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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA MATEUS MARTINS CARVALHO Práticas da qualidade com ênfase em Lean Six Sigma no processo produtivo do álcool Lorena, 2012

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA … · plena do Lean Six Sigma, mas outras ainda têm baixa aplicação da metodologia. Apesar das dificuldades, ... 2.2 - CONTEXTUALIZAÇÃO

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

MATEUS MARTINS CARVALHO

Práticas da qualidade com ênfase em Lean Six Sigma no processo

produtivo do álcool

Lorena, 2012

MATEUS MARTINS CARVALHO

Práticas da qualidade com ênfase em Lean Six Sigma no processo

produtivo do álcool

Monografia apresentada como requisito

parcial para a conclusão de Graduação do

Curso de Engenharia Industrial Química

Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio

Carvalho Pereira

Lorena, 2012

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

DEDICATÓRIA

À minha esposa Cibele Rosa Oliveira Carvalho, pelo incentivo e

compreensão em todos os momentos, principalmente no tempo que

ocupei para fazer esse trabalho, e pelo amor e dedicação.

“A casa e os bens são herança dos pais; porém do SENHOR vem a

esposa prudente” (Provérbios 19.14).

Aos meus pais, Virgílio José Carvalho e Noemi Martins Carvalho,

pela educação e incentivo aos meus estudos, e pelo amor e carinho

até aqui.

À minha irmã, Gislene Martins Carvalho, pela companhia, carinho e

amor.

Obrigado! Amo muito vocês!

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira, pela orientação

segura e apoio na condução deste trabalho, onde transformou esses

momentos em amizade.

Aos Professores que contribuíram para ampliação dos meus

conhecimentos neste curso.

Às Usinas que colaboraram cedendo os dados e informações para

realização deste trabalho.

À Escola de Engenharia de Lorena pela oportunidade dada para me

tornar um engenheiro.

À todos meus amigos.

RESUMO

CARVALHO, M. M. - Práticas da qualidade com ênfase em Lean Six Sigma no

processo produtivo do álcool. 2012. Trabalho de conclusão de curso – Escola de

Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, 2012.

O álcool obtido da cana-de-açúcar é um combustível menos poluente, e desta forma, as

nações preocupadas em diminuir seus índices de poluição atmosférica têm considerado

como uma importante solução viável a adoção do álcool como combustível automotivo. Os

avanços tecnológicos ao longo do período mostram que, nos anos iniciais, as preocupações

foram centradas em aumentar a produção rapidamente (produtividade de equipamentos e

processos), e em seguida, os aumentos da eficiência passaram a ser mais importantes. E a

terceira dessas “fases” foi o avanço em técnicas gerenciais de produção, que levou a

grandes reduções de custo. Hoje, o processamento industrial da cana para o álcool é uma

tecnologia que já atingiu sua maturidade plena. Mas de qualquer forma, podem-se esperar

avanços incrementais, ou existem áreas a explorar com grandes margens de

aperfeiçoamento para saltos importantes na competitividade. O objetivo desse trabalho foi

apresentar a aplicação de ferramentas da qualidade visando melhorias no processo de

produção do álcool. Através de um questionário enviado para algumas empresas do setor,

analisou-se o grau de práticas da qualidade dentro dessas empresas, observando melhorias

que foram feitas em seus processos utilizando várias práticas e ferramentas, principalmente

da metodologia Lean Six Sigma. Através da comparação entre as empresas, ficou evidente

que há empresas desse setor que estão no caminho correto para alcançar uma aplicação

plena do Lean Six Sigma, mas outras ainda têm baixa aplicação da metodologia. Apesar

das dificuldades, as Usinas participantes aprovam o uso da metodologia Lean Six Sigma e

não enxergam desvantagens em usar as suas ferramentas, ao contrário, conseguem

vantagens através da maior competitividade no mercado, reduzindo custos internos e

aumentando a qualidade final dos produtos.

Palavras-chave: Processo de produção do álcool; Lean Six Sigma; Otimização dos

processos.

ABSTRACT

CARVALHO, M. M. – Quality practise with emphasis in Lean Six Sigma in the

production process of alcohol. 2012. Monograph - School of Engineering of Lorena,

University of São Paulo, 2012.

The alcohol obtained from sugarcane is a less polluting fuel, and this way, the countries

which are concerned about decreasing their air polluting indexes have considered as an

important viable solution adopting the alcohol as automotive fuel. The technological

advances during the period show that, in the initial year, the concerns were centred on

increasing the production rapidly (productivity of equipments and process), and after that,

the effectiveness increasing became more important. And the third of these “phases” was

the advance in production management techniques, which generated high cost reduction.

Today, the industrial processing from sugarcane to alcohol is a technology that has already

reached its full maturity. But anyway, they can expect increasing advances, or there are

areas to explore wide improvement margins for important jumps in the competitiveness.

The objective this work was to present the application of quality tools aimed improvements

in the alcohol production process. Through a questionnaire sent to some companies in the

sector, examined the degree of quality practices within these companies, noting

improvements that have been made in their process using various practices and tools,

mainly of Lean Six Sigma Methodology. Through the comparison between companies, it

was evident that there are companies in this sector which are on the right path to achieve

full application of Lean Six Sigma, but others still have low application of methodology.

Despite the difficulties, the participating alcohol plants approve the use of Lean Six Sigma

methodology and don’t see disadvantages in using its tools, rather, get advantages through

of more competitiveness on the market, reducing internal costs and increasing final quality

of the products.

Keyword: Production process of alcohol; Lean Six Sigma; Process optimization.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Reação em cadeia da produtividade e qualidade .............................................. 29

Figura 2- Resumo histórico do Six Sigma ........................................................................ 32

Figura 3 - Método Six Sigma para melhorias ................................................................... 33

Figura 4- As fases da metodologia DMAIC ..................................................................... 38

Figura 5 - Um processo e suas variáveis de entrada e saída .............................................. 39

Figura 6 - Princípio do não-custo ..................................................................................... 45

Figura 7 - Sistema Toyota de Produção ........................................................................... 47

Figura 8 - PDCA – Método de Gerenciamento de Processos ............................................ 48

Figura 9 - Lean Six Sigma como programa estratégico e operacional. .............................. 52

Figura 10: As Ferramentas usadas no Six Sigma e no Lean. ............................................. 56

Figura 11 - Operações agrícolas da produção de cana-de-açúcar ...................................... 60

Figura 12 - Volume de controle do processamento industrial da cana-de-açúcar .............. 62

Figura 13 - Fluxograma do processo de produção de etanol ............................................. 63

Figura 14 - 1º tronco de destilação ................................................................................... 66

Figura 15 - 2º tronco de destilação ................................................................................... 67

Figura 16 - Exemplo de diagrama de pesquisa ................................................................. 72

Figura 17 - Diagrama de causa e efeito ............................................................................ 84

Figura 18 - Hierarquia de detecção de defeitos e prevenção. ............................................ 85

Figura 19: Fluxograma das perdas no processo produtivo ................................................ 87

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Distribuição normal com e sem variação. ........................................................ 35

Gráfico 2: Custo da produção agrícola sucroenergética. ................................................... 59

Gráfico 3 - Porcentagem de aplicação dos quesitos nas Usinas. ....................................... 78

Gráfico 4 - porcentagem da aplicação dos quesitos em cada grupo de assunto. ................ 80

Gráfico 5 - Exemplo de uma carta de controle da viabilidade celular na dorna ................. 83

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Índice de capacidade Cpk ................................................................................ 37

Quadro 2 - Principais características da manufatura tradicional e da LM.......................... 44

Quadro 3 - Ferramentas Básicas nas Fases DMAIC ......................................................... 54

Quadro 4 - Tipos de Gráficos........................................................................................... 55

Quadro 5 - Resultados obtidos durante a coleta de dados. ................................................ 79

LISTA DE TABELAS

Tabela 1-Tradução do nível e custo da qualidade ............................................................. 36

Tabela 2 - Estimativa sobre a agroindústria canavieira no Brasil e no Estado de São Paulo.

.................................................................................................................................... 73

Tabela 3 - Estimativa sobre a produção de etanol no Brasil e no Estado de São Paulo. ..... 74

Tabela 4 - Planejamento para execução da coleta de dados .............................................. 74

Tabela 5 - Resultados obtidos na etapa da pesquisa.......................................................... 74

Tabela 6 - Variáveis controladas pelo CEP ...................................................................... 83

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 23

1.1 - Justificativa ............................................................................................................ 24

1.2 - Objetivo ................................................................................................................. 25

2 - LEAN SIX SIGMA................................................................................................... 27

2.1 - GESTÃO DA QUALIDADE ................................................................................. 27

2.1.1 - Otimização e melhoria da qualidade e produtividade ...................................... 27

2.2 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO SIX SIGMA ......................................................... 31

2.2.1 - O que é Six Sigma? ............................................................................................. 31

2.2.2 - Focos do Six Sigma ............................................................................................. 32

2.2.3 - Fundamentação teórica e estatística do Six Sigma. ........................................... 34

2.2.4 - As fases DMAIC ................................................................................................. 37

2.2.5 - Empresas que tiveram sucesso na implementação do Six Sigma ...................... 39

2.3 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO LEAN MANUFACTURING............................... 41

2.3.1 - O que é o Lean Manufacturing .......................................................................... 41

2.3.2- O propósito do Lean Manufacturing .................................................................. 42

2.3.3 - Princípios e conceitos fundamentais do pensamento enxuto ............................ 45

2.3.4 - As 7 Perdas ......................................................................................................... 48

2.4 - A INTEGRAÇAO ENTRE LEAN MANUFACTURING E SIX SIGMA........... 51

2.4.1- Gestão de Projetos Lean Six Sigma .................................................................... 51

2.4.2 - Principais ferramentas em comum entre as metodologias ................................ 53

3 - A INDÚSTRIA DO ÁLCOOL ................................................................................. 57

3.1 - Análise do Setor Sucroalcooleiro .......................................................................... 57

3.2 - Peculiaridades das usinas de açúcar e etanol ....................................................... 58

3.3 - Processos logísticos da cana-de-açúcar na área agrícola ..................................... 59

3.4 - Processos Básicos de produção do álcool .............................................................. 61

3.5 - Qualidade no setor sucroalcooleiro .......................................................................68

3.6 - Perspectivas de evolução tecnológica e otimização dos processos atuais. ............69

4 - METODOLOGIA .....................................................................................................71

4.1 - Classificação metodológica ....................................................................................71

4.2 - Universo e Amostra ................................................................................................72

4.3 - Coleta de Dados ......................................................................................................73

4.4 - Tratamento dos dados ............................................................................................75

4.5 - Limitações da Pesquisa ..........................................................................................75

5 - ANÁLISE DOS RESULTADOS ..............................................................................77

5.1 - Análise das práticas da qualidade no setor sucroalcooleiro. ................................77

5.2 - As ferramentas Lean Six Sigma utilizadas no processo do álcool. .......................82

5.3 - Facilidades e dificuldades na plena utilização do Lean Six Sigma .......................86

6 - SUGESTÕES NA OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DO ÁLCOOL.

........................................................................................................................................87

7 - CONCLUSÃO. ..........................................................................................................89

REFERÊNCIAS .............................................................................................................91

APÊNDICE A.................................................................................................................97

23

1 – INTRODUÇÃO

Muitos setores industriais estão enfrentando uma crescente competição global, isso

devido às rápidas mudanças tecnológicas e ao aumento de variedades de produtos, o que

tem levado as indústrias a mudarem para permanecerem competitivas, sendo forçadas a

implementar novas tecnologias e melhorias em seus processos.

As empresas que desejam garantir a sua sobrevivência, ou atingir uma margem

maior de participação no mercado, ou vencer seus concorrentes, têm apostado em formas

de melhorar suas vantagens competitivas, ligadas diretamente à satisfação do cliente. Para

alcançar estas vantagens competitivas, a maioria das empresas utilizam programas de

qualidade consagrados, ou seja, que já funcionam com outras empresas, como é o caso do

Lean Manufacturing e o Six Sigma em grandes empresas.

Segundo Cabrera (2006), as empresas que obtiveram sucesso com a abordagem

Lean Six Sigma eram todas de grande porte e com negócios complexos e diversificados.

De acordo com esse autor, foi esta abordagem que possivelmente salvou tais empresas de

sofrerem quedas significativas em suas posições competitivas.

O processo de reestruturação da economia mundial, oriunda da crise econômica

financeira, e seus reflexos sobre a economia sucroalcooleira, o aumento nos níveis de

concorrência e as exigências do mercado nacional e mundial, levaram as empresas do setor

a se empenhar em diminuir os desperdícios decorrentes do processo produtivo do álcool,

melhorar seus processos e consequentemente aumentar o seu rendimento e faturamento

industrial.

A qualidade é um tema que tem ganhado cada vez mais atenção no setor

sucroalcooleiro. Segundo Baccarin (2005), o setor teve que se atentar à qualidade dos seus

produtos a fim de diminuir os custos de produção e consequentemente se tornar mais

competitivo. A gestão de programas de qualidade nesse setor tem exigido que executivos e

empresários busquem combinações de programas, ferramentas e técnicas que aperfeiçoem

os resultados necessários para o sucesso de suas organizações.

Sendo assim, surge o Lean Six Sigma como uma metodologia eficaz, tendo maior

aplicabilidade nas indústrias com o objetivo de medir a variabilidade existente nos

processos, proporcionando melhorias na qualidade do produto e redução dos custos de

produção por meio da redução de desperdícios.

24

A implementação do Lean Six Sigma é um processo complexo e central que

depende de vários fatores considerados críticos para o sucesso da implementação, pois

segundo Porter (1996), uma vantagem competitiva traz a superioridade a uma empresa

sobre as demais somente se for estabelecida uma diferença que possa ser sustentada com

relação a seus competidores.

