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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÍTALO CORDEIRO DE TOLEDO Goiânia 2014 SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL (SAB): AVALIAÇÃO DE ALTERAÇÕES NERVOSAS PERIFÉRICAS EM LÍNGUA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

ÍTALO CORDEIRO DE TOLEDO

Goiânia

2014

SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL (SAB): AVALIAÇÃO DE ALTERAÇÕES

NERVOSAS PERIFÉRICAS EM LÍNGUA

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ÍTALO CORDEIRO DE TOLEDO

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título Mestre em Odontologia.

Linha de Pesquisa: Estudo das manifestações clínicas e tratamento das lesões do sistema estomatognático

Orientadora: Profª. Drª. Rejane Faria Ribeiro-Rotta Co-orientador: Prof° Dr. Luciano Alberto de Castro

Goiânia

2014

SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL: UM ESTUDO SOBRE O

PROCESSO DE DIAGNÓSTICO, A CANDIDOSE ATRÓFICA

SUBCLÍNICA E O EFEITO TERAPÊUTICO DO CLONAZEPAM

SÍNDROME DA ARDÊNCIA BUCAL (SAB): AVALIAÇÃO DE ALTERAÇÕES

NERVOSAS PERIFÉRICAS EM LÍNGUA

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Programa de Pós-Graduação em Odontologia

da Universidade Federal de Goiás

BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÂO DE MESTRADO

Aluno (a): Ítalo Cordeiro de Toledo

Orientador (a): Rejane Faria Ribeiro-Rotta

Membros:

1. Rejane Faria Ribeiro-Rotta (Presidente)

2. Aline Carvalho Batista (Membro)

3. Danilo Rocha Dias (Membro)

3. Luciano Alberto de Castro (Co-orientador)

4. Nádia do Lago Costa (Suplente)

5. Robson Rodrigues Garcia (Suplente externo)

Data: 27/02/2014

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Aos meus pais e meu irmão que sempre apoiaram as minhas decisões de aprimorar

o conhecimento na profissão desde a época da residência e agora no mestrado,

mostrando ter a confiança necessária para que eu enfrentasse as dificuldades.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS, minha família e minha namorada, nos

momentos mais difíceis me fizeram entender quais são as etapas essenciais para

vencermos os obstáculos. Obrigada pela minha vida.

À minha orientadora, professora Rejane Faria Ribeiro-Rotta, pela atenção,

dedicação, pelos conselhos pessoais, profissionais e pelo carinho.

Aos professores Luciano e Aline, por terem me mostrado caminhos para

sempre alcançar o melhor.

Aos colegas de mestrado Diego e Alisson que me ajudaram e estimularam

nos desafios deste trabalho. Em especial ao Diego que acabou se transformando em

um amigo.

A Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás, Centro

Goiano de Doenças da Boca, Laboratório de Patologia, em espacial ao Erildo, todo o

meu orgulho e carinho a cada um de seus docentes, técnico-administrativos e

discentes que me acompanharam nesta jornada. Meu agradecimento especial à

equipe de Diagnóstico Bucal, laboratório de patologia e Centro Goiano de Doenças

da Boca.

Ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal de

Goiás, a todos os docentes e servidores pelos ensinamentos da prática docente e

científica e mais ainda pelo carinho do acolhimento e pelos exemplos.

Aos meus colegas de pós-graduação meu eterno carinho e amor por vocês.

As palavras seriam poucas para agradecer todos os momentos que passamos

juntos.

Aos pacientes, meu agradecimento especial por terem feito parte desse

sonho.

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SUMÁRIO

FIGURAS, QUADRO E TABELAS, SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

RESUMO

ABSTRACT

1.0 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................... 15

2.0 OBJETIVOS ........................................................................................................ 32

3.0 HIPÓTESE .......................................................................................................... 32

4.0 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 32

4.1 População e seleção da amostra ..................................................................... 32

4.2 Técnicas utilizadas ............................................................................................ 35

4.2.1 Realização das biópsias no grupo SAB ....................................................... 35

4.2.2 Técnica de rotina (Hematoxilina e Eosina) ................................................... 36

4.2.3 Técnica de Imuno-histoquímica.....................................................................36

4.3 Avaliações qualitativa e quantitativa dos cortes microscópicos..................37

4.4 Análise estatistica dos dados .......................................................................... 37

5.0 RESULTADOS – PUBLICAÇÕES ...................................................................... 38

6.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 55

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56

ANEXOS E APENDICES .......................................................................................... 65

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FIGURAS, QUADRO E TABELAS

Quadro 1: Divisão funcional do sistema nervoso sensorial/sensitivo 19

Figura 1. Mecanismo nociceptivo da dor da região orofacial, essencialmente pelos ramos do trigêmeo

21

Figura2. Anatomia e detalhamento esquemático das camadas microscópicas do nervo

26

Figura 3. Diagrama histológico do nervo 27

Figura 4. Inervação sensorial da língua, no seus terços médio-anterior e posterior

29

Figura 5. Fluxograma de trabalho evidenciando a metodologia após diagnóstico da SAB primária

35

RESULTADOS - PUBLICAÇÃO

Figura1. Fotomicroscopias de mucosa lingual do grupo controle evidenciando revestimento epitelial e queratinização normais (A) e do grupo SAB (B). Hematoxilina e Eosina, aumento original de 200X. (A) e 100X (B)

51

Figura 2. Fotomicroscopias de espécimes obtidos de mucosa lingual do grupo SAB. Hematoxilina e Eosina, aumento original de 200X (A). Imuno-histoquímica, aumento original de 200X (B) e 400X (C) Figura 3. Fotomicroscopias ilustrando densidade similar de filetes nervosos (FN) S100+ (seta pontilhada), FN PGP 9.5+ (seta contínua) e mastócitos triptase+ (ponta de seta), distribuídos na região subepitelial, entre amostras de mucosa lingual de pacientes com SAB (A-C) e de pacientes saudáveis (D-F). Imuno-histoquímica, aumento 40x (A-F). Tabela 1. Comparação da densidade de filetes nervosos (mm2) dos grupos SAB e controle, quantificados pelas técnicas de imunohistoquímica (S100, PGP9.5) e HE, expressos pela média, desvio padrão, valores mínimo e máximo, razão S100/PGP9.5

52 53 54

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SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

CGDB Centro Goiano de Doenças da Boca

COEP Comitê de ética e pesquisa

DAB

ENE FN

Diaminobenzidina

Enolase Neuronio Específica

Filetes Nervosos

FO/UFG Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás

HE

H2O2

NP

Hematoxilina e Eosina

Peróxido de Hidrogênio

Nervo Periférico

PBS-BSA Soro albumina bovina (Bovine serium albumin)

SAB

SNP SNC

Síndrome da ardência Bucal

Sistema Nervoso Periférico

Sistema Nervoso Central

TBS Solução salina tamponada de Tris

TCLE

TSQ

MST

EAV

SD

Termos de Consentimento Livre e Esclarecido Teste Sensorial Quantitativo Mastócitos triptase positivos

Escala analógica visual

Desvio padrão

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RESUMO

A síndrome da ardência bucal (SAB) é uma condição dolorosa crônica, de origem

incerta que pode afetar vários sítios da mucosa bucal, sendo a língua o sítio mais

frequente. Alguns estudos têm sugerido que a ardência lingual nos pacientes

portadores de SAB pode estar associada a alterações nervosas periféricas.

Objetivo: Avaliar a densidade e integridade de filetes nervosos (FN) na região

subepitelial da mucosa lingual de pacientes com diagnóstico de SAB primária.

Materiais e Métodos: A densidade (por mm²) de FN periféricos foi avaliada

comparativamente em amostras de mucosa lingual de pacientes clinicamente

diagnosticados com SAB primária (n=12) e de indivíduos com ausência de sinais e

sintomas de ardência (grupo controle) (n=11). FN S100+ (células de Schwann

positivas) e PGP 9.5+ (axônios íntegros positivos) foram identificados pela técnica da

imuno-histoquímica (métodos de polímeros). Resultados: Os achados revelam que

pacientes com SAB apresentam densidades similares de FN periféricos S100 +

(mediana= 3,7/mm²) quando comparados ao grupo controle (mediana= 2,6/mm²)

(P=0,65). A densidade de FN íntegros ou PGP 9.5+ também foi semelhante entre os

grupos avaliados (mediana= 0,7 e 0,8mm², respectivamente; P=0,72). Além disso, a

relação entre FN S100+ / PGP 9.5+ nos pacientes com diagnóstico clínico de SAB e

controles foi igual (P=0,7). Conclusão: Pacientes com diagnóstico clínico de SAB

primária não apresentaram alterações em morfologia, densidade e integridade de

axônios de FN periféricos em regiões sintomáticas da língua. A SAB primária é uma

doença complexa, debilitante, cujo conhecimento de fatores envolvidos na sua

etiopatogenia pode proporcionar que novas modalidades terapêuticas sejam

instituídas a partir de bases cientificas sólidas em beneficio do paciente. Os dados

clínicos permanecem como mais relevantes no processo de diagnóstico de SAB.

Palavras-Chave: Síndrome da ardência bucal, Biopsia em língua, PGP 9.5, Proteína

S-100

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ABSTRACT

The burning mouth syndrome (BMS) is a painful chronic condition of unknown

origin that can affect various sites of the oral mucosa, and tongue the most

frequent site. Some studies have suggested that the burning tongue in patients

with BMS may be associated with peripheral neuropathic changes. Objective:

To evaluate the density and integrity of nerve endings (FN) in the subepithelial

region of the lingual mucosa of patients with primary diagnosis of BMS.

Materials and Methods: The density (mm²) of peripheral FN was

comparatively evaluated in samples of lingual mucosa of patients clinically

diagnosed with primary BMS (n = 12) and subjects with no signs and symptoms

of burning (control group) (n = 11). FN S100 + (positive Schwann cells) and

PGP 9.5 + (positive intact axons) were identified by the technique of

immunohistochemistry (methods of polymer). Results: The findings show that

patients with BMS have similar densities FN peripheral S100 + (median = 3.7 /

mm ²) compared to the control group (median = 2.6 / mm ²) (P = 0.65). The

density of intact FN or PGP 9.5 + was also similar among the groups (median =

0.7 and 0.8 mm ², respectively, P = 0.72). Furthermore, the relationship

between S100 FN + / + PGP 9.5 in patients clinically diagnosed with BMS and

controls was similar (P = 0.7). Conclusion: Patients with primary clinical

diagnosis of BMS showed no changes in morphology, density and integrity of

axons of FN in symptomatic peripheral regions of the tongue. The primary BMS

is a complex, debilitating illness, whose knowledge of factors involved in its

pathogenesis may provide new therapeutic modalities that are imposed on solid

scientific basis for the benefit of the patient. Clinical data remain as the most

important in the diagnosis of BMS process.

