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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO ÁUREA MARIA COSTA ROCHA DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: influências atribuídas a “Professores Referência” a partir da formação, construção da identidade profissional e profissionalidade docente. Recife, 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE … Áurea... · ... construção da identidade profissional e ... A todos os professores e ... A presente pesquisa toma a docência na

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

ÁUREA MARIA COSTA ROCHA

DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: influências atribuídas a “Professores

Referência” a partir da formação, construção da identidade profissional e

profissionalidade docente.

Recife, 2014

ÁUREA MARIA COSTA ROCHA

A DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: influências atribuídas a “Professores

Referência” a partir da formação, construção da identidade profissional e

profissionalidade docente.

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito parcial

para a obtenção do grau de doutora em

Educação.

Orientadora: Prof.ª Drª. Maria da Conceição

Carrilho de Aguiar

Recife, 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

ÁUREA MARIA COSTA ROCHA

DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: influências atribuídas a “Professores

Referência” a partir da formação, construção da identidade profissional e

profissionalidade docente.

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof.ª Drª. Maria da Conceição Carrilho de Aguiar - UFPE

1ª Examinadora/Presidente

_______________________________________

Prof.ª Drª. Maria Isabel da Cunha – UNISINOS

2ª Examinadora

_________________________________________

Prof.ª Drª.Telma de Santa Clara Cordeiro –UFPE.

3ª Examinadora

______________________________________

Prof.ª Drª. Kátia Maria da Cruz Ramos - UFPE

4ª Examinadora

_________________________________

Prof.ª Drª. Aida Maria Monteiro - UFPE

5ª Examinadora

MENÇÃO DE APROVAÇÃO: APROVADA

Recife, 25 de agosto de 2014.

A Arimatéa esposo e companheiro, sempre ao

meu lado dando força e incentivando meu

crescimento pessoal e profissional.

Aos meus filhos Cristiane, Vitor Hugo e

Eudes, pelo amor, pelo carinho, e incentivo

ao me fazerem acreditar na minha ousadia.

A tese saiu.

AGRADECIMENTOS

Jesus Cristo mestre maior de todos os tempos.

A minha Orientadora Maria da Conceição Carrilho de Aguiar

por sua seriedade, paciência, confiança, palavras de

incentivo e parceria no encaminhamento dessa trajetória.

Á banca de qualificação Professoras doutoras

Maria Conceição Carrilho de Aguiar,

Telma de Santa Clara Cordeiro, Kátia Maria da Cruz Ramos,

Márcia Maria Melo de Oliveira e Vera Lúcia Bazzo

pela valiosa contribuição no processo

da pesquisa

As Professoras doutoras

Maria Isabel da Cunha e Aida Maria Monteiro

pelo olhar cuidadoso e discussão na defesa da tese

Aos Professores Referência, Coordenadores e Estudantes

das Licenciaturas de Letras, História, Matemática,

Educação Física e Pedagogia colaboradores

desta pesquisa, cuja valiosa contribuição

foi indispensável

A Marlene, Ednea, Fernandinho, Dayse,

Viviane, Ana Flávia e Elisângela

companheiras da turma 9 do doutorado e colegas

de profissão com os quais dividimos saberes e

compartilhamos aprendizagens.

A todos que fazem parte da equipe de Gerências de Políticas

Educacionais do Ensino Médio, amigas e amigos

com quem divido a missão de pensar e agir

pela e para a Educação.

Em especial a Raquel de Queiroz e

Conceição Santos pela compreensão e

amizade durante esse tempo de

construção da tese

A Rozineide, Rita Fabiana e Marlon pelas

contribuições nos abstract, resumen, résumé .

Muito obrigada.

A Vicentina Ramires pela cuidadosa

e minuciosa revisão do texto

A Secretaria do Programa de Pós-Graduação do

doutorado em Educação nas pessoas de

Morgana, Shirley, Karla e Belinha

que sempre nos atenderam

de forma afetuosa

Aos colegas e amigos do DMTE Mary, Rosangela, Rute,

Gilda, Tereza, Francimar, Everson, Ivanilde,

Zélia e Batista, pelo acolhimento,

respeito e carinho, a mim dedicados

As colegas Gabriela, Viviane, Valdiene, Thamyris,

Marlene, Nathali, Fernanda,Renata e Conceição participantes do

grupo de estudos de Representações

Sociais, Identidade e Formação

de Professores-GEPRIF

pela troca de saberes

A minha mãe Adrina, inspiração maior de tornar-me professora,

com quem aprendi entre tantas coisas meus primeiros

rabiscos, o verdadeiro significado da palavra

família, compreender o mundo, as pessoas,

e os primeiros saberes da docência:

olhar o estudante com um ser em formação.

Aos meus irmãos Benigno, Alex, Armando e Róbson e

as minhas irmãs Vilma e Arlene pela compreensão

das minhas ausências

nas suas vidas.

Aos meus filhos Vitor Hugo e Eudes pela compreensão

e paciência, carinhos e cuidados a mim dedicados

mesmo quando estive ausente nas suas vidas.

. A minha filha Cristiane amiga e companheira

em todos os momentos, e todas as horas

das nossas vidas, pelo incentivo

e confiança

A todos os professores e professoras do PPGE

que um dia compartilharam comigo seus

conhecimentos, saberes e sabedoria.

A todos que de uma forma ou de outra contribuíram

na realização de mais um sonho.

Muito grata!

Não poderia deixar de agradecer a uma pessoa especial

Ao professor José de Arimatéa Rocha,

meu esposo, com quem afetivamente

vivi os melhores anos

de minha vida.

Que, sendo meu professor; com ele aprendi

a gostar de matemática e dos desafios

que o ensinar/aprender proporciona

quando nos dedicamos

a vencê-los.

Que, sendo meu esposo, com ele aprendi a amar,

a dividir, a somar e multiplicar tudo de bom

que a vida nos proporcionou e, a

transformar aquilo não tão bom

em experiências e

amadurecimento

na vida a dois.

Obrigada Ari

Por ter oportunizado, na trajetória de nossa vida,

aprendizagens referentes a cultivar os saberes

necessários a “ser e estar”, ao mesmo tempo,

mulher, esposa, mãe, amiga, companheira e profissional

exercendo as diferentes

identidades que os diversos fazeres/saberes

nos permitiram exercer.

Pela família que construímos e por compreender

todas as ausências e falhas cometidas

durante minha/sua/nossa história de vida,

que hoje, certamente , teremos

algo mais para comemorar

- a realização de um sonho –

minha tese concluída!

RESUMO

A presente pesquisa toma a docência na universidade como espaço-tempo de formação e

nela investiga a influência de professores considerados referência, a partir da formação,

construção da identidade profissional e profissionalidade docente dos futuros professores no

contexto universitário, considerando o que dizem e pensam estudantes, professores e

coordenadores. Elege como categorias centrais Docência na Universidade; Saberes,

Identidade profissional; Profissionalidade Docente e Professor Referência. Buscamos

compreender essas categorias subsidiadas nos estudos de Cunha (1998), Freire (1997),

Contreras (2002), Nóvoa (2009), Dubar (1997), Shulman (1986), Tardif (2005), Roldão

(2007), Sainsaulieu (1985), Aguiar (2006), Ramos (2010), entre outros. Utiliza uma

metodologia predominantemente qualitativa cujos procedimentos teórico-metodológicos

foram o questionário e a entrevista semiestruturada. Define como campo empírico o Campus

da UFPE - Recife, e nele cinco Cursos de Licenciatura. Os participantes da pesquisa foram

estudantes, coordenadores e professores específicos dos referidos cursos. O questionário foi

aplicado inicialmente a (120) cento e vinte estudantes, os quais indicariam os professores

referência dos seus cursos, a sua compreensão sobre o professor referência e contributos

destes na sua formação inicial docente, e em seguida aos coordenadores. A entrevista semiestruturada foi aplicada a (05) cinco professores referência indicados pelos estudantes

representando as cinco licenciaturas. A investigação considera o contexto sócio histórico e

temporal em que foi realizada, posto que carrega subjetividades de quem a realiza. Os dados

coletados foram tratados a partir da Análise de Conteúdo, através da Análise Temática de

Bardin (2011). Tais análises revelaram que o professor referência foi se constituindo em

diversos aspectos, da sua trajetória pessoal, escolar e profissional que transversalizaram a

sua história de vida no processo de “vir a ser professor”. Anuncia ainda que, a tessitura

traçada, entre o que dizem e pensam estudantes, professores e coordenadores, resulta em um

possível conceito de professor referência que agrega os seguintes elementos: ama o que faz

acima de tudo, vê os estudantes como seres humanos, escuta, orienta, aconselha, mas

também exige, produz e incentiva a produção do conhecimento, desafiando-os a construírem

sua autonomia intelectual, valorizando-os afetiva, social e intelectualmente. Apresenta a

preocupação em fazer com que aprendam não só o conteúdo, mas que aprendam a ensinar a

ensiná-lo, que não apenas “forma”, mas inova. A despeito de todo o discurso circulante

sobre professor referência, o estudo revela, ainda, que os professores aprendem a ensinar

observando outros professores, experimentando, aplicando modelos de ex-professores,

quando aluno, e no próprio exercício da docência. Portanto, para eles, o fazer, o modelo do

professor, que foi referência na sua formação, se pereniza, porém não os emoldura, posto

que essas referências foram elementos que lhes proporcionaram ao iniciar a docência certa

segurança no exercício da profissão e posteriormente certa autonomia para, assumirem a

identidade e construírem a sua profissionalidade docente. Ressalta ainda a importância dos

professores referência, em especial aqueles que lecionam nos cursos de licenciatura, para

além de dominarem os saberes disciplinares e específicos da sua formação, incorporem a sua

prática docente os saberes teóricos que fundamentam o campo da educação e, sustentam a

profissão docente.

Palavras-Chave:

Docência na Universidade. Saberes. Identidade Profissional. Profissionalidade Docente.

Professor Referência.

ABSTRACT

This research takes the teaching at the university as a space and time for training, and

investigates the professors’ influence considered as a reference in terms of formation,

construction of professional identity and graduating teachers’ teaching professionalism in the

academic context, taking into account what the students, professors and coordinators say and

think. This study chooses these aspects as central categories: teaching at the university;

knowledge, professional identity; teaching professionalism and Reference Professor. We

sought to understand these central categories based on Cunha (1998); Freire (1998);

Contreras (2002), Nóvoa (2009); Dubar (1997) Shulman (1986); Tardif (2005); Roldão

(2007); Sainsaulieu (1985); Aguiar (2006); Ramos (2010) among other scholars. The survey

utilizes a predominantly qualitative approach of which theoretical and methodological

procedures were the questionnaires and the semi-structured interview. The Federal University

of Pernambuco (UFPE) in Recife was defined as the empiric field and inside the campus five

Degree Courses. The participants were students, coordinators and professors of those courses

were chosen. The questionnaires were applied initially to one hundred and twenty (120)

students who indicated the reference professors in the courses, their understanding about the

reference teacher, as well as their understanding of the reference professor and his contributions to the teachers’ initial formation. In the sequence, the questionnaires were

applied to the coordinators. The semi-structured interview was applied to five (05) reference

professors indicated by the students in each Degree Course. The investigation takes into

account both social and historic context and the time in which it was carried out, since it

carries subjectivities of who is taking part on it. The collecting data were treated through

Content Analysis of Bardin (2011). Such analyses revealed that Reference Professor was

constituted in several aspects of his personal, educational and professional trajectory that

crossed his life history in the “becoming a teacher” process. The survey also claims that the

traces left by what students, professors and coordinators say and thought is a result of a

possible reference professor concept, that adds the following elements: the one who loves

everything he/she does above all, and sees the students as human beings, listens to them,

advises and gives them orientations, but also requires, produces and encourages the

production of knowledge, leading them to the intellectual autonomy, valuing them affectively,

socially and intellectually. It is the professor who knows the best way to make them learn not

only the contents, but also teaches them how to teach and innovates the teaching. Despite all

the current discourse about the reference professor, this study reveals that teachers learn how

to teach by observing other teachers, experimenting, applying models of former professors,

being a student and during their teaching practice itself. Therefore, for those teachers the “do

it itself”, the teacher’s model that was a reference in their formation and perpetuates

him/herself, although without modeling them, since these references were the elements which

gave them such confidence in their practice as a teacher and after that made them to assume

the identity and construct their teaching professionalism as well. Finally, this research

emphasizes the importance of the reference teachers, particularly the ones who teaches in the

Degree Courses in order to dominate both content and specific knowledge in their formation,

besides to incorporate in their teaching practice the basic knowledge to the educational field

that gives support to the teaching profession.

Key Words:

Teaching at the University. Knowledge. Professional Identity. Teaching Professionalism.

Reference Professor.

RESUMEN

La presente investigación aborda la docencia en la universidad como el espacio-tiempo de

formación y, en ella, investiga la influencia de los profesores considerados como referentes a

partir de la formación, construcción de la identidad profesional y profesionalidad docente de

los futuros profesores en formación en el contexto universitario, en consideración con lo que

dicen y piensan los estudiantes, profesores y coordinadores. Elige como categorías centrales:

Docencia en la Universidad; Saberes; Identidad Profesional; Profesionalidad Docente y

Profesor Referencia. Buscamos comprender esas categorías auspiciadas en los estudios de

Cunha (1998); Freire (1998); Contreras (2002); Nóvoa (2009); Dubar (1997); Shulman

(1986); Tardif (2005); Roldão (2007); Sainsaulieu (1985); Aguiar (2006); Ramos (2010) entre

otros. Utiliza una metodología predominantemente cualitativa, cuyos procedimientos teórico-

metodológicos fueron el cuestionario y la entrevista semiestructurada. Definimos como

campo empírico el Campus de la UFPE – Recife y en él, (5) cinco Cursos de Licenciatura.

Los participantes de la investigación fueron estudiantes, coordinadores y profesores de los

referidos cursos. El cuestionario fue aplicado inicialmente (5) cinco coordinadores y

seguidamente a (120) ciento veinte estudiantes, los cuales indicarían a los profesores

referencia de sus cursos, su comprensión sobre el profesor referencia y las contribuciones que ellos aportan en su formación inicial docente y, a continuación, a los coordinadores. La

entrevista semiestructurada fue aplicada a (05) cinco profesores referencia indicados por los

estudiantes representantes de las cinco licenciaturas. La investigación considera el contexto

socio histórico y temporal en la que fue realizada, debido a que esta carga las subjetividades

de quien la realiza. Los datos colectados fueron tratados a través del Análisis de Contenido

por medio del Análisis Temático de Bardin (2011). Los referidos análisis revelaron que el

profesor referencia fue constituyéndose en diversas facetas en donde su trayectoria personal,

escolar y profesional fue transversalizando su historia de vida en el proceso de “llegar a ser

profesor”. Anuncia inclusive que la realización trazada entre lo que dicen y piensan los

estudiantes, profesores y coordinadores, resulta en un imposible concepto de profesor

referencia que agrega los siguientes elementos: es aquel que por encima de todo ama lo que

hace, ve a los estudiantes como seres humanos, que los escucha, los orienta y les aconseja,

aunque también les exige, produce e incentiva la producción del conocimiento, desafiándolos

a la construcción de su autonomía intelectual, valorizándolos afectiva, social e

intelectualmente. Presenta la preocupación con la mejor forma de hacer para poder aprender

no solo el contenido, como también enseña a enseñarlo, no apenas “forma”, como además

innova. Respecto a todo el discurso circulante sobre profesor referencia, el estudio nos revela,

además, que los profesores aprenden a enseñar observando otros profesores, experimentando,

aplicando modelos de ex profesores, siendo alumno, y en el propio ejercicio de la docencia.

Por tanto, para ellos el hacer modelo profesor, que fue referencia en su formación, se hace

perene, pero no los cuadricula, puesto que esas referencias fueron elementos que les

proporcionaron, al empezar en la docencia, cierta seguridad en el ejercicio de la profesión y,

posteriormente, cierta autonomía para adoptaren la identidad y edificaren su profesionalidad

docente. Resalta, aun, la importancia de los profesores referencia, en especial aquellos que

imparten clase en los cursos de licenciatura, para más allá de dominaren los saberes

disciplinares y específicos de la formación, incorporen a su práctica docente los saberes

teóricos que fundamentan el campo de la educación y, sustentan la profesión docente.

Palabras Clave

Docencia en la Universidad. Saberes. Identidad profesional. Profesionalidad Docente.

Profesor Referencia.

RÉSUMÉ

La présente recherche prend l’enseignement à l’université tel qu’un espace-temps de

formation en cherchant l’influence des professeurs modèles, à partir de la formation,

construction d’une identité professionnelle et de la professionnalité de l’enseignement des

futurs professeurs dans le contexte de l’université, prenant en compte ce qu’expriment et

pensent les étudiants, professeurs et coordinateurs. On classe comme des catégories centrales

l’Enseignement à l’Université; Savoirs, Identité professionnelle; Profissionnalité

d’enseignement et Professeur référence. Nous avons cherché à comprendre ces catégories

appuyées sur les études de Cunha (1998), Freire (1997), Contreras (2002), Nóvoa (2009),

Dubar (1997), Shulman (1986), Tardif (2005), Roldão (2007), Sainsaulieu (1985), Aguiar

(2006), Ramos (2010), parmi d’autres. On emploie une méthodologie prioritairement

qualitative dont les procédures théoriques-méthodologiques furent le questionnaire et

l’interviewe semi-structurés. Définissant comme champ empirique le Campus de l’UFPE-

Recife et cinq Licences. Les participants de la recherche furent des étudiants, coordinateurs et

professeurs de ces cours. Le questionnaire fut appliqué initialement à (120) cent vingt

étudiants, ceux-ci indiqueraient les professeurs référence et leur contribution dans sa

formation initiale d’enseignant et par la suite, les coordinateurs. L’interviewe semi-structurée fut appliquée à (05) cinq professeurs référence indiqués pour les étudiants représentants de

cinq licences. L’investigation prend en compte le contexte social historique et temporel où

elle fut menée, vu qu’elle est chargée de subjectivités de celui qui la réalise. Les données

prélevées furent traitées à partir de l’analyse du Contenu, à travers l’analyse Thématique de

Bardin (2011). Celles-ci ont révélées une constitution dans divers aspects du professeur

référence, son parcours personnel, scolaire et professionnel qui ont transversalisé son histoire

de vie dans le procès de «devenir professeur». On annonce encore que la tessiture tracée, entre

ce que disent et pensent les étudiants, professeurs et coordinateurs, mène à un possible

concept du professeur référence en ajoutant les éléments suivants: aime surtout ce qu’il fait,

voit les étudiants comme des êtres humains, les écoute, guide, conseille, exige aussi, produit

et motive la production de la connaissance, les incitant à construire son autonomie

intellectuelle, les valorisant affectif, social et intellectuellement. Il se fait de soucis à ce que

les étudiants n’apprennent que le contenu, mais aussi les apprend à enseigner, il ne fait que

«former» il innove. Malgré les discours en cours à propos du professeur référence, cette étude

révèle toujours qu’on apprend enseigner en observant d’autres professeurs, en essayant, en

appliquant les modèles des nos enseignants, modèle dans sa propre formation, se perpétuant

sans s’encadrer, une fois que ces modèles constituent des éléments qui nous accordera au

début de l’enseignement une certaine assurance de l’exercice de la profession et

postérieurement l’autonomie pour assumer son identité et édifier sa professionnalité

d’enseignant. On remarque encore l’importance des professeurs référence, notamment ceux

qui enseignent dans les cours de licence, qu’au-delà de maitriser leurs savoirs disciplinaires et

spécifiques de sa formation, investissent dans sa pratique d’enseignement les savoirs

théoriques à la base du champ de l’éducation et soutiennent la profession d’enseignant.

Mots-Clés:

Enseignement à l’Université. Savoirs. Identité Professionnelle, Professionnalité de

l’Enseignement. Professeur Rréférence.

LISTA DE QUADROS

Quadro nº 1: Os saberes dos professores .............................................................................................. 75

Quadro nº 2: Número de estudantes por curso e por Período ............................................................. 132

Quadro nº 3: Professores-Referência e sua Formação ........................................................................ 133

Quadro nº 4: Coordenadores por Curso .............................................................................................. 134

Quadro nº 5: Síntese das categorias trazidas pelos professores-referência ......................................... 144

Quadro nº 6: Resumo da constituição do professor-referência .......................................................... 168

Quadro nº 7: Síntese da identidade profissional docente - Pedagogia ................................................ 171

Quadro nº 8: Síntese da identidade profissional docente - Educação Física ....................................... 172

Quadro nº 9: Síntese da identidade profissional docente - História .................................................... 173

Quadro nº 10: Síntese da identidade profissional docente - Letras ..................................................... 175

Quadro nº 11: Síntese da identidade profissional docente - Matemática ............................................ 176

Quadro nº 12: Síntese do significado do que é ser professor na Universidade pelos professores-

referência ........................................................................................................................................... 178

Quadro nº 13: Síntese do significado do que é ser professor na Universidade ................................... 181

Quadro nº 14: Elementos selecionados sobre por que Professor de Referência .................................. 202

Quadro nº 15: Professor referência no Curso de Pedagogia............................................................... 203

Quadro nº 16: Professor referência no Curso de Letras ..................................................................... 204

Quadro nº 17: Professor referência no Curso de Educação Física .................................................... 205

Quadro nº 18: Professor referência no Curso de História .................................................................. 206

Quadro nº 19: Professor referência no Curso de Matemática ............................................................ 207

Quadro nº 20: A que atribui a indicação de professor-referência ....................................................... 210

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 19

2. DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: COMPLEXIDADE E DESAFIOS ............................. 25

2.1 UNIVERSIDADE E DOCÊNCIA ..................................................................................... 27

2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE DOCÊNCIA ....................................... 35

2.3. CONCEITO DE DOCÊNCIA ........................................................................................... 39

2.4 DIMENSÕES DA DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE ................................................... 46

2.5 DESAFIOS DA DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE. ...................................................... 52

3. CONSTITUIÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: formação, trajetória e

atuação profissional. ............................................................................................................... 62

3.1 PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL ......................................................... 62

3.2. A COMPLEXIDADE E ESPECIFICIDADE DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR

UNIVERSITÁRIO ................................................................................................................... 66

3.3 OS SABERES E ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE ............................................ 72

4. PROFISSIONALIDADE DOCENTE: um campo ligado aos saberes e à Identidade

Profissional Docente ............................................................................................................... 82

4.1 A INTER-RELAÇÃO ENTRE OS CONCEITOS DE PROFISSÃO,

PROFISSIONALIZAÇÃO, PROFISSIONALISMO, PROFISSIONALIDADE DOCENTE. 83

4.2. DO PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO AO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE. .............................................................................. 86

4.3 A PROFISSIONALIDADE DOCENTE ............................................................................ 90

4.4. DA NOÇÃO DE IDENTIDADE A IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE ........ 94

4.4.1 O Campo Conceitual de Identidade ........................................................................ 95

4.4.2 Identidade Profissional Docente e Processos de Formação ..................................... 98

4.5. A RELAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO, SABERES E IDENTIDADE DOCENTE. ........ 103

5. CONSTRUINDO O CONCEITO DE PROFESSOR-REFERÊNCIA ........................ 107

5.1. EM BUSCA DE QUEM É ESSE PROFESSOR- REFERÊNCIA.................................. 109

5.2 OUTRAS PERSPECTIVAS PARA UMA POSSÍVEL DEFINIÇÃO DO PROFESSOR-

REFERÊNCIA........................................................................................................................ 112

5.3 O QUE DIZEM AS PESQUISAS SOBRE PROFESSOR-REFERÊNCIA. .................... 118

6. FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ORIENTADORES DA

PESQUISA ............................................................................................................................ 126

6.1 O CAMPO EMPÍRICO: Lócus de Formação .................................................................. 127

6.1.1 A UFPE: Um Pouco da sua História ..................................................................... 127

6.1.2 Delimitação do Espaço/Atuação da Pesquisa de Campo ....................................... 128

6.1.3 Critérios de Escolha dos Centros .......................................................................... 128

6.1.4. Os Cursos de Licenciatura e seus Critérios de Escolha ....................................... 129

6.1.4.1 O Curso de Licenciatura em Pedagogia ............................................................. 129

6.1.4.2 O Curso de Licenciatura em História ................................................................ 129

6.1.4.3 O Curso de Licenciatura em Matemática .......................................................... 130

6.1.4.4 O Curso de Licenciatura em Educação Física ................................................... 130

6.1.4.5 O Curso de Letras - Bacharelado / Licenciatura ............................................... 131

6.2 CARACTERIZAÇÃO E CRITÉRIOS DA SELEÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

................................................................................................................................................ 132

6.3. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ........................................................... 135

6.3.1 A Coleta dos Dados ...................................................................................................... 136

6.4 PROCEDIMENTOS DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ........................ 137

7. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.......................................................... 141

7.1 CONSTITUIÇÃO DO SER PROFESSOR NO CONTEXTO UNIVERSITÁRIO: O

PROFESSOR-REFERÊNCIA ................................................................................................. 142

7.1.1 Razões da Escolha Profissional .................................................................................. 144

7.1.1.1 Eu nunca quis ser professor. .............................................................................. 145

7.1.1.2 Por circunstâncias outras ................................................................................... 147

7.1.1.3 Desde pequena quis ser professora .................................................................... 148

7.1.2 Como Aprendeu a Ensinar e Tornou-se Professor ................................................... 149

7.1.2.1 Aprendeu a ensinar ensinando ........................................................................... 149

7.1.2.2 Através de exemplos ........................................................................................... 152

7.1.2.3 Na relação pessoal .............................................................................................. 152

7.1.2.4 Imitando seus professores .................................................................................. 153

7.1.3 Lacunas Encontradas na Formação .......................................................................... 154

7.1.3.1 Relação do conteúdo com o ensino e a aprendizagem. ....................................... 154

7.1.3.2 A importância da Didática ................................................................................. 155

7.1.3.3 Formação Específica .......................................................................................... 156

7.1.3.4 O olhar de proximidade para com a Educação Básica ...................................... 157

7.1.3.5 Não consegue ver lacunas na sua formação ....................................................... 157

7.1.4 Como se Forma um Professor .................................................................................... 158

7.1.4.1 Formação no âmbito da experiência .................................................................. 160

7.1.4.2 Forma-se também através de exemplos/orientação de professores experientes . 166

7.2. INFLUÊNCIAS NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL

DOCENTE.............................................................................................................................. 169

7.2.1 Como o Docente se Percebe enquanto Professor e os Estudantes percebem esse

Professor. ............................................................................................................................... 170

7.2.2 Ser Professor na Universidade ................................................................................... 177

7.2.3 O Que Dizem os Coordenadores ................................................................................ 180

7.3. PROCESSO DA CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE .............. 181

7.3.1 Compreensão sobre Profissionalidade ....................................................................... 182

7.3.2 Ingresso na Docência do Ensino Superior ................................................................. 184

7.3.3 Desafios encontrados na Prática Docente .................................................................. 186

7.3.3.1 Saberes necessários à prática docente ................................................................ 188

7.3.4 Organização das Aulas ................................................................................................ 191

7.4 O PROFESSOR REFERÊNCIA ...................................................................................... 195

7.4.1 Justificativa da escolha do professor referência ....................................................... 195

7.4.1.1 O que dizem os Coordenadores .......................................................................... 196

7.4.1.2 O que dizem os professores referência e os estudantes ...................................... 196

7.4.1.2.1 Contribuição na formação e atuação profissional ................................................ 197

7.4.1.2.2 Contribuição na construção dos saberes ............................................................... 199

7.4.1.2.3 Contribuição com a metodologia (tato pedagógico) .............................................. 200

7.4.1.2.4 Contribuição a partir do Relacionamento Interpessoal ....................................... 201

7.4.2 Conceito de Professor Referência ............................................................................. 202

7.4.2.1 Conceito de professor referência por curso ....................................................... 202

7.4.2.2 Compreensão sobre Identidade Docente ............................................................ 207

7.4.2.3 A que atribui ser apontado “professor-referência” ........................................... 209

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 223

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 231

Apêndice 1: QUESTIONÁRIO PARA OS ESTUDANTES ................................................. 251

Apêndice 2: ENTREVISTA PARA OS PROFESSORES REFERÊNCIA............................ 254

Apêndice 3: QUESTIONÁRIO PARA OS COORDENADORES ........................................ 255

20

INTRODUÇÃO

________________________________________________________

19

INTRODUÇÃO

Todo conhecimento tem a tênue marca da provisoriedade, visto que nasce da

realidade, que tem como característica o dinamismo, a temporalidade, a transitividade e a

dialética, que transita nesse espaço-tempo que o constitui. A linguagem que expressa o

conhecimento se reveste de e representa o contexto histórico e sociocultural no qual foi

produzido, mas, mesmo assim, não consegue dizer tudo em relação a ele. É com este olhar

que se insere esta pesquisa.

Compreender os processos formativos pelos quais aprendemos a ensinar transcorreram

nossas inquietações desde a mais tenra idade. Em nossos estudos temos observado quão

diferentes e paradoxais são as maneiras, os movimentos, as influências, as experiências, o

tempo que vivenciamos ao aprender. Percebemos quão singulares e, ricos em nuances e

especificidades o são.

O professor referência, no contexto universitário, objeto de estudo desta investigação,

nasceu de inquietações pessoais e profissionais, que estão enraizadas tanto na nossa história

de vida, quanto no contexto sócio - histórico no qual tecemos nossa formação.

Partindo da compreensão de que todo conhecimento é autoconhecimento, conforme

explicita Santos (2001), reviveremos alguns momentos da nossa história de vida que supomos

ter-nos impulsionado a escolher a temática que estamos a discutir.

A relação docente-discente surgiu em nossa vida naturalmente, como se fizesse parte

do contexto das aprendizagens diárias. Primeira filha de mãe professora, que sempre a

acompanhava, nas idas e vindas, no trazer e levar cadernos da escola para casa, da casa para

escola, observava a preparação e correções dos cadernos, planejamento das aulas, de reuniões,

conselhos, orientações, com um olhar curioso de quem vivencia a experiência do saber fazer

docente em casa, na escola, no cotidiano de nossa história vivida.

Hoje, reconhecemos a importância e o diferencial que, na formação inicial de

professores, a aproximação entre os espaços formativos e a relação docente-discente

oportuniza aos estudantes.

Tornamo-nos professora, pois a identificação com a profissão já acontecera, e

continuamos durante um bom tempo a formar outros professores, na mesma perspectiva em

20

que fomos formadas. Contudo, sentíamos falta de algo que nos permitisse uma maior

contribuição para a construção dos saberes e fazeres docentes.

Nossa experiência profissional permitiu caminhar desde a Educação Infantil, passando

pelo Ensino Fundamental e Médio, até o Ensino Superior, ora como professora, ora como

orientadora, ora como coordenadora pedagógica. Durante todo esse tempo, buscávamos

compreender como se aprende a ensinar.

Quando coordenadora, observávamos a insegurança das professoras recém-formadas

ao assumirem uma turma pela primeira vez, ao tomarem para si a responsabilidade de

tornarem-se professoras. Quando professora da graduação, isso nos angustiava e nos

inquietava mais ainda, ao percebermos que nossos alunos esperavam uma fórmula mágica de

como ensinar, uma receita pronta para ser aplicada e bem sucedida na sala de aula o que

desafiava o nosso fazer pedagógico, instigando-nos a querer compreender cada vez mais, uma

vez que em nossa compreensão o como ensinar excede as paredes da sala de aula. Quando

orientadora, vivenciávamos as dificuldades apontadas por professores de diferentes

disciplinas sobre um mesmo aluno, que pareciam estarem falando de pessoas distintas.

Ao chegarmos à Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco para compor a

equipe da Gerência de Políticas Educacionais do Ensino Médio, enquanto técnica de assuntos

educacionais completamos um ciclo de compreensões que ainda faltava para melhor

percebermos experiencialmente o processo de organização das políticas educacionais no

estado. Enquanto formadoras de professores da rede estadual, identificamos claramente o

distanciamento entre o que a formação inicial na universidade propunha e o que a escola

pública dela necessitava. Isso ampliava mais nossas inquietações.

Tais inquietações tomaram corpo e foram alimentadas durante nossas atividades

acadêmicas, como professora do ensino superior em algumas faculdades, lecionando no curso

de pedagogia, e quando professora substituta na UFPE, das disciplinas de Didática, nas

Licenciaturas Diversas e Pesquisa e Prática Pedagógica, Teoria Curricular, Práticas

Curriculares e, Didática nas turmas de Pedagogia o que nos permitiu ampliar ainda mais a

reflexão no contexto da sala de aula do Ensino Superior. Esse processo se estruturou e

transformou-se em uma dissertação de mestrado, sobre o tema Formação de Professores e a

Construção dos Saberes da Docência no Curso de Pedagogia da UFPE (ROCHA, 2008).

Durante a realização da pesquisa de campo no mestrado, escutávamos dos estudantes:

“tem professores que passam por nós como ventos, só deixam a brisa, mas tem outros que

realmente mexem conosco, deixam algo [...] e nos fazem querer ser professores”.

21

Em virtude do resultado deste estudo, ficaram indagações que não nos permitiram

calar e que despertaram nossa curiosidade de pesquisadora, a ponto de questionarmos: Quem

são esses professores que se tornam inesquecíveis para esses estudantes? Por que escolheram

ser professor? O que eles fazem diferente? Como aprenderam a ensinar e se tornaram

professores? Como organizam suas aulas? Que saberes consideram relevantes à sua prática

docente? Como se identificam com o processo de formação de professores? O que eles têm de

especial que os diferencia dos demais. Tais indagações conduziram-nos à ideia de um

professor com características de referência para a formação docente no ensino superior, um

professor referência.

Salientamos a necessidade de compreendermos a influência dos professores referência

nos processo de formação, pois as críticas sobre a Formação de Professores recaem, entre

outros aspectos, sobre a falta de conhecimento de alguns professores para lidar com as

situações que permeiam o espaço da sala de aula, sua imprevisibilidade, diferenças e sutilezas

e, principalmente, para subsidiar os estudantes na perspectiva de traduzir os conhecimentos

específicos em conhecimentos escolares, tornando-os compreensíveis para os estudantes da

educação básica.

Essa lacuna na formação docente encontra uma possível justificativa nas assertivas de

alguns pesquisadores, a exemplo de Masetto (2012), Cunha (2007) e Anastasiou (2002), ao

considerarem que os docentes universitários ensinam geralmente como foram ensinados,

garantindo, pela sua prática, uma transmissão mais ou menos eficiente de saberes e de uma

socialização idêntica àquela de como eles próprios foram formados.

Resultante de um olhar mais curioso sobre a docência na universidade e, em especial,

sobre o professor referência no contexto universitário, além do acesso ao discurso acadêmico

e à literatura especializada, emerge a questão que norteou esta pesquisa: Que influências os

professores considerados referência exercem na formação, na construção da identidade

profissional e profissionalidade docente dos futuros professores?

Assim é que, em busca dessa compreensão, adentramo-nos no campo do Ensino

Superior, no contexto da universidade, e neste, na docência universitária, com o objetivo geral

de compreender a influência que professores considerados Referência exercem na formação,

construção da identidade profissional e profissionalidade docente dos futuros professores.

E especificamente pretendemos:

Compreender o processo de constituição do Professor Referência no contexto universitário.

Identificar o conceito de Professor Referência a partir do que dizem e pensam estudantes,

professores e coordenadores no contexto universitário.

22

Identificar a concepção de identidade profissional e profissionalidade docente dos

professores-referência.

Analisar a partir do olhar dos estudantes e do próprio professor, contributos da atuação na

formação inicial de professores considerados Referência, no processo de construção da

identidade profissional e profissionalidade docente do futuros professores.

Esta problemática mostra-se relevante do ponto de vista acadêmico, por tratar de um

aspecto que hoje se torna um grande desafio educacional que acompanha o século XXI na

universidade, que é a formação de professores diante das novas dimensões e exigências de

que a docência se reveste. Além disso, nesse contexto, percebe-se que surgem professores que

fazem algo de diferente e que se tornam referência para os estudantes em formação. O que

será que fazem de diferente? Esperamos, durante o desenvolvimento da pesquisa, que

possamos encontrar contribuições para responder essa questão, bem como contribuir para uma

reflexão sobre os processos formativos nas licenciaturas.

Do ponto de vista social esperamos contribuir para uma maior valorização da figura do

professor, pois, reconhecidamente, toda profissão necessita de um professor, mas de um

profissional que goste do que faz, saiba fazê-lo e saiba ensinar a fazer.

Desse modo, buscamos compreender o professor referência, no que diz respeito a sua

constituição, conceito e influências atribuídas à formação, constituição da identidade e

profissionalidade docente, inserido na docência na universidade.

Delineamos a pesquisa em cinco categorias teóricas e fundamentamos nossos estudos

a partir dos pesquisadores destacados: Docência na universidade (Cunha, 1998, 2007; Nóvoa,

1992, 2009; Masetto, 2012; Roldão, 2005); Profissionalidade Docente, Identidade

Profissional, Saberes (Dubar, 1997; Ramos, 2010; Contreras, 2002; Aguiar, 2006;

Sainsaulieu, 1985; Shulman, 1986; Tardif, 2002) e Professor Referência (Cunha, 1989;

Freire, 1997; Nóvoa, 2009), entre outros.

Estruturamos a pesquisa em 7 (sete) capítulos: a Introdução apresenta a intensão da

pesquisa, anuncia o objeto; os objetivos, explicita e problematiza a sua escolha, ou seja, diz a

origem do objeto da pesquisa, como ele se encontra na realidade educacional e qual a

importância da realização desse estudo.

O segundo - Docência na Universidade: complexidade e desafios - apresenta breve

histórico sobre a universidade, enquanto produtora de conhecimento; processo de

democratização do ensino superior e da emancipação que ocorre na universidade e suas

23

possíveis consequências para a docência universitária; conceito de docência e da docência na

universidade, sublinhando as dimensões e desafios que configuram a docência universitária.

No terceiro capítulo – Constituição do professor universitário: sua formação

trajetória e atuação profissional –, partimos do princípio que trata o Artigo 66 da LDB

9394/96, que determina que a formação do professor universitário “far-se-á em cursos de pós-

graduação através de mestrado e doutorado”. Uma vez que, reconhecidamente, essa

“formação” não satisfaz as necessidades de ser professor hoje, discutiremos a constituição do

“professor universitário”, sua formação, trajetória e atuação profissional.

No quarto capítulo – Profissionalidade docente: um campo ligado aos saberes e à

identidade profissional docente – discutimos a profissionalidade docente enquanto um campo

ligado a identidade e saberes docentes, visto que consideramos a identidade docente e os

saberes profissionais (co) responsáveis, por especificar, diferenciar, dar o tom e a tintura que

marcam o “ser e estar professor”.

No quinto capítulo – Construindo o conceito de professor referência – buscamos um

fio condutor para propor a discussão do conceito de professor referência, mesmo conscientes

de que essas referências não são fixas, pois variam de acordo com o contexto social e

histórico no qual são produzidas. Acreditamos que guardam singularidades, similaridades e

subjetividades, posto que o Professor Referência se constitui em uma maneira de ser e estar

nessa profissão, numa dada época e numa dada realidade.

O sexto capítulo versa sobre os Fundamentos teórico-metodológicos orientadores da

pesquisa, quando apresentamos o percurso teórico-metodológico, caracterização do campo

empírico e dos participantes, critérios de escolha dos sujeitos colaboradores e do campo

empírico, procedimentos de coleta e análise de dados.

No sétimo capítulo - Análise e discussão dos resultados - tratamos e discutimos os

dados da pesquisa, referendados à luz dos fundamentos teóricos, apresentamos situações de

análise e interpretação dos resultados, em busca de compreender e desvelar o professor

referência - nosso objeto de estudo no contexto da universidade.

Por fim tecemos algumas Considerações Finais a respeito do que a pesquisa revelou

em relação à compreensão das influências que professores considerados Referência exercem

na formação, construção da identidade profissional e profissionalidade docente dos futuros

professores. Finalizamos com algumas pistas para futuras contribuições sobre a temática.

26

Há poucas crenças no mundo acadêmico que suscitam

defesas tão apaixonadas como a opinião de que a

docência e a investigação são atividades complementares

e que mutuamente se beneficiem.

(Ramsden y Moses ,1992, p.273)

. DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: Complexidade e Desafios

___________________________________________________________________________

25

DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: COMPLEXIDADE E DESAFIOS

A Docência na Universidade é um tema que cada vez mais se torna presente e

desafiador no espaço acadêmico e, especialmente a partir dos anos de 1990, vem se

constituindo e se afirmando como importante objeto de investigação nas pesquisas

educacionais. Esse campo de conhecimento, por meio de seus pesquisadores, tem

descortinado diversas problemáticas nos espaços institucionais da educação superior, quer

sejam nacionais ou internacionais, sobretudo devido às transformações no plano social e

cultural que refletem o contexto atual da docência na universidade.

Esses estudos têm se evidenciado com diferentes perspectivas em diversas partes do

mundo, como na Europa, a exemplo de Portugal (Alarcão, 1998; Nóvoa, 2002) e Espanha

(Garcia, 1999; Zabalza, 2004), na América do Norte, no Canadá (Gervais e Portelance, 2005;

Riopel, 2006; Langevin, 2007), e na América do Sul, o Brasil, (Cunha, 1998, Behrens, 1998;

Masetto et al, 1998; Veiga, 2000; Pimenta e Anastasiou, 2002; Pimenta, 2002; Morosini,

2003; Libâneo et al, 2003; Anastasiou e Alves, 2003; Pimenta e Lima, 2004; Veiga e Amaral,

2005, Veiga e Naves, 2005, Cordeiro, 2006; Aguiar, 2006; Ramos, 2010), entre outros.

Tais perspectivas abrangem desde uma nova forma de compreender o conceito de

docência, a questões do ensinar aprender, formação e desenvolvimento profissional, trabalho

docente, identidade profissional, profissionalidade docente, condições de trabalho, condições

de formação pedagógica dos docentes universitários, desafios à prática docente, entre outros.

Nesse contexto, observamos que a docência na Universidade é exercida por

professores que não têm uma identidade única. Com características complexas, assim como é

o sistema de educação superior brasileiro, temos instituições públicas e privadas,

universidades e não universidades, localizadas nas cinco regiões da Federação Brasileira, com

características étnicas, sociais e econômicas diferentes (MOROSINI, 2000, p.19).

Essa complexidade tem sido apontada em pesquisas como as de Melo e Naves (2012,

p.7), que discutem a “docência universitária como um processo complexo, elaborado ao longo

de uma trajetória que integra e articula as dimensões pessoal, profissional e institucional”.

Compreender esse processo torna-se um desafio não só para os pesquisadores e estudiosos da

temática, mas principalmente para os professores que investem em sua formação e refletem

sobre o seu trabalho.

26

Para Benedito, Ferrer e Ferreres (1995, p.131), os estudos e pesquisa sobre o processo

de formação do professor universitário mostram que:

[...] o professor universitário aprende a sê-lo mediante um processo de

socialização em parte intuitiva, autodidata ou [...] seguindo a rotina dos

“outros”. Isso se explica, sem dúvida, devido à inexistência de uma

formação específica como professor universitário. Nesse processo, joga um

papel mais ou menos importante sua própria experiência como aluno, o

modelo de ensino que predomina no sistema universitário e as reações dos

alunos, embora não há que se descartar a capacidade autodidata do

professorado. Mas ela é insuficiente.

No entanto, em detrimento de tantas pesquisas que pontuam que o professor

universitário aprende a sê-lo mediante um processo de socialização, parte intuitiva,

autodidata, ou seguindo a rotina de outros professores, ainda persiste um consenso de que a

docência no ensino superior não requer formação no campo do ensinar. Nesse sentido,

salientamos, respaldadas em Veiga (2010, p.14), que:

[...] a docência hoje requer formação profissional para seu exercício;

conhecimentos específicos para exercê-lo adequadamente; requer ainda

inovação; [...] reconfiguração dos saberes; superar as dicotomias entre

conhecimento científico e senso comum, ciência e cultura, educação e

trabalho, teoria e prática; explorar novas alternativas teórico-metodológicas

em busca de novas possibilidades de escolha; procurar a renovação da

sensibilidade de alicerçar-se na dimensão estética, no novo, no criativo, na

inventividade e exercida com ética.

Se os estudos indicam que a docência na universidade manteve-se por séculos imunes

a questionamentos e torna-se, nas últimas décadas, razão de queixas e insatisfações, tanto da

sociedade como daqueles que estão diretamente imbricados na e sobre sua ação, suscitam uma

necessidade de se compreender os desafios e complexidade que perpassam a constituição da

docência no contexto universitário hoje.

É a partir dessa ideia que pretendemos discutir neste capítulo Docência na

universidade: complexidade e desafios, iniciando com uma breve contextualização da

temática em nível nacional e internacional, seguida de um breve histórico sobre a

Universidade, enquanto produtora de conhecimento, diante dos avanços da ciência e da

tecnologia, do processo de globalização da economia, da cultura, da crise de paradigmas, do

processo de democratização do ensino superior e da emancipação que ocorre na universidade

e suas possíveis consequências para a docência universitária. Posteriormente, apresentaremos

27

o conceito de docência e da docência na universidade, sublinhando as dimensões e desafios

que configuram a esta última.

2.1 UNIVERSIDADE E DOCÊNCIA

Por mais diversificado que seja o perfil das instituições de ensino superior no Brasil, é

necessário compreender os desafios e complexidade por que passa a docência no contexto da

universidade, enquanto lócus de formação, desenvolvimento humano e produção de

conhecimento, para que busquemos apreender os meandros da instituição Universidade.

A Instituição Universidade tem início no século XII. Minogue (1981, p. 15) sinaliza

que o esforço de intelectuais resultou na criação dos Studia Generalia, que eram:

[...] locais de aprendizagens que, em virtude da fama de seus professores,

puderam atrair estudantes de toda a Cristandade: foi precisamente este

significado universal que tornou tais studia também generalia. Os dois

centros que se tornaram modelos para as fundações posteriores, por mérito

de sua considerável distinção, foram Paris e Bolonha, mas a eles se

sucederam, rapidamente, muitos outros centros, de maneira que uma rede

destas instituições se espalhou em breve pela Europa desde a Espanha, de

um lado, até a Polônia e Boêmia, de outro.

Contudo, durante toda a Idade Média, de acordo com Piletti (1991), predominou na

Europa uma concepção de educação que se opunha ao conceito liberal e individualista dos

gregos e ao conceito de educação prática e social dos romanos. Para esse autor, “o aumento

interno das escolas monásticas e escolas das catedrais; o vigoroso influxo da ciência e da

teologia; o desenvolvimento do comércio e o crescimento das cidades que estimularam o

interesse pelo ensino; e o movimento das cruzadas, que tirou a sociedade europeia do seu

isolamento” (p.55), foram algumas circunstâncias determinantes para o surgimento das

universidades no século XIII.

Minogue (1981) afirma que 1224 foi um ano de surgimento de muitas universidades,

incluindo a de Oxford. Frederico II fundou um studium generale em Nápoles. Já em 1229, o

Papa Gregório IX fundou outro studium generale em Toulouse. Em fins do século XIV, o

nome studium generale teve sua substituição por universitas litterarum.

Piletti (1991, p.56) explica que essa transformação ocorre,

[...] quando um studium generale chega a organizar-se em forma de

corporação de mestres e alunos, pouco importando que, a princípio seus

28

membros consagrassem a uma só disciplina. À semelhança da expressão

studium generale, a palavra universidade adquiriu o sentido de instituição

docente e de investigação dedicada, com liberdade de mestres e alunos, a

todos os ramos do saber universitas litterarum.

A Universidade durante a Idade Média manteve a seguinte estrutura organizativa: as

aulas eram magistrais; professores e alunos se enclausuravam em busca de proteção através de

confrarias para manter seus privilégios. Sua estrutura curricular constituía no trivium

(gramática, retórica e lógica) e no quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música).

No que se refere à indissociabilidade entre ensino e pesquisa e a produção

interdisciplinar do conhecimento, já se delineavam algumas das suas marcas. Interessante

acrescentar que nesse momento a Universidade não era uma instituição nacional, uma vez que

agregava mestres e estudantes de toda a comunidade cristã e tinha como preocupação o saber

universal.

Nos séculos que se seguiram, a Universidade manteve-se ensimesmada, alheia ao que

se passava em seu entorno, não se preocupando em participar das grandes transformações

sociais, não se adequando à modernidade que se iniciava, conservando-se zelosa na

preservação e transmissão da cultura e da ciência pré-moderna. Esse “silêncio” ou

“isolamento” em que se manteve, fez com que durante o século XIX, apresentasse

transformações bastante limitadas (ALMEIDA, 2012, p. 41).

Ainda conforme Almeida (2012) no início do século XIX surgem dois novos

paradigmas que parecem ensejar para a universidade um avanço nas pesquisas e relações com

a sociedade: o modelo Napoleônico, que se caracterizou por preservar a ideia de universidade

e de difusão do saber construído, criar as regulamentações profissionais, cercear a autonomia

da universidade, instituir a proteção do Estado além de visar à formação da nova elite

intelectual; o modelo Humboldtiano, que procurou constituir a formação da elite alemã e

consagrou a separação da universidade do controle do Estado, assegurando-lhe liberdade

diante do poder e da religião, tornando a autonomia e a pesquisa marcas distintivas da ideia

moderna de universidade.

Esses dois modelos possibilitaram o caminho necessário para a busca de superação de

quase dois séculos de atraso em relação aos acontecimentos científicos de então. Desse modo,

podemos compreender, como Morin (2000), que a universidade passou a problematizar a

cultura europeia e abriu-se a outras culturas, o que permitiu a coexistência das humanidades

com a cultura científica.

29

Nesse novo olhar, a universidade foi se ressignificando, à medida que as

transformações históricas, econômicas e sociais aconteciam, e o crescente volume de

conhecimentos especializados e fragmentados foi se relacionando diretamente com a

dinâmica vivenciada pela universidade nos últimos 150 anos.

Na história da educação brasileira o Ensino Superior surge com um desenvolvimento

tardio. Schwartzman (2006, p. 163) indica que as “universidades brasileiras só surgiram nos

anos 1930 e 1940”. A partir da década de 1820 criaram-se as primeiras escolas régias

superiores: de Direito, em Olinda - Pernambuco e, simultaneamente na cidade de São Paulo;

a de Medicina , em São Salvador, na Bahia e a de Engenharia, no Rio de Janeiro. Outros

cursos foram criados posteriormente, como o de Agronomia, Química, Desenho Técnico,

Economia, Política e Arquitetura.

Darcy Ribeiro (1975), em sua obra A universidade necessária, afirma que o modelo

universitário inspirador da organização curricular dos cursos acima citados foi o padrão

francês da universidade napoleônica, não copiado na totalidade, mas nas suas características

da escola autárquica, com uma supervalorização das ciências exatas e tecnológicas e a

consequente desvalorização da filosofia, da tecnologia e das ciências humanas, com a

departamentalização estanque dos cursos voltados para a profissionalização. Não foi

transferido o conteúdo político de instituição centralizadora, de órgão monopolizador da

educação geral, destinado a unificar culturalmente o país e integrá-lo na civilização industrial

emergente.

Conforme Masetto (2012, p.10), as faculdades instaladas no Brasil, desde o início e

por muitas décadas, centraram-se diretamente para a formação de profissionais que exerciam

uma determinada profissão.

Os Currículos eram seriados, com programas fechados, que constavam unicamente das

disciplinas que interessavam imediata e diretamente ao exercício daquela profissão, e se

preocupavam em formar profissionais competentes para uma determinada área ou

especialidade.

Os profissionais eram formados por um processo de ensino no qual os conhecimentos

e experiências profissionais eram transmitidos de um professor que sabe e conhece, para um

aluno que não sabe e não conhece.

Até a década de 1970, com inúmeras universidades brasileiras funcionando e a

pesquisa já se tornado um investimento em ação, Masetto (idem, p.11) afirma que “se exigia

do candidato a professor do ensino superior o bacharelado e o exercício competente de uma

30

profissão”. Podemos encontrar aí, talvez, a razão da presença significativa desses

profissionais compondo o quadro de docentes nas universidades brasileiras hoje.

No que concerne ao processo de democratização do ensino superior frente à

emancipação da universidade contemporânea, Santos (2005, p.53) procura responder - de

forma clara e objetiva - três perguntas-base que norteiam o debate que sua obra suscita: “O

que aconteceu nestes últimos dez anos. Como caracterizar a situação em que nos

encontramos. Quais as respostas possíveis aos problemas que a universidade enfrenta nos

nossos dias?”. No primeiro momento, o autor analisa as transformações ocorridas no ensino

superior e suas influências no desempenho das universidades públicas; em seguida, apresenta

princípios básicos que possibilitem à universidade pública atender, de forma criativa e

eficiente, as demandas do século XXI.

Sintetizando o que aconteceu nos últimos dez anos com o ensino universitário no

Brasil, sobretudo o impacto ocorrido nas universidades públicas, a partir da avaliação do

próprio autor, percebemos que uma clara opção pela mercadorização da universidade é uma

evidência previsível, na medida em que, a partir do final da década de 1980 e até meados da

década de 1990, isso coincide com as reformas da Educação Superior do governo Fernando

Henrique Cardoso, e com o curso da globalização neoliberal, pois essa era a nova ordem do

sistema capitalista, que visava atingir todas as esferas da existência no planeta. Entretanto,

não era previsível a crise desse sistema de mercado em tão curto espaço de tempo.

Em suas respostas, sobretudo na parte que se destina ao que fazer, Santos (2005, p. 54)

propõe ideias que visam nortear uma reforma criativa, democrática e emancipatória da

universidade pública, e constata ser a causa da crise universitária multifacetária o fato de

algumas virem de longa data, embora hoje estejam configuradas pela globalização neoliberal.

A proposição de um modo de emancipação contra hegemônico torna-se indispensável

como alternativa à globalização neoliberal, na medida em que busque pôr um fim à histórica

exclusão de grupos sociais e seus saberes, de que a universidade tem sido vilã ao longo do

tempo e, portanto, desde muito antes dessa atual fase da globalização capitalista.

Evidente que isso necessita estar articulado a uma solução que implique

interpenetração plena das escalas nacional e global dos conhecimentos ancorados,

principalmente, nos novos processos de obtenção e produção de conhecimentos, como as

redes nacionais e internacionais, por onde perpassam novas pedagogias, novos processos de

divisão dos saberes e compromissos sociais, presentes nas novas tecnologias de informação e

comunicação.

31

Ainda, segundo Santos (2005), o novo pacto universitário parte do pressuposto de que

a universidade tem o papel crucial na construção do lugar nacional em um mundo polarizado

entre globalizações contraditórias. Entretanto, ressalta que, para isso, o pacto precisa ser

sustentado por forças sociais disponíveis e interessadas em protagonizá-lo. Assim, identifica

três tipos distintos de protagonistas:

a) A própria universidade pública, ou seja, quem nela está interessado numa

globalização alternativa; b) O Estado Nacional sempre e quando ele optar

politicamente pela globalização solidária da universidade; c) Os cidadãos

individual ou coletivamente organizados por grupos sociais, sindicatos,

movimentos sociais, redes, governos locais progressistas, interessados em

fomentar articulações cooperativas entre a universidade e o interesse público

que representam (SANTOS, 2005, p.54).

Nesse contexto de Transição de Paradigmas e das Reformas por que passa a

Universidade, no que se refere a atender a demanda reprimida de inclusão acadêmica,

composta por grande parte da juventude nacional e carente de formação superior, ocorre a

expansão das Universidades Federais, que passam a contratar um grande número de

professores para serem formadores dos futuros docentes.

Contudo, reconhecemos que, apesar dos grandes avanços ocorridos nas ciências no

século XX, percebemos que pouco se conseguiu avançar para processos mais integradores na

sociedade, e, principalmente, na perspectiva de humanização das pessoas. As expectativas que

tínhamos de uma sociedade mais justa e igualitária tornaram-se cada vez mais embrionárias,

ocasionando a fragmentação entre as humanidades e as ciências, distanciando o ser humano

das realidades globais e complexas e dicotomizando as dimensões psíquicas, sociais,

religiosas e econômicas.

Considerando as rápidas transformações por que passa a sociedade contemporânea, e,

particularmente, a Educação, poderíamos afirmar que, sob a ótica do pensamento de Santos

(2000), o social está regulado pelo econômico, pois as ações sociais visam à ordem do caos,

impossibilitando assim que o social possa manifestar-se na perspectiva da emancipação.

Nesse contexto, percebe-se que, hoje, a sociedade está voltada muito mais para seu

aspecto econômico e financeiro, do que para as questões humanas, as identidades sociais, os

valores morais, os padrões e comportamentos, e a antiga e complexa rede de relacionamentos

humanos foi colonizada pela lógica de mercado, a ponto de tornar difícil qualquer resistência

ou contestação.

Contraditoriamente, o ser humano não nasce pronto, acabado, uma vez que está em

constante formação, e, por isso, não tem apenas a capacidade de aprender a ser, mas necessita

32

aprender a humanizar-se, e isto só é possível na interação, no relacionamento consigo mesmo,

com os outros humanos, num processo dialógico mediado pelo diálogo (RÖHR, 2006). É na

interação, no diálogo, nas relações sociais e afetivas que o ser humano vai aprendendo a ver o

outro, a compreender o outro, a conviver, a respeitar e ser respeitado.

Entretanto, é neste contexto que se apresenta a docência na universidade, tomando

para si a função de formar professores. Contexto este em que a sociedade passa por uma

transição paradigmática (SANTOS, 2000; 2008), e particularmente a educação sofre com as

marcas da exclusão (não aceitação do outro), da competição (eliminação do outro), da pobreza

e da destruição.

Desse modo, a sociedade, diante das inovações científicas e tecnológicas, passa a

exigir dos professores novas atitudes, habilidades e saberes que os façam dialogar e intervir

numa realidade diversa e transitória.

De fato, diante do avanço acelerado da ciência e da tecnologia no processo de

globalização da economia e da cultura, aliadas à crise de paradigmas, a universidade tem se

abalado nos seus princípios, o que acabou por distorcer seus valores, até então preservados.

Desse modo, podemos concordar com Cordeiro (2008), quando afirma que a

instabilidade da universidade brasileira em relação à política para o Ensino Superior é por

vezes perversa para a gestão administrativo-acadêmica em relação com o trabalho do

professor na sala de aula. Cada vez mais, observamos que a docência na universidade amplia

o seu espaço de atuação.

Compreendemos a Universidade enquanto uma Instituição Educativa, que tem por

finalidade o permanente exercício da crítica e da indissociabilidade entre pesquisa, ensino e

extensão.

Conforme está posto nos estudos de Edgar Morin (2000, p. 9-10):

a universidade conserva, memoriza, integra e ritualiza uma herança cultural

de saberes, ideias e valores, que acaba por ter um efeito regenerador, porque

a universidade se incumbe de reexaminá-la, atualizá-la e transmiti-la (ao

mesmo tempo em que) gera saberes, ideias e valores que, posteriormente,

farão parte dessa mesma herança. Por isso, a universidade é conservadora,

regeneradora e geradora.

Assim, a universidade tem uma função que transita do passado ao futuro através do

presente, em direção à humanização, uma vez que o sentido da educação é a humanização, ou

seja, possibilitar a todos os humanos condições de participar e desfrutar dos avanços que a

33

civilização historicamente construiu, comprometendo-os com a solução dos problemas

gerados pela sociedade (idem).

No entanto, em meados do século XX, a estabilidade institucional universitária é

abalada. Santos (1997, p. 163) interpreta essa situação como o despreparo da universidade

para lidar com os desafios postos pela sociedade e pelo Estado, que “apontam para

transformações profundas e não para simples reformas paralelas”. Salientamos que essas

transformações, segundo Santos (1997) e Castanho (2000), foram vivenciadas em todas as

Universidades. Magalhães (2004) denominou-a de “Crise de Identidade do Ensino Superior” e

Santos (idem) considerou “Crise da Universidade”, situando-a em três domínios: “hegemonia,

legitimidade e Institucional”. A crise de Hegemonia identificou-se como resultante das

contradições entre as funções tradicionais da Universidade e as novas funções que lhe foram

atribuídas no decorrer do século XX, e a inabilidade desta para gerir as funções contraditórias,

o que fez com que o Estado e os agentes econômicos buscassem fora da Universidade meios

alternativos para realizá-las. Desse modo, a “Universidade ao deixar de ser a única instituição

no domínio do ensino superior e na produção da pesquisa”, entra na crise de hegemonia. Já a

crise de Legitimidade decorreu do fato de a Universidade ter deixado de ser uma “Instituição

consensual, em face da contradição entre a hierarquização dos saberes especializado através

das restrições do acesso e do credenciamento das competências”, e, por outro lado, “das

exigências sociais e políticas da democratização da Universidade e da reivindicação da

igualdade de oportunidades para os filhos das classes populares”. A crise Institucional, por

sua vez, se instalou devido à “contradição entre a reivindicação da autonomia na definição de

valores e objetivos da Universidade e a pressão crescente para submeter-se a critérios de

eficácia e de produtividade empresarial ou responsabilidade social” (SANTOS. 2008 p.15).

Desse modo, a docência na universidade, na transição do século XX para o XXI, tem

se evidenciado de importância fundamental para o desenvolvimento do Ensino Superior,

devido inicialmente ao debate instalado a partir da Conferência Mundial sobre a Educação

Superior - suporte da Declaração Mundial sobre a Educação Superior no século XXI: visão e

ação (UNESCO, 1998), e, por outro viés, a partir dos estudos, pesquisas e reflexões que vêm

se alargando no espaço acadêmico sobre o tema, buscando conceber o conhecimento em um

processo dinâmico, independente do contexto sócio-histórico no qual é produzido,

distanciando-se do paradigma da racionalidade técnica.

Concordando com Ramos (2008), torna-se interessante percebermos que a docência na

universidade, que atravessou séculos liberta de questionamentos acerca dos fundamentos do

ensino e da aprendizagem, é chamada a dar atenção a questões de ordem pedagógico-didática.

34

Tal convocação encontra-se na alusão da responsabilidade docente diante do

desenvolvimento da criatividade, da criticidade e da reflexividade do estudante (UNESCO,

1998). Acresce-se a isso o fato de a referida demanda ter como justificativa o desejo de saber

ensinar para fazer aprender alguma coisa a alguém (LEITE e RAMOS, 2008).

Desse modo, a Universidade necessita fazer da autonomia e da liberdade acadêmica

um ponto de apoio, tanto para assumir a sua responsabilidade frente às demandas sociais,

como para não se transformar numa empresa a mercê das exigências do mercado (CHAUÍ,

2001; SANTOS, 2008).

Nessa perspectiva, Ramos (2010, p. 36) entende que a docência universitária no limiar

do século XXI exige, entre outros aspectos, a compreensão da reconceitualização da docência,

inserida num processo de definição Identitária da Universidade, no que tange à transição de

um novo modo de produzir conhecimento, que enfatiza considerar a complexidade das

questões pedagógico-didáticas nesse lócus.

