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2 Porto Cidade Região Competitividade das Cidades e Regiões 5 Competitividade das Cidades e Regiões Mário Rui Silva 8 Os Desafios da Competitividade do Porto Cidade/Região Mário Rui Silva Inovação, Competitividade e Promoção de “Clusters” Intensivos em Tecnologia 15 As Empresas como Centro de Criação de Riqueza numa Sociedade Moderna Emídio Ferreira S. Gomes 20 Estratégias e Acções para a Competitividade José Epifânio da Franca 24 Inovação, Competitividade e Promoção de “Clusters” Intensivos em Tecnologia Luís Portela Qualificação e Competitividade 29 Qualificação e Competitividade Aurora Teixeira 38 O Porto e a Região Norte como Pólos de Atractividade e Competitividade – o Papel da Universidade do Porto no Processo Ana Teresa Tavares 44 Qualificação: Condição Necessária e Suficiente para a Competitividade? José Manuel Mendonça Infra‑estruturas, Redes e Competitividade 53 Infra‑estruturas, Redes e Competitividade Paulo Pinho 58 The European Spatial Development Perspective Andreas Faludi 64 Infra‑estruturas e Redes como Factores de Competitividade Regional José M. Viegas universidade do porto Ficha técnica Director José Novais Barbosa, Reitor da Universidade do Porto Prof. Doutor Eduardo de Oliveira Coordenação Editorial e Redacção Maria Isabel Pacheco (coordenadora) Paulo Gusmão Guedes (coordenador adjunto) Conselho editorial Alexandre Alves Costa (FAUP), Alexandre Quintanilha (ICBAS), Arnaldo Saraiva (FLUP), Cândido da Agra (FDUP) Jorge Olímpio Bento (FCDEF), José Paiva (FBAUP), Manuel Sobrinho Simões (FMUP), Paulo Tavares de Castro (FEUP), Pedro Guedes de Oliveira (FEUP) Pedro Teixeira (FEP), Teresa Andresen (FCUP). Arranjo Gráfico Incomun Os ícones utilizados são de Rui Mendonça Publicação periódica n.º 38 . Ano XII, 1 | Outubro 2005 Propriedade Fundação Gomes Teixeira Redacção Rua D. Manuel II 4050‑345 Porto Telf. 22 6073565 Telefax 22 6098736 E‑mail [email protected] Registo na D.G.C.S.: 114891 Depósito legal: 41283/90 ISSN: 0871‑7249 Tiragem: 3.500 exemplares Preço por número: 3 euros Execução gráfica Edições Afrontamento, Ld.ª R. Costa Cabral, 859 . 4200 Porto É proibida a reprodução de artigos, gráficos ou fotografias sem a autorização escrita do Director. editorial | sessão 1 | sessão 2 | sessão 3 | sessão 4 |

universidade do porto - sigarra.up.pt petitividade da UE face aos EUA e de a UE se tornar, em 2010, a economia ... outras cidades e regiões, ... outras requererão uma escala regional

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2 Porto Cidade Região

Competitividade das Cidades e Regiões

5 Competitividade das Cidades e RegiõesMário Rui Silva

8 Os Desafios da Competitividade do Porto Cidade/RegiãoMário Rui Silva

Inovação, Competitividade e Promoção de “Clusters” Intensivos em Tecnologia

15 As Empresas como Centro de Criação de Riqueza numa Sociedade ModernaEmídio Ferreira S. Gomes

20 Estratégias e Acções para a CompetitividadeJosé Epifânio da Franca

24 Inovação, Competitividade e Promoção de “Clusters” Intensivos em TecnologiaLuís Portela

Qualificação e Competitividade

29 Qualificação e CompetitividadeAurora Teixeira

38 O Porto e a Região Norte como Pólos de Atractividade e Competitividade – o Papel da Universidade do Porto no ProcessoAna Teresa Tavares

44 Qualificação: Condição Necessária e Suficiente para a Competitividade?José Manuel Mendonça

Infra‑estruturas, Redes e Competitividade

53 Infra‑estruturas, Redes e CompetitividadePaulo Pinho

58 The European Spatial Development PerspectiveAndreas Faludi

64 Infra‑estruturas e Redes como Factores de Competitividade RegionalJosé M. Viegas

universidade do porto

Ficha técnica

DirectorJosé Novais Barbosa, Reitor da Universidade do PortoProf. Doutor Eduardo de Oliveira

Coordenação Editorial e RedacçãoMaria Isabel Pacheco (coordenadora)Paulo Gusmão Guedes (coordenador adjunto)

Conselho editorialAlexandre Alves Costa (FAUP),Alexandre Quintanilha (ICBAS),Arnaldo Saraiva (FLUP),Cândido da Agra (FDUP)Jorge Olímpio Bento (FCDEF),José Paiva (FBAUP),Manuel Sobrinho Simões (FMUP),Paulo Tavares de Castro (FEUP),Pedro Guedes de Oliveira (FEUP)Pedro Teixeira (FEP),Teresa Andresen (FCUP).

Arranjo GráficoIncomunOs ícones utilizados são de Rui Mendonça

Publicação periódican.º 38 . Ano XII, 1 | Outubro 2005

Propriedade Fundação Gomes Teixeira

RedacçãoRua D. Manuel II 4050‑345 PortoTelf. 22 6073565Telefax 22 6098736E‑mail [email protected]

Registo na D.G.C.S.: 114891Depósito legal: 41283/90ISSN: 0871‑7249Tiragem: 3.500 exemplares

Preço por número: 3 euros

Execução gráficaEdições Afrontamento, Ld.ªR. Costa Cabral, 859 . 4200 Porto

É proibida a reprodução de artigos, gráficos ou fotografias sem a autorização escrita do Director.

editorial |

sessão 1 |

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sessão 4 |

A Universidade do Porto organizou o seu “Segundo Encontro de Reflexão Prospectiva PORTO CIDADE

REGIÃO”, desta vez subordinado ao tema geral “Estratégias e Acções para a Competitividade”. Foi adoptado

para o evento um formato que englobou quatro sessões parcelares – cada uma delas restrita a cerca de três

dezenas de participantes convidados – que se pretenderam preparatórias de uma sessão final, aberta e alar‑

gada ao maior número possível de interessados num tema considerado da maior importância para a Univer‑

sidade, para a Região e para o País. No intuito de se alcançar uma maior produtividade, foram designados,

para cada sessão, um coordenador e moderador e dois palestrantes, que apresentaram comunicações com o

objectivo de fomentarem e enquadrarem o posterior debate.

A primeira sessão realizou‑se em 4 de Maio de 2005, versou a “Competitividade das Cidades e das Regiões”,

e foi coordenada e moderada pelo Prof. Doutor Mário Rui Silva, que também apresentou uma comunicação

intitulada “Os Desafios da Competitividade do Porto Cidade Região”, secundada por uma segunda comunica‑

ção do Eng.º José Félix Ribeiro.

Uma semana depois, o tópico desenvolvido foi “Inovação, Competitividade e Promoção de ‘Clusters’ Inten‑

sivos em Tecnologias”, moderado pelo Prof. Doutor Emídio Gomes, tendo contado com as intervenções do

Prof. Doutor José Epifânio da Franca – “Estratégias e Acções para a Competitividade” – e do Dr. Luís Portela,

que atribuiu à sua comunicação o mesmo título da sessão.

Seguiu‑se, em 18 de Maio, a sessão relativa a “Qualificação e Competitividade”, coordenada e moderada

pela Prof. Doutora Aurora Teixeira. Intervieram como palestrantes a Prof. Doutora Ana Teresa Tavares – “O

Porto e a Região Norte como Pólos de Atractividade e Competitividade – o Papel da Universidade do Porto no

Processo” – e o Prof. Doutor José Manuel Mendonça – “Qualificação: Condição Necessária e Suficiente para

a Competitividade?”.

O ciclo de encontros parcelares ficou encerrado em 25 de Maio de 2005, com o desenvolvimento do

tema “Infra‑estruturas, Redes e Competitividade”, com comunicações do Prof. Doutor Andreas Faludi – “The

European Spatial Development Perspective” – e do Prof. Doutor José M. Viegas – “Infra‑estruturas e Redes

como Factores de Competitividade Regional” –, tendo sido moderado pelo Prof. Doutor Paulo Pinho.

Porto Cidade Região

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� | editorial

O presente número do Boletim da Universidade do Porto é, então, composto pelo conjunto de textos das

comunicações e pelos comentários‑síntese dos moderadores das sessões, vindo a lume antes da realização da

sessão plenária, agendada para o dia 27 de Outubro de 2005, por se pretender que constitua um documento

de consulta e de integração dos participantes na sessão nos aspectos gerais e particularidades mais relevantes

do tema genérico a debater e dos tópicos de carácter mais específico que foram considerados.

A qualidade dos textos apresentados justifica que tenhamos o gosto de os divulgar por este meio, com o

agradecimento que é devido aos seus autores pela disponibilização de tão importantes conjuntos de elemen‑

tos e reflexões e também pela amável colaboração que quiseram prestar à iniciativa “Porto Cidade Região”.

Espera‑se que esta iniciativa constitua, de facto, uma contribuição de sucesso da Universidade do Porto no

esforço para tornar mais competitivos o Porto e a sua Região.

Numa conjuntura em que a região Norte tem sentido os efeitos de uma inadequação da sua estrutu‑

ra produtiva – constituída predominantemente por indústrias manufactureiras pouco evoluídas em termos

tecnológicos – aos desafios da nova sociedade globalizada da informação e do conhecimento, inserida num

País de práticas extremamente centralizadoras que agravam esta situação quando são procuradas estratégias

de continuar a canalizar – indevidamente, pois ao seu acesso não tem direito – fundos comunitários para a

Região que mais proximamente alberga os detentores do poder, será com recurso aos seus próprios meios

que o espaço territorial Porto/Cidade/Região terá de encontrar forma de se tornar competitivo numa Europa

Comunitária cada vez mais exigente para, ela própria, se revelar competitiva na economia mundial. Espera‑

se, pois, que este contributo da Universidade do Porto venha a frutificar e a contribuir para dinamizar um

tecido empresarial e, acima de tudo, uma sociedade envolvente que, essencialmente através de uma cultura

de inovação tecnológica, se modernize e valorize de modo a tornar‑se de novo reconhecida pela sua compe‑

titividade no mercado internacional.

Outubro de 2005

José Novais Barbosa

Sessão 1Competitividade das Cidades e Regiões

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A relevância do tema ...A inclusão explícita do tema da competitividade na agenda dos governos tem conhecido uma assinalável

expansão desde os anos 90. Desde essa altura, a Comissão Europeia criou o European Council of Competiti‑veness e, mais recentemente, a chamada Estratégia de Lisboa afirma os objectivos de reduzir o hiato de com‑petitividade da UE face aos EUA e de a UE se tornar, em 2010, a economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo. Ao mesmo tempo, verificamos uma tendência que vem apontando para o “ressurgimento” das regiões e das cidades como espaços‑chave para a organização e a governância da criação de riqueza e dos factores‑chave da competitividade. Assim sendo, o tema da competitividade das cidades e das regiões tem a maior das relevâncias, quer em termos genéricos quer quando aplicado ao Porto e Região envolvente, já que neste caso os desafios da competitividade compaginam‑se com uma necessária, mas não garantida, dinâmica de convergência face aos níveis de desenvolvimento e bem‑estar da UE.

A competitividade das cidades e regiões pode ser entendida como a capacidade destas competirem com outras cidades e regiões, atraindo e mantendo firmas com quotas estáveis ou crescentes nos mercados glo‑bais, sendo ainda necessário que este processo conduza a um aumento sustentado dos níveis de bem‑estar. No entanto, estes objectivos de longo prazo podem conflituar com objectivos de curto prazo (p. ex., a rees‑truturação de sectores tradicionais pode gerar níveis elevados de desemprego). Qual será então a estratégia adequada?

Por outro lado, as cidades e regiões não são nem meras agregações de firmas aí localizadas, nem nações ou países a uma menor escala. Assim sendo, a escala de referência para as intervenções públicas suscita questões complexas. Algumas dimensões da promoção dos factores de competitividade serão fortemente localizadas ou locais, outras requererão uma escala regional mais alargada e outras, ainda, serão nacionais ou mesmo supranacionais. Como definir então o quadro institucional mais adequado?

Finalmente, a short list dos factores de competitividade é relativamente consensual: qualificações e com‑petências dos recursos humanos, escala e qualidade das infra‑estruturas públicas, centros de conhecimento e agentes inovadores, redes sociais e institucionais densas e conectadas e activos culturais abundantes e de qualidade serão os elementos centrais geradores de externalidades regionais que suportarão os ganhos de eficiência e a competitividade das firmas que operam nos mercados globais e que tornarão a cidade e a região cada vez mais atractivas para firmas e pessoas qualificadas. Mas, face aos desafios de competitividade de uma região em concreto, quais serão no momento presente as prioridades? Onde se situarão os principais estrangulamentos? Como aumentar a eficácia e a eficiência das intervenções? O que pode ser assumido e realizado por instituições regionais relevantes?

... E o apelo à inteligência colectivaFoi para discutir estas questões, tomando como referência de análise e de intervenção a entidade terri‑

torial que designamos por Porto Cidade Região, que se reuniram nesta sessão um conjunto de especialistas, englobando‑se nesse conjunto empresários dos sectores da indústria e dos serviços, autarcas e técnicos liga‑dos à administração autárquica, quadros superiores da administração central e universitários de diversas áreas disciplinares. Aliás, a pertinência do exercício e o espectro de participantes decorreram de duas premissas: a

Competitividade das Cidades e RegiõesMário Rui Silva*

6 | painel

primeira é a que considera que os desafios da com‑petitividade, sendo – em última análise – desafios para as empresas e para as suas decisões, não dispen‑sam a formulação de estratégias mais globais capazes de inspirar quer a formatação das políticas públicas, quer as decisões empresariais; a segunda premissa tem a ver com a ideia de que a antecipação estratégi‑ca necessária ao relançar da competitividade decor‑rerá – tal como mostram os casos actuais de sucesso de países e regiões inovadores – mais de um processo de inteligência colectiva e não tanto de um exercício de planeamento centralizado e hierárquico.

Com base em intervenções iniciais de José Fé‑lix Ribeiro (Departamento de Prospectiva e Plane‑amento) e de Mário Rui Silva (Faculdade de Eco‑nomia da Universidade do Porto), o debate permitiu constatar consensos sobre o diagnóstico e formular ideias sobre a(s) estratégia(s) para a competitividade do Porto Cidade Região.

Diagnóstico: o essencialAs evoluções recentes constatadas ao nível da

economia mundial não podem deixar de ser o qua‑dro de referência para avaliar a posição competitiva, quer de Portugal quer das suas regiões e, no caso em análise, da região do Norte. Dessas evoluções, dois factos emergem:. Os países e, sobretudo, as regiões mais inovadoras caracterizam‑se por níveis elevados de qualificação da mão‑de‑obra, índices mais elevados do peso do emprego tecnológico no emprego total e indi‑cadores de “outputs” tecnológicos (nomeadamen‑te os relativos ao registo de patentes) igualmente elevados;

. A globalização acelerou a penetração nos mercados mundiais de sucessivas vagas de países emergen‑tes, ainda que com lógicas diversificadas: compe‑titividade em actividades trabalho‑intensivas e as‑sente em baixos salários (p. ex., Paquistão, Turquia, etc.), competitividade assente em indústrias inten‑sivas em recursos naturais (p. ex., Brasil), compe‑titividade assente nas decisões de deslocalização das firmas transnacionais (p. ex., países da Europa Central).

Perante estas evoluções, quer Portugal como um todo quer a região do Norte apresentam economias “cercadas”, pelo facto de as actividades de bens tran‑saccionáveis de especialização tradicional se situa‑rem em sectores e segmentos muito afectados pela

entrada de países emergentes nos mercados globais. Ao mesmo tempo, e não obstante alguns investi‑mentos pontuais bem sucedidos, quer a economia portuguesa quer a economia da região não consegui‑ram consolidar “clusters” de actividades inovadoras baseadas no conhecimento.

Significativamente, muitos dos principais grupos económicos privados reorientaram, nos últimos anos, as suas actividades para a produção de bens e servi‑ços não transaccionáveis, tendo até ensaiado com algum grau de sucesso estratégias de internaciona‑lização nestes domínios (p. ex., redes de distribuição ou de telecomunicações no Brasil). No entanto, a possibilidade de economias abertas com a dimensão da economia portuguesa ou da economia do Norte poderem convergir com os níveis de bem‑estar dos países mais avançados passará, necessariamente, pe‑las actividades de bens transaccionáveis que forem capazes de desenvolver.

Romper o cerco: ideias gerais e aspectos par‑celares

No caso da região do Norte, o relançar da com‑petitividade das actividades de bens transaccionáveis internacionalmente deve passar obrigatoriamente por duas vertentes:. Requalificação dos “clusters” de especialização tradicional, melhorando a sua capacidade inova‑dora e reorientando os recursos para os segmentos quer a montante quer a jusante da cadeia de valor (a montante: tecnologia do produto e da produ‑ção; a jusante: redes de distribuição e marketing internacionais);

. Criação e consolidação de novos “clusters”, assen‑tes na valorização do conhecimento, combinan‑do várias fontes de iniciativa empresarial (réplica de casos de sucesso existentes, atracção de IDE – Investimento Directo Estrangeiro, “start‑ups” tecnológicos).

Detalhando esta ideia geral, vários aspectos po‑dem ser salientados, sendo de destacar a relevância atribuída à Universidade na concretização de muitos deles:. No actual quadro das actividades económicas mundiais, a criação e consolidação de novos “clus‑ters” de actividades intensivas em tecnologia tem a ver com actividades organizadas em torno de um conjunto de saberes e competências que as univer‑sidades não podem deixar de considerar: ciências

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da computação e tecnologias da informação; enge‑nharia electrónica e de telecomunicações; biotec‑nologia orientada para a saúde; engenharia biomé‑dica; engenharia do entretenimento; artes e design; comércio e investimento internacionais.

. Qualquer estratégia consequente visando a con‑solidação de “clusters” nessas actividades dificil‑mente dispensará a capacidade para atrair IDE, procurando‑se activamente a instalação na região de firmas multinacionais “âncora”, capazes quer de arrastar outro IDE quer de induzir “start‑ups” tec‑nológicos locais;

. A promoção de “start‑ups” tecnológicos locais ca‑rece de uma escala de intervenção mais ambiciosa do que a verificada no passado e de um maior en‑volvimento das universidades. As recentes iniciati‑vas no âmbito da NORTINOV (Programa Regional de Acções Inovadoras do Norte de Portugal) e da COTEC apontam um modelo a seguir. Em parti‑cular, é necessário desenvolver instrumentos mais adequados ao financiamento desses “start‑ups”, ex‑pandindo a oferta quer de capital‑semente quer de serviços de apoio à gestão. A integração entre estes instrumentos de apoio ao empreendedorismo ino‑vador e as competências geradas nas universidades é crucial;

. É fundamental que a filosofia das políticas públi‑cas (e, nomeadamente, a concepção das interven‑ções para o próximo período de programação da UE) permita a articulação de políticas nacionais com políticas regionais para a competitividade. Por exemplo, o elevado acesso que a região do Norte

teve à acção NITEC (criação de núcleos de I&D nas empresas, no âmbito do PRIME – Programa de Incentivo à Modernização da Economia), mostra que as políticas nacionais podem contribuir para um sistema regional de inovação;

. Mais complexa parece ser a ultrapassagem da si‑tuação de ausência de governância que caracte‑riza a região. A este nível, os consensos parecem resumir‑se à constatação da grande fragmentação institucional existente, ao papel incontornável que a Área Metropolitana do Porto tenderá a ter e à ne‑cessidade de a Universidade do Porto assumir um protagonismo mais activo na região;

. Finalmente, e focando o papel específico da Uni‑versidade do Porto, os desafios e objectivos que esta instituição deverá incluir na sua agenda, para além da sua actividade corrente nos domínios do ensino superior e da investigação científica, passam por: (i) ser ela própria um modelo de governância com capacidade de antecipação estratégica; (ii) identificar as áreas de investigação de excelência e definir prioridades tendo em conta o balanço entre, por um lado, recursos e competências e, por outro lado, as oportunidades de valorização social, co‑mercial e empresarial dos “outputs”; (iii) participar activamente em acções estruturadas de promoção de “start‑ups” tecnológicos, assumindo mesmo uma posição de liderança em parcerias com instituições bancárias, agências públicas e outras organizações envolvidas; (iv) influenciar a filosofia das interven‑ções que serão desenhadas para o novo período de programação das políticas comunitárias.

* Coordenador da sessão.O autor é Professor Associado da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, responsável pela Secção de Crescimento, Desenvolvimento e Economia Regional do Grupo de Economia.

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A competitividadePor competitividade entende‑se a capacidade de

unidades económicas simples (empresas) ou com‑plexas (sectores, territórios, países) manterem ou aumentarem de forma sustentada as suas quotas, em valor, nos mercados globais. Assim, a competi‑tividade das cidades e regiões pode ser entendida como a capacidade destas competirem com outras cidades e regiões, mantendo e atraíndo firmas com quotas estáveis ou crescentes nos mercados globais. Para que a competitividade seja sustentável é ainda necessário que este processo seja compatível com as expectativas dos cidadãos em termos de aumento do bem‑estar, englobando‑se nesta última noção um conjunto de dimensões que inclui, entre outras, o aumento dos níveis de rendimento, a redução das desigualdades e a igualdade de oportunidades e a sustentabilidade ambiental.

A análise da competitividade – dos seus factores e dos seus desafios – remete assim, antes de mais, para as actividades que produzem bens transaccioná‑veis internacionalmente. Mas a competitividade das cidades e regiões, tal como a das nações, resulta de um conjunto sistémico de factores que permitem ou potenciam a competitividade das firmas dos sectores de bens transaccionáveis internacionalmente. Esses factores incluem não apenas as condições existentes nos mercados de factores produtivos mas também a adequada provisão de bens e serviços públicos, bem como a oferta e qualidade de recursos empresariais e institucionais, quer individualmente considerados quer contextualmente organizados através de redes re‑lacionais. Num contexto externo, marcado pelo apro‑fundamento da globalização, a capacidade efectiva de presença das firmas e das instituições nos mercados globais e nas redes globais constitui um outro vector particularmente relevante da competitividade, impli‑cando uma estratégia activa de internacionalização.

O esquema seguinte sintetiza os traços essen‑ciais desta visão sistémica da competitividade. Nele identificamos cinco “espaços” ou “domínios” de in‑tervenção dos agentes económicos e sociais e que, em maior ou menor grau, são também espaços de intervenção para a política económica:

A) As firmas que estão directamente implicadas na produção de bens transaccionáveis e, assim sendo, sujeitas à concorrência nos mercados globais. Elas constituem o “espaço” em que, sob a pressão con‑correncial, se procura melhorar a organização (gerir melhor as rotinas) e inovar (substituir rotinas).

B) O domínio ou espaço onde se definem as condições da economia em matéria de factores que podem ser objecto de acumulação, sendo os mais relevantes a acumulação de capital físico para uso directamente produtivo (equipamentos), a acumu‑lação de capital humano e a acumulação de conhe‑cimento. Este domínio corresponde aos factores de eficiência e de competitividade que foram sen‑do sucessivamente considerados, quer na teoria do crescimento económico (p. ex., Solow, 1956; Lucas, 1988; Romer, 1990) quer nas teorias factorial ou neo‑factorial do comércio internacional;

C) O domínio da provisão de bens tipicamente públicos, correspondendo não apenas ao conceito tradicional de infra‑estruturas colectivas mas en‑globando, ainda, bens públicos relacionados com o assegurar de direitos de propriedade (justiça, segu‑rança, etc.). Este domínio corresponde à interven‑ção mais convencional do Estado. O relevo de uma adequada provisão de bens públicos como factor de eficiência e de competitividade tem sido enfatizado quer em termos de externalidades geradas pelo in‑vestimento público (p. ex., Aschauer, 1989) quer em termos de condições institucionais e políticas favo‑ráveis ao investimento (Barro, 1991) quer, ainda, de forma global (Krugman, 1991).

Os Desafios da Competitividade do Porto Cidade/RegiãoMário Rui Silva

9 | painel

D) O domínio da eficiência empresarial colecti‑va, o qual permite às firmas inseridas em “clusters” beneficiarem de externalidades positivas, quer pela via da especialização, do acesso a serviços mais es‑pecializados e da redução de custos de transacção (eficiência estática), quer pela via da redução da in‑certeza e do favorecimento de uma rápida difusão de práticas inovadoras (eficiência dinâmica). Esta lógi‑ca de inserção das firmas em “clusters” ocupa nos sistemas modernos de promoção da competitividade um papel relevante, sendo aceite que os “clusters” não surgem apenas de uma aglomeração espontânea de firmas com interesses produtivos convergentes, mas são significativamente reforçados por uma in‑tervenção de agentes públicos e semi‑públicos (go‑vernos locais, associações empresariais sectoriais e locais, nomeadamente). As análises na linha dos contributos pioneiros de Porter (1990; 1998) sobre os “clusters”, ou de Becattini (1979) sobre os “distri‑tos industriais” enfatizam estes aspectos.

E) O domínio da intervenção directa nos mer‑cados globais, englobando funções a jusante da pro‑dução (prospecção, marketing, distribuição, logísti‑ca de exportação e de venda), o qual corresponde a um elemento crítico da competitividade no actual contexto da globalização, já que da maior ou menor capacidade de uma firma ou de um país no controle

destas funções resultam diferenças significativas na partilha internacional dos ganhos de produtividade. Este aspecto, ainda mal integrado na teoria econó‑mica, tem tido um relevo crescente na literatura so‑bre gestão estratégica e marketing (figura 1).

Porto cidade/região: a (fraca) dinâmica re‑cente

Desde meados da década anterior vêm‑se acu‑mulando indícios de perda de competitividade do Porto e da região envolvente. Embora essa tendên‑cia não seja dissociável do fraco comportamento da economia portuguesa como um todo, a perda de competitividade da região em análise é seguramente mais visível e, provavelmente, mais acentuada por comparação com as tendências nacionais. A sua maior visibilidade traduz‑se significativamente no facto de, em escassos dez anos, a região Norte ter passado de uma situação das mais favoráveis para uma das mais desfavoráveis, no contexto nacional, em termos de taxa de desemprego. O carácter mais acentuado desta perda de competitividade decorre do facto do emprego e da economia do Porto e da região envolvente estarem, à partida, mais centrados em sectores expostos à concorrência internacional e, em particular, daqueles em que maior tem sido o impacto da entrada de novos “players” nos mercados

Fact

ores

Pri

már

ios M

ercados Globais

Poder de Mercado, Presençae Capacidade de Antecipação:. Diferenciação. Marketing. Distribuição. Logística Ext.

