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. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA MAIKEL CHACON COLLAZO AÇÕES INTERSETORIAIS COM VISTAS A DIMINUIÇÃO DA INCIDÊNCIA DE DENGUE NO PSF SANTANA/ARRAIAL D’ ANGOLA. MONTES CLAROS / MG 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ... · levantamento de artigos ... mobilização social para mudanças no ... juntamente com as outras chamadas doenças tropicais negligenciadas,

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    CURSO DE ESPECIALIZAO EM ESTRATGIA SADE DA FAMLIA

    MAIKEL CHACON COLLAZO

    AES INTERSETORIAIS COM VISTAS A DIMINUIO DA INCIDNCIA DE DENGUE NO PSF SANTANA/ARRAIAL D ANGOLA.

    MONTES CLAROS / MG 2015

  • MAIKEL CHACON COLLAZO

    AES INTERSETORIAIS COM VISTAS A DIMINUIO DA INCIDNCIA DE DENGUE NO PSF SANTANA/ARRAIAL D ANGOLA.

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Especializao em Estratgia Sade da Famlia, Universidade Federal de Minas Gerais, para obteno do Certificado de Especialista.

    Orientador: Profa. Ms. Ayla Norma Ferreira Matos

    MONTES CLAROS / MG 2015

  • MAIKEL CHACON COLLAZO

    AES INTERSETORIAIS COM VISTAS A DIMINUIO DA INCIDNCIA DE DENGUE NO PSF SANTANA/ARRAIAL D ANGOLA.

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Especializao em Estratgia Sade da Famlia, Universidade Federal de Minas Gerais, para obteno do Certificado de Especialista.

    Orientador: Profa. Ayla Norma Ferreira Matos

    Banca examinadora

    Profa. Ms. Ayla Norma Ferreira Matos

    Profa. Dra. Mrcia Christina Caetano Romano- UFSJ

    Aprovado em Belo Horizonte, 14 de Setembro de 2015.

  • Dedico este trabalho de concluso de curso aos meus pais, irmo, familiares, esposa e amigos que de muitas formas me incentivaram e ajudaram para que fosse possvel a concretizao deste trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus por ter me dado sade e fora para superar as dificuldades.

    A esta universidade, seu corpo docente, direo e administrao que oportunizaram

    a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, eivado pela acendrada confiana

    no mrito e tica aqui presentes.

    A minha orientadora Profa. Ayla Norma Ferreira Matos, pelo suporte no pouco tempo

    que lhe coube, pelas suas correes e incentivos.

    Aos meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.

    E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formao, o meu muito

    obrigado.

  • O que mais me surpreende na humanidade so os homens. Porque perdem a sade para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a sade. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por no viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer. E morrem como se nunca tivessem vivido.

    (Dalai Lama)

  • RESUMO A dengue um problema de sade pblica que vem preocupando cada vez mais, devido sua alta incidncia e s altas taxas de letalidade no pas. O objetivo deste trabalho elaborar um plano de interveno com vistas a combater e controlar a incidncia da dengue na unidade da Estratgia Sade da Famlia (ESF) de Santana/Arraial D Angola, de Paracatu/MG. Na fundamentao terica foi realizada uma reviso bibliogrfica narrativa, no perodo de fevereiro a maio 2014, com levantamento de artigos cientficos publicados nos ltimos 12 anos (de 2002 a 2014), na base de dados online Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Manuais do Ministrio da Sade. Para seleo dos artigos foram utilizadas as palavras chaves dengue, preveno e controle, ao intersetorial. Aps a reviso foi elaborado um plano de interveno, de acordo com o mdulo de Planejamento e Avaliao das Aes em Sade do Curso de Especializao em Estratgia Sade da Famlia (CEESF). Na sequncia elaborou-se a proposta de interveno com o objetivo de enfrentamento a este agravo. O plano inclui a promoo de aes de mobilizao social para produzir mudanas no comportamento da populao, ampliar o conhecimento da populao, por meio de aes educativas capacitar os profissionais da equipe de sade em relao linha guia de dengue. O projeto exequivel, mas depende da realizao de aes intersetoriais. Assim, o acompanhamento e avaliao, durante todo o processo, so fundamentais.

    Palavras-chave: Dengue. Preveno e Controle. Ao Intersetorial.

  • ABSTRACT Dengue is a public health problem that is worrying more and more, due to its high incidence and high mortality rates in Brazil. The aim of this work is to develop a plan of action in order to combat and control incidence of dengue in the Family Health Strategy Unit Santana/Arraial D' Angola, Paracat/MG. For theoretical foundation was done a literature narrative review, in the period from February to may 2014, a survey of scientific articles published in the last 12 years (2002-2014) in the online database Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) and Ministry of Health Manuals. The article selection was done by using key-words like dengue, prevention and control, intersectoral action. After the review, a plan of action was prepared according to the Specialization Courses module known as Planning and Evaluation of Actions in Health. Further the proposal of intervention was elaborated in order to confront this injury. The plan includes the promotion of social mobilization actions to bring changes in the population behavior, increase the population knowledge through educational activities. Enable health team professionals regarding dengue guideline. The project is practicable, but depends on the realization of intersectoral actions. Thus, monitoring and evaluation, throughout the process, they are fundamental. Key-words: Dengue. Prevention and Control. Intersectoral Action.

  • LISTA DE SIGLAS ACSs Agentes Comunitrias de Sade

    ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil

    CAPS Centro de Assistncia Psicossocial

    Cemig Companhia Energtica de Minas Gerais

    CEO Centro de Especialidades Odontolgicas

    COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais

    DATASUS Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade

    DC Dengue Clssica

    DENV-1 Dengue Virus Type 1

    DENV-2 Dengue Virus Type 2

    DENV-3 Dengue Virus Type 3

    DENV-4 Dengue Virus Type 4

    ESB Equipe de Sade Bucal

    ESF Estratgia Sade da Famlia

    FD Febre do Dengue

    FHD Febre Hemorrgica da Dengue

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estadstica

    IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    Inmet Instituto Nacional de Meteorologia

    IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional

    LILIACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade

    LIRAa Levantamento do ndice Rpido do Aedes Aegypti

    NASF Ncleo de Apoio de Sade da Famlia

    OMS Organizao Mundial da Sade

    OPAS Organizao Panamericana da Sade

    PES Planejamento Estratgico Situacional

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    POF Pesquisa de Oramentos Familiares

    PSF Programa de Sade da Famlia

    SB Sade Bucal

    SCD Sndrome de Choque da Dengue

    SciELO Scientific Electronic Library Online

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_Energ%C3%A9tica_de_Minas_Geraishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Nacional_de_Meteorologia

  • SF Sade da Famlia

    SIAB Sistema de Informao de Ateno Bsica

    SMS Secretaria Municipal de Sade

    UTI Unidade de Tratamento Intensivo

    WHO World Health Organization

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Grfico 1 Taxas mdias de crescimento intercensitria da populao recenseada, de Paracatu entre o perodo de 1980-2010. ........................................................... 48 Grfico 2- Porcentagem populacional em relao a raa no municpio de Paracatu/MG. ........................................................................................................... 51 Quadro 1- Recursos humanos da equipe de sade PSF Santana / Arraial D Angola....................................................................................................................... 62 Quadro 2 Priorizao dos problemas identificados na estimativa rpida segundo importncia, urgncia e capacidade de enfrentamento na rea de abrangncia PSF Santana / Arraial D Angola, Paracatu, 2014............................................................ 65 Quadro 3 Desenho das operaes para os ns crticos do problema alta incidncia de casos de dengue no PSF Santana / Arraial D Angola......................................... 68 Quadro 4 Recursos crticos para o problema alta incidncia de casos de dengue no PSF Santana / Arraial D Angola.......................................................................... 69 Quadro 5 Anlise da viabilidade dos planos.......................................................... 69 Quadro 6 Plano operativo...................................................................................... 71 Quadro 7 Acompanhamento do plano de ao...................................................... 72 .

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- ndice de desenvolvimento humano do municpio de Paracatu em relao ao outros municpios do Estado............................................................................... 46 Tabela 2- Evoluo da populao total e das taxas de urbanizao de Paracatu nos ltimos decnios....................................................................................................... 47 Tabela 3 Taxas mdias de crescimento intercensitria da populao recenseada, de Paracatu entre o perodo de 1980-2010.............................................................. 48 Tabela 4- Proporo de pessoas de baixa renda no municpio Paracatu, no ano de 2010.......................................................................................................................... 48 Tabela 5- Porcentagem populacional em relao raa no municpio de Paracatu/MG............................................................................................................. 51 Tabela 6-Taxa de analfabetismo, Populao alfabetizada, Populao no alfabetizada, Populao de 15 anos ou mais segundo municpio............................ 52 Tabela 7- Porcentagem de alguns indicadores de pobreza no municpio de Paracatu................................................................................................................... 53 Tabela 8 Indicadores de pobreza comparando os anos 1991 e 2000, no municpio Paracatu.................................................................................................................... 53 Tabela 9 Recursos humanos em sade do nvel superior e mdio no municpio de Paracatu, em relao com carga horria por semana.............................................. 57 Tabela 10- Distribuio populacional em ralao ao sexo e faixa etria, do PSF Santana / Arraial D Angola, do municpio de Paracatu, em 2014.............................58

    Tabela 11- Destino do lixo, fezes e urina da nossa rea de abrangncia, do PSF Santana / Arraial D Angola, do municpio de Paracatu, em 2014........................... 58 Tabela 12- Abastecimento de gua e tratamento em relao ao nmero de famlias, do PSF Santana / Arraial D Angola, do municpio de Paracatu, em 2014...............59 Tabela 13-Principais ocupaes da populao na nossa rea de abrangncia divididas por microareas, do PSF Santana / Arraial D Angola, do municpio de Paracatu, em 2014.................................................................................................... 60

    Tabela 14 - Planilha de acompanhamento de aes: monitoramento da equipe........................................................................................................................ 74

  • SUMRIO

    1 INTRODUO.................................................................................................. 15

    2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 18

    3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 19

    3.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 19

    3.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS.......................................................................... 19