Nesse processo de transformações por que passa a sociedade, e diante das crises

anteriormente mencionadas, compreendemos que a Universidade não pode ser pensada

isolada dos problemas vivenciados pela sociedade, uma vez que a constituição da identidade

profissional de seus docentes, e da própria docência, está vinculada ao cenário mais amplo em

que ela, a Universidade, se insere. Como consequência dessas tensões, a universidade parece

buscar uma maior proximidade com a sociedade.

Desse modo, recorremos a Morin (2000, p.10), para esclarecer o papel que a

universidade desempenha em relação à sociedade:

[...] a Universidade conclama a sociedade a adotar sua mensagem e suas

normas: ela introduz na sociedade uma cultura que não é feita para sustentar

as formas tradicionais ou efêmeras do aqui e do agora, mas está pronta para

ajudar os cidadãos a rever seu destino hic et nunc. A Universidade defende,

ilustra e promove no mundo social e político valores intrínsecos à cultura

universitária, tais como a autonomia da consciência e da problematização, o

que tem como consequência o fato de que a investigação deva manter-se

aberta e plural, que a verdade tenha sempre a primazia sobre a utilidade, que

a ética do conhecimento seja mantida.

Reconhecidamente, a função da universidade através da sua história tem sofrido

algumas transformações. Entretanto, a sociedade, cada vez mais, atribui um valor peculiar ao

conhecimento, o que faz a universidade assumir dupla tarefa: a de produzir e disseminar os

conhecimentos nas diversas áreas. Nesse contexto, essa dupla atribuição da Universidade

interfere no saber fazer docente. Nesse sentido, Melo e Naves (2012, p. 29) afirma que o

trabalho docente, nesse caso, consiste em “contribuir efetivamente para que os estudantes

35

aprendam a superar a razão instrumental [...] em detrimento do pensamento crítico pautado

numa sólida formação teórica nas humanidades”. Adotando essa compreensão, o professor

construirá seus objetivos, visando propiciar aos estudantes o desenvolvimento da “capacidade

inventiva, da criatividade, da dúvida metódica, da curiosidade epistemológica” (Freire, 1997).

Podemos, assim, perceber que as ações exercidas pela Instituição tornam-se imbricadas na

docência na universidade, quando esta tem que mobilizar ações que atendam os

compromissos assumidos por aquela. Começamos a delinear então a docência universitária,

que parece ir demonstrando a complexidade e desafios que lhe são atribuídos.

Seguindo essa ordem de reflexão, Pimenta e Anastasiou (2002) compreendem que dois

princípios que dizem respeito à organização e ao funcionamento da universidade se impõem:

um primeiro seria “a convicção de que os espaços institucionais, democraticamente

construídos [...] são espaços legítimos para efetivar essa finalidade”; e o segundo, “a

convicção de que o processo educativo de qualidade resulta da participação dos sujeitos nos

processos decisórios” (p. 163), o que se pode entender através do fortalecimento de práticas

colegiadas no gerenciamento dos projetos e ações educativas na universidade. Dessa forma, as

funções universitárias podem ser sistematizadas, a partir da compreensão de Pimenta e

Anastasiou (2002, p. 163), nas seguintes:

[…] criação, desenvolvimento, transmissão e crítica da ciência, da técnica e

da cultura; preparação para o exercício de atividades profissionais que

exijam a aplicação de conhecimentos e métodos científicos e para a criação

artística; apoio científico e técnico ao desenvolvimento cultural, social e

econômico das sociedades.

No que se refere às funções universitárias explicitadas por Pimenta e Anastasiou

(2002), pensamos no exercício da docência como elemento diferenciador da docência

universitária e, para tal, e a partir dela, a preparação para o exercício das atividades

profissionais. Assim, o que vem a ser Docência? É o que discutiremos no próximo tópico.

2.2, CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE DOCÊNCIA.

Ao procuramos discutir o conceito de docência hoje, torna-se importante resgatarmos

a ideia da docência antes mesmo do início da profissão docente, a partir de Sócrates, quando

ensinava nos bosques, nos pátios, em grupos, nas conhecidas Escolas Peripatéticas, fazendo

com que seus discípulos respondessem seus questionamentos a partir das próprias dúvidas que

36

apresentavam, tendo o cuidado de não dar respostas prontas, acabadas. Ali já nascia a ideia da

docência e o seu caráter relacional entre o docente, os discentes e o conhecimento.

Os Jesuítas, nossos primeiros educadores, apresentaram uma prática pedagógica

fundada em dogmas, na autoridade do mestre, na disciplina, cujos princípios encontram-se na

Ratio Studiorum. Foram eles os responsáveis pela organização do processo de ensino no

Brasil, durante muito tempo. Salientamos que, até então, o ato de ensinar era considerado

como um ofício, uma vocação.

Segundo Vicentini e Lugli (2009), desde o tempo da Colônia, passando pelo Império,

continuando na República e chegando aos anos 1920/1930 do século XX, a educação foi

mantida como um privilégio para poucos. As escolas sobreviviam por iniciativas isoladas de

professores, exceto nos centros urbanos.

A longa história da docência e do surgimento do professor, como sujeito do ensino e

da sua profissionalidade, acontece no Brasil bem depois de outros países, uma vez que os

nossos primeiros cursos para formação de professores primários surgem em algumas capitais

a partir de 1835, em nível secundário com duração de dois anos.

Contudo, segundo Romanelli (2003), surge em Niterói, no Rio de Janeiro, a Primeira

Escola Normal pública pioneira na América Latina, em 1830, e em seguida se institui em

outros estados, tais como, Minas Gerais, Bahia, Ceará, São Paulo, tendo como responsáveis

os governos da província.

É interessante registrar que a denominação escola Normal foi utilizada pela primeira

vez pelo abade La Salle, na França, no ano de 1685. Naquela época, significava ensino

coletivo, dado a grupos de crianças, na forma aproximada de uma conversa. No início do

século XIX, essa expressão passou a significar “escola modelo”. Na concepção francesa, a

Escola Normal seria aquela na qual os futuros professores aprenderiam o modo correto de

ensinar.

Progressivamente durante o século XIX, o Curso Normal, que inicialmente era

destinado aos homens, teve a participação feminina aumentando gradativamente, a ponto de

se tornar quase exclusivamente feminino.

Apesar de a Constituição de 1934 estabelecer a gratuidade e obrigatoriedade da

Educação nos anos 1930, apenas 60% das crianças brasileiras frequentavam a escola primária.

Nesse período, surge a formação para o ensino secundário no Rio de Janeiro e em São Paulo,

quando acontece a fusão do Instituto de Educação com a USP, iniciando assim a organização

dos cursos de formação.

37

A partir dos anos 1940, com a instituição dos Sistemas Estaduais de Ensino, a Escola

começa a abrir, pouco a pouco, espaço para a população não elitizada, talvez devido ao

surgimento nessa época da preocupação com aspectos como o atraso, poucos alunos na escola

e muita repetência. Com o surgimento da Lei nº. 8530, de 02/01/1946, Lei Orgânica do

Ensino Normal, organizou-se o sistema de ensino, uma vez que centralizou as diretrizes,

consagrou a descentralização administrativa do ensino e fixou normas para a implantação do

magistério em todo o Território Nacional.

Contudo, mesmo com essa organização do sistema de ensino, nas décadas de 1940 e

1950 já se inicia a precarização das condições de trabalho do professor da escola primária,

devido ao crescimento acelerado da demanda por aumento de escolarização e a consequente

necessidade de preparação e ampliação do quadro de professores para receber esse novo perfil

de aluno. Nesse período, a imagem do Ginásio como instituição de elite, constituída por um

grupo de professores altamente qualificados, começa a desaparecer. Os Grupos Escolares

ampliaram seu funcionamento e passaram a exercer suas atividades em três turnos diários, o

que diminuiu a carga horária do curso, acarretando, em contrapartida, a superlotação das salas

de aula, surgindo um quadro difícil tanto para a docência quanto para a escolarização.

Salientamos ainda que, nesse período, as pesquisas sobre o trabalho docente eram

centradas no aluno, buscando compreender como o comportamento do professor influenciava

a aprendizagem (Behaviorismo). Entretanto, já se delineava a percepção de que isto só não

bastava para compreender a complexidade da dinâmica escolar e das relações contidas no

contexto ensino e aprendizagem (AZZI e SADALLA, 2002).

Na década de 1960, a maioria das professoras era formada em escolas públicas. No

entanto, não se questionava sua competência. Surgem críticas sobre a ênfase dada ao

conteúdo, esquecendo o caráter pedagógico e relacional do processo de ensino (GERALDI,

FIORENTINI e PEREIRA, 1998). No final dessa década o exame de admissão ao ginásio é

destituído e a matrícula é permitida para todos os alunos que concluíssem o primário. Esse

fato ocorreu de forma abrupta, o que possibilitou a chegada de um maior número de alunos

nas escolas. Em consequência disto, o trabalho dos professores multiplicou-se, não sendo

possível mais aos docentes manterem a mesma dedicação aos estudantes a que estavam

habitualmente acostumados. Muito menos a escola pode manter os mesmos critérios para

contratar novos professores, uma vez que, diante do número de professores necessários para

atender a demanda de estudantes matriculados, foi necessário utilizar critérios mais flexíveis

para o preenchimento das vagas disponíveis.

38

A década de 1970 sofre a influência da psicologia comportamental e da tecnologia

educacional. Centra a formação na instrumentalização técnica, valorizando os saberes

disciplinares em detrimento dos pedagógicos. É a época do tecnicismo. Observa-se nessa

década uma desestruturação na preparação dos futuros professores, uma vez que foi

diminuído consideravelmente o espaço das disciplinas específicas (GATTI, 1997), e os

estágios supervisionados deixavam a desejar, desde o controle até o acompanhamento.

A década de 1980 é caracterizada por contestar a visão de Educação e Formação de

Professores da década anterior (desarticuladas dos aspectos políticos e sociais) e buscar a

redemocratização da educação e da sociedade. Assim, de acordo com Pereira (2000), a

formação volta-se para um profissional que compreenda a realidade social, interfira e

transforme-a, fazendo oposição ao especialista, facilitador e organizador das condições do

processo de ensino e aprendizagem, centrando-se na formação de um Educador que se

perceba cada vez mais como um agente sociopolítico. Nesse contexto, a escola era vista como

possibilitadora de transformar a realidade social, procurando superar o conceito do professor e

especialista, para democratizar também a relação de poder no interior da Escola.

Na década de 1990 temos em destaque a Pedagogia das Competências, Professor

Crítico-Reflexivo e Saberes Docentes, resultantes da produção intelectual internacional e

nacional, que vão dar vez e voz ao professor, a partir da análise de trajetórias de suas vidas.

Sobressaem-se os estudos de Zeichner (1993), Tardif (2002), Shulman (1987), Nóvoa (1992),

entre outros, em oposição às outras décadas, que reduziam a profissão docente a um conjunto

de competências e técnicas, gerando uma crise de identidade entre os professores, ou seja, a

separação entre o Eu profissional e o Eu pessoal.

Ao apresentarmos estes dados que constituíram um breve histórico da docência,

percebemos que cada década traz a identidade do docente, que, por ser inacabada,

multifacetada, autoformativa, uma maneira de ser e estar na profissão, representa uma

identidade que está inserida em um momento histórico que demarca cada época, as quais

deixam e trazem um pouco para a outra, que, na fluidez da construção da identidade docente,

nos torna, enquanto docentes, inacabados e abertos a novos formatos identitários que nos

caracterizam como tal.

É preciso considerar que a democratização da Universidade, expansão, interiorização,

ampliação de vagas e, consequentemente, a necessidade de contratação de novos professores,

tem colocado em evidência a complexidade da docência na universidade e a necessidade de

formação pedagógica desses professores em diversos países e também no Brasil.

39

Pesquisadores e professores de variadas universidades têm se debruçado sobre a

organização de cursos de formação de professores do Ensino Superior no contexto de

Universidade, a exemplo de Cunha (1998; 2007), Anastasiou (2002), Aguiar (2006), Lucarelli

(2007), Cordeiro (2008), Melo (2008), Ramos (2010), Bazzo (2007), entre outros. Os

resultados desses estudos apontam alternativas para subsidiar mudanças para a formação dos

professores do Ensino Superior e, ao mesmo tempo, chamam a atenção para a

responsabilidade das Instituições Universitárias e das Políticas Públicas para uma

sistematização e investimento na formação profissional do professor universitário.

Entretanto, apesar desses estudos, ainda prevalece a ideia, inclusive nos cursos de pós-

graduação stricto sensu, de que a formação de professores se restringe à formação do

pesquisador, ou seja, para ser professor é preciso apenas dominar o conhecimento específico

da disciplina ou do componente curricular a ser ensinado.

Reconhecidamente, nos cursos de pós-graduação prioriza-se a formação para o

pesquisador, e nela são concentradas todas as ações. A formação para a docência fica apenas

sob a responsabilidade dos componentes curriculares seguintes: Metodologia do Ensino

Superior, Didática do Ensino Superior e, quando muito, o Estágio de Docência. Salientamos,

entretanto, que esses componentes não fazem parte do núcleo de disciplinas obrigatórias do

curso e o último é exigido apenas para os bolsistas, evidenciando-se, desse modo, que nem

todos os mestrandos e doutorandos cursam esses componentes.

Assim, indo um pouco mais além, observamos professores ingressando no Ensino

Superior, oriundos de uma carreira acadêmica constituída na iniciação científica, graduação,

mestrado e doutorado, os quais, em sua grande maioria, não tiveram experiências com a

docência e/ou construíram saberes didáticos/pedagógicos para além dos aspectos teóricos.

Apesar do domínio na sua área de conhecimento, são contratados para exercerem a docência

na universidade, em cursos licenciatura, ou seja, deverão “ensinar a ensinar”, mas quando ou

em qual formação lhes ensinaram a ensinar?

2.3. CONCEITO DE DOCÊNCIA

O conceito de docência tem evoluído ao longo da sua história, perpassando na

formação dos professores a ideia “de dom”, “de vocação”, “de transmissão”, “de ensinar”, “de

aprender”. Contudo, ainda vivenciamos em nossas universidades um processo de transição,

enquanto passagem de uma docência baseada no ensino, para uma docência baseada na

40

aprendizagem. Nesse sentido, apresentaremos a seguir a compreensão do conceito da

docência na universidade, evidenciada por alguns dos seus pesquisadores.

Nóvoa (1992) considera a docência um processo complexo que se constrói ao longo

da trajetória do profissional, envolvendo as dimensões pessoal, profissional e institucional.

Nessa perspectiva, a docência é considerada por Nóvoa em toda sua complexidade e

dimensões, visto que, assim como postula Freire (1991, p.32), “ninguém nasce educador [...]

A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na

reflexão sobre a prática”. Nós nos tornamos profissionais docentes através de um processo

amplo e complexo, que perdura durante toda a vida pessoal e profissional em espaços

institucionais e não institucionais.

Já Tardif e Lessard (2005, p.35) dizem ser a docência “[...] um trabalho cujo objeto

não é constituído de matéria inerte ou de símbolos”, ao contrário, a docência se constitui

“[...] de relações humanas com pessoas capazes de iniciativa e dotadas de certa capacidade

de resistir ou de participar da ação dos professores” (grifos nossos). Esses autores salientam a

característica da docência enquanto um trabalho prioritariamente relacional, e por isso os

atores têm a liberdade de resistir ou participar da ação formativa. Compreendem ainda a

docência (idem, p.277) “[...] como uma atividade social fundamental”, e enfatizam que “o

essencial da tarefa docente gira em torno do trabalho em classe e com os alunos”, embora

considerem que “todas as outras atividades e elementos que compõem a tarefa docente são

periféricos em relação a esse nó central do trabalho interativo” (grifos nossos). Nessa

percepção a docência prioriza o trabalho interativo realizado na sala de aula, o diálogo, a

relação, a construção do conhecimento, posto ser naquele espaço que os saberes são

traduzidos, mobilizados e ressignificados, a partir da imediatez da sala de aula e da

ação/docente, configurada pela mediação didática que o professor consegue realizar.

Observamos com Roldão (2005, p. 118) que “[...] a docência requer equilibrar o

domínio dos conteúdos que ensina e o modo como o usa e mobiliza para construir sua

apropriação pelos alunos”, acrescentando ainda que “[...] é nessa mobilização que se joga a

natureza propriamente profissional, porque específica, do seu saber” (grifos nossos).

Partindo dessa ideia a docência se efetiva por ser o professor aquele que ensina não apenas

porque sabe, mas porque sabe ensinar. E saber ensinar é ser especialista dessa complexa

capacidade de mediar e transformar o saber, seja qual for a sua natureza ou nível, de modo

que o estudante se aproprie desse saber/conteúdo.

Assim é que Cunha (2007, p. 22), complementa a ideia anterior ao pensar ser a

docência “[...] uma ação complexa, que mobiliza condições de múltiplas racionalidades e

41

requer saberes específicos.” Reforça ainda que “não basta saber fazer como intuitivamente

muitos professores universitários demonstram”. Desse modo, afirma que a docência como

atividade profissional exige do professor “a condição de saber justificar as ações

desenvolvidas, recorrendo a uma base de conhecimentos fundamentados, a uma

argumentação teoricamente sustentada” (grifos nossos). Nessa ótica podemos entender que

o exercício profissional da docência requer uma formação específica capaz de identificar a

condição amadora da profissão, condição essa que tende a manter os processos culturalmente

instalados e cotidianamente produzidos. Traz-nos a ideia da profissionalidade docente, que

necessita de uma intencionalidade pedagógica, para justificar as ações desenvolvidas.

Para Teixeira (2007, p. 3), “a docência se instaura na relação social entre docente e

discente. Um não existe sem o outro”, ou seja, não posso exercitar a docência sem que

existam discentes para dela participar, uma vez que esse exercício de desenvolvimento de

aprendizagem só existe no universo em que se encontre a tríade professor x estudantes x

conhecimento, posto ser uma atividade essencialmente relacional. Teixeira amplia ainda a

relação para além do docente e discente, pois a considera como “um ofício que envolve, todo

o tempo, o trabalhador em sua teia de relações com outras pessoas, alunos, colegas,

funcionários” (grifos nossos). A docência, para o autor, revela o seu caráter relacional para

além da sala de aula, numa perspectiva de que o professor está o tempo todo e, todo o tempo,

criando relações/espaço para proporcionar trocas e aprendizagens entre seus pares, colegas

funcionários, além, é claro dos estudantes.

Melo (2008) pensa ser a docência no ensino superior uma atividade plural, reflexiva,

combinada, misturada, construída a partir da interação entre os sujeitos do processo

educativo, quer sejam “nas formações iniciais e continuadas, nas trajetórias profissionais e

histórias de vida, nas instituições de ensino e, sobretudo nas relações desenvolvidas em sala

de aula”. Observa-se nesta definição que a docência é constituída de variadas nuances, porém

sempre a partir da interação entre os sujeitos e os espaços nos quais perpassaram.

Veiga (2008, p. 13) percebe a docência como sendo “[...] o trabalho de professores,

um agrupamento de funções desempenhadas por estes, que superam a tarefa de ministrar

aulas” (grifos nossos), pois considera que “as funções formativas convencionais [...] foram

tornando-se mais complexas com o tempo e com o surgimento de novas condições de

trabalho”. De fato, a nova compreensão sobre a docência perpassa pela superação da

docência, enquanto tarefa de apenas ministrar aulas, visto que a complexidade da docência se

ampliou, bem como o trabalho docente diante das novas condições do trabalho. A mesma

autora (2008, p.20) pensa ser a docência “[...] uma atividade profissional complexa, pois

42

requer saberes diversificados. Isso significa reconhecer que os saberes que dão sustentação a

docência exigem uma formação profissional numa perspectiva teórica e prática (grifos

nossos)”. Em outro estudo, Veiga (2009, p.8) diz que a docência “é prática permanente na

relação professor-aluno-conhecimento, em que ensinar aprender, pesquisar e avaliar são

dimensões da didática para o trabalho do professor crítico, compromissado, ético,

dialeticamente construído”. Já em estudo de 2010, Veiga entende ser a docência “[...] uma

atividade que exige vários conhecimentos e aprendizagens ao longo da prática educativa,

bem como o domínio dos conhecimentos específicos do campo científico no qual se situa a

disciplina, dos conhecimentos pedagógicos e dos conhecimentos experienciais (p. 19 - grifos

nossos)”. Assim, Veiga corrobora a ideia de autores anteriormente citados, ao evidenciar que

a docência exige uma gama de conhecimentos e aprendizagens que não se restringem apenas

aos conhecimentos específicos, mas a importância de relacioná-los com os outros

conhecimentos, que, articulados, permeiam a prática docente do professor e dão sustentação

às atividades da docência.

Para Farias et al (2009, p. 56), a docência é “um trabalho que requer saberes

especializados e estruturados por múltiplas relações, nas quais o processo de humanização -

do professor e dos sujeitos com quem interage no contexto de trabalho - é continuamente

forjado (grifos nossos)”. O autor apresenta um elemento agregador à docência universitária –

por vezes esquecido –, que é o processo de humanização do próprio professor e dos sujeitos

com quem interage no trabalho. Esse elemento aponta ser um diferenciador para que os

estudantes se aproximem mais dos professores e, consequentemente, do componente

curricular por ele trabalhado.

Observamos que, apesar das singularidades dos conceitos da docência aqui citados, os

recortes pinçados de cada um deles retratam um pouco do que os pesquisadores pensam

acerca da docência e da docência universitária, e o quanto dizem para nós sobre o exercício da

docência no ensino superior: “processo complexo que se constrói ao longo da trajetória do

profissional”; “equilibrar o domínio dos conteúdos que ensina e o modo como o usa e

mobiliza para construir sua apropriação”; “é constituído de relações humanas”; “gira em torno

do trabalho em classe”; “exige a condição de saber justificar as ações desenvolvidas,

recorrendo a uma base de conhecimentos fundamentados”; “envolve o tempo todo o

trabalhador em sua teia de relações”; “atividade plural, reflexiva, combinada, misturada,

construída [...] nas relações desenvolvidas em sala de aula;” “um agrupamento de funções que

superam a tarefa de ministrar aulas”; “um processo de humanização;” “exige vários

conhecimentos e aprendizagens ao longo da prática educativa”. Interessante registrar que a

43

docência na universidade – que por vezes esquece as relações afetivas, as interações, o

cuidado com o outro e a relação dialógica – pareceu se evidenciar nas falas dos diversos

autores citados, retratados nesses “retalhos do conceito de docência” por nós grifados.

O contexto sociocultural existente nas universidades não nos permite mais vivenciar

professores que pensem, falem e ajam de forma incoerente. O discurso vazio não mais nos

permite calar, ou aceitar, simplesmente. Estamos na era da informação, mas precisamos trazer

essas informações e transformá-las em conhecimento, pois nossos alunos necessitam sentir

prazer em vir para uma aula. Entretanto, questionamos: Quais são as aulas na universidade

que os alunos brigam por não faltar? Precisamos criar, desafiar os estudantes, instigá-los,

fazê-los querer participar, duvidar, descobrir, investigar, e nunca reproduzir ou imitar.

Portanto, não mais se aceita/entende uma docência apenas de imitação ou de modelos

reproduzidos, uma docência na qual o professor é o detentor do saber e os estudantes simples

depositários, sem que se reflita sobre o que ensinar, por que e para que ensinar, ou seja, uma

docência na qual o professor não tenha autonomia e responsabilidade para decidir, e que

domine apenas o conteúdo a ser ensinado, em detrimento do conhecimento pedagógico-

didático do que ensinar.

Diversos são os conceitos sobre a docência, porém, parece existir um consenso da

docência como uma atividade composta, plural, flexível e reflexiva, que se constrói e vai se

constituindo na interação entre os pares, nos cursos de formação inicial e continuada, ao longo

da trajetória profissional, nas instituições em que o professor trabalha e, principalmente, na

relação com os estudantes em sala de aula. Conforme defende Cordeiro (2008), que a

docência seja vista como uma cultura constituída por muitos saberes que o professor constrói

ao longo da sua formação e que mobiliza na sua prática docente.

Entretanto, a docência na universidade se ancora na dinâmica da interação dos

diferentes processos que respaldam o modo como os professores concebem e dão significado

ao conhecer, ao fazer, ao ensinar e ao aprender. Dessa forma, a docência pode extrapolar a

dimensão do “ensinar”, e se instaurar como uma atividade eminentemente formativa na

perspectiva do “aprender”, que envolve os professores, os estudantes e os espaços formativos.

A docência na universidade tem exigido de seus professores o cumprimento de três

funções: ensino, pesquisa e extensão. Além destas, recentemente foram acrescidas outras

atribuições, tais como: a orientação acadêmica (Monografias, Dissertações e Teses – Veiga,

2004); a gestão ou administração (nos diversos setores institucionais, dos departamentos e

faculdades às diversas comissões e à direção da universidade); o que alguns chamam de

business (busca de financiamento, negociação de projetos e convênios com empresas e

44

instituições, assessorias etc.); as relações institucionais (a representação da própria instituição

e a criação e a manutenção de uma ampla rede de relações, segundo Zabalza, 2004); e a

tutoria (a orientação, o apoio e a ajuda aos estudantes para a solução de problema

apresentados, tanto no que se refere à disciplina, quanto em relação à carreira profissional –

Zabalza, 2006).

Assim, de acordo com Puentes e Aquino (2009), as oito funções, no conjunto,

terminaram ampliando e tornando mais complexa a docência no contexto universitário. Como

podemos observar a docência, ou seja, o trabalho docente na universidade exige competências

diversas daquelas com as quais os professores estavam habituados.

A complexidade da docência também se evidencia na compreensão dos pesquisadores,

quando se referem que a função específica de caráter profissional da docência tem por objeto

principal: “propiciar a aprendizagem dos estudantes” (Masetto, 2003); “desenvolver

competências e habilidades cognitivas” (Libâneo, 2004); “reformar o pensamento” (Morim,

2004) e “estimular a pesquisa científica” (Zabalza, 2006).

Contudo, em Puentes e Aquino (2009) entendemos que a docência tem um caráter de

especificidade de acordo com o nível de aprendizagem no qual se insere: a docência no

ensino fundamental e médio tem por atribuição valorizar o desenvolvimento e o manejo das

capacidades intelectuais, tais como formas gramaticais, cálculo aritmético, pensamento

espacial e temporal e categorias sociorrelacionais e capacidades humanas (valores,

sentimentos, sentidos, desejos). Já a docência na universidade tem a função de orientar a

ensinar como adquirir e organizar conhecimentos, ou seja, o docente na universidade assume

a função de ensinar a produzir e aplicar novos conhecimentos pela via da pesquisa e da

extensão, a partir das bases desenvolvidas nos níveis anteriores da formação. Nesse princípio,

o papel da docência na universidade é compreendido como o de ajudar os estudantes a pensar

e agir a partir dos instrumentos conceituais e os processos de investigação das ciências.

Os estudos de Isaia (2001 e 2003b) e Isaia e Bozan (2004) consideram que as

concepções sobre a docência orientam o modo como os docentes desenvolvem suas diferentes

atividades. A maneira como os professores compreendem essas concepções é atravessada por

expectativas, sentimentos e apreciações que acompanham a trajetória docente. Dessa forma,

para os professores, a docência pode constituir-se em um espaço para além da dimensão

técnica, sendo perpassada não só por conhecimentos, mas também por relações interpessoais e

vivências de cunho afetivo, valorativo e ético.

Nesse sentido, Isaia (2006) afirma que as concepções de docência podem ser

atravessadas por três orientações:

45

Implicação com a docência – aponta para a emergência dos sentimentos como

instância dinamizadora da docência, dando-lhe sentido e significado pessoal e profissional, na

medida em que os professores estão envolvidos, implicados com a atividade de ser professor.

Centração em suas áreas específicas de conhecimento – indica a

desconsideração da realidade escolar e a integração com conhecimentos de natureza

pedagógica. Entretanto, reconhece que os professores têm mostrado uma preocupação em ir

além da reprodução, dando condições para a apropriação dos conhecimentos da área, por parte

de seus alunos.

Dimensão pessoal da docência - decorre basicamente desse duplo movimento,

proporcionado pelo sentir, compreendendo, simultaneamente, consciência e pessoa.

Possivelmente, a dimensão pessoal, aliada à implicação com a docência, seja a responsável

pelos professores irem além da dimensão técnica, em direção à pedagógica-formativa,

possibilitando serem referências de como ser professor aos seus alunos, instaurando o que se

pode denominar aprendizagem por influência (ISAIA, 2003).

Esse estudo traz uma contribuição para a pesquisa em tela, na medida em que aponta

que a forma como os professores concebem a docência interfere no modo como esses

desenvolvem suas diferentes atividades formativas no contexto universitário.

De acordo com o que vimos discutindo até agora, podemos reafirmar que, cada vez

mais, evidencia-se que, durante a formação pedagógica do professor universitário, faz-se

necessário compreender que a docência se constitui como uma atividade complexa, que exige

um conhecimento consistente sobre como os estudantes aprendem, sobre o conteúdo a ser

apreendido e sobre como o professor pode melhor orientar essa aprendizagem.

Nessa direção, conforme nos explica Enricone (2008, p.21-22), compreendemos que o

ato de “ensinar” é intrinsecamente hermenêutico, pois:

o professor é um intérprete da sua disciplina, é um mediador entre o

conteúdo que ensina e o seu e o horizonte da compreensão do estudante,

entre seu conhecimento especializado e um sujeito em formação e, ao assim

proceder, demonstra reconhecer o significado de ser docente universitário.

No entanto, para muitos professores o território da docência na universidade é, do

ponto de vista teórico, conforme Pimenta e Almeida (2011 p.8), um universo um tanto

desconhecido, pois as atividades realizadas em sala de aula se sustentam, em sua grande

maioria, num tripé resultante da combinação entre sua atuação profissional específica, as

46

experiências vivenciadas enquanto estudante e tudo o que vem estruturando sua atuação

enquanto professor.

É desnecessário dizer que durante o exercício da docência torna-se importante que

façamos uma reflexão no sentido de que a universidade, antes de ser uma instituição de

ensino, precisa ser uma instância de aprendizagem. Contudo, parece que a docência se reveste

mais e mais de uma complexidade que abarca todos os espaços universitários. É este aspecto

que discutiremos a seguir.

2.4 DIMENSÕES DA DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE

Ao pensarmos sobre as dimensões da docência na universidade preocupa-nos seu

sentido formativo, cujos pilares estão estruturados no ensino, pesquisa e extensão.

Observamos que as dimensões do trabalho desenvolvidas no contexto da universidade

acontecem de forma articulada nos discursos, porém, na maioria das vezes, ocorre

isoladamente no dia-a-dia de cada docente.

Desnecessário se faz dizer que os sujeitos que exercem a docência na universidade são

aqueles que, sob sua responsabilidade, recaem o desenvolvimento e efetivação das atividades

formativas dos futuros professores, que implica formar profissionais de Educação nas

diferentes áreas de conhecimento, capazes de trabalhar na educação básica, formando novos

sujeitos com condições de opinarem e refletirem sobre si, sobre seu país e sobre o mundo,

portanto, pessoas críticas e sintonizadas com a realidade em que estão circunscritas.

Um fato que tem concorrido para agravar tal situação no interior das universidades e

tornou-se status para o professor universitário é a quantidade de pesquisas realizadas, o

número de artigos escritos, o número de publicações, projetos aprovados, participação em

bancas, enfim, cumprir as exigências da Capes1. Desse modo, a própria Capes institui uma

série de atividades para o professor, que, no nosso entendimento, obriga-o a relegar a sua

função primeira – a docência. Entretanto, precisamos trabalhar essa docência numa

perspectiva de indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão. O professor

universitário ainda não conseguiu articular de forma integrada o tempo pedagógico para

realizar esse tripé destacado. Assim, para pesquisar, o professor vai precisar de certo tempo,

para organizar o ensino, mais outra quantidade de tempo, para fazer com que o estudante

1 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

47

pesquise e aprenda o verdadeiro significado de articular o ensino/pesquisa, mais outro tempo,

além da extensão, para a qual será necessário também mais um tempo.

Nesse contexto, começamos a refletir sobre o que escutamos dos estudantes, nos

corredores e lanchonetes na Universidade, durante o momento da pesquisa de campo: “A aula

de YY pareceu improvisada ou foi impressão minha?”; “Ora... mais... vê bem, ele não teve

tempo para nada esta semana, veja só o que ele teve que fazer só esta semana; dar aula na pós

e ainda concluir um texto para enviar para o Congresso X, além disso, acabar de ler a tese de

XY. Olha, teve até que transferir o encontro com os orientandos. É... então, tenho razão!...,

Realmente, ele não teve o menor tempo para planejar esta aula”. Essa parece ser a realidade

de muitos dos professores do Ensino Superior. Mas por que isso está ocorrendo? Às vezes o

próprio professor se sente sufocado diante das diferentes atribuições que estão sendo exigidas,

em relação ao tempo que dispõe para realizá-las, conforme Cordeiro (2006) explicou

anteriormente.

De fato, a cultura universitária, ao priorizar a pesquisa, faz com que as outras

atividades referentes ao ensino se tornem de menor importância – no caso, a docência. E essa

prioridade parece influenciar os estudantes em formação, que também começam a buscar a

carreira acadêmica nesse mesmo perfil, priorizando a pesquisa em detrimento das questões

voltadas aos processos de ensinar/aprender.

Se compreendermos que, enquanto Instituição Social, a “Universidade não é

completamente autônoma”, no que se refere à “sociedade que a cria e mantém, como

instituição especializada”, mas, ao contrário, existe entre elas, ao mesmo tempo, continuidade

e rupturas (COELHO, 1996, p.21), necessário se faz que pensemos um trabalho docente que

articule as funções básicas de ensino, pesquisa e extensão, para além dos discursos

acadêmicos.

Neste propósito, seria interessante que buscássemos parcerias de modo que: o

tratamento dado aos conteúdos ficasse cada vez mais distante da perspectiva disciplinar; que a

departamentalização encontrada nas universidades fosse se unificando; que o trabalho se

tornasse comum, e que não nos permitíssemos trabalhar no isolamento acadêmico ao qual

estamos acostumados.

Reforçamos essa ideia com uma provocação que Morin (1994, p.63) apresenta em seu

livro “Ciência com Consciência”, ao dizer que:

[…] atinge-se uma clausura disciplinar, super disciplinar, em que cada um é

proprietário de um pequeno território e compensa sua incapacidade de

refletir sobre o território dos outros por meio da interdição rigorosa que faz

48

aos outros de penetrarem no seu. Os etólogos reconheceram esse instinto de

propriedade territorial nos animais – logo que entram em seu território, as

aves desatam a cantar, os cães ladram etc. Esse comportamento animal

diminui muito na espécie humana, exceto entre os centros universitários e os

cientistas.

É evidente que cada vez mais nos isolamos academicamente, entretanto, percebemos

também que hoje se exige do professor universitário saberes, habilidades, competências,

atitudes e papéis diferentes daqueles a que estava habituado, em face de um novo perfil, quer

seja de estudantes, quer seja de professores, que se encontra nas universidades. Entretanto, o

distanciamento em que nos encontramos dificulta a “conversa”, o “diálogo”, as “trocas”, “as

parcerias com nossos vizinhos”, a interdisciplinaridade, que cada vez mais se tornam

indispensáveis para assegurar uma profissionalidade docente no espaço acadêmico

universitário.

Considerando a universidade como um lugar privilegiado de apropriação e produção

do conhecimento historicamente produzido pela humanidade, a docência universitária,

evidenciada nesse contexto por sua complexidade, apresenta-se constituída pelas seguintes

dimensões epistemológicas:

Dimensão política - Iniciamos a discussão acerca da dimensão política da

docência na universidade, convidando Freire (1997) para dela participar na sua fala: “Não

posso ser professor sem me por diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância

minha maneira de ser, de pensar politicamente (p.108)”. Ora, enquanto se exerce a função de

professor, se exerce também a cidadania. Neste caso, o professor é alguém que tem uma

identidade, que se encontra em um processo histórico e dialético, que participa da construção

da vida e da história de seu povo. E, por estar consciente da sua necessidade de ter essa visão

de homem, de mundo, de sociedade, de cultura, de educação, precisa estar comprometido com

seu tempo, com o aqui e com o agora.

O ato de ensinar é um ato político, o professor, enquanto cidadão, está aberto para o

que se passa na sociedade, no contexto universitário, e fora dele, atento para as

transformações, evoluções e mudanças, novas descobertas e proposições, novas formas de

perceber, receber e respeitar os estudantes, procurando incentivar momentos de discussões e

debates na sala de aula, de forma a promover o exercício da crítica, da inserção de temáticas,

que proporcionem, ao mesmo tempo, através de estratégias planejadas, adquirir informações,

reconstruir seu conhecimento. Assim, para além do “dar aula”, o professor, considerando a

dimensão política que de outras não pode se dissociar, permite-se discutir os aspectos

49

políticos inerentes à profissão professor, para que, desde cedo, aprenda a se posicionar com

profissionais e cidadãos (MASETTO, 2012).

Dimensão Pedagógica – Para pensarmos esta dimensão é importante que

consideremos a relação pedagógica para além do pensamento didático, restrito a normas ou

prescrições. Implica redimensionar o contexto da aula, inovar seus procedimentos, redefinir

conteúdos, refletir sua prática, investir nas interações pessoais entre estudantes/estudantes e

entre estes e o professor. Importa considerarmos também que esta dimensão integra tanto o

“saber”, quanto o “saber-fazer”, próprio da profissão de professor. A dimensão pedagógica

acolhe tanto os “saberes docentes”, quanto os “saber-fazer” específicos da profissão professor.

Nesse contexto, novamente as pesquisas de Isaia (2001 e 2003) e Isaia e Bozan (2004)

contribuem com essa dimensão, ao afirmarem que o trabalho docente pensado na dimensão

pedagógica supõe, inicialmente, redimensionar o contexto da sala de aula a partir de três

considerações: A primeira, referente ao plano filosófico/ético/político, que busca questionar e

responder sobre o sentido do que se faz na universidade, refletindo-se acerca do compromisso

e finalidades dessa instituição perante a sociedade hoje. A segunda diz respeito ao plano

epistemológico/curricular/didático, que exige reflexões específicas alusivas ao curso em que

atua, aos critérios utilizados para definir os conteúdos e procedimentos operacionais, bem

como no que se refere à redefinição da própria concepção do que entende como

conhecimento. A terceira considera os aspectos de ordem psicológica, que pensa questões

específicas das relações interpessoais, das subjetividades, do jeito de ser de cada um, das

possibilidades e limitações dos atores imersos no contexto da sala de aula. Esta dimensão

perpassa o desejo, os sonhos, as utopias, envolvendo aspectos relacionados aos sentimentos

ambíguos, da alegria ao horror, do amor ao ódio e da paixão em ser professor, que, por vezes,

invadem nosso cotidiano, mas que nem sempre conseguimos assumi-los com naturalidade.

Além dessas dimensões, outras se fazem presentes na constituição da docência na

universidade, conforme nos orienta Zabalza (2004).

O autor atribui três grandes dimensões na definição do papel docente na universidade:

Pessoal (que interfere no mundo da docência a partir de alguns elementos, como a satisfação

no trabalho e outras situações de ordem pessoal); Profissional (que configura os componentes

essenciais que definem essa profissão); Administrativa (que envolve questões contratuais, de

carreira, condições de trabalho e outras obrigações do exercício profissional).

Nessa perspectiva, considera a importância dos professores universitários não serem

apenas bons cientistas ou bons administradores, mas bons formadores. Desse modo, torna-se

50

implícito o papel das relações interpessoais nesse processo, pois a ação direta sobre a

formação contém elementos interligados aos laços desenvolvidos com os estudantes.

Consideramos a Dimensão Pessoal – sem desmerecer as demais – de importância

vital, uma vez que ela está imersa na subjetividade do professor. Sabemos que o modo de ser

professor é assentado pela interação entre o eu pessoal e o eu profissional. De acordo com

Nóvoa (1992 p. 17), “não podemos separar o eu pessoal do eu profissional do professor.” Daí

a importância dessa dimensão, visto que transporta elementos que se referem à valorização

dos sentidos, das crenças e ideologias construídas pelos professores, pois cada professor vive,

interpreta e atribui uma identificação pessoal à sua prática, já que essa prática se inscreve no

conjunto formado pelas ideologias, crenças e postura ética que certamente vão determinar o

seu modo de “ser professor”.

Independente da valorização que seja dada academicamente a essa dimensão,

pensamos ser ela que carrega elementos possibilitadores para tentar modificar a docência na

universidade, especificamente no que se refere aos saberes relacionais, tão necessários no

contexto universitário, e hoje tão requerido pelos estudantes, pois as relações interpessoais, ao

longo da história de vida, dos contextos formativos e ao longo da trajetória profissional de

cada professor, interferem consideravelmente no modo de “ser e estar professor”, e

provavelmente também na formação da identidade e profissionalidade dos futuros

professores, objeto de estudo desta pesquisa.

A docência, como sabemos, é um trabalho diferenciado, pois seu objeto de trabalho é

o humano, e, como tal, é incompleto, imprevisível, curioso, uma vez que dialoga, interfere,

modifica, mobiliza situações e reações diferenciadas e imprevisíveis no contexto da sala de

aula, espaço em que é realizado o trabalho docente. Que outro exercício profissional tem essa

característica? Que outro profissional precisa mobilizar saberes diferentes e com tal

intencionalidade que, em dado momento, satisfaça a necessidade surgida? Poderíamos pensar

no médico, por seu objeto de trabalho ser também o humano, mas no exercício da medicina

ele pensa e age sozinho, sem que o sujeito sob o qual esteja realizando a ação/atividade

profissional interaja pensando, refletindo ou até discordando e/ou sugerindo outra forma de

agir. Assim, observamos que a atividade docente é uma das profissões que têm essa

característica e, portanto, precisamos que cada vez mais estejamos sintonizados entre o eu

pessoal e o eu profissional para podermos criar uma sinergia com os estudantes no processo

de construção do conhecimento.

Contudo, percebemos que esse conjunto de relações entre a docência universitária e

sentimentos que se configuram na dimensão pessoal da docência reafirmam discussões

51

propostas por Abraham (1987), ao priorizar o entendimento do professor indissociável da sua

pessoa e complementadas por Bertrand (2001, p.57), ao considerar que “a educação é, em

primeiro lugar, algo que se passa no interior da pessoa. É uma experiência que nasce, se

efetua e termina, na pessoa que se educa”.

Rios (2012, p.20), ao tratar das Dimensões da Competência profissional docente,

apresenta quatro dimensões que se interpenetram: técnica; política; estética e ética. Para a

autora a “competência guarda o sentido de saber fazer bem o dever”. Considera que,

inicialmente, na competência profissional docente existe uma “dimensão técnica”, que se

refere à capacidade de o professor tratar com o conhecimento específico e construí-lo ou

reconstruí-lo com os estudantes. Entende ainda ser “a dimensão técnica suporte da

competência, pois se reporta a certa forma de realizar o trabalho”. Segundo sua compreensão,

é nessa forma que se revela a qualidade do saber. Acrescenta, ainda, que “esse fazer não se dá

num contexto qualquer”, mas “numa sociedade organizada [...] sustentada por determinados

valores [...] que entram em contato com inúmeras formas de poder”. Esses elementos levam a

escolhas e definições. No contexto da educação, essas escolhas se referem a o que ensinar,

como ensinar e, em sintonia com Freire, a favor de “quem ou contra quem ensinar”. Assim,

para Rios, “é essa a dimensão política da competência, pois o professor e a professora têm de

tomar partido e conduzir sua prática numa direção”.

Aliada às dimensões técnica e política, inscreve-se a dimensão estética, que, na

compreensão da citada autora, marca a “presença da sensibilidade no trabalho docente”. Rios

(2012, p.21), continua afirmando que “não há possibilidade de falar de um bom profissional”,

que não tenha inserido em “sua prática alguma perspectiva de sensibilidade e de afetividade”,

e explica que essa afetividade é compreendida “no sentido de se deixar afetar pelo trabalho

[...] pelo relacionamento com os estudantes e com os outros”. Nesse contexto, explica que

procura resguardar a dimensão técnica de uma marca tecnicista de que foi revestida, no campo

da formação profissional, em que se valorize apenas o aspecto instrumental da racionalidade,

e a política de caráter meramente simplista, no qual se reduza a atuação dos partidos.

Entretanto, acrescenta ainda a dimensão ética, considerando-a fundante à Competência

Profissional Docente, pois “é com base nos princípios éticos que se deve organizar a ação

docente, definir os saberes, a forma de socializá-los e de estabelecerem as relações no

processo educativo que se dá na docência”.

Assim, se considerarmos que as dimensões de Competência Profissional Docente

dizem respeito ao trabalho dos professores, ela ganha relevo na docência na universidade, pois

a ética relacionada aos elementos que constituem a técnica, a estética e a política nos faz

52

entender a definição de competência como um conjunto de saberes e de fazeres que

constituem o amálgama da ação dos formadores, numa perspectiva de formar profissionais

que se preocupem com o bem comum.

Portanto, as dimensões que fundam a docência na universidade são diversas e cada

uma delas necessita ser considerada na sua inteireza e singularidade. Evidenciamos algumas

delas, não por considerá-las mais importantes que as demais, mas porque, de uma forma ou de

outra, estiveram presentes nas escutas e nas falas dos artífices desta pesquisa, que se revelam

nos Desafios da docência na universidade, o próximo tema a ser discutido.

2.5 DESAFIOS DA DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE.

Diversos são os desafios concernentes à Docência Universitária. Eles não se

restringem às dificuldades que perpassam no exercício principal do seu papel: formar

cidadãos como sujeitos críticos, éticos e humanos, mas, além destes, vivenciar as

modificações constantes que surgem no cenário social, econômico, político e cultural.

Pesquisas apontam que a grande maioria dos professores possui lacunas na sua

formação pedagógica e atuação docente e demonstram dificuldades na adoção e utilização de

novas metodologias e estratégias.

A academia já tem reconhecido que excelentes pesquisadores não conseguem ter o

mesmo nível de desempenho na docência. Além disso, os professores hoje são solicitados a

desenvolverem um conjunto de funções que ultrapassam o exercício da docência. As funções

formativas (ter conhecimento sobre sua área específica e saber explicá-la) tornaram-se mais

complexas com o passar do tempo e com as novas condições do trabalho (massificação dos

estudantes, novas tecnologias, fragmentação das disciplinas, entre outras), constituindo-se um

desafio à docência.

Nesta perspectiva, Behrens (2003, p. 27) comenta que a docência universitária “requer

a visão do professor-pesquisador aliada ao domínio técnico-científico de sua área de atuação

e, neste processo, exige uma formação didático-pedagógica crítica e reflexiva, adequada às

práticas educativas”.

Ramalho (2006) reforça a ideia, ao afirmar que a relação entre quem ensina e quem

aprende e os inúmeros fatores que envolvem essa complexa relação parecem estar pouco

esclarecidos, devido aos parcos investimentos nessas discussões e na formação didático-

pedagógica dos professores, quer sejam iniciantes ou veteranos.

53

Cunha (2012, p.28) esclarece que a universidade é uma instituição social e, como tal, é

também tributária de uma cultura, de uma condição temporal e atingida significativamente

pelas políticas mais amplas: “ela explicita as contradições de seu tempo e traz as marcas de

sua história”.

Caminhando nessa direção um dos grandes desafios da docência na Universidade

parece estar presente na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, incluída na

Constituição de1988. Nesse sentido, necessário se faz reforçar a compreensão de que o

“princípio da Indissociabilidade não se faz espontaneamente pela natureza de ações

intrínsecas nos seus processos históricos e epistemológicos”, conforme nos orienta Gramsci

(1982, p.24), mas sim, “pela intencionalidade de compreender o conhecimento, a ciência e o

mundo numa relação dialética de sujeitos históricos” – professor e estudantes que interagem

construindo o “novo de novo” e, muitas vezes, também o “inédito”.

Cunha (2012 p.32-35) aprofunda em seus estudos o conceito de indissociabilidade

entre ensino, pesquisa e extensão, concordando que não há uma clara compreensão do

mesmo, dada a sua naturalização no espaço acadêmico. Nesse estudo fez uma imersão na

literatura e escuta sete estudiosos brasileiros das questões universitárias, dentre as quais

interessa-nos buscar o esclarecimento do conceito e do sentido da indissociabilidade entre

ensino, pesquisa e extensão na docência universitária, tendo considerado este como um dos

primeiros desafios que se impõem à docência no contexto da universidade.

A autora observou que a diversidade de argumentos e as diferentes lógicas que

presidiram as falas possibilitaram a compreensão de que esse tema não tem sido motivo de

debate e de sistemática explicitação no meio acadêmico. Após a constatação de escolhas

distintas, para justificar a relação entre a pesquisa, o ensino e a extensão, pelos sujeitos

escutados, a pesquisadora reorganizou os dados, estruturando-os nos seguintes eixos:

Visão epistemológica e as capacidades acadêmicas

Visão institucional e distribuição do conhecimento

Visão metodológica nas formas de produção do conhecimento

Visão política e de impacto social

No que se refere ao eixo Visão epistemológica e as capacidades acadêmicas, Cunha,

(2011, p.336) identificou que há uma “centralidade nas afirmativas de ser o exercício da

pesquisa uma condição fundamental para o professor e o aluno, tendo em vista sua capacidade

de pensar.” Por conseguinte, a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão estaria

centralizada numa atitude epistêmica que seguiria todas as ações acadêmicas, abrangendo sua

54

forma de gestão e distribuição do conhecimento, com forte impacto nas práticas de ensinar e

aprender, pelo que considera conhecimentos válidos e não por seus méritos, diagnosticando,

assim, que essa perspectiva se aproxima do discurso pedagógico instrucional e das regras

distributivas, mencionadas por Bernstein (1984).

No segundo eixo – Visão institucional e distribuição do conhecimento –, “centra a

concepção na Instituição, que seria o eixo dessa relação”. Nesse caso, não são

responsabilizados todos os professores e estudantes pelo exercício das três tarefas, porém

todos devem se beneficiar dos produtos individuais, com acesso público e universal. A

universidade então abrigaria o conceito de indissociabilidade e, na medida em que realizasse

cada uma das funções, estaria cumprindo a relação da pesquisa, ensino e extensão. Esse

formato se aproxima do discurso regulador, que vai inferir sobre a base administrativa da

universidade, a distribuição orçamentária e a definição de valores acadêmicos.

Essa visão provoca questionamentos no que se refere ao termo indissociabilidade, ao

reconhecer e legitimar uma territorialização para cada função em tela. Pode não proporcionar

uma posição frente ao conhecimento e uma visão mais avançada do aprender, contudo avança

na ideia de apropriação dos resultados da pesquisa enquanto uma condição democrática, de

acesso público.

O eixo Visão metodológica nas formas de produção do conhecimento “está

sustentad[o] por aqueles que compreendem a pesquisa como princípio metodológico.” Nessa

visão, a compreensão de indissociabilidade é uma concepção de aprendizagem como processo

de construção do conhecimento. Assim, o discurso pedagógico instrucional seria novamente

principal, pois se trata de tomar a perspectiva metodológica para orientar as regras

distributivas de conhecimento.

No último eixo – Visão política e de impacto social – a indissociabilidade “tem com

premissa a esperança da superação das desigualdades sociais, uma vez que envolveria a

distribuição de bens culturais, expressando o papel da universidade na construção de uma

sociedade mais justa e igualitária” (p.338). Essa visão pressupõe um modo de olhar diferente

para o papel da universidade, que se aproxima do delineamento esperançoso e crítico proposto

por Santos (2010). Assim, exigiria uma virada epistemológica e política, que daria à extensão

um papel de destaque e centralidade na organização e distribuição do conhecimento

acadêmico. Teríamos, assim, nessa visão, um discurso pedagógico regulador, que intervém

fortemente em valores culturais e ideologias.

O estudo citado permite esclarecer aspectos que incidem como desafios da docência na

universidade no que se refere à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Nele

55

percebemos a posição distinta entre os autores pesquisados, conforme conclui Cunha (2012, p.

36), afirmando que: “Para alguns, ainda é uma utopia distante, para outros é uma emergência

necessária que impacta a sobrevivência da condição pública legitimada para a universidade”.

Também fica evidenciada a “dependência da universidade das tramas sociais, reconhecendo

que seus rumos estão indelevelmente emaranhados na teia de interesses, compromissos e

tensões”. (p.36).

Neste sentido, a Universidade e seus Professores, tendo em vista as transformações

que vêm ocorrendo no contexto universitário, necessitam desenvolver um trabalho integrado e

cooperativo. As trajetórias formativas, por sua vez, necessitam que os professores e a

Instituição estejam integrados e conscientes das suas responsabilidades, já que sobre elas

estão incidindo desafios, quer seja para os professores, quer seja para a Instituição,

abrangendo diferentes aspectos.

Santos (2004) apresenta quatro grandes desafios para a docência na universidade,

quais sejam; dar nova centralidade às atividades de extensão; construir uma identidade de

professor pesquisador; ampliar as concepções de ensino dos professores pesquisadores;

trabalhar o “conhecimento pluriversitário” no ensino de graduação.

Nova centralidade às atividades de extensão – desde a Reforma Universitária

de 1968, temos observado um processo progressivo de maior valorização da pesquisa em

detrimento das atividades de ensino e extensão na universidade. Foram criados alguns

incentivos para a pesquisa: bolsas de produtividade, verbas para compra de equipamentos, de

livros, auxílio para viagens, bolsistas, entre outros. Contudo, também observamos que o

ensino transformou-se em um encargo docente, e a extensão, em prestação de serviço.

Nesse sentido, Santos (2004, p.74) explica que, ao se referir às atividades de extensão

na universidade, importa dedicar maior atenção ao objetivo prioritário dessas atividades, no

sentido de dar “apoio solidário na resolução de problemas da exclusão e discriminação

sociais, de tal modo que nele se dê voz aos grupos excluídos e discriminados”.

Construir uma identidade de professor pesquisador – a cultura do “Currículo

Lattes” vem instaurando uma nova racionalidade na universidade. Talvez até um desafio

ainda maior para a docência, pois os professores chegam a universidades contratados, mas

“não querem, nem gostam de ensinar”, parecem ter incorporado durante sua formação inicial

que o ensino toma-lhe um tempo “precioso”, que poderia ser gasto com pesquisas e

publicações. Observamos que na graduação as aulas são relegadas a um segundo plano

(“evitadas”) por parte dos docentes, decorrendo que os alunos de pós-graduação assumem

56

algumas aulas; o improviso surge como necessário, devido às outras atribuições que dão mais

status: participar de bancas de defesa de teses e dissertações, de congressos e seminários, etc.

Identifica-se, assim, uma lacuna na formação profissional do docente universitário com a

escolha por dedicar a maior parte do seu tempo para a pesquisa em detrimento do ensino.

Entretanto, por mais paradoxal que pareça a pesquisa, além de proporcionar para o professor a

retroalimentação dos processos de ensinar e aprender, torna-se importante para a

desconstrução da ideia de que a aula na universidade é de menor valor, pois a função primeira

da docência “é fazer aprender algo a alguém” (Roldão, 2005) mas, conforme esclarece Freire

(1997, p.32):

[...] o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma

forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da

natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se

precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se

assuma, porque professor como pesquisador.

Nessa compreensão, sublinhamos que uma identidade não se constrói de forma linear

ou estática, mas sim, nas contradições surgidas nas diferentes experiências pessoais e

profissionais. O desenvolvimento da identidade é um processo complexo, que exige [...] “um

tempo para refazer identidades, para acomodar inovações para assimilar mudanças”

(NÓVOA, 1995, p.16).

Desse modo, acreditamos que não se constrói uma identidade de professor

pesquisador do dia para a noite, pois ser professor pesquisador exige o saber fazer docente,

uma vez que a busca, a indagação e a curiosidade necessitam ser percebidas pelo docente

como elementos indispensáveis à sua profissão, e exige também que se assuma, enquanto

professor, também como pesquisador, porque, conforme Freire (1997, p.32) nos orienta, “não

há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram no corpo um

do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando”. Mas esse é um processo longo

e complexo que precisa ser vivenciado desde os períodos iniciais da formação docente,

exigindo, assim, uma integração de todos os professores universitários dos diferentes

departamentos, numa ação conjunta e formativa, na direção de um trabalho coletivo, a ser

percebido pelos discentes, na ação docente, de modo que a integração entre a pesquisa e o

ensino ocorra de modo que o estudante perceba ser indispensável ao ser professor a pesquisa,

posto que ela reconfigura o ensinar.

Ampliar as concepções de ensino dos professores pesquisadores –

reconhecidamente muitos professores são brilhantes nas suas áreas específicas de atuação,

57

mas, em geral, ao lidar com as questões relacionadas ao ensino se respaldam em ideias que se

configuram enquanto “senso comum”. No que se refere às concepções sobre “ensinar”, ainda

predomina a ideia de “transmissão de conhecimentos”. Em alguns casos, persiste a ideia de

que ensinar significa “treinar”, ou, ainda, “que não se consegue ensinar algo a alguém”, ou

que podemos, quando muito, ensinar a “estudar, perguntar, apresentar dados, questionar, ler”,

persistindo, assim, a ideia de que “não é possível ensinar, o aluno tem que aprender sozinho”.

Evidencia-se, cada vez mais, a necessidade de formação continuada para os

professores universitários, e os próprios professores já reconhecem essa necessidade

formativa, conforme pesquisas realizadas, a exemplo de Cordeiro (2008, p. 122-123), quando

afirma “que é necessário aprender a ser professor universitário”, e, ao mesmo, tempo

percebem que “há um saber que faz parte da docência que sem ele se torna difícil constituir-se

professor universitário na inteireza Freireana”. A autora nos evidencia ainda que “a docência

é uma atividade complexa e o fazer docente tem fundamentos que vão além das possíveis

prescrições contidas em um treinamento” (p. 124). De acordo com os estudos de Schön

(1992), o fazer docente se constitui como elemento da própria história de vida e da trajetória

profissional docente, nas suas reflexões na e sobre a prática.

Entretanto, alguns professores esbarram na falta de iniciativas institucionais para

auxiliá-los e no próprio desconhecimento de que a formação docente é um processo

complexo, que necessita da construção de estratégias sistematicamente organizadas, que

envolva esforços pessoais, profissionais e institucionais concretamente desenvolvidos.

Este novo século se anuncia para nós, repleto de transformações e, as instituições

educacionais também se incluem nesse contexto de grandes mudanças. Desse modo, os

futuros professores necessitam de desafios que os faça inovar, criar perspectivas diferentes

daquelas em que foram ensinados, as quais consigam associar a pesquisa como fonte para

construir novos formatos e concepções sobre processos de aprender a ensinar.

Nesse contexto, os professores pesquisadores, formadores de novos professores que

são, necessitam perceber a evolução das ideias dos estudantes, fazendo-os conviver com o

saber escolar e o saber científico, proporcionando-lhes o enfrentamento das situações

problemas da sala de aula, refletindo sobre as mesmas e desenvolvendo o espírito crítico e a

autonomia na sua trajetória educacional e profissional.

Miranda (2006, p. 135) considera que “o professor pesquisador centra-se na

consideração da prática, que passa a ser o meio, o fundamento e destinação dos saberes que

suscita desde que esses possam ser orientados e apropriados pela ação reflexiva do professor”.

Tal entendimento é reforçado pela compreensão de Garcia (2007, p.1), quando define

58

professor pesquisador como “aquele professor que parte de questões relativas a sua prática

com o objetivo de aprimorá-la”.

Assim, evidencia-se a necessidade de os professores pesquisadores ampliarem seu

olhar sobre os processos de aprendizagem, e, neste olhar, permitam-se mudar o foco de

ensinar para o de aprender, para que consigam adquirir a clareza sobre o que significa

aprender, quais os princípios básicos da aprendizagem, o que se precisa aprender atualmente,

com quais pressupostos, como aprender de modo significativo, e como aprender a aprender

permanentemente (MASETTO, 2012).

Trabalhar o “conhecimento pluriversitário” no ensino de graduação – o

conhecimento universitário, ou seja, o conhecimento científico produzido nas universidades,

foi, ao longo do século XX, um conhecimento predominantemente disciplinar. É um

conhecimento fundamentado na distinção entre pesquisa científica e desenvolvimento

tecnológico e a autonomia do investigador. A universidade produz conhecimento que a

sociedade aplica ou não, uma alternativa que, por mais socialmente relevante que seja, é

indiferente ou irrelevante para o conhecimento produzido.

Sabemos que a universidade gera e conserva saberes, modificando a sociedade e, por

vezes, se faz presente, a exemplo do desafio atual da universidade enquanto espaço do debate,

da descoberta e da realização, para superar os problemas sociais.

Entretanto, Morin (2007, p. 19) alerta para a contradição da universidade como um

lugar onde se cria saber e não se utiliza esse saber, e assim:

[...] termina na maior parte das vezes por ser cega, porque destrói todas as

possibilidades de compreensão e reflexão, eliminando na raiz as

possibilidades de um juízo crítico e também as oportunidades de um juízo

corretivo ou de uma visão em longo prazo.

O conhecimento gerado dentro do contexto da universidade necessitaria ser revertido

em seu próprio benefício, pois assim resolveria seus problemas. “É obvio que críticas e

questionamentos externos nos fazem falta, mas, sobretudo, o que faz falta é um

questionamento interior” (MORIN, 2007, p.23).

Nessa perspectiva, é importante ter em mente a necessidade de se olhar para a

universidade e propor mudanças no âmbito operacional, dado que ela pode contribuir como

uma instância necessária à comunidade, na construção de uma sociedade mais justa e

igualitária, com profissionais emancipados e politicamente comprometidos.

Nesse sentido, trabalhar o conhecimento pluriversitário na graduação é considerado

por Santos (2004) como um desafio a mais para a docência universitária, pois se trata de um

59

conhecimento contextual, na medida em que o princípio organizador da sua produção é a

aplicação que lhe pode ser dada. Essa aplicação ocorre extramuros, e a iniciativa da

formulação dos problemas a serem resolvidos e a determinação dos critérios da relevância

resultam de uma partilha entre pesquisadores e utilizadores. Portanto, é um conhecimento

transdisciplinar, que, por sua própria contextualização, exige um diálogo ou confronto com

outros tipos de conhecimento, tornando-o mais heterogêneo e mais adequado a ser produzido

em sistemas abertos menos perenes e de organização menos rígida e hierárquica.

O conhecimento pluriversitário tem se instituído nas parcerias universidade-indústria

sob a forma de conhecimento mercantil. Nos países centrais e semiperiféricos, acontece numa

perspectiva cooperativa, solidária, através de parcerias entre pesquisadores e líderes sindicais,

organizações não governamentais, movimentos sociais, grupos sociais vulneráveis (idosos,

portadores de HIV/AIDS, imigrantes ilegais, desempregados, doentes crônicos, etc.),

comunidades populares, etc.

Desse modo, parece-nos que o conhecimento pluriversitário, por ser transdisciplinar e

por exigir diálogo e/ou confronto com outros tipos de conhecimento, torna-se necessário ao

estudante universitário, ou seja, ele precisa ter conhecimento e vivenciá-lo no seu espaço de

formação e profissionalização, uma vez que desenvolver um nível de responsabilização social

mais elevado.

