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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL CESAR AUGUSTO LIMA TANAJURA LOGÍSTICA APLICADA NO GERENCIAMENTO DE MATERIAL EM OBRA DE CONSTRUÇÃO CIVIL: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA RESIDENCIAL NA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA Feira de Santana 2012

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA …civil.uefs.br/DOCUMENTOS/CÉSAR AUGUSTO LIMA TANAJURA.pdf · Figura 7 – Baias e betoneira 44 Figura 8 – Estoque de materiais 45

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

CESAR AUGUSTO LIMA TANAJURA

LOGÍSTICA APLICADA NO GERENCIAMENTO DE MATERIAL EM OBRA DE CONSTRUÇÃO CIVIL: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA

RESIDENCIAL NA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA

Feira de Santana

2012

1

CESAR AUGUSTO LIMA TANAJURA

LOGÍSTICA APLICADA NO GERENCIAMENTO DE MATERIAL EM OBRA DE CONSTRUÇÃO CIVIL: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA

RESIDENCIAL NA CIDADE DE FEIRA DE SANTANA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito para a obtenção do título de bacharel em Engenharia Civil. Orientador: Prof. Me. Florentino Carvalho Pinto Co-orientador: Prof. Me. Luis Claudio Borja

Feira de Santana

2012

2

CESAR AUGUSTO LIMA TANAJURA

LOGÍSTICA APLICADA NO GERENCIAMENTO DE MATERIAL EM OBRA DE CONSTRUÇÃO CIVIL: ESTUDO DE CASO EM UMA OBRA RESIDENCIAL NA

CIDADE DE FEIRA DE SANTANA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito para a obtenção do título de bacharel em Engenharia Civil.

Aprovado em _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

Ass.__________________________________

1º Exam.: Prof. Me. Luis Cláudio Alves Borja

Universidade Estadual de Feira de Santana-

Co-orientador

Ass.__________________________________

2º Exam.: Prof. Carlos Antônio Alves Queirós

Universidade Estadual de Feira de Santana

Ass.__________________________________

3º Exam.: Luis Alberto Falcim Grigolon Fré

Profissional da área de Gerenciamento de Obra

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, primeiramente, que sempre esteve do meu lado indicando

o melhor caminho a ser seguido e as melhores decisões a serem tomadas.

Agradeço meu pai e minha mãe que sempre me apoiaram em qualquer

decisão que eu viesse a tomar.

Também não posso deixar de lembrar-me de meus colegas que sempre me

ajudaram durante todos esses anos de graduação.

Sou muito grato também a todos os professores amigos da turma que sempre

deram bons conselhos sobre o curso e sobre o caminho correto a seguir

profissionalmente e pessoalmente.

Agradeço, principalmente, ao meu professor orientador Florentino Carvalho

que compartilhou conhecimento, companheirismo e paciência durante essa etapa da

minha formação.

E, também, não me esqueço do professor Luis Cláudio Borja, que se fez

presente nas horas de necessidade.

4

“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é de alguém que acredite que ele possa ser realizado”

Roberto Shinyashiki

5

RESUMO

TANAJURA, C. A.L. Logística aplicada no gerenciamento de materiais em obra de construção civil. Feira de Santana, 2012. 54p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Feira de Santana.

Esse trabalho visa propor uma mudança de olhares dentro da gestão dos negócios, assim, dar maior atenção à área de gestão de suprimentos através de processos logísticos que, certamente, irão acarretar numa minimização de problemas como desperdícios, descontinuidade da produção, qualidade e produtividade. Um dos maiores gargalos da Construção Civil é o desempenho da produção. Esse aspecto está interligado com diversos fatores, tais quais motivação, conhecimento técnico e familiarização com o processo, disponibilidade do material a ser transformado em produto, além de outros. Esse trabalho está divido em duas partes: teórica e experimental. A parte teórica consta a revisão de literatura de todos os aspectos relacionados à logística do material no canteiro de obra. Para a parte experimental fora aplicado os conhecimentos adquiridos na revisão no canteiro de obra. Com os dados coletados foi feito uma análise focando como os materiais estão sendo estocados e suas rotas de fluxo aos locais de processamento dos mesmos. Para complementar a pesquisa, fora usado um questionário para situar o canteiro quanto a qualidade do espaço físico. A constatação que pôde ser feita é que, no geral, o canteiro foi bem planejado, em virtude de ser bem estreito. Mas por outro lado, a obra pecou quanto aos locais estratégicos de estoque, e em relação ao não uso de veículos mecanizados para fazer o transporte dos materiais. As ferramentas apresentadas se mostraram adequadas, uma vez que todo o canteiro e seus processos logísticos foram representados de maneira satisfatória.

Palavras-chave: Desempenho. Negócio. Logística. Produtividade.

6

ABSTRACT

TANAJURA, C. A.L. Logistics applied to the management of materials in civil work. Feira de Santana, 2012. 54p. Completion of course work (graduate in Civil Engineering) - State University of Feira de Santana.

This work aims to propose a change of looks within the business management, thus giving greater attention to the area of supply management through logistics processes which certainly will result in problems such as waste minimization, disruption of production, quality and productivity. A major bottleneck is the construction of production performance. This aspect is linked to several factors, such that motivation, technical knowledge and familiarity with the process, availability of material to be transformed into a product as well as the time he will spend to get this material and so on. This work is divided into two parts: theoretical and experimental. The theoretical part included a literature review of all aspects of the logistics of the material in construction site. For the experimental part was analyzed within the logistics building site. With the data collected was done an analysis focusing on how materials are being stored and their routes flow to local processing. To complement the survey, a questionnaire was used to place the bed as the quality of physical space. The observation that could be made is that, overall, the plot was well planned, by virtue of being very narrow. On the other hand, the work sin strategic locations about the stock, and not in relation to the use of mechanized vehicle to transport the material. The tools presented were adequate, since the whole plot and its logistics processes were represented satisfactorily. Keywords: Performance. Business. Logistics. Productivity.

7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Delineamento do estudo de caso 37

Figura 2 – Sistema de movimentação e armazenamento de materiais 40

Figura 3 – Símbolos usados no diagrama de processo 41

Figura 4 – Exemplo de mapofluxograma de processo para o serviço de desforma de

Viga 42

Figura 5 – Vista do canteiro 43

Figura 6 – Etapa final da obra 43

Figura 7 – Baias e betoneira 44

Figura 8 – Estoque de materiais 45

Figura 9 – Diagrama de processos - Argamassa para reboco Pavimento térreo 46

Figura 10 – Diagrama de processos - Argamassa para reboco Pavimento superior 47

Figura 11 – Diagrama de processos - Argamassa para reboco 48

Figura 12 – Baias de areia e brita 49

Figura 13 – Mapofluxograma da obra 49

Figura 14 – Estocagem modelo de cimento na obra 52

8

LISTA DE QUADRO

Quadro 1 – Questionário aplicado ao engenheiro da obra 50

9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

1.1 JUSTIFICATIVA 12

1.2 OBJETIVOS 13

1.2.1 Geral 13

1.2.2 Específicos 13

1.3 METODOLOGIA 13

1.3.1 Estrutura da Monografia 14

2 ARGUMENTOS E FUNDAMENTOS DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 15

2.1 SURGIMENTO DA LOGÍSTICA 15

2.2 SIGNIFICADO DE LOGÍSTICA 16

2.3 LOGÍSTICA NO BRASIL 17

2.4 LOGÍSTICA INTEGRADA 19

2.5 FLUXO INTERNO DE SUPRIMENTOS 19

3 LOGÍSTICA NA CONSTRUÇÃO CIVIL 22

3.1 LOGÍSTICA NO CANTEIRO DE OBRAS 22

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL 24

3.2.1 Condicionantes 24

3.2.2 Logística e a melhoria dos processos 25

3.2.3 Considerações sobre o planejamento do layout do canteiro 27

3.3 LOGÍSTICA E PRODUTIVIDADE 28

3.3.1 Contexto da produtividade no canteiro de obras 28

3.3.2 Redução dos tempos de espera (Lead time) 29

3.3.3 Movimentação de materiais no canteiro 31

3.3.5 Gerenciamento da cadeia de suprimentos 33

4 MÉTODO DE PESQUISA 36

4.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA 36

4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA 36

5 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA, DAS FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO E

ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS 38

5.1 A EMPRESA 38

5.2 DESCRIÇÃO DO CANTEIRO 39

10

5.3 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTO E A

LOGÍSTICA DO CANTEIRO 39

5.3.1 Índice de Boas Práticas em Canteiro de Obras (Check-List) 39

5.3.2 Diagrama de processo 40

5.3.3 Mapofluxograma 41

5.4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS NO CANTEIRO 42

5.4.1 Análise da logística do canteiro 43

5.4.1.1 Quanto aos meios de transporte interno 45

5.4.2 Diagrama de processo (Produção de Argamassa) 46

5.4.3 Mapofluxograma da obra (Distribuição física de areia/brita/cimento) 48

5.4.4 Aplicação do questionário 50

6. CONCLUSÕES 53

6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 53

REFERÊNCIAS 54

ANEXOS 57

11

1 INTRODUÇÃO

O tema abordado neste estudo está em grande evidência em todos os setores

empresariais, assim como na indústria da construção: a logística. Das muitas

empresas que tem uma boa gestão logística, algumas não desfrutam de suas reais

virtudes que são: o aumento do nível de serviço, produtividade e redução de custos

(BALLOU, 1993). A gestão logística pouco desenvolvida no suprimento de materiais

e serviços é a principal causa apontada da ineficiência produtiva. Entende-se que é

necessário atribuir maior enfoque aos aspectos logísticos da produção. Ou seja, é

preciso estudar e planejar a logística enxergando sempre adiante, tentando prever

qual será o próximo desafio a ser superado e qual ação a ser tomada para que se

possa seguir com a obra, visando sempre produtividade, lucratividade, satisfação

interna e externa.

