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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ENTRELAÇANDO SABERES E PRÁTICAS: A História ensinada no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade do Salvador/BA TATIANA POLLIANA PINTO DE LIMA Salvador 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ENTRELAÇANDO SABERES E PRÁTICAS:

A História ensinada no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade do

Salvador/BA

TATIANA POLLIANA PINTO DE LIMA

Salvador

2016

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TATIANA POLLIANA PINTO DE LIMA

ENTRELAÇANDO SABERES E PRÁTICAS:

A História ensinada no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade do

Salvador/BA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia,

como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em

Educação.

Linha de Pesquisa: Currículo e (In)Formação

Orientadora: Profª Drª. Maria Antonieta de Campos Tourinho

Salvador

2016

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TATIANA POLLIANA PINTO DE LIMA

ENTRELAÇANDO SABERES E PRÁTICAS:

A História ensinada no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade do

Salvador/BA

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE)

da Faculdade de Educação (FACED), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), como

requisito para a obtenção do grau de Doutora em Educação.

Aprovada em 29/02/ 2016.

Folha de aprovação – BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Antonieta de Campos Tourinho (Faculdade de Educação/ UFBA)

(Orientadora)

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Roseli Gomes Brito de Sá (Faculdade de Educação/ UFBA)

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro (Faculdade de Educação/ UFRJ)

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Edinalva Padre Aguiar (Departamento de História/ UESB)

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Marta Margarida de Andrade Lima (Unidade Acadêmica de Garanhuns/

UFRPE)

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Rosineide Pereira Mubarack Garcia (Centro de Ciências Agrárias,

Ambientais e Biológicas/ UFRB)

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À minha filha, Gabriela, pessoa muito amada, meu tesouro. Te amo mais do que o

infinito, indo e voltando várias vezes.

Aos meus pais, Elias e Conceição. Sem vocês, que me deram a vida e me amaram

incondicionalmente, com defeitos e virtudes, eu não estaria aqui neste momento. Muito

me ensinaram da vida e das relações humanas.

À minha tia Graça, colocada em minha vida pela espiritualidade divina, para me apoiar,

me acompanhar. Se muitos sentem por não terem mãe eu tive a virtude de ter duas nesta

vida. Cada uma a seu modo, cada uma me inspirando de formas diferentes.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer à minha filha Gabriela. A pessoa que mais me inspira e que

muitas vezes me deu forças para continuar quando me olhava e dizia: “-Mamãe também

vou escrever a minha tese.” O ser que me fazia rir quando alguns minutos depois de

trabalhar na sua tese, seus olhos inocentes se cansavam, suspirava e dizia: “Ufa, cansei!

Escrever uma tese dá muito trabalho”. Criança que abriu mão de suas férias entre os

anos de 2015 e 2016 para me fazer companhia na reta final de escrita, e muitos abraços

e beijos me deu em momentos de cansaço e preocupações, se expressando: “- Mamãe,

não se preocupe com os seus jurados. Eles vão gostar da sua tese”. A você minha filha

dedico a música “Mãe e Filha” de Zizi Possi.

À minha mãe que nos momentos finais da escrita abriu mão de sua cidade e de seu

cotidiano para me acompanhar.

Agradecer aos amigos e pessoas que contribuíram para o desenvolvimento desta tese é

reconhecer os contributos de cada um deles para o desenrolar da mesma.

Aos meus irmãos, Tércia, Talmom e Tiago. Aos nossos risos e disputas, para não dizer

brigas. Eles são deveras estimulantes.

Aos meus sobrinhos, Beatriz (in memorian) e Miguel. A naturalidade de Miguel me

renova sempre, me faz sorrir, mesmo em momentos em que eu não tenho vontade. Com

vocês aprendi cotidianamente a olhar o arco-íris todos os dias.

A Marcos Benicio, que fez parte de minha vida por 12 anos e esteve presente em parte

desta jornada torcendo para que tudo terminasse bem.

A D. Leda, avó de Gabriela, e a Letícia, irmã de Gabriela, por cuidarem da minha filha

nos momentos em que precisei me ausentar para desenvolver a pesquisa.

Ao quarteto fantástico, todos meus amigos irmãos: Rosana (Rô), Alexandre (Professor)

e Neilton (Ney/ Negão). Com vocês meus momentos mais íntimos foram partilhados,

meus risos e choros. Dores e sabores vivenciados quando nas madrugadas na casa de

Rosana, pensamos nossas teses, compartilhamos nossas angústias. Mas, também rimos,

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cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a

música de Milton Nascimento, “Canção da América”.

Gostaria de fazer um agradecimento especialíssimo a Ney que muito me orientou nas

escolhas teóricas desta tese e com quem travei muitos diálogos sobre metodologia e

teoria. Com ele aprendi muito sobre Contreras, Tardif, Nilda Alves e tantos outros.

Aos demais amigos-irmãos que chegaram devagar e se tornaram muito importantes:

Karina, Lorena e Maurício. O que seria de mim sem as nossas conversas, momentos de

compartilhamento, trabalho, risadas. A vocês os dizeres de Carlos Drummond de

Andrade: “Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.

Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E

com confiança no que diz”.

Agradeço aos amigos especialíssimos que ganhei e cultivei ao longo da jornada: Rita

Chagas, Heloísa Monteiro, Sérgio, Mari Barreto, Ritinha e Juju. Cada um a seu modo

auxiliou no desenvolvimento da pesquisa e escrita da tese.

A Millena (Mimi), por todos os abraços e sorrisos que me dava ao chegar em sua casa, o

que me confortava em momentos de cansaço.

A Rosângela que ao longo de três anos cuidou de parte de minha vida para que eu

pudesse me dedicar à esta pesquisa e à escrita.

Aos vários amigos que me adotaram nesta terra que fiz minha há treze anos atrás: Carol,

Jorge, Sofia e Isabela; Ana Paula, Raimundo, Arthur e Clara; Tatiana, Juari, Felipe e

Giovanna.

Aos meus discentes e ex-discentes; alguns ex-orientados. Foi através das aulas, dos

debates em sala, das inquietações e angústias que a ideia de pesquisar o Ensino de

História nos Anos Iniciais surgiu. É para vocês que procuramos melhorar a nossa

prática docente.

A todos os professores informantes e respondentes da pesquisa. Sem vocês, esta tese

não teria sido possível. Meu mais sincero agradecimento por terem tirado alguns

minutos e dias do seu planejamento para me atenderem.

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À Escola Municipal Luiz Anselmo e a todas as demais escolas que participaram desta

pesquisa abrindo suas portas para que pudéssemos entrar em seus espaços e participar

um pouco de seu cotidiano.

A Viecha, Mônica, Verônica e Naiara que me auxiliaram na aplicação dos questionários

nas escolas de Salvador. Sem vocês a coleta de dados teria sido imensamente mais

difícil. Meus mais sinceros agradecimentos. Tenham certeza da importância de cada

uma de vocês em todo o processo: seja nas narrativas feitas por todas, seja nos

momentos de organização da pesquisa nos cafés de estudo.

A Vanilza e Maíza, da Diretoria Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de

Salvador, que sempre com muita atenção e presteza procuraram atender às demandas

desta pesquisa.

A Cláudia, amiga que fiz na Licenciatura em Pedagogia na UNIFACS, que tanto torceu

e me fez rir em momentos de ansiedade com a escrita e com a pesquisa.

A Vinícius, Fabiana e Mara (trio maravilhoso com o qual trabalhei no PARFOR-

UFRB). Quantas vezes vocês me auxiliaram nas pesquisas, nos risos, no trabalho

colaborativo e colegiado. Era uma delícia sempre entrar na sala do PARFOR e estar

com vocês.

À Marcela, minha terapeuta, profissional importante para que eu pudesse caminhar bem

com a escrita da tese na reta final.

Ao Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas e ao Núcleo de Estudos

Interdisciplinares e Formação Geral da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

por terem me apoiado incondicionalmente nos momentos cruciais da escrita. Meus

sinceros agradecimentos.

A minha orientadora, a quem todos carinhosamente chamam de Tuca. Se aprendi o que

é ser humano na academia foi com você. Ao longo de doze anos enquanto docente no

Ensino Superior não conheci nenhuma pessoa mais humana, mais sensível e sincera.

Nem por isso menos comprometida, menos responsável ou exigente. Me acompanhou

em todos os momentos, bons e difíceis. Me puxou as orelhas quando necessário,

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sabendo que eu podia caminhar mais. Mas, também sempre me escutou, me respeitou,

me deu espaço. Você tem meu eterno respeito e admiração.

A Carlos Augusto que mesmo impossibilitado de estar na banca da defesa, participou de

parte da construção desta tese, com suas considerações na banca de qualificação. Meu

muito obrigada.

A banca de defesa composta pelas Professoras Roseli Sá, Rosineide Mubarack, Marta

Margarida, Edinalva Aguiar, Ana Maria Monteiro. Obrigada pelo cuidadoso olhar e

pelo tempo dedicado na leitura e considerações deste trabalho.

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O real não está na saída nem na chegada, ele se dispõe para a

gente é no meio da travessia.

Guimarães Rosa

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LIMA, Tatiana Polliana Pinho de. ENTRELAÇANDO SABERES E PRÁTICAS: a

história ensinada no 5º. ano do Ensino Fundamental na cidade do Salvador/ BA. 303

folhas. 2016. Tese (Doutorado em Educação) Programa de Pós-Graduação em Educação

(PPGE), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador.

RESUMO

O texto “Entrelaçando Saberes e Práticas: a História ensinada no 5º ano do

Ensino Fundamental na cidade do Salvador/BA” foi construído em consonância com

uma pesquisa que busca compreender como no cotidiano da sala de aula a disciplina

História é organizada no 5. Ano do Ensino Fundamental a partir das falas de duas

professoras da Escola Municipal Luiz Anselmo e das escritas de cinquenta e quatro

docentes das mais diversas escolas da rede municipal de Salvador. A pesquisa

foi desenvolvida a partir de uma abordagem quali-quantitativa, que acontece em dois

momentos. A primeira fase foi realizada na Escola Municipal Luiz Anselmo, localizada

no bairro de Luiz Anselmo, em Salvador/BA, a partir de entrevistas com duas docentes,

observações do cotidiano escolar, das salas de aula das docentes e da escrita de um

Jornal de Pesquisa. A segunda fase contou, como principal instrumento de coleta de

dados, com um questionário aplicado em 35 escolas municipais da cidade, escolhidas

aleatoriamente. Ao final percebe-se que as professoras da Rede de Educação do

município de Salvador/BA reconhecem que é necessária uma mudança na forma como

os conteúdos são selecionados e no modo como estão sendo trabalhados em sala de

aula. Deixam transparecer que, mesmo desesperançadas, em alguns momentos, em

outros espaços-tempos, buscam trazer para suas salas de aula recursos e metodologias

diversas e enriquecedoras que tornem, em suas óticas, as aulas de História prazerosas.

Palavras-chave: Ensino de História. Saberes. Práticas Educativas. 5º ano do Ensino

Fundamental.

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ABSTRACT

The text "Weaving knowledge and practices: the history taught in the fifth grade

of elementary school in the city of Salvador/BA" was built in line with a survey that

aims to understand how the discipline History is organized in fifth grade everyday

classroom of elementary school based on two teachers view of the Municipal School

Luiz Anselmo and on the writings of 54 teachers from different schools of Salvador.

The research was developed based on a qualitative and quantitative approach, which

takes place in two phases. The first phase was held at the Municipal School Luiz

Anselmo, located in the neighborhood of Luiz Anselmo, in Salvador/BA, from

interviews with two teachers, observations of daily life, the classrooms of teachers, and

the writing of a Research Newspaper. The second phase had, as the main instrument of

data collection, a questionnaire applied in 35 schools in the city, randomly chosen. The

study highlights that the teachers of the Municipal Educational System of the city of

Salvador/BA recognize that there is a need for a change in the way the contents are

selected and how they are being worked in the classroom. They report that, even

hopeless in a few moments, in other spaces and times they try to bring various and

enriching methodologies to their classrooms that make, in their view, History lessons

more enjoyable.

Keywords: Teaching of History. Knowledge. Educational Practices. Fifth grade of

elementary school.

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RESUMEN

El texto “Entrelaçando Saberes e Práticas: a História ensinada no 5º ano do

Ensino Fundamental na cidade do Salvador/BA” se construyó de acuerdo con una

investigación que intenta comprender cómo se organiza en la rutina del aula la

enseñanza de historia en el 5 año la Escuela Primaria tenendo em cuenta los discursos

de dos maestras de la Escuela Municipal Luiz Anselmo y los escritos de cincuenta y

cuatro maestras de varias escuelas municipales de Salvador. La investigación se

desarrolló con enfoque cualitativo y cuantitativo, que se lleva a cabo en dos etapas. La

primera fase se llevó a cabo en la Escuela Municipal Luiz Anselmo, ubicada en el barrio

Luiz Anselmo en Salvador / BA, tenendo en cuenta entrevistas con dos maestras,

observaciones de la rutina de la escuela, de las aulas de las maestras y la escritura una

revista de investigación. La segunda fase tiene como el principal instrumento de

recolección de datos un cuestionario que ha sido aplicado en 35 escuelas municipales de

la ciudad, elegidas al azar. Al final, se concluye que las maestras de la Red Municipal

de Educación de Salvador / BA reconocen que es necesario un cambio en la manera en

que son elegidos los contenidos y la forma en la que se trabajan en el aula. Ellas

demuestran que, aunque sin esperanza, a veces, en otros espacios-tiempo, tratan de

aportar a sus aulas recursos y metodologias diversas y enriquecedoras que hacen, en sus

miradas, las clases de Historia placenteras.

Palabras Clave: Enseñanza de Historia. Conocimiento. Prácticas Educativas. 5º año de

la escuela primaria.

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RESUMÉ

Le texte “Entrelancent savoirs et pratiques: L’histoire enseignée au 5º année de

L’enseignement Fondamentale dans la ville de Salvador/BA” a été construit em

consonance avec une recherche qui cherche comprendre comment le quotidien dans les

cours d’histoire est organisé dans le 5º année de L’enseignement Fondamental à partir

des discours de deux professeures de L’École Municipale Luiz Anselmo et des écritures

de cinquente et quatre enseignants de plusieures écoles du réseaux Municipal de

Salvador. La recherche était dévelopée à partir d’une approche quali-quantitative, qu’ a

eu lieu em deux moments: La première phase était réalisée dans L’École Municipale

Luiz Anselmo, localisée dans le quartier de Luiz Anselmo, en Salvador/BA, à partir des

entretiens avec deux enseignantes, des observations du quotidien escolier, dans les

classes des enseignantes et de l’écriture d’um jornal de recherche. La deuxième phase a

compté, comme principal instrument de recueils de donnés, avec um questionnaire

aplique em 35 écoles municipales de la ville, choisies au hasard. A la fin on s’aperçoit

que les enseignantes du réseaux de L’Education Municipale de Salvador/BA

reconnaissent le besoin d’un changement dans la façon que les contenus sont

selectionnés, ainsi que dans la forme qu’ils sont travaillés en classe. Laissent

transparaître que, même sans espoirs, em quelques moments, em d’autres espaces-

temps, cherchent apporter pour ses cours de ressources et méthodologies diverses et

enrichissantes qui rendent, par ses regards, les cours d’Histoire avec plus de plaisirs.

MOTS-CLEFS: Enseignement d’Histoire; Savoirs; Pratiques éducatives; 5º année de

L’Enseignement Fondamentale.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Imagem da fachada da Escola Luís Anselmo

Fotografia 2 – Imagem da Rua Luís Anselmo de 1999

Fotografia 3 – Imagem da entrada da Escola Municipal Luís Anselmo

Fotografia 4 – Imagem da escada de acesso ao 1º andar da Escola Municipal Luiz

Anselmo

Fotografia 5 - Imagem da escada de acesso ao 2º andar da Escola Municipal Luiz

Anselmo

Fotografia 6 – 2º andar/cobertura da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fotografia 7 – Sala das turmas do 5º ano da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fotografia 8 – Refeitório da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fotografia 9 – Entrada da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fotografia 10 – Sala da Direção/Secretaria da Escola Municipal Luiz Anselmo

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Localização da Escola Municipal Luís Anselmo

Mapa 2 – Localização das GRE pesquisadas na cidade de Salvador/BA

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Pôsters apresentados no X ENPEH divididos por temáticas

Quadro 2 – Trabalhos apresentados no X ENPEH divididos por temáticas

Quadro 3 – Trabalhos apresentados no II Perspectiva

Quadro 4 - Escolas por Gerência Regional de Ensino (GRE)

Quadro 5 – Habilidades voltadas para conteúdos atitudinais

Quadro 6 - Habilidades voltadas para conteúdos procedimentais

Quadro 7 - Habilidades voltadas para conteúdos conceituais

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Disciplinas citadas como de importância para a prática de ensino de História

Tabela 2 - Correntes Historiográficas que influenciam na prática de ensino

Tabela 3 – Relação entre motivos e frequência de realização das aulas de História

Tabela 4 - Motivos da ausência de uma regularidade das aulas de História

Tabela 5 - Período de planejamento das aulas de História

Tabela 6 - Forma de planejar as aulas de História

Tabela 7 - Fontes e Aspectos considerados no Planejamento das Aulas de História

Tabela 8 - Os saberes necessários à prática docente

Tabela 9 - Conteúdos Considerados nas Aulas de História

Tabela 10 - Conteúdos e relação com as abordagens e aspectos da História

Tabela 11 - Conteúdos Detalhados Abordados nas turmas do 5º. ano em Salvador

Tabela 12 - Importância da História ensinada no 5º. ano do E. F.

Tabela 13 - Fontes e espaços onde os conteúdos para as aulas de História São

Selecionados

Tabela 14 – Habilidades mais importantes ao lecionarem História

Tabela 15 – Recursos didáticos utilizados pelas professoras em sala de aula

Tabela 16 – Metodologias utilizadas pelas professoras em sala de aula

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Produções dos Encontros Nacionais de Pesquisadores em Ensino de História

Gráfico 2 – Produções dos Encontros Nacionais Perspectivas do Ensino de História

Gráfico 3 – Dissertações e Teses produzidas no Brasil sobre Anos Iniciais e Ensino de História

Gráfico 4 – Dissertações e Teses produzidas por Regiões do Brasil

Gráfico 5 – Respostas ao questionamento sobre se foram cursadas disciplinas na graduação

voltadas para a disciplina História

Gráfico 6 - Escolas Participantes da Pesquisa por GRE

Gráfico 7 - Especializações Cursadas pelos Professores do 5º ano do Ensino Fundamental na

cidade de Salvador/BA

Gráfico 8 – Frequência de realização da disciplina História em sala de aula

Gráfico 9 – Organização e aulas de História

Gráfico 10 – A interdisciplinaridade e as aulas de História

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LISTA DE SIGLAS

ANPED – Associação Nacional de Pesquisadores em Educação

BA - Bahia

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

EF – Ensino Fundamental

EM – Ensino Médio

GPD – Grupo de Pesquisa em Diálogo

GRE – Gerência Regional de Ensino

GT – Grupo de Trabalho

IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LD – Livro Didático

MEC – Ministério da Educação

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos

SMED – Secretaria Municipal de Educação da Cidade de Salvador/ BA

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UFU – Universidade Federal de Uberlândia

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 21

CAPÍTULO 1 – PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E ESPAÇOS DE

DIÁLOGO SOBRE ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS

DO ENSINO FUNDAMENTAL ..................................................................

30

1.1. DIALOGANDO SOBRE ENSINO DE HISTÓRIA: ESPAÇOS DE

TROCA DE SABERES E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO .........

31

1.2. PESQUISAS SOBRE ENSINO DE HISTÓRIA EM SÉRIES/ANOS

INICIAIS: DISSERTAÇÕES E TESES .........................................................

58

CAPÍTULO 2 - OS FIOS PRESENTES NO COTIDIANO ESCOLAR:

SABERES DOCENTES, HISTÓRICOS, EXPERIENCIAIS,

PRÁTICAS EDUCATIVAS ..........................................................................

68

2.1. SABERES DOCENTES ........................................................................... 70

2.2. SABER HISTÓRICO ESCOLAR............................................................. 85

2.3. CULTURA E COTIDIANO ESCOLAR NA RELAÇÃO COM OS

SABERES ........................................................................................................

99

2.4. PROFESSOR CRÍTICO-REFLEXIVO E PRÁTICAS DOCENTES NA

RELAÇÃO COM OS SABERES ...................................................................

105

CAPÍTULO 3 - A CONSTRUÇÃO DO CAMINHO: AS ESCOLHAS E

OS DISPOSITIVOS DA PESQUISA ...........................................................

117

3.1. A PESQUISA QUALITATIVA ........................................................... 118

3.2. A FENOMENOLOGIA NA CONSTITUIÇÃO DO OLHAR ............ 128

3.3. O CAMPO DE PESQUISA: A ESCOLA MUNICIPAL LUIZ

ANSELMO ...............................................................................................

130

3.4. AS ENTREVISTAS: DIÁLOGOS COM CECÍLIA E MARIA ......... 136

3.5. AS OBSERVAÇÕES NA ESCOLA MUNICIPAL LUIZ

ANSELMO ................................................................................................

141

3.6. O JORNAL DE PESQUISA ............................................................... 144

3.7. A PESQUISA DE MÉTODOS MISTOS ............................................ 146

3.8. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO: AS ESCOLAS DA

REDE MUNICIPAL DE SALVADOR/BA ..............................................

150

3.9. OS PROFESSORES DO 5º ANO DA REDE MUNICIPAL DE

SALVADOR .............................................................................................

157

3.10. A APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS NA REDE MUNICIPAL

DE SALVADOR ........................................................................................

160

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3.11. A INTERPRETAÇÃO DOS DADOS: A CODIFICAÇÃO, A

ANÁLISE DE CONTEÚDO E A TRIANGULAÇÃO DOS DADOS ......

164

CAPÍTULO 4 – SABERES E PRÁTICAS: AS PROFESSORAS

FALAM SOBRE A DISCIPLINA HISTÓRIA ...........................................

167

4.1. A SALA DE AULA E A AULA DE HISTÓRIA: QUE HISTÓRIA É

ESSA? .............................................................................................................. 168

4.1.1. Cecília convida para a aula de História ............................................. 177

4.1.2. Maria convida para a aula de História ............................................... 183

4.1.3. Percepções sobre a História ensinada na Escola Luiz Anselmo no

5º ano ...............................................................................................................

188

4.2. A HISTÓRIA ENSINADA NO 5º ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL DA CIDADE DE SALVADOR ....................................... 192

4.2.1. A frequência das aulas de História ..................................................... 193

4.2.2. A organização das aulas de História ................................................... 199

4.2.3. Os conteúdos e o planejamento da disciplina História ..................... 202

4.2.4. Os conteúdos ministrados nas aulas de História ............................... 218

4.3. COMO SE ENSINA HISTÓRIA NO 5. ANO DA REDE MUNICIPAL

DA CIDADE DE SALVADOR? AS PROFESSORAS RESPONDEM .........

225

4.3.1. O saber histórico escolar e a sala de aula ........................................... 231

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 238

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 244

DISSERTAÇÕES E TESES .......................................................................... 260

APÊNDICES ................................................................................................... 263

APÊNDICE 1 – LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS

NO IX ENPEH (2011) .....................................................................................

263

APÊNDICE 2 - LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS

NO VI PERSPECTIVAS DE ENSINO DE HISTÓRIA (2007) ......................

265

APÊNDICE 3 – LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS

NO VII PERSPECTIVAS DE ENSINO DE HISTÓRIA (2009) ....................

267

APÊNDICE 4 – LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS

NO VIII PERSPECTIVAS DE ENSINO DE HISTÓRIA (2012) ...................

269

APÊNDICE 5 – LISTA DE TEXTOS APRESENTADOS EM EVENTOS

ACADÊMICOS DIVERSOS OU PUBLICADOS EM PERIÓDICOS

BRASILEIROS SOBRE ENSINO DE HISTÓRIA E SÉRIES/ANOS

INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ....................................................

273

APÊNDICE 6 – ROTEIRO SEMIESTRUTURADO DE ENTREVISTA

DAS DOCENTES ............................................................................................

275

APÊNDICE 7 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO ..............................................................................................

277

APÊNDICE 8 – OFÍCIOS DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO

PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA FEITOS À SMED .......................

279

APÊNDICE 9 – CARTA AS PROFESSORAS CONTENDO A

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA................................................................

293

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APÊNDICE 10 - QUESTIONÁRIO APLICADO AS PROFESSORAS ........ 295

ANEXOS .........................................................................................................

301

ANEXO 1 – MATRIZ CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL I

DA CIDADE DE SALVADOR ......................................................................

301

ANEXO 2 – HABILIDADES LISTADAS NO DIÁRIO DE CLASSE DO

SEGUNDO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA CIDADE DE

SALVADOR/ BA ............................................................................................

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INTRODUÇÃO

Não tive na minha formação nenhuma orientação específica para o

ensino de História. O que aprendi foi acertando e errando.

Professora da Rede Municipal de Salvador.

Neste estudo – “Entrelaçando Saberes e Práticas: a História ensinada no 5º ano

do Ensino Fundamental na cidade do Salvador/BA” – busco entender como, no

cotidiano da sala de aula, a disciplina História é organizada no âmbito do 5º ano do

Ensino Fundamental. A partir das falas de duas professoras da Escola Municipal Luiz

Anselmo e da escrita de cinquenta e quatro (54) docentes, das mais diversas escolas da

Rede Municipal de Ensino de Salvador, pretendo compreender como ocorre

efetivamente, o ensino de História no 5º. ano do Ensino Fundamental, discutindo,

primordialmente, os saberes docentes, o currículo, as metodologias, as concepções de

ensino de História que as docentes anunciam.

Por meio de suas salas de aula e do cotidiano escolar, descortino, por meio da

percepção destas professoras, qual História está sendo ensinada neste ano do Ensino

Fundamental, considerando a complexidade e a multiplicidade das escolas de Salvador,

no sentido do pensar a prática das professoras, refletindo sobre o ensino de História e

constituindo a “objetivação” de uma prática docente permeada de ricas experiências.

Para que esta pesquisa fosse desenvolvida, muitas mudanças foram feitas, ao

longo dos últimos quatro anos, em decorrência de alguns contratempos, que, mesmo não

desejados, são sempre esperados. Inicialmente, pretendia realizar uma pesquisa que

tivesse como recortes espaciais o Recôncavo da Bahia – região importante, no período

colonial baiano, por ter sido o reduto produtor de açúcar e local dos maiores engenhos

da Baía de Todos os Santos – e a cidade de Salvador, capital do estado da BA. No início

da pesquisa, considerei desenvolver o estudo em três cidades: Amargosa, Santo Antônio

de Jesus e Salvador. Estes três municípios foram pensados por situarem os campi de três

importantes universidades baianas, que oferecem ou já ofereceram o curso de

Pedagogia: a Universidade Federal da Bahia (Salvador), a Universidade do Estado da

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Bahia (Santo Antônio de Jesus) e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

(Amargosa).

Ao iniciar a fase empírica da pesquisa em Salvador, percebi que havia uma

quantidade significativa de dados que poderiam ser coletados na capital baiana. Por

outro lado, houve um atraso no cronograma da pesquisa, ocasionado pela dificuldade

em obter a permissão das escolas para desenvolver a pesquisa em seus espaços. Diante

deste contexto, decidi restringir a investigação à cidade de Salvador, o que proporcionou

uma coleta de dados mais significativa e mais aprofundada, para o tempo destinado à

realização desta pesquisa: quatro anos.

Desenvolver uma investigação sobre o ensino de história nos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental, especificamente no 5º ano, é considerar que este é um ano de

transição entre os Anos Iniciais e os Anos Finais do Ensino Fundamental. São crianças

que, em breve, deixarão de ter uma única professora para todas as disciplinas e serão

ensinadas por professores especializados em cada uma das disciplinas que compõem o

currículo básico deste nível de ensino. Ao final do ciclo dos Anos Iniciais, espera-se que

as crianças sejam capazes de ler e compreender sua realidade, adotar uma postura crítica

diante de suas escolhas e saber fazê-las criteriosamente.

Neste segmento da Educação Básica, alguns conceitos da História precisam ser

trabalhados pelas professoras, de forma gradativa, considerando a complexidade destes

conceitos: tempo; sujeito histórico; fatos históricos. Paralelamente, exige-se das

professoras domínio da História, percebida como campo de pesquisa e reduto dos

acadêmicos da ciência de referência, e dos saberes históricos escolares, produzidos nos

diversos espaços escolares, que agregam um conjunto de representações sociais sobre a

sociedade e a história dos sujeitos que estão inseridos nestes contextos.

Algumas questões pautaram a pesquisa e foram essenciais à escrita deste estudo:

1 – As professoras dominam os conceitos com os quais precisam trabalhar e

sentem-se preparadas para ministrar a disciplina História no 5º ano?

2 – Qual a História que está sendo ensinada no 5º ano do EF?

3 – Quais os saberes que as professoras mobilizam para lecionar História?

4 – Quais as práticas educativas das professoras do 5º ano do EF ao lecionarem a

disciplina História?

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Perguntas inquietantes e que estiveram presentes em minha trajetória, enquanto

docente das disciplinas Metodologia e Ensino de História para os Anos Iniciais, e

Prática Reflexiva do Ensino de História, ambas ministradas nos cursos de Pedagogia e

Normal Superior. Ao iniciar os semestres letivos, uma pergunta sobre o gosto pela

disciplina História era feita a minhas alunas, sim, alunas, pois mesmo que houvesse um

ou dois homens na turma, a sala era composta majoritariamente pelo público feminino.

A grande maioria respondia que não gostava, que preferiam lecionar Português e

Matemática para as crianças, disciplinas importantes para a socialização destas crianças

no mundo que as cerca, e por acreditarem que o objetivo dos Anos Iniciais é ensinar a

língua materna e as operações básicas da Matemática.

A história era lembrada pelas estudantes como uma disciplina chata, de muita

leitura do livro didático e de memorização de datas, personagens, fatos, causas e

consequências. As alunas não se sentiam representadas na História que estudavam e,

consequentemente, não compreendiam o sentido da História, para elas uma História do

outro, do líder, do governante, e não de suas raízes e de sua gente. Lembravam

vagamente das datas comemorativas, mas não se recordavam de terem estudado os

bairros do município onde moravam.

Nestes momentos, uma pergunta sempre vinha a minha mente: como organizar

uma disciplina de Metodologia e Prática de História para estudantes que iriam ser

também professoras de História, mas que não gostavam da disciplina, pois suas

memórias as remetiam a situações ruins e negativas? Tourinho tem observado, ao longo

de sua trajetória, enquanto professora de estágio nos cursos de História que:

[...] apesar de História não ser uma disciplina das mais apaixonantes

sendo em alguns casos até mesmo detestada, a depender da maneira

como ela for trabalhada, esta visão de um estudo enfadonho pode se

transformar em envolvimento e curiosidade. (2013, p. 4)

O desafio era planejar de forma prazerosa uma disciplina que condensasse em

uma carga horária semestral reduzida, que variava entre 68h e 85h, os conceitos

essenciais da História e algumas metodologias apropriadas ao trabalho com as crianças

dos Anos Iniciais. Para proceder à formação de minhas alunas, foi necessária uma

aproximação maior com a área de Educação e com autores que discutiam saberes,

práticas, formação, currículo. A (auto)formação é imprescindível, especialmente quando

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se considera a incompletude que cerca o professor e o ser humano, conforme observa

Paulo Freire (1979). Ao longo da graduação em História, entretanto, os autores da área

de educação não foram trabalhados de forma aprofundada, o que possibilitou o

predomínio do saber histórico, produzido na universidade, em detrimento dos saberes

provenientes da escola.

Os cursos de História, em geral, preparam seus graduandos para atuar no Ensino

Médio e nos Anos Finais do Ensino Fundamental, desconsiderando o ensino dos Anos

Iniciais. Não há um diálogo entre os alunos de Pedagogia e os de História, o que faz

com que esta disciplina seja compreendida de forma díspar, por pedagogos e graduados

em História. Rememoro meu curso de Licenciatura em História, em que estudos,

debates e reflexões sobre os Anos Iniciais não aconteceram. Não havia uma

aproximação entre a Pedagogia, responsável pela coordenação das ações pedagógicas na

escola, e os profissionais das áreas específicas do saber. Dialogar com a Pedagogia, sem

perder de vista os aspectos fundantes da História, é fundamental à compreensão dos

conceitos históricos a serem trabalhados com as crianças no 5º ano. Não se pode

prescindir da aproximação entre estas duas áreas do saber, sem ampliar as lacunas

existentes no ensino da disciplina História nos Anos Iniciais.

Para Monteiro (2008), há uma ausência de debates sobre este nível da Educação

Básica, nos cursos de graduação e de pós-graduação em História, o que aumenta o fosso

que separa os Anos Finais do EF e o Ensino Médio dos primeiros anos do Ensino

Fundamental. As várias mudanças pelas quais a sociedade e a produção de

conhecimento tem passado têm exigido do professor dos Anos Iniciais “[...] um domínio

conceitual no ensino de História, e das outras disciplinas, em que prevaleça a

capacidade crítica, a reflexão e a compreensão da dinâmica histórica ao nível da

possibilidade do pensamento na infância” (MONTEIRO, 2008, p. 59).

Para a autora, uma corrente impera sobre o ensino de História nos Anos Iniciais: a

de que as crianças não têm capacidade de abstração suficiente para apreender conceitos

da história: escravidão; capitalismo; tempo; sujeito histórico. Entretanto, há outra

corrente teórica segundo a qual as crianças, a partir dos 6 anos de idade, constroem uma

compreensão histórica desde que os conceitos e conteúdos sejam apresentados em uma

linguagem clara e acessível. Estudos de Berti e Bortoli (2005) defendem que, para

crianças de 8 a 9 anos, é possível o entendimento de instituições políticas e econômicas,

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desde que tais conteúdos sejam devidamente ensinados por um professor que conheça o

que está sendo trabalhado.

O ponto nevrálgico, então, é como lecionar conceitos que não foram apreendidos,

que não foram estudados ao longo da própria formação, no curso de Pedagogia, no

Magistério, nas Especializações ou em cursos de aperfeiçoamento. Considerando que

não foram aprendidos, em sua trajetória formativa na graduação, de que forma as

professoras poderiam mobilizá-los e quais seriam os saberes que elas mobilizam, de

fato, no processo de aprendizagem-ensinagem da História no 5º ano?

As práticas de ensino das áreas específicas que compõem o currículo da Educação

Básica passaram a integrar o currículo dos cursos de Pedagogia, apenas a partir de 2006,

quando as Diretrizes Nacionais para os Cursos de Pedagogia consideraram, como um

dos objetivos destas graduações, a formação de professoras para atuar na Educação

Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Anteriormente a 2006, o curso de

Pedagogia formava supervisores educacionais, orientadores educacionais, gestores

educacionais e coordenadores; e as práticas de ensino das diversas áreas específicas não

eram contempladas na “grade curricular”. A professora da Educação Infantil e dos Anos

Iniciais fazia-se professora, em sua prática, acertando ou errando, testando, pois, ao

findar os cursos de Pedagogia, parte das egressas não seriam absorvidas pelo mercado

de trabalho, enquanto orientadoras, supervisoras ou coordenadoras e, sim, incorporadas

ao universo escolar como professoras.

Na trajetória da pesquisa percebi que testar para descobrir o caminho a ser seguido

não é uma opção, no contexto atual de formação de professores, feito de debates e

diálogos. Não se concebe mais a existência de práticas educativas que não sejam fruto

de reflexão por parte das professoras, sobre suas salas de aula, sobre os conteúdos que

ministram, suas práticas, as condições de seu trabalho e sua identidade profissional.

Mesmo com vários percalços e limitações, as professoras do 5º ano que

integraram esta pesquisa buscavam o melhor em suas salas de aula. Se, em alguns

momentos, apresentaram um ensino reprodutor do conhecimento trazido pelo livro

didático, em outros, trazem questões, debates e discussões para suas salas de aula, em

sua constante busca de uma aprendizagem-ensinagem contínua, aprendendo para

ensinar e ensinando para aprender. Neste processo, há uma reconstituição dos saberes e

conhecimentos por parte das professoras atuantes nas salas de aula no 5º ano do Ensino

Fundamental.

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A maior preocupação deste trabalho foi, a partir das falas de Maria e Cecília,

professoras da Escola Municipal Luiz Anselmo, e das escritas de cinquenta e quatro

professoras, identificadas ao longo da pesquisa por P1, P2 e assim sucessivamente,

lotadas em trinta e cinco escolas municipais da cidade de Salvador, trazer à tona as

percepções e reflexões destas docentes sobre a História que lecionam, as lacunas que

existem em suas práticas educativas e as carências percebidas no cotidiano de suas salas

de aula.

A partir de uma pesquisa qualitativa, considerada como exploratória, as duas

professoras da Escola Municipal Luiz Anselmo abriram suas salas de aula para as

observações e concederam entrevistas. Professoras, jovens em idade, mas com uma

vasta experiência na Educação Básica. São mulheres na faixa dos 30 anos de idade,

encaminhando-se para os 40 anos, que se formaram no curso de Pedagogia, na década

de 1990, em universidades que são referência na Bahia: a Universidade Católica de

Salvador e a Universidade do Estado da Bahia, e que atuam há quinze anos na rede

municipal da cidade de Salvador. Posteriormente, a partir de uma pesquisa quali-

quantitativa (métodos mistos), o questionário foi o instrumento de coleta de dados, o

que proporcionou a participação de 53 professoras e de 1 professor. Optei por tratar

todos esses informantes como professoras, entendendo que a presença majoritária de

mulheres nesta pesquisa justifica a escolha do tratamento no feminino, e não no

masculino.

No que se refere à importância desta pesquisa, destaco a contribuição que a

iniciativa poderá trazer para a produção do conhecimento histórico, para o debate sobre

a produção dos saberes históricos escolares, e para se pensar a formação da Pedagoga

no Brasil, pois as professoras dos Anos Iniciais não são professoras especialistas, não

foram formadas para lecionar somente História. São professoras multidisciplinares e,

neste contexto, são também docentes de História. Professoras que precisam ser

consideradas como sujeitos basilares da formação de crianças que, nos Anos Finais do

Ensino Fundamental, serão ensinadas por professores licenciados em História que, em

parte, desconsideram ou não reconhecem como válido, o conhecimento histórico

construído pelos estudantes dos anos anteriores.

Para que os objetivos da pesquisa pudessem ser alcançados, apresento no primeiro

capítulo deste estudo, um levantamento de artigos escritos e apresentados no formato de

comunicação oral, nos dois principais encontros nacionais da área de ensino de História,

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eventos compreendidos entre os anos de 1988 e 2015: o Encontro Nacional de

Pesquisadores em Ensino de História e o Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de

História. Também integram esta investigação, dissertações e teses sobre o tema Ensino

de História nos Anos Iniciais, elencadas no banco de dados da Coordenação Nacional de

Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior (CAPES), defendidas em programas de

pós-graduação, de Norte a Sul e de Leste a Oeste do Brasil.

O diálogo com estes trabalhos foi importante para se perceber o crescimento de

pesquisas que buscam determinar quais saberes são mobilizados pelas professoras que

ministram aulas de história e quais as práticas educativas das docentes que atuam nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental. São textos que valorizam o trabalho docente

desenvolvido nas escolas públicas e mostram que as professoras têm procurado refletir

sobre suas práticas, seu cotidiano escolar, a partir de uma multiplicidade de relações e

atores que tem promovido um constante (re)fazer na sua ação docente.

A seguir, no segundo capítulo, são apresentados os referenciais teóricos que

subsidiam as escritas deste trabalho. Dialoguei com autores considerados referência em

autonomia docente, cotidiano escolar, saberes, experiência e suas relações com as

práticas educativas. O capítulo perpassa os debates que têm sido feitos sobre os saberes

mobilizados pelas professoras que lecionam História, os saberes históricos escolares que

se constituíram nas escolas da Educação Básica, desde finais do século XIX, e considera

a importância de compreender estes saberes em suas relações com uma prática inserida

em um cotidiano escolar, que é diverso e múltiplo, em suas relações e contextos.

A metodologia e o caminho realizado para o desenvolvimento desta pesquisa

constitui o cerne do capítulo três. Neste capítulo, há, então, a apresentação detalhada da

trajetória de investigação, projetada inicialmente para ser desenvolvida exclusivamente

a partir de uma abordagem qualitativa. Com o início da pesquisa de campo, houve a

necessidade de ampliar a coleta de dados e, assim, optou-se pela pesquisa de métodos

mistos, de abordagem quali-quantitativa, dividida em duas fases.

A primeira fase, exploratória, foi realizada na Escola Municipal Luiz Anselmo,

nas salas de aula de Cecília e Maria. Com o auxílio de entrevistas semiestruturadas, um

dado muito interessante surge: não há uma regularidade no ensino da História nas

turmas do 5º ano na cidade de Salvador. A partir deste fato, e das observações

realizadas e registradas no Jornal de Pesquisa – caderno onde as percepções do

pesquisador sobre os fenômenos observados são anotados –, ao longo de seis meses, na

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escola, percebi a importância de estender a pesquisa para outras escolas municipais da

cidade de Salvador.

Nesta fase, o instrumento de coleta foi o questionário. As entrevistas e o

questionário foram importantes para a apresentação de Cecília, de Maria, da Escola Luiz

Anselmo e da população de cinquenta e quatro professoras de trinta e cinco escolas, em

suas formações, gostos, tempo de experiência, bem como para a compreensão de sua

percepção sobre a História ensinada no 5º ano do Ensino Fundamental.

Finalmente, todos os dados coletados nas entrevistas, nos questionários, nas

observações e na matriz curricular do município foram triangulados, originando o

último capítulo. Este capítulo narra o cotidiano da Escola Municipal Luiz Anselmo

através dos convites feitos por Cecília e Maria para assistir suas aulas de história. A

seguir, o saber histórico escolar, as lacunas no conhecimento histórico, as fragilidades

que apresentam ao lecionar história, as fontes e conteúdos considerados no

planejamento das aulas de história e suas relações com as práticas educativas são

apresentados pelas professoras da Escola Municipal Luiz Anselmo e pelas demais

docentes das escolas pesquisadas da Rede Municipal de Salvador, em narrativas e

escritas.

Ressalto que são lacunas e fragilidades decorrentes, em grande medida, da

ausência de uma formação adequada para lecionar esta disciplina, em nível inicial, nos

cursos de graduação de Pedagogia, e em nível de formação continuada. Segundo as

narrativas e escritas das professoras que participaram desta pesquisa, os cursos de

formação ofertados pela SMED, quando ocorrem, ainda que em pequeno número,

priorizam as áreas de Língua Portuguesa e Matemática.

Neste contexto, os saberes históricos escolares são mobilizados prioritariamente, a

partir de experiências das professoras, e do seu interesse individual. O livro didático

continua sendo a fonte mais importante para a produção dos conhecimentos históricos

nas aulas destas professoras, sendo alçados à posição de um currículo que norteia as

suas práticas.

Em minhas considerações finais, capítulo conclusivo deste estudo, apresentei

provocações e reflexões tendo em vista incentivar a formação das professoras

multidisciplinares, a partir das Diretrizes Nacionais Curriculares para os cursos de

Pedagogia. Não é um fim e o encerramento de uma trajetória, mas um convite para que

as professoras dos Anos Iniciais, os gestores das políticas públicas, os membros do

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Conselho Nacional de Educação e os acadêmicos dialoguem conjuntamente tendo em

vista a criação de pontes sobre os fossos existentes entre as áreas específicas dos

conhecimentos que integram o currículo comum dos primeiros anos do Ensino

Fundamental e a área da Educação.

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CAPÍTULO 1

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E ESPAÇOS DE DIÁLOGO SOBRE

ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Como presença consciente no mundo não posso escapar à

responsabilidade ética no meu mover-se no mundo. Somos seres

condicionados mas não determinados. Reconhecer que a História é

tempo de possibilidade e não de determinismo, que o futuro, permita-

se-me reiterar, é problemático e não inexorável.

Paulo Freire

Neste capítulo, dialogo com as produções sobre o ensino de história, nos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental – trabalhos originados de Encontros de Ensino de

História, dissertações e teses – e traço o caminho percorrido por estas produções na área

do ensino de História, prioritariamente a partir dos anos de 1990 até a

contemporaneidade.

Para tanto, percorri os anais publicados nos Encontros Nacionais de Ensino de

História e no Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História, disponíveis na

internet, no site “Fóruns Contemporâneos de Ensino de História no Brasil”,1 ou, em

CD-ROM, obtidos com participantes dos eventos. Alguns desses encontros não

produziram anais, o que configurou uma perda para a pesquisa, visto que, sem este

documento, não se pode realizar um levantamento completo do que foi discutido,

quanto aos temas, por exemplo. Em outros, os anais publicaram apenas parte das

comunicações apresentadas, o que impede que os números a seguir sejam tratados como

absolutos, mas, sim, como uma representação das pesquisas e publicações feitas sobre o

tema Ensino de História nos Anos Iniciais.

Em relação às dissertações e teses, percorri o Banco de Dissertações e Teses da

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –, bem como

as bibliotecas virtuais dos principais programas de Pós-graduação em Educação

1 Este site pode ser acessado na página da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas

e está disponível em: <https://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/FEH/issue/archive>. Acesso em 11 nov.

2015.

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existentes no Brasil, com conceito mínimo 4 da CAPES. Utilizei, para isto, os

descritores: Ensino de História, Anos Iniciais e Ensino de História, Formação de

Professores e Ensino de História nos Anos Iniciais. Vali-me, ainda do envio de e-mails

para pesquisadores selecionados, e alguns foram respondidos, informando acerca de

suas dissertações e teses, ajudando-me a localizar outras pesquisas produzidas sobre o

tema: Ensino de História e Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

1.1. DIALOGANDO SOBRE ENSINO DE HISTÓRIA: ESPAÇOS DE TROCA DE

SABERES E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

Desde finais do século XX, houve no Brasil um crescimento dos debates e da

produção na área de Ensino de História e da Educação, de uma forma geral. Cada vez

mais, a importância da disciplina tornou-se perceptível, as pesquisas e debates sobre a

formação dos professores de história cresceu e se tornou um tema central nos encontros,

assim como o entendimento das práticas docentes dos professores de história.

Em meados da década de 1980, o Brasil saía, politicamente, de um período

ditatorial (1964-1985), que havia tentado coibir a produção do conhecimento que não se

coadunasse com a Ideologia da Segurança Nacional.

Segundo Fonseca:

[...] no período ditatorial, sobretudo após 1968, o ensino de história

tem afirmado sua importância como estratégia política do Estado,

como instrumento de dominação, porque capaz de manipular dados

que são variáveis importantes na correlação de forças e capaz de uma

intervenção direta no social, por meio do trabalho com a memória

coletiva. (FONSECA, 2003, p. 24)

Ao longo dos vinte e um anos de Ditadura Militar, a História e a Geografia foram

unificadas no Ensino de 1º Grau,2 transformando-se em Estudos Sociais, e tiveram seu

2 Com a Reforma, Lei nº 5.692/71, a Educação Básica ficou assim composta: Educação Infantil, Ensino

de 1º Grau e Ensino de 2º Grau. O Ensino de 1º Grau contemplando oito séries e o de 2º Grau, antigo

Secundário, três séries. Anteriormente a esta lei, que passou a ser conhecida como Reforma do Ensino de

1º e 2º Graus, o Ensino de 1º Grau foi dividido entre Ensino de Primeiras Letras ou Primário e o Ginásio.

Para que houvesse o ingresso no Ginásio, o candidato prestava o Exame de Admissão ao Ginásio. A Lei

de 1971 extingue este exame e as oito séries do 1º Grau passam a ser sequenciadas. Em 1996, quando da

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tempo de aula reduzido no Ensino de 2º Grau. Devido a isso, a especificidade do objeto

da História desaparece em meio a conteúdos generalizantes, cujo objetivo maior foi a

localização e a interpretação dos fatos, e não uma reflexão sobre a história construída

pelos homens.

Mesmo neste contexto de repressão às escolas, ao livre pensar, havia uma tensão

constante entre os docentes que buscavam propostas alternativas, pautadas no

marxismo, na história temática e na história nova e as escolas, que acatavam as

diretrizes educacionais dos governos militares, enfatizando a História Política, a

memorização, as datas comemorativas e os grandes nomes da História.

Em muitos Estados, a exemplo de Minas Gerais, São Paulo e Bahia, foram

realizadas reformas curriculares que consistiram em experiências no sentido de romper

com um ensino de História esquematizador, simplista, linear e eurocêntrico. Este

contexto de efervescência, caracterizado por defesas e resistências à Ditadura não era

exclusivo do campo educacional, estando presente igualmente no meio cultural através

da produção musical, de peças teatrais e filmes.

Quando ocorre, em meados da década de 1980, a transferência de governo dos

militares para a esfera civil, a maior preocupação dos educadores foi justamente a

organização de uma nova legislação educacional que contemplasse os anseios

democráticos e que permitisse, de forma legal e mais ampla, a implantação das

mudanças curriculares iniciadas em alguns Estados da Federação, como Minas Gerais,

São Paulo e Bahia.

Iniciam-se os debates sobre a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (nova LDBEN), cuja aprovação se deu somente após quase uma década de

debates no Congresso Nacional, com a participação de parcela da sociedade e das várias

associações de educadores, como a Associação Nacional de Pesquisadores em Educação

(ANPED) e os sindicatos estaduais e federais de professores. Em 1996, esta lei foi

sancionada, pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo de

sanção da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Ensino de 1º Grau dá origem ao

Ensino Fundamental, de oito anos, e o Ensino Profissionalizante de 2º Grau ao Ensino Médio. A

Educação Básica passa então a ser composta pela Educação Infantil, o Ensino Fundamental (oito anos) e

o Ensino Médio (três anos). Em 2009, há uma nova reforma e o Ensino Fundamental passa a ser de nove

anos, quando as crianças de 6 anos que, até então, integravam a educação infantil, passam a ser o público

alvo do 1º ano do Ensino Fundamental. Com isto, a Educação Infantil corresponde apenas à formação das

crianças de 0 a 5 anos de idade.

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democratizar a Educação Básica e conferir maiores responsabilidades às diversas

instâncias e esferas governamentais, no tocante à educação.

Diversos encontros foram organizados com a finalidade de debater a educação e o

ensino, que se pretendia construir com o advento da redemocratização. Dentre tantos

seminários, encontros e congressos realizados, tratarei aqui, em específico, dos

Encontros Nacionais de Pesquisadores em Ensino de História (ENPEH) e dos

Encontros Perspectivas do Ensino de História (Perspectivas). O Perspectivas3 foi o

primeiro a ser organizado (1988) e surgiu com o objetivo de aproximar os profissionais

da Educação Básica e do Ensino Superior, através do entrecruzamento de seus olhares

sobre a disciplina, sobre as políticas públicas voltadas para o ensino e mais

especificamente sobre o ensino de história e o livro didático.

O ENPEH constituiu-se em um espaço de debates e diálogos sobre as diversas

problemáticas presentes no âmbito da pesquisa e do ensino de História, já que esta

disciplina foi uma das mais atingidas pelas reformas ocorridas no período dos governos

militares (1964-1985). Este Encontro ocorreu pela primeira vez, em setembro de 1993,

na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Ao longo de 22 anos (1993-2015), o ENPEH organizou dez (10) edições:

1993 (I ENPEH) – Universidade Federal de Uberlândia;

1995 (II ENPEH) – Universidade Federal Fluminense;

1997 (III ENPEH) – Universidade Estadual de Campinas;

1999 (IV ENPEH) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio

Grande do Sul – UNIJUÍ/Rio Grande do Sul;

2001 (V ENPEH) – Universidade Federal da Paraíba;

2003 (VI ENPEH) – Universidade Estadual de Londrina;

2006 (VII ENPEH) – Universidade Federal de Minas Gerais;

2008 (VIII ENPEH) – Universidade de São Paulo;

2011 (IX ENPEH) – Universidade Federal de Santa Catarina;

2013 (X ENPEH) – Universidade Federal de Sergipe.

3 Apesar do Perspectivas ter sido o primeiro encontro que surgiu na área do Ensino de História, em 1988,

dialogarei primeiramente com o ENPEH, pelo fato deste evento ter realizado seus encontros sempre no

intervalo de dois a três anos, sem maiores interrupções. O Perspectivas, após a realização do primeiro

encontro, em 1988, organizou uma segunda edição somente em 1996, oito anos depois.

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Em todas as edições do ENPEH, o objetivo que permeou tais encontros foi o

debate sobre os problemas existentes no campo da pesquisa sobre o ensino de História.

Por não ter contado com a publicação de anais, não foi possível realizar o levantamento

da quantidade de trabalhos publicados e apresentados no I ENPEH (1993).

No II ENPEH (1995), houve, pela primeira vez, a publicação dos anais, a partir da

apresentação de vinte e quatro (24) trabalhos que versavam sobre os mais diferentes

assuntos: conteúdos das aulas de História; linguagens diversas e ensino de História; a

pesquisa e o ensino de História; Reforma Universitária e o impacto nos cursos de

História; História Oral e Ensino de História; Ideologias e ensino de História; os

currículos dos Cursos de História; relação escola e universidade a partir das aulas de

História; teoria e prática na formação dos professores de História. Destaca-se que

apenas um desses trabalhos versou sobre o ensino de História no 1º Grau: “A criança e

a História: quem ensina o quê?” – de Maria de Fátima Salum Moreira.

O artigo de Moreira (1995) procurou questionar a importância de se ensinar

História no período compreendido entre a 1ª e a 4ª séries do 1º Grau; de que forma este

ensino era realizado; os problemas enfrentados pelas professoras que lecionavam

História para esta faixa etária e as perspectivas de mudança na disciplina. Ainda neste

artigo, Moreira (1995) aponta alguns problemas existentes, ao se lecionar História para

as crianças de 1ª a 4ª séries, a partir de suas experiências, enquanto docente das

disciplinas de Metodologia do Ensino de 1º Grau: Estudos Sociais e Prática de Ensino

nos cursos de Pedagogia:

O quadro das condições em que está sendo realizado o ensino de

história, principalmente nas séries iniciais do primeiro grau, é bastante

desanimador. É extrema a sua desvalorização e o desconhecimento

e/ou despreparo dos professores, fato que quando não leva ao seu

completo abandono por estes, embora conste nos planos escolares, é

realizado de forma aleatória e descomprometida com um projeto com

o qual o professor se encontre envolvido por ter participado

efetivamente de sua elaboração. [...] Isto, quando os professores,

diante das inúmeras críticas que sofrem e sentindo-se incapacitados

para realizar outras propostas de ensino, [...] acabam deixando-se

paralisar e passam a esquivar-se de qualquer tipo de trabalho com esta

disciplina. (MOREIRA, 1993, p. 12)

Tourinho (2004, p. 22) fala, em sua tese de doutorado, sobre a discrepância que

existe entre o que está planejado, colocado no papel, para ser entregue à coordenação da

escola e aquilo que o professor desenvolve em sala de aula. Ainda, segundo Tourinho

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(2004), o planejamento, na ótica dos professores, é para prestar “[...] satisfação [...] ao

poder” instituído. Assim, como ocorria em princípios da década de 1990, o esquivar-se

de lecionar a disciplina ainda existe na contemporaneidade. Acerca da frequência das

aulas da História, na atualidade, Cecília relata:

Maria acrescenta:

Em relação aos conteúdos selecionados para as aulas de História no Ensino de 1º

Grau, Moreira (1995) destaca o seguinte:

Apesar de todas as críticas que determinadas formas de ensinar

história têm recebido, ainda são muito comuns as observações trazidas

pelos alunos que fazem estágios nas séries iniciais, que constatam a

recorrência do destaque às datas comemorativas reverenciando

determinadas datas e heróis, ou então, os depoimentos de professores

que dizem que ‘ensinam história quando surge uma oportunidade e os

alunos fazem perguntas’, não tendo, portanto, nenhum projeto a ser

seguido. (MOREIRA, 1995, p. 12)

Quanto à ênfase nas datas comemorativas, apontada por Moreira (1993), na

primeira metade da década de 1990, Cecília comenta, a respeito de sua realidade, na

segunda década do século XXI:

A fala demonstra ainda uma preocupação com as datas comemorativas do

calendário cívico, tais como o Dia do Índio, a Independência do Brasil, a Proclamação

[...] pela quantidade é uma hora que não necessariamente ocorre a cada semana porque

cada semana tem a sua dinâmica e então às vezes acontece e às vezes não acontece. Às

vezes a gente consegue trabalhar com o conteúdo de história a cada quinze dias ou uma

vez por mês. (Cecília, 2014)

São duas horas. [...] A carga horária seria duas aulas de história durante a semana. Duas

aulas de 50 a 55 min cada uma. Mas não é constante. A gente acaba atropelando o ensino

de História para trabalhar o básico, que é português e matemática. (Maria, 2014)

[...] eu trago história nas datas comemorativas pelo menos. Eu acho que a gente tem que

explicar o porquê está acontecendo algo e aí é onde entra o contar a história. (Cecília,

2014)

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da República, o Dia da Consciência Negra, por parte dos professores dos Anos Iniciais,

o que é confirmado por Maria:

Em 1997, ocorreu o III ENPEH, em Campinas, Estado de São Paulo, na

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Neste encontro, o foco maior foi

iniciar a solidificação do evento que, a esta altura, contava com a participação de

estrangeiros, vindos de países europeus e da América Latina, além de pesquisadores e

professores universitários e da Educação Básica de todo o Brasil. Os temas mais

versados giraram, mais uma vez, em torno dos currículos dos cursos de História, das

denominadas, na época, novas linguagens e ensino de História, livro didático e história

do ensino de história, temporalidade, didática da História, história dos vencidos e dos

vencedores, constituição das identidades nacionais, percepções culturais e cidadania.

No decorrer da minha pesquisa, os anais deste encontro não foram localizados. A

busca resultou somente em textos-síntese dos Grupos de Trabalho (GT) produzidos por

seus coordenadores, nos quais não foi possível detectar nenhum indício de comunicação

oral com o recorte dos Anos Iniciais. Pelas temáticas, foi possível perceber que a

preocupação quanto ao currículo e às reformulações em andamento continuavam sendo

o ponto central dos debates e discussões.

O ano de 1997, assim como os anos subsequentes, foram marcados pelos debates

e a publicação de textos sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),

acompanhando o processo de mudanças legislativas na educação. No final do ano

anterior, 1996, havia sido sancionada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional. Com a publicação e a implantação de um currículo orientado pelos PCN

houve muitas tensões. A equipe do Ministério da Educação (MEC), no governo de

Fernando Henrique Cardoso, na ânsia de implementar o mais rapidamente possível as

novas orientações curriculares, abriu o documento para uma consulta pública, por um

curtíssimo espaço de tempo, e, logo em seguida, publicou e enviou os PCN para as

escolas que receberam um pacote de mudanças “pronto e acabado”.

Assim, infelizmente, o ensino de História acaba acontecendo muito voltado para as datas

comemorativas, né? Que é o momento que a gente mais trabalha com a disciplina história.

Agora mesmo teve a consciência negra, que a gente trabalhou uma ou duas semanas, o

mês de novembro, toda a consciência negra, é? Sabendo que é um assunto que a gente

pode estar trabalhando o ano inteiro, mas a gente acaba focando só no mês de novembro,

por conta da comemoração do dia. (Maria, 2014)

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Esta atitude gerou uma resistência muito grande por parte dos docentes da

Educação Básica que, mesmo sem um conhecimento preciso dos princípios que

orientavam os PCN, afirmaram, previamente, que o documento não condizia com a

realidade e que não iriam utilizá-lo. Cabrini et al (2004) reporta-se à queixa geral dos

professores: as imposições curriculares dos órgãos governamentais e das direções das

escolas foram consideradas descabidas pelos docentes, pois feitas em detrimento de uma

real preocupação com a educação, com a sala de aula. Foi um contexto em que até

mesmo as boas propostas podiam se perder no cotidiano e na prática da sala de aula.

Os parâmetros constituíam orientações, em sua grande parte, pautadas na Nova

História, no trabalho com a História Local e Regional, no estímulo à diversificação das

linguagens, em sala de aula, na disciplina História. A meu ver, a forma hierárquica

como o processo foi conduzido pelo MEC apresentou-se como um dos fatores que

propiciou a rejeição, o engavetamento desses parâmetros, em grande parte das escolas

de todo o Brasil, e que a História ensinada nestas instituições continuasse sendo

marcada pela linearidade, pelos grandes acontecimentos, pelas personalidades políticas

e as datas comemorativas.

Segundo Ilka Mesquita:

[...] durante os anos de 1980 e 1990 a produção acadêmica da área de

Ensino de História centrou suas investigações na crítica ao modelo da

História Ensinada, como também passou a embrenhar por outros

percursos com a finalidade de compreender o processo de construção

do conhecimento do Ensino de História. Nesse sentido, os

pesquisadores do Ensino de História imbricaram em diferentes áreas

do conhecimento, além da própria ciência de referência – a História,

pela busca de diálogos que pudessem fecundar as reflexões de suas

pesquisas. (MESQUITA, 2011, p. 4)

Nos anais do IV ENPEH, realizado em 1999, na UNIJUÍ-RS, foi encontrado um

único texto, de autoria de Ana Cláudia Urban: Alguns desafios do Ensino de História

nas Séries Iniciais. Os objetivos deste estudo, segundo a autora, são:

1. Analisar a fundamentação teórica e os encaminhamentos

metodológicos propostos para o ensino de História nas séries iniciais;

2. Refletir sobre a noção de tempo histórico e a sua possibilidade

de apreensão nas séries iniciais;

3. Promover discussões acerca do ensino de História,

oportunizando dessa maneira, momentos em que a prática docente

possa ser refletida;

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4. Produzir subsídios de discussão e reflexão para professores e

especialistas da Rede Municipal de Educação que atuam nas séries

iniciais. (URBAN, 1999, p. 21)

Neste texto, Urban (1999) observa que optou por discutir as séries iniciais pelo

fato de ainda existirem muitas dúvidas sobre como estaria ocorrendo a extinção da

disciplina Estudos Sociais e sendo feito o retorno da História e da Geografia, enquanto

disciplinas autônomas, no Ensino Fundamental. A preocupação com esta mudança se

justificava, sob a ótica de Urban (1999), pelo fato de, historicamente, a disciplina

Estudos Sociais já estar cristalizada no currículo e no cotidiano das escolas.

Oficialmente, a extinção da disciplina Estudos Sociais do currículo nacional, nas Séries

Iniciais do Ensino Fundamental, ocorreu a partir de 1996, pela nova LDBEN. Contudo,

no currículo efetivado nas escolas, esta mudança demoraria ainda alguns anos para se

consolidar.

Segundo Urban (1999), foi no contexto de aprovação da LDBEN (1996) e da

publicação e implantação dos PCN (1997), que os graduados em História tiveram a

percepção da importância de se pesquisar e estudar o ensino de História nas Séries

Iniciais, visto que os docentes que atuavam neste segmento não tinham formação

específica, no tocante à metodologia, para lecionar a disciplina de História.

No trabalho de campo, observamos que Cecília e Maria recorrentemente se

referem à ausência de formação. Ao serem questionadas sobre se haviam cursado

alguma disciplina na graduação que as tivessem auxiliado no planejamento e na

docência da disciplina História, Cecília rapidamente negou.

Maria, por sua vez, fez referências à Didática e à História da Educação como

disciplinas que a auxiliaram em alguns momentos, mas que não teve nenhuma disciplina

específica que trabalhasse Metodologia ou Didática do Ensino de História.

Urban (1999), ao se referir à ausência de formação, sugere que caberia aos

professores universitários a “missão” de “assessorar” os professores das Séries Iniciais.

[…] acreditamos que não podemos ‘apenas’ constatar o fato, mas

podemos através de formação de um grupo de estudo, fornecer

assessoria ao professor, oferecendo um espaço para que essa lacuna

Nenhuma que eu me lembre. (Cecília, 2014)

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seja preenchida. Preenchida com reflexões sobre a importância das

fontes, sobre a compreensão da temporalidade, sobre a idéia de

duração, buscando assim, uma História profunda e total, que rompa

com uma ‘história pobre’, com aparência de enganadora, onde não há

espaço para reflexão, onde os fatos são apenas narrados, isto é, o

passado é desvinculado do presente, é uma história do passado pelo

passado, dos eventos políticos, onde se renuncia qualquer

interpretação, onde não há debate. (URBAN, 1999, p. 23)

Encontra-se ainda muito presente, neste pensamento de Urban (1999), a ausência

de um debate específico sobre as crianças na faixa etária de 7 a 10 anos, uma lacuna

sobre o que essas crianças desejam conhecer e aprender sobre História, o que as atrai na

História, sobre como aprendem História. Pesquisar sobre a História ensinada nos Anos

Iniciais não é possível sem que o conhecimento produzido nas salas de aula do Ensino

Fundamental, pelas docentes e crianças de 7 a 10 anos, seja considerado.

O V ENPEH, realizado em 2001, em João Pessoa, na Universidade Federal da

Paraíba, foi um encontro qualitativa, pela temática e quantitativamente relevante (600

pessoas em média, mesas-redondas diversas, 26 cursos, 115 apresentações de trabalhos

e uma conferência), mas não publicou os anais. Alguns textos selecionados (conferência

e mesas-redondas) foram publicados na revista Saeculum, do Departamento de História

da UFPB. Assim, não se pode afirmar a existência (ou não) de alguma comunicação

específica sobre o ensino de história nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Após a leitura dos textos publicados, percebi que os eixos tratados continuaram

versando sobre:

– Formação de professores de História;

– Produção do conhecimento em História;

– Identidades culturais e memórias locais;

– Currículo;

– História do ensino de História e História da América;

– Linguagens e ensino de História e novas tecnologias;

– Produção historiográfica e livro didático;

– Memória e ensino de História;

– O uso escolar de fontes históricas.

Temas recorrentes, pelo fato de anteriormente no III ENPEH (1997) ter ocorrido a

deliberação que, nos próximos encontros, estes assuntos seriam os eixos dos Grupos de

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Trabalho, o que perdurou até 2003, quando outros eixos de debate foram incorporados

ao VI ENPEH (2003), que foi “[…] organizado no sentido de comemorar e, ao mesmo

tempo, fazer um balanço dos significados do trabalho desenvolvido ao longo dos dez

anos de reflexões e troca de experiências vividas na/pela pesquisa do Ensino de História

no Brasil” (MESQUISTA, 2011, p. 14), em Londrina, Paraná, na Universidade Estadual

de Londrina.