Conforme delineamos neste capítulo, a docência na universidade se reveste de toda

uma complexidade, que perpassa desde o próprio conceito de docência, das suas dimensões,

dos desafios impostos à docência diante do novo contexto sociocultural, do novo olhar sobre a

maneira de se produzir conhecimento, das questões que se imbricam no desenvolvimento

profissional docente, sua identidade, profissionalidade, condições de trabalho e da própria

formação docente, além das questões de ordem Institucional, que necessitam de uma sintonia

nessa complexa tarefa, que é peculiar a toda universidade.

Nosso objeto de estudo - o professor referência - situa-se no contexto universitário e

encontra-se imbricado na docência enquanto espaço/tempo de formação na complexidade e

nos desafios que caracterizam o trabalho docente.

Conforme discutimos anteriormente, diante de tantas pesquisas, estudos e evidências,

o professor universitário aprende a sê-lo mediante sua intuição, experimentando, ensinando,

seguindo modelos e rotinas de outros professores.

Contudo, parece-nos que em cada um de nós fica marcada a figura de um ou mais de

um professor, que um dia “fez diferente” e não nos permitiu esquecê-lo, e, por vezes, até hoje

ainda guardamos e repetimos, ressignificando ou não, seus ensinamentos, seus saberes, sua

60

prática, e assim se torna referência para nós. É esse professor que buscamos encontrar na

docência na universidade; não em qualquer uma, mas especialmente na Universidade Federal

de Pernambuco.

Nesse sentido, a discussão que estamos construindo nos permite delinear que a

docência na Universidade se constitui por aspectos que circunscrevem sua complexidade e se

apresentam com grandes desafios que interferem na ação docente e, principalmente, nas

questões relacionadas com a nova concepção de produção do conhecimento no interior da

universidade, que, aparentemente, tem como figura principal o professor, e é dele que

trataremos no capítulo a seguir.

Não há docência sem discência, as duas se explicam e

seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não

se reduzem a condição de objeto, um do outro. Quem

ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensinar ao

aprender.

Paulo Freire

CONSTITUIÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: formação, trajetória e

atuação profissional.

___________________________________________________________________________

62

CONSTITUIÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: formação, trajetória e atuação

profissional.

Conforme vimos compreendendo em nossos estudos, na história da formação de

professores no Brasil não temos definida na legislação uma formação específica para

professores universitários, mas apenas para professores que atuarão na Educação Básica.

Entretanto, começam a surgir nas universidades cursos de formação didático-pedagógica para

professores universitários, numa tentativa de suprir as lacunas existentes na

formação/preparação desses professores.

A legislação, em seu Artigo nº. 66 (LDB. 9394/96), deixa bem claro que a formação

para a docência na Universidade “far-se-á em cursos de pós-graduação através de mestrado e

doutorado”. Todavia, sabemos que nesses cursos se prioriza a formação de pesquisadores.

Partindo deste princípio, é intenção deste capítulo discutir a constituição do “professor

universitário”, sua formação, trajetória e atuação profissional.

3.1 PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL

A figura do professor sempre teve centralidade nas discussões sobre educação. No

Brasil, especialmente, de acordo com Morosini (2008), desde o período colonial e imperial e

também no republicano, destacavam-se as figuras da lente e do professor catedrático

(expoente máximo da posse de um saber e do consequente poder de o distribuir, apresentar,

professar). Mesmo com o crescimento acentuado da educação superior e, a partir da segunda

metade do século XX, com a extinção da cátedra, no governo militar o professor continuou a

ser um forte parâmetro do ensino.

Entretanto, evidenciam-se no cenário educacional modificações ocasionadas pelo

desenvolvimento e globalização das tecnologias da informação e comunicação (TICs), pela

rapidez das descobertas científicas e tecnológicas e da mundialização da economia. Tais

modificações provocam profundas transformações na maneira de viver das pessoas e,

logicamente, no trabalho docente, que cada vez mais está a lidar com expressões do tipo

“sociedade da informação”, “sociedade aprendente”, “sociedade cognitiva” e “sociedade do

conhecimento”, exigindo desses profissionais um olhar diferenciado sobre o que é ensinar e o

que é aprender, e, principalmente, sobre como aprender a ensinar, especialmente na

universidade.

63

Nesse contexto, com o estabelecimento dessa nova ordem social e econômica de

caráter globalizado, com o novo formato de se produzir conhecimento e as novas atribuições

incorporadas ao trabalho docente, essa centralidade da figura do professor na educação passa

a ser questionada.

Em detrimento desses questionamentos vários pesquisadores apontam resultados das

suas reflexões e investigações, que nos permitem identificar elementos que corroboram tais

questionamentos, a exemplo do que nos diz Quillici Neto e Orrú (2009, p.54):

[…] observa-se, no interior da sala de aula na universidade, uma docência

tradicional (centrada na figura do professor e nos conteúdos) ou, quando

muito, nos próprios moldes da docência que deveria ser pensada e praticada

na educação básica (ensino fundamental e médio) [grifos nossos].

Os mesmos autores (2009, p.54), em suas considerações, pontuam ainda que:

Partindo da suposição de que a docência universitária, como atividade

verdadeiramente profissional, deve prever para ela a tarefa de formar, de

maneira integral e harmônica, a personalidade das futuras gerações e

produzir novos saberes, cultura e ciência, passando da função tradicional de

transmissora para a função de reconstrução, de crítica e de produção de

conhecimento novo, sem esquecer a prestação de serviço (aplicação do

conhecimento produzido), então, é possível afirmar ela quase não existe na

educação superior, ainda que as próprias instituições de ensino universitário

se esforcem em provar o contrário [grifos nossos].

Temos observado que a dimensão pedagógica na universidade, mesmo parecendo ser

considerada a de menor importância, necessita de reflexões e análise, uma vez que a realidade

presente é o ponto de partida para se pensar como deverá ser o ensino e a tarefa de “fazer

aprender alguma coisa a alguém”, posto ser ela que caracteriza e especifica a profissão

docente.

Evidente que a forma de classificar as universidades, obedecendo aos indicadores de

produção científica ou técnica (patentes, projetos de pesquisa subvencionados, publicações,

participação em congressos, etc.), conforme ressalta Zabalza (2004), interfere diretamente no

modo pelo qual os professores exercem suas funções e desempenham as suas atividades

profissionais. Contraditoriamente, o nível de formação oferecido aos estudantes é considerado

uma variável de menor importância.

64

Interessa-nos, contudo, saber quem são os profissionais que compõem o quadro do

corpo docente na universidade pública brasileira. Quem são os profissionais que estão a sofrer

as críticas sobre sua ação docente, ou mesmo sobre o seu trabalho na universidade?

Para tal recorremos a Behrens (2007), que em seus estudos conseguiu subdividir esse

grupo de professores em quatro categorias. A primeira congrega os profissionais das várias

áreas do conhecimento que se dedicam à docência em tempo integral. Neste caso a

preocupação que se apresenta é como esses profissionais selecionam os conteúdos a serem

trabalhados com os estudantes e qual o significado desses referenciais na formação dos

futuros professores, uma vez que a escolha pela programação a ser desenvolvida poderá não

atender às exigências do mercado de trabalho. A situação torna-se mais inquietante quando o

professor não tem formação pedagógica, pois a falta da formação específica para a docência

no ensino superior faz com que os professores reproduzam ou repitam a proposta dos

professores que atuaram como seus formadores. Em alguns casos, os professores

universitários superam suas dificuldades, tornando-se autodidatas em virtude do interesse pela

docência. No entanto, esse grupo de professores apresenta como aspecto positivo uma jornada

de 30 ou 40 horas semanais, na universidade, o que proporciona um envolvimento afetivo

com os estudantes, com seus pares, com o departamento e a Instituição, além de serem os

responsáveis pela maioria das publicações científicas utilizadas no meio acadêmico.

A segunda categoria é constituída pelos profissionais que atuam no mercado de

trabalho específico do curso que lecionam – os profissionais liberais. Essa categoria dedica ao

magistério na universidade algumas horas por semana: são médicos, engenheiros, advogados,

psicólogos e outros profissionais, reconhecidos e conceituados no campo em que atuam, mas

optaram pela docência paralela à sua formação específica. Apesar de não terem tempo para

envolver-se com os estudantes, com os colegas, o departamento e a Instituição, as

experiências vivenciadas em sua área profissional contagiam os estudantes com os desafios e

exigências mercadológicas atuais. Ao trazerem a realidade para a sala de aula, oportunizando

discussões e debates, contribuem significativamente na formação dos futuros professores.

Grande parte dos docentes que compõem este grupo não teve formação pedagógica, o que

podemos inferir que sua prática é marcada por tentativas, erros e acertos. Para Cunha e Leite

(1996), os professores que compõem esse grupo, embora estejam sempre atentos aos

resultados e conhecimentos de última ponta, são os que menos se dedicam com a produção de

pesquisa. Mesmo considerando que as atividades de extensão sejam ambientes de

aprendizagem, elas são utilizadas como prestação de serviços e não como compromisso

político social.

65

A terceira categoria reúne os profissionais docentes da área pedagógica e das

licenciaturas que atuam na universidade e se dedicam ao magistério nos diferentes níveis de

ensino. Esta categoria acumula grande jornada de trabalho docente, tanto na universidade,

quanto nos outros níveis de ensino. Essa dupla jornada exige do professor dedicação integral

ao trabalho, resultando em situações de fadiga, desafiando a qualidade do trabalho do

profissional docente. Apesar disso, oportuniza vivências efetivas no magistério, o que permite

compartilhar com os estudantes a realidade cotidiana nos diferentes níveis de ensino.

A quarta categoria é formada pelos profissionais da área da educação e das

licenciaturas que atuam em tempo integral na universidade. No nosso entendimento, esses

seriam os professores que teriam uma situação ideal para o preparo e a formação de

professores para exercer a docência com qualidade, pois possuem tempo integral dedicado ao

magistério. Entretanto, é preciso refletir sobre alguns aspectos: alguns professores dessa

categoria nunca exerceram as funções que apresentam aos estudantes, o que pode ocasionar

riscos para a formação, uma vez que a proposta metodológica apresentada pelo docente é

fundamentada apenas na teoria, e por vezes até desvinculada da realidade; outro aspecto que

também pode vir a comprometer a qualidade da atividade docente refere-se ao fato de que a

formação pedagógica nem sempre está presente nesse conjunto de professores.

Diante deste quadro de professores categorizados por Behrens, que compõem a

universidade pública e parecem representar a realidade da maioria das universidades

brasileiras, podemos identificar que a formação pedagógica foi um aspecto que não fez parte

da trajetória formativa da maioria dos docentes universitários.

Nesse sentido, o desafio de compor um quadro de docentes com condições de

contribuir significativamente para a formação de profissionais na educação superior prescinde

de uma composição com as quatro categorias apresentadas, o que, para Behrens (2007),

poderia assegurar a diversidade e riqueza advinda dos diferentes profissionais envolvidos.

Contudo, a categorização apresentada por Behrens (2007) nos permite compreender

melhor a situação em que se encontram os professores universitários face aos desafios que

lhes são propostos, evidenciando apenas que todos os professores foram formados por outros

professores, e estes estudantes formados vivenciaram as diferentes maneiras que seus

professores estruturaram suas aulas, relacionaram-se com eles, identificaram atitudes

políticas, pedagógicas, filosóficas, epistemológicas, e que, de uma forma ou de outra,

observaram/assimilaram essa maneira de ser professor, durante o processo de “vir a ser

professor”.

66

Tal fato nos leva a pensar que o professor ensina, e/ou começa a ensinar, abalizado na

sua experiência como estudante, espelhando-se nos modelos de seus ex-professores, ou de

professores referência, na sua trajetória formativa. Isso nos remete a refletir sobre a

importância de na formação inicial dos professores oportunizarem-se momentos de reflexão

sobre a e na prática durante os estágios, e de inserir, na metodologia da sala de aula,

estratégias que possibilitem aos estudantes desenvolverem o senso de observação, de análise e

habilidades para solucionar os problemas que geram insegurança, ao se depararem com as

primeiras dificuldades no exercício inicial da docência na educação básica.

Entretanto, Quillici Neto e Orrú (2009, p.54), além dos aspectos citados anteriormente,

acrescenta ainda que paira uma preocupação quando se refere à “autonomia exagerada dos

professores, que leva a universidade a paralisia no lugar do trabalho produtivo e criativo e a

fragilidade dos mecanismos institucionais”.

Nesse sentido, e retomando a pergunta sobre quem são os profissionais que compõem

o quadro do corpo docente na universidade pública brasileira, pensamos que podemos

compreender esses profissionais a partir da constatação de que o professor universitário de

hoje foi formado por um professor de ontem, e o de amanhã será formado pelo que é

professor hoje, conforme defende Dias (2010, p. 97), quando afirma que:

A função do educador deve ser também de olhar para si mesmo e a si próprio

educar. Não se pode exigir do estudante aquilo que não se é capaz de efetuar

na primeira pessoa – portanto, nós educadores, somos eternos “aprendentes”

e não podemos restringir nossa atuação à rotina de preparação e “lecionação”

de aulas.

Desse modo, necessário se faz, então, uma política institucional para a formação

continuada dos docentes de todas as universidades, que possibilite aos docentes condições

para minimizar tais críticas que pairam sobre sua responsabilidade, e assim possamos

construir de fato a docência que se espera numa universidade, mesmo reconhecendo a

especificidade e dificuldade que tal ação exige.

3.2. A COMPLEXIDADE E ESPECIFICIDADE DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR

UNIVERSITÁRIO

O processo de desenvolvimento profissional dos docentes para a educação superior se

reveste de uma complexidade que se evidencia na organização acadêmica, tanto no formato

67

disciplinar e inflexível que os cursos estão estruturados, quanto na formação pedagógica que

sempre foi considerada de menor importância pela maioria dos professores.

Outro aspecto a ser também considerado diz respeito ao conhecimento pleno e

inquestionável que ancora a ação docente na universidade, que tem se abalado devido ao

desenvolvimento das tecnologias da comunicação e da informação, que consegue em curto

espaço de tempo armazenar, processar e transmitir um acontecimento, uma informação, em

toda a parte do mundo informatizado.

Acrescente-se ainda a avaliação da Educação Superior, que tem identificado algumas

lacunas e fragilidades no desempenho dos estudantes, com rebatimento na própria docência

universitária que passa a ser questionada (VEIGA, 2009, p.75-76).

Diferentes autores, analisando a relação entre pedagogia e docência universitária, a

exemplo de Pimenta e Anastasiou e Cavallet (2003), afirmam ser muito precária a formação

do professor universitário no contexto educacional brasileiro. Cunha (2004) alega, ainda, que

a crítica vai mais longe, pois inexiste estrutura de formação que dê conta das tarefas dos

docentes, principalmente diante da ampliação do número de estudantes, de instituições de

ensino superior e das especificidades dos diferentes cursos.

Legalmente, é nos cursos de pós-graduação que ocorre a preparação para os docentes

universitários. Entretanto esses cursos tiveram pouca regulamentação no que se refere ao

ensino e, logicamente, menos ainda, quando faz referência à formação do docente

universitário (VEIGA, 2009).

Numa breve incursão através da Legislação Brasileira identificamos claramente o

descompromisso com a formação do professor para a docência no ensino superior, ou, ainda,

quase uma ausência de políticas públicas específicas para tal.

Timidamente, as regulamentações que anunciam a formação didático-pedagógica dos

professores para esse nível de ensino surgem na LDB nº. 9394/96, que em seu artigo 66

estabelece: “(...) a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de

pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado” (BRASIL, 1996).

No parágrafo único, a legislação define ainda que “o notório saber poderá suprir a exigência

do título acadêmico, quando reconhecida por universidade com curso de doutorado em área

afim”. Ainda em seu Artigo 52, a LDB nº 9394/96 determina que as instituições de ensino

superior tenham “um terço de corpo docente, pelo menos com titulação acadêmica de

mestrado ou doutorado; e um terço de corpo docente em regime de tempo integral” (BRASIL,

1996).

68

Consideramos, a partir do que defende Veiga (2009), que se evidencia a timidez da

legislação ao empregar o termo preparação em substituição a “formação pedagógica sólida e

consistente” para o docente da educação superior. Tal formação se faz necessária, uma vez

que, embora os professores possuam formação pós-graduada, não são submetidos a um

processo sistemático de formação pedagógica.

Compreendemos, assim, que a formação de professores universitários ainda é

percebida de forma cartorial, ao considerar os cursos de pós-graduação stricto sensu como

espaços de “preparação para o exercício da docência no ensino superior”.

Convém salientar que, mesmo antes do que preza a legislação a partir de 1996, no que

tange à formação de professores nos cursos de pós-graduação, já no ano de 1976, durante a

realização do IX Seminário sobre Assuntos Universitários em Brasília, ao se discutir sobre a

oferta de cursos de aperfeiçoamento e especialização, dentre as proposições apresentadas, teve

destaque a oferta de cursos de Metodologia do Ensino Superior, que se propunha a atender as

deficiências dos docentes em serviço (MARKUS, 1976).

Continuando nessa mesma direção, a Resolução nº. 14, de 23/11/1977, também dá

início à regulação da formação didático-pedagógica dos professores para o exercício da

docência no ensino superior, quando em seu artigo 14, § 1º, define que: “(...) pelo menos 4/5

da carga horária mínima deverão ser dedicados ao conteúdo específico dos cursos, podendo o

restante ser ocupado com matérias complementares e formação didático pedagógica”

(BRASIL,1977).

Desse modo, percebemos que apenas 1/5 da carga horária de 360 horas seria dedicada

às matérias complementares e formação didático-pedagógica, o que nos parece reforçar o

caráter valorativo atribuído ao conhecimento específico, em detrimento do conhecimento

didático-pedagógico.

Entretanto, a Resolução nº. 12/1983, em seu Artigo 4º, anuncia que:

[…] pelo menos 60 (sessenta) horas da carga horária serão utilizadas com

disciplinas de formação didático-pedagógica, devendo o restante ser

dedicado ao conteúdo específico do curso, incluindo a iniciação à pesquisa

(BRASIL, 1983).

Vale ressaltar que para a formação de professores da Educação Básica existe

legalmente uma preocupação com o desenvolvimento de diferentes saberes e práticas

pedagógicas, especificamente as práticas de ensino, as metodologias e o estágio

69

supervisionado, com carga horária expressiva, a partir desse novo olhar sobre a formação de

professores, conforme citamos anteriormente, e indica a LDB 9394/96, em seu Artigo 65: “a

formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo,

trezentas horas” (BRASIL, 1996).

Além do mais, era pressuposto aceito que o conhecimento do conteúdo seria

necessário e suficiente para o exercício da docência e para o bom desempenho profissional

docente, ou seja, sei fazer, logo posso ensinar. Tal concepção legitimou a representação de

que a formação pedagógica não era necessária à docência universitária, ou seja, a repetição da

prática era suficiente para o ensino na universidade.

Diante do exposto, e concordando com Cunha (2001), observamos a falta de

exigências em relação à formação didático-pedagógica dos professores do ensino superior,

uma vez que, sabidamente, os cursos de mestrado e doutorado têm se caracterizado pela

especialização e aprofundamento em determinado campo de conhecimento. Ou seja, formam-

se nesses cursos pesquisadores, porém os conhecimentos necessários e específicos da

docência não lhes são garantidos, caracterizando-se, assim, a verticalização da formação.

Nesse sentido, a mesma autora (2001) chama a atenção para o fato de que o docente

do Ensino Superior, ao assumir a complexidade do processo de ensino e aprendizagem,

“enfrentará dificuldades para desenvolver sua profissão, que exige o domínio de diferentes

saberes, que na sua formação não se fizeram presentes (p.80)”, pois a formação na pós-

graduação especifica e/ou aprofunda algum aspecto do campo de conhecimento, pesquisado

pelo pós-graduando, mas “caminha com prejuízos rumo a uma visão mais ampla, abrangente e

integrada de sociedade” (p.80).

Assim, somos alertados para uma contradição presente no projeto social da

universidade, pois, ao mesmo tempo em que afirma que nos seus cursos de licenciatura existe

um conhecimento específico e próprio para o exercício da docência, nega esse saber aos seus

próprios professores.

Entendemos que tal contradição guarda resquícios da época em que a atividade

docente era pautada pela transmissão de conhecimentos prontos, acabados e inquestionáveis.

Contudo, a partir dos estudos de Tardif (2002), Charlot (2000) e Gauthier (1998),

compreendemos que os professores, em sua trajetória profissional, constroem e reconstroem

seus saberes a partir da necessidade que a prática exige.

Diante disto necessitamos urgentemente desconstruir essa ideia de que o conhecimento

disciplinar é necessário e suficiente para ensinar, pois, segundo (FREIRE, 1997 p.25):

70

[…] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a

sua produção ou a sua construção. [...] Se, na experiência de minha

formação, que deve ser permanente, começo por aceitar que o formador é o

sujeito em relação a quem me considero o objeto, ele é o sujeito que me

forma e eu, o objeto por ele formado, eu, objeto agora, terei a possibilidade,

amanhã, de me tornar o falso sujeito da formação do futuro objeto do meu

formador.

É nesse sentido que pensamos com Freire (1997), quando apreendemos que ensinar

não é transferir conhecimentos, nem conteúdos, e muito menos formar seria a ação através da

qual um sujeito criador daria a forma, ou o estilo, ou mesmo a alma a um ser acomodado e

indeciso, uma vez que os saberes são construídos no diálogo entre o conhecimento, o

professor e o educando, em uma relação dinâmica e interativa de busca e apreensão do objeto

do conhecimento.

Apesar de a formação do professor universitário ter se constituído objeto de estudos e

investigações em diferentes países por grupos de pesquisadores e ter se tornado preocupação

também das instituições públicas universitárias, sabemos que, historicamente, “esse

professor” passava a fazer parte do conjunto dos professores universitários a partir do domínio

dos conteúdos de sua área de graduação.

É evidente que hoje, em sua grande maioria, os professores ingressaram na

universidade através de concursos para o exercício da docência. Entretanto, não é ela, a

docência, que atrai os professores concursados, pois muitos deles ingressam no ensino

superior buscando continuar uma pesquisa ou se tornar reconhecidamente pesquisador. Desse

modo, percebemos que a preocupação com o ensino fica menor, em detrimento de outras

atividades mais valorativas, prazerosas e até menos cansativas.

Por que os professores adotam tal atitude? A sua preparação/formação atende as

necessidades das dimensões que envolvem a docência?

Os estudos de Almeida (2012, p.63) nos ajudam a refletir sobre estas questões, pois

trazem duas referências que estruturam a base da docência: o mundo do trabalho – que

sustenta a ideia de que “quem sabe fazer sabe ensinar”; e o universo da pesquisa – em que

predomina a preocupação formativa nos cursos de pós-graduação.

Essas duas tendências, segundo a autora, são responsáveis pelo afastamento radical da

formação e da atuação docente do campo da pedagogia, que tem a preocupação com a questão

da formação humana. A formação realizada na pós-graduação, mesmo com a inclusão dos

componentes de Metodologia do ensino superior, Didática do ensino superior e Estágio de

71

docência, em alguns programas, os aspectos referentes à “preparação pedagógica” para o

ensino raramente são realizados, até porque esses componentes não são obrigatórios.

Podemos observar que os elementos constitutivos da ação docente, tais como,

planejamento, seleção de conteúdos, organização da aula, metodologias e estratégias

didáticas, avaliação, singularidades da interação professor-estudante, além dos saberes

inerentes ao ensinar a aprender e da mediação didática, características indispensáveis à

intencionalidade educativa, não lhes foram permitidos conhecer cientificamente.

Nessa perspectiva, a oportunidade de apreender a relação didático-pedagógica, tão

necessária à atuação profissional desses professores, fica relegada a uma atividade de menor

importância.

Notadamente, as limitações por que passam os professores na sua formação são

determinantes no resultado apresentado pelos estudantes, identificando que a qualificação

docente é definidora da sua atuação e, consequentemente, na qualidade do ensino ministrado.

O reconhecimento de tal diagnóstico contribuiu para ampliar o debate e provocar

diversas universidades a criarem espaços institucionais para o desenvolvimento de atividades

voltadas para o programa de formação continuada de seus professores, o que pode ser

identificado através dos estudos de Cunha (1998; 2007), Lucarelli (2007), Leite e Ramos

(2007), Melo (2007), Cordeiro (2008), Ramos (2010), entre outros, a exemplo do trabalho

realizado pelo Núcleo de Formação Didático-Pedagógica da Universidade Federal de

Pernambuco – NUFOPE, que oferece aos docentes dessa instituição o Curso de Atualização

Didático-Pedagógica, estruturado em dois módulos.

Em pesquisa recente, Souza (2013, p.14), utilizando como espaço/campo empírico o

NUFOPE, afirma que:

[…] os professores participantes deste curso passaram a perceber a

importância da observação e reflexão das suas práticas e perderam o receio

de realizarem mudanças em suas atitudes e metodologias, passando também

a ouvirem os seus alunos e perceberem estes como sujeitos do processo

pedagógico. (...) Mostraram-se também dispostos a romperem com a visão

conservadora da fragmentação do conhecimento, da autoridade centrada na

figura do professor e da avaliação de cunho classificatório.

Como vimos, essa ação do NUFOPE se constitui em um caminho para preencher as

possíveis lacunas da formação inicial, na perspectiva de auxiliar o desenvolvimento

profissional dos professores, ampliando seus saberes, de modo que lhes permita ressignificar

suas formas de ensinar. Ao oportunizar o diálogo na sala de aula durante o curso, os

72

professores percebem que as dificuldades não são apenas suas, e compartilham, discutem,

propõem e analisam atitudes pedagógicas inerentes e importantes ao processo de construção

dos saberes da docência na universidade.

Assim compreendemos a necessidade de que essas ações desenvolvidas nas

universidades federais nos seus núcleos se efetivem, pois parece favorecer a ampliação dos

saberes necessários à atuação profissional dos docentes, que será o tema de discussão do

próximo tópico.

3.3 OS SABERES E ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE

Acentuam-se cada vez mais as demandas internas e externas, que passam a exigir dos

docentes a apropriação de novos saberes e a aquisição de novas competências para saber lidar

e atuar diante das situações iminentes que constituem o trabalho cotidiano do docente

universitário.

Entretanto, observamos que, mesmo numa perspectiva internacional, a evolução do

ensino não acontece em uma perspectiva linear, ocorrendo permeada de continuidade e

descontinuidade, de desvios e retrocessos. O ensino evolui de forma desigual nos diferentes

continentes, países, regiões. Em ritmo diferenciado, essa evolução convive com formas

antigas e contemporâneas do ensinar, nas quais estão implícitas diferentes concepções, o que

gera diversas tensões, tanto nos espaços formativos quanto para os profissionais responsáveis

por essa ação.

A atuação profissional em todo e qualquer ofício requer o domínio de um saber

específico, que define, diferencia e qualifica o exercício do profissional, e, consequentemente,

a profissionalização.

No caso do exercício da docência, o singular, o caracterizador que distingue o docente

é a ação de ensinar. Importa saber o que se entende por ensinar, uma vez que a função existiu

ao longo da história em diversos formatos e estatutos.

À luz do conhecimento mais atual, a função específica de ensinar não mais se define

hoje pela simples passagem do saber, nem por razões ideológicas ou opções pedagógicas

apenas, mas sim, por razões sócio-históricas. Nesse sentido, Roldão (2007) explica que a

função do ensinar hoje é caracterizada pela figura da dupla transitividade e pelo lugar da

mediação. Assim:

[…] ensinar configura-se essencialmente como a especialidade de fazer

aprender alguma coisa (a que chamamos currículo, seja de que natureza for

73

aquilo que se quer ver apreendido) a alguém (o ato de ensinar só se atualiza

nesta segunda transitividade corporizada do destinatário da ação, sob pena de

ser inexistente ou gratuita a alegada ação de ensinar (p. 95).

Ocorre que esse detalhamento só foi percebido tardiamente, pois essa profissão é a

única na qual os seus profissionais (maioria dos professores universitários) não tiveram

durante seu processo formativo o desenvolvimento de habilidades, competências e saberes

para exercitar seu ofício, o que se pode constatar na categorização realizada por Behrens

(2007) a respeito desses professores.

Neste contexto, torna-se importante considerar os saberes que se tornam vitais para

que o docente possa exercer plenamente suas funções, especialmente na universidade.

De fato, é notória a necessidade de os professores, na sua ação docente, terem

sabedoria para utilizar o “saber fazer” não apenas como praticismo ou tecnicismo simplista,

conforme explica Roldão, mas sim, saber fazer, saber como fazer, e saber por que se faz. É

indispensável que os professores consigam transformar os conteúdos científicos e

pedagógicos/didáticos em conteúdos formativos, adequando-os às reais condições que o seu

trabalho exige. Para Dubar (1992, 1994), trabalhar não é tão-somente transformar um objeto

ou situação em outra coisa; é também transformar a si mesmo pelo trabalho. Ainda conforme

nos lembra Schwartz (1997, p.7), a experiência viva do trabalho provoca sempre “um drama

do uso de si mesmo, uma problemática negociação entre o uso de si pelo outro”. É nesse

sentido que Tardif e Raymond (2000, p. 1) consideram que:

[…] se uma pessoa ensina durante trinta anos, ela não faz simplesmente

alguma coisa, ela faz também alguma coisa de si mesma: sua identidade

carrega as marcas de sua própria atividade, e uma boa parte de sua

existência, é caracterizada por sua atuação profissional. Em suma, com o

passar do tempo, ela tornou-se – aos seus próprios olhos e aos olhos dos

outros – um professor, com sua cultura, seu éthos, suas ideias, suas funções,

seus interesses etc.

Reconhecidamente, em toda a ocupação o tempo surge como determinante para se

aprender a trabalhar. Ou, ainda, dito de outra forma, para dominar gradativamente os saberes

necessários à realização do trabalho. Para os autores Durand (1996), Montmollin (1996) e

Terssac (1996), os saberes ligados ao trabalho são temporais, uma vez que são construídos e

dominados gradativamente durante um período necessário à aprendizagem de cada ocupação.

Essa dimensão temporal provém das situações de trabalho que exigem conhecimentos,

74

competências, habilidades e atitudes específicas que só podem ser apreendidas em contato

direto com as mesmas.

A literatura acadêmica sobre formação docente desde as três últimas décadas passadas

tem evidenciado os saberes que servem de base para o ensino – Knowledge base – que, em

sentido restrito, indica os saberes mobilizados pelos “professores eficientes” durante a ação na

sala de aula (por exemplo: atividades de gestão de classe e gestão de matéria), saberes esses já

validados pela pesquisa e que deveriam ser incluídos nos programas de formação docente

(GAUTHIER et al, 1998); num sentido amplo, designa um conjunto de saberes que

fundamentam o ato de ensinar (TARDIF e LESSARD, 1999). Esses saberes provêm de

diversas fontes, tais como formação inicial e continuada dos professores, currículo e

socialização escolar, conhecimento das disciplinas, experiência na profissão, cultura pessoal e

profissional, aprendizagem com os pares, etc.

Nesse sentido, os saberes que servem de base para o ensino e, portanto, para a atuação

docente não se limitam a conteúdos bem circunscritos que dependeriam de um conhecimento

especializado. Abrangem diferentes aspectos que estão relacionados com o seu trabalho. Para

os professores de profissão, a experiência de trabalho parece ser a fonte privilegiada do seu

saber ensinar.

Parece ser consenso entre os pesquisadores, que os saberes profissionais dos

professores são plurais, compósitos, heterogêneos, uma vez que revelam durante o exercício

docente conhecimentos e manifestações do saber-fazer e do saber ser, bastante diversificados,

e que se supõe se originarem de fontes e naturezas diversas.

Nesse contexto, diferentes autores propuseram classificação ou tipologias relativas ao

saber do professor, entretanto Tardif e Raymond (2000, p. 3) nos alertam sobre dois

problemas que essas tipologias apresentam: o primeiro refere-se ao seu número e sua

diversidade, que revelam o desmembramento da noção do “saber”, e o segundo é que, ao

serem comparadas, estruturam-se em elementos incomparáveis entre si, como, por exemplo:

Bourdoncle (1994) trata de fenômenos sociais; Shulman (1986), de princípios

epistemológicos; Martin (1993), Raymond (1993) e Gauthier et al.(1997), de correntes de

pesquisas; e Paquay (1993), de modelos ideais. A partir dessas observações referentes ao

pluralismo epistemológico dos saberes do professor propõem um modelo tipológico que se

distancia de critérios que permitem discriminar e compartimentalizar os saberes em categorias

disciplinares ou cognitivas diferentes e procurar relacionar esses saberes com os lugares em

que os professores atuam, as organizações que formam e/ ou trabalham, com os instrumentos

75

e experiência de trabalho, evidenciando as origens/fontes e os modos de integração ao

trabalho docente, conforme apresentamos a seguir.

Quadro nº 1: Os saberes dos professores

Saberes dos professores Fontes sociais de

aquisição

Modos de integração no

trabalho docente

Saberes pessoais dos

professores

A família, o ambiente, de

vida, a educação no sentido

lato, etc.

Pela história de vida e pela

socialização primária.

Saberes provenientes da

formação escolar anterior

A escola primária e

secundária, os estudos pós-

secundários (ZABALZA,

2004), não especializados,

etc.

Pela formação e pela

socialização pré-profissionais.

Saberes provenientes da

formação profissional para o

magistério

Os estabelecimentos de

formação de professores, os

estágios, os cursos de

reciclagem etc.

Pela formação e pela

socialização profissionais nas

instituições de formação de

professores.

Saberes provenientes dos

programas e livros didáticos

usados no trabalho

A utilização de

“ferramentas” dos

professores: programas,

cadernos de exercício,

livros didáticos, fichas, etc.

Pela utilização de

“ferramentas” de trabalho, sua

adaptação às tarefas.

Saberes provenientes de sua

própria experiência na

profissão, na sala de aula e

na escola.

A prática do ofício na

escola e na sala de aula, a

experiência dos pares, etc.

Pela prática do trabalho e pela

socialização profissional.

Fonte: Tardif (2002, p.63)

Neste quadro, Tardif e Raymond (2000) apresentam os saberes dos professores, as

fontes sociais de aquisição dos saberes e os modos que esses saberes se integram no trabalho

docente. Afirmam ainda que os diversos saberes dos professores necessariamente não são

produzidos por eles e que alguns provêm de lugares sociais anteriores à carreira.

Contudo, de certo modo, o saber profissional está na “confluência entre várias fontes

de saberes” (TARDIF, 2002, p. 64), que advêm da história de vida individual, da sociedade,

da instituição escolar dos lugares de formação.

Afirmam ainda que os saberes profissionais são temporais em pelo menos três sentidos

TARDIF (2000, p. 13).

Podemos entender, a partir de Tardif (2000 p.13), que, num primeiro sentido, os

saberes dos professores são temporais, uma vez que boa parte do que os professores

conhecem sobre o papel do professor, sobre o ensino e sobre como ensinar provém da sua

própria história de vida e, principalmente, da sua história de vida escolar.

76

Diferente dos outros profissionais, os professores são imersos em seu espaço de

profissionalização por aproximadamente 16 anos, antes mesmo de começarem a trabalhar

(LORTIE, 1975).

Podemos então perceber que essa imersão na vivência antecipada no espaço de

profissionalização permite o acúmulo de toda uma bagagem de conhecimentos anteriores, de

crenças e certezas sobre a prática docente, que se enraízam, tornando-se fortes e estáveis por

longo tempo, reforçando a ideia de que todos podem ensinar.

Tal situação tem rebatimento na formação dos professores, pois, segundo Wideen et al

(1998) percebe-se que grande parte dos recursos utilizados na formação inicial de professores

na América do Norte não conseguem alterá-los ou sequer abalá-los.

Desse modo, os estudantes passam pelos cursos de licenciatura sem modificar suas

crenças anteriores sobre o ensino, e quando assumem a função de professores são essas

crenças que eles mobilizam na sua ação docente. Essa afirmativa é reforçada por Raymond,

Butt e Yamagishi (1993), quando observaram professores resolvendo problemas de disciplina

na sala de aula, e verificaram que a tendência deles era recorrer aos modelos de suas

experiências familiares e escolares.

No segundo sentido, salientamos que os saberes profissionais são temporais, posto que

os primeiros anos de prática profissional docente são decisivos.

Diante disso, defendemos particularmente a ideia de uma maior atenção aos estágios

supervisionados e ao acompanhamento de professores recém-contratados nas escolas de

educação básica, quando da iniciação desses na docência, mesmo diante do contexto político

educacional existente no Brasil.

As pesquisas apontam ainda hoje que a maioria dos professores aprende a trabalhar na

prática, através de tentativas e erros, repetindo modelos. Essa fase de aprender o ofício não é

fácil (daí a necessidade de um acompanhamento), posto ser a fase em que o “professor deve

construir um saber experiencial, que muito cedo é transformado em certezas profissionais,

rotinas, gestão de classe e de transmissão da matéria” (TARDIF, 2000, p.14).

Os saberes profissionais são temporais, no sentido em que “são utilizados e se

desenvolvem no âmbito da carreira”, ou seja, se desenvolvem em um “processo de vida

profissional do qual fazem parte dimensões identitárias e dimensões de socialização

profissional, bem como as fases de mudanças” (p.14).

Nesse sentido, a trajetória profissional é um processo de socialização, de identificação

e de incorporação dos professores nas práticas e rotinas das instituições. Por sua vez, essas

instituições exigem que os indivíduos se adaptem a elas, e não o contrário.

77

Assim, os saberes profissionais são variados e heterogêneos:

posto que na sua ação didática os professores procuram atingir diferentes tipos

de objetivos, que, na mediação, não vão exigir os mesmos conhecimentos,

habilidades e aptidões.

Provêm de diferentes fontes:

pois, no seu trabalho docente o professor utiliza sua cultura pessoal (história de

vida), sua cultura escolar anterior, conhecimentos disciplinares, conhecimentos

curriculares, conhecimentos didáticos-pedagógicos, seu próprio saber

experiencial e o saber de certos professores e em tradições peculiares ao ofício

de professor.

Têm certa unidade:

pois se trata de uma unidade mais pragmática, e não numa perspectiva mais

conceitual ou teórica, pois se assemelham às ferramentas de um artesão que

fazem parte da mesma caixa de ferramentas, posto que estarão sempre

disponíveis para a realização de qualquer tarefa que componha o seu ofício. Os

saberes profissionais dos professores estão sempre disponíveis à sua ação, pois

na ação eles revelam seu significado (p.14).

Desse modo, os saberes profissionais dos professores são também personalizados,

situados e carregam as marcas do ser humano, uma vez que o ser humano, mesmo convivendo

em coletividade, traz a singularidade de existir enquanto indivíduo. Esses saberes são também

subjetivados, incorporados, apropriados e dificilmente dissociados da pessoa do professor, da

sua experiência e situação de trabalho. Esse fenômeno da individualidade está inserido no

trabalho do professor, uma vez que o processo de ensino é direcionado aos indivíduos que

aprendem, o que implica um componente ético e emocional na ação docente, pois o ensino é

uma prática profissional que produz mudanças emocionais inesperadas na trajetória da

pessoa/professor.

Diante da complexidade que se constitui a atuação profissional docente e dos saberes

que a profissionalidade lhe resguarda, a universidade, segundo Zabalza (2004, p.10), “se

constitui como um cenário complexo e multidimensional, no qual incidem e se entrecruzam

influências dos mais diversos tipos”.

Acrescente-se a isto o fato de o professor universitário ser constantemente desafiado a

lidar com a transitoriedade do conhecimento e da tecnologia, com a pressão das avaliações

externas promovidas pelo governo e pelas agências de fomento, com o fato de ter

78

competência para saber se relacionar, respeitando as singularidades dos novos estudantes que

adentram na universidade, cada vez mais heterogêneos.

A esses desafios soma-se ainda a necessidade do envolvimento com outras atividades

pertinentes ao exercício do docente na universidade, as quais fazem parte do cotidiano

institucional e exigem conhecimentos específicos, tais como a participação em colegiados, o

desenvolvimento e divulgação de pesquisas, orientações de trabalhos aos estudantes,

organização de eventos, participação em bancas de avaliação, participação nas políticas de

pesquisa e financiamento, entre outras.

Entretanto, mesmo diante de tantas exigências peculiares às condições que perpassam

o exercício da docência na universidade, não existe uma requisição legal de formação para

essa especificidade. Neste sentido, Veiga e Castanho (2000, p.190) afirmam:

[…] se a especificidade e identidade da profissão docente é o ensino, é

inadmissível que professores universitários que detenham o domínio do

conhecimento em um campo científico não recebam uma formação mais

condizente com as reais necessidades dos alunos e do ser professor.

Complementando essa ideia, Morosini (2001, p.15) assinala que a docência

universitária, no âmbito da política pública, “tem sido considerada uma caixa de segredos”,

assinalada por omissões a respeito do processo de ensinar, “ficando o mesmo moldado à

instituição educacional, que por sua vez o pressupõe integrante da concepção de liberdade

acadêmica docente”.

Compreendemos então, que há um jogo de responsabilidades, cuja omissão sobre o

ensinar justifica-se na defesa da autonomia. Desde que não existe uma cobrança de

conhecimentos necessários sobre “como ensinar” ao docente que ingressa na universidade,

mesmo que durante o concurso tenha se submetido a uma “prova didática”, após seu ingresso

continuam as omissões e os jogos de responsabilidades. Assim, o profissional se sente

desafiado a investir na sua permanente formação para a pesquisa, e, consequentemente, a

aprendizagem dos saberes referentes a “como ensinar” fica a critério de iniciativas e

compromissos individuais.

Nessa direção, Pimenta e Anastasiou (2002, p.37) assinalam que, embora os

professores possuam experiências significativas e estudos específicos em sua área de

conhecimento, é notório nas instituições de ensino superior o predomínio do “despreparo e até

um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual

passam a ser responsáveis a partir do instante em que ingressam na sala de aula”. Excetuando-

79

se o apoio das ementas dos componentes curriculares, com os quais irão trabalhar, os docentes

que iniciam na universidade percorrem solitariamente o caminho do processo de ensino.

Nesse contexto, Veiga (2000, p. 190-191) adverte que a universidade deveria

viabilizar uma prática específica, “estimulando e propiciando condições para que os

professores se preparem para o exercício do magistério”, e respeitasse as cláusulas dos

contratos de trabalho, que exigem a busca de formação pedagógica dos professores

ingressantes na instituição de ensino superior.

Somando-se a isto, ressaltamos que o saber ensinar e os saberes didático-pedagógicos,

por muito tempo, foram vistos como um simples adereço dos saberes disciplinares, o que

induziu que os processos de aprendizagem e os saberes próprios à docência fossem relegados

a um segundo plano, deixados para o contexto de prática, fundados, talvez, na tese do

“aprender fazendo” ou na concepção de que “quem sabe fazer sabe ensinar”.

Ainda hoje sabemos pouco sobre os processos pelos quais o professor passa para

aprender a ensinar. Para Carter (1990, p.291), esta lacuna de conhecimentos sobre processos

de aprendizagem da docência pelo professor universitário, entre outras questões, tem

mobilizado investigações sobre “como o professor universitário aprende a ensinar”. Segundo

o autor, essa é uma questão considerada básica para qualquer investimento que se pretenda

fazer no campo da formação de professores hoje, posto que, durante muito tempo, as

pesquisas permaneceram numa ótica externa, abordando “o que os professores precisam saber

e como podem ser treinados”.

Doyle, em 1985, já afirmava que o estudo sobre o modo como os professores

aprendem a construir o conhecimento profissional seria um caminho em direção à

compreensão do domínio do conhecimento do ensino e como os professores os adquirem.

Grossman (1994), em seus estudos, destacava que as interrogações sobre o que os professores

conhecem sobre como adquirem esse conhecimento, como o conservam, e qual é o papel que

o conhecimento desempenha no seu processo de tomada de decisões sobre a prática são

valiosas para quem se interessa pela formação inicial e o desenvolvimento profissional

docente.

A formação profissional dos docentes, cada vez mais, assume no contexto atual maior

complexidade. Não delineamos mais uma definição clara dos papéis dos professores em

qualquer dos níveis de ensino em que este atue.

Garcia (2001), citado por Cunha (2010, p.129), registra as mudanças mais evidentes

no ensino como consequentes impactos na docência, pois, conforme observamos,

anteriormente o papel do professor era repartir informações segundo o critério lógico do

80

conhecimento, independentemente de sua contextualização. Hoje se requer uma construção

ativa com conexões complexas, situadas no tempo e no espaço. Os currículos se distanciaram

das definições padronizadas nacionalmente, tornando-se mais maleáveis. As aprendizagens de

uma perspectiva individual, com ênfase na memorização, repetição e competição, passam a

ter outra compreensão, na qual as formas colaborativas e discursivas assumem papel fundante.

Os processos avaliativos assumem, através dos testes estandardizados, importância política no

contexto das nações.

Nesse contexto, percebemos que os conteúdos da formação dependem do fim a que se

destinam, assim como os processos formativos que serviram há algumas décadas, que não

mais atendem à realidade atual. Daí a complexidade de se pensar uma proposta de formação,

posto que estará permanentemente sofrendo alterações de acordo com as condições sócio-

históricas.

Compreendemos que a formação de professores se reveste na complexidade e

dimensões que caracterizam hoje a docência na universidade. Tal compreensão nos instiga a

discutir no próximo capítulo a Profissionalidade Docente e sua interconexão com os saberes

docentes e a própria constituição da Identidade Profissional docente.

.

PROFISSIONALIDADE DOCENTE: um campo ligado aos saberes e à Identidade

Profissional Docente

___________________________________________________________________________

82

PROFISSIONALIDADE DOCENTE: um campo ligado aos saberes e à Identidade

Profissional Docente

Nas investigações que se debruçam sobre a docência, atualmente, emerge uma

temática que vem ganhando expressão nos contextos envolvidos na constituição do “ser

professor”: a profissionalidade docente.

O conceito, ainda em construção, aponta para uma nova compreensão da docência,

entendida na sua complexidade e numa perspectiva relacional entre os indivíduos e os espaços

sociais nos quais exercem suas atividades profissionais.

Em estudos realizados anteriormente, Rocha (2008) compreende que os saberes

docentes se constituem como elementos basilares no saber fazer docente, posto que se

constroem a partir da história de vida, da formação acadêmica, da formação profissional, das

opções políticas, filosóficas e econômicas.

Neste sentido, torna-se importante considerar que tais saberes são construídos de

diferentes formas e de modo específico para cada pessoa, pois cada uma possui um jeito

especificamente seu de apreender, de se relacionar, de partilhar, e de ressignificar

experiências.

Necessário também se faz considerar que a ação de ensinar precisa estar fundada no

domínio de “um saber”, que tem origem nos diversos saberes formais e no saber da

experiência, conforme nos orienta Tardif (2000). Assim, os saberes profissionais estão

imbricados na pessoa do professor, na sua experiência, no seu trabalho, na sua identidade, na

sua personalidade, ou seja, resultam das diversas aprendizagens ao longo da sua vida, daí

serem apropriados, incorporados, subjetivados e fortemente personalizados. Contudo, a ação

docente precisa estar fundada e situada fortemente nos saberes que diferenciam e especificam

essa profissão, os quais, mesmo imbricados em cada pessoa/professor, necessitam dialogar

com a coletividade a que pertencem.

Interessante é a explicação de Roldão (2007, p. 101) de que o saber “torna-se saber

profissional docente, quando e se o professor o recria mediante um processo mobilizador e

transformativo em cada ato pedagógico, contextual, prático e singular” (grifo nosso). Ou seja,

é na singularidade de cada situação que o professor “precisa saber mobilizar os saberes

prévios que possui, transformando-o em fundamento do agir informado, que é o ato de ensinar

enquanto construção de um processo de aprendizagem de outros e por outros e, nesse sentido,

arte e técnica, mas fundada em ciência”.

83

Roldão (2007, p.101), referindo-se à formação e ao peso relativo da teoria e da prática

no exercício da função de ensinar, comenta ainda que “a função de ensinar é sócio prática,

mas o saber que requer é intrinsecamente teorizador, compósito e interpretativo”. Desse

modo, orienta que “o saber profissional tem que ser construído no princípio da teorização,

prévia e posterior, tutorizada e discutida na ação profissional docente sua e observada

noutros”.

Tais afirmações implicam considerarmos que um professor é um ator social, que tem

identidade, emoções, personalidade, pensamentos e suas ações transportam as marcas dos

contextos nos quais essas singularidades foram formadas/constituídas.

A partir dos estudos realizados, passamos a compreender Identidade Profissional

Docente enquanto um processo de construção especificamente humano, plurifacetado,

inconcluso e auto formativo, que tem início e prossegue durante toda a vida profissional,

imbricada na formação inicial e continuada, na história de vida, na construção dos saberes, na

profissionalização, nas crises (pessoal e profissional) e na profissionalidade docente.

Diante disso cremos que a constituição da profissionalidade docente não pode ser

concebida distante da construção da identidade profissional docente e da construção dos seus

saberes, posto ser a identidade que lhe dá o sentido de pertença, que o faz sentir-se docente e,

eles, os saberes, que especificam, dão o tom e a tintura que diferenciam o “ser e estar

professor”.

Com esta compreensão, nomeamos este capítulo “Profissionalidade Docente, enquanto

um campo ligado aos Saberes e à Identidade Profissional docente”, que passaremos a discutir.

4.1 A INTER-RELAÇÃO ENTRE OS CONCEITOS DE PROFISSÃO,

PROFISSIONALIZAÇÃO, PROFISSIONALISMO, PROFISSIONALIDADE

DOCENTE.

O entendimento e a noção de Profissionalidade e da especificidade que a define, em

um tempo de ambiguidades e mudanças aceleradas, adquirem relevância na complexa teia de

interações no campo da formação e da aprendizagem, enquanto um componente central da

vida social, além de se tornar uma preocupação maior das políticas de formação em todo o

mundo desenvolvido.

Em Popkewitz (1992), Ramalho, Nuñes e Gauthier (2004) e Contreras (2002),

profissionalidade é uma derivação terminológica de profissão, assim como profissionalização

e profissionalismo, sendo termos polissêmicos, pois possuem significados diferentes em

84

função de contextos, países e referências teóricas em que são utilizados. Para uma melhor

compreensão sobre o que vem a ser profissionalidade, pensamos ser necessário fazer a

diferenciação entre os termos Profissão, Profissionalização, Profissionalismo e

Profissionalidade Docente.

Existem vários conceitos sobre profissão, entretanto, etimologicamente a palavra

“profissão” origina-se de uma palavra latina “professio”, do verbo“profiteri”, que quer dizer

confessar, testemunhar, declarar abertamente. A palavra nasce, desse modo, ligada a uma

forma de vida que é publicamente assumida e reconhecida. Por exemplo, aos primeiros

professores das universidades era-lhes exigido que fizessem uma profissão de fé, numa

cerimônia pública, num misto de influências laicas e religiosas, simultaneamente.

Importante esclarecer que o termo “profissão” opõe-se a “ofício”, pois enquanto o

primeiro assume um saber reconhecido e professado em público, o segundo está aliado à ideia

de negócio ou trabalho manual. E, portanto, o ofício pode ser visto como “ocupação habitual,

geralmente mecânica, com vista ao lucro, que se distingue das profissões liberais e da

produção de artigos básicos” (LISA ENCICLOPÉDIA UNIVERSAL, p.854).

Para Moore (1970, p.53): “Profissão é uma ocupação em tempo integral no sentido em

que o profissional passa a viver da remuneração obtida a partir do seu trabalho e naquela

atividade”, que é caracterizada “pela vocação sugerindo identidade profissional com os

valores difundidos pela profissão, aceitação das suas normas, modelos e identificação com os

seus pares”, tendo definida uma estrutura organizativa, no que se refere à defesa dos

interesses corporativos da ocupação, controlando as formas de admissão na profissão e do

exercício da mesma, formalizada “através de um Código Deontológico” e estruturada sobre

“um corpo de conhecimento formal complexo e teórico, transmitido, geralmente por

universidades e em cursos de longa duração”, bem como de uma específica “orientação para o

serviço, destinando-se a servir os interesses dos clientes e da comunidade”, além de uma

necessária autonomia.

Dito mais sinteticamente, Moore (19970, p.54) considera profissão uma “ocupação

cujas obrigações criam e implicitamente utiliza de forma sistemática o conhecimento geral

acumulado na solução dos problemas postulados por um cliente”. Assim, compreendemos

profissão como uma atividade especializada e exercida por um profissional habilitado na

sociedade em que está inserido.

Wilensky (1970, p.492) afirma que “a maior barreira à profissionalização de muitas

ocupações que ameaçam a autonomia e o próprio ideal de serviço é a estrutura de sua base

cognitiva”. Para o autor, qualquer profissão em que se pretenda exercer autoridade

85

profissional terá que encontrar uma base técnica para fazê-lo, pois há uma estreita relação

entre a abrangência do conhecimento e as áreas monopolizadas no mercado, o que em muitos

casos parece explicar as diferentes posições hierárquicas no campo das profissões.

Assim, Ramalho Núñes e Gauthier (2003, p. 50) consideram a profissionalização

como o “desenvolvimento sistemático da profissão fundamentada na prática e na

mobilização/atualização de conhecimentos especializados e no aperfeiçoamento das

competências para a atividade profissional”. Nóvoa (1992, p.16) acrescenta que a

profissionalização é “um processo através do qual os trabalhadores melhoram seu estatuto,

elevam seus rendimentos e aumentam seu poder de autonomia”. Contreras (2002, p.58-59),

referindo-se aos docentes, considera a profissionalização uma condição importante para que

os professores sejam tratados como profissionais. Paganini da Silva (2006, p. 21) acrescenta

ao dizer que a profissionalização docente “se refere às circunstâncias que os docentes

enfrentam para se firmarem como profissionais”. Bourdoncle e Hoyle (1980) afirmam que a

profissionalização se estrutura a partir de duas dimensões: em busca da melhoria do estatuto,

que abrange o período de formação/corpo qualificado, controle sobre as atividades da

profissão (mais controle, mais relevo); e da melhoria da prática, que contempla a melhoria

contínua do conhecimento e da competência dos práticos.

Para Marujo (2004, p.18), a profissionalização é o desenvolvimento sistematizado da

profissão, implicando a construção de suas próprias características, no aperfeiçoamento de

suas competências e de seu status social, fundamentando-a no exercício da prática e na

mobilização, atualização e construção de conhecimentos especializados, visando o

crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional do docente. Cunha (1999, p.132)

considera que profissionalização consiste em um processo histórico e evolutivo, que acontece

na teia de relações sociais, e refere-se ao conjunto de procedimentos que são avaliados como

próprios de um grupo profissional, no interior de uma estrutura de poder.

Desse modo, pensamos a profissionalização como um processo de desenvolvimento

profissional que implica a validação de um conjunto de características inerentes a um grupo

profissional que almeja autonomia.

Profissionalismo é um processo externo. Refere-se à reivindicação de um status

distinto dentro da visão social do trabalho; segundo Hipólito (1999), significa melhoria do

trabalho profissional e, por isso, melhoria da qualidade social do ensino. Para Bourdoncle

(1991), é no profissionalismo que se efetiva a adesão individual à retórica e às normas

coletivas, que legitimam a profissão a partir do seu cumprimento. É ainda entendido por

Ramalho, Núñes e Gauthier (2003, p. 52) como um processo externo, que “busca o

86

reconhecimento pela sociedade de certo monopólio sobre o exercício de um conjunto de

atividades, além de requerer uma forma de prestígio e de participação nas problemáticas de

construção da profissão”, ou seja, implica negociações, por um grupo de atores, com vista a

fazer com que a sociedade reconheça as qualidades específicas, complexas e difíceis de serem

adquiridas.

Enquanto o Profissionalismo é um processo externo, a Profissionalidade é um

processo interno e está em permanente elaboração. Para Paganini da Silva (2006, p. 26),

“é a profissão do professor na ação, ou seja, é o professor exercendo sua profissão,

considerando um determinado contexto histórico”. Contreras (2002, p. 74) diz ser a qualidade

da prática profissional dos educadores em função daquilo que requer o ofício educativo.

Significa, ainda, não só descrever o desempenho do ofício de ensinar, mas também expressar

valores e pretensões desejáveis de alcançar e desenvolver na profissão, além de elencar as

dimensões da profissionalidade docente: obrigação moral, compromisso com a comunidade e

competência profissional.

Nesse contexto de saberes, de competência, da compreensão da profissionalidade

docente e, mais precisamente, da ação/atuação do professor em pleno exercício da sua função

primeira – a docência – emerge a questão que transversaliza esta pesquisa: Quais as

influências que o professor considerado referência exerce na formação, na construção da

identidade profissional e profissionalidade docente dos futuros professores?

Para tanto, compreendendo Profissionalidade como algo que não se impõe, mas que

resulta de uma construção no exercício profissional, ou seja, da/na ação docente, no próximo

tópico passaremos a tecer considerações acerca da relação entre a Profissionalização e a

Profissionalidade Docente.

4.2. DO PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO AO PROCESSO DE

CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE.

Lopes (2001) considera que o processo de profissionalização da atividade docente é

reconcebido em termos de processo de construção de identidades docentes em contextos de

trabalho, através de modos de colaboração que permitam superar o dilema do privado e do

público.

87

Na década de 1980, a National Comission Excellence in Education (NCEE) publicou

um documento nomeado Nation at Risk: the imperative for Educacional Reform, trazendo

uma forte crítica à escola nos Estados Unidos e alertando para o perigo da crescente ascensão

do Japão como potência educacional. A crítica se referia ao baixo rendimento dos estudantes

norte-americanos (RAMALHO, NUÑES e GAUTHIER, 2004).

Nessa época, Shön (1983) publicou a obra O Professor Reflexivo, que traz uma crítica

da racionalidade instrumental na formação profissional e analisa o trabalho dos profissionais

de ensino no seu contexto. Por outro lado, o Holmes Group questiona a formação de

professores e as faculdades de educação, por não estarem formando docentes com

competência para exercerem sua profissão com eficiência.

Esse cenário que caracterizou o final do século passado desencadeou nos Estados

Unidos o movimento de profissionalização do ensino, em que o conhecimento dos professores

passou a ter relevância, e as pesquisas em busca da construção desses saberes se

desenvolveram amplamente, conforme indicam Borges & Tardif (2001), expandindo para os

outros países a discussão do professor como profissional, como ator, tomando decisões em

situações de urgência, mobilizando saberes para resolver problemas em seu contexto.

Nessa direção, as reformas educacionais, de acordo com Ramalho, Nuñes e Gauthier

(2004, p. 48), “passaram a considerar a formação docente, pois o ensino não poderia ser uma

atividade profissional se não eram profissionalizados os professores”.

Esse fato influencia a formação de professores em nível internacional, e, em

decorrência, assume-se a profissionalização docente como meta estratégica da educação do

século XXI, tornando-se urgente que os professores se apoiassem em conhecimentos

validados pela pesquisa, as quais garantissem a legitimidade e eficácia de sua ação. Os

professores necessitavam possuir saberes que, com suas experiências, lhes permitissem

eficientemente organizar as condições ideais de aprendizagem para os educandos.

À luz do conhecimento atual, ensinar não mais se configura pela simples passagem do

saber. A compreensão de ensinar como sinônimo de transmitir um saber não é mais útil. Até a

1ª metade do século XX, justificava-se socialmente a ideia de ensinar na perspectiva de

professar um saber, de torná-lo público para os outros que não o possuíam.

A história dos professores vem se desenvolvendo gradualmente como grupo de

profissionais ou semiprofissionais Sacristán (1995), no processo complexo de

profissionalização. Esse processo de profissionalização não é linear nem unidirecional,

conforme sublinha Nóvoa (1995, p. 21), pois se alternam na história dos professores desde o

88

século XIX períodos de profissionalização e desprofissionalização, portanto, a compreensão

do processo de profissionalização necessita de um olhar atento às tensões que o atravessam.

Segundo Ramalho, Nuñes e Gauthier (2004, p.50), o processo de profissionalização da

docência:

[...] representa uma mudança de paradigma no que se refere à formação, o

que implica sair do “paradigma dominante” baseado na racionalidade

técnica, no qual o professor é um técnico executor de tarefas planejadas por

especialistas para se procurar “um paradigma emergente”, ou da

“profissionalização”, no qual o professor, é construtor da sua identidade

profissional.

Entendemos a profissionalização como o desenvolvimento sistemático da profissão,

que reúne em si todos os atos ou eventos relacionados, direta ou indiretamente, para melhorar

o desempenho do trabalho profissional.

Para Imbernón (2000), a profissionalização é um processo socializador no qual se

constroem as características da profissão, que se fundamenta em valores de cooperação entre

os profissionais e o progresso social.

Dessa forma, a recriação de novas relações sociais fundadas em novas subjetividades –

a questão de fundo em tempos de modernidade tardia – encontra na investigação-ação um dos

seus meios fundamentais, tornando relevantes teorias em educação classicamente

marginalizadas. O deslocamento da investigação sobre educação para a investigação em

educação corresponde aos deslocamentos da explicação para a implicação do olhar à escuta e

da objetividade ao sentido. Em termos teórico-metodológicos, trata-se de um regresso ao

olhar etnográfico e aos procedimentos clínicos, e à emergência do estabelecimento de ensino,

enquanto espaço de interações, como nível privilegiado de análise – o espaço onde se constrói

o sujeito, na articulação entre o sujeito individual e o sujeito social.

A investigação-ação possui três funções: a de ação, a de investigação e a de formação.

A função de investigação consiste na produção de um saber em e pela ação; a de ação

significa resolver problemas chegando a uma maneira ordenada de afrontar as situações; a de

formação consiste em facilitação da apropriação dos processos de compromisso. Na

investigação-ação emancipatória, enfatizam-se as relações, recusando o isolamento e o

individualismo.

Nessa perspectiva, trabalhar e aprender em conjunto significa ajudar as pessoas a

trabalhar com seus pares, a examinar criticamente pressupostos, processos de pensamento e

ações, e a examinar alternativas facilitadoras que funcionam como suporte e desafio. Sendo

assim, ao trabalhar e aprender em conjunto subjaz a parceria para o desenvolvimento.

89

Lopes (2001) destaca ainda que os meios fundamentais de mudança dos professores

são o suporte afetivo e o desafio cognitivo, e, por outro lado, a modelação de formas

alternativas de comportamento e a criação de uma linguagem comum. No primeiro caso, o

foco de mudança é o auto estudo crítico, que se baseia no exame reflexivo do self em contexto

compartilhado e ocupacional; no segundo caso, trata-se de atingir a colaboração, sabendo-se

que a discussão dos fins só se pode fazer em contexto de confiança. Os outros facilitam o

desafio ou questionamento cognitivo, oferecendo novas maneiras de olhar para situações

familiares, interpretando a evidência de diferentes maneiras, aceitando o desacordo e a

diferença de opinião e partilhando aspectos da experiência que estão em conflito com os

outros.

Nesse sentido, o referido autor tece algumas considerações importantes, dentre elas a

de que a construção de novas normas de trabalho é o ponto de chegada para a construção de

novas identidades profissionais, e que parte importante desse processo é a construção de

condições comunicacionais que permitam a identificação e a partilha. Nesse cenário, as

escolas surgem como lugares da construção social para favorecer as interações construtoras.

