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Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências da Saúde Departamento de Ciências Farmacêuticas Trabalho de Conclusão de Curso PAULA DE ARRUDA TORRES Estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose nos pacientes atendidos no hospital psiquiátrico Juliano Moreira em João Pessoa Paraíba João Pessoa PB Abril de 2013

Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências da ... · 3 T693e Torres, Paula de Arruda. Estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose nos pacientes atendidos no hospital

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Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências da Saúde

Departamento de Ciências Farmacêuticas

Trabalho de Conclusão de Curso

PAULA DE ARRUDA TORRES

Estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose nos pacientes atendidos no hospital psiquiátrico Juliano Moreira em João Pessoa – Paraíba

João Pessoa – PB

Abril de 2013

2

PAULA DE ARRUDA TORRES

Estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose nos

pacientes atendidos no hospital psiquiátrico Juliano Moreira

em João Pessoa – Paraíba.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Coordenação do Curso

de Graduação em Farmácia, do

Centro de Ciências da Saúde, da

Universidade Federal da Paraíba,

como parte dos requisitos para

obtenção do título de Bacharel em

Farmácia.

Francisca Inês de Sousa Freitas

Orientadora

João Pessoa – PB

Abril de 2013

3

T693e Torres, Paula de Arruda.

Estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose nos pacientes atendidos no hospital psiquiátrico Juliano Moreira em João Pessoa - Paraíba / Paula de Arruda Torres. – João Pessoa : [s.n.], 2013.

50f. : il.

Orientadora: Francisca Inês Sousa Freitas.

Monografia (Graduação) – UFPB/CCS.

1. Cisticercose. 2. Taenia solium. 3. ELISA. 4. Western blotting.

BS/CCS/UFPB CDU: 616-002.9(043.2)

4

PAULA DE ARRUDA TORRES

ESTUDO SOROLÓGICO DO COMPLEXO TENÍASE-CISTICERCOSE NOS

PACIENTES ATENDIDOS NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO JULIANO

MOREIRA EM JOÃO PESSOA – PARAÍBA.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Coordenação do Curso de

Graduação em Farmácia, do Centro de

Ciências da Saúde, da Universidade

Federal da Paraíba, como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Farmácia.

Aprovado em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Professora Drª Francisca Inês de Sousa Freitas – UFPB

Orientadora

_____________________________________________

Professor Dr. Franklin Ferreira de Farias Nóbrega – UFCG

_____________________________________________

Professora Drª Edeltrudes de Oliveira Lima - UFPB

AGRADECIMENTOS

5

A DEUS, pois vem d’Ele tudo que sou e que espero, por ser meu refúgio e

minha força. Obrigada por me permitir mais uma vitória;

A Nossa Senhora Aparecida por ser meu conforto e pelo seu amor;

Aos meus pais, Uires e Mamede. Vocês são exemplos de garra e de ternura,

respectivamente Obrigada pelos ensinamentos, amor incondicional, afeto,

renúncias para que eu chegasse até o fim. Vocês são meu porto seguro;

Aos meus irmãos Pablo e Polyanna, pelo carinho, cuidados e exemplos que

são para mim;

À minha família, pelo amor, apoio e torcida, essenciais para a conclusão de

mais uma etapa na minha vida;

Ao meu namorado Wendel, por caminhar junto comigo, compartilhando todos

os momentos, tornando-se essencial nesta caminhada;

Aos meus amigos que estiveram sempre me apoiando e torcendo por mim,

mesmo que distantes, em especial Layla Gurjão, Lorena Lira, Luana Amorim e

Luciana Duarte;

Aos colegas da turma 2007.2, compartilhamos momentos especiais e

necessários para nosso crescimento nesses últimos 5 anos. Foram noites mal

dormidas, infinitas provas e seminários, objetivos alcançados, problemas

superados. Nós conseguimos!

Ao meu orientador de Iniciação científica Prof. Dr. Reinaldo Nóbrega de

Almeida e a todos os componentes do Laboratório da Psicofarmacologia, em

especial Rubens Batista Benedito e Paula Regina Rodrigues Salgado pelo

apoio sempre prestado essenciais para o meu crescimento;

6

À minha querida orientadora Professora Inês, grande exemplo, que acompanha

minha trajetória acadêmica desde o segundo período. Obrigada pelo trabalho

compartilhado, pela atenção e amizade prestadas;

Ao professor Dr. Franklin Ferreira de Farias Nóbrega e Drª Edeltrudes de

Oliveira Lima, por participarem desta importante etapa da minha formação e

pelas contribuições, bastante significativas neste trabalho;

Ao professor Dr. João Agnaldo do Nascimento (UFPB) e à professora Drª Júlia

Maria Costa-Cruz (UFU-MG), pelas importantes contribuições na elaboração

deste estudo;

A Universidade Federal da Paraíba;

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste

trabalho.

Muito obrigada!

Paula de Arruda Torres

7

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

Antoine de Saint-Exupéry

8

Estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose nos pacientes atendidos no hospital psiquiátrico Juliano Moreira em João Pessoa – Paraíba

TORRES, P. A. (2013)

Trabalho de Conclusão de Curso/Farmácia/UFPB

RESUMO

A cisticercose é definida como sendo o acometimento duos tecidos dos hospedeiros intermediários (suínos) e dos anômalos (homens) pela forma larvária da Taenia solium. Como os cisticercos têm predileção pelo Sistema Nervoso Central, os quadros de convulsão e distúrbios psíquicos estão entre as manifestações clínicas mais comuns da neurocisticercose (NCC). A cisticercose humana, quanto aos seus aspectos clínicos, caracteriza-se por ser uma entidade nosológica extremamente polimorfa. Este fato acarreta inúmeras dificuldades no que concerne à elaboração de um diagnóstico etiológico. Sendo assim, o diagnóstico da neurocisticercose é realizado mediante a associação do quadro clínico do paciente aos exames de neuroimagem, sorológicos e dados epidemiológicos. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo realizar um estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose no hospital psiquiátrico Juliano Moreira na cidade de João Pessoa-PB, com o intuito de determinar a freqüência da cisticercose nos sujeitos-objeto desta pesquisa, bem como conhecer o perfil epidemiológico dos mesmos. O universo de estudo foi constituído por 99 pacientes internados no hospital. Durante a primeira etapa desta pesquisa, realizaram-se as análises dos prontuários dos pacientes, bem como se fez o contato com seus familiares a fim de obter dos mesmos a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Também nesta etapa, foi realizada o coleta do soro dos pacientes e o transporte para a Universidade Federal de Uberlândia. A segunda etapa foi constituída de exames sorológicos com o objetivo de identificar anticorpos anti-cisticerco de T. solium. Para tanto, utilizou-se a técnica ELISA com a finalidade de realizar a triagem e o Western Blotting como teste confirmatório. Mediante a pesquisa de anticorpos pelo teste ELISA foi possível constatar que, dentre os 99 pacientes investigados 58 (58,6%) foram positivos (IE ≥ 1: critério de positividade). Sendo que dos 58 soropositivos, 51 (87,9%) revelaram-se positivos quando da realização do Western Blotting. Verificou-se que, entre os indivíduos com sorologia positiva para cisticercose mediante o Blotting, 11 (26,2%) sofrem de transtorno mental não especificado, 15 (35,7%) demonstraram agitação psicomotora e agressividade, 10 (23,8%) apresentaram alucinações visuais e auditivas, e 6 (14,3%) apresentaram crises convulsivas. Observou-se ainda que as faixas etárias mais acometidas estavam acima de 40 anos de idade e que o gênero feminino apresentou maior freqüência de cisticercose (56,9%). Com relação à procedência, a maioria é proveniente da zona rural (50,1%). As proteínas imunodominantes mais freqüentemente reconhecidas foram de 64-68 kDa, 47-52 kDa e 14 kDa. Não foi observada relação significativa entre o reconhecimento destas bandas com o surgimento dos sintomas. Com base nesses resultados, pode-se considerar alta a freqüência de pacientes com cisticercose, cujos quadros clínicos são compatíveis com manifestações da neurocisticercose, particularmente no que diz respeito aos que apresentam crises convulsivas. Palavras-chave: cisticercose, Taenia solium, ELISA, Western Blotting

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES: FIGURAS

1. FIGURA 1 - Ilustração do escólex da T. solium..................................... 17

2. FIGURA 2 - Ilustração do estróbilo da T. solium ................................... 18

3. FIGURA 3 - Ilustração do ciclo biológico da T. solium .......................... 20

4. FIGURA 4 – Ilustração da distribuição mundial da cisticercose ............ 22

10

LISTA DE ILUSTRAÇÕES: GRÁFICOS

1. GRÁFICO 1 – Resultados dos testes de ELISA .................................. 42

2. GRÁFICO 2 – Resultados dos testes de Western Blotting .................. 43

3. GRÁFICO 3 - Frequência dos sintomas na sorologia positiva ............. 44

4. GRÁFICO 4 - Frequência das proteínas immunodominantes .............. 45

11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 12

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................. 15

2.1 - Descrição ....................................................................................... 15

