Letras, tomem contra eles as armas. A perfeição maior de

qualquer religioso36, é seguir o seu estatuto, e se porfessam encaminhar os que errão,

ajudar os que padecem, que lhe estranham, ou que lhe condenam37? Para, que

confessem, e doutrinem, instituiu aquela Religião o seu Patriarcab,38, e se se conserva na

primeira regra, que mais pode fazer pela sua observância? Só por que é bem visto, há-de

ser mal ouvido o Padre António39 Vieira? Terrível desconcerto é este dos sentidos!

Ainda no nosso Portugal se usa aquele maldito jogo, de todos contra o homem40.

Ora acomodem-se, e conformem-se41 os tafuesb do governo, com seus praceiros42, e

haja se quer dois de uma opinião43, que tudo o mais é arrenegar, e44 entremos em contas

com o bom do papelinho, que faz água por tantas partes, que nem dando-lhe penhor45

ficará de proveito. Este homem, ou o que na verdade se achar, ou quer desfigurar o que

sabe, para que o não conheçam, ou não sabe o que diz, ou46 o que quer dizer; por que a

entender alguma cousa da esfera material, não saíra tão materialmente [fol. 127 v.] de

sua esfera. Que47 tem, que ver Cambrai, com Holanda, se não é nas tendas da Fancaria?

e se fala de Fancaria, não fale de48 Vieira: Por jogar49 de vocábulo perdeo o intento50, e

o fio; presumio, que era o51 mesmo as terras que as teias, e não virão52 nisto El Rei de

Espanha, e o Principe de Orange, que seja53 o mesmo54. Quando intentou o Padre

António Vieira unir-nos com Flandes? Bem se pudera fazer aqui uma digressão, que

chegasse Amesterdam55, e a Tangere56 em defensa do Padre Antonio Vieira, mas estas

são as matérias, cujo57 discurso não pretence a meu estado, e assim digo só58, que de

Holanda a Cambrai vai tanta distância, como do Padre António59 Vieira a seus Émulos.

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120 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Pois as comparaçõezinhas lhe gabo eu, que são formais, e delicadas, a do60

Elefante é bruta, a do Negro, é boçal, a que se remete com Plínio61, e Juvenal, e deu

com tudo de avesso: Logo este homem achou menos em Lisboa duas sevandijasc?

Desaproveitadamente gasta o tempo, quem só repara no pior62. O certo é, que os seus

discursos, quando mais entendidos são cousas63 de brutos, e são cousas de pretos,

quando mais engraçados, e só sujeitos semelhantes [fol. 128] se atrevem aos sermões do

Padre António64 Vieira; por que lhe mete o diabo na boca o capricho de Heróstrato65,e.

Parece66, que bastam estes sabões, para tirar da minha opinião a feia mancha67

que lhe lançou a inadvertência de quem a quis aplaudir, na malícia de quem o intentou

enxovalhar. Veremos agora se com este exemplo deixam de me imputar68 papéis

indecentes, e confesso me falta já a paciência para trazer em livramento meu juízo,

umas vezes pelas décimas de outro madrasso, que quis achacar69 o meu nome com

versos muito parvos, medidos com palhinha, outras com estes desatinos, que só tiveram

de meus o que me custaram em vistas, com ditos indecorosos70, e sem-sabores71, que os

maldizentes acomodam, fazendo de mim o que a Madre Brites72 às beatas73, atribuindo

ao meu escrito, as revelações, e74 profecias de seu bom, ou mau ânimo; e declaro, que

não conheço por lisonja adornarem o meu apelido com as75 alfaias alheas. Segurem-se

os Fiscais, com que [fol. 128 v.] se me der a ociosidade para o tinteiro, não mande

imprimir76 os meus escritos a Veneza, porque não disse, nem direi cousa77, que

desminta nunca o nome78 de Feliciana. Vale.

a Alusão ao poema de Luis de Góngora, inc. «Hermana Marica» (cf. Luís de Góngora, Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2011, pgs. 42-47). b Manteve-se a grafia, por Bluteau registar as duas grafias: «disbarate» e «disparate» (op. cit., pg. 239 e 247, vol. III). Refere-se a Santo Inácio de Loyola (1491-1556), fundador da Companhia de Jesus. c Apesar de já citada anteriormente a definição de Bluteau, reproduzimos em seguida a entrada no Dicionário de Morais, por poder esclarecer o sentido mais amplo que o vocábulo poderá significar neste contexto: «Taful: Casquilho, janota, alfenim (…). Peralta, janota, casquilho. (…) Desuso Jogador de profissão, ou por hábito.» In: António de Moraes Silva, op. cit., vol. X, pg. 595 d «Sevandija (do espanhol sebandija). Réptil nojento; verme imundo (…). Pessoa indecorosamente servil; pessoa que vive à custa alheia; parasita (…). Pessoa vil, desprezível, patife, mariola.» In António de Moraes Silva, op. cit., vol. X, pg. 150 e Nome de um incendiário que começou um incêndio no Templo de Artémis em Éfeso a 21 de Julho de 356 AC, e que procurou reconhecimento público por esse acto. Albert Borowitz publicou recentemente um estudo sobre o que apelidou ser o Síndrome de Heróstrato, onde explicita que «a identidade do

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121 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

homem está envolta em mistério excepto para o nome que a História lhe atribui. É um nome de raízes gregas, e embora os Classicistas ainda debatam o seu significado, os elementos de que é formado parecem predizer um destino mais nobre que aguardaria o inimigo de Artémis. A palavra stratós significa “exército” em Grego Clássico, e teóricos sugeriram que o nome de homem “Heróstrato” possa ser traduzível como «herói militar» ou, alternativamente, como «um exército devotado a Hera». Cf. Terrorism for Self-glorification: The Herostratos Syndrome, Ohio, Kent State University Press, 2005, pgs. 1-2 (tradução nossa). 1 que BL2; 2 nas dissonancias BL2; 3 omite do BNP19; 4 Mariquita BNP2, BNP7, BL2, Margarita BPE1; 5 omite BL2; 6 vezes BL2; 7 de BL2; 8 omite do Mundo BNP2, BNP7, BL2, BNP19; 9 forma BNP19; 10 como alheya, a inda com mais razão BL2; 11 quem não intende no que falla BL2; 12 como eu BL2; 13 omite Antonio BL2; 14 omite Sermão BNP7, BL2; 15 exeminar BL2; 16 omite os BNP2; 17 politicos e prudentes BL2; 18 aprovarão BNP7, BL2, BNP19; 19 celebrá-lo BNP19; 20 nem BNP2, BNP7, BNP19, omite e menos BL2; 21 omite BL2; 22 palavras que fallo BL2; 23 engenho BL2; 24 omite Antonio BL2; 25 ó BNP7, oh BL2; 26 acalemos BL2; 27 do Padre Vieira, da lança de Aquilles a vertude BL2; 28 e venere-se BNP2, BNP19, e venera BL2; 29 da sua agudeza BL2; 30 e parecimento BNP2, BNP7, e parecimentos BL2, aparecimento BNP19; 31 dominam BNP19; 32 o sucesso BL2; 33 omite abominavel BL2; 34 porque me lastima, que homem que BL2; 35 omite BL2; 36 quaisquer religiosos BL2; 37 que lhes estranhão, ou que lhe condenão? BNP7, que lhes estranhão, ou que lhe condemnão, BL2; 38 o seu Patriarcha a sua Religião BL2; 39 omite Antonio BNP7, BL2; 40 e ainda no nosso Portugal se via aquelle maldito jogo de todos contra os homens! BL2; 41 Hora confirmem-se e acomodam-se BL2; 42 praceytos BL2; 43 mesma opinião BL2; 44 omite e BL2; 45 poder BPE1, pendor BNP7, BL2; 46 nem BNP2, BNP7, BL2, BNP19; 47 E que BNP19; 48 em BNP7, BL2; 49 por vigar BNP7; 50 oitenta BNP19; 51 omite o BNP7; 52 não virá BL2; 53 que tudo seja BNP19; 54 e ainda que seja tudo o mesmo, BL2; 55 de Amesterdão BNP19; 56 a Tanger BNP2, BNP7; 57 são materias, cuja discursso BL2; 58 só digo BNP7, BL2; 59 omite Antonio BL2; 60 são formas. A do BL2; 61 bosal, quis aremeter BNP7, a que remetio com Plinio BL2; 62 pão BL2; 63 caza BL2; 64 omite Antonio BL2; 65 Horostato BNP2, BPE1, BNP7, BL2, do atentado BNP19; 66 cabeça o capricho. Parece-me BL2; 67 fé manchada BL2; 68 inquietar BPE1; 69 aniquilar BL2; 70 custarão, e muitos com ditos indecorozos BNP7, BL2; 71 e sem saber BL2; 72 Brígida BNP2, BNP7, Brizida BL273 os beatos BNP2, BNP7, BNP19; 74 ou BL2; 75 omite BL2; 76 Assegurem-se os oficiais, que so me dar a curuzidade para o tinteiro, que não ham de hir a impremir BL2; 77 direi nunca couza BL2; 78 o nome nunca BNP2, BNP7, meu nome de BNP19

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122 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

8. Carta de Respostas Amorosas

a) Identificação Testemunhos

[BL2] British Library, Ms. Add. 15201, f. 277-287 v.