Assim, a identificação de uma imagem partilhada possibilitará a reposição da dimensão social

do discurso pedagógico dos professores, argumentando, portanto, em favor de uma

epistemologia feminina, enquanto epistemologia de contato, que valoriza a ética do amor e a

experiência como fonte de conhecimento, que re-dignifica o prazer, o desejo, a relação com o

outro e o reconhecimento mútuo. Salienta que, para se construir essa imagem partilhada e esse

discurso, fazem-se necessários procedimentos de formação, em que a investigação-ação

emancipatória é o caminho que pode possibilitar o trabalhar e aprender em conjunto, e os

escritos de trabalho devem ser meios de formação que proporcionem tanto o auto estudo

crítico, quanto a construção da colaboração (LOPES, 2001).

Nesse contexto, percebemos que os professores do ensino superior e os componentes

curriculares se constituem como elementos importantes na construção da identidade docente.

Questiona-se, então, qual o papel das disciplinas, e em especial da didática, nesse contexto?

Na sala de aula torna-se significativa a relação com o saber desenvolvido nos encontros, nos

quais se busca enfatizar: o que é aprender; o que é ensinar; como se aprende; como se ensina;

o que se ensina; a relação com a organização do trabalho pedagógico; a relação afetiva e

comunicacional com os alunos, além da relação com a própria profissão.

No que se referem aos componentes, estes necessitam cada vez mais dialogar com a

realidade da escola, espaço de profissionalização do docente, pois estamos formando

professores para trabalharem no contexto da educação básica, e muitas vezes esses futuros

90

professores têm de experiência docente apenas as vivências oportunizadas pelas disciplinas

oferecidas durante o curso, ou seja, uma representação de momentos escolares e esses

momentos se constituem em espaços para a construção da identidade docente. Mas isto só não

basta.

No que tange ao professor do ensino superior, suas experiências, sua história de vida,

suas concepções, seus saberes, seu comprometimento com o ato de educar e a sua própria

formação inicial interferem consideravelmente no processo dessa construção.

Percebemos, então, que a formação docente cada vez mais é compreendida como um

processo contínuo, o qual não pode ser dissociado dos saberes, fazeres, da identidade e da

profissionalidade docente, uma vez que uma se institui e se constitui na outra, como citamos

anteriormente.

A mediação didática caracterizadora da docência se constrói, reconstrói, se refaz, na

medida em que o professor reflete sobre sua prática, reelaborando-a, com seus pares e seus

alunos, construindo e reconstruindo sua profissionalidade docente.

Com este entendimento pensamos trazer algumas questões que alimentam o objeto

desta pesquisa como um momento de reflexão e, ao mesmo tempo, de questionamentos sobre

o que discutimos: O que e ser professor? Por que quis ser professor? Como o professor

apendeu a ensinar e foi se tornando professor? Estas são algumas das questões que nossos

interlocutores são convidados a nos responder. Esperamos que as respostas nos deem

subsídios para desvelar o professor referência – objeto de estudo desta pesquisa, no contexto

universitário, complexo como é complexa também a ação docente. Pensaremos a seguir uma

melhor aproximação dessa complexidade.

4.3 A PROFISSIONALIDADE DOCENTE

De acordo com os estudos de Barisi (1982), o termo Profissionalidade se origina do

termo italiano profissionalitá, no contexto de mudanças e lutas sindicais ocorridos na Itália. A

autora menciona que a profissionalidade se refere ao caráter profissional de uma atividade as

capacidades, saberes, cultura e a identidade de uma determinada profissão.

Dubar (1987) enfatiza que a profissionalidade pode ser tratada a partir de duas

concepções: a “empírica”, porque, articulada à noção de competência, é entendida “como

qualidades pessoais provenientes da experiência e da personalidade”, e outra concepção

denominada de “científica”, porque, ligada a uma noção de qualificação, é definida como uma

“qualificação jurídica atestada e hierarquizada pelos títulos escolares”.

91

Demailly (1987) analisa a noção de profissionalidade de modo a reconhecer que as

aptidões individuais podem ser cada vez mais requeridas como obrigações coletivas para a

institucionalização de uma ação profissional.

Lopes (2007) adverte que, ao atrelar o conceito de profissionalidade aos conceitos de

qualificação e competência, deve-se levar em conta que eles guardam uma série de

perspectivas que precisam ser devidamente identificadas e analisadas.

Por sua vez, Ramos (2008) considera que a profissionalidade congrega dois aspectos

interdependentes, destacando que não podem ser reduzidos nem à obtenção de um novo

conhecimento, nem à realização de uma ação, porém implica considerar em que sentido o

conhecimento adquirido encontra sua expressão na ação, por resultar de uma dinâmica

relacional a profissionalidade, o que provoca um conhecimento e sua expressão na ação,

elementos que endossam sua natureza eminentemente instituinte.

Contreras (2002, p. 74) comenta que a profissionalidade possui certas qualidades que

caracterizam principalmente o modo como o professor se preocupa e cria as condições de

efetivar um bom ensino. Para ele, as qualidades da profissionalidade são dimensões do seu

fazer profissional, no qual são definidas as aspirações com respeito à forma de conceber e

viver o trabalho de professor, ao mesmo tempo em que se inscreve a forma de dotar a

realização do ensino de conteúdo concreto.

Conforme vimos discutindo, a profissionalidade docente vem ganhando expressão nos

contextos envolvidos na constituição do ser professor. O conceito ainda em construção

aponta para uma nova compreensão da docência, entendida na sua complexidade e numa

perspectiva relacional entre os indivíduos e os espaços sociais nos quais exercem suas

atividades profissionais.

Passaremos assim a discutir profissionalidade docente imbricada nos saberes e

identidade profissional docente, posto que a profissão docente exige um saber próprio – a

mediação didática – e esse saber se constrói na medida em que o professor vivencia e

apreende os saberes necessários à docência.

Para tal, consideraremos autores como Hoyle (1980), Sacristán (1990), Bourdoncle

(1991), Ramalho (2004), Roldão (2005), Cunha (2007), Ramos (2010), entre outros, que

certamente trarão relevância à compreensão sobre a profissionalidade docente.

Ninguém pode ensinar se não o sabe, mas o processo de conhecer e de ensinar é tão

peculiar que, ao ensinar, se aprende, e, ao educar, se desenvolve e se transforma o

conhecimento.

92

A complexidade do aprender a ensinar parece ser o desafio dos pesquisadores que se

dedicam a esse objeto: como se aprende a aprender? Não está definida uma única forma, um

único modelo para tal, mas percebemos que o diálogo, a troca, as relações entre profissionais,

a convivência em espaços formativos, a reflexão sobre a sua própria ação e sobre a ação de

outrem e a investigação na sala de aula constituem momentos de efetiva aprendizagem.

Compreender a noção de profissionalidade e da especificidade que a define torna-se

uma preocupação das políticas de formação docente em todo o mundo desenvolvido.

Segundo Sacristán (1990, p. 53), a profissionalidade docente “é a afirmação do que é

específico na ação docente”. Paganini da Silva (2006, p. 26) diz se constituir “a profissão do

professor na ação, ou seja, é o professor exercendo sua profissão, considerando um

determinado contexto histórico”. Já Roldão (2005, p. 108) argumenta ser a identidade

profissional “o conjunto de atributos, socialmente construídos, que permitem distinguir uma

profissão de outros tipos de atividades”. Contreras (2002, p. 74), por sua vez, afirma que a

profissionalidade docente se assenta na “qualidade da prática profissional dos educadores em

função daquilo que requer o ofício educativo”.

Nesse contexto, a profissionalidade exigida, no que concerne à reconceitualização da

docência na universidade, necessita ser compreendida numa dinâmica de superação da visão

de que “quem sabe, sabe ensinar”, ou “só quem pesquisa pode ensinar”, ou, ainda, de que

“quem dorme aluno e acorda professor”.

A noção de profissionalidade deve ser considerada na dinâmica da pessoa-profissional,

o que se insere no processo de identificação – que, de acordo com a concepção de Dubar

(1987, p. 13), não é dada de uma vez por todas no ato do nascimento, mas constrói-se na

infância e deve reconstruir-se sempre ao longo da vida.

Roldão (2005, p.109) define profissionalidade como aquele conjunto de atributos

socialmente construídos que permitem distinguir uma profissão de outros muitos tipos de

atividades igualmente relevantes e valiosas.

A partir dos estudos de Gimeno Sacristán, Claude Dubar e Antônio Nóvoa, a referida

autora organiza um conjunto de descritores da profissionalidade, quais sejam:

o reconhecimento social da especificidade da função associada à

atividade(por oposição a indiferenciação);

o saber específico indispensável ao desenvolvimento da atividade e sua

natureza;

o poder da decisão sobre a ação desenvolvida e consequente

responsabilização social e pública pela mesma;

93

a pertença a um grupo coletivo que partilha, regula e defende intramuros

desse coletivo (p.109).

No que se refere à docência, Roldão (2005, p. 118) afirma que a função de ensinar é

específica do docente, e que outros profissionais, se possuírem saberes apenas conteudinais

idênticos, não a saberão exercer. A autora enfatiza ainda que a docência requer contrabalançar

o domínio dos conteúdos que ensina e o modo como o usa e mobiliza para construir sua

apropriação pelos estudantes. É nessa mobilização que se constitui a natureza propriamente

profissional – porque específica – do saber docente.

Nessa direção, o professor profissional é aquele que ensina não apenas porque sabe,

mas porque sabe ensinar. E saber ensinar é ser especialista dessa complexa capacidade de

mediar e transformar o saber conteudinal/curricular, seja qual for a sua natureza ou nível, de

modo que a alquimia da apropriação ocorra no aprendente, pois, ainda segundo Roldão (2005,

p. 102), o ato de ensinar:

aprende-se e exerce-se na prática, mas, numa prática informada, alimentada

por velho e novo conhecimento formal, investigado e discutido com os pares

e com os supervisores ou desejavelmente, tudo isso numa prática coletiva

mútua, com supervisão e construção de saber inter pares.

Saber produzir essa mediação é ser um profissional do ensino, para cuja atividade a

docência exige, além de um amplo conhecimento científico de sua área de atuação, o domínio

dos saberes pedagógicos necessários à prática.

Nessa compreensão, a profissionalidade se constitui a partir da interação de três

contextos distintos: o pedagógico, formado pelas práticas e que define as funções relacionadas

aos professores; o profissional, responsável pelos saberes técnicos que legitimam as práticas;

e o sociocultural, que relaciona os valores e conteúdos compreendidos como importantes

(POPKEWITZ, 1992).

Dentre os autores que estudam a noção de profissionalidade, destacamos a

compreensão de alguns.

Hoyle (1980, p. 44) compreende a profissionalidade como as atitudes em relação à

prática profissional entre os membros duma ocupação e o grau de conhecimento e

competência que eles aplicam nessa tarefa.

Dubar (1987, p.7) situa a profissionalidade no contexto da relação entre competência e

qualificação. Apresenta duas concepções de profissionalidade: uma, enfatizando a

competência como qualidades pessoais provenientes da experiência e da personalidade, e

fator de uma profissionalidade de tipo empírico; a segunda, destacando a qualidade como

94

qualificação jurídica atestada e hierarquizada pelos títulos escolares, e garantia de uma

profissionalidade de tipo científico.

Seguindo essa mesma linha de competência e qualificação, Demailly (1987) analisa a

questão da formação e novas competências exigidas, considerando principalmente a

implicação do desenvolvimento das competências para o exercício docente, na perspectiva de

proporcionarem práticas interventivas.

Os estudos de Braem (2000) nos fazem entender que a profissionalidade inclui a

qualificação e a competência (o coletivo e o individual), por isso, em sua definição, a

profissionalidade deve abranger, além do coletivo e individual, a noção de deontologia e de

ética (p. 24).

Parece-nos que a concepção de profissionalidade direcionada à qualificação e à

competência, apesar de distintas, respeita um mesmo movimento relacional.

Já Bourdoncle (1991) afirma que a profissionalidade vai remeter para a natureza mais

ou menos elevada e racionalizada dos conhecimentos e das capacidades utilizadas no

exercício profissional (p. 76).

Com esta síntese de compreensão dos autores, parece-nos possível afirmar que o

conceito de profissionalidade está em constante e permanente processo de construção,

devendo ser analisado a partir do contexto, da realidade sociocultural e do momento histórico

em que está sendo vivenciado.

4.4. DA NOÇÃO DE IDENTIDADE A IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE

Compreendíamos a Noção de Identidade inicialmente como aquela que se construía

essencialmente no seio da família, onde estruturávamos os princípios (éticos, morais,

religiosos, culturais), sobre os quais nos identificávamos enquanto pessoas. Nesse sentido, a

base sobre a qual a nossa identidade pessoal se constituía dependia muito da família, que

assumia a responsabilidade de acolher e orientar seus filhos, para que estes se portassem, nos

diferentes ambientes, demonstrando a educação que sua família lhe dera.

Esse fato tornava-se importante, pois se observava como a pessoa era aceita, inserida e

vista por seus familiares e isso interferia até na forma de como essa pessoa ia se reconhecendo

pelo status que sua própria família lhe atribuía nos espaços sociais – igreja, escola,

festividades etc., e como os outros iam construindo a imagem dessa pessoa.

Interessante sublinharmos o fato de que cada família possuía uma identidade, uma

característica, uma forma de ser. Os exemplos vivenciados no interior da família nas

95

diferentes maneiras com as quais solucionava os problemas internos iam constituindo os

valores, as prioridades, os conceitos, os “pré-conceitos”, que se incorporavam ao jeito de ser

de cada um, mas, mesmo assim, identificávamos traços singulares que caracterizavam tal

família. Ou seja, no seio de cada família, cada um dos componentes tem algo que o

identificava enquanto pertencente àquela família, mas que também possuía algo que o

diferenciava e que era singularmente só seu.

Assim, percebíamos que a influência de pessoas, nível social, intelectual, cultural,

contextos diferentes, interferia no jeito de ser de cada um, na construção de sua identidade, e

até o fato de ser criado no interior, ou numa cidade grande, já se delineava claramente

diferenças de comportamentos e atitudes que caracterizavam e diferenciavam as pessoas,

assim como as identificavam.

Entretanto, da mesma forma que a sociedade vem se modificando nas formas de se

compreender o mundo e as pessoas nele inseridas, foi-se instituindo uma nova forma de se ver

e de se compreender a identidade.

A noção de Identidade, ao contrário do que pensávamos, não se constitui em um

conceito linear, em que possamos identificar um começo, meio e fim. O processo de

construção da identidade se assemelha à formação do professor, pois é um processo contínuo,

que está constantemente se ressignificando, se constituindo, se reconstruindo, se elaborando,

haja vista que o ser humano vive em constante articulação entre o seu interior e exterior.

Nessa perspectiva, a identidade é pensada numa dimensão bem mais ampliada, na qual

não se descarta o processo individual do coletivo. Nesse processo a identidade nunca é dada,

mas construída e reconstruída, a partir das experiências singulares, que vão desde o

nascimento à adolescência e continua na vida adulta, na qual o indivíduo se situa através das

percepções e representações dos outros sobre si, das suas próprias representações, do

sentimento de pertença e do contexto social no qual está inserido (ERICSSON, 1976).

A identidade é percebida em diferentes perspectivas sociológicas, psicológicas,

antropológicas e, para além dessas, numa perspectiva fluida. A seguir, faremos uma breve

incursão sobre o campo conceitual de Identidade.

4.4.1 O Campo Conceitual de Identidade

As velhas identidades que estabilizaram o mundo social durante algumas décadas

declinaram, diante do surgimento de novas identidades que fragmentam o homem moderno,

96

até então visto como um ser unificado. Nesse contexto a identidade tornou-se motivo de

estudos por diferentes pesquisadores e está sendo discutida extensamente pela teoria social.

Ao buscarmos em nossos estudos compreender o termo identidade, observamos que

este designa o que é único, diferenciando assim um indivíduo dos outros, mas, ao mesmo

tempo, qualifica o que é idêntico – ou seja, o conceito de identidade oscila entre a

similaridade, o que o torna semelhante aos outros – e a diferença, aquilo que,

concomitantemente, o faz ser um indivíduo singular. Lopes (2001, p.195-196) nos ajuda nessa

reflexão quando comenta que identidade é “a relação consigo (entre imagens de si atuais e

passadas) e uma relação com o outro (que envolve o reconhecimento do mesmo e o

reconhecimento da diferença)”.

Para Dubar (1997), a identidade é um produto a ser negociado e forjado entre dois

processos: o biográfico e o relacional. O primeiro é compreendido como o processo de

aquisição identitária que se dá na socialização inicial do indivíduo, no contexto familiar, na

igreja, nos espaços onde constrói sua história de vida. Assim, a nossa identidade pessoal é

constituída nesse ambiente, a partir do qual vamos diferenciando nosso papel (de pai, mãe e

filho, etc.). Já no processo relacional, o indivíduo ingressa no ambiente de trabalho, no qual

participa das atividades coletivas organizacionais do grupo de trabalho e constrói sua maneira

de ser e estar na profissão.

Conforme vamos observando no caminhar dessas conceituações, podemos entender

que o termo identidade é marcado por uma dualidade que, ao mesmo tempo, é um processo

interno do indivíduo (identidade biográfica), que se processa por ações de pertencimento, e

por um processo externo ao indivíduo (identidade relacional), assinalando o resultado da

interação com o outro. O que se confirma na afirmação de Dubar (1997, p.135):

A identidade para si e identidade para o outro são ao mesmo tempo

inseparáveis e ligadas de maneira problemática. Inseparáveis, uma vez que a

identidade para si é correlata ao Outro e a seu reconhecimento: nunca sei

quem sou a não ser no olhar do Outro.

O mesmo autor (p.135) complementa que “a identidade nunca é dada, ela sempre é

construída e deverá ser (re) construída em uma incerteza maior ou menor e mais ou menos

duradoura”.

Nesse sentido, percebemos que, para Dubar(1997), “o outro” tem um papel fundante

na construção identitária de “si”, pois é no diálogo e na interação com o “outro” que o “eu”

passa a desenvolver a consciência sobre si mesmo. Assim, ao discutirmos sobre identidade,

97

estaremos nos referindo às relações entre o “eu”, o “nós” e o “outro”, o que nos faz

compreender que a identidade será sempre construída na relação com o outro, e, portanto,

nunca será única e finita, mas sempre possível de reconstruções.

De acordo com Lipiansky (1998) a identidade é ainda um dado primeiro da relação

com a representação da própria existência e com o mundo. É um fenômeno dinâmico, que

acontece durante toda a sua existência, é identitário e ao mesmo tempo individual e social. É

um construto que, ao longo da existência, se reveste de diversas facetas identitárias, por vezes

até contraditórias entre si, mas que mantêm certa organização, coerência e estabilidade.

Observamos que o campo conceitual é vasto, e o conceito de identidade de Erikson

(1976), no qual “a identidade social não é transmitida de uma geração a outra”, Sainsaulieu

(1985), demonstra que a busca de identidade é algo constante de ser reconhecido pelo outro, e

que o acesso a esta se faz no momento em que as identificações primitivas deixam de ser

dominantes e o indivíduo é reconhecido pela sociedade. Assim, ter uma identidade é

constituir-se enquanto indivíduo diferente do outro, e ser reconhecido como tal.

Diante do exposto, compreendemos Identidade como um fenômeno complexo que

perpassa o olhar de diferentes teóricos em busca de um entendimento do que é, e de que se

constitui a identidade. Pensamos a Identidade como pensamos ser o professor, um eterno

aprendiz. Nesse sentido, concordamos com Candau (1998p. 57), ao dizer que o professor, no

exercício docente, aprende, desaprende, reestrutura o aprendizado, faz descobertas e, portanto,

é nesse fazer e refazer que vai aprimorando sua formação. Assim também ocorre com a

construção da identidade, pois estamos vivenciando momentos de transformações do homem,

da sociedade e da educação, o que nos faz pensar que tudo está a se construir, reconstruir, a se

ressignificar, e, enquanto processo, essas construções e reconstruções não mais podem ser

isoladas, mas sim, imbricadas, articuladas com o contexto, com o aqui e o agora, com as

imprecisões e as possibilidades com as quais podemos nos constituir e sermos sujeitos

autônomos, porém abertos permanentemente a novas construções e aprendizagens com o

outro, com nós mesmos, com o mundo e com nossas identidades que vamos construindo,

reconstruindo e incorporando ao longo de toda a nossa vida.

A questão da identidade docente perpassa pela Constituição do Professor e também do

professor-referência, no contexto universitário, nosso objeto de estudo, posto ser ela que,

ao mesmo tempo em que singulariza, também identifica um grupo, uma profissão, e, em se

tratando da docência, a construção dessa identidade parece ser condição para exercer um bom

trabalho. Neste sentido, as escolhas que fizeram com que esse professor fosse considerado

98

referência podem estar inter-relacionadas com a história de vida e a relação pessoal e

profissional que tem com seus estudantes.

Assim, a identidade docente é aqui compreendida imbricada na formação inicial e

continuada, na história de vida, na construção dos saberes, na profissionalização, nas crises

(pessoal e profissional) e na profissionalidade docente. Mas, como vem se constituindo a

identidade profissional docente?

4.4.2 Identidade Profissional Docente e Processos de Formação

Os estudos de Dubar (1997, p. 103) sobre a construção das identidades sociais e

profissionais parecem bastante relevantes para pensar a questão da construção da identidade

do professor. A noção de identidade proposta pelo autor, como já dissemos, situa-se na

perspectiva de compreendê-la como uma articulação entre duas transações: uma “interna” ao

indivíduo e uma “externa”, estabelecida entre o indivíduo e as instituições com as quais

interagem. Para esse autor (p.105), a identidade é um processo de sucessivas socializações,

portanto, sua construção corresponde ao processo de comunicação ou de socialização que a

produz, enquanto:

[...] resultado simultaneamente estável e provisório, individual e coletivo,

subjetivo e objetivo, biográfico e estrutural, dos diversos processos de

socialização que, em conjunto, constroem os indivíduos e definem as

instituições.

Também Nóvoa (1992, p. 15), ao se referir sobre a identidade docente, adverte que a

identidade (ser e sentir-se professor) não é um dado, não é uma propriedade, não é um

produto, mas um lugar de lutas e conflitos, um espaço de construção de maneiras de ser e

estar na profissão.

Brzezinski (2002, p. 9) considera que a identidade do professor é fruto de interações

sociais complexas nas sociedades contemporâneas e expressões sociopsicológicas, que

interagem nas aprendizagens, nas formas cognitivas, nas ações dos seres humanos. Ela define

um modo de ser no mundo, num dado momento, numa dada cultura, numa história.

Para Aguiar (2004, p. 25), a identidade profissional do professor “está ligada às

representações sociais sobre ele, ou seja, as ideias, as crenças que a comunidade e os

professores têm sobre os trabalhos que desenvolvem”. Salienta ainda a autora que, na

formação de professores, “essa identidade associa-se ao sentimento e à consciência de

99

pertencer a um grupo, de ser um profissional que interage com as representações sociais sobre

sua identidade”. Dessa forma, a consciência de ser professor e profissional da educação é

histórica, situando-se numa época e num local determinado.

Nesse sentido, compreendemos que ser professor se constitui historicamente,

despojando-se de uma identidade fixa, uma vez que não é um dado imutável, externo, a ser

adquirido, mas, sim, uma diferença produzida no e pelo indivíduo, numa complexa rede de

relações de força, pois, enquanto professores, estamos constantemente nos atualizando, nos

ressignificando e nos constituindo no centro de múltiplas relações localizadas no interior da

história do tecido social.

Complementando essa ideia, Pimenta (2002) acrescenta que o processo de construção

da identidade tem um caráter eminentemente histórico, ou seja, o sujeito localizado no tempo

e no espaço, por meio da sua ação, constrói, cria o conhecimento e o seu fazer profissional,

dentro das possibilidades de seu determinante espaço histórico-cultural.

Isto significa que, de acordo com as circunstâncias e exigências postas pela sociedade

em uma determinada época, o fazer profissional tem, historicamente, maneiras diferentes de

atuação. Nesse sentido, Nóvoa (1992) ressalta que a identidade não é um construto histórico

desde a antiguidade, o que significa que ao longo do tempo veio recebendo influências da

época e passando por mudanças. Essas mudanças, experiências e ensinamentos foram

transmitidos pelas gerações adultas de professores para os mais jovens, possibilitando-lhes a

inserção no processo de aprendizagem didático-pedagógica. Sendo o homem um ser

relacional, quando em contato com os seus semelhantes, ele comunica as transformações por

ele imprimidas na natureza, entendidas como cultura produzida.

Para Dubar (1997) a saída do sistema escolar e o confronto com o mercado de

trabalho constituem um momento essencial na construção da identidade autônoma. Contudo, é

no confronto com o mercado do trabalho que se encontra o desafio identitário mais importante

dos indivíduos. Esse confronto adota formas sociais diversas e significativas, segundo os

países, os níveis escolares, as origens sociais, o sexo, o processo de modernização tecnológica

e de mudanças organizacionais nas empresas, administrações e serviços. Todavia, é da sua

saída que depende a identificação pelo outro das suas competências, do seu estatuto, da

carreira possível e da construção para si do projeto, das aspirações e da identidade possível.

Além disso, é do resultado desse confronto que dependem as modalidades de construção de

uma identidade profissional de base, que constitui não somente uma identidade no trabalho,

mas também e, sobretudo, uma projeção de si no futuro, a antecipação de uma trajetória de

emprego e de uma lógica de formação.

100

De acordo com Aguiar (2004, p. 77), o conceito de identidade profissional relaciona-

se ao mundo ocupacional, integrando os estudos que dizem respeito à socialização

profissional, os quais se concentram nos processos de adaptação do profissional ao seu meio.

Complementa ainda a autora, ao afirmar que no processo de construção da identidade

profissional, que integra o quadro das identidades possíveis, as categorias que dizem respeito

à formação, às esferas do trabalho e do emprego constituem os domínios de referência dos

indivíduos para si mesmos. O emprego é considerado, cada vez mais, o centro do processo

identitário e, a formação profissional está cada vez mais diretamente ligada a ele.

Sainsaulieu (1985) evidencia que a vida no local do trabalho tem uma importância

decisiva na formação de normas de relação, nas quais se estruturam os modelos culturais, e

que diferentes situações de trabalho podem conduzir a diferentes normas de relação. Afirma

ainda que a experiência de relações nas organizações é tão grande e durável, que seus efeitos

ultrapassam os locais de trabalho. Existe uma relação muito grande do trabalho organizado

com as estruturas mentais e os hábitos coletivos dos indivíduos. Acrescenta ainda que ele

estabelece a ligação entre o sistema social mediatizado pelo trabalho e o sistema de

personalidade, mais precisamente, a identidade dos indivíduos.

Diante do que vimos expondo, é possível concordar com Pimenta (2002) com a

afirmação de que a identidade do profissional da educação não é algo estático, fixo, não

suscetível a mudanças. Pelo contrário, é um dado mutável, dinâmico, não é externo, de tal

forma que possa ser adquirido, e emerge de um contexto histórico como resposta às

necessidades postas pelas sociedades, adquirindo estatuto de legalidade.

A partir desse entendimento do que é a identidade docente, perguntamo-nos: será que

a formação inicial e contínua como está posta atualmente tem realmente contribuído para a

construção de novas identidades? Como resposta a essa pergunta, várias pesquisas (Piconez,

1991; Pimenta, 1994; Leite, 1995) revelam que os cursos de formação, ao desenvolverem um

currículo formal com conteúdos e atividades de estágios distanciados da realidade das escolas,

numa perspectiva burocrática e cartorial, que não dá conta de captar as contradições presentes

na prática social de educar, pouco têm contribuído para gestar uma nova identidade do

profissional docente.

Entretanto, reconhecemos que, a partir dos anos 2000, surge nos cursos de formação

inicial de professores, em especial o de Pedagogia, um novo olhar sobre a formação dos

docentes no que diz respeito à proximidade dos futuros profissionais com a educação básica

(espaços formativos), numa tentativa de aproximá-los à realidade da profissionalização

101

docente, em busca de criar um laço e ao mesmo tempo uma identidade com a profissão

docente, de forma a articular teoria e prática, pesquisa e trabalho docente.

Pimenta (2002) salienta que, no que se refere à formação contínua, a prática mais

frequente tem sido a de realizar cursos de suplência e/ou atualização dos conteúdos de ensino.

No entanto, esses programas têm se mostrado pouco eficientes para alterar a prática docente e,

consequentemente, as situações de fracasso escolar nos seus contextos. Quando não se coloca

como ponto de partida e o de chagada da formação, acaba-se por apenas ilustrar

individualmente o professor, não lhe possibilitando articular e traduzir novos saberes em

novas práticas.

A referida autora afirma ainda que o crescimento quantitativo dos sistemas de ensino

não tem correspondido a um resultado formativo adequado às exigências da população

envolvida, nem às exigências das demandas sociais, colocando a importância de definir nova

identidade profissional do professor.

Nesse sentido, Pimenta (2002 p.19-27) apresenta três passos a serem seguidos nos

cursos de Didática, que se propõem a mediar o processo de construção da identidade dos

futuros professores.

O primeiro passo consistiria na mobilização dos saberes da sua experiência,

acumulados como profissional, ou seja, os saberes produzidos pelo docente no seu cotidiano,

num processo constante de reflexão crítica. Dessa forma, o desafio posto aos cursos de

formação inicial é o de colaborar no processo de passagem dos alunos de seu ver o professor

como aluno a seu ver-se como professor, isto é, de construir a sua identidade de professor.

O segundo passo refere-se ao conhecimento ou ao domínio das áreas específicas. A

tarefa do professor é, pois, a produção de conhecimentos e a criação de condições para que

essa ocorra. Tudo isso exige uma conscientização quanto ao poder influenciador-direcionador

e determinante do conhecimento – em relação à vida material e social dos indivíduos da

sociedade, independente do seu grau de desenvolvimento.

O terceiro passo na construção da identidade aponta para os saberes pedagógicos.

Saber ensinar pressupõe experiência, conhecimentos específicos e saberes pedagógicos

didáticos. É nesse tripé que podemos apoiar a formação do profissional docente e atribuir-lhe

uma identidade. Na análise da história da formação dos professores, esses saberes têm sido

trabalhados de forma fragmentada, desarticulada, ou seja, conforme a época, um saber se

sobressai em relação ao outro, prioriza-se mais determinado saber, em detrimento de outro.

De acordo com o que vimos expondo no percurso da formação docente, já se instituiu,

ao longo do curso, a oportunidade da construção de “uma identidade profissional docente”. A

102

própria estrutura do curso, ao possibilitar aos estudantes a vivência com a profissionalização

nos espaços profissionais, a envolver-se com os colegas, com os professores e com as

disciplinas, favorece a proximidade e a identificação com a docência, enquanto elemento

facilitador que pode dar início à construção dessa identidade. Contudo, essa construção

precisa ser intencional e mediada pelo professor e, por parte do aluno, valorizada e

conscientizada. Desse modo, percebemos que o interesse e a identificação para com a

profissão docente tem início nos cursos de formação, quando o aluno vai assimilando,

apreendendo os saberes e se deixando permear pela maneira de ser e estar na profissão, ou

seja, vai se permitindo, a partir das relações existentes entre os espaços profissionais,

professores e colegas, construir sua identidade profissional docente.

Nesse sentido, Pimenta (1997, p. 42) defende a construção da identidade profissional

docente como um processo de construção permanente, conforme nos apresenta a base em que

essa construção acontece:

[…] uma identidade profissional constrói-se com base na significação social

da profissão; na revisão constante dos significados sociais da profissão; na

revisão das tradições. Mas também na reafirmação de práticas consagradas

culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a

inovações porque são prenhes de saberes válidos às necessidades da

realidade, do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática

das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias.

Constrói-se também, pelo significado que cada professor, como ator e autor,

conferem à atividade docente no seu cotidiano com base em seus valores,

seu modo de situar-se no mundo, suas histórias de vida, suas representações,

seus saberes, suas angústias e seus anseios, professores, nas escolas, nos

sindicatos e em outros segmentos.

Complementando essa ideia, Lessard (1986, p.136) defende que:

[…] a identidade profissional se dá na relação que o professor estabelece

com a profissão e o seu grupo de pares, e implica em um processo de

construção simbólica, pessoal e interpessoal, que se consubstancia nas

representações sobre os seguintes aspectos da atividade docente: capital de

saberes, saber-fazer e saber-ser que fundamentam a prática do professor,

condições do exercício, em termos de autonomia, controle e circunstâncias

do contexto; pertinência cultural e social; questões relativas ao estatuto

profissional e social da função docente.

Conforme percebemos, estes autores pensam a identidade profissional docente

constituída num conjunto de relações imbricadas no eu pessoal e profissional, mas que se

consubstanciam no significado que tem para cada um “ser e estar professor” e no domínio

entre o “saber fazer e saber ser” que fundamentam suas ações em termos de autonomia,

contextos e pertinência cultural e social.

103

Ao analisar as formas de “se sentir e ser professor”, Nóvoa (1992, p.15) explica que a

construção da identidade profissional do professor perpassa por uma tripla trajetória de:

adesão: a um conjunto de princípios e valores, adotando projetos comuns a

outros professores e realizando investimentos positivos nas potencialidades

das crianças e dos jovens;

ação: ao selecionar formas próprias de agir, o professor joga decisões de foro

pessoal e profissional;

autoconsciência: a reflexão sobre a própria ação como sendo a base de todas

as decisões.

A trajetória pensada por Nóvoa nos permite compreender que a adesão é indispensável

ao desenvolvimento do trabalho em equipe, que reforça o desenvolvimento da relação entre os

pares; a tomada de decisão sobre a ação docente, especificamente sua, provoca conflitos entre

suas convicções pessoais e profissionais, evidenciando assim a ligação entre a pessoa e o

profissional; a autoconsciência nos impele a refletir sobre a ação realizada, possibilitando a

ressignificação da mesma.

É também nesse sentido que Nóvoa (1995, p17) indica que “é impossível separar o eu

profissional do eu pessoal”, posto que o processo identitário passa pela capacidade de

exercermos com autonomia a nossas atividades e pelo sentimento com que controlamos o

nosso trabalho.

Desse modo, o processo que utilizamos para ensinar se encontra interligado com

aquilo que somos como pessoa enquanto exercemos a nossa profissão docente. Nosso modo

de atuar e de ser no espaço profissional tem raízes em nossa identidade pessoal. Portanto, à

construção do Eu de cada professor subjaz uma história de vida, com suas emoções,

preocupações, sonhos, alegrias, dúvidas, certezas, e, desse modo, de acordo com Nóvoa, na

ação docente o professor não consegue separar seu Eu Pessoal do Eu Profissional.

4.5. A RELAÇÃO ENTRE FORMAÇÃO, SABERES E IDENTIDADE DOCENTE.

As contribuições epistemológicas trazidas por Pimenta (2002) em relação aos aspectos

voltados para a formação, identidade e saberes da docência revelam um caminho promissor às

discussões sobre ensino e prática pedagógica no contexto escolar.

No entanto, a questão mais precípua é repensar sobre a formação inicial e continuada

dos docentes, começando pelo estudo das práticas. Nesse sentido, destaca-se o estudo sobre

identidade profissional e sobre que saberes delineiam a própria docência.

104

Diz Pimenta (2002, p.17),

[...] Nos cursos de formação inicial, tenho utilizado a produção de pesquisas

em didática a serviço da reflexão dos alunos e da constituição de suas

identidades como professor. Ao mesmo tempo, problematizando-as diante da

realidade do ensino nas escolas, procuro desenvolver nos alunos uma atitude

investigativa.

Na perspectiva de novos estudos sobre formação de professores, Pimenta (2002)

defende que a identidade docente seja voltada para o desenvolvimento de um professor

reflexivo, isto é, um intelectual em processo contínuo de formação.

A formação seja inicial ou contínua do professor está imbricada com um projeto

humano civilizatório. Por isso, a importância de propiciar aos professores uma formação

pautada na responsabilidade individual e coletiva.

Faz-se necessário atentar para as necessidades formativas em uma escola que colabore

com os processos emancipatórios da população, objetivando a questão dos saberes como um

dos aspectos relevantes para a construção da identidade e da profissão do professor.

Portanto, a construção da identidade profissional tem sua gênese no olhar sobre os

significados sociais da profissão, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor

conferem, à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de situar-

se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas

angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor (PIMENTA, 2002, p. 19).

Ainda de acordo com a autora a importância da mobilização dos saberes para a

construção da identidade profissional do professor culmina em três tipos de saberes: da

experiência – apreendidos pelo professor desde quando estudante entre os docentes e que

representaram algo significativo na sua formação, produzindo na prática um processo de

reflexão e troca com os colegas; os saberes do conhecimento – alcançam a revisão da função

da escola na direção dos conhecimentos e as suas especialidades no contexto contemporâneo;

os saberes pedagógicos – abrangem a questão do conhecimento juntamente com o saber da

experiência e dos conteúdos específicos e será construído através das necessidades

pedagógicas concretas.

Possibilitando um diálogo interativo com Tardif (2002), constatamos que os docentes

se apoiam em suas atividades profissionais, em outros saberes, dentre os quais o saber

curricular, oriundo dos programas e dos manuais escolares. O saber disciplinar constitui, no

conteúdo das disciplinas ensinadas na escola, o saber da formação profissional, adquirido por

105

ocasião da formação inicial ou contínua, o saber experiencial, evidenciado na prática da

profissão, e, por fim, o saber cultural, contextualizado na sua trajetória de vida.

Assim, os saberes dos professores devem-se constituir a partir da seleção pessoal e dos

trajetos a serem percorridos, possibilitando aos mesmos uma reflexão sobre o seu trabalho.

Para que este profissional se constitua como investigador de sua própria prática, torna-se vital

a iniciação através do diálogo reflexivo. As lógicas que fazem sua concepção de educador

como um ser que transforma e ao mesmo tempo é transformado pela própria profissão exigem

um modelo de formação emancipatória e humana.

Nessa perspectiva, os saberes experienciais são valorizados uma vez que brotam da

vivência e estão diretamente ligados à ação do professor, ao tomar decisões e posicionar-se

diante dos problemas inesperados na sala de aula. Na visão de Tardif (2002), esses saberes

dão segurança ao professor, porque já foram testados e validados na sua prática docente.

A importância de ter domínio sobre o trabalho docente a ser realizado, implica que o

professor conheça o componente curricular sob sua responsabilidade; a instituição em que se

realiza sua ação; o modo de fazer com que aconteça a aprendizagem de forma significativa; a

realidade dos estudantes sob sua responsabilidade quer sejam de ordem emocional, social,

econômica etc. Tudo isto implica em um processo de constituição de ser professor. Desse

modo, pensamos o quanto à ação docente possui de especificidades que a diferenciam de

outras profissões tendo relação direta com o domínio dos saberes disciplinares e necessários à

docência, bem como, a forma com que os docentes se organizam para deles se utilizarem,

realizando a mediação didática, caracterizadora da profissionalidade, e ao mesmo tempo

revelando o prazer de participar do processo de ensino aprendizagem, verdadeiramente

significativo para si mesmo e para os estudantes.

Conforme vimos construindo nossas compreensões acerca da constituição do professor

universitário, no âmbito da docência enquanto espaço/tempo de formação, a constituição da

identidade, profissionalidade e saberes docentes, nossa percepção até agora é que a

complexidade e dimensões com que se reveste a docência na universidade, diante dos

diferentes papéis que o professor tem a desempenhar, diante das lacunas que a formação

docente lhe deixou, as exigências que lhe são atribuídas suplantam a função primeira da

docência - o ensino.

Tal compreensão nos instiga mais ainda a desvelar uma das intensões desta pesquisa,

que é compreender o professor referência no contexto universitário.

Zaratustra dizia haver chegado o tempo para que o homem

plantasse as sementes de sua mais alta esperança.

É essa a imagem que se forma ao redor de minha paixão

pela educação: estou semeando as sementes de minha mais alta

esperança.

Não busco discípulos para comunicar-lhes saberes. Os saberes

estão soltos por aí, para quem quiser.

Busco discípulos para neles plantar minhas esperanças.

(Rubens Alves, 2004).

CONSTRUINDO O CONCEITO DE PROFESSOR-REFERÊNCIA

________________________________________________________

107

CONSTRUINDO O CONCEITO DE PROFESSOR-REFERÊNCIA

Neste capítulo buscamos um fio condutor para propor a discussão do conceito de

Professor-referência, mesmo consciente de que essas referências não são fixas, pois variam

de acordo com o contexto social e histórico no qual são produzidas. Acreditamos que

guardam singularidades e similaridades, uma vez que o Professor Referência se constitui em

uma maneira de ser e estar nessa profissão. E foi esse Professor referência que, de alguma

forma, constituiu inicialmente o agir didático pedagógico que fizeram parte do processo do

“vir a ser professor” dos futuros docentes, em um dado momento histórico, em uma dada

época e em uma dada realidade de suas vidas.

Diante dos desafios educacionais que acompanham o início do século XXI, o de

formar professores se constitui talvez a maior provocação para aqueles que têm essa

preocupação, principalmente em se tratando de uma temática que passou por significativas e

profundas transformações nas últimas décadas do século passado, continuando neste século,

transitando em um duplo sentimento: de satisfação e de desencanto.

Cada vez mais surgem novas exigências e dimensões sobre o trabalho docente,

buscando ampliar ou até mesmo tornando o espaço de abrangência da docência bem mais

diversificado daquele que os professores tinham por hábito. Tais exigências e dimensões

passam a demandar dos professores um corpo de conhecimentos que imprimem a marca ou a

diferenciação da docência, definindo e/ou delimitando a profissionalidade docente.

Grande parte dos professores universitários enfrenta hoje o desafio de formar novos

docentes, e evidentemente de maneira diferente daquela que foram formados, uma vez que,

durante sua formação inicial, predominava a preocupação com os saberes disciplinares e/ou

específicos. Desse modo, observamos que os professores universitários entram em conflito

nessa ação, e trazem para sua prática elementos apreendidos durante a formação, que servem

de modelos, de referência, ou de apoio ao seu saber fazer docente.

Buscando minimizar esse desconhecimento de saberes relativos aos aspectos didáticos

pedagógicos por parte dos professores da universidade é que instituições universitárias

criaram centros/núcleos de estudos, a exemplo do Núcleo de Formação Didático-Pedagógica

de Professores da UFPE - NUFOPE, ao reconhecer que se torna necessário a formação

continuada para professores universitários no sentido de complementar sua formação

didático-pedagógica, o que particularmente consideramos de importância vital para os

108

professores que lecionam, em especial, nas licenciaturas, uma vez que se ressentem da falta

desse conhecimento no seu saber fazer docente diário, conforme nos apontam as pesquisas

realizadas nesse campo do conhecimento.

As críticas recebidas pela universidade sobre a formação de professores que não

atendem às necessidades da educação básica continuam a existir, mesmo após as reformas por

que passaram os cursos de licenciaturas no final do século passado.

Apesar do avanço da tecnologia e das exigências de inovações didáticas pedagógicas

que continuam a perpassar o campo de atuação da docência universitária, cada vez mais a

universidade é convidada a buscar soluções para o impasse da formação de professores que

atendam as necessidades sociais que este novo século está a exigir.

Nesse contexto, conforme nos indica Nóvoa (2009, p.12), os professores ressurgem

neste século como insubstituíveis não apenas na promoção das aprendizagens, mas também

na construção de processos de inclusão que respondam aos desafios da diversidade e no

desenvolvimento de métodos apropriados de utilização das novas tecnologias.

Em uma breve retrospectiva, podemos rememorar que a década de 1970 nos legou a

racionalização do ensino, a pedagogia por objetivos e o planejamento. A década de 1980, as

reformas educativas e as questões referentes ao currículo. A década de 1990 teve sua grande

marca na organização, administração e gestão das instituições escolares. O século XXI

apresenta em seu cenário o regresso dos professores ao centro das preocupações educativas

(NÓVOA, 2009).

A partir dos estudos de Cunha (2004), percebemos que, diferentemente dos outros

níveis de ensino, o professor universitário se constituiu, historicamente, tendo por base a

profissão paralela referente à área de atuação que exerce ou exercia no mundo do trabalho. A

ideia de “quem sabe fazer, sabe ensinar” deu sustentação para a lógica do recrutamento dos

docentes universitários.

Confirmando essa ideia, Kessler (2002, p. 119) alega que “a formação específica para

a docência universitária foi compreendida como desnecessária”. Esta trajetória acaba

construindo um habitus para o professor, cujas características são o conservadorismo (que

leva ao cumprimento de ordens sem questionamento, ou seja, a manutenção da ordem

estabelecida), o autoritarismo (que se traduz nas relações hierarquizadas) e a concepção

positivista de rigor.

Nessa perspectiva, somos conscientes de que a docência é uma atividade complexa,

que exige dos professores ações imediatas diante dos fatos imprevisíveis que surgem na sala

109

de aula, e, desse mesmo modo, a ação de ensinar implica “fazer aprender alguma coisa a

alguém” (ROLDÃO, 2005).

Na compreensão de que o exercício da docência é complexo e exige do professor,

além do domínio da matéria a ser ensinada, um corpo de conhecimentos profissionais sobre o

como ensinar e sobre a quem ensinar, é que reconhecemos que tais conhecimentos precisam

estar enraizados numa fundamentação que permita ao docente ter competência para

intencionalmente planejar e efetivar um conjunto de ações sobre o ato de ensinar, que, de fato,

proporcione ao estudante construir aprendizagens.

Outro aspecto a ser considerado é que o que somos é marcado pelo modo como nos

construímos ao longo de cada tempo. Ghedin, Leite e Almeida (2008, p.13-14), em seu livro

Formação de Professores: caminhos e descaminhos da prática, ajudam-nos a

compreender que “nosso modo de ser, [...] não se esgota no fazer cotidiano, mas se prolonga

historicamente para além dele”, e desse modo podemos perceber que é “através das ações

pessoais e institucionais que projetamos modos de ser e modelos para poder ser mais do que

aquilo que somos ou desejamos ser” (grifos nossos).

Nessa direção, defendendo a ideia de que os futuros professores assimilam a influência

dos seus professores universitários na constituição de “vir a ser professor”, na construção da

identidade profissional e profissionalidade docente, buscamos compreender quem é esse

professor considerado referência pelos seus alunos durante o processo de formação.

5.1. EM BUSCA DE QUEM É ESSE PROFESSOR- REFERÊNCIA.

Esclarecemos inicialmente que nossa ideia de Professor Referência não se prende

exatamente aos termos Bom Professor, Professor Ideal, Professor de Sucesso, ou mesmo

Professor bem Conceituado, mas sim, nosso interesse vincula-se à ideia do professor que teve

influência de alguma maneira relevante na formação dos futuros professores, no que tange a

sua identidade profissional e profissionalidade docente.

Cunha (1989, p. 67), em sua tese de doutoramento, afirmou que “[...] a escolha que o

aluno faz do bom professor é permeada por sua prática social, isto é, o resultado da

apropriação que ele faz da prática e dos saberes históricos sociais”. Esclarece ainda que o

termo “apropriação é uma ação recíproca entre os sujeitos e os diversos âmbitos ou

integrações sociais”. Entretanto, essas apropriações diferem de cada sujeito, uma vez que

110

“eles fazem essas apropriações em funções de seus interesses, valores, crenças, experiências,

etc.”.

A partir do que diz a autora, podemos entender que a imagem do professor ideal que

entusiasma cada estudante parece ser construída a partir dos interesses pessoais, das

construções éticas, dos valores sociais, da imagem que ele tem da profissão e das alusões que

vão sendo observadas em cada profissional nos espaços da formação do discente e do próprio

contexto histórico que demarca o período dessa construção.

Nesse sentido, na tentativa de apreendermos um possível conceito/definição do que

vem a ser um Professor- Referência, enveredamos na literatura acadêmica em busca de

subsídios para melhor conseguir nossa intenção. Nessa caminhada, ressaltou-se a dificuldade

terminológica, contudo os termos o bom professor e professor ideal nos apresentaram

alguns elementos interessantes para compormos nossa intenção. Entretanto, sublinhamos as

seguintes concepções que pensamos aproximarem-se daquilo que compreendemos ser o

Professor- Referência, conforme detalhadas a seguir.

No início dos anos 1970, um bom professor, na concepção de Leite (2003, p.59), era

aquele que “[...] conseguia despertar a atenção dos alunos para os conteúdos do programa, que

expunha”, além de explanar os assuntos num discurso e numa lógica possíveis de se fazerem

compreender pelos estudantes de maneira que “os estimulasse ao cumprimento de certo

número de tarefas que os ajudassem à aquisição e à compreensão desses conteúdos”.

Percebemos, de acordo com a autora, que “o bom professor” precisaria concentrar suas

atividades em prender a atenção dos alunos nos conteúdos programáticos, na sua explicação,

que seguia um discurso e uma lógica apropriados para fazer-se compreender e conseguir

estimular os estudantes a realizar um conjunto de tarefas capazes de ajudá-los a aprender.

Notamos nessa definição aspectos referentes ao saber (conhecimento) e ao saber-fazer

(competência), porém não observamos alguma preocupação em relação à construção de

atitudes, nem de construção dos saberes para além da execução prática de tarefas, mas, como

salientamos anteriormente, parecia atender as necessidades daquela década.

Freire (1997, p. 96) afirma que [...] o bom professor é o que consegue, enquanto fala

trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Esclarece ainda que sua

aula é um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Enfatiza que, por isso, “seus alunos cansam,

não dormem”. Cansam, porque acompanham “as idas e vindas de seu pensamento,

surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”. Acreditamos que Freire conseguiu

vislumbrar ser o “bom professor” aquele que no íntimo de cada um e cada uma exerce a

docência na inteireza da expressão da palavra. Qual professor não deseja que sua turma seja

111

essa descrita por Freire, na qual seus alunos cansam por acompanhar seus pensamentos,

atentos, alertas, ávidos por aprender e por conseguir chegar à intimidade dos seus

pensamentos? Uma aula na qual não se identifica nem monotonia, nem repetição, mas

desafios, construção de conhecimento, alegria nas descobertas realizadas, enfim, no aprender?

Observamos, nesse caso, aspectos que impregnam a estrutura técnica do saber fazer docente

com a afetividade, a intencionalidade, a profissionalidade, revelando perspectivas de ordem

pessoal, profissional e de identificação com sua profissão.

Tardif (2002, p.39), ao pensar sobre o professor ideal, afirma que “é alguém que deve

conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa”, mas não só isso, pois além de tudo isso

necessita “possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e à pedagogia”,

bem como “desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os

alunos”. Desse modo, deixa-nos perceber que o professor ideal não se constitui apenas dos

conhecimentos relativos ao que ensinar, mas tanto quanto dos saberes relativos a como

ensinar, como aprender a ensinar e como aprender a aprender, de forma que possibilite aos

estudantes construírem aprendizagens significativas para suas vidas.

Felden (2010, p. 2) afirma ser o bom professor “aquele que promove aprendizagens

significativas”, ou, em outras palavras, “aquele que tem facilidade em relacionar a teoria à

prática; é didático e organizado; conhece sua área de conhecimento; é exigente e experiente”,

além de utilizar metodologias dinâmicas, pensar criticamente, atualizar-se e ter visão

prospectiva, para “estimular a autonomia dos alunos” e ter um “jeito descontraído e divertido

de ser”. Observamos na definição de Felden (2010) que ele associa aspectos de ordem pessoal

e profissional na constituição do bom professor, além de revelar a identificação com a

profissão docente e a preocupação do professor em estimular o estudante na busca da

autonomia.

Rios (2012, p.20), ao pensar sobre um professor ideal, faz menção a um profissional

que, “em sua prática cotidiana, consegue articular os saberes de modo a realizar um trabalho

de boa qualidade”, ou seja, “um trabalho competente”. Podemos compreender, a partir dos

estudos de Rios, que o trabalho competente a que ela se refere remete a uma dimensão

técnica, que faz referência ao domínio que o professor precisa ter para lidar com o

conhecimento e saber adequar os recursos necessários para poder construí-lo e/ou reconstruí-

lo com os estudantes. É essa dimensão técnica que de algum modo sustenta a maneira da

realização do trabalho docente e revela a qualidade do seu fazer. Contudo, reconhece que esse

fazer está permeado por outras relações além da técnica.

112

Diante do que temos discutido, e de acordo com os respondentes desta pesquisa (sobre

o quais trataremos adiante), observamos que não é fácil definir o Professor Referência sem

recorrermos a uma relação interminável de características e/ou atributos (competências).

5.2 OUTRAS PERSPECTIVAS PARA UMA POSSÍVEL DEFINIÇÃO DO

PROFESSOR- REFERÊNCIA

No início do século XXI, contexto em que “parece ter voltado o tempo dos

professores”, Nóvoa (2009, p. 29) relembra que “talvez valha a pena regressar a uma pergunta

que deixamos de fazer há muitos anos: o que é um bom professor?”. Alegando que a

definição do “bom professor” implica uma lista interminável de competências, sugere

algumas disposições que caracterizam o trabalho docente nas sociedades contemporâneas.

Recorre então ao conceito de disposição em detrimento ao de competência. As

razões para tal decorrem do fato de que se procurou definir durante muito tempo o “bom

professor” a partir de atributos e características, o que terminou por conduzir, na segunda

metade do século XX, à materialização da trilogia: saber (conhecimento), saber fazer

(capacidade), saber ser (atitude), que teve grande sucesso.

Ainda outra razão surge, quando, a partir dos anos 1990, foi-se impondo outro

conceito de competências com relevante papel nas reformas educativas e nas reflexões

teóricas, que, apesar das inúmeras ressignificações, nunca se libertou das suas raízes

comportamentalistas.

Desse modo, afasta-se do conceito de competência, que lhe parece saturado, e adota

um conceito mais “líquido” e menos “sólido”, e dirige o olhar preferencialmente para a

ligação entre as dimensões pessoais e profissionais na produção identitária dos professores.

Apresenta então sua proposição em “uma (pré) disposição que não é natural, mas construída,

na definição pública de uma posição, com forte sentido cultural, numa profissionalidade

docente que não pode deixar de construir no interior de uma pessoalidade do professor”

(idem, p.30), compreendendo ser essencial considerá-la à definição dos professores nos dias

de hoje, que apresentaremos a seguir.

Conhecimento – nesta primeira disposição, considera que o trabalho do

professor “consiste na construção de práticas docente que conduzem os alunos à

aprendizagem”. Afirma ainda que “ninguém pensa no vazio, mas antes na aquisição e

compreensão do conhecimento” (p.30). Nessa perspectiva, podemos compreender que essa

113

ideia aproxima-se do que Roldão (2005) esclarece sobre o sentido do trabalho docente, que

implica “fazer aprender alguma coisa a alguém”, ou seja, a preocupação implícita nessa

disposição incide em fazer/tornar o trabalho docente verdadeiramente específico no sentido

pleno da docência.

Conforme nos ensina Shulman (1986), para ser professor não basta dominar um

determinado conhecimento: é preciso compreendê-lo em todas as suas dimensões, uma vez

que o professor, ao praticar o conhecimento na sala de aula, necessita sempre fazer um

esforço de reelaboração, de seleção da maneira de como aquele conhecimento será mediado

na perspectiva de oportunizar momentos de construção de aprendizagens significativas.

A Cultura Profissional – explica que “ser professor é compreender os sentidos da

instituição escola, integrar-se numa profissão, aprender com colegas mais experientes. É na

escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão”. Considera ainda

que “o registro das práticas, a reflexão sobre o trabalho e o exercício da avaliação são

elementos centrais para o aperfeiçoamento e a inovação”. Entende serem estas rotinas que

fazem avançar a profissão (p.30).

Desse modo, podemos inferir que a formação de professores necessita da vivência no

chão da escola, do espaço de profissionalização (a educação básica), o qual deve ser

interligado com o espaço de formação (as instituições universitárias), do diálogo entre esses

espaços e entre seus professores, a convivência não apenas de momentos restritos e dias

marcados, mas sim de um período que, de fato, oportunize conhecer as sutilezas, o

movimento, a dinâmica de cada dia, a imprevisibilidade do contexto escolar, pois o processo

de “vir a ser professor” se dá também nessa relação, em conhecer e diferenciar aquele

movimento que dá identidade àquela instituição estudada, assim como assenta o futuro

docente no processo de identificação com a docência. Nesse sentido, apesar dos estudos já

realizados sobre processos de aprender a ensinar, Carter (1990) nos ajuda, afirmando que

ainda hoje sabemos pouco sobre os processos pelos quais o professor passa para aprender a

ensinar. Entretanto, de acordo com nossa compreensão, a Cultura Profissional é apreendida

em uma relação que se estabelece de/nas diferentes maneiras nos espaços educativos. Neste

sentido, Arroyo (2000, p. 54) nos ensina que “podemos aprender a ler e escrever sozinhos;

podemos aprender geografia e contar sozinhos, porém não aprendemos a ser humano sem a

relação e o convívio com outros humanos que tenham aprendido essa difícil tarefa.” Assim,

aprende-se a Cultura Profissional, como também aprendemos a ser professores na relação, no

diálogo e, melhor ainda, quando tudo isso acontece no chão da escola.

114

O tacto pedagógico - nele se insere a “capacidade de relação de comunicação sem a

qual não se cumpre o ato de educar”, bem como a “serenidade de quem é capaz de se dar ao

respeito, conquistando os alunos para o trabalho escolar”. Acrescenta ainda que: “Saber

conduzir alguém para a outra margem - o conhecimento - não está ao alcance de todos”, e

afirma que “no ensino, as dimensões profissionais cruzam sempre, inevitavelmente, com as

dimensões pessoais” (p.30-31).

Certamente que esta disposição consegue congregar o que defendemos acerca do

“saber ser docente”, ou seja, da confluência entre as “duas faces de um mesmo ser”,

metaforicamente falando, pois, “ser profissional/professor” implica ter construído uma

profissionalidade na qual existe uma identidade docente implícita na dimensão da

pessoalidade docente, que conflui para a ação de uma pessoa que não consegue separar o

eu/pessoa do eu/professor.

Nesta disposição se encontra bem delineada a importância do que os estudiosos

sobre a profissionalidade defendem. Conforme o autor afirma, “saber conduzir alguém para a

outra margem [...] não está ao alcance de todos”. Tal travessia exige do professor “knowledge

base, uma base de conhecimentos teoricamente fundamentados” Shulman (1998), Cunha

(2007), que lhe possibilite criar alternativas para conduzir essa travessia com maestria,

criando possibilidades, em parceria com o estudante. Exigirá também do estudante interesse,

dedicação e tempo. O caminho será definido através da orientação de alguém experiente, mas

que necessitaria, além de saber conduzir/mediar essa relação, possuir uma grande capacidade

de escuta, de pacientemente respeitar o “tempo” do estudante, de ter a habilidade e

competência de comunicar-se de maneira que o diálogo aconteça entre ambos. Reconhecemos

que apropriar-se desse saber é ter definido uma identidade com o ser professor e estar

sintonizado com a profissionalidade docente.

O trabalho em equipe - nesta disposição, Nóvoa explica que “os novos modelos de

profissionalidade docente implicam um reforço das dimensões coletivas e colaborativas, do

trabalho em equipe, da intervenção conjunta nos projetos educativos da escola.” Afirma ainda

que “o exercício profissional organiza-se, cada vez mais, em torno de comunidades de

prática”, localizadas “no interior de cada escola, no contexto de movimentos pedagógicos

que nos ligam a dinâmicas que vão para além das fronteiras organizacionais” (p.31).

Nesta disposição Nóvoa alerta que em nosso contexto escolar a complexidade com

que se reveste a docência conclama um aprofundamento das equipes pedagógicas. Evidencia a

necessidade de um tecido profissional enriquecido, constituído de um conjunto de modos

coletivos de produção e regulação do trabalho o qual se integre à cultura docente. Salienta

115

ainda a importância de realizarmos um trabalho colaborativo na perspectiva de que a

formação de professores “tome a escola como lugar de formação” e espaço de análises

compartilhadas de práticas vivenciadas, enquanto procedimento sistemático de

acompanhamento, de supervisão e de reflexão sobre o trabalho docente. Seu objetivo é

“transformar a experiência coletiva em conhecimento profissional e ligar a formação de

professores ao desenvolvimento de projetos educativos na escola”.

Desse modo, caminharíamos para que na formação docente fosse desenvolvido um

sentimento de pertença, de identidade profissional, que é vital para que os professores, então,

apropriados dos processos de mudança, transforme-os em práticas concretas de intervenção.

No contexto Educacional Brasileiro, trabalhar em equipe não é uma das tarefas mais

fáceis para os professores, posto que, em nossa formação, não vivenciamos o princípio de

socializar, de buscar parcerias numa perspectiva colaborativa. Tal iniciativa era lugar comum

entre as estudantes do Curso Normal Médio, antigo Magistério, que aprendiam a planejar suas

aulas e atividades em conjunto, e, de acordo com as séries/anos em que trabalhavam, numa

perspectiva de colaboração, a metodologia de “estudos de caso” ajudava-as, ao analisar

situações ocorridas no dia-a-dia da sala de aula, no exercício de suas práticas. Entretanto, para

os estudantes de licenciatura e para os professores universitários, essa experiência não se fez

muito comum, haja vista quando da pesquisa realizada durante o mestrado observamos que o

planejamento de um mesmo componente era realizado solitariamente, embora tivesse por base

uma ementa comum do departamento, porém cada professor dava o seu tom.

No início deste século, Philippe Perrenoud (2000), em seu livro “10 Novas

Competências para Ensinar”, já nos alertava sobre a importância de se incluir à prática

docente essas competências. A de trabalhar em equipe seria a quinta. Insistia o autor já

naquele momento que “a evolução da escola caminhava para a cooperação profissional”, e

elenca nesse livro “múltiplas razões para se inscrever a cooperação nas rotinas do ofício do

professor” (p.79).

Compromisso Social – “convergem no sentido, dos princípios, dos valores, da

inclusão social, da diversidade cultural”. Considera que “educar é conseguir que os estudantes

ultrapassem as fronteiras que, tantas vezes, lhes foram traçadas como destino, pelo

nascimento, e pela família ou pela sociedade”. A realidade da escola hoje nos obriga a ir além

da escola. Desse modo, afirma: “Comunicar com o público, intervir no espaço público da

educação, faz parte do ethos profissional docente” (p.31).

O comprometimento com o social está implícito na profissão docente. Ser docente ou

exercer a docência está implícito crer na plena realização das possibilidades humanas. Röhr

116

(2006) considera que a educação tem como papel principal contribuir para a humanização do

homem, e através dela o professor se caracteriza por sua intenção em educar. Ao tomar a

educação como um processo intencional, considera ser função do professor desenvolver no

ser humano o que ele tem de mais humano. Desse modo, a tarefa educacional não se esgota no

plano intelectual, mas abrange ações, convicções, posturas, saberes.

A comunidade estudantil que hoje frequenta as universidades brasileiras, em sua

grande maioria, burlou o destino que sua condição social lhe ditava ao adentrar no Ensino

Superior. A realidade das salas de aula hoje nos condiciona a conviver com situações

inesperadas e diferentes daquelas a que estávamos acostumados. Isso exige de nós professores

novas atitudes, novas habilidades. Os valores e princípios com os quais a pessoa do professor

estruturou sua personalidade interferem diretamente nas ações que o profissional realiza no

seu trabalho docente. É nesse sentido que não se pode separar o profissional da pessoa do

professor, posto que a formação dos estudantes que ficam sob a sua responsabilidade

precisam, sim, ultrapassar as fronteiras que lhes foram traçadas e construir suas próprias

fronteiras, e isto não é fácil. Nesse sentido, Rios (2001) nos orienta sobre a necessidade de o

professor adquirir a compreensão e o entendimento a respeito do que é ensinar no mundo

contemporâneo, e isto significa refletir sobre as condições históricas e atuais de nosso mundo.