Keywords : Burning mouth syndrome, neuropathy, immunohistochemistry

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1.0 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

1.1. SAB: definições, epidemiologia, classificação, etiologia e diagnóstico

As ardências na cavidade bucal são descritas há várias décadas,

entretanto, as primeiras publicações científicas sobre ardência idiopática na

língua só ocorreram no início do século XX (FOX, 1935; ZISKIN & MOULTON,

1946). Em 1994 a “International Association for the Study of Pain (IASP)”,

definiu a Síndrome da Ardência Bucal (SAB) como ardência na língua ou em

outros sítios da mucosa bucal, que persiste por pelo menos quatro meses, na

ausência de achados clínicos e laboratoriais (MERSKEY & BOGDUK, 1994).

Posteriormente, em 2004, e sendo o conceito mais atual, a “International

Headache Society (IHS)” descreveu a SAB como uma sensação de ardência

intrabucal não associada a causas médicas ou odontológicas e que pode estar

associada à xerostomia, parestesia e disgeusia (INTERNATIONAL

HEADACHE SOCIETY, 2004; BALASUBRAMANIAM, 2009). Várias são as

denominações utilizadas para designar a SAB, as quais incluem: glossodínia,

glossopirose, estomatopirose, estomatodínia e distesia oral, porém, apesar de

questionada por alguns estudiosos, a expressão Síndrome da Ardência Bucal é

a denominação mais amplamente utilizada (SILVERMAN, 1967; ELI et al.,

1994.; GREMEAU-RICHARD C et al., 2004).

A SAB tem uma prevalência na população em geral que varia de 0,7%

a 20,6% (LIPTON et al., 1993; BERGDAHL & BERGDAHL, 1999; DANGORE-

KHASBAGE et al., 2012), sendo uma desordem tipicamente observada em

mulheres (7:1), na faixa etária de 38 a 78 anos de idade (GRUSHKA, 1987;

BERGDAHL & BERGDAHL, 1999; SCALA et al., 2003), sem predileção por

etnia ou classe socioeconômica (BARKER & SAVAGE, 2005).

Diversas classificações têm sido propostas para a SAB, sendo a

sintomatologia e a evolução clínica dos pacientes os principais parâmetros de

avaliação. Com base no exame da cavidade bucal, Burket (1973) classificou as

algias linguais em dois grupos: pacientes com e sem alterações observáveis

clinicamente, considerando a etiologia deste último grupo de natureza

psicogênica. Alguns anos mais tarde, com o intuito de ampliar a observação

clínica, Lamey e Lewis (1989) propuseram a classificação da SAB em três tipos

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distintos: no tipo 1, os pacientes conseguem dormir e acordam sem a ardência,

que surge pela manhã e vai se intensificando no decorrer do dia, atingindo o

pico no final da tarde ou início da noite; o tipo 2 é caracterizado por ardência

contínua durante o dia e a noite, dificultando o sono dos pacientes; e o tipo 3

tem um curso clínico irregular, no qual os sintomas são intermitentes e os

pacientes podem experimentar horas ou dias sem ardência.

A classificação da SAB mais utilizada foi proposta por Scala et al 2003

e consiste em duas formas clínicas: a forma primária, essencial ou idiopática na

qual não podem ser identificadas causas locais ou sistêmicas para a ardência,

estando possivelmente relacionada a alterações neuropáticas dificilmente

detectáveis, e a forma secundária, na qual estaria associada com fatores locais

ou sistêmicos.

A etiologia da SAB primária ainda não é totalmente compreendida e a

maioria dos estudos aponta para uma complexa associação de fatores locais,

sistêmicos e psicológicos, suportando uma gênese multifatorial na qual haja a

participação de constituintes salivares, distúrbios hormonais, alterações

nervosas periféricas e centrais, bem como fatores psicogênicos (GRUSHKA et

al.,1987; BERGDAHL & BERGDAHL, 1999; HERSHKOVICH & NAGLER, 2004;

AL QURAN, 2004; GRANOT & NAGLER, 2005; PATTON et al., 2007;

SCARDINA et al., 2008; WANDEUR et al., 2009; MATSUOKA, 2010; WODA et

al., 2009; JÄÄSKELÄINEN 2012).

Mais recentemente, estudos neurofisiológicos, psicofisiológicos,

neuropatológicos e com ressonância magnética funcional têm evidenciado que

o mecanismo essencial para a instalação da SAB está associado a alterações

sensitivas a nível central, periférico ou misto. Esses estudos indicam a biopsia

incisional da área afetada, geralmente a língua, para avaliação microscópica

das alterações neuropáticas a nível periférico, por meio de técnicas

laboratoriais como imuno-histoquímica e imunofluorescência, podendo

contribuir para o diagnóstico e direcionamento de terapias específicas (LAURIA

et al., 2005; YILMAZ et al., 2007; PENZA 2010).

O primeiro grande desafio para o tratamento da SAB é exatamente o

seu diagnóstico (MIGNOGNA et al., 2005), visto que não existe qualquer teste

clínico ou laboratorial que possa determinar, de maneira inequívoca, o seu

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diagnóstico definitivo. Assim, o processo de identificação da SAB converte-se

em um exercício de raciocínio clínico minucioso, sendo necessária uma coleta

sistemática de informações e aplicação de testes diagnósticos diversos para

atingir, pelo método da exclusão, um possível diagnóstico (BARKER e

SAVAGE, 2005; MIGNOGNA et al., 2005; CASTRO, 2013).

O algoritmo para o diagnóstico da SAB deve iniciar-se com a

anamnese detalhada seguida pelo exame físico minucioso da mucosa bucal.

No entanto, o diagnóstico final deve ser confirmado por meio de exames

hematológicos, testes de hipersensibilidade, biópsia lingual e exames

microbiológicos para identificação e cultura de fungos (PENZA et al., 2010).

Após a identificação e exclusão de todos os prováveis fatores locais e

sistêmicos associados à ardência, tem-se o diagnóstico final da SAB primária

(SCALA et al., 2003; MINOR & EPSTEIN, 2011; CASTRO, 2013).

1.2. Evidência para etiologia neuropática da SAB

A dor em queimação ou ardência é característica de muitas condições

associadas à lesão do tecido nervoso e alterações somatosensoriais. A

hipótese de que a SAB pode tratar-se de uma condição envolvendo o sistema

nervoso periférico e/ou o central tem recebido, ultimamente, uma atenção

especial.

1.2.1. Revisitando a neurofisiologia da dor Uma compreensão da inervação sensitiva e motora das estruturas

bucais e da face e, consequentemente, da atividade nociceptiva (transdução,

transmissão, percepção e inibição) da região é essencial para diferenciar um

processo fisiológico de um patológico e possibilitar o diagnóstico e tratamento

eficaz de uma neuropatia. O sistema nervoso (nervos periféricos sensitivos e

motores, a medula espinhal, o tronco cerebral e o cérebro) forma uma

complexa rede de vias aferentes e eferentes para transmitir e reagir aos

impulsos que o cérebro “percebe” como dolorosos. Todas as informações

advindas do meio que cada indivíduo é exposto são percebidas/sentidas por

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ele de forma específica, por meio do seu sistema nervoso sensorial (Quadro

1). A dor é uma experiência desagradável complexa, eminentemente sensorial

e emocional, que ocorre em resposta a um estímulo nociceptivo (nocivo ou

potencialmente nocivo) detectado pelos chamados nociceptores. Os

nociceptores compõem o grupo dos receptores sensoriais, os quais são células

ou estruturas especializadas que, funcionalmente, convertem estímulos

diversos em sinais elétricos (transdução) (BERNE & LEVY, 2009).

A sensibilidade da região orofacial, incluindo a sensibilidade dolorosa,

é transmitida essencialmente pelos três ramos do nervo trigêmio. Após o

estímulo nociceptivo, as fibras aferentes primárias (neurônio de primeira ordem

– fibras A-delta: mielinizadas, rápidas, dor em “pontada”; fibras C: amielínicas,

lentas, dor em “queimação”) recebem estímulo e o conduzem para o tronco

cerebral, onde fazem sinapse com o neurônio de segunda ordem, no complexo

sensorial trigeminal. Esse complexo se divide em núcleo Principal e Núcleo do

Trato Espinhal, que consiste de 3 subnúcleos: oral, interpolar e caudal. O

subnúcleo caudal parece ser o principal local para o processamento e

transmissão da dor orofacial (Figura 1). Esses estímulos transmitidos são

interpretados pelo cérebro como dolorosos, extremamente desagradáveis e

desencadeiam ações protetoras, memórias e emoções (BARON, 2000).

A sensação de dor quando gerada no tecido neural propriamente dito,

tendo como característica a ausência de qualquer fonte obvia de nocicepção, é

denominada neuropática, comumente associada a outros sintomas

neurológicos como queimação, hiperalgesia (Figura 1) e disestesia. A

investigação clínica é realmente um desafio, uma vez que este tipo de dor

apresenta-se sem um substrato clínico evidente. Dentre as sensações

dolorosas, a manifestação em queimação ou ardência presente na SAB, em

conjunto com a ausência de possíveis fatores locais, tem sido caracterizada

como uma dor neuropática (BARON, 2000; OKESON, 2006).

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Quadro 1 – Divisão funcional do sistema nervoso sensorial/sensitivo. Fonte: o autor (GRAY, C.; GOSS, C. M. Anatomia. 29. ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 1998.; KAHLE, W.; FROTSCHER, M. Anatomia - Texto e Atlas (Sistema nervoso e órgãos dos sentidos). v.3. 9. ed. Porto Alegre: Artmed. 2008.)

Categoria Origem do estímulo

Organização Sensibilidade Tipo de Receptores

Estímulo / Estrutura

Somático Exteroceptivo (Superfície do corpo – pele e mucosas)

Geral (Somestesia)

Calor / Frio

Termoreceptores Resultam da estimulação de diferentes receptores desigualmente distribuídos na pele; corpúsculos de Kauser; corpúsculos de Ruffini.