«Carta que Dona Feliciana Maria de Milão do Convento de Odivelas mandou a uma

amiga sua sobre umas preguntas amantes que se lhe fizeram»

[BNP3] BNP, Mss 249, Nº 26, f. 6v.-17 v.

«Respostas de D. Feliciana Maria de Milão, Religiosa no Mosteiro de Odivelas. A umas

perguntas amantes»

[BNP14] BNP, Cod. 8611, fol. 6-17 v.

«Respostas de D. Feliciana Maria de Milão a preguntas amorosas»

[BNP15] Cod. 9611, Nº 15

«Perguntas amorosas a Dona Feliciana, e respostas suas.»

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123 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

b) Relação de Testemunhos Texto-base

[BNP15] Cod. 9611, Nº 15

Versões Secundárias

[BL2] British Library, Ms. Add. 15201, f. 277-287 v.

[BNP3] BNP, Mss 249, 26 – f. 6v.-17 v.

[BNP14] BNP, Cod. 8611, fol. 6-17 v.

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124 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O]

θ α

k BNP15 y x

BL2 BNP14 BNP3

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125 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

É possível identificar duas famílias a partir de erros conjuntivos: α, da qual descende

o testemunho BNP3; e θ, da qual descendem todas as restantes versões, mas em que,

pelo seu grau de variação (e provável contaminação por outra versão), a versão BL

ocupa um papel particular.

A versão BL1 apresenta as maiores diferenças contendo lições únicas que não são

acompanhadas por nenhuma outra.

É também o caso da versão BNP3: apresenta soluções únicas, pelo que poderá

corresponder a uma segunda redacção ou ter versão apógrafa própria. Apresenta

numerosos e extensos acrescentos, e algumas omissões [como «o tonto não podia ter

amor, nem o enganozo justiça, mas havendo de se letigar, se o parvo tem mais direito

que o entendido? (...)»].

A versão BNP14 constitui-se como um caso particular. Apresenta uma primeira

redacção, frequentemente corrigida e alterada posteriormente, com outra tinta, pela

mesma mão. O que indica que o copista transcreveu a versão e mais tarde, tendo

conhecimento de BNP15 ou de um seu apógrafo, corrigiu a maioria das lições a partir

desta. Essas alterações vêm confirmar as lições apresentadas por BNP15. Como no

seguinte caso, que para compreensão mais clara apresentamos com aparato genérico:

«porque não são victimas os [↑brios]<beijos> a que se negue a aceitação e naõ parecer

taõ fogozo quiça que lhe nasça de [↑ser] mais amante.»

Apesar de alguns acrescentos únicos, a versão BNP15 apresenta melhores soluções

de leitura das citações, e ilumina passos menos claros em todas as outras versões. É

sobretudo acompanhada pelas numerosas anotações posteriores que inclui a versão

BNP14, que nos informam de que o copista desta versão teve conhecimento de outra

versão da carta. A título de exemplos:

- «denfendendolhe» para «defendolhe»

- espaço em branco deixado na cópia entre «outrem» e «de falsidades inúteis»,

completado posteriormente a outra tinta para «outrem nos livre de falsidades inúteis».

Foi necessária (e frequente) a emmendatio deste texto, sobretudo no que se refere às

citações de autores estrangeiros, devidamente identificadas nas notas histórico-literárias,

bem como no uso de vírgulas. Não considerámos, naturalmente, como erros separativos

as diferentes lições das citações em causa, já que o desconhecimento de um idioma

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126 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

estrangeiro não significa que um copista não procure melhor seguir o testemunho a

partir do qual reproduz.

O manuscrito do texto-base encontra-se em mau estado nos fols. 7-7v. A sua leitura,

nestes passos, muitas vezes conjectural, foi auxiliada pelos restantes testemunhos.

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127 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta Respostas Amorosas – texto fixado

Preguntas Amorosas a D. Feliciana, e respostas suas.

Amiga mandais-me que diga o meu parecer nestas dúvidas, quando ele nem para

dúvidas é já parecer, nem tais preguntas da minha profissão, despois que a minha

profissão aguardou outras preguntas. Mas dizendo que vós as1 mandastes até a

satisfação é grosseira pelo tempo que rouba à obediência, que atropela aos

inconvenientes da rezão2; primeiro que tudo senhora minha, não posso passar sem3 que

me lastime deste Poeta quem quer que é (que eu não quero sabê-lo) que se não opôs a

dignidade de Vigário geral; porque dera lindíssimo expediente no ofício porque tal

praga de preguntas se as não inventara Pedro Fernandes Monteiro4 não podiam soltar-se

de outro Tribunal, e não sei se me mostro atenta pelo Caminho de pontual5 mas vós que

me aventurastes a opinião deveis prometir-me a defensa, e conceder-me que refira as

coplas, a que vou deferindo para6 suavizar o desabrido das minhas rezões com o ciente

dos seus conceitos.

Diz a primeira

Pergunta un amante loco

a fuerça de padecer

si es coza que pude7 ser

amar mucho, e hablar poco.

Não fala pouco Senhora quem faz preguntas8, e com mais sanha9 [fol. 1 v.]

respondera eu a este amante Tabareoa, se assi como me consulta a vossa ociosidade me

importunara a sua impaciência, mas hei-de portar-me10 aqui toda prudente sem fantasias

de briosa; assi o mal acondiciona11, e assim levai entendido que o jogo12 pela rezão e

não pelo capricho. D. Francisco de Portugalb apadrinha os meus acertos quando diz13

(porque não pertendo sentenciar sem textos) que a alma, que mais sente, então mais

cala. D. Luis de Góngora nos intima que

Manda amor en su fatiga

que se sienta y no sedigac.

Hortênsio atribui a pequenez de coração que os empenhos se desmandem

aproveitar14 desafogos. E finalmente todos os mais deles, a que os aplausos dão

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128 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

presunções de Oráculos15, assentam que as executórias do amor consistem16 no silêncio

e que só17 esse é o mais nobre o que menos fala, e se18 entre tão forçosos preceitos, pode

fazer-se lugar ao meu sentido, digo que não só é possível caber um afecto grande em um

silêncio profundo; mas preciso o silêncio para que se crie o afecto, e estreito tanto as

Leis, que entendo ser ofensa do que se ama, à queixa do que se padece.

Tanto a la divina causa

se deve veneraçiond.

E como nas espaldas do19 penar se alverga20 o merecer, quem mitiga a dor

afrouxa a fineza, e se os primores del21 duelo embargam as Lágrimas como aLivioe, de

crer que é que não consintam as vozes; que de qualquer modo são agravo ou da Causa

como queixume, ou do efeito com a22 fraqueza, e assim aconselhara eu que se não

pusera a amante quem tiver o [fol. 2] sofrimento tão delicado, porque não é ofício para

corações23 mal acomplecionados.

Ex24 outro aventureiro

25Pregunta un antigo amante26

que en las finezas descança

si se puede en la esperança

lamar un27 amor constante.

Largamente decidiu esta questão D. António de Mendonça naquela Comédiaf

dignamente celebrada, mas porque não pareça que me acolho28 ao Sagrado de Palácio

por fugir de resposta, digo que a esperança do favor de uma Dama é pior que um não

quero, em que perdeo a jurisdição a ortografia, e o galang que senão descartar dela29, e

disto que chamam vontade própria, como dos oitos e noves30 do querer, antes de tomar

cartas31 na mão merece, que o façam ir32 a baralha com33 todo o jogo. As provanças da

fineza tiram-se no sofrimento; e sem esperar fim nen una pena espera34, logo todo o

esperar é poltronariah35 do Cuidado, mas porque os amantes não digam que oponho o

perigo36 de enforcados, mostrarei37 como lhe não sequestro grande fazenda, porque

falando das telhas abaixoi quando38 a mim, este nome de esperança se paga de vazio no

mundo, porque para o bem e para o mal se lhe introduziu no Império o desejo com39

temor, e se prova isto com Camõesj quando diz:

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129 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Mas comquanto não pode haver disgosto

quando a esperança falta40.

E Gracilasok

Que aquien no espera bien, no ay mal que [fol. 2 v.] dane

Vila41 Medianal:

Que tiene que temer el que no espera.

Petrarcam:

Por desesperaçion fato42 sicuro.

E finalmente milhares de Opiniões que limitam a esfera e a esperança43 nos

distritos do receio, e da desgraça, que harto44 pouco lhes nega aos Senhores amantes

quem so lhe glosa o que não é45, e se o há, não é alívio, é tromento, como parece que

quis dizer D. Francisco Manuel com tanto acerto como costuma quando escreveu46:

Dexale algo ala esperansa

que esso no es quitar la penan.