Na edição de 2003, houve trabalhos publicados nas seguintes temáticas: História

indígena; Formação de professores; História ambiental; Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN); Saberes escolares; Práticas escolares; Identidade e pluralidade étnica;

Temas transversais; Fontes históricas; Uso de novas tecnologias; Estágio; Competências

e habilidades; Currículo; História cultural e História do ensino de história. Em meio aos

inúmeros trabalhos, encontrei o artigo de Michele Cristina Moura e Selva Guimarães

Fonseca, intitulado Saberes e Práticas Pedagógicas de Ensino de História:

implementação dos PCNs nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Segundo o texto:

Trata-se de um estudo integrado ao projeto de pesquisa Saberes

históricos e geográficos escolares: representações e práticas

pedagógicas, vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saberes

e Práticas Educativas do Programa de Mestrado em Educação da

Universidade Federal de Uberlândia. Tomamos como ponto de partida

nesta investigação algumas questões, que se constituíram eixos

norteadores para o pleno desenvolvimento desta pesquisa.

Ressaltamos que as mesmas constituíram o problema central desta

investigação e podem ser assim sintetizadas. Quais as

intencionalidades implícitas e explícitas dos Parâmetros Curriculares

Nacionais? Quais os saberes históricos difundidos e incorporados às

práticas dos professores (as)? Como este Currículo Nacional está

sendo implementado em diferentes realidades educacionais em

Uberlândia-MG? (MOURA; FONSECA, 2003, p. 591)

A escolha desta temática tem relação com a publicação dos PCN (1997), impostos

como parâmetros a serem seguidos pelas escolas públicas de todo o país, a partir do

MEC, que afirmava ser o documento que traria inovações às escolas públicas da

Educação Básica, vistas pelas instâncias governamentais, e por parte da sociedade,

como uma educação permeada de lacunas, fracassos e problemas. O objetivo maior era

a melhoria urgente dos indicadores de qualidade já que, neste mesmo período, houve a

implementação de várias avaliações na educação brasileira, tais como o Sistema

Nacional de Avaliação do Ensino Superior, a Prova Brasil, a Provinha Brasil, o

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Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), dentre tantas outras. Neste

contexto, o objetivo era perceber como estava ocorrendo a implantação dos PCN, a

partir das aulas de História.

Em 2006, na Universidade Federal de Minas Gerais, ocorreu o VII ENPEH, com a

temática ENPEH: novos problemas e novas abordagens. Os temas não foram

modificados em relação ao encontro anterior e houve uma programação extensa:

conferência de abertura, 10 grupos de trabalho (linhas de pesquisa), seis mesas-redondas

e dois fóruns de discussão. Segundo Mesquita, este ENPEH “[...] pôde enfatizar

novamente a vitalidade do discurso e o crescimento efetivo do grupo de pesquisadores

do Ensino de História” (2011, p. 16).

Nos anais deste encontro havia somente um texto que versava sobre o ensino de

História nos Anos Iniciais: Reflexões e (Re)Construção do Sentido da Prática dos/as

Professores/as de História no 2º Ciclo do Ensino Fundamental, de Everaldo Simões

Souza e Juçara Luzia Leite. Trata-se de um relato de experiência onde os autores

procuraram, por meio de oficinas sobre fotografias existentes no Arquivo Público

Estadual do Espírito Santo, demonstrar aos discentes do curso de Pedagogia, da

Universidade Federal do Espírito Santo, a importância de se fazer uso de imagens e o

potencial pedagógico do arquivo para uso nas aulas de história.

A referida pesquisa merece destaque por trazer à tona um debate até então ausente

nos textos sobre o ensino de História nos Anos Iniciais: a relação entre fotografias e

arquivos. As fotografias, por serem fontes de pesquisa e um recurso didático no ensino

da História, para a rememoração de diversos fatos e o conhecimento de um

espaço/tempo não vivenciado pela criança, e os arquivos como um dos lócus de atuação

e de pesquisa do graduado em História.

Os artigos O saber histórico dos professores de séries iniciais: algumas

perspectivas de ensino em sala de aula, de Tiago Costa Sanches, e Conhecimento sobre

o Tempo Histórico de Professoras das Séries Iniciais: contextos e singularidades, de

Magda Madalena P. Tuma, foram apresentados em 2008, no VIII ENPEH, realizado na

Universidade de São Paulo (USP).

A comunicação de Sanches (2008) era parte de sua dissertação de mestrado e

consistia em identificar se as professoras das Séries Iniciais do Ensino Fundamental

detinham os conhecimentos teóricos e metodológicos específicos da História, enquanto

disciplina. Também objetivava saber como estes conhecimentos se apresentavam na

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prática escolar destas docentes. Para tal, realizou um estudo de caso no Colégio

Municipal Olavo Barros Soares, na cidade de Cambé/PR. Tratava-se de um artigo sem

maiores conclusões, visto que seu objetivo maior era apresentar as primeiras impressões

da pesquisa, ainda em sua fase inicial. Contudo, ainda assim, o referencial teórico já

estava claro neste artigo: Rüsen4 e a Didática da História.5

No artigo de Tuma (2008), o referencial foi constituído pelos saberes –

acadêmicos e experienciais e, a partir destes conceitos, a autora realizou um estudo das

trajetórias e singularidades existentes na formação dos conhecimentos construídos sobre

o conceito de tempo histórico. Um diferencial entre estes dois textos e os demais artigos

pesquisados, inclusive em outros encontros, refere-se à formação dos sujeitos que

participaram da pesquisa. Enquanto nas demais pesquisas todas as participantes eram

Pedagogas, nas pesquisas de Sanches (2008) e Tuma (2008), as duas professoras

pesquisadas eram graduadas em História, ainda que atuassem nos Anos Iniciais.

Desde o VII ENPEH de 2006 houve uma modificação na concepção dos saberes e

práticas das professoras dos Anos Iniciais, perceptível nos objetivos assinalados pelos

autores dos diversos textos publicados nos anais desses encontros. Se, em princípios da

década de 1990, as professoras deste segmento, pedagogas por formação, não eram

consideradas como produtoras de conhecimento histórico, na primeira década de 2000,

já havia a preocupação de identificar quais os conhecimentos históricos produzidos

pelas mesmas. Procurava-se conhecer quais as práticas docentes dos professores, ao

lecionarem a disciplina História nas Séries Iniciais, e quais os saberes que permeavam

tais práticas. A influência da Didática da História igualmente fazia-se presente, tendo

Jörn Rüsen como o referencial teórico de alguns textos.

4 “Jörn Rüsen é professor emérito da Universidade de Bielefeld (1989-1997), no estado alemão da

Renânia do Norte-Vestfália, onde sucedeu na cátedra a Reinhardt Koselleck. Antes fora professor na

Universidade de Bochum (1974-1989), na de Berlim e na de Braunschwieg. Sua carreira foi coroada com

a presidência, por dez anos (de 1997 a 2007), de um dos centros mais destacados de investigação em

ciências humanas da Alemanha, o Instituto de Ciências da Cultura [...] do mesmo estado, na cidade de

Essen. Estudou História, Filosofia, Pedagogia e Literatura na Universidade de Colônia, onde obteve o

grau de doutor em 1966”. (MARTINS In: SCHMIDT; BARCA; MARTINS, 2010, p. 7)

5 “Além da continuidade das investigações pertinentes à análise da consciência histórica de crianças,

jovens e professores, a presença do pensamento rüseriano tomou outras abrangências nas investigações.

Há um conjunto de pesquisas cuja preocupação tem sido analisar a natureza da Didática da História no

Brasil, a partir, principalmente, dos contributos de Rüsen sobre a forma de aprender e ensinar a história”.

(SCHMIDT; BARCA; GARCIA In: SCHMIDT; BARCA; MARTINS, 2010, p. 14). Nesse sentido, a

Didática da História é focalizada a partir do desenvolvimento da consciência histórica.

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No ano de 2011, no IX ENPEH ocorrido em Florianópolis, capital do Estado de

Santa Catarina, houve um salto quantitativo na produção de pesquisa sob a temática

geral de Ensino de História e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Pela primeira vez,

houve a organização de um grupo de trabalho (GT) intitulado “Ensino de História nas

Séries Iniciais”, coordenado pelas professoras Sandra Regina de Oliveira, da

Universidade Estadual de Londrina, e Clarícia Otto, da Universidade Federal de Santa

Catarina. Neste GT, houve a apresentação de dezoito comunicações orais (Apêndice 1).

O surgimento deste grupo de trabalho demonstrou o crescimento dos debates

sobre esta temática, por parte dos licenciados e bacharéis em História. Até então, as

pesquisas realizadas eram isoladas e feitas pontualmente. Este GT demarca igualmente a

existência do grupo de pesquisa formado pela professora Sandra Regina Ferreira de

Oliveira, no âmbito da Universidade Estadual de Londrina, ligado ao Laboratório de

Ensino, Pesquisa e Extensão nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. No âmbito da

temática Ensino de História e Anos Iniciais, alguns subtemas são recorrentes: livros

didáticos, formação de professores, consciência histórica, práticas e saberes docentes.

Os “professores especialistas”, graduados em História, procuram assim se aproximar

das “professoras multidisciplinares”, que atuam nos Anos Iniciais e são formadas em

Pedagogia, no sentido de entender melhor a cultura escolar e a cultura histórica

produzida e existente nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Em 2013, por ocasião do X ENPEH, houve a inauguração de um novo formato de

apresentação de trabalhos: o grupo de pesquisa em diálogo (GPD), em substituição ao

grupo de trabalho (GT). O GPD tinha como objetivo um debate amplo e contínuo, nos

dois dias de evento, com todos os apresentadores das comunicações orais, sem um

tempo de fala definido e previamente agendado. Ao longo do evento, os vinte e nove

participantes estiveram presentes ao GPD1 – Ensino de História nos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental – para que, coletivamente, pudesse ocorrer o debate sobre o(s)

objeto(s) de estudo dos trabalhos, a(s) metodologia(s) escolhida(s) nas pesquisas e os

recortes feitos nos temas.

O GPD 1 elaborou sete pôsteres apresentando os frutos de pesquisas

desenvolvidas no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

(PIBID) e oito pesquisas no âmbito de comunicação oral. Nos pôsteres, a temática

indígena foi contemplada em três deles; patrimônio cultural e história local em outros

três e a temática da socialização na infância em um, conforme quadro a seguir.

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Quadro 1

Pôsters apresentados no X ENPEH divididos por temáticas

Autor(es) Título do Pôster

Indígenas

Mônica dos Reis Santos A permanência de silenciamentos sobre a

história indígena nos anos iniciais do Ensino

Fundamental

Tathiana Santos Soares

Andréia Bispo dos Santos

As transformações ocorridas na educação

indígena brasileira: reflexões iniciais

Kainara de Farias Janjacomo

Karina Lumy Kikuchi

Thalita Pretti Dias

A importância do intercâmbio cultural entre os

alunos índios e não índios

Patrimônio Cultural e História Local

Andréa Fabiane Gibellato

Silvana Muniz Guedes

Leonice Leite

Marília Bragagnollo Vivian

As lentes captam o que o coração sente:

calçadão de Londrina

Eva Vilma Correia Paes de Barros

Márcia de Godoi Queiroz

Ensino de História e História Local: uma

experiência nos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental

Daniely Feitosa de Oliveira A compreensão da História ensinada na

Infância

Socialização na Infância

Diva Riciolina Machado

Lilian Cristine Veríssimo dos Santos

Quitéria Aparecida Batista

Thamiris Bettiol Tonholo

Qual relação entre ensinar e aprender história

na escola e a hora do “recreio”?

Fonte: elaboração da autora, 2015

As pesquisas, algumas em andamento e outras concluídas, eram de

responsabilidade de graduandas do curso de Pedagogia, mestrandos, mestres,

doutorandos e doutores, atuantes nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil. Após a

leitura dos textos, estes foram agrupados em três temáticas: Saberes Docentes,

Currículo e Saberes Discentes, conforme quadro a seguir:

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Quadro 2

Trabalhos apresentados no X ENPEH divididos por temáticas

Autor(es) Título da Comunicação Oral

Saberes Docentes

Tatiana Polliana Pinto de Lima As práticas de ensino de História de

professores dos Anos Iniciais na cidade de

Salvador/BA: as primeiras percepções

Eleta de Carvalho Freire

Maria Thereza Didier de Moraes

Margarete Maria da Silva

Conhecimento Histórico nos Anos Iniciais:

entre leituras e estratégias metodológicas

Jaqueline A. M. Zarbato Ensino de História nos Anos Iniciais:

reflexões sobre as representações e

concepções do ensino de História para

acadêmicas do curso de Pedagogia

Marta Margarida de Andrade Lima

Ernesta Zamboni

Sobre aquilo que nos dispomos a ver: práticas

escolares que subvertem o olhar pelo lugar da

falta

Currículo

Tiago Costa Sanches Educação Histórica nos Anos Iniciais: a

construção de uma didática da história

Elvis Roberto Lima da Silva Os (des)encontros no ensino de História dos

Anos Iniciais

Saberes Discentes

Luciana Fernandes de Aquino O conhecimento histórico nos Anos Iniciais: o

que sabem e o que aprendem as crianças sobre

a Independência do Brasil

Adriana Peinado

Degiane Amorim Dermiro de Jesus

A interação cultural frente ao trabalho em sala

de aula sobre as sociedades indígenas

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Segundo as coordenadoras do GPD1, Lana Mara de Castro Siman e Sandra

Regina Ferreira de Oliveira, no texto produzido por elas e entregue aos debatedores das

comunicações orais, há um maior interesse em investigar sobre os saberes dos

professoes dos Anos Iniciais.

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De forma geral, as pesquisas sobre tal assunto buscam identificar o

que sabem sobre a história, conhecimento histórico, importância da

história e como trabalham em sala de aula. Esse saber é tratado, pelos

pesquisadores, de diferentes formas: alguns partem ou concluem sobre

o ‘não saber’ do professor como fator importante para explicar

problemas quanto ao processo de ensino de história para crianças;

outros indicam a importância de ultrapassar a ideia de que os

professores dos Anos Iniciais não são professores de História e

procurar entendê-los como ‘também professores de História’6, pois

trabalham em várias disciplinas; outros ainda indicam a necessidade

de ampliar o foco quanto aos saberes dos professores porque

ocorreram mudanças sociais que precisam ser consideradas devido às

alterações quanto às noções de verdade, realidade, conhecimento e

linguagem. Os saberes dos alunos foi outra temática tratada [...].

Alguns buscam identificar o que os alunos sabem sobre um

determinado assunto ensinado pelo professor. [...] Em outros, os

autores trabalham diretamente com os alunos. As pesquisas que

buscam nos documentos caminhos para compreender o ensino de

história nos Anos Iniciais apresentam as diferentes concepções que

vão se delineando ao longo dos anos em propostas que têm por

finalidade balizar a ação docente na escola. (SIMAN; OLIVEIRA,

2013, p. 11-12)

Segundo o gráfico a seguir, apesar do crescimento das pesquisas sobre o ensino de

História nos Anos Iniciais não ter sido amplo, nos primeiros ENPEH, nos três últimos

encontros, houve uma ampliação dos debates e pesquisas sobre a temática,

demonstrando a organização dos pesquisadores interessados em discutir ensino de

História e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, através da constituição de grupos de

trabalho e de pesquisa.

6 Esta expressão consta no artigo de LIMA, Tatiana Polliana Pinto de. As práticas de ensino de História

de professores dos Anos Iniciais na cidade de Salvador/BA: as primeiras percepções apresentado neste

GPD, no X ENPEH.

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47

Gráfico 1

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Outro encontro que muito contribuiu para os debates na área de Ensino de

História foi o Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História. Ao longo de 27

anos de existência, o Perspectivas realizou nove eventos, nas mais diversas instituições

de Ensino Superior brasileiras. Foram eles:

1988 (I Perspectivas) – Universidade de São Paulo;

1996 (II Perspectivas) – Universidade de São Paulo;

1999 (III Perspectivas) – Universidade Estadual de Campinas;

2001 (IV Perspectivas) – Universidade Federal de Minas Gerais;

2004 (V Perspectivas) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro;

2007 (VI Perspectivas) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte;

2009 (VII Perspectivas) – Universidade Federal de Uberlândia;

2012 (VIII Perspectivas) – Universidade Estadual de Campinas;

2015 (IX Perspectivas) – Universidade Federal de Minas Gerais7.

Em sua primeira edição, no ano de 1988, na Faculdade de Educação da USP, o

evento tinha como objetivo a aproximação entre os professores do Ensino Superior e os

7 Os Anais do IX Perspectivas do Ensino de História ocorrido em 2015 na Universidade Federal de

Minas Gerais não foi publicado até o presente momento de fechamento deste trabalho e, portanto, não

foi possível acessar os trabalhos apresentados neste Encontro.

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professores da Educação Básica, entrecruzando seus olhares sobre o Ensino de História,

as Políticas Públicas, Formação de professores e Livro didático. Segundo Mesquita, foi

“[...] um espaço amplo e dedicado às experiências didáticas [...]” (2011, p. 8).

Cinco trabalhos, que versaram diretamente sobre o Ensino de História de 1º Grau

foram localizados. Destes, três trataram, ainda que de forma rápida, da primeira série do

1º Grau, e, em dois outros, o foco dos relatos de pesquisa estava na 3ª série,

considerada, para muitos graduados em História, como a série na qual as crianças

iniciavam os contatos formais com a História (CAMARGO; ZAMBONI;

GALZERANI, 1988). O foco maior era o segundo segmento, da 5ª à 8ª séries.

Os textos “Proposta Curricular de Estudos Sociais de 1ª a 4ª séries para o Estado

do Acre”, de Adelaide Maria Costa e Silva, Francisca Bezerra da Silva, Maria Rita da

Silva e Maria José Bezerra, e “Proposta Curricular do Município do Rio de Janeiro

para o Ensino de História no 1º Grau: integração social no 1º Segmento”, de Ana

Maria Ferreira da Costa Monteiro, tratavam, como os títulos já apontam, do debate

curricular e das mudanças pretendidas nos ensinos de História e Geografia neste

segmento do 1º Grau.

No primeiro artigo mencionado, as autoras realizaram uma apresentação sucinta

dos conteúdos curriculares do Estado do Acre para a disciplina de Estudos Sociais, em

estudo voltado para as quatro primeiras séries do 1º Grau. No segundo artigo, Monteiro

(1988) defendia a integração das disciplinas de História e Geografia para o primeiro

segmento do 1º Grau, apontando que o objetivo desta proposta seria permitir, a crianças

de 7 a 10 anos, construir as noções de uma vida em sociedade, a partir de quatro

conceitos: grupo social, espaço, tempo e trabalho. Ao final, propõe alguns recortes

temporais que, na sua visão, não podiam deixar de ser trabalhados com as crianças desta

faixa etária.

O terceiro artigo localizado foi o de Heloisa Fesch Menandro (1988), intitulado

“Atualização de Professores: a História no 1º Grau e a Televisão”, onde a autora

apresentava a proposta de um livro que compreendia vinte aulas, com o objetivo de

formar os professores no 1º Grau. Segundo Menandro, “[...] seus textos teóricos e

atividades práticas foram transpostos para a linguagem de vídeo em situações de sala de

aula” (1988, p. 364). O objetivo não era debater outras linguagens na sala de aula da

disciplina de História, mas, sim, trazer uma experiência de videoaula para os

professores.

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a) O conhecimento das dificuldades metodológicas de professores

e alunos de História (1º e 2º Graus) a nível teórico e prático;

b) O levantamento das diferentes visões de História presentes na

prática docente;

c) A análise de como a visão de ‘tempo histórico’ é trabalhada por

professores e alunos;

d) As relações em sala de aula e, mais do que isso, as

sensibilidades frente ao ensino de História;

e) A avaliação dos nossos cursos de licenciatura;

f) A elaboração de alternativas viáveis de ação para o ensino de

História (1º e 2º Graus). (CAMARGO; ZAMBONI; GALZERANI,

1988, p. 522)

Estes foram os objetivos da pesquisa relatada no texto “Sabores e Dissabores do

Ensino de História (1º E 2º Graus)”, de Dulce Maria Pompeu de Camargo, Ernesta

Zamboni e Maria Carolina B. Galzerani. Por fim, debater a pesquisa como

procedimento didático nas aulas de História foi o alvo maior de Angela Canesin Sivieri,

Arilde Lurdes Ioris Chociai, Irene Nogueira Rasslan e Lúcia Maria Gonçalves de

Resende, no relato “A pesquisa no 1º E 2º Graus: uma experiência em Dourados/MS”.

O II Perspectivas ocorreu somente em 1996, oito anos após o primeiro, também

na USP, em São Paulo. Ao longo desta edição, seguindo a linha do ENPEH, os eixos

mais trabalhados foram: formação do professor de História; currículo; construção do

conhecimento histórico; uso de novas linguagens nas aulas de história.8 Os textos

localizados neste encontro, que trataram do Ensino de 1º Grau/Ensino Fundamental,

estão listados no quadro a seguir.

8 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (BRASIL, 1996) modificou a nomenclatura

de Séries Iniciais do Ensino de 1º Grau para Séries Iniciais do Ensino Fundamental. A Reforma do Ensino

Fundamental de 2009, que instituiu o Ensino Fundamental de nove anos, acrescentou às quatro primeiras

séries mais uma, e estas séries passaram a ser denominadas de Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Nos

textos publicados nos Perspectivas de 1996 e no Perspectivas de 1999, as duas nomenclaturas foram

encontradas: Ensino de 1º Grau e Ensino Fundamental, por isso, escolhi usar o termo 1º Grau/Ensino

Fundamental ao referir-me aos trabalhos destes encontros. Após 2009, faço referência à séries/anos

iniciais do Ensino Fundamental, pois foi a nomenclatura encontrada nos textos publicados nos encontros

de 2009 e 2012.

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Quadro 3

Trabalhos apresentados no II Perspectivas

Grupo de Trabalho

TÍTULO COORDENADOR(ES) OBJETIVOS

Ensino de História e Ensino

Fundamental

Maria de Fátima Salum

Moreira e Tomoko Paganelli

Problematizar e encaminhar

análises sobre os objetivos e

fundamentos quanto à

disciplina História nas séries

iniciais.

A Historiografia Didática para

o Ensino Fundamental

José Ricardo Oriá Fernandes Apresentar as críticas tecidas

quanto aos livros didáticos de

Estudos Sociais que estavam

na época sendo utilizados

pelas crianças no Ensino

Fundamental.

Comunicações Orais Individuais

TÍTULO AUTOR(ES) OBJETIVOS

Estudo do Meio – “Do cafezal

ao cafezinho”

Yvone Dias Avelino Relato de experiência sobre

uma proposta de estudo do

meio realizada com alunos da

3ª série no Colégio Santa

Cruz em São Paulo.

Estudos Sociais para as Séries

Iniciais?

Maria de Fátima Salum

Moreira

O maior objetivo aqui foi

debater sobre a permanência

da disciplina Estudos Sociais

ou a sua separação entre as

disciplinas História e

Geografia.

História e Ensino Básico Ana Maria Monteiro Questionar o ensino de

História nas Séries Iniciais,

trazendo ao leitor as mais

diversas linhas teóricas sobre

o que ensinar e como ensinar

História neste primeiro

segmento do ensino

fundamental.

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Comunicações Coordenadas

TÍTULO AUTOR(ES) OBJETIVOS

Alternativas para o Ensino de

História e Estudos Sociais

Antonio Clarindo Barbosa de

Souza

Eronildes Câmara Donato

Keila Queiroz e Silva

Apresentação de um conjunto

de experiências realizadas por

professores de diferentes

Departamentos de História e

Educação da Universidade

Federal da Paraíba, no que diz

respeito às práticas de ensino

de Estudos Sociais e de

História, no 1º e no 2º Graus.

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Em 1999, em Campinas, na Universidade Estadual de Campinas, ocorreu o III

Perspectivas. Ao contrário de sua segunda edição, neste encontro não houve nenhum

Grupo de Trabalho (GT) especificamente voltado para o Ensino Fundamental. Ainda

assim, quatro textos foram encontrados: “O Município nas Séries Iniciais: qual

história? Qual ensino?”, de Vera Lucia Maciel Barroso; “O uso de documentos em

estado de arquivo particular no ensino de História no Ensino Fundamental”, de Geyso

Dongley Germinari; “O ensino de História nas séries iniciais: exemplos de produção

interdisciplinar”, de Cleusa Maria Fuckner e o “Perfil do profissional que ensina

História de 1ª a 4ª séries no Eixo Ilhéus-Itabuna (1997-1998)”, de Anna Lúcia Côgo.

Barroso (1999) coloca ao leitor o debate sobre qual ensino de História, no âmbito

dos municípios, deveria haver e como ensinar a História, em virtude das inúmeras

reformulações curriculares ocorridas após a LDBEN de 1996 e a publicação dos PCN

de 1997, que extinguiram a disciplina Estudos Sociais e implantaram as disciplinas de

História e Geografia, separadamente, nas séries iniciais.

O texto de Geyso Germinari traz um relato de experiência sobre o Projeto

Recriando a História de Pinhais, que visou a melhoria da qualidade do ensino de

História na 3ª série do Ensino Fundamental, a partir de fontes levantadas junto às

famílias dos alunos desta série. Segundo o autor,

[…] o projeto tem como fundamento principal levantar fontes que

possibilitem analisar o presente e o passado da localidade em questão,

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do ponto de vista da história local construída pelas pessoas comuns

que nasceram ou chegaram à região. (GERMINARI, 1999, p. 355)

Cleusa Fuckner (1999) apresenta uma proposta de capacitação9 – curso O Pensar

e o Fazer Pedagógico em História – destinada a professores das séries iniciais dos

municípios da Fazenda Rio Grande, região metropolitana de Curitiba/PR, a partir de um

olhar interdisciplinar que articula História, Geografia, Língua Portuguesa, Ciências e

Arte-Educação. Estudar o perfil da professora que ensina história de 1ª a 4ª séries nas

cidades de Ilhéus/BA e de Itabuna/BA, a partir de dados coletados nas escolas públicas,

entre 1997 e 1998, foi o objetivo de Anna Lúcia Côgo (1999).

Ao contrário do ENPEH, cujos textos versavam sobre pesquisas desenvolvidas na

área do ensino de História, o Perspectivas sempre priorizou os relatos de experiência.

Ainda assim, os temas se entrelaçavam: Currículo, Formação de professores, Novas

Linguagens. Mas quase todos chegaram a uma conclusão: a de que as professoras das

Séries Iniciais do 1º Grau/Ensino Fundamental não possuíam formação adequada ou a

possuíam de forma insuficiente para que trabalhos significativos, no âmbito da

disciplina História, pudessem ser desenvolvidos neste primeiro segmento do 1º

Grau/Ensino Fundamental.

O objetivo de parte das comunicações expostas no Perspectivas centrou-se em

relatos de experiências que traziam cursos formativos para estes docentes, ofertados por

professores do Ensino Superior, graduados em História, imbuídos, portanto, de um

conhecimento específico que pode e deve ser compreendido pelos leitores como

hierarquicamente superior ao da professora multidisciplinar que atua nas Séries Iniciais.

No IV Perspectivas, ocorrido em 2001, na Universidade Federal de Minas Gerais,

foram encontrados somente dois textos voltados diretamente para as Séries Iniciais: “A

abordagem do ensino de História local nos livros didáticos das séries iniciais”, de

Idelsuite de Sousa Lima, e “Ensino de História Local: um desafio para os professores

do interior da Zona da Mata – o caso de Leopoldina”, de Natania Nogueira. Nestas

duas comunicações, o foco foi a História Local como eixo articulador das aulas de

História, nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Segundo Lima (2001) seu texto

9 Termo usado no texto de Fuckner (1999). Atualmente, refere-se à formação, que traz imbricado o

diálogo e a troca de saberes em substituição à capacitação, que pode remeter à ideia de treinamento.

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[...] visa trazer para o campo das discussões históricas a problemática

objeto de nossos estudos e pesquisas acerca da história ensinada na 1ª

fase do Ensino Fundamental e do que é central no que se refere a

questões teórico-metodológicas no campo do ensino, enfatizando a

História Local no contexto curricular. (p. 1)

O pensamento corrente de que ensinar História nas Séries Iniciais seria “[...] uma

tarefa inglória” (NOGUEIRA, 2001, p. 5) continua. Em seu texto, Lima (2001) fez uma

crítica contundente aos livros didáticos adotados nas séries iniciais: “[...] percebe-se que

há um descompassso entre o ensino de história, a proposta curricular e o livro didático,

visto que os manuais utilizados andam na contra-mão da história” (p. 4). Apontou

igualmente a generalização dos conteúdos de História nos livros didáticos de 1ª a 4ª

séries: “as consequências da generalização dos livros didáticos tornam-se graves, por

abordarem os assuntos de forma descontextualizada, distante e dispersa, sem

aprofundamento” (LIMA, 2001, p. 5).

A falta de recursos também foi apontada por Nogueira (2001), como um dos

fatores para um ensino de História sem muitas transformações ou mudanças em relação

à disciplina que o precedeu: os Estudos Sociais. “Com seus mínimos recursos procuram

encontrar alternativas para sanar a falta de fontes e de material didático adequado”

(NOGUEIRA, 2001, p. 5).

De modo geral, em princípios dos anos de 2000, ainda era muito forte a ideia de

um ensino de História deficitário ou precário, nas Séries Iniciais, no tocante aos livros

didáticos existentes, à ausência de formação adequada da professora multidisciplinar, à

existência de um ensino de História pautado em datas cívicas, eurocêntrico, linear e

reprodutivista, em relação aos conteúdos dos manuais didáticos, vistos como recurso

indispensável pelas professoras das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

No V Perspectivas, em 2004, ocorrido no Rio de Janeiro, a professora Helenice

Aparecida Bastos Rocha propôs o Grupo Temático (GT) “Ensino de História nas Séries

Iniciais”. Segundo a coordenadora,

O GT AS 04 - História nas séries iniciais, discute o quadro existente

no ensino de História neste segmento do Ensino Fundamental, bem

como acolhe estudos e experiências relativas a esse ensino tão diverso.

Visamos contribuir para a reflexão da área e para a circulação de

idéias e alternativas possíveis no ensino de História nas séries iniciais.

(ROCHA, 2004, s.p.)

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Neste GT, foram identificados, primeiramente, seis trabalhos: “Interações

Discursivas: uma perspectiva de produção de conhecimento”, de Dilma Célia Mallard

Scaldeferri; “Cultura urbana, saberes docentes e história ensinada”, de Sonia Regina

Miranda; “A História dos Escravos – Saberes e dizeres infantis”, de Celi Silva Gomes

de Freitas; “Uma revisão das pesquisas no campo do ensino e aprendizagem da

História para crianças”, de Soraia Freitas Dutra; “Brinquedos de Hoje, Brinquedos de

Antigamente – Todos podem ser divertidos”, de Cláudia Hernandez Barreiros, e

“Vamos brincar de índio?”: práticas e representações docentes sobre a temática

indígena na escola”, de Carina Martins Costa.

Ao longo do levantamento nos anais desse encontro, outros quatro textos foram

localizados: “O aluno nos livros didáticos de História dos primeiros anos do Ensino

Fundamental”, de Araci Rodrigues Coelho; “Fazendo a História: uma experiência em

formação de professores de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental”, de Sônia Resque;

“O Ensino de História no curso Normal Superior do ISERJ: primeiros resultados”, de

Maria Carolina Granato e Sônia de Castro Lopes, e “Ensinando História nas séries

iniciais: alfabetizando o olhar”, apresentado por Leila Medeiros de Menezes e Maria

Fátima de Souza Silva. Contudo, com os elementos de identificação presentes nestes

textos não se consegue identificar em qual GT foram apresentados.

Ao longo destas cinco primeiras edições do Perspectivas, alguns trabalhos que

versavam sobre História Local e/ou Regional perpassavam de forma muito superficial

as séries iniciais, visto que se entende ser neste primeiro segmento do Ensino

Fundamental onde ocorre uma quantidade maior de tentativas de trabalho sob este viés.

O diálogo com os PCN esteve igualmente presente em todos os relatos de

experiência ou de pesquisa, a partir dos livros didáticos e nas pesquisas sobre o que

ensinar e como ensinar História para as crianças em séries iniciais. Havia também uma

grande preocupação com a formação das professoras que ensinam História, nas séries

iniciais, bem como com a aprendizagem da História por parte das crianças de 7 a 10

anos. A reflexão sobre os saberes docentes e sobre os saberes infantis também marcou o

GT Ensino de História nas Séries Iniciais.

Neste encontro, ainda foi muito perceptível, em grande parte das pesquisas, a

valorização da Língua Portuguesa e da Matemática pelas professoras das Séries Iniciais

e, consequentemente, a desvalorização do ensino da disciplina História, nas escolas de

Ensino Fundamental.

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Miranda aponta em seu texto:

Quando discutimos e investigamos a organização do ensino de

História nas séries iniciais, frequentemente nos deparamos com

situações cotidianas em que a professora – muitas vezes portadora do

diploma de curso Normal e, em menor incidência, do curso de

Pedagogia – ou desvaloriza tacitamente o conteúdo histórico, sob a

alegação de que a Linguagem e a Matemática, nesta etapa da

escolarização, ocupam função estruturante no ensino, ou sente grandes

dificuldades para compreender a natureza epistemológica e pragmática

desse conteúdo. [...] O resultado mais comum desse quadro é a

projeção da matéria história para uma posição secundária no interior

do currículo real. (2004, p. 1)

No VI Perspectivas, ocorrido em Natal, na Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, no ano de 2007, houve uma solidificação dos debates voltados para o ensino

de História nas Séries/Anos Iniciais.10 Assim como no Perspectivas de 2004, houve a

organização de um grupo de trabalho voltado para o debate do Ensino de História nas

Séries Iniciais. Não há como afirmar que todos os trabalhos encontrados tenham sido

apresentados neste GT, mas, no total, foram localizados quinze (15) trabalhos

completos (Apêndice 2), que de forma direta ou indireta versavam sobre as Séries/Anos

iniciais.

Foi perceptível o interesse crescente dos graduados em História em compreender

o ensino de História nas Séries/Anos iniciais do Ensino Fundamental, em contraponto

ao que colocava Sandra Oliveira, ao afirmar: “[...] no campo da pesquisa no ensino de

história: poucos historiadores interessam-se pelo processo de construção do

conhecimento histórico em crianças. Muitos sequer acreditam na possibilidade de

criança aprender história nas séries iniciais” (OLIVEIRA, 2003, p. 263).

Havia, portanto, uma preocupação com os livros didáticos, com a constituição dos

saberes discentes e docentes, a construção do saber histórico, sobre a cultura escolar e a

cultura histórica, sobre as linguagens, fontes históricas, e ainda sobre o processo de

aprendizagem da História pelas crianças de 6 a 10 anos de idade. Neste contexto, os

“historiadores” teceram várias teias procurando compreender se e como as crianças

10 A nomenclatura está em transição em decorrência da implementação do Ensino Fundamental de 9 anos.

Com esta reforma, o Ensino Fundamental passou a abranger do 1º ao 9º anos e não mais da 1ª à 8ª séries.

Contudo, levou algum tempo para que a nova nomenclatura passasse a ser utilizada pela totalidade dos

pesquisadores em ensino de História. Por isso, ao longo dos anos seguintes, foi encontrado, em muitos

artigos, dissertações ou teses, o termo séries iniciais e não anos iniciais do Ensino Fundamental. No texto,

foi utilizado o descritor séries iniciais/anos iniciais simbolizando esta mudança.

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aprendiam e aprendem os conceitos históricos. Para tanto, apoiaram-se em teóricos da

Educação, nas culturas do brincar e dos espaços de brincadeiras, na compreensão da

relação das famílias com a escola, nas histórias dos sujeitos e dos lugares em suas

diversas temporalidades. Foi possível notar que, mesmo separadamente, História e

Geografia precisam dialogar, no sentido do entendimento de que o homem e suas ações

estão inseridos num tempo e num espaço.

Estas posturas foram percebidas nos onze (11) trabalhos (Apêndice 3)

identificados no VII Perspectivas, em 2009, organizado pela Universidade Federal de

Uberlândia. Não foi possível identificar mesa-redonda ou GT específico que tratasse do

tema Ensino de História nas Séries/Anos Iniciais no Ensino Fundamental. É possível

perceber claramente que, desde 1988, houve um crescimento do número de pesquisas

voltadas para o ensino de História nas Séries/Anos Iniciais. Contudo, ainda no VII

Perspectivas, existia um predomínio do pensamento de que este era um tema pouco

estudado, apesar de ser considerado desafiador para o “historiador”. Os Parâmetros

Curriculares Nacionais e as Orientações Curriculares diversas continuavam sendo o

foco dos debates, ao se tratar deste segmento de ensino.

Interessante perceber que, em parte dos textos produzidos, a professora

multidisciplinar das Séries/Anos Iniciais continuava sendo considerada como uma

docente reprodutora e não como a professora produtora de conhecimento histórico.

Termos como aplicar conteúdo e aplicar currículos são recorrentes, o que aponta para a

ausência de perspectiva do professor-pesquisador-produtor de conhecimento histórico

por parte das professoras que atuam nos primeiros anos do EF, cabendo esta produção

ao licenciado ou bacharel em História. Neste sentido, a preocupação com a formação da

professora das Séries/Anos Iniciais permanece como perspectiva central em alguns

textos. Poucos trabalhos trazem a perspectiva interdisciplinar em História e sua relação

com as demais disciplinas do currículo do Ensino Fundamental.

No VIII Encontro Perspectivas, houve um aumento expressivo de trabalhos

apresentados sobre ensino de História e Anos Iniciais. O evento de 2012, ocorrido na

Universidade Estadual de Campinas, contou com uma mesa-redonda, que versava sobre

o tema: “Ensino de História e sensibilidades nas séries iniciais”, composta por

Helenice Aparecida Bastos Rocha, Cláudia Regina Fonseca Sapag Ricci e Sandra

Regina Ferreira de Oliveira. O GT 8, Ensino de História nos Anos Iniciais, contou com

a apresentação de trinta e seis (36) comunicações (Apêndice 4) orais divididas em três

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sessões de socialização, coordenadas pelas professoras Maria Elisa Gómez Laborde

(ANPEP-Uruguai); Marta Margarida de Andrade Lima (UFRPE); Clarícia Otto

(UFSC); Silma do Carmo Nunes (FCU).

Houve um crescimento significativo do interesse nesta temática, confirmado pelo

aumento no número de pesquisas e socializações feitas, englobando subtemas como os

PCN, Memória, Saberes discentes, Saberes docentes, Currículo, Interdisciplinaridade,

Fontes históricas, Formação inicial e continuada de professores, Tecnologias e

Aprendizagem significativa. Neste encontro, por meio dos proponentes das

comunicações (licenciados, mestres e doutores em História, licenciandos e graduados

em Pedagogia, especialistas, mestres e doutores em Educação), a Pedagogia e a História

dialogaram sobre a disciplina História e a aprendizagem de seus conteúdos, por parte

das crianças nos Anos Iniciais, buscando o entendimento de qual História se ensina e

como as crianças de 6 a 10 anos a aprendem/apreendem.

Por fim, no ano de 2015, ocorreu, em Minas Gerais, o IX Perspectivas. No site do

encontro, foi possível perceber que, ao contrário do encontro anterior, houve uma

retração dos debates sobre esta temática, marcada pela ausência de mesa-redonda sobre

Ensino de História e Anos Iniciais e/ou Grupo de Trabalho específico. Os anais com os

trabalhos ainda não foram publicados e por este motivo não foi possível levantar os

artigos que versaram sobre esse tema.

No gráfico a seguir, é possível visualizar melhor a evolução dos debates sobre esta

temática, desde finais dos anos de 1980 até a atualidade, no Encontro Nacional

Perspectivas de Ensino de História, considerando que este evento congrega não

somente professores do Ensino Superior, mas também professores da Educação Básica.

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Gráfico 2

Fonte: elaboração da autora, 2015.

O aumento de comunicações orais visto nas páginas anteriores é fruto das

pesquisas desenvolvidas no âmbito dos Programas de Pós-graduação existentes no

Brasil, de Mestrado e de Doutorado, que tomam por objeto o Ensino de História nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Isto fez com que os professores, após suas

defesas e inseridos no Ensino Superior, organizassem grupos de pesquisa e

submetessem projetos aos editais de fomento à pesquisa, tendo como guarda-chuva esta

temática. Consequentemente, houve a proliferação de pesquisas em vários níveis:

Iniciação Científica, Iniciação à Docência, Especialização, Mestrado e Doutorado.

Alguns textos, apresentados em outros eventos acadêmicos ou publicados em

revistas, foram localizados (Apêndice 5), mas, por não integrarem encontros específicos

da área de ensino de História, não suscitaram maiores reflexões e análises.

1.2. PESQUISAS SOBRE ENSINO DE HISTÓRIA EM SÉRIES/ANOS INICIAIS:

DISSERTAÇÕES E TESES

No que se refere às produções em nível de Mestrado e Doutorado, algumas

dissertações e teses foram localizadas no âmbito de alguns programas de pós-graduação

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brasileiros.11 Apesar das primeiras produções sobre o tema em foco datarem do ano de

1988, apenas em meados da década de 1990 ocorreu a defesa destes trabalhos. Maria

das Graças Ribeiro Petruci, em 1996, defendeu a tese: “A prática pedagógica do

professor da 4ª série do 1º Grau em relação a proposta curricular de História: um

estudo nas escolas estaduais de Franca”, na Universidade Estadual de Campinas.

Como vários outros estudos desta época, a intenção era conhecer as relações

existentes entre as orientações, a partir da Proposta Curricular para o Ensino de História

e a prática dos docentes da 4ª série. A autora aponta alguns aspectos evidentes em

outros trabalhos apresentados nos encontros do ENPEH e do Perspectivas, tais como o

escasso conhecimento dos professores quanto às correntes historiográficas e

pedagógicas que norteavam a Proposta Curricular de História e, por consequência, um

afastamento de suas práticas dessa proposta, no Estado de São Paulo, tendo em vista a

ausência de “capacitação” acerca do conhecimento histórico; excessiva carga horária de

trabalho; carência de formação específica e inadequação dos livros didáticos.

“A noção de tempo histórico na criança: um estudo sobre a noção do passado,

das ideias espontâneas relativas à história da civilização e da relatividade dos

conhecimentos e julgamentos históricos em crianças de 7 a 10 anos” é o título da

dissertação de Sandra Regina Ferreira de Oliveira (2000), defendida na Universidade

Estadual Paulista – Júlio de Mesquita Filho (UNESP) – campus de Marília/SP. A

pesquisa tem por objetivo a identificação da concepção de tempo histórico entre

crianças de 7 a 10 anos e como esta noção de temporalidade interfere na aprendizagem

dos conceitos históricos e da própria história. Oliveira (2000) chegou à conclusão de

que as crianças nesta faixa etária não concebem o passado e o presente com a mesma

sequência dos adultos. O passado é explicado a partir do presente e não o inverso. Esta

constatação faz com que as crianças das Séries Iniciais do Ensino Fundamental

11 Ao longo do levantamento, os dados sobre algumas dissertações e teses foram identificados, mas os

textos não foram localizados, o que impediu a sua leitura e, portanto, foram desconsiderados no corpo do

texto produzido: “História, memória e cotidiano nas primeiras séries do primeiro grau”, de Moacir

Gigante (1994); “O que se diz e o que se faz: a História nas séries iniciais”, de M. C. Assis (1999); “O

ensino de História nas séries iniciais: orientações curriculares e concepções de professoras”, de N. L.

Codani (2000); “Ensino de História local e currículo: ideias, dizeres e práticas no fazer educativo

escolar”, de Idelsuite de S. de Lima (2000); “A cultura italiana e o ensino de História e Geografia nas

séries iniciais do ensino fundamental”, de Luiz Alberto de Souza Marques (2001); “O uso metodológico

de documentos em estado de arquivo familiar no ensino de história nas séries iniciais do ensino

fundamental”, de Geyso D. Germinari (2001); “Histórias do Ensino de História: a história ensinada nas

séries iniciais em Santo Augusto”, de C. E. I. Toso (2003).

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apreendam a História de forma diferenciada, pois elaboram esquemas próprios de

compreensão dos conteúdos históricos.

O trabalho de Oliveira (2000) é o primeiro de uma série que rompe com os

subtemas clássicos: PCN e Ensino de História nas Séries Iniciais; As Reformas

Curriculares e o Ensino de História nas Séries Iniciais, escolhidos pela necessidade de

entender o contexto histórico do momento da redemocratização após 1985, quando

muitas reformas curriculares ocorreram, novas leis foram sancionadas, houve a extinção

da disciplina Estudos Sociais e o retorno às disciplinas História e Geografia, no

primeiro segmento do Ensino Fundamental.

Em 2005, Michele Cristina Moura defende a dissertação “Saberes da docência e

práticas de ensino de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental”, na

Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG). Este estudo marcou o início dos

debates sobre saberes e práticas que se tornaram mais expressivos nos encontros da área

de ensino de História. A intenção era entender a formação dos professores das

Séries/Anos Iniciais, o cotidiano vivido, e de que modo a formação específica, ou a

ausência dela, influenciava na constituição dos saberes e práticas docentes.

Na mesma linha de investigação das práticas docentes, há a dissertação de

Valsenio Gaelzer, “Práticas do ensino de história nos anos iniciais: histórias contadas

e histórias vividas”, estudo influenciado pelas pesquisas autobiográficas de meados da

primeira década do século XXI. O trabalho de Gaelzer foi defendido em 2006, na

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, e visava

compreender o fazer educativo das professoras, buscando identificar o que era ensinado,

como era ensinado e os constructos teóricos que sustentavam as práticas docentes nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Nesta pesquisa, tornou-se evi/dente a busca de valorização das falas das

professoras/entrevistadas, que enfatizam a superação de barreiras, a busca de superação

das práticas consideradas pelas docentes como tradicionais, além de uma preocupação

com o cotidiano escolar e a realidade local em que as escolas estavam inseridas. Este

estudo foi elaborado na contramão do pensamento que atribui, única e exclusivamente

aos professores, as lacunas e obstáculos encontrados no cotidiano escolar e da sala de

aula, ao ministrarem a disciplina História.

Em 2006, alguns anos depois de defender a sua dissertação, Sandra Regina

Ferreira de Oliveira apresentou a tese “Educação Histórica e a sala de aula: o processo

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de aprendizagem em alunos das séries iniciais do ensino fundamental”, na UNICAMP.

Partindo dos estudos da educação histórica, a pesquisadora procurou

[...] investigar o processo de construção da aprendizagem da História

em alunos de terceira série do ensino fundamental e compreender

como ocorre a articulação entre os saberes que estes trazem de suas

vivências não escolares e os saberes que lhes são apresentados no

espaço escolar. (OLIVEIRA, 2006, p. v)

O foco deste trabalho deixou de ser os docentes e passou a ser os discentes,

sujeitos tão ou mais importantes no processo de ensino e aprendizagem da História. Esta

pesquisa demonstrou-se inovadora, quando apresentou a ausência de articulação entre

os saberes e conhecimentos produzidos pelos alunos fora do espaço escolar e aqueles

que se aprendem nas aulas de História, revelando os sujeitos discentes que articulam

pensamentos, elaboram respostas, que, enfim, pensam.

Ainda em 2006, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Maria Angélica

Cardoso apresentou a dissertação “O ensino de História nas séries iniciais do Ensino de

Primeiro Grau na Escola Estadual Maria Constança Barros Machado (1977-2002)”. A

intenção foi reconstituir a disciplina História ensinada na escola Maria Constança

Barros Machado e as diferenças existentes entre a história ensinada e a História

acadêmica. A autora constatou a influência do currículo oficial nas práticas escolares de

História. Entretanto, os documentos que representam o currículo instituído,

apresentavam propostas distantes do cotidiano escolar, visto que os docentes possuíam

formas de ser, agir e pensar, diferentes das propostas contidas nos documentos.

Desde princípios do século XXI, o tema Saberes e Práticas Docentes esteve

presente em muitas das produções, no âmbito das dissertações e teses sobre ensino de

História nos Anos Iniciais. Raquel Elane dos Reis, a partir deste recorte, defendeu sua

dissertação, no ano de 2008, com o título: “Os impactos do Projeto Veredas na

formação docente, saberes e práticas de ensino de História nos anos/séries iniciais do

ensino fundamental”, na Universidade Federal de Uberlândia, com o objetivo de

pesquisar os impactos do Projeto Veredas. Trata-se de um projeto de formação de

Ensino Superior, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais,

na (re)constituição dos saberes e das práticas dos professores que dele participaram, ao

receberam aulas de História durante a sua formação.

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Ao final da pesquisa, percebeu-se que os docentes, ao refletirem sobre suas

práticas e saberes no âmbito da disciplina História, cursada durante a formação no

projeto, atribuíram-lhe novos significados, bem como incorporaram outros saberes,

metodologias e recursos didáticos que contribuíram para a própria formação docente e,

consequentemente, influenciaram em sua forma de lecionar História.

O trabalho de Miriã Lúcia Luiz, sob o título “Que história é essa? Percursos da

história ensinada a crianças em escolas do Ensino Fundamental”, datado de 2008, cuja

defesa deu-se na Universidade Federal do Espírito Santo, apesar do título sugerir tratar-

se da História da disciplina, é uma pesquisa que procurou investigar como o ensino de

História se configura nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, por meio das práticas

das professoras do município de Mantenópolis, no Espírito Santo.

A autora, apesar de ter encontrado um modo de ensinar História, fragmentado e

aleatório, em outros momentos percebeu que a disciplina aparecia recheada de prazeres,

integrada e articulada a outros saberes presentes no contexto mais amplo das demais

disciplinas das Séries Iniciais. Concluiu, ao final, que, se trabalhada de forma integrada

às demais áreas de conhecimento, nas Séries Iniciais, a História contribui para a

aprendizagem das crianças, no que concerne à leitura e à escrita, consideradas como a

principal preocupação deste ciclo inicial.

Neste mesmo ano (2008), Heloísa Helena Tourinho Monteiro defendeu sua

dissertação “Um estudo de caso sobre a práxis da professora polivalente na Escola

Comunitária: os caminhos do ensino de História”, na Universidade Federal da Bahia

(UFBA), escrita a partir de dados coletados na investigação realizada em uma escola

comunitária na cidade de Salvador/BA. Monteiro (2008) assim apresentou a intenção da

pesquisa no resumo do texto: “[...] o estudo de caso pretendeu aprofundar as abordagens

teóricas que fundamentam a práxis da referida [professora da 4ª série do Ensino

Fundamental em uma escola comunitária]”.

A produção de Monteiro (2008) trouxe um diferencial, ao identificar e examinar a

fundo as percepções da docente sobre sua própria práxis educativa e fazer proposições

para resolver aquilo que, em sua visão, é um paradoxo: a professora que, mesmo ao

ministrar várias disciplinas do currículo, equivalentes a várias áreas do conhecimento

nas quais ela não se especializou, demonstra um desconhecimento acerca das

especificidades teóricas e metodológicas das matérias.

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Jaime Baratz (2008) defendeu a dissertação de título “O tempo histórico e sua

apresentação pelas professoras do Ensino Fundamental I”, também na UFBA, e

procurou identificar e compreender a apresentação, representação e apropriação do

conceito de tempo histórico pelas professoras da 4ª série do município de Jacobina/BA e

a forma como este conceito é ensinado nas aulas de História nos Anos Iniciais. Ao final,

descortinou a ausência de intencionalidade, por parte das docentes e da escola

pesquisada, quanto ao ensino das noções de temporalidade, em consequência de

deficiências teórico-metodológicas das professoras que lecionam História nos Anos

Iniciais. O tempo é percebido e ensinado meramente como tempo cronológico e não

como um tempo múltiplo, cultural e qualitativo.

Dois mil e oito (2008) foi o ano com o maior número de produções no âmbito das

teses e dissertações. Maria de Fátima Gomes Medeiros apresentou, na Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, “O ensino de história e o pensamento reflexivo-crítico

da professora no 3º ano do Ensino Fundamental”, trazendo como objetivo “[...]

investigar, numa ação colaborativa, se a estruturação do processo de ensino e de

aprendizagem da disciplina História com base na relação antes/depois possibilita o

desenvolvimento na professora do pensamento reflexivo-crítico nas práticas escolares”

(2008, s.p).

É possível perceber, nas dissertações e teses, uma mudança de percepção, por

parte dos autores. Os primeiros trabalhos atribuíam às professoras das Séries/Anos

Iniciais a responsabilidade de um ensino de História fragmentado, deficiente e que tinha

no livro didático a única fonte utilizada em sala de aula. As pesquisas mais recentes

buscaram compreender os motivos pelos quais a História continua a ser ensinada, de

forma linear e descontextualizada do cotidiano da criança, e apresentam proposições

para que esta realidade seja modificada. A disciplina História nas Séries/Anos Iniciais

deixou de ser percebida como uma disciplina em si e para si e passou a ser concebida

como uma matéria que se relaciona cotidianamente com as demais disciplinas que

compõem o currículo básico obrigatório dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

No ano seguinte, em 2009, houve a apresentação dos resultados da pesquisa de

Jaqueline Lesinhovski Talamini: “O uso do livro didático de História nas séries iniciais

do ensino fundamental: a relação dos professores com os conceitos presentes nos

manuais”, na Universidade Federal do Paraná, e de Susana Barbosa Ribeiro Bernardo,

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intitulada “O ensino de História nos primeiros anos do ensino fundamental: o uso de

fontes”, na Universidade Estadual de Londrina, ambas no mesmo Estado.

Talamini (2009) procurou identificar e analisar as relações construídas pelos

professores das Séries Iniciais com os conceitos de História, a partir do uso do livro

didático, seja no planejamento ou na execução da aula. Já Bernardo (2009) buscou

refletir sobre a construção do saber histórico, por parte dos alunos, a partir do uso das

fontes históricas, verificando o uso destas nas aulas de História e a identificação das

relações construídas entre as fontes que eram utilizadas e as crianças dos Anos Iniciais.

O estudo das práticas docentes foi o recorte da dissertação de Sirlei Maria do

Nascimento, em 2010, “As concepções de professores das séries iniciais e a aula de

história: um estudo com professores de uma escola da rede municipal de Londrina”,

defendida na Universidade Estadual de Londrina. Nessa linha, Bruno Cabral Mello, em

2011, apresentou sua dissertação de mestrado “Docência no ciclo II do ensino

fundamental: um estudo sobre o ensino de História na rede municipal de São Paulo a

partir de seus professores”, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mello

(2011) percebeu que, pelo fato dos alunos possuírem um baixo domínio da Língua

Portuguesa, havia a impossibilidade destes mesmos discentes se apropriarem de

diversos conteúdos trabalhados pelos professores, através das diversas práticas que as

docentes afirmavam desenvolver em sala de aula.

Marta Margarida de Andrade Lima, no ano de 2013, apresentou ao Programa de

Pós-graduação em Educação da UNICAMP, a tese intitulada “As tessituras da história

ensinada nos anos iniciais pelos fios da experiência e dos saberes docentes

(Garanhuns-Pernambuco)”. O estudo buscou apresentar os saberes mobilizados pelas

professoras durante as aulas de História, em que medida as experiências formativas

configuram e se apresentam na produção de saberes históricos escolares e, por fim,

como elas se reconhecem enquanto produtoras de conhecimento histórico e dos saberes

históricos que ensinam.

Lima (2013) considerou as seguintes categorias teóricas: Experiência de Edward

Thompson; Saberes docentes; Saber histórico escolar e Relação com o saber.

Apresentou a importância das experiências dos sujeitos no processo de ensino e

aprendizagem da História escolar, afirmando que isto não significa uma ausência de

historicidade, pelo fato de que se deve olhar a disciplina de forma “positiva” e não sob a

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ótica das ausências, percebendo o que está sendo produzido nas salas de aula com vistas

à aprendizagem histórica.

Como produção mais recente, há a dissertação de Elvis Roberto Lima da Silva

(2014), intitulada “Intelectual sim, professorinha não! O saber histórico escolar do

Ensino Fundamental I na cidade de São Paulo (2007-2013)”, defendida na Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo. Segue igualmente a linha de identificação e

compreensão das práticas e dos saberes escolares, a partir de estudo realizado em duas

escolas municipais na cidade de São Paulo, procurando responder ao questionamento

sobre a forma como, nas escolas pesquisadas, ocorriam os debates sobre a organização

do saber histórico escolar e como estes se efetivavam nas práticas docentes.

Textos que procuraram apresentar e compreender como este ensino de História se

apresentou nos últimos vinte anos, nos anos iniciais do Ensino Fundamental; produções

que aproximaram a História e a Pedagogia, e buscaram identificar qual História é

produzida nos Anos Iniciais e com qual finalidade, apresentando as percepções dos

docentes que a lecionam, nestes primeiros ciclos, suas dificuldades e anseios, além de

suas contribuições, seus constructos, seus saberes; pesquisas que mostram o trajeto

percorrido, de acordo com o gráfico a seguir; todas estas conclusões e considerações

não significam que o caminho foi construído em sua totalidade.

Ainda há muito a avançar, segundo o gráfico abaixo, quando se trata de despir o

olhar de toda uma gama de preconceitos quanto à produção de saberes históricos nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental, bem como sobre as práticas docentes das

professoras das crianças entre 6 e 10 anos de idade.

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Gráfico 3

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Quanto à distribuição geográfica da produção científica de teses e dissertações,

em nosso país, existe um número significativo de trabalhos sobre o tema concentrado no

eixo Sul-Sudeste, em torno de 79%, somando-se as duas regiões. No Norte do Brasil,

nenhum trabalho foi identificado sobre o tema, e as regiões Nordeste e Centro-Oeste

respondem conjuntamente por apenas 21% desta produção.

Gráfico 4

Fonte: elaboração da autora, 2015.

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Trata-se, portanto de uma realidade, em termos de espaço-tempo, ainda pouco

conhecida em algumas localidades e regiões, apesar dos avanços das pesquisas na área

de ensino de História e ensino de História nos Anos Iniciais no Brasil. Contexto que se

espera seja modificado com a realização de pesquisas sobre o tema nas demais regiões

do Brasil como: Norte; Nordeste; Centro-Oeste.

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CAPÍTULO 2

OS FIOS PRESENTES NO COTIDIANO ESCOLAR: SABERES DOCENTES,

HISTÓRICOS, EXPERIENCIAIS, PRÁTICAS EDUCATIVAS

Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-

se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é

transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um

sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e

acomodado. [...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende

ensina ao aprender.

Paulo Freire

Antes de apresentar a História ensinada no 5º ano do Ensino Fundamental, na

cidade de Salvador/BA, a partir das falas e escritas das professoras, é importante

mostrar as relações existentes entre a teoria e a empiria, por meio do diálogo entre o

campo conceitual que orientou a análise dos dados coletados, as percepções

constituídas, as evidências, e as buscas constantes pela compreensão de qual História se

ensina e de como se ensina esta disciplina.

Para tanto, não perdi de vista que o objeto pesquisado se encontra em um lugar de

fronteira, percebido como o “lugar onde são demarcadas diferenças, mas onde também

é possível produzir aproximações, diálogos, ou distanciamento entre culturas [e saberes]

que entram em contato” (MONTEIRO, 2011, p. 194).

Um diálogo com diferentes campos do saber precisou ser feito, para a constituição

de um olhar múltiplo, através do qual as diversas experiências formativas se

encontrassem no cotidiano escolar, constituído por vários sujeitos (professores

pedagogos, professores licenciados em História). Neste caminho, a intenção maior era o

encontro das respostas para as seguintes inquietações: o que e como ensinar, no campo

da História, para as crianças do 5º ano; quais os sentidos desse ensino; quais saberes

históricos escolares são mobilizados pelas professoras; quais as percepções e

sentimentos das docentes, ao lecionarem uma disciplina para a qual não possuem

formação específica, seja em nível inicial ou continuado.

Variadas questões inquietam tanto os licenciados em História como os pedagogos,

visto que, para ambos, o ensino dos conteúdos históricos não ocorre de forma adequada,

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nos Anos Iniciais. Os graduados em História preocupam-se, pois acreditam que as

crianças, ao chegarem no 6º ano, não apreenderam os conceitos básicos de História que

deveriam ter apreendido nos Anos Iniciais. Os pedagogos, por sua vez, preocupam-se,

pois sabem que a Educação que se está ofertando às crianças, no primeiro segmento do

Ensino Fundamental, não é suficiente para garantir a elas as bases para os Anos Finais

do Ensino Fundamental.

Ao falar sobre o Currículo dos Anos Iniciais, que possui uma carga horária grande

para as disciplinas de Português (240 h/a) e Matemática (240 h/a), Cecília assinala que,

em sua ótica, a pequena carga horária de História (40 h) acarreta um déficit no

aprendizado das crianças do 5º ano.

Os graduados em História questionam se há o ensinar da História com vistas à

formação histórica das crianças. Para os graduados em Pedagogia, a História, assim

como as demais disciplinas, precisa fazer sentido, necessita ter significado para os

professores e para as crianças. A ausência de entendimento, acerca da importância de

alguns conteúdos e conceitos da História, é um dos fatores pelos quais a disciplina se

torna invisível, em muitos momentos, no cotidiano da sala de aula.

Eu acho que isto dá uma defasagem, um déficit muito grande. Para tentar resolver esta

cobrança excessiva do currículo, nas disciplinas de Português e Matemática, a partir das

avaliações externas, a gente instituiu aqui na escola quatro unidades, com avaliações de

Ciências, História e Geografia em cada unidade. Mesmo sendo uma prova que contemple

as três disciplinas, mas tem. Uma prova multidisciplinar, mas tem. E eu no 5º ano, em

todas as unidades, eu faço provas de Ciências, História e Geografia. Mas isto não é

suficiente para que a gente dê todos os conteúdos. E eu acho que as crianças ficam em

defasagem. Quando esses mesmos alunos vão para o Fundamental II, na própria rede de

ensino, é totalmente diferente. Porque vai ter professor de área, ele vai ser cobrado em

notas, não só em português e matemática, mas também em ciências, História e Geografia.

Aí os alunos chegam no Fundamental II, muitas vezes, sem nunca ter ouvido falar alguma

coisa relacionada a História ou Geografia. (Cecília, 2014)

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2.1. SABERES DOCENTES

A busca pela compreensão dos saberes escolares tem sido o centro dos debates e

pesquisas em educação, a partir de várias perspectivas: formação e profissionalização

docente, currículo e didática, ou mesmo os estudos voltados para a percepção do

fracasso escolar (MONTEIRO, 2007a).

Assim, se faz necessário debater sobre saberes docentes, em um momento em que

se precisa romper com o ideal de racionalidade técnica que hierarquiza o conhecimento

e torna o professor um mero reprodutor do saber constituído. Esta percepção parte de

um pensamento em que o docente, ao possuir o conhecimento técnico, conseguiria

solucionar os problemas do cotidiano escolar e superar todos os obstáculos.

Nesse modelo, o saber é hierarquizado, desdobrando-se em três

níveis a partir de um processo lógico de derivação entre eles: de uma

ciência básica ou disciplina deriva uma ciência aplicada ou

engenharia, da qual derivam conhecimentos procedimentais e um

conjunto de competências e atitudes que utilizam o conhecimento

básico e aplicado que lhe está subjacente. (SCHEIN, 1980, citado

por GÓMEZ, 1995: 96-97 apud MONTEIRO, 2007a, p. 19)

O saber científico seria, portanto, o saber hierarquicamente considerado como

aquele de referência, o que nortearia a ação docente em seu cotidiano escolar. O

professor seria visto como aquele que adquiriria os conhecimentos científicos

específicos, produzidos em cada área de saber, selecionados por pesquisadores e,

sempre que necessário, ativados e colocados em prática. Neste prisma, a atuação

docente se limitaria a escolher os melhores instrumentos para as diversas situações nas

quais o professor se encontrasse.

Tardif (2011) nos faz refletir sobre esta percepção, quando nos chama para

dialogar com as ideias existentes sobre saberes sociais e educação.

Se chamamos de ‘saberes sociais’ o conjunto de saberes de que dispõe

uma sociedade e de ‘educação’ o conjunto dos processos de formação

e de aprendizagem elaborados socialmente e destinados a instruir os

membros da sociedade com base nesses saberes, então é evidente que

os grupos de educadores, os corpos docentes que realizam

efetivamente esses processos educativos no âmbito do sistema de

formação em vigor, são chamados, de uma maneira ou de outra, a

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definir sua prática em relação aos saberes que possuem e transmitem.

(TARDIF, 2011, p. 31)

Neste contexto, os professores sabem algo, produzem algo e transmitem algo. Mas

o que sabem, o que produzem, o que transmitem e como? Em um primeiro momento,

pode-se afirmar que o saber docente se compõe de diversos saberes, oriundos de várias

fontes de saber. O ponto nevrálgico é que, na contemporaneidade, estes saberes, assim

como a profissão do ser professor, estão desvalorizados.

Apesar de campanhas em que se afirmam a necessidade e a importância do

professor, nos programas de formação continuada, existentes em várias esferas

governamentais, o professor é um profissional cansado, em muitos momentos,

desmotivado e sem esperanças. Maria, recorrentemente, durante a sua entrevista,

demonstrou o cansaço de ser uma professora que trabalha 40 horas semanais, nos turnos

vespertino e noturno, sendo “chefe de família”, com três filhos, e um deles com

necessidades educacionais especiais.

Ela foi docente, em 2015, de uma turma de 1º ano, com crianças entre 6 e 7 anos.

Na entrevista de retorno para a confirmação de algumas informações, revelou o seu

sentimento de descrença na Educação, afirmando que, neste ano, ela teve mais

“trabalho”, que as crianças eram mais agitadas e afirmou, ainda, que, apesar de seus

quinze anos na Rede,12 algumas coisas ainda a surpreendiam. Logo em seguida, iniciou

um relato sobre a descoberta, por parte da equipe gestora e dos docentes da escola, de

um plano elaborado por um grupo de três meninas, de 6 a 7 anos, para matar um colega

de classe que as incomodava muito.

Este plano, segundo a professora, foi cuidadosamente “descrito” por elas, em um

papel onde a função de cada uma das crianças estava posta, bem como a forma como

ocorreria o assassinato do colega. Perguntei à professora como era a descrição, ao que

Maria não soube responder. Esclareceu não ter sido ela quem pegou o papel, com o

plano das crianças, mas, sim, as gestoras da escola. Uma situação que traz à tona a

percepção das professoras que enxergam parte das crianças, em fase de alfabetização,

como verdadeiras Ágathas Christies, capazes de planejar, organizar e descrever

minuciosamente um crime em um papel. Mas, também, que faz emergir crianças

12 Os docentes das escolas públicas municipais referem-se sempre à Rede (Rede Municipal de Ensino da

cidade de Salvador), em suas falas. Como forma de identificação com os professores, usarei esta forma,

ao longo de todo o texto.

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detentoras de um raciocínio lógico não percebido e desaproveitado em sala de aula.

Crianças inteligentes, mas vistas, por algumas professoras, como sujeitos com um

futuro já traçado: o crime.

A fala de Maria explicita a situação ambígua em que as docentes se encontram.

Paradoxalmente, as professoras demonstram preocupação e descrença com o futuro das

crianças atendidas, nos Anos Iniciais, pela rede municipal de Salvador. As professoras

encontram-se diante de um contexto em que se sentem exauridas, mas também se

preocupam com as crianças, com o que acontecerá com elas quando houver a

necessidade de deixar sua sala de aula, por motivos de saúde, por exemplo.