Tato Mecanoceptores

Corpúsculos de Meissner: contatos leves, são distribuídos na pele e principalmente na língua, lábios, testa e ponta dos dedos;

Pressão

Mecanoceptores

Corpusculos de Paccini: localizados mais profundamente

Dor Nociceptores

São os mais abundantes no organismo humano, respondem a estímulos mecânicos, químicos e térmicos. Além das superfícies, estão também nos músculos esqueléticos, tendões e vísceras

Especial (Sentidos especiais)

Olfação

Gustação

Audição

Visão

Equilíbrio

Receptores específicos

Órgãos sensoriais localizados na cabeça, que são estimulados por substancias voláteis dispersas no meio ambiente (epitélio olfativo), substancias químicas que se solubilizam na saliva (botões gustativos), ondas mecânicas sonoras (células ciliadas da cóclea), imagens dos objetos no meio ambiente (cones e bastonetes na retina), aceleração da cabeça (células ciliadas ouvido interno)

Proprioceptivo (músculos, tendões, articulações)

Geral (Cinestesia)

Propriocepção Proprioceptores Modificações do próprio corpo: posição, equilíbrio (órgãos tendinosos de Golgi, fusos musculares, receptores articulares)

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Visceral Interoceptivo (Vísceras)

Geral Sentido visceral

Receptores viscerais

Sensações de fome e sede (homeostasia), alterações provocadas por extensão das paredes (receptores elásticos), sensação de bexiga cheia (vários receptores na pleura e peritônio)

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Figura 1 – Mecanismo nociceptivo da dor da região orofacial, essencialmente pelos ramos do trigêmeo (mandibular – azul; maxilar – verde; oftálmico – rosa). A1 e A2) Estímulo ativa receptores nociceptivos da língua (pela liberação de substancias da inflamação como prostaglandinas, histamina, substancia P, serotonina, etc) que geram um potencial de ação (transdução), o qual é B) conduzido pelas fibras aferentes para a C) raiz dorsal da medula espinhal/ complexo sensorial trigeminal, onde fazem sinapse com o neurônio de segunda ordem que transmitem o estímulo (transmissão) para áreas mais superiores do D) sistema nervoso central (trato espinotalâmico, hipotálamo, tálamo e córtex cerebral), onde os estímulos são interpretados e as reações/sensações ocorrem.

A1

B

A2

C

D

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Fonte: modificado de http://www.medicinanet.com.br/imagens/20121218101957.jpg; http://www.medicinanet.com.br/imagens/20121218101940.jpg

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1.2.2. Indícios de disfunção neuropática na SAB

O diagnóstico de dor neuropática associada à neuropatia periférica

pode ser difícil ou até impossível com apenas o exame clínico. Nesses casos, a

investigação clínica neurofisiológica pode contribuir de forma importante para o

diagnóstico, especialmente quando usada em combinação com testes

sensoriais quantitativos (TSQ) (ROBINSON, 2000; TEERIJOKI-OSKA et al.,

2004; ENGLAND et al., 2005; KEHLET et al., 2006; LOSETH et al., 2006;

JAASKELAINEN, 2009).

Grushka et al. (1987) realizaram o primeiro estudo psicofísico

detalhado em pacientes com SAB, utilizando métodos para investigar

modalidades sensoriais táteis e térmicas na região orofacial, incluindo a

mucosa lingual, denominados testes sensoriais quantitativos (TSQ)1. Apesar de

não terem demonstrado diferença significante entre o grupo de pacientes e

controle, os autores observaram que pacientes com SAB apresentavam

diminuição da tolerância a dor pelo calor na região anterior da língua quando

comparados aos pacientes saudáveis, ou seja, a dor se tornava insuportável

em menos tempo e com temperaturas mais elevadas especificamente na

região anterior da língua dos pacientes com SAB. Porém, sem qualquer relação

com sexo, idade, raça ou variações atitudinais. Eles concluem que esses

resultados não sugerem uma origem psicogênica, mas que possíveis

alterações específicas nas funções sensoriais periféricas ou centrais dos

pacientes com SAB poderiam estar presentes.

Evidências mais convincentes do envolvimento local de pequenas

fibras nervosas podem ser observadas num estudo de TSQ utilizando

estimulador de laser de argônio (SVENSSON et al., 1993), o qual identificou

limiares sensoriais (quantidade de estímulo suficiente para a sua percepção)

significativamente maiores (hipoestesia e hipoalgesia, ou seja, sinais negativos)

e a razão entre dor e limiares sensoriais significativamente menor em pacientes

com SAB em todas as regiões testadas (região anterior da língua, mucosa

labial, mucosa bucal, palato duro e dorso da mão) de pacientes com SAB,

quando comparados ao grupo controle. Por outro lado, as variações dos

1 TSQ – Teste sensorial quantitativo é o melhor teste psicofísico disponível para avaliar clinicamente a

função das fibras sensoriais aferentes (ex: estímulo termo-elétrico) (VERDUGO & UCHOA, 1993)

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limiares sensoriais e de dor das diferentes regiões intrabucais e de pele

testadas foram semelhantes em ambos os grupos, exceto para região anterior

da língua onde ocorreu diferença estatística em pacientes com SAB. Esses

achados caracterizaram a presença de percepções anormais do estimulo

prévias à sensação de dor e distúrbios na percepção de estímulos térmicos

nociceptivos e não-nociceptivos, tanto nas regiões acometidas pela SAB como

em regiões normais. Isso sugere que embora haja uma alteração de natureza

sensorial, ela não está relacionada à mecanismos fisiopatológicos específicos

da SAB (KEHLET et al., 2006) e os autores sugerem que uma explicação

psicosomática poderia ser utilizada com cautela. (SVENSSON et al., 1993).

Estes achados poderão ser melhor esclarecidos ou confirmados com novos

estudos.

A SAB tem sido sugerida ser um tipo de dor fantasma induzida em

indivíduos susceptíveis que apresentam alterações do sistema gustativo

(BARTOSHUK et al, 1999). Sinais positivos de distúrbios da vasoreatividade a

estímulos frios em pacientes com SAB, a qual se encontra aumentada em

relação ao grupo controle, também tem sido descritos (HECKMANN et al.,

2001), o que está alinhado com o fenômeno sensorial de redução da tolerância

a dor.

Estudo com a combinação de testes eletrofisiológico convencional (ex.:

reflexo de piscar2) e psicofísico (TSQ) tem fortalecido e contribuído para o

melhor entendimento da hipótese do mecanismo neural e do nível dessa

disfunção nos pacientes com SAB (FORSSEL et al., 2002). Este fato deve-se à

possibilidade desse tipo de estudo (FORSSEL et al., 2002) avaliar não apenas

a função das fibras nervosas mielinizadas (reflexo de piscar) (JAASKELAINEN

et al., 1997), mas também a das fibras sensoriais finas aferentes (VERDUGO &

UCHOA, 1993), bem como a documentação objetiva do fenômeno sensorial

positivo na forma de alodínia e hiperalgesia térmicas. Os resultados desse

2 REFLEXO DE PISCAR: Reflexo ou arco reflexo é uma resposta eferente a um estímulo aferente. O ramo aferente

do reflexo de piscar (blink reflex) é mediado por fibras sensoriais do nervo oftálmico (V) divisão do trigêmeo e o

ramo eferente é mediado por fibras motoras do nervo facial (VII). Assim, estudo do reflexo de piscar é uma técnica

eletrofisiológica convencional útil para avaliar pacientes com: envolvimento dos nervos trigemio e facial; uma

variedade de polineuropatias demielinizantes e lesões do tronco encefálico. Esse reflexo possui dois componentes:

(1) um primário (R1), ipsilateral ao lado do estímulo, cuja alteração ou ausência indica comprometimento do nervo

trigêmeo e/ou facial do lado estimulado e (2) um tardio (R2), presente no dois lados após estímulo unilateral, que

indica o sítio da lesão quando R1 está anormal. ( Kimura J. Eletrodiagnosis in diseases of nerve and muscle:

principles and practice. Philadelphia: FA Davis, 1983.)

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estudo que avaliou a trajetória neural periférica e central do sistema trigeminal,

em uma amostra ampla de pacientes com SAB (FORSSEL et al., 2002),

revelaram quatro diferentes categorias: aqueles com neuropatia do tronco

encefálico ou trigeminal periférica (19%) – anormalidade do reflexo de piscar;

(2) com aumento da excitabilidade do sistema trigeminal (21%) – habituação

deficiente do componente R2 do reflexo de piscar e alodínia no TSQ; (3) com

disfunção exclusiva das fibras finas (76%) - hipoestesia e (4) aqueles com

testes eletrofisiológicos normais (11%).

1.2.3. Alterações neurohistopatológicas na SAB

O sistema nervoso é constituído de uma parte central (SNC), no interior

do cérebro e coluna vertebral e de um sistema nervoso periférico (SNP),

distribuído por todo corpo. É no SNC que está a grande maioria das células

nervosas, seus prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No sistema

nervoso periférico estão relativamente poucas células, mas um grande número

de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupados em conjuntos de

filetes alongados chamados nervos.

1.2.3.1. Histofisiologia dos Nervos Periféricos

Os nervos periféricos são linhas condutoras que levam informações

sensoriais da pele, mucosas e de outras regiões ao SNC e informações

motoras do SNC para os músculos somáticos e órgãos efetores controlados

pelo sistema nervoso autônomo. São feixes de fibras nervosas mielinizadas ou

não, unidos por tecido conjuntivo. Microscopicamente os nervos são

constituídos por axônios e células de Schwann (fibras nervosas) localizados

nos compartimentos endoneurais, que são circundados pelo perineuro (filete

nervoso - FN); este por sua vez forma fascículos individuais que são envoltos

por tecido fibroso epineural (nervo) (Figura 2) (RIET-CORREA 2001,

JUNQUEIRA 2006).

O epineuro é um tecido conjuntivo que tem a função de manter os

fascículos neurais reunidos e funciona como uma barreira semipermeável.

Além de fibroblastos, esse tecido também apresenta mastócitos, colágeno,

vasos sanguíneos e fibras elásticas. O perineuro, por sua vez, é formado por

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camadas concêntricas de células planas que são separadas por lâminas de

colágeno. Essas células perineurais, eventualmente, fundem-se com os

axônios dos nervos sensitivos na sua porção terminal e são contráteis, pois

apresentam microfilamentos característicos das células musculares lisas. No

endoneuro se localizam os axônios envoltos pelas células de Schwann, bem

como fibras colágenas, fibroblastos, capilares e alguns mastócitos. O espaço

endoneural é interno ao perineuro e contém uma matriz extracelular constituída

de glicoproteínas. Essa matriz, produzida pelas células endoneurais, é

responsável pela manutenção do ambiente iônico das fibras nervosas favorável

à condução do impulso nervoso (RIET-CORREA, 2001, JUNQUERIA 2006)

(Figura 3).

Figura 2 - Anatomia e detalhamento esquemático das camadas microscópicas (corte transversal) do nervo (A,B). Ep = epineuro; P = perineuro; En = endoneuro; Seta = axônio; círculo = células de Schwann (B).

Fonte: Adaptado de:

A=Alila Medical Media/ Shutterstock.com;

B= http://minerva.ufpel.edu.br/~mgrheingcd_histologia/geral/snp.htm;

A

B

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27

Durante o processo de desenvolvimento embrionário, as células da

crista neural migram do pólo dorsal do embrião e se diferenciam em uma

variedade de tipos celulares. Esses tipos celulares incluem melanócitos, células

endócrinas, músculos lisos, cartilagem, tecido ósseo, neurônios periféricos e

células de Schwann, sendo estas últimas fundamentais na formação dos

nervos periféricos (SHAN et al., 1994).