Dirão agora que doarei47 também as prisões deste preceito, que ameaçando

castigo aos enamorados48, lhes abrindo49 a maior comodidade, defendendo-lhe50 o mais

terrível instrumento de padecerem: acudo pela minha tenção com que se não devem

quebrar51 os privilégios da fidalgia a um pensamento desinteressado por fazer-lhe o

rendimento custoso, quando ele atina o caminho ao52 seu útil sem faltar ao decoro de

sua Dama. Mas também me não apalavro tanto com Platão que alargue esta observância

ao que licitamente e sem carrancas de soberania se pode permetir ao desejo, que um

voltar de olhos53, e54 premiar os suspiros, dignando-se de ser a causa deles, são as

comendas com que a Monarquia da Fermosura se desempenha [fol. 3] que o servir tão

independente das iras ou dos assombros do que se ama que nem uns se criem55, nem

outros se receiem, não só se me não afigura fineza, mas parece grosseria pelo que

mostra de isenção, e de nenhum modo se de56 fazer forte um coração rendido57 contra a

vontade imperiosa; e resolvo que58 tanto erra quem ama por esperança, como quem ama

sem ela; porque o primeiro é a soldadar com a Dama, e o segundo dominá-la; mas de tal

modo se deve subordinar aos âmagos de seu agrado ou desagrado: que por su gusto

inflamen sus estrelas.

E quem senão achou com alentos para tão altos vôos, e amainar as presunções

por aforrar de penas, siga outros ritos59, que aqui não se moderam os rigores.

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130 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

60Y qual constançia61 Amorosa

Mas el alma lizongea

so una discreta que es fea,

si una neçéa que es hermoza

Garnacha pedia esta sentença, e não vasquinha, mas vã. Se a alma é apreguntada,

não há dúvida que sentenceia62 pela discreta; porque sempre tive por infalível, que o

entendimento é o seu Ganimedes, e Menudos nunca foram manjar Real, ainda que

muitas vezes sejam manjar branco, como lá propôs o Villázano63:

Que la fineza de una alma

Hecha a perder un sentido. [fol. 3 v.]

E D. Antonio de Mendonça aconselha contra isto que

No hagas64 lizonja aloido

tan65 a costa de los ojos

Quevedop infama ambas66 de inúteis, a primeira

¿Qué gracia67 puede tener

mujer con fondos en fraile.

E a segunda com aquele soneto que começa

Sol os lamô68 mi lengoa pecadora Ve.

Eu dissera que quem não tivesse69 a sua fortuna em encontrar com uma discreta

formosa70, que sim há muitas sem suprimentos71 da afeição, que72 se fixasse

desnamorado, ou o fosse com alvará de lembrança, para a cegante73 dos providos;

porque é duro preceito que o sofrimento faça os gastos74 da Estimação, ou tolerando a

frialdade de uma reposta disparatada; ou um riso fora de tempo, ou padecendo à vista de

um monstro carinhoso75.

Que nunca las de tu talle

se preciaron de crueles76

Segundo D. Jeronimo Cancerq77; mas vejo que até agora não resolvo78 a menos

pior destas opositoras79 (tenha-me Deos da sua mão) digo Senhora minha que no

desventurado transe de sentenciar por uma das partes, ouço as partes da entendida, e

nego vista às da fermosa, por que neste caso são mais nobres os corpos místicos, que os

simples, e [fol. 4] os edifícios da vontade não são de abóbada para se fundarem neles: e

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131 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

eu tambem sou80 má corretora de alfaias que perecem81 com os dias; e o juízo não

distingue82 se é de cochonilhar a cor deste traste83.

84Y en que los85 hallan maiores

affectos las voluntades,

si en las que obligan piedades,

si en los que pican rigores.

Discretamente definiu isto em poucas palavras um autor moderno, e capaz de

alegações; dizendo que é pouco brio, o que se quer tratado por mal; donde a própria

condição é o parecer mais abonado, e melhor recebido pouco há que litigar86, nem eu

pertendo baldar os argumentos com o que há decidido a rezão, quem achar mais

modificativos os rigores que as piedades, faça-se Capucho, porque não perca a Arrábida

tão bom filho; que se sofram os pezares Canoninzo87 por fineza, que se escolham

boberia88.

89Saber una Dama quiere

por lo que un galan le escribe,

de que suerte amante90 vive

quando dice que se muere.

Informe o Galan; ou dê Porcuração em Causa própria, para que se lhe arrezoem

os autos.

91Y pergunta outra belleza

que algo92 de affectos padece

[fol. 4 v.] que accion en93 amor merece

el94 titulo de fineza

Tambem as damas são preguntonas, terrível clima devia ser este em quem se

deram tantas curiosidades! Ora eu digo que muitas vezes são tão varias as opiniões

como os sujeitos, aprovando95 cada um acção96 de que mais se agrada97, nenhum erra,

por aquela conta de Francisco de Sá de Miranda

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132 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Come o que te bem soubers.

Eu dissera que em querer, sufrir y calar, se resume98 todas, e se havemos de dar

outra volta aos cordéis, cerrar los ojos ver com otros ojos, e Liciet99 sin voluntad de

voluntades, e isto100 quanto ao galan; que quando101 a Dama nenhuma fineza é maior

que sacrificar a esperança à desabrida conversação102 de quatro paredes, e se esta

confissão103 levantar alguma dúvida, responda104 que nem todas as cousas se julgam,

nem todas as disposições se medem e até nos Santos há virtudes incapazes de imitação,

e só dignas de pasmo, e neste particular não falo mais palavra.

105Tambien quiere que se106 diga

quien sabe de merecer

si se deve agradecer

una mentira que obliga.

Non si fa inganno a cui l' inganno ì caro107,

Diz Garinou no seu Fido; Lope de Vegav: [fol. 5]

Que por no me encontre el dezengaño

tengo al engaño por eterno amigo.

A toda a obrigação se deve agradecimento, porque é mui delicada consciência108

a cortesia, e assaz merece quem sacrifica a verdade à adulação, infamando-se assi por

lisongear a outro109; de falsidades inúteis110 nos Livre Deos amiga, que às prazenteiras

todo o homem descansa111.

112Y qual temor ó mudança

da mais pena siendo gloria

si del Logro la memoria,

o si del bien la esperança.

Triste de quem tem a liberdade tolhida e a memória muda; vã de resposta. Mui

igualmente se medem as armas, estas penas na avaliação do mundo, mas eu que não sou

mundo, introduzia113 nova oposição à consulta; e provará114 a saudade bem que aqui só

estas suas115 ânsias se pleiteam às memórias. Vou-me com Villa Medianaw quando

escolhe

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133 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Llorar prezente mal,

no bien paçado.

Porque el placer que passo

apesar116 nunca se olvida.

Y em117 mais agudos fios fogem118 as verdades da lembrança119 que as quimeras

da fantasia, porque ainda que bienes dudozos120 males son prezentes, não se exime121 a

paciência122 dos que o buscam cara à cara, e os que com a capa dos dias se introduzem

ao123 juízo é força que se sintam com mais fidalguia, e menos cautela, e finalmente o

que passou é [fol. 5 v.] possível que124 possa ser porque se não dá a esperar impossível o

dificultoso, vede que diferentes actos faz aquela dor e125 este enfado; este é o meu

parecer salvo melhor juízo.

126Y qual uno y otro amante

Será mas pa. admetido

siaquel que enganha127 entendido,

si aquel que adora ignorante!

Si como uiso, si mostrase il cuore 128.

Como lá parece que desejava o Ariostox; pouco tinham129 que fazer estas

preguntas porque130 se conhecera o tonto não podia ter Amor nem o enganoso justiça,

havendo de querer informes mais exteriores parece que se enfada a verdade com a

dúvida largamente ou simplesmente séria.

Esta matéria como131 vós vistes litigando só obrigação a que o parvo tinha mais

direito que o agudo, e cuido que então sem ser tão francas as explorações132 como hoje,

que todos os meus sentidos podem ser pregoeiros desta verdade, ou por obrigados133, ou

por absortos, que isso não averiguo, sentenciei134 pelo fingimento minha senhora

discreto a toda a Lei mas que não tenha Lei, porque quando não merece o favor,

desculpa é ao menos conveniente135, nenhuma pessoa de juízo deve admitir vontade que

tem só em si o merecimento; porque qualquer hora que afrouxa quebra como tudo é

deixar a venerações do entendimento pelas carícias da boberia, é um vem violento,

castigo de mau gosto, e me atrevo ao firmar que tem baixíssimo ânimo quem se dá

apresoy de afectos desamparados, porque mostra que136 senão acha capaz de adorações

mais [fol. 6] discursivas. Um parvo não tem escolha, e tanto adora uma divindade como

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134 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

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um madeiro; porque o que nos entendidos é gentileza, neles é desatino, e conheço tão

valente esta razão que de pontual não lhe parte dar padrinhos, que saíram137 quando haja

escrupulosos, nem vós consintais que alastre a necessidade as insígnias do Respeito.