Pelo exposto, pode-se constatar uma supervalorização do Lean Six Sigma como

estratégia de melhoria dos processos e da competitividade. Porém, apesar de apresentar

bons resultados para um grupo de empresas, não apresenta o resultado esperado para

outras. Por se tratar de um programa de melhoria da qualidade na qual a capacitação das

pessoas que estão ligadas aos processos da organização é de fundamental importância na

aplicação de conhecimentos complexos nos quais se baseia o Lean Six Sigma. Somente

empresas que incluem a preocupação com a capacitação dos seus colaboradores,

conseguem aplicar de forma plena o programa e obter sucesso.

1.1 – Justificativa

A utilidade e justificativa desse trabalho residem exatamente na dificuldade de

otimizar e melhorar um processo já existente, trabalhando com as várias variáveis

existentes nele. Por isso, com base na metodologia Lean Six Sigma, supervalorizada nos

dias atuais como estratégia de melhoria baseada na eliminação de variabilidade em

processos e redução de desperdícios, propõe-se o estudo da utilização das ferramentas e

técnicas estatísticas, de gerenciamento e análise e solução de problemas, mostrando como

otimizar diversos processos químicos em indústrias utilizando dessas ferramentas.

De maneira focada, será estudado o processo de produção do álcool, a partir do

processamento da cana-de-açúcar. Trata-se de um processo que, relativamente, está em um

nível de desenvolvimento maduro, o que não significa que melhorias não possam ser feitas

ou sugeridas ao processo e ao ambiente industrial. Mostrar que, até em situações que não

se imagina mudanças e melhorias, atualmente é possível enxergá-las.

Com base no conhecimento adquirido em um treinamento de 80 horas de Green

Belt em Lean Six Sigma, em fase de conclusão, vislumbra-se a possibilidade da aplicação

prática desse trabalho.

25

1.2 - Objetivo

Este trabalho tem como objetivo principal analisar o grau de práticas da qualidade

dentro de empresas do setor sucroalcooleiro, observando melhorias feitas em seus

processos utilizando várias práticas e ferramentas, principalmente da metodologia Lean Six

Sigma. A melhoria acima mencionada não se refere apenas à qualidade do produto

percebida pelo cliente, mas também à qualidade e confiabilidade dos processos industriais.

Os objetivos secundários da proposta são:

Estudar o processo de produção de álcool e verificar quais as necessidades do

processo produtivo que levaram ao uso de práticas e ferramentas da qualidade

visando melhorias.

Listar as técnicas e ferramentas de Lean Six Sigma que foram usadas nas

empresas para melhorias em seus processos, principalmente no ambiente

industrial.

Propor, através do estudo do processo, a otimização deste, levando em conta a

produção enxuta, ou seja, redução de desperdícios no processo.

Espera-se, de forma concreta, ao final deste trabalho, responder a seguinte questão

de pesquisa: Quais as facilidades e dificuldades para a plena utilização de Lean Six Sigma

nos processos produtivos do álcool combustível?

26

27

2 - LEAN SIX SIGMA

2.1 - GESTÃO DA QUALIDADE

No parecer de Xavier et al (2011), a gestão da qualidade é entendida como o

conjunto de práticas utilizadas, em diversos setores da empresa, para obter-se, de forma

eficiente e eficaz, a qualidade pretendida para o produto, de acordo com os requisitos do

cliente. Na gestão da qualidade e sua abrangência, deve-se entender o que é qualidade, bem

como os mecanismos utilizados pela gestão da qualidade para obter a qualidade pretendida.

Segundo Lobos (1991), a qualidade refere-se com o processo pelo qual os produtos

ou serviços são materializados, pois se o processo for realizado devidamente,

consequentemente obterá um bom produto.

A qualidade deve ser buscada por todas as empresas por meio de um conjunto de

atividades que possa definir e obter a qualidade desejada em seu produto. Esta função vai

desde atuar sobre um amplo conjunto de atividades que abrange todo ciclo de vida do

projeto até o consumo final (TOLEDO, 2001; PALADINI, 2005).

2.1.1 - Otimização e melhoria da qualidade e produtividade

Embora haja o consenso sobre a importância da melhoria permanente dos

processos, muitas empresas têm tido dificuldades na definição das estratégias mais

adequadas para obter melhorias relevantes e sustentadas. Muitas iniciativas perdem força

ao longo do tempo por falta de objetividade e de resultados que justifiquem os

investimentos realizados.

Hoje, tem-se a necessidade de inovação e aquisição de novas competências para

atender as exigências de mercados e clientes. Porém, há necessidade de introduzir

metodologias e filosofias direcionadas a mudança, de forma que propicie a gestão da

mudança ao considerar resistências e a complexidade dos mais diversos processos.

Mas, segundo Siqueira (2005), antes de comprometer valiosos recursos com

quaisquer técnicas ou metodologias disponíveis é essencial que a empresa conheça com

clareza e profundidade:

Os requisitos de desempenho decorrentes de seus objetivos estratégicos e as

áreas críticas para a realização destes objetivos;

28

O seu atual estágio de maturidade gerencial e a sua capacidade de incorporar e

lidar com novas técnicas gerenciais de gestão e melhoria de desempenho;

O que precisa ser feito para viabilizar a introdução de novas técnicas gerenciais

e maximizar seus benefícios.

Para isto é necessária uma metodologia que proporcione meios para:

Avaliar a capacidade dos processos vis-à-vis os objetivos estratégicos do

negócio;

Avaliar o estágio de maturidade da gestão de processos da organização;

Identificar prioridades e definir metas realistas;

Selecionar técnicas de gestão e melhoria compatíveis com o nível de

maturidade gerencial;

Planejar e monitorar os progressos na melhoria contínua do desempenho dos

processos críticos.

Para Lovelock e Wirtz (2006), a produtividade (trabalhar mais rápido e de forma

mais eficiente para redução de custos) e a qualidade sempre foram aspectos importantes na

gestão de um processo e as melhorias nessas áreas requerem seleção, treinamento e

supervisão para que represente otimização e redução de custos.

Para Caravantes et al. (1997) a qualidade é a capacidade de satisfazer necessidades:

na hora da fabricação, compra e durante a utilização, ao melhor custo possível,

minimizando as perdas e oferecendo produtos e serviços melhores do que os concorrentes.

Segundo Juran (1999), o controle da qualidade sempre ocorreu durante o processo

produtivo, examinando as variáveis que afetam a qualidade final e não sob a forma de

inspeção após o produto pronto.

Em 1950, numa conferência no Japão, Deming apresentou também uma teoria aos

gerentes japoneses, que dizia que com o foco na qualidade se alcançariam todos os demais

objetivos. Ele referiu-se a isso como “reação em cadeia da produtividade e qualidade”

(DEMING, 1990), mostrada na Figura 1.

29

Figura 1 – Reação em cadeia da produtividade e qualidade

Fonte: adaptado de Deming (1990, p. 4).

De acordo com Satolo e Simon (2007), a partir dos conceitos de gestão da

qualidade, há recomendações comuns para se aplicar uma metodologia buscando a

qualidade total em um processo:

Comprometimento da alta administração;

Estabelecimento de uma política de aperfeiçoamento contínuo;

Estabelecimento de um programa de treinamento em todos os níveis;

Padronização dos procedimentos;

Estabelecimento de um gerenciamento participativo para resolução de

problemas;

Integração nos níveis horizontal (entre setores/departamentos) e vertical (entre

níveis hierárquicos);

Constância de propósitos;

Estabelecimento de relação de mútuo benefício com os fornecedores;

Utilização de análises estatísticas;

Controle de custos relativos à qualidade.

30

31

2.2 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO SIX SIGMA

2.2.1 - O que é Six Sigma?

Segundo Eckes (2001), na década de 80, um engenheiro da Motorola começou a

estruturar o conceito de Deming sobre a variação do processo. Mikel Harry iniciou seus

estudos sobre a variação como uma forma de melhorar o desempenho. Essa variação é

representada pela letra grega sigma (σ). Tais variações eram medidas por meio do desvio

padrão, e a meta de melhoria adotada por essa empresa foi de Six Sigma, que representa

uma variação das características de resposta do processo analisado, de seis desvios padrões

em torno de seu valor central, e que também foi adotada como nome desta abordagem de

melhoria. Bob Galvin, presidente da Motorola, atento ao potencial dessa abordagem, logo a

adaptou a todas as atividades de negócio, elegendo esta como a maneira de fazer negócio

de sua empresa (ECKES, 2001). A Figura 2 mostra a ordem cronológica da história do Six

Sigma, e as principais empresas que obtiveram sucesso e ganhos com a metodologia.

O Six Sigma substituiu o programa Total Quality Management (TQM). Segundo

Mikel Harry (ALONSO, 2007), um dos criadores do programa, o TQM não apresentara os

resultados esperados, pois lhe faltava um objetivo. A metodologia foi criada no setor da

produção da empresa pela necessidade de concorrência com produtos estrangeiros,

promovendo uma série de benefícios operacionais, redução de defeitos, resultando em uma

produção mais rápida e limpa.

A General Electric também adotou o Six Sigma como um processo para a melhoria

contínua na produção e gestão de projetos. Devido às vantagens que resultaram, foram

treinados todos os funcionários para multiplicar as melhores práticas, possibilitando a

replicação dos projetos em toda a empresa e adoção de ferramentas estatísticas avançadas,

controle da qualidade, processos de aceleração de mudança e gestão da tecnologia

(RECHULSKI, 2004).

32

Ganhos obtidos até maio de 1998: US$

1,2 bilhão

Ganhos obtidos em

1999: US$ 1,5 bilhão

Ganhos superiores a R$ 20

milhões em 1999

Ganhos de US$ 2,2 bilhões entre o final da década de 80 e o início da década de 90

Ganho médio de US$ 898 milhões/ano em um período de dois anos

Grupo

Brasmotor

Motorola

Asea Brown

Boseri -

ABB

AlliedSignal

General

Electric

1987 1995199319911989 19991997

Início do Six sigma

Grupo Brasmotor

inicia o Six Sigma no

Brasil

Resumo da história do Six Sigma

Figura 2- Resumo histórico do Six Sigma (WERKEMA, 2002)

2.2.2 - Focos do Six Sigma

Hoje, parte da popularidade do programa é devido ao seu foco na redução de custos

e na melhoria da lucratividade. Conforme Andrietta e Miguel (2002), essa melhoria é

obtida através de rastreamento e eliminação das causas raiz dos defeitos, assim como na

melhoria da eficiência em todas as operações, desde o chão de fábrica até os níveis

gerenciais. A eliminação de falhas em processos e produtos no Six Sigma envolve a

medição e melhoria da capacidade do processo na produção de itens conformes.

Na prática, em empresas onde a metodologia está fortemente implantada, Six

Sigma é um processo altamente disciplinado que ajuda a focalizar o desenvolvimento e a

entrega de produtos e serviços “quase perfeitos”.

Assim, dentro deste conceito, a ideia central por trás de Six Sigma é: se for possível

medir quantos “defeitos” existem em um processo, também é possível otimizá-los e,

chegar o mais próximo possível a “zero defeitos”.

A mentalidade Six Sigma começa pela compreensão daquilo que é crítico na

qualidade dos resultados que conduz à insatisfação do cliente e ao retorno financeiro da

empresa (PANDE, 2001). Six Sigma está focado nos valores dos clientes, que são

traduzidos em objetivos de melhoria do negócio. Segundo Eckes (2001), essa é uma

33

responsabilidade do “dono do processo”, que também é responsável, entre outros, pelo

conhecimento das necessidades e expectativas do cliente, pela identificação das fontes de

falhas e defeitos nos processos, e pela implantação de ações que agreguem valor às

necessidades dos clientes.

Isto se deve ao impacto do Six Sigma nas vantagens competitivas, a saber:

Velocidade

Custo

Mix de produtos

Confiabilidade na entrega

Qualidade

O Six Sigma foi e em muitos casos ainda é compreendido como panaceia geral,

mas é na realidade uma solução ótima de médio e longo prazo, se aplicado com seriedade e

sem falsas expectativas.

Muitas empresas têm tido sucesso em sua aplicação e obtenção de resultados,

enquanto tantas outras têm falhado. Eckes (2001) afirma que isso não desqualifica a

filosofia em si, pois o sucesso depende definitivamente da maneira como a estratégia foi

implantada.

Uma implementação bem sucedida de Six Sigma associa o conhecimento estatístico

ao conhecimento técnico da gestão de processos, para estabelecer onde e como utilizar os

métodos. A Figura 3 mostra as etapas de aplicação do método dentro de um processo. O

uso de ferramentas não é motivado apenas pela necessidade de se mostrar o emprego de

uma determinada técnica, mas sim pela utilização de um conjunto de métodos para

solucionar problemas específicos do processo e dos negócios.

Figura 3 - Método Six Sigma para melhorias (BLAKESLEE JR., 1999)

34

Pande (2001) afirma ainda que o Six Sigma proporciona:

1. A geração de um sucesso sustentado, pois desenvolve as habilidades e a cultura

necessárias a uma revitalização constante nas empresas e nos processos;

2. A determinação das metas de desempenho, que é a base sobre a qual está

alicerçada a metodologia Six Sigma, em virtude de o nível de desempenho

aproximar da perfeição;

3. A intensificação do valor para os clientes, considerando que o foco nele é o

ponto vital do método, que busca compreender o significado e a importância do

valor para o consumidor;

4. O aprimoramento das melhorias, que é garantido pela utilização de várias

ferramentas de gestão empresarial disciplinadas pela estrutura do método;

5. A promoção da aprendizagem, em virtude de o Six Sigma aumentar o

desenvolvimento e acelerar o compartilhamento de ideias inéditas dentro das

empresas;

6. A execução de mudanças estratégicas, pois a sua incorporação possibilita a

compreensão detalhada dos processos e procedimentos das empresas,

oferecendo, assim, a capacidade de implementação de simples ajustes a

complexas mudanças.

2.2.3 - Fundamentação teórica e estatística do Six Sigma.