4

Eficiência Empresarial Colectiva

Reforço das Sinergias e da Lógica de“Cluster”:. Economias de Proximidade. Serviços Avançados. Redução da Incerteza. Difusão de Conhecimento

Melhoria da Provisão de Bens Públicos:. Aumento do Investimento Público. Ganhos de Eficiência. Qualidade das Instituições. Normas, Direitos de Propriedade

Infra‑estruturas Públicas�

Condições dos Factores:. Trabalho. Equipamentos. Capital humano. Conhecimento

1

FirmasBens Transaccionáveis. Organização. Inovação

Figura 1 – Competitividade – visão sistémica

10 | painel

globais. Sintetizando os aspectos mais relevantes e mais problemáticos da evolução recente teremos:. A região continua a apresentar, ao nível dos sectores de bens transaccionáveis, uma estrutura marcada por “clusters” industriais em sectores ditos tradicio‑nais, nos quais globalmente o acesso à tecnologia é relativamente fácil e, nessa medida, os mercados globais são fortemente concorrenciais e a competi‑tividade é fortemente influenciada pelos custos sa‑lariais. Os exemplos típicos deste tipo de “clusters” na região são bem conhecidos: têxtil e vestuário no Ave e no Cávado, calçado no Entre‑Douro‑e‑Vouga (S. J. Madeira) e no Tâmega (Felgueiras), madeira e mobiliário no Tâmega (Vale do Sousa), transfor‑mação da cortiça no Entre‑Douro‑e‑Vouga (Feira);

. Embora com matizes diversos, este tipo de “clus‑ters”, nos quais se verifica um predomínio de micro e pequenas empresas, sem escala para actuar nos mercados globais, mantém uma situação de depen‑dência da subcontratação internacional e das deci‑sões externas de deslocalização, tendo sido clara‑mente insuficiente a sua capacidade de resposta à drástica alteração que se tem vindo a verificar nas con‑dições de acesso das firmas aos mercados, ganhando as funções de distribuição, logística e marketing inter‑nacionais um relevo crescente na cadeia de valor e na definição do poder de mercado das firmas;

. Apesar da Área Metropolitana do Porto apresentar uma estrutura económica mais diversificada, na qual ganham relevo as actividades terciárias asso‑ciadas à internacionalização e à competitividade, as evoluções constatadas na última década mostram um comportamento desfavorável em termos de cria‑ção de emprego, sendo mesmo o Grande Porto uma das áreas do país que verifica um maior aumento da taxa de desemprego. Na realidade, como pudemos analisar em detalhe (Costa, Delgado e Silva, 2005), o terciário do Grande Porto tem estado sujeito a um efeito de tenaz, decorrente, por um lado, de uma maior desconcentração regional de actividades ter‑ciárias (nomeadamente nos serviços de natureza so‑cial) que favorece os principais centros urbanos dos territórios circundantes e, por outro lado, por uma deslocalização para a Grande Lisboa de actividades terciárias avançadas de natureza económica. Ou seja, o Grande Porto está confrontado com a neces‑sidade de requalificar as actividades terciárias aí se‑diadas, sem prejuízo de continuar a atrair e manter actividades industriais relativamente diversificadas.

. Apesar do esforço nacional, ao qual a região não es‑

capou, de um crescimento sustentado da despesa pública no Sistema de Ciência e Tecnologia, as ac‑tividades de investigação e desenvolvimento na re‑gião permanecem centradas nas universidades e na I&D não orientada para a valorização comercial. A esta desarticulação entre a I&D e as necessidades (explícitas ou implícitas) empresariais acresce uma elevada fragmentação dos esforços das instituições públicas ou para‑públicas (universidades, politéc‑nicos, instituições autónomas de investigação e de formação avançada, centros tecnológicos, etc.), le‑vando a situações de ineficiência por ausência de escala e por duplicações de esforços. Em suma, estamos longe de poder falar na existência de um sistema regional de inovação.

. Aliás, a característica de fragmentação institucional e as dificuldades objectivas de governância que daí decorrem parecem até ser particularmente agudas na região em domínios como os do associativismo empresarial e inter‑municipal. No primeiro caso, não deixa de impressionar o universo de associa‑ções empresariais presentes, prosseguindo objec‑tivos análogos e visando universos de PMEs que frequentemente se sobrepõem, desde as associa‑ções de natureza nacional/regional e multi‑sectorial até às associações locais, passando por associações sectoriais e sub‑sectoriais. No segundo caso, o do associativismo inter‑municipal, tem sido sintomáti‑co o processo desencadeado pela recente descen‑tralização administrativa e pelo acantonamento do espaço daí decorrente: a divisão do Minho‑Lima, a tensão do Ave entre a AMP e Braga‑Guimarães, a tensão do Entre‑Douro‑e‑Vouga entre a AMP e Aveiro são disso exemplos, sendo discutível que deste processo tenham resultado entidades territo‑riais com escala suficiente para intervir nos domí‑nios da competitividade e da atracção de iniciativa externa (por exemplo, políticas activas de interna‑cionalização ou políticas integradoras nos domínios da ciência e do desenvolvimento tecnológico).

. A tudo isto acrescerá ainda um enquadramento ad‑ministrativo e político nacional que leva a mecanis‑mos de partilha de valor com resultados claramente desfavoráveis para a região. De acordo com as con‑tas regionais publicadas pelo INE (Instituto Nacio‑nal de Estatística) para os anos relativos à segunda metade da década de 90, a região onde se observava um maior contributo relativo do sector das Admi‑nistrações Públicas para o VAB (Valor Adicionado Bruto) era a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde

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se concentram os serviços da administração central. De seguida, surgiam as Regiões Autónomas, onde se localizam os serviços associados aos órgãos dos governos regionais. Por sua vez, o Alentejo também apresentava índices superiores à média nacional, enquanto o Algarve figurava com índices próximos de 100. Pelo contrário, as regiões Norte e Centro apresentavam índices inferiores à média nacional. Esta dimensão é relevante não apenas em termos da discutível equidade que ela configura no que res‑peita à transferência inter‑regional de rendimento, mas também pelo impacto que este estado de coisas tem em termos da dinâmica de localização de activi‑dades inovadoras. Por exemplo, a concentração em Lisboa e Vale do Tejo dos organismos da Adminis‑tração Pública gera, por si só, um mercado de proxi‑midade para prestadores de serviços avançados.

Estratégias para relançar a competitividadeSe o balanço sobre a evolução recente da posição

competitiva do Porto Cidade/Região não é particu‑larmente favorável, também é verdade que a mera invocação que vai sendo feita de modas e modelos não contextualizados (do tipo “Porto Cidade de Ci‑ência” ou “caminhar para uma economia baseada no conhecimento”) pouca utilidade terá. Como já re‑ferimos noutra ocasião (Figueiredo e Silva, 2005), qualquer estratégia para relançar a competitividade passa necessariamente por assumir a ideia de tra‑jectória ou de “path dependency”, ou seja, basear‑se não em modelos ideais mas sim combinar a criação de novos recursos e actividades com os recursos e actividades existentes. O que equivale a dizer que uma trajectória viável de mudança para a área em análise há‑de respeitar e apoiar‑se em traços estru‑turais tão marcantes na história da cidade e região como:. uma forte tradição industrial assente na iniciativa privada, baseada num empreendedorismo endógeno e disseminado por uma grande faixa do litoral Nor‑te, sem prejuízo de dessa função empresarial des‑concentrada emergirem igualmente grupos e formas empresariais com uma maior capacidade para trans‑ferir recursos para novas actividades e para actuar de forma mais activa nos mercados globais;. uma economia virada para os mercados globais (a tradicional vocação exportadora), ou seja, afectando uma parte significativa dos seus recursos a activida‑des de bens transaccionáveis internacionalmente, sem prejuízo de à internacionalização pela via do

comércio se vir a acrescentar a internacionalização pela via do investimento;

. uma rede urbana densa, com uma forte comple‑mentaridade entre, por um lado, o Porto Cidade (ou o Grande Porto) e, por outro lado, o Porto Re‑gião (região funcional urbana policêntrica do litoral Norte) ou a Região do Norte (espaço de referência consagrado pelo modelo operacional de interven‑ção pública de nível intermédio que maior durabi‑lidade teve nas últimas décadas). Este compromisso entre hierarquia urbana e rede urbana sugere um território de geometria variável, consoante o tipo de objectivos e de intervenções.

Dentro desta filosofia, os objectivos estratégicos mais especificamente orientados para a recomposi‑ção da base económica da região devem englobar, de forma articulada, quer dinâmicas a partir dos sectores de especialização tradicional quer dinâmi‑cas baseadas nos novos recursos existentes ao nível do conhecimento e das qualificações, como adiante especificamos.

A) Requalificar os serviços e os “clusters” indus‑triais tradicionais

Como já foi referido, a região tem uma forte tradição industrial em sectores de bens transaccio‑náveis internacionalmente, maioritariamente cons‑tituídos por PMEs e com uma organização do tipo “cluster”. A actual perda de competitividade destas actividades prende‑se com o facto de, em geral, serem sectores fortemente concorrenciais à escala mundial, decorrente do facto de a tecnologia da pro‑dução estar em grande parte incorporada nos equi‑pamentos e estes últimos serem igualmente objecto de uma oferta concorrencial. Assim sendo, a fácil entrada de novos produtores nos mercados globais retira competitividade aos países e regiões que apre‑sentam níveis salariais superiores e condições labo‑rais mais avançadas.

No entanto, é também neste tipo de sectores que a região acumulou um conjunto de qualifica‑ções, competências e experiência empresarial indi‑vidual e colectiva que devem ser vistos como recur‑sos relevantes. A perda de competitividade ao nível produtivo em sentido estrito (área industrial ou de fabrico) pode e deve ser compensada por um movi‑mento das empresas quer para montante da cadeia de valor (concepção dos produtos, design, tecnolo‑gias da produção) quer para jusante (distribuição e marketing internacionais).

12 | painel

A relevância europeia ou mundial das concentra‑ções industriais na região das indústrias têxteis/ves‑tuário e calçado, entre outras, cria uma oportunidade única para a região vir a desenvolver e acumular no‑vas competências nestes domínios que, em grande parte, correspondem a serviços avançados geradores de emprego qualificado. Assim sendo, esta dinâmica de “up‑grading” dos sectores de especialização tra‑dicional gerará, numa lógica de “demand‑pull”, um importante vector de requalificação do terciário de natureza económica na região, ao mesmo tempo que contribuirá para o reforço da complementaridade entre o Porto (e outras aglomerações urbanas rele‑vantes, nomeadamente Braga) e a região.

B) Promover com voluntarismo a emergência de “clusters” intensivos em tecnologia

Nas últimas duas décadas tem‑se verificado um contínuo desenvolvimento de competências avança‑das no domínio da investigação científica, com um elevado índice de jovens investigadores qualificados e com experiências de inserção em redes de conhe‑cimento internacionais. Na região, este esforço, es‑sencialmente baseado no financiamento público, foi fundamentalmente aproveitado pelas Universidades do Porto e do Minho e não está imune aos vícios do precário sistema nacional de investigação: amplo es‑pectro de actividades; escassa definição de comple‑mentaridades entre as mesmas; reduzida capacidade de cooperação entre os diferentes centros universi‑tários; etc. Não obstante, a valia específica de alguns

centros de investigação de matriz universitária, com reconhecimento internacional, indicia claramente a relevância destes novos recursos e uma relativa con‑solidação do esforço realizado.

No entanto, a I&D realizada na região permane‑ce afastada de uma lógica de valorização comercial. Este “gap” decorrerá, em nossa opinião, da conjuga‑ção de dois factores: por um lado, as características tecnico‑económicas das actividades económicas (e, em particular, industriais) geram uma fraca procura de serviços de I&D; por outro lado, o forte crescimen‑to do financiamento público que esteve na base da expansão de I&D de matriz universitária dispensou as instituições beneficiárias de um esforço sistemáti‑co de valorização da sua actividade junto das empre‑sas. A valorização comercial da I&D e a articulação entre actividades desenvolvidas nas instituições de matriz universitária e as actividades empresariais (englobando‑se nestas últimas a I&D empresarial) são, no entanto, condições necessárias quer para a sustentabilidade e eficiência do sistema de investi‑gação quer para a reestruturação da base económica quer, ainda, para a atractividade da região em termos de capital humano e de iniciativa empresarial (IDE – Investimento Directo Estrangeiro).

Sendo um domínio onde, reconhecidamente, as falhas de mercado são significativas, a prossecução de objectivos conducentes a um verdadeiro sistema de inovação não dispensa uma boa dose de volunta‑rismo. A promoção da emergência de novos “clus‑ters” intensivos em tecnologia deve assim ser uma

Base deconhecimentoexistente

Criação denovoconhecimento

Criação denovos“clusters” Nova base de

conhecimento

Nova baseeconómica“Up‑grading”

de “clusters”existentes

Valorizaçãocomercial doconhecimento

Conhecimentopelaexperiência

Baseeconómicaexistente

Figura � – Relançar a competitividade: uma trajectória viável. Esquema adaptado de van Winden e van den Berg (2004).

13 | painel

das linhas de orientação mais relevantes para a in‑tervenção das instituições regionais. O razoável nível de recursos financeiros e de instrumentos de política disponíveis para este tipo de acções (nomeadamente no âmbito dos programas operacionais nacionais da economia, da ciência e tecnologia ou da sociedade da informação), bem como as acções recentemente implementadas por associações não‑governamentais (COTEC), convidam as instituições regionais (uni‑versidades e outras) a desenvolverem esforços cola‑borativos, consistentes e estrategicamente orienta‑dos para a promoção de novos “clusters” intensivos em tecnologia (figura �).

Uma nota final para referir que a emergência de uma estratégia coerente para relançar a competitivi‑dade do Porto Cidade/Região pressupõe uma coor‑denação das intervenções das principais instituições presentes na região, senão mesmo uma liderança regional. A ausência de governância é seguramente o maior défice com que o Porto Cidade/Região está confrontado. No actual quadro institucional, marca‑do pela inexistência de um nível regional de admi‑nistração, a melhoria das condições de governância do Porto Cidade/Região passa por contrariar a tão marcada fragmentação institucional que caracteriza a região, seja em termos da administração do terri‑tório, seja em termos das instituições associadas à produção de conhecimento e à tecnologia, seja ainda ao nível do associativismo empresarial.

Na ausência de dinâmicas endógenas orientadas para a coordenação estratégica, acreditamos que só uma maior selectividade das políticas públicas na‑cionais – privilegiando inequivocamente projectos e promotores com uma escala adequada para actuar nos diferentes domínios da competitividade – pode‑rá gerar um quadro institucional com maiores níveis de eficácia e de eficiência. Eis uma boa razão para que actores tão importantes como, por exemplo, a Universidade do Porto, a Junta Metropolitana do Porto ou a Associação Empresarial de Portugal sejam acérrimos defensores da selectividade.

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Sessão �Inovação, Competitividade e Promoção de “Clusters” Intensivos em Tecnologia

1� | painel

A estratégia de Lisboa definiu um objectivo muito ambicioso para a Europa, projectando‑a para ser a economia mundial mais desenvolvida, competitiva e dinâmica até 2010. Esta estratégia baseia‑se no princí‑pio de que a competitividade de uma economia é função da intensidade do conhecimento existente nessa sociedade. Também decorre da estratégia de Lisboa a obrigação de aumentar o investimento em investigação e desenvolvimento para 3% do PIB até 2010, em que a componente pública deverá ser da ordem do 1%, enquanto o investimento em I&D privado deverá atingir os 2% do PIB. Nesta vertente, a universidade tem de ser capaz de abrir as suas portas às empresas e às organizações públicas e privadas com e sem fins lucra‑tivos para que o conhecimento possa ser a chave da mudança e da inovação, com o objectivo de criar novos produtos e serviços que lhes permitam aumentar a sua competitividade e criação de riqueza.

O crescimento e o desenvolvimento sustentável passam pela promoção de uma cultura de empreende‑dorismo, designadamente junto dos jovens, estimulando‑os a criar empresas de base tecnológica, pela adap‑tação de cursos de formação para gestores e quadros de PMEs, pela oferta no local do trabalho de ensino e formação em gestão e consultoria, de conhecimentos e disseminação de conhecimentos sobre tecnologias dirigidas às PMEs, de forma que estas empresas possam identificar, seleccionar, adaptar e utilizar as novas tecnologias de informação e produção, com o objectivo de aumentar a competitividade e garantir a emprega‑bilidade dos seus colaboradores.

A relação entre investimento e desempenho em C&T e Inovação é uma relação complexa, não é linear, e depende das condições de enquadramento e das políticas escolhidas, as quais determinam a eficiência do investimento efectuado. Podemos sempre discutir em Portugal a questão de saber se o investimento é escasso, se é pouco eficaz, ou se é escasso e pouco eficaz. É normalmente em torno destas questões que se estabelece a polémica da discussão pública, na maioria das vezes de forma não consensual. Infelizmen‑te, é habitual ver académicos qualificados dissertar sobre o investimento privado em I+D+I, e vice‑versa, com uma falta de conhecimento e uma ligeireza de argumentação que impressiona. Ora, se esta fosse uma questão linear, seguramente que o trabalho de gente tão qualificada estaria muito facilitado, o que parece não ser o caso.

Por outro lado, também, é preciso ter consciência de que existe sempre um lapso temporal significativo entre o aumento do investimento e o aumento da qualidade do desempenho. Os valores dos indicadores de desempenho reflectem o padrão do investimento de longo prazo, ou seja, as políticas normalmente as‑sociadas às questões de inovação têm efeito nos indicadores estatísticos normalmente após um período de conciliação relativamente extenso, nunca inferior a duas ou três legislaturas. Este factor é muito importante porque quando os governos colocam estas questões na sua agenda, com muita ênfase, o que é positivo, pode‑se criar a expectativa na opinião pública de que os resultados tenham que ser imediatos, quando por norma não o são. E é bom que haja consciência de que este tipo de políticas tem normalmente um tempo de maturidade relativamente elevado. É também fundamental que fique claro que na UE, como em muitos países do mundo desenvolvido, ou em vias de desenvolvimento, já não existe apenas I+D, mas claramente I+D+I: hoje ninguém discute a questão da I+D sem acrescentar a questão da inovação, ou seja, exigindo cada vez mais resultados ao nível da transformação do conhecimento em riqueza económica.

Alguns dos dados estatísticos que todos conhecemos sobre o “estado da arte” em Portugal demonstram

As Empresas como Centro de Criação de Riqueza numa Sociedade Moderna

Emídio Ferreira S. Gomes*

16 | painel

um investimento ainda relativamente baixo em re‑lação à média europeia, sendo que, apesar de tudo, é o Estado quem mais investe. Portugal tem o valor mais alto de investimento percentual do Estado de toda a UE, 61,2%, contrariamente à média do in‑vestimento privado, que continua com valores dos mais baixos da UE. No entanto, é importante relevar que os valores de investimento global, em torno dos 0,8‑0,85 % do PIB, continuam a ser ainda insufi‑cientes, pelo que as políticas de investimento públi‑co em I+D continuam a ser fundamentais. O que não podem é continuar a ser políticas cegas, basea‑das exclusivamente no contínuo aumento do apoio ao lado da oferta, ou seja ao sistema científico, uma vez que este tipo de política isolada gera efeitos con‑traditórios, ou até paradoxais. Basta ver o exemplo do financiamento de bolsas de pós‑doutoramento sem objectivos integrados, que acaba por condi‑cionar fortemente a capacidade de oferta de novas bolsas de base, para mestrado e doutoramento. Não há capacidade de financiamento público que resis‑ta eternamente a um sistema de financiamento de bolsas que não se renova, o que só pode acontecer com uma política fortemente integrada na promoção do emprego qualificado no tecido produtivo. Isto só se consegue se o sistema é dinâmico, ou seja, se há um conjunto significativo de pessoas que transitam entre o sistema público e o privado e permitem o aparecimento de novas oportunidades.

Segundo os dados do Eurostat, em Portugal o Estado investiu, em 2003, cerca de 0,66 do PIB em I&D e todos temos presente o objectivo definido pela Agenda de Lisboa de 1% do PIB como meta para o investimento público em 2010, o que pare‑ce ser possível de atingir. O mais complicado estará provavelmente nas formas de atrair e captar investi‑mento privado de forma a chegar aos 2% previstos para este tipo de investimento, nesta regra definida

como objectivo de que cerca de 2/3 do investimento sejam provenientes deste sector.

Outro dado muito consistente e preocupante é o de que Portugal, a exemplo da Itália e da própria Grécia, tem valores muito baixos de investimento nas fases iniciais de novas iniciativas empresariais. Este facto indicia a necessidade de uma aposta ur‑gente na promoção de novos programas de apoio ao empreendedorismo, bem como de estímulo ao ca‑pital de risco nas fases de “spin off” e “start up”, o que pressupõe a existência de fundos específicos de capital de semente.

Finalmente, a questão da produtividade do tra‑balho – que é absolutamente crítica, e na qual se ve‑rifica que os países da Europa do Sul têm tendencial e tradicionalmente valores baixos, aparecendo Por‑tugal atrás da Grécia e da Espanha –, é reflexo de ta‑xas de emprego em áreas de conhecimento intensivo muito baixas, sendo este um dos factores essenciais a alterar na futura realidade empresarial do País.

A Universidade do Porto, enquanto maior e mais qualificada universidade pública nacional, posicio‑na‑se num contexto de grande responsabilidade, a que terá que corresponder necessariamente uma forte ambição futura. Os indicadores da produtivi‑dade científica da UP mostram com clareza quais as áreas científicas com maior expressão no pano‑rama científico actual. Competirá aos responsáveis saber tomar as decisões que possam transformar esse potencial em criação de valor económico dis‑ponível para o todo nacional. Por uma razão simples: um país que consome riqueza acima do nível a que a produz caminhará sempre de forma mais ou me‑nos lenta para o lado do plano inclinado da pobreza. “Os resultados são sempre obtidos pela exploração de oportunidades, não através da resolução de problemas” (Peter F. Drucker).

17 | painel

. O sector empresarial é o principal financiador da I&D na UE, excepto em Portugal, Itália, Grécia e Áustria

. A seguir ao Japão, onde as empresas financiam 73% da I&D, encontram‑se a Suécia (72%), Finlândia (71%), Suíça (69%) e Bélgica, Ale‑manha e Irlanda (66%)

. Portugal (32,4%) e Grécia (24,2%) têm os níveis mais baixos da UE‑15; em Portugal, o financiamento do Estado tem o valor mais alto de toda a UE‑15 (61,2%)

Figura 1 – Distribuição do financiamento de I&D, por origem global dos fundos (%), �001

40,3

37,9

29,3

28

27,8

25,7

23,6

23,1

9,6

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Rep. Checa (0,53)

Polónia (0,20)

hungria (0,19)

Suíça (0,74)

Portugal (0,18)

Eslováquia (0,16)

França (0,52)

Dinamarca (0,43)

12,4Japão (0,37)

holanda (0,19)

22,2Itália (0,22)

20,9EUA (0,59)

20,5Espanha (0,16)

17,8Islândia (0,47)

16,6Noruega (0,25)

Fonte: DG Investigação. Dados: OECD, Eurostat. Key Figures 2003‑2004

. Portugal é o país da UE‑15 em que é maior a despesa em investigação fundamental em % do valor total da despesa em I&D (27,8%)

. É acompanhado por países da adesão nos quais a I&D empresarial não está desenvolvida e o sistema é dominado por universidades e laboratórios de Estado

. Nos EUA, o valor de 20,9% significa liderança científica e aposta empresarial na I&D funda‑mental (Suíça com 28%)

Figura � – Financiamento da investigação fundamental em percentagem da despesa total em I&D; entre parên‑teses: investigação fundamental em percentagem do PIB, �001

Sector empresarial Estado Outras fontes EstrangeiroBélgica 66,2 23,2 3,3 7,3Dinamarca 58,0 32,6 3,5 5,3Alemanha 66,0 31,5 0,4 2,1Grécia 24,2 48,7 2,5 24,7Espanha 47,2 39,9 5,3 7,7França 52,5 38,7 1,6 7,2Irlanda 66,0 22,6 2,6 8,9Itália 43,0 50,8 ‑ 6,2holanda 50,1 35,9 2,6 11,4Áustria 39,0 42,1 0,3 18,6Portugal 32,4 61,2 2,1 4,4Finlândia 70,8 25,5 1,2 2,5Suécia 71,9 21,0 3,8 3,4Reino Unido 46,2 30,2 5,7 18,0

EU‑15 56,1 34,0 2,2 7,7

Chipre 17,5 66,5 6,5 9,4Rep. Checa 52,5 43,6 1,7 2,2Estónia 24,2 59,2 3,9 12,7hungria 34,8 53,6 0,4 9,2Letónia 29,4 41,5 n.d. 29,1Polónia 30,8 64,8 2,0 2,4Eslovénia 54,7 37,1 1,1 7,2Eslováquia 56,1 41,3 0,8 1,9

EU‑25 55,8 34,4 2,2 7,6

Bulgária 24,4 69,2 1,1 5,3Roménia 47,6 43,0 1,2 8,2Turquia 42,9 50,6 5,3 1,2Suíça 69,1 23,2 3,4 4,3Islândia 46,2 34,0 1,6 18,3Noruega 51,7 39,8 1,4 7,1Israel 63,9 28,8 3,4 3,8EUA 66,2 28,7 5,1 n.d.Japão 73,0 18,5 8,1 0,4Fonte: DG Investigação. Dados: OCDE, Eurostat. Key Figures 2003‑2004

18 | painel

1,141,051,05

1,030,98

0,950,810,81

0,770,770,76

0,710,690,690,680,670,660,65

0,610,59

0,530,37

0,350,33

0,30,3

0,280,25

0,220,17

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4

IslândiaEUAIsraelFrançaFinlândiaSuéciaAlemanhaNoruegaEU‑15holandaEU‑25JapãoEspanhaItáliaReino UnidoSuíçaPortugalDinamarcaBélgicaÁustriaEslovéniaPolóniaEstóniaIrlandaEslováquiaLituâniaGréciaLuxemburgoLetóniaRoménia

Fonte: DG Investigação. Dados: EVCA, NVCA, NISTEP. Key Figures 2003‑2004

. A parte do orçamento do Estado atribuída à I&D é nos EUA 1,05% do PIB, na UE‑15 0,77% e no Japão 0,61%

. França, Finlândia e Suécia são os países da UE com maior financiamento do Estado (cer‑ca de 1% do PIB)

. Em Portugal o valor do orçamento de Estado dedicado à I&D é de 0,66% do PIB, abaixo da Espanha (0,69%) mas bastante acima da Gré‑cia (0,28%) e dos países da adesão

Figura � – Fracção do orçamento do Estado atribuída à I&D em percentagem do PIB, �00�

Fonte: DG Investigação. Dados: EVCA, NVCA, NISTEP. Key Figures 2003‑2004

1,0810,975

0,7530,706

0,4630,453

0,4190,4180,417

0,3620,361

0,2850,2750,2660,264

0,2380,214

0,1530,127

0,0920,079

0,0510,0510,0490,0360,0340,031

0,007

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

JapãoSuéciaDinamarcaFinlândiaSuíçaholandaEUAEFTABélgicaNoruegaReino UnidoEU‑15EU‑25AlemanhaFrançaIslândiaIrlandaEspanhaÁustriaGréciaPortugalItáliaRoméniaPolóniaP. AdesãohungriaEslováquiaRep. Checa

. O Japão lidera no capital de risco “early‑stage” (1‰ do PIB), logo seguido pelos países nórdi‑cos (entre 0,7 e 1‰)

. Os EUA (0,419‰) estão bem à frente da UE‑15 (0,285‰)

. Grécia, Portugal e Itália têm valores muito in‑feriores, entre 0,01 e 0,05‰ do PIB

Figura 4 – Capital de Risco investido em empresas emergentes (semente e “start‑up”) em permilagem do PIB, �00�

P. Adesão

1,0810,4190,418

0,2850,275

0,036

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

JapãoEUAEFTAEU‑15EU‑25

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1,75Noruega

1,85Bélgica

1,89Reino Unido

1,92França

2,13EUA

2,19Suécia

2,19Dinamarca

2,74Áustria

3,17Grécia

4,95Irlanda

1,73

1,58

1,5

1,48

1,43

1,39

1,09

0,7

0,66

0,54

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

Finlândia

Portugal

Islândia

EU‑15

Alemanha

Japão

holanda

Itália

Luxemburgo

Espanha

Fonte: DG Investigação. Dados: OCDE, Eurostat. Key Figures 2003‑2004

. O aumento da produtividade do trabalho na UE‑15 em 1997‑2002 (1,48%) ficou muito aquém do verificado nos EUA (2,13%)

. Irlanda (4,95%) e Grécia (3,17%) tiveram taxas de crescimento elevadas

. Portugal (1,58%) cresceu a um ritmo marginal‑mente acima da média da UE‑15

Figura � – Produtividade do trabalho (PIB por hora de trabalho) – crescimento médio anual real (%), 1997‑�00�

Estimativas da Produção Científica Nacional – Região Norte (1997‑�00�*)

Domínios Científicos Universidade de Aveiro

Universidade de Trás‑os‑Montes e Alto Douro

Universidade do Minho

Universidade do Porto

Total Nacional

% % % % %

Sem categoria 234 9,89 42 1,78 180 7,61 311 13,15 2 365 9,76

Agricultura, Biologia e Ciências do Ambiente

231 7,94 117 4,02 180 6,19 479 16,46 2 910 12,00

Artes e humanidades 11 7,59 0,00 7 4,83 16 11,03 145 0,60

Medicina 5 0,37 5 0,37 9 0,67 624 46,46 1 343 5,54

Engenharia, Informática e Tecnologia

558 14,92 35 0,94 318 8,50 504 13,47 3 741 15,44

Ciências da Vida 196 3,78 55 1,06 229 4,42 1 533 29,59 5 181 21,38

Ciências Físicas, Químicas e da Terra

959 11,95 74 0,92 414 5,16 1 004 12,51 8 026 33,12

Ciências Sociais e do Comportamento

22 4,24 2 0,39 60 11,56 92 17,73 519 2,14

Total 2 216 9,15 330 1,36 1 397 5,77 4 563 18,83 24 230 100

* Dados provisóriosFonte: National Citation Report for Portugal 1981‑2002 e Observatório da Ciência e do Ensino Superior, Produção Científica Portuguesa: constituição de indicadores bibliométricos

* Coordenador da sessão.O autor é Professor Catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. É presidente do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto.