Figura 3. Diagrama histológico do nervo. O epineuro (EP) contém colágeno, vasos

sangüíneos e algum tecido adiposo. As células do perineuro (PN) são unidas por

junções oclusivas (adesão) formando camadas lamelares separadas por fibras de

colágeno. As células de Schwann, localizadas no endoneuro (EN) formam lamelas de mielina (M) que circundam os axônios de maior diâmetro. Múltiplos axônios não mielinizados (UM) são invaginados através do citoplasma das células de Schwann. Outros elementos, incluindo fibroblastos (Fb), mastócitos (Mc), capilares (cap) e colágeno (col) também são vistos. Fonte: Ortiz-Hidalgo & Weller, 1997.

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As células de Schwann e seus precursores têm um papel crucial no

desenvolvimento dos nervos periféricos, em especial as células mielinizantes,

fundamentais na manutenção da função e arquitetura dos axônios (MIRSKY &

JESSEN, 2001). Essa interação sináptica entre as células de Schwann e as

glicoproteínas da matriz endoneural inicia com um sinal do axônio, que age no

recrutamento, na diferenciação e proliferação de populações celulares

potencialmente mielinizantes e na iniciação da síntese e manutenção das

moléculas específicas da mielina (GRAÇA, 1988).

Outro evento importante, regulado pelas células de Schwann, é a

formação dos nodos de Ranvier. Há uma forte correlação entre a presença de

células de Schwann (não necessariamente em contato direto com o axônio), e

a presença de agregados focais de canais de sódio (Na+) nas membranas

axonais. Isto é visto em um grande número de situações: durante o

desenvolvimento do nervo, durante o reparo seguido por destruição química da

mielina e quando células de Schwann são acrescentadas a axônios in vitro

(MIRSKY & JESSEN, 2001).

1.2.3.2. Aspectos microscópicos e inervação da língua

Uma visão microscópica do dorso lingual normal, pela técnica de

hematoxilina e eosina (HE), revela uma mucosa com epitélio pavimentoso

estratificado queratinizado, com projeções papilares. Subjacente, observa-se o

tecido conjuntivo densamente colagenizado, contendo algumas células

inflamatórias e presença de pequenos FN (ramificações de nervos cranianos

maiores) dispostos na região subepitelial (JUNQUEIRA 2006).

A inervação sensitiva da língua é feita por três pares de nervos

cranianos: a) Trigêmio - sensibilidade geral (dor e temperatura) nos 2/3

anteriores; b) Facial - sensibilidade gustativa nos 2/3 anteriores; c)

Glossofaríngeo - sensibilidade geral e gustativa no 1/3 posterior. Entretanto,

como as fibras do facial chegam à língua através do nervo lingual, apenas três

nervos estabelecem contato direto com a língua, ou seja, o hipoglosso, o

glossofaríngeo e o nervo lingual, ramo da divisão mandibular (V3) do trigêmio.

Os receptores sensitivos especializados na gustação, os receptores

especializados em captar estímulos tácteis, de pressão, dor e temperatura

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situam-se na membrana mucosa que reveste o dorso da língua (Figura 4)

(MADEIRA, 2001).

Figura 4 - Inervação sensorial da língua, no seus terços médio-anterior e posterior

Fonte: O autor.;

http://4.bp.blogspot.com/-WqvJXXnxeSU/TfaQnuJFuwI/AAAAAAAAAB8/5nyjvVfb5Lk/s1600/tato.jpg

http://wine4soul.files.wordpress.com/2013/03/papillae___tastebuds.jpeg

1.2.3.3. Proteínas neuronais: funções e sítio de imunomarcação

Algumas proteínas neuronais têm sido utilizadas como alvo de estudo

de patologias que acometem os tecidos neurais, como processos inflamatórios,

degenerativos e neoplásicos. Entre estas proteinas, destacam-se a S100

(HALAWI, 2013) e a 9.5 (DAY & THOMPSON, 2010).

A S100 é uma proteína ácida, ligante de cálcio, expressa por células

gliais como os astrócitos e células se Schwann, que ocorre em três formas

diméricas: S100ao, S100A e S100B compostas de αα, αβ e ββ subunidades,

respectivamente. Nos tecidos normais, as subunidades α e β estão associadas

às células gliais do SNC, às células estreladas da adenohipófise, melanócitos e

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condrócitos. A subunidade α é expressa exclusivamente em macrófagos nodais

e neurônios, e a β é expressa exclusivamente em células de Schwann e células

satélites do sistema nervoso periférico (SHÄFER & HEINZMAN, 1996). Essa

proteína possui como principais funções a manutenção da homeostasia do

citoesqueleto, fosforilação de proteínas, regulação do fluxo de cálcio,

crescimento celular, quimiotaxia e controle da condução do impulso nervoso.

Estas funções podem estar associadas aos monócitos/macrófagos/microglia,

astrócitos, células de Schwann, neurônios, mastócitos, linfócitos, neutrófilos,

condrócitos, células endoteliais e vascular do músculo liso, células epiteliais e

mioblastos. (HALAWI, 2013). O anticorpo monoclonal anti-S100 humano tem

sido bastante utilizado para avaliação de tecidos de origem nervosa, sendo

este um marcador de células de Schwann (HALAWI, 2013). No entanto, a baixa

especificidade deste marcador, contribui para que outros marcadores nervosos

sejam utilizados em estudos de alterações de fibras nervosas.

O PGP 9.5 é uma proteína citoplasmática presente em neurônios e

células de origem neuroendócrina, inicialmente descrita no cérebro e depois no

sistema nervoso periférico, cuja função ainda é desconhecida (THOMPSOM

1983). Através das técnicas de imunomarcação é possível visualizar esta

proteína em axônios íntegros e observar a densidade destas estruturas na

região subepitelial e em terminações nervosas epiteliais. Mediante uma

diminuição da expressão do PGP 9.5, sugere-se uma possível degeneração

axonial, como esperado nas neuropatias (DAY & THOMPSON, 2010). A

utilização do anticorpo monoclonal anti-PGP 9.5 humano em associação com

outros marcadores neurais como, por exemplo, o uso do anticorpo anti-S100

humano, pode contribuir para a avaliação de estruturas nervosas e de sua

integridade.

1.2.3.4. Utilização de proteinas neuronais na SAB: imuno-histoquímica e imunofluorescência

O conhecimento das características morfológicas do sítio mais

frequentemente acometido na SAB, o dorso lingual, juntamente com alguns

achados científicos que caracterizam a síndrome como uma possível

neuropatia periférica foram os principais aspectos que motivaram estudos por

meio de biópsias em áreas sintomáticas da língua de pacientes com

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diagnóstico de SAB primária e, posteriormente, a realização de técnicas

laboratoriais para análise microscópica da densidade de FN intra e subepiteliais

(LAURIA et al., 2005; YILMAZ et al., 2007; BENENG et al., 2010; PENZA et al,

2010; PUHAKKA et al., 2010).

A utilização das técnicas laboratoriais de imunomarcação, como a

imunofluorescência e imuno-histoquímica, para a identificação de

neurotransmissores como a substância P (produto gênico relacionado ao gene

da calcitonina), a Enolase Neurônio Específica (ENE) e, principalmente, o

produto gênico anti-proteico (PGP 9.5) têm se mostrado métodos de destaque

e de grande sensibilidade para estudar FN terminais, tanto em padrões normais

de distribuição da inervação, quanto em situações patológicas do sistema

nervoso periférico, em especial nos processos que comprometem as fibras

mielínicas de pequeno calibre e as amielínicas (LAURIA et al., 2005).

Guarneri et al (2008) realizaram um estudo utilizando a técnica de

imuno-histoquímica em amostras de áreas afetadas pela ardência bucal

revelando a presença de alterações nas fibras nervosas de pequeno diâmetro

(tipo C) em pacientes com SAB, corroborando com a possível etiologia

neurológica periférica. Tais alterações, segundo este estudo, poderiam estar

relacionadas com a densidade e/ou a funcionalidade dos receptores de

membrana presentes nas terminações nervosas da mucosa bucal.

Alguns estudos têm mostrado que uma diminuição da densidade das

terminações nervosas amielínicas na mucosa bucal, e um desarranjo difuso

dos axônios na SAB o qual apresenta uma associação negativa com a duração

dos sintomas da SAB, uma vez que quanto maior a duração dos sintomas

menor era a densidade de FN. Além disso, a degeneração axonal pode induzir

uma sensibilização de fibras nervosas e ser responsável pela hiperalgesia

persistente (LAURIA et al., 2005, YILMAZ et al., 2007; BENENG et al., 2010).

Embora alguns estudos tenham demonstrado que a SAB está

associada a alterações nos FN periféricos (LAURIA et al., 2005; YILMAZ et al.,

2007; PENZA 2010) e uma tentativa de caracterização microscopica das

alterações morfológicas presentes nessa patologia tenha sido sugerida

(GUARNERI et al., 2008; PUHAKKA et al., 2010), muitos aspectos do

mecanismo fisio e histopatológico precisam ser elucidados, o que vem justificar

os objetivos desse estudo, cujo resultados poderão contribuir para o

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esclarecimento da etiopatogenia da SAB levando á tratamentos mais

adequados e efetivos.

2.0 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar a densidade e integridade de FN na região subepitelial da

mucosa lingual de pacientes com diagnóstico de SAB primária.

3.0 HIPÓTESE

Espera-se encontrar diminuição da densidade dos FN periféricos em

áreas sintomáticas para ardência dos pacientes com diagnostico inicial de SAB

primária em relação ao grupo controle assintomático.

4.0 MATERIAIS E MÉTODOS

Este subprojeto originou-se do estudo intitulado: “Estudo clínico, microbiológico

e terapêutico da candidose atrófica subclínica em dorso lingual de pacientes

com SAB“, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG (COEP-UFG)

pelo protocolo de número 053/11 (Anexo 1). Todos os indivíduos que

concordaram em participar da investigação assinaram os Termos de

Consentimento Livre e Esclarecidos (TCLE) do projeto original (Apêndice 1) e

dessa nova pesquisa (Apêndice 2).

4.1 População e seleção da amostra

A população elegível para o estudo foi constituída por indivíduos com

diagnostico prévio de SAB e que estão em acompanhamento regular no Centro

Goiano de Doenças da Boca da Faculdade de Odontologia da Universidade

Federal de Goiás (CGDB-FO-UFG). O novo TCLE foi apresentado aos

pacientes incluídos no estudo original durante as visitas de retorno dos

mesmos, para que o provável sujeito da pesquisa, no momento do primeiro

encontro e após a leitura e possíveis esclarecimentos, assinasse o TCLE caso

concordasse em participar da referida etapa da pesquisa. O termo foi assinado

em duas vias, sendo uma entregue ao paciente e outra arquivada pelo

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pesquisador. Foi garantido o sigilo que assegura a privacidade dos sujeitos

quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa, bem como a

confidencialidade, que se refere à responsabilidade sobre as informações

obtidas em exames e observações pelo pesquisador em relação aos dados

pessoais dos sujeitos da pesquisa.