Mas, afinal, quem é o Professor-Referência? Será que podemos dizer que é ou foi

alguém importante para nós em algum momento ou aspecto da construção do nosso “vir a ser

professor”? Alguém que fez com que vislumbrássemos algo que ainda não tínhamos

percebido daquela forma, mesmo estando diante de nós? Ou, ainda, alguém que nos fez

perceber o verdadeiro significado de ser e estar professor?

Estas questões nos permitem conjeturar não só sobre os conhecimentos construídos ao

longo da nossa vida pessoal e profissional, mas também para além destes, na perspectiva de

como os construímos e quem nos possibilitou tal construção.

Podemos ainda refletir sobre a complexidade da profissão docente e quão difícil é

saber como se aprende a ensinar e como se ensina a aprender a ensinar.

Na verdade, a questão de Aprender a Ensinar tem relação direta com a construção do

conhecimento profissional docente, da identidade profissional e dos saberes que o docente

possui.

No contexto da universidade, cada vez mais nos deparamos com discussões dos

estudantes, não só da graduação, mas também da pós-graduação, acerca de quem vai lecionar

tal ou qual disciplina este semestre. Percebemos nesses comentários indícios de uma

curiosidade que supomos salutar, pois tal preocupação parece demonstrar uma atitude de

117

escolha de acordo com o que o estudante espera daquele componente curricular, no corpo de

conhecimentos a serem constituídos durante o seu curso.

Entretanto, nos cursos de licenciatura se insinua entre os discentes a ideia de apreender

como se Aprende a Ensinar por aqueles estudantes que, de fato, querem seguir a carreira

docente. Daí a escolha em se inscrever nas turmas de tal ou qual professor. Quais os critérios

que os auxiliam a fazer essa escolha?

Enquanto formadoras de professores, refletimos sobre a complexidade que tal escolha

se constitui e o quanto essa atitude discente diz dos docentes. Além disso, alerta-nos a definir

qual nosso entendimento sobre Ensinar e Aprender, qual a concepção de Educação que

defendemos, como e quanto nós conseguimos envolver os estudantes no processo de

comprometer-se cada vez mais em aprofundar seus estudos, refletir sobre os saberes que

possui, e de que maneira podemos ajudá-los a ressignificá-los e/ou torná-los conhecimentos

profissionais.

Sabemos que o comprometimento com a ação formativa do estudante perpassa pela

ação didático-pedagógica, que o professor formador é capaz de realizar. Essa é uma relação

de mão dupla, na qual professor e estudante, ambos mediados por aquela ação, se engajam na

complexidade do ato de ensinar e de aprender, pois, de acordo com Freire (1997, p. 26):

[…] quando vivenciamos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-

aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política,

ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza

deve achar-se de mãos dadas com a seriedade.

Pensamos ser o ato de aprender talvez a tarefa específica e mais difícil de ser realizada

pelo docente. A complexidade do Aprender a Ensinar tornou-se o desafio dos pesquisadores

que se dedicam a esse objeto. Contudo, mesmo após tantas pesquisas, não temos definido

ainda como se Aprende a Aprender! Não existe uma única forma, um único modelo, uma

mesma metodologia para fazer com que todos aprendam. Mas, percebemos que a observação,

o convívio, o diálogo, a troca, as relações entre espaços formativos e profissionais, a reflexão

sobre a própria ação e sobre a ação de outrem, a investigação na sala de aula se constituem em

momentos de efetiva aprendizagem.

Por isso, ninguém pode ensinar se não sabe. Mas o processo de conhecer e ensinar são

tão peculiares que, ao ensinar se aprende, e ao educar se desenvolve e se transforma o

conhecimento, portanto, é nesse contexto que cada pessoa possui uma maneira de aprender,

um jeito, uma forma especificamente sua de partilhar, conviver e de ressignificar as

experiências, ou seja, um jeito particular de construir saberes. E é nesse processo contínuo que

118

encontramos o Professor Referência citado pelos futuros professores que por eles passaram,

deixando marcas indeléveis que se tornaram significativas e inesquecíveis no seu processo de

tornar-se professor.

Entendemos o conceito de ensinar como “o ato de fazer aprender alguma coisa a

alguém” (ROLDÃO 2005, p. 108), e que “aprender precedeu ensinar”, ou melhor, dizendo,

“ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender”. Prosseguindo nesse

caminhar, vimos com Freire que “inexiste validade no ensino de que não resulta um

aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado”

(FREIRE 1997, p.26). Com Tardif (2002 p. 20-21), nessa mesma linha de raciocínio, vimos

que “ensinar supõe aprender a ensinar, ou seja, aprender a dominar progressivamente os

saberes necessários à realização do trabalho docente”, o que implica “mobilizar uma ampla

variedade de saberes, reutilizando-os no trabalho para adaptá-los e transformá-los pelo e para

o trabalho”.

Assim, podemos observar que, conforme as compreensões sobre conceitos de aprender

e ensinar, cada vez mais se identifica a necessidade de os professores universitários

dominarem um corpo de conhecimentos profissionais sobre saberem ensinar e saberem como

ensinar a ensinar.

Mas o que faz os estudantes elegerem este e não aquele Professor-Referência?

5. 3 O QUE DIZEM AS PESQUISAS SOBRE PROFESSOR-REFERÊNCIA.

Procuramos inicialmente na literatura acadêmica, no Programa de Pós-graduação da

PPGE - UFPE, no Banco de dados da Capes o que discutiam sobre Professor-Referência. As

primeiras tentativas foram preocupantes, pois não obtivemos respostas positivas para essa

terminologia, pois o termo mais encontrado é o Bom Professor, talvez devido a produções

anteriormente realizadas: “A Prática Pedagógica do Bom Professor: influências na sua

educação,” tese de doutoramento de Isabel Cunha (1989) e “Pedagogia da Autonomia”, de

Paulo Freire (1997).

Iniciamos a investigação no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de

Pernambuco, e ao ser consultado o site de um total de 429 teses e dissertações no período de

(2002-2012), não havia nenhuma produção nesse sentido.

119

Nossa segunda tentativa aconteceu no Banco de dados da Capes, ao realizarmos uma

busca no período entre 2008 a 2012 através dos resumos e das palavras-chave, e encontramos

apenas quatro pesquisas que discutiam a temática.

O primeiro trabalho, Mendes e Teixeira (2011), Representações Sociais do “Bom

Professor” de Português, parte da premissa de que há uma relação estreita entre qualidade

docente e resultados escolares, realizando então uma investigação sobre como poderá ser

“bom professor de Português”, que contribua para a construção de um quadro

epistemológico de referência. Apesar de tratar da temática, é um estudo bem específico, sem

relação direta com o propósito desta pesquisa.

O segundo, Ventura et all (2011), O “bom professor”: opinião dos estudantes,

desenvolveu um estudo, tendo como objetivo identificar a opinião dos estudantes acerca das

características de um ‘Bom Professor’. Como resultado do estudo emerge o domínio dos

conteúdos da disciplina que leciona a capacidade de cativar e motivar, de desenvolver uma

boa relação com os estudantes, ser disponível e acessível, compreensivo e tolerante, de

relacionar a teoria com a prática, sendo exigente, assíduo e pontual. Nessa pesquisa, há uma

relação com a pesquisa em construção, pois apresenta um dos aspectos evidenciados, que é a

característica do Professor-Referência.

A pesquisa seguinte, Albuquerque (2010), Processo ensino aprendizagem:

características do “professor eficaz.”, objetivou conhecer a percepção dos dois principais

intervenientes do processo ensino-aprendizagem acerca do significado de “bom professor”,

consubstanciado, na prática, pelas características do professor eficaz, recorrendo à opinião de

professores e estudantes de diferentes níveis de ensino. Percebe-se a evidência de opiniões

que se aproximam e se distanciam sobre o professor eficaz, e uma análise sobre o conjunto

dos indicadores presentes na opinião dos estudantes, que relacionam cada dimensão integrada

ao professor eficaz, permite identificar nessa associação a importância do “conviver”, do

“conhecer” e “do saber comunicar” como “os três pilares” em que assenta a qualidade do

ensino/educação.

Desse modo, esta pesquisa coincide no que se refere aos parceiros (professores e

estudantes), mesmo que, no nosso caso, os parceiros se encontrem numa mesma instituição, o

que parece caminhar no sentido que defendemos sobre a influência do Professor Referência

em um dado contexto e em uma dada realidade, contudo não acrescenta muito ao nosso objeto

estudado, posto que buscamos a influência desses professores na formação, na constituição da

identidade profissional e profissionalidade docente.

120

A pesquisa de Miranda (2012) trata Os saberes dos “professores-referência” no

ensino de contabilidade, cujo objetivo é avaliar os saberes predominantes do professor em

tela, encontrando, a partir dos depoimentos dos professores, a didática ou metodologia de

ensino; atitudes e qualidades pessoais; as razões de tal escolha. Entretanto, os três saberes

docentes que subsidiaram essas escolhas evidenciaram-se nesta ordem: conhecimento

didático, domínio do conteúdo e saberes experienciais. Esse texto foi o único que faz menção

ao termo Professor-Referência.

Até então, as pesquisas encontradas falam sobre o professor, enquanto aquele que

parece ser reconhecido pelos estudantes e pela sociedade a partir de suas características, quer

sejam pessoais e/ou profissionais.

Nosso interesse vai um pouco mais além, pois não se resume apenas a identificar e/ou

avaliar os saberes predominantes do professor, mas sim, identificar sua influência na

formação e constituição da identidade profissional e profissionalidade docente, conforme

temos evidenciado anteriormente, perpassando, portanto, as questões dos saberes, mas

também dos fazeres, da interação, da própria formação do docente em tela, da relação com os

estudantes, enfim, a partir do olhar dos estudantes, coordenadores e dos próprios professores,

o que é ou qual é o diferencial que dá essa Referência a este e não àquele professor.

A pesquisa de Sônia Aparecida Siquelli (2009), Avaliação – educação – ética: o

“bom professor” do ensino superior, teve como objetivo explorar a forma como os alunos e

professores se expressam quando têm a oportunidade de descrever a maneira como percebem

as relações que se estabelecem em sala de aula. Para a autora, descobrir e avaliar de que

maneira alunos e professores percebem os elementos constitutivos de sala de aula é um passo

importante para que se procure adequar as expectativas criadas pelos sujeitos da pesquisa,

alunos/professores, diante da proposta de ensino.

Os aspectos avaliados foram produzidos pelo grupo de professores e alunos, quando

estimulados a utilizar como instrumento de reflexão a palavra e a escrita, para encontrar

formas de mudanças nas relações que se estabelecem em sala de aula.

O trabalho foi estruturado em dois momentos: o primeiro buscou perceber e avaliar o

educador enquanto sujeito com especificidades próprias, e o educando, enquanto sujeito do

processo educativo nas relações do alter e nostridade, que são estabelecidas em sala de aula. O

segundo momento se constituiu em refletir e avaliar sobre o diálogo, que considera um dos

meios de se promover nas relações humanas o caminho para a formação ética. O diálogo, a

partir das respostas dos sujeitos da pesquisa, seria o instrumento para se forjar o sujeito ético e

histórico.

121

O resultado da sua pesquisa desvela que para os alunos do ensino superior ainda

prevalece o paradigma de o bom professor ser o conteudista, com algumas influências na

mudança histórica em almejar pela existência do diálogo nessa relação. Salienta nas suas

conclusões que, na primeira metade do século XXI, em tempos de currículo baseado nas

competências, políticas educacionais que garantem a formação do trabalhador e não mais a do

cidadão, de diretrizes curriculares que priorizam o fazer e não o conhecer, está posta a

contradição entre prática de formação, aos olhos dos alunos, e a prática instituída pela

organização escolar brasileira.

A autora considera que essa contradição busca outra forma de analisar a formação, de

avaliar o bom professor, de avaliar o papel do ensino superior no Brasil atual. Finaliza suas

considerações com a seguinte questão: O Bom Professor é aquele que obedece ao projeto de

cidadão trabalhador proposto pelas políticas de formação de professores, amparados pela

LDB 9394/96? Ou aquele que, mesmo nessa forma histórica, consegue extrapolar e criar um

novo projeto de formação?

Siquelli (2009) aponta elementos importantes para esta pesquisa, posto que apresenta

uma contradição entre a prática de formação, aos olhos dos alunos, e a prática instituída pela

organização escolar brasileira, bem como suas questões finalizadoras, que nos incitam a

querer entender esse Professor-Referência.

Realizamos também uma busca em revistas e periódicos da área e encontramos na

Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos - RBEP um trabalho de Volpato (2009), Marcas

de profissionais liberais que se tornaram professores-referência, que apresentou

resultados de sua pesquisa de doutorado, o que foi significativo para nossa pesquisa, posto

que nos possibilitou o acesso à sua tese, “Profissionais Liberais e/ou Professores?

Compreendendo Caminhos, Representações e Avaliação da Docência na Educação

Superior”, defendida em (2007) na qual desenvolveu estudos sobre a docência universitária

em três universidades, com os cursos de Engenharia, Direito Civil e Medicina, que

tradicionalmente formam profissionais liberais. Partiu do pressuposto de que alguns

profissionais, apesar de não terem formação específica para a docência, após alguns anos de

experiência acadêmica tornam-se referência para seus alunos. Sua trajetória investigativa foi

norteada pelos seguintes objetivos: compreender os resultados e as práticas pedagógicas bem

avaliadas pelos alunos realizadas por profissionais liberais, docentes universitários; identificar

os possíveis intervenientes e impactos que ocorreram nesse processo, decorrentes da história

pessoal dos docentes, dos sistemas de avaliação institucional, dos valores próprios do campo

profissional e do contexto social mais amplo da sociedade. Os resultados desvelaram que os

122

estudantes têm como referência na docência os professores que atuam principalmente em

disciplinas de final de curso, com forte inserção na prática profissional, valorizaram o

domínio de conhecimento, metodologias, atitudes e posturas pessoais dos professores, bem

como a docência que correspondia à satisfação de seus interesses imediatos. Mostraram ainda

que os saberes e habilidades revelados na profissão de origem definem o esteio das práticas de

ensinar e aprender que vivenciaram com seus alunos. Os professores baseiam-se nos

exemplos culturais de ex-professores e nas suas próprias experiências do campo profissional

para construir seus referenciais para a docência. Eles percebem que as avaliações externas

contribuem para o crescimento e melhoria da universidade, porém valorizam mais as que

levam em conta o cotidiano da sala de aula. O campo profissional e os órgãos de classe

também influenciam na forma de atuação na docência.

Apesar dos seus estudos não serem realizados em cursos de licenciaturas, trata do

Professor-Referência, nosso objeto de estudo. Os achados da pesquisa parecem convergir

para a ideia do que pensamos sobre quem é esse Professor-Referência. Ademais,

consideramos dados do levantamento realizado pelo autor sobre o Professor Referência para

subsidiar o nosso estudo.

A pesquisa de Urtiaga (2004), A Mediação da Cultura Docente na Formação

Médica, estudou professores que eram homenageados pelos estudantes na Universidade

Federal de Pelotas (UFPEL), observando a constância dos nomes escolhidos nas turmas de

formandos dos últimos dez anos, e tomou esses docentes como interlocutores, na perspectiva

de que eles representem expressões culturais e valores admirados pelos estudantes. Concluiu

que os saberes da prática docente são oriundos de experiências passadas e os professores-

médicos tendem a reproduzir as práticas vivenciadas na sua história enquanto estudante.

Evidenciou que, em meio às contradições, há um saber constantemente valorizado no

professor, que se traduz como um conhecimento integrador. “O aluno admira e contempla o

professor que une, agrega, compila, estabelece elos e pontes entre o conhecimento e

experiência” (Urtiaga, 2004, p.166).

Apesar de essa pesquisa estudar professores homenageados, consideramos importantes

seus achados, posto que reafirmam que os professores tendem a reproduzir práticas

vivenciadas quando estudantes. Outro achado em destaque é o conhecimento integrador, que

hoje está se tornando necessário à prática docente. Nesse sentido, pensamos ser interessante

neste estudo.

Abud (2001), em seu trabalho, Professores do Ensino Superior: características de

qualidade, citada por Volpato (2009), investigou 88 docentes de diversas áreas, apontados

123

como “bons professores”, cuja preocupação foi compreender as características de qualidade

na atuação docente. Em sua análise procurou desvelar os sentimentos, atitudes, ideias, valores

e conhecimentos acerca do agir pedagógico com “efeitos positivos”. Procurou ainda

apreender o modo como esses professores pensam sobre si mesmos, sobre os estudantes e

sobre suas relações pedagógicas. A autora compreende que a qualidade no ensino, de modo

geral, objetiva o sucesso na transmissão de conhecimentos no trabalho pedagógico

envolvendo pessoas. Constatou também que, além do conhecimento consistente e prática da

disciplina, os estudantes sublinham com a mesma importância, referentes éticos e morais,

atributos pessoais do docente, tais como dinamismo e entusiasmo, segurança e solidez, os

quais transparecem em seu fazer docente na sala de aula na universidade. Em relação às

expectativas que os professores pensam que os estudantes têm no que diz respeito ao seu

desempenho docente, eles indicam: um “tipo de professor ideal”, tendo como eixo o domínio

do conteúdo, mas sempre ancorado em qualidades pessoais.

Abud (2001), ao constatar que, além do conhecimento consistente e prática da

disciplina, os estudantes destacam com a mesma importância, referentes éticos e morais,

atributos pessoais do docente, contribui com esta pesquisa no sentido de que parece não ser

apenas o conhecimento do conteúdo necessário e suficiente para se exercer a docência por

uma representação dos 88 estudantes de diferentes áreas do conhecimento.

Os estudos de Ibiapina (2002), Docência na Universidade: conceitos internalizados

e competências construídas pelos professores, citados por Volpato (2009), demonstram que

a forma como o professor conduz o fazer educativo e a docência determina o tipo de

profissional que ele vai se tornando. As interações, as histórias pessoais, a formação

sociocultural, institucional, política, adquirida a partir das opções ou adesões ético-morais,

teórico-epistemológicas e, didático-pedagógicas feitas durante o exercício profissional, vão

definindo tipos diferenciados de práticas e visões do ofício de ensinar, assim como diferentes

formas de perceber e exercer o magistério superior.

A pesquisa de Ibiapina (2002) vem corroborar a discussão que estamos perseguindo,

na perspectiva do “vir a ser professor”, ou seja, essa relação com o trato pedagógico que vai

se delineando, se definindo a partir das interações que o professor realiza na sua ação docente,

com o conhecimento, com o estudante, consigo mesmo, com o social, que vai abrindo

possibilidades de constituir-se enquanto docente, de ressignificar e de se tornar Professor-

Referência.

De fato, cada vez mais amplia nossa intenção de buscar saber quem é e como é

percebido o Professor Referência na segunda década do século XXI.

124

O processo como foi pensado para desvelar nossa intenção é a temática do que será

apresentado no próximo capítulo.

FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ORIENTADORES

DA PESQUISA

___________________________________________________________________________

126

FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ORIENTADORES DA

PESQUISA

Este capítulo apresenta o percurso teórico-metodológico da pesquisa, caracteriza o

campo empírico, apresenta o critério de escolha dos sujeitos da pesquisa, e descreve os

procedimentos de coleta e análise de dados.

Consideramos a metodologia da pesquisa um dos componentes que “confere aos

estudos científicos rigorosidade e reconhecimento diante do estatuto da Ciência”, e

defendemos que, além de ser uma trajetória que orienta o desenvolvimento da pesquisa, a

metodologia é também uma construção, “uma elaboração, do pesquisador ou pesquisadora na

interação com o objeto investigado e suas fontes de dados” (SOUZA JÚNIOR et al, 2010 p.

32).

Nessa elaboração, o ir e vir no percurso dessa trajetória nos aponta direções, espaços,

recantos, mas nos dá certa segurança, pois, ao criar nossa própria trilha, vivenciamos

tropeços, recuos, desvios, avanços, facilidades e desafios, e tudo isso nos permite conhecer e

apreender os aspectos relevantes e as sutilezas que permeiam as trajetórias nas especificidades

que cada objeto em estudo exige do pesquisador. Essa aproximação através da rota ou direção

almejada em busca do objeto permite a maturidade necessária para desvelar aquilo que se

desconhecia e/ou se pretendia esclarecer.

Esta pesquisa situa-se em uma abordagem qualitativa, (MINAYO, 2010, p.19), uma

vez que responde melhor ao nosso objeto, por procurar penetrar no universo dos significados

das ações e das relações humanas sobre os processos sociais e “se dedica a entender as

transformações dos sujeitos da ação”.

Desse modo, optar por uma linha de pesquisa qualitativa implica compreender,

comprometer-se e conscientizar-se de que ela não se prende a parâmetros fixos, similares à

legislação, ou ações formalmente pré-fixadas, mas, por ser um meio fluido, vibrante e vivo,

exige dos pesquisadores que defendam sua visão de mundo, que advoguem por suas

referências, que se responsabilizem por seus “resultados” e que participem da construção.

Nesse sentido, a ousadia será então um dos principais instrumentos de quem pesquisa, uma

vez que exige criação, construção, ou elaboração de uma estrutura que respalde sua trajetória

em busca do objeto a ser conhecido.

127

Assim, o caminho teórico-metodológico foi sendo percorrido à medida que a

curiosidade epistemológica solicitava meios para atender as inquietações que nortearam nosso

estudo sobre o professor referência no contexto da universidade.

Conforme afirmam Ludke e André (1986), as metodologias qualitativas presentes nas

pesquisas educacionais têm como foco principal o significado que as pessoas atribuem às

coisas e à sua vida.

Também nessa significação que atribuímos às coisas em nossas vidas, perpassa a

escolha do tema que ora pesquisamos: DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE: influências

atribuídas a “Professores Referência” a partir da formação, identidade profissional e

profissionalidade docente.

Defendemos a tese de que a influência que “Professores Referência” exercem sobre

os futuros professores é definidora na construção da identidade profissional e

profissionalidade docente.

Propomos como objeto de estudo o Professor Referência no contexto universitário.

6.1 O CAMPO EMPÍRICO: Lócus de Formação

Compreendemos a partir da concepção de Minayo (2010) o campo empírico como um

recorte que o pesquisador faz em termos de espaço-tempo, representando uma realidade

empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto

investigado.

Nesse sentido, “o campo torna-se um palco de manifestações de intersubjetividades e

interações entre o pesquisador e o grupo estudado propiciando a criação de novos

conhecimentos (MINAYO, 2010, p.54)”.

Assim, definimos como campo empírico da pesquisa o Campus Universitário da

UFPE, por ser nosso espaço de inquietações e continuidade dos estudos iniciados no mestrado

e por ser a única, dentre as instituições federais do Norte e Nordeste, que se destaca entre as

10 melhores universidades do país.

6.1.1 A UFPE: Um Pouco da sua História

A Universidade do Recife (UR) iniciou suas atividades em 1946, criada através do

Decreto-Lei da Presidência da República nº 9.388, de 20 de junho de 1946. A UR reunia a

128

Faculdade de Direito do Recife, a Escola de Engenharia de Pernambuco, a Faculdade de

Medicina do Recife e as escolas anexas de Odontologia e Farmácia, a Escola de Belas Artes

de Pernambuco e a Faculdade de Filosofia do Recife.

Após 19 anos, a Universidade do Recife foi integrada ao grupo de Instituições

Federais do novo sistema de educação do País, quando passa a ser denominada UFPE-

Universidade Federal de Pernambuco, autarquia vinculada ao Ministério da Educação.

Atualmente a UFPE reúne mais de 40 mil pessoas, entre professores, servidores

técnico-administrativos e alunos de graduação e pós-graduação, distribuídos nos três campi:

Recife, Caruaru e Vitória de Santo Antão.

Existem ao todo 96 cursos de graduação presenciais, distribuídos em 12 centros, e

mais três cursos de graduação à distância. Com relação à pós-graduação, são oferecidos 116

cursos, com 65 Mestrados Acadêmicos, seis Mestrados Profissionais e 45 Doutorados, além

de 64 cursos de pós-graduação lato sensu - especializações.

6.1.2 DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO/ATUAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa teve como espaço de abrangência cinco centros: Centro de Educação (CE),

no qual selecionamos o Curso de Pedagogia; Centro de Ciências Exatas e da Natureza

(CCEN), onde elegemos o curso de licenciatura em Matemática; Centro de Ciências da Saúde

(CCS), cujo curso escolhido foi o de licenciatura em Educação Física; Centro de Filosofia e

Ciências Humanas (CFCH), no qual optamos pelo curso de Licenciatura em História; O

Centro de Artes e Comunicações (CAC), cujo curso escolhido foi o de Licenciatura em

Letras. Desse modo, tentamos com essa distribuição ter uma representatividade das quatro

áreas que compõem as licenciaturas na UFPE.

6.1.3 CRITÉRIOS DE ESCOLHA DOS CENTROS

A escolha dos Centros aconteceu a partir da escolha dos cursos. Nossa ideia seria

abranger uma representatividade das quatro áreas de conhecimento: Ciências Humanas

(Pedagogia) CE; e (História) CFCH; Linguagens e Comunicação (Letras) CAC; Saúde

(Educação Física) CCS; e Matemática e suas Tecnologias (Matemática) CCEN.

129

6.1.4. OS CURSOS DE LICENCIATURA E SEUS CRITÉRIOS DE ESCOLHA

A seguir passaremos a comentar cada um dos Cursos (espaços de formação) que

serviram de suporte para o desenvolvimento da pesquisa e os critérios da sua escolha.

6.1.4.1 O Curso de Licenciatura em Pedagogia

O Curso de Pedagogia teve início com o decreto-lei 28092/1950, com o objetivo de

formar profissionais para atuar em processos escolares e não escolares de formação humana,

habilitando o profissional para atuar na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino

Normal Médio, Gestão e Coordenação Pedagógica na Educação Básica, além de atuarem nas

áreas emergentes do campo educacional (formação permanente, educação a distância,

educação nos movimentos sociais). Desde meados de 1980, o curso de Pedagogia da UFPE

tem a docência como base para formação e identidade do pedagogo, defendendo o princípio

da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Desse modo, a escolha desse curso aconteceu por ser ele o único curso de licenciatura

que prepara professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, além

de ter a docência enquanto identidade do profissional da educação que atua no âmbito do

ensino e da gestão escolar.

Nesse contexto, não poderíamos deixar de mencionar a Associação Nacional pela

Formação dos Profissionais da Educação - ANFOPE, no que se refere à importância de suas

contribuições, sobretudo à forma propositiva com que se posiciona frente aos desafios

historicamente colocados no campo das políticas educacionais, principalmente de formação e

de valorização dos profissionais da educação, em todos os níveis de ensino, e por

compreender a docência como eixo central do curso de formação de professores e o trabalho

docente, como base da formação do profissional da educação.

6.1.4.2 O Curso de Licenciatura em História

Os cursos de Licenciatura e Bacharelado em História foram unificados em um único

perfil no ano de 2009. Esse perfil curricular unificado foi ofertado até o segundo semestre de

2011. Com a aprovação dos novos perfis curriculares, foram criados os novos cursos de

História (Bacharelado e Licenciatura), que passaram a ser ofertados a partir de 2012.

130

O licenciado em História deverá ser capaz de dominar as teorias, abordagens, técnicas,

metodologias e conteúdos da História, além de aplicá-los no processo de ensino-

aprendizagem na área da educação escolar.

O Curso de História foi selecionado por estarmos curiosas com o formato de ensino da

História, ou seja, o que é feito de inovação para trabalhar com História na Educação Básica,

hoje, uma vez que o curso exige dos futuros professores a compreensão do processo histórico

em sua multiplicidade de dimensões, a análise crítica dos acontecimentos passados e presentes

e as condições atuais (sociais, econômica, culturais, etc.) que lhe deram origem. Se pensarmos

a sociedade hoje, há muito campo para se fazer e compreender a História com seus atores e

autores.

6.1.4.3 O Curso de Licenciatura em Matemática

Os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Matemática foram criados em 1950, a

partir do decreto lei 28092/50.

O Curso de licenciatura em Matemática tem como meta principal a formação de

profissionais de educação com formação matemática e pedagógica, para atuação na Educação

Básica (ensino fundamental e médio).

A escolha do Curso de Matemática deveu-se à ideia que se tem da formação do

professor de matemática e da escuta dos estudantes no que se refere aos conteúdos que

estudam na universidade, que alegam não serem aqueles que vão ensinar na Educação Básica

e, muito menos, a forma como aprenderam, uma vez que são outros conteúdos e

consequentemente outra forma de ensinar. Esse fato lhes causava receio e insegurança ao

iniciar a docência. Outro aspecto considerado diz respeito ao fato de o curso pertencer à área

que apresenta um dos maiores índices de reprovação e/ou dificuldades de aprendizagem, seja

no ensino fundamental, médio e/ou nos cursos de licenciatura, além de se ter considerado

também o índice de avaliação apresentado no Ensino Médio, etapa final da Educação Básica.

6.1.4.4 O Curso de Licenciatura em Educação Física

O Curso de Educação Física e Técnico em Desportos teve início em 1972 com o

objetivo de formar profissionais que compreendam as relações existentes entre os

131

conhecimentos biológicos, filosóficos, científicos, pedagógicos, técnico-funcionais e da

cultura de movimento nos diversos contextos de atuação do profissional de Educação Física.

Busca-se, assim, uma formação geral sólida, ampliada em relação aos conhecimentos

da Educação Física e áreas afins e uma formação específica, sendo observada a intervenção

profissional qualificada nesses contextos.

Selecionamos o Curso de Educação Física principalmente por observarmos um

crescimento em relação ao interesse dos estudantes durante as aulas de Didática (quando

lecionamos), por questões que dizem respeito aos processos de “ensinar a ensinar”, de

“aprender a ensinar”, de “aprender como avaliar” e aprender a se relacionar com os seus

alunos na educação básica. Outro aspecto também percebido que nos aguçou a curiosidade foi

o fato de os estudantes demonstrarem o interesse de se ver mais como professores na

Educação Básica, do que apenas como aqueles que vão cansar as crianças (“treinar” e

“brincar”), para que cheguem à sala de aula mais calma sem terem por seus pares o

reconhecimento devido do seu papel também de professor.

6.1.4.5 O Curso de Letras - Bacharelado / Licenciatura

O curso de Letras da UFPE teve início em 1975 e oferece Licenciaturas em Língua

Portuguesa, Língua Portuguesa e Francesa, Língua Portuguesa e Espanhola, e Bacharelados

em Língua Portuguesa (Pesquisador), Língua Portuguesa (Crítico Literário), Língua Francesa

(Tradutor), Língua Inglesa (Tradutor).

O profissional formado nesse curso deverá ter um domínio da língua materna e da

língua estrangeira escolhida, assim como uma competência linguística e textual que lhe

permita um domínio de leitura dos mais variados tipos de texto. Deve, ainda, ter uma visão

interdisciplinar na área das Ciências Humanas e Sociais que lhe possibilite um melhor

desempenho como professor, pesquisador e tradutor. Outro traço importante que deverá

caracterizar o profissional de Letras é a sensibilidade para o texto literário e para as artes em

geral. Sua área de atuação destina-se prioritariamente ao magistério da Educação Básica e ao

ensino universitário, bem como à tradução e à revisão de textos.

O Curso de Letras foi selecionado por ser aquele onde se começa o processo de

compreender o mundo através de textos, a desenvolver as capacidades de perguntar, dizer,

interpretar, analisar, inferir, explicar, questionar, argumentar e escrever. Além disso, é

também motivo de reflexão, por temos grandes problemas em nossas escolas públicas com

132

processos de aprendizagem da leitura e da escrita e por apresentar índices de avaliação

também abaixo do desejável, desde o ensino fundamental.

6.2 CARACTERIZAÇÃO E CRITÉRIOS DA SELEÇÃO DOS SUJEITOS DA

PESQUISA

Os sujeitos participantes da pesquisa são estudantes, coordenadores e professores. Os

critérios para definimos os estudantes como participantes da pesquisa foram os seguintes:

estarem regularmente matriculados e efetivamente cursando uma das licenciaturas a partir do

5º período e que voluntariamente quisessem responder ao questionário. Tais critérios foram

pensados pela necessidade de que cada estudante participante da pesquisa tivesse convivido

com um maior número de professores e assim pudessem indicar “aquele professor” que teve

ou tem relevância na sua formação.

Para uma melhor compreensão dos estudantes quando da referência no texto da sua

participação, resolvemos codificá-los obedecendo a seguinte nomenclatura: EX (E significa

Estudante e X, a letra inicial do curso de licenciatura a que este pertence).

No quadro abaixo indicamos a quantidade de estudantes distribuídos por curso de

licenciatura e período, além de sua codificação.

Quadro nº 2: Número de estudantes por curso e por Período

Curso

Nº de

Estudantes

Pedagogia

(EP)

Letras

(EL)

História

(EH)

Educação

Física (EEF)

Matemática

(EM)

Qu

anti

dad

e d

e al

uno

s po

r

per

íod

o

10º 10 - 2 3 2

9º 6 - - 5 2

8º 3 13 4 11 2

7º 6 05 10 7 3

6º - - 05 5 2

5º - - - 5 9

Total 25 18 21 36 20

Obs. Total – 120 estudantes

Os professores também sujeitos da pesquisa foram selecionados a partir de três

critérios: ser indicado pelos estudantes que responderam os questionários como Professor

133

Referência, estarem atualmente lecionando em um dos Cursos de formação de professores

(Licenciaturas diversas ou Pedagogia) e ser professor efetivo na UFPE.

Para entendermos a participação dos professores na pesquisa quando da referência no

texto da sua participação, resolvemos codificá-los, obedecendo a seguinte nomenclatura: PX

(P significa professor e X, a letra inicial do curso de licenciatura a que este pertence).

No quadro nº 3 apresentamos um resumo da formação desses professores e seu tempo

de magistério em diferentes modalidades, além de sua codificação.

Quadro nº 3: Professores-Referência e sua Formação

Código Atuação do

Professor

referência

Formação Tempo de Magistério

PP Pedagogia

Pedagogo - UFPE.

Mestre em Educação - UFPE.

Doutorado em Sociologia no Campo da

Sociologia do Imaginário e da cultura –

UFPE.

Educ Não Formal: 8 anos

Ens.Superior:10 anos

Ens.Superior:10anos (UFPE)

PL Letras

Licenciatura plena em Letras-UFPE.

Especialização em Linguística Aplicada ao

Ensino de Língua Portuguesa-UFPE.

Mestrado em Língua Portuguesa na PUC de

São Paulo.

Doutorado em Linguística na UNICAMP.

Educ. Básica: 08 anos.

Ens. Superior:10 anos

Ens. Superior: 22 anos (UFPE)

PH História

Direito - UFPE

Mestre em História Antiga.

Doutorado nos Estados Unidos.

Educ. Básica: 6 meses.

Ens. Superior: 2 anos

Ens. Superior: 24 anos (UFPE)

PEF Educação

física

Licenciatura em Educação Física – UFPA.

Especialização em PerformanceTreinamento

Humano

Mestrado em Performance - UNICAMP

Doutorado na área de Qualidade de Vida e

Atividade Física - UNICAMP

Educação Básica: 10anos.

Ensino Superior: 10anos

Ensino Superior: 1 ano (UFPE)

PM Matemática Licenciatura e Bacharelado em Matemática.

Mestrado em Ciências da Computação

Educ. Básica: 3 anos.

Ens. Superior: 34 anos (UFPE)

Salientamos que dentre os professores considerados referência foi escolhido um que

não cursou licenciatura e sua experiência maior de ensino antes do seu ingresso na UFPE

aconteceu nos EUA, tendo apenas 6 meses de experiência de ensino na rede privada.

Contudo, um aspecto que merece ser destacado é que todos os professores

independentemente do tempo dedicado, tiveram experiência na Educação Básica ou com

jovens em formação.

Enfatizamos também que durante a realização das entrevistas percebemos um traço

comum em todos esses professores – uma preocupação com a aprendizagem dos estudantes e

134

o cuidado em valorizá-los e respeitá-los, além de estabelecer um bom relacionamento pessoal

e profissional com eles.

Outro destaque que queremos salientar é que nos pareceu, a priori, que “o tempo de

permanência” desses professores na universidade não contou muito para a escolha do

“Professor Referência”, posto que tivemos um período variável entre um e trinta e quatro

anos de atuação na universidade entre os professores escolhidos.

De acordo com Behrens (2007), o quadro de professores das universidades é composto

por professores de diferentes formações. No nosso quadro, dos cinco, um não tem a

habilitação do magistério e, segundo seus depoimentos, não realizou o curso de formação

continuada que o NUFOPE propõe. Esse fato reforça a indagação: O que fez com que esses

professores fossem considerados referência?

No que se referem aos coordenadores, esses foram selecionados a partir da escolha do

professor do seu Centro, mas salientamos que no curso de Letras o professor selecionado

pertencia ao quadro do CE e, assim, decidimos entrevistar o coordenador das licenciaturas

diversas, posto que o coordenador de CE responderia pelo curso de Pedagogia.

Para fazermos referência à participação dos coordenadores de cursos de licenciatura na

pesquisa quando da apresentação de extratos de suas falas no texto, resolvemos codificá-los

obedecendo à seguinte nomenclatura: CX (C significa coordenadores e X, a letra inicial do

curso de licenciatura a que este pertence).

No quadro nº 4 apresentamos um resumo da formação desses coordenadores e seu

tempo de magistério em diferentes modalidades, além de sua codificação.

Quadro nº 4: Coordenadores por Curso

Código Coordenação Formação Tempo de Magistério

CP Pedagogia

Lic em Matemática, UPE.

Mestre em Educação, UFPE.

Doutorado em Educação, UFPE.

Educ Básica: 17 anos

Ens.Superior:7 anos (UFPE)

CL Letras Doutorado em Filosofia, UFMG

Educ. Básica: 10 anos;

Ens. Superior: 18 anos

(UFPE)

CH História

Licenciatura em História, UFPE

Mestre em História, UFPE.

Doutorado em História Social, UFRJ.

Ens. Superior: 5 anos

Ens. Superior: 9 anos

(UFPE)

CEF Educação física

Graduação Educação Física, UPE

Mestrado em Ciência Política, UFPE

Doutorado em Ciência do Desporto,

Universidade do Porto

Ensino Superior: 9 anos

Ensino Superior: 5 anos

(UFPE)

CM Matemática

Licenciatura em Matemática, UFPE

Mestrado em Matemática, UFPE.

Doutorado em Matemática, UFPE

Ens. Superior: 4 anos

(UFPE)

135

6.3. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Para apreendermos o objeto em estudo, o professor referência no contexto

universitário, utilizamos como procedimentos metodológicos o questionário e a entrevista

semiestruturada. O questionário teve a colaboração de 120 estudantes, das seguintes

licenciaturas; Pedagogia, História, Letras, Educação Física e Matemática. Os questionários

nos indicaram os professores considerados referência pelos estudantes dos cursos citados, que

foram em número de cinco, assim como os professores colaboradores e os coordenadores de

cada curso. No caso do curso de Letras, o professor indicado pertencia ao Centro de

Educação, e assim substituímos o coordenador do CAC pelo coordenador das Licenciaturas

Diversas, que se localiza no Centro de Educação.

Segundo Gil (1999) e Marconi e Lakatos (1999), o questionário possibilita ao

respondente o anonimato e com isso gera maior liberdade e segurança nas respostas, além de

não expor o participante à influência da pesquisadora, atingindo um maior número de pessoas

e permitindo que respondam no momento mais conveniente.

A entrevista semiestruturada permite inferir questionamentos que visam complementar

as informações que por vezes não respondem à questão, principalmente nos aspectos que

complementam as respostas para identificarmos os eixos que estruturam a pesquisa. Além

disso, possibilita-nos colher informações sobre a história de vida profissional e acadêmica do

professor, uma vez que compreendemos que essa influi consideravelmente na formação do

professor e na sua prática, conforme estudos de Cordeiro (2006).

No que se refere à entrevista semiestruturada, a própria Minayo (2010, p. 57) nos

explica que “entrevista é uma conversa a dois com propósitos bem definidos”, que permite ao

pesquisador abordar o tema livremente, conduzindo a entrevista numa relação informal, mas

com finalidade; e, no dizer de Triviños (1987), “a Entrevista Semiestruturada oferece ao

investigador todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a

espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação” (p.45). Portanto, tal procedimento

certamente favorecerá a condução da pesquisa.

A escolha de tais procedimentos deveu-se ao fato de querermos apreender o objeto em

estudo por diferentes formas.

136

6.3.1 A COLETA DOS DADOS

Consideramos a fase exploratória da pesquisa de importância vital para a apreensão do

objeto estudado, pois nos permite definir o referencial teórico que dará suporte para

respondermos as questões que permeiam esta pesquisa.

De posse dos questionários, ao chegarmos aos Centros procuramos entrar em contato

com o coordenador da licenciatura que estava sendo selecionada para o estudo, justificamos a

razão de tal escolha e naquele momento solicitávamos a permissão para aplicarmos os

questionários aos estudantes. Aproveitamos a oportunidade para que ele respondesse também

o questionário, uma vez que o coordenador de cada “Professor referência” seria também

sujeito desta pesquisa.

Tendo conseguido a permissão, tomamos a liberdade de verificar no quadro de horário

os períodos que determinamos, e então conversamos com a turma antes de o professor chegar,

quando marcamos horários livres, além de aproveitarmos a disponibilidade dos estudantes,

nos espaços extras, nas salas de aulas. A preocupação com o surgimento de uma greve de

professores pairava no ar, e nos deixava apreensivas.

A decisão de aplicarmos os questionários nos centros específicos a que cada curso

pertencia permitiu observar as singularidades que cada centro apresenta e como os estudantes

começam a se identificar com a sistemática particular do Centro ao qual pertence.

Após as apresentações e justificativas, nos Centros selecionados encontramos nossos

colaboradores nas salas, nos pátios, nas cantinas, nas quadras, nos grupos de conversas, e

assim fomos nos adaptando à realidade de cada Centro, e, descontraidamente, os questionários

foram sendo respondidos. Fomos várias vezes a cada Centro para complementarmos os

questionários. A diversidade da quantidade de participantes por curso decorre exatamente

dessa singularidade de cada centro, e vários questionários foram descartados devido ao fato de

não cumprirem os critérios estabelecidos anteriormente e do respeito aos colaboradores.

Aplicamos os questionários a 268 estudantes que se dispuseram a respondê-los.

Destes, validamos 120, em virtude de os demais não terem correspondido ao critério

previamente estabelecido, conforme citamos anteriormente.

Conseguimos aplicar os questionários e foi deflagrada a greve, que durou quatro

meses. Passamos então a analisar os questionários para identificarmos quais os professores

que foram indicados por curso para serem entrevistados, e destes, quais os que teriam

disponibilidade e aceitariam participar da pesquisa.

137

Salientamos ainda que os questionários nos dariam inicialmente a indicação dos

professores referência de cada curso, que seriam posteriormente analisados, bem como a

compreensão sobre o professor referência e os contributos destes na sua formação inicial

docente.

Passada a greve, iniciamos o contato com os professores referência para marcarmos

um possível horário para realizarmos as entrevistas. Após definidos os horários, passamos a

comparecer no dia e hora marcados. Chegávamos ao local marcado, com certa antecedência,

testávamos os gravadores, organizávamos o material e aguardávamos o professor chegar.

O ambiente da gravação aconteceu em sua maioria no gabinete dos próprios

professores na universidade, ou na sala de aula, após o término da mesma.

Iniciamos, então, a aplicação das entrevistas, que foram gravadas com permissão do

professor, e posteriormente transcritas na íntegra. A entrevista transcorreu de forma tranquila,

com o professor tendo espaço para se colocar livremente e a pesquisadora solicitar

complementos necessários à pesquisa.

6.4 PROCEDIMENTOS DE TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Segundo Alves Mazzotti (1998), a pesquisa qualitativa produz uma quantidade

significativa de dados que necessitam de organização e compreensão pelo pesquisador, que

reduz, organiza e interpreta os dados, cuja fase se inicia desde a exploração do campo e

continua em todo o processo da investigação.

Para tratarmos os dados, em que buscamos mapear e categorizar as temáticas,

ancoramo-nos na análise de conteúdo, que, segundo Bardin (1977, p.42), é:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção /recepção dessas

mensagens.

Para a autora, a análise de conteúdo acontece em três etapas: a pré-análise, o

tratamento dos dados e a interpretação.

Ao buscarmos apreender os dados da pesquisa, passamos por um processo de

preparação através da leitura flutuante, que teve como objetivo proporcionar um contato mais

íntimo com o material coletado, preparando-o para a análise.

138

À medida que fazíamos a leitura flutuante, orientadas pelo aporte teórico, elaboramos

quadros-resumos, construídos a partir dos dados que emergiram das entrevistas realizadas,

buscando elementos e temas para a orientação da análise, que, ao mesmo tempo, eram

complementados com as respostas dos questionários.

Nosso “laboratório” estava muito rico e necessitava de mais e mais leituras, cuidado e

concentração. Quanto mais líamos, mais surgiam dados que queríamos considerar, o que nos

fez voltar várias vezes ao objeto em questão para podermos ir além.

Partimos dessa leitura flutuante, tentando organizar as entrevistas realizadas através

das falas dos professores que permitissem desvelar o professor referência.

Em seguida, organizamos a sistematização das entrevistas em fichas que nos

permitiram ir construindo as categorias que definiriam a estrutura das nossas análises. Assim

estruturamos nossa análise a partir de quatro eixos seguintes:

1. Constituição de ser Professor no Contexto Universitário: o professor referência

– neste eixo buscamos compreender como se dá o processo de vir a ser professor.

Este aspecto torna-se relevante para a pesquisa, uma vez que, para

compreendermos quem é o professor referência, sentíamos a necessidade de

conhecer o processo de sua constituição, ou seja, como se tornou professor.

2. Influência na Constituição da Identidade Profissional Docente – como o próprio

tema indica, buscamos, através dos depoimentos das entrevistas e falas dos

estudantes nos questionários, compreender a influência que os professores

referência exercem na construção da identidade profissional docente.

3. Processo de Construção da Profissionalidade Docente – também procuramos

compreender a influência que os professores referência exercem na construção da

profissionalidade docente.

4. O Professor referência - é o nosso objeto de estudo, portanto, queremos entender

quem é esse professor, por que ele é considerado referência, o que ele fez de

diferente, quais as influências que ele exerce na formação e na constituição da

identidade e profissionalidade docente.

A figura abaixo procura apreender esse objeto, professor referência no contexto

universitário, representado a partir das diferentes óticas individuais (estudantes,

coordenadores e professores) e teóricas (saberes, profissionalidade docente, identidade

profissional docente e docência na universidade).

139

Figura nº 1: Diferentes óticas individuais e teóricas para a constituição do professor referência

Com o propósito de analisar as temáticas aqui anunciadas é que iniciamos o próximo

capítulo.

PROFESSOR

REFERÊNCIA

Docência

na Universidade

Identidade Profissional

Docente

Saberes

Coordenador de curso de licenciatura

Professor Universitário

Estudante Universitário

Profissionalidade

Docente

140

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

______________________________________________________________________

141

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O processo de “vir a ser professor”, o constituir-se, o identificar-se, o

profissionalizar-se, que implica uma relação entre quem forma e quem está a se formar,

induz nos a parafrasear Freire (1997), ao afirmarmos que a relação dialógica existente

entre formador e formando é tão intensa que, ao ensinar se aprende e ao aprender se

ensina. Esse é um dos grandes desafios da prática docente: compreender que a

transitividade que existe nesse processo torna o professor aprendiz e o aprendiz

professor, pois quando a apropriação do “saber” acontece a relação dialógica não acaba,

mas prossegue em outra dimensão.

É com essa compreensão que foi concebido nosso objeto de estudo “O

professor-referência, no contexto da universidade”. Esse objeto é identificado na

complexidade e dimensões da docência na universidade, e é nesse espaço/tempo que

estudantes, professores e coordenadores pedagógicos nos apontam o “professor-

referência” enquanto elemento significativo à sua formação, o qual, conforme

explicamos no capítulo anterior, não seria necessariamente “um bom professor” ou “um

professor ideal”, ou ainda “um professor eficaz”, mas aquele professor que fez a

diferença durante a trajetória formativa do futuro professor e do próprio professor

apontado como referência pelos estudantes nesta pesquisa.

Neste sentido, para apreendermos o objeto em estudo, aplicamos questionários

aos coordenadores e estudantes de diferentes licenciaturas, dos quais, a partir das

indicações nas respostas dos estudantes, realizamos a seleção dos professores-referência

que foram submetidos a entrevistas.

Neste capítulo iniciamos a sistematização da análise e interpretação dos dados da

pesquisa, fundamentadas na Análise de Conteúdo de Bardin (1977), que será realizada

de maneira predominantemente qualitativa, e nela focalizaremos os discursos dos

participantes acerca das suas contribuições sobre o objeto estudado.

Interessante destacar a singularidade desse momento, quando, ao procedermos a

análise temática, o objeto em estudo vai se desnudando, se evidenciando, se delineando,

se tornando mais nítido, pois estamos no limiar de apreendê-lo, e assim vamos

descortinando constatações, descobertas, reafirmações, contradições, revelações, que

giram em torno de responder à questão que direciona esta pesquisa: Que influência

Professores considerados “Referência” exercem na formação, na construção da

identidade profissional e profissionalidade docente dos futuros professores ?

142

Para tanto estruturamos o Capítulo em quatro eixos: Constituição de ser

Professor no Contexto Universitário: o Professor-referência; Influência na Constituição

da Identidade Profissional Docente; Processo de Construção da Profissionalidade

Docente; e O Professor-referência, apresentados a seguir.

7.1 CONSTITUIÇÃO DO SER PROFESSOR NO CONTEXTO

UNIVERSITÁRIO: O PROFESSOR-REFERÊNCIA

Educar incorpora as marcas de um ofício e de uma arte, apreendida no diálogo

de gerações, conforme afirma Arroyo (2011, p.18). Tal ofício remete a um fazer

qualificado, que se torna evidenciado no saber-fazer docente e seus traços mais

permanentes sobrevivem em todos nós. Educar é educar-se. Entretanto, consideramos,

concordando com Charlot (2005, p.57), que “é impossível educar-se, se não se é

educado por outros homens”. Não podemos educar e nos educar sem que tenhamos a

relação com o outro, com nossos pares, conosco mesmo, posto ser nesta relação, e a

partir desta, que nos tornamos professores e cada vez mais humanos.

Nesse sentido, compreendemos que o processo de “vir a ser professor” ou de

“constituir-se professor” vai se estruturando a partir da inserção dos homens nos

diferentes mundos socializados (família, escola, amigos, religião, organizações sociais)

nos quais eles constroem com os outros sua identidade pessoal e social durante sua

trajetória de vida.

Entretanto, Arroyo (2011, p.27) nos apresenta uma reflexão deveras interessante.

“Por que somos professores? Somos, não apenas exercemos a função docente”.

Continua sua reflexão, afirmando que “poucos trabalhos e posições sociais podem usar

o verbo ser de maneira tão apropriada. Poucos trabalhos se identificam tanto com a

totalidade da vida pessoal”. Vejamos as justificativas desse raciocínio: “Deixamos que o

tempo da escola invada nossos outros tempos ao [...] levarmos para casa provas [...]

material didático e preparação de aulas. Carregamos angústias e sonhos da escola para

casa e da casa para a escola”. Acrescenta ainda em seus argumentos que não nos

preocupamos em separar “esses tempos porque ser professor faz parte de nossa vida

pessoal. É o outro em nós”.

Continua a nos proporcionar reflexões com seus questionamentos; “Como tirar a

máscara de professor quando termina o espetáculo da docência? A máscara virou um

modo de ser? Personalidade?” Apresenta depoimentos que são frequentes entre os

143

professores, tais como: “quando terminam as aulas quero deixar na gaveta as vivências

do dia ... não consigo”. “Quando vou chegando em casa tento esquecer as lembranças da

escola ... não dá” (Idem, p.28).

Deveras, somos professores, representamos um papel social, temos uma imagem

social com traços marcantes e muito misturados. Temos uma função que dialoga com

todas as profissões. Quem somos hoje tem muito a ver com as respostas que estas

reflexões nos provocam, com a maneira como fomos nos constituindo e compreendendo

a imagem social do magistério, como nos identificamos e construímos nossa identidade

com a docência e o quanto gostamos do que fazemos. Que percepção os estudantes têm

da nossa atuação?

Após estas reflexões iniciais passaremos a discutir e analisar este primeiro

momento conforme especificamos no quadro seguinte. Foram quatro as categorias que

nortearam a intensão de compreender como foi se constituindo o professor-

referência: Razões da escolha profissional; Como Aprendeu a Ensinar e Tornou-se

Professor; Lacunas encontradas no processo de formação; e Como se forma um

professor hoje.

Figura nº 2: Esquema de Constituição do professor-referência

144

Quadro nº 5: Síntese das categorias trazidas pelos professores-referência

7.1.1 RAZÕES DA ESCOLHA PROFISSIONAL

Diferentes são as formas, razões, vantagens e desvantagens de se escolher ou

não ser professor. Compreender a forma do ingresso dos professores na sua profissão

parece nos importante para conhecermos um pouco da sua história e sua identidade com

a docência e se esta se constituiu antes ou durante o exercício profissional, uma vez que

pensamos que esse fato poderá ter alguma influência no processo de formação de

futuros professores.

Segundo Penin (2008, p. 649), quando se escolhe uma profissão a pessoa

também define um modo de vida. Ela começa a pertencer a um grupo de indivíduos,

que, conforme o seu grau de identificação, pode lhe trazer benefícios ao atender a uma

das necessidades humanas básicas, a de pertencimento.

Após submetermos a categoria Razões da Escolha Profissional à análise

temática, identificamos as seguintes subcategorias: eu nunca quis ser professor; por

circunstâncias outras; desde pequena quis ser professora.

Conforme podemos observar a opção pela docência, enquanto profissão não

aconteceu para a maioria dos “Professores Referência” no primeiro momento, pois

apenas um único interlocutor enfatizou que desde criança já demonstrava interesse pela

profissão docente. Outro, aos 15 anos já havia decidido, mas devido à influência dos

Razões da escolha profissional

•Eu nunca quis ser professor.

•Por circunstâncias outras.

•Desde pequena quis ser professora.

Maneira que aprendeu a ensinar e tornou-se professor;

•Aprendeu a ensinar, ensinando.

•Através de exemplos

•Na relação pessoal.

• Imitando os professores

Lacunas encontradas no processo de formação

•Relação do conteúdo com o ensino e aprendizagem.

• Importância da didática,

•Formação específica.

•O olhar da proximidade com a educação básica.

•Não consegue ver lacunas na sua formação.

Como se forma um professor hoje

•Formação no âmbito da experiência.

•Na relação pessoal.

•Relação com o conhecimento.

• Importância atribuída ao estágio.

•Prof. universitário x carreira acadêmica.

•Exemplos/orientação de Prof. Experientes.

•Apresentam Tendências no Ensino Médio.

145

seus professores. Os outros docentes ingressaram na profissão não por opção primeira,

mas por outros aspectos/circunstâncias que os levaram a estar professor, evidenciados

nas suas falas a seguir:

7.1.1.1 Eu nunca quis ser professor.

Minha formação era no âmbito técnico. Ao optar pelo CEFET, começou a ocorrer a

mudança de rumo profissional. Através de um professor me envolvi com um

trabalho de assistência social junto a FEBEM. A constituição desse grupo me fez

pensar que precisaria ter um conhecimento de Didática para poder organizar

melhor as minhas aulas. Eu não tinha um projeto de profissionalização atrelado à

docência. Tinha uma ideia de encontrar no curso de Pedagogia ferramentas

técnicas, didáticas no sentido instrumental para melhorar minhas ações. Isso

gerou um desvio e uma identificação cada vez maior com o curso. A docência

abriu para mim um mundo que me era praticamente desconhecido. Reconfigurou a

minha identidade, eu abandonei a carreira técnica, efetivamente assumi a carreira

acadêmica, quis me tornar, durante o próprio processo do curso, “um formador de

outros formadores” (PP) (grifos nossos).

O professor revela não ter um projeto de profissionalização atrelado à docência,

e pensava encontrar no curso de Pedagogia as ferramentas técnicas, instrumentais, para

o que fazia na FEBEM. Esse pensamento existe nos estudantes das licenciaturas, os

quais, com base nas suas experiências dizem que “ter didática é saber ensinar” e que

“muitos professores sabem a matéria, mas não sabem ensinar” (PIMENTA, 2002, p.

24). A essa percepção subjaz uma contradição deveras importante. Revela que os

estudantes, por um lado, esperam que a didática lhes dê as “ferramentas, fórmulas

prontas e mágicas” a serem aplicadas em toda e qualquer situação para que o ensino

aconteça de forma eficaz, e ao mesmo tempo, desconfiam, pois há tantos professores

que cursaram a disciplina e, mesmo assim, não têm didática. Por outro lado, revela

ainda que, de certo modo, há um reconhecimento de que para ensinar não bastam a

experiência e os conhecimentos específicos, mas se fazem necessários os saberes

pedagógicos e didáticos.

Outrossim, o professor referência se reporta a uma das suas professoras, quando

ainda cursava o segundo período, que o fez ressignificar o conceito sobre a disciplina:

[…] montou um mapa de introdução da disciplina, abrindo um panorama das

teorias educacionais e aquilo me assustou, porque eu não esperava do curso de

Pedagogia essa compreensão. (...) Minha ideia era a Didática Instrumental, e isto

146

foi uma linguagem construída depois, porque, de fato, o que queria era uma

técnica para dar aulas (PP) (grifos nossos).

Em decorrência da sua fala percebemos que a professora o fez visualizar uma

dimensão que não conhecia, ampliando assim seu olhar, o que o fez, já nos períodos

iniciais, compreender que o que buscava era uma perspectiva muito limitada, no escopo

da formação do Pedagogo, percebendo assim que a Didática não traz fórmula pronta

para se ensinar, pois vai muito mais além.

Essa provocação intelectual que a professora realizou suscitou no professor

referência inicialmente “um desvio e uma identificação cada vez maior com o curso”.

Assim, podemos observar que o professor-referência, ao adentrar no curso de

Pedagogia para “atender as suas necessidades de apreender técnicas para melhorar suas

aulas” e a inserção na docência agora com outro olhar construído na articulação entre o

que via e discutia, entre a teoria e a relação desta, nas suas aulas, junto às ações de

assistência social, “abriu um mundo que era praticamente desconhecido”, a ponto de

“reconfigurar sua identidade”, fazendo-o desistir de ser técnico. A partir de então o fez

decidir por ser formador de professores ainda no processo de sua formação.

Conforme temos percebido, o contato com a docência e com a mediação didática

daquela professora na universidade exerceu a “magia” de fazer com que o professor

redirecionasse sua trajetória profissional, no sentido de integrá-la ao seu mundo, ao seu

projeto de vida.

Nesse sentido, Nóvoa (1992 p.25) propõe a formação do professor numa

perspectiva crítico-reflexiva, “que forneça aos professores os meios de um pensamento

autônomo e que facilite as dinâmicas de formação auto participada”.

Parece-nos que a formação desse professor aconteceu ao mesmo tempo numa

perspectiva inicial e continuada, pois, a partir da reelaboração constante que os novos

saberes apreendidos lhe proporcionavam, confrontava suas experiências no contexto

escolar em que realizava suas aulas.

Assim, as razões que o levaram a tornar-se professor passaram por

reconfigurações de percepção de mundo, de questões subjetivas, de sua trajetória de

vida e de uma definição madura e consciente do que queria ser profissionalmente.

Neste contexto, concordamos com Shulman (1987), ao dizer que o professor não

define a especificidade da sua função pelo conhecimento do conteúdo que apresenta ou

expõe, mas pela competência de saber fazer com que esse conteúdo se torne apreendido

147

através do ato de ensino. Isso é que nos deixa entender o depoimento desse professor

referência ao se referir sobre a sua inserção na docência.

7.1.1.2 Por circunstâncias outras

Segundo Gadotti (2003, p.4), "escolher a profissão de professor não é escolher

uma profissão qualquer", pois essa opção profissional é uma das decisões mais

importantes a fazermos em nossa vida, que exige de nós grandes responsabilidades,

desafios e um trabalho constante. Diversas são as razões que nos motivam a escolher a

docência como profissão, uma vez que não é uma profissão que tenha destaque

financeiro, e o social é conseguido com muita dedicação e esforço. Contudo há ocasiões

em que somos influenciados pela família, por amigos, ou por algum professor, mas

parece que, quando adentramos na docência de fato, identificamo-nos com ela e por ela

somos conquistados. Assim aconteceu com estes Professores Referência, de acordo

com suas falas:

Quando eu comecei a trabalhar com História não tinha certeza se queria ser

professor, mas, ao mesmo tempo, eu tinha um encantamento, porque venho de uma

família de professores. Meu pai é médico, mas ele é mais professor, até, do que

médico, e ele sempre gostou muito de ensinar. Todos os meus tios e tias por parte

de mãe eram professores. Então, era uma coisa assim, “da família, que ser

professor, era o máximo”. Aí foi acontecendo. Acho que o ensino me pegou. Hoje

em dia não me imagino fazendo outra coisa, gosto muito de dar aula, mas eu gosto

muito de pesquisar e de escrever (PH) (grifos nossos).

Pela influência dos meus professores. Sempre adorei esportes. E meus professores

desencadearam o meu interesse em aliar o gosto pela atividade física com o

processo de ensino. Os exemplos dados por esses professores foram determinantes

para que eu, aos 15 anos, já tivesse definido a profissão que queria seguir:

professor (PEF).

Por influência de meu irmão. Queria ser engenheiro civil, mas passei na

matemática e assim que comecei a dar aula me dei bem. Fiquei na universidade até

hoje e já estou para me aposentar, mas foi uma opção que eu fiz. A motivação para

ser professor, eu penso que é nata (PM).

Para esses professores a intenção primeira da docência não aconteceu. Mas, a

partir da influência da família e de outros professores, iniciaram esse ofício. Para os

professores (PH) e (PM), a identificação com a profissão professor parece ter ocorrido

na prática.

148

A partir dos relatos dos professores identificamos uma complementaridade nas

informações no que tange à sua inserção na docência, que foi acontecendo a partir da

história de vida, da compreensão sobre o mundo, das pessoas que se relacionaram, dos

saberes adquiridos, bem como das influências, quer seja de ordem pessoal, quer seja de

ordem social. Vale neste caso lembrar Nóvoa (1992, p.17), quando aconselha que “a

identidade (ser e sentir-se professor) não é um dado, não é uma propriedade, não é um

produto, mas a identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de

maneiras de ser e estar na profissão”. Desse modo, a identidade foi se constituindo para

cada docente à maneira com que foram se permitindo adentrar na profissão,

compreendendo seu papel e sua função.