O Padrão Six Sigma expressa uma meta de qualidade de 3,4 defeitos por milhão de

oportunidades, na qual oportunidade de defeitos representa a chance de existir um defeito

por unidade de produto ou serviço fornecido. Quando o processo é considerado estável, ou

seja, a média não desvia mais de 1,5 desvios padrões do seu valor nominal calculado para o

processo em questão, e, portanto, que o número de oportunidades de defeitos esperado por

milhão de oportunidades será de 0,001, e a variabilidade dos resultados de mais ou menos

Six Sigma a partir da média Nominal (MITRA, 2004). No Entanto, todo processo

apresenta uma variação natural, que os estatísticos da Motorola, pais da metodologia Six

Sigma, após verificar o comportamento de muitos resultados de processos, determinaram

para esta variação o valor de 1,5 desvios padrões (σ) (MONTGOMERY, 2004). Esta

explicação pode ser observada através do Gráfico 1, que mostra a distribuição com e sem

variação do desvio padrão.

35

Gráfico 1- Distribuição normal com e sem variação.

1Six Sigma Guide, (2001-2004, adaptado de CABRERA, 2006)

Atualmente, a maioria das empresas competitivas está situada entre três a quatro

Sigma. Para efeito de comparação, a Tabela 1 mostra os custos da pobre qualidade em

relação ao nível Sigma de um processo, relacionando o número de defeitos por milhão de

oportunidades (DPMO). O nível Sigma adequado para um dado processo dependerá dos

requisitos dos clientes: nível Sigma acima significa desperdício de esforço por parte da

empresa ou processo sem a contrapartida de valor reconhecido pelo cliente.

É possível determinar em um processo sua capacidade de atender ao requisito do

cliente. Essa medida é dada pelo cálculo do Cp e Cpk do processo. O Cp é o coeficiente de

potencial do processo, e o Cpk é o coeficiente de capacidade do processo. As avaliações de

capacidade do processo são medidas estatísticas que indicam a quantidade de variação

existente em um processo em relação às especificações do cliente.

1 New To Six Sigma – A Six Sigma Guide For Both Novice And Experienced Quality Practitioners. 2001 – 2004.

12σ

Média do

Processo

Valor

NominalLSELIE

33369 defeitos

por milhão de

oportunidades

3,4 defeitos por

milhão de

oportunidades

Processo 3 sigma centrado em torno do valor nominal: representa um total de

66.738 de defeitos por milhão de oportunidades fora do limite superior e inferior

dos limites de especificação

Processo 6 sigma: total de 3,4 defeitos por milhão de oportunidades

36

Tabela 1-Tradução do nível e custo da qualidade

Fonte: Adaptado de Marcondes (2012).

Através desses índices é possível, com um único número, avaliar o desempenho

geral de um processo, e também, é possível determinar se um processo é “mais capaz” que

outro. O Quadro 1 mostra a classificação de um processo em relação ao índice Cpk. Essa

comparação pode ajudar a priorizar eventuais ações de melhoria, que pode ser traduzida

em redução da variação do processo, proporcionando:

Maior predição no processo, permitindo Forecasts confiáveis, atendimento ao

planejamento de pedidos, etc.

Menor perda e retrabalho, o que envolve menor custo;

Produtos e serviços com melhor desempenho e maior durabilidade;

Clientes mais satisfeitos.

Nível da

Qualidade

(Defeitos por milhão)

PPM

Percentual

Conforme

Custo da não qualidade

(percentual do faturamento da

empresa)

2 σ 308.537 69,15 Não se aplica

3 σ 66.807 93,32 25 a 40%

4 σ 6.210 99,3790 15 a 25%

5 σ 233 99,97670 5 a 15%

6 σ 3,4 99,99966 < 1%

37

Cpk Interpretação Ações Pertinentes

Cpk ≥ 2,0

Processo excelente, altamente

confiável.

Os operadores têm perfeito

controle do processo

1,33 ≤ Cpk < 2,0 Processo capaz, relativamente

confiável.

Os operadores têm que monitorar

para evitar deteriorização

1,0 ≤ Cpk < 1,33 Processo relativamente incapaz,

pouco confiável.

Exige dos operadores controle

contínuo

0 ≤ Cpk < 1,0 Processo incapaz, podemos ter

produção defeituosa. Exige dos operadores controle de

100% da produção Cpk ≤ 0

Processo totalmente incapaz, não

tem condições de manter as

especificações.

Fonte: Adaptado dos índices Cpk do modelo de Soares (2001)

Quadro 1: Índice de capacidade Cpk

2.2.4 - As fases DMAIC

Os projetos Six Sigma passam por cinco fases, que são conhecidas pela sigla

DMAIC (Define, Measure, Analyse, Improve e Control) (PANDE, NEUMAN E

CAVANAGH, 2001). Segundo Rotondaro (2002), a metodologia DMAIC (Figura 4)

significa seguir determinadas etapas na condução de um estudo no qual se deseja otimizar

processos e produtos, consequentemente com a redução de custos e aumento de

produtividade, e que são compostas por:

1. D - Define (Definir): Definir com precisão o escopo do projeto Six Sigma que

está sendo aberto, o time de trabalho, o detalhamento do problema e sua

interface com o cliente, bem como seu objetivo.

2. M - Measure (Medir): Determinar a localização ou foco do problema. Nesta

fase, as métricas das variáveis dependentes do processo são medidas numa série

temporal, da qual se identifica o valor da média e se quantifica a variabilidade

atual do processo.

3. A – Analyse (Analisar): Determinar as causas de cada problema prioritário. A

fase de análise identifica as possíveis variáveis independentes (X’s), prioriza-as

38

e quantifica seu poder explicativo sobre o comportamento da variável

dependente (Y).

4. I – Improve (Implementar ou Melhorar): Propor, avaliar e implementar soluções

para cada problema prioritário. Uma vez comprovadas as variáveis

independentes (X’s) relevantes na fase de Análise, a fase de melhorias testa ou

simula mudanças nas variáveis independentes selecionadas. Com isso cria-se

um protótipo de solução.

5. C – Control (Controlar): Garantir que o alcance da meta seja mantido em longo

prazo. Nessa fase criam-se novos procedimentos de trabalho e novas atribuições

de papéis e responsabilidades, para se garantir que as melhorias atingidas pelo

projeto sejam mantidas continuamente.

Figura 4- As fases da metodologia DMAIC (MARCONDES, 2012)

Para definir um projeto Six Sigma, primeiramente se define o processo ou método

de condução do projeto. Ao longo do projeto, as análises buscam identificar as variáveis

independentes que mais contribuem para explicar uma mudança na variável dependente

que expressa o desempenho do processo. A Figura 5 mostra as entradas e saídas de um

processo, a variável dependente que é denominada Y e as variáveis independentes, de X.

Tem-se, então, que Y=f(X).

39

Figura 5 - Um processo e suas variáveis de entrada e saída

2.2.5 - Empresas que tiveram sucesso na implementação do Six Sigma

O caso que ganhou maior visibilidade foi o da General Electric (EUA) que se

tornou um benchmark no assunto, pois a empresa investiu US$ 380 milhões na

implementação do Seis Sigma, em 1996, e apurou a obtenção de ganhos da ordem de US$

1,5 bilhões dois anos depois (HENDERSON; EVANS, 2000). Outro caso que também

ganhou destaque foi o da empresa Dow Chemicals (EUA) que em um curto espaço de

tempo - apenas três anos - obteve em 1999, US$ 1,5 bilhões de ganhos, estimulando outras

unidades do grupo a incorporarem o programa independente do produto fabricado ou da

área funcional da empresa (MOTWANI et al., 2004).

No Brasil, o caso mais conhecido é o do Grupo Brasmotor, tanto por ter sido a

primeira empresa com tecnologia nacional a aplicar o Six Sigma no país, quanto por ter

conseguido auferir em 1999 - dois anos após a implementação do programa - ganhos da

ordem de R$ 20 milhões (WERKEMA, 2002a).

Depois de 1999, após a divulgação do êxito obtido pelo Grupo Brasmotor com o

Six Sigma, o programa se tornou amplamente conhecido e até 2003 já estava difundido em

muitas empresas brasileiras, tais como: Brahma, Belgo Mineira, Votorantim Cimentos,

Votorantim Metais, GE Plastics, Maxion, Grupo Gerdau, ALL, Líder Táxi Aéreo, Nokia,

Tupy Fundições, Fiat Automóveis, entre outras.

40

41

2.3 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO LEAN MANUFACTURING

2.3.1 - O que é o Lean Manufacturing

O sistema de produção Toyota Production System (TPS) foi concebido e

desenvolvido pela Toyota Motor Co. Para que suas fábricas se tornassem capazes de operar

Just in time (JIT), ou seja, fabricar e entregar somente produtos necessários, na quantidade

exata e no momento certo.

Na década de 80, esse sistema foi apontado pelos pesquisadores do Massachusetts

Institute of technology (MIT) como o modelo de produção automobilístico mais

competitivo do mundo. Esse modelo ganhou notoriedade com a divulgação de um projeto

de pesquisa conduzido pelo MIT, que estudou as práticas gerenciais e os programas de

melhorias adotados e constatou que a adoção destes princípios em muito contribuía para

reforçar a competitividade 2(WOMACK; JONES; ROOS, 2001 apud SILVA et al., 2011).

O sistema de produção Lean encontra-se atualmente em processos de ampla difusão

nos mais diversos segmentos industriais, da fabricação de remédios à produção de aviões,

não mais se restringindo ao setor automotivo ou às grandes empresas.

Ainda há algumas empresas que se frustram pela incapacidade de reproduzir o

desempenho da Toyota. Segundo 3Spear e Bowen (1999, apud SIMÃO, 2003), a questão

da cultura japonesa, argumento tão utilizado para refutar a implantação do Lean

Manufacturing em outros países, é minimizada pelo acompanhamento dos sucessos de

implantação nos EUA e pelo fracasso de algumas empresas no Japão. Segundo os autores,

a principal questão é a diferença entre a implantação de ferramentas e práticas do Lean e o

sistema propriamente dito.

Um ponto crucial na proposta dos autores é de que o método não é imposto pela

empresa, mas emerge da estrutura montada pelo Lean. Em assim sendo, foram

identificadas quatro regras que definem esta estrutura:

1º. Todos os trabalhos devem ser minuciosamente especificados em termos de

conteúdo, sequência, tempo e resultado;

2º. Todas as conexões cliente-fornecedor devem ser diretas e binárias (sim/não)

para enviar solicitações e receber respostas;

2 WOMACK, J. P.; JONES, D. T.; ROSS, D. A Máquina Que Mudou o Mundo. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 3 SPEAR, S., BOWEN, H. B. Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção. Harvard Business Review, PP. 97-106, September-October, 1999.

42

3º. Todos os fluxos dos produtos e serviços devem ser simples e diretos;

4º. Todas as melhorias precisam ser feitas continuamente e em conformidade com

o método, sob orientação de um líder e no nível mais baixo da organização.

2.3.2- O propósito do Lean Manufacturing

A motivação central da metodologia LM é buscar a redução do tempo entre o

pedido do cliente e a entrega por meio de eliminação de desperdícios. Ela promove a

identificação do que agrega valor (e do que não agrega) na perspectiva do cliente; a

interligação das etapas necessárias à produção de bens no fluxo de valor, de tal modo que

este avance sem interrupções, desvios, retornos, esperas e refugos; e a operação deste fluxo

puxada pela demanda (SILVA et. al., 2011).

Um dos conceitos fundamentais do Lean Manufacturing é a melhoria contínua

(chamado de Kaizen), considerada a chave do sucesso do método. Partindo do princípio de

que o tempo é o melhor indicador de competitividade, atua de forma ampla para

reconhecer e eliminar os desperdícios existentes na empresa, sejam em processos

produtivos já existentes ou em fase de projeto, produtos novos, manutenção de máquinas

ou, ainda, em processos administrativos.

Para o Kaizen, é sempre possível fazer melhor, nenhum dia deve passar sem que

alguma melhora tenha sido implantada, seja ela na estrutura da empresa, no processo ou no

indivíduo (MARCONDES, 2012).

Segundo Riani (2006), o foco do Lean é otimizar os processos e procedimentos

através da redução contínua de desperdícios. Seus objetivos fundamentais são:

Otimização e a integração do sistema de manufatura: é preciso integrar todas as

partes do sistema de manufatura, buscando sempre a otimização do sistema

como um todo;

Qualidade: o sistema precisa e exige um ambiente produtivo que forneça

produtos com qualidade. Cada processo de produção deve passar produtos com

qualidade para a etapa seguinte, ou seja, a qualidade deve ser assegurada ao

longo de todo o processo;

Flexibilidade do processo: é minimizar os fatores de restrição na produção;

Produção de acordo com a demanda: a empresa tem que organizar sua

produção de acordo com os pedidos dos clientes;

43

O compromisso com clientes e fornecedores: manter os compromissos é o elo

final que permite que as empresas fabricantes individuais se juntem em um

processo industrial contínuo;

Redução de custo de produção: é o objetivo mais evidente e factível com a

implementação do Lean Manufacturing, que declara “guerra” ao desperdício.

No Quadro 2 podemos ver as principais características e elementos do LM que o

distinguem do paradigma tradicional de manufatura.

Para eliminação destes desperdícios e alcance das metas estabelecidas, a

metodologia Lean Manufacturing lança mão de um conjunto de técnicas e ferramentas

como o Valor e cadeia de valor, Kanban, Heijunka, Kaizen, 5S Hausekeeping, o Setup

Rápido, o TPM, o combate às 8 perdas, OEE, Mapa de Fluxo de Valor (VSM - Value

Stream Mapping), dentre outras.