Aqui será estudado a disposição e fluxo dos materiais necessários à

execução de uma determinada frente de serviço e observar a produtividade da

equipe relacionada com a tarefa. Analisar os dados coletados a respeito da logística,

e apontar soluções simples e eficazes para melhoria da mesma e consequente

ganho de agilidade nos processos. E demonstrar que a melhoria da logística no

canteiro proporciona um ganho significativo na produção e consequente aumento da

produtividade e do lucro do empreendimento. Para isso, fora observado todos os

processos de distribuição e armazenamento de material dentro do canteiro, além

das soluções tecnológicas disponíveis no mercado que possa auxiliar nesse

processo. Uma vez que, um canteiro de obras mal planejado ou com infra-estrutura

incipiente acarreta em problemas pela falta de espaços físicos, levando a uma

excessiva movimentação de materiais equipamentos e pessoas, o que ocasiona

perda de tempo e suprimento. Na outra mão, mal planejamento de estoques gera

quebras e deterioração de materiais por armazenagem imprópria e inadequada.

Portanto, a logística não está só ligada aos aspectos da movimentação, mas sim

como e onde armazenar o estoque, além da melhor maneira de movimentá-lo.

Segundo Vieira (2006), dentre os segmentos da construção civil, o setor de

edificações é o que menos utiliza a tecnologia logística, gerando elevados índices de

perdas na produtividade, qualidade e prazos. Nesse contexto, esse trabalho traz

12

uma análise geral do impacto, negativo e positivo, que a logística e suas soluções

tecnológicas causam em uma obra.

1.1 JUSTIFICATIVA

Considerado o esteio do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a construção

civil representa cerca 10% deste indicador econômico (SINDUSCON). É por causa

do enorme déficit habitacional e de infra-estrutura do país, que é também visto como

uma área promissora, que cresce bastante em épocas de expansão da economia,

empregando mais de 3 milhões de trabalhadores (SINDUSCON) e movimentando

um volume de recursos em torno de R$ 5,4 bilhões (ANCOVAP). Em virtude disso, a

construção civil é uma área de investimento bastante atraente, e para que o lucro

seja garantido é preciso investir em gerenciamento. Além do mais, a competitividade

entre as empresas cresce ao longo dos anos, logo há uma grande inserção de

concorrentes e transformações que ocorrem de maneira rápida forçando as

empresas a buscarem alternativas que representem vantagem competitiva, para

assim permanecerem no mercado. De acordo com Porter (1992), décadas atrás a

concorrência mundial era praticamente nula, havendo somente certa proteção à

industria nacional, por parte dos governos. Todavia, após a segunda guerra mundial

ocorreu um grande desenvolvimento dos mercados puxados pela Alemanha e

Japão, haja vista a necessidade de crescimento em meio à grande destruição

econômica mundial. Portanto, as empresas tinham que desenvolver processos

eficientes e eficazes para maximização do lucro e redução das perdas.

Nos dias atuais, ser competitivo é pré-requisito para todas as empresas que

almejam longa vida no mercado local e mundial. Então, Segundo Ferraz (1997), são

duas as linhas de pensamento as quais definem o conceito de competitividade: uma

diz que competitividade é desempenho, onde se faz expressa a participação de

mercado, alcançada por uma organização em determinado mercado em um certo

tempo; a outra afirma que competitividade é eficiência, ou seja, há uma correlação

entre diminuição de insumos e aumento de lucro.

Portanto, é possível dizer que no atual cenário econômico as empresas estão

criando meios de reduzir custos, pois esta é, na maioria dos casos, a única maneira

de duelar com a concorrência e se manter no mercado. O estudo da logística e a

13

aplicação de seus princípios básicos em canteiro de obra é um grande aliado nessa

busca pela redução dos custos. Neste contexto, esse trabalho irá apresentar

algumas situações “in loco” onde será possível destacar a importância da logística

para qualquer empreendimento.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Fazer uma análise dos processos inerentes à logística de suprimento de

material em um canteiro de obra no município de Feira de Santana.

1.2.2 Específicos

Analisar a disposição dos materiais constituintes no processo de fabricação

de argamassa;

analisar suas rotas de serviço;

associar a disposição dos materiais e seus fluxos;

apresentar soluções fundamentadas na revisão bibliográfica.

1.3 METODOLOGIA

O trabalho apresenta características teórico-experimentais. Na parte teórica

será feita uma revisão bibliográfica sobre os fundamentos da Logística Empresarial,

tratando de temas fundamentais e com aplicação prática na Construção Civil, além

de estudos de produtividade. Será enfocado a relação necessidade (canteiro de

obras), fluxo (no canteiro de obras) e entrega (fornecedores) dos insumos sempre

visando melhoria nos processos produtivos. A partir dessa revisão, serão coletados

dados em canteiro de obra, onde abrirão possibilidades de realizar incursões

necessárias para melhorias logísticas na obra em estudo.

14

Para a parte experimental citada acima, será usado mapas de fluxo, feitos

com auxílio de um Computer-aided Design (CAD), objetivando analisar a disposição

dos materiais e suas rotas de acesso às frentes de trabalho.

Por fim, visando complementar todo o estudo, serão feitas entrevistas com o

corpo técnico administrativo, com o fim de obtenção de informações sobre o

desenvolvimento e aplicação da logística na empresa.

1.3.1 Estrutura da Monografia

Este trabalho está dividido em cinco capítulos. O primeiro consiste em uma

introdução da monografia, na qual são apresentadas a introdução do tema a sua

justificativa, objetivos, metodologia e estrutura da monografia.

O capítulo 2 aborda uma introdução a respeito dos conceitos de logística

empresarial, que serão como base para tratar da logística no canteiro nos próximos

capítulos.

O capítulo 3 trata de conceituar o setor da Construção Civil e caracterizá-lo.

Será abordado, também, o tema logística no canteiro, produtividade e movimentação

dos materiais. Além do tema cadeia de suprimentos.

O capítulo 4 tratará do método de pesquisa e coleta de dados

E no capítulo 5 constará a apresentação dos dados coletados, assim como

sua discussão.

15

2 ARGUMENTOS E FUNDAMENTOS DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL

2.1 SURGIMENTO DA LOGÍSTICA

A origem da palavra Logística está associada a lógica, que se origina do

grego Logistiké, sendo usada na Grécia Antiga como parte da aritmética e da

álgebra relativa às quatro operações fundamentais. Mas, a definição que mais se

aproxima da Logística usada atualmente vem da França, segundo Tixier, Mathe &

Colin (1983), Logistique, significado dado a uma arte militar que compreende os

meios para se aplicar planos e estratégias no âmbito da batalha. Relaciona-se,

portanto, com o planejamento e realização de projetos táticos, alocação de recursos

humanos, materiais, transporte, manutenção e operação de instalações e acessórios

destinados a ajudar o desempenho de qualquer função militar.

Com a difusão desses conhecimentos, em meados da década de 50, logo

após a 2ª Guerra Mundial, criou-se um ambiente favorável que possibilitou a

evolução da Logística no âmbito empresarial, Ballou (1993) afirma que o surgimento

de uma mudança de postura por parte das empresas exigiu uma maior

reorganização das responsabilidades, alteração nos padrões e atitudes da demanda

dos consumidores, pressão por diminuição dos custos na indústria e um avanço na

tecnologia de computadores.

Sendo um pouco mais específico, Bowersox (2004) diz que são três os

fatores primordiais para a evolução das práticas logísticas: a grande difusão dos

computadores e das técnicas de quantificação, porque antes não havia nenhum

motivo para acreditar que funções logísticas pudessem ser integradas ou que essa

integração de funções pudesse aprimorar o desempenho total; a mudança do

gerenciamento logístico devido ao surgimento de softwares que processavam

pedidos, previsões, controle de estoque, transporte etc.(o interesse foi surgindo

gradualmente com o significativo potencial de melhorias) e o ambiente econômico

volátil, com consequente cobrança e aumento de lucros.

Portanto, podemos constatar que havia um terreno propício para a expansão

da logística, mas como existia um entrave para qualquer idéia de mudança, também

havia um grande obstáculo para a ampla adoção da logística que, segundo

16

Bowersox (2004), seria a dificuldade de quantificar o retorno sobre o investimento

que poderia ser obtido.

A partir da década de 80 e início da década de 90, a logística passou por um

renascimento maior que todo aquele período da revolução industrial, havendo uma

mudança significativa nas regulamentações, comercialização do micro computador,

revolução da informação, adoção em grande escala da qualidade e desenvolvimento

de parcerias de alianças estratégicas, resultando numa ampla adoção de suas

práticas, voltando-se para o enfoque de redução de tempos de entrega ao cliente,

redução de custos e aumento de competitividade das empresas. A partir da década

de 90 os estudos foram avançando e a prática logística tornou-se fundamental para

tornar as organizações mais competitivas considerando o mercado que é bastante

agressivo.

2.2 SIGNIFICADO DE LOGÍSTICA

A logística é um ramo da administração que está sendo cada vez mais

estudada (mas ainda falta um certo caminho para se tornar uma área popular) a

medida que seus benefícios são divulgados por empresas que implantaram um

sistema logístico eficaz e ganharam como retorno eficiência e aumento da margem

de lucro.

Atualmente esse tema é tratado como Logística Empresarial, e, segundo

Ballou (1993), é um ramo da administração o qual seu estudo mostra como prover

melhor nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e

consumidores, através de planejamento, organização e controle efetivos das

atividades de movimentação e armazenagem que visem facilitar o fluxo de produtos,

ou seja, tornar o mais eficiente possível seu processo de distribuição da informação

desde o pedido feito pelo cliente até a entrega do produto no destino final, gerando

assim, menor desperdício de tempo e consequente aumento dos lucros, os quais

são vitais para sua sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo.

Para a familiarização do tema a ser abordado, Ballou (1993) define a logística

como um ramo da administração que trata de todas as atividades de movimentação

e armazenagem que facilitam o fluxo de produtos desde a origem até o ponto de

consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em

17

movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos

clientes a um custo razoável.

Mas, simplesmente, Bowersox (2004) diz que o objetivo da logística é tornar

disponíveis produtos e serviços no local onde são necessários, no momento em que

são desejados. Para poder atender tanto o objetivo de Ballou (1993), quanto o

objetivo de Bowersox (2004), será necessário ter um controle de informação eficaz,

uma rota de transporte eficiente, um estoque bem planejado e armazenado e um

bom fluxo de movimentação dos materiais e embalagem.

As atividades primárias da logística para que fique garantido o atendimento da

qualidade do serviço e custo são os setores de Transportes; Manutenção de estoque

e Processamento de pedidos funcionando, de maneira integrada e eficaz. Logo é

fundamental a difusão desse princípio dentro da organização.