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A questão do investimento, ou da sua falta, lem‑bra‑nos sempre aquela célebre frase do Presidente Kennedy em harvard, quando disse aos alunos: “não perguntem o que é que o país pode fazer por vocês, perguntem o que é que vocês podem fazer pelo vosso país”. É sempre difícil falar de investimento quando Portugal é o campeão do investimento em ciência básica e, no entanto, os indicadores de produtivida‑de científica internacional são dos piores do mundo. É ainda difícil falar em investimento quando 40 ou 50% dos estudantes universitários não completam os cursos, quando o tempo médio duma licenciatura que devia ser de 5 anos é de 6 ou 7. Assim, a grande questão que se coloca deveria ser a análise do que é que poderíamos fazer mais com aquilo que temos hoje. Por exemplo, os Indian Institutes of Technology, que há cerca de um ou dois anos foram capa da re‑vista Time, são instituições indianas de ensino supe‑rior que atingiram um prestígio, um reconhecimento mundial absolutamente excepcional. As condições que esses institutos têm são em muitos casos ver‑dadeiramente artesanais, o que, no entanto, não os impede de formar capital humano reconhecidamen‑te valioso a nível mundial e, com isso, fazerem da Índia um grande centro de atracção de investimento directo estrangeiro, não por ter mão de obra barata, mas sim capital humano altamente qualificado.

É difícil falar de investimento quando com o Programa Ciência e, depois, com o Programa Praxis, se fizeram investimentos avultadíssimos em grandes infra‑estruturas tecnológicas, desenvolveram‑se no‑vas instituições, enfim, um enorme número de coi‑sas, e ainda hoje não se conhece qual foi o impacto económico que todos esses investimentos tiveram no nosso país. Muito sinceramente, não se vê que hoje a realidade económica e competitiva seja signi‑ficativamente diferente daquilo que era há 10 ou 15 anos atrás, apesar dos sistemas de ensino superior e

de investigação nacional terem sido objecto de avul‑tadíssimos investimentos

O grande desafio que se coloca não é de o Porto ser uma cidade região em Portugal, como esse não é o desafio para Lisboa, ou para outras cidades do país. O nosso desafio é sermos parte do mundo, ter a am‑bição de ser Porto cidade região do mundo, Lisboa cidade região do mundo, Portugal região do mundo, e isso obviamente coloca logo a fasquia da ambição num plano elevado. Se tivermos a coragem de ter padrões elevados poderemos atingi‑los ou ultrapas‑sá‑los, mas a sua existência é fundamental. Não nos cabe limitar as ambições dos jovens do nosso país (os nossos alunos), quando a nossa missão é tentar levar ao máximo as suas capacidades. Colocá‑los perante desafios face aos quais somos tentados a dizer: “não é possível, não somos capazes”; mas depois fazemos e somos capazes.

Esta palestra está organizada em torno da ideia dos “clusters”, que têm como objectivo central criar riqueza, ter impacto económico. A ideia de “clusters” com grande intensidade tecnológica tem que ser ali‑cerçada em fortíssimos pilares científicos e tecno‑lógicos, garantindo que haja um “pipeline” de qua‑dros qualificados para os alimentar. Não é suficiente pegar‑se num determinado momento em hipotéticos pilares fortes de capacidade científica e tecnológica e usá‑los para criar “clusters”, é preciso garantir que o sistema esteja preparado para os alimentar; caso contrário, morrem, e instituições de natureza diferen‑te continuam a ficar claramente separadas. O reco‑nhecimento internacional é fundamental. O mundo parece grande, mas é pequeno, sobretudo quando falamos de conhecimento: os principais actores no mundo sabem bem onde está o conhecimento credí‑vel. Precisamos é de trabalhar de forma séria, compe‑tente e continuada. Portugal é um país pequeno, com

Estratégias e Acções para a CompetitividadeJosé Epifânio da Franca

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um mercado de apenas 10 milhões de consumidores, com fronteiras pequenas, mas, séculos atrás na nossa história, entre Espanha e o mar escolhemos o mar, escolhemos o mundo e abrimo‑nos ao mundo. Mais do que uma ameaça, a globalização é uma nova opor‑tunidade de abertura ao mundo. É a oportunidade que o país tem de conquistar novos espaços, novas fronteiras, e acredito que podemos fazê‑lo. O “clus‑ter”, por definição, tem que assentar numa fortíssima consciência da necessidade de desenvolver modelos organizacionais e operacionais de rede. Num país em que as parcerias e as cumplicidades não abundam, temos que pensar e meditar seriamente sobre esta questão. O “cluster” obriga, por definição, a encontrar e desenvolver um modelo de redes, redes inter‑ins‑titucionais, inter‑sectoriais e inter‑industriais. A cul‑tura da auto‑suficiência não é, claramente, a cultura propícia para o desenvolvimento dos “clusters”. Tem que haver cumplicidade de actores, que têm que ser regionais, nacionais, internacionais, tem que haver articulação entre as universidades, as empresas e o Governo.

Os exemplos, em Portugal, de boas práticas de inovação e de capacidade de competir à escala glo‑bal são ainda excepções; a maior parte é ainda de nível baixo. Pensemos um pouco nas leis da física e vejamos o que é que nos parece mais fácil: um esforço de alavancar a massa que está a um nível muito baixo e trazê‑la para os níveis de referência e competitividade mundial, que já existe nalgu‑mas, muito poucas, excepções; ou tentar apostar nas excepções e alagar‑lhes o espectro, fazer dessas excepções âncoras de “clusters” e, assim, alargar o espectro para além do que é hoje a sua área e espaço de intervenção normal. A lei da física diz‑nos que é mais fácil alargar o espectro do que alavancar uma massa enorme.

Em Portugal, não há capacidade ou coragem de seleccionar, não há a capacidade ou a coragem de diferenciar, produzindo‑se uma tendência natural de nivelamento por baixo. hoje em dia, é preciso per‑ceber que não há nenhum país no mundo, dos EUA a Portugal, nenhuma empresa, da IBM à Microsoft, capaz de fazer tudo: os recursos financeiros e huma‑nos são finitos, mas as grandes empresas e países têm a capacidade e a coragem de seleccionar.

Questionado sobre a criação de uma licenciatura em Engenharia Biomédica, o que pode ser uma ideia interessante, coloquei a questão de saber qual o ob‑jectivo global para além do imediato de aumentar o

número de alunos. Queremos ajudar a melhorar o sistema médico nacional, ou queremos criar condi‑ções em Portugal para ter actividades centradas na área da medicina ou das ciências da vida, mas que claramente projectem a imagem do país para fora? Esta última opção não tem apenas a ver com as ci‑ências da vida, tem muito a ver também com a mi‑cro‑electrónica, surgindo assim a ideia do centrípeto e do centrífugo. A primeira ideia, dirigida exclusiva‑mente para o país, pode conduzir à modernização de processos: podemos dizer que queremos enge‑nheiros nos hospitais, para trabalhar com equipa‑mentos mais avançados, mais sofisticados, melhorar diagnósticos, dar apoio aos médicos. Vão modernizar processos e equipamento, mas têm sobretudo como objectivo melhorar a eficácia do sistema, melhorar práticas profissionais, racionalizar recursos. Porque é esse o objectivo: as prioridades das capacidades a desenvolver situam‑se fundamentalmente na área da operação e manutenção. O mesmo se passa na Administração Pública, em que podemos identificar um “cluster” nacional e desenvolver um conjunto de competências, actividades, etc. com esse enfoque.

Estes modelos de desenvolvimento têm elevada dependência tecnológica porque, no fundo, são mo‑delos em que o país é fundamentalmente utilizador de tecnologia e comprador de equipamentos.

Outra modalidade, se calhar no extremo oposto, é aquilo a que chamo de modelo centrífugo. Aqui, pretende‑se voltar o país para fora: a actividade de‑senvolve‑se em Portugal, mas o que queremos é que o resultado dessa actividade vá para fora. Este mo‑delo de desenvolvimento centrífugo deve ser pensa‑do para atingir objectivos de desenvolvimento eco‑nómico verdadeiramente global, fora do nosso país, diversificar sectores industriais a aproveitar janelas e oportunidades no mundo. Qualquer empresa de tecnologia de informação em Portugal, teoricamen‑te, tem o mercado do mundo à sua frente, porque aquilo que se faz ou aquilo de que os clientes pre‑cisam não existe só em Portugal, existe no mundo e o nosso grande desafio é colocar isso no mundo. A Chipidea não tem nenhum cliente em Portugal, mas isso não é surpresa, porque quando a empresa foi criada sabíamos que não só não existia mercado em Portugal, como nem sequer fazia sentido uma em‑presa que apostasse na existência futura desse mer‑cado. As prioridades devem ser baseadas no capital humano, orientadas para as capacidades de concep‑ção e de produção de “outsourcing” ou por mecanis‑

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mos de “outsourcing” relativamente às capacidades de operação e manutenção. É hoje mais importante a ideia do “made by” do que “made in”. O local de manufactura não é o ponto essencial, ela deve ser feita onde for economicamente mais vantajoso, mas é‑o a ideia do “made by”, que significa que temos a capacidade de alimentar os canais de manufactura e essa capacidade tem raiz e deve ser controlada em Portugal, que passa assim a reter a riqueza da acti‑vidade económica da cadeia‑produto, porque nessa altura passa a ser produtor de tecnologia e não utili‑zador de tecnologia.

O modelo centrifugo permite controlar melhor as

trocas tecnológicas, uma vez que tem por objectivo vender tecnologia, mesmo que sob forma de recur‑sos humanos, o que permite reduzir mecanismos de dependência tecnológica, em que Portugal é fértil. A inovação e o empreendorismo têm que ser factores absolutamente competitivos no mundo. O mercado nacional pode ser uma plataforma para a internacio‑nalização, e não a sua barreira, ou seja, o mercado nacional não deve dar conforto, como acontece mui‑tas vezes. Deve ser uma plataforma, um trampolim, e deve ser estimulado o pulo para os mercados inter‑nacionais, podendo este modelo ser polarizado em torno de investimento directo estrangeiro, a exemplo

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do que foi feito em países como Taiwan na indústria de semicondutores, que é um bom exemplo várias vezes replicado do modelo da Infineon, em Vila do Conde. No entanto, é essencial desenvolver com‑petências próprias que limitem as possibilidades de deslocalização, de que infelizmente temos já alguns exemplos, que se espera que não sejam repetidos. Mas o que é que o País fez para minimizar a possi‑bilidade de isso ocorrer? Se isso vai ocorrer, ou não, não sabemos, nem é o País que sabe, nem é o Go‑verno, são as multinacionais que sabem. O que nós poderíamos já ter feito era garantir que, caso isso aconteça, o impacto pode ser minimizado. Olhemos

para o mundo: não é preciso re‑inventar a roda, há países que desenvolvem estas competências.

Para finalizar reafirmo o objectivo do “Porto Ci‑dade Região do Mundo”, que pode não ser atingido, mas pelo qual devemos lutar, criando as condições para fazermos mais do que a nível local ou regional. Pode não ser suficiente, mas é fundamental. Todos os esforços que se consigam fazer para criar verda‑deiras cumplicidades que ultrapassam divisões ou nacionalismos permitirão a “criação de um país com marca”.

O autor é presidente da Chipidea – Microelectrónica, SA.

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Ao longo das últimas décadas o investimento em I&D nas empresas tem vindo a crescer significativa‑mente no hemisfério norte, sobretudo nos Estados Unidos. Admite‑se que este crescimento foi franca‑mente motivado pelos fortes apoios fiscais e a fundo perdido lançados pelo Governo norte‑americano nos finais dos anos oitenta. Note‑se que em 1990 o Esta‑do financiava 25,6% dos investimentos em I&D das empresas, enquanto que a média de apoios na União Europeia era de 14,5% (figura 1).

Como resultado dessa política, as empresas norte‑americanas têm vindo a introduzir mais no‑vos produtos nos mercados mundiais, alcançando em muitos sectores claras posições de liderança. Na indústria farmacêutica, por exemplo (figura �), em 1992, dos 10 medicamentos mais vendidos em todo o mundo, 6 eram de origem europeia e 4 norte‑ameri‑

cana, enquanto 10 anos mais tarde, em 2002, apenas 2 produtos eram europeus e 8 norte‑americanos.

Portugal tradicionalmente investe pouco em I&D, sendo o país da União Europeia (15) com menores gastos em percentagem do PIB (0,8%), en‑quanto que a Suécia é o que mais investe (figura �). Apesar disso, o nosso país é aquele que percentu‑almente mais gasta em investigação básica na UE (27,8%), com valores bastante superiores aos dos Estados Unidos e do Japão (figura 4).

Pelo contrário, as empresas portuguesas são as que menos investem em I&D na Europa comuni‑tária, sendo que esta apresenta valores inferiores às das empresas norte‑americanas e japonesas (fi‑gura �). Desta forma, os resultados desse fraco in‑vestimento português só podem ser incipientes, não sendo Portugal um país inovador.

30

25

20

15

10

5

0

%

1990 1999

6,5%

19,3%

14,5%

25,6%

1,3%

8,1%

13,3%

8,5%

12,3%

1,8%

Japão

EUA

UE

Irlanda

Portugal

Apoios dos estados nos investimentos em I&D das empresas

Inovação, Competitividade e Promoção de “Clusters” Intensivos em Tecnologia

Luís Portela

Figura 1 – Os governos europeus apoiam pouco a I&D industrial. Fontes: OCDE. Comissão Europeia – Science, Technology

and Inovation. Key Figures 2000

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No entanto, alguns passos importantes foram da‑dos nos últimos anos no sentido de inverter a situa‑ção. O número de doutorados, por exemplo, cresceu imenso ao longo da década de noventa, tendo hoje o nosso país um número razoável de investigadores e, sobretudo, dispondo de algumas centenas de dou‑torados portugueses no exterior, principalmente nos Estados Unidos e na Grã‑Bretanha, desejosos de re‑gressarem a Portugal desde que surjam no país boas oportunidades profissionais. Seria criminoso que o país que investiu, e bem, na formação de alguns dos

seus melhores jovens, agora não os conseguisse con‑quistar para contribuirem para a construção de um país melhor.

Também a produtividade científica tem melho‑rado, sendo actualmente o número de publicações científicas por milhão de habitantes cerca de meta‑de da média europeia. Já se encontram alguns por‑tugueses entre os investigadores mais citados a nível internacional.

Contudo, o número de patentes registadas por entidades portuguesas a nível mundial não tem qual‑

Figura � – Perda de inovação das empresas farmacêuticas europeias. Fonte: EFPIA – The Pharmaceutical Industry in Figures,

2003

Figura � – Portugal investe pouco em I&D. Fontes: EU‑

ROSTAT e DG Investigação, Statistics on Science and Technology in Eu‑

rope: Dados 1991‑2002, 2004.

Figura 4 – Portugal é o campeão da investigação bási‑ca na UE‑1�. Fonte: Key Figures 2003‑2004

(*) dados 2001.

4,5

3,5

2,5

1,5

0,5

0,0Portugal

0,8%*

4,3%

2,0%

2,8%

Gastos em I&D em percentagem do PIB (�00�)

1,0

2,0

3,0

4,0

%

3,0%

Suécia UE‑15 EUA Japão

Investigação básica em percentagem do total de I&D (�001)

30

25

20

15

5

0Portugal

27,8%

9,6%

20,9%

12,4%

10

%

holanda EUA Japão

100

80

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50

30

10

01988‑1992 1998‑2002

97

52

63

5

68

77

29

4

Japão

EUA

UE

Origem dos novos medicamentos

20

40

70

90

Outros

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quer significado. A propriedade industrial de origem portuguesa é praticamente inexistente. Enquanto a União Europeia dispõe de uma percentagem de in‑vestigadores 1,6 vezes superior ao nosso país, detém em média 39,5 vezes (!) mais patentes que os portu‑gueses (figura 6).

Em minha opinião, um Estado moderno, que queira proporcionar boas condições de vida aos seus cidadãos e assumir um papel activo na construção de um mundo melhor, tem forçosamente que optar por uma política de inovação. Como poderá isso ser concretizado em Portugal?

Antes de mais, parece‑me necessário implemen‑tar uma cultura de inovação que incentive a uma diferente atitude das pessoas, valorizando o desen‑volvimento da criatividade e da responsabilidade in‑dividuais e dos diferentes grupos. Será importante que cada um sinta a capacidade de tomar o desti‑no nas suas próprias mãos, assumindo a responsa‑bilidade de encontrar as soluções mais apropriadas para si e para os outros, numa postura de serviço à comunidade.

Passo a referir um conjunto de medidas que po‑derão ser implementadas se existir uma real opção governamental de dar prioridade à inovação (figu‑ra 7). Saliento, a título de exemplo, as dezenas de núcleos de I&D tecnológico nas empresas que fo‑ram criadas nos dois últimos anos, ao abrigo do pla‑no NITEC (Núcleos de I&D nas Empresas).

Mas obviamente que para a inovação poder ser uma realidade bonita no nosso país, será fundamen‑tal que as universidades lhe dêem prioridade, con‑tactando e ouvindo as empresas e criando o hábito de raciocinar com os seus gestores e técnicos em torno dos seus problemas. Junta‑se um conjunto de medidas que considero aconselháveis (figura �).

Finalmente, será crucial a adesão das empresas que consideram imperiosa a necessidade de inovar. Torna‑se recomendável uma clara aproximação aos centros de saber, ambicionando a constituição de fortes planos de desenvolvimento a longo prazo e disponibilizando a imprescindível persistência para procurar as soluções até à total e bem sucedida con‑cretização desses planos. Lista‑se a seguir um con‑junto de medidas que parecem dever nortear empre‑sários e gestores (figura 9).

Mesmo os mais pequenos países europeus con‑seguem ser inovadores e altamente competitivos em algumas áreas. Obviamente que ninguém pode ser muito bom em tudo. E Portugal também não poderá atingir notoriedade em todas as áreas, mas existem algumas onde parece haver condições para o desenvolvimento de um trabalho profícuo, com eventual notoriedade internacional na perspectiva da inovação.

No caso do Norte do país, existem algumas es‑truturas universitárias com prestígio internacional na área da investigação, bem como algumas empresas

Figura � – As empresas portuguesas não investem em I&D. Fonte: Key Figures 2003‑2004

Figura 6 – Portugal ainda não existe em inovação. Fon‑

tes: Key Figures 2002. Key Figures 2003‑2004. Science and Technology in

Europe. Statistical pocketbook, 2005

80

60

40

20

0Portugal

32,4 %

71,9 %

56,1 %

66,2 %

Percentagem do sector empresarial no investimento em I&D(�001)

30

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%

73,0 %

Suécia UE‑15 EUA Japão Número deinvestigadores

3,5 %

Comparação de Portugal com a UE‑1�

Publicaçõescientíficas

Patentes

5,7 %

339

673

158

4

X 1,6

X 2,0

X 39,5

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com um nível organizativo e uma competitividade de médias empresas europeias, nalguns casos dispondo até já de estruturas próprias de I&D. Parecem estar criadas condições para o aproveitamento de opor‑tunidades que possibilite a conjugação de esforços no sentido de uma presença inovadora no contexto internacional.

As áreas da saúde, com prestigiadas estruturas de investigação, como o IBMC e o IPATIMUP, e empresas fortemente investidoras em I&D, como a Bial; alimentar, com o notável empenho da Escola Superior de Biotecnologia, e fortes empresas, como a Unicer, a RAR e a Lactogal; e dos equipamentos, com apreciáveis estruturas de I&D, como o INEGI e o INESC Porto, e empresas apostadas no desen‑volvimento a nível internacional, como a EFACEC, a Salvador Caetano e a Siemens, são bons exemplos de áreas onde se podem constituir importantes “clus‑ters” intensivos em tecnologia e mesmo inovadores a nível internacional.

Mas também nas universidades mais jovens, como a do Minho e a de Aveiro, se podem encon‑trar talentosos grupos de investigadores. Bem como nas áreas industriais mais tradicionais, como o cal‑çado, os têxteis‑vestuário e o mobiliário, também se encontram empresas com dimensão e, sobretudo, capacidade inovadora. Ainda nestas áreas se podem constituir importantes “clusters” intensivos em tec‑nologia, e mesmo inovadores.

Em minha opinião, Portugal precisa de investir fortemente em 3 ou 4 casos que possam obter gran‑de sucesso internacional. Uma vez vencida a inércia, outros casos surgirão. Para isso, será necessária uma clara opção política, que parece existir no actual Go‑verno, e uma concentração de esforços que permita a mobilização dos recursos necessários e a concre‑tização dos sonhos de alguns, a favor da economia nacional.

Figura 7 – Como construir o futuro em inovação (I)

ESTADO – Implementar cultura de inovação

. Disciplinas de sensibilização à criatividade e à inovação nos ensinos básico e secundário

. Premiar a produção científica na carreira académica

. Apoiar os contratos de inovação entre universidades e empresas

. Apoiar a constituição e o desenvolvimento de start‑ups viáveis

. Apoiar a constituição de núcleos de I&D nas empresas

. Apoiar o registo de propriedade industrial

. Manter importantes incentivos fiscais e apoios a fundo perdido à inovação empresarial e à sua internacionalização

Figura � – Como construir o futuro em inovação (II)

Figura 9 – Como construir o futuro em inovação (III)

UNIVERSIDADES – Criar disponibilidade para inovar

. Estimular o prazer da I&D e da inovação

. Premiar a produção científica na carreira académica

. Remunerar de acordo com o mérito e a produção científica

. Promover contratos de inovação com as empresas

. Facilitar a circulação de investigadores entre as universidades e as empresas

. Incentivar a constituição de start‑ups

EMPRESAS – Tornar imperiosa a necessidade de inovar

. Procurar a satisfação do cliente pela melhoria do produto e/ou serviço

. Apostar nos contratos de inovação com as universidades

. Constituir núcleos de I&D nas empresas

. Patentear a inovação

. Investir na comercialização com sucesso dos produtos e/ou serviços inovadores

. Acreditar e apostar na internacionalização

O autor é presidente do Conselho de Administração do Grupo Bial, administrador da Fundação de Serralves, membro do Senado da Universidade do Porto e membro do Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas.

Sessão �Qualificação e Competitividade

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1. IntroduçãoNuma economia global, baseada no conhecimento, a capacidade das regiões melhorar as qualificações

da população activa é um factor determinante para a competitividade empresarial. Em concreto, na pro‑moção da competitividade surge com indiscutível relevância a formação avançada directamente dirigida ao desenvolvimento de competências relevantes para as empresas, nomeadamente ao nível da inovação. Nesta linha, foi apresentado na Cimeira Europeia de Março de 2000 em Lisboa o objectivo estratégico de transfor‑mar a Europa na economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, até 2010. Além disso, sublinhou‑se a importância de promover a inovação e destacou‑se a investigação como elemento essencial da base sobre a qual a inovação é construída.1

A Agenda de Lisboa mobiliza uma grande variedade de protagonistas, entre os quais as universidades desempenham um papel singularmente importante. Esse papel decorre da sua dupla missão tradicional de investigação e de ensino, da sua importância crescente no complexo processo da inovação, bem como dos outros contributos para a competitividade da economia e a coesão social, sendo de referir, neste contexto, o papel que desempenham na vida da comunidade e em matéria de desenvolvimento regional.2 De facto, a inovação está intimamente relacionada com a investigação e desenvolvimento (I&D) e apresenta um padrão espacial identificável no que respeita à mão‑de‑obra altamente qualificada e a instituições como as uni‑versidades. No entanto, a inovação não é apenas o resultado da I&D, mas também do empreendedorismo aplicado ao investimento. Concebido na sua forma mais simplificada, o crescimento regional depende do potencial de atracção de capital e trabalho (sobretudo, o altamente qualificado) e na capacidade de tornar estes factores mais produtivos.