44

Características Manufatura Tradicional Lean Manufacturing

Pla

nej

am

ento

e c

on

tro

le d

as

op

era

ções

Objetivo gerencial

Busca da eficiência pela maximização

do uso de recursos e aumento da

produção

Busca da eficácia e eficiência com

foco na criação de valor e redução de

desperdícios

Gestão de estoques Manutenção de estoques suficientes

para proteger a produção

Redução de estoques para evidenciar

os problemas de produção

Acionamento da

produção

Produção empurrada (push) por ordens

de produção e previsões de demanda

Produção puxada (pull) pela demanda

e entrega Just-in-time (JIT)

Con

figu

raçã

o f

ísic

a d

o

sist

ema p

rod

uti

vo

Arranjo físico Limitado a arranjos do tipo linear (por

produto) ou funcional (por processo)

Agrupamento de produtos por famílias

para implantação de células de

manufatura

Tipo de

equipamentos

Equipamentos com baixa flexibilidade

devido a tempos de setup longos

Equipamentos com alta flexibilidade

que incorporam sistemas de Troca

Rápida (TR)

Fluxo de material Lead time longo por falta de conexão

entre as etapas de processo

Manufatura de Fluxo Contínuo (MFC)

com lead time curto

Tamanho do lote Lotes grandes dimensionados pelo

modelo do lote econômico Lotes pequenos e one piece flow

Pro

cess

o d

e m

elh

ori

a

Procedimentos de

trabalho

Variação e ineficiência devido à falta de

atualização dos procedimentos e falta de

aderência aos padrões

Aderência aos procedimentos

melhorados e formalizados como

trabalho padrão (TP)

Controle da

qualidade

Inspeção no embarque, controle sob

responsabilidade do departamento de

controle de qualidade

Inspeção na fonte, cultura da

qualidade total (TQM), aplicação de

Poka Yoke (PY) em sistemas à proca

de erro

Gestão da

manutenção

Predominantemente corretiva,

responsabilidade dos técnicos de

manutenção

Promoção da Manutenção Produtiva

Total (MPT)

Visão do processo

de melhoria

Foco na eficiência de recursos limita a

abrangência dos resultados

Visão sistêmica das necessidades de

melhoria pelo Mapeamento de Fluxo

de Valor (MFV)

Quadro 2 - Principais características da manufatura tradicional e da LM

(adaptado de MANN, 2005)

45

2.3.3 - Princípios e conceitos fundamentais do pensamento enxuto

De acordo com Silva et al. (2007) “o pensamento enxuto inicia-se pela definição de

valor – o que é importante para o cliente, ou seja, o foco é a criação de valor para o

cliente”. Todas as ferramentas e técnicas do Pensamento Enxuto são meios para se atingir

essa finalidade e não fins em si mesmos.

A figura 6 representa as diferenças entre a abordagem tradicional e a proposta, a

partir do pensamento enxuto.

Figura 6 - Princípio do não-custo.

Adaptado de Giannini (2007)

Para Giannini (2007), o pensamento enxuto ou STP tem como objetivo produzir

produtos ou serviços com nível de qualidade classe mundial, para suprir a expectativas dos

clientes e ser um modelo de responsabilidade corporativa, dentro da indústria e a

comunidade ao redor.

Barros Filho (2003) salienta que a tradicional equação de formação de preço dos

produtos:

Preço = Custo + Lucro, é substituída pelo Lucro = Preço – Custo

46

Womack, Jones e Roos (1992) ainda comentam que a produção enxuta consistia

em produzir, com o máximo de economia de recursos, para representar a forma de

produção desenvolvida na Toyota.

Slack, Chambers e Johnston (2002) postulam que o sistema de produção da Toyota

é formado por apenas quatro regras implícitas, que guiam a concepção, o projeto, operação

e melhoria de qualquer atividade, relação ou fluxo para produto e serviço. As quatro regras

são:

1. Todo trabalho deve ser altamente especificado no seu conteúdo, sequência,

tempo e resultado.

2. Toda relação cliente-fornecedor (interno e externo) deve ser direta, com um

canal definido e claro para enviarem pedidos e receber respostas.

3. O fluxo de trabalho e processo para todos os produtos e serviços deve ser

simples e direto.

4. Qualquer melhoria deve ser feita pelo método científico, sob a coordenação de

um orientador e no nível mais baixo da organização (SLACK et al., 2002)

Slack, Chambers e Johnston (2002) comentam que essas quatro regras requerem

que as atividades, relações e fluxos de trabalho e processo possam sinalizar problemas

automaticamente. É essa contínua resposta aos problemas que faz com que esse sistema,

aparentemente rígido, seja na verdade extremamente flexível e adaptável às mudanças. A

Figura 7 resume o Sistema Toyota de Produção e suas principais ferramentas e técnicas.

A sustentação do Sistema Toyota de Produção é baseada em dois pilares, jidoka e o

just-in-time e a base do sistema é a estabilidade. A estabilidade é considerada a base do

Sistema Toyota de Produção, como um todo, pois auxilia na garantia da produção de itens

livres de defeitos (pilar Jidoka), na quantidade e momento certo (pilar Just-in-Time)

O conceito kaizen advém de uma filosofia organizacional e comportamental, por

meio de uma cultura voltada à melhoria contínua, com foco na eliminação de perdas em

todos os sistemas de uma organização (MARTINS; LAUGENI, 2005).

47

Figura 7 - Sistema Toyota de Produção.

Adaptado de Martins e Laugeni (2005)

Outro conceito fundamental da filosofia Lean ou um dos pilares do STP é

metodologia PDCA (Figura 8) – Plan, Do, Check, Act, centrada na resolução de

problemas, identificação da causa e na procura da melhor solução (OSONO, 2008).

Para Simão (2003), um ponto crucial é de que o método não é imposto pela

empresa, mas emerge da própria filosofia Lean. Em assim sendo foram identificadas quatro

regras que definem esta estrutura:

1ª regra - Todos os trabalhos devem ser minuciosamente especificados em

termos de conteúdo, sequência, tempo e resultado.

2ª regra - Todas as conexões cliente-fornecedor devem ser diretas e binárias

(sim/não) para enviar solicitações e receber propostas.

3ª regra - Todos os fluxos dos produtos e serviços devem ser simples e

diretos.

48

4ª regra - Todas as melhorias precisam ser feitas continuamente e em

conformidade com o método científico, sob orientação de um líder e

no nível mais baixo da organização.

Figura 8 - PDCA – Método de Gerenciamento de Processos Adaptado de Aguiar (2002)

2.3.4 - As 7 Perdas

A filosofia de reduzir e eliminar desperdícios consiste em identificar atividades que

agregam valor e as atividades que não agregam valor, livrando-se das últimas (Liker,

2005). A Toyota identificou os sete principais desperdícios comumente encontrados em

processos produtivos:

a. Superprodução ou produção em excesso: Produção antecipada ou excessiva

(acima da demanda). Gera excesso de pessoal, excesso de estoque e transporte

desnecessário. Tem a propriedade de esconder outras perdas;

49

b. Excesso de estoque: Excesso de matéria-prima, de estoque em processo ou

produto acabado. Caracteriza dinheiro parado, que ainda gera custo excessivo,

baixo desempenho do serviço prestado ao cliente, longo lead time, produtos

danificados e atrasos. Oculta problemas como desbalanceamento de produção,

defeitos no produto ou em equipamentos e longo tempo de setup;

c. Defeitos: Problemas de qualidade, retrabalhos e descarte. Geram custos de

recuperação ou perda total de material e tempo, havendo risco de perda de

confiança do cliente caso o defeito não seja detectado;

d. Espera: Ociosidade de pessoas, informação, matéria-prima ou produto semi-

acabado. Pode ter basicamente as seguintes causas: espera por um

processamento atrasado; espera de processamento de todas as peças do lote;

espera por falta de estoque; espera por uma ferramenta; e espera gerada quando

o funcionário é forçado a permanecer junto à máquina para vigiá-la ou devido

ao desbalanceamento das operações. Gera longo lead time;

e. Transporte desnecessário: movimento de estoque por longas distâncias ou

transporte ineficiente. Em empresas de produção de bens é uma atividade que

não agrega valor e deve ser minimizada, pois despende capital, tempo e

energia. Mudanças simples de layout diminuem a necessidade de transporte;

f. Movimentação desnecessária: movimentos que o funcionário tem que fazer

para procurar, pegar ou empilhar. Está relacionado à desorganização do

ambiente, gera perda de tempo e pode ser eliminado através do estudo de

tempos e movimentos ou modificação de layout;

g. Superprocessamento ou processamento incorreto: Processamento desnecessário

ao valor que o cliente deseja ou processamento inadequado. Causa movimentos

desnecessários, perdas de tempo e esforço e ainda pode produzir defeitos.

Produto com qualidade superior a esperada pelo cliente é considerado

desperdício.

Hines e Taylor (apud Oliveira et al., 2009) definem três diferentes tipos de

atividades quanto ao desperdício:

a. Atividades que agregam valor: atividades que agregam valor para o

consumidor, ou seja, atividades que fazem com que o consumidor queira pagar

pelo produto;

50

b. Atividades desnecessárias que não agregam valor: atividades que aos olhos do

consumidor são desperdício e devem ser eliminadas em curto e médio prazo,

pois não agregam valor em situação alguma;

c. Atividades necessárias que não agregam valor: atividades necessárias à

empresa, mas que não agregam valor aos olhos do consumidor. São

desperdícios difíceis de serem eliminados em curto prazo.

51

2.4 - A INTEGRAÇAO ENTRE LEAN MANUFACTURING E SIX SIGMA

A primeira integração e popularização do Lean com o Six Sigma ocorreu em 1986,

por George Group (SALAH; RAHIM e CARRETERO, 2010). Mas a evolução do Lean

Six Sigma teve início nos anos 2000 (BYRNE et. al., 2007). Sheridan (2000) usou o termo

Lean Six Sigma para descrever o sistema da combinação de ambos Lean Manufacturing e

Six Sigma.

A forma como o Lean Manufacturing e o Six Sigma tem se relacionado é

integralmente aceitável hoje, e mais empresas estão estabelecendo programas Lean Six

Sigma, especialmente depois de comprovarem a capacidade do Lean Six Sigma dentro das

empresas como GE e Toyota. Recentemente, algumas empresas tem ensinado essa

integração internamente, o que tem facilitado a expansão e adequação às práticas conjuntas

dessas duas metodologias (SALAH; RAHIM e CARRETERO, 2010)

A abordagem Six Sigma oferece um conjunto de ferramentas para identificação,

medição e análise de problemas e o sistema Lean preconiza a adoção de técnicas e

procedimentos que tornam o modo de produção mais competitivo, ou seja, enquanto o Six

Sigma é voltado para o diagnóstico, análise e planejamento, o Lean ajuda a reconfigurar o

modo de operar de um sistema de produção.

2.4.1- Gestão de Projetos Lean Six Sigma

A fase mais importante do Lean Six Sigma é o seu início, pois existem aspectos que

são essenciais no processo de inserção do programa nas organizações. Entre os principais

fatores que podem assegurar a eficácia do Lean Six Sigma destaca-se o comprometimento

da gerência com o programa, em virtude da necessidade da alocação de recursos que

sustentem sua manutenção.

Outro fator relevante é a mudança cultural, pois a implementação do Lean Six

Sigma exige ajustes na cultura da organização e uma nova atitude dos funcionários que

devem se sentir continuamente motivados para os desafios e o rigor que o programa impõe,

em especial, no que se refere à coleta e mensuração dos dados dos processos (ANTONY,

2004).

Considera-se também como um fator decisivo para iniciar uma gestão Lean Six

Sigma, a necessidade de existir nas empresas uma infraestrutura organizacional adequada e

52

que assegure a introdução, desenvolvimento e continuidade do programa (WIPER;

HARRISON, 2000).

A Figura 9 explicita essa ideia e sugere que o programa Lean Six Sigma esteja

realmente inserido no contexto da gestão da qualidade e da gestão estratégica como um

programa amplo que contempla atividades de planejamento, medição e priorização de

ações de melhoria. Os projetos são derivados da ação e dinamismo do ambiente (de seus

agentes diretos) sobre a orientação estratégica e missão, que direcionam a formulação da

estratégia competitiva e a definição dos objetivos e metas estratégicos e operacionais.

Ambiente

Clientes; meio ambiente;

tendências; fornecedores;

concorrência.

Orientação

estratégica/

missão

Estratégia

competitiva

Objetivos e

metas

estratégica

Objetivos e

metas

operacionais

Planejamento

Medição

Ações de Melhoria

Programa

estratégico

Programa

operacional

Programa Lean

Six Sigma

Projetos Lean

Six Sigma

Bens/serviços e processos melhoresFeedback

Figura 9 - Lean Six Sigma como programa estratégico e operacional.

O gerenciamento de projetos nos moldes do Lean Six Sigma deu mais foco para as

atividades e possibilitou um maior comprometimento das pessoas pelo fato de os projetos

serem formalizados por meio de contrato celebrado entre membros de uma equipe

composta por profissionais de níveis hierárquicos e funções diferenciadas (ROTONDARO,

2002).

A formação e capacitação de uma equipe de especialistas é necessária, com

identificação própria (master black belts, champion, black belts e green belts) para compor

um grupo dos profissionais mais aptos para desenvolverem e promoverem o crescimento

do desempenho do negócio, aplicando métodos de redução de perdas e desperdícios e

técnicas estatísticas para implementarem projetos definidos e/ou direcionados

estrategicamente.

Goh (2002) aponta que a implementação dos projetos Lean Six Sigma está atrelada

a problemas interfuncionais e multidisciplinares, e embutem uma forma fértil de se gerar e

enriquecer ideias e técnicas, tendo o pensamento estatístico como um denominador

comum. Usar uma abordagem orientada para dados e projetos é uma característica

53

fundamental que aumenta a habilidade de reconhecer, descrever, gerenciar, controlar e

mesmo utilizar a variação existente nos diversos processos.

2.4.2 - Principais ferramentas em comum entre as metodologias

O sucesso que as empresas conseguem com a utilização da metodologia Lean Six

Sigma deve-se principalmente ao uso de poderosas ferramentas que, aplicadas em

situações específicas e de maneira correta, proporcionam um significativo auxílio à

melhoria dos sistemas administrativos e de manufatura, à gestão da qualidade e ao

gerenciamento de processo.