2.2 - Ciclo Evolutivo .............................................................................. 18

2.3 - Aspectos Epidemiológicos ............................................................ 21

2.4 - Transmissão .................................................................................. 24

2.5 - Manifestações Clínicas .................................................................. 24

2.6 - Diagnóstico .................................................................................... 26

2.7 - Tratamento .................................................................................... 29

2.8 - Medidas de controle ...................................................................... 29

3. REFERÊNCIAS ..................................................................................... 32

4. ARTIGO CIENTÍFICO ........................................................................... 38

12

1. INTRODUÇÃO

A teníase e a cisticercose são duas entidades mórbidas distintas

causadas pela mesma espécie de Taenia, porém em fases de vida diferentes

(NEVES, 2010). Trata-se de uma parasitose negligenciada (HOTEZ; BROWN,

2009; HOTEZ et al., 2008) e erradicável, conforme declarado pela Assembléia

Mundial de Saúde de 2003. A teníase consiste na presença da forma adulta do

parasita no intestino delgado humano, sendo adquirida mediante a ingestão da

carne de porco (mal cozida) infectada com a larva ou cisticerco.

No ciclo natural, infecções pela tênia ocorrem apenas no hospedeiro

humano. Isso é extremamente importante, pois o portador de tênia se torna o

alvo central para as ações de controle e/ou eliminação de um nível de

população. Uma vez que os cistos são ingeridos, uma tênia adulta desenvolve

e começa a lançar ovos em aproximadamente 4 meses (MAHANTY; GARCIA,

2010).

A cisticercose, por sua vez, é caracterizada pelo acometimento dos

tecidos (Sistema Nervoso Central, globo ocular, língua, coração, subcutâneo)

dos hospedeiros intermediários (porcos) e dos anômalos (homem) pela forma

larval da Taenia solium (Cysticercus cellulosae), sendo adquirida mediante a

ingestão de alimentos, vegetais e água contaminados com ovos de T. solium

presentes nas fezes de pessoas com teníase (NEVES, 2010; COURAS, 2005).

A casca do ovo se dissolve graças ao ácido gástrico e enzimas intestinais, e os

embriões hexacanto ou oncosferas são ativados, quebrando sua membrana

protetora, e aderem à mucosa intestinal (MAHANTY; GARCIA, 2010).

Quando a larva se localiza no Sistema Nervoso Central (SNC) causa a

Neurocisticercose (NCC), que é a doença parasitária do SNC mais comum no

mundo (COSTA-CRUZ, 2009). As manifestações clínicas são inespecíficas e

variadas em severidade, variando entre dores de cabeça, tonturas e

convulsões ocasionais a uma condição neurológica severa com hipertensão

intracraniana ou demência (HAWK et al., 2005; TAKAYANAGUI; ODASHIMA,

2006).

Uma vez estabelecidos no tecido nervoso, os cisticercos sofrem

degeneração, desencadeada pelo sistema imune do hospedeiro, e atingem

graus de desenvolvimento que são caracterizados como etapa vesicular (EV),

13

vesicular coloidal (EVC), granular-nodular (EGN) e etapa nodular calcificado

(ENC) (LINO-JÚNIOR et al., 2002).

A cisticercose tem uma distribuição global em todas as áreas onde os

suínos são criados em condições em que se pode ingerir material fecal humano

(NDIMUBANZI et al., 2010).

Esta parasitose foi erradicada na Europa no início do século XX, exceto

em alguns países do leste e Portugal. Porém, o número de casos da referida

parasitose em pessoas que viajaram para países endêmicos é cada vez mais

alta. Nos Estados Unidos, durante as últimas décadas, a neurocisticercose se

tornou um problema de saúde pública devido ao crescente fluxo de imigrantes,

especialmente do México. Relata-se que o emprego de funcionários

domésticos provenientes de áreas endêmicas é um fator importante na

transmissão para pessoas que nunca viajaram para tais regiões ou não comem

carne de porco (AUBRY, 2012).

A Organização Mundial de Saúde estima que pelo menos 50 milhões de

pessoas no mundo sofrem de epilepsia, e que cerca de um terço de todos os

casos ocorrem em regiões onde a infecção por T. solium é endêmica (WHO,

2005). Estas regiões incluem América Latina, Sul e Sudoeste da Ásia e África

sub-saariana. Altas prevalências de cisticercose humana ocorrem em vários

focos em Burkina Faso, República Democrática do Congo, Moçambique,

Senegal, África do Sul, República Unida da Tanzânia e Zâmbia. Na Ásia, há

novos relatos de casos de neurocisticercose de Bangladesh, Malásia e

Singapura, principalmente em trabalhadores migrantes (WHO, 2013).

Têm sido documentadas altas taxas de prevalência em grande parte da

América Latina, incluindo áreas no México, Guatemala, Honduras, Equador,

Peru, Bolívia e Brasil. Mais de 10% da população em áreas endemicas têm

neuroimagem consistentes com neurocisticercose. Dados semelhantes estão

sendo encontradas na África sub-saariana (BLOCHER et al., 2011; FOYACA-

SIBAT et al., 2009; PRAET et al., 2009).

Portanto, a NCC e epilepsia têm apresentação universal, embora

estejam intimamente relacionadas à falta de estrutura social, econômica e

cultural das populações atingidas e às condições básicas de saúde e

sanitarismo dos países onde as prevalências encontram-se mais elevadas

(PAL et al., 2000).

14

No Brasil, a cisticercose tem sido cada vez mais diagnosticada,

principalmente nas regiões Sul e Sudeste, tanto em serviços de neurologia e

neurocirurgia, quanto em estudos anatomopatológicos. A baixa ocorrência de

cisticercose em algumas áreas, como, por exemplo, nas regiões Norte e

Nordeste, pode ser explicada pela falta de notificação (BRASIL, 2010). De

acordo com dados da Fundação Nacional de Saúde (1996), a cisticercose é

endêmica, particularmente nos estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo,

Goiás, Paraná e Santa Catarina (ESTEVES et al., 2005).

Estudos relatam que a prevalência da NCC nos diversos serviços de

neurologia e neurocirurgia, incluindo os hospitais gerais, variou de 0,03% a

13,4%. Exclusivamente nos hospitais gerais, a frequência média observada de

NCC foi de 1,13%, mostrando o menor valor no estado de São Paulo e o maior

no Paraná (BENEDETI, et al., 2007). Em um hospital psiquiátrico de Minas

Gerais, a frequência de NCC correspondeu à 12,2% (AGAPEJEV, 2003).

Em um estudo com pacientes portadores de epilepsia residentes em

municípios do cariri paraibano no ano de 2003, foi demonstrada uma alta

prevalência de sorologia positiva para cisticercose, cerca de 11,8%,

apresentando um perfil epidemiológico compatível com a ocorrência do

complexo teníase-cisticercose e desempenhando um papel importante no

surgimento da epilepsia nesses pacientes (FREITAS et al., 2005).

Câmpelo et al. (2003) em um estudo verificou que 70,5% de 44

pacientes diagnosticados com a NCC procediam da área urbana de Campina

Grande e que, apesar de estar relacionada a condições sócio-econômicas

insatisfatórias, acomete também pacientes de nível sócio-econômico mais

elevado, pois havia entre os diagnosticados profissionais liberais e estudantes

universitários. Isto sinaliza total descontrole do ciclo teníase/ cisticercose no

Estado da Paraíba e condições sócio-sanitárias inadequadas.

O diagnóstico da cisticercose humana é baseado em aspectos clínicos,

epidemiológicos, neuroimagem, liquóricos e sorológicos (TIEVE et al., 2005;

SANTOS et al., 1997; BUENO et al., 2000; TOGORO; SOUZA; SATO, 2012).

Para a cisticercose, a sensibilidade do exame de fezes é praticamente

insignificante e apenas cerca de 15% dos pacientes abriga uma tênia no

momento do diagnóstico da NCC (GILMAN et al., 2000).

15

A detecção de anticorpos anticisticerco no soro tem sido relatada como

sendo um critério importante para o diagnóstico da NCC (BRUTTO, 2001). O

imunodiagnóstico da cisticercose humana é um procedimento de baixo custo e

possui métodos responsáveis pela detecção de anticorpos IgG anti-cisticerco

de T. solium e de antígenos circulantes do parasito em amostras de soro,

Líquido Céfalo-raquidiniano (LCR), saliva e sangue em papel de filtro

(ARAMBULO et al., 1978; COSTA et al., 1982; COSTA, 1986; SCIUTTO et al.,

2000; DORNY et al., 2003).

