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Universidade Federal de Itajubá Programa de Pós-Graduação em Materiais para Engenharia Departamento de Física e Química / Instituto de Ciências Exatas Dissertação de Mestrado Biossensores Nanoestruturados para Monitoração de Glicose EDSON GIULIANI RAMOS FERNANDES Orientador: Prof. Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz Co-orientador: Prof. Dr. Demétrio Artur Werner Soares Agosto de 2005

Universidade Federal de Itajubá - saturno.unifei.edu.brsaturno.unifei.edu.br/bim/0032697.pdf · Figura 29: Energia de Fermi para o sistema metal-semicondutor: níveis de energia

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Universidade Federal de Itajubá Programa de Pós-Graduação em Materiais para Engenharia Departamento de Física e Química / Instituto de Ciências Exatas

Dissertação de Mestrado

Biossensores Nanoestruturados para Monitoração de

Glicose

EDSON GIULIANI RAMOS FERNANDES

Orientador: Prof. Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz

Co-orientador: Prof. Dr. Demétrio Artur Werner Soares

Agosto de 2005

Edson Giuliani Ramos Fernandes

Biossensores Nanoestruturados para Monitoração de

Glicose

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da

Universidade Federal de Itajubá, como requisito para a

obtenção do título de mestre em Ciências dos Materiais para

Engenharia.

Área de concentração: Polímeros e Cerâmicas.

Orientador: Prof. Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz – UNIFEI

Co-orientador: Prof. Dr. Demétrio Artur Werner Soares – UNIFEI

Itajubá

Universidade Federal de Itajubá

200

Aos meus pais, Sebastião e Gersonita,

aos meus irmãos, Luciano e Adriano, e

às minhas irmãs, Giulian e Rafaela...

... À memória de meu amigo, e irmão na

dor, João Ricardo...

... À memória de minha tia Gervanildes:

que os jardins lhe sejam mais floridos...

Agradecimentos

Ao singular mestre e de plurais adjetivos, professor Dr. Alvaro Antonio Alencar de

Queiroz, por sua orientação, amizade, paciência e por participar ativamente dessa

jornada;

Ao prof. Dr. Demétrio Artur Werner Soares, coordenador do curso, pela confiança e co-

orientação;

À prof. Dra. Olga Z. Higa do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de

Pesquisas Energéticas e Nucleares, pela análise MEV;

Ao prof. Dr. Julio San Román (CSIC/ICTP-Madri, Espanha), pelo espectro NMR;

Ao prof. Dr. Élcio R. Barrak, pela análise TGA;

Aos demais professores da UNIFEI, em especial ao professor Sebastião Fernandes:

exemplo de esforço e dedicação, bom professor e bom pai;

A Da. Teresinha Nunes da Silva, pela doação das fitas reativas;

Aos colegas: Esdras, Amauri, Nirton, Camila, Mayler, Laiza e Wander;

Ao aluno de iniciação científica Wagner Souza Machado, pelo auxílio prestado nos

procedimentos experimentais;

Ao estagiário Fabrício Josino Tomé Torres, pela elaboração das placas de circuito

impresso;

À Maria Borges Ramos da Silva, pela acolhida;

Aos funcionários da UNIFEI, em especial a Matilde Benedita Pereira e Hélio Teodoro,

pela colaboração prestada;

Ao apoio financeiro cedido pela CAPES;

Por fim, aos que vieram antes de mim e sem os quais nada seria senão apenas a força de

um desejo...

Meu muito obrigado !!

INTERMEZZO

I

Não desviemos das coisas a cor

Por sermos por demais sombrios no olhar,

Mas contentemos com que posto está.

Pensamos nós a vida passar por

Pois não cuidamos que há na vida dor-

Se assim for daria o rio no mar.

Deixa a vida estar como está;

Basta da vida em males o Mal Maior...

O sol que vejo é o sol que vejo

E a tristeza que bate à minha porta

Não é mais que aquela que fora embora.

A boca que beijo é o gosto do beijo-

Mesmo que ausente é o que nos corta

Quando o que temos é pensar o agora.

E.G.R.F. 2004 II

SUMÁRIO

Lista de figuras v

Lista de tabelas x

Lista de abreviaturas xi

Resumo xii

Abstract xiv

Capítulo 1 – Particularidades sobre o diabetes 1

1.1 . Caracterização da doença 1

1.2 . Mecanismos bioquímicos da enfermidade e fisiologia animal 5

1.3 . Aspectos epidemiológicos 8

1.3.1. No mundo 8

1.3.2. Nas Américas 11

1.4 . Custos do diabetes 13

1.5 . Conclusão 16

Capítulo 2 – Análise clínica do diabetes 16

2.1. Dosagem do diabetes no laboratório clínico 16

2.2. Biossensores para análises clínicas do diabetes 18

2.3. Biossensores eletroquímicos 24

2.3.1. Biossensores potenciométricos 24

2.3.2. Biossensores amperométricos 26

2.3.2.1. Primeira geração 26

ii

2.3.2.2. Segunda geração 31

2.3.2.3. Terceira geração 32

2.4. Biossensores comerciais 34

2.5. Conclusão 36

Capítulo 3 – Oxiredutases utilizadas na monitoração da glicose 37

3.1. As enzimas 37

3.2. Enzimas oxiredutases e a glicose oxidase (GOx) 41

3.3. Cinética enzimática 43

3.4. Técnicas de imobilização 49

3.4.1. Métodos de imobilização de enzimas por retenção física 49

3.4.1.1. Adsorção 49

3.4.1.2. Retenção em membranas 49

3.4.1.3. Microencapsulamento 50

3.4.1.4. Eletropolimerização 50

3.4.1.5. Oclusão em matriz polimérica 51

3.4.2. Métodos de imobilização de enzimas por ligações químicas 51

3.4.2.1. Ligação covalente 51

3.4.2.2. Ligações covalentes reticuladas 52

3.5. Principais reações para o acoplamento químico de enzimas 53

3.6. Conclusão 56

Capítulo 4 – A heterojunção polímero-metal em biossensores 57

4.1. Polímeros conjugados na medição do transporte de elétrons 57

iii

4.2. A polianilina 60

4.3. Mecanismos de transporte eletrônico na interface polímero-metal 63

4.4. A estrutura dendrítica (aplicações no projeto de biossensores) 70

4.5. Conclusões 72

Capítulo 5 – Objetivos 72

5.1. Objetivo geral 72

5.2. Objetivos específicos 72

Capítulo 6 – Materiais e métodos 73

6.1. A obtenção da heterojunção polímero-metal PANI/Al 73

6.2. Síntese do dendrímero de poliglicerol e imobilização das enzimas

GOx/HRP 77

6.3. Caracterização elétrica dc/ac do biossensor 82

6.3.1. Análise dc 82

6.3.2. Análise ac 84

Capítulo 7 – Resultados e discussões 88

7.1. Parte A: Caracterização físico-química do biossensor 88

7.1.1. Características macroscópicas dos filmes obtidos 88

7.1.2. Espectroscopia eletrônica (UV/Vis) da PANI

eletrodepositada 92

7.1.3. Caracterização microestrutural 94

7.1.4. Resultados da difração de raios-x 104

7.1.5. Caracterização termogravimétrica 105

7.1.6. Análise físico-química do poliglicerol dendrítico (PGLD) 109

iv

7.1.7. Caracterização elétrica da heterojunção PANI/AL 126

7.1.7.1. Análise ac 127

7.1.7.2. Análise dc 129

7.2. Parte B: Performance do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al 134

Capítulo 8 – Conclusões 138

Capítulo 9 – Perspectivas futuras 139

Capítulo 10 – Considerações Finais 141

Capítulo 11 – Referências bibliográficas 147

v

Lista de figuras

Figura 1: Principais complicações do diabetes: (A) retinopatia (as manchas mais claras indicam

calcificação e destruição da retina), (B) neuropatia periférica (derrame cerebral – área mais

clara da figura), (C) infarto agudo do miocárdio (mancha escura central indica o local do infarto

provocando necrose de toda a ponta do músculo cardíaco), (D) amputação de uma perna

gangrenada.

3

Figura 2: Visão anatômica do corpo humano enfatizando a localização do pâncreas (A).

Ampliações do pâncreas (B) e de uma ilhota de Langerhans e das células beta, produtoras de

insulina (C).

7

Figura 3: Mecanismo de transporte da glicose pela ação da insulina. 7Figura 4: Estimativa do número de casos de diabetes no mundo, 1995-2030. 9Figura 5: Estimativa do número de casos de diabetes segundo o nível de desenvolvimento dos

países. 1) países desenvolvidos, 2) países em desenvolvimento e 3) países subdesenvolvidos. 9

Figura 6: Prevalência do número de casos de diabetes, em percentual da população, para o ano

de 2000 segundo a Organização Pan-americana da Saúde. 12

Figura 7: Desenvolvimento do diabetes no Brasil. 12Figura 8: Reação de oxidação da 4-aminofenazona pelo H2O2 em presença de fenol, para

avaliação de nível glicêmico via método colorimétrico. 17

Figura 9: Evolução das publicações na área de biossensores de 1999 a Maio de 2005. 20Figura 10: Evolução dos trabalhos científicos em biossensores de glicose de 1999 a Maio de

2005. 20

Figura 11: Elementos que compõem um biossensor. 21Figura 12: Montagem de um ENFET. (A) substrato de silício, (B) Dopagem e formação de

óxido, (C) deposição da membrana íon-seletiva e (D) imobilização da enzima e membrana

protetora.

25

Figura 13: Eletrodo de oxigênio de Clark. A) Eletrodo de trabalho Pt, B) eletrodo de referência

Ag/AgCl, C ) eletrólito semi-saturado de KCl, D) membrana de Teflon®, E) anel de borracha

para fixação, F) fonte de tensão para polarização e G) instrumento para medição da corrente de

saída.

28

Figura 14: Três gerações de biossensores amperométricos baseados em oxidases. (A) primeira

geração, (B) segunda e (C) terceira. 33

Figura 15: Estrutura química e redução do agente oxidante biológico FAD. FMN: Flavina

mononucleotídeo. 39

Figura 16: Classificação das estrutura enzimáticas: resíduos de aminoácidos - estrutura primária

(A), α-hélice - estrutura secundária (B), cadeia polipeptídica – estrutura terciária (C) e

subunidades agrupadas – estrutura quaternária (D).

39

Figura 17: Modelo de fitas para a GOx. (A) Topologia geral da holoenzima (B) Subunidade

mostrando a FAD no sítio ativo da enzima (seta). 42

vi

Figura 18: Modelo de fitas para a HRP (EC 1.11.1.7). 43Figura 19: Efeito da concentração de substrato na cinética enzimática. 46Figura 20: Linearização da equação de Michaelis-Menten por Lineweaver-Burk - Equação (26). 48

Figura 21: Enzima na sua forma nativa (A), desnaturação protéica (B) e renaturação (C). 48

Figura 22: Acoplamento química de uma molécula de glutaraldeído a duas enzimas. 52

Figura 23: Sumário das técnicas de Imobilização enzimática. 53

Figura 24: Ligação covalente da enzima (com agrupamento amina) na superfície do eletrodo.

(A) complexação com cloreto cianúrico, (B) ligação covalente por silanização, (C) complexação

com carbodiimina e (D) glutaraldeído.

55

Figura 25: Estrutura química de alguns polímeros conjugados. 58Figura 26: Esquema mostrando a interconversão de PANI entre seus estados oxidativos

esmeraldina e leucoesmeraldina e a interconversão entre estados de sal e base (em azul). 60

Figura 27: Fórmula geral da PANI. 61Figura 28: Mecanismo proposto para a eletropolimerização da anilina. 63Figura 29: Energia de Fermi para o sistema metal-semicondutor: níveis de energia para o metal

e um semicondutor separados (A), abaixamento dos níveis de energia devido à diferença nos

níveis de Fermi (EF) após contato e no equilíbrio térmico (B), a presença de densidade de

estados.superficiais devido a imperfeições na superfície (C).

66

Figura 30: Representação esquemática do crescimento de um dendrímero segundo o método

divergente. 69

Figura 31: Representação esquemática da síntese de um dendrímero pelo método convergente. 69Figura 32: Trinômio eletrodo, mediador, enzima. 70Figura 33: Sistema utilizado para a eletrodeposição de PANI sobre Al. Fonte de tensão (A),

Béquer com a solução Anilina/H2SO4 (B) e Eletrodos (C). 74

Figura 34: Dessecadores utilizados na desidratação dos eletrodos de PANI/Al. 74Figura 35: Aparelhagem utilizada para análise morfológica: (A) microscópio eletrônico de

varredura, (B) espectrômetro de energia dispersiva, (C) é o local onde é colocada a amostra e

(D) é a interface gráfica (IPEN/USP).

76

Figura 36: Amostras fixadas no suporte para MEV. O brilho amarelado deve-se à camada de 76Figura 37: (A) Termobalança, (B) balões de gases de purga e (C) computador pessoal para

interface gráfica, (D) módulo de controle do processo e aquisição dos dados (LCT/UNIFEI). 77

Figura 38: Esquema simplificado mostrando o bioconjugado PGLD-GOx-HRP imobilizado na

superfície de nanotubos de PANI. 81

Figura 39: Esquema do biossensor PGLD/GOD-HRP/PANI. 81

vii

Figura 40: Aparelhagem utilizada para caracterização elétrica . Resistência de referência e

limitadora de corrente (A), espectrômetro de impedância HP4284A (B), terminal para controle e

tratamento dos dados (C), porta-amostras com isolação eletromagnética (D) e a fonte K237 (E).

86

Figura 41: Percentual de massa relativa de PANI eletrodepositada em função do tempo para

potencial anódico de 1,5 V. Temperatura: 27 °C, H2SO4 1M, anilina 2,2 mM. Substrato: Al

(30,0 µm).

88

Figura 42: Percentual de massa relativa de PANI eletrodepositada em função do tempo para

potencial anódico de 2,0 V. Temperatura: 27 °C, H2SO4 1M, anilina 2,2 mM. Substrato: Al

(30,0 µm).

89

Figura 43: Variação do percentual de massa de PANI eletrodepositada em relação à

concentração de anilina utilizada. Tempo 5 min. Temperatura 27 °C, H2SO4 1M, anilina 2,2

mM. Substrato: Al (30,0 µm).

90

Figura 44: Crescimento das cadeias de PANI em relação ao tempo (direção indicada pela seta). 91Figura 45: Foto digital de um dos filmes eletrodepositados. 92Figura 46: Espectro UV-Vis da PANI eletrodepositada (A) e da N-2-metilpirrolidona (solvente)

(B) a 25 °C. 93

Figura 47: Micrografia MEV do filme de Pani. Cristais de PANI (A), e ampliação mostrando

detalhes da estrutura cristalina da PANI (B). O percentual de deposição: 120 % (m/m). 95

Figura 48: Micrografia MEV do filme de PANI/Al (A) acentuando as nanoestruturas tubulares

em (B). 96

Figura 49: Campo elétrico provocado pelo elemento de superfície dS contendo carga elétrica

sobre um ponto (P). 98

Figura 50: Oxidação do Al por pontos (A) e Preenchimento dos poros por cadeias de PANI (B). 100

Figura 51: Espectro de energia dispersiva (EDS) para os cristais de PANI depositados

eletroquimicamente em Al. 101

Figura 52: Modelo da estrutura cristalina mostrando os íons de sulfato (A) entre as moléculas de

PANI (B). Uma célula unitária para o cristal de PANI é mostrada em (C). 101

Figura 53: Na seqüência, segundo o eixo das abcissas: Substrato de Al (tempo 0), formação de

óxido logo que o eletrodo é colocado em solução e aplicado o potencial anódico, início do

crescimento (tempo 5’) e nanotubos já formados (tempo 30’). Temperatura 25 °C, H2SO4 1 M,

[Anilina] = 2,2 mM.

103

Figura 54: Difratogramas de raios-x obtidos para a PANI/Al (A), substrato de Al (B) e óxido de

alumínio (C). 104

Figura 55: Curva termogravimétrica em atmosfera de oxigênio da PANI/Al (A) e da PANI

removida do filme de Al (B). 107

viii

Figura 56: Curva termogravimétrica em atmosfera de nitrogênio da PANI/Al (A) e da PANI

removida do filme de Al (B). 107

Figura 57: Derivada da massa residual em relação à temperatura da PANI/Al em atmosfera de

O2. Os picos (A) e (B) se devem à perda de água, (C) término da desprotonação e (D)

temperatura de degradação total das cadeias poliméricas.

109

Figura 58: Percentual de conversão de glicerol em poliglicerol e sua influência no peso

molecular (PM). Peso molecular determinado por GPC na Petroquímica União. 110

Figura 59: Mecanismo de desprotonação do glicidol (A), propagação (B) e ciclização (C). 111

Figura 60: Cinética de polimerização do PGL para obtenção do PGLD. Temperatura: 90 oC. 112

Figura 61: Fundamentos da cromatografia de permeação em gel (GPC). 114

Figura 62: Curva de calibração (A) e análise por GPC do PGLD (B) obtido após 02 horas de

reação. 116

Figura 63: Estrutura esquemática do poliglicerol com estrutura dendrítica. L14, L13, D e T

significam ligações lineares, estruturas dendríticas e grupos terminais, respectivamente. 121

Figura 64: Espectro 13C -NMR (A) e 1H-NMR (B) do PGLD sintetizado. 122

Figura 65: Comportamento reológico do polímero PGLD. 126

Figura 66: Diagrama de Bode para Pani eletrodepositada em filme de alumínio. 128

Figura 67: Dependência do módulo da impedância com a freqüência para PANI/Al. 128

Figura 68: Comportamento Schottky para a heterojunção Pani/Al. 131

Figura 69: Modelo de tunelamento de Fowler-Nordheim (FN) para PANI/Al. R2 igual a 0,9975,

para 1/V> 0,4, e igual a 0,9970, para 1/V <0,4. 131

Figura 70: Curva IxV para a heterojunção PGLD-Al. 133

Figura 71: Resposta típica de um biossensor amperométrico em função do tempo: PGLD-GOx-

HRP/Al (A) e biossensor comercial (B). Temperatura ambiente (25 °C), fonte Keitlhey K237. 134

Figura 72: Reposta do biossensor para diferentes concentrações do analito. 560 mg.dL-1 (A),

280 mg.dL-1 (B) e 140 mg.dL-1 (C). Potencial aplicado no biossensor = 100 mV. 135

Figura 73: Resposta do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al em função da concentração de

glicose a um potencial anódico de 100 mV aplicado ao eletrodo de trabalho (Cada ponto

corresponde a 3 medidas). O retângulo corresponde à normoglicemia.

136

Figura 74: Reposta do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al (Cada ponto corresponde a 3

medidas). O retângulo corresponde aos níveis normoglicêmicos. Tensão 0,00 V. 137

ix

Figura 75: Projeto do circuito do bipotenciostato (CI 1) e amplificador de tensão (CI 2). O

círculo vermelho corresponde ao biossensor onde o eletrodo de trabalho está representado pela

barra azul, e a barra preta representa o eletrodo de referência.

142

Figura 76: Circuito sob teste. Fonte de alimentação (A), o biossensor (B), divisor de tensão (C),

amplificadores (D) e leitura do sinal (E). 143

Figura 77: Placa de circuito impresso projetada para o bipotenciostato. 143

Figura 78: Circuito do filtro passa-baixas Buttlerworth na configuração de Sallen-Key. 144

Figura 79: Simulação da resposta do filtro passa-baixas. A linha vertical próxima a 15 Hz indica

a freqüência de corte (freqüência a partir da qual o sinal começa a ser atenuado). 145

Figura 80: Leitura do sinal pelo circuito projetado (cada barra de incerteza corresponde a 3

medidas). Tensão 0 V, leitura feita no instante em que a solução foi colocada. R2 = 0,9916. 146

x

Lista de tabelas Tabela 1: Classificação etiológica do diabetes melito. 4 Tabela 2: Os dez países com maior número de casos de diabetes no mundo (estimativas para 2000

e 2030). 10

Tabela 3: Custos do diabetes em alguns países da América. 14 Tabela 4: Elementos que podem compor um biossensor. 22 Tabela 5: Biossensores para a leitura da glicemia. 34

Tabela 6: Quadro de comparação de monitores de glicose no sangue. 35 Tabela 7: Seletividade da GOx dados alguns substratos. 37 Tabela 8: Classificação das enzimas segundo a comissão de enzimas. 40 Tabela 9: Análise do espectro de 13C-NMR para o PGLD sintetizado neste trabalho. 123

xi

Lista de Abreviaturas ADA – American Diabetes Association

ATP – Adenosina trifosfato

Cglicose – Concentração de glicose

DOTA – Declaration of the Americas on Diabetes

EC – Enzyme Comission

EGFET – Extendet gate-field effect transistor

ENFET – Enzyme-field effect transistor

EQM – Eletrodo Quimicamente Modificado

FAD – Flavina adenina dinucleotídeo

FADH2 – Flavina adenina dinucleotídeo reduzida

FET – Field effect transistor

GLUT4 – Transportador de glicose

GOx – Glicose oxidase

HPM – Heterojunção polímero/metal

HRP – Horseradish peroxidase

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDF – International Diabetes Federation

IRS-1 – Substrato 1 do receptor de insulina

ISFET – Íon selective-field effect transistor

MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura

OMS – Organização Mundial da Saúde

OPS – Organização Pan-americana da Saúde

PANI – Polianilina

PANI/Al – Heterojunção polianilina/alumínio

PC – Polímero conjugado

PGL – Poliglicerol

PGLD – Poliglicerol dendrítico

PGLD-GOx-HRP – Bioconjugado

rpm – Rotações por minuto

TGA – Thermogravimetric Analysis

TOTG – Teste oral de tolerância à glicose

UV-Vis – Ultra-violeta/Visível

xii

Resumo

A propriedade semicondutora da polianilina (PANI) tem sido explorada durante as

últimas décadas como material ativo em muitos dispositivos eletrônicos e

eletroquímicos. A polianilina pode ser processada em solução, o que torna possível a

fabricação de dispositivos sobre substratos flexíveis, a baixo custo e com técnicas

comuns de impressão. Uma das áreas de pesquisas mais fascinantes em eletrônica

molecular é a dos dispositivos biossensores. Um biossensor pode ser definido como um

dispositivo que incorpora um composto biológico integrado ou intimamente conectado a

um transdutor. O objetivo é a produção de sinais eletrônicos discretos ou contínuos que

são específicos ao analito de interesse (ou a um relacionado grupo de analitos).

Alternativamente, um biossensor pode ser considerado como uma combinação de um

sensor elétrico junto a um reator miniaturizado contendo uma biomolécula imobilizada,

e é usado, em muitos casos, para medir concentrações de um substrato. Um grande

número de biomoléculas tais como enzimas, anticorpos, organelas, células e receptores

têm sido utilizadas como sondas sensoras para a fabricação de biossensores. O

transdutor pode ser um dispositivo elétrico, óptico, térmico ou piezoelétrico. O

desenvolvimento recente da nanociência e nanotecnologia abriu novas fronteiras na

pesquisa fundamental e aplicada, contribuindo significativamente para o projeto de

biossensores. Em escala nanométrica, a elevada razão superfície/volume, característica

de muitos nanomateriais, tem apresentado uma significativa influência em muitas

propriedades fundamentais do material e no desempenho do dispositivo. Neste trabalho,

é apresentada a obtenção de biossensores de glicose baseados em dendrímeros de

poliglicerol (PGLD) e nanotubos de polianilina (PANI). Dendrímeros de poliglicerol

(PGLD) são macromoléculas sintéticas monodispersas, esféricas e altamente

ramificadas possuindo um grande número de grupos funcionais na sua superfície com

potencial para atuarem como transportadores para a imobilização de enzimas por

ligação covalente. O dendrímero PGLD foi sintetizado pela polimerização por abertura

do anel do glicidol desprotonado usando poliglicerol como núcleo funcional num

processo de crescimento por etapas denominado síntese divergente. A estrutura

dendrítica do PGLD foi confirmada pela cromatografia de permeação em gel e

ressonância magnética nuclear (1H-NMR, 13C-NMR). A baixa dispersão no peso

molecular (Mw/Mn = 1,05) e um grau de ramificação de 0,81 caracterizam a estrutura

dendrítica do PGLD. Uma heterojunção foi obtida pela eletrodeposição de nanotubos de

xiii

PANI sobre uma superfície de alumínio para atuar como mediador de elétrons no

biossensor. O estado de protonação dos nanotubos de PANI foi investigado por

espectroscopia de absorção UV-Vis. Os nanotubos foram caracterizados por

microscopia eletrônica de varredura (MEV). As propriedades elétricas da heterojunção

PANI/Al foram examinadas. A curva tensão-corrente mostrou um comportamento de

diodo Schottky, com fator de idealidade (n) de 7,35. O estudo da espectroscopia de

impedância indica que a resistência domina o comportamento ac da heterojunção

PANI/Al. Após ativação do dendrímero hidroxilado pelo método de cianotransferência,

glicose oxidase (GOx) e peroxidase (HRP) foram co-imobilizadas no dendrímero,

obtendo-se o bioconjugado PGLD-GOx/HRP. O eletrodo PANI/Al foi revestido com o

bioconjugado PGLD-GOx/HRP pela técnica de evaporação do solvente para a obtenção

do biossensor de glicose. A resposta do biossensor à glicose foi obtida pela monitoração

da corrente resultante da reação da glicose oxidase com a glicose na superfície do

eletrodo. O sinal medido corresponde à reação eletroquímica da glicose oxidase com a

glicose na superfície do eletrodo. A investigação dos parâmetros analíticos neste

trabalho demonstrou que nanotubos de polianilina são mediadores eficientes para a

produção de biossensores. Os valores obtidos para a concentração de glicose com o

biosensor estão em concordância com o método espectrofotométrico padrão.

Palavras-chave: diabetes melito, biossensor amperométrico de glicose, poliglicerol

dendrítico, nanotubos de polianilina, heterojunção.

xiv

Abstract The semi-conducting property of polyaniline (PANI) has over the last few decades been

explored as the active material in a number of electronic and electrochemical devices.

Polyaniline may be solution processed, which makes it possible to manufacture devices

on flexible carriers, ultimately at a very low cost with common printing techniques. One

of the most exciting areas of research in molecular electronics is the biosensors device.