138Y en los ardentes desvelos

que aspiran a Recompensa

si son los zelos offensa

ó son fineza los zellos

Não alcanço a verdadeira tenção desta pregunta, e se quer saber se ofende a139

quem tem os ciúmes o a quem os dá, mas a ambas responderei. Hortênsio sente quanto

ao primeiro que (es no estimar a los cielos temer mancha en su pureza) e o certo é que

arriscam ou infamam inquirições no Divino, e Portugalz140 anuncia.

Que la Curiosidad peina mudanças

E por nenhum modo se deve adivinhar ou cariar as ofenças, e encaro141 que

porfie a condição em fazer-se rebelde à cortesia, será acertado cortar as amarras à

vontade sem derrotar a paciência da Dama, que amor que demanda não tem justiça, e

neste particular digo com Antonio Henrique Gomesβ que142

mi parecer es, que siga

el amante una de dos

ò querer sin tener rezelos

ò olvidar si los halló143.

E não lhe custará muito esta última, que una144 duda mas cerca145 esta de

mudanças. Vamos a Senhora Dama eu não [fol. 6 v.] quero admitir por requestar os

decores de una Deidad (que são os assuntos em que falo, e o mais perdoem) que haja

barbados que dê Ciúmes, que assim os hemos de baptizar em casa com licença do

Pároco, porque de nenhum modo pode chamar a fineza o que é desestimação. Toda a

mulher que fez desprezos146 deste porte é para que lhos sofram, e todo o ignorante que

lhes sofre conhecendo os voluntários/ ao fez de a custa do seu triste crédito: Damas147

há que inconsideravelmente julgam o engano de cortesia e por não parecerem mal

criadas são traidoras. E ainda em uma acção tão feia por desviarem-se de uma palavra

tão linda como um não quero, de que eu gosto tanto que enfeitara com ele os mesmos

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135 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

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versos de Virgílio, se eles a quiseram agasalhar, mas também as desculpo, de que há

enfadonhos148 tão profiados que é necessário tomarem-lhe a casa149 para conhecerem

que a perderam, e lhe não deve ser grande mimo fazerem a um homem suspeitoso,

porque Francisco de Sá diz de sua Helena

Un tiempo miro me Elena

Sospeché que éramos, mas

Nunca cosa hize tan buena

Como no mirai-la masα150.

E com isto não desabono o151 galan que por sua devoção toma o beijar152 as aras

em que via fumo de outros já sacrifícios por que não153 parecer tão fogoso quiçá que lhe

nasça de mais154 amante onde que os temperamentos dos Corações não só todos uns, e

uns querem de seu vagar assim como podem, outros mais não podem155, e todos

querem. [fol. 7]

156Y preguntase en rigor157

so converdad ô con arte158

un amor, que se reparte

sera todavia amor.

Don Francisco de Quevedoθ diz que sim, e dá a rezão, em dois sonetos que são

larga prova e foram larga escritura; quem escrupulizar a verdade, busque-os, que um

começa:

Si de cosas diversas159 la memoria

E o outro160

Tal vez se vè la nave negra, e corva 161.

E se arrima a valentes e repetidos autores e tudo se pode temer.

De questa fura che se chama amor

Como apelida o Paravicinoη 162. Mas eu não me acomodo ao que parecer163 nesta

Matéria e dou a Causa: o querer é uma resignação da vontade, e uma veneração do que

se ama e quando senão atendem ao ultrage que ambas aquelas disposições164 padecem165

com os de fora na competência das causas, se não devia crer que nenhuma delas se

houvesse tão frouxa com as jurisdições de querida, que as deixasse repartir com outra, já

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136 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

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não quero que de inclinada, mas de soberana e em caso que as desestimações

baixassem166 a ser defensas167, nunca ficaria bem posto o Crédito da Dama com os

maliciosos mirones das finezas, porque é simpleza de mentos quilates consentir

bizarrias à paixão alheia, a custa de respeitos próprios, e [fol. 7 v.] querendo em duas

partes se diriam notavelmente em primor do afecto, porque o Galan fica inflame, a as

Damas desluzidas168, e assim quando pudesse vencer-se a dificuldade de repartir o

cuidado (o que eu não creio) se não deve169 admitir o exemplo pelas carrancas de todos

os respeitos; agora me digam que170 senão pode amar mais que uma vez na vida,

também nego171, Lope que é homem de solilóquios, e digno de Fé me apadrinha esta

opinião nas suas rimas, naquele soneto fatal que se entra pelos sucessos da outra gente,

como por sua casa. E começa:

Marcio yo amé y arepentime amando172.

Eu o não repito porque não pareça que vou pagada da minha tenção e não do

vosso preceito, e senão baste esta prova de toda o Portugal173; que há sido hoje o meu

favor174, que também confessa a mesma experiência quando diz175

Aquel amor aquien distes

tanto aplauso o176 nel silençio

nó mudô de adoraçiones

aunque há mudado de dueño.

Com que parece linda177 a minha opinião vamos a última pregunta178 já que

Deos foi servido chegarmos a ela com vida.

179Y enfin pregunta esta Dama

ya fee que tiene Rason

en amor180 com distinción

que es esto que Fee se llama.

Eu o dou por adivinhado, porque também o não [fol. 8] entendo, o certo é que

todo o amor distinto é desbaratado181, y que amar a uno, e huir a outro, ni es amor, ni

olvido, as mais vezes nisto de Fé o mesmo é inquiri-la que perdê-la e que senão pode

tomar fé182 neste Caso mostra confusão daquele verso

No tiene espaldas la Fee

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137 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

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La fee que toda es espaldas.183

Com184 afectos menos nobres a experiência concede a repartição, mas que no es

lo mismo el amor que el apetito defende fortememente o Lupércio, com185 resolução, eu

não a tomo186 na matéria porque acho menos difícil a fé no Alcorão de Mafoma187 que

na decisão de um cuidado, quando isto sucede a (salvo tal lugar)188 senão deve chamar

amor senão engano ou escárnio, se a pessoa é tamanha e tão desafogada que se possa

crer dela que não poupa os pesares de acanhada, que os repete si de maliciosa, que tudo

poderá ser, e nada tão fora de próposito como escrevi189 em duas folhas de papel de

disparates, por fazer a hora190 boa vossa travessura, apesar de minha tristeza, ora

senhora desculpai-me com quem censurar a impertinência destas respostas, com o

número das perguntas, que assaz191 de pouco lhe cabe uma em menos de uma plaina.

Ve.

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138 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Preguntas e respostas

BNP14, fol. 157 v.-161

Pregunta 1ª

Pregunta un amante loco

a fuerça de padeçer

si es cosa que puede ser

amar mucho, e hablar poco?

Respuesta

Digo que no puede ser

amar mucho, e hablar poco

que el amoro, es furor loco [fol. 158]

y en la lengua se ha dever.

Mucho hablar, es de amor mengua,

mas fineza hes ser callado,

que ha de faltar al ciudado,

quien se dá todo a la lengua.

Pregunta 2ª

Tambien pregunta outro amte.,

que en las finezas descança,

si puede en la esperança

llamar un amor constante?

Respuesta

Sola mte. en la esperança

puede el Amor ser constante

que luego es tibio el amte.

si lo que pertende alcança.

No se puede en la esperança

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139 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

lamar un amor constante,

que no padeçe el amante

que estâ pensando, que alcança.

Pregunta 3ª [fol. 158 v.]

Y qual com ançia Amorosa

mas al alma lisongea,

si una discreta que es fea,

si una nesçia, que es hermoza.

Respuesta

La hermosura es *suspension

del alma, y de los sentidos,

y pues que no dexa oydos

pa. que es la descriçion?

Lisonja es de los sentidos

la descricion, aun que fea;

si es alma, enque se recrea,

sus puertas son los oydos.

Pregunta 4ª

Y en quales hallan maiores

affectos las voluntades,

Si en las que obligan piedades,

Si en los que pican rigores?

Respuesta

Lo picante de un rigor

dispierta las voluntades [fol. 159]

q obligarme con piedades

es compassion, no es amor.

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140 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

De la piedad, el agrado

a querer suele obligar,

que el rigor no mueue a amar,

aun que despierta el cuidado.

Pregunta 5ª

Saber una Dama quiere,

por log’ un galan escriue

de que modo un hombre viue,

quando dize, que se muere?

Respuesta

El galan que tierno escriue

a su Dama, que se muere,

Murir al sentido quiere,

Que solo al cuidado viue.

Pregunta 6ª

Y pregunta esta bellesa,

Que algo de affectos padeçe,

Que accion de amor mereçe,

El titulo de fineza.

Respuesta

Obliga aun fino querer,

no querer, pa. obligar,

si no pertender amar

por prémios del padeçer.

Adorar una bellesa

sin outro fin, que adorar

es lo que deue alcançar

al titulo de fineza.