O baixo custo e a simplicidade de execução fazem do teste de ELISA, o

padrão mais amplamente usado em pesquisa e aplicações clínicas

(CARVALHO JÚNIOR et al., 2010). Esse teste foi padronizado no Brasil por

Costa et al. (1982), utilizando três antígenos de metacestódeos de T. solium

(líquido de vesícula, extrato salino e extrato alcalino) em amostras de LCR, e

demonstraram sensibilidade e especificidade próximos a 100%. Outro método

imunoenzimático que é bastante utilizado no diagnóstico da cisticercose

humana e suína é o Western Blotting (TSANG et al., 1991). A referida técnica é

empregada como teste confirmatório nos casos soro-positivos mediante a

técnica ELISA, apresentando especificidade e sensibilidade no soro de 100% e

98%, respectivamente (TSANG; BRAND; BOYER, 1989; AUBRY, 2012).

Neste contexto, este trabalho teve como objetivo realizar um estudo

sorológico do complexo teníase-cisticercose no hospital psiquiátrico Juliano

Moreira na cidade de João Pessoa-PB, com o intuito de determinar a

freqüência da cisticercose nos sujeitos-objeto desta pesquisa, bem como

conhecer o perfil epidemiológico dos mesmos.

16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – Descrição

A teníase e a cisticercose são duas entidades mórbidas distintas

causadas pela mesma espécie de Taenia, porém em fases de vida diferentes

(NEVES, 2010). Trata-se de uma parasitose negligenciada (HOTEZ e BROWN,

2009; HOTEZ et al., 2008) e erradicável, conforme declarado pela Assembléia

Mundial de Saúde de 2003.

A teníase consiste na presença da forma adulta do parasita no intestino

delgado humano, sendo adquirida mediante a ingestão da carne de porco (mal

cozida) infectada com a larva do cisticerco. A cisticercose, por sua vez, é

caracterizada pelo acometimento dos tecidos (Sistema Nervoso Central, globo

ocular, língua, coração, subcutâneo) dos hospedeiros intermediários (porcos) e

dos anômalos (homem) pela forma larval da Taenia solium, sendo adquirida

mediante a ingestão de alimentos, vegetais e água contaminados com ovos de

T. solium presentes nas fezes de pessoas com teníase (NEVES, 2010;

COURAS, 2005).

A teníase é uma parasitose intestinal que pode causar dores

abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, flatulência, diarréia e

constipação. Quando o parasita permanece na luz intestinal, o parasitismo

pode ser considerado benigno e só, excepcionalmente, requer intervenção

cirúrgica por penetração em apêndice, colédoco ou ducto pancreático, devido

ao crescimento exagerado do parasita. A infestação pode ser percebida pela

eliminação espontânea de proglotes do verme, nas fezes (BRASIL, 2010).

Essas patologias são conhecidas desde a Antiguidade. Em 1697,

Malpighi verificou que o agente da canjiquinha, ladrária ou pedra, era um

verme. Werner, em 1786, e Goeze, em 1789, verificaram que as formas

encontradas nos suínos e nos humanos eram idênticas. Em 1758, Linnaeus

descreveu T. solium e T. saginata. Em 1800, Zeder cria o gênero Cysticercus

para o agente da canjiquinha (larva) e, finalmente, Kuchenmeister, em 1885,

fazendo infecções em humanos e em suínos, demonstrou que o cisticerco dos

suínos originava o verme adulto em humanos (NEVES, 2010).

A teníase é popularmente conhecida como “solitária” e a cisticercose

como “lombriga na cabeça”.

17

A T. solium pertence ao filo Platyhelminthes, à classe Cestodea, à

família Taeniidae, ao gênero Taenia e à espécie solium (NEVES, 2010; REY,

2008). A classe Cestoda compreende um interessante grupo de parasitos,

hermafroditas, de tamanhos variados encontrados em animais vertebrados.

Apresentam o corpo achatado dorsoventralmente, são desprovidos de órgãos

de adesão na extremidade mais estreita, a anterior, sem cavidade geral, e sem

sistema digestório (NEVES, 2010).

Na sua forma adulta, a T. solium mede 2 a 4 metros de comprimento e é

constituída por escólex (cabeça), colo (pescoço) e estróbilo (corpo); este

último, em forma de fita, é composto por uma cadeia de segmentos

denominados proglotes (GARCIA; DEL BRUTTO, 1999; REY, 2008; NEVES,

2010).

O escólex é uma pequena dilatação situada na extremidade mais

delgada do helminto. Nele encontram-se as ventosas em número de 4 (quatro)

e o rastelo (dupla coroa de ganchos) que são estruturas necessárias para a

fixação da tênia na mucosa intestinal (REY, 2008). A T. solium apresenta um

escólex globoso com o rostelo situado em posição central, entre as ventosas,

armado com dupla fileira de acúleos, de 25 a 50, em formato de foice (NEVES,

2010).

Figura 1: Imagem microscópica do esólex da T. solium.

(Retirado de GARCIA; MAHANTY, 2010)

A parte mais delgada do corpo da Taenia é denominada colo, o qual é

caracterizado por apresentar intensa atividade multiplicadora, sendo, portanto,

a região por excelência de crescimento do parasito. Graças a ele, o corpo

alonga-se continuamente. Aí, porém, não se encontram órgãos distintos, nem

quaisquer esboços visíveis de segmentação (REY, 2008; COURA, 2005).

18

O estróbilo compreende toda a porção restante, correspondendo, dessa

forma, à quase totalidade do volume do corpo. Trata-se da região que tem

início no colo, mas não apresenta limites nítidos em relação ao mesmo. O

estróbilo é formado por segmentos denominados proglotes ou anéis que

desenvolvem na sua intimidade órgãos reprodutores tanto masculinos como

femininos, uma vez que a Taenia é hermafrodita (REY, 2008; CIMERMAN,

2005). Cada parasito pode ter de 800 a 1000 proglotes e atingir 3 metros na T.

solium. As proglotes são subdivididas em jovens, maduras e grávidas e têm

sua individualidade reprodutiva e alimentar. As jovens são mais curtas do que

largas e já apresentam o início do desenvolvimento dos órgãos genitais

masculinos que se formam mais rapidamente que os femininos. Este fenômeno

é chamado de prontandria. A proglote madura possui os órgãos reprodutores

completos e aptos para a fecundação. As situadas mais distantes do escólex,

as proglotes grávidas, são mais compridas do que largas e internamente os

órgãos reprodutores vão sofrendo involução enquanto o útero se ramifica cada

vez mais, ficando repleto de ovos (NEVES, 2010).

Figura 2: Imagem de partes do estróbilo da T. solium.

(Retirado de GARCIA; MAHANTY, 2010)

O que chamamos de ovo, no caso da Taenia, é, em geral, um embrião

que permanece protegido pelos envoltórios ovulares até o momento em que

eclode no interior do organismo hospedeiro. Assim, o ovo é composto pela

oncosfera ou embrião hexacanto, o qual contém três pares de acúleos e uma

dupla membrana que o envolve; externamente apresenta uma casca protetora

ou embrióforo, constituída por blocos piramidais de quitina que lhe confere

resistência às adversidades do meio ambiente. É a partir do embrião

hexacanto, após a ingestão do ovo (pelo porco ou homem) que ocorre a

formação da larva ou cisticerco (REY, 2008; NEVES, 2010).

19

O cisticerco da T. solium é constituído de uma vesícula translúcida com

líquido claro, contendo invaginado no seu interior um escólex com quatro

ventosas, rostelo e colo. A parede da vesícula dos cisticercos é composta por

três membranas: cuticular ou externa, uma celular ou intermediária e uma

reticular ou interna (NEVES, 2010). Quando o cisticerco se localiza no Sistema

Nervoso Central, causa a NCC, que é a doença parasitária do SNC mais

comum no mundo (COSTA-CRUZ, 2009). Segundo Neves (2010), no SNC

humano o cisticerco pode se manter viável por vários anos. Durante este

tempo, observam-se modificações anatômicas e fisiológicas até a completa

calcificação da larva:

a) Estágio vesicular: o cisticerco apresenta membrana vesicular

delgada e transparente, líquido vesicular incolor e hialino e

escólex normal; pode permanecer ativo por tempo indeterminado

ou iniciar processo degenerativo a partir da resposta imunológica

do hospedeiro;

b) Estágio coloidal: líquido vesicular turvo (gel esbranquiçado) e

escólex em degeneração alcalina;

c) Estágio granular: membrana espessa, gel vesicular apresenta

deposição de cálcio e o escólex é uma estrutura mineralizada de

aspecto granular;

d) Estágio granular calcificado: o cisticerco apresenta-se calcificado

e de tamanho bastante reduzido.