7.1.1.3 Desde pequena quis ser professora

Diferente dos demais docentes, essa professora decidiu ainda pequena que seria

professora. Observem na sua fala como perpassa a identificação com a docência:

Desde pequena quis ser professora. Sempre gostei muito de ler, de aprender.

Identificava-me com as professoras, imitava-as, brincando de professora. De

presente de aniversário, eu sempre pedia quadro, giz colorido, e as demais coisas

relacionadas com a escola. Eu adorava imitar na garagem lá de casa a minha sala

de aula, pregava figurinhas de bichinhos na parede, meus primos e meus irmãos

eram meus alunos. Fui crescendo com essa ideia. E, aos 14 anos, eu estava

absolutamente decidida. E não tive o menor conflito para escolher ser professora.

Então faço isso a vida toda (PL) (grifos nossos).

Tal depoimento nos remete às experiências de ensino que tivemos como

estudantes, e a simplicidade com que muitos de nós brincávamos de ser professoras

(imitando-as) faz com que esse ofício pareça uma profissão familiar. Vale resgatar

Montero (2001, p. 9), ao dizer que a partir dessa experiência é muito frequente:

[...] dar-se por adquirido que todos sabem o que um professor é e faz

e, de algum modo, pré-julgamos e questionamos o seu saber. É óbvio

que estas peculiaridades do ensino podem atuar como obstáculos

epistemológicos tanto para a construção do conhecimento como para o

reconhecimento do saber profissional de professores.

É comum ouvirmos que na universidade qualquer professor pode dar aula, mas

não é todo professor que sabe ensinar; às vezes ele sabe muito, para si, mas não

consegue fazer com que os estudantes aprendam. Assim, respaldadas em Cunha (2007),

podemos afirmar que existe um saber específico, como em toda e qualquer profissão,

149

que a tarefa de professor universitário exige e os professores reconhecem, sentem

necessidade dessa formação pedagógica, e sabem que precisam aprender a ser professor

universitário, principalmente com as diversidades que compõem as salas de aulas hoje.

Nos extratos das falas dos Professores-Referência é possível perceber que

apesar de inicialmente não terem optado pela docência, as razões que os levaram a se

tornar professores, apesar da singularidade que os constituem e as diferentes trajetórias

caminhadas, estas convergiram para um mesmo ponto, a docência, e o fato de terem

sido considerados professor referência aguça ainda mais nossa curiosidade para

procurarmos compreender quem é esse Professor.

Nesse caminhar discutiremos a seguir como este professor referência aprendeu a

ensinar e foi se tornando professor.

7.1.2 Como Aprendeu a Ensinar e Tornou-se Professor

A aprendizagem da profissão docente ocorre ao longo do processo de

escolarização. Antes mesmo de fazerem as suas opções profissionais, quando ainda

eram estudantes, os futuros professores foram imersos em uma cultura docente.

Conviveram, por longos anos, com seus professores, com as estratégias para ensinar,

com saberes organizativos dos espaços de sala de aula, saberes de gestar a disciplina em

sala de aula. Isso quer dizer que muito cedo foi socializado no trabalho do professor.

Em Tardif (2002, p.261), “essa imersão se manifesta através de toda uma bagagem de

conhecimentos anteriores, de crenças, de representações e de certezas sobre a prática

docente”.

Assim ao ser questionado sobre como aprendeu a ensinar e foi se tornando

professor, em síntese os professores-referência afirmaram que: aprendeu a ensinar,

ensinando; “através dos exemplos dos professores”; do livro didático; a partir da relação

pessoal, imitando seus professores.

7.1.2.1 Aprendeu a ensinar ensinando

Eu tive uma experiência quando muito jovem só por um semestre e fiquei

encantado. Ao cursar o doutorado nos Estados Unidos, tive minha primeira bolsa

de assistente de pesquisa; a segunda foi para dar aula na graduação, História da

Civilização Ocidental, desde que inventaram o mundo até Luís XIV. Eu fiquei

desesperado! Meti a cara nos livros, estudei muito e ia para a sala de aula,

150

“afiadinho”, aos poucos fui me soltando... Fui vendo que a relação é legal,

esquecendo o pavor (PH) (grifos nossos).

Nesse depoimento identificamos o reconhecimento da dificuldade do professor

em iniciar sua prática docente, sem o domínio dos saberes pedagógicos necessários à

docência. Observamos ainda que ele “aprende a ensinar durante e ao mesmo tempo em

que está formando futuros professores”. Sabemos que também aprendemos nesse

momento. Entretanto, essa ação didática precisaria de um corpo de conhecimentos que

fundamentaria a necessária condição do formador de saber ensinar a ensinar. Assim

entendemos que a condição de ser professor implica essa especificidade da ação, que se

outros atores possuírem apenas os saberes conteudinais idênticos, não saberão fazê-la,

conforme ressalta Roldão (2005).

Compreendemos também que a primeira experiência desse professor com a

docência ocorreu ao cursar o doutorado, e revela a sua compreensão sobre a construção

da aula com a expressão “meti a cara nos livros”, o que implica considerarmos que para

ele, naquele momento, o importante era dominar o conteúdo, conforme nos deixa

entender, ao dizer que “ia para a sala de aula afiadinho”. Evidentemente que o

domínio do conteúdo da área de conhecimento é fundamental e indispensável para o

docente, porém não é o único saber necessário à ação docente.

Essa crença que persiste ainda para alguns professores vem reafirmar a

necessidade, especificamente daqueles que trabalham com os cursos de formação de

professores, de compreenderem que o conhecimento pedagógico representa uma

combinação entre o conhecimento da matéria e o conhecimento do modo de como

ensinar, conforme evidencia Shulman (1987; 2005).

De fato, a docência é uma atividade complexa, pois é constituída de elementos

da própria história de vida, da trajetória profissional, na reflexão da e sobre a prática,

conforme nos orienta Schön (1992).

Assim é que, para o professor referência a seguir, seu aprender a ser professor, o

tornar-se professor, aconteceu, segundo seu depoimento, a partir da experiência de dar

aula:

Eu senti naturalmente que tinha que ter uma diferença, entre dar uma aula com um

mesmo conteúdo para com as turmas de diferentes licenciaturas, pois percebia que

as realidades e aprendizagens deveriam ser diferenciadas... Quando eu dava aula

para Contabilidade eu puxava mais um pouquinho em juros compostos,

porcentagem... Para enfermagem tinha que ter uma diferença... Então eu procurava

fazer (PM) (grifos nossos).

151

Na perspectiva do “vir a ser professor”, acreditamos que tanto quem ensina

quanto quem aprende necessita se ancorar em saberes que justifiquem suas ações

pedagógicas. Assim, os saberes docentes se constituem por significados que justificam

as complexidades teóricas e práticas elaboradas a partir do pensar e do agir docente, que

se revela ao exercer a docência.

É percebido que essa maneira de aprender a ensinar pressupõe uma imersão

desse professor na busca de construir aprendizagens significativas junto aos seus alunos,

e para isso (PM) propõe mudanças, adequações do conteúdo para os diferentes cursos.

Nessa reflexão sobre pequenas diferenças entre cada curso e cada sala de aula, busca

uma analogia por meio do livro didático de Matemática e suas mudanças através dos

tempos. Vejamos:

O livro didático “daquela época (1976)” era o conteúdo pelo conteúdo, então você

tinha que fazer algum tipo de exercício que fizesse com que os alunos vissem que

aquilo ali ia além daquela simbologia. Eu entendia aquela simbologia, mas não

era uma Matemática para todos. Eu dava aulas diferentes, porque não ia dar a

mesma aula para duas realidades (PM) (grifos nossos).

Vale salientar que este professor ensina uma das áreas consideradas e

identificadas como a que possui um maior índice de reprovação, tanto na educação

básica, quanto na universidade. E o fato de este professor aprender a ensinar refletindo

sobre um instrumento do seu trabalho docente, o livro didático, faz-nos pensar sobre o

desafio do professor universitário hoje, talvez o maior, que é aprender como ensinar na

perspectiva de contribuir para que as aprendizagens se efetivem de forma significativa.

Isso pressupõe uma formação específica, um comprometimento com o ato de educar, de

formar professores para interagir na educação básica de forma eficiente.

Neste caso o professor destaca o dar aulas para diferentes realidades como

impulsionador da sua aprendizagem de “tornar-se professor”. O conhecimento do livro

adotado (do conteúdo), ou seja, na sua prática, identificou um diferencial para mediar às

aprendizagens dos seus alunos, ao perceber que precisava fazer algo diferente para que

eles compreendessem o conteúdo para além da simbologia contida nele, pois percebia

que um mesmo conteúdo deveria ser estudado de acordo com as necessidades que cada

licenciatura exigia.

Shulman (2005) indica o conhecimento pedagógico dos alunos e suas

características, bem como o conhecimento do currículo e dos materiais e programas de

152

ensino, como livros didáticos, domínios necessários para a constituição da base de

conhecimento do professor.

Nesse contexto, para o exercício da docência não basta dominar apenas o

conhecimento do conteúdo, conforme nos orientam diversos pesquisadores. É

necessário, além deste, o conhecimento de como ensinar e a quem ensinar identificando

suas necessidades e expectativas, e o conhecimento do currículo, pois a docência

perpassa essas dimensões.

7.1.2.2 Através de exemplos

O professor referência a seguir afirma ter aprendido através dos exemplos dos

professores, e pensa que a didática dos seus professores foi a responsável pelo processo

da construção da sua identidade docente. Nas suas palavras:

Sem dúvida, acho que através dos exemplos. [...] Você precisa da didática para

poder explicar algo. […] Que parece óbvio para você, mas para os estudantes

parece a coisa mais complexa do mundo. Acho que a didática dos meus

professores foi realmente o processo de construção da minha identidade docente

(PEF) (grifos nossos).

Compreende o papel da didática como a possibilidade de facilitar a interlocução

entre o conteúdo, os professores e os estudantes. Crê que o processo da construção da

sua identidade docente deveu-se à didática dos seus professores. Ou seja, podemos

inferir que ver fazer para este professor foi sua maior diretriz, o seu “vir a ser

professor” foi se processando a partir do modelo do fazer que ele vivenciou e que

posteriormente assumiria. Além disso, o processo de construção da sua identidade

docente, que foi sendo constituída em cada aula, cada exemplo, cada observação de

assimilava da prática docente. Desse modo, respaldamo-nos em Cortesão (2000, p.40),

para reafirmar que os “docentes universitários ensinam geralmente como foram

ensinados, garantindo, pela sua prática, uma transmissão mais ou menos eficiente de

saberes e de uma socialização idêntica àquela de que eles próprios foram objeto”.

7.1.2.3 Na relação pessoal

Diferente dos outros professores, (PP) afirma que aprendeu a ensinar numa

relação direta com os estudantes, respeitando-os como seres em formação, e afirma que

essa é uma qualidade necessária para um professor. Assim depõe:

153

Eu aprendi a ensinar exatamente na minha relação direta com as pessoas jovens

daquela comunidade. A não tratá-los como se fossem alguma coisa que estão ali

afastadas apenas para receber uma intervenção que eu iria ali efetivar.

Aprendi que precisava olhar melhor para a própria experiência, de maneira não

instrumental, não técnica, não objetiva.

Precisava olhar para a relação que eu estabelecia com aquelas pessoas, porque é a

partir dessa relação que a gente se constitui exatamente como sujeito da nossa

profissão. E eu aprendi aqui, na universidade, que a gente aprende a ensinar

ensinando (PP).

Um aspecto relevante que se refere a aprender a ensinar na universidade é a

prática de ações compartilhadas. Entretanto, apesar de os respondentes serem

professores-referência, percebemos que, ao observarmos seus depoimentos neste

tópico, as aprendizagens dos saberes docente foram se constituindo solitariamente,

dialogando apenas com o modelo de professor, com suas experiências pessoais e

profissionais, com suas tentativas e erros e na reflexão sobre suas experiências

praticadas, mas não percebemos nenhuma interlocução com seus pares nesse momento

de construção.

Nesse sentido, complementamos nossa reflexão com Anastasiou (2002, p. 347),

ao dizer que na história da docência universitária o compartilhar é algo que nos desafia,

uma vez que a maioria de nossas atividades é efetivada solitária e isoladamente, o que

podemos constatar desde o aprender a ensinar de acordo com os depoimentos.

7.1.2.4 Imitando seus professores

Já a professora (PL) tem uma identificação com a docência desde criança,

quando imitava seus professores:

“Quando pequena, eu imitava tudo, o ambiente da sala, os gestos, as coisas, eu

fazia as tarefas e colocava visto. Foi muito, vendo o professor. Fui vivendo esse

processo. Sou de uma família que tem muitos professores… eu acho que é essa

coisa de ir vendo com os outros”. Tem muito da reprodução, por isso tomo como

referência os professores que facilitaram meu acesso e construção do meu

conhecimento docente (PL) (grifos nossos).

O ver fazer, associado ao gostar de fazer, a família de professores, tudo isso

auxiliou a forma de aprender a ser professora. Essa influência e esse depoimento

parecem demonstrar uma reflexão sobre a perspectiva de ressignificação da sua prática.

Contudo, também serve de alerta, pois sabemos pouco sobre as maneiras pelas quais os

professores aprendem a ensinar. Para Carter (1990), essa questão é fundante para quem

deseja fazer investigação no campo da formação de professores.

154

Ainda buscando compreender a Constituição do Professor, nossa atenção agora

se volta para identificar as lacunas encontradas na formação desse professor-referência.

7.1.3 LACUNAS ENCONTRADAS NA FORMAÇÃO

No que se refere à formação docente observa-se que normalmente os professores

sofrem influências dos espaços formativos, dos formadores pelos quais passaram, bem

como das suas condições pessoais de se dedicar às aprendizagens. Sabemos também que

não temos uma formação específica para o professor universitário e que as limitações

que os professores vivenciam na sua formação comprometem as aprendizagens dos

estudantes, reafirmando a ideia de que a qualificação docente é definidora da sua

atuação e da qualidade do ensino ministrado.

Foram quatro as lacunas apontadas pelos participantes da pesquisa: relação do

objeto com o ensino e aprendizagem; a importância da didática; a falta da formação

específica; o olhar da proximidade com a Educação Básica. Houve também quem não

conseguiu ver lacunas na sua formação.

7.1.3.1 Relação do conteúdo com o ensino e a aprendizagem.

Como fazer a transposição didática do conteúdo dado para a realidade na qual se

deve trabalhar é uma das grandes dificuldades do professor da educação básica. O

professor é o mediador, o facilitador, para que a aprendizagem significativa aconteça,

mas, ao se deparar com a sala de aula, os professores recém-formados percebem que

não aprenderam a ensinar; apenas aprenderam (quando se dedicaram) o conteúdo

disciplinar, mas têm dificuldades em saber como fazer com que seus alunos aprendam.

Esse aspecto reafirma um dos problemas que remete a atenção aos cursos de

licenciatura, uma vez que parece recorrente, conforme expresso no relato seguinte:

Estudei durante toda a minha formação literatura portuguesa, brasileira, norte-

americana, inglesa, além da teoria crítica e literária. “Nenhum professor falou

como se ensinaria isso na escola. Ninguém teve esse cuidado, essa preocupação,

essa competência!” [...] O professor, chegando à sala de aula disse: “bem,

pressupondo que vocês leram os Lusíadas... Imediatamente a turma se pronunciou:

Não, não lemos. Como? Então, vocês vão ler agora! A turma ficou indignada.

Entretanto... nós sabíamos falar de Camões, das Grandes Navegações, da

Renascença Portuguesa”. Mas os professores que fizeram isso se contam nos

dedos. Portanto, eu vivenciei isso e meus alunos continuam discutindo até hoje que

nem todo professor parou para pensar sobre o objeto na relação com o ensino-

aprendizagem. Essa é uma lacuna que ainda persiste, penso eu (PL) (grifos

nossos).

155

A formação de professores hoje exige saberes bastantes diferentes daqueles em

que os professores universitários foram formados, conforme nos indica a literatura

especializada. Na visão dessa professora (PL), parece claro que ainda permanece, para

a maioria dos professores deste curso, a preocupação do ensino do conteúdo pelo

conteúdo, quando não é feita uma relação entre este conteúdo e a realidade na qual o

futuro professor vai se deparar.

A preocupação de ensinar a ensinar parece não ser um dado considerado pela

minoria dos professores dessa licenciatura, o que nos leva a pensar ser esta uma das

razões de os professores recém-formados apresentarem tantas dificuldades na maneira

de trabalhar os conteúdos na educação básica.

Esse depoimento parece ainda nos dar indícios de que os professores

continuam repetindo as práticas com que foram formados. Também nos alerta que a

minoria dos professores apresenta metodologias que se distanciam das necessidades

sentidas pelos professores recém-formados, o que já é um ganho, visto que os

estudantes começam a refletir sobre questões metodológicas durante a sua formação.

Entretanto, percebemos que no processo de formação dos futuros professores,

a prática docente se afasta do entendimento contido no debate educacional

contemporâneo, em cuja formação docente perpassam ações realizadas de forma

intencional, sistemática e contínua, em busca do desenvolvimento pessoal e profissional

(NÓVOA, 1995, 1993), no qual os saberes plurais, no que se refere a sua natureza e

fonte de produção, dele participam (TARDIF 2002, PIMENTA, 2002).

7.1.3.2 A importância da Didática

Sabemos que a importância da Didática na formação dos professores é

fundamental, pois é ela que dá o suporte pedagógico às licenciaturas, além de fazer

parte do currículo dos cursos de pós-graduação, sendo apontada como fundante pelos

estudantes, conforme nos indicam pesquisadores como Cunha, (2004), Melo (2008),

entre outros.

Reconhecemos que existe um saber fazer em todos os campos de conhecimento

e que o domínio das metodologias específicas, auxilia esse saber fazer, contudo, o

professor necessita constantemente refletir sobre suas práticas e ser um constante

pesquisador. É sua função enquanto docente formar profissionais autônomos, capazes

156

de compreenderem o mundo em que vivem, de ensinar promovendo aprendizagens, o

que Anastasiou e Alves (2003) denominaram de ensinagem. E neste campo a Didática

tem seu espaço de grande influência no processo de construção desses saberes. É com

essa compreensão que o professor a seguir se expressa:

A Didática é uma disciplina de formação que lida com elementos desde a postura

do professor até a impostação de voz, recursos didáticos modernos etc. Penso que

os professores já se acham sabendo dar aula, pensam que sabem dar uma boa aula.

Mas [...] Existem professores que só usam um recurso didático, e quando o recurso

falha, no caso de ser elétrico, o professor é capaz de suspender a aula. Então, acho

que Didática é das principais disciplinas práticas antes do estágio supervisionado.

Você encontra professores que têm um domínio de conhecimento altíssimo que

pode muito bem trabalhar uma aula dialogada, interativa, mas que fica preso a

recursos de multimídias e deixa de trabalhar metodologias diferenciadas, que

podem atender as necessidades dos discentes (PEF) (grifos nossos).

7.1.3.3 Formação Específica

A lacuna que o professor (PH) encontrou na sua formação foi a de não ter

realizado um curso de licenciatura, uma vez que, naquela época, era comum os

formados em Direito ensinarem História. Tal depoimento reafirma o pressuposto de que

o conhecimento do conteúdo seria necessário e suficiente para o exercício da docência e

para o bom desempenho profissional docente.

Ainda hoje sofremos as consequências daquela estrutura na qual os professores

das universidades foram se constituindo na prática, considerando-se que, se o professor

é engenheiro, ele sabe engenharia e, consequentemente, sabe ensinar nos cursos de

engenharia. Se for médico, advogado, dentista, ou físico, o mesmo raciocínio é válido.

Na fala desse professor podemos perceber que ele reconhece que existe um saber

específico e necessário à docência (CUNHA, 2007) e sente falta dele, e mesmo assim

investiu (sozinho) em procurar, através de leituras especializadas, superar suas

dificuldades. Vejamos:

A primeira foi mais grave, justamente porque eu não me formei em História e sim

em Direito. Este era o sonho da classe média. Quando eu fui fazer Direito pensava

em fazer História e depois o mestrado e o doutorado em História. Até porque

naquela época ainda era comum muitos professores de História ter sua formação

em Direito. Mas, com esse negócio de dar aula aqui e lá, fui lendo aos poucos essas

coisas da graduação formal. Mas mesmo assim havia buracos enormes. Até hoje

me ressinto disso; eu gostaria de ter feito um curso de História. Tem coisas

técnicas. Tem muitas coisas que eu não sei e queria saber (PH) (grifos nossos).

157

Nesse sentido, reportamo-nos a Cunha (2007), ao afirmar que para o exercício

da docência não basta saber fazer, como intuitivamente muitos professores

universitários demonstram, pois o exercício profissional da docência requer uma

formação específica que seja capaz de fazer com que os professores justifiquem as

ações desenvolvidas, recorrendo a uma base de conhecimentos fundamentados que

possibilitem desconstruir a condição amadora da profissão, que tende a manter os

processos culturalmente instalados e cotidianamente produzidos.

7.1.3.4 O olhar de proximidade para com a Educação Básica

O professor referência traz como lacuna na formação a necessidade de discutir

entre seus pares metodologias comuns, para se trabalhar, por exemplo, o conjunto de

conhecimentos de matemática na perspectiva do aprender a ensinar na educação básica.

Nas suas palavras:

Acho que na área de matemática, do ensino superior precisam-se discutir mais

alguns fundamentos na perspectiva de como os professores irão trabalhar tais

conteúdos, como; Trigonometria, Logaritmos, Função, Análise Combinatória.

(PM) (grifos nossos).

A dificuldade apresentada refere-se à questão dos fundamentos da área

específica, sentida já na sua formação, e hoje, enquanto professor, ainda é recorrente,

pois cada uma dessas temáticas estudadas necessita de especialistas, mas que se faz

necessário, além de dominar o conteúdo específico, saber como os estudantes

apreendem as estratégias para trabalhar com esses conteúdos na educação básica.

Desse modo, é importante que haja esses momentos de “Trabalhos em Equipe”

(NÓVOA, 2009), para que sejam definidos procedimentos metodológicos de como

passar da perspectiva de ensinar para a de aprender a aprender. Este aspecto vem

encontrar o olhar da Professora de Referência do Curso de Letras (PL) quando a falta da

perspectiva de aprender a ensinar foi sentida tanto por ela quando estudante, quanto

pelos licenciandos hoje, sob sua orientação.

7.1.3.5 Não consegue ver lacunas na sua formação

Diferente dos outros, o professor referência de Pedagogia (PP) tem uma

percepção distinta dos demais, pois em seu depoimento não localizou lacunas na sua

formação. Vejamos:

158

Eu não consigo ver lacunas na minha formação. Eu identifico ontem, como

identifico hoje, agora como professor, problemas de organização curricular,

problemas na relação, problemas na realização dos nossos estágios; problemas na

relação de fato com as nossas escolas públicas, eu localizo esses problemas, mas

para mim, eles não chegaram a se configurar como lacunas de formação (PP)

(grifos nossos).

O professor revela no seu depoimento estar ciente dos problemas concernentes

às questões de ordem formativa que permeiam a realidade da formação de professores

na universidade. Tais problemas configuram a estrutura organizativa e gestora no

contexto universitário que interferem na relação com as escolas públicas. Nóvoa (2009)

considera como fundante que o professor esteja integrado com a Cultura Profissional,

pois conhecer as dificuldades que se apresentam no trabalho docente e as suas interfaces

facilita a construção de práticas que promovam de fato a construção dos saberes em

ação.

O professor reelabora o seu saber em um constante processo de

construção/reconstrução, a partir das várias situações do contexto pedagógico. Essa

junção entre saber e conhecimento resulta nos saberes da experiência, ou seja, no saber

fazer do professor. As histórias dos professores e sua profissionalidade são tecidas

também na instituição em que o professor leciona, no sistema escolar, na sociedade, na

formação inicial, na história de estudante desde que ingressou na escola, dentre outros.

7.1.4 COMO SE FORMA UM PROFESSOR

A reação dos professores a esta questão foi interessante, pois percebemos em

cada um deles uma expressão de surpresa que foi expressa em pensamento alto: “Essa é

uma boa pergunta!”.

Mas interessava-nos apreender nas suas respostas como chegamos a ser o que

somos hoje, ou como nos tornamos professores, ou, ainda, como aprendemos a sê-lo?

Sabemos que o processo de “Vir a Ser Professor” não é algo estático, previsível

e definitivo, mas um processo inconcluso, dinâmico, sempre aberto a novas construções,

desconstruções e ressignificações.

Nessa direção, pensamos que “formar” o professor acontece a partir

essencialmente de o formador criar condições para que o futuro professor possa alcançar

o seu jeito, a sua maneira, a sua travessia no “vir a ser professor”, e desse modo ir

constituindo sua identidade docente. Daí a importância de saber fazer a mediação

159

didática, enquanto elemento que também identifica, estrutura e define a

profissionalidade docente.

Nesse processo, a formação não é finita, mas sempre um contínuo que vai se

fundindo, se amalgamando, se constituindo, a partir de sentimentos nem sempre

definidos, mas que perpassam perspectivas antagônicas, tais como conflitos/ordem,

dúvidas/certezas, medos/ousadias, reprodução/inovação, que se instituem durante a

trajetória profissional docente.

Conforme vamos estudando, cada vez mais nos conscientizamos de que o

processo de “vir a ser professor” acontece durante nossa trajetória de vida, mesmo antes

de se entrar na escola, pois, enquanto estudantes, nas atividades vivenciadas nos espaços

institucionais e de profissionalização pelos quais passamos, vamos construindo relações

com os diferentes modelos de profissionais e de professores que por nós passaram, e

assim vamos tecendo, apreendendo, estruturando nossa maneira de ser e estar professor,

ou a nossa identificação com a profissão docente.

A partir dos estudos de Montero (2001), a familiaridade com a atividade do

Ensino circunscreve uma poderosa contradição: se ao mesmo tempo é uma rica fonte de

conhecimento para aprender a ensinar, torna-se um problema que aguça a curiosidade

de pesquisadores e estudiosos que buscam a compreensão de tal fato.

Observa-se que as pesquisas estão divididas em dois grandes grupos: um

primeiro centra seus estudos em futuros professores, ou seja, professores iniciantes que

aprendem a ensinar a partir das atividades limitadas às etapas da formação inicial e

iniciação ao ensino; outro grupo tenta indagar as peculiaridades da aprendizagem do

ensino durante as fases do exercício profissional, buscando a construção do

conhecimento profissional. Nessa compreensão, Aprender a Ensinar se constitui a partir

da construção da Identidade de ser professor.

Aprender a Ensinar torna-se, então, um processo ao mesmo tempo estável e

provisório, pois, supõe-se ser o problema para a Formação de Professores, a falta de

conhecimento de como os professores aprendem a ensinar.

Acredita-se que uma melhor compreensão do conhecimento profissional dos

professores facilitaria algumas explicações sobre a sua aquisição e contribuiria para a

reflexão sobre a função docente e a formação dos professores.

Foram as seguintes subcategorias que emergiram a partir da análise: formação

no âmbito da experiência; na relação pessoal; relação com o conhecimento; importância

160

atribuída ao estágio; professor universitário x carreira acadêmica; exemplos/orientação

de professores experientes; quando já apresenta o gosto pela profissão no Ensino Médio.

7.1.4.1 Formação no âmbito da experiência

Na profissão docente há pouca preparação durante a fase de transição da

condição de estudante para a de professor, apesar de a LDB 9394/96 garantir essa

formação nos cursos de licenciatura. Nossas práticas e estágios supervisionados

proporcionam uma “visão fotografada” dos dias em que os estudantes participam das

atividades escolares. Normalmente acontecem sempre nos mesmos dias, determinados

pelo calendário acadêmico. A experiência de quem vivencia o chão da escola mostra

que cada dia é um dia novo, no qual as aprendizagens e as singularidades são ricas e

cheias de nuances que nos possibilitam lidar com o novo. Nesse sentido, lembramos

Freire (1991, p.71), quando afirma que “ninguém começa a ser educador numa certa

terça feira às quatro horas da tarde. [...] A gente se faz educador, permanentemente na

prática e na reflexão sobre a prática”.

Não temos receita pronta de “como ser professor”. Não conhecemos nenhum

manual que dê conta da constituição de ser professor. O ofício de professor se constitui

e se institui no dia-a-dia, através dos nossos estudos, formação, pesquisas, reflexões

sobre nossas práticas, das incertezas, dos medos, das dificuldades e dos acertos, que

encontramos ao realizarmos nossas atividades docentes, uma vez que nunca nos

satisfazemos, pois estamos querendo sempre vencer os desafios, obstáculos e nossas

limitações. É isso que nos move a aprofundarmos os conhecimentos que dão o suporte

para exercer com profissionalidade esse ofício.

Assim que é que também aprendemos no âmbito da experiência, conforme os

relatos seguintes:

Tem uma parte que você tem que conversar com um professor mais experiente.

Acho que tem que ter muita conversa mesmo [...] Eu falo muito depressa, e quando

comecei a dar aulas, escrevia nas minhas fichinhas em lápis “devagar...”. […]

Então, tinha tudo a ver, eu morrendo de medo que os alunos vissem. E ainda hoje

eu escrevo, porque eu falo muito rápido. Para eu ir mais devagarzinho. Mas você

vai aprendendo, porque eu acho que é muito importante esse negócio de conversar

com um professor mais velho, que foi bacana, e que é mais experiente (PH).

Não sei! O que eu sei é que há na formação de um professor vários caminhos. Toda

formação se dá num âmbito de uma experiência (PP).

161

Sim, sabemos que aprendemos na experiência, na prática, mas numa prática

orientada, informada, alimentada tanto pelo velho conhecimento e o novo

conhecimento, investigada e discutida com os pares e com os supervisores, ou tudo isto,

numa prática coletiva supervisionada e que promova construção de saber inter pares

(Roldão, 2005).

Para esses professores também se aprende a ensinar na relação pessoal, partindo-

se do pressuposto de que a formação supõe num mesmo ato a auto formação. Os

estudos de Souza (2009, p. 12) defendem que a formação docente e a prática formadora

sejam compreendidas na ação e reflexão sobre a ação, consigo, com o outro e, com o

mundo, orientada por processos educativos implicados na dimensão ética da prática

humana. Ensinar é um processo no qual a experiência do professor é determinante. E

formar é, ao mesmo tempo, formar-se. Este princípio já denota uma relação direta,

aberta, flexível, na qual ambos, professor e estudante, estabelecem uma relação em que

se permitem ensinar ao mesmo tempo em que aprendem, e aprender ao mesmo tempo

em que ensinam. E é nesta relação que vamos nos constituindo enquanto professores.

Esta é também a compreensão de nosso interlocutor:

Fundamentalmente, uma experiência que se dá na relação, na relação que se

estabelece entre esse sujeito que está se formando professor e os seus professores,

que estão ali na condição de formá-lo, de contribuírem com a sua formação,

enquanto professor (PP).

Este professor aponta ainda para uma questão que geralmente é esquecida ou

talvez secundarizada no processo da formação docente, que é como produzimos e

estabelecemos as nossas relações docente-docente, discente-discente, docente-discente.

Nas suas palavras:

Acho que é um ponto cego nos processos de formação contemporâneos do

professor é que a gente discute os conteúdos, procedimentos e sentidos dessa

formação, mas os processos dessa formação, a gente discute muito pouco (PP).

Acrescenta ainda que Adorno (Escola de Frankfurt) já considerava esse processo

de formação relacional. Nesse sentido, considera a frase de Adorno muito potente,

conforme ele expõe: “a profissão docente é uma profissão arcaica em relação à

sociedade na qual ela se desenvolve”. Explica ele que a profissão é arcaica, porque não

pode dispensar uma relação direta com o outro, e vivemos numa sociedade em que se

acredita que as mediações técnicas e instrumentais podem substituir o “face a face”,

pode substituir uma relação direta.

162

Em contrapartida, os professores ainda consideram que:

Nenhuma atividade docente, mesmo a realizada a distância, ela sempre pressupõe

um vínculo, ela sempre pressupõe uma relação. Porque é dentro dessa relação com

tudo o que ela pode carregar, de afetos, de desafetos, de conhecimentos e de

ignorância, que o professor se forma. [...] A gente não se pode formar num

distanciamento do outro, que é o que gera os estranhamentos, os conflitos e

embates muito violentos para o campo educativo. [...] formar alguém

estabelecendo uma relação de distanciamento com esse alguém em nome de um

rigor acadêmico acaba contaminando e envenenando os processos de formação

dos novos professores (PP).

Precisa ter paciência de lidar com o ser humano, de compreender as diversidades

dessa construção, do estar apto para aprender, que são muito diferentes em cada

aluno. Cada um vem com uma formação, que, como diz o Raul Seixas, cada um é

um universo. [...] Aprender, a saber, lidar com essa diversidade existente na sala

de aula, seja de ordem familiar, financeira, de todo histórico de vida pessoal e

social e escolar e as dificuldades atuais apresentadas (PEF)

Interessante percebermos que nas escutas de corredores, nas falas de estudantes,

nos depoimentos de algumas pesquisas, existem queixas precisamente da falta de

aproximação, desse elo que perpassa na relação docente-discente, de um olhar, de um

gesto de carinho. Nesse sentido, encontramos nos estudantes de licenciatura em Letras

depoimentos como “eu tenho professores muito bons, que sabem dar aulas muito boas,

mas eles não têm tempo de olhar pra gente” (EL).

Podemos assim compreender que os estudantes sentem falta de um olhar. O

professor estava lá, na sala de aula, os estudantes reconheciam a competência dele, mas

ele não tinha tempo para olhar, para escutar o que os estudantes diziam. Isso denigre a

profissão docente, isso abala a nossa profissionalidade, porque a nossa legitimidade se

configura não no conhecimento em si, não nos métodos em si, mas se sustenta na

legitimidade da ação, na relação que eu sou capaz de estabelecer com esse outro e,

portanto, de tocar esse outro, sujeito da nossa relação.

Nessa perspectiva, compreendemos com Freire (1997, p.152) que é no respeito

às diferenças entre os professores e os estudantes, na coerência entre o que fazem e

dizem que se dá o encontro entre eles, que se constrói a relação ou o diálogo como

possibilidade de constituir-se o “vir a ser professor”. É nessa relação de diálogos, de

cumplicidade, de parceria que se possibilita o “tornar-se professor”.

No depoimento desses professores, pensando na perspectiva de “tornar-se

professor”, implica considerar um olhar específico voltado para a relação que nasce do

lugar que o professor ocupa, mas que tem a ver com a existência do outro. Contudo,

163

para que essa relação aconteça, é preciso que ambos se percebam partícipes nessa

relação.

Aprende-se a ensinar na Relação com o Conhecimento. A relação do professor

com o saber é um dos temas principais da profissão docente. Nóvoa (1992, p. 25)

evidencia que é indispensável ao professor ter domínio sobre o conteúdo da disciplina

que leciona, e esse fato é reconhecido pelos pesquisadores que se dedicam a essa

temática e apontado como importante pelos estudantes de licenciatura quando

questionados acerca da função docente – “dominar o conteúdo”. Contudo, Montero

(2001, p.198-199) comenta que os defensores da profissionalização propõem um corpus

de conhecimento fundamentado para o ensino. Um desses defensores é Shulman (1987,

1993), que desenvolveu o knowledge base, referindo-se àquele conhecimento que os

professores devem possuir para desenvolverem um bom ensino. Para esse autor, as

quatro fontes do conhecimento essencial que os professores deveriam conhecer

perfilam-se da seguinte forma: a) especialização disciplinar (o conhecimento do

conteúdo); b) materiais e estruturas educativas (os currículos, livros-textos, as

instituições, os testes, as organizações profissionais...); c) a literatura educativa

especializada (a literatura destinada a compreender os processos de escolarização,

ensino e aprendizagem); d) a sabedoria prática (o conhecimento da prática).

Entretanto, para a professora a seguir, o processo de conhecimento na

graduação, não acontecia de forma muito crítica, pois o conhecimento já estava ali,

pronto, o que poderíamos, então, considerar como um estudo numa perspectiva de

reprodução, e não produção do conhecimento. Vejamos:

Na Graduação o conhecimento vinha pronto, a gente estudava sempre as teorias

mais consolidadas e sempre reproduzindo essas teorias. A gente não tinha uma

relação muito crítica com o conhecimento. [...] A pós-graduação me deu outros

níveis de aprofundamento. Eu tive oportunidade de ver, de acompanhar o

conhecimento mais próximo do momento em que ele é produzido (PL).

A professora afirma que teve oportunidade de ver o conhecimento no momento

em que ele é produzido na pós-graduação. Seria essa uma explicação para a opção pela

pós-graduação em detrimento da graduação por alguns professores?

A docência na universidade se reveste de aspectos que circunscrevem sua

complexidade e apresentam grandes desafios no que tange às inovações didático-

pedagógicas, bem como a nova forma de se compreender a produção de conhecimento.

164

O professor, por sua vez, na graduação tem no seu saber fazer o desafio de

ensinar a produzir conhecimento, pois é também vendo o conhecimento produzido, e a

partir dele, que se produz outro conhecimento, posto estar ele, o conhecimento, em

constante (re) elaboração.

Importância atribuída ao estágio - O estágio supervisionado é considerado

pelos professores como algo de grande importância na formação docente. A partir da

Resolução CNE/CP nº. 2, de 19/02/2002, o Estágio Supervisionado passou a ter 400

horas e um caráter processual na formação, sendo orientado para acontecer a partir da

segunda metade do curso.

Para essa professora, a experiência vivenciada no estágio supervisionado durante

a sua graduação foi de grande relevância, e afirma até que a experiência adquirida no

estágio não se consegue na pós-graduação. Assim se expressa:

Muitíssimo do que aprendi foi no curso... na graduação. Algumas pessoas dizem

que a graduação qualquer um faz, é pé de escada, tudo o que é faculdade tem. O

que vale é a trajetória da pessoa, o mestrado e doutorado. Eu não sei … eu acho

que a experiência do estágio na licenciatura não tem pós-graduação que lhe dê...

Eu acho que a formação na graduação [é] importantíssima, ela é muito definidora

do que você vai ser (PL).

Neste depoimento ainda percebemos claramente a “desvalorização” atribuída

aos cursos de graduação em detrimento aos de pós-graduação no fragmento “a

graduação qualquer um faz, é pé de escada”. No entanto, ainda é na graduação que se

inicia a formação docente, e, para termos a formação continuada de professores, todos

passamos por uma graduação e pensamos que “o processo de vir a ser docente” implica

construir uma identidade com a docência desde os períodos iniciais da graduação,

conforme defende Pimenta (2002).

Professor universitário x carreira acadêmica. Em palestra proferida no

auditório da UFPE como abertura do semestre letivo em 2011, ouvimos claramente da

Professora Maria Isabel da Cunha o seguinte: “primeiro me fiz professora para poder

me fazer doutora”. Em sua fala discutia sobre os professores recém-ingressantes nas

universidades públicas brasileiras e as condições e preparação para a docência nos

cursos de pós-graduação.

Durante sua exposição, fez-nos refletir sobre aquilo que Nóvoa preceitua sobre

acompanhar os docentes no processo de indução, ou seja, da sua inserção na função de

professor naquele segmento da educação em que ainda não tiveram experiência.

165

Entretanto, nem na universidade, nem em qualquer outra etapa ou nível de ensino

brasileiro nas escolas públicas, acontece esse acompanhamento inicial à docência.

Desse modo, esses professores recém-doutores adentram no ensino superior

(universidades), em sua maioria, sem que tenham ainda adquirido aquilo que Nóvoa

explicita no que se refere à formação e à identidade docente: “o ser e estar professor”,

no sentido mais específico da afirmativa. Além disso, não possuem os saberes que lhes

deem o status e a profissionalidade.

De fato, observamos que alguns doutores ingressantes na universidade, em geral,

passaram, evidentemente, por uma formação, mas não tiveram tempo para exercer a

profissão docente no que se refere à experiência de ensinar e aprender a ser professor.

Cunha (2007, p.22) adverte que “a docência como atividade profissional exige a

condição de saber justificar as ações desenvolvidas, recorrendo a uma base de

conhecimentos fundamentados, a uma argumentação teoricamente sustentada”.

Nesse sentido, esses professores assim se colocam:

Quando fui fazer meu doutorado eu já estava bem madura e com vinte anos de

magistério. Então, eu tive certa dificuldade, porque precisaria de um orientador

que deveria ter lido mais do que eu, publicado mais do que eu. Senão não fazia

sentido. [...] Eu vi então um fenômeno acontecendo que está se consolidando

agora: a pessoa faz graduação, mestrado e doutorado, tudo direto, e com 30 anos

está doutor, dando aula na universidade. Então, penso que para ser professor tem

que ter um lastro, uma vivência, uma experiência, tem que parar para refletir sobre

o que acontece com a gente. [...] Hoje sou tutora de um grupo PET. E eu fico

imaginando o que teria sido a minha carreira se eu tivesse tido essa oportunidade.

(PL).

Nas universidades no Brasil observamos que todos têm que fazer mestrado e

doutorado. E esquece-se de que o conhecimento prático da didática só se aprende

a fazer fazendo. (PH)

No depoimento desses professores observamos dois aspectos que se

complementam. O primeiro diz respeito especificamente à crítica sobre os critérios de

seleção para o ingresso na docência na universidade por (PL). Esse caminho de

pesquisador “professor” feito em linha direta e sem escala deixa lacunas que o professor

terá que enfrentar, ao assumir a complexidade que sua profissão exige, e que na sua

formação não se fizeram presentes, conforme nos orienta Cunha (2001).

No segundo o professor (PH) também tece críticas sobre a perspectiva

formativa nos cursos de pós-graduação no que tange à “preparação” para a docência,

mas desta vez o próprio professor se ressente dessa formação, pois ele fez mestrado e

doutorado e, mesmo assim, ainda encontra lacunas na sua formação.

166

Sabemos que as limitações que os professores enfrentam na sua formação são

determinantes nos resultados apresentados pelos licenciados, que, por sua vez, tem

rebatimento na Educação básica, posto que serão esses estudantes das licenciaturas os

futuros professores dessa etapa da educação.

Como vemos, a história parece reproduzir aquilo que pensamos ser uma bola

de neve. Na docência, o singular e caracterizador dessa função é a ação de ensinar,

importando o que se entende por ensinar e o que se domina sobre essa ação, que passa

por questões sócio-históricas e, para Roldão (2007), a função do ensinar hoje é

caracterizada pela dupla transitividade e pelo lugar da mediação. Desse modo, se o

professor na universidade não desenvolveu os saberes que são fundamentais a essa ação,

como seu aluno aprenderá tais saberes? Pelo que estamos a observar, os professores

aprendem a ensinar seguindo modelos dos seus professores. E o que fazermos, então,

para que esses modelos não sejam apenas reproduzidos, mas, sim, ressignificados?

7.1.4.2 Forma-se também através de exemplos/orientação de professores

experientes.

É interessante percebermos o quanto o professor universitário se torna exemplo

para os futuros professores e, mais ainda, identificarmos que os professores-referência

também vivenciaram essa mesma representação na constituição do “vir a ser professor”.

Observamos nos depoimentos que essa constituição vai sendo amalgamada, parecendo

até que está se construindo parte a parte, selecionando cuidadosamente um pouco

daquilo que de cada professor teve de contribuição, escolhendo e tecendo

cuidadosamente, procurando aquilo que, na sua perspectiva, preenchia o tipo de

professor que queria ser.

Nessa tessitura do modelo que quer ser, aquele modelo de professor com o qual

não se identifica também é considerado, pois aquilo que queremos ser nos permite

pensar o contrário – assim não quero ser –, e essa escolha cria a identidade e as

possibilidades de vislumbrar o nosso desejo de ser esse tipo de professor e não aquele.

Por que os docentes em formação procuram essa identificação? O que faz com que eles

escolham esse aspecto e não aquele? O nosso interlocutor parece explicar. Vejamos nas

suas palavras:

Eu sempre pensei na parte pedagógica. Você observa um professor bom, o que

esse cara tem de bom, isso e aquilo, e aí você tenta fazer parecido, não é? Por

outro lado, você tem um professor ruim e aprende também com ele. [...] Na

universidade em que fui Teacher Assistant existia o Mr. Peter. Ele era um

167

professor que não era doutor, e era “o cara” da Didática. Quando eu tinha

algumas dúvidas sobre didática recorria ele. Ele era um professor muito bem pago

de Didática do Ensino. Então ele trabalhava com essa parte de novos professores e

professores antigos, bacanas, eruditos, que não sabem dar aula. Porque não é

parte dele. Eu nem culpo eles, é a formação que tiveram. E às vezes os caras

tinham alguma dificuldade e quem quebrava o galho era o Mr. Peter (PH).

O professor (PH) não teve sua formação no Brasil, daí recorrer, quando tinha

dúvidas, ao Mr. Peter, que “trabalhava com essa parte de novos professores e

professores antigos, bacanas, eruditos que não sabem dar aula”. Interessante

observarmos o reconhecimento desse professor no que se refere ao “não sabem dar

aula”, pois lá ele teve essa orientação na sua iniciação à docência, mas aqui se recorre

aos modelos ou aos colegas aos quais confiamos nossas dificuldades. Apesar de

reconhecermos que os primeiros anos de prática profissional são decisivos para a

docência, conforme evidencia Tardif (2000), contudo há poucas chances de algum

professor no Brasil ter essa orientação nos seus primeiros anos.

Quando já apresenta o gosto pela profissão desde o Ensino Médio (Dom). O

relato seguinte do professor considera que a formação docente deve acontecer cedo.

Pensa ser importante que durante o Ensino Médio o estudante demonstre tendências

para ser professor. Nas suas palavras:

Forma-se um professor quando se começa cedo. Quando o cara no curso

fundamental e médio já mostra tendências, depois vem para a universidade

querendo ser professor. Mas se uma pessoa vem fazer licenciatura apenas para

entrar na universidade, é aí onde reside o problema. Eu às vezes tomo exemplos de

pessoas que vieram do ensino fundamental e médio, público ou privado, não sei,

mas que são exemplos de pessoas que nasceram para ser professor (PM).

O professor a seguir parece concordar com a afirmação de que existem “pessoas

que nasceram para ser professor” (PM) pois considera ser importante que se tenha o

“dom”, no sentido de gostar realmente de ser professor, de atuar na sala de aula. Ser

professor, para ele, implica compreender as diferentes maneiras como cada estudante

aprende. Necessita ainda saber lidar com a diversidade sociocultural existente na sala de

aula. Vejamos como se pronuncia:

Primeiro é “dom”. Quem não gosta de dar aula, realmente, não tem “dom” para

ser professor. [...] Quem não está feliz dando aula, procure se realizar em outros

fazeres. Nós ficaremos mais felizes e eles também! (PEF).

Ser professor implica inicialmente gostar de ensinar, identificar-se, buscar meios

para aperfeiçoar-se, profissionalizar-se. Sabemos hoje que aprendemos a ensinar e não

nascemos sabendo ensinar. O “dom” implica considerarmos que já nascemos prontos,

acabados e essa compreensão vai contradizer o que Freire (1997, p. 55) nos ensinou:

168

“ensinar exige a consciência do inacabamento”, pois a inconclusão é própria do ser

humano. E ser professor é um processo que continua em toda a trajetória da nossa vida.

Salientamos, de acordo com Kessler (2002), que a concepção da docência como

um “dom” minimiza a sua condição acadêmica, inclusive os conhecimentos

pedagógicos, desvalorizando esse campo na formação docente, principalmente na

universidade, reafirmando que a formação específica para a docência é desnecessária.

Em contrapartida, Nóvoa (1999, p.17) afirma que “a maneira como cada um de

nós ensina está diretamente dependente daquilo que somos como pessoa quando

exercemos o ensino”. As opções que fazemos ao exercer a docência não podem ser

“dissociadas do eu pessoal e do eu profissional, pois nossas ações revelam a nossa

maneira de ensinar na nossa maneira de ser”.

O quadro 6 resume as discussões que estamos realizando sobre a constituição do

professor-referência.

Quadro nº 6: Resumo da constituição do professor-referência

Pro

fess

or

Ref

erên

cia

Razões da

escolha

profissional

Maneira que

aprendeu a ensinar e

tornou-se professor

Lacunas

encontradas no

processo de

formação

Como se forma um

professor hoje

PP

Por influência de

trabalhos outros,

fui fazer

Pedagogia, e no

curso me vi

docente.

Na experiência de

ensinar, refletindo

sobre sua própria

experiência,

ressignificando-a.

Problemas de

articulação entre

a universidade e

escola pública.

Refletindo sobre a

relação, com o outro;

com o conhecimento;

com a experiência.

PH

Por influência da

família.

Na prática, tendo que

dar aulas.

Ausência da

graduação na

licenciatura.

Troca de

experiências; pinçar

diferentes

características de

professores.

PE

F Por influência de

professores da

Educação Básica.

Por meio da

observação de

professores.

A didática como

fator de

importância na

formação.

Tem que ter dom e se

realizar com o que

faz.

PM

Por influência do

irmão.

Saber o conteúdo não

era o suficiente;

precisava descobrir

novas formas de

ensinar.

Necessidade de

maiores debates

sobre o trabalho

a ser realizado

na sala de aula.

Quando demonstra o

gosto pelo ensino

desde a educação

básica.

PL

Sempre quis ser

professor.

Observação e

reprodução de atitudes

de professores; a

prática auxiliou no

desenvolvimento

dessas habilidades.

A ausência de

professores que

façam a relação

entre o conteúdo

e o como

ensinar.

A partir da

experiência do

estágio

supervisionado na

licenciatura.

169

Os professores-referência, excetuando (PL), escolheram a docência por

influências de familiares, de professores, no processo de formação inicial, ou mesmo

desde a Educação Básica.

Com relação a tornar-se professor, esses participantes elencaram as experiências

na prática de sala de aula como principal meio de adquirir essa aprendizagem, seja

através de observação, ou mesmo da ação e reflexão sobre a mesma.

No que se refere às lacunas identificadas nos depoimentos dos professores

referência (PL), (PM) e (PEF), verificamos que há ausência, na prática dos seus

professores quando da sua formação, da relação entre o conhecimento do conteúdo e

dos conhecimentos didático-pedagógicos.

O professor referência (PH) alega que, por ter tido outra formação que não a

licenciatura, sentiu durante a sua trajetória profissional a necessidade de ter a

habilitação que uma licenciatura lhe concede.

Duas características principais surgem nas falas dos professores-referência

quando se reportam à formação do professor hoje: a primeira diz respeito à troca de

experiências, seja enquanto observação de práticas ou em estágios supervisionados,

como também na troca dessas experiências entre os colegas e professores; a segunda

observa a relação com o objeto a ser ensinado, o gostar do que faz, ressaltando-se que a

perspectiva da falta do “dom”, refletida na qualidade da formação dos professores,

significa “gostar do que faz”, na compreensão de (PEF).

7.2. INFLUÊNCIAS NA CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL

DOCENTE

A Identidade Profissional Docente, segundo Aguiar (2004, p.9), “associa-se ao

sentimento e a consciência de pertencer a um grupo, de ser um profissional que interage

com as representações sociais sobre sua identidade”. Complementando essa ideia,

Pimenta (2002) acrescenta que no processo de construção dessa identidade o professor

cria ou constrói o conhecimento e o seu saber profissional, dentro das possibilidades de

seu espaço histórico-cultural.

O fazer profissional, por sua vez, ao longo da história, apresentou diferentes

maneiras de atuação. Podemos perceber que a identidade profissional docente não é

estática, uma vez que vai se constituindo ao longo do tempo e recebendo influência das

gerações adultas de professores para os mais jovens.

170

Assim, nesse eixo, fazemos uma possível aproximação do que dizem os

professores-referência sobre si mesmos, em algumas situações, e o que dizem os

estudantes sobre eles, numa tentativa de estabelecer possíveis relações entre como o

professor se vê e como os estudantes o veem, criando, assim, uma possibilidade para

tentar identificar em mais um momento a influência que esse professor exerce sobre os

futuros professores, no sentido de constituição da identidade profissional docente.

O eixo Indícios de Identidade Profissional Docente foi organizado a partir das

entrevistas semiestruturadas. Foram cinco as questões norteadoras sobre as quais nos

apoiamos para buscarmos compreender este eixo: como o docente se percebe enquanto

professor; como os estudantes percebem o professor; o que é ser professor na

universidade; compreensão sobre identidade docente; e a que atribui o fato de ser

apontado “professor-referência”.

7.2.1 COMO O DOCENTE SE PERCEBE ENQUANTO PROFESSOR E OS

ESTUDANTES PERCEBEM ESSE PROFESSOR.

Santos (1986, p.36) considera que “ter uma identidade é estar só, no sentido de

unicidade e estar com o outro na medida em que se compartilham os valores, as

representações do grupo social e da cultura a que pertence”.

Percebemos em Dubar (1997) que é no confronto das situações no campo

profissional que se localiza o desafio identitário mais importante para as pessoas. E é o

resultado desse confronto que proporciona as modalidades de base da construção da

identidade profissional, que não se restringe apenas a uma identidade no trabalho, mas a

uma projeção de si, da sua trajetória de formação e profissionalização.

Ainda conforme Dubar (1997, p.135), “a identidade para si e identidade para o

outro são ao mesmo tempo inseparáveis, uma vez que a identidade para si é correlata ao

outro e a seu reconhecimento: nunca sei quem sou a não ser no olhar do outro”.

Desse modo, toda identidade remete a uma ideia de reconhecimento, ou, dito de

outra forma, como é que o outro vê quem eu sou e como é que eu vejo o outro. Quando

se faz esse movimento de reconhecer o outro da sua profissão e reconhecer-se nela, se

autorreconhece, porque reconhecimento é isso: é ser levado de volta para si mesmo.

A construção de uma identidade docente é antes uma construção epistemológica

e profissional, na qual os saberes se entrecruzam. É uma construção que não se dá sem

171

conflitos, nem embates, mas uma construção necessária. Esse processo de construção

identitária busca que o profissional compreenda que o ensino é uma atividade social

ampla e complexa, perpassada de saberes, com plena consciência de seu papel na

universidade. O quadro a seguir sintetiza e tenta relacionar como os professores se veem

e como são vistos pelos estudantes.

Quadro nº 7: Síntese da identidade profissional docente - Pedagogia

Síntese

Como o docente se

percebe enquanto

professor

Como os estudantes percebem o

professor

O professor tem consciência do

seu papel de formador e sua ação

é intencionalizada com esse

propósito.

O papel de formador sinalizado

pelo professor é percebido pelos

alunos por meio das ações de

incentivar a pesquisa, o interesse,

a reflexão, de “trazer o novo” e o

compromisso com o ato de

ensinar.

A proximidade com a história de

vida do professor traz a

perspectiva de o aluno se enxergar

nele, ou seja, existe um respeito e

uma admiração pelo sucesso

profissional do professor, que

instiga os estudantes a estudarem

mais e apreenderem boas práticas.

Consegue ver o aluno numa

perspectiva de valorização da

pessoa humana.

Formador. Essa é a

minha palavra. No

sentido que

estrutura a minha

identidade. Eu me

sinto formador que

forma outros

formadores. Esse

círculo me constitui

como sujeito da

minha ação dentro

da universidade.

Eu me vejo como

alguém que está

atuando,

intervindo,

intencionalmente,

explicitamente,

conscientemente,

nos processos de

formação do outro

(PP).

- A sua história de vida tem

semelhança com a de alguns

estudantes. Isso lhes dá ânimo para

estudar mais (EP7).

- Instiga nossa reflexão através de

questões, antes mesmo de nos dar

respostas; incentiva a elaboração de

pesquisas científicas; traz os conteúdos

relacionando com a prática (EP8).

- Professor comprometido com o

conhecimento produzido (EP10).

- O exemplo de persistência, pelo fato

de ter chegado à profissão de professor

universitário, mesmo com dificuldades

no decorrer da sua vida (EP5).

- Consegue ver o outro como humano

e não apenas como mais um aluno

(EP8).

- Que como este professor, existem

poucos na universidade (EP10).

Conforme observado no Quadro nº 7, existe um consenso entre como o professor

se vê e como os alunos o veem. De fato, a autoimagem do professor como formador

delineada nesta pesquisa nos faz lembrar Zabalza (2004, p.115), ao entender que a

formação no contexto universitário necessita de um caráter mais polivalente, maleável,

que se adapte a diferentes situações e na resolução de problemas. A formação que se

almeja é o desenvolvimento da pessoa em sua totalidade, considerando aspectos éticos e

sociais e potencializando sua maturidade, conforme evidenciamos, o que parece ser a

prática do professor a partir do que diz (EP5) e (EP10).

Nesse sentido, Charlot (2000, p. 72) complementa que o aprender só faz

sentido em “referência à história do sujeito, às suas expectativas, às suas referências, à

172

sua concepção de vida, às suas relações com os outros, à imagem que tem de si e a que

quer dar de si aos outros”, conforme evidencia (EP7).

Lipianky (1998) também nos ajuda a compreender a percepção que esse

professor (PP) tem de si mesmo, ao afirmar que a consciência de nossa própria

identidade é um dado fundamental da relação com que representamos nossa própria

existência e dela com o mundo. É ainda resultante de um processo complexo, que une

inteiramente a relação consigo mesmo e com o outro, corroborado na fala de (EP8).

Conseguimos compreender a identidade de formador com que esse professor se

identifica, posto que a dimensão pessoal da docência vem sendo enfatizada na sua ação

de acordo com suas falas e depoimentos dos estudantes nessa análise. Por sua vez, essa

dimensão pessoal, aliada à implicação com a docência, parece ser responsável para os

professores irem além da dimensão técnica em direção à pedagógica formativa, de

acordo com os estudos de Isaia (2003).

Quadro nº 8: Síntese da identidade profissional docente - Educação Física

Síntese

Como o docente se

percebe enquanto

professor

Como os estudantes percebem o

professor

O professor se percebe

como responsável pela

formação pessoal e

profissional dos alunos.

Essa responsabilidade é

compreendida pelos alunos

a partir das ações de

incentivar o interesse e o

estudo, além de demonstrar

conhecimentos do

conteúdo e de como saber

ensinar. Muitas das

qualidades apresentadas

servem de exemplos para

os futuros professores.

Eu me vejo como

qualquer professor

responsável em

construir um futuro.

Cada aluno que

interage comigo

profissionalmente leva

para a sua vida um

pouco do que nos é

mais íntimo: o

conhecimento.

Vejo-me responsável

diretamente pelo papel

profissional e humano

que cada aluno vai

desenvolver na

sociedade (PEF).

- Competente, responsável,

criterioso, versátil e coerente (EEF8).

- Tem domínio total dos conteúdos;

sabe ter uma ótima relação com os

alunos (EEF5).

- Não se restringe apenas aos

conteúdos […], relaciona-os com a

prática, tudo de uma forma

interessante e articulada, para que haja

interesse mútuo (EEF6).

- Suas aulas têm uma carga subjetiva

de informações que você levará

consigo durante o seu curso e para a

vida (EEF5).

- Incentiva a estudar (EEF6).

- Boa didática. Bom pesquisador

(EEF7).

Percebemos na fala dos estudantes que existe um reconhecimento sobre a

percepção que o professor tem de si mesmo. O fato de o professor sentir-se responsável

pela formação pessoal e, profissional, dos estudantes nos remete a Franco e Gentil

(2007, p.43), ao lembrarem que a identização supõe a capacidade e apropriação do que

se produz no agir e no decidir o destino da ação, estabelecendo, assim, o

reconhecimento da responsabilidade com o que se é. Nesse sentido, a identidade

173

profissional se reveste de um componente essencial para esse professor, que assume a

função ética de auxiliar no desenvolvimento profissional dos futuros professores.

A docência engloba diferentes dimensões que se imbricam nas suas atividades.

Podemos ver claramente a docência nesse contexto, que, extrapolando a ação específica

do ensinar, evidencia a dimensão ética e profissional, incorporando dados identitários,

revelados na responsabilidade pela formação que está acontecendo.

Quadro nº 9: Síntese da identidade profissional docente - História

Síntese

Como o docente se

percebe enquanto

professor

Como os estudantes percebem o

professor

O professor é vaidoso

profissionalmente e se

sente competente.

Os estudantes

admitem a

competência do

professor através da

atuação na sala de

aula, das pesquisas,

orientações, o domínio

do conhecimento e a

maneira com que

consegue se

comunicar com os

alunos.

Independente de ser

professor, eu venho de uma

família onde as pessoas

levam a sério o trabalho.

Assim, você tem que ser

competente, seja no que for.

Então, eu tenho muita

vaidade profissional. Eu

tenho vergonha de

apresentar alguma coisa

ruim. Eu sou vaidoso, eu só

gosto de fazer um trabalho

quando eu consigo fazer

direitinho (PH).

- Tem grande conhecimento e se

comunica magistralmente com seus

alunos (EH6).

- Pela sua amplitude de

conhecimento e principalmente pela

maneira como abordava os debates

(ouvindo a opinião e criticando quando

necessário). (EH6).

- Foi marcante para mim o fato de ele

mostrar a história de uma maneira

informal, lúdica e dinâmica, pois o

conteúdo parecia simples (EH7).

- Abriu-me os olhos para o lado mais

bonito e humano do professor: a sua

influência no emocional dos alunos

(EH7).

- Pela sua atuação em sala, e também

como pesquisador e orientador (EH8).

O professor (PH) se identifica como competente e é reconhecido como tal pelos

estudantes. Nesse sentido, Rios (2012) considera que a ideia de competência remete a

saber fazer bem sua tarefa, e assim ele tem uma dimensão técnica, que implica ser capaz

de tratar o conhecimento do conteúdo, construindo e reconstruindo com os estudantes.

A competência é necessária ao saber fazer docente, porém implica, segundo

Freire (1997, p.108), que não podemos ser professores sem que nos posicionemos diante

dos estudantes, sem revelarmos nossa maneira de ser, de pensar politicamente, nem tão

pouco escapar da apreciação dos estudantes, pois a maneira com que eles nos percebem

tem importância extrema para nosso desempenho. Daí a razão de procurarmos uma

coerência “entre o que digo e faço e entre o que pareço ser e realmente estou sendo”.

Colocamo-nos para além da profissionalidade docente, conforme evidencia

Nóvoa (2007), no sentido de se considerar a ‘pessoalidade’ no interior da

174

profissionalidade, e Oliveira (2003), ao avançar com o termo “professoralidade”, no

caminho do estatuto da profissionalidade docente.

O professor se constrói também a partir da formação inicial, mas acredita-se que

essa construção vai acontecendo ao longo da sua história de vida pessoal, escolar. Ao

vivenciar as formas como os professores ensinam, eles vão assimilando certos

conhecimentos, crenças, valores e competências, que vão sendo observados e

incorporados na sua maneira de perceber e sentir o mundo, as coisas, e no seu jeito de ir

se constituindo professor.

Encontramos na fala do professor evidências de uma “ética pedagógica”,

conforme evidencia Röhr (2006, p. 116), ao dizer que “tem vaidade com seu trabalho,

posto ser um profissional competente no que faz”, vaidade essa entendida no sentido de

querer fazer bem feito. Para os propósitos mais específicos dessa reflexão, tendo em

vista que a “educação é um agir, ela precisa, como qualquer ação humana, de uma

orientação ética”. Identificamos essa dimensão ética na fala de alguns estudantes, ao

citarem características do professor-referência. Vejamos nas suas falas:

Compromisso com a docência; domínio de conteúdo; ética profissional;

dinamismo; atualização, interativo, bom domínio da turma e bom convívio (EEF8).