Maria trouxe, enfaticamente, sua preocupação com as crianças dos Anos Iniciais,

algumas delas suas alunas. Fez relatos sobre a situação de alguns alunos que, aos 6

anos, frequentam a escola, mas são crianças que praticam pequenos furtos, em algumas

áreas de Salvador. Em sua visão, elas estão “fadadas” ao banditismo, pois foram

cooptadas, desde muito cedo, pelos bandidos do bairro de Luiz Anselmo, onde vivem.

Ao falar anteriormente, na primeira entrevista, em 2014, sobre sua turma de 5º ano,

assinalou, muito rapidamente, a agitação da turma, o fato de alguns alunos não estarem

alfabetizados e que, ao final de todas as aulas, de segunda a sexta-feira, ela não

consegue realizar adequadamente o fechamento do turno letivo, por já estar esgotada.

Maria não é exceção. Várias professoras da rede, docentes dos Anos Iniciais, ao

serem interpeladas em horários de intervalo, em conversas informais, durante o decorrer

da pesquisa, falaram desse cansaço, dessa descrença. Da ausência de parceria entre a

escola e a família, da falta de investimentos, não somente em materiais, mas de apoio

psicológico, da ausência de formação continuada, em diversas áreas, e da má gestão das

escolas públicas.

Nacarato, Varani e Carvalho (1998) se referem em seus escritos às imensas

expectativas que a sociedade depositou sobre os ombros do professor: domínio de

conteúdo específico ou dos conteúdos específicos; estratégias ligadas às ações docentes,

animador, psicólogo, pedagogo eficaz, cuidador do equilíbrio emocional das crianças,

da higiene pessoal, da educação ambiental, sexual e de gênero. Exigências que geram no

professor um quadro de tensão constante, pelas múltiplas, complexas e difusas

responsabilidades que lhe são atribuídas, mas que ele não se sente em condições de

atender, pela ausência de formação ou pela formação insuficiente.

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Isto gera no(a) professor (a) conflitos pessoais e sentimentos

profundos de autolimitação, pois ele(a) não consegue ser tão

dinâmico(a), criativo(a) e “competente” para cumprir todos os papeis

que lhe são atribuídos, o que acarreta uma imensa sensação de baixa

estima – sente-se desvalorizado(a), desatualizado(a), muitas vezes

inadequado(a) e incompetente profissionalmente. (NACARATO;

VARANI; CARVALHO, 1998, p. 97)

Os docentes contam os dias para a aposentadoria e falam que todos estes

problemas são muito perceptíveis, quando se olha para o número de professores

afastados por doenças, como depressão, crises de ansiedade, insônia, stress crônico.

O brasileiro desvaloriza o professor. É o que se poderia deduzir de um

dito que se tornou popular nas últimas décadas no Brasil. ‘Quem sabe

faz, quem não sabe ensina’. É sinistro. Essa destruição da imagem do

professor custará muito caro, dizia já em 1989, o jornalista Leonardo

Trevisan. [...] Só quem não quer ver não percebe o sentimento de

cansaço, de esgotamento de expectativas de quem encara com

dignidade o seu desempenho profissional. (GADOTTI, 2003, p. 12-

13)

Na Educação Básica, há uma hierarquia entre os segmentos que a compõem, o que

contribui para uma maior desvalorização e o desmerecimento do trabalho docente,

especialmente da professora da Educação Infantil e dos Anos Iniciais. Em uma escala de

importância, a Educação Infantil e os Anos Iniciais são os segmentos menos

reconhecidos, por parte dos pais e da sociedade, que veem a Educação Infantil como o

espaço meramente do cuidar, onde as crianças são deixadas, enquanto os pais trabalham

fora, para ganhar o sustento de cada dia.

Diante disto, é frequente encontrar alunos, nos cursos de Pedagogia, que não

desejam lecionar ou atuar nestes níveis de ensino (GADOTTI, 2003). Cecília ao ser

indagada sobre o que mais a havia marcado, em termos de influências teóricas para o

exercício de sua docência, inicia a sua reflexão informando que sempre quis atuar na

área de educação, mas não nos Anos Iniciais.

Na verdade, eu sempre quis trabalhar com educação, mas não nos Anos Iniciais. Então, eu

fui para a faculdade para poder estudar, para ensinar no segundo grau, ensinar no

magistério. Foi quando se tirou o magistério, virou escola normal [...]. Então, a gente teve

que correr atrás, para ver no que ia dar, nesse tal de Ensino Fundamental, trabalhar com

crianças. (Cecília, 2014)

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Paradoxalmente, nesse quadro de desvalorização, há, ainda, um discurso de

reconhecimento da importância do professor na sociedade, em função do papel que

exerce, visto que os docentes possuem uma função estratégica na sociedade onde estão

inseridos, composta de inúmeras relações complexas. Esta posição está interligada aos

saberes que a sociedade produz e mobiliza, com diversas finalidades. Estes mesmos

saberes acompanham o desenvolvimento dos recursos disponibilizados para a educação,

principalmente no que diz respeito à formação dos professores, o que indubitavelmente

influencia nos diversos processos de ensinagem-aprendizagem,13 sejam eles individuais

ou coletivos, constituintes de toda a base cultural e científica da sociedade moderna e

contemporânea.

Apesar de haver uma renovação constante da produção de conhecimentos, na

sociedade tecnológica e informacional contemporânea, o professor não é visto como um

sujeito produtor de saberes, no interior da escola e na sociedade em que está inserido. O

conhecimento da humanidade atualmente duplica, em curto espaço de tempo, e neste

contexto, o que no tempo presente é considerado como verdade poderá não o ser no

futuro. A verdade desmancha-se no ar, torna-se fluida, mutável. Não cabe mais o

pensamento de que o professor é meramente um reprodutor de informações e de cultura

(GADOTTI, 2003; TARDIF, 2011).

O “concreto”, contudo, é bem diferente. Os professores dos Anos Iniciais

percebem a si mesmos e são percebidos como os que reproduzem os saberes, os quais

são produzidos, por sua vez, pelos pesquisadores em educação. Há exceções. Quando da

aplicação do questionário, uma professora olhou para mim e indagou: – “O que você

fará com tudo o que está pesquisando?” Olhei firmemente em seus olhos e respondi,

sem titubear, que a intenção era primeiramente tornar público, para todas as escolas, os

resultados da pesquisa e, então, pensarmos juntos, posteriormente, sobre o contexto

encontrado. Ao que ela respondeu:

13 Termo criado a partir da união das duas palavras, aprendizagem e ensino, considerando as percepções

de Nilda Alves. Considero aqui que não há um ensino sem que antes ocorra a aprendizagem docente. Por

isso, a escolha do termo aprendizagem-ensinagem e não o processo de ensino e aprendizagem, ao referir-

me aos docentes.

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Esta fala traz em si as contradições contidas no seio da escola: se por um lado o

desejo de transformação aflora, pela consciência de algo que não está satisfatório, por

outro lado, persiste o entendimento de que a resolução dos problemas será trazida pelo

pesquisador, que é externo, e não como o fruto de um diálogo entre os pesquisadores e

os professores, que ocasionará ações pensadas e refletidas, por todos os sujeitos que

compõem cada escola, que sempre constitui um universo único, em si, repleto de

peculiaridades.

Os educadores e os pesquisadores, o corpo docente e a comunidade

científica tornam-se dois grupos cada vez mais distintos, destinados a

tarefas especializadas de transmissão e de produção dos saberes sem

nenhuma relação entre si. Ora, é exatamente tal fenômeno que parece

caracterizar a evolução atual das instituições universitárias, que

caminham em direção a uma crescente separação das missões de

pesquisa e de ensino. Nos outros níveis do sistema escolar, essa

separação já foi concretizada há muito tempo, uma vez que o saber

dos professores que aí atuam parece residir unicamente na

competência técnica e pedagógica para transmitir saberes elaborados

por outros grupos. (TARDIF, 2011, p. 35)

Todo saber é histórico, é temporal, está relacionado ao processo de aquisição e

formação de quem o detém. Neste caso específico, os saberes dos docentes. Tardif

(2011) enfatiza o complexo e demorado processo de aprendizagem dos saberes, a

depender de seu desenvolvimento, formalização e sistematização, exigindo, por

consequência, uma formalização e a sistematização adequadas, no processo de ensino,

para que o processo de aprendizagem ocorra concebendo-se a formação dos docentes

como algo essencial à produção e atualização destes saberes.

Além dos saberes produzidos pelas ciências da educação e dos saberes

pedagógicos, a prática docente incorpora ainda os saberes sociais

definidos e selecionados pela instituição universitária. Estes saberes

integram-se igualmente à prática docente através da formação (inicial

e contínua) dos professores nas diversas disciplinas oferecidas pela

universidade. Podemos chamá-los de saberes disciplinares. São

saberes que correspondem aos diversos campos do conhecimento, aos

saberes de que dispõe a nossa sociedade, tais como se encontram hoje

Ah sim! Estou cansada de vocês da universidade virem aqui na escola, pegarem o que

querem e depois sumirem. O que queremos é saber em que podemos melhorar. O que não

está bom. Como podemos fazer diferente. (2015)

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integrados nas universidades, sob a forma de disciplinas, no interior de

faculdades e de cursos distintos. (TARDIF, 2011, p. 38)

A formação é preocupação recorrente, nas reflexões das professoras Cecília e

Maria, bem como na fala das docentes que responderam aos questionários (P1 a P54).

Todas, de uma forma geral, apontam uma fragilidade na constituição de seus saberes

profissionais, que se configuram pelo “[...] conjunto de saberes transmitidos pelas

instituições de formação de professores (escolas normais ou faculdades de ciências da

educação)” (TARDIF, 2011, p. 36). Cecília traz sempre a preocupação com a ausência

da formação adequada para o professor, licenciado ou bacharel em Pedagogia, no

tocante aos saberes específicos de cada área de conhecimento: Língua Portuguesa,

Matemática, Ciências, História e Geografia.

Maria, por sua vez, também considera que sua formação em Pedagogia não foi

suficiente para a sua prática docente.

Eu acho que a gente, não só em História, mas em todas as disciplinas é multi e não é nada.

Porque eu tenho uma afinidade enorme com português e tenho dificuldades enormes em

matemática. Então, o ensino básico está muito precário, neste contexto. Exige-se demais

desse profissional, que não aprendeu a lidar com esses conhecimentos. A gente entra em

uma faculdade de Pedagogia e em momento nenhum ninguém vai ensinar você a preparar

aula de matemática, de português, de História. A gente vai falar dos fundamentos da

história da educação, da psicologia. É tudo muito distante da realidade da escola,

principalmente da escola de Ensino Fundamental I. O curso de Pedagogia precisa ser

revisto e a rede na qual eu trabalho precisa, de vez em quando, assim como proporciona

uma formação em língua portuguesa e matemática, ter formação também nas outras

disciplinas. Até por que não é só português e matemática, esse aluno, quando passar para o

Fundamental II, vai precisar saber todas as outras, e ele não vai ter esse conhecimento

amplo. (Cecília, 2014)

Eu não sei se é a realidade para outros professores que fizeram magistério e fizeram

também o Ensino Superior. Para a minha prática de sala de aula, o que me ajudou bastante

foi o magistério. Eu trago muito do que aprendi no magistério. Muito mais do que o que eu

aprendi na universidade. A universidade ampliou meus conhecimentos, aprendi muito, mas

para a prática da sala de aula, o magistério foi fundamental. (Maria, 2014)

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Uma das professoras respondentes do questionário (P1) deixou claro, em sua

escrita, que suas bases estão no curso de Magistério, em nível de Ensino Médio, e não

em sua graduação na Pedagogia.

As demais professoras foram além, apontando a fragilidade na constituição dos

saberes, não somente da formação profissional, mas também dos saberes disciplinares.

Ao serem indagadas se, ao longo da formação universitária, alguma disciplina cursada

as auxiliou em sua prática docente em História, no 5º ano do E.F., o seguinte resultado

foi obtido.

Gráfico 5

Respostas ao questionamento se foram cursadas disciplinas na graduação voltadas para a

disciplina de História

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Segundo as 33,33% que responderam afirmativamente, as disciplinas Metodologia

da História e História da Educação foram as que contribuíram de alguma forma para a

sua prática, ao lecionarem a disciplina História no 5º ano, seguidas de Didática e

Cursei o curso de Magistério (normal-Ensino Médio). Nesse curso, havia a Didática

em História. (P1, 2015)

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Metodologias de Ensino. Além de Metodologia da História e História da Educação,

outras disciplinas foram apontadas, inclusive integrantes de currículos de outros cursos

de graduação, que foram cursados pelas docentes, como Ciências Sociais e Letras, o que

nos leva à constatação de que para as docentes respondentes as disciplinas citadas para

além de Metodologia da História e História da Educação tiveram um alto teor de

importância em suas formações e influenciam suas práticas educativas na atualidade.

Tabela 1

Disciplinas citadas como de importância para a prática do ensino de História14

Disciplinas Frequência %

História 1 3,57%

História e Cultura Afro-

brasileira e Africana

1 3,57%

História e Cultura

Indígenas

1 3,57%

Metodologia da História 6 21,42%

História Geral 1 3,57%

História do Brasil 1 3,57%

História da Educação 5 17,85

Didática 2 7,14%

Metodologias de Ensino 2 7,14%

Educação e Sociedade 1 3,57%

Sociologia 1 3,57%

Economia 1 3,57%

Filosofia 1 3,57%

Tirocínio Docente 1 3,57%

História Econômica,

Social, Política Geral e

do Brasil

1 3,57%

Todas as disciplinas do

curso de Ciências

Sociais

1 3,57%

História e Literatura no

curso de Letras

1 3,57%

Total 28 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Para além dos saberes profissionais e disciplinares, os saberes curriculares

também necessitam ser incorporados ao longo da vida profissional do docente. Estes

dizem respeito aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos concretamente postos nos

14 Os números e percentuais referem-se às citações feitas e não ao número total de respondentes, visto que

alguns respondentes citaram mais de uma disciplina.

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currículos oficiais e nos programas escolares, tais como as Orientações Curriculares

municipais da cidade de Salvador. Cecília e Maria apontam que a seleção dos conteúdos

trabalhados nas aulas de História é proveniente das competências e habilidades listadas

nessas Orientações e enfatizadas nos diários de classe.

Para Tardif (2011) os docentes não têm sido responsáveis pela seleção e definição

dos saberes que transmitem. Os professores, neste contexto, não têm controle, direta ou

indiretamente, sobre as escolhas do que será ensinado no âmbito escolar, fazendo que

com que desenvolvam um sentimento de exterioridade na relação dos saberes

disciplinares e curriculares com sua prática.

Segundo Sacristán (1995) “os professores não produzem o conhecimento que são

chamados a reproduzir, nem determinam as estratégias práticas de acção” (p. 68). Sob

esta ótica, os conteúdos e temas deveriam, portanto, segundo Cecília e Maria,

contemplar o que está posto no diário de classe, que, por sua vez, segue as orientações

curriculares do município. Cecília enfatiza a rigidez do processo, quando coloca que a

orientação é trabalhar para que as habilidades sejam consideradas.

Entretanto, é um processo ambíguo. Ao mesmo tempo em que há certa

inflexibilidade e o cerceamento da ação docente, há também resistências, visto que os

professores realizam suas próprias leituras do currículo que lhes é colocado, e tecem

suas práticas. Considerar de forma estanque a participação dos professores, na trajetória

da construção curricular, é afirmar que o professor prescinde de sua autonomia perante

o que está posto, mesmo que esta autonomia seja balizada por decisões políticas,

históricas e sociais, que influenciam os diálogos entre a teoria e a prática docente.

Na verdade, a seleção dos conteúdos é em cima mesmo das competências e habilidades.

Essas competências e habilidades, que vêm listadas no diário, vieram desse documento que

é um referencial, cujo nome eu não lembro. Foi dele que foram retiradas as competências

e habilidades colocadas nos diários. (Maria, 2014)

As habilidades já vêm todas elencadas na caderneta. A indicação é: trabalhe para

contemplar as habilidades. (Cecília, 2014)

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Jacques Ardoino argumenta que a negatricidade é a capacidade

reconhecida, em todo ser humano, de querer e de poder resistir,

partindo de suas próprias fontes ou recursos, por suas próprias

contraestratégias. É ativa, intencional, outrossim, pode emergir de

uma forma total ou parcialmente consciente. (MACEDO, 2011, p. 85)

As professoras resistem ao processo hierárquico, impositivo, de construção

curricular que, para elas, não considera suas percepções, suas escolhas. Cecília, ao ser

indagada sobre quais conteúdos são mais enfatizados nas habilidades listadas nos

Diários de Classe, esclareceu rapidamente que, nos últimos cinco anos, estes conteúdos

têm enfatizado muito a África, a identidade afrodescendente. Mas, ao ser solicitada a

explanar um pouco mais sobre o que julga ser importante trabalhar nas aulas de

História, narra:

Acerca do currículo de História, Maria demonstrou uma fala reflexiva sobre o

ensino da disciplina. Assumiu uma postura de reflexão diante do ensino, de suas

práticas e das condições sociais existentes (ZEICHNER, 1993).

Os saberes não são estanques diante de um currículo que se pretende hierárquico,

imposto, que direciona o professor para conteúdos específicos, com vistas ao

Eu acho que um aluno precisa saber a chegada dos portugueses, precisa saber como foi o

processo de Independência do Brasil. E eu vou de acordo com as datas que eu acho mais

importantes. Eu procuro no livro e vou separando o que vou trabalhar ou não. Tem muita

coisa boa, tem coisas que a gente nem consegue ministrar, até por que o tempo não dá.

Pelas orientações, são uma hora de aula que não necessariamente ocorre a cada semana.

Porque cada semana tem a sua dinâmica e então, às vezes, acontece e, às vezes, não

acontece. (Cecília, 2014)

O ensino de História está muito ligado à cidadania. Como eu vou ser um cidadão crítico,

consciente, se eu não conheço a História do meu país? Do meu povo? Então, a

importância do ensino de História está aí, conhecer nossa História, o que aconteceu e

questionar sobre tudo. Quando eu estudei História, no meu ensino fundamental, a gente

estudava que o Brasil tinha sido descoberto. Hoje, não. Questiona-se esse descobrimento.

Isto faz com que o povo tenha um senso crítico maior do que quando recebemos as

informações todas direitinhas, quando tínhamos que somente memorizar. Uma coisa que

muito me incomodava era a necessidade de memorizar todas as datas. Hoje, eu já vejo as

questões das datas, sob outro ângulo. A questão de você se situar no tempo,

historicamente. Eu acho que você compreende melhor o que aconteceu, quando você tem

uma visão temporal. (Maria, 2014)

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desenvolvimento de habilidades e ao alcance de competências previamente pensadas.

Há pequenas resistências, que se configuram em micropoderes, a partir das escolhas que

os professores fazem, quando do planejamento da disciplina História, em sua prática

educativa na sala de aula (CERTEAU, 2014).

Com essas atitudes, as professoras “burlam” um currículo que aparentemente

desconsidera a realidade da escola, da sala de aula, e a diversidade de culturas existentes

nos bairros de Salvador. Lecionar História para uma criança no bairro de Luiz Anselmo

não é o mesmo que ministrar a disciplina no bairro de Sussuarana, ou no bairro de

Plataforma.

Introduzir a abordagem das problemáticas vivenciadas

cotidianamente, tomando-as como conteúdo das narrativas escolares,

como critérios de seleção e recortes temáticos e como foco das

atividades realizadas em sala de aula significa não apenas aproximar o

saber histórico escolar da realidade dos alunos para sua melhor

compreensão, mas propor maneiras de relação com esse saber que

institua e legitime as ações dos sujeitos – professor e aluno – em sua

construção, tendo em vista ser essa relação, antes de tudo, uma relação

com o mundo. (LIMA, 2013, p. 67)

O ensino não pode ser visto ou concebido como um movimento de transmissão

que se inicia quando o professor “organiza” a aula e finda quando o que pretende

transmitir chega ao discente. Rios (2010, p. 52) defende que “é importante [...] descobrir

no ensino sua função essencial de socialização criadora e recriadora de conhecimento e

cultura”. No processo de produção e mediação do conhecimento, o professor

proporciona a seus alunos uma reflexão sobre a realidade vivenciada, a partir dos

saberes que estes alunos possuem, buscando a articulação com novos saberes e práticas.

Neste contexto, os saberes experienciais se mostram essenciais à composição do

conjunto de saberes docentes. Segundo Tardif (2011), os saberes da experiência são o

conjunto de saberes constituído que considera a prática da profissão docente. Estes

saberes são desenvolvidos no exercício das funções práticas, em seu cotidiano escolar.

Incorporam-se à experiência individual e coletiva, sob a forma de habitus15e de

15 Segundo Bourdieu, habitus é “[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando

todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações

e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências

analógicas de esquemas [...]”. (BOURDIEU, 1983b, p. 65 apud SETTON, 2002, p. 62) A autora ainda

complementa, afirmando que o habitus não é imutável, mas compreende um conceito capaz de considerar

certa homogeneidade nas disposições, gostos e usos de práticas aparentemente diversas, mas pertencentes

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habilidades de saber-fazer e saber-ser. Na visão de Tardif (2011, p. 49), constituem um

“[...] conjunto de representações a partir das quais os professores interpretam,

compreendem e orientam sua profissão e sua prática cotidiana em todas as suas

dimensões”.

São originários de um contexto de múltiplas interações, em que ocorre a

aprendizagem-ensinagem, e representam vários condicionantes à ação docente. Estes

não são problemas abstratos, advêm da concretude do cotidiano escolar e da sala de

aula, e, em muitos momentos, não são passíveis de resolução através de teorias prévias.

Exigem pensamento rápido, diante de situações não planejadas e habilidades pessoais

para a solução de situações, sempre variáveis, e, em muitos momentos, transitórias.

Lidar com condicionantes e situações é formador: somente isso

permite ao docente desenvolver o habitus (isto é, certas disposições

adquiridas na e pela prática real), que lhe permitirão justamente

enfrentar os condicionantes e imponderáveis da profissão. Os habitus

podem transformar-se num estilo de ensino, em ‘macetes’ da profissão

e até mesmo em traços da ‘personalidade profissional’: eles se

manifestam, então, através de um saber-ser e de um saber-fazer

pessoais e profissionais validados pelo trabalho cotidiano. (TARDIF,

2011, p. 49)

Alguns elementos são condicionantes da prática e constituem a própria prática.

Tardif (2011) os denomina de objetos-condições dos saberes experienciais: as relações

de interação existentes entre os docentes e os demais atores que compõem o cotidiano

educacional; as normas e a legislação a que o docente precisa se submeter, para atuar, e,

por fim, a instituição escolar em si mesma, enquanto meio organizado, composto de

funções múltiplas.

Outro autor importante na construção do referencial teórico foi Thompson (1981).

Segundo este autor, a experiência é entendida como o que permite ao ser humano não

ser autômato, mas sim constituir-se em “sujeito livre”, que experimenta situações e

relações produtivas como necessidades e interesses, refletindo sobre estas, a partir de

sua consciência e cultura. Thompson (1981) considera que todos os sistemas complexos

elaborados pela sociedade, no que se refere à vida familiar, social, e estruturados a partir

da consciência social, precisam ser reexaminados à luz do conceito de experiência.

a grupos ou indivíduos de uma mesma trajetória social. Por não ser sinônimo de uma memória

sedimentada e imutável, é construído continuamente, a partir de novas experiências e vivências.

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Afirma ainda que aspectos, tais como costumes, hábitos, formas simbólicas de

luta e resistência, leis, instituições, reúnem-se todos na experiência humana “comum”

que, por sua vez, pressiona todos os sistemas sociais existentes. Por isto, a cultura é

outro termo muito caro a Thompson (1981), pois é por meio de ambas, a experiência e a

cultura, que o ser humano atribui significados e valores ao mundo social. O homem não

conceberia uma vida social e não a manteria sem a vivência dos valores instituídos por

ele mesmo. São instituições de normas, regras e expectativas necessárias e aprendidas

no habitus de viver, nas instituições sociais existentes, tais como a família, o trabalho e

a comunidade, como um todo, imediata ou não. Viver é, antes de tudo, uma experiência

de aprendizado. Para ele, a ciência da História deveria se constituir de uma história viva,

em movimento:

[...] as pessoas não experimentam sua própria experiência apenas

como ideias, no âmbito do pensamento e de seus procedimentos, ou

[...] como instinto [...]. Elas também experimentam sua experiência

como sentimento e lidam com esses sentimentos na cultura, como

normas, obrigações familiares e de parentesco, e reciprocidades, como

valores ou (através de formas mais elaboradas) na arte ou nas

convicções religiosas. (THOMPSON, 1981, p. 189)

Domingo e Ferré (2013) afirmam que o ato de pensar não existe sem a experiência

pessoal. Para estes dois autores, é a experiência que impulsiona o processo do

pensamento. No desenrolar dos acontecimentos, ela possibilita as indagações sobre os

motivos pelos quais ocorrem alguns fatos e acarreta a necessidade de refletir sobre as

ideias e os acontecimentos, sobre a teoria e a prática. Os autores consideram que não há

como pesquisar as práticas docentes sem compreender as experiências vividas, pois, em

sua concepção, toda a prática educativa precisa ser vivenciada enquanto experiência.

El pensar educativo, la investigación educativa que no se desliga de la

experiência busca algo muy especial como saber: busca aquel saber

que ilumina el hacer, esto es, que vulve sobre la experiência para

ganhar en experiência, en capacidade de dejarse sorprender por lo que

passa para volver a pensar, para hacer más meditativo el hacer

educativo, para descubrirle nuevos significados, nuevas posibilidades,

nuevos caminos. (DOMINGO; FERRÉ, 2013, p. 22)16

16 “O pensar educativo, a pesquisa educativa que não se desconecta da experiência busca algo muito

especial no que se refere ao saber: busca aquele saber que ilumina o fazer, isto é, que se volta para a

experiência para ganhar em experiência, em capacidade de se deixar surpreender pelo que se passa para

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Desta feita, ao se observar a aprendizagem-ensinagem, os modos de ensinar e

aprender, as relações educativas que se constituem no âmbito da escola, somente é

possível refletir sobre estes aspectos, considerando-os como experiências vivenciadas

pelos sujeitos inseridos nestes contextos. Estas experiências vividas convertem-se em

saberes da experiência, oriundos de um diálogo entre o sujeito e as experiências que

vivencia. Por sua vez, estes saberes experienciais alicerçarão a prática docente, que se

enriquecerá com as novas experiências vivenciadas, num “círculo vicioso”, segundo

Domingo e Ferré (2013).

La práctica se enriquece com el saber de la experiência no

incorporando sus conclusiones como um nuevo saber y proceder ya

fijados, sino que se enriquece fundamentalmente con el próprio

experimentar la experiência, esto es, con el aprendizaje del dejarse

decir, del encuentro con ele outro como algo siempre imprevisto, con

el desarollo de la capacidad receptiva, con las disposiciones de lo que

supone la pasividad activa: la escucha, la atención, la espera...,

creando u favorecendo situaciones y relaciones, a la espera de que

‘algo suceda’. (DOMINGO; FERRÉ, 2013, p. 33)17

Provenientes de diversas fontes, os saberes docentes são em sua essência plurais e

heterogêneos (TARDIF, 2011). No processo de constituição destes saberes, o docente

busca se integrar à instituição escolar, a partir dos elementos imbricados na experiência

vivida e na cultura, mas, em se integrando à instituição, também a modifica, num

intercâmbio constante entre seus saberes experienciais e os saberes experienciais dos

demais sujeitos sociais que compõem a instituição escolar. É a partir destas trocas que

os saberes produzidos pela e na experiência adquirem certa “objetivação”, segundo o

autor, e são sistematizados, deixando de ser saberes individuais tão somente, e passando

a ser representativos de uma coletividade.

voltar a pensar, para fazer mais meditativo o fazer educativo, para dar a ele novos significados, novas

possibilidades, novos caminhos”. (DOMINGO; FERRÉ, 2013, p. 22)

17 “A prática se enriquece com o saber da experiência não incorporando suas conclusões como um novo

saber e proceder já estabelecidos, mas sim se enriquece fundamentalmente com o próprio experimentar a

experiência, isto é, com a aprendizagem do deixar dizer, do encontro com o outro como algo sempre

imprevisível, com o desenvolvimento da capacidade receptiva, com as disposições do que supõe a

passividade ativa: a escuta, a atenção, a espera..., criando ou favorecendo situações e relações, a espera de

que algo aconteça”. (DOMINGO; FERRÉ, 2013, p. 33)

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As relações críticas existentes entre os saberes disciplinares, curriculares e

profissionais são deveras importantes para a objetivação dos saberes experienciais. Em

uma construção sincrética, todos os saberes são vivenciados de forma crítica e avaliados

pelos docentes, que os retraduzem em função das condições existentes em seu cotidiano,

e que, porventura, possam limitar a sua prática docente. Os saberes não são

considerados ou elencados pelos docentes, ou por parte deles, de forma hierárquica.

Eles são incorporados à prática, e transformados em outras categorias de discurso. O

que parece ser “útil” aos docentes é, então, selecionado e (re)significado, eliminando-se,

neste processo, cursos ou teorias que lhes pareçam inúteis ou abstratos em demasia, ou,

ainda, que não tenham relação direta com a realidade vivida por eles.

2.2. SABER HISTÓRICO ESCOLAR

Em busca da formação do cidadão brasileiro, os professores mobilizam vários

saberes, sejam profissionais, curriculares, disciplinares e experienciais. Neste contexto,

são mobilizados e constituídos os saberes históricos escolares que advêm de uma

variedade de culturas, das várias percepções acerca da realidade existente, “[...] da

reivindicação dos professores por um ensino de História que se transforme em meio de

entendimento, por parte dos alunos, das suas condições reais de vida, para que possam

atribuir relevância à sua aprendizagem” (LIMA, 2013, p. 67).

Os saberes das professoras dos Anos Iniciais são plurais, pois provenientes de

diversas fontes e espaços de socialização, a saber: literatura, cinema, teatro, jornais,

mídia em geral (TARDIF, 2011). É necessário, entretanto, compreender quais os

saberes históricos constituídos pelas docentes do 5º ano, pelo fato delas não serem

professoras formadas especificamente para lecionar a disciplina História. Elas foram

formadas, quando foram, para lecionar também História. Importante perceber qual

História, na percepção das docentes, é importante lecionar no 5º ano, quais conceitos,

como a aprendizagem-ensinagem ocorre em um complexo sistema escolar.

Para esta compreensão, Chervel (1990) é um autor importante, na medida em que

se posiciona contrário à concepção da escola como um espaço de transmissão de

conhecimentos produzidos nas academias, pelas ciências de referência de cada área do

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saber. Para este autor, a escola produz esse conhecimento de diversas formas, mesmo

que este saber não seja validado pela ciência de referência.

Chervel (1990) rompe com a concepção que predominou em parte do século XX,

existente ainda na contemporaneidade, mesmo que com menor força, de que o professor

era um simples instrumento de transmissão de conhecimentos. Considerar o professor

como meramente um “reprodutor” dos conhecimentos da ciência de referência é reduzir

a ação docente ao simples domínio do processo educacional escolar, enfatizando a

competência técnica racional para transpor o conhecimento da academia para a escola,

de forma fácil, acessível.

De acordo com esse paradigma, os saberes não eram objeto de

questionamentos ou reflexão: eram os saberes definidos e organizados

nos programas e currículos como aqueles a ensinar, oriundos de uma

base científico-cultural ampla, através de meios e procedimentos

acertados, escolhidos num ‘receituário ou arsenal’ construído e

fundamentado cientificamente nos conhecimentos oferecidos pela

psicologia, psicopedagogia e didática. (MONTEIRO, 2007a, p. 81)

Na atualidade, diversas pesquisas, incluindo a de Chervel (1990), caminham na

direção contrária. Apontam a escola como um lócus de produção de conhecimento, e a

sala de aula como um espaço onde as práticas pedagógicas se instituem, no sentido de

“lecionar” as diversas disciplinas existentes no currículo prescrito, compreendendo que

o que é ensinado na escola não é a essência e/ou totalidade do conhecimento construído

na ciência de referência.

Nesta mesma direção, Lima (2013), em sua tese de doutoramento, considera como

funções desempenhadas pela escola: a criação de um conjunto de saberes autônomos e a

formação dos indivíduos, buscando, assim como Chervel (1990), romper com a

tendência de considerar as disciplinas escolares como simplificações e vulgarizações de

suas ciências de referência.

Utilizando o conceito de corpus de conhecimentos definido por Chervel (1990), a

autora realiza a seguinte reflexão sobre os saberes:

[...] como os conteúdos de ensino, os exercícios para sua apreensão e

memorização, as atividades de motivação e os instrumentos

avaliativos comportam as possibilidades de mudança e ressignificação

nos contextos escolares ante práticas pedagógicas distintas. Nesse

sentido, através da História das Disciplinas Escolares [...] é possível

admitir a autonomia e independência do saber escolar em relação aos

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saberes científicos aos quais cada disciplina está associada, tendo em

vista as mudanças operadas em sua lógica interna, ao longo do tempo.

(LIMA, 2013, p. 77)

Os saberes produzidos na e pela escola, por sua vez, não estão dissociados dos

saberes acadêmicos e nem da sociedade como um todo, visto que a instituição escolar

está inserida na comunidade da qual faz parte. Day (2004) coloca a necessidade das

escolas, ao produzirem conhecimento, abrirem-se para o mundo exterior à sala de aula e

ao espaço interno da instituição escolar. Assinala a importância de se desenvolver uma

cultura de comprometimento, na direção das transformações necessárias, de incentivar a

existência de relacionamentos horizontais, em detrimento das relações hierárquicas de

poder, bem como incentiva o respeito pela diversidade do corpo docente, em oposição à

uma “suposta” homogeneização dos professores.

A disciplina História está presente nesta escola que se mostra ambígua, desde o

seu surgimento: é homogênea e plural; pretende ser horizontal nas relações de poder,

mas é hierárquica. É neste universo que a História ensinada está presente, desde finais

do século XIX no Brasil. Ela

[...] tem permanecido nos currículos escolares dos diferentes níveis do

ensino básico e também como matéria dos cursos preparatórios ou de

exames vestibulares brasileiros. A História escolar integra o conjunto

de disciplinas que foram sendo constituídas como saberes

fundamentais no processo da escolarização brasileira e passou por

mudanças significativas quanto a métodos, conteúdos e finalidades até

chegar à atual configuração nas propostas curriculares.

(BITTENCOURT, 2004, p. 33)

Em finais da última década do século XIX, o interesse maior da disciplina

História era formar o novo cidadão da recém-instaurada República brasileira. Era

preciso criar nas mentes da população desta terra, o sentimento patriótico de

“brasilidade” (CHAUÍ, 2001). Por outro lado, os heróis precisavam ser eleitos, as datas

mais importantes escolhidas, os principais fatos a serem ensinados, elencados no

contexto de construção de um novo governo, a República, e de uma Nação, o Brasil.

Um sentimento de identidade coletiva precisava ser ensinado nas escolas, para que o

ideário republicado se consolidasse. Sem ele, o projeto da República brasileira

fracassaria (CARVALHO, 1990).

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Tratava-se, na realidade, de uma busca das bases para a redefinição da

República, para o estabelecimento de um governo republicano que não

fosse uma caricatura de si mesmo. Porque foi geral o desencanto com

a obra de 1889. Os propagandistas e os principais participantes do

movimento republicano rapidamente perceberam que não se tratava da

república de seus sonhos. A formulação mais forte do desencanto

talvez tenha vindo de Alberto Torres, já na segunda década do século:

‘Este Estado não é uma nacionalidade; este país não é uma sociedade;

esta gente não é um povo. Nossos homens não são cidadãos’.

(CARVALHO, 1990, p. 32-33)

O nascimento do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro muito contribuiu para

a construção e o desenvolvimento do sentimento de identidade dos brasileiros. Logo que

foi criado, promoveu um concurso de monografias, com o objetivo de construir uma

História Nacional e a construção de uma identidade comum ao “povo brasileiro”. A

escola e a recém-nascida disciplina de História nas salas de aula, serão meios de

divulgar esta História, além de serem as forjadoras dessa Identidade Nacional. Sai

vencedora a monografia de Karl Phillip von Martius, que frisava os valores de

obediência e disciplina, de exaltação à pátria, e, como metodologia principal de ensino,

a memorização dos acontecimentos mais importantes, bem como dos nossos mais

ilustres heróis. A História concebia o Brasil formado a partir das três raças (branco

europeu, negro e indígena), sendo a raça branca mais valorizada e sugerindo que o

possível branqueamento da população, por meio da miscigenação, era o caminho para a

formação da civilização brasileira, mentalidade dominante na época (FONSECA, 2004).

Ao longo do século XX e princípios do século XXI, muitas modificações foram

realizadas na forma de se ensinar História. Os objetivos da História a ser ensinada nas

escolas foram revistos, pesquisas e debates foram realizados, com o objetivo de

compreender os modos de ensinar e aprender História; buscou-se entender a disciplina,

a partir dos saberes que são mobilizados pelos professores, no processo de

aprendizagem-ensinagem, e as influências da historiografia nas salas de aula dos

professores que ministram História.

Tourinho (2004), ao dissertar sobre as influências das correntes historiográficas

no ensino da disciplina História, na contemporaneidade, considera-as tão importantes

para o planejamento das aulas de História e para a práxis pedagógica como os teóricos

da educação. Para a autora, o referencial teórico-metodológico proveniente do campo

historiográfico é importante para a práxis pedagógica “[...] até mesmo para permitir os

inventos e relativizar os contratempos” (TOURINHO, 2004, p. 89).

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Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na cidade de Salvador, os debates e

mesmo as relações entre o saber histórico escolar e as correntes historiográficas são

frágeis, ou mesmo desconhecidas, em muitos momentos. Ao serem indagadas sobre as

correntes historiográficas que influenciavam suas práticas de ensino, ao lecionarem a

disciplina História, as professoras posicionaram-se de diversos modos. Desde uma

demora excessiva em responder ao item até certa irritabilidade, afirmando que a questão

era muito difícil e complicada de ser respondida.

Um número majoritário de docentes deixou a questão em branco e as demais

respostas variaram desde a assunção de não saber responder até a identificação de

correntes historiográficas com correntes pedagógicas ou mesmo com fontes históricas.

Algumas professoras afirmaram escolher, a depender da prática, das situações que se

apresentam no cotidiano. As escolhas, neste contexto, oscilam entre o positivismo, o

materialismo histórico e a Escola dos Annales. Não há uma sustentação teórica e, no

ensino de uma disciplina sobre a qual pouco se sabe, tudo vale no processo de

aprendizagem-ensinagem, o que proporciona um vazio teórico-metodológico que, na

ótica de Tourinho (2004, p. 88), se mostra “[...] nocivo e desmotivador”.

Tabela 2

Correntes Historiográficas que influenciam na prática de ensino

Marcadores Números %

Positivismo 2 3,70%

Marxismo 1 1,85%

Positivismo, Marxismo e

História Nova (Escola

dos Annales)

2 3,70%

Materialismo Histórico

centrado no Social

1 1,85%

História Nova e

Marxismo

1 1,85%

Positivismo e

Materialismo

1 1,85%

Piaget, Vygotsky e

Wallon

2 3,70%

Fontes Históricas e

História Nova

1 1,85%

História Antiga e Atual 1 1,85%

Prático Freireana 1 1,85%

Sociointeracionista 1 1,85%

As existentes no Livro 3 5,55%

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didático

Em nenhuma 3 5,55%

Desconhece 1 1,85%

Presentes na LDBEN e

nos PCN

1 1,85%

Em branco 32 59,25%

Total 54 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Os dados demonstram que o positivismo é a corrente historiográfica mais

conhecida pelas professoras dos Anos Iniciais e, portanto, a que mais fundamenta a sua

prática escolar, o que é perceptível na escolha dos conteúdos, feitos a partir da História

Política do Brasil e na concepção de uma história ligada à cidadania. O

desconhecimento do que é a historiografia e do saber histórico acadêmico e a ausência

de um diálogo entre a historiografia e o saber histórico escolar, é perceptível quando as

docentes identificam correntes historiográficas com “correntes pedagógicas”:

“sociointeracionismo”; “prática freireana”. E ainda quando relacionam o referencial

teórico-metodológico da História a pensadores, considerados referências para a área da

educação, tais como Piaget, Vygotsky e Wallon.

A ausência de domínio sobre as correntes historiográficas é igualmente percebida

quando as professoras as consideram como fontes (fontes históricas) ou como conteúdos

da História (História Antiga e Atual). Para Cecília e Maria, há um desconhecimento e

uma fragilidade, visíveis, no Pedagogo, ao serem inquiridas sobre as correntes

historiográficas.

Nos silêncios das professoras, nas dobras do que está escondido, persistem alguns

objetivos na História ensinada no 5º ano do EF, que atravessaram o século XX,

Eu não sou muito conhecedora disso. Mas, geralmente, quando eu analiso o livro, procuro

ver o que é mais interessante para trabalhar na minha turma, o que eu acho que o aluno

precisa saber. (Cecília, 2014)

Não consigo, não consigo! É como eu disse, é grande a deficiência do pedagogo em relação

à História. Eu acredito que não seja só eu que tenha essa dificuldade de identificar uma

corrente, não é? A gente foca mesmo no assunto, no livro didático e no que está ali pedido

naqueles documentos, nas habilidades e nas competências. A gente não consegue enxergar

uma corrente, as correntes, escolher, nem pensar o trabalho a partir disso. (Maria, 2014)

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buscados pelos currículos prescritos desde o surgimento da disciplina: a formação do

cidadão brasileiro. No contexto da criação da disciplina História, nos currículos oficiais

do Brasil do século XIX, momento do surgimento do Estado Nacional e da elaboração

dos projetos para a educação, no Império, os interesses de diversos grupos e instituições

emergem e a historiografia é pautada pelo Positivismo, de Auguste Comte, e de suas

noções de pátria, comunidade, família, como formas de vivência comunitária

consideradas essenciais à evolução da humanidade (CARVALHO, 1990).

A constituição da História como disciplina escolar no Brasil – com

objetivos definidos e caracterizada como conjunto de saberes

originado da produção científica e dotado, para seu ensino, de

métodos pedagógicos próprios – ocorreu após a Independência, no

processo de estruturação de um sistema de ensino para o Império. Nas

décadas de 20 e 30 do século XIX surgiram vários projetos

educacionais que, ao tratar da definição e da organização dos

currículos, abordavam o ensino de História, que incluía a ‘História

Sagrada’, a ‘História Universal’ e a ‘História Pátria’. O debate em

torno do que deveria ser ensinado nas escolas, e como isso seria feito,

expressava, de certa forma, os enfrentamentos políticos e sociais que

ocorriam então no Brasil, envolvendo os liberais e os conservadores, o

Estado e a Igreja. (FONSECA, 2004, p. 42-43)

No contexto da modernização econômica, cultural e educacional, que pautou os

finais do século XIX e o início do século XX, a disciplina História esteve atrelada

nitidamente à formação das elites, dos futuros governantes de uma terra “recém-

independente” do jugo português.

Os objetivos do ensino de História eram os mais diversos: conformação do

indivíduo à vida civil; formação do cidadão produtivo e obediente às leis; estruturação

de um sistema educacional subordinado ao Estado; pretensa inclusão das populações

historicamente excluídas (negros, mestiços forros, brancos livres e pobres, imigrantes

europeus); contenção de revoltas e explosões de violência, por parte dos excluídos;

diminuição ou eliminação total das influências culturais das classes mais pobres. A

escola, então, atuaria como um meio de controle social e um instrumento de

conformação política e cultural da pátria recém-formada.

Era preciso construir a identidade nacional (CARVALHO, 1990), criar um povo

unido, forte e “homogêneo”, sem as características, que eram consideradas degeneradas

e bárbaras, dos negros, pardos e índios. Essa, portanto, foi a preocupação maior do

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a partir de 1838, data de sua criação.

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A missão do IHGB, desde sempre, ateve-se a elaborar e a organizar a História nacional

e difundi-la nas escolas, por meio dos currículos e programas oficiais, prioritariamente

nas aulas de História.

Essa preocupação explica a vitória do alemão Karl Philipp von

Martius no concurso de monografias promovido pelo IHGB, sobre o

melhor plano para se escrever a história do Brasil. Von Martius

propunha uma história que partisse da mistura das três raças para

explicar a formação da nacionalidade brasileira, ressaltando o

elemento branco e sugerindo um progressivo branqueamento como

caminho seguro para a civilização. Uma vez produzida, essa história

deveria ser conhecida por todos e a melhor maneira de fazê-lo seria

pela escola. Do IHGB ela passaria diretamente às salas de aulas por

meio dos programas curriculares e dos manuais didáticos, em geral

escritos pelos próprios sócios do Instituto. (FONSECA, 2004, p. 46)

Ao longo do século XIX, apesar de mudanças e debates em torno dos programas

oficiais, para a educação como um todo, os objetivos do ensino de História tornaram-se

mais nítidos, assim como o seu papel ordenador e civilizador. O IHGB dava o ritmo, ou

seja, a História ministrada nas escolas era uma história política, nacionalista, e que

exaltava a colonização portuguesa, a ação missionária e catequizadora da Igreja Católica

e a monarquia. A leitura do manual didático “A História do Brasil” era recomendada

pela lei educacional de 1827, como obrigatória, como forma de educar os meninos.

Os manuais didáticos de História alcançaram uma importância ímpar no processo

de formação do bom cidadão. Neles estavam contidas as diretrizes e orientações, além

dos conteúdos que deveriam ser trabalhados nas aulas de História. Inúmeros autores

ligados ao IHGB publicaram manuais que estabeleciam métodos de ensino e

procedimentos, visando a organização da disciplina de História e deixando claras as

ligações existentes entre o IHGB e a produção historiográfica em voga.

A partir de então, os métodos de ensino passaram a ser uma preocupação

constante dos autores, além dos conteúdos e das diretrizes para se formar o caráter

cristão, moral e cívico, dos jovens e das crianças.

Não se pode afirmar, a rigor, que o advento da República alterou a

essência do ensino de História, no que diz respeito às concepções

predominantes neste campo do conhecimento. Mas, é importante

destacar uma preocupação mais evidente com os métodos

empregados. Prova disso são os numerosos textos de orientação

publicados nos livros didáticos e destinados aos professores e aos

estudantes, sobre a melhor forma e os melhores recursos para se obter

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os resultados esperados, em função dos objetivos definidos para o

ensino de história. (FONSECA, 2004, p. 50)

O “gosto pela história”, tema recorrente até a atualidade, apesar de possuir

objetivos e vertentes diferentes, passou a ser considerado uma condição sine qua non

para o desenvolvimento do espírito de povo. Essa concepção se encontrava presente em

livros didáticos escritos por autores famosos da época, como Rocha Pombo, e também

nas orientações governamentais.

Se, em finais do século XIX e princípios do século XX, a finalidade era incentivar

o gosto pela História, nas salas de aula, para que a disciplina pudesse ser conhecida a

partir de uma História política e elitista, com o objetivo de sedimentar a identidade do

povo, desde meados do século XX, após o surgimento do grupo dos Annales, incluindo

as três gerações, houve uma renovação do interesse pela História.

Se lançarmos um olhar pela imprensa, pelas revistas, pelos livros [...]

pelo número de obras históricas publicadas pelas editoras e pelas

respectivas vendas, o triunfo da história é inegável; é uma realidade

para a qual os próprios interessados não estavam preparados. (LE

GOFF, 1982, p. 11)

A concepção anterior de História, de visão de mundo, que predominou ao longo

do século XIX, nas salas de aula, pautada pelo positivismo, perdeu suas forças, a partir

da criação, na França, da revista Annales, em 1929, fundada por Marc Bloch e Lucien

Febvre, este também presidente da Escola Prática de Altos Estudos. O movimento de

transformação, no campo da História, conhecido por Escola dos Annales, ao longo do

século XX, questionou profundamente a hegemonia da História política, assim como o

Marxismo, notadamente no Brasil dos anos 1980.

Para os historiadores desta escola, a História política era elitista, anedótica,

individualista, subjetiva, factual. Como contraponto, propunham uma historiografia que

considerasse o econômico e o social como aspectos a serem privilegiados, e, para tanto,

incorporaram novas fontes, novos objetos de estudo, ainda que as fontes visuais e orais

continuassem a ser consideradas subjetivas e, portanto, desqualificadas.

O grupo ampliou o território da história abrangendo diversas áreas

inesperadas do comportamento humano e a grupos sociais negligenciados

pelos historiadores tradicionais. Essas extensões do território histórico estão

vinculadas à descoberta de novas fontes e ao desenvolvimento de novos

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métodos para explorá-las. Estão também associadas à colaboração com

outras ciências, ligadas ao estudo da humanidade, da geografia à linguística,

da economia à psicologia. Essa colaboração interdisciplinar manteve-se por

mais de sessenta anos, um fenômeno sem precedentes na história das

ciências sociais. (BURKE, 1991, p. 126)

No campo do ensino da disciplina, esta escola permitiu que outras fontes, além do

documento escrito, pudessem ser consideradas, e outros aspectos da História fossem

trabalhados em sala de aula. Para Ferreira e Franco (2013), a Escola dos Annales

revolucionou profundamente, no início do século XX, o modo como se pensava e

produzia a História, mesmo que neste processo o econômico sobrepujasse o político e o

cultural, e relatos pessoais do indivíduo, histórias de vida e biografias, continuassem a

ser vistos como fontes vagas e subjetivas, ao extremo, indignas de crédito, dado o seu

nível de experiência individual.

Na contemporaneidade, as influências das três gerações do grupo dos Annales

fazem-se visíveis nos primeiros anos do Ensino Fundamental, pela utilização de

diversas linguagens em sala de aula: cinema; literatura; fotografia; museu; poesia;

poema; música. O livro didático e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

apresentam, igualmente, traços das ideias dos Annales, ao orientarem um ensino

baseado em eixos temáticos, na história de vida dos diversos sujeitos que compõem a

sociedade, na valorização da história cultural e na ruptura parcial com a história política.

Estas revoluções historiográficas chegam aos Anos Iniciais do EF, por meio dos

currículos prescritos e do livro didático, que buscam ir além de uma história política,

através da emergência de temas ligados ao cotidiano, ao homem comum. Propostas que

procuram romper com um ensino de História voltado para a formação moral e cívica das

crianças, do cidadão obediente à Nação e à Pátria, proveniente do século XIX.

Considerando que parte das professoras pauta suas escolhas teórico-

metodológicas nos livros didáticos, há, mesmo involuntariamente, uma renovação no

ensino de História, nos Anos Iniciais, que busca a transformação da sociedade, a

formação do cidadão do século XXI e o respeito à diversidade.

Se, outrora, cabia à História ensinada nas escolas a formação cívica e

patriótica do cidadão, posta a serviço do Estado-nação moderno [...]

ou mais recentemente, do Estado autoritário, caracterizado pela

ditadura e ausência de direitos [...] – a temática da consciência

histórica, nesse novo contexto, acaba por fornecer respostas a

problemas relativos à auto-identidade, à tolerância, à pluralidade e à

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convivência que, de certo modo, têm ocupado espaço cada vez mais

intenso nos debates a respeito da organização do trabalho pedagógico

na escola e de uma educação para o multiculturalismo. (MIRANDA,

2007, p. 77)

O marxismo foi assinalado por seis professoras como sendo a corrente teórico-

metodológica que pauta a sua prática pedagógica. Mas resta a dúvida sobre a qual

marxismo se referem: o marxismo ortodoxo do século XIX e de parte do século XX,

sólido, que buscava superar o capitalismo, promover e profundar reformas estruturais na

sociedade, ou o marxismo da História Social, que considera conceitos, como cultura e

experiência, fundamentais para se compreender o sujeito, a partir das condições

materiais existentes na sociedade? Considerando o baixo background das professoras

sobre as correntes historiográficas, afirmo que elas parecem desconhecer as

transformações que perpassaram o marxismo, ao longo do último século.

Nas falas das professoras é recorrente a visão de um ensino de História voltado

para a mudança da sociedade. Uma História que auxiliasse os alunos na transformação

de si mesmos e da realidade em que vivem, para que possam escrever histórias

diferentes daquelas que vivenciam na atualidade, buscando não reproduzir uma vida de

crimes, muito comum em várias famílias. São percepções que sofrem influências de

uma formação marxista, provavelmente advinda de disciplinas cursadas na graduação.

Nesta busca pela transformação da sociedade, a luta de classes é um aspecto percebido

nas dobras dos silêncios das professoras.

Para Ubiratan Araújo, um dos aspectos importantes do marxismo para

a história são as lutas de classes (movimentos estudantis, mulheres,

negros, trabalhadores, sem terras, etc.): ‘Não podemos deixar de

trabalhar tais aspectos no ensino da história, posto que é algo de

fundamental importância para a sociedade. Para que os alunos se

sintam sujeitos da história, se faz necessário inseri-los nos contextos

sociais’. As lutas de classes [...] são atemporais, posto que, enquanto

houver desigualdades sociais, haverá movimentos de contestação. [...]

Nelas temos subsídios suficientes para o ensino da história.

(TOURINHO, 2004, p. 99)

São diversos os modos como a História é escrita e é ensinada, assim como os

múltiplos olhares sobre ela devem ser trazidos para as salas de aula dos Anos Iniciais,

mesmo que sejam aparentemente incoerentes.

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[...] os modos de escrever a história são tão diversos, as técnicas

empregadas pelos historiadores são tão variadas, os temas da

investigação histórica são tão díspares e, acima de tudo, as conclusões

são tão veementemente contestadas dentro da profissão, que é difícil

apresentar qualquer coerência disciplinar. (THOMPSON, 1981, p. 48)

Para Bezerra (1995):

[...] no conjunto desses historiadores [ingleses, dentre eles E. P.

Thompson e Eric Hobsbawm] há uma clara preocupação com as

experiências de resistências e rebeliões das classes despossuídas. [...]

A compreensão da experiência da classe trabalhadora se dá no

contexto das relações e confrontos de classe historicamente

específicas. A tônica recai sobre a experiência de classe e sobre a

dimensão política desta experiência – dominação e subordinação

embate entre as classes baixas e elites. Há ênfase na oposição e

rebelião – sua realidade, força, limitações. As classes baixas são

participantes ativas na construção da história e na totalidade da

história. Elas podem fazer história. Um claro posicionamento político.

(BEZERRA, 1995, p. 121)

A História escolar é (re)pensada, por conseguinte, como um saber que deveria se

apresentar mais criticamente, de modo processual, dinâmico e participativo. Pretendia-

se findar com uma história mecanicista, linear, factual. A ciência histórica deveria estar

dialogando com a História, enquanto disciplina escolar, num movimento de interpelação

didática, segundo o conceito de Allieu (1995 apud MONTEIRO, 2007a), e não de

transposição didática. De acordo com este autor, a relação constituída entre os dois

campos, saber acadêmico e saber escolar, ocorre em um movimento muito mais

ascendente do que hierarquicamente descendente.

Allieu prefere falar em interpelação, e não transposição, porque, para

atribuir sentido ao que ensina, o professor recorre ao saber acadêmico,

em suas diferentes escolas e matrizes teóricas, para buscar subsídios

que lhe permitam produzir versões coerentes com seus pontos de vista

e que tenham uma base de legitimidade dentro do campo. [...] No

saber escolar encontramos muito mais uma síncrese de diferentes

matrizes teóricas do que filiações definidas a determinadas correntes.

(MONTEIRO, 2007a, p. 106)

Enquanto Monteiro (2007) considera o diálogo como a essência das relações

constituídas entre a disciplina escolar e a ciência de referência, Chervel (1990) eleva a

um grau tão alto a autonomia dos saberes escolares, em relação às ciências de

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referência, que pode ser compreendido como um aparente rompimento entre estes dois

campos. Para Monteiro (2007a), a ciência de referência, a História, dialoga com a

disciplina História e vice-versa. Uma não se opõe à outra, nem se submete à outra, mas

ambas caminham juntas, mesmo que de forma não horizontal, na busca da formação do

cidadão autônomo, crítico e reflexivo. Monteiro (2007a), a partir das percepções de

Moniot (1993), fala da anterioridade da constituição da ciência História, em relação à

disciplina História, para observar que, contudo, “[...] a História escolar também fez a

fortuna da História universitária, havendo uma conivência entre uma e outra, de forma

que até hoje uma legitima a outra” (MONTEIRO, 2007a, p. 102).

Moniot (1993) está muito presente na construção do olhar de Monteiro (2007a),

ao considerar que a História escolar não precisa buscar, em qualquer outra prática

social, alguma referência para a constituição de sua própria prática. Considera-a por si

só, enquanto História vivida pelos diferentes sujeitos que constituem o espaço escolar,

como a primeira das práticas sociais existentes.

Outro conceito deveras importante para a compreensão do diálogo entre a ciência

História e a disciplina História, na contemporaneidade, é o de mediação didática,

proposto por Lopes (1997 apud MONTEIRO, 2007). Segundo a autora, trata-se de uma

alternativa para a superação do conceito de transposição didática, estanque no seu

entender, quando considera o saber escolar como uma transformação do saber

acadêmico em objeto de ensino. O conceito de transposição didática de Chevallard

(1991 apud MONTEIRO, 2007a, p. 84) é, em sua ótica, “[...] aquele que remete à

‘passagem do saber acadêmico ao saber ensinado [...]’”.

Ao trazer a concepção de mediação didática, Lopes (1997 apud MONTEIRO,

2007a) dá um salto, no sentido de compreender que os saberes escolares, e

especificamente o saber histórico escolar possui autonomia em relação ao saber

acadêmico. “Utilizo o termo “mediação” em seu sentido dialético: um processo de

constituição de uma realidade através de mediações contraditórias, de relações

complexas, não imediatas, com um profundo senso de dialogia” (LOPES, 1997, p. 106

apud MONTEIRO, 2007a, p. 91).

Monteiro (2007a) ainda considera três aspectos referenciais que, a seu ver, não

podem ser desconsiderados nas relações construídas entre a ciência histórica e a

disciplina História. Estes se mostraram significativos na construção das reflexões sobre

a História ensinada nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental na contemporaneidade: a

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História acadêmica; o conjunto de valores presentes na vida coletiva, que dá sentido a

esta e, consequentemente, sua socialização pela escola, é considerada importante; a

cultura política e a cultura cultivada18 transmitidas pela História. Para a busca desta

compreensão, o cotidiano escolar precisa ser visitado, com o objetivo de entendimento

das relações existentes entre cultura, cotidiano escolar e saber histórico escolar.

Contemporaneamente, há os debates sobre a Didática da História e a Consciência

Histórica, que possuem em Jörn Rüsen seu maior expoente. Partindo da ideia de que a

História é fundamentada nas necessidades sociais e serve para orientar a vida prática

dentro da estrutura do tempo, Rüsen defende que o entendimento da História é guiado

pelos interesses da humanidade, possuindo um papel importante na cultura política da

sociedade.

Com suas pretensões de racionalidade, a ciência da História é eficaz na prática

como formação histórica. Sua eficácia diz respeito a um conjunto de competências para

orientar historicamente a vida prática, que pode ser entendido como a “’competência

narrativa” da consciência histórica. Ela é a capacidade das pessoas de constituírem

sentido histórico, com o qual organizam temporalmente o âmbito cultural de orientação

de sua vida prática e de interpretação de seu mundo e de si mesmas” (RÜSEN, 2010, p.

103-104).

Para este autor, a formação histórica dos alunos ocorre quando uma determinada

narrativa histórica adquire sentido, quando o discente consegue elaborar um sentido

histórico para sua inserção no mundo, para sua práxis, a partir da capacidade de

aprendizado elaborada na experiência do tempo, na competência interpretativa. No

entanto, apesar de perceber a experiência como um fator importante para a formação

histórica, ela é considerada em um nível diferente, relacionadas ao processo de ensino e

aprendizagem, em autores como Tardif (2011) e Contreras (2013), e em outro patamar

em Thompson (1981), o qual considera a experiência como constituinte da vida do ser

humano em todos os seus aspectos – políticos, sociais, econômicos, educacionais. A

experiência para Rüsen (2010, p. 113) está inserida no campo das competências e,

assim, este autor defende que os “[...] movimentos de busca da experiência da formação

histórica somente são possíveis em situações relativamente livres de pressão”.

18 Moniot (1993 apud MONTEIRO, 2007, p. 108) considera como cultura cultivada a que se constitui a

partir de uma “[...] frequentação qualitativa de lugares do passado”.

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Rüsen procura debater os elementos constitutivos da matriz disciplinar da

História, mesmo que não diretamente vinculados, em um primeiro momento, às

reflexões sobre o saber histórico escolar. Para além de uma orientação da vida prática,

há a necessidade de conhecimento do passado historicamente constituído e a percepção

da importância dos métodos de pesquisa, os quais garantem sustentação à narrativa

histórica, através da historiografia.

Segundo Rüsen, são esses elementos que conjuntamente diferenciam o

conhecimento histórico, cientificamente constituído, do saber comum, não histórico. A

meu ver, ideias que se contrapõem às de Monteiro (2007), quando desconsidera o saber

histórico escolar como um saber reconhecidamente válido, autônomo, e que se encontra

em diálogo constante com a ciência histórica, mesmo que este diálogo seja pressionado,

a todo momento, pelos sujeitos que dele participam.

2.3. CULTURA E COTIDIANO ESCOLAR NA RELAÇÃO COM OS SABERES

Compreender as disciplinas escolares e a constituição dos saberes escolares

pressupõe entender o cotidiano escolar e a cultura escolar instituída, percebendo os

docentes como agentes que praticam o cotidiano, que o (re)constroem continuamente,

fazendo com que, neste processo, se constituam em seres únicos, em suas trajetórias de

vida, feitas a partir de suas experiências e vivências particulares.

Alves e Garcia (2000) colocam que muito se diz sobre a escola, a partir de um

olhar externo, e em muitos momentos desconhecido, e as relações e interações

construídas internamente nesta instituição, entre pais, discentes, docentes, trabalhadores

da educação e equipe gestora. Para as autoras, “a escola da qual tantos falam é uma

simplificação a partir de um paradigma reducionista que ignora tudo o que se passa e se

cria nesse espaço/tempo de aprender e ensinar, de relação de subjetividades, de

encontros e desencontros, de socialização” (ALVES; GARCIA, 2000, p. 7).

Neste sentido, o cotidiano da escola e da sala de aula tem relação direta com as

decisões tomadas pelos professores, em decorrência de uma inserção dos docentes

nestes espaços/tempos que permitem sua participação na rede educativa, interna à

escola, e nas múltiplas redes de convivência, que proporcionam a formação de suas

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variadas subjetividades e a interferência direta em seus atos pedagógicos e na tomada de

decisão, no que se refere aos acontecimentos escolares, à diversidade de opiniões sobre

o currículo, os conteúdos a serem ensinados, como serão ensinados, o relacionamento

com os pais, situações que podem gerar campos de tensão ou consenso (GIESTA, 2005,

p. 43). Os professores e professoras:

[...] em seus tantos cotidianos vividos, estão participando de outras

redes das quais suas colegas, alunos/alunas e seus pais/mães não

participam, e cada um/a deles também participa de redes, algumas

comuns, outras diferentes [...]. Nestes momentos de convivência em

outras redes, com outros grupos, cada uma de vocês está interagindo

com outras pessoas, influindo e sendo influída e, neste processo de

trocas, se modificando, seres mutantes que são, como, aliás, todos nós.

(ALVES; GARCIA, 2000, p. 8)

Giesta (2005) aponta igualmente o surgimento de várias pesquisas tendo como

eixo principal o cotidiano escolar, o dia a dia da sala de aula, o que tem possibilitado um

melhor entendimento das realidades educacionais diversas, assim como diferentes

posturas teóricas e metodológicas. Estudos que têm exposto as condições de trabalho

dos professores, compreendendo as situações micro a partir de estruturas sociais macro,

bem como a complexidade existente no universo escolar.

A autora, a partir das considerações de Penin (1990), concebe a instituição escolar

como um espaço socialmente construído pelos sujeitos e atores que nele estão, que dele

participam. Para Giesta (2005, p. 44), “[...] o cotidiano escolar de cada escola reflete,

entrelaçadas, sua história e a História, em seus aspectos hegemônicos e suas

contradições”, e “[...] o cotidiano escolar se apresenta também como local de resistência

a imposições”.

Alves e Garcia (2000, p. 11) afirmam que o que é posto de forma obrigatória pelas

políticas educacionais “[...] se transforma em outra coisa, pois este é o espaço/tempo da

invenção, da surpresa, da complexidade, quer tenhamos olhos para ver, ouvidos para

escutar, nariz para cheirar, paladar para degustar, pele para sentir, ou não”.

Maria, ao se referir à imposição do Programa Alfa e Beto de Alfabetização,

adquirido pela Prefeitura de Salvador, no ano de 2013, deixa clara a imposição da

SMED, na utilização dos materiais deste programa, no cotidiano escolar, ao mesmo

tempo que, em sua percepção, este programa é um dos fatores que fazem com que a

disciplina História não seja ensinada regularmente no 5º ano.

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Apesar da quase inexistência da disciplina História no cotidiano de sua sala de

aula, a professora a considera uma disciplina importante, que precisa estar presente no

currículo, por estar muito ligada ao conceito de cidadania e, mesmo com uma baixa

frequência, a leciona nos momentos que julga importantes.

Além de Penin (1990), Giesta (2005) também considera Domingues (1988)

como um autor importante, nas pesquisas do cotidiano, nos estudos do que ocorre em

sala de aula, apesar dela e para além dela, com o objetivo de apreender a diversidade,

aspecto tão característico do cotidiano escolar, não perdendo de vista a unicidade da

escola, a identidade escolar. Considerando-se que o docente é um ser dotado de

subjetividades, que se situa sempre em um entrelugar (ALVES; GARCIA, 2000),

composto por elementos e influências dos lugares de onde se veio e do lugar onde se

optou estar, Giesta (2005) considera que:

[...] a tomada de decisão pelo professor, ou mesmo, sua ação/não

ação, consciente ou não, servem de referência na análise de situações

escolares, pois quando esvaziado de comprometimento pedagógico, o

professor ‘passa’ seus conhecimentos como amontoados de dados,

exigidos pelo programa, e que, raramente, apresentam coerência

interna ou interligação com outras disciplinas, ou mesmo, com a vida

concreta. A vontade política deve ser alimentada pelo educador, para

que reconheça suas correlações de forças, possibilidades individuais e

coletivas na conquista de transformações desejáveis. (GIESTA, 2005,

p. 50)

As atividades cotidianas dos docentes adquirem sentido quando os valores,

ideologias e princípios que norteiam suas ações se tornam aparentes. O professor é

possuidor do poder de incluir ou excluir seus discentes do processo de escolarização e

de apropriação do conhecimento, a depender de como seleciona os conteúdos a serem

ministrados em sua sala de aula, de como efetiva suas ações no cotidiano de sua sala de

aula. Domingues (1988 apud GIESTA, 2005) percebeu que os docentes pesquisados por

ele transformaram a sala de aula e as ações pedagógicas em atos de coação, ao tratarem

Ano passado, a prefeitura comprou um programa, o Alfa e Beto. Esse programa trabalha

com língua portuguesa, matemática e ciências. Ele não contempla nem História, nem

geografia. É muito complicado, porque é muita coisa para trabalhar, tudo com um tempo

supercronometrado e a gente não tem material nenhum de História e Geografia. (Maria,

2014)

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a sala de aula como um espaço hierárquico e coercitivo. Observou que as tarefas

escolares eram vistas como formas de manter a disciplina e a ordem da sala de aula.