Sendo assim Bowersox (2004), acrescenta que o êxito operacional da

logística é estar interligado com a provisão de matérias-primas, produtos semi

acabados e estoque de produtos acabados, no local onde são necessitados, ao

menor custo possível. Logo, as empresas que conseguem atingir tal meta ganha em

organização e eficiência além de vantagem competitiva que proporciona aos clientes

um serviço superior e apresenta desempenho acima da média em termos de

disponibilidade de estoque e consistência de entrega, portanto tais empresas

passam a ser vistas como fornecedores preferenciais e parceiros ideais.

Portanto as empresas que conseguirem se organizar e tratar o tema da

logística como primordial para o sucesso do empreendimento terá como

características principais planos e rotas logísticas alternativas, dando ênfase na

flexibilidade, agilidade, no controle operacional, na capacidade relativa de

postergação e, acima de tudo, no compromisso de atingir um nível de desempenho

que implique em um serviço perfeito, consequentemente, disparando para a

vanguarda de seu segmento.

2.3 LOGÍSTICA NO BRASIL

Tendo iniciado por volta da década de 80, logo após a difusão das tecnologias

de informação, onde apareceram algumas associações que deram maior visibilidade

a Logística como: a Associação Brasileira de Supermercados (ASBRAS),

18

Associação Brasileira de Logística (ASLOG), Instituto de Movimentação e

Armazenagem (IMAM), e algumas outras organizações.

Assim, assumindo o ônus de tornar popular este novo conceito que seria

voltado para as organizações daquela época, segundo a ASLOG, a Logística era

definida como processo de planejar, implementar e controlar eficientemente, com

redução de custos, o fluxo e armazenagem de suprimentos, estoque durante a

produção e produtos acabados, desde o ponto de origem até o consumidor final,

garantindo excelência no serviço ao consumidor. Logo, podemos afirmar que essa

definição continua válida, e sendo bastante similar à definição usada pelos autores

contemporâneos.

A logística foi evoluindo com o passar dos anos, haja vista que na década de

80 apenas era usada com foco apenas nas metodologias e modais de transportar, e

armazenar. Já na década de 90, os cálculos tornaram-se presentes, uma vez que a

partir desse ponto iniciaram-se estudos científicos das relações, dispersões,

movimentos etc., com foco em Administração de Matérias, Distribuição,

Movimentação e Armazenagem. E, então no final da década de 90 as graduações,

especializações e até mesmo cursos de aperfeiçoamento na área específica

estavam á disposição dos interessados nesse novo conceito.

Mas, apesar dos entraves que dificultam a disponibilidade do conhecimento

para quem queira se especializar em Logística, no Brasil está tendo uma

considerável evolução principalmente nesses últimos 10 anos. Segundo uma

pesquisa do Centro de Estudos em Logística (CEL), em 2003 cerca de 500 das

maiores empresas industriais brasileiras estão gastando em média 7% do seu

faturamento anual, com suas operações logísticas. Ou seja, podemos constatar a

longa jornada de transformações que a logística no Brasil passou e ainda passa,

sempre na busca pela sofisticação e aperfeiçoamento.

Por fim, a aplicação das práticas da Logística é uma saída interessante para

atingir metas de redução de custo de uma empresa. Logo, a logística está

intrinsecamente relacionada com otimização de recursos e redução de gastos,

envolvendo transporte, movimentação de materiais, embalagem, estocagem e em

sentido geral distribuição dento de uma cadeia de suprimento essencial.

(produtividade, materiais e tempo).

19

2.4 LOGÍSTICA INTEGRADA

A Logística Integrada é todo sistema gerencial da cadeia de suprimento,

desde o fornecimento de insumos até a distribuição do produto, já pronto, ao cliente.

Analisando a Logística Integrada de maneira abrangente, Bowersox (2004)

diz que é todo um processo onde a eficiência da empresa cria um vínculo entre a

própria empresa, seus clientes, e fornecedores. Onde as informações que são

emitidas pelos clientes teriam que fluir pela empresa de igual maneira que as

atividades de venda, previsões, futuras e pedidos. Logo, as informações deveriam

ser administradas em setores diferenciados de compras e de produção do produto,

onde no momento do fornecimento dos produtos e materiais, é iniciado um processo

de elaboração do pedido, culminando na entrega dos produtos acabados aos

clientes. Sendo assim, pode-se afirmar que tal processo tem dois aspectos que

deveriam trabalhar de maneira integrada: o fluxo dos materiais e o fluxo das

informações.

Então, a logística não é somente a melhor maneira de entregar um produto

acabado a um cliente, mas uma grande cadeia integrada onde há o gerenciamento

desde a formação do pedido de compra, passando pelo processamento da

informação, quantitativo de estoque, manuseio do produto até entrega final do

produto ao cliente.

O objetivo geral da integração dos processos é obter redução dos custos com

armazenagem e, para isso, é necessário que as organizações tenham a capacidade

de prever as demandas. Para isso, é importante que se faça entender que estoques

são recursos físicos e principalmente financeiros, logo os estoques devem girar e se

movimentar entre fornecedores, fábricas, depósitos e consumidores finais, a fim de

evitar a sua permanência em uma destas etapas do fluxo logístico, onde por esse

motivo pode ocasionar perdas.

2.5 FLUXO INTERNO DE SUPRIMENTOS

A logística do fluxo de materiais é um conjunto de atividades que visam a

melhoria do sistema (em uma fábrica ou em um canteiro de obra) como um todo,

focando em otimização de processos com redução gradativa de desperdício de

20

tempo e esforço humano objetivando agregar valor a um produto ou serviço, por

meio de redução de tempo de espera e movimentação desnecessária.

Segundo Formoso et al. (1993), esse sistema pode ser melhorado e as suas

perdas reduzidas, não só através da melhoria da eficiência das atividades de

conversão e de fluxo, mas também pela eliminação de algumas das atividades de

fluxo. Ou seja, quando se desenvolve um processo no canteiro de obra é

aconselhável eliminar o quanto for possível as necessidades de transporte, espera e

inspeção de materiais, tornando o processo simples e eficaz, com isso favorecendo

ganho em tempo e aumento de produtividade.

Tratando o fluxo dos materiais com a visão da logística empresarial abordada

por Ballou (1993), temos que: “o valor dessa logística é manifestado em termos de

tempo e lugar”. Ora, os produtos e serviços não têm valor a menos que estejam em

poder dos clientes, quando (tempo) e onde (lugar) eles pretenderem consumi-los.

Aplicando-se esse conceito na Indústria da Construção Civil, 01(um) m³ de

argamassa não terá valor senão estiver no tempo certo (antes da cura e ainda

restando argamassa no balde do operário) e no local certo (próximo ao local de

execução do serviço), uma vez que cada minuto que o operário fique parado

acarretará redução na produtividade.

O gerenciamento logístico dos materiais interpreta cada atividade na cadeia

de suprimentos como contribuinte do processo de agregação de valor. Todavia,

agrega-se valor quando os consumidores estão dispostos a pagar, por um produto

ou serviço, mais que o custo de colocá-lo ao alcance deles. De acordo com Novaes

(2001), “o moderno gerenciamento da cadeia de suprimento se preocupa não só

com a agilização do processo, como também com a redução dos custos globais”.

A gestão do fluxo dos processos pode proporcionar uma gama de opções

para aumentar a eficiência e a produtividade e, por conseguinte, contribuindo

significativamente para a baixa dos custos. A conscientização da importância de um

fluxo racional dos processos está crescendo cada vez mais em relação ao impacto

na lucratividade final, sabendo-se que essa redução virá a médio-longo prazo. O

gerenciamento de todo o processo logístico assume controle sobre as ações dos

fornecedores, distribuidores e o contratante (Empresa), a fim de interligar as

demandas de produção com os prazos de entrega dos insumos. Dessa forma, é

possível reduzir inventários, diminuir tempos de espera e reduzir os custos logísticos

totais.

21

Portanto, para se obter um bom gerenciamento dos materiais é importante

que se tenha bem desenvolvido dentro da empresa um sistema de informação, onde

se possa reunir todos os dados de pedidos, controle de estoque e previsão de

entrega. No qual, a partir do mesmo, é possível fazer uma programação das rotas de

atividades, dimensionamento de equipes e etc., garantindo ao gerente (de uma rede

distribuidora ou de um canteiro de obra) o controle do andamento de todas as

atividades em processamento.

22

3 LOGÍSTICA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

3.1 LOGÍSTICA NO CANTEIRO DE OBRAS

Ao longo dos anos vem sendo observado certa carência de atenção por parte

dos gestores na área mais importante da construção civil, o canteiro de obras.

Segundo Vieira (2006), “a preocupação dos gestores com o canteiro de obras

sempre foi relacionada aos aspectos técnicos do projeto arquitetônico-estrutural,

sem a merecida preocupação com desperdícios, prazos e retrabalhos, ou seja, com

o gerenciamento do fluxo de suprimentos”. Então percebe-se que o grande foco dos

gestores é economizar em insumos, que quando comprados com desconto e usados

racionalmente impactam positivamente no aumento do lucro final do

empreendimento. Mas por outro lado, deixa carente de atenção o desenvolvimento

de uma logística adequada, por que, num primeiro momento, não traduzem em

redução de custos.

Essa despreocupação com fatores de ordem Logística pode gerar problemas

como descontinuidade de produção, devido a falta de eficiência na distribuição dos

materiais, consequentemente, causando grandes baixas na produção. Então,

segundo Vieira (2006), a aplicação da logística [...] procura solucionar entre outros

problemas, o de descontinuidade de produção, estoques desnecessários e

minimização do transporte dos materiais dentro do canteiro [...] logo aumentando

produtividade e lucro. Portanto, é por meio de uma visão integrada de todas as

etapas da cadeia de suprimentos fornecida pela administração da logística que se

poderá atingir tudo que foi citado acima.

Deixar de lado o gerenciamento da logística do canteiro vem sendo a

característica da construção civil por anos e que deve se ter alguns ajustes para que

as empresas se tornem mais competitivas. Todavia, isso somente será possível se

for atribuída a devida importância. De acordo com Vieira (2006), “a gestão logística

pouco desenvolvida no suprimento de materiais e serviços é a principal causa

apontada da ineficiência produtiva”. Ou seja, é necessário associar os aspectos

logísticos e a produção. Uma sugestão feita por diversos autores, para solucionar

problemas de sobrecarga de atividades em um só gerente, é associar o gestor da

obra com um gestor específico para a logística, atuando de forma integrada, cada

23

um se concentrando em suas áreas de atuação, mas olhando para a mesma

direção: produtividade. O que já é possível ver em alguns canteiros, mas sendo

chamado de Engenheiro de Produção.

