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i Universidade de Lisboa Educação Geográfica ao serviço de uma Cidadania Participativa e Interventiva: (Re)Descobrir um Lugar com uma turma do Ensino Secundário Marco António Godinho Mestrado em Ensino de História e Geografia no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário Relatório da Prática de Ensino Supervisionada orientado pela Professora Doutora Maria Helena Mariano de Brito Fidalgo Esteves 2015

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Universidade de Lisboa

Educação Geográfica ao serviço de uma Cidadania Participativa e Interventiva:

(Re)Descobrir um Lugar com uma turma do Ensino Secundário

Marco António Godinho

Mestrado em Ensino de História e Geografia

no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário

Relatório da Prática de Ensino Supervisionada orientado pela Professora

Doutora Maria Helena Mariano de Brito Fidalgo Esteves

2015

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Helen Keller,

Century Magazine (janeiro de 1905)

«Gradually I got used to the silence and darkness that

surrounded me and forgot that it had ever been

different, until she came – my teacher – who was to set

my spirit free»

Helen Keller (1880-1968), The Story of My Life, 1905

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RESUMO

O principal objetivo deste relatório é a descrição e reflexão sobre uma intervenção

pedagógica, no âmbito da Prática de Ensino Supervisionada, que se enquadra na

formação inicial de Professores de História e de Geografia. Esta intervenção foi

realizada na disciplina de Geografia A, numa turma do 11.º ano de escolaridade, em

relação ao tema Os Espaços Organizados pela População. A unidade didática

lecionada foi a Expansão Urbana. A formação das áreas metropolitanas resultam de

um processo de expansão urbana da cidade principal que envolve, também, outros

aglomerados populacionais. Espaços privilegiados em infraestruturas que concentram

em si grande número de serviços e vantagens que atraem a população, numa lógica

polarizadora, à escala regional e à escala nacional.

Contudo, são as representações espaciais, decorrentes dos contrastes, que requerem

soluções e instigam à intervenção local. Assim, a partilha, a mobilização de saberes, a

identificação e o equacionamento de alternativas são passos a dar num caminho pelos

meandros da Ciência Geográfica almejando uma melhoria global da qualidade de vida.

Este aspeto é particularmente importante quando se trata de públicos escolares que já

vivenciaram insucesso escolar, cuja trajetória de participação ao longo da vida não

inclui estudos longos, nem valoriza o papel da Escola. Nestes casos é essencial

envolver a comunidade circundante, tornando os públicos escolares mais

participativos e interventivos, construindo cenários de educação formal mais

inclusivos. A intervenção pedagógica baseou-se no trabalho colaborativo,

nomeadamente entre pares, concretizada através da participação desta turma no

Projeto Nós Propomos! Cidadania e Inovação na Educação Geográfica, promovendo

o empowerment e a capacidade de intervenção, permitindo-lhes ganhar e expressar

voz(es).

Palavras-chave: Escola; Educação Inclusiva; Trabalho Colaborativo; Intervenção

Pedagógica; Geografia.

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ABSTRACT

The main goal of this report is the description and reflection about a pedagogical

intervention under the Supervised Teaching Practice that fits into the initial pre-service

teacher education regarding History and Geography. This intervention took place in

Geography, in an 11th grade class, and the theme Spaces Organized by the Population.

The teaching unit was the Urban Sprawl. A process of urban expansion of the main

city that also involves other settlements originated metropolitan areas. Privileged

spaces regarding infrastructures concentrate large number of services and benefits that

attract population, a polarizing logic at regional and national levels.

However, the spatial representations arising from the contrasts require solutions and

instigate the local intervention. Thus, sharing, knowledge mobilization, identity issues

and exploring alternatives are needed steps in order to trace a path through the

intricacies of Geographic Science by an overall improvement of life quality. This

aspect is particularly important when we are addressing students who already

experienced school underachievement, whose life trajectory of participation does not

include long studies, and undervalues the role of the School. In these cases, it is

essential to involve the surrounding community, to promote students’ participation and

intervention, creating formal educational settings that are more inclusive. This

pedagogical intervention was based on collaborative work, particularly peer

interactions, and was put into practice through the participation of this class in the

project We propose! Citizenship and Innovation in Geographic Education, promoting

students’ empowerment and their intervention, allowing them to express their voices.

Keywords: School; Inclusive Education; Collaborative Work; Pedagogical

Intervention; Geography.

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AGRADECIMENTOS

Neste espaço, dedico breves linhas sobre aqueles cujos caminhos se cruzaram durante

um período de tempo, não muito longo, deixando sinais perpétuos. A quem esteve

comigo, caminhando ao meu lado, que estendeu a sua generosidade e graça, reflexão

e colaboração. Acompanhou de perto os bastidores de uma nem sempre fácil atuação.

Contributos indispensáveis para que este ciclo se encerrasse.

Ao universo de Professores e Professoras da Universidade de Lisboa que colaboraram

na minha formação. Seria impraticável mencionar os seus nomes, a lista é imensa,

deixando apenas em alternativa a menção às instituições. Agradeço ao Instituto de

Educação, à Faculdade de Letras e ao Instituto de Geografia e Ordenamento do

Território. Uma palavra de reconhecimento e saudade, também, à Universidade de

Gazi.

À escola e a quem diariamente que lhe dá forma. Uma palavra de gratidão a quem se

entrega por paixão àquilo que faz e não desiste de perseguir o seu sonho. Mais do que

um acompanhamento – uma estima. Imensa.

Aos alunos da turma que aceitaram todos os desafios. Sem o seu empenho, este

trabalho, nunca teria existido. Que a sua voz não volte a ser amordaçada.

A quem me disse, sob a forma de presente, If you change nothing, nothing will change.

Mais do que palavras – os gestos. Inesquecíveis.

A quem foi o meu norte. A quem me recordou do sul. A quem esteve a este e a oeste

de mim. Um (e)terno obrigado.

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ÍNDICE GERAL

RESUMO .............................................................................................................................. iii

ABSTRACT........................................................................................................................... iv

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ v

ÍNDICE GERAL ...................................................................................................................vii

ÍNDICE DE QUADROS........................................................................................................ ix

ÍNDICE DE FIGURAS .......................................................................................................... xi

ÍNDICE DE ANEXOS ........................................................................................................ xiii

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

1. OS ESPAÇOS ORGANIZADOS PELA POPULAÇÃO: A EXPANSÃO URBANA .... 5

1.1. Ideias em torno do conceito de cidade ................................................................. 6

1.2. Fragmentos de uma urbanidade........................................................................... 8

1.3. Algumas fisionomias urbanas ............................................................................. 11

1.4. Epicentro de uma experiência pedagógica ........................................................ 14

1.5. Leituras espaciais sobre divergências urbanas.................................................. 16

2. O TRABALHO COLABORATIVO COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E DE

APRENDIZAGEM ............................................................................................................... 19

2.1. Definição de trabalho colaborativo em Educação Inclusiva............................. 21

2.2. Opções metodológicas da iniciação à prática profissional ................................ 24

2.3. Relevância didática na aprendizagem da Geografia ......................................... 25

3. A EXPERIENCIA E A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO

SECÚNDARIO ..................................................................................................................... 29

3.1. Breve caraterização da escola ............................................................................. 30

3.2. Caraterização da turma ...................................................................................... 33

3.3. Enquadramento da unidade didática nas linhas programáticas...................... 42

3.4. Praxis docente ...................................................................................................... 44

3.4.1. Observação e recolha de dados ................................................................... 49

3.4.2. Planificação da intervenção pedagógica .................................................... 57

3.4.3. Descrição da intervenção pedagógica ......................................................... 60

3.4.4. Caminhos possíveis para a avaliação: escolhas e desafios ........................ 67

3.4.5. Participação no Projeto Nós propomos....................................................... 70

3.5. Análise e reflexão de resultados ............................................................................. 75

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 93

ANEXOS ............................................................................................................................ 103

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 Docentes de nomeação definitiva por departamento (referente a 2013/14) .......... 32

Quadro 2 Relação de turmas por oferta educativa (referente a 2014/15) ............................. 32

Quadro 3 Percurso escolar (%) ............................................................................................ 38

Quadro 4 Objetivos específicos da unidade didática (adaptação programa nacional) .......... 43

Quadro 5 Ideias da turma sobre os padrões de consumo ...................................................... 61

Quadro 6 Autoavaliação dos alunos sobre a intervenção pedagógica de que foram alvo ..... 82

Quadro 7 Atividades selecionadas pela turma no âmbito da autoavaliação ......................... 83

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 Organização do espaço no mundo clássico grego (elaboração própria) ................... 6

Figura 2 Taxa de retenção ou desistência entre 2009-2013 (MEC, 2014) ............................ 31

Figura 3 Evolução de matrículas entre 2009-2013 (MEC, 2014) ......................................... 32

Figura 4 Idades dos alunos por grupo etário (%) .................................................................. 33

Figura 5 Identificação dos locais de nascimento (%) ........................................................... 34

Figura 6 Nacionalidade da turma (%) .................................................................................. 34

Figura 7 Locais de residência (%) ........................................................................................ 34

Figura 8 Escolha dos encarregados de educação (%) ........................................................... 35

Figura 9 Habilitações literárias dos EE (%) ......................................................................... 35

Figura 10 Situação profissional dos EE (%) ......................................................................... 36

Figura 11 Nacionalidade dos EE (%) ................................................................................... 36

Figura 12 Constituição do agregado familiar (%) ................................................................ 36

Figura 13 Habilitações literárias dos agregados familiares (%)............................................ 37

Figura 14 Diferenciação das habilitações literárias no ensino básico (%) ............................ 37

Figura 15 Grupos profissionais do agregado familiar (%) .................................................... 38

Figura 16 Nuvem de palavras da turma sobre os tempos livres (através de Wordle) ........... 39

Figura 17 Nuvem de palavras sobre os tempos livres dos rapazes (através de Wordle) ....... 39

Figura 18 Nuvem de palavras sobre os tempos livres das raparigas (através de Wordle) ..... 40

Figura 19 Horas de sono (%) ............................................................................................... 40

Figura 20 Local onde tomam o pequeno-almoço (%) .......................................................... 40

Figura 21 Dificuldades mencionadas pela turma (%) ........................................................... 41

Figura 22 Abertura do evento com a exibição de cartazes ................................................... 45

Figura 23 Aspeto do átrio central ......................................................................................... 46

Figura 24 Roteiro para o estudo da unidade didática 'A Expansão Urbana'.......................... 59

Figura 25 Distribuição dos alunos por grupos e classificação de cada um deles, a Geografia,

no período anterior ao trabalho de projeto colaborativo ........................................................ 79

Figura 26 Autoavaliação de um aluno da turma sobre o conjunto de atividades realizadas . 82

Figura 27 Autoavaliação de um aluno da turma sobre o conjunto de atividades realizadas . 83

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ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1 .............................................................................................................................. 104

Anexo 2 .............................................................................................................................. 105

Anexo 3 .............................................................................................................................. 109

Anexo 4 .............................................................................................................................. 115

Anexo 5 .............................................................................................................................. 116

Anexo 6 .............................................................................................................................. 118

Anexo 7 .............................................................................................................................. 120

Anexo 8 .............................................................................................................................. 124

Anexo 9 .............................................................................................................................. 127

Anexo 10 ............................................................................................................................ 128

Anexo 11 ............................................................................................................................ 129

Anexo 12 ............................................................................................................................ 130

Anexo 13 ............................................................................................................................ 138

Anexo 14 ............................................................................................................................ 139

Anexo 15 ............................................................................................................................ 140

Anexo 16 ............................................................................................................................ 141

Anexo 17 ............................................................................................................................ 142

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INTRODUÇÃO

Assume-se, atualmente, que a Escola deve preparar cidadãos cientificamente

esclarecidos, aptos a tomarem decisões fundamentadas e críticas (Mérenne-

Schoumaker, 1999; Souto González, 1998; Prats, 2001; DES, 2001; Lambert &

Balderstone 2002; Cachinho, 2004; Reis, 2004; Esteves, 2006), ou seja, um ensino que

proporcione, além da aprendizagem dos conteúdos científicos específicos, a formação

integral dos públicos escolares (Courela & César, 2007; Oliveira, 2007; César, 2013b;

Courela & César, 2012, 2014). Pretende-se desenvolver capacidades e competências

que permitam a sua intervenção crítica e reflexiva na sociedade de que fazem parte.

Neste contexto, as instituições escolares confrontam-se com uma diversidade de

finalidades, instigando os profissionais da Educação a procurarem respostas para estes

desafios que passam, evidentemente, por mudanças na organização das relações

socioeducativas nos cenários formais de aprendizagem.

Ouvir que a diversidade é uma riqueza não será, certamente, uma novidade.

Trata-se de um património humano que necessita de ser preservado e celebrado,

sabendo-o transformar numa mais-valia (César & Ainscow, 2006). Atuar potenciando

a diversidade constitui-se como um desafio a superar se se souber observar, sentir e

refletir sobre a diferença, vivenciando-a como uma experiência de aprendizagem, de

desenvolvimento pessoal e profissional. Conceber os cenários de educação formal

enquanto oportunidades de apropriação de conhecimentos, mas também de promoção

do desenvolvimento sociocognitivo e emocional, é um caminho que se deseja viável,

aliado a uma adequada utilização dos curricula e dos demais documentos de política

educativa (César, 2012). Segundo Leite (2002), estudos vários1 têm vindo a evidenciar

que grupos socioculturais economicamente desfavorecidos, e que assumem valores,

expectativas e códigos diferentes dos privilegiados pela instituição escolar, são os mais

penalizados pelo insucesso escolar. Para esta autora, a sua presença no sistema

educativo limita-se, em muitos caos, aos primeiros anos de escolaridade e é

caraterizada por níveis de sucesso menos conseguidos. Neste sentido, o argumento de

que a Escola utiliza e valoriza um único modelo e uma única narrativa tem estado na

base de críticas. Ao recorrer a critérios que, exteriormente, por alguns são considerados

1 A autora menciona os efeitos discriminatórios gerados pela educação escolar face aos valores culturais

dela diferentes, estudados a partir de autores como: Mónica, F. (1978); Pinto, J. M. (1985); Benavente,

A. [et al.] (1981); Benavente, A. (1987); Cortesão, L. [et al.] (1981); Salvado Sampaio, J. (1975); Iturra,

R. (1990); Stoer, S. e Araújo, H. (1992); Benavente, A. [et al.] (1994).

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justos, porque no plano teórico exortam a bandeira da igualdade perante todos, coloca

em situação de desvantagem os que vivenciaram experiências e participam em culturas

que não coincidem com a cultura dominante, e/ou com a cultura de escola própria da

instituição que frequentam, e que nem sequer podem escolher, a menos que tenham

meios financeiros para pagar uma instituição privada. Logo, fica patente que o

princípio da igualdade não está a ser praticado, porque para atingir a igualdade de

oportunidades, não se podem tratar todos de igual modo, mas sim com equidade, ou

seja, pessoas diferentes exigem respostas socioeducativas especializadas de acordo

com as características, necessidades e interesses de cada um.

A afirmação kantiana de que só através da Educação os seres humanos podem

aceder à sua humanidade assume contornos específicos na sociedade contemporânea,

articulando-se com a visão e a missão da Escola. Impõe-se a necessidade de formar

para a sociedade do conhecimento, que exige do indivíduo não só conhecimentos mas,

sobretudo, flexibilidade e competência de adaptação à mudança (Reis, 2004). Tal

competência só se desenvolve em articulação com uma atitude de sujeito, aprendente

e empresário de si, no sentido de prover o seu desenvolvimento e equilíbrio pessoais,

contribuindo, em simultâneo, de forma ativa, para o progresso económico e social. A

este se soma a dimensão comunitária, pois revela-se essencial envolver a comunidade

circundante, tornando os públicos escolares mais interventivos (César, 2013b; Courela

& César, 2012, 2014), promovendo o empowerment, evitando participações periféricas

(Lave & Wenger, 1991), que podem configurar situações subtis de exclusão.

Justifica-se a pertinência destes temas por se considerar cada vez mais urgente

refletir sobre as práticas nos processos de ensino e de aprendizagem, na Escola pública

portuguesa, assumidamente inclusiva nos discursos (ME, 2008), mas nem sempre nas

práticas (Melro, 2014; César, Machado & Ventura, 2014). No caso específico da

disciplina de Geografia A, para o 11.º ano de escolaridade, em temas como o

urbanismo e a expansão urbana, visa proporcionar o desenvolvimento de capacidades

e competências e, sobretudo, a capacidade de saber pensar sobre o espaço (Cachinho,

2004), tornando-o num contributo útil para o encontro de soluções que sejam

sustentáveis e que aumentem a qualidade de vida (Esteves, 2006) das populações de

um Lugar. A demanda relaciona-se com a necessidade de aliar o ensino e a

aprendizagem a este desafio, considerando opções didáticas adequadas e recursos que

permitam, tanto quanto possível, uma diversificação das estratégias de aprendizagem,

tornando-as adequadas ao público-alvo desta intervenção. O presente relatório tem

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como objetivo contribuir com sugestões que possam ir ao encontro da questão: Que

caminho percorrer rumo a processos de ensino e de aprendizagem aliciantes,

motivadores e, sobretudo, úteis?

Nele estão descritas as experiências de observação, planificação e intervenção

pedagógica que resultaram da oportunidade reflexiva sobre a iniciação ao desempenho

da prática docente. Inicialmente, procedeu-se à observação de três aulas que

antecederam a unidade didática assegurada pelo candidato a Professor, o que

possibilitou a recolha de informação que permitisse conhecer mais detalhadamente os

alunos daquela turma, bem como que auxiliasse na construção de uma planificação

adequada e exequível. Considerando a limitação de tempo a que a componente prática

esteve sujeita (quatro blocos de 100 minutos e dois tempos de 50 minutos, num total

de seis aulas), houve espaço à participação noutras atividades extra-aulas, bem como

o acompanhamento da turma durante a sua participação no projeto Nós Propomos!

Cidadania e Inovação na Educação Geográfica. Oportunidades que se revestem de

imensa importância na formação inicial de professores e para as quais se reservam

algumas reflexões sobre os resultados obtidos.

O relatório encontra-se organizado em três grandes capítulos, sendo o primeiro

uma breve contextualização teórica sobre as temáticas trabalhadas, um segundo onde

está identificada a orientação teórica seguida e as opções metodológicas. No terceiro

e último, a descrição da intervenção pedagógica, recorrendo à apresentação e

caraterização da turma, o enquadramento da unidade didática, a planificação da

unidade didática e uma breve descrição das aulas observadas e lecionadas. O relatório

encerra com a discussão sobre a análise e reflexão de resultados obtidos, que

sublinham a necessidade de mobilização do saber e da reflexão pedagógica na

apropriação de significados contextuais. Este quadro torna necessária uma atenção

renovada no desenho e desenvolvimento, em espaço pedagógico, de práticas coerentes

e adequadas às culturas escolares várias, reclamando por procedimentos curriculares

não etnocêntricos. Assim sendo, o olhar do candidato a Professor procurou não

negligenciar os processos particulares e contingentes, através de diversas práticas:

privilegiando aspetos culturais do quotidiano; os acontecimentos; as interações sociais;

as relações de poder; as vivências escolares; e os saberes construídos (re)produzidos e

transformados, nomeadamente, em espaço pedagógico. Premissas que fazem das

Escolas instituições educacionais marcadamente diferentes das outras instituições e,

ainda, dando origem a diferentes culturas de escola, em cada uma delas.

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1. OS ESPAÇOS ORGANIZADOS PELA POPULAÇÃO: A EXPANSÃO

URBANA

Imaginando uma situação de ausência de recursos e tecnologia, a fixação da

população não é possível (Haggett, 2001). O nomadismo, em tempos primitivos, não

era, por isso, uma opção, mas uma forma de sobrevivência. Importava forçosamente

descobrir alimento e abrigo onde quer que estes se encontrassem. A utilização da

agricultura tornou-se numa solução para o incentivo populacional, pois os excedentes

produzidos permitiram o desenvolvimento das populações e, ao mesmo tempo,

funcionaram como moeda de troca. Estavam criadas as bases para uma sedentarização

(Haggett, 2001). Ao longo do tempo, as ocupações populacionais dispersas foram,

gradualmente, abandonadas para dar lugar a aglomerados de pequenas dimensões,

traduzindo-se, em termos práticos, numa tentativa de usufruir dos efeitos de uma

economia de escala.

A evolução e expansão das cidades é algo tão antigo como a existência dos

aglomerados populacionais. Embora em tempos proto-históricos já existissem cidades,

algumas de dimensões assinaláveis, nomeadamente, na região do Crescente Fértil,

junto dos rios Tigres e Eufrates (Haggett, 2001; Pacione, 2005), o processo de

urbanização iria adquirir um papel de destaque nas sociedades Greco-Romanas. Tentar

uma síntese para a antiguidade é difícil, uma vez que não existe homogeneidade

(Bairoch, 1985). No entanto, ao sintetizar algumas ideias é possível identificar que: (1)

as cidades Gregas, comparativamente às cidades anteriores (proto-históricas),

apresentam novidades no que respeita à organização do poder político e da paisagem

(Figura 1). Esta paisagem é dominada pela Ágora. Neste sentido, (2) assume-se que

esta organização espacial significou uma nova forma de existência conexa a uma nova

ocupação e apropriação do território urbano.

A historiografia clássica identifica que a ausência de cidades e da dimensão

urbana corresponde a um estado de barbárie, o espaço não-urbano seria caótico e

propenso à violência (Herbert & Thomas, 1995). A cidade seria, por isso, a instituição

que garantia a expressão da civilização. Aristóteles (384 – 322 a. C.) (citado por

Bairoch, 1985), no tratado Política, refere para as cidades um conjunto de critérios,

como uma posição geográfica estratégica, ambiente físico salubre e um número

máximo de cidadãos porque, segundo este autor, uma cidade de grande dimensão

populacional inviabilizava a adequada prática da cidadania. O geógrafo Pausânias (c.

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115 – 180 a. C.) (citado por Bairoch, 1985), na obra Descrição da Grécia, refere que

existem determinados apetrechamentos, típicos dos aglomerados, que os definem

como cidades. Platão (c. 428 – 347 a. C.) (citado por Bairoch, 1985), na República,

evidencia a relevância do comércio e das ocupações na cidade. Deste modo, as

funções, sobretudo as não agrícolas, são fatores nucleares que permitem distinguir o

espaço urbano do espaço rural (Herbert & Thomas, 1995). O conceito de cidade,

embora diferente do atual, encontrava-se associado ao domínio do território. Território

sobre o qual a cidade exercia e autentificava a autoridade e, apesar das grandes

transformações ocorridas no espectro temporal, a herança Clássica é um elemento

presente. Isto é um fator que influencia as redes e os sistemas urbanos (Diederiks,

1981) porque, embora mudem de posição, as cidades, uma vez criadas, resistem ao seu

próprio desaparecimento e permanecem no sistema.

1.1. Ideias em torno do conceito de cidade

Tomando em linha de conta o que até aqui foi dito, são percetíveis as

dificuldades de que, por vezes, se reveste a definição de cidade. Segundo Mayer

(1971), é uma vasta coleção de memórias e expressões de emoção, que encerra em si

um concentrado de significados humanos, ou seja, é uma organização de valores e

interpretações. É uma concentração física de pessoas e de edifícios que apresenta

caraterísticas económicas, sociais, políticas, específicas do contexto cultural em que

Figura 1 Organização do espaço no mundo clássico grego (elaboração própria)

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emerge (Hebert & Thomas, 1990). Assim, infere-se que, como comunidade, pode ser

avaliada através da concentração relativamente permanente de população, juntamente

com os edifícios habitacionais, compromissos sociais e atividades de apoio, que ocupa

um local mais ou menos circunspecto, apresentando uma importância cultural que a

diferencia de outros tipos de aglomeração/fixação humana.

É um local de residência fixa, mas também se traduz num local de encontro

para as pessoas que retornam periodicamente a este, o que permite evidenciar a sua

capacidade de atrair os não-residentes (Mayer, 1971). Outro aspeto a salientar é, além

das ocupações territoriais e as atividades desenvolvidas no seu interior, o modo de vida

dos seus habitantes. Cada um destes vetores adquirindo sentido, principalmente, por

comparação e oposição com o mundo rural (Barata Salgueiro, 1992). Conclui-se, por

conseguinte, que o conceito de cidade é uma complexa construção abstrata cuja

solução compacta está envolvida em ocupações não-agrícolas que envolve a

triangulação da esfera populacional, da esfera funcional e da esfera espacial, numa

consonância de fluxos e dinâmicas.

Tratando-se de aspetos qualitativos que permitem avaliar um determinado

espaço como sendo uma cidade, ou reconhecê-los apenas como elementos genéricos,

na prática não existe um consenso internacional sobre os critérios que se devem utilizar

para considerar um aglomerado como cidade, ou sobre a forma de os aplicar, por isso,

cada soberania procura a sua própria definição segundo as suas especificidades. No

caso de Portugal, segundo a Lei n.º11/82 de 2 de junho (AR, 1982), é a Assembleia da

República que está capacitada em atribuir elevação de um aglomerado populacional à

categoria de cidade se este satisfazer um conjunto de normas previstas. Estas normas

podem ser agrupadas em critérios demográficos (um contínuo urbano superior a 8000

eleitores), critérios funcionais (equipamentos coletivos) e outros critérios (razões de

natureza histórica, cultural e arquitetónica).