    4 METODOLOGIA............................................................................................... 20

    5 REFERENCIAL TEORICO................................................................................ 24

    5.1 CONCEITO DE DENGUE.............................................................................. 24

    5.2 EPIDEMIOLOGIA DA DENGUE NO MUNDO............................................... 24

    5.2.1 EPIDEMIOLOGIA DO DENGUE NAS AMRICAS..................................... 26

    5.2.2 EPIDEMIOLOGIA DO DENGUE EM BRASIL............................................. 28

    5.2.2.1 Etiologia ................................................................................................... 31

    5.2.2.2 Vetores......................................................................................................31

    5.2.2.3 Formas de transmisso........................................................................... 32

    5.2.2.4 Perodo de incubao.............................................................................. 33

    5.2.2.5 Perodo de transmissibilidade.................................................................. 33

    5.2.2.6 Manifestaes clinicas............................................................................. 33

    5.3 DENGUE COMO PROBLEMA DE SADE PBLICA.................................. 34

    5.4 AES CONTRA DENGUE NA ATENO BSICA/ESTRATGIA SADE

    DA FAMILIA .................................................................................................... 39

    6 PLANO DE INTERVENO............................................................................ 43

    6.1 CARACTRIZAO DO MUNICIPIO.............................................................. 43

    6.1.1 Identificao do municpio........................................................................... 43

    6.1.2 Histrico de criao do municpio................................................................ 43

    6.1.3 Descrio do municpio................................................................................ 44

    6.1.4 Aspectos socioeconmicos.......................................................................... 45

    6.1.5 Demografia................................................................................................... 51

    6.1.6 Sistema Local de Sade.............................................................................. 54

    6.1.7 Territrio/rea de abrangncia.................................................................... 57

  • 6.1.8 Recursos da comunidade............................................................................ 60

    6.1.9 Unidade Bsica de Sade........................................................................... 61

    6.2 PLANO DE INTERVENO PROPRIAMENTE DITO.................................. 64

    6.2.1 Definio dos problemas............................................................................. 64

    6.2.2 Priorizaes dos problemas......................................................................... 64

    6.2.3 Descries do problema priorizado.............................................................. 65

    6.2.4 Explicao do problema............................................................................... 66

    6.2.5 Identificao dos ns crticos....................................................................... 67

    6.2.6 Desenho das operaes.............................................................................. 67

    6.2.7 Identificao dos recursos crticos............................................................... 69

    6.2.8 Anlise da viabilidade dos planos................................................................ 69

    6.2.9 Elaborao do plano operativo.................................................................... 71

    6.2.10 Gesto do plano......................................................................................... 72

    6.2.11 Monitoramento e avaliao........................................................................ 74

    7 CONSIDERAES FINAIS............................................................................... 76

    REFERNCIAS..................................................................................................... 78

  • 15

    1 INTRODUO

    A dengue uma doena febril aguda, de etiologia viral. Se manifesta de maneira

    varivel, desde uma forma assintomtica at quadros graves e hemorrgicos,

    podendo levar ao bito. a mais importante arbovirose que afeta o homem e vem

    se apresentando, juntamente com as outras chamadas doenas tropicais

    negligenciadas, como um srio problema de sade pblica. No Brasil, e tambm em

    outros pases tropicais, as condies do meio ambiente favorecem o

    desenvolvimento e a proliferao do Aedes aegypti, principal mosquito vetor (MINAS

    GERAIS, 2009).

    A dengue um vrus RNA. Arbovrus do gnero Flavivrus, pertencente famlia

    Flaviviridae. So conhecidos quatro sorotipos: DENV 1, DENV 2, DENV 3 e DENV 4.

    A doena recebeu o nome dengue por deixar o paciente em estado de moleza,

    cansao, prostrao caractersticos dos sintomas predominantes. Ocorre e

    disseminam-se especialmente nos pases tropicais, onde as condies do meio

    ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferao do Aedes Aegypti, principal

    mosquito vetor. A transmisso se faz pela picada dos mosquitos, no ciclo ser

    humano-Aedes Aegypti-ser humano (BRASIL, 2009a).

    A dengue um dos principais problemas de sade pblica no mundo. A

    Organizao Mundial da Sade (OMS) estima que entre 50 a 100 milhes de

    pessoas se infectem anualmente, em mais de 100 pases, de todos os continentes,

    exceto a Europa. Segundo dados mundiais do Ministrio da Sade, cerca de 550 mil

    doentes necessitam de hospitalizao e 20 mil morrem em consequncia da dengue

    (BRASIL, 2010).

    considerada, uma doena antiga, cujo primeiro registro como doena clinicamente

    compatvel com a dengue permanece gravado em uma enciclopdia mdica chinesa

    datada de 992 D.C. Com a expanso mundial da indstria naval no sculo 18 e 19, o

    mosquito Aedes aegypti e o vrus da dengue foram propagando em novas reas

    geogrficas, causando grandes epidemias em varias partes do mundo

    (FIGUEREDO, 2009).

  • 16

    A dengue uma doena de transmisso essencialmente urbana. na cidade que

    ela encontra condies fundamentais para sua ocorrncia, principalmente as

    condies polticas, econmicas e culturais, que formam a estrutura que permitem o

    estabelecimento da sua cadeia de transmisso (LAUZINO; SOUZA-SANTOS;

    OLIVEIRA, 2011).

    No Brasil, as condies socioambientais favorveis expanso do Aedes aegypti

    possibilitaram a disperso do vetor desde sua reintroduo, em 1976, e o avano da

    doena. De acordo com o Ministrio da Sade, essa reintroduo no conseguiu ser

    controlada com os mtodos tradicionalmente empregados no combate s doenas

    transmitidas por vetores no Brasil e no continente. Programas essencialmente

    centrados no combate qumico, com baixssima ou mesmo nenhuma participao da

    comunidade, sem integrao intersetorial e com pequena utilizao do instrumental

    epidemiolgico, mostraram-se incapazes de conter um vetor com altssima

    capacidade de adaptao ao novo ambiente criado pela urbanizao acelerada e

    pelos novos hbitos (BRASIL, 2002).

    .

    Por intersetorialidade, compreende-se o modo de gesto desenvolvido por meio de

    processo sistemtico de articulao, planejamento e cooperao entre os distintos

    setores da sociedade e entre as diversas polticas pblicas para intervir nos

    determinantes sociais. A intersetorialidade tem como princpios a

    corresponsabilidade, cogesto e coparticipao, entre os diversos setores e polticas

    em prol de um projeto comum (BRASIL, 2012). Desta forma pressupe-se atuar de

    forma integrada, que pode conduzir a melhores resultados no caso do

    enfrentamento da dengue.

    Diante do exposto e pelo aumento no nmero de casos tanto no municpio quanto na

    rea de abrangncia, o presente estudo visa analisar as principais causas desse

    incremento e o papel das aes intersetoriais no enfrentamento da mesma.

    Apesar da coerncia existente entre a proposta da intersetorialidade e a concepo

    ampliada do processo sade-doena, h pouco conhecimento acumulado sobre

  • 17

    experincias relacionadas s prticas intersetoriais. A insuficincia de estudos

    empricos sobre aes intersetoriais vinculadas a problemas de sade foi o estmulo

    realizao desse estudo, visando analisar as principais causas do incremento da

    dengue na rea de abrangncia do PSF Santana / Arraial D Angola e o papel das

    aes intersetoriais e de sade no enfrentamento da mesma.

    Nesse cenrio, torna-se imperioso que o conjunto de aes para preveno da

    doena sejam intensificadas, permitindo um melhor enfrentamento do problema e a

    reduo de casos da Dengue na rea de abrangncia.

  • 18

    2 JUSTIFICATIVA

    Atravs dos dados coletados e em relao alta incidncia da dengue no municpio

    de Paracatu/MG e rea de abrangncia do PSF Santana/Arraial D Angola, a equipe

    identificou a relevncia no controle da doena, tendo em vista o risco de

    complicaes e at de bitos em decorrncia do agravo.

    Faz-se importante e necessrio elaborar um plano de interveno tambm, tendo

    em vista que sua diminuio depender da ao de diversos atores, recursos

    humanos, materiais, apoio intersetorial e, principalmente, sensibilizao da

    populao quanto o seu importante papel na reduo do agravo.

  • 19

    3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Elaborar um projeto de interveno para diminuir a incidncia de casos de dengue

    no territrio onde est inserida a equipe do Programa de Sade da Famlia (PSF)

    Santana / Arraial D Angola, em Paracatu, Minas Gerais.

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Identificar as principais causas do incremento dos casos de dengue na rea de

    abrangncia Santana e Arraial D Angola.

    - Descrever a fundamentao terica para a proposta a ser elaborada.

    - Identificar aes intersetoriais que podem contribuir no enfretamento da dengue.

  • 20

    4 METODOLOGIA Para a identificao dos principais problemas de sade da rea de abrangncia

    correspondente aos bairros Santana e Arraial D Angola, foi utilizado o mtodo de

    estimativa rpida, que permite identificar os mesmos em um perodo de tempo

    relativamente curto e sem altos gastos, constituindo importante ferramenta para

    apoiar um processo de planejamento participativo. Seu objetivo envolver a

    populao na identificao das suas necessidades e problemas e, tambm, os

    atores sociais (autoridades municipais, organizaes governamentais e no

    governamentais etc.) que controlam recursos para o enfrentamento dos problemas

    (CAMPOS; FARIA; SANTOS, 2010).

    Os princpios que apoiam a estimativa rpida so: coletar somente os dados

    pertinentes e necessrios; obter informaes que possam refletir as condies e as

    especificidades locais e envolver a populao na realizao da estimativa rpida

    (CAMPOS; FARIA; SANTOS, 2010).

    Os dados levantados por meio deste mtodo foram coletados em trs fontes

    principais: nos registros escritos existentes ou fontes secundarias; em entrevistas

    com informantes-chaves e na observao ativa da rea.

    Em relao aos registros existentes, as fontes coletadas de dados foram: registros

    da Secretaria Municipal de Sade (SMS) de Paracatu, Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estadstica (IBGE), registros do Programa de Sade da Famlia (PSF) e

    do Setor de Vigilncia Epidemiolgica, Sistema de Informao de Ateno Bsica

    (SIAB). Os dados foram coletados pela equipe da unidade de sade Santana/ Arraial

    D Angola com importante participao das agentes comunitrias de sade (ACSs),

    nas visitas domiciliares feitas nas moradias, durante o ms de abril de 2014. Aps

    processados os problemas identificados, no diagnstico situacional da rea de

    abrangncia da equipe no PSF Santana / Arraial D Angola, foi elaborado um plano

    de interveno sobre o problema identificado.

  • 21

    Para o desenvolvimento do Plano de Interveno foi utilizado o Mtodo do

    Planejamento Estratgico Situacional (PES) simplificado, de acordo com Campos;

    Faria; Santos (2010).

    Segundo os autores, o PES foi desenvolvido pelo Prof. Carlos Matus Romo, Ministro

    de Governo de Salvador Allende, ento Presidente do Chile. Trs aspectos

    enfocados por Matus so importantes para a melhor compreenso dos fundamentos

    tericos do PES, sendo eles:

    O projeto de governo -- refere-se ao plano que uma equipe se prope a realizar para

    alcanar seus objetivos;

    A governabilidade -- diz respeito s variveis ou recursos que a equipe controla ou e

    que so necessrios para implementar seu plano;

    A capacidade de governo -- diz respeito experincia e acumulao de

    conhecimento que uma equipe domina e que so necessrios para implementao

    de seu plano. Esses trs pontos devem ser vistos numa interrelao dinmica.

