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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS LUCIDALVA PEREIRA BACELAR O PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO Fortaleza-Ceará 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁCENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

LUCIDALVA PEREIRA BACELAR

O PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

Fortaleza-Ceará

2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS

Lucidalva Pereira Bacelar

O PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Planejamento e Políticas Públicas do

Centro de Estudos Sociais Aplicados, da

Universidade Estadual do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do título de mestre em

Planejamento e Políticas Públicas.

Orientadora: Profª. Dra. Francisca Rejane Andrade

Fortaleza – Ceará

2008

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LUCIDALVA PEREIRA BACELAR

O PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

Dissertação de Mestrado

Defesa em: ____ / ____ / _____ Conceito obtido: ____________

Banca Examinadora

Francisca Rejane Andrade

Professora Orientadora

Doutora em Educação

Docente Livre pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Maria Barbosa Dias

Doutora em Educação

Docente Livre pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)

1ª Examinadora

Maria do Socorro Lucena Lima

Doutora em Educação

Docente Livre pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)

2ª Examinadora

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DEDICATÓRIA

A Deus, fonte suprema de inspiração e força.

Aos meus pais José Pereira e Raimunda da Costa

in memoriam, pelo muito que me ensinaram.

Ao meu esposo Ribamar Diniz, pela fiel e

importante torcida por mais esta conquista.

Às minhas irmãs, Lindalva Pereira, Luzimar

Pereira, Laurenice Pereira, Ana Maria Pereira e Marina Pessoa, Leniza Quinderé e Solange

Mesquita (irmãs do coração), pelo companheirismo e ensinamentos.

Aos meus filhos, Thiago Pereira, Thiciane Pereira

Lucineide Almeida e Lucinete Almeida (filhas do coração) pelo carinho, apoio e

compreensão.

Ao meu neto Pedro Iago Bacelar, pela alegria e

pelo sorriso, fontes de energia e de renovação na luta por um futuro melhor para as crianças

cearenses.

Às minhas cunhadas Sonia Bacelar e Maria José

Bacelar, pelo incentivo, amizade e valorização do meu trabalho como educadora.

Aos meus grandes Mestres Prof. Antenor Naspolini,

Profa Lindalva Carmo e Profa. Rejane Bezerra referências em minha vida.

Aos meus verdadeiros amigos, eternos

companheiros de luta por um mundo melhor e mais humano.

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AGRADECIMENTOS

Há tanto e a tantos a agradecer:

À vida com saúde e inteligência, dádivas do Grande Criador do Universo.

Àqueles que não me deixaram esmorecer na busca desse título

acadêmico como forma de demarcar mais esta conquista e contribuição na

trajetória de uma vida inteira dedicada à educação pública do meu Ceará.

Àqueles que, mestres na academia, o são também na arte de potencializar

o que as pessoas contemplam de melhor e de ajudar para que cada discípulo se

torne mestre na superação de seus próprios limites. Em nome de todos esses

mestres, agradeço àqueles que foram meus professores no Curso de Mestrado

em Políticas Públicas, e em especial, à Professora Rejane Andrade, minha

orientadora, que, ao longo de todo o trabalho, se fez companheira de jornada,

compreendendo minhas dificuldades e me ajudando a superá-las e também às

professoras Socorro Lucena e Ester, que tão gentilmente, aceitaram fazer parte

da banca examinadora de defesa deste trabalho.

À SEDUC, nas pessoas que a fazem, em especial à equipe do Programa

alfabetização na idade certa- PAIC, pelo muito que recebo diariamente;

Aos diretores, professores, funcionários, alunos e pais das escolas

pesquisadas, pelo acolhimento recebido.

Enfim, a todos, homens e mulheres deste País que lutam incansavelmente

pela JUSTIÇA SOCIAL.

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Cumpre ser íntegro até a dureza nas coisas do espírito para poder suportar a seriedade da tarefa e a paixão que nos desperta.

(FRIEDRICH NIETZSCHE)

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RESUMO

No estado do Ceará, a Política da Gestão Democrática tomou corpo a partir de 1995, quando várias ações integradas foram desenvolvidas sob o foco da expressão “todos pela educação de qualidade para todos”. O “todos pela educação” era o grande apelo à mobilização da sociedade para as decisões educacionais e assim em 1995, a comunidade elege pela primeira vez o seu diretor, deflagrando a descentralização do poder político e o fortalecimento da autonomia escolar. Os Conselhos Escolares, por sua vez, adquirem feição própria, como um dos mais fortes mecanismos de efetivação da Gestão Democrática.O teor deste trabalho trata de uma pesquisa bibliográfica a partir do pensamento de diferentes teóricos como Gadotti (1997); Paro (2001); Mello (1985); Luck (2000); Cury(2000), bem como, de uma pesquisa de campo, onde pode-se observar e analisar o papel dos Conselhos Escolares no contexto da Política de Gestão Democrática da escola pública no Ceará, avaliando a concepção,posição na estrutura de poder da escola, competências, representatividade, funcionamento e coordenação dos Conselhos na trajetória de consolidação de uma Gestão mais Democrática. Na perspectiva das escolas estaduais pesquisadas, os depoimentos comuns apontaram para a importância da atuação dos Conselhos, embora na mesma proporção tenha sido notória a ausência concreta da atuação dos mesmos. Nas falas dos gestores, há evidências da clareza do papel dos Conselhos Escolares; na fala dos professores e funcionários, esta clareza diminui; e na fala dos alunos e pais a tendência é a obscuridade sobre o real papel dos Conselhos como mecanismo de controle social da escola. Os pais, por sua vez, se limitam a entender a participação de forma pontual, expressando esta compreensão através de citações como “a diretora é muito boa, vive chamando a gente para as reuniões e festas da escola”. Confirma-se assim, que entre as concepções de Gestão Democrática e as práticas escolares há um fosso a ser superado.No entanto, não se pode negar que impera no ambiente escolar, um sentimento crescente pela participação, o que significa um avanço na direção da superação dos entraves manifestados nos discursos e nas práticas pedagógicas.Os avanços da atuação dos Conselhos para a democratização da Gestão Escolar são significativos, os retrocessos na qualificação dessa atuação são perceptíveis, mas o que de fato aponta para a certeza do caminho escolhido são as perspectivas que se despontam através de práticas cada vez mais participativas da comunidade, no tocante às decisões acerca dos rumos das escolas.

Palavras-Chave: Conselho Escolar, democracia, participação, gestão escolar.

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ABSTRACT

In the state of Ceará, the Democratic Policy Management took the body from 1995, when several integrated actions were developed under the focus of "all for quality ed-ucation for all." The "all for education" was the big appeal for the mobilization of soci-ety for educational decisions and so in 1995, the community elects its first director, triggering the decentralization of political power and the strengthening of school au-tonomy. The School Board, in turn, acquire the feature as one of the strongest mech-anisms for realization of democratic management. The content of this work involves a literature search from the thinking of different theorists as Gadotti (1997); Paro(2001); Mello(1985); Luck(2000); Cury(2000) ,and field, where you can observe and analyze the role of School Councils in the management policies of the Democrat-ic school in Ceará, evaluating the design, position in the power structure of the school, powers, representation, coordination and operation of the Councils in the path of consolidation of a more Democratic Management. In view of the state schools surveyed, the common testimony pointed to the importance of the performance of the Councils, while the same ratio has been a noticeable lack of concrete action from them. In the words of managers, there is clear evidence of the role of School Coun-cils, in the speech of faculty and staff, the clarity diminishes, and the speech of stu-dents and parents the trend is the dark about the real role of councils as a mecha-nism of social control of school. "Parents, in turn, merely to understand the participa-tion of an ad hoc, expressing this understanding through citations as" the director is very good, live drawing people to meetings and parties of school. "It is thus con-firmed, that between the concepts of democratic management practices and school there is a gap to be bridged.However, it is undeniable that prevails in the school envi-ronment, a growing feeling for participation, which means a step towardovercoming the barriers expressed in speeches and in teaching.The progress of performance of the Councils for the democratization of school management are significant, the re-gression in skills such actions are perceived, but which in fact points to the certainty of the path chosen are the prospects that emerge through the practices of more par-ticipatory community with regard to decisions about the direction of schools.

Keywords: School Board, democracy, participation, school management.

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SUMÁRIO

1 Introdução..............................................................................................................102 O Cenário Nacional de Democratização da Gestão Educacional ...................192.1 O contexto sócio-político e econômico do Brasil no período histórico da

“transição democrática” .......................................................................................19

2.2 O processo de democratização da gestão educacional: um breve histórico ......22

2.3 Gestão escolar: ressignificando conceitos e possibilidades ...............................31

3 O Papel dos Conselhos Escolares no contexto da Política de Gestão Democrática no Ceará .......................................................................................39

3.1 Revisita à política de gestão democrática “todos pela Educação de Qualidade

para todos”. ........................................................................................................39

3.2 Conselhos Escolares como estratégia de democratização da gestão escolar . . .52

3.3 Caracterização dos Conselhos Escolares no Estado do Ceará: um primeiro

balanço .................................................................................................................58

4 O Foco da Perspectiva de Investigação: estruturação e metodologia da pesquisa............................................................................................................. 62

4.1 As hipóteses de trabalho..................................................................................... 64

4.2 A metodologia: passo a passo.............................................................................65

5 A realidade sentida, percebida e vivenciada ....................................................685.1 O universo pesquisado .........................................................................................68

5.2 Aspectos referentes à estrutura e atuação do Conselho Escolar.........................77

5.3 A percepção do vivido: lições do olhar, do ouvir e do falar..................................85

Considerações Finais ..............................................................................................89Referências Bibliográficas ......................................................................................92Anexo........................................................................................................................103

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1. INTRODUÇÃO

“Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país

à máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da

escola pública”.

(Anísio Teixeira)

A gestão educacional vem sendo nos últimos anos um tema bastante

discutido e pesquisado, principalmente no que diz respeito à política de gestão

democrática nos sistemas de ensino.

A proposta de gestão democrática na educação desenvolveu-se ao longo

da história do pensamento pedagógico motivada por fatores internos e externos ao

campo educacional, que se entrelaçam firmemente na produção de uma nova

concepção de educação, bem como em um novo jeito de gerir a mesma.

Dentre os fatores internos figura o movimento de pais, professores e

estudantes, que inicialmente, centraram seus esforços na defesa do acesso de

todos à escola pública e gratuita, para em seguida defender uma escola de

qualidade que garanta a permanência e a aprendizagem de todos os estudantes no

tempo estabelecido em lei para as diferentes etapas da escolarização, conquistando

assim gradativamente cada vez mais espaços de participação e controle na

construção dessa nova educação.

Com a aceitação em quase todos os países do mundo da escolarização

universalizada, a escola pública passou a receber uma diversidade muito grande de

estudantes, com variadas culturas, valores, crenças e costumes, o que impõe a

escola uma abertura para o convívio dessa multiplicidade cultural. Contudo, ainda é

muito comum uma abordagem autoritária das diferenças, a escola tende a

homogeneizar e negar a diversidade, ficando assim mais necessária a via

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democrática como forma adequada e desejável não só para a mediação dos

conflitos, mas, sobretudo, para a organização da convivência escolar.

A democratização da educação também é motivada por elementos fora

dela, presentes no contexto social, político e econômico mais amplo, no qual a

educação está inserida. Por exemplo: a tendência atual de descentralização das

obrigações dos estados nacionais, encarregando a sociedade das políticas sociais,

se reflete na educação através do repasse de responsabilidade para as

comunidades sociais. Esse processo pode significar mais autonomia para as escolas

e para os sistemas estaduais e municipais, ou a desresponsabilização do Estado

nacional para com a educação, caso não haja a garantia de recursos públicos na

manutenção das escolas.

Outro elemento que obviamente impõe a democratização na educação e

a conseqüente gestão democrática é a própria democratização da sociedade. Esse

processo pode ser observado no Brasil, onde o fim da ditadura militar foi

acompanhado por movimentos de redemocratização em todos os campos sociais,

inclusive na educação. Esse movimento tem por objetivo a elaboração de leis que

estabeleçam formas mais democráticas de funcionamento das instituições, incidindo

como “efeito-cascata” sobre a educação.

Um exemplo disso é o fato de que, após a Constituição Cidadã (1988)

estabelecer a gestão democrática do ensino público como princípio, a educação

sofreu uma reformulação das suas legislações específicas, desde a LDB (Lei

9394/96) até os regimentos escolares, incorporando este princípio. O

estabelecimento dos três entes federados - União, estados e municípios e a

proposição de regime de colaboração entre eles, abriu possibilidades para os

sistemas municipais de ensino. Também outras legislações, como o Estatuto da

Criança e do Adolescente (Lei nº. 8069/1990), ampliam as possibilidades de

participação e controle da sociedade na educação.

É a partir do entrelaçamento desses e de outros muitos fatores internos e

externos que surge a idéia de gestão democrática, na qual todos os atores sociais

envolvidos podem participar desde o planejamento à execução de políticas

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educacionais. Os municípios podem, a partir da nova LDB, organizar sistemas de

ensino locais, nos quais o desejável é que existam mecanismos de participação de

toda a sociedade na elaboração das políticas educacionais, através de Conselhos,

Congressos, Conferências, enfim fóruns de caráter consultivo, deliberativo e

fiscalizador, que acompanhem as ações do órgão administrativo do sistema.

Cabe alertar, no entanto, que apesar da gestão democrática ser

recomendada pelo poder público, enfatizada pela Constituição federal brasileira de

1988 e consolidada na Lei 9.394/96 (LDB), esta determinação legal, por si só, não

garante uma escola democrática. Isto mostra que muitos esforços precisam ainda

serem empreendidos para a efetivação do processo democrático e que o mesmo

passa necessariamente pela autonomia escolar.

Nesse sentido, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

determina que os estabelecimentos de ensino tenham a incumbência de elaborar e

executar sua proposta pedagógica (art. 12, inciso I), devendo articular-se com as

famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a

escola (inciso VI).

A respeito de como as escolas e os profissionais da educação devem

cumprir com as incumbências, a LDB apresenta em seus artigos 14 e 15 as

seguintes determinações:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - Participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes;

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.

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Obviamente, há um caminho que a escola precisa percorrer entre a

autonomia decretada e a autonomia construída, isto logicamente trilhando pelo

atalho do diálogo, nem sempre fácil, produzido pelos diversos grupos que participam

da organização do trabalho pedagógico.

Segundo Gadotti (1997) muitas são as limitações que se colocam como

obstáculos para que a escola construa sua autonomia, como a pouca experiência

democrática; a mentalidade de ainda atribuir somente aos técnicos a capacidade de

planejar e governar; a estrutura vertical que ainda persiste no sistema educacional

brasileiro; as práticas autoritárias que existem no setor educacional e o tipo de

liderança que tradicionalmente vem dominando a atividade política no campo

educacional.

Na história das idéias pedagógicas, a autonomia sempre foi associada

aos temas da liberdade individual e social, da ruptura com esquemas centralizadores

e, recentemente, da transformação social.

Pode-se dizer que a autonomia faz parte da própria natureza da

educação. Por isso, o seu conceito encontra-se na obra de diversos clássicos da

educação, John Locke (1983) concebe-a como “autogoverno” (self government) no

sentido moral de “autodomínio individual”, já os educadores soviéticos Makarenko

(1975) e Pistrak (1981) a entendiam como “auto organização dos alunos”.

Adolph Ferrieri (1926) e Jean Piaget (1970) entendiam que a autonomia

exercia um papel importante no processo de “socialização” gradual das crianças e o

educador inglês Alexander S.Neill (1960) chegou a organizar uma escola (Summer

Hill) controlada autonomamente pelos alunos.

A autonomia é “real”, diz Georges Snyders, “mas a conquistar

incessantemente (...) é muito menos um dado a constatar do que uma conquista a

realizar” (1977:109). SnYders insiste que essa “autonomia relativa” tem de ser

mantida pela luta e “só pode tornar-se realidade se participar no conjunto das lutas

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das classes exploradas” (idem). A escola precisa preparar o indivíduo para a

autonomia pessoal, mas também para a inserção na comunidade e para a

emancipação social.

A autonomia se refere à criação de novas relações sociais que se opõem

as relações autoritárias existentes. Autonomia é o oposto da uniformização. A

autonomia admite a diferença e por isso, supõe a parceria. Só a igualdade na

diferença e a parceria é capaz de criar o novo. Por isso, escola autônoma não

significa escola isolada, mas em constante intercâmbio com a sociedade.

Vale lembrar no entanto, que na construção de sua autonomia, a escola

pode conviver com práticas transformadoras no seio de práticas de resistência.

Confirmando assim as idéias de Foucault (1992), que ressalta que não existe um

único eixo em torno do qual toda a relação de poder, dominação, luta e resistência,

possam se agrupar. Em suma, a autonomia da escola é construída a partir do seu

projeto pedagógico, o qual é decisivo para o exercício da democratização em seus

espaços.

A participação e a democratização num sistema público de ensino são

meios práticos de formação para a cidadania. Essa formação se adquire na

participação do processo de tomada de decisões.

A gestão democrática estabelece o controle da sociedade civil sobre a

educação e a escola pública, introduzindo fortes mecanismos como eleições de

dirigentes escolares e conselhos escolares, procurando assim garantir a liberdade

de expressão, de pensamento, de criação e de organização coletiva na escola, bem

como ampliando e facilitando a luta por melhores condições de funcionamento das

escolas e de salários dignos para os profissionais da educação.

A criação dos Conselhos escolares representa uma parte significativa

desse processo de democratização do ensino. Todavia, esses mesmos Conselhos

podem fracassar se forem instituídos como uma medida isolada e burocrática. Eles

somente serão eficazes se forem compreendidos dentre um conjunto de outras

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estratégias políticas, ou seja, em um plano estratégico de participação que vise a

democratização das decisões educacionais.

No que concerne aos Conselhos escolares na educação básica, a LDB os

define como estratégias de gestão democrática da escola pública com o pressuposto

do exercício de poder, pela participação das “comunidades escolar e local” (LDB, art.

14). Sendo assim, em linhas gerais, o conselho existe para dizer aos dirigentes o

que a comunidade quer da escola e, no âmbito de sua competência o que deve ser

feito.

O Conselho escolar é o órgão mais importante de uma escola autônoma,

base da democratização da gestão escolar. Mas para que seja implantado de

maneira eficaz é necessário que a participação popular, dentro e fora da escola, se

constitua numa estratégia explícita da gestão.