Segundo Wirth (2001), através de uma tipologia baseada na dimensão,

localização, idade e função, a pertinência sociológica da cidade reside apenas na

intervenção que esta tem sobre a vida social. Assim, uma cidade industrial será

significativamente diferente, do ponto de vista social, de uma cidade comercial,

piscatória, balnear, universitária ou de uma capital. Fatores determinantes da natureza

da vida urbana são mais significativas do que outras, é lícito esperar que os traços mais

proeminentes do cenário social urbano variem de acordo com a dimensão, a densidade

e as diferenças funcionais.

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Face ao que foi exposto, salienta-se que há uma diversidade de conceitos. Em

parte pela formação e perspetiva de quem as estuda, em parte pela variabilidade do

objeto nos diferentes contextos civilizacionais. Contudo, são consensuais definições

de caráter geográfico, sublinhando a diversidade na unidade. Contemplam a dimensão

populacional, aspetos económico-funcionais e aspetos morfológicos, contrastando

com as definições de cidade lugares que registam menores densidades populacionais

e heterogeneidade (incluindo uma vasta gama de especialistas não agrícolas).

1.2. Fragmentos de uma urbanidade

A Geografia Urbana trabalha aspetos difíceis, pois são díspares os materiais a

elaborar, mas simultaneamente atraentes. Imposições da localização, contingências

históricas, conexões e efeitos e a própria reprodução de modelos ideais, podem dar à

cidade um aspeto organizado. Correspondência que nunca chega a identidade porque

a cidade, produto das sociedades, exprime mais do que um estilo de vida, a variedade

das obras humana, onde a comparação encontra parecenças mas, não raro, faz ressaltar

o incomparável (Ribeiro, 1966). Apesar de serem um objeto de estudo em evolução

intensa e sem contornos conceptuais limitados, parece existir uma correlação entre a

crescente complexidade das realidades urbanas e o reforço da importância que lhes é

atribuída, integrando a capacidade que se tem de as captar, entender e transformar

(Ferrão, 2003). Será sintoma de uma cada vez maior dificuldade em delimitar este

objeto de estudo?

As estruturas e as organizações, económicas e sociais, para o modo de vida

rural, concentram-se em áreas relativamente reduzidas no território. Porém, são

quebradas e substituídas por novos padrões e relacionamentos mais adaptados às

necessidades urbanas. Inicialmente, estas mudanças são restritas àqueles que

realmente residem na cidade mas, com o passar do tempo, são difundidas e adotadas

por quem vive nas áreas rurais, de tal modo que o conjunto de valores, expetativas e

estilos de vida são os que se identificam como sendo urbanos. Este processo de

mudança comportamental e relacional é identificado como urbanização (Clark, 1982).

Contudo, a estrutura dos processos de urbanização é diferente consoante o contributo

epistemológico. Por exemplo, em Wirth (1938, citado por Barata Salgueiro, 1992) a

urbanização tem como impulsionadora a mobilidade social, enquanto em Clark (2003)

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sintetiza a difusão espacial de estilos de vida e em Remy e Voyé (1994) é referida a

mobilidade espacial e a territorialidade.

Segundo Remy e Voyé (1994) é possível distinguir duas noções de ocupação

do território. São elas o espaço urbanizado e espaço não urbanizado. Os autores

salientam que, para enquadrar um aglomerado numa destas formulações do espaço, é

necessário recorrer a duas perspetivas: uma descritiva e outra interpretativa. A primeira

possibilita caraterizar o território segundo a sua fisicalidade. Por exemplo, o tipo de

edifícios, as características da malha urbana e a volumetria do edificado são elementos

concretos, facilmente quantificáveis e que fazem parte desta fisicalidade que

caracteriza a perspetiva descritiva. Porém, o enquadramento de um aglomerado pode

ser feito de uma outra forma, mais subjetiva e menos imediata, que não segue a

perspetiva descritiva onde, por exemplo, a densidade populacional seria suficiente para

nomear uma área urbana. Neste sentido, a perspetiva interpretativa estima o espaço

segundo um conjunto de valências funcionais que existem e se relacionam num

aglomerado. Nesta abordagem, e quanto ao espaço urbanizado, qualquer aglomerado

encerra em si mesmo um conjunto de funções aos seus habitantes (função residencial,

comercial, administrativa, cultural). São estas funções, e os seus raios de ação, que

organizam e transformam a ocupação urbana, inspirando as fisionomias das cidades.

Quando Clark (2003) atesta que muitos habitantes rurais têm estilos de vida iguais aos

citadinos, da mesma forma que muitos citadinos preservam formas de ação e reação

rurais, esta constatação apenas é possível de apreciar de acordo com a perspetiva

interpretativa.

Wirth (2001) estudou as formas de ação e organização social que emergem

particularmente nas cidades. Especificamente, foram identificadas três caraterísticas

dominantes como sendo: a (1) dimensão física; (2) a concentração populacional; e a

(3) mescla social heterogénea. Sobre a dimensão física, como principal caraterística

ecológica da cidade, são referidas propostas sobre a sociedade urbana que, por sua vez,

foram usadas como base para deduzir proposições sobre a personalidade dos citadinos.

Desta forma, este autor procurou conciliar os elementos propostos por autores

precedentes numa teoria coerente, que contém componentes sócio estruturais,

cognitivos e comportamentais. O tamanho do grupo social, explica o autor, determina

a natureza das relações humanas. O aumento do número de habitantes numa

comunidade, acima de um determinado limite, reduz a possibilidade de cada membro

da comunidade conhecer todos os outros. Além disso, os residentes urbanos não

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estarão diretamente implicados, mas sim em segmentos especializados, cuja interação

se dá por razões instrumentais. Neste contexto, tenderão a manter débeis relações de

proximidade, de tal maneira que os círculos fechados da família e de vizinhança,

presentes nas culturas folk (populares), cedem lugar à diferenciação, especialização e

simbolismo.

A urbanização é também uma mudança social em grande escala (Clark, 2003).

Isto significa profundas e irreversíveis transformações que afetam cada aspeto da vida

social. Há poucas dúvidas de que tais mudanças foram iniciadas pelo crescimento

explosivo das grandes cidades (Clark, 1982), que se iniciou no final do século XVIII.

Neste sentido, parece inequívoco que, nas sociedades ditas avançadas, os seus efeitos

e ramificações estejam atualmente dispersos. Logo, o que era uma simples divisão

entre o rural e o urbano é agora um domínio urbano contínuo.

Através da análise à rede urbana Europeia entre o século XV e o século XVIII,

observa-se que uma grande cidade envolvia, geralmente, um integrado de pequenas

cidades que cresciam em torno da primeira (Diederiks, 1981). À medida que o espaço

urbano se complexifica, num contexto de transição de uma área rural para uma área

urbana, ocorre um aumento das trocas. Traduzindo-se, portanto, numa crescente

fragmentação do espaço, pois com uma difusão cada vez maior de conhecimentos e

técnicas, as novas funções vão assumindo contornos cada vez mais nítidos na vida dos

seus habitantes o que, aliado ao aumento da mobilidade espacial, permite diferentes

localizações para as funções. Neste contexto, o espaço que resulta destes processos é

designado por espaço urbanizado funcionalmente fragmentado (Remy & Voyé, 1994).

É neste espaço fragmentado que surgem polos de atração e facilmente se compreende

a cidade como uma forma espacial que advém dos processos de urbanização.

A relação entre urbanização e cidade permite compreender o espaço urbano

como materialidade presente, mas também como acumulação de outros tempos, como

expressão das formas que organizam e reorganizam a cidade (Sposito, 1999). Assim,

à medida que aumenta a importância de um aglomerado e da sua área de influência,

cresce o número de funções e de estabelecimentos que se aglomeram na área central.

A caraterística marcante do modo de vida, na contemporaneidade, consiste na

concentração de população em gigantescos aglomerados, ao redor dos quais outros

centros menores se aglomeram e a partir dos quais são disseminadas as ideias e as

práticas. A cidade, além de ser lugar de habitação e de trabalho, é também centro que

coloca em marcha e controla a vida económica, política e cultural, que atraiu à sua

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órbita as mais remotas regiões do globo (Wirth, 2001), configurando um universo

articulado contendo uma variedade de áreas, povos e atividades. Nos estudos de Sassen

(1999), as novas Geografias da centralidade financeira e comercial são temas

nucleares. Para esta autora, a disparidade na concentração dos recursos e atividades

estratégicas, entre um determinado grupo de cidades, permitiu compor uma rede de

nós urbanos responsáveis pelos principais fluxos da economia e do comércio mundiais,

em níveis hierárquicos de intensidade.

Ainda em Sassen (1991), a tese central é a de que no mundo atual, globalizado,

cujo paradigma é o da competitividade económica, as cidades que mantêm a liderança

do cenário económico conseguem oferecer vantagens para atrair empresas

transnacionais e os fluxos internacionais de capital financeiro, mantendo-se, assim, em

evidência na cena mundial. Neste sentido, a dispersão territorial da atividade

económica, contribui para o crescimento da centralização estratégica das cidades, o

que explica o modo intenso como refletem e condicionam as sociedades e as

economias contemporâneas (Ferrão, 2003). A dispersão espacial e a integração global

criaram um novo papel estratégico para as principais cidades, variáveis cuja análise

sobre os fenómenos espaciais de produção e reprodução urbanos importam às Ciências

Geográficas.

1.3. Algumas fisionomias urbanas

A Política de Aristóteles (384 – 322 a. C) afirmava que, acima de determinado

limite, o aumento do número de habitantes de uma comunidade afeta as relações entre

si e a própria natureza do espaço onde estes se encontram. Grandes números implicam,

como anteriormente foi referido, um maior conjunto de diferenciações individuais. Ao

ser superior o número de indivíduos em interação, maior será a diferenciação potencial.

Assim, os traços psicológicos, as profissões, a vida cultural e as ideias dos membros

de uma comunidade urbana registam uma amplitude de variação superior. Nos estudos

de Barata Salgueiro (1998), quando um lugar atinge uma dimensão considerável e

ocupa uma superfície relativamente extensa, começam por ser limitativas deslocações

frequentes entre as áreas mais afastadas e o centro, situação que favorece a deslocação

de algumas funções para as áreas periféricas, surgindo, deste modo, novos centros

secundários. Com a continuação do crescimento do aglomerado, a quantidade dos

centros secundários reproduz-se e, ao mesmo tempo, ocorre uma diferenciação

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funcional, constituindo-se uma hierarquia de centros de diferentes níveis no interior

do aglomerado urbano.

Ao longo das primeiras seis ou sete décadas do século XX a cidade

morfológica, marcada pela proximidade dos espaços construídos, foi dando lugar a

áreas metropolitanas político-administrativas, criadas para fazer face à crescente

complexidade urbana (Domingues, 2005). Porém, a criação de áreas metropolitanas

administrativas depressa se mostrou insuficiente para abarcar as novas realidades

urbanas, cada vez mais extensas, com novas centralidades e fragmentadas. O conceito

de região metropolitana surge, assim, como uma resposta à necessidade de captar

melhor esta cidade geograficamente estilhaçada, mas funcionalmente integrada

(Ferrão, 2003). A sua definição remete para um espaço sem demarcação concreta

produzida, implicitamente, por pessoas e organizações que, no seu quotidiano, tecem

uma densa trama de deslocações e contactos, maioritariamente em torno da cidade

central, envolvendo pólos residenciais e de emprego de menor dimensão, que estão

dispersos pelo território metropolitano (Ferrão, 2003). Neste contexto, o conceito de

área metropolitana pode ser associado ao de uma comunidade imaginada, o que facilita

a identificação de novos espaços de regulação e governabilidade urbana encabeçados

por uma pluralidade de agentes de natureza diversa.

Na atualidade, segundo Domingues (2005), os critérios utilizados na

identificação das áreas metropolitanas podem ser agrupados em três grandes

categorias. Na primeira estão considerados os critérios de homogeneidade relativa, que

se traduzem em áreas organizadas segundo parâmetros mínimos comuns. Estes podem

espelhar indicadores económicos e sociais, dimensão e densidade populacional.

Critério morfológicos, são o segundo conjunto, e é através dos quais que se consegue

definir com clareza um contínuo urbanizado, cuja visão geral à escala macrogeográfica

(por exemplo, um ortofotomapa) permite: identificar variações de densidade na

ocupação urbana do solo; variações de uso; barreiras geográficas naturais; ou áreas

protegidas (vazios urbanos). Por último, os critérios de interdependência, na base dos

quais podem ser admitidas áreas entre as quais estejam trocas intensas de pessoas, bens

ou fluxos de comunicação (movimentos pendulares, tráfego automóvel e

telecomunicações).

Embora patentes, estes critérios não concretizam um modelo único, nem tão

pouco universal, pois dependem das especificidades nacionais e regionais,

constatando-se que, cada vez mais, os critérios de coesão funcional (interdependência)

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ganham importância. Por outro lado, os critérios de homogeneidade e contiguidade

morfológica estão mais afastados do modo como atualmente evolui o processo de

urbanização (Domingues, 2005). Neste sentido, perceciona-se uma mudança na

conceptualização da área metropolitana que até ao início do século XX se fazia, tendo

como base, a dimensão morfológica. O aumento dos movimentos pendulares e a

dilatação territorial da funcionalidade do espaço metropolitano delimitaram as regiões

metropolitanas de Lisboa e do Porto, como forma de distinção face às áreas

metropolitanas administrativas e de expressão da mutabilidade dos limites

metropolitanos (Ferrão, 2002). Isto constitui um exemplo claro de uma perspetiva

vincadamente funcional.

Sob outra perspetiva, os paradigmas de desenvolvimento urbano que se

estudam nas cidades contemporâneas afastam-se dos paradigmas de desenvolvimento

por continuidade que caracterizaram as cidades do pós-guerra. O conceito de cidade

fragmentada de Barata Salgueiro (1998, 1999, 2000) ilumina esta dimensão. Por

exemplo, a procura de locais de residência, com elevada qualidade ambiental,

pulverizou as áreas residenciais, a progressiva competitividade entre as empresas (com

a segmentação dos processos produtivos), valorizou espaços distantes dotados de boas

acessibilidades. É, portanto, na contração de ambas as dimensões – funcional e

morfológica – que pode ser interpretada uma nova realidade metropolitana, pois a sua

formação resulta de processos de expansão urbana da cidade principal que envolve,

também, outros aglomerados populacionais. A organização e o funcionamento,

subordinados aos transportes e às comunicações, garantem a integração de toda a área

(Barata Salgueiro, 1999). A existência de atividades económicas atenua o grau de

dependência face à cidade principal e intensifica relações de interdependência e

complementaridade que se estabelecem, também, entre as diferentes áreas suburbanas.

Desta forma, constituem-se áreas do território metropolitano mais ou menos

especializadas, que alteram os padrões de mobilidade, tornando-os mais dispersos e

menos focados nos centros económicos tradicionais da cidade principal.

As práticas sociais também se alteraram (Malheiros, 1998; Cachinho, 2005).

Aumentou o consumo e os modos de consumir, aumentou a procura de atividades

recreativas, intensificaram-se as atividades rotineiras. As populações metropolitanas

vivem mais espaços, bem como espaços mais diferenciados, não somente porque se

multiplicaram os polos de emprego, mas porque a localização de bens e serviços se

dispersou no território metropolitano (Ferrão, 2002). Espaços privilegiados em

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infraestruturas que concentram em si grande número de serviços e vantagens que

atraem população, numa lógica polarizadora à escala regional e à escala nacional.

Contudo, são as representações espaciais, decorrentes dos contrastes, que requerem

soluções e instigam à intervenção local, bem como a análise dos processos sócio

espaciais que este novo contexto comporta e à reflexão sobre os processos de inclusão

das populações metropolitanas (Malheiros, 1998; Barata Salgueiro, 2000; Ferrão,

2002). Neste sentido, a partilha, a mobilização de saberes, a identificação e o

equacionamento de alternativas são passos a dar num caminho por uma melhoria

global e qualidade de vida.

1.4. Epicentro de uma experiência pedagógica

Foi precisamente numa escola localizada na área metropolitana de Lisboa que

ocorreu a intervenção pedagógica do candidato a Professor. Situado na margem sul do

Tejo e fazendo fronteira com o outrora grande centro industrial do Barreiro, o concelho

da Moita ilustra, na linha diacrónica, muito do que aqui foi mencionado sobre a

expansão urbana e os processos de urbanização. Dominado por uma estrutura

latifundiária e coberto vegetal, este concelho manteve tardiamente uma densidade

populacional pouco expressiva (Patrício, 1985). A sua população ocupava-se das

atividades ribeirinhas: a faina da pesca, os viveiros de peixe, a extração de sal, a

reparação e construção de embarcações e, sobretudo, o transporte fluvial de vinhos,

sal, lenha e carvão para Lisboa (Cruz, 1973). A partir de 1861, com a inauguração da

linha de caminho de ferro do sul, o concelho ganhou uma nova dinâmica em termos

de acessibilidade e consequentemente de desenvolvimento. Neste contexto, o

arroteamento, embora anterior a esta data, só a partir desta altura começou a ser

empreendido de uma forma sistémica (Patrício, 1985). Apesar desta conjuntura, o

crescimento populacional apresentou-se lento desde o início do século XX até à década

de 30. Porém, a partir de 1940, coincidindo com o surto de industrialização do

Barreiro, a estrutura populacional e a taxa de crescimento registaram profundas

alterações, nomeadamente, os valores que se reportavam aos territórios da Baixa da

Banheira e Vale da Amoreira. Entre 1940 e 1960, a taxa de crescimento do concelho

subiu bruscamente da média de 1,6%, apurada entre 1900 e 1940, para cerca de 4,7%

ao ano entre 1940 e 1950 e 4,1% entre 1950 e 1960 (Patrício, 1985). Tal alteração

transformou estes territórios nos maiores centros populacionais do concelho.

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A proximidade ao concelho do Barreiro fortaleceu a fixação de muitas famílias

(Figueiredo, 1979), que encontravam trabalho na Companhia União Fabril, e nos

Caminhos de ferro Portugueses, mas também nas atividades industriais e comerciais

em Lisboa, como os estabelecimentos da Lisnave e da Margueira, criando novas

dinâmicas territoriais. A expectativa de grandes investimentos para a margem sul e a

existência de grandes áreas agrícolas em decadência, contribuíram para um conjunto

de fatores ideais para investimentos alternativos ao excesso de liquidez da banca e ao

crescente afluxo de remessas de emigrantes e militares (Patrício, 1985). As áreas rurais

assumindo, deste modo, uma posição de decadência produtiva, aliada a um capital

fundiário inviável, tornaram-se desejáveis para a dinâmica especulativa do capital

financeiro. Entre os projetos, que terão desencadeado a mobilização de tais

investimentos, encontravam-se a construção do novo aeroporto internacional de Rio

Frio, a ampliação da Siderurgia Nacional e da Quimigal, a instalação da Renault em

Setúbal, a ponte Beato-Montijo, a autoestrada Lisboa-Setúbal, a via rápida projetada

entre Coina, Moita, Montijo, Alcochete e Porto Alto, ligando as áreas industriais da

margem sul ao norte através da ponte de Vila Franca de Xira e, por último, pontuais

melhoramentos portuários, ferroviários e rodoviários (Patrício, 1985). De todos os

projetos, concretizou-se a instalação da Renault e os melhoramentos rodoviários,

nomeadamente com a construção da via rápida Coina-Lavradio e da autoestrada

Lisboa-Setúbal.

A nacionalização da banca, após a Revolução de 1974, bem como algumas das

empresas que teriam planos para os territórios da Baixa da Banheira e Vale da

Amoreira, após um período de instabilidade, acabaram por se envolverem em

Contratos de Desenvolvimento para a Habitação (Figueiredo, 1979). O primeiro

empreendimento de grande dimensão, no concelho da Moita, foi o Fundo Fomento de

Habitação edificado no Vale da Amoreira (Marques, 2013). Local onde fica localizada

a escola que colaborou durante a iniciação à prática profissional do candidato a

Professor. Contudo, foi igualmente com a Revolução de 1974 que a composição

populacional se alterou drasticamente. Além das marcas deixadas pela incerteza dos

diferentes projetos, a julgar pela mancha de solo expectante que se observa na

atualidade, o parque habitacional construído no Vale da Amoreira foi o local de destino

para muitas famílias que chegavam em massa das antigas colónias. Em julho de 1975,

camiões de fuzileiros chegaram com refugiados «numa só noite, cerca de quatrocentas

famílias, ocuparam o ‘bairro’ ainda em construção […] as chaves das habitações, que

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já estavam concluídas, desapareceram; a ocupação fez-se de maneira anárquica […]»

(Figueiredo, 1979, p. 252). Pessoas vindas de longe, traumatizadas e desesperadas

pelos acontecimentos tornam-se, pela ocupação imediata de casas que estavam em fase

final de construção, algumas sem as condições mínimas de habitabilidade, residentes

deste território. Passados alguns anos, o povoado adquiriu identidade e evoluiu de

modo a que lhe fosse conferido pela Assembleia da República a desanexação da

freguesia da Baixa da Banheira, através do Decreto-Lei n.º 59/88 de 23 de maio (AR,

1988). Porém com a promulgação da Lei n.º 22/12 de 30 de maio (AR, 2012), que

aprova o regime jurídico da reorganização administrativa territorial autárquica, os dois

territórios voltaram a estar administrativamente unidos.

1.5. Leituras espaciais sobre divergências urbanas

Recordando, uma vez mais, o conceito de segregação espacial (Barata

Salgueiro, 1998, 1999, 2000), os habitantes dos espaços urbanos conhecem-se uns aos

outros, especificamente, em papéis altamente segmentados. Sem dúvida que

dependem reciprocamente na satisfação das necessidades vitais e, portanto, associam-

se a um maior número de grupos organizados, mas ainda que dependam menos de

particulares, reduzindo a dependência face aos outros, isto traduz-se de forma

fracionada na sua esfera de atividades. Equivale isto dizer que os espaços urbanos

caracterizam-se, também, mais por contactos secundários do que por contactos

primários (Wirth, 2001). E ainda que sejam contactos presenciais, na verdade,

continuam a ser impessoais, superficiais, transitórios e segmentados. O lugar de

residência, o lugar de emprego, o rendimento e os interesses individuais variam, o que

torna difícil sustentar organizações ou promover relações duradouras de proximidade

entre os seus membros. A elevada densidade populacional acarreta consigo a ausência

do inter(re)conhecimento, geralmente intrínseco a qualquer relação de proximidade.

Logo, o aumento do número de habitantes implica uma mudança na natureza das

relações sociais em que os grupos são tangenciais e intersetam-se a vários níveis

funcionais.

Acredita-se que são escassas as oportunidades para conceber a cidade como

um todo ou para aprender o seu lugar no conjunto do sistema. Consequentemente, será

difícil determinar aquilo que é do seu melhor interesse e decidir sobre as questões e as

soluções que, maioritariamente, são sugeridas pelos media ou outras vias de

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comunicação compactas e redutoras. Apesar do espaço urbano conter uma população

altamente diferenciada, exerce também uma ação de nivelamento social (Wirth, 2001).

Em função do recrutamento para a execução de diversas tarefas e realce da sua

singularidade, mas também pelo facto de reconhecer a excentricidade, a novidade, a

eficácia e o espírito inventivo. Onde quer que se concentre um elevado número de

indivíduos de diferentes formações ocorre também um processo de despersonalização

(Wirth, 2001). Neste sentido, os serviços públicos e particulares prestados por

instituições recreativas, educacionais e culturais devem ajustar-se às necessidades das

suas comunidades locais.

As cidades onde, historicamente, se fundiram etnias e culturas, materializam

Lugares altamente favoráveis à criação de híbridos biológicos e culturais, pois neste

espaço fragmentado não só se tem tolerado como se tem mesmo elevado as diferenças

individuais. Neste contexto, na cidade pós-moderna, surgem duas dinâmicas inter-

relacionadas que marcam as paisagens urbanas contemporâneas (Barata Salgueiro,

1998; Hall, 2006; Knox & Pinch, 2006; Carmo & Estevens, 2008). A primeira é a

tendência para a privatização do espaço público urbano, e importa referir que esta ideia

se relaciona com a vigilância a que os espaços estão sujeitos numa lógica de produção

de áreas de conformidade nas quais a sua utilização é, tendencialmente,

homogeneizada segundo regras previamente definidas. A segunda, prende-se com a

avaliação do espaço urbano, observando-se um conjunto de aspetos relacionados com

a estética, os valores simbólicos, o consumo e os estilos de vida, isto é, solicitações em

experienciar o lazer e a própria vida. Deste modo, sublinham-se valores como a

diversidade, a pluralidade, o lúdico e o prazeroso. No reverso, nuclearizam-se as

liberdades, delimitam-se os espaços e espiam-se as formas de ação, reação e as práticas

sociais.

Estas dinâmicas espaciais urbanas motivam espaços que, por vezes, exageram

os aspetos da realidade. A escolha de determinados temas, que se tornam nos seus

slogans, ilumina este mecanismo de significados simbólicos. Contudo, são projetados

para que contribuam na promoção de uma homogeneidade interna, no que aos seus

usuários diz respeito. Deste modo, procuram-se criar espacialidades acordantes, nas

quais são priorizadas as práticas de consumo e lazer, executadas de forma desconexa

da realidade concreta (Carmo & Estevens, 2008). Esta tendência, para vivências

superficiais e descomprometidas, constata-se em todos os quadrantes da vida nas

sociedades contemporâneas, ditas avançadas, sendo sintomático uma manifesta perda

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de empenhamento dos indivíduos pelas grandes causas do foro coletivo ou até mesmo

pelos grandes projetos singulares (Cachinho, 2005). Semelhante aos malefícios de um

bloqueio, esta letargia tem intoxicado quase todas as esferas da vida social. Estes

espaços, ao (re)produzirem determinados modelos de utilização e adequação,

participam na criação de situações de polarização socio-espacial que influenciam,

necessariamente, a construção e a fruição da cidadania (Carmo & Estevens, 2008). As

ligações permitidas são aquelas entre os indivíduos (também eles) fragmentados e os

símbolos que os fascinam, logo, os espaços concretizam as preferências de

determinados grupos em detrimento doutros que se veem remetidos para uma posição

marginal.