    Diferentemente do planejamento tradicional, que considera possvel haver um

    conhecimento nico e objetivo da realidade, para o PES, o conhecimento e a

    explicao da realidade dependem da insero de cada ator e, logo, so sempre

    parciais e mltiplos.

    Matus define ator social como um coletivo de pessoas ou, no seu extremo, uma

    personalidade que, atuando em determinada realidade, capaz de transform-la.

    Para tanto fundamental que esse ator tenha ...o controle sobre recursos

    relevantes; uma organizao minimamente estvel; e um projeto para intervir nessa

    realidade..." (MATUS, 1993 apud CAMPOS; FARIA; SANTOS, 2010, p.27).

    O PES, a partir de seus fundamentos e mtodo, prope o desenvolvimento do

    planejamento como um processo participativo. Sendo assim, possibilita a

    incorporao dos pontos de vista dos setores sociais, incluindo a populao, e que

  • 22

    os diferentes atores sociais explicitem suas demandas, propostas e estratgias de

    soluo, numa perspectiva de negociao de diversos interesses em jogo.

    Todo mtodo de planejamento apresenta, no seu desenvolvimento, passos ou

    etapas como uma sequncia lgica de aes ou atividades. Matus identifica quatro

    desses momentos que caracterizam o processo de PES, que so apresentados a

    seguir:

    Momento explicativo: busca-se conhecer a situao atual, procurando identificar,

    priorizar e analisar seus problemas. Apesar das semelhanas desse momento com o

    chamado diagnostico tradicional, aqui se considera a existncia de outros atores,

    que tem explicaes diversas sobre os problemas, impossibilitando a construo de

    uma nica e objetiva da realidade.

    Momento normativo: quando so formuladas solues para o enfrentamento dos

    problemas identificados, priorizados e analisados no momento explicativo que

    podemos entender como o momento de elaborao de propostas de soluo.

    Momento estratgico: busca-se, aqui, analisar e construir viabilidade para as

    propostas de soluo elaboradas, formulando estratgias para alcanarem os

    objetivos traados.

    Momento ttico-operacional: o momento de execuo do plano. Aqui devem ser

    definidos e implementados o mtodo de gesto e os instrumentos para

    acompanhamento e avaliao do plano. Esse momento, apesar de suas

    especificidades, encontra-se intimamente articulados na pratica do planejamento,

    constituindo uma relao de complementariedade, dando-lhe carter processual e

    dinmico.

    Para subsidiar o plano de interveno foi realizada reviso bibliogrfica narrativa,

    com levantamento de artigos cientficos dos ltimos 12 anos utilizando a base de

    dados online LILIACS e SciELO, assim como manuais do Ministrio da Sade que

    contemplam o assunto.

  • 23

    Lakatos e Marconi (2006, p.66) sustentam que:

    A pesquisa bibliogrfica trata-se do levantamento, seleo e documentao de toda bibliografia j publicada sobre o assunto que est sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses, dissertaes, material cartogrfico, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo o material j escrito sobre o mesmo.

    Para a busca de artigos foram utilizadas as palavras - chave: dengue, preveno e

    controle, ao intersetorial. Os artigos foram selecionados no perodo de fevereiro a

    maio 2014 e, foram utilizadas as publicaes ocorridas entre 2002 a 2014. Foram

    encontrados diversos artigos sobre a dengue, entretanto selecionados apenas

    aqueles ligados temtica proposta.

  • 24

    5 REFERENCIAL TERICO 5.1 CONCEITO DE DENGUE

    A dengue uma doena infecciosa febril aguda, que pode ser de curso benigno ou

    grave, dependendo da forma como se apresente (BRASIL, 2010).

    Tauil (2010) afirmou ser a dengue uma doena reemergente no Brasil, uma vez que

    entre os anos de 1923 e 1982 no havia registros da ocorrncia dessa doena, em

    solo brasileiro.

    5.2 EPIDEMIOLOGIA DA DENGUE NO MUNDO

    As primeiras notificaes de epidemias de dengue ocorreram em 1779 e 1780 na

    sia, frica e Amrica do Norte. As ocorrncias simultneas e prximas de

    epidemias nos trs continentes indicam que o vrus e o mosquito vetor esto

    distribudos nos trpicos h mais de 200 anos (MAHMOOD, 2006; MACIEL;

    SIQUEIRA JNIOR; MARTELLI, 2008). As epidemias de dengue tiveram incio no

    sudeste Asitico, durante e aps a Segunda Guerra Mundial, nas dcadas de 1940 e

    1950, e se expandiram para o resto do mundo nas dcadas posteriores (MACIEL;

    SIQUEIRA JNIOR; MARTELLI, 2008).

    Os primeiros casos de Febre Hemorrgica do Dengue (FHD) apareceram na dcada

    de 1950, durante as epidemias nas Filipinas e na Tailndia. A partir dos anos 70, a

    dengue tornou-se uma das principais causas de internao e morte de crianas em

    alguns pases da regio. Atualmente, o dengue ainda afeta a maioria dos pases da

    sia e representa uma das principais causas de hospitalizao e morte de crianas

    (HALSTEAD, 2006).

    Em 2007, havia estimativas de que 975 milhes a 2,5 bilhes de pessoas residiam

    em regies consideradas endmicas de dengue, principalmente em reas urbanas,

    nmeros estes que correspondiam a quase a metade da populao global (FARRAR

    et al., 2007). Nas ltimas dcadas, continua crescendo exponencialmente o nmero

  • 25

    anual acumulado de casos de dengue e dengue hemorrgica notificadas

    Organizao Mundial de Sade (OMS). No perodo de 2000 at 2005, o nmero

    anual acumulado de casos foi de 925.896, quase o dobro dos registros de 1990 a

    1999 (479.848 casos) (NATHAN; DAYAL-DRAGER, 2007).

    O auge das notificaes de dengue para a OMS foi em 2001 quando 69 naes do

    Sudeste Asitico, do Pacfico Ocidental e das Amricas informaram casos de

    dengue. Entre 2001 e 2004, foram registradas atividades reemergentes de dengue

    com expanso geogrfica para o Buto, o Hawai (EUA), as ilhas Galpagos

    (Equador), a ilha de Pscoa (Chile), Hong Kong e Macao (China). Embora a

    tendncia seja de aumento dos casos de dengue e FHD, houve reduo da taxa de

    letalidade no perodo de 2000 at 2006, comparando-se com as dcadas anteriores

    (NATHAN; DAYAL-DRAGER, 2007).

    Em relao ao Sudeste Asitico, a Organizao Mundial de Sade estratifica os

    pases em quatro categorias diferentes (A, B, C e D), de acordo com a gravidade

    clnica e o perfil epidemiolgico. Na categoria A, esto os pases onde a dengue

    constitui um grande problema de sade pblica, so registrados casos de

    hospitalizao e morte entre crianas, a doena endmica em centros urbanos,

    ocorre circulao de mltiplos vrus e h expanso para a rea rural (Indonsia,

    Tailndia, Sri Lanka e Timor Leste). Na categoria B, esto os pases em que os

    ciclos epidmicos so frequentes, circulam mltiplos vrus e h expanso geogrfica

    para o interior do pas (ndia, Bangladesh, Maldivas). Na categoria C, so

    classificados os pases que apresentam endemicidade incerta, tais como Buto, cuja

    primeira epidemia aconteceu em 2004 e Nepal, que notificou casos de dengue em

    2006. Na categoria D, situam-se os pases onde no h evidncia de endemicidade,

    como o caso da Coria (WHO, 2007).

    Nas Amricas, a reemergncia do dengue ocorreu nas dcadas de 1960 e 1970 e os

    primeiros casos de FHD, na dcada de 1980 (GUZMAN; KOURI, 2003). Nos pases

    do Sudeste Asitico, foram registrados cerca de 1,16 milho de casos de FHD,

    principalmente em crianas, ao passo que, nas Amricas, foram notificados 2,8

  • 26

    milhes de casos de FHD em adultos e aproximadamente 65.000 casos de FHD no

    mesmo perodo de cinco anos (HALSTEAD, 2006).

    Na frica e nos pases do Mediterrneo, estima-se que os casos de dengue

    registrados pelo sistema de vigilncia epidemiolgica sejam subnotificados, portanto

    no representam a situao epidemiolgica (WHO, 2006). Em vrios pases dessas

    regies, foram registradas recentes epidemias de dengue (2005-2006): Madagascar,

    Paquisto, Arbia Saudita, Sudo e Yemen (NATHAN; DAYAL-DRAGER, 2007). A

    Europa o nico continente onde a dengue no endmica (WHO, 2006).

    A expanso geogrfica da dengue e o aumento da incidncia de casos tm sido

    frequentemente relacionados a fatores climticos, como o aquecimento global e os

    fenmenos el nio e la nia, que influenciam na intensidade das chuvas e produzem

    alteraes na biodiversidade dos pases em desenvolvimento, nas regies tropicais

    e subtropicais, facilitando a permanncia do seu principal transmissor o Aedes

    aegypti (WHO, 2004).

    Entretanto, a combinao de vrios fatores estruturais e conjunturais favoreceu a

    expanso e a manuteno da circulao do vrus e seus vetores. A inadequada

    infraestrutura bsica urbana (habitao deficiente, reservatrios de gua

    inadequados, limpeza de lixo insuficiente, etc.), decorrente sobretudo da migrao

    rural-urbana nas ltimas dcadas e da ausncia de polticas pblicas, dificulta o

    controle vetorial. Outros fatores de interesse mercadolgico que levam produo

    de grande quantidade de objetos e vasilhames descartveis contribuem de maneira

    significativa para a disperso do vetor. A rpida mobilidade de grupos populacionais

    tem sido tambm apontada como um fator de disseminao viral (TAUIL, 2002;

    FARRAR et al., 2007).

    5.2.1 EPIDEMIOLOGIA DE DENGUE NAS AMRICAS

    Por mais de trs dcadas, em vrios pases das Amricas, a reintroduo da dengue

    sofreu uma grande influncia do trabalho de erradicao do A. aegypti pelo

    programa de erradicao da Febre Amarela urbana no continente. Apesar do

  • 27

    compromisso da Organizao Panamericana de Sade (OPAS) e de muitos pases

    americanos para erradicao do A. aegypti, apenas 21 pases obtiveram xito na

    eliminao do vetor em seu territrio no perodo entre 1848 e 1972 (GUBLER, 2005).

    O fato de outros pases, como ilhas do Caribe, Guiana Francesa, Suriname,

    Venezuela e Estados Unidos, no alcanarem a erradicao do A. aegypti permitiu

    sua reinfestao em pases que j o haviam erradicado. A reintroduo da dengue

    nas Amricas comeou na dcada de 1960 com epidemias na Venezuela e em

    vrias ilhas do Caribe. A descontinuidade do programa, no incio da dcada de 1970

    em pases que j haviam erradicado, levou reinfestao de forma gradual e, em

    1987, quase todos os pases j estavam com A. aegypti em seu territrio, facilitando

    a reintroduo da dengue (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008).