O Conselho se configura na voz e no voto dos diferentes atores da

escola, internos e externos, aglutinando os diferentes pontos de vista, deliberando

sobre a construção e a gestão do próprio projeto político-pedagógico. É na realidade

o instrumento legítimo dos anseios da comunidade e um meio para referendar a voz

e as ações da direção da escola.

As atribuições dos Conselhos Escolares, o seu funcionamento e a sua

composição, dentre outras coisas, são determinadas pelo regimento comum de cada

rede de ensino, cada Conselho escolar pode, se achar necessário, elaborar um

regimento interno, estabelecendo normas em relação à concretização das reuniões

ordinárias e extraordinárias, a eleição de seus membros (se será através de

assembléia ou votação de urna, se os membros formarão chapas ou apresentarão

candidatos individuais), à dinâmica das reuniões, à tomada de decisões (por votação

secreta ou aberta), ao tempo de duração das reuniões, ao horário em que elas serão

realizadas, à substituição de algum membro que deixe de comparecer às reuniões

etc.

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Se a participação, condição imprescindível para o exercício da gestão

democrática requer compromisso por parte dos que fazem a escola com o projeto

educacional, este compromisso advém em primeira instância do sentimento de

pertencimento de todos os cidadãos para com a escola como bem público. Advém

da compreensão dos Conselhos Escolares como uma nova institucionalidade cidadã

do exercício de poder na escola, de uma nova concepção de gestão que vem

posicionar-se contra a concepção patrimonialista da “coisa Pública” e, assim, várias

e fundamentais questões precisam ser discutidas.

É exatamente nesta direção que o presente estudo encontra sua razão de

acontecer. Pois é como forma de oferecer contribuições sobre a concepção, posição

na estrutura de poder da escola, competências, representatividade, funcionamento e

coordenação dos conselhos escolares que se volta à pesquisa em tela.

Nessa perspectiva, foram levantados e avaliados os aspectos, as

percepções e saberes de pessoas que atuam no Conselho Escolar, quer como

representantes, quer como representados. Também foram levantadas as

impressões dos sujeitos pesquisados acerca das ações e intervenções que

poderiam contribuir para qualificar a atuação do Conselho Escolar, enquanto

mecanismo de democratização da Gestão Escolar.

Por outro lado, este estudo está partindo de hipóteses, considerando

fatores como a credibilidade na Política de Gestão Democrática, posturas dos atores

envolvidos, e a importância das parcerias.

Assim, com a intenção de oferecer respostas para as questões

suscitadas, a presente dissertação busca contextualizar o papel dos Conselhos

Escolares na Política “Todos pela Educação de Qualidade para Todos”, como

também apresentar uma visão avaliativa desse papel, com a seguinte estruturação

temática:

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No primeiro capitulo analisamos o cenário nacional de democratização

da gestão educacional no que concerne às lutas sociais pelos direitos humanos e da

institucionalização da educação brasileira rumo ao atendimento dos princípios

fundamentais da cidadania e da participação, bem como discutindo os conceitos e

as formas de participação da comunidade na escola, sem, no entanto, deixar de

envolver a fundamentação legal concernente à gestão democrática no sistema

educacional brasileiro.

No segundo capitulo realizamos uma revisita à Política Estadual de

Gestão Democrática “Todos pela Educação de Qualidade para Todos”, abordando a

democratização da gestão no cotidiano da escola, apresentando o contexto legal

que oferece suporte à criação dos conselhos escolares, além de analisar a evolução

dos próprios conselhos, passando pelo papel e funções desempenhados pelos

conselhos das escolas com vistas ao enfrentamento do desafio da qualidade do

ensino e da aprendizagem. Os conselhos como estratégia de gestão da escola

pública no Ceará, enfocando a atuação, visibilidade e perfil dos conselhos escolares

após uma década de implantação. É também levantado um questionamento

essencial nesta reflexão crítica acerca dos aspectos de sucesso quanto à

democratização da gestão pelo viés da implantação dos conselhos nas escolas,

numa perspectiva avaliativa que envolve pesquisa de campo acerca da atuação dos

conselhos.

No terceiro capítulo temos como foco a estruturação da pesquisa, reportamo-nos à

montagem da tarefa investigativa, descrevendo o objeto de estudo, as hipóteses de trabalho e a

metodologia utilizada.

No quarto capítulo expomos o resultado da investigação, buscando

traduzir de forma fidedigna as opiniões dos pesquisados, como também relatar o

cotidiano das relações entre os diferentes segmentos escolares que dão vida à

atuação do Conselho em duas Escolas observadas.

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No quinto capítulo apresentamos reflexões conclusivas, confrontamos

hipóteses e realidade diagnosticada, de onde inferimos os limites e possibilidades

para a atuação do Conselho Escolar, à luz da própria trajetória da Política de Gestão

Democrática. A partir dessas balizas, haja vista a pretensão de contribuir para o

aperfeiçoamento da caminhada empreendida apresentamos sugestões que venham

melhorar a realidade pesquisada. Tais sugestões se referenciam nos estudos

realizados sobre a temática, além de integrarem idéias decorrentes do paralelo entre

o Conselho Escolar que temos e aquele que almejamos para a escola pública do

Ceará.

Assim sendo, a intenção maior deste trabalho é de contribuir para o

aperfeiçoamento da trilha que vem sendo perseguida em prol da democratização da

gestão escolar cearense e para ilustrar essa intenção, recorremos ao pensamento

de Vázquez (1977, p. 206-207):

... a teoria em si não transforma o mundo. Pode contribuir para sua transformação, mas para isto tem que sair de si mesma. Entre a teoria e a atividade prática transformadora se insere um trabalho de educação das consciências, de organização de meios materiais e planos concretos de ação: tudo isso como passagem indispensável pra desenvolver ações reais e efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que materializa, através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transformação

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2. O CENÁRIO NACIONAL DE DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO EDUCACIONAL

“Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas”.

José Saramango

2.1. O Contexto sócio-político e econômico do Brasil no período histórico da “transição democrática”

A década de 1975 a 1985 entra para a história do Brasil como período da

“transição democrática”, caracterizada principalmente pela crise do modelo

econômico e da hegemonia governamental. É aqui que se encontram as raízes da

crise econômica que tem como característica básica a ideologia do

desenvolvimento, a ideologia de “modernização”. Acentua-se o esforço de

reorganização da economia, destinado a refinar o “status quo” e a facilitar o

processo de concentração do capital.

Nesse período, a classe trabalhadora se rearticula, se reorganiza e

começam as alterações na correlação de forças políticas e se anunciam assim, as

possibilidades de um novo tempo no cenário político do país.

Com o intuito de conseguir o apoio da burguesia, o Estado promove a

mudança do regime autoritário para um regime “democrático”, contrariando a própria

burguesia. O governo Geisel elabora e promulga a Emenda Constitucional n°8 que

redefinem as regras do jogo eleitoral, garantindo a hegemonia do Estado. São

instituídas entre outras medidas a criação dos Senadores “biônicos”, eleições

indiretas para governadores de estado, redução do número de delegados no Colégio

Eleitoral para indicar o Presidente da República, ampliando assim, o seu mandato

para seis anos.

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Em março de 1979, assume a presidência o general João Batista

Figueiredo, último governante da ditadura, cujo governo foi marcado pela maior crise

econômica da história brasileira, com altos índices de inflação e aumento da dívida

externa.

No período histórico entre 1975 e 1985, restabeleceu-se a liberdade de

imprensa, concedeu-se a Anistia Política, e aconteceu a reorganização partidária e

as eleições diretas para os governos estaduais (1982).

Surgiram duas novas propostas de organização operária, a Central Única

dos Trabalhadores- CUT e a Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras-

CONCLAT, que tentaram unir a classe trabalhadora, através de suas lideranças, em

prol da conquista de dias melhores. Foi a partir daí que começou a surgir entre a

população à necessidade de se unir cada vez mais e lutar por seus direitos, fato

constatado pelo Deputado Inácio Arruda do PC do B/Ce quando afirmou em 1998:

Este ano mostra uma população disposta a dar a volta por cima e superar os apuros gerados na política do atual governo. O momento é de união nacional para dar novo rumo para o Brasil, que vem sendo desmantelado socialmente e economicamente nos últimos três anos. A liquidação do Estado Nacional traz agora um novo estágio de luta que diz respeito à própria sobrevivência de um povo e de uma nação. Esta situação surge da venda irresponsável das maiores empresas estatais, que retira do Estado sua capacidade de produzir políticas públicas.

O descontentamento popular em relação ao regime militar foi canalizado

pelas lideranças de oposição na campanha em favor das eleições diretas para

presidente da república. A emenda proposta pelo deputado Dante de Oliveira

restabelecia eleições diretas para presidente e acabava com o colégio eleitoral.

Manipulações de políticos impopulares, como Paulo Maluf, fizeram com que o

projeto que legitimaria as eleições diretas caísse no Congresso.

A próxima eleição deu-se ainda pelo voto indireto, pelo colégio eleitoral,

tendo como candidatos Tancredo Neves (Aliança Democrática, PMDB) e Paulo

Maluf (PDS). Tancredo era o que, em seu discurso, garantia o fim do regime militar e

do colégio eleitoral.

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Tancredo Neves ganhou a eleição com larga aprovação (480 votos contra

180 de Maluf). Internado doze horas antes da solenidade de sua posse, Tancredo

Neves veio a falecer em 21 de abril de 1985. O Brasil inteiro chorou a morte do

político mineiro. Assumiu o governo seu vice, José Sarney.

Sarney comandou o processo de redemocratização do Brasil, pondo fim à

ditadura militar. Restabeleceu as eleições diretas para presidente e teve início a

redação de uma nova Constituição, que veio a ser promulgada em 1988.

Depois de viver por 21 anos sob o regime da ditadura, o Brasil iniciou na

década de 80 uma lenta transição política para a democracia. Os militares efetuaram

sua retirada autoplanejada do proscênio político e atualmente o calendário eleitoral

está sendo seguido com regularidade. Apesar disso, estamos ainda distantes de

uma democracia consolidada.

Manuel Garretón propõe denominar transição democrática à passagem

de um regime basicamente autoritário a um basicamente democrático, que termina

quando se inaugura o novo regime. Neste sentido, as transições estão terminando

na maior parte dos países e estamos em vias de completá-las, por um lado e de

alcançar a consolidação democrática, por outro. As transições democráticas “(...)

não resolvem outros problemas da sociedade, que os próprios de um regime

político. A resolução dos outros problemas sociais é tarefa da consolidação

democrática”. (Garretón, 1991: 285)

Os procedimentos democráticos no Brasil estão estabelecidos e pode-se

dizer que a transição democrática está completa. Há, porém, incerteza quanto ao

futuro da democracia no Brasil. Na década de 80, no Brasil, o PIB per capita reduziu-

se e piorou a distribuição de renda. Tanto a regressão salarial quanto a

concentração da renda prejudicam a consolidação democrática brasileira.Os alentadores avanços políticos registrados nos anos 80 foram acompanhados por uma marcada piora das condições de vida da maioria da população brasileira, o que só pode colocar sombras sobre o futuro das

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democracias nos nossos países. (...) A questão crucial é até que ponto pode progredir e se consolidar a democracia em um quadro (...) que corrói a cidadania substantiva das maiorias precisamente quando mais se exalta sua emancipação política. (...) Quando os pobres se transformam em indigentes e os ricos em magnatas, sucumbem a liberdade e a democracia. A primeira não pode sobreviver ali onde uns estejam dispostos a vendê-la “por um prato de lentilhas” e outros disponham de riquezas suficiente para comprá-la a seu bel-prazer; a segunda se converte em um rito farsesco privado de todo o conteúdo, abrindo caminho à reconciliação entre economia, sociedade e política pela via da restauração plebiscitária da ditadura (BORON,1994:12-13)

Segundo Boron (1992), para consolidar a democracia seria preciso uma

política de reformas sociais que reduzissem a extrema desigualdade social. A não

realização de reformas econômicas e sociais que respondam às “demandas de

progresso e igualdade social” pode levar a uma “permanente instabilidade de novas

democracias latino-americanas” e, em alguns casos, à “regressão autoritária”.

A seguir, passaremos a apresentar, sob o ponto de vista histórico, o

processo de democratização da gestão educacional no Brasil.

2.2. O processo de democratização da gestão educacional: um breve histórico

A política social caracteriza uma determinada intervenção do Estado em

áreas específicas da sociedade civil, como trabalho, saúde, educação, previdência,

família, habitação, destinada a todas as classes sociais, mesmo que, tenham

impactos diferenciados em cada uma delas. Essa função de organizar e reorganizar

determinadas áreas da vida social, que, em outros momentos históricos ou

contextos sociais, pertenciam à esfera privada da sociedade, foi assumida pelo

Estado moderno para manter viva e produtiva a força de trabalho que vinha sendo

deteriorada pela exploração acirrada na fase inicial do capitalismo.

Nesse contexto, para discutir a política educacional brasileira e seu

princípio de gestão democrática, é preciso “...estar atento para as formas

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concretas que os determinantes sociais políticos,econômicos,ideológicos etc.

assumem na realidade escolar”(Paro, 2001, p.33).

A gestão educacional no Brasil vem passando por mudanças

significativas, que acompanham a evolução da situação política nas últimas três

décadas e meia, e podem ser acompanhadas em quatro períodos, cujas

características se devem a situações políticas e às medidas constitucionais e

legais.

Nas décadas de 60 e 70, durante o regime militar, o sistema público de

ensino era descentralizado, existia um sistema federal de ensino, sistemas

estaduais, sistemas do distrito federal e uma rede de ensino municipal que seguia

as normas estaduais. No entanto, não havia participação e envolvimento de

organizações da sociedade civil, dos educadores e das famílias na formulação de

políticas e na condução dos sistemas educacionais.

Os planos educacionais expressavam o pensamento da burocracia

educacional e eram documentos de cunho mais político do que técnico e

operacional. A autonomia das escolas era praticamente inexistente, o que se

evidenciam pelos seguintes fatos:

• Diretores eram escolhidos pelos governantes por critérios na maioria das vezes

clientelistas. Em quase todos os Estados, eram nomeados e demitidos em

qualquer época do ano letivo, sem considerar o programa de trabalho da escola

e seu calendário.

• Necessidades materiais das escolas eram atendidas diretamente pelos

secretários de Educação. Qualquer problema era comunicado pela direção da

escola à secretaria que encaminhava as soluções.

• As escolas seguiam, do ponto de vista pedagógico, o que determinavam os livros

didáticos, escolhidos pelo MEC e distribuídos às escolas sem sua participação. O

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treinamento era organizado pelas secretarias sem consulta às necessidades

identificadas no nível das escolas.

Durante a ditadura militar, quando a escola pública era dominada em

quase todos os estados e municípios, por estruturas administrativas centralizadas e

burocratizadas, ganhou força a reivindicação dos educadores pela autonomia

escolar vinculada à necessidade de experimentar alternativas pedagógicas -

curriculares e didáticas - que diminuíssem os altos índices de evasão e repetência

na escola primária e a deterioração da qualidade da escola pública em geral, sujeita

a rituais, arcaísmos e burocratismos das medidas administrativas de cunho técnico

científicas, até então empregadas.

No final dos anos 70, o regime político autoritário instalado no país pelos

militares, encontrava-se completamente desgastado, pois não havia atendido à

promessa de oferecer qualidade de vida para a população. Ao invés disso, levou a

um quadro de empobrecimento político, econômico e sociocultural crescente.

Como indicadores desse empobrecimento temos:

1) A crescente desigualdade na distribuição da renda;

2) Os atos institucionais com suas graves repercussões no âmbito dos direitos de

cidadania, como o cerceamento de liberdade de opinião e de crítica.

3) O mínimo aumento do índice da alfabetização, que esteve longe de corresponder

às expectativas geradas pelo “milagre econômico”.

O processo de levante, digamos assim, das entidades civis criticas ao

governo militar foi crescendo, até que, em um período mais ou menos curto, entre

1979 e 1981, um conjunto de eventos no campo político-social caracterizou uma

verdadeira revolução: a greve geral do ABC, a lei que permite à criação de novos

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partidos, a lei da anistia, a renovação da política sindical, o movimento nacional

contra a carestia, que vão culminar no movimento pelas Diretas Já.

No decorrer da década de 1980 aprofundou-se o processo de

democratização política da sociedade brasileira e aumentou a pressão para que o

diretor revelasse sua face de educador, chegando-se a questionar a direção da

escola exercida por um só indivíduo. Ao longo desse processo, foi ganhando força a

proposta de direção colegiada, formada por representantes de todos os membros

envolvidos no processo educativo 1(Warde, 1992).

A participação deixa de ser entendida, como era na década de 60, apenas

como um “fazer parte de” e passa a incluir a tomada de decisão naquilo de que se

participa.

Nesse contexto, encontra-se a origem da reivindicação de melhorias no

meio educacional. Olhando mais de perto a escola daquela época, para identificar

seus problemas, e os motivos que levavam professores e população a reivindicar

uma escola pública democrática e de qualidade, observa-se que muitos daqueles

problemas e motivos persistem até hoje. Tinha-se uma altíssima taxa de

analfabetismo, reprovação e evasão escolar, a desqualificação crescente dos

profissionais da Educação, o sucateamento da rede física, além da continuidade de

uma prática de tratamento das questões educacionais com base em relações

clientelistas, que sabe-se , caracterizam-se como relações autoritárias.

Esse quadro repercutia mal junto àqueles que pesquisavam e lidavam

mais de perto com a realidade das escolas. Assim, avolumaram-se as discussões,

primeiramente nos meios acadêmicos, onde a liberdade de critica já começava a

ocorrer, apesar das pessoas ainda serem submetidas à forte censura e, o que é pior,

à auto-censura.

Nas escolas, o poder exercido pelos diretores era delegado pelas

autoridades constituídas. Era, portanto, um poder grande demais para permitir a

1 WARDE, M. Jorge. Considerações sobre a autonomia da escola. Revista Idéias: O diretor-articulador do projeto de escola. São Paulo: FDE, 1992.

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liberdade de crítica. A rígida hierarquia era algo inquestionável, tendo no topo,

concentrando o poder, o diretor da escola. Assim, dificilmente sairia da escola a

denúncia contra o estado de coisas vigentes. O incômodo foi denunciado por

professores, em suas entidades de classe, por pesquisadores nas universidades e

também por estudantes universitários e secundários, através de suas entidades

representativas. Tal tipo de denúncia passou a ter vários fóruns de debate, como os

encontros da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, as

assembléias sindicais, os encontros universitários, dos quais o mais importante era a

Conferência Brasileira de Educação – CBE, que reunia, anualmente, professores e

pesquisadores da Educação de todo o Brasil, para debater os problemas e elaborar

propostas de soluções para o setor.