Numa triangulação entre a heterogeneidade, as interações sociais e o espaço

urbano, é observável que quanto maior e densamente habitada e mais heterogénea for

uma comunidade, mais acentuadas são as caraterísticas urbanas que apresenta. Deve

reconhecer-se, porém, que em comunidade as instituições e as práticas podem ser

aceites e sustentadas por razões diferentes das que inicialmente lhes deram origem e

que, consequentemente, o modo de vida urbano pode ser perpetuado sob condições

bastante diferentes das que presidiram ao seu aparecimento. De igual modo, a

necessidade de acrescentar valor ao princípio da densidade e ao princípio da

heterogeneidade, enquanto critérios inerentes ao urbanismo, pode ser colocado em

causa, uma vez que é de esperar que o leque de diferenças aumente na proporção dos

números.

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2. O TRABALHO COLABORATIVO COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E

DE APRENDIZAGEM

No capítulo anterior discutiu-se o tema da expansão urbana com o intuito de

introduzir, brevemente, o leitor nos conteúdos que foram lecionados. Temas que

foram, naturalmente, submetidos a formas de transposição didáticas patente no

Programa de Geografia A. A natureza objetiva deste relatório não requer uma revisão

exaustiva da literatura de referência para os assuntos da Geografia Urbana. Porém,

preferiu-se realizar um breve enquadramento teórico do qual se readquire a noção de

contrastes. Estes, visíveis através de representações espaciais, demandam por soluções

e estas serão, oportunidades para a intervenção local e reflexão sobre os processos de

inclusão. Clarifica-se, portanto, a motivação desta intervenção pedagógica que

pretendia operacionalizar os mencionados conteúdos a partir do trabalho colaborativo,

nomeadamente entre pares (alunos), bem como da Educação Inclusiva. Assim, neste

capítulo proceder-se-á à fundamentação teórica da intervenção pedagógica do

candidato a Professor.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), versou sobre a

igualdade de direitos para todos os seres humanos, realçando a Educação como um

deles. Deste modo, de acordo com estes princípios, a Educação concretiza um direito

fundamental e universal permitindo, sobretudo, quando se assume como inclusiva, o

desenvolvimento de uma cidadania consciente, crítica e democrática. Promover a

Educação em Cidadania passa, também, pela vivência dos princípios da Educação

Inclusiva, diminuindo os impedimentos à participação na vida comunitária (Rodrigues,

2003a; César & Ainscow, 2006). Dilatando a efetiva participação na vida comunitária,

a Educação Inclusiva aumenta a participação e aprendizagem numa cidadania

participativa, defendendo uma justiça social crescente, segundo uma diversidade de

cidadãos, aumentando a capacidade de intervenção na comunidade social (Courela &

César, 2007; Oliveira, 2007), cada vez mais plural e complexa.

A Conferência Mundial de Salamanca estabeleceu uma importante fronteira na

forma como é encarada a diversidade. Desta resultou a Declaração de Salamanca

(UNESCO, 1994), que sugeria a mobilização de um maior número de países para a

necessidade de se avançar para práticas mais inclusivas (Ainscow & César, 2006),

assumindo que cada criança e jovem são únicos. Por isso mesmo, salienta a

necessidade de apoios especializados de aprendizagem, considerando que, para

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promover uma Educação Inclusiva, “[…] os sistemas de Educação devem ser

planeados e os programas educativos implementados tendo em vista a vasta

diversidade destas características e necessidades […]” (UNESCO, 1994, p. vii),

observando-se que, em países vários que subscreveram esta declaração, os princípios

da Educação Inclusiva, ainda não estão concretizados nas práticas das Escolas e na

sociedade, em geral (César & Ainscow, 2006; Rodrigues, 2003). Lacuna que torna

obrigatório continuar a discussão sobre Educação Inclusiva. Neste contexto, acredita-

se que todas as crianças e jovens têm o direito à Educação, e isto significa que se

acredita numa sociedade que subscreve a justiça social o que implica estabelecer

compromissos de modo a alcançar um futuro sustentável. Algo que pode ser feito

através da valorização da diferença, tomando-a como capital fundamental para todos

(Santos, 1988, citado por Carvalho e Branco, 2012). Assume-se a Educação Inclusiva

enquanto garante do direito à Educação e, por conseguinte, objetivo que é do dever de

todos perseguir.

De salientar a importância de proporcionar equidade de oportunidades

educativas e de oferecer uma Educação de qualidade. Este aspeto é particularmente

importante quando se trata de públicos escolares que já vivenciaram insucesso escolar,

cujas trajetórias de participação ao longo da vida não inclui estudos longos, nem

valoriza particularmente o papel da Escola (César, 2013a). Nestes casos, revela-se

essencial envolver a comunidade circundante, tornando os públicos escolares mais

interventivos (César, 2013b; Courela & César, 2012, 2014), promovendo o

empowerment e construindo cenários de educação formal mais inclusivos. A Geografia

(escolar), em temas como Os Espaços Organizados pela População, pode dar um

contributo para o empowerment dos alunos. Permite-lhes analisar a área onde vivem,

procurando soluções que sejam sustentáveis, exequíveis e que aumentem a qualidade

de vida (Esteves, 2006). Os trabalhos de projeto colaborativos (Courela & César, 2012,

2014) estão particularmente adaptados para atingir estes objetivos, nomeadamente os

que se relacionam com a participação legítima e o empowerment de pessoas que

participam em culturas vulneráveis, socialmente pouco valorizadas, como acontece a

muitos dos alunos que frequentam esta escola, em geral, e esta turma, em particular.

Os impactes positivos deste tipo de trabalho foram particularmente visíveis em

investigações anteriores (Courela & César, 2012, 2014) e foram corroboradas pelos

resultados obtidos neste processo de intervenção pedagógica, nomeadamente, pelo

prémio obtido pela turma e do qual se falará mais detalhadamente no Capítulo 3.

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2.1. Definição de trabalho colaborativo em Educação Inclusiva

É possível afirmar que, de um modo geral, na atualidade é cada vez mais

valorizado o trabalho em equipa, no sentido de um conjunto de pessoas procurar

contribuir para que uma determinada realização comum seja atingida. Os diversos

intervenientes são chamados a participar, de forma crítica e reflexiva, para que o

coletivo atinja o ambicionado sucesso. Porém, quando se fala em trabalho em equipa,

surgem algumas dúvidas relacionadas com o uso das termos trabalho cooperativo e

trabalho colaborativo. Estes são usados, frequentemente, como sinónimos (Barkley,

Cross, Major, 2004), pois qualquer uma destas perspetivas se baseia no trabalho

realizado por pequenos grupos, tendo em vista um projeto ou realização comuns.

Contudo, o trabalho cooperativo e o trabalho colaborativo diferem em aspetos vários,

que importa destacar.

Segundo Panitz (1999), os constructos da aprendizagem cooperativa e

colaborativa são resultados da investigação em Psicologia, embora tenham orientações

teóricas diferentes. Para este autor, a cooperação é uma interação estruturada na qual

se procura, acima de tudo, atingir um objetivo através do trabalho do grupo. Deste

modo, a cooperação tem por base o trabalho em pequenos grupos, organizados

segundo uma hierarquia (Barkley, Cross, Major, 2004), onde cada elemento tem um

papel a desempenhar. Este, por norma, é estabelecido por quem é considerado o

responsável pelo que se pretende atingir. Em contexto escolar, é o professor quem

mantém o controlo sobre as decisões das atividades realizadas (Panitz, 1999). Apesar

de serem os alunos que estão a trabalhar em grupo, é este que propõe a tarefa, que

indica o modo de a resolver, os meios a utilizar e como se deve organizar o próprio

trabalho do grupo. A divisão de tarefas a realizar pelos vários elementos de cada grupo,

diminuindo o tempo necessários para a sua conclusão, faz aumentar a produtividade,

mas diminuindo o tempo também se reduz o envolvimento concertado na resolução de

um problema ou na realização de uma tarefa (Wiersema, 2005). Sumariamente, estes

são alguns dos aspetos presentes na estrutura de um conjunto de regras a seguir que

isolam o trabalho cooperativo do trabalho colaborativo.

No trabalho cooperativo os estudos de Slavin (1980) alcançam um interesse

considerável nos domínios: do ensino; das relações interpessoais entre alunos de

diferentes etnias; no desenvolvimento de competências socio-afetivas e

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desenvolvimento de autoestima positiva dos públicos escolares. Assim como os

estudos de Johnson e Johnson (1984) sobre as valências, da incorporação de crianças

e jovens sinalizadas de apoios educativos especializados (César, 2012), conduziram

no reconhecimento de um ensino, inequivocamente, demarcado do método expositivo.

Contudo, a preocupação patente nestes autores reflete-se, fundamentalmente, com a

melhoria das práticas pedagógicas e não com a promoção dos públicos escolares

(César, 1994).

O trabalho cooperativo constitui uma linha de investigação e intervenção

pedagógica relevante, com abundantes evidências empíricas, mas configura um

trabalho onde o centro da planificação, operacionalização e avaliação se mantêm

coladas aos professores. Considera-se, também, que o reconhecimento que é atribuído,

consoante o trabalho desenvolvido no grupo, ou seja, o esquema de reforços (Slavin,

1980), exemplifica a raiz epistemológica do trabalho cooperativo: o neobehaviorismo.

Embora o trabalho cooperativo considere que a competitividade deva ser estimulada

dentro de determinados princípios, este estímulo e reforço positivo fomenta,

naturalmente, a competitividade e pode tornar-se, por si mesmo, no propósito a

alcançar. Além disso, o reforço, usado com muita frequência, pode criar situações de

dependência dos alunos em relação aos professores, o que convém evitar.

Quando se fala de trabalho colaborativo estes reforços não estão presentes, pois

este valoriza o percurso de aprendizagem realizado, ou seja, os processos, sob uma

perspetiva de interação participada e partilhada (Dillenbourg, 1999) e não apenas na

consecução de um determinado objetivo, ou seja, de um resultado ou produto final. O

trabalho colaborativo, segundo César (2003), estimula: a autorresponsabilização; a

capacidade de organização pessoal; o desenvolvimento de mecanismos de

autorregulação da motivação; e a autonomia, pelo que as práticas avaliativas diretas e

de reforço são de evitar, de modo a não criar dependências em relação a quem detém

o poder (geralmente, o professor, em espaço pedagógico), ou a quem é considerado

como o par mais competente, numa díade ou pequeno grupo de alunos.

Neste sentido, considera-se que não é possível continuar a localizar o trabalho

cooperativo na corrente construtivista, mas sim numa neobehaviorista. A raiz

behaviorista põe a tónica, quanto às decisões no professor ou a quem é responsável

pelo que se pretende atingir. É este que distribui as tarefas, decide os temas, o que faz

quem, como o faz, durante quanto tempo. O objetivo é, embora num contexto mais

interativo, o mesmo do behaviorismo clássico – obter determinadas respostas a

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determinados estímulos. Logo, acredita-se que não há um grande trabalho pró-

autonomia, algo que caracteriza o trabalho colaborativo.

O trabalho colaborativo é uma filosofia pessoal e não apenas uma técnica ou

estratégia para utilizar em contexto escolar. Quando as pessoas se organizam em

grupos, suscita uma atuação que respeite e evidencie as competências e os contributos

individuais de cada elemento do grupo (Panitz, 1999). A partilha de autoridade, bem

como uma aceitação da responsabilidade por parte dos elementos do grupo sobre as

suas ações, é imprescindível. Logo, a premissa subjacente à aprendizagem

colaborativa é o consenso (Dillenbourg, 1999). Neste sentido, os autores sugerem que,

num cenário de trabalho colaborativo, o professor não assume a autoridade máxima e

não decide o que é importante ser executado, como aconteceria num cenário de

trabalho cooperativo. São os elementos do grupo que decidem quanto ao trabalho a

desenvolver, não numa relação hierárquica, mas numa base de decisões partilhadas

(Boavida & Ponte, 2002), pelo que cada elemento do grupo aceita a responsabilidade

das decisões tomadas pelo coletivo e pelos resultados obtidos. O papel nuclear do

professor situar-se-á ao nível do acompanhamento do trabalho e dos grupos, que

oportunamente desafiará a irem mais longe nas argumentações, sustentações ou

estratégias de resolução das tarefas (Ventura, 2012). Assume um distanciamento

quanto às decisões, mas não está ausente, levanta questões e faz sugestões. O que

explícita, ou implicitamente, pode ajudar também a esclarecer algumas dúvidas, bem

como promover o desenvolvimento sociocognitivo e emocional dos alunos, além da

apropriação de conhecimentos, permitindo atingir desempenhos mais elevados. Deste

modo, age como mediador entre as culturas, vivências, conhecimentos, capacidades e

competências anteriores, e os conhecimentos e competências que se pretende que

sejam apropriadas e/ou desenvolvidas (Ventura, 2012). Por conseguinte, além de a

colaboração ser uma filosofia de vida, que rege as interações que cada indivíduo

estabelece ao longo do quotidiano, é um modo de vida que promove também o

desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais (César, 2003). Isto

significa que as interações sociais têm importância no desenvolvimento sociocognitivo

e emocional, pois facilitam a apropriação de conhecimentos, desenvolvimento e

mobilização de competências (Kumpulainen & Mutanen, 1999; César & Oliveira,

2005). Ao aceitar que as interações sociais são um elemento fundamental da

aprendizagem colaborativa e significativa aceita-se, simultaneamente, uma

aprendizagem inseparável do social, dos outros, não só dos outros que atuam nos

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cenários onde as aprendizagens têm lugar, mas também de outros que assumem vozes

nas mentes dos indivíduos (Courela, 2007). Assumiu-se, portanto, uma posição

nuclear das interações sociais nos processos de aprendizagem durante a intervenção

pedagógica que decorreu.

2.2. Opções metodológicas da iniciação à prática profissional

Ao ingressarem na Escola, os públicos escolares são alvo de processos de

socialização, pelo que cabe às instituições escolares tomarem consciência das

diferenças culturais e intervir de forma ativa e esclarecida, no sentido de formar

cidadãos intervenientes, participativos e solidários e não dependentes, periféricos e

segregados. Segundo, Hamido e César (2009), a realidade é uma entidade socialmente

construída, plural, capitalizada, distinta, submetida pelos valores culturais e sociais de

quem a observa. Assim, ao fazer opções metodológicas, estas deverão estar

concentradas na decisão sobre as escolhas que são tomadas durante o processo de

investigação, tendo em conta se elas serão, ou não, apropriadas ao fenómeno em estudo

e se produzem, ou não, informação credível.

Neste sentido, o presente relatório de Prática de Ensino Supervisionada insere-

se numa investigação-ação (Mason, 2002), ou seja, encontra-se num patamar de

intervenção, nomeadamente ao nível das representações sociais tornando-as,

desejavelmente, mais positivas. O objeto da investigação é explorar a prática educativa

tal como ocorre nos cenários de educação formal. Investigam-se ações e situações que

envolvem docentes, cujas problemáticas podem ser modificadas e que admitem uma

resposta prática (Suárez Pazos, 2002). A investigação-ação tem um acentuado carácter

de intervenção (Elliott, 1991; McNiff & Whitehead, 2002), o que se coaduna com os

objetivos desta investigação, pois teve subjacente um carácter de intervenção na

comunidade que circundava a escola. Assumiu-se um paradigma interpretativo

(Denzin, 2002), ou seja, foi através da interpretação, partindo de uma posição de

participante observador, que se procurou construir o conhecimento acerca dos sentidos

(Bakhtin, 1929/1981) que os participantes atribuem às suas ações. Assume-se,

portanto, que as atitudes, crenças e valores do investigador são mobilizados quando

este compreende os dados recolhidos, precisamente por serem produzidas com base

em conhecimento e, por isso, inseparáveis quando são tomadas opções quanto à

problemática em estudo, o que o torna, assim, parte de todo o processo de investigação

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(Santos, 1991a, 1991b; Sousa Santos, 2001; César, 2003; Courela, 2007). Esta posição

metodológica expressa a não crença na separação entre o cognitivo, social e o

emocional (Santos, 1991a; Damásio, 2004a, 2004b; Hamido, 2005; Courela, 2007).

Acredita-se, juntamente com Bodgan e Biklen (1994), que o investigador é o

instrumento principal da investigação. Os investigadores indagam auxiliando-se de

imagens que os rodeiam na sua vivência quotidiana.

2.3. Relevância didática na aprendizagem da Geografia

Conhecemos e compreendemos o espaço não somente pela perceção que,

seguramente, temos do mesmo, mas através das evidências analíticas. Os

conhecimentos geográficos provêm, portanto, de diversas investigações o que não

poderia deixar de ocorrer tratando-se de uma disciplina de caráter científico. A

Geografia e a História responsabilizam-se por estudar a evolução dos grupos humanos,

no espaço e no tempo, assumindo assim um papel marcante para as mudanças que

ocorrem na sociedade atual. Logo, a utilização adequada destas disciplinas permite aos

públicos escolares interpretar a informação e transformá-la em conhecimento. Neste

sentido, devem ter como finalidade a promoção do pensamento crítico e procedimentos

de trabalho que atuem na formulação de hipóteses explicativas (Prats, 2001), em

comunhão com uma aprendizagem que não se deseja excessivamente académica.

Será conveniente repensar a aprendizagem da Geografia, procurando associá-

la ao sentido crítico e aos métodos de análise social rigorosos. Mérenne-Schoumaker

(1999) salienta que um dos processos para concretizar esta intenção é proporcionar a

análise dos elementos da investigação geográfica, traduzindo-se em métodos de ensino

e de aprendizagem que passem pela apropriação de um conhecimento base do espaço

terrestre e da vida dos grupos humanos. Numa lógica de união ao: (1) desenvolvimento

do sentido de observação, imaginação, tolerância e espaço cívico; (2) o saber situar os

lugares e os factos não somente num mapa, mas ainda nos respetivos meios e a

diferentes escalas, ou seja, determinar a dimensão espacial de qualquer problema; (3)

compreenderá e explicará as regras de funcionamento dos diferentes territórios e das

sociedades humanas, as suas dinâmicas e mudanças; e (4) preparando para a ação, não

a ação excecional, mas a ação quotidiana. Este sentido prático, com evidente

valorização da dimensão cívica, inscreve-se numa linha de atuação geográfica anglo-

saxónica.

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Face ao que foi exposto, sugere-se que é possível levar os públicos escolares a

compreender a Geografia, não como um conjunto fechado de conhecimentos de pouca

utilidade para a compreensão do seu meio (Souto González, 1998), mas

proporcionando ambientes diversificados de aprendizagem. Um caminho a percorrer

passa por integrar os saberes geográficos no âmbito pluridisciplinar das Ciências

Sociais e Humanas, colaborando para o estudo dos fenómenos sociais no espaço,

fundamentais às sociedades contemporâneas para legitimar um conjunto de tomadas

de decisão a nível político, social e cultural (Prats, 2011). Contudo, mais do que servir

de suporte às ações dos grupos humanos, os objetivos da Geografia têm um profundo

sentido educativo e formativo, relacionados com a compreensão do espaço geográfico,

a preparação para a cidadania, o desenvolvimento de competências, além de um

sentido de identidade (Cachinho, 2004). A Geografia permite induzir e desenvolver o

espírito crítico e um método rigoroso, fundamental em tantos outros domínios, pois o

espaço, sendo o elemento estruturante do raciocínio geográfico, situa as questões, as

preocupações, as incógnitas e as noções dos indivíduos na dimensão espacial.

A noção de que se vive, atualmente, em plena globalização circunscrita nas

sociedades de informação navegável, de acesso livre por todos e de todos, não será,

seguramente, desconhecida. Paralelamente a esta circulação de ideias e conceitos, as

questões de identidade assumem particularidades culturais, étnicas e religiosas. Neste

sentido, constata-se que não seria viável um ensino que não considerasse a Geografia,

enquanto disciplina, pois um dos seus contributos é a facilidade que proporciona em

compreender esta lógica de múltiplas identidades, através da qual derivam as

memórias, as tradições, as crenças, os sentimentos de pertença e solidariedades várias.

Pouco importa se as comunidades são reais ou imaginadas, não há memória sem

imaginação e imaginação sem memória (Catroga, 2009). Apesar de se saber que, por

diversas ocasiões, o seu cunho mais político do que científico, esteve ao serviço dos

valores das elites e até na legitimação do Estado-Nação (Cardona, 2008), os

conhecimentos geográficos, e também os históricos, são benefícios indiscutíveis pelo

contributo que oferecem à formação de uma cidadania ativa, consciente e de qualidade.

Segundo a Direção-Geral da Educação (2013), a cidadania traduz-se em

atitudes, formas de ação e reação de estar em sociedade, tendo como referência os

direitos humanos, particularmente, os valores da igualdade, da democracia e da justiça

social. Neste contexto, evidencia-se o contributo da disciplina, no sentido em que

planeia para uma cidadania, desejavelmente, responsável e consciente, constatada

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através das suas intenções retratadas no Programa de Geografia A para o ensino

secundário: (1) prepara para a vida quotidiana, fornecendo informações sobre o mundo

objetivando a tomada de decisões apropriadas; (2) articula saberes diferentes,

concorrendo para a afirmação de um saber integrado e coerente; e (3) fornece e facilita

a compreensão da crescente interdependência dos problemas que afetam os territórios.

O Departamento do Ensino Secundário (2001) refere que a Geografia,

enquanto Ciência dos grupos humanos no espaço, abrange diversas manifestações da

vida das sociedades humanas, sensíveis à interação com a natureza, permitindo

participar nas discussões relativas à organização do espaço e desenvolver atitudes de

solidariedade territorial, numa perspetiva de sustentabilidade. A aprendizagem da

Geografia reveste-se, portanto, de um extraordinário e reconhecido valor, na medida

em que os conhecimentos geográficos ampliam os horizontes do espírito, libertam do

localismo e projetam até ao mundo exterior (Plans, 1969). A literacia geográfica pode

significar que existe a probabilidade do espaço geográfico ser lido, medido e,

consequentemente, compreendido. Deste modo, materializa-se num instrumento

concreto do conhecimento para que os públicos escolares conheçam a sua realidade

local, a realidade regional, a realidade nacional e a realidade internacional (que está

cada vez mais próxima com o atual processo de globalização). Neste sentido, aprender

o raciocínio geográfico, é aprender em diferentes escalas enquanto são confrontadas

análises em níveis espaciais adequados ao tratamento da questão (Mérenne-

Schoumaker, 1999), logo são preferidas as correlações de fenómenos e situações numa

dialética científica, em detrimento das abordagens unidisciplinares.

Em termos gerais, no âmbito da Educação Geográfica na perspetiva da

cidadania Lambert e Balderstone (2002), assumem que o conhecimento geográfico

tem o potencial para desenvolver nos públicos escolares o entendimento do seu Lugar

no mundo, auxiliando na procura da sua identidade. O que sugere uma Educação

Geográfica que tome em linha curricula direcionados no porvir, sustentados na

promoção do pensamento crítico, o que possibilita a reflexão das ações e respetivas

consequências. O saber pensar o espaço (Cachinho, 2004) torna-se fundamental numa

Educação baseada na visão de um futuro melhor através de um mundo mais equitativo.

A aprendizagem da Geografia será, por isso, uma aliada nesta demanda, preparando

os públicos escolares para os desafios que o futuro lhes reserva na aldeia global em

que estão inseridos (Lambert & Balderstone, 2002), levando-os a agirem de uma forma

consciente, esclarecida, reflexiva e partilhada.

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Posto isto, a promoção da cidadania corporiza a espinha dorsal de uma

sociedade responsável e interveniente (Reis et al., 2004). É uma temática que,

desejavelmente, deverá ocupar e preocupar cada vez mais a Educação Geográfica, pela

valorização da dimensão cidadã do território que lhe confere, bem como a

responsabilidade evidente circunscrita na formação de cidadãos menos apáticos, mais

participativos e, sobretudo, mais competentes para se pronunciarem de uma forma

responsável sobre os territórios e os processos de desenvolvimento local. Hoje, um

número crescente de cidadãos participa nos debates relativos à organização do espaço

(Lacoste, 1997). Além dos evidentes benefícios que uma participação coletiva

possibilita, é de recordar que se trata de uma prática relativamente recente. As decisões

relativas à instalação de grandes equipamentos, ao traçado dos grandes eixos de

circulação ou aos planos de urbanismo, por exemplo, não decorriam senão das

discussões na esfera política, ou em grupos técnicos da especialidade. Em suma,

partindo do princípio que existe uma relação intrínseca entre a Ciência Geográfica e a

sua aprendizagem, e que toda a disciplina tem por finalidade tornar o mundo inteligível

(Mérenne-Schoumaker, 1999) a Geografia atinge essa finalidade quer pela formação

intelectual, quer pela formação pessoal que proporciona sendo, por isso, a sua presença

no currículo nacional imprescindível.

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3. A EXPERIENCIA E A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO

SECÚNDARIO

A complexidade das inter-relações nos processos de ensino e de aprendizagem

evidencia-se pela dicotomia entre a dimensão teórica, onde estão considerados os

princípios científicos, através dos quais resultam os processos de planeamento e/ou

previsão, e a dimensão prática, onde estas se conectam com as posições pessoais,

intuitivas e espontâneas, tornando o ato de aprender um processo multideterminado.