Dentre as atividades mais importantes associadas à logística, podemos citar:

[...] a gestão de pedidos, o controle de estoque, o carregamento, o processo de

transporte e de descarga do produto na obra [...], que ao operar de maneira

sincronizada e eficiente, visa a redução de todas as dificuldades encontradas no

atendimento de prazos e custos (VIEIRA, 2006). Nesse sentido, Santos e Farias

Filho (1998), diz que a visão de gestão voltada para a redução dos prazos, dos

custos, das perdas e dos desperdícios, e um ambiente baseado na melhoria

contínua e na otimização da flexibilidade visam desenvolver a eficiência da obra,

resultando na redução de prazos e custos, e potencialização da produtividade. Logo,

percebe-se que para obter otimização dos processos envolvendo custos, prazos e

perdas, é preciso ter uma logística bem definida.

Tudo que se relaciona a perdas, desperdícios, prazos não cumpridos,

retrabalhos, etc. são basicamente vinculados à área de suprimentos e a

administração da produção da obra. Entretanto, para Vieira (2006), isto é

consequência de uma gestão logística pouco desenvolvida, e ainda baseado no

mesmo, é indispensável que a gestão da produção seja encarada como diferencial,

não como gastos maiores.

Portanto, a insuficiência de uma boa logística é uma das causas de um

eventual mal desempenho de uma determinada obra, assim sendo, podemos

salientar a importância do planejamento na indústria da construção. É fundamental a

organização do canteiro para que as atividades sejam bem desenvolvidas, para que

desperdício de tempo, perdas de materiais e falta de qualidade da obra sejam

evitados. Um estudo criterioso do layout e da logística do canteiro, devem estar

entre as primeiras ações de construção de um empreendimento, seja ele de grande,

médio ou pequeno porte, para que todos os recursos materiais e humanos

empregados na obra sejam bem aproveitados.

24

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL

3.2.1 Condicionantes

Diferentemente das indústrias manufatureiras, a indústria da construção civil

apresenta-se de forma peculiar quando comparadas entre si. Enquanto a indústria

manufatureira tem sua sede manufatureira fixa, equipamentos e força de trabalho

bem definidas, duradouras e contínuas, linhas de montagem com operações

repetitivas e constantes, se apresentando de forma peculiar e se movimentando em

função dos seus ciclos operacionais e de cada produto, a indústria da construção

civil, via de regra, trabalha por encomenda e em sua grande maioria com um ciclo de

produção pré-determinado e sua logística se modifica em função das peculiaridades

do fluxo operacional e das condições ambientais, distância, volume e tempo. A

indústria da construção civil é peculiar e como tal tem características próprias como

as citadas a seguir, (VIEIRA, 2006):

a) Locais de trabalho espalhados por todo o canteiro.

b) Alto grau de mão de obra desqualificada e alta rotatividade.

c) Produção sujeita às intempéries.

d) Geralmente a produção não tem um padrão a ser seguido.

e) Seus produtos não são seriados.

f) Existe uma grande variedade nos insumos.

g) Os processos não são sujeitos a automatização.

h) Há uma grande interferência entre as tarefas.

i) O operário despende seu tempo de trabalho em busca dos materiais para

execução das tarefas.

Ao se analisar o contexto da indústria da construção civil, verifica-se que seu

sistema operacional diverge de outros modelos de atividades industriais, porque seu

modelo de transformação não possui elevado grau de repetitividade por muito

tempo, dada a grande variedade dos serviços. Além disso, as atividades executadas

dentro de um canteiro de obra, aproveita das características de cada operário, de

suas experiências, de sua disposição diária e de suas habilidades com ferramentas.

25

Sendo assim, o processo de trabalho nesse setor é bastante complexo, culminando

em dificuldades de criar uma solução padrão que favoreça a organização do mesmo

e sua evolução. Diferentemente da indústria seriada, onde os materiais são os

mesmos, a execução é a mesma e as ferramentas são as mesmas, ou seja, segue

uma continuidade. Fatalmente criando uma mão de obra especializada e rotineira,

consequentemente aumentando a produtividade e a otimização dos processos.

Outro grande fator de dissensão entre os modelos citados aqui é a questão da

logística interna. Nas fábricas, a logística é estudada com um maior rigor, além do

que sua implantação é mais simplificada porque os postos de trabalhos são

sistematizados e fixos. Enquanto na construção civil, além dos postos de trabalhos

serem móveis não há, ainda, uma grande conscientização por parte dos gestores a

respeito do estudo da logística, criando assim operações de apagar incêndio.

3.2.2 Logística e a melhoria dos processos

O foco da logística é a manutenção da continuidade da produção e eliminação

de perdas em geral, com estoque. Logo, percebe-se que uma supervisão e um

controle mais rigoroso das atividades irão minimizar problemas de falta de material e

mão de obra. Aliado a um planejamento adequado da execução das atividades

culminará na eliminação de atividades que não agregam valor, como perdas de

tempo com movimentações desnecessárias. Estoques desnecessários também

geram problemas como ocupação de espaço no canteiro e gastos desnecessários

com a aquisição dos mesmos sem tanta necessidade naquele momento, além de

poder gerar perdas por roubos, ação das intempéries e etc.

Nessa direção, pode-se dizer que logística na construção civil é o processo de

planejar, implementar, integrar e controlar, de forma eficiente e eficaz, o fluxo de

recursos materiais e humanos, de serviços, de armazenagens e de informações

associadas, nesse caso, dentro do canteiro de obras. Segundo Elias et al. (1998), é

importante visar a melhor utilização do espaço disponível no canteiro, onde se possa

locar os operários, materiais e equipamentos, criando condições favoráveis para a

realização de atividades com eficiência, por meio de mudanças no sequenciamento

de atividades, da redução de distâncias e tempos de deslocamentos, além da

melhor preparação dos postos estratégicos de trabalho. Logo, a empresa que estiver

26

consciente da urgência de implantação desses processos estará mais bem

preparada para enfrentar a grande competitividade do mercado atual, uma vez que a

implantação dos sistemas logísticos acarreta em:

Redução de custos por sistematização dos processos, redução de tempos

de espera e movimentos desnecessários;

aceleração de processos internos e externos devido à organização do

processo global;

redução dos riscos operacionais devido ao controle dos processos;

melhoria das relações da estrutura de movimentação de materiais.

Para isso, segundo Vieira (2006), devem ser tomadas algumas medidas

como:

a) Planejamento e gestão da produção;

b) planejamento do canteiro de obras;

c) provisão de recursos materiais;

d) provisão de mão-de-obra qualificada;

e) e fluxo de informações eficiente associado a uma tecnologia de informação

compatível.

Portanto podemos verificar que o processo logístico, quando fundamentado

em estudos previamente feitos e implantados e sustentado por tecnologia de

informação eficaz, tornará os objetivos almejados mais fáceis de serem alcançados.

Mas para isso é necessária a conscientização de que problemas fazem parte do

processo, e que é necessário constante retroalimentação do controle dos processos

em desenvolvimento, uso consciente das ferramentas de TecnoIogia da informação

(TI) que podem ser úteis para otimização do procedimento, e principalmente, da

determinação em atingir os objetivos propostos (VIEIRA, 2006).

27

3.2.3 Considerações sobre o planejamento do layout do canteiro

O projeto do canteiro é um dos principais instrumentos para o planejamento e

organização da logística de canteiro. É óbvio, que ele afeta o tempo de

deslocamento dos trabalhadores e o custo de movimentação dos materiais e

interfere, portanto, na execução das atividades e também na produtividade global da

obra e dos serviços (SILVA, 2000).

Na fase de estudos de logística para um determinado empreendimento, o

ponto de partida para a solução da problemática, é o estudo do layout do canteiro. E

a análise das necessidades que a obra terá no exato momento da implantação,

como em médio e longo prazo. Ou seja, é preciso avaliar os locais das instalações

provisórias, o melhor local do almoxarifado e etc. Logo, percebe-se a importância da

integração da logística ao layout do canteiro. Sendo que o único objetivo em questão

é, de acordo com Vieira (2006), “garantir o fornecimento de insumos e de toda a

infra-estrutura necessários para o perfeito funcionamento dos processos

relacionados às instalações de canteiro”.

Segundo Cardoso (1996), antes de realizar o planejamento logístico, é

necessário a análise dos seguintes fatores:

a) estudo criterioso e o entendimento de toda a estrutura da obra, através da

revisão dos cadernos de encargos e especificações, definição das fases

de execução, avaliação das condições de início da obra e pedido de

ligações com redes concessionárias;

b) identificação dos pontos críticos e das interfaces das diversas etapas;

c) planejamento de execução, estabelecendo diretrizes para o tratamento

das interfaces técnicas e organizacionais.

Verificado esse estudo prévio, existem conhecimentos básicos e genéricos,

citados por Vieira (2006), os quais servem como base para o próximo passo, o

planejamento logístico:

a) minimização da improvisação;

b) reduzir ao máximo qualquer tipo de armazenagem;

28

c) estocar de maneira a aproveitar o espaço cúbico e não linear ou

metragem quadrada;

d) ter cautela com o dimensionamento do material, com a localização e

sempre favorecer às características físicas do insumo a ser armazenado;

e) reduzir ao máximo qualquer tipo de transporte;

f) estudar criteriosamente quais as rotas de transporte e quais materiais a

serem transportados;

g) procurar sempre rotas em linha reta;

h) reduzir o manuseio do material;

i) procurar máquinas de transporte e manuseio mais flexíveis;

j) manter sempre a obra limpa e segura.

Apesar de tudo o que foi exposto até então, é importante ressaltar que existe

uma gama de incertezas inerentes ao setor da construção civil. Por isso, não

existem fórmulas para garantir o bom fluxo dos processos dentro do canteiro.

Entretanto, esses princípios citados aqui, servem como norteadores para se

alcançar bons resultados, desde que haja um bom planejamento das rotas de

serviços, das disposições dos materiais e planejamento do cronograma. Sempre na

busca das melhores soluções para se alcançar otimização de produção,

minimizando perdas, tanto de movimentações quanto de tempos ociosos dos

funcionários. Portanto, a logística está intrinsecamente ligada à eficiência e eficácia

de um empreendimento e diretamente ligada à lucratividade final da obra.