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141 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Pregunta 7ª.

Y esta pretguntando, arguye

un pensamiento en que trata

si es liçito ser ingrata,

com quien gratitudes huya?

Respuesta

Pierde una Dama el concepto

si con ingrato amte. trata,

no es liçito ser ingrata,

ser despreçiada es defeto.

No es liçito ser ingrata

com quien gratitudes huye [fol. 160]

porque poco honor arguya

quien solo en vengaças trata.

Pregunta 8ª.

Tambien quiere que le diga

quien sabe de mereçer

si se deue agradeçer

una mentira, que obliga?

Respuesta

La mentira, que obligo’

se deue de agradeçer,

que mil vuezes elquerer

por una burla empeso!

So loque es falço plazer

es infalible pezar,

un mentirozo obligar

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142 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

es verdadero offender.

Pregunta 9ª.

Y qual temor, o mudança

dá mas pena, siendo gloria;

si del logro la memoria [fol. 160 v.]

ó si del bien la esperança?

Respuesta

Aun que a la memoria cança

El mal de un bien yá perdido,

un bien, y un mal há tenido

y es mal, sin bien, la esperança.

Mas pena dá la memoria

de un bien que tuvo mudança;

porque aun en flor la esperança

tiene vislumbres de gloria.

Pregunta 10ª.

Qual uno, y outro amante

será mas para admitido,

si aquel que engana entendido,

o aquel que adora ignorante?

Respuesta.

Jusgo que los ignorantes

hán de ser los admitidos,

que Amor no premia entendidos,

premia sola me. amantes.

Si ama el necio en verdad,

muera el sabio fingimento [fol. 161]

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143 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

que Amor no es entendimiento

es acto de voluntad.

En tan cierto prejuizio,

del discreto escojo el desẽo,

que puede e’mendar su engaño,

y no el neçio de juizo.

Pregunta 11.

Y en los ardientes desvelos

que aspiran a recompensas,

si son los zelos offensa,

ó son fineza los zelós?

Respuesta

Zelos no puedo entenderlos,

y me dá pena nombrarlos;

pero digo, que es eldarlos

fineza, y ofensa tenerlos.

Pregunta 12

Y preguntase en rigor,

Si con verdad, o con arte

un amor que se reparte

será todavia temor? [161 v.]

Respuesta

Puede dividirse amor,

pues es fuego, y bien se entende,

que un fuego otros mil encende,

y no se queda menor.

Si no ay muchos, admitidos,

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144 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

ser mas o modo no es gloria,

que caminha la victoria

al passo de los vençidos.

Pregunta 13.

Y enfin, pregunta esta Dama,

y afé que trene rason,

en amor con distincion,

que es esto que fé se l<l>ama?

Respuesta.

Digase lo que quisiere

el Platonico amador,

la fé que deue al amor

es querer a quien me quiere.

En la mehor openion

solamente fé se llama [fol. 161]

amor a una ingrata dama,

y adorar su sinrason.

Pregunta 14.

Y qual de amores lisonja

mereçe menos cuidado

lo que encareçe un soldado,

o lo que afecta una monja?

Respuesta.

De un Marte lo encareçido

de una Monja lo affectado,

es bueno para escuchado,

es malo para admitido.

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145 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

La Monja toda es mentira,

y verdad todo el soldado

aora jusque el cuidado

qual miente, quando suspira.

a «Tabareo: Dà o vulgo este nome a quem falla sem ordem, ou a quem exercita mal o seu officio, & como a gente da Ordenança pouco sabe da ordem, & Arte militar, chamamos vulgarmente Tabareos, aos das Ordenanças. Vid. Ordenança. Vid. Auxiliar.» Vol. VIII, pg. 5 b Refere a obra de D. Francisco de Portugal, Arte de la galanteria, Lisboa, Juan de la Costa, 1670. Note-se ainda que, devido a problemas no suporte, esta linha se encontra dificilmente legível. c «Manda amor en su fatiga que se sienta y no se diga; pero a mí más me contenta que se diga y no se sienta.» cf. Luis de Góngora, Antologia Poética, Lisboa, Assírio & Alvim, 2011, pg. 76-79. d «tanta a la divina causa se debe veneración.» cf. Luis de Góngora, “En lágrimas salgan mudos”, in Obras Completas, Biblioteca Castro, Madrid, 2000, ed. Antonio Carreira, Nº 371 e Manteve-se a grafia original por poder significar «alívio» ou «a Lívio»; reforce-se que há uma provável citação na oração anterior. f Referência provável a El Fenix Castellano, renascido de la gran bibliotheca d’el ilustrissimo senõr Luis de Sousa, Arçobispo de Lisboa, Capellan Maior, del Consejo de Estado d’el Serenissomo Rey de Portugal D. Pedro II. A (…) D. Mariana de Sousa, Marquesa de Arronches, Lisboa, Miguel Menescal, 1690. A obra não está a consulta na BNP. Por tal, as restantes citações que Feliciana efectua da obra não puderam ser identificadas. g Manteve-se a grafia em todas as ocorrências desta palavra, por não ter equivalente em Português. h «Poltronaria: Qualidade ou procedimento de poltrão; cobardia, pusilanimidade.» Cf. António de Moraes Silva, op. cit., vol. VIII, pg. 470). i «Porque falando das telhas abaixo»: cita Lucas 12: 2-3: «Porque não há nada oculto que não venha a descobrir-se, e nada há escondido que não venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados» ; e também o proibido Evangelho de Tomé, quando afirma [cf. Logion 33]:«Jesus disse: o que escutais em vosso ouvido e no outro ouvido, proclamai-lo sobre vossos tetos. Ninguém, com efeito, acende uma lâmpada para pô-la sob a cama, nem a põe em um lugar escondido; mas ao contrário a põe sobre o lampadário, para que quem entre e saia veja sua luz.» j Citação do Soneto de Camões «Busque Amor novas artes, novo engenho» (cf. Luís de Camões, Sonetos, Lisboa, Empresa Literária Fluminense, 1924, pg. 11) k Citação da Écloga II de Garcilaso de la Vega: «Que a quién no espera bien no hay mal que dañe», in “Egloga II”, Parte 1.7 (cf. Obras de Garcilaso de la Vega, Madrid, En la Imprenta de Sancha, 1821, pg. 53, ed. J. N. de Azara). l Citação de uma Redondilha de Villa Mediana: «Corra el tiempo bravo, ò mãso, ò muestre faz mas severa, que el que no teme, ni espera.» Cf. Obras del Conde Ivan de Tarsis, Conde de Villamediana, Saragoça, Juan de Lanaja, 1629, pg. 371. Note-se que a correspondência entre a citação de Feliciana e a que acabámos de referir não é total; por este motivo não corrigimos o texto-base. É igualmente possível que Feliciana cite uma versão com outra lição. m Citação do Soneto XXX de Francesco Petrarca.

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146 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