A biosensor can be defined as an analytical device incorporating a biological compound

integrated or intimately connected with a transducer. The aim is to produce either

discrete or continuous electronic signals that are specific to a single analyte (or a related

group of analytes). Alternately, a biosensor can be considered as a combination of an

electrochemical and an electrical sensing device along with a miniaturized reactor

containing an immobilized biomolecule, and it is used in most cases to measure the

concentration of a substrate. A number of biomolecules such as enzymes, antibodies,

organelles, cells and receptors have been used as sensing probes for the fabrication of

biosensors. The transducer can either be electrical, optical, thermal or piezo-electric

device. The recent development of nanoscience and nanotechnology has opened up new

frontiers in fundamental and applied research and contribute expressively to the

biosensor design. At the nanometer scale, the high surface-to-volume ratio characteristic

of most nanomaterials has been demonstrated to have a tremendous influence of many

fundamental material properties and device performance. In this work, the obtention of

a glucose biosensor based on polyglycerol dendrimer (PGLD) and polyaniline

nanotubes (PANI) is presented. PGLD dendrimer is a monodisperse, spherical and

hyperbranched synthetic macromolecule with a large number of surface hydroxyl

groups that have the potential to actuate as carriers for enzyme immobilization by

covalent binding. The PGLD dendrimer was synthesized by the ring opening

polymerization of deprotonated glycidol using polyglycerol as core functionality in a

step-growth processes denominated divergent synthesis. The PGLD dendritic structure

was confirmed by gel permeation chromatography and nuclear magnetic resonance (1H-

NMR, 13C-NMR) techniques. The low dispersion in molecular weight (Mw/Mn = 1.05)

and a degree of branching of 0.81 characterizes the PGLD dendritic structure. A

heterojunction of polyaniline nanotubes were electrodeposited onto aluminum surface to

actuate as electron mediator in the biosensor. The protonation state of PANI nanotubes

was investigated by UV-Vis absorption spectroscopy. The PANI nanotubes morphology

xv

was characterized by scanning electron microscopy (SEM). The electrical properties of

the heterojunction PANI-Al were examined. The current-voltage profile has shown a

behavior typical of Schottky diode, with ideality factor (n) of 7.35. The impedance

spectroscopy study indicates that the resistance dominates the ac behavior of the

heterojunction PANI-Al. After activation of the PGLD by the cyanotransfer method

glucose oxidase (GOx) and horseradish peroxidase (HRP) were co-immobilized onto

the dendrimer to obtain the bioconjugate PGLD-GOx/HRP. A PANI/Al electrode was

coated with the bioconjugate PGLD-GOx/HRP by the casting out technique to obtain a

glucose biosensor. The response of the biosensor to glucose was obtained by monitoring

the current, while aliquots of a glucose solution were added to the nanostructured

biosensor. The signal measured corresponds to the electrochemical reaction of glucose

oxidase with glucose at electrode surface. The investigation of the analytical parameters

in this work demonstrated that polyaniline nanotubes is an efficient mediator for

biosensor production. Analysis of glucose solutions led to values in agreement with

standard spectrophotometic values.

Keywords: diabetes mellitus, amperometric glucose biosensor, polyglycerol dendrimer, polyaniline nanotubes, heterojunction.

1

Capítulo 1 – Particularidades sobre o diabetes

1.1 – Caracterização da doença

O crescimento populacional, somado a um estilo de vida com maior ingestão

de açúcar e alimentos com elevado teor de gordura aliado a uma menor atividade

física, têm levado a população dos países industrializados a desenvolverem uma

grave doença do sistema endócrino que hoje assume níveis alarmantes, despertando o

interesse dos órgãos públicos e de centros de pesquisa: o diabetes melito. Doença que

é hoje a sexta causa de mortes no Brasil provocando cerca de 25 mil mortes

anualmente, sendo que o número atual de diabéticos já chega à cifra de cinco

milhões, segundo dados do Ministério da Saúde.

O diabetes melito é um grupo de doenças do metabolismo da glicose que se

caracteriza por seus altos níveis no sangue (hiperglicemia) e é resultante de defeitos

na secreção ou má ação da insulina, hormônio produzido pelas células beta presentes

nas ilhotas de Langerhans do pâncreas e cuja função é quebrar as moléculas de

glicose, fornecendo energia ao organismo. 1 Sem insulina a glicose, principal fonte

de energia dos animais, não pode adentrar as células e ser metabolizada em

substâncias importantes para o organismo como proteínas, músculo e gordura.

A primeira menção ao diabetes melito foi feita no Séc. XV a.c. nos papiros de

Ebers, da décima oitava dinastia egípcia (uma compilação de textos mais antigos e

que descreviam enfermidades e métodos de cura). Areteu da Capadócia, médico

grego que viveu em Roma no séc. I-II dc, usou a palavra diabetes (do grego sifos,

que quer dizer sifão) pela primeira vez para denominar a doença, pois as pessoas

afetadas bebiam grande quantidade de água e tinham, por conseqüência, os volumes

urinários aumentados. A palavra diabetes, por conseguinte, se refere à eliminação de

quantidade excessiva de urina. 2

A sintomatologia e o reconhecimento como entidade clínica foi possível

através da descrição feita por Thomas Willis, em 1679, que, referindo-se ao sabor

doce da urina, nomeou a enfermidade de diabetes melito (do latin, doce como mel).

Em 1775 Dopson conseguiu identificar a presença de glicose na urina. A descrição

das células pancreáticas realizada por Langerhans, em 1869, e a busca de um suposto

hormônio produzido por tais células, então conhecidas por ilhotas de Langerhans,

levaram os canadenses Banting e Best a pesquisarem tal hormônio conseguindo, em

2

1921, isolar a insulina e demonstrar seu efeito hipoglicêmico abrindo um novo

horizonte nos estudos sobre o diabetes. Assim, o transplante de pâncreas para a

produção de insulina passou a ser uma alternativa viável ao tratamento da forma mais

agressiva da doença (diabetes tipo 1) sendo, o primeiro transplante, realizado na

Universidade de Manitoba (Canadá) em 1966.

Pesquisas mais recentes têm visado o transplante apenas das ilhotas de

Langerhans por ser uma cirurgia mais simples, com poucas complicações e tempo de

internação mais curto. O Brasil lidera tal linha de pesquisas, sendo que, no ano

passado, foi realizado o primeiro transplante deste tipo para a cura do diabetes Tipo

1, feita pela equipe do Dr. F. G. Eliaschewitz no Hospital Albert Einstein de São

Paulo. 3

Sem insulina, as células não podem obter energia eficientemente para

realizarem suas funções e então morrem fazendo com que o paciente sinta fadiga e

perda de peso; isto ativa os neurossensores a enviarem uma mensagem de sensação

de fome. Com os altos níveis de glicose no sangue, a glicose é removida do

organismo junto à urina, já que a alta concentração de açúcar nos rins exige maiores

quantidades de água podendo ultrapassar o limiar renal. Perda de água através da

urina ativa os sensores neuronais fazendo com que o paciente tenha sensação de

sede. A urina excessiva pode resultar em desidratação, levando ao ressecamento da

pele, sendo que as flutuações nas quantidades de glicose e água na córnea, durante

esses períodos de desidratação, podem levar à visão turva. O organismo também

pode obter glicose por meio do metabolismo das proteínas e gorduras, e a quebra de

tais substâncias pelo fígado leva a uma elevada produção de compostos chamados

corpos cetônicos, os quais são muito tóxicos acima de certo nível, podendo levar o

paciente ao coma ou à morte.

Portanto, a hiperglicemia se manifesta por sintomas como aumento da diurese

(poliúria), ingestão exagerada de líquidos (polidipsia), perda de peso, aumento da

ingestão de alimentos (polifagia), “urina doce” (glicosúria), corpos cetônicos

presentes na urina (cetonúria) e visão turva.

A hiperglicemia crônica está associada a dano, disfunção e falência de vários

órgãos, especialmente: olhos, rins, nervos, coração e vasos sanguíneos. Neste caso,

as pessoas com diabetes apresentam maiores riscos de desenvolvimento de doenças

3

cardíacas, cegueira, insuficiência renal e de amputação de membros inferiores.4 Na

Figura 1 ilustram-se as principais complicações do diabetes.

Figura 1: Principais complicações do diabetes: (A) retinopatia (as manchas mais claras indicam

calcificação e destruição da retina), (B) neuropatia periférica (derrame cerebral – área mais

clara da figura), (C) infarto agudo do miocárdio (mancha escura central indica o local do

infarto provocando necrose de toda a ponta do músculo cardíaco), (D) amputação de uma

perna gangrenada.

A atual classificação do diabetes melito está representado pela Tabela 1.

Sendo as formas mais freqüentes, o diabetes tipo 1 e o diabetes tipo 2 (os termos

“insulino-dependente” e “não dependente de insulina”, respectivamente atribuídos

aos dois tipos, foram abolidos).4

(D) (C)

(B)

(A)

4

Tabela 1: Classificação etiológica do diabetes melito. 4

I. Diabetes tipo 1

Destruição das células β, usualmente levando à deficiência absoluta de insulina

A. Auto-imune B. Idiopático

II. Diabetes tipo 2 Diminuição de secreção e resistência à insulina

III. Outros tipos específicos A. Defeitos genéticos da função das células β B. Defeitos genéticos da ação da insulina C. Doenças do pâncreas exócrino D. Endocrinopatias E. Indução por drogas ou produtos químicos F. Infecções G. Formas incomuns de diabetes imuno-mediado H. Síndromes genéticas algumas vezes associadas com

diabetes 1. Síndrome de Down 2. Síndrome de Klinefelter 3. Síndrome de Turner 4. Síndrome de Prader-Willi 5. Outras

IV. Diabetes melito gestacional

O diabetes tipo 1 se caracteriza pela deficiência absoluta de secreção de

insulina devido a destruição das células beta do pâncreas, responsáveis pela secreção

de insulina, usualmente por um processo auto-imune ou por causa desconhecida

(idiopática). É sua forma mais agressiva.

O diabetes tipo 2 é resultante de uma combinação de resistência à insulina e

sua secreção inadequada. É a forma mais comum ocorrendo em 90%4 dos casos em

países desenvolvidos, comparando-se com o primeiro tipo.

Uma terceira categoria, tipos específicos, resulta de mecanismos que venham

a afetar a secreção ou ação da insulina, decorrentes do uso de medicamentos, defeitos

genéticos, doenças que danifiquem o pâncreas, ou endocrinopatias.

Há um quarto tipo, o gestacional, e trata-se do desenvolvimento de

intolerância à glicose durante a gravidez podendo ou não persistir após o parto.

5

1.2 – Mecanismos bioquímicos da enfermidade e fisiologia animal

O pâncreas se localiza no abdômen, atrás do estômago, e está preso ao

intestino delgado e ao baço 5 (Figura 2). Dentro do pâncreas encontram-se certos

aglomerados de células chamadas de ilhotas de Langerhans. Nestas, a insulina é

produzida pelas células beta que são estimuladas pela presença de glicose no sangue.

As células beta, portanto, regulam a quantidade de insulina a ser produzida, segundo

os níveis presentes de glicose, mantendo os níveis normais de glicose

(normoglicemia) em 70 a 120 mg.dL-1 (naqueles que apresentam a doença, os níveis

de glicose no sangue podem alcançar concentrações de 300 até 700 mg.dL-1). 6

A quantidade de glicose no fluido sanguíneo é regulada por vários hormônios,

sendo a insulina o mais importante deles. A insulina é formada por uma molécula de

proteína cuja atividade está condicionada à sua estrutura química explicando o fato

de não poder ser administrada oralmente, já que os sucos digestivos alterariam sua

estrutura.

Há duas fases na secreção da insulina em resposta ao acréscimo de glicose, a

primeira é uma liberação imediata através de insulina armazenada em glândulas

secretoras. Após um certo intervalo há uma segunda fase, que é uma secreção mais

prolongada de nova insulina sintetizada. Uma vez liberada, a insulina dispõe de um

curto tempo (um tempo de meia vida de cerca de 6 minutos) para permanecer ativa

antes de ser degradada pelas enzimas insulinases no fígado e rins.

A insulina liberada pelas células beta liga-se a um receptor na membrana

celular o qual é uma proteína formada por duas sub-unidades extracelulares (α), que

contém um sítio de ligação de insulina, e duas sub-unidades intracelulares (β) ligadas

à membrana funcionando como transdutores do sinal de insulina à célula. A insulina

após fixar-se ao receptor faz com que este sofra alterações conformacionais que

conduzem à agregação e endocitose, com subseqüente desagregação da insulina. Os

receptores agregados auto-fosforilam-se se ativando e passando a fosforilar também

outras proteínas, como as enzimas que se tornam ativas ou inativas após fosforilação,

ou substratos sinalizadores citoplasmáticos intracelulares, dentre os quais, o substrato

1 do receptor de insulina (IRS-1) e o substrato 2 do receptor de insulina (IRS-2). O

receptor de insulina é uma tirosinase kinase, ou seja, ela funciona como uma enzima

que transfere grupos fosfato da adenosina trifosfato (ATP) para resíduos de tirosina

6

nas proteínas intracelulares alvo. Desta maneira uma aparente pequena mudança

conformacional devido à ligação da insulina é amplificado em uma grande

quantidade de efeitos dentro da célula, sendo o efeito líquido a ativação de uma

cascata de reações de fosforilação e desfosforilação. Estas ações terminam com a

desfosforilação do receptor de insulina. 7

A glicose, por ser uma molécula neutra, não se difunde para dentro da

membrana celular necessitando, para isso, de uma proteína transportadora e tal se faz

presente na membrana plasmática pela ação da insulina. Na ausência de insulina, os

transportadores de glicose (GLUT4) estão presentes nas vesículas citoplasmáticas,

onde eles são inúteis para o transporte da glicose. Pela ligação da insulina aos

receptores, há uma fusão das vesículas com a membrana plasmática e inserção dos

transportadores, dando às células a habilidade para levar glicose eficazmente para

dentro da célula (Figura 3).

Para desencadear funções bioquímicas a glicose necessita de ser ativada, isto

é conseguido por fosforilação onde cada molécula de glicose se associa a uma

molécula de fosfato, advinda da substância doadora ATP por ação enzimática,

transformando-se em glicose-6-fosfato podendo, então, ser quebrada fornecendo

energia ou, por ação de enzimas do fígado, transformar-se em glicogênio como

reserva energética. O fígado é o maior produtor e também a maior reserva de glicose

removendo rapidamente grandes quantidades de glicose da circulação sanguínea, ao

receber o sangue rico em glicose diretamente do trato digestivo via veia porta. O

fígado libera glicose da quebra do glicogênio e do metabolismo intermediário dos

carboidratos, proteínas e da gordura.

7

Figura 2: Visão anatômica do corpo humano enfatizando a localização do pâncreas (A).

Ampliações do pâncreas (B) e de uma ilhota de Langerhans e das células beta,

produtoras de insulina (C).

Figura 3: Mecanismo de transporte da glicose pela ação da insulina.

Pâncreas

Intestino grosso Intestino delgado

Fígado Estômago

^

fibras reticulares

acines glandulares

Ilhota de Langerhans

células beta

´

(A)

(C)

(B)

glicose insulina Receptores de insulina

Membrana celular

Vesícula com o GLUT-4

IRS

α α

β β

8

1.3 – Aspectos epidemiológicos

1.3.1 - No mundo

Um aspecto importante a respeito do diabetes é a preocupação constante dos

órgãos mundiais de saúde devido ao crescimento significativo do número de casos no

mundo devido a fatores hereditários e de desenvolvimento; sendo que, segundo a

Organização Mundial da Saúde (OMS), o diabetes melito é considerado uma

pandemia,8 como pode ser observado na Figura 4, que mostra o crescimento

alarmante dos casos de diabetes a nível mundial.

A distribuição dos casos de diabetes em relação ao nível de desenvolvimento

do país pode ser observado na Figuras 5. Os casos de mortes por diabetes é

raramente mencionado em laudo médico, assim sendo, o número de mortes

diretamente atribuído a doença não é de fácil quantificação, ainda que seja de

conhecimento geral que as pessoas com diabetes têm sua expectativa de vida

reduzida.

O crescimento do número de pessoas diabéticas está relacionado, além do

crescimento populacional, a fatores hereditários, faixa etária da população,

urbanização, aumento na prevalência de obesidade e inatividade física. A estimativa

para os dez países com maiores índices de incidência do diabetes, para os anos de

2000 e 2030, é mostrada na Tabela 2. (Os dados foram dados em termos absolutos

uma vez que seu valor relativo poderia levar a uma má interpretação da significância

dos mesmos).

9

Figura 4: Estimativa do número de casos de diabetes no mundo, 1995-2030. 8

Figura 5: Estimativa do número de casos de diabetes segundo o nível de desenvolvimento dos países.

1) países desenvolvidos, 2) países em desenvolvimento e 3) países subdesenvolvidos. 8

0

100

200

300

400

Milh

ões

1 2 3

1995 2000 2030

Casos no mundo

0

100

200

300

400

1 2 3

20002030

Milh

ões

10

Tabela 2: Os dez países com maior número de casos de diabetes no mundo

(estimativas para 2000 e 2030). 9

2000 2030

Posição País Doentes (milhões) País Doentes (milhões)

1 Índia 31,7 Índia 79,4

2 China 20,8 China 42,3

3 E.U.A 17,7 E.U.A. 30,3

4 Indonésia 8,4 Indonésia 21,3

5 Japão 6,8 Paquistão 13,9

6 Paquistão 5,2 Brasil 11,3

7 Federação Russa 4,6 Bangladeche 11,1

8 Brasil 4,6 Japão 8,9

9 Itália 4,3 Filipinas 7,8

10 Bangladeche 3,2 Egito 6,7

Os três primeiros países (Índia, China e E.U.A.) permanecem em ambas

estimativas e já encabeçaram estimativa realizada em 1995. 10 A Federação Russa e a

Itália foram substituídos por Filipinas e Egito, para a estimativa de 2030, o que

reflete mudanças no tamanho e estrutura da população nestes países durante os dois

períodos. 9 As expectativas para o Brasil refletem a importância de estudos sobre o

número de casos no país a fim de que se possam ser tomadas medidas preventivas

contra a ocorrência da doença.

11

1.3.2 - Nas Américas

Devido ao fato de não haver, na maioria dos países latino-americanos, uma

vigilância quanto ao número da incidência epidemiológica do diabetes melito, não se

tem muita informação quanto a prevalência desta. A fim de obter-se um maior

acompanhamento por parte desses países, a Organização Pan-americana da Saúde

(OPS), através da Federação Internacional de Diabetes (IDF) e a indústria

farmacêutica, criaram em 1996 a Declaração das Américas sobre o Diabetes (DOTA)

que, durante os últimos anos, têm coordenado várias atividades nas Américas.

Segundo a DOTA,11 era estimado em cerca de 30 milhões o número de casos

de diabetes em 1996, ano de sua criação. Em 2000, o número havia aumentado para

35 milhões, e as previsões futuras são alarmantes: 45 milhões de diabéticos para

2010, e 64 milhões para 2025.

A prevalência estimada para o diabetes nas Américas, em 2000, segundo a

OPS 12 é mostrada na Figura 6.

O desenvolvimento do número de casos no Brasil pode ser visto pela Figura

7, mostrando níveis sempre crescentes de infectados.

12

Figura 6: Prevalência do número de casos de diabetes, em percentual da população, para o ano

de 2000 segundo a Organização Pan-americana da Saúde.

Figura 7: Desenvolvimento do diabetes no Brasil. 8

0

5000

10000

15000

Milh

ões

1 2 3 4

Evolução do diabetes no Brasil: 1995-2025

1997 2000 1995 2025

13

1.4 – Custos do diabetes

O diabetes melito é um dos problemas de saúde mais dispendiosos afetando,

não só o indivíduo infectado mas, conjuntamente, seus familiares. Afeta também a

qualidade de vida do doente e sua espectativa pode ser reduzida significativamente.

Os custos diretos do diabetes envolve cuidados médicos, insulina, remédios e

gerenciamento da doença. Os custos sociais se evidenciam quando o indivíduo se vê

incapaz para o trabalho tendo de aposentar-se ou afastar-se dele, ou devido à morte

prematura. O tratamento do diabetes e suas complicações podem ser inconvenientes,

desconfortáveis e demandar muito tempo.

A Federação Internacional de Diabetes (IDF) estima que os custos diretos da

doença são de aproximadamente 6% do total do orçamento da saúde em nações

economicamente desenvolvidas. Os custos diretos totais do diabetes são mais

elevados nos Estados Unidos (US$ 60 bilhões) , Japão (US$ 16,94 bilhões),

Alemanha (US$ 10,67 bilhões) e França (US$ 7,3 bilhões).13

Dados mais precisos, no entanto, podem ser obtidos pela American Diabetes

Association (ADA) 14, baseados no ano de 2002. A ADA estimou os custos diretos

do diabetes dividindo-os em: controle da glicose (US$ 23,2 bilhões), tratamento das

taxas de complicações crônicas acima do normal (US$ 24,6 bilhões), e condições

clínicas gerais (US$ 44,1 bilhões), totalizando US$ 91,8 bilhões. A estimativa para

os custos indiretos baseou-se na perda de trabalho, dias de atividade restringida,

mortalidade e inaptidão permanente devido ao diabetes (p. ex., amputação dos

membros) totalizando US$ 39,8 bilhões. Nos E.U.A., os diabéticos apresentam um

dispêndio médico anual cerca de 2,4 vezes maior do que pessoas não portadoras da

doença sendo os custos, por pessoa, de US$ 13.243 e US$ 2.560, respectivamente.

Estas estimativas são subestimadas, pois omitem os custos intangíveis como dor e

sofrimento, e o custo em várias áreas onde o cuidado médico com pessoas diabéticas

requer cuidados especiais, fazendo com que os serviços sejam mais caros. Além

disso, as estimativas desconsideram os casos não diagnosticados, que chegam à cerca

de 50% dos indivíduos doentes.

Nos países da América Latina, as pessoas com diabetes têm acesso limitado à

saúde e, portanto, os custos indiretos com o diabetes excedem os diretos. Segundo

simpósio realizado em 27 de setembro do ano passado, em São Paulo, os custos

14

totais com o diabetes somam US$ 22,6 bilhões, sendo US$ 18,7 bilhões só em custos

indiretos (Tabela 3). 15

Tabela 3: Custos do diabetes em alguns países da América . 15

Custos em milhões (US$)

País Totais Indiretos Diretos

Canadá 4.756 1.277 3.478

Estados Unidos 131.672 39.800 91.800

México 15.118 13.144 1.974

Cuba 1.346 624 722

Argentina 10.935 10.188 747

Bolívia 228 142 86

Brasil 22.604 18.652 3.952

Chile 2.418 2.123 295

Peru 1.844 1.342 502

Uma fórmula para a estimativa dos custos diretos do diabetes em países ou

regiões afetadas sem a necessidade de estudos empíricos, os quais demandam tempo

e dinheiro, pode ser dada por: 16

1- Custos dos cuidados com o diabetes:

xTHCB11)-P(R

1)-P(R+

2- Custos do diabetes para pessoas infectadas:

xTHCB11)-P(R

PxR+

sendo P a prevalência do diabetes, R razão entre o custo com pesoas doentes e

pessoas sem diabetes (estimado em 2,6 para países desenvolvidos) e THCB o total do

orçamento para a saúde.

15

1.5 – Conclusão

É de suma urgência estudos estatísticos sobre o impacto do diabetes melito no

Brasil para que possam ser tomadas medidas de controle e, principalmente, o

diagnóstico da doença evitando, assim, o desenvolvimento de complicações que,

além do desconforto gerado no paciente, não venha sobrecarregar o sistema de saúde.

É também de grande importância o conhecimento dos custos com o diabetes,

pois gastos com a saúde tendem a crescer rapidamente quando há um crescimento

populacional seguido de maior expectativa de vida, enquanto os recursos econômicos

são limitados. Quando os custos diretos e indiretos com o diabetes melito não são

plenamente conhecidos, há o perigo de os investimentos serem deslocados para áreas

erradas, sem nenhum retorno efetivo do capital investido.

A busca por novas modalidades de tratamento e controle, que sejam mais

baratas, pode fazer com que um maior número de pessoas tenham acesso ao seu

maior bem, a saúde.

Estudos recentes 17 demonstraram conclusivamente que, se os níveis de

glicose puderem ser regulados dentro dos níveis glicêmicos normais, o

desenvolvimento de complicações microvasculares em indivíduos com diabetes pode

ser controlado.

O melhor controle metabólico possível é conseguido pela observação do nível

glicêmico ao longo do dia. Usualmente isto é feito mediante coleta de amostra de

sangue o qual é posto em contato com fitas reagentes que, acopladas a aparelhos

eletrônicos, fornecem o resultado quase que instantaneamente. Trata-se de uma

maneira rápida, eficiente e sem a necessidade de treinamento, para se avaliar os

níveis glicêmicos.

16

Capítulo 2 – Análise clínica do diabetes

2.1 – Dosagem do diabetes no laboratório clínico

Os níveis glicêmicos estão sujeitos a contínuas flutuações ao longo do dia,

sofrendo influência de muitos fatores, tais como alimentação, stress, medicamentos,

álcool e exercícios. Uma maneira de se diagnosticar e acompanhar o

desenvolvimento da doença é a leitura do nível glicêmico do plasma sanguíneo, após

jejum de 8 horas e em repouso. Há indivíduos diabéticos, porém, cuja glicemia de

jejum é normal, contudo, após ingestão de alimentos (açúcar) a glicemia sobe a

níveis anormais devido a insuficiente produção de insulina. Com base nisto, uma

outra proposta é a determinação da glicemia durante um intervalo de tempo de 2

horas, após administração de uma sobrecarga oral de 75 g de glicose: teste oral de

tolerância à glicose (TOTG).

A glicose normalmente não é eliminada através da urina, sendo que tal

fenômeno ocorre após a glicemia ultrapassar o limiar renal de cerca de 180 mg.dL-1

podendo ser um indicativo do diabetes. Porém, a medida da concentração de glicose

na urina não detecta níveis menores que 180 mg.dL-1 e é impreciso para fins de

diagnóstico, já que não existe, necessariamente, uma correlação bem definida entre

glicemia e glicosúria.

Como já dito, quando as células não podem assimilar a glicose, passam a

metabolizar gorduras sendo as cetonas o resultado de tal metabolismo. Portanto, a

presença de corpos cetônicos na urina indica um estágio avançado da doença.

Podendo, também, ser medida em laboratório.

Uma outra maneira de se avaliar os níveis glicêmicos é a análise da

hemoglobina. A hemoglobina, substância presente dentro dos glóbulos vermelhos, é

responsável pelo transporte de oxigênio intracelular. Esta proteína liga-se a molécula

de glicose presente no sangue formando um complexo, hemoglobina glicolisada

(A1C), cuja concentração será maior tanto quanto a concentração de glicose presente

na corrente sanguínea. Como os glóbulos vermelhos se renovam a cada 2 ou 3 meses,

medidas de A1C podem ser utilizadas como uma informação retrospectiva do

diabetes. No entanto, este método é pouco utilizado no Brasil.

Dos métodos citados, a medida de glicose plasmática de jejum é o utilizado

sendo o método proposto, em 1997, pela Associação Americana de Diabetes (ADA)

17

como critério de diagnóstico por ser mais econômico, de fácil execução e cuja

variabilidade de resultados entre indivíduos é menor.

Para a análise laboratorial, o método preferencial para medida de glicose

plasmática é o método enzimático colorimétrico após coletagem do plasma

sanguíneo; baseando-se em reativo enzimático contendo glicose oxidase e

peroxidase, e reativos de cor (outras enzimas que também podem ser utilizadas são a

glicose desidrogenase e a hexoquinase).

Na presença de peroxidase, o H2O2, resultante da oxidação da glicose pela

glicose oxidase, oxida compostos que não possuem absorção no visível em

compostos coloridos, fazendo com que a intensidade de cor formada seja diretamente

proporcional à concentração do substrato inicial e, este, possa ser determinado

fotometricamente. O método usual para a determinação da concentração da glicose

foi inicialmente descrito por Trinder 18, em 1969, e baseia-se na oxidação da 4-

aminofenazona pelo H2O2, a qual combina-se com um composto fenólico para

formar uma quinonaimina colorida, com alta absorvância a 500-520 nm. Na Figura 8,

tem-se a reação de oxidação da 4-aminofenazona.

Figura 8: Reação de oxidação da 4-aminofenazona pelo H2O2 em presença de fenol, para

avaliação de nível glicêmico via método colorimétrico.