As atividades escolares que se relacionam com o ato de aprender são complexas e

desafiam qualquer tentativa monolítica de caraterização onde a divisão entre Ciência

e a Arte é, de certa forma, artificial (Woods, 1999). Deste modo, ensinar e aprender

refere-se ao próprio processo, que reúne duas ou mais pessoas, de forma prevista

(educação formal) ou imprevista (educação informal), colocando-as em comunicação

numa situação de troca e de modificações recíprocas (Reboul, 2000). Existe, portanto,

a interação de pelo menos três elementos: docentes, estudantes e o objeto de

conhecimento. Os conteúdos a ensinar são mutáveis. Porém, a necessidade de se

ensinar é universal, pois a Educação é um conjunto de processos e de procedimentos

que permitem aceder, progressivamente, à cultura subjacente a determinados grupos

humanos (Reboul, 2000), geralmente aqueles que detêm o poder e que são

socioculturalmente valorizados. A Educação procura promover a compreensão

elevada da vida e da cultura, para um maior apreço pelo conhecimento associado à

existência (seja ela qual for), contribuindo para o ideal de uma prática educativa

verdadeiramente humana e humanizante.

Às Escolas e às Universidades, por serem instituições de ensino, são atribuídas

diversas responsabilidades e algumas delas passam, inevitavelmente, pela promoção

de valores como a partilha, a reciprocidade, a (co)responsabilização, o respeito, ou a

cidadania, tendo em vista a formação de cidadãos cientifica e tecnologicamente

competentes e humanizados, de modo a que se posicionem de forma crítica,

consciente, reflexiva e interveniente na sociedade. Atendendo ao que foi exposto, a

pergunta que insta à reflexão relaciona-se com os valores que necessitam de

transparecer na prática pedagógica. Tarefa árdua, no que respeita à compreensão do

seu verdadeiro significado, que este relatório não trata, mas que reserva algumas

considerações.

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Ainda assim, pensar sobre o que é ensinar, para alguém que está em formação

inicial, é compreender, simultaneamente, o que se constrói em contexto formal de

educação. As ações e opções tomadas têm subjacente um conjunto de atribuições,

iluminadas por crenças várias, discutindo conceptualizações, por vezes

insuficientemente esclarecidas, sobre o que é ensinar e o que é aprender. É condição

essencial, seguramente, ter uma noção adequada da perspetiva curricular que orienta a

ação pedagógica, selecionar métodos e estratégias de ensino e de aprendizagem

coerentes mas, também o é, assumir uma posição coerente no que respeita aos valores

implícitos nos processos que são postos em prática, em espaço pedagógico e em

situações extracurriculares.

3.1. Breve caraterização da escola

O estabelecimento de ensino, onde decorreram as oportunidades de prática

profissional no âmbito da formação inicial, foi concluído em 1977 e, segundo a

Portaria n.º 782/77 de 23 de dezembro (AR, 1977), entrou em funcionamento no ano

letivo de 1977/78. À data, não tinha ocorrido a desanexação do território do Vale da

Amoreira da freguesia da Baixa da Banheira, motivo que explica o nome da instituição.

Desde a inauguração até à atualidade pouco alterou a fisionomia. Inicialmente foi

construída com seis blocos de planta retangular, ligados entre si por corredores em

espaço aberto, expandindo as infraestruturas entre 1987 e 1990, com o acréscimo de

dois blocos (G e H) (ESBB, 2014). Em 1997 foram remodelados os espaços destinados

à prática desportiva, sendo criados dois campos de jogos (ESBB, 2014). Ocupa uma

área total de 44.855m2, que não está totalmente dotada de infraestruturas,

nomeadamente um pavilhão gimnodesportivo. Na Carta Educativa do Concelho da

Moita (2008), nas ações a desenvolver, está prevista a construção do referido pavilhão

e a requalificação das instalações sanitárias e infraestruturas de saneamento. No

entanto, apesar deste discurso escrito, a questão da prática desportiva, em condições

adequadas, é um problema antigo, sem aparente solução a breve termo.

Possui uma área ajardinada, onde estão dispostas mesas e bancos em cimento,

bem como um chafariz, área que dá acesso às escadas, que conduzem aos campos

polidesportivos, separados pela infraestrutura de apoio (balneário feminino; sala de

reuniões; balneário masculino e sala de materiais desportivos). No que respeita às

acessibilidades, a escola não possui elevadores que possibilitem a ligação ao primeiro

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andar dos blocos, nem rampas de acesso para quem apresente comprometimento do

espectro da mobilidade. Ainda que o acesso seja possibilitado a algumas áreas, outras

ficam vedadas por existirem pequenos lances de escadas nos espaços cobertos e

descobertos do recreio. Serviços fundamentais como a biblioteca, a reprografia, os

laboratórios de informática e os serviços de apoio social e de psicologia encontram-se

a funcionar no primeiro andar dos blocos onde estão localizados. Logo, inacessíveis

para estes alunos.

Segundo o Projeto Educativo de Escola para o triénio 2012-15, o

estabelecimento de ensino enfrenta atualmente um período caraterizado,

sumariamente, por: (1) uma taxa de sucesso no ensino básico regular inferior à média

nacional; (2) uma taxa de sucesso no ensino secundário regular inferior à média

nacional, com particular gravidade no 12.º ano (ver Figura 2) (3) um elevado grau de

absentismo; (4) dificuldade em envolver os encarregados de educação (EE) no

processo educativo; (5) articulação entre docentes pouco eficaz; (6) sentimento de

incerteza por parte da comunidade educativa; e (7) descontentamento pela falta de

algumas instalações e equipamentos. Estas assemelham-se às caraterísticas que

definem as escolas situadas em meios vulneráveis, desfavorecidos do ponto de vista

económico e pouco valorizadas socioculturalmente. Esta constatação é reforçada por,

desde o ano de 2009, este estabelecimento de ensino, não agrupado, ter passado a estar

integrado no Programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP3), uma

medida que visa a promoção do sucesso educativo e luta contra o abandono escolar,

em populações particularmente vulneráveis.

Figura 2 Taxa de retenção ou desistência entre

2009-2013 (MEC, 2014)

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Na escola existe um corpo docente capaz de assegurar disciplinas de diferentes

currículos (regular, profissional, educação e formação adultos) (ver Quadro 1). No ano

letivo de 2013/2014 havia cinquenta e oito professores, dos quais 81% pertenciam ao

quadro e, destes, 78% lecionavam há vinte ou mais anos (ESBB, 2014). Contudo, um

corpo docente diversificado, conjugado com uma oferta educativa alargada, não

significam que muitos alunos nela se inscrevam (ver Quadro 2).

Assim, um dos problemas que esta escola enfrenta é a perda consecutiva de

matrículas de ano para ano (ver Figura 3). Do pessoal não docente, num total de trinta

e um trabalhadores, 97% tem dez ou mais anos de serviço (ESBB, 2014). Nestes estão

incluídos um especialista de psicologia, um de ação social e três de técnicas

curriculares adicionais.

Quadro 1 Docentes de nomeação definitiva por departamento (referente a 2013/14)

Quadro 2 Relação de turmas por oferta educativa (referente a 2014/15)

Figura 3 Evolução de matrículas entre 2009-2013 (MEC, 2014)

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3.2. Caraterização da turma

As informações para a caraterização de turma foram obtidas através de um

questionário respondido pelos alunos. Previamente foi solicitada, aos próprios e aos

respetivos encarregados de educação, concordância ou autorização, consoante o tipo

de participante – aluno; EE – para a participação no estudo. Garantiu-se anonimato,

pelo que se utilizou uma codificação para designar cada aluno. Havendo quatro grupos,

atribuíram-se letras A, B, C, e D para cada grupo. Dentro deles, havia o aluno A1, A2,

e assim sucessivamente.

Os resultados reportam-se a uma turma do 11.º ano de um curso Científico-

Humanístico do ensino regular. Responderam ao questionário doze alunos de um

conjunto inicialmente constituído por dezassete inscrições. Registaram-se três

anulações de matrícula e três exclusões por faltas. No entanto, dois alunos externos

também responderam, pelo que o total de questionários respondidos é, como já

referido, doze. É possível falar num equilíbrio entre géneros: elementos femininos

(50%) e masculinos (50%). Em termos etários (ver Figura 4), a média de idades ronda

os 18.2 anos, sendo a média dos elementos masculinos 18.3 e a dos femininos 16.1.

Como tal, o género masculino foi muito mais afetado por retenções do que o feminino.

A heterogeneidade, patente nas idades, é também visível quanto à naturalidade

(ver Figura 5). Nesta turma, 58% têm naturalidade portuguesa e os restantes 42%

naturalidade guineense, havendo, entre estes, dois alunos com residência inferior a

dois anos em Portugal. Contudo, a maioria tem nacionalidade portuguesa (92%) (ver

Figura 6). Sobre a residência, importa sublinhar que a maioria habita na localidade

33%

50%

17%

G R U P O E T Á R I O

Até 17 >17-19 >19

Figura 4 Idades dos alunos por grupo etário (%)

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onde a escola se encontra (75%). Ainda assim, um quarto dos que responderam ao

questionário não identifica o local de residência (25%) (ver Figura 7).

42%

42%

16%

N A T U R A L I D A D E

Guiné-Bissau Barreiro Lisboa

92%

8%

N A C I O N A L I D A D E

Portuguesa Estrangeira

75%

25%

R E S I D Ê N C I A

Vale da Amoreira N/I

Figura 5 Identificação dos locais de nascimento (%)

Figura 6 Nacionalidade da turma (%)

Figura 7 Locais de residência (%)

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No que respeita à dimensão familiar é possível analisar algumas variáveis,

como o nível de habilitações literárias, a profissão e a relação com os familiares com

quem vivem (diretos ou outros). De notar que alguns, por terem idade igual ou superior

a 18 anos, assumem as funções de EE (33%) (ver Figura 8). Nos restantes 67%,

representados por outro parentesco, a escolha recai sobretudo nas mães. A média de

idades dos EE que não são o próprio é de 46 anos.

Quanto às habilitações literárias (ver Figura 9), 33% referem-se ao ensino

básico e 9% ao ensino secundário. De salientar que a maioria (58%) não refere a

escolaridade dos EEs, o que sugere desconhecimento desta informação.

Não foram registadas respostas que apontassem habilitações literárias ao

nível do ensino superior. Relativamente à situação profissional (ver Figura 10), os

valores para detentores de contrato e em situação de desemprego são iguais: 33% para

cada um destes grupos. A reforma apresenta o valor mais baixo (9%). A nacionalidade

(Figura 11) regista alguma diversidade embora o peso recaia, essencialmente, sobre a

nacionalidade portuguesa (67%).

33%

67%

E N C A R R E G A D O S D E E D U C A Ç Ã O

Próprio Outro parentesco

9%

33%58%

H A B I L I T A Ç Õ E S E E

E. Secundário

E. Básico

N/I

Figura 8 Escolha dos encarregados de educação (%)

Figura 9 Habilitações literárias dos EE (%)

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O núcleo familiar com que vivem é variável (ver Figura 12), constata-se que

grande parte (51%) vive com a mãe e outros familiares (irmãos, avós e sobrinhos),

seguindo-se o valor que corresponde ao viver com a mãe e o pai (33%). Na categoria

de mãe, pai e outros; e outros familiares, os resultados foram idênticos: 9% para cada

um deles. Não houve registo de alunos a viver apenas com a mãe, apenas com o pai

ou com o pai e outros familiares. A maioria não refere o estado civil dos pais (67%).

Os dados apurados têm pouca expressividade, mas mencionam que têm irmãos o que,

em média, significa fraterias compostas por 2.9 elementos.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

M Ã E E P A I

M Ã E E O U T R O S

M Ã E P A I E O U T R O S

O U T R O S F A M I L I A R E S

COM QUEM VIVES?

67%8%

25%

N A C I O N A L I D A D E E E

Portuguesa Angolana Guineense

33%

9%

33%

25%

S I T U A Ç Ã O P R O F I S S I O N A L E E

Contrato Reforma Desemprego N/I

Figura 10 Situação profissional dos EE (%)

Figura 11 Nacionalidade dos EE (%)

Figura 12 Constituição do agregado familiar (%)

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No geral, as habilitações (ver Figura 13) de todos os que foram descritos como

membros do agregado familiar situam-se, sobretudo, no ensinos básico ou secundário

(36%). O ensino superior é o valor mais baixo (6%). No que foi possível apurar, ao

nível do ensino básico (ver Figura 14), a maior percentagem recai sobre o 1.º ciclo

(46%). Assim, trata-se de uma população desfavorecida, no que se refere às

habilitações literárias.

Esta situação reflete-se, como seria de esperar, na estrutura profissional (ver

Figura 15). Predominam os grandes Grupos Profissionais 5 e 9, ou seja, trabalhadores

não qualificados e pessoal dos serviços e vendedores. Apenas uma pequena

percentagem (3%) exerce cargos ligados às áreas científicas (Grupo 2),

designadamente, enfermeiros.

6%

36%

36%

22%

H A B I L I T A Ç Õ E S A G R E G A D O

Ensino Superior Ensino Secundário

Ensino Básico N/I

46%

27%

27%

H A B I L I T A Ç Õ E S A G R E G A D O

Ensino Básico (1ºciclo)

Ensino Básico (2ºciclo)

Ensino Básico (3ºciclo)

Figura 13 Habilitações literárias dos agregados familiares (%)

Figura 14 Diferenciação das habilitações literárias no ensino básico (%)

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Relativamente ao percurso escolar (ver Quadro 3) em média, a frequência dos

que responderam terem frequentado o ensino pré-escolar (67% dos alunos) ronda os

dois anos. Os anos de escolaridade com maior incidência de retenção foram os 7.º e o

10.º anos de escolaridade, o que realça as dificuldades sentidas na transição para os

dois últimos ciclos de estudos, ou seja, quando o nível de exigência começa a ser

maior. O local mencionado dedicado ao estudo é em casa (no quarto ou na sala), os

familiares indicados como os que ajudam no estudo são a mãe e os irmãos, o que indica

uma nítida diferença quanto aos papéis assumidos pelo género feminino (Mãe) e

masculino (Pai). As disciplinas referidas como aquelas em que obtêm classificações

negativas foram a História, a Geografia, o Português e a Matemática aplicada às

Ciências Sociais. As faltas disciplinares mencionadas não ultrapassam, em número, as

duas faltas por aluno. Sobre o interesse que têm sobre a escola, as opiniões dividem-

se: 50% afirma que se interessa e 40% que não havendo ainda 5% que não respondem.

São utilizados como argumentos positivos a proximidade à residência e o facto de

existir um laço afetivo com as pessoas que estão na escola. Como argumentos

negativos a falta de infraestruturas adequadas.

3%

3%

14%

3%

19%

22%

36%

Grupo 2 - Especialistas das profissões intelectuais ecientíficas

Grupo 3 - Técnicos e profissões de nível intermédio

Grupo 5 - Pessoal dos serviços e vendedores

Grupo 7 - Operários, artífices e trabalhadores similares

Grupo 9 - Trabalhadores não qualificados

N/I

Estudantes

Figura 15 Grupos profissionais do agregado familiar (%)

Quadro 3 Percurso escolar (%)

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A maioria utiliza regularmente a internet e acede-lhe através de computador

próprio. Questionados sobre o gosto em estudar, a maioria refere que por vezes gosta

(58%) mas, quando questionados diretamente se gostam, ou não, da escola, a maioria

concorda que sim (67%). As disciplinas favoritas indicadas foram a Educação Física,

o Inglês e a Matemática aplicada às Ciências Sociais. As disciplinas de que menos

gostam foram a História, a Geografia e a Filosofia. A maioria não menciona em que

clube da escola gostaria de participar e muitos afirmam mesmo que não gostariam de

participar em nenhum, situação semelhante nas atividades extracurriculares.

Relativamente às atividades que gostariam de ver dinamizadas em espaço

pedagógico, referem o trabalho em grupo (24%), as aulas práticas (20%), aulas com

material áudio/vídeo e debates (17%). Referem que os fatores que contribuem para o

insucesso escolar são a falta de atenção/concentração (15%), a falta de hábitos de

estudo e o desinteresse pela disciplina (14%) e o esquecimento rápido sobre os

conteúdos programáticos (11%).

Quanto aos gostos pessoais, preferiu-se representar a informação sob a forma

de uma nuvem de palavras (ver Figuras 16, 17 e 18). Embora existam interesses

comuns aos dois géneros, feminino e masculino, nota-se que a intensidade dos

mesmos, em cada um destes dois grupos, é diferente (ver Figuras 17 e 18).

Figura 16 Nuvem de palavras da turma sobre os tempos livres (através de Wordle)

Figura 17 Nuvem de palavras sobre os tempos livres dos rapazes (através de Wordle)

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As informações sobre os hábitos de sono (ver Figura 19) e de alimentação (ver

Figura 20) revelam a necessidade de alguma supervisão, nomeadamente porque um

terço (33%) se deita depois da meia-noite, o que indica que não dormem as horas que

seria desejável. Além disso, 8% afirmam que não tomam pequeno-almoço, o que

também não é saudável.

67%

25%

8%

O N D E T O M A S O P E Q U E N O - A L M O Ç O

Em casa Na escola Não tomo

8%

42%33%

17%

A Q U E H O R A S V A I S D U R M I R

[20:00-22:00] [22:00-00:00] >00:00 N/I

Figura 18 Nuvem de palavras sobre os tempos livres das raparigas (através de Wordle)

Figura 19 Horas de sono (%)

Figura 20 Local onde tomam o pequeno-almoço (%)

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À luz do Decreto-Lei n.º3/2008 de 7 de janeiro (ME, 2008), as dificuldades

mencionadas (ver Figura 21) pela turma não estão abrangidas por nenhuma medida de

diferenciação pedagógica ao nível dos apoios educativos especializados, excetuando-

se um caso, sinalizado como esclerose lateral amiotrófica.

17%

6%

22%

6%6%6%

11%

28%

D I F I C U L D A D E S

Leitura Escrita Visuais Auditivas

Oralidade Mobilidade Outra N/I

Figura 21 Dificuldades mencionadas pela turma (%)

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3.3. Enquadramento da unidade didática nas linhas programáticas

Através da leitura do documento curricular de referência para a disciplina de

Geografia A (DES, 2001), considera-se que a Educação Geográfica, no ensino

secundário, tem como intuito facultar aos destinatários uma formação que auxilie na

compreensão da crescente correlação dos problemas que afetam os territórios e as

conexões dos grupos humanos com o meio, possibilitando-lhes participar nas

discussões referentes à organização do espaço e desenvolver atitudes de solidariedade

territorial, numa perspetiva inclusiva e de sustentabilidade. Segundo o Programa de

Geografia A (2001), o tema que trata sobre Os Espaços Organizados pela População

visa privilegiar uma abordagem que permita relacionar o conhecimento da diversidade

territorial e das relações que se estabelecem entre os diferentes territórios tornando-se,

assim, indispensável para perceber a forma como as populações ocupam, usam e

organizam os vários espaços geográficos, criando oportunidades e problemas que é

necessário gerir de forma a garantir um desenvolvimento adequado e sustentado. Neste

tema estão consagrados três grandes conteúdos: (1) as áreas rurais em mudança; (2) as

áreas urbanas: dinâmicas internas; e (3) a rede urbana e as novas relações cidade-

campo. A intervenção pedagógica concretizou-se no segundo conteúdo programático,

que se subdivide noutros três: (A) a organização das áreas urbanas; (B) a expansão

urbana; e (C) problemas urbanos, designadamente, a unidade didática que trata sobre

a expansão urbana. A unidade didática configura uma sequência programática de

conteúdos, segundo uma lógica articulada de saberes, constituindo-se como um

elemento de trabalho nos processos de ensino e de aprendizagem (Cardona, 2008).

Através da unidade didática podem-se organizar as experiências educativas, coerentes

com as práticas que se pretendem desenvolver, em espaço pedagógico.

A abordagem que o programa recomenda que se faça sobre o tema recai,

nomeadamente, sobre a explicação dos processos de expansão dos centros urbanos e

de formação das áreas metropolitanas, relacionando-se o dinamismo demográfico e

funcional das áreas centrais da cidade com o crescimento espacial das áreas periféricas,

realçando as heterogeneidades funcionais e sociais existentes nestas, nomeadamente

entre as áreas suburbanas e as áreas periurbanas. Para tal é necessário destacar a

evolução dos diferentes espaços urbanos, através dos processos de urbanização, de

uma estrutura monocêntrica, do ponto de vista funcional, para estruturas policêntricas

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e reticulares, onde os diferentes centros urbanos, ao laborarem de forma

complementar, do ponto de vista funcional, geram uma área metropolitana que, no seu

conjunto, é mais dinâmica e competitiva. No que respeita a estes conteúdos, o

programa recomenda, igualmente, refletir sobre os impactes territoriais resultantes da

troca progressiva do uso do solo agrícola por usos industriais e urbanos, bem como

sobre os impactes sociais resultantes da penetração progressiva em áreas rurais do

modo de vida urbano.

O estudo deste conteúdo pressupõe também a análise da formação dos grandes

aglomerados urbanos, nomeadamente das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto,

delineando o quadro económico, a importância à escala regional e nacional, refletindo

sobre as diferenças entre elas e equacionando os respetivos pontos fortes e fracos.

Neste conteúdo, o papel da indústria é outro dos aspetos a evidenciar. Deste modo,

sugere-se a identificação das áreas geográficas de maior concentração industrial a nível

nacional e a sistematização das diferenças entre as tipologias industriais,

nomeadamente: em espaço rural; nos eixos suburbanos; nas áreas metropolitanas; no

centro da cidade; e em áreas portuárias.

Quadro 4 Objetivos específicos da unidade didática (adaptação programa nacional)

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3.4. Praxis docente

A sala de professores constitui-se como um espaço de diálogos diversificados.

Enquanto se preparam os últimos materiais, ou até mesmo enquanto se aguarda a hora

da próxima aula, é quase impossível não prestar atenção aos assuntos comentados, pois

estes refletem os traços de uma cultura de escola e identidade próprias. Alguns temas

são até, aos olhos da inexperiência, estranhos e descabidos, enquanto outros suscitam

interesse. Este espaço de trabalho, assim como outros espaços escolares, são fontes de

informação que respondem às necessidades de conhecimento informal. Neste sentido,

far-se-á em seguida uma súmula das atividades extra-aulas que se traduzem em

contributos para a formação individual, ou seja, a participação em experiências

diversificadas, associadas à prática profissional, que auxiliam na apropriação do papel

profissional do candidato a Professor. A ordem das atividades descritas é: Dia para

AGIR (edição 2013/14 e 2014/15); reuniões de departamento; reuniões de conselho de

turma; e direção de turma.

A Escola, ao exercer a função social de educar, deverá estar atenta ao

quotidiano da prática pedagógica. Desenvolver ações interdisciplinares, fora do

habitual espaço físico de aula, é sinónimo de suplantar as práticas escolares pouco

motivadoras para os alunos e cogitar novos horizontes pedagógicos, inseridos em

modelos que permitam desenvolver a capacidade de criar, de construir e, sobretudo,

de pensar. Práticas diversificadas têm maior probabilidade de contribuir para uma

formação holística, proporcionando a vivência da criatividade e da colaboração,

estreitando a relação da Escola com a Família, promovendo o desempenho da

cidadania sustentada teoricamente e nas práticas. Além do mero cumprimento das

disposições curriculares, constatou-se que a Escola Secundária da Baixa da Banheira,

enquanto comunidade educativa, assume outras dimensões do ensino e da

aprendizagem onde os valores, a sociedade e o humanismo se revelam como centrais

para o desenvolvimento dos alunos. Neste contexto, foi possível assistir às edições do

Dia para AGIR (26/02/2014 Mutilação Genital Feminina – Zero Tolerância e

10/12/2014 Vem semear a justiça social). As edições contaram com a participação do

projeto EPIS (Empresário pela Inclusão Social), e do GAAF (Gabinete de Apoio ao

Aluno e Família). Foram também convidadas a participar outras instituições nacionais

e locais, das mais diversas áreas.

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A primeira edição teve como objetivo despertar uma consciência social,

almejando a congregação de esforços para a defesa desta causa. Para quem assistiu a

este evento, desconhecendo os contornos que caracterizam este fenómeno, a

oportunidade de abordar o assunto na escola foi de grande importância, principalmente

porque existem relatos de casos conhecidos, além de ser uma via para a sensibilização.

Pequenos passos que movem as engrenagens da mudança. Sobre as ideias exploradas

é de sublinhar que a verdadeira dimensão do problema é desconhecida, algo alarmante

e que convida a participar cada vez mais, de forma ativa, nas oportunidades que vão

surgindo para o despertar de consciências. Foi notório o grau de profundidade que o

evento atingiu, não ficando apenas pela apresentação do conceito e estudos realizados.

Houve testemunhos reais, alguns na primeira pessoa, onde o auditório se confrontou

com a experiência que meninas, hoje adolescentes e adultas, viveram e não esquecem.

Uma manhã de trabalho profícua, apesar de o tema não ser fácil, conseguiu criar um

balão de oxigénio do qual derivam forças e vontades de agir, através da sensibilização

que se fez sentir por tímidos sorrisos, alegria no orgulho que foi participar num evento

com visibilidade pública, tristezas e mágoas gravadas na memória das que sofreram a

mutilação na pele, viram sofrer ou conhecem quem a sofreu, mas também gargalhadas

com a singular intervenção do grupo ValArt2. De destacar a partilha evidente, nos

pequenos detalhes, como o carinho que se oferece num momento sensível. Na

participação e colaboração dos trabalhos apresentados. Na certeza que a escola estará

disponível para ouvir e ajudar a quem a procure para a promoção do esclarecimento e

denúncia desta prática, violadora dos Direitos Humanos (ONU, 1948). Realidade que

nem sempre está assim tão longe do olhar e que o alcance da nossa ação pode alterar.