n Citação de D. Francisco Manuel de Melo: Dexale algo ala esperansa que esso no es quitar la pena (Cf. Obras Métricas, Braga, APPACDM, 2006, vol. 1, pg 214 o Trata-se de uma citação do dramaturgo (de Comédias) e encenador Cristobál Ortiz de Villázan (m. 1626), autor de El Principe de la Luz y El Lucero de Noche, que chegou a representar em Lisboa com a sua companhia em 1619 no Hospital de Todos os Santos, por intermédio da proprietária de uma casa de teatro, dona Catalina [ou Catarina] de Carvajal. É um autor pouco estudado e não nos foi possível encontrar nenhuma cópia das peças citadas, que serão muito possivelmente as que Feliciana cita, já que na cidade terão circulado cópias manuscritas com o texto, devido até à sua necessária aprovação legal. Veja-se Narciso Diaz de Escovar, “Antiguos Comediantes Españoles”, in. “Boletín de la Real Academia de la Historia”, Madrid, Real Academia de la Historia, tomo 86 (1925), pp. 252-259. p Feliciana cita dois textos de Francisco de Quevedo. O primeiro encontra-se no Buscón: «¿Qué gracia puede tener mujer con fondos en fraile, que de sermones y chismes sus razonamientos hace?» Cf. Francisco de Quevedo y Villegas, La vida del Buscón llamado don Pablos, ed. D. Ynduráin, Madrid, Cátedra, 1983, pgs. 241-242. O segundo é o incipit do Soneto «Sol os llamó mi lengua pecadora» (cf. Francisco de Quevedo, Obra Completa, Barcelona, Planeta, Nº 559, Jose Manuel Blecua, ed.). q Jerónimo de Cáncer y Velasco (c. 1599 – 1655), poeta e dramaturgo espanhol. O excerto citado encontra-se no Romance «Lisi, ya muere my amor» (cf. Obras Varias, Madrid, Diogo Diaz de Carrera, 1651, pg. 35. Correcção da citação a partir da lição presente na obra citada. r «Cochonilha» designa o insecto Dactylopius Coccus, da família dos pulgões e cigarras, predador de pomares; bem como designa o corante de cor carmim utilizado em vários fins, sendo os mais frequentes os corantes alimentares, cosméticos ou tintas. No contexto parece-nos mais claramente referir-se à cor ou coloração. Este corante, o ácido carmínico, é produzido pela cochonilha para se defender de outros animais. De ressalvar que os insectos em causa são originários do México, e começaram a ser importados a partir de 1600 para o Ocidente, sobretudo para Espanha. O seu valor era incomensurável, tendo Montezuma chegado a receber tributos em cochonilha; por volta do século XVIII, o produto estava cotado nas bolsas de Amsterdão e Londres. Confira-se o artigo acessível em http://www.gcrg.org/bqr/8-2/bug.htm, último acesso em 21 de Junho de 2012; e também José Monteiro de Carvalho, Dicionario Portuguez das Plantas, Arbustos, Matas, Arvores, Animais quadrupedes, e repteis, Aves, Peixes, Mariscos, Insectos, Gomas, Metaes, Pedras, Terras, Mineraes, &c (…),.Lisboa, 1817 s Citação da “Écloga Basto” de Francisco de Sá de Miranda (Poesias de Francisco de Sá de Miranda, Lisboa, INCM, 1989, pgs. 153-186, edição de Carolina Michaëlis de Vasconcelos). t Refere Licie, ou Lisi, enunciada por Jerónimo de Cáncer y Velasco em vários romances. É, igualmente, um anagrama muito frequente na poesia do século XVII; apenas na Fénix Renascida encontramos várias ocorrências. u Giovanni Batista Guarini (1538-1612), autor de Il Pastor Fido (1590), tragicomedia pastoril. Il Pastor Fido, Verona, Timermani, 1737, pg. 111. Emenda do texto-base a partir da lição na versão citada. v Feliciana cita Lope de Vega, no Soneto «Lucinda, yo me siento arder, y sigo», (cf. Francisco de Quevedo, Obra Completa, Barcelona, Planeta, 1983, Nº 81, pg. 70, Jose Manuel Blecua, ed.). w É uma citação do «Terceiro Soneto Amoroso» (Cf. Obras del Conde Ivan de Tarsis, Conde de Villamediana, Madrid, Diego Diaz de la Carrera, 1643, pg. 105): «Llora prezente bien, no mal passado Y en dichoso morir desobrigado.» Reforce-se que Feliciana opera, pretendidamente ou não, uma inversão da posição dos substantivos «bem» e «mal». x As nossas pesquisas para indicar a citação de Ludovico Ariosto revelaram-se infrutíferas. y Manteve-se a grafia por poder significar «apreço», «a preso» ou «a preço». z Referência a D. Francisco de Portugal, na obra já citada. β Trata-se do «cristão-novo de origem castelhana» António Henrique Gomes (1600-1663, cf. Margarida Vieira Mendes, Rimas Várias de Soror Violante do Ceo, Lisboa, Presença, 1994, pg. 7). Inocêncio da Silva refere ainda que tendo nascido em Portugal, viveu em Castela e depois em França, onde foi nomeado por Luís XIII «Cavaleiro da Ordem de S. Miguel, e o fez seu Conselheiro e Mordomo

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147 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Ordinário». Foi autor de várias obras: Triumpho Lusitano, no qual se contém a feliz acclamação d’El Rey D. João o IV… (Paris, 1641), Sanson Nazareno, Poema Heroico (Ruen, Lourenço Maurry, 1656), ou ainda de Academias morales de las Musas, livro «rarissimo», que foi editado em Madrid em 1668 por Joseph Fernandez de Buendia, e que teve segunda edição em Barcelona em 1704, na Oficina de Raphael Figueiró (cf. Inocêncio da Silva, Dicionário Bibliographico Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, 1867, Tomo VII, pg. 167; tomo I, pg. 153). A citação que Feliciana efectua é retirada de Academias Morales, Madrid, Joseph Fernandez de Buendia, 1668, pg. 123. α Seguida a lição fixada por Carolina Michaelis, da «Cantiga do Cego» de Sá de Miranda (cf. Carolina Michaelis de Vasconcelos, Poesias de Francisco de Sá de Miranda, Halle, Max Niemeyer, 1885, pg 175) θ São citados dois sonetos de Quevedo: primeiramente, o Soneto XXXVI; em segundo, «Dos Amores Mios»). Correcção da versão base a partir da edição: Francisco de Quevedo, Obra Completa, Barcelona, Planeta, Nº 36, Jose Manuel Blecua, ed., pgs 42 e 330. ηTrata-se de uma citação de Hortensio Felix Paravicino (1580-1633). Não foi possível identificar a citação. 1 o mandastes BNP3, BNP14; 2 E essa será a mais primorosa obediência, que atropele os inconvenientes da Razão BNP14, BL2; E essa será a mais primorosa obediência, que atropel os inconvenientes da Razão BNP3; 3 senhora minha, me permiti, que me BNP3, BNP14; 4 que tal praga de perguntas se as não enfiou Pedro Fernandes Monteiro BNP3, BNP14; 5 meto a tonta pelo caminho de pontual BNP3; entro a tonta pelo caminho de pontual BNP14; entro a tonta pelo caminho de pontualissima BL2; 6 por BNP3; 7 pude BNP15 Emenda do texto-base a partir da lição puede BNP3, BNP14, BL28 Não fala pouco quem faz preguntas, Senhora, BNP3, BNP14; 9cen’o BNP3, BNP14, dezabrimento BL2; 10 postar BNP3, de me portar BNP14; 11 azia mal acondicionada BNP3, BNP14; 12 advogo pela razão BNP3, BNP14; 13 Portugal, de baixo de cujo nome se amparão todos os meus acertos diz BNP3, BNP14; 14 procurar BNP3, BNP14; 15 todos, ou os maes a quem os aplausos dão prezumpções de Oraculos BNP3; todos, ou os maes de pés a quem os aplausos dão prezumpções de Oraculos BNP14; todos, ou os maes a quem os aplausos dão prezumpções de Oraculo BL2; 16 consiste BL2; 17 omite so BNP3, BNP14, BL2; 18 omite se BL2; 19 de BL2; 20 alvergue BNP3, BNP14; 21 do BNP3; 22 como BNP3; 23 officio que a corações BNP3; 24 Eis BNP15, BNP3; Dis BL2; 25 Pregunta segunda BNP3, BL2; 26 Tambien pregunta outro amante, BNP14; 27 llamar a un amor BNP3; 28 pareça que me valho, e me acolho BNP3, BNP14; 29 descartar desta BNP3, BNP14; discartar della BL2;30 nove BL2; 31 omite cartas na mão, merece, que o façam ir à baralha com todo o jogo BL2; 32 ter, BNP14; 33 sem BNP3; 34 y con esperar fin ninguna pena es pena BNP3, BNP14; 35 polotronaria BNP3; potronaria BNP14, poltronaria BL2; 36 eu os ponho a perigo BNP3; 37 mostrareis BNP14; 38 quanto BNP3; 39 e o BNP3, BNP14; 40 Mas conquanto não pode haver gosto donde a Esperança falta BNP3, Mas com quando não pode haver gosto donde a esperança falta BNP14. 41 E Villa BNP3; 42 fate BNP3, BL2; 43 esfera da Esperança BNP14; 44 desgraça. Harto BNP3, BNP14; 45 há BNP3, BNP14; 46 omite quando escreveo BNP3; Manoel quando escreveu com tanto acerto como costuma BNP14; 47 dourei BNP3, BNP14; 48 namorados BNP3; 49 brindo BNP3; 50 defendolhe BNP14; 51 cobrar BL2; 52 caminho de satisfazer o BNP3, BNP14; 53 o voltar ao menos os olhos BL2; 54 é BNP3; 55 acrisolem BNP3; 56 há de BNP3; 57 Falha no suporte. 58 em que tanto BNP3, BNP14; 59 ditos BNP3; 60 Pregunta terceira BNP3, BL2; 61 com ancia BNP3, BNP14; 62 sentencee BNP3, BNP14. 63 branco. Lá se mesquinha o Villayzan BNP3; 64 aya; BNP3; 65 con BNP3; 66 a ambos BNP14; 67 consagracia BNP15 com que gracia BNP3; com que graise BL2; 68 llumó BNP3, llama BL269 devesse BNP3, BNP14; 70 divesse à sua fortuna encontrar huma discreta formosa BNP3; 71 suplemento BNP14, suplimento BL2; 72 omite BNP3, BNP14; 73 a vagante BNP3, BNP14; 74 gatos BL2; 75 Caricioso BNP3, BNP14; 76 Que nunca las deste talle se preciaron de crueles, BNP3, BNP14, BNP15; 77 que segundo D. Jeronimo Cancer = Nunca las deste talle, se preciaron de cruelles BL2; 78 resolvi BNP3, BNP14; 79 oposições BNP3, BNP14, opiniões BL2; 80 sou tão bem BNP3, sou também BNP14; 81 alfaias que perece BL2; 82 distingua BL2; 83 E baste até aqui BNP3, BNP14; 84 Pregunta Quarta BNP3, BL2; 85 E en qualles hallan maiores BNP14; 86 leigar BNP3; 87 Canonizo BNP3, Canonico BL2; 88 escolhão, boberia BNP3; escolhão por boberia BL2; 89 Pregunta Quinta BNP3, BL2; 90 un hombre BNP3; 91 Pregunta Sexta BNP3, BL2; 92 algos BL2; 93 de BNP3; 94 A BNP3; 95 e que a provando BNP3, BNP14; 96 a-acção BNP3, acção BL2; 97 sagrada BL2; 98 resumem BNP3; 99 e Licie BNP14, *alicie BNP3, *alizie BL2, Clésie BNP15. Seguiu-se a lição de BNP14. 100 Isto quanto BNP3; 101 quanto BNP3; 102 sacrificar a esperança ao sentimento, e a liberdade à Resolução; e Resolução, liberdade, sentimento e Esperança à desabrida conversação BNP3;