2.2 – Ciclo evolutivo

Como muitos helmintos, a T. solium tem um ciclo de vida que envolve

um hospedeiro definitivo, que abriga o parasita adulto; e um hospedeiro

intermediário, que abriga o cisticerco. Normalmente, o hospedeiro definitivo é

um carnívoro que consome a carne infectada do hospedeiro intermediário

herbívoros, ingerindo larvas e desenvolvendo uma tênia. O herbívoro, por sua

vez, recebe é infectado com os ovos do parasita depositados n meio ambiente

com as fezes do hospedeiro definitivo (portador da T. solium). Este tipo de ciclo

é conhecido como ciclo predador-presa e aumenta a chance de sobrevivência

20

para a população de parasitas por ter duas subpopulações distintas em

diferentes espécies de hospedeiros (MAHANTY; GARCIA, 2010)..

O homem é habitualmente o hospedeiro definitivo da T. solium,

albergando o parasita adulto no intestino; as proglotes repletas de ovos são

eliminadas nas fezes. Ao ser ingerido pelo hospedeiro intermediário

intermediário (porco), o embrião hexacanto é liberado sob ação do suco

gástrico. Aquele por meio de acúleos, penetra através da mucosa intestinal e,

caindo na corrente sanguínea, é levado a diferentes partes do organismo,

transformando-se em Cysticercus cellulosae. O cisticerco alojado na carne de

porco ingerida crua ou mal cozida, chegando ao intestino do homem,

transforma-se em T. solium completando assim o ciclo evolutivo natural

(TAKAYANAGUI; LEITE, 2001).

21

Figura 3: Ilustração do ciclo evolutivo da Taenia solium. (FONTE: inesfreitas.zip.net).

22

2.3 - Aspectos epidemiológicos

Com relação à epidemiologia, sabe-se que o complexo teníase-

cisticercose é encontrado em todas as partes do mundo em que a população

tem o hábito de comer carne de porco crua ou mal cozida, particularmente nas

comunidades onde coexistem precárias condições sanitárias, presença de

porcos criados livres e um deficiente ou inexistente controle sanitário e carne

suína.

O complexo teníase-cisticercose representa um grave problema de

saúde pública, sobretudo nos países onde as condições higiênico-sanitárias da

população são propícias à manutenção do ciclo parasitário tênia-cisticerco

(ROMAN et al., 2000; SILVA et al., 2007).

Homens, suínos e solos contaminados por materiais fecais de

portadores de T. solium são os principais elementos da cadeia epidemiológica

concernente à referida parasitose. No entanto, o homem, enquanto portador de

tênia adulta, é uma fonte extremamente potente de infecção, tanto para si

como para seus contactantes e para os suínos, devido ao número de ovos

férteis que as proglotes grávidas contém, até 40 mil (NEVES, 2010). Sabe-se

que esses chegam ao meio externo já embrionados e que possuem uma casca

protetora que lhes confere resistência às adversidades do meio ambiente,

permitindo uma longevidade de três a oito meses, particularmente em regiões

de clima quente e úmido (ROMÁN et al., 2000). Ora, é também sabido que as

condições sociais econômicas e culturais estão intrinsecamente vinculadas

com a referida helmintose, e que em todas as fases do ciclo biológico da tênia

existem atividades humanas que concorrem para a sua evolução.

Como primeiro elemento tem-se o fato de que a teníase é uma

enfermidade exclusiva do ser humano, e que este é o único responsável pela

dispersão dos ovos do parasito, sendo a defecação no solo e a inadequada

destinação dos esgotos, os primeiros fatores de risco. Em segundo lugar,

podemos indicar a criação de porcos soltos gerando as condições para que os

mesmos se alimentem de excrementos humanos contendo ovos e,

conseqüentemente, infectando-se. Em terceiro lugar, deve-se assinalar a

carência ou a inexistência de controle sanitário da carne suína e o hábito de

consumi-la crua ou mal cozida, contribuindo para a infecção do homem, o qual

se torna portador do verme na sua forma adulta. E, finalmente, como último

23

fator predisponente, tem-se a precária higiene pessoal, especialmente no que

diz respeito à lavagem das mãos após a toalete anal e antes da preparação e

consumo dos alimentos (SARTI,1997; SILVA-VERGARA et al. 1998).

Sarti-Gutierrez et al. (1998), Garcia e Del Bruto (1999) sugerem, com

base em estudos epidemiológicos, que a ocorrência de vários casos de

cisticercose no ambiente em que vive o indivíduo teníasico indica que a

contaminação direta tem um papel importante na dinâmica da transmissão da

referida parasitose. Como exemplo, podemos indicar os achados de Schantz et

al. (1992) que diagnosticaram 1,3% dos membros de uma colônia judia

ortodoxa de New York (USA) com sorologia positiva para cisticercose e vários

casos de lesões intraparaquimatosas com confirmação radiológica.

A Organização Mundial de Saúde estima que pelo menos 50 milhões de

pessoas no mundo sofrem de epilepsia, e que cerca de um terço de todos os

casos ocorrem em regiões onde a infecção por T. solium é endêmica (WHO,

2005). Estas regiões incluem América Latina, Sul e Sudoeste da Ásia e África

sub-saariana. Altas prevalências de cisticercose humana ocorrem em vários

focos em Burkina Faso, República Democrática do Congo, Moçambique,

Senegal, África do Sul, República Unida da Tanzânia e Zâmbia. Na Ásia, há

novos relatos de casos de neurocisticercose de Bangladesh, Malásia e

Singapura, principalmente em trabalhadores migrantes (WHO, 2013).

Figura 4: Distribuição mundial da cisticercose 2011 (Retirado do Segundo relatório da OMS de

doenças negligenciadas - 2013)

24

No Brasil, a neurocisticercose é encontrada com elevada frequência nos

estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás. A prevalência

populacional, contudo, não é conhecida pela ausência de notificação da

doença (TAKAYANAGUI; LEITE, 2001).

Estudos relatam que a prevalência da NCC nos diversos serviços de

neurologia e neurocirurgia, incluindo os hospitais gerais, variou de 0,03% a

13,4%. Exclusivamente nos hospitais gerais, a frequência média observada de

NCC foi de 1,13%, mostrando o menor valor no estado de São Paulo e o maior

no Paraná (BENEDETI et al., 2007). Em um hospital psiquiátrico de Minas

Gerais, a frequência de NCC correspondeu à 12,2% (AGAPEJEV, 2003).

Em um estudo com pacientes portadores de epilepsia residentes em

municípios do cariri paraibano no ano de 2003, foi demonstrada uma alta

prevalência de sorologia positiva para cisticercose, cerca de 11,8%,

apresentando um perfil epidemiológico compatível com a ocorrência do

complexo teníase-cisticercose e desempenhando um papel importante no

surgimento da epilepsia nesses pacientes (FREITAS et al., 2005).

Câmpelo et al. (2003) em um estudo verificou que 70,5% de 44

pacientes diagnosticados com a neurocisticercose procediam da área urbana

de Campina Grande e que, apesar de estar relacionada a condições sócio-

econômicas insatisfatórias, acomete também pacientes de nível sócio-

econômico mais elevado, pois havia entre os diagnosticados profissionais

liberais e estudantes universitários. Isto sinaliza total descontrole do ciclo

teníase/ cisticercose no Estado da Paraíba e condições sócio-sanitárias

inadequadas.

A real prevalência da cisticercose não é conhecida em virtude de os

meios de diagnóstico, particularmente os chamados radiológicos, serem de

difícil acesso à população dos países em desenvolvimento (PIERRE-LOUIS,

2002) e também pela inexistência de notificação compulsória e de

levantamentos sérios por parte das autoridades sanitárias (TAKAYANAGUI et

al.,1996; AGAPEJEV, 2003).

25

2.4 - Transmissão

A teníase é adquirida pela ingestão de carne de boi (T. saginata) ou de

porco (T. solium) mal cozida, quem contém as larvas. Quando o homem ingere

acidentalmente os ovos de T. solium, adquire a cisticercose (TAKAYANAGUI;

LEITE, 2001).

Segundo Neves (2010), os possíveis mecanismos de infecção humana

da cisticercose são:

a) Auto-infecção externa: ocorrem em portadores de T. solium

quando eliminam proglotes e ovos de sua própria tênia levando-

os à boca pelas mãos contaminadas ou pela coprofagia

(observado principalmente em condições precárias de higiene e

em pacientes com distúrbios psiquiátricos).

b) Auto-infecção interna: poderá ocorrer durante vômitos ou

movimentos retroperistálticos do intestino, possibilitando a

presença de proglotes grávidas ou ovos de T. solium no

estômago. Estes depois da ação do suco gástrico e posterior

ativação das oncosferas voltariam ao intestino delgad,

desenvolvendo o ciclo auto-infectante.

c) Heteroinfecção: ocorrem quando os humanos ingerem alimentos

ou água contaminados com os ovos da T. solium disseminados

no ambiente através de dejeções de outro paciente.