Como conseqüências, vários processos foram desencadeados:

a) o questionamento das leis educacionais vigentes, como por exemplo, a lei

5692/71, que profissionalizava o ensino médio e a lei 5540/69, da reforma

universitária;

b) a denúncia contra a diminuição da verba destinada ao setor educacional;

c) o tecnicismo em que havia sido imerso o currículo escolar – em todos os níveis

de ensino -, com a pulverização curricular, trazendo o aligeiramento da formação

e suas nefastas conseqüências;

d) enfim, o questionamento das práticas autoritárias no interior da escola, que

contrastavam com o caráter educativo que ela deveria ter.

Ao lado das críticas e denúncias, alguns governos municipais, por volta

de 1976, já começavam a ensaiar alternativas práticas. É o caso de governos como

o de Lajes, Santa Catarina que desenvolveu experiências inovadoras, atribuindo a

função decisória não somente ao diretor da escola, mas a toda a comunidade

escolar, nela incluindo os pais de alunos, com a formação dos conselhos de pais e

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mães – equivalentes dos conselhos deliberativos da comunidade escolar e ao

conselho escolar comunitário.

Desse período histórico para a atualidade, essas práticas foram se

tornado cada vez mais corriqueiras em escolas públicas, conforme os governos

estaduais ou municipais apresentassem um perfil mais acentuadamente

democrático. Era natural que partidos mais conservadores tivessem dificuldades em

conceber a descentralização como uma tendência que pudesse ser benéfica ao

setor educacional - o que estaria em jogo, nesse processo, seria a distribuição do

poder, que se caracteriza como perda efetiva de poder, para uns, e em acesso ao

poder, para a maioria.

E ainda no final dos anos setenta e inicio dos oitenta, a pauta em defesa

da escola pública, gratuita e de boa qualidade incorpora a discussão sobre a gestão

democrática da escola. MELLO (1985) assim define a gestão democrática da

educação:

... Aquela que se preocupa igualmente com o investimento e o custo, que tem sempre presente a necessidade de investir nos aspectos que afetam o cotidiano, a rotina do trabalho escolar; que busca atuar sobre as práticas já consolidadas tomando-se como ponto de partida, sem fazer desabar pacotes prontos que presunçosamente negam tudo que o professor já fez e propõem ‘começar tudo de novo’, é a gestão que se dá conta de que não adianta construir escolas nem adotar as belas teorias pedagógicas ou sofisticadas tecnologias de ensino, se o salário do professor está aviltado e sua dignidade profissional degradada pelo clientelismo, irmão bastardo do autoritarismo; ou então não basta investir no professor e dar-lhe apoio técnico, se a escola está caindo aos pedaços, e desprovida de infra-estrutura operacional e administrativa (MELLO, 1985, P.30).

Mello considera ainda fundamental três eixos de ação:

a compreensão do papel do professor na melhoria da qualidade do ensino; a democratização das relações internas da escola e a participação dos professores no destino da educação; e as escolhas teóricas que nortearão a organização curricular e as ações de apoio técnico-pedagógico (MELLO, 1985, P.30).

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As duas ultimas décadas do século XX, foram particularmente inovadoras

para o Brasil, por demarcar a inserção do País na fase de redemocratização política,

iniciada em meados dos anos 70 e consolidada da década de 80, através da eleição

do primeiro presidente civil eleito pelo povo, Fernando Collor de Mello. Com o

retorno da ordem democrática de direito, foi elaborada uma nova Constituição, fruto

da participação e engajamento das forças progressistas, expressando os anseios da

sociedade civil que reivindicava participação direta na defesa de seus interesses nos

processos e fóruns decisórios das políticas (Constituição Federal. Art. 5º e 204).

Podemos afirmar que esse processo foi coroado com a inclusão do Inciso VI do

Artigo 206 da Constituição de1988 e reforçado com a Lei de Diretrizes e Bases nº.

9.394/1996.

Também na década de 80, a eleição de governadores de oposição ao

governo, em 1982, com a redemocratização do país, abriu para o sistema público de

ensino a oportunidade para mudanças significativas, ocorrendo uma busca por uma

maior autonomia por parte das escolas, isto é, a busca de instrumentos para garantir

maior espaço de decisão e a introdução de novos atores no processo de gestão da

escolar.

A partir da constituição de 1988 os princípios da gestão democrática,

inspirados nas experiências em andamento, ganharam força de dispositivo

constitucional (art. 206, inciso VI), abrindo espaço para que os Estados

encontrassem formas e mecanismos próprios para sua viabilização. No mesmo

sentido também se expressa a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que detalha o

caput do artigo da Constituição, que utiliza os termos na forma desta Lei,

acrescentando as palavras “e da legislação dos sistemas de ensino” (Art. 3, Inciso

VIII).

Trata-se de enfrentar o desafio de constituir uma gestão democrática

que contribua efetivamente para o processo de construção de uma cidadania

emancipadora, o que requer autonomia, participação, criação coletiva dos níveis de

decisão e posicionamentos críticos que combatam a idéia burocrática de hierarquia.

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A LDB remete à regulamentação da gestão democrática do ensino público na

educação básica aos sistemas de ensino, oferecendo ampla autonomia às unidades

federadas para definirem, em sintonia com suas especificidades, formas de

operacionalização de tal processo, o qual deve considerar o envolvimento dos

profissionais de educação e as comunidades escolar e local. Em ambos os casos, a

participação refere-se à esfera da escola: a elaboração de seu projeto pedagógico e

a atuação em conselhos escolares ou equivalentes. Na perspectiva da LDB,

portanto, a gestão democrática, circunscreve-se a alguns aspectos da vida escolar,

tal como se viu nos dispositivos comentados.

A autonomia da escola para experienciar uma gestão participativa

também está prevista no art.17 da LDB, no qual o legislador é claro no sentido de

afirmar a existência de “progressivos graus de autonomia pedagógica e

administrativa e de gestão financeira”, a serem também definidos pelos sistemas de

ensino. Aqui, o entendimento orienta-se no sentido de que a autonomia de uma

escola não é algo espontâneo, mas construído a partir de sua identidade e história.

Os “graus de autonomia” correspondem a diferentes formas de existir da própria

instituição – dizem respeito ao seu tamanho, ao seu corpo docente, à observância

às diretrizes estabelecidas pelo sistema de ensino, seu desempenho e gestão de

recursos.

Constatou-se que a democratização da gestão escolar adquiriu contornos

mais definidos. As escolas avançaram em suas propostas de gestão do sistema.

Associaram-se a ela outras preocupações como a avaliação dos resultados, busca

de eficiência, redefinição de papéis e uma preocupação mais acentuada com a

autonomia e fortalecimento da escola. O foco passou a ser a escola e a educação

de qualidade para todos.

Houve a junção de várias forças sociais: a primeira diz respeito à

mobilização e a organização da sociedade civil em torno da luta em defesa da

democracia, e, a segunda, à implantação de políticas educacionais pelo Poder

Público criadas para esse fim. Sabemos, que administrar o ensino público vai muito

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além de implementar decisões centralizadas ou não. Na verdade, hoje a educação

não pode prescindir de envolver a participação dos diversos atores.

A luta pela redemocratização do Estado e da Sociedade brasileira

fortaleceu as reivindicações das organizações populares culminado, como já nos

referimos, na derrocada do Regime de 64 e no fortalecimento da democracia.

A educação pública passou a viver então um clima de mobilização e

participação da comunidade que atravessou, especialmente, as últimas décadas do

século XX. Sob o signo dessas movimentações populares, com ampla participação

da comunidade, a escola pública viu o seu cotidiano abrir-se para a inserção

participativa dos agentes envolvidos na prática pedagógica. A gestão democrática

da escola pública com a eleição direta para diretores pela comunidade escolar

significou a possibilidade de participação dos diferentes segmentos escolares na

política educacional.

A Constituição Federal que estabeleceu como princípios básicos para a

educação pública, o pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas e a gestão

democrática do ensino público (Art. 206), e a LDB-9394/96 legitimaram a criação de

instrumentos e mecanismos reais de participação comunitária, possibilitando à

comunidade escolar o direito de escolher por meio de voto direito os gestores das

escolas, acompanhando o seu desenvolvimento através da implantação do

Conselho Escolar.

Os princípios de democracia participativa e autonomia são legitimados

e instituídos, por meio desses aparatos legais que já mencionamos e podem ser

considerados como fundamentos constitucionais da autonomia da escola e

promotores da participação da comunidade escolar no processo de tomada de

decisões que lhes dizem respeito.

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A gestão democrática deve ser compreendida como um objetivo a ser

sempre perseguido e aprimorado, além de configurar-se como uma prática cotidiana

nos ambientes educativos.

Luck (1977) apresenta cinco mudanças que consideram fundamentais

para que a gestão da educação seja realmente uma gestão democrática e, assim,

cumpra com seu papel social. São elas:

1) da ótica fragmentada para a ótica globalizadora;

2) da limitação de sua responsabilidade para sua expansão;

3) da ação episódica para o processo contínuo;

4) da hierarquização e burocratização para a coordenação;

5) da ação individual para a coletiva.

Certamente, todos os aspectos apontados têm suporte num novo

paradigma para a gestão democrática da educação, em que tem destaque seu

caráter mediador e transformador da realidade.

Iremos a seguir discorrer sobre os novos conceitos de gestão no âmbito

da escola, bem como os rumos tomados pela escola sob os novos paradigmas

adotados.

2.3. Gestão escolar: ressignificando conceitos e possibilidades

As reflexões sobre a função social da escola no Brasil foram

canalizadas em torno do debate acerca das tendências pedagógicas. Assim, é

possível identificar papéis propostos para a instituição escolar nas diferentes

pedagogias. No contexto da Pedagogia Liberal a escola é chamada a cumprir uma

clássica função, enquanto instituição encarregada da transmissão da cultura e do

saber sistematizado:

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A atuação da escola consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade (Libâneo , 1986:23).

O modelo da escola tradicional, inspirado nas organizações militares e

fabris, desenvolveu-se ao longo do século XIX e ainda hoje subsiste em muitas

organizações escolares, sobretudo ao nível das práticas cotidianas.

A gestão escolar se dá com ênfase na importância atribuída aos dois

aspectos que caracterizam o modelo organizativo desta escola: a ordem e a

disciplina normativa. Possui poucas e claras estruturas organizativas, sendo essas

do tipo linear, verticais e normativas. A autoridade não se questiona, nem se

discutem as decisões. O protótipo de gestor destas escolas identifica-se com o

burocrata autoritário, cuja principal preocupação é o controle da aplicação dos

programas e ordens emanadas do Estado.

Mudadas as condições, e no contexto de uma mesma pedagogia, a

escola pode vir a ser chamada a orientar-se para a adequação das necessidades

individuais ao meio, como ocorreu sob à égide do escolanovismo ( “tendência liberal

renovada progressivista”). Nessa perspectiva, educação é concebida como um

processo ativo, onde à escola cumpre retratar a vida, buscando “suprir as

experiências que permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e

reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e

estruturas do ambiente” (Idem:25).

No final do século XIX, esse modelo apareceu e desenvolveu-se até aos

anos 20. Foi desde o início uma clara reação contra o modelo da escola tradicional e

tudo o que a mesma significava. É uma escola aberta, descentralizada e crítica da

sociedade. A melhor forma de identificá-la é ver o modo como nela são valorizadas

as interações com o meio social e se procura enriquecer as vivências dos alunos,

incorporando-as ao currículo, a cultura circundante. Fala-se pouco em disciplina,

mas muito em convivência, dando-se uma enorme importância à participação,

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autogestão e autoresponsabilidade. Esse modelo requer um tipo de gestão próxima,

de animador sócio-cultural participativo e autogestionário.

Sob a influência do tecnicismo (“tendência liberal tecnicista”) concebe-se

uma escola modeladora de comportamento, com ênfase em aspectos voltados para

a organização do “ processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos

específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do

sistema social global”. Nesse contexto, a função da escola se orienta para “produzir

indivíduos competentes para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente,

informações precisas, objetivas e rápidas” (Idem: 28 e 29).

No âmbito das chamadas pedagogias progressistas são também forjadas

diferentes concepções de escola. Vamos encontrar aqui desde orientações voltadas

para uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e

autogestionário (tendência libertária progressista), até uma perspectiva onde a

escola é chamada a cumprir um papel de transmissão dos conhecimentos

universais, buscando a transformação social (tendência progressista crítico-social

dos conteúdos). Nesse quadro, a função da escola se articularia com a “preparação

do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental,

por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação

organizada e ativa na democratização da sociedade” (Idem:39).

Trata-se do modelo de uma escola cuja atividade centra-se em torno de

um projeto educativo comum e de um projeto curricular que sistematiza a vida da

escola. E assim, essa gestão requer uma direção que oriente sua prática para a

planificação, a animação do processo, a gestão dos recursos e estruturas,

procurando suscitar consensos sistematicamente.

Embora as tipificações sejam necessárias à organização do pensamento,

é necessário observar que no concreto estas não existem em estado puro. Numa

mesma sociedade, tempo e lugar várias tendências podem conviver. Assim, pode

haver uma tendência predominante no contexto macro estrutural de uma sociedade

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e, em seu interior, ocorrerem manifestações diferenciadas – de escola para escola,

de professor para professor.

No contexto de uma sociedade caracterizada pela globalização

econômica e pela difusão do conhecimento em rede, o papel e a função social da

escola, por certo são redimensionados. Novas modalidades de tecnicismo começam

a se configurar, facilitadas pela presença do computador na vida de um grande

contigente de crianças – mas não de todas, o que pode vir a constituir-se como um

mecanismo adicional de exclusão social. O papel da educação nesse novo quadro

tende a ser retomado, implicando em visões distintas sobre a escola.

A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 é a primeira das leis da educação a

dispensar atenção particular ao funcionamento da escola, chegando ao

detalhamento de suas incumbências, como podemos ver no artigo 12:

Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de

ensino, terão a incumbência de:

I. Elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II. Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;

IV. Velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

V.Prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

VI. Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da

sociedade com a escola;

VII. “Informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem

como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

Examinadas as incumbências da escola, é oportuno mencionar outro

importante aspecto da gestão escolar – a autonomia das escolas para prever formas

de organização que permitam atender às peculiaridades regionais e locais, às

diferentes clientelas e necessidades do processo de aprendizagem (LDB, Art.23). Do

mesmo modo, são previstas formas de progressão parcial (LDB, Art.24, III),

aceleração de estudos para alunos com atraso escolar, aproveitamento de estudos e

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recuperação (LDB,art.24,Inciso V,b,d,e).Tais medidas associadas às anteriores, têm

por objetivo promover uma cultura de sucesso escolar para todas as crianças.

A gestão escolar, como a própria expressão sugere, situa-se no âmbito da

escola e diz respeito a tarefas que estão sob sua esfera de abrangência. Nesse

sentido, pode-se dizer que a política educacional está para a gestão educacional,

assim como a proposta pedagógica está para a gestão escolar. Assim, é válido

afirmar que a gestão educacional situa-se no nível macro, ao passo que a gestão

escolar situa-se no nível micro. Ambas articulam-se mutuamente, dado que a

primeira justifica-se a partir da segunda.

O papel da gestão da escola hoje pode ser sintetizado em três grandes

aspectos:

1. A organização da sociedade civil. A escola, na medida em que envolve

a comunidade na gestão, mesmo considerando os limites ainda

existentes, como analisam Gutierrez e Catani (1998:68-73), contribui

com a própria organização da sociedade civil. Isso significa dizer que o

efeito da gestão participativa da escola pode repercutir na organização

da sociedade fora da escola;

2. A formação do sujeito social. A gestão da escola participa na formação

do sujeito social como membro decisório do cotidiano administrativo

da escola ou como ator aluno. A experiência do cotidiano social

adentra no cotidiano escolar e vice-versa;

3. O fortalecimento do local em contraposição ao global. Os paradigmas

da sociedade em rede demonstram o efeito dialético da globalização

no fortalecimento das identidades locais. “Entende-se por identidade a

fonte de significado e experiência de um povo. Em termos mais

genéricos, pode-se dizer que identidades organizam significados...”

(Castells, 1999:22-23). A escola, na medida em que participa da

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formação do sujeito social, organiza, fortalece e constrói a identidade

social local.

O papel social da gestão da escola é ainda mais valorizado se adotarmos

o conceito gramsciano de sociedade civil como aquela constituída por organizações

escola, igrejas, sindicatos, partidos, cooperativas, associações diversas – que, se,

por um lado, prolongam a dinâmica do Estado, por outro, constituem a organização

dos atores sociais.

Com base na visão acima, a escola, sobretudo a partir de sua gestão,

cumpre um papel duplo no contexto do seu próprio desafio: o da formação do sujeito

social (dentro da escola ou na organização da comunidade) e o da conquista da

cidadania para as diferenças sociais.

Como vimos, o conceito de gestão escolar evoluiu com o passar dos

anos e hoje se pensa em gestão no sentindo de gerir uma instituição escolar,

desenvolvendo estratégias no cotidiano com a finalidade de uma democratização da

gestão educacional.

Conforme enfatizado por Lück (2000, p. 11), gestão escolar:

[...] constitui uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino orientadas para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade globalizada e da economia centrada no conhecimento.

Menezes e Santos (2002) definem a Gestão Escolar como a expressão

relacionada à atuação que objetiva promover a organização, a mobilização e a

articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o

avanço dos processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino

orientados para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos.

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Assim sendo, o novo paradigma da gestão escolar traz, junto com a

autonomia, a idéia e a recomendação de gestão colegiada, com responsabilidades

compartilhadas pelas comunidades interna e externa da escola. Esse novo modelo

não só abre espaço para iniciativa e participação, como cobra isso da equipe

escolar, alunos e pais.Em suma, a qualidade da educação passa a ser interesse

tanto da equipe escolar, quanto dos alunos e de suas famílias (além do Estado, das

autoridades educacionais e da nação como um todo).

A gestão escolar na perspectiva da administração individual, da hierarquia

e da fragmentação de tarefas vem perdendo seu espaço para a gestão democrática,

entendida como compartilhamento de responsabilidades no contexto escolar. No

entanto, sua inserção na organização e funcionamento das escolas ainda configura-

se como um grande desafio para os gestores que necessitam, na maioria das vezes,

reconstruírem suas concepções e práticas de gestão.

A gestão escolar passa no atual cenário educacional a ser concebida sob

o prisma da importância da participação de todos na organização e no planejamento

do trabalho escolar, uma vez que o conceito de gestão está associado ao

fortalecimento da democratização no processo pedagógico, à participação de todos

nas decisões necessárias e na sua efetivação mediante compromisso coletivo.