3.3 LOGÍSTICA E PRODUTIVIDADE

3.3.1 Contexto da produtividade no canteiro de obras

Analisando o contexto brasileiro das indústrias da construção civil, concluímos

que as mesmas estão passando por uma etapa de intensa competição e

reestruturação. Logo, é preciso buscar formas de se tornarem competitivas, ou seja,

usar métodos que promovam algum tipo de ganho em sua gestão geral, e para que

isso possa ocorrer podemos usar o controle da produtividade e da qualidade, que

29

nos dias de hoje são ferramentas fundamentais para a sobrevivência das

construtoras. Assim, buscar melhores índices de desempenho e tornar os recursos

eficientes e eficazes.

Entretanto, o que vemos nos canteiros de obras espalhados pela região são

elevados índices de desperdícios, seja de recursos materiais, humanos, energéticos

ou financeiros, resultando em gastos excessivos com mão de obra e recursos

físicos, devido aos retrabalhos, tornando a obra mais dispendiosa do que o

necessário, e consequentemente com o lucro final do empreendimento reduzido.

Nesta direção, Póvoas; Souza e John (1999) dizem que estudar a

produtividade promove uma melhora na execução dos serviços, por meio de

redução das perdas em geral, além de organização do canteiro. Afirma ainda que,

as empresas que tem como foco a produtividade, tomam a dianteira em relação a

concorrência.

Um dos fatores primordiais para aumento de produtividade é o controle dos

desperdícios, ou seja, tem-se que combater todos os tipos de perdas, sendo estas

definidas por Dórea e Souza (1999), como qualquer tipo de ineficiência refletindo no

uso de equipamentos, materiais e mão-de-obra, em quantidades superiores àquelas

necessárias à produção da edificação. Ou seja, são fatos que devem ser evitados

para que se possa obter uma certa vantagem financeira.

Portanto, é de fundamental importância que os responsáveis pela execução

dos empreendimentos, não atuem de forma a se resolver imprevistos. É preciso que

atuem com planejamento e reprogramações. Lançando-se mão dos recursos

tecnológicos disponíveis, para que se possa atingir um nível de controle eficiente e

eficaz na sua gestão, assim, promovendo grandes ganhos para a empresa.

3.3.2 Redução dos tempos de espera (Lead time)

A logística e a produtividade estão intimamente ligados. O bom ou mal

gerenciamento da cadeia logística contribuirá para um bom ou mal desempenho dos

trabalhadores do empreendimento. Para que uma atividade seja executada dentro

das metas estabelecidas é necessário que o trabalhador disponha das ferramentas

necessárias à execução da mesma, assim como do suprimento das matérias-primas

essências. Logo, se tais suprimentos não estão à disposição do funcionário no

30

momento em que ele necessita para execução das atividades ocorrerá que, ou ele

irá esperar até que chegue tal material ou ele mesmo vá buscá-lo. De qualquer

forma houve perda de tempo e movimentação desnecessários, ocasionando em

queda de produtividade. Além do mais, esses tempos de espera não foram orçados

e certamente irão ter um impacto negativo na lucratividade final da obra. Na indústria

da construção civil é comum se deparar com situações onde os funcionários perdem

tempo de produção por que houve deficiência na entrega de argamassas, blocos

cerâmicos ou melhor em vários pontos de entrega e movimentação dos insumos etc.

Portanto, todas as formas de atrasos inesperados representam sérios problemas no

fluxo da produção.

Segundo Bowersox (2004), as empresas que reduzem o “lead time” e

controlam ou eliminam variâncias inesperadas na produção, têm mais flexibilidade

para satisfazer as necessidades dos clientes ao mesmo tempo que conseguem

reduzir os custos. Esses conceitos da Logística Empresarial podem ser aplicados na

indústria da construção civil, apesar dos locais de serviço na construção civil serem

móveis. Para isso é necessário um plano de redução do Lead Time, onde interligue

os pontos de execução de serviços aos locais de armazenamento dos estoques,

priorizando as rotas e as máquinas usadas para tal.

Para que ocorra um bom fluxo dos materiais e consequente aumento de

produtividade é fundamental salientar que, segundo Vieira (2006), a logística não se

refere somente aos aspectos físicos do sistema, mas principalmente aos aspectos

informacionais e gerenciais. Ou seja, a logística não se resume somente à

movimentação de componentes, materiais e produtos propriamente ditos, ela

envolve principalmente a maneira como esses elementos irão se movimentar, em

que momento, em que local, em que quantidade ideal, como será a forma que isso

tudo será transmitido ou como irão fluir essas informações. Ou seja, o aumento de

produtividade em função da organização da logística depende de um planejamento

do arranjo físico do canteiro, o planejamento da produção dos operários, assim

como das ferramentas de Tecnologia da Informação (Ti) que serão usadas para

administrar todo esse processo. Um bom exemplo do que vem sendo exposto é a

atividade de levante de alvenaria estrutural. Para conseguir excelência na execução

de tal atividade é necessário ter um planejamento diário da produção, assim como

os locais onde serão produzidas as atividades, a paletização dos blocos estruturais e

a movimentação por máquinas especializadas nessa função, como gruas ou

31

manipuladores telescópicos, que por serem máquinas de movimentação contínua

(movem na vertical e horizontal), possibilitando uma fluidez do processo, e

consequente gerar aumento de produtividade. Mas todo esse processo deve estar

aliado a uma ferramenta de Tecnologia da Informação (TI), para saber no exato

momento as necessidades de bloco e argamassa do operário envolvido no

processo.

Conclui-se que a eficiência e eficácia das atividades da mão de obra,

dependem de como todo o canteiro foi planejado. Ou seja, o planejamento físico da

obra deve estar interligado com o fluxo dos materiais durante todo o período de

execução do empreendimento, assim como associado às ferramentas que estarão

disponíveis para auxiliar nesse processo (escolha das melhores máquinas para

transporte, dos melhores locais para disposição dos materiais e das melhores rotas).

Resumindo, é indispensável antever no layout do canteiro, todas as atividades que

serão realizadas durante a obra, e associar ao mesmo as melhores rotas de fluxo de

materiais.

3.3.3 Movimentação de materiais no canteiro

O planejamento do canteiro é feito para se adequar os locais de serviço às

rotas de fluxo de material. O aumento de produtividade se dá com redução de lead

time, e minimização de movimentações dos funcionários. Ou seja, todos esses

princípios dependem de uma adequada movimentação de materiais.

Existem diversos métodos e ferramentas para se fazer um transporte dentro

de um canteiro, cada qual tem suas características próprias, e varia por volume

transportado, quantidade de funcionários, valor do equipamento etc. O que deve ser

feito é uma boa avaliação de cada necessidade em campo, para escolher o material

mais adequado. Por exemplo, ao se tratar de canteiros predominantemente

horizontais deve-se ter uma maior preocupação de como os materiais chegarão aos

locais mais distantes dos centros distribuidores. A dúvida fica em relação de quantas

betoneiras serão suficientes, quantos pontos de apoios de almoxarifados, quantas e

quais máquinas para fazer transportes. Para tal faz-se necessário discutir a relação

custo-benefício entre as opções disponíveis, além de se quantificar os desembolsos

mensais, o levantamento de possíveis vantagens ou desvantagens que ele pode

32

gerar quanto aos serviços em execução. Portanto, para cada serviço é importante

analisar os tempos e equipes de transporte envolvidas, bem como à produtividade

induzida (SOUZA, 2000). Ou seja, planejar, transportar e produzir são termos que

estão intrinsecamente relacionados aos aspectos do gerenciamento do canteiro de

obras e que na maioria das vezes são ignorados pelos operadores do sistema de

construção civil.

Em seu trabalho de intervenção no sistema de movimentação de materiais,

Santos (1995) estabelece algumas diretrizes para a escolha das melhores

alternativas de transporte:

a) O melhor transporte é aquele que não existe;

b) a força motora mais econômica é a força da gravidade;

c) cargas iguais devem ser movimentadas em conjunto;

d) a produtividade da movimentação aumenta quando as condições de

trabalho tornam-se mais seguras;

e) quanto menor o peso transportado, mais econômicas as condições

operacionais;

f) o armazenamento, se possível, deve utilizar o espaço cúbico;

g) utilizar o caminho o mais direto possível;

h) evitar o cruzamento dos fluxos de transporte;

i) prever os caminhos de ida e de volta;

j) planejar o uso de cargas de retorno;

k) diminuir distâncias entre postos de trabalho;

l) entregar materiais diretamente no local de trabalho;

m) transportar a máxima quantidade de peso de cada vez, atendendo às

restrições de caráter ergonômico;

n) transportar preferencialmente em container, em vez de a granel;

o) colocar cargas primeiro em plataformas, depois transportá-las;

p) não empilhar diretamente sobre o chão, deixando o espaço para facilitar o

erguimento e a ventilação;

q) prever as áreas de recepção, de preferência com plataforma;

r) garantir amplo espaço de circulação em torno da área de estoque;

s) proteger partes da obra ao longo do caminho de circulação;

t) manter a obra limpa e plana;

33

u) proteger e dar segurança ao material transportado;

v) reduzir o máximo possível o transporte por esforço humano;

w) usar equipamentos adaptáveis ao transporte de vários tipos de materiais;

x) identificar/sinalizar as rotas de transporte dos principais insumos.

Devido aos comentários até então descritos, é possível ter uma idéia da

importância de planejar ou avaliar o processo de movimentação de materiais em um

canteiro de obras. E, aliado a um estudo de produtividade da mão-de-obra dos

serviços, auxiliará no processo decisório do planejamento. Sendo assim, é possível,

portanto, avaliar as diversas alternativas de transporte existente ou que vier ser

usadas, escolhendo as que possuem melhor desempenho para o momento (SILVA,

2000).

3.3.5 Gerenciamento da cadeia de suprimentos

Ao longo dos anos é constatado que o gerenciamento do suprimento de

materiais vem sendo marginalizado pelas empresas de construção civil (MARSH,

1985). Ou seja, muitas vezes os profissionais que atuam na área não estão bem

preparados ou até mesmo não são da área de suprimentos. O que ocasiona em uma

falta de integração, tanto entre os diversos setores da empresa, como entre as

próprias funções que o setor de suprimentos deve desempenhar. O bom

funcionamento do setor é tão importante que, segundo Marsh (1985), em média,

seis por cento do custo da mão-de-obra poderia ser economizado se os materiais e

equipamentos fossem corretamente gerenciados e estivessem no local de trabalho,

no momento da utilização. Gerando redução de movimentações desnecessárias

pelos funcionários, além de espera por material, o que juntos representam perdas de

produtividade e consequente aumento de custos.