2.5 - Manifestações Clínicas

Quanto à patogenia e aos aspectos clínicos, a teníase é geralmente

assintomática. No entanto a T. solium na sua forma adulta pode causar

fenômenos tóxicos, alérgicos, devidos às substâncias que excretam; provocar

pequenas hemorragias em razão da fixação do escólex na mucosa intestinal;

destruir o epitélio e produzir inflamação com hipo e hiper secreção do muco;

competir por nutrientes com o hospedeiro em virtude do seu acelerado

crescimento. Assim, as manifestações que podem surgir são representadas por

dor epigástrica, náuseas, vômitos, constipação intestinal, apetite excessivo,

alargamento do abdômen, desnutrição, perda de peso, cefaléia, excitação e

eosinofilia (REY, 2008; COURA, 2005). Porém é decorrência da cisticercose

26

que o quadro clínico apresenta-se com gravidade, caracterizado por se tratar

de uma entidade nosológica extremamente polimórfica.

A cisticercose humana, quanto aos seus aspectos clínicos, caracteriza-

se por ser uma doença polimorfa, apresentando uma grande variedade de

manifestações. Tal multiplicidade acarreta inúmeras dificuldades à elaboração

de um diagnóstico etiológico mais preciso.

Esse polimorfismo ocorre devido a vários fatores, dentre os quais

podemos destacar os mais relevantes: 1) número, tamanho e localização dos

cistos (os acometimentos cerebrais e oculares são os mais graves); 2) devido

ao estágio de desenvolvimento do parasito (trata-se aqui de verificar se os

mesmos estão viáveis, se estão em degeneração ou simplesmente mortos,

sendo que as larvas viáveis são as menos danosas); 3) finalmente, pela

resposta imunológica do hospedeiro aos antígenos do parasito (esta resposta é

ainda pouco esclarecida, contudo sabe-se que ela se constitui como um índice

revelador da degeneração ou da morte dos mesmos) (TEIVE et al., 2005).

As manifestações da NCC são inespecíficas e variadas em severidade,

variando entre dores de cabeça, tonturas e convulsões ocasionais a uma

condição neurológica severa com hipertensão intracraniana ou demência

(HAWK et al., 2005; TAKAYANAGUI; ODASHIMA, 2006). Na Índia, a NCC

sozinha contribui para um terço de todos os casos de epilepsia ativa

(RAJSHEKHAR, 2006).

No Brasil, estudos realizados com o objetivo de estabelecer a etiologia

das crises epilépticas, identificaram a neurocisticercose como uma de suas

causas mais comuns, tendo ela sido constatada em 27,1% dos pacientes

examinados por Arruda (1991) e em 8,8% daqueles investigados por Valença,

M. e Valença, L. (2000).

No olho ou no cérebro, no entanto, a NCC provoca

morbidade humana e alguma mortalidade. Cisticerco no SNC causam sintomas

por vários mecanismos, incluindo danos locais e inflamação, compresão direta,

o bloqueio da circulação do fluído cerebro-espinhal, vasculite (GARCIA;

MAHANTY, 2010).

Um determinante principal das manifestações clínicas é se o parasita

está restrito ao parênquima cerebral ou há invasão extraparenquimatosa

(ESCOBAR, 1983).

27

Formas intraparenquimatosos da neurocisticercose seguem um curso

evolutivo de cistos viáveis, que são vesículas cheias de líquido claro, contendo

a cabeça ou escólex de uma tênia, passando por uma fase degenerativa

comumente denominada granuloma cisticercal, e depois desaparecendo e

mostrando-se meses ou anos depois, como cicatrizes calcificadas puntiformes.

Cisticercose no parênquima está associada com convulsões, freqüentemente

vistos em relação com cistos em degeneração e associadas a inflamação do

cérebro. O prognóstico é bom, e as manifestações clínicas tendem a diminuir

progressivamente ao longo do ano (CARPIO et al., 1998).

Ao contrário da doença parênquimatosa, a NCC extraparenquimatosa é

caracterizada por um crescimento exuberante da membrana do parasita que

leva ao seu alongamento e resulta numa perda aparente do escólex (traços do

escólex têm sido encontrados por microscopia de varredura). Este crescimento

é acompanhado por uma forte resposta celular no espaço cerebroespinhal,

dominado por células mononucleares, com elevado níveis de proteínas

indicativas de inflamação garve. O crescimento do parasita e o aumento da

viscosidade no líquido cefalorraquidiano devido à inflamação, além de restos

de membrana que deixa de ser limpo de forma adequada, levam ao

desenvolvimento de hidrocefalia. Mesmo após uma descompressão do

ventrículo, a alta viscosidade do LCR e os detritos a partir de membranas de

degeneração tornam difícil a manutenção de descompressão ventricular

exigindo frequentemente procedimentos cirúrgicos corretivos (GARCIA;

MAHANTY, 2010).

2.6 - Diagnóstico

O diagnóstico da cisticercose humana é baseado em aspectos clínicos,

epidemiológicos, neuroimagem, liquóricos e sorológicos (TIEVE et al., 2005;

SANTOS et al., 1997; BUENO et al., 2000; TOGORO, SOUZA, SATO, 2012).

No exame físico, a constatação da presença de nódulos subcutâneos

pode contribuir para a orientação diagnóstica. Ademais, somente nos casos de

cisticercose ocular, o diagnóstico pode ser preciso e de fácil realização quando

a larva encontra-se localizada na câmara posterior do olho, cuja identificação

28

pode ser determinada por meio de exame direto com o auxílio do oftalmoscópio

(SOTELLO; DEL BRUTTO, 2000).

O diagnóstico da neurocisticercose pode ser realizado pela

demonstração conclusiva do cisticerco: detecção do parasita por técnicas

histopatológicas em material de biópsia de uma lesão cerebral ou medular;

visualização do escólex por tomografia computadorizada (TC) ou ressonância

magnética (RM) (DEL BRUTTO, 2001).

A TC apresenta maior sensibilidade na detecção de cisticercos

calcificados, enquanto a RM possui maior poder de resolução, podendo

evidenciar melhor o escólex e os cisticercos de localização ventricular (WHITE,

2000). Entretanto, muitos casos escapam do diagnóstico conclusivo da

infecção por C. cellulosae. As técnicas de imagem, TC ou RM, não conseguem

detectar os cisticercos alojados na cisterna basal subaracnoide ou os parasitas

em fase de degeneração ou pré-calcificação (TOGORO et al., 2012). Além

disso, o elevado custo dessas tecnologias impede que muitos países

endêmicos tenham acesso a esse tipo de diagnóstico (GARCIA; DEL BRUTTO,

2003). Portanto, os teste laboratoriais são essenciais para o diagnóstico da

neurocisticercose.

Com isso, o diagnóstico da cisticercose humana continua sendo um

desafio, pois apesar de as técnicas imunológicas modernas e dos exames de

neuroimagem permitirem o conhecimento do aumento do número de casos,

esses sofisticados métodos de diagnóstico são geralmente inacessíveis nas

regiões onde a doença é endêmica. Soma-se a isso o fato de que existem

confusões diagnósticas que ocorrem em virtude da falta de especificidade de

alguns achados de neuroimagem e ainda o número de resultados falso-

positivos e falso-negativos que podem ocorrer em alguns testes imunológicos

(DEL BRUTTO et al., 1996)

Na impossibilidade de demonstração direta do parasita, os testes

laboratoriais e a análise em conjunto de dados clínicos e epidemiológicos

permitem o diagnóstico da doença na maioria dos casos (GARG, 2004).

Nos exames laboratoriais, utilizam-se como espécimes clínicos o LCR e

o sangue e como métodos de diagnóstico as seguintes técnicas imunológicas:

fixação do complemento (FC), hemaglutinação indireta (HA),

imunofluorescência indireta (RIF); Enzyma-linked Immunosorbent Assay

29

(ELISA) e o Enzime-linked immunoelectrotransfer Blot Assay (EITB). Estes

exames são bastante úteis em estudos epidemiológicos e também nos casos

em que as lesões observadas na TC e RMN são duvidosas e não permitem

realizar um diagnóstico definitivo. Assim, uma vez que os exames de

neuroimagens (TC e RMN) são de alto custo e, em razão disto, são

indisponíveis na maioria dos serviços de saúde pública, as reações

imunológicas tornaram-se cada vez mais importantes como ferramentas

auxiliares no diagnóstico da cisticercose.