Neste sentido, se faz necessário articular no exercício da gestão da escola todos

indivíduos que a compõem.

Nos novos paradigmas de gestão da escola se procura redefinir o

conceito sobre o universo escolar, e reforçar a autonomia escolar no fazer

educacional. Passa-se a adotar uma modalidade de gerenciar a escola voltada ao

trabalho coletivo, uma gestão escolar realmente comprometida com o processo de

transformação social.

Neste direcionamento, Paro (1996), enfatiza que em uma administração

escolar verdadeiramente revolucionária, que se preocupa com a organização da

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escola é preciso que todos os funcionários e a comunidade estejam envolvidos no

processo escolar de forma participativa.

Para Lück (1998), o entendimento do conceito de gestão já pressupõe,

em si, a idéia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas, analisando

situações, decidindo sobre o seu encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto.

A autora destaca ainda que somente no final da década de 80, os educadores e

pesquisadores começaram a prestar mais atenção no impacto da gestão

participativa na eficácia das escolas como organizações. E as três tendências

globais encontradas a esse respeito passavam: a) pela gestão participativa como elemento significativo entre as variáveis

identificadas em “escolas eficazes”;

b) a mudança do papel do diretor na gestão da escola; e

c) pelos vários elementos constitutivos da tendência para autonomia

escolar ou gestão descentralizada. Esses pontos foram analisados,

repensando as questões de autoridade e poder e de como

descentralizar decisões e ações.

Fica, assim, mais claro que a gestão escolar deve ser caracterizada pela

participação consciente e esclarecida das pessoas nas decisões sobre a orientação

e planejamento da ação educativa na escola. E que neste sentido, é preciso

intensificar a busca de novos caminhos em direção da construção de uma gestão

escolar mais eficiente e democrática, aberta à diversidade de pensamentos e

culturas, bem como ao diálogo com as distintas formas de expressão de idéias. Uma

gestão que seja articuladora de conhecimentos produzidos com informações e

conhecimentos advindos de outros segmentos da sociedade; enfim uma gestão que

busque a solução para as próprias problemáticas contextuais da escola.

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3. O PAPEL DOS CONSELHOS ESCOLARES NO CONTEXTO

DA POLÍTICA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA NO CEARÁ

“Só se educa para a democracia, educando-se pela democracia”.

Antenor Naspolini

3.1. Revisita à Política de Gestão Democrática “Todos pela Educação de Qualidade para Todos”.

Com o processo de redemocratização do país, em 1985, teve início no

estado um movimento político-econômico que veio a chamar-se mudancismo que se

contrapôs ao coronelismo (1968-1986). O mudancismo foi marcado por uma série

de reformas de estado (Administrativa e Fiscal, 1986-1990; Saúde, 1986-1990; Infra-

estrutura e Privatizações, 1991-1999 e Educacional, 1995-2000). Do ponto de vista

econômico, o mudancismo é responsável pela segunda onda de industrialização do

estado, com a instalação, entre 1991-1999, de 450 empresas cujo modelo veio a se

mostrar como concentrador de renda, mesmo o Ceará tendo crescido mais que a

média nacional.

Três elementos apoiaram a reforma de educação básica cearense

instaurada em 1995 :

• uma reconhecida necessidade de mudança, expressa nos planos de

governo dos anos anteriores;

• contexto econômico e político favorável, traduzido pelo saneamento

das finanças do estado e a expressiva credibilidade de suas

instituições; e

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• a existência de mecanismos efetivos de participação social,

evidenciados pela modernização das formas de gestão pública e pela

atuação organizada da sociedade civil.

As reformas educacionais, em geral, podem adotar dois tipos de fluxo: o

vertical, com decisões tomadas em níveis hierárquicos superiores e impostas aos

outros níveis, e o horizontal, onde as decisões não ascendem ou não são

compartilhadas entre os níveis hierárquicos. As reformas verticais, aparentemente,

causam impacto imediato, algo que não é confirmado pela experiência, que aponta a

insustentabilidade e precariedade destas reformas;

As reformas horizontais tendem à estagnação e à consolidação de

culturas, tornando os sistemas pouco flexíveis às mudanças.

O Ceará adotou um terceiro tipo de reforma, baseado na imagem de uma

espiral, em que foram combinados os fluxos vertical e horizontal.Nesse modelo, as

decisões transitavam tanto a partir dos níveis hierárquicos superiores (como as

secretarias municipais e estadual de educação), como a partir da base (conjunto de

escolas). Embora o percurso pudesse parecer mais longo e demorado, este modelo

caracterizava-se por ser mais resistente às pressões políticas e econômicas, o que

poderia demonstrar a sua capacidade de garantir a sustentabilidade e

adaptabilidade às mudanças.A construção desse modelo só era possível, portanto,

se fosse feita de maneira coletiva e dialética: ao mesmo tempo todos participariam e

tomariam decisões, considerando tanto a experiência local, na escola, como as

demandas de estado.

A espiral de decisões do sistema educacional cearense se propôs a

resolver a seguinte questão: como garantir a educação de qualidade para todos? A

política educacional adotada assumiu ao mesmo tempo a proposta e a resposta:

Todos pela Educação de Qualidade para Todos que sintetiza os pressupostos

básicos das políticas públicas: acesso e qualidade a partir da mobilização social e da

resposta do estado a estas demandas.

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Em outros termos, a expressão sugeria a mobilização social em torno do

acesso universal à educação básica de qualidade, entendida, a partir da Declaração

Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990), como aquela que

satisfaz e enfoca as necessidades básicas de aprendizagem, que promove a

eqüidade, fortalece alianças, mobiliza recursos e contextualiza as políticas.

Assim,o processo de mudança deflagrado no Ceará em 1995, procurava

fazer face ao desafio de saldar a dívida para com a educação pública em matéria de

acesso, permanência e sucesso escolar, além de alterar o quadro de sentimento

coletivo de desesperança para com a educação.

O contexto político era favorável, pois vários fatores estavam alinhados

como ação governamental em busca de mudanças, mobilização social por mais e

melhor educação, além das esferas municipais, que dentro de suas possibilidades,

começavam a dar respostas mais autônomas e positivas.

O projeto educativo TODOS PELA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE PARA

TODOS trazia uma concepção de escola participativa e autônoma, comparada,

metaforicamente ao leito de um rio, cujos afluentes eram o setor pedagógico, o

administrativo-financeiro e a participação. O discurso do Secretário de Educação,

prof. Naspolini, proferido no I Simpósio Regional de Administração da Educação do

Nordeste, esclarecia;

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...Comparamos a escola no Ceará ao Rio Jaguaribe, que outrora foi um rio seco e era o maior rio seco do mundo. (...), pois bem: comparando o rio Jaguaribe com essa escola que tanto queremos, estamos trabalhando p-ara que seja ponto de partida do processo educativo, e não ponto de chegada, apenas, de decisões que nunca chegam lá, e constato isso, pessoalmente, depois de um ano e meio na Secretaria de Educação, que as decisões se diluem na caminhada e não chegam à ponta. Temos que fazer a ponte de safena para que chegue, imediatamente lá na ponta, na escola, então esse rio para que seja perene, para que possa abastecer sua cidade, plenamente, permanentemente tem três afluentes: o principal deles, evidentemente, é aquele que dá rumo ao rio, o afluente pedagógico. Numa escola que se preza,se nela a criança não aprende, não é escola que ela freqüenta é outra coisa com o nome de escola. Então temos exatamente: escola é onde a criança aprende,onde há condições de aprendizagem, onde há interação de aprendizagem(...).O segundo O segundo afluente importante é necessário, é o administrativo-financeiro sem ele, o pedagógico fenece e precisa fazer autonomia administrativa e financeira lá na ponta, lá na escola. O terceiro afluente não é uma ordem de valor, mas é fundamental – é o afluente da participação. Quero deixar claro, ele é um afluente, mas ele abastece o rio; portanto ele é o rio também. Não é um adjetivo, ele é substantivo; volto a dizer; a participação não é apenas uma estratégia, ela é um fim da educação, particular e um fim da educação (Simpósio Regional de Administrações da Educação do Nordeste, 1996).

O TODOS PELA EDUCAÇÃO exigia vontade, determinação política e

compromisso dos governantes e de toda a sociedade civil num esforço convergente

pela garantia da educação de qualidade. A educação pública assim resultaria de um

esforço solidário de todas as instâncias do Poder público e de outras forças e atores

que a elas se associassem. Nesta vertente, o regime de colaboração assumiu um

sentido amplo, envolvendo a parceria entre União, Estado e município, a

participação decisiva de órgãos de ciência e tecnologia, das universidades, dos

meios de comunicação social e de outras instituições que pudessem colaborar no

projeto educativo do estado.

É necessário frisar que por esta prioridade, se conclamava a sociedade

cearense a tomar consciência de que só era possível uma educação de qualidade

para todos através da efetiva participação de todos. Emergiu assim, a necessidade

de uma mobilização participativa de toda a sociedade cearense pela educação, uma

mobilização que gerava uma ampla aliança, explicitando os diferentes papéis dos

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segmentos sociais e utilizando diversos modelos de comunicação para atingir todos

os parceiros.

A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE por sua vez,nos documentos, destacava

a melhoria do acesso e da permanência escolar, ocupando um lugar de destaque e

defendendo uma concepção voltada para a formação da cidadania. A escola era o

ponto de partida e, nela, o seu projeto pedagógico e o currículo assumiam papéis

centrais como mecanismos de efetivação da ação educativa. A orientação curricular

deveria pautar-se pela satisfação das “necessidades básicas de aprendizagem”,

conforme definição explicitada pela Conferência Mundial sobre Educação para

Todos, realizada em Jomtien, Tailândia, em março de 1990:

...compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo e a solução de problemas), quanto os conteúdos básicos de aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes) necessários para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentais e continuar aprendendo (Plano Decenal, 1994, p.73).

Por esta vertente, compreendia-se o aluno como um sujeito construtor de

seus conhecimentos que interagia com o professor, mediado por uma ação docente

que valorizava o domínio dos conteúdos numa visão ampla de aprendizagem para a

vida.

Por fim, a EDUCAÇÃO PARA TODOS, como terceira prioridade, mas não

em ordem de importância, pregava a universalização do ensino fundamental e a

erradicação do analfabetismo como compromissos constitucionais para o Ceará.

Portanto, o Estado definia assim uma política de acesso, permanência e sucesso

escolar, pela qual as crianças e os adolescentes pudessem ser preparados para o

exercício da cidadania plena. Nesse sentido, fez-se necessário uma ação articulada

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entre a Educação e as diferentes instâncias governamentais, particularmente os

Conselhos dos direitos das crianças e Tutelares, para se atingir a meta de

alfabetizar das todas as crianças na faixa dos sete aos dezessete anos, mediante

ações complementares e articuladas com o processo regular de escolarização. Em

suma, as crianças e os adolescentes que estivessem fora da escola, deveriam ser

alfabetizados e progressivamente incorporados ao sistema escolar.

No cômputo geral, o projeto educativo instaurado para a política de

gestão democrática na escola, estava antes de tudo, em sintonia com o modelo de

gestão preconizado pela Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 206

destacava “a gestão democrática do ensino público na forma da Lei”.

Como mecanismos de sustentação dessa política destacamos as

seguintes ações:

a) A transformação das delegacias de ensino – DERE, em centros

regionais de desenvolvimento da educação – CREDE.

Como forma de descentralizar as ações do sistema estadual de

educação, em 1996, no governo Tasso Jereissati (1995-1998), foi concebida um

projeto que deu um novo ordenamento administrativo regional às antigas delegacias

regionais de ensino (DERE), que funcionavam em número de 14 (catorze). Essa

nova organização apresentava uma regionalização diferente em número de 21 (vinte

e um) CREDE’S, sendo 20 (vinte) no interior e 01 (um) na capital, legalizado através

do Decreto 24.274/96.

Vale salientar que para o agrupamento de municípios de cada CREDE foi

eleito um critério de regionalização que não coincidia

com os existentes nas outras setoriais do governo, a

exemplo da Secretária de Saúde e de Agricultura, cujas

regionais não coincidem entre si. A ilustração ao lado

demonstra a abrangência de cada CREDE.

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A criação do CREDE procurou facilitar o atendimento ao sistema estadual

de ensino, uma maior articulação com os municípios da sua jurisdição e estimular o

processo de descentralização da educação, dando a essas instâncias intermediárias

autonomia de gestão administrativa e financeira. Para tanto, os CREDE’S foram

informatizados e conectados em rede com a SEDUC-Sede, permitindo o acesso a

aplicativos e sistemas gerenciais a exemplo do SIGE, SIAP, SIC, que permitem

maior agilidade no trânsito de informações e transparência no desenvolvimento das

ações. Além disso, a comunicação entre as diversas instâncias se dá em tempo real.

Do ponto de vista administrativo, desde o início, os CREDE eram

vinculados à Coordenadoria de Articulação e Gestão Educacional, mas no decorrer

dos anos tiveram sua dimensão política bastante fortalecida, com uma ligação direta

com o Gabinete do Secretário. Tal fato pode estar associado à opção realizada pelo

Estado do Ceará de agilizar, em tempo recorde, o processo de municipalização do

Ensino Fundamental a partir da Lei do FUNDEF, fato que demandou e ainda

demanda articulações políticas com as Prefeituras no sentido de ordenar o processo

de transferência de alunos da rede estadual para a municipal. Esse processo contou

com a ativa participação dos CREDE’S, principalmente porque exigiu uma intensa

colaboração do Estado em dois aspectos: cessão de prédios e professores.

(b) Seleção pública para os diretores dos CREDE

Em 1996, acontece a 1ª seleção pública para diretores de CREDE, o que

implicava uma mudança substancial no perfil dos gestores dos órgãos regionais,

uma vez que de “Delegados e DERE” indicados por critérios político-partidários os

CREDE’S passam a ter em sua gerência, educadores selecionados publicamente

através de prova escrita, análise de títulos e entrevistas, dentro de exigências

técnicas para o desenvolvimento de novas competências gestoras como liderança,

poder de articulação e mobilização e visão sistêmica.

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A seleção pública foi desenvolvida pela Universidade Estadual do Ceará e

culminou com a classificação de 63 (sessenta e três) candidatos, sendo destes

indicados os 21 (vinte e um) Diretores dos CREDE’S.

c) Seleção e eleição dos diretores de escolas:

O Ceará compreendeu que este processo de diretor era decisivo para o

processo de efetivação da gestão democrática na escola, razão pela qual aprovou a

legislação (lei n° 12.442, de 08/05/1995), introduzindo esta modalidade de acesso à

direção de escola. O processo de seleção ao cargo de diretor foi e continua sendo

um marco na gestão das escolas públicas cearenses.

Entre outras determinações, a legislação estabeleceu que, a escolha da

direção escolar passaria por duas etapas: a primeira de avaliação da competência

técnica dos candidatos, com prova escrita e exame de títulos; e a segunda

consistindo na eleição direta pela comunidade escolar.

Quanto à eleição, a legislação estabeleceu que aconteceria por voto

direto e secreto, proibindo o voto por representação. Determinou ainda, a

proporcionalidade dos votos na definição do resultado final: "50% (cinqüenta por

cento) dos votos para o segmento pais/alunos e 50% (cinqüenta por cento) para o

segmento professores/servidores" (Lei Nº12861, de 18/11/98).

Seria eleito para o mandato de três anos, o candidato ou candidata que

obtivesse 50% (cinqüenta por cento) mais um dos votos válidos.

O processo de seleção e eleição direta para diretores escolares

representava, assim, um claro divisor de águas na gestão das escolas cearenses,

pois significou a superação da indicação de diretores como mecanismo de

intervenção político-partidário na vida escolar. É necessário ressaltar que a

experiência de eleger, diretamente, seus gestores escolares, demonstra a

importância da comunidade participar, continuamente, das atividades realizadas na

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escola, desde as pedagógicas até as de cunho administrativo-financeiro,

acompanhando o Projeto Pedagógico da escola.

Assim sendo, o Ceará é um dos cinco estados brasileiros que vem

construindo e consolidando uma experiência de eleição direta após cumprimento de

provas de seleção técnica. Instituído em 1995 e aperfeiçoado ao longo dos anos, o

processo seletivo já foi realizado quatro vezes (1995, 1998, 2001 e 2004). Este

percurso pode ser examinado no breve resumo apresentado no quadro abaixo, onde

se mostra a legislação e os destaques da matéria em relação a cada um de seus

momentos.

QUADRO Nº 1: ELEIÇÃO DE DIRETORES NO CEARÁ

1995 Seleção pública de diretores de escolas, seguida de escolha pela comunidade

escolar, com mandato de 3 anos (Lei Nº. 12.442, de 08/05/95).

1998 Seleção pública de dirigentes escolares (Lei Nº. 12.861, de 18/11/98): Diretor,

Coordenador Pedagógico, Coordenador Administrativo-financeiro, Coordenador

de Articulação Comunitária e Secretário Escolar.

Eleição secreta e direta, com sufrágio universal junto à comunidade escolar,

destinada apenas ao candidato a Diretor, que pode retomar ao cargo uma vez

consecutiva ou duas alternadas.

O pleito passa a ser organizado pelo Conselho Escolar.

2001 Realização de novo processo seletivo para a escolha de dirigentes escolares nos

mesmos moldes da seleção de 1998 I (Lei Nº. 12.861, de 18/11/98).

2004 Manutenção e aperfeiçoamento do processo. O mandato de dirigentes escolares

passa a ser de 4 anos, introduzindo-se avaliação de desempenho anual do

Diretor e demais membros do Núcleo Gestor (Lei Nº. 13.513, de 19/07/2004 e

Decreto Nº. 27.556, de 13/09/2004).

F0NTE: CARTILHA NOVOS PARADIGMAS DA GESTÃO ESCOLAR: EDIÇÕES SEDUC, 2005, P.22.

Antes do segundo processo seletivo (1998), a Secretaria de Educação

Básica do Estado do Ceará (SEDUC) realizou um estudo sobre o impacto das

eleições de 1995 sobre a gestão escolar. O trabalho consistiu numa pesquisa

qualitativa, envolvendo 13(treze) pesquisadores que realizaram 240 (duzentos e

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quarenta) entrevistas numa amostra de 30(trinta) escolas em 5(cinco) regiões do

Estado (Fortaleza, Maracanaú, Sobral, Quixadá e Crato). A síntese dessa pesquisa

foi publicada posteriormente sob a forma de livro, com o título: Eleição de diretores-

o que mudou na escola?(SEDUC, 2001).