Entre as ferramentas mais usadas (Quadro 3) destacam-se o Controle Estatístico de

Processo (CEP) e os Gráficos de Controle, para a identificação de problemas; as Provas de

Significância Estatística (Qui-quadrado, Teste-T e Análise de Variância), para definição do

problema e análise da causa-raiz; a Correlação e Regressão, análise de causas-raiz e

previsão de resultados; o Planejamento de Experimentos (DOE), para análise de soluções

ótimas e validação de resultados; a Análise de Modo e Efeitos de Falha (FMEA), para

priorização e prevenção de problemas; os Dispositivos à Prova de Falhas (POKA-YOKE),

para prevenção de defeitos e aperfeiçoamento do processo, e o Desdobramento da Função

da Qualidade (QFD), para produtos, serviços e projeto de processos (ANDRIETTA E

MIGUEL, 2002).

Segundo Júnior (2007), As representações gráficas são importantes para permitir a

visualização imediata do conjunto de dados, além de evidenciar as relações existentes entre

os atributos ou variáveis observadas. Este tipo de recurso é geralmente característico da

segunda fase da metodologia DMAIC, ou seja, a fase MEDIR, conforme apresenta no

Quadro 4.

54

ETAPA ATIVIDADES & FERRAMENTAS

DEFINIR

Identificação do Problema

Escolha do Projeto

Plano de Projeto (Project Charter)

SIPOC

VOC/CTQ

Fluxogramas

Indicadores do Estado Atual

MEDIR

Avaliação de Sistemas de Medição

IPO (Processo)

Ferramentas de “Funneling”

Planilhas de Coletas de Dados

Cartas de Controle

Diagrama de Pareto

ANALISAR

Brainstorming

Diagrama de Causa & Efeito

Teste de Hipóteses

Análise de Regressão

Projetos de Experimentos (DOE)

IMPLEMENTAR

Matriz de Priorização

GUT

5W2H

CONTROLAR

Validação

Cartas de Controle

Gráficos “Antes X Depois”

Padronização

Quadro 3 - Ferramentas Básicas nas Fases DMAIC (MARCONDES, 2012).

55

Tipo de Gráfico Função

Histograma Segundo MONTGOMERY (2004), o histograma é uma representação

visual dos dados que nos possibilita três propriedades do conjunto de

dados do processo, a forma, a tendência central e a dispersão.

Box-Plot Revela grande parte da estrutura dos dados e dele podem ser extrídas as

seguintes características dos dados: posição ou tendência central; dispersão

ou variabilidade; assimetria; comprimento das caudas; e observação

discrepante.

Diagrama de

Dispersão

Trata-se de um gráfico utilizado para a visualização do tipo de

relacionamento existente entre as duas variáveis. Este gráfico é útil para

facilitar o entendimento dos tipos de relações existente entre as variáveis

associadas a um processo, para facilitar a detecção de possíveis problemas

e para o planejamento das ações de melhoria a serem adotadas.

Diagrama de

Pareto

Esta ferramenta tem por função descrever graficamente os dados, que

representam a característica de interesse, de maneira que se possa detectar

os itens com melhores oportunidades de melhoria e desta forma direcionar

e concentrar esforços nestes (ROTANDARO, 2002). É um recurso

utilizado na fase MEDIR da metodologia DMAIC.

Quadro 4 - Tipos de Gráficos - adaptado de Júnior, 2007.

As ferramentas usadas em Lean e Six Sigma não foram todas inventadas nessas

metodologias, mas elas foram usadas para estruturar a forma de cada metodologia. Ambas

podem conviver em uma mesma caixa de ferramentas, onde certamente uma ferramenta

pode ser usada mais do que outra, dependendo da natureza do problema ou oportunidades

encontradas. Muitas ferramentas são em comum entre Six Sigma e Lean (McADAM e

DONEGAN, 2003), e a Figura 10 mostra um exemplo disso.

A fusão das duas metodologias é o caminho para as organizações aumentarem o

potencial de melhorias em seus processos e serviços 4(BHUIYAN e BAGHEL, 2005 apud

SALAH; RAHIM e CARRETERO, 2010). Através dessa união, é identificado caminhos

para melhorar simultaneamente, de maneira significativa, custos, qualidade, variabilidade e

lead time 5(LEAN SIGMA INSTITUTE, 2008 apud SALAH; RAHIM e CARRETERO,

2010).

4 BHUIYAN, S. and BURCHER, P. (2006) – “Lean Viewed as a Philosophy”, Journal of Manufacturing

Technology Management, Vol. 17, No. 1, pp. 56-72 5 LEAN SIGMA INSTITUTE (2008) – “Lean Six Sigma overview”, a boutique consultant in Lean Six Sigma, available at: www.sixsigmainstitute.com

56

Figura 10: As Ferramentas usadas no Six Sigma e no Lean (próprio autor)

Kanban

Visual Workplace

Kaizen

OEE

5S Housekeeping

O combate as 8 perdas

Teste de Hipóteses

Cartas de Controle

Regressão

DOE

Analisé de Capacidade

Diagrama de Pareto

Brainstorming

Mapa de Fluxo de Valor

Mistake-proofing

Algumas ferramentas de

Six Sigma

Algumas ferramentas de

Lean Manufacturing

Algumas ferramentas em

comum

57

3 - A INDÚSTRIA DO ÁLCOOL

3.1 - Análise do Setor Sucroalcooleiro

A cultura da cana-de-açúcar no Brasil se confunde com a própria história do país,

tendo sido uma das primeiras culturas agrícolas a serem organizadas no período da

colonização. Até o século XIX, toda a atividade característica do setor sucroalcooleiro,

tanto do cultivo da cana como da produção e comercialização do açúcar, era restrita,

exclusivamente, à região nordeste do país, devido ao clima e solo propícios e incentivos

através de financiamentos bancários para os aqueles que se comprometessem a estabelecer

a cultura da cana em suas terras (COSTA, 2003). Nos dias de hoje o Brasil tornou-se um

dos maiores produtores e exportadores mundiais de álcool e açúcar, tendo parte de sua

história ligada a esta atividade, com o “Ciclo da Cana-de-Açúcar”, iniciado em 1532 pelos

portugueses, se expandindo para o Nordeste e tornando o Brasil, o maior fornecedor de

açúcar para o mercado europeu na época e desbravador de novos mercados atualmente

(ÚNICA, 2005).

De acordo com Macedo (2007), nos próximos anos, será possível implementar as

tecnologias disponíveis ainda em uso parcial. A evolução “contínua” de processos incluirá:

agricultura “de precisão”, variedades para as novas áreas, avanços na mecanização

agrícola, novos processos de separação do etanol, e automação industrial. Em médio prazo

(5–10 anos), diversos co-produtos derivados da sacarose e novos subprodutos serão

incorporados. Em médio e longo prazo, poderá ocorrer a difusão de variedades

geneticamente modificadas de cana-de-açúcar. Isto, e o uso de novas variedades poderão

aumentar significativamente o valor da produção.

Tecnologias ainda não comerciais poderão ser as chaves para esta transformação: a

hidrólise de biomassa e diversas fermentações dos açúcares resultantes, a gaseificação de

biomassa, para energia elétrica ou síntese de combustíveis, e possivelmente a engenharia

genética, no suporte ao melhoramento da cana. Macedo (2004) afirma que os custos na

produção do etanol prometem diminuir ainda mais, com melhorias no processo, inovações

em variedades transgênicas de cana-de-açúcar, novos processos industriais e novos

produtos (entre estes, energia elétrica a partir do bagaço e da palha de cana).

Conforme histórico, o Brasil é hoje o que pode oferecer menor custo de produção

de etanol e de açúcar a partir da cana. A tendência é de que esses custos diminuam ainda

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mais devido a melhorias na produção, inovação em variedades de cana (transgênicas),

novos processos industriais e novos produtos (como energia elétrica a partir do bagaço e da

palha da cana) (MACEDO, 2004).

3.2 - Peculiaridades das usinas de açúcar e etanol

Segundo Yamada (2002), o processo produtivo sucroalcooleiro é caracterizado pela

sazonalidade: na época da safra, a usina trabalha com sua maior capacidade e, na

entressafra faz sua manutenção e gerencia seu estoque.

O período de moagem é definido por três fatores relacionados ao clima seco.

Primeiramente, a cana tem seu teor de sacarose aumentado, em virtude do stress hídrico

causado pela menor disponibilidade de água. Em segundo lugar, do ponto de vista

agronômico, a colheita apresenta menor risco de causar danos, como a compactação do

solo e o dilaceramento de soqueiras (raízes de cana), devido à movimentação das máquinas

no campo. Finalmente, a interrupção frequente do processo de colheita e transporte, devido

à chuva, reduz a confiabilidade de entrega de cana na indústria (AMARAL et al., 2008).

As diferentes etapas do trabalho, no processo de produção canavieira, vêm sendo

reestruturadas, tecnológica e gerencialmente, objetivando a diminuição de custos da

produção, que representam, em média, 62% do custo total das empresas (TEIXEIRA,

2006).

De acordo com Cerri (2008), 60% dos custos de produção estão associados ao setor

agrícola; e o corte, carregamento e transporte somam 47%, como se observa no Gráfico 2.

Neste processo, a gestão agrícola tem de administrar a intensificação da

mecanização da lavoura integradamente à indústria processadora (SILVA, 2006).

Diferente dos demais países produtores de cana-de-açúcar, no Brasil, o

processamento industrial é integrado verticalmente à produção agrícola. Desta forma, a

usina mói cana própria (ou arrendada) e de fornecedores e dependendo do tipo de contrato,

as operações agrícolas de preparo de solo, plantio e tratos culturais, além do próprio corte,

carregamento e transporte (CCT) da cana, são realizadas pela usina (AMARAL et al.,

2008).

59

Gráfico 2: Custo da produção agrícola sucroenergética.

Fonte: Cerri (2008).

Outra característica peculiar da indústria sucroalcooleira é a continuidade de suas

operações. Uma vez iniciada a safra e a moagem na indústria, o abastecimento de cana

deve ser contínuo, pois os custos decorrentes da interrupção do fornecimento de cana e

warm-up para a retomada das atividades são muito altos; daí, a necessidade de um

planejamento adequado das operações de corte, carregamento e transporte da cana-de-

açúcar para a indústria, cujo principal aspecto é a otimização dos recursos alocados nestas

operações, ou seja, mínimo de perdas (SILVA, 2006).

3.3 - Processos logísticos da cana-de-açúcar na área agrícola

Segundo Amaral et al. (2008), a produção agrícola da cana compreende preparo do

solo, plantio, tratos culturais, irrigação, colheita, corte, carregamento e transporte (Figura

11).

O processo agrícola é distribuído ao longo dos 12 meses do ano (TEIXEIRA,

2006).

Para o plantio da cana-de-açúcar, há a necessidade de preparar o solo, removendo-

se a vegetação existente e plantas indesejáveis, criando-se condições favoráveis à

germinação e ao desenvolvimento da cultura.

Transporte 18%

Carregamento 8%

Corte 21%

Plantio 20%

Tratos culturais - planta

5%

Tratos culturais - soca 28%

60

Figura 11 - Operações agrícolas da produção de cana-de-açúcar

Fonte: Adaptado de Amaral et al. (2008).

O preparo do solo influencia diretamente a longevidade e produtividade do

canavial (SANTIAGO; ROSSETTO, 2007).

O plantio da cana-de-açúcar envolve um planejamento com levantamento

topográfico e sistematização do terreno. O plantio pode ocorrer manualmente ou

mecanicamente, compreendendo as etapas de corte de mudas, distribuição no sulco, corte

dos colmos, em pedaços menores, dentro do sulco e cobertura.

Outro fator preponderante para o plantio da cana-de-açúcar é a escolha o

espaçamento adequado para a otimização de atividades, como o uso intensivo de máquinas

e colheita. O espaçamento adequado contribui para o aumento da produção, pois interfere

favoravelmente na disponibilização de recursos, como luz, água e temperatura – variáveis

consideradas determinantes para que haja aumento de produção (FERREIRA et al., 2008).

O trato cultural na cana-de-açúcar faz o controle das ervas daninhas, adubação em

cobertura e adoção de uma vigilância fitossanitária para controlar a incidência do carvão

(TERRA, 2009).

Em regiões com déficit hídrico, há a necessidade de irrigação. Essa alternativa é

aplicada principalmente na região Nordeste e requer planejamento adequado,

considerando-se as necessidades hídricas, o manejo apropriado da água na cultura e as

peculiaridades fisiológicas do crescimento da cana irrigada (FARIAS et al., 2008).

61

Atualmente, a colheita da cana-de-açúcar, no Brasil, além da colheita manual, é

processada mecanicamente, num processo que combina a operação de colheita com a de

carregamento.

Perfila-se um novo conceito de colheita da cana-de-açúcar, sem queima prévia, que

visa ao aproveitamento integral da planta, envolvendo operações adicionais para a retirada

das folhas e a disposição adensada de colmos e palhiço para o transporte (BRAUNBECK;

MAGALHÃES, 2006).

3.4 - Processos Básicos de produção do álcool

A Etapa do processamento industrial do processamento da cana-de-açúcar pode ser

dividida em cinco grandes volumes de controle: Sistema de Extração, Planta de

Tratamento de Caldo, Produção de Açúcar, Sistema de Cogeração e Produção de Álcool.

Conforme pode ser visto na Figura 12, há uma grande interação entre os diferentes

processos, assim alterações em um desses influencia a operação dos demais e, portanto,

nos custos de produção.

O processo produtivo do álcool é constituído de quatro processos básicos de

produção: extração do caldo, tratamento do caldo, fermentação e destilação. A Figura 13

mostra o fluxograma do processo de produção do etanol, construído a fim de mostrar de

forma simples e abrangente todo o processo produtivo. Nas subseções seguintes são

descritas as etapas do processo.

62

Figura 12 - Volume de controle do processamento industrial da cana-de-açúcar

( PELLEGRINI, 2009)

63

Figura 13 - Fluxograma do processo de produção de etanol

Adaptado de Oliveira (2010).