    O DENV-1 foi reintroduzido nas Amricas na dcada de 1970, mas foram nos

    ltimos 22 anos que a incidncia de dengue apresentou uma tendncia de ascenso

    em todas as sub-regies com picos epidmicos em intervalos de 3 a 5 anos

    (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI 2008).

    Em 1981, em Cuba ocorreu a primeira epidemia de FHD nas Amricas. Foram

    notificados cerca de 344.000 casos de dengue/FHD, com 116.143 internaes,

    10.312 casos graves (nveis II a IV pelo critrio da OMS) e 158 bitos. Uma segunda

    epidemia ocorreu na Venezuela entre 1989 e 1990, com 3.108 casos de FHD e 73

    mortes. Nas Amricas foram notificados, entre os anos de 1981 e 1996,

    aproximadamente 42 mil casos de FHD com 581 bitos (MACIEL; SIQUEIRA-

    JNIOR; MARTELLI, 2008).

    Com a reintroduo do DENV-3 em 1994 e, sua expanso para os demais pases da

    Amrica Central, Mxico e Brasil, surgiu uma nova onda de epidemias nas Amricas

    (NOGUEIRA et al., 2002). Em fevereiro de 2007, a OPAS/OMS divulgou um alerta

    em relao s epidemias de dengue, caracterizando o perodo como um ano

    complexo. Em 2007, at a semana epidemiolgica 39, foram notificados 630.356

    casos de dengue, 12.147 casos de dengue hemorrgico e 183 mortes, o que

    representa uma taxa de letalidade de 1,5%. Neste mesmo perodo do ano anterior,

  • 28

    560.354 casos de dengue foram notificados, correspondendo a um aumento de

    11%. No ano de 2007, ocorreram epidemias no Paraguai, Honduras, Guiana, Costa

    Rica e Brasil (OPAS, 2007). Os quatro tipos de vrus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e

    DENV-4) circulam na Amrica do Norte (Mxico) e na Amrica do Sul (Venezuela e

    Colmbia). Em dezembro de 2004, os pases do Mercosul elaboraram um plano com

    Estratgias Integradas de Gesto para preveno e controle de dengue com objetivo

    de iniciar um sistema de vigilncia em regies de fronteira. Essas iniciativas de

    integrao de diagnstico e servios permitem um maior controle da disperso do

    Aedes aegypti e da difuso dos sorotipos entre pases (BRASIL, 2005; MACIEL;

    SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008).

    5.2.2 EPIDEMIOLOGIA DE DENGUE NO BRASIL

    A reinfestao do A. aegypti no Brasil, a partir do binio 1976-1977, criou o elo

    bsico da cadeia epidemiolgica para a reintroduo da dengue no pas (Tauil,

    2002). A primeira epidemia, documentada clnica e laboratorialmente, ocorreu no

    incio da dcada de 1980 no estado de Roraima (DENV-1 e DENV-4) e manteve a

    doena circunscrita em nvel regional (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI,

    2008).

    Aps um silncio epidemiolgico, em 1986, o Rio de Janeiro foi porta de entrada

    para a dengue com o subtipo DENV-1 (NOGUEIRA et al., 2002). Este novo cenrio

    caracterizou-se como oposto ao anterior, a localizao da cidade do Rio de Janeiro

    prxima dos grandes centros urbanos e o intenso fluxo de pessoas, o que dificulta o

    controle do Aedes, contriburam para a disperso da doena para os estados do

    Nordeste e para sua interiorizao, alcanando So Paulo, Minas, Mato Grosso do

    Sul e, posteriormente, outros estados, incluindo Gois, na dcada de 1990 (MACIEL;

    SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008). A situao epidemiolgica se agravou com a

    entrada do vrus DENV-2 no Rio de Janeiro em 1990, com incidncia de 613,8 casos

    por 100 mil habitantes e o registro dos primeiros casos de FHD (SIQUEIRA; et al.,

    2005).

  • 29

    Em sequncia, os vrus DENV-1 e DENV-2 foram se disseminando para outros

    estados do pas j infestados pelo Aedes aegypti, aumentado o nmero casos de

    dengue e a ocorrncia de epidemias (NOGUEIRA et al., 2002). Em 1994, aps 15

    anos de ausncia, o DENV-3 foi reintroduzido nas Amricas e, em 2000, no Brasil

    (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR, 2008). Na maior epidemia de dengue do Brasil, com

    mais de 1,2 milho de casos notificados em 2002, os DENV-1, DENV-2 e DENV-3

    co-circulavam (SIQUEIRA-JNIOR; et al., 2005; MEDRONHO, 2006).

    O Brasil o pas das Amricas mais afetado em nmero de casos de dengue, sendo

    responsvel por, aproximadamente, 70% dos casos notificados. A circulao

    concomitante dos trs sorotipos (DENV-1, DENV-2 e DENV-3) na maioria dos

    estados tem aumentado o nmero de casos graves e a taxa de hospitalizao

    (SIQUEIRA JNIOR et al., 2005; OPAS, 2007).

    No perodo de 1998 a 2002, a anlise dos casos notificados de dengue e FHD, por

    faixa etria, detectou aumento da proporo de casos de FHD em menores de 15

    anos (Amazonas), apontando para uma potencial mudana do perfil epidemiolgico

    (SIQUEIRA JNIOR; et al., 2005). Foram registrados 559.954 casos de dengue em

    2007, no mesmo perodo do ano anterior haviam sido detectados 345.922. Este

    aumento est relacionado principalmente epidemia no Mato Grosso do Sul.

    (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008).

    Outros quatros estados que apresentaram aumento de casos foram: Paran, So

    Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro (BRASIL, 2008). As mortes provocadas por

    dengue aumentaram de 77, em 2006, para 158, em 2007, no mesmo perodo

    (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008). Doze estados (Cear, Rio de

    Janeiro, Maranho, Pernambuco, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Piau, Gois,

    Alagoas, Paraba, Rio Grande do Norte e So Paulo) concentraram 90% dos casos

    de FHD e 74% dos bitos. Em 2007, foram notificados os primeiros casos

    autctones de dengue no estado do Rio Grande do Sul. Santa Catarina o nico

    estado sem casos autctones, mas com registro de 678 casos importados no ano de

    2007 (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008).

  • 30

    De janeiro a abril de 2008, at a semana epidemiolgica 14, o Ministrio da Sade

    registrou 230.829 casos suspeitos de dengue, os quais, quando comparados com os

    casos no mesmo perodo de 2007 (258.795), representam uma reduo de 10,8%. A

    incidncia da doena foi diversificada entre as cinco regies: reduo acentuada nas

    Regies Sul (-72,6%) e Centro Oeste (-71,7%) e aumento nas Regies Norte

    (49,3%), Nordeste (30,5 %) e Sudeste (19,8%). O estado do Rio de Janeiro notificou

    37% dos casos de dengue (85.511), 64% de FHD (686), 95% dos casos de dengue

    com complicao-DCC (3.141) e 81% dos bitos (43) (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR;

    MARTELLI, 2008). Outra importante alterao notificada por algumas Secretarias

    Estaduais de Sade, pela OPAS e divulgada pela imprensa diz respeito incidncia

    de casos graves em pacientes menores de 14 anos. O boletim da OPAS de 26 de

    maro de 2008 (EER Notcias: Enfermidades infecciosas emergentes y

    reemergentes, Region de las Amricas) relata que mais de 50% dos bitos ocorridos

    at aquela data haviam sido de crianas de 2 a 13 anos (OPAS, 2008).

    Considerando toda a extenso do pas, o Brasil apresenta como caracterstica do

    dengue um padro sazonal, com maior incidncia nos meses mais quentes e

    midos, o que corresponde aos primeiros cinco meses do ano (janeiro a maio)

    (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008).

    A caracterstica epidemiolgica de dengue, concentrao de casos em centros

    urbanos, vem sendo alterada com aumento da incidncia em municpios de pequeno

    e mdio porte. Atualmente, municpios com populao menor que 100.000

    habitantes notificaram 52% dos casos em 2007 e 16% das notificaes ocorreram

    em municpios com populao entre 100.000 e 500.000 habitantes (MACIEL;

    SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008).

    A dinmica de circulao viral e os dados de expanso da dengue para os

    municpios com populao < 100.000 habitantes permite deduzir que a incidncia da

    dengue e a ocorrncia de surtos dependem da imunidade de grupo, da populao

    susceptvel e da densidade vetorial, conforme a teoria de transmisso dos processos

    infecciosos e a experincia acumulada sobre dengue no mundo (TEIXEIRA; et al.,

    2002).

  • 31

    Os resultados dos exames realizados pelos Laboratrios Centrais dos Estados

    (LACEN), pela Coordenao Geral de Laboratrios e pelo Instituto Evandro Chagas,

    retratam um quadro de monitoramento da circulao viral no Brasil. Houve uma

    tendncia de reduo da circulao do DENV-1 (~3% das amostras isoladas) em

    anos recentes, com exceo dos estados do Par, So Paulo, Alagoas e Distrito

    Federal (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR; MARTELLI, 2008).

    No Brasil, registra-se elevada incidncia de casos de dengue, sorotipo DENV-3

    (77% das amostras isoladas), seguidos do sorotipo DENV-2 (20% das amostras

    isoladas). Na Regio Sul, o DENV-3 foi o nico sorotipo isolado nas amostras

    analisadas. Os sorotipos DENV-1, DENV-2 e DENV-3 foram isolados em oito

    estados brasileiros. A introduo e circulao do DENV-4 em pases como a

    Venezuela e a Colmbia, que fazem fronteira e apresentam intensificao comercial

    com o Brasil, facilita o risco potencial de introduo desse novo sorotipo com a

    ocorrncia de novas epidemias de dengue (MACIEL; SIQUEIRA-JNIOR, 2008).

    Em geral, os dados laboratoriais de vigilncia devem ser interpretados com cautela,

    uma vez que refletem a capacidade de testagem dos laboratrios e as normas

    vigentes do programa de controle. Os resultados podem refletir a testagem prioritria

    de casos pr-selecionados, geralmente por critrio de gravidade e/ou inconclusivos,

    sendo uma amostra enviesada, no representativa dos casos (MACIEL; SIQUEIRA-

    JNIOR; MARTELLI, 2008).

    5.2.2.1 Etiologia

    O vrus da Dengue composto por uma fita da cido ribonucleico (RNA), pertence

    famlia Flaviviridae e ao gnero Flavivirus, com quatro sorotipos conhecidos: DEN-1,

    DEN-2, DEN-3 e DEN-4 (BRASIL, 2005). ainda complexa a inter-relao dos

    fatores envolvidos na dinmica da circulao desses quatro sorotipos dos vrus do

    dengue, o que ocasiona confuso e incertezas em vrios campos do conhecimento

    (BARRETO; TEIXEIRA, 2008).

  • 32

    Os quatro sorotipos da dengue esto circulando nas Amricas, aumentando assim o

    risco de Febre Hemorrgica da Dengue na regio (FIGUEIREDO, 2009).