4-AminofenazonaFenol

Peroxidase

Quinonaimina

18

Portanto, o método se baseia na preparação de um reativo de trabalho

contendo solução aquosa de reativo enzimático mais reativos de cor, que servirá

como referência para as leituras de absorvância de uma solução padrão de glicose e

da solução desconhecida (plasma), em espectrofotômetro a cerca de 500 nm. A

relação entre as leituras, solução padrão e solução desconhecida, é dada pela

Equação 1:

PdLmgDCG

1.100 −⋅= (1)

sendo CG a concentração de glicose que se quer saber, D a leitura no

espectrofotômetro da solução desconhecida e P a leitura da solução padrão (cuja

concentração é de 100 mg.dL-1).

2.2 – Biossensores para análises clínicas do diabetes

A monitoração diária e contínua do diabetes é, sem dúvida, o melhor método

para o controle da doença; sendo a medida direta da glicemia seu mais importante

aspecto pois, como já visto, o resultado da glicemia pode variar muito de um

momento para outro.

O uso de biossensores tem possibilitado um teste mais simples e cômodo de

se avaliar os níveis glicêmicos, possibilitando a leitura em casa, ou no trabalho, em

qualquer hora do dia. O teste é realizado puncionando-se um dos dedos das mãos

com uma lanceta para obter-se uma pequena gota de sangue que é, então, aplicada na

área de reação de uma tira reagente. A glicose presente nessa gota de sangue reage

com os produtos químicos da área reagente, provocando uma mudança de cor ou

intensidade da corrente elétrica, a qual é proporcional à quantidade de glicose

existente no sangue.

O primeiro biossensor de glicose foi construído por Clark e Lyons em 1962.

Em seu artigo tratando de monitoração química contínua do sangue, eles sugeriram

que uma camada muito fina de enzima solúvel pode ser retida na superfície de um

eletrodo de oxigênio com o uso de uma membrana dialítica. 19 Glicose e oxigênio

poderiam se difundir da amostra para dentro da camada enzimática e a conseqüente

depleção de oxigênio poderia fornecer a medida da concentração de glicose. Clark e

Lyons cunharam o termo ‘eletrodo enzimático’, o qual muitos revisores têm

19

erroneamente atribuído a Updike e Hicks os quais, em 1967, escreveram o primeiro

artigo descrevendo um eletrodo com enzima imobilizada. 20 Eles imobilizaram a

enzima glicose oxidase em gel de poliacrilamida num eletrodo de oxigênio de Clark.

Guilbault e Montalvo21 foram os primeiros a detalhar um eletrodo de enzima

potenciométrico. Eles descreveram um sensor de uréia baseado em urease

imobilizada em eletrodo de membrana líquida amônio-seletiva.

Desde os trabalhos pioneiros na década de 60, grandes esforços têm sido

feitos no desenvolvimento de biossensores de glicose; a somar, na década de 70, os

esforços para a fabricação de uma bomba de insulina para o pâncreas artificial, que

levou ao desenvolvimento de biossensores implantáveis. 22

Em 1975, a Yellow Springs Company (Ohio) lança, comercialmente, o

primeiro biossensor para análise de glicose, baseado na detecção amperométrica de

peróxido de hidrogênio. Em 1976, La Roche (Suíça) introduziu o analisador lactato

LA 640 no qual o mediador solúvel, hexacianoferrato, foi utilizado para trocar

elétrons entre a lactato desidrogenase e o eletrodo. Embora não tenha sido um

grande sucesso comercial, iniciou uma nova geração de biossensores. 23

O principal avanço na aplicação in vivo de biossensores de glicose foi

descrito por Shichiri 24 et al. Eles descreveram o primeiro eletrodo enzimático tipo-

agulha para implantação subcutânea, em 1982. A MedSense (Cambrige, USA) em

1987, baseada em eletrodos enzimáticos com uso de técnicas de impressão (screen-

printed), lançou analisadores formato-caneta (pen-sized) para monitoramento da

glicose sanguínea em casa, sendo a primeira companhia a lançar biossensores de

segunda geração. O aparelho foi redesenhado às populares formas estilo cartão e

mouse de computador, e as vendas cresceram exponencialmente chegando à cifra de

US$ 175 milhões em 1996, quando a Abbott comprou a MedSense por US$ 876

milhões. Em janeiro do ano passado, a Abbott anunciou um acordo para compra da

Therasense por US$ 1,2 bilhões. 23 (Os quatro maiores líderes do mercado de

biossensores são: Abbott Diagnostics (que incorporou a Medisense), Bayer,

Boehringer Manhein e Lifescan). 22

Nos anos recentes, o número de trabalhos publicados na área de biossensores

cresceu significativamente como pode ser visto na Figura 9. De todos os biossensores

20

já aplicados em escala comercial, o biossensor de glicose tem sido o mais estudado

(Figura 10).

Figura 9: Evolução das publicações na área de biossensores de 1999 a Maio de 2005. 25

Figura 10: Evolução dos trabalhos científicos em biossensores de glicose de 1999 a Maio de

2005. 25

O biossensor 26 é um dispositivo compacto capaz de fornecer informação

analítica, quantitativa ou semiquantitativa, incorporando um elemento de

reconhecimento biológico intimamente ligado a um transdutor capaz de converter a

resposta bioquímica em sinal apropriado, podendo este sinal ser: potenciométrico,

amperométrico, condutométrico, óptico, piezelétrico ou entalpimétrico, segundo o

0100200300400500600

núm

ero

de a

rtig

os

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

0

50

100

150

200

250

núm

ero

de a

rtig

os

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

21

princípio físico de transdução. Um biossensor consiste, então, essencialmente de dois

elementos:

1) Elemento Bioseletivo: Reconhece o analito e reage, ou se liga a ele,

gerando, por meio de uma reação bioquímica, um sinal que pode ser produto da

variação de massa, absorção ou emissão de luz, emissão de calor, mudança de estado

de oxidação, liberação de gases e etc.

2) Transdutor: Elemento que possibilita o controle de um processo ou

fenômeno, ou realizar uma medição, através da conversão de um tipo de sinal em

outro, objetivando transformar uma forma de energia em outra. O transdutor é o

detector, monitorando a reação bioquímica iniciada pelo analito.

A Figura 11 esquematiza um biossensor e os elementos presentes em seu

projeto.

Na Tabela 4 são mostrados os diferentes elementos que podem ser usados no

projeto de biossensores.

Figura 11: Elementos que compõem um biossensor.

Amplificador

Microeletrônica

Transdutor

Amostra

Elemento Bioseletivo

Analito

22

Tabela 4: Elementos que podem compor um biossensor.

Os principais processos envolvidos em qualquer sistema de

biossensoriamento são: reconhecimento do analito, transdução e amplificação do

sinal, e leitura do sinal transduzido. As investigações sobre este tema implicam na

integração entre a química, a física, a medicina, a informática, a engenharia e a

medicina molecular, se mostrando uma área extremamente multidisciplinar. As

potenciais aplicações desta tecnologia nas áreas de saúde, alimentação e no controle

do meio ambiente, são excepcionais. 27-29

Biossensores enzimáticos se tornaram muito úteis em aplicações analíticas,

pois a purificação de enzimas é um processo relativamente barato, já que muitas

enzimas podem ser isoladas de microorganismos como fungos e bactérias, os quais

produzem estas enzimas em excesso naturalmente ou por manipulação genética.

As reações enzimáticas são altamente específicas, superiores a qualquer

catalisador sintético, esperando-se que tais biossensores sejam usados mesmo que

muitas outras substâncias estejam presentes na amostra. Uma vez que as reações são

altamente específicas, tornam-se desnecessários os processos de separação e

purificação pelos quais as análises químicas normalmente são realizadas podendo,

estas, serem realizadas in situ ou in vivo pelo próprio paciente. Ainda que a atividade

enzimática seja reduzida até certo ponto pela imobilização, biossensores enzimáticos

têm vantagens como maior estabilidade conformacional e possível reutilização. Para

uma enzima em particular, é importante encontrar-se um método adequado de

imobilização para que se tenha uma boa atividade enzimática e melhor estabilidade.

Este trabalho está focado em biossensores enzimáticos para glicose com uso

da enzima glicose oxidase, uma oxiredutase. A GOx é imobilizada num eletrodo de

Transdutor Elemento BioseletivoEletroquímico: Potenciométrico Amperométrico: I. Geração II. Geração III. Geração Condutométrico Impedimétrico Óptico Calorimétrico Piezelétrico Acústico

Enzimas Componentes de Enzimas Anticorpos Receptores Células Tecidos Organelas Membranas Moléculas Orgânicas Microorganismos Ácidos Nucléicos

23

trabalho (work electrode) de metal onde, previamente, foi depositado um substrato

polimérico (o conjunto metal/polímero é o transdutor), e pode ser visto como um

Eletrodo Quimicamente Modificado (EQM).

A GOx catalisa a oxidação da β-D-glicose, em meio aquoso, pelo oxigênio

molecular produzindo ácido glucônico e peróxido de hidrogênio, sendo um processo

em dois estágios 28 em que, no primeiro, há a oxidação enzimática da glicose e a

coenzima flavina adenina dinucleotídio (FAD) é reduzida a FADH2 (Reação 2); no

estágio seguinte, a coenzima é oxidada (regeneração biocatalítica) pelo oxigênio

molecular com a produção de peróxido de hidrogênio (Reação 3):

β-D-glicose + GOx(FAD++) → glucono-δ-lactona + GOx(FADH2) (2)

GOx(FADH2) + O2 → GOx(FAD++) + H2O2 (3)

A gluconolactona produzida pela reação (2) é hidrolisada em meio aquoso

formando ácido glucônico:

glucono-δ-lactona + H2O → ácido glucônico (4)

A reação global, portanto, pode ser expressa por:

Portanto, biossensores de glicose podem ser construídos levando-se em

consideração as reações acima expostas: seja pela medida da variação da

concentração de O2 consumido no processo ou de H2O2 produzido, por redução ou

oxidação de tais substâncias em eletrodos polarográficos (biossensores

amperométricos); por medidas do pH local devido à produção de ácido glucônico

(biossensores potenciométricos); medida da mudança da resistividade elétrica do

meio durante todo processo (biossensores condutométricos) ou pelo calor produzido

(biossensores entalpimétricos).

GOx

(β-D-glicose) (ácido glucônico)

(5)

24

2.3 - Biossensores eletroquímicos

Biossensores baseados em transdutores eletroquímicos são os mais comuns

para o uso de análises clínicas e os mais freqüentemente citados na literatura. A

detecção eletroquímica pode ser amperométrica (medindo-se a transferência de

cargas) ou potenciométrica (medindo-se uma diferença de potencial) ou

condutométrica (medindo-se mudanças na condutância entre os eletrodos) ou

impedanciométrica (medindo-se mudanças de impedância no eletrodo). Dentre os

citados, os impedanciométricos e condutométricos são usualmente não específicos e

possuem uma razão sinal/ruído muito baixa além de uma construção muito

elaborada. 29,30 O desempenho dos sensores condutométricos é altamente dependente

da concentração do ambiente iônico e qualquer flutuação pode mascarar os

resultados; já os sensores impedanciométricos se baseiam na aplicação de uma tensão

senoidal entre os eletrodos e a medição da variação da impedância do meio resultante

da reação bioquímica. Assim, os transdutores potenciométricos e amperométricos

têm sido a fonte principal de muitas pesquisas, por serem relativamente simples e por

estarem em estágio mais avançado de pesquisa relativamente aos transdutores

citados.

2.3.1 - Biossensores potenciométricos

Biossensores potenciométricos utilizam-se de eletrodos íon-seletivos para

fazerem a transdução da reação bioquímica em sinal elétrico. Basicamente, consiste

de uma membrana com enzima imobilizada envolvendo um eletrodo íon-seletivo,

onde a reação catalisada gera ou absorve íons H+. A resposta do biossensor é uma

diferença de potencial como função do tempo (as moléculas de glicose tendem a se

ionizar com o passar do tempo) e o potencial do eletrodo é dado por: 31

]iln[nFRTVV 0 += (6)

sendo V o potencial medido (em volts), V0 o potencial característico para o sistema

eletrodo externo/membrana, R a constante dos gases ideais, T a temperatura absoluta

, n o número de elétrons envolvidos na reação, F a constante de Faraday e [i] é a

concentração molar de espécies iônicas livres não-complexadas.

25

Percebe-se na equação (6) que o sinal obtido estabelece uma relação

logarítmica entre o potencial desenvolvido no eletrodo e a concentração de íons em

solução diretamente relacionada com a reação enzimática.

O sinal obtido por biossensores potenciométricos, portanto, é baseado na

equação de Nernst, a qual dá uma dependência logarítmica do potencial com a

concentração do analito (o que é aceitável quando mudanças na concentração sejam

de várias ordens de magnitude). Em fluidos fisiológicos, no entanto, as mudanças na

concentração de glicose não mudam mais que uma ordem de magnitude, fazendo

com que este tipo de biossensor tenha uma baixa sensibilidade.

Aliando-se técnicas de microeletrônica, é possível o desenvolvimento de

transistores de efeito de campo íon-seletivos (ISFET) 32 como princípio para o

desenvolvimento de biossensores (ENFET) 31 miniaturizados e como parte

componente de circuitos eletrônicos integrados. Uma técnica bastante comum é o uso

de transistores com porta extendida (EGFET) 33 que são mais baratos, possibilitando

o uso descartável de tais dispositivos. (A Figura 12 mostra as etapas na fabricação de

um ENFET).

Figura 12: Montagem de um ENFET. (A) Substrato de silício, (B) Dopagem e formação de

óxido, (C) deposição da membrana íon-seletiva e (D) imobilização da enzima e

membrana protetora.

d) c)

b) a)

Si Tipo-p Si Tipo-p

Si Tipo-n

Epoxi

Si Tipo-n Si Tipo-p

SiO2

Membrana íon-seletiva

Enzima Imobilizada Ref

Membrana Protetora Ref

Si Tipo-n

Membrana íon-seletiva

Si Tipo-nSi Tipo-p Si Tipo-p

(A)

(C) (D)

(B)

26

O ISFET consiste de uma membrana íon-seletiva revestindo a camada de

dióxido de silício acima do canal condutor de um transistor de efeito de campo

(FET). É usualmente fabricada num substrato de silício tipo p similarmente ao canal

n de um MOSFET. O potencial desenvolvido na membrana pela concentração de

íons na solução é, então, medido pela mudança de corrente através do canal. Com o

acréscimo de uma camada enzimática, elemento bioseletivo, tem-se um ENFET.

2.3.2 - Biossensores amperométricos

A possibilidade de se obter um sinal que seja proporcional à concentração do

analito torna-se muito tentadora. Tal feito pode ser obtido por meio dos biossensores

amperométricos sendo que, a linearidade da resposta do biossensor, faz com que o

mesmo seja facilmente recalibrado. Se oxigênio é suprido por uma membrana de

espessura d e área A, a corrente I pode ser aproximada pela Equação 7:

dpα.D.A.F.4I = (7)

sendo D o coeficiente de difusão, α e p a solubilidade e a pressão parcial de O2 na

membrana, respectivamente, e F ≅ 96500 C.

A amperometria é uma técnica que tira vantagem do fato de certas espécies

químicas oxidarem ou reduzirem (reações de oxiredução) em eletrodos de metal

inerte. Pela aplicação de um nível de tensão contínua adequada, a concentração de

substrato pode ser medida pela transferência de carga entre a superfície do eletrodo e

o substrato. Comumente os biossensores amperométricos se classificam em três

grupos, ou gerações, segundo o processo envolvido na transferência de carga, a

saber: primeira, segunda e terceira geração.

2.3.2.1 - Primeira geração: 34

Os biossensores amperométricos de primeira geração baseiam-se no

decréscimo na concentração de oxigênio ou aumento na concentração de peróxido de

hidrogênio (ver reação 5), dividindo-se, portanto, em biossensores baseados na

concentração de oxigênio (eletrodo pO2 de Clark) ou biossensores baseados na

concentração de peróxido de hidrogênio (eletrodo de H2O2).

27

Biossensores de glicose baseados na detecção de oxigênio: 19

Em 1962, o professor Liland Clark desenvolveu um sistema de dois eletrodos

(ver Figura 13) separados da solução da amostra por uma membrana gás permeável,

sendo o primeiro sensor enzimático para glicose (eletrodo de Clark). O oxigênio se

difunde através da membrana e é reduzido num eletrodo de platina catodicamente

polarizado (cerca de -700mV) contra um eletrodo de referência (Ag/AgCl):

O2 + 4H+ + 4e- → 2H2O (8)

Um eletrodo de trabalho (platina) é separado de um eletrodo de referência

(Ag/AgCl) por um material isolante e, ambos, imersos numa solução concentrada de

KCl. É mantida uma ddp constante entre os dois eletrodos por meio de polarização

catódica do eletrodo de trabalho. A solução, o catodo e o anodo são separados do

meio que contém o analito por uma membrana permeável ao oxigênio.

Considerando-se que a difusão através da membrana é o processo controlador da

passagem de oxigênio do analito para a superfície do catodo, a corrente resultante é

diretamente proporcional à concentração (pressão parcial) de oxigênio na amostra.

Como a platina é um agente catalisador da dissociação e redução covalente da

água, elétrons saltam do eletrodo de Pt, combinando-se com moléculas dissociadas

de O2 e íons de hidrogênio, formando água (Equação 8).

A taxa com a qual os elétrons saem do eletrodo é proporcional à concentração

de O2 disponível para capturá-los. A corrente flui do eletrodo de Ag para o eletrodo

de Pt quando os elétrons saltam deste para a solução. A retirada de elétrons do

eletrodo de prata produz íons de prata os quais estão em baixa concentração se

comparados com os íons cloreto, na solução. Esses íons de prata combinam-se com

os de cloreto, formando um acúmulo de cloreto de prata na superfície do eletrodo de

prata, deixando íons de potássio para trás, porém, como íons de hidrogênio são

retirados da solução pelo consumo de oxigênio, o sistema é eletrostaticamente

neutro.

4Ag+ + 4Cl- ↔ 4AgCl + 4e- (9)

E a reação global é dada por:

4Ag+ + 4Cl- + 4H+ + O2 ↔ 4AgCl + 2H2O (10)

Pt

28

Figura 13: Eletrodo de oxigênio de Clark. A) Eletrodo de trabalho Pt, B) eletrodo de referência

Ag/AgCl, C ) eletrólito semi-saturado de KCl, D) membrana de Teflon®, E) anel de

borracha para fixação, F) fonte de tensão para polarização e G) instrumento para

medição da corrente de saída.

O sinal é proporcional à concentração do analito quando o sistema ajusta-se a

uma cinética de primeira ordem para o substrato, ou seja, quando o oxigênio está em

excesso comparado ao substrato. No estado estacionário, a transferência de massa

está no processo limite, ou seja, as pressões parciais fora e dentro da membrana se

igualam. Como a reação (5):

GOx

29

também deve ser limitada pela difusão da glicose, usa-se uma membrana

semipermeável à glicose separando a camada enzimática do analito. Tais

biossensores são sensíveis a flutuações na pressão parcial de O2 e a estabilização da

temperatura é necessária. Flutuações na concentração de oxigênio podem afetar as

medidas, especialmente em altas concentrações do substrato.

Nos eletrodos de oxigênio o sinal de saída resulta da diferença entre o nível

de oxigênio no analito e o nível atingido como resultado da depleção de oxigênio

pela reação enzimática. Uma vez que estes eletrodos dependem da concentração de

oxigênio no analito, variações na pressão parcial de O2 devido à influência do

ambiente podem mascarar a resposta.

Uma aproximação para eliminar a influência do oxigênio tem sido a

utilização de membranas semipermeáveis para restringir a difusão do substrato para a

camada de enzima (como já dito), evitando, assim, sua saturação. Membranas de

policarboneto são comumente utilizadas, assim como membranas de poli(cloreto de

vinila), poliuretano e emulsões de silicone. Camadas hidrofóbicas de lipídeos e

silanos são utilizadas para possibilitar a biocompatibilidade de algumas superfícies

de membranas. Outra inovação 35 foi o uso de material rico em oxigênio como

eletrodo, servindo de reservatório para suportar a reação enzimática.

Biossensores de glicose baseados na detecção do peróxido de

hidrogênio:36

Biossensores baseados em eletrodo de peróxido de hidrogênio são os mais

comumente utilizados. O sinal é obtido pela oxidação do H2O2 num eletrodo de Pt

anodicamente polarizado (cerca de +700mV) contra um eletrodo de referência

(Ag/AgCl):

H2O2 → 2H+ + O2 + 2e- (11)

Uma dependência linear é alcançada quando a transferência de massa de

ambas as espécies eletroquimicamente ativas (H2O2 e glicose) estão no processo

limite, ou seja, as pressões parciais de H2O2 em ambos os lados da membrana se

igualam e a difusão de glicose é limitada pela membrana. Se a quantidade de H2O2

próxima ao eletrodo é limitada, a reação cessa quando todo H2O2 é consumido;

Pt

30

porém, se H2O2 é fornecido continuamente à superfície do eletrodo, uma corrente

contínua permanece. Recobrindo o eletrodo com uma membrana permeável ao H2O2,

então, a tensão de H2O2 do outro lado da membrana determina o suprimento de H2O2

para a superfície do eletrodo, e a tensão da membrana reflete a corrente no equilíbrio.

A detecção de peróxido de hidrogênio também pode se realizada pela redução

do mesmo em eletrodo de platina segundo a Equação 12:

H2O2 + 2H+ + 2e- → 2H2O (12)

Garburzev 37 et al. apresentaram um novo modelo para a fabricação de

biossensores amperométricos cujo transdutor é capaz de detectar o peróxido de

hidrogênio (H2O2) em potenciais anódicos ou catódicos, fazendo uso da enzima

peroxidase (Horseradish peroxidase-HRP). O eletrodo de H2O2 bifuncional foi

possível com uso de glicose oxidase, para catálise da glicose, e HRP para a redução

direta de H2O2.

Outras espécies presentes no fluido, que não a glicose, podem sofrer oxidação

mascarando o sinal. Este problema é resolvido com uso de membranas

semipermeáveis com propriedades de transporte específicas. A HRP (outra enzima

da classe das oxiredutases) tem sido usada conjuntamente com a GOD para abaixar

ou anular o potencial aplicado. 38 Ao contrário da maioria das moléculas biológicas, a

peroxidase é capaz de trocar cargas diretamente com eletrodos de pasta de carbono

quando dispersas nos mesmos. 39

Para os biossensores baseados em H2O2 a dependência do sinal com a

concentração de oxigênio ainda é um problema, pois a produção de H2O2 pela reação

enzimática requer o consumo de O2, que pode variar de meio para meio. Membranas

com propriedades hidrofóbicas restringem o fluxo de glicose, permitindo um excesso

de oxigênio e menor dependência do sinal amperométrico com o meio.

A baixa solubilidade de O2 em solução aquosa, a dificuldade associada com o

controle da pressão parcial de produtos gasosos e o alto potencial aplicado, levaram

ao desenvolvimento de biossensores amperométricos de segunda geração.

Pt

31

2.3.2.2 - Segunda geração:

Os eletrodos de segunda geração utilizam um mediador na transferência de

carga entre o grupo prostético da enzima e a superfície do eletrodo. 40 Tais

mediadores podem ser orgânicos ou inorgânicos. Mediadores são geralmente

moléculas de baixo peso molecular, as quais podem reagir com o centro ativo da

enzima ou com um produto da reação enzimática e as formas, oxidada ou reduzida,

do mediador sofrem rápidas reações eletroquímicas redox a potenciais mais baixos

que aqueles dependentes da concentração de O2. Ferroceno e seus derivados são os

mediadores mais comumente utilizados por possuírem baixos potenciais redox que

são geralmente independentes do pH. O principal problema do uso do ferroceno é a

sua estabilidade um tanto pobre, em sua forma catiônica, especialmente em meio

aquoso: os mediadores solúveis constantemente se desprendem da biocamada

enzimática (o que restringe seu uso in vivo, por serem tóxicos). Nestes biossensores,

têm-se as seguintes reações:

β-D-glicose +GOx(FAD++) → gluconolactona + GOx(FADH2) (13)

FADH2 + 2Med(ox) → FAD++ + 2Med(red) + 2H+ (14)

2Med(red) → 2Med(ox) + 2e- (15)

sendo Med(ox) e Med(red) as formas oxidadas e reduzidas, respectivamente, dos

mediadores e a Reação 15 ocorre entre o mediador e o eletrodo. Na forma reduzida o

mediador é insolúvel em meio aquoso e, então, pode ser adsorvido na superfície do

eletrodo; quando oxida, sob operação, torna-se mais solúvel o que possibilita o seu

movimento, por difusão, do eletrodo até o sítio ativo da enzima, reagindo com a

forma reduzida da mesma.

No caso do uso de mediadores, estes devem reagir rapidamente com a enzima

reduzida, devem ser preferencialmente não tóxicos e quimicamente estáveis (em

ambas as formas reduzida e oxidada), e devem possuir um baixo potencial redox.

Recentemente tem crescido o interesse pelos mediadores baseados em

polímeros oxiredutores: poliferroceno 40, tetratiofuvaleno 41, polímeros contendo

ósmio, rutênio ou paládio. Neste caso, elétrons podem ser trocados entre a enzima e

32

um íon metálico de transição ligado a um polímero condutor o qual “conecta” este

íon à superfície do eletrodo. A vantagem de polímeros condutores é um alto grau de

contato entre enzima e o polímero, isto permite uma cinética rápida de transferência

de elétrons, e maior regeneração da enzima, aumentando a taxa de conversão do

substrato.

Um método elegante foi proposto por Ohara 42 et al.: uma rota não difusional

para a comunicação elétrica entre a enzima oxiredutase e o eletrodo pode ser

estabelecida pela conexão da enzima à superfície do eletrodo por meio de uma cadeia

polimérica flexível rica em ósmio.

Willner 43 et al., 1996, propuseram a remoção da coenzima para o

posicionamento de uma unidade elétron-mediadora, ferroceno, e posterior

reconstrução da enzima.

O uso de mediadores se tornou uma técnica favorita na fabricação de

biossensores de glicose comerciais para uso próprio, pois possibilita biossensores

mais baratos e cujo sinal torna-se independente da concentração de oxigênio.

Também possibilita o uso de outras enzimas oxiredutases para biossensoriamento,

incluindo peroxidases e desidrogenases, as quais não se utilizam do O2 como

substrato para troca eletrônica.

Até o momento, os biossensores apresentaram um tempo de resposta um tanto

quanto longo devido a limitações quanto ao transporte de massa por difusão dos

elementos responsáveis pela troca eletrônica com o eletrodo. Também é digno de

nota o fato de os sistemas aqui descritos operarem com mediadores solúveis de baixo

peso molecular que podem ser lixiviados do eletrodo.

As técnicas descritas acima abriram caminho à terceira geração de

biossensores, baseada na troca eletrônica direta entre a enzima e o eletrodo.

2.3.2.3 - Terceira geração:

Biossensores de terceira geração foram marcados pelo progresso do uso de

mediadores de elétrons em um sistema onde enzima e mediador são co-imobilizados

na superfície do eletrodo, fazendo do componente bioativo uma parte integrante do

transdutor. Isso é possível pela imobilização da enzima em polímeros oxiredutores

33

ou, enzima e mediador, imobilizados num polímero condutor. Nestes tipos de

biossensores admite-se uma transferência direta de elétrons entre a enzima e a

superfície do eletrodo. 44-45

Uma transferência de elétrons mais eficiente pela diminuição ou remoção da

camada protéica ao redor do sítio ativo da enzima, sem perda de seletividade, tem

despertado o interesse de grupos de pesquisa em química biomimética de enzimas

artificiais. 46,47 Desta forma o custo na obtenção de enzimas poderia ser barateado

pela síntese de enzimas artificiais que substituem a estrutura altamente complexa das

enzimas naturais por estruturas mais simples capazes de simular reações catalíticas

enzimáticas. No entanto, muitas pesquisas ainda devem ser feitas afim de que se

obtenha biossensores comerciais que se utilizem desta técnica.