64

Preparo da cana

A primeira fase do processamento da cana é o descarregamento. Os caminhões são

descarregados na mesa alimentadora e a cana é colocada diretamente no processo. A

extração do caldo tem início com o preparo da cana, com o objetivo de aumentar a sua

densidade e a capacidade de moagem. Assim a cana passa por um jogo de facas, e ao ser

picada, a cana segue para um desfibrador, onde cerca de 85 a 92% de suas células são

rompidas, o que facilita a extração do caldo (OLIVEIRA, 2010). Logo em seguida, a carga

uniforme é enviada para a fase de extração de caldo, onde alimenta o primeiro terno de

moendas.

Extração do caldo

O principal objetivo dessa fase é extrair o máximo de caldo de cana. O caldo

extraído é direcionado a um tanque, de onde é distribuído para a etapa seguinte. A cana que

veio do primeiro terno é embebida com o caldo oriundo do terno subsequente até chegar ao

último terno, que é embebido com água. O objetivo da embebição é diluir o caldo

remanescente e aumentar a extração deste.

Preparo de caldo

O preparo de caldo é um processo de grande importância para se obter um produto

final de qualidade, pois é nesta fase do processo que se realiza a purificação do caldo,

retirando deste as matérias estranhas solúveis e insolúveis. É nesta fase do processo que

ocorre o peneiramento, sulfitação, calagem e decantação.

Preparo do mosto

O mosto é uma solução de açúcar com concentração ajustada de forma a facilitar

sua fermentação. É constituído por uma mistura de caldo e mel final proveniente do

processo de obtenção do açúcar. Na usina estudada, a concentração brix é determinada em

função do tempo de fermentação, podendo chegar até 26º brix. Quando o brix do mosto

está acima do desejado, a solução é diluída com água.

65

Tratamento do fermento

No processo de fermentação alcoólica utilizada na empresa em estudo, as leveduras

são recuperadas pela centrifugação do vinho que as contém. O vinho levurado entra na

centrífuga que separa o vinho delevurado, enviado para a dorna volante, do leite de

levedura. O tratamento da levedura consiste em adicionar água e ácido sulfúrico até que o

pH atinja 2,5 ou 2, conforme necessidade de eliminar alguma infecção bacteriana.

Fermentação

O processo de fermentação, geralmente, utilizado nas destilarias do Brasil é o de

Melle-Boinot, cuja característica principal é a recuperação da levedura através da

centrifugação do vinho (mosto fermentado). Na fermentação os açucares são

transformados em álcool. Essas reações ocorrem em tanques denominados dornas de

fermentação, onde se misturam o mosto e o pé-de-cuba, que é uma suspensão de fermento

diluído e acidificado.

O tempo de fermentação é de aproximadamente 8 horas, e ao final desse período, o

então chamado vinho levurado é centrifugado e passa a ser chamado de vinho delevurado.

As leveduras são enviadas para o processo de tratamento e o vinho delevurado é enviado

para a dorna volante, espécie de pulmão onde fica até ser bombeado para as colunas de

destilação.

Destilação

O vinho que vem da fermentação possui, em sua composição, 7º a 12°GL (% em

volume) de álcool, além de outros componentes de natureza líquida, sólida e gasosa.

Dentro dos líquidos, além do álcool, encontra-se a água com teores de 89% a 93%,

glicerol, álcoois homólogos superiores, furfural, aldeído acético, ácidos succínico e acético

entre outros, em quantidades bem menores. Já os sólidos são representados por bagacilhos,

leveduras e bactérias, açúcares não fermentescíveis, sais minerais, matérias albuminoides

entre outros, e os gasosos, principalmente pelo CO2 e SO2.

O álcool presente no vinho é recuperado por destilação. Nesse processo são

utilizadas as diferenças de ponto de ebulição das diversas substâncias voláteis presentes,

66

separando-as. A operação é realizada com auxílio de sete colunas distribuídas em quatro

troncos.

O tipo de destilação mais utilizado em indústrias de grande porte é a destilação

fracionada. Na destilação fracionada é possível a separação em várias frações, pois pode

haver temperaturas, vazões e composições constantes em dado ponto da coluna

(RASOVSKY, 2009).

Na primeira parte do processo são utilizadas três colunas superpostas, conforme

Figura 14, onde o etanol é separado do vinho inicialmente com 7º a 12°GL. Este tronco de

destilação elimina também as impurezas (ésteres e aldeídos). O vinho é alimentado no topo

da coluna A1 e desce pelas bandejas sobre epuração, sendo a flegma retirada pela coluna

A, com 35 a 65°GL, e enviado para outra coluna. Na coluna A também gera como

subproduto a vinhaça, que é retirada em uma proporção aproximada de 13 litros para cada

litro de álcool produzido. (MENEGUETTI, MEZAROBA e GROFF, 2010).

Figura 14 - 1º tronco de destilação (SEJIMO 2011)

67

A flegma é alimentada em outro tronco de retificação, conforme Figura 15, que se

caracteriza por apresentar uma coluna de esgotamento (B1) e uma coluna de concentração

(B). A flegma é concentrada e purificada, sendo retirada, sob a forma de álcool hidratado,

duas bandeja abaixo do topo da coluna, a uma graduação de aproximadamente 97ºGL. Há

a separação dos produtos de cauda (flegmaça), centro (óleo fúsel) e de cabeça (álcool

hidratado, aldeídos e ésteres).

Figura 15 - 2º tronco de destilação (SEJIMO 2011)

O resultado do processo de destilação é o álcool hidratado com 97ºGL, que pode

ser comercializado como etanol carburante, que é o etanol utilizado nos automóveis leves.

O volume de álcool produzido é medido por hidrômetros e em tanques calibrados. Em

68

seguida ele é encaminhado para tanques onde é estocado até a comercialização e retirada

por caminhões.

Uma característica bastante interessante e peculiar do processo de produção do

álcool é o aproveitamento de muitos (ou quase todos) de seus resíduos em atividades

relacionadas á cadeia de produção da cana e de seus produtos. Assim, esses resíduos

podem ser vistos muito mais como subprodutos (PELLEGRINI, 2009).

Contudo, existem outras rotas de aproveitamento desses subprodutos, que podem

ser aproveitados no próprio processo, para geração de energia, gás, insumos energéticos e

outros. Isso mostra que nos processos derivados da cana-de-açúcar, principalmente o

processo de produção de álcool, há muitas oportunidades de otimização e melhorias,

redução de custos e melhor aproveitamento de seus subprodutos.

3.5 - Qualidade no setor sucroalcooleiro

Atualmente é muito comum encontrar no meio industrial inúmeras aplicações de

indicadores de desempenho, sobretudo indicadores ligados a aspectos da qualidade. O

monitoramento e análise dessas variáveis da qualidade vêm se provando cada vez mais

indispensáveis para a tomada de decisão baseada em fatos.

Dessa forma, a qualidade é um tema que tem ganhado cada vez mais atenção no

setor sucroalcooleiro. Segundo Baccarin (2005), o setor teve que se atentar à qualidade dos

seus produtos a fim de diminuir os custos de produção e consequentemente se tornar mais

competitivo. O autor explica que isso foi motivado pela desregulamentação do setor na

década de 1990 e por uma série de mudanças institucionais com o intuito de liberar os

preços e diminuir o amparo público ao complexo sucroalcooleiro, que desde então era

concedida pelo Programa Nacional do Etanol (Proetanol).

Outra justificativa para a melhoria da qualidade no setor vem do âmbito

econômico. De acordo com Corrêa (2009), somando-se todas as demandas do ano de 2009,

o setor precisaria moer cerca de 612 milhões de toneladas de cana, o que significa uma

expansão de 8,74% em relação ao ano anterior. Isso implica em investimentos da ordem de

US$ 4 bilhões. Para garantir esse sucesso vivido pelo setor sucroalcooleiro é que surge a

necessidade de assegurar a qualidade dos processos e produtos através de monitoramentos

e análises estatísticas, utilizando de metodologias que assegurem a busca por resultados

expressivos.

69

Portanto, há a necessidade de assegurar a qualidade do processo e do etanol através

da aplicação de ferramentas da qualidade. A implantação dessas ferramentas pode ser feito

a custos relativamente baixos e isso pode trazer ganhos como redução de custos, menores

variações na produção, aumento da produtividade e maior competitividade no mercado.

3.6 - Perspectivas de evolução tecnológica e otimização dos processos atuais.

Uma questão que se coloca no momento é: quais são as possibilidades de ainda se

obterem grandes avanços tecnológicos e otimização no processo de produção do álcool nos

próximos anos? O Processamento industrial da cana para o álcool, como realizado hoje, é

uma tecnologia que já atingiu sua maturidade plena; houve grandes avanços entre 1970 e

1990. Dessa forma, podem-se esperar avanços incrementais, ou existem áreas a explorar

com grandes margens de aperfeiçoamento para saltos importantes na competitividade.

A evolução contínua dos processos em uso poderá levar também nos próximos anos

a ganhos relevantes de produtividade, mediante a agricultura “de precisão”,

desenvolvimento de melhores variedades, maior integração da

colheita/carregamento/transporte, novos processos de separação do álcool, automação

industrial, o uso de processos industriais mais eficientes (geração e uso da energia) está

levando o setor a tornar-se um potencial de oportunidades de investimentos e otimizações

em seus processos.

Os ganhos de produtividade industrial (L/t cana) e agroindustrial (L/ha), associados

tanto ao desenvolvimento tecnológico quanto a melhorias nos processos existentes podem

levar, nas melhores condições, a grandes aumentos na produção de álcool por hectare. As

melhorias nas práticas gerenciais e administrativas nas usinas levarão também a algumas

reduções de custo de produção (MACEDO; NOGUEIRA, 2004).

70

71

4 - METODOLOGIA

Esta seção descreve o tipo de pesquisa realizada, o critério da escolha da amostra

em relação ao universo e como foram realizados a coleta e o tratamento dos dados.

4.1 - Classificação metodológica

Esse trabalho utilizou-se da abordagem pesquisa qualitativa e de forma

exploratória. O método de pesquisa utilizado foi o estudo de caso e as fontes de coletas de

dados foram oriundas várias empresas do setor sucroalcooleiro e de sites, livros e artigos

publicados acerca do tema de estudo.

Conforme observa Bryman (1995), o pesquisador consegue, através da pesquisa

qualitativa, um senso geral do contexto, propiciando facilidade e entendimento do que

ocorre no objeto de estudo. O pesquisador compõe um panorama geral da situação da

empresa, de seus problemas e de suas necessidades através do auxílio da pesquisa

qualitativa. Sobre a pesquisa qualitativa, Goldenberg (2000) afirma que:

Na pesquisa qualitativa, a preocupação do pesquisador não é com a

representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento

da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de

sua trajetória, entre outros (GOLDENBERG, 2000)

Segundo Barros e Lehfeld (1999, p.14) a pesquisa “é a exploração, é a inquisição, é

o procedimento sistemático e intensivo, que tem por objetivo descobrir e interpretar os

fatos que estão inseridos em uma determinada realidade”.

Já Para Gil (2007), a pesquisa pode ser utilizada quando não se tem respostas e

soluções diante de um problema, ou até mesmo quando as respostas (informações)

disponíveis estão de um modo que não haja uma adequação ao problema relacionado.

Para o desenvolvimento deste trabalho e a realização da pesquisa foi utilizado

como modelo o esquematizado por Gil (2007) na Figura 16, lembrando que o exemplo

citado não se torna regra no desenvolvimento deste, pois o pesquisador tem a liberdade de

manipular seu trabalho de acordo com a situação encontrada ao longo de seus estudos.

72

Figura 16 - Exemplo de diagrama de pesquisa Adaptado de Gil (2007)

A escolha pela realização do estudo de caso veio da necessidade de se observar a

teoria apresentada, para se responder a questão da pesquisa. O estudo de caso é um dos

meios mais importantes de pesquisa em gestão de operações, especialmente no

desenvolvimento de novas teorias. É caracterizado pela análise em profundidade de um

objeto de pesquisa (um indivíduo, uma família, uma organização, entre outros), reunindo

segundo Martins e Lintz (2010) por meio de diferentes técnicas de coleta de dados

(observação, observação participante, questionário, entrevistas, análise de conteúdo, etc.)

um maior número de informações detalhadas, possibilitando uma profunda penetração na

realidade do tema.

Muitos conceitos inovadores e teorias em gestão de operações, da produção enxuta

à estratégia de manufatura foram desenvolvidos com base em estudos de casos (VOSS et

al., 2002).

4.2 - Universo e Amostra

O universo desta pesquisa são as indústrias do setor sucroalcooleiro, mais

especificamente as usinas produtoras de álcool.

A amostra, escolhida por critérios não probabilísticos, são algumas usinas produtoras

de açúcar e álcool. O interesse principal foi estudar as práticas de ferramentas da qualidade no

processo produtivo do álcool, mas sabendo que essas práticas também são aplicadas como

forma de controle da qualidade no processo produtivo do açúcar.

73

4.3 - Coleta de Dados

Nesta pesquisa verificou-se qualitativamente o nível de utilização de ferramentas e

técnicas de gestão da qualidade aplicada pelas empresas, com ênfase principalmente na

metodologia Lean Six Sigma, ampliando e aprofundando o conhecimento existente, sendo,

portanto uma pesquisa de campo do tipo exploratória.

A coleta de dados foi através de um questionário, conforme Apêndice A. A

estruturação de parte desse questionário baseou-se em um estudo realizado por Rogers

(1998) no qual determinou quais são as melhores práticas ou best practices quando se trata

de Gestão da Qualidade. Nessa parte, utilizou-se de perguntas fechadas, de forma que

ficaram ordenadas de maneira clara e lógica, segundo a qual o entrevistado ao se deparar

com os termos abordados não encontrou dificuldades para respondê-lo. A outra parte do

questionário foi elaborada com perguntas abertas, onde o entrevistado pode responder com

mais detalhes informações cruciais para a elaboração da discussão e resposta do objetivo

principal deste trabalho.