A detecção de anticorpos anticisticerco no soro tem sido relatada como

sendo um critério importante para o diagnóstico da NCC (BRUTTO, 2001). O

imunodiagnóstico da cisticercose humana é um procedimento de baixo custo e

possui métodos responsáveis para a detecção de anticorpos IgG anti-cisticerco

de T. solium e de antígenos circulantes do parasito em amostras de soro, LCR,

saliva e sangue em papel de filtro (ARAMBULO et al., 1978; COSTA et al.,

1982; COSTA, 1986; SCIUTTO et al., 2000; DORNY et al., 2003).

O baixo custo e a simplicidade de execução fazem do teste de ELISA, o

padrão mais amplamente usado em pesquisa e aplicações clínicas

(CARVALHO JÚNIOR et al., 2010). Esse teste foi padronizado no Brasil por

COSTA et al. (1982), utilizando três antígenos de metacestódeos de T. solium

(líquido de vesícula, extrato salino e extrato alcalino) em amostras de LCR, e

demonstraram sensibilidade e especificidade próximos a 100%. Outro método

imunoenzimático que é bastante utilizado no diagnóstico da cisticercose

humana e suína é o Western Blotting (TSANG et al., 1991).

O aprimoramento dos métodos imunológicos, o advento da tomografia

computadorizada e da ressonância nuclear magnética, a introdução de novas

técnicas neurocirúrgicas e o desenvolvimento de medicamentos parasiticidas

representaram importante avanço nas pesquisas sobre a neurocisticercose,

permitindo o diagnóstico em vida e melhor planejamento terapêutico

(TAKAYANAGUI; LEITE, 2001).

Para o diagnóstico da teníase, utiliza-se como espécime clínico as fezes

e como técnicas laboratoriais o método de Kato-Katz e a tamisação do bolo

fecal das 24 horas. A técnica de Kato-Katz é um método qualitativo e

quantitativo que se fundamenta na concentração do material fecal por

intermédio da utilização de um tamis e na clarificação das estruturas

30

parasitárias mediante a ação da glicerina. Tal método é considerado como um

dos mais sensíveis pela parasitologia clínica na pesquisa de ovos de helmintos.

Ao passo que a técnica de tamisação do bolo fecal destina-se à pesquisa de

proglotes (AMATO NETO, CORREA, 1999; DE CARLI, 2007).

2.7 - Tratamento

Até o final dos anos 70 não havia nenhuma terapia específica contra a

cisticercose. Praziquantel foi utilizado pela primeira vez no México e provou ser

eficaz na destruição de parasitas no cérebro, seguido mais tarde, pela

introdução de albendazol (SOTELO et al., 1990). No entanto, foram

observados efeitos secundários graves, incluindo a morte de alguns pacientes,

na sua maioria atribuíveis a inflamação cerebral e edema, seguindo da

liberação do antígeno a partir de larvas danificadas. Isto levou a uma

controvérsia entre os especialisteas neste campo (GARCIA; MAHANTY, 2010).

Com os efeitos colaterais do praziquantel, o albendazol vem sido

utilizado e considerado o medicamento de escolha na neurocisticercose. Nos

estudos comparativos, tem-se revelado mais eficaz e mais bem tolerado na

terapeutica eiológica da doença (NEVES, 2010).

Linhas atuais de pesquisa incluem a busca de novos fármacos e a

utilização de combinações de fármacos antiparasitários para melhorar a

eficácia parasiticida. O uso de esteróides concomitantes é obrigatório para

diminuir o risco de sintomas naurológicos aparecerem durante o tratamento,

embora nenhuma dose padrão ou duração da terapia com esteróides ainda

tenha sido definida com base em dados controlados (GARCIA; MAHANTY,

2010).

2.8 - Medidas de controle

Segundo Brasil (2010), as principais medidas de controle são:

a) Trabalho educativos para a população: Uma das medidas mais

eficazes no controle da Teníase/Cisticercose é a promoção de extenso e

permanente trabalho educativo nas escolas nas escolas e comunidades.

A aplicação pratica dos princípios básicos de higiene pessoal e o

conhecimento dos principais meios de contaminação constituem

medidas importantes de profilaxia. O trabalho educativo voltado para a

31

população deve visar a conscientização, ou seja, a substituição de

hábitos e costumes inadequados e a adoção de outros que evitem as

infecções.

b) Bloqueio de foco do complexo Teníase/Cisticercose - O foco do

complexo Teniase/Cisticercose pode ser definido como sendo a unidade

habitacional com, pelo menos: indivíduo com sorologia positiva para

Cisticercose; indivíduo com Teníase; indivíduo eliminando proglotes;

indivíduo com sintomas neurológicos suspeitos de Cisticercose; animais

com Cisticercose (suína/bovina). Serão incluídos no mesmo foco outros

núcleos familiares que tiveram contato de risco de contaminação. Uma

vez identificado o foco, os indivíduos deverão receber tratamento com

medicamento especifico.

c) Inspeção sanitária da carne - Essa medida visa reduzir, ao menor nível

possível, a comercialização ou o consumo de carne contaminada por

cisticercos e orientar o produtor sobre as medidas de aproveitamento da

carcaça (salga, congelamento, graxaria, em acordo com a intensidade

da infecção), reduzindo perdas financeiras e dando segurança para o

consumidor.

d) Fiscalização de produtos de origem vegetal - A irrigação de hortas e

pomares com água de rios e córregos, que recebam esgoto ou outras

fontes de águas contaminadas, deve ser coibida pela rigorosa

fiscalização, evitando a comercialização ou o uso de vegetais

contaminados por ovos de Taenia.

e) Cuidados na suinocultura - Impedir o acesso do suíno as fezes.

f) Isolamento - Para os indivíduos com Cisticercose e/ou portadores de

Teníase, não há necessidade de isolamento. Para os portadores de

Teníase, entretanto, recomenda-se medidas para evitar a sua

propagação: tratamento especifico, higiene pessoal adequada e

eliminação de material fecal em local adequado.

g) Desinfecção concorrente - É desnecessária, porém é importante o

controle ambiental pela deposição correta dos dejetos (saneamento

básico) e pelo rigoroso hábito de higiene (lavagem das mãos após

evacuações, principalmente).

32

3. Referências

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39

4. ARTIGO CIENTÍFICO

Estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose nos pacientes

atendidos no Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira em João Pessoa –

Paraíba

Paula de Arruda Torres1, Luciana Bandeira Onofre

1, Francisco Simão de Figueiredo

Júnior1, Caliandra Maria Bezerra Luna Lima

1, Júlia Maria Costa Cruz

2, Francisca Inês de

Sousa Freitas1

1. Laboratório de Parasitologia, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal da Paraíba, Paraíba, Brasil 2. Departamento de Imunologia, Microbiologia e Parasitologia, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais,

Brasil

Resumo

A cisticercose é definida como sendo o acometimento duos tecidos dos hospedeiros intermediários (suínos) e dos anômalos (homens) pela forma larvária da Taenia solium. Como os cisticercos têm predileção pelo Sistema Nervoso Central, os quadros de convulsão e distúrbios psíquicos estão entre as manifestações clínicas mais comuns da neurocisticercose (NCC). A cisticercose humana, quanto aos seus aspectos clínicos, caracteriza-se por ser uma entidade nosológica extremamente polimorfa. Este fato acarreta inúmeras dificuldades no que concerne à elaboração de um diagnóstico etiológico. Sendo assim, o diagnóstico da neurocisticercose é realizado mediante a associação do quadro clínico do paciente aos exames de neuroimagem, sorológicos e dados epidemiológicos. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo realizar um estudo sorológico do complexo teníase-cisticercose no hospital psiquiátrico Juliano Moreira na cidade de João Pessoa-PB, com o intuito de determinar a freqüência da cisticercose nos sujeitos-objeto desta pesquisa, bem como conhecer o perfil epidemiológico dos mesmos. O universo de estudo foi constituído por 99 pacientes internados no hospital. Durante a primeira etapa desta pesquisa, realizaram-se as análises dos prontuários dos pacientes, bem como se fez o contato com seus familiares a fim de obter dos mesmos a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Também nesta etapa, foi realizada o coleta do soro dos pacientes e o transporte para a Universidade Federal de Uberlândia. A segunda etapa foi constituída de exames sorológicos com o objetivo de identificar anticorpos anti-cisticerco de T. solium. Para tanto, utilizou-se a técnica ELISA com a finalidade de realizar a triagem e o Western Blotting como teste confirmatório. Mediante a pesquisa de anticorpos pelo teste ELISA foi possível constatar que, dentre os 99 pacientes investigados 58 (58,6%) foram positivos (IE ≥ 1: critério de positividade). Sendo que dos 58 soropositivos, 51 (87,9%) revelaram-se positivos quando da realização do Western Blotting. Verificou-se que, entre os indivíduos com sorologia positiva para cisticercose mediante o Blotting, 11 (26,2%) sofrem de transtorno mental não especificado, 15 (35,7%) demonstraram agitação psicomotora e agressividade, 10 (23,8%) apresentaram alucinações visuais e auditivas, e 6 (14,3%) apresentaram crises convulsivas. Observou-se ainda que as faixas etárias mais acometidas estavam acima de 40 anos de idade e que o gênero feminino apresentou maior freqüência de cisticercose (56,9%). Com relação à procedência, a maioria é proveniente da zona rural (50,1%). As proteínas imunodominantes mais freqüentemente reconhecidas foram de 64-68 kDa, 47-52 kDa e 14 kDa. Não foi observada relação significativa entre o reconhecimento destas bandas com o surgimento dos sintomas. Com base nesses resultados, pode-se considerar alta a freqüência de pacientes com cisticercose, cujos quadros clínicos são