De uma maneira geral, as constatações da pesquisa que sintetizaram os

impactos das eleições de diretores sobre a comunidade escolar apontaram alguns

pontos positivos com relação às novas práticas que surgiram no bojo das eleições

de diretores como elevação da auto-estima da comunidade escolar, legitimação da

figura do diretor pela comunidade, maior acompanhamento da gestão da escola por

parte da comunidade e surgimento de novas competências gerenciais por parte da

liderança escolar como comunicabilidade, transparência, liderança de massa, poder

de argumentação, firmeza e ação empreendedora.

A pesquisa apontou também que em algumas escolas o processo eleitoral

provocou rupturas significativas, não sendo a renovação de quadros e práticas

asseguradas pelas eleições. Notou-se ainda que o fato de se ter um(a) diretor(a)

eleito(a) não instituiu por si práticas coletivas, evidenciando que a gestão

democrática é processo em construção.

Como o estudo de 1998 apontou, nos sistemas educacionais, que hoje

convivem com diretores eleitos, há um processo de vida em construção que, embora

muito lentamente, imprime novos rumos à cultura escolar, descortinando novos

paradigmas para a melhoria da qualidade da educação (SEDUC, 2001,p.31).

d) Formação dos núcleos gestores escolares:

Em 1998, com a lei 12.861, de 12/11/1998, o cargo de "Diretor Adjunto

dos Estabelecimentos Oficiais de Ensino Público Estadual" - passa a ser

denominado "Coordenador dos Estabelecimentos Oficiais de Ensino Público

Estadual". Desse modo, o Núcleo passa a ser formado pelas coordenações a seguir,

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que são classificadas pelos níveis das escolas (A, B e C relativos ao número de

alunos). A saber:

- Nível A (Acima de 1500 alunos): Diretor, Coordenador Pedagógico, Coordenador Escolar (Administrativo-Financeiro), Coordenador Escolar (Gestão) e Secretário;- Nível B (De 800 até 1500 alunos): Diretor, Coordenador Pedagógico, Coordenador Escolar (Administrativo-Financeiro), Coordenador Escolar (Gestão) e Secretário;- Nível C (Menos de 800 alunos): Diretor, Coordenador pedagógico e Secretário (Diretrizes SEDUC,1998: pág 4).

A instituição oficial de núcleos gestores à frente das escolas cearenses

representou a ruptura da linearidade e hierarquização na composição da gestão

escolar e promoveu a implantação de um novo modelo, contemplando a

circularidade, a representatividade e a participação das lideranças formais das

escolas. A partir da criação dos Núcleos Gestores, as decisões nos processos

escolares passaram a ser tomadas por estes, em discussão e consonância com o

Conselho Escolar.

O núcleo gestor da escola representava, em sua própria configuração, a

concepção de uma gestão que se alimentava da participação de todos e que

institucionalizava esta participação.

Com a criação dos núcleos gestores, a SEDUC promove avanços em sua

política de democratização da gestão através de um modelo de decisões

compartilhadas que quebrou com o paradigma da concepção autocrática de gestão.

A comunidade escolar voltava-se assim para uma equipe de gestores,

que com olhares específicos para as diferentes dimensões da gestão buscavam a

tão desejada efetiva qualidade do ensino na escola pública.

Os núcleos gestores tinham como principais competências: coordenar a

elaboração e execução dos elementos constitutivos da identidade da escola: Projeto

Político-Pedagógico - PPP, Plano de Desenvolvimento da Escola-PDE e Regimento

Escola; promover a gestão de pessoal e de recursos materiais e financeiros;

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assegurar o cumprimento do calendário letivo; orientar as ações pedagógicas;

incentivar a formação continuada dos professores; desenvolver mecanismos para a

superação das dificuldades de aprendizagem dos alunos e estabelecer articulação

entre escola e família.

e) Criação dos Conselhos Escolares

A gestão escolar, assumida de forma democrática, tem o

gerenciamento pedagógico e administrativo-financeiro feito com a participação

efetiva e organizada de todos os segmentos da comunidade escolar. Essa

participação democrática foi garantida pelo estado do Ceará através da

implantação de Conselhos Escolares em todas as suas unidades de ensino.

O Conselho Escolar é o órgão colegiado constituído por pais, alunos,

professores, funcionários, direção e representantes da sociedade civil organizada,

escolhidos para representar a comunidade escolar e promover uma prática

educativa democrática em função da melhoria na qualidade e desempenho da

escola.

Em 1998, o Conselho Escolar desempenhou um papel fundamental

durante a eleição dos diretores, mobilizando alunos, pais, professores e

funcionários, coordenando o processo de discussão entre os candidatos e a

comunidade escolar em torno do PDE, organizando todo o trabalho de votação,

enfim, promovendo uma prática educativa democrática em busca de uma melhoria

na qualidade e desempenho da escola.

Dentre suas competências básicas o Conselho tinha a coordenação do

processo de elaboração do Regimento Escolar, do Plano de Desenvolvimento da

Escola e da definição de prioridades de aplicação de recursos

financeiros,acompanhar o cotidiano da escola,avaliando os resultados

educacionais, divulgar junto à comunidade os resultados escolares e definir

formação para os integrantes do próprio Conselho.

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Em 2001, a política educacional cearense entra em uma nova fase, tendo

como ponto de partida a escola, o seu projeto pedagógico e o seu plano de

desenvolvimento institucional. A proposta se baseou, novamente, em uma ampla

mobilização da sociedade para a discussão da escola que se tinha e da escola que

se queria. Este movimento social em torno da educação veio a se chamar Escola do

Novo Milênio, numa evidente alusão às mudanças educacionais pretendidas para o

início do novo século. Este movimento procurou gerar consensos dentro de um

modelo de planejamento participativo gerado desde a escola, como unidade básica

de planejamento, até o governo do estado, passando pelas comunidades e

municípios.

A focalização na escola, anunciada com a mobilização iniciada em 1995,

tomou contornos mais visíveis, com a abertura da escola ao planejamento pela

comunidade dentro do processo Escola do Novo Milênio. Essa abertura permitiu que

a comunidade percebesse que havia muito o que fazer para promover uma mudança

qualitativa nas escolas públicas cearenses.

É verdade que muito se fez a partir de 1995, os dados estão aí para

mostrar e comprovar. Hoje, o Ceará apresenta-se como destaque nacional e

internacional pelo projeto educativo desenvolvido sob o lema “Todos pela Educação

de Qualidade para Todos”.

Utilizando uma expressão freqüente nos documentos de governo do

período, há expressivas “conquistas” e “desafios” na caminhada cearense. Isto

significa dizer que, se algo foi feito, muito mais há por fazer.Aqui parece oportuno,

reafirmar mais uma vez a contribuição de Haguette, quando diz:

Se o Estado e os Munícipios do Ceará vêm experimentando um progresso inegável em termos da universalização da matrícula das crianças e dos adolescentes entre 5 e 19 anos, com uma leve elevação da qualidade do rendimento escolar, muito resta a fazer, o que exigirá, nos próximos anos, um grande esforço de colaboração e organização racional dos sistemas

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educacionais, rumo à rede única de escola pública de qualidade (1999,p.41).

Neste ponto, iremos abordar a implementação de Conselhos nas escolas

cearenses com a concepção de que os mesmos funcionassem como fortes

mecanismos de democratização da gestão escolar.

3.2. Conselhos escolares como estratégia de democratização da gestão escolar

Os conselhos de educação situam-se como órgãos de deliberação

coletiva na estrutura de gestão dos sistemas de ensino. Na verdade eles

precederam a organização dos sistemas de ensino como concebidos hoje.

Cury procura explicitar o conceito de conselhos a partir da origem

etimológica do termo, acrescida da conotação histórica:

Conselho vem do latim CONSILIUM. Consilium provém do verbo consulo/consulere, significando tanto ouvir alguém quanto submeter algo a uma deliberação de alguém, após uma ponderação refletida, prudente e de bom-senso. Trata-se, pois, de um verbo cujos significados postulam a via de mão dupla: ouvir e ser ouvido.Obviamente a recíproca audição se compõe com o ver e ser visto e, assim sendo, quando um Conselho participa dos destinos de uma sociedade ou de partes destes, o próprio verbo consulere já contém um princípio de publicidade (CURY, 2000, p.47).

Um conselho constitui uma assembléia de pessoas, de natureza pública,

para aconselhar, dar parecer, deliberar sobre questões de interesse público, em

sentido amplo ou restrito. Os conselhos, desde suas origens mais remotas,

constituíam formas de deliberação coletiva, representando a pluralidade das vozes

do grupo social, inicialmente por meio de assembléias legitimadas pela tradição e

costumes e, mais adiante, por normas escritas sobre os assuntos de interesse do

Estado.

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Encontramos antecedentes para os Conselhos de Escola na experiência

dos conselhos de fábrica, na experiência autogestionária dos movimentos

socializantes do inicio do século XX na Rússia, Itália, Alemanha e outros, que

situavam o poder de decisão nas corporações que o constituíam. Nesse sentido, O

Conselho de Escola nasceu com um significado autogestionário, o que,em tese,

pode expressar melhor a gestão democrática.

Alguns princípios, fundamentais ao funcionamento dos conselhos,estavam

presentes desde suas origens: o caráter público, a voz plural representativa da

comunidade, a deliberação coletiva, a defesa dos interesses da cidadania e o

sentido do pertencimento.

Os Conselhos Escolares foram concebidos pela atual legislação brasileira

como uma das estratégias de gestão democrática da escola pública, tendo como

pressuposto o exercício de poder, pela participação, das “ comunidades escolar e

local” ( LDB, art.14). Assim, sua atribuição é deliberar, nos casos de sua

competência, e “ aconselhar” os gestores escolares, no que julgar prudente, sobre

as ações a empreender e os meios a utilizar para o alcance dos fins da escola.

O Conselho existe para dizer aos gestores escolares o que a comunidade

quer da escola e, no âmbito de sua competência, o que deve ser feito. É bom

salientar que, o Conselho não deve falar pelos gestores da escola, mas sim, a estes,

em nome da comunidade( escolar e local), e para tanto, precisa contemplar

diferentes pontos de vista, precisa representar a diversidade e a pluralidade das

vozes dessa comunidade.

O autor Leonardo Boff lembra-nos que um ponto de vista é apenas a vista

desde um ponto, partindo desse pensamento a visão do Conselho requer a vista dos

diferentes pontos como da direção,dos professores, dos funcionários, dos pais, dos

estudantes e de outros atores sociais que fazem parte da escola. O Conselho assim

construído, torna-se a voz e o voto dos diferentes atores da escola desde os

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diferentes pontos de vista, deliberando sobre o fazer e o executar do projeto político-

pedagógico.

Conselho e escola não são entidades distintas, mas integram uma única

institucionalidade. Assim, o Conselho Escolar não deve atuar de forma

complementar ou de superestrutura à gestão formal instituída na escola, pelo

contrário, deve se inserir na institucionalidade e na própria estrutura de poder da

escola. O poder de decisão, situado na estrutura institucional, constitui a essência do

próprio princípio da autonomia escolar, consagrado no art. 15 da LDB Nº 9.394/96.

A institucionalidade da escola, para a conquista de sua autonomia,

precisa ser reforçada, situando as estratégias de gestão democrática no interior, no

âmago de sua estrutura de poder. Ação democrática é exercício de poder, de

autocriação, de autogestão, assim o cerne da gestão democrática na escola é o

próprio espaço da autonomia escolar. Gestão democrática que se constrói no

cotidiano da escola, instituída pela vontade, pelos valores e objetivos coletivos.

A valorização dos Conselhos como estratégia de gestão democrática traz

implícita a relevância de sua função mobilizadora, função esta que por sua vez, se

fundamenta no princípio de pertencimento do bem público à cidadania.

Os Conselhos Escolares como órgãos colegiados representam as

comunidades escolar e local, atuando em conjunto e definindo caminhos para tomar

as deliberações que são de sua responsabilidade. Configuram-se, assim,em espaço

de discussão, participação,negociação e encaminhamento das demandas escolares,

promovendo de uma forma concreta a gestão democrática, por isso é fundamental

que o Conselho congregue em si a síntese do significado social da escola.

Como instâncias de participação, os Conselhos Escolares buscam

substituir a cultura centralizadora e patrimonialista pela cultura democrática e cidadã,

permitindo a definição dos rumos e das prioridades das escolas numa perspectiva

emancipadora que considera os interesses e as necessidades da comunidade.

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Como instância máxima de deliberação na escola, os Conselhos têm a

atribuição de discutir, definir e acompanhar o desenvolvimento do Projeto Político –

Pedagógico. Viabilizam a prática educativa voltada para a melhoria da qualidade da

educação, do ensino e do desempenho da escola, atuando em nível macropolítico

quando estuda a realidade da comunidade e da escola, identificando seus

problemas e potencialidades e atua no nível micropolítico quando fixa normas para

seu próprio funcionamento e acompanha o Núcleo Gestor no desempenho de suas

funções. No estado do Ceará os conselhos escolares foram criados em 1995 e

tiveram em sua concepção as incumbências nas dimensões:

• Deliberativa: refere-se à tomada de decisões quanto ao direcionamento das

Ações Pedagógicas, de Gestão e Administrativo-Financeiras. Podemos citar

como exemplos de deliberações do Conselho as que versam sobre : regimento

interno;avaliação do Plano Anual da escola; programas especiais; projetos a

serem aplicados na escola; criar canais de participação dos diversos setores da

unidade escolar; reuniões e assembléias gerais dos

• Consultiva: refere-se à emissão de pareceres para segmentos da unidade

escolar; integração escola-família-comunidade; atividades extraclasses que

visem um maior aprimoramento ao educando; aplicação de penalidades

disciplinares aos funcionários, servidores e alunos; organização e funcionamento

da escola; atendimento e acomodação da demanda por vagas; utilização do

espaço físico da escola; projetos e ações dos segmentos que atuam na

escola.esclarecer dúvidas sobre situações decorrentes das Ações Pedagógicas,

de Gestão, Administrativo-Financeiros bem como sobre a proposição de

alternativas de solução e procedimentos para a melhoria da qualidade do

trabalho escolar, sempre respeitando a legislação em vigor.

• Normativa: refere-se ao estabelecimento de normas para direcionar as Ações

Pedagógicas, de Gestão e Administrativo-Financeira.

• Fiscalizadora: refere-se ao acompanhamento sistemático e ao controle das

Ações Pedagógicas, de Gestão e Administrativo-Financeiras.

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• Avaliativa: refere-se à avaliação de desempenho dos profissionais da educação,

bem como às Ações Pedagógicas, de Gestão e Administrativo-Financeiras.

Nessa dimensão compete ao Conselho verificar o cumprimento das

determinações legais contidas no Regimento Escolar, bem como o cumprimento

das determinações e orientações pedagógicas, administrativas e financeiras do

sistema educacional.

• Executiva: refere-se à execução dos planos, programas, projetos e

regimento interno elaborados coletivamente pela comunidade escolar,

como Plano de Desenvolvimento da Escola-PDE, Projeto Político

Pedagógico-PPP, Regimento Escolar-RE. O conselho Escolar executa

as ações, juntamente com o núcleo gestor.

A composição básica do Conselho Escolar nas escolas cearenses é de

seis membros, contando com representante de cada um dos segmentos como

professores, funcionários, alunos, pais e comunitários. O diretor da escola é membro

nato. O processo de escolha se dá por segmento, escolhidos em assembléias que

elegem tanto membros titulares como suplentes, garantindo os princípios da

proporcionalidade e da transparência.

A escolha dos membros dos Conselhos Escolares pauta-se pela

possibilidade de efetiva participação: o importante é a representatividade, a

disponibilidade e o compromisso, o saber ouvir e dialogar, assumindo a

responsabilidade de acatar e representar as decisões da maioria.

Dentre os membros do Conselho, são eleitos, basicamente, para sua

coordenação: um presidente e um secretário. Cabendo ao presidente representar o

Conselho perante as instituições públicas e privadas, convocar e presidir as reuniões

e articular-se com o Núcleo Gestor da escola no sentido de encaminhar as ações.

Quanto ao secretário compete lavrar as atas de reuniões, receber e encaminhar ao

presidente documentos necessários, bem como controlar a freqüência dos membros

do Conselho.

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Os Conselhos se reúnem com periodicidade e devem sempre manter

reuniões por segmentos, a fim de que sejam tomadas as decisões realmente com a

participação de todos, representantes e representados.

Como vimos no acima exposto, o conselho na estrutura da escola

cearense se reveste como instância onde a comunidade pode controlar a qualidade

do serviço prestado pelo sistema, definindo e acompanhando a educação que lhe é

oferecida. É o caminho para a construção de uma escola qualitativa e equânime que

integra ao seu projeto as necessidades e anseios da comunidade a qual ela serve.

No âmbito da Política Todos Pela Educação de Qualidade Para Todos

(1995-2002), o Ceará investiu no Conselho Escolar, entendendo-o como um

processo favorável à gestão escolar participativa, de fomento à dimensão da eleição

do diretor, benéfico à divisão social do trabalho na escola e, sobretudo, como

essencial para a transparência e socialização do processo de destinação dos

recursos financeiros pela unidade escolar.

Em suma, conforme documentos emanados da SEDUC:

É grande a importância dos Conselhos Escolares para a democratização do cotidiano escolar e por isso suas atividades devem sempre ser referenciadas pelas demandas da comunidade e pela realidade da escola, primando, acima de tudo, pelo exercício de sua própria autonomia.(SEDUC, 2005)

A seguir apresentaremos o primeiro Censo dos Conselhos Escolares,

realizado pela Secretaria da Educação do Estado- SEDUC, com o objetivo de

apresentar não só um retrato desses organismos colegiados, mas sobretudo de

subsidiar reflexões sobre a caminhada percorrida pelos Conselhos das escolas no

Ceará.

3.3. Caracterização dos Conselhos Escolares no Estado do Ceará: um primeiro balanço

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Em 2003, a Secretaria de Educação do Estado-SEDUC realizou o Censo

dos Conselhos Escolares das escolas estaduais, com o objetivo de identificar o perfil

dos componentes deste colegiado, envolvendo 7.539 conselheiros. Observe os

resultados coletados apresentados nos quadros abaixo:

Quadro Nº. 2 - Distribuição dos Conselheiros

Fonte: Livro: Gestão escolar e qualidade da educação -SEDUC,2005

Os dados mostraram que na composição dos Conselhos Escolares

predominava a participação dos professores e que a participação das mulheres era

significativamente maior que a dos homens. Quanto à faixa-etária dos conselheiros,

o censo mostrou que se encontravam entre 40 e 49 anos, apresentando

predominância de escolaridade em nível superior. Veja abaixo:

Quadro nº. 3 - Idades dos Conselheiros

Fonte: Idem

Quadro Nº. 4-Escolaridade dos Conselheiros

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Fonte: Idem

No que concerne à participação no Conselho, 65% dos respondentes

informaram estar no primeiro mandato, o que demonstrou uma expressiva

renovação das representações em todos os segmentos.