    5.2.2.2 Vetores

    Os vetores so mosquitos do gnero Aedes, sendo que a principal espcie de

    veiculao da doena no Brasil o mosquito Aedes Aegypti, que tambm

    transmissor da febre amarela. um mosquito urbano, de habito diurno e domstico.

    As fmeas fazem a postura de ovos em locais com agua parada e limpa ou pouco

    poluda, isto rica em oxignio (FEITOSA, 2012).

    De acordo com Figueiredo (2009) os ovos sobrevivem at dois anos sem contato

    com a agua, assim que houver condies favorveis, eles eclodem e do

    continuidade ao ciclo de vida. O clima favorvel para o desenvolvimento do mosquito

    uma temperatura acima de 20C. Sendo assim, no vero a doena acomete um

    grande nmero de pessoas devido as altas temperaturas e grandes quantidades de

    chuva, sendo estes timas para a reproduo.

    5.2.2.3 Formas de transmisso

    A transmisso feita atravs da picada da fmea do mosquito Aedes Aegypti, no

    ciclo homem-Aedes aegypti-home. Aps o mosquito ser contaminado atravs do

    repasto de incubao infectado, ele est apto a transmitir o vrus, depois de 8 a 12

    dias de incubao extrnseca (BRASIL, 2009b). Vale ressaltar que apenas a fmea

    transmite a doena uma vez que hematfago, ou seja, necessita de sangre para a

    maturao dos ovos.

    O mosquito costuma picar o ser humano no comeo da manh ou no final da tarde,

    pois tem hbitos diurnos. As picadas ocorrem nas regies dos ps, tornozelo e

    pernas. Isso devido ou fato de voar a uma altura mxima de meio metro do solo. Nos

    indivduos fmeas do Aedes Aegypti h a transmisso transovariana do vrus, de

    maneira varivel percentual das fmeas filha de um espcime infectado j nasce

    infectado (FIGUEIREDO, 2009)

  • 33

    Importante dizer que no existe transmisso de um doente para uma pessoa sadia

    atravs do contato ou secreo, nem em alimentos e fonte de agua. H relatos de

    casos de transmisso vertical (gestante-beb) do vrus DENV-2 ocorridos na

    Tailndia e Malsia (BRASIL, 2008). Lembrando que a dengue ocorre dissemina

    principalmente nos pases tropicais, onde as condies climticas so favorveis

    para proliferao do mosquito.

    5.2.2.4 Perodo de incubao

    O periodo de incubao do vrus da dengue varia de 3 a 15 dias, sendo em mdia

    de 5 a 6 dias (BRASIL, 2008).

    5.2.2.5 Perodo de transmissibilidade

    O perodo de transmissibilidade da doena compreende dois ciclos: um intrnseco,

    que ocorre no ser humano, e outro extrnseco, que ocorre no vetor. A transmisso

    do ser humano para o mosquito ocorre enquanto houver presena de vrus no

    sangue do ser humano, chamado perodo de viremia. Esse perodo comea um dia

    antes do aparecimento da febre e, vai at o 6 dia da doena (BRASIL, 2008)

    J no mosquito, aps um repasta de sangue infectado, o vrus aloja nas glndulas

    salivares da femea do mosquito; depois de 8 a 12 dias de incubao ocorre a

    multiplicao do vrus. Logo o mosquito capaz de transmitir a doena e assim

    permanece at o final de sua vida que dura cerca de 6 a 8 semanas (BRASIL, 2008)

    5.2.2.6 Manifestaes Clinicas

    A dengue, doena infecciosa febril aguda pode ter de curso benigno ou grave,

    dependendo da forma como se apresente, sendo denominada: Dengue Clssica

    (DC), Febre Hemorrgica da Dengue (FHD) ou Sndrome de Choque da Dengue

    (SCD). A Dengue clssica generalmente tem incio abrupto com febre alta, seguido

    de sinais e sintomas como cefaleia, mialgias, artralgias, prostrao, fadiga, dor

    retroorbitaria, nuseas, vmitos, prurido cutneo. Ocacionalmente pode ocorrer

    hepatomegalia. Dor abdominal acomete principalmente em crianas. Ainda pode

  • 34

    haver pequena manifestaes hemorrgica como petequeias, epistaxis,

    sangramento na gingiva, hematria, metrorragia e sangramento abdominal. Tem

    durao de 5 a 7 dias (BRASIL, 2010).

    No necessariamente, a pessoa acometida com a doena clssica apresentar

    todos estes sintomas. Vale destacar que a ocorrncia de febre com durao de at 7

    dias e pelo menos dois sintomas citados acima, sugestivo de dengue. Alm disso,

    a pessoa deve ter estado presente em rea endmica nos ltimos 15 dias (BRASIL,

    2008).

    J na febre hemorrgica da dengue e na sndrome do choque da dengue, os sinais e

    sintomas so bastantes parecidos. Na FHD, a partir do terceiro ou quarto dia ocorre

    um agravamento do caso, podendo ocasionar dores abdominais intensas, agitao

    ou letargia, sinais profundos de debilidade, palidez na face, pulso rpido e dbil,

    hipotenso postural e arterial, pulso rpido e fino desconforto respiratrio,

    hemorragias importantes como melena e hematmese, derrames cavitarios, vmitos

    persistentes, extremidades frias, cianose e queda de temperatura corporal. Neste

    caso, um achado laboratorial de grande importncia a trombocitopenia com

    hemoconcentrao concomitante (BRASIL, 2009b).

    Na SCD, forma mais rara da doena, observam-se alteraes neurolgicas delrio,

    sonolncia, depresso, coma, irritabilidade extrema, insuficincia heptica,

    hemorragia digestiva, derrame pleural. As manifestaes neurolgicas,

    generalmente, surgem no final do perodo febril ou convalescena (BRASIL, 2009b).

    Na SCD ocorre aumento da permeabilidade capilar, seguida da hemoconcentrao e

    falncia circulatria. de curta durao podendo levar ao bito em 12 a 24 horas ou

    pode correr recuperao rpida caso seja realizado a terapia antichoque (BRASIL,

    2010).

    5.3 DENGUE COMO PROBLEMA DE SADE PBLICA.

    A dengue hoje, a mais importante arbovirose que afeta o homem e constitui um

    srio problema de sade pblica no mundo, especialmente nos pases tropicais,

  • 35

    onde as condies do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferao

    do Aedes aegypti, o principal vetor da dengue (MAROUN; et al., 2008). O Aedes

    aegypti foi identificado como vetor secundrio na sia, e j se estabeleceu nas

    Amricas e partes da Europa e frica (OLIVEIRA, 2008, p.17).

    Nos perodos mais quentes, o mosquito encontra ambientes propcios

    multiplicao, tais como grande quantidade de recipientes descartveis, entre

    plsticos, latas e outros materiais, cujo destino inadequado, abandonados em

    quintais, ao longo das vias pblicas, nas praias e em terrenos baldios, destino

    inadequado para pneus usados, bem como os recipientes contendo gua, como

    vasos de flores, plantas aquticas dentre outros (TAUIL, 2010).

    Os ovos so depositados pelas fmeas nas paredes dos reservatrios, prximos a

    superfcie da gua, aps a postura os embries se desenvolvem em 48 horas,

    havendo condies ideais. O inseto adulto tem o perodo de vida que varia de

    poucas semanas podendo chegar at 45 dias, e o tempo entre a ecloso do ovo e a

    fase adulta varia em torno de 10 dias, se as condies forem favorveis. Os

    mosquitos passam por metamorfose completa em quatro fases distintas ovo, larva,

    pupa e adultos (OLIVEIRA, 2008).

    Fernandes de Oliveira (2003) afirmaram que os ovos no so postos na gua, e sim

    milmetros acima de sua superfcie, em recipientes tais como latas e garrafas vazias,

    pneus, calhas, caixas de gua descobertas, pratos de vasos de plantas ou qualquer

    outro recipiente que possa armazenar gua de chuva. Quando chove, o nvel da

    gua sobe, entra em contato com os ovos que eclodem em pouco mais de 30

    minutos. A adaptao aos criadouros artificiais favorecida pela sua temperatura

    interior, presena de gua limpa e entrada de nutrientes. Em um perodo que varia

    entre cinco e sete dias, o ciclo vital do Aedes aegypti compreende basicamente

    quatro fases: ovo, larva, pupa e adultos alado.

    Os embries formados podem resistir a longos perodos de dissecao. A fase

    larvria o perodo de crescimento e alimentao. Segue-se da fase larvria para a

    fase de pupa, quando ocorre a metamorfose para a vida adulta, esse perodo

    compreende de dois a trs dias, posteriormente o inseto adulto emergir da gua.

  • 36

    Aps um perodo de apenas 24 horas depois de emergir, esse mosquito j pode

    acasalar e uma nica inseminao suficiente para fecundar todos os ovos que a

    fmea venha a produzir durante sua vida (OLIVEIRA, 2008, p.18).

    Ainda segundo este mesmo autor, as fmeas se alimentam do sangue de

    vertebrados, mas o Aedes aegypti tem predileo pelo sangue humano, ou seja,

    antropoflia. O repasto sanguneo, que seria o ato do inseto alimentar-se diretamente

    de animal, fornece protenas necessrias para o desenvolvimento dos ovos. O

    horrio de maior atividade para alimentao nas primeiras horas da manh e ao

    anoitecer, outros horrios tambm ocorrem, quase sempre durante o dia (OLIVEIRA,

    2008).

    Os mosquitos adultos vivem em mdia de 30 a 35 dias, com 95% dos mosquitos no

    sobrevivendo o primeiro ms, mas esses podem viver at 45 dias. Passam toda a

    sua vida nas redondezas dos locais de onde eclodiu, uma vez que haja alimento e

    local ideal para postura dos ovos, Sua capacidade de vo pequena, no

    excedendo os 100 metros, mas h estudos que comprovam que as fmeas ao

    procurar local ideal para a postura voam at 3 km (OLIVEIRA, 2008).

    O Aedes aegypti um mosquito domstico, antropoflico, com atividade

    hematofagca diurna e utiliza-se preferencialmente de depsitos artificiais de gua

    limpa para colocar seus ovos. Esses mosquitos habitam os domiclios e peri-

    domiclios onde se alimentam e se reproduzem (TAUIL, 2002).

    Para Oliveira (2008), dentro de reservatrios os ovos do Aedes aegypti resistem a

    longos perodos de dissecao, o qual dificulta a erradicao do mosquito, uma vez

    que podem ficar mais de um ano sem o contato com a gua, perodo que chegaria

    at 450 dias. Com isso se tem um tipo de disperso passiva dos ovos, onde os

    mesmos, presos nas paredes secas de reservatrios so transportados para outros

    lugares, muitas vezes distantes, e quando entram em contato com a gua eclodem,

    causando a insero do vetos em reas onde no existiam. Um tipo de disperso,

    sendo consideradas menos importante, a disperso ativa, feita pelo inseto adulto

    que voa e bota seus ovos em outro lugar.