Sabe-se que grande parte do capital empregado em um empreendimento é

usado na aquisição de sacos de cimento, areia, brita, cerâmica, louças, metais,

madeiramentos, aço, equipamentos de transporte de materiais, máquinas e

ferramentas, acessórios, materiais de conservação, de manutenção, etc. Então, fica

claro que administrar esses custos, e além de tudo o prazo de entrega desses itens,

é que irá impactar nos resultados financeiros da obra. Para que tudo isso que foi

34

exposto até então seja atendido é necessário que o sistema de suprimentos se

integre aos diversos setores da empresa e mantenha uma forte relação com o

mercado e com os clientes externos (SLACK, 1993).

Nesse sentido, Violani, Cândia, Melhado (1991) afirmam que o setor de

suprimentos deve suprir a obra atendendo aos requisitos de qualidade e custos,

evitar paralisações por falta de insumos ou serviços ou estoques elevados,

coordenar o processo de compras de forma a minimizar os investimentos deixando o

capital da empresa livre para giro, comprar sempre nos melhores preços

obedecendo às especificações de projeto, negociar com os fornecedores à

exaustão, assegurando para a empresa as melhores condições ou de preço ou de

pagamento. Além de garantir que todo esse material esteja na obra no prazo

estipulado para que então possam ser realizadas as atividades de estocagem,

visando sempre, sua melhor disposição para facilitar o acesso aos mesmos.

Assimilando tudo que foi apresentado até o presente momento, percebe-se

que o setor de suprimentos é o elo de ligação entre o setor administrativo e o

canteiro de obras. Não obstante, o mesmo assume uma importância estratégica

para obtenção da qualidade na construção e redução do custo total dos

empreendimentos (PALÁCIOS, 1995). Sendo assim, é visível que o controle do setor

de suprimentos de uma organização culmina em uma sensível melhora na qualidade

do empreendimento e redução de seus custos e prazos. Uma vez que, o setor de

suprimentos lida diretamente com fornecedores, preços e prazos, e a escolha dos

melhores fornecedores é vital para o sucesso de qualquer empreendimento.

A cadeia de suprimentos é um sistema integrado, na qual cada atividade está

correlacionada e sempre olhando para uma mesma direção, redução de perdas e

desperdícios em geral. A cadeia de suprimentos é composta pelo gerente de

suprimentos, pela rede logística de distribuição dos materiais, pela rede de

estocagem dos materiais, e por uma rede de informações. Cada parte tem sua

devida razão. Nesse sentido, o gerente de suprimentos é responsável pela escolha

adequada do fornecedor (fornecedor confiável), o qual tem a responsabilidade de

entregar os pedidos no local estipulado e no prazo estipulado e com qualidade

(logística de distribuição dos materiais). A gerência da obra tem a função de

determinar os melhores locais para armazenar os materiais dentro do canteiro, para

quando necessário, direcionar cada material para seu local de transformação, sem

que haja desperdício de movimentações dos funcionários e evitando quedas na

35

produtividade global do empreendimento. Esse elo forma uma cadeia geral de

suprimentos que está ligada desde o fornecedor, passando pelo local de estocagem

no canteiro, até o funcionário que irá transformar esse material em um produto.

Sendo assim, esse sistema envolve setores os quais são bem definidos pelos

princípios do Supply Chain Management, sendo chamados de drivers, onde

envolvem: infraestrutura, transportes, estocagem e ferramentas de TI (CHOPRA &

MEINDL apud HUGOS, 2006).

A parte correspondente a infraestrutura trata-se dos locais da cadeia de

abastecimento onde o produto é armazenado, montado ou produzido. Por isso

devem ser tomadas decisões quanto a capacidade das instalações, layout e gestão

da produção. É considerado uma das partes principais da cadeia de suprimentos,

onde é a parte intermediária entre o fornecedor e a produção no canteiro.

Os transportes (externos ou internos) incluem as atividades de transferência e

movimentação dos estoques de todos os locais da cadeia de abastecimento. Logo,

as decisões relativas às rotas de transportes devem ser tomadas avaliando os

custos-benefícios que uma entrega mais rápida ou mais demorada pode acarretar,

por exemplo, o uso de uma grua ou elevador de carga.

A estocagem dos materiais é o estudo da relação entre produtividade e

planejamento, sobre o qual os gestores tomam decisões a respeito de estoques de

segurança, quantidade de estoque e os dias em que esses estoques serão

renovados.

A estrutura de informação da organização é por onde vai correr todos os

dados referentes ao empreendimento, desde o início de uma simples solicitação de

compra de material, até o feedback a respeito do mesmo. É um driver fundamental,

por onde gerencia toda a cadeia de suprimento geral da obra.

Nesse sentido, para ter uma gestão da cadeia de suprimentos eficiente é

preciso que a infraestrutura, o transporte, a estocagem e as informações estejam

fluindo em consonância. De acordo com o que foi exposto até então, Marsh (1985)

conclui que “um sistema de gerenciamento de suprimentos eficaz, integrado com os

outros setores da empresa, permite evitar problemas que incluem: escassez,

excesso, demora e erros no suprimento de materiais e equipamentos e problemas

de fluxo de caixa”. Portanto, o gerenciamento da cadeia de suprimentos deve ser

feito, e sempre em constante vigília, para que seja garantida a melhoria continua

deste processo, que é peça chave para um bom resultado final.

36

4 MÉTODO DE PESQUISA

Após o embasamento teórico apresentado até então, o pesquisador torna-se

apto a identificar e analisar, na prática, situações que abrangem ao tema

pesquisado, logística de materiais. Desse modo, será tratado na sequência, a

caracterização inicial da pesquisa: estratégia e procedimentos adotados.

4.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA

Esse trabalho foi iniciado com a análise dos locais onde se armazenavam os

agregados (areia e brita), o estoque de cimento e a localização da betoneira,

constituindo-se uma análise preliminar da situação real de pesquisa. A partir da

análise preliminar, o pesquisador verificou quais as rotas de acesso ao canteiro,

como se dá a distribuição dos materiais à betoneira, assim como a distribuição dos

materiais produzidos na betoneira aos respectivos locais de uso. Embasado pela

análise preliminar, fora traçado mapofluxos e diagramas de processo recorrentes no

canteiro e aliado aos registros fotográficos, o pesquisador estava apto a dissertar a

respeito dos dados coletados no canteiro.

Sendo assim, a seguir, será abordado do que se trata o estudo de caso, as

motivações para sua escolha, assim como o delineamento do mesmo.

4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

O método de pesquisa adotado para a realização do trabalho foi o estudo de

caso. De acordo com Yin (2001), o estudo de caso é uma investigação empírica de

um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente

quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Já

segundo Schramm, 1971 apud Yin, 2001, a principal tendência nos estudos de caso,

é que ele tenta esclarecer um conjunto de decisões, mais especificamente o motivo

pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e quais os resultados obtidos.

37

Nesse sentido, o estudo de caso foi escolhido devido à possibilidade da pesquisa

ser efetuada com a Observação Participante, isto que é um método de coleta de

dados tradicional e caracteriza-se pelo fato do pesquisador fazer parte do processo

em questão. Neste caso o pesquisador não fazia parte do quadro de funcionários da

empresa, onde fez-se necessária a elaboração de uma proposta para intervenção e

coleta de dados.

O delineamento do Estudo de Caso está esquematicamente representado na

figura a seguir, e suas etapas serão explicadas na continuação:

Figura 1 - Delineamento do estudo de caso

A revisão bibliográfica foi realizada ao longo de toda a pesquisa,

proporcionando o embasamento teórico ao pesquisador. De acordo com Marconi &

Lakatos (1995), a pesquisa bibliográfica não deve ser uma mera repetição do que já

foi dito ou escrito, mas deve conter a análise de um tema sob novo enfoque ou

abordagem, possibilitando conclusões inovadoras. Roesch (1996) fala que a revisão

da literatura permite entre outros propósitos levantar soluções alternativas para tratar

de uma problemática, levantar métodos e instrumentos alternativos de análise, o que

assegura ao autor originalidade em seu trabalho. Embasado pela revisão

bibliográfica, o autor torna-se apto a passar para a segunda etapa do estudo de

caso, análise preliminar e registro fotográfico.

Na segunda etapa fora realizado o diagnóstico inicial através de estudos e

coletas de dados com auxilio de registros fotográficos. Desse modo, foi possível

estabelecer um conhecimento da realidade da empresa e do empreendimento.

A terceira etapa do estudo destinou-se a traçar os diagramas de fluxos e

mapofluxogramas do empreendimento, propiciando ao pesquisador uma maior

perspectiva da situação real do canteiro e poder analisar os dados fundamentado

pela revisão bibliográfica.

Coleta de dados:

- Aplicação do questionário

- Cadastro do layout

- Registro fotográfico

- Análise da movimentação dos materiais

Análise dos dados

- Apresentação dos resultados

- Análise dos resultados

Conclusão

- Análise final do trabalho

- Propostas e conclusões

38

5 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA, DAS FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Neste capítulo será tratado a segunda etapa da pesquisa, que consiste na

apresentação da empresa, o canteiro de obra pesquisado, além das ferramentas

usadas para coleta e análise dos dados.

5.1 A EMPRESA

Os motivos pela escolha da empresa foram relacionados com a possibilidade

da realização de um estudo onde fosse possível total observação dos processos

analisados. Além disso, a empresa apresentou interesse na melhoria de suas

práticas, principalmente em função da forte exigência por parte das instituições de

fiscalização do trabalho e dos critérios para certificação de qualidade.

A empresa participante da pesquisa é do setor da construção civil, fundada

em 1996, com sede e atuação predominante em Feira de Santana, no Estado da

Bahia. Seu escopo esta definido pela construção de obras de condomínios

residenciais e empreendimentos de caráter industrial.

Em geral, o corpo gerencial de produção e a mão-de-obra operacional são

formados por profissionais próprios e uma pequena parte por funcionários

terceirizados para diferentes serviços.