As três gerações de biossensores estão sumarizadas na Figura 14, onde

também é mostrado como se dá a troca de cargas entre a enzima e o eletrodo:

Figura 14: Três gerações de biossensores amperométricos baseados em oxidases. (A) primeira

geração, (B) segunda geração e (C) terceira geração. S – Substrato, P – Produto.

(A)

(B)

(C)

≡GOx

Ferroceno

34

2.4 – Biossensores comerciais

A maioria dos biossensores utilizados para a análise de glicose ainda se

baseia no uso de mediadores, com limites de leitura de cerca de 10 a 600 mg.dL-1.

Esses biossensores são vendidos em lotes (25 ou 50 biossensores, para o caso da

Accu-Chek) separadamente do dispositivo eletrônico para análise. Os preços no

mercado local, para a Accu-Chek (o mais comum), variam de R$ 75 a R$ 140,

dependendo da quantidade de fitas no lote e do local de compra. A seguir é dada a

composição do reagente para os biossensores comerciais Accu-Chek/Advantage (de

acordo com a bula):

Ferrocianeto de potássio 43,7 %

Glicose desidrogenase 1,2 %

Solução tampão 24,7 %

Estabilizante 19,4 %

Ingredientes não-reativos 11,0 %

Uma relação parcial de alguns biossensores de última geração, regularmente

disponíveis no mercado brasileiro, pode ser visto pela Tabela 5. E uma comparação

entre alguns monitores de glicose no sangue podem ser vistos na Tabela 6. É

perceptível o elevado custo desses biossensores em relação à média salarial das

baixas classes sociais já que, segundo dados estatísticos do IBGE (2004), 53,8 % da

população brasileira possui rendimento médio mensal de até 2 salários mínimos

sendo que 40 % da população mais pobre ocupada recebe R$ 185,27, em média.

Modelo Tempo de Leitura Faixa de Leitura Accutrend GC Glicose: 12 seg

Colesterol: 180 seg 20 a 600 mg.dL-1 150 a 300 mg.dL-1

Accutrend GCT

Glicose: 12 seg Colesterol: 180 seg

Triglicérides: 174 seg

20 a 600 mg.dL-1 150 a 300 mg.dL-1 70 a 600 mg.dL-1

Advantage 26 seg 10 a 600 mg.dL-1 Elite 30 seg 10 a 600 mg.dL-1

Glucotrend 15 seg 10 a 600 mg.dL-1 Precision 20 seg 20 a 600 mg.dL-1

Tabela 5: Biossensores para a leitura da glicemia. 48

35

LR = Refletância de Luz EC = Eletroquímico (biossensor)

* Hct = hematócitos ** Tira padrão requer 9 uL amostra

$=30.00-40.0,0 $$=40.00-65.00, $$$=65.00-80.00, $$$$=90.00-120.00, $$$$$=200.00-300.00

Accu-Check

Advantage

Accu-Check

Complete

Accu-Check Active

Accu-Check Compact

Exac-Tech RSG FreeStyle SofTact

Fabricante Roche/ Boehringer

Roche/ Boerhinger

Roche/ Boerhinger

Roche/ Boerhinger Medisense TheraSense Medisense

Método EC EC RL RL EC EC EC

Referência Sangue total

Sangue total Plasma Plasma Sangue

total Plasma Plasma

Amostra (min) 4 uL ** 4 uL ** 1 uL 3.5 uL 10 uL 0.3 uL <3 uL

Calibração Chip Chip Código Automático Sem Botão Tira

Tempo de teste até 40 seg. até 40 seg. 5 seg. 15 seg. 30 seg. 15 seg. 20 seg.

Quant. de testes 10-600 10-600 10-600 10-600 40-450 20-500 35-450

Bateria 2 alcalinas AAA

2 alcalinas AAA 2 CR 2032 2 AAA Não-

substituível2 alcalinas

AAA 9 volt

Faixa de Hct.* 25-55% 25-55% 30-57% 30-57% 35-55% até 60% 30-60%

Faixa de Preço (US$) $$ $$$$ $ $$$ $ $$$ $$$$$

Glucometer DEX

Glucometer Eliite XL

One Touch Basic

One Touch Fast Take

One Touch Profile

One touch Ultra

Precision QID

Fabricante Bayer Bayer LifeScan LifeScan LifeScan LifeScan Medisense

Método EC EC RL EC RL EC EC

Referência Plasma Plasma Sangue total Plasma Sangue

total Plasma Plasma+N30

Amostra (min) 3-4 uL 2 uL 10 uL 1.5 uL 10 uL 1.0 ul 3.5 uL

Calibração Automática Fita Botão Botão Botão Botão Fita

Tempo de teste 30 seg. 30 seg. 45 seg. 15 seg. 45 seg. 5 seg. 20 seg.

Quant. de testes 10-600 20-600 20-600 20-600 20-600 20-600 20-600

Bateria 3 V de lítio 3 V de lítio 2 alcalinas AAA

1.5 V óxido de prata

2 alcalinas AAA

3.0 V de lítio

Não-substituível

Faixa de Hct. 20-60% 20-60% 25-60% 30-55% 25-60% 30-55% 30-60%

Faixa de Preço $$$ $$ $$ $$$ $$$$ $$$ $$$

Tabela 6: Quadro de comparação de monitores de glicose no sangue. 49

36

2.5 – Conclusão

O desenvolvimento de biossensores para a monitoração de glicose no sangue

contribuiu significativamente para o sistema de auto-avaliação, importante para o

diabético.

Em pouco mais de 40 anos um avanço considerável foi atingido no projeto de

biossensores. Assim, de biossensores de primeira geração onde a interface enzima-

eletrodo era relativamente complexa, dada a necessidade de um eletrodo extra para se

monitorar a variação do oxigênio do meio, evoluiu-se para o biossensor de terceira

geração onde a transferência de elétrons é feita diretamente da enzima para o

eletrodo, sem a necessidade de mediadores.

Entretanto, tais estudos são muito recentes não havendo ainda dados

publicados com relação à aplicação em escala comercial.

No Brasil, os biossensores potenciométricos foram extensivamente estudados

pelo professor Graciliano de Oliveira Neto (introdutor do conceito de biossensores

no Brasil) a partir da década de 70, sendo os biossensores amperométricos ainda

pouco estudados em nosso país.

37

Capítulo 3 – Oxiredutases utilizadas na monitoração da glicose

3.1 – As enzimas

A reação inicial para a conversão do analito em um composto detectável

ocorre com a enzima imobilizada sobre o eletrodo. As enzimas são biocatalizadores

que apresentam alta seletividade; observada especialmente para a glicose oxidase

(GOx), utilizada no presente trabalho, a qual catalisa somente a conversão de D-

glicose em gluconolactona.

A Tabela 7 mostra a seletividade da GOx para alguns substratos, incluindo a

glicose.

Tabela 7: Seletividade da GOx dados alguns substratos.

Substrato Atividade Relativa (%)

D-glicose 100

Galactose 3,10

Frutose 0,24

L-glicose 0,00

Ribose 0,00

O primeiro reconhecimento da atividade enzimática ocorreu em estudos feitos

entre 1780 e 1825 sobre a digestão no estômago. Louis Pasteur, em 1860, postulou

que a fermentação do açúcar a álcool pela levedura é catalisada por “fermentos” ou

enzimas. Em 1936, J. B. Sumner isolou a urease em forma cristalina e sugeriu que

tais cristais seriam proteínas. Esta opinião não foi totalmente aceita até a década de

30, quando J. Northrop isolou as enzimas digestivas pepsina, tripsina e

quimotripsina. 50

Portanto, as enzimas são catalisadores naturais e como todos os catalisadores,

elas aumentam a taxa em que as reações atingem o equilíbrio pela queda da energia

38

de ativação. Por energia de ativação entende-se a energia (térmica, elétrica ou

radiação) necessária para que duas determinadas moléculas colidam e se produza

uma reação química entre elas. Além da sua função catalítica, as enzimas se

caracterizam por uma alta especificidade, ou seja, são capazes de, numa amostra com

várias substâncias, reconhecer e se ligar à substância com a qual reagem. Geralmente

as enzimas são nomeadas adicionando-se a terminação “ase” a um nome relativo à

substância com a qual atuam.

Enzimas, como todas as proteínas, constituem-se de cadeias de aminoácidos

que se ligam através de reações de grupos amina com carboxilas, liberando

moléculas de água (ligação peptídica), formando estruturas específicas

tridimensionais. Algumas enzimas são constituídas apenas de uma ou mais cadeias

polipeptídicas formando estruturas tridimensionais complexas, porém, outras

apresentam também algum outro componente químico necessário à sua atividade, ou

que a acentuam, podendo ser um íon inorgânico chamado cofator (p. ex. Mg2+, Ca2+)

ou uma molécula orgânica complexa chamada coenzima (p. ex. NADH, FAD,

hemo). Quando o cofator, ou a coenzima, está firmemente ou covalentemente ligado

à parte protéica da enzima, é chamado de grupo prostético. A enzima completa,

juntamente com seu grupo prostético, é chamada de holoenzima e a parte prostética,

apoenzima. A Figura 15 mostra a estrutura da flavina adenina dinucleotídeo (FAD),

uma coenzima de enzimas oxiredutases que atua como agente oxidante biológico

(presente na GOx).

A parte da enzima onde se "encaixa" o substrato é denominada sítio ativo, e é

a responsável pela especificidade da enzima. Quanto à estrutura, pode-se classificar:

estrutura primária, definida como o modo em que as seqüências dos resíduos de

aminoácidos interligam-se para formar a cadeia polipeptídica; secundária,

relacionada com as distorções angulares da cadeia protéica; terciária, que surge

quando as cadeias se dobram podendo enovelar-se (enzimas globulares) e estrutura

quaternária, quando há mais de uma subunidade com estrutura terciária interagindo

entre si formando complexos tridimensionais (Figura 16).

39

Figura 15: Estrutura química e redução do agente oxidante biológico FAD. FMN: Flavina

mononucleotídeo.

Figura 16: Classificação das estrutura enzimáticas: resíduos de aminoácidos - estrutura primária

(A), α-hélice - estrutura secundária (B), cadeia polipeptídica – estrutura terciária (C) e

subunidades agrupadas – estrutura quaternária (D).

As reações catalíticas podem ser seletivas para um substrato ou um grupo de

substratos. Também são estereoespecíficas e estereoseletivas. Estas características

Riboflavina

FADH2

Isoaloxazina

Flavina adenina dinucleotídeo (FAD)

FMN

(A) (B) (C) (D)

40

resultaram em uso freqüente de enzimas para aplicações analíticas no laboratório

clínico.

As enzimas são classificadas de acordo com a recomendação de uma

Comissão de Nomenclatura nomeada pela União Internacional de Bioquímica

(1984). Tal comissão designou a cada enzima um nome recomendado e um número

de 4 dígitos. O número EC (Enzyme Commission) divide as enzimas em 6 grupos

principais de acordo com o tipo de reação catalisada. A Tabela 8 a seguir mostra

como se dá esta classificação. 51

Tabela 8: Classificação das enzimas segundo a comissão de enzimas. 51

1. Oxiredutases (reações de oxiredução ou transferência de elétrons – Desidrogenases e Oxidases) 1.1.atuando em CH-OH

1.2.atuando em C=O 1.3.atuando em C=O- 1.4.atuando em CH-NH2 1.5.atuando em CH-NH- 1.6.atuando em NADH, NADPH

2. Transferases (transferem grupos funcionais como amina, fosfato, acil, carboxil – Quinasese Transaminases)

2.1.grupos com um carbono 2.2.grupos aldeído ou cetona 2.3.grupos acil 2.4.grupos glicosil 2.7.grupos fosfatos 2.8.grupos contendo enxofre

3. Hidrolases (reações de hidrólise de ligação covalente - Peptidases) 3.1.ésteres 3.2.ligações glicosídicas 3.4.ligações peptídicas 3.5.outras ligações C-N 3.6.anidridos ácidos

4. Liases (catalisam a quebra de ligações covalentes e a remoção de moléculas de água, amônia e gás carbônico – Dehidratases e Descarboxilases)

4.1. =C=C= 4.2. =C=O 4.3. =C=N-

5. Isomerases (reações de interconversão entre isômeros óticos ou geométricos - Epimerases) 5.1.racemases

6. Ligases (catalisam reações de formação de novas moléculas a partir da ligação entre duas pré-existentes, sempre às custas de energia - Sintetases)

6.1. C-O 6.2. C-S 6.3. C-N 6.4. C-C

41

3.2 - Enzimas oxiredutases e a glicose oxidase (GOx)

As oxiredutases são responsáveis por catalisarem reações de troca de cargas

ou de oxiredução, ou seja, os grupos prostéticos são como armadilhas temporárias de

elétrons ou vacâncias. Segundo a EC, pertencem à classe 1 e são divididas em seis

subclasses segundo o grupo funcional em que atuam (como já mostrado). Os grupos

prostéticos podem estar na superfície ou internamente à estrutura protéica. No último

caso, não há uma boa transferência de carga para o eletrodo.

De acordo com a teoria de Marcus 52, usada para explicar a taxa de reação

eletroquímica, a transferência de elétrons decai exponencialmente com a distância;

ou seja, a constante cinética da transferência eletrônica entre um par doador-

aceitador é dada pela Equação 16, onde ∆Go e λ correspondem à energia livre e

energia de reorganização que acompanham a transferência eletrônica, e do e d são a

distância de Van der Waals e atual distância separando os centros doador e aceitador,

R é a constante dos gases e T, a temperatura absoluta.

]4

)([)]([2

λλ

β RTG

ddet

o

o eeK+∆−

−−∝

Portanto, a transferência eletrônica de um sítio ativo próximo ao centro de

uma proteína para um eletrodo é desfavorecida devido a uma barreira cinética

causada pela camada protéica que envolve a enzima. Neste caso, para aplicações em

biossensores amperométricos a dificuldade de se transferir elétrons torna-se um

grande problema. Mediadores capazes de acessarem os sítios são freqüentemente

utilizados, como já exposto. Uma outra técnica seria a síntese de compostos

biomiméticos que substituísse a enzima, conservando a apoenzima. 47

A glicose 1-oxidase (β-D-glicose: oxigênio-1-redutase, EC 1.1.3.4) foi

descoberta por Muller em 1928, e é a enzima mais utilizada em biossensores de

glicose devido a sua alta especificidade, alta estabilidade, e baixo custo de obtenção. 53 Trata-se de uma enzima globular dimérica e pode ser isolada de inúmeras fontes,

como: algas vermelhas, frutas cítricas, insetos, bactérias e mofos. Sua holoenzima

contém duas moléculas de coenzima flavina adenina dinucleotídio (FAD)

intimamente ligadas à estrutura protéica, porém não formando ligação covalente com

a apoenzima e podendo ser facilmente removida, sem desnaturar a enzima. 54 A

(16)

42

Figura 17 mostra a estrutura molecular, modelo de fitas, da glicose oxidase e seu

sítio ativo.

A classificação EC 1.1.3.4 para a glicose oxidase refere-se, portanto, à classe

das oxiredutases que atuam nos grupo de doadores CH-OH (1.1) com oxigênio como

aceitador (1.1.3) para oxidação da glicose (1.1.3.4).

A molécula monomérica da GOx possui um formato esférico com dimensões

aproximadas de 60 Å x 52 Å x 37 Å e correspondentes dimensões do dímero de 70 Å

x 55 Å x 80 Å. O coeficiente de difusão da holoenzima em NaCl (0,1 M) é 4,94x10-7

cm2.s-1. 54

Figura 17: Modelo de fitas para a GOx. (A) Topologia geral da holoenzima (B) Subunidade

mostrando a FAD no sítio ativo da enzima (seta).

Outra enzima, citada neste trabalho, pode ser utilizada juntamente com a GOx

no projeto de biossensores de glicose, quando se deseja uma troca eletrônica direta

com o eletrodo (seção 2.3.2.3). Trata-se da peroxidase (HRP), uma oxiredutase capaz

de catalisar a redução do H2O2 produzido pela oxidação da glicose pela GOx:

H2O2 + 2H+ → 2H2O

A estrutura segundo o modelo de fitas para a HRP é mostrada na Figura 18.

(A) (B)

HRP

43

Figura 18: Modelo de fitas para a HRP (EC 1.11.1.7).

3.3 - Cinética enzimática

A teoria da cinética enzimática para sistemas com um único substrato foi

desenvolvida por Michelis e Menten. 49

Uma reação entre a enzima (E) e seu substrato (S) consiste ao menos da

seqüência: ligação da molécula de substrato à enzima resultando no complexo

enzima substrato (ES), reação com o centro ativo (ES → EP), liberação dos produtos

(EP → P) e reativação da enzima pelo co-substrato (p.ex. GOx(red) + O2 → GOx(ox) +

H2O2). A seqüência de toda a reação pode ser escrita como:

S + E ES → P + S (17)

sendo k a constante cinética de reação.

A formação do complexo ES é reversível, enquanto a reação do produto com

a enzima dando ES é praticamente impossível devido à baixa afinidade de ligação

entre a enzima e o produto.

A velocidade de consumo de substrato, ou formação de produto, diminui com

o tempo devido à diminuição da concentração de substrato no decorrer da reação

enzimática.

K1 ← →

K2K-1

44

Para a Equação (17) têm-se as velocidades de reação para o consumo de

substrato e formação de produtos dados por:

Então:

]ES[k]ES[k]E][S[k]ES[211 −−= −dt

d

Considerando-se um estado estacionário, no qual a taxa de formação do

complexo ES é igual à taxa de dissociação, onde a concentração ES permanece

constante:

0]ES[=

dtd

Logo:

]ES)[kk(]S][E[k 211 += − (20)

A concentração total de enzima, [E]t, é a soma de suas formas livre e

combinada:

]ES[]E[]E[ t +=

Pelo princípio da conservação da massa:

]ES[]E[]E[ t −= (21)

Substituindo (21) em (20):

0]ES[k]ES[k]S])[ES[]E([k 21t1 =+=− −

)kk]S[k](ES[]S[]E[k 211t1 ++= −

Resultando na Equação 22:

]E][S[k]ES[k]S[v 11 −== −dtd

(18)

]ES[k]P[v 2==dt

d (19)

45

211

t1kk]S[k

]S[]E[k]ES[++

=−

(22)

Substituindo em (19):

]ES[kv 2=

Tem-se:

211

t12 kk]S[k

]S[]E[kkv

++=

− (23)

sendo [E]t a quantidade total de enzima.

Se toda a enzima livre estiver saturada pelo substrato, isto é [S]o >> [E]t,

então a velocidade da reação é máxima. Esta máxima velocidade de reação, Vmax, é

dada pela concentração total da enzima e pela constante cinética de dissociação do

complexo ES como:

t2max ]E[kV =

Desta forma:

1

21max

211

max1

kkk

]S[

]S[Vv

][]S[Vk

v

++

=

++=

− kkSk

Define-se a constante de Michaelis-Menten, Km, como:

1

21m k

kkK

+= −

Finalmente:

]S[K]S[V

vm

max+

= (24)

E:

ES de AssociaçãoES de oDissociaçãK m = (25)

que é o inverso da afinidade da enzima pelo substrato.

46

A velocidade máxima depende apenas da constante de velocidade k2

(supondo que a parte mais lenta da reação catalítica é a que domina toda a reação) e

da quantidade de enzima existente na reação no tempo t. Independe, portanto, da

concentração de substrato [S].

Para km << [S]:

maxVv =

Da Equação (24):

v)vV](S[K

)vV](S[vK]S[V]S[vvK

maxm

maxm

maxm

−=

−==+

Então, ]S[Km = quando 2V

v1v

)vV( maxmax =⇒=−

A dependência da taxa de reação da concentração de um substrato para uma

concentração constante de enzima é mostrado na Figura 19.

Figura 19: Efeito da concentração de substrato na cinética enzimática.

Vmax/2

Vmax

Km [S]

v

47

Postulando que a enzima se combina reversivelmente com o substrato,

formando um complexo enzima-substrato numa reação rápida e que ES é

decomposto de forma mais lenta, para regenerar a enzima e formar produtos P, a

Equação 18 é a que delimitará a velocidade da reação, sendo que a velocidade Vmax é

alcançada quando E tender a zero, existindo somente ES. Então o equilíbrio da

reação (17) se desloca para a direita se a concentração de S aumenta; e se aumentar

muito, essencialmente todo E estará na forma ES, ou seja, quando ES é decomposto

para formar P e regenerar a enzima, a alta concentração de S faz com que E se

combine rapidamente, obtendo-se um estado fixo em que a enzima está sempre

saturada com seu substrato e a velocidade é máxima.

A constante de Michaelis, Km, é então definida como a concentração do

substrato em que, a uma dada concentração de uma enzima, produz a metade de sua

velocidade máxima.

A forma característica da curva substrato-saturação para uma dada enzima

pode ser matematicamente expressa pela equação de Michaelis-Menten:

Se Km e Vmax são conhecidos, pode-se calcular a velocidade da reação a

qualquer concentração de substrato.

Km e Vmax são obtidos experimentalmente pelo gráfico de Lineweaver-Burk

(Figura 20), que é uma linearização da equação de Michaelis-Menten, ou seja:

maxmaxm

V1

][1.

VK

v1

+=S (26)

48

Figura 20: Linearização da equação de Michaelis-Menten por Lineweaver-Burk – Equação (26).

A velocidade da reação enzimática pode ser reduzida pela desnaturação da

enzima, que consiste, para as enzimas globulares, no desenovelamento da cadeia

polipeptídica, causando sua perda de atividade. A desnaturação protéica é um

fenômeno que pode ser atribuído a variações no pH e na temperatura do meio (ou a

outros fatores). A desnaturação de uma enzima é mostrada na Figura 21, sendo que

muitos processos de desnaturação protéica são reversíveis.

Figura 21: Enzima na sua forma nativa (A), desnaturação protéica (B) e renaturação (C).

No projeto de biossensores, é importante encontrar um método adequado de

imobilização para que se tenha alta atividade enzimática e melhor estabilidade,

evitando o processo de desnaturação.

(A) (C) (B)

1/Vmax tgα =Km/Vmax -1/Km

1/[S]

1/v

49

3.4 - Técnicas de imobilização

Muitas enzimas solúveis são pouco estáveis e retêm sua atividade catalítica

por um breve período de tempo. Imobilizando-as em um estado próximo ao seu

ambiente natural resulta em enzimas mais estáveis e eficientes. 55

A imobilização de enzimas é um processo pelo qual se restringe, completa ou

parcialmente, os graus de liberdade de movimento das enzimas por sua união a um

suporte insolúvel. Espera-se, com isto, um contato íntimo entre a enzima e o eletrodo

mantendo, ou aumentando, sua atividade catalítica, maior estabilidade e menor

interferência de compostos indesejáveis. Em 1916, Nelson e Griffing 55, mostraram

que a invertase imobilizada por adsorção em carvão ativado conservava sua atividade

catalítica. Desde então, muito tem sido pesquisado em termos de novos suportes e

técnicas de imobilização.

Em geral, os métodos 56 para imobilização enzimática podem ser classificados

em retenção física, onde a enzima não sofre nenhuma alteração em sua estrutura

química, e ligação química, onde a enzima é quimicamente ligada ao suporte por

ligações covalentes.

3.4.1 - Métodos de imobilização de enzimas por retenção física

3.4.1.1 – Adsorção 57

As enzimas se unem ao suporte mediante ligações fracas como forças de Van

der Waals ou ligações de hidrogênio. Sobre o ponto de vista mecânico, são pouco

estáveis e a união ao suporte é fraca (podendo haver desorção devido à mudança de

temperatura, pH, pelo substrato, solvente ou convecção), porém, o método é o mais

simples e pode ser realizado em condições brandas de imobilização, preservando-se a

enzima (mudança conformacional mínima ou nula). Coloca-se uma gota da solução

aquosa contendo a enzima em contato com a superfície do suporte que, após seco,

estará pronto para uso.

3.4.1.2 - Retenção em membranas

A retenção de enzimas em membranas poliméricas foi a primeira técnica

descrita 19 para fabricação de biossensores, onde a enzima foi colocada sobre o

50

eletrodo e retida por uma membrana polimérica dialítica. Uma membrana adicional

semipermeável pode barrar elementos interferentes e possibilitar somente a passagem

dos produtos da reação enzimática.

3.4.1.3 - Microencapsulamento

Nesta técnica, as enzimas estão envolvidas por membranas semipermeáveis

que permitem a passagem de moléculas de substrato e produto, mas não da enzima;

são de forma esférica com tamanhos entre 1 a 100 µm de diâmetro. 56 A enzima e um

monômero hidrofílico são misturados em solução aquosa e adicionados em solvente

orgânico insolúvel em água. Com a adição de monômero hidrofóbico, se inicia a

reação de polimerização, levando à formação de microesferas. 58 Com este método

pode-se encapsular simultaneamente uma grande variedade de enzimas, o que faz

com que reações que se sucedem em múltiplas etapas possam ser levadas a cabo. Os

principais tipos de membranas utilizadas são: Teflon®, Nafion®, colágeno, acetato de

celulose e policarbonato.

3.4.1.4 – Eletropolimerização 59

No método da imobilização enzimática por eletropolimerização, um

monômero em solução contendo a enzima, ao se polimerizar pela ação de um

potencial elétrico, sofre deposição na superfície do eletrodo aprisionando

simultaneamente a enzima. O monômero é eletricamente oxidado em potencial que

facilita o crescimento de radicais livres do monômero e, este, é adsorvido pela

superfície do eletrodo onde uma série de reações ocorrem para a formação da matriz

polimérica.

O processo será regido pelo potencial do eletrodo e pelo tempo de reação, o

que permite o controle da espessura do filme resultante. Para algumas reações de

polimerização, devido a acidez do meio, este pode não ser o mais adequado, pois a

enzima pode sofrer desnaturação e ter sua atividade catalítica comprometida.

51

3.4.1.5 – Oclusão em matriz polimérica

Neste método, a enzima é retida dentro de uma rede polimérica

tridimensional insolúvel em água. A oclusão pode ser feita em gel 60 (a solução de

enzima é misturada a um monômero, que é então polimerizado a um gel, retendo a

enzima), em eletrodos de pasta de carbono 61 (a enzima pode ser misturada a uma

pasta consistindo de pó de grafite e um óleo e a pasta pode ser misturada a diferentes

componentes) e em polímeros (a enzima pode ser adicionada a um monômero, em

solução aquosa, e este ser quimicamente polimerizado junto com a enzima). A

enzima também pode ser imobilizada dentro de matrizes sólidas porosas. 62

3.4.2 - Métodos de imobilização de enzimas por ligação química 56

Pode-se imobilizar a enzima em um suporte, ou eletrodo, por meio de reações

químicas deste com grupos funcionais presentes na estrutura protéica, tais como

amino grupos, grupos carboxílicos, grupo imidazol da histidina e etc. Os métodos

químicos incluem ligação covalente e reticulação.

3.4.2.1 - Ligação covalente 63,64

Este método consiste no uso de grupos químicos do suporte, por meio da

ativação da matriz sólida, e conseqüente união com a enzima. Dos 20 aminoácidos

que compõem a estrutura enzimática, os mais empregados para ligarem-se ao suporte

são principalmente a lisina, cisteína, tirosina e histidina, e em menor grau, a

metionina, triptofano, arginina e os ácidos aspártico e glutâmico. O restante, devido

ao caráter hidrofóbico, não se encontram expostos na superfície protéica, e não

podem então intervir nas ligações. A ativação da matriz pode consistir em silanização

(Pt, vidro, quartzo), reação com carboimidas (amidas, nylon®, grafite), glutaraldeído

(aminas) e etc.