Ética; facilidade de comunicação; dominar o conteúdo que está ensinando; ter

flexibilidade (EP7).

Cumprir o programa da disciplina, pontualidade, compromisso em não faltar

constantemente, ser aberto a diálogos, principalmente sobre esclarecimentos de

notas (EH).

Pontualidade e assiduidade às próprias aulas, compromisso com a aprendizagem,

com a docência, clareza nos procedimentos de avaliação, planejamento de aula

(EL).

A dimensão humana é um dado que outro estudante reconhece no professor-

referência, na sua fala:

Abriu-me os olhos para o lado mais bonito e humano do professor: a sua

influência no emocional dos alunos (EH7).

175

Quadro nº 10: Síntese da identidade profissional docente - Letras

Síntese

Como o docente se

percebe enquanto

professor

Como os estudantes percebem o

professor

A professora se vê

realizada com a

profissão, ama o que

faz e vislumbra, a partir

de suas ações, que os

estudantes aprendam

para além da sala de

aula.

Os estudantes

percebem esse

dinamismo, através das

ações de incentivar o

compromisso, a

reflexão sobre a prática

e sobre o processo do

vir a ser professor,

provocando-os a

tomarem

responsabilidades com

o seu futuro.

Uma professora curiosa

comprometida, realizada, e

sempre aberta a novas

aprendizagens.

Procuro fazer tudo o que a

vida universitária implica:

ensino (graduação e pós-

graduação), pesquisa e

extensão. Essa articulação

vivida intensamente tem

sido o motor da minha

forma de atuar na UFPE.

Procuro criar e divulgar

para os alunos

oportunidades, de modo

que eles possam passar por

tudo isso também,

aprendendo para além da

sala de aula (PL).

Ela demonstra amar o que faz (parece

clichê) mas é isso mesmo (EL8).

A professora está sempre atenta em

provocar a nossa reflexão sobre a prática

docente e busca, a partir disso, mudar

nossa visão sobre como, por que e para

que ensinar (EL6).

A sua consciência docente e,

consequentemente, a preocupação com o

docente que viremos a ser foi

fundamental para a nossa formação,

pois, daí advém o cuidado em nos

tornarmos sujeitos mais conscientes e

responsáveis perante nossos futuros

alunos em nossas práticas. Além disso,

nos últimos períodos, o contato com a

prática corrobora, confirma e, mais, de

fato aprofunda e nos deu base para

colocar em prática nosso conhecimento,

de forma a valorizar a comunicação, uma

vez que trabalhamos com língua (EL8).

A professora vivencia a docência em toda a sua complexidade, articulando o

ensino, a pesquisa e a extensão. Nesse sentido, amar o que faz gera a realização

profissional. Essa fala lembra a proposição de Isaia (2006), ao abordar a suposta relação

entre a dimensão pessoal e a dimensão profissional da docência, remetendo-nos que a

reflexão sobre a prática só é conseguida a partir do estar docente, do comprometimento,

o que implica certa curiosidade constante sobre a profissão.

Por outro lado, na relação com o estudante, essa perspectiva lança o olhar sobre

a confirmação ou aprofundamento que a prática traz para a docência.

Importante salientar a relação suposta entre essa prática e o conhecimento sobre

o ensino, como o dado levantado pelo estudante (EL), remetendo-nos a Puentes e

Aquino (2009), em seu estudo sobre a especificidade da docência em relação ao nível de

aprendizagens no qual ela se insere e a questão da complexidade da trajetória

profissional, do domínio dos conteúdos e de sua forma de utilização na construção dessa

docência.

176

Quadro nº 11: Síntese da identidade profissional docente - Matemática

Síntese

Como o docente se

percebe enquanto

professor

Como os estudantes percebem o professor

O professor se vê um

educador, que gosta de

dar aula e tenta modificar

a ideia de que “não é só

saber, ou transmitir”, é

fazer com que o aluno

apreenda, compreenda os

conteúdos.

Os estudantes veem um

professor, dedicado à

profissão, estudioso,

sempre disponível a

ajudar os alunos, com

uma boa didática e um

caráter incontestável.

“Um professor

/educador. Eu gosto de

dar aula para alunos

das licenciaturas,

porque essas pessoas

vão ser professores,

para tentar modificar a

ideia de que “não é só

saber, ou transmitir” e

fazer com que o aluno

compreenda, entenda,

veja que a disciplina

até um certo nível não

é nenhum bicho”

(PM).

[EM8] É ótimo professor, dedicado, preocupado

com a educação e nunca se dá por satisfeito,

sempre estudando para aperfeiçoar seus

conhecimentos, que já são enormes.

[EM7] […] além das articulações dos conteúdos

se colocava à disposição para ajudar em

pesquisas, eliminar dúvidas sobre os conteúdos

e, principalmente, se colocar à disposição para a

produção de trabalhos e/ou pesquisas

científicas.

[EM5] Um excelente profissional, dedicado,

amigo dos alunos, uma pessoa de caráter sem

contestação.

[EM5] É muito dedicado, sabe compreender o

aluno, tem uma boa didática e é muito

inteligente.

Em sua auto definição (PM) se identifica como professor educador e recorremos

então a Freire (1997, p. 31), para complementar essa identificação, no sentido da

compreensão que o professor referência considera que é a de mediador do processo de

ensinar a pensar certo. Nesse sentido, compreendemos o pensar certo como o

“transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo

e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de intervindo no mundo,

conhecer o mundo”.

Ressaltamos que entre os professores pesquisados (PM) é o único a não possuir

doutorado, o que implica, a nosso ver, o abrandamento da variável pesquisa na questão

identitária.

Outrossim, a formação inicial do docente ocorreu no ambiente em que o

paradigma da racionalidade técnica se apresenta de forma significativa. Entretanto, a

preocupação mostrada em sua fala, quando se refere “aos estudantes que serão futuros

formadores”, e das falas dos estudantes, no que tange a sua dedicação para com a

docência, reflete que ele está sempre os auxiliando a eliminar suas dificuldades

formativas, parecendo conduzir a uma possível superação daquele paradigma,

explicitando conjuntamente com a fala do estudante, ao dizer que “ele é preocupado

com a educação e nunca está satisfeito com o que sabe, demonstrando sempre estar se

aperfeiçoando”, sendo importantes indicativos para nossa pesquisa.

177

7.2.2 SER PROFESSOR NA UNIVERSIDADE

Ensinar na universidade hoje exige uma ação docente diferenciada da

tradicionalmente praticada.

A sociedade considera de fundamental importância que os professores exerçam

suas atividades com autonomia, integridade e responsabilidade, além de adquirir saberes

em relação ao desenvolvimento e implementação do currículo. Essas exigências

implicam considerar o aprofundamento dos conhecimentos de estratégias e

procedimentos da formação de professores com vistas à superação das práticas atuais,

que em sua maioria continuam a basear-se muito mais na intuição e na experiência do

que num corpo de conhecimentos especializados sobre a docência (GARCIA, 1995).

Quando nos referirmos ao trabalho dos professores, utilizamos o termo docência,

mas somos conscientes de que os docentes desempenham, na realidade, um conjunto de

funções que ultrapassam a exercício da docência, já especificados anteriormente

(ZABALZA, 2004).

Muitos são os que defendem a ideia de que, para ser um bom professor

universitário, o importante é ser bom pesquisador. Neste sentido, o autor defende a ideia

de que ser bom pesquisador é, de fato, importante, porém não substitui, nem se iguala,

seja em objetivos, habilidades, mentalidade, atuações específicas, seja em

conhecimentos necessários, ao fato de ser professor (ZABALZA, 2004, p.108).

Pesquisas apontam que nem sempre um bom pesquisador é considerado pelos

estudantes um bom professor.

Não se pode negar que um ponto de referência para a análise do papel docente

na universidade se encontra na afirmação da profissionalização desse papel e das

condições que essa docência exige.

Arturo de la Orden (1990 p.12) compreende o professor universitário, em

primeiro lugar, como uma pessoa profissionalmente dedicada ao ensino, ou seja, é um

profissional da educação que necessariamente partilha com os professores de outros

níveis algumas funções básicas relativas à aprendizagem dos estudantes. Em segundo

lugar, é um especialista do mais alto grau numa ciência, o que implica a capacidade e

hábitos de investigação que lhe permitam aproximar-se e ampliar fronteiras da sua área

do saber. Em terceiro lugar, é membro de uma comunidade acadêmica, o que supõe a

aceitação e a conformidade da conduta a um conjunto de normas, valores e atitudes que

178

de algum modo refletem uma determinada percepção da realidade e caracterizam e dão

sentido a um modo de vida.

Assim, observamos que ser professor universitário hoje é uma função carregada

de uma complexidade, pela qual perpassam, desde a valorização da pessoa e do

profissional que partilha com seus pares, atribuições relativas à aprendizagem dos

estudantes, ou seja, é ser um especialista numa ciência, que implica investigar e

permitir-se ampliar a fronteira na sua área do saber; é ser membro de uma comunidade

acadêmica na qual existe um conjunto de normas, valores e atitudes e é também aquele

que está oportunizando ao ser humano tornar-se mais humano.

Vejamos a seguir o que dizem e pensam os professores-referência sobre o que é

ser professor na universidade, sintetizado no Quadro 12 a seguir:

Quadro nº 12: Síntese do significado do que é ser professor na Universidade pelos

professores-referência

C Fragmentos da entrevista professores Síntese

Ped

ago

gia

“[…] é ser aquele sujeito que está possibilitando ao outro uma formação

efetivamente em um nível superior. É de fato disponibilizar um conjunto de

conhecimentos não só em si mesmo, mas, um conjunto de conhecimentos com

as suas chaves, ou seja, com os seus modos de produção, porque quando o

outro tem acesso a isso, ele consegue ter a possibilidade de escolher os

conhecimentos com os quais ele quer se movimentar e ele consegue inclusive

participar, interferir no processo de construção do conhecimento” (PP).

Enfatiza à

oportunidade

da

construção

da

autonomia

intelectual.

Ed

. F

ísic

a

O professor universitário tem um compromisso com a sociedade do ponto de

vista profissionalizante. Diferente do professor da escola básica, que tem um

compromisso social, educacional, muito mais importante, porque ele forma o

cidadão. Nós recebemos esse cidadão, que vem do ensino médio, e

precisamos formá-lo, com uma habilitação profissional, sem esquecer o lado

educacional. “Sou apaixonado por minha carreira pela minha profissão,

independente do curso que lecione” (PEF).

Enfatiza a

profissionali

zação.

His

tóri

a

Eu acho que é uma profissão como outra qualquer. O problema é as pessoas

mitificarem. Muitas pessoas falam mal, mas creio que, lá no fundo, elas não

queriam ser professor, terminam sendo professor por algumas circunstâncias.

Aconteceu, virou professor – pronto! Assim, tem muita gente frustrada. Falta

muito profissionalismo nas pessoas. Dar aula é um trabalho, como outro

qualquer, igual a um encanador, ou um médico, é a mesma coisa, é a minha

rotina. Vou dar minha aula, então tenho que dar uma aula boa (PH).

Ênfase na

ética

profissional.

Let

ras É essencialmente produzir e disseminar conhecimento. Isso eu acho que é a

grande marca da docência, que é o que me dá muita alegria aqui, esse

compartilhamento, essa discussão, o entendimento da realidade da educação

(PL).

Grande

marca da

docência.

Ma

tem

áti

c

a

É dominar a sua área de conhecimento. Entender bem o que é o seu ofício. Ser

professor no ensino superior tem uma diferença a ser considerada: quando se

faz o concurso é para ser professor do magistério superior, mas o professor não

quer “ser professor”, quer ser pesquisador. Então, quando vai dar aula, não tem

o perfil do professor no sentido amplo (PM).

Ênfase na

docência.

Legenda: C= Cursos

179

Os estudos focados na identidade docente no Brasil apontam, segundo Dotta

(2011, p 71), um número reduzido de trabalhos sobre o delineamento desse conceito,

havendo carência sobre a categoria dos professores formadores de professores nas

licenciaturas. Para ela, “a construção da identidade docente supõe que os professores

sejam atores desta construção, quando estabelecem relações progressivas de

aproximação e ressignificação de uma nova profissionalidade e de um novo

profissionalismo” (p.72)

O espaço para acolhimento da identidade docente encontra-se, para Berger &

Lukmann (1985), na socialização secundária, processo que introduz o sujeito em setores

do mundo objetivo da sociedade, adquirindo “conhecimento de funções específicas [...]

com raízes na divisão do trabalho” (p. 185), implicando, então, a relevância da

dimensão profissional da identidade.

Desalojar as concepções identitárias no grupo de sujeitos desta pesquisa

qualifica a noção de professor-referência, uma vez que esse qualificativo (referência)

aplica-se a algo que se constrói a partir de sua identidade. Daí tomarmos as falas desses

sujeitos sob esta caracterização. Nesse sentido, nota-se no Quadro 13 uma

diversificação do que pensam os professores sobre o conceito de professor universitário.

A fala de (PP), por exemplo, parece acentuar certa autonomia intelectual, a

nosso ver, aquela autonomia proposta por Contreras (2002, p. 196) como “qualidade de

relação profissional”, uma necessidade educativa delineada a partir de uma obrigação

moral, que se legitima pelo conhecimento, aproximando-se, contudo, do olhar reflexivo,

no sentido de Schön (2000), ao relevar a necessidade de se desvelarem “as chaves” do

conhecimento a ser ensinado.

Em um sentido complementar, (PM) se volta para “a docência, no que lhe é

mais específico”, criticando, em parte, a ênfase dada à pesquisa. Coloca-se, pois, mais

perto do olhar do estudante, dos seus fazeres e preocupações em apreender os objetos de

ensino.

As raízes da profissionalização docente são apontadas por (PH), colocando a

docência em pé de igualdade com qualquer outra profissão, enquanto (PEF) distingue-a

da docência no ensino básico por ter, no ensino superior, “um compromisso

profissionalizante”.

A “grande marca da docência”, a produção e disseminação do conhecimento,

parecem conduzir (PL) ao direcionamento da relevância na pesquisa. As ambiguidades,

as armadilhas e valores que permeiam a retórica sobre o profissionalismo

180

(CONTRERAS, 2002) ganham marcas nessas falas, ressaltando a importância do que

pontua Grundy (1987, p 134-136) sobre a necessidade do desenvolvimento de uma

consciência crítica que desvele uma prática emancipatória, distante dos interesses de

dominação.

7.2.3 O QUE DIZEM OS COORDENADORES

O olhar voltado para a legislação pertinente às exigências para a docência na

educação superior mostra-nos, por parte do legislador, pouca preocupação na

conceituação dessa profissão. Em seu artigo 66, a Lei Federal nº9394/96 define que a

preparação para o exercício do magistério superior seja feita “prioritariamente” em

programas de mestrado e doutorado.

Iniciativas de melhor caracterização do que se pretende obter desse profissional

de um ponto de vista legal são encontradas ainda em programas e planos elaborados por

equipes de governo, tais como o pioneiro Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG),

elaborado ainda nos governos militares (1974), no Plano Nacional da Graduação (PNG)

(1999), ou ainda nos documentos internos das instituições de ensino superior, notando-

se o foco no trinômio ensino-pesquisa-extensão, que formata o ideário da

profissionalidade e identidade docentes na universidade. Internamente, após a chamada

abertura democrática no País, a universidade, mesmo herdando o modelo administrativo

deixado pelos militares, por força dos movimentos docentes abriu-se para um processo

de democratização em que os quadros de dirigentes são eleitos por seus pares, com ou

sem a participação discente, conforme o caso. Tendo em vista os objetivos da pesquisa,

tentamos colher o que pensam os coordenadores das áreas de trabalho dos professores

pesquisados sobre o conceito de professor universitário. O quadro n º 13 a seguir nos

traz uma síntese:

Nesse quadro podemos observar que o trinômio ensino-pesquisa-extensão é

claramente tratado por (CLD) e (CM) como a corroborar o que chamamos ideário

subjacente aos documentos oficiais. A preocupação com a prática e sua divulgação,

visando contribuir com a formação, é o foco de (CP), enquanto (CH) fala da

“fragilização” da universidade pela ocupação dos professores com a pesquisa. (CEF)

descreve a questão política como contribuição.

181

Quadro nº 13: Síntese do significado do que é ser professor na Universidade C

urs

o

Fragmentos das falas dos coordenadores Síntese

Ped

ago

gia

Ser fomentada da produção do conhecimento. Na minha área,

especificamente, além de fomentar, também divulgar práticas de ensino

de matemática que contribuam para a aprendizagem de alunos e

professores em formação inicial e continuada (CP).

Prática /

divulgação e

contribuição

na formação.

Ed

uca

çã

o F

ísic

a Oportunidade de dar uma contribuição política e republicana para o

desenvolvimento da sociedade (CEF).

Questão

política.

His

tóri

a

Uma grande oportunidade de formar profissionais e nem sempre tem

como corresponder às exigências, devido às demandas inerentes às

condições de professor universitário, que às vezes impossibilita você de

dedicar maior tempo à docência, tornando secundária a ação docente em

detrimento do trabalho docente. A universidade brasileira está sendo

vítima do que foi se distinguindo no âmbito da performance docente. A

pós-graduação toma mais tempo do docente, que devido a isto, deixa de se

dedicar com igual medida para a graduação. A universidade se fragiliza

devido ao professor estar ocupado com o CNPQ, pois é isso que o faz

progredir na universidade. Esse fato permite que eu tire a responsabilidade

sobre a aprendizagem do estudante de mim e torne o próprio aluno

responsável por não conseguir realizar a aprendizagem dos conteúdos

(CH).

“Fragilização”

da

universidade.

Let

ras Um compromisso público com a docência, ampliado para aquilo que

compõe o tripé Ensino-Pesquisa-Extensão (CLD.)

Ensino,

Pesquisa e

Extensão

Ma

tem

áti

ca Significa uma ótima oportunidade de continuar com os trabalhos de

pesquisa iniciados na pós-graduação e também de servir a comunidade,

ministrando disciplinas na graduação e realizando projetos de extensão

universitária (CM).

Ensino,

Pesquisa e

Extensão

Os extratos aqui retratados desvelam um olhar “de si para fora” sobre o

significado do ser professor na universidade, conduzindo-nos, no que diz respeito à

questão de identidade, ao processo biográfico, salientado por Dubar (1997, p.109), aos

atos de pertença, ao mesmo tempo em que se nota a força da instituição, ao atribuir

identidade (na questão do trinômio trazido pelos documentos oficiais), não se notando,

contudo, dados que abram espaço para a chamada crise “desejável e necessária”,

apontada por Dotta (2011, p.13).

7.3. PROCESSO DA CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE

O processo de constituir-se professor repousa evidente num conjunto de relações

que se interpenetram e dão o tom e a forma que integram a pessoa e o profissional

182

professor. A complexidade do aprender é tão dialógica que, ao aprender se ensina e ao

ensinar se aprende.

Nessa compreensão, subjaz a concepção do ensinar, que vai nos remeter

diretamente à profissionalidade docente, entendida aqui na dinâmica da pessoa

profissional e que se insere no processo de identificação, que, de acordo com Dubar

(1997), não é dada de uma vez por todas no ato do nascimento, mas constrói-se na

infância e deve reconstruir-se sempre ao longo da vida. Por sua vez, a profissionalidade

encontra-se interpenetrada pela noção dos saberes e da identidade docente. A função de

ensinar singulariza e define a docência. Nesta pesquisa estamos tratando do processo da

construção da profissionalidade docente, ou seja, da formação do docente, do processo

do “vir a ser professor”.

Assim é indispensável a quem forma o novo docente proporcionar aos discentes

a construção dos saberes e competências necessárias ao ato de ensinar, respeitando a

concepção de que a ação de ensinar “aprende-se na prática, mas numa prática

informada, com supervisão e construção do saber inter pares”, Roldão, (2005). Portanto,

o “vir a ser professor” implica a construção de uma identidade e uma profissionalidade

docente. É com esse olhar que passamos a discutir a temática.

Neste eixo estruturamos cinco questões que nos orientaram a compreender o

professor referência: Compreensão sobre profissionalidade; Ingresso na docência do

Ensino Superior; Desafios encontrados na prática; Saberes necessários à prática

docente; Organização das aulas.

7.3.1 COMPREENSÃO SOBRE PROFISSIONALIDADE

Contreras (2002, p.74) compreende que a profissionalidade refere-se às

qualidades da prática profissional dos professores em função do que requer o trabalho

educativo. Desse modo, compreendemos a profissionalidade docente não como uma

descrição que se faz de um bom ensino, nem uma exposição do que deve fazer o

professor, mas aquelas qualidades que situam o professor em condições de dar uma

direção adequada a sua preocupação em realizar um bom ensino.

Em seguida procuraremos identificar a compreensão que os professores têm

sobre profissionalidade docente, a partir das dimensões apontadas por Contreras (2002,

183

p.76), quais sejam: a obrigação moral; o compromisso com a comunidade a

competência profissional.

Vejamos suas falas:

Para mim a profissionalidade é um exercício, multidimensional, hipercomplexo, e é

um movimento que o próprio sujeito precisa fazer... eu não consigo conceber um

processo de profissionalidade docente, ou de construção dessa profissionalidade

docente, sem que haja um sujeito pra começar. O movimento da profissionalidade e

da profissionalização é um movimento para mim claramente subjetivo, no sentido

de que exige um sujeito que está num processo de construir para si mesmo, certa

compreensão e certa imagem de sua identidade (PP).

O que eu entendo de profissionalidade docente é que envolve dois aspectos: um

que é da formação docente no caso de ministrar aulas; no caso de docência do

ensino superior, entra o mestrado e doutorado. Então, envolve esses dois aspectos,

a formação profissional dele e o grau de profissionalismo dele no campo de

atuação (PEF).

É o exercício profissional. Eu realmente penso que é você ser um excelente

professor daquilo que você sabe, porque aí é que está a parte pedagógica. Penso

que o que define o professor é realmente saber do conteúdo e tem que saber a

didática mesmo (PH).

É no caso da área de professores formadores. Precisa ter muita lucidez com relação

ao que é o processo ensino-aprendizagem e o que é a Educação Básica. Para mim,

o profissional é isso! É alguém que junta bem esses dois saberes e é alguém que...

E alguém que vira referência na área. Acho que você tem que fazer o seu esforço

pessoal e profissional para ser alguém de referência, porque ajudou o outro a lidar

com o conhecimento de uma maneira, buscando essa autonomia do aluno, porque

não pode ser tutelada, não! Eu acho que ser profissional é estar presente nos

debates, se colocar, chamar os outros também à responsabilidade, convidar para

esses debates, ser rigoroso. Eu acho que o rigor nesse sentido de ter um zelo, sabe?

(PL).

Tem que ter algo do tipo, sei lá... Uma carreira docente, no seguinte sentido: uma

formação inicial de boa qualidade, uma especialização, tudo isso com a

universidade responsável. Não deixar o cara sair, dar um chute nele e deixar ele

fora. E um acompanhamento deveria saber de vez em quando como está a pessoa.

É não soltar a pessoa livre no meio do mundo. Acho que exige uma

responsabilidade muito grande, que é a de um docente. Docência é uma

responsabilidade muito grande (PM).

Segundo Gonzales Rey (1999, p. 108), a noção de subjetividade é definida

como:

184

A organização dos processos de sentido e de significação que

aparecem e se organizam de diferentes formas e em diferentes níveis

no sujeito e na personalidade, assim como nos diferentes espaços

sociais em que o sujeito atua.

A fala de (PP) revela, de início, a compreensão da complexidade desse conceito,

seu caráter fundante da noção de profissionalidade. Para (PH) e (PEF), a

profissionalidade é tratada por condições externas ao sujeito, como formação e saberes,

lembrando-nos Altet, Paquay, Perrenoud (2003 p 11), ao ser referirem à dificuldade de

se pensar em uma “profissionalidade única e identificável dos formadores de

professores”. Para os propósitos desta pesquisa, interessa-nos distinguir pistas que

assinalem sua relevância, e em que medida as falas se tornam vetores potencializadores

da importância desses profissionais para a construção da identidade e profissionalidade

dos futuros professores. Nesse sentido, chama à atenção a fala de (PL) com referência à

“lucidez com relação ao processo de aprendizagem e o que é a Educação Básica”. É-

nos claro que, em alguns momentos, os pesquisados são tentados a mostrar suas

próprias competências, visto serem detentores de muitos saberes frutos de suas próprias

formações e experiências, mas as pistas de que precisamos encontram-se naquela

potencialização, nos aspectos de aproximação dos dados com os fatos pesquisados. Daí

o “zelo” mencionado por (PL), como sentido do “rigor”, bem como o que (PM) pontua

sobre a responsabilidade, “o não soltar a pessoa no mundo”, serem dados diferenciados,

que se aproximam e denunciam nossa intenção de pesquisa. Vejamos mais delineadores

dessa aproximação.

7.3.2 INGRESSO NA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

Atualmente o ingresso no Ensino Superior, e em especial nas universidades, só

acontece por concurso público, quer seja de professores substitutos ou efetivos. Há

algumas décadas não havia concurso, mas um convite das coordenações dos cursos para

atuar como professores substitutos, que posteriormente se efetivavam, conforme alguns

depoimentos dos professores abaixo.

Minha experiência inicial com a docência acontece antes do estágio

supervisionado, junto a uma organização social. Estava em vias de concluir o

doutorado, quando uma colega me convidou para trabalhar na Faculdade X,

inicialmente para orientar TCC. No semestre seguinte comecei a assumir várias

185

disciplinas. Ao mesmo tempo, recebi um convite para trabalhar em outra

Instituição. Na UFPE, foi através de concurso público. Inicialmente como

professor substituto e posteriormente como professor efetivo (PP).

Fui professor da rede municipal e trabalhei desde a Educação Infantil até a

Educação Básica, em todos os anos subsequentes, durante 10 anos. Em 1996,

iniciei o mestrado na Unicamp e a partir dessa data comecei a dar aulas no Ensino

Superior, inicialmente na rede privada, através da entrega de currículo, até 2012.

E agora, recentemente na rede pública, aqui na universidade (ensino público) foi

através de concurso público, assim como a maioria dos docentes desta Instituição

(PEF).

Na realidade comecei a ensinar nos Estados Unidos, quando fazia o doutorado.

Tive uma bolsa de assistente de pesquisa do professor. A segunda teria que dar aula

na graduação com a disciplina de História da Civilização Ocidental (6h/a) desde

que inventaram o mundo até Luís XIV. Eu fiquei desesperado! Mas dei aula na

graduação durante o doutorado nos Estados Unidos por 2 anos. Aqui na UFPE

aconteceu através de concurso (PH).

Iniciei na Educação Básica, […] exatamente foi em 1988; eu tinha entrado no

estado, através de um concurso após 20 anos de ditadura. (PL).

E aí, eu entrei em abril de 88. Em 1989, quando ainda ia fazer um ano que estava

no estado, teve o concurso pra UFRPE. Fiz o concurso e passei (PL).

Iniciei trabalhando substituindo um professor (5ª e 6ª série) do fundamental por

cerca de 3 meses. Em seguida trabalhei com o ensino médio por 2 anos. No Ensino

Superior (UFPE) foi através do convite da chefia do departamento, de acordo com

meu desempenho no curso. Na época não existia concurso para professor

substituto. E em 1979, um ano depois, teve concurso para professor efetivo. Eu fiz

e passei (PM).

O ingresso na docência dos professores considerados referência na Universidade

Federal de Pernambuco pelos participantes da pesquisa de certa forma nos surpreendeu,

pois dos cinco professores indicados apenas um deles teve sua experiência primeira de

docência no Ensino superior junto à graduação. Os outros professores apresentam uma

história de exercício da docência que varia desde a Educação Infantil, passando pelo

fundamental e ensino médio.

Essa experiência de ensino, essa aproximação do formador com o lócus de

trabalho dos futuros docentes, parece anexar ao processo constitutivo de suas

identidades e profissionalidade dados que os qualificam para a formação de futuros

professores.

186

Essa constatação é corroborada pela fala do estudante [EP7], quando considera

indispensável a um professor que trabalhe com formação de professores “cursar

Pedagogia ou outra Licenciatura” e, principalmente, “vivenciar a realidade da sala de

aula da Educação Básica”.

Nesse sentido, dar à docência o status da profissão implica dizer que ela não é

simplesmente uma ocupação, uma vocação ou uma semiprofissão. É, conforme diz

Medeiros (2007, p. 71), uma profissão que ocupa particularidades e especificidades,

porque o próprio fenômeno educativo tem uma natureza diferenciada dos demais

fenômenos sociais e naturais.

7.3.3 DESAFIOS ENCONTRADOS NA PRÁTICA DOCENTE

O exercício da docência é complexo e exige do professor, além do domínio da

matéria a ser ensinada, um corpo de conhecimentos profissionais sobre o como ensinar,

e sobre a quem ensinar, ou seja, competência capaz de planejar e efetivar um conjunto

de ações sobre o ato de ensinar que proporcione ao estudante construir aprendizagens.

Buscando compreender o processo em que se constitui a profissionalidade

docente e considerando esse imbricar no saber fazer docente é que procuramos saber

dos professores quais os maiores desafios encontrados na sua prática docente.

Assim, vejamos seus depoimentos, que em seguida interpretaremos:

São todos localizados nas relações com os meus pares. O descolamento pedagógico

da nossa própria ação docente. Eu vejo a gente com pouca vontade no sentido de

disponibilidade para discutir as nossas questões pedagógicas, quando raramente elas

aparecem você vê claramente um enfado.

É como se a gente achasse porque somos doutores que nós já estivéssemos

dispensados de refletir pedagogicamente, porque é como se o saber doutoral

especializado naquele domínio de conteúdo, naquele campo específico, já nos

isentasse de uma abertura para aprendizagens outras. Parece-me que a Pedagogia – o

pedagógico – é um campo de aprendizagens infinitas (PP).

A crítica realizada por (PP) traz a dicotomia saber pedagógico versus saber

doutoral como contribuinte para, em sua própria linguagem, o “deslocamento do saber

pedagógico” da ação docente. Esse deslocamento continua a ser uma realidade

pertinente aos cursos de licenciatura, direcionando a reprodução da prática do “ensinar

como me ensinaram”. Em que pese sabermos ser insuficiente a discussão sobre saberes

para dar conta das questões sobre formação, como aponta Tardif (2002), a reflexão feita

187

conduz-nos a um elo integrador de nossa pesquisa em busca dos fundantes da

profissionalidade dos professores referências.

Do ponto de vista didático o maior desafio é o interesse. Muitos alunos entram no

ensino superior por obrigação. Infelizmente a licenciatura vem caindo por dom, por

busca, porque perde pela remuneração depois de formado. Outro é nítido, o processo

educacional, formação pré-universidade na Educação básica (ensino médio), vem se

perdendo em qualidade Estamos contando cada vez mais pessoas que fazem o

mínimo para serem aprovadas na disciplina e não o máximo para adquirirem

conhecimento. Então, a grande dificuldade é essa, isso decorre do ingresso.

Independente de qualquer coisa, o vestibular tem uma meritocracia que é por conta do

processo de entrada, ENEM e o vestibular propriamente dito (PEF).

A falta de interesse, a meritocracia no sistema de entrada da universidade, a

baixa qualidade no ensino básico constituem o quadro apresentado por (PEF) como

grande desafio à sua docência, dados extramuros da universidade, conhecidos por todos.

A fala traz seu olhar para fora do seu campo de atuação imediato, um compromisso

aparentemente externo ao seu trabalho, envolvendo dimensões e perspectivas que se

incorporam modernamente ao elenco de qualificações dos formadores de professores.

É do fogo amigo! É você chegar para dar aula de noite e você sentir que tem

insegurança. Tem uma coisa que me incomoda muito, que é a embromação, que eu

fico... O curso noturno é de 10 pras 7 às 10 e 10 da noite. Chega 10 pras 7h e não tem

ninguém, ninguém… aí começa a chegar... você faz o quê?… Incomoda-me isso.

Falta água, falta luz, o elevador quebrou, eu já estou ficando velho (PLH).

Certo desencanto com as condições de trabalho e o “fogo amigo” trazem-nos

aqui condicionantes que, em certa medida, fogem ao controle imediato de (PH), que já

está, segundo ele, “ficando velho”, delineando um aspecto interno de seu ser que talvez

ajude a mobilizar vínculos para a sua constituição como professor-referência.

Vale lembrar Dotta (2011, p.137), quando repensa sobre a influência das

peculiaridades e dinâmicas institucionais nos atores da universidade, especificamente,

os professores, conforme se expressa na fala seguinte:

Eu tenho um desafio ainda, que penso que vou me aposentar sem ter resolvido. É

fazer uma avaliação mais processual com os alunos (PL).

Um aspecto aparentemente mal resolvido do saber fazer docente – a avaliação –

trazido por (PL) é relevante, pois demonstra o momento de reflexão em que a professora

procura um espaço para ressignificá-la. Esse dado lembra-nos Hoffmann (1998, p.89),

quanto afirma que a complexidade de um professor repensar sua prática avaliativa

188

envolve mudanças na visão de seu papel de professor e da própria condição do trabalho

docente diante das várias dimensões que a docência universitária assume hoje.

O desafio é fazer com que possa formar melhor os professores. Eu gosto de trabalhar

com as licenciaturas para poder contribuir para a formação de bons professores de

matemática. Vocês precisam ter cuidado com tais e quais aspectos. Esse é o desafio

(PM).

“Formar bons professores de matemática”. O olhar sobre a formação aqui parece

trazer a própria formação, ou uma reflexão sobre a própria formação em função de uma

nova, que se anuncia diante do professor-referência, ou seja, o olhar sobre si e a

consciência da importância do seu saber fazer hoje, enquanto professor. Os

condicionantes desejados para a constituição do professor referência encontram aqui

um componente ético importante, regulado por essa contribuição à formação do “bom

professor” em sua área de atuação.

7.3.3.1 Saberes necessários à prática docente

Educar é um ato político e porque o professor é e está envolvido no processo de

educar torna-se necessariamente um sujeito político, visto que o ato de educar não pode

ser exercido distanciado do contexto no qual acontece, por isso, o professor necessita

cada vez mais procurar uma aproximação entre o que diz e o que faz, entre o que é, o

que parece ser e o que realmente está sendo. Assim, para Freire (1997), não se pode ser

professor sem se posicionar diante dos estudantes, sem revelar a sua maneira de ser e de

pensar politicamente. Aprender a posicionar-se politicamente e respeitar o direito de

cada um ir construindo suas opções políticas também são aspectos que se aprendem no

espaço educativo.

Noutro caminho, conforme a literatura indica, os saberes dos professores são

formados de várias fontes. Inicia na sua história de vida e se prolonga a partir das suas

crenças, suas relações, sua escolarização, sua formação, trajetória profissional e nos

hábitos praticados na ação, e se prolonga durante todo o percurso pessoal e profissional.

Para Tardif (2002), o saber ensinar na ação supõe um conjunto de saberes e, portanto,

um conjunto de competências diferenciadas. O saber dos professores está relacionado

189

com a sua pessoa, sua identidade, com sua experiência de vida e com sua história

profissional.

Nossa intenção agora é entender quais dos saberes necessários à docência são

priorizados e incorporados à prática docente dos professores-referência.

Na concepção dos professores (PH), (PL) e (PM), os saberes disciplinares

(domínio do conteúdo) são priorizados e indispensáveis, e só em seguida consideram os

saberes pedagógicos também como necessários, no sentido de “ter que saber como

fazer o estudante aprender”. Assim se expressam:

O professor tem que estudar sua disciplina. Essa é uma primeira coisa! Tem que

prestar atenção em aspectos pedagógicos. Você tem que se adaptar à turma e não a

turma se adaptar a você, e aí funciona (PH).

Tem que ser muito eclético. Os saberes necessários são vários; é fundamental se

entender bem Trigonometria, Funções, Grandezas e Medidas, além de Análise

Combinatória. São especificidades que o professor tem que dominar um pouco de

cada coisa. Além de ter o domínio do conteúdo específico, tem saber como fazer o

aluno aprender (PM).

Essencialmente o saber do objeto, o domínio do objeto. Acho que ele vem

inclusive em primeiro lugar. O professor precisa ter conhecimento, o domínio

desse objeto, para depois pensar na forma adequada de ensinar esse objeto. No

caso da literatura, o professor precisa ser leitor de literatura, conhecer teoria e

crítica literária, para depois ver como isso se ajusta no processo de ensino. Tem que

ter conhecimento pedagógico de didática, de metodologia de planejamento, de

gestão, de gestão da aula, de filosofia da educação, de história da educação, para

entender, por exemplo, a constituição da história dos objetos (PL).

Entretanto, o professor (PEF) considera como basilares para o trabalho docente

os saberes relativos à Didática, à Psicologia e à Filosofia para agregar a sua disciplina, o

que nos faz considerar que esse professor valoriza os outros saberes como estruturantes

da sua prática docente, não minimizando os conteúdos disciplinares que sua disciplina

comporta, mas considera ao mesmo tempo importante saber o que ensina, como ensina

e a quem ensina, conforme nos indica a literatura especializada, a exemplo de Shulman

(2005) e Tardif (2002). Vejamos na sua fala:

Basicamente acho que são esses pilares, os saberes da Didática, bases da

Psicologia Humana, bases da Filosofia, bases da Ciência Aplicada, que é aquela

que você adquire para poder ensinar, aquela que você carrega consigo para poder

ministrar aquelas disciplinas ou conhecimento aplicado (PEF).

190

O professor (PP) acrescenta ainda a categoria de saberes necessários à docência

universitária, o saber relacional como poderemos ver no fragmento da entrevista a

seguir:

Todos os saberes são indispensáveis para mim e, fundamentalmente, cada vez mais

urgentemente, os saberes relacionais que compõem o saber docente. Estes saberes,

hoje, fazem falta. [...] Temos um perfil de estudante que não era o perfil que estava

acostumado, mas que eu preciso lidar […] uma dificuldade de olhar para o

estudante, naquilo que ele tem, naquilo que ele não trouxe, então você sempre olha

para o estudante naquilo que ele não tem. Você não consegue dizer o que os seus

estudantes têm, porque você não consegue estabelecer uma relação com ele (PP).

Nesse contexto, está se tornando vital e fundante no processo de formação dos

futuros professores o saber relacional. Os estudantes compreendem este saber como

importante na construção do conhecimento. Vejamos o que diz o estudante (EEF):

“[…] o professor procura perceber se o aluno está com algumas dificuldades e

tenta ajudá-lo” (EEF).

Essa proximidade do professor com o estudante quebra o medo, a insegurança,

proporciona um clima de afetividade que interfere consideravelmente na dinâmica, no

respeito e que transforma a sala de aula em um verdadeiro ambiente de construção e

produção de saberes e formação.

Os saberes relacionais se assemelham àquilo que Freire (1997) já nos

anunciava em relação à afetividade que os professores necessitam ter para com os

estudantes. Outro aspecto importante a considerar é a escuta, pois é escutando os

estudantes que aprendemos a falar com eles, a nos comunicar. O saber relacional é um

saber que transversaliza o processo de ensinar e que se pretende integrado à Identidade

Profissional Docente. Circula nas falas dos interlocutores desta pesquisa como um saber

necessário, indispensável e facilitador no processo de constituição do “vir a ser

professor”. Nesse sentido, alguns interlocutores assim se expressam:

Tem boa relação com os estudantes e sabe lidar com qualquer tipo de aluno

(EEF).

Aquele que ensina e escuta (EH).

Aquele que se coloca no lugar do aluno e desenvolve um trabalho que promove

aprendizagens (EM).

191

7.3.4 ORGANIZAÇÃO DAS AULAS

Diferentes são as formas e maneiras de organizarmos a aula. É nela que os

saberes da experiência são de fato saberes-síntese, pois, na relação estabelecida na sala

de aula, “espaço de múltiplas relações, interações e influências” (CORDEIRO, 2006),

os saberes docentes se expressam e se evidenciam como se fossem retirados de um

reservatório a partir das situações desafiadoras que os solicitam.

A aula universitária, e em especial em um curso de formação de professores, tem

uma singularidade a ser considerada, pois, ao mesmo tempo em que se propõe a ensinar

um conteúdo, como toda e qualquer aula, também é espaço formativo de professores,

pois no decorrer da aula as ações docentes estão sendo observadas pelos discentes (a

organização da aula, os procedimentos, a sequência como está sendo desenvolvida), e

vão sendo apreendidas. Nesse propósito, tomamos como exemplos o professor

referência (PH), quando afirma que “a gente vai observando se o professor é bom de

quadro, se domina a sala de aula”, e do estudante (EL): “as aulas se iniciam com

questionamentos e reflexões sobre o assunto e só então, ao identificar o nível em que

estamos, é iniciado o trabalho de acordo com a metodologia organizada”. Nesse

contexto, compreendemos que a aula é sempre um local de múltiplas aprendizagens e

influências na forma de construção dos saberes relativos à docência.

Cordeiro (2008, p.122) associa a aula à ideia de um ninho, construído de fios e

fragmentos próprios de um lugar e num tempo específico, marcados pelas

subjetividades envolvidas, cujas intencionalidades vão se expressando, na medida em

que o ninho vai se fazendo de muitas práticas, muitos saberes e muitas intenções.

Tomamos essa definição de aula por percebermos toda a complexidade e dimensão que

se constitui a aula universitária no contexto que discutimos.

Nesse contexto, e com essa compreensão, buscamos saber a forma que os

professores organizam suas aulas. De acordo com os extratos das falas observamos em

todos os professores a preocupação com a organização da aula, cada um planejando seu

semestre da forma que pensam ser a melhor estrutura.

Inicio com uma avaliação dos conhecimentos prévios. Identifico o que eles gostam

que aconteça nas aulas e o que não gostam. Falo do universo de Educação Física.

Inicio o semestre com um bom planejamento, com base nessa análise diagnóstica.

Organizo minhas aulas com uma semana de antecedência. Entrego a organização

de todo o semestre, o que vai ser discutido em cada aula daqui a 30, 60 dias, e

subsidio os alunos com o material de suporte para estudo com antecedência (PEF).

192

Eu planejo tudo que eu faço! Um estudante me disse: sua sala é a sala mais

organizada de todos os professores que eu já visitei. Eu preciso organizar até o

espaço físico para me situar. Tenho um volume de trabalho muito grande dentro e

fora da universidade. [...] Faço calendário, entrego plano de disciplina no primeiro

dia para que eles acompanhem comigo esses planos, esses conteúdos

programáticos, como está caminhando. Relaciono a aula com o todo (PL).

Eu procuro seguir mais ou menos um cronograma, que oriente os estudos,

trabalhos e provas (PM).

Percebemos que os professores (PL), (PM), (PEF) revelam uma preocupação

com relação à organização e sistematização de suas aulas, apresentando o cronograma

da disciplina.

O professor (PEF), quando apresenta a estrutura organizativa da aula, realiza

uma avaliação diagnóstica com a turma, objetivando construir um plano de curso com

uma metodologia adequada específica para aquela turma. Esse professor apresentou um

dado diferenciado, procurando ver junto aos estudantes suas necessidades antes de

finalizar seu planejamento. Apresenta um planejamento em relação aos estudantes e

coloca-os inseridos desde o início no processo.

Já o professor (PM) apresenta ainda a preocupação de estruturar suas aulas de

forma a continuá-las em ambientes alternativos, como o recurso a internet, conforme

relato seguinte:

Este semestre estou pensando em organizar um curso diferente, ao invés de seguir

livros, utilizar notas de aulas, colocá-las na internet. Organizar as aulas de modo

a fazer com que os alunos vejam quais são os conteúdos que vamos precisar

abordar com maior profundidade, que não fiquem apenas nos capítulos

trabalhados, e sim procurem estudar além dos capítulos, de forma sistemática

(PM).

A prerrogativa do ir além da aula, procurando outros ambientes ou espaços para

complementar a discussão da sala, possibilita outros diálogos com os estudantes, na

perspectiva de solucionar dúvidas individuais ou de outros aspectos relativos a

aprofundamentos do conteúdo discutido em sala.

No extrato a seguir, apresentamos outra atitude com relação à organização das

aulas da professora (PL):

Mas o trabalho me toma muito tempo. Eu planejo, leio, me atualizo. Decido os

textos que eu vou utilizar. Na escolha dos textos, seleciono tudo o que está sendo

publicado, capítulos de livros, leio, chamo os monitores, peço a opinião deles, já

que eles têm a relação de intermediação e ajudam a votar nesses textos (PL).

193

Nesse caso, planeja a aula conversando com outros, no caso, seus monitores,

para participar da seleção dos textos que servirão de suporte para o semestre letivo. Essa

característica é importante para a formação dos monitores, que, nesse caso, muito

provavelmente serão futuros professores.

Os professores (PP) e (PH) fazem seus planejamentos de forma tradicional, o

que não quer dizer que suas aulas não promovam aprendizagens.

Eu me organizo de forma bem clássica. Tenho a temática daquele dia, seleciono

textos de referência para mim, os textos que indico para os alunos e os que eu vou

ler (PP).

Saber a matéria. Em história precisa-se ter certa noção de temporalidade. Tem que

saber que Pedro I foi antes de Pedro II. Ah... Ah... Eu gosto de colocar no quadro…

preparo minha fichinha..., porque eu quero dar a aula e às vezes eu escrevo no

quadro o roteiro, porque tem muitas datas. Toda aula tem uma parte expositiva,

que você começa recapitulando a aula passada, resgatando a discussão, e aí você

começa a matéria nova, tem uma parte que você conversa, discute, mas também

tem uma parte introdutória, que você precisa ir retomando, recapitulando, então,

essa parte, eu procuro organizar no quadro, sabe como é? (PH).

Importante percebermos também que uma aula tradicional ou clássica, conforme

nos fala o (PP), também produz conhecimento, além do que o professor incentiva

discussões, debates e diálogos.

As metodologias que circunscrevem as disciplinas e a prática docente, expressa

através dos procedimentos organizativos, sejam de ordem pessoal ou profissional,

precisam garantir princípios éticos, didáticos, pedagógicos, que possibilitem o

desenvolvimento profissional do ensino.

Porém, o que nos importa nessas verificações é o pressuposto de que, de forma

tradicional, ou numa perspectiva que busque a inovação, os estudantes aprendem

também com seus professores a organizar suas aulas a partir de como as vivenciam.

Nesse sentido, tomamos como exemplo um fragmento do depoimento do

professor referência (PP) ao dizer que:

Faço leituras e esquematizo. Isso ajuda a organizar o meu pensamento em relação

à questão que eu quero debater e discutir. Isso aprendi com um professor na

graduação e constituí esse hábito para mim. Então, organizo os textos, dirijo

minha intervenção na aula a partir desse esquema. Gosto do esquema, porque ele

organiza meu encaminhamento (PP).

194

Contudo, Libâneo (1994, p. 225) nos adverte que “o planejamento não assegura

por si só o andamento do processo de ensino”, uma vez que “sua elaboração está em

função da direção, organização e coordenação do ensino”, pois, ao realizar o

planejamento, o professor se utiliza, de um lado, dos conhecimentos do processo

didático-pedagógico e das metodologias específicas e, de outro, da sua própria

experiência prática. Importa considerar que esses planos estejam continuamente ligados

à prática, de modo que sempre sejam revistos, refeitos e, se possível, socializados com

os estudantes.

Ainda tentando demonstrar que a aula universitária é, sim, um espaço/tempo e

oficina de construção de saberes profissionais docentes, e que a influência desses

professores sobre o fazer docente tem significação no processo de “vir a ser professor”,

encontramos alguns relatos que se referem à percepção dos estudantes da forma como

seus professores organizam suas aulas. Vejamos:

O professor (PP) consegue fazer relações com temas atuais, o que faz com que

tenhamos um olhar diferenciado em relação aos assuntos acadêmicos e a realidade

(EP5).

O professor (PEF) debate a respeito do como poderia melhorar. Está presente na

sua prática o respeito à individualidade de cada aluno durante a aprendizagem

(EEF9).

Inicia as aulas com questionamentos e reflexões. Propõe pesquisas para aprofundar

o conteúdo. Os questionamentos no início e no final da aula mantêm os estudantes

interessados na disciplina. A metodologia dinâmica com aulas diferentes e

interessantes prende o interesse dos estudantes (EEF).

O professor (PH) inicia as aulas retomando o assunto anterior. É dinâmico em

relação ao método. Sua pesquisa está nos trabalhos desenvolvidos em casa para

serem discutidos em sala. Faz uma exposição clara dos conteúdos, o que facilita a

compreensão e torna suas aulas interessantes. Propõe questionamentos, relaciona

fatos com a atualidade e leva documentos para apresentar aos alunos (EH).

A professora (PL) inicia as aulas sempre com questões sobre o conteúdo e o como

ensinar a própria disciplina. Desenvolve pesquisa, escreve livros. Traz mestrandos

e doutorandos para compartilhar suas pesquisas. Suas aulas são interessantes,

porque sempre faz repensar ideias, visões de mundo e conhecimentos tidos como

“verdade” (EL).

O professor (PM) inicia as aulas com perguntas sobre o assunto. Apesar de usar

sempre a mesma metodologia, suas aulas são interessantes e estimuladoras. Explica

bem, pois domina o que ensina e tem preocupação com a aprendizagem dos

estudantes. Suas aulas não nos dão sono (EM).

195

Conforme os depoimentos apresentados pelos professores-referência acerca de

como organizam suas aulas e a percepção desses estudantes através de seus

depoimentos, podemos reafirmar a influência que os modelos do saber fazer docente

vão promovendo, de uma forma ou de outra, elementos que no processo de formação

auxiliam o estudante na sua constituição de tornar-se professor.

7.4 O PROFESSOR REFERÊNCIA

Pensar o professor referência implica considerar aspectos socioculturais que

interferem na escolha desse profissional, partindo inicialmente de um princípio

evidenciado por Nóvoa (2009), pelo qual toda e qualquer tentativa de conceituar o

professor leva em conta uma lista interminável de características, as quais não

gostaríamos de desconsiderá-las, visto que elas identificam as representações e

expectativas que esses estudantes têm sobre alguém que é uma perspectiva do que

pensam “vir a ser” num futuro próximo.

Para desvelar esse professor referência algumas das questões foram pensadas

para serem respondidas pelos estudantes e coordenadores dos cursos, através dos

questionários, e pelos professores referência, quando da realização das entrevistas.

Estamos sempre buscando as respostas obtidas no questionário para articular com as

falas dos professores referência, para visualizarmos as possíveis semelhanças e/ou

diferenças sobre as aprendizagens construídas no processo da constituição do Professor.

Nesse momento procuraremos discutir os seguintes aspectos: a justificativa para

a escolha do professor referência e o conceito de professor referência, a partir do que

dizem estudantes, coordenadores e o próprio professor-referência.

7.4.1 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO PROFESSOR REFERÊNCIA

Estamos caminhando para o cerne de nossa preocupação de pesquisa. A

confluência dos dados até agora analisados para o nosso objeto de pesquisa passa por

um momento fundamental: em que medida a escolha do professor referência por parte

dos sujeitos pesquisados nos fornece pistas para compreender o seu processo de

constituição no contexto universitário?

196

7.4.1.1 O que dizem os Coordenadores

Os coordenadores, ao serem perguntados se tiveram algum professor referência

em sua vida, em unanimidade responderam afirmativamente e, com diferentes

perspectivas, eles reconheceram que seus professores-referência tiveram influência na

sua formação nos seguintes aspectos: inserção na pós-graduação, seriedade em

desenvolver os conteúdos; leitura que faz da sociedade para além do conhecimento

específico abordado; abertura de espaço democrático para questionar e trazer novos

horizontes que singularizavam o processo de aprender. Tais singularidades, na

perspectiva de subjetividade de cada um, perpassavam os relacionamentos interpessoais.

Vejamos, por exemplo, a fala do coordenador (CH):

Vários. [...] de maneiras diferentes cada um me fez perceber algo singular no

processo de aprender. Eles eram muito exigentes e levavam a sério o estudo.

Disponibilizavam espaços para discutir, comentar, questionar, traziam novas ideias,

perspectivas e horizontes. [...] apresentavam para mim um compromisso ético,

marcado pelo engajamento com a formação e os aspectos sociais dos alunos (CH).

É significativo observar que em falas de estudantes nota-se uma confluência

desse olhar sobre a relação e até mesmo uma identificação de história de vida. Senão,

vejamos:

Consegue fazer relações com temas atuais, o que faz com que tenhamos um olhar

diferenciado em relação aos assuntos acadêmicos e a realidade. [...] Incentivar os

estudantes à pesquisa, traz exemplos, coisas novas e tenta fazer o diferente [...] Por

sua didática e forma singular de enxergar a vida. Por sua história de vida se

assemelhar à minha, pois isso me dá ânimo para estudar mais (EP).

Para alguns, essa referência aconteceu não apenas a partir de um, mas de vários

professores. Essas influências perpassaram desde orientações para a formação

continuada, a questões que remetem à ação docente e à singularidade do agir de cada

docente, no que se refere à dinâmica do ensinar/aprender.

7.4.1.2 O que dizem os professores referência e os estudantes

As razões e motivações que levaram os professores a escolherem aquele

professor referência em seu processo de “vir a ser professor” são diversas. Entretanto,

sabemos que seus depoimentos não esgotam essas possibilidades, pois, conforme diz

Cunha (1989), a ideia de “bom professor” não é única, modifica-se entre as pessoas,

197

uma vez que contém em si a expressão de um valor. Por isso, a construção da ideia de

“bom professor” está focalizada em contextos históricos específicos, e nessa construção,

mesmo de forma pouco consistente, estão retratados os papéis que a sociedade projeta

no professor. Entretanto, esses papéis não são fixos, pois são modificados pelas pessoas,

de acordo com as necessidades, tempo e espaço.

Em nosso caso, essas referências acontecem em um momento histórico e social

situado, no qual perpassam as expectativas pessoais e profissionais dos interlocutores e

suas necessidades formativas. Desse modo, foram evidenciados quatro aspectos nas

suas falas: Contribuição na formação e atuação profissional; Contribuição na construção

dos saberes; Preocupação com a metodologia (Tato pedagógico); Relacionamento

interpessoal.

Esses aspectos estão consubstanciados pelas falas dos estudantes na discussão

sobre as justificativas das escolhas do professor referência. De fato, nessas falas há uma

complementaridade sobre os pontos tomados para análise até então.

7.4.1.2.1 Contribuição na formação e atuação profissional

A contribuição na formação e atuação profissional é mais um dado evidenciado

na fala dos professores-referência, que indica influências desses professores na

constituição do “vir a ser professor”, pois as percepções que os estudantes vão

apreendendo são estruturantes desse processo.

O professor (PP) considera professor referência tanto àquele que lhe traz bons

exemplos, quanto àquele que não tem bons exemplos para agregar, mas isso se torna

importante na sua atuação profissional, pois lhe faz perceber aquela imagem de

professor que não é a desejada, conforme observamos na fala:

No sentido mais limitado, os professores contribuíram para as decisões do ponto de

vista de minha atuação profissional. No sentido estrito, constituem a parte do

horizonte de minha própria compreensão de Educação. Mesmo quando o professor

nos leva a uma posição diferente, acaba sendo uma referência também, pois nos

leva a afirmar que esse modo de ser professor é o contrário do professor que eu

quero ser (PP).

A contribuição a que esse Professor (PP) se refere incide sobre os aspectos

relativos a sua compreensão num sentido pleno de Educação, ou seja, no sentido de

198

ampliação dos conhecimentos e saberes relativos ao domínio de um campo de

conhecimento, mas também aos aspectos que decidiram sua atuação profissional. Ao

enfatizar que, “mesmo quando o professor nos leva a uma posição diferente, acaba

sendo uma referência também”, pois, ao tomar consciência e afirmar que “esse modo de

ser professor é o contrário do professor que eu quero ser”, implica ter realizado uma

reflexão sobre a ação do professor que está sendo seu formador, ao mesmo tempo em

que aquele está influenciando na sua formação, o que exige do futuro professor uma

reelaboração do seu modo de “vir a ser professor”, diferente do que está observando.

Tudo isso ocorre durante o processo de construir uma identificação e uma identidade

com a docência, de apreender os saberes necessários à docência, definindo, assim, o tipo

de professor que pretende ser.

Vejamos alguns exemplos de falas de estudantes:

Possui disciplina, didática, amor a profissão e nos motiva a ser professores (EP).

Consegue ser um bom profissional [...] Mostra o comprometimento e estimula os

estudantes. Envolve-os. É questão de viver o que fala (EP).

Espero alcançar a qualidade desse professor ao iniciar minha jornada enquanto

profissional (EEF).

Realmente é “um professor” a ser seguido por todos nós, futuros professores

(EEF).

Excelente professor; serve como espelho para os futuros profissionais (EEF).

O processo de identificação que é trazido pelo professor (PP) também foi

considerado nas falas dos estudantes, conforme fragmentos acima. Nesse momento,

verificamos que os professores referência, mais uma vez, contribuem

significativamente como estímulo, exemplo, modelo na constituição da formação, da

identidade com a docência e com a profissionalidade docente.

Já o professor (PEF) responsabiliza a influência dos seus professores à decisão

de dar continuidade à sua formação em nível de pós-graduação, uma vez que passou a

ser seu interesse fazer uma carreira acadêmica. Na sua fala:

Por me incentivar a ir perseguir o mestrado e doutorado (PEF).

Essa perspectiva de incentivo à pesquisa também é sentida nos depoimentos dos

estudantes, conforme apresentamos a seguir:

Esse professor me faz ter a curiosidade de buscar cada vez mais informações sobre

os conteúdos por vontade própria (EH).

Incentiva os estudantes à pesquisa (EP).

199

Não apenas forma o aluno, mas o incentiva a buscar cada vez mais conhecimentos.

[...] a professora procura trazer pesquisadores para compartilhar o conhecimento

com os alunos (EL).

Salientamos que esse hábito de desenvolvimento da pesquisa na formação

docente poderá incentivar os futuros professores, quando do exercício da docência na

educação básica, a praticá-la, pois sabemos que a pesquisa realizada nesse nível de

escolaridade precisa ser mais estimulada.

7.4.1.2.2 Contribuição na construção dos saberes

A professora (PL) apresentou dois aspectos relevantes no seu depoimento, ao

escolher o seu professor referência quando estudante, destacando como razão da

escolha “ser apaixonada pelo que fazia e preocupada com a aprendizagem dos

estudantes”. Interessante percebermos que essas duas características foram também

apontadas como razões para que seus alunos hoje, a indicassem professora-referência.

Nas suas palavras:

Por me mostrar pontos de vista que eu não conhecia até esta convivência; possuir

um conhecimento empírico formidável de sala de aula, de educação; ser politizada,

militante; apaixonada pelo que fazia e preocupada com a aprendizagem dos

estudantes (PL).

Nas falas dos estudantes:

Ela demonstra amar o que faz [...] É capaz de unir de modo bastante proveitoso o

conteúdo específico com o conteúdo pedagógico (EL).

Possui metodologia diferenciada, promove muito bem as discussões em sala [...]

organiza o conteúdo de forma que todos compreendem, o que torna suas aulas

interessantes (EP).

Consegue aliar o conteúdo ensinado à nossa prática profissional, sempre visando à

aprendizagem dos estudantes (EL).

O professor (PH) aponta aspectos que reafirmam a ideia de outros colegas, que

não teve apenas um, mas vários professores-referência, e que de cada um captava algo

de especial, uma singularidade. Observemos nas suas palavras:

Ah, tive um bocado. De cada um você pega uma coisa diferente. Tem professor

que você gosta pela integridade, pela postura, pelo conhecimento, por ser bom de

quadro, às vezes porque sabe, e é bem humorado, domina a sala de aula, e aí a

gente sai juntando os pedacinhos, que os professores têm, e forma o nosso jeito de

200

ser professor. [...] Considero a brincadeira um recurso didático importante durante

as aulas. Isso eu aprendi com bons professores que eram engraçados e sabiam

quebrar a tensão” (PH).

7.4.1.2.3 Contribuição com a metodologia (tato pedagógico)

Outro aspecto de contribuição para a formação de professores está referendado

na fala do professor referência (PM), quando este faz relação à discussão trazida por

Nóvoa (2009) sobre tato pedagógico, que é o cuidado com a condução do estudante na

tarefa de aprender, capacidade que se constitui na essência do ato de ensinar.

Assim, o professor se expressa:

Eu o escolhi porque não se preocupava apenas com a explanação do assunto, mas

também com a aprendizagem dos estudantes; ou seja, em fazer o aluno aprender

(PM).

O vínculo ensinar/aprender que aparece na fala de PM contém em si a dialética

conhecimento/ação pedagógica. Ele aponta, entre outras coisas, para a necessária

metodologia no processo de ensinar. Nas falas dos estudantes observamos essa

necessidade:

Por saber adequar a metodologia e avaliação diante de um curso que apresenta um

alto índice de reprovação; além da bagagem intelectual, o esforço e dedicação

(EM).

Por possuir metodologia diferenciada; promove muito bem as discussões em sala;

traz sua vivência e pesquisa para a prática em sala de aula (EP).

Contribuiu positivamente na vida acadêmica dos estudantes, com sua metodologia

de fácil compreensão (EEF).

Por comunicar-se magistralmente com seus alunos, pela amplitude de

conhecimentos, pela maneira como abordava os debates (ouvindo a opinião de

todos e criticando quando necessário). [...] Mostrar a disciplina de uma maneira

informal, lúdica e dinâmica. Pela sua atuação em sala, pelo pesquisador e

orientador que sabe ser (EH).

Porque a partir das suas aulas se consegue relacionar conhecimentos de quase

todas as áreas que se estudou ao longo do curso, e pode-se pensar na aplicação

desses conhecimentos no contexto do ensino da disciplina. Por ter-nos feito

perceber que o conhecimento específico da disciplina, com o qual chegávamos à

universidade, graças à abordagem com que foi trabalhado na escola básica, podia-

201

se considerar cristalizado. Entendemos agora que o estudo vai muito além das

nomenclaturas (EL).

Nota-se como o conceito de metodologia agrega outros conceitos em tais falas

(bagagem intelectual, esforço, dedicação, vivência de pesquisa trazida ao transmitir,

vinculação com outras disciplinas...), mostrando-nos o caráter dinâmico e integrador do

fazer profissional docente, em particular quando “este fazer” rompe as amarras que

prendem a compreensão do processo, permitindo que o estudo vá “muito além das 7

7.4.1.2.4 Contribuição a partir do Relacionamento Interpessoal

Outro elemento essencial que o professor referência contribui para a formação

se constitui na relação construída com os estudantes. Nesse sentido, Rios (2012)

reafirma, nas dimensões da competência profissional docente, a importância da

dimensão estética, que traz a necessidade da afetividade e da sensibilidade ao ato de

ensinar.

Necessário pontuar que se infere da fala a tão necessária dialogicidade,

entrecortada pela intersubjetividade do encontro proporcionado pela sala de aula. O

crescimento que esse encontro proporciona para (PEF), no sentido da busca de pós-

graduação, é apenas um dos ganhos desse relacionamento interpessoal, determinando

sua relevância para nossa pesquisa.