  • 37

    Os reservatrios so os principais criadouros e, podem ser classificados em dois

    tipos: os naturais, que so usados e criados pelo homem, que so as flores dentro

    de uma casa com a funo de paisagismo, ou mesmo uma rea verde prxima s

    residncias, com a funo de embelezamento ou valorizao dos imveis natural,

    mas que acumulam gua. J os reservatrios artificiais, tambm produzidos pelo ser

    humano, que so os pneus, caixas de gua destampadas, latas, garrafas, calhas de

    casas, lixo e vasos de plantas, que so locais com reteno de gua, de forma

    limpa. Nessas condies ocorre o aumento da quantidade de vetores, contribuindo

    com a epidemia da doena (PIRES, 2014).

    Os esforos em pesquisa tem sido despendidos a fim de prover uma vacina eficaz

    para uso preventivo contra a dengue. Em funo da gravidade do problema na

    sade pblica mundial, h previses de que nos prximos anos a vacina estar

    disponvel populao (OS MULTIPLICADORES, 2014).

    O ponto crtico da luta contra a dengue tem sido evitar a formao de criadouros do

    vetor responsvel por sua transmisso nos espaos privados e, em particular, nos

    espaos domsticos onde os servios de sade no tm autonomia de atuao.

    necessrio ocorrer mudanas de comportamento da populao de forma que sejam

    adotados hbitos que evitem a presena e a reproduo do Aedes aegypti,

    mudanas essas que esto estreitamente ligadas percepo que a populao tem

    sobre o problema (CAZOLA; et al., 2011).

    Para isso, Tauil (2010) chama ateno para que o combate aos vetores esteja

    orientado para a: [...] a eliminao dos seus criadouros potenciais, que consistem em recipientes artificiais de gua, como pneus usados expostos ao ar, depsitos de ferro velho descobertos, latas, garrafas e plsticos abandonados e limpeza de terrenos baldios; aplicao de larvicida em depsitos de gua de consumo; uso de inseticida para as formas adultas do mosquito, durante os perodos de transmisso. importante a incorporao de determinados hbitos no cotidiano das populaes, como evitar potenciais reservatrios de gua em quintais, troca peridica da gua de plantas aquticas, manuteno de piscinas com gua tratada. A estratgia para alcanar estas metas inclui uma intensa mobilizao comunitria, por todos os meios de comunicao modernos e um processo continuado e sustentado de educao em sade. Se verdade que os atuais meios de comunicao tm um poder muito grande de influenciar as pessoas e devem ser utilizados de forma oportuna e eficaz, a vida nas grandes e mdias cidades tem trazido dificuldades para as aes de busca e combate

  • 38

    aos vetores, pois, por razes de segurana, cada vez mais difcil entrar em domiclios, quer em bairros pobres, quer em reas ricas. A atividade de combate aos vetores carente de mo-de-obra e os governos federal, estaduais e municipais vm limitando a contratao de pessoal permanente, essencial para uma ao prolongada (TAUIL, 2010, p.101).

    Como visto, as aes de preveno da dengue tem um carter intersetorial, uma vez

    que necessitam de envolvimento de diversos seguimentos da sociedade,

    principalmente em relao a melhoria das condies de vida nas cidades, incluindo

    a as condies de moradia, coleta regular de lixo, abastecimento permanente de

    gua encanada e educao escolar (TAUIL, 2010).

    O controle da dengue exige, sem dvida, um esforo das autoridades de sade. Mas

    tambm preciso envolver outros setores da administrao de um municpio, a

    exemplo da limpeza urbana, abastecimento de gua, saneamento, educao e

    turismo, entre outros). importante lembrar que, para se reproduzir, o Aedes aegypti

    se utiliza todo tipo de recipiente que as pessoas costumam usar nas atividades do

    dia-a-dia. Esses recipientes costumam se juntar a cu aberto, nos quintais das

    casas, em terrenos baldios e mesmo em lixes. Por essa razo, necessrio que as

    aes para o controle da dengue sejam feitos de maneira intersetorial mas tambm

    a participao efetiva de cada morador, na eliminao dos criadouros j existentes,

    ou de possveis locais para reproduo do mosquito, de fundamental importncia

    (BRASIL, 2008).

    A ao intersetorial, como um processo organizado e coletivo, no pode ser

    espontnea. Trata-se de uma ao deliberada que requer o respeito diversidade e

    s particularidades de cada setor ou participante. Envolve espaos comunicativos,

    capacidade de negociao e intermediao de conflitos para a resoluo ou

    enfrentamento final do problema principal e para a acumulao de foras, na

    construo de sujeitos, na descoberta da possibilidade de agir (CAMPOS apud

    COMERLATTO, 2007).

    Campos; Barros; Castro (2004) destacaram outros aspectos que dialogam com a

    temtica da intersetorialidade na promoo da sade, inserindo novos atores na

    discusso. Tal iderio delineia-se como uma poltica que deve transitar em todos os

    nveis de complexidade da gesto e da ateno do sistema de sade, e para isso

    precisa mobilizar usurios e profissionais da sade, pois so eles os protagonistas

  • 39

    na organizao do processo de produo em sade envolvidos em um "processo de

    construo compartilhada", a partir de atitudes dialgicas, flexveis e generosas.

    Azevedo; Pelicioni; Westphal (2004) questionou a construo de aes intersetoriais

    que sejam apenas a soma de diferentes olhares interdisciplinares sobre um mesmo

    objeto, sem a participao dos atores envolvidos na problemtica em questo. A

    prtica da intersetorialidade deve responder s necessidades de sade das

    diferentes coletividades, mobilizando os setores necessrios para isso e envolvendo

    a populao em todas as etapas de implantao das aes. Amplia-se, assim, a

    discusso sobre a autonomia, sem desqualificar a centralidade do papel do Estado

    na melhoria das condies de vida e na formulao de polticas pblicas.

    Intersetorialidade processo de construo compartilhada, em que os diversos

    setores envolvidos so tocados por saberes, linguagens e modos de fazer que no

    lhes so usuais, pois pertencem ou se localizam no ncleo da atividade de seus

    parceiros. A intersetorialidade implica a existncia de algum grau de abertura em

    cada setor envolvido para dialogar, estabelecendo vnculos de co-responsabilidade e

    co-gesto pela melhoria da qualidade de vida da populao. Porm, a

    intersetorialidade no deve ser pensada como uma estratgia nica e/ou definitiva a

    ser aplicada sobre os diferentes territrios e populaes. Deve envolver a populao

    no percurso do diagnstico da situao avaliao das aes a serem implantadas

    (CAMPOS; BARROS; CASTRO, 2004).

    Para Lima; Vilasboas (2011) a dengue uma doena identificada como objeto do

    setor sade, no entanto outros setores podem ter dificuldade de reconhec-la como

    um objeto pertencente sua rea de atuao. Torna-se necessrio que a

    mensagem de mobilizao social, neste caso o controle da dengue, ganhe

    significado e relevncia no seio da sociedade e desencadeie um processo de

    mobilizao em face do problema.

    5.4 AES CONTRA DENGUE NA ATENO BSICA/ESTRATGIA SADE DA FAMLIA.

    Segundo dados do Ministrio da Sade (BRASIL, 2009b), nos ltimos anos foi

    evidenciado um aumento de casos de febre hemorrgica de dengue e, o maior

  • 40

    acometimento de crianas, exigindo que os servios de sade atuem mais

    efetivamente para controle da doena e diminuio do nmero de bitos.

    A Ateno Bsica Sade (ABS) tem um papel fundamental desenvolvendo aes

    na promoo, preveno e ateno ao doente com dengue. Nesse sentido, as

    equipes devem desempenhar suas atribuies relacionadas educao em sade e

    observao dos domiclios e espaos comunitrios orientando a comunidade para a

    identificao, remoo, destruio ou vedao de possveis criadouros. Esse

    trabalho deve estimular o morador ao autocuidado, ao cuidado do ambiente de sua

    residncia e de sua comunidade, no sentido de desenvolver o compromisso e o

    papel de ator da realidade onde vive, conferindo assim, maior sustentabilidade ao

    combate dengue (BRASIL, 2009b).

    No que se refere ateno aos doentes, experincias internacionais mostraram que,

    em uma rede assistencial efetiva, 65-75% dos casos de dengue podem ser

    resolvidos na ABS. Para isso importante que os servios estejam organizados,

    tenham definio clara de seu papel dentro da rede assistencial e previso da

    possibilidade de alterao do processo de trabalho durante o perodo epidmico.

    Todos os profissionais devem estar capacitados para a implantao dos protocolos

    de assistncia a fim de detectar precocemente os sintomticos, realizar tratamento

    oportuno, notificar e acompanhar os casos (BRASIL, 2009b).

    A Estratgia Sade da Famlia (ESF) vem buscando conduzir a mudana do modelo

    assistencial brasileiro. O sistema de sade vem saindo dos limites das unidades de

    sade para chegar onde as pessoas vivem, at no interior dos seus domiclios.

    Nessa estratgia, o agente comunitrio de sade (ACS) tem um papel central de

    constituir o elo entre a equipe de sade e sua comunidade (FERREIRA et al.,

    2009) para permitir o fortalecimento do vnculo com as famlias, proporcionar a

    aproximao das aes de sade ao contexto familiar e, tambm de aumentar a

    capacidade da populao no enfrentamento dos seus problemas (SANTOS, 2011).

    Esses atributos so essenciais no controle da dengue (FERREIRA et al., 2009).

    Analisando as aes de combate dengue, temos o exemplo vivenciado em So

    Lus MA, cuja estratgia de controle da dengue no bairro Cohab Anil I, objetivou a

  • 41

    mobilizao da comunidade, para construo de atitudes positivas para o

    enfrentamento da dengue. Foram pesquisados os problemas relativos aos

    oramentos de gua, conhecimento da dengue e feita uma discusso em relao

    aos dados coletados. As propostas construdas foram implantadas em conjunto com

    os gestores e a populao, e estabelecidos indicadores de monitoramento. A

    melhoria dos indicadores mostrou que a estratgia utilizada foi eficiente no controle

    da dengue, principalmente por incluir a populao como sujeito do processo

    (GOMES et al., 2005).

    Outro relato de experincia foi das aes desenvolvidas no Centro de Sade Glria,

    em Belo Horizonte. Onde foi constatado o elevado nmero de casos de dengue e

    propostas as seguintes orientaes para o enfrentamento do problema: melhorar o

    nvel de informao a populao sobre dengue, cuidados com os criadouros dos

    mosquitos, lixo e entulho, melhorar a fiscalizao de casa e dos lotes vagos pela

    populao, zoonose e outros rgos da prefeitura, organizar mutires regulares com

    a populao e melhoria do processo de trabalho para atendimento aos usurios com

    suspeita de dengue (OLIVEIRA et al., 2010).