Os entrevistados, em sua grande maioria, responderam que participavam

do Conselho por se interessarem pela vida escolar e pela qualidade do ensino,

conforme demonstrado a seguir:

Quadro Nº. 5- Motivos da participação dos conselheiros

Fonte: Idem

No que tange à ocupação dos representantes dos Conselhos, 57% dos

entrevistados revelaram ocupação em cargos públicos (professores, funcionários, e

gestores) seguidos de 15% de pessoas que trabalham sem vínculo empregatício.

Chama a atenção o percentual de 5% representando os profissionais liberais, o que

leva a demonstrar a pouca participação da classe média na escola pública.

Conforme aponta o quadro abaixo:

Quadro Nº. 6 - Ocupação dos Conselheiros

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Fonte: Idem

Os dados coletados apontaram ainda que nas reuniões dos Conselhos,

prevaleciam às questões de natureza administrativa como discussão dos recursos

financeiros, e manutenção das escolas em detrimento das questões referentes à

atuação dos professores e rendimento dos alunos. Veja o quadro abaixo:

Quadro Nº. 7-Temáticas discutidas pelos Conselhos

Fonte: Idem

Com base na análise do Censo, a SEDUC destacou que a composição

dos Conselhos Escolares precisava ser mais aberta, permitindo uma maior

participação de atores externos à comunidade escolar, e que a predominância de

professores como presidentes nos Conselhos poderia legitimar o poder nas mãos

dos agentes internos e funcionar como impeditivo para processos mais

democráticos, transparentes e participativos. Outro aspecto observado é que os

Conselhos não estavam atuando de forma focada na qualidade dos serviços

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educacionais, nem nos resultados da aprendizagem dos alunos, mantendo ainda

sua atuação em procedimentos administrativos e financeiros, ou seja, na burocracia

institucional. Os Conselhos Escolares não apresentaram postura propositiva em

relação ao processo ensino-aprendizagem.

Ao focalizar o processo ensino-aprendizagem também como eixo de

atuação do trabalho do Conselho Escolar, entende-se que esse processo é uma

seta de mão dupla: de um lado, o professor que ensina e aprende, e de outro, o

estudante que aprende e ensina, num processo dialético. Portanto, cabe ao

Conselho uma ação avaliativa e mediadora que considere especialmente os

segmentos que participam desse processo, ou seja, estudante e professor.

Na ação avaliativa do processo de ensino-aprendizagem na escola, o

Conselho Escolar deve considerar, além do “produto” expresso nas notas/menções

dos estudantes, o “processo” no qual se deu a aprendizagem, revelado nas

condições da escola e na ação do professor, entre outros. E assim, tendo esse

panorama global do processo educativo, o Conselho pode auxiliar a escola na

efetivação de seu compromisso de propiciar o desenvolvimento de conhecimentos,

habilidades e atitudes, que são indispensáveis para a formação de cidadãos

conscientes, críticos, participativos e preparados para viverem plenamente na

sociedade.

No capítulo seguinte pretendemos apresentar a estruturação de nossa

pesquisa, bem como os procedimentos metodológicos adotados.

4. O FOCO DA PERSPECTIVA DE INVESTIGAÇÃO: ESTRUTURAÇÃO E METODOLOGIA DA PESQUISA

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A investigação delineada neste trabalho caracteriza-se como Pesquisa de

Campo de cunho quantitativo-descritivo, tendo em vista o modelo dialético de

análise, em que procuramos apreender as perspectivas dos diferentes atores

escolares acerca do objeto de estudo da pesquisa o papel do Conselho da Escola para a democratização da gestão, como também descrever e analisar essas

perspectivas procurando contextualizá-las com a realidade social global e seus

aspectos econômics, culturais, políticos, educacionais, entre outros.

A opção pela Pesquisa de Campo deveu-se às características que esse

tipo de investigação apresenta como observação de fatos e fenômenos tais como

ocorrem espontaneamente e a possibilidade de coletar informações sobre o objeto

pesquisado que também podem ser analisadas por outros pesquisadores, com

objetivos diferentes.

Os dados a serem coletados e analisados dizem respeito às contribuições

do Conselho Escolar para a democratização da gestão: quais as principais

dificuldades enfrentadas e elementos favoráveis, a partir da opinião de professores,

gestores,funcionários, pais e alunos.

Assim sendo, a pergunta de partida deste estudo é:

• Como a atuação do Conselho Escolar contribui para a democratização

da gestão?

Para melhor entendimento, essa pergunta considerada fundante foi

detalhada nos seguintes questionamentos:

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• Que posturas assumem os atores escolares, diante da atuação do Conselho da

Escola? Será no Conselho que os problemas da escola estão sendo discutidos e

as reivindicações educativas analisadas? O Conselho Escolar propõe soluções?

• O que pensam os membros da comunidade escolar frente à essa nova

institucionalidade de gestão escolar pautada na figura do Conselho?E o que

dizem sobre o funcionamento do Conselho Escolar?

• O que dizem os representantes dos segmentos escolares sobre a participação da

comunidade na escola, com base na atuação do Conselho Escolar?

• O que pensam os membros do Conselho sobre a participação dos diferentes

segmentos escolares? O Conselho elabora, aprova e acompanha a execução do

Projeto Político- Pedagógico da Escola? O Conselho participa das definições

orçamentárias da escola?

• Que experiências estão sendo bem-sucedidas e que lições podem ser tiradas

dessas experiências e das reações detectadas na pesquisa, para

aperfeiçoamento da Política de Gestão Democrática no estado do Ceará, tendo

os Conselhos Escolares como mecanismos de participação da comunidade na

escola?

Por conseguinte, o Objetivo Geral deste estudo é:

• Investigar o papel do Conselho Escolar para a democratização da gestão, no

âmbito do contexto da Política de Gestão Democrática implantada nas escolas

públicas da rede estadual de ensino do Ceará.

E são Objetivos Específicos:

• Caracterizar as visões e sentimentos em relação à Política de Gestão

Democrática, por parte dos gestores, professores, funcionários, pais e alunos.

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• Analisar a atuação dos Conselhos Escolares nas escolas selecionadas.

• Identificar na gestão das escolas as experiências bem sucedidas, envolvendo

a atuação dos Conselhos Escolares.

Vale salientar que o presente estudo está ainda referenciado em

hipóteses, considerando fatores, como os atores envolvidos e a maior ou menor

receptividade à Política de Gestão Democrática.

4.1. As hipóteses de trabalho

A partir do nosso conhecimento sobre o funcionamento da gestão das

escolas públicas estaduais, definimos alguns pressupostos norteadores da busca da

informação no âmbito das unidades escolhidas como campo da pesquisa.

Assim, são estas as hipóteses levantadas:

a) A atuação do Conselho Escolar é mais consistente quando a

comunidade escolar, através de seus representantes, é mais receptiva

à Política de Gestão Democrática.

b) O Conselho Escolar atuante envolve a comunidade em todas as

decisões importantes tomadas pela escola.

c) A atuação do Conselho envolve a decisão do tipo de educação a ser

desenvolvida na escola para torná-la uma prática democrática

comprometida com a qualidade socialmente referenciada.

d) A fraca atuação do Conselho Escolar dificulta a circulação das

informações de maneira rápida e precisa entre pais, professores, demais

profissionais da escola, alunos e outros membros da comunidade escolar.

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e) A comunidade escolar considera o Conselho um espaço onde pode

discutir e negociar encaminhamentos relativos ao andamento da escola.

f) A atuação do Conselho favorece o estabelecimento de parcerias entre a

escola e outras instituições para o financiamento de projetos ou para o

desenvolvimento de ações conjuntas.

4.2. A metodologia: passo a passo

Pela natureza do objeto de estudo, decidimos realizar uma pesquisa de

base quantitativo-descritiva, de modo às pessoas, envolvidas com a temática,

fossem ouvidas e externassem seus pensamentos, sentimentos e saberes.

Trata-se, portanto, de uma análise acerca do papel do Conselho como

estratégia de democratização da gestão na Escola, reunindo o posicionamento dos

entrevistados e as observações feitas em duas escolas.

Inicialmente, como arcabouço teórico, procuramos aprofundar o

conhecimento sobre: O cenário nacional e estadual de democratização da gestão

educacional no que concerne às lutas sociais pelos direitos humanos e da

institucionalização da educação rumo ao atendimento dos princípios fundamentais

da cidadania e da participação, bem como discutindo os conceitos e as formas de

participação da comunidade na escola, sem, no entanto, deixar de envolver a

fundamentação legal concernente à Política de Gestão Democrática .

De forma mais acentuada nos detivemos na análise da Política Estadual

de Gestão Democrática “Todos pela Educação de Qualidade para Todos”,

implantada em 1995, enfocando a democratização da gestão no cotidiano da escola,

apresentando o contexto legal que oferece suporte à criação dos conselhos

escolares, além de analisar a evolução dos próprios conselhos, passando pelo papel

e funções desempenhados pelos conselhos das escolas com vistas ao

enfrentamento do desafio da qualidade do ensino e da aprendizagem.

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Quanto à pesquisa de campo, foram envolvidos:

• Professores, enquanto representantes e representados no Conselho Escolar;

• integrantes dos núcleos gestores das escolas;

• funcionários, enquanto representantes e representados, no Conselho Escolar;

• alunos e pais, enquanto representantes e representados, no Conselho Escolar;

• integrantes da comunidade do entorno das escolas participantes, representantes

de associações comunitárias.

Na coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos e

procedimentos:

• questionários, com o objetivo de avaliar o grau de adequação das variáveis para

responder às hipóteses de estudo, configurando as denominadas entrevistas

estruturadas. Os referidos questionários preservaram o anonimato dos

respondentes e buscaram descer a detalhes que favorecessem explorar melhor a

temática do estudo em tela.

• entrevistas não estruturadas, com o objetivo de colher impressões, sentimentos

acerca da atuação do Conselho na Escola, e assim ter um canal mais livre para

apreensão das falas dos pesquisados;

• observação simples nas escolas, procurando apreender as ações e as relações

que dizem respeito aos Conselhos Escolares.

E ainda para que este trabalho contasse com elementos claros de

análise, foram estabelecidas as seguintes variáveis e correlações:

a) Postura e conhecimento dos agentes escolares:

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• Nível de receptividade e de conhecimento dos agentes escolares em relação à

Política de Gestão Democrática.

• Grau de influência das expectativas positivas dos agentes escolares junto á

atuação do Conselho Escolar.

• Grau de influência do temor dos agentes escolares pela atuação do Conselho

Escolar.

a) Participação da comunidade do entorno da escola:

• Grau de mobilização e participação da comunidade na gestão da escola.

• Nível de conhecimento e de credibilidade da comunidade em relação ao papel do

Conselho Escolar.

• Grau de influência e de credibilidade da comunidade nas ações escolares, e, em

especial, naquelas que envolvem o Conselho Escolar.

No tocante à área de abrangência da pesquisa, decidimos pela aplicação

de questionários em 02(duas) escolas da rede estadual de ensino, localizadas em

Fortaleza e selecionadas, de forma “ aleatória”, levando em consideração dois

aspectos “ relevantes” para o nosso processo de investigação: a apresentação, por

parte dessas,conforme informações da própria SEDUC, de um projeto de gestão

mais continuado ,e ainda o posicionamento geográfico em relação a menor e maior

proximidade com o centro da cidade, buscando contemplar a heterogeneidade da

amostra, assim sendo, contemplamos uma escola da 4ª Região e outra da 5ª Região

administrativa da SEDUC.

No capítulo seguinte pretendemos apresentar os achados de nossa

pesquisa junto à amostra dos conselhos escolares da Rede Pública Estadual de

Ensino, representada por 02(duas) escolas, localizadas no município de Fortaleza.

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5. A REALIDADE SENTIDA, PERCEBIDA E VIVENCIADA

“Não há caminho novo, o que há de novo é o jeito de caminhar” Thiago de Mello

5.1 O universo pesquisado

O processo de Pesquisa, da aplicação e análise dos questionários à

conclusão das observações nas escolas, teve uma duração de 08(oito) meses- abril

a novembro de 2008.

Procuramos considerar as diferentes visões acerca da realidade

investigada e assim, através dos instrumentos de coleta de dados, procuramos ver e

ouvir as pessoas nos próprios ambientes onde ocorrem as suas relações com o

objeto da pesquisa, levantando percepções, sentimentos e saberes.

Antes, porém, de fazer a apresentação e análise dos dados levantados,

consideramos importante apresentar uma sucinta caracterização das escolas

selecionadas.

Ambas escolas foram criadas na década de setenta, por Decreto do

Governo do Estado, por força da universalização do ensino preconizada pela Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 5.692/71.Eram grupos escolares que se

transformaram em escolas de primeiro grau. Depois, em conseqüência da Lei Nº

9.394/96, passaram a denominar-se Escolas de Ensino Fundamental e Médio.

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As duas Escolas caracterizam-se como escolas Tipo B por possuírem

acima de 700 alunos e menos que 1500 e apresentam um quadro global em torno

de 80 funcionários.

O universo investigado abrangeu, no tocante a questionários aplicados e

respondidos por representantes e representados dos Conselhos Escolares de duas

escolas estaduais, perfazendo um total de 104 (cento e quatro entrevistados),

sendo, 52 (cinqüenta e dois) de cada escola, assim especificados: 03 (três)

professores; 03 ( três) alunos;03 (três)Pais ou Responsáveis por alunos; 03 (três)

funcionários; 01 (um) representante do Núcleo Gestor (diretor) e 01 (um)

representante da sociedade civil, enquanto Conselheiros Escolares. Como

representados, pertencentes aos diferentes segmentos escolares, aplicamos

questionário com 09 (nove) professores; 09 (nove) alunos; 09 (nove) Pais ou

Responsáveis por alunos; 09 (nove) funcionários e dois membros do Núcleo

Gestor(coordenador pedagógico e coordenador de gestão).

A escolha dos sujeitos procurou garantir a representatividade dos

diferentes segmentos que compõem o Conselho Escolar. A amostragem composta

por três representantes de cada segmento foi convencionada com o objetivo de se

atingir a representação de cada turno escolar. Quanto aos representados,

procuramos atingir o dobro de entrevistados da amostra de representantes, por

segmento e por turno. Não sendo esta proporção válida para os segmentos do

Núcleo Gestor e da Sociedade Civil, por constarem com apenas um representante

no Conselho.

A aplicação dos questionários aconteceu em horários diversificados,

procurando atender a disponibilidade dos sujeitos entrevistados. Valendo lembrar

que conforme mencionado anteriormente, além da aplicação de questionários,

procuramos vivenciar um pouco o ambiente das escolas que foram selecionadas

para a pesquisa, conversando,interagindo e entrevistando os agentes envolvidos e

assim buscando colher sentimentos e percepções em relação ao papel do Conselho

Escolar para se ter na Escola uma gestão mais democrática.

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70

Para efeitos de apresentação dos dados coletados na pesquisa de

campo, denominaremos Escola de Ensino Fundamental e Médio “Luz do Saber”

(denominação fictícia), a escola localizada na periferia de Fortaleza (5ª Região), e

daremos o nome fictício de Escola de Ensino Fundamental e Médio “Sociedade do

Conhecimento”, a situada na 4ª Região, ou seja em zona mais central da Capital.

Em cada uma delas, tivemos a oportunidade de observar o funcionamento do

Conselho Escolar, inclusive participando das reuniões coordenadas pelo mesmo.

A Escola “Luz do Saber” apresenta predominância de pré-adolescentes

e adolescentes e assim se percebe na escola um clima e uma dinamicidade próprios

de uma escola de jovens. No recreio escolar, em especial, percebe-se toda uma

movimentação de jovens alegres, que riem muito, que se aglomeram em pequenos

grupos, que brincam e que se comunicam de várias formas e com grande

intensidade. Não deu para perceber durante esse ritual do cotidiano escolar a

presença de Conselheiros, enquanto em ação do próprio Conselho.

O Conselho da Escola “Luz do Saber” apresenta-se constituído

conforme as orientações gerais da SEDUC, tendo em sua composição

representação de todos os segmentos escolares, eleitos em Assembléia Geral de

seus pares e da sociedade civil organizada, escolhida de comum acordo dentre as

entidades atuantes na área de abrangência da Unidade Escolar. Na presidência do

Conselho encontra-se um representante do segmento “Professor”. Vale salientar

ainda que o Conselho Escolar possui um Regimento Orgânico aprovado em

Assembléia Geral. Deu para se perceber uma boa interação entre Conselho e o

Núcleo Gestor da Escola, principalmente através da figura do Coordenador de

Gestão.

Na parte de infra-estrutura, a Escola “Luz do Saber” conta com

satisfatórias condições de funcionamento, dispondo de sala de informática,

biblioteca e sala de Leitura, sala de professores, laboratório de Ciências, quadra de

esporte, pátio coberto, cantina, sala do Grêmio Estudantil etc. Porém, em sua

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estrutura física não há espaço disponibilizado para o Conselho Escolar. As reuniões

do Conselho Escolar acontecem na biblioteca, ordinariamente, uma vez por mês.

Dentre os vários projetos desenvolvidos pela Escola “Luz do Saber”,

constatamos a participação efetiva do Conselho Escolar no Projeto da Farmácia

Viva, onde, mais especificamente consiste na manutenção de plantas medicinais

para uso da escola como da comunidade do seu entorno, e no “Projeto de Curso de

Informática para os Pais”, onde aos sábados os pais têm acesso ao aprendizado

acerca do uso das novas tecnologias, tendo como monitores os próprios alunos.

Nos horários regulares de aula, havia sempre alguns pais na Escola, mas

sendo abordados, não se constatava a presença deles enquanto Conselheiros, mas

sempre como colaboradores a pedido da “direção” da Escola. Embora nas

atividades comemorativas sempre se mencionasse a participação do Conselho e se

constatasse a representação do Presidente.

Quanto à Escola de Ensino Fundamental e Médio “Sociedade do

Conhecimento” constata-se uma excelente estrutura física, inclusive dispondo de

Centro de Apoio às crianças portadoras de necessidades especiais. Mas igualmente

a Escola anteriormente mencionada, não dispunha de espaço físico indicado para o

funcionamento do Conselho Escolar.