Para tal método, faz-se necessário conhecer a densidade de grupos funcionais

por unidade de superfície, já que este condiciona o número de uniões enzima-

substrato bem como prevê a posição da enzima na superfície do eletrodo. O processo

de imobilização pode alterar a estrutura do centro ativo inativando, total ou

parcialmente, a enzima.

52

3.4.2.2 - Ligações covalentes reticuladas

Reagentes bi ou multifuncionais, que podem originar uniões intermoleculares

entre as moléculas de enzima, são usados para reagirem com os aminogrupos livres

contidos na cadeia protéica, havendo a formação de uma rede polimérica devido a

formação de ligações covalentes cruzadas entre as moléculas de enzima e ou um

suporte com grupos funcionais. O agente mais aplicado para este fim tem sido o

glutaraldeído, por possuir baixa toxicidade e baixo custo comparado aos demais

reativos químicos. O resultado é um reticulado com ligações intermoleculares

irreversíveis capazes de resistir a condições extremas de pH e temperatura e a

solventes orgânicos (Figura 22). O reticulado possibilita à enzima resistir a

desnaturação por estar mais estável estericamente. A maior desvantagem é que

muitas enzimas são sensíveis ao acoplamento químico com glutaraldeído, podendo

perder sua atividade por desnaturação.

Figura 22: Acoplamento químico de uma molécula de glutaraldeído a duas enzimas.

A Figura 23 ilustra as técnicas físicas e químicas de imobilização de enzimas

em um suporte insolúvel.

E

E

E

E

53

Figura 23: Sumário das técnicas de Imobilização enzimática.

3.5 – Principais reações para o acoplamento químico de enzimas

Geralmente os suportes poliméricos insolúveis para o acoplamento químico

de enzimas contém grupos funcionais que após ativação podem imobilizar o

composto bioativo via um grupo funcional específico. Os principais grupos

funcionais de suportes poliméricos insolúveis utilizados no processo de imobilização

enzimática são: hidroxilas (-OH), carbonilas (C=O), carboxilas (CO(OH)) e aminas

primárias (NH2).

Os grupos funcionais podem ser ativados quimicamente para imobilização da

enzima via seu grupo NH2 funcional, mantendo a atividade enzimática em níveis

adequados para o desenvolvimento de biossensores.

Cada suporte contendo um grupo funcional requer uma ativação específica, a

saber (Figura 24):

Técnicas de imobilização

Eletropolimerização

Oclusão

Física

Microencapsulamento

Química

Ligação covalente

Adsorção

Retenção em membranas

Ligação covalente cruzada

Sobre o eletrodo

Sobre suporte inerte

= enzima

54

(A) Hidroxilas

Suportes contendo hidroxilas podem ser ativados pela reação com cloreto

cianúrico e este se ligar à enzima por meio da reação entre o seu grupo funcional

hidroxila e o grupo funcional amina da enzima.

(B) Carbonilas

Suportes ricos em grupos funcionais carbonílicos podem sofrer um processo

de silanização para posterior complexação com glutaraldeído possibilitando, assim,

reações com as aminas enzimáticas.

(C) Carboxilas

Suportes contendo carboxilas podem ser ativados com carbodiiminas e estas

servirem de complexo de ligação às enzimas.

(D) Aminas primárias

Os suportes que contém grupos funcionais amina podem ser ativados pelo

glutaraldeído que se liga às enzimas pela reação entre os grupos funcionais aminas

primárias e carbonilas.

55

Figura 24: Ligação covalente da enzima (com agrupamento amina) na superfície do eletrodo.

(A) complexação com cloreto cianúrico, (B) ligação covalente por silanização, (C)

complexação com carbodiimina e (D) glutaraldeído.

Cl

OH

OH O

OH

NH2

N

H

O

OH

(A)

O

O

+ NH2 Cl

Cl

Cl

Si NH2

Cl

Cl

Si

O

O

Glutaraldeído Ver (D) (B)

NH2

NH2

N

NH2

O

NH2

+NH2

+

(D)

NH2

O

OH R-N=C=N-R +

O

C

NR

NH

R

NH

O

(C)

+

+ +

OH

Cl E

E

E E

E

E

OH

56

3.6 – Conclusão

O desenvolvimento de processos para extração e a purificação de enzimas

contribuíram de modo decisivo para o projeto de biossensores clínicos. Enzimas são

biocatalizadores de elevada especificidade que catalisam reações químicas

praticamente à temperatura ambiente. Seu papel cinético é a redução da energia de

ativação sem, contudo, afetar a termodinâmica do sistema. Entretanto, o custo de

processos analíticos é relativamente elevado.

O custo dos processos enzimáticos pode ser viabilizado após sua imobilização

em suportes insolúveis adequados para o desenvolvimento de biossensores. Várias

técnicas de imobilização de enzimas foram desenvolvidas de forma a reter física ou

quimicamente a enzima por um grupo funcional periférico à molécula. O objetivo

principal é localizar a enzima na interface do eletrodo preservando ao mesmo tempo

a atividade biológica da enzima. A escolha do método de imobilização bem como

sua viabilidade dependerá essencialmente da macromolécula hospedeira do

biocatalizador.

57

Capítulos 4 – A heterojunção polímero-metal em biossensores

Nos biossensores a enzima está acoplada ao elemento transdutor através de

uma heterojunção do tipo polímero-metal. Neste sentido, a resposta do biossensor

depende do sinal elétrico resultante da reação bioquímica na interface da

heterojunção.

4.1 – Polímeros conjugados na medição do transporte de elétrons

Os polímeros têm sido extensivamente usados na fabricação de biossensores

devido às suas propriedades químicas e físicas. 53,65,66 Podem ser utilizados como

membrana permeável a gás, suporte mecânico, co-participante do mecanismo sensor

ou componente de imobilização do elemento bioseletivo.

Dentre os polímeros orgânicos, aqueles que apresentam capacidade de

condução elétrica vem despertando enorme interesse por aliarem características

conformacionais à sua capacidade de condução. Sua aplicação é das mais variadas

podendo ser, não só utilizados no biossensoriamento de moléculas de interesse

clínico, mas também na fabricação de capacitores eletrolíticos, proteção à corrosão,

baterias recarregáveis flexíveis e diodos emissores de luz orgânicos (OLEDs). A

condução em tais materiais foi primeiramente possível pela adição de cargas (negro

de fumo, fibras metálicas ou de carbono) a uma matriz polimérica: os chamados

polímeros extrínsecos.

Na década de 70, foram desenvolvidos polímeros que apresentam

condutividade elétrica sem a necessidade de adição dessas cargas: os polímeros

intrinsecamente condutores ou polímeros conjugados (PCs). Sua descoberta se deu

de maneira acidental quando, em 1976, um aluno do Instituto Tecnológico de

Tóquio, sob a orientação do professor Shirakawa, que tentava sintetizar poliacetileno

(um pó preto), obteve um filme lustroso prateado (ele havia utilizado uma

concentração 1000 vezes maior de catalisador que a concentração ideal). 67 Em 1977,

Shirakawa, McDiarmid e Heeger (ganhadores do Prêmio Nobel em química de 2000)

verificaram que a oxidação do filme de poliacetileno com Cl, Br ou I pode torná-lo

até 109 vezes mais condutivo. 68

58

Os polímeros conjugados possuem ligações simples e duplas que se alternam

ao longo da cadeia polimérica, contendo elétrons π , os quais podem se deslocar ao

longo da mesma. Portanto, a condução de cargas elétricas ao longo da estrutura

polimérica decorre da excitação eletrônica do sistema π conjugado. A Figura 25

mostra alguns exemplos de polímeros conjugados, já disponíveis comercialmente.

Figura 25: Estrutura química de alguns polímeros conjugados.

Pode-se explicar a condução em polímeros conjugados analogamente aos

semicondutores inorgânicos, segundo o modelo de bandas: Num átomo isolado, os

estados quânticos são descritos por funções de onda cujo autovalor é discretizado. Na

matéria condensada, não se pode desprezar a interação entre os átomos, ou

moléculas, quando estes se agrupam produzindo um sistema quanticamente estável.

Num sólido cristalino, por exemplo, há uma degenerescência dos estados quânticos

de seus elementos quando estes se aproximam devido à sobreposição de suas funções

de onda. Então, para N elementos que compõem a rede, haverá N degenerações para

cada nível energético. Para um número de elementos da ordem do número de

Avogadro (6,02x1023), tais interações resultam em níveis de energia tão próximos

que podem ser considerados como bandas contínuas de energia (já que a diferença de

energia entre o menor e o maior nível de energia de desdobramento não depende

significativamente do número de átomos, mas da distância de separação entre eles).

E o desdobramento é mais significativo para os níveis de energia mais externos dos

átomos.

poliacetileno polianilina

polipirrol politiofeno

59

Nos carbonos que compõem a cadeia polimérica orgânica, três ou quatro

elétrons nas camadas mais externas ocupam estados hibridizados formados por um

estado s e dois estados p (hidridação sp2). Tais elétrons formam três ligações fortes σ

e uma ligação π; as ligações σ são bem localizadas e formam ligações estáveis, já as

ligações π são menos localizadas, apresentando uma ligação mais fraca, e as funções

de onda do elétron π, de cada átomo de carbono da cadeia, podem se sobrepor

formando uma banda de energia. Uma banda proibida surge com a interação destes

orbitais, que possuem a metade da banda preenchida, com os estados ocupados σ

presentes em cada par alternado de átomo de carbono, numa ligação conjugada. Esta

banda de energia se localiza no meio da banda eletrônica π entre estados ligantes

preenchidos (banda π) e estados antiligantes vazios (banda π*) 69, abaixando a

energia dos estados preenchidos. Sob dopagem, o mecanismo de condução do

polímero pode ser melhorado pelo aparecimento de estados energéticos localizados

na banda proibida devido a defeitos conformacionais induzidos associados à

formação de solitons, polarons e/ou bipolarons.

Os polímeros conjugados exibem instabilidade de Peierls 70 (as ligações C-C

são mais extendidas que as ligações C=C) devido às interações de alta anisotropia e

sofrem modificações geométricas substanciais devido às excitações eletrônicas,

resultando em vários processos de transferência de carga e elevado grau de

desordem, conduzindo a vários estados localizados na banda proibida.

Os n estados eletrônicos ocupados de maior energia (a 0 K) correspondem à

banda de valência (BV) e os n estados eletrônicos desocupados de mais baixa

energia, à banda de condução (BC). A diferença de energia entre as duas bandas é

chamada de zona proibida (band gap) e pode ser relacionada aos orbitais de fronteira

HOMO (Maior Orbital Molecular Ocupado) e LUMO (Menor Orbital Molecular

Desocupado).

Os polímeros conjugados podem ser obtidos por síntese química 71, em meio

básico ou ácido, com adição de um agente oxidante, ou por eletrodeposição segundo

os métodos galvanostáticos, potenciostáticos ou por voltametria cíclica. 72

60

4.2 - A polianilina

A polianilina (PANI) é o mais estudado dentre os polímeros conjugados por

ser quimicamente estável em condições ambientes, facilmente sintetizada, altamente

condutora, além de poder ser dopada por protonação, sem que ocorra alteração no

número de elétrons associados à cadeia polimérica. 72 Neste sentido, a polianilina é

facilmente convertida em seus vários estados de oxidação (o nitrogênio do tipo imina

destas espécies podem estar total ou parcialmente protonado). Estes estados de

oxidação diferem, um do outro, pelo número de anéis quinóides, os quais variam de

zero a dois na unidade elementar de quatro anéis, com os demais sendo anéis

benzenóides. A Figura 26 mostra os principais estados de oxidação da PANI. A

PANI existe na forma condutora, como sal de esmeraldina, pela protonação da base

de esmeraldina ou pela oxidação parcial da base de leucoesmeraldina.

Figura 26: Esquema mostrando a interconversão de PANI entre seus estados oxidativos

esmeraldina e leucoesmeraldina e a interconversão entre estados de sal e base (em

azul).

A PANI pode ser obtida via síntese química com o uso de agentes oxidantes

como K2Cr2O7, H2O2, Cr2O4 ou KClO3, em meio ácido (HCl, H2SO4, DBSA-ácido

dodecilbenzeno sulfônico). Na eletrodeposição, moléculas de anilina são oxidadas a

filme de PANI no anodo por uma corrente elétrica em meio ácido. Os elétrons são

retirados da cadeia polimérica durante a oxidação e contra-íons, provenientes da

Leucoesmeraldina - Amarelo

Base de esmeraldina - Azul

Pernigranilina - Púrpura

Sal de esmeraldina - Verde

61

dissolução ácida, na solução são inseridos para balancear a carga elétrica da cadeia.

A eletrodeposição é, portanto, uma reação interfacial.

A via de síntese química é vantajosa na produção em massa a baixo custo,

porém, métodos eletroquímicos oferecem materiais com melhores propriedades de

condução em forma de filmes finos (ou nanoestruturas) devido a dopagem do

polímero ser unicamente eletroquímica, sendo que, a quantidade de carga usada na

reação determina o seu grau de dopagem. 73

A miniaturização e produção em massa de eletrodos enzimáticos podem ser

levadas a cabo por deposição eletroquímica de camadas de polímeros condutores na

superfície do eletrodo, independentemente de seu tamanho e forma. Através da

funcionalização dos filmes poliméricos condutores, as superfícies podem ser

apropriadas para a imobilização de enzimas ou mediadores de elétrons.

A fórmula geral da polianilina é apresentada na Figura 27 onde y representa o

estado redox da PANI e x, o grau de polimerização.

Figura 27: Fórmula geral da PANI.

Por uma reação reversível de oxiredução, a estrutura da PANI pode variar do

estado totalmente oxidado (pernigranilina), y = 0, passar por um estado de semi-

oxidação (esmeraldina), y = 0,5, à forma totalmente reduzida (Leucoesmeraldina), y

= 1. Dessas, somente o sal de esmeraldina é condutora.

Com a protonação, a esmeraldina pode tornar-se eletricamente condutora,

como sal de esmeraldina, quando sua coloração muda de azul para verde.

A eletrodeposição da polianilina em eletrodos possui muitas vantagens sobre

os métodos tradicionais como revestimento por imersão (dip-coating), sendo essas

vantagens: controle sobre a espessura do filme, reprodutibilidade, completo

62

recobrimento da superfície ativa, além de promover um meio para a oclusão da

enzima e também de um mediador.

Os polímeros conjugados são facilmente eletrosintetizados em eletrodos

inertes tais como Pt, Au ou C, porém é muito mais dificultoso gerar tais polímeros

em eletrodos reativos, como o alumínio. Quando da anodização do eletrodo de Al há

a formação de óxido (Al2O3) que age como uma barreira, inibindo a transferência de

elétrons e o processo de polimerização. Tal barreira também protege o eletrodo de

sua dissolução. Há, portanto, um processo concorrente entre a formação de óxido e a

eletrodeposição. Eftekhari, em 2004, demonstrou que a eletropolimerização de PANI

em eletrodo de ferro passivado é mais rápida e fácil que os eletrodos convencionais

de Fe, e que biossensores preparados com esse método possuem maior estabilidade.59

A Figura 28 mostra o mecanismo de polimerização proposto por Park e Lee.73

O monômero, anilina, (1) é oxidado na superfície do eletrodo formando radical

cátion R+•, o qual é estabilizado por ressonância, (2) podendo sofrer reações de

dimerização (3). O dímero obtido sofre uma reação de oxidação a dois elétrons para

produzir diradical dicátion (5) cujas estruturas ressonantes são mostradas em (4), (6)

e (7). O produto da oxidação dicátion recebe uma molécula de anilina produzindo

uma cadeia uma unidade maior que a precursora, enquanto toma a forma

ligeiramente reduzida (8) ou (9). Esta forma reduzida pode ser re-oxidada a dicátion

no eletrodo e todo o processo se repete. Na verdade, a cadeia polimérica final

transporta uma carga positiva a cada 3 ou 4 unidades de anilina, a qual é contra-

balanceada por ânions advindos da solução.

63

Figura 28: Mecanismo proposto para a eletropolimerização da anilina. 73

4.3 – Mecanismos de transporte eletrônico na interface polímero-metal

Os estudos das heterojunções do tipo polímero-metal (HPM) levaram, nas

últimas duas décadas, a um avanço significativo da optoeletrônica uma vez que

propiciaram o projeto de dispositivos eletrocrômicos, transistores de efeito de campo

(FETs), supercapacitores, entre outros. As principais características físico-químicas

de tais materiais são a facilidade de processamento e o baixo custo.

A possibilidade de se obter HPMs com superfícies nanoprojetadas é atraente

uma vez que torna possível a obtenção de materiais cujas características elétricas

possam ser moduladas topologicamente.

Uma HPM particularmente interessante para o projeto de nanodispositivos

envolve a obtenção de interfaces do tipo polímero conjugado-metal. Tais sistemas

são particularmente interessantes para o projeto de biossensores amperométricos de

3ª geração, de grande utilidade em análises clínicas.

Quando se tem uma heterojunção do tipo semicondutor-metal geralmente é

suposto como teoria padrão a emissão termoiônica através da junção (modelo de

64

Schottky). A corrente aumenta exponencialmente ao se aplicar uma polarização

direta; em contraste, uma corrente muito pequena flui quando se aplica uma tensão

reversa. Nesse caso, tem-se o comportamento retificante de um diodo (diodo

Schottky). Como o metal não possui lacunas, não há armazenamento de cargas e nem

tempo de recuperação reverso (o diodo Schottky consegue interromper o circuito

mais rapidamente que um diodo comum) sendo muito utilizado em computadores

digitais de alta velocidade e diodos de retificação de sinais de alta freqüência (até a

ordem de GHz).

O comportamento tipo diodo Schottky, não próprio dos materiais

poliméricos, deve-se à interface semicondutor polianilina-metal (PANI-M). É fato

bem conhecido que os níveis de energia de Fermi (EF) são diferentes na interface

metal-polímero (Figura 29). 74 Uma vez que os elétrons são os únicos portadores de

carga, o equilíbrio doador-receptor somente é atingido quando os níveis EF no

semicondutor e no metal se alinham através de um fluxo de cargas do semicondutor

(tipo-n) para o metal. Uma camada de dipolos é então formada, conduzindo a uma

redução da banda de condução e a formação de uma barreira de Schottky que se opõe

a um fluxo eletrônico adicional. Este comportamento confere à heterojunção PANI-

M um caráter retificador.

Na Figura 29, são representados a afinidade eletrônica χ (energia requerida

para remover um elétron do fundo da BC até o vácuo), φ é a função trabalho

(energia requerida para remoção do elétron do nível de Fermi até o vácuo), Bnφ é a

barreira Schottky, Vbi é a barreira de potencial, W é o comprimento da região de

exaustão. Na prática, defeitos na superfície do metal (devido a formação de óxidos,

ligações químicas não orientadas e impurezas), podem levar ao aparecimento de

estados superficiais os quais tendem a reter o nível de Fermi. Os estados abaixo de

qφ0 (Figura 29) estão preenchidos, e os estados acima de qφ0 estão vazios. Para uma

grande densidade de estados na superfície a adição ou exaustão de elétrons para o

semicondutor não muda o nível de Fermi EFs na superfície). Desta maneira a altura

da barreira é então independente do metal utilizado.

A dependência da corrente (I) em função da tensão aplicada (V) pode ser

expressa por: 74

)1( / −= nkTqVS eII (27)

65

sendo IS a corrente de saturação, q a carga do elétron, k a constante de Boltzmann, T

a temperatura absoluta e n uma constante (para um diodo ideal n = 1).

Pela Equação 27, podemos avaliar o comportamento Schottky da

heterojunção através do valor calculado para n, obtido pela linearização da mesma

equação.

Uma outra maneira de se avaliar o comportamento de diodo é o valor dado

pela razão de retificação (RR) definido como:

)()(

VIRVIFRR−

=

sendo IF(V) a corrente de polarização direta lida na tensão V, IR(V) a corrente

reversa lida em –V, e V a maior polarização utilizada. Quanto maior o valor de RR

melhor será o diodo.

Além do modelo de Schottky, o comportamento retificante da heterojunção

metal-polímero pode ser descrito pelo modelo de emissão de campo, conhecido

como modelo de tunelamento de Fowler-Nordheim (FN). A injeção de cargas na

heterojunção é descrita pela teoria de emissão termoiônica dominante a baixas

tensões de polarização (tensões menores ou iguais à altura da banda proibida do

semicondutor); para altas tensões de polarização, o modelo de tunelamento FN é

proposto, referindo-se a um aumento na taxa de tunelamento através de uma barreira

de potencial na presença de um alto campo elétrico. A dependência da corrente com

o campo é expresso matematicamente por:

)/(2. EeEI Ψ−Α=

sendo A uma constante de proporcionalidade, E o campo elétrico e ψ é um

parâmetro que depende do formato da barreira.

(29)

(28)

66

Figura 29: Energia de Fermi para o sistema metal-semicondutor: níveis de energia para o metal

e um semicondutor separados (A), abaixamento dos níveis de energia devido à

diferença nos níveis de Fermi (EF) após contato e no equilíbrio térmico (B), a

presença de densidade de estados superficiais devido a imperfeições na superfície (C).

(A)

(C)

(B)

qφm ECs

EFm

EFs

Metal

EVs

Semicondutor

qφs

χs

EFs

qφBn

EFm

Semicondutor Metal

qφBn = Eg - qφ0

EFm EFs

qφ0

ECs

EVs

Semicondutor Metal

W

Vbi

67

4.4 – A estrutura dendrítica (aplicações no projeto de biossensores)

Macromoléculas com estrutura dendrítica são sistemas isomoleculares cuja

estrutura tridimensional tem atraído a atenção de muitos grupos de pesquisa com

relação ao projeto de biossensores para aplicações clínicas. A estrutura mimetizante

de proteínas globulares bem como sua elevada área superficial tornam os

dendrímeros sistemas macromoleculares atraentes para o projeto de biossensores

enzimáticos. Enzimas imobilizadas em superfícies dendriméricas posssuem um alto

grau de orientação em relação a matriz polimérica na qual o dendrímero será ligado,

possibilitando a exposição de um maior número de sítios ativos na superfície do

polímero conjugado.

A síntese de macromoléculas com estrutura dendrítica envolve uma reação de

policondensação controlada que utiliza uma estratégia sintética repetitiva. Desta

maneira é possível um controle do peso molecular e do tamanho da macromolécula,

o que produz polímeros isomoleculares.

Os dendrímeros podem ser sintetizados a partir de duas metodologias, a saber,

a divergente ou a convergente. Ambos os métodos fornecem estruturas altamente

simétricas, hiper-ramificação, elevado grau de funcionalização terminal e

monodispersão.75-77

O método divergente envolve o crescimento a partir de um núcleo central,

onde as ramificações são justapostas através de etapas sintéticas repetitivas. Este

método é caracterizado por reações que ocorrem por um aumento do número de

sítios reativos, como se o dendrímero estivesse sendo construído "de dentro para

fora". O procedimento geral é ilustrado pela Figura 30.

Embora seja comumente utilizada para a obtenção de grandes quantidades de

dendrímeros, o método de síntese divergente apresenta como principais

inconvenientes as reações incompletas dos grupos terminais, que introduzem defeitos

na macromolécula. Para impedir a formação de defeitos, normalmente se utilizam

grandes quantidades de precursores, o que dificulta a purificação do produto final.

No método convergente a síntese principia pelo que gerará a superfície

externa da macromolécula. O princípio básico do método envolve a construção de

pequenos fragmentos denominados dendrons que sofrem policondensação e constituem o núcleo central e que evoluem para a formação final do dendrímero. O

68

método convergente é ilustrado a seguir (Figura 31). O monômero de partida contém

um grupo reativo (RG1) de um lado da subunidade estrutural e um grupo terminal

(TG) na outra extremidade formando, na geração final, a camada externa do

dendrímero. Esse fragmento pode, então, reagir com grupos reativos (RG2) da

unidade de repetição, que também contêm sítios protegidos (PG). Depois da

conversão para um novo grupo reativo (RG2) a síntese pode ser continuada por

reação com uma segunda unidade de repetição. A repetição do ciclo de

desproteção/reação leva à construção de grandes dendrons. A reação dos dendrons

desprotegidos com grupos reativos (RG) de um núcleo terminal constitui o

dendrímero final.

Embora a formação de defeitos no dendrímero seja minimizada na rota

sintética convergente e a purificação do produto final seja mais fácil relativamente à

rota sintética divergente, o impedimento estérico, causado pelos grupos volumosos

na periferia do dendrímero, impede a obtenção de sistemas de elevadas gerações.

69

Figura 30: Representação esquemática do crescimento de um dendrímero segundo o método

divergente.

Figura 31: Representação esquemática da síntese de um dendrímero pelo método convergente.

70

4.5 – Conclusões

O projeto de biossensores requer, numa primeira etapa, materiais adequados

para o seu desenvolvimento. O eletrodo deve possuir uma baixa resistividade e ser

facilmente encontrado no mercado local.

O mediador de elétrons deve possuir como características físico-químicas alta

estabilidade, boa condutividade elétrica, boa propriedade de adesão à superfície do

eletrodo e, finalmente, uma rota de síntese a mais simples possível. Neste sentido, os

polímeros conjugados parecem ser uma escolha interessante para o papel de

mediador de cargas elétricas.

Uma vez que é difícil unir-se tais características ao processo de

biocompatibilidade, um revestimento ou conjugação com um polímero facilmente

funcionalizável é desejado.

Os dendrímeros representam um avanço notável com relação à arquitetura

supramolecular de polímeros. Estas macromoléculas apresentam propriedades

biomiméticas e elevado grau de funcionalidade. Sua elevada área superficial poderia

contribuir significativamente para o desenvolvimento de biossensores

nanoestruturados de terceira geração.

A performance de um biossensor é fundamentalmente “gerado” por um

trinômio eletrodo, mediador, enzima de acordo com a Figura 32 abaixo:

Figura 32: Trinômio eletrodo, mediador, enzima.

Eletrodo

Mediador Enzima

Biossensor

71

O biossensor é um dispositivo híbrido quanto a sua macroestrutura;

constituído por materiais de diferentes constantes dielétricas. O transporte eletrônico

no dispositivo (biossensor) e sua relação sinal/analito dependem quantitativamente

dos fenômenos na heterojunção metal-polímero.

72

Capítulos 5 - Objetivos

Com base no exposto, os seguintes objetivos podem ser apontados no

presente trabalho:

5.1 - Objetivo Geral

Avaliar o desempenho do sistema nanotubos de polianilina/poliglicerol

dendrítico como biossensores de glicose.

5.2 - Objetivos Específicos

• Verificar a viabilidade da utilização de nanotubos de polianilina como

mediadores de elétrons.

• Investigar o comportamento elétrico da heterojunção polianilina-

alumínio (PANI/Al).

• Avaliar a performance do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al

quanto à monitoração de glicose.

• As conclusões obtidas e sugestões para futuros trabalhos.

73

Capítulo 6 – Materiais e métodos

6.1 – A obtenção da heterojunção polímero-metal PANI/Al

Filmes de alumínio de área 0,75 x 2,05 cm2 foram lavados com solução

água/detergente 1:1 e em seguida extensivamente lavados com água destilada. Após,

os filmes foram lavados com álcool etílico e secos sob vácuo à temperatura ambiente

(25 °C) por 24 h.