    Os profissionais da sade, alm das notificaes, devem ter na educao em sade

    um instrumento de extrema importncia para levar informaes necessrias para a

    populao, induzindo a uma reflexo dos seus conhecimentos e desenvolvendo a

    responsabilizao dos indivduos pela reduo dos riscos sade

    (ALBUQUERQUE; STOTZ, 2004).

    O que foi reforado por Gubler (2002), quando afirmou que as campanhas

    educativas centradas na divulgao de informaes, pelos meios de comunicao

    de massa, e na divulgao dirigida a escolares e grupos da comunidade, entre

    outras medidas de preveno, tm atingido grande parte da populao,

    proporcionando conhecimento sobre a dengue, seus vetores e as medidas de

    controle.

    Para Iro (2014), a educao em sade se constitui um conjunto de saberes e

    prticas orientadas para a preveno de doenas e promoo da sade. Devido

  • 42

    gravidade da doena, o combate imprescindvel, e sem a ajuda da populao s

    aes seriam ineficazes. A participao da comunidade de fundamental

    importncia, visto que atravs das aes de educao em sade, ferramenta de

    extrema relevncia para o profissional de sade, os mesmos tornam-se

    cooperadores para a eliminao do vetor e proporciona populao autonomia para

    desenvolver a preveno necessria para a eliminao do vetor. Toda ao de

    educao tende a transformar uma atitude esttica diante de um problema de sade

    pblica e, isso amplia a viso dos moradores em prol do seu prprio benefcio.

    evidente a necessidade de atuao conjunta da populao e instituio no

    planejamento de atividades educativas, para preveno e controle da dengue,

    visando o fortalecimento do vnculo entre ambos. Desse modo, tem papel relevante

    para reduzir criadouros de Aedes aegypti. A atividade de educao em sade no

    decidir o que importante, mas facilitar as condies para as pessoas encontrarem

    a melhor forma de cuidar da sade, tendo atitudes conscientes, decidindo por seu

    projeto de vida. uma ferramenta que ao longo dos anos vem sendo discutida e

    recomendada e que cada vez mais se torna necessria dentro de um contexto

    sanitrio (SALES, 2008).

  • 43

    6. PLANO DE INTERVENO 6.1 CARACTERIZAO DO TERRITRIO 6.1.1 Identificao do municpio

    O nome do municipio Paracatu e est localizado no noroeste mineiro, com uma

    rea total de 8.229,6 km2, tem seu territrio inserido na microrregio do Noroeste de

    Minas, da qual tambm fazem parte os municpios de Joo Pinheiro, Guarda-Mor,

    Vazante, Brasilndia de Minas, So Gonalo do Abaet, Varjo de Minas,

    Presidente Olegrio, Lagoa Grande e Lagamar (PARACATU, 2013).

    O Municpio est situado a 483 km da capital do estado, Belo Horizonte, e apenas a

    220 km de Braslia, o que faz com que a Capital Federal se caracterize como o

    grande plo de atrao de todos os municpios desta regio, incluindo Paracatu

    (PARACATU, 2013).

    Segundo dados do IBGE (2013), possui densidade populacional de 10,8 hab./km e

    populao de 89 530 habitantes. Tem como municpios limtrofes, para o sul

    Guarda-Mor e Vazante, para o norte Una, para o leste Lagoa Grande e Joo

    Pinheiro, para o oeste o Estado de Gois (IBGE, 2010).

    6.1.2 Histrico de criao do municpio

    Paracatu, desde 1586, j era conhecida por europeus pela primeira bandeira

    percorrida pela cidade: a bandeira de Domingos Luis Grau. Posteriormente,

    sucessivas outras bandeiras passaram pela regio, como as de Antnio Macedo

    (1590), Domingos Rodrigues (1596), Domingos Fernandes (1599) e Nicolau Barreto

    (1602-1604). Entretanto o povoado surgiu efetivamente com a chegada das

    bandeiras de Felisberto Caldera Brant e de Jos Rodrigues Fris com a descoberta

    das abundantes jazidas de ouro e prata apesar de certo tipo de povoamento, com o

    ciclo do couro, ter se iniciado anteriormente. Assim surgiu o Arraial de So Luiz e

    Sant'Ana das Minas do Paracatu. O ttulo de Vila do Paracatu do Prncipe foi dado

    por alvar-rgio de dona Maria, rainha de Portugal, em 20 de outubro de 1798,

  • 44

    atendendo a consulta do Conselho Ultramarino. Pertencia Comarca do Rio das

    Velhas, com sede em Sabar e passou a denominar-se Vila do Paracatu do Prncipe

    (CHAGAS, 2013).

    Em 1840 Paracatu elevada cidade e se torna a cabea da Comarca de Paracatu

    (capital), que inclua em seu territrio cidades tais hoje como Uberlndia, no

    Tringulo Mineiro, e cidades ao norte de Minas (CHAGAS, 2013).

    Segundo a Revista do Arquivo Pblico Mineiro, no ano de 1800, a vila possua ao

    todo 17 450 habitantes. Destes, 1 935 eram brancos, 6 335 mulatos livres e 3 637

    eram negros livres. Haviam ainda cativos, 327 mulatos e 5 216 negros (PARACATU,

    2012).

    Paracatu uma das cidades histricas do Estado de Minas Gerais. Tem em torno de

    seu territrio cinco quilombos, os quais ainda preservam sua cultura, considerados

    uns dos mais ricos do estado de Minas Gerais. A cidade vem se desenvolvendo

    como um grande polo turstico e cultural, tendo sido tombada em 2010, pelo Instituto

    do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), como patrimnio cultural

    brasileiro (PARACATU, 2012).

    6.1.3 Descrio do municpio Aspectos Geogrficos:

    rea total do municpio: 8 229,595 Km2

    Hidrografia

    O principal rio de Paracatu originou o nome do municpio (Rio Paracatu),

    pertencendo Bacia do So Francisco. A regio relativamente seca, tendo sido

    necessria a construo de imensos canais de irrigao para a instalao de pivs

    centrais (projeto conhecido como Entre Ribeiros). Outros rios de grande relevncia

    para a cidade so o Rio So Marcos, divisor interestadual com o

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_S%C3%A3o_Marcos

  • 45

    municpio goiano de Cristalina, o Rio da Batalha, o Crrego Rico e o Crrego Santa

    Izabel (PARACATU, 2012).

    Vegetao

    Predomina, em Paracatu, a vegetao tpica do cerrado, com matas de galeria

    beira de rios. Pelo fato da abundncia e riqueza da flora e fauna na regio, o

    ecoturismo vem se mostrando como um grande potencial econmico no local,

    abrindo espao para polticas de empreendimentos ecolgicos e sustentveis

    (PARACATU, 2012).

    Clima

    O municpio de Paracatu apresenta um clima tropical semimido, com veres

    chuvosos e com perodo seco durando entre quatro e cinco meses por ano, com

    exceo das nascentes dos rios Pretos, Prata e Sono, onde a disponibilidade hdrica

    situa-se entre 10 e 20 litros por segundo por quilmetro quadrado, e, temperatura

    oscilando entre:

    Temperatura mdia anual: 22 C

    Temperatura mxima anual: 32,8 C

    Temperatura mnima anual: 11,6 C

    ndice pluviomtrico anual: 1350 mm

    Umidade relativa mdia anual: 71,6%

    Coeficiente de variao da precipitao anual: 37,1% (PARACATU, 2013).

    Segundo dados da Companhia Energtica de Minas Gerais (Cemig) e do Instituto

    Nacional de Meteorologia (INMET), a temperatura mnima registrada em Paracatu foi

    de 2,5C, ocorrida no dia 22 de junho de 1952. J a mxima foi de 41,5C,

    observada dia 30 de outubro de 2008. O maior acumulado de chuva registrado na

    cidade em 24 horas foi de 176,3 mm, em 13 de dezembro de 1953 (PARACATU,

    2012).

    6.1.4 Aspetos socioeconmicos

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Goi%C3%A1shttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cristalinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cerradohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_Energ%C3%A9tica_de_Minas_Geraishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Nacional_de_Meteorologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Nacional_de_Meteorologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/22_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1952http://pt.wikipedia.org/wiki/30_de_outubrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/2008http://pt.wikipedia.org/wiki/Chuvahttp://pt.wikipedia.org/wiki/13_de_dezembrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1953

  • 46

    ndice de Desenvolvimento Humano (IDH):

    O ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) um ndice composto por

    trs indicadores de desenvolvimento humano: vida longa e saudvel (longevidade),

    acesso ao conhecimento (educao) e padro de vida (renda).

    Entre os trs indicadores que compem o IDHM, o que mais contribuiu para a

    pontuao geral do Brasil, em 2013, foi o de longevidade, com 0,816 (classificao

    desenvolvimento muito alto, seguido por renda (0,739; alto) e por educao

    (0,637; mdio). Apesar da educao ter o ndice mais baixo dos trs, foi o indicador

    que mais cresceu nos ltimos 20 anos, de 0,279 para 0,637 (128%). Segundo o

    Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), esse avano

    motivado por uma maior frequncia de jovens na escola (2,5 vezes mais que em

    1991). No indicador longevidade, o crescimento foi 23% entre 1991 e 2010; no caso

    de renda, a alta foi de 14% (PORTAL, 2013).

    Segundo IBGE (2013), Paracatu ocupou a posio 667 dentre os 5.565 municpios

    pesquisados, cinco a menos que o total de municpios brasileiros (e ficou a frente de

    algumas cidades da regio como Una (876), Vazante (719), Guarda Mor (2182)

    e Joo Pinheiro (1995). A tabela 1 mostra os valores do IDHM em Paracatu, em

    relao a outros municpios do estado.

    Tabela 1- ndice de desenvolvimento humano do municpio de Paracatu em relao ao outros municpios do Estado.

    Posio

    Nome

    IDHM

    IDHM Renda

    IDHM

    Longevidade

    IDHM

    Educao

    667 Paracatu 0.744 0.704 0.854 0.685

    876 Una 0.736 0.723 0.847 0.651

    1995 Joao Pinheiro 0.697 0.683 0.788 0.630

    719 Vazante 0.742 0.707 0.866 0.666

    2182 Guarda Mor 0.690 0.709 0.829 0.558

    Fonte: IBGE, 2013

    Taxa de Urbanizao:

  • 47

    Com 87,1 % de taxa de urbanizao, Paracatu abrigava, conforme dados do ltimo

    censo do IBGE (2010), um total de 84.718 habitantes, dos quais 73.770 em sua rea

    urbana. A taxa de crescimento anual no ltimo decnio (2000/2010), da ordem de

    1,13 semelhante taxa de crescimento do Brasil, de 1,1 a.a. (estimativa para

    2012); no obstante, a dinmica da cidade indica que, desde a data do ultimo censo

    verifica-se um significativo movimento migratrio em direo cidade, o que pode

    provocar alteraes nas projees realizadas. A Tabela 2 abaixo mostra a evoluo

    da populao total e das taxas de urbanizao de Paracatu, nos ltimos decnios.