A condução da coleta de dados se deu com as empresas situadas no Estado de São

Paulo e cadastradas no sindicato nacional do setor a UNICA (União da Agroindústria

Canavieira de São Paulo). A decisão de se restringir a pesquisa às empresas localizadas no

Estado de São Paulo pode ser justificada pela análise dos dados do levantamento realizado

em agosto de 2012 pela CONAB – Companhia Nacional do Abastecimento (2012), órgão

ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sobre a produção de cana-

de-açúcar e produção de álcool para a safra 2012/2013. Os resultados desse levantamento

mostram que o Estado de São Paulo é a “Locomotiva da Agroindústria” no setor, como

pode ser visto nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2 - Estimativa sobre a agroindústria canavieira no Brasil e no Estado de São Paulo.

Safras 2012/2013 Brasil Estado de São Paulo % da produção nacional

Área (em mil há) 8.527,770 4.419,460 51,8%

Produtividade (em Kg/há) 339.271 73.114 21,6%

Produção (em mil t) 596.629,8 323.124,4 54,2%

Fonte: CONAB – Companhia Nacional do Abastecimento (2012).

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Tabela 3 - Estimativa sobre a produção de etanol no Brasil e no Estado de São Paulo.

Safras 2012/2013 Brasil Estado de São

Paulo

% da produção

nacional

Etanol Total (Em 1000L) 23.491.182,6 11.870.770,0 50,5%

Etanol Anidro (Em 1000L) 9.213.502,5 5.078.623,7 55,1%

Etanol Hidratado (Em 1000L) 14.277.680,1 6.792.146,3 47,6%

Fonte: CONAB – Companhia Nacional do Abastecimento (2012).

Definida a amostra, iniciou-se a coleta de dados. Durante os meses de agosto e

setembro de 2012 foram realizados contatos com várias empresas com o intuito de coletar

os dados qualitativos necessários para a realização do trabalho. As etapas e os

procedimentos seguidos para realizar essa coleta são descritos no cronograma da Tabela 4.

Os resultados obtidos na coleta de dados são apresentados na Tabela 5, onde é

possível verificar que foram retornados 8,42% dos emails enviados a endereços existentes.

Desses emails retornados, apenas 3 empresas aceitaram participar colaborando com os

dados necessários a realização do trabalho. Aqueles que não aceitaram a participação

comunicaram o momento da safra em que estavam e dos compromissos assumidos até

aquele momento, o que resultou o não atendimento a participação.

Tabela 4 - Planejamento para execução da coleta de dados

Etapa Procedimento Período Data

1ª Etapa Envio de carta de apresentação 2 semanas 06/082012 à 20/08/2012

2ª Etapa Envio do questionário de pesquisa 2 semanas 21/08/2012 à

04/09/2012

3ª Etapa Envio de carta de cobrança 1 semana 05/09/2012 à

12/09/2012

4ª Etapa Envio de agradecimento às empresas 1 dia 17/09/2012

Tabela 5 - Resultados obtidos na etapa da pesquisa

Usinas

contatadas

Endereços

de emails

contatados

Emails não

existentes

Emails que

não tiveram

retorno

Emails que

tiveram

resposta

Usinas que

colaboraram

124 202 99 95 8 3

75

4.4 - Tratamento dos dados

Para realizar a interpretação dos dados qualitativos, foi feito a extração das

respostas dos entrevistados e utilizou-se o Microsoft Visio 2007, Excel 2007 e o Word

2007, onde foram elaborados gráficos, tabelas e fluxogramas com o intuito de esclarecer os

resultados da pesquisa.

Na primeira etapa, elaborou-se gráficos a partir das perguntas fechadas do

questionário, a fim de compreender melhor as respostas e analisar as práticas da qualidade

usadas em cada empresa. A partir das perguntas abertas, foi possível analisar com mais

detalhes o grau de qualidade em cada empresa, com a finalidade de observar as mudanças

que as empresas fizeram para adequar ao uso das práticas da qualidade.

Na segunda etapa, analisou algumas ferramentas do Lean Six Sigma utilizadas em

cada empresa. Nesta etapa, procurou evidenciar as principais ferramentas atualmente

utilizadas para controle e melhoria dos processos, e as vantagens que as empresas

descreveram sobre o uso dessas ferramentas.

Na terceira etapa, abordou as principais dificuldades e facilidades que as empresas

descreveram sobre o uso da metodologia Lean Six Sigma. E finalizando, o próprio autor

apresentou possíveis soluções para redução de desperdícios no processo produtivo, com

base nas perdas que o processo gera.

4.5 - Limitações da Pesquisa

A analise feita é a partir da realidade as 3 empresa que responderam

detalhadamente o questionário elaborado por este autor. Suas informações são relevantes e

permitem que se faça uma análise parcial do setor em relação ao objetivo pretendido. Por

outro lado, as conclusões deste trabalho não podem ser generalizadas, pois são feitas em

função de somente 3 empresas em um universo de mais uma centena de empresas.

76

77

5 - ANÁLISE DOS RESULTADOS

O Estudo de caso foi realizado em três usinas do setor sucroenergético. As

empresas possuem alguns programas de qualidade em áreas distintas do processo de

produção do álcool, o que resultou em ganhos de produtividade e melhoria da

competitividade no setor.

A primeira Usina foi a Empresa A, localizada no município de Junqueirópolis (SP).

Sua produção contempla açúcar e álcool, onde sua capacidade operacional gira em torno de

até 2,5 milhões de toneladas de cana processadas por safra, gerando uma produção de mais

de 60 milhões de litros e mais de 42 mil toneladas de açúcar.

A segunda Usina foi a Empresa B, localizada no município de Cerqueira César

(SP), próximo a cidade de Avaré.. A Usina produz açúcar, álcool e energia. Sua capacidade

de produção diária é de 550 mil litros de álcool, 10 mil sacas de açúcar e gerar 30 MW de

energia elétrica.

A terceira Usina a participar foi a Empresa C, localizada na cidade de Ariranha

(SP). A Usina produz açúcar e álcool, onde sua capacidade de produção diária é de mais de

500 mil litros de álcool e mais de 42 mil sacas de açúcar. Sua capacidade de moagem é em

torno de 25 mil toneladas de cana por dia.

As pessoas que responderam o questionário situam-se no nível de gerência e

coordenadoria dentro da empresa, e atuam na área industrial, setor diretamente relacionado

ao tema da pesquisa, o que valoriza o conteúdo das informações obtidas.

5.1 - Análise das práticas da qualidade no setor sucroalcooleiro.

O processo de reestruturação da economia mundial, devido à crise econômica

financeira, ao aumento dos níveis de concorrência e as exigências que o mercado impõe,

leva as empresas do setor a se empenhar em diminuir as perdas (determinadas e

indeterminadas) decorrentes do processo industrial e consequentemente aumentar o seu

rendimento industrial bem como o seu faturamento aplicando melhorias nos processos

atuais. Diante da instabilidade financeira mundial, fica evidente a preocupação das

empresas em conter gastos, evitar desperdícios e perdas.

Para minimizar as perdas no processo produtivo e aumentar a produtividade torna-

se necessário a implantação de um programa de qualidade para os atuais processos de

78

produção. Para a implantação e êxito do programa é necessário um envolvimento de toda a

empresa, principalmente do setor a ser implantado, o que eleva a dificuldade de

implantação de novas metodologias e mudança de pensamento.

O Quadro 5 apresenta os resultados referentes às empresas respondentes, onde o

que está assinalado representa a presença da característica avaliada e a falta dele corresponde à

ausência do quesito avaliado. Os resultados obtidos podem ser analisados sob dois aspectos:

com relação aos grupos de assuntos, e com relação ao nível final de aplicação dos tópicos

avaliados pelas empresas.

Em um primeiro momento, preocupou-se em levantar o grau de aplicação de

qualidade de cada usina, levando em conta o gerenciamento da empresa, a qualidade no

setor de produção, a relação com os fornecedores e outros setores dentro da empresa

relacionados com a produtividade.

O Gráfico 3 apresenta os percentuais de aplicação dos quesitos do questionário em

cada Usina, sendo possível analisar a partir desses resultados o grau de qualidade presente

em seus processos, o envolvimento da alta gerência da empresa e os pontos que cada

empresa precisa desenvolver para alcançar melhores resultados nas aplicações de

qualidade.

Gráfico 3 - Porcentagem de aplicação dos quesitos nas Usinas.

25%

75%

95,80%

Alta Paulista Rio Pardo Colombo Empresa A Empresa B Empresa C

79

Quadro 5 - Resultados obtidos durante a coleta de dados.

Práticas da Qualidade no Setor Sucroalcooleiro

Empresa

A

Empresa

B

Empresa

C

GE

ST

ÃO

DA

EM

PR

ES

A

A Empresa pratica melhoria contínua em seus processos

Possui uma visão que inclui qualidade

Possui uma política da qualidade

Considera a qualidade como parte do planejamento estratégico

Visualiza qualidade como vantagem competitiva em relação ao mercado

A gerência conhece seu papel e responsabilidade para a qualidade

Possui lideranças nomeadas para conduzir processos de melhoria

Utiliza aspectos positivos de empresas concorrentes para melhorias

próprias

Resultados econômicos satisfatórios com as melhorias

É certificada pela ISO 9001

CO

MP

RA

S

Possui um programa de desenvolvimento de fornecedores

Conduz programas de treinamento com fornecedores

Possui um programa de qualificação de fornecedores

Possui um controle da qualidade para recebimento de materiais

GE

ST

ÃO

DA

PR

OD

ÃO

Possui um plano de inspeção com etapas intermediárias no processo

Possui controle de qualidade no final do processo

Possui registro das etapas de inspeção realizadas

Realiza treinamentos periódicos com os funcionários

Possui operações do processo bem identificadas

Utiliza avisos luminosos e sonoros para auxílio dos colaboradores

Possui um programa periódico de manutenção estabelecido

Pratica técnicas para eliminação de desperdícios

Utiliza equipes multifuncionais para solução de problemas

Realiza análises e levantamento sobre custos da qualidade e não-

qualidade

80

Analisando esses dados de aplicação (do questionário fechado) dos quesitos nas

Usinas, vemos que há empresas que se comprometem com a qualidade e melhoria de seus

processos, principalmente na área produtiva.

O Gráfico 4 mostra o percentual de aplicação dos quesitos de acordo com cada

grupo de assunto dividido no Quadro 5. Dessa forma foi possível analisar o grau da gestão

da qualidade de cada Usina em relação a cada grupo de assunto.

Gráfico 4 - porcentagem da aplicação dos quesitos em cada grupo de assunto.

O grupo “Gestão da Empresa” foi o que apresentou maior índice de aplicação dos

quesitos entre as Usinas, com um índice médio de 76,7% de aplicação. Isso mostra que as

empresas estão preocupadas com a qualidade em sua gestão, formulando as estratégias de

crescimento do negócio com base no universo de aplicações dos programas de qualidade.

Pode-se notar um comprometimento da alta administração com a qualidade de toda a

empresa, estabelecendo políticas de melhorias, gerenciamento participativo e uma

integração horizontal entre os setores administrativos.

O grupo “Compras” foi o que apresentou o menor índice de aplicação dos quesitos,

apenas 41,7% em média. Através dos dados, nota-se que a relação com os fornecedores

ainda passa por dificuldades. Nessas três empresas não há programas de desenvolvimento

com seus fornecedores. Em contra partida, em duas Usinas (Empresa B e C) há programas

de qualificação de fornecedores e controle de qualidade para recebimento de materiais.

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

Usina Alta Paulista Usina Rio Pardo Usina Colombo

Gestão da Empresa

Compras

Gestão da Produção

Empresa A Empresa B Empresa C

81

O grupo “Gestão da Produção” teve um índice médio de 63,3% de aplicação dos

quesitos. Nota-se que as Usinas estão preocupadas com as melhorias de seus processos de

produção, com a qualidade de seus produtos principalmente no final do processo, onde as

três usinas disseram que possuem um controle de qualidade. A aplicação de métodos para a

otimização dos processos têm aumentado nesse setor, principalmente no processo do

álcool, onde o controle da etapa de fermentação é essencial para o rendimento do processo

e uma das etapas mais complicadas e difíceis de ser controlada.

Analisando as respostas das perguntas abertas do questionário, analisou-se com

mais detalhes o grau de qualidade dentro de cada empresa, a implementação de

metodologias, ferramentas de controle e melhoria dos processos e em alguns casos uma

mudança de cultura que levou a uma maior disseminação dos programas de qualidade,

principalmente algumas técnicas do Lean Six Sigma que é a metodologia de estudo deste

trabalho.

De acordo com o entrevistado da Empresa C, houve uma mudança de cultura dentro

da empresa, partindo da alta administração o convencimento dos benefícios oriundos da

implantação de sistemas de gestão, e disponibilizando recursos para essas mudanças, como

cursos de qualificação aos colaboradores, sendo abordadas as metodologias implantadas,

equipamentos necessários para a implementação e acompanhamento das melhorias feitas

nos processos. Conforme os dados, eles tiveram um aumento da produtividade da Usina

nos últimos anos, atribuído a adoção de programas de qualidade, em especial programas de

gestão estratégica e de redução de desperdícios (ISO 9000, Lean Manufacturing e Six

Sigma).

A Empresa B também segue com o mesmo princípio de investimento de melhorias

em seus processos, utilizando de várias metodologias e passando por mudanças culturais

dentro da empresa.

De acordo com a empresa, para a implantação dos programas de qualidade, houve a

necessidade de planejar todo o sistema a ser utilizado, analisando as metodologias e a

distribuição de espaço e a infraestrutura da empresa. Porém, tiveram dificuldades devido

ao fato de terem iniciado os processos produtivos sem os programas de qualidade estarem

totalmente implantados, ocorrendo problemas como adequação física dos processos,

divergências em informações, principalmente quando se trata de armazenamento de dados

(Sistema ou programa utilizado), falta de tempo necessário para uma boa qualificação e

aprendizagem das ferramentas da qualidade a serem usadas.