A Empresa preocupa-se com a excelência do serviço e com a qualidade de

vida dos colaboradores. Possui os certificados ISO 9001 e o Programa Brasileiro da

Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) e, em 2009, iniciou a implantação

do Sistema de Gestão Integrado que envolve a ISO 14001 (Meio Ambiente) e o

Serviços de Avaliação de Saúde e Segurança Ocupacional (OSHAS) 18000 (Saúde

e Segurança).

39

5.2 DESCRIÇÃO DO CANTEIRO

O canteiro é um condomínio residencial com casas de 02 quartos, destas 24

com 61,23 m² e 72 com 60,25 m², totalizando 5.953,72 m² de condomínio.

Possuindo parque infantil e área de lazer.

Em relação às tecnologias construtivas, as casas possuem alvenaria de bloco

cerâmico, esquadrias de alumínio, cobertura em telhas cerâmica, áreas molhadas

revestidas por azulejo e cerâmica, áreas externas revestidas por pintura acrílica. As

vias externas foram pavimentadas em paralelepípedos.

5.3 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTO E DA LOGÍSTICA DO CANTEIRO

Para realização da análise do gerenciamento dos materiais no canteiro de

obras, além da revisão bibliográfica, é necessário que o pesquisador tenha domínio

das ferramentas de coleta de dados coerentes com o tema pesquisado. Desse

modo, a seguir serão apresentadas as ferramentas de coleta e análise de dados

utilizadas nesse estudo.

5.3.1 Índice de Boas Práticas em Canteiro de Obras (Check-List)

O Índice de Boas Práticas em Canteiro de Obras foi desenvolvido por Saurin

(1997), e foi elaborado com base em várias fontes, dentre elas: normas sobre

armazenamento de materiais e segurança na obra (respectivamente, NBR 12655 -

Concreto - Preparo, controle e recebimento e NR-18 - Condições e Meio Ambiente

de Trabalho na Indústria da Construção), um manual de melhorias de qualidade e

produtividade na construção civil (SCARDOELLI et al, 1994), um manual sobre

segurança em canteiros (ROUSSELET & FALCÃO, 1988), além de requisitos

definidos a partir de sugestões de profissionais com experiência na área.

O Índice de boas práticas é uma ferramenta muito utilizada na avaliação de

canteiros de obras por ser uma ferramenta que possibilita a avaliação qualitativa do

canteiro em diversos aspectos, tais quais: Instalações provisórias, higiene,

40

segurança e bem estar do trabalhador, transporte e armazenamento de materiais e

gestão de resíduos de construção (COSTA, 2005). Essa ferramenta de Saurin

(1997), nada mais é que um Check-List, composto por várias perguntas que devem

ser aplicadas no local onde se deseja analisar o canteiro. Cada questionário

representa contextos diferentes, e existem três tipos de respostas (Sim, Não e Não

se aplica), onde a média final é composta pelo somatório da quantidade de “Sim” e

dividido pela quantidade de questões que se aplicam ao canteiro pesquisado. A nota

obtida tem como parâmetro uma média obtida pelo pesquisador Saurin (1997), ao

pesquisar diversos canteiros de obras. Como dito anteriormente, esse Check-List

corresponde à diversos aspectos do canteiro, e devido a esse fato fora adotado,

aqui, as questões referentes à logística e ao armazenamento de material, tornando a

pesquisa mais simples e objetiva, uma vez que as demais questões não impactariam

diretamente no escopo do tema aqui pesquisado.

A seguir, na Figura 2, encontra-se uma parte do questionário.

Figura 2 - Sistema de movimentação e armazenamento de materiais (SAURIN, 1997)

5.3.2 Diagrama de processo

O diagrama do fluxo de processo é imprescindível para uma análise mais

detalhada de qualquer tipo de processo que ocorra em um empreendimento. Através

dele, é possível reduzir perdas e aumentar ganhos, simplesmente com a análise do

fluxo do suprimento no local em questão.

O diagrama de processo é uma ferramenta usada para realizar diagnósticos

dos processos produtivos. Para cada operação associa-se um símbolo que

representará a sequência real do processo. Ou seja, é uma ferramenta utilizada para

registrar o método de fazer um trabalho (SLACK et al., 1997 apud BULHÕES, 2001).

41

O diagrama é formado por quatro símbolos básicos (Figura 3) onde descrevem as

sequências das tarefas: processamento, inspeção, transporte e estoque.

Figura 3 - Símbolos usados no diagrama de processo

Os diagramas de processo, segundo Ishiwata (1991) apud Bulhões (2001),

são utilizados para se alcançar melhorias no sistema de produção. Para tal faz-se

necessário identificar o foco de sua análise, produto ou operação, para então intervir

na operação ou no processo.

As melhorias citadas anteriormente podem ser obtidas através do estudo dos

fluxos (processos, operações ou produtos), da identificação de perdas, redução de

atividades que não agregam valores e, também, de análises que consideram se os

processos podem ser reorganizados de uma forma mais eficiente, se o processo

está fluindo de forma contínua, ou seja, se existem problemas no layout dos

equipamentos e nos sistemas de transporte, e se os passos executados no processo

são, realmente, necessários e o que aconteceria se tarefas não necessárias fossem

removidas.

5.3.3 Mapofluxograma

O mapofluxograma, além de identificar as diferentes operações que fazem

parte de um determinado processo, indica o local onde cada operação foi

desempenhada. Sendo assim, o mapofluxograma se caracteriza pela representação

do sequenciamento das atividades apresentadas no diagrama de processo em uma

forma espacial (plantas ou croquis), e permite uma maior transparência da

visualização de movimentação de materiais. Segundo Gehbauer (2002) apud Sales

(2004), essa ferramenta é um esboço que mostra os deslocamentos e as relações

entre as situações de um processo de produção, podendo, desta forma, auxiliar na

visualização de restrições e cruzamentos de fluxos.

42

Sua utilização mostra-se eficiente no planejamento de distribuição física dos

elementos do canteiro e pode ser usado, durante o desenvolvimento de atividades,

para avaliar mudanças em relação ao que foi planejado, podendo ser analisado e

revisto. A representação de pessoas e equipamentos também pode ser apresentada

nesse tipo de ferramenta, permitindo uma melhor visualização do processo. Uma

característica importante dos mapofluxogramas é que eles são representados em

planos horizontais, havendo assim a necessidade de vários deles para o caso de

atividades que ocorrem em vários pavimentos de uma obra vertical (SALES, 2004).

Para um maior entendimento do processo, os mapofluxogramas são

analisados em conjunto com os diagramas de processo. Desse modo, fora usado

nessa pesquisa as duas ferramentas em consonância, gerando um maior

entendimento da situação real.

Figura 4 - Exemplo de mapofluxograma de processo para o serviço de desforma de Viga

(SALES, 2004)

5.4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS NO CANTEIRO

Nas etapas anteriores foram levantados dados que agora servem como

subsídios para analise da situação real do canteiro, e, aliado à revisão bibliográfica,

será possível avaliar a logística do suprimento no canteiro de obras. Nos tópicos

seguintes, serão apresentados dados coletados, assim como a avaliação dos

mesmos.

43

5.4.1 Análise da logística do canteiro

O terreno onde está sendo executado o condomínio possui o comprimento

bem maior que a largura, configurando um terreno estreito (Figura 5), o que dificulta

a logística dos processos que envolvem a distribuição dos insumos ao longo da

construção.

Figura 5 – Vista do canteiro

Na figura abaixo vista do canteiro na etapa final da obra

Figura 6 - Etapa final da obra

44

O plano traçado, pelos gestores da obra, no início do empreendimento, para

resolver essa situação fora iniciar a execução da obra do local mais afastado do

acesso para o local mais próximo do acesso. Possibilitando a criação de baias de

armazenamento de material próximo ao local da execução, e a sua mobilização de

acordo com o avanço do empreendimento. Dessa maneira, ficou garantido que não

haveria tráfego de veículos pesados pelos locais com execução mais avançada,

assegurando que não haveria qualquer tipo de dano material ou produtivo às partes

executadas ou em execução. Uma vez que esse tráfego poderia bloquear acessos

ao transporte de materiais como argamassa da betoneira, cerâmica do estoque e

etc. Além de correr o risco de em uma manobra o carro ir de encontro a uma parede

e etc.

Nesse contexto, é importante ressaltar que a estratégia adotada fora bastante

válida e se mostrou totalmente viável ao longo de toda a obra, demonstrando, assim,

que os gestores da obra pensaram em todas as etapas da obra (mobilização e

desmobilização), e a estratégia adotada caracterizou-se como uma medida

assertiva.

A Figura 7 está demonstrando como as baias e a betoneira vieram para

próximo ao acesso da obra, de acordo com o supracitado:

Figura 7 - Baias e betoneira

45

A Figura 8 demonstra o local em que os materiais são estocados quando

descarregados na obra na etapa final do empreendimento (próximo ao acesso):

Figura 8 - Estoque de materiais

5.4.1.1 Quanto aos meios de transporte interno

O transporte horizontal de material do estoque às frentes de serviços foi feito

por carros-de-mão, para materiais à granel e argamassas, e por carros de mão tipo

plataforma, para o transporte de materiais como pisos cerâmicos, blocos cerâmicos,

sacos de cimentos e etc.

O transporte vertical de argamassa foi feito através do “moitão”. Ainda no

caso do transporte vertical, para outros tipos de materiais, os ajudantes levavam tais

materiais pela escada existente no interior de cada residência.

Analisando de forma mais crítica, a adoção do transporte de carrinho de mão

não se configura como uma boa solução de transporte horizontal de material. Hoje, o

mercado disponibiliza diversos meios mecânicos de se fazer tal transporte, como o

uso de carros Dumper e BobCat, que são equipamentos pequenos e aptos a superar

a restrição de espaço no canteiro, além de que tais equipamentos possuem alto

custo/benefício.

Quanto ao transporte vertical, no mercado existem diversos equipamentos,

um deles o SkyTrack (Manipulador Telescópico), que é útil quando se fala em

transporte vertical. Entretanto, o custo desse material é relativamente alto, apesar de

46

seu benefício também ser alto, não seria interessante adotar esse equipamento no

canteiro em questão devido às restrições de canteiro, e além do mais o ponto mais

alto a se transportar material seria de 3 metros de altura. Portanto, não viabilizando

a adoção dessa tecnologia por relação custo/benefício.