Também foram selecionadas amostras controle de mucosa lingual

normal, obtidas dos arquivos de lâminas e blocos do Laboratório de Patologia

Bucal do CGDB-FO-UFG, as quais são oriundas de lesões em língua, não

neoplásicas, onde tivesse sido realizada técnica de biopsia excisional com

margem de segurança. Esses espécimes são provenientes de pacientes que

foram atendidos no ambulatório de Estomatologia do CGDB-FO-UFG, os quais

possuem prontuários com todas as informações clínicas para permitir a

identificação daqueles que não apresentavam queixa de ardência bucal e para

o pareamento por sexo e idade.

No exame físico, inicialmente, os sinais vitais (pressão arterial, pulso e

temperatura) foram verificados e registrados. A avaliação extrabucal incluiu a

palpação dos linfonodos, da articulação temporomandibular e dos músculos da

mastigação. O exame intrabucal constou de inspeção e palpação da mucosa

bucal em todos os seus sítios, avaliação da condição geral dos dentes e do

periodonto, bem como o uso e estado de conservação de próteses removíveis

totais e parciais.

Nessa seleção da amostra, foram excluídos os pacientes que

apresentaram ardência lingual há menos de quatro meses e aqueles que

exibiam alterações físicas no dorso lingual, especificamente, língua geográfica,

língua fissurada, eritema, despapilação evidente e lesões sugestivas de líquen

plano. Todos os pacientes excluídos da pesquisa que necessitavam que algum

tipo de tratamento, deram continuidade ao mesmo no CGDB-FO-UFG ou foram

devidamente encaminhados.

Pacientes com história de Diabetes Mellitus foram temporariamente

excluídos e encaminhados para avaliação médica. Havendo comprovação

laboratorial de bom controle glicêmico, estes pacientes bem controlados eram

então reincluídos na pesquisa. De modo similar, os usuários de medicamentos

inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), cujo uso crônico pode

causar ardência bucal como um efeito colateral (TRIANTOS & KANAKIS, 2004;

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BROWN et al., 2006) foram encaminhados ao médico para a substituição do

medicamento. Se a ardência lingual persistisse mesmo após a interrupção do

uso dos inibidores da ECA, os pacientes eram também reincluídos na

pesquisa.

Os pacientes com sintomatologia de ardência ou disestesia lingual

persistente por quatro meses ou mais e que apresentavam o dorso lingual

clinicamente normal foram submetidos à avaliação hematológica sistemática

por meio dos seguintes exames complementares: hemograma completo,

glicemia de jejum, dosagens séricas de ferro, ferritina, vitamina B12, folato,

zinco, T3, T4 e TSH (MARAGOU & IVANY, 1991; JÄÄSKELÄINEN et al., 1997;

FEMIANO et al., 2008; BORELLI et al., 2010; JUST et al., 2010; GRÉMEAU-

RICHARD et al., 2010 e CHO et al., 2010). Pacientes com anormalidades

nesses exames foram excluídos da pesquisa e encaminhados para avaliação

médica. Após esse processo de diagnóstico por exclusão, aqueles pacientes

que apresentaram ardência lingual ou disestesia há pelo menos quatro meses,

acompanhada ou não de disgeusia e xerostomia, na ausência de alterações

patológicas locais e doenças sistêmicas foram incluídos como grupo portador

de SAB primária.

Considerando as amostras selecionadas, dois grupos foram

constituídos: grupo controle - amostras de mucosas saudáveis assintomáticas

(n=11); grupo SAB – espécimes de mucosa lingual de pacientes com

diagnóstico de SAB (n=12). Assim, os pacientes que foram diagnosticados com

SAB primária e aceitaram participar da pesquisa, foram orientados e

encaminhados para realização da biopsia incisional em região sintomática da

língua (Figura 5).

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Figura 5 - Fluxograma de trabalho evidenciando a metodologia após diagnóstico da SAB primária.

4.2 TÉCNICAS UTILIZADAS

4.2.1 Realização das biópsias no grupo SAB

Os pacientes participantes da pesquisa que foram diagnosticados com

SAB, cujos sintomas em língua ainda persistiram, foram submetidos à biopsia

incisional na área sintomática, por um único cirurgião, e o espécime foi fixado

em formol 10% tamponado. As amostras foram enviadas, juntamente com uma

ficha contendo informações médicas e odontológicas desses pacientes, ao

Laboratório de Patologia Bucal do CGDB-FO-UFG.

Realização do exame anatomopatológico

(Hematoxilina/Eosina)

Seleção das amostras controle nos arquivos do Laboratório de Patologia

Bucal.

Pareamento por sexo e idade das amostras

histológicas de pacientes dos arquivos do CGDB-FO-

UFG sem queixa de ardência bucal

6

4

7

População elegível: Pacientes com

ardência bucal, que passaram pelo processo de

diagnóstico por exclusão, tiveram

diagnóstico final de SAB e estão em

acompanhamento no CGDG-FO-UFG

Inclusão de pacientes para biopsia incisional no grupo SAB

Realização de biopsias incisionais em área

sintomática da lingual no grupo SAB

+ Envio dos espécimes ao

laboratório de patologia FO-UFG

Avaliação microscópica da densidade de filetes nervosos

nos cortes em HE e imunomarcados

Analise qualitativa e quantitativa dos resultados

1

2

3

Técnica de imuno-histoquímica para identificação das priteínas

S100 e PGP 9.5

5

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4.2.2 Técnica da Hematoxilina e Eosina

Os espécimes foram incluídos em parafina, seccionados em cortes

consecutivos de 5 µm (micrótomo Leica RM2165) e, posteriormente, colocados

sobre lâminas histológicas e corados pelo método de Hematoxilina e Eosina

(HE). Esses cortes foram utilizados para caracterização microscópica das

amostras e para quantificação da densidade de estruturas com morfologia de

FN.

4.2.3 Técnica da Imuno-histoquímica

A partir dos casos selecionados (Grupos controle e SAB), emblocados

em parafina, foram obtidos cortes seriados com aproximadamente 3µm de

espessura (micrótomo Leica RM2165), montados em lâminas silanizadas, eles

foram submetidos a técnica da imuno-histoquímica pelo método do polímero

(Starr Trek Universal HRP Detection System), para identificação das proteínas

PGP 9.5 e S100. Inicialmente, os cortes sobre as lâminas foram

desparafinizados em xilol e hidratados em banhos crescentes de álcool etílico.

Em seguida, as lâminas foram incubadas em citrato (pH=6.0) (SIGMA, P4809,

Saint Louis – USA), aquecido à uma temperatura de 95ºC com auxílio de

Banho Maria Digital (DeLeo) por 25 minutos, para exposição antigênica. Após

lavagem com TBS, as lâminas foram mergulhadas em peróxido de hidrogênio a

3%, por aproximadamente 30 minutos. Posteriormente as lâminas foram

lavadas com TBS e, em seguida, incubadas com solução para bloqueio das

proteínas endógenas (BIOCARE's Background Sniper) por 15 minutos. Após

esta etapa, as lâminas foram incubadas com o anticorpo primário monoclonal

de camundongo anti-PGP 9.5 humano (CodeNo.Z 5116, Dako) a uma diluição

de 1:300 e anti-S100 humano a uma diluição de 1:1000 (Code N1573, Dako),

durante 8 horas a 40C. Passado o tempo, lavagens consecutivas foram

realizadas e, posteriormente, as lâminas foram incubadas com o Sistema Trek

Universal Link por 20 minutos. Novamente as lâminas foram lavadas com TBS

e incubadas com o Sistema TrekAvidin-HRP (Label) por 20 minutos. Em

seguida, procedeu-se à revelação da reação utilizando o 3.3’-Diaminobenzidina

(DAB) em uma solução cromogênica, por 1 minuto à temperatura ambiente. A

reação foi interrompida com água destilada e as lâminas contra-coradas com

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hematoxilina, por 30 segundos, à temperatura ambiente. Após serem lavadas

com água corrente por 10 minutos, as lâminas foram desidratadas com álcoois,

passadas em xilol e montadas com solução de resina não aquosa (Entellan-

Mikroskopie-Merck). Controles negativos foram obtidos pela omissão do

anticorpo primário, que foi substituído por 1% PBS–BSA e soro de

camundongo (501 X-1, Dako).

4.3 Avaliações qualitativa e quantitativa dos cortes microscópicos

As lâminas coradas em HE foram submetidas à análise qualitativa,

investigando-se as seguintes características microscópicas: a espessura do

epitélio, presença de infiltrado inflamatório, queratinização, vascularização, a

morfologia e distribuição dos filetes nervosos. A densidade de FN (por mm²) foi

avaliada nos espécimes corados em HE. A densidade de FN S100+ , PGP 9.5 +

e corados em HE foi avaliada utilizando um microscópio óptico no aumento de

40x em aproximadamente 20 campos. Para a quantificação, utilizou-se um

reticulo de integração em rede quadrada (474068000000- Netzmikrometer

12,5X, Carl Zeiss, Göttingen, Germany) possibilitando assim a avaliação da

densidade de FN/mm². Dois examinadores previamente calibrados, numa

análise cega avaliaram todas as secções e a concordância entre examinadores

foi de 95% (kappa).

4.4 Análise estatística dos dados:

A normalidade dos dados foi realizada pelo teste de Shapiro-Wilk. A

mediana (valores mínimos e máximos) dos resultados de FN S100+/mm2, PGP

9.5+/mm2, da razão S100+mm2/PGP 9.5+mm2 e de FN corados em HE/mm2 do

grupo SAB e do grupo controle foram obtidas. A diferença entre os grupos foi

avaliada pelo Teste de Mann-Whitney para variáveis independentes. Foram

considerados significativos valores de P < 0,05. A análise estatística foi

realizada utilizando o software Statistical Package for the Social Sciences,

versão 20 (SPSS, Chicago, IL).