A sessão ‘Qualificação e Competitividade’, que decorreu no passado dia 18 de Maio de 2005 no âmbito do Porto Cidade Região teve por objectivo reflectir e lançar o debate sobre o papel da Universidade do Porto (UP) na cidade e região no que concerne às qualificações. O debate reuniu cerca de 25 personalidades liga‑das à UP, a empresas (e.g., Siemens, Unicer) e entidades com responsabilidades directas no desenvolvimen‑to regional (e.g., CCDR‑N), contando com dois oradores convidados, Ana Teresa Tavares (FEP, Consultora de várias instituições nos domínios do IDE – Investimento Directo Estrangeiro e desenvolvimento regional) e José Manuel Mendonça (FEUP, Presidente do INESC‑Porto, ex‑administrador da Agência de Inovação e da Fundação Ilídio Pinho).

A sessão iniciou‑se com um breve diagnóstico apresentado pela sua coordenadora, Aurora Teixeira, que finalizou apontando algumas questões a debater. Subsequentemente, os oradores convidados realizaram as respectivas intervenções. Ana Teresa Tavares enfatizou e detalhou as debilidades competitivas da Região do Norte, apontando a este nível três importantes défices: defice de formação, defice de cooperação e defice de articulação inter‑institucional. José Manuel Mendonça apresentou uma visão sistémica e abrangente do binómio Inovação‑Qualificações. A sessão prosseguiu com a abertura do debate às personalidades presentes, o que permitiu reunir um conjunto de questões/desafios que a UP deverá levar em conta na definição da sua estratégia de médio e longo prazo.

Qualificação e CompetitividadeAurora Teixeira*

1 Teixeira, A.A.C (2005), “I&D e capacidade de inovação portuguesa, 1960‑2001”, Dossier Inovação e Desenvolvimento, Economia Pura, Março/Abril 205, Ano VII, n.º 70, pp. 44‑52.

2 COM (2003), O papel das universidades na Europa do conhecimento, Bruxelas: Comissão das Comunidades Europeias.

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�. Diagnóstico

�.1. CompetitividadeUtilizando um conceito sistémico de competiti‑

vidade, poderemos considerar três níveis de compe‑titividade (macro, meso e micro) susceptíveis de nos dar uma imagem da posição relativa de Portugal e da região Norte.

A competitividade macro reflecte‑se num en‑quadramento macroeconómico estável e previsível. Normalmente é aferida, entre outros, por indicado‑res como o PIB (produto interno bruto) per capita, a dinâmica da evolução da produtividade total dos factores e da produtividade do factor trabalho. Os dados mais recentes disponíveis colocam Portugal numa posição delicada. De facto, se considerarmos o PIB per capita, medida a paridade dos poderes de compra (PPC), em 2004 Portugal atingia apenas 67% da média da UE15, sensivelmente o mesmo va‑lor que apresentava em 1995, atrás de países como a Grécia, Chipre ou Eslovénia.

Em termos da dinâmica das produtividades (to‑tal e do factor trabalho), a evolução tem sido desde 2001 desfavorável, com países como a Irlanda, Es‑panha e Grécia a apresentar em um ou nos dois indi‑cadores uma situação substancialmente melhor.

A competitividade meso envolve políticas e ins‑

tituições específicas capazes de moldarem as indús‑trias e o seu ambiente (institutos tecnológicos; cen‑tros de formação, universidades, etc.) e criarem uma vantagem competitiva; iniciativas locais e regionais de promoção da competitividade industrial com vis‑ta ao fortalecimento do contexto onde as empresas se inserem. A produção e exportação de produtos de elevada intensidade tecnológica são frequentemente associadas com este tipo de competitividade meso. Nesta perspectiva, Portugal, embora num patamar ainda muito aquém da UE15, tem apresentado na última década uma dinâmica considerável – em 1990 o peso das exportações de produtos de elevada inten‑sidade tecnológica nas exportações totais cifrava‑se em 3.5%, mais do que duplicando em 2003 (7.4%) este valor.

Interligando as dimensões meso‑micro da com‑petitividade, é possível analisar o comportamento das regiões e empresas no seio de um país. Assim, observando a evolução do índice do valor acrescen‑tado (VA) por empresa e por trabalhador, adoptando o valor de Portugal como referência (Portugal=100), constatamos que a Região do Norte é a que apresen‑ta uma evolução menos satisfatória. É patente que a partir de 1998 (2000) a Região do Norte diverge em termos de VA por empresa (VA por trabalhador) face ao valor de Portugal Continental.

PIB per capita �004 (PPC)

50 100 150 200 250

LetóniaPolóniaLituâniaEstóniaEslováquiahungriaRep. ChecaMaltaPortugalEslovéniaChipreGréciaEspanhaUE 25ItáliaZona EuroAlemanhaUE 15FrançaJapão

holandaReino Unido

DinamarcaIrlandaEUALuxemburgo

UE15=100

FinlândiaSuéciaBélgica

Áustria

Figura 1 – Fonte: GEE, com base na CE (BD AMECO)

31 | painel

�.�. QualificaçõesAs qualificações traduzem competências para

usar efectivamente o conhecimento. Assim, com‑preende um conjunto amplo de características comportamentais tais como fiabilidade, capaci‑dade de trabalhar sem supervisão (autonomia) e responsabilidade.

As qualificações são um conceito complexo e difícil de operacionalizar, estando intimamente re‑lacionado com (e frequentemente operacionalizado através d(a)) a escolaridade, experiência e formação profissional, categoria ocupacional e sistemas orga‑nizacionais no seio das instituições/regiões/países.

Analisando um dos indicadores mais utilizados para aferir a performance educacional dos países – anos médios de escolaridade da população adulta (25‑64 anos) –, Portugal aparece em penúltimo lugar num conjunto de 30 países abrangidos pelo estudo da OCDE, com uma média de cerca de 8 anos de escolaridade para a população adulta.

Restringindo a análise a uma faixa etária jovem (25‑34 anos), em 2002 apenas 35% dos jovens por‑tugueses tinham atingido o ensino secundário ou superior. Não obstante a situação tenha melhora‑do comparativamente a 1992, a percentagem para Portugal está ainda muito aquém de outros países europeus. Por exemplo, em 2002, na Espanha essa percentagem ascendia a quase 60%, na Grécia 74%, na Irlanda 77% e nos EUA 87%.

Esta má performance em termos de escolarida‑de não pode, no entanto, ser justificada por sub‑in‑vestimento em educação, já que o peso no PIB da despesa (pública e privada) em educação apresenta, em 2001, valores relativamente elevados (quase 6% do PIB). Esta imagem quantitativa não permite, no entanto, apurar se tais investimentos têm sido efi‑cientemente aplicados. A questão não é tanto, mui‑tas vezes, a de quanto se investe, mas em que é que se investe e como.

É importante averiguar não só a quantidade de escolaridade, mas, sobretudo, o tipo de escolaridade dos licenciados portugueses, isto é, o tipo de oferta que o nosso sistema de ensino produz. Focando‑nos numa questão crítica ao nível da formação avançada – licenciados em Ciência e Tecnologia – é nítida a tendência crescente nesta última década.

Não obstante a melhoria qualitativa do ‘lado da oferta’, o ‘lado da procura’ continua excessivamente concentrado em profissões caracterizadas por baixas qualificações e habilitações – em 2004, 55.3% do

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

UE15

Portugal

Irlanda

Grécia

Espanha

Figura � – Evolução real da produtividade total dos factores, 199�‑�004. Fonte: GEE, com base na CE (BD AMECO)

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120

125

130

135

140

145

150

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Grécia

UE15Portugal

Irlanda

Espanha

Figura � – Evolução real da produtividade do trabalho, 199�‑�004. Fonte: GEE, com base na CE (BD AMECO)

0

5

10

15

20

25

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

%

EU15 Portugal

Figura 4 – Exportações de produtos de elevada intensidade tecnológi‑ca como percentagem do total das exportações. Fonte: Eurostat 2004

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve

Figura � – Índice do valor acrescentado por empresa (Portugal=100). Fonte: Estatísticas das Empresas – INE

32 | painel

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0

MéxicoPortugalItáliaTurquiaEspanhaGréciaNova ZelândiaFrançaBélgicaÁustriahungriaCoreiaPolóniaSuéciaRep. ChecaFinlândiaEslováquiaJapãoReino UnidoEUAIrlandaSuíçaLuxemburgoCanadáAustráliaDinamarcaAlemanhaIslândiaholandaNoruega

Figura 7 – Anos médios de escolaridade da população com idades entre os ��‑64 anos. Fonte: OCDE, Education at a

glance 2004

79

65

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1991 1995 1998 1999 2000 2001 2002

Inferior ao secundário Secundário e cursos pós‑secundário não superiores Ensino superior

Figura � – Nível de escolaridade mais elevada atingida pelos indivíduos com idades entre os ��‑�4 anos de idade, Portugal. Fonte: OCDE, Education at a glance 2004

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve

Figura 6 – Índice do valor acrescentado por trabalhador (Portugal=100). Fonte: Estatísticas das Empresas – INE

33 | painel

EU15 Portugal

1998

1997

1996

1995

1994

1993

2000

1999

2001

2002

2003

0

2

4

6

8

10

14

12

n.º

por

100

0

Figura 11 – Licenciados em C&T (por 1000 habitantes com idade entre os �0‑�9 anos). Fonte: Eurostat 2004

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0

Turquia

Grécia

Japão

Eslováquia

holanda

Irlanda

Portugal

Rep. Checa

Espanha

hungria

Alemanha

Reino Unido

México

Austrália

Suécia

Áustria

Dinamarca

Finlândia

França

Canadá

Noruega

EUA

Figura 9 – Despesa (pública e privada) em educação em percentagem do PIB, 199�. Fonte: OCDE, Education at a

glance 2004

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0

TurquiaLuxemburgoGréciaEslováquiaIrlandaRep. ChecaJapãoEspanhaholandahungriaAlemanhaItáliaReino UnidoÁustriaFinlândiaPortugalMéxicoAustráliaFrançaCanadáBélgicaNoruegaSuéciaIslândiaDinamarcaEUACoreia

Figura 10 – Despesa (pública e privada) em educação em percentagem do PIB, �001. Fonte: OCDE, Education at a

glance 2004

34 | painel

total de empregados desempenhavam funções rela‑tivamente desqualificadas.

Um relatório da OCDE, publicado em 2003, sobre a aprendizagem de adultos aponta que um dos factores que originam a continuidade crónica de baixas qualificações em Portugal é a excessiva especialização da economia em sectores industriais de baixo valor acrescentado. E adianta, “[p]or isso é que a velocidade de reabsorção dos trabalhadores para sectores mais avançados é a mais lenta de todos os países europeus e a base de baixas qualificações é a maior da UE”.

Corroborando esta ideia de desajustamento entre a oferta e a procura de qualificações, alguns estudos recentes apontam para o enorme desenvolvimento da capacidade científica nacional (grande dinâmica ao nível dos doutoramentos e publicações científi‑cas) mas sub‑utilização dos recursos formados, no‑meadamente em educação avançada (doutorados).3 O sector empresarial apresenta um nível muito baixo de emprego de doutorados – 113 em 1999, de acor‑

do com o Inquérito ao Potencial Científico e Tecno‑lógico de 2002. A Universidade, em concreto a UP, poderá neste domínio encetar esforços estratégicos que permitam alterar este cenário. Por exemplo, no âmbito do acompanhamento da Carta Europeia para as PMEs em Portugal, foi elaborado um relatório de Implementação pela Direcção Geral de Empresas, onde se apontam iniciativas relevantes, nomeada‑mente a formação do Instituto de Formação Empre‑sarial Avançada (IFEA), resultante de uma parceria entre a Universidade Técnica de Lisboa e o Tagus‑park. Foi assim lançado um programa de formação de empreendedores (o Programa Empreender) que já abrangeu 1400 pessoas.4

Analisando a questão da oferta‑procura de quali‑ficações, é importante averiguar o caso concreto da Universidade do Porto, ou seja, a situação em termos de distribuição actual das inscrições de alunos e con‑clusões por curso (oferta de qualificações). Em con‑creto, indagar se estará esta oferta adequada a uma mudança estrutural no sentido de desenvolvimento e

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0

humanísticas‑Línguas

Filo.‑Soc.‑Psi.

Arq.‑hist.

Direito

Eco.‑Gest.

Eng. Ele.‑Comp.

Eng. Civil‑Out.

Fis.‑Qui.‑Mat.

Biol.‑Geog.

Ensino Bas. e Biol.‑Geo.

Arq.‑Artes

Medicinas

Desporto

% TotalConclusões Inscrições

Figura 1� – Inscritos e licenciados por curso na UP no ano lectivo �00�/�00�. Fonte: Universidade do Porto, 20055

3 Cabral‑Cardoso, C., M. Fontes e A. Q. Novais (2003) “A Integração de Pós‑graduados nas Empresas e as Políticas de Formação Avançada de Recursos humanos na Década de 90”, Braga: Universidade do Minho. 2003; Fontes, M. (2004), “Emprego científico ou emprego para cientistas? Situação e perspectivas do mercado de trabalho para doutorados em Portugal”, Conferência Emprego Científico em Portugal. Que Futuro?, ABIC – Associação dos Bolseiros de Investigação Científica, Auditório do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, 19 Maio 2004.

4 GEEMEI, Temas Económicos – Empreendedorismo, Março 2005.

5 Humanísticas – línguas: L.L.M., var. Estudos Franceses e Alemães; L.L.M., var. Estudos Franceses e Ingleses; L.L.M., var. Estudos Ingleses e Alemães; L.L.M., var. Estudos Portugueses; L.L.M., var. Estudos Portugueses e Alemães; L.L.M., var. Estudos Portugueses e Espanhóis; L.L.M., var. Estudos Portugueses e Franceses; L.L.M., var. Estudos Portugueses e Ingleses. Filo‑Soc‑Psi: Jornalismo e Ciências da Comunicação; Estudos Europeus; Filosofia; Psicologia; Sociologia. Arq‑Hist: Arqueologia; história; história da Arte. Direito: Direito. Eco‑Ges: Gestão; Gestão e Engenharia Industrial; Economia. Eng Ele‑Comp: Engenharia de Redes e Sistemas Informáticos; Engenharia Electrotécnica e de Computadores; Engenharia Informática e Computação; Ciência da Informação; Ciência de Computadores; Optoelectrónica e Lasers. Eng Civ‑out: Engenharia Civil; Engenharia das Ciências Agrárias; Engenharia de Minas e Geoambiente; Engenharia Geográfica; Engenharia Química; Engenharia Mecânica; Engenharia Metalúrgica e de Materiais. Fis‑Qui‑Mat: Física; Física Aplicada; Física e Tecnologia dos Materiais; Física/Matemática Aplicada (Astronomia); Química; Matemática; Matemática Aplicada à Tecnologia. Biol‑Geog: Biologia; Bioquímica; Geografia; Geologia; Ciências do Meio Aquático; Ciências e Tecnologia do Ambiente. Ensino Bas e Biol‑Qui: Ciências da Educação; Biologia e Geologia (Ensino de); Física e Química (Ensino de). Arq‑Artes: Arquitectura; Arquitectura Paisagista; Artes Plásticas – Escultura; Artes Plásticas – Pintura; Design de Comunicação (Arte Gráfica). Medicinas: Medicina (FMUP); Medicina (ICBAS); Medicina Dentária; Medicina Veterinária; Ciências da Nutrição; Ciências Farmacêuticas. Desporto: Desporto e Educação Física.

0,7

9,0

8,5

8,3

8,2

10,1

11,0

12,3

13,2

18,9

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0

Forças Armadas

Quadros superiores/dirigentes

Especialistas/intelect. e científ.

Técn. e prof./nível intermédio

Operadores/instalações, máquinas,montagem

Pessoal administrativo

Trab. da agricultura e pescas

Trab. não qualificados

Pessoal de serviços/vendedores

Operários/artífices

Figura 1� – Distribuição (%) do emprego total por profissões, Portugal, �004. Fonte: GEE, com base no INE (Inquérito

Trimestral ao Emprego – série revista com base no Censos de 2001)

35 | painel

sustentação de indústrias de maior valor acrescenta‑do, mais intensivas em conhecimento e tecnologia.

Fazendo uma análise simplista (isto é, não consi‑derando eventuais alterações nas condições de aces‑so aos diversos cursos e as questões de retenções), é possível constatar uma tendência positiva no que respeita à frequência de cursos associados às tecno‑logias de informação – o peso dos inscritos no total surge‑nos superior ao das conclusões. No entanto, a tendência inversa emerge nos cursos relacionados com a Biologia, Físico‑Química e Matemática. Tal poderá constituir um factor de entrave à emergên‑cia e sustentação do muito publicitado (e desejado) ‘cluster’ das ciências da vida na Região do Norte.

3. Desafios/questões para a UP – síntese do debate

A criação de uma Europa do conhecimento re‑presenta para as universidades uma fonte de opor‑tunidades, mas também de desafios consideráveis. Assim, neste contexto, parece‑nos da maior perti‑nência e actualidade analisar de que forma as uni‑versidades, em particular a UP, podem aumentar a sua actividade ao nível de formação avançada e articular este incremento com o design e arquitec‑tura dos programas comunitários de apoio. Especial ênfase é dada à reflexão sobre a determinação das necessidades das empresas em termos de qualifica‑ções avançadas susceptíveis de as munir com instru‑mentos para enfrentar e ultrapassar os desafios de competitividade colocados pela ‘nova economia do conhecimento’.

No debate procurou‑se, pela interacção dos di‑versos intervenientes, equacionar em que medida é que a Universidade, nomeadamente a UP, pode, com terceiros ou tomando a iniciativa, desenvolver algumas acções decisivas para minorar os défices constatados em termos industriais e regionais.

Q1: Desajustamento oferta‑procura de qualifi‑cações e o papel da UP

A oferta de qualificação e a capacidade da uni‑versidade/sistema de ensino, em geral, gerar quali‑ficações tem impacto, e é uma condição para a al‑teração da especialização produtiva, em termos de competitividade, numa lógica de “technology push” pela via da oferta de qualificações. Por outro lado, a especialização produtiva gera uma determinada pro‑cura de qualificações que, aqui e além, está abaixo do nível de qualificações do lado da oferta. O tech‑

nology push e a demand pull parecem assim estar

algo desconexados.

Desafio:

Como poderemos criar causalidades cumulati‑

vas virtuosas? De que forma é que uma capacidade

acrescida de oferta de qualificações gera impulsos no

sentido da alteração do perfil de especialização ou o

próprio upgrading da especialização produtiva gera

uma procura de qualificações mais exigente, permi‑

tindo à universidade redefinir e re‑focar o seu ‘catá‑

logo’ de oferta?

Ao nível da região, esta conexão pode ser que‑

brada por fenómenos de migração de capital huma‑

no. Não está totalmente excluído de cogitação que

num espaço europeu que virá a incorporar as dispo‑

sições de Bolonha se venham a verificar dinâmicas

acrescidas de migração de capital humano. Existe

nomeadamente o risco de jovens mais desenvoltos

formados na nossa região não encontrarem postos

de trabalho científicos adequados à sua formação,

emigrando para outras regiões/países que têm neces‑

sidade deste tipo de mão de obra, já que apresentam

uma média etária do emprego científico bem mais

elevada do que a que existe na região Norte. No

entanto, neste contexto, a proximidade parece ser

ainda um factor relevante. Não é credível que uma

universidade gere qualificações avançadas em áreas

de ciências exactas e que isso seja viabilizado por

uma procura europeia. Não parece sustentável uma

formação de qualificações avançadas distante do lo‑

cal onde o emprego para essas qualificações exista.

Por definição, a procura da formação avançada é

mais implícita do que explícita, ou seja, o mercado

não a consegue explicitar completamente, mas uma

entidade independente consegue detectar essas la‑

cunas, mesmo que os próprios interessados não as

consigam identificar.

Desafio:

Como é que a UP pode intervir no domínio da

formação avançada, tentando criar a circularidade

virtuosa, ao nível das áreas que correspondem ao

chamado emprego científico, quer ao nível da for‑

mação avançada geral, quer ao nível da gestão?

Deverá a universidade remeter‑se a uma posição

– perfeitamente defensável – de oferecer formação

avançada sem se preocupar excessivamente com o

lado da procura de qualificações ou, pelo contrário,

deve ela própria intervir na criação e dinamização da

procura? Como fazer isso?

36 | painel

Q�: Bolonha e o tipo de formação associada ao �.º ciclo – mestrado versus pós‑graduação com estágio.

A ideia do 2.º ciclo, com a realização de um tra‑balho de investigação/dissertação de mestrado como componente chave e a ideia de que este irá ter um público mais alargado, sendo, para algumas profis‑sões, um degrau de acesso generalizado, levanta uma questão importante. Se se fala em emprego científi‑co não há grandes problemas, já que para o emprego científico este tipo de formação é adequado. Mas em muitas outras áreas, se pensarmos no 2.º ciclo como patamar em que muitos se situarão para entrar no mercado de trabalho, parece muito mais importan‑te a filosofia de estágios. Estes podem constituir um dos elos capazes de gerar a conexão entre oferta e procura de qualificações.

Desafio:Tal poderia passar por um modelo envolven‑

do duas ramificações: mestrado, visando aquisição e desenvolvimento de competências científicas; pós‑graduação sem tese, visando outro tipo de saí‑das profissionais em que o estágio é fundamental. Torna‑se necessário que a UP clarifique o seu pen‑samento estratégico em termos da formação do 2.º ciclo.

Q�: Capacidade de produção científica e de pa‑tentes pela universidade e inserção de doutores nas empresas.

Aferida pela produção científica e de patentes, a Região do Norte tem uma capacidade mínima de inovação. No entanto, para que o output da inovação ocorra é necessário produzir em quantidade, alar‑gando a base de profissionais, nomeadamente nas áreas ligadas às engenharias, matemática e física, ligados à C&T.

Desafio: Alargar a base das pessoas que são atraídas para

a C&T, ultrapassando os obstáculos que se deparam – nos EUA, em 2001 a administração Bush encetou diligências para que os jovens norte‑americanos pas‑sassem a gostar novamente da física e matemática. Tal iniciativa foi realizada não, como é comum, pela universidade que precisa de ‘clientes’, mas pelos grandes ‘patrões’ da indústria – formaram um con‑sórcio visitando eles próprios as escolas secundárias para sublinhar quão importantes são estas formações para a sustentabilidade do país.

Este alargamento da base deve, no entanto, ser

acompanhado de uma política de selecção de candi‑datos coerente e de qualidade. A universidade deverá ser capaz de influenciar os conteúdos programáticos de disciplinas chave e a qualidade de ensino ao nível do secundário, implementando, se necessário, pro‑vas de acesso que salvaguardem uma selecção justa dos mais capazes.

Necessidade de segmentação da formação terciá‑ria – “nem toda a gente pode/deseja realizar um mes‑trado”. Por exemplo, o estado da Califórnia adoptou o modelo 1‑2‑3: 1 mestre (no sentido de Bolonha) para cada � bacharéis, para cada � indivíduos com cursos de especialização não conferentes de grau.

Não é possível formar doutores para inserção nas empresas na perspectiva de que temos, ou iremos ter, grandes multinacionais. É importante colocar doutores nas empresas, dotando‑os de outras com‑petências, nomeadamente ligadas à gestão da C&T. O doutorado pode constituir deste modo o ‘pivot’/interface entre instituições, mas muito provavel‑mente não irá ser um investigador na sua área de doutoramento.

A universidade deve assim formar pessoas com competências em liderança, trabalho de grupo, acti‑vidades de criação de riqueza (empreendedorismo), estimulando a criatividade.

Não existindo em Portugal, e nomeadamente na Região do Norte, PMEs capazes de valorizar o co‑nhecimento científico produzido pela universidade, esta (embora não sendo o seu ‘core business’) poderia fazê‑lo através do estímulo à emergência de spin‑offs de base científico‑tecnológica, procurando criar “no‑vos empresários”.

Q4: Protagonismo das PMEs, multinacionais e universidade no sistema de inovação e implica‑ções para a procura de qualificações.

Necessidade de apreender o tipo de implicações na procura de qualificações e de colocar as PMEs no centro do sistema de inovação. A universidade poderia questionar se no centro do sistema de ino‑vação não poderia estar outro tipo de organizações – empresariais ou para‑empresariais – cuja procura de qualificações é determinante. Por exemplo, no centro do sistema de inovação poderiam estar uni‑dades empresariais externas em relação às quais a questão não é tanto de competitividade mas antes de atractividade.

Estamos no ‘mapa’ ou não estamos no ‘mapa’ sob o ponto de vista de decisões de IDE (Investi‑

37 | painel

mento Directo Estrangeiro) em algumas áreas rele‑vantes, a fim de transformar a nossa especialização produtiva?

Desafio:Estar no ‘mapa’ não significa, em primeiro lugar

a oferta de amenidades ambientais e culturais, ou o ordenamento do território. O primeiro passo para estar no ‘mapa’ é ser capaz de oferecer uma massa crítica importante de formação/qualificações asso‑ciada à tecnologia.

Q�: Sistemas educativo, de formação e C&T e modelo de financiamento e avaliação.

habituámo‑nos a um modelo de financiamen‑to input‑based e nada output‑based. Os sistemas input‑based e dominados pela oferta não estão habi‑tuados a funcionar sob a óptica da procura implíci‑ta ou explicita. São sistemas que gizam a oferta das suas formações em função das características dos seus formadores.

Constata‑se que o sistema de formação tem tido uma capacidade reivindicativa e de atracção de des‑pesa impressionante. Testemunho deste facto foi a forma como este sistema regulou a distribuição dos fundos estruturais.

Os sistemas de formação europeus mais moder‑nos (e.g., escandinavos), mesmo com preocupações sociais, são fortemente output‑based. A maneira como se avalia a qualidade da formação em Portugal é a priori e em termos de creditação/certificação – não há nenhum instrumento válido de avaliação da qua‑lidade dos cursos de formação, isto é, output‑based.

A escassez na avaliação de resultados tem tido implicações “tenebrosas”: repetição sucessiva das mesmas receitas, com os mesmos erros e os mesmos resultados. “Não se começa onde se acabou da últi‑ma vez, antes acaba‑se onde se havia começado ...” Parece existir uma total incapacidade para segmen‑tar problemas, experimentar soluções novas e depois avaliar os resultados.