A dinâmica escolar permite ao docente tomar posições diante das circunstâncias

existentes, criando novos sentidos e ressignificando as suas próprias necessidades e

representações e a dos discentes, na relação com outros indivíduos. Contudo, este

mesmo cotidiano faz com que em algumas situações os docentes tomem posições que

não sabem descrever com exatidão. Estas ações são realizadas de modo repetitivo, de tal

forma que deixam de ser ações pensadas, fruto de reflexões, para constituírem atos

espontâneos e automáticos.

Como o cotidiano escolar é diversificado e os docentes são múltiplos, ao mesmo

tempo em que aparentemente não possuem poder de decisão direta sobre o currículo e

seus conteúdos, ao se apropriarem de seu fazer profissional, decidem internamente, em

sua sala de aula, sobre o que e como ministrar suas aulas. Giesta (2005) coloca que por

mais que exista um controle por parte de outros sujeitos educacionais, tais como os

órgãos governamentais, as coordenações e o próprio currículo prescrito, os professores,

em seu cotidiano, tomam decisões que pouco ou quase nada se parecem com as

orientações gerais do sistema educacional no qual se encontram inseridos,

transformando-as em outras coisas.

De fato, ainda que se imponha um livro texto, por exemplo, uma vez

em sala de aula o docente sente-se livre para escolher em segui-lo ao

pé-da-letra ou selecionar determinados tópicos. [...] De certa forma, o

professor, consciente ou inconscientemente modifica o currículo

escolar. A distribuição de responsabilidade pela escola ao profissional

do ensino, explícita ou não, permite-lhe influir decisivamente nos

conteúdos, e sua influência não é previsível. Sabe-se que pode

bloquear ou desvirtuar a execução de inovações, sem contradizer

formalmente seu modo de entender a docência e a escolarização.

(GIESTA, 2005, p. 52)

Os professores decidem sobre seu trabalho, selecionam seus conteúdos,

metodologias, formas de avaliação, a partir de várias influências. Em alguns momentos,

isto ocorre de forma reflexiva, em outros, de forma automática. São decisões que se

mostram complexas, em alguns contextos e situações, e que podem provocar

sentimentos contraditórios: por um lado, de satisfação, pela ação docente desenvolvida,

ou, por outro, de frustração, incerteza, ocasionando conflitos que podem terminar por

desvirtuar os objetivos pretendidos pelos próprios docentes.

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103

O que para um olhar desavisado pode aparentar ser uma prática comum, uma

atitude ou tomada de decisão corriqueira, na essência, integra experiências particulares

compostas por atitudes de solidariedade e lutas que organizam o espaço escolar. São os

docentes apropriando-se do que é imposto, transformando-o em outro currículo, em

outro ensino de História, que não é o que deveria ser, mas o que ele acredita que deve

ser no cotidiano de sua sala de aula.

Certeau (2014) coloca, para melhor entendimento do cotidiano e das relações nele

constituídas, as interações existentes entre os colonizadores espanhóis e os indígenas.

Para este autor, estes últimos se apropriavam dos ritos, representações ou leis do

colonizador, e as transformavam em outra coisa que não era o que o dominador julgava

ser. Não havia uma subversão, uma rejeição direta ou uma modificação frontal, mas,

através dos usos e apropriações, outros ritos, leis e representações surgiam.

A presença e a circulação de uma representação (ensinada como o

código da promoção socioeconômica por pregadores, por educadores

ou por vulgarizadores) não indicam de modo algum o que ela é para

seus usuários. É ainda necessário analisar a sua manipulação pelos

praticantes que não a fabricam. Só então é que se pode apreciar a

diferença ou a semelhança entre a produção da imagem e a produção

secundária que se esconde nos processos de sua utilização.

(CERTEAU, 2014, p. 39)

As professoras praticam o currículo e (re)fazem o cotidiano da sala de aula, por

meio de suas escolhas e ações docentes. Elas (re)apropriam-se do espaço escolar, por

meio de uma variedade de táticas, colocadas por Certeau (2014), como operações

microbianas, que se multiplicam no centro das estruturas tecnocráticas, modificam seu

funcionamento e, neste sentido, modificam o currículo do ensino de História, nos Anos

Iniciais.

As ações são o acúmulo de tomadas de decisões individuais e coletivas, fruto de

acontecimentos culturais cotidianos, aparentemente insignificantes, mas

impulsionadores de mudanças ou permanências. Ao mesmo tempo em que

aparentemente há uma “reprodução”, por parte dos professores, do que aprenderam

anteriormente, pelas experiências e vivências, em suas trajetórias formativas, há uma

(re)criação cotidiana de novas formas de ser e fazer, que, invisibilizadas, se integram

aos contextos e ao ser docente, sendo naturalizadas e apropriadas pelos sujeitos sociais

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para impulsionar, por fim, as transformações na sociedade e nas relações nela

constituídas.

As mudanças na história são, assim, trançadas em nosso dia-a-dia de

modos não detectáveis no momento mesmo de sua ocorrência, mas em

lances que não prevemos, nem dos quais nos damos conta no

momento em que se dão, mas que vão ‘acontecendo’. (ALVES, 2003,

p. 66)

A pesquisa desenvolvida por Miranda (2007) apresenta relações parciais com este

trabalho. A autora procurou, a partir dos conceitos de memória, cultura escolar, saberes

docentes e saberes históricos escolares, compreender como os docentes dos Anos

Iniciais compreendem e mobilizam os conceitos históricos advindos da indústria

cultural. Para isto, considerou que os saberes devem estar inseridos no contexto de

cultura escolar e que, ao analisar os elementos constitutivos da História ensinada nos

anos iniciais, percebe-se uma complexa imbricação entre a memória e esta disciplina.

Não busco compreender as imbricadas relações existentes entre esses dois

aspectos. Procuro entender o espaçotempo da sala de aula, as práticas intraclasse e os

saberes docentes e históricos constituídos e mobilizados pelos docentes do 5º ano.

Contudo, ao considerar a escola como um espaço que constitui e é constituído de

cultura, Miranda (2007) deu importantes contribuições, no sentido de demonstrar a

imersão necessária no cotidiano escolar para a compreensão dos processos de

(re)construção do conhecimento histórico, no espaço escolar, como forma de

entendimento das práticas docentes, das tradições curriculares, da organização do

espaçotempo.19

Segundo Miranda:

[...] a vida social se organiza num determinado espaço e tempo e,

nesse sentido, o espaço intervém na organização humana ao longo da

História, por sua extensão, pela condição de materialização das

atividades fundamentais à existência, pela interposição de obstáculos

às relações sociais e pela projeção de bases à atividade simbólica.

Todos esses elementos vão sendo ressignificados em cada cultura e

possuem grande variabilidade histórica. (MIRANDA, 2007, p. 90-91)

19 A opção da escrita de espaçotempo, enquanto uma palavra e não duas, deu-se a partir dos escritos de

Nilda Alves (2000; 2001; 2003), que, por sua vez, afirma ser necessário a escrita deste modo, como uma

tentativa de superação da dicotomização herdada de uma racionalidade técnica advinda do princípio da

ciência moderna.

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Compreender o espaçotempo do cotidiano escolar é imprescindível para que

ocorra a compreensão da constituição dos saberes docentes e saberes históricos

escolares, enquanto saberes (re)construídos no dia a dia da instituição escolar, a partir

dos contextos de formação dos docentes e das socializações profissionais existentes.

Este contexto a ser percebido e apreendido não é simples, já que o ambiente vivenciado

na escola depende de variados fatores, sendo alguns estruturantes e multiplicadores de

outros, que envolvem aspectos locais, a saber, as pressões dos pais, órgãos

governamentais e opinião pública, perpassando por questões de âmbito nacional e

internacional (financiamentos internacionais e acordos políticos), bem como pelos

currículos, programas, orientações e parâmetros curriculares. Neste sentido, há escolas e

escolas, professores e professores, salas de aula e salas de aula.

2.4. PROFESSOR CRÍTICO-REFLEXIVO E PRÁTICAS DOCENTES NA

RELAÇÃO COM OS SABERES

Considerar que, cotidianamente, o docente (re)constrói saberes em suas escolas e

em suas salas de aula, é conceber que este professor não é meramente um reprodutor do

conhecimento produzido em outros espaçostempos. Zeichner (1993) apresenta o

conceito de professor prático reflexivo como contraponto ao movimento da

racionalidade técnica, que promoveu o professor ao status de técnico em educação,

considerando-o como aquele que cumpre programas e ministra conteúdos, instituídos de

fora para dentro de sua sala de aula.

Ser um professor prático reflexivo, na concepção de Zeichner (1993), é perceber

que os professores são sujeitos ativos na produção de conhecimento, em direção ao

ensino de qualidade. Para este autor, produzir conhecimento não é exclusividade da

academia, e nem dos institutos de avaliação externos. Zeichner (1993) e Charlot (2013)

dialogam indiretamente, quando pensam sobre o que seria este ensino de qualidade.

Na visão de Charlot (2013), a escola é necessária e deve, por sua vez, ser a

instituição que propicia o alargamento da visão da criança, ao lhe apresentar os diversos

modelos sociais existentes, os quais, em sua ótica, variam de acordo com cada classe

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social. Para este autor, o professor, através de uma reflexão sobre os modelos sociais

vigentes, seria o mediador entre a criança e a vida social adulta, entre a escola e as

instâncias sociais externas a ela.

Zeichner (1993), por sua vez, considera importante refletir sobre as diversas

realidades existentes, sob o risco de, ao não fazer isto, o professor se fechar para

metodologias alternativas, para experimentar o novo, o diferente. Os docentes não

reflexivos se fechariam para novas propostas e pontos de vista, sob o discurso de que

determinadas posturas e práticas, por eles adotadas, para solucionar problemas e

situações da cotidianidade, têm ocasionado resultados positivos, não sendo necessária

nenhuma mudança.

É frequente estes professores esquecerem-se de que a sua realidade

quotidiana é apenas uma entre muitas possíveis, e que existe uma série

de opções dentro de um universo de possibilidades mais vasto. Assim,

perdem muitas vezes de vista as metas e os objetivos para os quais

trabalham, tornando-se meros agentes de terceiros. Existe mais do que

uma maneira de abordar um problema. Os professores não reflexivos

aceitam automaticamente o ponto de vista normalmente dominante

numa dada situação. (ZEICHNER, 1993, p. 18)

Para Zeichner (1993) ser um docente prático reflexivo não é seguir passos

predeterminados ou específicos. Mas, sim, ser detentor de uma postura, no tocante à

resolução dos problemas detectados em suas diversas realidades e contextos. É ser

possuidor de atitudes e práticas persistentes, implicando ir além de respostas racionais e

lógicas, pois envolve intuição, paixão, emoção e subjetividade.

Paixão, sentimento alvo de muitos escritos e poesias. Há muito, o ser humano e a

Filosofia tentam compreender o que mantém alguém apaixonado. Em seu livro “A

paixão pelo ensino”, Day (2004) fala da necessidade do professor se manter apaixonado

pelo ensino, em quaisquer circunstâncias que se encontre. Pergunto-me se é possível

manter-se apaixonado, em extremas circunstâncias de cansaço, em contextos de ameaça

dos traficantes que dominam as realidades sociais em que se insere a maioria das

escolas pesquisadas. Como ser apaixonado pelo que não se conhece ou não se

aprendeu? Para Maria, uma de suas dificuldades, ao lecionar História, é conquistar o

aluno, é deixá-lo apaixonado pela disciplina.

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Na percepção de Maria, é por meio de um ensino feito de forma apaixonada que

ocorre o exercício da capacidade dos discentes de se entusiasmarem pela aprendizagem,

onde a aprendizagem-ensinagem20 cumpriria com sua função emancipadora, de auxiliar

o aluno “[...] a ver para além do imediato”, podendo aprender mais sobre si mesmo e

construir “uma identidade fundada em novas auto-imagens” (DAY, 2004, p. 242).

Em sua narrativa, Maria deixa a sua paixão pela sala de aula emergir, de forma

sutil, em diversos momentos. Uma das situações mais marcantes aconteceu ao narrar os

adoecimentos pelos quais tem passado nos últimos dois anos. Contudo, mesmo doente,

sempre que os médicos a orientam a se afastar, ela reflete por alguns segundos e conclui

que, se ela sair, os alunos dela ficarão sem aulas por um bom tempo. Então ela “fica”,

procura se cuidar e espera as férias para se refazer do cansaço e dos dissabores do dia a

dia. O cuidado e o zelo que ela demonstra por seus alunos são apaixonantes. Assim, por

que não falar da paixão desta professora que, mesmo diante das dificuldades, sempre

está sorrindo e procura não ser grosseira ou ríspida com as crianças?

A disciplina História vista através do estudo do cotidiano é uma das possibilidades

de se criarem novas autoimagens de si, por parte dos professores e dos alunos, segundo

Tourinho (2004, p. 208). Para esta autora, “o cotidiano tem sido [...] um canal de

aproximação entre o passado e o presente, o que também aproxima o aluno da História,

com significado na sua vida atual [...]”. Tal disposição corresponde a romper com as

dicotomias entre sujeito e objeto, entre os sujeitos que aprendem e ensinam e a

disciplina História, entre os saberes dos docentes e dos discentes.

Concordo com Zeichner (1993), quando coloca que o professor reflexivo se

questiona, pensando se o que está ensinando intervém na formação da imagem e da

identidade dos discentes; se possui consequências no desenvolvimento cognitivo destes

20 Considerando a terminologia utilizada por Nilda Alves (2000; 2011; 2003), que considera que ninguém

ensina o que não aprendeu antes, o processo seria de aprendizagem-ensinagem e não de ensino e

aprendizagem.

A minha principal dificuldade é essa questão de conquistar o aluno, naquele momento da

aula de História. De fazer com que ele preste atenção, participe, que não ache a História

chata. Eu acho que a minha maior dificuldade é esta: fazer os alunos perceberem a

História como uma disciplina prazerosa, lúdica e importante. Para eles saberem,

descobrirem e conhecerem a História do nosso país e do mundo todo, para o futuro.

(Maria, 2014)

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e, por fim, se faz diferença na vida cotidiana das crianças, para além da escola,

concebendo que os processos de aprendizagem-ensinagem devem ir além dos muros da

escola, sendo importantes para a inserção das crianças na vida social adulta. Esta é uma

das preocupações da História escolar: a compreensão da cidadania a partir do estudo das

histórias locais.

A partir dos anos 90, tem se observado, no campo das discussões a

respeito da História ensinada, uma grande ênfase nos movimentos de

revitalização e valorização da memória e da história locais graças à

vitalidade dos estudos da chamada História cultural. Os atos de

rememoração no espaço escolar, feitos por meio de documentos e

fontes da história local, passaram a ser entendidos como uma

possibilidade de estímulo à criação de reflexões e revisão de

sensibilidades, ao compartilhamento de conhecimentos produzidos de

modo a resgatar o sentido da diversidade, obscurecido pela

homogeneização promovida nos espaços educativos, e a construir

memórias múltiplas, estilhaçadas pela modernidade capitalista.

(MIRANDA, 2007, p. 76)

Zeichner (1993) igualmente aponta que, mesmo nos ambientes cotidianos,

acelerados, é necessário buscar o equilíbrio entre a reflexão e a ação, entre a rotina e o

pensar. A rotina e as ações cotidianas são importantes para que ocorra a gestão do

trabalho pedagógico, no dia a dia da sala de aula, mas estas precisam desaguar em ações

reflexivas e não automáticas, inconscientes. Este autor, assim como Schön (2000), fala

em reflexão na ação, o que, sob sua ótica, ocorre antes, durante e após a ação docente,

em virtude de os professores prático-reflexivos dialogarem constantemente com as

situações que se apresentam, entendendo-as e resolvendo os conflitos que surgem in

loco. Não é um processo em que a ação ocorre, em que as decisões pedagógicas são

tomadas, mas somente posteriormente, em um momento contemplativo, ocorrerá a

reflexão sobre o acontecimento.

Zeichner (1993) e Schön (2000) defendem que a formação e a autoformação de

professores práticos reflexivos é um caminho para o rompimento com a excessiva

racionalidade técnica da modernidade, em busca da construção do equilíbrio entre os

saberes constituídos na cotidianidade do ambiente escolar e os saberes acadêmicos. É o

caminho para que se entenda que algumas situações que ocorrem na escola são únicas e,

portanto, não haverá uma teoria a priori que oriente a resolução dos problemas postos

no cotidiano da docência.

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Há, contudo, pontos de dissenso entre os dois autores. Enquanto Zeichner (1993)

busca a formação do professor prático reflexivo, inserido ou a partir de um contexto de

mudança institucional e social, Schön (2000) valoriza, o professor prático reflexivo

considerando suas práticas individuais. No livro “Educando o profissional reflexivo: um

novo design para o ensino e a aprendizagem”, Schön (2000) escreve o que considero

uma espécie de manual didático, sobre como formar um profissional prático reflexivo, a

partir do desenvolvimento do talento artístico, em outros campos de prática, como a

arquitetura.

Pimenta (2012) aponta a crítica que Zeicher (1992) faz ao uso mercadológico do

conceito, já que vários treinamentos têm sido implementados para que os professores se

tornem práticos reflexivos, perdendo-se, aí, a concepção de que é através de sua prática

e de sua experiência profissional que o professor vai se constituindo em um ser prático

reflexivo, sem perder de vista as teorias da educação como integrantes de seu saber

docente.

A nosso ver, esse ‘mercado’ do conceito entende a reflexão como

superação dos problemas cotidianos vividos na prática docente, tendo

em conta suas diversas dimensões. Essa massificação do termo tem

dificultado o engajamento de professores em práticas mais críticas,

reduzindo-as a um fazer técnico. [...] o saber docente não é formado

apenas da prática, sendo também nutrido pelas teorias da educação.

(PIMENTA, 2012, p. 27-28)

Corroboro com os estudos de Pérez Gómez (2000), para o qual o ato de refletir

sobre algo não é um processo individual, visto que o sujeito que reflete sobre algo, o faz

a partir de imersões feitas em sua existência, em um mundo permeado de valores,

simbologias, representações, sentido, afetividades, interesses sociais, políticos e

econômicos.

A reflexividade é a capacidade de voltar sobre si mesmo, sobre as

construções sociais, sobre as intenções, representações e estratégias de

intervenção. Supõem a possibilidade, ou melhor, a inevitabilidade de

utilizar o conhecimento à medida que vai sendo produzido, para

enriquecer e modificar não somente a realidade e suas representações,

mas também as próprias intenções e o próprio processo de conhecer.

(PÉREZ GÓMEZ, 2000, p. 29)

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Maria, em suas falas, não se referiu somente a sua prática docente, ao lecionar a

História escolar, mas considerou que sua prática é a de “todos” os professores

conhecidos por ela. Viu-se como parte de um todo e não como parte isolada do todo,

neste caso em específico, o corpus docente. Prática que para Maria ainda tinha muito a

ser modificada, no ensino da História. Segundo ela, muito já tinha sido mudado, mas

ainda tinha muito a transformar.

Contudo, ao mesmo tempo em que sua fala reflete acerca da modificação de

práticas escolares instituídas, assinalando um discurso preocupado com as mudanças,

com o processo de aprendizagem-ensinagem, em sua sala de aula tem uma prática

educativa, em alguns momentos, arraigada no livro didático e na reprodução do

conhecimento trazido pelo manual didático.

Uma contemporaneidade, em que as palavras mudança e transformação viraram

slogans das reformas educacionais, mas que apresenta muitas contradições. Segundo

Nóvoa (1999), há excessos nos discursos dos professores e na defesa da centralidade e

da importância do trabalho docente, em meio às reformas educativas em curso na

década de 1990.

Para este autor, o pensamento corrente, desde então, considera os professores

como sujeitos relevantes, quiçá os mais relevantes na construção da sociedade do futuro,

e, portanto, devem ser trazidos à centralidade dos processos educativos, das reformas

curriculares, por meio de uma boa formação, inicial e continuada. Tais pensamentos

alicerçam o “mercado das formações”, cabendo a resolução dos problemas educacionais

apenas à boa formação, mas perdendo-se, neste processo, “[...] o sentido da reflexão

experiencial e da partilha de saberes profissionais” (NÓVOA, 1999, p. 14).

Reafirmo o que tratou o autor, quando se referiu, neste mesmo artigo, ao paradoxo

existente: inversamente à existência de muitas pesquisas, nas últimas três décadas,

acerca dos saberes e das práticas docentes, por parte das ciências da educação e dos

pesquisadores acadêmicos, há uma crescente desvalorização da profissão, de suas

práticas e de seus saberes. Em sua perspectiva, os pesquisadores externos estão cada vez

Hoje, o ensino da História mudou muito, eu vejo e reconheço, mas, eu acho que ainda tem

muito a mudar. Não sei se vai alcançar o mesmo patamar de português e matemática, mas,

eu espero, que aos poucos a gente vá conseguindo. (Maria, 2014)

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mais conhecendo as realidades e os saberes docentes, contudo, paradoxalmente, não tem

havido o salto qualitativo em direção a uma (re)construção dos saberes docentes dos

professores da educação básica, para que “[...] fiquem a saber melhor aquilo que já

sabem” (NÓVOA, 1999, p. 15).

Ao mesmo tempo em que se fala muito de autonomia e de (re)construção dos

saberes, há um retorno ou manutenção de práticas arraigadas no livro didático

produzido por editoras, externas às realidades locais de grande parte do Brasil. Neste

contexto, os docentes e discentes não se reconhecem nestes materiais, produzidos por

outros e enviados às escolas através da escolha (e compra) dos livros escolares feita pelo

Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

Sobre o professor recaem cobranças excessivas, o cumprimento de “missões” que

não lhe cabem, responsabilidades desmedidas que são assumidas por eles como se

fossem suas vozes e as do próprio corpus docente. Neste mesmo contexto, o cansaço e a

desarticulação profissional se abatem sobre estes docentes, e justificativas são por eles

criadas para que determinadas escolhas pedagógicas sejam feitas.

Assim se apresentam as contradições que, na ótica de Charlot (2013), são

imputadas à escola e cobradas dos professores, por parte da sociedade como um todo, e

influenciando consequentemente a constituição de seus saberes e suas práticas

educativas. A espada de Dâmocles paira constantemente sobre a cabeça dos professores.

Decisões são cobradas deles, a todo momento, em uma realidade pautada pela ação de

pôr o preto no branco: o docente é herói ou vítima; modelo a ser seguido ou renegado;

deve se pautar pela pedagogia tradicional ou progressista, ou ainda eclética.

Ao docente é atribuída a culpa pelos fracassos da escola pública; obrigado a ser

universalista ou multicultural; restaurar a autoridade ou basear suas práticas na

afetividade; construir uma escola dissociada da sociedade ou integrada à comunidade.

As nuanças entre o preto e o branco e a existência de diversos tons e tonalidades são

esquecidas.

Ao mesmo tempo em que certa autonomia foi conquistada ou “cedida” aos

professores, por parte do Estado e da sociedade, a cobrança dos resultados em prol do

chamado sucesso escolar, medido pelas notas alcançadas nas avaliações externas, na

diminuição da evasão escolar e da repetência, aumentou na mesma proporção.

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Hoje em dia, o professor já não é um funcionário que deve aplicar

regras predefinidas, cuja execução é controlada pela sua hierarquia; é,

sim, um profissional que deve resolver os problemas. A injunção

passou a ser: ‘Faça o que quiser, mas resolva aquele problema’. O

professor ganhou uma autonomia profissional mais ampla, mas, agora,

é responsabilizado pelos resultados, em particular pelo fracasso dos

alunos. Vigia-se menos a conformidade da atuação do professor com

as normas oficiais, mas avaliam-se cada vez mais os alunos, sendo a

avaliação o contrapeso lógico da autonomia profissional do docente.

(CHARLOT, 2013, p. 99-100)

Assim, indago se realmente existe autonomia no trabalho docente. Contreras

(2012) fala em uma autonomia ilusória ou, nos dizeres de Thompson (1981), há uma

falsa autonomia. Segundo Contreras (2012), a autonomia existente na apropriação do

conhecimento específico e consubstanciada em uma prática de resultados é enganosa.

“As capacidades que se associam à ação autônoma, como a deliberação e o juízo ficam

aqui reduzidas a um conjunto de habilidades e regras que devem ser seguidas”

(CONTRERAS, 2012, p. 112).

Ainda para este autor, construir a autonomia real é realizar uma constante reflexão

sobre a prática, tal como ela acontece, percebendo os objetivos do ensino como aspectos

qualitativos que guiam a prática educativa, que orientam a ação docente. A prática é

então valorada, segundo a sua coerência, no processo de aprendizagem-ensinagem,

constituído não somente de aspectos técnicos, mas igualmente de qualidades morais e

educativas.

A experiência concreta da educação excede a delimitação oficial de

objetivos para que os docentes possam enfrentar os interesses e as

necessidades daqueles com quem trabalham. E isso os situa

inevitavelmente diante de conflitos e responsabilidades morais, diante

da necessidade de encontrar uma resposta ante as exigências

administrativas, os interesses da comunidade e as necessidades dos

alunos. (CONTRERAS, 2012, p. 116)

A prática docente e a constituição dos saberes dos profissionais docentes não

podem ser entendidas, mera e simplesmente, como frutos de ações constituídas pela

aplicação de técnicas. A prática educativa, a partir de reflexões feitas cotidianamente,

em ambientes incertos e situações ambíguas, considera a manipulação de diversos

saberes, a participação de variados elementos do pensamento que interferem

diretamente nas ações educativas. Não são fenômenos compreendidos de forma linear,

entre a causa e o efeito, o problema e a solução. São compreendidos a partir de uma

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reflexão ação. “A reflexão é compreendida como o modo de conexão entre o

conhecimento e a ação nos contextos práticos [...]” (CONTRERAS, 2012, p. 126).

Os saberes tornam-se essenciais a este processo de ação-reflexão-ação, visto que,

para ser um professor prático reflexivo, diversos conhecimentos precisam ser

manipulados, advindos da experiência, da profissionalização, da formação. Mas isto

ocorre desde que os docentes estejam abertos a este pensamento. As mudanças

almejadas para a escola ou para a educação escolar não ocorrerão sem a participação

efetiva dos professores, sem a inserção de suas práticas educativas nos diversos

contextos sociais em que ocorrem, para além do ambiente escolar. Somente serão

possíveis quando o docente participar ativamente, intrinsecamente do processo de

reflexão e das tomadas de decisões educativas. Quando a autonomia docente de fato for

concreta e não ilusória. Em última instância, são os docentes que planejam suas aulas,

que decidem quais conteúdos serão ministrados, que concebem a forma como serão

trabalhados em sala de aula, mesmo que influenciados por fatores intra e extra escola.

Para Contreras (2012)

somente é possível desenvolver práticas que tenham as qualidades do

educativo a partir da decisão e do julgamento autônomo dos que se

responsabilizam realmente por elas, porque, em um sentido

plenamente aristotélico, o que se refere aos valores educativos não

pode vir resolvido à margem da prática na qual estes são buscados.

(CONTRERAS, 2012, p. 144)

Como dito anteriormente, as práticas educativas não podem ser entendidas quando

dissociadas de seu contexto social. Os professores, ao se incorporarem a uma escola,

não o fazem como se um novo mundo pudesse ser construído a partir de então. Eles se

inserem e são inseridos por outros, em um universo preexistente, com sua cultura, suas

tradições, seus hábitos e costumes, enfim seu cotidiano. Os docentes, neste sentido,

influenciam e modificam em parte esta cultura, mas, em muito, são influenciados por

esta mesma cultura. Por isto se faz necessário o equilíbrio entre o que pensam e o que a

escola pensa, entre o que defendem e o que a escola acredita, entre suas expectativas

pessoais e as expectativas que a instituição escolar tem em relação a eles. Constituem-

se, portanto, em agentes culturais, sociais e curriculares (IMBERNÓN, 2011;

ALARCÃO, 2001)

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Contreras (2012) apresenta três características básicas que têm permeado o

trabalho docente: o presentismo, o conservadorismo e o individualismo. A primeira diz

respeito ao fato de parte do professorado engendrar seus esforços no planejamento de

suas aulas, em detrimento de um planejamento coletivo. Para os professores, esta seria a

única forma, em curto prazo, capaz de transformar uma realidade que se mostra adversa

e desencantadora, em alguns momentos. Estes docentes pensam: “Se não posso mudar o

mundo, mudo a minha sala de aula”. A recusa em debater o novo, realizar reflexões, a

rejeição a qualquer tentativa de transformação de uma prática educativa instituída, e de

uma cultura escolar, marca o conservadorismo de parte dos docentes. Por fim, alguns

destes professores, rejeitam igualmente o trabalho em equipe e não se veem atuando de

forma colaborativa, recusando críticas ou sugestões de colegas.

Ao longo das observações do cotidiano da escola, da sala de aula e da análise das

falas de Cecília e Maria, percebi que apesar de atuarem na mesma escola, no mesmo

ano (5º), não planejam as aulas coletivamente, não dialogam entre si com vistas à troca

de experiências. Cecília e Maria estão no mesmo prédio, mas em mundos educativos

muito díspares, são separadas não somente por um cargo, já que Cecília é vice-diretora

no turno em que Maria ministra suas aulas; são separadas, também, por um fosso de

divergências, de pensamentos conflitantes. Contudo, paradoxalmente, se aproximam

nos momentos de suas práticas educativas.

Contradições que representam as idas e vindas dos fazeres docentes,

demonstrando que estes não se incorporam à cultura escolar, de modo passivo, como se

fossem seres imutáveis, de pensamentos engessados. Neste cenário, há lutas, embates

são travados, avanços e recuos são realizados. Tem-se que perceber e lembrar que todas

as colisões e oposições ocorrem no dia a dia de uma instituição, que não é homogênea,

mas representa valores diversos, de diversas classes sociais e vários interesses.

A escola, produto de sua própria história e das diversas funções que

pretende cumprir, representa aspirações e valores que nem sempre são

claramente compatíveis. [...]. Consequentemente, necessitamos

entender de que maneira os docentes podem orientar estes processos

de interação entre seus interesses e valores e os conflitos que a escola

representa, com o objetivo de entender melhor que possibilidades de

reflexão crítica podem ser criadas ao pertencer a uma instituição

educacional. (CONTRERAS, 2012, p. 166)

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A escola é a instituição pela qual os valores de gerações anteriores são passados,

não de forma mecânica e automática, para as novas gerações. Segundo Charlot (2013), é

por meio da educação que a relação entre as gerações de seres pensantes deixa de ser

uma hereditariedade biológica e se transforma em uma herança cultural. Na visão deste

autor, esta passagem entre as gerações não ocorre de modo engessado. Cada um dos

seres humanos, ao receber suas heranças culturais, constrói-se enquanto um ser singular,

amplia a herança recebida e a transforma para repassá-la a outras gerações.

O ser humano nasce sem nenhuma bagagem cultural, mas nasce em um mundo

cultural e histórico, que o precede, e a educação é o meio de inserção deste ser, que

nasceu em um mundo que já existia antes de seu nascimento. Precisa aprender tudo, a se

vestir, a falar, a comer, a sentir, a como se relacionar com os demais de sua espécie e

como compreender o mundo que o cerca. As formas em que ocorrem estes aprendizados

são variadas e, na sociedade ocidental contemporânea, atribuiu-se à escola a

responsabilidade pela educação do ser humano, o que faz com que outros ambientes não

tenham o mesmo grau de reconhecimento, enquanto instituições educativas, por parte da

sociedade.

Cabe à escola cumprir o papel de ser “depositária” dos conhecimentos mais

relevantes, que devem ser passados de geração a geração. Contudo, este processo

educativo não ocorre tranquilamente, sem lutas, disputas, dissenções. Ocorre de forma

relacional, entre os diversos saberes que constituem a cultura escolar e as práticas

educativas.

Segundo Lima (2013)

[...] não podemos pensar que os professores possuem um saber a ser

ensinado, mas que produzem saberes a partir de diferentes

experiências de relação com o saber, isto é, da relação consigo

mesmo, com os outros, com as teorias, com os livros e objetos

didáticos, com a rotina escolar, com as práticas culturais e os artefatos

do mundo contemporâneo, enfim, constroem uma relação com o saber

em sua dupla dimensão: epistêmica e identitária. (LIMA, 2013, p. 74-

75)

Os docentes são, neste sentido, produtores de saberes diversos e com eles se

relacionam constituindo sua identidade a partir de processos de socialização,

escolarização, profissionalização, experiências e formação. Esta produção decorre de

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um processo de (auto)construção, relacional consigo mesmo, enquanto sujeito existente,

internamente, em cada um, e com o outro, como sujeito externo, do mundo e no mundo.

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CAPÍTULO 3

A CONSTRUÇÃO DO CAMINHO: AS ESCOLHAS E OS DISPOSITIVOS DA

PESQUISA

Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a

fazer o caminho, caminhando, refazendo e retocando o sonho

pelo qual se pôs a caminhar.

Paulo Freire

Neste capítulo, apresento os caminhos trilhados nesta pesquisa, como foi pensada

e delineada. Para tanto, realizo um debate teórico com autores que tratam da abordagem

qualitativa, em pesquisas que se utilizam de métodos mistos, demonstrando que uma

pesquisa organizada pode ter seus rumos modificados, a depender do que o pesquisador

encontre no lócus de trabalho.

Ao longo do texto, exponho as proposições teóricas que nortearam a construção

de um olhar acerca do fenômeno em estudo e os dados coletados em campo, escolhas

que constituíram este trabalho, cujo objetivo é descrever, compreender e analisar os

saberes e práticas dos professores do 5º ano do Ensino Fundamental, ao lecionarem

aulas de história nas escolas municipais na cidade do Salvador.

Para escrever acerca do caminho percorrido pela pesquisa, busco, primeiramente,

implicar-me no texto, empoderando-me pelo conhecimento, que é considerado e tratado

como algo mutável e em permanente construção. Neste capítulo, trato de escrever sobre

o método, sobre o percurso de estudo, de acordo com a etimologia da palavra Meta-

odos, que quer dizer “a via que eu percorro”.

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3.1. A PESQUISA QUALITATIVA

Ao longo de toda a trajetória que integrou minha experiência formativa, no âmbito

da pesquisa, precisei considerar que o conhecimento não pode ser produzido de forma

hierárquica, onde o pesquisador se coloca na posição de detentor de todo o saber sobre o

sujeito pesquisado, e passei a conceber e a internalizar a perspectiva de que a produção

do conhecimento ocorre junto ao sujeito pesquisado. Também foi necessário buscar os

métodos adequados, fazer as escolhas políticas e teóricas necessárias e percebê-los em

sua complexidade. Assim, a partir destas escolhas, foi possível criar um texto com as

vozes e as faces dos sujeitos pesquisados, e não somente a partir da voz e da face da

pesquisadora.

Segundo Robert Stake (2011), temos a sorte de contar com os olhares e com as

experiências desses sujeitos, nas pesquisas, pois, sem eles, talvez a investigação se

mostre incipiente. Para este autor:

Na maior parte do tempo, não somos historiadores, somos

examinadores do aqui do agora. Estudamos no presente, embora

possamos escrever o texto no passado. Escrevemos sobre

experiências, experiências em um local que influencia o

funcionamento das coisas. Em determinados locais, nós,

pesquisadores profissionais, procuramos formas melhores de

compreender como as coisas estão funcionando [...] e buscamos

formas melhores de descrever nossas descobertas para as pessoas.

Também procuramos maneiras de convencer os leitores dos relatórios

de que nossos resultados são pertinentes e de que nossas

interpretações são confiáveis. (STAKE, 2011, p. 69)

Apreender o método é um processo de formação, o sujeito aprendendo de forma

valorada, já que a experiência somente é formativa quando há a possibilidade de

reflexão sobre ela, por parte do sujeito que está em processo de aprendizagem. Trata-se

de valorizar os diversos olhares envolvidos no processo de pesquisa, bem como da

compreensão dos dados levantados e das experiências vividas.

Todo este processo complexo é inerente à pesquisa. Por ela, busca-se a apreensão

de algo, a descoberta do que não se sabe. Segundo Gatti,

[...] num sentido mais estrito, visando à criação de um corpo de

conhecimentos sobre um certo assunto, o ato de pesquisar deve

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apresentar certas características específicas. Não buscamos, com ele,

qualquer conhecimento, mas um conhecimento que ultrapasse nosso

entendimento imediato na explicação ou na compreensão da realidade

que observamos. (2010, p. 9)

A construção do caminho da pesquisa se constitui em uma experiência formativa,

visto que se inicia quando da elaboração do projeto de pesquisa. Desenvolver a

problemática, escolher o objeto e delimitá-lo, fazer escolhas metodológicas: pesquisa

qualitativa? Pesquisa quantitativa? Pesquisa quanti-quali? Estudo de caso? Pesquisa de

cunho etnográfico? Quais as técnicas? Grupo focal? Entrevista semiestruturada?

Questionário fechado? Diário de campo? Muitas escolhas necessitam ser feitas.

O turbilhão que envolve as escolhas pressupõe, desde sempre, a existência de uma

margem de incertezas na produção de conhecimentos. Ainda assim, sob uma aparência

caótica, há um desvelamento do objeto de estudo, sem que seja sinônimo de ausência de

rigor ou inconsistência metodológica.

Quem pesquisa procura descrever, compreender ou explicar alguma

coisa. É uma das maneiras de que nos valemos, em última análise, em

qualquer campo do conhecimento, para solucionar problemas. Para

responder a algumas incógnitas, segundo alguns critérios. Portanto, o

conhecimento obtido pela pesquisa é um conhecimento vinculado a

critérios de escolha e interpretações de dados, qualquer que seja a

natureza destes dados. (GATTI, 2010, p. 10)

O processo de escolha metodológica e dos instrumentos de coleta de dados pode

produzir ideologias, refletir ideias, subjetividades. “Não cabe, pois, dicotomizar sujeito

e objeto, nem teoria e prática” (GATTI, 2010, p. 27). Não cabe separar abordagem e

instrumentos de coleta. Teoria e prática. Estes precisam estar afinados, tal qual uma

sinfonia cadenciada em seu ritmo e melodia. Estas percepções caminham em estreita

relação com a pesquisa qualitativa, que busca métodos diferenciados dos modelos

experimentais, dos estudos empiricistas, e da pretensa neutralidade e objetividade das

ciências.

A pesquisa qualitativa não almeja ser a mais correta, mas se apresenta como mais

uma possibilidade de abordagem do universo pesquisado,

[...] passando a ser concebida como uma trajetória circular em torno

do que se deseja compreender, não se preocupando única e-ou

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aprioristicamente com princípios, leis e generalizações, mas voltando

o olhar à qualidade, aos elementos que sejam significativos para o

observador-investigador. Essa ‘compreensão’, por sua vez, não está

ligada estritamente ao racional, mas é tida como uma capacidade

própria do homem, imerso num contexto que constrói e do qual é

parte ativa. (GARNICA, 1997, p. 111)

Neste contexto, o homem compreende por que se indaga acerca das coisas que o

cercam, sobre os fenômenos que ocorrem ao seu redor. Percebe-se homem, em sua

convivência com o outro, mesmo sendo homem-no-mundo. É uma relação em que a

neutralidade não existe. Por conseguinte, não existirá neutralidade entre pesquisador,

objeto e sujeitos pesquisados. Cada um tem a sua forma de descortinar o mundo, pois a

este são atribuídos inúmeros significados através das diversas interações entre os

sujeitos que nele habitam. “Também não haverá ‘conclusões’, mas uma ‘construção de

resultados’, posto que compreensões, não sendo encarceráveis, nunca serão definitivas”

(GARNICA, 1997, p. 111).

Segundo Denzin e Lincoln

[...] a pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o

observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais

e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas

transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as

notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as

gravações e os lembretes. (2006, p. 17)

Nascida a partir de uma preocupação em compreender o outro, de ver o outro em

suas perspectivas, pensamentos e práticas, a pesquisa qualitativa é em si mesma um

campo de investigação (DENZIN; LINCOLN, 2006).

A pesquisa qualitativa para Nelson e colaboradores

... é um campo interdisciplinar, transdisciplinar e, às vezes,

contradisciplinar, que atravessa as humanidades, as ciências sociais e

as ciências físicas. A pesquisa qualitativa é muitas coisas ao mesmo

tempo. Tem um foco multiparadigmático. Seus praticantes são

suscetíveis ao valor da abordagem de múltiplos métodos, tendo um

compromisso com a perspectiva naturalista e a compreensão

interpretativa da experiência humana. Ao mesmo tempo, trata-se de

um campo inerentemente político e influenciado por múltiplas

posturas éticas e políticas. A pesquisa qualitativa adota duas tensões

ao mesmo tempo. Por um lado, é atraída a uma sensibilidade geral,

interpretativa, pós-experimental, pós-moderna, feminista e crítica. Por

outro lado, é atraída a concepções da experiência humana e de sua

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análise mais restritas à definição positivista, pós-positivista, humanista

e naturalista. (NELSON, 1992, p. 4 apud DENZIN; LINCOLN, 2006,

p. 21)

A pesquisa qualitativa envolve tensões, pela multiplicidade de contradições e

interpretações, por isto é igualmente experiencial, ao utilizar o julgamento individual

como sustentáculo das afirmações ou conjecturas feitas sobre como as coisas

funcionam.

E, como o julgamento pessoal precisa ser baseado parcialmente na

experiência pessoal, a pesquisa experiencial depende bastante da

análise das experiências pessoais dos indivíduos estudados [...].

Quando é possível, os pesquisadores experienciais trabalham

pessoalmente com a atividade, os problemas, as expectativas, as

ambiguidades e as contradições, em alguns casos envolvendo-se

completamente. Em geral, a compreensão aumenta por meio das

experiências. A experiência é universal. [...] Todas as experiências

importam. E as experiências comuns raramente são mais formativas

que as incomuns. (STAKE, 2011, p. 73)

Durante o processo de pesquisa, constituir o olhar qualitativo foi importante para

compreender as diversas experiências dos professores que ministram aulas de História,

dentre tantas outras disciplinas obrigatórias do Currículo Escolar, em um sistema de

educação que valoriza muito mais as práticas de leitura, nas aulas de Língua Portuguesa,

e os cálculos matemáticos. Buscava, ainda, mapear a complexidade que é ministrar uma

disciplina para a qual não se possui formação específica. Segundo Cecília:

Isto significa reconhecer que existem diversas realidades, diversas variáveis. Não

pretendi partir de ideias preconcebidas, mas sim ir ao encontro dos professores, de seus

saberes e compreender as suas práticas. Não foi minha intenção ser generalista, em

minhas afirmações, mas buscar uma aproximação da realidade existente, conhecendo e

apreendendo como é dar aulas de história sem ser graduado em História.

De uma forma geral, na rede, a ênfase maior é em Língua Portuguesa e Matemática.

Tanto que a carga horária são seis horas semanais de português e seis horas de

matemática enquanto história e geografia somente têm uma hora. [...] Ninguém se lembra

de história e geografia. [...] Eu tenho quinze anos de rede e nunca fui para nenhuma

formação de história e geografia. Quando acontece é para os professores de área de

fundamental II, mas também não é comum. (Cecília, 2014)

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Neste processo, questionei-me sobre quem é a pesquisadora diante da pesquisa.

Sou professora, sou pesquisadora, sou mulher, sou socialmente branca e todas estas

particularidades estiveram presentes nas escolhas metodológicas realizadas, não de

forma determinista, mas de forma implicada. Implicar-me na pesquisa foi uma opção

feita em uma tentativa de “neutralizar” a tendência do pesquisador de se colocar

enquanto um sujeito distante de sua pesquisa, de seus dados, como se ele fosse um

sujeito “incontaminável”, ideia ainda presente, na contemporaneidade, em alguns

espaços e escritos.

Conforme explica Ruth Behar (1993, p. 273): ‘Pedimos revelações

dos outros, mas pouco ou nada revelamos sobre nós mesmos;

deixamos os outros vulneráveis, porém permanecemos invulneráveis’.

A nossos informantes resta carregar o fardo das representações,

enquanto nos escondemos atrás do manto da suposta neutralidade.

(FINE et al 2006, p. 116-117)

A pesquisa qualitativa abre as possibilidades de se conhecer algumas escolas,

salas de aula e aulas de história. Para a construção da pesquisa, em suas reflexões sobre

a flexibilidade dos pesquisadores qualitativos, Strauss e Corbin foram influências

marcantes.

No trabalho em si, os pesquisadores que usam esta metodologia

tendem a ser flexíveis, uma tendência enfatizada em seminários de

treinamento e em projetos de pesquisa em grupo, nos quais os

membros estão abertos a críticas úteis, podem aproveitar a troca de

ideias e podem apreciar o intercâmbio que ocorre nas discussões em

grupo. [...] Flexibilidade e abertura estão associadas ao fato de ter

aprendido a manter uma quantidade satisfatória de ambiguidade. Não

é que os pesquisadores não queiram definir as coisas analiticamente,

mas a insistência em evitar a incerteza e a pressa em finalizar uma

pesquisa são temperadas com a percepção de que os fenômenos são

complexos e de que seus significados não são facilmente entendidos

ou assumidos como certos. (2008, p. 18-19)

Considerar que as incertezas fazem parte do processo de pesquisa é um primeiro

passo para a abertura, para a autenticidade, para a intuição, a receptividade, a

reciprocidade e a sensibilidade, tendo em vista a necessária adequação às mais diversas

situações que podem emergir no campo.

O campo de conhecimento Ensino de História vem acompanhando o movimento

historiográfico e filosófico que tem desconstruído alguns paradigmas, ao dialogar com a

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Antropologia, com a Educação e com a História, movendo-se e se estruturando para

compor outros modelos, outras epistemologias. Neste sentido, há mudanças e

movimentos na realidade estudada que podem modificar o objeto e as percepções acerca

dele. Mesmo com as transformações que podem ocorrer, há rigor na pesquisa de

abordagem qualitativa, pois existe método, dispositivos, reflexão, compreensão do

objeto. Nas ciências humanas, a ideia de rigor deve transversalizar, portanto, todo o

debate sobre a produção de conhecimento (MACEDO; GALEFFI; PIMENTEL, 2009).

Sobre o rigor na pesquisa qualitativa, Galeffi (2009) afirma que, ao longo da

constituição das ciências, se desenvolveu a ideia de que falar em subjetividade

significava algo oposto ao conceito de rigor científico. A ciência precisava ser objetiva,

racional, exata, cabendo ao pesquisador deixar de lado seus anseios, emoções,

implicações e pensamentos pessoais. No processo de produção de conhecimento, as

percepções dos sujeitos pesquisados eram desconsideradas, já que eles não tinham

contribuições a dar. Eles não eram teóricos, acadêmicos; não se tratava de um sujeito

que pensava, que sentia, que contribuía e construía a pesquisa junto com o pesquisador.

Considerava-se que o mundo poderia ser pensado exclusivamente sob a ótica do

perfeito, do exato, do comprovado por provas irrefutáveis. Não se pode esquecer de que

o conhecimento é produzido pelo próprio homem, que também o classifica entre o certo

e o errado.

Para Galeffi

No jogo incessante entre sabedoria e demência, o ser humano é o ente

que por primeiro há de ser interrogado quando se trata de investigar a

natureza do próprio conhecimento aí disponível e construído

historicamente por indivíduos humanos agrupados socialmente. (2009,

p. 21)

Pode-se, assim, abrir um campo de possibilidades investigativas, de compreensão,

de construção e reconstrução constantes de um mundo que é e que será, que está por vir.

Que a ciência positiva, a ‘ciência dura’, seja um dos grandes legados

das artimanhas humanas ao longo de sua historicidade terrena, isso

não se questiona e nem é possível desconhecer. Mas que ela não seja o

termo final da escala evolutiva do conhecimento humano, isto sim é

uma falácia e uma impropriedade. Portanto, não interessa negar a

condição prévia de todo conhecimento humano, pois o que está em

causa é o como tornar este conhecimento prévio a matéria-prima para

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a combustão e para o cozimento dos conceitos formadores de uma

pesquisa qualitativa qualificada. (GALEFFI, 2009, p. 25-26)

Desenvolver uma pesquisa qualitativa é considerar que o pesquisador não deve ir

a campo com um referencial teórico pronto, fechado, engessado. Este irá ao lócus da

pesquisa aberto a possibilidades, para ouvir os atores sociais e iniciar o processo de

compreensão do universo a ser estudado. Em alguns momentos, a empiria provocará

tensões com a teoria: são as ambivalências e contradições inerentes à construção social

feita pelo homem, em sua relação com o mundo e com o outro. Nesse processo, o ser se

revela, visto que, sem o outro, nenhum homem se faz homem.

Todos os seres sociais são produtores de contexto, de cultura e de história. Tal

condição de produtores diz muito sobre quem eles são, pois a produção de cada um dos

sujeitos sociais está impregnada de ideologias e sentidos. Visto assim, é preciso ir além

da constatação dos fatos postos, para se compreender e interpretar o universo da

pesquisa, as implicações existentes nas e com as escolas e seus professores.

Ao longo da pesquisa desenvolvida nas aulas de História das turmas de 5º ano do

Ensino Fundamental de escolas públicas, na cidade de Salvador, procurei entender a

realidade apresentada, bem como interpretá-la e comunicá-la, sem, contudo, considerá-

la finita.

Em seu livro, Etnopesquisa crítica etnopesquisa-formação, Macedo considera o

pensamento de Paul Ricoeur sobre os excessos de sentido nos discursos feitos a partir

dos universos de pesquisa.

[...] Paul Ricoeur (1988) nos fala de um infindável excesso de sentido

em todo o discurso; daí da impossibilidade de abarcá-lo em sua

totalidade. Como em todo processo interativo, o discurso é sempre

compreendido por outrem, que lhe atribui significações. (2010, p. 19)

Apesar de não ser uma pesquisa de cunho etnográfico, precisei considerar, ao

longo de toda a trajetória, os etnométodos, percebendo que os sujeitos, pesquisadores e

pesquisados, são atores que produzem suas teorias e constroem as próprias percepções

de mundo, assim como constroem a própria vida e a realidade social em que estão

inseridos, com todas as contradições e ambivalências. Quis “trazer para os argumentos e

análises da investigação, vozes de segmentos sociais oprimidos e alijados, em geral

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silenciados historicamente pelos estudos normativos e prescritivos, legitimadores da voz

da racionalidade descontextualizada” (MACEDO, 2010, p. 11).

A pesquisa qualitativa é, portanto, um exercício capaz de apreender a

compreensão dos demais sujeitos sociais, numa tentativa de não violar os entendimentos

do outro, e de não atribuir ao outro os sentidos construídos pelo pesquisador sobre o

fenômeno que se apresenta.

Os sentidos do pesquisador não podem ser janelas para atribuir significância ao

mundo, mas sim para interpretar o mundo. O campo poderá dizer coisas que o

pesquisador desconhecia, pressionando a teoria, que é colocada a prova. O familiar

torna-se estranho e o estranho torna-se familiar (intercrítica ou autocrítica do

pesquisador em seu campo de pesquisa). Neste processo de entendimento, a descrição

acerca da experiência do eu e do outro precisará ser densa, aprofundada, princípio da

fenomenologia que aqui se apresenta.

Todavia, as questões éticas não podem ser esquecidas, ou seja, a dignidade e o

consentimento precisarão ser levados em consideração, visto que estes devem ser

oferecidos voluntariamente.

Além disso, os pesquisadores precisam garantir total

confidencialidade aos participantes, no sentido de assegurar que a

informação coletada sobre eles seja utilizada somente de modo que

impossibilite a identificação dos participantes por parte de outras

pessoas, bem como o uso dessas informações por parte de qualquer

instituição contra os interesses do participante. (FLICK, 2009, p. 54)

Em uma tentativa de não violentar os sentidos e a compreensão do outro, que se

desenvolvem em uma relação cotidiana com o eu pesquisador, este deve se esforçar para

suspender os seus preconceitos e dar espaço ao outro, à fala do outro. Deve tentar se

colocar no lugar do outro (FLICK, 2009). Aqui, o sentido de epoché se apresenta,

fazendo-me refletir sobre a postura do pesquisador, no momento de sua entrada em

campo, já que este é fruto de uma construção social de relações que são, serão e deverão

ser construídas junto com os professores e as escolas. Para isto, a negociação precisou

estar presente, desde a entrada, nos diálogos e nas conversas, no pesquisar com e não

sobre.

A escolha da pesquisa qualitativa deu-se no sentido da busca de compreensão de

um tema sobre o qual pouco se sabe na Bahia: o ensino de História.

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Pesquisar o ensino de história torna-se tarefa importante na medida em

que o curso de licenciatura em História, na maioria das vezes,

privilegia a pesquisa historiográfica em detrimento da pesquisa

educacional, considerando-a uma pesquisa de menor valor de pouca

possibilidade heurística. Muitos historiadores, inclusive, desconhecem

o universo da pesquisa educacional e suas abordagens

epistemológicas. (MONTEIRO, 2008, p. 91)

No anseio de compreender melhor o tema pesquisado, optei por trabalhar com o

ensino de História nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, buscando ir mais além do

que meramente estudar quais conteúdos estão sendo selecionados e quais avaliações

estão sendo aplicadas. A pesquisa caminhou no sentido do pensar a prática do professor,

considerando a (in)conclusão da formação de que nos falava Paulo Freire (1979),

refletindo sobre o ensino de História e constituindo a “objetivação” de uma prática

docente permeada de ricas experiências. Busquei ultrapassar o isolamento dos saberes

constituídos, construindo pontes entre a historiografia e os espaços onde ela é

constantemente produzida, mesmo inconscientemente, e por onde ela circula, neste caso

em específico, na escola.

É significativo lembrar, então, que acompanhar o ensino de História, nos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental, é trabalhar com sujeitos que não são professoras

especificamente de História, mas são também professoras de história, professoras

multidisciplinares. Estas docentes precisam ser consideradas como sujeitos basilares na

formação das crianças, futuros adolescentes que chegarão aos anos finais do ensino

fundamental e serão ensinados por professores licenciados em História, os quais,

comumente, costumam falar que as crianças adentram esta fase sem conhecer os

conceitos básicos da História.

Segundo Fonseca,

As relações do ensino de História com outras dimensões, para além

das questões historiográficas e metodológicas, no entanto, não têm

recebido tanta atenção dos pesquisadores. Abordagens que

privilegiem, por exemplo, as práticas escolares presentes no ensino de

História são raras, ao contrário do que tem ocorrido no campo de

investigação sobre os processos de aquisição da leitura e da escrita,

sobre a história da Educação Física, ou mesmo sobre outros temas

ligados ao ensino, como as questões de gênero e a formação de

professores. Muito pouco tem sido feito quando se trata de refletir

sobre a circulação e as apropriações do conhecimento histórico nas

escolas primária e secundária, atentando-se para as práticas cotidianas

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relativas ao ensino de história, inclusive suas manifestações fora do

espaço escolar propriamente dito e suas implicações numa dimensão

de longa duração. (2004, p. 26-27)

Estudar as práticas escolares presentes no ensino de História é a primeira das

intenções deste trabalho, sem desconsiderar o sujeito professor e suas relações com a

escola e os alunos. A segunda intenção é entender que pesquisar o ensino de História

não é meramente relatar programas e currículos, mas perceber que estes são partes de

caminhos que se entrecruzam, em suas múltiplas relações com a sociedade na qual estão

inseridos. Por fim, é notar que a História e o seu ensino possuem “[...] uma posição

como instrumento científico, político, cultural, para diferentes grupos [...]” (FONSECA,

2004, p. 28), o que indica a riqueza de possibilidades a serem investigadas e exploradas.

Para isso, os procedimentos de pesquisa não podem ser considerados de forma

dogmática, mas sim de modo flexível e criativo, para que a pesquisa adquira um novo

significado, passando a ser considerada em uma trajetória circular ao redor do que se

deseja compreender e, assim, não se preocupe somente com princípios e generalizações

(GARNICA, 1997). Para Garnica “a essência do que se procura nas manifestações do

fenômeno nunca é totalmente apreendida, mas a trajetória da procura possibilita

compreensões” (GARNICA, 1997, p. 112), as quais dependerão sobremaneira das

experiências de cada sujeito envolvido na pesquisa.

Na pesquisa sobre o universo da escola, sobre o chão da sala de aula, há o

entrecruzamento entre Educação, História, ensino de História e comunidade escolar. As

práticas docentes estavam e estão situadas em um determinado contexto, estavam e

estão inseridas na sociedade, influenciando e sendo influenciadas pelo mundo. Estas

práticas não

[...] abarca[m] somente o presente: é também comunidade de todos os

pensadores do passado, em relação aos quais nós temos de assumir a

mesma atitude de disponibilidade, abertura e respeito, sem projetar

aquilo que nos agrada no pensamento deles. É um grande esforço de

compreensão. (BELLO, 2006, p. 4)

Esta pesquisa teve a intenção de deixar que os docentes constituíssem suas falas,

se expressando quanto a suas vivências e experiências no cotidiano escolar, tendo em

vista compreender suas próprias ações, e que estes docentes se percebessem enquanto

construtores de suas múltiplas identidades.

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A Escola Municipal Luiz Anselmo foi o palco e as professoras desta instituição

escolar seus a(u)tores sociais, no ano de 2014, quando a entrada nesta escola foi

possível, durante o mês de julho deste mesmo ano, após várias tentativas infrutíferas

para encontrar uma escola que se dispusesse a participar da pesquisa. Os motivos das

negativas foram variados, embora não colocados diretamente, tais como divergências

entre professores da escola, discordâncias entre os membros da equipe gestora,

dificuldades em se pesquisar nas escolas em virtude das eleições para diretores e vice-

diretores, que se aproximavam.

Tais justificativas possibilitaram uma reflexão sobre as várias dificuldades que os

pesquisadores encontram para o desenvolvimento de suas investigações, como a falta de

incentivos financeiros, o impedimento do acesso às escolas, e a oposição quanto ao

diálogo com os docentes. A entrada na Escola Municipal Luiz Anselmo deu-se somente

através de uma rede de contatos, iniciada junto a uma professora da Rede Municipal de

Educação da cidade de Salvador, atualmente docente da escola pesquisada. Esta docente

demonstrou disponibilidade para falar do projeto, dos objetivos, do objeto a ser

pesquisado na escola e para sensibilizar os docentes e gestores sobre a importância da

pesquisa. Somente assim, foi possível a entrada na escola e o início da pesquisa em si.

3.2. A FENOMENOLOGIA NA CONSTITUIÇÃO DO OLHAR

Ao longo da pesquisa e do texto são inegáveis os elementos da Fenomenologia,

desta escola filosófica, presentes na escolha das abordagens metodológicas, e na

construção do olhar que acompanhou toda a trajetória desta investigação. Na busca pela

construção do conhecimento, procurei ver o docente/sujeito pesquisado como um todo:

como ser histórico, sociológico e político. Foi a ele que recorri para identificar e

compreender seus saberes e suas práticas, visto que “[...] o ser humano é o ente que por

primeiro há de ser interrogado quando se trata de investigar a natureza do próprio

conhecimento aí disponível e construído historicamente por indivíduos humanos

agrupados socialmente” (GALEFFI, 2009, p. 21).

Assim, uma atitude fenomenológica foi constituída quando houve a reflexão sobre

o que estava posto, o que estava aparente, procurando compreender as intencionalidades

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dos professores, em seus saberes mobilizados e nas práticas docentes concebidas no

cotidiano escolar. Para Sokolowski “passar para a atitude fenomenológica não é tornar-

se um especialista em uma forma de conhecimento ou outro [...]” (2005, p. 56), mas sim

refletir sobre um fenômeno posto.

Outro elemento da fenomenologia de Husserl (apud BELLO, 2004) presente neste

estudo é o princípio do método analítico, o que significa “[...] que não se parte dos

princípios sumos derivando deles as consequências, mas parte-se sempre do que se vê,

buscando compreender e descrever o dado” (BELLO, 2004, p. 73). Procurei não partir

de ideias preconcebidas, de hipóteses levantadas anteriormente, mas estar aberta às falas

dos professores, à realidade que me foi posta ao longo da pesquisa. Compreender o

professor a partir das relações constituídas na sua sala de aula, com a escola em que

atua, já que, para a fenomenologia husserliana, o sujeito não se contrapõe ao objeto,

mas, sim, está constantemente relacionado a este objeto, com uma intencionalidade que

não pode ser desconsiderada (BELLO, 2004).

Reconhecer a existência de diversas realidades, a partir das vivências de múltiplos

sujeitos/professores, não é deixar de perceber a estrutura comum existente, mas

considerar a variedade de experiências presentes. Segundo Bello,

[...] é verdade que nós não possuímos os mesmos conteúdos de

experiências; porém há um aspecto de universalidade presente em

todos os seres humanos: as vivências, ou seja, operações, atos que

todos os seres humanos podem realizar, pois compõem suas

estruturas, pertencem à estrutura transcendental do ser humano [...].

(2004, p. 51)

A fenomenologia apresenta-se, então, como um diálogo contínuo entre o eu e o

outro. Uma conversa constante entre a descoberta, a percepção e a compreensão entre o

ideal relativizado, que sempre será ideal na perspectiva de um sujeito contextualizado, e

o real, reconhecendo-se, assim, a realidade posta e a verdade dos fenômenos existentes

nesta realidade.

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3.3. O CAMPO DE PESQUISA: A ESCOLA MUNICIPAL LUIZ ANSELMO

Fotografia 1

Imagem da fachada da Escola Municipal Luiz Anselmo.

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

Em julho de 2014, houve o primeiro contato com a Escola Municipal Luiz

Anselmo, situada à rua de mesmo nome, no bairro de mesmo nome, ambos na cidade de

Salvador/Bahia. Originariamente, este bairro integrava toda a região do bairro de

Brotas, grande bairro de Salvador, que, com o passar do tempo, foi se subdividindo e se

transformando em outros bairros: Vila Laura, Luiz Anselmo, Brotas, Campinas de

Brotas, Engenho Velho de Brotas, Matatu e Santo Agostinho.

A jornalista Sara Barnuevo, no jornal A Tarde (10/7/1999), escreveu um artigo em

que afirmava que o bairro Luiz Anselmo surgiu após a expansão da rua de mesmo

nome. Neste mesmo texto, a jornalista trazia a fala do arquiteto e urbanista, Armando

Branco, que debatia sobre os limites e a noção constituída do que é um bairro visto que

à época, alguns urbanistas e moradores do bairro considerarem Luiz Anselmo, área

composta por chácaras e roças, como uma rua do bairro de Matatu, ou ainda uma

freguesia de Brotas. O certo é que o entorno da rua Luiz Anselmo cresceu, serviços

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como transporte coletivo com linha própria e comércio atrativo foram implementados, o

que fez com que os moradores mais recentes alçassem ao status de bairro independente

na cidade de Salvador.

Fotografia 2

Imagem da Rua Luiz Anselmo de 1999

Fonte: Jornal A Tarde (10/7/1999).

A seguir tem-se o mapa com a localização da escola na cidade de Salvador.

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Mapa 1 Localização da Escola Municipal Luiz Anselmo.

Fonte: Google Maps, 2015.

O bairro, cujo nome foi dado em homenagem a um médico abolicionista, que

lutou pela liberdade dos negros escravos na Bahia, atualmente compõe um dos maiores

complexos de moradias da cidade de Salvador, habitado por uma população de nível

socioeconômico variado. O bairro acomoda desde as chamadas invasões (favelas,

comunidades) até ruas onde seus moradores se enquadram na dita classe média;

abrigando, desde o pedreiro, o marceneiro e a empregada doméstica, até o

microempresário, o servidor público e o médico.

É importante destacar que todas as citações do nome da rua, do bairro ou da

escola referem-se à homenagem feita ao professor de medicina que lutou contra a

escravidão na Bahia, mas ainda assim, quase nada se sabe de Luiz Anselmo, pois não

foi encontrada nenhuma reportagem ou trabalhos com maiores detalhes sobre quem foi,

onde nasceu, sua atuação profissional. Pesquisar o personagem que inspirou o nome do

bairro, da rua e da escola já seria um caminho para se estudar História nos anos iniciais.

A escola possui o nome em homenagem a um sujeito histórico que foi abolicionista,

mas algumas indagações permanecem: quem ele era? Qual a sua cor? Quais as suas

origens sociais? Data de nascimento? Data de seu falecimento? Contexto de sua

vivência e experiências?

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Luiz Anselmo é um nome sem rosto, sem temporalidade e espacialidade. Mesmo

não sendo um nome de referência para a Educação, foi professor e participou de um dos

processos históricos mais importantes da Bahia: a abolição da escravatura, nomeando

uma escola, cujo público é composto, em sua quase totalidade, por crianças

afrodescendentes. Esta é uma lacuna percebida em todas as escolas pesquisadas,

inclusive nas que participaram da aplicação dos questionários: parte dos professores

enfatizou a escolha pela história local, para se ensinar História, mas, no cotidiano das

aulas, não se estuda a sua própria realidade, não se pesquisa a sua comunidade, o nome

da sua escola, a história dos bairros em que estão localizadas as unidades de ensino.

Quantos processos e temporalidades poderiam ser estudados a partir da vida de

Luiz Anselmo? Seguem alguns: escravidão, resistências, abolição, Proclamação da

República. A escola tem sede em uma localidade que era originalmente uma fazenda,

dividida posteriormente em pequenos sítios e chácaras, e temas como urbanização,

latifúndio, constituição da periferia das grandes cidades e migração podem estar

associados ao estudo do bairro Luiz Anselmo.

As subdivisões geográficas do bairro são: Jardim Santa Teresa, Baixão e Vale do

Matatu, ou Baixa do Tubo, como é mais popularmente conhecido. Já foi considerado

um bairro relativamente calmo, pelos moradores, mas, atualmente, o nível de violência

cresceu muito na ótica de seus habitantes. Há roubos, cotidianamente, o tráfico de

drogas é um dos mais intensos da cidade e o índice de homicídios também cresceu, nos

últimos quatro anos.

Nesta localidade tão heterogênea, situa-se a Escola Municipal Luiz Anselmo, a

qual, segundo os dados do Censo Escolar 2012, atende aos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental e possui como infraestrutura: água filtrada; água de rede pública; energia

de rede pública; esgoto de rede pública; coleta periódica de lixo; acesso à internet;

banda larga; quatro salas de aula, um laboratório de informática, sala de direção, uma

pequena biblioteca, cozinha e refeitório, banheiros dentro do prédio, mas não tem área

de lazer. No período de intervalo, as crianças têm como único local de recreio um

pequeno espaço na área externa e frontal ao prédio, originariamente, uma residência.