Porque do ponto de vista didático e de relacionamento com os estudantes me

marcou muito. Além de me incentivar a ir perseguir o mestrado e doutorado.

(PEF).

Esse relacionamento traz marcas que impregnam a relação docente de

influências, que pressupõe o domínio do conhecimento, tem que ser criativo,

proporciona crescimento, supõe uma didática, é responsável e desvela a aula como foco

de todas essas atitudes formativas, conforme percebemos nas falas dos estudantes:

Abrir os nossos olhos para o lado mais bonito e humano do professor, a sua

influência no emocional dos alunos (EH).

Por ter uma ótima relação com os alunos, somada a um total domínio dos

conhecimentos, além da criatividade, paciência e carisma para com os estudantes.

[...] Incentivar-me a estudar. Conseguir articulação com a turma e

202

contemporização dos conteúdos. Ser bom professor, acessível. Ter boa didática.

Ser bom pesquisador (EEF).

Pela sua postura como professor; por saber explicar teorias difíceis de forma fácil;

por suas aulas serem muito boas (EP).

Os olhares de professores, estudantes e coordenadores se entrecruzam,

sublinhando invariantes que fazem emergir pistas sobre nossa busca na pesquisa,

sintetizadas no quadro a seguir:

Quadro nº 14: Elementos selecionados sobre por que Professor de Referência

Coordenadores Professores Estudantes

Preocupação com a

metodologia (Tato

pedagógico).

Preocupação com a

metodologia (tato

pedagógico).

Inserção na pós-graduação. Contribuição na Formação e

Atuação Profissional.

A cultura profissional.

A seriedade em desenvolver

os conteúdos.

Contribuição na construção

dos saberes.

O Conhecimento.

Cada um tinha algo de

singular.

Relacionamento

Interpessoal.

Relacionamento

interpessoal.

Leitura que faz da

sociedade.

Compromisso com o

social.

7.4.2 CONCEITO DE PROFESSOR REFERÊNCIA

Os invariantes até agora notados e sintetizados no quadro 14 passam por

aspectos que permeiam as categorias elencadas por nós como fundantes na pesquisa,

delineando traços desse professor-referência. Tentando enriquecer a visão até agora

traçada, vejamos como esse conceito é aproximado pelos sujeitos de uma mesma

Licenciatura.

7.4.2.1 Conceito de professor referência por curso

A escolha da ordem que propicia a visão do professor por curso/licenciatura que

passamos a analisar abaixo foi aleatória, significando que esperamos um olhar geral,

mas que propicie uma aproximação do objeto investigado que delineie alguma diferença

substanciada pelo dado da internalidade a um campo de saber. O fato é que cada campo

Por que Professor de Referência

203

de saber, seja Pedagogia, Matemática ou outro, carrega em si visões de mundo que

predispõem as intencionalidades dos profissionais que a ele se submetem.

Assim, no quadro nº 15, abaixo, salta aos olhos de imediato o realce dado pelo

Professor Referência de Pedagogia (PP), quando salienta a compreensão do mundo

“através do professor”, apontando ainda as contradições que a sociedade carrega em si,

as tensões e confluências que esta compreensão encerra e a relevância da leitura de

mundo que o professor realiza. É a partir dessa leitura que se dará sua atuação, seu

engajamento, em busca de formar profissionais reflexivos e implicados em uma ação

formativa, com igual característica de reflexão.

É interessante observar que a fala dos estudantes impõe características desse

realce, tais como responsabilidade, colocar-se no lugar do outro, respeito, rigor com

sensibilidade, relação teoria-prática, envolvimento, viver o que fala... Ao contrário, a

fala do coordenador, em que pese o uso de termos como responsabilidade e

compromisso, parece restringir-se mais ao ofício de ensinar, em uma perspectiva mais

técnica.

Quadro nº 15: Professor referência no Curso de Pedagogia

O que dizem os

coordenadores

O que dizem os

professores

O que dizem os estudantes

Aquele que

cumpre com

responsabilidad

e e dedicação

suas atividades,

além de

demonstrar

compromisso

com as

aprendizagens

dos estudantes,

sejam elas

conceituais,

atitudinais ou

procedimentais.

(CPP).

Todo ele e qualquer

ele, já que é uma

referência do que a

sociedade se permite

pensar e agir em

relação a si mesma,

no sentido de o que

essa sociedade espera

e compreende de

educação.

Ora se a sociedade é

contraditória, ela tem

contradições

positivas e negativas.

Você compreende o

mundo, através do

professor (PP).

É responsável com o trabalho. Coloca-se no lugar do

educando. Desenvolve um trabalho que promove

aprendizagem (EP).

Possui disciplina. Didática, amor à profissão e nos

motiva a sermos professores (EP).

[…] diferentes níveis dos estudantes; e está sempre aberto

a discussão (EP).

Consegue ser bom profissional; tem sensibilidade;

grande preocupação com o processo de formação dos

estudantes; trabalha respeitando cada pessoa; possui

postura acadêmica rigorosa, porém, sensível (EP).

Faz da sua teoria uma prática diária (EP).

Consegue fazer a perfeita convergência entre o saber científico

e a prática pedagógica (EP)

Coloca na prática a sua teoria, as suas concepções! Tem

experiência em várias escolas, instituições etc. Aquele

que tem bastante conhecimento acumulado (EP)

Envolve-se no processo de aprendizagem; é

comprometido com os estudantes, relaciona teoria e

prática; está sempre estudando e renovando seus

conhecimentos (EP).

Mostra o comprometimento e estimula os estudantes.

Envolve-os. É questão de viver o que fala (EP).

204

A visão de (CLD), a seguir descrita, amplia a de (CPP) sobre a necessidade de

ter uma “visão ampliada da formação humana”, mesmo que acentue o “domínio dos

componentes curriculares”. Para além desse domínio, (PL) realça a fala ao mencionar

“uma forma de olhar para algo que você nunca tinha olhado”. O complemento lógico a

esse encadeamento de discurso está, em nosso olhar, no que diz (EL): “Ama o que faz,

apesar de todos os problemas do meio acadêmico”. Claro, há falas dos próprios

estudantes de Letras que complementam mais especificamente as que tratam de

aproximação com o estudante, afetividade, posicionamento social, e outras, conforme

estão explicitas no quadro 16.

Quadro nº 16: Professor referência no Curso de Letras

O que dizem

os

coordenadores

O que dizem

os

professores

o que dizem os estudantes

Se for

referência

relativamente

em relação à

formação do

cidadão, penso

em domínio

dos

componentes

curriculares;

clareza do

papel político-

pedagógico

docente, visão

ampliada da

formação

humana

(CLD).

Aquele que

questiona,

faz refletir,

tira a gente

do lugar que

a gente

estava, faz

você pensar

diferente, traz

uma forma de

olhar para

algo que você

nunca tinha

olhado

daquela

forma.

Domina o

conhecimento

específico e o

pedagógico

(PL).

Aquele que é capaz de unir os conhecimentos, específico e

pedagógico, de modo proveitoso. Consegue se aproximar dos

alunos, principalmente no que diz respeito a utilizar uma

linguagem que oportunize aos estudantes um aprendizado eficaz

(EL).

Aquele que consegue promover aprendizagens e ao mesmo tempo

desenvolve um clima de afetividade na turma. Além de ter domínio

do conteúdo e, sobretudo, sabe fazer com que os estudantes

aprendam (EL).

É comprometido; sabe planejar e contextualizar o objeto de ensino;

considera a aprendizagem um processo contínuo e o aluno o

sujeito do processo (EL).

Procura inovar aplicar conceitos de forma que possamos refletir

sobre a atividade docente (EL).

Não apenas forma o aluno, mas o incentiva a buscar cada vez

mais conhecimentos acerca dos conteúdos indispensáveis à sua

formação (EL).

Não se contenta em repetir conteúdos, mas renova sua abordagem,

sabe como aproximar os estudantes do que deve ser estudado, não

age arbitrariamente nas avaliações e privilegia o aprendizado (em

detrimento do “ensinar”) (EL).

Domina o conteúdo; estabelece relações entre os conteúdos e a

realidade social; propõe e orienta atividades que resultem em

produção de conhecimento e não mera reprodução (EL).

Ensina com uma linguagem que os alunos compreendem e se

posiciona socialmente (EL).

Sabe o que ensina, sabe ensinar e tem interesse em ajudar os

alunos (EL).

Ama o que faz, apesar de todos os problemas do meio acadêmico

(EL).

205

A metáfora trazida por (PEF) para o professor referência, a de que ele é

responsável pelo papel profissional do estudante, tornando-o “um ator, diretor e plateia”

de sua formação, coincide aqui com a de (CEF), em fazer da sua atuação “um gesto

político”, complementando-se com o olhar para o aluno, que os próprios estudantes

trazem sua necessária sociabilidade; ser verdadeiro, capacidade de motivação, etc.

Ressaltado no quadro a seguir.

Quadro nº 17: Professor referência no Curso de Educação Física

O que dizem os

coordenadores:

O que dizem os

professores:

O que dizem os estudantes:

Aquele que faz de

sua atuação

profissional um

gesto político, em

que o saber é

dialogado e

ressignificado

(CEF).

Ser professor

referência é ser

responsável

diretamente pelo

papel profissional

e humano que

cada aluno vai

desenvolver na

sociedade, onde

cada um é ator,

diretor e plateia

desse

desenvolvimento

(PEF).

Aquele que é extrovertido, verdadeiro, ministra a aula

olhando nos olhos dos discentes, demonstra estar sempre

renovando seu conhecimento, sabe ouvir o aluno, além de

ser pontual e cumprir o cronograma da disciplina (EEF).

Tem prazer e dedicação pela sua profissão (EEF).

Possui a capacidade de reinventar metodologias para poder

passar o mesmo conteúdo, de forma que faça do estudo um

estilo de vida (EEF).

Compartilha o que sabe, sem receio de ser questionado

quanto ao seu conhecimento (EEF).

Facilita o processo de ensino-aprendizagem, deixando o

aluno sentir-se à vontade para tirar dúvidas e utiliza uma

metodologia que promove a compreensão dos conteúdos

trabalhados (EEF).

Passa com segurança o que se predispõe a ensinar, sem

deixar o estudante confuso, pois oportuniza momentos para

eliminar as dúvidas surgidas (EEF).

Suas aulas têm uma carga subjetiva de informações que

você levará consigo durante seu curso e para além do

período escolar, para a vida (EEF).

Não só ensina o conteúdo, mas ensina também a ensinar

(EEF).

Motiva, ajuda, sabe lidar com qualquer tipo de aluno, está

sempre à disposição, procura perceber se o aluno está com

alguma dificuldade, em quê, por que e onde (EEF).

A formação por que passa o licenciado em história, na visão acadêmica,

condiciona o olhar desse profissional para as grandes construções sociais da

humanidade, permitindo em tese que ele enxergue dados ligados ao político e ao

humano, que, no nosso entendimento, não são consideradas (mas deveriam ser?) por

(CH) e (PH). Contudo, as falas dos estudantes estão carregadas dessa vinculação: boa

relação, dialogar, ensinar e escutar, abrir novos horizontes, socializar – são termos

usados por eles que permeiam essa construção do coletivo, do necessariamente humano,

que ela carrega e desencadeia. Sintetizados no quadro 18 a seguir

206

Quadro nº 18: Professor referência no Curso de História

O que dizem os

coordenadores

O que dizem os

professores

O que dizem os estudantes

Possui as

características

que contribuem

para o

crescimento

intelectual e

pessoal do

estudante (CH).

Aquele que leva a sério

sua atividade; tem

domínio do

conhecimento; é assíduo;

tem uma boa relação

profissional com os

alunos (PH).

Aquele que:

- Estabelece uma boa relação com os

estudantes, não desprezando suas opiniões

nem reprimindo suas curiosidades (EH).

- Consegue dialogar com o conteúdo de

forma realmente a gerar dúvidas e debates

(EH).

- Me faz ter a curiosidade de buscar cada

vez mais informações sobre os conteúdos por

vontade própria e que usa meios alternativos

de avaliação, que vai além da prova escrita.

Ensina e escuta (EH0).

- Consegue abrir novos horizontes em

nossas mentes (EH).

- Aquele que não tem receio de socializar

experiências, saberes e conhecimentos com

seus alunos (EH).

A relação que supõe o diálogo traz em si a preocupação com o outro, fazê-lo

sentir-se bem, ser amigo, provocar o prazer da descoberta, o escutar como complemento

ao ensinar, sem perder de vista, claro, o processo de profissionalização em curso,

“buscando novas técnicas de ensinar”. Esses são os dados trazidos pelas falas seguintes.

A afirmação “olha para o aluno como ser humano” redireciona nosso foco, enxergando

uma forma especial de ser/estar no mundo por parte desse professor referência.

Necessário salientar que o campo disciplinar de atuação do professor – a matemática –

carrega em si muito da racionalidade técnica, aparentemente superada por ele, por se

apresentar colaborativo de forma significativa, por ter essa preocupação com o outro,

com suas aprendizagens e construções pessoais, como vimos observando em suas falas.

Imaginam-se os conflitos, as idas e vindas pelas quais sua construção identitária passou,

passa e passará. No caso, como resumimos no quadro 19 a seguir, as falas dos

estudantes são mais significativas do que a fala do Coordenador, bem característica

daquela racionalidade.

207

Quadro nº 19: Professor referência no Curso de Matemática

O que dizem

os

coordenadores

O que dizem os

professores O que dizem os estudantes

Aquele que

domina o

conteúdo que

ministra e é

acessível aos

alunos (CM).

Aquele que sabe

expor o conteúdo,

porque isso

envolve o

domínio do como

fazer aquela

transposição,

fazendo o aluno

interagir para

captar se, de fato,

eles estão

compreendendo

(PM).

Aquele que:

- Sempre escuta seus alunos, e procura ajudá-los quando

necessário; consegue ser, ao mesmo tempo, professor e

amigo dos alunos (EM).

- Apresenta o conteúdo de maneira clara e direta (EM).

- Provoca o prazer da descoberta, mostra sentido ao que

está ensinando e, principalmente, sabe avaliar seus alunos

(EM).

- Olha para o aluno como “ser humano” e em pé de

igualdade consigo mesmo (EM).

- Faz-me ficar atento à aula, mesmo quando estou muito

cansado (EM).

- Busca extrair do aluno o melhor que ele tem a oferecer

(EM).

- Preocupa-se com o aprendizado de seus alunos e busca

sempre novas técnicas de ensino (EM).

- Possui domínio de conteúdo e dedicação aos seus alunos

(EM).

7.4.2.2 Compreensão sobre Identidade Docente

Concordamos com Sainsaulieu (1985, p.81) quanto ao “obscurecimento da

dinâmica relacional presente na produção identitária. É sobre a projeção de si, sobre a

compreensão dos papéis que representa, contudo, que achamos condições aproximativas

do objeto que pensamos, quando tentamos investigar a percepção dos professores sobre

o conceito de identidade. Mais que um discurso técnico, de conhecimento sobre o tema,

objetivamos colher o que há de biográfico nas falas dos entrevistados que nos façam

compreender o quanto disto impregna essa construção de professor-referência.

Assim é que (PP) apresenta em sua fala dados da relação e do reconhecimento

recíproco. Esse movimento de “sair de si” e de “ver-se em”, o imbricar provocado por

esse relacionamento, é trazido aqui como uma fala de quem conhece os meandros dessa

produção:

Para mim toda identidade remete como é que o outro enxerga o que eu sou, como é

que eu enxergo o outro. Para mim a identidade profissional é um território em que

208

se processam relações de reconhecimento recíproco. A identidade profissional ela

aponta para o movimento do sujeito, capaz de, saindo de si, reconhecer esse outro,

digamos, o outro da nossa profissão. Você tem uma identidade profissional quando

você é capaz de reconhecer quem é o outro da sua profissão e reconhecer-se nela

(PP).

O fazer, a parte procedimental, a postura, o compartilhar o ensino são

considerados por (PEF) como motor dessa identidade, não sem pontuar o “dar voz ao

aluno”. São aspectos externos dessa produção, mas com “compartilhamento”.

A identidade docente, na minha compreensão, ela envolve todos os procedimentos

que o professor faz, assume, para ministrar aulas, para compartilhar conteúdos,

e veja bem que eu falo isso também no que diz respeito a fora da sala de aula. A

identidade é toda uma postura do professor em transmitir conhecimentos por sua

maneira, suas características. Cada professor cria sua identidade em compartilhar

o ensino. Alguns de uma forma mais diretiva, outros de forma mais participativa,

democrática, dando voz aos alunos (PEF).

O foco de PM é menos técnico, mas com um componente interno muito

interessante. Apresenta um caráter subjetivo aparentemente muito forte da identidade: o

vínculo nato e “o gostar de fazer”, além de uma velada crítica: “nem todos têm...”.

Penso que é uma coisa mais nata... É o gostar de fazer. Eu quis ser professor,

porque me identifiquei com a profissão, conseguia fazer com que os alunos se

envolvessem mais com aquele conteúdo que eu estava dando, etc. Penso que essa

identidade de professor nem todos os professores têm, nem todo mundo tem.

Um cara faz um concurso... E qual a tua função? Ser professor do magistério

superior, então tem que ser professor... Mas isso não é verdade, entendeu? Porque

você não se identifica com o ser professor (PM).

Relevante a mudança de percurso de (PH), pois de início pensava em ser

pesquisador. Depois, através de práticas de ensino a que se submeteu, foi se

identificando, com a responsabilidade que lhe é característica, segundo se extrai de

outras falas, terminou gostando de “ser professor”.

Bem, inicialmente não pensei ser professor, pensava mais em ser pesquisador,

porém foi acontecendo e fui me identificando na sala de aula e hoje gosto de ser

professor. Então penso que criei uma identificação com a profissão docente, e

penso ser isso identidade docente, mas temos professores que vão para a sala de

aula com se estivessem fazendo um sacrifício, ou … não deu pra nada e terminou

professor (PH).

209

É o conhecimento, o saber ampliado, ter o domínio, complementaríamos: é

tomar conta de si e dos outros. Há aqui uma necessidade de agir no mundo, de uma

compreensão do papel de “ator do eu” e, nesse agir, propiciar mudanças.

É o conhecimento, sabe. Eu acho que ser professor todo mundo diz: tem que ser

isso... Aquilo... Tem que ter boa didática, tem que ter blá... blá... blá... . Eu acho

que tem que ser uma pessoa organizada, metódica. Tem que ter capacidade de

planejar, de trabalhar em equipe, mas tudo isso, pra mim, sem o conhecimento

não funciona, não. Entendeu? Ele tem que ter um saber ampliado, mesmo, sobre o

objeto, ter o domínio sobre... a palavra domínio, é, acho que é ótima nesse

sentido! É um domínio no sentido de saber transitar nesse conhecimento, gerar o

conhecimento, provocar, ampliar, compartilhar esse conhecimento. Então, pra

mim o ponto que dá identidade ao professor é o conhecimento (específicos e

pedagógicos juntos) (PL).

Impressionam as “certezas” nas falas acima. Mesmo quando não isomorfas ao

conceito em si de identidade profissional, elas trazem essa compreensão de um papel a

desempenhar, com base em conhecimentos sólidos, mas cheios de preocupação com o

fazer, com o mudar, com a responsabilidade social, a uma dinâmica de ser e estar no

mundo de modo especial, em que o gostar do que faz não é uma prática hedonista, mas

propiciadora de abrir-se para o outro. Suas concepções identitárias prenunciam, a nosso

ver, o pano de fundo da cena que nossa pesquisa tenta mostrar.

7.4.2.3 A que atribui ser apontado “professor-referência”

A visão que como referências têm esses professores sobre si coloca-nos em

condições de melhorar nossa análise, nossa visão aproximativa do objeto de estudo. A

síntese feita, resumida no quadro seguinte, apresenta ingredientes já vistos noutras falas,

por pontuarem desde dados da sua profissionalidade e do seu fazer específico

(pontualidade, domínio do conhecimento, didática), até aqueles de sua subjetividade

(gostar do que e a faz paixão que deixa transparecer), passando pelos questionamentos

sobre a relação com os estudantes (afetuosa; respeitosa).

Perguntamos aos professores participantes da pesquisa a que eles atribuiriam

terem sido considerados professor-referência. Assim se colocaram:

210

Quadro nº 20: A que atribui a indicação de professor-referência

Síntese Fragmentos da Entrevista

O vínculo entre o gostar do que

faz, o comprometimento como

fazer e a relação afetuosa com os

estudantes.

Difícil dizer, mas o que posso dizer é isso.

Quando eu dou aula eu estou literalmente nas

aulas. Algo de mim vai junto com as minhas

aulas. Isso contribui para a criação de um

vínculo, de estudante x professor, que tem

afetos, mas não é “sentimentaloide” (PP).

Ter boa metodologia, respeitar e

escutar os alunos e bom critério

de avaliação.

Saber se relacionar bem.

Penso que é não faltar às aulas; não utilizar

somente um recurso didático; convívio com os

alunos; ouvir os alunos; criar critérios de

avaliação […] críticas e sugestões; tratar o

aluno como par (PEF).

Eles valorizaram meu

desempenho, meu esforço.

Saber relacionar

Comprometimento.

Por ser assíduo; pontual; dominar o

conhecimento; boa relação com os alunos.

Minha relação é respeitosa. Eles perceberam que

eu sou um professor que me esforço. Eu me senti

profissional. Eles me valorizaram. Penso que

eles me escolheram por tudo isso que

conseguiram observar na minha prática (PH).

Pela paixão que deixa transparecer

nas suas ações.

Agradeço. Acho que tudo isso é a paixão que eu

revelo; sou uma apaixonada pelo que faço e

deixo isso transparecer para os alunos, nas

atitudes, ações e reações. Estou muito

emocionada; penso que é porque estou perto de

me aposentar (PL).

Pela forma de conduzir os

conteúdos e a preocupação no

como devem fazer.

Responsabilidade com o outro.

Na forma de expor o conteúdo eu digo pra eles

como devem fazer, mas é isso que eu acho,

porque a gente, enquanto professor formador de

professores, tem uma responsabilidade muito

grande (PM).

Durante toda a pesquisa procuramos na docência universitária, enquanto

espaço/tempo de formação, nos intervalos entre o vir a ser professor e ser e estar

professor, através da convivência, das relações estabelecidas entre conteúdo, saberes,

discentes-docentes, nas trocas efetivadas, uma luz, uma intuição que nos permitissem

visualizar/compreender a influência exercida na modelagem, na constituição e

construção da identidade profissional e profissionalidade docente.

À luz da teoria, Sacristán (1990) contribui, fazendo-nos entender que a

profissionalidade docente constitui a especificidade de ser professor e que se evidencia

através de ações que estão imbricadas nos comportamentos, destrezas, atitudes e

valores.

Acrescentamos ainda que a profissionalidade, por sua vez, se constitui e se

institui na ação docente, no exercício do ofício de ser professor, na integralidade ou

interconexão entre os saberes e a prática, na intencionalidade definida na ação

211

pedagógica, na mediação didático-pedagógica, na imprevisibilidade do contexto da sala

aula, na articulação entre os saberes, enfim, no que o professor pensa, acredita e é capaz

de fazer, porque é ele e não outro profissional qualquer que poderá fazer o seu trabalho,

a sua função.

A identidade profissional docente começa a acontecer quando “eu me reconheço

a partir do que o outro, pensa sobre mim” e “o que eu penso sobre mim, ou ainda como

eu me vejo”. Assim, o Quadro 20 nos permitiu visualizar os dois aspectos imbricados,

ou seja, a partir de como os estudantes perceberam o professor, da imagem ou

representação que eles construíram do seu professor referência, e o reconhecimento

desse professor no que ele considera sobre sua própria imagem pessoal e profissional,

configurando, assim, aspectos da sua identidade profissional e profissionalidade

docente.

É, contudo, na “paixão” de (PL), no “ouvir” os alunos de (PEF), no

envolvimento nas aulas, mostrado por (PP), no comprometimento de (PEF) e na

“responsabilidade muito grande” ressaltada por (PM), que encontramos os vínculos

geradores das condições que os referenciam como mais que bons professores, mas como

professores referência para os futuros docentes. Provavelmente foram esses que nos

cativaram.

Observamos até aqui que o professor referência no contexto universitário se

delineia em um caráter de grande subjetividade, em que seu olhar para si e sobre o

mundo se interpenetram com os condicionantes de construção de sua identidade e

profissionalidade, histórica e socialmente construídas. Esse é o professor que, acima de

tudo, ama o que faz, valoriza os estudantes, social, intelectual e afetivamente. Escuta,

aconselha, orienta, numa perspectiva de torná-los mais humanos, ou seja, não apenas

“forma”, mas inova, conhece e provoca o prazer da descoberta, exige, produz e

incentiva a produção do conhecimento, levando-os à autonomia intelectual, mostrando a

melhor maneira de fazer com que os estudantes aprendam não só o conteúdo, mas

aprendam a ensiná-lo.

A figura a seguir ressignifica esse olhar sobre o conceito de professor referência

apreendido no desenvolvimento da pesquisa.

212

A figura acima sintetiza aquilo que conseguimos apreender acerca do professor

referência durante o desenvolvimento da pesquisa. Apresenta o contexto no qual o

professor foi estudado, buscando percebê-lo nas relações efetivadas no processo de vir a

ser professor, na constituição da identidade profissional e profissionalidade docente, as

inter-relações entre a docência universitária, suas complexidades e dimensões,

perpassando pelas questões relativas à responsabilidade social da universidade em

proporcionar uma formação profissional, como também a perspectiva de considerar

nessa formação a pessoa e o professor como indissociáveis e partícipes do processo.

Apresenta o professor referência no centro do processo de formação que, da mesma

forma em que se torna influência, foi e é influenciado por um professor referência, uma

vez que também esse professor é um ser em transformação, inconcluso e sempre

disposto a querer mais.

Passamos agora a outro foco de nosso problema de pesquisa, que é saber as

influências desses professores referência na construção da identidade profissional e

profissionalidade docente dos futuros professores. Nesse caso, debruçamo-nos sobre as

falas dos próprios estudantes, para apresentar algumas das influências atribuídas aos

DOCÊNCIA NA

UNIVERSIDADE

HOJE

DOCÊNCIA NA

UNIVERSIDADE

HOJE

Estudantes

vir a ser

Estudantes

tornar-se

PR

OF

ISS

ION

AL

IDA

DE

DO

CE

NT

E

IDE

NT

IDA

DE

DO

CE

NT

E

EU-

OUTRO SABER

ENSINAR

Figura nº 3: Professor Referência no contexto universitário

213

professores no que se refere à formação e à constituição de sua identidade e

profissionalidade docentes.

No que se refere à formação docente, percebemos a influência desde aspectos

relativos ao processo do trabalho docente, na perspectiva do “saber fazer”, bem como

das questões que envolvem a dinâmica do professor na universidade em relação à

pesquisa e atividades outras que compõem a rotina na universidade, exemplificadas nas

falas de estudantes a seguir:

Sua história de vida tem semelhança com a de alguns estudantes, o que os anima

para estudar mais (EP).

Sua forma singular de enxergar a vida torna fácil aproximar-se dele (EP).

Na construção da identidade profissional docente, conseguimos apreender, a

partir das falas dos estudantes, a influência desde a forma que esses professores têm de

perceber a vida, ao tipo de personalidade, aos aspectos emocionais, na persistência em

buscar a formação diante das dificuldades e semelhanças com seus professores, no

formato com que organizam, estruturam e singularizam o seu saber fazer, percebido nas

suas ações docentes.

A sua personalidade é uma das coisas que o torna referência (EEF).

Abriu-me os olhos para o lado mais bonito e humano do professor: a sua influência

no emocional dos alunos (EEF).

É um exemplo de persistência, pelo fato de ter chegado a ser professor universitário

(EP).

No que tange à construção de uma profissionalidade e a responsabilidade que

a profissão lhes impõe, essa percepção se apresenta na fala seguinte, em que se mostra a

transversalidade e preocupação docente da produção do conhecimento, no espaço

democrático em que se institui a docência universitária, em toda sua complexidade e

dimensões.

Sua metodologia, domínio dos conteúdos, criatividade, paciência e carisma para

com os alunos contribuíram positivamente na vida acadêmica (EEF).

Foi marcante para mim por mostrar a história de uma maneira informal, lúdica e

dinâmica; o conteúdo parecia simples (EH).

214

Evidentemente que apresentamos apenas alguns exemplos dessa influência que o

professor carrega na formação dos futuros professores. Eles estiveram presentes durante

toda a discussão deste capítulo.

Como podemos citar: a influência do professor (PP), ao identificar-se com o ser

professor durante o curso de pedagogia; a professora (PL), que a partir da imitação dos

seus professores ainda na infância foi alimentando o gosto de ser professora; e mesmo a

fala do estudante (EL): “professora estou impressionado com a organização da sua sala;

é a mais organizada de todas que já vi.”; (PH) ao lembrar-se de um professor, cujas

aulas não eram tão boas, “mas foi ele o primeiro cara a me mostrar a poesia... e de

repente eu estava lendo poesias, coisas diferentes que eu não imaginava”.

Desse modo percebemos que as influências atribuídas aos professores-

referência, de fato, definem a escolha, a formação e também a constituição de

identidade profissional e profissionalidade docente, conforme estamos delineando nesta

discussão.

Passamos agora a considerar por curso as características que os discentes

atribuíram ao professor referência. A escolha das áreas de formação como unidades de

análise deveu-se às especificidades que cada uma carrega. O número de ocorrência de

cada atributo foi considerado no gráfico, para visualizarmos todas as características

apontadas, porém consideraremos para este estudo apenas as três mais evidenciadas, por

acharmos que ele acrescenta qualidade ao processo de análise, uma vez que gostaríamos

de ver se a especificidade de cada curso interfere nessas características. Os gráficos

seguintes sintetizam os dados obtidos:

215

Gráfico nº 1: Características Atribuídas ao Professor Referência PP

Fonte: Dados coletados na pesquisa

Os licenciandos em Pedagogia apresentaram as seguintes características para

delinearem o seu professor-referência, apresentadas a seguir em ordem de preferência:

Respeito ao aluno, no que se refere aos seus saberes e ritmo de aprendizagens,

seguidos de Responsabilidade, Comprometimento e Domínio de Conteúdo,

perfilando uma preferência no mesmo nível, e tendo a Flexibilidade como a terceira

característica mais acentuada.

Ao observarmos o gráfico 1, identificamos diversas características percebidas

pelos discentes sobre sua representação do ideal de professor. Essas características nos

dizem algo sobre esses estudantes, ou pelo menos suscitam algumas reflexões e

questionamentos. Ao priorizar Respeito ao Aluno diante das outras características

citadas, percebemos a representação que o professor referência tem sobre si enquanto

professor – “eu me vejo formador” –, elegendo essa como sua, e ao dizer que

“Pedagogia é um curso centralmente de formação do outro”. É nesse sentido que

conjeturamos sobre o que os estudantes de pedagogia querem nos dizer com essa

escolha. Observamos nas contribuições trazidas pelos estudantes que os saberes

relacionais estão transversalizando suas falas. A afetividade se evidencia na busca de

uma profissionalidade que faça o diferente, que busque uma proximidade, que

ressignifique o fazer docente a partir da boniteza que é aprender a ensinar.

216

Gráfico nº 2: Características Atribuídas ao Professor Referência PEF

Fonte:

Fonte: Dados coletados na pesquisa

A licenciatura em Educação Física considera prioritariamente o Bom

Relacionamento, como característica para perfilar o seu professor-referência, seguida

de Boa Didática, pois durante toda a discussão nos dados coletados essa foi uma

habilidade recorrente nas falas dos estudantes, e por terceira característica, o Domínio

de Conteúdo, não por considerá-lo de menor importância, mas por perceber também

que ele só não basta para que o estudante aprenda.

O gráfico 2 também nos apresenta múltiplas características que podem fazer

parte das habilidades docentes, contudo os estudantes atentam para o Bom

Relacionamento como o que mais desejam do seu professor-referência. O professor

escolhido, por sua vez, tem a percepção de si como “responsável pelo profissional que

está a formar”. Esse professor, nas suas contribuições, afirma que “cada aluno leva

para sua vida um pouco do que nos é mais íntimo: o conhecimento”. É apaixonado por

sua profissão e tem excelente relação com os estudantes, bem como uma didática

diferenciada, o que também se expressa na escolha dos estudantes como a segunda

característica com uma proximidade muito grande da primeira.

217

Identificamos assim mais uma licenciatura que valoriza a relação ou os saberes

relacionais como necessários à prática docente. Compreendemos assim que a

constituição da identidade docente também se constrói nessas influências, nas

necessidades sentidas, quando os estudantes se deparam com as ações que precisam

realizar, quer seja em estágios, em seminários ou em outros ambientes em que iniciam a

construção da sua profissionalidade docente.

Gráfico nº 3: Características Atribuídas ao Professor Referência PH

Fonte: Dados coletados na pesquisa

Os licenciandos em História priorizam para seu professor referência o Domínio

de Conteúdo; a segunda característica ressaltada pelos estudantes é Boa Didática.

Saber Ouvir e Gostar do que faz perfilam um mesmo nível de preferência.

No gráfico 3 observamos uma série de características elencadas para o

professor-referência, entretanto esses estudantes priorizaram o Domínio de Conteúdo

como a característica mais desejada para seu professor-referência, seguida de uma Boa

Didática. Salientamos que essa também é a compreensão do professor que serve de

referência a esses estudantes, tendo origem numa família de professores que prima pela

competência profissional. Segundo indicação dos estudantes, possui um bom

desempenho na forma de se comunicar, mas prima pelo domínio daquele conteúdo cuja

218

responsabilidade é sua. Conforme vamos observando, parece que a relação entre o que

os professores-referência tomam como fundante para o seu exercício docente vai sendo

incorporada ao desejo dos estudantes enquanto ideal de professor que pretendem ser.

Dessa forma, mais uma vez evidenciamos uma influência entre a representação

que esse professor tem para os estudantes e o tipo de professor que ele pretende vir a

ser, possibilitando, assim, uma identificação com a forma de agir do docente, o que

caminha possivelmente para a construção de uma profissionalidade e identidade com a

docência inspirada nesse professor.

Gráfico nº 4: Características Atribuídas ao Professor Referência PM

Fonte: Dados coletados na pesquisa

Os licenciandos em Matemática elegem como característica primeira Boa

Didática, na perspectiva de saber tratar o conteúdo pedagogicamente, construir uma boa

metodologia e conduzir os estudantes a uma aprendizagem significativa. Domínio de

Conteúdo, estranhamente, foi considerado como segunda característica para esse curso,

diante da história que o identifica. Boa Relação com os Alunos também foi enfatizada

nesse curso, o que parece indicar algumas transformações ocorrendo no seu interior.

O gráfico 4, que representa as características desejadas e indispensáveis para o

professor referência indicado pelos estudantes de matemática, entre todas, priorizaram

Boa Didática. Questionamos essa opção dos estudantes em primeira ordem por

Didática, mais especificamente, uma Boa Didática, e o Domínio de Conteúdo vindo

219

seguido daquela. Entretanto, consideram importantíssimo o domínio do conteúdo. Mais

uma vez, tomamos o exemplo do professor referência escolhido pelos discentes de

Matemática para analisar a contribuição ou influência desse professor no processo de

“vir a ser” professor pelos estudantes.

Esse professor referência é um profissional que gosta de dar aula nas

licenciaturas, porque busca modificar a ideia de que “não é só saber” o conteúdo o que

importa, mas importa muito mais “fazer com que o aluno aprenda”. Além disso, é um

professor que chega junto do estudante, escuta-o, ajuda-o nas suas dificuldades, procura

orientar estudos, auxilia nas pesquisas e tem uma excelente relação com os estudantes.

Observamos que se evidencia mais uma vez essa relação de proximidade entre o

que o professor referência tem como estruturante da sua profissionalidade docente, com

sua identidade docente, e a preferência desses estudantes por uma característica que faz

parte do professor/profissional. Podemos então pensar que esse professor no curso de

licenciatura em matemática “faz algo de diferente”, ou, ainda, que os estudantes estão

com outras necessidades sobre os processos de ensinagem, posto que as exigências na

educação básica, campo de atuação dos agora estudantes, estão a solicitar dos

professores recém-formados competências outras que o ensino na universidade não

estava preenchendo.

Gráfico nº 5: Características Atribuídas ao Professor Referência (PL)

Fonte: Dados coletados na pesquisa

220

Os licenciandos em Letras apontaram em ordem de preferência as características

consideradas indispensáveis ao professor-referência: Domínio do Conteúdo, seguido

do Compromisso com a docência e Cuidado com a aprendizagem do aluno, que se

encontram em um mesmo nível de preferência. Coerência entre Teoria x Prática foi a

terceira característica dentre as mais evidenciadas.

O gráfico de nº 5 curiosamente é o que apresenta uma variedade menor de

características necessárias ao professor referência para esses estudantes. Entretanto, a

escolha pelo Domínio de Conteúdo com uma pequena diferença para Compromisso

com a docência e Cuidados com a aprendizagem nos impelem a considerar essas

características. A razão para tal encontra-se em considerarmos três gerações de

professores apresentando as mesmas características como fundantes para a sua

formação, profissionalidade e identidade docente.

A professora referência selecionada pelos estudantes da Licenciatura em Letras,

ao eleger seu professor referência o fez a partir da seguinte razão: “ser apaixonada pelo

que fazia e preocupada com a aprendizagem dos estudantes”. Essas duas características

foram também apontadas como razões para que seus alunos hoje a indicassem

professora-referência: “Ela demonstra amar o que faz [...] (EL). Consegue aliar o

conteúdo ensinado à nossa prática profissional, sempre visando à aprendizagem dos

estudantes (EL)”. Dessa forma, percebemos que essas características estão sendo

repetidas, ou seja, essa professora-referência teve influências da sua professora e ainda

hoje relembra suas ações. Por sua vez, integrou à sua profissionalidade e identidade

docente características dessa professora que agora é reconhecida como formadora do

seu fazer docente.

Desse mesmo modo, os estudantes em formação conseguem identificar essas

características como prioritárias e indispensáveis ao seu processo de “vir a ser

professor”.

Pensamos assim que esse exemplo final nos dá condição de afirmar a existência

da influência dos professores referência na formação, constituição da identidade

profissional e profissionalidade docente dos futuros professores.

Diante da análise realizada, compreendemos que o professor referência

representa no processo do “vir a ser” professor uma perspectiva que perpassa neste

221

século pela valorização da figura do professor no espaço/tempo cultural, social e

profissional em que vive.

O professor referência é também uma inspiração maior, um sonho, um projeto,

uma ideia de tornar-se um profissional com tudo àquilo de mais essencial que existia em

cada um dos professores que por nós passaram e que pensamos amalgamar em nossa

identidade de ser e estar professor.

É ainda a projeção de uma esperança, de buscar transformar o mundo a partir da

sala de aula; é querer ser gente que pode que ousa que abre horizontes de oportunidades,

que forma sujeitos autônomos, críticos, criativos e emancipados.

Mas é também alguém que nos ensinou a realizar a travessia de um lado para

outro do conhecimento, deixando-nos pistas para que pudéssemos também construir

pontes, chaves, portais, criar, com autonomia e liberdade, para realizar as escolhas

diante daquilo que a realidade nos propõe.

O professor referência não é necessariamente O Bom Professor, ou o Professor

Eficaz, ou ainda o Professor Eficiente, mas, sim, aquele profissional que faz “algo”

diferente, e nessa diferença está alicerçada sua identidade e profissionalidade, posto que

também esse professor domina um repertório de conhecimentos sólidos, especializados

e atualizados, que lhe dá condições de agir intencionalmente para oportunizar a

construção do conhecimento e tornar o homem cada vez mais humano, na inteireza de

que se acredita que o homem possa alcançar.

A alegria não chega apenas no encontro do achado,

mas faz parte do processo da busca.

Paulo Freire (1997)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

_____________________________________________________________________________

223

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dia alguém fez a seguinte afirmação: “Para se ser um professor tem de se ser

um profeta, porque se está a tentar preparar pessoas para um mundo futuro daqui a trinta

ou cinquenta anos”.

Pensamos que esta frase engloba o desafio proposto aos professores neste século

que se iniciou, com grandes transformações em vários âmbitos, as quais, para nós,

inseridas com os profissionais da Educação, foram mudanças significativas. Os

fenômenos acontecem em um lugar do mundo e inesperadamente todos os lugares do

mundo, e ao mesmo tempo, tomam conhecimento do fato, independentemente de onde

estejamos. A sociedade também se adaptou a esse dinamismo, pois tudo está mudando

rapidamente: as pessoas, as mídias, as opiniões, as ideias, e nós professores, formando

novos docentes para uma sociedade que não sabemos como estará daqui a vinte ou trinta

anos.

O conceito de professor referência ora em pauta também se insere nesse

contexto dinâmico da sociedade, principalmente porque o compreendemos situado

espacial e temporalmente, e percebemos que ele representa a ideia de um conjunto de

pessoas num certo tempo, numa dada realidade.

Ensinar e aprender, por fazerem parte do universo cultural da humanidade,

transita em todo o espaço social. Ocorre que a complexidade e a dimensão que o

processo de ensinar/aprender e aprender a ensinar alcançou, devido aos avanços da

ciência e da tecnologia, das contraditórias relações de trabalho, das questões relativas a

profissionalização, profissionalidade e a própria profissão docente, que foram se

estabelecendo ao longo da história, levaram à necessidade de se pensar de quem é de

fato a função e responsabilidade de ensinar, o que é ensinar, como se ensina e como se

aprende. Mais ainda, que características positivas terão esses formadores de futuros

professores.

É de senso comum pensar que todos podem ensinar, mas ensinar é específico do

saber docente, pois exige uma intencionalidade e um conjunto de saberes que

diferenciam, singularizam e identificam a profissionalidade docente e exigem uma

fundamentação consistente sobre a ação praticada.

224

A universidade é reconhecidamente um espaço institucional que tem por função

social e específica o ensino-aprendizagem de uma profissão, que habilita o estudante

para o trabalho, ou seja, para exercitar um ofício, porém o professor não se restringe

apenas ao aspecto de formar o profissional, pois o profissional é uma pessoa, e não

podemos separar uma da outra. É também considerado um “lócus” privilegiado de

formação em nível superior, que tem como princípio a indissociabilidade entre o ensino,

a pesquisa e a extensão.

A figura do professor na universidade se constitui como a pedra angular de todo

o sistema, pois é ele o responsável pelo desenvolvimento de todo o processo que a

instituição universitária planeja – é o seu trabalho, a sua ação docente, que vai dar

qualidade, autonomia e reconhecimento à universidade pela sociedade.

Os estudantes, objeto do trabalho docente, necessitam de professores que

possam e tenham condições de formá-los com autonomia, conhecimentos e saberes,

para exercerem sua formação com dedicação e eficiência.

Diante disso, a universidade, que após séculos sem nunca ter sido questionada

em suas funções, é convidada a refletir, entre outras coisas, sobre a formação de

professores para a educação básica.

Nesse contexto, partimos do conhecido, ampliamos nosso olhar junto à literatura

produzida sobre o tema em desenvolvimento. Fomos ao campo buscar uma maior

proximidade com o objeto estudado. Então, conseguimos apreendê-lo com maior

nitidez, diante de toda a complexidade de que ele se reveste.

O desenvolvimento da pesquisa nos permitiu algumas revelações. Trataremos de

envidar esforços para conseguir esclarecê-los para além do visível, procurando

estabelecer relações com a realidade do contexto universitário.

Estamos em um momento na universidade em que tentamos resgatar valores um

tanto esquecidos na academia. A complexidade e dimensões da docência, que cada vez

mais exige dedicação dos professores, conduzem-nos a ter que dividirmo-nos em

diferentes espaços e atribuições, e, por vezes, vamos esquecendo a boniteza e o prazer

que existe na relação professor/estudante, aprender/reaprender, um olhar, um gesto, um

aceno. Estamos em uma época em que os valores materiais parecem suplantar aquilo

225

que mais valorativo existe no seu humano – o afeto, o descobrir juntos, o compartilhar,

o conhecer.

É nesse contexto que a pesquisa desvela o professor referência, reconhecido e

valorizado pela sociedade representada pelos sujeitos que participaram desta pesquisa.

Assim, nosso professor referência não é necessariamente “um Bom Professor”,

ou “um Professor Eficaz”, ou “o Melhor Professor”, mas sim, “Aquele Professor” que

fez algo diferente, e esta diferença se fez representar na formação e constituição de um

futuro professor que estamos a formar. É ainda um profissional que vive e convive com

a complexidade e contradições existentes na universidade aqui e agora.

É aquele que está constantemente numa contradição entre formar e formar-se e

entre ser e estar professor/estudante, situado num contexto social, político e cultural. É

alguém que busca entender, abrir horizontes, possibilitar esperanças de sermos e termos

um grupo de professores reconhecidos por sua identidade e profissionalidade, por estar

em sua sala de aula e fora dela por inteiro, deixando-nos pistas para segui-las com

autonomia, criticidade, segurança e para apreender um corpo de conhecimentos que nos

faça também sermos referência de outros futuros professores, porque “ele” nos deixou

um legado que jamais será esquecido. É alguém que acima de tudo, ama o que faz,

escuta e orienta os estudantes.

A pesquisa desvelou ainda que o professor referência se constitui através de

multirreferências, desde questões relacionadas às subjetividades, na forma como

compreende o ser humano, a sociedade e a educação, e as respostas que estas reflexões

lhe provocam, a questões de como se identifica e constrói sua identidade com a

docência, o quanto gosta do que faz e como foi compreendendo a imagem social do

magistério, bem como a percepção que os estudantes têm da sua atuação e questões

mais práticas da rotina do ser professor.

A constituição do professor tem a ver também com nossa escolha sobre a

profissão professor. A maneira pela qual ingressamos na docência exerce influência no

nosso vir a ser professor, apesar de alguns inicialmente não terem optado pela docência.

Este fato corrobora outras pesquisas já realizadas. As razões que os levaram a se tornar

professores, apesar da singularidade que os constituem e as diferentes trajetórias

caminhadas, convergiram para um mesmo ponto: a docência.

226

Tem ainda a ver com nossa história de vida, família, com os professores com os

quais aprendemos/ensinamos. No que concerne ao saber fazer, mostra-se

comprometido, responsável, reflete sobre sua prática, ressignifica-a, expressa

preocupação com a aprendizagem dos estudantes, discute formas de como ensinar.

Apreendemos também que, apesar de os professores iniciarem a prática docente

a partir dos modelos apreendidos dos seus professores referência, já observamos que

tem início a (re) elaboração dessas aprendizagens, numa perspectiva de ressignificá-las,

dando o tom e a forma que nos identificam e diferenciam.

No que se se refere às lacunas encontradas na formação, eles sinalizaram para

a falta da formação específica do professor universitário, além de não se relacionar o

conteúdo com o ensino e a aprendizagem, até porque alguns não tiveram oportunidade

de discutir novas perspectivas de fazê-lo, nem durante a formação, nem com seus pares.

Mencionam a importância da didática por ser a disciplina no percurso de sua formação

que lhes possibilita esse olhar mais específico sobre o como fazer, mas ainda sentem

falta de um olhar de maior proximidade com a escola pública. Estas constatações nos

impulsionam a refletir que rebatimentos poderão ter na formação dos futuros

professores.

Outra falta também sentida refere-se ao fato de não terem oportunidade e, por

vezes, até interesse em discutirem questões relacionadas com o pedagógico, tanto no

sentido mais amplo, quanto no sentido mais restrito, de como pensar metodologias

conjuntamente com os professores que lecionam uma mesma disciplina, parecendo até

que, por ter o saber doutoral, não se fizesse necessário mais discutir questões que

tangenciam o pedagógico nas suas práticas.

Revelou-se também um aspecto que pensamos ser relevante para essas

considerações finais, a título de uma possível reflexão, foi o fato de os professores

enfatizarem que o tempo que têm para se dedicar a cumprir as exigências da CAPES e

CNPq, no que se refere às produções e outras dimensões da docência, faz com que

direta ou indiretamente, dediquem menor tempo para a atividade que caracteriza,

singulariza e identifica a profissão professor – o ensinar.

227

A pesquisa desvelou também que muitos professores aprendem a ensinar

solitariamente, dialogando apenas com o modelo de professor, com suas experiências

pessoais e profissionais. Através de tentativas e erros, aprendem a ensinar ensinando,

observando outros professores, através de seus exemplos, do livro didático, a partir da

relação pessoal, em detrimento de sabermos que as práticas compartilhadas são

consideradas relevantes para se aprender na universidade.

Os dados nos mostraram ainda que, no que se refere à formação do futuro

professor hoje, foi considerado pelos participantes da pesquisa a importância da

realização de trocas de experiências, seja enquanto observação de práticas, nos estágios

supervisionados, ou das trocas de experiências entre os colegas e professores, além da

necessidade de se trabalhar em sala de aula relacionando o objeto a ser ensinado ao

como ensinar e ao gostar do que faz.

Para os professores referência desta pesquisa, ser professor na universidade

significa oportunizar aos estudantes a construção da autonomia intelectual, ou seja, é

exercer a ética profissional, é priorizar a docência, é ser um profissional dedicado, é

produzir e disseminar conhecimentos. Desse modo, compreendemos que tais

professores conseguem demonstrar um sentimento de pertença junto aos seus pares, de

modo especial, vinculados ao seu fazer profissional.

A pesquisa revela um destaque acentuado tanto nas falas dos professores quanto

nas falas dos estudantes sobre a importância de um saber que vem se instituindo no

espaço universitário, mas que ainda acontece em prática individualizada, que é o Saber

Relacional. Ele surge como uma ferramenta que possibilita uma maior aproximação

entre estudantes, professores e conhecimentos/saberes, favorecendo em sala de aula um

clima de maior colaboração, no sentido de construção e produção do conhecimento.

Descortinou-se, também, a partir das falas dos estudantes, que a aula

universitária é uma oficina de aprendizagens, pois, ao mesmo tempo em que o estudante

está assistindo as aulas, está também apreendendo dinâmicas, aspectos metodológicos,

inovadores, ou não, e está também apreendendo a tecer críticas, selecionar modelos,

atitudes, habilidades. Assim, o professor que trabalha com turmas constituídas de

futuros professores é o tempo todo e todo o tempo “observado” nas suas ações, atitudes,

desde o tratamento dado ao conhecimento, até a forma que estrutura e organiza a

dinâmica da aula Assim, desde sua entrada na sala de aula até sua saída, é um objeto a

228

ser pesquisado, avaliado e apreendido naquilo que se fez interessante para o estudante,

que também está sendo influenciado nessa construção pelos professores que por eles

passaram.

Em relação às influências que os professores referência exercem sobre os

futuros professores, a pesquisa desvelou que elas estão imbricadas e perpassam pela

formação, constituição da identidade e profissionalidade docente, situando-se desde

aspectos relacionados com a sua vida pessoal, a aspectos ligados à sua vida profissional.

No que se refere especificamente às influências em relação à formação,

identificamos desde aspectos relativos ao trabalho docente, ou seja, a maneira como o

professor referência organiza, estrutura planeja e realiza suas aulas, até questões que

envolvem a rotina do professor, tais como pesquisas, reuniões, orientações, a maneira

como se relaciona com seus alunos e outros aspectos referentes a questões de ordem

pessoal, como incentivo a estudar, opções do que ler, em que se aprofundar etc.

Em relação à constituição da Identidade profissional docente, conseguimos

apreender que eles influenciam desde a forma que os professores têm de perceber a

vida, ao tipo de personalidade que possuem, ao gosto pelo que fazem à condução dos

problemas ocorridos em sala de aula, aos aspectos emocionais, a incentivos sobre

questões pessoais, escolhas profissionais, atitudes frente a desafios etc.

No que diz respeito à profissionalidade docente, a pesquisa aponta influências na

construção dessa profissionalidade dos futuros professores e do próprio professor a

partir da ação docente (saber fazer) vivenciada na sala de aula, que é observada e

apreendida pelos futuros professores – as nuances, as experiências no trato pedagógico

com o conhecimento, as atitudes, as habilidades, a proximidade com os estudantes, o

saber ouvir, de forma a mudar visão sobre como ensinar, ressignificar aprendizagens,

incentivo a pesquisar e adquirir um conhecimento sólido e capaz de justificar suas ações

e intencionalidades no saber ensinar a aprender.

Outro aspecto revelado nas falas dos professores e ratificado pelos estudantes foi

a valorização dada à dimensão humana da docência – a ética pedagógica –, observada

pelos estudantes nas práticas desses professores. Essa dimensão humana, essa ética

pedagógica, aponta para a necessidade do “abrirem-se os muros” da universidade, do

papel que esta deve assumir numa sociedade tão complexa, em que o humano, o

científico e o tecnológico se intercalam de modo avassalador, trazendo questões

229

seminais sobre o modo de ser e estar no mundo e que só serão resolvidas a partir de um

novo olhar sobre a docência e a pesquisa universitária.

Nesse sentido, apesar de percebermos a importância dada à dimensão humana na

prática desses professores, ficamos a esperar que surgissem nos seus discursos

(professores, coordenadores e estudantes) algo que enfatizasse as discussões que

permeiam os espaços universitários no que concerne às questões sobre gênero, raça,

sexo, e como essas novas identidades se inserem, buscando ver nas diferenças as

possibilidades de serem criadas novas formas de potencializar as formações na

perspectiva de respeito à individualidade na diversidade que compõe a sociedade hoje.

Ao iniciarmos a pesquisa, tínhamos a compreensão de sua relevância muito

agregada a nosso modo de ser e estar professora ao longo de todos esses anos.

Pensamos que daríamos conta de respondê-la em sua totalidade. Contudo,

compreendemos que a partir do momento em que as considerações desta pesquisa

puserem o ponto final, outros saberes, competência e conhecimentos estarão sendo

produzidos, complementando, ressignificando, ou até contestando aquilo que foi dito

aqui. Assim, com a compreensão de que todo conhecimento tem a tênue marca da

provisoriedade, é que podemos afirmar que atendemos a nossa tese na perspectiva do

que objetivamos para este estudo.

O caminhar que percorremos ao longo de toda a pesquisa de algum modo se

fazia presente ao longo de toda a nossa formação. Aquela garota que acompanhava a

mãe professora e brincava, imitando seu fazer, acreditamos, trazia o cerne da mesma

pesquisadora, apontando o olhar, redimensionando ideias, conduzindo direções, espaços

e determinando sua consecução.

Olhar a professora referência inspiradora da nossa formação hoje coloca-nos

enquanto pesquisadora, que carrega toda uma subjetividade, mas que também consegue

distanciar-se para analisar sua própria prática. Nessa reflexão, percebemos que não

apenas reproduzimos, mas modestamente percebemos que a semente foi plantada,

regada e muito bem cuidada, e assim se fez broto, lançou-se, ousou e hoje consegue

perceber as influências inspiradoras da nossa profissionalidade, nos diversos saberes

com ela apreendidos, que se perenizaram, mas não nos emolduram, pois nos permitiram

certa autonomia para criar, diante das essências minuciosamente escolhidas “daquela

230

professora” em especial e de outros professores que fizeram o diferencial na nossa

constituição de “vir a ser professora”.

Percebemos ainda que a pesquisa reafirma a complexidade que se constitui a

docência na universidade, e especialmente formar seus professores para que possam

efetivamente ter condições de proporcionar aos futuros professores uma formação

docente que supra as necessidades para atender aos estudantes do ensino médio.

Assim, compreendendo que o conhecimento é um processo de busca que nunca

se esgota. Deixamos alguns questionamentos que talvez possa interessar a algum

pesquisador a enveredar por este caminho.

Sabendo-se que o professor da universidade não forma sozinho os futuros

professores, o que impede a existência de uma articulação/parceria entre professores

universitários e professores do ensino médio para ressignificar essa formação?

Como a pesquisa e a produção científica exigida na universidade poderia se aliar

a ação docente, de forma a qualificar a docência, principalmente nas licenciaturas onde

o ensino e a aprendizagem é o conteúdo central da formação?

231

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VEIGA, Ilma Passos Alencastro; CASTANHO, Maria Eugênia (Org.). Pedagogia

universitária: a aula em foco. 3. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000.

VEIGA, Ilma Passos de Alencastro; AMARAL, A. Lúcia (Orgs.). Formação de

professores: políticas e debates. Campinas, SP: Papirus, 2005.

VEIGA, I.P.A. e NAVES, M.L. de P. (orgs) Currículo e Avaliação na Educação

Superior. Araraquara: Junqueira e Marin, 2005.

VENTURA, Maria Clara Amado Apóstolo; NEVES, Marília Maria Andrade Marques

da Conceição e; LOUREIRO, Cândida Rosalinda Exposto Costa; FREDERICO-

FERREIRA, Maria Manuela; CARDOSO, Edimar Márcio Pires. O “bom-professor” na

opinião dos estudantes. In: Rev. Enf. Ref.,Coimbra, v. ser.III,n. 5,Dec. 2011 .

Disponível em:

<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-

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Brasil: representações em disputa. São Paulo: Cortez, 2009.

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Rio dos Sinos. São Leopoldo: Ed. Do autor, 2007.

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ZABALZA, Miguel A. O Ensino Universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto

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professional. Madrid: Narcea, 2006.

ZEICHNER, K. M. A formação reflexiva de professores: idéias e práticas. Lisboa:

Educa e autor, 1993.

251

Apêndice 1: QUESTIONÁRIO PARA OS ESTUDANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Programa de Pós Graduação em Educação

Centro de Educação

Doutoranda: Áurea Maria Costa Rocha

Prezado (a) estudante

Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre a Docência na Universidade na qual

a sua contribuição será extremamente valiosa.

Assim, solicitamos a sua colaboração no sentido de responder este questionário,

uma vez que dele dependerá boa parte da nossa pesquisa.

Agradecemos antecipadamente sua disponibilidade à nossa solicitação e nos

colocamos à disposição para qualquer esclarecimento que se fizer necessário.

Atenciosamente

Áurea Rocha

Doutoranda UFPE.

Questionário

Identificação: a) Nome:________________________________________________________________

b) Curso:________________________________Período:____________turno____

c) Idade:________________________________Telefone:____________________

1. Quais as características você considera indispensáveis a um professor? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Você encontra as características descritas acima nos professores com os quais você

estudou nessa Universidade?

[ ] sim [ ] não

Se sim, em quais?

____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

3. Você considera um professor de referência àquele que... _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4. Qual dos seus professores na universidade teve “referência” na sua vida acadêmica/

profissional? Especificamente Por quê?

(Não se esqueça de identificar o Centro (departamento) e a disciplina do professor

citado). _____________________________________________________________________________

252

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

As questões seguintes dizem respeito ao professor por você considerado referência na sua

formação.

5. Nos itens abaixo enumere (de 1 a 5 ) em ordem de prioridade, as atividades docentes,

que você observa serem consideradas por esse professor-referência, em sala de aula:

[ ] domínio do conteúdo

[ ] avaliação

[ ] articular o conteúdo com as diferentes formas de ensiná-lo

[ ] cuidado com a aprendizagem do aluno

[ ] coerência entre o que ensina e avalia

[ ] outros .

Quais__________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

6. Na dinâmica do curso como esse professor “referência” organiza seu trabalho

pedagógico?

a) Inicia às aulas com questionamentos e/ou promovendo reflexão sobre o conteúdo a

ser trabalhado?

[ ] sim [ ] não

b) Sua metodologia é sempre a mesma?

[ ] sim [ ] não

c) Utiliza a pesquisa na sua prática docente

[ ] sim [ ] não

d) Consegue explicar os conteúdos de forma que seja compreendido por você? [ ] sim [ ] não

e) Suas aulas são interessantes e/ou inovadoras?

[ ] sim [ ] não

Justifique abaixo cada item que você assinalou sim, _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

7. Promove discussões sobre como se ensina e como se aprende a disciplina em curso?

[ ] sim [ ] não Se, sim justifique; _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

8) Apresenta/considera aspectos que interferem no contexto dos processos de

aprendizagem?

[ ] sim [ ] não

253

Se sim, justifique: _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

9) Você percebe alguma articulação do conteúdo com os aspectos sociais?

[ ] sim [ ] não

Se sim, justifique;

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

10) Suas aulas apresentam algum caráter inovador?

[ ] sim [ ] não

Se sim, justifique;

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

11) O que você acrescentaria sobre esse professor?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

Obrigada!

254

Apêndice 2: ENTREVISTA PARA OS PROFESSORES REFERÊNCIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Programa de Pós Graduação em Educação

Centro de Educação - Doutoranda: Áurea Maria Costa Rocha

ENTREVISTA/ PROFESSOR

1. Qual a sua formação?

2. Quanto tempo você tem de Magistério?

Educação Básica

Educação Superior (privado)

Educação Superior (público)

3. Por que quis ser professor? Quais as vantagens e/ou desvantagens em ser professor?

4. Como se deu seu ingresso na docência no Ensino Superior?

5. Para você o que é ser professor na universidade?

6. Como você se vê como professor do ensino superior?

7. Você se lembra de algum professor que foi referência na sua vida acadêmica?

Especificamente por quê?

8.Para você o que é um professor considerado de “referência”?

9. Qual sua compreensão sobre Identidade docente?

10. Como aprendeu a ensinar e foi se tornando professor?

11. Como se “forma” um professor?

12. Que lacunas você identifica na sua formação para o exercício da docência (Ensino

Superior) especificamente na Universidade?

13. Que saberes você considera necessários à prática docente?

14. Como você organiza suas aulas?

15. Quais os maiores desafios encontrado na sua prática docente? E o que tem feito para

superá-los?

16. Qual sua compreensão sobre Profissionalidade docente?

17. Você foi reconhecido, “professor referência” na formação dos seus alunos. A que

você atribui esse reconhecimento?

255

Apêndice 3: QUESTIONÁRIO PARA OS COORDENADORES

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Programa de Pós Graduação em Educação

Centro de Educação

Doutoranda: Áurea Maria Costa Rocha

Prezado (a) coordenador (a)

Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre a Docência na Universidade e

solicitamos a sua colaboração no sentido de responder este questionário

Agradecemos antecipadamente sua disponibilidade à nossa solicitação e nos

colocamos à disposição para qualquer esclarecimento que se fizer necessário.

Atenciosamente

Áurea Rocha

Doutoranda UFPE.

Questionário

Identificação:

Nome:_________________________________________________________________

Coordenador do Curso de__________________________________________________

Fone:__________________________________________________________________

1. Como se deu seu ingresso na docência, especificamente na Universidade? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Para você que significa ser professor numa Universidade? _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

3. Como você se vê enquanto professor do ensino superior numa Universidade? _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

4. Você se recorda de algum professor que foi referência na sua formação

acadêmica/profissional? Especificamente por quê?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

256

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

5. Você considera um professor de referência àquele que... _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

6. Quais dos professores sob sua coordenação, você indicaria para ser referência na

formação dos futuros professores na sua área? Por quê?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

7 Como se “forma” um professor?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

8. Como aprendeu a ensinar e foi se tornando professor?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

9. Qual sua compreensão sobre Identidade docente? _______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

10. Quais saberes você considera necessário à pratica docente? _______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

11. Qual sua compreensão sobre Profissionalidade Docente? _______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

Obrigada!