Desafio:As organizações têm que se habituar a que o fi‑

nanciamento é para gerar resultados e não para re‑produzir as respectivas máquinas. Tal explica a ob‑servação de que durante os oito anos de programação

de fundos sociais europeus em Portugal, a formação de activos, liderada por instituições do lado da oferta de qualificações, seja espantosa. No entanto, quan‑do se passa para a formação empresarial – formação de apoio às empresas –, é um fracasso (“o PRIME é um fiasco!”). É relativamente fácil encontrarmos activos, mas não temos a certeza de que a formação desses activos esteja minimamente ligada a uma es‑tratégia empresarial.

Q6: Ausência de sistemas efectivos de avaliação de resultados nas universidades e a miragem das ‘�00 maiores’.

Não obstante, ao nível das universidades, e em concreto da UP, não apresentarmos alguns dos ‘dé‑fices’ atribuídos ao sistema produtivo (ausência de massa crítica, concentração em elos da cadeia de valor pouco sofisticados, défice de formação), a si‑tuação é problemática. No ranking das ‘500 maiores’ universidades, seja qual for o critério de avaliação, apenas aparece a Universidade de Lisboa (devido ao Prémio Nobel de Egas Moniz!). Os espanhóis têm 5 ou 6, e o Brasil, para quem frequentemente olhamos com ar sobranceiro, aparece com 3 ou 4 universidades.

Qual é a perspectiva de alguma vez virmos a ter algumas universidades entre as ‘500 maiores’? Aparentemente, pelo menos nos próximos anos, nenhuma.

Como é que isto se passa sem que nós não este‑jamos ‘profundamente inquietos’?

Ainda estamos relativamente protegidos por uma falta de mobilidade dos nossos jovens; temos um input mais ou menos seguro e parecemo‑nos contentar com esta ‘mediania’. Tal parece estar inti‑mamente ligado a problemas organizacionais de in‑capacidade de segmentar problemas, experimentar soluções e medir efectivamente os resultados, ten‑tando escolher as melhores práticas.

Os académicos parecem não olhar para as mes‑mas questões que afectam o sistema empresarial com o mesmo grau de exigência, mesma sensação de se encontrarem num “beco sem saída”, pois não foram ainda confrontados. Possivelmente, Bolonha constituirá a sua ‘globalização’!

* Coordenadora da sessão. A autora é Professora Auxiliar da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, na Secção de Macroeconomia e Economia Monetária e Financeira do Grupo de Economia e investigadora do CEMPRE – Centro de Estudos Macroeconómicos e Previsão

�� | painel

Competitividade e qualificaçõesA competitividade é um conceito complexo,

multi‑nível e sistémico, podendo referir‑se a paí‑ses/regiões (dimensão espacial); sectores/indústrias/empresas (dimensão da actividade); e entender‑se como um conceito associado ao presente e/ou ao fu‑turo (enfatizando a sua dimensão dinâmica, ligada à inovação). Este artigo foca a dimensão da compe‑titividade territorial, especificamente da cidade do Porto e da região Norte, e perspectiva como a Uni‑versidade do Porto (UP) poderá contribuir para esta competitividade, ajudando a formar as competências necessárias e procuradas e a antecipar necessidades futuras de qualificações.

Na actualidade, é indiscutível que existe uma ligação estreita entre qualificação de recursos hu‑manos e competitividade. Excluindo a competitivi‑dade baseada no esmagamento de custos laborais, um modelo cada vez menos duradouro e válido para países desenvolvidos, subsistem poucas dúvidas de que a competitividade sustentada de uma região e das suas empresas assenta na disponibilidade de uma força de trabalho qualificada,.

Situação actual e desafios – Norte de Portu‑gal

Na presente conjuntura, Portugal (e a região Nor‑te) enfrenta desafios não negligenciáveis. A situação é preocupante per se, mas sobretudo comparativa‑mente a outros países do nosso espaço económico fundamental, a União Europeia (UE).

Portugal ultimamente tem caído bastante nos ín‑dices de competitividade mais difundidos, como o World Competitiveness Yearbook, que avalia cerca de 300 indicadores de competitividade (45.º lugar no ranking de 2005, face ao 39.º lugar atribuído no ano transacto). Em termos genéricos, Portugal é classi‑ficado como menos competitivo que países como a

Estónia, a Malásia e o Chile. O desempenho de Por‑tugal é particularmente desfavorável em indicadores relacionados com o empreendedorismo e o sistema educativo. Por exemplo, em 2005 ocupa o 54.º lugar na adequação do ensino a uma economia quantitati‑va, 53.º na literacia económica, 55.º no ensino da ci‑ência, e 53.º no interesse dos jovens na ciência, atrás de diversos países em vias de desenvolvimento.

Tais debilidades competitivas decorrem de múl‑tiplos factores institucionais, organizacionais e com‑portamentais. Nomeadamente, das características do tecido produtivo (estrutura assente em PMEs de matriz familiar e individualista, frequentemente sem gestão profissional, fragmentação, não cooperação e não articulação de actores; falta de dimensão e de massa crítica), concentração em elos menos sofisti‑cados da cadeia de valor (enfoque na produção, ha‑bitualmente a parte menos rentável desta cadeia). A nível institucional, precaridade e incerteza quanto a políticas públicas e instabilidade de liderança, con‑jugada com pouca independência das instituições face aos swings do ciclo político.

Em suma, entende‑se que a falta de competitivida‑de assenta, sobretudo, em três défices: de formação, de cooperação e de articulação inter‑institucional.

Focando especificamente o défice de qualifica‑ções em Portugal, este é deveras preocupante, pela escala do fenómeno e pela inevitável persistência, nas próximas décadas, de indicadores muito abaixo da média europeia.

Grassa o abandono escolar: segundo o Eurostat, em Portugal, 39,4% da população entre 18 e 24 anos não termina o ensino secundário. O mesmo indica‑dor para a UE‑25 é de 15,7%; para a Grécia, 14,9%; para a Irlanda, 12,9%; para a Eslováquia, 7,1%; e para a República Checa, 6,1%. Na UE‑25, somente Malta tem pior desempenho que Portugal (45%).

Um indicador relacionado é o que respeita à

O Porto e a Região Norte como Pólos de Atractividade e Competitividade – o Papel da Universidade do Porto no Processo

Ana Teresa Tavares

39 | painel

percentagem das pessoas na faixa etária 20‑24 anos que completaram pelo menos o ensino secundá‑rio: 43,7% em Portugal (94% na Eslováquia, 91,7% na República Checa, 90% na Eslovénia, 76,6% na UE‑25, 81,7% na Grécia, 83,9% para a Irlanda…). Mais uma vez, só Malta nos ‘suplanta’, pela negativa – 39%.

Este mau desempenho em termos de indicado‑res de qualificações é um dos factores determinantes que mais negativamente afectam a produtividade, a capacidade de absorção de novas ideias e a capaci‑dade de lidar com tecnologia avançadas. O quadro seguinte compara a produtividade do trabalho (em paridades de poder de compra) entre diversos países europeus.

Portugal apresenta uma produtividade mui‑to mais baixa que qualquer congénere da UE‑15, tendo já sido ultrapassado pela Eslovénia, hungria e República Checa, de entre os países do recente alargamento. Note‑se a discrepância face a Espanha e à Grécia, para já não falar face a economias como a Irlanda e o Luxemburgo – e refira‑se, paralelamente, que se a situação não fosse expressa em paridades de poder de compra, seria manifestamente pior. Os imi‑nentes candidatos a um futuro alargamento (Bulgá‑ria e Roménia) têm uma produtividade de cerca de metade da portuguesa – mas custos laborais numa proporção ainda menor.

No quadro seguinte, fornecem‑se alguns dados sobre custos laborais, onde é notória a vantagem de custos que a Europa de Leste apresenta face a Portugal (conjugada com melhores qualificações em diversas áreas).

Num mundo globalizado, os baixos custos em que assentava a capacidade competitiva das empre‑sas nacionais erodiram‑se face a novos concorren‑tes, sobretudo asiáticos. Portanto, impõe‑se apostar num novo paradigma (ou ‘modelo’) onde a inovação se assume como a vantagem competitiva crucial. Mais uma vez, para tal, são necessárias pessoas qualificadas.

Reforçando esta ideia com um indicador comple‑mentar, salienta‑se também o predomínio das expor‑tações de produtos de baixo e médio conteúdo tecno‑lógico. Se atentarmos no indicador ‘Exportações de produtos de alta tecnologia como % das exportações totais’, do Eurostat, temos que Portugal e a Grécia exportam somente 7,4% deste tipo de produtos, en‑quanto que para a UE‑25 tal valor é de 17,8%, para a República Checa de 12,3%, para a hungria 21,3%, Finlândia 20,6% e Irlanda 29,9%. Tal documenta o predomínio de actividades de baixo valor acrescen‑tado e reduzido conteúdo tecnológico.

A única forma de sair deste ciclo é através da formação/qualificação, compreendendo a relevância

Quadro 1 – Produtividade do trabalho (PIB ppc por pessoa empregada) relativamente à UE‑��

199� �000 �004 �00� �006

EU (25 países) 100.0 100.0 100.0 (f) 100.0 (f) 100.0 (f)

EU (15 países) 109.4 107.6 106.7 (f) 106.5 (f) 106.3 (f)

República Checa 57.1 59.2 63.9 65.5 (f) 67.2 (f)

Grécia 84.3 86.8 96.6 97.5 (f) 98.2 (f)

Espanha 103.3 98.6 100.1 99.3 (f) 98.3 (f)

Irlanda 113.6 123.2 134.1 (f) 136.3 (f) 138.9 (f)

Luxemburgo 138.7 155.0 146.0 145.7 (f) 145.0 (f)

hungria 57.7 60.8 69.2 70.5 (f) 71.4 (f)

Malta : 88.9 83.6 83.3 (f) 83.0 (f)

Polónia 43.6 50.5 59.6 60.7 (f) 61.8 (f)

Portugal 69.4 71.6 66.2 (f) 65.8 (f) 65.7 (f)

Eslovénia 60.9 (e) 69.7 75.9 77.5 (f) 79.3 (f)

Eslováquia 46.3 (e) 54.7 59.4 61.1 (f) 62.7 (f)

Finlândia 108.4 110.6 110.1 111.4 (f) 112.0 (f)

Bulgária : 31.6 31.0 (f) 31.8 (f) 32.4 (f)

Roménia : 28.2 35.9 (f) 37.4 (f) 38.8 (f)

(e) Estimado (f) Previsto

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do capital humano como principal activo estratégico de uma economia moderna.

Procura e ofertaA UP deverá assumir‑se, desde logo, como um

parceiro estratégico neste processo de melhorar a competitividade territorial do Porto e da região Nor‑te. Como o poderá fazer dependerá da forma como responde à procura de qualificações e como molda a oferta das mesmas.

Uma universidade presciente deve, prima facie, saber identificar as competências e qualificações re‑queridas pelos actores económicos, para que estes sejam, eles próprios, competitivos. A universidade deverá adaptar‑se aos novos desafios de um mundo globalizado onde tudo é mais rápido, e onde a com‑petição é mais aguda. Deverá, portanto, proporcio‑nar uma resposta eficaz às necessidades formativas requeridas e valorizadas pelo mercado.

Por outro lado, a universidade não deverá adop‑tar uma estratégia meramente reactiva face à procu‑ra, aos seus ‘clientes’: deverá criar – antecipando o futuro e, também, intervindo na estruturação de um sistema territorial moderno – uma oferta de quali‑ficações e competências viradas justamente para o longo prazo. Neste caso, como diz uma conhecida lei económica (Lei de Say), “a oferta cria a sua pró‑pria procura”. Desta forma, contribui também para

empurrar e estimular o florescimento de novas ini‑ciativas, dado que existem recursos humanos quali‑ficados para as sustentar.

Deverá, além disso, apoiar a formação noutras competências sistémicas, como o ordenamento do território, ambiente/sustentabilidade e competên‑cias organizativas, dado que antes da inovação está a organização.

Ou seja, a dinâmica de qualificações anda em paralelo com uma dinâmica de regeneração empre‑sarial, estimulando‑se mutuamente, e ‘puxando‑se’ ou ‘empurrando‑se’ uma à outra, num processo dialéctico e construtivo, enfatizando sinergias (por exemplo, entre as qualificações formais, ‘certifica‑das’ pela universidade, e as qualificações obtidas nas empresas, ‘on‑the‑job’. A universidade também poderá exercer um importante papel de complemen‑taridade com outras entidades públicas e privadas, por exemplo realizando actividades de investigação básica/fundamental para as quais tais instituições não tenham vocação (e possivelmente recursos téc‑nicos e humanos) para desenvolver. Ou oferecendo formação ‘por medida’, conforme as necessidades dos actores empresariais e institucionais.

A ligação com as empresas (e outras entidades) é um aspecto crucial para a legitimação social e para a capacidade de colocação dos alunos no mercado de trabalho. Estudos recentes referem uma subuti‑

Quadro � – Comparação dos custos laborais entre países (em Euros)

País Salário Segurança social

Benefícios obrigatórios

Benefícios voluntários

Remuneração total & benefícios

Europa

Irlanda 29,949 3,219 ‑ 5,091 38,259

Espanha 20,605 6,511 ‑ 2,060 29,176

Grécia 17,654 4,936 ‑ 3,354 25,944

Portugal 14,123 3,354 ‑ 1,412 18,889

hungria 7,130 2,388 ‑ 428 9,946

Rep. Checa 6,814 2,385 ‑ 341 9,540

Polónia 6,495 1,307 65 390 8,257

Estónia 5,687 1,877 ‑ 57 7,621

Eslováquia 4,795 1,506 ‑ 240 6,541

Lituânia 4,247 1,317 ‑ 85 5,649

Letónia 3,799 915 ‑ 38 4,752

Outros

China 1,445 851 ‑ 72 2,368

Índia 1,654 304 ‑ 66 2,024

Fonte: Mercer hR Consulting

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lização dos recursos formados (designadamente em níveis superiores – doutorados). Esta ligação com empresas pode ser feita de várias formas, ao nível da licenciatura (promovendo estágios de alunos e re‑cém‑licenciados), pós‑graduação (por exemplo, orga‑nizar programas de doutoramento em parceria com empresas) e em âmbitos complementares (investiga‑ção, consultoria e prestação de serviços vários).

Em Portugal, urge intensificar este tipo de rela‑cionamento. Em diversos países, é notório um vin‑cado empenho na ligação com o mundo empresa‑rial, bem como na promoção do empreendedorismo (veja‑se a criação de incubadoras nas universidades, um fenómeno ainda novo e incipiente em Portugal, mas deveras estabelecido em países como a Itália e os EUA).

Outra área em que importa investir é a formação contínua. Em Portugal (dados de 2003, Eurostat), somente 3,7% da população adulta (25‑64 anos) participava em iniciativas de educação e formação, enquanto que na UE‑25 tal proporção era de 9,9% (na República Checa, 5,4%; na Estónia, 6,2%; na Espanha, 5,8%; na Eslovénia, 15,1%; na Dinamarca, Finlândia e Suécia, respectivamente: 25,7%, 25,3% e 34,2%). Os números falam por si.

Felizmente, esta área está a ser alvo de atenção (nomeadamente, pela UP): a UP poderá sem dúvida desempenhar um papel de relevo neste âmbito, a ní‑vel avançado, numa variedade de cursos de duração e profundidade variáveis.

Dado o exposto, afigura‑se‑nos que a universi‑dade se constitui como elemento fundamental de uma política sistémica de promoção da competitivi‑dade. Contudo, o sucesso de tal política necessita da materialização de importantes complementaridades com outros actores, frequentemente envolvendo de‑cisores empresariais e políticos, em várias esferas.

Benchmarking internacionalQuando se realizam reflexões prospectivas quan‑

to a caminhos a trilhar, uma das formas mais sábias e lógicas de actuar consiste em olhar para as melhores práticas, sobretudo num cenário internacional. Nes‑te contexto, valerá a pena considerar alguns casos emblemáticos, como os da Irlanda, de Singapura, da Malásia e da Costa Rica, que foram alguns dos mui‑tos países que se empenharam em numerosas inicia‑tivas de política pública para melhorar a qualidade e a adequação do ensino, a diversos níveis (nomeada‑mente superior).

Em Singapura, o Economic Development Board (agência de desenvolvimento e de promoção de in‑vestimento do país) fez recentemente uma tentativa de moldar o sistema educativo nacional de acordo com os requisitos das empresas/indústrias. Tal es‑forço iniciou‑se em 1997 com o ‘World Class Univer‑sities Programme’, cujo objectivo era estabelecer dez instituições de ensino internacionais de prestígio, a fim de fornecer cursos de elevada qualidade em te‑mas procurados pela indústria. Singapura já tem 8 escolas destas – americanas e europeias.

No entanto, nem todos os países necessitam de ‘importar’ instituições de ensino e cursos novos – aqui, na UP (e noutras universidades), há massa crítica e recursos para adaptar a oferta formativa sem ser indispensável importar escolas.

Outro caso emblemático, e sobejamente refe‑rido, é o da Irlanda. Neste país, a IDA (Industrial Development Authority) assumiu um importante papel na decisão de moldar a política educativa em sincronia com a procura da indústria. Em 1997 foi formado um grupo de especialistas (Experts Group on Future Skill Needs), a fim de identificar as futuras necessidades de qualificações dos principais secto‑res e recomendar acções para o desenvolvimento de recursos humanos.

Em África, um grupo de países, com o apoio do Banco Mundial, iniciaram a Universidade Virtual Africana (African Virtual University) para suprir ca‑rências ao nível terciário. Nasceu em 1997, com 17 países participantes, e já produziu 24.000 graduados em Tecnologia, Engenharia e Gestão. O principal objectivo desta iniciativa era proporcionar educação de nível terciário de elevada qualidade para respon‑der à procura. Esta iniciativa é acusada de ter eficá‑cia duvidosa, já que muitos destes graduados saem de África.

IDE e investimento de qualidade – mais que de quantidade

A dimensão qualitativa do investimento é quiçá mais interessante que a sua congénere quantitativa, e é um tema muito mais negligenciado. A qualidade do investimento não é um conceito estático; evolui potencialmente ao longo do tempo, para melhor ou pior. Uma das formas relaciona‑se com a evolução estratégica das empresas – desejavelmente para acti‑vidades mais intensivas em conhecimento –, e mais uma vez se nota que tal pressupõe recursos huma‑nos com formação à altura.

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Daí novamente a importância da UP para afir‑mar o Norte como um pólo de atractividade, o que se manifestará, na prática, através da atracção de actividades inovadoras e da fixação de recursos hu‑manos especializados. E tal está, frequentemente, ligado à captação de investimentos de elevado va‑lor acrescentado, em suma, de empresas e produtos competitivos. Neste sentido, a competitividade de uma região constrói‑se apoiando‑se habitualmente num mix de recursos endógenos e exógenos. A este nível, o exemplo do investimento directo estrangeiro (IDE) é elucidativo (e o que é dito subsequentemen‑te é aplicável ao investimento nacional, também). Normalmente, uma região/país tenta atrair com‑petências e tecnologias de que não dispõe, ou que não consegue produzir facilmente, sendo mais fácil ‘importá‑las’. Esta (materialização de spillovers tec‑nológicos) é uma das grandes razões que legitima a corrida actual (e impiedosa) ao IDE. Contudo, como os inúmeros estudos demonstram, não se consegue atrair (e muito menos manter) IDE de alto valor acrescentado se não houver um tecido local e recur‑sos humanos à altura, com capacidade de absorção das tecnologias e novidades trazidas pelo investidor. Ou seja, cada região/país recebe o IDE que merece.

Partilhamos desta opinião, embora tenhamos uma visão menos passiva da postura do tecido local – ou seja, a existência de uma mão‑de‑obra qualifi‑cada e competente, bem como de empresas dinâmi‑cas, pode interagir de forma proactiva com eventu‑ais investidores estrangeiros, num processo mais de criação de tecnologia, de interdependência, do que propriamente de transferência pura e simples das tecnologias de outrem. Sendo assim, a formação de capital humano assume‑se plenamente como vanta‑gem locacional, facilitando o (nem sempre pacífico) contributo das multinacionais estrangeiras para o desenvolvimento das regiões de acolhimento e para a dinamização e sustentabilidade dos “clusters” do‑mésticos, através de ligações locais, efeitos de de‑monstração e promoção da capacidade de inovação e de afirmação internacional dos territórios.

Desta forma, se o Norte quiser atrair investimen‑tos (nacionais e estrangeiros) de elevada qualidade, sustentáveis no longo prazo (o que não é indepen‑dente desta qualidade), deverá assegurar‑se de que os potenciais investidores encontrem rapidamente os recursos humanos de que necessitam. Por exem‑plo, a Irlanda conseguiu vencer o ‘torneio locacional’ para o investimento da Intel pois conseguiu atrair ra‑

pidamente (do estrangeiro, do próprio país, forman‑do novos) a expressiva quantidade de engenheiros informáticos necessária para viabilizar tal operação. A Costa Rica também conseguiu atrair uma ope‑ração da mesma empresa dado o seu compromisso com a intensificação (a nível terciário e secundário/técnico) da formação em inglês e em tecnologias de informação. Note‑se que este caso é ainda mais no‑tável, pois a Costa Rica nem figurava da lista inicial de potenciais localizações. Também o Skill Develop‑ment Fund (Fundo de Desenvolvimento de Compe‑tências) de Singapura, estabelecido em 1979, cons‑titui um bom exemplo de como as multinacionais estrangeiras podem contribuir para a formação dos recursos humanos locais. Outros exemplos provêm da Malásia, com o envolvimento do sector privado em iniciativas de formação, no designado Human Resource Development Fund (Fundo de Desenvol‑vimento dos Recursos humanos), promovendo par‑tilha de recursos e incentivos fiscais, entre outras iniciativas. Uma última experiência interessante a realçar é o Skills Development Centre (Centro de Desenvolvimento de Competências) de Penang, Malásia, considerado um dos mais emblemáticos casos de boas práticas de parcerias público‑privado na área da formação. Surgiu em 1989 para dar res‑posta à escassez de competências necessárias para sustentar operações de multinacionais estrangeiras nas zonas de processamento de exportações. Finan‑ciado pelos sectores público e privado, conjugando recursos de ambos, é agora auto‑financiado, e ofe‑rece uma multiplicidade de programas e cursos. Em Portugal, apesar de já haver intenções e ideias nesta matéria (por exemplo, um survey da Agência Portu‑guesa para o Investimento para tentar avaliar défices de competências), na verdade nunca foi realizado e implementado até ao fim um programa ou iniciativa do calibre das supracitadas experiências… na Ásia dos anos 70 e 80!

Os casos acima descritos ilustram exemplos de sucesso, mas note‑se que criticamente fundamen‑tados numa cooperação inter‑institucional, numa coordenação cuidada e num apoio declarado de de‑cisores de políticas públicas, que trabalharam em conjunto com universidades e escolas profissionais, com um notável grau de abertura e pragmatismo de todas as partes envolvidas. Por isso, há que operar uma grande mudança em Portugal para conseguir colmatar o défice de qualificações, já que capacida‑de de coordenação, articulação inter‑institucional e

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pragmatismo na implementação não são as maiores fontes de orgulho nacional. Mas, inquestionavel‑mente, é preciso começar já.

Considerações finaisA dinâmica de desenvolvimento empresarial co‑

existe e co‑evolui com uma dinâmica de formação e produção de competências. Reconhecendo esta co‑evolução, e assumindo o seu papel incontornável na oferta de qualificações, a universidade tem um papel fundamental, actuando por si e/ou em coope‑ração com outras entidades. A fim de se suprir o pro‑nunciado (um eufemismo para escandaloso) défice de qualificações em Portugal, impõe‑se uma aborda‑gem sistémica séria, como nunca ocorreu, incluindo diversos actores no processo de qualificação‑forma‑ção (empresas, universidades, agências de desenvol‑vimento e outras conexas; associações profissionais, empresariais, sectoriais, locais), trabalhando para um objectivo comum e esquecendo os usuais atavis‑mos e diferenças de discurso e estilo.

Olhe‑se, por exemplo, para experiências concre‑tas – os grandes projectos de outros países e algu‑mas experiências interessantes intramuros –, como a ‘Academia Siemens’ (um acordo de cooperação entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a Fundação Gulbenkian – que começou por viabilizar um programa de doutoramento em Bio‑logia Computacional, encontrando‑se a desenvolver outras iniciativas, nomeadamente em parceria com universidades).

Assim se promove a competitividade. As empre‑sas reestruturam‑se (se querem sobreviver). A uni‑versidade também – deverá ser, ela própria, compe‑titiva (ao nível dos seus vários ‘produtos’: os cursos e programas que oferece e os serviços que presta),

mantendo a sua identidade e especificidade, numa lógica muito para além do mercado, mas estando atenta a este. A universidade deve adaptar a sua oferta de qualificações às necessidades actuais – por exemplo, apostando em domínios como a engenha‑ria, biotecnologia, nanotecnologia, farmácia, medi‑cina e gestão, entre outros; formando recursos hu‑manos para actividades mais intensivas em conheci‑mento e tecnologia; enfatizando a familiaridade com o inglês; fomentando a capacidade de aprendizagem, como competência genérica imprescindível. Deverá também apoiar a regeneração de sectores ditos tra‑dicionais, a ‘espinha dorsal’ da economia do Norte, sensibilizando para novas tecnologias e melhores competências de gestão, trabalho em rede, planea‑mento estratégico, design, marketing, logística, as‑sim como aprofundar investigação em áreas como têxteis técnicos, materiais de construção/isolamento (madeiras, cortiça). Porque os sectores ‘tradicionais’ podem ser mais sofisticados que os ditos ‘moder‑nos’, nos materiais, nas tecnologias, nas práticas de gestão.

O desafio é, além da génese das boas ideias, sobretudo o da implementação – já que um bom diagnóstico e uma boa estratégia são, na melhor das hipóteses, tão bons como a sua implementação.

Suprir o défice de qualificações não será fácil, nem rápido; precisa tanto de intervenções ‘cirúrgi‑cas’, como de intervenções mais alargadas e funda‑mentais. Mas urge começar, para não persistir na ar‑madilha de baixas qualificações‑baixos rendimentos. E, assim, responder às necessidades de formação actuais, simultaneamente antecipando necessidades formativas futuras.

A autora é Professora Auxiliar da Faculdade de Economia, responsável pela Secção de Economia Industrial, Internacional e dos Recursos Naturais do Grupo de Economia, e investigadora do CEMPRE – Centro de Estudos Macroeconómicos e Previsão

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Qualificação: Condição Necessária e Suficiente para a Competitividade?José Manuel Mendonça

ResumoAs questões da inovação e da sua relação com a

competitividade das empresas, organizações, regiões e países ganharam espaço na agenda de políticos e jornalistas, consolidando uma visibilidade crescente junto dos meios académicos e empresariais e che‑gando ao cidadão comum.