Como equipamentos disponíveis na escola, encontram-se aparelhos de televisão,

computadores, aparelhos de DVD, copiadora, impressora e videocassete (este último

aparelho já em desuso).

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Fotografia 3

Imagem da Entrada da Escola Municipal Luiz Anselmo21

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

Nos últimos anos, os Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da

escola foram: 2007 (4,1); 2009 (4,3); 2011 (5,6); 2013 (5,4). Pode-se perceber um

crescimento entre 2007 e 2011 e uma estabilização seguida de uma ligeira queda, entre

2011 e 2013. Estes dados possibilitam pensar que a escola centrou suas atenções nesse

tempo/espaço para melhorar as notas nas avaliações externas que subsidiam os índices

oficiais quanto à qualidade da educação brasileira. Conta, atualmente, com duzentos e

quarenta e seis alunos (246) divididos em dez (10) turmas, que abrangem do 1º ao 5º

ano do Ensino Fundamental e dezoito (18) professores.

Segundo o Projeto Político-Pedagógico (PPP),

O nome da escola foi uma homenagem ao professor Luiz Anselmo.

Ele lecionou na Faculdade de Medicina, lutou contra a escravidão no

Brasil tornando-se uma figura popular. A Escola Municipal Luiz

Anselmo está situada na rua Luiz Anselmo, no. 175, no bairro Luiz

Anselmo, subdistrito de Brotas, na zona urbana de Salvador. A

mudança para este prédio ocorreu no mês de agosto de 2012. O prédio

onde funcionava a escola durante 51 anos era da Associação de

Moradores. Este tinha uma estrutura inadequada: as salas eram

geminadas, com parede meia, sendo necessário passar por dentro de

uma para chegar a outra. O barulho de uma sala interferia na outra e a

área para o recreio era a praça em frente a escola. O pouco espaço

21 A fotografia foi retirada da porta principal da escola. Assim, se consegue ter uma dimensão do espaço

exíguo que a estrutura oferece para as brincadeiras e socializações das crianças.

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físico, temperatura muito alta a ponto de alguns alunos sentirem dor

de cabeça no período vespertino chegava a interferir na produção dos

alunos em alguns momentos. Em oito (8) de setembro de 1961, a

comunidade fundadora da sociedade do bairro sentiu necessidade de

implantar uma escola que atendesse às necessidades educacionais dos

filhos dos seus associados. (PPP da Escola Luiz Anselmo, p. 8)

Originariamente pertencente à Rede de Educação do Estado da Bahia, a Escola

Luiz Anselmo foi municipalizada pelo Decreto 9.928/92, publicado no Diário Oficial do

município, em 29 de dezembro de 1992. Fisicamente, a escola é bem cuidada, pintada e

organizada. Inicialmente, nos faz sentir uma sensação de que a educação ali funciona a

contento. Foi com este sentimento que tive acesso à escola e me apresentei a uma das

vice-diretoras que, à época, também era a professora do 5º ano do Ensino Fundamental:

Cecília, 36 anos. Ou seja, em um turno, integrava a gestão da escola e, no outro turno,

atuava em sala de aula.

A princípio, senti sua resistência, ao solicitar maiores detalhes da pesquisa e sobre

minha experiência na Educação Básica. Ao falar que já tinha sido professora da

Educação Básica, que nos últimos doze (12) anos acompanho disciplinas voltadas para

o estágio, nos cursos de História, e que minhas disciplinas, no curso de Pedagogia, estão

voltadas para a teoria e a prática desenvolvidas nas escolas da educação básica, sua

expressão facial e corporal modificou-se drasticamente. Deu um suspiro e disse:

Esta fala suscitou indagações sobre a resistência que as escolas, de um modo

geral, têm demonstrado para com as pesquisas provenientes da academia: de que forma

os docentes do ensino superior estão se relacionando com os professores da Educação

Básica? Conhecem a realidade das escolas? Ou, simplesmente, dirigem-se às

instituições escolares recheados de sapiência e, do alto do um pedestal, costumam dizer

que a Educação deve ser desta forma ou de outra. Será que consideram a existência de

saberes escolares, de uma cultura escolar? Ou acreditam que, apenas por meio das

pesquisas de mestrado e doutorado, é que o conhecimento é produzido? Que, após as

pesquisas realizadas, cabe ao professor da Educação Básica apenas a adaptação da

Aí sim, sabe como são as coisas. Não é uma professora da universidade que nunca veio aqui

na escola e quando vem quer nos dizer que estamos errados o tempo todo. (Cecília, 2014)

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linguagem ao cotidiano escolar local, configurando-se no momento de transposição

deste conhecimento de um espaço para outro.

Questionamentos que desencadearam reflexões no sentido de que precisa haver a

aproximação e o diálogo com a escola da Educação Básica. Em outra escola, no bairro

de Pirajá, uma professora indagou-me se a pesquisa seria devolvida para os professores,

pois o que os docentes querem saber não se refere apenas aos problemas ou ao que não

é feito, mas também como podem diminuir as próprias defasagens ou melhorar o que

não está bom.

Concordo com Zaia Brandão (2002), em suas considerações acerca da escola

pública.

Afasto-me, já há algum tempo, das perspectivas pessimistas ou

salvacionistas a respeito da escola pública, tão a gosto de uma parcela

da intelligentsia comprometida ideologicamente com a política

partidária. Não acredito que em termos institucionais nos caiba,

enquanto membros da academia, algum papel hierarquicamente

destacado no direcionamento ou redimensionamento da escola

pública. (p. 111-112)

A partir de então, conversas informais foram entabuladas, no sentido de conhecer

melhor a realidade da Escola Luiz Anselmo e de seus discentes. Ainda no mês de julho

de 2014, uma professora do turno vespertino aceitou participar da pesquisa, Maria. Esta

docente demonstrou uma abertura maior, inclusive solicitando auxílio para aprimorar a

organização de suas aulas de História, e foi possível agendar as entrevistas e as

observações.

3.4. AS ENTREVISTAS: DIÁLOGOS COM CECÍLIA E MARIA

Inicialmente, poderia ter ocorrido a escolha do grupo focal, ou a aplicação de

questionários, mas a entrevista foi o caminho escolhido, tendo em vista o

aprofundamento do cotidiano destas salas de aula, a fim de entender melhor as práticas

docentes das duas professoras, partícipes da fase exploratória da pesquisa, buscando

diminuir qualquer intervenção externa que pudesse ocorrer em suas falas e em seus

lócus de atuação e proporcionar uma maior abertura de fala às entrevistadas. Justifica-

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se, assim, a opção pela realização de entrevistas padronizadas, semiestruturadas e

individuais.

A entrevista semi-estruturada representa, como o próprio nome

sugere, o meio-termo entre a entrevista estruturada e a entrevista não-

estruturada. Geralmente se parte de um protocolo que inclui os temas

a serem discutidos na entrevista, mas eles não são introduzidos da

mesma maneira, na mesma ordem, nem se espera que os entrevistados

sejam limitados nas suas respostas e nem que respondam a tudo da

mesma maneira. O entrevistador é livre para deixar os entrevistados

desenvolverem as questões da maneira que eles quiserem.

(MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 169)

As entrevistas foram realizadas antes da entrada nas salas de aula para observação.

Um guia de entrevista ou roteiro de entrevista foi igualmente organizado (Apêndice 6),

mesmo a literatura enfatizando não ser necessário a entrega deste guia para os

entrevistados. Logo antes do início de cada entrevista, os informantes da pesquisa

recebiam um documento contendo as questões que seriam feitas. Neste momento, havia

uma conversa inicial onde era enfatizada a liberdade de resposta que eles tinham.

Percebi ser este um meio importante para o estabelecimento da confiança entre

entrevistador e entrevistado.

Esta confiança é deveras importante já que “a entrevista é uma interação social

muito complexa e é importante que o pesquisador esteja consciente da dinâmica da

situação” (MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 183). Acrescento que, não somente o

pesquisador, mas também o pesquisado, ambos devem estar cientes de todo o processo

por meio do guia de entrevista e do termo de consentimento livre e esclarecido

(Apêndice 7), por uma questão ética da pesquisa qualitativa,22 já que a entrevista é um

método de coleta de dados contextual e negociado.

Quer os participantes narrem as suas histórias sem interrupção, quer

os pesquisadores solicitem informações específicas, o resultado é a

construção, ou reconstrução, de uma realidade. As histórias de

entrevistas não reproduzem realidades anteriores (Murphy e Dingwall,

2003; Silverman, 2000). Pelo contrário, essas histórias fornecem

relatos feitos a partir de determinados pontos de vista que servem para

22 “Em conformidade com seu compromisso em relação à autonomia individual, a ciência social que

segue a tradição de Mill e de Weber insiste que os sujeitos da pesquisa têm o direito de serem informados

a respeito da natureza e das consequências dos experimentos dos quais participam. (DENZIN; LINCOLN,

2006, p. 146)

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138

objetivos específicos, inclusive suposições de que se devam seguir

regras tácitas de conversação durante a entrevista. (CHARMAZ, 2009,

p. 48)

Para Brandão (2002) o engajamento do entrevistado na pesquisa é fundamental

para que ele não se limite a dar informações, mas igualmente desenvolva um trabalho

sobre si mesmo, uma reflexão sobre si e sua prática de construção da própria identidade.

As entrevistas em si nunca são neutras. Ao contrário, elas refletem, segundo Charmaz

(2009), todas as sensações, impressões e relações sociais constituídas que entrevistados

e entrevistadores levam para este momento. Cabe ao entrevistador estar afinado com as

percepções causadas nos entrevistados, bem como “à forma como tanto as identidades

anteriores quanto as atuais dos participantes e dos entrevistadores podem influenciar no

caráter e no conteúdo da interação” (CHARMAZ, 2009, p. 48).

Assim, antes da realização das entrevistas, procurei conhecer melhor as

entrevistadas: quem eram, onde moravam, seus gostos pessoais, suas percepções acerca

da Educação. Deixei-as à vontade para que escolhessem como gostariam de ser

identificadas na pesquisa: os nomes Cecília e Maria foram escolhidos por elas. Ao

longo de duas semanas, nos aproximamos e dialogamos para que, posteriormente, a

entrevista formal fosse agendada. O objetivo maior era diminuir também os

ocultamentos e distorções que poderiam ocorrer durante a entrevista. Salientando que

isso não elimina a existência de tais dificuldades, pois sempre há e haverá

representatividades e subjetividades nas falas, por parte dos sujeitos falantes.

Minayo (1996, p. 108 apud SZYMANSKI, 2011, p. 10) divide os dados coletados

nas entrevistas em: “dados “de natureza objetiva – fatos concretos”; “os objetivos”, que

podem ser obtidos por outros meios –; e os de natureza “subjetiva”, como atitudes,

valores, opiniões, que “só podem ser obtidos com a contribuição dos atores sociais

envolvidos”. Para ela, a entrevista pode ser considerada como um espaço onde os

conflitos, as tensões e as contradições emergem, pela aproximação das emoções e a

linguagem concreta.

Essas situações ocorrem em virtude de haver durante a entrevista uma hierarquia

de poder entre o entrevistador e o entrevistado. Não se pode esquecer que é o

entrevistador/pesquisador quem elege as questões de estudo, as perguntas a serem feitas,

dirigindo o processo da entrevista. “O entrevistado, ao aceitar o convite para participar

da pesquisa, está aceitando os interesses de quem está fazendo a pesquisa, ao mesmo

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tempo em que descobre ser dono de um conhecimento importante para o outro”

(SZYMANSKY, 2011, p. 13).

Estão postos aí os interesses, as disputas e as tensões. Quando da entrevista com

Cecília, estes ficaram claros: ao ser perguntada sobre as suas percepções acerca da

organização do Currículo Escolar de História, nos anos iniciais do Ensino Fundamental

e do 5º ano em particular, esta demonstrou nervosismo e certo desconforto, respondendo

que o Currículo enfocava muito disciplinas como Português e Matemática e que eu

sabia como era. Respondi afirmativamente ao colocado, o que possibilitou a

continuidade da fala de Cecília, afirmando que, além dos conteúdos, havia ainda os

projetos enviados pela Secretaria Municipal de Educação ou os elaborados internamente

pela própria escola. Como exemplo, citou o Projeto Copa do Mundo, que foi

desenvolvido no período de realização da Copa do Mundo de Futebol (2014), nos meses

de maio e junho de 2014.

O mesmo ocorreu na entrevista com Maria, quando indagada sobre a frequência

de realização das aulas de História no 5º ano: ela titubeou e, por fim, após alguns

segundos que pareceram minutos, informou que era para acontecer uma vez por semana,

mas que nem sempre ocorria, já que era preciso dar conta de um extenso conteúdo de

Matemática e Português para preparar as crianças para as avaliações externas, que

aconteciam, nos anos pares, a Provinha Brasil23 e, nos anos ímpares, o Programa

Salvador Avalia (PROSA).24 Em todas estas avaliações, os testes são aplicados a partir

dos conteúdos de Português e Matemática, o que permite a afirmação de que,

23 “A Avaliação da Alfabetização Infantil – Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica que visa

investigar o desenvolvimento das habilidades relativas à alfabetização e ao letramento em Língua

Portuguesa e Matemática, desenvolvidas pelas crianças matriculadas no 2º ano do ensino fundamental das

escolas públicas brasileiras. Aplicada duas vezes ao ano (no início e no final), a avaliação é dirigida aos

alunos que passaram por, pelo menos, um ano escolar dedicado ao processo de alfabetização. A aplicação

em períodos distintos possibilita a realização de um diagnóstico mais preciso que permite conhecer o que

foi agregado na aprendizagem das crianças, em termos de habilidades de leitura e de matemática.

Composta pelos testes de Língua Portuguesa e de Matemática, a Provinha Brasil permite aos professores

e gestores obter mais informações que auxiliem o monitoramento e a avaliação dos processos de

desenvolvimento da alfabetização e do letramento inicial e das habilidades iniciais em matemática,

oferecidos nas escolas públicas brasileiras, mais especificamente, a aquisição de habilidades de Leitura e

de Matemática”. (INEP, 2015) Disponível em: <http://provinhabrasil.inep.gov.br>. Acesso em: 25 jan.

2015. 24 “Para avaliar o Ensino Fundamental, a Secretaria Municipal da Educação (SMED) aplicou no final do

ano passado uma prova com todos os alunos do 1° ao 9° ano da rede municipal. O Programa Salvador

Avalia (Prosa) aferiu o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa (leitura e produção de texto) e

Matemática [...]” (SMED, 2014) Disponível em: <http://www.educacao.salvador.ba.gov.br/site/noticias-

modelo.php?cod_noticia=6735>. Acesso em: 25 jan. 2015.

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possivelmente, ao longo do ano letivo, a preocupação maior dos professores seja com

estas duas disciplinas (Português e Matemática), em detrimento das demais que

compõem o Currículo Escolar, encontrando-se neste contexto a disciplina História.

Antes da entrevista, ocorreram vários contatos e conversas informais entre esta

pesquisadora-autora, e as professoras Cecília e Maria. Nestes momentos, muitas

informações acerca do Currículo do município, da efetiva realização de aulas de

História, da organização dos planejamentos de aula ou na ausência deles foram

aparecendo, emergindo, a cada encontro, novos e variados dados, que iam sendo

revelados.

Nos momentos preparatórios da entrevista, procurei igualmente conhecer a

realidade da escola, seu público, a equipe gestora e a comunidade na qual estava

inserida.

[...] Os entrevistados numa pesquisa estão sempre situados num

ambiente social; é necessário que algumas informações sejam obtidas

sobre a cultura do grupo ou a instituição onde se vai desenvolver o

trabalho. [...] As razões para esses cuidados são principalmente éticas,

mas também metodológicas no sentido de se procurar maior

fidedignidade nas informações. (SZYMANSKY, 2011, p. 25)

As entrevistas intensivas, segundo Charmaz, possibilitam que o pesquisador,

Vá além das aparências da(s) experiência(s) descrita(s).

Interrompa para explorar um determinado enunciado ou tópico.

Solicite mais detalhes ou explicações.

Questione o participante sobre as suas ideias, sentimentos e

ações.

Volte a um ponto anterior.

Reformule uma ideia emitida pelo participante para checar a sua

precisão.

Reduza ou acelere o ritmo.

Altere o tópico seguinte.

Valide o participante conforme seu caráter de benevolência,

perspectiva ou ação.

Utilize as habilidades sociais e de observação para promover a

discussão.

Respeite o participante e manifeste estima pela sua

participação.(2009, p. 47)

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Da mesma forma, considerei e procurei deixar claro às professoras Cecília e Maria

que um participante de pesquisa também tem prerrogativas de conversação durante a

entrevista pois as entrevistas intensivas permitem ao participante

Interromper silêncios e manifestar as suas opiniões.

Contar a sua história e conferir-lhe uma estrutura coerente.

Refletir sobre os eventos anteriores.

Ser um especialista.

Selecionar o que e como dizer.

Compartilhar experiências significativas e instruir o

entrevistador sobre como interpretá-las.

Manifestar ideias e sentimentos não permitidos em outros tipos

de relações e ambientes.

Receber apoio e compreensão. (CHARMAZ, 2009, p. 47-48)

Logo após a realização das entrevistas, as observações foram iniciadas com o

intuito de perceber melhor, no cotidiano da sala de aula, as práticas docentes destas

professoras, ao ministrarem aulas de História para duas turmas de 5º ano. As entrevistas

originaram as falas de Cecília e de Maria, utilizadas integralmente ao longo do texto.

3.5. AS OBSERVAÇÕES NA ESCOLA MUNICIPAL LUIZ ANSELMO

Segundo Stake (2011, p. 103), “o olho vê muito (e também perde muito),

observando simultaneamente quem, o quê, quando, onde e por que (como os jornalistas

devem fazer) e, principalmente, relacionando-os à história ou às assertivas futuras, ou

seja, à questão de pesquisa”.

Precisa-se enxergar o fenômeno, ouvi-lo, compreendê-lo, analisá-lo, isto porque

não conseguiremos registrar em sua completude tudo o que o olho do pesquisador pode

observar. Não existe uma observação perfeita ou uma fala perfeita. “Muito do que

escrevemos é uma aproximação que pode ser aprimorada posteriormente, se soubermos

o que aconteceu exatamente” (STAKE, 2011, p. 107).

Isto não significa que os dados colhidos através das observações não sejam

válidos ou confiáveis. Ao contrário, em conjunto com dados obtidos por outros

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instrumentos de coleta, trazem uma riqueza principalmente no sentido de confrontar as

falas dos informantes da pesquisa com a sua própria prática.

Para Vianna,

a observação é uma das mais importantes fontes de informações em

pesquisas qualitativas em educação. Sem acurada observação, não há

ciência. Anotações cuidadosas e detalhadas vão constituir os dados

brutos das observações, cuja qualidade vai depender, em grande parte,

da maior ou menor habilidade do observador e também da sua

capacidade de observar, sendo ambas as características desenvolvidas,

predominantemente por intermédio de intensa formação. (2007, p. 12)

Ao observador não cabe somente o papel de mero expectador desinteressado do

acontecimento. Este deve constituir um olhar apurado para saber ver, descrever e

identificar os aspectos mais marcantes do fenômeno que pretende estudar. Um olhar

amplo e voltado para as intencionalidades contidas na relação do sujeito/professor com

a escola e a sala de aula. Algumas características, tais como paciência, concentração,

espírito alerta e sensibilidade, não podem estar dissociadas do pesquisador. Afinal, não

é simples ficar algumas horas por semana, em uma sala com, aproximadamente, vinte e

cinco crianças, entre 10 e 12 anos, agitadas e colocadas em um espaço inadequado,

pequeno, quente, sem ventilação e iluminação adequadas.

As observações abertas, nas quais os pesquisados sabem que estão sendo sujeitos

de uma pesquisa, naquele momento específico (VIANNA, 2007), foram realizadas entre

julho e novembro de 2014, na escola, na sala de aula, no espaço da Direção e no recreio.

Ao longo dos quatro meses, em cada uma das turmas, houve somente uma aula de

História e as professoras reafirmavam as condições que impediam tais aulas: o uso do

horário para a realização da prova de Matemática ou Português; a revisão para tais

provas, a preparação para as avaliações externas, os conteúdos de Português e

Matemática que não tinham sido trabalhados completamente naquela semana e

necessitavam de outros horários para complementação.

Este contexto trouxe à tona uma lembrança da fala da Coordenadora da Escola

Municipal Luiz Anselmo, quando do início da pesquisa, na apresentação dos objetivos

para a equipe gestora:

Você vai se decepcionar com a sua pesquisa, nada de novo está se fazendo nas aulas de

história, aliás nem aula de história tem-se regularmente. (Coordenadora da Escola

Municipal Luiz Anselmo, 2014)

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Houve, ao longo de todas as observações, a procura pela minimização da

influência do pesquisador no cotidiano da sala de aula. Esta busca se fez mais premente

quando, em uma das primeiras observações realizadas, uma aluna da professora Cecília

perguntou se haveria a avaliação da aula e dos discentes, ao que a docente respondeu

que não, mas que iria haver um auxílio para a elaboração de uma aula melhor, tendo em

vista uma aula de História de maior qualidade.

Um artifício para minimizar a influência do efeito do observador seria

a presença do mesmo em sala várias vezes, mas sem coletar dados, a

fim de que professor e alunos, a serem observados, se acostumem com

a sua presença e possam agir com maior naturalidade durante o

processo efetivo de realização da observação. (VIANNA, 2007, p. 10)

Na turma da professora Maria, a situação foi ainda mais complexa, pois foram

tantos os imprevistos que a professora marcou um dia para que houvesse a observação,

pois ela estava devendo a aula de História para a observação. Naquele dia, agendado

mais uma vez, a aula quase não era ministrada, e ela assim se expressou:

Maria ministrou a aula de História para que a observação da pesquisa fosse feita.

Essas ausências e lacunas, quanto à existência regular de aulas de História, foram

enfatizadas, ainda outra vez, em sua entrevista, quando sinalizou, em vários momentos,

que oficialmente a aula de História é para ocorrer minimamente, uma vez por semana e,

em média, duas vezes por semana, mas que ela não conhece nenhuma professora dos

anos iniciais que ministre aulas de História regularmente.

A observação durante a pesquisa demonstrou ser de grande importância, pois

permitiu um contraponto entre a fala oficial das professoras e o real cotidiano escolar.

Sendo o principal instrumento de investigação, o observador pode

recorrer aos conhecimentos e experiências pessoais como auxiliares

no processo de compreensão e interpretação do fenômeno estudado. A

introspecção e a reflexão pessoal têm papel importante [...]. A

observação direta permite também que o observador chegue mais

Não! Fique! Eu vou dar assim mesmo, não planejei nada, mas estou há um tempo sem dar

aula de história. Estou em dívida com a disciplina e com você. (Maria, 2014)

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perto da ‘perspectiva dos sujeitos’, um importante alvo nas

abordagens qualitativas. Na medida em que o observador acompanha

in loco as experiências diárias dos sujeitos, pode tentar apreender a

sua visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade

que os cerca e às suas próprias ações. (LÜDKE; ANDRÉ, 2014, p. 30-

31)

3.6. O JORNAL DE PESQUISA

Ao longo das observações, para o registro das impressões, sentimentos,

percepções e dados, fiz uso do Jornal de Pesquisa25 e, para a elaboração de tais registros,

procurei constituir o meu olhar a partir das seguintes indagações:

Como a disciplina História é ministrada na sala de aula? De forma isolada? De

forma interdisciplinar, articulada a outras disciplinas do Currículo?

Quais os conteúdos ministrados pelas docentes em suas aulas de História?

Quais aspectos sociais, econômicos e políticos são considerados nas aulas de

História?

Qual ou quais as metodologias de ensino utilizadas pelas docentes nas aulas de

História?

Em quais concepções metodológicas as docentes se baseiam para a efetivação de

suas práticas de ensino?

Qual a forma em que as docentes trabalham os conteúdos de História

selecionados?

Quais as linguagens e tecnologias utilizadas pelas docentes nas aulas de História?

Estas observações visavam tanto constituir novos conhecimentos como confirmar

ou negar os dados já coletados anteriormente, em entrevistas e conversas informais. As

25 Importante salientar aqui a diferença entre o Diário de Campo e o Jornal de Pesquisa. Segundo Barbosa

e Hess (2010, p. 31), a partir de diálogos estabelecidos com Sérgio Borba: “Sobre a perspectiva do diário,

basta ressaltar a ideia de que este serve para registrar um tanto aleatoriamente o dia a dia, sem objetivo

maior que não seja o próprio registro e certa tentativa de compreensão de si por parte de quem escreve. Já

a perspectiva do JP apresenta várias diferenças que podem ser reunidas em uma formulação maior: para

compreender de modo mais apropriado a importância do JP na formação do aluno-reflexivo ou do futuro

pesquisador, e para desenvolver neste uma postura interrogativa sobre a vida que o rodeia e sobre si

mesmo, é preciso entender o JP a partir dos questionamentos que a ciência faz sobre si mesma, referentes

a seus fundamentos, processos e métodos”.

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questões norteadoras foram igualmente importantes para a construção do olhar, já que

observar tudo, ao mesmo tempo, é impossível. Segundo Vianna (2007), é importante

selecionarmos previamente o que iremos observar, quais aspectos serão considerados, a

fim de que o pesquisador não se disperse em aspectos menos relevantes e deixe outros,

mais relevantes para o seu estudo, se perderem.

‘Aprender a prestar atenção’, conforme Van Dallen (1962), deve ser

parte fundamental da formação profissional do observador, tendo em

vista que se deve concentrar nos elementos importantes para a

pesquisa, deixando de lado aqueles que não contribuem para a geração

de novos conhecimentos. (VIANNA, 2007, p. 89)

O Jornal de Pesquisa (JP) é definido por Barbosa e Hess (2010, p. 23) como: “[...]

uma instituição26 capaz de trabalhar – no sentido de elaborar, organizar, possibilitar – as

potencialidades ‘instituintes’ de quem se encontra na condição de aprendiz, o que

significa reconhecer o caráter pedagógico [...]” A sua importância está em se mostrar

“[...] como instrumento ímpar, como possibilidade de escrita com sentido: trata-se da

busca de sentido para aquilo que se aprende; portanto, trata-se da ‘instituição’ de si

como sujeito perante a escola” (BARBOSA; HESS, 2010, p. 25).

Segundo Lüdke e André (2014) não há uma forma certa ou única de registrar os

dados observados. Mas, tanto Lüdke e André (2014) como Barbosa e Hess (2010)

concordam que, quanto mais próximos das observações os registros forem realizados,

menores serão as chances de detalhes serem perdidos, pois a acuidade do olhar será

melhor e mais profunda; contudo, alguns cuidados precisam existir. No JP,

Não se trata de anotar tudo [...] mas aquilo que lhe faz sentido, que

desperta reflexões ou sentimentos e, particularmente, que anotem as

possíveis relações ou conexões provisórias entre os diferentes fatos ou

ideias que cruzam o campo das preocupações apresentadas pela

disciplina. (BARBOSA; HESS, 2010, p. 55)

Houve a definição de um caderno próprio para as anotações as quais foram feitas

ao longo das observações, posteriormente, em momentos intercalados durante as aulas,

havia a revisão destas anotações. Isto foi possível já que a dinâmica era de uma

26 Neste mesmo livro O diário de pesquisa: o estudante universitário e seu processo formativo, Barbosa e

Hess (2010, p. 23) define instituição como sendo “[...] tudo que é instituído pelo homem e que carrega

consigo também seu outro lado, o instituinte, ou seja, a dimensão criadora, na qual estão presentes os

ruídos, o conflito, o que desestabiliza”.

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observação aberta, onde a pesquisadora exerceu claramente o papel de observadora,

tanto para as professoras como para os discentes. Após as aulas observadas, sempre

havia um momento para que a memória fosse revisitada e as anotações fossem

complementadas ou mesmo aprofundadas.

Na escrita do JP utilizei a linguagem descritiva. Segundo Strauss e Corbin,

As pessoas literalmente não poderiam se comunicar sem a capacidade

de descrever, independentemente de quão inapta ou primitiva possa

ser sua linguagem. A descrição é necessária para informar o que

estava (ou está) acontecendo, como está o ambiente, o que as pessoas

envolvidas estão fazendo, e assim por diante. (2008, p. 30)

Todos os sentimentos, emoções e percepções das aulas registrados no JP

juntamente com as entrevistas e questionários da fase quantitativa, permitiram a

triangulação de dados para a escrita deste trabalho.

3.7. A PESQUISA DE MÉTODOS MISTOS

Após a entrada em campo, na Escola Municipal Luiz Anselmo, ficou claro que a

pesquisa não poderia ter somente uma abordagem, a qualitativa, visto que as aulas de

História não ocorreram, na referida escola, com a frequência necessária para que os

dados pudessem ser coletados em profusão, no espaço de tempo de seis meses. Sendo

assim, a fonte de dados apresentou-se insuficiente (CRESWELL; CLARCK, 2013).

Neste caso, é importante estudar o fenômeno de forma qualitativa, uma escola,

duas professoras, mas também de forma quantitativa, algumas escolas de várias

Gerências Regionais de Ensino (GRE) da Secretaria Municipal de Educação de

Salvador (SMED), algumas professoras. A pesquisa qualitativa não exclui a quantitativa

e vice-versa. Segundo Lazersfeld e Wagner, 1958 (apud STRAUSS; CORBIN, 2008, p.

40) “[...] as entrevistas exploratórias devem preceder a formulação e o desenvolvimento

final de instrumentos de questionário”. Ambas acrescem algo de importante e essencial

ao entendimento final do fenômeno em estudo.

Creswell e Clark (2013, p. 19) observam, em seus estudos, que a pesquisa de

métodos mistos tem sido chamada de “o terceiro movimento metodológico após os

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desenvolvimentos da pesquisa quantitativa e da pesquisa qualitativa [...], o terceiro

paradigma da pesquisa e uma nova estrela no céu da ciência social”.

Strauss e Corbin (2008) posicionam os pesquisadores acerca dos procedimentos

de pesquisa. Para os autores, os procedimentos não devem ser seguidos de forma

dogmática, devendo ser flexíveis e criativos. Procurei, assim, associar, em uma única

pesquisa, os métodos qualitativo e quantitativo, de acordo com as colocações de Flick, a

seguir representadas:

Qualitativo (Exploração) Quantitativo (Questionário)

Um estudo poderá incluir abordagens qualitativas e quantitativas em

diferentes fases do processo de pesquisa sem concentrar-se

necessariamente na redução de uma delas a uma categoria inferior ou

em definir a outra como sendo a verdadeira abordagem de pesquisa.

Barton e Lazarsfeld (1955), por exemplo, sugerem a utilização da

pesquisa qualitativa no desenvolvimento de hipóteses que serão

posteriormente testadas por meio das abordagens quantitativas. Em

sua argumentação, os autores focalizam não apenas os limites da

pesquisa qualitativa (comparados aos da quantitativa), mas percebem

nitidamente a capacidade da pesquisa qualitativa na exploração do

fenômeno em estudo. Com esta argumentação, situam ambas as áreas

da pesquisa em etapas diferentes do processo de pesquisa. (FLICK,

2009, p. 43)

John Creswell e Vicki Clark (2013) apresentam uma breve trajetória da pesquisa

de métodos mistos (quali-quantitativa, neste caso específico). Segundo os autores, os

primeiros a formularem uma definição dessa forma de desenvolver pesquisa foram

Greene, Caracelli e Grahan (1989). Em seus estudos os autores definiram

... os projetos de métodos mistos como aqueles que incluem pelo

menos um método quantitativo (destinado a coletar números) e um

método qualitativo (destinado a coletar palavras), em que nenhum tipo

de método está inerentemente ligado a qualquer paradigma particular

de investigação. (GREENE; CARACELLI; GRAHAN, 1989, p. 256

apud CRESWELL; CLARK, 2013, p. 21)

Deve-se colocar que a definição foi aprimorada, à medida que os debates se

desenvolveram ao longo das últimas décadas. Atualmente, a partir de estudos de

Johnson e colaboradores (2007), concebe-se que:

A pesquisa de métodos mistos é o tipo de pesquisa em que um

pesquisador ou um grupo de pesquisadores combina elementos de

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abordagens de pesquisa qualitativa e quantitativa [...] para o propósito

de ampliar e aprofundar o entendimento e a corroboração (p. 123).

Nessa definição, os autores não encaravam os métodos mistos

simplesmente como métodos, mas como uma metodologia que unia os

pontos de vista às inferências e incluía a combinação de pesquisa

qualitativa e quantitativa. (JOHNSON, 2007 apud CRESWELL;

CLARK, 2013, p. 21)

Ainda a partir de Creswell e Clark, nas pesquisas de métodos mistos, o

pesquisador:

coleta e analisa de modo persuasivo e rigoroso tanto os dados

qualitativos quanto os quantitativos (tendo por base as questões de

pesquisa);

mistura (ou integra ou vincula) as duas formas de dados

concomitantemente combinando-os (ou misturando-os) de modo

sequencial, fazendo um construir o outro ou incorporando um no

outro;

dá prioridade a uma ou a ambas as formas de dados (em termos

do que a pesquisa enfatiza);

usa esses procedimentos em um único estudo ou em múltiplas

fases de um programa de estudo;

estrutura esses procedimentos de acordo com visões de mundo

filosóficas e lentes teóricas; e

combina os procedimentos em projetos de pesquisa específicos

que direcionam o plano para a condução do estudo. (2013, p. 22)

Uma das vantagens de se desenvolver uma pesquisa de métodos mistos está no

fato de que proporciona maiores evidências para o fenômeno em estudo, a partir do

entrelaçamento das abordagens qualitativa e quantitativa. Nesta pesquisa, em particular

na fase exploratória, houve a escuta isolada dos sujeitos, a compreensão de suas falas e

percepções através das entrevistas e das observações. Posteriormente, na fase

quantitativa, houve a ampliação das reflexões a partir de dados coletados nos

questionários aplicados, de forma aleatória, em escolas municipais da cidade de

Salvador.

Na segunda fase da pesquisa (quantitativa), alguns obstáculos precisaram ser

superados, dentre eles a ausência de tempo, e a falta de recursos financeiros. O tempo

foi pouco, aproximadamente um ano letivo e quatrocentas escolas para pesquisar. Além

disso, a pesquisa não contava com financiamento de nenhum tipo. A saída encontrada

foi montar uma equipe de pesquisa custeada com recursos próprios que, durante

aproximadamente dez meses, percorreu aproximadamente cem (100) escolas da Rede

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Pública Municipal da cidade de Salvador. Esta equipe foi composta por quatro

integrantes: uma graduada em Pedagogia; uma graduanda em Pedagogia; duas

graduadas em História.

Segundo Creswell e Clark (2013, p. 30) “[...] se uma equipe puder ser formada,

ela tem a vantagem de reunir indivíduos com diferentes qualificações metodológicas e

de conteúdo e de envolver mais pessoal no projeto de métodos mistos”, enfatizando a

importância da multiplicidade de formação dos integrantes da equipe para a constituição

de diversos olhares sobre o campo.

Durante todo o período de aplicação do questionário, ao longo do ano letivo de

2015, ocorreram momentos formativos com reuniões periódicas para estudos, troca de

experiências e olhares sobre o campo de pesquisa, importantes para a superação das

resistências colocadas pelas escolas e pelos docentes, resistências estas apresentadas

tanto por parte de diretores das escolas como por parte dos docentes.

O primeiro desafio do grupo foi convencer os diretores a liberarem o acesso às

escolas, mesmo com autorização da SMED, obtidas através de solicitações feitas por

meio de ofícios encaminhados a Diretoria Pedagógica da SMED (Apêndice 8), a fim de

que os primeiros diálogos com os docentes ocorressem. Estes diretores informavam que

a autorização não havia sido recebida por e-mail e solicitavam o retorno da equipe com

a autorização impressa, ou então que houvesse a solicitação para que a SMED entrasse

em contato telefônico com a escola. O segundo desafio foi convencer os professores de

que a pesquisa era importante e de que não se estava no ambiente escolar para avaliar os

docentes, por parte da Secretaria Municipal de Educação.

Enfim, foram muitas as colocações e impedimentos para que os questionários não

pudessem ser aplicados. Todos estes contratempos precisaram ser concebidos no

momento em que a pesquisa de métodos mistos foi considerada, tendo o questionário

como instrumento de coleta de dados desta fase.

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3.8. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO: AS ESCOLAS DA REDE

MUNICIPAL DE SALVADOR/BA

As escolas municipais de Salvador estão vinculadas diretamente à Secretaria

Municipal de Educação (SMED) que possui a seguinte estrutura organizacional,

segundo o Diário Oficial do Município, publicado em 15 de maio de 2013:

I - Unidades Administrativas:

a) Subsecretaria:

1) Núcleo de Execução Orçamentária e Financeira – NOF;

2) Núcleo de Gestão e Tecnologia da Informação.

b) Assessoria de Planejamento e Modernização da Gestão.

c) Diretoria Geral de Esportes e Lazer:

1) Subcoordenadoria de Educação para os Esportes;

2) Subcoordenadoria de Esportes de Rendimento.

d) Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico:

1) Subcoordenadoria de Educação Infantil e Inclusão;

2) Subcoordenadoria de Ensino Fundamental;

3) Subcoordenadoria de Educação Integral e Diversidade.

e) Diretoria Geral de Suporte à Educação:

1) Coordenadoria de Gestão de Pessoas da Educação:

1.1. Subcoordenadoria de Administração de Pessoas:

1.1.1. Setor de Gestão de Pessoas – SEGEP.

1.2. Subcoordenadoria de Provimento e Movimentação de Pessoas;

1.3. Subcoordenadoria de Desenvolvimento de Pessoas.

2) Coordenadoria de Suporte à Gestão e Governança Escolar:

2.1. Subcoordenadoria de Apoio Institucional à Unidade

Escolar;

2.2. Subcoordenadoria de Gestão Participativa;

2.3. Coordenadoria Regional de Educação.

f) Coordenadoria de Estruturação da Rede Física Escolar:

1) Subcoordenadoria de Planejamento e Acompanhamento de Obras

da Rede Escolar;

2) Subcoordenadoria de Adequação e Manutenção da Rede Escolar.

g) Coordenadoria Administrativa – CAD:

1) Setor de Atendimento ao Público – SEATE;

2) Setor de Gestão de Serviços – SEGES;

3) Subcoordenadoria de Suporte à Aquisição de Materiais e

Contratação de Serviços;

4) Subcoordenadoria de Logística:

4.1. Setor de Gestão de Materiais;

4.2. Setor de Gestão de Patrimônio.

5) Subcoordenadoria de Alimentação Escolar.

h) Coordenadoria Executiva do Fundo Municipal de Educação;

1) Subcoordenadoria Orçamentária e Financeira.

1.1. Setor Financeiro

1.2. Setor Orçamentário

2) Subcoordenadoria de Contabilidade

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151

2.1. Setor de Contabilidade

2.2. Setor de Controle e Custos

3) Subcoordenadoria de Convênios e Contratos

3.1. Setor de Acompanhamento de Convênios

3.2. Setor de Acompanhamento de Contratos

4) Subcoordenadoria de Prestação de Contas.

II – Órgãos Colegiados

a) Conselho Municipal de Educação;

b) Conselho Municipal de Esporte e Lazer;

c) Conselho Municipal de Alimentação Escolar;

d) Conselhos Escolares das Unidades Escolares da Rede Pública

Municipal;

e) Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo

de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação;

f) Conselho Deliberativo do Fundo Municipal para o Desenvolvimento

Humano e Inclusão Educacional de Mulheres Afrodescendentes.

(SALVADOR, 2013)

Para melhor acompanhamento, a SMED agrupou as escolas da cidade em

Gerências Regionais de Ensino (GRE), divididas conforme quadro a seguir:

Quadro 4

Escolas por Gerência Regional de Ensino (GRE)

GRE BAIRROS QUANTIDADE DE

ESCOLAS

Cabula Arenoso

Cabula

Calabetão

Doron

Engomadeira

Jardim Santo Inácio

Mata Escura

Narandiba

Pernambués

São Gonçalo

Sussuarana

Tancredo Neves

46

Cajazeiras Águas Claras

Canabrava

Cajazeira

Granjas Rurais

Presidente Vargas

Jardim Nova

Esperança

Nova Brasília

Novo Marotinho

Palestina

São Cristóvão

44

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152

Trobogy

Valéria

Centro Acupe de Brotas

Barris

Brotas

Campinas de Brotas

Cosme de Farias

Daniel Lisboa

Dois de Julho

Engenho Velho de

Brotas

Garcia

Graça

Luiz Anselmo

Matatu

Nazaré

Parque Bela Vista

Pelourinho

Rio Vermelho

Santo Antônio

Saúde

Tororó

Vitória

45

Cidade Baixa Boa Viagem

Bonfim

Calçada

Caminho de Areia

Massaranduba

Ribeira

Roma

Uruguai

Vila Rui Barbosa

28

Itapuã Alto do Coqueirinho

Armação

Bairro da Paz

Boca do Rio

Ceasa

Costa Azul

Itapuã

Mussurunga I

Nova Brasília de

Itapuã

Nova Brasília

Patamares

Piatã

Pituaçu

São Cristóvão

50

Liberdade Baixa de Quintas

Barbalho

Caixa D’Água

Cidade Nova

IAPI

Liberdade

28

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153

Pau Miúdo

Pero Vaz

Orla Amaralina

Alto das Pombas

Engenho Velho da

Federação

Federação

Nordeste de

Amaralina

Ondina

Rio Vermelho

Santa Cruz

Santo Antônio

41

Pirajá Cajazeiras

Castelo Branco

Dom Avelar

Jardim Cajazeiras

Pau da Lima

Pirajá

Sete de Abril

São Marcos

Vila Canária

36

São Caetano Alto do Peru

Arraial do Retiro

Boa Vista do Lobato

Boa Vista de São

Caetano

Campinas de Pirajá

Capelinha

Curuzu

Fazenda Grande do

Retiro

Granjas Rurais

Presidente Vargas

IAPI

Lobato

Marechal Rondon

Pirajá

São Caetano

40

Subúrbio I Alto do Peru

Alto da Terezinha

Coutos

Fazenda Coutos

Ilha Amarela

Itacaranha

Lobato

Nova Brasília de

Valéria

Plataforma

Praia Grande

Rio Sena

São João do Cabrito

Valéria

40

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154

Subúrbio II Coutos

Ilha Bom Jesus dos

Passos

Ilha de Maré

Ilha dos Frades

Paripe

Periperi

São Tomé de Paripe

31

Total 429

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Das quatrocentos e vinte e nove escolas (429), sessenta e oito (68) são Escolas

Municipais de Educação Infantil, responsáveis pela educação de crianças de 2 a 5 anos.

Nas demais, trezentas e sessenta e uma (361), tem-se instituições escolares responsáveis

pelo Ensino Fundamental I e II, mas algumas não incluem o 5º ano, série alvo da

pesquisa, pois se restringem ao público do primeiro ciclo de aprendizagem (1º ao 3º

anos).

Como Programas e Projetos, frutos de orçamento próprio da Prefeitura Municipal

de Salvador (PMS) e de parcerias com outros órgãos e instituições várias, a SMED

desenvolve:

1 – A Tarde na Escola;

2 – Atendimento Hospitalar e Domiciliar;

3 – Centro Municipal de Arte-educação e Cultura Mário Gusmão;

4 – Escola Aberta;

5 – Educação Ambiental;

6 - Educação em Pauta;

7 – Educação Esportiva;

8 – Escola Livre do Mosquito;

9 – Fundo Municipal para o Desenvolvimento Humano e Inclusão Educacional de

Mulheres Afrodescendentes (FIEMA);

10 – Inclusão Sócio-digital;

11 – Lei 10.639/03;

12 – Programa de Educação para a Saúde Infantil (PESI);

13 – Plataforma Freire;

14 – Programa Educação Integral;

15 – Salvador Cidade das Letras;

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155

16 – Salvador Graffita.

O Ensino Fundamental é dividido em nove anos, composto por cinco séries nos

anos iniciais, subdivididas em dois ciclos de aprendizagem: ciclo de aprendizagem I

(três anos) e ciclo de aprendizagem II (dois anos).

No que se refere às avaliações da Rede Municipal, segundo informações do site27

oficial da Secretaria, as escolas fazem algumas avaliações anuais, tais como a Prova

Brasil, criada em 2005, e a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), criada em

2013. Ambas são nacionais e aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Destas, a Prova Brasil é aplicada, de dois em dois

anos, aos alunos do 5º e do 9º ano do Ensino Fundamental, tendo por objetivo avaliar o

desempenho dos discentes nas áreas de Língua Portuguesa (Leitura e Interpretação) e

Matemática.

A ANA é direcionada aos alunos do 3º ano e a Provinha Brasil, distribuída pelo

INEP, embora aplicada pelos próprios professores da Rede Pública, às crianças do 2º

ano. Todas estas provas objetivam avaliar o aluno, no âmbito da leitura e da

interpretação, na área de Língua Portuguesa, e os conhecimentos na área de Matemática.

Além destas avaliações, o município de Salvador criou, em 2013, seu próprio

programa de avaliação, o PROSA – Programa Salvador Avalia, cujo objetivo é “[...]

munir os professores com informações sobre o desempenho de cada um de seus alunos

por habilidade” (AVALIAÇÕES da rede, 2015).

Ainda de acordo com o site da SMED:

A primeira avaliação do PROSA foi aplicada em dezembro de 2013 a

todos os alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental e aferiu o

desempenho dos alunos em Leitura e Interpretação, Escrita e

Matemática. A segunda avaliação foi aplicada a todos os alunos do 2º

ao 9º ano, em maio de 2014, e aferiu as habilidades das mesmas áreas

de conhecimento. Em agosto de 2014, avaliamos o desempenho do 1º

ano. A terceira avaliação ocorreu em dezembro de 2014 e se deu da

mesma forma que a de dezembro de 2013. Já a quarta avaliação

do PROSA ocorreu em julho de 2015 e foi aplicada somente aos

alunos do 5º e 9º ano, aferindo somente Leitura e Interpretação e

Matemática. (AVALIAÇÕES da rede, 2015)

27 O site oficial da secretaria é <http://educacao.salvador.ba.gov.br>

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Assim, neste contexto de múltiplas avaliações, direcionei-me para as escolas, a

fim de aplicar o questionário, já com a autorização prévia da SMED (Apêndice 8).

Muitas destas escolas não participaram da pesquisa, por vários motivos: localizam-se

em áreas controladas pelo tráfico de drogas, o que impediu a equipe de ir até o local;

não possuem o 5º ano do Ensino Fundamental; não houve receptividade por parte da

Gestão da Escola ou do corpo docente; a escola não foi localizada em virtude de

mudança de endereço; escolas que estão em reforma estrutural e, por este motivo,

estavam fechadas e sem aulas no período da pesquisa. Assim, à medida que a pesquisa

se desenrolou, um mapeamento das escolas foi feito, junto com a equipe de pesquisa, no

sentido de identificar as escolas em que poderíamos ir, sem colocar em risco a

segurança dos membros da equipe.

Ao final, foram obtidos cinquenta e quatro questionários (54) questionários, em

trinta e cinco (35) escolas, nas seguintes GRE:

Gráfico 6

Escolas Participantes da Pesquisa por GRE

Fonte: elaboração da autora, 2015.

As GRE participantes da pesquisa localizam-se nas regiões sinalizadas a seguir,

no mapa da cidade de Salvador.

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157

Mapa 2 Localização das GRE pesquisada na cidade de Salvador/BA

Fonte: elaboração da autora, 2015.

3.9. OS PROFESSORES DO 5º ANO DA REDE MUNICIPAL DE SALVADOR

Segundo dados oficiais, fornecidos pelo Setor de Gestão de Pessoas (SEGEP), há

atualmente, na cidade de Salvador, novecentos e onze (911) professores lotados no 5º

ano. Estes novecentos e onze (911) professores estão nas mais diversas situações:

excedentes; os que se encontram em licença médica ou licença prêmio; e os que estão

em efetiva regência. Pelo fato de não ter sido fornecida a quantidade de professores que

se encontram em sala de aula no 5º ano, o número total de professores deste ano,

fornecido pela SEGEP não pode ser considerado para o cálculo amostral da pesquisa,

segundo as teorias estatísticas.

Os professores do 5º ano, majoritariamente, são mulheres (98,11%).28 Parte destes

professores, atuantes no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade de Salvador, possui o

curso de Magistério em nível de 2º Grau29 (57,40%) e/ou o Curso Normal Superior

28 Um professor do sexo masculino participou da pesquisa, o que significa 1,88% da amostragem. 29 Atualmente Ensino Médio, composto por três anos de estudos que compõem a terceira e última etapa

da Educação Básica, sendo denominado de Ensino de 2º Grau, entre 1972 e 1996.

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(46,29%) e/ou a Licenciatura em Pedagogia (81,48%) ou ainda o Bacharelado em

Pedagogia (5,55%). Dentre estes, alguns possuem outras licenciaturas: Letras (5,55%),

Ciências Sociais (1,85%), História (3,70%) e bacharelado em outras áreas, como Letras

(5,55%). Todos os docentes respondentes do questionário possuem formação em Nível

Superior, graduados entre 1993 e 2012; somente três professoras graduaram-se na

década de 1980.

Dos cinquenta e quatro (54) professores, 70,37% possuem Especialização, alguns

até duas especializações, nas mais diversas áreas, relacionadas à Educação e 1,85%

possuem mestrado, em andamento, na área de Educação, segundo o gráfico a seguir.

Gráfico 7 Especializações Cursadas pelos Professores do 5º ano do Ensino Fundamental na cidade

de Salvador/BA

Fonte: elaboração da autora, 2015.

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159

Em percentuais aproximados, temos oitenta e três por cento concursados (83,33%)

e quatorze por cento (14,81%) como prestadores de serviços da Secretaria Municipal de

Educação.30 Da totalidade, apenas dezoito por cento (18,51%) possui regime de trabalho

de 20 horas semanais, cabendo aos outros 79,62% dos professores31 atuarem em regime

de 40 horas.

A média de tempo de atuação, nos Anos Iniciais, é de, aproximadamente, doze

(12) anos, variando entre dois anos, para os que trabalham há menos tempo e trinta e

três anos, para os que possuem mais tempo de docência. Já no 5º ano especificamente, o

tempo médio de experiência é de cinco anos. Alguns possuem dois anos e outros

apontaram como sendo dezesseis anos o tempo de exercício da docência no 5º ano.

Quanto ao lazer, são professores que gostam de ir ao cinema (98,14%) e ao teatro

(72,22%), assistem pouco televisão, mas, quando o fazem, preferem programas

informativos, jornais, séries policiais americanas, novelas, documentários e programas

de culinária. Todos apontaram a música, enquanto arte presente na sua vida, sendo de

sua preferência a música popular brasileira e o gospel. Na ordem de predileção apareceu

o samba, o sertanejo, o rock nacional, o forró, as românticas e por fim o reggae, o hip-

hop, o blues e o soul.

Quase todos informaram que a leitura faz parte de seu cotidiano32 e, na ordem dos

gêneros literários mais citados, apareceram: livros religiosos, de autoajuda, livros de

formação na área de educação, a Bíblia, romances literários e históricos e livros de

história e de cultura afro-brasileira, best-sellers, poesias, contos, crônicas e histórias em

quadrinhos. São, portanto, docentes que, em geral, possuem uma vida cultural ativa e

acesso aos bens culturais que estão sendo produzidos pela e na sociedade.

30 Do total, 1,85% não respondeu ao item sobre a própria situação administrativa como docente. 31 O item sobre o regime de trabalho não foi respondido por 1,85% dos entrevistados. 32 Um professor deixou em branco esta indagação e outro respondeu: às vezes.

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160

3.10. A APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS NA REDE MUNICIPAL DE

SALVADOR

Segundo Branchet e Gotman (1992, p. 40-41 apud BRANDÃO, 2002, p. 38), “o

questionário implica que se conheça o mundo de referência [...]. Enquanto a construção

do questionário exige uma escolha prévia de fatores discriminantes, a entrevista não

exige a classificação a priori dos elementos determinantes”.

De modo geral, os pesquisadores tendem a subestimar o questionário e sua

complexidade, bem como a definição de uma população e sua amostra, de forma

adequada. Contudo, o questionário não é somente o elencar de perguntas a serem feitas,

é necessário estar ancorado em categorias pensadas a priori.

Um questionário de pesquisa social é um conjunto de perguntas,

afirmações ou escalas [...] geralmente feitas da mesma forma para

todos os entrevistados. Os dados são transformados em totais, médias,

porcentagens, comparações e correlações, tudo se adaptando muito

bem em uma abordagem quantitativa. Entretanto, os pesquisadores

qualitativos muitas vezes reservam parte de sua investigação para o

questionário quantitativo e para os “dados agregados”. A vantagem é

que os questionários podem ser obtidos de uma grande quantidade de

entrevistados (STAKE, 2011, p. 111-112).

O questionário oferece algumas vantagens em sua utilização como instrumento de

coleta de dados em pesquisas de pequena escala: o uso eficiente do tempo, já que não

precisa existir uma sincronicidade entre o tempo do pesquisador e o tempo do

respondente ou mesmo coletar dados de um número grande de pessoas, ao mesmo

tempo; o anonimato garantido aos respondentes permite que os sujeitos pesquisados

sejam os mais transparentes possíveis; ter uma alta taxa de retorno por parte dos

respondentes, desde que haja uma organização e uma logística de aplicação e de coleta

dos questionários.

No sentido da logística, a equipe montada foi fundamental, tanto na aplicação dos

questionários como na coleta. As Gerências Regionais de Ensino (GRE) do município

foram divididas pelos membros da equipe. Estes, consequentemente, ficaram

responsáveis pela aplicação do instrumento de coleta em algumas escolas de cada GRE.

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161

Ao entrar nas instituições, procurou-se realizar, inicialmente, um trabalho de

sensibilização dos gestores das unidades e posteriormente dos professores do 5º ano.

Para responder os questionários, foi concedido um tempo aos professores e, em

seguida, os membros da equipe voltavam para buscá-los já respondidos. Mesmo com a

data de retorno sendo negociada junto aos docentes, o prazo de entrega nem sempre era

cumprido pelos professores/respondentes. Em muitas ocasiões, os membros da equipe

retornavam à escola, no dia e hora agendados previamente, e os questionários não

estavam respondidos ou tinham sido perdidos, por parte dos docentes, ou estes não se

encontravam na unidade escolar e nem tinham deixado o questionário respondido com

outras pessoas, ou então afirmavam que já haviam respondido sem o terem feito. Todas

estas limitações foram vivenciadas e são nítidas, ou até mesmo esperadas, quando se

define o questionário como um instrumento de coleta de dados.

Segundo Moreira e Caleffe (2008, p. 99), três limitações se apresentam quando do

uso do questionário e precisam ser conhecidas antes do pesquisador decidir sobre o seu

uso: o dado coletado tende a descrever ao invés de explicar por que as coisas são da

maneira que são; o dado pode ser superficial; o tempo necessário para elaborar as

questões e realizar um estudo-piloto é frequentemente subestimado, e dessa maneira a

utilidade do questionário pode ser reduzida, em virtude de uma preparação inadequada.

Na elaboração das questões, procurou-se considerar a atração, a acessibilidade da

linguagem e a brevidade, aspectos que precisam estar presentes, sempre que possível,

em um questionário. No que se refere à amostragem, as escolas e os docentes foram

selecionados aleatoriamente, considerando os seguintes critérios: formados em

Pedagogia ou Magistério; em efetiva regência no 5º ano do Ensino Fundamental nas

escolas públicas de Salvador, concursados ou não. Quanto ao tamanho da amostragem,

Moreira e Caleffe (2008, p. 123) afirmam que “surpreendentemente, não há nenhuma

regra fixa sobre o tamanho da amostra [...]”.

O questionário foi dividido em duas partes, antecedidas por uma carta explicativa

ao professor/respondente (Apêndice 9). Na primeira seção, as perguntas foram pensadas

de modo a permitir traçar um perfil dos professores que atuam no 5º ano nas escolas

municipais da cidade de Salvador, a partir de questões que abrangiam os dados pessoais,

formação acadêmica, situação profissional, tempo de docência, preferências culturais.

A seguir, as perguntas versavam sobre as aulas de História da série pesquisada, a

frequência com que a disciplina era ministrada, a seleção de conteúdos, critérios de

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162

avaliação, objetivos definidos para a disciplina, importância da disciplina, recursos e

linguagens utilizados, metodologias pensadas pelo docente para as aulas de História.

Nesta parte do questionário, havia perguntas as quais se apresentaram opções a serem

marcadas, conforme segue:

1 – Qual a frequência das aulas de História, ao longo do horário formal de aulas?

2 – A História, enquanto disciplina, é ministrada na sua turma de forma isolada, com

horário e metodologias próprias?

3 – A História é uma disciplina ministrada de forma interdisciplinar, relacionada a

outras disciplinas do currículo?

4 – Em quais momentos, ao longo do ano letivo, ocorre o seu planejamento das aulas de

História?

5 – Como é desenvolvido o seu planejamento?

6 – Quais os conteúdos considerados mais frequentemente por você, no momento do

seu planejamento?

7 – Quais os conteúdos mais frequentemente considerados por você, na sua prática

docente?

8 – Em sua formação universitária, você cursou alguma(s) disciplina(as) específica(as)

que o auxiliasse(m) na sua prática docente, enquanto professor(a), no momento de

lecionar a disciplina História para o 5º ano do Ensino Fundamental?

9 – Os conteúdos trabalhados por você estão mais relacionados à(s)

10 – Como os conteúdos de História trabalhados por você são selecionados?

11 – Em sua formação, você trabalhou com algum destes recursos didáticos?

12 – Na sua prática atual, ao lecionar a disciplina História, quais dos recursos a seguir

você utiliza?

13 – Os recursos marcados por você na questão anterior são disponibilizados pela

escola?

14 – E com quais recursos você gostaria de trabalhar?

Outras perguntas, de escalas, que deveriam ser numeradas de acordo com o nível

de importância definido pelo professor:

1 – Numere por ordem de importância de 1 a 6 (sendo 1 o menos importante e 6 o mais

importante) os aspectos que mais influenciam no seu planejamento.

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163

2 – Numere por ordem de importância de 1 a 7 (sendo 1 o menos importante e 7 o mais

importante) os aspectos contemplados nas suas aulas de História.

3 – Numere por ordem de frequência utilizada de 1 a 9 (sendo 1 a menos utilizada e 8 a

mais utilizada), as seguintes linguagens nas aulas de História.

E as indagações abertas:

1 – Se as aulas de História ocorressem uma vez por semana, ou não estivessem sendo

ministradas todas as semanas, relate os motivos para tal ausência de regularidade

semanal.

2 – Na sua concepção, para que estudamos História no 5º ano do Ensino Fundamental?

3 – O que você entende por metodologia de ensino?

4 – Em quais concepções metodológicas você se baseia para efetivar sua prática de

ensino?

5 – Quais correntes historiográficas influenciam sua prática docente e suas

metodologias?

6 – Que outra concepção metodológica você acredita ser mais bem aplicada ao ensino

de História?

7 – Em caso afirmativo quais foram?33

8 – Quais os conteúdos das aulas de História trabalhados por você ao longo de sua

experiência com o 5º ano do Ensino Fundamental?

9 – Com qual finalidade os conteúdos trabalhados por você especificamente são

escolhidos?

10 – De que forma você trabalha com os conteúdos escolhidos por você?

11 – O que você considera importante para o professor do 5º ano do E.F. saber para

desenvolver uma prática docente que, na sua ótica, seja adequada às aulas de história?

O questionário totalizou, assim, vinte e oito (28) questões, que podem ser mais

bem visualizadas no Apêndice 10.

33 No questionário, esta pergunta está interligada à pergunta que versa sobre a formação universitária; se o

professor cursou alguma(s) disciplina(as) específica(as) que o auxiliasse(m) na sua prática docente,

enquanto professor(a), no momento de lecionar a disciplina História para o 5º ano do Ensino

Fundamental.

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164

3.11. A INTERPRETAÇÃO DOS DADOS: A CODIFICAÇÃO, A ANÁLISE

DE CONTEÚDO E A TRIANGULAÇÃO DOS DADOS

Segundo Charmaz (2009), a interpretação dos dados inicia-se pela codificação dos

mesmos.

Codificar significa categorizar segmentos de dados com uma

denominação concisa que, simultaneamente, resume e representa cada

parte dos dados. Os seus códigos revelam a forma como você

seleciona, separa e classifica os dados para iniciar uma interpretação

analítica sobre eles. (CHARMAZ, 2009, p. 69)

Esta é a primeira etapa analítica: o momento em que se inicia a sintetização das

entrevistas, das notas de observações e dos dados dos questionários. Ainda segundo

Charmaz (2009, p. 69),

a codificação é a primeira etapa para passarmos dos enunciados reais

presentes nos dados à elaboração das interpretações analíticas.

Visamos a produzir uma versão interpretativa que tem início com a

codificação e que elucida a vida estudada (2009, p. 69)

Por outro lado, a codificação é o elo de ligação entre os dados brutos e o

desenvolvimento, ou construção de uma teoria para a explicação desses dados, sendo

responsável pelo surgimento de várias indagações. Esta etapa permitiu o estudo dos

dados de forma mais pontual e aprofundada. Para alguns pesquisadores é quase

impossível pensar sobre os dados sem classificá-los anteriormente. Entretanto, há uma

diferença entre a codificação dos dados nas pesquisas qualitativa e quantitativa. Para

Charmaz (2009)

A lógica da codificação da teoria fundamentada diferencia-se da

lógica quantitativa que aplica categorias ou códigos preconcebidos aos

dados. Nós criamos os nossos códigos ao definirmos aquilo que

observamos nos dados. Os códigos surgem à medida que você faz uma

análise minuciosa dos seus dados e define significados dentro dele.

Por meio dessa codificação ativa, você interage com os seus dados

repetidamente, questionando-os de diferentes maneiras. (p. 72)

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165

Inicialmente, procedi à transcrição das entrevistas e à organização das anotações

feitas nas observações realizadas. Posteriormente, os questionários foram organizados a

partir da identificação como P1, P2, P3, onde cada questionário corresponde a um

professor/respondente. As respostas dos professores/respondentes às perguntas abertas

foram separadas em tabelas; os dados obtidos das perguntas de múltipla escolha foram

organizados em percentuais e gráficos, e as perguntas escalonadas a partir de uma

valoração, igualmente arrumadas em tabelas, segundo os valores dados (de 1 a 7, de 1 a

8 ou de 1 a 9 (a depender do questionamento feito).

Paralelamente, houve a construção de categorias analíticas (BARDIN, 2014;

MOREIRA; CALEFFE, 2008), que emergiram da codificação dos dados contidos nas

entrevistas, nas observações de campo e nas respostas às perguntas abertas do

questionário, bem como a uma triangulação de dados feita com as categorias

preconcebidas contidas nas perguntas estruturadas, fechadas e escalonadas, dos mesmos

questionários da fase quantitativa.

Para poder analisar os dados, optei pela utilização da análise de conteúdo. Esta, de

acordo com Bardin:

[...] é um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se

trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com

maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande

disparidade de formas e adaptável a um campo e aplicação muito

vasto: as comunicações. (2014, p. 33)

Depois de realizada a primeira etapa da pré-análise, que consistiu na fase de

organização do material, dos dados coletados, conforme a descrição acima, da

exploração do material e do momento em que a codificação foi realizada, procedi ao

processo do tratamento dos resultados, das inferências e da interpretação. Não há um

momento específico em que as categorias foram elencadas. Em alguns momentos, o

foram a priori e, em outros, emergiram dos dados, tanto na fase de codificação como na

fase de análise e interpretação.

Ao final, as categorias de análise elencadas foram definidas, conforme segue:

1 – Formação acadêmica e experiência do docente do 5º ano que leciona a disciplina de

História;

2 – Influências culturais nas práticas docentes dos professores do 5º ano do Ensino

Fundamental (E.F.);

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166

3 - A percepção do docente sobre:

a) suas práticas, ao lecionar a disciplina História no 5º ano;

b) interdisciplinaridade;

c) a seleção de conteúdos nas aulas de História;

d) as influências sociais, políticas e econômicas nas aulas de História;

e) as metodologias de ensino utilizadas pelos docentes nas aulas de História;

f) os propósitos e importância do ensino de História no 5º ano do E.F.;

g) o planejamento do ensino de História e recursos didáticos disponíveis;

h) as abordagens de ensino e aprendizagem;

i) as correntes historiográficas;

j) principais dificuldades enfrentadas nas aulas de História do 5º ano do E.F.;

k) saberes necessários para a realização de aulas de História no 5º ano do E.F.

Outra forma de verificar a validade dos dados é promover a triangulação dos

mesmos. Assim, durante todo o processo de análise e interpretação, a triangulação entre

os métodos utilizados foi feita. Moreira e Caleffe afirmam que:

a triangulação entre os métodos refere-se ao uso de mais de um

método de coletar dados dentro do mesmo estudo. Dadas as

circunstâncias, o pesquisador provavelmente utilizará a triangulação

metodológica como método de verificar a validade dos dados

coletados. (2008, p. 192)

Isto permite que haja uma melhor análise e compreensão do fenômeno, a partir do

confronto dos dados. A triangulação permite que se pare e observe, sob os mais diversos

ângulos, as categorias de análise elencadas. Trata-se de diferenciar e perceber múltiplos

sentidos, segundo Flick (2009) a partir dos dados obtidos nas entrevistas, nas

observações, nas conversas informais feitas com as docentes entrevistadas, nos

questionários e, nos momentos formativos (falas e escutas) feitas com a equipe que

aplicou os questionários.

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167

CAPÍTULO 4

SABERES E PRÁTICAS: AS PROFESSORAS FALAM SOBRE A DISCIPLINA

HISTÓRIA

Ensinar bem história pode parecer a coisa mais fácil do mundo,

redutível a uma clara receita: somar o domínio de bons conteúdos

dessa área de conhecimento à aplicação de valorizadas teorias

pedagógicas e a uma dose de talento professoral; misturar tudo e

servir. Tudo isso é importante e necessário. Falta chegar a um

consenso sobre o que é bom conteúdo, valorizada teoria e talento

docente.

Marcos Silva

É tarefa quase impossível chegar a um consenso sobre o conteúdo ideal da

História que deve ser ensinada às crianças, das teorias que melhor fundamentariam o

ensino dessa disciplina e os saberes docentes a serem mobilizados para que a

aprendizagem-ensinagem da História aconteça. São muitas visões, muitos olhares,

muitos escritos, muitas falas que expressam a aprendizagem e o ensino que são

realizados em uma sala de aula, uma escola, uma sociedade e um mundo, todos espaços

repletos de cidadãos e excluídos, diferenças culturais, conflitos étnicos e raciais, fossos

econômicos e dissensões políticas, inovações tecnológicas, diversas tradições,

demandas de Estados e grupos sociais.