    Tabela 2- Evoluo da populao total e das taxas de urbanizao de Paracatu nos ltimos decnios. 1970 1980 1991 2000 2010

    Total 36.821 49.014 62.774 75.216 84.718 Urbana 17.472 29.900 49.710 63.014 73.770 Rural 19.349 19.114 13.064 12.202 10.917 %Urb./total 47,5 61,0 79,2 83,8 87,1 %Rur./total 52,5 39,0 20,8 16,2 12,9

    Fonte: IBGE, 2010

    Cabe observar ainda que a populao no se distribui de maneira uniforme no

    espao urbano, apresentando valores mais significativos no Ncleo Histrico/rea

    comercial, na rea em que se localiza o bairro de Alto Aude e no Paracatuzinho. No

    geral, a densidade populacional do ncleo urbano de Paracatu relativamente

    baixa.

    Quanto ao crescimento da populao, a Tabela 3 e o grfico 1 a seguir demonstram

    que as taxas mdias intercensitrias situam-se prximas da unidade na ltima

    dcada, isto , de crescimento nulo. A tendncia de evoluo da populao total e

    urbana declinante para todas as dcadas, similar do Brasil e de Minas Gerais,

    motivada pela reduo da fecundidade do mesmo modo que a rural, com

    crescimento negativo em todas as dcadas, mas influenciada em elevada proporo

    por questes de estruturas produtivas e agrrias e pela atratividade da cidade.

  • 48

    Tabela 3 Taxas mdias de crescimento intercensitria da populao recenseada, de Paracatu entre o perodo de 1980-2010.

    Fonte: IBGE, 2010.

    Grfico 1 Taxas mdias de crescimento intercensitria da populao recenseada, de Paracatu entre o perodo de 1980-2010.

    Fonte: IBGE, 2010.

    Renda mdia familiar:

    Renda mdia domiciliar percapita segundo Municpio: R$ 632,71

    Embora a renda percapita no municpio seja alta, temos um nmero alto de famlias

    com renda menor a 1\2 e 1\4 do salrio mnimo como est representado na tabela 4.

    Tabela 4- Proporo de pessoas de baixa renda no municpio Paracatu, no ano de 2010.

    1980/70 1991/80 2000/91 2010/00

    Total 1,33 1,28 1,20 1,13 Urbana 1,71 1,66 1,48 1,17 Rural 0,99 0,68 0,84 0,89

  • 49

    % populao com

    renda < 1/2 SM

    % populao

    com renda < 1/4

    SM

    Populao

    com renda <

    1/2 SM

    Populao

    com renda <

    1/4 SM

    Populao total

    30,91

    8,53

    26.067

    7.197

    84.328

    Fonte: DATASUS, 2010.

    Distribuio de gua e coleta de esgoto sanitrio

    Segundo o IBGE (2010), a cidade de Paracatu conta com a quase totalidade da

    oferta de gua encanada na populao urbana, 94,5%. Embora conte com uma

    estao de tratamento de esgotos operado pela Companhia de Saneamento de

    Minas Gerais (COPASA) e uma quase completa rede de coleta, h indicaes deque

    a referida estao no trata mais do que cerca de 60% do esgoto coletado. O

    emissrio que leva o esgoto at a estao encontra-se implantado dentro da calha

    do Crrego Rico, entre sedimentos contaminados por mercrio, proveniente do

    garimpo artesanal, existente at a dcada de 1980.

    Principais atividades econmicas:

    Destaca-se em Paracatu a produo agropecuria (principalmente a produo de

    soja, milho e feijo e a criao extensiva de gado nelore) e a extrao de minrios,

    principalmente o ouro (no Morro do Ouro), o que feito pela empresa Kinross, sendo

    a maior mina de ouro do Brasil e a maior a cu aberto do mundo, segundo dados do

    ministrio pblico. Recentemente, a cidade recebe investimentos na rea

    de biocombustveis com a instalao de usinas de lcool e acar na regio

    do Entre Ribeiros (PARACATU, 2012) .

    Em Paracatu, o Produto Interno Bruto (valor adicionado) composto por:

    Agropecuria: 15.568.048 reais; Indstria: 54.306.183 reais e Servios: 97.398.820

    reais

    Acesso e transportes

  • 50

    Paracatu entrecortado por duas rodovias importantes: BR-040 e MG-188, alm

    da GO-020, que fazem a ligao do municpio com outras partes do Pas, como

    tambm com outros centros importantes do Estado. A empresa Expresso Planalto,

    fornece o servio de transporte pblico no municpio, com linhas que ligam todo o

    permetro urbano e tambm outros distritos da cidade como So Sebastio, Lagoa

    de Santa Rita e So Domingos. A cidade de Paracatu conta com duas rodovirias:

    uma no bairro Bela Vista, onde operam diariamente partidas e chegadas para Belo

    Horizonte, So Paulo, Rio de Janeiro, Braslia, Goinia, Patos de Minas, Araguari,

    Uberlndia, Uberaba, Una, Patrocnio, Vazante, Campinas, Juiz de Fora, Ribeiro

    Preto, Cristalina, Guarda Mor, Joo Pinheiro, dentre outras; e outra na Vila Alvorada,

    sada para Belo Horizonte, na BR-040, onde os destinos so: Rio de Janeiro, Ub,

    So Joo Del Rey, Vitria, Ouro Preto, Ilhus, Goinia, Caratinga, Diamantina,

    Montes Claros, Januria, Porto Seguro (PARACATU, 2012).

    Aeroporto

    O municpio conta com o Aeroporto Municipal Pedro Rabelo de Sousa. Encontra-se

    em homologao pela Agncia Nacional de Aviao Civil (ANAC), disponibilizao

    de voo comercial, operado pela Trip/Azul Linhas Areas entre Paracatu e Belo

    Horizonte. Com escalas em Goinia, Patos de Minas, Rio Verde, Governador

    Valadares, Uberlndia e Ipatinga.

    Turismo

    O turismo na cidade de Paracatu cresce em uma escala bastante grande. Isto se

    deve principalmente ao fato do municpio, no ano de 2010, ter sido tombado

    patrimnio histrico nacional e cultural brasileiro pelo IPHAN, e por incentivos

    pblico-privados, como na criao da Associao de Condutores de Turismo de

    Paracatu, atualmente coordenadora do Centro de Atendimento ao Turista, local no

    qual o visitante pode contar com informaes referentes aos atrativos da cidade e

    com condues. A criao de projetos de educao patrimonial e a preservao do

    ncleo histrico, dos atrativos naturais e dos quilombos remanescentes da cidade

    deram bons frutos para o desenvolvimento do turismo no local.

  • 51

    Paracatu pertence ao seleto grupo das dez cidades nacionalmente tombadas em

    Minas Gerais, o que a coloca no patamar de um dos municpios mineiros mais ricos

    culturalmente e patrimonialmente, sendo integrante tambm da Associao das

    Cidades Histricas de Minas Gerais (PARACATU, 2012).

    Outro atrativo da regio so os eventos que esto no calendrio festivo anual da

    cidade. Paracatu possui dezenas de eventos durante o ano, sendo estes de cunho

    religiosos, agropecurios, culturais e esportivos (PARACATU, 2012).

    6.1.5 Demografia

    Segundo o IBGE (2013) sua populao estimada em 2013 era de 89 530 habitantes,

    sendo assim, o municpio de maior concentrao populacional do noroeste de

    Minas. Existe predomnio da raa parda com um 58.0% como aparece na tabela 5 e

    no grfico 2, como conseqncia da miscigenao de raas.

    Tabela 5- Porcentagem populacional em relao raa no municpio de Paracatu/MG

    Fonte: IBGE, 2013.

    Grfico 2- Porcentagem populacional em relao a raa no municpio de Paracatu/MG

    Cor/Raa Porcentagem

    Branca 24.5%

    Negra 16.0%

    Parda 58.0%

    Amarela 1.0%

    Indgena 0.1%

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Noroeste_de_Minashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Noroeste_de_Minas

  • 52

    Fonte: IBGE, 2013.

    Taxa de crescimento anual: 1.13

    Densidade demogrfica: 10.8 hab./Km (IBGE, 2013)

    Taxa de escolarizao

    Como pode ser observado na tabela 6, a taxa de analfabetismo estimada para o

    municpio Paracatu no 2010 foi de 7,7 %.

    Tabela 6 -Taxa de analfabetismo, Populao alfabetizada, Populao no alfabetizada, Populao de 15 anos ou mais segundo municpio.

    Taxa de

    analfabetismo

    Populao

    alfabetizada

    Populao no

    alfabetizada

    Populao de 15

    anos ou mais

    7,7 57.917 4.461 62.378

    Fonte: DATASUS, 2010.

    Proporo de moradores abaixo da linha de pobreza

  • 53

    A pobreza (medida pela proporo de pessoas com renda domiciliar per capita

    inferior a R$ 75, 50, equivalente metade do salrio mnimo vigente em agosto de

    2000) diminui 26,80%, passando de 47,4% em 1991 para 34,7% em 2000, como

    pode ser observado nas tabelas 7 e 8. A desigualdade cresceu: o ndice de Gini

    passou de 0,58 em 1991 para 0,61 em 2000.

    Tabela 7- Porcentagem de alguns indicadores de pobreza no municpio de Paracatu.

    Indicadores de pobreza Porcentagem Incidncia da pobreza 40,05% Limite inferior da incidncia da pobreza 30,5 % Limite superior da incidncia da pobreza 49,58 % Incidncia da pobreza subjetiva 35,94% Limite inferior da incidncia da pobreza subjetiva

    30,99%

    Limite superior da incidncia da pobreza subjetiva

    40,88 %

    Fonte: IBGE, 2003.

    Tabela 8 Indicadores de pobreza comparando os anos 1991 e 2000, no municpio Paracatu.

    Fonte: PARACATU, 2013.

    ndice de desenvolvimento da educao bsica (IDEB), absoluto e relativo no

    Brasil.

    A cidade recebe cada vez mais estudante de toda a regio para cursar seu ensino

    superior em instituies como a Faculdade do Noroeste de Minas, Tecsoma,

    Indicadores de pobreza 1991 2000 % de indigentes 19,34% 13,28% % de crianas indigentes 26,24% 19,07% Intensidade da indigncia 31,65% 44,37% % de pobres 47,43% 34,72% % de crianas pobres 57,79% 46,47% Intensidade da pobreza 41,51% 41,34%

  • 54

    Faculdade Atenas, Unimontes (campus Paracatu) e, mais recentemente, o Instituto

    Federal do Tringulo Mineiro (campus Paracatu). Em Paracatu, h 39 escolas de

    ensino fundamental, 31 escolas de pr-escola e dez escolas de ensino mdio. As

    matrculas por srie se divi