A eletrodeposição da polianilina sobre o substrato de alumínio foi realizada a

um potencial anódico constante em célula eletroquímica de dois eletrodos a

temperatura ambiente (25 °C), em solução aquosa de H2SO4 1M e anilina. A Figura

33 mostra o aparato utilizado para a eletrodeposição. Variou-se o potencial aplicado

de 1,0 V a 2,5 V, a um passo de 0,5 V, e a concentração de anilina na solução variou

de 1,1 mM a 6,0 mM, para cada tensão. A melhor eletrodeposição (superfícies

homogêneas e aderentes) foi conseguida a um potencial de 2,0 V e 2,2 mM de anilina

num tempo de eletrodeposição de 20 min.

Após eletrodeposição, os filmes foram lavados com água destilada, para

retirada do excesso de monômero, e imersos em álcool etílico, seguido de secagem

sob vácuo à temperatura ambiente (Figura 34).

74

Figura 33: Sistema utilizado para a eletrodeposição de PANI sobre Al. Fonte de tensão (A), Béquer

com a solução Anilina/H2SO4 (B) e Eletrodos (C).

Figura 34: Dessecadores utilizados na desidratação dos eletrodos de PANI/Al.

(A)

(C) (B)

75

O polímero (PANI) eletrodepositado foi caracterizado espectroscopicamente

e termicamente por espectroscopia eletrônica UV/Vis e análise termogravimétrica,

repectivamente. Neste sentido, a análise UV/Vis do polímero eletrodepositado foi

efetuado em um espectrômetro UV/Vis, Varian 634 com abertura de fenda de 0,2

nm. O intervalo UV/Vis estudado foi de 200 - 700 nm, à temperatura ambiente (25

°C).

A morfologia da PANI eletrodepositada foi estudada por microscopia

eletrônica de varredura (MEV). Um microscópio MEV modelo JEOL XL 30 com

análise dispersiva (EDS) Phillips foi utilizado no presente trabalho. As amostras

foram previamente recobertas com Au para o respectivo contato.

As características termogravimétricas do sistema PANI/Al foram estudadas

em um equipamento METTLER modelo TG 50. Utilizou-se a velocidade de

aquecimento de 10 °C/min no intervalo de 25 °C a 800 °C. As Figuras 35, 36 e 37

mostram o MEV (IPEN/USP) e as respectivas amostras preparadas para a análise e o

equipamento para análise termogravimétrica utilizados neste trabalho.

A estrutura cristalina da PANI eletrodepositada foi estudada por difratometria

de raios-x utilizando-se para isto de um difratômetro horizontal D/MAX-200

(IPEN/USP) com sistema de controle computadorizado. Utilizou-se a linha Cu-Kα (λ

= 1,5418 Å) para análise das amostras de PANI/Al.

76

Figura 35: Aparelhagem utilizada para análise morfológica: (A) microscópio eletrônico de

varredura, (B) é o espectrômetro de energia dispersiva, (C) é o local onde é colocada a

amostra e (D) é a interface gráfica (IPEN/USP).

Figura 36: Amostras fixadas no suporte para MEV. O brilho amarelado deve-se à camada de

ouro.

(A)

(D) (C)

(B)

77

Figura 37: (A) Termobalança, (B) balões de gases de purga e (C) computador pessoal para

interface gráfica, (D) módulo de controle do processo e aquisição dos dados

(LCT/UNIFEI).

6.2 – Síntese do dendrímero de poliglicerol e imobilização das enzimas GOx/HRP

A obtenção do poliglicerol com estrutura dendrítica (PGLD) foi feita a partir

da polimerização por abertura de anel do 2,3-epoxi-1-propanol (glicidol) utilizando-

se a síntese divergente e um núcleo oligomérico de poliglicerol. A escolha do

glicidol se deve à sua elevada reatividade em condições brandas de polimerização

(baixa temperatura e pressão) e a propriedade de gerar poliéteres com elevada

densidade de hidroxilas na superfície da macromolécula.

Inicialmente, um núcleo de poliglicerol (PGL) oligomérico foi preparado a

partir da reação de eterificação da glicerina a 230 oC utilizando-se Na2CO3 (0,34 %

m/m) em atmosfera de nitrogênio e 50 mmHg de pressão. A água reacional foi

destilada em um equipamento Dean-Stark.

O poliglicerol (PGL) obtido foi purificado destilando-se a glicerina não

reagida sob pressão reduzida (o ponto de ebulição da glicerina a 10 mmHg é de

160,8 oC). Após 23 horas de reação o rendimento do processo foi de 70,8 %. Após

(A)

(B)

(C)

(D)

78

transferência do poliglicerol (PGL) para um reator tipo tanque agitado (CSTR) em

aço inox 316 NL provido de um agitador tipo âncora (400 rpm), o sistema foi

mantido sob vácuo a 100 oC por 24 horas, para remoção da umidade residual (<

0,01% m/m, avaliada por Karl Fischer). O sistema reacional foi alimentado

lentamente (vazão 0,1 mL.min-1) com glicidol (50 mL) parcialmente desprotonado

com metilato de potássio (3,7 M, Fluka). A temperatura do sistema reacional foi

mantida em 90 oC durante 12 horas de processo. Após conversão total, o poliglicerol

dendrítico (PGLD) foi dissolvido em metanol e neutralizado após filtração em coluna

trocadora de íons tipo catiônica. Após purificação por diálise em membranas de

acetato de celulose, para remoção de poliglicerol não reagido, o PGLD obtido foi

seco, em seguida, sob vácuo por 15 h a 80 oC (10 mmHg). O rendimento do

processo para obtenção do PGLD foi de 95%.

A estrutura dendrítica do poliglicerol foi caracterizada utilizando-se técnicas

reológicas e espectroscópicas (1H-NMR, 13C-NMR).

A ressonância magnética nuclear de próton (1H-NMR) e carbono (13C-NMR)

foi efetuada em um espectrômetro Bruker 500 MHz utilizando-se como solvente o

dimetilsulfóxido deuterado (dDMSO).

As características reológicas do PGLD foram determinadas em um

viscosímetro de placas rotatórias (reômetro Reologica Streesstech, duas placas de 20

mm) a 100 oC.

A temperatura de transição vítrea (Tg) do PGLD foi determinada utilizando-se

a calorimetria exploratória diferencial em um equipamento Perkin-Elmer DSC 7 em

atmosfera de nitrogênio (40 mmHg) e velocidade de aquecimento de 5 K.min-1. O

intervalo de temperaturas explorado foi de –110 oC a 80 oC. A amostra foi aquecida

de –110 oC até 80 oC e em seguida resfriada rapidamente até –110 oC. Atingido o

equilíbrio térmico, a amostra foi submetida a novo aquecimento nas mesmas

condições e novamente resfriada até –110 oC. Uma última corrida foi então efetuada,

até a temperatura de 80 oC, e registrada.

O peso molecular e a polidispersividade do PGLD foi determinada por

cromatografia de permeação em gel (GPC). Na análise por GPC, dimetilformamida

com 0,2 % LiBr (m/m) foi utilizado como eluente (fluxo 1,0 mL.min-1, pressão 550

79

psi). Poli(etileno glicol) (PEG) de pesos moleculares 194, 960, 4.250, 18.600,

64.700 e 450.000 g.mol-1 foram utilizados para construção da curva de calibração. O

sistema analítico consistiu de um cromatógrafo HPLC 510 da Waters equipado com

detector 2414 (índice de refração). Foram utilizadas colunas PLgel acoplada em

série (10.000 Å + 1000 Å + 100 Å, tamanho de partícula de 5µm). O volume de

injeção da amostra foi de 20 µL. A aquisição e tratamento dos dados cromatográficos

foram efetuados com software SW da Waters Breeze 3.3.

A função de calibração foi calculada como sendo de 3a ordem e a aplicação

do método dos quadrados mínimos log(Peso Molecular) vs tempo de retenção

forneceu um coeficiente de correlação igual a 0,9990.

Os pesos moleculares numérico (Mn) e ponderal (MW) foram calculados

por:78

(30)

sendo <M>n e <M>w os pesos moleculares numérico médio e ponderal médio,

respectivamente. O termo (Mp/s)i representa o peso molecular do polímero padrão

utilizado para a construção da curva de calibração. A altura do pico no cromatograma

do polímero fracionado e o volume de eluição são representados por hi e i,

respectivamente. Os termos s e t são constantes.

O índice de polidispersão (IP) é definido como:

n

W

MM

IP><><

= (31)

O índice de hidroxila (NOH) do poliglicerol dendrítico (PGLD) foi

determinado após acetilação do polímero (0,5-0,6 g) com 10 mL de uma solução de

anidrido acético/piridina (1:9). Após refluxo por 30 minutos a solução resultante foi

titulada com NaOH 1,0 M utilizando-se fenolftaleína como indicador.

O NOH foi calculado de acordo com: 79

∑∑

∑∑ =><=><

i

tii

W

ti

i

in h

s(Mp/s)hEM

)s/Mp(shh

M

80

( ) 1-12OH mgKOH.g 11,56V-VN

mx

=

sendo V1 o volume de NaOH utilizado na titulação de um branco, V2 o volume de

NaOH utilizado na titulação da amostra e m a massa de PGLD empregada.

Imobilização da enzima

Para a imobilização das enzimas glicose oxidase (GOx) e peroxidase (HRP),

o dendrímero de poliglicerol foi previamente ativado utilizando-se como reagentes o

tetrafluoroborato de trietilamina (TEA) para imobilização das enzimas GOx e HRP

via ligação amida de acordo com nossa publicação. 80

Após ativação do PGLD, as enzimas GOx (Laborlab) e HRP (Laborlab)

foram imobilizadas na proporção de 1 kUI GOx:0,15 kUI HRP por massa (mg) de

dendrímero. Ressalta-se que 1 UI equivale a catálise de 1 µmol de glicose a

gluconolactona e H2O2 por um tempo de 1 min a temperatura de 35 °C e pH 5,1.

O biossensor foi preparado pela técnica de evaporação do solvente (casting

out). Um volume de 5 µL da solução aquosa contendo o bioconjugado PGLD-GOx-

HRP foi depositado sobre a superfície de PANI/Al. O eletrodo foi seco à temperatura

ambiente (25 °C) sob vácuo por 24 horas. A quantidade de enzimas presentes na

superfície do eletrodo foram equivalentes a 5 UI de GOx e 0,75 UI de HRP.

Os esquemas correspondentes ao processo de imobilização das enzimas GOx-

HRP bem como do biossensor obtido são apresentados nas Figuras 38 e 39,

respectivamente.

81

Figura 38: Esquema simplificado mostrando o bioconjugado PGLD-GOx-HRP imobilizado na

superfície de nanotubos de PANI.

Figura 39: Esquema do biossensor PGLD/GOx-HRP/PANI.

Enzyme layer immobilized on PGLD dendrimer

Wiring pathsModified working

electrode φ0.5 mm

Isolating layer

Plastic support

(8 x 60 mm)

Indicating window (1.5 x 1.5 mm)

(working/reference electrodes).

Enzyme layer immobilized on PGLD dendrimer

Wiring pathsModified working

electrode φ0.5 mm

Isolating layer

Plastic support

(8 x 60 mm)

Indicating window (1.5 x 1.5 mm)

(working/reference electrodes).

Enzima imobilizada em PGLD Contatos (Al)

Eletrodo de trabalho Ø 2 mm

Camada isolante

Suporte plático 6x30 mm

Área reativa PGLD/GOx-HRP/PANI

Al Al2O3

GOx PANI =

= PGLD

= HRP

= Pites

82

6.3 – Caracterização elétrica dc/ac do biossensor

6.3.1 - Análise dc:

Para que haja um bom transporte de cargas entre o sítio ativo da enzima, onde

ocorre a bioreação e o eletrodo, é de fundamental importância o estudo do

comportamento dc e ac do sistema afim de que parâmetros tais como condutividade

elétrica e impedância do meio possam ser obtidos.

Numa amostra, os elétrons estão continuamente em movimento podendo

sofrer fenômenos de espalhamento devido a colisões entre outros elétrons, átomos do

material ou impurezas. Tal movimento é aleatório e significamente afetado pela

temperatura. Ao caminho que o elétron percorre entre cada colisão chama-se de livre

caminho médio; e ao tempo transcorrido, tempo livre médio τ . Sob a aplicação de

um campo elétrico, E, cada elétron fica sujeito a uma força diretamente proporcional

ao campo e de módulo qE, sendo q a carga do elétron. Assim, cada elétron sofre uma

aceleração. Neste caso, haverá um deslocamento superposto ao movimento aleatório

dos elétrons. A cada colisão inelástica, o elétron sai com uma nova velocidade de

deriva v cujo valor médio dependerá da aceleração sofrida multiplicada pelo tempo

médio desde a última colisão:

ee mτ.E.q

mτ.Fv −==

sendo me a massa do elétron, F a força elétrica, τ o tempo livre médio entre cada

colisão e q a carga do elétron (o sinal negativo indica que os elétrons se movem em

sentido oposto ao campo elétrico aplicado).

Sendo v ∝ E, define-se mobilidade elétrica, µ, como:

emq.τµ =

Seja uma amostra de comprimento L e de densidade eletrônica n. Aplicando-

se um campo elétrico E, a carga total por segundo que passa por uma determinada

área transversa, A, é definida como densidade de corrente elétrica, J, e quantificada

segundo a equação:

E.µ.q.nv.q.nJ −==

83

Logo, a densidade de corrente elétrica é diretamente proporcional ao campo

elétrico aplicado. O fator de proporcionalidade é definido como condutividade

elétrica σ; então:

.EJ σ=

Sendo:

µ.q.n=σ [S.cm-1]

Ao recíproco da condutividade chama-se de resistividade, ρ, cuja unidade é

Ω.cm:

σ1ρ =

Para o caso em que há também a condução de portadores de carga positivos:

µp)µn(E.qJJJ npn +=+=

Então:

)µ.p.qµ.n.q( pn +=σ

E:

)µ.pq.(nµ1ρ

pn +=

sendo os índices n e p referentes aos portadores negativos e positivos,

respectivamente.

As propriedades elétricas de um material são determinadas pela sua estrutura

eletrônica; portanto, faz-se necessário o estudo da matéria a nível atômico.

As curvas das correntes em função da tensão (curva IxV) foram obtidas

através de uma fonte tensão/corrente Keitlhey, modelo 237 (K237). O Keithley K237

é uma unidade fonte-medidora de alta precisão, fundamental à realização de medidas

de tensão de 10 V a 1100 V, e medidas de corrente de 10 nA a 100 mA, escalas estas

fundamentais às medidas de baixos sinais e quaisquer outras que exijam precisão. (A

faixa de melhor resolução como fonte de tensão até 1100 V possui passo de 100 µV

com resolução, de até 5 casas decimais, de 10 µV. Para tensão máxima de 110 V, é

capaz de ler correntes de até 100 mA com passo de 10 µA e resolução de 1 µA, com

84

5 dígitos). Para o controle automatizado de aquisição de dados, este instrumento

possui interface IEEE-488 padrão, o que permite a programação via

microcomputador.

Quando programado como fonte de tensão, o amperímetro conecta-se em

série com a fonte de tensão e a saída. Quando programado como fonte de corrente, o

voltímetro conecta-se em paralelo entre fonte de corrente e a saída.

Como proteção ao circuito externo, o modelo K237 possui um limite de

concordância programável, o qual nunca é excedido pela unidade fonte-medidora.

Ajustando-se uma corrente de concordância apropriada pode-se prevenir dissipação

excessiva de energia do dispositivo. Ajustando-se uma tensão de concordância

apropriada pode-se proteger o dispositivo de uma sobretensão.

A escala de concordância selecionada é também a escala máxima de medida.

Em todo caso, quando a função AUTORANGE está habilitada, a unidade fonte-

medidora sempre irá para a menor, mais sensível, escala possível para que a medição

seja feita.

O controle e a aquisição dos dados foram feitos utilizando-se um sistema

automatizado baseado na plataforma Labview 6.0 (National Instruments Inc.),

software com linguagem orientada a objeto e que controla os instrumentos de

medição através de interfaces de comunicação GPIB 488.

6.3.2 - Análise ac:

Impedância é um conceito mais geral para a habilidade de um circuito em

resistir ao fluxo de corrente elétrica.

A resposta a um sinal senoidal de tensão é uma corrente I, também senoidal,

contendo a freqüência de excitação e seus harmônicos. O sinal decorrente pode ser

analisado como uma soma de funções senoidais, série de Fourier, dada por:

∑ ∑∞ ∞

++=,1 ,1

)()cos(2/)( kxsenbkxaaXf kkO

Num sistema linear a resposta é deslocada em fase e possui uma amplitude IO:

)()( ϕω +⋅= tSenItI O

85

E, pela Lei de Ohm, podemos expressar a impedância do sistema como:

ϕ

ϕωω j

OO eZ)t(Sen

)t(SenZ)t(I)t(V)t(Z =

+==

Pela relação de Euler:

)()( ϕϕϕ jSenCose j +=

Então, tem-se que:

)()( ϕϕω jSenCosZZ O += (32)

A Equação 32 é composta, então, de uma parte real e uma parte imaginária, e

pode-se representar a parte real no eixo das abscissas e a parte imaginária, no eixo

das ordenadas, num plano cartesiano (Diagrama de Nyquist).

A impedância também pode ser representada como um vetor cujo módulo dá

o valor absoluto de Z e ϕ é o ângulo entre o vetor e o eixo das abscissas. Outra

representação possível é o Diagrama de Bode: A impedância Z ou fase ϕ é desenhada

em função da freqüência. A Figura 40 mostra todo aparato utilizado para as medidas

ac e dc neste trabalho.

Circuitos equivalentes são normalmente utilizados em modelos

representativos da curvas de impedância. Um circuito equivalente é um circuito

elétrico que apresenta o mesmo espectro de impedância que aquele apresentado pelos

dados experimentais. Os valores e o arranjo dos elementos que compõem o circuito

idealmente representam as propriedades físicas ou o fenômeno. Mudanças nos

valores dos elementos do circuito podem ajudar no entendimento da resposta do

sistema. Um problema que surge com o uso desta abordagem é que modelos de

circuitos equivalentes podem ser não unívocos, ou seja, diferentes circuitos podem

ter a mesma resposta de impedância. Tal possibilidade pode levar a questões sobre a

importância física dos parâmetros modelados.

Para as medidas ac, utilizou-se o Precision LCR Meter HP4284A (mostrado

na Figura 40) e a heterojunção PANI/Al foi recoberta com cola de prata,

estabelecendo contato para caracterização elétrica das amostras.O Precision LCR

Meter trata-se de um espectrômetro de impedância que possibilita uma varredura de

freqüência de 20Hz a 1MHz, e pode ser usada uma fonte externa que pode variar de

86

90 a 132 Vac ou 198 a 252 Vac; freqüência de 47 a 66 Hz e potência máxima de

200VA.

Através do HP4284A é possível a execução de medidas de resistência ac,

capacitância, indutância, fator de qualidade, fator de dissipação, módulo da

impedância e da admitância e fase para a inspeção de componentes, controle de

qualidade, e pesquisa; todos estes parâmetros dados em função da freqüência.

O HP4284A oferece medidas em todas as freqüências com resolução de seis

dígitos e níveis de sinal de teste de 5mV a 2Vrms e 50µA a 20mArms; possui interface

IEEE-488 padrão, o que permite a programação via microcomputador.

Figura 40: Aparelhagem utilizada para caracterização elétrica. Resistência de referência e

limitadora de corrente (A), espectrômetro de impedância HP4284A (B), terminal para

controle e tratamento dos dados (C), porta-amostras com isolação eletromagnética (D)

e fonte K237 (E).

A aquisição de dados e o controle dos equipamentos durante os experimentos

foram realizados utilizando-se de programas elaborados na plataforma Labview 6.0,

um software que utiliza linguagem orientada a objeto para realização dos

procedimentos de controle, aquisição de dados e também tratamento dos mesmos.

(C) (B) (A)

(D)

(E)

87

Trata-se de uma linguagem de programação específica para sistemas de controle em

ambientes de pesquisa, permitindo elaborar tais sistemas sem a utilização de

controladores específicos, pois é capaz de simulá-los através de rotinas de software.

Para a caracterização elétrica das amostras, a heterojunção PANI/Al foi

recoberta com cola de prata.

88

Capítulo 7 − Resultados e discussões

A fim de uma melhor compreensão deste trabalho, os resultados serão

expostos em duas seções (Parte A e Parte B). Na primeira seção serão mostradas as

características físico-químicas do biossensor expondo análises microestruturais de

seus componentes, bem como caracterização elétrica da heterojunção PANI/Al. Na

segunda seção, serão mostrados os resultados obtidos pela performance do

biossensor.

7.1 – Parte A: Caracterização físico-química do biossensor

7.1.1 – Características macroscópicas dos filmes obtidos

As Figuras 41 e 42 mostram as curvas obtidas do percentual de massa relativa

eletrodepositada de PANI no filme de alumínio, em função do tempo de aplicação do

potencial anódico.

Figura 41: Percentual de massa relativa de PANI eletrodepositada em função do tempo para

potencial anódico de 1,5 V. Temperatura: 27 °C, H2SO4 1M, anilina 2,2 mM.

Substrato: Al (30,0 µm).

5 10 15 20 25 30

10

100

Mas

sa re

lativ

a el

etro

depo

sita

da [%

]

Tempo [min]

89

Figura 42: Percentual de massa relativa de PANI eletrodepositada em função do tempo para

potencial anódico de 2,0 V. Temperatura: 27 °C, H2SO4 1M, anilina 2,2 mM. Substrato:

Al (30,0 µm). R: 0,9986.

Verifica-se, a partir das Figuras 41 e 42, uma tendência da massa

eletrodepositada crescer exponencialmente com o tempo, em função do campo

elétrico aplicado (ver as ordenadas dos gráficos e o potencial aplicado). Esta

observação pode ser devida a uma maior nucleação dos monômeros na superfície do

eletrodo uma vez que há uma maior formação de radicais de anilina devido ao

aumento do campo elétrico. Neste caso, pode-se aproximar tal comportamento

através da equação de Nernst, supondo a ionização desses monômeros:

E ∝ log [M]

sendo E o campo aplicado e M a concentração dos monômeros que sofreram

nucleação.

A Figura 43 mostra a dependência da massa de PANI eletrodepositada em

função da concentração de anilina utilizada.

5 10 15 2010

100

Mas

sa re

lativ

a el

etro

depo

sita

da [%

]

Tempo [min]

90

Figura 43: Variação do percentual de massa de PANI eletrodepositada em relação à concentração de

anilina utilizada. Tempo 5 min. Temperatura 27 °C, H2SO4 1M, anilina 2,2 mM.

Substrato: Al (30,0 µm).

Percebe-se que a massa eletrodepositada segue um processo de primeira

ordem até concentrações próximas de 3 mM, após o qual, tende à saturação. Isto

justifica a utilização de anilina a 2,2 mM para eletrodeposição já que, para maiores

concentrações, não há uma variação significativa na massa eletrodepositada, ou seja,

o processo de eletrodeposição atinge uma cinética de ordem zero.

A saturação na eletrodeposição de PANI no substrato de alumínio pode estar

ligada a processos difusionais na superfície polimérica. De acordo com a segunda lei

de Fick, a qual estabelece a relação que descreve a transferência de massa em

processos de difusão (conhecida como equação de difusão), a difusão pode ser

expressa matematicamente, para um processo unidimensional, por:

xt 2

2CDC

∂=

∂∂

(33)

sendo C a concentração do soluto, t o tempo no qual o processo se desenvolve, x a

direção em que se dá o fluxo e D o coeficiente de difusão molar.

0 2 4 60

10

20

30

40

mas

sa e

letro

depo

sita

da [%

]

[anilina] (mM)

91

Considerando as condições de contorno: C(x, 0) = Co, sendo Co a

concentração inicial de soluto, e C(± ∞, t) = 0; a solução da Equação (33) pode ser

dada por:

)D4

exp()D4(

C),(C

2

2/1 tx

ttx o −=

π

Portanto, há uma forte dependência da difusão do soluto (monômero de

anilina) com a distância percorrida por este, ao se difundir. A medida em que as

cadeias poliméricas crescem, estas dificultam o processo de difusão dos monômeros

de anilina para a superfície do eletrodo, como pode ser visto na Figura 44

explicando, assim, a cinética para a reação da Figura 43.

Macroscopicamente os filme de PANI eletrodepositados mostraram-se

homogêneos, lisos e aderentes. A Figura 45 mostra uma fotografia digitalizada de um

dos filmes eletrodepositados.

Figura 44: Crescimento das cadeias de PANI em relação ao tempo (direção indicada pela seta).

92

Figura 45: Foto digital de um dos filmes eletrodepositados.

7.1.2 – Espectroscopia eletrônica (UV/Vis) da PANI eletrodepositada

As formas, isolante e condutora, da PANI podem ser caracterizadas através da

espectroscopia UV/Vis.

As absorções ópticas podem ser relacionadas aos estados de transição

eletrônica permitidos pela estrutura da PANI e variam com os estados de oxidação do

polímero. A forma totalmente reduzida (leucoesmeraldina) possui apenas uma banda

de absorção, 310 nm, associada a transições eletrônicas entre a banda de valência

(BV) e a banda de condução (BC). A base de esmeraldina, um isolante parcialmente

oxidado, apresenta dois picos de absorção característicos (320 nm e 620 nm). A

pernigranilina, PANI completamente oxidada e isolante, possui máximos em 320 e

530 nm. A forma condutora da PANI, sal de esmeraldina, apresenta comprimento de

onda na absorção máxima em 320 nm, 420 nm e 800 nm.67

A Figura 46 mostra o espectro UV-Vis obtido para o filme de PANI

eletrodepositado no alumínio.

1 cm

93

Figura 46: Espectro UV-Vis da PANI eletrodepositada (A) e da N-2-metilpirrolidona (solvente)

(B) a 25 °C.

300 400 500 600 700

605 nm565 nm

430 nm

295 nm

200 250 300 350 400

NMP

Abs

orvâ

ncia

(u.a

.)

λ [nm]

Polianilina

Abs

orvâ

ncia

(u.a

.)

λ [nm]

220 nm

(A)

(B)

94

O espectro exibiu três máximos de absorção em 295 nm, 430 nm e 605 nm, e

um quase imperceptível banda de absorção a 565 nm. Absorções máximas a 320 nm

correspondem a transições π-π*, separação entre o maior estado energético ocupado

(HOMO) e o menor estado energético desocupado (LUMO), apresentando um desvio

para o azul de 295 nm na PANI dopada com sulfato.81 A absorção a

aproximadamente 420 nm corresponde a transições π-π* de íons imina-quinona,71

característico do sal de esmeraldina sugerindo a dopagem da PANI. A absorção em

torno de 620 nm 72 depende do estado de oxidação da Pani, sendo característico da

sua forma básica. O pequeno pico a 565 nm pode ser atribuído à presença da PANI

em sua forma isolante completamente oxidada, pernigranilina. 82

É interessante observar a existência de quatro picos para o espectro UV/Vis

(Figura 46). Com base no exposto, deduz-se que o polímero, na forma esmeraldina,

adotou o estado de sal de esmeraldina coexistindo com a sua forma não protonada,

base de esmeraldina, e algum vestígio de sua forma pernigranilina.

7.1.3 – Caracterização microestrutural

A Figura 47 mostra a micrografia obtida no microscópio eletrônico de

varredura (MEV) para uma amostra de PANI eletrodepositada em alumínio.

Observa-se o aparecimento de ilhas cristalinas imersas em uma malha de nanotubos.