O Conselho da Escola “Sociedade do Conhecimento” é formado por 14

(catorze) membros, contando com a representação de todos os segmentos

escolares e da Sociedade Civil, eleitos de forma democrática. À frente do Conselho,

na condição de Presidente, também se encontrava uma professora da Escola, eleita

pelos Conselheiros em reunião própria para esse fim.

Diferentemente da primeira Escola citada, deu para perceber uma

atuação maior do Conselho nas rotinas da Escola, desde a identificação dos

Conselheiros nos momentos do Recreio Escolar, como nos momentos de se servir a

merenda Escolar. Dava para se identificar os Conselheiros, inclusive porque usavam

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crachás, bem como ao se falar com os mesmos estes se reportavam ao seu papel

no Conselho.

Os Conselheiros se reuniam ordinariamente, uma vez por mês, mas se

pode presenciar convocações extraordinárias e reuniões no final do expediente da

tarde para se tratar do andamento de Projetos e ainda do planejamento de eventos

comemorativos. O Conselho possuía um Estatuto para seu funcionamento.

Dentre os Projetos que contavam mais com a participação do Conselho,

destacamos as oficinas artísticas, esportivas e culturais para alunos e comunidade

nos finais de semana, formação de Pais em liderança cidadã, reciclagem de lixo,

empreendedorismo na escola (cursos profissionalizantes para pais e alunos),

Havia um sentimento de muita união e respeito entre o Conselho da

Escola e o Núcleo Gestor, inclusive se pode constatar que a direção da Escola fazia

questão de que o Conselho tivesse assento em todas as mesas decisórias acerca

dos processos escolares.

De uma forma em geral, nas duas Escolas deu para se observar que o

Conselho Escolar tinha um espaço de legitimidade junto aos membros da

comunidade escolar, embora se percebesse que nem sempre as pessoas tivessem

clareza do seu papel ou apontasse com precisão os resultados de suas ações e

intervenções. É necessário dizer que cada um dos Conselhos apresentados

apresentava-se como uma experiência histórica própria da Escola e de seu tempo

de maturação para vivência do processo de Gestão Democrática, confirmando-se

como espaço público de articulação entre o Estado e a Sociedade.

Vimos com grande satisfação que embora as Escolas visitadas

parecessem lentas na vivência da democracia nos processos de Gestão, elas não

conseguiam imaginar ser possível realizar esta vivência sem o exercício do

Conselho de Escola. Há um traço comum a unir os diferentes agentes escolares: a

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certeza da importância da Escola e de sua função social, para a construção de um

mundo melhor para todos.

É óbvio que numa sociedade marcada por históricos processos ditatoriais,

vivenciar a democracia parece por vezes muito difícil, mas a sensação obtida nas

duas escolas é que ambas se apresentaram para dar conta deste desafio, ambas,

cada uma com seu ritmo próprio, demonstraram estar tentando uma gestão mais

democrática e mais próxima de uma identificação com a comunidade a qual serve

diretamente. Não faltam, contudo, afirmações pessimistas como “ não adianta se

viver a democracia na Escola, se o que impera lá fora é o autoritarismo e relações

de poder extremamente injustas a ainda tendenciosas à concentração em grupos

minoritários que se perpetuam no poder.”

Após esses breves comentários de sentimentos e percepções observados

em relação ao universo pesquisado, podemos apresentar as informações coletadas.

Esta Pesquisa contou com um total de 104 pessoas entrevistadas, das

quais 28 (vinte e oito) do sexo masculino e 76 ( setenta e seis) do sexo feminino. O

que demonstra a predominância feminina no ambiente das escolas pesquisadas.

Apreciemos as tabelas e gráficos a seguir, contemplando a identificação dos

entrevistados por idade, nível de escolarização e, vínculo profissional.

TABELA 01DISTRIBUIÇÃO DOS PROFESSORES ENTREVISTADOS, SEGUNDO A IDADE

Nº de ORDEMFAIXAS DE IDADE

QUANTIDADE

ABS %01 De 13 a 19 anos 17 16,3

02 De 20 a 29 anos 22 21,2

03 De 30 a 39 anos 28 26,9

04 De 40 a 49 anos 29 27,9

05 De 50 a 59 anos 08 7,7

06 De 60 a 69 anos - -

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TOTAL 104 100,0

Fonte: Pesquisa Direta

Pelos dados constantes da tabela 01, verificamos uma freqüência maior

de entrevistados na faixa de idade de 40 a 49 anos (27,9%). Em seguida, vêm os de

30 a 39 anos, com 26,9%. .Porquanto, somados os integrantes dessas duas faixas

de idade (30 a 49 anos), temos 54,8 % do total de participantes da pesquisa.

Observa-se ainda uma proporção bem menor (7,7%) na faixa dos mais idosos

Podemos inferir que como do número de entrevistados somente 23%

pertencem ao segmento aluno, há predominância dos demais segmentos, os quais

se concentram em faixas etárias mais elevadas. Com destaque para professores,

funcionários e Pais ou Responsáveis por alunos,que somados constituem 69,2% da

amostra pesquisada. Conforme o Gráfico 01 abaixo apresentado:

Passemos à análise do nível de escolaridade dos entrevistados.

Entendemos ser importante estabelecer relações entre esses dois fatores (idade

cronológica e nível de Escolarização), como forma de melhor caracterização desse

grupo de entrevistados, em face de melhor poder analisar a representatividade dos

segmentos nos Conselhos. Vejamos, então, os dados constantes da Tabela 02, a

seguir.

GRAFICO 01Faixas de Idade

DE 13 A 19 ANOSDE 20 A 29 ANOSDE 30 A 39 ANOSDE 40 A 49 ANOSDE 50 A 59 ANOSDE 60 A 69 ANOS

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TABELA 2

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS, SEGUNDO O NÍVEL DE ESCOLARIZAÇÃO

Nº de ORDEMESCOLARIDADE QUANTIDADE

ABS %01 1º ao 5º Ano 13 12,5

02 6º ao 9º Ano 37 35,6

03 Médio 10 9,6

04 Superior 09 8,7

05 Especialização 24 23,0

06 Sem Escolarização 11 10,6

TOTAL 104 100,0 Fonte: Pesquisa Direta

O gráfico 2 mostra que o nível de Escolarização dos Entrevistados está

com maior incidência para o Ensino Fundamental completo (35,6%), o que

demonstra a força da representação de Pais e Alunos no Conselho Escolar. Vale

porém a análise que em segunda colocação encontramos 23% da amostra formada

por professores e gestores. No entanto, cabe a reflexão que ainda temos entre os

entrevistados o considerável percentual de 23,1% entre os de menor ou sem

escolaridade. O que possibilita inferir que a maior representatividade no Conselho,

levando-se em consideração representantes e representados, inversamente é a que

detém menor quantidade de anos na Escola.

1º ao 5º Ano

6º ao 9º Ano

Médio

Superior

Especialização

Sem Escolarização

TOTAL

0 20 40 60 80 100 120

GRAFICO 02NÍVEL DE ESCOLARIZAÇÃO

ABS %

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TABELA 3

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS,CONFORME O VÍNCULO FUNCIONAL

Nº de ORDEMVÍNCULO FUNCIONAL

QUANTIDADEABS %

01 Profissional Liberal 27 26,0

02 Funcionário Público 39 37,4

03 Empregado Setor Privado 21 20,2

04 Sem vínculo Efetivo 06 5,8

05 Outros 11 10,6

TOTAL 104 100,0 Fonte: Pesquisa Direta

Além dos Funcionários Públicos, prevalecem pessoas ligadas ao mercado

informal. Há também um percentual de 20,2% de pessoas ligadas ao Setor Privado,

o que pode expressar a participação dos terceirizados nas Escolas. Caso somemos

os profissionais liberais e outros, teremos um percentual de 36,6%, o que pode

demonstrar que no campo da representatividade ligada ao Conselho da Escola,

nesta amostra estão identificados os alunos, pais e comunidade, como mostra o

Gráfico 03 a seguir:

Gráfico 03DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS, CONFORME O VÍNCULO FUNCIONAL

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No tópico a seguir apresentamos os resultados da pesquisa mais

direcionados para estrutura e funcionamento dos Conselhos Escolares

5.2 – Aspectos referentes à estrutura e atuação do Conselho Escolar.

O primeiro aspecto ligado à qualidade de participação do Conselho na

Gestão da Escola trata sobre a clareza do próprio papel do Conselho por parte da

amostra entrevistada.

Os resultados desta coleta constam na Tabela a seguir.

TABELA 4

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS, CONFORME OPINIÃO SOBRE O PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR

Nº de ORDEMPAPEL DO CONSELHO

QUANTIDADEABS %

01 Ajudar a Direção da Escola no que ela precisar

36 34,6

02 Contribuir com a qualidade do Ensino 19 18,3

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03 Ser oposição à Direção 09 8,7

04 Colaborar nos eventos comemorativos 12 11,5

05 Executar os recursos financeiros da Escola

28 26,9

06 Outros - -

TOTAL 104 100,0 Fonte: Pesquisa Direta

Conforme podemos constatar, 34,6% dos entrevistados, afirmaram que o

Conselho Escolar é um apêndice da Direção, vindo em seguida o papel do Conselho

atribuído como específico para execução dos recursos financeiros (26,9%).

Assim, podemos constatar que realmente há uma tendência muito forte

de se burocratizar o espaço do Conselho enquanto estratégia de democratização da

gestão escolar. Transformar o Conselho em unidade executora de aplicação de

recursos configura-se como um viés da função que o mesmo deve ter enquanto

mecanismo de fiscalização do uso dos recursos pela Escola.

Vale refletir sobre o preocupante percentual obtido nas respostas dos

entrevistados (18,3%) que aponta para o papel do Conselho associado ao

cumprimento da função social da Escola, ou seja, ainda não se vê o Conselho como

necessário para que a Escola efetive o desenvolvimento da aprendizagem dos

alunos.

Quando indagados sobre o grau de credibilidade acerca da Política de

Gestão Democrática, podemos dizer que a resposta sempre era afirmativa, porém

sempre que procurávamos ver através de exemplos dados pelos próprios

entrevistados, colhíamos dos pais e dos alunos respostas como “ ...consideramos

importante porque somos chamados para os eventos na Escola...” ou ainda “... a

diretora conta com a gente para colaborar... consertar carteiras,lavar a escola,pintar

as paredes ...somos úteis à escola.”

Por outro lado junto aos Gestores e Professores, a Política de Gestão

Democrática abria a Escola para a comunidade, porém não mostravam a

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importância da comunidade se sentir co-partícipe nas ações escolares,

principalmente nas que dizem respeito à apropriação sobre os resultados de

aprendizagem da Escola. Era como se em suas falas expressassem que a

comunidade deveria entrar na Escola, mas somente até a “sala de visitas”,jamais

conhecer o “tempero da comida”, pois para tanto deveria chegar até a “cozinha”.

Quanto ao aspecto do Conselho Escolar ter normas de funcionamento

definidas e conhecidas por todos os resultados está expresso na Tabela 5, a seguir.

TABELA 5

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS, CONFORME OPINIÃO ACERCA DO CONHECIMENTO SOBRE AS NORMAS DE FUNCIONAMENTO DO CONSELHO ESCOLAR

Nº de ORDEM CONHECIMENTO SOBRE AS NORMAS DE FUNCIONAMENTO

DO CONSELHO

QUANTIDADE

ABS %01 As normas são definidas e conhecidas por

todos 30 28,8

02 As normas são definidas por alguns 22 21,2

03 As normas não são conhecidas 18 17,3

04 O Conselho não tem normas definidas 14 13,5

05 Não sei dizer 20 19,2

06 Outros - -

TOTAL 104 100,0 Fonte: Pesquisa Direta

Os dados afirmam que o Conselho Escolar ainda não consegue envolver

toda a comunidade escolar para definição de suas normas de funcionamento e

assim não fortalece o processo de socialização do conhecimento sobre sua própria

natureza, objetivos e ações.

O que nos provoca uma atenção maior é o fato de que em ambas escolas

pesquisadas recebemos documentos normativos do funcionamento do Conselho,

quando há um grande percentual de envolvidos que parece desconhecer essa

normatização( 71.2%),somados todos os respondentes dos quesitos 02,03,04 e 05.

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A reflexão acima pode revelar a diminuta participação de representantes

do Conselho na elaboração dos documentos normativos e ainda a falta de

informações junto aos representados como um todo.

Os dados da Tabela 6, mostram o envolvimento do Conselho junto aos

processos e dados de Gestão da Escola, nas dimensões deliberativa, normativa,

consultiva, fiscalizadora, avaliativa e executiva o que nos permite um cruzamento

com as informações anteriores para que possamos fazer maiores inferências sobre

a atuação do Conselho no ambiente escolar.

TABELA 6

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS, CONFORME OPINIÃO ACERCA DA ATUAÇÃO DO CONSELHO ESCOLAR, NAS DIFERENTES DIMENSÕES

Nº de ORDEMATUAÇÃO NAS DIMENSÕES

QUANTIDADEABS %

01 O Conselho atua em todas as dimensões 38 36,5

02 O Conselho não atua em todas as dimensões

23 22,2

03 O Conselho atua, de forma parcial, em todas as dimensões

25 24,0

04 Sem resposta 18 17,3

TOTAL 104 100,0

Fonte: Pesquisa Direta

Conforme a Tabela 6, 36,5% dos respondentes informaram que o

Conselho Escolar atua em todas as dimensões. Porém ao somarmos as respostas

que apontam para a não atuação ou atuação parcial, obtemos 46,2%, o que nos leva

a inferir que o Conselho demonstra estar com sua atuação muito acentuada em

alguma ou algumas dimensões em detrimento de todas, ou ainda que está

“passando levemente” por cada uma das dimensões.

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Quanto às temáticas debatidas nas reuniões do Conselho, vejamos a tabela a

seguir:

TABELA 07

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS, CONFORME OPINIÃO ACERCA DAS

TEMÁTICAS DEBATIDAS NAS REUNIÕES DO CONSELHO

Nº de ORDEM TEMÁTICAS DEBATIDAS

QUANTIDADEABS %

01nanceiros

54 51,9

02Atuação de professores e de

funcionários- -

03 Desempenho e disciplina dos alunos 03 2,9

04 Infra- estrutura da escola 03 2,9

05Conflitos nas relações internas da

escola33 31,7

06 Todas as temáticas acima 11 10,6

07 Outras - -

TOTAL 104 100,0 Fonte: Pesquisa Direta

Conforme podemos constatar, 54 (cinqüenta e quatro) entrevistados,

do total de 104 (cento e quatro), ou seja, 51,9% dos Conselheiros e Representados,

afirmaram a concentração da temática referente à utilização dos recursos financeiros

nas reuniões do Conselho. Isso demonstra uma grande distorção na concepção do

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conselho e cabe o entendimento deste organismo como apêndice da escola para

atender a questão jurídica da gestão de recursos financeiros. Torna-se ainda motivo

de reflexão o resultado da pesquisa, quando aponta 10,6% dos entrevistados,

afirmando que também no Conselho é motivo de discussão os conflitos nas relações

entre os membros escolares. Assim, também podemos inferir a visão do Conselho

como espaço de resolução dos conflitos que não “puderam” ser administrado pelos

Gestores escolares, este indicativo pode sinalizar para um processo de transferência

de papéis e de responsabilidades para o Conselho Escolar.

Requer nesta análise, uma discussão para o adequado entendimento do

papel que assumem os representantes dos segmentos escolares que constituem o

Conselho. É preciso que haja distinção entre o espaço de defesa dos interesses

corporativos, do espaço de defesa dos interesses coletivos, que na escola devem

estar focados no Projeto Político-pedagógico, e assim temáticas mais fortemente

relacionadas ao mesmo deveriam merecer destaque nas reuniões dos conselheiros

e destes com seus representados.

Ainda no sentido de coletarmos indicadores qualitativos sobre a atuação dos

Conselhos investigados, no questionário aplicado, solicitamos aos entrevistados que

apontassem as maiores dificuldades enfrentadas pelo Conselho Escolar em sua

atuação, obtivemos o que consta da Tabela 8.

TABELA 8

DIFICULDADES ENCONTRADAS PELO CONSELHO ESCOLAR EM SUA ATUAÇÃO

Nº de ORDEM DIFICULDADES ENCONTRADAS

QUANTIDADEABS %

01 Falta de disponibilidade 44 42,3

02 Falta de formação 17 16,3

03 Falta de divulgação do papel do Conselho 17 16,3

04 Centralização do poder 16 15,4

05 Falta de dados sobre a escola 10 9,7

06 Outras - -

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TOTAL 104 100,0

Fonte: Pesquisa Direta

Na análise dos resultados acima, é notória que a falta de disponibilidade

dos conselheiros é apontada por quase metade dos entrevistados (42%), o que nos

leva a inferir que tal dificuldade não somente pode afetar a qualidade do exercício

democrático, como, sobretudo o próprio funcionamento do Conselho Escolar.

Apresentando as mesmas proporções, nos deparamos com as

dificuldades de falta de formação e de divulgação do papel do Conselho (ambas com

16%), isto aponta para dois aspectos, um que diz respeito à falta de uma política

mais efetiva quanto à preparação dos conselheiros para o processo de

representatividade e exercício de poder, e outra que demonstra a fragilidade da

integração entre os segmentos escolares, o que poderia funcionar como elemento

para socialização das informações e saberes.

É importante verificar que somados todos os aspectos apresentados

pelos entrevistados como dificuldades para a atuação do Conselho Escolar, exceto o

aspecto da falta de disponibilidade, vamos obter um percentual de 57,7%, o que

pode nos dizer que mais da metade dos entrevistados apresenta como impeditivos

para a atuação do Conselho aspectos de total governabilidade da escola, ou seja

que só dependem da escola para serem resolvidos e deixarem de dificultar a

atuação do Conselho Escolar.

No que diz respeito à percepção da importância do Conselho Escolar

junto às Unidades Escolares, os pesquisados demonstraram os resultados

expressos na tabela a seguir:

TABELA 9

DISTRIBUIÇÃO DOS ENTREVISTADOS, CONFORME OPINIÃO SOBRA A IMPORTÂNCIA DO CONSELHO PARA O AMBIENTE ESCOLAR

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Nº de ORDEMO Conselho é importante para a

escola?