Os exemplos da Irlanda e da Finlândia como países bem sucedidos porque inovadores ou a in‑questionável importância da educação e da investi‑gação são alguns dos temas repetidamente aborda‑dos e discutidos em diversos fora. Invariavelmente conclui‑se sobre as debilidades do país ou desta ou daquela região, pouco mais restando, muitas vezes, do que uma sensação de quase impotência perante a dimensão e a complexidade dos problemas.

E invariavelmente emerge, na raiz dessas debi‑lidades, quiçá como causa comum, o problema da qualificação das pessoas, das organizações e das condições de enquadramento.

Mas, apesar da envolvente de contexto ser hostil à inovação, há empresas que basearam o seu sucesso em produtos e serviços inovadores, há exemplos de exportação de ideias e tecnologias made in Portugal e a nossa “balança de pagamentos tecnológica” não é das piores. E, apesar de estarmos na cauda da Euro‑pa e da OCDE em termos do nível das qualificações e do desempenho escolar, há cientistas e grupos de investigação de excelência reconhecida a nível mun‑dial em muitos domínios.

Pretende‑se aqui deixar um pequeno contributo para melhorar a percepção das complexas relações entre qualificações, ciência e tecnologia, inovação de produtos e serviços e competitividade das em‑presas e organizações. Pretende‑se ainda defender que, das várias partes interessadas (“stakeholders”) neste problema, nem o Estado nem as empresas conseguem eximir‑se a fortes responsabilidades. Fi‑

nalmente, discutem‑se alguns dos desafios globais emergentes e alguns dos factores de mudança mais relevantes para uma resposta atempada e eficaz a esses desafios.

1. Condições de enquadramento e inovaçãoAs denominadas abordagens sistémicas à inovação

procuram analisar e compreender o funcionamento integrado do que se denomina sistema de inovação, composto por uma multiplicidade de actores – em‑presas, universidades e institutos de investigação, centros tecnológicos, organismos do Estado, etc. – que interactuam entre si em áreas na fronteira da ciência, da tecnologia e da inovação empresarial.

Estas abordagens ocupam‑se de países, regiões, sectores empresariais ou áreas tecnológicas no seu todo e procuram compreender as relações existentes entre indicadores de entrada do sistema, os parâme‑tros através dos quais se pretende alterar (melhorar) as características do seu funcionamento, e indicado‑res de saída, que avaliam o desempenho do mesmo sistema. O primeiro grupo inclui indicadores de in‑vestimento, em ciência e tecnologia ou na simples qualificação de recursos humanos, por exemplo, e o último inclui indicadores da eficácia com que esse in‑vestimento foi feito, como, por exemplo, valor acres‑centado, produtividade ou crescimento económico.

As abordagens sistémicas são, pois, perspectivas macro, topo‑base, que observam uma realidade inte‑grada e de evolução lenta e que interessam sobretu‑do a quem concebe e dirige políticas nacionais e sec‑toriais de inovação. A análise que se segue aborda, de forma sucinta, o posicionamento de Portugal no quadro europeu, avaliado quer em termos de indica‑dores de investimento (os indicadores de entrada) quer de indicadores de desempenho (os indicado‑res de saída) e a heterogeneidade que, a tal respeito, mostram as diferentes regiões.

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1.1 A relevância da ciência, tecnologia e ino‑vação

A relevância da ciência e da tecnologia na inova‑ção e na competitividade das empresas e das organi‑zações é inquestionável e os indicadores de ciência, tecnologia e inovação (CTI) são hoje em dia deter‑minantes em todas as avaliações comparativas entre países, regiões ou blocos económicos.

Nas áreas da CTI a posição da Europa em rela‑ção aos EUA e ao Japão, avaliada quer na perspecti‑va dos indicadores de investimento quer na dos indi‑cadores de desempenho, é geradora de preocupação. Acresce que alguns países em desenvolvimento, a China em particular, competem já com os países eu‑ropeus não só no sectores ditos tradicionais como em produtos e serviços de média‑alta tecnologia. A situação na Europa é muito heterogénea, com vá‑rios países à frente dos EUA e do Japão em muitos indicadores de CTI e outros muito atrás. Portugal posiciona‑se na cauda do grupo de países da União Europeia a 15 (UE‑15) e bem integrado no grupo dos novos países da adesão que a transformarão na União Europeia a 25 (UE‑25).

Na avaliação comparativa presente em (1) são utilizados como indicadores de investimento em CTI, entre outros, o número de horas anuais de for‑mação por trabalhador, a formação bruta de capital fixo (excepto construção civil), a despesa total com educação, a despesa de I&D, o número de investiga‑dores e o número de doutorados em ciência e tecno‑logia (em % do PIB e per capita). E como indicadores de desempenho utilizam‑se, por exemplo, o PIB por hora de trabalho, o número de patentes europeias

(EPO) ou nos EUA (USPO) per capita ou o número de publicações científicas per capita.

No que respeita ao investimento em CTI, os países da UE‑15 formam três grupos distintos (fi‑gura 1), podendo falar‑se de uma Europa a “três velocidades”:. o dos países nórdicos (Finlândia, Dinamarca e Sué‑cia), com níveis de investimento e taxas de cresci‑mento desse investimento claramente superiores à média da UE‑15 e até superiores às dos EUA e do Japão,

. o dos países do sul (Portugal, Espanha, Itália e Gré‑cia), com níveis de investimento bem inferiores à média da UE‑15 (a taxa de crescimento do inves‑timento em CTI em Portugal verificada no período 1995‑2000 caiu abruptamente em 2000‑2001, o mesmo se passando nos restantes membros do gru‑po dos países do sul),

. o dos restantes países (França, Reino Unido, Ale‑manha, Áustria, Irlanda, Bélgica e holanda), com uma posição intermédia quer em termos do nível quer da taxa de crescimento do investimento.

Quanto ao desempenho em ciência, tecnologia e inovação, fica evidente a existência de uma Europa a “duas velocidades” (figura �) no grupo dos países da UE‑15:. o dos países do sul, com um desempenho abaixo da média da UE‑15, e onde se observou em 2001 uma melhoria da Espanha e da Grécia e um descida de Portugal e da Itália,

. o dos restantes países, com um desempenho ligei‑

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Posição relativa do país em 2000 e taxa de crescimento anual, 1995‑2000Posição relativa do país em 2001 e taxa de crescimento anual, 2000‑2001

Figura 1 – Indicador composto do investimento em CTI: estados‑membro da UE‑1� (1)

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Posição relativa do país em 2000 e taxa de crescimento anual, 1995‑2000Posição relativa do país em 2001 e taxa de crescimento anual, 2000‑2001

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Figura � – Indicador composto do desempenho: esta‑dos‑membro da UE‑1� (1)

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ramente acima da média da UE‑15, destacando‑se a liderança da Suécia e a Finlândia.

Observa‑se aqui que a taxa de crescimento do in‑dicador composto do desempenho de Portugal cai de valores positivos no período 1995‑2000 para valores negativos em 2000‑2001, tal como se passa com a Itália. No caso da Espanha esta taxa também desce, mas permanece positiva, enquanto que a da Grécia sobe. Em valor absoluto, o desempenho de Portugal é o pior da UE‑15.

No contexto mais alargado da UE‑25, Portugal apresenta níveis de investimento em CTI e de de‑sempenho que o enquadram bem no grupo dos no‑vos países aderentes (figura �).

No “Portugal das Regiões” a heterogeneidade no esforço de qualificação é muito marcada: Lisboa e Vale do Tejo (LVT) absorve cerca de metade do in‑vestimento público em CTI e 60% do investimento privado, ficando a região Norte com 20% e o Centro com 13%. Na “Europa das Regiões”, LVT investe em CTI 0,7% do seu PIB e o Norte 0,6%, enquan‑to as regiões de excelência na Alemanha, Finlândia, França ou Reino Unido investem entre 3% e 5% dos seus PIB. E, na região Norte, deste valor de 0,6% a maior parte é investimento público: menos de 0,15% é investimento privado orientado para a valorização económica.

Não é pois estranho que, em resultado desta heterogeneidade no investimento, resulte nas dife‑rentes regiões um desigual desempenho. Assim, LVT apresenta de longe o melhor desempenho, não só em termos de PIB como de muitos outros indicadores, não só porque tem concentrado o grande esforço de

investimento público mas também porque atrai mais facilmente investimento privado qualificado que pro‑cura boas infra‑estruturas, recursos humanos qualifi‑cados e proximidade do poder de decisão. Apesar do razoável desempenho da sub‑região do Porto, a re‑gião Norte tem caído claramente, estando, a par com o Alentejo e os Açores, entre as regiões com menor produto do país e as regiões mais pobres da UE‑15.

1.2 Relação entre investimento e desempenho e factores de mudança do enquadramento

Apresentados os números, impõe‑se ressalvar dois aspectos. Em primeiro lugar, a relação entre o investimento em CTI e o desempenho que lhe pode ser imputado é uma relação não‑linear complexa, altamente dependente das condições de enquadra‑mento e das opções de política, as quais determinam a eficiência e a eficácia da atribuição do investimen‑to. A questão que se coloca a Portugal é simples: co‑nhecidas as condições de enquadramento bastante desfavoráveis, o problema do fraco desempenho de‑corre do facto do investimento ser escasso, ser pouco eficaz ou ser a um tempo escasso e pouco eficaz?

Por outro lado, existe sempre um atraso temporal entre qualquer aumento do investimento em CTI e o ambicionado efeito em termos de melhoria do desempenho. Isto é, os valores dos indicadores de desempenho reflectem o padrão de investimento de longo prazo. E, no caso de Portugal, por um lado, é muito recente a prioridade dada à CTI em termos de políticas públicas e, por outro lado, o tecido empre‑sarial, por variadíssimas razões, investe muito pouco em investigação e inovação.

No outro extremo da UE‑15, há casos óbvios de

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3 6

Figura � – Indicadores compostos previsionais do investimento e do desempenho: estados‑membro da UE‑1� e novos estados aderentes (1)

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sucesso em resultado de “boas práticas”. A Finlân‑dia é certamente um deles. Num estudo de 2004 da OCDE sobre o nível de aproveitamento escolar da população jovem, a Finlândia figura no primeiro lugar nas três áreas em avaliação – literacia, matemática e ciências – em resultado de uma política de educação que pretende aumentar de 70 % para 80 % a percen‑tagem de jovens em idade escolar que tem acesso à universidade. Em termos de desempenho, e segundo o Fórum Mundial da Competitividade, a Finlândia é “apenas” o país mais competitivo do mundo, à frente dos EUA, Taiwan e Singapura. Decerto não será uma simples coincidência. De observar também que cinco países do norte da Europa figuram no grupo dos dez mais competitivos do mundo, de acordo com (2).

O imprescindível aumento de competitividade dos países da UE face aos EUA, Japão e novos países emergentes, como a China, exige porém mudanças estruturais e a aplicação de instrumentos que permi‑tam implementar políticas de inovação eficazes na maioria dos países da UE‑15 e, de uma forma muito especial, em Portugal.

2. A inovação na empresaNuma outra perspectiva, a inovação é centrada

na empresa e nos seus projectos e actividades, ten‑do como alvo a melhoria dos produtos, processos e serviços com o objectivo do aumento de competi‑tividade num contexto de constante mudança e de exigência crescente.

É uma abordagem micro, base‑topo, que se de‑bruça sobre uma realidade de enorme dinâmica e volatilidade e que interessa sobretudo aos gestores e empresários responsáveis pela condução estratégica e pela gestão operacional da empresa.

2.1 Inovação: factor de competitividade com‑plexo e multi‑disciplinar

O conceito de inovação está, de uma forma ou de outra, ligado à invenção, à mudança, à melho‑ria. A curtíssima definição “innovation is profitable change” encerra o fundamental: a inovação é vista como mudança no sentido da melhoria, sendo que o conceito de “lucro” ultrapassa neste caso a visão economicista, podendo ser visto também como lu‑cro ambiental ou lucro social. Esta melhoria, porém, exige saber e criatividade.

Adoptando uma visão contemporânea da inova‑ção, pode dizer‑se que o seu principal objectivo é criar uma oferta distintiva que permita às organizações

diferenciar‑se da concorrência, antecipando‑se às neces‑sidades dos clientes através da apresentação de propostas de valor sempre renovadas. Inovar significa pois intro‑duzir algo de novo – melhor, mais barato, mais útil, mais eficaz – sendo que o novo obtém‑se alterando o existente e o novo induz alterações (e, inevitavelmen‑te, perturbações…) no que está estabelecido.

A inovação – nos produtos, processos, serviços ou negócios – permite às empresas diferenciar‑se da concorrência aos olhos dos clientes, que então per‑cepcionam os seus produtos e serviços como distintos e de maior valor, e tornarem‑se mais competitivas.

A inovação no produto ou no serviço pretende gerar vantagens competitivas oferecendo mais valor ao cliente. Mas a empresa pode também inovar na sua relação com o mercado, alterando o seu modelo de negócio. Em qualquer dos casos é imprescindível inovar nos processos tecnológicos e/ou nos métodos organizativos. Estas mudanças, que não são confi‑nadas mas ocorrem um pouco por toda a empresa, podem tomar a forma de uma alteração radical dos métodos, processos ou tecnologias ou, em alternati‑va, ocorrer através de melhorias incrementais.

Esta complexidade determina que a prática da inovação se apoie em saberes e qualificações diver‑sos, tanto de disciplinas das ciências sociais e huma‑nas que estudam o ambiente contextual da empresa – economia, sociologia ou psicologia – como de dis‑ciplinas que olham a empresa como um sistema so‑cial e técnico – empreendedorismo, comportamento organizacional e engenharia.

A inovação de produto, por exemplo, exige conhe‑cimentos fortes, muito próximos do “estado‑da‑arte”, em design, ergonomia, análise de valor, electrónica, mecânica, engenharia de materiais, processos de fabrico diversos, marketing, distribuição, etc. A ino‑vação é, hoje em dia, multidisciplinar, inter‑departa‑mental e inter‑empresarial.

As empresas inovadoras dispõem de uma vanta‑gem competitiva clara, mas não basta uma empresa assumir‑se como inovadora de forma pontual e espo‑rádica. As empresas inovadoras são‑no no médio e longo prazo e de uma forma estável, porque compre‑endem que a mudança nos negócios, nos produtos e nas estruturas organizacionais é a única constante. Assim, são conduzidas por forma a tornar o seu saber e o seu saber fazer obsoletos, antes que alguém (mer‑cados e concorrência) lhes imponha isso de fora. E, para serem capazes de o fazer com o ritmo e a agi‑lidade necessários, procuram construir “plataformas

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tecnológicas” em torno das suas competências nucle‑ares por forma a alavancar o investimento feito em I&D e tecnologia. Desta forma, são capazes de passar da “solução laboratorial” à “solução de engenharia” e desta à “solução produto‑mercado” sempre que agar‑ram uma oportunidade, frequentemente envolvendo nessa tarefa a parceria de clientes e fornecedores.

2.2 Um Portugal inovador?Em Portugal, um país que não será o exemplo

acabado de país tecnológico, inovador e competitivo, há todavia muitos e bons exemplos de sucesso em inovação. Num negócio tradicional – o da indústria do calçado – surgiu um “cluster” nacional de pro‑dutores de bens de equipamento com efectiva ca‑pacidade exportadora. Nas indústrias de moda, foi introduzida a, anteriormente inexistente, função “design”, que pressupõe inovação com forte carác‑ter diferenciador. Na banca e nos serviços há exem‑plos interessantes em que fomos precursores, como as máquinas ATM, a Via Verde ou os telemóveis pré‑pagos. Na indústria do software, há produtos e sistemas “made in Portugal” em nichos de mercado internacionais: clientes como a NASA, a Nokia, as redes de energia eléctrica ou a grande distribuição são apenas alguns exemplos. Para além de uma con‑siderável capacidade em indústrias de média‑alta tecnologia, como os moldes, máquinas eléctricas, fornecedores da indústria automóvel, farmacêutica ou alimentar, há ainda um número crescente de pe‑quenas empresas de base tecnológica que se defron‑tam, porém, com problemas de carência de capital semente e de ausência de mercado nacional.

3. Inovação empresarial: desafios globaisEntre os múltiplos desafios que se colocam hoje

em dia às empresas europeias e, por maioria de ra‑zão, às empresas portuguesas, alguns dos mais críti‑cos prendem‑se claramente com o papel da inova‑ção na melhoria do desempenho e no aumento da competitividade.

Em primeiro lugar, a inovação, que tem como ob‑jectivo o aumento de produtividade e de eficiência imprescindíveis para uma maior eficácia competi‑tiva, leva à optimização na utilização dos recursos e, inevitavelmente, ao aumento do desemprego. De facto, pode dizer‑se que, objectivamente, se “pro‑duzem mais coisas com menos pessoas” através de processos, tecnológicos ou não, crescentemente au‑tomatizados. Nos EUA, na década de 90, a produção

industrial aumentou em quase 50%, com uma dimi‑nuição do emprego industrial superior a 10% (3).

O segundo desafio surge com o emergir de um novo bloco económico nos mercados de exportação, a China, que tem vindo a crescer com ritmos próximos dos dois dígitos, ultrapassando já o Japão nas quotas de mercados de exportação. A China não se conten‑tará em ser a “fábrica mundial” dos produtos de baixa tecnologia e inferior valor acrescentado, competindo tanto em produtos como calçado e vestuário ou elec‑trónica de consumo e maquinaria sofisticada.

As respostas para estes dois problemas terão de ser encontradas na, muito falada mas nada trivial, alteração de paradigma industrial: a passagem do fa‑brico baseado em recursos para o fabrico baseado em conhecimento. E, ao fazer isso, ir de encontro, ou mesmo antecipar, os requisitos do mercado. No caso de Portugal, é óbvio que isto significa o abandono de um modelo de competição com base em produção com custos baixos da mão de obra, sofisticando a ca‑pacidade de fabrico e alargando‑a sistematicamente a outras funções, como design, engenharia e desen‑volvimento de tecnologia. E, simultaneamente, pro‑curar seguir os países mais avançados da Europa no caminho da valorização do conhecimento científico em termos de mercado, da orientação da I&D para a aplicação e no privilegiar da inovação tecnológica de base científica (“science‑based innovation”). Portu‑gal deve fazer tudo isto preparando‑se para competir em áreas de negócio de futuro para a Europa, como a saúde, os cuidados para a 3.ª idade, a preserva‑ção energética e ambiental, etc. O posicionamento nestas áreas em mercados regionais ou globais exige a participação em redes europeias e mundiais que facilitem o acesso aos mercados e à tecnologia.

De facto, Portugal é forte no fabrico, mas já foi provado que isso não chega. Ao controlar apenas o fabrico pode ser muita baixa a participação na cadeia de valor e sair muito fragilizada a posição de uma empresa, porque facilmente substituível. A resposta é evoluir no sentido de um maior valor acrescentado, incluindo funções a montante e a jusante do fabrico, e apostar nos produtos extendidos ou produtos‑serviço e nos serviços que se podem oferecer sobre produtos e sistemas com o objectivo de maximizar o valor para o cliente (figura 4). A disponibilização de bens e servi‑ços tem naturalmente de ir de encontro à satisfação das necessidades individuais e da sociedade, actuais ou emergentes. Pressupõe um excelente desempenho por parte dos fornecedores desses novos produtos e

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serviços em factores múltiplos e contraditórios – cus‑to, eficiência ecológica, qualidade, etc. –, tornando imprescindível a inovação, seja através da transferên‑cia e integração de conhecimento seja através do co‑nhecimento gerado por actividades de I&D.

De tudo isto decorre que tanto os padrões de consumo como os padrões de produção apresentem exigências crescentes de tecnologia. A complexidade dos produtos tem aumentado exponencialmente des‑de a década de 50 em todos os sectores, colocando os paradigmas da “convergência tecnológica” e das “novas competências” na ordem do dia. A cadeia de valor qualificação‑investigação‑inovação tornou‑se mais complexa e mais exigente em termos de recur‑sos. A multiplicidade de actores que têm um papel relevante e a dificuldade do problema em si próprio são bem retratados na Figura �, que associa a cada uma das fases dessa cadeia os actores mais relevan‑tes, mostrando ainda como evolui a necessidade de recursos nas diferentes fases.

O esquema ilustra ainda o difícil percurso que um resultado de uma actividade de I&D, uma nova tecnologia, por exemplo, tem de percorrer até ser

incorporado num produto‑serviço vendável no mer‑cado e, desta forma, gerar valorização económica e retorno do investimento realizado. O denominado “vale da morte” que se segue à curva de investimen‑to em I&D acolhe todos os resultados de I&D que, por razões técnicas, económicas ou de mercado, não passaram disso mesmo.

4. Portugal: factores de mudançaPara concluir, são agora revisitados alguns dos

factores de mudança alinhados numa perspectiva sistémica da inovação, quiçá resultando num menu de políticas públicas; é incontroverso que as mu‑danças reais terão de emergir “de baixo para cima” e sobretudo por acção dos principais interessados: as empresas. Em todos estes grupos de factores é evidente a fortíssima dependência das qualificações de indivíduos e de organizações.

4.1 Tecnologia e organizaçãoEsta é certamente a vertente que mais directa‑

mente diz respeito às empresas: serem capazes de utilizar tecnologia e modelos de organização e gestão

Disponibilização de VAOferta de produtosProdução de peças Oferta de serviços

Figura 4 – Do fabrico de peças à disponibilização de valor acrescentado

PROSPECTIVA / ROADMAPPING

Capital de risco Banca

InstituiçõesGovernamentais

Grandes Empresas

InvestigaçãoTecnológicaFundamental

I&DAplicado

Scale‑upda Produção

Penetraçãode mercado

Investimentode capital

Comercialização

Universidade

Empresas

tempo

Institutos de I&D

Investimentode I&D “Vale da morte”

Horizonte temporal

PROSPECTIVA/ROADMAPPING

FuturocontextoNEST

Tecnologia

Sociedade

Econom

ia

Natureza

Ciclo de vida das Tecnologias

AC

TO

RE

SA

CT

OR

ES

Figura � – Cadeia de valor investigação‑inovação (3)

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inovadores para criar vantagens competitivas, dife‑renciando produtos e serviços e melhorando a efici‑ência das suas operações.

Eficiência e optimização na gestão dos recursos. utilização de tecnologias avançadas de informa‑ção e comunicação para optimizar e potenciar processos de fabrico e de negócio inovadores (negócio electrónico, cadeias de fornecimen‑to, redes de empresas, engenharia simultânea, “empresa digital”).

Diferenciação através da tecnologia “estado‑da‑arte”. introdução de inovação tecnológica em sectores ditos “tradicionais”, através de novos materiais, novos paradigmas de design ou processos de fabrico radicalmente distintos, mais eficientes em termos de consumos de matérias primas, energia e resíduos.

Valorização do investimento em educação e ciência. através da adopção de políticas de empresa que permitam:

a) seguir de perto mercados e concorrentes através de actividades de vigilância e prospecti‑va tecnológica, por forma a melhor identificar e avaliar oportunidades de negócio;

b) potenciar as competências e as capacidades criativas dos recursos humanos, sobretudo nos processos de melhoria contínua;

c) transformar em vantagem competitiva a capa‑cidade tecnológica única apoiada no desenvolvi‑mento científico (“science‑based innovation”);

d) considerar os serviços de I&D pagos pela empresa como investimento a amortizar e ava‑liar os resultados e o seu impacto num quadro global de competitividade.

4.2 Sistema nacional de inovaçãoA melhoria do funcionamento do sistema de ino‑

vação em Portugal, contribuindo para aproximar as condições de contexto em que se movem as empre‑sas das que existem nos países mais desenvolvidos e competitivos, é uma alteração determinante que reveste diferentes perspectivas.

Liderança das grandes empresas no esforço de I&D nacional

. as empresas e grupos empresariais de dimen‑são são a chave para a convergência dos valores de investimento nacional em I&D com os da Europa, mas só se fizerem desse esforço de in‑vestimento em CTI uma das suas prioridades é que poderão observar a convergência entre a

sua produtividade e eficácia e as das empresas concorrentes no espaço europeu e global.

Estratégias sectoriais para os negócios do futuro e tecnologias nucleares

. é crucial reforçar os centros de competência sectoriais – centros tecnológicos e certos ins‑titutos de I&D –, sobretudo os que dominam tecnologias relevantes para a inovação nos sec‑tores exportadores (calçado, têxtil, cortiça, mol‑des, componentes para automóvel, etc.);

. é imprescindível o desenvolvimento de estraté‑gias de âmbito sectorial que tenham em conta o posicionamento comparativo (benchmarking) das empresas a nível internacional nas verten‑tes de inovação tecnológica e sectorial e con‑sequente definição de planos de acção para identificação e endogeneização generalizada de boas práticas.

Capital semente e lançamento de novos negócios. o financiamento de pequenas empresas de base tecnológica sofre da quase completa ausência de capital semente em Portugal, apesar do esforço pontual de algumas empresas de capital de ris‑co; urge lançar mecanismos, possivelmente com fundos com risco partilhado entre públicos e privados, para financiamento das primeiras fases dos novos negócios de base tecnológica;

. é imprescindível organizar as competências necessárias à avaliação das vertentes tecnoló‑gica e de mercado (due diligence) no caso de novas tecnologias dirigidas a novos mercados, sob pena de os investidores, sem o conforto de opiniões especializadas e experientes, recuarem face ao elevado risco percepcionado;

. os grandes grupos económicos poderiam actu‑ar como business angels em negócios emergen‑tes em áreas próximas das suas áreas de negó‑cio, com potencial de intervenção futura, ou em outras em que poderiam ter um interesse prospectivo;

. os constrangimentos decorrentes do mau funcio‑namento da máquina do Estado, das autarquias, etc., terão de ser rapidamente removidos.

4.3 Cooperação internacional – acesso a no‑vas tecnologias e a mercados emergentes

A cooperação internacional em diversas verten‑tes, sobretudo no quadro europeu, é imprescindível para acelerar as imprescindíveis mudanças. Para a Europa é crucial, por razões de ordem estratégica,

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manter as actividades de I&D e desenvolvimento tecnológico, apesar de países terceiros, como a Ín‑dia e a China, apresentarem mão‑de‑obra educada com custos muito inferiores. O off‑shoring da I&D pode implicar a perda de controlo de parte impor‑tante da cadeia de valor de determinados produtos, como quase aconteceu no passado na sequência da completa deslocalização para a Ásia das fábricas de montagem e teste de semicondutores das empresas europeias e americanas.

Parcerias para a exploração de mercados europeus emergentes e/ou de nicho

. a participação em negócios na área do ambiente exigentes em termos de tecnologia (energias re‑nováveis, produtos ecológicos, sistemas de con‑trolo ambiental, reciclagem, etc.) é potenciada através de parcerias internacionais;

. emergentes na Europa são também os merca‑dos da mobilidade, cultura, saúde ou cuidados para a 3.ª idade, nos quais as oportunidades de aplicação tecnológica são quase inesgotáveis.