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148 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

sacrificar a esperança ao sentimento, e a liberdade à Resolução; e Liberdade, e Sentimento, e esperança à desabrida conversação BNP14; sacrificar a esperança ao sofrimento, e a liberdade e Resolução, e Resolução, liberdade, sentimento e Esperança à desabrida convorcação; 103 confusão BNP3; 104 respondo BNP3, BNP14; 105 Pregunta Sétima BNP3, BL2; 106 le BNP3; 107 omite BNP15, No si fa ingano assi lo ingano é caro BNP3, No si fa ingano [c]assi l<o>/’\ ingano é caro BNP14, Nó si fá ingano, assi l’ inganno é caró BL2; 108 de consciência BNP3; 109 outrem BNP3, BNP14; 110 omite de falsidades inuteis BNP3; 111 as prazenteiras bem se saneão BNP3, BNP14; 112 Pregunta Sétima BNP3, BL2; 113 introduzira BNP14; 114 provera BNP3, BNP14; provara BL2; 115 destas suas BNP3, destas duas BNP14; 116 pezar que BNP3, BNP14; 117 com BNP14; 118 ferem BNP14; 119 E com mais agudos fios ferem as verdades da Lembrança BNP3; 120 deduzos BNP3; 121 exprime BNP3; 122 experiência BL2; 123 no BNP3, BNP14; 124 impossivel que torne: o que se espera é preciso BNP3, BNP14; impossivel que torne: o que se espera é possível BL2; 125 à BNP3, a BNP14; 126 Pregunta Sétima BNP3, BL2; 127 engan’a BNP3; 128 Si comoei ciuso si mostrasse yl euere BNP3; si comio giudicio si mostrasse yl cuore BNP14; si como uiso, si mostrase il cuore BL2, Silome y quiso si mostrase il cuore BNP15; 129 tinha BL2; 130 se se conhecera que o tonto não podia ter amor nem o enganoso justiça mas havendo de querer em formas mais exteriores, parece que se enfada com a dúvida largamente ou simplesmente seria descutida. BL2; 131 omite BL2; 132 explicações BL2; 133 obrigação BL2; 134 Sentenceo BL2; 135 he menos conveniente nem o menos conveniente BL2; 136 o tonto não podia ter amor, nem o enganozo justiça, mas havendo de se letigar, se o parvo tem mais direito que o entendido? Sentenceo, minha senhora, pelo fingimento, discreto a toda a ley, e mas que não tenha ley, porque quando não merece o favor desculpa o e não he o menos conveniente. Nenhua pessoa de juizo deve admetir vontade, que tem sô em sy o merecimento; porque qualquer hora, que afrouxa, quebra com tudo; e deixar as venerações do entendimento pelas caricias da boberia, he hum bem violento castigo do mao gosto, e me atrevo a affirmar que tem baixissimo animo, quem se dâ a preço de affectos desemparados, porque se mostra que BNP3, o tonto não podia <†> ter amor, nem o enganozo justiça, mas havendo de se litigar, se o parvo tem mais direito que o entendido, <†> sentence[o], minha Senhora, pello fingimento., discreto a toda a ley, e mas que não tenha ley, porque quando não merece o favor desculpa o, e não he omenos conveniente. Nenhuma pessoa de juizo deve admetir vontade, que tem sô em sy o merecimento; porque qualquer hora, que afrouxa, quebra com tudo; e deixar as venerações do entendimento pelas caricias da boberia, he hum bem violento castigo do mao gosto, e me atrevo a affirmar que tem baixissimo animo, quem se da a preço de affectos desemparados, porque mostra que BNP14; 137 padrinho, sairão desvanecidas BL2: 138 Pregunta Décima BNP3, BL2; 139 ofende quem tem os ciumes, ou quem os dá BNP3;140 e o Portugal BNP3, O Portugal BNP14; 141 em cazo que BNP3, em caso em que BL2;142 só isto disse bem BNP14; 143 halló BNP3, BNP14; 144 una fineza que BNP14; 145 cerca BL2; 146 desprezo BL2; 147 omite eu não quero admetir por requestar os decores de una Deidad (que são os assumptos em que falo, e o mais perdoem) que haja barbados que dê Ciumes, que assim os hemos de bautizar em caza Com lisensa do Parrocho, porque de nenhú modo póde chamar a fineza o que he dezistimação. Toda a mulher que fes desprezos deste porte hé para que lhos sofrão, e todo o ignorante que lhes sofre conhesendo os voluntarios/ ao fes de acusta do seu triste credito. BNP3, BNP14; 148 com que há enfadonhos BNP14; 149 capa BNP14; 150 Sospeché, que eramos mas juré non mirarla más BNP3 Un tempo miró mi Helena Sospeché, que eramos mas, Nunca cosa histo tan buena Como no mirarla más BL2. 151 ao Galan BL2; 152 torna a adorar BNP3, tornar a adorar BNP14, torna a beijar BL2;153 não são os brios victimas a que se negue a aceitação e não parecer BNP3, não são os beijos victimas a que se negue a aceitação BNP14, porque não são victimas os brios a que se negue a aceitação BNP3; 154 de ser mais BL2; 155 outros não podem BNP3, BNP14156 Pregunta Undécima BNP3, BL2; 157 Y pergunta si en rigor 158 O con verdad, o com arte;159 divisa BNP 15, diversas BNP3, BNP14; 160 E outro principia BL2; 161 Talves se vè la ave negra e corva BNP3, BNP14 Talvez si vè la nieve negra e corva BL2 162 Palarosco BNP3, BNP14; Paralesco BL2; 163 que entender BNP3, se entender BNP14; 164 attendera ao ultrage, que ambas quellas disposições padessem com os de fora na competência das causas, senão havia crer; 165 padeciam BNP14; 166 se laxassem BL2; 167 licenças BNP14; 168 laixassem a ser licenças, nunca ficaria bem posto o credito da Dama com os maliciosos mirones de finezas; porque he simpleza de muitos quilates consentir bizarrias a paixão alheia à custa de respeytos proprios; e querendo em duas

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149 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

partes se desaira notavelmente o primor do afecto, porque o galan fica infame e as Damas desluzidas BNP3, BNP14; 169 devia BNP3, BNP14; 170 omite BL2; 171 o nego BNP14; 172 amado BNP3, BL2; 173 denola BNP3, BNP14; 174 fiador BNP3, BNP14; 175 diz assim BL2; 176 en el BNP14; 177 se alinda BNP3, BNP14; 178 preguntas BL2; 179 Pregunta Duodécima BNP3, BL2; 180 amar BNP3, BNP14; 181 desbotado BNP14; 182 pé BNP3, BL2; 183 Y ay fee que toda es espaldas BNP14; 184 E em affectos BNP14; 185 e em BNP14; 186 assomo BNP3; 187 ma fama BNP14; 188 que isto suceda / salvo tal lugar/ BNP3, BNP14; 189 escrever BNP3, BNP14; 190 boca boa vossa travessura BNP3; 191 ossos BL2, BNP14

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150 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

9. Correspondência com o Duque de Cadaval

a) Identificação Testemunhos

Testemunho único

Bibliothèque Nationale de France – Richelieu, Ms Portugais, 28, f. 191-196

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151 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta Nº1 (fol. 191)

Acha-se tão ferido o meu coração dos veementes e repetidos reflexos por que se

lhes comunicou *a † e *reconhecida e cabalmente chorada a perda de Portugal que me

não cabe nesse o sentimento sendo por *este a V. E., não só como lástima do Cor que o

considero, mas como queixa, do que me aflige; *conste-lhe a V.M. que não falto as

obrigações que me reconheço assistindo-lhe fielmente. Nesta pena com todas as

atenções que devo e posso e mereça-lhe a V. E. este fiel e rendido afecto que me queira

dar lugar em si, se mereça e que † a Vossa Excelência para exemplar de Vassalos e de