40

compatíveis com manifestações da neurocisticercose, particularmente no que diz respeito aos que apresentam crises convulsivas. Palavras-chave: cisticercose, Taenia solium, ELISA, Western Blotting

Introdução

A teníase e a cisticercose são duas entidades mórbidas distintas causadas pela

mesma espécie de Taenia, porém em fases de vida diferentes (NEVES, 2010). Trata-

se de uma parasitose negligenciada (HOTEZ; BROWN, 2009; HOTEZ et al., 2008) e

erradicável, conforme declarado pela Assembléia Mundial de Saúde de 2003. A

teníase consiste na presença da forma adulta do parasita no intestino delgado

humano, sendo adquirida mediante a ingestão da carne de porco (mal cozida)

infectada com a larva ou cisticerco.

No ciclo natural, infecções pela tênia ocorrem apenas no hospedeiro humano.

Isso é extremamente importante, pois o portador de tênia se torna o alvo central para

as ações de controle e/ou eliminação de um nível de população. Uma vez que os

cistos são ingeridos, uma tênia adulta desenvolve e começa a lançar ovos em

aproximadamente 4 meses (MAHANTY; GARCIA, 2010).

A cisticercose, por sua vez, é caracterizada pelo acometimento dos tecidos

(Sistema Nervoso Central, globo ocular, língua, coração, subcutâneo) dos hospedeiros

intermediários (porcos) e dos anômalos (homem) pela forma larval da Taenia solium

(Cysticercus cellulosae), sendo adquirida mediante a ingestão de alimentos, vegetais e

água contaminados com ovos de T. solium presentes nas fezes de pessoas com

teníase (NEVES, 2010; COURAS, 2005). A casca do ovo se dissolve graças ao ácido

gástrico e enzimas intestinais, e os embriões hexacanto ou oncosferas são ativados,

quebrando sua membrana protetora, e aderem à mucosa intestinal (MAHANTY;

GARCIA, 2009).

Quando a larva se localiza no Sistema Nervoso Central (SNC) causa a

Neurocisticercose (NCC), que é a doença parasitária do SNC mais comum no mundo

(COSTA-CRUZ, 2009). As manifestações clínicas são inespecíficas e variadas em

severidade, variando entre dores de cabeça, tonturas e convulsões ocasionais a uma

condição neurológica severa com hipertensão intracraniana ou demência (HAWK et

al., 2005; TAKAYANAGUI; ODASHIMA, 2006).

Uma vez estabelecidos no tecido nervoso, os cisticercos sofrem degeneração,

desencadeada pelo sistema imune do hospedeiro, e atingem graus de de-

senvolvimento que são caracterizados como etapa vesicular (EV), vesicular coloidal

(EVC), granular-nodular (EGN) e etapa nodular calcificado (ENC) (LINO-JÚNIOR et

al., 2002).

41

A cisticercose tem uma distribuição global em todas as áreas onde os suínos

são criados em condições em que se pode ingerir material fecal humano

(NDIMUBANZI et al., 2010). A Organização Mundial de Saúde estima que pelo menos

50 milhões de pessoas no mundo sofrem de epilepsia, e que cerca de um terço de

todos os casos ocorrem em regiões onde a infecção por T. solium é endêmica (WHO,

2005). Estas regiões incluem América Latina, Sul e Sudoeste da Ásia e África sub-

saariana. Altas prevalências de cisticercose humana ocorrem em vários focos em

Burkina Faso, República Democrática do Congo, Moçambique, Senegal, África do Sul,

República Unida da Tanzânia e Zâmbia. Na Ásia, há novos relatos de casos de

neurocisticercose de Bangladesh, Malásia e Singapura, principalmente em

trabalhadores migrantes (WHO, 2013). Têm sido documentadas altas taxas de

prevalência em grande parte da América Latina, incluindo áreas no México,

Guatemala, Honduras, Equador, Peru, Brasil e Bolívia. Mais de 10% da população em

áreas endemicas têm neuroimagem consistentes com neurocisticercose. Dados

semelhantes estão sendo encontradas na África sub-saariana (BLOCHER et al., 2011;

FOYACA-SIBAT et al., 2009; PRAET et al., 2009).

Portanto, a neurocisticercose e epilepsia têm apresentação universal, embora

estejam intimamente relacionadas à falta de estrutura social, econômica e cultural das

populações atingidas e às condições básicas de saúde e sanitarismo dos países onde

as prevalências encontram-se mais elevadas (PAL et al., 2000).

No Brasil, a cisticercose tem sido cada vez mais diagnosticada, principalmente

nas regiões Sul e Sudeste, tanto em serviços de neurologia e neurocirurgia, quanto em

estudos anatomopatológicos. A baixa ocorrência de cisticercose em algumas áreas,

como, por exemplo, nas regiões Norte e Nordeste, pode ser explicada pela falta de

notificação (BRASIL, 2010). De acordo com dados da Fundação Nacional de Saúde

(1996), a cisticercose é endêmica, particularmente nos estados da Bahia, Minas

Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná e Santa Catarina (ESTEVES et al., 2005).

Em um estudo com pacientes portadores de epilepsia residentes em

municípios do cariri paraibano, foi demonstrada uma alta prevalência de sorologia

positiva para cisticercose, cerca de 11,8%, apresentando um perfil epidemiológico

compatível com a ocorrência do complexo teníase-cisticercose e desempenhando um

papel importante no surgimento da epilepsia nesses pacientes (FREITAS et al., 2005).

O diagnóstico da cisticercose humana é baseado em aspectos clínicos,

epidemiológicos, neuroimagem, liquóricos e sorológicos (TIEVE et al., 2005; SANTOS

et al., 1997; BUENO et al., 2000; TOGORO, SOUZA, SATO, 2012). Para a

cisticercose, a sensibilidade do exame de fezes é insignificante e apenas cerca de

42

15% dos pacientes abriga uma tênia no momento do diagnóstico da NCC (GILMAN et

al., 2000).

A detecção de anticorpos anticisticerco no soro tem sido relatada como sendo

um critério importante para o diagnóstico da NCC (BRUTTO, 2001). O

imunodiagnóstico da cisticercose humana é um procedimento de baixo custo e possui

métodos responsáveis para a detecção de anticorpos IgG anti-cisticerco de T. solium e

de antígenos circulantes do parasito em amostras de soro, Líquido Cefalo-raquidiano,

saliva e sangue em papel de filtro (ARAMBULO et al., 1978; COSTA et al., 1982;

COSTA, 1986; SCIUTTO et al., 2000; DORNY et al., 2003).

Neste contexto, este trabalho teve como objetivo realizar um estudo sorológico

do complexo teníase-cisticercose no hospital psiquiátrico Juliano Moreira na cidade de

João Pessoa-PB, com o intuito de determinar a freqüência da cisticercose nos

sujeitos-objeto desta pesquisa, bem conhecer o perfil epidemiológico dos mesmos.

Materiais e Métodos

O universo de estudo foi constituído por 99 pacientes internados no Hospital

Psiquiátrico Juliano Moreira, localizado na cidade de João Pessoa-PB, selecionados

independente da faixa etária e do gênero. O local foi escolhido baseado no fato de que

a população psiquiátrica mostra incidência de neurocisticercose, em geral, cinco vezes

mais elevada que a população considerada sem distúrbios mentais. (BENEDETI, et al,

2007).

O estudo foi desenvolvido em três etapas sucessivas. Durante a primeira

etapa, foi realizada a seleção aleatória dos pacientes e assinado o termo de

consentimento livre e esclarecido por um familiar ou responsável. Indivíduos cujo

motivo de internação ocorreu pelo uso de álcool e/ou drogas ilícitas não foram

selecionados para a pesquisa. Ainda nesta etapa, foi realizada a coleta de sangue dos

pacientes, através de punção endovenosa. O material coletado foi devidamente

acondicionado, congelado e transportado para a Universidade Federal de Uberlândia

(UFU), MG.