Participação em redes europeias de I&D e em pla‑taformas tecnológicas inter‑empresariais

. a participação em projectos de I&D levados a cabo por consórcios europeus facilita o acesso a tecnologias, boas práticas, futuras parcerias e negócios conjuntos; para as PME’s esta parti‑cipação facilita, estimula e diminui os riscos à internacionalização;

. outros benefícios da participação em redes eu‑ropeias incluem: a imersão em ambientes com‑plexos de cooperação competitiva (co‑opetition); a aprendizagem de estratégias de protecção de direitos de propriedade intelectual; o evitar dos inconvenientes da fragmentação dos esforços de I&D, com a consequente redução do custo da aprendizagem.

4.4 Enquadramento estimulante – empresas e Estado consideram inovação prioridade po‑lítica “de facto”

A inovação está na moda, na agenda de jornalis‑tas e de políticos, porque é considerada fundamental para o aumento de competitividade e para o desen‑volvimento económico. Terá de ser encarada pelos

poderes públicos e pelas empresas como uma prio‑ridade política e um vector estratégico e não apenas como uma bandeira que projecte um ar fresco, mas falso, de modernidade.

Salto na educação e formação. ultrapassar o gravíssimo problema das qualifica‑ções básicas, nas quais Portugal está em último lugar na UE‑15 (12 anos de escolaridade para todos; combate ao abandono escolar; etc.);

. atrair mais jovens para as áreas “duras” das ciên‑cias e das engenharias e investir mais nas áreas problemáticas (matemática, física, química, etc.);

. reforçar o ensino tecnológico e a formação pro‑fissional de cariz sectorial;

. aproveitar o Acordo de Bolonha para melhorar o ensino universitário e oferecer mecanismos de mobilidade que facilitem e estimulem as rela‑ções universidade‑empresa.

Políticas de CTI exigem outras políticas. políticas da concorrência, regionais, fiscais, ambientais, do trabalho, etc., são essenciais para que as políticas na área da CTI possam dar um contributo forte para a competitividade das empresas e o seu efeito não seja diluído ou até anulado.

Atrair investimento estrangeiro em áreas de eleva‑do potencial

. prioridade ao investimento directo estrangeiro com capacidade de geração de emprego qualifi‑cado e de exportações “high‑tech” que produza efeitos multiplicadores nas redes locais de for‑necedores de bens e serviços, quer em termos de emprego quer em termos de qualificações exigidas.

Referências(1) Towards a European Research Area – Science Tech‑

nology and Innovation: Key Figures 2003‑2004, EC,

DG‑Research

(2) Fórum Económico Mundial‑FEM, Davos, Janeiro

2005

(3) Manufuture: R&D and Innovation Challenges, Pero,

hervé, EC, DG‑Research

O autor é Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, no Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores, e é presidente do INESC Porto.

Sessão 4Infra‑estruturas, Redes e Competitividade

1. IntroduçãoA quarta e última sessão do ciclo de workshops sobre o Porto Cidade Região teve por objectivo a aborda‑

gem do tema geral da competitividade numa perspectiva territorial, focando, em particular, o papel desem‑penhado pelas infra‑estruturas, redes e equipamentos de carácter colectivo.

Será certamente um lugar comum afirmar que o suporte infra‑estrutural das cidades e regiões é indissociá‑vel do debate mais amplo sobre os seus níveis de desenvolvimento económico e social. Se olharmos para as grandes transformações urbanas ocorridas desde a revolução industrial, verifica‑se um amplo consenso sobre o papel vital que a dotação de infra‑estruturas e redes teve na forma e funcionamento das nossas cidades e nos nossos modos de vida. Grande parte do núcleo central das maiores, mais influentes e interessantes cida‑des europeias encontra‑se ainda, nestes primeiros anos do séc. XXI, profundamente marcado pelo desenho urbano e pelos desenvolvimentos infra‑estruturais ocorridos no séc. XIX. Desde então, os espaços em que trabalhamos e habitamos são produto de laboriosos e complexos projectos de infra‑estruturação que tende‑mos a menosprezar, ou mesmo ignorar. Dando‑os como factos adquiridos, apenas os valorizamos quando, aqui ou ali, por uma falha de planeamento ou gestão, de trabalhos de manutenção ou por alguma catástrofe natural, entram em rotura ou deixam de funcionar devidamente.

Recentemente, as nossas sociedades têm sofrido profundas mudanças a um ritmo sem precedentes, naquilo que muitos têm designado como uma verdadeira aceleração da história. Tomando apenas os últimos vinte anos, assistimos à revolução das telecomunicações, à intensificação da globalização, ao fortalecimento da economia de mercado, à progressiva privatização de muitos serviços, equipamentos e infra‑estruturas de carácter social, à crise do Estado Providência, à contínua expansão da nossa esperança de vida e consequente envelhecimento da população, e à emergência de uma sociedade multicultural, estruturalmente diversifi‑cada e complexa, marcada, não obstante os avanços económicos e tecnológicos, por persistentes divisões religiosas e sociais.

Estas mudanças têm uma marcada dimensão territorial, em particular às escalas urbana e metropolitana. De facto, as profundas transformações de que falávamos não têm meramente repercussões de carácter físico, na forma ou aspecto geral das cidades. Assumem, sobretudo, uma dimensão funcional e estrutural, menos visível mas mais importante, induzindo e moldando novas formas de ocupação dos solos e redistribuição de actividades e funcionalidades. Em simultâneo, as relações entre espaços urbanos, suburbanos e envolventes rurais vão‑se complexificando e despadronizando. À emergência de territórios em perda, outrora pujantes como alguns centros tradicionais das nossas cidades, contrapõem‑se novos territórios em ganho, nas perife‑rias, a partir do nada ou de um súbito ganho de acessibilidade, e no entanto capazes de, desde logo, atrair vultuosos investimentos imobiliários, embora, em muitos casos, de sucesso tão rápido quanto efémero.

Por outro lado, os valores, comportamentos e atitudes da sociedade pós‑moderna, caracterizada por novas noções de espaço e tempo, parecem convergir na chamada sociedade em rede desta era da informação. Fluxos imateriais, na forma de trocas de dados, informações ou representações virtuais, desempenham um papel vital no desenvolvimento económico e social das nossas cidades e regiões. À semelhança das redes e das teias de relações que se estabelecem entre pessoas e entre empresas, assim as cidades se relacionam em rede com outras, em jogos de geometria variável, desafiando as noções tradicionais de espaços relacionais

Infra‑estruturas, Redes e CompetitividadePaulo Pinho*

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hierarquizados e de proximidade, face à emergência da chamada hiper‑mobilidade.

Paradoxalmente, esta era do imaterial parece de‑pender assim, e cada vez mais, dos bens materiais que compõem as grandes infra‑estruturas urbanas e regionais, como os lados opostos da mesma moeda. De facto, neste mundo acelerado e competitivo, as economias das nossas cidades são em grande parte dependentes de sistemas infra‑estruturais cada vez mais diversificados e complexos. Mas não se pense que as novas percepções do espaço e do tempo vie‑ram questionar o papel das grandes cidades e áreas metropolitanas, como alguns autores sustentaram até finais da década de 90, como se a revolução das telecomunicações tivesse sido capaz de banir por completo o atrito territorial e, desta forma, a pró‑pria noção de centralidade territorial. Na verdade, o oposto parece estar a ocorrer, isto é, os novos meios de comunicação e interacção têm funcionado como braços telescópicos das grandes cidades e áreas me‑tropolitanas que vêem, assim, os seus tentáculos ou áreas de influência alargar‑se a cada dia que passa, reforçando por esta via o seu papel, importância e poder.

No horizonte que ousamos prever e que quere‑mos e temos obrigação de ajudar a preparar, nem as cidades parecem susceptíveis de vir a desaparecer, nem as infra‑estruturas urbanas e regionais diminui‑rão o seu papel vital de suportes ao desenvolvimento económico e social. De qualquer modo, quer as ci‑dades quer as suas grandes infra‑estruturas e equipa‑mentos irão enfrentar importantes desafios capazes de transformar muitas das suas actuais qualidades e características. Neste contexto, importa agora focali‑zar a nossa atenção sobre o tema da competitividade no presente e no futuro do Porto Cidade Região.

2. A competitividade dos territóriosO campo de aplicação do conceito de compe‑

titividade não é exclusivo das empresas. Podemos também nele incluir as cidades, áreas metropoli‑tanas e regiões. Nestes casos falamos, talvez com mais propriedade, das chamadas vantagens compe‑titivas. Estas, por sua vez, e como é sabido, poderão diferenciar‑se em dois grupos; as económicas e as estratégicas. As vantagens competitivas de natureza económica incluem, correntemente, os factores lo‑cais de produção, a estrutura do tecido produtivo e o nível de dotação de infra‑estruturas e amenidades urbanas e regionais. As vantagens competitivas de

natureza estratégica referem‑se à eficiência adminis‑trativa, à existência de estratégias de projecção e de‑senvolvimento das cidades e regiões, à importância, extensão e significado das parcerias público‑privado e ao grau de flexibilidade exibido pelo suporte insti‑tucional em que assenta o sistema de governança (à escala urbana, metropolitana ou regional).

Este conjunto de factores pode ser sintetiza‑do adoptando a conhecida formulação de van Der Meer do hardware, do software e do orgware do de‑senvolvimento, em que o orgware reúne os factores organizativos, enquanto que o hardware se refere às infra‑estruturas, redes e equipamentos e o software ao capital humano. Nesta perspectiva de aplicação do conceito de competitividade às cidades e regiões, temos que encarar com naturalidade a existência de um mercado crescentemente global destes territó‑rios. No fundo, trata‑se de bens aos quais podemos associar uma função de utilidade que justificará a adopção de posições de planeamento e gestão mais agressivas, enquadradas com o chamado marketing urbano (ou regional). Por outras palavras, trata‑se de reconhecer a necessidade de projectar as cidades e metrópoles no exterior, elevando‑as e insinuando‑as aos grandes investimentos, de cuja captação as suas economias em grande parte dependem.

Como é sabido, aqueles investimentos tendem a pairar sobre os territórios, baixando selectivamente sempre que os seus detentores julgam ver reunidas as condições adequadas de remuneração e reprodu‑ção dos capitais investidos. A provisão adequada de infra‑estruturas e equipamentos e a oferta de níveis elevados de qualidade ambiental são, por vezes, os factores físicos decisivos do sucesso daquelas estra‑tégias de atracção, ilustrando, na prática, a impor‑tância da diferenciação dos níveis de competitivida‑de de territórios concorrentes.

3. Duas questões prévias ao debateAproximando‑nos agora do Porto Cidade e do

Porto Região, importa, na nossa perspectiva, colocar desde logo duas questões prévias que se afiguram simultaneamente essenciais e instrumentais a este debate e que passamos a formular:i) haverá, entre nós, conhecimento científico acu‑

mulado, de natureza teórica e empírica, capaz de fornecer uma sustentação sólida à compreensão do modo como o Porto Cidade Região se está a transformar?

ii) Em caso afirmativo, estaremos em condições de

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dar o passo seguinte, avaliando em que medida esta transformação tem estado a afectar os níveis de

a. competitividade deste território; b. a qualidade de vida dos seus residentes; c. os níveis de sustentabilidade ambiental e de

coesão social e territorial; d. a governabilidade e o imprescindível desenvol‑

vimento institucional? Subjacente à primeira questão está a ideia chave

de que não será possível formular estratégias de de‑senvolvimento nem adoptar eficazes políticas estru‑turantes sobre um território cujas dinâmicas e fac‑tores de transformação se desconhecem. Tememos que, num passado mais ou menos recente, muitos dos programas e projectos de intervenção a que esta cidade e esta área metropolitana estiveram sujeitos, alguns com inegável bondade, ambição e dimensão financeira, não tivessem os resultados que à parti‑da se antecipavam porque, nuns casos, terá faltado a visão de conjunto e, noutros, a compreensão das causas das patologias urbanas e a antecipação da tra‑jectória evolutiva espontânea deste complexo con‑junto territorial. E, no entanto, há já muito trabalho feito e conhecimento acumulado, ao longo das últi‑mas décadas, em diversas faculdades e centros de investigação da Universidade do Porto, bem assim como em outras instituições públicas e departamen‑tos municipais.

De facto, as recomposições funcionais e trans‑formações demográficas e territoriais a que a área metropolitana do Porto tem estado sujeita são já bem conhecidas. Caracterizam‑se, genericamente, pela prevalência de movimentos centrífugos da função residencial e de crescentes sectores das actividades transformadoras e terciárias que, num efeito conju‑gado, têm vindo a enfraquecer as áreas centrais e a contribuir para a descaracterização das periferias. Tais movimentos não se afastam, aliás, de padrões dominantes verificados em outras áreas metropoli‑tanas do continente europeu, com características e dimensão semelhantes à do Porto.

Curiosamente, neste sentido, merece alguma reflexão crítica um discurso técnico recorrente que parece enfatizar em demasia as especificidades por‑tuguesas ou, neste caso, portuenses, e que na práti‑ca tem servido mais para encobrir défices de conhe‑cimento científico e justificar a falta de eficácia das diversas políticas públicas do que para talhar à me‑dida, e portanto alegadamente de forma mais eficaz, aquelas políticas. Pelo contrário, importa mobilizar

o conhecimento acumulado, pondo cobro a práticas que generalizadamente se apresentam destituídas de referências teóricas e solidez técnica. No mesmo sentido, muito haverá a aprender e a saber antecipar com o olhar crítico sobre outras realidades metro‑politanas, sobretudo a nível europeu, que em mui‑tos casos já ultrapassaram a fase crítica em que nos encontramos, e que nos darão indicações preciosas sobre as políticas mais eficazes a adoptar.

Escusado será dizer que se para nós a nature‑za dos fenómenos urbanos e metropolitanos é, em grande medida, semelhante, como afirmámos ante‑riormente, tal não significa que as realidades de par‑tida sejam idênticas, que possam desde logo justifi‑car a adopção de iguais cartilhas, sem cuidados de formatação, ajuste e adaptação às condições locais e aos diferentes estádios de desenvolvimento.

A persistente ausência de políticas territoriais estruturantes, em particular ao nível metropolitano, que permitissem constituir‑se como referenciais das políticas de dotação infra‑estrutural, acabou por fa‑zer destas, nomeadamente na área dos transportes, as verdadeiras políticas de ordenamento territorial. Paradoxalmente, de forma involuntária e com cus‑tos sociais, ambientais e económicos elevadíssimos, acabámos por fazer do Porto Cidade Região um no‑tável laboratório de observação e análise das dinâ‑micas urbanas e metropolitanas, que se apresentam libertas de espartilhos, quase “em bruto” ou com formas de “elevada pureza”, isto é, sem constrangi‑mentos dignos de nota, face à generalizada debilida‑de e ineficácia das políticas e dos instrumentos de planeamento urbano e metropolitano em vigor que a elas se deveriam dirigir, minimizando os seus efeitos mais negativos ou perversos.

Para além dos fenómenos de centrifugação aci‑ma referidos, que assumem entre nós uma extensão e gravidade já pouco comuns no contexto europeu, outros fenómenos profusamente tratados na mais recente literatura da especialidade podem ser facil‑mente detectados (e têm com efeito sido analisados) neste laboratório privilegiado do nosso Porto Cidade Região.

Referimo‑nos, entre outros, à emergência da ci‑dade dual, de que o Porto é um exemplo paradig‑mático, com os seus gritantes contrastes sociais e físicos entre as suas partes nascente e poente, à peri‑ferização do desenvolvimento urbano, à proliferação dos centros comerciais em detrimento do tradicional urbanismo comercial, aos crescentes níveis de dis‑

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persão, fragmentação e desqualificação dos tecidos suburbanos, à profusão de formas diversas de con‑domínios fechados em substituição dos loteamentos e tradicionais modos de provisão de habitação, ao declínio da importância dos espaços públicos e sua substituição progressiva por espaços colectivos que, acompanhando as crescentes preocupações com a alegada (in)segurança urbana, se apresentam devi‑damente geridos e controlados por circuitos fecha‑dos de televisão.

Estes temas constituem outros tantos capítulos da actual agenda europeia de investigação, para a qual vários grupos de investigação sediados na cida‑de do Porto têm contribuído, reforçando a ideia de que muito ganharíamos se mais atenção prestásse‑mos ao que em nosso redor se passa no domínio do planeamento urbano e metropolitano e, em particu‑lar, no que diz respeito ao desenho de eficazes e con‑sistentes políticas públicas para a cidade metrópole.

Em síntese, a resposta à primeira questão afigu‑ra‑se claramente positiva, balizada num conjunto de conhecimentos de natureza teórica e empírica, em detalhadas e actualizadas bases de dados cartográfi‑cos e alfa‑numéricos, em paradigmas sustentados do ponto de vista técnico e científico e em experiências comparativas internacionais que, embora de carác‑ter pontual, não deixam de ser relevantes.

Já relativamente à segunda questão, é forçoso concluir pela negativa, reconhecendo que estará quase tudo por fazer, e que temos muito poucas certezas sobre as diversas nuances que esta questão encerra. Por exemplo, não sabemos em que medida os processos de restruturação territorial do Porto Ci‑dade Região estarão a afectar os seus níveis globais de competitividade, nem conhecemos as reais con‑sequências do esforço de investimento nas grandes infra‑estruturas rodoviárias ou ferroviárias, portuá‑rias ou aeroportuárias. Em alguns casos consegui‑mos identificar sinais ou efeitos positivos, enquanto que outros nos parecem negativos, mas falta mani‑festamente um balanço mais rigoroso e global. As mesmas perplexidades se nos apresentam perante a evolução dos padrões de qualidade e sustentabili‑dade ambiental, ou sobre a trajectória evolutiva dos níveis de coesão social e territorial.

Apenas é possível detectar uma certa consonân‑cia de pontos de vista na análise crítica da arquitec‑tura institucional desta cidade região, espartilhada entre dois níveis extremos: a administração local e a administração central, já que os níveis intermédios,

regional e metropolitano, se encontram quase inope‑rantes ou manifestamente ausentes. Grande parte do esforço de infra‑estruturação a que acima aludimos é da iniciativa e responsabilidade da administração central, articulando‑se directamente com variados e descoordenados interesses e soluções municipais. Mesmo quando estamos perante projectos que assu‑midamente representam iniciativas metropolitanas, como é o caso da Lipor ou do Metro do Porto, fácil será detectar nas primeiras versões dos projectos o primado da colagem sucessiva das perspectivas mu‑nicipais sobre a visão e os interesses do conjunto metropolitano. E quem tem sobre eles responsabi‑lidades de gestão bem sabe como difícil é corrigir os “pecados originais” causados pela ausência inicial de uma verdadeira visão metropolitana. É patente, portanto, no sistema de governança do Porto Cidade Região, o défice dos níveis intermédios de planea‑mento, gestão e coordenação e as correspondentes consequências negativas sobre a qualidade, afirma‑ção e competitividade de todo este território.

4. Cinco questões para o debateFoi nosso objectivo, ao longo dos parágrafos an‑

teriores, deixar um conjunto de ideias gerais que pu‑dessem constituir a base de partida para o debate sobre o Porto Cidade Região e, em particular, sobre o papel da infra‑estruturação dos territórios nos seus níveis globais de competitividade. Para o debate que se seguiu às intervenções dos dois oradores convi‑dados (ver nota final) e que reuniu cerca de trinta personalidades, estendendo‑se pela tarde do dia 25 de Maio, deixámos as seguintes questões/desafios: Q1 Quais os investimentos em infra‑estruturas, re‑

des e equipamentos no Porto Cidade Região que terão um papel decisivo no fortalecimento da sua competitividade e afirmação internacional?

Q2 Qual a importância e o papel do planeamento à escala supra municipal nos ganhos de competiti‑vidade do Porto Cidade Região?

Q3 Quais os paradigmas que, com as necessárias e desejáveis adaptações, deverão fundamentar a concepção de um modelo de desenvolvimento do território, à escala metropolitana/regional?

Q4 Como fortalecer o sistema de governança e a cooperação inter‑institucional de tal forma que o Porto Cidade Região se assuma no plano na‑cional e, sobretudo, no plano internacional com visão, liderança, ambição e estratégia?

Q5 Deverá a Universidade do Porto promover a

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constituição e liderar um Fórum – Porto Cida‑de Região, na modalidade de uma associação com outras instituições locais e regionais, cujo principal objectivo seja pronunciar‑se, numa base regular, continuada e devidamente funda‑mentada, sobre as grandes questões que afectam a cidade, a metrópole e a região?

Ao convidarmos, para este workshop, os Profes‑sores Andreas Faludi, da Universidade de Delft, e José Manuel Viegas, do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, não estávamos

à espera que as suas intervenções se centrassem nas especificidades dos desafios do desenvolvimento do Porto Cidade Região, mas antes que nos trouxessem o seu olhar crítico, exterior e descomprometido, so‑bre o tema em debate, explorando as virtualidades de contextualizarmos este território a diversas esca‑las de análise, no primeiro caso da Europa ao país e, no segundo caso, da empresa à região. A comple‑mentaridade destas perspectivas está, aliás, patente nos textos que nos deixaram estes autores, e que se apresentam seguidamente.

* Coordenador da sessão.O autor é Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia, na Secção de Planeamento do Território e Ambiente do Departamento de Engenharia Civil, e responsável pelo Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente

�� | painel

This paper starts with the ‘Blue Banana’ and the ‘Bunch of Grapes’, images that have been consti‑tutive for the discussion on the European Spatial Development Perspective (ESDP). Then the paper describes the ESDP and the process by which the document has been produced. The Commission embraces ideas in the ESDP, but under a new label, ‘territorial cohesion’, a new objective and a shared competence under the Treaty establishing a Consti‑tution for Europe. however, with ratification a dis‑tant prospect, there are question marks hanging over territorial cohesion policy.

Images of EuropeBroad‑brush diagrams give direction to con‑

ceptualising plan areas and the search for plan‑ning solutions. Northwest European planners have done pioneering work in this. Northwest Europe is where urban development is particularly dense and where the attendant agglomeration problems are severe. The Dutch National Spatial Planning Agency in its Annual Report of 1978 presented a

map with alternative conceptualisations of the Eu‑ropean core, including one called ‘megalopolis’, after Gottman (1961) writing on the corridor Boston to Washington.

This map foreshadowed the ‘Blue Banana’, one of the most influential images in European plan‑ning. (figure 1) The French planning agency DA‑TAR (Délegation à l’aménagement du territoire et à l’action régionale) had commissioned Roger Brunet and his team to study the French situation in a Eu‑ropean context. Based on an analysis of 165 agglom‑erations in the EU12 plus Austria and Switzerland, they concluded that almost half were situated in a kind of megalopolis. They called this area reaching from Southeast England to Lombardy the dorsale: the backbone of Europe. But on a visit to DATAR, the planning minister entered the meeting room with a map with the dorsale painted in blue on the wall and asked: “What is this blue banana for?” A reporter from Le Nouvel Observateur overhearing this comment published an article under the title ‘La banane bleue’, and the name stuck (Faludi, Wa‑terhout 2002).

The ‘Banana’ was influential (Williams 1996, Kunzmann 1998). It underlined that Europe is di‑vided into a prosperous core and a periphery. In the case of France, the Banana signalled a threat to Paris and even more so to the Atlantic coast. The Banana only as much as straddles France. Urgent action seemed in order, in particular since the year of publi‑cation of the study coincided with the fall of the Iron Curtain, raising the prospect of the centre of gravity in Europe moving even further eastwards.

The opposite spatial conceptualization of Eu‑rope is the ‘European Bunch of Grapes’ by Kunz‑mann and Wegener, published in a study done for the European Commission in 1991 (figure �). The Bunch of Grapes “… offers a holistic way of thinking

The European Spatial Development PerspectiveAndreas Faludi

Figure 1 – The Blue Banana. Source: Brunet 1989

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to counteract ongoing spatial trends on the conti‑nent. It symbolizes a Europe of self‑contained city regions, of regions where the regional populace, the regional civil society, has its natural life space, where it finds cultural identity, security and access to regional power and decision‑making” (Kunzmann 1998, 116). It is a subtle view of Europe, more in line with the emergent thinking about endogenous development, sustainability and regional identity.

Whether Banana and Bunch of Grapes are in fact each other’s opposites is a moot point. The Banana shows the situation ‘as is’. The Bunch of Grapes is a normative idea. It represents what Europe should look like. This issue of what Europe looks like and how it should develop has been central also to the development of the ESDP.

The Potsdam documentThe ESDP (CEC 1999) is not a product of Brus‑

sels. Rather, the Member States assumed respon‑sibility for preparing it, but with support from the European Commission. In May 1999 at Potsdam in Germany, the planning ministers of the Member States and the Commissioner for Regional Policy gave their assent to the outcome of this process (CEC 1999).

If ever there was a consensual document, this is it. This relates to the process discussed below. Suf‑fice it to say that, given that all Member States had to agree, it is clear that a development perspective reflecting the thinking behind the Bunch of Grapes rather than the Banana was an inevitable outcome.

The document comes in two parts. here the em‑phasis is on Part A on policy, 51 pages of text under

the title of ’Achieving the Balanced and Sustainable Development of the Territory of the EU: The Con‑tribution of the Spatial Development Policy’.

Chapter 1 portrays territory as a new dimension of European policy. With European Monetary Un‑ion (EMU) a fact, it is no longer possible to com‑pensate for productivity disparities by adjusting exchange rates. Disparities may get worse, which is why ‘spatial balance’ needs to be preserved. In addi‑tion, ‘balanced and sustainable spatial development’ can reconcile social and economic claims on land with the area’s ecological and cultural functions, with settlement structure the key to achieving this. This is called the ‘spatial approach’.

Chapter 2 deals with areas of Community policy, singling out three as being of particular importance, the Structural Funds (being the instruments of so‑called ‘cohesion policy’ assisting less‑favoured re‑gions within the EU), the Trans‑European Networks and environmental policy. The chapter recommends searching for ‘functional synergies’ and an integrated and multisectoral spatial development approach.

Chapter 3 is the most important one. It presents policy options grouped under three ‘spatial develop‑ment guidelines’: . Polycentric Spatial Development and a New Ur‑ban‑Rural Partnership

. Parity of Access to Infrastructure and Knowledge

. Wise Management of the Natural and Cultural heritage.