2 Os ValArt são um grupo de Teatro-fórum. Está integrado na programação do Centro de

Experimentação Artística do VA. O grupo surgiu através do projeto DiverCidade, inserido na Iniciativa

Comunitária EQUAL – Ação 3, em parceria com entidades locais. Iniciaram-se no Teatro-fórum a

15/05/2008.

Figura 22 Abertura do evento com a exibição de cartazes

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Na segunda edição, os objetivos eram claros no que respeita à reflexão

partilhada sobre uma Educação em Cidadania global. As atividades decorreram

durante a manhã, através da realização de um peddy paper com a participação de todas

as turmas da escola. A acompanhar cada equipa estava previsto que estivessem

presentes familiares e entidades parceiras convidadas, traduzindo-se, portanto, num

dia aberto à comunidade. O roteiro compreendia quatro estações, cada uma a cargo

dos professores dos respetivos departamentos. Assim: (1) a biblioteca foi palco da

estação justiça a ler, dinamizado pelo departamento de Português e Línguas

Estrangeiras; (2) o anfiteatro do bloco E ficou a cargo do departamento de Ciências

Sociais e Humanas, onde foi possível discutir a justiça; (3) no bloco C estava o

departamento de Matemática e Ciências Experimentais para a concretização de

atividades sobre a justiça verde; e (4) no átrio central o departamento das Expressões,

com o jogo das expressões justas. Terminadas estas atividades, houve um almoço

temático sobre a liberdade das escolhas alimentares, com a apresentação dos

resultados finais e outras surpresas. Ao refletir sobre estas atividades acredita-se que

Escola, por ser um espaço democrático, permite conhecer e compreender os saberes

sociais promovendo, deste modo, transformações individuais e coletivas que

possibilitem ensaiar a prática da cidadania nas suas diversas dimensões. Para isso, a

organização escolar necessita de estar capacitada para desenvolver ações pedagógicas

adequadas, que extrapolem as estruturas formais, em espaço pedagógico, os

relacionamentos rígidos dos intervenientes e, ainda, as ações fragmentadas. Deste

modo, educar significativamente poderá ser entendido como um processo que utiliza

práticas adequadas para a formação e o desenvolvimento integral do ser humano.

Tomando como exemplo o Dia para AGIR, percecionou-se que este permitia a

observação da cultura de escola, do meio, da construção do conhecimento e a sua

apropriação.

Figura 23 Aspeto do átrio central

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Como oportunidade de participar em atividades que desenvolvam a

compreensão alargada sobre o funcionamento da escola, houve a possibilidade de

assistir a algumas reuniões. As disciplinas de História e de Geografia compõem o

Departamento de Ciências Sociais e Humanas. Logo, esta foi uma razão de fundo para

a participação nesta atividade. Constituiu-se como um momento de observação

conjunta das atividades propostas pelas duas áreas disciplinares. Pensar que as

reuniões de departamento são simples transmissões de informação, em que o

coordenador tem a palavra e os restantes membros se limitam a escutar, é reduzir um

departamento a nada. Estas reuniões são um palco privilegiado para a análise e

discussão das questões que importam a cada um dos elementos, visando a melhoria

das práticas educativas, espelhando, deste modo, a dinâmica da organização. Esta ação

permitiu examinar uma equipa profissional, ter contacto com as práticas e

especificidades da organização e confrontar as competências desenvolvidas durante a

formação teórica, construindo um processo de reflexão sobre a dialética entre teoria e

prática. Observaram-se as formas de trabalhar dos professores e os momentos de

articulação curricular, cujas decisões são discutidas e tomadas internamente. Ao nível

do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, entre este e outros órgãos, sugere-

se uma dinâmica caraterizada pela tentativa de estabelecer e enraizar um trabalho

interdepartamental (são exemplos as atividades do Dia para AGIR introduzidas por

este grupo de trabalho). Relativamente à leitura da postura de cada elemento, atendeu-

se a que compete ao coordenador o dever de orientar a reunião para que a mesma atinja

os objetivos, mas isso só é possível com a participação legítima de todos. Houve,

certamente, decisões que não foram do agrado geral. Mas assumir uma atitude

contrária é um direito, que deve ser exercido com respeito, assim como deve ser

respeitada a decisão final.

Sobre as reuniões de conselho de turma, constatou-se que se trata de um órgão

que deve ocupar-se da organização, acompanhamento, avaliação das atividades da

turma e a articulação entre a escola e as famílias, sendo coordenado por quem é

responsável pela direção de turma. Assim, o diretor de turma atua como gestor do

processo de desenvolvimento do currículo e pode ser a força motora para introduzir

inovações curriculares (Roldão, 1995). Sublinha-se que, durante a primeira parte da

reunião, estiveram presentes os representantes da turma (delegado e subdelegado). Por

conseguinte, observou-se que o diretor de turma, como coordenador do conselho,

procurou criar um ambiente de trabalho em equipa, dando voz a professores e alunos.

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Desta forma, acredita-se que tenha conseguido realizar uma efetiva articulação

curricular e trabalho colaborativo, no sentido de dar resposta aos problemas da turma,

por meio da mediação. Além de possibilitar estas breves considerações, a participação

nesta atividade permitiu colaborar na elaboração dos materiais resultantes da reunião,

nomeadamente os registos acerca das ocorrências, deliberações e decisões tomadas,

bem como, por ser um trabalho de preparação, uma vez que não parece eficiente iniciar

a intervenção pedagógica sem previamente conhecer as especificidades da turma com

a qual se irá trabalhar.

Ainda sobre a direção de turma, houve a possibilidade de estar numa sessão

com os encarregados de educação. Estas reuniões apresentam modalidades várias,

podendo efetuar-se individualmente, com um EE específico, ou com todos. Entendeu-

se que a reunião presencial torna possível partilhar informação, ultrapassar mal-

entendidos que possam existir entre a escola e as famílias, bem como planear

conjuntamente atuações que sejam mais benéficas para os educandos. De modo a que

sejam produtivas, é imperativo que o diretor de turma esteja devidamente preparado,

de forma a saber conduzir as diferentes situações, clarificar os objetivos da reunião e

concretizar tudo isto num ambiente confortável, informal e livre de interrupções, a par

de um atitude positiva, evidenciando, também, uma vontade em escutar (Coutinho,

1998). Logo, estes são procedimentos a não ignorar.

Neste sentido, através da observação, percecionou-se um roteiro no discurso

do diretor de turma onde foi possível isolar determinados momentos. O primeiro foi a

explicitação da finalidade da reunião, a que se seguiu um comentário individual sobre

o respetivo educando. Percebeu-se que havia cuidado em começar por descrever os

aspetos positivos, mantendo a mesma atitude ao referir os que precisam de ser

melhorados, sem recurso a comparações. Esta atitude permitia que os encarregados de

educação não assumissem uma atitude defensiva, enquanto escutavam atentamente o

relato. No desenrolar da reunião, uma outra dinâmica foi evidenciada, no que respeita

ao encorajar os participantes a manifestarem a sua opinião. Por último, antes de

terminarem os trabalhos, houve o reforço da disponibilidade, por parte da escola, bem

como o compromisso que esta estabelece na oferta de um serviço de qualidade. No

que respeita à componente de direção de turma, foi, ainda, possível participar no

procedimento semanal de registo e justificação de faltas, algo que permite identificar

se existem casos que justifiquem a emissão de um alerta formal e que, por isso mesmo,

se traduz num processo de monitorização indispensável.

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3.4.1. Observação e recolha de dados

A observação consiste na recolha de dados sobre o espaço que nos rodeia

(Adler & Adler, 1994). Permite ao observador/investigador olhar para a realidade

diretamente e, por isso, não toma contacto com os acontecimentos em segundo plano

(Patton, 1990). Deste modo, é possibilitada uma proximidade ao objeto de estudo

(Merriam, 1988), no respetivo cenário e no momento exato do seu acontecimento.

Segundo a tipologia proposta por Adler e Adler (1994), as modalidades de observação

podem ser três: (i) o investigador que é membro pleno (complete-member-researcher),

estuda as situações que envolvem os que pertencem ao grupo; (ii) o investigador que

é membro ativo (active-member- researcher), envolve-se nas atividades centrais do

grupo assumindo responsabilidades para que este progrida, mas não se compromete

com os valores e os objetivos; (iii) o investigador que é membro periférico

(peripherical-member-researcher) observa e interage de um modo próximo com os

membros, mas não participa nas atividades.

Atendendo a esta tipologia, é possível afirmar que o candidato a Professor,

consoante o contexto, recorreu às diferentes modalidades apresentadas. Assim sendo,

assumiu um papel de investigador membro pleno quando concretizou a sua

intervenção pedagógica; ao realizar a visita de estudo inicial adotou o papel de

investigador ativo; e funcionou como investigador periférico ao descrever as situações,

em espaço pedagógico, sem que delas tivesse participado diretamente (por exemplo,

nas primeiras aulas observadas).

No sentido de compreender as dinâmicas da turma, onde foi implementada a

intervenção pedagógica, foi necessário proceder a algumas observações prévias.

Pretendeu-se, com estas observações, conhecer a dinâmica relacional entre professor

e alunos (pois estas funções foram assumidas no âmbito da Prática Supervisionada de

Ensino), assim como, conhecer as atividades que o conjunto desenvolvia. Esta recolha

de dados permitiu contextualizar a intervenção pedagógica. Neste sentido, e pela

importância de que se revestiram estas observações prévias, apresenta-se uma

descrição sumária, de um conjunto de três aulas, que antecederam a intervenção do

candidato a Professor.

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Observação n.º 1 Disciplina: Geografia A Data: 05/01/2015

Lição n.º 90 e 91 Presenças: 12 de 15 Hora: 14:25-16:15

Sumário: Breves indicações dos trabalhos a decorrer no 2.º período. Caraterização do

C.B.D.

Descrição da observação

Quase toda a turma esperava a chegada da professora perto do bloco onde

habitualmente decorrem as aulas, outros estavam no interior do edifício. Esta dirige-

se em seguida para o 1.º andar na companhia de alguns alunos. Já dentro da sala,

observa-se que nem todos estão presentes, embora tenham visto a professora

(chegando mesmo a cumprimentá-la). A aula tem início cerca de 15 minutos após a

hora prevista. Não são feitas menções aos atrasos. A professora começa por desejar

um bom ano aos alunos questionando-os, genericamente, sobre as férias. A turma

retribui o gesto. Em seguida, informa sobre o que vai consistir a aula. Durante a

primeira parte foram divulgadas informações que consistiram em:

Atividades a realizar (visitas de estudo; seminário sobre o turismo na península

de Setúbal e a participação no projeto Nós Propomos);

Agendamentos (reunião com encarregado de educação e teste de avaliação);

Sobre o desempenho: necessário praticar a produção de texto;

Sobre os apoios: a frequência na disciplina de Filosofia é obrigatória e devido

a esta decisão há um conflito nos horários da D3 e da A3 (estão com apoio na

disciplina de Inglês).

Reações: durante os momentos informativos, observou-se que a atenção de metade dos

presentes estava a ser canalizada para outras atividades. Havia conversas paralelas,

destacando as duplas C3 e D1; D2 e B4; A1 e B2. As perguntas colocadas foram no

sentido de saber se os apoios vão permanecer no horário e se há registo de faltas.

A professora passou a palavra ao candidato a Professor que, confirmando a

presença de todos, começou por desejar um bom ano à turma com um ar simpático,

alegre e sorridente. Constatou-se que alguns alunos também retribuíram os sorrisos e

ouviram-se os habituais votos de bom ano. Em seguida entregou uma folha com as

instruções (Re)Descobrir e intervir no V.A (Anexo 1). Mencionou que eram indicações

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precisas sobre o que fazer e pediu que alguém as lesse em voz alta. No imediato, não

houve voluntários (estavam preocupados em saber o que eram aquelas instruções), mas

alguém aceitou ler. Em seguida, solicitou-se a uma outra pessoa para explicar o que

tinha compreendido daquelas instruções. Após este momento e a explicação do que se

pretendia com esta atividade, a professora de Geografia retomou a palavra. Escreveu,

no quadro negro, um organizador prévio e contextualizou o tema. Pediu para que

abrissem o manual escolar e fez perguntas não direcionadas sobre o seu conteúdo.

Reações: observou-se que em atividades elementares como descrever imagens e copiar

esquemas a adesão dos alunos é significativa.

Após um intervalo de 10 minutos, a aula prossegue. A professora acrescenta

novos tópicos ao esquema que tinha feito, inicialmente, no quadro negro.

Reações: grande parte da turma não voltou do intervalo no tempo previsto. É de referir

que apenas a D1, a B4, o A2, o C1, a A3 e a D3 cumpriram o horário. Além de não ser

uma postura adequada, perturba o ambiente em dois sentidos: (1) desconcentra quem

já está a trabalhar; e (2) provoca uma quebra na dinâmica (a porta apenas abre por

dentro, o que implica ir sempre alguém abrir, quando ouve bater). Este procedimento

deu origem à reflexão sobre uma questão: apenas uma professora, no Mestrado em

Ensino, lecionava com a porta aberta. Era a aula a que os estudantes mais chegavam a

horas – espaço pedagógico muito prático, com discussões vivas – mas, se algum se

atrasava, entrava sem fazer barulho e não perturbava o andamento do trabalho.

Questão: Porque preferirão os professores, na sua maioria, lecionar com a porta

fechada?

A professora procura promover a discussão e prossegue, referindo alguns dos

serviços que é possível encontrar no Central Business District.

Reações: ao serem mencionadas as diferenças entre serviços, o A1 tentou esclarecer.

Embora não tenha conseguido, promoveu a participação de outros, nomeadamente a

B4, a B1 e o C1. Destacam-se pela participação espontânea a C2 e a B4.

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A professora informa que o que está escrito no quadro negro (e que copiaram)

é para realizar como trabalho de casa. Pede também outras atividades (perguntas de

resposta curta) do manual escolar. Ao concluir os trabalhos, pede ao C3 que faça uma

síntese e, no final, a professora dita o sumário.

Reações: a escolha do C3, provavelmente, deveu-se a este não ter estado atento.

Quando iniciou a síntese, percecionou-se o desconforto. Mas rapidamente encontrou

o que precisava no quadro negro.

– Falou-se do que é o C.B.D. – acrescentando em seguida –, é o centro da cidade local

onde havia concentração de atividades, muito trânsito e acessibilidades.

Observação n.º 2 Disciplina: Geografia A Data: 06/01/2015

Lição n.º 92 e 93 Presenças: 11 de 15 Hora: 16:25-18:10

Sumário: Correção do TPC. As áreas residenciais: bairros de classes

socioeconómicas elevadas, bairros de classe média, bairros de classe baixa.

Exercício de aplicação.

Descrição da observação

Observou-se que o cumprimento do horário da aula não foi concretizado por

todos os alunos. O início da aula foi marcado pelo registo do sumário.

Reações: constatou-se que os primeiros a registar o sumário foram a C2, a A3, a D3, a

B1 e a D1. O A1, o C1, o D2 copiaram pelo caderno dos colegas e o C3, a C4, a B3, o

A2 e o B2 não registaram.

A professora confirmou se as atividades indicadas como trabalho de casa

tinham sido realizadas. Em seguida, fez a correção através de pergunta dirigida.

Reações: desconfiou do trabalho do C3, sugerindo que a caligrafia era muito parecida

com a da D1. Censurou o B2 por este não ter feito o TPC e questionou-o sobre a

justificação para esta falta do TPC.

A professora solicitou que abrissem o manual escolar.

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Reações: observou-se que existia pelo menos um manual escolar por cada dois alunos

(cada mesa), mas também se observou que o C3, apesar de ter o manual escolar, não

o utilizava, deixando-o guardado dentro da mochila.

A professora projeta uma apresentação. Explica que, do conjunto de slides que

vão observar, apenas alguns serão para copiar para o caderno diário.

Reações: o C3, que desde o início da aula estava a conversar com a B3 (e a D1

visivelmente incomodada), ao ver o primeiro slide, pergunta se era para passar. A

professora reforçou o que tinha dito.

Durante a exploração das imagens que estavam a ser projetadas.

Reações: participação espontânea da B1, A2 e C2. O A1, que estava a perturbar a aula,

foi interpelado pela professora. Por sua iniciativa mudou de lugar e manteve-se numa

fila mais distante, onde apenas está sentado o candidato a Professor. Ouvem-se

notificações vindas de um telemóvel e isso permite constatar que o A1 continuava em

comunicação com alguém, provavelmente com o C3, a B3 ou o B2 (ele agora estava

de frente para esses colegas). Permanecem interessados na aula a C2, o C1, a D1, a A3

e a D3.

A professora atua de forma a solucionar o problema relacionado com o

telemóvel.

Reações: exige ao C3 que lhe entregue o telemóvel. Este oferece resistência.

Assertivamente, num tom de voz sério e seguro, a professora responde para entregar

ou desligar. A seguir informa que o esquema que está projetado é para registar no

caderno diário e vai inspecionar se estão realmente a fazê-lo.

É retomada a aula, após um intervalo de cinco minutos e, novamente, o horário

não é cumprido, destacando-se: a C4, o D2, o B2, o A2, o A1. A B3 não regressou.

Reações: com a ausência da B3, o C3 e a D1 conversam. Percebe-se que a D1 está

séria e procura perceber se à sua volta notam que os dois conversam. O C3 evidencia

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uma atitude de quem se está a justificar, mas que não a convence. Permanecem assim

até ao final da aula.

A professora retoma a aula desde onde parou e pede para que copiem alguns

conteúdos.

Reações: mobilizam-se rapidamente para a cópia. A C4 diz recordar-se que – no exame

do ano passado saiu ‘essa matéria’ –, o A2 complementou as explicações

exemplificando com aquilo que observou durante a visita (Re)Descobrir o VA.

É distribuída uma ficha com perguntas de escolha múltipla e respostas curta.

Para a sua realização percorreu-se toda a turma, começando pelo C3.

Reações: com esta estratégia conseguiu-se a participação de todos. As respostas

fornecidas estavam todas corretas. Nas perguntas de resposta curta (pequenas

definições e/ou indicar alguns fatores sobre determinado aspeto) houve alguma

hesitação.

Observação n.º 3 Disciplina: Geografia A Data: 07/01/2015

Lição n.º 94 Presenças: 11 de 15 Hora: 11:30-12:20

Sumário: As áreas industriais. Fatores de localização.

Descrição da observação

Um dia de muito frio. Quase toda a turma já estava na sala perto do aquecedor.

Antes de iniciar a aula foram dadas indicações sobre a utilização dos telemóveis. Estes

devem permanecer desligados. Também foi referido que alunos indicados para apoio

não frequentam as aulas (é o caso do B2, do A1, do C3, do A2 e do C1, na disciplina

de Português).

Reações: Nenhuma manifestação ou comentário sobre a utilização indevida dos

telemóveis. O A1 informou que vai justificar a próxima falta e o A2 informou que não

vai frequentar o apoio.

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A professora começou por recordar alguns dos assuntos abordados nas duas

aulas anteriores através do questionando à turma. Após esta introdução, tentou projetar

algo, mas sem sucesso.

Reações: não perdeu muito tempo com o constrangimento informático e insistiu no

diálogo. Conseguiu obter algumas respostas sobre as perguntas que ia colocando,

sobretudo da D1.

Colocou uma lista de tópicos no quadro negro.

Reações: observa-se uma grande cumplicidade do C3 com a D1, bem como conversas

entre o B2 e o A1. A professora, que já tinha repreendido o C3 (talvez duas ou três

vezes), pede-lhe que mude de lugar. Faz o mesmo convite ao B2 e A1. O C3 manifesta

vontade em abandonar a aula, algo que acaba por acontecer. Os outros permanecem e

procuram estar mais concentrados.

Após a saída do C3.

Reações: observou-se uma mudança radical na postura da D1. Mostrou-se mais atenta,

registou no caderno o que estava no quadro e tentou participar (nem 10 minutos tinham

passado). O A2 evidenciou estar mais satisfeito e participativo, a D3 permanece atenta

(formas de ação e reação semelhantes nas aulas anteriores), a A3 escreve no caderno

(será do manual? não terá ela manual e por isso copia os conteúdos?), a C2 mantém

uma postura semelhante às observações anteriores.

Como foi mencionado anteriormente, a visita de estudo inicial também

permitiu uma observação da turma e recolha de dados. O guião de trabalho de campo

(Re)Descobrir o VA (Anexo 2) foi concebido especialmente para esse efeito e

corporizou um instrumento dissimulado de avaliação de diagnóstico. Esta é uma

avaliação inicial, ou seja, o ponto de partida para a conceção e desenvolvimento de

qualquer projeto curricular de escola ou de turma (Leite, 2002). Justifica-se quando se

pretende identificar o ponto de partida, seja em relação às caraterísticas do contexto e

da comunidade onde a escola se localiza, seja em relação às caraterísticas individuais

da turma (Zabalza, 2004) ou, ainda, às competências que desenvolveram. É

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conveniente salientar que a concretização desta visita de estudo antecedeu as aulas

observadas.

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3.4.2. Planificação da intervenção pedagógica

A planificação, enquanto processo de tomada de decisões, é composta por

várias etapas. Poderá até ser comparada a um mapa de estradas, que nos indica o

caminho a percorrer para chegarmos a determinado destino. Contudo, é necessário

saber para onde se deseja ir, pois só assim será possível traçar o itinerário. No ensino

e na aprendizagem também é preciso saber de antemão as intenções que estão

subjacentes a determinada abordagem para, deste modo, enquanto professor, orientar

os alunos no seu próprio caminho rumo à aprendizagem. Segundo Braga et al. (2004,

p. 72), a «planificação é assumida como um método e um instrumento de trabalho,

sempre aberta a novas experiências e a qualquer tipo de inovação, pelo que é uma

[atividade] flexível, [interativa], aberta e incompleta». Ao contrário do que acontece

na planificação convencional, não há subjacente a esta intervenção pedagógica uma

estruturação das etapas de aprendizagem de forma sequencial e igual para todos. Na

abordagem sócio-construtivista, a planificação passa pela criação de ambientes

estimulantes que propiciem atividades que não são à partida previsíveis (Braga et al.,

2004), logo, que atendam à diversidade das situações e aos diferentes pontos de partida

dos alunos.

Face ao que foi exposto, é necessário esclarecer que os planos de aula (Anexo

3) não foram documentos produzidos apenas para satisfazer um conjunto de

pressupostos exigidos. Ainda que não tenham servido como guia obrigatório e único

para a concretização das aulas, foram elementos auxiliadores na preparação e

planeamento das atividades a realizar. Corporizaram um conjunto de intenções (ver

Figura 24), nem sempre alcançadas, que espelhavam o que se pretendia construir,

embora tivessem desvios, próprios dos processos interativos ricos e abertos, que

promovem a participação legítima dos alunos, algo essencial para a construção do

conhecimento.

A unidade didática trabalhada foi A Expansão Urbana. Porém, no decorrer da

intervenção pedagógica, também se considerou a unidade didática Problemas

Urbanos. Contudo, tratando-se de uma nova sequência programática e atendendo ao

tempo disponível para a realização da intervenção pedagógica, apenas foi planificada

uma aula para este último conteúdo, construindo uma ponte entre a lecionação do

candidato a Professor e a da professora. É de sublinhar que esta foi a unidade didática

escolhida no âmbito das atividades realizadas para o Projeto Nós Propomos!

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Cidadania e Inovação na Educação Geográfica, nas quais o candidato a Professor e a

professora trabalharam conjuntamente.

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3.4.3. Descrição da intervenção pedagógica

Na concretização da intervenção pedagógica houve em mente a citação de

Souto González (1998, p. 376), «é preciso valor e coragem em aceitar o repto

educacional, para que um ‘universo’ de alunos com as suas caraterísticas, com plurais

perceções do mundo, desenraizados e marginalizados socialmente, e até mesmo em

situações de abandono familiar, aprendam» (tradução própria, aspas no original). É

essencial reconhecer que, ensinar com rigor científico, não significa, unicamente,

transpor os conteúdos científicos para o ensino, mas sim efetuar uma adaptação dos

conteúdos do currículo às necessidades e competências dos destinatários. Torna-se

necessário, neste processo, reinventar métodos de trabalho e fazer experiências

pedagógicas ricas e sustentadas, de forma a descobrir o nível desejado de adequação,

para alcançar o êxito e precisão na aprendizagem da Geografia. Desta forma, justifica-

se a intencionalidade da intervenção pedagógica. Um caminho baseado no trabalho

colaborativo, na procura de estratégias que se mostrassem adequadas para este

microcosmos. Apresenta-se de seguida uma descrição das aulas realizadas.

Aula n.º 1 Disciplina: Geografia A Data: 12/01/2015

Lição n.º 97 e 98 Presenças: 11 de 15 Hora: 14:25-16:15 (100’)

Sumário: Discussão sobre os padrões de consumo atuais e os padrões de consumo no

início do século XX.

Linha conceptual: a primeira aula reveste-se de um caráter introdutório. Foi

desenvolvida tendo como orientação testar o funcionamento dos grupos de trabalho,

que tinham sido formados pelo candidato a Professor com base no conhecimento sobre

os alunos que tinha apropriado através da recolha documental, do questionário e da

observação de aulas, bem como de conversas informais com a professora.