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38

5.0 RESULTADOS - PUBLICAÇÃO

Investigação da densidade de filetes nervosos periféricos e mastócitos

em biópsias de língua de pacientes com síndrome da ardência bucal

Ítalo Cordeiro de Toledoa, Diego Antonio Costa Arantesb, Luciano Alberto de

Castroc, Aline Carvalho Batistad, Rejane Faria Ribeiro-Rottae

aDepartment of Stomatology (Oral Diagnosis), Dental School, Federal

University of Goiás, Goiânia, Brazil; E-mail: [email protected]

bDepartment of Stomatology (Oral Pathology), Dental School, Federal

University of Goiás, Goiânia, Brazil; E-mail: [email protected]

cDepartment of Stomatology (Oral Diagnosis), Dental School, Federal University

of Goiás, Goiânia, Brazil; E-mail: [email protected]

dDepartment of Stomatology (Oral Pathology), Dental School, Federal

University of Goiás, Goiânia, Brazil; E-mail: [email protected]

eDepartment of Stomatology (Oral Diagnosis), Dental School, Federal

University of Goiás, Goiânia, Brazil; E-mail: [email protected]

Correspondence to:

Dra. Rejane Faria Ribeiro-Rotta

Disciplina de Diagnóstico bucal, Faculdade de Odontologia, Universidade

Federal de Goiás

Praça Universitária S/N

Setor Universitário CEP: 74605-220

Phone/Fax: +55 62 32096067

E-mail: [email protected]

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Resumo

Alterações na densidade de filetes nervosos periféricos e concentrações

alteradas de neuropeptídeos, produzidos por mastócitos, têm sido associados

aos sintomas da síndrome da ardência bucal (SAB). O objetivo deste estudo foi

avaliar comparativamente a densidade e integridade de filetes nervosos (FN) e

densidade de mastócitos em mucosa lingual sintomática de pacientes com SAB

(grupo SAB, n=12) e mucosa lingual clinicamente saudável (Controle, n=11). O

diagnóstico clínico de SAB foi realizado, após processo minucioso de exclusão.

FN S100+ (células de Schwann+), FN PGP 9.5+ (axônios íntegros+) e mastócitos

triptase+ (MST) foram identificados pela técnica da imuno-histoquímica e a

densidade de células por mm2 estabelecida. Os achados revelaram densidade

similar de FN S100+ (mediana= 3,7/mm²) e de FN PGP 9.5+ (mediana =

0,7/mm²) no grupo SAB quando comparado ao controle (mediana= 2,6/mm²

(P=0,65) e 0,8/mm² (P=0,72), para S100 e PGP 9.5 respectivamente). Além

disso, a relação entre FN S100+/PGP 9.5+ nos pacientes com SAB e controles

foi proporcional (P=0,7). Foi observado também MST em todas as amostras

de SAB, em densidade semelhante entre este grupo (mediana= 29,24

MST/mm2) e o grupo controle (mediana= 26,01 MST/mm2) (P=0,64). Pacientes

com diagnóstico clínico de SAB não apresentaram alterações em morfologia e

densidade nos axônios de FN periféricos em mucosa lingual sintomática. Além

disso, a semelhança da densidade de MST entre o grupo SAB e grupo controle

pode indicar a não participação dessas células na sensibilização dos FN

periféricos, embora o status de ativação e secreção dos mediadores químicos

dos MST não tenha sido avaliado.

Keywords: Burning mouth syndrome; PGP 9.5; tongue biopsy; S-100 protein;

mast cells.

Abbreviations: SAB, síndrome da ardência bucal; FN, filetes nervosos; MST,

mastócitos triptase positivos, EAV, escala analógica visual; HE, hematoxilia e

eosina, SD, desvio padrão.

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INTRODUÇÃO

Síndrome da ardência bucal (SAB) é caracterizada por uma sensação

de queimação intrabucal não associada a causas médicas ou odontológicas, e

que pode estar relacionada à xerostomia, parestesia, hipersensibilidade e

disgeusia (SCALA et al., 2003, BALASUBRAMANIAM et al., 2009). Esta

doença ocorre com maior frequência em mulheres, de meia idade e idosas, no

período de pós-menopausa, correspondendo 1,5 a 5,5% desta população

(RILEY et al., 1998 e BERGDAHL et al., 1999, ARAVINDHAN et al., 2014). Os

sítios mais afetados são a língua (região anterior e bordas laterais), lábios e

palato duro e mole (BERGDAHL, 1999, SCALA et al., 2003). Trata-se de uma

patologia complexa e debilitante, de etiologia desconhecida e até o momento

não há um tratamento satisfatório para controle da sintomatologia dos

pacientes (ZAKRZEWSKA et al., 2001, SCALA et al., 2003, ARAVINDHAN et

al., 2014).

Vários estudos têm investido em caracterizar a etiopatogenia da SAB

(YILMAZ et al., 2007, LAURIA et al., 2005, NASRI-HEIR et al., 2011, BENENG

et al., 2010, TAN et al., 2014, PEKINER et al., 2008, SARDELLA et al., 2011),

em especial investigando mecanismos neuropáticos, como alterações na

morfologia e densidade filetes nervosos (FN) periféricos (YILMAZ et al., 2007,

LAURIA et al., 2005) e a concentração de neuropeptídeos, produzidos por FN e

células do tecido conjuntivo como os mastócitos (BORELLI et al., 2010).

Acredita-se em geral, que um fator inicial não conhecido, induz as fibras

nervosas a produzirem e liberarem grande quantidade de Fator de Crescimento

Nervoso (NGF) e este mediador químico juntamente com outros neuropeptídios

(por exemplo, SP) (PAYAN et al., 1984, KULKA et al., 2008), parece induzir

uma hipersensibilidade agindo nos FN periféricos da mucosa bucal. Além

disso, estes neuropeptídios podem estimular a secreção de proteases e outros

mediadores químicos por mastócitos residentes na mucosa bucal, mantendo

assim a inflamação neurogênica (KULKA et al., 2008).

A base neuropática para SAB tem sido acompanhada por queixas de

alterações no paladar, na intensidade dolorosa ou em outras percepções

sensoriais (SCALA et al., 2003). Disfunções nociceptivas e térmicas na língua

(FORSSELL et al., 2002; GAO et al., 2000; GRUSHKA & SESSLE, 1991) e

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anormalidades no reflexo trigêmeo-facial das fibras nervosas de pequeno

diâmetro (FORSSELL et al., 2002) tem sido relatados em pacientes com SAB.

Além disso, a biópsia tem sido indicada para investigação da etiologia e

diagnóstico dessa patologia (YILMAZ et al., 2007, LAURIA et al., 2005,

BENENG et al., 2010; PENZA et al., 2010) e alguns estudos observaram menor

densidade de fibras nervosas epiteliais em amostras de SAB e caracterizaram

a doença como uma neuropatia de pequenas fibras sensoriais (YILMAZ et al.,

2007, LAURIA et al., 2005; PENZA et al., 2010). Beneng et al. (2010)

descreveram uma maior densidade de fibras nervosas P2X3+ subepiteliais em

amostras teciduais de pacientes com SAB sugerindo que a expressão da

proteína P2X3 em FN possa participar dos sintomas da doença (BENENG et

al., 2010). Yilmaz et al. (2007), demonstraram ainda similaridade na densidade

de terminações nervosas subepiteliais entre pacientes SAB e controle (YILMAZ

et al., 2007).

Neste contexto de alterações neuropáticas, tem sido relatado ainda que

a secreção de neuropeptídios e outros produtos da degranulação de mastócitos

são base da patogênese de várias patologias idiopáticas e de algumas

desordens neuropáticas (PEJLER et al., 2010, THEOHARIDES et al., 2007),

levantando assim possibilidade de uma relação com a SAB. Recentemente, foi

demonstrado elevada concentração salivar de triptase em pacientes com SAB,

sugerindo uma participação dos mastócitos na sintomatologia da doença

(BORELLI et al., 2010). Entretanto, até o presente momento nenhum estudo

avaliou a densidade dessas células em mucosa bucal sintomática de pacientes

com SAB.

Estudos sobre a etiologia da SAB podem contribuir para o

estabelecimento do tratamento desta patologia em benefício dos pacientes.

Considerando o caráter debilitante dessa doença para pacientes com idade

avançada, a dificuldade no processo de diagnóstico clínico (ZAKRZEWSKA et

al., 2001, SCALA et al., 2003, ARAVINDHAN et al., 2014) e a sua etiologia

incerta e controversa (JÄÄSKELÄINEN et al., 2012), neste estudo nós

investigamos comparativamente a densidade e integridade de FN periféricos e

a densidade de mastócitos em amostras de mucosa lingual de pacientes com

diagnóstico clínico de SAB e de indivíduos saudáveis.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Seleção da amostra

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres

Humanos (CEB/UFG Protocolo 053/2011). Neste estudo transversal, foram

incluídas amostras de mucosa lingual, provenientes de pacientes com

diagnóstico clínico de SAB (grupo SAB, n=12), submetidos à biópsia incisional

na região anterior do dorso de língua e amostras de mucosa lingual

clinicamente saudável (grupo controle, n=11), selecionadas do Centro Goiano

de doenças da Boca (Laboratório de Patologia Bucal), da Universidade Federal

de Goiás, Brasil.

Diagnóstico clínico da SAB

Os pacientes do grupo SAB foram selecionados do ambulatório de

Estomatologia do Centro Goiano de Doenças da Boca, Faculdade de

Odontologia, Universidade federal de Goiás, Brasil e todos previamente ao

inicio da pesquisa, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido

(TCLE). O diagnóstico clínico de SAB foi realizado após processo minucioso de

exclusão, utilizando critérios clínicos e testes complementares conforme

apresentado na figura 1. Os pacientes foram submetidos à avaliação de

desordens metabólicas e infecciosas, deficiência vitamínica e outras doenças

sistêmicas. Infecções orais foram descartadas pela cultura microbiológica oral e

a severidade da dor foi avaliada utilizando a escala analógica visual (EAV).

Pacientes com sensibilidade ao contato com materiais odontológicos, alergias

alimentícias, lesões clínicas na língua e causas conhecidas para

polineuropatias foram excluídas do estudo.

Avaliação da Dor

A gravidade da dor foi avaliada pela EAV, conforme Yilmaz et al.,

(2007) previamente à biópsia de língua. A EAV consiste em uma linha

horizontal de 10 cm em que, à esquerda, há a indicação ausência de dor

(EVA=0) e, à direita, pior sintomatologia dolorosa possível (EVA=10). Os

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pacientes foram assinalaram na reta o equivalente à intensidade da dor. Além

dessa escala, todos foram orientados a relatar qualquer outra sensação

alterada como anestesia, hipersensibilidade, parestesia e disgeusia.

Biópsia da mucosa lingual

As biópsias de todos os pacientes com SAB (n=12) foram realizadas

por um único Cirurgião dentista, em sítios sintomáticos da região anterior do

dorso de língua. Após anestesia local com lidocaína 2%, foi removido de cada

paciente um espécime de aproximadamente 5 mm, imediatamente fixado em

formol tamponado a 10% e encaminhado para análise histopatológica.

Análise Microscópica

Os espécimes obtidos pelas biópsias foram incluídos em parafina,

seccionados em cortes consecutivos de 5 µm (micrótomo Leica RM2165) e

posteriormente corados pelo método de Hematoxilina e Eosina (HE). Esses

cortes foram utilizados para caracterização microscópica das amostras e

quantificação da densidade (por mm²) de FN periféricos. A espessura da

queratina das amostras SAB e controle foram medidas (em mm) utilizando uma

régua milimétrica ligada a um microscópio de luz (200x).