A segunda etapa constituiu na realização de exames sorológicos com a

finalidade de pesquisar anticorpos (Ac) anticisticerco de Taenia solium. O ELISA

(Enzime-linked Immunosorbent Assay) é um teste amplamente utilizado e foi escolhido

como um teste de triagem. O teste de Western Blotting foi realizado em seguida, com

a finalidade de confirmar o diagnóstico nas amostras ELISA-positivas. Ambos os

testes foram realizados pelo grupo de pesquisa da professora Drª Júlia M. Costa-Cruz,

43

do Departamento de Imunologia, Microbiologia e Parasitologia, da UFU, MG, como

descrito por Costa et al. (2007).

Com a obtenção dos dados, a terceira etapa foi concluída, através da

realização da análise estatística utilizando o programa SPSS (Statistical Package for

the Social Sciences) versão for Windows (Release 16.0 - Standard Version). As

variáveis qualitativas nominais foram analisadas pelos testes do Qui-quadrado ou teste

exato de Fischer, considerando-se significativo quando p < 0,05.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de

Enfermagem e Medinica Nova Esperança – FAMENE, apresentando protocolo número

0025.0.351.000-09.

Resultados e Discussão

Dos 99 pacientes analisados, observou-se que 58 (58,6%) apresentaram

positividade (IE ≥ 1: critério de positividade) na pesquisa de anticorpos anti-cisticerco

de Taenia solium no teste de ELISA, como demonstra o gráfico 1.

GRÁFICO 1: Frequência dos resultados sorológicos utilizando o teste de ELISA para a

anticorpos anti-cisticerco Taenia solium. (IE ≥ 1: critério de positividade).

Para fins de confirmação das 58 amostras positivas no teste de ELISA, foi

realizado o teste de Western Blotting. Esta técnica foi escolhida em razão de sua

comprovada sensibilidade e especificidade na pesquisa de anticorpos anti-cisticerco

de T. solium no soro. Dentre as amostras analisadas, 51 (87,9%) foram confirmadas

no teste (gráfico 2), demonstrando uma alta freqüência de sorologia positiva para

cisticercose nas amostras, assim como observado em áreas endêmicas como a África

44

e América Latina, evidenciando a negligência dos gestores da saúde com relação ao

complexo teníase/cisticercose no Estado da Paraíba. Esses dados superam os

resultados encontrados em um hospital psiquiátrico no estado de Minas Gerais, cuja

freqüência de NCC relatada foi de 12,2% (AGAPEJEV, 2003); bem como relatado por

Gomes et al. (2002), que observaram uma freqüência de 15,3% de pacientes com

anticorpos para neurocisticercose, na Bahia; que são relatados como áreas endêmicas

para a cisticercose.

GRÁFICO 2: Frequência dos resultados sorológicos utilizando o teste de Western Blotting;

para a anticorpos anti-cisticerco Taenia solium.

A partir dos resultados Blotting positivos, pôde-se observar que 56,9% dos

pacientes com sorologia positiva confirmada são do sexo feminino. No que diz respeito

à faixa etária, houve uma maior prevalência em pacientes acima de 40 anos (54,9%).

FREITAS et al. (2005), em uma pesquisa sobre a cisticercose no cariri paraibano,

relataram uma alta prevalência com sorologia positiva do sexo feminino, assim como

na faixa etária acima de 40 anos, que corrobora com os resultados encontrados no

presente estudo. Esses resultados sugerem que a cisticercose desempenha papel

importante no surgimento da epilepsia tardia e que o risco de contaminação é tanto

maior quanto mais prolongada for a exposição do ser humano ao parasito. A respeito

da procedência desses pacientes, 50,1% são provenientes da zona rural e 45,1% da

zona metropolitana, demonstrando uma distribuição da cisticercose de forma

homogênea, diferente de relatos do predomínio da doença em áreas urbanas, como

observado por CÂMPELO et al. (2003) em seu estudo sobre a neurocisticercose no

45

Estado da Paraíba, onde verificou grande número de pacientes com diagnóstico desta

parasitose procedente da área urbana de Campina Grande.

Agitação motora e agressividade foram os sintomas mais observados nos

pacientes, ocorrendo em cerca de 35,7% dos mesmos, seguido de transtornos

mentais não especificados, alucinações visuais e auditivas, e crises convulsivas

(gráfico 3). O valor-p do teste Qui-Quadrado foi 0,272, portanto, a ocorrência destes

sintomas, ocorreram de forma estatisticamente iguais.

As manifestações clínicas da neurocisticercose estão na dependência de vários

fatores: número, localização e fase de desenvolvimento do parasita, além das reações

imunológicas locais, inexistindo, portanto, um quadro patognomônico (TAKAYANAGUI;

LEITE, 2001; AUBRY, 2012).

GRÁFICO 3: Frequência dos sintomas apresentados pelos pacientes com sorologia positiva

para anticorpos anti-cisticerco Taenia solium. (AM e AG: agitação motora e agressividade;

TMNE: transtornos mentais não especificados; AVA: alucinações visuais e auditivas; CC:

crises convulsivas). Teste de Qui-Quadrado. Valor de p=0,272.

No teste de Blotting, seis proteínas imunodominantes foram mais prevalentes,

sendo as bandas 64-68 kDa, 47-52 kDa e 14 kDa as mais freqüentes (gráfico 4).

COSTA et al. (2007) demonstraram em um estudo, a freqüência de reconhecimento de

proteínas imunodominantes em diferentes estágios do parasita. Observou-se no soro

de pacientes com mestacestódeos calcificados maior freqüência da proteína

imunodominante de 64-68 kDa. Portanto, pode-se inferir que os pacientes que

apresentaram reconhecimento dessas bandas, possam estar na fase inativa do

cisticerco.

46

Neste estudo, observou-se ainda que dos 51 pacientes com sorologia positiva,

3 apresentaram reconhecimento da banda 39 kDa. COSTA et al. (2007) relataram que

a proteína imunodominante desta banda foi, mais freqüentemente, reconhecida no

soro de pacientes com metacestódeos vesicular. MICHAULAT et al. em 1990,

observaram que todas as amostras de pacientes com doença ativa reconheceram a

banda de 14 kDa. Assim sendo, pode-se sugerir que os sujeitos-objeto desta

pesquisa, cujo soro apresentaram as referidas bandas, podem estar com a fase ativa

do cisticerco.

A diferença no padrão de reconhecimento de proteína imunodominante no soro

de pacientes com cisticercos vesiculares e calcificados pode ser relacionada com a

presença de proteína imunodominante específica em cada fase do parasita (HAMED;

EL-METAAL, 2007).

O valor-p no teste Qui-Quadrado foi menor que 0, 01. Portanto, as bandas não

ocorrem com a mesma frequência, sendo a de 64-68 kDa a mais frequente.

GRÁFICO 4: Frequência das proteínas immunodominantes (kDa) reconhecidas pelo teste

do Western Blotting. Teste de Qui-Quadrado. Valor de p < 0,01.

Para finalizar, avaliamos uma possível relação entre o reconhecimento das

bandas e o surgimento dos sintomas, porém não foi observada nenhuma associação.

O valor-p do teste de Fischer é 0,254, portanto não há associação significativa entre

as bandas e o sintomas. Também não foram encontrados estudos que demonstrem

essa relação.

47

Bandas TMNE AVA AM e AG TOTAL

64-68 10 10 14 34

47 – 52 15 4 8 27

14 8 7 6 21

Tabela 1: Distribuição da banda por sintomas. Teste de Fischer. Valor de

p=0,254.

Conclusão

Os resultados obtidos demonstram uma alta frequência de sorologia positiva

para anticorpos anti-cisticerco Taenia solium em pacientes assistidos no hospital

psiquiátrico Juliano Moreira, assim como observado nos países em desenvolvimento.

Observou-se ser mais freqüente no gênero feminino e na faixa etária acima de 40

anos, e que possui uma procedência praticamente homogênea. Em relação aos

sintomas, estes ocorreram de forma estatisticamente iguais, e não apresentam

associação com o reconhecimento das proteínas imunodominates do Western Blotting.

Constatou-se que as proteínas 64-68 kDa, 47-52 kDa e 14 kDa foram as mais

freqüentemente reconhecidas, e que este resultado pode estar relacionado com a fase

de desenvolvimento do parasita.

Não se pode, contudo, confirmar o diagnóstico de neurocisticercose nesses

pacientes com sorologia positiva, mas acredita-se que investigações complementares

podem fornecer respostas mais satisfatórias, inclusive empregando as técnicas de

neuroimagem. Todavia, este estudo se afigura como um passo importante para a

identificação da prevalência da cisticercose no Estado da Paraíba, podendo ainda

fornecer subsídios ou diretrizes para a elaboração de políticas públicas de saúde

destinadas à prevenção, combate e erradicação do complexo teníase-cisticercose em

nosso meio.

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