Amigos

Odivelas em 14 de Agosto de 699

Afeiçoada e fiel servidora de V. E.

que mais o venera

Feliciana Maria

De Milão

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152 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta Nº2 Resposta do Duque para D. Feliciana (fol. 192)

Eu não sei senhora D. Feliciana se foi acertada quanta conferência dos nossos

corações, que há de dizer um ao outro que não seja motivo de mágoas, pelo que se viu

no Paço, e pelo que se considerou em Odivelas; enfim ambos choraram justamente a

grande tragédia do que se viu e do que se imaginou, queira Deos também a ambos

aproveite a infalível consideração de que as Majestades Se resolvem em nada. Eu beijo

as mãos de V. S. pelo favor que me faz desejando sempre servi-la no que me mandar

Deos guarde a V.S. muitos Anos Lisboa 28 de Agosto de 1699

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153 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta Nº3 Carta do Duque para D. Feliciana

(fol. 193)

E agora soube que V.S. estava eleita Abadessa desse Convento seria bem dar

parabéns a quem merece tão dignamente como V.S. mas como este seja o uso antigo

quero satisfazer o preceito dando a V.S. os devidos parabéns, como faço por estas

regras, e não sou o portador porque me embaraça um achaque com que me recolhi de

*Peleja e melhor é ter esta felicidade duas vezes, agora e quando me vir aos pés de V.S.

a quem agradeço a compaixão com que V.S. me considerou em muletas, e protesto para

merecer segunda vez esta fortuna, embarcar-me em casca de noz ainda que não sei fazer

salta Martinho veja V.S. se pode fazer venturosa a minha obediência mandando-a em

seu serviço porque sempre me tem a seus pés

Deos guarde a V.S. muitos Anos. Lisboa.

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154 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

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Carta Nº 4

(fol. 194)

Deste seu favor de V.E. é o de se me devem os parabéns que só meresava a

ocupação que aqui me deram quando V.E. me permita nela muitos anos de seo serviço.

Grande cuidado me restava o receio do seu perigo de V.E., e me gostaria mais, se o

Conde de Santiago me não livrara que ele lera a notícia de que V.E. havia chegado com

saúde. Conserve-a V.E. sem usar de muletas, que é mais seguro ânimo o do Bastão. E se

*houver de embarcar-se (como diz) seja embora em nós em cujo afecto e verenação

achavam maré de Rosas. E *navegue V.E. o Rio de Odivelas quando Se lhe não oferece

áreas de ouro como o Tejo lhe fiquem correntes de uma pronta e fiel sujeição às suas

ordens. Deos guarde a V.E. como desejo em 4 de Março de 1700

Servidora de V.E.

D. Feliciana Maria de Milão

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155 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta Nº 5

(fol. 195)

Diogo Luís me manda a V.E. e mui pronta a obediência no que se deseja, nem

esperava a sua discrição a minha confiança sem presumira quando nessessitava de tão

grande validar tão pequeno negócio como não se armar cavaleiro *Diogo Luís *refaleyo

a que não compreende a lei de Sua Magestade que Deos guarde *V.E. Por não ter mais

irmãos, que dois tão pequenos que só embaraçam e não ajudam seu Pai. Mas *para

achar-me jeitada da sua aflição em o *serviço de falar a V.E. e pedir-lhe *novas suas

que estimarei tão boas como me importão, lhe devo ser para Diogo Luís madrinha como

nos primeiros passos da fé nos da liberdade com mais as rezões de servir sua mãe de

*Comporadora desta Comunidade e uma irmã sua de criada minha; peço a V.E. por

particularíssimo favor se havia de mandar ao Capitão António Luís de Beja não entenda

como tal Pedro de Abreu filho de outro do mesmo nome acrescentando V. E. com esta

ligação a cadeia das muitas que voluntariamente me sujeita das suas ordens e me

prendem as suas disposições de V. E. como me importa Odivelas em dia de Corpo em

que saio à Rua como a *Serpa e *junto de rapazes

Servidora de Vª Exª que mais o ama

D. Feliciana Maria de Milão

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156 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

Carta Nº6

(f.196)

Não quisera renovar-lhe a V. E. a † considero mas ando-lhe como mais de lá esta

nova ferida, mais penetrante por a ela aberto o coração de outro golpe, mas se a

Companhia que *nessa pena lhe faz muito brioso o sentimento não logrei o efeito de

diminuí-la a V. E. por repartido, ao menos servirá de segurar que não falho a abrigação

de acompanhar-lhe nele pedir a V. E. lhe dê o V. E. aquela conformidade nessa *junta

rezervada para ao poder e a que ao Católico e generoso ânimo de V.E. a cujas ordens

estava pronta a minha obediência. Deos guarde a V. M muitos anos

Servidora de V.M.

D. Feliciana Maria de Milão

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157 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

II. Outros textos de Feliciana de Milão

1. “Licença da Censura”

a) Identificação dos Testemunhos

[BNP5] BNP PBA 129, fol. 23

[BNP10] BNP Cod. 3229, F. 6012, fol. 11

[BNP11] BNP Cod. 3273, fol. 46

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158 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

b) Relação de Testemunhos

Texto-base

[BNP10] BNP Cod. 3229, F. 6012, fol. 11

Versão Primária

[BNP5] BNP PBA 129, fol. 23

Versão secundária

[BNP11] BNP Cod. 3273, fol. 46

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159 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

c) Representação gráfica da relação entre os testemunhos

[O] α

BNP10 BNP5 x

BNP11

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160 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

A edição do texto da “Censura de Feliciana de Milão” não foi apenas baseado no

cotejo e colação deste trecho, mas também a partir da totalidade do texto dos Inigmas,

edição que publicaremos em breve. Assim sendo, teríamos aqui de apresentar resultados

da comparação de mais de 60 páginas de texto, entre prosa e poesia, que não estão

directamente relacionadas com a obra de Feliciana de Milão.

Não obstante, é-nos possível, perante o texto em causa, apresentar algumas

conclusões.

As três versões não apresentam entre si erros separativos, apenas conjuntivos.

Porém, BNP11 inclui numerosas correcções sob a forma de rasuras e acrescentos, que

implicam cópia de uma versão anterior:

- «en el monasterio» substituído por «no Convento»

- «no mesmo trabalho» acrescentado posteriormente

Inclui ainda o erro de «apara» por «apura».

Porém os mesmos acrescentos denotam conhecimento pelo copista de versões

próximas de BNP10 e BNP5, pelo que apresentam as já referidas correcções.

BNP5 contém uma rasura mínima («que»); bem como propõe a lição «ocupar»

por «ocuparem»: em ambas as ocorrências, o copista interveio, corrigindo. Tal como

BNP10, «proluxidade», que grafa «perluxidade».

É assim possível concluir que o texto-base se possa basear em BNP10, apoiado

em BNP5.

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161 Anexo – Edição Crítica da Obra de Feliciana de Milão

Anexo à Dissertação Estratégias por Correspondência – uma leitura da obra de Feliciana de Milão

«Licença da Censura» - texto fixado Censura da Senhora Dona Feliciana de Milão Religiosa no Convento de Odivelas

Por soberano decreto li os Inigmas1, que se incluem neste breve, e misterioso

volume: e suposto que se me dificulte interpor o meu parecer, sobre uma matéria, que

negada à minha ignorância, se fia só (com razão) a sagradas inteligências; direi somente

em observância de tão alto preceito, sem outra averiguação; que acho estes Inigmas2

considerados, e expostos com igual decoro, que engenho; e observada discretamente a

sua dificultosa regra, de serem claros no que se diz, e escuros no que se quer dizer. E

assim me parecem dignos de ocuparem3 o tempo, despertando a curiosidade; porque não

deixa de utilizar felizmente as horas, [fol. 11 v.] tudo aquilo que laboriosamente apura4

os discursos, nem este exercício tem tanto de fastidioso; que no mesmo trabalho5, que6

não tenha7 muito de divertimento, propria advertência da discrição de sua Autora, que

soube fazer escolha de um assunto em que não perigasse8 a atenção na proluxidade9,a da

obra, ficando juntamente com interesse de ver os seus Inigmas venturosamente

ilustrados; porém tudo isto merece quem sabe reconhecer as Divindades, para lhes

sacrificar10 até o Entendimento. Odivelas 26 de Janeiro de 1695

D. Feliciana de Milão

a«Proluxidade: v. Prolixidade. E não pareça isto Proloxidade (…).» Cf. Raphaël Bluteau, op. cit., vol. VI, pg. 772 1 enigmas BNP11, BNP5; 2 enigmas BNP11, BNP5; 3 occupar BNP5; 4 apara BNP11; 5 [↑no mesmo trabalho] BNP11; 6 omite BNP5; 7 [↑tenha] BNP10; 8 perigace BNP5; 9 perluxidade BNP10, BNP5 . Emendou-se a partir da lição de BNP11, «proluxidade»;10 sacrificar-lhes BNP11