Imuno-histoquímica

A técnica de imuno-histoquímica foi realizada conforme descrito por

Aikaterini et al. e Costa et al. (2009). Cortes seriados com aproximadamente

3µm de espessura (micrótomo LeicaRM2165) foram obtidos dos casos

selecionados e montados em lâminas silanizadas. Para recuperação antigênica

das proteínas S100 e PG 9.5, as seções foram imersas em tampão citrato

(pH=6.0), aquecido à uma temperatura de 95ºC, por 25 minutos. Não foi

realizada recuperação antigênica para a proteína Triptase. Em seguida, os

cortes foram incubados com seus respectivos anticorpos primários previamente

submetidos à etapa de padronização: anticorpo monoclonal de camundongo

anti-PGP 9.5 humano (Z5116, Dako, diluição 1:300), anti-S100 humano

(N1573, Dako, Diluição 1:1000) e anti-triptase humano (M7052, DAKO,

Glostrup, Denmark, diluição 1:2000) durante 8 horas à 40C. Posteriormente, as

seções foram incubadas com o Kit Starr Trek Universal HRP Detection System

(Biocare Medical, CA, EUA). Em seguida, procedeu-se à revelação da reação

utilizando o 3.3’-Diaminobenzidina (DAB) em uma solução cromogênica, por 40

segundos à temperatura ambiente. Os controles negativos foram obtidos pela

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omissão do anticorpo primário, o qual foi substituído por solução salina

tamponada com fosfato (PBS; NaCl 0,4 mM , NaPO4 10 mM) contendo 1% de

soro albumina bovino (BSA) e por soro não-imune de coelho (X0902 ,DAKO)

ou camundongo (X501-1, DAKO).

Avaliações qualitativa e quantitativa dos espécimes

As lâminas coradas em HE foram submetidas à análise qualitativa,

investigando as seguintes características microscópicas: integridade do

revestimento epitelial, ausência ou presença de queratina e sua espessura,

intensidade do infiltrado, colagenização e distribuição e morfologia dos FN na

região subepitelial, avaliando a presença dos envoltórios neurais e células de

schwann. Foi quantificada também em HE, a densidade de FN periféricos

utilizando microscópio óptico (aumento 400x) na região subepitelial.

As amostras imunomarcadas foram submetidas à análise quantitativa,

em aproximadamente 20 campos microscópicos alternados (aumento 400x),

avaliando-se a densidade de FN S100+, FN PGP 9.5+ e de mastócitos triptase+

(MST) na região subepitelial, utilizando microscópio óptico, com retículo de

integração em rede quadrada (474068000000- Netzmikrometer 12,5X, Carl

Zeiss, Göttingen, Germany). Todas as seções foram analisadas de forma cega

por dois examinadores previamente calibrados.

Análise estatística dos dados

Todas as análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do

programa IBM SPSS 20.0 (Corporation, New York, USA) e Prism (GrahPad

Prism 5; GrahPad Software, California, USA). O teste de Shapiro-Wilk revelou

uma distribuição não-normal dos dados. Para a análise comparativa da

densidade de filetes nervosos e de mastócitos entre os grupos SAB e controle

foi utilizado o Teste de Mann-Whitney. Foram considerados estatisticamente

significativos valores de P < 0,05.

RESULTADOS

Todos os pacientes com diagnóstico clínico de SAB (n=12) eram

mulheres (100%), com idade média de 67 anos e apresentavam sintomatologia

dolorosa de queimação nos ⅔ anteriores do dorso de língua com intensidade

média de 6,8 ± 0,94 (SD), segundo a EAV. Nenhuma paciente relatou perda do

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paladar e da sensação térmica da boca ou outra alteração sensorial. A queixa

de xerostomia foi relatada por 9 pacientes (75%) durante a avaliação inicial da

anamnese. Não foi observada infecção oral em nenhuma das culturas

microbiológicas avaliadas.

A análise do grupo controle (n=11) revelou predomínio do sexo

feminino (78%), com idade média de 62 anos (IC: 51-73). Fragmentos de

mucosa lingual oriundos de lesões em língua, não neoplásicas, onde tivesse

sido realizada técnica de biopsia excisional com margem de segurança, foram

utilizados como tecido saudável.

A análise dos cortes em HE da região anterior da língua revelaram

similaridade quanto à integridade do revestimento epitelial, espessura da

camada de queratina e colagenização entre os casos do grupo SAB e controle

(Figura 2 A-F). Foram observados FN íntegros na região subepitelial em todas

as amostras de SAB avaliadas, com distribuição e morfologia semelhante aos

FN observados no grupo controle (Figura 2 C e F). Todas as amostras do

grupo SAB apresentaram estruturas basofílicas na superfície epitelial

sugestivas de biofilme (Figura 2 A).

A presença de um possível biofilme em todas as amostras de SAB e a

queixa de xerostomia pela maioria dos pacientes do mesmo grupo gerou a

necessidade de se investigar a presença de fungos nos cortes histológicos.

Esse procedimento, não havia sido previsto na metodologia, considerando que

os pacientes do grupo SAB passaram pelo critério de exclusão da presença de

infecção subclínica por Candida. As colorações por impregnação de prata (PAS

e Grocott) não revelaram a presença de fungos.

Todas as amostras de SAB apresentaram estruturas como morfologia

de FN S100+ (células de schwann+) e FN PGP 9.5+ (axônios íntegros+), na

região subepitelial, com padrão de coloração acastanhado e homogêneo. A

análise quantitativa revelou que pacientes com SAB apresentam densidades

similares de FN periféricos S100+ (mediana= 3,7/mm²) quando comparados ao

grupo controle (mediana= 2,6/mm²) (P=0,65). A densidade de FN íntegros ou

PGP 9.5+ também foi semelhante entre os grupos avaliados (mediana= 0,7 e

0,8mm², respectivamente; P=0,72). Além disso, a relação entre FN S100+/PGP

9.5+ nos pacientes com diagnóstico clínico de SAB e controles foi igual (P=0,7)

(Tabela 1, Figura 3).

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A técnica de imuno-histoquímica, revelou também células triptase+ com

coloração acastanhada e morfologia de mastócitos, na região subepitelial

próximo a vasos sanguíneos em todas as amostras de SAB avaliadas, em

densidade similar entre este grupo (mediana= 29,24 MST/mm2) e o grupo

controle (mediana= 26,01 MST/mm2) (P=0,64) (Tabela 1, Figura 3).

DISCUSSÃO

Este estudo demonstrou similaridade da densidade de FN S100+, FN PGP

9.5+ e mastócitos triptase+ entre amostras de mucosa lingual sintomáticas de

pacientes com SAB e amostras controle. Estes achados sugerem que a

integridade e densidade de FN periféricos não se alteram em pacientes com

SAB. Além disso, possivelmente os mastócitos não participem de forma direta

na sensibilização destes FN e consequentemente na sintomatologia da doença.

Em relação à densidade das terminações nervosas periféricas e

corroborando com nossos achados, Yilmaz et al. (2007), observaram

densidade similar de fibras nervosas na região subepitelial entre amostras de

mucosa lingual sintomáticas de pacientes com SAB e amostras controle

(YILMAZ et al., 2007). Contrapondo nossos dados Lauria et al. (2005),

observaram baixa densidade de fibras nervosas epiteliais PGP 9.5+ nos ⅔

anteriores da língua de pacientes SAB em relação ao controle, sugerindo ser

uma neuropatia de fibras trigeminais (LAURIA et al.,2005). Adicionalmente,

Penza et al., 2010 também demonstraram um redução significativa da

densidade de terminações nervosas epiteliais em 75% (n=38) dos pacientes

sintomáticos e indicam a biópsia como procedimento auxiliar no diagnóstico da

SAB (PENZA et al., 2010). No entanto, a análise quantitativa desses estudos

(LAURIA et al.,2005; PENZA et al., 2010) foi restringida somente às fibras

nervosas epiteliais.

Beneng et al. (2010) demonstraram ainda maior densidade de fibras

nervosas P2X3+, na região subepitelial de amostras SAB em relação ao grupo

controle, embora não tenha sido especificado os critérios de diagnóstico

utilizados para caracterização clínica da doença (BENEG et al., 2010). Esses

resultados também devem ser analisados com cautela, devido à diferença na

média de idade entre os pacientes e controle que variou em 22 anos (BENENG

et al., 2010). Nosso estudo não revelou diferenças na morfologia e densidade

de FN periféricos entre amostras SAB e controle analisadas. Embora não

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tenhamos caracterizado a SAB como uma neuropatia, devemos considerar que

a nocicepção é um processo amplo, pode envolver sítios mais abrangentes

como o tronco nervoso central e não somente os sítios periféricos e esta

relacionada a uma série de outros fatores como, por exemplo, à secreção e

ação de neuropeptídios. (VERMA et al.,2014).

Recentemente, visando investigar a concentração de neuropeptídeos em

pacientes com SAB, Borelli et al. (2010), observaram maior concentração

salivar de triptase em pacientes com a doença e sugeriu a participação de

mastócitos na etiologia da SAB (BORELLI et al., 2010). Para o nosso

conhecimento, o presente estudo foi o primeiro que avaliou a densidade de

MST em mucosa lingual sintomática de pacientes com SAB. Foram observados

MST em todas as amostras de SAB e em densidade semelhante ao grupo

controle. Alguns estudos têm mostrado a participação dos mastócitos em

doenças idiopáticas e em algumas condições neuropáticas (PEJLER et al.,

2010, THEOHARIDES et al., 2007). Estas células residentes no tecido

conjuntivo, são importantes na secreção de neuropeptídeos (KULKA et al,

2008) e existe forte evidência de interações funcionais entre MTS e FNs na

mucosa oral em humanos (WALSH, 2003).

Nossos achados indicam a não participação dos MTS na sensibilização

dos FN periféricos, embora o status de ativação e secreção de mediadores

químicos por essas células não tenha sido avaliado. Proteínas, como o NGF,

estimulam mastócitos a secretar vários mediadores como, por exemplo, a

triptase, envolvidos na inflamação (GALLI et al, 2005; KULKA et al, 2008) e na

dor neuropática (KAWABATA et al, 2001) atuando de forma direta nestes

eventos patológicos. Possivelmente a quantidade de mediadores químicos

secretados por mastócitos, dependente da sua ativação e não

necessariamente da sua densidade, possa desempenhar um papel importante

na sintomatologia da SAB. No entanto, mais estudos deverão ser realizados

para melhor compreensão da relação do perfil de ativação e secreção destas

células com a SAB.

A etiopatogenia, os critérios de diagnóstico e tratamento eficaz da SAB

ainda não estão esclarecidos. Estudos futuros deverão ser realizados para

investigar outros testes sensoriais, a ação de novos medicamentos sobre os

receptores nervosos periféricos e a concentração salivar de outros

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neuropeptídios e citocinas, que atuam sobre as vias nociceptivas e possam ser

considerados biomarcadores de diagnóstico e prognóstico na SAB. Estes

estudos poderão auxiliar na melhor compressão da fisiopatologia da SAB e na

indicação de terapêuticas mais eficazes para melhor qualidade de vida dos

pacientes com idade avançada.