5.4.2 Diagrama de processo (Produção de Argamassa)

Após as análises feitas no canteiro de obra, foi possível elaborar um diagrama

de processo, representando a produção de argamassa para reboco interno

(Pavimento térreo e superior). Com esse diagrama, foi possível encontrar pontos

críticos, onde estaria havendo desperdício de tempo e movimentação desnecessária

na logística do suprimento acima citado.

A seguir, estão representados os diagramas de processo, onde os pontos

críticos estão assinalados com círculos vermelhos:

Figura 9 - Diagrama de processos - Argamassa para reboco Pavimento térreo

47

Figura 10 - Diagrama de processos - Argamassa para reboco Pavimento superior

Nessas figuras podemos verificar pontos onde o processo pode ser

melhorado. Logo, removendo o estoque provisório da areia e relocando o estoque

de cimento definitivo para próximo à betoneira, podemos reduzir duas etapas no

processo. Deste modo, é possível eliminar transportes desnecessários, os quais

representam queda de produtividade e consequente redução do lucro final da obra.

A sugestão que se faz, seria a remoção do estoque intermediário, a partir da

alteração demonstrada no layout proposto (Figura 11), o que reduziria em duas

etapas o diagrama de processo para argamassa, como mostrado na figura abaixo,

garantindo que quando a argamassa fosse solicitada, os materiais componentes

estivessem à disposição, reduzindo tempo de transporte e baixa na produtividade

devido à espera do insumo.

A Figura a seguir demonstra o diagrama de processo proposto:

48

Figura 11 - Diagrama de processos - Argamassa para reboco

Portanto, ao se analisar o atual diagrama de processos verifica-se que as

perdas com tempo de espera e movimentação desnecessária foi removida do

processo logístico, o que gera menor tempo de espera e eliminação de

movimentação desnecessária, representando assim ganho em produtividade.

5.4.3 Mapofluxograma da obra (Distribuição física de areia/brita/cimento)

O funcionamento desse processo se dá pelo armazenamento do material em

seus respectivos locais (Figura 12), e de acordo com a demanda da betoneira, tais

são levados aos poucos para processamento. Acarretando em desperdício de tempo

e de mão-de-obra. Um problema verificado foi quanto ao transporte horizontal, este

era feito por carro de mão e, somado com os depósitos intermediários, geraram um

considerável desperdício de mão de obra, como dito nos tópicos anteriores. A

sugestão apresentada aqui na pesquisa seria o uso de carros dumper, aumentando

o volume a ser transportado, e reduzindo o tempo de deslocamento do material.

49

Consequentemente, o Lead Time seria reduzido sensivelmente, aumentando

produtividade.

Figura 12 - Baias de areia e brita

Na Figura 13, está sendo apresentado o mapofluxograma da situação real do

canteiro pesquisado, e representa o fluxo da areia e cimento para processamento na

betoneira, e o fluxo da argamassa processada, para seus respectivos locais de

aplicação. Como dito anteriormente, fora planejado para a obra uma betoneira

itinerante, sendo assim, com o avançar do cronograma físico da obra, a distancia

entre as residências e a betoneira aumentaria.

Figura 13 - Mapofluxograma da obra

50

Desse modo, tal estratégia configura-se bastante funcional, uma vez que a

demanda por argamassa da parte inicial da obra irá reduzir, com o avanço da obra,

e a mudança de posicionamento da betoneira acompanhando tal evolução,

consequentemente atendendo aos pontos críticos do canteiro.

5.4.4 Aplicação do questionário

A intenção da aplicação do questionário do Índice de Boas Práticas de Saurin

(1997) é poder avaliar o canteiro de obra também quanto as condições de

armazenamento do material e também a estrutura física por onde o material circula

dentro da obra. Uma vez que tais informações complementam as análises feitas

anteriormente quanto às vias de circulação, etapas de processamento e meios de

transporte, por que não basta ter a melhor rota de transporte, mas também precisa

ter uma boa estrutura física no canteiro.

Após Saurin (1997) aplicar este mesmo check-list em 25 canteiros chegou a

uma nota média de 5,3. Apesar de ter-se eliminado alguns itens que não estariam

em sintonia com o objetivo da pesquisa, a avaliação foi válida por que os itens

presentes no questionário servem de norteador de uma boa conduta no canteiro.

Sendo assim, a nota obtida pela obra foi de 5,71, e está bem acima da média.

Segue abaixo o quadro de questionário respondido pelo engenheiro residente

da obra:

Quadro 1 - Questionário aplicado ao engenheiro da obra [continua]

QUESTIONÁRIO ÍNDICE DE BOAS PRÁTICAS Nota: Sx10 /

Itens aplicáveis

SISTEMA DE ARMAZENAMENTO E MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAIS VIAS DE CIRCULAÇÃO S N NA

HÁ CONTRAPISO NAS VIAS DE CIRCULAÇÃO DE MATERIAIS OU PESSOAS x

EXISTE COBERTURA NO TRANSPORTE DE MATERIAIS DA BETONEIRA ATÉ O GUINCHO

x

É PERMITIDO O TRÂNSITO DE CARRINHOS/GERICAS PERTO DOS ESTOQUES EM QUE TAIS EQUIPAMENTOS FAZ-SE NECESSÁRIO x

HÁ CAMINHOS PREVIAMENTE DEFINIDOS PARA OS PRINCIPAIS FLUXOS DE MATERIAIS, PRÓXIMO AO GUINCHO E NAS ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ARGAMASSA E ARMAZENAMENTO x

OBS.:

51

Quadro 1 - Questionário aplicado ao engenheiro da obra

ARMAZENAMENTO DE MATERIAIS S N NA

CIMENTO

EXISTE ESTRADO SOB O ESTOQUE DE CIMENTO x

AS PILHAS DE CIMENTO TEM NO MÁXIMO 10 SACOS x

O ESTOQUE ESTÁ PROTEGIDO DA UMIDADE EM DEPOSITO FECHADO E COBERTO

x

É PRATICADA A ESTOCAGEM DO TIPO PEPS (O PRIMEIRO SACO A ENTRAR É O PRIMEIRO A SAIR

x

O ESTOQUE DE CIMENTO ADJACENTE ÀS PAREDES TEM DISTÂNCIA MÍNIMA DE 30CM PARA CIRCULAÇÃO DE AR

x

OBS.:

AGREGADOS E ARGAMASSA

AS BAIAS PARA AGRAGADOS/ARGAMASSA TEM CONTENÇÃO EM TRÊS LADOS

x

AS BAIAS TEM FUNDO CIMENTADO PARA EVITAR CONTAMINAÇÃO DO ESTOQUE

x

A AREIA É DESCARREGADA NO LOCAL DEFINITIVO DE ARMAZANAGEM (NÃO HÁ DUPLO MANUSEIO)

x

A ARGAMASSA É DESCARREGADA NO LOCAL DEFINITIVO DE ARMAZANAGEM (NÃO HÁ DUPLO MANUSEIO)

x

AS BAIAS DE AREIA E ARGAMASSA ESTÃO EM LOCAIS PROTEGIDOS DA CHUVA OU TEM COBERTURA POR LONA

x

AS BAIAS DE AREIA E ARGAMASSA ESTÃO PRÓXIMO DA BETONEIRA x

OBS.:

SIM 8,00

QTD ITENS 14,00

NOTA 5,71

Podemos concluir que o canteiro pesquisado é bem organizado, e tem como

prática os principais itens como: contenção nas baias, distância mínima das paredes

para estoque de cimento (Figura 14), empilhamento de cimento e etc. O único ponto

QUESTIONÁRIO ÍNDICE DE BOAS PRÁTICAS Nota: Sx10 /

Itens aplicáveis

SISTEMA DE ARMAZENAMENTO E MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAIS VIAS DE CIRCULAÇÃO S N NA

HÁ CONTRAPISO NAS VIAS DE CIRCULAÇÃO DE MATERIAIS OU PESSOAS x

EXISTE COBERTURA NO TRANSPORTE DE MATERIAIS DA BETONEIRA ATÉ O GUINCHO

x

É PERMITIDO O TRÂNSITO DE CARRINHOS/GERICAS PERTO DOS ESTOQUES EM QUE TAIS EQUIPAMENTOS FAZ-SE NECESSÁRIO x

HÁ CAMINHOS PREVIAMENTE DEFINIDOS PARA OS PRINCIPAIS FLUXOS DE MATERIAIS, PRÓXIMO AO GUINCHO E NAS ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ARGAMASSA E ARMAZENAMENTO x

OBS.:

52

deficiente do canteiro é que os agregados e cimento não são estocados nos locais

definitivos, o que é até aceitável, para esse caso onde o canteiro é estreito.

Figura 14 - Estocagem modelo de cimento na obra

53

6. CONCLUSÕES

Fora analisado a disposição dos materiais pertinentes à fabricação da

argamassa e suas rotas de circulação. Para alcançar tal objetivo, fora criado 01 (um)

mapofluxograma e 03 (três) diagramas de fluxo de processos. Por meio do

cruzamento das informações coletadas foi possível ter uma visão ampla do que

estava acontecendo no canteiro de obra estudado, e apresentar soluções

fundamentadas na revisão bibliográfica.

Como exposto pelo estudo de caso, a obra pesquisada pecou na questão de

estocar o material em local afastado da betoneira, gerando movimentação de

material desnecessária e consequente perda de produtividade. Além de não

aproveitar alguns meios de transporte que a tecnologia dispõe, considerados pelo

pesquisador mais eficiente.

Por outro lado, a aplicação do Índice de Boas Práticas de Saurin (1997),

apresentou uma nota acima da média, demonstrando boas condições quanto à

estrutura física do canteiro, demonstrando organização e qualidade.

Portanto, no decorrer do processo de estudo de caso podemos constatar que

os objetivos propostos foram alcançados.

6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A partir dos resultados que foram obtidos neste trabalho e de todos os

conhecimentos que foram adquiridos ao longo de sua realização, pode-se fazer

algumas sugestões para o desenvolvimento de estudos futuros:

a) continuar analisando os canteiros de obra de Feira de Santana, e estimular

as empresas a aplicarem os princípios da logística no canteiro de obra;

b) propor novos quesitos a serem aplicados no índice de boas práticas de

Saurin (1997), sempre em busca de aperfeiçoamento nas práticas

existentes.

54

REFERÊNCIAS

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57

ANEXO A - PLANTA DA OBRA USADA NO ESTUDO DE CASO

58

ANEXO B - PLANTA DA OBRA USADA NO ESTUDO DE CASO