Não é prerrogativa deste trabalho apresentar um único caminho sedimentado pelos

conteúdos ensinados, nem como estes estão sendo trabalhados nas aulas de História no

5º ano. Ao trazer várias falas e escritas, pretendo identificar os saberes mobilizados

pelas professoras que lecionam a disciplina história e também apresentar as práticas

docentes de seu cotidiano em sala de aula.

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168

4.1. A SALA DE AULA E A AULA DE HISTÓRIA: QUE HISTÓRIA É ESSA?

As escolas municipais da cidade do Salvador são situadas, em sua grande maioria,

em locais de “invasões”,34 existentes por toda a cidade. Algumas delas localizam-se em

comunidades onde há muitos tiroteios entre traficantes rivais, entre os “caras”35 e a

polícia. Por este motivo, há olheiros em todos os lugares do bairro e na escola, e antes

de entrar em alguns desses espaços, é preciso solicitar a autorização do “Dono da

Boca”36 e apresentar-se devidamente, comprovando a necessidade de estar naquela

instituição escolar. Mas não há nenhuma garantia de que a autorização será concedida.

Ir a algumas escolas de Salvador, sem esses cuidados, é entrar em uma situação que

pode ter consequências bem nefastas.

Ao se dirigir a uma dessas escolas, sem um contato telefônico prévio para agendar

a visita, a equipe de pesquisa foi afrontada, logo na entrada da unidade escolar, por uma

adolescente. A menina olhou diretamente para Viecha, uma das integrantes da equipe, e

falou: “Estou aqui de pachara”.37 Viecha, mulher, negra, integrante do movimento

negro, filha de uma educadora atuante em unidades prisionais e conhecedora dos termos

usados pelos encarcerados de Salvador, imediatamente mudou a postura corporal, soltou

os ombros, assumiu um andar relaxado, malemolente e respondeu: “Relaxa, estou aqui

de Keké”.38

Grande parte das unidades escolares dá uma sensação de presídio, com seus

muros altos, portões e grades, em todas as entradas e janelas, e muitas vezes entre as

alas da instituição. A contagem do tempo em algumas destas escolas segue as diretrizes

34 Na cidade de Salvador, o termo invasão refere-se a localidades onde a posse das residências não foi

regulamentada quando de sua construção. São locais invadidos pela população de baixa renda, que ali

construiu seus locais de moradia. Atualmente, muitas dessas residências já foram regulamentadas pela

Prefeitura do Município de Salvador, ao longo de sucessivos governos. Contudo, no cotidiano, o termo

“invasão” permanece como referência a estas comunidades.

35 Termo usado pelos moradores das “invasões” em referência aos bandidos que dominam o tráfico no

local. Comumente, escuta-se: “Aquele ali é o cara” ou “Ali estão os caras”.

36 Dono da Boca: líder do tráfico na localidade; aquele que comanda o grupo de traficantes do local.

37 Pachara: termo usado pela população encarcerada nos presídios de Salvador para designar o apenado

com boa condição financeira. Ao usar o termo, a adolescente estava afirmando categoricamente que

estava ali como a “patroa” da escola, observando o que estava acontecendo.

38 Keké: termo de baixo calão, usado em algumas comunidades de Salvador, que significa estou aqui

numa boa, vim em paz. Em algumas “invasões”, encontra-se igualmente o termo tô de boa.

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determinadas pelo tráfico local e o término de uma aula e início de outra é sinalizado

com sirenes emitindo o mesmo som das que são utilizadas nas unidades prisionais de

Salvador. Quando há a deliberação do chefe do tráfico para que o bairro seja fechado, a

escola não abre, e o dia letivo é “perdido”, pois não há como repor a aula em outro dia.

O horário oficial de encerramento das atividades diárias escolares é 17h, mas, em

algumas escolas, as atividades se encerram às 16h ou 16h30min, a depender do “clima”

no bairro. Ao final do turno de aulas, os docentes saem todos juntos, como uma forma

de se protegerem. Situações de roubos, assaltos e arrombamentos de carros dos

professores foram muito escutadas, no decorrer da pesquisa, o que fez com que alguns

docentes desistissem de usar seu veículo para irem até o trabalho ou passassem a

estacioná-lo distante da escola, dirigindo-se a pé até a unidade escolar.

Parte das escolas funciona em prédios que originariamente não foram construídos

com a finalidade de abrigar uma unidade escolar. Foram erguidos como residências ou

salões paroquiais. Algumas dessas escolas funcionam em estruturas físicas localizadas

em cima de prédios comerciais. São espaços reduzidos, pequenos, apertados, sem

ventilação ou iluminação adequada, e sem áreas de acolhimento ou socialização das

crianças. Não há, em parte das escolas, um pátio, um parque, uma quadra. Por esses

motivos, o intervalo entre os dois blocos de aula ocorre, separadamente, para cada turma

e série, o que impede as brincadeiras e o encontro entre as crianças na escola.

Cada criança somente tem contato, durante o horário escolar, com as crianças de

sua turma, pois, quando seu grupo está vivenciando o intervalo, as outras turmas estão

em aula. Não há espaços para além da estrutura mínima necessária ao funcionamento de

uma unidade escolar: salas de aula; refeitório; sala de direção/secretaria; uma pequena

biblioteca; sala de informática. A biblioteca e a sala de informática, quando existem, são

muito pouco usadas e, em algumas ocasiões, são transformadas em sala de aula.

No que diz respeito às instalações físicas, percebemos que, em

algumas escolas, permanece a mesma estrutura do prédio. Uma das

mudanças foi com relação às carteiras. Antes, comportavam uma

dupla de estudantes. Depois, vieram as mesinhas individuais com

cadeiras. Agora, as cadeiras com braços. No entanto, permanece a

disposição, das carteiras desconfortáveis, em filas que, na maioria das

vezes, o que orienta o critério de ocupação da sala é a ‘democracia’ do

desenvolvimento físico: os menores à frente dos maiores.

(NACARATO; VARANI; CARVALHO apud GERALDI;

FIORENTINI; PEREIRA, 1998, p. 80)

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Os prédios de algumas escolas pesquisadas estão passando por reformas, feitas

durante o período letivo, o que faz com que duas unidades escolares funcionem em um

mesmo edifício, por exemplo, ou continuem suas atividades em meio à reforma,

promovendo uma “bagunça” nestas escolas, segundo os funcionários das secretarias.

Fica perceptível que as necessidades de expansão da rede municipal, nas duas últimas

décadas, foram resolvidas a partir de espaços improvisados, inadequados e insalubres,

para o professor e para o aluno (NACARATO; VARANI; CARVALHO apud

GERALDI; FIORENTINI; PEREIRA, 1998).

Em outras unidades escolares, os prédios, aparentemente, são cuidados, dando

uma sensação de bom funcionamento. Há áreas destinadas às brincadeiras infantis, hall

de entrada para a realização de atividades da escola, como a culminância de projetos39,

espaços definidos de secretaria, diretoria, sala de professores, biblioteca, um pequeno

jardim e/ou horta, carteiras adequadas e em número suficiente.

Em uma delas, no bairro de Paripe, ao chegar para a aplicação do questionário da

pesquisa, estava ocorrendo o encerramento de um dos projetos da escola. Foi um

momento rico na vivência do cotidiano escolar, com os professores envolvidos no

projeto, os discentes ensaiando, organizando as atividades, interagindo entre si. As

crianças mostraram-se curiosas com a chegada de pessoas estranhas ao seu dia a dia e,

de forma muito acolhedora, respeitosa e aberta, levaram-me até as professoras do 5º

ano. Foi uma tarde muito especial e encantadora, que renovou meu olhar sobre a escola

pública soteropolitana. Isso não significa que lacunas ou tensões não habitem este

espaço. Mas, sim, que há uma escola que aparentemente prima pelo compromisso com a

aprendizagem-ensinagem de seus alunos.

Foi uma descoberta, perceber que existem em Salvador escolas que procuram ir

além do que está posto no imaginário das pessoas: prédios malcuidados, feios, sujos,

crianças que não têm futuro. Nesta pesquisa, olhei, ao mesmo tempo, para dentro e para

fora da escola, buscando um cotidiano que não fosse repleto somente de desesperança,

mas escolas que inspirassem os sonhos, pensamentos e ações de qualquer docente.

Mesmo, em menor número, estas unidades escolares existem. “Há os que atuam no

cotidiano da escola e que lutam por transformá-la em um tempo/espaço de troca, de

39 Culminância de projetos equivale ao momento de encerramento dos projetos.

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criação, de relações amorosas e solidárias, isto sim, anúncio de novos tempos”

(ALVES; GARCIA, 2001, p. 11).

A diversidade presente nas escolas públicas municipais de Salvador existe por

que, entre outras razões, são feitas por professoras que possuem sentimentos, que se

aborrecem, que vibram, que tomam decisões baseadas na razão e na emoção e são

autoras da história que se (re)cria a cada dia. Cada escola apresenta, individualmente,

uma realidade distinta, onde os sujeitos que as mantêm não desejam “propostas” que

lhes sejam impostas de fora para dentro, e de cima para baixo, mas que sejam propostas

construídas coletivamente, por meio do diálogo entre a academia, o Estado e a escola,

após as lacunas, as contradições e a precariedade das condições enfrentadas pelas

docentes serem conhecidas por todos os sujeitos envolvidos com as escolas públicas

municipais de Salvador.

A professora P35 deixou sua angústia evidente, ao narrar, no momento em que

respondia ao questionário, a situação de dois alunos com problemas psicológicos e/ou

comportamentais. A docente alegou não estar preparada para o trabalho com este

público, sentindo-se impotente para realizar a inclusão destes estudantes, na sala de aula

e na escola. Ao mesmo tempo em que demonstrava sua preocupação com a situação

apresentada, desabafou, pois esperava ansiosamente que os dois anos ainda restantes

para a sua aposentaria passassem rapidamente.

[...] Não há que se definir de fora com deveria ser a escola mas

aprender a olhar o que de interessante acontece no cotidiano escolar,

identificando fazeres e pensares emancipatórios inspirados por utopias

educativas e sociais histórica e coletivamente tecidas por todas e todos

que se engajaram/engajam na luta por mudar o mundo. (ALVES;

GARCIA, 2001, p. 10-11)

Uma situação destacou-se, entre outras, por ter proporcionado momentos de

constrangimento: em uma escola, as crianças precisam aguardar a abertura dos portões

na calçada estreita da entrada do prédio, situado em uma rua muito movimentada do

bairro do Cabula. Os portões abrem pontualmente no horário de entrar na sala de aula,

impedindo que as crianças tenham a oportunidade de viver o espaço da escola, mesmo

que este espaço seja inadequado.

Ao tentar investigar o motivo pelos quais as crianças precisam correr riscos

desnecessários de atropelamento, a equipe de pesquisa conseguiu chegar a um dos

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funcionários da escola, que pedindo para não ser identificado, afirmou que a ordem de

impedimento para a abertura dos portões antes do horário de aula, vem da gestão e das

professoras, que reclamam do barulho excessivo que as crianças fazem quando entram

na escola. Da mesma forma, quando ocorre o término das aulas, as crianças precisam

esperar os responsáveis por elas no portão, fora da escola, pois é o horário de almoço

das professoras, que solicitam “paz” e “silêncio”, neste momento.

São situações complexas apresentadas por alguns dos sujeitos que (re)fazem a

escola as quais apontam a existência de lacunas e deficiências nas escolas públicas

municipais de Salvador. Universos que não aparecem nos documentos oficiais dos

órgãos governamentais visto que o escondido nas dobras do dia-a-dia da escola não

chega à universidade e à sociedade em geral.

A Escola Municipal Luiz Anselmo não é muito diferente das demais escolas. O

prédio, apesar de limpo, é inadequado para o funcionamento de uma escola dos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental. Um exemplo da inadequação do edifício são as escadas

estreitas.

Fotografia 4

Imagem da escada de acesso ao 1º andar

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

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Fotografia 5

Imagem da escada de acesso ao 2º andar

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

Na cobertura do prédio, onde funciona a sala do 5º ano, não há redes de proteção,

que impeça uma criança de se debruçar por cima do pequeno muro de proteção, por

curiosidade de olhar para baixo.

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Fotografia 6

2º andar/ cobertura da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

A sala é pequena, quente e no final do turno vespertino é mal-iluminada pela

ausência de luz natural. Ao longo dos dias em que me dirigi à escola, caminhando e

observando seu entorno, indaguei-me sobre como aprender em situações de calor, falta

de luz e carteiras quebradas.

Fotografia 7

Sala das turmas do 5º ano da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

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Nesta escola, o espaço é exíguo e há apenas um pequeno hall, na entrada do

edifício, de dois andares, e um subsolo, onde funciona o refeitório.

Fotografia 8

Refeitório da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

Fotografia 9

Entrada da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

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Neste espaço pequeno, de aproximadamente três metros de comprimento por vinte

de largura, ocorrem as brincadeiras e os momentos de descontração das crianças que

precisam sair no intervalo, turma a turma, isoladamente. Uma turma sai para o intervalo

às 9:00h, quando esta retorna a sua sala de aula, às 9:20h, outra turma sai para o

“recreio”, e assim sucessivamente. As crianças, pela falta de espaço, não interagem e

não têm momentos de socialização, na escola, com os colegas de outras turmas, a não

ser nos momentos de entrada e saída do turno escolar.

Seu público é composto por crianças, desacreditadas quanto a seu futuro, em

alguns momentos, pelos docentes. Cecília relatou, em sua fala, suas percepções sobre as

relações entre a sua atuação, enquanto docente, e seus alunos, a escola e a comunidade.

A professora Cecília sente-se mãe de seus alunos e expressa uma sensação de

fracasso, pelo fato de não conseguir retirar todos do envolvimento com a violência e

com as drogas. Nacarato, Varani e Carvalho (apud GERALDI; FIORENTINI;

PEREIRA, 1998) realizam algumas reflexões acerca dessa sensação de desesperança:

A falta de mecanismos que possam efetivamente arbitrar com justiça e

imparcialidade as relações de convívio social tem dificultado o

trabalho pedagógico. Sabemos, no entanto, que muitos(as)

Na minha turma, eu gasto a minha voz, gasto o meu latim, falando e falando, e atinjo

alguns somente, em torno de 50% da turma. É uma briga desleal com a violência e as

drogas. A sensação é que a gente nada, nada, e morre na praia. Todo o entorno dessas

crianças é cheio de violência e drogas. Hoje, eu sou avó, pois tem minhas alunas de quinze

anos atrás, que hoje já são mães, em sua maioria. Eu vejo as meninas pararem de estudar

quando chegam no 6º e no 7º anos. Não passam muito daí. Hoje, a minha turma de 6º ano

tem vinte e seis alunos. Desses, eu não sei se dez terminarão o Ensino Médio, infelizmente!

Os meninos se perdem de um lado e as meninas de outro. É o que a gente vê todos os dias.

A cada ano, saem duas turmas da escola no 5º ano. A gente ainda mantém contato com

eles, no caminho de casa para a escola, ou então eles vêm, aqui na escola, e falam: – “Pró,

‘não sei quem’ perdeu o ano”; – “‘Não sei quem’ deixou a escola”; – “‘Não sei quem’

está grávida!” Eles mesmos trazem a notícia para a gente, e percebemos que poucos se

transformaram, mudaram de vida. Geralmente, quem mudou de vida, eram os

comprometidos na sala, que eram poucos. Que ficavam prestando atenção, engajados,

antenados, que liam um jornal, que assistiam um jornal, que tinham uma família que

acompanhava. Que a família tinha a responsabilidade em acompanhar os estudos, e trazia

para a escola não por causa do Bolsa Família, mas por querer que seus filhos fossem

melhores do que os pais. Tem várias mães que falam assim: – “Ela vem para a escola para

não ser igual a mim. Para não ficar sendo diarista, para não estar pelas ruas

desempregada”. Alguns pais têm essa noção. Outros não. (Cecília, 2014)

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professores(as) tentam lidar com essas questões de convívio diário por

meio de constantes negociações e renegociações com os estudantes.

Mas, isso acaba exigindo do docente dispêndio de muita energia.

(NACARATO; VARANI; CARVALHO apud GERALDI;

FIORENTINI; PEREIRA, 1998, p. 82)

As professoras não possuem um espaço específico para descansar e, no intervalo,

ficam na própria sala de aula ou se dirigem para a sala da direção, que funciona também

como secretaria da unidade escolar, caso haja alguma situação que precise ser resolvida.

Fotografia 10

Sala da Direção/Secretaria da Escola Municipal Luiz Anselmo

Fonte: arquivo pessoal da autora, 2015.

O planejamento de suas aulas, quando ocorre, é feito em suas residências, na

maioria das vezes, já que a Atividade Complementar (AC), momento dedicado ao

planejamento coletivo das atividades escolares, nem sempre acontece ao final de cada

semana de aulas.

4.1.1. Cecília convida para a aula de História

A primeira aula observada foi a de Cecília. Uma aula de Português, em

substituição à aula de História, que foi ministrada posteriormente, após o intervalo,

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naquele dia. Ao longo do período em que estive na escola, esta foi a única aula de

História ministrada com horário definido e livro didático. As demais observações foram

feitas em outras aulas, que trouxeram momentos onde os conceitos e temas da História

estiveram presentes, mesmo que de forma não intencional, por não ter sido uma

integração planejada, como nas aulas da disciplina de Língua Portuguesa e no

desenrolar de alguns projetos.

Na aula de Português, Cecília trabalhou com um texto do livro didático de Língua

Portuguesa, intitulado “A formação do povo brasileiro”, que trazia de forma sucinta a

contribuição do negro, do indígena e do europeu português para a constituição do

Brasil. Não foi uma aula planejada para ser interdisciplinar, articulando História e

Língua Portuguesa: “Eu poderia ter pensando em uma aula de História também, não é?

Mas, agora já passou!” (Cecília, 2014). Ainda assim, mesmo que de forma alheia a sua

vontade, alguns aspectos da História estiveram presentes, como a cultura, a dominação

do povo indígena, a escravização dos africanos.

Tourinho (2008), ao refletir sobre o planejamento, conclui que este é importante

para a criação do processo de trabalho por parte dos docentes, “[..] que lhe permita sair

do esquema viciado do conteúdo do plano de curso se limitar à sequência proposta pelo

livro didático e as atividades se limitarem aos questionários e às ‘pesquisas’ que

empobrecem e banalizam tanto o ensino de história” (TOURINHO, 2008, p. 25).

A autora defende ainda que o planejamento está sempre presente no cotidiano das

ações docentes, mesmo quando o professor não o formaliza por escrito. Entretanto, ao

mesmo tempo que Tourinho (2008) defende a importância do planejar, chama a atenção

do leitor para as armadilhas desta ação, pois, de forma concomitante a sua importância

para o desenrolar das práticas educativas, pode direcionar os professores para um só

caminho, sem olhar para as margens da estrada, ou para as demais vielas, ruas e

avenidas que surgem ao longo da trajetória docente, excluindo imprevistos e

acontecimentos que não foram considerados no momento do planejamento.

Segundo Kramer (1994), em alguns momentos, parece que há dois planejamentos:

um na cabeça do professor, e que se apresenta no dia a dia da sala de aula, e outro a ser

entregue à gestão da escola, às supervisões, à sociedade. Para este autor, “é como se

fosse assim: uma coisa é o planejamento e outra coisa é que você vai realizar de

verdade. É um negócio tão maluco que é difícil de entender” (KRAMER, 1994, p. 155).

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Há um consenso sobre a importância do planejar, mas há igualmente uma

ausência de planejamento formal. Ao perguntar às professoras sobre seu planejamento,

a resposta invariável era: “Não temos planejamento de aulas de História. Basta seguir

as habilidades do Diário de Classe”. Um fosso entre o reconhecimento de que é

necessário planejar e a existência real de um planejamento individual e/ou coletivo.

Neste mesmo dia, após o intervalo, Cecília convidou os discentes para a aula de

História. Neste momento, os discentes se expressaram animadamente, ao aceitarem o

convite, visto que fazia um tempo razoável que eles não tinham aula de História.

Contudo, alguns minutos depois, um dos alunos perguntou à professora se a aula seria

avaliada por mim, já que estavam sendo observados, ao que a professora respondeu que

não. Segundo Cecília, o objetivo da minha presença na sala de aula era ajudar a ela,

professora, a organizar uma aula melhor. Houve, visivelmente, um alívio, por parte dos

alunos, alívio este que se expressou em sua postura corporal, que se tornou mais

relaxada, diante da presença de um sujeito estranho em sua sala de aula.

A seguir, um armário de ferro, um pouco desgastado e enferrujado, foi aberto e

algumas edições do livro didático “Segredos da Bahia” foram retiradas e distribuídas

aos alunos. Posteriormente, solicitou-se às crianças que sentassem em dupla, já que não

havia livros suficientes para todos.

Antes da aula ter início, a professora explicou-me que o 5º ano tem dois livros

didáticos, “Segredos da Bahia” e “História da Coleção Buriti”, para serem trabalhados

durante o ano letivo. Em sua visão, é “Muito conteúdo para pouco tempo” (Cecília,

2014). Como, no ano de 2014, houve a Copa do Mundo de Futebol, no Brasil, e a

SMED havia enviado um Projeto sobre a Copa, Cecília contou os conteúdos do projeto

como aulas de História, já que precisou trabalhar com a História e os hábitos culturais

dos povos de cada país participante da Copa, sendo prioritário falar dos que jogaram

partidas de futebol na cidade de Salvador. Caso contrário, não teria como assinalar, no

Diário de Classe, os conteúdos ministrados na disciplina de História.

Ao iniciar a aula, Cecília solicitou que os alunos abrissem o livro “Segredos da

Bahia”, na página quarenta e quatro (44). Ao perceber que, nesta página, em específico,

havia mais imagens do que texto, pediu que os discentes avançassem para a página

quarenta e sete (47), que tratava da influência negra e indígena no Brasil, e realizassem

uma leitura silenciosa do texto. Com esta atitude, a professora demonstra que, para ela,

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o mais importante, no cotidiano da sala de aula, é a leitura da palavra escrita, em

detrimento da leitura de imagens.

Para justificar a escolha desta dinâmica de leitura, individual e silenciosa,

considerou a agitação das crianças, afirmando: “Se não for assim, não tem como

trabalhar”. Assim que as crianças iniciaram a leitura, de forma silenciosa, cabeça baixa,

aparentemente concentrados no texto, Cecília retirou-se da sala de aula, sem nada dizer.

Imediatamente, um dos alunos percebeu sua ausência e levantou-se para conversar com

outro colega do lado oposto ao que se encontrava. Pouco a pouco, todas as crianças

pararam suas leituras e iniciaram conversas, brincadeiras, risadas.

Alguns minutos depois, que pareceram uma eternidade, diante de uma sala com

um barulho ensurdecedor, Cecília voltou com outros exemplares do livro didático que

estava utilizando. Imediatamente, os alunos retornaram a seus lugares, para acompanhar

o desenrolar da aula. Após a distribuição destes exemplares para os alunos que estavam

sem o livro didático, a professora pediu que, ao ler, procurassem prestar atenção aos

costumes e à língua africanas, elementos presentes no texto, segundo ela.

Os discentes continuaram a leitura, de forma “silenciosa”, por mais alguns

minutos. Destaco que o silêncio se restringiu a não falarem tão alto, pois alguns leram,

outros leram durante alguns poucos minutos e outros ainda se dispersaram, desde o

início. Ao perceber que a técnica da leitura “silenciosa” não surtiu o efeito desejado,

Cecília chamou todos para uma leitura compartilhada, que é caracterizada pela leitura

em voz alta, de forma individual, de cada parágrafo do texto. Cada pequena parte do

texto foi, então, lida por um aluno indicado por ela.

À medida que a leitura “compartilhada” se desenrolava, Cecília interrompia para

fazer colocações, acréscimos, realizar explicações e responder às curiosidades das

crianças. Uma das perguntas que mais suscitou questionamentos foi de uma criança de

aproximadamente 11 anos. Roberto40 imediatamente perguntou, após a leitura de um

parágrafo que falava sobre os direitos indígenas: “Eles são liberados para desmatar as

árvores? Pois estudamos que não se pode derrubar as árvores!”

Levou um segundo para que Cecília respondesse que, se eles habitam a floresta e

precisam dela, eles derrubam as árvores. Não é questão de serem autorizados ou não,

mas de necessidade. Resposta descontextualizada, que demonstra uma imagem

40 Nome fictício utilizado para se referir à criança.

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estereotipada do indígena brasileiro, ao mesmo tempo transfere para a criança a

sensação de que estes sujeitos fazem o que querem, ao tempo que querem, sem seguir a

legislação vigente no país.

Temas como reservas indígenas, direitos indígenas quanto à posse da terra, as

condições em que pode ocorrer o desmatamento, os indígenas que habitam outros

locais, além das florestas, a aculturação indígena, o extermínio indígena do território

baiano, não foram considerados na resposta dada a Roberto, que indagou sobre a

autorização legal para a derrubada das árvores, por parte dos indígenas. A

homogeneização do pensamento referente às populações indígenas destacou-se no

discurso da professora.

Mesmo “contando a história da História”, a partir do livro didático, Cecília

explicitou muitas dúvidas sobre os costumes indígenas, sobre o tempo em que os fatos,

apresentados pelo manual didático, ocorreram. A certa altura da aula, indagou-me se os

indígenas comiam com talheres. Em um átimo de segundo, precisei decidir entre me

manter como observadora ou interagir com todos naquele momento. Optei pela

interação e falei que existem indígenas na atualidade que se alimentam de talheres, mas

outros ainda mantêm os costumes de seus antepassados, e se alimentam com as mãos,

hábito muito comum nas populações indígenas, principalmente no período referenciado

pelo livro didático, o século XVI, quando da chegada dos portugueses às terras

americanas.

Nesta aula de História, o tempo tratado pela professora foi sempre muito abstrato

e era referenciado como “naquele tempo” ou “tempos atrás”. O tempo, os séculos,

décadas e anos não foram trazidos para as crianças nesta aula. Não houve, igualmente,

uma localização dos acontecimentos em termos de espaço. Mesmo no texto que tratava

das cidades da Bahia, a professora não as localizou espacialmente, por meio de um

mapa, importante recurso didático usado nas aulas de Geografia, mas negligenciado nas

aulas de História.

Na leitura do parágrafo seguinte, as contribuições africanas para a cultura baiana

foram evidenciadas, permitindo que Cecília referenciasse os filmes Kiriku 1 e 2, o que

suscitou mais perguntas por parte das crianças sobre as histórias destes filmes. O

diálogo entre Cecília e seus alunos, a partir de então, centrou-se na alimentação,

especificamente no acarajé e no abará, alimentos herdados desta influência africana, e

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do seu preparo. Neste momento, uma menina participou muito da “conversa”, pois sua

mãe é baiana de acarajé.

Nesta aula de Cecília, ficou evidente a ausência de um conhecimento mais

profundo dos conteúdos e conceitos da História a ser ensinada. A curiosidade das

crianças não foi de todo estimulada, e somente foi atendida, em parte, de acordo com o

que foi posto pelo livro didático.

A História é pensada em sua perspectiva sacralizada e a visão que se

tem a respeito dos fatos históricos selecionáveis para o ensino no

segmento de 1ª. a 4ª. série nos remete às tradições curriculares

estruturadas a partir de fatos canônicos e de uma visão quadripartite

da História e de uma História do Brasil que não deixa de ter elos com

essa perspectiva linear e europeizante. (MIRANDA, 2007, p. 138)

Paradoxalmente, diante da ideia de uma história linear, causal, com início, meio

e fim, iniciada no 1º ano do Ensino Fundamental e encerrada no 5º ano, Cecília ensina

História “batendo papo” e “contando a história da História”. Trata-se de uma tentativa

de sair de um ensino cansativo e torná-lo prazeroso, leve. Como ela afirma, “mais

suave”.

Em suas aulas, a História linear está em constante embate com uma História

aprazível, numa tentativa de ir além de uma História “chata”, muito presente em suas

memórias, enquanto estudante da Educação Básica.

Em suas aparentes contradições, Cecília demonstra ser sujeito de seu tempo,

constituída em suas vivências e trajetórias, estudantil, profissional e pessoal. Com estes

A gente sempre bate-papo. Quando é aula de história, é contando a história da história,

algo mais suave e, eu vou completando em todos os anos. Eu comecei lá no primeiro ano,

com o Descobrimento do Brasil e, a cada ano, eu fui aumentando essa história. Aí, esse

ano, eles me disseram: mas isso a gente já aprendeu e você disse que era assim. E eles

mesmos completaram a história nesse final de ano. (Cecília, 2014)

Meu histórico não foi muito bom nas aulas de História, quando eu era aluna, achava um

porre. Tinha que ficar decorando datas e por isso, para mim, foi um ensino péssimo.

(Cecília, 2014)

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avanços e recuos, a docente torna evidente suas tentativas de romper com algumas

práticas arraigadas no ensino de História, como a memorização de datas

descontextualizadas e um ensino baseado em causas e consequências dos fatos

históricos, ao valorizar o contar a História, transformando-a em histórias a serem

narradas.

4.1.2. Maria convida para a aula de História

Em uma tarde ensolarada e calorenta de uma quinta-feira, dirigi-me até a escola,

como tinha feito nas últimas quatro semanas, sempre pela rua Luiz Anselmo,

observando as pessoas na rua, os mercadinhos cheios e a escola em pleno

funcionamento. Na minha chegada, cumprimentei o porteiro, que imediatamente me

permitiu o acesso ao interior da escola, visto minha presença já ter se tornado familiar

na instituição. Passei pela sala da direção, localizada no início do prédio, onde saudei

todos os presentes, e subi os dois lances de escada que separam o térreo da cobertura do

prédio, onde está a sala que abriga a turma do 5º ano.

Maria havia mudado de ideia e não ia dar aula de História naquela tarde. Contudo,

ao me ver, falou que ia voltar atrás, mais uma vez, e ministrar a aula desta disciplina,

considerando que não dava aulas de História, há um tempo considerável, e estava em

“dívidas comigo e com a disciplina” (Maria, 2014). Assim, a disciplina ganhou um

pequeno espaço, naquela tarde, em virtude da professora compreender que a aula

precisava ser ministrada, para poder ser observada. Questionei-me sobre os motivos de

tantas ausências da disciplina na sala de aula, semana após semana.

Fui apresentada à turma, perceptivelmente mais agitada do que a turma de Cecília.

Maria, antes da distribuição dos livros didáticos aos alunos, informou que, naquela

tarde, iriam estudar um pouco mais sobre a História do Brasil. Assim como na turma de

Cecília, a docente retirou os livros do mesmo armário enferrujado e gasto pelo tempo e

pelo uso, para distribuí-los pelas duplas formadas pelos alunos da sala. Se, pela manhã,

Cecília orgulhava-se, ao afirmar que não há distorções entre idade e série na sua turma,

pela tarde, Maria informava que há alunos mais velhos, fora da faixa etária, e repetentes

do 5º ano.

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Como havia muito tempo que a disciplina não era trabalhada em sala de aula,

iniciou fazendo uma “revisão” de tudo o que havia sido estudado nas aulas de História

até aquele momento. A “Chegada dos Portugueses”, o “Tratado de Tordesilhas” e as

“Capitanias Hereditárias” foram os primeiros assuntos da fala de Maria que, no

mesmo momento em que fazia várias indagações sobre os conteúdos, para as crianças,

já respondia a suas próprias perguntas, metodologia que dificulta a participação dos

discentes.

As falas foram repletas de lacunas e para minha surpresa Maria referiu-se à data

de chegada dos portugueses, como sendo em “1500 e alguma coisa”. Ao se reportar às

“Capitanias Hereditárias”, falou que duas tinham dado certo, não lembrava quais e

perguntou se eu sabia, e se poderia dizer quais tinham sido. Maria é uma professora que

assume não saber tudo, não sabe fingir diante dos alunos, assumindo conhecer certos

conteúdos de História. Esta postura revela uma forma de construir o conhecimento, que

pode ser interpretada como uma construção coletiva, visto que, diante do desconhecido,

assume o não saber e busca aprender com o especialista que, para a professora, domina

melhor o conhecimento histórico. Assim como tinha ocorrido na sala de Cecília,

interagi com a turma, respondi ao questionamento, e a aula prosseguiu.

Posteriormente, explicou aos alunos que, em um momento da história, “teve uma

guerra41 e a família real fugiu de Portugal e veio para o Rio de Janeiro” (Maria,

2014). Neste momento, a professora se reportou vagamente às transformações

ocasionadas por esta mudança na cidade do Rio de Janeiro, à abertura dos portos

brasileiros, ao comércio das nações amigas. Falou que estes acordos não satisfizeram a

todos os brasileiros, que queriam e lutaram por um Brasil independente, a exemplo de

Tiradentes. Após cada bloco de assuntos revisados, dirigia-se a mim e indagava se “era

aquilo mesmo”, procurando a aprovação da especialista na área, da professora de

História.

A seguir, o bonde da História dirigiu-se para D. Pedro I e a Independência do

Brasil. Para Maria, o Brasil somente se tornou independente, em 2 de julho, quando os

portugueses foram expulsos da Bahia. Percebe-se aqui uma ênfase na data cívica

importante no calendário baiano: a Independência da Bahia, em 2 de julho. Esta não é

vista pela professora como parte do processo de separação do Brasil colônia e sua

41 Esta Guerra seria a invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte, em retaliação pela não declaração de

apoio à França, por parte da coroa portuguesa, em relação ao embargo econômico francês à Inglaterra.

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metrópole portuguesa, que culminou na Independência do Brasil, mas, sim, como uma

data específica que, por ocorrer cronologicamente, quanto ao dia e mês, antes do 7 de

setembro, é vista como um acontecimento específico e isolado. Esta separação se faz

marcante, pela visão que se tem de uma História isolada, linear e causal, ainda muito

presente nos livros didáticos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, e no cotidiano

das escolas.

Maria não é a única professora a esquecer as datas, quando ministra aulas de

História, ou que não trabalha com outras temporalidades que não sejam as

temporalidades centradas nas datas cronologicamente apresentadas. As docentes se

“esquecem” ou não sabem que o tempo é o elemento fundamental para o estudo das

sucessões, das mudanças ocorridas nas diversas sociedades. Para o estudo das ações

humanas, das transformações e permanências ocorridos ao longo do tempo, é

indispensável a localização dos acontecimentos em um espaço-tempo e a História é a

disciplina que situa o aluno diante dessas rupturas e continuidades (HORN;

GERMINARI, 2006).

A temporalidade histórica é silenciada, e também esquecida, na aula que se segue,

sobre o Império brasileiro e a diferença entre a Monarquia e a República

presidencialista. Para Maria, a diferença entre estas duas formas de governo está em

haver uma família real, um rei, na Monarquia, e um Presidente ou “Presidenta”

(Maria), na República. Explicação simplista sobre as várias formas de governo que

existem ou já existiram no Ocidente. Após esta rápida explicação, a aula foi trazida para

o presente, quando a professora falou sobre as eleições que haviam ocorrido, no

domingo anterior, no Brasil, e que elegeram o Presidente da República, governadores,

uma parte dos senadores e deputados, federais e estaduais.

As crianças rapidamente se manifestaram, falando que sabiam o que era um

Presidente, que tinham ido votar, com seus pais ou avós. Em suas falas, reportavam-se

aos percentuais de votos nas eleições da Presidente Dilma Rousseff, do Partido dos

Trabalhadores (PT) e do candidato Aécio Neves, do Partido Social Democrata

Brasileiro (PSDB), notícia fresca, em plena efervescência das eleições.

Neste momento, Maria assumiu que não vinha acompanhando o jornal e, portanto,

não podia comentar a quantidade de votos de cada um dos candidatos e muito menos

sobre as eleições. Assim, rapidamente, mas de forma delicada, interrompeu a fala dos

alunos e retornou ao Império brasileiro, colocando que, naquele dia, a aula iria ser sobre

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o I Reinado de D. Pedro I, assunto do livro de História da Coleção Buriti, página

cinquenta e dois (52). Com esta atitude, a professora deixou escapar a chance de

aproveitar as informações trazidas pelas crianças para mobilizar vários outros temas e

problematizar assuntos como eleições, votos, disputas políticas, interesses políticos.

[...] é importante pensar tanto na natureza da informação que nosso

aluno é capaz de mobilizar quanto em sua condição de olhar sobre o

passado; mas, sobretudo, é fundamental avaliar o processo de

construção de sua capacidade de se posicionar de modo pertinente e

fundamentado em relação à problematização do presente e do futuro.

(MIRANDA apud GONÇALVES et al, 2012, p. 243)

Desconsiderando os interesses dos alunos, pediu que todos abrissem os livros,

faltando vinte minutos para que as aulas se encerrassem, e começou uma leitura em voz

alta do texto constante na página cinquenta e dois (52), do manual didático, sobre os

acontecimentos políticos do I Reinado de D. Pedro I. Parte da turma, ao ter o assunto de

seu interesse, as eleições presidenciais de 2014, esquecido e deixado para outro

momento, que talvez nunca tenha chegado, desviou sua atenção da leitura do livro

didático que Maria realizava.

Esta se tornou um ser quase invisível, aos olhos e interesses das crianças, que

queriam falar sobre os acontecimentos políticos de seu tempo. Pareciam querer

compreender melhor os motivos de tanto interesse da mídia televisiva sobre as eleições

daquele ano, de 2014. A partir deste momento, a aula prosseguiu automaticamente. Os

poucos alunos que continuaram com suas atenções focadas em Maria respondiam ao

que ela indagava, de acordo com o texto do livro didático, que trazia uma única visão

sobre os acontecimentos do I Reinado, o que dificultava a (re)construção de múltiplos

olhares do mesmo acontecimento, por parte das crianças. Para Miranda (2007):

[...] às crianças são dadas, usualmente, visões singulares do passado e

elas não têm sido ajudadas a compreender por que diferentes pessoas,

em diferentes tempos, criam diferentes interpretações que podem ser

mais ou menos válidas. Por essa razão, os conceitos de tempo e

mudança, motivo, causas e consequências, similaridades e diferenças

têm sido raramente desenvolvidos. [...] Ao contrário disso,

frequentemente, essas crianças têm sido solicitadas, desde bem

pequenas, a explanar descritivamente, de modo acrítico, fatos

relevantes, pessoas importantes, temas consagrados por uma

historiografia didática e, sobretudo, aspectos particulares de um

passado nem sempre capaz de produzir sentido para sujeitos históricos

que vivenciam o tempo presente. (MIRANDA, 2007, p. 80)

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Os acontecimentos percebidos por Miranda (2007), em Minas Gerais, também

foram percebidos em Salvador, no ano de 2014. A leitura estava se desenrolando há

aproximadamente vinte e cinco minutos, quando Maria lembrou que a data de 20 de

novembro estava chegando e que talvez eles fizessem a construção de uma linha do

tempo “crítica”, sobre a situação do negro no Brasil. Pareceu pensar alto, quando

direcionou seu olhar para o teto da sala de aula e disse: “Não me lembro qual o nome da

comemoração do 20 de novembro. Mas, depois verei isso” (Maria, 2014). Percebe-se

aqui o uso da linha do tempo como uma forma de organização e representação do

tempo. Oliveira (2006) afirma que as professoras dos Anos Iniciais fazem uso da linha

do tempo, como um dos principais marcadores de tempo. Contudo, nas atividades que

envolvem este marcador temporal,

[...] são priorizados os aspectos relacionados à sucessão, ordenação e

sequencia temporal, abordados a partir da matemática e com pouco

referência para a compreensão do tempo como criação e interpretação

do homem. [Não há indícios] que nos levem a interpretar que a

dimensão histórica e cultural do tempo é considerada. (OLIVEIRA,

2006, p. 86)

Intercaladamente à agitação e ao desinteresse de parte da turma para com a leitura

feita, havia uma pausa realizada por Maria, a todo momento, para que tentasse prender a

atenção de alguns alunos, chamando-os e falando da importância do silêncio para o

desenrolar da aula. Silêncio difícil de se conseguir e se manter, pois João brincava,

Paulo conversava e Ana saía de seu lugar para ir “mexer” com Paula, no outro lado da

sala. Os olhares se voltaram integralmente para a professora quando, ao ler um trecho

sobre a legislação do Brasil Império, Maria fez referências às leis do Brasil

contemporâneo e da necessidade de existência de uma legislação que regulasse a vida

em sociedade.

A professora, ao ter de volta a atenção da turma, falou sobre a Constituição

brasileira, do que se tratava esta lei, em linhas gerais, e fez uma relação com o livro “A

revolução dos bichos”,42 lido pela turma em aulas anteriores, para tratar da importância

e da necessidade de participação de todos na sociedade, garantida pela Carta

42 ORWELL, George. A revolução dos bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

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Constitucional. Mas, ao se reportar ao voto censitário, conceito trazido pelo livro

didático, perguntou-me do que se tratava, momento em que, mais uma vez, fiz uma

intervenção na aula e expliquei para os alunos a diferença entre o voto censitário e o

voto universal.

Após esta fala, a leitura foi encerrada e Maria pediu que, nos últimos instantes, os

alunos se reunissem em duplas para “resolverem os exercícios do livro referentes ao

capítulo do I Reinado” (Maria, 2014). As crianças, ansiosas pelo término da aula, em

parte sem sentido, em parte confusa e desinteressante, foram olhar as respostas no livro

da professora e as reproduziram em seus cadernos, copiando-as. Enquanto os alunos

procuravam responder, de forma aleatória as atividades, com a intenção de deixar o

tempo passar, a professora estava ao meu lado, sentada, conversando sobre suas

impressões, suas lacunas, e assumindo que, ao final da tarde, não consegue realizar um

fechamento adequado, pelo cansaço extremo em que já se encontra.

Maria enfatizou mais uma vez que não gosta do livro de História da Coleção

Buriti, adotado no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) pela escola, pois, como

não há livros para todos, os alunos precisam copiar do livro as perguntas e as respostas

para estudarem para a prova, já que o livro não é consumível, o que faz com que haja

uma demora muito grande em responder aos exercícios do manual didático,

considerando que, alguns estudantes, mesmo no 5º ano, ainda não sabem ler ou

escrever, adequadamente, e de forma autônoma. Alguns se encontram na fase silábica e

escrevem “copiando” as letras e as palavras.

4.1.3. Percepções sobre a História ensinada na Escola Luiz Anselmo no 5º ano

Ao longo das observações feitas nas salas de aula de Cecília e de Maria, foi

perceptível a pouca atenção dada à disciplina História. O saber histórico escolar não foi

valorizado:

[...] para além de sua dimensão institucional, o que significa dizer que

esse conteúdo prescinde, comumente, dos aspectos vinculados à

dimensão cognitiva e epistemológica da história, isto é, ao domínio de

métodos e procedimentos, à percepção da historicidade, à

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compreensão da temporalidade, às operações de datação e à

compreensão da cidadania. (MIRANDA, 2007, p. 140)

Na escola, a História é considerada hierarquicamente inferior a Língua Portuguesa

e Matemática, disciplinas exigidas nas avaliações externas, feitas pelos alunos

matriculados no 5º ano do EF. Para Miranda (2007), em pesquisa realizada sobre os

Anos Iniciais e o ensino de História, há uma posição residual do conteúdo histórico em

relação a áreas como Língua Portuguesa e Matemática, consideradas como prioritárias e

centrais ao trabalho pedagógico desenvolvido pelas docentes dos Anos Iniciais.

O baixo background ou conhecimento histórico das professoras fica evidente,

pelas dificuldades de relacionar o passado com o presente, nas datas esquecidas, mesmo

diante das que se referem a uma memória oficial, reafirmada pelos livros didáticos

utilizados, e não há uma familiaridade e um conhecimento básico dos assuntos trazidos

para a sala de aula. Maria considera, em suas reflexões, que as exigências da sociedade

e do Estado, referentes à leitura e à escrita, constitui-se apenas em uma desculpa para

não ministrarem aulas de História, por desconhecerem o conteúdo da História.

A professora Maria não se sente autorizada a ensinar o que não sabe e, portanto, a

saída encontrada é não lecionar História ou o fazer somente quando não há como fugir

da disciplina. Freire (2009), ao falar sobre a relação entre o ensino, o professor e o

conteúdo, observa: “o fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo

conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure a ensinar sem

competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que não sabe” (FREIRE, 2009, p.

30).

Reconheço que ensinar História, assim como qualquer outra disciplina, é

complexo e necessita da mobilização de vários saberes, parte dos quais não tem sido

notadamente trabalhada nos cursos de graduação ou nas formações continuadas feitas

pelas docentes. Para Monteiro (2007a) “o processo de ensino começa quando o

Na verdade, nós professores dos Anos Iniciais, nos aproveitamos das exigências para o

aprendizado de português e matemática, para que os alunos façam as avaliações externas,

ao final de cada ano letivo, para não darmos aula de História. Isto é uma desculpa. A

verdade é que não sabemos os conteúdos da História, não temos formação sobre isso.

Então é mais fácil não dar aula de História. (Maria, 2014)

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professor se aproxima do objeto a ser ensinado e se apropria dele, o que vai gerar sua

compreensão. É a partir dela que ele vai então elaborar e desenvolver o ensino”. (2007a,

p. 194)

Maria e Cecília necessitariam compreender como os conceitos da História

relacionam-se com os demais conceitos de outras disciplinas e áreas do saber.

Precisariam, para “além de compreender o conjunto de ideias a ser ensinado, [...]

compreender os objetivos educacionais envolvidos em sua ação” (MONTEIRO, 2007,

p. 194). Contudo, não é somente compreender objetivos e conteúdos, mas também

promover uma interseção entre conteúdo específico e os saberes pedagógicos,

transformando o conhecimento acerca do conteúdo em conhecimentos mais amplos e

poderosos, segundo as habilidades e competências almejadas e os conhecimentos

prévios que os discentes possuem.

Pimenta afirma que estes saberes não têm sido trabalhados, de forma integrada,

nos cursos de licenciatura, em específico na Pedagogia.

Na história da formação de professores, esses saberes têm sido

trabalhados como blocos distintos e desarticulados. Às vezes um

sobrepõem-se aos demais, em decorrência do status e poder que

adquirem na academia. Época houve do predomínio dos saberes

pedagógicos... Época em que a pedagogia, baseada na psicologia, se

constituiu como uma psicopedagogia. Outras vezes, foram as técnicas

de ensinar o foco da pedagogia, que, então, se constituiu em uma

tecnologia. Em outras épocas, assumiram poder os saberes científicos.

(PIMENTA, 2012, p. 26)

Ainda segundo a autora, nestes diversos momentos históricos, os saberes que

continuaram menos importantes, na ótica da academia, foram os saberes da experiência.

Em sentido contrário a essa opinião, Cecília considera-os como os mais importantes

para sua prática docente.

Quando eu não sei como ensinar um conteúdo, o que procuro fazer parte da minha

experiência. Comecei a trabalhar com eles, fazer trabalho de dupla, já tentei fazer um

trabalho em equipe, fazer pesquisa e aí foi assim, uma coisa incrível, na época da Copa.

Então, a gente tinha um projeto aqui na escola, onde cada turma iria trabalhar um país.

Como o tempo não dava para trabalhar todos, escolhemos alguns. E a minha turma ficou

com a Espanha. Cheguei na sala e falei: – “Olha! Vocês são quinto ano e não vão ficar

aqui pintando a bandeira da Espanha. Isso fica para o primeiro ano. Vocês vão

pesquisar sobre a Espanha”. (Cecília, 2014)

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Na continuidade do relato, Cecília narra que os estudantes ficaram muito

assustados, sem saber o que fazer, onde pesquisar, pois, nas residências de alguns deles,

não havia livros, revistas ou computador. Neste momento, interrompeu a sua narrativa,

sorriu de forma satisfeita, e continuou, referindo-se ao termo “experienciando”, ao

narrar uma de suas experiências em sala de aula, ao lecionar a disciplina História,

demonstrando, ao mesmo tempo, que sabe a importância de se desenvolver uma

pesquisa, em todas as suas etapas, para não haver uma reprodução dos textos existentes

na internet.

P22 em sua escrita traz igualmente a importância da experiência em sua prática

educativa.

Para Domingo e Ferré:

El saber pedagógico se compone de estas dos perspectivas sobre el

saber que hemos anotado. Tiene que ver tanto com el saber de la

experiencia práctica, como com el poso de sabiduría que va

Então eu falei assim: – “Vocês vão pesquisar no lugar que vocês mais gostam que é no

computador”. Alguns alunos prontamente se manifestaram afirmando que não possuíam

computador. Ao que eu retruquei: – “Ah, vocês vão para a lan house. Só que eu peguei e fiz

o roteiro com o que eu queria. Então, a primeira folha foi a capa, e eu fui ensinando passo a

passo, como eles iriam fazer a pesquisa. Tem que ter o índice, expliquei o que era o índice,

tem que ter o Hino da Espanha. E continuei no passo a passo. No final, daria umas dez

páginas, com tudo o que queria. Aí eu falei: – “Não aceito que me tragam pesquisas que

vocês imprimiram no computador. Porque eu quero tudo escrito. Só vou aceitar impresso se

for alguma figura, o resto tudo escrito. E dei quinze dias. Alguns tiveram problemas, acabei

orientando todos os trabalhos de novo, alguns tiveram que refazer, mas boa parte conseguiu

seguir aquele roteiro, mesmo com algumas lacunas e erros. Então, foi bem interessante. E a

gente vai experienciando, assim, na sala mesmo.(Cecília, 2014)

Não tive, na minha formação, nenhuma orientação específica para o ensino de História. O

que aprendi foi acertando e errando. (P22, 2015)

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conformando nuestra experiencia y que orienta el pensar y el vivir de

lo educativo. (DOMINGO; FERRÉ, 2013, p. 55)43

Segundo estes autores, o saber da experiência não diz respeito apenas a uma

interiorização de comportamentos e ações do cotidiano docente. Este saber da

experiência se desenvolve a partir da relação constituída entre ação e reflexão, que

permite o pensar sobre as decisões tomadas. O saber experiencial, imbuído de

subjetividade e sedimentado ao longo da vida docente, proporciona o abrir-se para o

novo e para o inesperado, e sempre está a esperar uma possibilidade para a prática

reflexiva.

Segundo Tardif, “os saberes experienciais não são saberes como os demais; são,

ao contrário, formados de todos os demais, mas, retraduzidos, ‘polidos’ e submetidos às

certezas construídas na prática e na experiência” (2011, p. 54). Foi a prática calcada em

suas experiências e vivências que permitiu a Cecília a percepção de fazer algo diferente

do usualmente atribuído à pesquisa, nas escolas da Educação Básica. Ao perceber que

havia um Projeto em andamento, na unidade escolar, que deveria ser posto em prática

também em sua sala de aula, procurou desenvolver uma pesquisa que não fosse cópia da

internet, mas que permitisse a busca, a seleção de informações, a organização do

material encontrado. Ao final, percebeu que foi bem interessante e por que não afirmar

bem-sucedida a vivência, quando, em sua felicidade, ao narrar aquele fenômeno, fez

referência, por duas vezes, que a maior parte da sua turma havia conseguido alcançar os

objetivos propostos.

4.2. A HISTÓRIA ENSINADA NO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA

CIDADE DE SALVADOR

A História que está sendo lecionada nas salas de aula do 5º ano do Ensino

Fundamental, na cidade do Salvador, será apresentada considerando-se a frequência de

realização das aulas desta disciplina, a sua forma de organização pelas professoras, a

43 “O saber pedagógico é composto por todos os demais saberes que possuímos. Tem a ver tanto com o

saber da experiências prática, como o conhecimento advindo da sabedoria que constitui nossa experiência

e orienta o pensar e o viver educativo.” ((DOMINGO; FERRÉ, 2013, p. 55)

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seleção e o planejamento dos conteúdos e como estes mesmos conteúdos são

ministrados.

4.2.1. A Frequência das Aulas de História

Nos questionários aplicados às respondentes, foi perguntado qual a frequência das

aulas de História no 5º ano: quantas vezes essa disciplina era trabalhada, com horário e

dinâmica próprias, na sala de aula, ao longo das semanas de aula. O resultado pode ser

observado no gráfico a seguir.

Gráfico 8

Fonte: elaboração da autora, 2015.

A análise destes dados nos fornece a impressão de que a disciplina História está

sendo regularmente ministrada no 5º ano do Ensino Fundamental, na cidade de

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194

Salvador, com a frequência mínima de uma vez por semana (46%) e uma média de duas

vezes (33%), ao longo dos cinco dias letivos que compõem uma semana de aulas. Vozes

dissonantes deste consenso existem, pois, as professoras assumiram que a disciplina é

ministrada apenas quando não há outros projetos ou demandas mais urgentes para

aquela semana (15%).

Maria e Cecília representam algumas das vozes que discordam dos números que

afirmam que a disciplina é ministrada, regularmente, seguindo o currículo prescrito pela

SMED. As professoras da escola Luiz Anselmo afirmam que as aulas de História

ocorrem somente quando é possível.

Fica a dúvida: se a disciplina não está sendo ministrada, quais os motivos que

levam as professoras, em número majoritário, a assinalar que a disciplina é trabalhada

regularmente? Uma inferência possível é que algumas professoras respondentes do

questionário assinalaram o que deveria estar acontecendo, segundo a Matriz Curricular

do Município ou aquilo que gostariam que ocorresse, segundo suas concepções

pedagógicas: uma aula de História ministrada regularmente todas as semanas. Segundo

a Matriz Curricular do Município de Salvador, a disciplina História possui quarenta

horas (40h), a serem ministradas em duzentos (200) dias letivos, distribuídos por

quarenta (40) semanas de aulas (Anexo 1), o que equivale a uma aula (1h/a) de História

por semana. A professora P16 responde, em seu questionário:

A gente tem toda a carga horária e a pressão do sistema em Língua Portuguesa e

Matemática. Temos projetos que vêm da Secretaria e temos os projetos da própria unidade

escolar. A maioria dos projetos é de Língua Portuguesa e Matemática. (Cecília, 2014)

A carga horária seria de duas aulas de História, durante a semana. Duas aulas de 50 a 55

minutos cada. Mas não é constante. A gente acaba atropelando o ensino de História, para

trabalhar o básico que é Português e Matemática. A gente até pode falar que ministra aula

de História, mas a verdade é que ninguém que eu conheço ministra ou sabe dar aula de

História. Eu mesma somente dei História neste ano [2014] umas cinco vezes, durante o

ano todo. (Maria, 2014)

A prioridade é dar Português, Matemática e Ciências. Porém, coloquei no horário duas

aulas, 1 x por semana, por considerar importante para os alunos o ensino da História do

nosso país e do mundo. (P 16, 2015)

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195

Outras explicitaram a existência das aulas de História e uma parte das

professoras afirmou que a disciplina é ministrada em decorrência da obrigatoriedade da

disciplina, no currículo oficial e no cronograma organizado nas unidades escolares pelas

coordenações. O não escrito abertamente nos questionários, por parte destas

professoras, é que, por iniciativa delas, a disciplina talvez não fosse ministrada ou fosse,

mas em uma frequência menor do que a que ocorre na atualidade. Nos dezessete

questionários em que as respondentes complementaram a resposta, somente em um

houve a sinalização de que a disciplina é ministrada por ser importante para a formação

da criança, o que remete à uma quase inexistente preocupação quanto ao aprendizado da

disciplina História por parte das crianças.

Tabela 3

Relação entre motivos e frequência de realização das aulas de História

Subcategorias Frequência Percentual %

Ocorre todas as semanas

por ser obrigatório

4 25%

Carga Horária determinada

pela Secretaria de

Educação

8 50%

Segue cronograma feito

pela escola

4 25%

Total 16 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Em nove (9) questionários, a grande carga horária das disciplinas de Português e

Matemática, disciplinas cobradas nas avaliações externas, como a Prova Brasil e o

Salvador Avalia, foi a principal razão pela qual a disciplina História não está sendo

ministrada, regularmente, no cotidiano da escola. Daí advém o fato do coletivo de

professoras atribuir, a estas áreas do conhecimento, uma grande importância para o

aprendizado da criança, em detrimento de outras disciplinas, como História, Geografia e

Ciências.

Cecília e Maria, em suas falas, referiram-se, recorrentemente, à pressão exercida

pela SMED para o alcance de bons resultados dos alunos nestas avaliações, no cotidiano

escolar. Cecília explicou o Salvador Avalia e explicitou suas percepções sobre esta

avaliação.

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Para Maria, as avaliações externas são o principal motivo pelo qual a língua

portuguesa e a matemática são as disciplinas mais exigidas, em detrimento de História,

Geografia e Ciências.

Estas avaliações denotam o controle externo existente na contemporaneidade

sobre o trabalho docente, que constitui um ponto de tensão no ambiente escolar. “[...] O

docente tem perdido progressivamente a capacidade de decidir qual será o resultado de

seu trabalho, pois este já lhe chega previamente estabelecido em forma de disciplinas,

horários, programas, normas de avaliação etc.” (ENGUITA, 1991, p. 48).

Nacarato, Varani e Carvalho refletem acerca da influência das avaliações externas

no desenrolar do trabalho docente:

[...] as avaliações externas tendem a se tornar uma camisa de força

para o docente, fixando-lhes os conteúdos a serem trabalhados em

cada série. Os docentes, ao prepararem o seu planejamento, vêem-se

diante de uma série de exigências, com múltiplas variáveis [...].

(NACARATO; VARANI; CARVALHO apud GERALDI;

FIORENTINI; PEREIRA, 1998, p. 90)

A exigência da SMED, em relação ao trabalho docente, voltado para a melhoria

dos índices nas avaliações externas, pautadas em Língua Portuguesa e Matemática,

proporciona uma paulatina diminuição na autonomia da ação docente, em sala de aula,

em relação a suas práticas educativas, à seleção dos conteúdos e às escolhas

metodológicas no processo de aprendizagem-ensinagem.

Seria um projeto de avaliação de primeiro ao nono ano, onde todas as escolas recebem as

avaliações de Língua Portuguesa, Matemática e Produção textual, elaboradas por uma

empresa de São Paulo, que foi contratada. Isso aconteceu em abril e aí a gente trabalhou

durante o ano, porque agora, em novembro, será a segunda avaliação, e novamente vai

ser cobrada a produção textual. Então, assim, a Secretaria está cobrando isso, além da

prova do IDEB, a Prova Brasil, que acontece nos anos ímpares. ACM Neto achou pouco e

agora a gente vai ter avaliação também nos anos pares, o Avalia Salvador. (Cecília, 2014)

Em nenhuma dessas avaliações, nenhuma delas contém História, Geografia e Ciências. É

sempre Português e Matemática. Então, a gente acaba focando demais no ensino da

Língua Portuguesa e da Matemática até por causa dessas avaliações exteriores. (Maria,

2014)

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Os processos de racionalização do trabalho do professor, a separação

da concepção e da execução não significam apenas uma dependência

dos professores em relação às diretrizes externas, mas este processo de

dependência externa se produz necessariamente ao preço da

coisificação dos valores e das pretensões educativas. (CONTRERAS,

2012, p. 212)

Esse processo é considerado, nas colocações de outros docentes, quando

observam que a História fica muitas vezes como “[...] apoio para o desenvolvimento”

(P 14) de Língua Portuguesa e Matemática ou que “perpassa por outras disciplinas”

(P22), o que foi confirmado por 18,51% das professoras, que afirmaram que a História é

ministrada de forma “interdisciplinar”. Entretanto, também foram apontadas outras

razões para a inexistência das aulas de História no dia a dia da sala de aula.

Tabela 4

Motivos da Ausência de regularidade das Aulas de História

Subcategorias Frequência Percentual %

Importância de Português e

Matemática

8 66,66%

Inexistência de livros

didáticos

1 8,33%

Material disponível para

impressão de material

didático

1 8,33%

Inexistência de sala

multimídia

1 8,33%

Ritmo lento dos alunos 1 8,33%

Total 12 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Em sua fala, Maria referiu-se, de forma recorrente, a esta preocupação com as

disciplinas de Português e Matemática.

Ao serem indagadas sobre por que a preocupação é tão aparente e marcante

nestas duas disciplinas (Português e Matemática), Cecília e Maria acrescentaram:

A gente tem essa agonia para querer que eles dominem o Português e a Matemática. [...] É

uma preocupação dos professores e também da rede, do município. E a gente tem hoje, se

não me engano, cinco avaliações externas, além das avaliações que acontecem dentro da

escola, todas com ênfase em Português e Matemática. (Maria, 2014)

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Oliveira (2006) assinala, em seus estudos, a percepção que as professoras dos

Anos Iniciais possuem, quanto ao objetivo deste segmento de ensino: ensinar a ler e a

escrever, a partir das aulas de Português. Em Salvador, esta preocupação aumenta, em

virtude dos resultados ruins obtidos na primeira etapa do Salvador Avalia, quando de

sua implantação, após a correção dos testes feitos pelos estudantes.

Cecília acrescenta, ainda, que o maior objetivo de toda a rede passou a ser a

melhoria dos índices no PROSA:44

44 Programa Salvador Avalia.

Eu acho que é uma questão de currículo, de organização mesmo do currículo. Que precisa

ser pensado. Eu acho que a dificuldade que eles [os alunos] têm, na base, do Português e

da Matemática, é muito grande e juntando essas duas coisas acaba acontecendo isto: a

ausência das outras disciplinas no dia a dia da escola. (Maria, 2014)

Na rede, a ênfase maior é em Língua Portuguesa e Matemática. Tanto que a carga horária

são seis horas semanais de Português e seis horas de Matemática e História e Geografia

só tem uma hora. A gente estava fazendo essas contas na semana passada. E as cobranças

e as avaliações externas são todas em Língua Portuguesa e Matemática. Ninguém se

lembra de História e Geografia. Ciências até tem mais aulas, são quatro horas semanais e

a História e a Geografia pouco se fala. (Cecília, 2014)

A gente aplicou as provas para os alunos, envelopou e enviamos para São Paulo. Lá houve

a correção de todas as avaliações e deram o feedback, aluno por aluno, para os

professores. Foi algo inédito. Deram os resultados da turma, da escola e dos alunos.

Habilidades que os alunos têm ou não e aí ficou comprovado que os alunos da rede não

sabem praticamente construir textos. (Cecília, 2014)

A gente tem o AC quinzenal, com duas especialistas de Língua portuguesa e de

Matemática, e elas estão trabalhando conosco, em cima da melhoria dos índices de leitura

e operações matemáticas, para a gente poder trabalhar melhor com os alunos, porque o

PROSA vem aí. Vamos todo mundo batalhar. (Cecília, 2014)

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Ao contrário do que Freire (2009) considera como a leitura do mundo, em

consonância com a leitura da palavra, as docentes entendem, por aprender a ler e a

escrever, a decodificação/codificação de letras e não de (con)textos, o que é confirmado

na fala de Cecília. Ao ser indagada se seria possível trabalhar com a alfabetização, nas

demais disciplinas básicas do currículo, a exemplo da História, pensa um pouco, solta

uma leve risada e afirma:

4.2.2. A organização das aulas de História

Ao serem indagadas se a disciplina História é ministrada de forma isolada, com

horário e conteúdos próprios, ou se é ministrada de forma interdisciplinar, junto a outras

disciplinas da base curricular comum, respostas aparentemente contraditórias surgiram:

59% das respondentes assinalaram positivamente para a autonomia da História diante de

outras matérias do 5º ano.

Gráfico 9

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Eu acho que poderia trabalhar com elas. A partir delas, talvez não. Assim, a nossa clientela

é um pouco deficiente. Então, precisa haver um tempo maior de alfabetização na linguagem

escrita, para depois esse aluno poder caminhar. (Cecília, 2014)

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200

Uma das professoras acrescentou que a disciplina era ministrada de forma isolada,

antes das professoras reservas. Estas professoras surgiram no ano de 2015, para

substituírem as docentes regentes em seu dia de reserva pedagógica, a ser dedicado a

formação e estudos. As professoras reservas substituem, em média, cinco professoras,

numa determinada escola, independente da série em que atuam. Pode-se inferir, a partir

da escrita de P16, que, em algumas escolas, a disciplina História foi acomodada no dia

da reserva da professora regente e passou a ser de responsabilidade da docente reserva.

Diante da segunda indagação, sobre a integração da História a outras disciplinas,

74% das respondentes afirmam que sim, que a História é ensinada de forma

interdisciplinar. Contudo, um dado até curioso aparece: vinte docentes (37,03%)

colocam que a disciplina é ministrada de forma isolada e interdisciplinar, ao mesmo

tempo. Não deram maiores pistas para os motivos dessas respostas, aparentemente

contraditórias. Talvez as docentes se refiram ao fato de, em alguns momentos,

ministrarem de forma isolada a disciplina e, em outras ocasiões, de forma

interdisciplinar, principalmente inserida nos projetos enviados pela SMED ou

desenvolvidos pelas coordenações de cada unidade escolar, ou, ainda, de modo

integrado à disciplina Geografia.

Gráfico 10

Fonte: elaboração da autora, 2015.

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201

Esta pesquisa não focaliza o estudo da interdisciplinaridade no currículo dos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental, entretanto, pode-se inferir que talvez os professores

ainda concebam uma prática interdisciplinar, baseada na intuição e na justaposição de

conteúdos. “No Brasil [...] o número de projetos educacionais com a palavra

‘interdisciplinar’ em seus títulos tem crescido dramaticamente. No entanto, muitos

surgem como intuição ou modismo, sem regras ou intenções claras” (KLEIN apud

FAZENDA, 1998, p. 119).

A fala de Cecília confirma a percepção de Klein (1998), quando, em um

determinado momento, aproveitou um projeto que, em sua ótica trazia alguns conteúdos

da disciplina História, para assinalar no Diário de Classe o alcance de algumas

habilidades, por parte das crianças, pois não tinha ministrado a disciplina História

naquele bimestre. Não houve uma intenção e uma práxis interdisciplinar, por parte de

Cecília, mas sim um aproveitamento de uma situação para que alguns conteúdos da

disciplina História fossem considerados como se tivessem sido ministrados e,

consequentemente, certas habilidades alcançadas.

Maria assume que não consegue fazer a interdisciplinaridade em suas aulas e

acrescenta que este desconhecimento, essa limitação, não é exclusividade sua, mas dos

professores da rede pública municipal de Salvador.

Pensar e agir interdisciplinarmente é possibilitar a integração das diferentes áreas

do conhecimento, na contemporaneidade, que deve ser considerada no cotidiano

escolar, segundo Ciampi (apud TOLEDO, 2011).

O século XXI traz consigo uma nova forma de viver e pensar, é um

momento crítico do processo de mudanças das práticas educativas. As

dificuldades são, talvez, maiores do que as soluções. Para superá-las

precisamos começar a pensar e agir pelo princípio da

inter/transdisciplinaridade, ligado à ideia de uma interação –

negociação ética e política entre as diferentes áreas de conhecimento –

e não a uma mera justaposição de conteúdos disciplinares. Ampliar os

horizontes disciplinares pode nos ajudar a reencontrar o sujeito e a

traduzir um novo momento da história ante a exigência indispensável

A gente ainda não consegue fazer essa interdisciplinaridade da História com as aulas de

Língua Portuguesa, da História com a Matemática. Eu acho essa carência muito grande

nos professores, na formação dos professores municipais. (Maria, 2014)

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202

de interligações entre as áreas do conhecimento. (CIAMPI apud

TOLEDO, 2011, p. 52).