Os resultados deste estudo mostram que não há diferença quanto a

morfologia e densidade de FN periféricos e de mastócitos triptase+ entre

amostras de pacientes com diagnóstico clínico de SAB e controle. Diante dos

nossos achados acreditamos que outros mecanismos neuropáticos estejam

associados à etiologia da SAB e a biópsia não está indicada para o diagnóstico

desta doença, sendo ainda os testes clínicos e complementares a conduta

mais favorável e menos invasiva para diagnóstico desta patologia.

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51

Figura 1. Fluxograma das etapas do processo de diagnóstico clínico da SAB em pacientes com

ardência lingual (adaptada de CASTRO LA, 2013).

Pacientes com SAB e ardência lingual

com Candidíase

Pacientes com SAB e ardência lingual sem Candidíase

Pacientes com SAB e ardência lingual que não

aderiram à pesquisa

Pacientes com SAB e ardência lingual que aderiram à pesquisa

Pacientes com SAB e

ardência lingual Pacientes com SAB sem

ardência lingual

Pacientes com diagnóstico

inicial de SAB Exclusão de pacientes com fatores local e/ou

sistêmicos para ardência bucal

Pacientes com queixa de

ardência bucal

Exames clínico e complementar

Exame clínico

EVA, Sialometria, Contagem de colônias

Terapia antifúngica, EVA, Sialometria, Contagem de

colônias

Pacientes selecionados para

o estudo

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Figura 2. Representação microscópica da semelhança morfológica quanto ao revestimento epitelial e tecido conjuntivo entre amostras SAB (A-C) e

controle (D-F). Observam-se ainda estruturas basofílicas (ponta de seta) sugestivas de biofilme na superfície epitelial em amostra de SAB (A). Em maior

aumento nota-se a presença de FN íntegros (setas) e em densidade semelhante nos dois grupos (C e F). Hematoxilina e Eosina, aumento 10x (A e D), 20x (B

e E) e 40x (C e F).

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Figura 3. Fotomicroscopias ilustrando densidade similar de filetes nervosos (FN) S100+ (seta pontilhada), FN PGP 9.5

+ (seta contínua) e mastócitos

triptase+ (ponta de seta), distribuídos na região subepitelial, entre amostras de mucosa lingual de pacientes com SAB (A-C) e de pacientes saudáveis (D-F).

Imuno-histoquímica, aumento 40x (A-F).

GRUPO SAB

GRUPO CONTROLE

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Tabela 1. Comparação da densidade (em mm2) de FN S100

+ e

PGP 9.5

+, FN corados pela técnica de HE e de mastócitos triptase

+ entre os

grupos SAB e controle, expressos pela mediana e valores máximo e mínimo.

(*)Teste de Mann-Whitney, P<0,05

Mediana Valores

Mínimo ± Máximo

Mediana Valores

Mínimo ± Máximo

Valor P*

S100+ (FN ∕ mm

2) 3,7 0 ± 22,3 2,6 0 ± 10 0,66

PGP 9,5+ (FN ∕ mm

2) 0,7 0 ± 7,3 0,8 0 ± 5,2 0,72

Razão (FN S100+ ∕ FN PGP 9,5

+) 0,4 0 ± 12,4 0,4 0 ± 15,7 0,74

HE (FN ∕ mm2) 1,1 0 ± 9,7 2,08 0 ± 10,4 0,35

Mastócitos triptase+ (células ∕ mm

2) 29,24 5,2 ± 95,54 26,01 1,73 ± 87,4 0,64

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6.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A etiologia da SAB primária vem se concretizando no meio científico e tornando a neuropatia a principal responsável por

esta patologia. Apesar da nossa população do estudo ter sido pequena, os resultados mostram que a SAB é uma patologia de

natureza degenerativa, axonial crônica. Novos estudos devem ser execultados, tentando elevar o numero das amostras, acréscimo

de outras técnicas laboratoriais (avaliação microscópica das moléculas envolvidas na SAB, novas avaliações de marcadores

imuno-histoquímicos) e testes clínicos para ampliar o entendimento da etiopatogenia da SAB primária, objetivando melhores

opções de tratamento para oferecer uma maior qualidade de vida aos pacientes.

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ANEXOS / APENDICES

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ANEXO 1

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APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), de uma pesquisa. Meu nome é LUCIANO ALBERTO DE CASTRO,

sou o pesquisador responsável e minha área de atuação é Odontologia, especificamente, o diagnóstico e tratamento das doenças da boca. Após

receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas

vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa, você não será penalizado (a) de forma alguma.

Para responder quaisquer dúvidas sobre a pesquisa, você poderá, a qualquer momento, entrar em contato comigo ou com a outra

pesquisadora responsável, a prof. REJANE FARIA RIBEIRO-ROTTA. Esse contato pode ser feito pelos seguintes telefones: (62) 3209 – 6067,

(62) 3086 – 2467 e (62) 8115 – 5430, você pode inclusive fazer ligação a cobrar. Em casos de dúvidas sobre os seus direitos como participante

nesta pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, nos telefones: 3521-1075

ou 3521-1076.

INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE A PESQUISA

Estudo clínico, microbiológico e terapêutico da candidose atrófica subclínica em dorso lingual de pacientes com síndrome da ardência

bucal.

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A ardência ou queimação na boca, especialmente na língua é um problema comum em muitas pessoas. Existem várias doenças que podem

causar essa ardência, uma delas é conhecida como síndrome da ardência bucal. Essa doença é difícil de ser identificada, para isso é necessária a

realização de muitos exames. Só depois de descartar todas as possibilidades de ardência é que podemos afirmar que existe a síndrome da ardência

bucal. Exames importantes são aqueles para saber se essa ardência não é causada por alguns fungos (espécie de sapinho) que habitam a boca.

Muitas vezes, você sente ardência na língua devido a uma infecção por fungos, embora a sua língua tenha uma aparência normal.

Desse modo, o principal objetivo dessa pesquisa é identificar se existe infecção oculta por fungo em línguas com sintomas de queimação,

porém com aparência normal. Os procedimentos para identificar essa infecção são simples, rápidos, não causam desconforto e nem trazem risco à

sua saúde. Numa primeira consulta, você responderá a algumas perguntas para preenchimento de uma ficha clínica. Em seguida, serão solicitados

exames de sangue, os quais poderão serão realizados pelo SUS, sem custo para você. Na segunda consulta, você trará o resultado dos exames e

será reavaliado. Se o pesquisador julgar que dever ser feito, você será submetido à medição do fluxo de saliva e será feita a coleta de material da

sua língua. Parte da saliva coletada será guardada para pesquisas futuras sobre essa doença. O material colhido da língua será enviado ao

laboratório para saber se você está com infecção por fungos.

Se os resultados dos exames revelarem que você está com infecção por fungos, você receberá o tratamento para essa infecção, por meio

de remédios. Caso sinta algum problema com o uso dos remédios, entre em contato com os pesquisadores pelos telefones acima. Após o

tratamento ser concluído, nova coleta de material será feita na sua língua para confirmar o a cura da infecção. Independentemente, de aceitar ou

não participar da pesquisa e dos resultados dos exames, você será atendido e receberá o tratamento para a sua doença. Para participar dessa

pesquisa, você não receberá dinheiro ou outra forma de gratificação. Os seus dados são sigilosos e serão guardados em segredo pelo pesquisador.

_______________________________________

Nome e Assinatura do pesquisador

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Apêndice 2

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA/CEP

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (Conselho Nacional de Saúde, Resolução 466/12)

Nome do participante:____________________________________________________ Documento de identidade:________________________Data de nascimento / / CPF nº: _____________________________________ Endereço:_______________________________________________N

o____Apto:____

Bairro:____________________CEP:_____________CIDADE:___________________ Telefone(s):____________________________________________________________

EU, acima qualificado CONCORDO em participar da pesquisa “Síndrome da ardência bucal (Sab): avaliação de alterações nervosas periféricas em

língua”, coordenada pelo pesquisador responsável Ítalo Cordeiro de Toledo do curso de Odontologia da Universidade Federal de Goiás. Explicaram-me que

esta pesquisa se justifica por que a SAB tem apresentado alterações nos nervos da língua e que mesmo assim sua causa é incerta se busca a necessidade

de novos estudos para direcionar a causa da SAB. Acreditamos que os resultados poderão contribuir para uma tomada de decisão clínica mais efetiva e

melhoria na qualidade de vida aos pacientes.

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1. Ao ser convidado a participar, explicaram-me que os objetivos da pesquisa são: avaliar a alteração na quantidade de nervos na língua e avaliar alterações da características da língua. E que tais procedimentos não trarão quaisquer danos à minha saúde, entretanto estou ciente que biopsia tem suas complicação (dor pós operatória, dificuldade de cicatrização. 2. O procedimento de coleta de Biopsia consta de: anestesia local na língua, remoção de fragmento pequeno da área que o paciente sento o sintoma e sutura.; 3. Estou ciente de que os benefícios esperados por participar neste estudo são: esclarecer aos pacientes uma possível causa da ardencia bucal e direcionar para os devidos tratamentos; 4. Explicaram-me que o(s) pesquisador (es) garantirão o sigilo absoluto quanto a minha identidade, sobre o resultado da biopsia, sob sua responsabilidade e as penas sob previstas na Lei brasileira; 5. Sei que minha participação é livre não importando quaisquer prejuízos pessoais, e que não implica quaisquer tipos de recebimento de remuneração, auxilio ou subsídio, também sei que não tenho o dever de pagar por minha livre participação; 6. Estou ciente de que poderei, a qualquer momento, desistir da participação, sem que isso implique responsabilização, ou o cancelamento dos serviços oferecidos pelo Centro Goiano de doenças da Boca, Faculdade de odontologia, Universidade Federal de Goiás; 7. Terei o direito de me dirigir, a qualquer momento, ao(s) pesquisador(es) e ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, para os esclarecimentos sobre dúvidas que surgirem durante a pesquisa, tendo portanto o direito à informação; 8. Por fim, receberei uma cópia deste documento com os nomes e telefones de contato do pesquisador e do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca. Declaro que concordo LIVREMENTE em participar desta pesquisa, pois fui totalmente esclarecido pelo pesquisador e entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação neste estudo. ___________________________________________________ Assinatura do participante (Sujeito da Pesquisa)

Goiânia, de de 20

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Nome do Pesquisador Responsável:__________________________________________ Tel para contato: ( )_____________________________________________________ E-mail:________________________________________________________________ Comitê de Ética em Pesquisa/CEP Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação/PRPPG-UFG, Caixa Postal: 131, Prédio da Reitoria, Piso 1, Campus Samambaia (Campus II) - CEP:74001-970, Goiânia – Goiás, Fone: (55-62) 3521-1215. E-mails: [email protected], [email protected]