Promoveu-se um cenário de educação formal que facilitasse a apropriação de

conhecimentos. Procedeu-se à elaboração de uma discussão sobre os padrões de

consumo atuais e os padrões de consumo no início do século XX. Justifica-se a escolha

deste tema pelo facto de se considerarem os padrões de consumo um assunto

aglutinador sobre as dinâmicas económicas. Estas estão intrinsecamente ligadas ao

desenvolvimento das cidades.

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Descrição da aula: num primeiro momento, o candidato a Professor acolheu a

turma, posicionando-se junto à porta da sala de aula. Informou que seria o responsável

pela aula e, seguidamente, pediu que procurassem os respetivos lugares (a sala tinha

sido organizada previamente). Procedeu à distribuição de uma tabela (Anexo 4) por

grupo e explicou o pretendido. Iriam registar, em conjunto, o que achavam ser os

principais padrões de consumo na atualidade e aqueles que teriam existido no tempo

dos seus avós. Após a explicação, determinou o tempo necessário para a elaboração

desta atividade e rapidamente passou por perto de cada um dos grupos, para os fazer

começar a trabalhar. Passados alguns minutos, dirigiu-se a cada grupo novamente e

procurou saber o que já tinham registado. Constatou diferenças quanto às velocidades

de trabalho e tentou, através de algumas recomendações genéricas, colmatá-las. Ao

constatar que os grupos estariam aptos a iniciar uma discussão geral, em grande grupo

(turma), deu como terminada esta primeira etapa da tarefa. Ao questionar cada um dos

grupos, obteve-se o seguinte esquema:

Estes contributos foram discutidos pela turma, estabelecendo pontes entre os

consumos e as cidades. No decorrer da discussão geral, os grupos são convidados a

registar, nas suas tabelas, o que para eles é mais significativo, aproveitando assim os

diversos discursos. No final, é projetada uma sugestão de preenchimento (Anexo 5) e

questiona-se se há alguma palavra que a turma não conheça, para a clarificar. Foi

identificada a expressão venda a granel. Depois de proceder à explicação, é sugerido

que sejam completadas, mais uma vez, as respetivas tabelas. Desta forma termina o

primeiro tempo de aula.

Sobre o intervalo, sublinha-se a tentativa de negociar a sua supressão,

negociando, em alternativa, terminar a aula mais cedo. Esta medida justifica-se por se

constatar que há quebra na dinâmica da aula e que o intervalo acontece quando os

Quadro 5 Ideias da turma sobre os padrões de consumo

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alunos estão francamente empenhados. Contudo, a inexperiência do candidato a

Professor levou a que a negociação não fosse conduzida de forma suficientemente

assertiva, da sua parte. Assim, a maioria dos alunos exprimiu vontade de realizar o

intervalo. No regresso, registaram-se atrasos significativos e duas ausências, algo

indesejável e que se recomenda evitar.

Para o segundo tempo foi solicitado que organizassem a informação registada.

Deveriam, por isso, agrupar conteúdos conceptuais que estivessem relacionados entre

si. Foi sugerido que utilizassem cores para cada um dos conjuntos criados.

Percecionou-se que a tarefa, a partir deste ponto, não se mostrou de fácil compreensão,

condicionando as seguintes etapas. Porém, acredita-se que a aula cumpriu o seu

propósito, salientando-se os aspetos positivos que este primeiro contacto com os novos

grupos de trabalho demonstrou. Como momento final solicitou-se que fosse sugerido

um sumário, à turma.

Aula n.º 2 Disciplina: Geografia A Data: 16/01/2015

Lição n.º 102 e 103 Presenças: 11 de 15 Hora: 10:30-12:20 (100’)

Sumário: A formação das áreas metropolitanas. A área metropolitana de Lisboa e a área

metropolitana do Porto.

Linha conceptual: após o caracter introdutório sobre as dinâmicas que ocorrem

nas cidades, pretende-se iniciar a clarificação dos processos de expansão dos centros

urbanos e a formação das áreas metropolitanas. Segundo as recomendações do

programa, é sugerido que se relacione o dinamismo demográfico e funcional das áreas

centrais da cidade com o crescimento espacial das áreas periféricas. Destaque para os

impactes territoriais resultantes da progressiva alteração da paisagem.

Descrição da aula: procedeu-se de maneira semelhante no que respeita ao

acolhimento da turma. De forma a clarificar as intenções da aula, algo que não foi feito

adequadamente no início da aula introdutória, procedeu-se à explicação do que seria

realizado. Através de um breve enquadramento, recuperou-se a distinção entre as fases

centrífugas e centrípetas, recorrendo ao quadro negro. Desta forma, estabeleceu-se a

correspondência entre as fases e os respetivos fenómenos espaciais associados

(suburbanização e periurbanização). Após o enquadramento, procedeu-se à

distribuição de uma ficha de trabalho (Anexo 6). Com este recurso pretendia-se

relacionar a fase centrífuga com a formação das áreas metropolitanas, através da

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interpretação textual. Preferiu-se recorrer a tarefas de interpretação textual pois, em

conselho de turma, foram identificadas dificuldades gerais quanto à sua realização.

Dedicaram-se alguns minutos para a explicação da ficha e informaram-se os grupos de

que poderiam realizá-la com a ajuda dos colegas. Esta atividade ocupou todo o

primeiro tempo de aula.

Observou-se, novamente, que os tempos de aula não estavam a ser cumpridos

pela maioria dos alunos. O regresso às atividades ficou marcado por demoras

significativas, sugerindo, também, dificuldade na implementação da dinâmica que

anteriormente foi criada. Contudo, de modo a criar rapidamente o ambiente de

trabalho, procedeu-se à projeção de uma sugestão de preenchimento da ficha concluída

(Anexo 7) e explicou-se qual tinha sido o seu propósito.

Realizou-se um novo enquadramento, sintetizando as relações que estão na

origem dos processos de formação de uma área metropolitana. Deste modo, foi dito

que os conteúdos pressupõem, além do conhecimento dos processos que estão na

origem das grandes aglomerações urbanas, a análise das duas áreas metropolitanas do

país. Foi apresentada uma nova ficha de trabalho (Anexo 8), que seguiu, também, uma

estratégia de interpretação e análise textual. A par desta, pretendia-se traçar a

importância, à escala regional e nacional, das áreas metropolitanas de Lisboa e do

Porto, refletindo sobre as diferenças entre ambas e equacionando os respetivos pontos

fortes e fracos. Constatou-se que o tempo disponível não seria suficiente para concluir

as tarefas propostas. Assim, apenas foi possível proceder à leitura do texto e à

esquematização da informação. Como momento final solicitou-se a elaboração do

sumário, à turma.

Aula n.º 3 Disciplina: Geografia A Data: 19/01/2015

Lição n.º 104 e 105 Presenças: 11 de 15 Hora: 15:25-16:15 (100’)

Sumário: Conclusão do trabalho realizado na aula anterior sobre a AML e a AMP. As

tipologias e a distribuição da indústria em Portugal.

Linha conceptual: sobre o papel da indústria no dinamismo das áreas

geográficas, o programa recomenda que se faça a identificação das áreas geográficas

de maior implantação industrial a nível nacional e a sistematização das diferenças entre

as tipologias industriais, nomeadamente, nos eixos suburbanos, nas áreas

metropolitanas e no centro da cidade. É também importante refletir sobre as

consequências da forte desigualdade na localização industrial, no território português,

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e discutir estratégias que permitam o aumento da liberdade locativa, facilitando a

descentralização.

Descrição da aula: procedeu-se de maneira semelhante no que respeita ao

acolhimento da turma. Utilizou-se todo o primeiro tempo da aula para a explicitação

das intenções e recuperação das atividades da última aula, determinando um tempo

para a sua conclusão. Num contexto de continuidade (aula sem intervalo), foi

apresentada uma nova atividade e, à semelhança do quadro anterior, apenas se

forneceu um único enunciado ao grupo (Anexo 9). Esta ficha desenvolve-se à

semelhança das anteriores, recorrendo, por isso, à interpretação e análise de texto.

Estava previsto na planificação, que após esta última ficha, fosse realizada a atividade

de localização. Contudo, não houve disponibilidade de tempo. Como momento final

solicitou-se a elaboração do sumário à turma.

Aula n.º 4 Disciplina: Geografia A Data: 20/01/2015

Lição n.º 106 e 107 Presenças: 11 de 15 Hora: 16:25-18:10 (100’)

Sumário: A localização das indústrias, atividade prática. Ficha de consolidação sobre a

expansão urbana e as caraterísticas da indústria.

Linha conceptual: reporta-se à anterior.

Descrição da aula: acolhimento da turma semelhante. Explicou-se que a aula

consistiria na realização de um pequena atividade de planeamento territorial, a par da

consolidação dos conteúdos trabalhados, terminando desta forma o estudo sobre a

expansão urbana. O candidato a Professor questionou a turma se conhecia o programa

televisivo Shark Tank. A resposta foi afirmativa. Através desta motivação, foram dadas

as instruções sobre como proceder. Assim, à semelhança do que acontece naquele

programa, seriam feitas propostas de investimento, de modo a que alcancem o desejado

financiamento. Os grupos deveriam discutir uma proposta sobre a localização da sua

empresa e justificar as suas opções.

Na concretização desta atividade foi projetada uma figura (Anexo 10) e foi

distribuída aleatoriamente por cada grupo uma indústria (alimentar; farmacêutica;

metalúrgica e têxtil). Foi determinado um tempo para a elaboração e discussão de

propostas. O candidato a Professor, como nas aulas anteriores, supervisionou os grupos

e mostrou-se disponível a esclarecer as dúvidas que fossem surgindo. Percecionando

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que a turma estaria preparada para proceder à apresentação do trabalho realizado e

discussão geral, solicitou que um representante de cada grupo viesse apontar na figura

que localização tinham escolhido e fundamentasse as escolhas do grupo. As diversas

propostas e respetivas argumentações foram amplamente discutidas. Os grupos

mostravam grande curiosidade quanto à ou às proposta(s) vencedora(s), algo que só

seria revelado no final da aula.

A segunda parte da aula destinou-se à realização da ficha de consolidação de

conteúdos. Foi estipulado um tempo para a sua realização e a correção foi feita

oralmente. Preferiu-se recorrer à estratégia de pergunta dirigida, o que deu

oportunidade à participação de todos os alunos. Como momento final solicitou-se a

elaboração do sumário à turma.

Aula n.º 5 Disciplina: Geografia A Data: 21/01/2015

Lição n.º 108 Presenças: 11 de 15 Hora: 11:30-12:20 (50’)

Sumário: Visionamento do videoclipe “Casa no Campo”. Discussão do conceito de

rurbanização. Apresentação dos trabalhos realizados pela turma (início da discussão).

Linha conceptual: após a unidade didática da Expansão Urbana surge a dos

Problemas Urbanos. Estes problemas estão associados, sobretudo, às áreas urbanas de

grande dimensão ou às que conheceram períodos de expansão muito rápidos, em que

é difícil assegurar um adequado ordenamento do território. Estes problemas acabam

por se traduzir, na perspetiva dos habitantes, na quebra da qualidade de vida.

Descrição da aula: por se tratar de uma aula de apenas um tempo, e atendendo

a que a maioria dos alunos desta turma não cumpria geralmente o horário, o candidato

a Professor decidiu fazer o acolhimento junto à porta do bloco, para que a sua presença

fosse notada. Já dentro da sala de aula, procedeu à distribuição de uma folha com a

letra de uma música (Anexo 11), enquanto explicava no que iria consistir a aula. Num

primeiro momento, iriam analisar o conceito de rurbanização através da música e, num

momento posterior, procederiam à apresentação dos trabalhos efetuados no âmbito dos

problemas urbanos que a turma recolheu através da visita e das fotos que realizaram.

Constatou-se que, durante a correção da ficha de consolidação, o conceito de

rurbanização não estava claro para a maioria dos alunos. Recorreu-se à música Casa

no Campo, da Capicua, como mediador que facilitasse a apropriação do conceito. Foi

projetado o videoclipe, acompanhado da letra, e, depois, seguiu-se um momento de

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discussão geral. De tudo o que foi referido sublinha-se a expressão «estar longe da

selva de cimento». Através desta metáfora foi feita a ponte com alguns dos motivos de

fundo que estão na origem do êxodo urbano.

A última parte da aula foi reservada para o início da apresentação dos trabalhos

realizados (Anexo 12). A apresentação organizou-se segundo uma ordem temática.

Assim, surgem documentados os problemas associados às infraestruturas (habitação e

edifícios degradados); à ausência de infraestruturas infantis; os transportes (fraca

cobertura e acessibilidade); e a poluição (atmosférica e solos). Como momento final

solicitou-se a elaboração do sumário à turma.

Aula n.º 6 Disciplina: Geografia A Data: 23/01/2015

Lição n.º 109 e 110 Presenças: 11 de 15 Hora: 10:30-12:20 (100’)

Sumário: Conclusão da apresentação dos trabalhos realizados pela turma. Elaboração de

atividade sobre os problemas urbanos no Vale da Amoreira.

Linha conceptual: reporta-se à anterior.

Descrição da aula: procedeu-se à conexão com a aula anterior através de uma

síntese do que já fora explorado. A discussão geral retomou o tema da ausência das

infraestruturas infantis, seguindo-se os transportes e, por último, a poluição.

Relacionado com este último assunto, surgiu a referência a um problema que ninguém

referiu, e ao qual o manual escolar também não faz referência, apesar de ser algo a que

os alunos estão muito ligados: o lixo eletrónico. No que respeita a esta questão, o

candidato a Professor recomendou que se refletisse sobre as quantidades absurdas de

lixo eletrónico que são produzidas diariamente, um claro reflexo dos padrões de

consumo atuais. No final da discussão, reservou-se um momento de aplicação de

conhecimentos a novas situações, que consistia em estabelecer, em grupo, relações

entre os principais problemas identificados no Vale da Amoreira (Anexos 13, 14, 15 e

16). Como momento final solicitou-se a elaboração do sumário à turma.

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3.4.4. Caminhos possíveis para a avaliação: escolhas e desafios

Reconhecendo o papel que os agentes educativos e os públicos escolares têm,

bem como os curricula, no projeto de transformação das relações sociais (McCarthy,

1994), a visão crítica de currículo associa-o à noção de projeto, tendo em conta os

contextos onde este se constrói e desenvolve. Reconhece o papel dos agentes nos

processos de dinâmica social e cultural (Peréz Gómez, 1998; Gimeno Sacristán, 2000;

Pacheco, 2001). Os princípios e as intenções que orientaram o plano curricular são

elucidados de forma flexível, à semelhança dos processos e critérios previstos para a

sua concretização. Esta planificação evoluiu durante o seu desenvolvimento, em

espaço pedagógico, como resultado do trabalho em comunhão com a investigação e a

reflexão sobre os seus pressupostos (Eisner, 1979; Elliot, 1978, 1993; Stenhouse,

1984, 1987; Kemmis, 1986 citados por Leite, 2002). Neste sentido, o currículo

constrói-se à medida que se vai desenvolvendo, demarcando-se do determinismo e

orientando-se para perceções da instituição escolar como espaço social de relações e

de desenvolvimento de participações legítimas e plurais. Este posicionamento teórico

assume caraterísticas dos modelos de investigação-ação, sendo os resultados obtidos,

dessa investigação, aplicados na operacionalização de processos de intervenção

pedagógica, como este que aqui se relata e que deu origem a um produto final avaliado

por uma entidade externa – professores participantes no projeto Nós Propomos – que

lhe atribuiu um prémio.

É imprescindível conceber uma Escola que interaja com o exterior e eduque

em cidadania (Reis, 2002). Logo, é necessário desenvolver ações: (1) junto dos

professores, perspetivando a valorização da interdisciplinaridade; (2) com os públicos

escolares, promovendo a solidariedade, a autonomia e a responsabilidade; e (3)

incluindo os encarregados de educação, no sentido de motivar para a necessidade da

sua participação na vida escolar. É preciso a colaboração, acompanhamento

(monitorização), dinamização e avaliação, definindo objetivos, metas e concebendo

tarefas a propor aos alunos que permitam atingi-los. Pretende-se, portanto, que os

professores, perante a heterogeneidade dos públicos, assumam uma posição de

respeito pela diferença e fomentem os direitos de cidadania, tais como a justiça social,

solidariedade e respeito mútuo (Araújo, 2008). Para alcançar estas finalidades, dever-

se-ão desenvolver práticas adequadas à diversidade e conceber o pluralismo como

fator de enriquecimento para os processos de ensino e de aprendizagem.

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Num modelo de desenvolvimento curricular centrado no processo (Pacheco,

2001), o currículo é perspetivado como um projeto, privilegiando-se a resolução de

questões práticas. Os professores desempenham um papel central no âmbito das

decisões curriculares, assumindo-se como construtores do currículo e não como meros

executores, uma vez que lhes compete, de forma autónoma, adaptar o currículo

nacional à situação específica das instituições e dos públicos escolares, sendo-lhe

proporcionada, também, liberdade para elaborar e adaptar materiais (Pacheco, 2001).

A avaliação, no modelo centrado no processo, segundo Stenhouse (1991), não tem que

ver com uma mera função quantitativa. Deve ser encarada como um instrumento de

melhoria das aprendizagens, remetendo para os professores o desempenho de um papel

de críticos e não apenas de classificadores. Por isso mesmo, o feedback fornecido aos

alunos em etapas intermédias, a avaliação qualitativa e faseada, o carater formativo e

autorregulador da avaliação, devem ser aspetos privilegiados quando se pretende

promover o aprender a aprender, ou seja, a autonomia e a autorresponsabilização dos

alunos em relação aos seus processos de aprendizagem (Courela & César, 2012).

Assim, a avaliação é associada a um processo formativo, que ajuda a identificar

dificuldades e, simultaneamente, a encontrar caminhos para as ultrapassar. A

afirmação de que a avaliação «não existe, pois, de um modo isolado nem tão pouco é

um processo neutro» (Leite & Fernandes, 2002, p. 11), encerra em si o assumir de que

é necessário um esforço no sentido de trabalhar o processo avaliativo de um modo

inovador, mostrando que este é capaz de auxiliar os destinatários na mobilização dos

conhecimentos, contribuindo para a aprendizagem. Mais do que uma avaliação-

sanção, trata-se de uma avaliação que contribui para uma autorregulação dos processos

de aprendizagem (Cortesão, 1993). Nesta perspetiva, a avaliação assume-se como

formativa e tem um caráter próprio, manifestando-se de forma qualitativa e

apresentando, também, uma vertente diagnóstica.

A avaliação formativa é, pois, uma concepção da avaliação que visa, sobretudo,

uma melhoria dos processos de aprendizagem. Neste sentido, pressupõe um conjunto

de práticas variadas, recorrendo a diversos instrumentos de avaliação, orais e escritos,

individuais e em grupo, que sejam coerentes e sustentem os próprios processos de

ensino e de aprendizagem. Devem contribuir para que os públicos escolares se

apropriem das aprendizagens curricularmente estabelecidas como importantes

(Cortesão, 1993). Por conseguinte, a avaliação formativa pressupõe uma avaliação

diagnóstica dos pontos de partida e das situações relativas aos processos que conduzem

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à aprendizagem (Fernandes, 2005). Subjacente a esta modalidade de avaliação, surge

a noção de avaliação formadora que, não pondo em causa os pressupostos da avaliação

formativa, define mais objetivamente os papéis dos principais intervenientes no

processo avaliativo (Fernandes, 1997). O papel atribuído à autoavaliação é central

(Perrenoud, 1998a), de maneira a que a apropriação dos critérios de avaliação e dos

objetivos estabelecidos se constituem como fundamentais neste processo.

Acredita-se, portanto, que se não for restringida a educação formal,

nomeadamente em contexto escolar, à dimensão da instrução e se se seguir uma linha

ampla no que se refere aos aspetos do desenvolvimento pessoal e social, sustentada

não apenas no saber e no saber-fazer mas, sobretudo, no saber-ser para o saber-

tornar-se (Reboul, 1980), se promove, nos alunos, uma participação legítima, ao invés

de uma posição periférica. Assim, compreender-se-á a importância de opções

educativas baseadas na construção social interativa (Delors, 1996), sobretudo se

baseadas no trabalho colaborativo, aquele que mais promove a autorresponsabilização

e a autonomia, como se viu nesta intervenção pedagógica. Foi nítido como alunos com

diversas retenções em anos anteriores, que não cumpriam horários, que se ausentavam

a meio dos tempos letivos, se empenharam em trabalhos autónomos e realizados em

horas extracurriculares. Fotografaram, elaboraram sínteses, reuniram-se em grupo para

decidirem o que enviavam por e-mail, produziram um trabalho de projeto digno de um

prémio atribuído por uma entidade externa. Se, em apenas meia dúzia de aulas, foi

possível fazer algo semelhante, o que não se conseguiria se a Escola funcionasse de

forma mais colaborativa, desenvolvendo trabalhos de projeto com mais sentido para

os alunos, as famílias e a comunidade exterior à escola? O processo de avaliação, quer

das práticas quer das aprendizagens realizadas pelos alunos, contribuiu para este

sucesso, que é possível considerar simultaneamente escolar – na disciplina de

Geografia e no prosseguimento de estudo, que não estava anteriormente previsto – e

social – através do prémio recebido, da sessão em que participaram na Reitoria da

Universidade de Lisboa e na capacidade de intervenção que ganharam, na comunidade.

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3.4.5. Participação no Projeto Nós propomos

Considera-se que a oportunidade em participar nas atividades realizadas no

âmbito da quarta edição do projeto Nós Propomos! Cidadania, Sustentabilidade e

Inovação na Educação Geográfica, que decorreu no ano letivo de 2014/15, não podia

ser ignorada como parte fundamental da formação inicial. A par das atividades de

escola e da intervenção pedagógica realizada, soma-se a experiência desta

participação, que promoveu uma aprendizagem que contribuiu para um futuro

profissional mais competente e flexível, capaz de ter em consideração as necessidades

dos alunos e dos contextos onde estes desenvolvem as atividades (Perret-Clermont &

Perret, 2006). O desenvolvimento pessoal e profissional do professor passa, em

cenários educativos pautados por uma lógica investigativa, pelo envolvimento e

(re)interpretação que se faz do currículo (Stenhouse, 1991). Este autor refere ainda que

esta posição, na construção da profissionalidade, pode contribuir para níveis de

autonomia que se afastam de uma atitude conformada de um comum técnico, e que se

aproxima de um profissional capaz de se adaptar às características e desafios das

situações singulares. Considerações que são possíveis de observar no preâmbulo do

atual Decreto-Lei n.º 43/2007 de 22 de fevereiro (AR, 2007), que define as condições

necessárias à obtenção de habilitação profissional para a docência num determinado

domínio.

O projeto Nós Propomos dirige-se aos alunos de Geografia (escolas públicas

ou privadas) e pretende mobilizar os públicos escolares para a identificação de

propostas de intervenção na sua localidade, almejando um desenvolvimento

sustentável. Este propósito corporiza a promoção de uma cidadania territorial e

reponde ao apelo de participação das populações locais nas decisões sobre o território

circundante, contactando diretamente com os instrumentos de planeamento territorial,

bem como à necessidade de práticas escolares comprometidas com a Educação em e

para a Cidadania. É importante sublinhar este último aspeto no que respeita à oferta

curricular nacional, na medida em que configura uma dinamização do Estudo de Caso,

elemento obrigatório no currículo nacional. Neste sentido, identifica-se uma

aproximação à teoria crítica de currículo, pois o referido projeto tem subjacente um

nível de compromisso maior, com uma manifesta componente de cidadania, que

procura envolver os múltiplos agentes educativos. Trata-se de uma tarefa que reclama

o envolvimento pessoal, social e político, que não pode deixar de se refletir ao nível

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da intervenção explícita e intencional da Escola neste assunto (Reis, 1997). Assim, o

entendimento de cidadania abrange a prática da responsabilidade moral e cívica no

contexto das comunidades nas quais se participa. Porém, a Escola, espaço da

pluriculturalidade, da interculturalidade e da formação para formas de cidadania mais

abertas e plurais, manifesta ainda algumas reservas a relações novas e, naturalmente,

portadoras de muitas dinâmicas culturais (CNE, 2000). A execução deste projeto

aposta na colaboração de diversas instituições (municípios e empresas), promovendo

um enriquecedor estabelecimento de parcerias, sobretudo no estreitamento das

relações entra a Escola e a Universidade.

Relativamente ao desenvolvimento deste projeto na Escola Secundária da

Baixa da Banheira, pretendia-se: (1) identificar diversos problemas urbanísticos

naquela área; e (2) encontrar propostas que os solucionassem. Os participantes foram

alunos de uma turma do 11.º ano de escolaridade (N=11) e dois

professores/investigadores: titular da turma e o candidato a Professor. Os instrumentos

de recolha de dados utilizados foram: (1) a observação (registada por escrito e através

de fotografias); (2) questionários; (3) entrevistas; (4) conversas informais; e (5) recolha

documental. Os procedimentos de tratamento e análise de dados recorreram a uma

análise de conteúdo de índole narrativa (Cladinin & Connelly, 2000), que permitiu

traçar a história deste trabalho.