A obtenção de nanoestruturas de PANI é muito desejável, pois podem possuir

maior área superficial e permitir uma maior difusão de moléculas gasosas para dentro

da nanoestrutura, se comparada a nível de massa (bulk), sendo muito atraentes para a

utilização em biossensores químicos, pois possibilita um aumento na sensibilidade

dos dispositivos que venham a utilizar-se de tais estruturas.

95

Figura 47: Micrografia MEV da PANI eletrodepositada. Cristais de PANI (A), e ampliação

mostrando detalhes da estrutura cristalina da PANI (B). O percentual relativo de

deposição: 120 % (m/m).

As Figuras 48 (A,B) mostram as micrografias MEV com uma maior

ampliação da PANI eletrodepositada no Al, enfatizando as nanoestruturas tubulares.

(A)

(B)

96

Figura 48: Micrografia MEV do filme de PANI/Al (A) acentuando as nanoestruturas tubulares

em (B).

Nanotubos de PANI têm sido obtidos quimica ou eletroquimicamente por

polimerização de monômeros de anilina com a utilização de moldes (templates)

como membranas nanoporosas, policarbonato, alumínio anodizado e etc. Nesta

técnica a PANI é obtida dentro dos moldes, os quais são subseqüentemente

dissolvidos, deixando apenas o material na forma da nanoestrutura correspondente.

(A)

(B)

97

Portanto, faz-se necessário a utilização de matrizes porosas que, para o caso de se

desejar um crescimento de nanoestruturas em metais, não podem ser dissolvidas.

Uma outra maneira é a formação de molde por alto-montagem (self-

assembly) com a utilização de polímeros funcionais como surfactantes, poliácidos,

cristais líquidos, e micelas que podem ser capazes de direcionar o crescimento das

cadeias poliméricas da PANI em uma única direção.

Os métodos acima citados podem se tornar desvantajosos dependendo do

molde ou do reagente, necessitando de tratamentos para a remoção dos subprodutos

do reagente e se recuperar a nanoestrutura de PANI pura.

Um outro método proposto na literatura é o “electrospinning”. 83 Neste

método, o polímero é dissolvido em solução ácida e então colocado dentro de uma

pipeta contendo um eletrodo para contato elétrico. A solução é então atraída

eletrostaticamente a um alvo metálico pela aplicação de uma alta tensão elétrica,

fazendo com que jatos muito finos do líquido “espirrem” em direção ao alvo

formando nanotubos após evaporação do solvente. O principal inconveniente desta

técnica é a alta tensão que deve ser aplicada aos eletrodos (da ordem de kV).

O crescimento dos nanotubos observado neste trabalho (Figura 48) pode ser

explicado pela ação conjunta da formação de poros sobre o substrato de Al, ao sofrer

oxidação, e a ação do campo elétrico entre as duas placas (catodo e anodo). O campo

elétrico resultante em um dado ponto sobre a superfície do Al, considerando um

potencial eletrostático e, desconsiderando efeitos dielétricos da solução e as

dimensões e imperfeições na superfície dos eletrodos, pode ser representado segundo

a Figura 49:

98

Figura 49: Campo elétrico provocado pelo elemento de superfície dS contendo carga elétrica

sobre um ponto (P).

sendo R vetor de posição; î, ĵ e versores direcionais (x,y e z, respectivamente) do

espaço cartesiano; e dS um elemento de área.

Supondo uma distribuição superficial de cargas em S, podemos calcular o

campo elétrico provocado pelas cargas em dS como:

∫∫−

= r2|

12R|

ςdS

4

1 )

RπεE

Considerando dQ = ζ.dS (sendo ζ a densidade superficial de cargas e ε a

permissividade elétrica do meio) e a simetria da Figura 49, obtem-se:

(34)

A Equação (34) indica que o campo elétrico é perpendicular à superfície do

eletrodo. O que orientaria o crescimento das cadeias de PANI na superfície do

eletrodo levando à formação de nanotubos.

Os poros são outro fator importante no crescimento do filme de PANI. Os

poros indicam que o filme de Al sofreu corrosão por pontos (Figura 50): uma

corrosão bem localizada de natureza eletroquímica que se inicia a partir de defeitos

na camada que protege o metal por ataques de íons presentes na solução, com

formação de cavidades na superfície. Na formação de poros há uma rota inicial para

k

^

^ j

i ^

k

R1

R2

R2 – R1

dS

P E

E = 2εo

ζ î

99

a passagem de corrente elétrica do alumínio para as moléculas de anilina, fazendo

com que as mesmas sejam induzidas para dentro dos poros, dando início ao processo

de polimerização. Os depósitos iniciais de nucleação da anilina servem de matriz

para que novos monômeros se adicionem, formando cadeias que se orientam

perpendicularmente à superfície do substrato pela ação do campo elétrico e estas,

então, podem ser formadas pela continuação do processo de troca elétrica entre o

eletrodo (Al) e as moléculas de anilina presentes na solução. Durante o crescimento

do polímero é razoável supor a interação, por ligações de hidrogênio, entre os átomos

de nitrogênio amina e imina o que também contribuiria para a formação das

estruturas tubulares.

A análise de EDS (Figura 51) mostra a presença de enxofre (S) nos cristais

(Figura 47). Isto indica que a PANI sofreu dopagem por sulfatos devido aos íons

SO4-2 presentes na solução os quais também são atraídos pelo campo elétrico em

direção ao anodo. A formação dos cristais de PANI pode ser explicada por

diferenciação na cinética de polimerização, sendo que há uma interação maior entre

vizinhos nas cadeias que formarão os cristais e, possivelmente, uma maior tendência

à orientação destas cadeias quanto ao campo elétrico aplicado. Um modelo de arranjo

cristalino para a estrutura protonada do polímero com íons sulfato (SO4-) foi proposto

(Figura 52).

100

Figura 50: Oxidação do Al por pontos (A) e Preenchimento dos poros por cadeias de PANI (B).

(B)

(A)

101

Figura 51: Espectro de energia dispersiva (EDS) para os cristais de PANI depositados

eletroquimicamente em Al.

Figura 52: Modelo da estrutura cristalina mostrando os íons de sulfato (A) entre as moléculas de

PANI (B). Uma célula unitária para o cristal de PANI é mostrada em (C).

(A)

(B)

(C)

102

No espectro EDS (Figura 51) observou-se uma relação S/Al de 4,96 segundo

a área sob os picos, concluindo-se que os cristais de PANI estão na forma protonada.

A evolução na arquitetura molecular da PANI no alumínio em função do

tempo é apresentado na Figura 53.

103

Figura 53: Na seqüência, segundo o eixo das abcissas: Substrato de Al (tempo 0), formação de

óxido logo que o eletrodo é colocado em solução e aplicado o potencial anódico,

início do crescimento (tempo 5’) e nanotubos já formados (tempo 30’). Temperatura

25 °C, H2SO4 1 M, anilina a 2,2 mM.

Evolução no tempo

Evo

luçã

o na

arq

uite

tura

mol

ecul

ar

104

7.1.4 – Resultados da difração de raios-x

A condutividade da polianilina é influenciada pela estrutura cristalina

presente no material.

O mecanismo de condução na polianilina se dá normalmente por polarons ou

bipolarons (cátions ou dicátions radicais possuindo spin ½ ou zero, respectivamente)

devido à elevada anisotropia do polímero. Um outro mecanismo também presente é o

salto de cargas entre as cadeias poliméricas, sendo que tais saltos são facilitados

segundo a maior interação entre cadeias.

A Figura 54 mostra os difratogramas obtidos por difração de raios-x para a

PANI eletrodepositada em alumínio, substrato de alumínio e óxido de alumínio.

Figura 54: Difratogramas de raios-x obtidos para a PANI/Al (A), substrato de Al (B) e óxido de

alumínio (C).

10 20 30 40 50 60 70 80

2 θ (Graus)

(A)

(B)

(C)

105

Os picos centrados em 2θ ≅ 20° e 2θ ≅ 25° presentes nos cristais de PANI

podem ser atribuídos à periodicidade das cadeias poliméricas conforme ilustrado na

Figura 52. 84 O pico de alta intensidade (2θ ≅ 12°) se deve a planos com maiores

distâncias interplanares e provavelmente está associado à organização periódica de

moléculas de sulfato ordenadas ao longo das cadeias poliméricas.

A eletrodeposição da PANI em Al leva à formação de óxido na superfície

metálica uma vez que a polimerização do polímero se deu em solução ácida, a qual

pode reagir com a superfície do Al passivando-o. Desta forma, é útil o estudo do

filme de Al que sofreu a eletrodeposição por difração de raios-x (Rx). A Figura 54

(C) mostra o difratograma de Rx de um filme de Al após a remoção da camada de

PANI eletrodepositada. Observou-se um grande pico amorfo localizado entre 2θ

igual a 20° e 40°. O filme de Al naturalmente apresenta picos mais intensos em 2θ

igual a 78,5°, 78,3° ,65,1° e 65,3°. Outros picos podem ser visualizados em 44,9°,

44,7°, 38,6° e 16,9°. Estes picos correspondem aos planos da estrutura FCC (cúbica

de face centrada) do alumínio. 85 Uma vez que no difratograma de Rx os picos

referentes à PANI eletrodepositada estão presentes na região de ângulos menores,

sua presença revela alto grau de orientação, o que já pôde ser observado nas

micrografias MEV.

As observações experimentais quanto à difração de raios x parecem estar de

acordo com o modelo de estrutura pseudo-ortorrômbica proposto para a PANI. 86

7.1.5 – Caracterização termogravimétrica

A estabilidade térmica bem como o nível de dopagem da polianilina

eletrodepositada pode ser estudado por análise termogravimétrica.

De acordo com a literatura, a PANI apresenta três estágios de perda de massa.

O primeiro estágio se deve a perda de água absorvida pelo polímero, geralmente

observada a até 110 °C. No segundo estágio, observado entre 110 °C a 300 °C, a

perda mássica é explicada pela remoção de moléculas de dopantes da estrutura

polimérica juntamente com uma fração de água correspondente à hidratação de íons

do dopante. O terceiro, acima de 400 °C, depois da remoção dos dopantes,

corresponde à degradação da cadeia polimérica. 86

106

Neste trabalho observou-se que as amostras de PANI eletrodepositadas

apresentaram hidratação de água, que pôde variar de 5 a 15 % segundo a literatura.

Na forma sal de esmeraldina (SE), as moléculas de água podem ser absorvidas pelos

sítios amina da PANI. Na forma base de esmeraldina (BE), as moléculas de água

podem ligar-se à cadeia polimérica via átomos de nitrogênio do grupo amina ou

imina. Segundo alguns autores há dois tipos de molécula de água absorvida:

moléculas móveis, ligadas por somente uma ligação de hidrogênio, e moléculas

fixas, que promovem duas ligações de hidrogênio. 87 As moléculas de água móveis

podem ser removidas da PANI por aquecimento até 70 °C ou 150 °C, ao passo que

as moléculas fixas escapam simultaneamente com a decomposição do polímero.

Nas Figuras 55 e 56 têm-se os termogramas, em atmosfera de oxigênio e

nitrogênio, para uma amostra de PANI destacada do alumínio, após eletrodeposição,

e para a PANI eletrodepositada, respectivamente.

107

Figura 55: Curva termogravimétrica em atmosfera de oxigênio da PANI/Al (A) e da PANI

removida do filme de Al (B).

Figura 56: Curva termogravimétrica em atmosfera de nitrogênio da PANI/Al (A) e da PANI

removida do filme de Al (B).

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

0

20

40

60

80

100

Mas

sa R

esid

ual (

%)

Temperatura (OC)

(A)

(B)

0 100 200 300 400 500 600 700 800 9000

20

40

60

80

100

Mas

sa R

esid

ual (

%)

Temperatura (OC)

(B)

(A)

108

Pode ser observado, a partir das Figuras 55 e 56, que a forma SE da PANI

contém cerca de 20% de água provavelmente devido a um processo de hidratação

causada pela formação de ligações de hidrogênio entre as moléculas de água e os

átomos de nitrogênio presentes na cadeia da PANI ou a hidratação dos ânions de

sulfato. Observa-se, assim, que a PANI é muito hidrofílica sendo, desta forma, um

material adequado para a imobilização de enzimas, por favorecer um microambiente

propício para a manutenção da atividade enzimática.

Quanto à PANI/Al, os resultados mostram resíduos de massa igual a 47,19 %,

para a atmosfera de nitrogênio e de 38,62 %, para a atmosfera de oxigênio (Figuras

55 e 56). Os resíduos correspondem obviamente ao alumínio (Al).

Ânions sulfato (SO4-) podem simultaneamente protonar o grupo imina em

diferentes cadeias poliméricas levando à formação de ligações cruzadas. Tais

ligações podem explicar a estabilidade térmica do polímero 88.Observa-se que a

temperatura de decomposição da PANI/Al é mais alta e que a taxa de decomposição

é muito mais baixa que a PANI destacada da superfície metálica. Assim, o aumento

da temperatura de decomposição para o sistema PANI/Al se deve à formação de

ligações coordenadas entre a PANI e a superfície do metal, podendo haver um

processo de formação de cristais. Por outro lado, a PANI removida da superfície de

Al apresenta um maior grau de liberdade relativamente às suas cadeias o que levaria

à uma redução na energia de ativação para a decomposição térmica.

Conseqüentemente, o sistema PANI/Al seria mais estável que a PANI.

Uma vez que a PANI é semicristalina, pode-se supor que na fase cristalina há

um processo físico regendo a reação de decomposição.

A Figura 57 mostra a derivada da massa residual em relação à temperatura

associada ao processo de degradação térmica para PANI/Al. Podem ser observados

dois picos distintos próximos a 40 °C e 90 °C, demonstrando a perda de água da

PANI/Al. Dois picos bem distintos podem ser observados em 500°C e cerca de

800°C (o gráfico se refere a PANI/Al em atmosfera de oxigênio, onde há maior

reatividade e tais picos podem ser melhor distintos). A figura distingue as fases de

decomposição térmica dos sistemas PANI/Al e PANI, conforme discutido

anteriormente.

109

Figura 57: Derivada da massa residual em relação à temperatura da PANI/Al em atmosfera de O2.

Os picos (A) e (B) se devem à perda de água, (C) término da desprotonação e (D)

temperatura de degradação total das cadeias poliméricas.

7.1.6 - Análise físico-química do poliglicerol dendrítico (PGLD)

Uma vez caracterizado o mediador de elétrons (PANI), resta a caracterização

do sistema que será reservado para a enzima, neste trabalho, o poliglicerol dendrítico.

É bem conhecido na literatura que polióis tendem a sofrer eterificação na

presença de catalisadores como NaOH, Na2CO3, CaO e elevadas temperaturas

originando poliéteres. O processo de eterificação em meio alcalino não é seletivo

exigindo, portanto, um longo tempo reacional e atmosfera inerte para inibir-se a

formação de acroleína.

A Figura 58 mostra o percentual de conversão da glicerina em poliglicerol

oligomérico em função do tempo. Percebe-se que um peso molecular limite de 450

g.mol-1, equivalente ao hexaglicerol foi obtido após 23 horas de reação.

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900-0,008

-0,006

-0,004

-0,002

0,000

0,002

PANI/Al em atmosfera de O2

dm/d

T

Temperatura (OC)

(A) (B)

(C)

(D)

110

Figura 58: Percentual de conversão de glicerol em poliglicerol e sua influência no peso molecular

(PM). Peso molecular determinado por GPC na Petroquímica União

A segunda etapa do processo reacional envolve a obtenção de um alcoóxido

como iniciador do processo de formação do dendrímero. Neste caso, um alcoóxido é

obtido pela reação de metalação do glicidol de acordo com a reação ilustrada na

Figura 59.

0 5 10 15 20 25 30 350

10

20

30

40

50

60

70

80

Pes

o m

olec

ular

(g.m

ol-1)

Con

vers

ão (%

em

pes

o)

Tempo (h)

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

111

Figura 59: Mecanismo de desprotonação do glicidol (A), propagação (B) e ciclização (C).

A reação de abertura de anel leva à formação de um alcoóxido como sítio

ativo que se propaga anionicamente. A reação de ciclização é indesejável uma vez

que tende a formar compostos de baixo peso molecular além de levar à obtenção de

materiais altamente polidispersos no peso molecular. A reação de ciclização do

precursor oligomérico pode ser inibida adotando como variáveis de controle a parcial

desprotonação (~10%), baixa concentração e a lenta adição do glicidol durante o

processo de polimerização.

A Figura 60 ilustra o percentual de conversão em função do tempo para a

reação de obtenção do poliglicerol com estrutura dendrítica (PGLD). A análise dos

resultados obtidos indica que a polimerização segue uma cinética de primeira ordem

clássica.

O OH δ- δ+ RO: K

PGL ( OH )n O δ- δ+ O [ PGL ] O: K

O δ- δ+ O [ PGL ] O: K

(PGL)n

δ- δ+ O: K

O

O

δ- δ+ O: K O

δ- δ+ O: K O

(A)

(B)

(C)

112

Figura 60: Cinética de polimerização do PGL para obtenção do PGLD. Temperatura: 90 oC.

O peso molecular médio e a polidispersão de dendrímeros são dois

parâmetros de maior importância para a determinação e explicação do

comportamento físico destes sistemas macromoleculares.

Dendrímeros de peso molecular muito baixo geralmente apresentam uma

menor área superficial, indesejável para o projeto de biossensores, enquanto que os

de peso molecular muito elevado são muito pouco solúveis e, geralmente, não é

possível utilizá-los no revestimento de superfícies sintéticas.

A cromatografia de permeação em gel (GPC), uma técnica que tem sido

destacada como fundamental para a ciência macromolecular, é uma técnica de

separação introduzida por Moore em 1964 para a determinação da distribuição de

pesos moleculares de um polímero. 89

0 2 4 6 8 10 12 14 16 180

20

40

60

80

100

120

140 ln C = 10,707*X + 27,466R:0,99242

Con

vers

ão (%

em

pes

o)

Tempo (h)

10

100

ln C

113

A técnica GPC utiliza colunas empacotadas com géis de poliestireno ou

polietileno glicóis reticulados de diferentes porosidades constituindo a fase

estacionária. O polímero dissolvido em um solvente conveniente é separado de

acordo com seu volume hidrodinâmico, ou seja, moléculas pequenas tendem a

permanecer na fase estacionária enquanto que moléculas grandes são excluídas

preferencialmente da fase estacionária. Os detectores utilizados podem ser do tipo

refratométricos, UV ou IR, dependendo da natureza do polímero.

A eficiência do processo de separação é função do volume de retenção (ou

eluição) (VR) e da massa molar do material. O volume de retenção por sua vez é

função do volume intersticial Vo e o volume do poro acessível no gel, ou seja:

iDoR VKVV += (35)

sendo Vi o volume interno total do poro e KD é o coeficiente de partição entre Vi e a

porção acessível para um dado soluto.

Quando KD = 0 (moléculas grandes) VR = Vo, ocorrendo uma eluição rápida

da coluna. Para moléculas pequenas que penetram no volume do poro, KD = 1 e a

eluição da coluna é mais lenta. A Figura 61 ilustra o princípio da cromatografia de

permeação em gel (GPC). Observa-se que a técnica está limitada a moléculas onde

VR < Vo ou, VR > Vo+ Vi.

114

Figura 61: Fundamentos da cromatografia de permeação em gel (GPC).

Uma vez que o peso molecular de um polímero determinado por GPC não

representa o seu valor absoluto, ou seja, é um valor obtido com base em uma curva

de calibração de polímeros de conhecidos pesos moleculares, podemos escrever:

log[η]sMs = log[η]uMu (36)

sendo [η] e M a viscosidade intrínseca e a massa molar do polímero,

respectivamente. Os índices s e u representam o padrão e a amostra em análise,

respectivamente.

Desde que os volumes hidrodinâmicos da amostra e do padrão não são

necessariamente iguais, tem-se que [η]s = KsMvss e [η]u = Ku.Mvuu. A massa molar

da amostra u pode ser determinada a partir de: 90

su

s

u

s

uu M

vv

KK

vM log

11log.

11log

++

+⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+

= (37)

115

Freqüentemente as curvas de calibração são construídas a partir de

poliestireno (PS) ou poli(etileno glicol) (PEG) sendo conhecidos o peso molecular

absoluto do polímero. O peso molecular absoluto de um polímero pode ser

determinado a partir de técnicas como o espalhamento de luz e a osmometria.

A Figura 62 mostra a análise por GPC de um poliglicerol com estrutura

dendrítica (PGLD) obtido após 12 horas de processo a 90 oC. O dendrímero mostra

uma distribuição de peso molecular monomodal e um baixo índice de dispersão no

peso molecular (Mn/Mw = 1,05).

116

Figura 62: Curva de calibração (A) e análise por GPC do PGLD (B) obtido após 02 horas de

reação.

0 2 4 6 8 10 12 14101

102

103

104

105

106log M = -0,32X + 6,27R= -0,99809

log

M

Volume de eluição (mL)

(A)

100 1000

0

1

2

3

4

5

dwt/d

(logM

)

log Mw

05,1417437

==MnMw

(B)

117

O controle do peso molecular bem como a polidispersividade de dendrímeros

utilizando como iniciadores alcoóxidos polifuncionais geralmente é problemático

devido a uma forte tendência em se formar agregados devido a associação de grupos

terminais, mesmo quando se utilizam solventes polares. Conseqüentemente, o

controle do peso molecular é significativamente limitado e uma distribuição

monomodal no peso molecular da macromolécula é observado.

Considerando um baixo grau de desprotonação, a velocidade de

polimerização do glicidol poderia ser descrita por: 91

]][][:[][ GlROHROkdtGld −= (38)

sendo [RO:-], [ROH] e [Gl] as concentrações do alcoóxido, poliglicerol e glicidol,

respectivamente.

Portanto, a equação (38) mostra que a velocidade de polimerização é

controlada pelas concentrações do glicidol, alcoóxido e grupos hidroxila. Estudos

da literatura demonstram que um controle da razão concentração do

epóxido/concentração de um poliol não permite um controle preciso do peso

molecular bem como do índice de polidispersão do polímero.

A obtenção de um poliglicerol de estrutura dendrítica monodisperso neste

trabalho vem demonstrar que a parcial desprotonação de um poliglicerol utilizado

como iniciador parece ser uma rota sintética mais adequada para a síntese de

poligliceróis dendríticos. Neste caso, um provável equilíbrio dinâmico entre

alcoóxidos e grupos hidroxilas parece garantir a iniciação simultânea de todos os

grupos alcoóxidos presentes no sistema reacional.

Teoricamente seria de se esperar que a distribuição de pesos moleculares em

uma polimerização aniônica seguisse uma distribuição de Poisson gerando, portanto,

sistemas monodispersos.

Considerando que a concentração inicial do iniciador é dada por [GA], a

etapa de iniciação pode ser escrita como: 92

GA→ G⊕ + A-

118

G⊕ + A- → + M →AM1- + G⊕

Sendo que o crescimento da cadeia do polímero pode iniciar nos centros

[AM1-] = [GA].

A velocidade de propagação pode ser escrita como uma equação integrada de

velocidade de primeira ordem com relação à concentração do monômero:

dt]M][GA[kdt]M][AM[kv]M[d ppp ∫∫∫ ===− − ⇒ [M] = [M]oexp(-kp[GA]t)(39)

sendo [M]o a concentração inicial do monômero a t = 0.

(40) ][

][][⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ −=

GAMM oν

sendo ν o comprimento cinético da cadeia.

Substituindo (40) em (39) obtém-se:

(41) )][exp(1][

][ tGAkGAM

po −−=ν

A velocidade da reação de polimerização após a adição de mais glicidol ao

centro reativo da cadeia, assumindo a presença da espécie G⊕ , pode ser escrita como:

AM1- + M → AM2

-

Logo se pode escrever:

(42) )][exp(]][[]][[][11

1 tGAkMAMkMAMkdt

AMdppp o −==− −−

Após integração, considerando [AM1-] = [GA] em t = 0, tem-se a expressão:

(43) )]][exp(1[][][exp][][ 1

⎩⎨⎧

⎭⎬⎫

−−

=− tGAkGAMGAAM p

o

119

Introduzindo a equação (41) obtém-se a expressão simplificada:

(44) )exp(][][ 1 ν−=− GAAM

Generalizando a análise para a adição de n-1 unidades monoméricas do sítio

ativo AM-, obtém-se:

(45) )!1(

)exp(][][1

−−

=−−

nGAAM

nn

νν

A razão entre o número de cadeias com grau de polimerização n (Nn) e o

número total de cadeias (N) pode ser escrito como:

(46) )!1(

)exp(][

][1

−−

==−−−

nGAAM

NN

nnn νν

A expressão (46) representa a distribuição de Poisson. A estreita distribuição

de pesos moleculares observada na análise por cromatografia de permeação em gel é

justificada, portanto pela polimerização aniônica do glicidol.

Por sua vez, o índice de polidispersão no peso molecular é dado por:

( ) (47) 1

1 2+

+=ν

ν

n

w

MM

Substituindo o valor Mw/Mn obtido pela análise GPC, obtém-se um valor de

ν≈20.

O comprimento cinético de cadeia, ν, é uma medida do número médio de

unidades monoméricas reagindo com um sítio ativo durante seu tempo de meia-vida

e pode ser relacionado com a velocidade de reação de propagação por:

sendo kp, kt e νp as constantes cinéticas de propagação, terminação e a velocidade de

propagação, respectivamente.

(46) 2

][ 22

pt

pvkMk

=ν (48)

120

A equação (48) mostra que ν é inversamente proporcional à concentração de

radicais, ou seja; o comprimento das ramificações pode ser controlado alterando-se a

concentração do iniciador.

No processo de polimerização do glicidol para obtenção do poliglicerol

dendrítico, as unidades epoxídicas que vão incorporando-se às cadeias poliméricas

em crescimento podem apresentar ligações éter, grupos hidroxilas terminal na

periferia do dendrímero e carbono assimétrico ou pseudoassimétrico, uma vez que

em geral não possuem atividade ótica em função da natureza macromolecular dos

substituintes.

A massa molecular de um dendrímero pode ser relacionada ao número de

gerações através da expressão: 93

sendo Mc a massa molar do núcleo, Mm a massa molar do monômero ramificado, Mt

a massa molar do grupo terminal e nc a funcionalidade do núcleo, nm a

funcionalidade da ramificação e G o número de gerações.

Substituindo os dados obtidos para o PGLD obtido neste trabalho a saber:

M≈20.000 g.mol-1, Mc≈550 g.mol-1, Mm≈59g.mol-1, Mt≈16 g.mol-1, nc = 12, nm = 2,

obtém-se um número de gerações (G) para o PGLD aproximadamente igual a 5,0.

A utilização do poliglicerol (PGL) como núcleo de crescimento no processo

de síntese divergente gera uma estrutura dendrítica com uma elevada densidade de

grupos hidroxila na periferia da macromolécula como ilustrado abaixo (Figura 63).

(47) 1

.⎥⎥

⎢⎢

⎡+⎟

⎜⎜

⎛ −+= G

mtm

Gm

mcc nMn

nMnMM (49)

121

Figura 63: Estrutura esquemática do poliglicerol com estrutura dendrítica. L14, L13, D e T

significam ligações lineares, estruturas dendríticas e grupos terminais,

respectivamente.

A ressonância magnética nuclear representa uma importante ferramenta para

a caracterização de estruturas dendríticas uma vez que a análise detalhada do

espectro fornece informações acerca do grau de polimerização bem como da

extensão da ramificação.