QUANTIDADE

ABS %

01 Sim 63 60,6

02 Não 09 8,7

03 Parcialmente 15 14,4

04 Sem resposta 17 16,3

TOTAL 104 100,0

Fonte: Pesquisa Direta

Em face dos dados expostos na Tabela 9, é possível observar que a

crença no Conselho entre os entrevistados é notória (60,6%), portanto, podemos

afirmar que nas escolas avaliadas os Conselhos Escolares são mecanismos

considerados importantes, tanto na visão de conselheiros, como na visão de seus

representados. Cumpre no entanto, observar que há um número significativo para a

amostra, de 26 (vinte e seis) dos entrevistados, ou seja um quarto da população da

pesquisa, que ou não sabe nada sobre o Conselho, ou não está convencida de sua

importância. O que em resposta a qualquer uma destas indagações significa

fragilidade para o processo de legitimidade e participação do Conselho.

Nas falas os entrevistados apontaram, ainda:

— A importância do Conselho para ajudar nas festas da escola: “o

conselho é bom, pois a diretora chama a gente para as reuniões e

festas da escola “(entrevistado do segmento dos pais);

— O papel do Conselho como forma de democratizar o espaço escolar:

” ...a gente fica sabendo das coisas que acontecem na

escola.”(entrevistado do segmento dos pais);

— A importância do conselho dependendo da forma como os agentes

educacionais do contexto interno da escola ( gestores, professores e

funcionários) falam e atuam no Conselho,pois eles dominam o saber

escolar;

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— “Acredito plenamente, desde que os conselheiros sejam apoiados pela

direção e professores ”( entrevistado do segmento aluno);

— “Acredito porque já tem muita gente falando nos Conselhos e nos

projetos deles, vi até propaganda na televisão”(entrevistado

representante de associação comunitária).

5.3 A percepção do vivido: lições do olhar, do ouvir e do falar

Como preâmbulo do registro da observação feita junto aos dois

Conselhos das escolas pesquisadas, cabe lembrar as palavras do grande mestre

Paulo Freire:

Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fossemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. (1998, p. 127).

Na visita às escolas pesquisadas, tivemos a oportunidade de participar

em cada uma, de reunião do Conselho Escolar e assim, de ouvir gestores escolares,

professores, funcionários, pais, alunos e representantes da comunidade.

Ambas reuniões, se denominavam ordinárias e deu para perceber que

estavam sendo coordenadas pelo representante dos professores, uma vez que nas

duas escolas o presidente eleito para o conselho foi exatamente o representante do

segmento professor. Em uma das reuniões a diretora estava presente, na outra a

diretora estava representada por outro membro do núcleo gestor.

Na reunião do Conselho da Escola “Luz do Saber”, notava-se que as falas

ficavam centralizadas nos professores e no Gestor, e ao perguntar ao representante

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dos pais e dos alunos porque ficavam só escutando, eles disseram que entendiam

tudo, mas que tinham vergonha de falar.

Percebemos então que o comportamento acima descrito parecia natural

para os demais membros e não havia por parte destes, intervenções que

provocassem a participação dos pais e dos alunos.Não havia a consciência de que

um dos problemas enfrentados por aquele Conselho, se evidenciava na dificuldade

de comunicação.

A pauta da reunião tratava além da decisão sobre a aplicação dos

recursos recebidos no período, sobre alguns projetos que a escola estava querendo

implementar com o objetivo de arrecadar fundos para obras na estrutura da escola.

Nenhum assunto envolvia o processo de ensino- aprendizagem.

Quanto à receptividade ao trabalho de pesquisa foi excelente, não

havia sinais de constrangimento, pelo contrário havia disponibilidade por parte de

todos em cooperar.

Também não sentimos por parte dos conselheiros, clima de hostilidade

entre si, pelo contrário havia risos e troca de brincadeiras. Notamos que não

havia ninguém preenchendo a ata da reunião, apesar do presidente ficar

anotando alguns pontos. Percebemos ainda que houve uma preocupação com a

assinatura da freqüência, porém sem fazer levantamento dos ausentes.

Ao conversar depois à parte com os alunos e pais, pudemos perceber que

havia um certo sentimento de orgulho pela representação que exerciam junto ao

Conselho da Escola , embora ao serem indagados pelas reuniões com seus pares

representados, deu para constatar que as mesmas não aconteciam com

regularidade, o que indica um desvio no processo da democracia representativa,

pois constatamos nesta escola que os representantes não mantinham vínculos

necessários e contínuos com seus representados.

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No contato com o Conselho da Escola “ Sociedade do Conhecimento”,

pudemos perceber um ambiente mais estruturado para a reunião , a diretora parecia

que cuidava pessoalmente da organização desse momento.

Na pauta, estava uma discussão sobre a situação de um aluno que

estava com problemas disciplinares e o Conselho deliberou por unanimidade para

que se consultasse o conselho de classe, e que após este encaminhamento, o aluno

comparecesse junto ao Conselho Escolar para assinar um “Contrato Psicológico de

conduta”.

Havia também um clima amistoso, e as pessoas apesar de se colocarem

como aquelas sacrificadas por “acumularem” funções com a participação no

Conselho, demonstravam com gestos, olhares e falas que gostavam da

possibilidade de poderem estar naquele fórum, sentiam um certo status com a

representação.

A Diretora era muito esforçada, mas denotava centralização dos

processos, pois até mesmo o livro de atas era preenchido pela própria. Parecia

muito querida pelos demais membros do Conselho, principalmente pelos pais e

alunos que diziam ser ela uma verdadeira mãe de todos. Os alunos e pais ao serem

abordados, disseram que aprendiam muito no Conselho, mas gostariam de

participar de cursos e assim poderem melhorar e contribuir mais. Em geral, nessa

Escola os conselheiros solicitaram maior disponibilidade dos membros, reuniões

mais objetivas e melhor divulgadas, menos reuniões extraordinárias, mais

envolvimento e compromisso, principalmente pelos membros representantes da

sociedade civil.

Apesar das duas escolas possuírem Grêmio Estudantil, em nenhuma

sentimos a integração deste organismo com o Conselho Escolar, pelo contrário é

como se houvesse uma competição entre ambos, uma certa disputa de espaço e de

poder.

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Em síntese, percebemos ainda muita fragilidade por parte dos Conselhos

das duas escolas, a começar pela dificuldade de se ouvir a voz e o voto de todos

nas reuniões comentadas, mas percebemos também que no ambiente das duas

escolas havia um “cheiro de democracia no ar”, fato observável pela forma como as

pessoas se tratavam e se colocavam em relação à escola, quebrando com as

estruturas rígidas e hierarquizantes, o que por si só, já aponta para a tentativa de

superação da cultura patrimonialista, onde é comum o comportamento de uma

minoria como “dona do poder” na escola.

Deu para constatar que havia um esforço coletivo de se aprender

democracia, fazendo democracia, mesmo que isto significasse levar tombos e

quedas na caminhada. Mas sobretudo, porque aquelas comunidades educativas

expressavam que seria no saldo da trajetória, no levantar-se a cada queda que

estaria o grande florescer do efetivo exercício da gestão democrática na escola

pública.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”

Cora Coralina

Para tecer as considerações finais deste trabalho recorro às palavras do

autor Vitor Paro quando afirma que “a participação democrática não se dá

espontaneamente, sendo antes um processo histórico de construção coletiva”.

(2001, p.20). Assim sendo, a pesquisa desenvolvida nas escolas da rede estadual

apontou para a concepção de gestão implantada, ou seja, uma concepção que

transita entre a democrática e a operacional centralizadora.

É notória a intencionalidade escolar em prol do funcionamento do

Conselho, bem como a predominância das características de uma gestão mais

democrática, dentre elas a da busca de superar a burocracia e ainda a tentativa de

avançar de um processo de desconcentração do poder decisório para a

descentralização desse mesmo poder.

Os Conselhos Escolares são importantes nas escolas investigadas e

dentre suas principais funções, destaca-se a de acompanhar a utilização dos

recursos financeiros pela escola. Verifica-se a ausência de mecanismos

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permanentes de divulgação das ações desenvolvidas pelos Conselhos, no interior

das escolas.

Com base nos dados pesquisados, observa-se que nas escolas há

predominância da política de desconcentração das atividades em detrimento da

política de descentralização, e exatamente neste aspecto, o Conselho Escolar

aparece como mecanismo ideal para referendar as decisões escolares.

Os Conselhos Escolares pesquisados confirmaram dados anteriormente

citados de que por mais que tenhamos avançado no estabelecimento de Políticas

Educacionais, os Conselhos ainda carecem de fortalecimento para que cumpram

com seu papel frente ao processo de democratização da Gestão Escolar. O

fortalecimento dos Conselhos Escolares implica na superação de concepções

meramente burocráticas e formais de Gestão, e na ampliação das possibilidades de

processos mais democráticos, onde se consiga lidar de forma mais competente com

a adversidade, com as diferenças, com as contradições, com o diverso que faz parte

do mundo da Escola.

É exatamente no Conselho, através de sua atuação qualificada que a

escola pode se enriquecer com visões diferentes de mundo e com ações benéficas

de pessoas de origens diversas. É necessário, no entanto, que na escola, prevaleça

a existência de objetivos comuns, a clareza de propósitos, e, sobretudo, a segurança

coletiva quanto à função social a ser desenvolvida pela própria escola.

Avaliar pedagogicamente o papel do Conselho Escolar nos remeteu para

a certeza de que precisamos definir critérios e caraterísticas de participação, isto por

se levar em consideração a diversidade dos segmentos que dele fazem parte. Falar

sobre a atuação dos Conselhos é falar sobre convivência participativa, assim sendo,

podemos afirmar que a democratização das relações escolares é o verdadeiro

tempero para o fortalecimento dos Conselhos na escola.

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Os Conselhos pesquisados apresentaram caracterísiticas de uma relação

mais dialógica nas escolas, no entanto, torna-se necessário uma Política mais

incisiva nessa direção.

A partir dos achados da Pesquisa encontramos limites à atuação dos

Conselhos como a ausência ou inadequação de um processo formativo, falta de

interesse político por parte de agentes educacionais e falta de cultura democrática

institucional.

Encontramos também, em nossa pesquisa, muitas possibilidades para a

atuação do Conselho Escolar, dentre estas podemos mencionar, a própria trajetória

da Política Democrática, o poder de mobilização e de aglutinação de esforços e de

parcerias, e, sobretudo, o anseio que pulsa no interior da escola em prol da

participação comunitária na definição dos rumos da Escola Pública.

Por fim, muito há por se dizer, e muito mais por se fazer, e assim cabe-

nos reforçar que o Conselho Escolar mesmo com as limitações constatadas em sua

atuação, podem ser organismos colegiados de forte influência na construção da

autonomia das escolas, e que ao se construir passa a configurar como um

verdadeiro exercício de democratização do espaço público e grande desafio para

quem constrói uma escola cidadã.

Em síntese, concluímos que não se constrói uma escola pública de

qualidade, democrática, e com sustentabilidade em seus processos gerenciais, sem

o fortalecimento dos mecanismos que viabilizam a participação de todos, e em

especial, desse mecanismo que chamamos de CONSELHO ESCOLAR.

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VIEIRA, Sofia Lercher; ALBUQUERQUE, Maria Gláucia Menezes. Estrutura e funcionamento da educação básica. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,

UECE, 2001.

WERLE, F.O.C. Estado e a política de eleição de diretores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. E educação e realidade. Porto Alegre: 16(2):

35-45, jul./dez. 1991.

WITTMANN Lauro Carlos & FRANCO, Maria Estela Dal Pai. “Situação e Perspectivas da Administração da Educação no Brasil – Relatório Geral do programa de Pesquisa: primeira fase”. “ANPAE”. Brasília, 1998.

ZIBAS, Dagmar. M.L. O reverso da medalha: administração participativa, sociedade do conhecimento e seus limites. In Cadernos de Pesquisa.

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ANEXO

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PESQUISA DE CAMPO ACERCA DO PAPEL DO CONSELHO ESCOLAR PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO

Questionário - Conselheiros e Representados

Prezado (a) Diretor (a),

Com minhas cordiais saudações, e tendo em vista a realização de uma pesquisa de campo

para efeito de elaboração de uma dissertação de Mestrado em Planejamento e Políticas

Públicas, curso oferecido pela Universidade Estadual do Ceará- UECE, venho solicitar

vossa cooperação no sentido de viabilizar a aplicação do questionário em anexo junto aos

membros e representados do Conselho dessa Escola. Vale salientar que a mencionada

Pesquisa, intitulada “ O papel do Conselho Escolar para a democratização da Gestão”, tem

como objetivos :

• Investigar o papel do Conselho Escolar para a democratização da Gestão junto ao

universo de duas escolas pertencentes à rede pública estadual.

• Oferecer contribuições sobre a concepção, posição na estrutura de poder da escola,

competências, representatividade, funcionamento e coordenação dos Conselhos

Escolares.

Na oportunidade, esclareço que a referida pesquisa abrangerá gestores, professores,

funcionários, pais e alunos que estejam como conselheiros e também com os representados

por estes, além dos representantes da sociedade civil com assento no Conselho dessa

Escola. A intenção principal é identificar experiências, visões, saberes, sentimentos e

reações dos respondentes à pesquisa, para, a partir das idéias levantadas e dos estudos

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bibliográficos realizados, contribuir com sugestões para o aperfeiçoamento do processo de

democratização da gestão escolar cearense.

Assim, antecipadamente agradeço vossa valiosa cooperação e me comprometo com o

sigilo das informações prestadas e viabilizadas.

Lucidalva Pereira Bacelar

Algumas orientações:

1. Assinale com X as opções escolhidas. Algumas questões, conforme o seu próprio

entendimento e convicção podem ter mais de uma opção assinalada.

2. Preencha com objetividade as questões abertas.

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ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

( QUESTIONÁRIO)

1.SOBRE A ESCOLA:

Nome:______________________________________________________

Endereço: Rua/Av_______________________________Bairro:______________

Município:_______________________ Telefone: ____________________

Nivel de ensino ofertado:

( ) Educação Infantil ( ) Ensino Fundamental completo

( ) Ensino Fundamental 1º ao 5º ano ( ) Ensino Médio

( ) Ensino Fundamental 5º ao 9º ano

Modalidades de ensino ofertadas:

( )Educação especial ( )Educação indígena ( ) Educação de jovens e adultos

2.DADOS PESSOAIS DO PESQUISADO

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Idade: ( ______ anos); Sexo: ( ) M ( ) F

Profissão: (______________________________)

Endereço:Rua/Av_________________________________ Bairro:______________________

Nível de escolarização: ( ) 1º ao 5º ano ( ) 6º ao 9º ano

Município:_________________________________ Telefone:__________________________

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo

( ) Ensino Superior incompleto Curso:_________________________________________

( )Ensino Superior completo Curso:___________________________________________

( ) Não tem escolarização_____________________________________________________

( ) Especialização Curso______________________________________________________

( )Mestrado Curso_________________________________

( ) Outros Qual?__________________________________

Situação no Conselho Escolar:

( )Representante ( ) Representado

Segmento escolar do qual faz parte:

( ) Gestor Escolar.

Cargo no Núcleo Gestor___________________

( ) Professor

Disciplina que leciona__________________ turma_______ turno_____________

( )Aluno

Série_________ turma_____________ turno__________

( ) Pai ou Responsável

Série do aluno____________ turma_________ turno____________

( ) Sociedade Civil

Entidade que representa____________________________________

( )Funcionário

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Função_________________________________turno____________

3. SOBRE O CONSELHO DA ESCOLA:

3.1.Qual o papel do Conselho na Escola?

( ) Ajudar a Direção da Escola

( ) Contribuir com a qualidade do Ensino

( ) Ser oposição ao diretor

( ) Colaborar nos eventos comemorativos

( ) Executar recursos financeiros da escola

( ) Outros Quais?__________________

3.2.O Conselho Escolar tem normas de funcionamento? Quem definiu essas normas?

Você as conhece?

( ) As normas são definidas e conhecidas por todos na escola

( ) As normas são definidas por alguns na escola.

( ) O Conselho da escola não tem normas definidas

( ) Não sei dizer

( ) Outras respostas. Quais?____________________

3.3. Indique as principais funções ou dimensões de atuação do Conselho de sua escola.

( ) Consultiva ( ) Deliberativa ( ) Normativa ( ) Fiscalizadora

( ) Avaliativa ( ) Executiva ( ) Em todas as dimensões

( ) Parcialmente, em todas ( ) Não sei responder

3.4. Quais as temáticas mais freqüentes nas reuniões do Conselho Escolar?

( )Utilização de recursos financeiros

( )Atuação de professores e demais funcionários

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( )Desempenho e disciplina dos alunos

( )Infra estrutura da escola

( )Situações conflituosas nas relações internas da escola

( )Todas as temáticas acima

( ) Outras Quais?____________________________

3.5. Marque as maiores dificuldades encontradas pelo Conselho de sua escola

( ) Falta de disponibilidade ( ) Falta de formação

( ) Falta de divulgação do papel do Conselho

( ) Centralização do poder

( ) Falta de dados sobre a escola

( ) Outras Quais?______________________________

3.6. Você acredita que o Conselho é importante para a gestão de sua escola?

( ) Sim ( ) Não ( ) Parcialmente ( ) Não sei responder

Por que?

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PLANEJAMENTO DAS ENTREVISTAS

1. Objetivo – Levantar opiniões, saberes e sentimentos de conselheiros e seus pares

representados acerca da importância e atuação do Conselho Escolar em duas escolas

da rede pública estadual.

2. População-alvo – Gestores escolares, professores, funcionários, alunos, representantes

da sociedade civil e pais ou responsáveis enquanto conselheiros e enquanto

representados.

3. Tipo de Entrevista – Não estruturada

4. Procedimentos

• Conversa com a direção da escola para acertos com relação à realização da

entrevista, em que se inclui o levantamento de opiniões sobre a atuação do

Conselho Escolar, bem como demais informações acerca do papel e importância do

mesmo para a unidade escolar, buscando identificar a contribuição desse Conselho

para a democratização da Gestão.

• Conversa informal com os conselheiros, durante reunião ordinária do Conselho

Escolar:

— o que é a pesquisa e a importância da participação do entrevistado. Buscar

criar uma relação de confiança e deixar o entrevistado à vontade;

— quem é o entrevistado: ter como base os dados pessoais solicitados no

questionário elaborado para a pesquisa.

— o assunto da pesquisa, tendo como referência as questões constantes no

questionário elaborado. Acréscimos que se fizerem necessários e que fluírem

na conversa serão explorados conforme sua importância para o maior

aprofundamento do tema pesquisado.

• Registro das respostas e ou gravações, desde que possíveis e aceitas pelos

entrevistados.

• Observações dos contextos, posturas, falas e interações entre os entrevistados

numa situação real de convivência.

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