The sixty policy options are a mixed bag. Op‑tion 1 is “Strengthening of several larger zones of global economic integration in the EU… through transnational spatial development strategies.” Con‑trast this with option 59, “Protection of contempo‑rary buildings with high architectural quality.” What is telling is the absence of any sort of key diagram conceptualising European space. Of course, such a key diagram is difficult to make, but Dutch plan‑ners believe in using diagrammatic representa‑tions and have pushed for key diagrams or policy maps (Faludi, Waterhout 2002). Instead, all that the ESDP gives is a verbal description of the core of Europe as the ‘pentagon’ London, Paris, Milan, Munich and hamburg, the only outstanding larger geographical zone of global economic integration, as it is called, of Europe. (Being a translation from the German Städtefünfeck, the authors of the ESDP seemingly wanted to avoid any association with the

Figure � – The Bunch of Grapes. Source: Kunzmann and

Wegener 1991

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famous building in Washington, and thus spelled it with a lower ‘p’. Conceivably for the same reason, the French translation simply talks about le cœur de l’Europe – the heart of Europe, but even in French texts one now finds references to le pentagon.) here, on twenty percent of the EU territory inhabited by forty percent of its population, no less than fifty per‑cent of the EU’s total GDP is being generated. After the fact, though, many diagrammatic representa‑tions of the ‘pentagon’ used the term, including rep‑resentations in ESPON (European Spatial Planning Observatory) programmes.

According to the ESDP, more concentration needs to be averted. “The creation of several dynamic zones of global integration, well distributed through‑out the EU territory and comprising a network of internationally accessible metropolitan regions and their linked hinterland (…) will play a key role in im‑proving spatial balance in Europe” (CEC 1999, 20). however, the emphasis is on initiatives from below, which goes to show the affinity of this concept with the notion of endogenous development and of build‑ing social capital (one of the planks of Community regional policy). Figure � illustrates this proposal, but note that the new global integration zones are no more than ideas put forward to stimulate the areas concerned to put themselves forward as potential new such zones.

This is the central proposition of the ESDP, but

this fact is carefully hidden behind a plethora of other concerns. Clearly, the compromise character of the ESDP, implying a need to accommodate as many predilections as possible, is responsible.

Chapter 4, about the application of the ESDP, specifies types of desired action, all on a voluntary basis. The ESDP is after all a common framework, no more. There are recommendations concerning the European Spatial Planning Observatory Net‑work (ESPON; the current name is European Spa‑tial Planning Observation Network), and a whole paragraph is on transnational co‑operation, endors‑ing the so‑called INTERREG programme. A further paragraph on the application of the ESDP in Mem‑ber States stresses the need for Europeanisation of state, regional and urban planning.

Chapter 5 of the ESDP is a perfunctory explora‑tion of the impact of enlargement. Much more work on this has been done since, but this is not the ob‑ject of this paper

The processThe ESDP‑process has been described else‑

where (Faludi, Waterhout 2002). The process was triggered by the reform of the Structural Funds. In the late‑1980s the responsible Directorate‑General (DG) XVI wanted to explore the spatial dimension of these vastly increased funds. To this end, Article 10 of the new ERDF (European Regional Develop‑

Figure �: The ‘pentagon’ and potential new Global Economic Integration Zones. Source: Mehlbye 2000

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ment Fund) regulations was invoked for funding a study aiming to identify the elements necessary to establish a prospective outline of the utilisation of the Community territory. Eventually, DG XVI pro‑duced ‘Europe 2000’ (CEC 1991), to be followed by ‘Europe 2000+’ (CEC 1994).

This was also when, at Nantes in France, plan‑ning ministers gathered for the first of a series of meetings marking the road to Potsdam. Figure 4 shows the venues of these meetings. The process has been one of planners from Member States interact‑ing with each other and with the Directorate‑Gener‑al responsible for regional policy. Informal meetings of the planning ministers of the Member States have been the high points in the process.

The meeting at Nantes took place in the pres‑ence of Commission President Jacques Delors. The French view of spatial planning was that it entailed the formulation of a spatial perspective underly‑ing regional economic policy (Faludi 2004ab). This complemented the ideas of the Commission acting as a strategic authority for integration.

Dutch planners shared the French aim of coax‑ing the Commission into assuming a planning role (Martin 2001). They played host to the third meet‑ing. By that time, the Germans were alert to the pos‑sibility of the Commission entering spatial planning. The Germans have always been for European spatial planning to be a Member State responsibility. Mem‑ber States rallied behind the German position. In 1991 at The hague, the Committee on Spatial De‑velopment (CSD) was set up. Other than with the untold number of such committees, the Commission was not in the chair. This signified European spatial planning as an intergovernmental responsibility.

The Portuguese Presidency organised the fourth meeting focusing on Trans‑European Networks. What followed were two Presidencies abstaining from organising meetings. At the time planning counted for little and Europe even for less in the UK (Zetter 2001). And, through its participation in a planning exercise for the Baltic Sea Area, the personnel capacity of Denmark was stretched. (For the positions of the Nordic Member States, Den‑mark included, see Böhme 2002.) The turning point was Liège, where ministers heeded the call of the Belgian Presidency for a joint European Spatial De‑velopment Perspective. With their 1994 Presidency in mind, the Germans entertained hopes of seeing this project through. They got no further than get‑

ting the so‑called Leipzig Principles, called after the venue of the meeting, accepted. Meanwhile, a further meeting at Corfu had settled on a mode of operation reflecting the intergovernmental character of the ESDP.

Subsequently the process went into the dol‑drums. First of all, there was another French Presi‑dency working on scenarios, but elections stalled the effort. Perceiving a danger to its Structural Funds allocation, the Spanish Presidency treaded water. Entrusting the Dutch with bringing the ship into port, the Venice meeting took the ESDP out of the doldrums. At Noordwijk in 1997, the Dutch gained approval for a ‘First Official Draft.’ The new UK gov‑ernment under Labour was enthusiastically seek‑ing to complete the ESDP in 1998. however, the consultations took time. The UK achievement was the ‘First Full Draft’, presented at Glasgow in 1998. Completing the ESDP was the task of the Germans, and this is how ministers came to give their blessing to the ESDP at Potsdam in 1999.

What remains is to report that the application of the ESDP is well on its way (Faludi 2004c; Dühr, Nadin 2005; Janin Rivolin, Faludi 2005). An effec‑tive vehicle is the ‘Community Initiative’ INTER‑REG. What is striking is that, in many of its state‑ments of policy, the European Commission, too, makes frequent reference to the ESDP.

Territorial cohesion policyThe Treaty establishing a Constitution for Eu‑

rope says that the Union “…shall promote eco‑nomic, social and territorial cohesion and solidarity among Member States” and lists territorial cohesion as a shared competence of the Union and the Mem‑ber States.

During Michel Barnier’s term of office in 1999‑2004 as Regional Commissioner, the Com‑mission already invoked territorial cohesion as if it were an area of EU policy. This is true for the second Cohesion Report (CEC 2001), devoting a whole chapter to territorial cohesion. Conceivably for tac‑tical reasons, the third Cohesion Report, coming out at a time when the Constitution was still under con‑sideration and the row over the Community budget about to break out, soft‑pedals on territorial cohe‑sion. however, no sooner had the Constitution been agreed by the European Council, and the Commis‑sion published the ‘Interim Territorial Cohesion Re‑port’ (CEC 2004a), which once again makes it seem

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as if its concern with territorial cohesion policy was self‑evident.

There is no formal definition of what territo‑rial cohesion means (Faludi 2005). The message is that territorial cohesion builds upon the notion of economic and social cohesion as stated in the EC Treaty. In particular the harmonious and balanced development of the Union is mentioned. In this – as in other respects – there is thus continuity between the ESDP and recent Commission thinking. Barnier (2004) outlines new directions to this policy aim‑ing to improve the response to the Union’s territorial imbalances:. exploiting opportunities, and not just addressing problems;

. encouraging co‑operation and networking;

. building on existing strengths so as to improve the targeting of cohesion policy;

. ensuring the incorporation of the sustainability agenda, including addressing the issue of natural risks;

. more coherence and co‑ordination between region‑al and sectorial policies.

Naturally, the third Cohesion Report (CEC 2004b) plugs the same line. It starts by referring to

the promotion of economic and social cohesion as a central aim of the EU. Thus, the idea of creating an area without internal frontiers and the establish‑ment of economic and monetary union implies “…that people should not be disadvantaged by where they happen to live or work in the Union.” The re‑port adds that the

“…concept of territorial cohesion extends be‑yond the notion of economic and social cohe‑sion by both adding to this and reinforcing it. In policy terms, the objective is to help achieve a more balanced development by reducing existing disparities, preventing territorial imbalances and by making both sectorial policies which have a spatial impact and regional policy more coher‑ent. The concern is also to improve territorial integration and encourage cooperation between regions.” (Op cit.)

Coherence between sector policies – something advocated in the ESDP as representing the ‘spatial approach’ – is thus part and parcel of the territo‑rial cohesion discourse, as is co‑operation between regions.

The third Cohesion Report goes on to discuss territorial imbalances in the EU threatening the harmonious development of the Union economy. The message is the same as before: rather than a departure from existing policies, territorial cohesion merely puts aspects of cohesion policy into focus. Perhaps inevitably, what precisely this implies is left somewhat vague. After all, at the time of writing the report, political agreement on cohesion policy had – and at the time of writing still has – some way to go. There is the paramount issue, mentioned above, of the Financial Framework and there is the delivery mechanism for cohesion policy to decide upon.

ConclusionsSo there are plenty of concerns. Not only has the

Constitution been rejected at the hands of French and Dutch voters and is agreement on the Financial Framework still outstanding, following the Sapir Re‑port (Sapir et al, 2004) and the Kok Report (high Level Group 2004) the priorities of the new Com‑mission President Manuel Barroso have shifted to ‘Growth and Jobs’ (CEC 2005). The process where‑by the aims of the ‘Lisbon Strategy’ (after the place where it was agreed in 2000) is to be achieved has

Figure 4: The ESDP process: Venues of meetings. Source: Faludi 2001

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been laid out in the relevant communications. Co‑hesion policy is part of this process. The Commis‑sion has published Community Strategic Guidelines for Cohesion (CEC 2005b) but the direction and financing remain uncertain. Territorial cohesion is being kept at a low key, this being one of the side effects of the process of ratifying the Treaty on es‑tablishing a Constitution for Europe having been bodged.

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The author is Professor of Spatial Policy Systems in Europe, OTB Research Institute for housing, Urban and Mobility Studies, Delft University of Technology

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Competitividade e infra‑estruturas de trans‑portes

A competitividade duma empresa baseia‑se em saber produzir e vender bens ou serviços em quan‑tidades significativas e em mercados competitivos, o que implica que os compradores reconhecem vantagens nesse fornecedor relativamente a outros potenciais. Esta situação pode ocorrer porque esses bens ou serviços podem ser únicos, ou porque, sen‑do similares aos produtos dos seus competidores, se apresentam aos consumidores finais a preços mais baixos ou com preços idênticos ou superiores, mas então dispondo de maior valor noutros atributos, que podem residir na melhor qualidade do próprio pro‑duto (fiabilidade, durabilidade, rede de manuten‑ção, valor de retoma) ou dizerem respeito a aspectos colaterais e diferenciadores do produto (design, fun‑cionalidades, moda).

É reconhecido que num sistema de competição aberta, os principais factores geradores de compe‑titividade são a produtividade e a inovação de pro‑dutos, o primeiro essencial para dispor de vantagem nos preços (ou nas margens de comercialização) e o segundo para permitir competir através de factores que não exclusivamente o preço, tal como referido no parágrafo anterior. A inovação de processos é por si só um factor essencial da produtividade (redução de custos, melhoria de qualidade).

Sendo a competitividade duma região a resul‑tante da competitividade das suas empresas, uma das questões centrais quando se discute a compe‑titividade das regiões é o papel das infra‑estruturas de transportes. Sendo sem dúvida importante uma dotação de bom nível dessas infra‑estruturas, é hoje consensual que a simples construção (e posterior disponibilidade) de boas infra‑estruturas não é sufi‑ciente para promover ou sustentar o desenvolvimen‑to económico das regiões em que estão implantadas

(McCann and Shefer, 2004). Factores mais impor‑tantes para esse desenvolvimento são o clima eco‑nómico geral da região, os preços dos seus factores básicos de produção e a sua capacidade de inovar (Vickerman, 1991).

A infra‑estrutura deve assim ser vista como um facilitador do processo de desenvolvimento, mas neste contexto só faz sentido lançar a construção de infra‑estruturas se houver ideias claras das acções complementares que vão promover e sustentar esse desenvolvimento. Ou seja, se soubermos respon‑der à questão: o que é que passamos a fazer melhor quando tivermos a infra‑estrutura disponível?

As infra‑estruturas são bens públicos (ou se‑mi‑públicos) geradoras de benefícios externos, no sentido de que reduzem os custos de produção e de transacção de todos os que as usam. Esses benefícios são em seguida extensíveis aos consumidores daque‑les produtos através da pressão competitiva e redu‑ção de margens dos produtores. Tradicionalmente, é nas infra‑estruturas de transportes que se concentra a maior pressão para o investimento público, com argumentos relacionados com a competitividade das empresas, mas de facto também com fortes expecta‑tivas de mais fácil mobilidade pessoal.

Em todas as regiões da Europa, a grande maio‑ria dos volumes de transporte de mercadorias é de âmbito intra‑regional. Ao contrário do que possa parecer numa reflexão mais apressada, os custos de transporte a esta escala de distâncias dependem tan‑to de um bom ordenamento do território como da existência de redes de transportes sofisticadas. Esse ordenamento do território é ainda mais importante para os custos da mobilidade das pessoas.

Isto não significa que dispor de transportes de baixo custo e boa qualidade e fiabilidade não seja vital para o potencial exportador de alguns sectores chave das economias dessas regiões. Mas a partir

Infra‑estruturas e Redes como Factores de Competitividade RegionalJosé M. Viegas

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de determinados níveis de dotação (logo de custos de transporte relativamente baixos) vale bem a pena avaliar cuidadosamente quais os ganhos de competi‑tividade esperados.

De facto, a relação entre infra‑estruturas de transportes e acessibilidade das regiões não se faz sentir de forma contínua no espaço/tempo, mas sim através do nível de conectividade de cada re‑gião (McCann and Shefer, 2004). Esse nível de co‑nectividade tem a ver com o número (e dimensão populacional e económica) das regiões que podem ser atingidas com uma duração da viagem abaixo de determinados limiares relacionados com os ciclos de produção e de vida (por ex. 2 h; 4 h; 9 h; 24 h; 36 h). Como é facilmente entendido, uma baixa conectivi‑dade tem como consequências directas uma menor possibilidade de escolha de parceiros e clientes e por isso de oportunidades para os negócios e para a inovação.

Evoluções recentes e perspectivas de médio e longo prazo

Por outro lado, a longevidade das infra‑estruturas de transportes impõe que nas decisões relativas à sua construção se procure prever a evolução dos factores condicionantes da sua procura ao longo desse hori‑zonte, pelo menos ao nível das tendências pesadas, sem o que se corre o risco de não chegar a ter um prazo minimamente longo de real utilidade (amorti‑zação) social daquele bem de capital.

Para a maioria dos sectores de actividade, a par‑cela dos transportes nos seus custos de produção é baixa e tem vindo a descer (Glaeser, 1998). Mas tam‑bém mudaram muito os modelos de produção‑distri‑buição. No entanto, a análise do significado desta componente deve ser feita com base na qualidade e eficiência dos processos logísticos completos e não apenas dos transportes, o que inclui os custos asso‑ciados à detenção de stocks, à transmissão de infor‑mação e aos tempos de reabastecimento dos pontos de venda (McCann, 1993).

O progresso nas tecnologias de informação e a sua disseminação ao longo das últimas décadas per‑mitiram, por um lado, controlar de forma mais efi‑caz e eficiente alguns processos de acção que são necessariamente distribuídos, em territórios vastos (nomeadamente no sector dos transportes), e, por outro, organizar de forma espacialmente distribuída processos que anteriormente eram (tinham de ser) realizados de forma concentrada.

Com soluções telemáticas sofisticadas, a gestão concentrada da capacidade de transporte em frotas de maior dimensão permite aumentar significativa‑mente os níveis médios de ocupação dos camiões, melhorando assim a produtividade. Mas a partir de determinados níveis de complexidade dos sistemas a gerir, a riqueza de informação que é necessário codificar explicitamente aumenta tanto que surgem limites a essa divisão de trabalho. Esses limites estão associados a factores de cultura e de ambiente que sustentam muita informação implicitamente dispo‑nível em cada local (o “conhecimento tácito” intro‑duzido por Polanyi (1958)).

Ainda no que respeita aos transportes de merca‑dorias, o aumento de sofisticação dos requisitos dos clientes aumenta a importância de atributos como a fiabilidade e a prontidão das entregas. Verifica‑se que a frequência de transporte e fiabilidade nos horários de entrega são mais importantes que a velocidade, mas a velocidade ou a proximidade são factores im‑portantes, quer para atender a picos de solicitações, quer porque os stocks em trânsito não deixam de ser stocks e ter os seus custos.

Ocorre por isso uma tendência para a concen‑tração de produção (em regiões mais centrais ou em regiões “externas” com fortes reduções de outros custos) e para a redução do número de entrepos‑tos de distribuição “regional”. Daqui decorre que a resposta das periferias deve ser no sentido da ob‑tenção de economias de aglomeração, associadas à especialização.

É ainda útil reconhecer que as tecnologias da informação e comunicação têm conduzido à dimi‑nuição das economias de escala em muitos sectores, o que permite posições competitivas para unidades pequenas, desde que muito especializadas.

A necessidade de pensar infra‑estruturas em horizontes temporais longos confere uma especial relevância às questões ambientais, o que conduz ao favorecimento das opções baseadas em modos de transporte mais sustentáveis (com menores custos externos associados a acidentes, emissões poluentes e de ruído), porque nos outros modos os custos irão provavelmente aumentar de forma marcada. Sucede no entanto que esses modos de transporte mais sus‑tentáveis são também os de maior capacidade.

Por isso, também a conveniência do recurso a esses modos de maior capacidade sugere a con‑veniência de concentração regional de produções com exigências logísticas similares, ainda que em

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sectores de actividade diferentes (outra forma de especialização). Mas a competitividade de regiões periféricas baseada nessa concentração regional exi‑ge ainda boas redes de transportes intra‑regionais, especialmente com elevados níveis de fiabilidade na articulação intermodal com os terminais desses mo‑dos de maior capacidade e sustentabilidade (portos marítimos e estações ferroviárias principais).

Mas, além disso, a disciplina de produção nas in‑dústrias tem de estar submetida à disciplina exigida pelos sistemas de distribuição modernos, no interfa‑ce com os modos de maior capacidade (e de menor impacte ambiental). A adopção de um modelo deste tipo tem que ser assumida ao longo de toda a cadeia de produção de valor e não apenas na sua ponta fi‑nal, correspondente ao processo de transporte.

Inovação e redes de conhecimento Além da competitividade no curto prazo, depen‑

dente (entre outros factores) do stock de conheci‑mento de que as empresas dispõem, a sobrevivência destas depende da sua capacidade de inovar, e esta em larga medida da capacidade de aprender. Apren‑der é um processo cíclico, que envolve uma com‑binação de experiência, reflexão, conceptualização e experimentação (figura 1) e aprender de forma es‑truturada exige motivação para entrar nesse ciclo.

há no essencial dois tipos de inovação: a de pro‑cesso (que corresponde a fazer melhor o que já fa‑zemos) e a de paradigma ou de produto (que leva a fazer para além do que já fazemos).

Para além da aprendizagem dentro de cada orga‑nização, é muito importante reconhecer o potencial associado aos processos de aprendizagem inter‑or‑ganizações, o que corresponde ao alargamento e en‑riquecimento do quadro em que decorrem algumas ou todas as fases do ciclo de aprendizagem. Estes processos podem ser suportados em redes com o principal objectivo de melhorar o conhecimento em todos os parceiros, sendo no entanto muito frequen‑tes as suas falhas, muitas vezes devidas à ligeireza e informalidade com que são encarados estes exer‑cícios pelos seus participantes. A observação atenta deste tipo de processos sugere que o seu sucesso exige (Bessant and Francis, 1999):. durabilidade, o que impõe estabelecimento formal da rede;

. definição clara do tipo de conhecimentos a desen‑volver e partilhar;

. estrutura de operação e regras de pertença e de partilha de custos na rede;

. processos associados aos ciclos de aprendizagem;

. monitorização do progresso e revisão periódica de regras e da própria subsistência da rede.

Uma situação recorrente é que, apesar de os participantes nestas redes lhes reconhecerem al‑gum valor acrescentado, muitas delas se extinguem pouco depois de acabar o financiamento externo de que beneficiaram no arranque. O factor central para evitar esse desfecho é que as redes tenham sido sufi‑cientemente “apropriadas” pelos seus membros des‑de uma etapa relativamente precoce no sistema, ou seja, que os pontos constantes da lista anterior sejam decididos pelos participantes e não impostos pelos financiadores, e que se discutam relativamente cedo as fórmulas de sustentação económica da rede após a conclusão da sua fase inicial que beneficia de fi‑nanciamento externo (Gerstlberger, 2004).

há dois tipos de redes relevantes para este efeito da aprendizagem (Benson‑Rea and Wilson, 2003):. redes horizontais, formadas por empresas concor‑rentes numa dada região e que, para melhorar o seu desempenho face à concorrência internacional, se aliam para assuntos específicos – por ex. certifica‑ção de qualidade, controle de processos e de pon‑tualidade, desempenho ambiental;

. redes verticais, constituídas no seio da cadeia de valor ao serviço de um grande cliente final, para melhoria de processos ou harmonização de interfaces.

Figura 1 – A aprendizagem como processo cíclico. Fonte: Kolb, D., Fry, R., 1975. “Towards a theory of applied experiential

learning”. In: Cooper, C. (Ed.), Theories of group processes. John Wiley,

Chichester., citado em (Bessant and Francis, 1999)

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Uma forma possível de estruturação dos proces‑sos de aprendizagem e inovação numa dada região é o Sistema Regional de Inovação (SRI), cujos princi‑pais elementos são (Doloreux, 2002): . empresas, que geram e difundem conhecimento, em competição e em cooperação;

. instituições (universidades, institutos de I&D, Go‑verno, agências públicas), que formatam o ambien‑te que estimula a inovação, reduzem a incerteza, medeiam conflitos, fornecem incentivos;

. infra‑estruturas de conhecimento, constituídas pela estrutura física e organizacional que suporta a inovação, quer na difusão de tecnologias, quer no apoio a iniciativas para a sua aplicação comercial;

. políticas de inovação, isto é, o envelope de políti‑cas públicas que estimula a actuação coordenada dos restantes elementos.

Todas estas componentes são importantes por‑que se reconhece que o conhecimento relevante para as transacções económicas tem quatro dimen‑sões, ficando a sua eficácia bastante diminuída quan‑do uma delas está sub‑representada: Know‑What, Know‑Why, Know‑Who, Know‑How (ou seja, saber o que há a fazer, porquê e como, e quem são as pes‑soas ou entidades relevantes nesse sector).

No início da vida das empresas dominam as redes informais (quer verticais quer horizontais), mas o grau de formalização tende a aumentar com a idade das empresas. Mas a importância das re‑des para o sucesso da actividade empresarial é de tal forma elevado que a natureza (objectivo), com‑posição (parceiros) e regras de funcionamento das redes em que cada empresa participa devem ser pe‑riodicamente avaliadas e, se necessário, objecto de reconfiguração.

Como é evidente, a proximidade física não é irre‑levante para a constituição e sustentação destas re‑des de aprendizagem e conhecimento: em primeiro lugar, a proximidade gera economias de aglomera‑ção que proporcionam a massa crítica que permite a riqueza de interacção nestas redes, determinam um padrão de comportamento das empresas e ins‑tituições da região nas suas relações entre si e com clientes, reduzem os custos de transacção entre es‑tes parceiros e desenvolvem a confiança, facilitando a partilha de conhecimentos tácitos, embebidos na cultura local (Kingsley and Malecki, 2004).

Mas, ao ser reconhecido que as ligações pessoais entre os líderes das empresas e outras organizações

são determinantes para o sucesso destas iniciativas, deve ser assinalada a importância das redes de trans‑portes intra‑regionais, que permitem alargar o “ter‑ritório da proximidade” (tipicamente com um raio temporal de 2 horas) e facilitar por essa via o atingir da massa crítica.

As redes internacionais de partilha de conheci‑mento são também muito importantes para a inova‑ção em cada região, sendo normalmente asseguradas por um pequeno número de empresas mais sofistica‑das, seja no âmbito de associações profissionais seja na cadeia de valor de grandes clientes. Em qualquer destes casos, a disseminação na região do conheci‑mento assim adquirido pelos precursores é sempre mais lenta, podendo no entanto serem desenvolvidas acções específicas para a acelerar.

Conclusões Partindo do reconhecimento de que a competiti‑

vidade das empresas exige eficiência na produção e inovação permanente, salientou‑se que a competiti‑vidade das regiões se faz pela promoção pública de um enquadramento que estimule a competitividade das empresas e pelo contágio e exigência das em‑presas mais competitivas sobre as outras e sobre o próprio enquadramento.

Foi de seguida confirmado que as infra‑estruturas de transportes e de telecomunicações são importan‑tes para a eficiência na produção e distribuição, mas chamando a atenção para que os custos associados a estas componentes são já relativamente baixos e decrescentes, pelo que na maioria dos casos não se deve já esperar grandes impactes de investimentos adicionais dessa natureza para a competitividade das regiões.

Assim, a selecção de investimentos adicionais nas componentes de longo curso das redes de trans‑portes deve ser fundamentada num conjunto de ava‑liações críticas: em primeiro lugar na possibilidade de obtenção de ganhos significativos nos níveis de conectividade atingíveis, de seguida na sustentabili‑dade do uso competitivo dos modos em que se está a investir, e finalmente na capacidade de adaptação das empresas às exigências de fiabilidade dos novos modelos de produção‑distribuição. Já no domínio das redes de telecomunicações, o investimento deve ser pautado pela complexidade de informação que pode ser transmitida e gerida face ao nível de sofisti‑cação das organizações.

Ainda neste domínio, foi salientado que a nível

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regional o ordenamento do território é tão importan‑te para a acessibilidade como os investimentos nas redes de transportes, mas mais barato e com outros impactes positivos.

Mas, no estado actual da economia portuguesa (e da sua região Norte), as redes mais importantes para a competitividade são as de inovação e conhe‑cimento, para cuja eficácia pode contribuir a assun‑ção, divulgação e promoção do papel da inovação como principal instrumento da competitividade.

Um dos principais instrumentos dessa política pode ser um Sistema Regional de Inovação, com se‑lecção de redes (horizontais) de conhecimento liga‑das a alguns temas mais directamente relacionados com a competitividade, possivelmente envolvendo mais de um sector industrial, e com envolvimento das empresas na gestão e apropriação progressi‑va dessas redes de conhecimento (i.e., redução da componente de subsídio público).

BibliografiaBenson‑Rea M., Wilson h, 2003, “Networks, Learning

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O autor é professor no CESUR – Instituto Superior Técnico de Lisboa.