A visita de campo inicial, com recurso a um guião expressamente concebido

para este efeito, permitiu identificar diversos problemas urbanos da comunidade onde

os alunos vivem. Posteriormente, em grupo e autonomamente, em horários

extraescolares, os alunos fotografaram locais que ilustravam esses problemas e

elaboraram pequenas descrições. Estes materiais foram utilizados durante a

planificação da última aula assegurada pelo candidato a Professor. Cada grupo

selecionou três problemas, e as fotografias que os ilustravam, para os discutirem

posteriormente em aula. Deste processo resultou a seguinte organização, por temas a

abordar: infraestruturas (edificado degradado); ausência de infraestruturas infantis;

fraca cobertura de transportes; e poluição (atmosférica e solos). Por vezes, diferentes

grupos selecionaram o mesmo problema para discussão.

Além disso, por consenso, os grupos tinham de decidir qual destes problemas

seriam selecionadas e para os quais iam conceber propostas. A escolha recaiu na

ausência de infraestruturas infantis e, como tal, foi para este problema urbano que eles

propuseram uma proposta de solução, que foi alvo de apresentação no Seminário

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Nacional, que teve lugar na Reitoria da Universidade de Lisboa, no dia 4 de maio de

2015. Esta apresentação pública foi muito importante quer para os alunos quer para o

candidato a Professor. Para eles, porque perceberam que avaliadores externos do

projeto lhes concederam um prémio, algo que não conseguiam imaginar que fossem

capazes de obter com um trabalho realizado por eles, com muita autonomia e, em

muitos momentos, em horários extracurriculares. Para o candidato a Professor porque

lhe mostrou, de forma inequívoca, que o empenho dos professores tem impactes

nítidos nos desempenhos dos alunos e que muito do que se pode conseguir, em termos

de promoção do sucesso escolar e da equidade de oportunidades educativas, passa pela

mudança das práticas e por os alunos realizarem trabalhos que tenham significado para

eles e para as comunidades onde eles vivem.

A apresentação oral e discussão, durante as sessões dedicadas ao projeto e

realizadas em aula, foram muito ricas. Permitiu que os alunos mobilizassem alguns

dos conhecimentos apropriados, bem como que apropriassem outros, durante a própria

discussão, ou que emergiam dos temas abordados. Até os participantes periféricos, que

habitualmente chegavam atrasados, saiam a meio da aula (intervalo entre dois tempos

letivos), estavam distraídos ou em conversas paralelas, se mostraram empenhados e

interessados no trabalho que estavam a desenvolver. Participaram ativamente nas

visitas que fizeram aos locais, na recolha fotográfica, nas descrições, na seleção dos

três problemas e na discussão geral, assumindo-se como participantes legítimos. Este

foi um dos aspetos muito positivos deste trabalho de projeto colaborativo.

Os questionários, elaborados por todos os grupos, em espaço pedagógico,

permitiram confrontar as ideias prévias dos alunos com as opiniões da população local.

Tiveram, por isso mesmo, um papel relevante, pois permitiram-lhes compreender

alguns aspetos que lhes tinham passado despercebidos até então e isso fê-los sentir

melhor as necessidades urbanísticas da comunidade onde vivem. A entrevista, cujo

guião foi igualmente preparado previamente pelos grupos, e que foi realizada ao

diretor da escola, revelou possíveis apoios para as soluções propostas. Assim, o

trabalho de projeto colaborativo teve impactes no sucesso escolar e qualidade de vida

da comunidade, contribuindo para a inclusão escolar e social. Além disso, permitiu

que estes alunos elaborassem uma diversidade de materiais – roteiros para a recolha

fotográfica, questionários, guião de entrevista – que contribuíram decisivamente para

a qualidade dos dados recolhidos. Esta experiência de produzir instrumentos

adequados à recolha de dados ainda é rara, nas escolas portuguesas. No entanto, ela é

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muito relevante, pois prepara os alunos para tarefas que podem vir a desempenhar em

profissões futuras e fá-los sentir competentes, melhorando a sua autoestima. Por

último, permite-lhes aprender o que é fazer um trabalho de qualidade, pois

compreenderam a importância de recorrer a diversos participantes, enquanto

informadores privilegiados (eles próprios, os moradores, o diretor da escola, as pessoas

que elaboraram os documentos que consultaram), a diversos instrumentos de recolha

de dados, para proceder quer à triangulação dos participantes quer à dos instrumentos,

confrontando as informações recolhidas com cada um deles e, assim, aumentando a

acuidade da informação produzida e a justeza da solução proposta. Estes aspetos,

essenciais em investigação, mas também em sondagens, bem como em trabalhos de

projeto, são também uma mais-valia para a vida futura, do ponto de vista profissional.

São, ainda, essenciais ao exercício de uma cidadania crítica, reflexiva e sustentada,

pois, de futuro, têm muito mais capacidade para avaliar a qualidade dos trabalhos que

leem.

Foi a primeira vez que a Escola Secundária da Baixa da Banheira participou

neste projeto. Segundo a memória descritiva que os alunos elaboraram, e entregaram

à comissão de avaliação do projeto, observa-se satisfação nas palavras que referem a

oportunidade em propor soluções para a qualidade de vida da localidade, reconhecendo

a sua continuação através do esforço coletivo. Sob a perspetiva destes alunos sobre

esta experiência, é referido que, após terem percorrido a localidade com a ajuda de um

guião da visita de campo, onde se observaram problemas urbanos vários, esta se

dividiu, autonomamente, em grupos e voltou a visitar as ruas e os locais mais

significativos, por iniciativa própria. Desta vez podiam decidir qual o caminho a

percorrer. A partir desta atividade, cada grupo selecionou nove fotografias, ou seja,

três para cada um dos três problemas urbanos selecionados por esse mesmo grupo.

Também fez uma lista dos diversos problemas que os alunos daquele grupo

identificaram, mas que não selecionaram como os três mais importantes, passíveis de

registo fotográfico. Os problemas selecionados, anteriormente mencionados, assim

como os problemas listados, estiveram presentes aquando de uma posterior visita de

estudo a Lisboa, que consistia em conhecer e explorar as características de um outro

espaço urbano. Após estas etapas, criou-se uma lista final com todos os problemas

urbanos encontrados (Anexo 17) que foi utilizada para a eleição dos problemas a

trabalhar no âmbito do projeto.

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Os alunos referem que, para elegerem o problema urbano, foi necessário

obedecer a uma regra: a seleção ser consensual. Mesmo que a maioria tivesse feito

uma escolha, se apenas uma pessoa não estivesse de acordo, isso era suficiente para

que esta não fosse considerada. Para esta nova etapa formaram-se quatro grupos e cada

um tinha a lista dos problemas urbanos identificados. Elegeram-se, em seguida, dentro

de cada grupo, três problemas urbanos em que todos os elementos daquele grupo

concordassem. Após esta primeira escolha, formaram-se novos grupos e, de quatro

grupos, passaram a ser dois. Ao fundir dois grupos foi necessário escolher entre seis

problemas com a mesma condição anterior: a escolha ser consensual. Os grupos

chegaram, então, a uma decisão final: um ficou com a criminalidade e segurança no

espaço urbano; e o outro com a ausência dos parques infantis no espaço urbano. Porém,

por se perceber que não haveria tempo suficiente para trabalhar as duas propostas, foi

sugerido que se articulassem os dois problemas urbanos, formando um só grupo. Desta

forma, se recuperou a esperança de terminar o projeto através de uma proposta de

solução, algo que veio realmente a acontecer.

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3.5. Análise e reflexão de resultados

Neste último ponto, que encerra o Capítulo 3, far-se-á uma análise cotejada

com reflexões sobre os resultados obtidos nas diversas atividades relacionadas com

esta iniciação à prática profissional. Os assuntos apresentar-se-ão segundo a ordem

que tiveram no presente relatório. Assim, serão repescadas as observações, a

intervenção pedagógica e a participação no projeto Nós Propomos, onde estarão

presentes os dados apurados pelos questionários de avaliação, respondido no final de

todas as atividades.

Sobre as observações enquanto investigador não participante:

Ao iniciar o estudo de um novo conteúdo programático a realização de uma

avaliação diagnóstica, diferente dos moldes habituais – o efeito surpresa é essencial

para evitar rejeições por parte dos que já vivenciaram insucesso escolar – permitirá

entender os conhecimentos que os alunos já apropriaram e são capazes de mobilizar

sobre esse assunto, percebendo como foram trabalhados estes temas e que

competências desenvolveram. Por exemplo: Estão familiarizados com as

representações cartográficas? Conseguem identificar numa representação

cartográfica? Utilizam vocabulário geográfico? Utilizam técnicas adequadas no

registo da informação geográfica? Conseguem interpretar o espaço geográfico?. Como

foi dito, pretendia-se que esta avaliação diagnóstica fosse bem diferente do habitual –

geralmente testes de diagnóstico. Assim, ela foi realizada através da elaboração do

guião da visita de campo inicial. Tratando-se de um guião para uma visita, as rejeições

foram minimizadas e os desempenhos foram superiores aos que se obtêm, geralmente,

em testes, que são elementos mais ansiogénicos, mesmo quando se designam por testes

de diagnóstico. Mas os alunos sabem que, mesmo quando não existe classificação

expressa, os professores estão a ver que conhecimentos apropriaram nos anos

anteriores e, os que tiveram avaliações negativas, sentem-se frequentemente

intimidados e desconfortáveis, pois sabem que vão cometer diversos erros.

Através das informações recolhidas sobre os alunos durante esta atividade,

procedeu-se à estruturação dos procedimentos curriculares seguintes, ou seja, à

definição de possíveis estratégias adaptadas às caraterísticas e necessidades dos alunos

desta turma. Observou-se que a utilização de representações cartográficas oferecia

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dificuldades. Ressalva-se que a qualidade de impressão pode ter influência nessas

dificuldades, mas ainda assim constatou-se que o percurso não foi totalmente

sinalizado na maioria dos guiões, o que sugere uma reduzida utilização de cartografia.

Por outro lado, foi evidenciado um olhar crítico sobre o território, constatando-se

pertinentes apreciações, recorrendo a terminologia da disciplina, sobre: a dimensão

das ruas; o estado de conservação do pavimento; as acessibilidades pedonais e

rodoviárias; a (ausência de) sinalética; a gestão do parque habitacional (bairros geridos

por diferentes entidades); e a inadequada recolha de resíduos urbanos.

Contudo, a importância desta recolha não será apenas ao nível dos

conhecimentos e competências. Será, evidentemente, complementada se for feita a

recolha de outras informações que possibilitem a caraterização da turma, no seu

conjunto, mas, também, individualmente, sobre os mais diversos aspetos (percurso

escolar; ocupação de tempos livres; o que pensa sobre a escola; o que gostaria de fazer

nas aulas; ou saúde e alimentação). Existem alternativas várias, uma delas poderá ser

a aplicação de um questionário a ser utilizado na caraterização da turma. Mas também

poderá ser aproveitado como o início de um registo mais detalhado e pormenorizado

sobre cada elemento da turma, nomeadamente através de um diário de bordo do

investigador ou do professor, no qual constam dados indispensáveis para uma cada vez

mais elevada compreensão das formas de atuação. Assim, do diário de bordo do

candidato a Professor foram tidas em consideração informações sobre as observações

que antecederam a intervenção pedagógica e que importa comentar em seguida.

As formas de atuação mais evidenciadas, em aula, foram conversas paralelas

(C3 e D1; D2 e C4; A1 e B2), o que significa que metade da turma está a contribuir

para a dispersão da atenção e concentração. Constatou-se que na primeira aula

observada (simultaneamente a primeira aula do 2.º período), a professora de Geografia,

mesmo fazendo chamadas de atenção, no geral, não utilizou linguagem que mostrasse

raiva ou irritabilidade. Observou-se que, no segundo tempo da aula, a professora foi

mais diretiva quanto às chamadas de atenção, referindo os nomes. Seria uma estratégia

pessoal? Estará relacionado com o facto de ser a primeira aula do período? Porque não

separou os alunos que perturbavam a aula? Porque ignorou o facto de o C3 não ser

capaz de fazer uma síntese dos conteúdos? Porque permite a assistência de elementos

externos à turma como o caso da C4 e da B3?

Além disso, é notório que C2 e B4 se destacam pela participação e interesse.

Em C1 realça-se o interesse e a realização de tarefas. A D3 e a A3 destacam-se pelo

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esforço e por uma postura reservada. B1 destaca-se por uma prestação oscilante

(alguma conversa paralela como o D2). A1 salienta-se pelo volume da voz (que não é

agressiva), desconcentração e desinteresse (conversas paralelas). C3 e D1 têm grande

cumplicidade, mas não em tarefas escolares, propostas pela professora de Geografia.

C4 conversa bastante com B2 e com D2. A2 não esteve interessado nos momentos

expositivos e mostra-se algo distante. Não foi possível observar D4 em nenhum

contexto (apenas esteve presente em algumas aulas do 1.º período) e as referências a

B4 apenas foram possíveis durante estas observações (posteriormente anulou a

matrícula).

Sobre as observações enquanto investigador membro pleno:

As evidências empíricas de que as interações sociais, nomeadamente entre

pares, permitem aprender, são inegáveis. Quando são estabelecidas interajudas, num

pequeno grupo ou díade, e, posteriormente, durante a discussão geral, no grupo-turma,

estão a ser mobilizados os conhecimentos, as diversas estratégias de resolução e

respetivas argumentações, o que permite detetar pontos fortes de cada aluno e também

possíveis dificuldades, a ultrapassar. Pode-se, através de práticas baseadas no trabalho

colaborativo, melhorar a compreensão dos conteúdos a apropriar, desenvolvendo,

ainda, competências comunicacionais. Além disso, a pessoa que recebe ajuda – e,

naquele momento e situação atua como par menos competente – melhora os

desempenhos académicos, o que poderá contribuir para aumentar os processos de

autorregulação das aprendizagens (auto-monitarização, auto-percepção, autoeficácia,

auto-reação, e autoavaliação), bem como a autoestima académica positiva. Porém, há

que salientar que quem ajuda, ou seja, quem atua naquela situação como par mais

competente, ao ter de explicitar mais as argumentações, seguir as dúvidas e raciocínios

do par, procurar justificações que sustentem a sua estratégia de resolução, entre outros

aspetos, também promove a sua apropriação de conhecimentos, bem como o

desenvolvimento de capacidades e competências. Por isso mesmo, o trabalho

colaborativo beneficia todos os alunos e não apenas os que habitualmente tinham

insucesso escolar e é esta constatação que torna o recurso a esta forma de trabalho tão

desejável e pedagogicamente legítima.

Porém, para que o trabalho colaborativo funcione como aconteceu neste

trabalho de projeto é necessário ter critérios nítidos e bem definidos para a formação

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dos grupos ou díades. Para que as mais-valias do trabalho colaborativo possam

emergir, é preciso conhecer as caraterísticas, interesses, capacidades e competências

dos alunos, pois são elas que permitem constituir os grupos de acordo com os critérios

previamente definidos (César, 2003a). Neste sentido, atendeu-se aos seguintes

critérios: (1) classificações obtidas no final do 1.º período na disciplina de Geografia,

em particular, e nas diversas disciplinas, em geral; (2) evitar incompatibilidades entre

elementos do grupo (dados informais); (3) afastamento daqueles que tinham uma

relação de maior proximidade (observação), como melhores amigos e/ou namorados;

(4) por em grupos diferentes os alunos que tinham frequentemente conversas paralelas,

em aula; (5) procurar juntar, num mesmo grupo, alunos mais e menos motivados,

evitando grupos de nível e motivacionais; (6) não ter mais de um aluno por grupo que

tivesse ficado retido no ano letivo anterior; e (7) procurar distribuir pelos grupos os

poucos alunos que pretendiam continuar estudos mais longos. Assim, constituíram-se

grupos heterogéneos, cujas capacidades e competências dos alunos, particularmente

em Geografia, eram complementares. Pretendeu-se criar grupos equilibrados no que

respeita às classificações, possibilitando-lhes também trabalhar com pessoas que

habitualmente não faziam parte do seu círculo mais próximo, o que contribuiu para

melhorar o clima relacional da turma, pois eles descobriram que apreciavam colegas

que pouco conheciam até então, apesar de integrarem a mesma turma.

Houve, também, especial preocupação com a assiduidade, sublinhando-se o

cuidado de não excluir as duas assistentes autorizadas, tendo adicionalmente cautela

quanto à necessidade de ausência justificada que outros dois casos apresentavam.

Optou-se pelo número de quatro elementos por grupo, embora se soubesse que, muito

provavelmente, os grupos funcionariam com três elementos visto alguns alunos nem

sempre estarem presentes. Porém, distribuindo os elementos menos presentes por

todos os grupos, estes teriam um mínimo de três elementos em aula, o que permitia

continuar o trabalho de projeto. Houve alguma dificuldade em determinar um grupo

para as alunas que não estão inscritas (B3 e C4), bem como para o aluno que não

obteve avaliação (D4). Sabendo-se, de antemão, que a assiduidade deles estaria

comprometida, optou-se pela sua distribuição em diferentes grupos. O resultado final

pode ser observado na Figura 25, que abaixo se apresenta:

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Trabalhar em grupo tem subjacente saber gerir opiniões e pontos de vista

diferentes, confrontar e discutir possíveis estratégias de resolução, procurar possíveis

soluções em conjunto, vivenciando uma co-construção das aprendizagens. Assim, há

diversos aspetos a gerir do ponto de vista social, cognitivo e, até, emocional. Porém,

se num primeiro momento os alunos – e até os professores – se podem sentir um pouco

perdidos, pelas solicitações pouco habituais, em aula, que lhes fazem, em breve se

notam os efeitos positivos deste tipo de trabalho. Geralmente, os resultados obtidos

nos trabalhos de projeto são mais ricos do que quando se opta por uma abordagem

individual e por tarefas de outra natureza, como os exercícios. Neste sentido, a primeira

aula da intervenção pedagógica, procurou mobilizar os conhecimentos dos grupos para

a identificação das diferenças entre os padrões de consumo no tempo dos avós deles e

atualmente. O candidato a Professor assumiu uma postura de orientador, que ajudasse

a construir as aprendizagens, ou seja, atuou como moderador da discussão e não como

interveniente direto, que detém o conhecimento, que pretende que os alunos

memorizem e repitam, o mais fielmente possível. Dito de outra maneira, assumiu uma

abordagem sócio-construtivista, afastando-se de uma abordagem neobehaviourista.

A discussão foi preparada para ter correspondência com três momentos

pedagógicos distintos: (1) o preenchimento da tabela; (2) o agrupamento das ideias

comuns; e (3) a sua categorização. Apesar de se ter percecionado que a turma aceitou

facilmente os grupos que tinham sido formados pelo candidato a Professor, que foram

acauteladas situações concretas de postura inadequada em aula, que se possibilitou a

criação de um ambiente de trabalho totalmente diferente do habitual, salienta-se a

Figura 25 Distribuição dos alunos por grupos e classificação de cada um deles, a

Geografia, no período anterior ao trabalho de projeto colaborativo

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inadequada gestão da atividade na segunda parte da aula, o que se deveu a três motivos:

(a) a inexperiência, enquanto docente, do candidato a Professor; (b) a inexistência de

modelos, que pudesse observar previamente, a gerirem trabalhos de projeto

colaborativos em aula, pois é diferente ler uma descrição e discussão escrita, de ver in

loco; e (c) a complexidade inerente a esta forma de trabalho. Assim, posteriormente,

ao refletir sobre a aula, se percebe de que o ritmo da mesma teria sido mais conseguido

através de breves sugestões formais. Contudo, procedeu-se a continuação dos

trabalhos recorrendo à exposição dialogada, centrando as principais conclusões nas

sugestões de preenchimento que foram projetadas e, se isso foi rico, para os alunos,

não permitiu atingir os tempos previstos inicialmente. No entanto, também se salienta

que, quando em aulas posteriores, se geriu uma discussão geral, em grupo-turma, estas

dificuldades por parte do candidato a Professor, já tinham sido colmatadas.

Durante a segunda aula, na realização da ficha, constatou-se que houve recurso

aos parceiros de grupo, após um momento de leitura individual. Observou-se que esta

interação fazia diminuir, em parte, o recurso ao candidato a Professor no

esclarecimento de dúvidas, tal como seria desejável. Esta atividade decorreu em cerca

de 30 minutos, ultrapassando em metade o tempo previsto na planificação. Por esta

razão, optou-se por fazer uma correção parcial, de forma a identificar que dificuldades

estariam inerentes à sua concretização, deixando a última tarefa (itens de

completamento) para os últimos momentos do primeiro tempo de aula. A correção foi

feita oralmente, através de perguntas não direcionadas. A participação dos alunos e o

seu empenhamento fizeram-se sentir no imediato, sugerindo confiança nas respostas.

Constatou-se que os conhecimentos mobilizados e as estratégias sugeridas, de uma

forma geral, estavam adequados. Contudo, o candidato a Professor insistiu na

comprovação das mesmas e pediu para que indicassem as expressões no texto onde as

podiam sustentar, sublinhando-as. Além da evidente aplicação prática dos conteúdos,

a intenção desta atividade era permitir um momento de estudo em grupo, através da

leitura e análise de um texto. Assim, acredita-se ter contribuído para a aprendizagem

de procedimentos e técnicas de estudo, úteis no futuro.

Na terceira aula, no que respeita à tarefa de construir um quadro síntese a partir

das caraterísticas identificadas, foi fornecido, a cada grupo apenas um quadro.

Pretendia-se fomentar ainda mais a necessidade de trabalho conjunto, pois constatou-

se que havia um grupo que oferecia alguma resistência na partilha da informação.

Outra estratégia que importa sublinhar é a supressão do intervalo. Como não houve

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um consenso, o candidato a Professor decidiu que não se faria intervalo. Argumentou

a favor daqueles que defendiam a alternativa. Neste sentido, todos teriam a

oportunidade de experimentar as duas possibilidades, com e sem intervalo, decidindo

mais tarde o que achariam mais adequado manter. Observou-se que a dinâmica de

trabalho não foi quebrada, possibilitando a conclusão das tarefas, seguidas de

momentos de discussão em pequeno e grande grupo. Ainda sobre o manifesto

problema dos atrasos, que quebram a dinâmica e retiram tempo indispensável da aula,

destaca-se que o candidato a Professor procurou uma alternativa à sanção daqueles que

estavam em desobediência. Por exemplo, de modo a conseguir mobilizar os alunos

para a aula (a quinta aula tinha apenas 50 minutos de duração), fez o habitual

acolhimento não à porta da sala, mas à porta do bloco, mostrando-se tranquilo e

sorridente, informando que da próxima vez não ficaria parado à espera de quem

estivesse em falta, iria até ao bar para convidar esses mesmos elementos a virem para

a aula.

A quinta e sexta aula foram utilizadas para a discussão dos problemas urbanos

identificados pelos grupos. Constatou-se que o tema a que a turma foi mais sensível

foi a questão das infraestruturas (degradação do edificado e ausência de infraestruturas

infantis). Isso sugere que este seja um problema significativo para todos, pois acabou

por ser a temática escolhida, em consenso, no âmbito do projeto Nós Propomos. Sobre

este tema será interessante recordar que os alunos desta turma têm fraterias compostas,

em média, por 2.9 irmãos. A questão da segurança (segurança de fora para dentro –

portas e janelas danificadas que colocam em perigo os moradores, mas também de

dentro para fora – luz das escadas, a manutenção dos elevadores, que aumenta o risco

de acidentes e fatalidades) e a existência de poucas creches e reduzida capacidade de

contratar amas, foram aspetos destacados pela turma, a par de um crescente isolamento

dos mais jovens. No final da discussão, a atividade realizada teve como objetivo

refletir sobre as relações que é possível estabelecer entre as diversas questões que nos

cercam, revelando que elas estão interligadas. Também com o intuito de refletir sobre

o trabalho efetuado, se solicitava o sumário no final da aula à turma ao invés de o ditar,

para que se pudessem construir, gradualmente, novas representações para as situações

comuns presentes em uma qualquer aula.

Auscultando as opiniões gerais da turma sobre este conjunto de aulas, obteve-

se um grau de satisfação global francamente positivo. Numa escala em que 1 significa

nada satisfeito e 5 corresponde a completamente satisfeito, os resultados apurados

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apontam o valor de 70% para muito satisfeito e 30% para completamente satisfeito.

Esta revela-se uma avaliação particularmente importante se tivermos em consideração

as caraterísticas desta turma, observadas previamente e registadas em diário de bordo.

Relativamente a outros aspetos, obtiveram-se os seguintes resultados:

Ainda que os resultados quantitativos apresentem valores bastante positivos, é

de constatar que a maioria não deixou comentários e/ou sugestões, o que revela bem

como os alunos estão pouco habituados a ser escutados, a terem uma voz que é

respeitada e tida em consideração nas decisões que se tomam na Escola. Em dez

respostas, apenas se obteve duas avaliações qualitativas.

Quadro 6 Autoavaliação dos alunos sobre a intervenção pedagógica de que foram alvo

Figura 26 Autoavaliação de um aluno da turma sobre o conjunto de atividades realizadas

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Através destas autoavaliações (Figuras 26 e 27), é possível reconhecer que, de

uma forma geral, as atividades realizadas foram do agrado, mas mais que isso, foram

reconhecidas como formas de trabalhar mais aliciantes que contribuíram para reverter

um sentimento de insucesso generalizado. Sentimento que fora constatado em

diferentes intensidades, com díspares influências materializadas em formas de ação e

reação desta turma. Também se percebe que a atuação diretiva do professor em todos

os contextos e atividades é algo a evitar, pois não corresponde a uma atitude

facilitadora de competências de autonomia. Contudo, isto não significa que a presença

do professor seja dispensável, significa que as práticas inerentes à sua profissão sejam

maleáveis às necessidades várias dos seus públicos e ajustadas aos contextos formais

de trabalho.