82

Por outro lado, ainda há empresas desse setor que tendem buscar melhores práticas

para a qualidade de seus processos, porém encontram várias dificuldades. É o caso da

Empresa A, que têm controle sobre vários processos, usando algumas ferramentas e

metodologias isoladamente, mas sem uma disseminação generalizada de tais práticas. De

acordo com a empresa, outro problema encontrado é com a qualificação dos colaboradores,

onde a maioria tem nível primário, o que torna o processo de mudança de cultura e

capacitação mais demorado. No processo de produção do álcool foi possível implementar

um programa de qualidade graças a substituição dos operadores por pessoas com níveis

mais técnicos.

Um fator decisivo que pesa na adequação de uma empresa aos programas de

qualidade é a existência de uma infraestrutura organizacional adequada, dando suporte à

continuidade do programa, e um envolvimento de toda gestão, incluindo todas as áreas da

empresa. Não há dados suficientes para generalizar tal afirmação, mas através dos dados

do questionário, pode-se prever que muitas empresas desse setor ainda não conseguem

implementar programas de qualidade com total sucesso, pois elas precisam adequar-se às

mudanças que o programa exige, o que leva tempo.

5.2 - As ferramentas Lean Six Sigma utilizadas no processo do álcool.

As Usinas participantes deste estudo usam em seus processos várias ferramentas do

Lean Six Sigma, sendo que alcançaram significativas melhorias com o uso delas. A

utilização de análises estatísticas principalmente no controle da etapa de fermentação é a

aplicação principal utilizada pelas Usinas. Ferramentas como CEP (controle estatístico de

processo) é a principal ferramenta nessa área.

A Empresa A, avaliando integralmente seu processo de fabricação do álcool,

constatou que a etapa de preparo do mosto e fermentação oferecia maior impacto na

produtividade, e consequentemente nos resultados financeiros da empresa. A Tabela 6

descreve em detalhes as variáveis que indicam o nível de qualidade em cada uma dessas

fases, sendo essas variáveis controladas pelo CEP.

Com essa ferramenta, foi possível identificar as variáveis importantes que afetam a

produtividade da usina e acompanhar seus indicativos em tempo real através de cartas de

controle, conforme exemplificado no Gráfico 5, podendo tomar ações mais rápidas

evitando quedas bruscas de produtividade e desperdícios.

83

Tabela 6 - Variáveis controladas pelo CEP

Etapa Variável Frequência Valor-

alvo

Limite inferior

de especificação

(LIE)

Limite superior

de especificação

(LSE)

Gráfico

Preparo do

mosto

Brix do mosto

(%) 6h 24 16 Não tem

Amplitudes

móveis

Fermentação

Viabilidade

celular na dorna

(%)

2h 70 60 100 Amplitudes

móveis

Fermentação Tempo de

fermentação (h) - 8 4 12

Amplitudes

móveis

Fermentação

Temperatura do

vinho de

fermentação (ºC)

1h 33 32 34 Amplitudes

móveis

Fermentação Teor alcoólico

do vinho (ºGL) 4h 10 8 Não tem

Amplitudes

móveis

Fermentação Eficiência da

fermentação (%) Diário 80 60 100

Amplitudes

móveis

Adaptado de Oliveira e Lima (2010)

Gráfico 5 - Exemplo de uma carta de controle da viabilidade celular na dorna

(próprio autor)

50

60

70

80

90

100

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

% v

iab

ilid

ade

cel

ula

r

tempo (h)

LIE = 60

X= 79,13

LSE = 100

84

A Empresa A também usou as técnicas de análise de problemas, usualmente

utilizadas para levantar as causas que geram um determinado efeito ou problema. Segundo

a Usina, essas técnicas foram utilizadas principalmente na discussão para o aumento da

eficiência do processo de fermentação, o que ajudou na aplicação de técnicas da qualidade

nessa etapa do processo.

Além do CEP, a análise de problemas através de diagramas de causa e efeito,

ilustrado na Figura 17, contribuiu para o começo das melhorias. Com uma representação

gráfica que o diagrama proporciona, é possível determinar os fatores que levam aos

resultados desejados e as causas de problemas que precisam ser evitadas.

Problema

Mão de Obra

Máquina

Material

Meio AmbienteMétodo

Medição

Causas Efeito

Figura 17 - Diagrama de causa e efeito

Adaptado de Marcondes (2012)

Já na Empresa C, uma das ferramentas utilizadas são os dispositivos e ferramentas

Poka-Yoke, cujo nome, derivado do japonês, significa “à prova de erros”. Consiste na

criação de dispositivos que previnem as causas especiais de um processo produtivo que

resultam em defeitos (produtos não conformes) e inspecionam a baixo custo, ou sem

nenhum custo, 100% dos produtos para determinar se são aceitáveis. A estratégia è prova

de erros consiste:

Tornar difícil a geração de erros;

Tornar possível reverter os erros;

Tornar o erro óbvio;

85

Detectar desvios nos procedimentos ou valores fixos (parâmetros de processo,

por exemplo);

Projetar processos robustos de forma que tolere eventuais erros sem gerar

defeitos;

Projetar processos buscando minimizar a complexidade.

Vários são os procedimentos de detecção de desvios e prevenções de erros, mas há

mecanismos que conseguem prevenir a ocorrência desses erros e defeitos tão logo ocorra,

diminuindo assim os esforços e investimentos na prevenção, e conseguindo ter uma ação

corretiva imediata. A Figura 18 mostra a hierarquia de processos que visam detectar

defeitos e prevenir erros.

Figura 18 - Hierarquia de detecção de defeitos e prevenção. Marcondes (2012)

Para a Empresa C, defeitos no processo geravam custos indesejáveis. Foi com essa

ferramenta que a Empresa C conseguiu colocar em prática a filosofia “Defeito Zero”,

implantando melhorias em seus processos e possibilitando a identificação de desvios no

processo de produção do álcool, principalmente nas etapas anteriores a fabricação do

álcool, de modo que, o produto final sempre atenda as especificações.

86

O mecanismo adotado criou uma prevenção de erros e desvios à primeira vista,

otimizando os recursos, diminuindo o retrabalho no processo e aumentando a satisfação

dos clientes com a produção de álcool de melhor qualidade.

5.3 - Facilidades e dificuldades na plena utilização do Lean Six Sigma

Em ambas as Usinas que fizeram parte desse estudo de caso não há uma plena

utilização da metodologia Lean Six Sigma em seus processos, principalmente no processo

produtivo do álcool.

Como já mencionado, as empresas sabem da importância de metodologia, mas

reconhecem que ainda passam por adaptações em seus processos, e principalmente, uma

mudança de cultura de toda a organização como parte essencial para a aplicação plena do

Lean Six Sigma.

Há a necessidade de uma integração entre os níveis horizontais com os níveis

verticais, ou seja, entre setores e/ou departamentos e entre os níveis hierárquicos. O

convencimento da diretoria da empresa sobre os benefícios da implantação de Lean Six

Sigma ainda é um desafio, pois é necessário um tempo para mudança e padronização dos

procedimentos, estabelecer uma política de aperfeiçoamento contínuo dos vários processos

da empresa, e principalmente conviver com os custos relativos à implantação da

metodologia.

A facilidade que as Usinas encontram é a utilização das ferramentas que a

metodologia proporciona, de maneira isolada, principalmente referente à eliminação de

desperdícios no processo do álcool. Como abordado no item 5.3, várias são as ferramentas

utilizadas.

Como ainda a metodologia não se difundiu completamente, a utilização dessas

ferramentas facilita o controle, as decisões e o aperfeiçoamento do processo do álcool.

Porém, umas das etapas que mais se encontra dificuldades no uso dessas ferramentas é a

etapa de fermentação, considerada o “coração” de todo processo.

Apesar das dificuldades de implantação do “Pensamento Lean” e do Six Sigma

como forma de controle estatístico dos processos, ambas as Usinas aprovam o uso da

metodologia e não enxergam desvantagens em usar as suas ferramentas, ao contrário,

conseguem vantagens através da maior competitividade no mercado, reduzindo custos

internos e aumentando a qualidade final dos produtos.

87

6 - SUGESTÕES NA OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DO ÁLCOOL.

Neste tópico é apresentada algumas possíveis soluções para a minimização dos

desperdícios no processo produtivo. Uma vez que o mesmo atua diretamente no

planejamento que aumente o faturamento das Usinas em estudo.

Vários são os desperdícios ao longo do processo produtivo, principalmente perdas

indeterminadas, ou seja, todas as perdas que não são detectadas e mensuradas ao longo do

processo produtivo, podendo ser por transbordamento, erro de amostragem, vazamentos,

movimentação desnecessária, etc.

A Figura 19 representa um fluxograma elaborado do processo produtivo do álcool,

mostrando as principais perdas no processo.

Figura 19: Fluxograma das perdas no processo produtivo

88

Para minimizar os desperdícios no processo produtivo, torna-se necessário a

implantação de projetos de redução de desperdícios. Para a implantação e êxito dos

projetos é necessário ter um cronograma de atividades, e esse cronograma pode ser feito a

partir das fases DMAIC. Começa com a definição do problema, medição do estado atual,

análise dos resultados e um plano de ação para chegar ao objetivo do projeto.

Além de ter um cronograma, creio que é essencial fazer um VSM (Mapa de Fluxo

de Valor) de todo o processo, etapa por etapa, para identificar as oportunidades de

eliminação de desperdícios. É uma forma de vislumbrar o estado futuro, visando à

melhoria do desempenho do processo.

A grande missão é monitorar todas as operações envolvidas no processo produtivo

do álcool, tendo como foco principal os pontos que geram as perdas. Precisam-se definir os

responsáveis de cada área, os principais indicadores do processo e a ferramenta para

monitorar as variáveis; estabelecer metas de redução e principalmente aplicar treinamento

em toda a equipe envolvida tendo o comprometimento de todos.

Como já foi dito, um programa se torna eficaz quando há o envolvimento de todos

da empresa, uma cultura formada a partir dos ideais necessários ao sucesso do programa.

Desta forma, precisa haver o acompanhamento por parte da gerência da empresa, de todas

as ações realizadas e o possível aumento do faturamento com a realização das ações.

Não são necessárias muitas ferramentas para os projetos de redução de

desperdícios. Há ferramentas com conceitos simples, mas eficazes, que podem auxiliar no

controle e na aplicação de melhorias em todo o processo: 5W2H, 5 porquês, Fases

DMAIC, VSM, Carta de Controle e Diagrama de Causa e Efeito.

89

7 - CONCLUSÃO.

Este trabalho evidencia o Lean Six Sigma como uma valiosa e estratégica

metodologia na busca pelo aumento da competitividade em empresas do setor

sucroalcooleiro. Sendo assim é valido ressaltar que diante da instabilidade financeira em

que o mundo se encontra, fica evidente a necessidade do uso da metodologia, que se bem

aplicada, proporciona o controle dos gastos, evita desperdícios, bem como a otimização

contínua dos processos, visando a alta competitividade e a vida da empresa.

Há empresas desse setor que estão no caminho correto para alcançar uma aplicação

plena do Lean Six Sigma, comprometendo toda a estrutura e pessoal em prol da

disseminação da cultura que a metodologia proporciona. Porém, também há empresas que

ainda tem baixa aplicação, usando de maneira isolada as ferramentas em meio a um

pensamento quase nulo em relação ao Lean Six Sigma. Caso a empresa opte por seguir

intensamente esse pensamento, investimentos deverão ser feitos.

Existe uma necessidade das empresas em “aprender a enxergar” as oportunidades

de melhorias com a aplicação de ferramentas da qualidade. Muitos gestores, por falta de

conhecimento, tempo e por subestimarem seus colaboradores não avaliam seus processos

adequadamente. Como se mostrou nos resultados, ganhos de competitividade pode ser

atingido com mudanças na gestão dos processos via ferramentas gerenciais.

Como esta pesquisa foi realizada em apenas três empresas do setor sucroalcooleiro,

umas das limitações é o impedimento quanto à generalização das conclusões para outras

empresas, embora as empresas do setor tenham características muito parecidas.

90

91

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97

APÊNDICE A

Questionário de análise

Perguntas Abertas:

1) Quais foram as principais dificuldades em implementar um programa de qualidade

visando melhorar os processos e produtos?

2) Para a empresa, quais são as vantagens e desvantagens de aplicar melhorias e

otimizar processos utilizando os princípios do Lean Six Sigma e suas ferramentas?

3) Quais tipos de melhorias foram feitas no processo de produção do álcool usando as

práticas e ferramentas do Lean Six Sigma? (exemplos: redução de desperdícios,

reaproveitamento de subprodutos, controle de processos, etc)

4) Quais partes do processo de produção do álcool são mais críticos a aplicação de

melhorias e utilização de ferramentas da qualidade?

Perguntas fechadas:

Fatores Críticos - baseado em sua experiência sobre os programas de qualidade

dentro da empresa, indique a existência ou não de cada situação abaixo:

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Práticas da Qualidade no Setor Sucroalcooleiro Sim Não

A Empresa pratica melhoria contínua em seus processos

Possui uma visão que inclui qualidade

Possui uma política da qualidade

Considera a qualidade como parte do planejamento estratégico

Visualiza qualidade como vantagem competitiva em relação ao mercado

A gerência conhece seu papel e responsabilidade para a qualidade

Possui lideranças nomeadas para conduzir processos de melhoria

Utiliza aspectos positivos de empresas concorrentes para melhorias próprias

Resultados econômicos satisfatórios com as melhorias

É certificada pela ISO 9001

Possui um programa de desenvolvimento de fornecedores

Conduz programas de treinamento com fornecedores

Possui um programa de qualificação de fornecedores

Possui um controle da qualidade para recebimento de materiais

Possui um plano de inspeção com etapas intermediárias no processo

Possui controle de qualidade no final do processo

Possui registro das etapas de inspeção realizadas

Realiza treinamentos periódicos com os funcionários

Possui operações do processos bem identificadas

Utiliza avisos luminosos e sonoros para auxílio dos colaboradores

Possui um programa periódico de manutenção estabelecido

Pratica técnicas para eliminação de desperdícios

Utiliza equipes multifuncionais para solução de problemas

Realiza análises e levantamento sobre custos da qualidade e não-qualidade