Entretanto, no cotidiano da sala de aula, a intencionalidade, a práxis

interdisciplinar não é planejada por parte das professoras do 5º ano, mas surge a partir

das oportunidades que se apresentam, como forma de conseguir ministrar todos os

conteúdos necessários para que as habilidades listadas nos Diários de Classe sejam

“alcançadas”.

4.2.3. Os conteúdos e o planejamento da disciplina História

Em relação ao período de planejamento das aulas de História, as respostas das

professoras são apresentadas na tabela a seguir.

Tabela 5

Período do Planejamento das aulas de História

Subcategorias Números Percentual %

Princípio do ano 4 7,40%

Início dos bimestres ou

trimestres

31 57,40%

Início dos semestres 1 1,85%

Ao longo do ano 16 29,62%

Nulo 2 3,70%

Total 54 100%

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Para a metade das respondentes, o planejamento ocorre de forma coletiva,

juntamente com as outras professoras e a coordenação da escola.

Tabela 6

Forma de planejar as aulas de História

Categorias Números Percentual %

Sozinhas 17 31,48

Coletivamente, com outros

professores e coordenação

27 50%

Exclusivamente com a 6 11,11%

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203

coordenação

Coletivamente, com outros

professores, mas sem a

coordenação

3 5,55%

Em alguns momentos,

sozinhas; em outros, de

forma coletiva

1 1,85%

Total 54 100%

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Ao se analisar a tabela acima, percebe-se que para 55,55% das professoras o

planejamento é feito de forma coletiva, o que caracteriza este momento como

importante para a troca de experiências e a integração dos saberes, no cotidiano da

escola (TARDIF, 2011). No momento do planejamento coletivo, as docentes

mobilizam saberes práticos, saberes de suas experiências, saberes curriculares e saberes

profissionais, a fim de selecionar, organizar os temas/conteúdos da história a ser

ensinada.

Sua integração e sua participação na vida cotidiana da escola e dos

colegas de trabalho colocam igualmente em evidência conhecimentos

e maneiras de ser coletivos, assim como diversos conhecimentos do

trabalho partilhados entre os pares, notadamente a respeito dos alunos

e dos pais, mas também no que se refere a atividades pedagógicas,

material didático, programas de ensino, etc. (TARDIF, 2011, p. 61)

O momento do planejamento é um tempo de socialização dos saberes

constituídos, mas também um momento de reconstituição dos saberes já existentes e de

composição de novos saberes, mesmo que estes momentos coletivos ocorram em

períodos pontuais, descritos por 66,66% das professoras. Somente 29,62% das

professoras pesquisadas assumem que o planejamento é constante, contínuo e ocorre ao

longo do ano letivo. A importância do planejamento é consenso entre as respondentes,

mesmo que nem sempre ele aconteça, o que pode ser atribuído também ao fato da

disciplina História não estar sendo ministrada regularmente. Dados coerentes, pois não

se planeja o que não se ensina, e vice-versa.

Maria, em sua fala confusa sobre o período de planejamento, leva ao

questionamento da existência de um planejamento que consubstancie suas práticas

educativas, nas aulas de História.

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204

As docentes foram indagadas, ainda, sobre quais aspectos eram considerados no

momento de seu planejamento, a partir de uma escala de importância, com seis itens,

que deveriam ser ordenados, segundo os valores atribuídos (1 a 6): do menos importante

(1) para o mais importante (6).

Tabela 7

Fontes e Aspectos considerados no Planejamento das Aulas de História

Subcategorias Valores

Objetivos da

escola para

cada ciclo

1 2 3 4 5 6

F45 % F % F % F % F % F %

4 7,84% 7 13,72% 6 11,76% 11 21,56% 10 19,60% 13 25,49%

Planejamento

da SMEC

1 2 3 4 5 6

F % F % F % F % F % F %

6 11,76% 8 15,68% 15 29,41% 9 17,64% 6 11,76% 7 13,72%

Habilidades a

serem

desenvolvidas

listadas nos

Diários

1 2 3 4 5 6

F % F % F % F % F % F %

9 17,64% 3 5,88% 1 1,96% 5 9,80% 6 11,76% 27 52,94%

Objetivos da

disciplina de

História

1 2 3 4 5 6

F % F % F % F % F % F %

5 10% 4 8% 9 18% 12 24% 15 30% 5 10%

Conteúdos

listados no LD

do PNLD

1 2 3 4 5 6

F % F % F % F % F % F %

6 12% 10 20% 6 12% 7 14% 9 18% 12 24%

Conteúdos

listados no LD

de preferência

da professora

1 2 3 4 5 6

F % F % F % F % F % F %

17 33,33% 5 9,80% 4 7,84% 8 15,68% 8 15,68% 9 17,64%

Fonte: elaboração da autora, 2015.

45 F = frequência.

A gente faz um planejamento no início do ano, que é o planejamento bimestral. Aliás, no

início de cada semestre, a gente faz um planejamento do bimestre que a gente vai

trabalhar, em cada disciplina, e os conteúdos que a gente vai trabalhar, a metodologia que

vai usar. Quais os objetivos que a gente quer alcançar. Além disso, tem os planejamentos

semanais, além dos bimestrais e, aí, nesse momento, a gente elenca os conteúdos da

História, a partir das habilidades e competências que a rede pede para a gente fazer um

trabalho. (Maria, 2014)

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205

Ao partir dos dados da tabela acima, percebe-se que 52,94% das professoras

afirmam que as habilidades listadas no Diário de Classe correspondem ao aspecto mais

considerado, quando a aula de História é planejada. As falas de Cecília e Maria

reafirmam esta colocação, quando narram que a seleção dos conteúdos, no momento do

planejamento, ocorre a partir das habilidades explicitadas nos Diários, as quais advém,

supostamente, das Diretrizes Curriculares do Município.46

Outro aspecto muito considerado no planejamento das aulas da disciplina História

foi destacado por algumas docentes: os objetivos gerais para o ensino do 5º ano

(25,49%), de acordo com as habilidades e competências a serem desenvolvidas pelas

crianças, na faixa etária dos 10 aos 12 anos. Em nenhum momento, salientam a

liberdade de escolha, quanto aos conteúdos, no momento do planejamento. Ao

contrário, nas falas e escritas das professoras, sobressai a autonomia controlada que

prevalece, em seu cotidiano escolar.

Não há um leque de opções, quando da escolha dos conteúdos para as aulas de

História, pois precisam seguir as habilidades previamente listadas em seus Diários de

Classe, em virtude da mentalidade tecnocrática que permeia a cultura escolar, no tocante

ao papel das professoras. Para Contreras (2012), ao refletir acerca dos valores da

educação e das expectativas do trabalho docente:

[...] a importância de dois conjuntos de valores presentes na cultura da

instituição escolar, por sua grande influência no modo com que os

professores configuram seu papel. Estes são o valor do serviço público

concedido ao ensino e a mentalidade tecnocrática sob a qual se

46 Acentua-se “supostamente”, pelo fato deste documento não estar disponibilizado para consulta pública,

por parte da SMED.

Na verdade, a seleção dos conteúdos é em cima mesmo das competências e habilidades.

(Maria, 2014)

Nós trabalhamos com habilidades. Então, a cada ano, a caderneta muda e a habilidade

muda também. É assim... A gente tem que preencher na caderneta as habilidades

alcançadas. E em História são todas com enfoque em África. (Cecília, 2014)

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concebe o funcionamento da escola. O valor do serviço público está

vinculado à ideia do ensino como uma missão [...] encomendada aos

professores pela sociedade sob a representação do Estado, segundo a

qual os professores devem zelar pelo desenvolvimento moral e

intelectual dos mais jovens. Na prática, esta missão vem estabelecida

pela definição de seu papel como servidores do Estado [...], pelo que

se espera que realizem seu trabalho de acordo com as metas da

instituição escolar fixadas a partir da regulamentação e controle

administrativo. A mentalidade tecnocrática, [...] vem fixada a partir de

formas burocráticas pelas quais se estabelece a regulação do ensino,

de suas metas e procedimentos, legitimada em modos de

racionalização que se apresentam com um aval científico.

(CONTRERAS, 2012, p. 166)

Para 24% das professoras é o livro didático (LD), existente na escola e escolhido

pelo PNLD, a fonte mais importante para a seleção dos conteúdos, no momento do

planejamento. Maria e Cecília reforçam esta percepção, quando narram sobre a

importância do livro didático para as professoras do 5º ano do E.F.

Em outro momento de sua fala, Maria reafirma, em sua narrativa, a importância

do livro didático (LD).

Aí, sempre que possível, a gente pode estar utilizando o livro para aquele conteúdo.

Quando não é possível, a gente tem que correr atrás ou não dar a aula. De todo jeito é um

problema. A gente, primeiro, vai ao documento que é esse currículo e escolhe, elenca o

conteúdo que vai trabalhar. A partir desse conteúdo, eu busco no livro didático alguma

coisa relacionada a isso. (Maria, 2014)

Eu procuro lá no livro didático e vou separando o que eu vou trabalhar ou não. (Cecília,

2014)

Me deixa falar sobre outra coisa que acho que é importante. A questão do livro didático.

No ensino de História, a gente acaba se prendendo ao livro didático, como eu já falei. Mas

esse livro didático, no geral, está longe do que a gente precisa. São livros produzidos em

outros lugares. Então, eles não trazem quase nada sobre a cultura do povo baiano, do que

a gente aqui precisa para trabalhar e do que pede nas competências e habilidades que o

município traz para a gente. Isto proporciona o aumento do nosso trabalho, pois já que ele

não traz a realidade local, a gente precisa ficar procurando em outros livros e fazer

apostilas. É complicado! E para quem não é conhecedor da disciplina, então! Ave Maria!

(Maria, 2014)

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Segundo Monteiro (2009), uma das funções do LD, na cultura escolar, é a função

referencial chamada de curricular ou programática. No contexto das escolas municipais

da cidade de Salvador, o LD, segundo as percepções das professoras, não se configura

como o fiel tradutor das orientações curriculares, mas, sim, como um importante suporte

para a escolha dos conteúdos de História ministrados no 5º ano.

Os conteúdos eleitos pelas docentes, a partir das habilidades do Diário de Classe,

não estão integralmente contidos nos LD existentes nas unidades escolares,

provenientes do PNLD, conforme relatos de Cecília e Maria, o que não impede que

parte considerável das professoras da rede o utilizem como referencial importante na

organização de suas aulas de História.

Função referencial, também chamada de curricular ou programática,

desde que existam programas de ensino: o livro didático é então

apenas a fiel tradução do programa ou, quando se exerce o livre jogo

da concorrência, uma de suas possíveis interpretações. Mas, em todo o

caso, ele constitui o suporte privilegiado dos conteúdos educativos, o

depositário dos conhecimentos, técnicas ou habilidades que um grupo

social acredita que seja necessário transmitir às novas gerações.

(CHOPPIN, 2004 apud MONTEIRO, 2009, p. 186-187)

Os Diários de Classe (Anexo 2) trazem as habilidades, relacionadas aos conteúdos

atitudinais, conceituais e procedimentais, a serem alcançadas pelos alunos, nas aulas de

História no 5º ano, separadas pelos eixos: deslocamento populacional; organizações e

lutas de grupos sociais e étnicos; organizações políticas e administrativas urbanas;

organização histórica e temporal.

Estas habilidades, segundo conversas informais com algumas docentes do 5º ano

da Rede Municipal de Salvador, são uma versão “adaptada” dos objetivos existentes nos

PCN de História, voltados para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Oficialmente, o

currículo do município segue as Diretrizes Pedagógicas, documento indisponível para

consulta pública, por estar “desatualizado”, segundo a SMED. Nas falas e escritas das

docentes, o que é recorrentemente lembrado são as habilidades listadas nos Diários. Os

PCN são lembrados em parte e as Diretrizes são desconhecidas. As professoras sabem

de sua existência, mas não demonstram familiaridade ou conhecimento do conteúdo

desde Documento.

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208

Para que os estudantes desenvolvam as habilidades listadas a seguir, os conteúdos

precisam estar mais voltados para as atitudes e valores, os chamados conteúdos

atitudinais:47

Quadro 5

Habilidades voltadas para os conteúdos atitutinais

Eixo Habilidades

DESLOCAMENTO

POPULACIONAL

Diferencia elementos da cultura do migrante nas regiões por onde

passa, dos elementos próprios da cultural local.

Relaciona a história da cultura africana com a formação do povo

brasileiro (aspectos étnicos, sociais, culturais e econômicos).

Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÕES E

LUTAS DE

GRUPOS SOCIAIS

E ÉTNICOS

Demonstra senso crítico através de questionamentos sobre as

identidades: racial, de gênero, cultural, política, de classe e de

regionalidade.

Compara as lutas quilombolas, dos índios e dos sem-terra, e outros

movimentos sociais da atualidade, identificando pontos divergentes e

comuns.

Expressa opinião sobre o Movimento dos Sem-Terra e da política

agrária, citando pontos de confronto entre eles.

Identifica algumas das reivindicações mais importantes dos

quilombolas, dos índios e dos sem-terra.

47 Acerca da aprendizagem dos conteúdos atitudinais, procedimentais e factuais ou conceituais, ver

Zabala (1998).

Então, fora as habilidades, tem os Parâmetros Curriculares, tem [neste momento esquece o

nome do documento e fica vários segundos tentando lembrar]... Ah esqueci! Desde o início,

estou tentando lembrar o nome desse documento e não consigo. Mas é assim, as habilidades

e competências já vêm listadas no diário e vieram desse documento que é um referencial e

não lembro o nome. Vou ficar lhe devendo o nome desse documento. Mas vêm dele. Foi de

lá que foram retiradas as competências e habilidades que foram colocadas ali nesses

diários. (Maria, 2014)

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Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÕES

POLÍTICAS E

ADMINISTRATIVAS

URBANAS

Valoriza o patrimônio histórico de sua localidade, reconhecendo a

importância de sua preservação.

Destaca o papel do poder público local, na organização e

administração das cidades, nos diferentes tempos históricos.

Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÃO

HISTÓRICA E

TEMPORAL

Reconhece que o trabalho gera riqueza para o país, mas quando esta é

mal distribuída, gera fome e pobreza.

Fonte: elaboração da autora, 2015.

São oito habilidades a serem desenvolvidas, ao longo do ano letivo, importantes

para 20,37% das professoras. Para estas, os conteúdos atitudinais que desenvolvem

valores e atitudes nas crianças são os mais considerados, quando do planejamento de

suas aulas de História. Relacionadas aos conteúdos procedimentais têm-se as seguintes

habilidades, importantes para 12,96% das professoras do 5º ano.

Quadro 6

Habilidades voltadas para os conteúdos procedimentais

Eixo Habilidades

DESLOCAMENTO

POPULACIONAL

Localiza em mapas as áreas onde há maior incidência do processo

migratório.

Descreve e representa através de desenho o trajeto de alguns povos

migrantes.

Localiza em mapas o continente africano.

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Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÕES E

LUTAS DE GRUPOS

SOCIAIS E

ÉTNICOS

Constrói linha de tempo, situando a presença desses grupos étnicos e

sociais ao longo da história.

Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÕES

POLÍTICAS E

ADMINISTRATIVAS

URBANAS

Interpreta gráficos que representam a densidade populacional local,

em diferentes épocas.

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Os conteúdos conceituais que dizem respeito aos conceitos a serem aprendidos-e-

ensinados na disciplina são importantes para 29,62% das professoras do 5º ano das

escolas públicas municipais da cidade de Salvador, sendo considerados importantes, na

visão das professoras, para o desenvolvimento das habilidades listadas a seguir.

Quadro 7

Habilidades voltadas para os conteúdos conceituais

Eixo Habilidades

DESLOCAMENTO

POPULACIONAL

Reconhece o contexto histórico das migrações passageiras.

Diferencia elementos da cultura do migrante, nas regiões por onde

passa, dos elementos próprios da cultural local.

Identifica a formação e os costumes do povo africano.

Analisa a forma como os africanos se organizavam para produzir,

festejar, celebrar, comer, morrer, remetendo-se às ancestralidades.

Analisa os fatores que ocasionaram o deslocamento da população

africana para o território brasileiro.

Identifica a origem da população que compõe a população local,

enfatizando o contexto histórico de fixação no local e suas

motivações.

Contextualiza o processo de deslocamento dos grupos de migrantes

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(europeus e asiáticos, nos séculos XIX e XX), seu modo de vida,

motivo do deslocamento e inserção nas atividades econômicas

nacionais.

Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÕES E

LUTAS DE GRUPOS

SOCIAIS E

ÉTNICOS

Identifica os grupos que ficaram à margem do discurso histórico:

negros, índios, mulheres, idosos etc.

Identifica os movimentos de resistência dos negros (colônia e

império).

Identifica as localidades remanescentes de quilombos, na cidade de

Salvador e no Estado da Bahia.

Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÕES

POLÍTICAS E

ADMINISTRATIVAS

URBANAS

Percebe as transformações (econômicas, políticas e sociais)

ocorridas nas cidades, enquanto sedes do governo, ressaltando

causas e consequências.

Percebe o crescimento ou estagnação de sua localidade,

comparando com os índices de desenvolvimento atual.

Eixo Habilidades

ORGANIZAÇÃO

HISTÓRICA E

TEMPORAL

Relaciona semelhanças e diferenças entre a pecuária dos tempos da

colonização e atualmente.

Fonte: elaboração da autora, 2015.

Para Silva e Fonseca:

O currículo é entendido como um campo de relações e intenções

sociais, políticas, econômicas e culturais, é parte constitutiva do

contexto produzido e produtor de relações, de saberes e práticas

escolares. Assim, discutir o que ensinar e como ensinar história é

refletir sobre currículo. É conhecer contextos e lugares de sua

(re)constituição. (SILVA; FONSECA, 2007, p. 49)

Considerando-se a citação acima, percebe-se que, apesar de existirem alguns

avanços no currículo do 5º ano, como dividir as habilidades por eixos temáticos, o

estudo da História local, a partir das vivências dos povos negros, indígenas e sem-terra,

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os diversos aspectos do estudo da História, econômicos, sociais, culturais e políticos,

fica evidente, em algumas habilidades, a concepção linear da História, composta por

causa e efeito, de acordo com a teoria de explicação intencionalista,48 elaborada por

Von Wright (1971 apud CARRETERO, 1997).

Orientações mais cuidadosas sobre as diversas temporalidades históricas,

necessárias à contextualização das localidades, em variados tempos cronológicos, sendo

consideradas em sua multiplicidade, não estão evidentes nas habilidades (HORN;

GERMINARI, 2006). “A noção de tempo, conforme Piaget (1987) não é inata ao

homem. Ela surge e se desenvolve por interiorização gradativa, na criança [...]”

(MEINERZ, 2001, p. 55). Mesmo não trabalhando o tempo, em sua multiplicidade,

Maria reconhece a importância de trabalhar este conceito.

Para Miranda (2007, p. 245), o desenvolvimento da consciência temporal é

importante, vinculando-se “fortemente, à experiência e à percepção da mudança. Nesse

sentido [...] tomar consciência do tempo pressupõe experimentar ou viver outra

consciência, a de que, na relação com a continuidade da vida, ‘há coisas que foram, mas

que já não são mais’”.

A lacuna do trabalho com o tempo não está presente somente no currículo, mas

também é fruto da atitude de parte de algumas professoras, a exemplo de Cecília, que

não tem boas recordações de seu tempo de estudante, quando as datas precisavam ser

“decoradas” e não eram trabalhadas de forma significativa para a criança. Assume que,

por ser uma deficiência sua, prefere não trabalhar com as datas, como uma forma de

romper com o ensino de História “chato”, que marcou a sua trajetória escolar como

aluna.

48 No modelo de explicação teleológica ou intencionalista, “[...] para poder explicar um fato histórico,

inicialmente, partimos de uma ação já realizada por um sujeito. [...] Posteriormente, construímos um

argumento prático baseados nos motivos e crenças do agente para poder explicar essa ação”.

(CARRETERO, 1997, p. 58)

Hoje eu vejo as questões das datas de outro ângulo. A questão de você se situar no tempo,

historicamente. Eu acho que se compreende melhor o que aconteceu, os acontecimentos,

quando você tem uma visão temporal, não sei se posso falar assim. (Maria, 2014)

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213

Algumas professoras consideram somente um dos aspectos – atitude,

procedimento ou conteúdo – como o mais importante no planejamento de suas aulas.

Outras assinalaram, concomitantemente, duas ou mais subcategorias como importantes,

no momento de seu planejamento, para o alcance das habilidades: 5,55% consideram os

conteúdos voltados para as atitudes, os conceitos e os procedimentos, ao mesmo tempo,

no planejamento; 9,25% consideram, no momento da organização de suas aulas, os

conteúdos atitudinais e conceituais; 5,55% os conteúdos atitudinais e procedimentais e

7,40% os conteúdos conceituais e procedimentais.

É interessante perceber que, para aproximadamente 51% das professoras, os

conceitos são os mais considerados no momento de seu planejamento. Paradoxalmente,

na mesma proporção em que consideram como os mais importantes de serem

trabalhados, o domínio destes conceitos é a maior fragilidade das docentes, que

admitem não conhecer os conteúdos de História, pois não foram formadas para lecionar

esta disciplina.

Tinha que ficar decorando datas; para mim, foi péssimo e até hoje eu não sei quase

nenhuma dessas datas. Eu sei o que aconteceu, mas não me pergunte a data. Então, eu não

quis passar isto para os meus alunos. Primeiro, porque é uma deficiência minha. Eu só sei

a data se eu ler no livro, então procuro o caminho mais fácil, para mim, que é falar sobre

o assunto e não sobre a data. Esta é a que menos conta. (Cecília, 2014)

O que a gente tem, pelo menos tinha no currículo, era metodologia do ensino científico,

metodologia da Matemática, mas de História, Geografia, Ciências, não. Eu tenho quinze

anos de rede e nunca fui para nenhuma formação de História e Geografia. Quando

acontece, é para os professores de área de Fundamental II, mas também é muito raro.

(Cecília, 2014)

Há uma preocupação muito grande com as disciplinas de base, Português e Matemática,

então tudo é voltado para Português e Matemática. As formações são todas para

Português e Matemática. Eu não me lembro de ter tido, nesses quinze anos de rede,

nenhuma formação voltada para o ensino de História. Nem de Ciências, ou Geografia.

Toda a nossa formação é para lecionar Português e Matemática. Eu acho que isto faz com

que a pessoa tenha dificuldade em trabalhar com essas disciplinas, de uma forma

diferente, prazerosa. (Maria, 2014)

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Nas falas de Cecília e Maria, os conteúdos e habilidades relacionadas com a

História do afrodescendente brasileiro sobressaem-se em relação às demais habilidades

contidas nos Diários, mesmo que existam outros conteúdos elencados na caderneta, e

tão importantes quanto os da história do negro e da cultura africana, na visão de ambas

as docentes.

Os depoimentos não comprovam que estes conteúdos perpassam as poucas aulas

de História ministradas ao longo do ano letivo. São trabalhados prioritariamente e quase

sempre na semana que antecede o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, data

comemorativa constante do calendário oficial de comemorações cívicas.

Nas percepções de Cecilia e Maria, que salientam em suas narrativas a predileção

por outras temáticas e objetivos da história, estes conteúdos não deveriam ser

hegemônicos no 5º ano.

Por Salvador ser uma cidade de muitos afrodescendentes e porque existe a Lei 10.639, a

gente fica muito focado no ensino da História do Brasil, e especificamente na História do

negro e da cultura africana. Nos esquecemos dos demais conteúdos, que há outras coisas em

História, que também são importante. (Maria, 2014)

São poucas as habilidades que se têm que trabalhar em História, se a gente comparar com

Português e Matemática. Uma página inteira de Matemática. Duas páginas de Português e,

História e Geografia, meia página, e olhe lá. E nos últimos quatro ou cinco anos, são todas

com enfoque em África, no negro, na conscientização do negro. Basicamente, as habilidades

trabalham mais sobre isso. (Cecília, 2014)

Infelizmente, o ensino de história acaba acontecendo muito voltado para as datas

comemorativas. Que é o momento que a gente mais trabalha com História. Agora mesmo,

teve a consciência negra, que a gente trabalhou uma ou duas semanas do mês de

novembro, mesmo sabendo que a gente podia estar trabalhando o ano inteiro, mas a gente

acaba ficando só no mês de novembro, por causa da comemoração do dia. (Maria, 2014)

Por que não trabalhamos com mitologia, com história antiga, nos anos iniciais? Eu gosto

muito de ler e conhecer sobre história antiga e mitologia. Gostaria de trabalhar com os

meus alunos, mas não tenho como, pois as habilidades exigidas pela rede não permitem.

Então, trabalho mesmo somente a História do Brasil e dentro da História do Brasil, a

História do Negro no Brasil. (Maria, 2014)

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Maria (2014) demonstra uma vontade de ir além do ensino centrado na História do

Brasil, vontade de lecionar sobre outros povos, sobre outras culturas. Para Cecília, o

ensino da História deve ser pautado pela História da Bahia, pela História Política e pela

História do Brasil, como a “Chegada dos Portugueses” e a “Independência do Brasil”,

de acordo com o calendário cívico das datas comemorativas.

Para Miranda, nos Anos Iniciais,

[...] a História é pensada em sua perspectiva sacralizada e a visão que

se tem a respeito dos fatos históricos selecionáveis para o ensino no

segmento de 1ª. a 4ª. série nos remete às tradições curriculares

estruturadas a partir de fatos canônicos e de uma visão quadripartite

da História [...] e de uma História do Brasil que não deixa de ter elos

com essa perspectiva linear e europeizante. (MIRANDA, 2007, p.

138)

Na visão das professoras da Rede Municipal da cidade de Salvador, vários

aspectos são importantes para fundamentar a sua prática docente. Segundo as

professoras, os saberes necessários à prática do ensino de História no 5º ano são os

seguintes:

Tabela 8

Os saberes necessários à prática docente

Subcategorias Frequência Percentual % Atualização e conhecimento

sobre as notícias do mundo,

na atualidade

15 19,48%

Conhecimento e reflexão

sobre o conteúdo da história

(História de vida do aluno,

História de vida do próprio

22 28,57%

Eu acho que primeiro o aluno tem que se apropriar de onde ele está, do espaço dele, da

Bahia. Das coisas que acontecem próximas a ele, antes de saber sobre o Tratado de

Tordesilhas. Eu acho que, primeiro, ele tem que ter a noção do Estado dele, depois do

Brasil, e por aí vai... A gente está agora na divisão política, que foi assunto da terceira

unidade... Eu acho que o aluno precisa saber a chegada dos portugueses, precisa saber

como foi o processo histórico da Independência do Brasil, né? E eu vou de acordo com as

datas que eu acho mais importantes. (Cecília, 2014)

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docente, História do Bairro,

História do País)

Saber relacionar fatos do

passado e do presente

7 9,09%

Saber ensinar de forma

prazerosa e estimulante

10 12,98%

Compreensão do conceito de

identidade

3 3,89%

Compreensão do conceito de

cidadania

3 3,89%

Conhecer os conteúdos

solicitados pela Rede

Municipal de Ensino de

Salvador

1 1,29%

Saber como trabalhar sem

recursos didáticos

1 1,29%

Saber trabalhar coletivamente 1 1,29% Ser mais reflexivo e flexível

1 1,29%

Saber trabalhar com os

recursos disponíveis

5 6,49%

Possuir conhecimento do

material didático

1 1,29%

Saber relacionar os conceitos

com o cotidiano dos

estudantes

4 5,19%

Dominar a metodologia e a

didática do ensino de História

3 3,89%

Total 77 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

De todos os saberes citados, percebe-se que os ligados aos conteúdos específicos

são citados por 28,57% das docentes respondentes do questionário, seguidos pela

necessidade de se manter atualizado em relação ao conhecimento contemporâneo

(19,48%) e, mais ainda, saber trabalhar o conjunto de conhecimentos de forma a

interligar o passado e o presente, de forma prazerosa e estimulante (12,98%).

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Em sua maioria, as professoras possuem a clareza de que são também docentes de

História, reconhecem a importância do conhecimento específico e sabem da importância

deste conhecimento para a sua vida e para o cotidiano dos seus alunos (PIMENTA,

2012). A grande dificuldade está em como adquirir este conhecimento específico, visto

que ele não tem sido trabalhado de modo satisfatório, nos cursos de Pedagogia, lacuna

apontada por muitas professoras: a ausência de disciplinas em seus cursos de graduação

que as preparassem para lecionar a disciplina História, conforme visto anteriormente.

Na trajetória profissional dessas professoras, cursos de formação continuada voltados

para o ensino de História não são ofertados pela SMED de Salvador, que por sua vez

considera que Português e Matemática sejam as disciplinas mais importantes do

currículo dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Dizeres e escritas que refletem as concepções e crenças das professoras sobre o

pensar um ensino de História que não seja exclusivo das universidades ou centros de

pesquisa. (ZEICHNER, 1993). As professoras não são passivas em sua ação docente,

refletem sobre o que ensinam e por que ensinam desta ou de outra forma. Pensam sobre

os saberes inerentes a sua prática, que estes as impulsionem na tomada de decisões, em

seu trabalho docente cotidiano.

Maria (2014) reconhece, em sua fala, que muito se modificou nos modos como a

História é ensinada. Mas, em sua percepção, ainda há muito a ser mudado, e

complementa suas reflexões afirmando que esta transformação ocorrerá a partir de uma

formação mais sólida, nos cursos de Pedagogia e nos cursos de formação continuada.

Eu não me lembro de ter tido nenhuma formação voltada para o ensino de História. Toda a

nossa formação é em cima de Língua Portuguesa e Matemática. Eu acho que isso faz com

que tenhamos dificuldade em trabalhar com essa disciplina, de uma forma mais diferente,

prazerosa. (Maria, 2014)

Hoje, o ensino de História mudou muito, eu vejo e reconheço. Mas eu acho que ainda tem

muito o que mudar. Não sei se vai alcançar o mesmo patamar do ensino de Português e

Matemática, mas eu espero que, aos poucos, a gente vá conseguindo e que um dia o prefeito,

o secretário de educação, pensem numa formação voltada também para o ensino de

História. Porque eu acho que estas formações ocorrem no Ensino Fundamental II, para os

professores que fizeram História, que têm uma licenciatura específica. E no nosso caso?

Que tem fizemos Pedagogia e temos uma formação muito vaga nesta área? Espero que isso

seja revisto. (Maria, 2014)

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Neste sentido, para Lima (2013) algumas “[...] práticas e rotinas escolares não

compõem mais, com tranquilidade, o conjunto de escolhas e ações destas professoras.

Cresce um olhar irrequieto [...]” (p. 190) em parte destas docentes, o que pode

representar uma aceleração nestas mudanças e transformações, ressaltadas por Maria,

que busca um ensino de História lúdico e prazeroso, em sua sala de aula.

4.2.4. Os conteúdos ministrados nas aulas de História

Se para as professoras do 5º ano, os conteúdos conceituais são primordiais, no

momento de seu planejamento da disciplina História, no cotidiano da sala de aula, na

trajetória de sua prática educativa, 38,88% consideram que os conteúdos atitudinais

sejam os mais estimados. Se acrescermos as professoras que assinalaram conjuntamente

duas ou mais opções, o índice das docentes que consideram temas e conteúdos

relacionados com atitudes e valores, como os mais importantes, no momento de lecionar

a disciplina, este percentual sobe para 46,29%.

Tabela 9

Conteúdos Considerados nos Planejamentos das Aulas de História

Subcategorias Números Percentual % Atitudinais 21 38,88% Conceituais 13 24,07% Procedimentais 6 11,11% Atitudinais, Conceituais e Procedimentais 1 1,85% Atitudinais e Procedimentais 3 5,55% Conceituais e Procedimentais 4 7,40% Anulada 1 1,85% Em branco 5 9,25%

Total 54 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Procuro ensinar História de forma prazerosa e lúdica, para eles perceberem também a

importância dela. De eles saberem, descobrirem, conhecerem mesmo a História do nosso

país e do mundo todo, até para o futuro. O importante é a gente não acabar cometendo os

mesmos erros que foram cometidos antes, quando a gente era aluno. (Maria, 2014)

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Foi solicitado às professoras que sinalizassem com qual campo ou aspectos da

História, os conteúdos com os quais optam por trabalhar no 5º ano estão mais

relacionados. Os resultados estão apresentados na tabela a seguir.

Tabela 10

Conteúdos e relação com as abordagens e aspectos da História

Subcategorias Frequência Percentual % História Local 34 20,98% História Regional 29 17,90% História de Vida do Aluno 23 14,19% História do Brasil 50 30,86% Datas Comemorativas 26 16,04%

Total 162 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Os conteúdos relacionados com a História do Brasil (30,86%) superam os demais

temas e conteúdos considerados pelas professoras, em sua sala de aula, seguidos pelos

que se referem à História Local (20,98%), a História Regional (17,90%) e as Datas

Comemorativas (16,04). A História de vida do aluno é o aspecto menos considerado,

em sala de aula, o que contradiz as habilidades listadas no Diário de Classe, que, em sua

maioria, propõem conteúdos voltados para a história do afrodescendente e o conceito de

identidade, significativo para escolas localizadas em uma cidade, e em bairros, cujos

habitantes são majoritariamente afrodescendentes.

Como forma de identificar melhor quais conteúdos estão mais presentes nas aulas

de História, solicitou-se que as professoras descrevessem detalhadamente os conteúdos

abordados por elas, em suas aulas de história no 5º ano, na cidade de Salvador.

Tabela 11

Conteúdos Detalhados Abordados nas turmas do 5º ano em Salvador

Subcategorias Frequência Percentual % Cidadania 3 1,66% Etnia (formação do povo brasileiro) 7 3,88% Igualdade Racial 1 0,57% Tempos Históricos 1 0,57% Crenças, Cultos e Religiões 1 0,57% História de Vida 6 3,33% História Geral 2 1,11%

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História do Brasil 21 11,67% História da Bahia 10 5,55% Datas Comemorativas 11 6,11% História Local (Cidade de Salvador) 10 5,55% História Regional 6 3,33% História do Bairro 2 1,11% População e Sociedade 1 0,57% Diversidade e Desigualdade 3 1,66% Fatos históricos 1 0,57% Formas de governo 5 2,78% Movimentos e Revoltas 10 5,55% Extrativismo 1 0,57% Grandes Navegações e Período Colonial 14 7,77% Independência do Brasil 3 1,66% Conteúdos trazidos pelo livro didático 3 1,66% Conteúdos trazidos pelos livros de literatura 1 0,57% Informações dos meios de comunicação

(atualidades) 6 3,33%

Escravidão 5 2,78% Cultura africana 11 6,11% História da África 2 1,11% Cultura Indígena 6 3,33% Brasil Imperial 6 3,33% Causas e consequências dos problemas do

cotidiano 4 2,22%

Início da República 4 2,22% Ditadura e Democracia 2 1,11% Conceitos de História, Tempo e Cultura 2 1,11% História Antiga (Mesopotâmia, Hebreus,

Egito, Grécia, Roma) 1 0,57%

Imigração 3 1,66% Deslocamentos Populacionais 1 0,57% Ciclos Econômicos 3 1,66% I e II Guerras Mundiais 1 0,57%

Total 180 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Pela análise da tabela acima, a História do Brasil aparece novamente como o

recorte abordado com maior frequência em sala de aula (11,67%), seguido das grandes

navegações e período colonial (7,77%), datas comemorativas e da cultura africana

(6,11%), História da Bahia (5,55%), História da Cidade de Salvador (5,55%) e

Movimentos e Revoltas (5,55%) e Formação do Povo Brasileiro (3,88%). Ao se olhar

panoramicamente para a tabela, percebe-se que grande parte dos conteúdos estão

relacionados à História do Brasil, o que faz com que inquestionavelmente os recortes

sobre o ensino de História da Nação Brasileira sejam majoritários nas aulas do 5º ano

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das escolas públicas municipais da cidade de Salvador, enfatizados por algumas

docentes, que acrescentaram possuir uma perspectiva cronológica da história, que se

inicia no período colonial e vem até a atualidade.

A construção do ideário de nação e de uma identidade brasileira, missão dos

republicanos, aparece na história ensinada nas escolas de Salvador do século XXI. A

história do Brasil é trazida para as salas de aula como um dos caminhos para se

constituir, nas crianças, os ideais de civismo e cidadania. Carvalho (1995) afirma que,

principalmente na Primeira República, os intelectuais buscaram uma identidade coletiva

para o nascente país republicano, procurando uma base sobre a qual construir a nação.

Tratava-se, na realidade, de uma busca das bases para a redefinição da

República, para o estabelecimento de um governo republicano que não

fosse uma caricatura de si mesmo. [...] Os propagandistas e os

principais participantes do movimento republicano rapidamente

perceberam que não se tratava da república de seus sonhos.

(CARVALHO, 1995, p. 32-33)

A perspectiva do ensino de História do Brasil como o principal recorte das aulas

de História, na atualidade, é muito semelhante aos ideais contidos nos currículos

prescritos desde o século XIX, quando a disciplina se insere autonomamente nas escolas

brasileiras. A preocupação era, e continua sendo, a formação do cidadão republicano,

ciente de seus deveres e direitos, participante ativo da sociedade e da constituição da

nação republicana, que não é a ideal, a sonhada, mas que precisa ser valorizada e

exaltada. Lima (2013, p. 189) a partir das ideias de Charlot (2013), ao estudar os saberes

das professoras dos Anos Iniciais da cidade de Garanhuns, em Pernambuco, afirma ser

“[...] importante ressaltar a presença dos conteúdos históricos associados à formação de

uma identidade nacional e uma correlata educação moral e cívica [...]”.

A linearidade é a ideia que perpassa a História ensinada no 5º ano, na cidade de

Salvador. Esta percepção considera a cronologia instituída no currículo prescrito e nos

manuais didáticos, cujo ensino de História do Brasil para as crianças, na faixa etária dos

10-11 anos, inicia-se com a chegada dos portugueses e passa pelas divisões políticas do

Império e da República, indo até a atualidade. Neste contexto, a nação é a personagem

principal da História, em detrimento da história de vida do sujeito aluno, que continua a

não se perceber como construtor e partícipe de uma história que se desenrola sobre o

outro, a partir de uma memória que não o representa. Fala-se de uma cidadania e uma

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222

identidades que não condizem com o cotidiano vivido pelas crianças e pelas

professoras.

[...] a História aparece [...] frequentemente associada à veiculação de

um determinado tipo de tradição em termos curriculares e a uma

tendência teórico-metodológica formada sobre uma matriz positivista,

eurocêntrica e linear, organizada a partir dos marcos e fatos da política

institucional, numa sequência cronológica causal [...]. (MIRANDA,

2007, p. 145)

A História do Brasil, ao levantar a bandeira do nacionalismo e do patriotismo, tem

sido ensinada a partir de um passado desconectado da história contemporânea, da

história local e sua diversidade, por parte das professoras. Uma nação estudada e

compreendida principalmente a partir das datas cívicas, que são momentos repetidos

sistematicamente no calendário escolar, com o objetivo de construir e projetar os mitos

e os heróis como sustentáculos da nação brasileira.

Datas que forjam e sedimentam a nacionalidade que se constitui pela intricada

rede que compõe a identidade de cada um dos “brasileiros” (CERRI, 2012; MIRANDA,

2007). Uma História do Brasil que se dilui em meio a inúmeros fatos históricos do país,

a história de vida do aluno, fazendo com que os estudantes frequentemente sejam “[...]

despersonalizados e omitidos ou silenciados quanto a suas histórias e identidades”

(ZAMBONI; LUCINI; MIRANDA, 2013, p. 272).

Entretanto, mesmo em menor número, outros conteúdos aparecem: Ditadura e

Democracia; conceitos como Cultura e Tempo; História Antiga;49 Deslocamentos

populacionais; Imigração. Conteúdos que se pautam nos eixos temáticos defendidos

pelos PCN de História dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1997), que orientam

uma história que considere a História das organizações populacionais subdividida em:

deslocamentos populacionais; organizações e lutas de grupos sociais e étnicos;

organizações políticas e administrativas urbanas; organização histórica e temporal.

O livro didático (1,66%) e os meios de comunicação (3,33%) ainda são subsídios

importantes para as docentes que os usam, como programa curricular, fonte de estudo e

material didático. Segundo Gasparello (2011, p. 40), o livro didático “além de se

constituir como importante dispositivo no mundo escolar – instituidor de saberes e de

49 A professora que descreveu aspectos da História Antiga, trabalhados em sua sala de aula, é graduada

em História.

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223

práticas –, [...] expressa, como objeto de cultura, o complexo conjunto formado pelas

manifestações do campo cultural, artístico, político e ideológico de uma época”.

Debater a cidadania e a identidade é o principal objetivo das habilidades

contidas nos Diários e nos PCN de História (1997). Maria explicita, em sua fala, o que

considera essencial nas aulas de História.

Na visão de 40,24% das docentes/respondentes dos questionários, a História

ensinada no 5º ano é importante, por fazer a criança conhecer os fatos históricos do seu

passado, relacionando-os com o presente. Em 17,07% das escritas, a intenção é

modificar o futuro, construir um mundo melhor, a partir de uma visão crítica sobre os

acontecimentos trazidos pela História ensinada nas turmas do 5º ano do E.F. Conhecer

suas origens, construir noções de reconhecimento de identidade foram lembradas em

14,63% das memórias das docentes, segundo tabela a seguir.

O ensino de História está muito ligado com a cidadania. Então eu penso: como eu vou ser

um cidadão consciente e crítico, se eu não conheço a História do país? A História do meu

povo? Então, assim, a importância do ensino de História está aí. A gente conhecer nossa

História, o que aconteceu e o que não aconteceu. E questionar. Você saber como foram

acontecendo as mudanças. Antigamente, por exemplo, o tema era Descobrimento do

Brasil, não é? Eu quando estudei história, no meu ensino fundamental, o Brasil tinha sido

descoberto. Hoje, já são outros questionamentos. Foi descoberto mesmo? Foi achado?

Hoje já se fala no achamento do Brasil... Então, houve grandes mudanças e isso faz com

que o povo tenha um senso crítico maior. A questão mesmo da libertação dos escravos. Na

minha época de estudante, aprendi que a... [pausa para lembrar o nome da Princesa

Isabel], Princesa Isabel era uma heroína. Ela era uma heroína porque libertou os escravos

e tudo. E hoje, a gente já trabalha com os alunos de outra forma. Será que foi mesmo?

Sempre questionando. Colocamos para a turma: vamos descobrir, vamos ver, observar

aquele cenário, como aconteceu. O que estava acontecendo no Brasil daquela época. Será

que ela foi boazinha? Ou foi forçada a assinar? (Maria, 2014)

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Tabela 12

Importância da História ensinada no 5º ano do EF

Subcategorias Frequência Percentual % Instrumento de conscientização para construir um

mundo melhor 14 17,07%

Para conhecer a história de sua origem, cultura, etnia 12 14,63% Para reconhecer os fatos históricos do passado,

relacionando-os com o presente 33

40,24%

Construir uma visão crítica sobre os acontecimentos 14 17,07% Compreensão das desigualdades sociais 3 3,65% Compreensão do processo de desenvolvimento da

ocupação do solo brasileiro 1 1,21%

Desconstruir alguns aspectos históricos 1 1,21% Conhecer a história do passado 1 1,21% Conhecer os fatos históricos do surgimento do Brasil

e suas relações com o mundo 1 1,21%

Conhecer as origens das datas comemorativas 1 1,21% Conhecer e assumir postura crítica diante do

cotidiano em que se vive 1 1,21%

Total 82 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

A disciplina possui a missão, na concepção de algumas professoras, de mudar o

mundo e alterar o futuro. Para isto, deve haver a “aprendizagem”, aqui compreendida

como memorização dos fatos ocorridos em temporalidades, muitas vezes

incompreendidas, e inalcançáveis, para crianças, e até mesmo para algumas professoras.

É a escola reportando-se a “[...] objetos que não se encontram no mundo cotidiano [das

crianças, levando-as] para universos que apenas existem no pensamento e na

linguagem” (CHARLOT, 2013, p. 126).

Para Zamboni, Lucini e Miranda, não se deve restringir a história ao “[...] papel

de, no presente, olhar para o passado e projetar o futuro” (ZAMBONI; LUCINI;

MIRANDA, 2013, p. 275). A temporalidade é tratada de forma linear e intercalada, por

algumas professoras, como, por exemplo, trazer o Brasil do descobrimento e o Brasil

contemporâneo; ou de forma linear e contínua, por outras docentes, o Brasil do

Descobrimento, o Brasil Imperial, O Brasil Republicano. As autoras consideram um

desafio a aprendizagem do conceito de tempo, em uma sociedade que vive os embates

entre a modernidade e a pós-modernidade. Uma sociedade que está entre um dilema:

manter as estruturas políticas, sociais e econômicas existentes ou aceitar que o mundo

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que se conhece é fluido, se desmancha no ar, se modifica a uma rapidez considerada

inconcebível para muitos.

Ao ‘estranhar’ o tempo passado em virtude da vida no presente,

pautada pelos efeitos da inserção social subordinada ao consumismo,

conforme nos adverte Nestor Canclini, a dimensão de abstração desse

passado, associada aos efeitos desse presentismo, contribui para uma

sensação de falta de sentido no estudo do tempo passado. É, em

primeiro lugar, estranho para a criança imaginar um tempo em que as

pessoas viviam sem celular, sem computador e internet[...]. Do mesmo

modo, é estranho admitir a existência de outras práticas de

sociabilidade, outros modos de existir e pensar. Sobretudo, é estranho

e desafiador pensar no sentido da mudança temporal, o que traz

implicações diretas para se pensar nossa relação atual com o tempo

presente e com o tempo futuro. (ZAMBONI; LUCINI; MIRANDA,

2013, p. 265)

Os conteúdos selecionados pelas professoras referentes a um tempo passado,

distante temporalmente do tempo de vivência destas docentes são por elas

incompreendidos, seja pela ausência de formação específica, seja pela lacuna na

formação continuada. Estes são alguns dos motivos pelos quais as professoras não

tratam as temáticas, “selecionadas” a partir das habilidades existentes nos Diários de

Classe, e das subjetividades individuais e coletivas, em suas múltiplas temporalidades,

com a riqueza e a complexidade inerentes à trama da História.

A formação do cidadão, visto como tema e como intenção pelas docentes, faz-se

pela vontade individual das professoras de formar um aluno que seja um sujeito crítico,

que irá intervir constantemente no mundo e mudar a sociedade na qual está inserido.

Não fica claro qual cidadão se quer formar e como “transformar” uma criança em

cidadão, considerando a ausência de crença no futuro dessas crianças, narrada por

algumas docentes em conversas informais.

4.3. COMO SE ENSINA HISTÓRIA NO 5º ANO DA REDE MUNICIPAL DA

CIDADE DE SALVADOR? AS PROFESSORAS RESPONDEM.

Não é importante somente saber o que ensinar, o que selecionar e as influências

que perpassam as escolhas feitas pelas professoras. Precisa-se compreender como isto se

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reflete no cotidiano da sala de aula e na vida do aluno para além da escola, diante de

uma escola e de uma sociedade complexa e diversa (ALVES; GARCIA, 2000). Há de se

olhar para a sala de aula e para as práticas docentes, a partir dos olhares internos dos

sujeitos que compõem os universos das unidades escolares.

[...] não há que se definir de fora como deveria ser a escola mas aprender a

olhar o que de interessante acontece no cotidiano escolar, identificando

fazeres e pensares emancipatórios inspirados por utopias educativas e sociais

histórica e coletivamente tecidas por todas e todos que se

engajaram/engajam na luta por mudar o mundo. (ALVES; GARCIA, 2000,

p. 10-11)

Há de se perceber que mesmo desesperançadas, em alguns momentos, em outros

espaçostempos, essas docentes buscam o diferente. Procuram cotejar as limitações

impostas a suas práticas com suas utopias e crenças e buscar um ensino transformador,

mesmo que pontualmente, em suas falas e escritas, as práticas educativas destas

professoras apareçam como mantenedoras de um status quo instituído historicamente,

no que diz respeito ao lugar que estas crianças devem ocupar na sociedade.

Parafraseando Thompson (1971, p. 185), “o que resta fazer é interrogar os silêncios

reais, através do diálogo do conhecimento”.

Resta dialogar com professoras que vivem correndo contra o tempo, cuja

autonomia de trabalho é cerceada e limitada pelo currículo prescrito ou pelas avaliações

externas, impostas às crianças. Conversar com as docentes que se veem limitadas por

um currículo com o qual muitas vezes não concordam, mas apresentam reflexões sobre

suas práticas onde se percebe a resistência, a busca pelo fazer diferente, direcionando-se

a um ensino transformador e alternativo ao que se espera encontrar a priori: uma

educação de má qualidade nas escolas públicas e uma fala reprodutivista, em relação ao

livro didático, nas aulas de história. Esta concepção de educação é encontrada ainda na

atualidade, paralelamente a uma prática que, a partir de seu cotidiano, faz com que as

docentes promovam uma aprendizagem-ensinagem da disciplina História, de forma a

promover debates e reflexões sobre si, sobre o outro, sobre outros sujeitos e outros

tempos, mas também sobre o seu tempo, a partir de conteúdos de História do Brasil.

Mesmo o livro didático, sendo para muitas professoras o programa curricular a ser

seguido e a principal fonte de estudos para a organização e a escolha dos conteúdos da

História ensinada nas escolas públicas municipais de Salvador, o estudo, a pesquisa em

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fontes diversas e o planejamento coletivo igualmente pautam a escolha dos conteúdos e

o planejamento das aulas, em igual nível de importância, para muitas docentes, segundo

tabela a seguir.

Tabela 13

Fontes e espaços onde os conteúdos para as aulas de História são selecionados

Subcategorias Frequência Percentual % Estudo e pesquisa em diversas fontes, tais como

livros de História, documentários, revistas feitas de

forma individual e por interesse próprio

28 32,94%

Projetos enviados pela Secretaria Municipal de

Educação de Salvador 11 12,94%

Livros didáticos adotados através do PNLD e

existentes na escola 23 27,05%

Planejamento coletivo com outros professores e a

coordenação da escola 23 27,05%

Total 85 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

O interesse pelo estudo e pela aprendizagem de uma disciplina para a qual não

foram formadas ou preparadas aparece aqui, quando afirmam que as pesquisas e as

buscas pelo aprendizado ocorrem por interesse próprio, e de forma individual. São os

saberes constituindo-se, a partir de suas experiências e de sua trajetória profissional,

diante da ausência de formação inicial e continuada, no que diz respeito aos conteúdos

específicos importantes para lecionar História nos Anos Iniciais. As professoras

demonstram, com esta postura, sua autonomia diante de situações que requerem uma

atuação individual e coletiva, visto que o planejamento coletivo assume igualmente

importância na busca pelo conhecimento e na seleção dos conteúdos a serem

ministrados (CONTRERAS, 2012).

Ao serem indagadas sobre as habilidades mais importantes em sua perspectiva, ao

lecionarem História, as professoras refletem a diversidade de formação, de saberes, de

escolhas, de percepções. Deixam transparecer a complexidade e as contradições

presentes na atuação docente, advindas de suas trajetórias como estudantes da Educação

Básica, alunas de diversas licenciaturas, estudantes de pós-graduação, como leitoras e

pesquisadoras, em busca da construção e do aprofundamento do conhecimento na área

de História.

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228

Tabela 14

Habilidades consideradas mais importantes a serem construídas pelos discentes na

visão das Professoras

Subcategoria

Saber recordar determinados feitos e conceitos referentes à História (locais, nomes,

datas, épocas, estilos culturais, características das paisagens)

Valores

1 2 3 4 5 6 7

F % F % F % F % F % F % F %

7 15,90 4 9,09 6 13,63 3 6,81 9 20,45 7 15,90 8 18,18

Subcategoria

A utilização correta e com compreensão do vocabulário e dos conceitos próprios da

História

Valores

1 2 3 4 5 6 7

F % F % F % F % F % F % F %

8 17,02 10 21,27 3 6,38 7 14,89 5 10,63 11 23,40 3 6,38

Subcategoria

Reconhecer as causas dos fenômenos sociais

(ambientais, urbanísticos, culturais, históricos, políticos)

Valores

1 2 3 4 5 6 7

F % F % F % F % F % F % F %

5 10 8 16 7 14 4 8 7 14 15 30 4 8

Subcategoria

Reconhecer e compreender os principais problemas de Salvador, da Bahia e do Brasil,

hoje

Valores

1 2 3 4 5 6 7

F % F % F % F % F % F % F %

7 13,72 5 9,80 3 5,88 8 15,68 7 13,72 17 33,33 4 7,84

Subcategoria

A capacidade de argumentar de forma relevante, em debates e trabalhos escritos

Valores

1 2 3 4 5 6 7

F % F % F % F % F % F % F %

4 8 2 4 4 8 10 20 12 24 15 30 3 6

Subcategoria

A capacidade de realizar estudos, informes, pequenas pesquisas ou trabalhos

semelhantes, a partir da observação e/ou consulta de fontes, utilizando-as

corretamente, em cada caso

Valores

1 2 3 4 5 6 7

F % F % F % F % F % F % F %

0 0 3 4,08 9 18,36 11 22,44 14 28,57 10 20,40 2 4,08

Subcategoria

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229

Possuir identificação com a comunidade de referência, a partir do conhecimento de

suas origens, de sua história e de sua cultura.

Valores

1 2 3 4 5 6 7

F % F % F % F % F % F % F %

2 4 2 4 4 8 9 18 10 20 16 32 7 14 Fonte: elaboração da autora, 2015.

A História baseada na memorização dos fatos ainda é muito presente nas salas de

aula de mais de cinquenta por cento das professoras do 5º ano, na cidade de Salvador,

que atribuíram valores entre 5 e 7, para o desenvolvimento desta habilidade, em seu

processo de aprendizagem-ensinagem. As habilidades almejadas por elas, para serem

trabalhadas em suas aulas de História, não se restringem à memorização de datas,

causas, consequências, personagens. Há outras habilidades também buscadas pelas

professoras: o reconhecimento e a compreensão dos principais problemas de Salvador,

da Bahia e do Brasil, hoje, e a capacidade argumentativa em debates e trabalhos

escritos. Os valores atribuídos a estas habilidades refletem a preferência pela História

Local, relaciona com a História do Brasil, no cotidiano das aulas, orientada pelos PCN e

pelas habilidades contidas nos Diários de Classe do município.

As habilidades menos consideradas, em escala valorativa, pelas professoras são as

que se referem ao trabalho com os conceitos específicos da História, o estudo dos

fenômenos sociais (ambientais, urbanísticos, culturais, históricos e políticos) e a

capacidade de realizar pesquisas, a partir de várias fontes de estudo da História, o que

demonstra a fragilidade que as professoras possuem com relação ao conhecimento

histórico, reafirmada por Maria, o que se reflete nas lacunas quanto a práticas voltadas

para conteúdos em espaços-tempos diferentes daqueles de suas vivências.

Maria reflete aqui sobre a pluralidade dos saberes profissionais e deixa

transparecer a importância da trajetória de constituição desses saberes, que são

História e ter um conhecimento mais amplo. Eu acho que o conhecimento da gente ainda é

muito voltado para aquela disciplina que a gente ensina. Acho que, se talvez a gente

tivesse um conhecimento mais amplo, talvez ajudasse na prática também, não é? Entender

o que está nas entrelinhas dos acontecimentos. Por que a gente estuda para dar aula e é

somente aquele pedacinho ali do que está nos livros didáticos de história e a gente não

aprofunda muito aquilo ali. De repente, se a gente aprofundasse um pouquinho mais, ou se

buscasse um pouquinho mais o que tem ali, a fundo, a gente teria uma prática melhor.

(Maria, 2014)

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adquiridos em múltiplas fontes, como a família, a escola, a universidade e, em diversos

tempos, como a infância, a vida estudantil, a formação profissional, a vida profissional e

a vida cultural (TARDIF, 2011).

4.3.1. O saber histórico escolar e a sala de aula

As docentes são as que melhor podem relatar o desenrolar de suas práticas

educativas nas aulas de História, no que diz respeito aos recursos didáticos utilizados.

Inquestionavelmente, o livro didático aparece como um dos recursos mais utilizados

pelas professoras do 5º ano do Ensino Fundamental, nas escolas municipais de Salvador

(15,64%). Outros recursos significativos, de acordo com as escritas das docentes, são a

internet (25,17%), as videoaulas (16,32%) e a TV pen-drive (10,20%).50 Os demais

recursos –livros de literatura, data-show, jornais, redes sociais, revistas, textos

informativos, fotografias, música, poesias, relatos, teatro, globo terrestre e aparelho de

som – foram citados por uma quantidade pouco expressiva de professoras. Mesmo com

baixa porcentagem de utilização, não deixa de ser um dado significativo, na medida em

que se observa a utilização de outras linguagens e recursos, que tentam ir além do livro

didático, por algumas professoras da rede municipal de Salvador.

50 A TV pen-drive é uma televisão distribuída às escolas estaduais em um programa estadual de

aparelhamento das escolas públicas da Bahia, com vias a introduzir no cotidiano das escolas as

tecnologias de aprendizagem. A TV pen-drive permite o uso de pen-drives e cartões de memória e através

deles o uso de objetos de aprendizagem, como vídeos, imagens, jogos para ministrar aulas e promover o

aprendizado dos estudantes.

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Tabela 15

Recursos Didáticos utilizados pelas Professoras em Sala de Aula

Subcategorias Frequência Percentual % Livro Didático 23 15,64% Livros de Literatura 1 0,68% Data-show 5 3,40% Jornais 3 2,04% Redes sociais 6 4,08% Revistas 2 1,36% Internet 37 25,17% Textos informativos 8 5,44% Fotografias 3 2,04% Música 4 2,72% Poesias 1 0,68% Relatos 1 0,68% Teatro 1 0,68% TV Pen-drive 15 10,20% Videoaula 24 16,32% Globo terrestre 1 0,68% Aparelho de som 1 0,68%

Total 147 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

Ao serem indagadas sobre como lecionavam a disciplina História, quais eram as

principais metodologias desenvolvidas em sala de aula, as que emergiram nas escritas

estão listadas na tabela a seguir.

Tabela 16

Metodologias utilizadas pelas Professoras em Sala de Aula

Subcategorias Frequência Percentual % Apontamentos e aulas teórico-expositivas 23 27,05% Pesquisas 22 25,88% Seminários e debates 12 14,11% Filmes e documentários 18 21,17% Rodas de conversa 4 4,70% Estudo dirigido 1 1,17% Confecção de murais e cartazes 2 2,35% Dramatização e jogral 1 1,17% Questionários 2 2,35% Produção textual 3 3,52% Leitura e discussão dos textos 5 5,88% Leitura de mapas 2 2,35% Atividades do livro didático 1 1,17%

Total 85 100% Fonte: elaboração da autora, 2015.

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As aulas expositivas ainda predominam no cotidiano das aulas de História

(27,05%), e são importantes, em algumas circunstâncias, mas, em uma escola que

pretende formar um cidadão crítico, ativo e transformador de sua realidade, esta forma

de ministrar aula não pode se sobrepor às outras dinâmicas, como por exemplo, as rodas

de conversa, em sala de aula (4,70%). Todas as metodologias, independente de quais

sejam escolhidas, precisam ser colocadas em prática, de forma equilibrada, objetivando

o aprendizado e a reflexão dos conteúdos, por parte das crianças. Percebe-se isto nas

aulas e falas de Cecília (2014) e Maria (2014), que priorizam, em suas aulas, a leitura e

a exposição do conteúdo, de acordo com o livro didático.

Entretanto, buscam, através da “história da História”, desmistificar algumas

ideias arraigadas na memória cívica, no senso comum e veiculadas, na

contemporaneidade, pela mídia, principalmente a televisiva.

Então, a gente faz uma leitura silenciosa, a princípio, de um capítulo, ou de algumas

páginas do livro didático, que a gente vai trabalhar, e, depois, eu começo a leitura, vou

parando e explicando e vou pedindo para eles lerem também, porque senão eles dispersam.

Então, quando estamos lendo, alguns perguntam o que aquilo quer dizer. Neste momento,

paramos e debatemos o assunto, explicando melhor. Pois tem uns alunos muito curiosos que

perguntam e querem saber sobre o que estão estudando. E quando entendem o assunto, o

motivo das coisas serem daquele jeito, acham um absurdo. E a gente continua a debater, eu

conto alguns exemplos da televisão ou da vida real mesmo, histórias que eu ouvi da minha

avó e da minha tia, e a gente vai discutindo. (Cecília, 2014)

Minhas aulas são orais. Eu utilizo muito pouco o caderno, essa coisa de questionário,

caderno. É mais oral mesmo. A gente vai contando e perguntando para os alunos o que eles

já sabem daquilo, que conhecimentos eles trazem e questiono um pouco aquilo ali, que está

no documento. Eu procuro trabalhar assim, de uma forma linear. Por exemplo: quando é

história do Brasil, eu inicio no Descobrimento e chego até os dias de hoje. E em toda aula

eu retomo o que foi trabalhado na aula passada, ou faço uma linha do tempo. Volto ao que

aconteceu até chegar ao ponto em que vou trabalhar naquela aula. (Maria, 2014)

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233

Associar os fatos históricos ao cotidiano é algo muito comum nas aulas de Cecília,

que, ao trabalhar em uma de suas aulas o clássico da literatura infantil “O Pequeno

Príncipe”, correlacionou este fato ao nascimento do filho primogênito do Príncipe

William da Inglaterra, um assunto de interesse de todos, no ano de 2013, pois estava

sendo veiculado o tempo todo na televisão.

Cecília procura desenvolver aulas de História lúdicas e prazerosas, com seus

estudantes, mesmo estas aulas ocorrendo esporadicamente e quase sempre no período

das datas comemorativas, em virtude da grande quantidade de aulas de Português e

Matemática. Mesmo possuindo uma “autonomia relativa” (THOMPSON, 1981) procura

mediar aulas que sejam significativas para os seus discentes, que façam sentido para que

as crianças um dia lembrem do que ela “conversou” com eles em sala de aula.

(CHARLOT, 2013).

Eu não queria ficar naquele negócio de fazer questionário a partir de perguntas básicas,

como: – “Quem descobriu o Brasil?”. Então eu desmistifiquei logo esse negócio de quem

descobriu, pois ninguém descobriu. Os índios já estavam aqui e se hoje você perguntar

sobre o “descobrimento” do Brasil, todos vão lhe dizer: – “Não teve nada de descoberta, os

índios já estavam aqui!” Porque eu já tinha conversado isso antes com eles, desde o

primeiro ano. E a questão do índio? Índio usa roupa e tal. E as crianças ficaram

horrorizadas, quando eu trabalhei com este tema e veio um grupo de índios aqui vestidos

como a gente. Então, os alunos ficaram estatelados e falaram assim: – “Minha pró, eles

estão de roupa!”. Eu fiz isso, pois achei que precisava desmistificar esse negócio de índio,

de oca, de arco e flecha. Hoje, se alguém os questionar sobre isto, eles vão dizer: – “Índio

joga bola, índio usa internet”. Eles começam na aula a fazer perguntas bem triviais e eu vou

tentando responder. Olho muito o livro. Atualmente, eu tenho dois livros para trabalhar com

eles, mas confesso que uso basicamente um deles, que é o Segredos da Bahia. Eu me prendo

na História da Bahia relacionada com a História do Brasil, que é bem próxima deles. Não

consegui trabalhar com a História Geral. (Cecília, 2014)

No ano passado, quando nasceu o filho do príncipe William, eu estava fazendo um projeto

sobre o livro “O Pequeno Príncipe”. Aí eu relacionei. Quando o bebê nasceu e eles viram

no jornal, todos chegaram na escola falando: – “Pró, nasceu o pequeno príncipe”. Neste

ano, eles. por iniciativa própria. trouxeram a notícia do nascimento do segundo filho. Então,

foi um conhecimento que ficou marcado, pois eles lembraram um ano depois. (Cecília,

2014)

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Segundo Tourinho (2010), o cotidiano tem sido a forma de aproximação nas salas

de aula entre o passado e o presente, aproximando o discente de sua História, de seu

universo, permitindo que a História tenha um sentido para a sua vida atual. “Incorporar

o cotidiano ao currículo significa acolher uma relativa igualdade, uma quebra de

hierarquia entre o sujeito e o objeto, saber do aluno e saber do professor, história

pessoal e coletiva” (TOURINHO, 2010, p. 68).

Por meio do estudo do cotidiano, a distância, o fosso existente entre a criança e

tempos remotos é diminuída, significativamente. Integrar o sujeito e o objeto de estudo

no cotidiano escolar possibilita igualmente a integração entre o ensino e a pesquisa, a

universidade e as escolas de Educação Básica, o saber e o não saber, o individual e o

coletivo. Contudo, o cotidiano escolar, na maioria das turmas do 5º ano, em Salvador, é

silenciado, em detrimento dos estudos da História do Brasil, da história de um passado

remoto, sem relação direta com a vida atual do sujeito aluno. As crianças, na Escola

Municipal Luiz Anselmo, moram na rua, no bairro e estudam na escola que possui o

nome de um médico abolicionista, que lutou em prol da libertação dos escravos. Ainda

assim, os discentes desconhecem quem foi Luiz Anselmo e sua importância no cenário

da Abolição da Escravatura.

Como estas possibilidades, na maioria das vezes, não se concretizam,

prevalecem às dissociações as quais têm estreita relação com um

processo ensino e aprendizagem no qual predomina a reprodução de

um conhecimento distante do entendimento e do interesse do aluno.

(TOURINHO, 2010, p. 69)

Aqui há uma contradição. Ao mesmo tempo em que a História do bairro, da

localidade, da escola não é estudada e pesquisada, a História Local, através da História

da cidade de Salvador, tem sido uma forma encontrada pelas professoras para trabalhar

os conteúdos da disciplina História. O cotidiano por meio da História da cidade, tem

Eu acho que a gente tem que explicar o por quê está acontecendo as coisas e aí é que entra

para mim o contar a história da História. Eu procuro brincar, procuro contar história,

procuro um desenho, uma atividade, assim, que eles possam fazer de forma mais suave,

mas que, ao mesmo tempo, proporcione o entendimento de que aquele fato aconteceu em

algum tempo distante, tempo em que ele não era nascido. Se isto for assim, depois, ao

longo da sua vida, os alunos vão lembrar dos fatos que um dia ouviram falar. (Cecília,

2014)

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235

sido a forma encontrada pelas professoras, de evitar o presente contínuo, sem relação

com o passado (LIMA, 2013). Os jornais televisivos e escritos têm sido outra forma de

trazer o cotidiano para os debates e reflexões da sala de aula. Cecília, em sua entrevista,

narrou que para fazê-los sair do mundo exclusivo do bairro em que vivem, o Luiz

Anselmo, “obrigou” seus alunos a lerem e a assistirem o jornal.

Em alguns momentos, os filmes e documentários são outro recurso didático

utilizado por Maria, em sua sala de aula, assim como por 21,17% das professoras de

Salvador, como uma estratégia para ir além do que o livro didático apresenta.