Quatro unidades estruturais podem ser distinguidas na estrutura dendrítica a

saber: (a) Se a propagação ocorreu através de hidroxilas secundárias uma unidade

linear do tipo 1,3 é formada (L13), (b) Se hidroxilas primárias sofrem propagação,

uma correspondente unidade linear 1,4 (L14) é formada. (c) Se ambas as hidroxilas

reagem com o monômero, uma unidade dendrítica (D) é formada e a cadeia

polimérica e ligada a hidroxilas secundárias e, (c) Se o monômero sofre alguma

desativação por troca de próton, uma unidade terminal (T) com duas hidroxilas é

formada.

A Figura 64 (A) ilustra o espectro de 13C-RMN para o poliglicerol de

estrutura dendrítica sintetizado neste trabalho.

(T)

(L13)

(PGL)

(L14)

(D)

122

Figura 64: Espectro 13C -NMR (A) e 1H-NMR (B) do PGLD sintetizado.

A Tabela 9 indica as atribuições efetuadas ao espectro 13C-NMR do

dendrímero obtido neste trabalho. Os dados obtidos podem ser utilizados na

determinação do grau de ramificação (GR) da macromolécula. O grau de ramificação

é uma medida que indica a tendência das ramificações criadas durante a etapa de

propagação em gerar estruturas dendríticas. Para estruturas lineares o grau de

ramificação (GR) é igual a zero (GR = 0), para uma reação de policondensação ao

acaso GR = 0,5 e finalmente para a formação de uma estrutura dendrítica, GR = 1.

O grau de ramificação pode ser calculado a partir das intensidades dos picos

no espectro de 13C-NMR através da equação:

C D

A

BE

F

G

85 80 75 70 65 60

(A)

0H CH,CH2

5.0 4.0 3.0 2.0 1.0h(ppm)

CH,CH

(A)δ (ppm)

(B)

δ (ppm)

123

(50) 2

2

1413 LLDDGR ++

=

sendo GR o grau de ramificação e D, L13 e L14 representam as contribuições das

frações dendríticas e lineares presentes no polímero, respectivamente.

O valor obtido neste trabalho, GR = 0,81 indica que a lenta adição do

alcoóxido promoveu a formação da estrutura dendrítica.

Tabela 9: Análise do espectro de 13C-NMR para o PGLD sintetizado neste

trabalho.

Região da

Molécula

Grupo

funcional

Deslocamento (ppm) Integral relativa

L13 CH2OH

CH2

CH

62,9

71,2

81,6

0,85

D CH

CH2

CH2

80,2

73,0

72,4

6,31

L14 CH2

CHOH

74,0

70,9

2,12

T CH2OH

CHOH

CH2

64,5

71,3

72,4

4,31

Solvente: dDMSO, temperatura: 25 oC.

O espectro 1H-NMR do PGLD é menos informativo que o espectro de

carbono, mas pode-se notar claramente a incorporação do glicidol. Os sinais dos

grupos metil e metileno a 0,9 e 1,4 ppm respectivamente são devidos ao glicidol. Os

quatro prótons metilênicos e um próton relativo ao grupo metino do PGLD aparecem

124

como uma larga ressonância entre 3,3 e 3,9 ppm. Os prótons relativos ao grupo OH

geram um sinal a 4,8 ppm.

Uma macromolécula apresenta uma estrutura microscópica não linear onde,

dependendo da temperatura, diferentes estruturas podem coexistir em equilíbrio

sendo que, no estado líquido ou fundido, as cadeias macromoleculares são

caracterizadas pelo alto grau de liberdade.

Quando a massa viscosa e quente de um polímero fundido é deixada resfriar

sem a interferência de forças externas, pode haver a formação de estruturas com

certo grau de ordenação tridimensional, denominados cristalitos. Tais estruturas

permanecem imersas em uma matriz amorfa que confere ao polímero um

determinado grau de cristalinidade. Na ausência de forças externas, os cristalitos

tendem a se formar ao acaso, não havendo uma direção preferencial ao longo da qual

os cristalitos se disponham.

Um polímero pode existir em três estados físicos: vítreo, altamente elástico e

fluído viscoso. É importante ressaltar que a passagem de um estado físico a outro

não ocorre em uma temperatura definida mas em um certo intervalo de temperaturas

onde existe uma variação gradual nas propriedades termodinâmicas do material.

Neste caso os valores médios da temperatura na região de transição são denominados

de temperatura de transição.94

A transição do estado vítreo para o estado altamente elástico é denominada de

temperatura de transição vítrea (Tg) e comumente se associa a este estado a estrutura

de um líquido congelado. A temperatura de Tg é comumente associada a uma

transição de fase de segunda ordem uma vez que os potenciais termodinâmicos são

contínuos, mas a primeira e segunda derivada são caracterizadas por exibirem uma

variação brusca com a temperatura, ou seja:

Tc

TG;

TV

TPG;

PV

PG p

2

2

P

2

T2

2

−=∂∂

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛∂∂

=∂∂

∂⎟⎠⎞

⎜⎝⎛∂∂

=∂∂ (51)

A temperatura de transição vítrea pode ser medida experimentalmente pela

calorimetria exploratória diferencial (DSC), uma técnica que tem sido amplamente

utilizada na obtenção de informações relativas ao estado sólido das substâncias

125

macromoleulares.95 Neste caso, na transição de fase correspondente à temperatura

vítrea (Tg) a técnica DSC exibirá uma resposta endotérmica correspondente a uma

variação na capacidade calorífica do material.

Embora exista uma certa controvérsia com relação ao equilíbrio de fases em

um sistema macromolecular, existe um consenso no meio científico de que a Tg de

um material polimérico está diretamente relacionado às interações intermoleculares

de longo ou curto alcance bem como interações intramoleculares na cadeia da

macromolécula.96

A natureza da estrutura dendrítica com relação a existência de grupos

funcionais polares ou apolares na periferia da macromolécula exerce uma influência

significativa nas propriedades macroscópicas do polímero destacando-se a

temperatura de transição vítrea e seu comportamento reológico.

Neste trabalho observou-se uma baixa temperatura de transição vítrea (Tg = -

20,2 oC) indicando que o PGLD sintetizado é adequado para o revestimento de

superfícies devido à sua elevada flexibilidade à temperatura ambiente, característica

desejável para o revestimento de dispositivos biossensores.

O comportamento reológico do PGLD é mostrado na Figura 65. Como pode

ser observado, a macromolécula não apresenta pseudoplasticidade comportando-se

como um fluído newtoniano. A dependência da viscosidade em função da tensão de

cisalhamento pode ser associada a uma possível interação por ligação de hidrogênio

na macromolécula. A mesma dependência é observada entre o número de hidroxila e

a tensão de cisalhamento.

126

Figura 65: Comportamento reológico do polímero PGLD.

7.1.7 – Caracterização elétrica da heterojunção PANI/AL

O transporte de cargas em sistemas desordenados, neste trabalho a PANI, é

relativamente complexo e está associado a muitos fenômenos de transporte tais como

condução por bandas em regiões cristalinas, onde as funções de onda estão

delocalizadas, e saltos (hopping) em sua parte amorfa. A cadeia polimérica sofre

distorção quando o polímero é dopado (elétrons são injetados no eletrodo durante a

eletropolimerização), e os portadores de carga podem se acoplar com a cadeia

polimérica para formar polarons e bipolarons. Estes diferentes mecanismos

dificultam a descrição da condução elétrica em tais materiais por um modelo único.

Por meio da análise dc é possível obter-se a resistividade do conjugado

PANI/Al bem como estudar alguns mecanismos de transporte de cargas elétricas no

0 10 20 30 40 50

0

100

200

300

400

500

600

Núm

ero

de H

idro

xila

(mgK

Og.

g-1)

Visc

osid

ade

(mPa

.s)

Tensão de cisalhamento (s-1)

0

100

200

300

400

500

127

mesmo, já que a resposta do biossensor é diretamente influenciada pela interface

transdutora PANI/Al.

Sistemas com alta reatância capacitiva podem dificultar o transporte de cargas

elétricas quando se tem uma diferença de potencial constante aplicada entre os

eletrodos. Assim, torna-se interessante o estudo do comportamento ac na interface

PANI/AL.

7.1.7.1 - Análise ac

Através da análise ac é possível o estudo da dependência do sistema PANI/Al

com a variação de freqüência através de uma excitação senoidal de tensão,

permitindo a obtenção do ângulo de fase e o módulo de impedância do sinal de

resposta do sistema à excitação.

A dependência da mudança de fase com a freqüência é definida como a razão

entre a parte imaginária e a parte real da impedância. O diagrama de Bode para o

sistema PANI/Al é apresentado na Figura 66 e indica que a mudança de fase é

máxima a baixas freqüências e muito pequena, indicando que o comportamento

elétrico é dominado pela componente resistiva do sinal. Neste caso, o

comportamento resistivo predomina sobre o capacitivo, e a capacitância do sistema

passa a ser um fator desprezível.

O decaimento do módulo da impedância principia a cair a baixas freqüências

tendendo a um valor assintótico a altas freqüências, como mostra a Figura 67. Esta

observação está de acordo com as medidas experimentais realizadas por alguns

autores em polianilina dopada com Cl-. 97

128

0 200 400 600 800 1000-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

Pani/Al

Fase

[rad

]

Freqüência [kHz]

Figura 66: Diagrama de Bode para Pani eletrodepositada em filme de alumínio.

10 100 1000 10000 100000 1000000

0

100

200

300

400

500

Pani/Al

|Z| [Ω

]

Freqüência [Hz]

Figura 67: Dependência do módulo da impedância com a freqüência para PANI/Al.

129

7.1.7.2 - Análise dc

O comportamento do sistema PANI/AL quando da aplicação de uma tensão

contínua pode ser estudado por meio da análise dc, o que se mostra deveras

importante já que o biossensor trabalhará sob tensão constante.

Por meio da curva IxV, é possível o estudo dos mecanismos de condução e a

obtenção da resistividade, para um dado sistema, neste caso, PANI/AL. Outra

análise, que leva em consideração somente a condução superficial (PANI

eletrodepositada), pode ser realizada através do método dos quatro pontos (duas

sondas de prova monitoram a resposta da amostra por meio de um sinal elétrico de

excitação imposto por outras duas sondas).

O comportamento dc do sistema PANI/Al é apresentado na Figura 68. A

curva IxV apresentou um comportamento elétrico característico de um diodo

Schottky com uma barreira de polarização direta próxima a 1,5 eV. Tal energia está

associada a transições eletrônicas da banda de valência a níveis ligantes polaron ou

bipolaron. Este comprimento de onda de absorção tem sido relacionado com a

resistência elétrica de filmes de PANI. 82 A curva IxV é assimétrica e não-linear, ou

seja, correntes altas observadas para polarização direta (tensões positivas) e correntes

muito baixas em polarização reversa (tensões negativas), mostrando aparentemente

um comportamento retificante moderado devido a junção semicondutor (PANI)-

metal (Al), usualmente assumido como um comportamento retificador de barreira

Schottky.

De acordo com a Equação 27, como qV/nkT >> 1 para temperatura ambiente,

pode-se linearizar a equação e obter-se o fator de idealidade (n) do diodo. O cálculo

de n a partir do melhor ajuste linear para a curva obtida fornece o valor de n = 7,35.

O desvio da idealidade pode ser resultante de um elevado grau de imperfeições na

heterojunção PANI/Al devido aos nanotubos e ao óxido formado, resultando num

grande número de estados energéticos superficiais localizados na zona proibida,

influenciando, assim, na altura da barreira Schottkky (φBn).

A razão de retificação (RR) resultou em 7,72 (3 V), valor muito baixo. A

junção, portanto, não possui um bom comportamento retificante: não pode ser

130

considerado um diodo Schottky para fins práticos. Porém, a polarização direta

fornece correntes cerca de dez vezes maiores que a reversa.

A condutividade elétrica, a 27 °C, para o filme depositado, a partir do método

dos quatro pontos, foi de cerca de 10 mS.cm-1, próxima ao do germânio, um

semicondutor de uso corrente na indústria eletrônica.

A Figura 69 mostra o gráfico obtido pela linearização da Equação 29 do

modelo de tunelamento Fowler-Nordheim. Observa-se uma boa linearidade para

potenciais (campos elétricos) maiores onde a probabilidade de tunelamento é maior.

Esta observação evidencia dois mecanismos de condução, a saber, a emissão

termoiônica na junção polímero (PANI)-metal (Al) e tunelamento.

131

Figura 68: Comportamento Schottky para a heterojunção Pani/Al.

Figura 69: Modelo de tunelamento de Fowler-Nordheim (FN) para PANI/Al. R igual a 0,9975,

para 1/V> 0,4, e igual a 0,9970, para 1/V <0,4.

-6 -4 -2 0 2 4 6-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Cor

rent

e [m

A]

Tensão [V]

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

-3,0

-2,5

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

Ln(1

/V2 )

[1/V]

132

Observa-se neste trabalho que a condutividade da heterojunção dendrímero

(PGLD)-metal (Al) é mais baixa que a condutividade medida em circuito aberto

(<10-12 S.cm-1) a 25 °C (E = 31,6 V.cm-1). No entanto, variando-se a temperatura, foi

possível observar-se uma condução elétrica a cerca de 100 °C.

A Figura 70 mostra a curva de IxV para o PGLD a 100 °C, de onde se obtém

o valor para a condutividade de σ = 8,78 x 10-7 S.cm-1. A baixa condutividade

observada pode estar associada ao número de gerações do dendrímero. Estudos

teóricos demonstraram que a condução eletrônica em dendrímeros ocorre por meio

do acoplamento eletrônico (T) entre as regiões doadora (VDi) e aceitadora (VAj) de

elétrons no dendrímero, convenientemente descritas pela função de Green (G): 98

∑=ij

jAijDi VGVT

sendo a relação entre G e o Hamiltoniano H do sistema dada por

1)( =− HEG .

A relação entre o número de unidades repetitivas entre doador e receptor (N)

é dada por:

T∝εN

sendo ε um fator dependente da energia de acoplamento para cada unidade repetitiva

na macromolécula.

O número de gerações do dendrímero PGLD (g = 5) faz com que a função de

Green decaia, confinando as funções de onda do elétron no núcleo do dendrímero,

tornado-o menos condutivo na interface com o metal. Assim, a densidade de estados

eletrônicos e o número de gerações são inversamente proporcionais, o que justificaria

a baixa condutividade elétrica observada para o PGLD.

Portanto, se justifica a utilização de um polímero conjugado para o transporte

eletrônico entre as enzimas imobilizadas e o eletrodo, como já mencionado

anteriormente.

133

Figura 70: Curva IxV para a heterojunção PGLD-Al. Temperatura 100 °C.

0 2 4 6 80

1

2

3

4

5

6

7

8

Cor

rent

e [n

A]

Tensão [mV]

134

7.2 – Parte B: Performance do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al

Uma vez obtido o biossensor, torna-se necessário uma análise de seu

comportamento frente à concentração de glicose em condições in vitro.

A Figura 71 mostra a resposta do biossensor desenvolvido neste trabalho para

uma solução padrão de glicose de concentração 100 mg.dL-1. A Figura 71B

corresponde ao sinal de um biossensor comercial da Accu-Chek.

Figura 71: Resposta típica de um biossensor amperométrico em função do tempo: PGLD-GOx-

HRP/Al (A) e biossensor comercial (B). Temperatura ambiente (25 °C), fonte

Keitlhey K237. Cglicose 100 mg.dL-1.

Observa-se uma boa semelhança entre a resposta do biossensor projetado e do

biossensor comercial a menos de alguns pequenos picos secundários, possivelmente

decorrentes de reações entre os grupos aminas do polímero e da glicose presente na

solução (Reação de Maillard). O sinal obtido é menor em relação ao biossensor

0 5 10 15 20 25 30

0

50

100

150

200

Cor

rent

e [n

A]

Tempo [s]

0 10 20 30 40 50 60

0

1

2

3

4

5

Cor

rent

e [u

A]

Tempo [s]

(A)

(B)

135

comercial, porém, deve-se lembrar que o biossensor projetado não depende de um

potencial aplicado.

A resposta do biossensor de PGLD-GOx-HRP/PANI/Al frente a diferentes

concentrações de glicose é mostrado na Figura 72. Observa-se que a intensidade da

corrente parece ser proporcional à concentração da glicose.

Utilizando como parâmetro a intensidade máxima da corrente produzida no

biossensor pela reação biocatalizada pela GOx e a HRP sob diferentes concentrações

de glicose, obtém-se a Figura 73. A Figura mostra um comportamento biossensor

para o sistema PGLD-GOx-HRP/PANI/Al no intervalo de interesse clínico, ou seja,

nas concentrações normoglicêmicas.

Figura 72: Reposta do biossensor para diferentes concentrações do analito. 560 mg.dL-1 (A), 280

mg.dL-1 (B) e 140 mg.dL-1 (C). Potencial aplicado no biossensor = 100 mV.

0 10 20 30 40 500

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

Cor

rent

e [n

A]

Tempo [s]

(A)

(C)

(B)

136

Figura 73: Resposta do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al em função da concentração de

glicose a um potencial anódico de 100 mV aplicado ao eletrodo de trabalho (Cada

ponto corresponde a 3 medidas). O retângulo corresponde à normoglicemia.

A Figura 74 mostra o comportamento de biossensor mesmo na ausência de

potencial aplicado; ou seja, independente da polarização do eletrodo, o

comportamento do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al é adequado para a análise

clínica da glicose.

0 100 200 300 400 500 6000,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

Cor

rent

e [u

A]

Concentração de glicose [mg.dl-1]

137

Figura 74: Reposta do biossensor PGLD-GOx-HRP/PANI/Al (Cada ponto corresponde a 3

medidas). O retângulo corresponde aos níveis normoglicêmicos. Tensão 0,00 V.

0 50 100 150 200 250 300 3500

5

10

15

20

25

Cor

rent

e [n

A]

Concentração de glicose [mg.dl-1]

138

CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que:

1. As formas, base de esmeraldina e sal de esmeraldina, coexistiram na PANI

eletrodepositada sendo que sua forma protonada apresentou caráter

condutivo.

2. O sistema PANI/Al possui maior estabilidade térmica que a PANI.

3. A micrografia eletrônica de varredura evidenciou a formação de nanotubos de

PANI na superfície do Al no processo de eletrodeposição.

4. O EDS mostrou a forma dopada dos cristais de PANI eletrodepositada.

5. A difração de raios x evidenciou a deposição de PANI com um elevado grau

de cristalinidade.

6. Quanto ao comportamento da heterojunção, o sistema apresentou um

comportamento similar a um diodo Schottky (n = 7,35).

7. O sistema PANI/Al apresenta características elétricas promissoras para a

obtenção de biossensores de 3ª geração devido à baixa reatância capacitiva

(análise ac).

8. A espectroscopia de ressonância magnética nuclear (1H-NMR, 13C-NMR) e

GPC evidenciaram a estrutura dendrítica do PGLD obtido neste trabalho.

9. O sistema PGLD-GOx-HRP/PANI/Al possui características de biossensor de

glicose.

139

CAPÍTULO 9 – PERSPECTIVAS FUTURAS

O diabetes melito vem alcançando níveis alarmantes nas últimas décadas

atingindo cerca de 194 milhões de pessoas em todo o mundo, e a cada ano cresce em

prevalência e incidência de mortes, despertando a preocupação de órgãos

internacionais para medidas de prevenção e acompanhamento da doença. Países em

desenvolvimento, como o Brasil, podem sofrer particularmente seja pela falta de

recursos na saúde pública, ou pela falta de desenvolvimento pessoal. O

desenvolvimento de biossensores para análise clínica, portanto, representa um

mercado em potencial tanto para o autocontrole dos níveis glicêmicos quanto para

um pré-diagnóstico da doença. As pessoas com diabetes tendem a tomar

conhecimento tardio da doença, quando um certo quadro de descontrole glicêmico já

está instaurado e muitas das vezes, por descuido ou falta de informação, atingem o

desenvolvimento crônico da enfermidade estando sujeitos a uma série de

complicações tais como: a perda da visão, doenças cardíacas ou a amputação de

membros, sendo estas situações sempre penosas. Os portadores ainda estão sujeitos a

passarem por algum tipo de preconceito decorrente de alguma disfunção causada

pelo diabetes. São muitas das vezes discriminados pelo empregador, ou pela própria

família, representando um problema social, uma vez que necessitam de tempo e

cuidados especiais. O controle da normoglicemia tem sido um ótimo aliado na

redução desses riscos, já que pesquisas têm demonstrado que o acompanhamento da

doença, pela leitura da curva glicêmica, reduz severamente o risco de tais

complicações.

Espera-se que a presente dissertação tenha despertado a importância dos

biossensores para análise clínica propondo medidas simples de prevenção de severas

complicações. Contudo, muitas questões ainda devem ser elucidadas acerca do que

foi exposto, sem que nos reste mais tempo e lugar aqui para elas. Mas o

conhecimento se faz pela constante busca da verdade, servindo de consolo aos que

iniciam a jornada, e de alerta, aos que pensam obtê-la. Assim, apresentamos algumas

sugestões para futuros “desbravamentos”:

• Efetuar uma estatística mais significativa da resposta do biossensor (incluindo

testes com plasma sanguíneo).

140

• Diferentes enzimas complexadas com o PGLD podem ser imobilizadas no

sistema PANI/Al para a obtenção de biossensores clínicos para outros

analitos (p. ex. a imobilização de colesterase para a análise do colesterol)

• Projetos de biossensores para análise in vivo com a utilização do PGLD, visto

ser este biocompatível.

• Pesquisar os mecanismos de transporte de cargas nos nanotubos de

polianilina.

• Compreender a fenomenologia do transporte de cargas em estruturas de

poliglicerol dendrítico.

• Estudar o controle do crescimento dos nanotubos e dos cristais de polianilina.

• Digitalizar a resposta IxCglicose.

Esperamos que a solução de cada uma dessas questões venha representar uma

ação concreta para a solução dos problemas sociais, os quais devem sempre nortear o

fazer científico para a promoção do bem estar comum.

141

CAPÍTULO 10 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando-se em consideração que um biossensor de glicose envolve não

somente o eletrodo, mas também um sistema de aquisição de sinais, um primeiro

passo foi dado no presente trabalho no sentido de se projetar uma interface eletrônica

para o monitoramento do sinal proveniente da reação bioquímica na interface do

transdutor.

O circuito proposto constitui-se de um bipotenciostato, um amplificador de

tensão e um filtro Butterworth passa-baixas (optando-se pelo baixo custo e pela

simplicidade).

O potenciostato é um circuito eletrônico simples consistindo de uma bateria,

dois amplificadores operacionais, e alguns resistores. É usado para fornecer um

potencial constante ao eletrodo de trabalho em relação ao eletrodo de referência.

Geralmente consiste de um sistema de dois eletrodos onde um terceiro, contra-

eletrodo, é acrescido para estabilizar o circuito. 99 Eliminando-se o contra-eletrodo,

pode ser construído um potenciostato mais simples, o bipotenciostato, que se utiliza

somente de um eletrodo de trabalho e um eletrodo de referência. O bipotenciostato é

capaz de gerar uma tensão de até 1,5 V na entrada do pino 3 de um circuito integrado

(CI 1) (ver Figura 75), polarizando o eletrodo de trabalho. O CI 1 trata-se do

amplificador operacional de instrumentação TL81 que possui um transistor de efeito

de campo (FET) em sua entrada, possibilitando uma alta impedância de entrada (1012

Ω), baixo ruído e uma alta razão de modo comum de rejeição (CMMR), e é

facilmente encontrado no mercado. Este CI converte a corrente gerada no pino 2 em

tensão por meio da resistência de realimentação conectada aos pinos 2 e 6 do CI, ou

seja, a tensão de saída do CI 1 é: V = -R.I. O CI 2 também é um amplificador

operacional (CA134), possuindo uma alta impedância de entrada, também muito

barato e facilmente encontrado no mercado. Este está configurado como amplificador

inversor de tensão, que amplifica a tensão de saída do CI 1 por um fator dado pela

razão entre o valor da resistência no potenciômetro (R7) e a resistência de passagem

(R6) com sinal trocado, ou seja:

VRRVou .

67

−=

142

O circuito possui um ganho de 107 podendo amplificar correntes da ordem de

centenas de pA e a impedância de entrada é bastante alta fazendo com que

distorções do sinal, devido a uma mudança na impedância entre os eletrodos, seja

desprezível. A Figura 76 mostra o circuito em sua fase inicial de construção em

protoboard e a Figura 77, a placa de circuito impresso para o bipotenciostato.

Figura 75: Projeto do circuito do bipotenciostato (CI 1) e amplificador de tensão (CI 2). O círculo

vermelho corresponde ao biossensor onde o eletrodo de trabalho está representado pela

barra mais à direita (azul), e a barra mais à esquerda (preta) representa o eletrodo de

referência.

CI 2 CI 1

143

Figura 76: Circuito sob teste. Fonte de alimentação (A), o biossensor (B), divisor de tensão (C),

amplificadores (D) e leitura do sinal (E).

Figura 77: Placa de circuito impresso projetada para o bipotenciostato.

(B)

(D)

(C)

(A)

(E)

144

As interferências no circuito podem ser suprimidas com o uso de um filtro

ativo passa-baixas. Um filtro passa-baixas permite a passagem de sinais até uma

certa freqüência máxima a partir da qual o sinal passa a ser severamente atenuado.

Os métodos originais de projeto de filtros empregam indutores, capacitores e

resistores. Os filtros ativos empregam somente resistores, capacitores e um circuito

integrado linear (amplificador operacional), e são assim chamados por fazerem uso

de uma fonte de tensão e, usualmente, possuírem ganho de tensão. Justifica-se o seu

uso por ser relativamente barato (para baixas freqüências, os indutores são grandes e

caros), possuírem alta impedância de entrada e baixa impedância de saída, e podem

ser configurados nas mais diversas formas.

Um filtro ativo passa-baixas pode ser obtido com o uso de um amplificador

operacional, dois capacitores e quatro resistores (mostrado na Figura 78), na

configuração proposta por Sallen e Key em 1955. A vantagem do circuito, além da

simplicidade, é a capacidade de ganho e uma baixa impedância de saída.100

Figura 78: Circuito do filtro passa-baixas Buttlerworth na configuração de Sallen-Key.

145

A Figura 79 mostra a resposta simulada do filtro para uma excitação de

entrada de 2 V. Pela curva, nota-se um ganho adicional de 50% no sinal e uma

freqüência de corte próxima de 15Hz.

Figura 79: Simulação da resposta do filtro passa-baixas. A linha vertical próxima a 15 Hz indica

a freqüência de corte (freqüência a partir da qual o sinal começa a ser severamente

atenuado).

Por meio do circuito projetado, foi possível a avaliação da resposta do

biossensor, dada pela Figura 80. Observa-se uma boa linearidade na curva VxCglicose.

Entretanto, as incertezas nas medidas são significativas. A causa para a elevada

variância nas medidas deve-se a uma leitura analógica (visual) do sinal; o que indica

a necessidade do processamento digital dos sinais obtidos.

Freqüência

0Hz 5Hz 10Hz 15Hz 20Hz 25Hz 30Hz 35Hz 40Hz 45Hz 50Hz 55Hz 60Hz V(R3:1)

0V

0.5V

1.0V

1.5V

2.0V

2.5V

3.0V

3.5V

146

Figura 80: Leitura do sinal pelo circuito projetado (cada barra de incerteza corresponde a 3

medidas). Tensão 0,0V, leitura feita no instante em que a solução foi colocada. R2 =

0,9916.

0 20 40 60 80 100 120 140 1600,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Tens

ão [V

]

Concentração [mg.dl-1]

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CAPÍTULO 11 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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