Considerando as atividades realizadas, foi pedido que uma fosse eleita e que

sobre essa se fizesse uma apreciação. As atividades selecionadas foram:

Sobre estas atividades foram referidos como aspetos positivos a possibilidade

de se conhecer melhor a localidade – um (re)descobrir do território, bem como o ter-

se privilegiado a dimensão prática das aulas, o que as torna mais interessantes, aliado

a uma participação ativa de todos, em comunhão com uma aprendizagem em grupo.

Figura 27 Autoavaliação de um aluno da turma sobre o conjunto de atividades realizadas

Quadro 7 Atividades selecionadas pela turma no âmbito da autoavaliação

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Relativamente aos aspetos a melhorar, foi identificado o tempo, sobretudo a duração

que a visita de campo inicial teve, a necessidade de se estudar mais e ter mais atenção

nas aulas, o repetir mais aulas práticas e não suprimir o intervalo.

No âmbito das atividades do Projeto Nós Propomos, observou-se que a turma

respondeu aos desafios propostos. Na sua opinião, refere que olham para o local onde

vivem com outros olhos, porque estão agora mais sensíveis para os problemas que

existem. O esforço coletivo é sinónimo de valor e coragem, que não deveria deixar de

se promover, pois constatou-se que esta turma, alvo de críticas pelas baixas prestações

escolares, que nunca participou em eventos nacionais desta natureza, mostrou

empenho e esforço genuínos. Será interessante recordar o início do projeto, através do

preenchimento de um questionário que serviu, essencialmente, para recolher as ideias

prévias sobre alguns aspetos em torno dos problemas urbanos. Curiosamente, a turma

considerou os poucos lugares de convívio/diversão uma categoria a destacar pois, ao

passar a maior parte do tempo na localidade, principalmente em casa de amigos, o

sentimento geral era de que não podiam intervir na resolução deste ou de qualquer

outro problema – porque ninguém os escuta. O trabalho de projeto colaborativo

desenvolvido pelos alunos conseguiu motivá-los, levando-os a empenharem-se nas

atividades que realizaram. O produto final, objeto de um prémio, que nunca

acreditaram vir a receber, teve um efeito motivador quanto às trajetórias de

participação ao longo da vida, promovendo o empowerment e a capacidade de

intervenção, permitindo-lhes ganhar e expressar voz(es), aspetos essenciais da

inclusão.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do relatório evidenciou-se um conjunto de atividades que

procuravam espelhar o espaço/tempo escola enquanto espaço de reflexão,

experimentação e partilha, que por si só se constituem como indispensáveis

aprendizagens no decorrer desta iniciação à prática profissional. As experiências

relatadas construíram-se segundo esta oportunidade única de entrar em contacto com

a realidade escolar, percorrendo um caminho gratificante e enriquecedor, auxiliado

pelos pressupostos teóricos apropriados ao longo dos três semestres deste Mestrado

em Ensino. A pergunta inicial – Que caminho percorrer rumo a processos de ensino e

de aprendizagem aliciantes, motivadores e, sobretudo, úteis? – não será, nem poderia

ser, pela complexidade inerente ao processo educativo, respondida de forma concreta

e breve. Acredita-se que, à semelhança de outras perguntas colocadas no âmbito da

Educação, não existe uma resposta única e infalível. A aprendizagem é situada (Lave

& Wenger, 1991), no espaço e no tempo, sendo influenciada pelos conhecimentos e

vivências anteriores, bem como pelas culturas em que se participa (César, 2013a).

Uma das preocupações durante os percursos efetuados, enquanto candidato a

Professor e investigador, foi progredir no desempenho profissional, proporcionando

aos alunos, enquanto participantes deste estudo, cenários de educação formal

adequados para o desenvolvimento do trabalho colaborativo, ideal na promoção da

inclusão (César, 2003; César, Machado & Ventura, 2014; Courela & César, 2012).

Como tal, numa investigação com estas características, a componente reflexiva é

essencial (Courela 2007; Mason, 2002; McNiff & Whitehead, 2002; Suárez Pazos,

2002), uma vez que a intenção de melhorar práticas, compreender os bloqueios e o que

pode ser alterado, era uma motivação do candidato a Professor/investigador. A

investigação-ação pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional do

professor, bem como dos próprios participantes (César, Machado & Ventura, 2014;

Oliveira, 2006). Por este motivo, optou-se por uma metodologia que pudesse contribuir

para a qualidade da Educação, nomeadamente através da construção de conhecimentos

e do desenvolvimento de práticas transformadoras, e, simultaneamente, através de uma

base reflexiva, que facilitasse o desenvolvimento pessoal e profissional.

Contribuindo com considerações que iluminem caminhos que possam levar a

algumas possíveis respostas para a pergunta inicial acredita-se que, num caminho

pautado pelo trabalho colaborativo, nomeadamente, o trabalho de projeto colaborativo,

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os alunos podem interagir dialogicamente. Este tipo de trabalho faz emergir

representações sociais mais dinâmicas e positivas em relação a si mesmos, enquanto

pessoas e aprendentes e, neste caso, também no que se refere à Geografia (escolar),

encarando-a como uma forma de construir conhecimento. Segundo Zimmerman

(2001), a aprendizagem é uma atividade que os alunos fazem por si mesmos, de forma

proativa, mais do que um acontecimento que ocorre como reação a uma experiência

de ensino. Neste sentido, a modificação dos processos de autorregulação, como foi

mencionado, pode dar um novo rumo aos processos de ensino e de aprendizagem, pois

são um conjunto de ações e reações orientadas para modificar o estado imediato dos

acontecimentos (Zimmerman & Martínez-Pons, 1986), ou seja, que são dirigidas para

modificar formas de atuação.

No quotidiano surgem situações novas, que é preciso resolver. Isto acontece

tanto na vida pessoal, como na profissional. Porque se está envolvido nessa situação,

caberá ao indivíduo resolvê-la e daí surge a necessidade de refletir sobre os

conhecimentos e a trajetória de participação ao longo da vida que já se traçou e aquela

que se pretende vir a traçar, procurando novas formas de atuação que permitam atingir

o que se pretende. Para isso são necessários processos de autorregulação, que ajudam

a construir formas de adaptação mais ativas, criticas, reflexivas e com mais sentido

para o próprio. Na aprendizagem, por exemplo, quando os alunos estão perante uma

situação nova que lhes é exterior, mas na qual estão envolvidos, ao resolverem uma

tarefa e ao aperceberem-se de que a resposta é inadequada, estão perante uma situação

provocada pela sua própria ação. Isto pode ter acontecido pela escolha menos

adequada dos procedimentos, nomeadamente das estratégias de resolução, mas

também pode ser devido a uma interpretação menos ajustada da situação em causa,

sendo necessário compreendê-la melhor. Em ambos os casos é preciso fazer apelo a

processos de autorregulação das aprendizagens, que lhes permitam encontrar outras

estratégias de resolução, mais adequadas àquela situação particular. Nestes processos,

são particularmente relevantes as interações entre pares, nomeadamente o trabalho

colaborativo, pois este permite confrontar as diversas interpretações da situação, bem

como as várias estratégias de resolução propostas por cada um dos alunos daquele

grupo. Isto significa que, quando se trabalha colaborativamente, se tem um conjunto

de conhecimentos mais vastos que se podem mobilizar, pois englobam os

conhecimentos de cada um dos alunos, mas também um leque de interpretações e de

estratégias de resolução mais alargado e que, por isso mesmo, permite resolver um

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número de situações mais vasto. Assim, posteriormente, estes alunos terão acesso e

um conjunto maior de conhecimentos e estratégias de resolução, que aprenderam uns

com os outros e não apenas com o professor, o que parece altamente vantajoso.

Em resposta à questão da importância da autorregulação na aprendizagem,

evidencia-se a triangulação entre processos autorregulados, motivação e processos de

ensino e de aprendizagem. Numa tentativa de introduzir a originalidade das

contribuições de Vygotsky (1896-1934), em relação à noção de autorregulação,

inseparável da consciência, resumir-se-ão três opções presentes em Lacasa, Martín e

Herranz (1995). Na primeira, estas autoras identificam a consciência como um todo,

em que cada função separada se une a cada uma das outras. Assim, a consciência é

definida como «uma função de funções» (p. 77), ou seja, que organiza e estrutura as

formas de atuação. Na segunda, a consciência está relacionada com a atividade humana

e aparece como inseparável do domínio que o indivíduo procura ter sobre a natureza.

Enfatiza-se, por isso, que as crianças e jovens são capazes de alcançar

progressivamente essa mesma regulação, para estas autoras, através da interação com

um adulto, e, pelo que assumimos anteriormente, baseados noutros autores, como

César (2003, 2013a), Courela (2007) ou Oliveira (2006), também através das

interações entre pares, particularmente relevantes em contexto escolar e em cenário de

aula. Na terceira, a consciência como inseparável de um contexto sociocultural, ou

seja, símbolos, cultura e consciência, aparecem nas crianças e jovens como algo

indissociável, através de um processo de desenvolvimento que não ocorre no vazio

social.

Na perspetiva de Lacasa, Martín e Herranz (1995), as intervenções pedagógicas

são vistas como situações interativas onde participam crianças e adultos e entendidas

como atividades em que os participantes exercem responsabilidades diferentes.

Baseiam-se numa abordagem Vygotskiana, retomando conceitos como o de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP), que, segundo Vygotsky (1934/1962), é a distância

entre o desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema

sem ajuda, autonomamente, e o desenvolvimento potencial, ou seja, a gama de

possibilidades, determinada através da resolução de um problema sob a orientação de

um adulto, que atua como par mais competente. Entende-se, assim, que um dos

alicerces para uma aprendizagem adequada passa pela escolha do caminho a percorrer,

a consciencialização das capacidades de cada um, revelando-se fulcral que os

professores conheçam o nível de desenvolvimento de cada aluno.

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Outros autores (César, 2003, 2013a, 2014; César, Machado & Ventura, 2014;

Courela & César, 2012), que desenvolveram os estudos em Portugal, assumiram uma

perspetiva neoVygotskiana que corresponde a um alargamento da teoria deste autor.

Por um lado, retomam o conceito de ZDP mas, por outro, alargam a possibilidade de

atuação como par mais competente aos pares, ou seja, aos colegas de turma,

potenciando as intervenções pedagógicas. Assumem a importância central das

interações sociais nos processos de ensino e de aprendizagem e desenvolveram

práticas, em aula, baseadas no trabalho colaborativo, tendo observado resultados muito

positivos para os alunos, em geral, e para os que participam em culturas vulneráveis,

socialmente pouco valorizadas, em particular. Como os alunos desta turma

participavam neste tipo de culturas, optou-se por se seguir esta abordagem e por

selecionar como forma de trabalho o trabalho de projeto colaborativo, que se revelou

muito adaptado para conseguir um maior empenho, motivação e apropriação de

conhecimentos, em relação aos temas de urbanismo e população abordados.

Nos processos de ensino e de aprendizagem, a autorregulação das

aprendizagens, facilitada pelo trabalho colaborativo, revela-se não só útil durante o

percurso escolar, mas também, futuramente, a nível profissional e pessoal. Potencia a

mobilização de capacidades e competências, bem como o desenvolvimento de outras

novas. Isso é particularmente visível a nível do pensamento crítico e nas relações

interpessoais, nomeadamente na aceitação de argumentações diferentes. Também se

observou no que se refere à motivação intrínseca, competências sociais para trabalhar

com outros, na resolução de problemas e até uma melhoria significativa na sua

autoestima, nomeadamente enquanto aprendentes. Cumpre, por isso, saber educar

promovendo a motivação intrínseca, a autonomia e o sentido crítico, para que os alunos

assumam um papel ativo, crítico e reflexivo na procura da informação relevante e nas

suas próprias aprendizagens, tal como foi descrito na intervenção pedagógica relatada.

Se pessoas diferentes aprendem a trabalhar colaborativamente, em espaço

pedagógico, essas mesmas pessoas desenvolvem capacidades e competências que lhes

permitem interagir mais facilmente com pessoas, tanto com aquelas com as quais

concordam como com outras que pensam de forma diferente. Este aspeto reveste-se

de extrema importância, pela existência de comunidades globais que, pelo seu carácter

complexo e culturalmente diverso, requerem níveis elevados de colaboração e de

compreensão e aceitação da diferença. Portanto, atuações conscientes e críticas são

convenientes e ajustadas a uma Educação Intercultural e Inclusiva, adaptada às

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exigências da sociedade atual. Uma sociedade onde os desafios profissionais e pessoais

requerem, frequentemente, a resolução de novas situações, muitas vezes em equipa,

apelando a formas sustentadas de argumentação, mas também à capacidade de

aprender ao longo da vida, de forma autónoma, reflexiva e crítica.

O contributo da disciplina de Geografia é indiscutível para a formação e

desenvolvimento de diversos valores educativos. Repensar e inovar a disciplina,

concretiza uma alternativa que poderá conduzir a um maior envolvimento e a uma

nova consciência do espaço e do tempo, para a procura de soluções para os problemas

contemporâneos, nomeadamente de urbanismo, que foi o tema abordado nesta

intervenção pedagógica. A análise das condições do espaço urbano, feita de forma

sustentada (por exemplo, em documentos fotográficos, como aconteceu neste projeto),

o rigor das descrições, a distinção entre descrição e interpretação, entre muitos outros

aspetos, constituem-se como contributos educativos para a cidadania,

desenvolvimento pessoal, pensamento crítico e imaginação. Fazer perguntas assume-

se como uma evidência empírica da preocupação em conhecer e compreender o

mundo. Nelas está a base que permite conhecer as leis que se escondem por detrás dos

fenómenos, ou seja, o gosto por investigar.

Elaborou-se este relatório procurando realçar o que de inovador teve esta

intervenção pedagógica, bem como as potencialidades da mesma, observáveis mesmo

numa intervenção tão curta, que foi potencializada pela continuação da colaboração

do candidato a Professor no projeto de trabalho colaborativo, mesmo após a lecionação

das aulas que lhe tinham sido atribuídas. Desenvolver, com os alunos e a professora

de Geografia, um trabalho de projeto colaborativo que pretendia não só retratar os

problemas urbanísticos daquela comunidade, mas também propor uma solução para

um deles, é uma tarefa exigente, desafiante e que muito contribuiu para a formação do

candidato a Professor e dos outros participantes neste projeto. Pelo caráter de inovação

e complexidade subjacentes teve, como assinalado anteriormente, pequenos lapsos de

operacionalização, nomeadamente ao nível da gestão do tempo, em aula. Algo que,

através da discussão com outros colegas e professores, é habitual acontecer em

professores com pouca experiência de lecionação. Mas, acima de tudo, permitiu uma

experiência de ensino e aprendizagem riquíssima, como revelam as diversas

evidências empíricas apresentadas. Procurou refletir sobre alternativas educacionais,

como o trabalho de projeto colaborativo, mostrando que é possível reinventar formas

de transposição didática em concordância com as orientações prescritas nos diversos

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documentos de política educativa. Elaboraram-se recursos materiais diversos que são

fruto das reflexões e exemplos práticos de gestão das margens de autonomia e

responsabilidade para decidir relativamente ao currículo, adaptando-o às necessidades

formativas e culturais dos alunos, configurando a oferta de uma Educação mais

Inclusiva e Intercultural, adequada à diversidade de alunos que frequentam atualmente

o ensino público diurno.

É importante recordar que, ao nível dos programas oficiais, nomeadamente o

Programa de Geografia A para o ensino secundário, estão descritas as potencialidades

da disciplina, pelo contributo que presta ao desenvolvimento de capacidades e

competências, assim como à apropriação de conhecimentos, aspetos essenciais para

exercer uma cidadania ativa, crítica e que promova a sustentabilidade. Esta intenção

está explícita nos referidos documentos. Contudo, poder-se-á dizer que não é fácil

passar do discurso, das intenções, para as práticas, em aula. Entre dois planos – o do

discurso e o das práticas – está o professor, enquanto pessoa que decide como

desenvolver as práticas, em aula. Como gerir aquele grupo de alunos, se promove mais

o trabalho individual ou o colaborativo, que materiais utiliza, que formas de trabalho,

que tipo de avaliação das aprendizagens, entre tantos outros aspetos tão relevantes para

os desempenhos dos alunos. Os professores deveriam, desejavelmente, proporcionar

aos alunos experiências de aprendizagem ricas e diversificadas (César, 2013a), ou seja,

um conjunto diversificado de recursos que possibilitem a (re)construção do

conhecimento (geográfico), permitindo aos alunos atribuírem-lhes sentido.

Promovendo, além da utilização documental e da aplicação prática que os manuais

deveriam permitir, realizar atividades mais complexas e exigentes, de grande valor

educacional, tais como formular hipóteses e, com perspicácia e imaginação, preencher

as lacunas, tornando-os no núcleo da ação pedagógica dos processos de ensino e de

aprendizagem. Possibilitar aos alunos que possam constatar que a Geografia está longe

de se esgotar nos assuntos abordados pelos manuais escolares, recurso didático por

excelência, na maioria das aulas. Porém, assumindo que há um compromisso de

confiança no rigor e na qualidade dos produtos que chegam às escolas, como os

manuais escolares, mas que é preciso construir conhecimento que vá além deles, que

extravase mesmo a sala de aula, indo até à comunidade envolvente. E a Geografia é

uma disciplina onde isso é particularmente importante, como se observou nesta

intervenção pedagógica sobre temas urbanísticos, que faz muito mais sentido estudar

partindo de visitas de estudo na comunidade, que permitem identificar, in loco, os

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problemas urbanísticos existentes, documentando-os, através de fotografias feitas

pelos próprios alunos.

Evidenciou-se que o ensino e a aprendizagem da Geografia se deve demarcar

de uma colagem enciclopédica dos saberes académicos. Com isso, acredita-se que os

alunos serão, gradualmente, mais capazes de organizar discursos sustentados em

evidências empíricas e teóricas sobre o espaço que os rodeia e que assume

caraterísticas particulares num determinado tempo. Neste sentido, não só as práticas

se desejam reflexivas, mas também se favorece a utilização consciente e crítica dos

recurso didáticos, nomeadamente, os que, por excelência, são habitualmente

considerados – manuais escolares, fichas e testes – e que configuram dimensões a não

desprezar, mas a complementar, com outras.

Por tudo o que foi dito, propõem-se estudos baseados na investigação-ação que,

provavelmente, permitem diminuir o fosso entre as instituições de ensino universitário

e as instituições de ensino básico e secundário. Evidente será, também, as vantagens

que esta intervenção pedagógica mostrou existir para os alunos, nomeadamente através

da participação no projeto Nós Propomos, traduzidas na possibilidade que conferiram

sobre o pensar geograficamente, na medida em que estimula a descodificar a

mensagem, muitas vezes subentendida, proporcionando, cumulativamente, o

desenvolvimento de competências de observação, análise e interpretação. Acredita-se

que a procura da complementaridade de recursos utilizados e de processos de trabalho,

em aula e em tempos extracurriculares, promove uma prática docente mais reflexiva e

sustentada, empírica e teoricamente, que contribui para uma aprendizagem libertadora

e emancipatória, tal como referem Courela e César (2012).

Entendeu-se que a avaliação é uma confirmação do progresso que é realizado,

um juízo sobre os ganhos individuais e em equipa. Ainda que se fale em julgamento,

ao julgar deve-se educar, ou seja, promover uma avaliação formativa e não apenas

sumativa. A avaliação, no ensino público diurno, em Portugal, é obrigatória e expressa

em escalas determinadas por entidades externas. Porém, cabe ao professor decidir

como a operacionaliza, baseada em que instrumentos a realiza. Sem dúvida que

constitui um desafio, cujas soluções serão possíveis de encontrar, provavelmente, não

nos regulamentos e normativos, mas no âmbito da discussão e reflexão pedagógica

entre pares. Necessita, por isso mesmo, de ser experimentada, com larga abertura de

crítica e de inovação, num caminho que busque substituir a falta de sentido das

classificações numéricas, superando, desejavelmente, o despotismo que nestas pode

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existir e que, tantas vezes, corta trajetórias de participação ao longo da vida que

poderiam ter sido mais ambiciosas.

O que se aprendeu permitiu perceber que é urgente repensar os sistemas de

ensino, o funcionamento das organizações educativas, as estratégias e os objetivos dos

processos de ensino e de aprendizagem. Ao desejar que os candidatos a professores,

ocupem um lugar de charneira na formação de cidadãos responsáveis, é imperativo

libertar o espírito crítico da pobreza, do hermetismo das práticas, ultrapassando

convenções desajustadas às realidades e contextos escolares vários, promovendo a

interdisciplinaridade e a capacidade de pensar de forma holística, não só a Geografia

e a História, mas o universo de contributos escolares. Os conteúdos científicos, em

História e em Geografia, procuram, desejavelmente, romper com a noção de tempo e

espaço homogéneos, preferindo estudos mais finos de tendências, uma análise de

formas de atuação coletivas. Neste sentido, caberá aos futuros professores formados

em Ensino da História e da Geografia esta responsabilidade, preferindo uma prática

profissional reflexiva e crítica, que mostre o saber fazer e como fazer mas, também,

que saiba porque o faz, priorizando o para quem se faz.

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ANEXOS

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Anexo 1

Escola Secundária da Baixa da Banheira Ano letivo 2014/15

(RE)DESCOBRIR E INTERVIR NO V.A. Recordas-te da nossa visita pelo Vale da Amoreia? É tempo de voltar a olhar para algumas ruas.

Desta vez serás tu a decidir qual o caminho a percorrer.

Instruções

1. Percorre a localidade individualmente ou com alguém;

2. Fotografa o que para ti são problemas urbanos (podes tirar o número de fotografias que

quiseres);

3. Seleciona nove fotografias, três para cada um dos três problemas urbanos que achaste mais

importantes;

4. Designa o primeiro conjunto de fotografias por “A1; A2 e A3”, o segundo por “B1; B2 e B3”, e o

terceiro por “C1; C2 e C3”;

5. Explica cada uma das tuas escolhas quanto aos três problemas urbanos mais importantes;

6. Faz uma lista dos outros problemas urbanos que fotografaste e não selecionaste;

7. Envia as tuas fotografias, justificações e lista para o e-mail do professor, com a tua

identificação.

8. Bom trabalho e diverte-te como fotógraf@!!!

Atenção, tens até ao dia 15 de janeiro para fazeres esta atividade!

Estou a contar contigo!

O meu endereço eletrónico é [email protected]

Obrigado

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Anexo 2

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Anexo 3

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Anexo 4

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Anexo 5

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Anexo 6

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Anexo 7

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Anexo 8

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Anexo 9

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Anexo 10

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Anexo 11

Escola Secundária da Baixa da Banheira – Ano letivo 2014/15

Capicua e Mistah Isaac – Casa no Campo

Eu quero uma casa no campo como Elis Regina,

Plantar os discos e os livros, E quem sabe uma menina,

Por mim até podem ser mais, Um amor como os meus pais,

Os dias como os demais, Sem serem todos iguais.

Casa no campo com a porta sempre aberta para deixar entrar amigos,

Partir à descoberta, Ter a minha cama grande a colcha predileta e um cão desobediente em cima da coberta.

Eu quero uma casa completa Com um pedaço de terra,

E com o espaço quero o tempo adormecer na relva, Longe da selva de cimento,

Eu acrescento que quero cultivar mais do que mero conhecimento, Quero uma horta do outro lado da porta e quero a sorte de estar pronta quando a morte me colher,

Quero uma porta do outro lado da morte, Ter porte de mulher forte quando a vida me escolher. Quero uma casa no campo que cheire a flores e frutos,

A gomas e sugus, A doces e sumos,

Cozinhar para quem quer comer, Comer como sei viver,

Com apetite já disse que não quero emagrecer. Comer de colher de sopa,

Fazer pão, Estender a roupa,

Faço pouco das bocas que me dizem para crescer, Eu quero rasgar janelas nas paredes cujas pedras

Carregar com as mãos que uso para escrever. Casa no campo com lareira e fogo brando,

Que ilumina todo o ano, O sorriso de quem amo,

Quero uma casa no campo que pode ser na cidade, Mas tem de ser de verdade, Mesmo não tendo morada…

Onde é que aprendeste o que é o infinito?

Foi na contracapa de um livro da Anita Diz-me qual é o teu perfume favorito? Pão quente, terra molhada e manjerico

Anda viver comigo

Colamos o nosso umbigo E não passaremos frio

No nosso lugar distante

Como um filho, como um disco, como um livro, uma ave.

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Anexo 12

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Anexo 13

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Anexo 14

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Anexo 15

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Anexo 16

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Anexo 17

Escola Secundária da Baixa da Banheira – Ano letivo 2014/15

Lista de problemas urbanos no Vale da Amoreira

Problemas identificados com registo fotográficos:

Prédios com fachadas degradadas (portas e janelas danificadas);

Degradação das áreas residenciais, construção clandestina e sobrelotação dos

espaços;

Inviabilização do projeto que previa a construção de um posto da PSP;

Espaços comerciais devolutos;

Pouca visibilidade de instituições de entretenimento/lazer;

Desiguais manutenções no parque habitacional;

Existência de habitação precária;

Poucos parques infantis nos espaços públicos;

As paragens dos autocarros têm poucas condições;

Poucas carreiras disponibilizadas;

Inexistência de uma paragem de autocarro junto ao portão da escola;

Poucas praças de táxis disponível na localidade;

Poluição dos solos e das águas.

Problemas identificados sem registo fotográficos:

Pavimentos degradados;

Desaproveitamento de espaços verdes;

Poluição sonora;

Impermeabilização dos solos;

Pobreza e exclusão social;

Envelhecimento demográficos;

Insegurança e criminalidade.