As pesquisas também são usadas em sala de aula para a aprendizagem-

ensinagem nas aulas da disciplina História no 5º ano. Mas, nas escritas, aparece, para

grande parte das professoras, associadas aos projetos os quais são enviados pela SMED,

e que precisam ser desenvolvidos nas escolas. Projetos que, apesar de serem voltados

para Língua Portuguesa51 e Matemática, são aproveitados em alguns momentos, para

que algumas habilidades de História sejam desenvolvidas nas crianças e algumas

produções textuais construídas pelos alunos.

51 AMADO, Jorge. O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008

AMADO, Jorge. A Bola e o Goleiro. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.

Eu disse para eles que queria que todos passassem a assistir e ler o jornal, pelo menos o

BATV para ter uma noção de mundo, do que está acontecendo, porque a vida não é só o

Luiz Anselmo. Eles reclamaram muito, e quando teve uma reunião de pais, alguns pais

falaram que as crianças relataram em casa que tinham que assistir. E agora já é uma

prática comum, tanto ler e assistir o jornal como comentar o jornal do dia anterior.

(Cecília, 2014)

Às vezes, eu trago filmes, pois no quinto ano dá para a gente fazer isso. Trabalhar com alguns

filmes. Porque os alunos geralmente acham a História muito chata. Leitura, leitura, leitura. E

a professora tem que ler. Então, eu conto a história para eles, de forma oral, como a tradição

oral. Adoro isso. E retomo em cada aula o que foi trabalhado na aula anterior, para eles

terem noção de tempo, do que aconteceu em cada momento. E o filme é uma forma lúdica de

trabalhar a História. A gente assiste, depois discute. Eu acho que fica mais fácil. (Maria,

2014)

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Entretanto, o trabalho interdisciplinar não é fruto de uma intenção consciente das

professoras, mas, sim, uma integração surgida de oportunidades que surgem, no

desenrolar dos acontecimentos, para que algumas habilidades possam ser desenvolvidas.

Cecília observa que isto ocorre com um objetivo claro: com essa estratégia, as

professoras conseguem contemplar algumas habilidades que precisam ser trabalhadas na

disciplina História, e que terminam não sendo, pela insuficiência de tempo.

Em sua fala narra: “fazemos isso para que a gente não tenha nada para marcar

nos Diários, por não termos trabalhado nada” (Cecília, 2014). Ainda assim, houve

uma ação interdisciplinar, mesmo não planejada e a integração das áreas de saber

compostas pela Língua Portuguesa e pela História, “[...] assume, portanto, uma

dimensão prática, voltada para resolução de problemas que se interpõem ao bom

funcionamento da atividade de ensino e, sobretudo, ao alcance da aprendizagem

esperada” (LIMA, 2013, p. 193).

É possível identificar ressignificações em suas práticas adquiridas ou

desenvolvidas a partir de suas experiências e trajetórias profissionais, em diversos

espaços-tempos, ao mesmo tempo em que há certa continuidade nas ações docentes

proporcionadas por práticas cristalizadas na cultura escolar, como as aulas expositivas e

o uso do livro didático. As docentes questionam, a seu modo, o saber histórico instituído

pelos livros didáticos e pelas orientações contidas nos Diários de Classe, e procuram

modificar suas práticas, inserindo metodologias diversas, como filmes, jornais, músicas

e poesias.

Estamos trabalhando agora o projeto de literatura chamado Jovens Escritores. Cada turma

ficou com um autor e a minha turma ficou com Jorge Amado, e aí eu mandei que fizessem

uma pesquisa sobre Jorge Amado, sobre as obras de Jorge Amado. Todas as obras,

incluindo as infanto-juvenis. Enquanto eles pesquisam em casa, na sala, eu introduzo o

assunto. E eles trouxeram direitinho, viu? Eu pedi que fosse uma pesquisa no caderno, não

era para me entregar. E quando trouxeram, após uma semana, cada um foi lendo o que

pesquisou sobre Jorge Amado e sobre as obras dele. Isto foi feito para depois a gente

trabalhar os dois livros infanto-juvenis dele. Que são o “Andorinha Sinhá"1 e o “Goleiro e a

Bola”.1 Depois que todos eles falaram, apresentei e discuti um pouco com eles alguns

personagens famosos, escritos por Jorge Amado, conhecidos de alguns deles, como

Gabriela. Eles também associaram o escritor com o nome do teatro, Jorge Amado. Depois,

eu entreguei os livros para eles lerem. Os meninos leram primeiro “O Goleiro e a Bola” e,

as meninas, “Andorinha e a Sinhá”. Depois trocaram, pois não tinha exemplares para

todos. Por fim, fizeram um resumo de cada livro e me entregaram. (Cecília, 2014)

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Em alguns momentos, as professoras parecem ser os agentes principais do

processo de aprendizagem-ensinagem. Em outros, os alunos são alçados por elas a

figura central deste processo, quando, nas rodas de conversa, ou por meio dos diálogos

sobre a “história da História”, suas falas e considerações são incentivadas, instigadas

para que a história ganhe sentido, significado. Para que a História ensinada deixe de ser

“abstrata” e ganhe contornos inteligíveis.

As professoras da Rede Municipal da cidade de Salvador percebem que é

necessária uma mudança, na forma de selecionar e trabalhar os conteúdos em sala de

aula. Fazem isto nos silêncios e lacunas existentes, quando a disciplina não é ministrada

e também quando diversos conteúdos e habilidades, e não somente os trazidos pelos

Diários de Classe, são considerados no cotidiano de sua ação docente. É o currículo

construído, escolhido pelas docentes que, em suas vivências e experiências, pressionam

o currículo instituído e prescrito nos documentos oficiais (PCN e Diretrizes

Pedagógicas) e nos livros didáticos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

“O que eu posso fazer nas aulas de História parte da minha

experiência. É assim que eu trabalho com eles. A gente vai

experienciando, assim, na sala mesmo”.

Cecília, Professora da Escola Municipal Luiz Anselmo

Escrever as considerações finais significa apresentar algumas reflexões feitas ao

longo de mais de quatro anos de pesquisa, provenientes da trajetória experiencial como

professora do curso de Pedagogia e como pesquisadora do tema Ensino de História e

Anos Iniciais.

A história ensinada na cidade de Salvador é uma história que vai e vem, avança e

recua. As professoras apresentaram um quadro paradoxal: no mesmo espaço-tempo

desenrolam-se práticas pautadas na reprodução dos fatos trazidos pelo livro didático e

também momentos de diálogo e reflexões sobre o conteúdo de História que é

apresentado às crianças. Se, em alguns momentos, a aula expositiva é a metodologia

mais utilizada, o “contar a história da história” e “conversar sobre a história” também

são trazidos para a sala de aula, como meios de tornar o ensino da disciplina mais

atraente e prazeroso. O livro didático convive com as rodas de conversa, com a

utilização de filmes, músicas, pesquisas, poemas, jograis e teatros, nas turmas do 5º ano

do Ensino Fundamental na cidade de Salvador.

Ensina-se nas salas de aula do 5º ano uma História do Brasil, a partir de recortes

“sugeridos” pelas habilidades listadas nos Diários de Classe, que aparentemente primam

pelo ensino da disciplina, a partir de eixos temáticos: deslocamento populacional;

organizações e lutas de grupos sociais e étnicos; organizações políticas e administrativas

urbanas; organização histórica e temporal. A partir das falas, das escritas e das

observações realizadas percebo a ênfase nas datas cívicas comemorativas, numa

História Política do Brasil e pouco trabalho com a história de vida das crianças, de suas

localidades, mesmo que a história local apareça em alguns momentos nas escritas das

professoras, como um eixo do trabalho em sala de aula.

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Identidade, comunidade e sujeito são os eixos estruturantes das habilidades

listadas nos Diários do 5º ano. Contraditoriamente, algumas professoras afirmam que

planejam as aulas de História, a partir destas habilidades, mas consideram como mais

importante lecionar uma História que faça as crianças saírem de suas comunidades, indo

além do bairro que habitam. Escolha que pode ocasionar uma não identificação da

criança com a História que estuda. Ao se tratar, em sala de aula, somente de

acontecimentos acerca de outros homens, de outras sociedades, de outros tempos, sem

estabelecer a relação com a história, a sociedade e o tempo da criança, na atualidade, os

pequenos sujeitos históricos não se veem representados naquelas aulas, naqueles textos,

naqueles fatos históricos, constantemente trazidos para a sala de aula. Não defendo aqui

um ensino endógeno, pautado exclusivamente na rua, no bairro, na cidade em que a

criança mora. Mas que estes universos sejam compreendidos em suas relações com

outras comunidades, outros sujeitos e outras cidades.

Maria (2014) reflete que muito se modificou, nas aulas de história, que as

professoras buscam as mudanças e as transformações, mas esbarram em algumas

limitações: a falta de recursos e de equipamentos, em grande parte das escolas, e a

fragilidade que possuem no domínio dos conhecimentos específicos para lecionar a

disciplina História. A falta de autonomia real no trabalho docente também é trazida à

tona, pelas professoras, como um impeditivo de suas ações docentes. O controle

exacerbado exercido pelo Estado, representado pela SMED, influi no cotidiano escolar,

cujas professoras se sentem, a cada dia, mais controladas e submetidas a lógicas

administrativas e regulações de um currículo que se (re)faz a partir e pelas avaliações

externas realizadas com as crianças do 5º ano.

A experiência proveniente de suas trajetórias de vida, pessoal e profissional, é

vista pelas docentes como o saber que mais as auxilia quando de seu planejamento e da

ação docente em sala de aula. Por meio da experiência, aprendem o que dá certo e o que

precisa ser descartado ou revisto. Não aprenderam nos cursos de Pedagogia os

conteúdos da História e muito menos como ministrar aulas de História. Cecília (2014) e

Maria (2014), recorrentemente, em suas falas, teceram críticas sobre a formação do

pedagogo, sobre as fragilidades advindas de uma formação que não considerou as

especificidades de cada área de conhecimento.

Há quinze anos atuam como professoras dos Anos Iniciais e durante este tempo

aprendem a lecionar história “experienciando”, acertando e errando. Para Paulo Freire,

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o ser humano é “incompleto e inacabado” (FREIRE, 1979, p. 27), o que significa que a

formação precisa ser contínua e perene. Constante em um contexto pautado por uma

política de formação continuada, que não seja de responsabilidade única das professora

mas sim do Estado através da promoção de políticas públicas.

De acordo com as professoras entrevistadas e as docentes respondentes do

questionário, existe uma preocupação por parte da Secretaria Municipal de Educação

com a formação exclusiva nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Neste

contexto, não existe uma coexistência equilibrada entre os conhecimentos destas áreas e

os conhecimentos de outras áreas do saber, como os saberes da História. A

interdisciplinaridade, mesmo proclamada, não é realizada no cotidiano escolar.

História, Geografia e Ciências são disciplinas menosprezadas e por que não

afirmar, esquecidas na correria do cotidiano escolar. Deixadas de lado, nos excessos da

carga horária destinada a Português e Matemática, nos projetos enviados pela SMED, a

serem desenvolvidos em um tempo muito curto, e nas situações não previstas no

planejamento, que ocorrem todas as semanas nas unidades escolares. Leitura de mundo

e não exclusivamente a leitura da palavra, lema de Paulo Freire (1979) sobre uma

educação mais integral, crítica e emancipadora. Para ler um texto, é necessário ler seu

contexto e vice-versa. O objetivo da educação do século XXI é a alfabetização de forma

integradora, é a escola promover, em conjunto com a sociedade, o sentido e a

significância do conhecimento. Mas, apesar dos discursos das professoras e dos

educadores, em geral, se referirem muito a mudanças, a transformações, estas ocorrem

de modo muito lento nas salas de aula.

A crítica social, política e econômica, precisa ocorrer por parte de todos os

a(u)tores envolvidos na educação. É necessário que esta crítica esteja presente nas

práticas educativas do cotidiano das salas de aula e das escolas. Não é objetivo deste

trabalho ser imediatista ou possuir um cunho utilitarista, mas é preciso refletir sobre as

possibilidades de diminuir as lacunas e superar o fosso existente entre a Pedagogia e a

Licenciatura de História. Caminhos que somente poderão ser construídos a partir do

trabalho coletivo. Os professores precisam sair do universo de sua sala de aula para

pensar a escola de modo amplo e colaborativo. A escola precisa ser pensada sob o ponto

de vista de uma identidade escolar, e não exclusivamente a partir do microcosmo da sala

de aula, que se encerra em si mesma.

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241

Nas batalhas e cansaços do cotidiano, o professor precisa ser reencantado,

seduzido novamente para sua profissão e um dos caminhos é a formação continuada.

Uma formação que seja intra e extra escolar. A construção de espaços de diálogo e de

momentos formativos nos quais a troca de experiências entre as docentes seja

valorizada, em detrimento de um AC individualizado e realizado, em grande parte, entre

as coordenações e as professoras, de forma isolada.

A SMED de Salvador instituiu, desde o ano de 2015, o Dia da Reserva, um dia

letivo por semana dedicado pelas professoras e professores à formação continuada. Este

dia poderia ser o momento em que cursos de curta duração ou oficinas fossem

organizados, a partir de uma escuta feita às docentes da rede, para que suas necessidades

fossem consideradas e as professoras convidadas a participar. Caso sejam momentos

organizados pelos sujeitos externos ao ambiente escolar, sem a (co)participação das

professoras da rede municipal, tais iniciativas correm o risco de serem percebidas pelas

docentes como uma imposição do Estado, mais uma obrigação, e relutarão em participar

destes momentos formativos.

A formação continuada não é o único caminho para a diminuição ou o fim destas

fragilidades e do baixo background das professoras. A formação inicial ofertada nos

cursos de Pedagogia há de ser revista, considerando ser este um espaçotempo de

produção da profissão docente. As Instituições de Ensino Superior precisam se

predispor a atualizarem seus currículos sempre que necessário e promoverem

paralelamente ações extensionistas e de pesquisa (pesquisa formação, pesquisa ação) em

conjunto com as docentes da Educação Básica.

As professoras sentem necessidade e precisam estar cientes do caminho a ser

construído, e não trabalhar disciplinas ao sabor do vento e das imposições de um

currículo que compreende a leitura e a escrita como responsabilidade de uma área do

conhecimento, a Língua Portuguesa. Manter a leitura e a escrita em uma caixinha de

conhecimento separada é perpetuar a formação de crianças que não produzem, mas sim

reproduzem contextos.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Pedagogia defendem uma

formação para o Pedagogo que o prepare para a docência na Educação Infantil, nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na Educação de Jovens e Adultos, nos espaços

não escolares, e para a gestão do trabalho pedagógico. Muitas frentes de

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responsabilidade para o curto tempo de quatro anos, duração média dos cursos de

Pedagogia ofertados no Brasil.

Para as Diretrizes, documento sancionado em 2006, o egresso de Pedagogia deve

estar preparado para lecionar Português, Matemática, Ciências, História, Geografia,

Artes, Educação Física de forma interdisciplinar, em acordo com as diversas fases do

desenvolvimento do ser humano. Sabe-se que preparar o egresso capaz de atuar em

tantas frentes de trabalho, na carga horária mínima definida na atualidade pelas

Diretrizes, significa uma formação superficial em algumas áreas do conhecimento, em

detrimento de outros saberes considerados historicamente mais importantes para o

crescimento e a inserção da criança na sociedade da qual participa.

Não é intenção deste trabalho proceder ao levantamento dos currículos dos cursos

de Pedagogia, mas considerando minha trajetória profissional nestes cursos, percebo

que as Metodologias e Práticas de Ensino de História possuem carga horária menor, em

relação à carga horária de componentes curriculares voltados para a aprendizagem da

leitura e da escrita, por parte da criança. O currículo do Ensino Superior reproduz a

visão compartimentalizada do saber acerca da alfabetização, esta vista de forma isolada

e não integrada às demais áreas do conhecimento. Se não há a integração dos saberes

nos cursos de licenciatura do Ensino Superior, não se pode esperar que as professoras,

num passe de mágica, ergam pontes e construam a interdisciplinaridade entre os vários

conhecimentos que permeiam o currículo e o cotidiano dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental.

A análise dessas práticas constitui a outra possibilidade para uma formação mais

centrada nas ações docentes, a partir das experiências das professoras que atuam no 5º

ano do Ensino Fundamental. Foi inquietante perceber que as professoras gostariam de

ministrar a disciplina História de outro modo, mas não sabem como fazer. Veem a si

mesmas como barcos sem leme, que vão para qualquer lugar, a depender dos ventos que

sopram, dos materiais que são disponibilizados e dos insights que ocorrem em suas

vivências. Há então que se constituir espaçostempo formativos, em duas frentes, sem

perder de vista o prazer e a necessidade da formação feita de forma contínua, por toda a

vida profissional: a inicial, com a revisão dos currículos dos cursos de Pedagogia, e a

continuada, com cursos e oficinas sobre a área específica de História.

A experimentação, a inovação, o ensaio e a socialização de novos modelos de

trabalho pedagógico precisam ser incentivados, pensados e articulados às práticas

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educativas das professoras, com o objetivo de estimular o desenvolvimento profissional

e pessoal das docentes. Meus dizeres não se encerram aqui, mas continuarão nas

reflexões que serão realizadas em minha atuação como professora de Prática Reflexiva

do Ensino de História na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, num processo

de (auto)formação contínua, juntamente com as minhas alunas, futuras professoras ou

docentes em exercício nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

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263

APÊNDICES

APÊNDICE 1

LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS NO IX ENPEH (2011)

Autor (es) Título do Trabalho

Aléxia Pádua Franco e Ernesta Zamboni De Livros de História a livros de leitura: a

apropriação docente dos livros do PNLD

nas séries iniciais do ensino fundamental

Ana Marluce Rodrigues Teixeira de

Oliveira

Ensino de História através de projetos:

uma prática para o ensino fundamental e

médio

Araci Rodrigues Coelho Formação de professores e saberes

docentes: relações entre as práticas

docentes, as condições de trabalho e os

saberes docentes no ensino de História nas

séries iniciais

Edna Ferreira CECIS: um desafio intercultural na

educação escolar indígena

Ida Hammerschmitt O livro didático em aulas de História nos

anos iniciais do ensino fundamental

Jaqueline Ap. M. Zarbato Os usos dos conceitos históricos pelas

professoras das séries iniciais

Marianna Nogueira e Ester Hinterlang de

Barros Possi

Formação de professores para os anos

iniciais – transformações e permanências

Marilane Schatzmann e Claricia Otto Os saberes da experiência na compreensão

da história ensinada

Maria Teresa Santos Cunha Lições de História para a escola primária:

a série de leitura graduada “Pedrinho” de

Lourenço Filho (décadas de 50/70 do

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264

século XX)

Jeane Carla Oliveira de Melo Encontros e desencontros entre a memória

e o ensino de História em séries iniciais:

vozes de professoras e suas memórias

escolares

Marlene Rosa Cainelli e Sandra Regina

Ferreira de Oliveira

Ensinar e aprender história: concepções de

professoras

Olavo Pereira Soares Formulação conceitual e ensino de

História para crianças

Susana Emma Bertorello La Enseñanza de la historia local y

regional en la escuela primaria

Renata Cristina da Conceição Bento Ensino de História nas séries iniciais:

jogando com as identidades e inventando

tradições

Sandra Regina Ferreira de Oliveira e

Marlene Rosa Cainelli

Histórias de sucesso pedagógico: outros

olhares para o ensino e a aprendizagem de

História na escola

Soeli Regina Lima História e literatura infantil nas séries

iniciais: um entrecruzamento de sucesso

para a aprendizagem da Guerra do

Contestado

Marilei da Silva As professoras dos anos iniciais e seus

saberes no ensino do tempo histórico

Tiago Costa Sanches Consciência histórica de professores das

séries iniciais

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265

APÊNDICE 2

LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS NO VI PERSPECTIVAS

DE ENSINO DE HISTÓRIA (2007)

Título Autor (es)

A formação de conceitos históricos: o

ensino de História em séries iniciais.

2007. Monografia de Especialização

Tiago Costa Sanches

Tecendo fios: as culturas do brincar como

espaços de História e Memória

Thaís de Souza Silva

A construção do saber histórico nas séries

iniciais do ensino fundamental: o uso de

fontes

Susana Barbosa Ribeiro Bernardo

Cristiano Biazzo Simon

Desbravadores e Pioneiros: o pensar

histórico de crianças sobre a história de

Lodrina

Marlene Rosa Cainelli

Projeto His-cola: o olhar das famílias e as

perspectivas para o Ensino de História

Nara Maria da Silva Foss Guarda

Sandra Regina Ferreira de Oliveira

Projeto His-cola: qual a dificuldade em se

aprender História?

Sandra Regina Ferreira de Oliveira

Um novo lugar para o documento

histórico: configurações, acenos e

possibilidades para uma nova prática de

ensino de História nas séries iniciais

Maria Telvira da Conceição

Entre a História e a Geografia: o primeiro

livro de corografia para o ensino primário

em Sergipe

Maria Fernanda dos Santos

As crianças e suas representações sobre as

relações raciais

Maria de Fátima Salum Moreira

Ensino de História na Educação Básica: Margarida Maria Dias de Oliveira

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266

análise da Revista Nova Escola (1992-

1999)

Ana Maria do Nascimento Moura

Mônica Fagundes de Sousa e Silva

Victor Gabriel Campêlo Assunção

O Livro didático de História nas séries

iniciais nas escolas de Santa Catarina

Leia Adriana da Silva Santiago

Maria de Fátima Sabino Dias

Os saberes docentes na disciplina História

em séries iniciais: aspectos da cultura

escolar no ensino público maranhense

Jeane Carla Oliveira de Melo

Linguagem visual e aprendizagem: um

estudo das soluções gráficas em livros

didáticos de História para as séries iniciais

do Ensino Fundamental

Hermeson Alves de Menezes

Uso do Guia de livros didáticos de

História em escolas do Ensino

Fundamental (Umbaúba- SE)

Durcinete Monteiro Andrade de Carvalho

Maria Rozângela Alves dos Santos

As estratégias textual-discursivas de

construção de sentido nos livros didáticos

de História do Ensino Fundamental

Christianne de M. Gally

O livro didático de História nas séries

iniciais nas escolas de Santa Catarina

Léia Santiago

Maria Sabino Dias

Page 269: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

267

APÊNDICE 3

LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS NO VII PERSPECTIVAS

DE ENSINO DE HISTÓRIA (2009)

Título Autor (es)

Práticas e apropriações no ensino de

História das séries iniciais do Ensino

Fundamental

Miriã Lúcia Luiz

Wallace Manoel Hupp

Perspectivas para o letramento em

História

Helena Miranda Mollo

Lucas de Melo Andrade

Mariane dos Santos Maróstica

Parâmetro Curricular de História: do

discurso oficial sobre a explicação

histórica às elaborações de professores das

séries iniciais

Denise Martins Américo de Souza

O Ensino de História nos anos iniciais do

Ensino Fundamental: uma proposta de

intervenção pedagógica

Marizete Lucini

Ensino e práticas pedagógicas locais nos

anos iniciais do Ensino Fundamental:

investigação e proposta interdisciplinar de

intervenção na realidade

Flávio Sampaio

Isabela de Lima

Crianças da 4ª. série (atual 5º. Ano) e suas

relações com artefatos tecnológicos:

investigações metodológicos para o estudo

de repercussões para o ensino de história

Mariana Sieni Gallo

Magda Madalena Tuma

Page 270: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

268

A obra de Vigotski52 e os referenciais

teóricos sobre o ensino de História das

séries iniciais

Raquel Dias Telecesqui

Olavo Pereira Soares

O Pedagogo e as diversas inquietações

sobre o que e como ensinar História

Rubia Guiomar dos Santos Thomsen

Os saberes e as práticas de ensino de

história na ótica das professoras dos anos

iniciais do Ensino Fundamental: um

estudo de caso

Raquel Elane dos Reis Alves

Selva Guimarães Fonseca

Cartilhas da nacionalidade e ensino de

História: os livros de leitura na formação

da infância brasileira

Ricardo Oriá

Práticas de ensino em História e Geografia

e atlas escolar municipal

Andréa Coelho Lastória

52 O nome correto é Vygotsky. Mas mantive o nome conforme publicado no texto apresentado no

VII Encontro Perspectivas.

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269

APÊNDICE 4

LISTA DE COMUNICAÇÕES ORAIS APRESENTADAS NO VIII PERSPECTIVAS

DE ENSINO DE HISTÓRIA (2012)

Título Autor (es)

O Belo e o Feio: interpretações infantis

sobre a rua Sergipe

Angélica Maria de Matos

Érika Mieko Motomura

Heloísa Helena Aparecida Chaves Duarte

Memória e Patrimônio Histórico:

alavancas para uma aprendizagem

significativa

Kenya Vieira de Souza e Silva

Vanessa Duarte

Sirlei Borrasca de Brito

Carolina Rodrigues de Carvalho

O professor e utilização de fontes

históricas: algumas possibilidades para as

séries iniciais

Lilian Aparecida de Souza

As transformações no calçadão de

Londrina: elementos para a construção de

identidade

Silvana Muniz Guedes

Sandra Regina Ferreira de Oliveira

O ensino de história nos anos iniciais de

escolaridade do Colégio Pedro II:

possibilidades narrativas a partir da

disciplina Estudos Sociais

Luciene Maciel Stumbo Moraes

Saberes históricos escolares: nos

entrecruzamentos de experiências

formativas e perspectivas de formação

histórica

Marta Margarida de Andrade Lima

Ofélia Nascimento e a história de Goiás

para crianças nos anos 1930

Miriam Bianca Amaral Ribeiro

Álbum de figurinhas do CP: o lúdico e o

ensino de história

Sarah Alves

Cláudia Sapag Ricci

Page 272: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

270

As perspectivas infantis no ensino de

história: representações discentes

Adriana Kivanski de Senna

Derocina Alves Campos

Formação em Pedagogia e Ensino de

História

Marizete Lucini

A proposta para o ensino de História nos

anos iniciais em Aracaju-SE

Vanessa dos Santos Macedo

Marizete Lucini

A criança e a construção do conhecimento

histórico

Elvis Roberto de Lima da Silva

Alex Barreiro

Interdisciplinaridade e/ou

transversalidade: olhares sobre as

representações históricas e ambientais em

espaços escolares sergipanos

Mônica Andrade Modesto

Paulo Heimar Souto

O ensino de história nos anos iniciais:

pesquisa exploratória com professores do

ensino fundamental I

Vivyanne Sztanderski Curalov

Conhecimento histórico e o cenário de

novos mapas culturais

Maria Thereza Didier

Eleta de Carvalho Freire

Margarete Maria da Silva

Uma história a serviço do estado:

memórias dos tempos de escola (SC,

1930/1970)

Clarícia Otto

Daniela Eli

Qual a relação entre ensinar e aprender

História na escola e a hora do “recreio”?

Diva Riciolina Machado

Lissandra Marques Martins Romangnolli

Quitéria Aparecida Batista

Silvana Muniz Guedes

Thamiris Bettiol Tonholo

Práticas culturais e a formação das

alfabetizadoras no ensino de História na

EJA

João Carlos Ribeiro de Andrade

Saberes Docentes e história nos anos

iniciais: a noção de tempo em questão

Rosilda Benacchio

Tecnologia e História: a cultura da escola Ana Cláudia Cerini Trevisan

Page 273: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

271

e os saberes das professoras dos anos

iniciais do ensino fundamental

Magda Madalena Perusin Tuma

Tradição, passado e memória: o saber dos

transeuntes do Calçadão sobre a história

da cidade

Izadora Maleski Serrano Alves

Sandra Regina Ferreira de Oliveira

Os PCNs e o ensino de história nas séries

iniciais na Amazônia Tocantina (Cametá-

Pará)

Ivo Pereira da Silva

Francivaldo Alves Nunes

Pedro Valmir G. de Souza

Glaucia Amaral

O ensino de história no 3º. Ano das séries

iniciais: representações e práticas docentes

Jaquelini Scalzer

Trajetórias e marcas do ensino de história

numa perspectiva coletiva

Jeniffer de Souza Faria

Daniele de Souza Barbosa

Michely Dornellas Pinto

Camila Silva Pinho

Caminhos do Rio: uma prática de ensino

sobre a história da cidade

Renata de Faria Pereira

A interação com artefatos tecnológicos e a

construção do conhecimento histórico: um

estudo com crianças da 4ª. série do Ensino

Fundamental

Mariana Sieni da Cruz Gallo

Magda Madalena Perusin Tuma

História e ensino de História: tradição,

memória e práticas pedagógicas nos anos

iniciais do ensino fundamental

Silma do Carmo Nunes

Referência temporal a partir da construção

de uma “linha do tempo”

Eduardo Carracelas Lamela, Bruno Cesar

Santos de Souza e Gilson Felipe R. de

Lima

As comemorações no cotidiano escolar:

reflexões sobre as atividades realizadas

por professoras nos anos iniciais do

ensino fundamental em História

Maria Aparecida da Silva Cabral

Datas comemorativas: entre a tradição Thamiris Bettiol Tonholo

Page 274: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

272

curricular e a necessidade de uma

aprendizagem significativa

Sandra Regina Ferreira de Oliveira

O currículo de história nos anos iniciais e

a construção de identidades em uma

escola pública de Aracaju-SE

Mônica dos Reis Santos

A história que aprendemos é a que

ensinamos?

Eline Andréa Dornelas

Metodologias no Ensino de História e o

Processo de Construção Identitária

Erika Dias Santos

O ensino de História nos anos iniciais da

Educação Básica a partir de desenhos

animados

Eliane Mimesse

Ana Paula Vicente

Ensino de História em Interface às

tecnologias

Camila Nataly Pinho Dumbra

Eucídio Pimenta Arruda

História (mal) contada às crianças:

sujeitos marginais no livro didático

Andréa Giordanna Araújo da Silva

Page 275: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

273

APÊNDICE 5

LISTA DE TEXTOS APRESENTADOS EM EVENTOS ACADÊMICOS DIVERSOS

OU PUBLICADOS EM PERIÓDICOS BRASILEIROS SOBRE ENSINO DE

HISTÓRIA E SÉRIES/ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Título Autor (es) Evento

Práticas de Leitura do Livro

Didático de História nas

Séries Iniciais: múltiplas

leituras e produções de

conhecimentos escolares

Fernanda Ferragut Fávaro XVI ENDIPE – Encontro

Nacional de Didática e

Práticas de Ensino - 2012

Práticas Educativas – O

Ensino de História e a

formação do professor das

séries iniciais

Vilma Fernandes Neves Não localizado

O professor pedagogo e o

ensino de História para

crianças: métodos,

conteúdos e concepções

Patrícia Karla Soares

Santos Dorotéio

IX Simpósio Nacional de

Pesquisa em Educação -

2015

Ensino de História,

diversidade cultural e

currículo: os saberes

docentes e suas práticas

Jaqueline Ap. M. Zarbato Revista Escritas, v. 4,

2012.

A história local como eixo

temático das séries iniciais

Delsa Maria Santos de

Morais

Elinalva dos Montes

Ramalho

Maria do Socorro Borges

da Silva

Não localizado

O ensino de história nas Aldenice do Nascimento IV FIPED – Fórum

Page 276: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA de... · cozinhamos, nos puxamos as orelhas. Como aprendi com todos. A vocês dedico a música de Milton Nascimento, “Canção da América”

274

séries iniciais do ensino

fundamental: a dimensão

profissional das práticas

pedagógicas

Araújo

Norma Sheilla Freitas de

Oliveira

Internacional de

Pedagogia - 2012

O uso do livro didático de

história nas séries iniciais

do ensino fundamental

Jaqueline Lesinhovski

Talamini

Tânia Maria F. Braga

Garcia

ANPED – Sul - 2008

Saberes e práticas de

Ensino de História: a

implementação dos PCNs

nas séries iniciais do

Ensino Fundamental

Michele Cristina Moura

Selva Guimarães Fonseca

Ensino em Re-vista,

2002-2003

O desafio do ensino de

história nas séries iniciais: a

questão do nacionalismo

Patrícia Bastos de Azevedo Evento do Prodocência -

UFRRJ

O ensino de história nas

séries iniciais da

escolarização: refletindo

sobre as concepções dos

professores e sua prática

pedagógica

Susi Cristina do

Nascimento

ANPUH – João Pessoa,

2003.

O ensino de história nas

séries iniciais

Jean Carlos Cerqueira

Pereira

Lilian Miranda Bastos

Pacheco

10ª. Jornada do

HISTEDBR – UESB –

2011.

O ensino de história nas

séries iniciais: cruzando as

fronteiras entre a História e

a Pedagogia

Sandra Regina Ferreira de

Oliveira

Revista História e

Ensino, 2003.

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275

APÊNDICE 6

ROTEIRO SEMI-ESTRUTURADO DE ENTREVISTA DAS DOCENTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ROTEIRO DE ENTREVISTA (Professoras)

1 – Identificação de dia, hora e nome completo da entrevistada.

2 – Identificação por parte da entrevistada: nome completo, instituição na qual trabalha,

cargo que ocupa.

3 – Formação da entrevistada.

4 – Tempo de serviço

5 – Influências na sua formação: existência de disciplina específica sobre ensino de

história e das outras áreas específicas.

6 – Tempo de docência geral e nos anos iniciais, especificamente no 5. Ano.

7 – Narrar o perfil da sua sala de aula.

8 – Percepções sobre a organização do currículo escolar dos anos iniciais do ensino

fundamental

09 – Percepções sobre a organização do currículo escolar do 5. Ano.

10 – Percepções sobre a organização do currículo escolar de história dos anos iniciais

como um todo e do 5. Ano em particular.

11 – Percepções sobre as influências teóricas e pedagógicas neste currículo: quais

seriam.

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276

11.1. – Visões de mundo, sociedade, homem, educação, política, cultura, econômica

presentes neste currículo.

11.2. - Percepções sobre as influência da historiografia no currículo do 5. Ano e dos

anos iniciais.

12 – O sujeito a ser formado por este currículo

13 - Frequência com que ocorrem as aulas de história.

13.1. – Motivos para a frequência relatada.

14 - Seleção dos conteúdos e das metodologias das aulas de história.

15 – Percepções sobre a sua prática docente ao lecionar a disciplina História.

16 – Percepções sobre os saberes necessários para lecionar história no 5. Ano do ensino

fundamental.

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277

APÊNDICE 7

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Tatiana Polliana Pinto de Lima, doutoranda do Programa de Pós-graduação em

Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, estou realizando

uma pesquisa sob a orientação da professora Maria Antonieta de Campos Tourinho,

intitulada: “ENTRELAÇANDO SABERES, CONSTRUINDO A TEIA: AS

PRÁTICAS DE ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS NA CIDADE DE

SALVADOR/ BAHIA”, cujo objetivo central é identificar e Analisar as práticas

escolares nas aulas de história dos professores polivalentes que ministram aulas para o

5. Ano do Ensino Fundamental em escolas públicas municipais da cidade do Salvador,

localizada na Bahia.

Nesta pesquisa serão analisados documentos, tais como projetos pedagógicos, planos de

curso e de aulas, diretrizes curriculares do município, realizadas entrevistas semi-

estruturadas com as professoras que lecionam no 5. Ano lotadas nas escolas lócus da

pesquisa e observações das aulas de história ministradas por estas professoras e com as

coordenadoras pedagógicas destas escolas.

Desta forma, convidamos o (a) Sr (a) para participar deste pesquisa. Sua participação é

voluntária e se dará por meio da concessão de entrevista e permissão para que suas aulas

possam ser observadas ao longo dos meses de outubro e novembro do ano de 2014.

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente o (a) Sr (a) estará contribuindo

para a compreensão do fenômeno em estudo e para a produção de conhecimento científico.

Devemos esclarecê-lo (a) ainda de que as informações dadas por você serão utilizadas para o

alcance do objetivo descrito acima e serão divulgadas, em congressos, eventos científicos,

artigos e na escrita da tese de doutoramento, o que pode gerar constrangimentos dada a

identificação da escola bem como do ano específico do ensino fundamental a serem feitos nas

produções ligadas à esta pesquisa.

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278

Se depois de consentir em sua participação o Sr (a) desistir de continuar participando,

tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa,

seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum

prejuízo a sua pessoa. O (a) Sr (a) não terá nenhuma despesa e também não receberá

nenhuma remuneração. Reiteramos que os resultados da pesquisa serão analisados e

publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.

Para qualquer outra informação, o (a) Sr (a) poderá entrar em contato com o

pesquisador no Programa de Pós-graduação em Educação da UFBA, localizada no Vale

do Canela, pelo telefone (71) 91659325 e/ou pelo e-mail: [email protected]

Consentimento Pós–Informação

Eu, ___________________________________________, fui informado (a) sobre o que

o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação.

Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que

posso sair quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós.

______________________ Data: ___/ ____/ _____

Assinatura do participante

_______________________________________

Tatiana Polliana Pinto de Lima (Pesquisadora)

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279

APÊNDICE 8

OFÍCIOS ENCAMINHADOS A DIRETORIA PEDAGÓGICA DA SMED PARA

AUTORIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA NAS ESCOLAS

MUNICIPAIS DE SALVADOR/ BA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Salvador, BA 28 de maio de 2015.

Ilmo (a) Sr (a)

Gostaria de solicitar a colaboração da Secretaria Municipal de Educação da cidade de

Salvador-BA no sentido de autorizar o desenvolvimento da pesquisa de Doutorado em

andamento no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da

Bahia (UFBA) intitulada “Entrelaçando saberes, construindo a teia: as práticas do

Ensino de História no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade de Salvador/

Bahia”.

Esta pesquisa possui por objetivo principal compreender como está sendo ministrada a

disciplina História atualmente no 5º ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas da

cidade de Salvador/ BA. Trata- se de identificar as mudanças e permanências que se

apresentam no ensino de história em relação à história considerada como tradicional.

Almeja-se neste processo considerar o olhar, o objetivo, os valores e as atitudes que um

dado grupo (os professores do ensino fundamental) têm sobre a história ensinada no 5º

ano, não desconsiderando as políticas educacionais implementadas pela Secretaria de

Educação da cidade de Salvador.

Esta pesquisa é de abordagem quanti-qualitativa possuindo o questionário estruturado

em questões abertas e fechadas como técnica de coleta. Este será aplicado junto aos

professores do 5º ano do Ensino Fundamental de algumas escolas municipais da cidade

de Salvador nos meses de junho e julho de 2015.

Para a aplicação do questionário teremos a coordenadora da pesquisa e doutoranda

Tatiana Polliana Pinto de Lima (RG 21277461-12), bem como suas auxiliares de

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280

pesquisa a saber: Maria Mônica de Queiroz Pestana (RG 1875876-20); Verônica

Maria dos Santos (RG 05756847-20) e Viecha Vinhático Souza (RG 0968684491)

percorrendo as escolas abaixo selecionadas.

GRE Cidade Baixa

E. M. Alfredo Amorim

E. M. Almerinda Costa

E. M. Carmelitana 25 de Agosto

E. M. Centro Social Mangueira

E. M. Constança Medeiros

E. M. Dr. Augusto Lopes Pontes

E. M. Elyona Barradas

E. M. Geraldo Tavares

E. M. Hilberto Silva

E. M. Santa Bárbara

GRE Liberdade

E. M. Abrigo dos Filhos do Povo

E. M. Barão do Rio Branco

E. M. Cardeal da Silva

E. M. Centro Educacional Carlo Novarese

E. M. Centro Paroquial Paulo IV

E. M. da Cidade Nova

E. M. Josafa Carlos Borges

E. M. Julieta Viana

E. M. Major Eloi Magalhães

E. M. Professor Suzana Imbassahy

GRE Pirajá

E. M. Adilson de Souza Gallo

E. M. Allan Kardec de Pirajá

E. M. Antônio Martins Damasceno

E. M. Cecília Meireles

E. M. Cleriston Andrade

E. M. Irmã Mariana

E. M. Jaime Vieira Lima

E. M. Zilda Arns

GRE São Caetano

E. M. Antônio Carlos Magalhães

E. M. Assistência Social São José

E. M. Austriciliano de Carvalho

E. M.Batista de San Martim

E. M. Criança Feliz

E. M. Educador Paulo Freire

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281

E. M. Engenheiro Carlos Batalha

E. M. Prof. Antônio Carvalho Guedes

E. M. Marechal Rondom

GRE Subúrbio 2

E. M. Almirante Ernesto de Mourão de Sá

E. M. Alto de Coutos

E. M. Anfilofio de Carvalho

E. M. Cid Passos

E. M. Dom Pedro l

E. M. Fernando Presidio

E. M. Nossa Senhora da Conceição

E. M. Rui Barbosa

E. M. Visconde de Cairu

E. M. de Paripe

GRE Subúrbio 1

E. M. Darcy Ribeiro

E. M. Catarina Paraguacu

E. M. Armando Carneiro da Rocha

E. M. Graciliano Ramos

E. M. Cidade de Itabuna

E. M. Coração de Jesus

E. M. de Plataforma

E. M. Esther Felix da silva

E. M. de Itacaranha Manoel Faustino

E. M. Professor Italo Gaudenzi

GRE Cabula

E. M. de Nova Sussuarana

E. M. Maria Constanca

E. M. Acelino Maximiano da Encarnação

E. M. Cabula I

E. M. Jardim Santo Inácio

E. M. Antonio Euzebio

E. M. Governador Roberto Santos

E. M. Hildete Bahia de Souza

E. M. Maria Felipa

GRE Itapoan

E. M. Cidade Vitoria da Conquista

E. M. do Pescador

E. M. Lagoa do Abaete

E. M. Allan Kardec

E. M. Agnelo de Brito

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282

E. M. Luiza Mahim

E. M. Carlos Murion

GRE Centro

E. M. Amelia rodrigues

E. M. Cosme de Farias

E. M. Luiz Anselmo

E. M. Maria Quiteria

E. M. Paroquial da Vitoria

E. M. Santa Rita

E. M. Professor Alexandre Leal Costa

GRE Orla

E. M. Casa da Amizade

E. M. Osvaldo Cruz

E. M. Santa Terezinha do Chame Chame

E. M. Hercilia Moreira

E. M. Sao Goncalo

E. M. Senador Antônio Carlos Magalhães

Desde já agradecemos pela disponibilidade

_______________________________________________

Profa. Dra. Maria Antonieta de Campos Tourinho.

Professora Associada da Universidade Federal da Bahia.

Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia

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283

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Salvador, BA 27 de julho de 2015.

Ilmo (a) Sr (a)

Gostaria de solicitar a colaboração da Secretaria Municipal de Educação da cidade de

Salvador-BA no sentido de autorizar o desenvolvimento da pesquisa de Doutorado em

andamento no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da

Bahia (UFBA) intitulada “Entrelaçando saberes, construindo a teia: as práticas do

Ensino de História no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade de Salvador/

Bahia”.

Esta pesquisa possui por objetivo principal compreender como está sendo ministrada a

disciplina História atualmente no 5º ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas da

cidade de Salvador/ BA. Trata- se de identificar as mudanças e permanências que se

apresentam no ensino de história em relação à história considerada como tradicional.

Almeja-se neste processo considerar o olhar, o objetivo, os valores e as atitudes que um

dado grupo (os professores do ensino fundamental) têm sobre a história ensinada no 5º

ano, não desconsiderando as políticas educacionais implementadas pela Secretaria de

Educação da cidade de Salvador.

Esta pesquisa é de abordagem quanti-qualitativa possuindo o questionário estruturado

em questões abertas e fechadas como técnica de coleta. Este será aplicado junto aos

professores do 5º ano do Ensino Fundamental de algumas escolas municipais da cidade

de Salvador nos meses de junho e julho de 2015.

Para a aplicação do questionário teremos a doutoranda Tatiana Polliana Pinto de

Lima (RG 21277461-12), bem como suas auxiliares de pesquisa a saber: Maria

Mônica de Queiroz Pestana (RG 1875876-20); Verônica Maria dos Santos (RG

05756847-20) e Viecha Vinhático Souza (RG 0968684491) percorrendo as escolas

abaixo selecionadas.

GRE Cidade Baixa

E. M. Henriqueta Machado

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284

E. M. Professor Freire Filho

E. M. Tiradentes

E. M. Carmelitana do Menino Jesus

E. M. Centro Social Mangueira

E. M. do Uruguai

E. M. Hilberto Silva

E. M. Melvin Jones

E. M. Presidente Castelo Branco

E. M. Primeiro de Maio

E. M. Professora Maria Jose de Paula Moreira

E. M. Simões Filho

E. M. Sociedade Seis de Janeiro

E. M. Sociedade Tome de Souza

E. M. União Comunitária

GRE Cajazeiras

E. M. de Canabrava

E. M. 2 de Julho

E. M. de Novo Marotinho

E. M. Irmã Elisa Maria

E. M. de Cajazeiras XI

E. M. Profa. Irene da Silva Costa Santos

E. M. Oscar da Penha

E. M. Adauto Pereira de Souza

E. M. Irmã Dulce

GRE Pirajá

E. M. Afrânio Peixoto

E. M. Bezerra de Menezes

E. M. Conselheiro Luiz Rogério

E. M. D. Arlete Magalhães

E. M. D. Isabel Brandão Vilela

E. M. de Castelo Branco

E. M. de Pau da Lima

E. M. de São Marcos

E. M. Dois de Julho

E. M. Dr. Orlando Imbassahy

E. M. Esperança de Viver

E. M. General Labatut

E. M. João Ferreira

E. M. Manoel Clemente Ferreira

E. M. Manoel de Abreu

E. M. Profa. Alexandrina Santos Pita

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285

E. M. Profa. Hilda Fortuna de Castro

E. M. Roberto Correia

E. M. Rômulo Galvão de Carvalho

E. M. Sociedade Fraternal

E. M. Syd Porto Brandão

Desde já agradecemos pela disponibilidade

_______________________________________________

Profa. Dra. Maria Antonieta de Campos Tourinho.

Professora Associada da Universidade Federal da Bahia.

Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia

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286

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Salvador, BA 04 de agosto de 2015.

Ilmo (a) Sr (a)

Gostaria de solicitar a colaboração da Secretaria Municipal de Educação da cidade de

Salvador-BA no sentido de autorizar o desenvolvimento da pesquisa de Doutorado em

andamento no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da

Bahia (UFBA) intitulada “Entrelaçando saberes, construindo a teia: as práticas do

Ensino de História no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade de Salvador/

Bahia”.

Esta pesquisa possui por objetivo principal compreender como está sendo ministrada a

disciplina História atualmente no 5º ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas da

cidade de Salvador/ BA. Trata- se de identificar as mudanças e permanências que se

apresentam no ensino de história em relação à história considerada como tradicional.

Almeja-se neste processo considerar o olhar, o objetivo, os valores e as atitudes que um

dado grupo (os professores do ensino fundamental) têm sobre a história ensinada no 5º

ano, não desconsiderando as políticas educacionais implementadas pela Secretaria de

Educação da cidade de Salvador.

Esta pesquisa é de abordagem quanti-qualitativa possuindo o questionário estruturado

em questões abertas e fechadas como técnica de coleta. Este será aplicado junto aos

professores do 5º ano do Ensino Fundamental de algumas escolas municipais da cidade

de Salvador nos meses de junho e julho de 2015.

Para a aplicação do questionário teremos a doutoranda Tatiana Polliana Pinto de

Lima (RG 21277461-12), bem como suas auxiliares de pesquisa a saber: Maria

Mônica de Queiroz Pestana (RG 1875876-20); Verônica Maria dos Santos (RG

05756847-20) e Viecha Vinhático Souza (RG 0968684491) percorrendo as escolas

abaixo selecionadas.

GRE LIBERDADE

E. M. Adalgisa Souza Pinto

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287

E. M. do Pau Miudo

E. M. Dr. Marcos Vinicius Vilaça

E. M. Giselia Palma

E. M. Manoel Florencio

E. M. Maria Bonfim

E. M. Ministro Simões Filho

E. M. Nossa Senhora da Boa Fé

E. M. Nossa Senhora de Nazaré

E. M. Pero Vaz Velho

E. M. Pirajá da Silva

E. M. São Judas Tadeu

E. M. Vila Vicentina

E. M. Zacarias Boa Morte

GRE SÃO CAETANO

E. M. Amai Pro

E. M. Assistencial Nossa Senhora de Guadalupe

E. M. Barbosa Rodrigues

E. M. Batista de São Caetano

E. M. Bela Vista do Lobato

E. M. Campinas de Pirajá

E. M. Comunitária do Bom Juá

E. M. Comunitária Regina Stukenborg

E. M. Conego Emilio Lobo

E. M. Consul Schindler

E. M. da Fazenda Grande

E. M. do Calafate

E. M. Engenheiro Gilberto Pires Marinho

E. M. Filhos de Salomão

E. M. Fonte do Capim

E. M. Francisco Mangabeira

E. M. Helena Magalhães

E. M. Jaqueira do Carneiro

E. M. Padre Norberto

E. M. Professor Guedes

E. M. Professora Maria de Lourdes Santana Alves

E. M. Xavier Marques

E. M. 15 de Outubro

GRE SUBÚRBIO I

E. M. André Rebouças

E. M. Conego Orlando Teles

E. M. de Fazenda Coutos

E. M. Machado de Assis

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288

E. M. Maria Constancia Moraes de Carvalho

E. M. Professor Antonio Pithon Pinto

E. M. Professora Eufrosina Miranda

E. M. Professora Olga Mettig

E. M. Santa Luzia do Lobato

E. M. Santo Antonio das Malvinas

E. M. São Braz

E. M. São Roque do Lobato

E. M. Senhor do Bonfim

E. M. Tenente Almir

E. M. Ursula Catarino

GRE SUBÚRBIO II

E. M. Alvaro Vasconcelos da Rocha

E. M. Colina do Mar

E. M. D. Eugênio de Araújo Sales

E. M. de Periperi

E. M. Dr. Otaviano Pimenta

E. M. Francisca de Sande

E. M. Mirantes de Periperi

E. M. Oito de Maio

E. M. Presidente Médici

E. M. São Domingos

E. M. Alto de Coutos

Desde já agradecemos pela disponibilidade

_______________________________________________

Profa. Dra. Maria Antonieta de Campos Tourinho.

Professora Associada da Universidade Federal da Bahia.

Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia

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289

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Salvador, BA 25 de setembro de 2015.

Ilmo (a) Sr (a)

Gostaria de solicitar a colaboração da Secretaria Municipal de Educação da cidade de

Salvador-BA no sentido de autorizar o desenvolvimento da pesquisa de Doutorado em

andamento no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da

Bahia (UFBA) intitulada “Entrelaçando saberes, construindo a teia: as práticas do

Ensino de História no 5º ano do Ensino Fundamental na cidade de Salvador/

Bahia”.

Esta pesquisa possui por objetivo principal compreender como está sendo ministrada a

disciplina História atualmente no 5º ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas da

cidade de Salvador/ BA. Trata- se de identificar as mudanças e permanências que se

apresentam no ensino de história em relação à história considerada como tradicional.

Almeja-se neste processo considerar o olhar, o objetivo, os valores e as atitudes que um

dado grupo (os professores do ensino fundamental) têm sobre a história ensinada no 5º

ano, não desconsiderando as políticas educacionais implementadas pela Secretaria de

Educação da cidade de Salvador.

Esta pesquisa é de abordagem quanti-qualitativa possuindo o questionário estruturado

em questões abertas e fechadas como técnica de coleta. Este será aplicado junto aos

professores do 5º ano do Ensino Fundamental de algumas escolas municipais da cidade

de Salvador.

Para a aplicação do questionário teremos a doutoranda Tatiana Polliana Pinto de

Lima (RG 21277461-12), bem como suas auxiliares de pesquisa a saber: Maria

Mônica de Queiroz Pestana (RG 1875876-20); Verônica Maria dos Santos (RG

05756847-20), Viecha Vinhático Souza (RG 0968684491) e Naiara Aparecida da

Natividade dos Santos (RG 0873456173) percorrendo as escolas abaixo selecionadas.

GRE ORLA

E. M. Ana Nery

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290

E. M. Aristides Novis

E. M. Artur de Sales

E. M. Batista Vasco da Gama

E. M. Centro Social Neusa Nery

E. M. Comunitária Cristo Redentor

E. M. Conjunto Assistencial Nossa Senhora de Fátima

E. M. Cristo e Vida

E. M. Engenho Velho da Federação

E. M. Iacy Vaz Fagundes

E. M. José Calazans Brandão da Silva

E. M. Madre Judite

E. M. Maria Amalia Paiva

E. M. Padre José de Anchieta

E. M. Professor Antônio Carlos Onofre

E. M. Professora Anita Barbuda

E. M. Professora Gabriela Sa Pereira

E. M. Santo André

E. M. São Domingos Sávio

E. M. São João Batista

E. M. São Pedro Nolasco

E. M. Senhora Santana

E. M. Sociedade Beneficente Cultural de Amaralina

E. M. Teodoro Sampaio

E. M. Tertuliano de Góes

E. M. Vale das Pedrinhas

E. M. Zulmira Torres

GRE CENTRO

E. M. Abrigo do Salvador

E. M. Allan Kardec da Graça

E. M. Amélia Rodrigues

E. M. Capistrano de Abreu

E. M. Casa da Providência

E. M. Clemilda Andrade

E. M. Comunitária da Histarte

E. M. Dr. Fernando Montanha Ponde

E. M. Hildete Lomanto

E. M. João Lino

E. M. João Pedro dos Santos

E.M. João XXIII

E. M. Joir Brasileiro

E. M. Landulfo Alves

E. M. Lelis Piedade

E. M. Martagão Gesteira

E. M. Nossa Senhora da Salete

E. M. Nossa Senhora dos Anjos

E. M. Olga Figueiredo de Azevedo

E. M. Perminio Leite

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291

E. M. Professor Aristides Novis

E. M. Ruy de Lima Maltez

E. M. Santa Ângela das Merces

E. M. Santa Rita

E. M. Saturnino Cabral

E. M. Sebastião Dias

E. M. Soror Joana Angélica

E. M. Terezinha Vaz da Silveira

E. M. Vivaldo da Costa Lima

E. M. Visconde de Cairu

GRE ITAPOAN

E. M. Anjos de Rua

E. M. Baha I

E. M. Barbosa Romeu

E. M. Brigadeiro Eduardo Gomes

E. M. Celia Nogueira

E. M. de Nova Esperança Professor Arx Tourinho

E. M. de Pituaçu

E. M. de São Cristóvão

E. M. do Parque de São Cristóvão Professor João Fernandes da Cunha

E. M. Irma Sheila

E. M. Jorge Amado

E. M. Juarez Goes de Souza

E. M. Juiz Oscar Mesquita

E. M. Julieta Calmom

E. M. Laura Sales de Almeida

E. M. Male Debale

E. M. Manuel Lisboa

E. M. Metodista Susana Wesley

E. M. Nossa Senhora da Paz

E. M. Osvaldo Gordilho

E. M. Padre Confa

E. M. Padro Ugo Meregalli

E. M. Padre Manuel Correia de Souza

E. M. Pedro Veloso Gordilho

E. M. Raymundo Lemos de Santana

E. M. Recanto dos Coqueiros

E. M. Teresa Cristina

E. M. União Caridade e Abrigo

E. M. Vinícius de Moraes

E. M. Yves de Roussan

E. M. 25 de julho

Instituto Municipal de Educação Professor José Arapiraca

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292

GRE CAJAZEIRAS

E. M. Comunitária de Canabrava

E. M. de Canabrava

E. M. de Novo Marotinho

E. M. Professor Cláudio Veiga

E. M. Ulysses Guimarães

E. M. 2 de Julho

Desde já agradecemos pela disponibilidade

_______________________________________________

Profa. Dra. Maria Antonieta de Campos Tourinho.

Professora Associada da Universidade Federal da Bahia.

Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia

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293

APÊNDICE 9

CARTA AS PROFESSORAS CONTENDO A APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Prezados (as) Professores (as).

Gostaria de solicitar a sua colaboração no sentido de participar da pesquisa de Doutorado

desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia

(UFBA) intitulada “Entrelaçando saberes, construindo a teia: as práticas de ensino de

história no 5º. Ano do Ensino Fundamental na cidade de Salvador/ Bahia”.

Esta pesquisa possui por objetivo principal compreender como está sendo ministrada a

disciplina história atualmente no 5º. Ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas da cidade

de Salvador/ BA. Trata- se de identificar as mudanças e permanências que se apresentam no

ensino de história em relação à história considerada como tradicional. Almeja-se neste processo

considerar o olhar, o objetivo, os valores e as atitudes que um dado grupo (os professores do

ensino fundamental) têm sobre a história ensinada no 5º. Ano, não desconsiderando as políticas

educacionais implementadas pela Secretaria de Educação da cidade do Salvador,

Neste sentido, a sua valorosa contribuição será de fundamental importância para a pesquisa que

ora realizo. Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará

contribuindo para a compreensão do fenômeno em estudo e para a produção de conhecimento

científico.

Devemos esclarecê-lo (a) ainda de que as informações dadas por você serão utilizadas para o

alcance dos objetivos propostos e descritos acima e serão divulgadas, em congressos, eventos

científicos, artigos e na escrita da tese de doutoramento.

O (a) Sr (a) não terá nenhuma despesa e também não receberá nenhuma remuneração.

Reiteramos que os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, contudo sua identidade

não será divulgada e nem haverá qualquer tipo de identificação pessoal no questionário abaixo.

Entretanto, alguns constrangimentos podem surgir em virtude da necessidade de identificação

das escolas lócus da pesquisa.

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294

Para qualquer outra informação ou conferência das informações colocadas acima o sr (a) poderá

entrar em contato com a pesquisadora pelo telefone (71) 91659325 ou pelo e-mail

[email protected].

Cordialmente.

_______________________________________________

Tatiana Polliana Pinto de Lima.

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295

APÊNDICE 10

QUESTIONÁRIO APLICADO AS PROFESSORAS

Muito obrigada pela sua prestimosa colaboração e por seu tempo dedicado a responder este

questionário.

Por favor, não se identifique. Se o espaço não for suficiente, pode anexar outro papel

identificando o número da pergunta.

Professora não há necessidade de responder à todas as perguntas para que o questionário seja

válido. Contudo, responder ao maior número de questões ou todas elas possibilita a construção

de um olhar mais apurado em relação ao tema de pesquisa.

Nome da Escola: ______________________________________________________________

Endereço da Escola:

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Data: _____________________________________

Dados Pessoais:

Data de Nascimento: ______/ _____/ ______

Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

Possui o Magistério em Nível de 2º. Grau? ( ) Sim ( ) Não

Possui o Normal Superior? ( ) Sim ( ) Não

Títulos Acadêmicos que possui:

Licenciado (a) em: __________________ Universidade: __________________ Ano: ______

Bacharel (a) em: ____________________ Universidade: __________________ Ano: ______

Pós-graduado (a) em: ________________ Universidade: __________________ Ano: ______

Mestre (a) em: ______________________ Universidade: __________________ Ano: ______

Doutor (a) em: ______________________ Universidade: __________________ Ano: _____

Situação Administrativa

( ) Professor Concursado ( ) Professor Não concursado ( ) Professor Prestador de

Serviços

( ) 40 horas ( ) 20 horas ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno

Experiente Docente em Anos

Educação Infantil: ___________________________________

Anos Iniciais do Ensino Fundamental: __________________

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296

5º ano do Ensino Fundamental: ________________________

Anos Finais do Ensino Fundamental: ___________________

Ensino Médio: ______________________________________

Ensino Superior: ____________________________________

Anos de Permanência na escola em que você atua neste ano de 2015: _____________________

Qual a sua programação cultural aos fins de semana ou em folgas? Pode marcar mais de uma

opção.

( ) Teatro. Cite qual o tipo que mais gosta de frequentar.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

( ) Cinema. Cite os gêneros fílmicos que mais gosta.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

( ) TV. Cite alguns programas de sua preferência.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

( ) Leitura de livros. Cite alguns autores, títulos de livros ou gêneros literários que mais gosta

de ler:

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

( ) Ouvir música. Cite alguns cantores de sua preferência e gêneros musicais mais escutados

por você.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

1 – Qual a frequência das aulas de História ao longo do horário formal de aula?

( ) 1 x por semana obrigatoriamente

( ) 1 x por semana quando não há outros projetos a serem desenvolvidos

( ) 2x por semana obrigatoriamente

( ) 2 x por semana quando não há outros projetos a serem desenvolvidos

( ) Mais do que 2x por semana obrigatoriamente

( ) Mais do que 2 x por semana quando não há outros projetos a serem desenvolvidos

2 – Se elas ocorrerem 1. X ou menos por semana relate os motivos para a ausência de

regularidade semanal.

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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297

3 - A História enquanto disciplina na sua turma é ministrada de forma isolada com horário e

metodologias próprias?

( ) Sim ( ) Não

4 – A História é uma disciplina ministrada de forma interdisciplinar com outras disciplinas do

currículo?

( ) Sim ( ) Não

5 – Em quais momentos ao longo do ano letivo ocorre o seu planejamento das aulas de História?

( ) No princípio do ano ( ) No princípio de cada semestre

( ) No princípio de cada unidade ( ) Em qualquer momento do ano letivo

6 – Como é desenvolvido o seu planejamento?

( ) De forma isolada. ( ) Somente com a coordenação.

( ) De forma coletiva com outros professores

e a coordenação

( ) De forma coletiva com outros professores

e sem a coordenação

7 – Numere por ordem de importância de 1 a 6 (sendo 1 o menos importante e 6 o mais

importante) os aspectos que mais influenciam no seu planejamento.

( ) Os objetivos da escola para cada ciclo ou série.

( ) O planejamento enviado pela Secretaria Municipal de Educação.

( ) As habilidades que devem ser desenvolvidas nos discentes de cada série.

( ) Os objetivos da disciplina História de forma genérica.

( ) Os conteúdos listados no livro didático adotado pela escola no PNLD.

( ) Os conteúdos listados no livro didático de sua preferência.

8 – Quais os conteúdos considerados mais frequentemente por você no momento de seu

planejamento?

( ) Conteúdos Atitudinais ( ) Conteúdos Procedimentais

( ) Conteúdos Conceituais

9 - Quais os conteúdos considerados mais frequentemente por você na sua prática docente?

( ) Conteúdos Atitudinais ( ) Conteúdos Procedimentais

( ) Conteúdos Conceituais

10 - Numere por ordem de importância de 1 a 6 (sendo 1 o menos importante e 6 o mais

importante) os aspectos contemplados nas suas aulas de História.

( ) Saber recordar determinados feitos e conceitos referentes à História (locais, nomes, datas,

épocas, estilos culturais, características das paisagens).

( ) A utilização correta e com compreensão do vocabulário e dos conceitos próprios de

História.

( ) Reconhecer as causas dos fenômenos sociais como ambientais, urbanísticos, culturais,

históricos, políticos. Reconhecer e compreender os principais problemas de Salvador, da Bahia

e do Brasil hoje.

( ) A capacidade de ter argumentos relevantes que suportem as suas próprias ideias e

opiniões nas realizações de debates e em trabalhos escritos.

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298

( ) A capacidade de realizar estudos, informes, pequenas pesquisas ou trabalhos semelhantes

a partir da observação e/ou consulta de fontes, utilizando-as corretamente em cada caso.

( ) O grau de identificação com a comunidade de referência a partir do conhecimento de suas

origens, de sua história e de sua cultura.

11 – Na sua concepção para que estudamos História no 5º. Ano do Ensino Fundamental?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

12 – O que você entende por metodologia de ensino?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

13 – Em quais concepções metodológicas você se baseia para efetivar sua prática de ensino?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

14 – Quais correntes historiográficas influenciam na sua prática docente e nas suas

metodologias?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

15 - Qual outra concepção metodológica você acredita que seria melhor aplicada ao ensino de

História?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

16 – Em sua formação universitária você cursou alguma (as) disciplina (as) específica (as) que o

auxiliasse na sua prática docente enquanto professor (a) no momento de lecionar a disciplina

História para o 5. Ano do E.F.?

( ) Sim ( ) Não

17 – Em caso afirmativo quais foram?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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299

18 – Os conteúdos trabalhados por você estão mais relacionados à (às). Pode ser marcada mais

de uma opção:

( ) História local

( ) História regional

( ) História de vida do aluno

( ) História do Brasil

( ) Datas comemorativas

19 - Quais os conteúdos das aulas de História trabalhados por você ao longo de sua experiência

com o 5º. Ano do Ensino Fundamental?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

20 – Como os conteúdos de história trabalhados por você são selecionados?

( ) Estudo e Pesquisa em diversas fontes tais como livros de história, documentários, revistas,

etc... feitas de forma individual e por interesse próprio.

( ) Projetos enviados da Secretaria Municipal de Educação.

( ) São os conteúdos existentes nos capítulos do livro didático adotado e existente na escola.

( ) Planejamento coletivo com outros professores e a coordenação da escola.

21 – Com qual finalidade os conteúdos trabalhados por você especificamente são escolhidos?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

22– De que forma você trabalha com os conteúdos escolhidos por você?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

23– Em sua formação você trabalhou com algum destes recursos didáticos? Pode marcar mais

de uma opção.

( ) Vídeos ( ) TV

( ) Projetos de Slides

( ) Outros. Quais ___________________________________________________________

24 – Na sua prática atual ao lecionar a disciplina História quais dos recursos abaixo você

utiliza? Pode marcar mais de uma opção.

( ) Computador ( ) CD Room

( ) Internet ( ) Vídeos aulas

( ) Redes Sociais ( ) TV + Parabólica

( ) TV Pen drive

( ) Outros. Quais _____________________________________________________

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300

( ) Não trabalho com nenhum destes. Me atenho ao uso do livro didático e à lousa.

25 – Eles são disponibilizados pela escola?

( ) Sim ( ) Não

26 – E com quais você gostaria de trabalhar? Pode marcar mais de uma opção.

( ) Computador ( ) CD Room

( ) Internet ( ) Vídeos aulas

( ) Redes Sociais ( ) TV + Parabólica

( ) TV Pen drive

( ) Outros. Quais _____________________________________________________

27 – Numere por ordem de frequência utilizada de 1 a 6 (sendo 1 a menos utilizada e 8 a mais

utilizada) as seguintes linguagens nas aulas de História.

( ) Poesias e/ou poemas

( ) Literatura

( ) Músicas

( ) Cinema

( ) Fotografia ou imagens de uma forma geral

( ) Aulas de Campo

( ) Histórias em Quadrinhos

( ) Documento Escrito

( ) Não utilizo nenhuma dessas linguagens. Me atenho ao uso do livro didático.

28 - O que você considera importante o professor do 5º. Ano saber para desenvolver uma

prática docente que na ótica seja adequada nas aulas de história?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Muito obrigada pela sua colaboração.

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ANEXOS

ANEXO 1

MATRIZ CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL I DA CIDADE DE

SALVADOR/ BA

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ANEXO 2

HABILIDADES LISTADAS NO DIÁRIO DE CLASSE DO SEGUNDO CICLO DO

ENSINO FUNDAMENTAL DA CIDADE DE SALVADOR/ BA

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